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Universidade de São Paulo

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Modelagem de microtubo do tipo espaguete aplicando análise


dimensional

Geancarlo Takanori Katsurayama

Tese apresentada para obtenção do título de


Doutor em Ciências. Área de concentração:
Engenharia de Sistemas Agrícolas

Piracicaba
2018
Geancarlo Takanori Katsurayama
Engenheiro Agrônomo

Modelagem de microtubo do tipo espaguete aplicando análise


dimensional
versão revisada de acordo com a resolução CoPGr 6018 de 2011

Orientador:
Prof. Dr. TARLEI ARRIEL BOTREL

Tese apresentada para obtenção do título de


Doutor em Ciências. Área de concentração:
Engenharia de Sistemas Agrícolas

Piracicaba
2018
2

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


DIVISÃO DE BIBLIOTECA – DIBD/ESALQ/USP

Katsurayama, Geancarlo Takanori


Modelagem de microtubo do tipo espaguete aplicando análise
dimensional / Geancarlo Takanori Katsurayama. - - versão revisada de
acordo com a resolução CoPGr 6018 de 2011. - - Piracicaba, 2018.
53p.

Tese (Doutorado) - - USP / Escola Superior de Agricultura “Luiz de


Queiroz”.

1. Emissor 2. Perda de carga 3. Hidráulica 4. Irrigação I. Título


3

AGRADECIMENTOS

A meus pais, José e Rozalina, por terem me dado oportunidade de continuar


evoluindo em meus estudos e acreditado no meu potencial.
A minha irmã, Aline, por ter me dado apoio nos momentos difíceis.
Ao Professor Tarlei Arriel Botrel, que além de orientador, é um amigo, sempre
me ajudando nos momentos que precisei.
A Jennifer pela paciência e ajuda nos momentos que precisei.
A todos os amigos e familiares, que estiveram presentes em minha vida, me
ajudando e dando apoio, em especial aos amigos Deivid, Daniel, Luciano e Conan.
Aos amigos Ezequiel Saretta e Antonio Pires de Camargo, que se
disponibilizaram para me ajudar. Agradeço por todos os conhecimentos a mim
repassados.
A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, pela oportunidade de
aperfeiçoamento e aprendizado.
Ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo apoio financeiro a esta pesquisa,
através do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Engenharia da Irrigação
(INCTEI).
A Universidade do Estado de Santa Catarina pela graduação.
A todos os professores, em especial, aos professores Olívio José Soccol,
Mario Nestor Ullmann, Sergio Nascimento Duarte e José Antonio Frizzone pelos
conhecimentos transmitidos, ajudando na minha formação.
Aos funcionários da ESALQ e colegas de trabalho, em especial ao Luiz, pelo
apoio e atenção nos momentos em que necessitei para concluir esta etapa.
4

SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................................. 5
ABSTRACT .............................................................................................................................. 6
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 7
LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 9
LISTA DE SÍMBOLOS .......................................................................................................... 10
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 11
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 13
2.1 Microirrigação ................................................................................................................. 13
2.2 Emissores ........................................................................................................................ 14
2.3 Dimensionamento de microtubos ................................................................................ 17
2.4 Análise dimensional ....................................................................................................... 23
3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 27
3.1 Determinação do diâmetro interno do microtubo ...................................................... 27
3.2 Determinação da relação vazão versus pressão do microtubo.............................. 28
3.3 Modelos para dimensionamento dos microtubos ..................................................... 32
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 35
4.1 Diâmetro interno do microtubo ..................................................................................... 35
4.2 Ajustes das equações ................................................................................................... 35
5 CONCLUSÕES............................................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51
5

RESUMO

Modelagem de microtubo do tipo espaguete aplicando análise dimensional

Nos projetos de irrigação deseja-se que a água seja aplicada de maneira


uniforme. Em áreas com topografia irregular, muitas vezes é necessário utilizar
emissores regulados para se atingir tal objetivo. Porém, esses emissores
apresentam custo maior de aquisição. Como alternativa, pode-se utilizar os
microtubos, sendo esses tubos de polietileno com diâmetro interno pequeno,
normalmente variando entre 0,5 a 1,5 mm. Os microtubos permitem variar seu
comprimento a fim de se compensar variações de pressão ao longo da linha lateral.
Assim, teoricamente, pode-se obter 100% de uniformidade na vazão dos emissores.
Para isso é necessário a realização de um projeto criterioso, levando em
consideração os parâmetros construtivos e de operação desse emissor. Contudo,
não se tem uma equação genérica para o regime laminar de escoamento que
atenda a gama de diâmetros encontrados e que levem em consideração todas as
variáveis intervenientes, sendo muitas vezes aplicado interpolações para se obter os
coeficientes de ajustes da equação. Assim, o objetivo deste trabalho foi utilizar
análise dimensional para se obter uma equação genérica a fim de se facilitar o
dimensionamento de sistemas de irrigação com esse tipo de emissor, operando no
regime laminar de escoamento. O experimento consistiu em obter a relação vazão
versus carga de pressão versus comprimento para uma série de microtubos, sendo
testados três diâmetros internos (0,796, 0,869 e 1,108 mm), nove comprimentos (0,3
a 1,5 m) e dez cargas de pressão (0,5 a 9,5 m.c.a.). Para dedução da equação com
análise dimensional, usou-se pressão, diâmetro interno, comprimento do microtubo,
velocidade de escoamento, viscosidade dinâmica e massa específica como
variáveis. A equação obtida teve desempenho melhor que as demais equações
testadas, apresentando erros relativos de 3,50, 3,25 e 4,65% na estimativa da carga
de pressão, vazão e comprimento do microtubo, respectivamente.

Palavras-chave: Emissor; Perda de carga; Hidráulica; Irrigação


6

ABSTRACT

Modeling of microtube emitters applying dimensional analysis

In irrigation projects it is desired that water be applied evenly. In areas with


irregular topography, it is often necessary to use regulated emitters to achieve this
goal. However, these issuers have a higher acquisition cost. Alternatively, the
microtubes may be used, these polyethylene tubes having small internal diameter,
usually ranging from 0.5 to 1.5 mm. The microtubes allow their length to be varied in
order to compensate for pressure variations along the lateral line. Thus, theoretically,
one can obtain 100% uniformity in the flow of the emitters. For this it is necessary to
carry out a criterious project, taking into consideration the construction and operating
parameters of this emitter. However, there is no general equation for the laminar flow
regime that meets the range of diameters found and that considers all intervening
variables, and interpolations are often applied to obtain the coefficients of adjustment
of the equation. Thus, the objective of this work was to use dimensional analysis to
obtain a generic equation in order to facilitate the design of irrigation systems with
this type of emitter, operating in the laminar flow regime. The experiment consisted in
obtaining the flow versus pressure versus length ratio for a series of microtubes,
three internal diameters (0.796, 0.869 and 1.108 mm), nine lengths (0.3 to 1.5 m)
and ten loads of pressure (0.5 to 9.5 mca). For the deduction of the equation with
dimensional analysis, pressure, internal diameter, microtube length, flow velocity,
dynamic viscosity and specific mass were used as variables. The obtained equation
had better performance than the other equations tested, presenting relative errors of
3.50, 3.25 and 4.65% in the estimation of pressure load, flow rate and length of the
microtube, respectively.

