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O Palácio das Orquídeas

Capitulo um (21/08/2022)

- Uma terra fértil, gerando fartura de alimentos, anos sem guerras, ventos frescos que trazem o
cheiro da terra, da paz, dos honrosos corações. As plantações, fosse em dias que o sol castigava
o pescoço dos habitantes, até dias em que a chuva vinha acompanhada dos fortes sopros gélidos
do ar, não traziam preocupações a população, pois o que fosse plantado ali, rapidamente haveria
de ser colhido. Sem duvidas o lugar ideal para quaisquer camponeses. Ora, não apenas
camponeses, os magos, por exemplo, teriam recursos naturais e espaço suficiente para
aperfeiçoar seus feitiços, os guerreiros, poderiam abaixar suas armas e diminuir a tensão da
guerra em seus ombros, tendo um bom tempo fora dos tenebrosos campos de batalha, e
igualmente fariam os reis, que poderiam desfrutar de uma convivência harmônica com sua
população.

As crianças brincavam livremente nos bosques e acompanhavam seus pais, normalmente


lenhadores ou pescadores, e os ajudavam em suas árduas tarefas, que, com a ajuda de seus
filhos, se tornavam uma maneira de diversão em família. Seus recursos eram extremamente
vastos, assim como sua área, afinal, conseguia comportar um grande vilarejo, um castelo
localizado em seu centro, e duas florestas ao seu entorno, uma delas, a floresta da direita, sendo
cortada por um longo rio, cheio de peixes e outras espécies aquáticas e fascinantes. Ah, sim, as
florestas. Eram lindas. Cheias de animais, que mesmo com sua enorme diversidade, viviam em
harmonia entre si, plantas de todas as cores. Bosques cheios de verde. Não o verde fraco e quase
sem vida de hoje em dia. Era um verde intenso. A mais bela criação da natureza.

Definitivamente, o lugar que cabei de lhes descrever se assemelha, fielmente, a um conto de


fadas que seus pais devem lhes contar antes de dormir. Porém, esta era apenas a realidade diária
do nosso antigo Palácio das Orquídeas. Sim, o nosso reino, era um dos mais harmoniosos e
bonitos já existentes. Nem os reinos do norte mais distante tinham uma vastidão como a do
nosso.

Infelizmente, não se encontra da mesma maneira que antes...

Fez uma pausa de alguns segundos enquanto olhava para o lado de fora, acompanhando as
gotas de chuva que escorregavam na janela com um semblante claramente entristecido pela
nostalgia, e foi se levantando da cadeira em direção a seu manto.

- Bom, meus queridos, já vou indo. Talvez numa próxima noit...


Rapidamente foi interrompido pela uníssona voz de reclamação das crianças.

- Não, Vovô, termine a historia!

- Puxa, estava tão legal.

- Eu não vou conseguir dormir hoje à noite sem saber o resto!

E perante a duvida de voltar a sua casa, ou ficar e divertir seus netos decidiu a primeira opção.

- Desculpe crianças, já esta muito tarde, tenho de ir para casa.

- Ei! Pode dormir aqui se quiser, eles adoram ouvir suas historias, sem contar que raramente
vem vê-los.

- Você é mesmo bem convincente filha. Riu. Quem dera se eu tivesse essa mesma desenvoltura
na minha época.

- Bom, eu não estou mentindo. Afirmou a jovem com um sorriso no rosto.

Passaram alguns poucos segundos em uma troca de olhares, até que:

- Pois está decidido, vou dormir aqui hoje!

Afirmou, com um grande sorriso, para seus netos, que pularam de alegria ao saber que teriam a
doce companhia de seu avô por uma noite inteira. Ele se sentou na sua cadeirinha no canto da
sala, que a essas horas da noite, era iluminada apenas por duas velas, que, por conta do tamanho
reduzido do cômodo, eram capazes de iluminar todo o ambiente, com seu tom alaranjado,
quente e confortável. O barulho da chuva trazia ainda mais conforto para as crianças, que
sentadas em seu tapete quente observavam atentas cada palavra saída da boca (quase que
inteiramente coberta pela barba) do ancião.

Alexandria apenas observava a felicidade de seus filhos e de seu pai. Cada dia mais cultivava
uma admiração por ele. Não atoa tinha usado o nome de seu filho mais novo em homenagem a
ele: Kepler...

Já estava tarde, ainda mais para ela que teria de acordar cedo para trabalhar na colheita. Então,
se despediu com beijos na testa de cada um, inclusive de Kepler, antes de ir pra cama. E na sala
alaranjada ficaram eles se divertindo com as historias do avô.

- Bom, onde paramos mesmo?

Capitulo dois

No ápice de sua empolgação as crianças falaram alto suficiente para romper o silencio da noite:

- O senhor estava falando de como era nosso reino antigamente!

- Sim! Continue a historia vovô!

- Silencio! Repreendeu. Qual o ensinamento que lhes passei? O silencio da noite é sagrado e
deve ser mantido, além disso, a mãe de vocês está dormindo.

Eles afirmaram com a cabeça demonstrando respeito e obediência. Não se sentia muito bem
repreendendo seus netos, por mais que de forma leve, mas em contrapartida tinha medo de
mima-los demais. Seu coração era facilmente preenchido pela doçura das crianças... Afinal,
quem não?

