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ESTUDOS BÍBLICOS

—^

ESTUDS
"A Serviço do Reino

Rua Maria Olínda, 22 - Caixa Postal 22


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Capa
Franco e Associados
(São Paulo - SP)

Editoração Eletrônica
William Buchacra
(Belo Horizonte)

Impressão
Editora Betânía
(Belo Horizonte - MG)

i ^'
: E proibida a reprodução parcial ou total (inclusive através de
fotocópias), sem a autorização expressa da DIDAQUE.

"A DIDAQUE não possui representantes ou distribuidores.


Os pedidos devem ser feitos diretamente à Entidade.
presente série de Estudos focaliza as Cartas cuja autoria atribui-se
ao apóstolo Paulo.
O estudo destas Cartas nos permite ver em Paulo, não apenas o intelec-
tual ou o teólogo, mas, acima de tudo, o pastor. O mesmo homem que demons-
tra possuir respeitável bagagem intelectual, contundente em suas argumenta-
As, que desenvolve o seu ministério de forma enérgica e, às vezes, até severa,
e o mesmo homem que em todas as Cartas, de forma explícita ou nas entreli-
nhas, deixa transparecer a ternura de um coração meigo e carinhoso.
Todas as Cartas conservam um tom essencialmente pastoral.
"Escrevendo às comunidades, compara-se à mãe que acaricia os filhi-
nhos e é capaz de dar a vida por eles (l Ts 2.7-8). Sente pelos fiéis novamente as
dores do parto (Gl 4.19). Ama-os, e por isso se sacrifica ao máximo por eles (II
Co 12.15). Mas é também pai que educa (l Ts 2.11), que gera as pessoas, por
meio do Evangelho, à vida nova (l Co 4.15). Sente, pelas comunidades que
fundou, o ciúme de Deus (II Co 11.2), temendo que elas percam afé. Quando se
faz necessário, é severo e ameaça, exigindo a obediência (l Co 4.21).
Paulo é capaz de amartodos os membros de todas as comunidades, sem
distinções. Constantemente os chama 'queridos' e 'amados" (Bíblia Sagrada
Edição Pastoral. Introdução Geral às Cartas de Paulo, p. 1437).
Este é o volume 44 dos Estudos Bíblicos DIDAQUÊ. Com certeza, estes
Estudos propiciarão a todos a oportunidade para se conhecer melhor os
^inamentos de Paulo. Além disso, desafiarão cada um a viver a sua vida cristã
com mais coerência, maturidade e consagração.
Às igrejas, com carinho,
BIBLIOTECA DIDAQUÊ
Pró f. António de Pádii*.
Volume;

"A Serviço do Reino'

Manhumirim, outubro de 1998.


INFORMAÇÕES E SUGESTÕES
Este volume contém 13 Estudos Para tornar o aprendizado mais eficaz, su-
Bíblicos sobre as Cartas escritas gerimos aos professores ou coordenadores
pelo apóstolo Paulo. Os Estudos de grupos, os seguintes procedimentos;
possuem a seguinte estrutura: • Examinar, rotineiramente, obras de cu-
Introdução. nho didático-pedagógico, afim de aperfeiço-
A Epístola - Oferece uma breve introdu- ar-se na tarefa de ensinar, dominando j
ção à Carta a ser estudada, com informações pios e técnicas de aprendizagem;
de cunho histórico, geográfico e literário. • ir além do texto apresentado na revista,
Lições Principais - Apresenta os tópicos buscando, noutras fontes, dados e informa-
principais da Carta, permitindo uma visão glo- ções complementares;
bal da mensagem nela contida. Esses tópi- • Utilizar a Bíblia como principal e indis-
cos salientam a relevância dos ensinos apre- pensável fonte de pesquisa;
sentados, buscando a atualização e aplica- • Valer-se de ferramentas como Dicioná-
ção da mensagem. rio da Língua Portuguesa, Chave Bíblica, Dici-
Os "Estudos Bíblicos DIDAQUÊ" são apro- onário Bíblico, Comentários Bíblicos etc., a
priados para classes de Escola Dominical (jo- fim de facilitar o enriquecer o preparo das
vens e adultos), bem como para outros gru- aulas e tornar mais eficaz a ministração;
pos de estudos. • Buscar sempre a iluminação do Espírito
Por estarem desvinculados dos currícu- Santo durante o período prévio de prepara-
los de Escola Dominical, tradicionalmente es- ção, e depender da mesma iluminação para
tabelecidos, podem ser adotados em qual- conduzir a aula, fazendo tudo isso com es-
quer época, e adaptados segundo o progra- mero e dedicação;
ma de Educação Cristã elaborado pela pró- • Valorizar a totalidade do Estudo, evi-
pria igreja, a partir de suas necessidades tando o distanciamento do assunto em ÍQÍ
contextuais. Esse material é fortemente ca- e administrar bem o tempo para não se i
racterizado por sua linguagem de fácil com- em determinadas partes do Estudo, em de-
preensãorcom-o*enfoj|ue delemas da atuali- trimento de outras;
dacfe"fe'^ífná;d6-Mô;icoJrTí'iQ: cuidado e o • Assumiraíunção de mediador do grupo,
equilíbrio na-utilizaçãoe interpretação do texto sem monopolizar a palavra, evitando oferecer
bíbjico, sempre numa perspectiva teológica respostas prontas, bem como impor o seu
Retofnhátiàv • • • * - - • • ponto de vista como única e absoluta expres-
íAí£í£lyroa contribuição ':ao debate e à são da verdade;
reflexão-*e^m^n^um.mbme'nto, tem-se a • Relacionar as mensagens e os desafios
pretensão de se fazer do mesmo a última pa- ao cotidiano dos integrantes do grupo, incen-
lavra sobre as questões abordadas, tivando-os-a colocar em prática as lições apren-
dogmaíízando-as; é, na verdade, o ponto de didas e despertando-os para a ação, no senti-
partida. do de concretizar os objetivos do Estudo.
ÍNDICE

01.ROMANOS
"O Justo viverá porte"... 04
02.l CORÍNTIOS
A Vida Cristã Zelosa. 07
í.II CORÍNTIOS
03.1
Do Fundo do Coração 10
04.GÁLATAS
Uma Igreja com Outro Evangelho 13
05.EFÉSIOS
Cristo e a Igreja 16
06.FILIPENSES
A Vida Comunitária da igreja 19
07.COLOSSENSES
A Pessoa e a Obra de Cristo.. 22
08.l TESSALONICENSES
Uma Igreja Modelo 25
l TESSALONICENSES
Desesperar, Jamais! 28
10.1 TIMÓTEO
instruções a um Líder Jovem 31
11.II TIMÓTEO
A Luta pelo Ministério Cristão 34
12.TITO
A Reforma da Igreja........ 37
13.FILEMON
Solidariedade e Dignidade 40
ROMANOS
"O justo viverá por fé"

Romanos 1.16,17

^^^* Nós podemos perceber hoje EM DIA COM A PALAVRA |


em dia o grande interesse de- Segunda Romanos 2 |
monstrado pelas pessoas, Te ri a Romanos 3 |
quanto à busca por Deus e a comunhão Quarta Romanos 5 -_ l
com Ele. Porém, nem sempre essas Quinta Romanos 6 ^M
pessoas se submetem às orientações Sexta Romanos 8 |
da Palavra de Deus para que tal experi- Sábado Romanos 10 1
ência se concretize. Domingo Romanos 12 1
Muitos caminhos têm sido tentados
pelo homem: cumprimento de leis e De acordo com a Bíblia existe uma úni-
mandamentos, prática de boas obras, ca maneira para que o pecador possa
abstinências e penitências, auto- chegar até Deus. É o caminho da justi-
flagelação, superstições, meditação ficação pela fé em Cristo. Este é o tema
transcendental, reencarnação etc. En- da carta aos Romanos.
tretanto, todos esses caminhos são Mas, afinai, o que é "Justificação"?
equivocados e ineficazes para que o No quadrinho abaixo temos uma defi-
homem seja justificado diante de Deus. nição resumida desta doutrina.

A EPISTOLA
A carta aos Romanos, sencialmente doutrinário.
de autoria de Paulo, po- "Justiflcação é um ato Nas palavras do Prof.
rém, escrita por Tércio da livre graça de Deus3 Findlay "esta é a obra^fc
(16.22), foi endereçada no qual ele perdoa ma de Paulo. Nós o apre-
aos cristãos que viviam todos os nossos ciamos aqui em toda a
em Roma. Não se sabe ao pecados e nos aceita sua grandeza como pen-
certo como foi a origem como justos diante de sador e teólogo constru-
dessa igreja. Porém, era sí, somente por causa tivo. A epístola aos Roma-
uma igreja de renome da justiça de Cristo a nos' é a expressão com-
mundial (1.8; 16.19). A nós imputada, e pleta e amadurecida das
carta foi escrita entre os recebida só pela fé". principais doutrinas do
anos 56 e 58 A.D., na ci- (Breve Catecismo de apóstolo, que as revela na
dade de Corinto. É um es- Westmimter) devida ordem e
crito substancioso e es- proporção e as
combina em um todo orgânico. Para os vela e se expõe a maneira como Deus
propósitos da teologia sistemática, tra- justifica. Seus versos-chave são
ta-se do livro mais importante da Bíblia. 1.16,17. Estes dois versos podem ser
Mais que qualquer outro, ele determi- considerados como o texto, e o restan-
nou o curso do pensamento cristão" te da carta como sendo o sermão" (A
(Examinai as Escrituras /J.S.Baxter, Bíblia em Esboço, Editora Dois Irmãos
Vida Nova, SP, p.69). Ltda., RJ).
O primeiro contato de Paulo com a "O apóstolo expõe de maneira sere-
igreja de Roma se deu através desta car- na, ordenada e aprofundada, a doutri-
ta. Nela o apóstolo expõe o seu pensa- na que já havia exposto de modo polé-
mento teológico, objetivando conquis- mico na carta aos Gaiatas: a gratuidade
tar a confiança e o apoio dos cristãos da salvação pela fé. Ele mostra que só
, de quem esperava que se tor- Deus pode salvar e que ele salva não
seus companheiros de luta apenas os judeus, mas toda a humani-
(15.30-33). Entretanto, sobre o propó- dade destruída pelo pecado. E Deus sal-
sito geral, Robert Lee declarou: "Esta va através de Jesus Cristo" (Bíblia Sa-
carta responde à pergunta dos sécu- grada Edição Pastoral).
los: 'Como se justificará o homem com Paulo é categórico em afirmar que
Deus?' (Jó 9.2). Ninguém pode julgar- "o justo viverá por fé". Porém, como
se justo se não se justificar com seu se dá esta experiência e quais as suas
Criador. É, ainda nesta carta que se re- implicações? É o que veremos a seguir.

1. A JUSTIFICAÇÃO PELA FE tuação, tornando-se justo diante de


No capítulo 1.16,17 o apóstolo de- Deus, o caminho a ser trilhado não é o
clara: "Pois não me envergonho do dos méritos pessoais (3.19,20,28). A
evangelho, porque é o poder de Deus justificação se dá "mediante a fé em
para a salvação de todo aquele que Jesus Cristo, para todos (e sobre to-

» prime iro do judeu e também do


o; visto que a justiça de Deus se
revela no evangelho, de fé em fé,
como está escrito: O justo viverá por
dos) os que crêem; porque não há dis-
tinção, pois todos pecaram e care-
cem da glória de Deus, sendo justifi-
cados gratuitamente, por sua graça
fé". mediante a redenção que há em Cris-
Os três primeiros capítulos desta to Jesus" (3.22-24). Esta é a essência
carta descrevem a real condição do ser da mensagem evangélica. E esse con-
humano: "Não há justo, nem sequer ceito de justificação é explanado do iní-
um, não há quem entenda, não há cio ao fim nesta carta. Ele transforma-
quem busque a Deus; todos se extra- se em uma "marca registrada" da teo-
viaram, à uma se fizeram inúteis; não logia de Paulo.
há quem faça o bem, não há nem um Atualmente, quando as pes-
sequer" (3.10-12). E para sair desta si- soas têm revelado grande sede
espiritual, muitos são aqueles que têm cação é uma obra da livre graça de
adoíado conceitos, atitudes e caminhos Deus. E a consagração para o serviço
erróneos no anseio do encontro com é uma resposta do crente a esta graça.
Deus. Porém, há um só caminho e este "Por causa dessas misericórdias, cada
é o da justificação pela fé em Cristo (5.1; crente deveria preencher a sua função
8.1). particular com diligência e simplicida-
de. Semelhantemente, no Estado, cada
2. A MOTIVAÇÃO À OBEDIÊNCIA crente deve ser um bom cidadão. E nas
"Em resposta à acusação de que a questões sociais os crentes mais ma-
justificação pela fé encoraja o pecado _ duros deveriam acomodar-se aos ir-
"Permaneceremos no pecado, para mãos mais fracos, que ainda estão pre-
que seja a graça mais abundante?" sos a escrúpulos supersticiosos 11 (A
(6.1) _ o apóstolo explica que o crente Bíblia Vida Nova).
sincero voltou-se para Cristo a fim de Esse serviço deve ser desenvoK
escapar do pecado. Justificação produz nas diversas esferas de nossa vivência
santificação" (A Bíblia Vida Nova). como se pode ver nesta carta: a Deus
A justificação é uma graça (12.1,2); à igreja (12.3-8); aos irmãos
transformadora que permite ao crente na fé (12.9-13; 14.1 a 15.7); ao Estado
andar em novidade de vida. De escravo (13.1-7); aos homens em geral (12.14-
do pecado o homem passa à condição 21; 13.8-10).
de servo de Deus. E através de uma Na carta aos Efésios, ao tratar deste
vida obediente ele se empenha no exer- assunto, Paulo fala não só da natureza
cício da santificação. Tal procedimento da justificação, mas também de seus
confirma e evidencia a experiência da resultados e desafios: "Pois somos
justificação; também possibilita a cer- feitura dele, criados em Cristo Jesus
teza da salvação em Cristo (6.22,23). para boas obras, as quais Deus de
O Espírito Santo habilita o indivíduo antemão preparou para que andásse-
a obedecer a Deus voluntária e mos nelas" (Ef 2.10). Na carta escrita
prazerosamente. É como diz Paulo: a Tito, Paulo novamente mostra que as
"Havemos de pecar porque não esta- implicações finais da justificação api-
mos debaixo da lei, e, sim, da graça? tam para o serviço, as boas obraflp
De modo nenhum" (6.1,2,15). 2.11-14). Da mesma forma, o apóstolo
Em II Tessalonicenses 2.13-17, o Pedro afirma que a nossa justificação
apóstolo exorta os cristãos a esse vi- deve resultar em serviço: "a fim de
ver obediente, próprio de quem já foi proclamardes as virtudes daquele
justificado. que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz" (l Pé 2.9).
3. O DESAFIO AO SERVIÇO A justificação nos transforma em ser-
A obra da justificação transforma o vos de Deus e nos desafia ao serviço.
homem também no sentido de torná-
lo útil em todos os seus relacionamen- Aulor: Rev. Eneziel Peixoto de Andrade
(Afanlnimirim - MG)
tos. Como já foi dito no início, a justifi-
l CORINTIOS
A Vida Cristã Zelosa

l Coríníiôs4.14ÍV''"'

i dos maiores desafios da EM DIA COM A PALAVRA


vida cristã, com certeza, diz Segunda I Coríntios 1
respeito à conduta dos cren- Ter$a I Coríntios 3
tes Uma conduta cristã determinada Quarta I Coríntios 5 e 6
Quinta
amor e marcada por simplicida- I Coríntios 8
Sexta [ Coríntios IO
de, equilíbrio e por uma fidelidade a Sábado
I Coríntios 12 e 13
toda prova, continua sendo para mui- Domingo [ Coríntios 14 e15
tos uma grande desafio. Entretanto, a
vida cristã não se limita ao conheci-
mento de conceitos teológicos e dou- os cristãos ao cultivo de uma vida cris-
trinários corretos ou à busca de expe- tã cheia de amor e zelo. Todas as rea-
riências extraordinárias. A vida cristã lizações do cristão tornam-se nulas
é prática, é testemunho. O evangelho quando não são a expressão de uma
não é uma teoria, é vida. vida cristã zelosa. A espiritualidade
A primeira carta aos Goríntios é um pessoal é determinante para a qualida-
escrito onde o apóstolo Paulo exorta de da religião que professamos.

A EPISTOLA

A igreja de Corinto foi fundada pelo rã. O conteúdo desta carta é essencial-
^ptolo Paulo por ocasião de sua se- mente prático. O seu propósito está cla-
gfrnda viagem missionária (At 18.1-8; l ramente definido no capítulo 4.14-21.
Co 4.15). A carta que estamos estudan- Paulo a escreveu a fim de restabelecer
do foi escrita quando Paulo estava em a unidade da igreja e corrigir desvios
Éfeso (l Co 16.8). Esta carta conhecida constatados em 'diversas áreas. A igre-
como "l Coríntios" é, na verdade, a se- ja estava experimentando graves pro-
gunda carta escrita por Paulo a esta blemas: divisões, imoralidades, deman-
igreja. Anteriormente ele já havia escri- das, desajustes familiares, desvios
to uma outra carta (5.9). Como não se litúrgícos,: superficialidade doutrinária
tem notícia daquela carta, a segunda, etc. ',
isto é, a que estamos estudando, ficou Ao apontar os desvios, exor-
então conhecida como sendo a primei- tando a igreja a se corrigir, Pau-
[o deixa bem claro quão necessário é ta indica que esse zelo deve se eviden-
que os crentes desenvolvam uma vida ciar em diversos aspectos da vida cris-
cristã zelosa. A mensagem dessa car- tã, como veremos a seguir.

1. RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS 2. COMPORTAMENTO EXEMPLAR


A primeira exortação encontrada na Os capítulos 5 e 6.12-20 tratam de
carta diz respeito ao relacionamento problemas relacionados à conduta
entre os cristãos: "Rogo-vos, irmãos, moral dos crentes; "Geralmente se
pelo nome de nosso Senhor Jesus ouve que há entre vós imoralidade..."
Cristo, que faieis todos a mesma (5.1). m
cousa, e que não haja entre vós di- A sociedade coríntia era extremcP
visões; antes sejais inteiramente uni- mente tolerante e permissiva no que se
dos, na mesma disposição mental e refere à moralidade. A licenciosidade era
no mesmo parecer" (1.10). A vida uma característica marcante daquela
cristã zelosa tem como base a unida- sociedade. E pode-se deduzir, a partir
de cristã. do que Paulo escreve, que muitos dos
Em Corinto havia contendas e divi- membros da igreja eram influenciados
sões (.1.11-13; 3.1-4; 11.17,18). Havia pelo estilo de vida da cidade.
irmãos demandando uns contra os ou- Ser cristão em uma sociedade não-
tros e recorrendo'a tribunais pagãos. cristã, continua a ser um desafio para
Paulo censura duramente a atitude des- todos nós, pois, há uma enorme pro-
sas pessoas (6.1-8). Estas questões es- pensão para que a conduta pessoa! seja
tavam desestabilizando a igreja. determinada pelos padrões da socieda-
O bom relacionamento entre os ir- de. É por esta razão que Paulo exorta os
mãoç é essencial para a edificação da cristãos, dizendo: "Já em carta vos es-
igreja (SI 133). Infelizmente é possível crevi que não vos associásseis com
verificar também hoje em muitas igre- os impuros" (5.9); "Fugi da impurez^
jas, problemas de relacionamento en- (6.18). Escrevendo a Timóteo, Paul SP
tre irmãos. A falta de zelo nesse aspec- exorta, dizendo: "torna-te padrão dos
to da vida cristã, além de inconcebível, fiéis, na palavra, no procedimento, no
produz constrangimento, mal-estar, e amor, na fé, na pureza3' (i Tm 4.12). É
traz enormes prejuízos para a causa oportuna também a exortação de Pedro:
cristã. "Como filhos da obediência, não vos
Relacionamentos saudáveis é o que amoldeis às paixões que tínheis ante-
o Senhor requer e espera de todos os riormente na vossa ignorância; pelo
seus filhos. A Bíblia está repleta de exor- contrário, segundo é santo aquele que
tações nesse sentido (Rm 12.9-21; II vos chamou, tornai-vos santos tam-
Co 13.11; Ef 4.1-5, 31,32; Fp 2.1-4; Cl bém vós mesmos em todo vosso pro-
3.12-16). cedimento" (l Pé 1.14,15).
Segundo Léon Morris, "primeira- de alguns, da ressurreição dos mortos
mente e antes de tudo, l Coríntios é uma (15.12).
carta- que visa à reforma do comporta- A doutrina da ressurreição é funda-
mento". mental para o evangelho. É por isso que
Paulo argumenta, dizendo: "E se não
3. VIDA DEVOCIONAL EQUILIBRADA há ressurreição de mortos, então Cris-
Um outro problema que também es- to não ressuscitou. E, se Cristo não
tava comprometendo a estabilidade da ressuscitou, é vã a nossa pregação
igreja em Corinto era a falta de equilí- e vã a vossa fé; e somos tidos por
brio e sensatez nas práticas falsas testemunhas de Deus..."
devocionais. A carnalidade tomara o (15.13-15).
lugar da espiritualidade. Alguns não Firmeza doutrinária não era o forte

« seguiam separar a devoção a Deus,


práticas idolátricas (8.7; 10.14-22).
Outros se julgavam acentuadamente
espirituais, contudo pensavam apenas
dos coríntios. No capítulo 3 desta carta
Paulo os considera crianças em Cristo
e afirma: "Leite vos dei a beber, não
vos dei alimento sólido; porque ain-
em si próprios, tornando-se causa de da não podíeis suportá-lo. Nem ago-
tropeço para os mais fracos ra podeis, porque ainda sois carnais"
(10.32,33). A celebração da Santa Ceia (3.1,2). O exercício dos dons espiritu-
havia se descaracterizado (11.17-34). ais ou a liberalidade na contribuição -
Os dons espirituais estavam trazendo qualidades típicas dos coríntios - não
problemas, em vez de promover a eram suficientes. Faltava firmeza dou-
edificação da igreja (12.7; 14.12). O trinária. E esta firmeza é a base de tudo.
culto estava carecendo de ordem e de- Os primeiros cristãos perseveravam na
cência (14.40). doutrina (At 2.42). E os coríntios devi-
Atualmente é possível constatar em am fazer o mesmo. É por isso que Pau-
muitas igrejas a falta de equilíbrio nas lo conclui o capítulo 15 - o mais dou-
práticas devocionais. Os extremismos trinário desta carta - recomendando:
em nada contribuem para a edificação "Portanto, meus amados irmãos,
da igreja; pelo contrário, podem preju- sede firmes, inabaláveis..." (15.58).

» • a sua unidade e o seu progresso.


auio procura mostrar também que
o zelo devocionai só tem valor quando
Várias igrejas hoje têm se mostrado
deficientes no que diz respeito à firme-
za doutrinária. Há crentes que já somam
muitos anos de caminhada sem, con-
é determinado peio amor; "Todos os
vossos aios -sejam feitos com amor" tudo, demonstrar maturidade, cresci-
(16.14). No capítulo 13 ele trata espe- mento, convicção e firmeza doutriná-
cificamente desse tema ao discorrer so- ria. É urgente uma auto-anáiise à luz das
bre o amor, o dom supremo. "Se não advertências de Hebreus 5.11 a 6.3,
tiver amor..." onde o autor exorta os cristãos ao pro-
gresso na fé.
4. .FIRMEZA DOUTRINÁRIA
Outro problema que estava pertur- Autor: Rev. Eneziel Peixoto í/e Andrade
bando a igreja era a negação, por parte (Afattlttimirint - MG)
IICORINTIOS
Do Fundo do Coração

II Coríntios 11,16-12.13

D é fácil falar com a alma EM DIA COM A PALAVRA


ou com o coração. Desde cedo, Segunda II Coríntios 1.1-2.4
somos educados a guardar os Ter(a IICorintios2.I4-3.18
nossos sentimentos e emoções. Por Quarta II Coríntios 4.1-18
exemplo, raramente admitimos as nos- Quinta II Coríntios 5.1-6.13
sas [imitações e fracassos, principal- Sexta II Coríntios 8.1-24
mente de forma pública, pois corremos Sábado II Coríntios 9.1-15
o risco de sermos mal interpretados Domingo II Coríntios 1 0 . I - I 1 . I 5
ou considerados fracos ou até incré-
dulos. Somos seres excessivamente bedoria e cultura (1.12; 3.18-23; l Co
racionais e comumente desprezamos 1.17-2.16). O apóstolo Paulo dispunha
o nosso lado emocional. Hoje, fala-se desta qualificação, mas ao escrever II
muito de inteligência emociona], con- Coríntios, opta por uma linguagem ínti-
siderando que a pessoa não é apenas ma que nasce da sinceridade de seus
um ser racional. E isto pode transfor- sentimentos, e pretende identificar-se
mar profundamente a nossa visão de com os problemas emocionais de seus
vida. leitores. Falando de coração para cora-
Neste aspecto, a igreja da atualida- ção, o apóstolo envia uma mensagem
de não difere muito da igreja de Corinto, de conforto e encorajamento - uma ne-
que exigia discursos bem elaborados cessidade comum aos cristãos de to-
por um pregador que demonstrasse sã- das as épocas.

A EPSTOLA
Em sua primeira epístola, Paulo abor- ção. Certamente, estes pregadores se
dou alguns problemas da comunidade aproveitavam da ausência de Paulo e
de Corinto, como: divisões, mau teste- da situação de fragilidade e persegui-
munho, problemas conjugais, idolatria ção dos coríntios. O apóstolo precisa
etc. Acontece que novas informações defender-se de suspeitas e calúnias re-
chegaram ao conhecimento do após- ferentes à sua pessoa. À semelhança
tolo, indicando que "falsos" pregado- de outras epístolas, II Coríntios possui
res questionavam na comunidade a sua características próprias. Porém, como
autoridade apostólica. Para isto, utiliza- diz Karl H. Schelkle, "carta algu-
vam as armas da calúnia e da difama- ma é tão pessoal e tão apaixo- ^ ^

10
nada como esta (...), nenhuma epísto- se de mais de uma carta de Paulo, sem
la permite vislumbrar a grandeza huma- uma sequência cronológica. Acontece
na e espiritual do apóstolo Paulo. Ela que, após a remessa da primeira carta, o
guinda seu autor à altura dos maiores apóstolo passou por adversidades. Nes-
homens, dos maiores teólogos e dos se tempo, enviou mensagens diferentes:
maiores santos da igreja em todos os ora defendendo-se de acusações, outras
tempos". Podemos dizer, portanto, que vezes, solicitando doações para irmãos
aqui, o apóstolo Paulo ab're a sua alma necessitados, ou compartilhando experi-
e fala do fundo do coração. ências, ou encorajando aos cristãos. Po-
Vários problemas textuais dificultam a rém, a redação do texto, na forma pre-
compreensão da mensagem de I I sente, revela o desejo pessoal e sincero
Coríntios. A unidade do texto é questio- do coração do apóstolo Paulo em forta-
, uma vez que II Coríntios compõem- lecer a fé dos cristãos.

O estudo de II Coríntios traz precio- prosperidade como evidência "da bên-


sas ô interessantes lições aos cristãos ção", o apóstolo admite as lutas e vitó-
de todas as épocas, e dentre elas des- rias, mas também os fracassos e der-
tacamos; rotas, como sinal da presença constan-
te do Senhor em seu ministério. Ao con-
viver com provações, aflições ou ten-
1. A HUMANIDADE DO tações, devemos louvar a Deus e per-
SERVO DE DEUS severar firmes, pois haveremos de cres-
Inicialmente, a epístola torna-se im- cer na fé (Tg 1.2-4).
portante por mostrar o cristão como O apóstolo também ensina-nos
uma pessoa comum- e normal, sujeita quanto à importância de compartilhar
às situações comuns da vida. Paulo com a comunidade as nossas experi-
reivindica a sua autoridade apostólica, ências. Paulo despe a sua alma peran-

» rtír de uma experiência profunda


Deus. No texto principal, percebe-
se que ele abre o seu coração e admite
te a igreja, e mostra a possibilidade de
se ver as pessoas como são, sem
máscaras, sem fingimento, sem ence-
as suas fraquezas. Tudo foi experimen- nação. Os filhos de Deus são pessoas
tado peio amor ao Senhor e à sua cau- normais, finitas e limitadas, sempre
sa. Como era do conhecimento da co- carentes da graça de Deus (Rm 3.23).
munidade, Paulo entregou-se (de cor- Ao ouvir a experiência de um irmão, a
po e alma) à obra missionária, movido igreja madura jamais cederá à tenta-
por uma visão celestial. E a sua dedica- ção de comentar ou divulgar o assun-
ção levou-o a enfrentar toda sorte de to com os outros, gerando fofocas e
adversidade. desconfiança nas pessoas; mas,
Eis uma preciosa lição para nós! En- aprenderá a interceder e a crés'
quanto muitos pregam o sucesso e a cer na fé.
11
2. A DISPOSIÇÃO PARA desmoralizá-lo perante a comunidade.
CONTRIBUIR COM A OBRA Paulo enfrenta os opositores com firme-
Nesta epístola, o apóstolo mencio- za e determinação, e repreende os cris-
na a necessidade dos irmãos de Jeru- tãos que deram ouvidos àquelas calúni-
salém, a igreja-mãe, vítima da grande as. Como é visível na leitura do texto, a
fome causada pela fraca colheita de 48 artimanha deste tipo de gente, geralmen-
a.C. Da Macedônia, Paulo extrai um te, é feita através de difamações, suspei-
exemplo para as demais igrejas quanto tas e calúnias. O ministério de Paulo era
à bênção da contribuição (8). Para esta conhecido dos coríntios, e eles haveriam
grande coleta, semelhante às nossas de distinguir entre os verdadeiros e os
campanhas beneficentes, os cristãos falsos missionários. Em II Coriníios 12.11-
devem abrir os seus corações e ofere- 18, o apóstolo apresenta as marcas do
cer as suas doações, lembrando que a verdadeiro missionário, que caracterÍ2
oferta é proporcional à motivação do se por perseverança em meio às tribí
coração e as suas posses, sem mes- coes, dedicação incondicional à obra, de-
quinhez, sem tristeza, ou movida só por sapego material, autenticidade e sinceri-
necessidade, pois "Deus ama a quem. dade de coração etc.
dá com alegria" (9.7). Passam-se os tempos, mudam-se
Constantemente, somos desafiados a as épocas, mas pessoas mal-intencio-
oferecer a nossa solidariedade às pesso- nadas continuam a se infiltrar no meio
as. Por exemplo; socorrer às vítimas da do rebanho, causando muitos males
seca, do frio, das catástrofes ou das in- aos abnegados servos e dedicadas ser-
justiças sociais; doar agasalhos, cober- vas. A igreja deve manter-se alerta e cau-
tores, calçados, alimentos etc., visando telosa quanto aos que, em nome de
amenizar o sofrimento de alguns. As igre- uma boa causa, adentram à comunida-
jas deveriam solidarizar-se com a neces- de, com atraentes opções, mas que ter-
sidade dos outros, desenvolvendo mais minam por prejudicar os líderes e, de-
do que campanhas assistenciais ou in- pois, toda a comunidade. O apóstolo
tercessão em favor dos carentes. É reco- recomenda, inclusive, um exame pes-
mendável a adoção de povos ou grupos, soal profundo para verificar se os
oferecendo-lhes condição de vida digna tes estão permanecendo firmes;
dos seres criados à imagem e semelhan- muitos são levados por ventos de dou-
ça de Deus. Vamos aprender a repartir o trinas, rebelando-se contra a autorida-
pão e a cultivar a solidariedade cristã, mo- de de seus líderes espirituais.
vidos pelo amor, mas através de atitudes Por isto, ensina a epístola a buscar-
concretas, como recomendava Paulo. mos as motivações mais íntimas que
nascem do fundo do coração, porque
3. O TRATAMENTO ADEQUADO "dele procedem as fontes da vida"
AOS OPOSITORES (Pv 3.24).
Nos capítulos 10 a 13, o apóstolo uti-
liza um tom severo e violento, defenden- Autor; Rev. Wilson Em&ríck d& Souza
(Lavras - ,MG)
do-se dos opositores que pretendiam

12
GALATAS
Uma Igreja com Outro Evangelho

Gaiatas 1.1-9

H ritualmente, notamos uma explo- EM DIA COM A PALAVRA


^ são espiritualista no Brasil. Não só
Segunda Atos 16.1-10
no meio evangélico, mas nas demais religiões,
Terça Atos 18.18-23
parece acontecer uma espécie de "avivamen-
Quarta Gaiatas 1. 10-24
^^A partir disso, percebemos o surgimento
o^nnúmeras comunidades que se auío- Quinta Gaiatas 2. 1-2 1
entitulam cristãs; todavia, corn práticas, ritu- Sexta Gaiatas 3. 1-4.31
ais e comportamentos que se distanciam da- Sábado Gaiatas 5. 1-26
queles vividos e ensinados por Cristo Jesus. Domingo Gaiatas 6.1-18
Isso já ocorreu em outros tempos na his-
tória da igreja. Quando o Cristianismo se tor- passaram a viver um "outro evangelho" - com
nou religião oficial do Império Romano, por orações aos mortos, velas e imagens eíc.
volta do ano 300 d.C., o imperador, desejoso De tempos em tempos, a igreja tem sido
de estimular a fé cristã ern seu reino, conce- tentada a trocar de evangelho, talvez para um
deu alguns benefícios aos que a ela aderis- que lhe agrade mais, ou que satisfaça seus
sem. Muitos, ansiosos pelos favores do go- doces anseios humanos. Os irmãos da Galácia,
verno, foram balizados, vieram para a igreja, a exemplo disso, estavam se aderindo, rapida-
porém, sem conversão, trouxeram consigo e mente, a um "outro evangelho" (1.16).