Keywords: Emitter; Head loss; Hydraulics; Irrigation


7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Microtubo do tipo espaguete............................................................................. 15


Figura 2 – Microaspersor com detalhe para o defletor tipo “C” e funcionando em
campo ................................................................................................................. 17
Figura 3 – Modelos de microaspersores comerciais utilizando microtubo para
compensar a variação de pressão ................................................................. 17
Figura 4 – Esquema de coleta de vazão para determinação hidráulica do diâmetro
equivalente de microtubos .............................................................................. 23
Figura 5 – Inserção do microtubo diretamente no tubo de polietileno .......................... 29
Figura 6 – Bancada de ensaio de vazão versus carga de pressão versus
comprimento: reservatório suspenso (A); tubos conectados em malha (B)
............................................................................................................................. 30
Figura 7 – Tubos conectados em malha na bancada de ensaio de vazão versus
carga de pressão versus comprimento utilizando conjunto motobomba
com inversor de frequência ............................................................................. 30
Figura 8 – Curvas vazão versus carga de pressão para cada comprimento avaliado,
onde as cores verde, laranja e azul correspondem aos diâmetros
nominais 0,7, 0,8 e 1,0 mm, respectivamente ............................................. 36
Figura 9 – Coeficientes de perda localizada de carga em função do Número de
Reynolds ............................................................................................................ 37
Figura 10 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e
estimado para microtubos com aplicação do Modelo 1 ............................. 38
Figura 11 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e
estimado para microtubos com aplicação do Modelo 2 ............................. 38
Figura 12 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de
pressão observadas e estimadas (A) e erro relativo em função do
Número de Reynolds (B), com aplicação do Modelo 1 .............................. 39
Figura 13 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de
pressão observadas e estimadas (A), e erro relativo em função do
Número de Reynolds (B), com aplicação do Modelo 2 .............................. 39
Figura 14 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e
estimado para microtubos com aplicação do Modelo 3 ............................. 40
8

Figura 15 – Comparação entre os valores de carga de pressão observados e


estimados para microtubos com aplicação do Modelo 3, com uso dos
coeficientes recomendados por Vermeiren e Jobling (1980) ................... 41
Figura 16 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e
estimado para microtubos com aplicação do Modelo 4............................. 42
Figura 17 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de
pressão observadas e estimadas (A) e erro relativo em função do
Número de Reynolds (B), com aplicação do Modelo 3 ............................. 43
Figura 18 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de
pressão observadas e estimadas (A) e erro relativo em função do
Número de Reynolds (B), com aplicação do Modelo 4 ............................. 43
Figura 19 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para
microtubos com aplicação do Modelo 1 ....................................................... 44
Figura 20 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para
microtubos com aplicação do Modelo 2 ....................................................... 44
Figura 21 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para
microtubos com aplicação do Modelo 3 ....................................................... 45
Figura 22 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para
microtubos com aplicação do Modelo 4 ....................................................... 45
Figura 23 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos
observados e estimados com aplicação do Modelo 1 ............................... 46
Figura 24 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos
observados e estimados com aplicação do Modelo 2 ............................... 46
Figura 25 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos
observados e estimados com aplicação do Modelo 3 ............................... 47
Figura 26 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos
observados e estimados para o Modelo 4 ................................................... 47
9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores dos coeficientes de ajuste da equação de cálculo de vazão em


um microtubo, proposta por Vermeiren e Jobling (1980) ........................... 19
Tabela 2 – Índices médios de vazões para vários diâmetros e temperaturas,
propostos por Vermeiren e Jobling (1980) ................................................... 19
Tabela 3 – Valores dos coeficientes de perda de carga localizada propostos por
Souza e Botrel (2004). ..................................................................................... 21
Tabela 4 – Valores dos coeficientes aK e bK para estimativa do coeficiente K da
equação de perda de carga localizada propostos por Souza e Botrel
(2004). ................................................................................................................ 21
Tabela 5 – Alguns grupos adimensionais e variáveis utilizadas na Mecânica de
Fluídos ................................................................................................................ 25
Tabela 6 – Critérios para classificação do coeficiente de variação de fabricação para
gotejadores ........................................................................................................ 31
Tabela 7 – Grandezas básicas das variáveis utilizadas para a análise dimensional do
escoamento em microtubos ............................................................................ 33
Tabela 8 – Diâmetros internos equivalentes para os microtubos ensaiados............... 35
10

LISTA DE SÍMBOLOS

x – expoente de fluxo
Hm – carga de pressão na entrada do microtubo
Qm, Q – vazão do microtubo
Lcm, Lm, L – comprimento do microtubo
Dm, D – diâmetro interno do microtubo
a1, b1, c1, d1 – coeficientes de ajuste da equação de Vermeiren e Jobling (1980)
V – velocidade de escoamento
NR – número de Reynolds
K – coeficiente de perda localizada de carga do emissor
ak , bk – coeficientes do cálculo do coeficiente de perda localizada de carga
ρ – massa específica da água
CVF – coeficiente de variação de fabricação
P – pressão
μ – viscosidade dinâmica
υ – viscosidade cinemática
a2, b2, c2 – coeficientes de ajuste da equação obtida por análise dimensional
RMEQ – raiz quadrada da média dos erros quadráticos
Er – erro relativo
11

1 INTRODUÇÃO

Os projetos de irrigação geralmente são dimensionados para operar sob


vazão e pressão constantes nos eventos de irrigação. No dimensionamento é
estabelecida a pressão requerida nas subunidades de irrigação, com uma variação
admissível ao longo dela. Assim, espera-se que se mantenha um valor mínimo
aceitável de uniformidade de distribuição de água nessa subunidade durante a
irrigação.
O comprimento das linhas laterais é calculado a partir da variação admissível
de vazão em sua extensão, sendo que o tipo de emissor tem participação direta
nessa determinação. Gotejadores não regulados apesar de admitirem linhas laterais
menores, podem resultar num projeto de menor custo, quando comparados com os
regulados, devido à diminuição dos custos anuais totais, para categorias de
pressões similares (HOLZAPFEL et al., 2007).
Uma alternativa aos emissores regulados são as linhas laterais com
emissores do tipo microtubo, também conhecido como espaguete. Esses possuem
normalmente diâmetro interno variando de 0,5 a 1,5 mm. Além de serem mais
baratos em relação aos outros gotejadores, por serem comercializados em bobinas,
os microtubos apresentam a possibilidade de se obtê-los com qualquer
comprimento. Logo, seu comprimento pode ser ajustado de acordo com a
distribuição de pressões ao longo da linha lateral (ALMEIDA; BOTREL; SMITH,
2009). Isso, teoricamente, permite que todos os emissores apresentem a mesma
vazão e, por conseguinte, ter-se-á uniformidade de 100% na linha lateral.
Para que isso ocorra, durante o dimensionamento de linhas laterais com esse
tipo de emissor, é necessário se conhecer a pressão em cada ponto de inserção do
emissor na linha lateral.
Os coeficientes das equações para se dimensionar microtubos normalmente
são tabelados em função do seu diâmetro (SOUZA; BOTREL, 2004; VERMEIREN;
JOBLING, 1980). Isso faz com que os coeficientes para diâmetros intermediários aos
apresentados nas tabelas tenham que ser obtidos por interpolação, podendo
acarretar em um erro devido aos valores não apresentarem variação.
Emissores dimensionados erroneamente podem levar a aplicações de água
diferentes das planejadas, além de uniformidades de distribuição inferiores a
desejada, acarretando em estresse hídrico nas plantas, seja por excesso ou por
12

déficit, e desuniformidade no estande plantas, dificultando os tratos culturais.


