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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA ASTROFÍSICA PARA TODOS – COSMOLOGIA I

ANDRÉ PINHEIRO DE ANDRADE CAIRE

TRABALHO DE CONCLUSÃO - CURSO DE COSMOLOGIA I

São Paulo
2022
2

Não importa quanto a vida possa ser


ruim, sempre existe algo que você pode
fazer e triunfar. Enquanto há vida, há
esperança.
Stephen Hawking
3

SUMÁRIO

Introdução a Cosmologia Física 5


A Cosmologia Física 5
Questões em aberto na cosmologia contemporânea 5
Primórdios da Cosmologia 6
A Lei da Gravitação Universal 6
Força gravitacional em anel de matéria 7
Normalização 8
Força gravitacional em uma casca esférica de matéria 8
Força gravitacional fora da casca esférica 9
Força gravitacional no interior da casca esférica 10
Força gravitacional em uma esfera maciça de matéria 11
Velocidade Orbital 12
Energia potencial Gravitacional 13
Velocidade de escape e Buracos Negros 14

Universo de Galáxias 14
Distâncias com Variáveis Cefeidas 17
A Técnica de Zwicky 18

A Descoberta da Matéria Escura 18


Massa Luminosa 18
Massa Dinâmica 19
Estrutura e componentes gravitacionais de M-31 20
Bojo 21
Disco 23
Halo de Matéria Escura 24
O Aglomerado de Coma 28
Massa Luminosa 28
Massa dinâmica 28

Observando a expansão do Universo 30


Redshift 32

Interpretação da lei de Hubble-Lemaitre 33


Princípio cosmológico 33
Interpretação geométrica do parâmetro de Hubble-Lemaitre 35
Efeito Doppler e redshift cosmológico 35
4

Calculando o redshift cosmológico 36


Fluxo de Hubble e escala de tempo 38

Modelo Cosmológico Newtoniano 39


Equação de aceleração de Friedmann 41
Equação de Friedmann-Lemaitre 42
Interpretação da equação de Friedmann-Lemaitre 44
Estimativa de ΩM0 47

Modelos de Friedmann-Lemaître 48
Universo muito pequeno dominado por matéria a << 1 49
Universo muito grande a >> 1 50
Componente radioativa 51
Estimando o valor de ΩR 52
Universo dominado por radiação. 53
A constante cosmológica 54
Universo dominado por Λ 55

Interpretação de Λ 57
Equação de estado 57
Equação de estado para matéria não relativística 58
Equação de estado para a radiação 59
Equação de estado para a energia escura 59
Generalização 61

Interpretação de K 63
Medindo o número π 66
Medindo π em um universo esférico 68
Medindo π em um universo de geometria qualquer 71

Soluções Numéricas 73
Universo Fechado 75
O universo ΛCDM 76

O Paradoxo de Olbers 78

Estimando a idade do universo 80


Look Back Time 81

Distâncias em cosmologia 84
Distância comóvel na linha de visada 85
Distâncias comóvel transversal 86
Distância de luminosidade 89
Horizonte de partículas 90

Efeitos relativísticos da lei de Hubble-Lemaitre 92


Expansão para um universo vazio 93

Parâmetro de desaceleração 96
Aceleração da expansão do universo 97
5

1. Introdução a Cosmologia Física

a. A Cosmologia Física

A cosmologia é um ramo da ciência que estuda o universo como todo. Ela utiliza a física
como sua ferramenta principal, tendo como objetivo construir modelos que possam explicar os
fatos observacionais através de teorias falseáveis e sustentadas pelo método científico. Sendo um
estudo relativamente recente e desenvolvido no último século com a astronomia moderna, a
cosmologia extrapola as escalas de tempo e tamanho podendo levar a física aos seus limites de
conhecimento se aprofundando nas maiores questões da natureza.
A Cosmologia tem como tarefa a refundação da Física. Mário Novello (2010)
A cosmologia trabalha com quatro ideias fundamentais, duas observacionais e dois
pressupostos teóricos. A primeira afirma a expansão do universo calculado pelo parâmetro de
Hubble-Lemaitre onde é observado o afastamento das galáxias de acordo com sua distância. A
segunda é o modelo do Big Bang, a evolução do universo de uma era quente de forte radiação,
um fato observacional, hoje também estudado através da radiação cósmica de fundo. A terceira
ideia é um pressuposto teórico conhecido como Princípio Cosmológico, o qual afirma que em
larga escala o universo é isotrópico e homogêneo, significando que para qualquer direção que for
observado suas propriedades serão a mesmas, matematicamente resumindo-se por sua
invariância por translação ou rotação.
E por fim a última ideia teórica trata da influência sofrida pelo universo através da
Relatividade Geral, assim como todas as outras leis físicas.

b. Questões em aberto na cosmologia contemporânea

Existem algumas teorias que tentam explicar dados observacionais como a velocidade de
rotação de galáxias que não são explicadas apenas pela presença de matéria luminosa, assim
6

como a expansão acelerada do universo. Os candidatos atuais para essas observações são a
matéria e energia escura, porém não se sabe ainda o que são exatamente, ou se realmente
existem. Pode-se concluir que talvez a relatividade geral não esteja completa e que o universo
não esteja em expansão, o que causaria uma mudança drástica em todo o ramo.
Algumas constantes da física parecem estar extremamente afinadas para a existência de um
universo que abrigue vida, gerando diversas discussões e dificuldades em traçar uma linha exata
entre ciência e filosofia. É necessário estar alinhado com o método científico para manter "os pés
no chão" e produzir uma cosmologia que não seja apenas matematicamente correta, mas sim
condizente com a realidade física.

