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NUMERO 1- /i ( J
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A ALMA NOVA

REVISTA SEMANAL DE SCIENCIAS E DE LITTERATURA


2,a SMÍ& «mi# MMZ» S.° &WM
A

JjiRECTOf^, ^UE^ELIANO < :gNE 1 . ^

PROPRIETÁRIO- E J^dministradof^ ç^osé JIOLHIMHI

Summario do n.° 1—A nossa revista,pela redacção.—Desoladarnen-


te, poesia, por X. de Garvalho.—Os Génios, por A. Cirne.-Nao
posso!... poesia, por A. Bramão.—Confidencia intima, conto,
por Dominó Azul. — Alma nova, sonetos, por J. d'Araujo e A.
Cirne.—Edições e editores, conto, por E. Sequeira.—Os rios, so-
neto, por A. Nobre.—A mulher na republica romana, por C. da
Cruz.- ^respondentia.—Chronica dos theatros (na capa) pe-
lo Ilepc r. *

Assinatura por semestre no JPorto 7SO réis—JProvincins, pua" adinntnd»


7SO rs.-Brny.il, moeda íorte 1Í7MO. Aniiuncion por linha 5JO rs. Serio anuucia-
dos gratuitamente o» livros de que se receberem doas exemplanes. Os origiuaes
mesmo no caso de não serem publicados, não são restituído».
a
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO RUA DAS FONTAINHAS, 43—PORTO
lEsasasasííHSHsasasasasHsaíasHsasasasEiasaíasasasasasasiLsasasíLsasMHsasss
Joaquim d'Araujo í Antonio Nobre

ODE AOS RAPAZES NOVOS


eiiois
Poemeto.
Poemeto em sonetos com uma ALICERCES
carta prologo de Eça de Queiroz.
Colleccão de poesias.
(No prelo) -j (No prelo)

EXPEDIENTE.—São considerados assignantes e correspon-


dentes da Alma Nova os assignantes e correspondentes do Julio
Diniz; áquelles, porém, qae não quizerem continuar a prestar-nos
o auxilio que até agora soubemos merecer-lhes, pedimos a fineza
de nos devolver o presente numero antes da publicação do seguinte
para melhor regularidade da escripturação do jornal.
GHAPELERIA UNIVERSAL
126, RUA DE SANTO ANTONIO, 130
PROPRIETÁRIOS:—VICTOR, COUTINHO & C.A
1

N'este importante estabelecimento continua o publico a encontrar um


Sortimento completo de c/iapeos de todas as qualidades como são;
C/iapeos de pelúcia. Chapeos de castor, altos. Chapeos de molas para
baile, manufacturados em setim, merino ou sicilienne. Chapeos pluma, peso
50 grammas. Chapeos de pello de coelho, lebre e castor. Chapeos de feltro
á explorador. Chapeos alpaca á explorador. Chapeos unwersaes, de duas
faces. Gorros de feltro, casimira e seda. Bonets de casimira e seda.
PARA CREANÇA
Chapeos de phantaeia para os dous sexos. Chapeos de palha, idem. Bo-
nets de phantasia para meninos, alta novidade, etc .
Os annunciantes, apresentando ao publico um novo melhoramento que
introduziram na sua casa—OS FIGURINOS DAS PRINCIPAES NOVIDADES
DA ESTAÇ.,O-teem em vista provar quanto tomam a peito o adiantamento
da arte da chapeleria e facultar aos seus novos freguezes um meio simples
e fácil de os pôr ao corrente das ultimas erecções da moda.

Accrescentaremos apenas que o snr. V. Coutinho, enaugurando a pu-


blicação dos modelos phototypados, realisou um progresso notável na arte
que brilhantemente cultiva;_ felicitamos o nosso amigo e desejamos-lhe
prospero successo de que são credores os seus esforços e aptidões.
LA. POUPBE MODÉLE
JOURNAL DES DÈMOISELLES
Plus de cinquante années d'un succés tou- JOURNAL DES PKTITS F1LLES
jours croissant ont constaté la supériorité du 48 — RDA VIVIENNE — PARIS
«Journal des Demoiselles,» et 1'ont placé à la Abonnement—Portugal: 11 francs par an.
lête des publications les plus utiles de notre L'éducation de la petite fille par la Pou-
époque. Former des filies, dessoours: des épou- pée, telle est la pensée de cette publication,
ses et desmères dévouées; leurinspirerl'amour vivement appréciée des families: pour un
de Dieu, de la famille et de leurs devoirs: leur prix des plus modiques, la mòre y trouve
enseigner à faire,—riche ou pauvres,—le bo- maints renseignements utiles, et l'enfant des
nheur deleur maison; orner leur esprit; déve- lectures attachantes, instructives, des amu-
lopper leur intelligence, tout en les initiant sements toujours nouveaux, des notions de
aux travaux, à l'économie, aux soins du mé- tous ces petits travaux que les femmes doi-
nage; tel est le bultque s'est proposé le «Jour- vent connaitre, et auxquels, grace à nos mo-
nal des Demoiselles.» A' un mérite littéraire dòles et á nos patrons, les filtettes s'initient
unanimementapprécié, ce journal a su joindre presque sans s'en douter.
les éléinents les plus utiles; oeuvres d'art, gra- En dehors des petits ouvrages et Patrons
vures de modes, imitations du peintures, mo- pour poupée que contient chaque numéro,
deles de travaux en tous genres, tapisseries, «La Poupóe Modele» envoie également un
patrons, broderies, ameublements, musique. joujou aisé á construire: Figurines à décou-
Atiftiincnienl:—Portugal, 14 fr. per et ã habiller,— Cartonnages instructifs,—
Ce joli cadeau d'élrennes, d'un prix três Musique,—Gravures de Modes d'enfants,—De-
modique, revient chaque mois raviver cliez la cors de théâtre, petits Acteurs—Surprises
destinataire le souvenir de la donatrice. de toutes sortes, etc., etc.
On s'abonne -en envoyant au bureau du On s'abonne en envoyant, 48, rue Vivien-
journal, 48, rue Vivienne, un Mandat de pos- ne, un Mandat de poste ou une valeur á vue
te ou une valeur a vue sur Paris, et sur tim- sur Paris, et sur timbre, à l'orde de M. Fer-
bre ii l'ordre de M. F. THIÉRY, directeur. nand TMfiRY, Directeur du Journal.
A ALMA NOVA

