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Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Vós, portanto, ouvi o

significado da parábola do semeador. A todo aquele que ouve a palavra


do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi
semeado em seu coração; esse é o grão que foi semeado à beira do
caminho. O que foi semeado nas pedras é quem ouve a palavra e logo
a recebe com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, é de momento:
quando chega tribulação ou perseguição por causa da palavra, ele
desiste logo. O que foi semeado no meio dos espinhos é quem ouve a
palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam
a palavra, e ele fica sem fruto. O que foi semeado em terra boa é quem
ouve a palavra e a entende; este produz fruto: um cem, outro sessenta
e outro trinta”.
No Evangelho de hoje, Jesus nos conta a parábola do semeador.
Dentro do contexto geral do evangelho de São Mateus, vamos nos
lembrar: Jesus começou falando da santidade. Esse foi o Sermão da
Montanha (capítulo 5 a 7). Depois, Jesus faz um sermão para os
Apóstolos que Ele está enviando em missão, ou seja, para os
semeadores de sua Palavra (foi o discurso do capítulo 10). Os
Apóstolos voltam, Jesus fica contente, faz uma ação de graça, o grito
do Redentor: “Vinde a mim todos vós com os vossos fardos, e eu vos
aliviarei”.

Agora Jesus começa a ensinar através de uma série de parábolas e,


através delas, fala da eficácia da semente que foi semeada, ou seja, de
como nós, que somos o terreno, devemos reagir diante da Palavra
recebida, para que possamos um dia ser santos, daquele “jeitinho” que
Jesus descreveu no Sermão da Montanha. Ora, na parábola do
semeador, nós vemos que a Palavra de Deus é eficaz. A semente não
somente é eficaz como é distribuída abundantemente: o semeador põe
a Palavra no caminho, no terreno pedregoso, no terreno cheio de
espinhos, em qualquer terreno.

Ele nos deixa um pouco assustados por sua prodigalidade, ou seja, por
essa generosidade em semear para todos. Assim é Deus, que quer que
todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade. No entanto, o resultado dessa semente espargida pelo campo
não é o mesmo, mas depende de uma resposta nossa. Por quê?
Primeiro, porque alguns nem sequer chegam a ouvir a Palavra de Deus.
É a semente que foi levada pelo passarinho, pelo diabo; então, Deus
está tentando falar com a humanidade o tempo todo, mas a
humanidade, distraída, não quer ouvir.

No entanto, existem alguns que o ouvem. Mas, mesmo ouvindo, não


estão dispostos a sofrer… — Jesus disse: “Quem quiser me seguir,
tome a sua cruz dia após dia e me siga. Vai haver perseguições.
Odiaram a mim, odiarão também a vós”. — Esse é o terreno pedregoso.
É a pessoa que brota alegremente, rapidamente, mas logo vem o Sol e
a seca. São as pessoas que acham que ser cristão é uma pequena e
cômoda aventura, em que “tudo vai dar certo”.
Essa teologia da prosperidade, meus queridos, não funciona. Jesus
quer que estejamos dispostos a carregar a cruz, o fardo leve do amor.
Ora, existem pessoas que até estão dispostas a carregar a cruz, mas
não estão dispostas a romper com a mentalidade mundana. É o
espinheiro, são as preocupações mundanas.

Daí vem toda essa teologia contemporânea, como a teologia da


libertação, uma teologia liberal, que acha que nós, para sermos bons
católicos, precisamos ser iguais ao mundo: “Nós temos de ser ‘normais’,
nós temos de ser iguais a todo o mundo, nós não podemos ser
diferentes”. Então, essa semente não dá o fruto da santidade, porque
essa criatura não quer romper com a mentalidade mundana.

Ou seja: é aquele tipo de católico que não quer pecar; mas, embora ele
não seja pecador, também não quer ser santo. Entre o pecador e o
santo, no meio há essa criaturinha estranha que é o mundano, ou seja,
a pessoa que está dentro do Castelo, está na graça, mas fica o tempo
todo olhando pela janela a invejar o que se faz no mundo. Essa pessoa
nunca dará frutos; pode até ser salva, mas os frutos da santidade só
virão se ela romper com a mentalidade deste mundo, porque é a
mentalidade do príncipe das trevas.

