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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

NÚCLEO DE TECNOLOGIA PARA EDUCAÇÃO


CURSO LICENCIATURA EM MÚSICA EaD

MANUEL SANTANA DE OLIVEIRA NETO

JOÃO DO VALE VIDA E OBRA: do sertão para o mundo.

Bacabal – MA
2021
MANUEL SANTANA DE OLIVEIRA NETO

JOÃO DO VALE VIDA E OBRA: do sertão para o mundo.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Licenciatura em Música EaD da
Universidade Estadual do Maranhão, para a
obtenção de grau de Licenciatura em Música.

Orientador (a): Prof. (a).Esp.: Ebenezer S. da Silva

Bacabal – MA
2021
Neto, Manuel Santana de Oliveira.

João Do Vale Vida E Obra: do sertão para o mundo./ Manuel Santana de


Oliveira Neto. – Bacabal, 2021.

34 f.

Orientadora: Profa. Esp. Ebenezer Santos da Silva

TCC (Graduação) – Curso de Música, Universidade Estadual do Maranhão,


Núcleo de Tecnologia para Educação, 2021.

João do Vale. Música Popular. Nordeste. Sertão.

1. João do Vale. 2. Música Popular. 3. Nordeste. 4. Sertão.I.Título.

CDU:780.71

CDU:78
MANUEL SANTANA DE OLIVEIRA NETO

JOÃO DO VALE VIDA E OBRA: do sertão para o mundo.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Licenciatura em Música EaD da
Universidade Estadual do Maranhão, para a
obtenção de grau de Licenciatura em Música.

Orientador(a): Prof. (a).Esp.: Ebenezer S. da Silva

Aprovado em: 20/11/2021

BANCA EXAMINADORA

Ebenezer S. da Silva
Profa. Esp.: Docência do Ensino Superior
Orientador (a)

Franklin Bruno da Silva Barros


Esp.: Musicoterapia
Examinador 1

Leonardo Bezerra de Castro


Bacharel em Violão Clássico
Examinador 2
JOÃO DO VALE VIDA E OBRA: do sertão para o mundo.

MANUEL SANTANA DE OLIVEIRA NETO1

RESUMO

O artigo traz à tona a trajetória do maranhense do século XX, desde a sua infância
na cidade de Pedreiras – MA, o ápice na Música Popular Brasileira, até a
imortalidade de suas músicas e de seu trabalho grandioso como poeta, cantor, e
compositor. O trabalho tem como objetivo compreender as manifestações culturais
realizadas por João do Vale por meio de sua história, destacando a importância das
suas obras para a música e educação. Este trabalho trata-se de uma pesquisa
bibliográfica de valor qualitativo. A sua contribuição é inegável tanto para a música
quanto para o entendimento do contexto em que ele estava inserido, resumido em
suas obras e cantado até hoje, servindo de base para estudos sociológicos,
literários, musicais, históricos dentre outros. O trabalho também mostra difusão da
sua arte em conjunto com artistas populares e sua ascensão no show opinião, que
foi um marco na sua carreira, fazendo seu trabalho ser reconhecido em todo o
mundo.

Palavras-chave: João do Vale. Música Popular. Nordeste. Sertão.

ABSTRACT

JOÃO DO VALE LIFE AND WORK: from the backwoods to the world.

The article brings up the trajectory of the maranhense of the 20th century, from his
childhood in the city of Pedreiras - MA, the apex in the Brazilian Popular Music, to the
immortality of his songs and his great work as a poet, singer, and composer. The
work aims at understanding the cultural manifestations performed by João do Vale
through his history, highlighting the importance of his works for music and education.
This work is a bibliographical research of qualitative nature. His contribution is
undeniable both for music and for the understanding of the context in which he was
inserted, summarized in his works and sung until today, serving as a basis for
sociological, literary, musical and historical studies, among others. The work also
shows dissemination of his art in conjunction with popular artists and his rise in show
opinion, which was a milestone in his career, making his work recognized worldwide.

Keywords: João do Vale. Popular Music. North East. Backwoods.

1
Graduando de Música EaD da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), 2021.
1 INTRODUÇÃO

Mostraremos neste artigo intitulado João do Vale Vida e Obra: do Sertão


para o mundo, as manifestações culturais realizadas, por onde ele passava,
contando a sua história, esmiuçando com suas simples palavras, os seres humanos,
alguns animais, como pássaros, em suas músicas das quais podemos citar “Na Asa
do Vento, Carcará, Pisa na Fulô, Peba Na Pimenta, Minha História, de Teresina a
São Luís”. A cidade de Pedreiras do Maranhão ficou eternizada, e continuará sendo
enaltecida em suas músicas, como em tantas outras canções, deixada pelo poeta,
cantor e compositor popular, João do Vale.
João do Vale foi um negro que veio de uma família humilde, teve grande
destaque com suas obras se tornando bastante conhecida, no Brasil e no mundo.
Apesar das decepções e preconceito que sofreu na escola quando criança, tendo
que entregar sua vaga, para o filho do coletor, recém-chegado à cidade, com seu
jeito brincalhão, com um gingado para a música desde criança, não deixou
esmorecer. Ele teve a coragem de sair de casa ainda jovem para se aventurar pelo
mundo em busca de uma vida melhor. Nessa viagem de caminhão, ele tinha que
escolher se almoçava, ou se jantava, só tinha direito de comer, uma vez no dia.
Com essa pesquisa bibliográfica, deseja-se relatar várias informações do
cantor e compositor, João do Vale, em algumas de suas músicas, que elas possam
chegar a todas as pessoas, principalmente ao os jovens, que não tiveram a
oportunidade de conhecer o artista. Através deste trabalho é que saberemos mais
da sua história, de seus poemas cantados e tocados, das influências de suas obras
causando impacto no dia a dia do Pedreirense, que desde novinho se envolveu com
a cultura, observando tudo ao seu redor, suas obras musicais, que falam dos
afazeres do povo de sua terra, de seus amigos de infância, elas continuam levando
para o mundo, a cultura do nosso município, do nosso estado, se tornando uma arte
conhecida, em todo o mundo.
Este trabalho foi elaborado com base em pesquisas literárias, fazendo
anotações e coletando informações de livros, artigos científicos, monografias, e
revistas, para entender a trajetória que fez o poeta, cantor, e compositor popular
maranhense. Ele é um trabalho de caráter qualitativo, e está dividido em cinco
capítulos. Na introdução ele apresenta a relevância do tema, no segundo capítulo
ele está abordando a inserção de João do Vale na Música Popular do Sertão
Nordestino, o terceiro capítulo tratará da contribuição de João do Vale, para a
música popular brasileira. O quarto capítulo tratará da importância da poesia de
João do Vale, para a educação. E o Show Opinião, este famoso musical é
destacado no quinto capítulo, fazendo um desfecho da contribuição e notoriedade
que João do Vale teve para a Música Popular e para a sociedade.
2 JOÃO DO VALE E A MÚSICA POPULAR DO SERTÃO NORDESTINO

O nascimento de João Batista do Vale, segundo Paschoal (p. 16, 18.