2. Primórdios da Cosmologia

a. A Lei da Gravitação Universal

𝐺𝑀1𝑀2
𝐹= 2 (Forma Escalar)
𝑅

Ao adicionar alguns valores nessa fórmula é possui concluir que a força gravitacional é
uma força muito fraca, pois dois homens de massa 100 Kg, a uma distância de 1 metro,
exerceriam um força gravitacional de aproximadamente 6.67x10^-8 newtons o equivalente a um
objeto de peso de 7.10^-5 g.
Na forma vetorial
7

b. Força gravitacional em anel de matéria

Para deduzir a força gravitacional de uma esfera é necessário primeiro entender a força em
um anel.

Para alguns limites dessa equação, quando x é igual a 0 pode- se observar que a força
resultante será nula, pois há uma simetria entre todos os pontos do anel em relação ao seu centro.
Já quando x é muito maior que o raio, a equação passa a ser igual a de uma força de ponto
material.
8

c. Normalização

Para realizar a análise gráfica é necessário a normalização da equação.

d. Força gravitacional em uma casca esférica de matéria

Usando a equação da forma em um anel podemos fazer a seguinte relação


9

Com essa expressão é possível calcular a força dentro e fora da casca esférica.

e. Força gravitacional fora da casca esférica


10

f.Força gravitacional no interior da casca esférica


11

g. Força gravitacional em uma esfera maciça de matéria


12

h. Velocidade Orbital
13

i.Energia potencial Gravitacional


14

j.Velocidade de escape e Buracos Negros

3. Universo de Galáxias

É parte fundamental da cosmologia o estudo de grandes estruturas, sendo necessário um


domínio do conhecimento das características e evolução dessas para deduzir e entender a
composição do universo como um todo.
Ainda antes do surgimento da cosmologia moderna existia um grande debate sobre as
galáxias serem objetos da própria Via Láctea ou objetos externos a mesma, tendo a descoberta de
grandes estruturas fora da nossa galáxia servido como ponto de partida para a ciência
cosmológica de hoje.
A galáxia de Andrômeda (M31) serviu como ponto de referência para a conclusão desse
debate, podendo calcular sua distância, ficou evidente que ela não fazia parte da Via Láctea.
15

Através de análise espectroscópica já era possível obter alguns dados básicos para a realização
desse cálculo.

A massa de M-31 pode ser estimada pelo brilho da galáxia através dessa relação e assim
também podemos calcular sua luminosidade para substituir na equação de forma que ao colocar
os valores possamos chegar na distância até a mesma.
16

Essa estimativa foi feita por Ernst Öpik em 1922 sendo que hoje o valor está em torno de
770 Kpc, porém dada a disponibilidade tecnológica na época essa descoberta foi um grande salto
para a astrofísica extragaláctica.
Com essa estimativa foi provado que o universo é composto por galáxias com uma
distância média menor que as distâncias entre as estrelas. Na época não era possível usar essa
mesma equação para medir distâncias até outras galáxias, pois era necessário uma análise
espectroscópica mais eficiente.
17

a. Distâncias com Variáveis Cefeidas

As variáveis cefeidas são estrelas gigantes e supergigantes em seu estágio final de vida, a
intensidade de seu brilho varia regularmente de forma que é possível atribuir-lhes uma relação de
período e luminosidade.
Essa relação calibrada para estrelas próximas (10 pc) permite o cálculo da magnitude
absoluta das mesmas de forma que possa servir como base para o cálculo de distâncias a outros
astros que não podem ser medidas por paralaxe. O limite de detecção por essa técnica fica
submetido ao limite do telescópio óptico para uma magnitude de 22.
18

b. A Técnica de Zwicky

A técnica de Zwicky consiste em achar uma magnitude absoluta média para galáxias que
possuem distâncias conhecidas, dessa forma é possível a comparação e efetivo cálculo de
distâncias até galáxias mais afastadas.

4. A Descoberta da Matéria Escura

A ideia de matéria escura foi formulada por Fritz Zwicky em 1933 após a análise da
velocidade das galáxias do aglomerado de Coma, porém analisando os dados da velocidade de
rotação da galáxia de Andrômeda (M31) podemos chegar à mesma conclusão
A massa de uma galáxia pode ser medida através de sua luminosidade, com a estimativa do
tipo de estrelas que a compõem, ou através de sua dinâmica que usa a relação de velocidade
orbital.

a. Massa Luminosa
19

Substituindo os valores:

valor ainda muito inferior ao total de 1.5x10^12 Massas Solares.

b. Massa Dinâmica
20

c. Estrutura e componentes gravitacionais de M-31

Para analisar a velocidade de M-31, devemos entender a contribuição gravitacional de cada


componente da galáxia, pois a mesma não possui uma distribuição homogênea de matéria,
assim também devemos assumir uma órbita circular considerando ser uma galáxia espiral.
A soma das forças resultantes será a contribuição da força do Bojo, do disco e do
Halo de matéria escura.
21

1. Bojo

Considerando uma distribuição esférica de matéria com densidade de proporção


exponencial temos:

A massa total do bojo então pode ser:


22

Definindo a massa em função da massa do bojo, substituindo pela densidade central e


adimensionalizando:

Sendo uma distribuição esfericamente simétrica podemos achar a contribuição de


velocidade:
23

2. Disco

A densidade do bojo se assemelha ao do disco, diminuindo exponencialmente, porém


assumimos um formato bidimensional, usando o conceito de densidade superficial ( Σ ). Como o
disco não tem simetria em todas as direções, devemos calcular a componente para diferentes
regiões, tendo como resultado:

Como no caso do disco é ideal calcular a massa total no lugar da densidade central:
24

Substituindo:

Ao somarmos quadraticamente as componentes de velocidade do bojo e do disco e


comparando com o gráfico da velocidade real de rotação da M-31, observamos uma grande
diferença, pois a velocidade permanece constante ao se afastar do centro da galáxia, o que não
seria possível com uma distribuição de matéria exponencial. Pode-se, dessa forma, concluir que
deve existir uma grande quantidade de matéria nessas regiões para manter essa velocidade
praticamente constante.

3. Halo de Matéria Escura

Uma vez considerada a distribuição finita de matéria na galáxia deveríamos observar uma
diminuição de velocidade de acordo com a lei kepleriana, o que de acordo com os dados não
25

ocorre. Essa quantidade de matéria foi entendida como uma “Componente Escura” para adição
da velocidade total de M-31.
A distribuição de matéria escura no halo pode ser considerada esférica e de crescimento
linear a partir do centro, representando um modelo isotérmico

A equação deve ser modificada, adicionando um fator de escala, para evitar uma
densidade infinita no centro de distribuição esférica.
26

Dessa forma é possível calcular a massa total de matéria escura

E a componente de velocidade

Quando x é muito menor que 1 a velocidade tende a zero, sendo que quando x é muito
maior que esse valor a velocidade permanece constante. O que significa uma velocidade
tendendo a zero no centro que passa a permanecer constante com o afastamento para as
extremidades.
27

Podemos através desse gráfico observar uma velocidade bem diferente das componentes
do Bojo e Disco

E verificando a soma de todas componentes incluindo a matéria escura é possível


observar uma alta compatibilidade com os dados observacionais da curva de rotação de M-31
28

d. O Aglomerado de Coma

Como já foi mencionado, a descoberta da matéria escura foi proposta após a análise das
velocidades das galáxias do aglomerado de Coma, para isso reproduziremos os cálculos dessa
descoberta.

1. Massa Luminosa

Através da relação massa-luminosidade e uma vez conhecida a distância até o aglomerado de


Coma é possível atribuir-lhe uma massa de 10^14 massas solares

2. Massa dinâmica

É necessário verificar se existe a possibilidade do aglomerado estar em equilíbrio dinâmico para


que possa ser realizado o cálculo de sua massa. Tomemos como referência o tempo que uma galáxia
demoraria para atravessá-lo.
29

Então aplica-se o teorema do Virial e assumimos uma velocidade média igual das galáxias em
todas as direções.

Energia potencial Gravitacional


Supondo uma distribuição esférica e isotérmica e trazendo o objeto de massa dm ao de massa M
formamos um sistema de energia potencial gravitacional dU. Formando o sistema inteiro sem
variação no tempo.
30

Aplicando o teorema do Virial

Dessa forma é possível observar uma diferença de pelo menos 35 vezes mais massa que o
cálculo da massa dinâmica. Apesar desse resultado na época não ter surtido tanto efeito, pois não
havia uma disponibilidade fiel de dados, hoje fica evidente a importância da matéria escura para o
estudo da cosmologia.

5. Observando a expansão do Universo

A expansão do universo é um dos dados mais importantes para entender sua evolução e
estrutura de forma que se tornou um pilar da cosmologia física.
O Parâmetro de Hubble-Lemaitre define uma relação linear de expansão a qual afirma
que quanto mais longe está uma galáxia, mais rápido a mesma se afasta.
31

O valor de Ho está em debate ainda nos dias atuais sendo que podemos expressar a constante
como Ho = 100h o qual h é um número puro para expressar a variação desse parâmetro.
As diferentes técnicas de medição fornecem diferentes resultados, podendo variar de 74
Km/s/Mpc até 64 Km/s/Mpc, dessa forma escrevemos h como sendo 0,74 ou 0,67. Por muito
tempo acreditou-se que h seria igual a 0,7 sendo que ainda é possível encontrar uma notação
diferenciada para essa situação (Ho70).
Para uma galáxia próxima podemos calcular e verificar a diferença nas distâncias usando
valores para Ho.

O termo mais conhecido como “Constante de Hubble” pode não ser o mais adequado
uma vez que o valor representado pelo menos varia de acordo com o tempo, para cada época do
universo observamos uma medida de H e cada modelo cosmológico fornecerá como H varia de
acordo com o tempo.
As medidas de velocidade são calculadas através do Redshift, a medida que a galáxia se
afasta seu espectro eletromagnético é deslocado para o vermelho.
32

https://dr16.sdss.org/optical/spectrum/view?plateid=1939&mjd=53389&fiberid=138&run2d=26

O efeito de deslocamento pode ser interpretado como uma consequência do efeito


Doppler.