REVISTA SEMANAL DE SCIENCIAS E DE LITTERATURA

2." SERIE DO «JULIO DINIZ» 5.° ANNO

-H*381®E«'+-

DOMINGO 30 DE AGOSTO DE 1885

viril e sadio, se bem que de uma orientação


A NOSSA REVISTA positiva menos coadonavel para o época em
que repoisam sobre as nossas mesas de tra-
Em Portugal a vida jornalística, ao passo balho os livros de Comte, de Spencer, de
que se resente do aniquilamento geral em Leconte de Lisle e de V. Ilugo.
que pouco e pouco se vão derruindo os mais A decadência da arte porlugueza não é
saudáveis elementos étnicos da nossa nacio- tão profunda como a muitos se afigura; as
nalidade, enférma sobre tudo de um grave nossas revistas scientifico-litterarias não estão
indifferenlismo bohemio, não só por parte da ; rigorosamente a toda a altura do espirito na-
grande mapa burgueza, que só cuida de in- cional.
teresses materiaes,senão também,e muito prin- Perde-se ahi uma enorme força produclora
cipalmente, por parte dos que se dizem jor- por falta de centralisação e de disciplina.
nalistas consumados e beneméritos. No Porto ha uma pleiade simpática de ra-
E' singularmente desolador o pensar-se pazes cujo futuro litterario está demasiado
no acanhado horisonte litterario e scientilico garantido no critério publico; é principalmente
que nivella os poucos hebdomadarios que se para elles que o nosso semanário se destina,
publicam actualmente em Portugal; é rarís- no intuito de reunirmos em fileiras cerradas
simo encontrar-se ura trabalho scientilico ori- os valerosos combatentes que até agora se
ginal ou uma producção artística primorosa perderam no isolamento e na obscuridade.
que não seja respigada n'um livro, ou corta- 0 Julio Diniz transformado hoje na Alma
da á tesoura de uma publicação periodica ex- nova, apesar de grandes lacunas que o nosso
lincta—porque as tivemos ahi,das quaes resa esforço nunca pôde vencer, soube merecer a
a nossa historia como de verdadeiros monu- benevolência e as sympatias do maior nume-
mentos no seu genero. Parece que o cére- ro; a mudança do nome patenteia claramente-
bro portugueze, longe de attingir o lumi- o intuito da innovação e a tenacidade presis-
noso influxo das quatro grandes litteraturas tente de subir a toda a altura de que o nosso
modernas a franceza, a allemã^, a ingleza e meio social fôr susceptível.
a italiana, se resente de uma atrophia pro- Por demasiado longas as nossas aspirações
gressivamente desanimadora, contra a qual não nos intimidam nem nos fazem vacilar:
não ha hygiene salutar nem therapeutica ate- podémos um dia convencer-nos de que nin-
nuante. guém de boa fé e de melhor critério poderá
E todavia a geração presente, embora me- censurar-nos por aquillo que as nossas forças,
nos rica em poderosas orientações como as o despeito do imraenso desejo que nos anima,
que tão altamente distinguiram as gerações não poderem produzir, e menos ainda pelo
coimbrãs de 68 e de 74, tem ostentado um que as imposições directrizes do nosso meio,
crescido numero de combatentes de primeira não poderem supprir da nossa diiliciencia.
linha,evidenciados por numerosas estreias que Dito isto ficamos com a consciência de ter-
demonstram um temperamento artisticamente. mos cumprido cabalmente o nosso dever.
/N T"r I -wAT'- —T~\ - -r "* "* r-i

A ALMA NOVA

«—O' Cidade, ó louca eterna,


IE Deixa o Mal andar em paz;
Venus poz uma taberna
Onde vende á luz do gaz
Toda a podridão moderna!
0 sol esmorece ao longe,
Como um soluço de luz: Porto.
Parece um pallido monge Xavier de Carvalho.
Envolto no seu capuz.

