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Thomas Watson
1. A INTRODUÇÃO DO TEXTO
"Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação." - Filipenses 4:11
Essa frase entra no texto de Paulo como uma espécie de prolepse, uma
antecipação para prevenir qualquer objeção por parte do leitor. O Apóstolo tinha, nos
versos anteriores, dado várias exortações importantes e benditas — entre elas “Não
andeis ansiosos de coisa alguma” (Fp. 4:6).
Com isso, Paulo não quer que deixemos de lado nem o cuidado prudente (pois
aquele que não provê para sua própria casa “tem negado a fé, e é pior que um incrédulo”, 1
Tm. 5.8) — nem o cuidado religioso — pois temos de ter “diligência cada vez maior, [para]
confirmar a [nossa] vocação e eleição” (2 Pe. 1:10).
Ele exclui, contudo, cuidado ansioso em relação aos problemas e eventos da vida
- “Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber;” (Mat.
6.25). E, nesse sentido, um Cristão deve tomar cuidado para não se sentir ansioso.
A palavra “ansioso” no Grego vem de um primitivo que significa “cortar o coração
em pedaços”, um cuidado que divide a alma. Preste atenção nisso.
Nós tentamos “entregar nosso caminho ao Senhor” (Sl. 37:5). No Hebraico, a
palavra é “lançar [o seu caminho] sobre” o Senhor. O nosso trabalho é lançar nossas
ansiedades. O cuidar é obra de Deus (1 Pe. 5.7). Nós, por nosso descomedimento,
acabamos por tomar esse trabalho das mãos dEle.
Quando a ansiedade é excêntrica, tanto por desconfiança quanto por distração, é
muito desonrosa a Deus; É como se isso removesse a providência dEle, e estivesse Ele
sentado no céu sem ligar para o que acontece com as coisas aqui embaixo, como um
homem que dá corda num relógio e depois o deixa bater por conta própria.
O cuidado desmedido tira o coração de coisas melhores e, geralmente, enquanto
estamos pensando como devemos viver, esquecemos como morrer. A ansiedade é um
corrosivo espiritual que nos consome e nos desencoraja.
É muito mais fácil a nossa ansiedade aumentar a nossa aflição em um quilômetro
do que tornar nosso conforto alguns centímetros maior. Deus já a tratou como maldição:
"O seu pão comerão com ansiedade e a sua água beberão com espanto” (Ez 12:19). Melhor
jejuar que comer desse pão! “Não andeis ansiosos de coisa alguma.”
Assim, para que ninguém pudesse dizer “Paulo, você quer nos ensinar algo que mal
aprendeu? Por acaso você aprendeu a não ficar ansioso?”, o apóstolo parece
implicitamente responder a isso, nas palavras do texto: “[…] Aprendi a viver contente em
toda e qualquer situação.” Um discurso digno de ser gravado em nossos corações, e de ser
escrito em letras de ouro nas coroas e diademas de príncipes.
O texto então se desdobra em duas partes gerais: O Estudioso, Paulo (“Porque
aprendi”) e a Lição (“viver contente em toda e qualquer situação”).
2. O ESTUDIOSO E A PRIMEIRA PROPOSIÇÃO
Começarei pela primeira parte: O estudioso, e sua proficiência. A partir de
“Aprendi”, proponho duas observações por meio da paráfrase.
O apóstolo não diz “Eu ouvi, que em devo estar contente em qualquer situação”
mas “Eu aprendi”. Daí vem nossa primeira doutrina: que não é suficiente para Cristãos
ouvirem seu dever, mas precisam aprender o seu dever. Uma coisa é ouvir, outra é
aprender. Do mesmo, uma coisa é comer outra é preparar a refeição. Paulo era um
praticante. Cristãos ouvem muito mas - é de se temer! - aprendem pouco. Haviam
quatro tipos de solo na parábola (Lucas 8:5) e apenas um solo bom: Um emblema dessa
verdade - muitos ouvintes, poucos aprendizes.
1
Provavelmente Bernardo de Claraval, influente abade e teólogo católico da idade média. (N. do
T.)
em outras coisas, lembramos de tudo que é vão. Ciro lembrava o nome de cada
soldado de seu enorme exército. Nós temos lembranças de injúrias, o que é
como encher um recipiente precioso como esterco. Como disse Hierão2 “quão
logo nos esquecemos das verdades sagradas de Deus?” Estamos prontos a
esquecermos de três coisas: nossas falhas, nossos amigos e nossas instruções.
Muitos cristãos são como peneiras: ponha uma na água, e ela se enche. Tire-a da
água, e tudo vaza. Então, enquanto escutam ao sermão, eles lembram algo; mas,
como a peneira fora da água, assim que saem da igreja, tudo está esquecido.
Cristo disse: “Ponde vós estas palavras em vossos ouvidos” (Lc. 9:44). Como um
homem que, para evitar que uma jóia seja roubada, a tranca num cofre. “Ponde
vós” quer dizer que não as palavras não devem cair apenas como o orvalho que
molha a folha, mas devem ser como chuva que mergulha até a raiz da árvore e a
faz frutificar. Ó, quantas vezes Satanás, como ave no céu, rouba a boa semente
que é semeada!
Deixe-me colocar você sobre uma dura prova. Alguns tem ouvido muito - já
viveram quarenta, cinquenta, sessenta anos sob a bendita trombeta do evangelho -,
mas quanto você tem aprendido? Você pode ter ouvido milhares de sermões, e ainda
assim não haver aprendido sequer um. Examine sua consciência.
Vocês tem ouvido muito contra o pecado, mas vocês tem sido apenas ouvintes ou
como um estudiosos? Quantos sermões têm ouvido sobre a cobiça, que é a raiz no qual
o orgulho, a idolatria e a traição crescem? Alguns chamam a cobiça de um pecado
metropolitano - um mal complexo, que entrelaça muitos outros pecados consigo. De
todos os pecados, a cobiça é um ingrediente principal. E ainda sim, vocês tem sido como
as duas filhas da sanguessuga, que gritam “Dá! Dá!” (Pv. 30:15). Quanto vocês tem
ouvido contra a raiva precoce - que é um frenesi curto, uma embriaguez sóbria, e que se
encontra no seio dos tolos - e ainda assim, na menor das ocasiões, seus espíritos se
inflamam? Quanto vocês têm contra jurar: É mandamento expresso de Cristo, “de
maneira nenhuma jureis” (Mt. 5:34). Esse pecado, de todos os outros, pode ser
denominado o trabalho infrutífero da escuridão. Não é nem adoçado com prazer, nem
2
Identidade incerta. Talvez Herodião de sucessor de Inácio como Bispo de Antioquia. (N. do T.)
enriquecido com lucro (que é o vermelho com o qual Satanás comumente pinta o
pecado). Jurar é proibido com intimação. Enquanto aquele que jura dispara suas juras,
como flechas voando em direção a Deus para ‘cutucar’ sua glória, Deus dispara um “rolo
voador” de maldições sobre ele. Vocês fazem de suas línguas uma raquete pela qual
lançam juramentos como se fossem bolas de tênis? Vocês se deleitam com suas juras,
como os Filisteus fizeram com Sansão, o que irá no fim derrubar a casa sobre suas
cabeças? Ai! Como podem ter aprendido o que é o pecado e não aprenderam a deixar o
pecado! Por acaso aquele que sabe o que é uma víbora brincará com ela?