Nesse contexto, a modelagem do escoamento em microtubos pode ser
realizada por análise dimensional, também chamada de teorema de Vaschy-
Buckingham, ou ainda de teoremas dos Π’s. Esse teorema pressupõe que se um
fenômeno físico pode ser representado por uma relação dimensionalmente
homogênea com n grandezas físicas, pode-se descrevê-lo por uma relação de n-r
grupos adimensionais independentes, sendo r o número de grandezas básica
necessárias para expressar as dimensões.
A análise dimensional possui a vantagem de economizar tempo e diminuir os
custos do experimento, pois não é avaliado cada variável individualmente, e sim,
grupos formados por essas variáveis, desde que sejam adimensionais.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi obter uma equação genérica para
emissores do tipo microtubos utilizando análise dimensional a fim de facilitar o
dimensionamento de sistemas de irrigação que utilizem esses emissores.
13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Microirrigação

Microirrigação, ou irrigação localizada, é um método de irrigação


caracterizado pela aplicação de pequenos volumes de água em alta frequência.
Essa aplicação ocorre próximo ou dentro da zona radicular, mantendo a umidade
alta em uma parcela do volume de solo, sendo esse explorada pelas raízes da
cultura. Nos últimos anos, sua utilização tem aumentado principalmente em locais
onde o recurso hídrico é escasso e que há culturas de alto valor agregado.
Dentre as vantagens da microirrigação se destacam:
a) economia de água – menores perdas de água devido a influência de vento;
menor evaporação, pois não molha a superfície dos vegetais; menor
disponibilidade de água para as plantas daninhas; e, minimização das perdas
por escoamento superficial.
b) maior produtividade – a umidade do solo no volume explorado pelo sistema
radicular permanece elevada, devido à alta frequência de irrigação. Isso
diminui o estresse hídrico nas plantas.
c) facilita as práticas culturais – por não molhar toda a superfície do solo entre
as linhas, alguns tratos culturais como capinas e colheitas podem ser
realizados logo após a irrigação.
d) aplicação de fertilizantes – a aplicação de fertilizantes pode ser realizada por
meio da irrigação. Com isso, os fertilizantes são aplicados diretamente no
volume de solo explorado pelas raízes, além de favorecer a aplicação nos
melhores momentos do ciclo de desenvolvimento da cultura.

Algumas limitações dos sistemas de microirrigação englobam:

a) alto custo inicial – pela necessidade de cobrir toda a área de irrigação, o


investimento com aquisição dos componentes é elevado.
b) entupimento dos emissores – devido aos emissores apresentarem pequenas
seções de saída, são necessários filtros para retirada de partículas minerais
ou orgânicas. Mesmo com essa prevenção, pode ocorrer precipitação de sais
e sedimentação de partículas como silte e argila não retirada pelos filtros,
ocasionando o entupimento do emissor, principalmente em gotejadores.
c) limitação no desenvolvimento do sistema radicular – por irrigar somente uma
14

parcela do solo, o desenvolvimento das raízes tende a permanecer nesse


volume de solo. Isso pode ocasionar menor estabilidade das plantas, ficando
sujeitas ao tombamento, e redução na absorção de nutrientes.

2.2 Emissores

A aplicação de água na microirrigação geralmente ocorre na forma de gotas,


podendo ser na superfície ou subsuperfície (gotejamento), aspergida
(microaspersão/difusão) ou em fluxo contínuo (bubbler), sendo os emissores
localizados em um tubo paralelo à linha de cultivo (FRIZZONE et al., 2012). Em
gotejamento, a vazão dos emissores normalmente está entre 1 e 20 L h-1, enquanto
na microaspersão está compreendida entre 20 e 160 L h-1 (BERNARDO; SOARES;
MATOVANI, 2008).
Indiferentemente do modelo do emissor, a vazão característica em função da
pressão geralmente é dada por uma equação do tipo potencial (eq. (1)).

Q = k Hx (1)

em que,
Q – vazão do emissor, L h-1;
k – coeficiente de descarga do emissor;
H – carga de pressão de serviço do emissor, m; e,
x – expoente de fluxo, adimensional.

O valor do expoente de fluxo do emissor normalmente varia entre 0 e 1, e seu


valor irá definir o efeito da variação de pressão na vazão do mesmo. Quando o valor
de x é próximo ou é igual a 1, o emissor é considerado de fluxo laminar e é sensível
a alterações de pressão (FRIZZONE et al., 2012). Para x próximo de 0,5, o emissor
é de fluxo turbulento e, por fim, quando x tende a 0, os emissores são regulados ou
auto-compensantes. Na prática, os emissores regulados possuem uma faixa de
pressão na qual a vazão é praticamente constante, sendo pouco influenciado pela
pressão. Isso se deve à modificações na seção de escoamento do emissor,
compensando a variação na pressão.
O expoente de fluxo influencia diretamente o comprimento máximo que uma
linha lateral (LL) poderá ter, pois o mesmo irá definir a magnitude da variação de
vazão dos emissores ao longo da LL devido a variação na pressão. Assim,
15

emissores com x menor irão possibilitar comprimentos de laterais maiores,


diminuindo o número de subunidades necessárias na área irrigada e/ou aumentando
a uniformidade da mesma. Em contrapartida, emissores regulados são mais caros
que os não regulados, necessitando de um investimento maior na aquisição dos
mesmos.
Como alternativa aos emissores regulados, pode-se optar por emissores do
tipo microtubo (Figura 1). O microtubo foi o precursor da irrigação por gotejamento
(BERNARDO; SOARES; MANTOVANI, 2008). Esse é um emissor de longo percurso
com diâmetro interno normalmente variando de 0,5 a 1,5 mm, possuindo o expoente
de fluxo normalmente superior a 0,75 (FRIZZONE et al., 2012). Embora seja
possível encontrar trabalhos em que são utilizados diâmetros internos de até 4 mm
(KHATRI et al.,1979; KESHTGAR; BHUIYAN; JAYASURIYA, 2013).

Figura 1 – Microtubo do tipo espaguete


Fonte: Alves (2014)

Entretanto, por apresentar sensibilidade à pressão, temperatura e


entupimento, além de exigir mais mão de obra na instalação do projeto, foi sendo
substituído por emissores menos sensíveis a esses fatores e que exigem menos
mão de obra (ALVES et al., 2012).
Souza (2005) ao avaliar um sistema de irrigação por microtubo observou que
a variação de 5 °C na temperatura da água alterou 5% a vazão média dos
emissores. Um trabalho teórico realizado por Pinto, Alves e Botrel (2012) mostrou
que a variação de vazão pode ser ainda maior, com variação de 20% na vazão a
cada 10 °C.
16

Por apresentar baixo custo de implantação, algumas instituições, como a


International Development Enterprises e a Intermediate Technology Consultants, têm
implantado sistemas de irrigação por gravidade com microtubos em pequenas
propriedades de agricultores, especialmente em países pobres da Ásia e África
(SOUZA; BOTREL, 2004).
Apesar das limitações, o microtubo apresenta a vantagem de ser adaptável a
áreas com topografia irregular. E, além do custo inferior aos emissores regulados, o
microtubo também apresenta a vantagem de ser possível a modificação da vazão
aplicada depois do sistema instalado. Para isso é somente necessário diminuir seu
comprimento, ou por ser um emissor on-line, pode-se trocá-lo por outro de diâmetro
ou comprimento diferente. Tudo isso favorece a se aumentar a uniformidade de
distribuição em sistemas de irrigação.
Os trabalhos de Chigerwe et al. (2004), Katsurayama et al. (2017), Sah et al.
(2010), Sobenko et al. (2017), Souza, Pérez e Botrel (2006) e Souza et al. (2011),
demonstram que é possível atingir uniformidades de distribuição acima de 80% ao
se utilizar microtubos, sendo as uniformidades classificadas de boas a excelentes de
acordo com Bralts (1986).
Entretanto, valores de uniformidade de distribuição menores (62%) também
podem ser obtidos utilizando-se microtubos de mesmo comprimento, conforme
observado por Souza et al. (2009) com conjuntos de irrigação. Apesar de alguns
conjuntos terem obtido valores de UD de 95%, os autores concordaram que um dos
fatores da menor uniformidade foi a utilização de emissores de mesmo comprimento.
Almeida (2008) (Figura 2) e Almeida et al. (2016) (Figura 3), em seus
trabalhos, mostraram que o microtubo também pode ser utilizado na microaspersão,
obtendo resultados promissores, sendo assim uma alternativa aos emissores
regulados também nesse sistema de irrigação.
17

Figura 2 – Microaspersor com detalhe para o defletor tipo “C” e funcionando em campo
Fonte: Almeida (2008)

Figura 3 – Modelos de microaspersores comerciais utilizando microtubo para compensar a variação


de pressão
Fonte: Almeida et al. (2016)

2.3 Dimensionamento de microtubos

Ao se optar por microtubos como emissores, há duas opções para seu


dimensionamento: todos os microtubos com o mesmo comprimento ou com
comprimentos diferentes (variável). A primeira opção é semelhante aos outros
emissores, e a sua vazão pode ser representada pela eq. (1) quando se considera
um diâmetro fixo.
Ao se trabalhar com microtubos de comprimentos variáveis, o fator a ser
determinado é o comprimento do mesmo para que atenda a vazão de projeto e a
18

pressão do ponto de instalação. Khatri et al. (1979) sugeriram as equações para


dimensionamento de microtubos que podem ser visualizadas nas equações (2), (3),
(4) e (5).