As nuvens côr d'estamanha, QSP-,


N'uma vaga claridade,
São como teias d'aranha
Suspensas da immensidade.
OS GÉNIOS
Dizem alegres cantigas
Nos beiraes as andorinhas:
Tristes muzicas antigas Não são os grandes vultos que fazem as
De endoidecerem rainhas. civilisações, mas as civilizações que, por uma
especie de eleição ou de selecção, os cons-
Creanças pelas janellas truem successivamente.
Soltam frescas gargalhadas, A civilisação, ou antes, a marcha evolu-
Esplendidas como estrellas, tiva de uma phase histórica bem caraclerisa-
Vibrantes como facadas. da, é unívoca e anonyma.
A obra do homem sincero, por mais in-
D'um realejo plangente significante que pareça, vae addicionar-se á
Cheio de tédio e pobreza avalanche que passa, para formar essas es-
Saem impavidamente plendidas cumiadas, semelhantes ás cristas
As notas da marselhesa. alvíssimas das ondas, que se chamam — os
génios.
Na calçada uns operários A morte é para elles a suprema consa-
Caminham cambaleando gração, porque lhes rouba a fragilidade nati-
E dão beijos mercenários va do homem para dar-lhes a integridade
Rameiras que vão passando. olympica dos symbolos.
Victor Hugo é o symbolo heráldico da re-
Ha symphonias d'aurora volução, a personificação vivíssima da es-
Nas vitrines resplendentes thetics litleraria do nosso tempo. Porque foi
E a culpa embriagadora elle maior do que Camões? porque a civili-
Scintilla em scherzos ardentes. sação do século XIX é mais grandiosa do que
a do século XVI. Porque foi que a sua obra
Burguezes de chapéu alto se tornou universal? porque a vida humana
Olham as divas chlorólicas nnnca attingiu tanto de perto o vórtice da
E arrastam por sobre o asphalto lucta. Victor Hugo é o exemplo mais frisan-
As sombras tristes, exóticas... te; quando archilectava as bellas columnas,
sobre as quaes a sua obra devia levanlar-se
Até nas praças a lama como a cópula enorme de uma cathedral se-
Extranhamente sorri, cular, fez contemporâneos seus os mais ex-
Como damnado epigramma, traordinários génios que o tinham precedido,
Como agudo bistouri... pela analyse rigorosa da época e da obra
d'elles. O século XIX fez o mesmo: a época
E o poeta -o satyro infame, dos centenários vem proval-o á evidencia.
Vae cruelmente desferindo Dos homens ninguém sabia já; mas os sym-
Da lyra um novo réclame bolos rejuvenesceram e tornaram-se comlem-
As divindades do Pindo. poraneos. Antes tarde do que nunca, diz o
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provérbio e disse-o lambem a historia. Não pouco um dos primeiros vultos da nossa lit-
é a vida dos homens que se glorifica; mas a j teratura o snr. Guerra Junqueiro; dizer isto
vida da humanidade-«o homem que vive é egualar a nossa civilisação às civilisações
sempre». do passado; é negar a velocidade progressi-
0 período vital decresce porque se ga- va da sciencia moderna; é fazer de Victor
nha em velocidade o que se perde em tem- Hugo uma entidade sobrenatural, o que é
po. Aos trinta annos póde-se ser um génio; quasi um crime.
no fim de um século póde-se ser um sym- A ultima phase da philosophia franceza
bolo. Victor Hugo viveu quasi um século; transformou profundamente o mundo pensa-
por isso o povo francez o glorificava como dor e tornou-se universal. A obra de Comte
um deus: á grandeza do cerebro vinha jun- foi enorme porque foi uma synthese, embora
lar-se a amplitude de um coração modelo abstracta, porque foi a alma nova de toda a
ainda palpitante. Nío se pôde ter gosado verdadeira sciencia humana. Por isso Comte
uma felicidade mais completa! é um symbolo extraordinário. Victor Hugo fi-
Cada século, como cada homem, tem um cou de fóra; mas nem por isso a historia lhe
nome; cada escóla tem um symbolo, como contestou um lugar de honra entre a galeria
cada religião tem um culto, como cada sol dos immorlaes.
tem uma órbita de attracção. Mas o século Porto.
xix tem muitos nomes; porque o exclusivis- Aureliano Cirne.
mo de qualquer escóla desappareceu como o
egoísmo heráldico diante dos turbilhões po-
pulares.
0 grande sol fraccionou-se, coro a ne-
bulosa de Laplace, para produzir • .uitos sys-
temas. A historia é essa enorme nebulosa
d'onde imergem cada dia novas concentrações j
de luz: a historia da humanidade é a histo-
ria do céu.
Ser um génio não é personificar uma épo-
ca, não é synthetisar uma civilisação. Que Não te posso chamar grata miragem,
cabeça humana poderia conter o nosso século? Essência do Senhor, visão de luz,
Por isso dizemos que Victor Hugo não é o Porque ante a tua imagem
symbolo da actualidade. Ser um génio é pos- Plantei a minha cruz.
suir um extraordinário poder de generalisa-
ção, trilhando a trajectória delineada por uma Não posso ouvir-te as trémulas endechas,
philosophia positiva e naturalista. E o tymbre seductor da tua voz,
Victor Hugo não é a vasta concepção das Pois que oiço as minhas queixas,
aspirações modernas, porque não foi um na- As minhas queixas sós.
turalista como Goethe, porque não abraçou
uma orientação positiva como Taine, porque Não sinto dentro d'alma a onda vinda
não teve uma concepção esclarecida da hu- Do teu affecto grande de explendor,
manidade como Quinei e como Spencer. Foi Porque é maior ainda
um génio çomo Baccon e como Descartes; 0 meu profundo amor.
mas não foi! nem podia ser, um encyclope-
dista como Leibnitz. 0 nosso tempo não pôde E assim nem sequer posso abençoar-te,
produzir génios no sentido histórico da pala- Erguer por ti aos ceus uma oração,
vra; o cérebro do homem será cada vez mais Porque bem vês, d'est'arte
estreito e selvagem. A sciencia dilatou-se por Não te conheço, não!
tal forma que não pôde deixar da fraccionar-
se, e d'esse fraccionamento resultou o inat- Alberto Brcmão.
tingivel progresso que vae realisando.
Não pôde dizer-se que Victor Hugo lenha
na sua obra todas as grandezas e todos os de-
feitos do seu tempo, como afflrmava ainda ha
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do hymineu. «Vou confessar-me para te es-


