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Nelson J. Nunes
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa,
Departamento de Fı́sica,
Instituto de Astrofı́sica e Ciências do Espaço
Contents
1 Introdução 2
4 Princı́pio da equivalência 6
7 A equação da geodésica 12
10 Vectores e tensores 19
10.1 Vector contravariante 19
10.2 Vector covariante 20
10.3 Tensores 20
11 Derivada covariante 22
13 Curvatura 26
15 O tensor energia-momento 30
16 As equações de Einstein 31
18 A solução de Schwarzschild 35
–i–
22 Deflexão dos raios luminosos 40
27 Coordenadas de Kruskal-Szekeres 49
32 Ondas gravitacionais 59
36 O princı́pio cosmológico 69
38 A equação de Friedmann 72
39 A equação da continuidade 73
40 A lei de Hubble-Lemaı̈tre 75
41 Formas de matéria 76
43 Os parâmetros cosmológicos 79
– ii –
45 A idade do Universo 86
46 Distâncias em cosmologia 88
48 Horizontes em cosmologia 92
49 Densidades tensoriais 94
50 O determinante da métrica 95
51 Coordenadas geodésicas 97
–1–
1 Introdução
“Eu nunca ensino nada aos meus alunos, eu só facilito as condições para
que eles consigam aprender.”
A. Einstein
Estas notas resultam da compilação dos meus apontamentos para o curso de Relatividade
e Cosmologia dado na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Curiosamente,
o primeiro ano em que dei esta disciplina, 2015, celebrava-se o centenário do nascimento
da teoria da Relatividade Geral. No ano seguinte celebrava-se o centenário da descoberta
teórica das ondas gravitacionais, o mesmo ano em que foi anunciada a detecção da primeira
onda gravitacional. Em 2017 celebrava-se o centenário da aplicação da relatividade geral
à Cosmologia. Em 2018 vimos a primeira colisão de estrelas de neutrões e em 2019 a
primeira imagem da sombra de um buraco negro. Em 2020 foi reconhecido o trabalho de
Roger Penrose no tema das singularidades dos buracos negros ao receber o Prémio Nobel
da Fı́sica nesse ano. Torna-se evidente assim que a Relatividade Geral continua uma área
muito activa com aplicações no quotidiano e noutra áreas da Fı́sica e previsões ainda por
confirmar.
A compilação destas notas foram-me um pouco forçadas, e deveram-se à pandemia da
Covid-19 que obrigaram qualquer docente a reinventar os métodos de estudo habituais. O
resultado foi uma reflexão maior sobre os meus apontamentos, melhorando-os, e permitindo
que eu pudesse entender um pouco melhor o ”reino das ideias” geniais e elegantes da
relatividade geral.
O objectivo é dar uma visão geral da Relatividade Geral com aplicações à cosmologia e
também com o intuito de preparação para a disciplina de Universo Primitivo e Cosmologia
Fı́sica. Tenta ser uma abordagem muito simples evitando quanto possı́vel a introdução de
nova matemática coisa que só é feita quando são necessárias novas ferramentas para que se
possa progredir. E claro, não dispensa a leitura da biografia recomendada e na qual estas
notas beberam muito [1–5].
Devo ainda agradecer as contribuições dos alunos Ana Ribeiro (cap. 58), Pedro Ruivo
(caps. 61, 62), e Rafael Pastor e Beatriz Reis (cap. 63), para alguns dos capı́tulos da sebenta
como resultado das suas respectivas apresentações sobre um tópico à escolha.
–2–
2 O que é a Relatividade Geral?
“Quando estás a cortejar uma bela jovem, uma hora parece um segundo.
Quando te sentas numas brasas quentes e vermelhas, um segundo parece
uma hora. Isso é a relatividade.”
A. Einstein
1. Dilatação gravitacional do tempo (o tempo passa mais depressa perto de uma fonte
gravitacional)
4. Atraso do tempo gravitacional (efeito de a luz levar mais tempo a chegar quando a
trajectória passa junto a um objecto massivo)
–3–
3 Os princı́pios da Relatividade Geral
[D’Inverno cap. 9]
“E foi quando me ocorreu a ideia mais feliz da minha vida na seguinte
forma. O campo gravitacional só tem uma existência relativa... Porque
para um observador em queda livre do telhado de uma casa não existe
(pelo menos na sua vizinhança) campo gravitacional. De facto, se o ob-
servador deixar cair alguns corpos estes manter-se-ão relativamente a
ele num estado estacionário ou em movimento uniforme, independente-
mente da sua natureza quı́mica ou fı́sica.”
A. Einstein
Quando Einstein se preparava para uma revisão da sua teoria da relatividade restrita
pensou no facto que uma pessoa que salta do telhado de um prédio não sente o seu peso.
Este pensamento que mais tarde descreveu como “A ideia mais feliz da minha vida”, foi
a semente de onde nasceu a teoria da relatividade geral na qual podemos identificar os
seguintes princı́pios:
1. Princı́pio da equivalência
O movimento de uma partı́cula teste num campo gravitacional não depende da sua
massa ou composição.
Daqui saem duas consequências.
(a) Não há experiências locais que possam distinguir uma queda livre sem rotação
num campo gravitacional de um movimento uniforme no espaço na ausência de
campo gravitacional.
–4–
(b) Um referencial acelerado relativamente a um referencial inercial em relatividade
restrita, é idêntico a um referencial em repouso num campo gravitacional.
3. Princı́pio da correspondência
A relatividade geral deve concordar com a relatividade restrita na ausência de gravitação
e com a gravitação Newtoniana no limite do campo fraco e pequenas velocidades.
–5–
4 Princı́pio da equivalência
F~ = mI ~a
F~ = −mG ∇φ = mG~g
onde φ é o campo gravitacional. Vamos assumir duas partı́culas de massas inerciais mI1 e
mI2 e massas gravitacionais mG G
1 e m2 , que são deixadas cair da mesma altura num campo
gravitacional φ. Então temos
F~1 = mI1~a1 = mG
1~g
F~2 = mI2~a2 = mG
2~g
mI1 mI2
=
mG
1 mG
2
e por uma escolha adequada de unidades, podemos dizer que mI = mG , ou seja, as massas
inercial e gravitacional são idênticas. Alternativamente, se ~a1 6= ~a2 , então a quantidade
a1 − a2 mG /mI − mG I
2 /m2
η=2 = 2 1G 1I
a1 + a2 m1 /m1 + mG I
2 /m2
não se nula. É precisamente este parâmetro que é medido (ou constrangido) pela ex-
periência de Eotvös. Usando berı́lio e titânio para cada uma das massa no campo gravita-
cional da Terra, temos
–6–
Figure 1. Idealização da experiência de Eötvos. Emprestado de C. Will, “Was Einstein right?”
Figure 2. Vista de perfil do aparato mostrando as forças que actuam em cada uma das massas.
Para que não haja torção, as componentes da força gravitacional e da força centrı́fuga no plano
de torção têm de se anular. Isto só pode acontecer se mG /mI for igual para as duas massas. As
componentes verticais são canceladas pela tensão no fio que liga à barra.
–7–
Este princı́pio é testado por variações de parâmetros adimensionais (como a factor
giromagnético do protão, a constante de estrutura fina) e razões entre massas (como
a razão entre a massa do protão e do electrão).
–8–
5 A luz sente a gravidade
–9–
6 Desvio para o vermelho gravitacional
Já vimos que se as massas inérciais e gravitacional são iguais, qualquer partı́cula num
campo gravitacional, sofre uma aceleração ~g . Pelo princı́pio de equivalência, isto é equiva-
lente a termos as partı́culas fora do campo gravitacional mas num referencial acelerado de
~g . Vamos explorar esta identidade.
Consideremos dois observadores, A e B. O observador A está a uma altura h da su-
perfı́cie da Terra e B está à superfı́cie. A emite um sinal em t = tA = 0 e em ∆tA que é
recebido em B em tB e tB +∆tB . Isto tem de ser assim mesmo com ∆tB < ∆tA porque pelo
princı́pio da equivalência esta situação é equivalente a ser realizada longe de um campo
gravitacional mas num referêncial acelerado. Nesse caso, o segundo sinal chega a B mais
rápido do que o primeiro sinal chegou uma vez que o fotão tem uma distância mais curta
a percorrer.
– 10 –
O sistema pode então ser descrito num meio sem gravidade mas a deslocar-se para
cima com aceleração ~g . Temos que nas posições A e B,
1 1
yA (t) = gt2 + h , yB (t) = gt2
2 2
Temos então, para o primeiro sinal,
1
yA (0) − yB (tB ) = h − gt2B = ctB
2
e para o segundo, desprezando termos em (gh/c2 )2 ,
1 1
yA (∆tA ) − yB (tB + ∆tB ) = h + g∆t2A − g(tB + ∆tB )2
2 2
1 2
= h − g(tB + 2tB ∆tB ) + O(∆t2 )
2
1 2
= h − gtB − gtB ∆tB
2
= ctB − gtB ∆tB
Mas esta quantidade também tem de ser a distância percorrida pelo fotão entre os instantes
∆tA e tB + ∆tB ou seja,
que como se esperava é ∆tA > ∆tB . Podemos ainda escrever gh em termos da diferença
de potencial em A e B, tal que gh = ΦA − ΦB e então
ΦA − ΦB
∆tA = ∆tB 1 +
c2
ou em termos da frequência
ΦA − ΦB
νA = νB 1−
c2
– 11 –
7 A equação da geodésica
onde λ é um chamado parâmetro afim que nos diz a posição na trajectória da partı́cula e
ẋa = dxa /dλ. E para uma partı́cula com massa define-se a acção
S = −mc2 τ
Vamos tomar a métrica Minkowski como exemplo, temos então, gab = ηab , x0 = ct,
xi = (x, y, z) e x0 = λ = ct e ficamos com
s
Z r
1 dx 2 v2
Z
2 2
S = −mc τ = −mc cdt 1 − 2 = −mc dt 1 − 2
c dt c
– 12 –
Mas o segundo termo pode ser dividido em dois permutando b ↔ d porque são ambos
ı́ndices mudos, e no último termo fazemos a → d,
1 ∂gcb d b 1 ∂gcd b d 1 ∂gdb d b
gcb ẍb + ẋ ẋ + ẋ ẋ − ẋ ẋ = 0
2 ∂xd 2 ∂xb 2 ∂xc
Usando a definição de métrica inversa g ab = (gab )−1 = g ba , temos, g ca gcb = δba , e multipli-
cando a equação por g ca temos
1 ∂gcb ∂gcd ∂gdb
ẍa + g ca + − ẋb ẋd = 0
2 ∂xd ∂xb ∂xc
onde
a 1 ∂gdb ∂gdc ∂gbc
= g ad + −
bc 2 ∂xc ∂xb ∂xd
Este exercı́cio pode ser reproduzido se tivéssemos trabalhado com L2 = gab ẋa ẋb em
vez de L e usando S = dλ L2 , o que torna o cálculo um pouco mais fácil porque se evita
R
a raı́z quadrada e a divisão por L. Note-se também que fizémos este exercı́cio assumindo
uma partı́cula massiva, L = c. Para fotões, ds2 = 0 e consequentemente L = 0. Aqui as
coisas mudam um pouco mas ainda assim é possı́vel mostrar que a equação da geodésica
se escreve da mesma maneira para os fotões.
Para geodésicas temporais, espaciais e nulas usamos respectivamente, os parâmetros
afim λ = τ , λ = s e λ = σ tal que,
– 13 –
Uma consequência do que vimos acima é que o produto interno das velocidades são
respectivamente
ua ua = −c2 ,
ua ua = 1 ,
ua ua = 0 ,
para partı́culas mais lentas que a luz, partı́culas mais rápidas do que a luz e para os fotões.
Exemplo
Vamos calcular os sı́mbolos de Christoffel para a métrica da superfı́cie de uma esfera
de raio 1,
de forma que
! !