Existem duas razões plenas pelas quais deve haver tanto estudo e exercício.
3
Referente ao Estreito de Euripo, na Grécia. Na época que essa obra foi escrita, provavelmente era
comum a crença de que Aristóteles havia se suicidado depois de não conseguir entender para que lado as
águas do Estreito se moviam. (N. do T.)
Um homem pode aprender a ler um relógio de sol facilmente. Contudo, não
pode dizer como as horas passam se o Sol não brilhar sobre o seu relógio. Nós podemos
ler a Bíblia inteira, mas não podemos aprender o cumprir nosso propósito até que o
Espírito de Deus brilhe em nossos corações. Implore por esse Espírito abençoado. É a
prerrogativa real de Deus nos ensinar. “Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te ensina o que é
útil, e te guia pelo caminho em que deves andar. .” (Is 48:17). Os ministros da Palavra podem
nos dar aulas, mas somente Deus pode nos ensinar.
Temos perdido tanto nossa audição quanto nossa visão, portanto estamos muito
despreparados para sermos ensinados. Desde que Eva ouviu a Serpente nós temos sido
surdos. Desde que ela olhou para a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, temos
sido cegos. Mas quando Deus vem para nos ensinar, ele remove esses impedimentos.
Estamos naturalmente mortos. Quem é que tenta ensinar um homem morto?
Mesmo assim Deus consegue fazer homens mortos entenderem seus mistérios! Deus é
o grande professor. Essa é a razão que a palavra pregada trabalha de forma diferente
sobre os homens.
Dois homens sentados num mesmo banco: Um, forjado eficazmente pela
palavra. O outro repousa sobre os mandamentos como uma criança já morta agarrada
ao peito, e não recebe qualquer alimento. Qual é o motivo? Porque o vendaval do
Espírito sopra sobre um e não sobre o outro. Um tem a unção de Deus, que o ensina
todas as coisas, enquanto o outro não. O Espírito de Deus fala de forma doce mas
também de forma irresistível.
E nessa doxologia celestial, ninguém pode cantar a nova canção senão aqueles
que “têm na fronte o selo de Deus.” (Ap. 9:4). Os reprovados não podem essa nova canção.
Aqueles habilidosos nos mistérios da Salvacão devem ter o selo do Espírito sobre eles.
Façamos essa a nossa oracão: Senhor, sopra seu Espírito sobre sua Palavra. E temos
ainda uma promessa que “adiciona asas” á nossa oração: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis
dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas
aos que lhas pedirem?” (Mt. 7:11)
Assim, concluímos a primeira parte do texto, sobre o Estudioso (a qual eu planejei
como uma breve pincelada ou paráfrase).
4. A LIÇÃO
Chegamos agora a segunda parte do texto, que é a principal. A Lição em si:
“aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4:11)
Aqui está uma rara oportunidade de aprendizado e certamente muito mais a se
admirar sobre Paulo saber lidar com qualquer situação do que todo seu estudo das
coisas do Mundo, outrora aplaudido por Julio César, Ptolomeu e Xenofonte, todos
grandes admiradores do aprendizado.
O texto tem poucas palavras nele, “viver contente em toda e qualquer situação”.
Mas, se é verdade o que Fulgêncio4 disse, que “a mais áurea sentença é medida pela sua
brevidade e suavidade”, então esse é um perfeito discurso. Aqui se demonstra que a
grandeza jaz nas pequenas coisas. O texto é como uma joia preciosa - pequena em
quantidade, mas de grande valor.
A proposição principal na qual irei insistir é que um espirito gracioso é um
espirito contentado. A doutrina do contentamento é muito superlativa, e até que
tenhamos aprendido isso, não teremos aprendido a sermos Cristãos.
I. A Lição é dura
Alguns anjos no céu não haviam aprendido, e não estavam contentes. Mesmo
em seu estado muito glorioso, eles ainda estavam escalando, mirando em algo maior.
“[...] anjos, os que não guardaram o seu estado original” (Jd 1.6). Eles não mantiveram seu
estado porque não estavam contentes com seu estado. Nossos primeiros parentes,
trajando as vestes brancas da inocência no paraíso, não haviam aprendido a ser
contentes. Eles tinham corações que aspiravam mais, e considerando sua natureza
humana muito baixa e rústica, pensaram que seriam coroados com a deidade e seriam
como deuses. Mesmo tendo a sua escolha todas as árvores do Jardim, ainda assim
nenhuma os contentava senão a Árvore do Conhecimento, que eles supunham seria
como colírio para abrir seus olhos e os fazerem oniscientes. Imagine então: se essa lição
4
Provavelmente Fulgêncio de Ruspe, teólogo de Ruspe, na atual Tunísia e um seguidor dos
ensinamentos de Agostinho. (N. do T.)
foi tão difícil de ser aprendida na inocência, quão difícil para que a encontremos, nós que
somos obstruídos pela nossa corrupção!
5
Um jogo de palavras com Mateus 7:16 (N. do T)
6
Citação atribuída a Basílio, Bispo de Cesaréia nos meados do Século IV. A citação se refere a uma
crença de que antes da queda do homem, as rosas não teriam espinhos. (N. do T)
“Em tudo somos atribulados” havia tristeza em sua condição. “Porém não
angustiados”, havia contentamento em sua condição. “Perplexos”, aqui, sua aflição. “Porém
não desanimados”, aqui está o seu contentamento.
E, se lermos mais a frente, “nas aflições, nas privações, nas angústias, 5nos açoites,
nas prisões” (2 Co. 6.4). Aqui vemos sua dificuldade, e, admiravelmente, seu
contentamento: “Nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 6.10).
Quando tudo é arrancado do Apóstolo, ainda no que se refere ao doce
contentamento em sua mente (que era como música em sua alma), ele possuía tudo.
Em 2 Coríntios 11:23-25, temos um pequeno mapa, uma breve história dos seus
sofrimentos. “Muito mais em prisões, [...] em perigos de morte, muitas vezes”. Ainda assim,
contemple a bendita estrutura e temperança de seu espírito: “aprendi a viver contente em
toda e qualquer situação.”Qual fosse a maneira que os ventos da Providência soprassem,
ele tinha tal habilidade e destreza espiritual que sabia mudar seu curso de acordo.
Por seu estado exterior, Paulo era indiferente. Poderia estar tanto no topo da
escada de Jacó como lá embaixo. Poderia cantar tanto seu prazer quanto suas lágrimas.
Tanto uma canção triste, quanto um hino. Ele poderia ser o que Deus quisesse que fosse.
“Sei passar falta, e sei também ter abundância” (Fp. 4.12)
Aqui há um raro padrão para imitarmos. Paulo, no que se refere a sua fé e sua
coragem, era como o cedro que não se abala. Mas em sua condição exterior, ele era
como uma vara, que se é torcida de todos os lados pelos ventos da providência divina.
Quando um próspero vendaval batesse sobre ele, ele dobraria de acordo (“Tanto de
fartura”). E quando viesse uma rajada barulhenta e cheia de aflição, ele se dobraria em
humildade de acordo com isso (“quanto de fome”).