2000) ocorreu no dia 11 de outubro de 1933 no Povoado Lago da Onça, a seis
quilômetros de Pedreiras, filho do casal: Cirilo, e Leovegilda. Esses camponeses
davam duro no trabalho braçal, e na lavoura, sem medir esforços, para poder
garantir a criação dos filhos: Aurélio, Antônio, Cleide, e Miguel. Com a chegada de
João o quinto filho, se torna mais difícil para eles sobreviverem. Sua mãe, convence
o marido para irem morar na cidade, e viverem de biscates, para conseguir criar e
educar seus filhos. Em Pedreiras eles tiveram a ajuda de sua amiga, Maria da
Conceição Pereira.
O sofrimento para criar e educar uma família em 1940, era muito grande,
o menino João vendo aquilo, usou de sua esperteza, tomou uma atitude para ajudar
no sustento de sua família. Ele começou sair pelas ruas de Pedreiras, vendendo
frutas, bolinhos, e pirulitos. Dormia tarde, e acordava cedo, para tomar banho no Rio
Mearim. Ele se arrumava depressa para ir até o Grupo Escolar Oscar Galvão, onde
cursava o terceiro ano primário. Com a chegada do novo coletor na cidade, João foi
comunicado pela direção da escola, que ele não era mais aluno dali, a sua vaga a
partir daquele momento seria para o filho do novo coletor da cidade, ele teve uma
grande decepção naquele dia. (PASCHOAL, p. 19 e 20, 2000).

Ele é o nordestino emigrado representante de um país tão longínquo quanto


apartado do Brasil desenvolvido. Alguém que, entretanto, escapou à miséria
graças ao talento genial e inato, biografado na sucinta Minha História: Eu
vendia pirulito/ Arroz-doce, mungunzá/ Enquanto eu ia vender doce/ Meus
colegas iam estudar/ A minha mãe tão pobrezinha/ Não podia me educar/
[...] E quando era de noitinha/ A meninada ia brincar/ Vige, como eu tinha
inveja/ De ver o Zezinho contar:/ “O professor ralhou comigo/ Porque eu não
quis estudar (CADERNO B, JORNAL DO BRASIL, 16/1/82).

Ferreira Gullar um dos primeiros ouvintes ilustre de João do Vale, esteve


presente em 1963 no Rio de Janeiro, (sindicato dos Bancários), para ver ao vivo
João cantar, ele descreve: – “João do Vale ao meu ver, é uma das figuras mais
importantes da música popular brasileira”. Apesar de muitas de suas músicas
fazerem sucesso na voz de cantores nacionais renomados, antes de ser projetado
com o show opinião, poucas pessoas conheciam João do vale. O foco era voltado
para Luís Vieira, parceiro de Estrela Miúda, Na Asa do vento, com Dolores Duram,
uma grande cantora e compositora de Samba em 1930, Cesário Pinto e Zé
Gonzaga, e demais compositores como Ivon Curi, Marlene, Jacson do Pandeiro,
incluindo o rei do Baião Luís Gonzaga. (PASCHOAL, p. 76, 77, 2000).
Em 1964 e 1965, quando foi realizado o show opinião, é que os grandes
centros no país, puderam saber que João existia, reconhecendo logo seus méritos
como compositor. Se tornando grande expressão de renome da cultura popular
brasileira, um compositor de origem do nordeste, que começa a vencer o
preconceito, que há séculos vem se manifestando, sem oportunidade de mostrar
como vive o povo do nordeste, e do sertão nordestino.
Foi um momento em que a música nordestina, e do sertão do nordeste
conseguiu ganhar público com Luís Gonzaga, e Jackson do Pandeiro e João
também começou a ganhar o seu espaço. O fato é que com a diversidade e a
extensão que tem o Brasil, só o nordeste cantava e conhecia as músicas de João, e
ele já tinha quase trezentas músicas gravadas nessa época. No Sul ninguém sabia
quem era João do vale. De terno branco bem passado, em um sapato de vinil,
andando sem jeito, meio desconfiado ele entra em cena, empolgou o auditório
quando começou a cantar. O convidado de Thereza Aragão naquele dia no Rio de
Janeiro começa a dar nome para a Música Popular Brasileira.
Dois anos depois na arena do Teatro Opinião, faz o povo rir e chorar. A
sua força e a seriedade musical com suas palavras envolventes, que eram simples,
mas autênticas, eram reveladas pelo o Maranhense de Pedreiras, que dá um crédito
a todo o povo do sertão. Naquele momento ele revela uma cultura que nunca foi
escrita, colocando a partir dali todas as manifestações jamais vistas, e que agora
tudo aquilo é real. A maioria do povo brasileiro passa a conhecer, gostar e admirar
João do Vale. Esses aspectos também são ressaltados em um depoimento do
cantor Ivan Lins sobre João do Vale:

Eu sempre admirei sua arte e o que mais me impressionava era seu jeito de
ser. Era uma verdadeira entidade ligada a uma realidade nordestina. Bem
brasileiro, ele criou uma imagem atrelada à alma popular da sua gente. Não
se apresentava com aqueles trajes típicos do cangaço, com chapéu de
couro e toda aquela parafernália. Ele levava a roupa do nordestino puro. O
verdadeiro nordestino de rua, para quem ele cantava. Descalço, calça de
tergal usada, camisa arregaçada nas mangas. Um autêntico e fiel
representante do homem do Norte que vinha tentar a sorte por aqui.
Quando eu via João do Vale, eu via o povo nordestino e toda a sua luta”
(PASCHOAL, 2000, p. 134).

A música Oricuri ou (Segredos do Sertanejo) foi escrita por João do Vale


e José Cândido. Na letra pode-se perceber a presença do conhecimento empírico,
quando prevê que vai chover devido a catingueira estar florida, que chega o verão
quando a andorinha voa, que vai haver estiada quando o gavião canta, dentre outros
segredos que só o sertanejo sabe, enfatizando os costumes dos que moram no
sertão. Essa foi uma música gravada por Marinês seu grupo em um LP, que ela
estreou em 1957, lançado ao vivo pela gravadora Philips em 1965 pelo show
opinião. Clara Nunes também gravou em 1981, em um LP com João do Vale. O
quinteto Violado gravou um CD em 1994 prestando-lhes homenagens. Marinês
grava em ritmo baião-amartelado. (SIPRIANO, p. 222, 2019)
Segundo Rufino (2009), o Oricuri ou Licuri, da família Arecaceae muito
conhecido por todos nós como: coco da praia, faz parte da flora costeira do interior
de alguns estados do nordeste, como em Pernambuco. Nas escolas essa letra de
música é trabalhada, geograficamente pelas regiões onde estão localizados os seis
biomas, que compreende, Cerrado, Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal, e
Pampa, levando o aluno a conhecer por meio da música o “Oricuri”, onde está
localizada a Caatinga na flora costeira do estado.