CORRESPONDÊNCIA INTIMA clarecer, pagando a minha promessa.
Sabes as condições em que casei, por-
BREVE PREAMBULO
que foste uma das meninas que me acompa-
nharam como donzellas de honor.
Dispenso-me, pois, de te apresentar meu
Devemos ao leitor algumas palavras de marido, que entra na cathegoria das pessoas
explicafão prévia. para quem os passaportes tèem uma única
Na primeira das cartas que em seguida formula invariável:
vamos reproduzir, encontrar-se-hão certas Ordinário.
passagens substituídas por linhas de reticen- Ordinário.
cias. E' que, a despeito do vivo desejo de Ordinário.
levar o nosso tributo ao thesouro sempre N'estas condições, foi sem antipathia co-
crescente dos documentos humanos, pare- mo sem amor que esperei o momento so-
ceu-nos indiscreto penetrar mais intimamente lemne.
nas confidencias que se trocaram entre duas Depois da cerimonia, nupcial sahimos de
amigas de collegio. Paris no expresso das tres horas e cincoenta
A imaginação do leitor, esclarecida pelas minutos, e chegamos a Fontainebleau cerca
suas recordações pessoaes, supprirá facilmen- das cinco.
te, de resto, os córles que nos pareceu in- Passo em claro uma ou duas tentativas
dispensável fazer. de abraços que meu marido arriscou durante
O transcriptor o trajecto, quando a nossa companheira de
1." viagem, uma velha dama, dormitava ou fin-
gia dormitar.
Aurélia Vermandois d sua amiga Reprimi-as iramediatamente, porque não
Antónia Morseuil offereciam interesse algum.
Minha querida mignone: Chegámos. Esperava-nos o hotel da Águia
Negra. Jantamos; meu marido, todas as vezes
Coisa promettida, coisa devida que o creado da meza saía para nos servir,
A promessa vem de longe, recordas-te?... renovou as suas tentativas,—tentativas de
Foi no collegio de madame Pimbéchou, amor, como elle dizia.
onde o acaso nos reuniu e onde a amisade Estou muito convencida de que o creado
pouco depois nos tornou inseparáveis. da mesa devia espreitar pelo buraco da fe-
Um dia, que passeávamos no jardim, du- chadura, por que sempre, como para fazer
rante a hora do recreio, enlaçando-nos pela pirraça ao meu pobre Ricardo, entrava ines-
cintura, falíamos, entre outras coisas, do ca- perada e intempestivamente no momento em
samento. que a sua ausência me teria entregue sem
Tínhamos doze annos então. Doze annos, defeza ás effusões do noivado.
se os ti véssemos. E como as nossas cabeei- N'uma palavra, o jantar não nos levou
nhãs trabalhavam já como abelhas em corti- mais longe que a carruagem.
ço, procurando penetrar o mysterio do ca- Depois do dessert para retardar o instante
samento, jurámos que a primeira que rece- decisivo,—ura pequeno passeio na única rua
bessse o santo sacramento de que falia o com estabelecimentos que Fontainebleau pos-
cathecismo religioso e profano, forneceria á sue,—para tomar ar e fazer a digestão.
outra todos os esclarecimentos, todas as in- Meu marido não queria absolutamente
formações que fossem para desejar e sulfi- sair; mas convenci-o de que era indispensá-
cientes para saber tudo. vel para o meu estomago nervoso, dar uma
Mais tarde, á medida que o tempo fatal volta antes de deitar-me.
parecia aproximar-se mais, renovamos repe- Se visses a cara que elle tinha em quanto
tidas vezes—e com curiosidade cada vez o forçava a comtemplar os bibelots e quin-
mais aguda e impaciente,—esse solemne ju- quilherias das lojas, que constituem a in-
ramento. dustria local de Fontainebleau.
Quiz o destino, minha querida Antónia, Houve momentos em que levei a cruel-
que fosse eu a primeira a romper a marcha dade de lhe propor que passássemos o resto
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da noite no café concerto, onde se cantava gestos e acpões uma declarapão cortada de
detestavelmente e se tocava ainda peior. suspiros intermittentes, parecia-me ébrio!
Então, elle quasi que se formalisou, mos- Então, não pude conservar-me séria; de-
trando-se agastado. Não havia remedio; com- satei uma gargalhada immensa, interminá-
prehendi que era forposo marchar para o sa- vel, como se visse um bom true de operetta!
crifício. Mas Ricardo tomou a coisa às boas. Apa-
E' aqui, querida Antónia, que entro no gou a vela que ardia no castipal e arrebatou-
vivo da situação e na execupão intima da rae nos brapos...
promessa contrahida comtigo.
Conformemente ao uso, que prevalece
ainda no mundo com/me il faut, não tinha Se este ó o mais bello dia da vida, que-
ninguém junto de mim para me dar as ulti- rida Antónia, posso aflirmar-te que não é a
mas instrucpões, nem mamã para chorar no mais bella das noites...
meu seio palpitante a scena das recordapões
e saudades.
Também, devo confessar que não sentia Pedia-lhe, pedia-lhe por tudo quanto ha-
essa falta, nem me desagradava o isolamen- via... Ai, querida, como os homens são egoís-
to. Deve ser tão ridícula essa scena de ins- tas!
trução primaria, esse insino mutuo e re-
trospectivo, ministrado pela mamã experi-
ente á filha novipa! E durante este tempo, um visinho dava
A noite de núpcias deve ser um duello murros na parede, do outro lado, resmun-
sem testemunhas. gando distinctamente: «Que diabo! não (p^'de
Sim, duello!... 0 resto do que vou con- a gente dormir socegado n'este hotel!...
tar te provará que a minha comparapão é
rigorosamente exacta.
O mais diílicil, talvez é collocar-mo-nos A's cinco horas da manhã, o hospede, do
em condipões de combater... quarto paredes meias com o nosso, recome-
Qual dos dois comeparia? pou aos murros, furiosamente.
Meu marido queria absolutamente desem- Aqui tens, minha Antónia, a acta summa-
penhar as funcpões de creada de quarto. ria que prometti enviar-te. De tudo isto, tira
Ah! não, isso não... Seria demasiado a conclusão que melhor te agradar.
ridículo, e teria-o sido ainda mais aos meus Paguei a minha divida.
próprios olhos. Até breve. Escreve-me para Nice, posta
Exilei-o, pois, para o quarto contíguo. restante. E' para ahi que vamos descansar
E então um mez,—diz meu marido.
Descanpar!... Percebo e... agradepo.
De repente, quando me julgava garanti- Tua amiguinha do corapão,
da pela sua palavra, e antes que, como no Aurélia.
jogo das escondidas, gritasse: Trai\ Traz] a 2-* "
porta reabriu-se bruscamente. Antónia Mosseuil d sua amiga Aurélia
Era Ricardo, doido de impaciência, per- Vermandois
didinho da cabepa. Tão desorientado e de- Minha querida Aurélia
sordenado que appareceu em ceroulas de
malha rosa. Vinha de camisola, cor de car- Li com attenpão a tua comedia.
ne, com intenpões allegoricas. Pelo que me dizes vejo que, quando a
Ah! minha querida Antónia, que funesta gente se casa, as coisas passam-se absoluta-
inspirapão! mente como quando a gente se não casa.
Com o seu falso ar de maillot, essa ca- Obrigada!... A'manhã escreverei mais
misola dava a meu marido aspectos choreo- extensamente.
graphicos d'uma pieguice... que excedia as Mando-te um abrapo.
maiores asneiras! Tua fiel,
E quando, estendendo os brapos e tenta- (Trad.) Antónia.
do conjugar o verbo amar, ajuntou aos seu» Dominó Azul.
G

