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Capitulo um (21/08/2022)
- Uma terra fértil, gerando fartura de alimentos, anos sem guerras, ventos frescos que trazem o
cheiro da terra, da paz, dos honrosos corações. As plantações, fosse em dias que o sol castigava
o pescoço dos habitantes, até dias em que a chuva vinha acompanhada dos fortes sopros gélidos
do ar, não traziam preocupações a população, pois o que fosse plantado ali, rapidamente haveria
de ser colhido. Sem duvidas o lugar ideal para quaisquer camponeses. Ora, não apenas
camponeses, os magos, por exemplo, teriam recursos naturais e espaço suficiente para
aperfeiçoar seus feitiços, os guerreiros, poderiam abaixar suas armas e diminuir a tensão da
guerra em seus ombros, tendo um bom tempo fora dos tenebrosos campos de batalha, e
igualmente fariam os reis, que poderiam desfrutar de uma convivência harmônica com sua
população.
Fez uma pausa de alguns segundos enquanto olhava para o lado de fora, acompanhando as
gotas de chuva que escorregavam na janela com um semblante claramente entristecido pela
nostalgia, e foi se levantando da cadeira em direção a seu manto.
E perante a duvida de voltar a sua casa, ou ficar e divertir seus netos decidiu a primeira opção.
- Ei! Pode dormir aqui se quiser, eles adoram ouvir suas historias, sem contar que raramente
vem vê-los.
- Você é mesmo bem convincente filha. Riu. Quem dera se eu tivesse essa mesma desenvoltura
na minha época.
Afirmou, com um grande sorriso, para seus netos, que pularam de alegria ao saber que teriam a
doce companhia de seu avô por uma noite inteira. Ele se sentou na sua cadeirinha no canto da
sala, que a essas horas da noite, era iluminada apenas por duas velas, que, por conta do tamanho
reduzido do cômodo, eram capazes de iluminar todo o ambiente, com seu tom alaranjado,
quente e confortável. O barulho da chuva trazia ainda mais conforto para as crianças, que
sentadas em seu tapete quente observavam atentas cada palavra saída da boca (quase que
inteiramente coberta pela barba) do ancião.
Alexandria apenas observava a felicidade de seus filhos e de seu pai. Cada dia mais cultivava
uma admiração por ele. Não atoa tinha usado o nome de seu filho mais novo em homenagem a
ele: Kepler...
Já estava tarde, ainda mais para ela que teria de acordar cedo para trabalhar na colheita. Então,
se despediu com beijos na testa de cada um, inclusive de Kepler, antes de ir pra cama. E na sala
alaranjada ficaram eles se divertindo com as historias do avô.
Capitulo dois
No ápice de sua empolgação as crianças falaram alto suficiente para romper o silencio da noite:
- Silencio! Repreendeu. Qual o ensinamento que lhes passei? O silencio da noite é sagrado e
deve ser mantido, além disso, a mãe de vocês está dormindo.
Eles afirmaram com a cabeça demonstrando respeito e obediência. Não se sentia muito bem
repreendendo seus netos, por mais que de forma leve, mas em contrapartida tinha medo de
mima-los demais. Seu coração era facilmente preenchido pela doçura das crianças... Afinal,
quem não?
Continuou:
- Voltemos a historia. Como eu estava dizendo, o nosso reino era extremamente prospero e
harmonioso. E isso não se dava apenas para a natureza, mas como aos habitantes, os
comerciantes que viam pra cá em tempos de colheita, até os reis eram sublimes.
- Eu ouvi falar que antes de tudo isso acontecer nós tínhamos um rei muito poderoso. É verdade,
vovô?
- Ah, sim! É verdade. Seus estudos estão surtindo efeito, Kepler, não atoa tem meu nome.
Soltou uma leve gargalhada que foi acompanhada por todos.
Nós não só tínhamos apenas o rei mais poderoso, mas como o mais gentil, sereno, bondoso e
sábio que já pisou por essas terras. Ele se chamava Humberto.
As crianças repetiram calmamente o nome do antigo rei enquanto olhavam fixamente para o
velho.
- Ele foi, sem duvidas, o melhor rei que eu já vi governar em toda minha vida! Seus olhos se
encheram de saudade e nostalgia.
Era um gênio. Aos três anos começou a ler, e aos cinco começou a escrever. Com menos de
quinze anos já virara professor.
- De tudo, praticamente. E com um sorriso leve mostrou que havia de guardar na memoria quem
tinha sido aquele homem.
- Uau!
- Sim, ele era espetacular. Lembro de uma vez em que um grande comerciante do noroeste veio
até aqui. Como ninguém sabia a sua língua ele ficou totalmente perdido. As pessoas que
tentavam comunicar com ele apenas balbuciavam algumas palavras. E para não acabar gerando
uma situação ainda pior, decidiram chamar Humberto. Foi o único que conseguiu conversar
com o comerciante. Ele o ajudou a vender suas peças e joalherias, que na época se vendia
bastante, traduzindo do vendedor ao publico e do publico ao vendedor. Se hoje conseguimos
nos comunicar com outros povos é por conta dele.
- Não, não. Na época era estudante e professor, ao mesmo tempo, com apenas quinze anos,
como falei anteriormente.
- Bom, a verdade era que todos nós o adorávamos, afinal, nessa altura ele já era amplamente
conhecido, em vários reinos próximos. Então, quando nosso outro rei faleceu, nós decidim...
O ancião fez uma pequena pausa e suspirou, fazia tempo que não via seus netos, eles estavam
na fase mais questionadora possível, e ele sabia a importância disso.
E continuou.
- Bom, quando Canopo morreu, ficamos um pouco inseguros sobre o futuro de nossa terra.
Afinal, seu filho, que segundo a ordem hereditária deveria ser o novo rei, era muito... Como
posso dizer? Estava muito “verde” para aquele cargo, se é que vocês me entendem.
- NOSSA! ELE ERA VERDE? QUE NEM AQUELAS CRIATURAS DOS SEUS LIVROS?
OU ELE USAVA FEITIÇO?
Isso foi suficiente para tirar gargalhadas do ancião que chegou a inclinar sua cabeça para traz
de tanto rir. Os seus olhares espantados revelavam sua mais pura inocência. E para o pequeno
Kepler a ignorância dos irmãos foi tão espantosa que lhe fez soltar um:
- Céus!
Antes de começar a rir junto de seu avô. Os outros se indignaram ainda mais.
- Não vão nos dizer que vocês sabem ficar verdes e nunca nos ensinaram!
- Não, queridos, nada disso. Disse segurando o riso. Quando eu disse que o rapaz era “verde”
isso que dizer que ele não estava preparado, ou “maduro” o suficiente para aquilo.
- Ah, sim! Repetiram os dois, que igualmente riram ao perceber o erro que cometeram.
A verdade é que os irmãos estavam no seu direito, crianças de dez anos, em sua maioria, não
tem conhecimento de muitas coisas do mundo (na verdade, quase nada), e acabam se
espantando com coisas que muitas vezes, nós vemos como simples. Mas, como dito, “a maioria
das crianças”, e Kepler não fazia parte dessa maioria, era muito avançado, até para sua idade,
não atoa tinha herdado o nome de seu avô, que era conhecido por ser um grande mago e
alquimista. Com certeza, o jovem teria um futuro brilhante. E Kepler sabia disso... Os dois
Keplers...