Também é possível interpretar o afastamento das galáxias devido ao “esticamento” do


tecido do espaço-tempo, de forma que as galáxias estão em repouso em relação ao espaço. Nessa
análise não há efeito Doppler.

a. Redshift

O redshift (Z) é uma medida adimensional e podemos relacioná-lo com o efeito Doppler
para um universo próximo

Para um universo local β = v/c << 1 e usando a relação Binomial de Newton temos
33

Como exemplo vamos calcular a velocidade de uma galáxia com emissão Hβ deslocada
de 1,0 nm e posteriormente aplicar a lei de Hubble para achar sua distância.

O que pode ser uma galáxia fora do grupo local, mas ainda não dentro do aglomerado de
Virgo.

6. Interpretação da lei de Hubble-Lemaitre


a. Princípio cosmológico
O Princípio cosmológico afirma que o universo é isotrópico e homogêneo em larga escala (100
Mpc), ou seja, podemos observar e medir suas características em diferentes regiões obtendo os
mesmos resultados. É uma conveniência matemática que já foi proposta por Einstein e que hoje
permite um estudo mais aprofundado das propriedades do cosmos.
34

Através do princípio cosmológico podemos deduzir a Lei de Hubble-Lemaitre. Usando três


galáxias como exemplo, podemos observar que a distância aumenta proporcionalmente entre
elas, sendo a o fator numérico de escala que representa essa mudança no tempo. Portanto, a
distância final será determinada pelo fator de escala multiplicado pela distância inicial.

O triângulo formado com o aumento da distância é congruente ao triângulo inicial.

Como a velocidade é a derivada temporal da distância e a distância inicial é constante, podemos


escrever que a velocidade depende da derivada do fator de escala e para obtermos uma equação
independe de d0 dividimos a equação de velocidade pela equação de distância, chegando na Lei
de Hubble-Lemaitre, pois a taxa de variação do fator de escala no tempo pode ser interpretado
como o parâmetro H uma vez que ele também é uma variável temporal.
35

b. Interpretação geométrica do parâmetro de Hubble-Lemaitre

Considerando um universo circular unidimensional podemos escrever as equações para distância


e posteriormente deduzir as equações da velocidade como foi feito na interpretação através do
princípio cosmológico, dessa forma obtemos que a taxa de variação do raio do universo com o
tempo pode ser interpretada como H similarmente a taxa de variação do fator de escala.

c. Efeito Doppler e redshift cosmológico

O Efeito Doppler está relacionado com a velocidade dos objetos de acordo com um mesmo
referencial, portanto ele não leva em conta a história do universo. Uma vez que a luz sai de uma
determinada galáxia, a medição da mesma, levando apenas em consideração o Efeito Doppler,
36

será modificada pelas velocidades relativas entre elas no momento da emissão e no momento da
recepção. Já o redshift cosmológico leva em consideração a história do universo, pois o
alongamento da onda eletromagnética está diretamente relacionado à expansão do mesmo,
interferindo diretamente na velocidade. Porém ao se calcular o efeito líquido dessa diferença
chega-se ao resultado de que na verdade o que importa é apenas a velocidade relativa no
momento da emissão e detecção.

d. Calculando o redshift cosmológico

Considerando três galáxias (A, B e C), sendo que A possui uma distância muito pequena até B
(sem efeitos relativísticos), podemos calcular o redshift cosmológico para entender se realmente
difere do Efeito Doppler.
Um feixe de luz sai de A até B e posteriormente vai até C, como podemos demonstrar,
considerando a variação de velocidade e de distância entre elas e usando a lei de
Hubble-Lemaitre, podemos equacionar quanto tempo demoraria para esse feixe de luz chegar na
galáxia B.
37

Agora podemos relacionar o comprimento de onda com a variação do tamanho do universo

E por fim ao integrar essa relação achamos o efeito do redshift cosmológico para qualquer região
do espaço, observando que as ondas aumentam de acordo com a expansão do universo. Também
é possível através dessa relação achar a escala do universo de acordo com um dado Redshift,
tendo a igual a 1 como valor de referência para o universo nesse momento.

Por exemplo, uma galáxia com redshift igual a 5 significaria que o universo era 6 vezes menor
que hoje.
38

e. Fluxo de Hubble e escala de tempo

A partir de qual distância o fluxo de hubble é maior que as velocidades peculiares das galáxias?
Se considerarmos uma velocidade de 1000 Km/s e um redshift pequeno, através da relação V =
H.D, encontramos um valor de 14 Mpc. Sendo uma distância típica de superaglomerados de
galáxias (15 Mpc), portanto uma galáxia dentro dessa distância possui velocidade de movimento
menor que a velocidade do fluxo de hubble.
Da mesma forma podemos atribuir uma escala de tempo e tamanho do universo, considerando D
como distância típica e H sendo invariável. Para a escala de tamanho do universo temos:

Essa escala de tamanho refere-se ao universo observável sendo que o valor mais aceito hoje é de
14.3 Gpc.
Dessa forma podemos deduzir quanto um feixe de luz levaria para atravessar o universo
observável, achando um estimativa da sua escala de idade, já convertida em anos luz
39

Sendo que o valor mais aceito é de 13.8 Gyr.

