Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
á i
A u rea P ir e s
Ex Libris
José M in dlin
>e-
---
C D D - 070.483470981
-3 0 5 .4 2 0 9 8 1
87-1308 - 8 6 9 .9 0 5
F*\jit)lica-se no d ia 15 de cad a m ez
I H
:
I
C o n v ê n io IM E S P /D A E S P
São Paulo
1987
V»
• '.o >
d^^vereiro de 1899 Anno II, N. 25
SAGEIRA
'^'"^ í s t a l i
o .
.m ieada á mulher brazileira
'l a
Tesciliana Duarte de Almeida
____ ^ f ---
1 no d ia 15 de cada m ez
H Lancha T^egra
Para velar da lua a face refulgente
Nuvens pesadas vão correndo acumuladas,
E na treva do oceano as vagas compassadas
Passam uma por uma interminavelmente.
2)e manhã
(Fragmento de um poema)
Manhã de primavera: o sol vem despontando
Nas grimpas da montanha e a luz vae-se espalhando
Por toda a parte. Além, na florida campina
Em bando alviçareiro a passarada trina!
A M ensageira
A urea P ires
H Mensageira
D ’entre o arvoredo marginal, esguia,
subtil, avança indigena canoa...
A ’ sombra, no juncal, nymphéas á toa,
que a liquida esmeralda acaricia...
Candida Fortes
Cachoeira (R. G. Sul), outubro, 98
gria, ora impregnados de adoravel «Amor, ch’a nullo amato, araar perdona,
«Mi prese del costui piacer si forte,
melancolia, os versos melodiosos
«Che corne vedi, ancor non m’abbandona..
dos «Plectros» são como gorgeios
de ave peregrina, traduzindo, quasi
todos, de um modo esmerado e Ibrantina Cardona quiz desven-
fluente, os delicados sentimentos vendar os mysteriös de sua alma.
d’uma aima apaixonada e terna... E fêl-o delicadamente, não ha
Elles contam-nos um romance de duvida.
amôr: talvez 0 romance de sua ju- Uma critica meticulosa póde ac-
vem autôra. cuzal-a de um defeito: — pobreza
E’ uma paixão que nasce n’ um de Gosto; mas isto é frequente na
poito de donzella (pie, infancia de qualquer arte, epocha
em que, no dizer de Blair «0 En
«Aruou demais e j)ela vez primeira,
«emquanto dezasete primaveras genho desenvolve toda sua fôrça,
«corôavam-lhe a fronte de rainha»; e emprega grande calor na execu-
(;ão, quando, aliás, o Gosto, cujos
a partida do bem amado para ou progressos são mais lentos, e de
tras plagas, a solidão em que ella mandam longa experiencia, não
fica mergulhada, a dôr emfim que têm chegado ainda á sua madu
a faz gemer: reza.
«Adeus, oh crença morta, adeus minha
O tempo, e o estudo corrigirão
utopia, esta e outras pequenas faltas e fa
»minha aurora de amôr — Cadeia da lem rão com prellender á poetiza que a
brança, Arte, além da fórma, requer escrú
«não mais adejareis as azas da alegria
pulo na dicção, quando se trata
«nos iriados céos da gárrula esperança...
de exprimir desejos de amôr.
E, embora desprezada, a infeliz E esse escrupulo deve ser muito
amante não esquece o nome do maior quando quem escreve 6 uma
ingrato, vive só por elle e para senhora...
elle, sem 0 maldizer jamais... Ah!
Tristes, muito tristes, devem ser
os dias de quem ama sem es- Coino 0 sr. Carlos Ferreira, il-
peranija! Verdadeiro espectro ani lustrado prefaciador dos «Plectros»^
mado póde, ao narrar a historia julgo melhores neste livro as poe^
dos seus amores, deixar cahir dos sias essencialmente lyricas.
lábios, aquellas palavras que o im U’ estas cabe 0 primeiro lugar
mortal Alighieri, no seu «Inferno», á que tem por titulo No chalet,
faz a pallida Francesca proferir: producção bellissima, onde 0 criti-
i6 A M ensageira
e não poucas vezes de envolta com Pensei então que esses ao menos
esses objectes uma creança qual teriam algum conforto porque lhes
outra trouxa também. coubera por sorte uma casa onde
Alguns traziam os filhos doentes, todos eram bons e caridosos, mas
victimas já da differença de clima os outros que não tivessem essa
e de alimentação ; e esses pobres ventura, os milhares que vêm to
anjos, inconscientes da necessidade dos os annos, 0 que não soffreriam
que obrigava seus pais a se expa antes que colhessem algum fructo
triarem, eram justamente os que de seu labor?!...
mais padeciam com isso. Pobres, pobres! E minha alma
Vinham todos extenuados, com se confrangia ante tanta miséria.
os rostos tostados pelo sói; eram O reboliço continuava. Era um
velhos, creanças, moços fortes e murrnurio confuso de vozes, de
robustos que já tinham dado causa phrases para nós incomprehensi-
a que alguém murmurasse junto a veis, por entre as quaes apenas
mim: «estão mesmo bons para a entendíamos as invocações: — M a
dona m ia! Tho Santo! por onde
enxada! »
No meio d’essa inexprimível con conjecturavamos que esses infelizes
fusão, saltou a custo uma velhinha invocavam a providencia divina,
que devia ter muitos, muitos annos. nos transes afflictivos porque pas
Trazia em seus débeis braços savam.
um entesinho louro mais debil Finda a descida e tendo elles
ainda, seu neto ou bisneto talvez. tomado 0 alimento que se lhes
E ao vel-a assim acompanhando por destinára, e onde figurava a apre
montes e vales de uma terra es ciada polenta que elles devoravam
tranha, a esse bando de gente obri sofregamente, aboletaram-se nos
gada a abandonar a Patria, excla aposentos improvisados, os quaes
mei intimamente: bem caros te de tinham em espaço 0 que lhes fal
vem ser aquelles com quem vieste, tava em numero, e ficaram assim
para assim n’esta idade deixares a todos n’uma promiscuidade impos
terra onde nasceste, onde amaste, sível de evitar.
e onde certamente não repousarão A ’ tarde, depois de algumas ho
ras de repouso, reuniram-se nova
teus ossos!
Alvo da minha muda sympathia mente no terreiro e começou en
tão a distribuição das enxadas.
e como por ella attrahida, fitou-me
Vinha cada um receber das mãos
a velhinha e esboçou um sorriso,
do feitor esse instrumento com que
mixto de tristeza e abatimento, que
conquistaria os thesouros que a
me fez virem as lagrimas aos olhos.
20 A M ensageira
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
DireetOFâ — Presciliana Duarte de Almeida
7 ' í/
1
I V
A u r ea P ir e s
2Ó A M ensageira
Sum mari o: — Flocos de Neve, critica do tempo, bem como sob a influi
literaria, Arthur Andrade; — Parabola
Oriental, poesia, Silvio de Almeida; — ção absorvente dos acontecimentos
Abnegação, conto, Maria Clara da Cunha políticos do mundo.
Santos ; — Impossivel, soneto, Aurea Pi-
A decadência litteraria tem cres
; — Anna Hierta Retzius, Guiomar
Torrezão; — Descrença, soneto, Oscar cido assustadora e omnipotente
d’Alva ; — Selecção ; — Sobre um tumulo, mente em todos os paizes; mas,
poesia, Presciliana Duarte de Almeida;
força é confessal-o. a parte que
— Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
Santos; — O primeiro sorriso, poesia, mais se ha obumbrado na noctur
Delminda Silveira; — Literatos húngaros, na tristeza dessa decadência, é exac-
Elmano do Vai; — Dois Oasis, soneto, tamente a que devia ser a van
Ademar; — Dois livros, Adolpho Male-
volti ; — Depois da batalha, poesia, Julia guarda indominavel da resistência
Cortines; — Desolada, poesia, Edwiges espiritual — é a grande comrau-
de Sá Pereira; — Notas pequenas. nhão latina do planeta, a mesma
que passou ás consagrações da his
„flocos de neve“ toria como a mais bella synthese
Aurea Pires da humanidade.
Na sombria e terrível agonia des A própria historia nol-o ensina.
te século, eminente por todos os Nas maiores crises sociaes, nos
titulos, notadamente pelo de haver mais desoladores eclypses da es
requintado o engenho humano pe piritualidade, quando tudo oscilla-
las invenções, a política pelo mas va e cahia no soturno vortilhão
sacre. a sociedade pela indifferença, em que as sociedades se convul
alguma cousa que foi e ha-de ser sionavam, a luz que sorria nesse
sempre grande, que já se anoitou cáos, branca e serena, era a luz
com 0 lucto de ephemeras deca que jorrava da alma latina; a ener
dências, mas que já appareceu ves gia que se alteava como represa á
tida pelo esplendor das renascen vaga turbulenta, era a cavalheirosa
ças históricas, alguma cousa de energia do sangue latino.
grande e de elevado agonisa tam E é essa mesma formosíssima fa
bém com 0 século. mília humana, que creou a liber
São as lettras. São as fulguran dade no dominio da política e que
tes depositarias da gloria dos povos creou 0 bello no dominio da arte,
e da aurora das civilisações que que se deixa embeber fundamente
desfallecem e lentamente succum- do espirito estreito e egoistico do
bem no meio deste ambiente em século, offerecendo docilmente os
peçonhado e convulso em que o pulsos ás algemas dessa ominosa
progresso moral e espiritual se ma decadência espiritual.
térialisa sob a tendencia mercantil A mesma gloriosa França, que
A MENSAGEffiA 27
Mas eis que o mesmo arbusto lhe apresenta meiga, talentosa e boa, a alegria
Convidativos fructos que appetece,
e 0 enlevo dos paes.