A EPISTOLA
Antes de extrair dessa epístola as [íções 48 a 56 d.C., e isso peias citações que Paulo
ricas que ela contém, é necessário conhecer faz do seu encontro com líderes cristãos em
« n * n o de fundo histórico da igreja, da re- Jerusalém, que logo em seguida seria
3em como o conteúdo da carta, destruída.
.ugar: No ano 250 a.C., o último rei • Conteúdo; Ao contrário das demais epís-
gaiata legou seu reino aos romanos, que o tolas, não vemos aqui agradecimentos aos
transformaram em uma província, com capi- destinatários, nem tampouco ações de gra-
tal em Ancíra. ças rendidas por causa deles. Paulo, porém,
A Galácia não era uma cidade, e sim, uma começa censurando seus leitores pela situa-
região que compreendia algumas cidades e ção de abandono ao evangelho de Cristo, e
igrejas. Sír William Ramsay, comentarista e apego a um "encantamento" por outro qual-
estudioso do Novo Testamento, afirma que quer. A epístola, no que se segue, pode ser
as igrejas da Galácia eram as de Antioquia, dividida peio seu conteúdo. O Dr. Kummel a
Psídia, Icônio, Derbe e Listra, que Paulo fun- divide em três partes, a saber:
dara em sua primeira viagem missionária (At
16.1 e 18.23). 1. A defesa do ministério de Paulo:
• Data: Estima-se que a epístola aos seu apostolado recebido diretamente
Gaiatas tenha sido escrita entre o período de de Deus (1.11-24), seu reconhecimen-
13
to pelos ... de Jerusalém e apóstolos (2.1- tãos, baseada em uma interpretação alegóri-
11), e o encontro com os primeiros líderes ca da narrativa de Hagar e Sara (4.21-31) e
cristãos da época, na defesa do ministério uma admoestação renovada para que renun-
entre os gentios (2,11-21). ciem a escravidão da Lei (5.1-12).
2. A demonstração da necessidade de li- 3. Que se liga ao tema da liberdade dos
berdade diante da Lei. A defesa que a justifi- cristãos, advertindo-os a que preservem essa
cação está vinculada, não ao cumprimento liberdade e não retomem o jugo de escravi-
da Lei, mas à promessa da graça. O fato é dão (5.13-6.10). E, por fim, uma saudação de
ilustrado na experiência de Abraão (3.6-9); próprio punho (6.11-18).
quando entendido corretamente, o Antigo Assim, podemos ter uma ideia mais
Testamento lhes diz a mesma coisa (3.10-14), abrangente desta carta paulina, endereçada
estabelecendo entre a Lei e a Fé uma oposi- aos irmãos da região da Galácia, cujo enfoque
ção. Agora, em Cristo, a Lei perde a sua fun- principal está na questão de se permitirem
ção (3.25-4.7). S e g u e - s e uma prova enredar por um outro evangelho, um evange-
escriturística em favor da liberdade dos cris- lho que não é o de Cristo Jesus.

LIÇÕES PRINCIPAIS
1. O EVANGELHO DA GRAÇA E NÃO DA LEI isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef
Um tema predominante na epístola aos 2.8). Um evangelho que confia nas obras da
Gaiatas, é o confronto que Paulo faz entre o lei, afirma uma salvação pelos méritos huma-
evangelho da Graça, que ele chama da fé, e nos. Paulo denuncia que o evangelho da
esse novo evangelho, legalista, vinculado ao Galácia era ineficaz para a salvação, pois es-
cumprimento da lei do Judaísmo. Isso ocor- tava fundamentado nas obras da lei, e isso
reu por causa da influência que os cristãos jamais traria justificação ao homem: "O ho-
da Galácia sofriam dos judaizantes. Assim mem não é justificado por obras da lei", e
sendo, esses cristãos voltaram à prática dos "é evidente que pela lei ninguém é justifi-
rituais judaicos para satisfazer ao apelo da ' cado diante de Deus" (2.16;3.11). A lei de-
lei, como algo necessário para a nuncia e evidencia a presença do pecado no
cornplemeníação da salvação. Eram subme- homem. A lei condena. Sem a graça, o evan-
tidos à circuncisão (5.2,3), eram censurados gelho da lei é só desgraça, infortúnio, conde-
quanto às festas e alimentação (2.11-14), nação e maldição: "Cristo nos resgatou da
guarda de dias, e coisas semelhantes a essas maldição da lei" (3.13; Rm 5.1,2).
(4.10), 1.2. Um sacrifício em vão - Paulo volta a
Para combater esse pensamento legalista, denunciar que o evangelho da Galácia era ine-
que contaminou o evangelho e desfigurou a ficaz para a salvação, pois se a justiça
igreja da Galácia, Paulo inicia afirmando sua por obras da lei, o sacrifício de Jesus foi
condição: sua origem judaica e privilégios necessário e insuficiente: "pois, se a justiça
destacáveis entre os judeus (1.14). Todavia, é mediante a lei, segue-se que morreu Cris-
Paulo conclui dizendo que morreu para a Lei: to em vão" (2.21). Ao contrário do que pen-
"Porque eu, mediante a própria lei, morri savam os gaiatas, para Paulo, o viver é Cristo,
para a lei, a fim de viver para Deus" (2.19). e a glória da salvação estava depositada na
Imediatamente, ele passa a confrontara Ceias, cruz: "Mas longe esteja de mini gloriar-me,
que se tornara mau exemplo e de comporta- senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cris-
mento repreensível (2.14). Essa fo"{6.14).
supervalorização da lei em meio ao evange- Não só nos dias de Paulo, mas no decor-
lho da Galácia produziu algumas deformações rer da história da igreja, vemos inúmeras si-
na fé cristã: tuações que tentam tornar desprezível o sa-
1.1. Uma salvação meritória - "Porque crifício de Cristo, valorizando as obras
pela graça sois salvos, mediante a fé; e humanas. Destacamos algumas prá-

14
íicas históricas: penitências, indulgências etc. da para uma luta contra os demónios e hostes
do mal, como se todo o problema viesse de-
2. O EVANGELHO DO ESPÍRITO E NÃO les. Não percebemos, entretanto, um esforço
DA CARNE por uma luta contra a carnalidade reinante
Um ouíro tema abordado nesta epístola, em muitas comunidades, cheias de
é o confronto entre a carne e o Espírito. Por paríidarismos, ciúmes, bebedices, prostitui-
diversas vezes, especialmente no final da epís- ções... Paulo recomenda: "Andai no Espírito
tola, Paulo evidencia o fato de que carne e e jamais satisfareis à concupiscência da
Espírito são opostos entre si (5.16,17). Para carne" (5.16).
Paulo, quando uma igreja menospreza a gra-
ça para viver debaixo da subserviência da lei, 3. O EVANGELHO DA LIBERDADE E
ela corre o risco de tornar-se carnal. Porém, o NÃO DA ESCRAVIDÃO
que vem a ser essa carne que milita contra o Q tema mais predominante desta epístola
Espírito? O Dr. Russel Shedd destaca alguns á o da liberdade. A preocupação paulina nes-
dos usos da expressão "carne" na Bíblia: sa exortação é refutar a argumentação
Carne física - como material que reveste judaízaníe, que concorria para um regresso
o de homens e animais (Gn 40.19; Lv ao velho estado de escravidão que a lei en-
cerra. Para Paulo, a lei não tem vida, e sim,
• Carne e relacionamentos interpessoais: leva à morte. A lei é senhora de um estado de
carne como descendência humana (Rm 1.3); escravidão ao pecado. Uma igreja legalista
carne- como vínculo' de comunhão no casa- desconhece o que é a verdadeira liberdade
mento (Gn 2.23) e relação sexual (l Co 6.16). dos filhos de Deus.
• Carne como natureza humana pecami- Por outro lado, os crentes em Cristo de-
nosa. Desejos e apetites que impulsionam vem estar atentos para que não confundam
contra Deus e que é própria de pecadores liberdade com libertinagem, e não concedam
(5.16-21; Rm 8.7,8; l Co 3,1-4). ocasião à carne. Libertinagem é o uso
Para Paulo, o que os gaiatas viviam era descomedido da liberdade, sem padrões, sem
um evangelho carnal, e, portanto, seus resul- princípios e sem responsabilidade. O Espírito
tados eram bastante perceptíveis. Ele desta- Santo produz liberdade em Cristo, responsa-
ca as obras da carne: bilidade, maturidade e santidade na vida do
• Quanto à vida moral: prostituição, impu- homem: "Para a Uberdade foi que Cristo nos
reza e lascívia; libertou" (5.1).
• Quanto à vida de adoração: idolatria e O que estava acontecendo na Galácia, vi-
feitiçarias; nha patrocinado por uma publicidade do Es-
• Quanto à vida social: inimizades, porfias, pírito. Todavia, Paulo afirma que não era o
ciúmes, iras, discórdias, díssenções, facções Espírito quem promovia as desavenças des-
Q inwoijj' critas em Gaiatas 5.15. Era a carnalidade que
luanío à temperança: bebedices e lhes roubava a liberdade cristã: "Fostes cha-
árias. mados à liberdade: porém não useis da li-
iviuitas igrejas estão marcadas por obras berdade para dar ocasião à carne" (5.13).
da carne: convivem com divisões e porfias Essa liberdade é fruto da graça de Deus,
diariamente, crentes embriagados e impuros, exemplificada alegoricamente por Paulo nas
baixa qualidade de vida cristã, refletem esse personagens Sara e Hagar (4.21-31). Ao final,
estado de carnalidade que se contrapõe ao ele conclui dizendo que os nascidos da gra-
Espírito. O fruto do Espírito é destacável: ça, em um só Espírito, são filhos não da es-
. Quanto à vida com Deus:. amor, alegria e cravidão da lei, e sirn, da liberdade dos filhos
paz; de Deus (4.31).
• Quanto à vida com o próximo:
longanimidade, benignidade e bondade;
. Quanto à vida íntima: fidelidade, mansi-
Autor: Rev. Carlos de. Oliveira Orlandt Júnior
dão e domínio próprio.
(São Pauto - SP)
Vemos, hoje, uma preocupação acentua-

15
Crjsto e a Igreja

Efésios kl-l 4

cristãos, para poderem EM DIA COM A PALAVRA |


desenvolver mais e melhor a Segunda Efésios 1.15-23 1
sua missão no mundo, preci- Te ri a Efésios 2 |
sam ter uma compreensão doutrinária Quarta Efésios 3 ^M
mais abrangente de Cristo e da igreja. Quinta Efésios 4. 1-24 ^1
Quando não se tem tal compreensão, Sexta Efésios 4.25-32 1
o desenvolvimento espiritual e a ação Sábado Efésios 5 •
missionária da igreja ficam seriamente Domingo Efésios õ 1
comprometidos.
Percebe-se, nitidamente, que alguns
hoje têm apresentado em sua mensa- ta que a sua prática cristã também tem
gem, um Cristo que está muito distan- se distanciado das finalidades para as
ciado das Escrituras Sagradas, pois quais ela existe.
fala-se muito no Jesus Salvador, e pou- A epístola aos Efésios se constitui
co no Jesus Senhor. numa valiosa e indispensável orienta-
Quanto à igreja, como Corpo de Cris- ção para se ter essa compreensão mais
to no mundo, o que tem sido evidenci- abrangente da pessoa de Cristo e da
ado é muito preocupante, tendo em vis- igreja.

A EPISTOLA
Embora tenha predominado a acei- clareza, que ela está dividida em i
tação de que a epfstola tenha sido en- p*artes principais:
viada originalmente à igreja de Éfeso, Dos capítulos 1 a 3, Paulo descreve
há fortes indícios de que ela tenha sido a sublimidade do ministério de Cristo,
escrita para várias igrejas, em forma de revelando que todas as coisas estão
circular, e não apenas para uma só. centralizadas nele, pois é em Cristo que
Quando escreveu esta epístola, Pau- os cristãos recebem todas as bênçãos
lo estava preso na cidade de Roma, e de Deus (1.3-14). Após descrever essa
esta faz parte das chamadas "epístolas centralidade de Cristo, Paulo afirma que
da prisão", juntamente com as cartas ora sempre para que todos os crentes
aos Colossenses, a Filemon e, prova- tenham um conhecimento pleno de Je-
velmente, aos Filipenses. sus, pois é nele que está a salva-
A leitura da carta faz perceber, com cão pela graça, sendo que esta
16
salvação une judeus e gentios, isto é, a desafiam a fazer alguma coisa, em de-
todos, na formação de um só corpo (v. corrência do que Deus faz e já fez" (Tão
2). O apóstolo tem plena consciência Grande Salvação, ABU Editora).
de que foi vocacionado para levar o O estudo desta epístola há de nos
evangelho aos gentios, a fim de que eles fazer perceber, como diz J. Sidlow
conhecessem a riqueza da glória de Baxter, em seu livro Examinai as Es-
Cristo (v.3). Esta primeira seção é, es- crituras, publicado pela Edições Vida
sencialmente, doutrinária. Nova que, "embora não seja, nem de
A segunda parte, capítulos 4, 5 e 6, é longe, a mais longa epístola de Paulo,
prática, como afirma o Dr. Russel Shedd: Efésios é geralmente considerada a
"os três primeiros capítulos falam prin- mais profunda. Existe nela uma
cipalmente de doutrina e de história, grandiosidade de concepção, além de
«ilo que Deus já fez e está fazendo; majestade e dignidade, riqueza e pleni-
uanto que os capítulos 4, 5 e 6 nos tude que lhe são peculiar".

LIÇÕES PRINCIPAIS
1. A IGREJA EXISTE EM FUNÇÃO DA das circunstâncias, à medida que pas-
VOCAÇÃO DE CRISTO sam os séculos. Esse propósito parte
A primeira parte da epístola, consti- de um Deus pessoal que está ativo no
tuída dos três capítulos iniciais, apre- mundo, operando sua própria vontade
senta a centraltdade da pessoa de Je- e sabedoria e graça" (Rm 8.28).
sus na vida da comunidade cristã, que Quando a igreja compreende que ela
só existe porque foi vocacionada em existe em função da vocação de Cristo,
Cristo. São várias as expressões utili- com toda certeza, as suas atividades es-
zadas pelo apóstolo Paulo para afirmar tarão voltadas para o louvor da glória
essa verdade fundamental. Ele decla- de Deus, como fica claro em 1.12. A
rou que Cristo nos escolheu (1.4), igreja não existe para o louvor da sua
p.redestinou-nos (1.5), redimiu-nos própria glória, para a sua auto-satisfa-
4Ph, e desvendou-nos o mistério da ção, mas para a glorificação e satisfa-
sua graça (1.9), deu-nos vida (2.1), e ção de Cristo Jesus, pois foi Ele quem
fez-nos assentar nos lugares celestiais a instituiu. "Nós o amamos, porque Ele
(2.6). Essas e outras afirmações dei- nos amou primeiro" ( l Jo 4.19).
xam muito claro que a igreja surge, não
pela vontade do homem, mas de Deus. 2. A IGREJA EXPERIMENTA A SUA
Em seu comentário de Efésios, o co- UNIDADE EM VIRTUDE
mentarista bíblico Francis Foulkes, de- DA PRESENÇA DE CRISTO
clara que a vocação da igreja nasce do Nos capítulos 2 a 4, Paulo trata da
propósito divino, e que "tal propósito questão da unidade no corpo de; Cris-L.MS-
não é como planos ou projetos da his- to, ao afirmar que gentios e ju-
tória, os quais se concretizam ao sabor deus são unidos por meio dele.

17
Os que vivem -debaixo da lei, e os que • Nas palavras e atitudes (5.1-21)
estão sem lei, são chamados à unida- - O falar e o agir do cristão precisam
de, pois há um só Corpo, um só Espíri- revelar a sua santidade e novidade de
to, uma só esperança, um só Senhor, vida. Ser santo não significa ser sem
uma só fé, um só batismo, um só Deus pecado, mas viver em busca de uma
e Pai de todos, que está sobre todos, vida agradável a Deus. Essa vida agra-
age por meio de todos e está em todos dável a Deus é oposto ao estilo de vida
(4.4-6). O muro da separação foi der- daqueles que não foram alcançados
rubado por Cristo (2.14), fazendo de- com a obra redentora de Cristo.
saparecer todas as diferenças que se • Nos relacionamentos familiares
constituem em obstáculos para que esta (5.22-6.4) - No lar - diz Paulo -, marido,
unidade seja estabelecida. mulher e filhos precisam desenvolver um
É importante ressaltar que essa uni- relacionamento fundamentado no ai;
dade não acontece apenas na igreja lo- e no respeito de uns para com os
cai, mas entre os cristãos espalhados tros e de todos para com Deus. Uma vida
pelo mundo. Não é apenas união visí- familiar bem ajustada e direcionada re-
vel, mas também invisível, razão pela vela a santidade de Deus no lar.
qual os cristãos precisam demonstrar • Nos relacionamentos de trabalho
essa unidade no mundo, a despeito das (6.5-9) - Salientando que todos são
diferenças doutrinárias existentes entre iguais perante Deus, o apóstolo revela
as denominações. O zelo que o tratamento entre patrões e em-
denominacional não pode abalar a uni- pregados não pode ser de opressão,
dade do Corpo de Cristo, o que muitas nem de falsidade, pois ambos têm um
vezes acontece, quando o nome da Senhor no céu, e este Senhor não faz
denominação está acima do reino de acepção de pessoas.
Deus. O desejo de Jesus é que essa uni- • Na firmeza contra o inimigo (6.10-
dade cristã seja evidenciada no mundo 20) - Para resistir e vencer ataques do
(Jo 17.21). inimigo é preciso que o cristão vista a
armadura de Deus, que fhe possibilita-
3. A IGREJA MANIFESTA UMA VIDA DE rá a vitória , e revelará a sua vida
SANTIDADE COMO RESULTADO DA santidade. A intensificação da
OBRA DE CRISTO nhão com Deus, simbolizada nas pe-
A partir do capítulo 4.7, até ao final ças da armadura de um soldado roma-
da epístola, Pauto apresenta a santida- no, possibilita ao membro do Corpo de
de como resultado da obra de Cristo Cristo, experimentar a santificação diá-
na vida da igreja. O "andar" da igreja é ria, o fortalecimento espiritual, e a ne-
um andar santo, sendo que essa santi- cessária preparação para se permane-
dade precisa ser, também, buscada no cer firme contra tudo aquilo que é obra
dia a dia da caminhada cristã no mun- do inimigo.
do. É preciso andar em novidade de vida
(4.17-24). E novidade ou santidade se Autor: Rev. Sérgio Pereira Tavares
(Manhumirim - MG)
manifesta nos seguintes aspectos:

18
FILIPENSES
A Vida Comunitário da Igreja

Filipenses2.1-ll

livro de Atos (16.11 -40) con- EM DIA COM A PALAVRA


ta a emocionante história do Segunda Filipenses 1 1-11
surgimento da comunidade cristã em Filipos. Terça Filipenses I 12-30

«
Chegou àquela cidade uma equipe formada Quarta Filipenses 2 1-11
Paulo, Timóteo, Silas, além do próprio Quinta Filipenses 2 12-30
as, o narrador da história. Foi por oca- Sexta Filipenses 3 1-11
sião da segunda viagem missionária de Pau- Sábado Filipenses 3 12-4.1
lo. O grupo evangelizou um grupo de mu- Domingo Filipenses 4 2-23
lheres. Uma delas, por nome Lídia, se con-
verte. A seguir, têm lugar os conhecidos Martin, esta epístola "... proporciona uma
acontecimentos do exorcismo da jovem porta de acesso ao caráter pessoal e pasto-
adivinhadora, da prisão e libertação de Paulo ral de Paulo. Ela provê, igualmente, elemen-
e Silas, e da conversão do carcereiro. As- tos para uma análise completa de uma con-
sim, em uma sequência de acontecimentos gregação cristã primitiva, com a qual Paulo
dramáticos, é formado o núcleo original da manteve agradável e longo relacionamento.
igreja em Filipos. Algo das esperanças e temores, dos pro-
Passados cerca de dois mil anos, é sur- blemas e oportunidades dessa congregação,
preendente o quanto se pode aprendercom chega até nós, à medida que, com simpa-
esta pequena, singela e edificante corres- tia, tentamos adentrar seu mundo agora tão
pondência. Nas palavras do Dr. Ralph distante, através da carta de Paulo".
A IPÍSTOLA
"Conforme a descrição feita por Alexandre, o Grande. Inúmeras religi-
Lucas, Filipos era "cidade da ões eram praticadas em Filipos, como
Macedônia, primeira do distrito, e o culto aos deuses Baal e Astarte (ci-
colónia" (At 16.12). Os historiadores tados no Antigo Testamento), e outros
ensinam que a cidade era colónia ro- mais. Tudo indica que não havia uma
mana de destaque no distrito da sinagoga judaica organizada na cida-
Macedônia, norte da Grécia. José de, pois Paulo e seu grupo encontram
Comblin explica que a colónia romana um grupo de mulheres piedosas em
era uma cidade de residência para sol- reunião de oração, à beira de um rio.
dados aposentados. O nome da cida- A respeito de Lídia, Lucas acres-
de é derivado de Filipe, pai do famoso centa a informação que era "te-

19
mente a Deus" (At 16.14), isto é: al- sos mestres no capítulo 3, e os apelos
guém proveniente do paganismo, mas à unidade na igreja, em vários trechos
que adotou o judaísmo como crença. da epístola. O presente Estudo preten-
A epístola aos Filipenses é rica em de apresentar um panorama da epísto-
seus ensinamentos. Dentre tantos, des- la que Paulo escreveu àquela igreja, pro-
tacam-se: a bela passagem cristológica vavelmente por volta do ano 55 da era
de 2.5-11, as advertências contra os fal- cristã.

A epístola aos Filipenses ensina, en- Efésios 4.1-6, outro texto em que Paulo
tre outras coisas, a respeito da vida co- também ensina sobre o esforço que os
munitária da igreja. O ensino da epístola cristãos devem fazer para manter a
apresenta o ideal da vivência da igreja. dade da igreja.
Este Estudo é construído nesta perspec- De fato, todo esforço para manter a
tiva. unidade da igreja é válido. Lamentavel-
mente, são muito comuns brigas entre
1. A IGREJA É A COMUNIDADE membros de igrejas, que provocam de-
DA UNIDADE sunião, e até divisões na comunidade. É
Como já se disse, uma das principais preciso que haja um esforço sério de to-
características da carta aos Filipenses é dos os cristãos para que a igreja seja
sua ênfase na unidade que a igreja pre- comunidade de unidade.
cisa ter e viver. De fato, a unidade é es-
sencial para o sucesso do exercício da 2. A IGREJA É A COMUNIDADE
missão da igreja. São dignas de men- DA HUMILDADE
ção passagens como 1.27-30 e 2.1-4. Naquela que é a mais conhecida pas-
Nestas passagens, faz-se um apaixona- sagem da epístola (2.5-11), o apóstolo
do apelo à manutenção da unidade da Paulo apresenta, em um belíssimo poe-
igreja. O mesmo acontece em 4.2 - neste ma, a humildade que caracterizou a vida
texto, o apóstolo faz um apelo pastoral de Jesus. Esse texto mostra a
às duas pessoas diretamente envolvidas cão à qual, voluntariamente,
em um problema de relacionamento. submeteu. Quanto a isso, o texto diz que
Num artigo há alguns anos na revista Ul- Jesus:
timato, o Rev. Élben César fez interes- • Não julgou como usurpação o ser
sante sugestão sobre Evódia e Síntique: igual a Deus;
uma seria a jovem cujo demónio fora ex- • A si mesmo se esvaziou;
pulso em nome de Jesus por Paulo e • Assumiu a forma de servo;
Silas, e a outra, a esposa do carcereiro. • Tornou-se obediente até à morte, e
Não há meio de saber se esta sugestão morte de cruz.
é ou não verdadeira. Fato é que a igreja • Por isso mesmo, Deus recomoen-
precisa lutar para manter sua unidade. sou a Jesus por sua humildade
É o que se aprende em passagens como da seguinte maneira:

20
• .Deus o exaltou sobremaneira; A igreja cristã deve ser uma comuni-
• Deus lhe deu o nome que está aci- dade de alegria, um espaço para cele-
ma de todo nome; bração festiva dos atos de Deus a favor
• Deus determinou que ao nome de de seu povo. Os crentes devem ser ale-
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, gres, pois sabem que foram adotados e
na terra e debaixo da terra; recebidos na família de Deus.
• Deus determinou que toda língua 4. A IGREJA É A COMUNIDADE DA
confesse que Jesus Cristo é Senhor. LIBERALIDADE
Com este ensino, Paulo deseja mos- No último capítulo da carta aos
trar aos filipenses que a unidade depen- Filipenses, o apóstolo agradece aos
de da humildade. Para que os crentes filipenses por duas ofertas que aqueles
sfiiam unidos, têm que ser humildes. A crentes lhe enviaram (4.16,18). De ma-
Idade vence o preconceito, o orgu- neira sincera, Paulo diz: "E o meu Deus,
a inveja, que destroem a unidade segundo a sua riqueza em glória, há
entre os irmãos e irmãs na fé. Como se- de suprir em Cristo Jesus, cada uma
guidores de Jesus, os cristãos precisam de vossas necessidades" (4.19). O co-
ser humildes. mentário de rodapé da Bíblia Sagrada
Edição Pastoral afirma: "Paulo agradece
3. A IGREJA É A COMUNIDADE o auxílio que os filipenses lhe enviaram
DA FELICIDADE através de Epafrodito. Ele se alegra, não
Quando escreveu aos filipenses, Pau- tanto pelo auxílio material recebido, mas
lo estava preso (cf 1.7). Os estudiosos pelo afeto e crescimento espiritual que a
do Novo Testamento não estão de acor- comunidade demonstra através da ofer-
do com respeito à data e ao local desta ta".
prisão de Paulo. Saber o local exato des- Com seu gesto, os crentes filipenses
ta prisão não é o mais importante. O que dão uma lição de liberalidade. Eles mos-
importa é que, mesmo preso, o apósto- tram como é importante contribuir finan-
lo fala a respeito da alegria que o cristão ceiramente para o progresso da obra do
deve viver. A alegria cristã é um dos Senhor. A lição de liberalidade dada pe-
ntos que mais se repetem em los membros da igreja de Filipos tem atu-
mses. É citada seis vezes: 1.4,18; alidade permanente. Muitos são avaren-
z.i/,18; 3.1;4.1,4. Em outra ocasião, tos em relação à causa do Reino de Deus
Paulo disse que a alegria é parte inte- no mundo. É preciso ter prioridades
grante do fruto do Espírito (Gi 5.22). acertadas quanto ao uso do dinheiro.
A vida cristã não está isenta de difi- Para os cristãos, uma destas priorida-
culdades, crises e lágrimas. As Escritu- des deve ser a obra de Deus. O Senhor
ras, em nenhum lugar, escondem esta abençoa os que sabem ser liberais, para
realidade. Mas, ao mesmo tempo, dizem com sua obra.
também que a alegria deve ser uma mar-
ca registrada da vida dos filhos e filhas
de Deus. Afinal, na presença de Deus há Autor: Rev. Carlos Ribeiro Caldas Filho
(Limeira - SP)
plenitude de alegria (SI 16.11).

21
COLOSSENSES
A Pessoa e a Obra de Cristo

Colossenses 1.13-23

humanidade está vivendo um EM DIA COM A PALAVRA


período jamais visto em sua histó-
ria. A tecnologia avança com tanta velocida- Segunda Colossenses 1.1-12
de, que faz a ficção científica transformar-se Te na Colossenses 1.13-29
em realidade. O universo é explorado por Quarta Colossenses 2.1-7
aparelhos cada vez mais sofisticados. No Quinta Colossenses 2.8-19
campo religioso, está cada vez mais forte Sexta Colossenses 2.20-4.6
uma prática que mistura elementos de dife- Sábado Colossenses 4.7-9
rentes religiões. No meio evangélico, mui- Domingo Colossenses 4.10-18
tos não se preocupam com a reflexão em
torno das verdades bíblicas e teológicas -
antes, preocupam-se apenas com o que "fun- é uma epístola escrita com intenções pasto-
ciona". rais (pois é um texto escrito por um pastor
Diante de um quadro assim, alguém po- para orientar outro pastor a cuidar de uma
deria perguntar sobre a razão de se estudar igreja) e missionárias (pois foi escrita a par-
uma pequenina carta, enviada há quase dois tir de uma situação específica acontecida em
mi! anos, a uma igreja de uma pequenina um campo missionário). É também um pe-
cidads em uma região distante. Há muitas queno tratado de Cristologia - o estudo so-
razões para se estudar a carta que Paulo man- bre a pessoa e a obra de Cristo -, pois fala a
dou aos colossenses. Esta carta é um docu- respeito de toda a beleza do Cristo de Deus.
mento que tem hoje o mesmo valor que ti- Estudá-la é mergulhar no conhecimento de
nha quando foi escrita. Cristo. Felizes são os que refletem e medi-
A epístola apresenta toda a grandiosidade tam na preciosidade desta epístola e, assim,
da pessoa e da obra de Cristo. Colossenses crescem em sua comunhão com o Senhor.

A EPISTOLA
A comunidade cristã em Colossos não foi funda- chamam este problema de "heresia colossense". Um
da por Paulo. O plantador daquela igreja foi um ami- estranho ensinamento era ali ministrado. Era um
go de Paulo, chamado Epafras(17;4.12). De fato, sincretismo, pois misturava elementos do paganis-
Paulo nem sequer conhecia aqueles crentes (1.4-8; mo daquela região com elementos do judaísmo. Os
2.1). Como era comum naquela época, os cristãos se mestres da "heresia colossense" ensinavam que en-
reuniam em casas (4.15,17, cf. Fm 2). Os membros tre os homens e Deus havia uma série de espíritos
da igreja eram convertidos do paganismo (1.21,27; intermediários. Ensinavam culto aos anjos. Era um
2.13). Guando lhes enviou a carta, Paulo estava pre- ensino supersticioso, que estava minando a fé da-
so (4.3,10, 18), provavelmente em Roma, porvolta queles crentes. Paulo mostra, em sua epístola, como
do ano 58 da era cristã. estes ensinos eram sem fundamento. Ao mesmotem-
Êpa/ras, o pastor da igreja dos colossenses, es- po, apresenta o ensinamento correto a respei-
tava enfrentando um sério problema. Os estudiosos to da pessoa de Cristo.

22
1. A GLÓRIA DE CRISTO tícula à estrela de maior grandeza, tudo foi criado e é
A epístola aos Colossenses mostra, em cores sustentado por Cristo. As leis físicas e biológicas que
vívidas, a beleza da glória de Cristo. A apresentação regem o universo e a vida, estão todas debaixo da
da glória de Cristo, nesta epístola, dá-se de diversas soberania de Cristo.
formas. Dentre tantas, destacam-se: 1.4. A gloria de Cristo é ser o Cabeça da Igre-
1.1. A glória de Cristo é ser o Revelador de ja - O texto de Colossenses 1.15-20 é provavelmente
Deus - O Senhor é apresentado por Paulo, na cor- um hino de louvor a Cristo, cantado nas igrejas da
respondência que enviou aos colossenses, como Ásia Menor no primeiro século da nossa era. Nesta
sendo a "imagem do Deus invisível" (1.15 a). Cris- poesia, Cristo é apresentado como sendo o Cabeça,
to Jesus é a imagem visível do Deus invisível. Nas isto é, o líder supremo da igreja. Não raro acontece
palavras do Rev. Júlio Andrade Ferreira, Jesus Cristo que algumas pessoas pensem que são donas da
é o "revelador de Deus". Isto está de acordo com o igreja. Pensam que a igreja não sobrevive sem elas.
Jesus mesmo disse, em João 14.9. Aliás, otes- Tais pessoas se esquecem que, acima delas, está a
lunho bíblico é unânime em apresentar a revela- pessoa gloriosa do Senhor Jesus Cristo. No nosso
de Deus providenciada por Cristo. O evangelista mundo, muitas pessoas são adoradas como se fos-
João afirma que "ninguém jamais viu a Deus: o sem deuses. É preciso que os seguidores de Cristo
Deus unigénito, que está no seio do Pai, é quem vivam de acordo com a sua vontade, e proclamem
o revelou" (Jo 1.18). Colossenses 2.9 ensina que que, acima de tudo e de todos, está o glorioso Se-
em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da nhor Jesus Cristo.
Divindade. E o desconhecido autor da epístola aos
Hebreus afirma que Jesus é a expressão exata do ser 2. A SUFICIÊNCIA DE CRISTO
de Deus (Hb 1.3). Foi com razão que Tertuliano, um A Cristologia de Colossenses ensina, também, a
dos Pais da igreja, disse que "em Jesus, vemos a suficiência de Cristo, em outro hino cantado pelos
Deus como Ele é, e ao homem como deveria ser". cristãos daquele tempo. Esta suficiência é apresenta-
Quem quer conhecer a Deus, deve ira Jesus, o Cris- da da seguinte maneira:
to, o revelador de Deus. Não há outro meio de co- 2.1. Cristo é suficiente para nossa salvação -
nhecer a Deus, a não ser por meio de Cristo (Jo Colossenses 2.13,14 mostra que, em Cristo, homens
14.6). Aí está a glória de Cristo. e mulheres têm acesso ao perdão completo e abso-
1.2. A glória de Cristo é ser o Primogénito da luto. Nestes versículos, Paulo usa uma linguagem
Criação - Paulo disse que Cristo é o "primogénito comercial, comparando o pecado a uma dívida. E diz
de toda a criação" (1.15b). O que o apóstolo quis que Jesus pagou completamente esta dívida, na cruz.
dizer com isso? Algumas seitas heréticas fazem uma O ensino da plena e absoluta suficiência de Cristo
interpretação errada desta passagem, e pensam en- precisa ser (re)aprendido por muitos em nosso tem-
contrar nela, base para ensinar que Cristo foi "cria- po. Lamentavelmente, muitos não acreditam que a
J ~" ~endo, portanto, não divino. Só que não é isto obra de Cristo na cruz seja plenamente suficiente
texto bíblico ensina. A palavra "primogénito" para nossa salvação. Pensam que para a salvação é
ca "o primeiro a ser gerado". Mas significa, preciso, por exemplo, Cristo, e a quebra de supostas
lu.nwjm, "o principal", "o mais excelente", "o mais maldições provenientes de pecados cometidos pe-
cheio de honra e dignidade", E esta segunda possi- los antepassados da pessoa - são os que ensinam
bilidade de sentido da palavra é usada em Colossenses que, sem esta "quebra de maldição", a obra de Cristo
1.15. Cristo tem mais excelência e glória que todo o na cruz é insuficiente para a salvação. Há, também, o
universo. Ele é o ''herdeiro de todas as coisas" ensino que diz ser necessário para a salvação, Cristo,
(Hb 1.2). e a entrega dos dízimos. Este ensino vincula a obra
1.3. A glória de Cristo é ser o Criador e de Cristo ao "pagamento" de dízimos, e afirma que
Sustentador do universo - Colossenses 1.16,17 só a obra de Cristo na cruz não é capaz de salvar.
declara que Cristo criou todas as coisas do universo, Tudo que o ser humano jamais será capaz de
as Misweis e as invisíveis. O Novo Testamento ensina, fazer, Jesus Cristo fez na cruz. Cristo é suficiente para
também, que Cristo "sustenta todas as coisas pela nossa salvação.
palavra do seu poder" (Hb 1.3.). Todos os elemen- 2.2. Cristo é suficiente para derrotar todas as
tos do universo, do mais simples ao mais complexo, forças do mal - Em Colossenses 2.15 (o
são criados e sustentados por Cristo. Da menor par- último versículo do hino iniciado em 2.13), é