7. Modelo Cosmológico Newtoniano

É possível realizar uma abordagem clássica da cosmologia que servirá como base para sustentar
a cosmologia relativística, porém utilizando equações de cinemática e dinâmica aplicadas ao
universo já é possível entender e deduzir aspectos fundamentais dessa ciência. Para isso devemos
assumir alguns pressupostos como a infinidade e a geometria plana do universo, assim como
considerar distâncias dentro de 100 Mpc, onde a velocidade do fluxo de Hubble ainda é menor
que a velocidade dos movimentos típicos, portanto viabilizando a utilização da relação de v = z.
c.
Para facilitar o estudo da cosmologia newtoniana podemos utilizar de algumas ferramentas como
as coordenadas comóveis.
40

Temos o universo com uma escala inicial a e após um intervalo de tempo temos uma escala a2
onde também consideramos que as coordenadas se movem junto com as galáxias. Nesse sistema
de coordenadas temos duas dimensões que são a distância entre as galáxias e a distância física
denominada r

Nessa equação observamos que a relação de distância entre as galáxias não muda, sendo que é o
fator de escala que influencia na mudança da distância física entre elas. Então também podemos
deduzir uma equação para a lei de Hubble-Lemaitre que reproduz a cinemática do universo em
uma equação de expansão do mesmo.
41

a. Equação de aceleração de Friedmann

Usando os princípios de dinâmica newtoniana podemos também deduzir a equação de aceleração


do universo, relacionando-a com o fator de escala. Como a densidade diminui com a expansão
devemos ter como base um valor de densidade para hoje. Dessa forma é possível relacionar
diretamente a densidade do universo com o seu fator de escala que ao acrescentar no modelo de
força newtoniana é capaz de gerar a equação de aceleração de Friedmann.
Considerando um universo infinito e um ponto de referência no centro de uma esfera de matéria:
42

Como a massa do sistema não varia com o tempo, podemos escrevê-la em função da densidade
hoje.

E por fim acrescentando esse termo conseguimos deduzir a equação de aceleração de Friedmann

b. Equação de Friedmann-Lemaitre
43

A equação com mais aplicação para a cosmologia é conhecida como equação de


Friedmann-Lemaître. Usando conceitos básicos de mecânica podemos deduzi-la e entender a
cinemática do universo. Começando por escrever a equação de energia para um sistema de duas
galáxias e aplicando as já estudadas coordenadas comóveis, assim como a relação de
massa/densidade, temos:
44

Para generalizarmos a equação devemos colocá-la em função de termos gerais, dessa forma
também é necessário utilizar a relatividade geral que explica k como o parâmetro de curvatura do
espaço. Então escrevendo em termos usuais de a temos:

Com essa equação podemos calcular o parâmetro de Hubble em diferentes momentos do


universo.

c. Interpretação da equação de Friedmann-Lemaitre

Convém escrever a equação para facilitar a análise gráfica dos seus efeitos:

Agora podemos avaliar a expansão do universo para diferentes valores de K.


Para um K menor que zero podemos observar uma expansão eterna onde a variação do fator de
escala no tempo é sempre positiva. Aqui pode-se fazer a analogia com um sistema não-ligado.
45

Para um valor de K igual a zero temos um limite entre a expansão eterna e o colapso. Nesse caso
a variação do fator de escala no tempo tende a zero no infinito, onde podemos usar a analogia da
velocidade de escape.

Para um valor de K menor que zero temos que a expansão atinge um fator de escala máximo,
voltando a colapsar a partir desse momento, uma analogia com o sistema “bola-terra” onde a
bola após atingir uma altura máxima acaba retornando.
46

Analisando esse último caso em um fator de escala máximo, tempos que:

Pensando na atração gravitacional podemos escrever a equação em termos de densidade crítica


para um universo que está no limite dos casos de expansão e contração, chegando a conclusão
que a densidade crítica equivale a
47

Em cosmologia costuma-se escrever as equações em termos da razão da densidade hoje e


densidade crítica, assim conseguimos também relacioná-las para entender o futuro da expansão.
Chegando também ao resultado de 1.88x 10^-29 h^2.

d. Estimativa de ΩM0

Usando dados do grupo local, que tem uma representativa significativa em relação ao universo,
podemos estimar o valor de relação entre a densidade hoje com a densidade crítica de forma a
prever o destino da expansão. A massa do grupo local é basicamente a somatória da massa da
Via Láctea e Andrômeda:
48

Portanto podemos deduzir que a relação de densidade é muito próxima de 1.0.

8. Modelos de Friedmann-Lemaître

Primeiramente devemos adimensionalizar a equação de Friedmann-Lemaître para interpretar


alguns de seus resultados
49

Como a0 = 1

Agora temos uma equação para a expansão do universo em função da quantidade de matéria e
curvatura do espaço, portanto podemos explorar alguns limites da mesma para interpretar seus
resultados.

a. Universo muito pequeno dominado por matéria a << 1

Podemos observar que para um universo muito pequeno onde k = 0 temos a como um termo
dominante, sendo que podemos entender que estamos analisando o começo do universo ou um
sistema plano onde a energia mecânica total é igual a zero. Considerando a << 1 e integrando a
equação veremos como a escala de fator do universo está relacionada com o tempo para esse
modelo.
50

b. Universo muito grande a >> 1

Com a mesma equação observamos que a parte dominante de Ωk0 deve ser positiva para
satisfazer a equação, portanto lembrando da definição k deve ser menor que zero. Assim
possuímos um sistema desligado que se expande eternamente.
51

Em quadro geral temos um universo no início com uma expansão proporcional de t ⅔ que em
futuro passa a expandir eternamente, portanto resta-nos avaliar o processo durante esses dois
extremos.

c. Componente radioativa

Associando a equação de Friedmann-Lemaître com a relatividade geral é possível observar que


devemos considerar a densidade de todas as componentes de energia-momento (massa, radiação
e energia escura), sendo k relacionada a curvatura do universo.

