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ANNO I SAO PAULO, 9 DE JULHO DE 1921 NUMERO 11

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ANOVELLA
SEMANAL

SOCEDITORAOLECL4RIQRIBEaIRO-RaWABRANCHES,45SJ>AOLO i
A NOVELLA SEMANAL DIRECTOR BRENNO FERRAZ

P U B L I C A - S E AOS SABBADOS
Para os 30 milhões de brasileiros, mesmo desconta- VELLA SEMANAL se propõe a salvar do olvido as me-
dos os analphahetos, as tiragens dos livros nacionaes lhores paginas esgotadas e as sepultadas em collecç-Sesv
são ridículas. E as edições pequenas encarecem o li- de jornaes e revistas — preciosidades que representam
vro, limitam-lhe a expausão. impedem a razoável remu- um opulento thesouro literário quasi de todo desconhe-
Heração dos auctores. Vivemos, assim, num oirculo vi- cido e inaccessivel. Das obras ainda em extraeção no
cioso : o livro não se diffunde entre nós porque é caro mercado livreiro, destacará — a exemplo do que se faz
e é caro porque nSo se diffunde. Isto succede com o em vários paizes, em antbologias de grande e pequeno
livro bom, pois dos de fancaria se tiram por ahi deze- tomo, didaoticas e populares, e em publicações periódicas
nas de milhares e se esgotam edições sobre edições . . . — as que sejam a melhor mostra do livro e do auctor,
•Esta situação, de tão funestas conseqüências para o de sorte a despertar nos leitores o desejo de ler os li-
paiz, suggeriu a iniciativa da creação deste periódico, vros que, sem esse reclame, muitos provavel-
que representa um esforço no sentido de vulgarizar a mente nunca leriam. E isso fará fornecendo ao mesmo
boa literatura. tempo todas as indicações precisas para que qualquer
pessoa possa fazer encommenda, ao seu livreiro ou di-
Popularizar o livro, tornal-o accessivel a todos, sem rectamente ao editor, da obra da qual se apresentou
descuidar de o fazer ao mesmo tempo o mais attrahente aqui uma pequena amostra e das outras obras do mes-
possivel pela escrupulosa escolha da matéria e pela ar- mo auctor. Esta publicação constituirá, portanto, ao
tística confecção de cada volume, e depois usar de to- mesmo tempo que um abundante repositório de infor'
dos os meios para o diffundir em todo o território na- mações bibliographicas, uma selecta de pequenas obras
cional, de fronteira a fronteira, e entre todas as classes excellentes, organizada com o fito de tornar melhor co-
sociaes, desde as mais cultas ás menos letradas — eis nhecida a nossa literatura, dentro das nossas próprias
ahi, resumido em poucas palavras, todo o nosso pro- fronteiras.
É,ramma.
Não viveremos, porém, de alheia seiva. Teremos a
Participando ao mesmo tempo da natureza do livro nossa collaboração especial, de u m punhado dos mais
e da revista, A NOVELLA SEMANAL pretende reunir notáveis escriptores contemporâneos e acolheremos com
as vantagens desta e daquelle : como a revista, será de prazer — e remuneraremos — todos os trabalhos inte-
leitura leve e variada, sorá vendida a*preço Ínfimo, será ressantes que nos sejam enviados por auctores conheoi-
apregoada nas ruas. nas estradas de ferro, em toda par- ilos e desconhecidos, consagrados e estreantes ^conitanto
te, a toda gente ; mas não será lutil e de interesse e- aue taes obras tenham valor c se iam conformes com a
phemero como ella: pelo fundo -- pela qualidade e pela feição d'A NOVELLA, isto é, que tenham pequena ex-
extensão da matéria — constituirá u m a Verdadeira série tensão e possam ser lidas por toda gente.
de pequenos livros, que se encadernarão no fim de cada
trimestre, em bellos volumes com os quaes se formará Preferimos dar maior desenvolvimento á edição do
uma bibliotheca literária realmente preciosa. conto e da novella nestes volum es por serem esses os
Pretendendo ser lida. muito lida, lida por homens gêneros que contam, entre o publico, maior numero de
e creanças. senhoras e moças, ricos e pobres, letrados e apreciadores. Mas não nos restringiremos a elles, em-
bora delles tenhamos tirado o titulo desta publicação.
curiosos, pela totalidade, emfim, da população ledora. Todos os outros gêneros terão o sen logar no nosso
procurará nos auctores a vida. a acção, o interesse, de supplemento, verdadeira gazeta literária de pequenas
'modo a constituir o verdadeiro livro popular. proporções, onde se encontrará um pouco de tudo e só
Destinando-se a se tornar um instrumento de pro- do melhor.
paganda das bons letras — dos melhores auctores e dos Eis ahi ao que vem A NOVELLA SEMANAL, que
melhores livros nacionaes — não se limitará a publicar se c.olloca á disposição do publico, dos auctores e dos
trabalhos inéditos. ,\'ão seria este o melhor meio de se editores, aos qnaes deseja servir e dos quaos espera re-
cumprir esta parte do progj-amma traçado, havendo por ceber um acolhimento sympatliico.
ahi, esquecida e ignorada da maior parte do publico,
tanta cousa optima a pedir um editor. Assim. A NO- Os EKITORKS.

Aos auctores
Acceitaremos com prazer toda col-
laboração interessante para qualquer Aos leitores queiram nos auxiliar neste trabalho
que nos enviem relações de auctores
das secçôes deste periódico. A NOVELLA SEMANAL ambicio- e de livros publicados, do modo a nos
Os auctores devem nos remetter os na ser lida em toda p a r t e : cidades, habilitar a adquirir os volumes para
seus trabalhos, declarando o seunome. villas, povoHções. estradas de ferro, os examinar.
endereço e o preço peto qual nos of- navios, boteis, elubs, bibliothecas, e t c ,
ferecem a sua collaboração. estando porisso organisando um ser- Importante
Os origituies devem ser escriptos de viço de distribuirão que será o mais Toda pessoa que angariar três assi-
um só lado do papel, em calligruphia completo possível, de sorte a não ha- gnaturas d'A NOVELLA SEMANAL,
bem legível e de preferencia dactylo- ver ponto do território nacional onde enviando-nos adeantadamente a res-
graphados. não tenha leitores e não seja encon- pectiva importância, terá direito a
Toda a correspondência deve ser trada á venda. Para obter este resul- uma assignatura gratuita.
endereçada á Sociedade Editora Ole- tado contamos com o auxilio dos A toda pessoa que angariar qual-
garío Ribeiro — Caixa po-uü n. 1172 no.-sos leitores, aos quaes pedimos que quer numero de assignaturas d'A NO-
— S. Paulo. nos indiquem endereços ile livrarias, VELLA SEMANAL offeroc.croinos a
agencias e vendedores de jornaes è titulo de brinde, livros, escolhidos no
Aos editores pessoas e instituições que possam se catalogo de qualquer iivra,ria do Bra-
A NOVELLA SEMANA I, publicará, interessar pela venda ou leitura des- sil, no \ alor de 20 o/o sobre o preço
com prazer, e gratuitamente, o titulo, te periódico em qualquer localidade, total das assignaturas angariadas.
nome do auctor. preço e nome e en- por insignificante que seja.
dereço do editor, de todas as obras Interessados também em conhecer
editadas no Brasil, bastando para isso 06 escriptores e poetas de mérito de Assignaturas
que os editores lhe enviem aquellas todos os Estados e de todas as épocas,
indicações. afim de lhes poder divulgar a obra. Anno 20$000
De todas as obras das quaes lhe for mui-to agradeceremos qualquer indi- Semestre . . 10$000
remettido um exemplar, publicará a- cação que a este respeito nos seja Trimestre . . 5$000
lém disso uma noticia critica. fornecida, rogand a todos quantos
Numero avulso $400

SOCIEDADE EDITORA OLEGARIO RIBEIRO -R, Dr. Abranches, 43 Caixa Postal, 1172 - Teleph.: Cidade, 5441-S. PAULO
ANNO I A NOVELLA SEMANAL - São Paulo, 9 de Julho' de 1921 NUMERO 11

A RESALVA — Joã<| Luso


A VIRGEM DAS ESME-
SUMLMAMIO- res — Amadeu Amaral —
PAUI.O DüAK't K
Curiosidades literárias —
RALDAS — Castro Me- Pensamentos de RUY
nezes BAHBOSA (collectanea de
O VELOCÍPEDE — 1
MARIO DK LIMA BARBOSA).
TIA E L I S A - Julio Schebel SUPPLEMENTO — A vida Racine em Café-concerto.
J. Ramos A CARTA DO SUICIDA anecdotica e pittoresca Lèconte de Lisle -í JHAU
A ESMOLA — Mario Sette — Sud Mennucci ' dos grandes escripto- DoRNIS

À I * K> {S A.
JL, V
33. I ^ r t a n o i s o à . Jxiliai c i a
A
Sil-sra.