ALMA NOVA EDIfÕES E EDIT08ES

Na treva enorme, sem um larol, 0 velho conselheiro vivia sempre absorto


Meu coração nos puros gosos do celibato sem que ante elle
Viu-te surgir, —santo arrebol! tivesse aparecido a doce visão de uma mu-
Roseo clarão! lher amada, que podesse alegrar-lhe o lar do-
mestico, onde reinava aquella solidão agreste,
Na minha vida, ébrio de sol, que só é dissipada pela alegria de uma casta
Ouviu-se, então, esposa ou pelo terno garrular de um bando de
llluminando-a, um rouxinol, creancitas loiras que, trepando-nos pelas per-
—Teu coração. nas e enlaçando-nos meigamente o pescoço
com os braços pequenos e roliços, nos ve-
Flor luminosa da primavera, nham estampar na face um longo beijo de
Teu doce olhar amor.
A' torre ebúrnea da Chimera A única paixão do conselheiro eram os
livros Bibliophilo de alma e coração, enleva-
Me fez voar, va-se horas inteiras na contemplação de um
Tal como o vento á folha de hera qualquer in folio raro, ou nos bellos missaes
Que cae no mar... de illuminuras soberbas, ou nos velhos alfar-
rábios gotticos, cujas folhas se desfazem á
Agosto, 85. mais leve pressão dos dedos.
Os livros eram todo o seu amor; o pas-
Joaquim de Araujo. sado o presente e o futuro estavam synthe-
tisados nas largas vitrines, onde se arrecada-
II vam todas aquellas preciosidades, mais que-
ridas que os gosos estonleadores que a opu-
lência pôde dar.
(aos corações moços) Nunca mulher alguma foi amada com um
amor intenso, exclusivo e profundo como o
que o conselheiro dedicava aos seus livros.
Não tivera mocidade. Do mundo conhecia
Outrora el-rei Jesus, essa croança austera, apenas as primeiras livrarias e os mais afa-
o povo resgatou das velhas maldições; mados alfarrabistas. Por qualquer volume raro
hoje o sceptro polluiu essa infantil chimera: que lhe faltasse éra capaz de ir à China ou
—hoje ostQnta-se a cruz no peito dos ladrõos.
de revolver meio globo para alcançar a sa-
Um novo heroe combate, um novo deus impera; tisfação da sua vehemente paixão de collecio-
jftirdlsrse na ofllcina o bronze dos canhões.
/ A consciência explusiu da luminosa esphera nador.
como a lava que rasga as fauces dos vulcões. Pouco figurara na sociedade; a sua pasmo-
A lucta colossal, radiosa, que avassalla sa erudição, e principalmente a grande for-
a alma da mocidade o as tradições abala, tuna de que dispunha, altrahiramlhe as ba-
quebrou a estatua vil que o kanticlsroo ergueu.
julações dos polilicos, que n'elle pensavam
Baptisou-se na luz; r onhum remorso a oprime; poder encontrar um magnifico filão a explo-
e se o fiharlo empunha o látego do crime, rar; mas a tudo resistira; a sua severidade
fal-o beijar a terra a vóz do Prometheu.
Leça. conservara-se impenetrável.
Vingaram-se chamando-lhe original, dedi-
Aureliano Cirne, cando-lhe nas conversações umas risadas e
uns ápartes ironicos e tractando de redicula-
risarem-lhe a paixão dos livros, o que o achou
tão indifferente como as primeiras bajulações
soezes.
Se o queriam ver deligente, cheio de en-