3 A CONTRIBUIÇÃO DE JOÃO DO VALE PARA A MÚSICA POPULAR


BRASILEIRA

Através de suas músicas que trazem letras como forma de denúncia


social, a sua voz começa a ser ouvida por todo o nordeste do Brasil. No seu primeiro
show no Rio de Janeiro com o seu jeito simples e brincalhão, mostrando o seu
gingado, ele é ovacionado por todos naquele dia. Com vários artistas famosos
gravando suas músicas, João do Vale entra para o cenário da Música Popular
Brasileira, fazendo com que suas músicas toquem em todas as regiões do país, se
tornando conhecidas e fazendo parte do acervo da MPB. Elas continuam até hoje,
denunciando os maus tratos que acontecem com as pessoas humildes, os negros,
os pobres, os índios, os sem-terra, os sem teto, e todas as classes marginalizadas
existentes no Brasil.
Segundo Damazo (p. 29, 2004), a música popular brasileira foi criada dos
diversos fatos ocorridos em diversos locais. Esses acontecimentos reais vêm dos
fenômenos naturais que surgem com frequência no meio da sociedade brasileira.
João do Vale grava o seu primeiro disco em 1965 pela gravadora Philips, música
com um novo estilo inovador, João consegue dar vida com a sua forma diferente de
interpretar seu trabalho, atraindo um novo público para si, os que gostavam de ouvir
as suas músicas.

Assim, como produtivo compositor, João do Vale passou a se inserir no


meio artístico e, até os anos 1960, já havia assinado diversas composições
famosas nas vozes de artistas consagrados. Como intérprete, a carreira
consolidou-se mais tardiamente; o primeiro disco solo foi lançado pela
Philips, em 1965, sob o título “O poeta do povo”, João do Vale, na esteira do
sucesso do show Opinião. (SIPRIANO, p. 17, 2019)

A partir daí João começou a ser a voz do povo nordestino com algumas
de suas músicas: Peba na pimenta, Pisa na Fulô, Minha História, Oricuri. Algumas
dessas músicas, se revelam nas entre linhas o que acontecia na política brasileira
daquela época. Segundo Braga (p. 40. 2019) Uma canção nasce com a narrativa de
uma história que se desenvolve através das manifestações populares. Aos poucos
vai ocupando espaço circulando em várias regiões. Esses versos expressando
sentimentos são (Líricos), os feitos do povo quando são narrados (Épicos). Essas
manifestações culturais contemporâneas que João do vale traz em suas músicas
continuam sendo estudadas no campo da literatura, as diferentes palavras faladas
por seus ancestrais são preservadas em seus versos, cantadas em sua voz e na voz
de tantos outros artistas permanecendo muito viva em nosso meio.
As canções populares já acontecem há muito tempo, com a civilização e
urbanização dos portugueses no século XVI, com as festas religiosas em datas
comemorativas e oficias se estendendo na colônia brasileira, possibilitando a
aproximação de várias raças, religiosos, e classe social, como os nobres, cortesãs,
pessoas com seus costumes e suas culturas, misturando sons, tambores, gaitas,
violas, atabaques, guitarras. Foi com todas essas pessoas, objetos musicais, que foi
formando a Música Popular Brasileira.
O menino João vê sua esperança ficar longe quando ele perde a sua
vaga na escola para o filho de um coletor. Vendo aquilo como um fim, empreende
suas andanças na cidade, fazendo suas piruetas por onde passa. Acende nele uma
nova esperança. Uma criança que tem em seu pensamento muita imaginação, é tão
fértil se igualando a uma pessoa adulta, decide ir em busca de seu sonho, pois sabe
que ficando em sua terra, isso fica impossível de se concretizar. Ele vai em busca de
seu sonho, atravessando o Brasil ao meio chegando ao seu destino.

Nos anos 1960, João do Vale passou, inclusive a ser denominado, no


discurso dos mediadores culturais, da intelectualidade, como “o poeta do
povo”, epíteto que se tornou título de LP lançado em 1965, o qual faz parte
do corpus desta pesquisa. (SIPRIANO, p. 21, 2019)

Segundo Sipriano (p. 177. 2019), O Poeta do Povo, o título de um disco


de João do Vale lançado pela Philips em 1965, aparece na mesma época em que o
rosto de João do Vale, estava estampado em um cartaz do Show Opinião. Com mais
de cem músicas gravadas, na voz de vários cantores, este LP era o único trabalho
solo gravado na voz de João do Vale, com as músicas: Eu chego lá, (João do Vale e
Luís Guimarães), Sanharó (João do Vale e Luís Guimarães), Eu Vim praí, (João do
Vale e Manoel Euzébio), Viva meu Baião, (João do Vale e Vezo Filho).
Em 1958 a maior fábrica de vinil brasileira a CBN (Companhia Brasileira
de Disco) estava sendo vendida para a Philips, que abarcava a maior parte
fonográfica brasileira uma multinacional da Holanda. (Sociedade Interamericana de
Representações) a Sinter é criada em 1945, ficando responsável por grandes nomes
da música popular brasileira da época, dentre eles: Vinícius de Morais, Baden
Powell, e Carlos Lira, em 1960 gravaram com a Philips, Nara Leão, Tom Jobim e
João Gilberto. Em 1967 é marcando com o movimento Tropicália, quebrando muitos
paradigmas na música brasileira com um disco-manifesto.
Em 1960 a Philips com a gravadora independente de Aloísio de Oliveira,
juntamente com a sua equipe, conseguem modernizar a Música Popular Brasileira,
lançando os principais nomes da MPB, padronizando um som bem diferente. A obra
do cantor e compositor João do Vale, aparece juntamente com outras obras como o
Show Opinião, ganhando destaque com as demais obras da MPB com: os LPs, de
Elis Regina, Jair Rodrigues, dois LPs da Bossa Nova de muito sucesso com recorde
de venda daquele ano. (O Canto Livre de Nara), Nara Leão, (A Obra muito moderna
de Donato e seu trio) de João Donato, (5 na Bossa) Edu Lobo, Nara Leão, e Samba
Trio, e tantos outros nomes que ficaram consagrados na música nacional. João do
Vale entra para a história da Música moderna e Popular Brasileira como um dos
nomes imortais, pelo seu engajamento, e pela a sua crítica que ajuda na construção
social do país, com suas obras.
Segundo Quadros Júnior, (p. 65, 66. 2019), com a instalação da ditadura
no Brasil em 1964, os atos institucionais são promulgados, e os artistas brasileiros
buscam um país melhor onde todos têm voz e vez, e com as suas novas ideias
querem revolucionar a política. Surgem em todo o país, festivais de músicas com
muitas de protestos com canções ganhando destaque, contra o regime militar.
Esses nacionalistas com intuito de aproximar e nacionalizar a Bossa Nova
como música popular para o Brasil criam o primeiro movimento, denominado de
MMPB, (Moderna Música Popular Brasileira). Tempos depois, esse gênero fica
conhecido como MPB, Música Popular Brasileira. Com o intuito de inovar com
sutileza na interpretação a Bossa Nova. A partir daí é que se foram incorporando
muitos nomes de artistas famosos de renome como: Nara Leão, Edu Lobo, e alguns
outros nomes em início de carreira, Elis Regina, Gilberto Gil, e Chico Buarque.
Nesse período alguns trabalhos artísticos ficaram bastante conhecidos
como Arrastão, de 1965 de Edu Lobo, Disparada, em 1966 de Geraldo Vandré, A
Banda de Theu de Barros Filho, e Chico Buarque. Ganhando destaque, o primeiro
espetáculo a contestar tudo isso foi o “Show Opinião” em 1964, conseguindo reunir
no palco grandes nomes, como Nara Leão, Zé Kéti, e João do Vale, simbolizando
naquele momento, um movimento de protesto contra a remoção das favelas do Rio
de janeiro naquela época. Enquanto isso o governo da repressão militar no Brasil,
endurecia com censura e prisões.