E, comendo-os, tal goso experimenta
Que do perigo as afflicções esquece. Havia dois mezes que estava
noiva de um distincte rapaz, estu
dante do ultimo anno de medicina.
Que homem é esse — indagarás — tão louco No dia em que Lucia foi pedida
Que assim deixava se levar a esmo,
por Eduaido, seus paes radiantes
Tudo esquecendo por um bem tão pouco ?
— Sabe agora, leitor, que és tu, tu mesmo...
de alegria, riam e choravam alter
nativamente.
E’s tu, leitor; A miseranda sorte E eram bem justas aquellas la
Que te afflige é o camello rancoroso;
grimas, aquella alegria, aquellas
E’ a caverna do dragão a morte,
apprehensòes !
Para a qual te encaminhas descuidoso.
Eduardo, o primeiro e unico
Um dos ratos figura o dia claro. amor de Lucia, era rapaz de ta
Representa o outro rato a noite escura, lento e de futuro. Seu caracter
Que esperdiças, buscando o fructo raro
immaculado, seu coração terníssi
Dos prazeres, ao pé da sepultura!
mo e seu espirito investigador e
Silvio de Almeida
estudioso eram garantias bastantes
para ser excellente esposo. Os
velhos, apezar de tudo, choravam
commovidos, no dia em que pro-
metteram a mão da filha ao eleito
l^bnegaçáo 1 de sua alma.
0 dia do casamento não estava
(A’ Doutora Ermelinda de Sá)
ainda marcado.
Eram oito horas da noite. Em Quando Eduardo saltou de um
casa de Lucia havia grande alvo tilbury á porta da casa de sua
roço, preparavam-se todos para o noiva, na noite da festa, seriam
baile que nessa noite dava um ve oito horas, pouco mais ou menos.
lho amigo da familia. Devia ser Iriam juntos ao baile, que pro-
hrilhantissima a festa, tudo fazia mettia ser explendido!
adivinhar uma noite deliciosa! Eduardo trajava com apurada
Lucia era filha unica de abas elegancia; a casaca, o claque e os
tado capitalista e havia concluido sapatinhos de entrada baixa da
a sua esmerada educação no col- vam-lhe um todo muito distincto.
legio das Irmãs de Caridade, de Lucia estava ainda se prepa
Botafogo. rando. Na sala de visitas, os dois
Tinha 18 annos; era formosa e velhos esperavam, pacientes e ale-
32 A M ensageira
cação das meninas. Foi também Deserto o coração, sem ter comsigo
de sua iniciativa que sairam a pri Oásis salutar que seja abrigo,
meira Escola niixta commum aos Nesta de magnas infernal jornada.
2 sexos, a primeira Escola culi
Vago sem norte pelo mar da vida.
nária, 0 primeiro Refugio para as Vendo na Fè — uma illusão mirrada.
creanças pobres e moralmente aban Vendo no Amor — uma illusão perdida.
donadas. Muitas outras obras hu Maranhão, 2I— 3—97
manitárias se devem a esta genero Oscar d’ Alva.
sa reivindicadora do direito dos fra
cos contra o descaroavel egoismo
dos poderosos. Viera-lhe do ata
vismo materno e paterno essa de
voradora sêde de exercer o bem. 5elecção
Bastará recordar que, obedecendo Nunca como em a nossa epocha,
ao desejo manifestado pelo sr. Lars foi necessário cultivar a intelligen-
Hierta, seu pae, sua mãe, Vilhel- cia das mulheres, transformando-a
mina Froeding legou uma somma em uma planta fecunrfa, susceptí
de 700:000 francos á alta escola vel de produzir pensamentos, ins
de Stockolmo, destinada a crear-se pirações, idéas sensatas, porque
uma cadeira de economia nacional, também entre os homens se ma
humanitaria e patriótica: A ’ me nifesta um grande movimento in-
mória de Lars Ilierta. tellectual. Surgiu para elles de
G üiomar T orrezÃo. subito um sentimento novo; enri
queceram a sua alma de um goso
até hoje ignorado : a amisade de
uma mulher
C lemencia R oyer .
A M ensageira 39
2)epois da batalha
Eil-o, triste e de pé, de sua tenda á porta.
Na planicie cessou o fragor da batalha,
E o silencio, por sobre essa paizagem morta,
Deixa agora cahir a pesada mortalha.
nicos, são também os grandes in gregação, duas salas com amphi-
tuitos da Escola de Pharmacia^ que theatro para aulas theoricas, e os
certamente deixará um marco mil- gabinetes de physica, botanica, ana
liario na senda do progresso bra tomia, zoologia e geologia, etc.
zil ei ro. As matérias estudadas na escola
A ’ installação do futuroso esta acham-se assim divididas:
belecimento de ensino comparece
Primeira Serie
ram as pessoas mais gradas da so
1. ® cadeira — Physica, lente
ciedade paulistana, tendo sido pre
José Eduardo Macedo Soares.
sidida a sessão pelo C.®' F'ernando
2. “ cadeira — Chimica inorgâ
Prestes, illustre presidente do Es
nica, mineralogia e hydrologia,
tado.
lente dr. Edmundo Xavier.
Além do Braulio Gomes, fi
3. “ cadeira — Botanica (pri
zeram brilhantes allocuções os D.”
meira parte) e noções de geologia,
Amancio de Carvalho, Valeriano de
lente Christovam Buarque de Hol-
Souza e Cândido Motta.
landa. Lente substituto o sr. Jorge
Damos os mais sinceros applau-
de Moraes Barros.
sos ao D.® Braulio Gomes, que mais
uma vez poz em evidencia sua gran Segunda Serie
deza moral, seus altos dotes de co 1. ^ cadeira — Chimica organica
ração e de espirito, e cujo nome e biologica, lente Pedro Baptista
se acha para sempre vinculado á de Andrade.
Maternidade de S. Paulo; e faze 2. “ cadeira — Zoologia e no
mos votos para que da Escola de ções de anatomia e phisiologia,
Pharmacia só sáiam diplomadas se lente dr. Odilon Goulart.
nhoras que honrem em todos os 3. ® cadeira — Botanica, especi
sentidos o nome da mulher bra- almente a brasileira, lente Alberto
zileira. Lõfgren. Lentes substitutos; dr.
«A Escola está situada á Ladeira Canuto Vai, Ignacio Puiggari, Joa
de Santa Iphigenia, nos dois pavi quim Rodrigues de Andrade.
mentos do prédio numero 1, assim
dividido; no primeiro acham-se a Terceira Serie
secretaria, uma sala de aulas e os 1. “ cadeira — Chimica analytica
gabinetes de chimica analytica e e toxiologica, lente José PVederico
toxicologica, de chimica inorgânica de Horba.
e mineralógica, de chimica orgâ 2. “ cadeira — Pharmacia theo-
nica e biologica, e de materia me rica e pratica, lente J. F. Meira
dica; no segundo a sala da con de Vasconcellos.
48 A M ensageira
A M ENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Dlreotora — Presciliana Duarte de Almeida
M m e . D r eyfü s
50 A M ensageira
lha póde fazer de mim o que qui- « angú para comer. Viviaraos fe-
zer porque eu a estimo mais que « lizes porque nem sinhô nem si-
a vida; criei-a eu só desde a idade « nhá eram máos, e trabalhando
de seis mezes, foi sempre cuidada « uns dias mais, uns dias menos,
só’ por mim e separei-me d’ella « lá iamos vivendo sem queixa do
sómente quando a vi casada.» — « captiveiro.
E ... a mai? perguntei. «U m dia voltava eu bastante
«A mãi? não sei, talvez tenha « cançado da roça, quando veio ao
morrido, talvez viva por ahi, o que « meu encontro um moleque que
sei é que soffri muito por causa « era o copeiro e disse-me:
d’ella e até hoje ainda soífro.» « Sabe, Tio Job, a Balbina vai
Eu estava n’este dia disposta a « amanhã para a Côrte criar um
ouvir as arengas do Tio Job, e « filho d’aquelle irmão de sinhô
percebendo que algo de triste es « que aqui esteve o anno passado.
condia elle n’aquellas meias pa « Eu nem ouvi o resto do que di-
lavras acerca da mãi da filha tão « zia 0 moleque; sem me lembrar
querida, e ainda mais notando com « que podia apanhar algumas chi-
que amargura fallava, propuz-me « cotadas do feitor, por ter sahido
conhecer a tal historia. « da fórma, fui correndo para a
Com mil rodeios, consegui que « cosinha onde encontrei a minha
elle me contasse o que se segue « companheira muito triste e cho-
e que eu quizera poder reprodu « rosa.
zir com a mesma linguagem sim « Eu, tremendo que nem podia
ples e eloquente do pobre preto: « perguntei: é verdade Balbina o
« — Minha companheira, sinhá- « que me disse o Justino agora
« zinha* era uma mulata muito bo- « mesmo ? é mesmo verdade que
« aita e trabalhadeira como nenhu- « vão te mandar d’aqui ?
« ma. Não andava na roça, não, « — Sim, Job, respondeu-me
« que sinhá não queria, era en- « ella, 0 irmão de sinhô escreveu
« gommadeira da casa, e muito « hoje uma carta pedindo uma ama
« querida de todos por ser atten- « forte e de bom genio para criar
« ciosa 0 obediente. « um filho, porque a mulher es-
« Nunca eu voltava de meu tra- « tava doente e não podia, então
« balho que ella não me desse « sinhô disse lo g o :
« algum doce, alguma comida bôa « Vai a Balbina que tem leite
« que as sinhámoças lhe davam, « de tres mezes, é forte e tem bom
Î e que ella guardava para mim « genio; sinhá perguntou si nossa
« sabendo que eu só tinha feijão e «filha ia também, mas então elle
A M ensageira 55
_C\ .4
^iso pungente
AIi! Não te rias, que teu riso abala
Todas as fibras de minh’alma ardente!
