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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas


Curso de Licenciatura em Física

Alguns Aspectos da Expansão Métrica do Espaço-


Tempo à Luz da Relatividade Geral

O R I E NTA ND O : DAV I S . O LIV E I R A


O R I E NTA DO R : S I LVA NI O B EZ E R R A

2023
Objetivo Geral

Desenvolver um estudo com relação à expansão métrica do espaço-tempo utilizando a


Relatividade Geral .

Objetivos Específicos
1. Apresentar um ferramental teórico e conceitual sobre a teoria;

2. Compreender o porquê da expansão e, posteriormente, os fatores que influenciam


diretamente no fenômeno, bem como suas características e consequências na evolução do
Universo.
Metodologia

A princípio foi feita uma breve explanação sobre a evolução do pensamento


cosmológico ao longo da história no que diz respeito ao conceito do espaço-
tempo chegando até a relatividade geral.

Posteriormente foi introduzida uma série de equações que serão mais tarde
combinadas a fim de fornecer informações acerca do espaço-tempo e o
fenômeno da expansão.
Espaço-Tempo na Mecânica Clássica

Na obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, Newton


estabelece que o tempo e o espaço são absolutos e podem ser
conceituados como estruturas estáticas, inalteráveis e homogêneas
(Oliveira, 2010).

Neste sentido, o tempo (na visão não-relativística) é um parâmetro


universal, uniforme por todo o espaço e flui pelo espaço independente
do observador (Siofuni, 2018).
Evolução do pensamento
No início do século XX com o desenvolvimento da Física Moderna, a elaboração
da Mecânica Relativística trouxe um ferramental teórico que auxiliou na descrição
da estrutura do tecido espaço-tempo, auxiliando na compreensão da evolução do
Universo e abrindo um novo campo de pesquisa dentro da Cosmologia.

A análise das métricas, em especial a de Friedmann, proporcionaram uma


descrição satisfatória da estrutura do espaço-tempo e as consequências dos
fenômenos ligados ao seu comportamento, inclusive, a atual aceleração cósmica.
O Espaço-Tempo

O espaço-tempo é quadrimensional, e todo ponto no espaço é


entendido como um evento e cada evento possui quatro
coordenadas, (3+1)-dimensões.

Segundo MATSAS (2005), de acordo com a Mecânica


Relativística o espaço-tempo não é um ponto fixo, mas, um
somatório de relações que evoluem no tempo.
O Espaço-Tempo
De acordo com Kokubun (1999) e Wuensche (2020), o desenvolvimento
dos modelos cosmológicos permitiu entender melhor como de fato o
Universo é estruturado e como isso influencia nos diversos fenômenos
que são previstos e efetivamente observados.

O modelo cosmológico padrão diz que a uma escala maior que 200
Mpc, o Universo é homogêneo e isotrópico, sendo esse criado há
aproximadamente 14 bilhões de anos onde o seu estado inicial, logo
após ao tempo de Planck, era denso e quente
Descobrindo a expansão
No início do século XX o astrônomo Edwin Hubble se dedicou ao estudo de galáxias
distantes, buscando armazenar a maior quantidade de informações obtidas a partir
de suas observações.

Através de uma análise dos movimentos das galáxias, ele coletou dados
espectrométricos percebendo que existia uma velocidade de afastamento ligada à
distância destes objetos de forma linear, conhecida como Lei de Hubble.

Este foi o estopim para compreensão da dinâmica do cosmos, revelando que o


Universo teve um início e atualmente estaria em expansão (Kokubun,1999).
A expansão do Espaço-Tempo

De acordo Kepler (2004), esse afastamento proveniente da expansão faria com que a luz
de galáxias distantes sofresse um desvio aparente no seu espectro, semelhante ao que
acontece com as ondas sonoras de uma ambulância em movimento ao passar por um
observador.

As galáxias apresentariam o efeito Doppler para a luz, também conhecido como


“RedShift”, ou desvio para o vermelho.