23
dito que Cristo despojou os principados e as qualquer natureza - Outro sério erro defendido e
potestades, publicamente os expôs ao desprezo, e praticado pelos professores da "heresia coiossense"
os venceu na cruz, A expressão "principados e era o culto aos anjos e visões diversas (2.18). Vários
potestades" é muito usada por Paulo. Aparece aqui, comentaristas antigos diziam que, na região do vale
e também em Romanos 8.38, Efésios 3.10, 6.12 e do rio Lico, havia a prática de culto a anjos. O após-
Colossenses 1.16. É usada para fazer referência aos tolo Paulo é enfático em ensinar que Cristo é superi-
demónios, criaturas espirituais a serviço de Satanás, or a todas as criaturas espirituais. Toda a adoração
e rebefdes em relação a Deus. As notas de rodapé da cristã deve ser dirigida única e exclusivamente a Cris-
Bíblia de Genebra comentam Colossenses 2.15, di- to. Em nosso tempo, tem-se visto muitas pessoas
zendo que "a cruz foi a carruagem de triunfo" de darem uma ênfase exagerada a anjos. Em qualquer
Cristo em sua vitória sobre Satanás e os demónios. banca de jornais, podem-se comprar revistas, livros,
É muito interessante que Paulo diz que, na cruz, fitas de vídeo, fitas cassete, e até CD- Roms, a respei-
Cristo expôs ao desprezo as forças do mal. Martinho to de anjos. Este material não usa a Bíblia como fonte
Lutero lembra que "o diabo é o espírito orgulhoso, de consulta, e ensina invocação a anjos. Esta ênfase
que não suporta a caçoada". Este é o paradoxo da é antibíblica. Cristo é o Senhor do universo. Os anjos
cruz: na aparente derrota e fraqueza do sacrifício de são conserves dos homens e mulheres que são fiéis
Jesus, está a vitória, que vence Satanás e os demó- a Deus(Ap 19.9,10; 22.9).
nios. Recentemente, tem-se visto em algumas co- 3.3. A vida em Cristo é marcada por
munidades evangélicas uma verdadeira obsessão por de - Nos versículos 5 a 11 do capítulo 3 da carta aos
demónios. Há crentes tão preocupados (e ocupa- Colossenses, Paulo ensina as consequências práti-
dos) com demónios, que os enxergam em todos os cas da vida em Cristo. Primeiramente, é apresentada
cantos. Só pensam em "amarrá-los". Há até casos uma lista de vícios que devem ser abandonados:
de igrejas que invocam os demónios, para depois prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo malig-
expulsá-los. Agindo assim, acabam dando aos de- no, avareza (que é comparada à idolatria), ira, indig-
mónios a atenção que eles não merecem. A suficiên- nação, maldade, maledicência, linguagem obscena,
cia de Cristo é expressa na sua superioridade e do- mentira, preconceito de qualquer natureza, seja reli-
mínio totais sobre os demónios. gioso, cultural ou social. Mas como a santidade cris-
tã é também positiva, nos versículos 12 a 17 é feita a
3. A VIDAENI CRISTO apresentação de virtudes cristãs, que devem estar
Como é comum nos escritos de Paulo, após a presentes na vida dos filhos e filhas de Deus: miseri-
saudação inicial, há uma parte doutrinal, na qual o córdia, bondade, humildade, mansidão, paciência,
apóstolo ensina teologia de modo pastoral. Esta par- perdão, instrução e aconselhamento comunitário,
te é seguida por outra, em que são mostradas as gratidão e louvor a Deus. E em 4.2-6, é ensinada a
implicações práticas da fé. Nas epístolas, a teologia é importância da oração e da atitude dos crentes em
a base da ética, e a ética é a encarnação da teologia. relação aos que não são crentes. A santidade é apre-
Este equilíbrio saudável é visto na epístola aos sentada em termos individuais - coisas que cada
Colossenses. Após falar sobre a pessoa de Cristo, crente deve ser ou fazer - e coletivo - atitudes que
fala-se, a seguir, a respeito da vida em Cristo. Esta devem ser vividas na comunidade cristã.
vida é apresentada da seguinte maneira: 3.4. A vida em Cristo é caracterizada por retft
3.1. A vida em Cristo é livre de pressões cionamentos de qualidade - As consequências p™ '
legalistas - Os mestres da "heresia coiossense" en- ticas da vida em Cristo são apresentadas também no
sinavam que é preciso obedecer a uma série de man- texto de 3.18-4.1. Fala-se aí sobre como as esposas
damentos humanos, ligados a proibições de alguns devem tratar seus maridos, e como estes devem
alimentos, ou à guarda de festas judaicas (2.16). tratar suas esposas. Os filhos aprendem sobre como
Havia, ainda, ordens do tipo "não manuseies isto, devem tratar seus país, e estes aprendem sobre como
não proves aquilo, não toques aquilouíro" (2.21). devem educar seus filhos. Os empregados apren-
William Hendriksen lembra que as pressões legalistas, dem a se relacionar com seus patrões, enquanto
como as ensinadas em Colossos, são perigosas, por- estes aprendem a tratar seus empregados. Assim,
que desviam quem se submete a elas, para longe de de modo prático e simples, os cristãos vão viver, em
Cristo, o único Salvador (Gl 5.1-12). Cristo Jesus dá seus relacionamentos, as marcas da vida em Cristo.
liberdade aos seus seguidores. Esta liberdade é vivi-
da em santidade, não em legalismo. O legalismo é
doentio e mortal. A santidade é saudável e libertadora. Autor: Rev. Carlos Ribeiro Caldas Filho
(Limeira - SP)
3.2. A vida em Cristo é livre de idolatrias de

24
l TESSALONICENSES
Uma Igreja Modelo

ITessalonicensesI

o 's estudiosos da igreja estão


cada dia mais preocupados com a
Segunda
EM DIA COM A PALAVRA
I Tessalonícenses 1
mesma. Em várias partes do mundo há igre-
jas que estão "morrendo". Templos que estão Terça I Tessalonícenses 2.1-12
«)o vendidos, ou simplesmente transfor- Quarta I Tessalonícenses 2. 1 3-20
os em um lugar de visitação, numa espé- Quinta I Tessaíonícenses 3
cie de museus da fé. Sexta I Tessalonícenses 4.1-12
Em contrapartida, no Brasil, há um cresci- Sábado I Tessalonicenses 4.13-18
mento fenomenal de várias comunidades cris- Domingo I Tessalonicenses 5
tãs. Supermercados, cinemas e teatros são
vendidos e transformados em templos. Con- formado. O que envolve a vida de uma comu-
tudo, será que é só o crescimento que inte- nidade? Qual deve ser realmente o seu teste-
ressa? Vai tudo bem com a igreja cristã? munho? E a sua ética, como deve ser? Existe
Muitos estudiosos falam de uma "crise de diferença entre uma comunidade cristã e ou-
identidade", pelas quais passam hoje as igre- tras sociedades? O que envolve a construção
jas cristãs. Perderam o referencial bíblico e his- de uma comunidade cristã sadia? São pergun-
tórico e, hoje, não sabem para que rumo estão tas como estas que a reflexão do estudo da
caminhando. Algumas estão se desfigurando primeira carta aos cristãos de Tessalônica pre-
completamente do ideal bíblico e do ideal ré- tende responder. Vamos à reflexão.

A EPISTOLA
A primeira epístola de Paulo aos cristãos obrigado a retirar-se às pressas. Temendo um
issalônica é, provavelmente, o primeiro esvaziamanto do seu esforço missionário na-
mento escrito do Novo Testamento (en- quela comunidade, o apóstolo, em Atenas,
tre ou e 51 d.C.). envia Silas e Timóteo para visitarem e traze-
Após a perseguição em Filipos (At 16.19- rem notícias da igreja (3.1-3). O reencontro
40), o apóstolo desembarca em Tessalônica, dos dois com Paulo acontece em Corinto (At
durante a sua segunda viagem missionária. A 18.5). Trazem a notícia de que a comunidade
igreja dos tessalonicenses surge diante da de Tessalônica continuava dinâmica e fervo-
proclamação feita por Paulo. Os primeiros rosa. A carta, então, é escrita com alegria, para
convertidos são alguns judeus, "bem como motivá-los à perseverança.
numerosa multidão de gregos piedosos e Na epístola, o apóstolo também respon-
muitas distintas mulheres" (At 17.4). O la- de a algumas inquietações que preocupa-
bor do apóstolo durou pouco tempo em vam a igreja. Uma delas é a questão
Tessalônica ("três sábados" - At 17.2), pois da segunda vinda de Cristo. Era pen-
a perseguição também foi violenta, e ele foi samento comum entre os cristãos da

25
época que essa vinda aconteceria logo. A verem uma vida de vigilância, pois o "dia do
preocupação era com os que estavam mor- Senhor vem como ladrão de noite" (5.2; Mc
tos. Como seria a participação deles na se- 13.32; At 17).
gunda vinda de Cristo? Paulo orienta que A epístola é encerrada com diversos con-
por ocasião desse acontecimento, tanto os selhos apostólicos que, com certeza, servi-
mortos quanto os vivos estarão reunidos ram para a edificação e o fortalecimento da
para viverem eternamente com o Senhor Je- vida da comunidade (5.12-22). Paulo deseja-
sus. va que todos "fossem conservados íntegros
Quanto à data desse evento, o apóstolo e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor
mostra a importância dos cristãos desenvol- Jesus Cristo".

UÇÕES PRINCIPAIS
1. O TESTEMUNHO DA COMUNIDADE var ânimo aos desesperados. É esta esperanç
CRISTÃ produz determinação e firmeza nas pessoas, Wcn-
A comunidade cristã deve ter um testemunho do-as perseverantes em meio às lutas da comunida-
vivo a respeito de Jesus Cristo. É exatamente isto de e da vida cristã e possibilitando um testemunho
que Paulo ressalta quando escreve a primeira carta agradável ao Senhor Jesus Cristo. A igreja de
aos cristãos de Tessalônica. Tessalônica, em seu testemunho, era comunidade
Este testemunho vivo deve estar presente nas de esperança. A igreja cristã deve ser comunidade
igrejas de hoje. Baseado na experiência dos que comunica esperança no Senhor Jesus Cristo.
íessalonicenses, deve ser um testemunho que evi- Tem sido este o testemunho de sua comunidade?
dencia as realizações daíé. A fé não pode ser uma Paulo relata sua atividade missionária ern
questão meramente do coração. Pelo contrário, a fé Tessalônica, mostrando atitudes que a comunidade
se expressa na ação (Gl 5.6, II Ts 1.11; Tg 2.17,18). deve imitar:
Os tessalonicenses eram exemplo de uma fé que • A primeira atitude que a comunidade precisa
envolvia a totalidade da pessoa, levando-a a um ter em seu comportamento, é a coragem para cum-
novo modo de viver. Este continua a ser o desafio à prir plenamente a proclamação do evangelho (2.2).
igreja: mostrar ao mundo a sua fé pela atuação, pelo Ela não pode ser medrosa no anúncio das boas-
seu modo de agir. novas. Não pode se intimidar diante dos obstáculos
O testemunho da comunidade cristã também se (At 19.29,30). Paulo mostra que ele não se acovar-
manifesta num amor capaz de sacrifícios (1.3). O dou, mesmo com as muitas perseguições.
professor Howard Marshall, comentando o texto, • A segunda atitude no comportamento da co-
diz que "Paulo emprega uma palavra (abnegação) munidade cristã é o seu compromisso com
que indica labuta laboriosa, o trabalho pesado que sua Palavra (2.4-6). Ela "não tem que agir c
uma pessoa está disposta a realizar por devoção e segundas intenções, à moda de espertalhões que
afeição a outra pessoa". Numa outra ocasião, Paulo aproveitam de sua função para se promoverem à
elogia o casal Priscila e Áquila, porque foram capa- custa de bajulações" (nota da Bíblia Sagrada Edi-
zes deste amor sacrificial em favor de seu ministé- ção Pastoral). Muitas comunidades, hoje, acabam-
rio (Rm 16.3,4). se tornando cúmplices de governos, políticos e de
Nos tempos de hoje, a igreja cristã precisa estar injustiças, porque agem por motivos interesseiros,
atenta-ao seu testemunho, colocando em prática um e não dentro de um compromisso com o Deus da
amor que leva às últimas consequências a solidari- Palavra.
edade cristã. • A terceira atitude no comportamento é não
O testemunho vivo da comunidade cristã, o qual abusar de sua autoridade de ser comunidade; antes,
Paulo recorda com alegria (1.2,3), é, também, o deve desenvolver um profundo amor pela "Wa H^
resultado "da esperança em nosso Senhor Jesus pessoas (2.10-12; l Pé 5.3). A história é
Cristo". Igreja é comunidade de esperança para le- testemunha dos pecados da igreja, sempre

26
que agiu abusando de sua autoridade de ser igreja. balha, dá trabalho", e isto estava acontecendo em
Não podemos cometer o mesmo erro. Tessalõnica (II Ts 3.6-12). O trabalho é questão
• A quarta atitude é não colocar o dinheiro como de santidade e honra para o cristão. Sabemos
motivação para a missão (2.9; II Co 2.17; l Pé 5.2). que, hoje, no Brasil, muitos sofrem pela falta de
Muitas comunidades, no Brasil de hoje, perderam trabalho. O desemprego atinge milhões de pes-
completamente a identidade de igreja cristã, porque soas. Infelizmente, esta é uma dolorosa realida-
só pensam em dinheiro, e só falam em dinheiro. de. Contudo, é válida a orientação apostólica:
• Por último, o comportamento da comunidade "ocupem-se com seus negócios e façam seu
cristã deve ser uma atitude que faça com que a vida trabalho com as próprias mãos, conforme os
da comunidade seja testemunha da presença do instruímos. Então o mundo exterior respeitará
Reino de Deus nq mundo. a vida de vocês, e Jamais passarão necessida-
Paulo agiu assim em Tessalônica, e queria ser de" (4.11,12).
imitado pela igreja dos tessalonicenses. Também a 3. A CONVIVÊNCIA DA COMUNIDADE
igreja cristã atual precisa ter estas atitudes em seu CRISTÃ
iportamento. Elas estão presentes na vida de Não é fácil viver em comunidade. Existem sem-
igreja? pre muitos problemas e dificuldades a serem supe-
rados. O apóstolo, então, depois de dar instruções
2. A SANTIFICAÇÃO DA COMUNIDADE quanto à situação dos que já morreram e alertar
CRISTÃ sobre a vinda repentina de nosso Senhor, dá diver-
Como deve viver a comunidade cristã? Qual deve sas orientações para a convivência da comunidade
ser sua ética? cristã:
O apóstolo sabia que aqueles cristãos viviam • A primeira orientação é a de respeitar os líde-
numa cidade extremamente pagã, num ambiente res da comunidade (5.12). Muitas comunidades não
depravado e tolerante, "especialmente no que se valorizam devidamente seus líderes, e isto acaba
refere à vida sexual" (Bíblia Sagrada Edição Pasto- prejudicando a convivência de uma comunidade
ral). O ensino apostólico mostra a necessidade da sadia e agradável. A mesma orientação é dada à
comunidade viver a santificação. igreja de Filipos, com respeito à pessoa de
A santificação ensinada pelo apóstolo envolve Epafrodito (Fp 2.28,29; l Tm 5.17).
três áreas: • A segunda orientação é no sentido de auxiliar
• A primeira tem a ver com o respeito ao próprio os irmãos que estão em dificuldade (5.14,15). Uma
corpo (4.3-8). O propósito de Deus é tornara co- comunidade não pode ter convivência sem solidari-
munidade cristã santa, e isso implica num rompi- edade. Às vezes, é preciso levar "as cargas uns
mento total com a imoralidade sexual. Cada um dos outros" (616.1,2).
deve aprender a controlar seu corpo, mantendo-o • A terceira orientação é para se desenvolver
puro e tratando-o com respeito. Vale lembrar que o uma vida em clima de alegria, oração e gratidão,

« o é templo do Espírito Santo (l Co 6.12-20). sem murmuração, com muita fé, e aceitando o de-
A segunda área na santificação da comunida- safio da gratidão (5.16-20).
de cristã tem a ver com a prática do amor entre os • A última orientação para a convivência da co-
irmãos (4.9,10). Na prática do amor está a munidade cristã alerta para a necessidade dos cris-
santificação das nossas vidas. Não existe vida santi- tãos desenvolverem o discernimento e o espírito
ficada, sem vida de amor. O amor é o caminho so- crítico (5.19-22). É importante estar aberto diante
bremodo excelente (l Co 13). É esse amor que cons- da operação do Espírito Santo, mas, também, é im-
titui a santidade da comunidade, e Paulo orava para portante ter discernimento e espírito crítico a res-
que a comunidade de Tessalônica tivesse um amor peito das atividades atribuídas ao Espírito Santo.
transbordaníe uns para os outros e para com todos Principalmente nos dias de hoje, onde se busca
os homens (3.12). forçosamente um avivamenío, esta orientação é re-
• A última área na santificação da comunida- levante para a vida da igreja cristã brasileira.
de tem a ver com o trabalho (4.11,12). O cristão
não potíe ser preguiçoso. Ele precisa trabalhar. E Atifor; Re.v. Alllon Gonçalves Dias Filha
conhecido o ditado popular que "quem não tra- (Americana - SP)

27
IITESSALONICENSES
Desesperar, Jamais!

IITessalonicenses2.1-5

odos nós estamos expostos a EM DIA COM A PALAVRA


problemas vários. Na vida surgem Segunda Atos 17.1-9
momentos tão difíceis, que pensamos até Terça II Tessalonicenses 2. i -6
mesmo em desistir. Parece que a esperan- Quarta II Tessalonicenses 2.7-12
ça morreu, e o fim do mundo chegou. Mes- Quinta II Tessalonicenses 2.13-17
mo conhecendo as promessas do Senhor, Sexta II Tessalonicenses 3.1-5
comumente carecemos de alento e Sábado II Tessalonicenses 3.6-18
encorajamento para enfrentaras situações Domingo II Tessalonicenses 3.1-18
adversas da vida. Nestas horas, a ajuda e o
apoio dos irmãos são de vital importância
para recordar os preciosos ensinamentos sam repetir ou reforçar as mensagens, ou
do Senhor. explicá-las de uma outra forma, para que a
Ao passar por duras situações, não de- igreja aprenda. Assim procede o apóstolo
vemos nos sentir piores do que os outros. Paulo quando toma conhecimento de que a
A comunidade cristã de Tessalônica viveu sua primeira carta não alcançou o êxito es-
uma experiência enriquecedora para todos perado: escreve uma segunda carta deno-
nós. Ela havia recebido uma edificante men- minada "II Epístola aos Tessalonicenses".
sagem (l Tessalonicenses), mas, em pouco Ainda que semelhante à primeira carta, em
tempo, esqueceu-se das lições ensinadas, II Tessalonicenses o apóstolo, inspirado pelo
certamente porque os irmãos e irmãs não Espírito Santo, adota outros meios para
praticaram a mensagem recebida. Tal qual enfatizara mensagem anterior, sem "deses-
acontece hoje em dia, os pregadores preci- perar jamais".