Continuou:

- Voltemos a historia. Como eu estava dizendo, o nosso reino era extremamente prospero e
harmonioso. E isso não se dava apenas para a natureza, mas como aos habitantes, os
comerciantes que viam pra cá em tempos de colheita, até os reis eram sublimes.

- Eu ouvi falar que antes de tudo isso acontecer nós tínhamos um rei muito poderoso. É verdade,
vovô?

- Ah, sim! É verdade. Seus estudos estão surtindo efeito, Kepler, não atoa tem meu nome.
Soltou uma leve gargalhada que foi acompanhada por todos.

Nós não só tínhamos apenas o rei mais poderoso, mas como o mais gentil, sereno, bondoso e
sábio que já pisou por essas terras. Ele se chamava Humberto.

As crianças repetiram calmamente o nome do antigo rei enquanto olhavam fixamente para o
velho.

- Ele foi, sem duvidas, o melhor rei que eu já vi governar em toda minha vida! Seus olhos se
encheram de saudade e nostalgia.

Era um gênio. Aos três anos começou a ler, e aos cinco começou a escrever. Com menos de
quinze anos já virara professor.

- Do que ele dava aula, vovô?

- De tudo, praticamente. E com um sorriso leve mostrou que havia de guardar na memoria quem
tinha sido aquele homem.

Um grande intelectual. Especialmente, adorava linguagens. Foi o primeiro a ensinar a língua


dos povos do norte para nós e para outros reinos próximos. E incrivelmente, ele não usava livros
em seus aulas.

- Uau!

- Sim, ele era espetacular. Lembro de uma vez em que um grande comerciante do noroeste veio
até aqui. Como ninguém sabia a sua língua ele ficou totalmente perdido. As pessoas que
tentavam comunicar com ele apenas balbuciavam algumas palavras. E para não acabar gerando
uma situação ainda pior, decidiram chamar Humberto. Foi o único que conseguiu conversar
com o comerciante. Ele o ajudou a vender suas peças e joalherias, que na época se vendia
bastante, traduzindo do vendedor ao publico e do publico ao vendedor. Se hoje conseguimos
nos comunicar com outros povos é por conta dele.

- Nossa! E nessa época ele já era rei?

- Não, não. Na época era estudante e professor, ao mesmo tempo, com apenas quinze anos,
como falei anteriormente.

- E como ele se tornou rei?

- Bom, a verdade era que todos nós o adorávamos, afinal, nessa altura ele já era amplamente
conhecido, em vários reinos próximos. Então, quando nosso outro rei faleceu, nós decidim...

- Quem era ele?

- É! Qual era o nome dele?


- Acalmem-se. Ele se chamava Canopo.

- Do que ele faleceu?

- Velhice mesmo. Acho que tinha setenta e poucos anos na época.

Os garotos levantaram levemente as sobrancelhas e balançaram a cabeça, demonstrando que


suas duvidas foram respondidas.

- Mas, como estava falando. Após a morte de Can...

- Ele era um bom rei? Ou é como o que temos hoje?

O ancião fez uma pequena pausa e suspirou, fazia tempo que não via seus netos, eles estavam
na fase mais questionadora possível, e ele sabia a importância disso.

- Olha, era um bom rei. Governava bem. Bem, e nada mais.

E continuou.

- Bom, quando Canopo morreu, ficamos um pouco inseguros sobre o futuro de nossa terra.
Afinal, seu filho, que segundo a ordem hereditária deveria ser o novo rei, era muito... Como
posso dizer? Estava muito “verde” para aquele cargo, se é que vocês me entendem.

- NOSSA! ELE ERA VERDE? QUE NEM AQUELAS CRIATURAS DOS SEUS LIVROS?
OU ELE USAVA FEITIÇO?

- QUE TIPO DE FEITIÇO ELE USAVA? EU QUERO SER VERDE TAMBEM!

Isso foi suficiente para tirar gargalhadas do ancião que chegou a inclinar sua cabeça para traz
de tanto rir. Os seus olhares espantados revelavam sua mais pura inocência. E para o pequeno
Kepler a ignorância dos irmãos foi tão espantosa que lhe fez soltar um:

- Céus!

Antes de começar a rir junto de seu avô. Os outros se indignaram ainda mais.

- Não vão nos dizer que vocês sabem ficar verdes e nunca nos ensinaram!

- Não, queridos, nada disso. Disse segurando o riso. Quando eu disse que o rapaz era “verde”
isso que dizer que ele não estava preparado, ou “maduro” o suficiente para aquilo.

- Ah, sim! Repetiram os dois, que igualmente riram ao perceber o erro que cometeram.

A verdade é que os irmãos estavam no seu direito, crianças de dez anos, em sua maioria, não
tem conhecimento de muitas coisas do mundo (na verdade, quase nada), e acabam se
espantando com coisas que muitas vezes, nós vemos como simples. Mas, como dito, “a maioria
das crianças”, e Kepler não fazia parte dessa maioria, era muito avançado, até para sua idade,
não atoa tinha herdado o nome de seu avô, que era conhecido por ser um grande mago e
alquimista. Com certeza, o jovem teria um futuro brilhante. E Kepler sabia disso... Os dois
Keplers...

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