Elle na rua, ella ao balcão, os namorados con- tura da duvida; a noticia duma doença no hos-
versavam no silencio da noite, sob um céo cri- pital ; e já o coração se lhe apertava á lembrança
vado de estrellas. dé ver o João afastado da sua beira, talvez para
— Também, diz a moça, ruins peccados lie- nunca mais, esquecido ou morto no decorrer dos
mos de nós ter p'ra tal castigo... Eu sei! pois annos, que se arrastariam vagarosos, vagarosos
Nossa Senhora não se porá de nossa banda? até parecerem eternos. Um só raio de luz bri-
lhava ' no sm triste scimar. Não estaria Nossa
— Emfim... Mas qual! Olha Joaquina, eu es-
Senhora da banda delles naquella afflicção ?
tou a ver o número, a ve!-o como se já o ti-
— Olha, ó quelle.
vesse nas mãos; <ajem do 6 não vou. Emfim,
Deus sobre tudo; mas esta maldita coisa que se O Maia, abysmado também a matutar no fu-
metteu na cabeça... turo, esburacava a terra com o ferrão do vara-
pau. Ergueu a cabeça.
— Ah agora, p'ra longe sementes agoiros.
— Ahn.
Calaram-se pensando no dia seguinte. Apurado
— Não é possivel que tú vas p'ra soldado.
pelos médicos como um valente soldado, o Maia
Não vafiys!
partiria de manhã cedo para Coimbra, a tirar as
sortes e num bocadinho de papel, sabido duma — Hom'essa! Tú lá adivinhas, doida ?
urna, estaria a grande ventura ou a grande des- — Parece que tenho aqui o dedo mendinho a
graça — voltar á terra, continuar vivendo nas dizer-rn'o...
doçuras daquelle amor puríssimo e leal, ou ficar Apezar dos pezares, elle riu.
por lá um rebanho de annos, de fardeta e arma — Tinha que ver! Eu dava cabo de mim!
ás costas, a servir o rei, curtindo a amargura Posso lá crer em semente desgraça? E bonito
duma saudade immensa. E no espirito da rapa- seria ver essas lambisgoiàs a rirem-se de mim, a
riga já se estendia, minuciosa e nitida em seus chamarem-me «viuvinha» conforme uma já se
detalhes, toda a dolorosa estrada a percorrer, se a atreveu... Ai, por pouco a não esgano! Eu bem
fortuna lhe fosse avessa; lembrava-lhe já o transe as oiço, cá me chegam aos ouvidos certos diti-
despedaçador do ultimo adeus, mais tarde a falta nhos, tratam-me de presumpçosa, de soberba. Que
de rioticias de que outras se queixavam: a tor- era muito bem feito tu tirares máo numero, p'ra
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eu abater a proa... Mas ha de o Senhor ser ser- Não sei; eu sou capaz de me botar ao rio, eu
vidoque lhe quebraremos os olhos. endoideço, morro!
A Joaquina começava a dar largas ao forte — Temos o caldo entornado, resmungou elle.
gênio que lhe valia os remoques das companhei- E vendo-a chorar de rijo: — O caldo entornado,
ras ; quasi esquecia o seu amor pelos seus ódios... e musica p'ra toda a noite! Olha,. Joaquina, o
Certamente iria mais longe a apostrophe, mas rapaz não vae p'ra forca. São três annos, passam
a voz do pae fez-se ouvir dentro de casa, cha- depressa; depois elle volta, ha de haver foguetes,
mando-a : um pagode; e então casaes. E ainda pode ser que
— Então, cachopa, isto vão sendo horas de elle tire numero alto...
acabar o paleio; façam lá as despedidas de uma — Mas se não tirar ? Deixa-me fazer aquillo
vez! que eu pedi, deixa ? •
— Bem, disse o Maia, adeus. Se lá eu ficar, até... — Pensa no que estás a pedir, cachopa de não
— Olha, João, eu vou pedir ao meu pae p'ra sei que diga, e terás a resposta que te posso
ir á cidade comtigoí dar! E p'ra mais, isto são horas e mais que
— Mas assim ainda te é mais custoso... horas; vae-te deitar, anda , vae com Nossa Se-
— Qual, também eu sei mais depressa a no- nhora e deixa-me em socego.
ticia. Até amanhã, sim ? Vou rezar. O que Deus Ajoelhou a moça á beira da cama, tomou-lhe
quizer, mas p'ra soldado não vaes. as mãos, cobriu-as de lagrimas. O coração ,do
Deram-se as boas noites; ella atirou uma flor velho amolecia aos poucos; em boa verdade, á
do alegrete, que foi cahir nas mãos do Maia; vista de tal espalhafato; nem mais sabia de que
elle em paga atirou-lhe um beijo, afastou-se. A maneira negar.
cachopa entrou em casa. — Deixa-me, cachopa, que me fazes doido!
No corredor ia pensando no meio, num meio E pensava entre si: Isto que é bonito ; se me
por extraordinário e difficil que fosse, para livrar dá outro beijo, não tenho remédio senão...
o seu conversado das correias militares. Mas nem o pensamento acabou, que já um
Relampejou-lhe no cérebro uma idéia rápida e chuveiro de beijos vlhe acariciava as barbas
viva como a lingua dum relâmpago penetrando brancas.
numa toca. O' Mãe do Céu, e se... Correu ao — Senhor pae, senhor pae...
quarto do pae, já deitado áqúella hora. Cedeu; cedeu como um tyranno fracalhão, co-
— Senhor pae, dá licença ? mo um juiz que dá mais ouvidos á alma do que
— Entra. á consciência; cedeu como um pae...
— Eu queria pedir-lhe uma coisa... — Está bem, rapariga, está bem, disse, fin-
— Venha de lá. gindo má vontade. Quebra lá a cabeça a teu
— Que me deixasse ir amanhã á cidade. gosto, asneia bastante. Depois se te arrepen-
— Adeus minhas encommendas ! Pois que vaes deres...
tu lá fazer, cachopa ? Se o rapaz tiver sorte, — Não senhor, não me hei de arrepender. A
muito bem, que volta; se não tiver... sua benção; nós vamos cedo num rancho.
— Ainda queria outra coisa. E a Joaquina sahia do quarto, já alegre. Ai,
— Mais alguma das tuas. Dize. agora estava descançada. Se o Maia tirasse máu
— O João não pode ir p'ra soldado. numero...
O velho embasbacou. » A Joaquina accordou no outro dia, ao primeiro
— Hein, não pode ? Pois se os médicos dis- cantar dos gallos; ergueu-se, fez as suas orações,
seram que sim... abriu de par em par a janella. Nos campos e
— Mas eu não quero! azinhagas a vida accordava também ; já um carro
— Hom'essa cá me fica! Pois tú não queres. de bois chiava ao longe o seu ramerrão monó-
Has de lhe ir agarrar c'um trapo quente! tono e rangido, e já a cantiga dalgum almocreve
— Não senhor, mas... madrugador subia ao ar de mistura aos sons das
E, debruçando-se sobre o rosto do velho, to- campainhas da recua; a manhã era fresca, to-
mou-lh'o nas mãos, falou-lhe ao ouvido, entre cada a tons primaveris ; os olhos adelgaçados os-
dois beijos. cillavam sob o afago do nordeste, e a passarada
— O' filha, que isso já é loucura! Não, se- ia ás folhas cheias de orvalho tomar regalada-
nhora, não consinto. mente o seu café do almoço.
— Mas eu não posso ver o João ir-se embora. A Joaquina, aperaltando-se como para uma
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festa, penteou devagar os cabellos fortes, cruzou rece um enterro do que outra coisa. Va lá uma
no peito o mais bello lenço, grande, com florões cantiga p'ra animar.
vermelhos no fundo cor de ganga, enfiou sobre Elle mesmo começou; quasi todos cantaram;
as outras a saia de lã com barra azul; e, para o Maia, calado, ia parafusando no 6.
que nada faltasse, foi buscar aõ fundo da arca o
Chegaram a Coimbra. A rapaziada, avistado
cordão d'oiro macisso — uma fortuna! — pol-o
Civil, esmoreceu como um rebanho de bois, á
ao pescoço em quatro dobras folgadas, encos-
vista do açougue. Bateram as dez horas, entrou
tando o medalhão que tinha uma Nossa Senhora
tudo. O João quiz que a namorada ficasse fora,
esculpida, a prumo sobre o seio alto. poupando-se a um espectaculo que iria talvez
— Joaquina ? magoal-a.
Era o namorado na rua, a chamal-a. —r Nada, eu vou também. Escuta, quando
— Hein, lá vou. metteres a mão na urna olha p'ra mim. Talvez
E já entre a porta do quarto, não podendo te dê sorte...
conter-se, voltou de novo ao pé da cama, para se Em breve um continuo fez.a chamada.; os ra-
mirar no espelho. pazes iam respondendo - - prompto ! presente!
Gostou de si e teve um sorrisinho de presump- — e por uma porta do fundo entravam aucíori-
ção — a tal que as vizinhas notavam; deu ainda dades, officiaes do exercito, os regedores de cada
ura geito ao vestuário; poz um poquito mais á freguezia. Procedeu-se ao sorteio.
banda o chapelico de velludo, guiou para traz Os três primeiros foram felizes; a cada nume-
da orelha duas madeixas de cabello teimosas, que ro que um major gritava, havia cá fora reboliço,
faziam empenho em tapar-lhe o rosto. Galgou a muitos parabéns.
escada, foi dar a mão ao conversado. — João da Maia !
— Ih, como tu vens... O rapaz, muito pallido, adiantou-se; ao passar
— Como ? pela Joaquina, murmurou: — É o 6, aquelle raio
-^Bonita! do 6, como quem o está vendo ! — Passou as gra-
'Caminharam a par. No largo havia outras des,, foi enfiar a mão tremula no interior da urna.
moças, outros rapazes que marchavam para à ci- E trouxe dois papelicos entre os dedos.
dade a tirar o numero. — Só um! berrou-lhe o major. 4
Irmãs, namoradas, rara a que disfarçava o te- E João, mais atarantado, mergulhou de novo a
mor dum caso infeliz, que «delle» privasse. Houve mão na urna; arquejava, parecia suffocar; final-
cumprimentos, festas á nova companheira, por mente, caçou no canto uma sorte mais bem em-
quem ninguém esperava, e o rancho abalou final - brulhada e deu-a ao major, voltando a cara.
meute, já dividido em pequenos grupos, já todo — 6! '
um, ora silencioso, ora gargalhando e pairando. O raio de 6! Bem lhe dizia o coração agoi-
reiro; era aquelie maldito, aquelle excommungado
— A Joaquina parece qüe se vae casar de ale-
numero, que se lhe não tirava da cabeça ha três
gre que tem a cara, observou uma. — Não que
dias.
até-dá gosto a gente olhar p'ra ella.
Saltaram as lagrimas dos olhos da Joaquina,
— Ai vida, não que tristezas sãoseccuras ! res-
tão fortes que lhe foram regando as faces. En-
pondeu alegremente a moça. E lá para si: —
xugõu-as depressa. Dirigiu-se logo ao continuo,
Bem te conheço, meu pau de larangeira...
querendo saber, se a pergunta não. era atrevida,
— Pois olhem, eu, disse o Maia, levo o cora- em quanto poderia andar uma resalva. O homem
ção do tamanho dum grão de milho. riu, indicou-lhe a administração.
— Vale bem a pena! Momentos depois, a Joaquina sem esperar o na-
E foi tal o. desprendimento da Joaquina isto morado, ganhava a rua, pediu a uma rapariga
dizendo, que elle ficou de pé atraz, intrigado. que a acompanhasse, levaram sumiço as duas.
— Então não é coisa de grande monta se eu O Maia procurou-a por todos os; recantos do Ci-
fôr p'ra soldado ? vil. Que é da Joaquina ? Viran|-na ? Deram fé?
— Ora, tudo tem remédio ;,,tudo tem remédio, Nada.
só á morte não. "I Quasi meia hora depois é que a viu voltar
E como visse, a companhia murcha, carninhan- N muito apressada, inquieta, numa agitação em que
do em silencio: havia a febre temerosa de chegar tarde, como
— O' cachopas !, gritou. — Isto assim mais pa- quem vai no encalço duma ventura que foge.
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— Que é isso, ó 'quella ? mes palmas recurvas. As portas, mulheres cho-


— Espera ahi, disse, quasi sem lhe dar atten- ravam.
ção. — Espera um instantinho. — Fica lá com quantos quizeres, cão damnado.
E subiu as escadas do Civil; outras raparigas O meu amor cã o levo! exclamou a Joaquina.
curiosas seguiram-na, entraram atraz delia na ad- — Toca p'r'á aldeia.
ministração; e alli, pedindo a resalva de João da E já fora da cidade, como os pássaros cantas-
Maia, a Joaquina fez cantar um punhado de libras sem muito nos ramos que o sol doirava!
sobre a mesa do administrador, batendo-as uma — O' João, olha os melros tocando á forma!
atraz da outra, até á ultima. Depois olhando as Ande lá p'rá frente, seu militar!
mãos: JOÃO LUSO.

— Nossa Senhora, se custa um pouco mais caro,


estava perdida!
Um amanueuse começou com indifferente pa-
chorra a encher de rabiscos a pagina dum talão.
Palpitante, a moça esperava, seguindo com o
olhar as viagens do papelucho, que ia de mão
em mão, para este assignar, para aquell'outro
fazer o assento nos livros. Parecia-lhe que taes A VIRGEM
formalidades não tinham fim; a todo o passo
estendia as mãos supplicantes. DAS ESMERALDAS
— Tenha paciência, creatura, gritavam-lhe. Muito longe daqui, num paiz governado por
Quando lhe entregaram a folha assignada, ca- um Rei avarento e orgulhoso, aconteceu um dia
rimbada, coberta de garatujas, a Joaquina aper- uri! milagre: numa gruta, perto do mar, appare-
tou-a ao peito, como receiosa de que outras (as ceu a uma camponeza Nossa Senhora, no seu
taes que a tratavam de presumpçosa) lh'a arre- manto de estrellas. Maravilhada, a camponeza
batassem. correu pelos campos e chegou á'cidade, espalhan-
Com que estouvada alegria ella atravessou os do pelas choupanas e palácios a noticia da appa-
corredores do Civil 1 Tropeçando, cá e lá, com um rição.
grito a voar-lhe do peito, assim foi cahir nos O povo alvoroçado accorreu á gruta. Era ver-
braços do seu João. Apertou-o muito, muito, dade : a Santa lá estava, resplendente, envolta na
num longo amplexo amoroso, a choiar e a rir. sua túnica luminosa.
— O' Joaquina, mas que é isto ! Eu cá de Era uma imagem de admirave' formosura que
mini...
parecia sorrir, extendendo as mãos afiladas como
— Toma a tuaiesalva! íE mettia-lhe nas mãos num gesto de eterno perdão. Quem a collocara
o papelucho). Toma-a. Tu não vaes p'ra soldado. alli ? Ninguém soube. Os traços do rosto sereno,
Não. Eu o que dizia, hein ? a delicadeza infinita das mãos tão brancas e o
O rapaz desvencilhou-se-lhe dos braços, recuou, rutilar dos astros que lhe constellavam o manto
poz-se a fital-a. E teve um brado ao notar-lhe não podiam ser obra de homem, revelavam um
o pescoso nú... artífice divino.
— O' doida, e ò teu cordão, a tua Nossa Se- Não tardaram, para tornar famosa a doce Vir-
nhora d'oiro? gem, os milagres. Os cegos, beijando a pedra da
— Vae lá agora atraz do cordão á rua dos gruta, recobravam a vista por encanto. Punham-
Ourives... se a andar os paralyticos, os entrevadinhos. As
— Pois tu vendeste... creanças pallidas saravam. Em torno da gruta,
— Qual vender, troquei-o por ti! dentro em pouco, havia uma porção de muletas
O João, apalermado, benzia-se com as mãos abandonadas. Offerendas de toda a sorte eram
ambas, mas ella segredou-lhe ao ouvido. levadas á Santa pelas mães agradecidas. Os pesca-
— Bem te jurei que havia de quebrar os oihos dores diziam que em noites de tempestade, pelo
a estas seresmas. mar alto, quando invocavam a Virgem, as ondas
Olhou o Civil, grande e branco, com os seus amainavam, rolando mansas como cordeiros em
nichos onde os santos encafuados liam em gros- torno dos frágeis barcos. Quando fez um anno,
so* livros ou empunhavam evangelicamente enor- todos, ricos e pobre», camponios e fidalgot, »f-
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fluíram á gruta maravilhosa,-para levar a Nossa cida, sem flores, sem cirios votivos, perto do mar.
Senhora, açucenas e lirios, velas de cera e precio- Correram assim muitos annos, até que certo
so incenso. Ao chegarem lá, depararam, attonitos, dia, num paiz visinho, uma pobre menina, filha
com o novo milagre: sob o tosco altar uma fon- de um pescador, vendo a mãe doente e o velho
te de água muito pura surgia. A lyrnpha, crys- pae já sem forças para guiar o barco, lembrou-
tallina e branca, rolava da lapa é, ao tocar o chão, se da Virgem das Esmaraldas, cuja lenda tantas
espadanava transformada em esmeraldas. vezes ouvira contar ao canto do lume.
Passado o momento de espanto, todos, deitando Sosinha, cheia dé fé, a bôa menina partiu de
fora as offerendas e as flores, numa grande con- noite, a pé, ao clarão da lua. Atravessou compri-
fusão, lutando uns contra os outros, precipitaram- das estradas, ermas veredas, florestas bravas cheias
se, procurando cada qual apanhar maior quanti- de feras. Voavam á sua frente, guiando-a, os
dade de esmeraldas. Com as mãos cheias, o s yagalumes. Depois de uma longa jornada, chegou
bolsos transbordantes, os chapéos repletos, loucos finalmente á gruta; lá estava, serena e linda, a
de alegria voltaram depois para suas casas, cren- imagem milagrosa. A água borbotava sempre,
tíb-se ricos para sempre. Mas qual não foi o es- transformando-se em esmei^ldas. A filha do pes-
panto dessas almas gananciosas quando, ao esva- cador, ajoelhando-se, ergueu para a Virgem as
siar nos lares as riquezas que haviam trazido, mãos postas e, numa prece fervente, rogou pela
viram, em vez de esmeraldas, simples conchinhas mãesinha enferma, pediu pelo pae velhinho. Finda
sem valor algum! a oração, apanhou uma esmeralda, uma só, das
Logo tornaram, de roldão, para deante da gru- mais pequeninas, e, beijando o manto da imagem,
ta, enfurecidos e ameaçadores. Mas a água bro- tornou para a casa distante. Eil-a que entra a
tava ainda, cada vez mais pura e continuamente humilde cabana e corre para junto do leito onde
se mudava em esmeraldas. No altar, nimbado de sua bôa mãe jazia enferma, e a cuja cabecei ^aper-
esplendores, a bôa virgem já não sorria. Appa- tando a cabeça entre as mãos, o velho pae chorava.
recia tristíssima, dir-se-ia com os olhos rasos — Papae ! Papae! não chores . . . Nossa Se-
d'agua. nhora deu-me uma esmeralda. Vamos vendel-a è
^Cheios de cupidez, fizeram todos, num deli rio, comprar remédio para a mãesinha doente.
nova provisão de esmeraldas e, voltando para suas Dizendo isto, procurou no bolsinho do avental
casas, passaram pela mesma decepção. de chita a sua riqueza. E qual não foi a admi-
O velho Rei, sabendo disso, exclamou : ração de seus pães, vendo por sobre o leito não
— A Santa fez muito bem. Os pobres não me- uma só mas innumeras esmeraldas, grandes e bri-
recem pedrarias e os fidalgos dellas não preci- lhantes, de um immenso valor. Nossa Senhora
sam. As gemmas são para os thesouros reaes. multiplicara-as. A menina, pela bondade de seu
Irei eu mesmo buscal-as, no meu manto de pur- coração angélico e por sua gratidão infantil, me-
pura, de coroa e sceptro. Vendo um rei ajoelhar- receu tão celeste recompensa.
se, a Santa não terá coragem para mudar-lhe nas Assim que no reino do velho avarento soube-
mãos as lindas esmeraldas em conchas. ram de tamanho milagre, todos, novamente, cor-
A' frente de um séquito numeroso, o monarcha, reram para a gruta. Longe ainda, já iam de mãos
numa liteira de ouro, fez-se tranpo.rtar á gruta. postas, resando em coro, como nas procissões,
Lá chegando, nem olhou para a imagem, tanto com o monarcha á frente, sem coroa nem scep-
o deslumbraram as esmeraldas que borbotavam tro. Mas perderam seu tempo. A gruta estava
como lagrimas de luz. vasia. A imagem desapparecera. A fonte maravi-
Nervosamente, curvando-se, o soberano poz-se lhosa seccara. Nossa Senhora voltara ao céo, cum-
a apanhal-as, entregando-as, depois, aos fâmulos prida a suâ missão de misericórdia e de graça.
que lhe extendiajm grandes salvas de prata. Re- CASTRO MENEZES
pletas todas as salvas, eil-o que volta, com o seu
séquito, na sua liteira, de ouro, para o palácio.
Anciosas esperavam-n'o a Rainha e as princezas.
Mas quando o Rei quiz mostrar-lhes o thesouro, nas
salvas de prata haVia apenas pequeninos mariscos.
Tomado de cólera, o monarcha fez annunciar
que mandaria cortar a cabeça de todos aquelles
que tornassem á grata. E a Santa lá ficou esque-
174 A NOVELLA SEMANAL