1 0 1 0
(gab ) = , (g ab ) = 1
0 sin2 θ 0 sin2 θ
– 14 –
Importa agora verificar estas relações a partir do princı́pio variacional. Neste caso, como o
elemento de linha é do género espaço, temos
ds2
L2 = = θ̇2 + sin2 θφ̇2
dλ2
Da equação de Euler-Lagrage para θ, temos
d ∂L2 ∂L2
− =0
dλ ∂ θ̇ ∂θ
d
(2θ̇) − 2 sin θ cos θφ̇2 = 0
dλ
θ̈ − sin θ cos θφ̇2 = 0
d ∂L2 ∂L2
− =0
dλ ∂ φ̇ ∂φ
d
(sin2 θφ̇) − 0 = 0
dλ
φ̈ + 2 cot θ θ̇φ̇ = 0
Note-se que no último termo estão duas contribuições contabilizadas. A θ̇φ̇ e φ̇θ̇, o que
significa que
2 2
= cot θ , = cot θ
12 21
que são as expressões que obtivémos aplicando directamente a definição dos sı́mbolos de
Christoffel.
– 15 –
8 O limite Newtoniano ou limite do campo fraco
[Ferreira cap. 6]
A partir de agora vamos fazer c = 1 que só voltará a aparecer de forma artificial quando
for preciso usar unidades naturais.
Vimos já que segundo o princı́pio da correspondência, a relatividade geral deve concor-
dar com a relatividade restrita na ausência de gravitação e com a gravitação Newtoniana
no limite do campo fraco e pequenas velocidades. Vamos então considerar um campo grav-
itacional fraco e estacionário e partı́culas não relativistas, portanto com velocidades v 1.
O último requerimento sugere que
dxi dt
≈1
dτ dτ
Então a equação da geodésica
d2 xa dxb dxc
a
+ =0
dτ 2 bc dτ dτ
Vamos agora considerar o campo fraco, ou seja, uma perturbação à métrica de Minkowsi
tal que
d2 xa 1
= h00,a
dt2 2
– 16 –
que em notação vectorial se escreve como
d2~r 1
2
= ∇h00
dt 2
Se nos lembrarmos que da equação da aceleração de Newton, que a força é o gradiente de
uma potencial
d2~r
F~ = 2 = −∇Φ
dt
podemos indentificar
h00 = −2Φ
– 17 –
9 O desvio para o vermelho gravitacional revisitado
[Ferreira cap. 6]
Consideremos o tempo próprio de uma partı́cula τ tal que,
e vamos escolher um sistema estacionário tal que dxi = 0, então temos usando o resultado
do capı́tulo anterior
√ √
dτ = −g00 dt = 1 + 2Φ dt ≈ (1 + Φ)dt
s
dτA A
g00 1 + ΦA
= B
= ≈ (1 + ΦA )(1 − ΦB ) ≈ 1 + ΦA − ΦB
dτB g00 1 + ΦB
Ou em termos de frequências,
νA = νB (1 − (ΦA − ΦB ))
que ó mesmo resultado que obtivémos no capı́tulo 6 com c = 1. Como Φ = −GM/r, temos
ΦA − ΦB > 0 e resulta que νA < νB .
Esta diferença entre as frequeências em A e em B, foi testada pela primeira vez na
famosa experiência de Pound e Rebka em Harvard, com núcleos de 57 Fe.
– 18 –
10 Vectores e tensores
dx̃a
T̃ a =
dλ
Usando a regra da cadeia
dx̃a ∂ x̃a dxb
T̃ a ==
dλ ∂xb dλ
ou seja, o vector tangente transforma-se como
∂ x̃a b
T̃ a = T
∂xb
– 19 –
10.2 Vector covariante
Vamos agora ver os vectores que se transformam de forma oposta. Por exemplo, o gradiente
de uma função f , é desta forma
∂f
Fa = = ∂a f
∂xa
∂f ∂xb ∂f
F̃a = =
∂ x̃a ∂ x̃a ∂xb
e então o vector covariante transforma-se como
∂xb
F̃a = Fb
∂ x̃a
∂xb ∂ x̃a
F̃a T̃ a = Fb T c = δcb Fb T c = Fb T b
∂ x̃a ∂xc
vemos que é um invariante, ou seja, é um escalar, não há ı́ndices livres.
10.3 Tensores
Podemos agora generalizar para um objecto com um número arbitrário de ı́ndices em cima
e em baixo. Por exemplo, o tensor da métrica é um tensor de segunda ordem, com dois
ı́ndices covariantes.
mas como
∂xa c
dxa = dx̃
∂ x̃c
temos
∂xa ∂xb
g̃cd = gab
∂ x̃c ∂ x̃d
Em geral temos que um tensor Qab...
cd... se tranforma
– 20 –
onde Q(ab) é a parte simétrica
1
Q(ab) = (Qab + Qba ) = Q(ba)
2
e Q[ab] é a parte antisimétrica
1
Q[ab] = (Qab − Qba ) = −Q[ba]
2
Também se pode definir o traço de um tensor como a contração dos seus ı́ndices e mostra-se
facilmente que é um invariante.
∂ x̃a ∂xd c
Q̃aa = Q = δcd Qcd = Qcc
∂xc ∂ x̃a d
– 21 –
11 Derivada covariante
[Gibbons cap. 9]
Vimos que Fa = ∂a f se transforma como um vector covariante. Mas a sua derivada já
não se transforma como um vector covariante. Vejamos,
c
∂ F̃a ∂ ∂x ∂xc ∂xd ∂Fc ∂ 2 xc
= Fc = + Fc
∂ x̃b ∂ x̃b ∂ x̃a ∂ x̃a ∂ x̃b ∂xd ∂ x̃b ∂ x̃a
O primeiro termo é do género que nós estarı́amos à espera, mas a presença do segundo
termo impede que a deriva da seja um vector covariante. Portanto, a segunda derivada de
um escalar, ou Hessiana, não é um tensor covariante.
Vamos então introduzir a definição de derivada covariante, ∇a , tal que:
∇a f = ∂a f
∇a (M N ) = (∇a M )N + M (∇a N )
∇a ∇a = ∇a ∇a
∇a V b = ∂a V b + Γbac V c
∇a Ub = ∂a Ub − Γcab Uc
Estas quantidades Γabc são chamadas de conexões afim. Estas não são tensores. Na verdade,
debaixo de uma transformação de coordenadas, impondo que a derivada covariante se
transforma como um tensor,
c d
˜ a Ṽb = ∂x ∂x ∇c Vd
∇
∂ x̃a ∂ x̃b
então as conexões afim transforma-se na forma
∂ x̃a ∂xg ∂xd e ∂ x̃a ∂ 2 xe
Γ̃abc = Γ +
∂xe ∂ x̃b ∂ x̃c gd ∂xe ∂ x̃b ∂ x̃c
que fica como exercı́cio mostrar.
– 22 –
Para tensores mais gerais temos
– 23 –
12 Derivada total e o transporte paralelo
a
Se T a = dx c
dλ é o vector tangente a uma curva x (λ), definimos a derivada absoluta de
um vector por
DV a
= T b ∇b V a (12.1)
Dλ
ou seja,
DV a dV a dxb c
= T b ∂b V a + Γabd V d = + Γabc V .
Dλ dλ dλ
Dizemos que um vector é transportado paralelamente ao longo de uma curva se
DV a
=0 (12.2)
Dλ
ou seja,
dV a dxb c
+ Γabc V = 0. (12.3)
dλ dλ
Quando a equação de transporte paralelo é aplicada ao vector tangente T a , temos
DT a
=0
Dλ
a
d dx dxb dxc
+ Γabc =0
dλ dλ dλ dλ
– 24 –
d2 xa dxb dxc
2
+ Γabc =0 (12.4)
dλ dλ dλ
a
Esta é a equação da geodésica que já tı́nhamos visto com Γabc = . Quando não existe
bc
torção as conexões afim são simétricas Γabc = Γacb , e escrevem-se
1
Γabc = g ad (gbd,c + gcd,b − gbc,d ) (12.5)
2
e passamos a chamar-lhes conexões da métrica. Esta definição leva à igualdade que fica
para exercı́cio
∇c gab = 0 (12.6)
chamada de metricidade.
– 25 –
13 Curvatura
dV a dxb c
= −Γabc V ⇒ δV a = −Γabc V a δxc
dλ dλ
Então, a mudança no vector ao seguir um dos caminhos é dada por
a
V12 = V0a − Γabc (x)V b (x) uc − Γabc (x + u)V b (x + u) v c
a
V34 = V0a − Γabc (x)V b (x) v c − Γabc (x + v)V b (x + v) uc
∂(Γabc V a ) d c
Γabc (x + u)V b (x + u)v c ≈ Γabc V b v c + u v
∂xd
∂(Γabc V b ) c d
Γabc (x + v)V b (x + v)uc ≈ Γabc V b uc + uv
∂xd
Temos então que a diferença entre os caminhos é
δV a = V12
a a
− V34 = −Γabc V b uc − Γabc V b v c − ∂d (Γabc V b )ud v c
+Γa V b v c + Γabc V b uc + ∂d (Γabc V b )uc v d
h bc i
= −∂c (Γabd V b ) + ∂d (Γabc V b ) uc v d
h i
= ∂d Γabc V b + Γabc ∂d V b − ∂c Γabd V b − Γabd ∂c V b uc v d
– 26 –
Mas também já sabemos da equação de transporte paralelo que
dV b
= −Γbde V e
dxd
E então, a mudança do vector fica
h i
δV a = ∂d Γabc V b − Γabc Γbde V e − ∂c Γabd V b + Γabd Γbce V e uc v d
Vamos fazer uma última mudança de ı́ndices e ↔ b no segundo e no quarto termo, para
ficarmos com
onde se definiu
a
Rbcd = ∂c Γabd − ∂d Γabc + Γaec Γedb − Γaed Γecb
(∇b ∇c − ∇c ∇b ) V a = Rdbc
a
Vd
e o escalar de Ricci
R = g ab Rab . (13.7)
Exemplo
Para uma métrica
!
1 0
(gab ) =
0 sin2 θ
– 27 –
Calculámos Γ122 = − sin θ cos θ, Γ212 = Γ221 = cot θ. E agora calculamos o tensor de Riemann,
c
Rdab = ∂a Γcbd − ∂b Γcad + Γcae Γebd − Γcbe Γead
c
Relembrar que Rdab c
= −Rdba e Rcdab = Rabcd . Então podemos começar pela coordenada
1, e fazemos c = 1 e temos,
1
Rdab = ∂a Γ1bd − ∂b Γ1ad + Γ1ae Γebd − Γ1be Γead
Podemos agora proceder de igual forma para calcular Rdab2 . Alternativamente, podemos
– 28 –
14 As identidades de Bianchi contraı́das
Vamos agora contrair com o tensor inverso da métrica g ce (que é uma maneira elegante de
dizer que vamos multiplicar por g ce ), e não esquecer que ∇a g bc = 0 (metricidade). Então
temos
g ce Rcbe
d
= g ce g df Rf cbe = g ce g df Rcf eb = g df Rfe eb = g df Rf b = Rbd ,
∇e Rbe − ∇b R + ∇d Rbd = 0
2∇e Rbe − ∇b R = 0
– 29 –
15 O tensor energia-momento
T ab = ρua ub (15.1)
∂a T ab = 0
corresponde a duas leis de conservação conhecidas. Vamos olhar primeiro para as compo-
nente b = 0.
∂0 T 00 + ∂i T i0 = 0
∂ρ
+ ∇ · (ρ~u) = 0
∂t
∂0 T 0i + ∂j T ji = 0
∂(ρui )
+ ∂j (ρui uj ) = 0
∂t
i
i ∂ρ j ∂u j i
u + ∂j (ρu ) + ρ + u ∂j u = 0
∂t ∂t
∂~u
+ (~u · ∇)~u = 0
∂t
∇b T ab = 0 (15.2)
– 30 –
16 As equações de Einstein
1 1
R00 = − η ce h00,ce = − ∇2 h00 .
2 2
– 31 –
E como também já aprendemos que h00 = −2Φ,
R00 = ∇2 Φ .
Para calcular o escalar de Ricci fazemos
R = g db Rdb ≈ η db Rdb = −R00 + η ij Rij
E agora temos de calcular estes Rij . Para continuar o cálculo há agora três métodos que
passamos a analisar.