- Equação geral para qualquer regime:

Qm1,516
Hm = 0, 0054 Lcm (2)
Dm 4,245

em que,
Hm – carga de pressão na entrada do microtubo, m.c.a.;
Qm – vazão do microtubo, L h-1;
Lcm – comprimento do microtubo, cm; e,
Dm – diâmetro interno do microtubo, mm.

- Equação para o regime laminar:

Qm1,253
Hm = 0,0074 Lcm (3)
Dm 3,361

- Equação para a zona crítica:

Qm1,665
Hm = 0,0034 Lcm (4)
Dm 4,190

- Equação para o regime turbulento:

Qm1,779
Hm = 0,0036 Lcm (5)
Dm 4,857

De maneira semelhante, Vermeiren e Jobling (1980) propuseram uma


equação para o dimensionamento de microtubos (eq. (6)), na qual a vazão é função
da pressão na entrada do microtubo, do comprimento e diâmetro do microtubo.

Qm = a1 Lm b1 Hm c1 Dm d1 (6)

em que,
Lm – comprimento do microtubo, m; e,
19

a1, b1, c1, d1 – coeficientes de ajuste da equação, adimensionais.

Os coeficientes de ajuste da eq. (6) podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1 – Valores dos coeficientes de ajuste da equação de cálculo de vazão em um microtubo,


proposta por Vermeiren e Jobling (1980)
Diâmetro interno (mm)
Coeficientes
0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1
a1 0,86 0,91 1,02 1,14 1,16 1,28 1,38
b1 -0,78 -0,75 -0,72 -0,68 -0,65 -0,62 -0,58
c1 0,85 0,82 0,78 0,75 0,72 0,69 0,65
d1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1 3,1
Fonte: Adaptado de Vermeiren e Jobling (1980)

Devido a sensibilidade da vazão devido a variações de temperatura, os


mesmos autores propuseram índices de ajuste da vazão para situações cuja
temperatura da água é diferente de 20 °C, que podem ser conferidos abaixo (Tabela
2).

Tabela 2 – Índices médios de vazões para vários diâmetros e temperaturas, propostos por Vermeiren
e Jobling (1980)
Temperatura (°C)
Diâmetro (mm)
20 30 40 50
0,5 100 110 120 125
0,6 100 108 115 122
0,7 100 106 112 117
0,8 100 105 110 115
0,9 100 104 108 112
1,0 100 104 107 111
1,1 100 104 107 110
Fonte: Adaptado de Vermeiren e Jobling (1980)

Souza e Botrel (2004) desenvolveram uma equação para dimensionamento


de microtubo utilizando a equação de Bernoulli aplicada entre a secção de entrada e
saída do microtubo, sendo evidenciado a perda contínua de carga ao longo do
microtubo, a energia cinética e as perdas localizadas de cargas (eq. (7)).

Hm = hfc +Ec+hfloc (7)

onde,
Hm – carga de pressão na entrada do microtubo, m.c.a.;
hfc – perda contínua de carga, m.c.a.;
Ec – energia cinética, m; e,
hfloc – perda localizada de carga, m.c.a.
20

A perda contínua de carga pode ser estimada pela equação universal (eq.
(8)), a energia cinética pode estimada pela eq. (9) e a perda localizada de carga pela
eq.(10).

L V2
hfc = f (8)
D 2g

em que,
f – fator de atrito da equação universal, adimensional;
L – comprimento do tubo, m;
V – velocidade média de escoamento da água, m s-1;
D – diâmetro interno do tubo, m; e,
g – aceleração da gravidade, m s-2.

V2
Ec = (9)
2g

V2
hfloc =K (10)
2g

em que,
K – coeficiente da equação de perda de carga localizada, adimensional.

A estimativa do fator de atrito para equação universal depende do regime de


escoamento do líquido. Souza e Botrel (2004) optaram por trabalhar no regime de
escoamento laminar, isto é, em situações cujo número de Reynolds (eq. (11)) é
inferior ou igual a 2000. Neste caso, regime de escoamento o valor de f pode ser
calculado pela eq (12).

ρVD
NR = (11)
μ

em que,
NR – número de Reynolds, adimensional; e,
μ – viscosidade dinâmica, Pa s.
21

64
f= (12)
NR

Para estimativa da perda localizada de carga, Souza e Botrel (2004)


assumiram duas situações, uma em que o coeficiente de perda localizada de carga
era constante, e outra em que este era função do número de Reynolds. Para
primeira situação, substituindo as equações (8), (9), (10), (11) e (12) na eq. (7), e
transformando a equação para se trabalhar com a vazão ao invés da velocidade
média de escoamento, chega-se a eq. (13). Para a segunda situação, substitui-se
valor de K da eq. (13) pela eq. (14).

64 ν 4 Lm Q 16 Q2 16 K Q2
Hm = + + (13)
π 2 g D4 π2 2 g D4 π2 2 g D4

em que,
Q – vazão, m³ s-1.

K = aK ln(NR) + bK (14)

em que,
aK , bK – coeficientes da equação que expressa ‘K’ em função do NR,
adimensionais.

Na Tabela 3 e Tabela 4 podem ser visualizados os valores de K, aK e bK


obtidos por Souza e Botrel (2004).

Tabela 3 – Valores dos coeficientes de perda de carga localizada propostos por Souza e Botrel
(2004).
Diâmetro efetivo do microtubo (mm) K
1,018 3,153
0,839 5,302
0,742 8,164
0,729 6,936

Tabela 4 – Valores dos coeficientes a K e bK para estimativa do coeficiente K da equação de perda de


carga localizada propostos por Souza e Botrel (2004).
Diâmetro efetivo do microtubo (mm) aK bK
1,009 1,007 -7,584
0,835 1,154 -7,959
0,738 1,533 -9,926
0,726 1,401 -9,062
22

Partindo do mesmo princípio que Souza e Botrel (2004), Souza et al. (2011)
equacionaram o dimensionamento de microtubos para o regime turbulento, obtendo
coeficientes de determinação acima de 98%, mostrando viabilidade técnica também
para esse regime de escoamento.
Vekariya, Subbaiah e Mashru (2011) utilizaram análise dimensional para
modelar o escoamento em microtubos com diâmetros entre 1,2 e 2,0 mm e carga de
pressão até 1,5 m.c.a., assumindo que a vazão do emissor é função do diâmetro
interno, do comprimento do microtubo, da carga de pressão e da aceleração da
gravidade (eq. (15)).

0,5 2,5y Hcm z


q = K v g cm Dcm ( ) (15)
Lcm

em que,
q – vazão do microtubo, cm³ s-1;
Kv – coeficiente de proporcionalidade, adimensional;
gcm – aceleração da gravidade, cm s2;
Dcm – diâmetro interno do microtubo, cm;
Hcm – carga de pressão de operação, cm; e,

y, z – expoentes da função, adimensionais.

Como resultado do seu experimento, Vekariya, Subbaiah e Mashru (2011)


obtiveram a vazão do microtubo, que pode ser estimada pela eq. (16)(17).