A luz não tem massa, mas sua energia afeta a expansão. Usando relações de relatividade especial
podemos associar massa e energia para entender como a densidade radioativa varia com o
volume.

O número de fótons por volume diminui com o aumento do volume, assim como a energia de
cada fóton seguindo a relação de redshift.
52

Adicionando a componente radioativa na equação de Friedmann-Lemaître temos:

d. Estimando o valor de ΩR

A principal componente é a Radiação Cósmica de Fundo, que tem hoje o valor de temperatura
igual a 2.73 K. Usando relações de eletromagnetismo a respeito de um Corpo Negro e fazendo
uma analogia de acordo com a equação de Friedmann-Lemaître para a o ΩM0 e ΩR0
conseguimos estimar seu valor.
53

Observamos que ΩR0 é muito menor que ΩM0, portanto hoje a matéria domina sobre a
radiação.

e. Universo dominado por radiação.

Para a << 1 o termo ΩR0 domina sobre a equação. Fazendo uma análise da equação e
integrando-a podemos entender a proporcionalidade de a com o tempo, assim como foi feito para
as outras componentes.
54

Portanto temos uma expansão para o universo que varia em diferentes momentos de acordo com
o domínio de densidade de cada componente.

f. A constante cosmológica

A solução de um universo em expansão desagradava muitos físicos na época em que ainda não
se tinha dados observacionais para sustentar essa teoria. Einstein foi um dos físicos que não
aceitava essa solução e para satisfazer uma solução de universo estático, acrescentou um termo
em suas equações de campo da relatividade geral, sendo que faremos uma análise dela pelas
equações de Friedmann-Lemaître.
Para um sistema estático devemos entender que tanto a aceleração quanto a velocidade do
mesmo é nula, portanto para um universo como esse, a primeira e a segunda derivada do fator de
escala é igual a zero.

Quando igualamos a zero a equação de aceleração de Friedmann chegamos a conclusão de que a


soma das densidades das componentes de radiação e matéria também é zero, o que implicaria em
universo vazio. Como obviamente esse resultado não condiz com a realidade foi acrescentado
uma constante para a equação.
55

Acrescentando a solução para a equação de Friedmann-Lemaître obtemos uma relação para a


nova constante.

g. Universo dominado por Λ

Em um universo dominado pela constante cosmológica e K = 0 temos uma expansão que cresce
exponencialmente, resultando em duas interpretações diferentes para o destino e começo do
mesmo. Uma interpretação é conhecida como “Big Rip”, onde o parâmetro de Hubble em
crescimento exponencial acaba por superar as velocidades típicas dentros dos aglomerados de
galáxias assim como todos os sistemas incluindo as próprias ligações nucleares, dessa forma o
universo seria “Rasgado” devido essa expansão violenta. É também possível interpretar que o
universo teve uma expansão exponencial apenas no começo, sendo que a partir de um certo
instante passou a expandir de acordo com as equações já observadas aqui, essa interpretação é
conhecida como Teoria Inflacionária “Inflation”, que será abordada mais adiante.
56

Em um universo onde K é diferente de zero, mas positivo assim como Λ, temos uma solução de
“Bounce Back” onde o sistema expande e retorna constantemente. Essa última solução também é
produzida por um K e Λ negativos.
57

9. Interpretação de Λ

a. Equação de estado

Devemos realizar uma abordagem através das leis da termodinâmica para iniciarmos as
interpretações da constante cosmológica. Considerando uma caixa cheia de partículas com
movimento aleatório podemos relacionar a força nas paredes em função da pressão exercida.

Usando densidade numérica ao invés do volume, onde N é o número de partículas na região que
colidem com a parede, sendo que apenas metade contribui com a colisão, temos a pressão total.
Considerando os movimentos em três dimensões e velocidades aleatórias:
58

b. Equação de estado para matéria não relativística

Para esse caso não será utilizada a análise por vetores e escreveremos em termos da densidade,
lembrando que os termos são escritos em comparação com a velocidade da luz para a
cosmologia.

Aqui chegamos a conclusão que em termos cosmológicos a pressão exercida pela matéria pode
ser desconsiderada.
59

c. Equação de estado para a radiação

Para calcularmos a pressão exercida pela radiação é preciso lembrar que a energia de um fóton
está relacionada com seu momento e então relacionamos a densidade de energia em densidade
mássica.

d. Equação de estado para a energia escura

Como não é certo que a energia escura é composta por partículas, é necessário fazer uma
transformação termodinâmica para entendê-la. Considerando a primeira lei da termodinâmica e
lembrando que o universo é um sistema isolado, temos que:
60

Essa equação vale para todas as componentes do universo, sendo que é apenas necessário
relacionar como a densidade muda com a expansão para cada uma. Como a energia escura é
constante, temos:

Aplicando a equação de pressão para a constante cosmológica chegamos a conclusão que a


mesma é negativa, ou seja, exerce uma força de expansão. Sendo que sua densidade não diminui
com a expansão do universo, permanecendo constante.
61

e. Generalização

Encontramos as relações de pressão e densidade para as componentes do universo, de forma que


é possível aplicá-las em uma equação generalizada para posteriormente relacionar com o fator de
escala.

Então relacionamos com o fator de escala


62
63

E então observamos como a pressão está relacionada com a densidade de cada componente.