Ella se estorce convulsivamente,
Das grandes maguas percorrendo a escala!
C_í.i
A M ensageira 6i
Ëxcelsa gloria
Era urn poeta lyrico espontâneo;
Mas, velho e entanguecido para os gosos,
Não mais accordes ternos dedilhava:
Só no alaúde tremulo chorava
Os tempos da Fortuna mais mimosos.
III
rencia os homens não ficam pre
judicados: elles têm mais vastas
Sim! Que me resta aos meus antigos sonhos?
aptidões para ganhai' a vida, e a
— Sómente o pó que as illusões deixaram.
prova é que na Inglaterra, na
As sombras da saudade me ficaram,
Sombras das Sombras de ideaes risonhos. França, etc., não se queixam de
usurpação, e trabalham como os
A fonte de onde as lagrimas brotaram d’aqui; quanto ás mulheres, com
Seccou, talvez, nos olhos meus tristonhos.
isso terão um recurso para se abri
Se busco o abysmo e os pelagos medonhos
E’ que chorar não salva os que luctarara. garem, á sombra de um trabalho
digno e conforme as tendências da
Eis-me a sorrir nuns trêmulos escombroso sua vida passiva e sedentária, das
— O mundo externo — A cruz que trago
grandes refregas e perigos a que
aos hombros
Pesa-me como extranhos pesadelos. a pobreza obriga.
Crescerá talvez 0 numero de
Ah, como dóe sonhar entre minas familias, porque quantos rapazes
Envolto em véus gelados de neblinas,
deixam de a constituir por não
Sem o calor dos véus dos teus cabellos !...
aguentarem sósinho a carga, cada
(Cinerario).
Carvalho Aranha vez mais penosa, da casa?
Quantas mulheres veem passar a
sua mocidade e entram pela ve
lhice, no desconforto de dependen-
cia, mirrando-se tristes, como a flôr
que não deu fructo, na sua esteri
Vi Moda lidade de solteironas? Nem de
«o sr. V. Avellar fará no todas os encantos passaram des
dia 16, no Congresso Com
mercial, uma conferencia so percebidos, mas os homens que
bre a utilidade da escriptura-
ção mercantil, sobretudo para porventura os notaram tiveram me
a mulher.*
do de deter-se e de casar, assu
Esta noticiasinha, publicada no mindo uma responsabilidade que
principio deste mez pela Oaxeta^ os dias vão tornando cada vez
despertou em mim certo interesse mais tremenda, visto que também
e curiosidade. Em outros paizes, eram pobres e a miséria não é
sabemos todos, 6 commum verem- coisa que se deva ofierecer a uma
se moças empregadas na escriptu- mulher amada...
ração de importantes casas de ne Sem ares de pregar moral, coisa
gocio, e esse costume, parece-me, que seria, nesta secção futil, como
só pode trazer beneficio á socie um berro de elephante n’um con
dade em geral. Com a concur- certo de canarios, eu sempre direi
66 A M ensageira
Gonstante
Si, por cancaço ou por exquisitice,
Me não quize.‘<ses mais,
Eu te daria ainda, oh! já t’o disse, “ísa
Meus suspiros finaes!
(Poemetos em prosa)
E, na altivez do amor sincero e casto,
I
Ficaria a sorrir,
Até que o coração ferido e gasto Quanto te vi, ó Isa, pela vez
Chegasse a succumbir. primeira — lembras-te? — , nem
mesmo eu sei dizer-te o que se
Sei que o pezar nos mata lentamente,
Para provar que a dôr deu em mim! Foi como que o
Tem constância profunda, equivalente alvorecer de um sonho; foi como
A ’ grandeza do amorl que 0 florir da vida; foi como que
0 fortificar da ventura...
E ficaria impavida e tranquilia,
Olhando com desdem Hontem — desgraçado cego que
A volubilidade que anniquila eu era! — andava tacteando, qual
As almas para o bem! inconsciente peregrino os tenebros
os chãos da Desventura; hoje — fe
E depois, pezarosa morreria
Por te ver a chorar, liz illuminado! — vivo a extasiar-
Que os volúveis não podem alegria me, qual uma alma de eleito, ante
Nem luz na vida achar. as ineffaveis doçui-as do A m or...
A M ensageira 69
que este retrato, «mais do que um dirigida pela illustre patricia Pres-
programma, é um desafio!» ciliana Duarte de Almeida, nome
A ’ nova revista desejamos vida assáz conhecido na litteratura na
longa e prospera. cional, ornada de bellas poesias e
— Santos Illustrado^ n. 1, 2 e interessantes artigos.
3, revista critica literaria, cheia de E ’ elegante e bem impressa.
verve e de bons retratos, entre os (Da Oaxeta de PetropoUs.)
quaes figura 0 do talentoso pintor
paulista Benedicto Calixto e os das Reappareceu «A Mensageira»,
nossas collaboradoras e laureadas bella e artística revista litteraria,
poetisas Francisca Julia da Silva dirigida nesta capital pela talen
e Ibrantina Cardona. tosa e esforçada escriptora sul-mi-
neira — d. Presciliana Duarte de
Almeida, que, no nosso meio, de
um verdadeiro inauditismo litte-
rario, consegue, pela só punjança
de sua vontade, manter um maga-
Jk Mensageira xine mensal, tão artístico e bem
feito como 0 seu.
Temos a notar, com satisfação, O presente numero (25 do 2.®
a visita da «Mensageira», n. 25. anno) traz selocta e variada colla-
Com este numero entra em seu 2.® boração, subscripta por dd. Maria
anno de existência esta interes Clara, Adelina Lopes, Aurea Pires,
sante revista litteraria, publicada Candida Fortes, Presciliana Duarte,
em S. Paulo, na qual refulgem os Guiomar Torrezão, Georgina Tei
nossos mais cultivados talentos fe xeira e pelo sexo... feio — Silvio
mininos. de Almeida, Heraclite Viotti (que
Com quantidade mais augmen- é um feio a meu gosto, mas um
tada de paginas, «A Mensageira» poeta de futuro) e Nelson de Senna.
traz um summario bastante extenso Como se vê, figura naquella re
e attrahente, onde 0 leitor encon vista 0 escól do feminfsmo littera-
tra muito em que deleitar-se ante rio brasileiro, ao lado de rapazes
a mais variada e agradavel leitura. de talento.
(Do Estimulo^ de Santos.) Aos bons apreciadores de boas
lettras recommendamos calorosa
Recebemos e agradecemos a mente «A Mensageira», principal
«Mensageira», n. 25, revista litte mente aos litteratos mineiros, tão
raria dedicada á mulher brazileira. arredios da imprensa paulista. Va-
72 A M ensageira
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direstora — Presciliana Duarte de Almeida
F *Lit> lica = se n o d ia 15 d e c a d a m ez
P agam ento 1 Preço da assignatura, 12$000 por anno i N um ero avulso
adian tado 1 E n d e re ço : R u a de Sta. Iphigenia, N. 57. | Rs. 1 $ 0 0 0
um pensamento alheio a esse af aos que lhe perguntam porque não
fecte absorvente, amar procurando toca ou canta mais: ^— Já não
nas festas, nas vigilias, no somno preciso agradar.
— agradar ao esposo, sempre cas E 0 marido? Não tem a mu
ta, sempre meiga e imaginosa, lher casada o dever de agradar ao
sempre desvellada e alegre, ele marido? Não piecisa ella estar
gante no vestir, nas maneiras, no sempre preparada para sustentar
gesto e no fallar; corrigindo esses com vantagem 0 exame a que elle
senões que encontrámos juntas nas inconscientemente a sujeitará todos
neblinosas noites de inverno, que os (lias?
não esqueci, que não esquecerei Aqui tens tu, minha encanta
nunca. dora Cecilia, em poucas palavras
Pensam muitas meninas que pro o teu programma:
vam saber ser esposas abando Casando, não te vulgarises, con
nando, depois de casadas, 0 estudo serva para 0 teu incomparável
e 0 espelho. Arthur 0 encanto do desconhecido:
Que caminho errado tomam para continua, mesmo com sacrifício, se
o coração do marido essas pobres Deus te conceder a benção da ma
sacrificadas ! ternidade, a cultivar 0 espirito,
Como esperar conservar uma tocando no piano ou na harpa as
afteição, se despojamos dos attra- melodias que 0 extasiam, e que
ctivos que 0 faziam adoravel, 0 sejam os teus quadros sempre, para
objecte que a causou e alimentou? elle, verdadeiras surpresas geniaes
K’ evidente que se um homem es Prometto-te eu, assim, uma eter
colheu para companheira da sua nidade de amor.
vida uma mulher elegante, gracio Pedes-me que escolha para mim
sa, prendada, se esse homem se 0 melhor dos teus quadros que
1- conheço, ou escolha assumpto que
■il orgulhava com as palmas arranca-
cas pelo talento de cantora ou pia me agrade; prefiro esperar a es
nista da noiva que adorava, sentirá, colher. Queres? pinta, e farme-ás
pouco a pouco, que 0 invade 0 feliz, 0 teu quarto de solteira, num
frio da indifferença ao pé da es dia claro de Abril: — as janellas
posa descuidada e negligente, que abertas deixando entrar alguns ra
passa os dias inteiros sem chegar mos da hera que cobre completa
ao espelho, envolta em um p ei mente a parede, do lado do jar
gnoir, com os cabellos presos ao dim; a estante, vergando ao peso
acaso; que conserva fechado 0 dos teus livros; as rendas do cor
piano; dizendo pretenciosamente tinado deixando entrever a cama,
84 A M knsageira
pores d’alma
(A meu prezado Pai)
Weneck, que muito trabalhou para gas que muito prezo, uma escri-
0 feliz exito da Empreza. Hymno ptora conhecida e outra pintora de
nacional e foguetes houve a granel. merecimento.