0,5
20 Dcm 5 g cm Hcm
q=( ) (16)
Lcm

Indiferentemente do modelo de equação utilizado, necessita-se conhecer as


características do emissor para se realizar um projeto criterioso e que apresente um
bom desempenho a campo. Dessa maneira, é recomendado que as características
hidráulicas dos emissores sejam determinadas experimentalmente em laboratório
(PIZARRO-CABELLO, 1996).
No dimensionamento de microtubos, a determinação do diâmetro interno (Dm)
também é um fator importante, pois o valor informado pelo fabricante pode não
corresponder ao Dm real do mesmo. Além disso, pequenos erros no valor deste
parâmetro podem ocasionar uniformidade menor que a desejada na irrigação. Assim
23

como os outros parâmetros hidráulicos, deve-se determiná-lo experimentalmente,


por meio de perfilômetros. No entanto, perfilômetros são equipamentos pouco
disponíveis, logo outros métodos também podem ser aplicados, como o método
hidráulico sugerido por Almeida e Botrel (2010).
A determinação do Dm pelo método hidráulico consiste em medir a vazão de
microtubos submetidos a uma carga hidráulica baixa, sendo que o comprimento
utilizado deve ser grande o suficiente para que a perda localizada de carga possa
ser desprezada. De acordo com Almeida e Botrel (2010), microtubos com
comprimentos de 3 m e carga hidráulica de 2 m já são suficientes para realização do
ensaio (Figura 4). Com os dados obtidos de vazão pode-se determinar o diâmetro
interno equivalente pela eq. (17).

Figura 4 – Esquema de coleta de vazão para determinação hidráulica do diâmetro equivalente de


microtubos
Fonte: Almeida e Botrel (2010)

0,25
0,08262647 Q2 + 4,153269 ν Lm Q
D=( ) (17)
Z

em que,
Z – carga hidráulica, m.c.a.

2.4 Análise dimensional

Dentro da área de Hidráulica, muitos problemas e fenômenos não podem ser


resolvidos apenas teoricamente. Ou seja, as variáveis envolvidas em um processo
são conhecidas, porém, não se conhece a relação entre elas.
24

Adicionalmente, na maioria das situações, não é possível realizar os


experimentos para todas as condições de interferência, sejam por terem custos
elevados ou dificuldades operacionais. Uma alternativa é a utilização de protótipos
em escalas menores, desde que a relação entre os parâmetros entre os protótipos e
o real sejam semelhantes.
Faz-se necessário a combinação entre uma análise do fenômeno e resultados
experimentais. Para realizar a modelagem de fenômenos pode-se utilizar a análise
dimensional, também chamada de teorema de Vaschy-Buckingham, ou ainda de
teoremas dos Π’s. Esse teorema pressupõe que, se um fenômeno físico pode ser
representado por uma relação dimensionalmente homogênea com n grandezas
físicas, pode-se descrevê-lo por uma relação de n-r grupos adimensionais
independentes, sendo r o número de grandezas básica necessárias para expressar
as dimensões.
A análise dimensional possui a vantagem de economizar tempo e diminuir os
custos do experimento, pois não é avaliado cada variável individualmente, e sim,
grupos formados por essas variáveis, desde que sejam adimensionais.
Como exemplos de utilização de análise dimensional dentro da área de
Hidráulica e Irrigação, podem ser citados os trabalhos de Demir, Yurdem e
Degirmencioglu (2007), Perboni et al. (2015) e Vekariya, Subbaiah e Mashru (2011).
A análise dimensional pode ser dividida nas seguintes etapas:
a) determinação das variáveis que influenciam o fenômeno (n);
b) determinação das grandezas básicas que compõem as variáveis (r);
c) determinação do número de termos Π’s (n-r);
d) escolha das variáveis básicas, sendo estas iguais o número de grandezas
básicas;
e) combinação de cada uma das variáveis não básicas com as básicas,
formando os termos Π’s de tal modo que sejam adimensionais;
f) combinação dos termos Π’s a fim de se obter a equação final, geralmente na
forma da eq. (18).

Π1 = f(Π2 , . . . , Πn−r ) (18)

Na Tabela 5 é possível visualizar alguns termos adimensionais e seus


significados.
25

Tabela 5 – Alguns grupos adimensionais e variáveis utilizadas na Mecânica de Fluídos

Termo Π Significado

ρVD Número de Reynolds: relação entre as forças de inércia e as forças de


μ viscosidade

V2 Número de Froude: razão entre a velocidade do fluxo e a velocidade de


Dg propagação de uma onda no fluido

P
Número de Euler: relação entre as forças de pressão e as forças de inércia
ρ V2
L ρ 1/2 Número de Weber: relação entre as forças de inércia e as forças de tensão
V( ) superficial
σ
Fonte: Adaptado de Munson, Young e Okiishi (2004)
26
27

3 MATERIAL E MÉTODOS

Os ensaios foram realizados no Laboratório de Hidráulica do Departamento


de Engenharia de Biossistemas da ESALQ/USP. Foram utilizados três diâmetros de
microtubos, que de acordo com o fabricante os diâmetros internos eram de 0,7, 0,8 e
1,0 mm, sendo caracterizados pelas cores ‘Verde’, ‘Laranja’ e ‘Azul’,
respectivamente. Os microtubos eram de polietileno de baixa densidade e possuíam
o diâmetro externo de 2,5 mm.

3.1 Determinação do diâmetro interno do microtubo

A determinação do diâmetro interno do microtubo ocorreu conforme a


metodologia proposta por Almeida e Botrel (2010). Para isso foram utilizados
segmentos de microtubos com 3 m de comprimento. Optou-se por utilizar a média de
quatro amostras como o diâmetro equivalente, sendo que esse procedimento foi
realizado para cada diâmetro comercial.
A carga hidráulica necessária foi fornecida por um reservatório suspenso,
sendo que o nível da água no reservatório estava a 2 m do nível da saída de água
do microtubo.
Devido a necessidade de se conhecer a viscosidade dinâmica e a massa
específica da água durante a realização do ensaio, mediu-se a temperatura da água
com um termômetro de mercúrio, sendo que esta foi de aproximadamente 25 °C.
Estimou-se a massa específica da água por meio da eq. (19), sugerida por Kell
(1975). Pinto et al. (2014) ajustaram o modelo de equação proposto por Likhachev
(2003) para estimativa da viscosidade cinemática. Sabendo-se que a viscosidade
dinâmica pode ser calculada pelo produto da viscosidade cinemática com a massa
específica, tem-se a eq. (20).

ρ = (999,8676 + 17,801161 T − 7,942501 × 10−3 T 2 −


52,56328 × 10−6 T 3 + 137,6891 × 10−9 T 4 −
(19)
364,4647 × 10−12 T 5 )/(1 + 17,735441 × 10−3 T)

em que:
28

ρ – massa específica da água, kg m-3; e,


T – temperatura, °C.

482,134866
μ = 32,025666 × 10−6 eT+119,886026 (20)

A duração do ensaio de cada diâmetro foi de 90 min. A massa de água


coletada foi pesada utilizando uma balança com resolução de 0,01 g, e juntamente
com a massa específica e tempo de duração do ensaio, foi possível calcular a vazão
(eq. (21)). Posteriormente, utilizou-se a eq. (17) para calcular o diâmetro interno
equivalente do microtubo.

Mc
Q= (21)
ρt

em que,
Mc – massa coletada de água, kg; e,
t – tempo de coleta, s.