da-te e depois falaremos. E dizia-o muito sério,


encarando-me firme, com severidade quasi. Mas
era difficil emendar-me, se não impossível.
Quando o desejo me pungia com mais força,
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e era-o ás vezes a ponto das lagrimas encherem-!
me os olhos e amaldiçoar a sovinice paterna,
contendo a custo a raiva que me ia por dentro,
O VELOCÍPEDE sentava-me a um canto na sala de jantar, folhea-
va o livro ou enchia,a lousa de caretas, olhando
Entre as minhas muitas ambições de creança a para a rede em que meu pae cochilava' entre as
de possuir um velocípede foi, particularmente, a baforadas do cigarro; lnas elle não dava pelos
mais intensa e mais custosa de alcançar. Nunca meus rnodos sérios, numa indifferença irritante.
desejei, como meus compa iheiros, attingir postos Isso durava pouco. O tédio não demorava a
de vulto, ser rei ou ser imperador de algum reino invadir-me. O rabo de um papagaio entrevisto
phantastico, ou mesmo um general; nem, como da janella ou o assobio de um garoto chamando
um visinho meu que era coroinha, ser Nosso os outros para os brinquedos, faziam-me esquecer
Senhor Jesus Christo para padecer o supplicio da a ambição, os propósitos deliberados de emen-
cruz entre dois ladrões, e que lá anda, agora ele- dar e as misérias triviaes da existência; fechava
vado a sacristão, á espera de um Judas que não o livro de mansinho, esgueirava-me pé ante pé
apparece. até á porta e lá me ia pela rua afora, alegre como
As minhas ambições foram sempre moderadas um pássaro.
e ao alcance das mãos, razão por que as vi sa- Uma tarde, á sobremesa, quando a esperança
tisfeitas todas, ou quasi todas. Hoje, volvidos de possuir o velocípede já de todo se desvane-
muitos annos e com muitas illusões desfolhadas, cera, meu pae, a meio de descascar um pecego,
continuo com o mesmo methodo, com o meu ficou com a faca suspensa e disse-me pausada-
terra a terra dos tempos de creança. mente:
• Para possuir o velocípede eu vivia atormen- — Si não me engano, Antoninho, o teu com-
tando meu pae. Este adiava a compra a troco portamento tem mudado bastante. Pelo menos
das minhas peraltices e vadiação e do trabalho que os visinhos não me têm incommodado com as
lhe dava. Meu pae não desgostava das peral- queixas que provocas e o professor confessou-me
tices que eu praticava e, só quando as queixas que és outro. Terás o velocípede no dia de teus
dos visinhos eram mais violentas, limitava-se a annos. Mas é preciso que até lá sejas em tudo
puxar-me as orelhas á vista delles, de envolta com um modelo, ouviste, maroto?
os conselhos que eu já sabia de cór. Mas por E, sorrindo, ameaçou-me com a ponta da faça,
dentro sorria e applaudia-me. em ar de de gracejo.
Applaudia-me, é verdade, mas o velocípede não Escancarei a bocca, entre espantado e jubiloso.
vinha. Elle lá estava, com suas três rodas de O espanto era causado pelo sorriso e mais pelo
metal branco e o sellim de couro amarello, co- gracejo, coisas que em meu pae raramente se
berto de poeira e teias de aranha, pendurado no manifestavam e que eu não me lembrava jamais
forro da loja triste do Esteves. Sempre que por de ter visto de mãos dadas. O júbilo, vencido
lá passava eu o namorava com olhos cheios de pelo outro, encolheu as azas receioso e não che-
cobiça, e o meu receio era não dar mais com gou a expandir-se por inteiro; mas sempre me
elle, algum dia, no logar costumado entre uma deu um ímpeto de saltar ao pescoço de meu pae.
dúzia de vassouras e uma gaiola, onde um sabiá Ia fazel-o e é possivel que chegasse a levantar-me,
cantava ás vezes desconsoladamente. si um olhar pão me grudasse á cadeira, immo-
Cheguei a ter sonhos deliciosos com a appete- bilisando-me. Meu pae gostava de rir e gracejar,
cida machina; uma noite, ao fazer uma curva mas interiormente sem dar trabalho aos mús-
mais rápida, rolei da cama abaixo, acordando com culos; por fora era um homem casmurro, ini-
a cabeça contundida. Mas os meus sonhos con- migo de expansões.
tados de manhã com o fito de abrandar o cora- Nessa noite não fui á rua e passei estudando
ção paterno, nada conseguiam. A cada assalto ou fingindo isso.
que eu fazia para havel-o, meu pae meneava a No dia de meu anniversario, que foi d'ahi a
cabeça e dizia-me, cofiando o bigode: —- Emen- umas semanas, levantei-me com a aurora. Tinha-
A NOVELLA SEMANAL 175

me esmerado no comportamento que meu pae, Não veiu nem indigestão, nem eólica, mas um
exultante, classificava de impeccavel. Como' de santo, compadecido do meu soffrer, enviou-me
costume sahi de casa ás dez horas e passei pela uma idéa santa. Santo bemdito: na bemaventu-
casa de Raul e de Zezé, filhos de um sapateiro, rança em que repousas e que bem mereceste re-.
os alumrios mais quietos e palermas da escola. cebe agora os agradecimentos que então esqueci
Eu ia apprehensivo. A cartilha do Galhardo e de dirigir-te.1 A idéa do santo era simples e linda.
a lousa pesavam-me como nunca sob o braço. Porque não iria correr pelos campos atraz das
E tinha motivos para isso; logo para aquelle dia borboletas, descobrir ninhos de pássaros e tomar
o professor mandara decorar a taboada e a his- banho no rio, em vez de ir á escola?
toria dos donatários, com datas e nomes. E de- Parei de novo e sorri.
via ser repetido sem piscar, como dizia elle. — Vocês sabem a lição de hoje? perguntei
Eu não tinha a menor queda pára a mathe- aos outros. Eu cá não sei e por isso não vou á
matica e era o primeiro a reconhecel-o; minhas escola. Não estou para apanhar como burro de
faculdades mnemonicas eram escassíssimas e os carga. Vamos passear?
donatários davam-me calafrios na espinha. Tra- Elles olharam-me estupidqs e disseram que não,
tasse-se de armar uma arapuca, de furtar fructas admirados da proposta. Tunda por tunda prefe-
na quitanda da esquina, de esborrachar o nariz de riam a vara do professor á correia paterna.
alguém com um murro ou de amarrar latas á — Ora, não sejam tolos, quem saberá que fo-
cauda dos gatos, com grande gáudio das creanças mos passeai ? Hão de ver que dia soberbo pas-
de calças compridas, estava eu prompto e poucos saremos no rio.
se sahiam com tanta perfeição dessas emprezas. E fui por ahi, tentando-os, com palavras mei-
Mas encaixar no cérebro as combinações dos nú- gas e promessas seduetoras. Os dois eram tei-
meros e as lições de histoiia eram coisas para mosos e então desci ás iameaças. Esse argumento
mim inattingiveis e que me pasmavam de ver al- decidiu-os.
guém realizal-as. Fomos. Quem nunca gazeou um dia de aula
O nosso professor não era mau de todo; era desconhece os encantos que se gozam longe da
antes bondoso. Fechava os olhos a muita traqui- disciplina e da massada do estudo, pensando rios
nagem e os ouvidos ás asneiras. Mas era homem, collegas que lá estão enfileirados nos bancos, dois
e como tal imperfeito; tinha- o fraco de ser in- a dois como bois na canga, a cabeça enterrada nos
flexível na taboada e na historia pátria, aos sab- livros e cadernos, emquanto o professor passeia
bados. Não perdoava. E menino vadio não ha- pela sala, de vara atraz das costas.
via que não tremesse deante dèlle, quando a vara Quando o sol escafdava e já cansados de andar
se erguia ameaçadora para cahir no mísero, asso- a esmo, dirigimo-nos para o rio. Despi-me num
biando no ar. abrir e fechar d'olhos e atirei-me á água com vo-
No caminho, um pedacíquito de ave que era só lúpia. Os dois irmãos seguiram meus movimen-
bico, sugava as flores de uma goiabeira; quedou, tos com alegria e a minha habilidade nos mer-
suspenso numa vibração de azas, vendo-me de gulhos arrebatava-os. Gritei ao Raul que guar-
cabeça baixa a remoer quantas vezes a vara me dasse a covardia para outra occasião e elle, de-
lamberia as costas e interpellou-me, sarcástico: pois de hesitar um instante, tirou as roupas e
— Bons dias, Antoninho, que tristeza é essa? metteu-se n'agua, não sem antes benzer-se três
Quantos foram os donatários ? Oito vezes seis ? vezes. íamos de uma margem á outra apostando
Noves fora? Cuidado com a vara. Parei, apa- quem primeiro chegaria, lutávamos onde a pro-
nhei uma pedra, mas elle voou, rindo-brejeira- fundidade não era muita, quem mais tempo fi-
mente. caria debaixo d'agua, deslembrados do Zezé que
Continuei a andar, encurtando o passo, em- continuava a roer a eterna codea de pão, inquieto,
quanto os meus dois companheiros mastigavam arrependido talvez de ter faltado á escola.
um pedaço de pão com afan. Nunca a escola Occorreu-me então urh pensamento mau, ao
me pareceu tão próxima. Implorei aos santos dar com elle assim. Cheguei-me a elle e convidei-o
uma doença justificadora, fosse ella uma eólica, a nadar.
que me apanhasse de repente e com a qual pu- — Não, meu pae ficará zangado si o souber e
desse voltar para casa. Mas a eólica não veiu. eu não sei nadar.
Tive algumas depois, quando dellas não precisava — O que tem isso ? E' muito fácil e eu te en-
e em oceasiões inopportunas. sinarei. Verás. Vamos, um pouco de coragem.
176 A NOVELLA SEMANAL