Em Cambuquira, durante 0 ex-
Queixavam-se ambas, censuran
plendido banquete que nos oífe-
do uns tantos costumes impagá
receu a Empreza, a musica do lo-
veis da nossa terra e do nosso
gar executava bonitos trechos de
povo. Dizia a pintora, com um
seu repertório. Um violão, rebeca,
ar de sarcasmo muito fino: «se eu
saxophone e violoncello apenas. As
fosse dar quadros e trabalhos meus
musicas que tocaram, todas ternas
a todos que me pedem, nada mais
e maviosas, davam á festa a nota
faria do que pintar para galantear
característica da genuina musica
0 proximo. E 0 que é mais en
mineira: eram plangentes e senti
graçado, em tudo isso é que os
das como 0 queixume sincero de
pedintes julgam que nos fazem um
um coração apaixonado.
obséquio, com 0 tal pedido a quei
Voltamos para Lambary, em se
ma roupa, entre um sorriso e uma
guida, onde passamos uma noite
phrase arnavel, que a força de re
agradavel ouvindo bôa musica e
petidos já não tem sal. Quero
belles recitatives.
um trabalho seu... é uma amabi
Partimos no dia seguinte depois
lidade tão vulgar como esta outra:
de havermos visitado a cidade e
muito prazer em conhecel-a, tom
apreciado as deliciosas aguas mi-
uma casa ás ordens... (emquanto
neraes, encantados com a fidalguia
não precisar delia.)
da hospedagem e gentileza dos di-
rectores, incansáveis em obsequiar A escriptora também contava
seus convidados. passagens interessantes que tinha
Um passeio como este á formosa observado. Entre outras, notou 0
terra mineira, ao menos uma vez habito muito commum dos nossos
por anno, seria o melhor tonico patrícios em offerecerem os seus
possivel para retemperar 0 corpo dados biographicos e contarem suas
e a alma, dando áquelle uma bôa historias, algumas das quaes bem
dóse de forças e de vigor e a sem graça, aos fazedores de ro
esta um forte manancial de alegria mances e de novel las para baze de
e bom humor. uma trabalho commovente. «Quero
que escreva um romance com a
historia de minha vida», eis uma
Outro dia surprehendi a inte phrase muito commum. Que von
ressante conversação de duas ami tade tem essa gente de ver em
88 A M e n sa g e ir a
esse Hia não deixou de haver pão, Assim como essas sombras incolores,
com fartura, na casa de Serena. Meus versos vão correndo mundo em fóra
Sem reflectir a luz de meus amores.
Esta, fiel ao seu juramento, re
Sem o brilho das lagrimas que chora
cusou a mão de Amoldo, quando, Meu doido coração, enluarado?
promovido de apprendiz a official, Pela saudosa luz do meu passado !
lh’a foi pedir. Mas uma tão bo
nita historia não podia acabar por Que sois, meus pobres versos forasteiros?
— Sombras daquelles que adorei na vida ...
uma eterna relação de amor. De
Como as sombras também sois passageiros!
corrido que foi um anno, durante Em que memória encontrareis guarida ?
0 qual Serena, apesar de lagrimas Os que me adoram morrerão commigo,
e angustias, se conservava escrava E olvidada serei no meu jazigo.. .
da sua palavra para com a Santa Presciliana Duarte de Almeida
Virgem, appareceu-lhe esta, desli
gando-a do seu juramento. Casa
ram, é claro, Serena e Amoldo, e
tiveram muitos filhos e todos elles
foram raparigas e todas ellas fo
ram rendeiras.
Kotas pequenas
E eis ahi por que na cidade dos
canaes, dos cysnes e dos campa- A viuva de Michelet. — Do M i-
narios ainda hoje em dia se vê, nas Geraes transcrevemos as se
sentada na soleira de cada casa, guintes interessantes noticias:
uma rapariga loura manejar, entre Cora 73 annos de edade acaba
os seus dedos delicados, esses ageis de fallecer, na sua residência de
bilros e entrelaçar os fios de linho Paris, madame Adelia Malaret Mi
alvo em frágeis, magicas e mara chelet, viuva do celebre historia
vilhosas redes. ? dor Julio Michelet, auctor da H is
toria de França e da Historia
da Revolução^ fallecido, como se
sabe, ha vinte e cinco annos.
A viuva do famoso liberal nas
ceu em Montauban (Tarn-et-Ga-
Sombras ronne) em 19 de outubro de 1826.
Sombras das ramas verdes e floridas, Em 1849 casou, em circumstan-
Sombras das aves a voar cantando, cias romanescas conhecidas, com
Sombras pelas aragens sacudidas.
Julio Michelet, então professor do
Sombras de creancinhas tacteando,
Que sois de tantas vidas luminosas? Collegio de França.
Que sois? — Vagas imagens tenebrosas! Por oceasião do golpe de Es-
92 A M e n sa g e ir a
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direetora — Presciliana Duarte de Almeida
F*tat>lica-se no d ia 15 de cad a m ez
■ Ml
w\
J u l ia L o pes d e A l m e id a
98 A M ens\gkira
pela sua phantasia, seriam faceta- eleito da sua alma, seu marido,
mentos de joias, quem sabe se a Filinto d’Almeida, um insinuante
Arte, ainda ausente, namoraria já e adoravel rapaz, poeta de raça,
de longe a que inconscientemente um dos raros que descobriu o se
para ella caminhava?... gredo de permanecer moderno, ao
Foi em S. Paulo, Campinas, que nivel da evolução actual, sem dei
sob a direcção mental, o conselho, xar de ser lyrico.
0 estimulo, a lição instructiva de No crisol das viagens se foi de
seu pae, se completou e afinou a purando 0 oiro d’esse talento, en
educação de Julia Lopes. Foi alli gastado como gemma duplamente
também, no florente Estado das valiosa em uma rapariga modesta,
suas predilecções, que se lhe reve singelissima, quasi timidu, sem o
lou para as lettras a imperiosa vo menor vislumbre de pedantismo,
cação. tal qual é a sr.“ D. Julia Lopes
A collaboração da novel escri- d’Almeida e me deliciou a mim
ptora na Gazeta de Campinas^ de a sentir, como triumphante do
equivaleu desde logo ás creden- cumento comprovativo da cegueira,
ciaes que a acreditaram no domi- da imbecilidade ou da má fé dos
nio da Arte. que não vêem as escriptoras se
Seu pae, um espirito avançado, não atravez da satyra de Molière,
amando o bello sem lhe discrimi a algumas, por mal nosso, appli-
nar a procedência, enlevando-se na cavel.
luz do talento, sem lhe averiguar A Lisboa conferiu a illustre es
o sexo, levou a filha estremecida criptora a primazia de publicar-lhe
aos amplos horisontes onde o olhar 0 seu primeiro livro. Traços e illu-
refulge de um novo brilho, o co minuras^ uma serie de contos já
ração palpita de um novo alento anteriormente lidos nos jornaes de
e a phantasia empluma e desfere S. Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa,
novos e mais rasgados voos. reveladores de grandes qualidades
Tres vezes a gentil escriptora imaginativas, de parceria com um
brazileira viajou pela Europa, visi estylo natural mente elegante e sem
tando a Inglaterra, a França, a pre despretencioso, sem o excesso
Hespanha, a Suissa. a Italia e Por de rhetorica de que soffrem quasi
tugal. todos os debutantes litterarios.
Em Lisboa a conheci e lhe devi Em seguida, de collaboração com
a grata surpreza de vel-a em mi sua irmã mais velha, a sr.® D.
nha casa, acompanhada do querido Adelina Amelia Lopes Vieira, poe
companheiro, por tantas affiiiidades tisa de aprimorados dotes, victo-
I GO A M knsageira
102 A M en sa g eir a
2)uas epochas
Ludibria ventis
No mez mariano. A virginal capella
Dava-lhe á face mais tocante alvura; (Paria Korigan)
E, comparando-a com a Virgem pura,
A ’ D. BrandirM Fajardo
Não sei qual era para mim mais bellal
Em solitário, abandonado ninho,
Nas feições da Madona e da donzella
que a rajada da noite desmanchara,
Havia o mesmo toque de candura,
geme esquecido um pobre passarinho.
E podia-se pôr, numa moldura,
A sua imagem dentro de uma cella! Chove. E para que o triste se abrigara
do rigor da procella, caridosa
Vi-a depois chorando o filho morto,
a floresta sob a folhage’ o ampara ...
Mais do que dantes alva, como um lyrio,
Numa expressão de magua e desconforto...
Folha a folha se juntam, e assim mimosa
E vendo-a então, á triste luz de um cirio. cupula formam, que flexil guarida
Julgava ver meu coração absorto ao orpham presta contra a chuva irosa.
Outra Nossa Senhora no martyrio ...
E cada gota d’agua é convertida
Silvio de Almeida
em sonora toada, com que embalam
8 — VI — 99.
o doce sommo que lhe volve a vida.
Da flôr sanguinea o rubro calix cheio E a viração, que em torno delia adeja,
De extranhos philtros, velludoso e lindo, segreda-lhe: — Tens azas, passarinho!...
— Ama! dizia em lettras de ouro, e, ouvindo A aza ensaia, o vôo mal braceja
A musica do amor, lenta aspirei-o . . . e após contente evola-se . . .
— Adeus, ninho!
Toda a minha alma crédula se abria.