A ALMA NOVA

:
thusiasmo ede satisfação era annunciarem-lhe De noite, pelas horas religiosas,
um qualquer leilão de livros raros ou apon- Os rios tem cantigas de ceifeiras;
tarem-lhe arfelo onde existissem rnanuscriptos E ao verem-n'os passar dizem as rosas:
de valor. Então arrostava com as agruras do — Agua que vem de terras estrangeiras...
tempo, as chuvas, as ventanias, o mais ar-
dente frio para correr pressuroso a fazer aqui- No entanto, como enormes esqueletos,
sição das novas preciosidades para a sua opu- Cobrem o rio as arvores, Hamletos
lenta bibliotheca. N'uma postura extactica e silente:
Mas fóra d'isto nada era capaz de o en-
commodar. E a lua vai boiando, á tona d'agua,
Sentado n'uma poltrona envolto no rob Gemea do amor, dos séculos, da magua,
de chambre com um montão de livros disper- Como Ofélia nas aguas da corrente...
sos envolta de si, passava dias inteiros esque- Porto.
cido do mundo, sem que a noticia do maior Antonio Sobre. J
cataclismo fosse capaz de o fazer desviar a
vista do vehemente objecto dos seus cuida-
dos. Se a biblioteca nada soffresse, o mais o
que lhe importava? Podia até acabar-se o mun-
do que elle não se encommodaria absoluta-
mente nada com isso. A MULHER N4 REPUBLICA ROMANA
Um dia, de improviso, o velho conselhei-
ro mudou completamente. Como se operou a I
conversão, as causas que a motivaram isso Se nos primeiros tempos de Roma a fami •
é que para sempre jazerá no mais impene- lia não teve a exacta e elevada significação
trável mistério. O caso 6 que elle começou a que mais tarde lhe deu o christianismo, com-
frequentar a sociedade e a cortejar as damas tudo, apesar da aviltadora dependência em
que, por fim, simpatisaram com elle, apesar da que se encontrava, conseguiu a mulher at-
sua epidérme amarellenta, apergaminhada, trair a si uma profunda consideração, deixan-
dos cabelos brancos e da semicorvalura do do de ser um instrumento passivo do marido
dorso. ao que as leis pareciam tel-a condcmnado pri-
De certo o velho conselheiro, habituado mitivamente. O caracter endurecido, bellicoso
a acariciar as toscas encadernações da idade e austero dos povos que concorreram para a
media, a traclar com amor os pequeninos formação de Roma, especialmente dos Sabel-
hjrios tvpographicos da sua collecção, sabia licos, raça a que pertenciam os Sabinos, fa-
ler com ellas meiguices especiaes, mimos es- zia com que se mantivesse inalterável a pu-
quesitos que inteirainonle as captivavam. reza da tribu e da família para o que concor-
Depois a prespectiva de uma fortuna princi- ria o seu system a de governo aristocrático- <
pesca estonteava as pequenas capeças feme- patriarchal. "
ninas, que só sonhavam n'um mundo de de- O poder do chefe de família em Roma óra I
licias, cheio de jóias caras, rendas de Bruxel- absoluto, dispondo livremente dos filhos e)
las e sedas de Pekin... dos bens, e tendo também sobre elles ... "«brf'
(Segue). a mulher o direito de vida e de morte, emLir-
Eduardo Sequeira. tude d'uma iníqua lei de Rómulo; na sua
falta ficava a esposa sob a tutella dos filhos,
que egualmente a exerciam sobre as irmãs
solteiras. Todavia a mulher era ligada pe-
los sacerdotes ao homem, que lhe ficava de-
vendo protecção, e considerava-se como enor-
me desgraça a extincção d'uma família, para
impedir o que era facultada a adopção dos
Os rios tem cantigas de ceifeiras filhos extranhos; e apesar de ser prohibida á
Bailadas esquisitas e formosas... mulher a acquizição de bens, tinha direito a
Ha lá no fundo cristallinas Piras, receber da herança paterna uma parte egual
Onde bailam creanças vaporosas. á dos filhos; nem era permittido aos maridos