Em 1922, Friedmann propôs que o Universo em expansão pode ser descrito utilizando-se
da Relatividade Geral e da métrica de Robertson-Walker associada com o tensor matéria-
energia da equação de campo de Einstein nos fornecendo a métrica de Friedmann.
Os parâmetros Cosmológicos

As distâncias físicas entre objetos astronômicos, a idade do Universo,


densidade de energia, topologia, estão relacionadas com grandezas
denominadas parâmetros cosmológicos.

Um dos objetivos da Astrofísica é obter um destes parâmetros, o fator


de escala, que é derivado diretamente da Equação de Friedmann
(Bergmann, 2017).
O Princípio Cosmológico
O princípio cosmológico estabelece que em um cenário de expansão cósmica, dois
observadores diversos irão ter as mesmas conclusões sobre as propriedades do
Universo.

A imagem a seguir foi elaborada pelo Projeto de Levantamentos de Dados


Astronômicos a partir de Observação de Espectros (SLOAN) que mostra uma das
propriedades do Universo, que é a sua homogeneidade para grandes escalas.

É importante salientar que esta homogeneidade não é sinônimo de uniformidade.


Figura 1: Distribuição de matéria observado nos grandes levantamentos de galáxias. (Fonte: (RONALDO,
2022)

Nesse sentido, em uma determinada escala, o Universo compartilha das mesmas propriedades para
qualquer observador, o que define homogeneidade (a mesma evidência em diferentes posições do espaço)
e isotropicidade (a mesma aparência em qualquer direção) do Universo, que caracteriza consequências
estruturais testáveis do Princípio Cosmológico.
Figura 1: Distribuição de matéria observado nos grandes levantamentos de galáxias. (Fonte: (RONALDO,
2022)

O princípio cosmológico foi sutilmente formulado por Albert Einstein em 1927, quando buscou expandir as
equações da Relatividade Geral para todo o Universo, essas equações podem ser solucionadas caso
adotemos um número suficiente de simetrias, como justamente no caso do princípio cosmológico.
Figura 1: Distribuição de matéria observado nos grandes levantamentos de galáxias. (Fonte: (RONALDO,
2022)

A maior evidência atual que corrobora com o modelo em questão é a isotropia do fundo difuso cósmico,
que é a radiação eletromagnética homogênea observada em todas as direções do céu. A maioria das
teorias cosmológicas atuais partem desse princípio elementar onde pode-se entender que não existe um
lugar especial ou privilegiado no Universo.
O Modelo -CDM

O modelo lambda-CDM (Lambda - Cold Bark Matter) é o modelo


cosmológico do Big Bang parametrizado por uma constante cosmológica
(Λ) associada à matéria escura fria.

O modelo surgiu de observações da radiação cósmica de fundo bem


como da estrutura em grande escala do Universo, onde indica que o
Universo está atualmente desenvolvendo uma expansão acelerada.
O fator de Escala
O fator de escala, , é um parâmetro cosmológico responsável por
determinar as variações nas escalas produzidas pela expansão métrica do
espaço-tempo.

Esse fator é o que parametriza a expansão relativa do Universo, sendo


determinado no momento do nascimento do Universo até o tempo atual.

A evolução deste parâmetro é determinada pelas equações da Relatividade


Geral levando em conta o Princípio Cosmológico.
A Teoria da Relatividade Restrita
Em 1905, Albert Einstein publicou uma série de três trabalhos onde, em um
deles, foi introduzida a Teoria da Relatividade Restrita, cujo movimentos no
Universo ocorrem sem levar em consideração campos gravitacionais.

Os postulados de Einstein para Relatividade Restrita são:

1. As leis da física são as mesmas para todos os referenciais inerciais, sendo


estes referenciais equivalentes ao sentido newtoniano;

2. A velocidade da luz é constante universal para todos esses referenciais e


constitui a velocidade limite que o corpo pode atingir no Universo.
A Teoria da Relatividade Geral

A Teoria da Relatividade Geral pode ser vista como uma expansão da


Restrita, uma vez que as permanecem os postulados com a diferença que
agora temos a interferência de campos gravitacionais.

Publicada originalmente em 1915, Einstein trouxe um conjunto de


hipóteses que fornecem uma descrição geométrica da gravitação como
propriedades do espaço-tempo.
A Equação de Einstein
A teoria fornece uma descrição dos efeitos da gravidade sob o prisma
geométrico, mas qual seria a fonte de gravidade? No âmbito relativístico
a massa.