O Grupo Opinião, formado, em 1964, por artistas oriundos do CPC (Centro


Popular de Cultura da UNE), que havia sido fechado após o golpe militar,
objetivava constituir um teatro engajado, de resistência. Nesse debate
estético-ideológico, o ideário que fundamenta o Opinião e diversas outras
ações artístico-culturais no período teve grande influência entre a
intelectualidade, tendo em vista que se tratava de um projeto político
pautado na articulação entre fazer cultura x fazer política, em que o
“popular” tem um papel de relevância (SIPRIANO, p. 181, 2018).

Segundo Paschoal (p.24.2000), praticamente com seus 14 anos de idade


João do Vale segue em direção ao Rio de Janeiro. Se pedisse para seus pais eles
não deixavam, então João decide fugir de casa, sabendo que um circo ia sair de São
Luís para Teresina em três de julho de 1949. Com destino a Teresina, Parnaíba,
Luís Correa totalizando sete cidades, no sertão do Piauí, viveriam qual ciganos
nesse trajeto. No percurso desses trajetos sendo ajudante de caminhão. Foram
ficando em sua memória, como era cada estado, e cada cidade desse país, ele foi
formando trechos poéticos, e musicais, escrevendo no papel, e fixando a melodia
em sua cabeça. De onde ele estava não se esquecia de escrever para seus pais,
trabalhando como pedreiro em algumas obras no Rio de Janeiro, guarda um
dinheirinho e fica mandando para seus pais.
João resolve mandar a metade do dinheiro que ganha com a música
(Estrela Miúda), parceria com Luís Vieira, gravação de Dolores Duran, Disco
Copacabana, com a orquestração de Amâncio Cardoso. Quando sua mãe
Leovegilda recebeu aquele dinheiro ficou muito desconfiada com aquilo, João teve
que escrever uma carta explicando de onde veio o dinheiro para ela se acalmar.
Seus pais eram negros trabalhadores honestos. (Na asa do vento, João do Vale e
Luís Vieira). Os direitos autorais dessa música, rende um bom dinheiro para João do
Vale, nem se compara com o salário que ele recebia por mês como pedreiro que era
de 5 mil-réis por mês, os direitos autorais lhe renderam uma quantia de 200 mil-réis.
Segundo Nogueira (p. 12. 2013), João do Vale vendo tudo o que a
natureza lhe oferecia, foi criando com facilidade o seu próprio estilo, um mundo de
coisas bem amplas, com reais possibilidades de interpretação, sua linguagem vai se
tornando textos verbais, com traços para serem decifrados pela linguística, com
gêneros e períodos em formato literário típico das nossas expressões quando nós
nos reportamos através da fala.
Na letra da música Na Asa do Vento, o poeta inicia falando do clarão da
lua, como já é tarde da noite, isso não lhe impede de sair por aí a brincar, com um
pau roliço apoiado no ombro com tamanho de dois metros, no seu final uma
forquilha fixada no eixo entre as duas rodas, ou aro pequena, quando é empurrando
pelo menino, ele pode andar, correr em todo o local que ele quiser, quando a criança
fazia um brinquedo assim a sua brincadeira estava garantida. Essa era a forma que
as crianças tinham de criar seus brinquedos, e quando a lua estava clara eles
brincavam até tarde da noite.
João do Vale guardou em suas lembranças tudo o que ele viu na zona
rural, o que os animais fazem, para manter um meio ambiente funcionando, para
manter a terra e o céu interligado. Isso ficou bem guardado em suas lembranças de
quando ainda era uma criança. Quando ele viu que era a hora de falar de sua terra
natal, começou a colocar em seus versos, como a aranha trabalhava puxando o fio
da teia, como era o trabalho das abelhas para produzir o mel. Fala sobre a lua e o
sol, dizendo que a lua é clara, o sol tem o rastro vermelho, e que o mar é o grande
espelho aonde os dois vão se olhar.
A rosa amarela quando murcha ela diminui o cheiro, os amores muito
deles são bandoleiros, boa parte deles custam muito dinheiro para se conseguir
esse tipo de fulô, ela não tem cheiro, mais que muita gente quer cheirar. A forma
como João fala do amor é muito infinito e bem real.
Segundo Sipriano (p. 229. 2019), Texto I intitulado de (O povo de João do
Vale, e o Violão de Dilermando), por: Juvenal Portela e Mauro Ivan, (Caderno B,
Jornal do Brasil em 08 de agosto de 1965. O cantor e compositor João do Vale tem
hoje inegavelmente garantido um lugar de destaque, na Música Popular Brasileira,
suas canções rudes, e agressivas focando na realidade vivida e sofrida pelo povo,
retratando com a sua consciência todos os acontecimentos em nossos pais, em
diversos estados do Brasil e no mundo em que vivemos, com suas frases dento de
suas composições.

"Dizem que a escravidão acabou, mas pra mim, não, mas pra mim não".
Esta frase de uma composição em que tem como parceira Marília
Bernardes, define toda a revolta contida em sua música. João do Vale, em
sua obra espelha toda uma linha de reivindicações sociais que os
brasileiros, principalmente do Nordeste, de onde ele veio, trazem no
coração. Traz o compositor para o disco toda a força das lembranças que
vieram com ele do sertão e também das injustiças quem viu e sofreu.
(SIPRIANO, p. 228, 2019).