Turrou que não nadaria e foi precisa a ameaça mara e não ouvira syllaba da narração, agarrou
de jogal-o ao rio mesmo vestido para que elle se o braço do filho e foi dizendo, entre soluços e
decidisse a tirar a roupa, que dobrou e depoz na lagrimas:
margem com cuidado. Enfiou os pés n'agua me- — Como aconteceu isso' Dize, como? Não
drosamente e deixou-se estar alli perto, acoco- deviam estar a estas horas na escola? Foste tu
rado. Comecei a dirigir-lhe chufas, a zombar- que o levaste ao rio ?' Fala !
lhe do medo, até que, num assomo heróico, de E o Raul, de beiços lividos e olhares esgazea-
olhos fechados, como quem se precipita num abys- dos, gaguejou:
mo e não quer vel-o, o Zezé lançou-se ao meio — Não fui eu, pae... Juro... Foi o Antoninho...
do rio. O rio era fundo e o Zezé não tinha a que não quiz que fossemos á escola... Foi elle
noção mais rudimentar da arte natatoria. Deba- que empurrou o Zezé n'agua... E' delle a culpa...
teu-se alguns momentos desesperadamente, gritou Juro!...
por soccorro, agitou as mãos e afundou. Vendo-o O olhar de meu pae veiu direito a mim e va-
desapparecer, eu e o Raul puzemo-nos a berrar, rou-me de lado a lado. Era o meu anniversario;
quando seria mais conveniente fazer alguma ten- lembrei-me do velocípede e vio-o perdido. Era
tativa de salvamento. Mas o assombro em que preciso mentir, mentir com energia, com força,
ficámos tolhia-nos os movimentos e desatava-nos desassombradamente.
a lingua. Não trepidei: Avancei um passo e, entre indi-
Aos nossos berros afflictivos um homem — ha gnado e colérico, as faces afogueadas, apostro-
sempre um homem prompto para semelhantes sce- phei meu camarada:
nas que surge não sabemos de onde, nas novel- - E u 1? Tens a ousadia de dizer isso quando
las e na vida real, e mais vezes naquellas — que foste tu que me convidaste para nadar, por não
ia passando veiu lesto ver o que era; e, intei- saberes a taboada e a historia dos donatários?
rado do desastre, não perdeu um segundo e ar- Eu é que empurrei o Zezé? Grandíssimo men-
remessou-se ao rio, com tão desprendida coragem tiroso !
que não pude furtar-me á admiração. Mergulhou Os circuinstantes fitaram-me pasmados; vi ges-
e appareceu alguns metros adeante trazendo o tos approvadores. O pobre Raul baixou a ca-
Zezé num dos braços. beça e o sapateiro abateu-se na cama, aos pés do
Tudo isso fora rápido, fulminante, Vestimo- morto, soluçando amargamente.
nos ás carreiras e o homem, depois de indagar Meu pae, jjsensibilisado, tomou-me dâ mão e
da casa do Zezé, para lá fomos nós. O coração puxou-me para fora:
palpitava-me descompassadamente. Olhei para — Com que então, não foste tu ?
o Raul; tremia como um farrapo agitado pelo — Eu? Não! Juro por Nossa Senhora que
vento e uma pallidez immensa cobria-lhe o rosto. me ouve 1 I
Eu também devia estar assim, tremulo e pallido. E beijei os indicadores em cruz, para dar mais
Ao entrarmos na loja o sapateiro atirou a um expressão ao juramento.
canto a botina que estava a remendar, precipi- — Bem, vamos ver o velocípede. Hoje é o
tou-se para o homem e soltou um tão grande dia de teus annos. O promettido é devido.
urro que nos gelou a todos. Só então nos aper- D'ahi a pouco o Esteves, ainda commovido com
cebemos que o Zezé estava morto. O homem a nobilissima acção, descia o abençoado e sujo
enfiou pela casa a dentro e depositou o cadáver velocípede. Tomei-o nas mãos com veneração
nà primeira cama com que topou. Meu pae, que como a uma relíquia e fui arrastando-o para a
estava á janella., veiu ver do que se tratava. Jun- casa, jubiloso. Quiz estreal-o logo, mas meu pae
tou gente, a invasão foi completa. O generoso não consentiu.
salvador, sem que ninguém lh'o pedisse, começou 1
No dia seguinte, de manhã, levaram ao cemi-
a dizer como fora o caso, não sem fazer resaltar tério o desastrado Zezé. Alguns meninos da es-
a magnanimidade do acto praticado. O Esteves cola, acompanhados do professor, seguiram o
que era apaixonado dos lances dramáticos, excla- caixão azul, com ramalhetes de flores. Eu, esca-
mou com tremura na voz: ranchado no velocípede brilhante de muito o pu-
— Nobre procedimento ! Bella acção ! Bellis" lir, agitando galhardamente o boné, atroava a
sima! rua com meus gritos, sob o olhar baboso de meu
E foi d'ahi com o homem á loja. pae...
O sapateiro, sahindo do torpor em que seabys- j. RAMOS.
A NOVELLA SEMANAL 177

pas na costura. Vou deprçssa para casa; hoje, á


noite, ainda vamos ao Parque. O «Conde de
Luxemburgo'» sabes? E tu, sempre caseira?!!...
Teu marido ? — falou Margarida em catadupa.
— O Raul no trabalho. Não tarda. E' pre-
ciso ganhar a vida, o lar se povoa... Não temos
tempo para cuidar da rua: — demais, ella pouco
A E S M O L A me interessa. Acho mais'suavidade, maior en-
canto em cuidar dos meninos, no governo da
«Les belles mesdames, enfin, auront mon-
> trée Ieurs seins un péu partout, dans les sa- casa... Sempre fui assim.
lons ; tout le monde les aura vus, sauf Ieurs — E's urna exquisitona! Também, tenho um
1
enfantsi. «menage», também tenho filhos, mas isto não
BKIBCX.
importa na renuncia dos meus gozos. Para que
;
Na saleta de costura, toda caiada e fresca, ja- servem as criadas ? Temol-as, felizmente, uma
íèlla e porta abertas para o copiar, embora cinco para cada creança^ Havia dp ter graça que por
horas soadas, querendo escurecer, Regina, cur- ser mãe deixasse de ouvir hoje o duetto, dos
vada sobre o collo, costurava uma camisolas de beijos...
creança. Ao pé, montada sobre gavetinhãs de — Tens um gênio antagônico ao meu, mas
madeira clara, a machina de costura, na sua nic- nem por isto deixamos de ser as mesmas amigas.
lcelagem bem cuidada, espelhante, mostrava sob — Sim, porque cada uma age a seu modo.
a lançadeira um trabalho interrompido. Quer me parecer que andas errada, esperdiçando
, Do quintal vinha um perfume suave de rosas a tua mocidade, a tua vida, numa clausura vo-
abertas ao tepido esmorecer da tarde, de envolta luntária. Nem vás ás lojas...
com o tropel de pequenitos a correrem, ora na Regina sorriu-se com bondade, numa expres-
.calçada do terraço, ora na areia fofa do jardim. são calma de beatitude: A's lojas? Raul com-
Emquanto o marido não chegava, ella, se dis- pra-me o que quero, e si é força minha pre-
trahia em fazer uns pontos mais, accrescentando sença, vamos juntos. Aliás, tu nem sempre sahes
a tarefa, porque «ós meninos andam quasi sem á rua por necessidade: — é o chie, é por ser
roupa», dizia sempre, com extremos de carinho moda, perdendo algumas horas abaixo e acima,
maternal. Escurecia. nas calçadas da rua. Nova, fazendo jús a uma
l menção na chronicas dos jofnaès. Não gosto
— Maria! anda accender esta lâmpada... . '
A criada, uma rapariguinha aceiada,, geitosa, disso. Tenho outros deveres; alguns á hora fixa.
trouxe uma cadeira de junco, trepou-se e deu luz Olha, ahi vem um...
á lâmpada:— um referver forte, um cheiro de A criada, de novo entrando, trazia nos braços,
sapoti maduro e logo depois o álcool gazeificado a choramingar, um petiz de alguns mezes, todo
encheu o globo de uma çjaridade doce, leitosa. enfeixado numa camisolinha de rendas, garrida
A campainha do portão vibrou; passos se ou- de fitas ; Regina acolhe^o, amoravel, mostra-o a
viram lá fora. Margarida que o amima com frieza, desabotôa o
— Deve ser o Raul..'. casaco, desaninha do talho da camisa o seio nú,
Não era elle ainda. Margarida, companheira redondo e chega-o á bocca morna do filho.
de infância, entrava, a sorrir numa elegância mun- A amiga contempla-a com um risozinho de
dana com excessos de modas, cingida em tafetá desdém:
e gaze, collo e braços diaphanamente nús, saia — Olha, Regina. Dos deveres da mulher esse
muito avançada dos aríelhos para melhor mos- é o mais prosaico, o mais prescindível... Rebaixa-
trar as botinas caras, bizarras, de pellica-i intei- nos a animaes. Nunca amamentei os meus. Acho
riça. As faces eram duas telas bem trabalhadas, desgracioso, incommodo, horrível! Envelhece-
os olhos realçados pelos supercilios bistrados, a nos cedo, rouba-nos a tumidez dos seios, a per-
cabelleira sob o chapéo de velludo, extranha- feição dos contornos. Num baile, decótada...
mente basta para quem, em casa, tinha os ca- — Não sabes ainda é ser mãe! Preferes o
bellos tão ralos... luxo, as exigências sociaes, os prazeres. Nunca
Numa olhadellà furtiva, Regina notou todo o provaste o sacrifício de um desejo, pelo bem da
exagero da amiga. prole. Ainda não conheceste, — oh! Deus ' t'o
— Um instante para te ver; não te interrom- preserve... — as agruras da vigília na cabeceira
178 A NOVELLA SEMANAL

de um filhinho doente, a gemer... Ha dias li sos assim são urgentes. Com certeza, intestinos,
num jornal a gente se sente tão feliz quando leites azedos, mamadeiras sujas...
vê as crianças alegres L. E' uma verdade... Regina já entrouxava os cabellos, procurava
Margarida escutava, contrafeita, as phrases sim- nos gavetões roupa branca, despira o roupão, a
ples e sinceras da amiga. Por fim atalhou: — trocar as vestes com pressa.
Paciência, minha cara. Não sou tão má como Na casa da amiga ia a lufa-Iufa que precede as
pensas. Prefiro não saborear tudo isto que af- desgraças. A amiga pehdurou-se-lhe ao pescoço,
firmas de bom, a viver aprisionada em casa, a chorar, a recriminar-se:
atraz de fraldas, desnudando as pomas a cada — Tinhas razão; não soube ser mãe. O meu
berreiro dos meninos... Oswaldo! Tão bonitinho: não parecia ter dez
Levanta-se da cadeira, retoma as luvas, uns mezes ! Soffro tanto ! Foi aquella desastrada da
embrulhinhos, a sombrinha: — Adeusinho, Re- Josephina que se esqueceu de referver o leite.
gina. Lembranças ao Raul. Apparece uma noite, Fez mal. Anda vel-o.
avisa-me para não sahir... Vai á vontade; lá po- Na cama de casa! a criança tinha estrecimentos
des dar de mamar ao teu pimpolho... nervosos, soltava gritinhos espaçados. O apo-
Margarida sae, rindo-se... Regina leva-a ao por- sento, meio escuro, cheirava a remédio: — o me-
tão. Em caminho os filhos, três mais crescidos, dico, vindo de novo, de pé, olhava a agitação do
se lhe enrodilham nas saias, acanhados da visita, doentinho, pensativo, abstracto.
muito limpinhos, corados, flores que dão maior — Uma gastfo-enterite, phenomenos convul-
viço aos rosaes, louros cysnes das piscinas dos sos... E' preciso já e já, outra alimentação...
olhos meigos da mãe devotada. E emquanto a — Dr... aqui está a minha amiga, de quem lhe
amiga se afastava, ella deixou-se ficar no portão, falara esta noite. Vem me fazer a esmola de dar»
entre as creanças, rindo com ellas, ralhando com o seu leite ao menino.
doçura, á espera da marido que tardava. O esculapio volveu-se, saudou Regina:
— Muito bem. A senhora, melhor do que
11.
tudo, pode fazer pelo doente. Chegou agora?
Acordara cedo, como de costume; abrira a Descance um pouco e tente dai-lhe de mamar...
casa, fora soltar as gallinhas, dera-lhes milho aos Eu passarei aqui de tarde.
punhados, andara pelo quintal apanhando uns cajás Regina acompanhando-o á porta, ouviu delle a
cahidos durante a noite, guardando-os para os sentença: Caso serio, muito difficil!... Ha phe-
meninos. nomenos claros de meningite...
Quando, de toalha ao braço, ia ao banheiro,
Tremula recompoz a face para rever a amiga,
um mulato bateu no portão. Era uma carta,
no quarto. A criancinha contorcia-se, gritava, esti-
uma carta de d. Margarida — dissera o portador.
rava as pernas, cerrava os punhos, delirava. A
Alli mesmo, abriu a enveloppe roxa, aromati-
febre intensa. Descançada, Regina sentou-se a
sada e, num bizarro rectangulo de velino, len,
uma poltrona e Margarida trouxe-lhe, embrulhado,
escriptas numa tremura evidente, as phrases ner-
o filho.
vosas da amiga: <Que noite de agonias, Regina!
Do peito desnudo, apojado, escorria uni fio de
Ah! agora é que me sinto ser mãe... O meu
seiva: — a criança, a principio, sugou uns golos,
pequenito, Oswaldo, está mal, muito mal. Encon-
depois recusou, inteiriçou-se, reagiu. Deitaram-
trámol-o assim de volta do theatro. Estou louca
n'a de novo.
de dor. O medico diz ser precizo alimental-o
com leite humano. Os meus peitos já estão seccos. —- Oh ! meu Deus! Que castigo ! Está tudo
Lembrei-me de ti: — queres me fazer esta es- perdido! Elle já não quer mamar... Meu filhi-
mola?» nho morre ! Por culpa minha...
Regina chorava, lendo. Deu um recado ao ho- Atirava-se sobre o leito, beijava a testa quente
mem e foi ter com o marido que, no quarto bar- do doentinho, chorava, torci.", as mãos. O ma-
beava-se em frente cio espelho. rido, Paulo, que viera da pharmacia, tentava acal-
— Olha Raul, recebi esta' carta de Margarida. mal-a. Regina, a um canto resava, fazia uma pro-
O filhinho delia está mal. Lê... messa, enxugava os olhos.
O rapaz passou a vista na carta, coutrahindo De tarde, o medico já não deu esperanças ao
os sobrolhos: pae. E á noite, a meningite violenta dominara
— Você deve ir lugo, minha filha. Esses ca- de todo. Depois da excitação dolorosa, viera a
A NOVELLA SEMANAL 179