Preza, captiva, extatica á magia Bellarmino Carneiro
Que os corações num mesmo sonho embala,
O telegrapho transmittio-nos, em
0arta do ^io menos de oito dias, a noticia da
31 de Maio de 1999 morte de très artistas distinctes:
Duas visitas illustres vae rece Emilie Castelar, 0 tribuno valo
ber esta formosa cidade: Saint roso, o litterato distincte que tanto
Saëns o grande maestro, o consu elevou a Hespanha cora a sua
mado organista europeu e Lucilia penna adestrada e a sua palavra
Simões a talentosa artista brazi- eloquente; Sarcey, o critico notá
leira, que é um genio e uma glo vel que tanto se elevou nessa ar-
ria nacional. dua tarefa de dizer 0 que pensava,
Lucilia, que conta apenas vinte com auctoridade e justiça, sobre 0
annos, tem já deslumbrado a Eu trabalho alheio; e Rosa Bonheur, a
ropa com 0 seu talento excepcio pintora celebre, a artista de raça
nal. que tanto se distinguiu em sua
Vendo-a e ouvindo-a lembrei-me arte, chegando a receber honras
de Sarah Bernhardt. especiaes, conferidas tão sómente
Esse facto que observei tem sido aos talentos de primeira ordem.
já observado por algumas pessoas. Rosa Bonheur era a directora
Creio que ó 0 maior elogio pos- da Escola de Pintura para 0 sexo
sivel á joven artista, essa compa feminino, de sua terra natal e era
ração que nos vem á lembrança, membro da Legião de Honra e do
inconscientemente. Instituto de Autuerpia e da Ordem
Projectam-se grandes festas e Leopoldo, da Bélgica.
recepção condigna aos illustres hos Seus quadros attingem a pre
pedes. ços elevadissimos. A illustre pin
Bem merecidas e bem justas. tora falleceu cora a edade de 79
Os jardins desta cidade estão lin annos.
dos, lindissimos! Ha muitas rosas
variadas, frescas, cheirosas. E ’ um Domingo passado houve no Hos
encanto. Parece-me que as flores pital dos Lazaros, em S. Christo-
adivinharam ou sonharam com a vam, a festa da Santíssima Trin
visita dos illustres artistas e que dade, na capella do proprio Asylo.
rem se mostrar fidalgas, gentis e Após a missa cantada houve a
cavalheiras. Decididamente houve tradicional procissão que percorreu
alguma intriga... ou então ó certo 0 edifício, fazendo-se em seguida a
o que dizem . . . os flores adivi distribuição do pão de Loth aos
nham ! enfermos.
Que cerimonia grandiosa e to-
104 A M e n sa g e ir a
nascimento. Por isso, estas duas 0 mesmo destino teve para os ou
obras natural mente se explicam. tros, sorrisos parece que expressa-
Mas a caridade deve ser univer moiite dados para enxugar algu
sal, e desta forma 0 entendia e mas dessas lagrimas. . .
praticava a baroneza de Hirsch, (Extr.)
como, além do que ella fez cm
França 0 fez em Londres, fundan M.
do um sanatorio, e em New-York
uma casa de refugio para as mu Koivado
lheres e raparigas que, idas da Iniagínaram cainponezas bellas,
Europa á cata de uma situação, se De quinze anuos quasi todas ellas,
Casar-se á beira mar.
encontrem sem logar e sem asylo.
E na Baviera fundou um hospicio Colheram floi'es e das mais viçosas,
Boninas, cravos, malmequeres, rosas,
para parturientes. E, neste mo PVas frontes coroar.
mento, está sendo construída em
Eil-as de branco, as timidas donzellas.
Paris uma escola, á sua custa. Mimoso bando de gentis gazelas,
Estas são as principaes funda- A’ frente do pastor.. .
ç(5es, mas quantas outras, sem fal- Todas envoltas em ligeiros véus,
lar das muitas e innumeras e avul Iam, perante os constellados céus.
Sagrar o seu amor.
tadas esmolas que ella distribuía,
todos os dias, sem distíncção de Era imponente a orchestra nupcial!
origem ou de religião. Preludiando marcha triumphal,
As ondas segredavam.
A todas as subsripções abertas
para acudir a uma desgraça ou Riam, cantando ao longe, os gondoleiros.
Os bellos noivos, ternos companheiros
calamidade ou para auxilio duma Que as noivas esperavam.
obra sympathica, mandava sempre
De vaga em vaga, estridulo, possante.
uma oíferta magnanima, de ordi- Repercutiu um grito soluçante,
dario sob 0 véo do anonymo. Que vinha d’alem-mar,
O imperador da Austria, que lhe E as ondas se entreabriram mansamente
votava uma muito particular con Para em seu seio calmo e transparente
As noivas abrigar.
sideração, conferira-lhe uma das
primeiras cruzes da Ordem de Eli Quando, altas horas, tardos remadores
Cavam das ondas mysticos rumores
sabeth, fundada em recordação da Em noites de luar,
imperatriz assassinada em Genebra.
Contam, chorando, a scena lutuosa,
Taes os traços geraes do que foi Com voz tremente e face lacrimosa,
a caridade desta grande mulher, Fitando o vasto mar !
que, nos sorrisos que 0 destino Perce-neige
teve para ella, viu as lagrimas que
I IO A M e n sa g e ir a
tas. Esse gabinete era logo á en — Quem está? perguntou elle,
trada da porta da ma, ao lado es olhando para a porta e affectando
querdo. Muitas estantes de livros, calma.
uma chaise-longue^ a secretaria, — Ninguém, responde a mulher.
alguns quadros de valor e uma — Nesse quarto, replica o ma
mobilia de junco eram todos os rido, não existe então, pessoa al
moveis desse logar. Ao fundo do guma?
gabinete havia uma alcova, quasi — Ora, ora! já disse que não.
que sem utilidade, por ser muito — Bom.
escura e sem ar; nào tinha si- Sentou-se junto á esposa, que
quér uma janella nem sahida para tremia como varas verdos, e, con
outro commodo. O medico en tando-lhe os incidentes de sua via
trou de repente, sem fazer ba gem, parecia completamente despre-
rulho. Não era esperado aquella occupado do grande escândalo que
hora. A mulher estava sentada presenciára.
no sofásinho, ao lado de um su Tocou 0 tympano. Veiu o
jeito, conversando muito contente. creado.
O luar batia em cheio sobre — Vae chamar, com urgência,
os dois vultos, distinguindo-os 0 Chico carpinteiro e dize-lhe que
claramente. Mal perceberam a traga as ferramentas, ordenou o
entrada do m edico, houve um medico, em tom decisivo.
momento de verdadeira hesitação; A mulher extremeceu mas não
0 crime condemna, o sujeito quiz disse uma palavra. Ambos appa-
fugir, não havia tempo. O medico rentemente calmos, conversavam
desviou 0 olhar, de proposito, para com tanta naturalidade que dir-se-
dar tempo a qualquer resolução. hia nada haver de extraordinário
A mulher, atrapalhadissima, apon n’aquelle recinto.
tou ao sujeito a porta da alcova, D’ahi a pouco veiu o carpinteiro
unico refugio n’aquelle perigoso que disse, satisfeito: prompto seu
instante, e, extendeu para o mari Doutor, ás suas ordens.
do os braços infames que minutos — Quero que tranques esta
autes abraçáram o seductor. porta com toda a segurança.
O sujeito entrou para a alcova — Para que? seu Doutor, a
e cerrou a porta. esta hora da noite, perguntou o
Esta scena, alumiada apenas carpinteiro, admirado.
pelo luar, desvendou aos olhos do — Faze 0 que te ordeno e não
medico todo o horror de suas sus retruques.
peitas. D’ahi a meia hora estava a
I I2 A M e n sa g e ik a
Volta ao passado
As minhas paixões não podião morrer porque
erão immcnsas, e o que é immenso é eterno.
(Eurico, A. Herculano.)
Quando á noite profunda, erguendo o olhar maguado,
Para o estrellado ceu, na visão do infinito,
A mim mesmo contando o austero poema escripto
Que no sacrario d’alma existe inalterado ;
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direstora — Prescíliana Duarte de Almeida
P u b lic a -s e no d ia 15 de cada m ez
Pagamento Preço da assignatura, 12$000 por anno 1 Numero avulso
adiantado E n d e re ç o : R j a de S ta . Iphigenia, N . 57. j Rs. 1$000
D r . C â n d id o E s p in h e ir a
Rodolpho
^ Virgem de Murillo P od e ser qu e am or julgasse
a sym pathia, e aturdido
(Adelina Lopes Vieira) p o r não ser corresp on d id o,
mais m eu engano augm entasse ;
S eg u n d o A cto
Tun aussi bien que l’autre, à une sageira de Saint-Paul, aura fait
idée de justice et à une loi mo donner un grand pas à l’idée fé
rale qu’il est de leur suprême in ministe au Brésil.
térêt à tous deux de faire triom L’organe pauliste nous a déjà
pher. » démontré qu’il y a au Brésil un
Et nous sommes aussi d’accord noyau de femmes vraiment supé
avec Mme Louise Réville qui, dans rieures mais nous attendons encore
VAction Féministe^ — l’organe par plus de la Meyisogeira qui a pour
excellence de l’agitation des fem directrice une des muses du Brésil
mes vers une nouvelle société su nouveau.
périeure — dit: Le dernier numéro de la revue
«Nous ne sommes point fémi du D. Presciliana Duarte de Al
nistes à la façon de ces bonnes meida publie un article très re
bourgeoises qui réclament l’égalité marquable de Mme Julia Lopes
ou la prédominance de notre sexe de Almeida sur Guiomar Torrezao,
et que satisferait la réalisation de cette femme écrivain si régrettée
ces rêves. Celles-là ecceptent la a été la George Sand du Portugal.
société telle qu’elle est et ne de Tous nos vœux sont pour le
mandent que d’avoir place parmi triomphe de la cause féministe au
les privilégiées. Nous, ao con Brésil, et pour l’émancipation phi
traire, nous souhaitons ardemment losophique, économique et morale
la suppression de tous les avanta- de la femme brésilienne. A Men
gens particuliers qui ne sont que sageira, de Saint-Paul, par ses ten-
des injustices dont souffre la masse. » dences renovatrices et ses aspira
En voilà du vrai féminisme ! tions bien précises, ne doit pas
Ce sont des femmes d’esprit éman laisser de côté sa partie littéraire,
cipées qui parlent comme nous, les revendications si justes de la
désirant entendre les Brésiliennes partie la plus belle de l’humanité:
de demain. la femme.