Equação de campo de Einstein:


A Curvatura do Espaço-Tempo

FIGURA 5: REPRESENTAÇÃO DE ALGUMAS GEODÉSICAS NO ESPAÇO


Equações de Friedmann
O tensor de energia-momento depende da distribuição de matéria e energia
(densidade e pressão) (Sodré, 2011). As equações que traduzem a evolução de
a(t) para Universos de obedecem ao princípio cosmológico são traduzidas nas
equações de Friedmann-Lamaître, onde são matematicamente definidas:
Equações de Friedmann

É justamente esse sistema de equações de governam a evolução da taxa de


expansão do Universo em função do tempo cósmico e do fator de escala, sendo
determinadas por propriedades do conteúdo do próprio Universo.

A expansão métrica do Universo quando analisada em termos de matéria e


energia pode ser atribuída a energia escura, cujo efeito é o da própria constante
cosmológica, ocorre que essa manifestação da constante permanece misteriosa
e sua principal consequência induz a uma espécie de antigravidade (Sokolov,
1995).
Equação de Wheeler-DeWitt
A equação de Wheeler–DeWitt é uma equação empregada a gravidade
quântica na física teórica e na Cosmologia. Ela possui a forma de um operador
que age numa função de onda, reduzindo esta, a uma função cosmológica.

Considerando a métrica Friedmann a equação WDW pode ser escrita como


(Bezerra, et. al. 2020):

onde representa as diferentes formas de energia.


Equação de Wheeler-DeWitt

 Resultando em:
Equação de Wheeler-DeWitt

Sabendo-se que é o potencial efetivo em função do fator de escala dado por,

onde as constantes arbitrárias A e B são definidas como se segue.

Na expressão acima é uma constante de proporcionalidade a densidade de energia


escura em um determinado instante de tempo (Bezerra, et. al. 2020).
Resultados de Discussões
Equações de Friedmann e o Modelo de Hubble

As observações de Hubble confirmaram a hipótese levantada por


Friedmann, de modo que, a pergunta agora não era mais se o Universo
estava em expansão, mas o porquê de estar se expandindo.

Hubble e Humason (Harry, 2013) perceberam que existia uma relação entre
as distâncias entre as galáxias e suas respectivas velocidades de
afastamento.

Ver figura a seguir:


Figura 2: Diagrama de Hubble na forma original. Fonte: PNAS (2017)
Equação de Friedmann e o Modelo de Hubble
Podemos verificar pela figura anterior que a velocidade cresce linearmente com a
distância.

A linha contínua é a que melhor se adapta aos círculos pretos que representam as
velocidades versus distâncias individuais das galáxias observadas.

A linha tracejada é aquela que melhor se adapta as velocidades versus distâncias


correspondentes às combinações das galáxias, onde se conclui que a velocidade é
uma função linear.
Nesse contexto, a geometria do espaço é obtida a partir da
densidade crítica , dada por (Kepler, 2014),
Equação de Friedmann e o Modelo de Hubble
de modo que, isolando o termo na Eq. 51 e substituindo na Eq. 39 (equação de
Friedmann) temos,

Como , então,
Equação de Friedmann e o Modelo de Hubble

Através das equações de Friedmann podemos perceber que o parâmetro de


Hubble está relacionado a geometria do espaço por meio do fator de
curvatura k.
Equações de Friedmann e o Modelo de
Hubble
A lei de Hubble (, nos mostra que a velocidade de afastamento (proveniente da
expansão) é diretamente proporcional a H. Podemos concluir que a velocidade de
expansão é também afetada diretamente pela geometria do espaço (k).
O CARÁTER ACELERADO DA EXPANSÃO E A EQUAÇÃO DE WHEELER-DEWIT
Para entender como a energia escura altera a expansão será feito uma associação entre a
equação de Wheeler-DeWitt e a Lei de Hubble, a fim de verificarmos a dependência que a
velocidade de expansão possui da energia escura.

Isolando o fator de escala na Eq WDW,

obtemos,
Isolando o fator de escala na Equação de Friemdnan, temos,

Logo, temos que:


Igualando o fator de escala da equação WDW e Friemdnan, e substituindo o H da eq. de Hubble.