O compositor dirá de si, colocando em seu disco todas as lembranças


guardadas durante toda a sua vida no sertão do Nordeste, as injustiças que ele e
outras pessoas sofreram, e que até hoje sofrem por serem negros, pobres, filhos de
pessoas humildes que não têm onde morar e nem terra para plantar. Se sujeitando a
ir paras as grandes cidades viverem uma aventura. Uns conseguem outros não têm
a mesma felicidade que o nosso poeta maior teve. Ele sofreu muito, mas através da
luta ele conseguiu vencer através da sua arte.
A sua música se torna popular e brasileira, através de seus belos
poemas, em algumas delas é mostrada focando em três palavras curtas, mar, amor
e flor, sendo criada na beira do mar, sua terra natal, ou longe dela, quando a
lembrança bate apertando o peito do poeta. João e as suas músicas jamais seriam
diferentes, um homem que carrega consigo, muitas lembranças amargas de sua
infância, sofrimento, dor. Ele consegue contar através da escrita tudo isso, sendo
mais tarde beneficiado e reconhecido, por grandes nomes, nacionais e
internacionais deste planeta.
Um homem alegre de linguajar rústico, mas muito expansivo carregando
consigo as lembranças vivas de sua terra natal, o canto do pássaro, a onça no pé do
lajeiro, a culinária do peba com pimenta, a festa tocada com a sanfona, a arte ficou
impregnada em sua vida. Ele não confia muito no ser humano, pois sabe que pode
haver descontentamento entre eles. Mesmo nas horas que ele não é compreendido,
encontra na música uma forma de poder conversar com o mundo, levando a
verdade para todos que precisam.
Reclamando e gritando com a sua música, com a esperança que tudo que
acontece de errado possa mudar, ele traça entre linhas um mundo simples e muito
forte, impedindo centenas e milhões de pessoas que não estudaram, e não sabem
fazer um baião. O pedreiro passa pela lavadeira, pescador e pelo lavrador, e tantos
outros sem nem uma função na vida, cantando e contando seus dramas, e seus
diversos problemas, aborda a sua coragem a sua vida e seus preconceitos,
cantando a fé do povo, quando ele fala na festa de São Benedito na cidade de
Pedreiras.
Em ritmo de baião, ele consegue a façanha de estar fazendo parte, da
construção da Música Popular Brasileira, em meados do século XX, ao início do
século XXI, com a sua música genuinamente nordestina do nosso sertão.
Reivindicando o suficiente para uma sociedade que sofre. O seu disco consegue
ganhar a confiança do povo que passa o mesmo sofrimento que o poeta passou.
Naquela época era difícil vender um disco que falava a verdade, e hoje seria a
mesma coisa, o fato é que suas verdades ficaram marcadas nas vidas de muita
gente.

4 A POESIA DE JOÃO DO VALE, E A SUA IMPORTÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO

A poesia de João do Vale tem uma multiplicidade de sentidos, podendo


ser abordada e estudada em sala de aula. O conteúdo presente em suas letras de
músicas é vasto, pois envolve várias temáticas que abrangem os diversos setores
da sociedade, englobam disciplinas como geografia e história, língua portuguesa e
principalmente literatura.
Segundo Filho (p. 14, 2010), a literatura é uma arte que envolve a
palavra, a linguagem se tornando um instrumento necessário para uma sociedade,
com uma função importante para transmitir conhecimentos culturais para todos. A
literatura estreita esses vínculos com a sociedade, e João do Vale com seus escritos
faz isso com naturalidade, suas músicas são cantadas por boa parte das pessoas,
seus poemas são estudados nas escolas, e quando os alunos verificam essas letras
se deparam com o novo, uma letra muito atual, retratando o momento. As ideias e
os pensamentos do cantor e compositor João do vale são seguidos dentro dessa
linha literária. O artista dentro da arte, tem o seu próprio mundo com sua realidade e
a sua imaginação que se torna real. A literatura tem a função social e histórica de
construir dialeticamente os escritos envolvendo personagens humanas, que com o
tempo se tornam motivo de estudo.
Segundo Silva (p. 22. 2006). A poesia de João do Vale é traduzida em
seus textos naquilo que o povo expressa em seu dia a dia. Apesar de não ter tido a
oportunidade de estudar, ele consegue reunir tudo o que vivenciou em sua infância,
e quando parte em busca do desconhecido, consegue juntar a sua poesia
intercalada com a melodia. Seu jeito simples de fazer arte chama à atenção, com
brincadeiras humorísticas. Na literatura, a sua imaginação aguçada faz evoluir o seu
desempenho com as palavras, simplificando para uma linguagem simples.
Segundo Sipriano (p. 111. 2019), o texto literário é formado e formatado
de acordo com a visão que o artista tem sobre a arte. As palavras têm que ter uma
relação voltada para o campo da arte fazendo um intercâmbio, com a sociedade
penetrando dentro do campo das atividades humanas. É dessa forma que a arte vai
se tornando uma criação do artista, essas demandas de ideias vão chegando,
influenciando e abrindo caminhos na área política e econômica, exercendo um poder
enorme no meio social.
A ponte feita pelo artista com a arte vai se tornando uma base, chegando
de todas as formas para as comunidades, tornando-se uma comunicação simples
com a sua própria característica, é dessa forma que o texto poético se torna uma a
obra de arte especifico em poesias, fácil de ser compreendido por uma sociedade.
As obras poéticas terão de ser verbalmente analisadas, baseada na estética da
comunicação, fora do campo da arte pelos os estudiosos de literatura.
Seus contos simplificados envolvendo pessoas humildes do sertão
conseguem chegar à nata da Música Popular Brasileira, tornando-se um deles.
Ganhando destaque a cultura e a música do nordeste, torna-se um passaporte para
as grandes cidades, resistindo à uma cultura de exclusão. Ele não perdia a
oportunidade em suas conversas em bares, esquinas, na rua em que morava, em
botequins onde tinham as comidas nordestinas; dali surgiam as suas composições.
Muitas de suas letras de música têm destaque. “Minha história” relata boa
parte de sua vida, como foi interrompido seus estudos, numa melodia que chama à
atenção pela voz serena relatando os fatos. Esse problema passado por ele já
estava superado. Apesar de ter recebido todas as homenagens de seus
conterrâneos, ficou uma marca triste da exclusão social em sua vida, é o que dá
para perceber nos versos líricos dessa música.
De acordo com (Paschoal, p. 70, 2000),

Nessa música Minha História ele podia simplesmente fazer um lamento


contando a vida dele, mas não, no final ele dá uma rasteira. Fala assim,
num dos versos mais bonitos da MPB: ‘...Mais o negócio não é bem eu / é
Mané, Pedro e Romão / que também foi meus colegas / e continuam no
sertão / não puderam estudar / e nem sabem fazer baião...’.”

Quando João diz que tem vários colegas, que muitos deles hoje são
doutô, apesar de ele não ter estudado, essa reflexão que ele faz estão muito vivas
na história que conta. Sua cidade apesar de já ter feito muito pela educação, aquele
dia que lhe tiraram da escola jamais será esquecida. Porque João foi escolhido? Por
ser pobre, filho de camponeses? A discriminação de raça, continua muito viva no
meio da humanidade, em pleno século XXI, a era contemporânea as pessoas fazem
questão de humilhar em frente das câmeras, apesar de João do Vale combater tudo
isso em suas músicas (Paschoal, p. 70, 2000).
Essa música foi gravada em 1965 por João do Vale, (LP cinco na bossa,
Philips,) foi gravado também por Nara Leão, e Chico Buarque gravou em 1994, pela
BMG-Ariola, LP e CD. Zeca baleiro fala sobre João do Vale, sobre a importância da
música Minha História, ganhando destaque na MPB. João ocupou espaço por muito
tempo na Música Popular Brasileira sendo uma das referências para o Maranhão.
Esse legando está viva e continuando com essa nova geração.
A sua poesia lhe torna grande, por abordar boa parte dos acontecimentos
ocorridos nas assolas, ocorrem com mais frequências com os mais necessitados.
Sua música não é mais só sua, é de todos homens e mulheres, que saem de sua
terra de origem, em busca de emprego em outro lugar para poder sobreviver. Em
suas músicas, ele pega de tudo que atinge os nordestinos principalmente a seca. A
sua preocupação não é mais consigo, mais sim com Mané, Pedro e Romão, esses
seus colegas nunca estudaram, e também não sabem fazer o Baião.