Nous avons l’espoir que le mou X a v ie r d e C a r v a lh o
vement, encore timide, de la Men- (De la Revue du Brésil, de Paris.)
'3 0 A M e n sa g e ir a
Escala do Viver
E ’s ainda E a p ou ca vid a que lhe resta, escassa,
Bem pequena, V ae á m ercê de um p equ en in rem o:
— F resca e linda
F lo r serena! V aga no m ar da angustia e da saudade
P ela fé co n d u z id a ...
Q ue te falta P ois, se a esperança alenta a m ocidade,
Na existência, A fé con forta a fronte encanecida.
Q ue se esm alta
D e in n ocen cia ?
H Mensageira
Mensageira (n. 2 8 , anno II.) A duma viva sympathia despertada
festejada revista litteraria brinda pela celebre questão do proscripto
os seus leitores com um summario da Jlha do Diabo, que agora, mais
opulento e variadíssimo. Bons ver do que nunca, agita a nação fran-
sos e boa prosa. ceza.
Pedimos venia para transcrever Com 0 primeiro dos retratos quiz
este bello soneto do maguado poeta a encantadora revista render um
do De Lucto : preito de homenagem á mulher
U ma r elíq u ia brasileira, que olvidando os pre
conceitos mesquinhos, attesta bri
E’ pena que o poeta abuse tanto lhantemente que 0 céu da terra de
do erijanbement. Santa Cruz tanto desperta no ho
(D o Correio Paulistano) mem 0 sentimento do bello, como
0 faz avolumar na mulher — sua
« A Me^isageira». Um ramalhete
das mais olentes flores embriagan legitima proprietária. Com o se
do a todos quantos o tocam, eis o gundo offerece o seu apoio moral
que é esta revista litteraria dedi áquelle verdadeiro typo de esposa
cada a mulher brasileira. que, com «uma nobre dedicação e
Um anno já conta « A Mensa um bello desprendimento, mais uma
geira», um anno de gloriosa exis vez vem provar que — as des
tência toda dedicada ao progresso graças são a pedra de toque do
artístico do bello sexo. casamento — , conforme o dizer
Esplendidos os dois numeros 26 d’um grande moralista.»
e 2 7 , que temos ante nossas vistas. A ’ exma. sra. d. Presciliana
O primeiro estampa em sua pagina Duarte de Almeida que tão sabia
0 retrato da distincta poetiza mi e criteriosamente dirige « A Men
neira, exma. sra. d. Aurea Pires; sageira», a «Revista Contemporâ
0 segundo apresenta á contempla nea» apresenta as mais cordiaes
ção dos leitores o da exma. Ma felicitações.
dame Dreyfus, nome hoje rodeado (Da Revista Contemporânea)
São Paulo 31 de Agosto de 1899 Anno II, N. 31
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Directx)Pa — Presciliana Duarte de Almeida
P u b lic e x -s e no d in 15 de cadn m ez
ramente diverso do que hoje co lucta que se empenhava então era
nhecemos, os costumes, as leis, as apenas preparatória desta porque
instituições, a propria moral ? se tratava nesse tempo não de re
Perceberá isto bem a mulher do formas econômicas mas de refor
Bispo de Londres? e Lady Koths- mas politicas, não de dar o bem
child e a Duqueza de Southerland ? estar ao maior numero mas de
Que essas sejão caridosas a todo desalojar das fortalezas do passado
o transe, caridosas com a paixão uma minoria privilegiada e oppres
ardente que só a mulher sabe pôr sera, não de organisai’ a riqueza
no bem, como no mal, comprehen- mas de organisai' a liberdade.
de-se e admira-se. O sonho da alma humana tem
Mas não percebem ellas que não sido sempre a justiça. Que longo
0 de caridade que se trata agora! caminhar através dos séculos, atraz
N ão; pelo contrario, o que os desta luz longinqua que parece
socialistas querem, e oxalá que, ao sempre próxima, que nunca até
menos isto, o consigão, é que a hoje foi attingida ! . . .
caridade deixe de ser o unico le E no emtanto o século em que
nitivo que existe para a extrema vamos entrar realizará mais alguma
miséria e para a degradação im- cousa desta sublime aspiração.
merecida! Não serei eu que veja este bem
No dia em que justiça fôr feita que tantos sonhão, e quem sabe
aos homens de boa vontade, se se educada em outra tradição, por
gundo as promessas de Christo, a outros espiritos mais idealistas e
caridade continuará a ter onde exer menos práticos, eu não estime an
cer-se, porque ha misérias moraes tes que as mudanças que prevejo
que a equitativa distribuição da ri sejam presenciadas pelos meus fi
queza não poderá, já se vê, des lhos em vez de o serem por mim.
truir, mas a miséria physica, a ex O que affirmo, no emtanto, é que
ploração da mulher pelo homem, a minha opinião a respeito do des
do pobre pelo rico, do fraco pelo tino da mulher nas sociedades fu
intrigante forte, terá deixado de turas se tem modificado com o
macular a sociedade em que vive tempo e com a experiencia.
rem as gerações que succederão á Já não a condemno porque ella,
nossa. esquecida das graças, da fraqueza,
Esse novo regimen que hoje so- da doçura frágil do seu sexo, ba
nhão já milhares de homens, ha talha valentemente para alcançar
um século que ninguém lhe pre- uma profissão que a salvaguarde
sentia ainda o advento, porque a de todas as tentações da miséria.
A M ensageira 39
E’ que tenho visto como para a de irmãs pelo sexo converteu fi
mulher solitaria e pobre 6 dura a nalmente á necessidade de acceitar
vida e cruelmente difficil o caminho. a nova ordem de idéas, estimo em
Já não a convido a cultivar o todo 0 caso não ter que assistir
seu espirito com o fim unico de ao pullular das bordas femininas
ser agradavel ao seu senhor e amo ; militantes que vão apparecer e ás
6 que tenho percebido bem que ao quaes está talvez destinada, com
egoismo brutal do homem répugna 0 andar dos séculos, a victoria so
instinctivamente a superioridade bro 0 homem gasto, envelhecido,
mental da mulher. exhausto. pela sua labuta secular,
Que ella^ preparada por uma a que ellas têm escapado ...
educação diversa da que tem tido, Julho, 1899 .
contraria á que tem tido, conquiste,
M a r ia A m alia V a z de C arvalh o
pois, um lugar mais alto e mais
independente pelo seu proprio es
forço, pelo seu trabalho, pela con
sciência readquirida da sua digni
dade moral ; que elle, batido nos
últimos reductos da sua vaidade e Martyrio incrível
do seu desdem, se reconcilie com
Foges! Bem vejo! E que amargura a minha
esta nóva forma do eterno fem i
Vendo apagar-se neste olhar querido
nino, tão outra do que inspirou A centelha do amor indefinido,
Dante e Shakespeare, Milton, Goe Que de tua alma limpida provinha!
the, Byron e Lamartine.
Eu também fujo!... E sinto que definha
Deixará de haver poetas logo Dia a dia meu ser triste e abatido
que as mulheres que elles quere- E também no teu rosto emmagrecido
rião cantar estejão na brecha a Prolongado martyrio se adivinha!
lutar pela vida, amazonas de nova Oh! Que supplicio !... Que horrorosa magua...
especie ; mas também que monta ? Chorando foges-me... e eu também te fujo!...
Os nossos filhos, já são muito me E de longe, vagando pelos montes.
nos poéticos, muito menos idealis Então volvo-te os olhos rasos d’agua,
tas do que nós fomos ! O que Como os olhos saudosos do marujo,
serão, por este andar, os nossos Que se afasta dos pátrios horizontes!
netos nesta sociedade scientifica, 4— 7— 1899. A u r ea P ires
industrial e democrata que se vai
endurecendo mais e mais ? !
Eu, a quem a miséria moral,
intellectual e physica de milhões
140 A mensageira
H paizagem
— Já viu 0 meu novo cafezal ?
Cessa 0 canto... 0 silencio im perguntou-me, de visita, com sua
pera... e Glaucia recolhe-se inno distinctissima familia, 0 honrado
cente e terna á tépida alcova per cavalheiro, proprietário d’este deli
fumada. cioso retiro.
Espera religiosamente que 0 sino — Ainda n ã o ...
do triste campanario toque meia — Pois alongue até lá o seu
noite. passeio matinal, que não se ha de
Passos rápidos ouvem-se pelo arrepender.
lagedo duro... Na manhã immediata, conduzin
Palpitante e bella entreabre da do pela mão minha filha adoptiva
janella a rosea gelosia por onde e seguida por minha dama de com
estende a mãosita alva. panhia, tomei resolutamente 0 ca
— E’ a esmola que ella dá ao minho do morro, em cujas encostas
cantor gentil, ao zagal flautista... a grimpam, symetricamente alinha
osmola santa de contemplar e oscu dos, os preciosos arbustos que
lar por um instante aquella pétala constituem, no presente, a riqueza
de jasmim perfumosae enrubescida. unica de minha patria. Uma larga
leo.uÉA trilha, contornando em espiral a
A M ensageira 147
148 A M ensa(îkika
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
Urzes S I MI L E
154 A MENSAGKmA
Soneto I:
«Na Dor me enclausuro; Kenia
monge vagando em corredor escuro, Ho detto al cuore al mio povero cuore,
alheio aos echos da communidade; Perché questo languor questo sconforto ?