A EPISTOLA

No último Estudo, obtivemos várias in- tempos (veja At 17) não cessaria; outros
formações quanto à cidade e à igreja de momentos difíceis haveriam de desafiar a
Tessalônica. Há grande semelhança no es- comunidade. Poucos meses após o envio
tilo, na ênfase e na mensagem das duas car- da primeira carta, o apóstolo recebeu no-
tas, certamente porque Paulo escreveu II vas notícias a respeito da comunidade
Tessalonicenses pouco depois de l (3.11). Aproveitando-se do rebanho, algu-
Tessalonicenses. Paulo, Silvano (Silas) e mas pessoas, baseando-se em pretensas
Timóteo (1.1,2) escreveram as duas car- revelações, orais ou escritas do apóstolo,
tas, em uma linguagem objetiva e direta, anunciavam, de uma outra forma, a
pretendendo mostrar que a luta de outros proximidade do dia do Senhor (2.2).

28
Ao tomar conhecimento do surgimento de tampouco fazer prognósticos ou marcar da-
uma orientação paralela à sua, o apóstolo tas (ITs5.2; Mt 24.43). Isso pertence a Deus.
enviou a sua orientação, visando corrigir Os cristãos de Tessalônica encontravam-se
erros e fortalecer a fé dos cristãos. tão preocupados com o fim dos tempos, que
Ambas as cartas falam da segunda vinda se refugiavam na visão apocalíptica, e se ali-
do Senhor. Na primeira carta, Paulo fala o enavam da prática cristã, desvinculando-se
que é a segunda vinda do Senhor (a da realidade. Segundo o apóstolo, os cris-
parousia); agora, ensina aos cristãos como tãos devem ocupar-se da prática da fé, res-
aguardar este dia. Ele mostra que não é nos- pondendo aos desafios do Reino, pois ainda
sa competência estabelecer tempos, nem não é o fim do mundo.

LIÇÕES PRINCIPAIS
Étoevemos concentrar a nossa aten- 2. RECONHECER O SENHORIO
ção nas seguintes recomendações que ABSOLUTO DE CRISTO
se destacam da mensagem de II Em Tessalônica, os apóstolos foram
Tessalonicenses: acusados de "revolucionar o mundo" e
"agir contra os decretos de César". Na-
1. ENCORAJAR-SE COM queles tempos, o culto ao imperador era
GRATIDÃO CONSTANTE cultivado por todo o império. Diz Paulo,
ADEUS que este (...) "se levanta contra tudo o
Inicialmente (cap.1), o apóstolo que se chama Deus, ou objeto de cul-
procura encorajar aos cristãos, incul- to a ponto de assentar-se no santuá-
cando neles otimismo e entusiasmo, rio de Deus, ostentando-se como se
e dando-lhes a visão da obra, visão do fosse o próprio Deus" (2.4). Os cris-
passado, visão do futuro. Devemos tãos recusavam-se a reconhecer César
render graças a Deus pelas muitas vi- como senhor. Assim, resistiam ao inimi-
tórias alcançadas e pelas misericórdi- go, afirmando que "Cristo é o Senhor",
as do Senhor, que se renovam a cada aquele que vencerá, pois "o Senhor Je-
manhã (Lm 3.22); não através de ex- sus matará com o sopro de sua boca,
es vazias, fora da realidade, e o destruirá pela manifestação de sua
svinculadas do dia a dia, mas recor- vinda" (2.8). Observa-se que, nesta
dando as ricas e incontáveis bênçãos epístola, os cristãos são incentivados a
do Senhor. Em vez de se refugiar na permanecerem firmes na fé; caso con-
visão apocalíptica ou esconder-se dos trário, não resistirão às artimanhas do
muitos desafios da vida diária, os cris- inimigo (1.9-12). Eis a razão da repeti-
tãos devem aprender a agradecer ao ção do título "Senhor" 22 vezes nesta
Senhor, conforme consta da primeira epístola. A preocupação de Paulo com a
epístola: "Em tudo dai graças" (l Ts comunidade era de que esta tomasse a
5.18). Isso envolve as bênçãos sim, ideia da volta de Cristo, como uma fuga
mas inclui, também, as "perseguições da realidade, "entregando os pon-
e tribulações" (1.4) que desafiam a tos". A igreja, segundo o apósto-
nossa caminhada cristã. lo, deve lutar mais, resistir mais e,
29
se preciso for, sofrer mais; porém, sem por que vos convém Imitar-nos..."
jamais abrir mão da profissão de fé: "Je- (3.7ss).
sus Cristo é o Senhor". • A valorização do trabalho como
Muitas tendências demonstram que, mandamento divino - O trabalho é bên-
na prática, a igreja, ainda hoje, não re-ção e não castigo ou maldição, pois foi
conhece o senhorio absoluto de Cristo. instituído por Deus para o bem-estar da
Por exemplo: há gente que valoriza tan- pessoa e o desenvolvimento do mundo.
to a ação do inimigo, que parece que • O combate à ociosidade - Paulo re-
Deus está enfraquecido e a igreja derro- comenda aos cristãos que se afastem
tada. Outros concentram a sua fé so- dos que vivem à toa ou de forma
mente no "além", no "depois", levando desordenada. A epístola condena a ati-
a igreja a acomodar-se aos modelos da tude dos que não trabalham, porque per-
sociedade, entronizando pessoas, ideo- manecem estáticos e desocupada
logias, modismos etc. É preciso enfatizar apenas aguardando a volta de Cristo.
que Ele é o Senhor. Disse Jesus: "toda • A dedicação para com o trabalho -
a autoridade me foi dada no céu e na Diz Paulo que "trabalhamos com esfor-
terra" (Mt 28.18). Ele é o único e abso- ço e na fadiga, de noite e de dia" (3,8).
luto Senhor (Fp 2.9-11). O apóstolo recomenda que o trabalho
seja feito com todo o esforço, oferecen-
3. COMPREENDER A VISÃO DE do o melhor que temos e somos (Ec
DEUS PARA O TRABALHO 9.10).
No capítulo 3 Paulo orienta aos cris- • O combate à injustiça e à explora-
tãos, conclamando-os ao trabalho sério ção do sistema - A conduta cristã res-
e responsável, vocacional e produtivo, ponsável constitui-se de oposição e re-
como recurso para aguardar a volta do sistência ao-sistema económico e políti-
Senhor. Em seu excelente comentário, • co de Tessalônica. Paulo recomenda aos
Vaimor da Silva apresenta a proposta cristãos uma postura diferenciada, não
diferente de Paulo quanto ao trabalho do se acomodando ao sistema escravagista
cristão, da qual destacamos: e explorador imposto por uma ideologia
• O auto-sustento - Ensina Paulo que opressora e injusta.
o trabalho garante a nossa subsistên- O cristão deve dar uma nova vis;
cia: "Quem não trabalha, não come" qualidade ao seu trabalho, pois este ê
(3.10). Para combater a "malandragem" realizado para a glória de Deus e o bem-
ou "o lucro fácil", a epístola reforça a estar social. Somente assim, o trabalho
mensagem do salmista: "Do trabalho de dignifica a pessoa humana, e cumpre o
tuas mãos comerás, feliz serás e tudo propósito de Deus. A voita de Cristo é
te irá bem"(Q\. certa e inesperada. Porém, os cristãos
- O estilo de vida dos apóstolos - seguem a vida cumprindo a vontade de
Eles trabalhavam muito e sobreviviam às Deus. Desesperar, jamais!
custas de seus esforços, trabalhando
com ordem e decência. Paulo diz: "pois Autor: Rev. Wilson Emerick de Souza
(Lavras - MC)
vós mesmos estais cientes do mOdo

30
l TIMÓTEO
instruções a um Líder Jovem

l Timóteo 4

lá um ditado popular que diz: "se EM DIA COM A PALAVRA


conselho fosse bom, ninguém dava;
Segunda Tito 2.1-10
vendia".
Teria T Timóteo 1

»
Realmente, existem instruções ou conse-
que não são os melhores. Por exemplo, Quarta I Timóteo 2
ários adolescentes e jovens vivendo no Quinta I Timóteo 3
mundo das drogas e em outras práticas pe- Sexta I Timóteo 4
caminosas, por causa das influências de pes- Sábado I Timóteo 5
soas chamadas de "amigas". Estes são os fal- Domingo I Timóteo 6
sos amigos que ensinam aquilo que só traz
prejuízos espirituais, morais, físicos e emoci-
onais. rio, sendo que ele seria o substituto ime-
Mas, neste Estudo, o que será mostra- diato do apóstolo, que já estava no final
do é o desejo do apóstolo Paulo em orien- de sua carreira. Estes conselhos são de
tar, instruir e aconselhar o jovem Timóteo, grande importância para a igreja nos dias
preparando-o para o exercício do ministé- de hoje.

A EPISTOLA
Esta é uma carta pastoral, visto ser dirigi- ensino, sobre a conduta e a administração
da a um indivíduo, e não a uma congregação. ministerial, sobre assuntos pessoais, sobre o
Paulo, também, escreveu de modo mais pes- culto, sobre os falsos ensinos etc.
soal uma segunda carta a Timóteo, uma a O conteúdo da carta, a partir destes con-
ft^mon e outra a Tito. selhos pessoais, podem ser resumidos em
^pEsta carta, basicamente, apresenta con- dois pontos: as lutas contra as heresias e a
selhos e exortações a um jovem pastor, a res- organização da igreja. A epístola revela, do
peito da sua conduta pessoal e do seu traba- princípio ao fim, o calor pessoal de Paulo em
lho ministerial, isso porque Timóteo possuía favor de seu filho na fé.
responsabilidade no governo, ensino e com- Ela foi escrita, provavelmente, de Filipos,
portamento nas comunidades cristãs (3.15; sendo que alguns comentaristas defendem a
4.12). Se bem que, para Gordon D. Fee e ideia de um escrito de Roma, isso por volta
Douglas Stuart, no livro Entendes o que Lês?, do ano 63 a 65 d.C., no intervalo do primeiro
"Timóteo não era o pastor, era um delegado e do segundo aprisionamento de Paulo em
temporário de Paulo para colocar as coisas Roma. Há comentaristas que afirmam que esta
em ordem e corrigir os abusos". carta foi escrita por outra pessoa que não
Os conselhos nesta epístola são diversos: Paulo, entre 90 e 115 d.C. ^
aos h.omens, às mulheres, aos bispos, aos Ê necessário apresentar algumas ^.
diáconos, aos servos, aos senhores; sobre o informações sobre a pessoa de Timo-

31
teo, cujo nome significa "que honra a Deus": • Era natural de Listra, cidade localizada
• Pastor jovem e líder da igreja de Éfeso; na Licaônia;
• Filho espiritual de Paulo e filho legítimo • Foi circuncidado (At 16.1-3, 20.4);
de pai grego e mãe judia (Aí 16.1); • Instruído nas Escrituras pela sua mãe
• Converteu-se durante o ministério de Eunice e avó Loide (II Tm 1.4,5);
Paulo-em Listra (At 16.1-5); • Parece que era tímido, pois a palavra "en-
• Companheiro e amigo íntimo de Paulo vergonhado" aparece várias vezes e, por ser
(Fp 2.19-22); tão jovem, precisou receber apoio dos cris-
• Possuía uma enfermidade (5.23); tãos mais experientes (l Co 16.10,11);
• Acompanhou Paulo na segunda e ter- • Era chamado de "filho amado e fiel no
ceira viagens missionárias (At 17.14, 18.5, Senhor" (l Co 4.17), grande "cooperador"
19.22, 20.4). Foi enviado com missão es- de Paulo (Rm 16.21) e "irmão e ministro de
pecial a Tessalônica (l Ts 3.2-6), Macedôma Deus no evangelho de Cristo" (l Ts 3.2).
(Aí 12.22), Corinto (l Co 4.17; 16.10; II Co Certamente, dentre todos os comp?nhpí-
1.19); ros de Paulo, Timóteo se destacava.

LIÇÕES PRINCIPAIS
1. ADVERTÊNCIAS SOBRE AS FALSAS Hoje, mais do que nunca, os falsos mestres e as
DOUTRINAS falsas doutrinas estão invadindo o país, e se espa-
É bem evidente, nesta carta, o apelo (rogo) de lham com muita rapidez portodo o mundo. As igre-
Paulo para que Timóteo estivesse sempre atento jas estão sendo atacadas por estes ensinamentos fal-
quanto às falsas doutrinas, e orientasse ao povo sos. Jesus disse que assim seria nos últimos dias
para que permanecesse firme na Palavra de Deus. (Mi 24.11). O apóstolo João oferece orientações bem
Estas advertências podem ser encontradas nas se- apropriadas sobre a maneira correia de se lidar com
guintes partes da carta: 1.3-11; 4.1-5 e 6.3-10. O estes falsos ensinos e ensinadores (II Jo 7-11).
objetivo maior de Paulo era quanto à preservação
da sã doutrina, e é por isso que ele mostra a Bíblia 2. APELO QUANTO À FIRMEZA NA FÉ
como sendo um livro inspirado (Palavra de Deus), Diante deste quadro de falsas doutrinas e ensi-
e a maneira correia de se lidar com os hereges. nos malignos, Paulo rogou a Timóteo que perma-
O que se percebe, aqui, é o zelo do apóstolo necesse firme, mantivesse a fé e uma boa consciên-
Paulo pelo seu rebanho. Ele não queria, de forma cia (1.18,19). Ele disse a Timóteo: "mas rejeita as
alguma, que os seu fiéis fossem enganados pelas fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-
falsas doutrinas. Ele afirma que "nos últimos tem- te pessoalmente na piedade. Foge destas cc
pos alguns se apostatarão da fé, por obedece- e combate o bom combate da fé e guarda
rem a espíritos enganadores e a ensinos de de- lhe é confiado" (4.7; 6.11,12,20).
mônios" (4.1), Realmente, muitas heresias surgi- É bom lembrar que Deus exige dos seus segui-
am naquele tempo, e hoje nem se fala, pois a cada dores esta firmeza de fé. O salmista disse: "os que
dia que se passa, ensinos heréticos são vistos por confiam no Senhor são como o monte de S/ao,
todos os lados. Por exemplo, o gnosíicismo era o que não se abala, firme para sempre" (S1125.1).
pensamento herético que estava permeando as men- E, somente aquele que forfíel aié à morte, herdará a
tes gregas nesta época. Os gnósticos eram, segun- coroa da vida (Ap 2.10).
do William Barclay, "completamente especulativos Será que é possível verificar esta firmeza de fé
quanto aos problemas da origem do mal, do peca- na vida dos cristãos hoje? Infelizmente, existem
do e do sofrimento, agindo apenas com a mente aqueles que esíão demonsirando fraqueza e muita
(razão). Eles afirmavam, basicamente, que a maté- instabilidade na carreira cristã. Isso é perigoso e
ria era essencialmente imperfeita e maligna, e que precisa ser corrigido. É bom recordar que
somente o espírito era bom". Jesus falou sobre a instabilidade de fé, che-