Paulo era, como disse Aristóteles, como um dado que tem quatro lados. Jogue-o
da maneira que for, ele sempre cairá em pé. Deus poderia lançar o Apóstolo da maneira
que fosse, e ele cairia apoiado nos pés do contentamento.
Um espírito contentado é como um relógio: apesar de ser carregado para cima e
para baixo, seu mecanismo não se abala nem as engrenagens saem da sua ordem - mas
o relógio continua em seu movimento perfeito. Assim era com Paulo. Apesar de Deus o
levar por várias condições, ainda assim ele não se exaltava com uma nem se desanimava
com outra. O mecanismo do seu coração não estava quebrado, as engrenagens do seu
coração não estava desordenadas. Pelo contrário, ele mantinha seu constante
movimento em direção ao Céu, ainda contente.
O barco ancorado pode chacoalhar um pouco as vezes, mas nunca afunda. Carne
e sangue tem seus medos e inquietudes, mas a Graça toma conta delas: um Cristão cuja
âncora está no céu nunca afundará em seu coração. Um espírito gracioso é um espírito
contente.
Essa é uma arte rara. Paulo não aprendeu isso aos pés de Gamaliel. “Já tenho
experiência” (Fp 4.12) - no Grego μεμύημαι, “aprendi o segredo”. É como se Paulo
dissesse “já fui iniciado a esse sagrado mistério, eu já aprendi essa arte divina, eu tenho o
jeito pra isso”. Deus deve nos fazer artistas.
Se colocássemos uma pessoa sem treino para praticar alguma arte, quão mal ela
iria? Coloque um lavrador para pintar retratos e desenhos, qual seria o resultado? Está
fora da sua esfera. Coloque, então, um pintor - que é preciso na arte de escolher e pintar
com as diversas cores - e coloque-o para arar, ou deixe-o para plantar e cuidar das
árvores. Essa não é sua arte, ele não é habilidoso nisso. Pedir a um homem natural que
viva pela Fé e, quando todas as coisas vão mal, ele esteja contente é pedir algo que ele no
qual ele não é habilidoso. Seria o mesmo que pedir que uma criança guie o leme de um
navio.
Viver de forma contente perante a Deus, na falta dos confortos externos, é uma
arte que não foi revelada a carne e o sangue. E mais que isso: muitos dos próprios filhos
de Deus, que tem excelência em diversos aspectos da vida com Deus, quando o assunto
é contentamento quanto eles erram - na verdade, mal começaram a dominar essa Arte.
5. A RESOLUÇÃO DE ALGUMAS QUESTÕES
1. Pode um Cristão não estar sensível de sua condição e ainda assim estar
contente?
Sim. Porém, invés de um Santo, ele é um estóico. Raquel fez bem em chorar por
seus filhos - era natural - mas seu erro foi recusar ser confortada - houve
descontentamento (Mt 2.18). O próprio Cristo foi sensíve, quando seu suor se
tornou em grandes gotas de sangue, dizendo “Meu Pai, se possível, passe de mim
este cálice” (Mt 26:39). Ainda assim, estava contente, e docemente submeteu-se
a vontade do Pai: “Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres”. O
Apóstolo nos chama a humilharnos sob a poderosa mão de Deus, (1 Pe 5.6), o que
não podemos fazer senão estivermos sensíveis de nossa condição.
2. Pode um Cristão não compartilhar com Deus seus sofrimentos e ainda assim
estar contente?
Sim. Jeremias confiou a Deus sua causa (Jr 20.12) e Davi derramou perante
Senhor sua queixa (Sl 43.2). Podemos clamar a Deus e desejar que Ele tome nota
de todas as nossas feridas. Haveria uma criança de não se queixar a seu Pai?
Quando qualquer peso está sobre o espírito, a oração dá escape, e alivia o
coração. O Espírito de Ana estava sobrecarregado: “Eu sou mulher atribulada de
espírito” (1 Sm 1.15). Mas depois de haver orado e chorado, saiu, e o peso se foi.
Aqui vamos a diferença entre uma queixa santa e uma queixa descontente. Em
uma, nos queixamos a Deus. Na outra, nos queixamos de Deus.
3. O que o contentamento exclui?
Existem três coisas que o contentamento exclui de seu território, e de não podem
de modo algum conflitar com ele:
I. Reclamação vexatória: essa é filha legítima do descontentamento. O
Salmo 55.2 diz “sinto-me perplexo em minha queixa”, não “eu murmuro em
minha queixa”. Murmurar não é nada mais que uma rebelião do coração, é
se levantar contra Deus. Quando o mar está agitado e inquieto, nada sai
dele além de espuma. Quando o coração está descontente, nada sai dele
além de espuma de raiva, impaciência e algumas vezes, quase a
blasfêmia.
II. Agitação desajustada: Quando um homem diz “estou em uma situação
da qual não sei como sair. Estou perdido!” Mente e coração estão tomados
de tal forma que esse homem não está pronto a orar ou meditar. Ele não é
ele mesmo. Semelhante a quando um Exército se dispersa após uma
derrota cada homem corre para um lado, o Exército está em disordem, do
mesmo modo são os pensamentos do homem que correm para cima e
para baixo, destraído. Descontentamento desloca a juntas da alma.
III. Desespero imaturo: Isso é geralmente consequência dos outros. Um
homem estando com sua mente apressada, não sabendo de que maneira
se desatar do problema presente, começa a cair com sua carga, a desmaiar
e afundar. O cuidado está para a mente como um peso está para as
costas: enche o espírito, mas se sobrecarregado, o afunda. Um espírito
desesperado é um espírito descontente.
6. Mostrando a natureza do Contentamento
Tendo respondido essas questões, devo em seguida descrever essa αὐτάρκεια
(“autarquéia”) ou Contentamento.
É um doce estado de espírito, pelo qual o Cristão leva a si mesmo, sempre em
equilíbrio, em qualquer condição. A natureza disso fica mais clara nessas três breves
observações:
7
Seneca, flilósofo e advogado do Império Romano, considerado um dos mais proeminentes
estóicos.
nada o poderá machucar.lição externa que pode tornar a vida do Cristão em enfado -
uma mente contente navegaria sobre essas águas. Quando há, no entanto, um buraco
de descontentamento aberto, e a tribulação entra no coração, aí ele se inquieta e afunda.
Faça, portanto, como um marujo, e jogue a água para fora. Pare o vazamento espiritual
na sua alma, e então nada o poderá machucar.
9. Uma advertência ao Cristão descontente
A segunda aplicação, é uma justa reprova aos que estão descontentes com sua
condição. Essa doença é quase epidêmica. Alguns, não contentes com os chamados
para os quais Deus os colocou, querem subir aos níveis superiores - da roça ao trono, e
que, como a aranha de Provérbios 30.28, querem estar “nos palácios dos reis.”. Outros
desejam ir da oficina pro púlpito (Nm 12.2) - querem estar no templo de honra, antes de
estarem no templo da virtude. Que tentam tomar a cadeira de Moisés, sem os sinos e
romãs de Arão8.