Fazendo , temos a equação acima reduzida,


Energia Escura e a Expansão do Universo
Analisando os denominadores da equação acima, temos:

O potencial efetivo definido como , onde suas constantes são estabelecidas através da Eq. 64 como
Energia Escura e a Expansão do Universo
Podemos observar que o potencial efetivo é diretamente proporcional ao fator AP
da constate B, que como já discutido, representa a densidade de energia escura.
Nesse sentido, podemos facilmente observar que a velocidade v também é
diretamente proporcional a constante B.

Isso nos permite concluir que a velocidade da expansão métrica é diretamente


afetada pela energia escura, uma vez que, se o fator AP varia, a velocidade varia
de modo proporcional. Logo, se o universo está se expandido de forma acelerada,
e isso se dá pela variação não espontânea da sua velocidade, a energia escura
desempenha um papel fundamental na produção do fenômeno.
Conclusão
Dado exposto, podemos concluir que de fato o Universo se desenvolve um
cenário de expansão, sendo esta influenciada pela estrutura do espaço-tempo,
densidade do Universo, fator de escala e que o atual caráter acelerado de fato
é explicado em um cenário de energia escura.

A Relatividade figura o mais adequado arcabouço teórico que satisfaz as


necessidades conceituais e matemáticas necessárias para descrição não
somente dos fenômenos mas da estrutura onde estes ocorrem, sendo o
princípio cosmológico uma confirmação da adequação da Relatividade à
questões envolvendo a expansão métrica do espaço-tempo
Agradecimentos
Agradeço,

1. primeiramente a Deus, O Grande Arquiteto e Mantenedor do Universo!

2. Aos professores que tanto contribuíram para minha formação, em especial, ao


Prof. Dr. Silvanio Bezerra.

3. Aos meus pais pela paciência e incentivo

4. Aos colegas de curso.

5. A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia pelo ensino de qualidade.


Referências
• A Lei de Hubble e a Homogeneidade do Universo. Kokubun, Fernando. 1999. 3, Rio Grande,
RS : Revista Brasileira de Ensino de Física, 1999, Vol. 21.

• Aguiar, Bernardo França de. 2018. Relatividade Geral. Relatividade Geral. Rio de Janeiro :
IF-UFF, 2018.

• Antônio Máximo, Beatiz Alvarenga. 2000. Curso de Física - Volume III. São Paulo :
Scipione, 2000. 85-262-3098-0.

• Bergmann, Thaisa Storchi. 2017. Cosmologia e Relatividade. Instituto de Física da UFRGS.


[Online] 2017. http://www.if.ufrgs.br/.

• Buracos Negros, Relatividade Restrita, Destino do Universo. Wikipédia. [Online] Wikipédia.


[Citado em: 15 de 11 de 2020.] https://pt.m.wikipedia.org/.

• Class of solutions of the Wheeler-DeWitt equation with ordering parameter. H. S. Vieiraa, V. B.


• Correia, Maury Duarte. 2009. Formalismo de Hamilton-Jacobi em sistemas cosmológicos.
Repositorio UFPE. [Online] Abril de 2009. https://repositorio.ufpe.br/.

• Crawford, Paulo. 1999. O Espaço-tempo Curvo da Relatividade Geral. Observatório


Astrônomico de Lisboa. [Online] 10 de Abril de 1999. [Citado em: 28 de Julho de 2022.]
http://rana.oal.ul.pt/.

• Equações de Friedmann. Wikipédia. [Online] Wikipédia. [Citado em: 29 de 10 de 2020.]


https://pt.m.wikipedia.org/.

• Estimando parâmetros cosmológicos a partir de dados observacionais. Neto, Gival Pordeus


da Silva. 2017. 18 de Dezembro de 2017, Revista Brasileira de Ensino de Física, p. 21.

• Filho, Kepler de Souza Oliveira. 2003. Densidade Crítica. Astro IF-UFRGS. [Online] 12 de
ago de 2003. [Citado em: 13 de nov de 2022.] http://astro.if.ufrgs.br/univ/dens/dens.htm.

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