32
gando a afirmar que o amor se esfriará de quase isso que ele se dirige a várias classes de pessoas,
todos (Mt 24.12). Na parábola contada por Jesus, mostrando como a liderança deve tratá-las, e como
há outra afirmação para se pensar: "Contudo, quan- deve ser a convivência entre elas na igreja (2.1-7;
do vier o Filho do homem, achará porventura fé 5.1-16 e 6.1,2). Especialmente no final da carta,
na terra?" (Lc18.8). Paulo deixa de falar de um modo mais geral, e
dirige a atenção, em forma mais especial, a indiví-
3. ORIENTAÇÕES PARA A LIDERANÇA duos e a grupos dentro da comunidade cristã de
DA IGREJA Éfeso e seus arredores. Este assunto Paulo trata
Esta carta oferece preciosas e oportunas orien- em outras epístolas, por considerá-lo importan-
tações para os líderes da igreja, uma vez que ela é tíssimo. Com certeza, Timóteo, no desenvolvimento
destinada a um líder - Timóteo. Basta ler em 3.1-13 de sua liderança, precisaria de corrigir faltas de
e 5.17-25. Nestas duas passagens estão as principas alguns membros da igreja, e estes eram diferentes
orientações para a liderança da igreja. em sexo e idade.
É bom esclarecer que a carta menciona a figura Daí, Paulo oferecer estas instruções específi-
anciãos (presbíteros), diáconos e viúvas, as cas:
!Ts já figuravam em outras partes do Novo Testa-
mento (Aí 6.1ss; 9.39-41; l Co 7.8; Fp 1.1). A no- • As autoridades - devem receber as interces-
meação desses líderes não se deve a um governo sões do povo de Deus;
eclesiástico hierárquico, mas ao fato de que as igre- • O homem idoso-deve ser exortado como pai;
jas estavam crescendo por causa da obra missionária • Os moços - devem ser exortados como a ir-
e, por conseguinte, precisavam de mais líderes (At mãos;
14.22,23). • As mulheres idosas - devem ser exortadas
Paulo apresenta alguns aspectos da função, como a mães;
deveres e privilégios da liderança; • As moças - devem ser exortadas com toda
• O líder deve ser uma pessoa experiente (3.6); pureza;
• O líder deve'receber o salário pelo seu traba- • As viúvas- devem sertratadas com honradez;
lho (5.18); • Os servos - devem honrar aos seus senhores;
• O líder não pode ser censurado de qualquer • Os senhores - devem tratar com respeito os
modo (5.19-22); seus servos.
• O líder tem a tarefa de presidir a assembleia
cristã (administração) e de ensinar a congregação O que se percebe, é que o objetivo central des-
(5.17); tas instruções era para que houvesse paz e muita
• O líder não deve ser neófito, ou seja, pessoa fraternidade dentro da igreja, ou s^ja, para auxiliar
mnp.ntemente convertida (3.6); nos relacionamentos interpessoais. Paulo desejava
i líder deve ter um bom caráter: irrepreensível, que a comunidade cristã fosse conhecida como sen-
3 de uma só mulher, temperante, sóbrio, mo- do uma comunidade de respeito mútuo, repleta de
aesio, não dado ao vinho, não violento, cordato, amorfraternal e acolhedora.
inimigo de contendas, não avarento etc. (3.2ss). Mas, será que é fácil se relacionar com as pes-
Segundo Guilherme Hendriksen, em seu co- soas, uma vez que cada ser humano age e reage de
mentário do Novo Testamento (lê II Timóteo, Tito), uma forma diferente?
"devemos estudar as cartas pastorais porque elas Nestes dias de tantos afazeres e correria, é pos-
lançam muita luz sobre o importante problema da sível encontrar tempo para se relacionar com as
administração eclesiástica". pessoas? Quantos estão vivendo perto geografica-
mente, mas longe nos relacionamentos
4. INSTRUÇÕES A RESPEITO 00 interpessoais! Isso precisa ser corrigido!
RELACIONAMENTO ENTRE AS
PESSOAS
Autor: Rev, Anderxon Sutliter
Era desejo ardente de Paulo que existisse en- (Governador Valadares - iMG)
tre as pessoas um relacionamento fraternal. É por

33
II TIMÓTEO
A Luta pelo Ministério Cristão

II Timóteo 4.6-8

impressionante verificar a luta EM DIA COM A PALAVRA |


de determinadas pessoas ou gru- Segunda Romanos 8.3 1-39 1
pos pelos seus ideais. Existem aqueles que Te r f a Romanos 16.3-16 1
perdem até a própria vida nesta luta, como, Quarta Gaiatas 1.10-17 4S
por exemplo, o.Pr. Martin LutherKing, o teó-
Quinta II Timóteo I "^
logo Dietrich Bonhoefer, Tiradenies, Chico
Sexta II Timóteo 2 1
Mendes, e tantos outros. Estes e muitos ou-
Sábado II Timóteo 3 1
tros deixaram exemplos que ninguém pode
Domingo 11 Timóteo 4 1
negar ou ignorar. Realmente, dar a própria
vida em defesa dos ideais, é algo muito de-
safiador. mesmo caminho ideal, como bom soldado
Neste Estudo, o apóstolo Paulo fala de de Cristo, atleta e lavrador. A obra do Senhor
sua luta, a qual está chegando ao final, e não pode sofrer interrupções em sua cami-
conclama Timóteo para prosseguir neste nhada.
A EPISTOLA
A segunda carta a Timóteo foi escrita du- te busca (1.17). Certamente, Paulo estava
rante o segundo aprisionamento de Paulo, pou- acorrentado (1.16), "sofrendo até algemas,
co antes do seu martírio, isso por volta do ano como malfeitor" (2.9), e esta solidão o fazia
67 d.C., sendo esta a última epístola escrita sofrer (4.16,17). Paulo esteve na presença do
por ele. Paulo trata de quase todos os temas Imperador Nero, e esperava comparecer nova-
da primeira carta, mas é um escrito bem mais mente no inverno.
pessoal, mostrando a grande amizade entre ele Paulo pede a Timóteo que venha logo,
e Timóteo. Mas, ao mesmo tempo, apresenta a Marcos, trazendo os objetos que dei
sua tristeza, pois estava só e desejava ver Ti- isso, antes do inverno (4.9,11,13 e 21). Este
móteo. Paulo, naquele cárcere, sente-se só, vê "vir antes do inverno" era por causa da nave-
que os seus dias estão contados e, então, es- gação, que sofria solução de continuidade
creve esta carta, a fím de encorajar a Timóteo durante o inverno e, também, a sua execução
na missão. Desta vez, Paulo está na prisão, in- poderia ocorrer antes disso.
comunicável, esperando a morte, de modo di- A carta trata dos "últimos dias" em dois
ferente da primeira vez, quando ficou preso sentidos: os últimos tempos de Paulo, e os
em casa alugada (At 28.30). Segundo G. últimos tempos da igreja. É neste contexto que
Hendriksen, "Paulo estava encarcerado em al- ele declara: "Quanto a mim, estou sendo já
gum escuro calabouço subterrâneo, com um oferecido por libação, e o tempo UB minha
buraco no teto para passagem de luz e de ar". partida é chegado. Combati o bon
Onesíforo o encontrou depois de uma diligen- combate, completei a carreira, guar >

34
de/a fé" (4.6,7). ções vindouras.
A carta foi escrita com os seguintes objeti- Portanto, Paulo escreveu à sombra da sua
vos: 1) Para pedir a presença de Timóteo em execução, que lhe parecia iminente. Além de
Roma; 2) Para alertarTimóteo contra os falsos ser urna comunicação muito pessoal ao seu
mestres; 3) Para animar Timóteo em seus de- jovem amigo Timóteo, essa carta foi, também,
veres, preparando-o melhor para o ministério; o registro da sua última vontade; é o seu testa-
4) Para fortalecer Timóteo contra as persegui- mento à igreja.

LIÇÕES PRINCIPAIS
1. O MINISTÉRIO CRISTÃO NÃO • Timóteo era de temperamento tímida -
PODESOFRER INTERRUPÇÕES Era uma pessoa introvertida. Paulo teve de
Paulo estava vendo o seu fim chegar, e abrir caminho para a sua missão (I Co
i, pois, combateria pela verdade, depois 16.10,11) e, por várias vezes, exorta-o a to-
*ua morte? A situação era delicada a ponto mar a sua parte no sofrimento, e não ter medo
do comentarista Moule afirmar que "o Cristia- ou vergonha, já que Deus não nos deu espíri-
nismo estremecia, humanamente falando, à to de covardia (1.1-8; 2.1-3; 3.12; 4.5).
beira da aniquilação". Assim sendo, Paulo es- Deus deseja que a sua obra e a sua igreja
creve a Timóteo com o propósito de encorajá- não parem. É o que se pode ver, também, com
lo e capacitá-lo para o exercício do ministério, clareza, no Antigo Testamento, quando da
afim de que este não sofresse interrupções. morte de Moisés, que guiava o povo rumo a
0'apóstolo sabia que Timóteo precisava Canaã. Deus chamou, capacitou e encorajou
de ajuda para prosseguir, e que não estava a Josué para ocupar o lugar de Moisés, pois o
devidamente preparado para assumir as pe- povo não podia ir para a sua caminhada (Js
sadas responsabilidades de liderança na igre- 1.1-8). Aqui é possível perguntar: você tem
ja. John R. W. Stott, em seu livro Tu Porém, contribuído para o prosseguimento da obra
apresenta claramente três aspectos deste do Senhor? De que forma?
despreparo:
• Timóteo ainda era relativamente jo- 2. O MINISTÉRIO CRISTÃO PRECISA
vem - Foi por isso que Paulo disse a ele na SER LEVADO ATÉ ÀS ÚLTIMAS
primeira carta: "ninguémdespreze a tua mo- CONSEQUÊNCIAS
cidade" (l Tm 4.12), e o recomendou a "fu- São três as figuras (metáforas) utilizadas
las paixões da mocidade" (2.22). Talvez por Paulo, que enfatizam que a obra de Timó-
, nesta época, trinta e poucos anos de teo exigiria vigor, envolvendo tanto labuta,
idade. Deus quer usar todas as pessoas, in- como sofrimento: soldado, atleta e lavrador
dependentemente de sua idade. Todos são (2.1-13). Paulo, vendo os soldados romanos,
importantes para o Senhor. Aquela desculpa pensa nos soldados de Cristo, que devem ser
de ser muito jovem para trabalhar na igreja pessoas abnegadas, que mostram a sua de-
não tem respaldo nas Escrituras. dicação, por se acharem dispostas a sofrer, e
• Timóteo era propenso à doença - Na estando permanentemente em guarda. Os
primeira carta de Paulo aTímóteo, o apóstolo soldados em serviço não contam com segu-
referiu-se às suas frequentes enfermidades (l rança e facilidade. Pelo contrário, dureza, ris-
Tm 5.23). "Com" ou "sem" enfermidade, Deus cos e sofrimento são aceitos sem contesta-
quer que estejamos envolvidos em algum mi- ção. Ainda, tanto o atleta quanto o lavrador
nistério. As enfermidades precisam nos levar alcançam vitórias com muito esforço
mais para perto de Deus e de Sua igreja. e, até mesmo, com sofrimentos. A vida

35
dos atletas e dos lavradores não é tão fácil significa "assistir", "estar de prontidão", "es-
assim como muitos pensam. Mas, eles estão tar disponível". Mas, aqui, a ideia é de insis-
dispostos a levar as suas tarefas até o fim. tência e urgência. É preciso saber que o anún-
Mas, é o próprio exemplo de sofrimento cio do evangelho é questão de vida ou morte.
que Paulo dá a Timóteo, que se constitui em A Bíblia na Linguagem de Hoje diz assim:
lição de vida. Em II Timóteo 2.8-13, ele fala "pregue a mensagem e insista em anunciá-la,
do exemplo de sofrimento de Cristo, depois no tempo certo ou não". Após a sua conver-
da sua própria experiência e, em seguida, da são, Paulo logo pregava nas sinagogas que
experiência de todos os que crêem em Cristo. Jesus era o Filho de Deus (At 9.20), o que
Ainda, Pauio faz referência às suas persegui- demonstra a sua visão de urgência.
ções e sofrimentos em Antioquia, Icônio e - Anúncio personalizado - O versículo fala
Listra, as quais ele suportou (3.10-13). que se deve corrigir, repreender e exortar. Isso
Vale a pena lembrar do primeiro mártir do mostra diferentes maneiras de se ministrar a
Cristianismo, o diácono Estêvão, e do casal Palavra, e pessoas em situações difere
Priscila e Áquila, cooperadores de Paulo, os As pessoas atormentadas por dúvidas, p
quais arriscaram as suas próprias cabeças em sam ser consoladas; as vitimadas pelas in-
favor da expansão ao evangelho (At 7.54-60; justiças, precisam ser encorajadas. É preciso
Rm 16.3,4). aplicar a Palavra contextualmente.
Quantos estão hoje acomodados na vida - Anúncio paciente - Este anúncio deve
cristã! Quantos vivem, hoje, uma vida religio- ser acompanhado de "longanimidade". Nun-
sa de contemplação, apenas dentro das qua- ca se deve valer do uso de técnicas humanas
tro paredes e completamente inertes. São de pressão, ou tentar forçar uma decisão. O
pessoas que, provavelmente, não estão dis- pregador anuncia o evangelho, mas os resul-
postas a honrar os seus compromissos com tados vêm por obra do Espírito Santo. Em
Deus até às últimas consequências. toda a maneira de ser, o cristão é convocado
a ser longânimo (2.24,25). A urgência do anún-
3. O MINISTÉRIO CRISTÃO PRECISA cio não exclui a paciência.
SER EXERCIDO ATRAVÉS DA FIEL - Anúncio sábio - A pregação deve ser com
PREGAÇÃO DO EVANGELHO "doutrina", cuja palavra original é "didaquê",
No capítulo final da carta, o apóstolo Pau- ou seja, pregação com ensino e inteligência.
lo exorta a Timóteo, no sentido de que o seu O anúncio deve conter a sabedoria, pois só
ministério fosse exercido através da prega- assim os resultados virão. Paulo, quando pre-
ção da Palavra de Deus: "Prega a palavra, gou em Atenas, usou de sabedoria,
insta, quer seja oportuno, quer não, corri- do-se aos atenienses da seguinte forma: "
ge, repreende, exorta com toda a tudo vos vejo acentuadamente religiosos
longanimidade e doutrina" (4,2). Esta Pala- e o Deus desconhecido que adorais, é este
vra que deve ser pregada, são as Escrituras que vos anuncio". Com esta sabedoria, ele
do Antigo e Novo Testamentos, inspiradas conseguiu ganhar alguns para Cristo (At
por Deus e proveitosas, as quais ele sabia 17.22,23:34).
desde a sua infância (3.10-14). Timóteo pre- Portanto, a pregação deve ser transmitida
cisava pregar esta palavra e não apenas ouvi- com um sentido de urgência. Deve ser aplica-
la, obedecê-la e sofrer por ela. da à realidade das pessoas e de modo paci-
Esta proclamação da palavra possui as se- ente e inteligente.
guintes características, à luz do texto citado
(4.2): Autor: Rtrv. Anderson Sathler
(Governador Valadares - MG)
• Anúncio insistente - O verbo "instar"

36
TITO , f -x • ... *

A Reforma da Jgreja

Tito 2.1 H 5

Io início do século XVI, a igreja EM DIA COM A PALAVRA


cristã estava completamente des- Segunda Mateus 5. 14-16
virtuada de seus princípios originais. Foi pre- Terça Efésíos 2. -10
ciso uma reforma na vida da igreja para ten- Quarta Gaiatas 2. 1-20
t^^descobrir os valores perdidos. Foi um Quinta Tito 1
movimento marcante na vida da igreja cris- Sexta Tito 2
tã. E a igreja de hoje? Não estaria precisan- Sábado Tito 3
do de uma boa reforma? Às vezes, com o Domingo Filípenses 2.1-10
passar do tempo, é necessário fazer refor-
mas. A reflexão e a auto-análise se fazem documento importante para uma reflexão
necessárias. A carta de Paulo a Tiío é um sobre a reforma da igreja. Vamos a ela.

Esta epístola é uma carta de orientação No capítulo 2 da carta, Paulo fala de


a Tito, um grego convertido ao evangelho áreas específicas da "responsabilidade mo-
(Gl 2.3). Talvez tenha sido fruto do esforço ral cristã para o ministério do jovem Tito
missionário de Paulo, pois o apóstolo cha- junto a cada grupo e classe, livres e escra-
ma de "verdadeiro filho, segundo a fé vos, a fim de que possam cumprir as obri-
comum" (1.4). Tito faz parte da equipe de gações da verdadeira fé" (A Bíblia Vida
cooperadores do ministério de Paulo e é Nova-Tt 2.1-10).
"—presentante do apóstolo junto às igre- Nesta epístola, o apóstolo relembra im-
Creta. A obra de Paulo em Creta não portantes aspectos do evangelho. Primei-
r jenamente realizada. Esta epístola tem ro, ele explica a necessária relevância da
a ver com a concretização desta obra. graça salvadora de Deus em Cristo para o
As instruções a Tito são dadas no sen- comportamento cristão" (2.11-15). Depois,
tido de nomear uma boa liderança em cada ele registra um testemunho humilde sobre
comunidade. Os homens nomeados para o que fez em sua própria existência, por
essa função deveriam ser do mais elevado intermédio do Senhor Jesus (3.3-7). No
caráter (1.5-9). Essas nomeações eram final, o apóstolo exorta aTito para que evite
para a própria vida organizacional da co- especulações insensatas e discussões so-
munidade, como também para enfrentar e bre a lei com os legalistas judaicos.
prevenir contra os falsos cristãos que ha- Despendindo-se, o apóstolo termina a nar-
viam se infiltrado na vida da igreja (1.10- ta com uma regra de extrema utili-
16). dade para o Reino de Deus; "Ago-
37
rã, quanto aos nossos, que aprendam a favor dos necessitados, para não se
também a distinguir-se nas boas obras, tornarem infrutíferos"^ 4).