3.2 Determinação da relação vazão versus pressão do microtubo

Analogamente ao ensaio para determinar o diâmetro, o processo para


determinação da relação vazão-pressão consistiu em submeter microtubos, de
diferentes comprimentos e diâmetros, a várias pressões.
Nos ensaios para determinação da vazão dos microtubos, utilizaram-se dez
microtubos para cada comprimento e diâmetro avaliado, sendo que os
comprimentos variaram de 0,30 a 1,50 m, com incremento de 0,15 m.
Os microtubos foram inseridos aproximadamente cinco milímetros
diretamente em um tubo de polietileno, cujo diâmetro interno era de 12,7 mm (Figura
5). Não foi necessário vedar a conexão entre os dois, pois não se constatou
problemas quanto a estanqueidade no ponto de inserção.
29

Figura 5 – Inserção do microtubo diretamente no tubo de polietileno

As pressões utilizadas variaram de 4,90 a 93,16 kPa, com incrementos de


9,81 kPa. Nas situações em que o nível da saída da água do microtubo era diferente
do ponto de medição de pressão, devido altura dos coletores, foram acrescentas as
pressões o valor do desnível geométrico existente.
Durante os ensaios, o fornecimento e controle da pressão na entrada nos
microtubos ocorreram de duas maneiras distintas, as quais também foram
responsáveis por promover alterações específicas na bancada. Abaixo são descritas
as duas metodologias:
a) primeiro método – para pressões menores que 30 kPa, utilizou-se somente a
carga hidráulica fornecida por um reservatório suspenso (Figura 6.A), em
que a altura do mesmo era variável conforme a pressão de interesse. Nesse
reservatório havia duas saídas e uma entrada de água, sendo uma das
saídas para alimentar os microtubos, e outra, que juntamente com a
alimentação do reservatório, serviam para manter o nível de água constante.
Além da variação da altura do reservatório, caso fosse necessário, utilizou-
se também um registro do tipo agulha para o ajuste da pressão. Foram
utilizados quatro segmentos de tubo conectados no sistema de malha
(Figura 6.B), os dois tubos externos continham 10 microtubos cada, fazendo-
se o ensaio de dois comprimentos simultaneamente. O espaçamento entre
os microtubos era de 10 cm. Os dois tubos internos tinham a função de
diminuir possíveis variações de pressão entre o primeiro e o último
microtubo inserido em cada tubo externo. A pressão foi monitorada por meio
30

de um piezômetro e a temperatura foi mensurada durante os ensaios com


um termômetro de mercúrio.

Figura 6 – Bancada de ensaio de vazão versus carga de pressão versus comprimento: reservatório
suspenso (A); tubos conectados em malha (B)

b) segundo método – para pressões maiores que 30 kPa, a pressão necessária


em cada ensaio foi fornecida por um conjunto motobomba controlado por um
inversor de frequência, sendo utilizado o controle proporcional integral
derivativo para o ajuste da mesma. Foram utilizados dois módulos, cada um
com três segmentos de tubos ligados em malha (Figura 7), sendo que o
segmento interno continha 10 microtubos com espaçamento de 10 cm. Os
dois segmentos externos tinham a função de minimizar possíveis variações
de pressão entre o primeiro e último microtubos inseridos no tubo central. A
pressão foi monitorada por um manômetro digital e a temperatura por um
termômetro digital.

Figura 7 – Tubos conectados em malha na bancada de ensaio de vazão versus carga de pressão
versus comprimento utilizando conjunto motobomba com inversor de frequência
31

Nos ensaios foram coletados volumes em um intervalo de tempo que


dependia da pressão. Porém, adotou-se 5 min como tempo mínimo de ensaio e 500
g como massa de água mínima a ser coletada. Assim como na determinação do
diâmetro, os volumes de água foram pesados e as vazões calculadas em função da
massa específica (eq. (21)).
Para cálculo do coeficiente de variação de fabricação se utilizou a eq. (22),
cujo valor pode ser classificado conforme verifica-se na Tabela 6. O CVF foi
calculado individualmente para cada conjunto de 10 microtubos com mesmo
diâmetro e comprimento ensaiados. Preferiu-se prosseguir deste modo pois em cada
comprimento e diâmetro possivelmente haveria características construtivas
diferentes.

Sq
CVF = (22)

em que,
CVF – coeficiente de variação de fabricação, adimensional;
Sq – desvio padrão das vazões nos emissores, L h-1; e,
q̅ – vazão média dos emissores, L h-1.

Tabela 6 – Critérios para classificação do coeficiente de variação de fabricação para gotejadores


Valor Classificação
CVF ≤ 0,05 Excelente
0,05 < CVF ≤ 0,07 Médio
0,07 < CVF ≤ 0,10 Baixa
0,10 < CVF ≤ 0,15 Marginal
CVF > 0,15 Inaceitável
Fonte: Adaptado de ASABE (2008)

Com os dados obtidos nos ensaios vazão versus carga de pressão versus
comprimento ajustou-se os modelos de equações preconizando os coeficientes que
apresentassem o menor valor de raiz quadrada da média dos erros quadráticos
(RMEQ), dado pela equação a seguir:

∑nt=1(ŷt − yt )2
RMEQ = √ (23)
n

em que,
32

n – número de observações;
ŷt – valor estimado; e,
yt – valor observado.

Adicionalmente, foram calculados os erros relativos entre os valores


observados e estimados (eq. (24))

|ŷt − yt |
ER = 100 (24)
yt

em que,
ER – erro relativo, %.

3.3 Modelos para dimensionamento dos microtubos

Avaliou-se quatro modelos de equações: os modelos de Souza e Botrel


(2004) para K constante e em função do NR (eq. (13) e (14)), o modelo de
Vermeiren e Jobling (1980) (eq. (6)); e, o obtido por análise dimensional. Os
modelos foram nomeados nesse estudo como modelos 1, 2, 3 e 4, respectivamente.
Ainda, devido aos modelos de equações apresentarem variáveis dependentes
diferentes, decidiu-se padroniza-los para que estimassem a pressão na entrada do
microtubo, considerando a saída de água nomicrotubo no mesmo nível geométrico
da entrada. Assim, o modelo 3 passou a ser expressado conforme a equação a
seguir.

1
Hm = (a1 −1
Q m Lm −b1
Dm −d1 𝑐1
) (25)

O escoamento em microtubos no regime laminar pode ser representado como


a relação entre as seguintes variáveis: pressão, massa específica, viscosidade
dinâmica, velocidade média de escoamento, diâmetro e comprimento do microtubo.
Considerou-se na análise dimensional, que a pressão na entrada do microtubo era
função das variáveis mencionadas acima (eq. (26)).

P = f (ρ, μ, D, L, V) (26)
33

em que,
P – pressão na entrada do microtubo, Pa.

As dimensões de cada variável podem ser visualizadas na Tabela 7. Vale


ressaltar que se utilizou as unidades de medida das grandezas no sistema
internacional de unidades.

Tabela 7 – Grandezas básicas das variáveis utilizadas para a análise dimensional do escoamento em
microtubos
Grandeza básica P ρ μ D L V
Massa 1 1 1 0 0 0
Comprimento -1 -3 -1 1 1 1
Tempo -2 0 -1 0 0 -1

Portanto, temos que n é igual 6 e r igual a 3, obtendo três termos Π’s. Como
variáveis básicas, escolheu-se a massa específica, velocidade e diâmetro.
Relacionando-se a pressão com as três variáveis básicas, obtêm-se o termo Π1 dado
pela eq. (27), sendo este o número de Euler.

P
Π1 = (27)
V2 ρ

O termo Π2 as variáveis básicas foram relacionadas com a viscosidade


dinâmica, resultando que esse termo era igual ao NR (eq. (28)), e na eq. (29) é
possível visualizar o termo Π3.

Π2 = NR (28)

L
Π3 = (29)
D

O ajuste utilizando análise dimensional ocorreu por meio da eq. (30).

Π1 = a2 Π2 b2 Π3 c2 (30)

em que,
a2 , b2 , c2 – coeficientes de ajuste, adimensionais.

Após a obtenção dos coeficientes de ajuste, assim como o modelo 3, a


34

equação foi modificada para padronizar a carga de pressão como variável


dependente, para se trabalhar com a vazão e viscosidade cinemática, resultando na
eq. (31).