Estes versos do poeta maranhense João Batista do Vale retratam uma


realidade cruel no sistema educacional brasileiro: a exclusão social
daqueles que não podem pagar diretamente por sua educação e não
possuem um “talento nato” que os salve da miséria. Ou seja, a exclusão da
maioria dos brasileiros pobres (HENRIQUE, 2011, p.13)
Segundo Damazo (p. 132, 133, 2004), a canção “Peba na pimenta” é uma
música popular muito conhecida por pessoas humildes, ela ganhou muita
repercussão no meio popular pela a sua temática, com uma semântica cheia de
significados com malícia na expressão de suas frases dentro do contexto textual, ou
seja, com duplo sentido. Peba ou tatupeba, é um animal de quatro patas, que
penetra bem fundo na terra, cavando o chão com suas garras a procura de alimento,
quando ele é encontrado serve de alimento para as pessoas, que acreditam que a
sua carne produz efeitos afrodisíacos, e João do Vale, conta a história, falando de
dona Benta, e seu Malaquias comendo o peba na pimenta, colocando um pouco de
malicia na história.
A letra da música pode ser trabalhada em sala de aula, explicando que foi
construída utilizando versos livres, demonstrando o conteúdo ambíguo, típico de
algumas composições nordestinas, de experiências culturais que foram vividas pelo
compositor. A música começa contando sobre uma festa que “Seu Malaquias”
ofereceu peba com pimenta para os seus convidados, dentre eles a figura que é
evidenciada chama-se Maria Benta, que foi informada que o tempero não ardia. A
pimenta é um nome comum dado a vários tipos de condimentos usados na culinária
que tem um sabor picante. (SILVA, 2016, p. 04)
As expressões usadas pelos autores João do Vale, José Batista e Adelino
Rivera são jocosas, eles utilizam as palavras ironizando os acontecimentos das
festas populares com a descontração pelo o cômico grotesco. Após a refeição um
arrasta-pé ao som de uma sanfona. Nessa ilustração, mesmo na dança, dona Benta
continua gemendo, sabendo que ela foi enganada pelo seu Malaquias, colocando
muita pimenta que o peba fica ardendo demais.
Na primeira estrofe dona Benta, fica na festa dançando e se lamentando,
com o ardor da pimenta em sua boca, as pessoas ficam rindo o tempo todo na festa.
A linguística desse texto é de uma ambiguidade muito profunda, com palavras de
diversos significados, sendo interpretada corretamente pela linguística. É na estrofe
seguinte que ela ressuscita o erotismo que tem muito sentido com a sensualidade
enveredada pela canção, criando uma atmosfera erótica e cômica na interpretação
de peba na pimenta com a descontração pelo o riso causado nas pessoas.
A bela harmonia melódica e rítmica de peba na pimenta com uma bela
voz e uma tecnologia sonora bem evoluída para a música, com um bom andamento
possibilitando um texto verbal de significados e de sentidos. Na estrutura dessa
estrofe, seus versos são repetidos, retornando ideias anteriores (anafóricos), uma
expressão que corresponde a várias emoções, uma flexão do verbo que está de
acordo ou se assemelha ao que está em segundo lugar.
O “tá” um verbo que tem o efeito de se contrair, ou diminuir de tamanho,
menos polissêmico na palavra e na locução verbal. Segundo Dicio (2021), Arder
verbo intransitivo, no sentido figurado, estar em chamas, paixão da alma, essa
palavra se junta às demais, substantivadas, agonia, arrelia, juntamente com o
adjetivo bom, permitindo que a interpretação da canção com conotações
irreverentes, abrindo uma qualidade no engraçado no estado em que se encontra
Maria Benta.
Segundo OLIVEIRA, (p. 13, 14, 15. 1998), com mais coragem do que
antes João do Vale volta para Pedreiras, ao completar 62 anos de idade. No dia 11
de outubro em 1995, os artistas maranhenses homenageiam o poeta, cantor e
compositor, com um show no Teatro Artur Azevedo em São Luís Capital do Estado
do Maranhão. O Instituto Dom Barreto em Teresina, presta uma homenagem ao
poeta João do Vale com os artistas locais em sua 11ª semana cultural, cantando
suas músicas mais conhecidas, Carcará, e Peba na Pimenta e os alunos daquela
instituição, fazem dramatizações com algumas de suas músicas.
Chico Buarque de Holanda parceiro e amigo de João do Vale o presenteia
em maio no mesmo ano, com um CD que reuniu grandes nomes da música popular
brasileira como Alcione, Chico Buarque, Edu Lobo, Maria Bethânia, Fagner, e tantos
outros nomes importantes da música nacional. Esse CD foi tão bem elaborado que
ganhou o Prêmio Sharp na categoria regional.
Em suas canções João do Vale consegue se envolver nas questões
sociais da época com uma pitada generosa de bom humor. Um exemplo desse
comprometimento social foi a contribuição dada com a música “Pisa na fulô”. Essa
composição é um relato do que ocorria à época em locais ditos de “tolerância”, pois
tudo acontece na rua da Golada onde havia alguns desses estabelecimentos de
diversão. Era o reduto do meretrício. “Pisa na fulô” é um relato histórico de uma
época em que o autor fala da sua saudade de participar das festas ali promovidas,
ao mesmo tempo que denuncia os abusos que aconteciam naquele lugar.
Os versos “Pisa na fulô / não maltrate meu amor” são versos de duplo
sentido que retratam a condição das meretrizes que eram usadas como produto de
venda e objeto de prazer. Ainda aponta para um apelo contra a desvalorização da
mulher. No verso “Eu vi menina que nem tinha doze anos...” denuncia a ocorrência
de meninas existentes naquele “antro” ou que naquela tenra idade já eram
conduzidas ao casamento. Em todas as suas composições o gênio rudimentar dá
sua contribuição denunciando os problemas sociais da época. Algo que só será
percebido por quem conhece o contexto sociocultural de meados do século XX.