à
A ALMA NOVA

repudial-as sem lhes restituírem os dotes, re- mas também os seus cultos religiosos, o amor
púdios estes bem pouco vulgares durante a do luxo e o exagero dos banquetes e dos
republica, tempo em que attingiu o mais alto praseres sensuaes, corruppão qufc era favore-
grão de desenvolvimento em Roma o respeito cida pelos opulentos despojos que os romanos
pela pureza dos costumes. As próprias leis obtinham nas suas guerras continuas.
que collocavam a esposa tão inferiormente Houve em Roma quem tentasse oppôr
na sociedade, constituíam apenas uma escra- ura dique a este estado social, resistindo
vidão apparente contra a qual nunca procu- energicamente a tudo quanto fossem innova-
raram revoltar-se, porque com as qualidades pões. A' frente d'este movimento estava Ca-
e tendências próprias do seu sexo consegui- tão o censor que procedeu com o maior ri-
ram obter o império da vida intima da famí- gor, expulsando da cidade os philosophos
lia. Entregues continuamente aos cuidados Coruades, Christolus e Diogenes; punindo co-
domésticos, a crear e a educar os filhos, a mo corruptores de costumes os Scipiões c
^ar a lã para os vestuários dos maridos Lucio Quinto Flamurico e decretando leis se-
"Uerceder por estes perante os deuses veras contra a devassidão.
para que fossem bem succedidos nas guer- Agosto de 1885.
ras, achavam-se recompensadas ao receber Candido da Cruz.
nos braços de esposas os louros das victorias
do marido que eram também os louros da pa-
tria. A salutar influencia das mulheres foi
bem reconhecida pelos romanos que promul-
garam leis tendentes a manter a boa ordem
nas famílias a Dm de que a nação, uma fa- CORRESPONDÊNCIA
mília também, se conservasse impolluta. A
profunda considerapão que lhe tributavam pro-
va-o exhuberantemente a determinapão do Acabamos de solicitar pelo cor-
senado prohibindo commelter-se irreverências reio auctorisação legal para apresen-
na sua presenpa, e a ordem obtida por Vetu- tarmos aos nossos leitores a traduc-
ria de se lhes ceder o passo na vias publi- ção de um esplendido romance de
cas. costumes que acaba de sair a lume
0 respeito pela virtude estava tão arrei- em Madrid Los Banos dei Manzana-
gado que as vestaes gozavavam de garantias res; é um trabalho primoroso e di-
notáveis como as de obter o perdão d'um gno de ser conhecido do publico
criminoso que encontrassem caminhando para portuguez. Publical-o-hemos em fo-
o supplicio, contanto que jurassem ter sido lhetim duplo nas duas ultimas psgi-
fortuito o encontro; serem as únicas mulhe- nas.
res que prestavam testemunho jurídico; pu- Solicitamos egualmente auctori-
nír-se com a pena capital a menor injuria sação do respectivo editor para pu-
que lhes fosse feita; estar a mais antiga blicarmos no nosso jornal os prin-
vestal exempla de ser julgada pelos censo- cipaes trechos do monumental livro
de Dumas (filho) La Question du
1
tícuía-nos Plutarcho, nos seus «Preceitos Dioorce-, o divorcio é uma das ques-
do Casamento», que Manlio foi expulso do tões sociaes que mais tem agitado o
senado por ter abrapado apaixonadamente mundo politico da Europa, sobre a
sua mulher na presenpa d'uma filha. qual os nossos publicistas guarda-
Este estado de coisas devia fatalmente ram uma reserva enexplicavel.
cessar pela influencia dos povos com quem Provaremos aos nossos leitores
os Romanos estavam em contacto, deixando- com as palavras eloquentes do eru-
se seduzir pelos costumes orientaes cheios de dito litterato francez que o divorcio
volupluosidade e ainda pelo contacto dos gre- é não só uma^ das conquistas mais A
gos que introduziram em Roma não só a ar- praticas da sociologia comtempora-
te e a lilteratura, que concorrera muito nea, senão também uma das mais
para o brilhantismo da civilisapão romana, luminosas aspirações do espirito mo-
embora lhes tirasse o cunho de originalidade, derno.
CHRONICA DOS THEATROS aos nossos leitores o que foi a festa
dos bombeiros voluntários, visto que
A' primeira vista parece que este todos concorreram a essa festa, sob
tempo não é fértil em acontecimen- todos os pontos de vista digna dos
tos theatra.es, que mereçam dous seus briosos promotores.
dedos de attenção. Mas é um erro. No theatro Principe Real debutou
E é um erro, porque lia tanto com a companhia equestre de D. Raphael
que occupara chronica, tanto de que Diaz, que todo o Porto conhece.
íallar, tantas coisas a dizer, que não A maior parte dos artistas da com-
sabemos por onde principiar. panhia é muito nossa conhecida, ha-
Diremos mais: josé-antonio-cas- vendo todavia alguns artistas novos,
(an heir cimente f a 11 a n d o, houveram que se destacam notavelmente pela
antas coisas, que é clifflcultatoso at- correcção dos seus trabalhos.
íender a tudo. A empreza espera mais alguns
Em primeiro lugar,—e comece- artistas, que estão de quarentena nos
mos por aqui,—mencioharemos a lazaretos.
j ker messe dos bombeiros voluntários, Realisou-se também no theatro
- 110 Palacio de Crystal. Temos uma baquet o beneficio do actor Diniz
opinião muito pouco sympathies a um bello rapaz e um bello talento
respeito" das kermesses, — devemos artístico, representando-se a quelle
«•onfessal-o antes de mais nada. Não impagável Bebé em que Antonio Pe-
é que ellas nos mereçam mau con- dro é excepcional de graça. IJma ca-
ceito, quer pela sua reprezentação. sa cheia e applausos serri conta.
quer pelos seus merecimentos..'. No theatro dos Recreios subiu á
Na Allemanha, de onde a kermes- scena pela primeira vez n'esta epo-
fe 6 oriunda (vã lá este apontamen- chs, o Fausto,—não o de Goethe,—
o biographico) desempenha ella um o outro...
papel differente d'aquelle que desem- Para um theatro popular não po-
penha entre nós. Alii, e n'outros de exigir-se mais nem melhor. A
paizes que lhe seguiram o exemplo, nova empreza, dos snrs. Coelho Fer-
nunca, ao que nos consta, a ker mes- í reira A C.% não se poupou a esfor-
$& chegou a ser tão contagiosa que çar para fazer d'um simples Faus-
obrigasse alguém a isolar-se pre- tino um Fausto digno de ver-se.
ventivamente, como acontece em Felicitamol-os e desejamos since-
ortugal. Aqui, a kermessc tomou ramente que esses esforços se iam
um caracter epidemico de tal modo coroados do melhor êxito.
nocivo ás finanças de cada cidadão, » A companhia de opera cómica do
' que dentro em pouco torna-se ne- theatro Principe Real anda ensaiando
cessário organisar uma kermesse algumas dez peças que contituem o
monstro para soccorrer os pobres seu reportorio na próxima epocha
paes de família victimas da kermes- tiíeatral. No elenco da companhia ha
somania.Não queremos com isto con- alguns artistas quasi novos para nós,
demnor os bombeiros voluntários do mas artistas de incontestável mere-
Pela sua iniciativa. Temos cimentos e de merecida reputação.
d elles uma opinião muito differente, Entre elles, mr. Moysés de Ben-
e nao nos cançaremos por isso em saude, que nós vimos na compa-
louvar os seus generosos e humani- nhia do theatro de D. Maria II. e que
tários serviços prestados aos habi- nos dizem possuir uma voz esplen-
tantes do Porto, que têem obrigação dida. A companhia trabalhará provi-
lestricta de auxiliar essa briosa ág- soriamente no theatro Baquet.
c.remmçao, visto que os membros Ra mais alguma couza a mencio-
a ena, s|m outro interesse que não nar, mas pedimos licença para so-
seja o de serem úteis, arriscam a prar á luz, deixando o resto para a
propria vida heróica e denodadamen- próxima semana. Vámos! E' preciso
l
® Para valerem aos seus concida- economisar alguma coisa...
loes.Postolisto^bstemo-nosde dizer O Reporter.
T ■■i.