1. Método ”às três pancadas”
Voltamos à expressão do tensor de Ricci e tomamos
1 ce
Rij = η [hei,cj − hij,ce − hec,ij + hcj,ie ]
2
1 1
= η 00 [h0i,0j − hij,00 − h00,ij + h0j,i0 ] + η kl [hki,lj − hij,kl − hkl,ij + hlj,ik ]
2 2
Então temos
1 1
η ij Rij = − η ij η 00 h00,ij + η ij η kl [hki,lj − hij,kl − hkl,ij + hlj,ik ]
2 2
1 2 1h j k i
= ∇ h00 + hk, j − hjj, kk − hkk, jj + hkj, jk
2 2
1 2
= ∇ h00 + hjk, kj − hjj, kk
2
Para já vamos tomar hji = 0 para i 6= j e hji = −2Ψ para i = j. Isto não é evidente
e só se torna um pouco mais claro quando estudarmos buracos negros. Neste caso a
igualdade pode ser simplificada para
η ij Rij = −∇2 Φ + h11, 11 + h22, 22 + h33, 33 − ∇2 (h11 + h22 + h33 )
– 32 –
2. Método ”Chico esperto”
Como T ij ≈ 0 temos que Gij ≈ 0 e então,
1
Rij − gij R ≈ 0
2
1
Rij ≈ ηij R
2
Que uma vez substituido na expressão para R temos
3
R = −R00 + η ij Rij = −R00 + R ⇒ R = 2R00 = 2∇2 Φ
2
E depois o resto segue como no método anterior.
– 33 –
17 As soluções esfericamente simétricas
– 34 –
18 A solução de Schwarzschild
Vamos agora resolver a equação de Einstein no vazio onde Tab = 0. Da solução es-
fericamente simétrica temos que gtt = −f (r), grr = g(r), gθθ = r2 , gφφ = r2 sin2 θ. As
componentes do tensor de Ricci não nulas ficam então
1 f 00 1 f 0 f 0 g 0 1 f0
Rtt = − + +
2 g 4g f g r g
00 0
0 0 1 g0
1f 1f f g
Rrr = − + + +
2 f 4f f g rg
0 0
1 r1 f g
Rθθ = 1 − − −
g 2g f g
Rφφ = sin2 θRθθ
Aplicando agora as equações de Einstein, que já vimos podem ser escritas como
1
Rab = 8πG Tab − gab T
2
E consequentemente, no vazio, ficamos com Rtt = Rrr = Rθθ = 0. O que quer dizer que
das duas primeiras expressões temos
f f 0 g0
gRtt + f Rrr = + =0
r f g
Ou seja,
f0 g0
=− ⇒ f g = α = constante
f g
Na solução de Minskowski, f → 1, g → 1, então faz sentido estabelecer α = 1. Usando
agora a expressão para Rθθ com g = 1/f , temos
f + rf 0 = 1 ⇒ (rf )0 = 1
que depois de integrada dá
B
f =1+
r
No caso particular do limite do campo fraco vimos que
GM
f = −gtt = 1 + 2Φ = 1 − 2
r
O que nos diz que a solução de esfericamente simétrica e estática no vácuo ou solução de Schwarzschild
é
2GM −1 2
2 2GM 2
ds = − 1 − dt + 1 − dr + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 ) (18.1)
r r
– 35 –
19 A equação de Binet na mecânica Newtoniana
[Ferreira cap. 2]
Consideremos o sistema a dois corpos tais como o Sol (com massa mA ) e um planeta
(com massa mB ). O Lagrangiano é
1 µM
L = µṙ2 + G
2 r
onde r = |~r| = |~rA − ~rB |, M = mA + mB e µ = mA mB /M . Escrevendo o Lagrangiano em
coordenadas esféricas temos
1 µM
L = µ(ṙ2 + r2 θ̇2 + r2 sin2 θφ̇2 ) + G .
2 r
Vamos assumir que o θ = π/2. Então as equações de Euler-Lagrange ficam
M
r̈ − rφ̇2 = −G
r2
d 2
(r φ̇) = 0
dt
d2 u GM
2
+u= 2
dφ h
GM
u= [1 + e cos(φ − φ0 )] (19.1)
h2
– 36 –
20 A equação de Binet na Relatividade Geral
ds2 2GM −1 2
2 2GM 2
L =− 2 = 1− ṫ − 1 − ṙ − r2 (θ̇2 + sin2 θφ̇2 )
dλ r r
2GM −1 2
2 2GM 2
L = 1− ṫ − 1 − ṙ − r2 φ̇2
r r
h2
2 2 2GM 2
ṙ = E − 1 − L + 2 (20.1)
r r
e como r = 1/u,
dr 1 du
=− 2
dφ u dφ
ficamos com
2
E2 L2
1 du 1
+ u2 = 2 − (1 − 2GM u) 2 + GM u3 .
2 dφ 2 2h 2h
d2 u GM
2
+ u = 2 L2 + 3GM u2 (20.2)
dφ h
– 37 –
21 Precessão do periélio de Mercúrio
[Ferreira cap.7]
“Durante alguns dias estive fora de mim com uma feliz excitação.”
A. Einstein
Vamos agora usar a equação de Binet da Relatividade Geral e ainda a pensar na órbita
de um planeta em torno do Sol, fazemos L2 = 1. Procuramos, uma solução perturbativa
tal que
u = u0 + u1 ,
com u0 dado pela solução (19.1), u0 = (GM/h2 )(1 + e cos φ). Substituindo esta solução
teste na equação de Binet, temos para u1 ,
3GM 2
u001 + u1 = u0
e por análise dimensional 3GM/ ∼ 1/u0 , e consequentemente define-se
3G2 M 2
= .
h2
Para o planeta Mercúrio, ≈ 10−7 . E agora tentamos encontrar a solução de u1 .
GM
u001 + u1 = (1 + e cos φ)2
h2
GM
= 2 (1 + 2e cos φ + e2 cos2 φ)
h
e2 e2
GM
= 2 1+ + 2e cos φ + cos 2φ
h 2 2
onde no último passo se usou a identidade cos2 φ = (1 + cos 2φ)/2. Podemos tentar uma
solução da forma
u1 = A + Bφ sin φ + C cos 2φ
– 38 –
Ficando a solução como
e2 e2
GM
u = u0 + 2 1 + + eφ sin φ − cos 2φ .
h 2 6
Após algumas revoluções, o termo φ sin φ torna-se o mais importante, então, substituindo
u0
GM
u= (1 + e cos φ + eφ sin φ)
h2
Mas note-se que da identidade cos(φ − φ) = cos φ cos(φ) + sin φ sin(φ) ≈ cos φ + φ sin φ,
o que significa que a solução aproximada é
GM
u= [1 + e cos((1 − )φ)] (21.1)
h2
Esse efeito da precessão foi detectado por Verrier no século XIX. A precessão dos equinócios
contribui com 502500 /séc. Os outros planetas com 53100 /séc. O Sol tem um quadrupolo que
contribui com 0.02500 /séc. Tirando todos estes efeitos, ainda resta uma precessão intrı́nseca
de
– 39 –
22 Deflexão dos raios luminosos
Vamos agora procurar uma solução da equação de Binet da Relatividade Geral mas
para a luz, ou seja, quando L2 = 0, e vamos aplicá-la a defexão dos raios de luz quando estes
passam junto a uma campo gravitacional. Por outras palavras, vamos calcular o desvio na
trajectória da luz emitida por uma estrela quando passa rasante ao Sol. A equação fica
simplesmente
d2 u
+ u = 3GM u2 .
dφ2
Vamos procurar uma solução u = u0 + u1 onde u0 é a solução da equação homogénea, ou
seja
d2 u0
+ u0 = 0 ,
dφ2
e cujo resultado é
sin φ d
u0 = , r=
d sin φ
e que descreve uma linha recta, de tal forma que quando φ → 0, r → ∞ e quando φ → π/2,
r → d e quando φ → π, r → ∞, novamente. É portanto, uma recta com parâmetro de
impacto r = d, a distância mais curta ao ponto de referência.
– 40 –
que é a perturbação a uma recta. As constantes de integração foram escolhidas de forma
que haja uma simetria em torno de φ = π/2. Queremos agora saber para que valores de
φ temos as trajectória a ir para infinito, r → ∞ ou u → 0. Com cos 2φ ≈ 1, esses serão
então,
2GM
sin φ = −
d
ou seja, quando
2GM 2GM
φ− = − , φ+ = π +
d d
e então o desvio total é ∆φGR = |φ− | + |φ+ − π|
4GM
∆φGR =
d
Para raios de luz rasantes ao Sol, d = 6.96340 × 108 m, esta deflexão é de ∆φ ≈ 1.7500 .
Isto foi medido pela primeira vez por Eddington por ocasião do eclipse do Sol de 1919.
Hoje o limite observacional é
Importa aqui verificar como isto se compara com a previsão da mecânica de Newton.
Vamos admitir que podı́amos escrever o momento angular por unidade de massa do fotão
como, h = L/m = mdv/m = d, porque v = c = 1. Então da equação de Binet da mecânica
Newtoniana, terı́amos
GM
u00 + u =
d2
cuja solução é
sin φ GM
u= + 2
d d
e então o desvio seria apenas
2GM
∆φN =
d
ou seja, apenas metade daquilo que é previsto pela Relatividade Geral.
– 41 –
23 Atraso gravitacional de Shapiro
[Ferreira cap. 8]
Quando um sinal de radar passa rasante a um objecto massivo, leva mais tempo
a chegar ao alvo do que o tempo que levaria caso o objecto massivo não estivesse na
trajectória. Por exemplo, o intervalo de tempo entre a emissão de um sinal de radar que
passa junto ao sol e o sinal recebido depois que é reflectido na superfı́cie de um planeta
tem um atraso que se deve à curvatura do espaço-tempo.
Primeiro que tudo temos de calcular o tempo que a luz percorre na viagem entre a Terra
e o planeta, ∆t. E depois comparar com o tempo que decorreu na Terra, ∆τ . Vamos cal-
cular primeiro ∆t e partimos da métrica de Shwarzschild para uma onda electromagnética,
i.e., com ds2 = 0.
2GM −1 2
2GM 2
1− dt − 1 − dr − r2 dφ2 = 0
r r
Na verdade é possı́vel simplificar escrevendo dφ como função de dr. Para isso, vamos
tomar a solução em primeira ordem para a equação de Binet relativista aplicada aos raios
luminosos, ou seja, a equação da recta
d
r=
sin φ
que nos dá diferenciando
cos φ 1
dr = −d dφ = − r2 cos φ dφ
sin2 φ d
e consequentemente
2
d2
2 2 d dr
r dφ = = tan2 φ dr2 = dr2
cos φ r r 2 − d2
– 42 –
Expandindo em primeira ordem em GM/r,
d2
2 4GM 2GM
dt ≈ 1 + + 1+ dr2
r r r 2 − d2
1 4GM 2 2 2GM
= 2 1+ (r − d ) + 1 + d2 dr2
r − d2 r r
r2
4GM 2GM 2
= 2 1+ − d dr2
r − d2 r r3
ou seja,
r 2GM GM 2
dt ≈ ± √ 1+ − 3 d dr
r2 − d2 r r
Integrando entre os pontos A e B temos
" r !#B
2
p 2GM r r
∆t = ± r2 − d2 1 − + 2GM ln −1+ (23.1)
r d2 d
A
Vamos agora calcular o tempo, ∆τ que passou na Terra, onde τ é o tempo próprio
assumindo uma órbita circular de modo que dr = dθ = 0 mas dφ 6= 0. Podemos relacionar
o tempo t com τ usando o elemento de linha percorrido pela Terra
2 2 2GM
ds = −dτ = 1 − dt2 − rT2 dφ2
rT
onde rT é o raio da órbita da Terra. Simplificando ficamos com
1/2
2GM 2 2 GM 1 2 2
dτ = 1 − − rT φ̇ dt ≈ 1 − − rT φ̇ dt
rT rT 2
Podemos fazer esta aproximação para um campo gravitacional fraco e para uma momento
ângular pequeno. Como para uma órbita circular com φ̇ = constante temos a compensação
entre a força centrı́fuga e a força gravitacional tal que mrφ̇2 = GmM/r2 então,
GM 1 GM
dτ = 1 − − dt
rT 2 rT
e integrando
3 GM
∆τ = 1 − ∆t (23.2)
2 rT
Então concluı́mos que ∆τ < ∆t. Também devemos notar que tomando r d, quando d é
muito pequeno, o termo logaritmico em (23.1) diverge, ou seja, quando o raio passa muito
próximo da fonte do campo gravitacional, o atraso torna-se extremamente grande. Este
efeito pode de facto ser testado ao seguir o pulso de um sinal electromagnético à medida
que passa por detrás de um corpo massivo e verifica-se um pico durante o trânsito. Foi isto
que foi proposto por Shapiro em 1960. A experiência consistia em enviar sinais de radar
regulares para Vénus e esperar pelo eco na Terra. Quando a Terra e Vénus estão alinhados
com o Sol, confirma-se um efeito de milisegundos. Este efeito também se observou com
as sondas Mariner 6 e 7 em Marte e Landers 1 e 2. Também se verifica com binários de
estrelas.
