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Material básico para introdução em aprendizagem motora.


Referências utilizadas:
MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.
SCHIMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora – uma abordagem da
aprendizagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed, 2001.

Capítulo 1 – INTRODUÇÃO A APRENDIZAGEM E À PERFORMANCE MOTORA

As habilidades motoras podem ser conceituadas de duas maneiras:

1) Habilidades vistas como tarefa, ou seja, movimentos voluntários do corpo e/ou de


membros para atingir um objetivo. Desta maneira, podem ser classificadas de várias
formas, como, por exemplo: arqueirismo, sinuca, ou o ato de destrinchar um peru no Natal;
2) Habilidades vistas como a distinção entre uma execução de alto nível e uma de baixo
nível.

Na literatura de aprendizagem e controle motor, o termo movimentos se refere a


característica de comportamento de um membro específico ou de uma combinação de membros.
Movimentos são partes que compõem as habilidades.

Classificação de habilidades motoras a partir das dimensões dos grupos musculares envolvidos
na realização da tarefa:

a) Habilidades motoras grossas: para desempenhar essa habilidade motora a pessoa precisa
utilizar grandes músculos e requerer menor precisão quando comparada às habilidades
motoras finas. Exemplos: caminhar, pular, arremessar, saltar, etc.
b) Habilidades motoras finas: essa habilidade requer maior controle de músculos pequenos,
como os envolvidos na coordenação mãos-olhos, e exigem alto grau de precisão no
movimento da mão e dos dedos. Exemplos: digitar, pintar, desenhar, costurar, abotoar.

Classificação de habilidades motoras a partir da perspectiva de tarefa:

Habilidade aqui é entendida como um ato ou uma tarefa. Algumas características são
utilizadas para classificar tarefas, como a organização do movimento, a importância relativa dos
elementos motores e cognitivos e o nível de previsibilidade ambiental envolvendo a performance
da habilidade.

Habilidades classificadas pela organização da tarefa:

a) Habilidade discreta: tarefa caracterizada por início e fim definidos e é geralmente de curta
duração. Exemplos: arremesso ou chute de uma bola, rebatida de uma bola, salto,
recepção de uma bola, arremesso de um dardo, disparo de uma arma, movimentos de
apertar teclas, levantar-se da posição sentada, etc.
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b) Habilidade seriada: são habilidades discretas colocadas em série, formando assim ações
mais complexas e que necessitam de uma seqüência para obtenção de êxito. Requerem
maior duração. Exemplos: trocar marcha de um automóvel, série de exercícios em
ginástica, contorno de obstáculos, como em provas de esqui, escovar os dentes. Durante a
aprendizagem da habilidade seriada os indivíduos se concentram em elementos distintos
da tarefa, posteriormente, após muita prática, são capazes de combinar os elementos para
formar um elemento único e maior.
c) Habilidades contínuas: tarefas em que não há início e fim definidos, caracterizadas por
serem freqüentemente repetitivas ou rítmicas por natureza, com a seqüência de ações
fluindo por vários minutos. Para esses tipos de habilidades, o executante ou alguma
barreira ou marco ambiental (a parede da piscina ou uma linha final) determina a duração
da atividade. Exemplos: nadar, correr, andar de skate, pedalar, patinar no gelo, dirigir
automóvel.

Habilidades classificadas pela importância relativa dos elementos motores e cognitivos:

a) Habilidade cognitiva: a natureza do movimento é menos importante para o sucesso do que


é a decisão ou a estratégia sobre qual movimento realizar. Enfatiza o “saber o que fazer”.
Exemplo: jogo de xadrez – pouco importante a velocidade de movimentação das peças,
mas é importantíssimo decidir qual peça mover e para onde.
b) Habilidade motora: o principal determinante do sucesso do movimento é a qualidade do
próprio movimento, com menor ênfase aos aspectos perceptivos e à tomada de decisão.
Enfatiza principalmente a “execução correta”.
c) A melhor maneira de representar uma habilidade motora sob essas perspectivas é através
de um contínuo, com a habilidade localizada em algum ponto entre os extremos: habilidade
cognitiva e motora

Alguma Tomada de Decisão


Algum Controle Motor

HABILIDADES MOTORAS HABILIDADES COGNITIVAS

Salto em altura Esporte Jogar xadrez


Levantamento de peso Dirigir carro de corrida Cozinhar
Trocar pneu Caminhar em local movimentado Treinar equipe esportiva
Habilidades classificadas pelo nível de previsibilidade ambiental:

a) Habilidade aberta: é aquela realizada em um ambiente que é variável e imprevisível


durante a ação. Em situações de habilidade aberta é difícil para o executante predizer com
eficiência os futuros movimentos do adversário e consequentemente as futuras respostas.
Exemplos: esportes como voleibol, basquetebol, tênis, futebol, beisebol, canoagem em
águas com forte correnteza, etc.
b) Habilidade fechada: uma habilidade executada em ambiente previsível ou parado e que
permite que as pessoas planejem seus movimentos com antecedência. Exemplos: nadar
em uma raia, séries de ginástica, boliche, digitar trabalhos, etc.
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Nesse caso, as habilidades também podem ser representadas através de um contínuo,


estando nos extremos o ambiente previsível e imprevisível e no centro o ambiente semi-
previsível, que inclui tarefas como caminhar na corda bamba, dirigir um automóvel e atravessar
uma rua.