10. Interpretação de K
64

O parâmetro de curvatura do universo é estudado e interpretado profundamente através da


relatividade geral, porém é possível fazer uma análise clássica do mesmo. Para tanto devemos
começar estudando a métrica do universo.
Na geometria, métrica é uma medida pela superfície, portanto começando com um plano temos.

Em uma geometria curva usamos funções para descrever a curvatura

Na relatividade espacial temos o tecido espaço-tempo plano onde a métrica é:

Aqui temos “ds” é interpretado como a distância entre dois eventos. Considerando:
65

Na Cosmologia é usada a métrica de Friedmann-Lemaitre-Robertson-Walker para a curvatura


satisfazer o princípio cosmológico. Então temos

Normalizando essa métrica temos


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a. Medindo o número π

A distância entre dois pontos infinitesimalmente próximos no plano é dada por:

Para medir π é necessário medir a circunferência e o diâmetro de um círculo, portanto tendo em


vista a simetria usa-se coordenadas polares.

Para medir a circunferência vamos integrar Ds:


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E agora medindo o diâmetro temos

Onde chegamos a conclusão que para qualquer círculo em plano


68

b. Medindo π em um universo esférico

É necessário o uso de coordenadas esféricas e parâmetros que fazem sentido para um ser em
bidimensional em cima da esfera, portanto temos

Para um R constante e derivando parcialmente

Substituindo para variáveis que possam ser medidas pelo observador


69

Para medir a circunferência


70

E o diâmetro

Calculando pi medido
71

Aqui é possível observar que os efeitos da curvatura só são possíveis de observar em grande
escala. Para um ser bidimensional podemos interpretar R como a curvatura de seu universo.

c. Medindo π em um universo de geometria qualquer

Aqui usaremos a métrica de FLRW e iremos considerar o fator de escala que aumenta
aproximadamente constante no tempo. Então medindo a circunferência com a distância
percorrida por um raio de luz
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Calculando o diâmetro

Agora encontramos os mesmos resultados para a esfera e plano e aprendemos o resultado em


uma hipérbole
73

Graficamente podemos entender a relação de pi para cada geometria

11. Soluções Numéricas

Agora já podemos realizar análises numéricas para diferentes modelos de universo de acordo
com as equações e parâmetros já estudados. Começando com a equação de Friedman-Lemaître
padrão:
74

Definindo os parâmetros pelos Ω respectivos

Então reescrevemos a equação


75

Usando a definição de tempo de Hubble

Assumindo condições de contorno para facilitar as soluções:

a. Universo Fechado

Aqui analisaremos o fator de escala máximo do universo, sendo que não é possível obter
uma raiz negativa da equação. No momento em que a é máximo o universo volta a
colapsar, refletindo a parábola no gráfico. Lembrando também que quando o fator de
escala atinge seu máximo a sua derivada é zero, pois não há inclinação da reta tangente
nesse ponto da parábola.
.
76

b. O universo ΛCDM

Atualmente os dados observacionais apontam para esse modelo de universo onde é adotada
a curvatura plana. Aqui escrevemos as equações em função do redshift, pois é uma medida
observacional. Então primeiramente definimos os parâmetros e relacionamos o fator de
escala com o redshift.

Agora usando a definição para cada omega


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Substituímos pela relação de redshift


78

E de forma generalizada é possível escrever para um parâmetro qualquer a equação

Dessa forma é possível analisar como os diferentes parâmetros do universo atuam em


diferentes redshifts, mostrando a sua direta relação com a evolução do universo.

12. O Paradoxo de Olbers

Existem alguns testes observacionais na cosmologia que permitem analisar parâmetros dos
modelos de universo. Por muito tempo acreditou-se em um modelo infinito e estático, porém
esse argumento gera um paradoxo, pois se considerarmos que em cada ponto do universo existe
79

uma estrela, então a sua luminosidade teria tempo infinito para chegar a terra, dessa forma o céu
a noite deveria brilhar como o sol.
Através de uma de uma análise análitica é possível refutar esse modelo:

Para explicar a não observância de um céu de noite tão claro como o sol, podemos entender que
a expansão do universo afeta diretamente a luz, causando um prolongamento de suas ondas e
aumentando as distâncias entres os objetos, postulados que condizem com o modelo atual de
universo ΛCDM.
80

13. Estimando a idade do universo

Uma das formas de testar os parâmetros do universo é estimando a sua idade


podemos escrever a equação de hubble:

Então é possível integrar a equação lembrando também da função E(a) e o tempo de Hubble.

Através dos cálculos no computador temos idades do universo para cada modelo.

Se considerarmos que um universo plano com pouquíssima influência da radiação


81

Assim podemos comparar alguns dados astrofísicos de idades (bilhões de anos) de objetos para
comparar com os modelos de universo. Anãs Brancas (13.5) Aglomerados estelares (13.4)
Quantidade elementos radioativos (13.3) Portanto podemos ver que vários modelos de ômega
estão descartados.

a. Look Back Time

Escrevendo em função do redshift


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Integrando, lembrando que o redshift no começo do universo é infinito


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Aqui temos a equação na forma mais usual, calculando as idades em função do redshift
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14. Distâncias em cosmologia