– 43 –
24 Singularidades da métrica de Schwarzschild
2GM −1 2
2GM
ds2 = − 1 − dt2 + 1 − dr + r2 (dθ2 + sin2 θ dφ2 )
r r
r = 0: Esta singularidade de facto não pode ser removida. É uma singularidade fı́sica.
– 44 –
25 Partı́culas em queda livre radial
2GM −1 2
2 2GM 2
L = 1− ṫ − 1 − ṙ = 1
r r
Isto significa que a partı́cula pode passar pela singularidade r = 2GM continuamente
até r = 0 num tempo próprio finito. Nada de especial acontece em r = 2GM . Vamos
agora ver o que acontece do ponto de vista do observador no infinito, ou seja num espaço
Euclidiano. Partimos da Eq. (25.1) e comparemos com a equação para ṙ,
dt ṫ 1 1
= =− 2GM
q
dr ṙ 1− r 2GM
r
– 45 –
e ou seja
r3/2
Z
1
t − t0 = − √ dr
2GM r − 2GM
que é a solução que tı́nhamos antes para τ . Ou seja, t e τ decorrem de forma semelhante.
Mas quando r → rS , o termo no logaritmo predomina e temos
1/2 !
r
t − t0 ≈ −rS ln −1
rS
– 46 –
26 Fotões em queda livre radial
2GM −1 2
2 2GM 2
L = 1− ṫ − 1 − ṙ = 0
r r
e consequentemente,
2GM −1
r
dt = ± 1 − dr = ± dr
r r − rS
r2 dt r
t≈∓ ou =∓
2rS dr rS
Uma partı́cula na região r > rS seria vista a levar um tempo infinito a chegar a r = rS .
Para r < rS os cones de luz dobram porque as coordenadas tempo e espaço trocam de papel.
Uma partı́cula nesta região não pode estar em repouso mas é forçada a mover-se para r = 0.
Causalmente, não é possı́vel sair de dentro do raio de Schwarzschild que funciona como um
horizonte a partir do qual não podemos ver nada. É um horizonte de acontecimentos.
Qualquer raio de luz emitido de r . rS sofre um desvio para o vermelho para o infinito
p
porque g00 → 0 (lembrar que ν1 /ν2 = g00 (r2 )/g00 (r1 )), o que significa que deixamos de
ver a superfı́cie da fonte de luz. Um objecto que tem um horizonte de acontecimentos
chama-se um buraco negro. Desenhamos então o diagrama de espaço tempo em coorde-
nadas de Scwarzschild.
– 47 –
– 48 –
27 Coordenadas de Kruskal-Szekeres
r/2rS √ r/2rS √
t t
V =e r − rS sinh , U =e r − rS cosh
2rS 2rS
para r > rS , e
r/2rS √ r/2rS √
t t
V =e rS − r cosh , U =e rS − r sinh
2rS 2rS
para r < rS . Existe ainda a solução de substituir V → −V e U → −U , nos dois casos.
Pode-se verificar que o elemento de linha fica então
rS2 −r/rS
ds2 = 4 dV 2 − dU 2 + r2 dΩ
e
r
Mais uma vez, verifica-se que nada de especial acontece em r = rS mas que persiste a
singularidade em r = 0. Das definições temos que
V 2 − U 2 = −er/rS (r − rS )
e para r = 0, fica
V 2 − U 2 = rS
– 49 –
Para r > rS , as respectivas curvas são hipérboloides assimptóticas às rectas V = ±U .
Curvas que correspondem a valores de t constantes são representadas por linhas rectas
tais que
V t
= tanh = constante
U 2rS
– 50 –
– 51 –
28 Ponte de Einstein-Rosen ou buraco de verme
U 2 = V 2 + (r − rS )er/rS (28.1)
Em particular, se V = 0, temos que r nunca pode ser menor que rS e temos na verdade
duas soluções
√
U = ± r − rS er/2rS
1 r/rS r2
dU 2 = e dr2
4rS2 r − rS
Então temos uma superfı́cie bidimensional com este elemento de linha embebido num espaço
plano 3-dimensional.
Agora pensemos no caso em que V > 0. A figura é semelhante mas a garganta é mais
estreita. Na verdade podemos procurar o valor de r para um dado U e V resolvendo em r
a equação (28.1), e a resposta é
2
U −V2
r = rS + rS W0
rS e
– 52 –
onde W0 é a função de LambertW. Se quisermos saber para que valor de r é que U 2 se
anula, então temos a figura
√
Ou seja, quando V = rS , a garganta é tão estreita que se anula em r = 0. Quando
√
V > rS , não há solução para r, o que significa que acabamos por ter duas superfı́cies
disjuntas e perdemos o buraco de verme por completo.
√ √
V =0 V = rS V > rS
– 53 –
29 Diagrama de Penrose para Kruskal
Considere-se qualquer ponto com r > rS , uma geodésica nula radial que se dirige para
fora termina algures na linha a Nordeste, que é o infinito, mas uma geodésica dirigida para
dentro acaba na singularidade futura, a linha ondulada a Norte. Para qualquer ponto com
r < rS , quer uma geodésica dirigida para dentro ou para fora, termina na singularidade
futura.
– 54 –
– 55 –
30 A equação de desvio geodésico Newtoniano
Considere-se uma partı́cula em P num campo gravitacional com uma trajectória xa1 = xa1 (t),
e uma outra partı́cula vizinha em Q com trajectória xa2 = xa1 (t) + ξ a (t).
e para a partı́cula 2 é
Ou seja,
ξ¨a + Kba ξ b = 0
– 56 –
31 A equação de desvio geodésico na Relatividade Geral
Sejamos francos, esta equação não é muito bonita. Gostarı́amos de a escrever como a
equação do desvio geodésico Newtoniano. Para esse efeito vamos usar a derivada absoluta
que definimos anteriormente no capı́tulo do transporte paralelo.
Dξ a
= ξ˙a + Γabc ẋb ξ c
Dλ
e vamos aplicar D/Dλ outra vez a esta equação
D Dξ a d ˙a
= ξ + Γabc ẋb ξ c + Γade ẋd ξ˙e + Γebc ẋb ξ c
Dλ Dλ dλ
= ξ a + ∂d Γabc ẋd ẋb ξ c + Γabc ẍb ξ c + Γabc ẋb ξ˙c + Γade ẋd ξ˙e + Γade Γebc ẋd ẋb ξ c
¨
Agora podemos substituir ξ¨a pela equação do desvio geodésico e ẍb pela equação da
geodésica e temos
D2 ξ a
= −∂d Γabc ξ d ẋb ẋc − 2Γabc ẋb ξ˙c
Dλ2
+∂d Γabc ẋd ẋb ξ c
−Γabc Γbde ẋd ẋe ξ c
+Γabc ẋb ξ˙c + Γade ẋd ξ˙e + Γade Γebc ẋd ẋb ξ c
= [∂c Γabd − ∂d Γabc + Γace Γebd − Γaed Γecb ] ẋb ẋc ξ d
– 57 –
ou seja, temos a equação do desvio geodésico dada por
D2 ξ a a
= Rbcd ẋb ẋc ξ d (31.1)
Dλ2
que é da forma
D2 ξ a
= Kda ξ d
Dλ2
onde o tensor de maré é Kda = Rbcd
a ẋb ẋc .
D2 ξ r rS D2 ξ θ 1 rS D2 ξ φ 1 rS
2
= 3 ξr , 2
= − 3 ξθ , 2
= − 3 ξφ
Dλ r Dλ 2r Dλ 2r
o que quer dizer que na direcção radial duas partı́culas tendem a afastar-se, e nas duas di-
recções angulares, duas partı́culas tendem a aproximar-se. O efeito é mais dominate quanto
mais próximo o observador estiver do buraco negro. A este efeito chama-se esparguetificação.
– 58 –
32 Ondas gravitacionais
onde |hab | 1 e ηab = diag(−1, 1, 1, 1). De gac g cb = δab , resulta que o inverso da métrica
se expande com
g ab = η ab − hab + O(h2 )
onde
hab ≡ η ac η bd hcd
lim hab = 0 .
r→∞
Como ηab não tem componentes que dependem das coordenadas, temos
1 ad
Γabc = g (gdc,b + gdb,c − gbc,d )
2
1
= η ad (hdc,b + hdb,c − hbc,d )
2
1 a
= (hc,b + hab,c − hbc, a )
2
O tensor de Riemann fica então
1
Rabcd = (had,bc + hbc,ad − hac,bd − hbd,ac )
2
O tensor de Ricci resulta
1
Rab = η cd Rcadb = (hca,bc + hcb,ac − hab − h,ab )
2
onde definimos o traço de hab e o d’Alambertiano respectivamente
∂2
h ≡ η ab hab = hcc , ≡ η ab ∂a ∂b = ∂ a ∂a = − + ∇2
∂t2
O escalar de Ricci fica agora
R = hab
,ab − h
– 59 –
Estas expressões podem ser simplificadas se introduzirmos uma nova variável
1
h̄ab ≡ hab − ηab h
2
e de forma equivalente
1
h̄ab ≡ hab − η ab h
2
O tensor de Einstein escreve-se agora na forma
1 c
Gab = h̄a,bc + h̄cb,ac − h̄ab − ηab h̄cd
,cd
2
Pronto, está bem, parece que não adiantou muito. Mas se podermos impor a igualdade
h̄ab
,a = 0
1
Gab = − h̄ab
2
o que já é mais animador. Aquela igualdade é conhecida como condição ou norma de Einstein.
Também é conhecida como condição de Donder, de Hilbert ou de Fock. Vamos mostrar
agora que é sempre possı́vel impor esta condição.
Consideremos uma transformação de coordenadas dada por
xa → x̃a = xa + ξ a
onde ξ a é uma perturbação. Já vimos que a métrica se transforma com a relação
∂xa ∂xb
g̃cd = gab
∂ x̃c ∂ x̃d
mas como
∂ x̃a
= δba + ξ,b
a
∂xb
temos ao substituir na métrica
ou trocando de indices
– 60 –
E agora como se transforma o h̄ab ? Da expressão anterior deduzimos que debaixo de uma
transformação de coordenadas temos
˜ = h̃ − 1 η h̃
h̄ab → h̄ ab ab ab
2
1 c
= hab − ξa,b − ξb,a − ηab (h − 2ξ,c )
2
c
= h̄ab − ξa,b − ξb,a + ηab ξ,c
E subindo um indice
˜ a = h̄a − ξ a − ξ a + δ a ξ c
h̄b b ,b b, b ,c
ou seja,
˜ a = h̄a − ξ
h̄b,a b,a b
ξb = h̄ab,a
h̄ab = 0 (32.2)
hab = 0 (32.3)
desde que h̄ab,a = 0, ou seja, na gauge de Einstein, que é como quem diz
1
hab,a − h,b = 0 (32.4)
2
– 61 –
33 Graus de liberdade das perturbações gravitacionais
hab = 0
onde ab são as amplitudes das várias compenentes e k c é o 4-vector número de onda com
k 2 = kc k c = 0 porque é um vector nulo. Resulta então de (32.3) que
k 2 ab = 0
01 = −31
02 = −32
– 62 –
Então para já temos
00 01 02 − 12 (00 + 33 )
01 11 12 −01
(ab ) =
−11 −02
02 12
1
− 2 (00 + 33 ) −01 −02 33
Vamos ainda mostrar que é possı́vel usar a liberdade de gauge para impor 00 = 01 =
02 = 33 = 0.
