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arceria A. M. PEREIRA
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Rua Augusta, 50 a 54 - Lisboa
M. PINHEIRO CHAGAS
LIVRARIA ACADÉMICA
J. GUEDES DA SILVA ESCOBERTA DA INDIA
8, R. Mártires da Liberdade, 12
PORTO -PORTUGAL - TELEF. 25988
Contada por um marinheiro
O ESPIRITO REVOLUCIONARIO
DO SECULO XIX
FOR
ANSELMO VIEIRA
OSCAR LEAL
ZÉLIA
COMPENDIO
DE
RAYMUNDO CORREIA
POESIAS
( EDIÇÃO PORTUGUEZA)
Alfredo Mesquita
TERRAS DE HESPANHA
UNIV ATIS
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LUM
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IND
INDIANA
UNIVERSITY
LIBRARY
O Mysterio da Estrada de Cintra
D'esta edição tiraram-se 6 exemplares em papel Whatman
COLLECÇÃO ANTONIO MARIA PEREIRA
0 Mysterio
DA
ESTRADA DE CINTRA
TERCEIRA EDIÇÃO
MC
LISBOA
Livraria de Antonio Maria Pereira, Editor
50 - RUA AUGUSTA - 54
MDCCCXCIV
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PQ9261
·E2 M67
1894
LISBOA
TYPOGRAPHIA E STEREOTYPIA MODERNA
11-
-Apostolos - 1.°
a
PREFACIO DA 2.ª EDIÇÃO
De V.
Antigos amigos
EÇA DE QUEIROZ.
RAMALHO ORTIGÃO.
O MYSTERIO DA ESTRADA DE CINTRA
EXPOSIÇÃO DO DOUTOR ***
II
--Engana-s
e. E' precisamente como medico, é n'essa qua-
lidade que aqui está e é por esse titulo que viemos busca-lo
de surpreza a estrada de Cintra e o levamos a occultas a
prestar auxilio a uma pessoa que precisa d'elle.
- Mas eu não faço clinica.
- E' o mesmo. Não exerce essa profissão ; tanto melhor
para o nosso caso : não prejudica os seus doentes abando-
nando-os por algumas horas para nos seguir n'esta aventura .
Mas é formado em Paris e publicou mesmo uma these de
cirurgia que despertou a attenção e mereceu o elogio da
faculdade. Queira fazer de conta que vae assistir a um
parto.
O meu amigo F ... poz-se a rir e observou :
-
Mas eu que não tenho curso medico nem these alguma
de que me accuse na minha vida, não quererão dizer-me
o que vou fazer ?
Quer saber o motivo porque se encontra aqui ? ... Eu
lh'o digo .
N'este momento porém a carruagem parou repentinamente
e os nossos companheiros sobresaltados ergueram -se.
III
IV
E accendi um charuto .
Mas com os diabos tomam-nos por assassinos ! gri-
tou um violentamente. Não se crê na honra, na palavra de
um homem ! Se vocês não tiram a mascara, tiro-a eu ! E'
necessario que nos vejam ! Não quero, nem escondido por
um pedaço de cartão, passar por um assassino ! ... Senho-
res ! dou-lhes a minha palavra que ignoro quem matou este
homem !
E fez um gesto furioso. N'este movimento, a mascara
desapertou-se, descahindo. Elle voltou-se rapidamente, le-
vando as mãos abertas ao rosto . Foi um movimento ins-
tinctivo, irreflectido , de desesperação . Os outros cerca-
ram-n'o, olhando rapidamente para F..., que tinha ficado
impassivel. Um dos mascarados, que não tinha ainda fal-
lado, o que na carruagem viera defronte de mim, a todo o
momento observava o meu amigo com receio, com sus-
peita . Houve um longo silencio. Os mascarados , a um can-
to, fallavam baixo. Eu no emtanto examinava a sala.
Era pequena , forrada de seda em pregas, com um ta-
pete molle, espesso, bom para correr com os pés nús. O
estofo dos moveis era de seda vermelha com uma barra
verde, unica e transversal, como têem na antiga heraldica
os brasões dos bastardos . As cortinas das janellas pendiam
em pregas, amplas e suaves. Havia vasos de jaspe, e um
aroma tepido e penetrante, onde se sentia a verbena e o
perfume de marcchala.
O homem que estava morto era moço, de perfil sympa-
thico e fino, de bigode louro. Tinha o casaco e collete des-
pidos , e o largo peitilho da camisa reluzia com botões de
perolas ; a calça era estreita, bem talhada, de uma côr cla-
ra. Tinha apenas calçado um sapato de verniz ; as meias
eram de seda em grandes quadrados brancos e cinzentos.
Pela physionomia, pela construcção , pelo corte e côr do
cabello, aquelle homem parecia inglez.