Ed egli mi ha risposto: è morto amore
mudo e grave e alquebrado como um frade.» Amore è morto.
Soneto I X : St e c c h e t t i .
Um canto
A’ toi, toujours à toi
A' minha terra (V. Hugo.)
E’ formosa a bahia do desterro Ah ! n’esta hora da saudade amada,
Como lago sereno Eu, solitaria e triste,
D’aguas cór de saphira; Nos sonhos da Poesia
Passa a brisa subtil de serro em sêrro Pelas temas lembranças embalada,
E doce e brando thrêno Um bem que não existe
Sobre as ondas suspira. Crio na phantasia.
Córta leve batei as aguas mansas Scismando á beira-mar, do céo tão lindo
A branca vela cheia Que vejo retratado
Roçando o mar azul; Nas aguas socegadas
Vôam gaivotas como fogem esp’ranças As leves côres que se vão sumindo
E geme a onda e anceia Me lembram do passado
Ao brando vento-sul. As rosas desfolhadas.
5^
i6o A M ensaqkira
pia de versos eu lia, maior era 0 mas ainda D. Anna Amalia teve
prazer que eu encontrava n’esta outra irmã, que devia ser um anjo
arte divina, para a quai me con do bondade e candura:
vidava tambem 0 exemplo poético
de meus Maiores e Primos, e prin- C om o a pom b a és inn ocen te.
M im oso cysn e a b oiar
cipalmento de meu sempre cho
No lago im m enso d o m undo
rado Pae e de meu saudoso Avô Mas n ’elle sem m ergulhar.
paterno.»
D. Anna Amalia habitava 0 seu Confinada no seu solar de Sá,
solar de Sá em Riba Vizella, onde communicando espiritual mente com
falleceu. os bons espiritos da epocha, D.
Poetisa e fidalga! Que mais era Anna Amalia entregava ás aguas
preciso para fascinar os campeões murmurosas do Vizella os suspiros
d’Entre-Douro e Minho, como real tristes que mandava ao encontro
mente aconteceu em 1849 , quando dos corações scnsiveis que a liam
ella principiou a ter maior eviden e compfehendiam.
cia n’um torneio celebre. Até onde chegasse a corrente do
Foi uma nova «renascença», ex Vizella chegariam os seus versos,
clusivamente nacional, que espiri porque os rios e as fontes estavam
tou 0 romantismo semi morto. acreditados desde 0 tempo de Ignez
Logo veremos a parte activa que de Castro como lealissimos confi
D. Anna Amalia tomou n’esse re- dentes.
surgimento litterario. Por isso D. Anna Amalia dizia
No solar de Sá vivia a illustre ao seu pátrio rio, apesar de mo
poetisa solarenga entregue aos go- desto, pittoresco e cristallino, como
sos do espirito, que derivavam da todos os do Minho.
poesia, a «arte divina», e ás sau
dades que a morte das pessoas da D a rôla ao triste gem ido,
sua familia lhe deixára enraizadas D o rou xin h ol ao trinar.
A o m urmurar d o m eu rio
no coração afPectuoso.
M eus cantos v ou misturar.
Casar ao som da corrente
M inha Mãe, am igo amparo
D a lyra os sons que tirar.
T am bem ella me faltou 1
Irm ão, irmã, que adorava
T en h o a m issão de poeta
T u d o a m orte m e ro u b o u I
N o m undo para cum prir;
T riste vida sem ventura
A irmã da poetisa do Vizella, a Soffrer, chorar, e carpir;
quem estes versos se referem, cha Q ue ao poeta cou b e em sorte
mava-se Emilia, c fallccen em 1 8 5 0 ; Sóm ente saber sentir.
A M ensageira
------ —
São Paulo 15 de Outubro de 1899 Anno II, N. 33
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Directora — Presciliana Duarte de Almeida
Soneto
Q ue a adoro tanto nem sequer presente,
P ois ou tro adora que a não quer nem am a!
A m esm a d or eu sinto que ella sente
D esd e o m esm o deserto á m esm a cliamma.
Campos foi uma victoria, 0 róo foi e de vaidosas, estão agora dando
absolvido por 11 votos contra 1. um desmentido formal.
Não está ainda decidido, pelos A justiça tarda mas não falta...
supremos magistrados de nosso paiz.
M aria C lara da C unha S antos
se é permittido ou não á mulher
exercer a advocacia no Brazil; e
se a U /“ Myrtlies fez uma defeza
no jury, foi porque o juiz B / Vi
veiro de Castro tomou a respon
sabilidade desse acto. que por em-
quanto não tem ainda a força de poetisa do Vizella
um direito garantido pela lei. Ha no artigo de Alberto Pimen
Se a mulher, depois de formada, tel, com 0 titulo acima, publicado
não puder advogar, não devem con no numero passado da Mensageira^
sentir então que ella frequente as um topico ([ue é de conveniência
Academias e que perca cinco an- ficar desde já esclarecido.
nos do trabalho pai'a conquistar Escreve esse conhecido e apre
um titulo que nada pode valer. ciado litterato, referi iido-se ao gra
Deve haver lógica nesta intrincada cioso combate das duas rosas em
questão. Realmente ter nas mãos que a poetisa D. Anua de Sá, era
um diploma que só pode servir a defensora da rosa encarnada, 0
para enfeitar a sala, em moi durado seguinte;
n’ um vistoso quadro, não vale a pena. « Diz 0 correspondente de Gui
Seria uma vaidade tola levada marães para O Primeiro de
ao ultimo gráo da estupidez. Janeiro^ unico jernal em que
E por falar de vaidade... vi commemorado 0 fallecimen-
Disseram-me outro dia que M."'® to de D. Anna Amalia, que
Levy, a extraordinária mulher que Camillo Castello Branco tam
tira as rugas do rosto com 0 bém entrou no torneio das duas
seu segredo de massagem especial, rosas. Pode ser, mas não 0
tem tido muito maior numero de affirmo. Sendo verdadeira a
clientes nos homems do que nas informação, 0 que hei de ve
mulheres! ! rificar mais de espaço, Ca
Quem seria capaz de imaginar millo occultou-se sob o pseu
isso ? dônimo de Magriço, eaval-
As pobres mulheres que carre leiro da rosa encarnada, e
gam aos hombros por tantos sé datava os seus versos de Lis
culos os feios titulos de frivolas boa, 1849 .»
176 A M ensageira
Subiram o monte.
E a senhora de Magdala, des 5onho?
calça pisava as pedras asperas fe
rindo os pesinhos bellos... Jesus Não sei se sonho foi! Só sei que eu via
N’um vasto mar minh’alnia transformada
titou então amorosamente aquelles
E que alegre a Esperança reclinada
pesitos doloridos, tão vermelhos e N’nin dourado batei delle fugia!
pequeninos.
Subio o monte ligeiro, colheu Era verde a roupagem que envolvia
Suas formas de celestina fada.
dous lyrios azues, formou duas ba
Verde também a cabelleina ondeada,
bouches mimosas e depondo-as do
Que esparça ao vento sobre o mar cahia!
cemente aos pés da formosa peni
tente, lhe disse: E elle 0 barco ligeiro acompanhando,
Em profundos soluços prorompeu,
«Mergulha nessas flores os teus
Ao ver que a Virgem o ia abandonando.
p é s ... não os maltrates, Magda-
lena.» E mais depressa o barco então correu .. .
E olhando aquelles pésinhos em E Ella ao triste nem um olhar lançando,
Saltou na praia e . . . desajipareceu!
sangue, Jesus entristeceu-se. Ma-
gdalena amorosamente beijava, or A ubea P ires
1891
valhando de lagrimas, as primeiras
sandalias... tão lindas, feitas de
flores, que Jesus lhe dera...»
0 soluço explode mais violento. fram e que alguns dei les soífram
Exhala-se de nosso peito como um mais do que os outos — eis tudo
grito comprimido em vão. Em quanto nos resta.»
volta de nós tudo se torna mais
sombrio do que antes. Felicidade
que de ora avante desça sobre a
nossa familia, parecer-nos-ha um
sarcasmo do Destino. Até a aífei-
ção profunda que nos prende ao
querido filho que nos resta, de um ^(otas pequenas
natural tão bom e de um tão raro Mistress Robinson Wright e Miss
espirito elle também e de uma tão Hartman. — Tão agradavel quanto
nobre coragem, nós não dá senão inesperada foi a honrosissima visita
compensações mescladas de amar com que nos distinguiram as illus
gura. A todo 0 motivo de conten tres escriptoras norte-americanas
tamento que elle tiver, a toda a mistress Robinson Wright e miss
razão nova que elle vier a desco Hartman, que ora percorrem a re
brir para amar a vida, a imagem publica brazileira, procurando co
do outro surgirá, mais dolorosa, pe nhecer de perto a nossa grandiosa
rante os nossos olhos, para nos patria. Verdadeiro contentamento
lembrar que para esse nada mais e grande emoção causou-nos a pre
existe neste mundo. 0 nosso filho sença das illustres jornalistas, cuja
morto — eis o unico refugio para sympathia e amabilidade encantam
a nossa saudade: fallar delle, sem e impressionam vivamente.
pre, como se fosse vivo, resuscitar Miss Hartman, pelo que nos dis
todas as recordações que delle nos se, redigiu no estado de Texas, du
ficárão, com infinitos pormenores; rante quatro annos uma revista in
fallar-lhe, dar lagrimas á sua me titulada A Mensageira. Este facto,
mórias e flores ao seu sepulchro, por nós ignorado até então, foi mais
fazer da dor que nos dilacera uma nm laço de sympathia para nos
força que ennobreça a nossa alma prender á intelligente escriptora.
e esperar, se 6 possivel, que por Mistress Robinson Wright, — a
cima desse mysterio immenro exista eminente jornalista e celebrada his
verdadeiramente uma infinita mi toriadora, tida geralmente como a
sericórdia, predestinando todos os primeira escriptora contemporânea
entes a uma suprema e immuta- da America do Norte, — mostra-
vel bemaventurança, em nome da se visivelmente satisfeita e muito
qual 6 necessário que todos sof- bem impressionada com o Brazil.