Vimos que debaixo de uma transformação de coordenadas, hab se transforma como
(32.1)
Vamos usar esta propriedade para reduzir ainda mais os graus de liberdade e impor ˜00 =
˜01 = ˜02 = ˜33 = 0 à custa de fixar as amplitudes va . Temos então o sistema de equações
Poderı́amos ter feito, claro, outras escolhas. Resumindo, a métrica tem 16 entradas mas
como é simétrica, ficamos com 10 graus de liberdade. Aplicando a gauge de Einstein,
subtraı́mos mais 4 graus de liberdade, e pela lei de transformação das perturbações da
métrica, tiramos outros 4 graus de liberdade, restando apenas 2.
Note-se que o traço de hab se anula, haa = 0, e que as direcções de oscilação são ortogonais
à direcção de propagação . Chama-se a esta gauge, transversa e sem traço.
– 63 –
34 Polarização das perturbações gravitacionais
[Barbosa Henriques cap. 9.3]
Já vimos que uma onda gravitacional pode ser descrita pelas duas componentes h11 e
h12 na gauge transversa e sem traço. Agora vamos ver qual é o efeito da passagem de uma
onda gravitacional sobre duas partı́culas próximas uma da outra. Seja ξ a o vector que liga
as geodésicas de duas partı́culas. Sabemos da equação do desvio geodésico (31.1) que
D2 ξ a a
= Rbcd ẋb ẋc ξ d
Dτ 2
Se as partı́culas estão inicialmente em repouso temos, ẋa = (1, 0, 0, 0). Qualquer per-
turbação em ẋa será pequena e vamos ignorá-la. As componentes do tensor de Riemann
que não se anulam são
1 1 1 1 1
R010 = − ḧ11 , 2
R020 = ḧ11 , 2
R010 = − ḧ21 , 1
R020 = − ḧ12 .
2 2 2 2
Suponhamos primeiro que as partı́culas estão no eixo dos x, separadas de
ξ a (τ = 0) = (0, δ, 0, 0)
A equação do desvio geodésico dá-nos
1
ξ¨1 ≈ R001
1
ẋ0 ẋ0 ξ 1 = −R010
1
δ = ḧ11 δ (34.1)
2
1
ξ¨2 ≈ R001
2
ẋ0 ẋ0 ξ 1 = −R010
2
δ = ḧ21 δ (34.2)
2
Agora vamos assumir que as partı́culas estão no eixo dos y separadas de δ tal que,
ξ a (τ = 0) = (0, 0, δ, 0)
Da equação do desvio geodésico temos agora,
1
ξ¨1 ≈ R002
1
ẋ0 ẋ0 ξ 2 = −R020
1
δ = ḧ12 δ (34.3)
2
1
ξ¨2 ≈ R002
2
ẋ0 ẋ0 ξ 2 = −R020
2
δ = − ḧ11 δ (34.4)
2
Estamos agora em condições de vermos o efeito das duas polarizações em separado num
circulo de partı́culas de raio δ.
(a) Polarização (+): h11 = −h22 6= 0 e h12 = 0.
O movimento das partı́culas alinhadas no eixo dos x é descrito pela Eq. (34.1), ξ¨1 =
ḧ11 δ/2, enquanto que o movimento das partı́culas alinhadas no eixo dos y é descrito
pela Eq. (34.4), ξ¨2 = −ḧ11 δ/2, ou seja, as oscilações das duas direcções estão em
oposição de fase.
– 64 –
Figure 3. Polarização (+).
– 65 –
35 Emissão de ondas gravitacionais
h̄ab = −16πGTab
Vamos agora, primeiro que tudo, considerar este Tab como a fonte das ondas gravita-
cionais e admitir que a fonte está a oscilar com uma frequência ω constante. Isto é valido
porque podemos sempre fazer uma decomposição de Fourier nos vários modos de um sinal
mais complexo.
Vamos também supor que a região do espaço onde Tab 6= 0, é pequena em comparação
com λ = 2π/ω. Isto significa ainda que as velocidades tı́picas da fonte são não-relativistas
(se ω → ∞ ⇒ λ → 0, e seria mais difı́cil satisfazer aquela condição).
Vamos então representar a fonte por uma distribuição de massa diferente de zero no
interior de uma esfera de raio R λ = 2π/ω. Ou seja, Rω 2π.
Vamos separar o tensor energia-momento na sua parte temporar e na parte espacial
tal que,
onde xk = (r, θ, φ), e dadas as equações de Einstein, procuramos uma solução genérica
interior do tipo,
h̄int k iωt
ab = Bab (x )e
Fora da fonte procuramos uma solução que decaia com a distância tal como acontece com
o dipolo oscilante no electromagnetismo, então façamos,
eiω(t−r)
h̄ext k
ab = Aab (x )
r
tal que a onda se expande a partir da fonte.
Substituindo h̄int
ab na equação de Einstein, temos
(4π)3
Z
4π
d3 x ω 2 Bab (xk ) ≤ ω 2 |Bab |max R3 R|Bab |max
3 3
onde no último passo usámos que ωR 2π. E como faremos R → 0, desprezamos este
termo.
– 66 –
Agora o segundo termo, usando o teorema de Gauss, resulta,
eiωt
Z Z
3
d x ∇ · ∇Bab = dS ~n · ∇ Aab
S r
eiωt
Z
2 d
= dθdφ sin θ r Aab
S dr r
iωR−iωRAab eiωR
= 4π −Aab e
≈ −4πAab
O problema é que nós não sabemos Tkl , e quanto muito sabemos T00 . Usamos agora
um truque para escrever esta relação em termos de T00 usando a conservação do tensor
energia-momento, que para o efeito podemos aplicar só derivadas parciais, ∂b T ab = 0, tal
que
∂0 T a0 = −∂k T ak
onde nos últimos passos se usou o teorema de Gauss e o facto de na superfı́cie exterior à
fonte, T ab = 0. Ou seja, temos
Z
d
d3 x T a0 = 0
dt
que implica que
∂0 T a0 = iωC a0 eiωt = 0
∂0 T 00 = −∂k T 0k
∂02 T 00 = −∂0 ∂k T 0k
– 67 –
Vamos agora multiplicar por xl xm e integrar em volume que contenha a fonte no interior,
Z Z
d x ∂0 T x x = − d3 x ∂0 ∂k T 0k xl xm
3 2 00 l m
Z
= − d3 x ∂k ∂0 T 0k xl xm
Z
= + d3 x ∂k ∂n T nk xl xm
Z
= d3 x T nk ∂k ∂n (xl xm ) + termos de superficie
Z
= 2 d3 x T lm
Z Z
2 iωt 3 00 l m 3 lm
−ω e d xC x x =2 d xC eiωt
Ou seja,
ω2
Z Z
3 lm
d xC =− d3 x C 00 xl xm
2
e depois de substituirmos na solução exterior temos
eiω(t−r)
h̄lm 2
ext = −2ω GI
lm
r
onde
Z
lm
I = d3 x C 00 xl xm
– 68 –
36 O princı́pio cosmológico
– 69 –
37 A métrica de Friedmann-Lemaı̈tre-Robertson-Walker (FLRW)
onde a(t) é o factor de escala do Universo. Para uma geometria plana, o elemento de linha
espacial escrito em coordenadas cartesianas e em coordenadas esféricas é simplesmente,
dl2 = dx2 + dy 2 + dz 2
= dr2 + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 ) .
Vamos agora pensar num Universo de curvatura positiva. Para perceber melhor, de-
screvemos a superfı́cie 3-dimensional de uma hiperesfera embebida num espaço fictı́cio de
4 dimensões descrito por coordenadas X, Y , Z, W , pela equação
X 2 + Y 2 + Z 2 + W 2 = R2 .
dl2 = dX 2 + dY 2 + dZ 2 + dW 2
= R2 dχ2 + sin2 χ dθ2 + sin2 θdφ2
dr2
dl2 = + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 )
1 − r2 /R2
Podemos agora voltar a fazer este exercı́cio mas para um Universo de curvatura negativa.
Agora consideremos uma superfı́cie 3-dimensional de uma hiper-hipérbola que é descrita
por
X 2 + Y 2 + Z 2 − W 2 = −R2
– 70 –
Temos então o elemento de linha
dl2 = dX 2 + dY 2 + dZ 2 + dW 2
= R2 dχ2 + sinh2 χ dθ2 + sin2 θdφ2
dr2
dl2 = + r2 (dθ2 + sin2 θdφ2 )
1 + r2 /R2
dr2
2 2 2 2 2 2 2
ds = −dt + a(t) + r (dθ + sin θdφ ) (37.1)
1 − kr2
onde
2
1/R ,
geometria de curvatura positiva
k= 0, geometria plana
−1/R2 ,
geometria de curvatura negativa
– 71 –
38 A equação de Friedmann
temos
ou em forma matricial
−ρ 0 0 0
0 p 0 0
(Tba ) =
0 0 p 0
0 0 0 p
Usando agora as equações de Einstein Gab = 8πG Tba , temos a chamada equação de Friedmann
2
ȧ 8πG k
= ρ− 2 (38.1)
a 3 a
e a equação de Raychaudhuri
ä 4πG
=− (ρ + 3p) (38.2)
a 3
– 72 –
39 A equação da continuidade
T ab = (ρ + p)ua ub + pg ab
temos
∇a T ab = 0
∇a ρ ua ub + ∇a p ua ub + (ρ + p)∇a (ua ub ) + g ab ∇a p = 0
ub ∇a T ab = 0
−∇a ρ ua − ∇a p ua + (ρ + p)ub ∇a (ua ub ) + ua ∇a p = 0
−ua ∇a ρ − (ρ + p)∇a ua + (ρ + p)ub ua ∇a ub = 0
Mas nós já sabemos que o quadrivector velocidade se transporta paralelamente, i.e.
Dua
= ua ∇a ub = 0
Dλ
Foi daqui afinal, que nós obtivémos a equação da geodésica. Segue a equação da con-
tinuidade
ua ∇a ρ + (ρ + p)∇a ua = 0
ρ̇ + (ρ + p)Γaab = 0
ȧ
ρ̇ + 3 (ρ + p) = 0
a
É curioso que esta equação se pode obter facilmente da primeira lei da Termodinâmica
dU + pdV = T dS
Num universo homogéneo todas as quantidades fı́sicas são independentes da posição espa-
cial, ou seja, não há derivadas espaciais, em particular, não há gradientes de temperatura.
Isto significa que não há transporte de calor e a energia total deve manter-se constante.
Escrito de forma matemática,
dU = −pdV ⇒ dS = 0 ,
– 73 –
ou seja, a evolução do universo é um processo adiabático. Se dividirmos tudo por dt e com
V ∼ a3 e consequentemente U ∼ ρa3 , temos
dU dV
+p =0
dt dt
d(ρa3 ) d a3
+p =0
dt dt
ȧ
ρ̇ + 3 (ρ + p) = 0
a
como tı́nhamos pela conservação do tensor energia-momento.