Ao fundo da sala via-se um reposteiro largo, pesado , cui
dadosamente corrido . Parecia-me ser uma alcova. Notei
admirado que apesar do extremo luxo, d'um aroma que an-
dava no ar e uma sensação tépida que dão todos os loga-
res onde ordinariamente se está, se falla e se vive, aquelle
quarto não parecia habitado ; não havia um livro, um ca-
saco sobre uma cadeira, umas luvas cahidas , alguma d'es-
tas mil pequenas coisas confusas , que demonstram a vida
e os seus incidentes triviaes.
F ..., tinha-se approximado de mim.
-Conheceste aquelle a quem caiu a mascara ? perguntei .
Não. Conheceste ?
O MYSTERIO DA ESTRADA DE CINTRA 15
Ergui o papel, li :
I declare that I have killed myself with opium.
(Declaro que me matei com opio) .
Fiquei petrificado.
O mascarado dizia com a voz absorta como n'um
sonho :
-Não é possivel. Mas é a lettra d'elle , é ! Ah ! que
mysterio, que mysterio !
Vinha a amanhecer.
Sinto-me fatigado de escrever. Quero aclarar as minhas
recordações. Até amanhã.
VI
VII
II
III
IV
DO
MASCARADO ALTO
II
III
IV
Não. Porquê ?
E affastou-se com o capitão Rytmel para ao pé da tenda
onde de dia se fumava, e agora deserta e quasi escura.
Eu machinalmente fui-os seguindo , cheguei -me imperce-
ptivelmente pelo lado opposto, e quasi sem querer, ouvi.
O capitão dizia-lhe :
- Mas porque duvida ? Eu desprezo aquella mulher. A
nossa amisade nada perde, e nada soffre. Ella foi para mim
um capricho, a historia de um momento. Agora nem uma
recordação é...
Continuaram fallando baixo, e melancolicamente. Eu fui
encostar- me um momento à amurada. Erguera - se vento, e
o vapor começava a jogar
Quando me approximei de novo dos grupos ruidosos,
ouvi casualmente Carmen que dizia :
-
- Onde se some aquelle capitão Rytmel ? Desappareceu
outra vez com a condessa , não viram ? Vamos procu-
ral-os.
Compreliendi a traição. Corri rapidamente, sem ser per-
cebido, á tenda fumoir, entrei , sentei - me n'um banco, con-
versando alto , ao acaso. A tenda estava apenas allumiada
por uma lanterna. A condessa ao ver-me apparecer assim
tão bruscamente, fizera- se pallida de colera.
Mas n'este momento cliegavam alguns officiaes, gri-
tando :
- Rytmel ! Rytmel !
Eu adiantei-me dizendo :
-Que é ? Estamos aqui ; não queremos dançar mais ..
Os officiaes affastaram -se. A condessa percebeu que eu
a tinha salvado de uma situação penosamente equivoca, e
o seu olhar agradeceu-me , profundamente.
Desça, condessa, desça , segredei - lle eu .
Ella disse com um sorriso melancolico a Rytmel :
Està frio, adeus !
Rytmel e eu, voltámos para o grupo dos officiaes.
Eu queria -me vingar-me de Carmen ; lembrou -me o tor-
nal-a o centro de ruido, e d'orgia.
- - Señorita ! ' disse lhe cu, cante-nos uma seguidilla ou
uma habanera ! Faz um bello effeito no alto mar. Estão
aqui gentlemen que nunca ouviram a musica dos nossos-
paizes
-Sim, sim, gritaram todos . Uma seguidilla !
Ella queria recusar -se, descer ao beliche.
Não, não, cante, mylady, cante !
Os pedidos eram instantes, e ruidosos. Ella cedeu , ergueu
a voz, no meio do silencio , acompanhada pelo monotono
O MYSTERIO DA ESTRADA DE CINTRA 87
A la puerta de mi casa
Hay una piedra mui larga...
ANTONIO
PEREIRA
MARIA
888
VI
VII
VIII
Eu bati o pé desesperado.
Ah que infamia ! capitão Rytmel ! Que infamia !
E por uma inspiração absurda , querendo desabafar , fa-
zendo alguma cousa de violento , gritei para alguns mari-
nheiros que estavam á prôa :
Ha algum inglez ahi que preze a sua bandeira ?
Todos se voltaram admirados, mas sem comprehender.
- Pois bem ! gritei eu , declaro que esta bandeira cobre
uma torpeza, tem a cumplicidade da deshonra , e que é
sobre toda a face ingleza que eu cuspo, cuspindo no pa-
vilhão inglez.
E correndo á popa cuspi , ou fiz o gesto de cuspir sobre
a larga bandeira ingleza . Um dos marujos então de certo
comprehendeu porque teve um movimento de ameaça .
- Ninguem se mova ! gritou Rytmel. Eu sou o offen-
dido. Meu amigo, disse elle com voz suffocada , tem razão :
desde que abandonci Malta , deixei de ser official inglez .
