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A CAIXA DOS TRÊS DIAS

Faruk nem acreditou quando encontrou a Caixa dos Três Dias. Olhando para ela em
suas mãos ele tinha a certeza de estar diante da solução de todos os seus problemas.
Naquele momento ele nem se importava com os pingos gelados que caiam sobre sua
cabeça vindo das estalactites. Ali estava a caixa que guardava todas as riquezas do
mundo! Do mesmo jeito que seu avô, Hassan, havia lhe dito.
A Caixa dos Três Dias era uma lenda da família. Quem a encontrou e escondeu foi um
ancestral distante. Tão distante que nem Hassan saberia dizer o nome. Todos sabiam das
histórias, mas apenas Faruk resolveu escalar os 70 metros do monte Arafate.
Segundo contava o velho Hassan, a caixa estaria enterrada no local onde Adão e Eva
teriam sido perdoados, por Alá, pelos seus pecados. Faruk procurou por cinco anos,
todos os finais de semana, até que esta caverna surgiu depois de uma forte tempestade:
agora, a caixa estava em suas mãos.
A lenda dizia, ainda, que a caixa se abriria por três dias consecutivos e a cada dia uma
maravilha seria apresentada ao seu proprietário. Faruk sabia que este era o momento
para abrir a caixa.
Ouro: a caixa estava cheia de moedas antigas feitas de ouro.
Faruk tirava as moedas e outras surgiam em seu lugar, por mais que ele retirasse e as
colocasse nos alforjes, mais moedas apareciam. Não havia mais lugar para guardá-las e
ele começou a espalhar as valiosas moedas pelo chão da caverna. Uma pilha, quase da
altura de Faruk, se formou antes que a caixa se fechasse pela primeira vez.
Ela só poderia se aberta na próxima manhã. Com medo de que outra pessoa descobrisse
a caverna com todo seu ouro e a caixa, Faruk dormiu lá mesmo, usando a caixa como
travesseiro.
Nos sonhos ele se viu vivendo em uma ilha. O mar era de um azul sem limites e a casa
tinha água abundante. Podia se banhar quantas vezes quisesse sem ter de encher a talha
de madeira com os velhos baldes furados de sua avó. Isso sim era ser rico: água por
todos os lados!
O dia amanheceu antes das 05h00 mas Faruk só acordou depois das seis, a caverna não
permitia que a luz do sol invadisse sua privacidade.
Abriu a caixa antes mesmo de abrir os olhos.
Dentro da caixa uma pequena nuvem azul. Escrito na tampa pelo lado de dentro: “fakar
fi kuli raghabatik fi waqt wahid“ (pense em todos os seus desejos um por vez).
Faruk entendeu e pensou com força na ilha que havia sonhado. Pronto, lá estava ele,
com a caixa nas mãos, na praia, em frente à casa do seu sonho. Ele ficou eletrizado, era
sua a ilha, era sua a casa com água em todas as bicas.
Fechou os olhos de novo e, em um segundo, a pilha de moedas estava lá também. Bem
ao seu lado, todas as moedas que havia retirado da caixa no dia anterior.
Para completar sua felicidade ele imaginou os seus parentes ali com ele e, como você já
deve saber, todos os seus familiares queridos apareceram após uma breve nuvem de
fumaça branca que se dissipou.
E assim continuou o dia: imaginando e vivenciando todos os seus sonhos, todos os seus
desejos sendo que, a partir deste momento, já não estava mais na caverna e sim na ilha,
em sua bela casa, com todos os seus familiares mais queridos.
Ao final deste dia espetacular a caixa se fechou pela segunda vez.
Nessa noite ele dormiu em uma cama enorme após ter tomado um banho de água
límpida e transparente.
Estava muito feliz. A caixa realmente estava cumprindo o que a lenda sempre disse.
Ao acordar viu ao seu lado a caixa aberta com a inscrição na tampa interna: “haya”
(vida). Dentro uma maçã bem madura e com ótima aparência.
De pronto ele entendeu que era para comer aquela maçã. E assim o fez. Mas, nada
aconteceu e, logo depois, a caixa de fechou pela última vez.
Ele guardou as sementes da maçã no bolso e tratou de esconder a Caixa Dos Três Dias
da melhor maneira possível.
Nada mudou a partir deste dia.
Ele continuou na ilha, vivendo bem com os seus parentes e, com o dinheiro, fez muitas
viagens ao longo dos anos. Apenas uma coisa: ele não envelhecia.
Provavelmente a maçã o havia dado o dom da vida eterna, porque, todos os seus
parentes e amigos envelheceram e morreram. E, agora, quinhentos anos depois, Faruk
mantinha a aparência de quando abriu a caixa pela última vez: um homem de meia
idade.
Faruk ficou deprimido e triste. Não havia mais sonhos para serem conquistados, ele
viveu todos em um único dia. Não havia mais lugares para visitar, o mundo ficou
pequeno para quem já o viu por inteiro, cidade por cidade, mais de uma vez.
Eu sei que é verdade, Faruk me contou sua história ontem aqui em Copacabana.
Sentados em um quiosque perto do Posto 6.
Ele me procurou para fazer sessões de hipnose regressiva, pois, queria voltar no tempo
para não comer a maçã.
Não é assim que funciona Faruk.
Dito isso fica a lição que: a vida é para ser sorvida em pequenos goles. Como um bom
vinho. Devagar e vivenciando cada sonho por todos os minutos dos dias e todos os dias
dos anos.
Sim, também fica a dica que existe uma macieira, em alguma ilha no Caribe, plantada
por Faruk há muitos anos e que, se ainda existir, pode produzir frutos bem interessantes.

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