TAXONOMIA DE HABILIDADE MOTORAS DE GENTILE


Função da Transporte Transporte Transporte Transporte
ação corporal: não corporal: não corporal: sim corporal: sim
Contexto Manipulação do Manipulação do Manipulação do Manipulação do
ambiental objeto: não objeto: sim objeto: não objeto: sim
Condições Condições Condições Condições
regulatórias regulatórias regulatórias regulatórias
Condições estacionárias. estacionárias. estacionárias. estacionárias.
regulatórias: Sem Sem Sem Sem
estacionárias variabilidade variabilidade variabilidade variabilidade
Variabilidade intertentativas. intertentativas. intertentativas. intertentativas.
intertentativas: Sem transporte Sem transporte Com transporte Com transporte
não corporal. Sem corporal. Com corporal. Sem corporal. Com
manipulação do manipulação do manipulação do manipulação do
objeto objeto objeto objeto
Condições Condições Condições Condições
regulatórias regulatórias regulatórias regulatórias
Condições estacionárias. estacionárias. estacionárias. estacionárias.
regulatórias: Com Com Com Com
estacionárias variabilidade variabilidade variabilidade variabilidade
Variabilidade intertentativas. intertentativas. intertentativas. intertentativas.
intertentativas: Sem transporte Sem transporte Com transporte Com transporte
sim corporal. Sem corporal. Com corporal. Sem corporal. Com
manipulação do manipulação do manipulação do manipulação do
objeto objeto objeto objeto
Condições Condições Condições Condições
regulatórias em regulatórias em regulatórias em regulatórias em
Condições movimento. movimento. movimento. movimento.
regulatórias: Sem Sem Sem Sem
em movimento variabilidade variabilidade variabilidade variabilidade
Variabilidade intertentativas. intertentativas. intertentativas. intertentativas.
intertentativas: Sem transporte Sem transporte Com transporte Com transporte
não corporal. Sem corporal. Com corporal. Sem corporal. Com
manipulação do manipulação do manipulação do manipulação do
objeto objeto objeto objeto
Condições Condições Condições Condições
regulatórias em regulatórias em regulatórias em regulatórias em
Condições movimento. movimento. movimento. movimento.
regulatórias: Com Com Com Com
em movimento variabilidade variabilidade variabilidade variabilidade
Variabilidade intertentativas. intertentativas. intertentativas. intertentativas.
intertentativas: Sem transporte Sem transporte Com transporte Com transporte
sim corporal. Sem corporal. Com corporal. Sem corporal. Com
manipulação do manipulação do manipulação do manipulação do
objeto objeto objeto objeto
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Influências das condições reguladoras estacionárias e em movimento no


controle de habilidades

CONTEXTO AMBIENTAL ESTACIONÁRIO

Aspectos espaciais: o ambiente não está em movimento e o timing da ação é controlado pelo
participante.

Exemplo: Segurar uma xícara; subir lances de escada; dar a primeira tacada no jogo de golfe;
lançar dardos num alvo.

CONTEXTO AMBIENTAL EM MOVIMENTO

Aspectos espaciais: o ambiente está em movimento e o timing da ação é controlado pela tarefa.

Exemplo: subir por uma escada rolante; ficar em pé num ônibus em movimento; atingir uma bola
que se aproximando de você; agarrar uma bola em vôo.

Uma aplicação prática da dimensão contexto ambiental da taxonomia de


Gentile na organização de instruções para o ensino de habilidades abertas

Os profissionais que ensinam habilidades motoras podem aplicar a taxonomia de Gentile ao


ensino de habilidades abertas, colocando as quatro componentes da dimensão no contexto
ambiental da taxonomia em um continuum de habilidades aberta/fechada. De acordo com a figura
abaixo, é possível desenvolver uma progressão lógica de habilidades totalmente fechadas para
habilidades totalmente abertas a partir dessas componentes.

Habilidade Habilidade
totalmente totalmente
fechada aberta

Estacionárias Estacionárias Em movimento Em movimento

Sem Com Sem Com


variabilidade variabilidade variabilidade variabilidade
intertentativa intertentativa intertentativa intertentativa

Exemplo: Objetivo do ensino = ensinar uma pessoa bater numa bola de beisebol atirada por um
lançador durante um jogo.
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De acordo com a progressão deveria ocorrer a seguinte sequência de eventos práticos:


1) A parte prática tem início com uma versão totalmente fechada da habilidade aberta; o
instrutor ou treinador mantém as condições reguladores “estacionárias” e “sem” variabilidade
intertentativa.
>>>> o aprendiz bate na bola que está sobre um suporte de lançamento mantido sempre com a
mesma altura em cada tentativa de prática;

2) Na versão seguinte da habilidade, o instrutor ou o treinador mantém as condições


reguladoras “estacionárias”, mas “com” variabilidade intertentativa (habilidade
moderadamente fechada).
>>>> o aprendiz bate na bola que está sobre um suporte de lançamento, mas cuja altura varia
em cada tentativa de prática;

3) A prática prossegue com uma versão aberta da habilidade, o instrutor ou o treinador mantém
as condições reguladoras “em movimento”, mas “sem” variabilidade intertentativa (habilidade
moderadamente aberta).
>>>> a bola é colocada em movimento por uma máquina de lançamento que mantém constante
a velocidade e a posição de cada lançamento;

4) Finalmente o instrutor ou o treinador torna a prática do aprendiz uma habilidade totalmente


aberta; as condições reguladoras são “em movimento” e “com” a variabilidade intertentativa.
>>>> um jogador lança a bola aplicando diferentes velocidades e posições de lançamento em
cada tentativa de prática.

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