São como símios, que demonstram sua deformidade enquanto escalam. Não é
suficiente que Deus tenha presenteado homens a cada um em segredo, para os edificar,
e que Ele tenha os feito ricos em misericórdias? É necessário que “ainda também
procurais o sacerdócio”? (Nm 16.10)
O soldado pensa que é melhor ser mercador e o mercador, que é melhor ser
soldado. Homens podem se contentar com qualquer coisa além do que Deus tem para
eles. Podemos chorar junto com o poeta, que diz:
8
Isso é, desejam a posição de destaque sem cumprir as coordenadas do sacerdócio. (N. do T.)
9
Tradução livre de trecho de uma poesia contida no original deste livro, de autoria de Horácio,
grande poeta romano (N. do. T)
“O que acontece, Mecenas,
que ninguém seja contentado
Com aquilo a sorte deu a si,
ou que o destino tenha lhe dado?
Pelo contrário louvam a vida
daquele que está ao lado?”10
Por que é que ninguém seja contente? Poucos Cristãos tem aprendido a lição de
Paulo. Nem o pobre nem o rico sabem como ser contentes. Aprendem qualquer coisa,
menos isso.
Se são pobres, aprendem a serem invejosos. Desejam o mal para aqueles
acima deles. A prosperidade do outro dói nas vistas. Quando a candeia de Deus brilha
sobre o tabernáculo do vizinho, a luz os ofende. No meio da pobresa os homens podem,
nesse sentido, abundar - isto é, em inveja e malícia! Um olho invejoso é um olho mal.
Aprendem a ser impetulantes, reclamando como se Deus tivesse sido duro com eles. Só
falam das suas vontades - sobre como querem esse ou aquele conforto - quando na
verdade sua maior necessidade é um espírito contente. Esses estão bem contentes com
seus pecados, mas não com sua condição.
Se são ricos, aprendem a ser cobiçosos, com uma sede insaciável de
conquistar o mundo, e a por meios injustos acumular - aqueles “cuja destra está cheia de
suborno” (Sl 26.10). Ponha uma boa causa num lado e uma peça de ouro no outro lado
da balança, e ouro sempre pesará mais. Salomão diz que há quatro coisas “que não
dizem: Basta!” (Pv 30.15). Eu adicionaria uma quinta - o coração de um homem cobiçoso.
Vemos então que nem o pobre nem o rico sabem como serem contentes.
Certamente nunca desde a criação o pecado do descontentamento reinou (ou melhor,
aplicou seu furor) mais do que nossos tempos. Nunca Deus foi mais desonrado. Quase
nunca se consegue conversar com alguém sem que a paixão da sua língua o traia, dando
voz ao descontentamento do seu coração! Os lábios de todos falam dos seus
problemas, e disso mesmo a língua gaguejante fala livre e fluentemente. Se não temos o
que queremos, não devemos olhar para Deus com maus olhos. Mas, infelizmente, nossa
10
Tradução livre de trecho de uma poesia contida no original deste livro, de autoria de Horácio,
grande poeta romano (N. do. T)
condição atual é a de doentes com o descontentamento. Se Deus não perdoa o povo de
Israel por sua luxúria, eles pedem que Deus os matem - afinal, eles tinham que ter
codornizes para comer com seu maná!
Acabe, sendo um rei, esperaria-se que as terras da coroa fossem suficientes para
ele. No entanto, se tornou rabugento e descontente pela vinha de Nabote. Jonas, apesar
de ser um bom homem e um profeta, estava pronto para morrer queixando-se porque
Deus havia matado sua aboboreira. “Mate-me!”, diz ele (Jn 4.8). Raquel reclama - “dá-me
filhos ou morro”. Ela tinha muitas bênçãos, se parasse para vê-las, mas faltava a ela a
benção do contentamento.
Deus suprirá o que necessitamos, mas é preciso que ele satisfaça nossos desejos
também? Muitos estão descontentes por ninharias: outros terem melhores vestidos,
jóias mais caras, uma moda mais moderna. Nero, não contente com seu império, se
irritava que os músicos tinham mais habilidade tocando que ele. Quão fantásticos são
alguns, que se consomem por coisas que, se tivessem, os tornariam mais ridículos!
10. Um estímulo ao contentamento
Somos exortados a trabalhar pelo contentamento, que é o que embeleza e
adorna um Cristão - como um bordado espiritual - e o faz saltar aos olhos do mundo.
Contudo, escuto algumas reclamações azedas e digo “Puxa! Como é possível estar
contente? O Senhor “agravou-me com grilhões de bronze!” (Lm 3.7)
Não há pecado que não tente se esconder sobre uma máscara, ou, se não pode
ser escondido, se vindicar por meio de desculpas. O pecado do descontentamento, para
mim, é muito espertinho em suas desculpas - as quais primeiro irei revelar, e depois
responderei. É necessário colocar isso como regra: descontentamento é um pecado.
Assim, todos os pretextos e desculpas com os quais ele tenta se justificar, se tornam
nada mais do que as maquiagens e roupas extravagantes de uma meretriz.
I. A perda de um filho
A primeira desculpa que o descontentamento faz é “Eu perdi um filho!”. Paulina11,
depois de perder seus filhos, foi tomada de tal espírito de tristeza que quis sepultar a si
mesmo em seu descontentamento. Nosso amor pelos nossos relacionamentos nunca
pode ser maior que nosso amor por Cristo.
Devemos ser contentes não apenas quando Deus nos dá misericórdias, mas
quando ele as toma também. Se devemos em tudo dar graças (1 Ts 5.18), então em nada
devemos estar descontentes.
Talvez Deus levou a sua cisterna, pra que possa te dar mais da primavera. Talvez
ele escureceu a luz das estrelas pra que tenha mais luz do sol. Deus quer que você tenha
mais dele mesmo - e nao é Deus melhor que dez filhos? Não olhe tanto para a perda
temporal, mas sim para o ganho espiritual. Os confortos desse mundo correm na sujeira
- mas aqueles quem saem do celeiro da promessa, ó quão doces e puros!
Outro ponto, é que os filhos são são dados, mas sim emprestados. “Trago”, disse
Ana sobre seu filho, “como devolvido ao Senhor”. Ela o emprestou. O Senhor havia apenas
o emprestado a ela. As misericórdias do Senhor não nos são vinculadas a nós e sim
11
Identidade desconhecida (N. do T.)
emprestadas. O que um homem empresta, ele pode pedir de volta quando quiser. Deus
tem te dado uma criança para cuidar. Irá você ficar aborrecido que ele a tomou de volta?
Não fique descontente que uma benção foi tomada de você: pelo contrário, sede grato
pelo tempo que lhe foi concedida.
Suponhamos que sua criança seja tomada de você, a qual era ou má ou boa. Se
era rebelde, não perdestes tanto um filho, mas um peso. O seu choro é por algo que
poderia ter te dado muito mais choro. Se era piedoso, então lembre-se que “o justo é
levado antes que venha o mal” (Is 57.1), e é colocado no centro da felicidade divina. Essa
terra é cheia de vapores vis e que nos machucam. Quão felizes aqueles que estão nas
regiões celestes! “O justo é levado”, no original significa “apanhado, ajuntar”. Como um
homem apanha flores e as preserva em forma de doce, assim Deus ajunta seus filhos
como flor doce, que ele cobre com sua glória e as preserva com Ele para sempre.