LIÇÕES PRINCIPAIS
1. A IGREJA PRECISA dias de hoje. Muitas igrejas estão repletas
DE REFORMAS de pessoas com ideias e ensinos estranhos
As atividades nas igrejas que estavam ao evangelho. E mais, muitas comunidades
sob a responsabilidade de Tito estavam in- precisariam rever suas formulações doutri-
completas. Havia "coisas restantes" (1.5) nárias, Confissões de Fé, pois elas podem
que Paulo não pôde concluir. A Tito é dada estar carecendo de uma profunda reforma.
instrução para estabelecer reformas que Não podemos esquecer o lema propos-
venham terminar a obra apostólica na co- to na reforma religiosa do século XVI: "liA,
munidade. Estas reformas teriam que ser reformada, sempre se reformando". Esta é
feitas em duas áreas da igreja: uma verdade que precisa se aplicar na vida
• Quanto à sua liderança (1.5-9) - Além das comunidades cristãs atuais, quanto à
das "coisas restantes" que Tito teria que sua liderança e quanto à sua doutrina.
colocar em ordem, deveria, também, no-
mear novas lideranças em cada igreja. Se- 2. A IGREJA PRECISA
gue uma lista de qualificações para os que DE ENSINO
deveriam ser escolhidos (1.6-9); são quase Paulo sabia que a melhor maneira de
as mesmas registradas em l Timóteo 3.2- acabar com as falsas doutrinas era a práti-
7. As qualificações da liderança não suge- ca do ensino sadio. A igreja precisa levar a
rem sairprocurando alguém "sem pecado" sério o ensino. Muitas comunidades, hoje,
(até porque não existe), mas não deve ser estão em crise de identidade e de referên-
alguém marcado por alguma coisa que pos- cia, porque em algum momento de sua his-
sa minguar sua autoridade. Ademais, mui- tória, negligenciaram a prática do verdadei-
tas igrejas carecem de uma boa reforma em ro ensino. Sobre esta realidade, há duas re-
suas lideranças, seja por má qualificação ou, flexões que precisam serfeitas:
às vezes, por falta de visão e interesse dos • O ensino da igreja deve envolv
líderes. Se a liderança não procura se re- das as faixas etárias (2.1-10) - Pai
formar, é preciso reformar a liderança (l Pé orientações para os homens idosos - de-
5.1-4). vem ser equilibrados, sérios, sábios, fortes
• Quanto à sua doutrina - Além de sua na fé, no amor e na paciência; igualmente,
liderança, a igreja precisa se reformar quan- as mulheres idosas devem ter um compor-
to à sua doutrina. Começou a existir na- tamento respeitoso, devendo ser exemplo
quelas igrejas falsos cristãos com ensinos às mais jovens; também os moços, devem
desequilibrados e que nada tinham a vercom levar a vida a sério, sendo exemplo do bom
o evangelho de Jesus Cristo. Estas pessoas viver. Enfim, o ensino da igreja envolve to-
estavam na comunidade e desvirtuavam a dos os relacionamentos da vida
fé de muitos. Assim também acontece nos (2.9,10). Não existe uma área da vida

38
humana em que a igreja não tenha que se vejoso, cheio de ódio e completamente ig-
envolver com o seu ensino. norante. A exortação feita a Tito, é no sen-
- O ensino da igreja deve mostrar a tido de lembrar os cristãos daquelas igrejas
importância da graça de Deus (2.11-15) às quais eles deveriam dar exemplos de uma
boa cidadania. Damos exemplos de boa ci-
- Paulo ressalta o aspecto educativo da graça
maravilhosa de Deus. Os cristãos, sob a dadania quando amamos a ordem, não di-
orientação da graça, fazem um rompimen- famando ninguém, e demonstrando plena
to total com falsos conceitos e com as in- consideração para com todos os homens
clinações que são exclusivamente deste (3.1,2).
mundo (2.12-14). Mas também, sob aori- Será que os membros de nossa comu-
entaçao da graça, a comunidade aprende a nidade são exemplos de uma boa cidada-
conduzir sua vida de um modo plenamente nia? Infelizmente, e muitas vezes, cristãos
(iAão: vidas responsáveis, dignas e de te- não têm sido exemplo de uma boa cidada-
mor a Deus (2.12). nia.
Toda a pregação, orientação e ensino da - Brilho manifesto pelas boas obras -
igreja cristã deve ressaltar a relevância da "Assim brilhe também a vossa luz diante
graça de Deus. É ela que educa para a vida dos homens, para que vejam as vossas
com Deus. Em muitas comunidades, infe- boas obras e glorifiquem a vosso Pai que
lizmente, a graça de Deus tem sido coloca- está nos céus" (Mt 5.16). A igreja deve
da de lado, em detrimento de doutrinas que brilhar com suas obras (Tg 2.14-26). Se-
são preceitos de homens (Mt 15.9). O guir Jesus Cristo traz este desafio social.
legalismo e o apego à letra têm sufocado Ele nos chamou para sermos igreja, com o
muitas vidas, deixando de lado toda a vida objetivo de praticarmos as boas obras, "pois
que brota dafrutífera graça de nosso Deus. somos feitura dele, criados em Cristo Je-
sus para boas obras, as quais Deus de
3. A IGREJA PRECISA BRILHAR antemão preparou para que andássemos
NO MUNDO nelas" (Ef 2.10). Paulo roga aos cristãos
Nosso Senhor Jesus Cristo responsabi- de Creta que sejam solícitos na prática de
lizou seus seguidores, afirmando que eles boa obras. "Estas cousas são excelentes
A a luz do mundo, e que esta luz deve eproveitosasaoshomens",d\ze\Q(3.8b).
brilhar no mundo (Mt 5.14-16). De fato, Deixarde brilhar como luzdo mundo é,
esta é a responsabilidade da comunidade para a igreja, o pior desvio doutrinário. Esta
cristã: fazer brilhar sua luz no mundo (Fp é a verdadeira heresia: não brilhar a luz de
2.15). Como ela pode fazer isto? Paulo ori- Cristo. Tomemos cuidado! Como cristãos
enta a Tito para que lembre às igrejas de precisamos ser exemplo de uma boa cida-
Creta algumas formas para fazer essa luz dania. E uma boa cidadania produzas boas
brilhar cada vez mais, obras do projeto do Reino de Deus.
- Brilho manifesto por uma boa cida-
dania (3,1,2) - Paulo cita o seu mau exem-
plo, antes de um compromisso com Deus, Autor: Rev, Aillon Gonçalves Dias Filho
quando ele era um cidadão rancoroso, in- (Americana - SP)

39
FILEMON
Solidariedade e Dignidade

Filemon 1.25''.

i data de 13 de maio de 1888 assi- EM DIA COM A PALAVRA


nala a ocasião da assinatura da lei que
Segunda Levítico 25.39-55
tornava livres os escravos, no Brasil. Porém,
Te r^ a Salmo 40
até hoje, pode-se constatar que muitas pesso-
Quarta Mateus 18.23-35
as continuam sendo escravizadas: por siste-
mas, ideologias, vícios etc. Quinta Lucas 10.25-37
É triste, mas é verdade, que neste terceiro Sexta ICoríntios 12.12-31
milénio da era cristã, ocorra a infração dos Sábado Gaiatas 3.15-29
direitos humanos, ou seja, a violação da inte- Domingo Colossenses3.5-l7
gridade física e'moral de tantas pessoas. Ain-
da é possível verificar a escravidão na forma tante é a espiritual, que encontramos em Cris-
de exploração e o tráfico de seres humanos. to, e que foi experimentada por Onásimo (Jo
Há necessidade de oração e ação por parte da 8.32).
igreja, para reverter essa lamentável realida- Pretende-se, através deste Estudo, de-
de. A escravidão, seja de que natureza for, é monstrar que é possível resolver problemas
incompatível com os valores do Reino de de relacionamentos, com a graça de Deus e o
Deus (Lc 4.18,19). A libertação mais impor- exercício da solidariedade.

Esta epístola foi escrita pelo apóstolo Paulo, Wílliam Barclay disse: "Acredita-se que Onésimo
provavelmente em 61 ou 62 d.C., quando era prisi- tenha incluído a carta a Filemon na coleção das
oneiro em Roma, Nota-se que, ao escrever as suas epístolas paulinas, por ocasião do seu bispado em
cartas, Paulo, geralmente, identifica-se como após- Éfeso, isso para mostrar a todos o que a graç
tolo, mas nesta epístola, ele se identifica como ami- Senhor havia feito por ele". "Que pequena o
go; mais do que isso; como um prisioneiro de Je- prima de diplomacia esta carta constitui!" (J. Sidlow
sus Cristo, demonstrando a sua abnegação, como Baxter, em Examinai as Escrituras, p. 270).
um apelo a Filemon. O que Paulo faz nesta carta é O comentarista J. B. Tidwell, no seu livro Visão
deixar de lado as referências à sua própria autorida- Panorâmica da Bíblia, p. 206, informa que esta
de, e apela para a solidariedade e o amor. É uma carta foi escrita para noticiar a Filemon a conversão
carta paulina de recomendação a Filemon, conheci- de Onésimo, e fazer um pedido a favor dele. Para
da como a "epístola de cortesia". É um escrito bem Paulo, Onésimo era um filho amado e, para Filemon,
pessoa] e particular. É provável que o apóstolo te- deveria ser um irmão amado (v.16). Paulo reforça o •
nha escrito muitas cartas particulares; a única que seu pedido no versículo 21, com a frase: "Mais do
não se extraviou é esta. Tíquico foi o portador desta, que estou pedindo', na esperança de que Filemon
juntamente com as cartas aos Colossenses e Efésios, concedesse a Onésimo também a liberdade" (con-
tornando-se o mediador entre Filemon e Onésimo, forme notas d'A Bíblia Vida Nova, p. 258).
por solicitação de Paulo (Cl 4.7-9). O comentarista Esta carta é importantíssima pelo que ré-

40
vela a respeito do poder do evangelho para trans- e Comentário, de Ralph P. Martin, p. 172). Em
formar a vida de um pobre escravo, pois os Roma, Onésimo encontrou-se com Paulo, de quem
ensinamentos dela mostram a necessidade da eli- ouviu o evangelho e se converteu. Paulo, não po-
minação definitiva de toda a escravidão de seres dendo ficar com eie, devolveu-o a Filemon, mesmo
humanos. sabendo que o castigo reservado aos escravos fugi-
Nesta epístola estão citados três personagens tivos era ser marcado com ferro quente, ou crucifi-
principais: Paulo, Fiiemon e Onésimo. cação. Naquele tempo, havia milhões de escravos
• Paulo era apóstolo de Cristo, prisioneiro em no Império Romano, os quais viviam na miséria,
Roma; sem direitos legais, sujeitos a açoites, mutilamentos,
• Fiiemon tornou-se cristão por intermédio de podendo até serem lançados às feras. Eram consi-
Paulo'(v. 19). Em sua casa reunia-se uma congre- derados máquinas, e os senhores (patrões) exerci-
gação da qual era líder (v.2). am o direito de vida, ou morte, sobre eles. Paulo,
• Onésimo era escravo de Filemon, e tornou-se então, escreve a Filemon, de modo gentil e delica-
filho espiritual de Paulo (v.10); ele se refugiou em do, solicitando afetuosamente que perdoasse a
. Inácio, um dos mártires do Cristianismo, em
H e suas cartas, declarou que Onésimo tornou-
se, mais tarde, bispo da igreja de Éíeso. Seu nome
Onésimo, até identificando-se com ele. Paulo soli-
cita a Filemon que receba, de novo, a Onésimo, que
uma vez foi inútil, mas agora é útil por fazer parte
significava "útil". da família da fé (v.11). O apóstolo pediu a Filemon
Esta epístola conta a história de Onésimo, que que acolhesse Onésimo, o qual poderia receber de
fugiu para Roma. Provavelmente ele fugiu por ter Filemon, não só o perdão e o acolhimento, mas a
roubado algum dinheiro de seu patrão Filemon; daí tão desejada e necessária liberdade. Paulo faz um
a palavra de Paulo: "e se algum dano te fez, ouse apelo à consciência de Filemon, e confia que Onésimo
te deve alguma cousa, lança tudo em minha con- será realmente perdoado. Onésimo, agora sendo
ta" (v.18). "A suposição subjacente é que Paulo cristão, ocupa uma posição muito importante, pois
conhece a lei mediante a qual uma pessoa que dá ingressou na comunidade onde todas as pessoas
guarida a um escravo fugitivo, fica devendo ao dono são irmãs. Continuará como escravo na carne como
o valor da perda de trabalho envolvida na deserção homem, mas receberá uma posição igual à de
do escravo" (Colossenses e Filemon - Introdução Filemon no Senhor, como irmão amado.

LIÇÕES PRINCIPAIS
1. A SOLIDARIEDADE PRATICADA Isso mostra que o cristão é incentivado a
SEM DISCRIMINAÇÃO redimir o mais baixo e degradado indivíduo.
Onésimo era um escravo fugitivo e, como Onésimo não tinha nada que o recomendasse,
uma pessoa quase sem direito ou pres- porque era um escravo fugitivo; mas Paulo foi
ntre as pessoas. Ser escravo naquele solidário para com ele, levando-o a Cristo. As-
tempo era ser uma "coisa", e não gente. O co- sim sendo, verifica-se que o problema da es-
mentarista J. Sidlow Baxter informa que era cravidão na vida de Onésimo foi resolvido por
concedido, pelo menos, um direito ao escra- influência do evangelho, pois o poder do evan-
vo, a saber: apelar para o amigo do seu senhor, gelho é a solução dos problemas sociais.
fugindo para procurá-lo, a fim de que o defen- A Bíblia deixa claro que não se deve fazer
desse, e não o escondesse. Mas, mesmo as- acepção de pessoas, pois o evangelho é para
sim, Paulo, ao se encontrar com ele, demons- unir a todos na Pessoa de Jesus Cristo, Aque-
trou solidariedade cristã, passando a le que veio ao mundo e não demonstrou ne-
evangelizá-lo e discipulá-lo. Paulo correu o ris- nhum tipo de discriminação (Jo 4.9; l Co
co de ser considerado conivente (cúmplice) 12.13; Gl 3.28; Cl 3.11).
com o erro de Ohésimo, porém, mesmo assim, A irmandade cristã é importante.
gastou tempo com ele, pois ali estava um ser Ela tem muito valor, pois está acima
humano carente da glória de Deus (Rm 3.23). de todas as distinções sociais e de
classes. Em Cristo, todos são irmãos. de precisa ser exercida com inteligência, de
Patrão e escravo foram unidos no Espíri- modo sábio e estrategicamente, a fim de se
to de Cristo e, nessa união, ficaram extintas obter os resultados desejados.
as distinções sociais. Onésimo encontrou re-
fúgio em Paulo, da mesma forma que o peca- 3. SOLIDARIEDADE EVIDENCIADA NO
dor arrependido e perdoado encontra refúgio PERDÃO
em Jesus. O que mais Paulo desejava com essa car-
ta, era que Filemon evidenciasse, de modo
2. SOLIDARIEDADE EXERCIDA COM concreto, o seu perdão àquele que tantos
INTELIGÊNCIA aborrecimentos lhe causou, concedendo-lhe
Nessa carta, Paulo demonstrou solidarie- o acolhimento e muito mais - a liberdade.
dade cristã para com Onésimo, e o fez com Filemon, como um cristão, precisava demons-
muita inteligência, sabedoria e tática, O seu trar, naquele momento, a sua solidariedade
pedido a Filemon possui alguns aspectos que através do perdão a uma pessoa que aoara
comprovam esse modo sábio e, até mesmo, era nova criatura em Cristo Jesus. Fil^ri
estratégico, para lidar com esta questão deli- deveria reeber Onésimo, não como um patrão
cada: pagão, mas como um cristão recebe um ir-
• A fim de sensibilizar o coração de mão e o perdoa, promovendo, assim, a re-
Filemon, Paulo menciona, algumas vezes, que conciliação. Sabe-se que o Cristianismo não
era prisioneiro e, mesmo sendo apóstolo, pre- tinha condições de mudar a estrutura daque-
feriu pedir um favor (w. 1, 9); la época. Mas Paulo, implicitamente, decla-
• Paulo elogia Filemon, com o propósito rou que a estrutura social vigente não era le-
de conseguir o perdão a favor de Onésimo gítima, pois, em Cristo, patrão e escravo, ago-
(w.4,7); ra irmãos na fé, estão unidos fraternalmente
• Paulo não utiliza a sua autoridade apos- n'Aquele que é o único Senhor. Com a volta
tólica para ordenar, mas prefere pedir, como de Onésimo, a reconciliação deste com
um amigo íntimo (vv. 8, 9, 20); Filemon sería restabelecida; a confiança mú-
• Paulo refere-se a Onésimo como seu fi- tua seria restaurada.
lho (v.10); Segundo o comentarista William Barclay,
• Paulo reconhece o mal causado por Onésimo, ao retornar para o convívio de
Onésimo, e promete restituir o prejuízo (w. Filemon, não deixaria de ser escravo, mas se-
11,18,19); ria um escravo-irmão em Cristo. Desse modo,
• Paulo afirma uma mudança radical na vida ele seria um servo mais eficiente e seria tam-
de Onésimo, garantindo-o (v.13); bém tratado com dignidade. Tudo isso-
• Sabiamente, Paulo utiliza palavras sua- que o Cristianismo promove um novo
ves para não causar indignação em Filemon, onamento entre pessoas diferentes, pois to-
por exemplo: "se tenha separado de ti por dos os cristãos são um em Cristo, e merecem
algum tempo" (v.15), e não, "fugiu ou esca- receber o perdão ensinado por Jesus (Mt
pou definitivamente"; 5.43-48; 18.21,22). Portanto, Cristo propor-
• Paulo menciona a sua provável próxima ciona dignidade ao escravo, fazendo dele um
libertação e a oportunidade de rever Filemon irmão, e dando-lhe o mesmo nível espiritual
(v.22). de Filemon. Foi o que aconteceu com
Diante de tais argumentos, Filemon não Onésimo.
teria como negar o pedido de Paulo, pois,
como enfrentaria o apóstolo quando este che-
gasse diante da sua pessoa? isso tudo
coníitui-se numa aula prática que Paulo deu Autor: Rev. Dtnnei Fana
(Alto Jequilibá - MG)
a Filemon. A lição central é que a solidarieda-

42

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