O modelo em que se encaixam as hipóteses da matéria e energia
escuras é um modelo cosmológico recente, que entrou em cena para restabelecer a teoria do modelo padrão, dado que diversos resultados observacionais apontavam uma grande falha nas previsões dessa teoria. A primeira das duas hipóteses a surgir foi a de matéria escura, com Fritz Zwicky, em 1933, que veio para explicar o resultado da dinâmica das galáxias no aglomerado de Coma. Por seus resultados, a velocidades das galáxias era tal que sua atração gravitacional, calculada a partir da sua massa visível, era insuficiente para se formar um sistema ligado, tal qual se observava. Zwicky propôs, então, que existia uma porção de matéria extra que não era visível: a “matéria escura”. Dada a excentricidade da idéia, não foi levada muito à frente, mas as observações continuaram. Em 1970, um grupo de astrônomos, liderados pela astrônoma Vera Rubin fizeram uma série de medidas muito precisas que abalaram de vez as estruturas teóricas cosmológicas. Tais medidas indicavam que a velocidade de rotação nas galáxias, a partir de certo ponto, era aproximadamente constante e não decrescia com o inverso da raiz quadrada do raio, tal qual previa a física newtoniana. Então, a idéia de matéria escura surgiu com mais vigor e seriedade, sendo uma pesquisa de fronteira nos dias de hoje. Na realidade, o termo “matéria escura” é errôneo, posto que a matéria que é escura interage com a luz, absorvendo-a. Neste caso, a matéria não absorve nem emite luz. Para que os resultados teóricos combinassem com os experimentais, a quantidade de matéria, à medida que a distancia ao centro de massa aumenta, deve crescer proporcionalmente ao raio. A fórmula mais usada para esse fim é: ,
indicando que deve haver um halo de matéria escura em torno da massa
visível. A presença de matéria escura é observada de algumas formas: a primeira e que vem sendo estudada a muito tempo é a velocidade de rotação das estrelas em uma galáxia, e das galáxias em um aglomerado. A segunda, e que começou em 1986, é a indicação da massa de aglomerados e galáxias a partir da deflexão que produzem na luz que passa próxima, seguindo os preceitos da Relatividade Geral. Essas deflexões formam lentes gravitacionais e o desvio da luz é uma função crescente com a massa do objeto que a provoca. Medidas dessa massa para os aglomerados e galáxias mostraram também a presença de muito mais matéria do que aquela que emite radiação eletromagnética A parte da matéria escura que pode ser bariônica corresponde a apenas aproximadamente um sexto do total, dado que o numero total de bárions é fixado na nucleossíntese primordial. O restante é ainda um ponto em aberto na cosmologia. Dois são os candidatos mais populares a serem a constituição da matéria escura não-bariônica: os WIMPs e os áxions. Os primeiros são partículas muito pesadas que interagem apenas via interação fraca e gravitacional. Os últimos são partículas inventadas para se explicar a conservação de paridade e inversão de carga nas interações fortes. Ambas as partículas são detectáveis, apesar da minúscula seção de choque. As características da distribuição de matéria escura no universo são as seguintes: não emitem nem absorvem radiação eletromagnética, representam em torno de 29% da quantidade de massa total do universo, é constituída de 25% por matéria não-bariônica. A energia escura é outro grande impasse na cosmologia e talvez maior problema do que a matéria escura, dado que ela é responsável pelos outros 70% da quantidade de massa total do universo. Seu modelo físico é análogo ao modelo de Einstein para o universo, que apresenta uma constante cosmológica que representa uma ação repulsiva para balancear a atração gravitacional. Na década de 90, a observação de uma radiação de fundo de microondas sugeria que o universo possuía geometria plana, mas a observação da quantidade de matéria estava bem abaixo do necessário, mesmo com a matéria escura. Portanto já existiam idéias sobre a importância de uma nova componente do universo para que a densidade média total de massa fosse igual à densidade crítica. As observações cruciais para a difusão das idéias sobre matéria escura ocorreram em 1998. Nessa época, ainda se acreditava em um universo em expansão desacelerada, por causa da atração gravitacional predominante, mas observações de supernovas do tipo Ia, que são subcategorias de estrelas variáveis cataclísmicas que resultam de uma grande explosão de uma anã branca, mostraram que esses objetos estavam a velocidades menores do que deveriam estar, e consequentemente, o universo está se acelerando e ao “agente” que estaria causando essa aceleração deram o nome de energia escura; observações sugerem que ela começou a predominar a cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Essa energia tem a propriedade de representar uma pressão negativa que corresponderia a uma repulsão espacial, do mesmo jeito que a pressão positiva vem da matéria que cria a atração gravitacional. Porém, associada a essa pressão negativa, existe uma densidade de energia positiva, que contribui de forma que a densidade total do universo seja igual à densidade crítica. A energia escura faz espaço repelir espaço, ele nasce na própria natureza da dinâmica. Se a energia escura predominar para sempre, o universo vai continuamente se expandir, se criando várias regiões cosmológicas sem contato causal. A energia escura deve ser homogênea em grande escala, não emitir luz e ter uma pressão importante, e é daí que vem a hipótese de ela ser energia, pois, se fosse matéria, a pressão correspondente seria ínfima e não daria conta da expansão do universo. Outra característica que vem sendo observada é a constância de seu comportamento. Os melhores dados disponíveis indicam que ela não mudou de forma mensurável, até onde podemos enxergar para trás. O Universo, no fim das contas, é um grande acontecimento invisível, com 70% de energia escura, 29% de matéria escura e um por cento, se muito, é o universo que vemos.