Para ter um atendimento completo e aprofundado de distâncias em cosmologia é necessário um


tratamento através da relatividade geral, porém faremos uma análise clássica bem próxima.
Veremos duas formas de calcular distância em cosmologia, começando pela distância comóvel
que considera um ângulo zero com a linha de visada do observador e posteriormente com a
distância transversal. Lembrando a métrica de FLRW A medida será feita com um feixe de luz
emitido em (DM, te) e chegando em nós em (0, to).
85

a. Distância comóvel na linha de visada

Usando o lado direito da equação e mudando as variáveis para a o fator de escala do universo,
considerando a hoje como 1 e o fator de escala a para o momento da emissão:

Utilizando a definição da derivada do fator de escala:


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Utilizando a distância de Hubble

E reescrevendo a equação em função do redshift

b. Distâncias comóvel transversal

Caso seja necessário medir distância através de uma medida de tamanho angular de um objeto,
devemos usar o cálculo através da distância transversal. Sabemos que as medidas angulares em
cosmologia para objetos distantes não são práticas, porém ao analisarmos a luminosidade
87

estamos fazendo uma medida indireta de um tamanho angular. Nesse cálculo é necessário
também analisar o parâmetro de curvatura do universo que influenciará diretamente no resultado.
Da primeira equação temos:

Sendo que os valores da integral valem:


88

Então lembrando da definição de omega K:

Podemos relacionar a equação para diferentes curvaturas do universo. Sendo para a curvatura
positiva:
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Curvatura negativa

E para a curvatura zero

Então também é possível fazer uma análise gráfica para cada modelo de universo, sendo que
quando k = 0 temos que a distância transversal será igual a distância comóvel.

c. Distância de luminosidade

A distância de luminosidade é uma medida através da distância transversal em que é possível


estabelecer uma relação através do fluxo de objetos distantes. Para isso é importante recordar o
90

cálculo do módulo de magnitude, assim como levar em consideração a perda de energia da luz de
uma fonte distante.

Portanto podemos concluir que a luminosidade hoje nos parece menor do que de fato era nesse
redshift.

d. Horizonte de partículas

Definimos o Horizonte de Partículas como a distância máxima em que podemos enxergar objetos
no universo, criando assim um “universo observável”, já que não é possível medir diretamente
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algo que está além dessa barreira. A luz é a entidade mais veloz que conhecemos, porém sua
velocidade é finita, dessa forma poderíamos pensar que os objetos mais distantes em nosso
universo correspondem a uma distância equivalente a sua idade ~ 14 bilhões de anos, porém
levando em consideração a expansão do tecido espaço-tempo percebemos e podemos calcular
que esse horizonte é muito maior. Pela definição de distância comóvel e considerando um
redshift infinito em direção ao começo do universo achamos o tamanho do universo observável,
ou Horizonte de Partículas.
92

15. Efeitos relativísticos da lei de Hubble-Lemaitre

Para que haja um completo entendimento da lei de Hubble-Lemaitre é necessário uma análise
dos efeitos relativísticos, utilizando parâmetros que são medidos diretamente, como o redshift.

A lei de Hubble-lemaitre é sempre válida desde que a interpretemos direito. Aplicando-se a


mesma para hoje, pois H0 é o parâmetro de Hubble atual, sendo que D é a Distância Comóvel
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Transversal até a fonte e v é a velocidade da fonte em D. Podemos analisar graficamente como a


velocidade está relacionada com o redshift, observando que a velocidade não segue a lei de
Doppler por causa da expansão.

a. Expansão para um universo vazio

Para que seja feita uma análise profunda dos dados observacionais é mais conveniente que se
faça as medições através do redshift e do módulo de distância. Como não precisamos pensar
estritamente na velocidade, podemos olhar a tendência secundária. Faremos isso supondo um
universo vazio:
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Utilizando dados de supernovas Ia e através dessa equação conseguimos relacionar a distância


luminosa, redshift e distância de hubble para que possa ser feita a análise gráfica e comparação
com os diversos modelos.
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Verificamos que o modelo ⴷCDM é o que melhor explica os dados observacionais,


principalmente em altos redshifts.

O ajuste dos modelos cosmológicos com universo plano aos dados nos fornecem h = 0.65 e
ΩM,0 = 0.32 (consequentemente ΩΛ,0 = 0.68).
96

16. Parâmetro de desaceleração

O parâmetro de desaceleração é a medida de aceleração da expansão do universo. Como por


muito tempo os cosmólogos acreditaram que o universo deveria estar se expandindo
desaceleradamente, o termo é usado dessa forma, porém hoje sabemos que essa expansão na
verdade é acelerada. Para dar início a esse estudo devemos utilizar o conceito de série de Taylor
que fornecerá a matemática para escrever a equação de desaceleração. Portanto, para começar,
podemos considerar de forma análoga uma análise da equação de movimento retilíneo
uniformemente variado para simplificar o formalismo matemático.

Generalizando:
97

Então utilizando a Série de Taylor e comparando com a equação do MRUV verificamos que o
expoente quadrático se refere à expansão.

a. Aceleração da expansão do universo

Podemos calcular a expansão do universo através da série de Taylor. Considerando o fator de


escala definido por uma função de tempo temos:
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Adimensionalizando temos:

Onde definimos o parâmetro de desaceleração como q0 para hoje e q para qualquer instante.
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Para calcular o valor da expansão temos:

Lembrando da definição de E e calculando sua derivada:


100

Substituindo na equação do parâmetro de desaceleração


101

Onde encontramos a equação para calcular a desaceleração hoje

Então após uma manipulação algébrica e substituindo os valores temos:

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