Por que deve então o Cristão estar descontentado? Por que choraria
excessivamente? “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas”
(Lc 23.28). Da mesma maneira podemos ouvir nossos filhos dizendo a nós lá do céu:
“Não chorem por nós que estamos felizes. Dormimos em travesseiros macios, no colo do
próprio Cristo! O Príncipe da paz está nos abraçando e nos beijando com seus lábios! Não se
conturbem por nós. Não chorem por nós, mas chorem por si mesmas, pois estão num mundo
pecaminoso e cheio de pesares! Estão no vale das lágrimas, mas nós, na montanha de
especiarias. Chegamos ao nosso porto, mas vocês ainda estão sendo levados pelas ondas da
tribulação”
Ó, Cristão! Não fique descontente por sua criança partir, mas regozije-se que
Deus lhe deu essa criança antes dela partir. Siga em frente em gratidão. Quão grande
honra é para os pais gerarem uma criança que, quando enquanto viva aumenta a alegria
dos Anjos (Lc 15.10nasce) e quando se vai, aumenta o número deles?
E ainda, se Deus levou uma de suas crianças e te deixou as outras, ele poderia ter
lhe tirado todas! Ele tirou todos os confortos de Jó: suas posses, seus filhos! Sua esposas
ainda lhe restava, mas como uma cruz. Satanás fez de sua costela um arco com o qual
ele jogava flechas de tentação em Jó, pensando ter acertado no coração - “amaldiçoa
Deus e morre!”. Mas Jó tinha uma couraça de integridade e, apesar de seus filhos terem
sido tomados, sua graça não havia. Ainda estava contente, ainda abençoava a Deus.
Pense de quantas bençãos você ainda aproveita! Ainda assim nossos corações por si
próprios são mais descontentes por uma perda do que gratos por uma centena de
misericórdias.
Deus pode ter colhido um punhado de uvas da sua videira, mas quantos
preciosos cachos ele te deixou?
Você pode contestar: “Mas essa era minha única criança! - o esteio da minha velhice,
a semente do meu conforto; a única flor nascida da minha descendência!”. Contudo, Deus te
prometeu (isso é, se você pertence a Ele) “um nome melhor do que filhos e filhas” (Is 56.5).
Faleceu aquele que seria o monumento para manter o nome da sua família? Deus te deu
um novo nome, e ainda mais, escreveu seu nome no livro da vida! Contemple o seu
brasão espiritual! Aqui está um nome que não pode ser cortado de ti.
Deus tirou seu único filho? Ele te deu o único filho dele! Uma troca feliz. Que
motivos tem para reclamar das perdas tem aquele que tem a Cristo? Ele é o resplendor
(Hb 1.3), as riquezas (Cl 2.9), e o deleite (Sl 22.8). Cristo é o suficiente para agradar o
coração de Deus e ainda assim não é suficiente para nos tomar de santo deleite? Ele é
sabedoria para nos ensinar, retidão para nos absolver, santificação para nos adornar - ele
é o presente real, é o pão dos anjos, é a alegria e o triunfo dos santos. Ele é tudo e está em
todos. (Cl 3.11). Porque então estar decontente? Apesar da perda de sua criança, ainda
tem aquele por qual todas as coisas são perda (Fp 3.8)
E, por último, que nos encabule pensar que a natureza ultrapassaria a graça.
Púlvilo - um incrédulo! - quando estava prestes a consagrar um templo a Jupiter e ouviu
a notícia do falecimento de seu filho não deixou sua empreitada - manteve compostura
de mente, ordenou que fosse feito um enterro digno.
12
Mônica e seu filho de Agostinho de Hipona, um dos pais da Igreja e importantíssimo do século
IV. Em um dos seus trabalhos, descreve os esforços de sua mãe para sua conversão. (N. do T.)
Não é assim? A maldade do seu marido não te leva a oração? Talvez você nunca
orasse tanto se ele não pecasse tanto. Ele estar morto te desperta ainda mais. A coração
de pedra dele é como martelo que esmiúça o seu coração. O Apóstolo diz que “esposa
incrédula é santificada no convívio do marido crente” (1Co 7.14), mas, nesse sentido, a
esposa crente é santificada por meio do seu marido descrente, pois cresce em Cristo. O
pecado dele serve como pedra de afiar para a graça dela, e como remédio para a alma.
Um cristão pode muitas vezes enxergar pecado na sua punição: Não tem ele
agido traiçoeiramente para com Deus? Quantas vezes tem ele magoado o Consolador,
quebrado seus votos e, pela descrença, ficado ao lado de Satanás contra Deus! Quantas
vezes tem abusado do amor de Deus, tomado as jóias da misericórdia Divina e feito com
elas um bezerro de ouro, servindo seus próprios luxos?
13
Tipo e Antítipo são termos relacionados a Tipologia Bíblica. Nesse contexto, um tipo é uma
simbologia do velho testamento que representa algo do novo. Nesse caso, a traição sofrida por Davi é
como representação da futura traição de Cristo por Judas. (N. do T.)
Quantas vezes tem tornado a livre Graça de Deus, que deveria ser a tranca para
deixar o pecado do lado de fora, como chave para abrir as portas pra ele? Essas feridas o
Senhor recebeu na casa dos seus amigos (Zc 13.6)
Olhe para os desaforos do seu amigo e chore pelos seus próprios desaforos
contra Deus. Deve um Cristão condenar em outro aquilo de que ele mesmo é culpado?
Seu amigo se mostrou ser traiçoeiro? Talvez você depositou muita confiança
nele. Quando se coloca mais peso sobre uma casa do que seus pilares podem suportar,
ela quebrará. Deus diz: “Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro” (Mc 7.5).
Talvez você colocou sobre seu amigo mais confiança do que colocou em Deus. Amigos
são como taças de cristal: podemos as usar, mas se nos apoiarmos com muita força
sobre elas, elas vão quebrar. Eis aqui uma questão de humidade, mas não de mau humor
ou de descontentamento.
Ademais, temos um amigo no céu que nunca nos falhará. “Há amigo”, diz
Salomão, “mais chegado do que um irmão.” (Pv 18.24). Tal amigo é Deus! Ele é muito
diligente e interessado por nós. Ele debate consigo mesmo, consultando e projetando,
como nos pode fazer bem. Ele é o melhor amigo, que nos dá contentamento no meio
de todas as descortesias de nossos amigos. Considere os seguintes pontos:
14
Tradução livre da frase em Latim, “Amici circa sartaginem”
censura a ele. (Sl 69.10). Rumamos ao céu passando pelas barreiras do sofrimento, e do
mesmo modo, pelas nuvens das afrontas.
Se sua afronta é por causa de Deus, como a de Davi foi - “pois tenho suportado
afrontas por amor de ti” (Sl 69.7) - então é motivo de triunfo e não de desânimo! Cristo
não diz “quando sofrerdes afrontas, estejais descontentes” mas “regozijai-vos”! (Mt 5.12).