5 TEATRO SIQUEIRA CAMPOS SÃO PAULO, PALCO DO SHOW OPINIÃO

O teatro se faz presente em nossas vidas desde os tempos remotos, onde


já se interpretavam as formas de vida, fazendo as pessoas terem uma visão mais
ampla da sociedade, e é o que acontece até hoje. Sua importância é destacada
desde sempre, pois se trata de uma das manifestações culturais mais antigas, que
envolve outros tipos de linguagens artísticas.
Na educação ele tem um papel fundamental, que é o de oportunizar as
crianças a manterem contato com o mundo, questionando, criticando e
desenvolvendo habilidades tais como: a criatividade, coordenação, memorização e o
crescimento do vocabulário, sendo uma das artes que mais encanta os alunos, por
proporcionar diversas situações do seu cotidiano.
Segundo Garcia (p. 02, 04. 2018), com o surgimento de vários grupos
teatrais no Brasil em 1960, todos eles encontraram um ambiente favorável e vão à
procura de algo, para se realizarem. Nessa interação eles são desafiados por
diversas linguagens que os rodeiam como: música, danças, artes visuais, arquitetura
e saem ao encontro do rádio, jornais, televisão e revistas. Todos esses meios de
potencialidades tem o poder de alterar a produção do teatro no início do século XX.

Se no Brasil, até meados desse século, a produção nacional havia sido


relacionada exclusivamente à produção dramatúrgica e, por isso, muitas
vezes considerada uma espécie de subgênero da literatura brasileira
(MOSTAÇO, 2012, p. 2).

O conjunto harmonioso dos sons se junta às palavras com sentidos


diversos, alterando a produção teatral brasileira no meio do século XX, e no começo
do século XXI, a Literatura Brasileira fica robusta em subgêneros, marcando a
história do espetáculo, rompendo com o Ocidente e se modernizando. O desejo de
mudança daqueles jovens da época implode com o jeito convencional. Eles
começam a buscar a sua própria identidade. A música se insere no teatro através do
canto e com a execução dos instrumentos. A cena teatral é feita em recitais em
shows.
A Música Popular Brasileira é fruto dos diversos grupos organizados no
Rio de Janeiro. UNE, União Nacional dos Estudantes, CPU (Centro Popular de
Cultura), e o Teatro de Arena. Com o surgimento do Show Opinião nos anos 1964 e
1965, não era diferente dos demais que já existiam como: Arena Conta Zumbi, Morte
e vida Severina, Arena Conta Tiradentes e Roda Viva, o sentido era o mesmo.
Segundo Paschoal (p. 84, 95, 96, 2000). Dia 11 de novembro de 1964, foi
realizado em São Paulo o Show Opinião, pelo grupo de mesmo nome com parceria
do Teatro de Arena de São Paulo, sobe a direção de Dorival Caymme Filho, Roberto
Nascimento no Violão, Alberto Hakel Tavares, na flauta, João Jorge Vargas na
bateria, direção geral de Augusto Boal, com a participação, de Nara Leão, Zé Kéti e
João do Vale.
É oportuno ressaltar que o show opinião acontece em um momento
político muito particular da história política do Brasil, a “Ditadura militar” que feriu na
pele ou na alma todo o povo brasileiro para sempre, deixando um rastro de dor e
revolta. Situação atroz que não poupou nem um vivente, sobretudo a arte que tem
um papel fundamental na formação da consciência de um povo. Entre torturas e
exílios, a repressão ia tentando calar as vozes mais ousadas. O show ora citado
ousou gritar.
Segundo Figueiró (p. 2, 2013), os teatrólogos Armando Costa, Oduvaldo
Viana Filho, e Paulo Pontes, tinham uma ligação aos grupos teatrais, Arena e
Oficinas, e foram eles que escreveram o Show Opinião, eles já haviam participado
do grupo de Teatro da CPC’s (Centros Populares de Cultura da UNE, e quem dirigia
era Augusto Boal, do Teatro Arena de São Paulo, os artistas que participavam
realizando shows era: Zé Kéti, Nara Leão, e João do Vale.
No Livro de ouro da MPB, o show opinião com a sua produção sofisticada
aponta a crítica, quando se iniciou os anos de 1960 com o samba de raiz, foi a partir
daí que se começa ouvir os primeiros gritos dos artistas que ecoa, reagindo contra o
golpe militar, é o que afirma Ricardo Cravo Albin. Essa foi uma ideia fantástica que
começou a brilhar graças as ideias de Vianinha, o Oduvaldo Viana Filho, o Opinião
foi uma ideia que surgiu do samba harmonioso de Zé Kéti, inovando a música
popular brasileira através do teatro.
O asfalto, não chegava nos morros, o sertão desassistido pelas
autoridades, as operações policias irregulares com truculência, as torturas sofridas
pelas pessoas quando eram presas, em um momento tão sóbrio que os brasileiros
passavam, nos primeiros meses de governo da ditadura, o Show Opinião revela
através da música todas as atrocidades sofridas pelo o povo brasileiro, como
expressa o próprio João do Vale no início de sua apresentação sobre a situação do
Nordeste que à época em meados de 1950, onde mais de 2 milhões de nordestinos
viviam fora de seus estados e longe de suas famílias, 15% do Ceará, 15% Bahia,
13% do Piauí, 17% de Alagoas. A música Carcará através de seus versos revela
todos esses acontecimentos.
A música Carcará, escrita por João do Vale e José Cândido, uma das
mais conhecidas por todos, demonstra em sua letra a força e a coragem de
enfrentar a fome e a seca no sertão, sendo representada por um pássaro, mais
precisamente uma ave de rapina que tem várias estratégias para poder se alimentar.
O crítico Luiz Izrael Febrot, faz um comentário sobre a força dos versos
de Carcará.

“Carcará é poema de verso denso e música de ritmo quase marcial, direto


mas poético, ilustra e ensina sem epílogo didático. A música além de fundir-
se completamente com a letra – é impossível melodiar sem lembrar as
palavras, dizer os versos sem fazê-lo na pauta –, tem o som e a melodia da
ave feroz que não vai morrer de fome e por isso pega, mata e come”.
(PASCHOAL p. 96. 2000).
O compositor de Carcará, assim como era rotulado não compôs apenas essa
bela canção, mas essa foi a que mais lhe concedeu sucesso, apesar das
consequências e cobranças. A música também foi o ponto de partida para a carreira
vitoriosa da baiana Maria Bethânia na MPB.
A canção tema do Show Opinião, “Carcará” foi utilizada por muito tempo
como a voz do morro, como uma forma de criticar e protestar, contra a ditadura
militar, se tornando um marco histórico e musical, perpetuado a música em diversos
momentos até hoje.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em vista dos argumentos apresentados, vimos que o talento de João do Vale


sempre foi visível desde a sua concepção. Passou por vários problemas como
pobreza, discriminação dentre outros fatos que poderiam muito bem ter feito com
que ele não usasse da sua arte para viver, mas a sua vocação falou mais alto, e foi
com o seu dom que ganhou os palcos e através da música atravessou fronteiras
através das suas letras e músicas carregadas de significados que nos ajudam a
compreender a realidade por ele vivida e pelo povo nordestino.
Com seu estilo próprio, chamou a atenção de vários artistas que já eram
consagrados na música popular brasileira, fazendo de João mais um deles,
engrossando as fileiras dos grandes compositores e poetas populares que nosso
Brasil já teve, enriquecendo a literatura e a música de um país que é diversificado e
de um povo que aprecia o que é bom.
As letras de João do Vale podem ser usadas em vários contextos, podendo
ser estudadas no âmbito educacional para abordar as diferenças das classes
sociais, podendo ser estudada a parte regional, compreendendo a cultura local e o
bioma do sertão. No campo da literatura pode ser observada a forma de suas
composições, e na língua portuguesa como é trabalhada a variação linguística,
levando o discente a refletir sobre nos mais diferentes contextos.
A cidade de Pedreiras, que tem como referência musical João do Vale, até
hoje canta suas letras, suas músicas, suas composições, não deixando de lado a
sua obra, inspirando artistas locais como músicos, poetas e compositores que
exploram suas melodias, interpretam fazendo uso da obra de arte que ele deixou.
É de grande relevância para todos da sociedade civil e escolar, saber que a
obra musical de João do Vale, passou por vários percalços até as suas produções
serem reconhecidas. O seu estilo perpassou por várias vertentes, até criou seu
próprio estilo como as meninas da PUC intitularam “Rock Rural”. Sua genialidade
inspirou e ainda inspira, a todos que buscam na sua fonte musical que é incessável.
REFERÊNCIAS