coma, ligeiro estremecimento das perninhas, dos A gente grande debitava-lhe essa tqlerancia na
braços. conta corrente da surdez.
Pela madrugada, quando Margarida exhausta, Maldade, pura maldade. Apesar de Lamartine,
cochilava ao pé da cama, e o marido, em silen- do chá verde, da surdez, dos óculos, da gordura
cio, mettera-se numa espreguiçadeira, Regina co- e da velhice, tia Elisa era um anjo.
nheceu os derradeiros anceios da criança. Tia Elisa não se casara, nem se podia conce-
Uma vela tremebrilhou... Paulo veio de joelhos, ber que tia Elisa se houvesse^ casado algum dia.
beijar os pésinhos a esfriarem, chorando. Ao res- Só era conceptivel sob uma forma e em um es-
paldo da cama à velha ama do casal, enterrara tado — tia de nós todos, sobrinhos e não sobrinhos.
a cabeça "entre os braços cruzados. Mas, além de nós, tia Elisa tinha mais um so-
Gallos cocoricavam nos quintaes; um vento brinho, que nos enciumava.
forte — o terral — farfalhava as arvores; um Era seu Antoninho, um pobre velhote todo
cão uivava longe, grillos trillavam por detraz branco, tolhido das pernas, para quem ella man-
de uma commoda no quarto visinho... dara fabricar uma carriola de três rodas, entre
"Margarida despertou, ergueu-se sobresaltada, poltrona e tricyclo, que, bem ou mal, lhe per-
olhou a scena, adivinhou. Quiz lançar-se'sobre o mittia locomover-se, transportar-se de um logar
corpo sem vida do filho, mas as forças fugiram, para outro.
um grito hysterico resoou e-ellacahiu, de costas, Uma espécie de habeas-corpus rodante contra
no chão. as arbitrariedades do rheumatismo . . .
Regina apagou a vela, já inútil, e accorreu com E seu Antoninho era o santo Antoninho de
um vidro de água de Colônia. Abriu o casaco tia Elisa. Tocassem-lhe e tia Elisa . . .
. da amiga, [repuxou a camisa, descobriu o eólio II Perdão! Nunca nenhum de nós lhe tocou; nem
para friccional-o: — os seios redondos, alvos, soube o que faria tia Elisa. O que fazíamos eram
türgidos, alteiaram-se, roseolas dos bicos erectos queixas.
— seios lindos de mulher, seios estéreis de mãe... — Que tia Elisa gostava mais de seu Antoni-
MARIO SETTE. nho que de nós; que tia Elisa tinha mandado
fazer o'carrinho para <t\\M que, de todos os do-
ces que fazia, os melháfes: eram para seu An-
toninho . . .
E a tudo respondia tia Elisa, com a sua voz
macia, como si fosse de creme:
— Meninos, pois vocês não vêm que elle é um
entrevadinho ? »
Um de nós — eu quiçá — um dia, num ac-
cesso de ciúme, sapateando, gritou:
TIA ELISA — Tia Elisa, por que é que a senhora não casa
com seu Antoninho?
Em casajtodos nós adorávamos tia Elisa, sobri- Tia Elisa não respondeu; entrou para o quarto
nhos e não sobrinhos. e fechou-se., Mas, ao jantar, tinha, por detraz
E tia Elisa, realmente, era adorável. E que dos óculos, os olhos empapuçados e vermelhos.
adoráveis doces ella sabia fazer! E como, farta, Essa tarde, não leu Graziella, nem quiz saber
prodigamente, os distribuía a nós iodos, sobrinhos do chá verde...
e não sobrinhos, que todos éramos sobrinhos delia. Um dia, tia Elisa amanheceu morta. Morrera
Tia Elisa era velha; tia Elisa era gorda; tinha docemente, suave, maciamente, como tinha vivido.
os cabellos brancos e usava óculos; . era surda e Nós não acreditávamos que ella tivesse morrido:
adorava o chá verde; acima do chá verde, só os — parecia dormir, parecia ainda estar dormindo,
romances sentimentaes, Lamartine á frente. quando a carriola do seu Antoninho entrou no
Além de tudo isso, que eram as más qualida- pateo e elle desatou em pranto, pedindo, suppli-
des, tia Elisa tinha uma porção de qualidades cando que o levassem, que o- carregassem para
boas: era terna, carinhosa, esmoler' e de uma ver á sua Elisa...
egualdade de gênio que nem um terremoto al- Elle e a nossa tia Elisa, trinta, quarenta annos
teraria, ainda quando esse terremoto fizesse mais antes, haviam sido namorados, noivos . . .
barulho que os nossos Zé-Pereiras. JULIO SCHEIBEL
ISO A NOVELLA SEMANAL

nesta luminosa Sebastianopolis. Serei assim <o


amigo inesquecível que abre, com o seu prema-
turo passamento, uma lacuna imprehenchivcl em
nosso meio culto». E' que o commentario com-
pungido-dos jornaes sobre os moços suicidas, com
as suas phrases repassadas de um profundo sen-
timento de piedade e de sympathia, exerceram
A CARTA DO SUICIDA sempre sobre mim um irresistível encanto.
Caríssimo Alfredo Ajunta a isso a probabilidade ou artes a cer-
teza de que a formosa franceza do High-life de-
Hoje, ás cinco horas da manhã, suicido-me. clarará tristemente que minha morte lhe peza
Has-de necessariamente querer saber das causas, sobre a consciência, porque foi da sua repulsa aos
dos horríveis motivos que me levam a esse acto meus desejos que brotou a idéa do meu suicídio,
de desespero e de revolta, acto que vem soff rendo pensa nas lagrimas que derramará e no confran-
a abominação dos séculos, previsto até pelo Có- gimento de sua alma como responsável moral de
digo Penal: meu desapparecimento e terás mais urn motivo
Não baterás a cabeça á procura do enygma. bem forte de minha rematada loucura. Dirás que
Basta-te ler o que vem abaixo : é um gozo posthumo. Não é, é apenas uma vo-
Hoje, mais ou menos ás três horas da madru- lúpia prelibada.
gada, sahia eu. do Hih-life, depois de haver jo- Ha mais ainda, ha a consoladora certeza de que
gado e perdido toda a minha primeira mesada, o a elegante mignonne da rua São Christovão me
que implicava a perda de uma linda marselhesa, a contará como mais um sacrificado ao altar de sua-
quem vinha fazendo a corte ha uma boa porção fulgurante belleza. Tu conhecel-a bem melhor que
de dias. eu para garantir a justeza de meu asserto. E'
Como gosto extraordinariamente do mar, em verdade que ainda aute-hontem, no cinema Ave-
especial desse «sonho inattingivel de poeta» que nida, o nosso flirt chamara a attenção dos bons
é a bahia de Guanabara, e como houvesse lua, burgueses que vão ás casas cinematographicas na
fui andando pela praia do Flamengo em direcção mais santa e mais pura intenção de ver as fitas.
á minha casa. Apoiando-me. por acaso, á amurada Mas que lhe custará, hoje á tarde, apresentar-se
do cães para ver melhor uma incidência de raios á sua mais intima amiga e com as faces afoguea-
lunares sobre a água viva e irrequieta do mar, das de carmim, os cabellos desgrenhados num
que produzia uma extranha e deliciosa refulgencia, estudado negligé, declarar que a sua alma não
não sei porque, assaltou-me de improviso a idéa encontra paz, ameaçar também suicidar-se, porque
de dar hoje mesmo cabo da vida. Achei, a prin- dirá — ella também me amava e si me repellia
cipio, o pensamento curioso e faceto, por não lhe era apenas porque não tinha a plena convicção
achar ligação nenhuma com o espectaculo magní- do meu amor. Quizera humilhar-me c sahira-lhe
fico da bahia. E emquanto me punha a andar, já cara a experiência.
esquecido do mar, comecei a meditar sobre essa Ora, bem sabes, meu velho Alfredo, que da in-
grande «cobardL tima amiga ao grande publico leitor de novidades
Por uma natural associação de idéas, lembrei- só ha uma questão de... minutos.
me do suicídio de Henrique, aquelle nosso sau- Depois minha família far-me-á funeraes esplen-
doso e bizarro amigo, tão amigo do paradoxo e didos, riquíssimos. Deixo as minhas disposições
do sofisma que, num dia de duvida sobre a exis- para que haja luxo, muito luxo e com muitos
tência de Deus, >)oz termo á vida quasi heroica- actos religiosos, os que ferem a imaginarão sen-
mente. Lembras-te do escândalo levantado em sível das mulheres e prolongam a duração de
torno daquelle caso doloroso? Pois,o espaliiafato minha lembrança.
da imprensa pareceu-me digno remate de um es- Depois virão as missas pomposas e solemnes,
pirito saturado de snobismo qual o meu e que com catafalco e luzes, no sétimo, no trigesimo
bem me poderia elevar á altura do acontecimento dia e e;« todos os anuiversarios de meu passa-
máximo da semana. Considera, meu amigo : mento. Depois o mausoléo custoso, encommen-
Sou um rapaz elegante, demasiado conhecido dado especialmente na Lu topa e emfim de vez
pela alta sociedade do Rio, relacionado com to- em quando, a recordação grata e necrologica de
das as boas e illustres famílias que marcam o tom, algum amigo. Conto para isso comtigo...
A NOVELLA SEMANAL

Conheces-me ha muito tempo, Alfredo, para sa- não analysa com esta minha calma que é quasi
ber que isso que ahi fica é a mais pura expressão cynica. Demais o covarde despreza e maldiz a
da verdade. vida. Eu não. Agradeço-lhe os momentos de ven-
Suicido-rne porque acho chie e de muito bom tura e de delicia — e foram tantos ! — que me
tom esse acto .que todos, numa instinetiva solida- proporcionou.
riedade de rebanho, classificam de loucura ou de E si o meU suicídio fosse para a redempção de
covardia. um grande peccado ou para a redempção pos-
Desespero de minha parte não o ha, não o thuma de toda a minha vida — que cousas en-
pode haver. O perder a mesada era para mim um graçadas sabe inventar a dialectica humana! — não
facto vulgarissimo. Meu pae que é rico e largo seria com este meu ar jovial que me encaminha-
de mãos, mandava-me, ás vezes quatro e cinco ria para a grande treva. Os sacrifícios reflectidos
mesadas. Vês dahi que' a perda da francesinha era fazem-se de cenho carregado !
uma simples questão de dias... Suicido-me com 'uma pistola Browning, typo
O amor tàmbem ,não é a causa. Nunca me li- moderno, com o cabo de prata todo cinzelado.
guei a mulher nenhuma, porque não achava nes- Numa das faces ha uma allegoria contradictoria:
sas conjunções nada que as nobiliíasse. Achava-as representa Hebe distribuindo o vinho aos Deuses/
sujas. no Olympo...
Pelas moças de hoje, também não poderia apai- Escolhi, a pistola por achal-a a mais digna ar-
xonar-me. Ha uma falta tamanha de aristocracia ma com que eu me podia eliminar do mundo sem
e de linha que, para mim, uma paixão por qual- que a minha physionomia soffra alteração. Quero
quer das moças que conheci seria a amostra de que me encontrem barbeado, penteado, empoado,
amollecimento de meu cérebro e a prova da de- os lineamentos calmos e firmes, deitado direito e
cadência completa de minha faculdade de analyse. placidamente no meu divan, sorridente como quem
As minhas, galanterias á mignonne da rua São dorme um somno longo povoado de sonhos
Christovão nunca foram alem da amabilidade que- bellos.
me impunha o código de rapaz da moda. Porque o Não quero que haja uma contracção, uma. só,
amor é, para mim, ainda neste momento, a au- a quebrar a linha de fidalga distineção que me
sência dessa instinetiva superioridade da razão elevou tanto na vida.
sobre a carne, que deve distinguir um homem de No meio de tanta alegria, só levo uma pequena
um bruto, superioridade que sempre quiz ter e magua: é a de não poder ler os artigos dos jor-
pude manter em. todos os actos da vida. naes sobre o meu «extranho suicídio», as noticias
Seria então, desespero pelo desmoronar de al- sobre o luxo do enterro, sobre a concorrência
guma linda esperança ? das missas e os discursos fúnebres ; não poder ver
Pelo que disse acima, nunca as tive, desde que os faniquitos da mignonne nem as lagrimas co-
o homem põe a volúpia e mesmo a razão de ser piosas da encantadora franceza . . . Seria meu ul-
da vida no amor. timo gozo.
Desespero da vida? Tampouco. Nunca fiz idéa Até pelo reino dos mortos.
nenhuma optimista on pessimista e sempre pro- Do teu
curei viver sem saber como nem porque. Diver-, Sylvio
tia-me, achava-lhe sabor, graça e encanto, vivi. V 4. *

Agora acho graça em morrer. Vou com os


Quando Alfredo, meia hora mais tarde, chegou'
demais.
á casa do suicida, encontrou-o deitado, rígido e
Nunca tive religião nenhuma porque nunca um
direito, e, como elle mesmo dissera, barbeado,
sentimento mau brotou em minha alma, como nella
penteado, enipoado, os lineamentos calmos e fir-
não. brotaria nunca um sentimento bom. E isto pelo
mes, e um fio de sangue vincando-lhe o rosto
simples facto de que nunca pude fazer a abstra- alvo, levemente azulado "pela barba. Nos lábios, le-
cção necessária e perceber qual a differença que vemente entreabertos, parecia bailar, mobil e in-
havia entre uns e outros. Para mim vinham da quieto, um sorriso indizivel de satisfação, um sor-
mesma argilla. riso diabólico dé triumpho e sarcasmo . . .
Não ha covardia também em meu acto. Co-
SUD MENNUCCI
varde porque? Um covarde não ri deante da morte.
NOVELLA SEMANAL