1.º óbice: negligência e preguiça espiritual. — O que foi semeado à


beira do caminho (ou seja, o que recebe a semente, pois a locução “ser
semeado” diz-se propriamente da semente e do campo) é aquele
que ouve a palavra do Reino e não a compreende, isto é, não a guarda
profundamente no coração, não a medita, cobrindo-a, por assim dizer,
com a terra do coração; e vem o Maligno (ὁ πονηρὸς: Satanás, em S.
Marcos; diabo, em S. Lucas) e rouba o que foi semeado em seu
coração, isto é, a memória da doutrina recebida, os afetos piedosos, as
inspirações da graça. Este impedimento é atribuído a Satanás, não
porque ele não cause os outros dois, mas porque deles é autor mediato,
enquanto é ele quem, neste caso, muitas vezes perturba imediata e
pessoalmente, com distrações e ilusões, a imaginação dos que ouvem a
palavra.

2.º óbice: inconstância. — O que caiu em terreno pedregoso (ou seja, o


que recebe a semente, como antes) é aquele que ouve a palavra e logo
a recebe com alegria, isto é, lhe admira a beleza, promete pô-la em
prática; mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento (em S.
Lucas: creem até certo tempo), isto é, sem empenho, sem meditação,
mas por um impulso súbito de ânimo abraça a doutrina ou acolhe a
inspiração da graça; por isso, larga mão da obra começada: “Não
costuma haver, de fato, ouvintes mais inconstantes do que os que, no
início, parecem ser os mais fervorosos” (Maldonado); quando chega o
sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, escandaliza-se e
desiste logo, abandonado o caminho que vinha seguindo.
Note-se com que propriedade as tribulações são comparadas à ação do
sol, que aquece e faz crescer a semente lançada em terra boa, mas
resseca e queima a lançada em terra má; a tribulação, com efeito,
consolida e fortalece a alma bem disposta, mas enfraquece e muitas
vezes espedaça a débil e de pouca fé.

3.º óbice: a concupiscência. — O que caiu (ou seja, o que recebe a


semente, como antes) no meio dos espinhos é aquele que ouve a
palavra, mas as preocupações do mundo (μέριμνα: os cuidados, as
solicitações etc.), isto é, tudo aquilo de que se ocupa o homem à
margem da salvação e da virtude; a ilusão da riqueza, isto é, as
riquezas falazes, que assim se chamam porque facilmente seduzem o
homem, fazendo-o desviar-se do bom caminho, ou também por serem
instáveis como a própria fortuna; as múltiplas cobiças (em S. Marcos)
e prazeres da vida (em S. Lucas), isto é, o desejo desordenado das
outras coisas, a ambição, a soberba, os atrativos da carne etc., todas
essas coisas sufocam a palavra, “porque com suas importunas
cogitações nos estrangulam o coração” (S. Gregório, Hom. 15, 3).

A espinhos são adequadamente comparados estes maus desejos,


porque pungem como espinhos (isto é, perturbam e angustiam o
coração com anseios quase intermináveis, e muitas vezes o cruciam
com o remorso de faltas passadas), e ferirem: com quantos pecados
não atormentam a alma, coberta de chagas!

O que caiu em boa terra é aquele que ouve a palavra e a compreende,


guarda-a profundamente no coração e a medita; esse produz fruto, isto
é, a põe em prática. Chama-se boa não só a terra que, por natureza, é
boa, mas a que é bem cultivada, arada, purgada; a natureza e a
vontade humanas, com efeito, são boas por si mesmas, mas alguns, por
falta de cuidado, a tornam semelhante a uma estrada batida; ou, por
falta de arado, a um terreno pedregoso; ou ainda, por falta de enxada, a
um campo abrolhado. — De acordo com S. Lucas, na terra boa são os
que ouvem a palavra com coração reto e bom, retêm-na e dão fruto
pela paciência, isto é, pela constância e perseverança.

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