Sou um aventureiro . Esta bandeira , com effeito , não tem
que fazer aqui !
Adeantou-se, arreou o pavilhão de tope da popa .
E n'uma exaltação tão insensata como a minha , arre-
messou o pavilhão ao mar ; as ondas envolveram -n'o , e
por um estranho acaso, no encontro das aguas, a bandeira
desdobrou-se , e ficou estendida sem movimento, serena,
immovel, á superficie do mar, até que se afundou .
Rytmel , então, por um impulso romanesco e apaixona-
do, tomou um lenço das mãos da condessa, amarrou-o á
corda da bandeira, e içando-o rapidamente, gritou :
—
De ora em diante o nosso pavilhão é este !
Eu achava-me no meio de todas aquellas scenas violen-
tas , como entre as incoherencias d'um sonho.
N'um movimento que fiz, senti no bolso o rewolver :
não sei que desvairadas ideias de honra me hallucinaram ,
tirei-o, engatilhei-o , brandi-o , gritei :
- Boa viagem !
- Jesus ! bradou a condessa.
IX
ΧΙ
XII
XIII
XIV
XV
II
IV
VI
«Minha prima.
II
III
IV
VI
VII
VIII
IX
AS
REVELAÇÕES DE A. M. C.
II
EÇA DE QUEIROZ .
RAMALHO ORTIGÃO.
INDICE
Pag.
Prefacio da 2.ª edição . V
Exposição do Doutor *** 1
Intervenção de Z....... 33
De F ... ao medico.... 39
Nota .. 55
Segunda carta de Z .... 61
Narrativa do mascarado alto 65
As revelações de A. M. C.…………. 125
A confissão d'ella... 151
Concluem as revelações de A. M. C.. 185
A ultima carta.. 193
PQ261
FM67
1894
Parceria A. M. PEREIRA
Rua Augusta, 50 a 54 - Lisboa
CONDE DE FICALHO
AS VIAGENS
DE
PEDRO DA COVILHAN
GI
HISTORIAS
ILLUSTRAÇÕES DE CONDEIXA
Volumies publicados
N. 1 Tristezas á Beira-Mar, romance de Pinheiro Chagas, 1 vol.
N. 2 - Contos ao Luar, por Julio Cezar Machado, 1 vol.
N. 3 Carmen, romance de Merimée, traducção de Mariano Level, 1 vol.
N. 4 A Feira de Paris, por Iriel, 1 vol.
N. 5- A Masrara Vermelha, romance historico de Pinheiro Chagas, 1 vol.
N.° 6 - John Bull e a sua ilha, traducção de Pinheiro Chagas, 1 vol.
N.° 7- Ojuramento da duqueza, romance historico por P. Chagas, 1 vol.
N. 8 - A lenda da meia-noite, romance phantastico, por P. Chagas, 1 vol.
N. 9- Ajora do vice-rei, romance historico, por Pinheiro Chagas, 1 vol.
N.º 10- Vinte annos de vida litteraria, por Alberto Pimentel , 1vol.
N. 11- Honra d'artista, romance de Octavio Feuillet, traducção de Pi-
nheiro Chagas, 1 vol.
N. 12 - Os meus amores, contos e balladas, por Trindade Coelho, 1 vol.
N. 13 e 14 - A aventura d'um polaco, por Victor Cherbuliez, traducção
de Maria Amalia Vaz de Carvalho, 2 vol.
N.° 15 - Os contos do tio Joaquim, por R. Paganino, 1 vol.
N.º 16 - As batalhas da vida, contos por Guiomar Torrezão, 1 vol.
N ° 17 - Noites de Cintra, romance por Alberto Pimentel, 1 vol.
N. 18 e 19- Em segredo, romance, trad. de Margarida de Sequeira, 2 vol.
N. 20 e 21 - A Irma da Caridade, por Emilio Castellar, traducção de L.
Q Chaves, 2 vol.
N.° 22 Migalhas de historia portugueza, por Pinheiro Chagas, 1 vol.
N. 23 A Cruz de Rrilhantes, por A. Campos, 1 vol.
N. 24 -Contos, de Affonso Botelho, 1 vol.
N. 25 Contos phantasticos, nor Theophilo Braga, 1 vol.
N. ° 260 mysterio da estrada de Cintra, por Eça de Queiroz e Ramalho
Ortigão 1 vol .
N.° 27-0 naufragio de Vicente Sodré, rom. historico de P. Chagas, 1 vol .
N. 28 Vid'airada , por Alfredo Mesquita. 1 vol.
N. ° 290 Bacharel Ramires, por Candido Figueiredo, 1 vol
N.0 30 e 31 -Amor à antiga, romance de Caiel, 2 vol .
N. ° 32 - As Netas do Padre Eterno, por Alberto Pimentel
N. 33 - Contos, de Pedro Ivo, 1 vol.
LIVRARIA
DE
LISBOA