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Pós – 1964. REVELL – Revista de Estudos Literários, UEMS. (Universidade
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MOSTAÇO, Edélcio. Teatro e história cultural. Baleia na Rede, Marília, v. 1, n. 9,


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NOGUEIRA, Ádemas Galvão de Lima. Canto do poeta do povo: um estudo


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OLIVEIRA, Silva Andréia. João do Vale: mais coragem do que Homem. EDUFMA
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PASCHOAL, Marcio. Pisa na fulô, mas não maltrata o carcará – Vida e Obra do
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QUADROS JÚNIOR, João Fortunato Soares de. Música Brasileira [e-book]. São
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RUFINO, Márcio Ulisses de Lima; COSTA, Judas Tadeu de Medeiros; SILVA,
Valdeline Atanasio; ANDRADE, Laise de Holanda Cavalcanti. Conhecimento e uso
do Ouricuri (Syagruscoronata) e do babaçu (Orbignya pfalerata) em Buíque.
PE, Brasil. Publicado em 10 de fevereiro 2009. Disponível em:
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SILVA, Claudeci Ribeiro da. Representações do feminino no forró do nordeste.
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SILVA, Cleide Portela. A música de João do Vale como instrumento de Denúncia


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SIPRIANO, Benedita França. GONÇALVES, João Batista Costa. Uma leitura


dialógica do verbo-visualidade dos signos “Nordeste” e “Popular” no
“Fascículo” “João do Vale”, na Coleção Nova História da Música Popular
Brasileira (1977). PERcursos Linguísticos. Vitória (ES) v. 8. n. 19. 2018. Dossiê – O
dialogismo nos estudos contemporâneo da linguagem.

_________, Benedita França. Popular e Tradição na Esfera Artístico-Musical:


uma análise dialógica sobre heterodiscurso e processos de construção de
sentidos a partir da obra de João do Vale. Universidade Estadual do Ceará.
Centro de Humanidades. Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada.
Doutorado em Linguística Aplicada. Fortaleza, Ceará – 2019.
1-14, jul./dez. 2012.

SOUZA, T. A volta de um poeta do povo num disco milionário. Jornal do Brasi,


16 jan. 1982. Caderno B. Disponível em: Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015_10&pasta=ano%201
98&pesq=%22A%20volta%20do%20poeta%20do%20povo%22>. Acesso em: 15
nov. 2021.
ANEXO
ORICURI (Segredos do sertanejo)
(João do Vale e José Cândido)

Oricuri madurou e é sinal


Que arapuá já fel mel
Catingueira fulorô lá no sertão
Vai cair chuva a granel

Arapuá esperando
Oricuri madurecer
Catingueira fulorando
Sertanejo esperando chover

Lá no sertão, quase ninguém tem estudo


Um ou outro que lá aprende ler
Mais tem homem capaz de fazer tudo doutor
Que antecipa o que vai acontecer

Catingueira fulora vai chover[...]


NA ASA DO VENTO
(João do Vale e Luís Vieira)

Deu meia noite


A lua faz um claro
Eu assubo nos aro
E vou brincar no vento leste
Aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia
Da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olá rá viu
Muita gente desconhece

A lua é clara
O sol tem rastro vermelho
É o mar tem um grande espelho
Onde os dois vão se mirar
Rosa amarela quando murcha perde o cheiro
O amor é bandoleiro
Pode inté custar dinheiro
É fulô que não tem cheiro
E todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olá, rá, viu
Todo mundo quer cheirar...
MINHA HISTÓRIA
(João do Vale e Raimundo Evangelista)

Seu moço quer saber


Eu vou contar num Baião
Minha história pro senhor
Seu moço preste atenção

Eu vendia pirulito
Arroz-doce mungunzá
Enquanto eu ia vender doce
Meus colegas iam estudar
A minha mãe tão pobrezinha
Não podia me educar

E quando era de noitinha


A meninada ia brincar
Vige, como eu tinha inveja
De ver o Zezinho contar
“O professor raiou comigo
Porque eu não quis estudar”

Hoje todos são “doutô”


E eu continuo um joão-ninguém
Mas quem nasce pra pataca
Nunca pode ser vintém
Ver meus amigos “douto”
Basta pra me sentir bem

Mais todos eles quando ouvem[...]


PEBA NA PIMENTA
(João do Vale, José Batista e Adelino Rivera)

Seu Malaquias preparou


Cinco peba na pimenta
Só o povo de Campinas
Se Malaquias convidou
Mais de quarenta

Entre todos convidados


Pra come peba
Foi também Maria Benta
Benta foi logo dizendo
Se arder num quero não
Seu Malaquias então lhe disse
Pode comer sem surto
Pimentão não arde não

Benta começou a comer


E a pimenta era da braba
Danou-se pra arder
Ela chorava, se maldizia
Se eu soubesse desse beba
Eu não comia
Ai, ai, ai, seu Malaquias
Ai, ai, você disse que não ardia
Ai, ai tá ardendo pra danar
Ai, ai, tá me dando uma agonia
Ai, ai, que tá bom eu sei que tá
Ai, ai, ai, que tá fazendo uma arrelia...

Depois houve o arrasta-pé


O forró tava esquentando
O sanfoneiro então disse
Tem gente aí que tá dançando soluçando
Procurei pra ver quem era
Pois não era Benta
Que ainda estava reclamando?

Ai, ai, ai, seu Malaquias


Ai, ai, você disse que não ardia
Ai, ai, tá ardendo pra danar
Ai, ai, tá me dando uma agonia
Ai, ai, que tá bom eu sei que tá
Ai, ai, ai, que tá fazendo uma arrelia[...]
PISA NA FULÔ.
(João do Vale)

Um dia desse
Fui dançar lá em Pedreiras
Na Rua da Golada
Gostei da brincadeira
Zé Caxangá era o tocado
Mais só tocava
Pisa na fulô[...]
CARCARÁ
(João do Vale e José Cândido)

Carcará Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem um bico volteado
Que nem avião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando e cantando
Carcará
Vai fazer sua caçada
Come inté cobra queimada[...]

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