Vista suas afrontas como uma coroa de honra, porque agora “sobre vós repousa o Espírito
da glória e de Deus.” (1 Pe 4.14). Coloque suas afrontas no inventário das suas riquezas -
assim fez Moisés (Hb 11.26). Deve ser a ambição de um Cristão vestir a farda de seu
Salvador, mesmo que ela esteja manchado de sangue e sujo pela vergonha.
Deus nos faz o bem por meio das afrontas. Como Davi disse da maldição de
Simei: “Talvez o [...] Senhor me pagará com bem a sua maldição deste dia.“ (2 Sm 16.12).
Isso nos coloca numa busca pelo nosso pecado. Um filho de Deus trabalha para ver seu
pecado a cada pedra de afronta que é lançada contra ele. Além disso, essa é mais um
oportunidade para exercitarmos a paciência e a humildade.
Jesus Cristo se contentou em ser afrontado por nós: “suportou a cruz, não fazendo
caso da ignomínia” (Hb 12.2). Nos surpreende pensar que aquele que é Deus aguentou ser
cuspido, ser coroado com coroa de espinhos, com escárnio. E, quando estava pronto
para curvar Sua cabeça na Cruz, ver os Judeus, em escárnio, balançarem suas cabeças
dizendo “salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se”. A vergonha da Cruz foi tanto
quanto o sangue na Cruz: Seu nome foi crucificado antes do seu nome. As flechas
afiadas das afrontas, as quais o mundo atirou contra Cristo, penetraram mais fundo no
seu coração que a lança. Seu sofrimento foi tão ignominioso que o Sol se envergonhou
ao vê-lo e guardou seus raios brilhantes, se escondendo nas nuvens (talvez porque o Sol
da Retidão estava em eclipse). Toda essa revolta e reprovação o Deus da Glória suportou,
ou melhor desprezou, por nós.
Sejamos, então, contentes por termos nossos nomes eclipsado pelo de Cristo.
Não deixemos que a afronta faça morada no nosso coração, mas usemo-la como coroa
sobre nossas cabeças.
Sobretudo, o que é uma afronta? Nada mais é que um pequeno tiro. Como hão
de ficar frente a boca do canhão, aqueles que se descontentam com uma afronta, de
igual modo se descontarão com muitas.
Ademais, muitos homens não se contentam com as afrontas sofridas, para
manterem seus luxos? Não deveríamos nós fazer o mesmo, para mantermos a verdade?
Há alguns, diz Filipenses 3.19, cuja glória, “está na sua infâmia”. Devemos nós nos
envergonhar daquilo que é nossa glória? Não devemos nos atribular por essas coisas
pequenas. Aquele cujo coração já foi tocado divinamente pelo Espírito de Deus, toma
como honra o ser desonrado por Cristo e busca o desprezo do mundo tanto quanto
busca seu louvor.
Vivemos num tempo no qual homens ousam afrontar o próprio Deus. A
Divindade do Filho de Deus é afrontada de forma blasfema pelos Socinianos15. A bendita
Bíblia é afrontada pelos antiescrituristas16, como se não passasse de lendas e mentiras e
a fé de cada homem, uma fábula. A justiça de Deus é trazida a medida da razão pelos
Arminianos. A sabedoria de Deus em suas ações providenciais, é posta à prova pelos
ateus. As ordenanças de Deus são depreciadas pelos Familistas, como sendo fardo
pesado demais para uma consciência nascida livre e carnal demais para um espírito
sublime e angelical17. Os caminhos de Deus, sobre os quais brilha a majestade da
Santidade, são caluniados pelos profanos. As bocas dos homens se abrem contra Deus,
como se Ele fosse um Mestre maldoso e o caminho da verdadeira vida Cristã fosse
muito restrito e severo.
Se os homens não podem falar coisa boa de Deus, haveríamos nós de nos
descontentar e nos atribular por falaram mal de nós? Com tanto esforço para enterrarem
a glória das verdades de Deus, haveríamos de nos surpreender que “a garganta deles é
sepulcro aberto” (Rm 3.13) quando o assunto é enterrar a nossa reputação? Devemos
estar contentes por estarmos na “lavanderia de Deus” e pelo nosso nome ter sido um
pouco manchado. Quanto mais “sujo” nosso nome pareça ser aqui, mais brilharemos
quando Deus nos levar às regiões celestes.
15
Seguidores da doutrina de Fausto Socino, a qual rejeita a divindade de Cristo, o considerando
apenas como um homem. (N. do T.)
16
O Antiescriturismo foi um movimento do Século XVII que negava toda a autoridade da Bíblia e
não a considerava como verdade, presente de forma relevante durante a Revolução Inglesa. (N. do T.)
17
Os Familistas, (Familia Caritatis) foram uma seita mística do Século XVI que tomava a natureza e
o espírito como autoridade sobre todas as coisas, e não Deus.
VI. Problemas com o desprezo do mundo
A sexta desculpa que o descontentamento dá tem a ver com o desrespeito do
mundo. “Não recebo estima dos homens equivalente com meu valor e minha graça!”. Isso te
atribula? Considere alguns pontos.
Primeiramente, o mundo é um juiz inconstante. Como ele muda muito, ele é
cheio de parcialidade. O mundo concede respeito do mesmo modo pelo qual escolhe
suas preferências, muitas vezes favorecendo uns e outros não. Há em você real valor? É
melhor merecer respeito e não o ter, do que ter não o merecer!
Você é uma pessoa graciosa? Deus lhe respeita, e o julgamento dEle é o maior
prêmio que se pode conquistar. Um crente é uma pessoa honrada, tendo nascido de
Deus.
“Visto que foste precioso aos meus olhos, digno de honra, e eu te amei, darei homens por ti e
os povos, pela tua vida” - Isaías 43.4
Deixe que o mundo pense o que quiser pensar de você! Talvez nos olhos deles,
você seja um rejeitado - contudo, aos olhos de Deus, seja Sua pomba (Ct 2.14), como
esposa (Ct 5.1), ou como uma jóia (Ml. 3.17). Outros talvez te considerem como a escória
da terra (1 Co 4.13), mas Deus dará povos inteiros por seu resgate! (Is 43.4).
Que isso seja seu contentamento: não importa quão tortos os olhos do mundo
estão ao me olhar, se Deus me olha com bons olhos. É melhor que Deus aprove que o
homem aplauda: o mundo pode até nos honrar, enquanto Deus nos temem sua
“lista-negra”! De que adianta a um homem de que seus companheiros de cela o
aplaudam se o juiz o condena?
Trabalhe para se manter perto de Deus, e dar valor ao Seu amor. Mesmo que os
outros não liguem para mim, estarei contente sendo um amado do Rei dos céus!
Considere também isso: Se somos filhos de Deus nós devemos, na verdade,
buscar pelo desrespeito. Um crente está no mundo, mas não é do mundo. Estamos aqui
na condição de peregrinos, fora de nosso próprio País. Portanto, não devemos buscar
pelos respeitos e aclamações do mundo. É suficiente que nos tenhamos honra em
nosso próprio país celestial! (Hb 14.13) É muito perigoso ser um queridinho do mundo.