1,27322+b2 a2 υ−b2 Lc2 Q2+b2 D−4−b2 −c2


Hm = (31)
g
35

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Diâmetro interno do microtubo

Na Tabela 8 podem ser visualizados os diâmetros equivalentes obtidos nos


ensaios. Nota-se que em comparação com o Dm informado pelo fabricante ocorreu
uma diferença que ficou entre 8 e 14% em relação ao obtido experimentalmente.
Esse resultado corrobora com os resultados de Almeida e Botrel (2010), que
obtiveram diferenças de até 11,25%, mostrando a importância de realizar a
determinação do diâmetro interno experimentalmente.

Tabela 8 – Diâmetros internos equivalentes para os microtubos ensaiados


Diâmetro comercial Diâmetro interno Diferença relativa
Cor de identificação
(mm) equivalente (mm) (%)
Verde 0,7 0,796 13,7
Laranja 0,8 0,869 8,6
Azul 1,0 1,108 10,8

4.2 Ajustes das equações

Os CVFs variaram de 0,40 a 2,39%, sendo o valor médio de 1,07%. Assim,


todos foram classificados como excelentes de acordo com os critérios de
classificação da ASABE (2008).
As curvas vazão versus carga de pressão obtidas nos ensaios são
apresentadas na Figura 8. Essas foram divididas conforme o comprimento e
diâmetro interno dos microtubos, sendo que a identificação do diâmetro em cada
gráfico seguiu a cor utilizada pelo fabricante.
Ressalta-se que constam na Figura 8 os valores observados
independentemente dos regimes de escoamentos verificados. Desses dados, foram
utilizados somente as pressões e vazões que estavam no regime laminar de
escoamento. Ao se ajustar a eq. (1) para o regime laminar de escoamento
considerando o diâmetro e comprimento dos microtubos constantes, o expoente de
fluxo x ficou entre 0,775 e 0,919, demonstrando que para esse regime de
escoamento, a pressão tem grande influência na vazão dos emissores, conforme
exposto por Frizzone et al. (2012).
36

0,30 m 0,45 m
Vazão (L h-1) 20 15

15
10
10
5
5

0 0
0 5 10 0 5 10

0,60 m 0,75 m
15 10
8
Vazão (L h-1)

10
6
4
5
2
0 0
0 5 10 0 5 10

0,90 m 1,05 m
10 8
8
Vazão (L h-1)

6
6
4
4
2 2

0 0
0 5 10 0 5 10

1,20 m 1,35 m
8 8
Vazão (L h-1)

6 6

4 4

2 2

0 0
0 5 10 0 5 10
1,50 m
8
Vazão (L h-1)

0
0 5 10
Carga de pressão (m.c.a.)
Figura 8 – Curvas vazão versus carga de pressão para cada comprimento avaliado, onde as cores
verde, laranja e azul correspondem aos diâmetros nominais 0,7, 0,8 e 1,0 mm,
respectivamente
37

O valor de K dependente das características geométricas das peças e do NR,


diminuindo com o aumento do último até o limite em que permanece praticamente
constante (JUANA et al., 2002). Porém, nota-se na Figura 9 que uma variação muito
grande nos dados obtidos. Uma possível explicação para o fato é que todos os erros
aleatórios que ocorreram durante o experimento são refletidos nesse coeficiente, e,
por se trabalhar com velocidades de escoamento muito baixas, os erros ocasionam
grandes variações no valor de K.

60
–– K = -10,56 ln(NR) +92,39
50 - - K = 15,18

40
Coeficiente K

30

20

10

0
0 250 500 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250
Número de Reynolds

Figura 9 – Coeficientes de perda localizada de carga em função do Número de Reynolds

O valor de K igual 15,18 foi o que apresentou menor RMEQ, o qual teve valor
de 0,403 m.c.a. Esse valor é mais próximo ao valor de 17,78, obtido por
KATSURAYAMA et al. (2017), do que aos encontrados por Souza e Botrel (2004). A
diferença com os resultados de Souza e Botrel (2004) pode ser justificada pelo fato
desses autores ajustarem os valores de K com o diâmetro efetivo, não sendo
empregado o diâmetro interno medido.
Ao se utilizar o Modelo 2, o menor valor obtido de RMEQ foi de 0,35 m.c.a.
para os coeficientes aK e bK iguais a -10,56 e 92,39, respectivamente. As estimativas
de K em função de aK e bK para NR de 0 a 2000 podem ser visualizadas na Figura
9. Nota-se que ao se utilizar o Modelo 2, os valores de K obtidos condizem com o
exposto por Juana et al. (2002), tendendo a decrescer com o aumento do NR.
38

Comparando-se os valores de carga de pressão estimados com os obtidos


experimentalmente (Figura 10 e Figura 11), nota-se que a dispersão aumentou para
as cargas de pressão maiores.

12

y = 0,9246x + 0,248
Carga de pressão estimada (m.c.a)

10 R² = 0,982

2
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 2 4 6 8 10 12
Carga de pressão observada (m.c.a.)

Figura 10 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e estimado para


microtubos com aplicação do Modelo 1

12

y = 0,9197x + 0,3617
Carga de pressão estimada (m.c.a)

10 R² = 0,9878

2
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 2 4 6 8 10 12
Carga de pressão observada (m.c.a.)

Figura 11 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e estimado para


microtubos com aplicação do Modelo 2
39

Apesar do Modelo 2 apresentar o valor de RMEQ inferior ao Modelo 1, o


último proporcionou erros relativos menores em comparação ao Modelo 2. Para o
primeiro, o erro relativo médio foi 6,20%, sendo que 51,5% dos dados estimados
apresentaram erros menores que 5% e 83,5% apresentaram erros menores que
10% (Figura 12.A). Já para o segundo, o erro relativo médio foi 8,19%, sendo que
45,2% dos dados estimados apresentaram erros menores que 5% e 75,2%
apresentaram erros menores que 10% (Figura 13.A).

A. 100 B. 60
Frequência acumulada

80 50

Erro relativo (%)


40
60
(%)

30
40
20
20 10

0 0
0 20 40 60 0 500 1000 1500 2000
Erro relativo (%) Número de Reynolds

Figura 12 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de pressão observadas e
estimadas (A) e erro relativo em função do Número de Reynolds (B), com aplicação do
Modelo 1

A. 100 B. 60
Frequência acumulada

80 50
Erro relativo (%)

40
60
(%)

30
40
20
20 10

0 0
0 20 40 60 0 500 1000 1500 2000
Erro Relativo (%) Número de Reynolds

Figura 13 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de pressão observadas e
estimadas (A), e erro relativo em função do Número de Reynolds (B), com aplicação do
Modelo 2

Para o Modelo 3, encontrou-se os valores dos coeficientes 0,917, -0,769,


0,828 e 3,427 para a1, b1, c1 e d1, respectivamente, resultando na eq. (32). Apesar
de, aparentemente, esses valores serem próximos aos propostos por Vermeiren e
40

Jobling (1980), por serem de pequena magnitude, as diferenças são suficientes para
quase quintuplicar o valor de RMEQ, o qual foi de 0,133 m.c.a. para os coeficientes
obtidos e 0,653 m.c.a. para os coeficientes propostos pelos autores.

1,1103 Qm1,208 Lm 0,929


Hm = (32)
Dm 4,139

Comparando o Modelo 3 com os dois modelos propostos por Souza e Botrel


(2004), o primeiro apresentou o valor de RMEQ inferior, mesmo com os Modelos 1 e
2 tendo a vantagem de ter dedução teórica. Isso pode ser explicado pelo fato do
Modelo 3 possuir mais coeficientes para ajuste, e consequentemente, diminuição do
erro. Ainda, pode ser incluso na explicação, a variação pequena na temperatura,
sendo a mínima durante o ensaio de 22,3 °C e a máxima de 27 °C, não sendo o
suficiente para manifestar erros no Modelo 3 por não ser incluído esse fator na
estimativa da carga de pressão.
Nota-se na Figura 14 que o ajuste do Modelo 3 em comparação aos Modelos
1 e 2, apresentou dispersão menor entre a carga de pressão observada e estimada,
cuja reta ajustada para os dados quase sobrepõe a reta 1:1. Já os coeficientes
propostos por Vermeiren e Jobling (1980) tenderam a subestimar as cargas de
pressão (Figura 15).