– 74 –
40 A lei de Hubble-Lemaı̈tre
d(t) = a(t)x(t)
onde x(t) é uma coordenada e a(t) nos dá a distância fı́sica entre as partı́culas, d(t). As
velocidade relativa entre elas é
d(ax) ȧ ȧ
v = d˙ = = a x + aẋ = d + aẋ
dt a a
Se desprezármos as chamadas velocidades peculiares ẋ, temos
v = Hd
v = H0 d (40.1)
– 75 –
41 Formas de matéria
• Radiação
À medida que o universo se expande o comprimento de onda de um fotão sofre
desvio para o vermelho porque ν ∝ a−1 (ver capı́tulo seguinte). A energia de um
fotão é E = hν ∝ a−1 e a densidade de energia será ρ ∝ E/V ∼ a−4 . Também
podemos chegar a esta conclusão usando a equação da continuidade. Já vimos dos
exercı́cios que para o electromagnetismo T = −ρ + 3p = 0, ou seja, a pressão e a
densidade de energia relacionam-se com p = ρ/3. Colocando esta relação na equação
da continuidade ficamos com
ȧ
ρ̇r + 4 ρr = 0,
a
que se integra para dar
a 4
0
ρr = ρr0 .
a
Substituindo na equação de Friedmann,
2
ȧ 1
∝ 4,
a a
ρ = 4σT 4
4 /15c2 h3 = 5.7×10−8 W m−2 K−4 é a constante de Stefan-Boltzmann.
onde σ = 2π 5 kB
Isto quer dizer que o factor de escala e a temperatura dos fotões se relaciona com
a0
T = T0
a
• Poeira
Para a poeira já vimos que, p = 0, e então substituindo na equação da continuidade
agora temos,
ȧ
ρ̇m + 3 ρm = 0,
a
que se integra para dar
a 3
0
ρm = ρm0 .
a
– 76 –
Substituindo na equação de Friedmann,
2
ȧ 1
∝ 3,
a a
• Constante cosmológica
Obsevações de supernovas distantes, as chamadas SnIa, indicam que o Universo está
hoje numa fase de expansão acelerada. Para o Universo acelerar temos de ter ä > 0
o que implica, da equação de Raychaudhuri que p < −ρ/3. O exemplo de um género
de matéria assim é a energia de vácuo ou de uma constante cosmológica (dependendo
de que lado da equação de Einstein é colocada essa contribuição ),
– 77 –
42 Desvio para o vermelho cosmológico
Superfı́cies espaciais podem-se expandir ou contrair controladas pelo factor de escala a(t).
Isto leva ao desvio para o vermelho (redshift) ou para o azul (blueshift) dos fotões que se
propagam pelo espaço-tempo.
Considere-se um sinal de luz emitida em re no instante te e outro emitido no instante
te + dte e recebidos em r0 = 0 respectivamente nos instantes t0 e t0 + dt0 . Para os fotões,
ds2 = 0, então, da métrica de FLRW (37.1) com dθ = dφ = 0 temos
dt dr
=√
a 1 − kr2
A distância comóvel entre a fonte e o observador (voltaremos a esta definição mais tarde)
é Z 0 Z t0 Z t0 +dt0
dr dt dt
χ= √ = = = constante .
re 1 − kr 2
te a te +dte a
mas como o segundo integral do lado esquerdo cancela com o primeiro integral do lado
direito da equação ficamos com
Z te +dte Z t0 +dt0
dt dt
=
te a t0 a
que se reduz a
dte dt0 dt0 a0
= ⇒ =
ae a0 dte ae
Como dt = 1/ν é o periodo de uma onda de luz de frequência ν define-se então o desvio para o vermelho
como a razão entre a frequência emitida e a observada e relaciona-se na proporção inversa
como o factor de escala.
νe a0
1+z ≡ =
ν0 ae
– 78 –
43 Os parâmetros cosmológicos
8πG k
H2 = ρ− 2
3 a
e dividindo tudo por H 2 , também se pode escrever
1 = Σi Ωi + Ωk
Dividindo ambos os termos por H02 e usando a relação entre redshift e o factor de escala,
bem como as definições para as abundâncias, temos
onde Ωk0 ≡ −k/a20 H02 . A partir de agora vamos definir as abundâncias no presente como
Ωm , Ωr , ΩΛ e Ωk e quando nos queremos referir a estas quantidades no passado a um tempo
t ou redshift z, usaremos Ωm (z), Ωr (z), ΩΛ (z) e Ωk (z).
A constante de Hubble, já vimos escreve-se como
h = 0.677 ± 0.004,
Ωγ h2 = 2.47 × 10−5 ,
Ωb h2 = 0.0242 ± 0.00014,
Ωdm h2 = 0.1193 ± 0.0009,
ΩΛ = 0.689 ± 0.006,
onde “b” significa bariões e “dm” representa matéria escura (dark matter) e γ representa
fotões.
– 79 –
44 Universo dominado por matéria
Vamos agora estudar a evolução do universo para casos particulares de uma forma
qualitativa. Para esse usamos um conjunto de regras que nos auxiliam na construção de
diagramas de densidades e assim avaliar em que situações é possı́vel ter um universo viável
(ii) Componentes com ρ > 0 são desenhadas com linhas a cheio, e componentes com
ρ < 0, são desenhadas a tracejado;
(iii) Como, H 2 > 0, só intervalos do factor de escala em que as componentes positivas são
dominates, correspondem a uma cosmologia consistente.
(iv) No ponto onde uma linha que corresponde a uma componente dominate positiva
intersecta uma linha de uma componente dominante negativa, ȧ ≈ 0 e o universo tem
um ”bounce” (ou um ”boing”) se ä > 0 ou um ”turn around” (também conhecido
como ”toing”) se ä < 0.
C
ȧ2 = ⇒ a ∝ t2/3
a
– 80 –
(b) Modelo elı́ptico (k = +1)
A equação de Friedmann fica
2
ȧ C 1 C
= 3− 2 ⇒ ȧ2 = −1
a a a a
Neste caso há um valor máximo para o factor de escala, amax = C, onde ȧ = 0. O
universo muda de um comportamento de expansão para contracção. O universo tem
um ”toing”. Resolvemos a equação fazendo
θ2 θ3
t ≈ Cθ 1 − 1 − =C ⇒ a ∝ t2/3 ,
2 2
como esperarı́amos.
– 81 –
Agora temos
2
ȧ C 1 C
= 3+ 2 ⇒ ȧ2 = +1
a a a a
a = sinh2 χ
t = C(cosh χ sinh χ − χ)
– 82 –
Figure 5. Diagramas ln ρ vs ln a para um universo com costante cosmológica negativa com k =
0, 1, −1, respectivamente.
(i) Λ > Λc
Modelo de Lemaı̈tre. O Universo expande-se para sempre.
(ii) Λ = Λc
Aqui temos várias possibilidades:
- Modelo estático de Einstein.
- Modelo em que o universo começa com a < ac , se expande e se aproxima
de Einstein estático assimptoticamente.
– 83 –
- Modelo em que o universo começa com a > ac , se expande e torna-se de
Sitter, Eddington-Lemaı̈tre.
E claro que também podemos considerar os casos em que o universo contrai
num Big-Crunch e em que o universo contrai e se aproxima de Einstein estático
assimptoticamente. Mas estes casos são semelhantes aos anteriores revertendo
a seta do tempo.
(iii) 0 < Λ < Λc
- O universo tem um toing e termina num Big-Crunch
- O universo contrai, tem um boing, e expande-se para sempre.
Figure 7. Diagrama ln ρ vs ln a para um universo com constante cosmológica positiva com Λ > Λc ,
Λ = Λc , e Λ < Λc , respectivamente.
– 84 –
k=0 k=1 k = −1
Λ=0
Λ<0
Λ > Λc
Λ>0 Λ = Λc
Λ < Λc
– 85 –
45 A idade do Universo
Uma constante cosmológica entra num bar. O empregado grita ”Con-
stantes cosmológicas não são permitidas neste bar”. A constante cos-
mológica responde tristemente ”É sempre a mesma coisa em todo o
lado!”
Mas como
a 1 da dz
= ⇒ =−
a0 1+z a 1+z
e então ficamos com
Z z Z ∞
1 dz 1 dz
t=− =
∞ H 1+z H0 z (1 + z)E(z)
H2
E(z)2 ≡ = Ωm (1 + z)3 + Ωr (1 + z)4 + ΩΛ + Ωk (1 + z)2
H02
escrevendo a taxa de expansão de Hubble em anos e calculando Ωr que deve incluir tanto
os fotões como os neutrinos,
1
≈ 10 × 109 h−1 anos ,
H0
4/3 !
7 4
Ωr = Ωγ + Ων = Ωγ 1+3× × = 4.07 × 10−5 h−2
8 11
temos
1 1 1
teq ≈ 10 × 109 h−1 anos −5 −2 1/2 2
≈ 6.8 × 104 anos .
(4.07 × 10 h ) 2 3400
– 86 –
A partir dessa época o Universo é dominado por matéria. Se admitirmos por agora
que a matéria é tudo o que temos num universo plano, Ωm = 1, então, E(z) = (1 + z)3/2 e
ficamos com
Z zeq 0
1 dz 1 2 1 2 1
t0 = 5/2
= 3/2
= ≈ 9 × 109 anos .
H0 0 (1 + z) H0 3 (1 + z) zeq 3 H0
Vemos então que a idade do Universo é essencialmente dada pelo perı́odo em que a
matéria é dominante. Mas também sabemos que deve existir algo como uma constante
cosmológica que acelera o Universo e que deve ter começado a dominar a evolução muito
tarde. Desprezando a contribuição da radiação temos então
Z ∞
1 dz
t0 =
H0 0 (1 + z)(Ωm (1 + z)3 + ΩΛ )1/2
" #
2 1 1 1 − Ωm 1/2
= √ arcsinh .
3 H0 1 − Ωm Ωm
Isto quer dizer que a constante cosmológica faz o Universo um pouco mais velho do que se
só considerássemos matéria.
– 87 –
46 Distâncias em cosmologia
dr2
2 2 2 2
ds = −dt + a(t) + r dΩ
1 − kr2
onde temos
R sin χ ,
curvatura positiva
r= χ, geometria plana
R sinh χ , curvatura negativa
1. Distância comóvel
Define a distância no espaço das coordenadas χ que um fotão viaja entre um objecto
distante e nós.
Z t0
dt
χ=
t a
2. Distância própria
Define a distância percorrida, rp , no espaço das coordenadas r.
Z 0 Z rp
dr dr
χ=− √ = √
1 − kr 2 1 − kr2
r 0
p p
√1 arcsin |k| rp , curvatura positiva
|k|
= rp , p geometria plana
1
√ arcsinh |k| rp , curvatura negativa
|k|
– 88 –
3. Distância ângular
É a distância subentendida pela razão entre o tamanho l de um objecto que é transver-
sal à nossa linha de observação e a abertura ângular desse objecto.
l
dA =
θ
4. Distância luminosa
Podemos também definir uma distância associada à luminosidade absoluta, L, de um
objecto. O fluxo da luz de um objecto a essa distância é
L
F =
4πd2L
onde dL é a distância luminosa. A luminosidade absoluta escreve-se como
(fotoes emitidos) × (energia dos fotoes) Nγ Ee
L= =
intervalo de tempo dte
Para o observador que está a uma distância própria rp da fonte, os fotões difundem-se
numa área A = 4πa20 rp2 = 4πrp2 . O fluxo observado num intervalo dt0 é então
Nγ E0
F =
dt0 A
O número de fotões é conservado mas a sua energia é menor devido ao desvio para o
vermelho cosmológico E0 = Ee /(1 + z). Por outro lado, o intervalo de tempo também
sofre uma dilatação porque já vimos que dt0 = dte (1 + z). Colocando tudo junto na
expressão para o fluxo medido temos
Nγ Ee L
F = 2 2
=
dte (1 + z) 4πrp 4π(1 + z)2 rp2
dL = (1 + z)rp
dL = (1 + z)2 dA .
– 89 –
47 Distância luminosa e magnitude aparente
Vimos no capı́tulo anterior a definição de distância comóvel, χ. Esta pode ser escrita na
forma
Z t0 Z a0 Z a0 Z a0 Z 0
dt dt da 1 da 1 da 1
χ= = = = 2
=− dz
t a a da a a ȧ a a H a z H
dL 2
F (d = 10pc) m−M
= = 100 5
F (dL ) 10pc
Mas em cosmologia a unidade de distância mais comum é o Mega parsec, fazendo o logar-
itmo, podemos escrever esta relação como
dL
m = M + 5 log10 + 25
Mpc
– 90 –
Figure 10. O diagrama de Hubble a partir de 42 supernovas a redshift elevado. Figura de
Perlmutter et al. ApJ, 1999.
– 91 –
48 Horizontes em cosmologia
1. Horizonte de partı́culas
Se à medida que t1 → 0, e t2 → t0 , ou seja, o fotão foi emitido no passado longı́nquo e
recebido hoje, o integral diverge, significa que o observador pode receber informação
de qualquer ponto do passado, desde que essa informação tenha sido emitida sufi-
cientemente cedo.