O descontentamento originado do desrespeito tem um “quê” de orgulho. Um
Cristão humilde deve ver a si mesmo como inferior ao que os outros veem dele. Quem
começa a pensar nos seus pecados e como provocou a Deus acaba por chorar como
chorou Agur em Provérbios 30, dizendo “sou demasiadamente estúpido para ser homem”
e, portanto, está contente mesmo que seja colocado “ao lado dos cães do meu rebanho”
(Jó 30.1). Apesar de estar em baixa na visão dos outros, ainda assim é grato a Deus por
ter livrado sua alma do mais profundo poder da morte. (Sl 86.13)
Um homem orgulhoso coloca grande valor em si mesmo e se irrita com os outros
por não o valorizarem de igual modo. Preste atenção no seu orgulho! Tivessem os outros
uma janela pro seu coração ou se seu coração estivesse no lugar que seu rosto está - aí
sim veríamos quanto respeito você teria!
18
Refere-se ao método chamado “saignée” (Sangria) em que se retira parte do suco enquanto a
outra parte se mantém em contato com a pele, na produção do vinho Rosé. (N. do T.)
19
Gregório Nazianzo, teólogo e arquebispo de Constantinopla do Século IV.
removido, a tristeza ainda continua. Mas vamos supor de que essa desculpa seja real, e
que o pecado seja mesmo a razão do seu descontentamento. Ainda assim posso te dizer
que existem três casos nos quais a inquietude pelo pecado passa dos limites.
O primeiro é quando ela se torna desalentadora e coloca o pesado do pecado
acima da misericórdia. Se Israel tivesse apenas chorado sobre as mordidas de cobra e
não tivesse olhado para a serpente de bronze levantada por Moisés, eles nunca teriam
sido curados. A tristeza pelo pecado, quando nos leva longe do Senhor é um pecado por
si própria, porque há mais desespero do que remorso. Há tantas lágrimas nos olhos que
ela impedem de ver a Cristo. A tristeza por si só não salva, como se pudéssemos fazer
um Cristo a partir de nossas lágrimas, mas é útil porque prepara nossa alma mostrando
que o pecado é vil e que Cristo é precioso. Olhe para a serpente de bronze, o Senhor
Jesus! A visão do seu sangue revive e o remédio dos seus méritos são muito maiores que
a nossa dor!
Faz parte da política de Satanás, ou nos impedir de ver nossos pecados ou que
vejamos, mas que sejamos engolidos pela tristeza (2Co 2.7). Ou ele quer nos tornar
estúpidos ou amedrontados. Ou quer remover das nossas vistas as lentes da lei de Deus,
ou destacar os nossos pecados com uma caneta tão vermelha pra afundemos na areia
movediça do desespero.
Em segundo lugar, quando a tristeza se torna em indisposição, ela dessintoniza
nosso coração para oração, meditação e santidade. Ela enclaustra nossa alma. Não é
mais só tristeza e sim emburramento e transforma o homem penitente num homem
cínico.
O terceiro ponto é quando essa tristeza é fora de tempo. Deus nos fez regozijar, e
nós penduramos nossas harpas nos salgueiros. Deus confia em nós, e nós nos jogamos
para baixo e nos trazemos até a beira do desespero. Se Satanás não pode nos impedir
de chorar pelo nosso pecado, ele com certeza vai querer que nós o façamos na hora
errada.
Quando Deus nos chama de maneira especial para sermos gratos pela
misericórdia e colocar vestes brancas, então Satanás vai tentar nos colocar de luto e,
invés de vestiduras de louvor, nos vestir com um espírito pesado. Assim, Deus perde o
nosso reconhecimento de sua misericórdia e nós perdemos o conforto. Se sua tristeza
tem te virado pra Cristo, te feito valorizá-lo mais, ter fome e se deleitar nEle, é isso que
Deus espera! Um Cristão peca em torturar a si mesmo sob a ruína do seu próprio
descontentamento.
Espero, então, ter respondido a maior parte das objeções materiais e desculpas que o
pecado do descontentamento dá para si mesmo. Com isso, não consigo vejo qualquer
razão pela qual o Cristão deve estar descontente, a não ser estar descontente com seu
próprio descontentamento.
11. Um estímulo ao contentamento
Me permita então, a partir de agora, propor algo que servirá como uma lima para afiar e
aguçar seu contentamento.
1. A excelência do contentamento
O contentamento é uma flor que não nasce em qualquer jardim. Com certeza você
acharia excelente se eu pudesse prescrever um remédio ou um antídoto contra a
pobreza. Mas veja, aqui está algo muito mais excelente: alguém ser pobre e ainda assim,
ter o suficiente. Isso, só o contentamento do espírito traz. Contentamento é um remédio
contra todos os nossos problemas, um alívio a todas as nossas cargas, é a cura de todo
cuidado.
Contentamento, mesmo que não seja propriamente dito uma graça concedida e
sim uma disposição da mente, ainda assim nele reside uma mistura feliz de todas as
graças. É um composto muito precioso, que é feito de fé, paciência, mansidão,
humildade, etc., que são os ingredientes que o compõe.
Existem sete excelências no contentamento. A primeira, é que um Cristão
contente carrega consigo o Céu. Por que o que é o céu se não um doce repousar e pleno
contentamento que a nossa alma terá em Deus? No contentamento encontramos os
primeiros frutos do céu.
O contentamento é como o céu porque Deus está ali: É possível ver o agir de
Deus nesse coração. Um Cristão descontente é como um mar tempestuoso: quando a
água está agitada, você não consegue ver nada ali. Porém quando ela está serena, então
é possível até ver a si mesmo refletido na água (Pv 27.19). Quando o coração anda no
descontentamento é como um mar agitado - não se pode ver nada além de paixão e do
murmurar. Não há nada de Deus ali, não há nada do céu ali. Mas pela virtude do
Contentamento, é como se o mar estivesse calmo e é possível ver um rosto refletido ali:
a visão de Cristo no seu coração, uma representação de todas as Graças.
Também porque descanso e paz estão ali. Ó que paz existe no coração contente.
Que céu! Um Cristão contentado é como Noé na arca. Mesmo a arca sendo levada pelas
ondas, Noé podia se sentar e cantar dentro da arca. A alma que entra na arca do
contentamento se senta quieta e navega sobre as águas dos problemas, e pode cantar
na arca espiritual. As rodas da carruagem se movem, mas não o seu eixo. A
circunferência dos céus se movem, mas a terra sempre se mantém em seu eixo. Quando
nos vemos rodeados por criaturas a nossa volta, o espírito contente não sai de seu eixo.
As hélices do moinho de movem com o vento, mas o moinho em si não se move. Que
grande símbolo de contentamento! Quando o nosso estado exterior se move com os
ventos da providência, mesmo assim o coração está firmado no santo contentamento. E
quando outros tremem nos tempos de dificuldade, o espírito contente diz, como Davi,
“o meu coração está firme” (Sl 57.7). Que é isso senão um pedaço do céu?
A segunda excelência é que qualquer defeito é compensado no contentamento.