12
Carga de pressão estimada (m.c.a)

y = 1,0002x - 0,0055
10 R² = 0,9976

2
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 2 4 6 8 10 12
Carga de pressão observada (m.c.a.)

Figura 14 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e estimado para


microtubos com aplicação do Modelo 3
41

12

y = 0,9253x - 0,2317

Carga de pressão estimada (m.c.a)


10 R² = 0,9867

2
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 2 4 6 8 10 12
Carga de pressão observada (m.c.a.)

Figura 15 – Comparação entre os valores de carga de pressão observados e estimados para


microtubos com aplicação do Modelo 3, com uso dos coeficientes recomendados por
Vermeiren e Jobling (1980)

Os coeficientes 15,577, -0,791 e 0,934 para a2, b2 e c2, respectivamente,


foram os que apresentaram menor RMEQ, sendo este de 0,115 m.c.a. Ao comparar
os Modelos 3 e 4 (Figura 14 e Figura 16), nota-se que os resultados foram similares,
pois, assim como mencionado anteriormente, a variação na temperatura não foi o
suficiente para mostrar o efeito da viscosidade da água na estimativa de carga de
pressão. Apesar desses resultados, acredita-se que, ao se trabalhar com
temperaturas da água diferentes das ensaiadas, a desconsideração do efeito da
alteração da viscosidade no Modelo 3 fará com que aumente os erros na estimativa
da carga de pressão.
42

12

y = 1,0014x - 0,0115

Carga de pressão estimada (m.c.a)


10 R² = 0,9982

2
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 2 4 6 8 10 12
Carga de pressão observada (m.c.a.)

Figura 16 – Comparação entre os valores de carga de pressão observado e estimado para


microtubos com aplicação do Modelo 4

Substituindo os valores dos coeficientes obtidos no Modelo 4, obtêm-se a eq.


(33). Percebe-se que a relação entre a carga de pressão e a viscosidade cinemática
não é linear, evidenciando que possivelmente, houve influência da viscosidade
cinemática da perda localizada de carga no seu expoente.

21,116 υ0,791 L0,935 Q1,209


Hm = (33)
g D4,144

O erro relativo médio obtido com o Modelo 3 foi 4,06%, sendo que 79,1% dos
dados estimados apresentaram erros menores que 5% e 93,1% apresentaram erros
menores que 10% (Figura 17.A). Já o erro relativo médio verificado no Modelo 4 foi
3,50%, sendo que 83,5% dos dados estimados apresentaram erro menor que 5% e
93,2% apresentaram erros menores que 10% (Figura 18.A).
43

A. 100 B. 60
Frequência acumulada
80 50

Erro relativo (%)


40
60
(%)

30
40
20
20 10

0 0
0 20 40 60 0 500 1000 1500 2000
Erro relativo (%) Número de Reynolds

Figura 17 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de pressão observadas e
estimadas (A) e erro relativo em função do Número de Reynolds (B), com aplicação do
Modelo 3

A. 100 B. 60
Frequência acumulada

80 50
Erro Relativo (%)

40
60
(%)

30
40
20
20 10

0 0
0 20 40 60 0 500 1.000 1.500 2.000
Erro relativo (%) Número de Reynolds

Figura 18 – Frequência acumulada para os erros relativos entre as cargas de pressão observadas e
estimadas (A) e erro relativo em função do Número de Reynolds (B), com aplicação do
Modelo 4

Para os Modelos 3 e 4, nota-se que os erros relativos foram maiores para os


NR menores (Figura 17.B e Figura 18.B). Já para os Modelos 1 e 2, não se percebe
esse padrão (Figura 12.B e Figura 13.B).
Ao se utilizar os modelos com os coeficientes apresentados para estimativa
da vazão, foram encontrados Er médios de 4,76 e 6,51% para os Modelos 1 e 2, e
para os Modelos 3 e 4 os Er médios foram de 3,65 e 3,25%, respectivamente.
Comparando-se as vazões observadas com as estimadas nota-se que, para
os quatro modelos, a reta ajustada para os conjuntos de dados praticamente
sobrepôs à reta 1:1 (Figura 19 a Figura 21). Neste aspecto, destacam-se os Modelos
1 e 2, em que houve um erro maior ao se estimar a carga de pressão do que a
44

vazão.

y = 0,9742x + 0,0488
6 R² = 0,9796
Vazão estimada (L h-1)

1 - - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 1 2 3 4 5 6 7
-1
Vazão observada (L h )

Figura 19 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para microtubos com
aplicação do Modelo 1

6
y = 1,005x - 0,0578
R² = 0,974
Vazão estimada (L h-1)

1
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Vazão observada (L h-1)

Figura 20 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para microtubos com
aplicação do Modelo 2
45

6 y = 0,998x + 0,002
R² = 0,9976

Vazão estimada (L h-1)


5

1 - - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Vazão observada (L h-1)

Figura 21 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para microtubos com
aplicação do Modelo 3

6
y = 1,0003x + 0,0013
R² = 0,998
Vazão estimada (L h-1)

1
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Vazão observada (L h-1)

Figura 22 – Comparação entre os valores de vazões observados e estimados para microtubos com
aplicação do Modelo 4

De maneira similar as vazões, comparou-se os comprimentos dos microtubos


observados com os estimados e verificou-se que os Modelos 3 e 4 tiveram um ajuste
46

melhor do que os Modelos 1 e 2, sendo que a reta ajustada para os conjuntos de


dados praticamente sobrepôs à reta 1:1 (Figura 23 a Figura 25).
Em contrapartida, para os Modelos 3 e 4 houveram pontos discrepantes na
estimativa do comprimento. Esses erros maiores ocorreram para os NR menores
que 250, assim como o ocorrido na estimativa da carga de pressão.
2,4
Comprimento do microtubo estimado (m)

1,6

1,2

0,8

0,4
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4
Comprimento do microtubo observado (m)

Figura 23 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos observados e estimados


com aplicação do Modelo 1

2,4
Comprimento do microtubo estimado (m)

1,6

1,2

0,8

0,4
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4
Comprimento do microtubo observado (m)

Figura 24 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos observados e estimados


com aplicação do Modelo 2
47

2,4

Comprimento do microtubo estimado (m)


2

1,6

1,2

0,8

0,4
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4
Comprimento do microtubo observado (m)

Figura 25 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos observados e estimados


com aplicação do Modelo 3

2,4
Comprimento do microtubo estimado (m)

1,6

1,2

0,8

0,4
- - Reta 1:1
–– Reta ajustada para os dados
0
0 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4
Comprimento do microtubo observado (m)

Figura 26 – Comparação entre os valores de comprimentos dos microtubos observados e estimados


para o Modelo 4

Comparando-se os modelos em relação ao Er na estimativa dos


comprimentos dos microtubos, os Modelos 1 e 2 tiveram adequação inferior aos
Modelos 3 e 4, com Er iguais a 8,39 e 10,52% para os primeiros e 4,82 e 4,65% para
os últimos, respectivamente.
Assim, o erro relativo ao utilizar as equações testadas depende da variável
48

assumida como dependente, sendo que o menor erro relativo ocorreu para
estimativa da vazão para todos os modelos.
49

5 CONCLUSÕES

Foi possível obter uma equação genérica com o método de análise


dimensional, a qual obteve índices de incerteza inferiores a outros modelos de
equações sugeridos por Souza e Botrel (2004) e Vermeiren e Jobling (1980).
Salienta-se que a técnica de análise dimensional se mostrou adequada para
obtenção da equação genérica proposta.
50
51

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