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membros do corpo que tem por cabeça o adorável Jesus. É


por isso que, quanto mais numa alma Ele encontra Maria, sua
amada e inseparável esposa, tanto mais operante e poderoso
se torna para produzir Jesus Cristo nessa alma e essa alma em
Jesus Cristo.

21. Não se quer dizer com isto que a Santíssima Virgem dê


ao Espírito Santo a fecundidade, como se Ele a não tivesse. Ele
é Deus e, por isso, possui a fecundidade (ou a capacidade de
produzir) tal como o Pai e o Filho, embora a não transforme em
ato, produzindo outra pessoa divina. O que se quer dizer é que o
Espírito Santo reduz a ato a sua fecundidade por intermédio da
Santíssima Virgem. Mas o Espírito Santo quer servir-se d'Ela,
embora disso não tenha uma necessidade absoluta, para produ-
zir n'Ela e por Ela Jesus Cristo e os Seus membros. Mistério de
graça, escondido mesmo aos cristãos mais sábios e mais espiri-
tuais!

SEGUNDO PRINCÍPIO
Deus deseja servir-se de Maria
na Santificação das almas

A Obra da Santíssima Trindade em Maria

22. O procedimento que as três Pessoas da Santíssima Trin-


dade tiveram na Encarnação e primeira vinda de Jesus Cristo,
têm-no ainda todos os dias, duma maneira invisível, na Santa
Igreja, e tê-lo-ão até a consumação dos séculos, na última
vinda de Jesus Cristo.

23. Deus Pai juntou todas as águas e chamou-as mar; jun-


tou as suas graças e chamou-as Maria. Este grande Deus tem
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um tesouro ou celeiro riquíssimo, onde encerrou tudo o que
tem de belo, de resplandecente, de raro e precioso, incluindo
o seu próprio Filho. E este tesouro imenso não é outro a não
ser Maria, a quem os santos chamam o “Tesouro do Senhor”,
de cuja plenitude os homens são enriquecidos.

24. Deus Filho comunicou à sua Mãe tudo o que adquiriu


pela sua vida e morte, os Seus méritos infinitos e as suas ad-
miráveis virtudes. Fê-la tesoureira de tudo o que o Pai lhe deu
como herança. E assim é por meio de Maria que aplica os
Seus méritos aos Seus membros, que comunica as suas virtu-
des e distribui as suas graças. Ela é o seu canal misterioso, o
seu aqueduto, por onde faz passar, suave e abundantemente, as
suas misericórdias.

25. Deus Espírito Santo comunicou a Maria, sua fiel esposa,


os Seus dons inefáveis, e escolheu-a para dispensadora de tudo
quanto possui. Deste modo, Ela distribui a quem quer, quanto
quer, como e quando quer todos os Seus dons e graças, e ne-
nhum dom celeste é concedido aos homens sem que passe por
suas mãos virginais. Porque tal é a vontade de Deus, que quis
que tudo recebamos por Maria. Desta forma é enriquecida, ele-
vada e honrada pelo Altíssimo aquela que durante toda a vida se
fez pobre, se humilhou e escondeu até o mais profundo nada,
em sua extrema humildade. São estes os sentimentos da Igreja e
dos Santos Padres.

26. Se eu falasse para os espíritos fortes da nossa época,


estender-me-ia a provar mais vastamente tudo o que estou a
expor dum modo simples, por meio da Sagrada Escritura, dos
Santos Padres - de quem citaria as passagens latinas - e por
meio de muitas sólidas razões que se poderão ler, amplamen-
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te expostas pelo Venerável Padre Poiré, na sua “Tríplice Co-
roa da Santíssima Virgem”. Mas falo particularmente para os
pobres e simples que, tendo maior boa vontade e mais fé que
o comum dos sábios, crêem mais simplesmente e com mais
mérito. Por isso contento-me com declarar-lhes simplesmen-
te a verdade, sem me deter com a citação de todas essas pas-
sagens latinas, que não compreendem. Não deixarei, no en-
tanto, de citar algumas sem todavia me esforçar por procurá-
las. Continuemos.

Jesus, Filho de Maria

27. Visto que a graça aperfeiçoa a natureza e a glória aper-


feiçoa a graça, é certo que Nosso Senhor, no Céu, é ainda tão
filho de Maria como o foi na Terra. Conservou, portanto, a
submissão e a obediência do mais perfeito de todos os filhos
para com Maria, a melhor das mães. Cuidemos, porém, de
não ver nesta dependência rebaixamento algum de Jesus ou
alguma imperfeição. Maria, estando infinitamente abaixo de
seu Filho, que é Deus, não se lhe impõe como uma mãe da
Terra o faz a seu filho, que lhe é inferior. Maria está toda
transformada em Deus pela graça e pela glória, que transfor-
mam n'Ele todos os santos. Por isso não pede, não quer, não
faz nada que seja contrário à eterna e imutável vontade de
Deus. Quando, pois, se lê nos escritos de São Bernardo, São
Bernardino, São Boaventura etc., que no Céu e na Terra tudo
está sujeito a Maria, até o próprio Deus, deve apenas enten-
der-se que a autoridade que Deus lhe quis conceder é tão gran-
de que parece igualar o poder divino, e que as suas orações e
súplicas são tão poderosas junto de Deus que equivalem sem-
pre a ordens junto da sua majestade. Ele não resiste nunca à
oração de sua dileta Mãe, porque é sempre humilde e confor-
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me à sua vontade.
Moisés deteve tão poderosamente a cólera de Deus
contra os Israelitas, pela força da sua oração, que este altíssimo
e infinitamente misericordioso Senhor, não lhe podendo re-
sistir, pediu-lhe que o deixasse encolerizar-Se e castigar aquele
povo rebelde (Ex 32, 10). O que então não devemos pensar,
com muito mais razão, da humilde oração de Maria, mais po-
derosa junto de Deus que as preces e as intercessões de todos
os anjos e santos do Céu e da Terra?!

Maria é Rainha

28. No Céu, Maria impera aos anjos e aos bem-aventura-


dos. Como recompensa da sua profunda humildade (Lc 1,48),
deu-lhe Deus o poder e o encargo de encher de santos os
tronos deixados vazios pela orgulhosa queda dos anjos
apóstatas. É vontade do Altíssimo, que exalta os humildes
(Lc 1, 52), que o Céu, a Terra e os infernos obedeçam, livre
ou forçadamente, às ordens da humilde Maria. Fê-la sobera-
na do Céu e da Terra, condutora dos Seus exércitos, guarda
dos Seus tesouros, dispensadora das suas graças, obreira das
suas grandes maravilhas, reparadora do gênero humano,
medianeira dos homens, vencedora dos inimigos de Deus e
fiel companheira de suas grandezas e triunfos.

29. Deus Pai quer formar filhos por Maria, até a consuma-
ção do mundo, e diz-lhe estas palavras: “Habita em Jacó”
(Eclo 24, 13). Isto quer dizer: faze a tua morada e habitação
entre os meus filhos e predestinados, figurados por Jacó, e
não entre os filhos do demônio e os réprobos, figurados por
Esaú.

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Nenhum Dom Celeste é, portanto, concedido aos homens,
que não passe pelas suas Mãos Virginais.

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