Por outro lado, se o integral é finito, significa que o observador só pode receber
informação de partı́culas em posições r < r1 = rH (t), o chamado, horizonte de
partı́culas.
Para radiação e poeira (com n = 1/2 ou n = 2/3, respectivamente) temos
t0 n 1
χ= =
1−n 1 − n H0
o que significa que há um horizonte, mas que ele aumenta à medida que t0 cresce.
Para um universo com uma constante cosmológica, temos,
1 a1
χ= 1−
Ha1 a0
Aqui também há um horizonte, e mesmo que esperemos muito tempo, há eventos no
passado que nunca vemos.
2. Horizonte de acontecimentos
Da mesma forma agora podemos averiguar se há acontecimentos de que nunca nos
poderemos aperceber no futuro. No caso em que t2 → ∞, e o integral diverge,
significa que no futuro poderemos ter conhecimento de qualquer acontecimento desde
– 92 –
que esperemos tempo suficiente. Por outro lado, se o integral é finito, significa que
há acontecimentos que nunca veremos. Existe um horizonte de acontecimentos. No
caso em que há um Big-Crunch, devemos considerar antes t2 → tmax < ∞.
Voltemos ao nosso exemplo de um universo com radiação ou poeira. O integral fica
χ→∞
Como a velocidade da luz marca uma região onde se pode trocar informação, estes
horizontes são interpretados como regiões causais no universo.
– 93 –
49 Densidades tensoriais
[D’Inverno cap.7]
De seguida vamos utilizar um método mais robusto de determinar as equações de
Einstein que consiste na abordagem pelo princı́pio variacional. Ou seja, vamos construir
uma acção cujas equações do movimento são as equações de Einstein. Esta ferramenta é
muito poderosa na procura de extensões à Relatividade Geral e por isso muito popular.
Para prosseguirmos teremos de nos apetrechar com algumas ferramentas matemáticas como
o conceito de densidade tensorial. Esta é uma grandeza que se transforma de maneira
semelhante a um tensor mas com um factor adicional de J w , onde w é o peso da densidade
tensorial e J a matriz Jacobiana
a
∂x
J = b .
∂ x̃
∇c T a = ∂c T a + Γabc T b − wΓbba T a
Se w = 1 e c = a, então
– 94 –
50 O determinante da métrica
[D’Inverno cap. 7]
Já vimos que a métrica gab (x), se tranforma como
∂xc ∂xd
g̃ab (x̃) = gcd (x)
∂ x̃a ∂ x̃b
porque é um tensor covariante de segunda ordem. O determinante, g = det(gab ) transforma-
se como:
g̃ = J 2 g
onde Aij é a matriz dos cofactores transposta. Diferenciado em relação a aij resulta
∂a
= Aij
∂aij
∂a ∂a ∂aij ∂aij
c
= c
= Aij c
∂x ∂aij ∂x ∂x
Mas a matriz transposta relaciona-se com a inversa de aij , a matriz aji como
Aij = a(aji )
então
∂a ∂aij
c
= a(aji ) c
∂x ∂x
Vamos agora aplicar isto à nossa métrica e seu determinante, e atendendo que g ba = g ab
∂c g = gg ab ∂c gab (50.1)
– 95 –
e então
∂c g = −ggab ∂c g ab (50.2)
Por outro lado, como a derivada covariante do tensor da métrica se anula, temos
ou seja,
∂c g = 2gΓaac
∇c g = ∂c g − 2Γaac g
∇c g = 0
√
O mesmo acontece com −g. Temos das equações (50.1) e (50.2), respectivamente,
√ 1√ 1√
∂c −g = −g g ab ∂c gab = − −g gab ∂c g ab
2 2
– 96 –
51 Coordenadas geodésicas
(Γabc )P = 0
Vamos mostrar que é possı́vel fazer uma transformação de coordenadas de maneira a que
isto possa ser feito. Vamos tomar, sem perda se generalidade, o ponto P como a origem
das coordenadas, xaP = 0. Consideremos agora a transformação de coordenadas
1
xa → x̃a = xa + Qabc xb xc
2
∂ x̃a
a
a a b ∂ x̃
= δ d + Qbd x , ⇒ = δda
∂xd ∂xd P
∂ 2 x̃a
2 a
a ∂ x̃
d e
= Qde , ⇒ = Qade
∂x ∂x ∂xd ∂xe P
temos que
– 97 –
52 O princı́pio variacional para a Relatividade Geral
√
Z
S= d4 x −gR
onde R = g ab Rab é o tensor de Ricci. Queremos mostrar que as equações de campo são as
equações de Einstein. Vamos fazer a variação da acção para escrever
Z h √ √ i
δS = d4 x δ −gg ab Rab + −gg ab δRab = 0 .
uma vez que termos do género ΓδΓ são nulos nestas coordenadas. Para além disso, nestas
coordenadas, as derivadas covariantes são iguais às derivadas parciais, e podemos escrever
∂c = ∇c , e resulta a chamada identidade de Palatini
e como ∇c g ab = 0,
g ab δRab = ∇c g ab δΓcab − δbc g ab δΓdad
√
e também ∇c −g = 0,
√ ab
h√
ab
i
−gg δRab = ∇c −g g − δΓcab δbc g ab δΓdad
h√ i
= ∂c −g g ab δΓcab − δbc g ab δΓdad
onde no último passo se usou o facto de a quantidade dentro do parêntesis recto ser uma
densidade tensorial de peso w = 1. Esta quantidade é uma derivada total de maneira que
pelo teorema de Gauss
Z Z
dV ∂c X = dS X
V ∂V
e como fazemos em mecânica clássica que nas fronteiras δΓ = 0, este termo, portanto,
anula-se.
– 98 –
Voltamos agora ao primeiro termo
√ √ √
δ −gg ab Rab = −gδg ab Rab + δ −gR
√ √
mas já vimos antes que δ −g = − 21 −ggab δg ab , podemos escrever
4 √
Z
1
δS = d x −g Rab − gab R δg ab = 0
2
1
Rab − gab R = 0
2
– 99 –
53 O Lagrangiano de matéria
– 100 –
54 Tensor energia-momento do electromagnetismo
[D’Inverno cap.12.6]
A acção para o campo electromagnético escreve-se como
√
Z
1
Sem =− d4 x −gFab F ab
4
E também pode ser escrito em termos de um potencial vector Aa tal que Fab = ∇a Ab −
∇b Aa . Usando este resultado e as simetrias do tensor de Riemann, mostra-se que
1
Tab = Fa d Fbd − gab Fcd F cd
4
∇b F ab = 0 . (54.2)
– 101 –
55 Tensor energia-momento para um campo escalar
√
Z
4 1 a
Sφ = − d x −g ∂ φ∂a φ + V (φ)
2
(ρ + p)ua ub = ∂a φ∂b φ
−∂ c φ∂c φ ua ub = ∂a φ∂b φ
– 102 –
e então podemos identificar o 4-vector velocidade como
∂a φ
ua = − √
−∂ c φ∂c φ
e note-se que de facto se mantém ua ua = −1 como vimos antes.
Agora que temos o tensor energia momento e definimos pressão e densidade de energia,
podemos usar a equação da continuidade derivada para FLRW para obter a equação do
movimento para o campo
ȧ ∂V
φ̈ + 3 φ̇ + =0 (55.1)
a ∂φ
Também podemos obter este resultado a partir das equações de Euler-Lagrange agora
que temos o Lagrangiano. Tomamos então
√ √
∂( −gL) ∂( −gL)
∂a − =0
∂(∂a φ) ∂φ
onde
√
∂( −gL) √
= − −g∂ a φ
∂(∂a φ)
e consequentemente
√
∂( −gL) √ √ √
∂a = −∂a ( −g∂ a φ) = − −g∂a ∂ a φ − ∂a −g∂ a φ
∂(∂a φ)
√ √
= − −g∂a ∂ a φ − −gΓcca ∂ a φ
√ √
onde se usou ∂a −g = −g Γcca , e para o outro termo
√
∂( −gL) √ ∂V
= − −g
∂φ ∂φ
e a equação do movimento fica
∂V
−∂a ∂ a φ − Γcca ∂ a φ + =0
∂φ
que para um espaço de FLRW, ∂0 φ = φ̇, ∂ 0 = −φ̇, Γii0 = 3ȧ/a resulta a equação do
movimento (55.1).
– 103 –
56 O método de Palatini
4 √ √
Z Z
S = d x −gLG + d4 x −gLm
– 104 –
Os dois últimos termos são derivadas totais, portanto, darão contribuições nulas na acção
e (fazendo b → d) )ficamos com
√ h √ √ i
−gg ab δRab = δcb ∇d ( −gg ad ) − ∇c ( −gg ab ) δΓcab
Agora lembre-se que quando temos tensores tais que (tensor anti-simétrico) × (tensor
simétrico) = 0. Como as perturbações das conexões da métrica são simétricas, a parte
anti-simétrica do termo entre parêntesis rectos vezes aquela anula-se imediatamente. Então
só temos de impôr que a parte simétrica em a − b da quantidade entre parêntesis se tem
de anular. Ou seja
1 b √ 1 √ √
δc ∇d ( −gg ad ) + δca ∇d ( −gg bd ) − ∇c ( −gg ab ) = 0 (56.1)
2 2
Fazendo c = b, temos
1 b √ 1 √ √
δb ∇d ( −gg ad ) + δba ∇d ( −gg bd ) − ∇b ( −gg ab ) = 0
2 2
1 √ √
(4 + 1)∇d ( −gg ad ) − ∇b ( −gg ab ) = 0
2
√
ou seja, ∇d ( −gg ad ) = 0, que substituindo na equação (56.1) implica
√
∇c ( −gg ab ) = 0
√
Deste resultado podemos ainda mostrar (também é um bom exercı́cio) que ∇c −g = 0,
que ∇c g ab = 0, e consequentemente
1
Γabc = g ad (gbd,c + gcd,b − gbc,d )
2
e de facto obtemos exactamente as mesmas equações de campo e as mesmas relações entre
a métrica e as conexões pelo método de Palatini. Isso já não é verdade nas teorias de f (R).
– 105 –
57 Teorias f (R)
As teorias f (R) são uma extensão da teoria da relatividade geral onde se considera uma
função geral do escalar de Ricci na acção
√
Z
1
S= d4 x −gf (R)
16πG
Pelo princı́pio variacional
√ √
Z
d4 x δ −g f (R) + −g δf (R)
16πG δS =
1√ √
Z
4 ab ab
= d x − −gf (R)gab δg + −gδf g Rab
2
4 √
Z
0 1 ab 0 ab
= d x −g f (R)Rab − gab f (R) δg + f (R)g δRab = 0
2
Já vimos que
√ h√ i
−gg ab δRab = = ∂c −g g ab δΓcab − δbc g ab δΓdad
Quando f (R) = R, temos uma derivada total e portanto este termo não aparece nas
equações de campo. Aqui já não é o caso e precisamos de calculá-lo com cuidado. Temos
então que
√ h √ i
−gf 0 (R)g ab δRab = ∂c f 0 (R) −g g ab δΓcab − δbc g ab δΓdad −
√
∂c f 0 (R) −g g ab δΓcab − δbc g ab δΓdad
O primeiro termo é uma derivada total e não irá contribuir para as equações de campo.