nome. Vê-lo, porém, era a primeira viajasse pelo nocturno, ohegxiei ao Rio
vez. Lancei então um prolongado e do mauha, seguindo direotaments pa-
Avíd&sókecdôtícà curioso olhar, analysando-o minu-
ciosamente da cabeça aos pés. Era
ra o Hotel da Lapa, onde se achava
hospedado o fino prosador das «Letras
também a primeira vez que eu ob- floridas ».
servava de perto um grande homem.
E Amadeu j á bem que o era: grande 0 porteiro, que recebera do poeta,
na figura e grande no talento. medroso da invasão dos jornalistas
cariocas, ordens severas e terminau-
Com a reincidência dos nossos en- tes de não deixar entrar quem quei'
AMADEU AMARAL contros, principiamo-nós a cumpri- que fosse sem prévio aviso, barrou
mentar; mais tarde, depois da retira- com o suado corpanzil, a porta do
J á lá vai um punhado de tempo da do meu antigo companheiro de ascensor que devera levar-me ao quar-
que vi, pela primeira vez, o poeta imprensa, ficamos, Amadeu Amaral to de Amadeu, dizendo não estar o
das «Espumas». e eu, companheiros de caminhada, meu amigo em casa aquelle momento...
Trabalhava eu então no «Jornal do porquanto o burilador da «Nevoa» Desconfiado das palavras do oérberol
Commercio» de S. Paulo até três e também residia no alto da Consolação. hoteleiro, declarei que era um irmão]
meia ou quatro da manhan, hora essa A primeira vez que fizemos a via- i!o poeta, e porisso sentia muito nao"
em que se encerrava também o ex- gem juntos, foi, recordo-me bem, encontrá-lo.
pediente do «O Estado de S. Paulo-, numa escura madrugada de intenso
que era secretariado por Amadeu frio e rascante garoa. — Ah I então é outra coisa ! Se é
Amaral. da família, pode subir que elle está
Viamo-nos sempre no Café Acade- Achava-se no café, agoia só (Hora- em casa.
*mico:>, nesse tempo ponto obrigatório cio <ie Andrade, o meu antigo com- Encontrei-o ainda deitado, a, ler os*
cie encontro de todo o pessoal da im- panheiro e amigo, já havia deixado jornaes da m a n h ã .
prensa matutina de S. Paulo, por de ser o companheiro para continuar Palestramos alguns instantes, eoii-
ser uma das pouquíssimas casas que sendo unicamente o velho amigo J, vidando-me elle depois para almoçai
se conservavam abertas durante toda quando entrou o poeta, todo respin- em sua companhia, « em outra parte
a noite. gado de chuvisqueiro, e com o guar- que não o hotéis — aceresoenton —';
As duas salas do café que, á ex- da-chuva também a escorrer, depen- pois queria fugir do bando de photn«'>
eepçSo dos sabbados, desde meia noi- durado de um dos braços. E após graphos e jornalistas que o agoniavam',
te se conservavam quasi vasias, só beber, aos golinhos, meio cálice de havia já dois dias.
com um ou outro noctambulo, a essa <cognac3, metteu-se novamente pela — Imagine você,— ajuntou—quo já
hora enchiam-se de animação com a neblina a dentro, em direcção ao via- soffri o snpplicio da photographiu,
chegada de redactores, revisores, em- ducto do Chá. uma centona de vezes I...
fim todo o pessoal dos jornaes que Dois minutos depois, Bahia eu tam- No dia seguinte, 14 de novembro,
alli ia, após o trabalho, tomar sua bém pelo mesmo caminho e, ao tomar pela manha, no dia em que se roali- '
«média com pão quente*, ou o seu a rua Xavier de Toledo, avistei o zava a recepção na Academia, ao pro-
golezinho de álcool. vulto inconfundível de Amadeu, que curá-lo de novo, encontrei no seu
se sumia ao longe, na primeira curva quarto, commodamente montado em
Todos os dias, ou melhor, todas as da rua.
madrugadas, conforme o nosso velho uma cadeira, a palestrar, o esnriptor
Estuguei o passo e, quando falta-, Alberto de Varia, com o qual almo-
habito, depois de terminado o serviço, vam uns vinte metros para alcança-lo,
para lá eu me dirigia juntamente çamos.
devido ao ruido do meu pisar, pois A' tardo, Amadeu convidoti-me 11
com Horacio de Andrade, meu inse- éramos sós na rua, elle voltou-se, pa-
Xjaravel amigo, afim de, com café com rou á minha espera, falando-me ao acompanhá-lo ao barbeiro, onde i»
«mistura», si havia fome, ou com uma approximar-me: • por o rosto em condições do entrar
farta dose de vinho do porto si fazia para a Academia».
frio, ou com as duas cousas juntas, — Aproveite o guarda-chuva, que Ahi pudemos então assistir á mais
o que era mais commum, nos munir- o tempo está de mau humor ! . . interessante desfiripeão que se pode
mos de coragem suffieiente para af- Dahi por diante, faziamos a nossa imaginar, de uma festa, relatada ft
frontar a gélida garoa da madrugada, jornada sempre juntos. Corno eu aro dos fígaros por um froguez qnn
que nos lategava durante a diária sahisse mais cedo, esperava-o no café. se harbeava, escarrapachado n'outra
jornada pela rua da Consolação, ern No caminho conversávamos sobre as- cadeira.
busca da ancio-aunente desejada cha- sumptos òifferontes, salientando-se a
naan dos nossos leitos, pura cujo al- literatura que tinha preferencia. Descreviaelleum convescote em qiw
cance fazíamos todo o longo caminho E começou a nossa amizade. tomara parte, findo- o qual escála/a,
a pé pela falta de bondes a essa hora. juntamente com alguns companhei-
Tempos depois, contra a espectativa ros, uma janella, para roubar um
Amiude, depois de haver tomado geral, devido unicamente á grande frango assado.
logar sempre na mesma mesinha, modéstia de que è dono, veiu a sua
viamos, por uma das portas da rua eleição para a Academia do Letras, — Vocês não imaginam, rapazes, o
Direita, entrar a figura calma e en- na vaga de Olavo Bilac. que fizemos ! dizia, o orador em altas
capotada de Amadeu Amaral que ge- vozes: pulámos a janella, qua era
ralmente só, behia o seu café, sabia As nossas palestras então eram ge- alta á «bessa», surripiámos o fransfo
e tomava a direcção do Viaducto do ralmonte sobre o grande poeta e o e, nisto vem entrando uma garota
Chá, sempre com aquelle geito muito seu discurso de posse, no qual estava que nos pega com a bocca na botija t;!
seu, como si estivera a fazer versos trabalhando, e que veio constituir Foi uma corrida gerai, Jiu então, .
no prop-io caminhar, segundo a ex- depois de acabado um dos mais per- agarrei o frango assado (pue estava'
pressão de Roberto Moreira. feitos estudos, sobre a personalida- •<espiando3 e cheio de manteiga, e ]al-
de do excelso cantor das estrellas. iei assim ! (e o homem, deixando a
Quando, pela primeira vez. logo Corria o mez de outubro. Uma noi- poltrona em que se barbeava, com a
depois de entrar eu para a imprensa, te, communicou-me Amadeu Amaral cara semi-ensahoada, trepou por uma
vi entrar, pelo café a dentro, aquella a sua próxima partida para o Rio, cadeira do salão o, com as mãos aber-
figura alta que sohresaia de todas afim de ser empossado na cadeira de tas á parede, mostrava como descer»
as outras, interroguei intrigado, mos- Bilac. da alta janella, a segurar o frango>'
trando-o com os olhos a Horacio de Efíecti vãmente, passados dias, se- roubado).
Andrade : guia, elle para a capital da Republica Quando sahimos da barbearift, disw
— Quem é ? Eu, por minha vez, resolvi também o meu companheiro ainda a rir :
— Nao conhece? E Amadeu Amaral. até lá ir, afim de assistir-lhe aposse. A sessão da Academia será mW* .
Conhecia-o sim, e muito, mas só de Parti pouco tempo depois, Como
A NOVELLA SEMANAL 183