ANNUARIO
DA

ACADEMIA PORTUGUEZA
PUBLICAÇÃO ANNUAL
QUE SAIIIRÁ a lume nos porto, no primeiros dias de outubro
SOB A DIRFXÇÃO DE kVMMkM 4H0K, ALUM NO DA ACADEMIA DA MESMA CIDADE
Dividir-sc-ha ein quatro secções coordenadas pela ftfrma seguinte:
a) secção burocrática—Que constará Ijl preparatórios; phase secial e politica da Aca-
de uma rápida indicação bibliographica dosQdcmia portugueza sob o ponto de vista das
livros, memorias etc; nacionaes e estrangei-IÇ candidaturas académicas por accumulaçao
ras, publicadas durante o anno; nomes e mo- li etc., etc.
radas dos professores dos cursos superiores 1J o) albuA i-itterario — Onde reunire-
de Lisboa, Coimbra etc; horários das aulas; Cornos producções originaes dos nossos princi-
horarios e preços nos caminhos de ferro en- Çi paes homens de lettras, especialmente dos
tre os principaes centros académicos; calen-Cl membros da academia,
darios e indicações postaes, etc., etc. a d) secção de annuncios—contendo a
b) secção critica—Especialmente des- !p indicação e os preços dos livros omciaimenie
tinada á apreciação e á averiguação dos fa- adoptados e dos de indole puramente littera-
ctos anormaes occorridos na Academia; pro- y ria publicadas no paiz; annuncios de estatie-
jetos de reformas dos cursos superiores ou [J lecimentos de ensino livre, etc.
Parece-nos que a projectada publicação vem preencher uma lacuna sensível 110 nosso
meio social e que está traçada em condições magnificas de ser^ utillissima aos interesses,
tão vergonhosamente descurados da Academia portugueza. E cremos bem que esta sera a
opinião dos que do coração desejam vêr prosperar a republica litteraria e os interesses da
classe nobilíssima a que pertencem.
o kmvkMb M kvkmmk MRTS&ESM dará um voluQ"'en^
200 a 300 paginas impresso em bello papel marfim e typo renascença; o seu preço nao
excederá 300 réis e por assignatura 250 réis.

Serão annunciados gratuitamente os livros de que nos forem enviados dous exemplares.
Convidamos por este meio, na impossibilidade de o fazermos individualmente, a to-
dos os membros da Academia portugueza a enviarem-nos, até ao dia 5 de setembro, o mais
tardar, os escriptos com que desejarem collaborar no novo A2í2?$ál<14 .Perlencentes a
SECÇÃO CRITICA ou ao ALBUM LITTERARIO, fineza que desde já agradecemos.
Illl-S'
que PREÇOS DOS ANNUNCIOS
v Cada pagina '^onn r^'5
800
Meia pagina "
Terço de pagina ou preço minimo de qualquer annuncio . . 000 » _
d it correspondência deve ser dirigida a Aureliano dime, run das Fontainhas, A.> — > ORIO
s<
s ES PECTACULOS Quarta-feira 2 de setembro
BÀQUET—N'este theatro funcciona provi-
Domingo SO d'agosto 11 soriaraenle a nova companhia do Pricepe Real.
PRINCEPE REAL —Companhia equestre, Representar-se ha o Boccacio.
gymnastica, acrobatica, cómica de D. Raphael REAL THEATRO S. JOÃO—.A próxima épo-
Diaz. Espectáculos todas as noites. ca lyrica inaugurar-se-ha no dia 29 de no-
RECREIOS—5." representação do Fausto. vembro. E' da Empreza Gama A- C.\ a
A nova empreza não se tem poupado a Preços avulsos—Frizas, 9?$000; i. ord..
a a
esforços para bem merecer do nosso publico 10$000; 2. ord., 7^000; 3. ord., 4$000;
—honra lhe seja. sup. 1Ã200; geral 800;gal. l. 500 2." 3.a 400.
a

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