A um cristão pode faltar os confortos que outros tem, como terras e posses. Deus,
contudo, destila em seu coração o contentamento que é muito melhor. Nesse sentido é
verdade que nosso Salvador disse “receberá muitas vezes mais” (Mt 19.29). Talvez aqueles
que entregaram tudo por Cristo nunca tenham de volta sua casa ou sua terra, mas Deus
lhes dá um espírito contente, e isso cria tamanha alegria na alma que essa se torna
infinitamente mais doce que todasas casas e todas as terras que tenha deixado por
Cristo.
Foi triste para Davi, no que se refere aos confortos externos, ter saído de seu
reino. Quanto ao doce contentamento que ele encontrou em Deus, contudo, ele teve
mais conforto até mesmo que os homens tem no tempo da colheitae das víndimas. (Sl
4.7). Um homem tem sua casa e sua terra em que viver enquanto outro apenas sua
profissão que lhe dá o sustento. Do mesmo modo um Cristão pode ter pouco no
mundo, mas se ele é especialista no contentamento, então ele sabe passar necessidade
mas também sabe abundar. Ó, quão rara a arte - ou até o milagre - do contentamento!
“Mas como pode um Cristão estar contente na falta de confortos externos?”, você
pode me perguntar. Um cristão encontra contentamento destilado nos seios das
promessas. É pobre na carteira, mas é rico nas promessas. Há uma promessa que traz
doce contentamento a nossa alma: “os que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará” (Sl
34.10). Se o que desejamos é bom para nós, então o teremos. Se não é bom, então não
o ter é bom para nós. Descansarmos satisfeitos com essa promessa nos dá
contentamento.
Em terceiro lugar, o contentamento nos torna “afinados” para servir a Deus. O
contentamento lubrifica o coração e o torna apto a orar, meditar, etc. Como pode
alguém que tem paixão pela tristeza e o descontentamento servir a Deus sem
distrações? (1Co 7.35) Contentamento nos prepara e deixa o coração afinado. É
necessário preparar o violino e apertar as suas cordas antes de tocar uma música.
Quando o coração do Cristão está afinado com base no padrão divino do
contentamento, então está pronto pro serviço. Um Cristão descontentado é como Saul
quando o espírito mal o tomava: quantas ofensas e desacordos não faz em oração!
Quando um exército está fora de ordem, então ele não está pronto para a batalha.
Quando os pensamentos estão espalhados e distraídos com os cuidados da vida, um
homem não está pronto para a devoção. Descontentamento toma o coração inteiro de
Deus e o fixa na tribulação presente. Desse modo o coração do homem repousa em
oração, mas sim no problema.
Descontentamento desloca as juntas da alma. É impossível para um Cristão
descontente ir feliz e alegremente ao serviço de Deus. Que devoção falha! A pessoa
descontente dá a Deus apenas meio serviço. Sua devoção é meramente um exercício
corporal, sem a alma que o anime. Davi não queria oferecer a Deus aquilo que nada o
custou (2 Sm 24.24). Onde há muito cuidado com as coisas do mundo, há muito pouco
custo espiritual no serviço. A pessoa descontente faz seus deveres pela metade. É como
Efraim, um pão não virado (Os 7.8), assado pela metade. Ele dá a Deus o externo, mas
não o espiritual. Seu coração não está no serviço. É assado de um lado, mas do outro
lado é massa crua. Que proveito há em oferecer serviço tão cru e indigesto? Aquele que
dá a Deus só a pele da adoração pode esperar mais do que apenas a casquinha do
conforto? Contentamento coloca o coração nos moldes e, só então, damos a Deus a
nossa flor e espírito em serviço. Aí o coração do Cristão se torna intenso e sério.
Sem o contentamento é impossível fazer certas coisas, como por exemplo,
regozijar em Deus. Como podemos regozijar estando descontentes? Estaríamos mais
prontos a murmurar do que regozijar. Como poderíamos ser gratos pela misericórdia?
Estaríamos mais aptos a insatisfação que a gratidão. Também seria impossível ver Deus
como justo em todos os seus caminhos. Como poderíamos fazer isso estando
descontentes? Muito logo iríamos censurar a sabedoria de Deus ao invés de
evidenciarmos sua justiça.
Então quão excelente é o contentamento, que prepara, como se fosse uma
corda, o nosso coração para o serviço! Verdadeiramente o contentamento não apenas
torna nosso dever leve, mas também aceitável a Deus! É isso que põe a beleza e o valor
neles. O contentamento acalma a alma. Nosso coração, assim como o leite, se está
sempre a mexer nada pode se fazer com ele. Mas deixe descansar por algum tempo e
ele vira creme. Quando o coração é excessivamente mexido pelo descontentamento e a
inquietude, não é possível tirar proveito nenhum do seu serviço, pois se torna raso e
efêmero. Mas quando o coração está firmado no santo contentamento, aí há valor no
seu serviço - ele se torna o creme.
A quarta excelência é a de que o contentamento é o pilar espiritual da alma. É
bom pro homem carregar fardos. Aquele cujo coração não se deixa afundar tem um
espírito invencível nos sofrimentos. Um Cristão contentado é como a flor de camomila
planta - quanto mais a pisam, mais ela cresce. Do mesmo modo que um remédio faz
com que a doença saia do corpo, assim também o contentamento espanta os
problemas do coração. O coração contente diz: ”Se estou sob censura, Deus pode me
vindicar. Se estou em necessidade, Deus pode me aliviar”. 2 Reis 3.17 diz “Não sentireis
vento, nem vereis chuva; todavia, este vale se encherá de água”. Assim, o contentamento
santo impede o coração de se esvair.
No Outono, quando as frutas e as folhas se foram, ainda há seiva na raiz. Quando
há um Outono na nossa felicidade externa e as nossas posses, como folhas, caem, ainda
há a seiva do contentamento no coração. Um Cristão tem vida dentro de si mesmo
quando seus confortos externos não florescem. Um coração contentado nunca se
acaba.
O contentamento é um escudo de ouro que rebate os descorajamentos.
Humildade é como o chumbo na rede de pesca - segura a alma quando ela quer se
mover nas águas agitadas da paixão. O contentamento é como uma bóia que mantém o
coração flutuando quando ele está se afundando no desencorajamento. O
contentamento é o grande suporte, como barra de ferro que aguenta qualquer peso que
sobre ela é colocado - melhor que isso, é como a rocha que quebra as ondas!
É curioso observar dois homem sofrendo a mesma aflição, o quão diferente cada
um age sob ela. O Cristão contente é como Sansão, que levou os portões da cidade
sobre suas costas (Jz 16.3). Ele consegue seguir com a sua cruz alegremente e pra ele é
como nada. O outro, como Issacar, que baixou seus ombros à carga (Gn 49.15). A razão é
que o descontentamento cria o enfraquecimento. Descontentamento incha a tristeza, e
a tristeza quebra o coração. Quando o sagrado tendão do contentamento começa a
diminuir, começamos a mancar sob nossas aflições. Não sabemos quais cargas Deus
pode colocar sobre nós. Vamos, portanto, preservar nosso contentamento, bem como
nossa coragem. Davi com suas cinco pedras e sua funda desafiou Golias e o superou.
Coloque nada mais que contentamento na funda do seu coração e com essa pedra
sagrada você pode tanto desafiar o mundo quanto o conquistar. Você poderá enfim
quebrar as aflições que de outro modo te quebrariam.