Despedímo-nos no ponto dos bon- ie bonheur de vivre. On ne peut pas


des. Eu ia ao centro da cidade, ha- s'y soustraire, en voyant Ia magnifi-
vendolhe antes promettido passar na cence de- 1'univers, en reoontrant Ia
casa do acadêmico João Ribeiro, com bonté, en éprouvant 1'amour, en se
o fim de buscar una espadim que de- sentant caressé par Ia dotfcenr a m -
vera servir para a cerimonia, á noite. biente des choses. C e s t bon de vivre,
De facto, regressando ao hotel, fui quand on croit, quand on espere,
ao Flamengo, na residência do conhe- quand on fait bien . . .
cido grammatico, onde recebi um fi- •^ (Anatole France).
jnlssimo espadim, pertencente, se me P e n s a m e n t o s de RUY
iivao engano, aó Corpo Diplomático.,
motivo pelo qual se viam gravadas no
manubrio as iniciaes C. D.
BARBOSA Só as más causas dependerão do
Como ignorasse o significado das (Collectanea de Mario de Lima Barbosa) talento dos grandes pregadores. As
duas letras, já no hotel, interroguei boas vingam pela sua santidade, que
Amadeu Amaral, indicando as mes- Emquanto Deus nos dê um resto basta apparecer, para ser reconheci-
mas : de alento, não ha que desesperar da da, como" a deusa antiga, revelada na
sorte do bem. A injustiça pôde irri- majestade silenciosa do seu andar.,
— Que quererá dizer isto aqui? «Et vera incessesu patuit dea».
Este espadim não pertence á Acade- tar-se, porque é precária. A verdade,
mia ? não se impacienta, porque é eterna. (Guerra Enropéa, Conf. Petropolis
0 meu amigo que, á frente do es- Quando praticamos uma acção boa - 1917).
pelho luotava para abotoar u m reni- não sabemos se é para hoje, ou p a r a
tente collarinho, volveu o rosto pára quando. O caso é que os seus frue-
o objeeto, com os dedos firmes, ao bo- tos podem ser tardios, mas, são cer- Os pleitos que encheram Athenas
tão da camisa, mirou por "alguns ins- tos. Uns plantam a semente da oouve e Roma coiti as orações de Demos-
tantes o cabo do espadim e, com voz para o prato de amanhã, outros a se- thenes e Cicero demandavam, para
sumida, gemeu, v.oítando-se ao penoso" mente do carvalho para o abrigo do sobreviver ao seu tempo, o gênio da-
trabalho de pôr o collarinho no res- futuro. Aquelles cavam para si mes- quelles monstros da palavra. O man-
pectivo lugar: mos. Estes lavram para o seu paiz, dato que trouxe o Christo à terra, e
para a felicidade dos seus descenden- o pregou na cruz, resplandece em
— Pois então ? Gademia D'letras !... tes, para o beneficio do gênero hu- qualquer, boca, donde saia o Evan-
Quando o poeta vestia a volumosa mano. gelho na pureza da sua humildade e
oasaca da farda acadêmica, ao veri- (Contestação da Eleição Presiden- na innocencia da sua doç ira. A tri- .
ficar o peso e a grossúra do unifor- cial — 1910). buna humana só se abraza com as
me, que devera trazer durante grande inspirações do gênio. Mas o verbo
parte da quentissima noite que fazia, de Deus arraia de luz o mais obs-
suspirou desconsoladamente : curo canto do mundo, onde se le-
Só o bem, neste mundo, é durável,
— Quantas provações para se pas- e o bem, politicamente, é todo justi- vante uma consciência christã, apos-
sar a uma immortalidáde> interina !... ça e liberdade, formulas soberanas da tolando a lei de Jesus contra a lei de
autoridade e do direito, da intelligen- Caim.
Ninguém ignora o brilhantismo de cia e do progresso.
que se revestiu a posse de Amadeu (Guerra Européa. Conf. Petropolis
Amaral. Os jornaes do Rio e de Sao (Conf. Bahia, 24 de Maio, 1897). - 1917).
Paulo incumbiram-se de divulgal-o,
bem como os discursos do novo aca-
dêmico e de Magalhães Azeredo, o A grande obra dos bemfeitores pre- Todos os sentimentos * puros obede-
orador 'official da Academia. destinados está na illimitada sobrevi-' cem á lei da verdade. Onde começa a
Finalizada a sessão solemne, dirigi- vencia delia aos seus autores, que do mentira, principia a infidelidade, se
mo-nos ao hotel, afim do poeta mu- seu próprio trespasse revivem todos abre o caminho da traição.
dar de roupa,' seguindo depois para o os dias nos fructos do bem, que plan- (Conf. Juiz de Fora — Eev. 1919).
centro da cidade, para tomarmos, eu taram, na corrente de bênçãos, que
o primeiro alimento do dia, pois pas- deixaram aberta e borbotante- São
sava de meia noite, e Amadeu Ama- fontes de bondade, em que se desen- Nada expõe tanto uma nação a ca-
ral o primeiro, após a sua entrada na tranha a vida ephemera dos mortaes lamidades irreparáveis, oomo a in-
immórtalidade immortalizados, para a continuarem, consciencia das suas chagas e a pre-
atravez de séculos e séculos, em cau- sumpção cia sua sufficiencia, devidas
Dirigimo-nos á «Brahma», onde fi- daes cie benevolência e caridade. ao atabafamento systematico da ver-
cámos em palestra por varias horas, (Oswaldo Cruz). dade.
em companhia de alguns amigos que (Conf. Juiz de Fora — 1.910).
chegaram dejois, entre elles, Alberto
de Faria, G-oulart de Andrade, Julio Só ha uma gloria verdadeiramente
de Mesquita Filho, Mauro Pacheco e digna deste nome : é a de ser bom; e
outros. ',-. essa nao conhece a soberba nem a As decepções em que aecordam os
A' sahida, despedimo-nos dos com- fatuidade. povos enfatuados e cegos são inenar-
panheiros, rumando, os dois, para o (Disc. Collegio Anehieta). ráveis, i
ponto do bonde, que levou um» eter- (Conf. Juiz de Fora — 1910). ,
nidade a chegar. Como estivéssemos < **
fatigados de estar de pé, á espera cio
carro que nos conduzisse ao hotel, O. mal nunca venceu o bem, senão
lamentei ao meu companheiro a usurpando a este o necessário para o O principio dos princípios é o res l
falta de um banco alli pelos arredo- illudir, o arredar, a adormecer, o peito cia consciência, o amor ria ver-
res, em que pudéssemos descançar. fraudar, o substituir, o vencer. Se a dade.
injustiça, a mentira, o egoísmo, &ao- fConf. Juiz de Fora — 1910).
— Você quer saber de uma coisa ? biça, a rapacidade, a grosseria d al-
respondeu-me o poeta. Contentemo- ma, a baixeza moral, a inveja, o ran-
nos com o que ha. E unindo a acçao cor, a vingança, a traição, appareces- Os antigos enxergavam no menti-
ás palavras, sentou-se elle na calçada sem nus e desnudos aos olhos do in- roso o mais vil dos tarados moTaes.
da rua, com os pés na sargeta. divíduo, aos olhos do povo, aos olhos Depois de enumerar iodas as misé-
— Mas um immortal ? commentei da sociedade, aos olhos do mundo, rias de um perdido, concluiam, quan-
a rir. ninguém preferiria o mal ao bem e o do cabia: «E até mente». Entre
— Então vooê pensa que a immór- bem nao se veria jamais desterrado dous ladrões crucificaram os judeus
talidade não cança ? Catíça, e muito. pelo mal. a Jesus ; porque não ousaram excru-
Desçancemo-nos, portanto ! Sente-se cial-o entre dous baldroes. O ladrão
aqui. . . prostitue com o roubo, as suas mãos.
Autour du malheur et de Ia souf- O mentiroso com a mentira, a pró-
São Paulo, 6-921. pria boca, a sua palavra e a sua cons-
PAUÜO DUARTE
france, qui ont une si grande part ciência. O ladrão offende o próxi-
dans notre lot, i l y a u n rayonnement mo nos bens 'da fortuna. O menti-
de joie, qui enveloppe ies cheses et roso, nao é no patrimônio, é na hon„
les ames, en nous donnant, a savourer
A NOVELLA SEMANAL
m
ra, na liberdade, na própria vida. Que diüer de tSo brusca mudança ? e de La Pontaine, ahi se tavia enfeu-
Tanto vai do latrocínio ã calumnia... Como ducha esoosséza, impOBsivel en- dado, nfto via sem viva inquietude,
(Conf. Assoc. Com. Rio de Janeiro. contrar melhor. os excossos de seus oondíscipulos. E'
Março — 1919;. O publioo, assegura-se. não se des- que, si consentia em alargar a dis-
concertou em nada. Ainda que para ciplina do verso, não desejava vcl-a
a maioria os versos íranoezes sejam de todo siipprimida. Sabia que para
A tolerância constituo a mais pre- como se fosse o hebreu, os espectado- que haja verso é preciso que haja
ciosa das virtudes de educação, nas res tinham o ar de quem se interessa- rythmo e rima : «No presente, — af-
almas habituadas a estudar com phi- va por Orestes, quasi tanto como a firmava elle — fazem-se versos de mil
losophia as cousas humanas. Nelson Keys^ pés : isso não são versos. E' prosa e
(Diário Noticias — 7, Março, 1S89). E' que as contorsões o os rugidos sobretudo, algumas vezes, nfio é irar
têm a vantagem de se entenderem per- oez. Chamam-no de versos rythmiona,"
feitamente em todas as línguas. Os mas nós ao somos nem Latinos, nem
espectadores acompanham a mímica, o Gregos, nós somos Francezes . . . \
', Toda a sciencia da administração poesia é um teclado, o poeta um ar-
é, economia dos Estados é um vasto jogo physionomico como se seguissem
e mais emooionantd dos «füms». tista. Elle pode, deixando a tradicio-
oampo de debates e nma lição de nal rotina, quebraudo os velhos mol-
transacções. des, tirar effeitos novos, inventando
(Diário Noticia — li, Março, 1889). novos aocordes; mas, si elle bate ao
accaso ou de lado, o rythmo desappa-
Leconte de Lisle. reoe, o som não mais existe, a ima.
ginaçao ultrapassa o.fim a attingir e
Politica e transacção, na melhor
moral deste mundo, são termos equi- . . . «O senhor Leconte de Lisle me nós chafurdamos nos versos de deze-
valentes. Reformas duradouras são agrada» — escrevia Gustave Flaubert, sete, de dezoito, de viilte e quatro
unioamente as que se operam tran- desde á estreia do autor de «Midi». pés . . . »
sigindo. As próprias revoluções tran- «Amo as pessoas decididas e enthu- O publioo franoez concordou com
sigem, e na therapeutica humana,, siastas. Nada se faz de grande sem Verlaine. A. apotheóse do «Cyrano» de
os mais sábios syst.emas de cura são fanatismo». Que importava, após isso, Edmond Rostand foi, por sua vez,
transacções oom o mal, cujos agen- ao joven mesr.re, os brutaes insultos para os anarchistas da poesia, uma
ter a medicina utiliza para obter a que se levantaram em torno d'elle ? primeira advertência de que iriam
saúde pela doença. Outra coisa não faziam senão saturar ficar sós em Aigues-Mortes, a oidade
(Diso. Th. Lyrico. Rio, Outubro — de desdém a profundez tranquilla de areienta, emquanto em redor delles a
1909). sua indifferença. Alias, desde os seus torrente da vida continuava a rolar
quarenta annos, as homenagens de as magias da arte viva. J á se tinha
seu cenaoulo parnasiano deviam dar- visto um Maurice Bonchor, um Henri
lhe occasião de constatar, duma ma- de Régnier se evadir, a passo oada
Racine em café-concerto. neira clara, a altura de sua gloria.
J á então finha elle para publicar seus vez mais rápido, desse preconoeita do
versos e os dos seus companheiros, a symbolismo que lhes havia dominado
Uma extranha aventura aconteceu a primeira juventude. Jean Morena,
a Racine, ou à sua obra, ha pouco «Revue du Parnasse Contemporain». o mais perfeito coadjuetor do sym-
tempo, em Londres. Estava cercado por uma elite de poe- bolismo, foi o que melhor oonrribuirt
Na oapital britannica existe um em- tas que o admiravam e que elle ama- para sustar a sua evolução. So elle
presário emprehendedor. O que agra- va : «A amizade viril, dizia elle, nao fora um dos primeiros a se revoltar
da ao publico — disse elle, lá oom os é outra coisa sinão um amor intelle- oontra as tyrannias da poesia parna-
seus botões — é o contraste e, sobre- ctual»; e elle oultivava esse amor co. siana, se seu «Pèlerin passioné» mar-
tudo, o imprevisto. Feito isso, eis o mo uma planta infinitamente pre- cara a hora mais brilhante da ,esoola
,qae imaginou. Ao meio da represen- ciosa. symbolista, foi elle também o pri-
tação de uma revista intitulada «Lon- A phalange que se unia ao chefe meiro a fazer apparecer, no que con-
dres, Paris e Nova York:», entre as da escola parnasiana sentia bem que cerne á lingua, preocoupaçõos quo
scenas mais cômicas, resolveu inter- o que lhe faltava então era uma fir- prepararam a evolução próxima. A
calar nada menos que o terceiro acto me disciplina, uma linha de condu- maneira ruidosa pela qual rompeu
da «Andromaoa», representado por cta plena e resoluta : «Certo, escrevia entSo contra os symbolistas, provocou
dois dos melhores artistas francozes, CacuUe Mendes, historiador do «Par- contra elle coleras terríveis. Heleno,
especialmente contractados para esse nasse», certo, o sentimento do Bello, vindo para o gênio francez caminhan-
fim . . . o horror ás tolas sensibilidades que des- do ao longo das fontes originaes,
Nelson Keys, celebre actor de café honravam por esse tempo a poesia Jean Moréas nao se incommodou:
concerto, capaz de excitar hilaridade franceza, nós os tínhamos ! Mas era apartou^se de seus companheiros de
nos mais diversos papeis, representa em desordem que nós nos atirávamos luetas, desde que percebeu que eram,
um velho almirante nutria praia da a essa campanha e que marchávamos emfim, na maioria homons chegados
moda e, assim, ás gargalhadas sacode á conquista do nosso ideal... Precisá- das quatro cantos do horisonte e que
toda a platèa. Cae o paDO, um instan- vamos de uma regra imposta do alto pretendiam versificar em francez sem
te, reergue-se logo e eis Hermíona, fi- e que, deixando-nos a nossa indepen- nenhum estudo preliminar e conside-
lha de Helena, com Orestes, filho de dência intellectual, fizesse convergir rando oomo superioridade escrever
Agamennon. De uma praia elegante gravemente, dignamente, as nossas — em francez pretendem elles — sem
salta-se para o palácio de Pyrrho, no forças esparsas para a victoria entre- querer ou sem poder se conformar ás
Epiro, alguns tempos depois da guerra vista. Essa regra, foi de Xjeconte exigências do gênio francez.
de Troya. de Lisle que nós a recebemos».
Os alexandrinos do grande poeta de- A realesa poética, exercida pelo Pode-se, pois, dizer que, após ter
viam ter soado estranhamente em tal mestre do Parnaso sobre tantas gera- rejeitado asinsufficiencias oscapriohos
scena. Não que se entendessem muito ções de poetas francezes, nao se ex- mais ou menos nervosos do decaden-
bem as tiradas de Hermiona, pois ella tinguiu ainda, nem se extinguira. tismo, e até do symbolismo, nossos
as reoitava de costas para o publico. Com effeito, mesmo no momento poetas os mais puramente francezes
Demais, ella se encontra em terrível em que, ahi por l890,triumphavamrui- se tornaram no presente duma una-
estado de excitação. dosamente, sob o nome de decaden- nime admiração para com o Renova-
Mas essa excitaçâo não é nada peran- tes e de symbolistas, de primitivistas dor, cuja morte nao suspendeu ocul-
te a de Orestes. Eil-o com a physiono- e de naturistas, do inteusistas e de to devido aos semí-deuseB que trou-
mia transtornada, cabellos em desor- unanimistas, de harmonistas, de * ver- xeram a seu paiz a fiammft do gênio,
dem, olhos fora das orbitas. Quando esou so libristas» e de futuristas, uma nu- e cuja gloria faz parte da riqueza
ta as furiosas recriminaçóes de Hermio vem de rimadores bolcheviks mais ou nacional.
na, quando se lhe annuncia o seu sui- menos extrangeiros, todos indepen- Assim, é a alta figura do Leconte
cídio, tomam-no a loucura e o, delí- dentes e cada um prompto a crear a de Lisle que a esta hora nos appare-
rio, a voz se lhe torna sibilante, cada sua prosódia, a fazer a sua métrica, ce levantada ao meio desse templo
vez mais rugídora e elle transborda a erigir em dogma «as decisões de seu da Santa Belleza elevado por suas
em um accesso de cólera. bestunto» — mesmo nesse momento, mãos a Apollo delphico, mestre do»
Cae o pano. Segundos depois, Nel- os nosBos poetas, os mais notoria- rythmos perfeitos segundo os quae»
son Keys reapparece elegantemante mente nacionaes, repugnavam e se foram construídas a Acropole, as trí-
bem posto como um «gentleman» doB recusavam a aoceitar a doutrina da rémesde Salamina, « a Agora, oud«
tempoi mod«rno«. R«cora»ç* a hila- poética nova. Verlaine que, mau gra- falara D«meath«n«i.
ridadt. de «»* d»»«»nd«n«ia àir»«ta d» Vilion
J*AM D M Í I I
E D I Ç Õ E S :;E»A.

'Sxiéeãc
^AMADEU AMARAL F. T. DE SOUZA REIS
A Pulseira de Ferro (novella) 1$000 A Divida do Brasil (estudo histórico) . . 4$000
Um soneto de Bilac (critica) 2$000
WALDEMAR FERREIRA
MONTEIRO LOBATO Manual do Commerciante . .
Os Negros (novella) 1$000 Estudos de Direito Commercial lOSOfjO
A Hypotheca Naval no Brasil. 3$000
LEO VAZ >
AUCTORES DIVERSOS
Ritinha (novella) No prelo
O que todo o commerciante precisa saber
GUSTAVO BARROSO (10.° milheiro) 2$000
Almanach Commercial Brasileiro de 1918 6$000
Mula sem cabeça (novella) No prelo
NICOLAU ATHANASSOF
A. DE SAMPAIO DORIA Os Suinos, manual do criador de porcos
O que o cidadão deve saber (10.° milheiro) 3$000 (2.a edição, 8.° milheiro) . . . .

OS PEDIDOS DO INTERIOR DEVEM TRAZER MAIS 10 o/o PARA O PORTE

S O C I E D A D E E D I T O R A O I v E G A R I O R I B E I R O
R Ü O . E>r. A b r a n e l i e S t 4 3 - C a i x a P o s t a l 11-5TSS - S Ã O r » A X J I v O

EDIÇÕES DA " R e v i s t a d o Brasil,,


Broch. Encad. Broch. Encad
NEGRINHA, contos por Monteiro DIAS DE GUERRA E DE SER-
Lobato 2$500 3$500 TÃO, interessante narrativa pelo
URUPES, contos por Monteiro Lo- Visconde de Taunay . . . . 4$000 5$000
bato, 6.a edição 4$000 5$000 MADAME POMMERY, romance
'CIDADES MORTAS, contos por satyrico, por Hilário Tácito. . 4$000 —
Monteiro Lobato, 2.a edição. . 4$000 5$000 BRASIL COM S OU COM Z, por
IDÈAS DE JECA TATU, critica F. Assis Cintra 3$000 —
por Monteiro Lobato, 2.a edição 4$000 5$000 VIDA OCIOSA, romance por Go-
NARIZINHO ARREBITADO, li- dofredb Rangel 4$000 5$000
vro de historias para crianças, OS CABOCLOS, contos por Val-
por Monteiro Lobato . . . . 3$500 domiro Silveira 4$000 5$000
POPULAÇÕES MERIDIONAES HISTORIAS DA NOSSA HISTO-
DO BRASIL, estudo de sociolo- RIA, por Viriato Corrêa . . . 3$500 4$500
gia por F. /. Oliveira Vianna . 8$000 10$000 ESPHINGES, versos de Francisco
PROFESSOR JEREMIAS, por Léo Julio 5$000 —
' Vaz, 3.a edição 4$000 5$000 SCENAS E PAISAGENS DA MI-
VIDA E MORTE DE GONZAGA NHA TERRA, versos caipiras de
DE SÁ, romance por Lima Bar- Cornelio Pires 5$000 —
reto . . . 2$000 — CASA DE MARIBONDO, contos,
LIVRO DE HORAS DE SOROR hão do Norte 3$000 —
DOLOROSA, poesias por Gui- PAIZ DE OURO E ESMERALDA,
lherme de Almeida 5$000 — romance,/. A. Nogueira . . . 4$000 —
ALMA CABOCLA, versos de Pau- PEDIDOS PARA O INTERIOR,
lo Setúbal, 2.a edição . . . . 3$000 4$000 MAIS 10 o/o PARA O PORTE
Pedidos aos E d i t o r e s : M o ü t e í r O L o b a t O (£L C , C a i x a 2 - A - S . P A U L O
184 Á NOVELLA SEMANAL