Vamos então calcular o termo que sobra. Como
1
Γcad = g ce (gae,d + gde,a − gad,e )
2
a sua variação fica
1 1
δΓcad = δg ce (gae,d + gde,a − gad,e ) + g ce (∂d δgae + ∂a δgde − ∂e δgad )
2 2
Em coordenadas geodésicas ∂c g ab = ∇c g ab = 0, e então, só o segundo termo realmente
conta, e ficamos com
1
δΓcad = g ce (∂d δgae + ∂a δgde − ∂e δgad )
2
Calculemos o primeiro termo (em que d = b), temos
1
g ab δΓcab = g ab g ce (∂b δgae + ∂a δgbe − ∂e δgab )
2
– 106 –
Como em coordenadas geodésicas ∂c g ab = 0, podemos incluir os tensores da métrica dentro
das derivadas e ficamos então com
1
g ab δΓcab = ∂ a (g ce δgae ) − ∂ c g ab δgab
2
Para calcular o segundo termo contraı́mos os ı́ndices d e c,
1
δΓdad = g de (∂d δgae + ∂a δgde − ∂e δgad )
2
Mais uma vez, como as derivadas parciais da métrica são nulas em coordenadas geodésicas,
podemos levantar o ı́ndice d no primeiro termo e o ı́ndice e no terceiro e vemos que eles se
anulam, resultando,
1
δΓdad = ∂a g de δgde
2
e ainda
1
δbc g ab δΓdad = ∂ c g de δgde
2
Colocando tudo junto, temos,
√ √
0 ab 0 a ce 1 c ab 1
c de
−gf (R)g δRab = ∂c f (R) −g ∂ (g δgae ) − ∂ g δgab − ∂ g δgde
2 2
√ h i
= ∂c f 0 (R) −g ∂ a (g ce δgae ) − ∂ c g ab δgab
√ h i
= ∂c f 0 (R) −g ∂ a g cb δgab − ∂ c g ab δgab
que a menos de derivadas totais fica
√ √ √
−gf 0 (R)g ab δRab = −g cb δgab ∂ a −g∂c f 0 (R) + g ab δgab ∂ c −g∂c f 0 (R)
– 107 –
58 Teorias de f (R) no formalismo de Palatini
Como as conexões não são definidas no formalismo de Palatini, não se sabe se R̃ab é
simétrico. No entanto, pode ser escrito com uma parte simétrica e outra anti-simétrica,
R̃ab = R̃(ab) + R̃[ab] . Assim, para o primeiro termo da última equação escrevemos
√ √
−gf 0 (R̃)R̃ab δg ab = −gf 0 (R̃) R̃(ab) + R̃[ab] δg ab
– 108 –
Agora vamos aplicar o método variacional em relação a Γabc , correspondente ao último
termo da equação de campo (58.1). Primeiro, usando a identidade de Palatini,
¯ c (δΓc ) − ∇
δ R̃ab = ∇ ¯ b (δΓcac )
ab
Os dois primeiros termos são derivadas totais e por isso a sua contribuição na acçõ é nula,
pelo que resulta
√
¯ b √−gf 0 (R̃)g ab δΓcac
¯ c √−gf 0 (R̃)g ab δΓc + ∇
−gf 0 (R̃)g ab δ R̃ab = −∇ ab
onde se usou que a parte anti-simétrica do segundo termo, multiplicada por δΓcab , que é
simétrico porque não estamos a considerar torção, se anula, i.e.,
¯ d √−gf 0 (R̃)g da = 0
∇
e consequentemente
¯ c √−gf 0 (R̃)g ab = 0
∇ (58.5)
g̃ab = f 0 (R̃)gab
– 109 –
e a sua inversa g̃ ab tal que
1
g̃ ab = g ab
f 0 (R̃)
Dado que a equação (58.3) pode ser resolvida para escrevermos R̃ em termos de T . Isto
quer dizer que os termos f 0 (R̃) na equação da conexão podem ser expressos como derivadas
de T e podemos escrever as equações de campo em termos da métrica gab e dos campos
de matéria sem precisarmos das conexões. Usando as relações para as transformações
conformes, podemos escrever o tensor de Ricci como
3 1
0
0
1 1
R̃ab = Rab + ∇a f (R̃) ∇b f (R̃) − ∇a ∇b − gab f 0 (R̃)
2 (f 0 (R̃))2 0
f (R̃) 2
Se f (R̃) = R̃, a teoria reduz-se à Relatividade Geral. Por outro lado, para campos de
matéria em que T = 0, no vácuo, e assumindo que R̃ = R̃(T ), então R̃ e, consequentemente,
f (R̃) e f 0 (R̃) são constantes e a teoria reduz-se à Relatividade Geral com uma constante
cosmológica
!
1 f (R̃0 ) R̃0
Λ= R̃0 − =
2 f 0 (R̃0 ) 4
onde se usou (58.3), e uma constante de acoplamento modificada, Geff = G/f 0 (R̃0 ).
– 110 –
59 Teorias escalares-tensoriais
4 √
Z
1 1 a
S = d x −g f (ϕ, R) − ζ(ϕ)∂ ϕ∂a ϕ + Sm (gab , Ψm )
2 2
onde f (R) corresponde à escolha f (ϕ, R) = f (R) e ζ(ϕ) = 0. Aqui, Ψm são campos de
matéria.
Se reescrevermos esta teoria com as definições φ = φ(ϕ), tal que,
temos a acção
4 √
Z
1 1 2 a
S = d x −g F (φ)R − (1 − 6Q )F (φ)∂ φ∂a φ − U (φ) + Sm (gab , Ψm )
2 2
4 √
Z
1 ωBD a
S = d x −g ψR − ∂ ψ∂a ψ − U (ψ) + Sm (gab , Ψm )
2 2ψ
– 111 –
60 O Lagrangiano de Horndeski
Esta é uma generalização das teorias escalares-tensoriais. É a teoria mais geral com um
campo escalar, φ, que em quatro dimensões leva a equações do movimento de segunda
ordem. Ou seja, que evita instabilidades nas equações . Foi encontrado por Horndeski em
1975, e redescoberto por Deffayet et al. em 2011. Inclui os modelos que já encontrámos, e
ainda outros como k-essence e Galileon. O Lagrangiano escreve-se como
1 X
L= R+ Li + Lm
16πG
i
L2 = K(φ, X)
L3 = −G3 (φ, X)φ
L4 = G4 (φ, X)R + G4,X (φ)2 − (∇µ ∇ν φ)(∇µ ∇ν φ)
As funções K(φ, X), G3 (φ, X), G4 (φ, X) e G5 (φ, X) são à partida arbitrárias. Mas o
evento de fusão de estrelas de neutrões que envolveu uma contrapartida no óptico coloca
a velocidade dos fotões e a velocidade das ondas gravitacionais essencialmente idêntica, ou
seja, a velocidade da luz, e consequentemente as funções são tais que G5 = 0, G4,X = 0, o
que limita severamente este Lagrangiano.
– 112 –
61 Derivada de Lie
V b (x) Ṽ b (x̃)
V b (x̃)
X a (x)
X a (x̃)
P
Q
– 113 –
Temos da lei de transformação de um vector contravariante que
∂ x̃c b
Ṽ a (x̃) = V (x)
∂xb
= (δba + ∂b X a dλ)V b (x)
= V a (x) + ∂b X a V b dλ
ou seja,
V a (x) = V a (x̃) − ∂b V a X b dλ
Ṽ a (x̃) = V a (x̃) − ∂b V a X b dλ + ∂b X a V b dλ
V a (x̃) − Ṽ a (x̃)
LX V a ≡ lim
dλ→0 dλ
resulta
LX V a = X b ∂b V a − V b ∂b X a
que não é uma expressão covariante, mas mostra-se facilmente que é equivalente a
L X V a = X b ∇b V a − V b ∇b X a
e na verdade, isto aplica-se sempre na derivada de Lie: as derivadas parciais podem ser
substituı́das por derivadas covariantes.
A derivada de Lie tem as seguintes propriedades:
2. É linear, ou seja,
LX (Y a Z b ) = Z b LX Y a + Y a LX Z b
LX (Y a Za ) = Za LX Y a + Y a LX Za
– 114 –
5. Para uma função escalar
df
LX f = = X a ∂a f
dλ
LX Ya = X b ∇b Ya + Yb ∇a X b
– 115 –
62 Vectores de Killing
a... é transportado de Lie ao longo do vector tangente X a à curva
Diz-se que um tensor Tb...
a...
γ se LX Tb... = 0. Suponhamos que se escolhem coordenadas tal que
O que significa que nestas coordenadas o tensor Tb...a... é constante ao ser arrastado ao
longo da curva γ. Vemos assim que a derivada de Lie nos dá uma forma covariante (i.e.,
independente das coordenadas) de descrever simetrias de um tensor.
Admitamos agora que esse tensor é a própria métrica gab , e que há um vector ξ a tal
que,
Lξ gab = 0
∇a ξb + ∇b ξa = 0
∂ b ξa + ∂ a ξb = 0
∂ c ∂ b ξa + ∂ c ∂ a ξb = 0
∂b ∂a ξc + ∂b ∂c ξa = 0
∂a ∂c ξb + ∂a ∂b ξc = 0
– 116 –
Somando as duas primeiras equações e subtraindo a última temos
∂c ∂b ξa + ∂c ∂a ξb + ∂b ∂a ξc + ∂b ∂c ξa − ∂a ∂c ξb − ∂a ∂b ξc = 0
∂c ∂b ξa = 0
ξa = ca + ab xb
onde ca e ab são constantes de integração. Substituindo nas equações de Killing temos que
ab = −ba , ou que ab é anti-simétrico. Em forma matricial,
0 01 02 03
−
01 0 12 13
(ab ) =
−02 −12 0 23
Ta = (1, 0, 0, 0)
Xa = (0, 1, 0, 0)
Ya = (0, 0, 1, 0)
Za = (0, 0, 0, 1)
Façamos agora ij = 1 = −ji e todos os outros iguais a zero. Temos então ξi = ij xj .
Com 12 = −1, temos
– 117 –
que então levam aos geradores das rotações respectivamente
∂ ∂
Jz = x −y
∂y ∂x
∂ ∂
Jy = z −x
∂x ∂z
∂ ∂
Jx = y −z
∂z ∂y
E para finalizar temos ainda os casos 0i = −1 = i0 , e ficamos com
(Bx )a = (−x, t, 0, 0)
(By )a = (−y, 0, t, 0)
(Bz )a = (−z, 0, 0, t)
ou seja, os geradores dos boosts segundo cada um dos eixos espaciais são
∂ ∂
Bx = −x +t
∂t ∂x
∂ ∂
By = −y + t
∂t ∂y
∂ ∂
Bx = −z + t
∂t ∂z
Note-se que
De uma forma geral, quando um espaço-tempo tem três vectores de Killing J1 , J2 , J3 , que
satisfazem a relação
[Ji , Jj ] = −kij Jk
diz-se que o espaço-tempo tem simetria esférica. Para Minkowski temos ainda que
De igual forma, dizemos que um espaço-tempo com três rotações J1 , J2 , J3 e três translações
π1 , π2 , π3 , que satisfazem a relação
[Ji , πj ] = −kij πk
– 118 –
63 Soluções de Bianchi I no vazio
onde ai (t) com i = 1, 2, 3, são fatores de escala correspondentes a cada direção espacial.
Note-se que, se a1 = a2 = a3 = a, esta métrica transforma-se na métrica de FLRW com
k = 0. Sejam Hi = ȧi /ai e θ = H1 + H2 + H3 , com Hi as taxas de Hubble nas três direções
espaciais. As componentes do tensor de Ricci que não se anulam são
R00 = −θ̇ − θ2
– 119 –
Onde se fez uma escolha conveniente da origem t0 = 0. Assim, de R11 = 0, obtemos
p1
H1 =
t
sendo p1 uma constante. Do mesmo modo para R22 = 0 e R33 = 0, obtemos, respetiva-
mente,
p2 p3
H2 = , H3 =
t t
Das expressões para θ e θ2 implica que
1 p1 p2 p3
θ= = H1 + H2 + H3 = + +
t t t t
1 p 2 p 2 p2
θ2 = 2 = H12 + H22 + H32 = 21 + 22 + 23
t t t t
e resulta que
3
X 3
X
pi = p2i = 1
i=1 i=1
Estas são as chamadas relações de Kasner. De H1 = ȧ1 /a1 , vem que a1 ∝ tp1 e o mesmo
acontece para a2 e a3 . Podemos escrever a métrica de Kasner como
3
X
ds2 = dt2 − t2pi dx2i
i=1
A métrica de Kasner é uma solução para as equações de Einstein no vácuo, pelo que os
tensores de Ricci e o escalar de Ricci anulam-se para qualquer escolha de expoente pi ,
desde que satisfaçam as condições de Kasner (hiper-superfı́cie plana no vazio, homogénea e
anisotrópica). O tensor de Riemann anula-se se e só um dos pi = 1, com i = 1, 2, 3 e todos
os outros se anulam, e neste caso o espaço é plano.
– 120 –
References
– 121 –