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Um dipolo elétrico é um par de cargas puntiformes com mesmo módulo, porém de sinais

contrários (uma carga positiva q e uma carga negativa –q), separadas por uma distância d.
Introduzimos o conceito de dipolo elétrico.

A Figura abaixo, mostra um esquema da molécula de água (H2O), que, sob muitos aspéctos, é
semelhante a um dipolo elétrico. A molécula de água como um todo é eléctricamente neutra,
porém as ligações químicas no interior da molécula de água produzem um deslocamento das
cargas; o resultado é uma carga líquida negativa na outra extremidade da molécula, ocupada
pelo oxigênio, e uma carga líquida positiva na extremidade, ocupada pelos átomos de
hidrogênio, formando um dipolo elétrico. O efeito é equivalente ao deslocamento de um único
electrão a uma distância de apenas 4×10-11 m (aproximadamente igual ao raio de um átomo de
hidrogênio). Porém, as consequências desse deslocamento são profundas.

A água é um excelente solvente de substâncias iônicas, como, por exemplo, o sal de cozinha
(cloreto de sódio, NaCl), precisamente porque a molécula de água é um dipolo eléctrico. Quando
dissolvido em água, o sal se dissocia em um ião de sódio positivo (Na+) e um ião de cloro negativo
(Cl–), os quais são atraídos, respectivamente, pelas extremidades negativas e positivas das
moléculas de água; essa força mantém os iões separados na solução. Caso as moléculas de água
não fossem dipolos elétricos, a água seria um solvente fraco e praticamente todos os efeitos
físicos e químicos que ocorrem nas soluções aquosas seriam impossíveis. Esses efeitos incluem
todas as reacções bioquímicas em todos os tipos de vida existentes na Terra.

Na realidade, podemos afirmar que sua existência como um ser vivo depende dos dipolos
elétricos! Vamos abordar duas questões sobre dipolos elétricos. Primeira: qual é a força
resultante e o torque exercido sobre um dipolo elétrico quando este é colocado em um campo
elétrico externo (ou seja, um campo oriundo de cargas no exterior do dipolo)? Segunda: qual é
o campo elétrico produzido pelo próprio dipolo?

Força e torque sobre um dipolo elétrico

Para começar a abordar a primeira questão, vamos colocar o dipolo elétrico em um campo
elétrico externo uniforme E, como indica a figura abaixo. Ambas as forças F+ e F- que actuam
sobre as cargas possuem o mesmo módulo qE, porém os sentidos dessas forças são opostos e,
portanto, a resultante é igual a zero. A força resultante sobre um dipolo elétrico em um campo
elétrico uniforme externo é igual a zero.

Entretanto, como as forças não actuam ao longo da mesma linha recta, o torque resultante não
é zero. Vamos calcular o torque em relação ao centro do dipolo. Seja Φ o ângulo entre o campo
eléctrico F e o eixo do dipolo, então o braço da alavanca tanto para F+ quanto para F– é igual a
(d/2) senΦ. O módulo do torque tanto para F+ quanto para F– é igual a (qE)(d/2) sen G e ambos
os torques tendem a fazer o dipolo girar no sentido horário (ou seja, τ na figura entra
perpendicularmente no plano da página). Logo, o módulo do torque resultante é exatamente
igual ao dobro do módulo de cada torque individual.

Em que d senΦ é a distância perpendicular entre as linhas de ação das duas forças. O produto
da carga q pela distância d é uma grandeza chamada momento de dipolo elétrico, designada
pela letra p:

As unidades de p são carga vezes distância (C · m). Por exemplo, o módulo do momento de
dipolo eléctrico da molécula de água é dado por p = 6,13×10–30 C.m

Visto que Φ na figura acima, é o ângulo entre o vetor p S e o campo elétrico E, a relação anterior
faz lembrar a definição do módulo do produto vetorial discutido anteriormente. Portanto,
podemos escrever a relação do torque sobre um dipolo usando notação vetorial do seguinte
modo:

Você pode usar a regra da mão direita para verificar que o vetor torque τ na figura anterior é
orientado para dentro da página. O módulo do torque é máximo quando p e E são ortogonais e
iguais a zero quando esses vetores são paralelos ou antiparalelos. O torque tende sempre a
alinhar a direção de p paralelamente a E. Para Φ = 0, ou seja, p e E paralelos, o equilíbrio é
estável, e para Φ = π, ou seja, p e E antiparalelos, o equilíbrio é instável. A polarização de uma
pequena semente, como no dispositivo indicado na figura, produz um momento de dipolo
eléctrico na semente; o torque produzido por E faz com que ela se alinhe paralelamente a E e,
portanto, fique em equilíbrio ao longo de uma linha de campo.
Energia potencial de um dipolo elétrico

Quando um dipolo muda de direção em um campo eléctrico, o torque do campo elétrico realiza
um trabalho sobre ele, produzindo uma correspondente variação da energia potencial. O
trabalho dW realizado pelo torque τ durante um deslocamento infinitesimal dΦ é dado pela
Equação: dW = U dΦ. Como o torque possui o sen tido da diminuição de G, devemos escrever
o torque como U = –pE sen Φ; logo:

Em um deslocamento finito de Φ1 até Φ2, o trabalho total realizado sobre o dipolo é dado por:

O trabalho realizado é igual à variação da energia potencial com o sinal contrário, análogo: W=
U1 – U2. Assim, vemos que uma definição apropriada de energia potencial U para esse sistema
é:

Onde e

A energia potencial possui um valor mínimo U = –pE (isto é, seu valor negativo com maior
módulo), correspondendo a uma posição de equilíbrio estável, para Φ = 0 e p e E paralelos. A
energia potencial possui um valor máximo para Φ = π e p e E antiparalelos; então U = +pE.
Quando Φ = π/2, em que p é perpendicular a E, U será igual a zero. Naturalmente, poderíamos
definir U de outro modo, considerando seu valor igual a zero para outra orientação de p, porém
nossa definição é a mais simples possível. A equação provê outra forma de analisar o efeito
indicado na figura. O campo eléctrico E fornece a cada semente um momento de dipolo
eléctrico, e a semente então se alinha a E para minimizar a energia potencial.

Usando a regra da mão direita para o produto vetorial, vemos que o torque π = p×E sai
perpendicularmente do plano da página. Isso corresponde a uma rotação no sentido anti-
horário, que tende a fazer p se alinhar a E.

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