ra, na liberdade, na própria vida. Que dizer de tão brusca mudança ? e de La Fontaine, ahi se havia enfa-
Tanto vai do latrocínio á calumnia... Como ducha esoosséza, impossível en- dado, nSo via sem viva inquietude,
(Conf. Assoc. Com. Rio de Janeiro. contrar melhor. os excessos de seus oondiscipulos. E'
Março — 1919,. O publico, assegura-se, não se des- que, si oonsentia em alargar a dis-
concertou em nada. Ainda que para ciplina do verso, nao desejava vi>l.n
a maioria os versos francezes sejam de todo supprimida. Sabia que PRra
A toleranoia constitue a mais pre- como se fosse o hebreu, os espectado- que haja verso é preciso que haja
ciosa das virtudes de educação, nas res tiuham o ar de quem se interessa- rythmo e rima : «No presente, — «f.
almas habituadas a estudar com phi- va por < 'restes, quasi tanto oomo a firmava elle — fazem-se versos de mil
losophia as cousas humanas. Nelson Keys^ pés : isso não são versos. E' prosa a
(Diário Noticias — 7, Março, 1689). E' que as contorsões e os rugidos sobretudo, algumas vezes, nao é fritir
têm a vantagem de se entenderem per- cez. Chamam-no de versos ryrhmioos,'
feitamente em todas as línguas. Os mas nós ão somos nem Latinos, nem
espectadores acompanham a mímica, o Gregos, nós somos Francezes . . . A
Toda a soiencia da administração poesia é um teolado, o poeta um ar-
é economia dos Estados é um vasto jogo physionomico como se seguissem tista. Elle pode, deixaudo a tradicio-
campo de debates e uma lição de e mais emooionantd dos «films». nal rotina, quebrando oa velhos mol-
transacções. des, tirar effeitos novos, inventando
(Diário Noticia — '7, Março, 1889). novos accordes; mas, si elle bate ao
accaso ou de lado, o rythmo desappa-
Leconte de Lisle. reoe, o som não mais existe, a ima.
ginacSo ultrapassa o fim a attingir e
Política e transacção, na melhor
moral deste mundo, sao termos equi- . . . «O senhor Leconte de Lisle me nós chafurdamos nos versos de deze-
valentes. Reformas duradouras silo agrada» — escrevia Gastava Flaubert, sete, de dezoito, de viüte e quatro
unicamente as que se operam tran- desde a estreia do autor de »Midi». pés . . . »
sigindo. As próprias revoluções tran- «Amo as pessoas decididas e enthu- O publico franoez concordou com
sigem, e ua therapeutica humana, siastas. Nada se faz de grande sem Verlaine. A apotheóse do «Cyrano» de
os mais sábios sysr.emas de cura são fanatismo». Que importava, após isso, Edmond Rostand foi, por sua vez,
transacções oom o mal, cujos agen- ao joven mestre, os brutaes insultos para os anarohistas da poesia, uma
ter a medicina utiliza para obter a que se levantaram em torno d'elle ? primeira advertência de que iriam
suude pela doença. Outra coisa não faziam senão saturar ficar sós em Aigues-Mortes, a cidade
(Disc. Th. Lyrieo. Rio, Outubro — de desdém a profundez tranquilla de areienta, emquanto em redor delles a
1909). sua indifferença. Alias, desde os seus torrente da vida continuava a rolar
quarenta annos, as homenagens de as magias da arte vivi. Já se tinha
cr seu cenaculo parnasiano deviam dar-
lhe occasião de constatar, duma ma- visto um Maurice Bonchor, ura Henri
de Régnier se evadir, a passo aula
Racine em café-concerto. neira clara, a altura de sua gloria.
J á então tinha elle para publioar seus vez mais rápido, desse preconceito do
versos e os dos seus companheiros, a symholismo que lhes havia dominado
Uma extranha aventura aconteceu a primeira juventude. Jean Morens,
a Racine, ou á sua obra, ha pouco «Revue du Parnasse Gontemporain». o mais perfeito coadjuetor do sym-
tempo, em Londres. Estava cercado por uma elite de poe- bolismo, foi o que melhor oontribuin
Na oapital britannica existe um em- tas que o admiravam e que elle ama- para sustar a sua evolução. Se elle
presário emprehendedor. O que agra- va : «A amizade viril, dizia elle, não fora um do9 primeiros a se revoltar
da ao publioo — disse elle, lá oom os é outra coisa sinão um amor intelle- oontra as tyrannias da poesia parna-'
seus botões — é o contraste o, sobre- ctual»; e elle oultivava esse amor co. siana, se seu «Pèlerin passioné» mar-
tudo, o imprevisto. Feito isso, eis o mo uma planta infinitamente pre- cara a hora mais briJhants da ,esooia
,que imaginou. Ao meio da represen- ciosa. symbolista, foi elle também o pri-
tação de urna revista intitulada «Lon- A phalange que se unia ao chefe meiro a fazer apparooer, no que con-
dres, Paris e Nova York», entre as da escola parnasiana sentia bem que cerne á lingua, preoccupações qn«
scenas mais cômicas, resolveu inter- o que lhe faltava então era uma fir- prepararam a evolução próxima. A
calar nada menos que o terceiro acto me disciplina, uma línlia de condu- maneira ruidosa pela qual ronpeu
da «Andromaca», representado por ota plena e resoluta : «Certo, escrevia então contra os symbolistas, provocou
dois dos melhores artistas francezes, Caculle Mendes, historiador do «Par- s contra elle coleras terríveis. Heleno,
especialmente contractados para esse nasse», certo, o sentimento do Bello, vindo para o gênio franoez caminhan-
fim . . . o horror ás tolas sensibilidades que des- do ao longo das fontes originaes,
Nelson K.eys, celebre actor de café honravam por esse tempo a poesia, Jean Moréas não se incommodou :
ooncerto, capaz de excitar hilaridade franceza, nós os tínhamos ! Mas era apartou*-se de seus companheiros de
nos mais diversos papeis, representa em desordem que nós nos atirávamos luctas, desde que percebeu que eram,
um velho almirante numa praia da a essa campanha e que marchávamos emfim, na maioria homens ohegados
moda e, assim, ás gargalhadas sacode á conquista do nosso ideal... Preoisa- das quatro cantos do horisonte e que
toda a platèa. Cae o pano, um instan- vamos de uma regra imposta do alto pretendiam versificar em francez sem
te, reergue-se logo e eis Hermiona, fi- e que, deixundo-nos a nossa indepen- nenhum estudo preliminar e conside-
lha de Helena, com Orestes, filho de dência intelleotual, fizesse convergir rando oomo supçrioridade escrever
Agamennon. De uma praia elegante gravemente, dignamente, as nossas — em francez pretendem elles — sem
salta-se para o palácio de Pyrrho, no forças esparsas para a victoria entre- querer ou sem poder se conformar ás
Epiro, alguns tempos depois da guerra vista. Essa regra, foi de Leconte exigências do gênio franoez.
de Troya. de Lisle que nós a reoebemos».
Os alexandrinos do grande poeta de- A realesa poética, exercida polo Pode-se, pois, dizer que, após ter
viam ter soado extranhamente em tal mestre do Parnaso sobre tantas gera- rejeitado asinsufficiencias oscaprichos
scena. Nao que se entendessem muito ções de poetas francezes, nao se ex- mais on menos nervosos do decaden-
bem as tiradas de Hermiona, pois ella tinguiu ainda, nem se extinguira. tismo, o até do symbolismo, nossos
as reoitava de costas para o publico. Com effeito, mesmo no momento poetas os mais puramente francezes
Demais, ella se encontra em terrível em que, ahi por 1890,triumphavamrui- se tornaram no presente duma una-
estado de exeitação. dosamente, sob o nome de decaden- nime admiração para com o Renova-
Mas essa exeitação nao é nada peran- tes e de symbolistas, de primítivistas dor, cuja morte nao suspendeu o cul-
te a de Orestes. Eil-o com a physiono- e de naturistas, de inteusisras e de to devido aos semi-deuses que trou-
mia transtornada, cabellos em desor- unanimistas, de harmonistas, de «ver- xeram a seu paiz a flamma do gênio,
dem, olhosfóradasorbitas.yuando esou so libristas» e de futuristas, uma nu- e cuja gloria faz parte da riqueza
ta as furiosas rerriminaçòes de Hermio vem de rimadores bolchevíks mais ou nacional.
na, quando se lhe annuncia o sen sui- menos extrangeiros, todos indepen- Assim, é a alta figura de Leconte
cídio, tomam-no a loucura e o. delí- dentes e cada um prompto a crear a de Lisle que a esta hora nos appare-
rio, a voz se lhe torna silnlante, oada sua prosódia, a fazer a sua métrica. ce levantada ao meio desse templo
vez mais rugidora e elle transborda a erigir em dogma «as decisões de seu da Santa Uellexa olovado por suas
em um accesso de cólera. bestunto» — mesmo nesse momento, mãos a Apollo delphico, mestre dos
Cae o pano. Segundos depois, Nel- os nossos poetas, os mais notoria- rythmos perfeitos segundo os quaes
son Keys reapparece elegantemante mente nacionaes, repugnavam e se foram construídas a Acropole, as tri-
bem posto como um «gentleman» dos recusavam a aooeitar a doutrina da rémesde Salamina, s a Agora, ond*
tempos modvraoa. Biporatci a hila- poética nova. Verlaine que, mau gra- falava D«mottb»n«t.
ritlatt», d» §tt* d«s«*n«*a«i« d_lr»«t* d* Vilion
J*JJS D»«su
EDIÇÕES 1**^

'Mcitewy
r AMADEU AMARAL F. T. DE SOUZA REIS
A Pulseira de Ferro (novella) 1$000 A Divida do Brasil (estudo histórico) . . 4$000
Um soneto de Bilac (critica) 2$000
WALDÉMAR FERREIRA
! MONTEIRO LOBATO Manual do Commerciante 8$000
Os Negros (novella) 1$000 Estudos de Direito Commercial . . . . 10$OoO
A Hypotheca Naval no Brasil 3$000
LÉO VAZ
AUCTORES DIVERSOS
Ritinha (novella) No prelo
O que todo o commerciante precisa saber
GUSTAVO BARROSO (10.° milheiro) 2$000
Almanach Commercial Brasileiro de 1918 6$000
Mula sem cabeça (novella) No prelo
NICOLAU ATHANASSOF
A. DE SAMPAIO DORIA
Os Suinos, manual do criador de porcos
0 que o cidadão deve saber (10.° milheiro) 3$000 (2.a edição, 8.° milheiro) . . . . 3$000
OS PEDIDOS DO INTERIOR DEVEM TRAZER MAIS 10 o/o PARA O PORTE

S O C I E D A D E KXH^TORA O E E G A R I O R I B E I R O
R u a D r . JVt>reuc»«sl-xe>®» - i S = O e i i r s c e » . I ^ o s t e i l l l ^ S= S Ã O P A U L O

EDIÇÕES D A
€6
Revista do Brasil,,
Broch. Encad. Broch. Encad
NEORINHA, contos por Monteiro DIAS DE GUERRA E DE SER-
Lobato 2$500 3$500 TÃO, interessante narrativa pelo
URUPÉS, contos por Monteiro Lo- Visconde de Taunay . . . . 4$000 5$000
"•"• bato, 6.a edição 4$000 5$000 MADAME POMMERY, romance
CIDADES MORTAS, contos por satyrico, por Hilário Tácito. .
Monteiro Lobato, 2.a edição . . 4$000 5$000 BRASIL COM S OU COM Z, por
IDÈAS DE JECA TATU, critica F. Assis Cintra 3$000 —
por Monteiro Lobato, 2.a edição 4$000 5$000 VIDA OCIOSA, romance por Go-
NARIZINHO ARREBITADO, li- dofredo Rangel 4$000 5$000
vro de historias para crianças,
por Monteiro Lobato . . . . 3$500 OS CABOCLOS, contos por Val-
domiro Silveira 4$000 5$000
POPULAÇÕES MERIDIONAES HISTORIAS DA NOSSA HISTO-
DO BRASIL, estudo de sociolo- RIA, por Viriato Corrêa . . . 3$500 4$500
gia por F. J. Oliveira Vianna . 8$000 10$000 ESPHINGES, versos de Francisco
PROFESSOR JEREMIAS, por Léo Julia 51000 -
Vaz, 3.a edição 4$000 5$000 SCENAS E PAISAGENS DA MI-
VIDA E MORTE DE GONZAGA NHA TERRA, versos caipiras de
DE SÁ, romance por Lima Bar- Cornelio Pires 5$000 -
reto 2$000 — CASA DE MARIBONDO, contos,
LIVRO DE HORAS DE SOROR João do Norte 3$000 —
DOLOROSA, poesias por Gui- PAIZ DE OURO E ESMERALDA,
lherme de Almeida . . . . _ , . 5$000 — romance,/. A. Nogueira . . . 4$000 —
ALMA CABOCLA, versos de Pau- PEDIDOS PARA O INTERIOR,
lo Setúbal, 2.a edição . . . . 3$000 4$000 MAIS 10 o/o PARA O PORTE
Pedidos aos Editores; M o n t e i r o L o b a t O (£t C , C a i x a 2 - A - S . P A U L O
A NOVELLA NACIONAL "Volumes publicados:

A NOVELLA NACIONAL é uma A P u l s e i r a d e F e r r o por


série de pequenos livros, nos quaes AMADEU AMARAL, o snccessor de
se mira ao seguinte escopo : offerecer Olavo Bilac. na Academia Brasileira.
a )
a melhor leitura, sob a apresentação E no gênero uma verdadeira obra
mais artística, ao preço mais barato prima,, — disse desta novella o grande
possivel. Os objectivos desta publi- poeta Alberto de Oliveira.
cação, de que é director o sr. Amadeu O s N e g r o s por MONTEIRO LO-
Amaral (da Academia Brasileira) podem BATO, o celebre creador de Jeca Tatu
assim, condensar-se no lemma — LI- Estão no prelo mais dois volumes:
VRO BOM E BONITO AO ALCAN- R i t i n h a por LEO VAZ, o fes-
CE DE TODOS. tejado auctor do "Professor Jeremias",
romance que obteve o maior suecesso
Apparece approximadamente um vo- literário da actualidade, alcançando três
lume por mez, com cerca de 80 pa- edições em poucos mezes. .--*
ginas, no formato 16 »/a X 12 i/* centí- M u l a s e m c a b e ç a por GUS-
metros, impresso em magnífico papel TAVO BARROSO, o famoso escriptor
e illustrado com numerosas e artísticas cearense, autor da T E R R A DO SOL,
gravuras, contendo uma obra completa H E R O E S E BANDIDOS e outras
de auctor conhecido. jóias literárias já sobejamente conhe-
cidas e apreciadas.

OS NEGROS 1
A seguir novellas de u
Coelho Netto,
Afranio Peixoto,
Waldomíro Silveira
Cornelio Pires e outros.
Cada volume. lífOOO em
todas as livrarias. Pelo
correio, registrado 1$300.
Assignaturas com direito
a receber todos os vo-
lumes registrados :
Série de três novellas
3|600; série .de seis no-
vellas 7$000; série de
doze novellas MfOOO.
Pedidos á

Sociedade Editora
Olegarío Ribeiro
Rua Dr, Abranches N. 43
Caixa, 1172 - SÀ0 PAULO
^.M
T y p . " Revista de Commircio e Industria „ da
Soe. Ed. Olegarío Ribeiro, Abranches 43, S. Paulo — Lá, foges, »nmTjwWTfwi»w»w"
ata», "V.
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