A M ensageira 183
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direetora — Presciliana Duarte de Almeida
Summario: — Carta do Rio, Maria Clara nesse dia houver um furacão igual
da Cunha Santos; — Ouvindo um pas-
a este, muita gente morrerá de
saro, poesia, Narciza Amalia; — Julieta
de M. Monteiro, Damasceno Vieira; — medo, imaginando que é o começo
Da nascente á foz, poesia, Silvio de Al da degringolada.
meida; — Carta aberta, Ridelina Ferrei
ra; — O incêndio, soneto, Julio Prestes; Por isso é bom estarem preve
Selecção ; — Eleita, soneto, Benedicto Ri nidos e não morrerem sinão no
beiro; — No calvario, Ricardo M. Gon momento opportuno.
çalves; — Notas pequenas.
Morrer de medo deve ser o cu
mulo da cobardia! Haja em vista
Gfarta do R.io esta historia que me contaram a
Que terrível furacão houve outro proposito da peste bubônica em
dia, nesta Capital! 0 vento ver Santos.
gava as palmeiras mais altas e jo Um sujeito, excessivamente me
gava para longe as telhas das ca droso, ia fugindo da peste india
sas e os galhos das arvores. A na que arrasou a Inglaterra em
chuva torrencial em poucos minu 1665 .
tos alagou esta cidade, que seja Em caminho, adormeceu, de can-
dito de passagem, não exige muita çado e sonhou que vira em um
agua para ficar completamente ala jardim magnífico uma mulhor pal-
gada. lida e feia, definhada e antypathica
Faiscas eléctricas cahiam a miudo a colher flores. O jardim era e-
e a poeira das ruas era tanta que norme e muito bem tratado. Só
interceptava a vista. Um horror! très pessoas lá estavam, a mulher
Minutos antes do terrível furacão, pallida e feia e dois rapazes fortes
fazia um calôr senegalesco e o sol e robustos. Emquanto a mulher,
queimava como brazas. que tinha um ar de preguiçosa,
Quando vi aquelle destempero colhia uma flor, os rapazes colhiam
do céo lembrei-me do proximo dia dezenas e centenas de lindas e vi
13 de Novembro e raciocinei: se çosas flores.
I 86 A M knsageira
pação moral ria mulher se a esta A ’ D.’’" Maria Coelho saúdo pela
questão nós emprestássemos impor brilhante defeza que fez no Jury
tância e pretendessem os occupar a e pela victoria (pie alcançou: 0 réu
attenção dos leitores do «P a iz »? foi absolvido.
Não, nunca. Estrearam com muita felicidade
Preferi a censura da escriptora... as nossas patricias.
e rasguei a carta explicativa. » Em minha humilde opinião mais
Agora eu desmancho 0 engano vale um facto do que mil discur
que houve. Ecila Worms não foi sos. Que os réus que forem def-
ao Tribunal do Jury no dia da defe- fendidos pelas bacharelas continuem
za da D.™ Myrthes e em seu artigo a sahir livres e ellas triumpharão
que a descrevia com trajes mas- a despeito de todo 0 mal que dél
culinizados, a distincta chronista ias digam.
se guiou, naturalmente, pelo re
trato que a «Gazeta de Noticias»
deu, retrato antigo e que trazia A noite convida ao aconcego do
uma toilette de costume, aliás muito lar, á palestra da familia em torno
usada por senhoras avessas ás ar á mesa de jantar, principalmente
tes e ás lettras. Essa deselegante quando a chuva nos priva de um
toilette é muito commoda para passeio agradavel ou de uma vi
quem sendo pobre tem por obri sita interessante. Uma noite des
gação sahir todos os dias á rua. tas em que todos nós conversava
Foi, com certeza, por essa razão mos alegremente e liamos e brin
que a D.''’' Myrthes adoptára essa cavamos, meu marido abrindo os
toilette no seu tempo de estudante. últimos números da «Scientific A-
Eu assisti á brilhante defeza de merican», leu, com surpreza, a des-
nossa patricia e tive 0 prazer de cripção da photographia do som.
abraçal-a nesse dia. Ella estava Kealraente é uma maravilha da
elegantemente vestida, sua toilette sciencia. Ficamos por algum tem
era tão graciosa e bem feita, tão po pasmos e admirados.
feminina e catita que dii-se-ia ser D’ ahi a pouco, depara-se-me
uma das apontadas pela fidalga uma noticia no «Jornal do Com-
escriptora tão apreciada na sua mercio » muito engraçada. Ima
«Moda», não só pelos bellos mo ginem 0 que foi. Conhecem as
delos que apresenta como pelo va leitoras 0 que é Mariola de Ca
lor literário que trescala do seu pote? E’ um doce secco, feito de
nome, mal occulto por transparente banana ou de goiaba, envolvido
pseudonyme. em folha de bananeira. E ’ doce
i88 A M en saq kira
Ouvindo um passaro
n
A o m adrigal d o passaro resp on de,
den tro em m eu p eito, um lim p id o g o rg e io . . .
— E ’ m inh’alma que trila, sobre a fron d e
da crença, am ante o seio ! . . .
— A ves e afifectos, scism as e luares,
com prehendem -se e casam-se n os ares ! . . .
m
o co ra çã o de on d e deserta o sonho
é desolad o com o um C am po-S anto ;
cin ge-o n os élos frios um m edon h o
réptil, — o Desencanto.
Q u an do elle guáia e em prantos se abebéra,
fogem , voan do, o Am or e a Prim avera.
A M ensageira i8g
IV
N aecisa A malia
fundissinias chagas abertas pelo in «Dá-lhe ás vezes para ser litte-
fortúnio no intimo de meu peito?» rato ; e o pedante litterato deve oc-
Faiscante de graça e de ironia cupar 0 primo loeo na vasta gale
é 0 estudo consagrado a um per ria dos adoradores de si mesmo.
sonagem typico, de que Molière «Que de obras importantes pos-
soube apoveitar-se com genial ins súe! Que esplendida bibliotheca a
piração. sua!
S ilv io de A lmeida
A MENSAQEffiA 195
'incêndio
o in cên d io com eçou . D e coivara em coivara
A labareda augm enta e corre mais dep ressa,
F u ran do o capoeirão, estourando a taquara,
E m rolos levantando ao ar fum aça expessa;
dos guardas, que jogam aos dados ceára a extranha scena, fitou a
a tunica do Nazareno. phisionomia divinamente calma do
Subitamente, porém, a terra mer grande mestre, e pensativo mur
gulha em trevas. murou; — Yerdadeiramente, elle
Um pavor indizivel invade cora era 0 filho de Deus.
ções inaccessiveis ao medo. S. Paulo, 30— 10— 99
O clarão omnipotente da verdade, R icardo M. G onçalves
penetra nos espiritos.
A aza do remorso começa a ade
jar sobre as consciências.
 MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Directora — Prescíliana Duarte de Almeida
ílílmeida Junior
o p in ce l pegava, ao coração descia,
D e palheta em pu n ho, e aprim orava telas
C heias de verdade, cheias de poesia,
O n de a lu z m ostrava gradações tão bellasl
P erpetua do V alle .
passarinhos
(Versos para crianças)
Storia breve
(De Ada Negri)
C. B eunetto
A M ensageira 209
do em sua dextra uma rosa bran lar uma chorosa menina pedir á
ca: « Escuta, disso a Bertlui, põe Bertha que lhe desse a rosa bran
esta rosa em um vaso, conserva-a ca como talisman de salvação para
sempre viçosa, e teu filho recobrará sua mãe que ia morrer. A con
a saude». dessa sustentou uma lueta cruel
Logo após se desfez a radiosa entre seus sentimentos de piedade
apparição, e nas mãos de Bertha maternal e a compaixão que lhe
ficou uma bella rosa branca. Vol inspirava a rapariguinha. Afinal,
veu num folego a aílicta mãe ao sobrepujou em seu peito a commi-
aposento, onde jazia o fiho amado. seração do proximo e entregou-lhe
a rosa, emquanto, indo deante do
Servos fieis, junto ao leito do
altar de Maria, ahi exclamava de
doente, soluçavam, na crença de
joelhos: Oh! Virgem Mãe, perdoa
que para este chegára o momen
a minha desobediencia e conserva
to final. Bertha, de volta e debru
a vida de meu filho! No mesmo
çada aos pés do filho, exclamou^
instante appareceu-lhe um anjo e
deixando trahir na voz a dôr e o
lhe annunciou que Roberto teria
gôso : «Roberto, tu vais sarar ! A
vida longa e feliz, em prêmio de
Virgem m’o prometteii, e deu-me
tão bellissima acção.
por signal esta rosa branca! Des
No mesmo sitio da apparição da
perta para a vida, filho meu!» En
Virgem, (diz um chronista), a con
tão, Roberto abriu os olhos, seu
dessa Bertha fez erigir um mos
peito cessou de arquejar, um sor
teiro, que conservou o nome de
riso se desatou de seus mirrados
«mosteiro da Rosa Branca», até
lábios!
que as hordas dos soldados de Ho
Poucos dias depois estava resta
che, nos tempos da Convenção, era
belecido por completo da enfermi
França, o arrazaram.
dade, e voltava a repartir esmolas
Não contente cora essa prova de
com os pobres do seu cantão.
piedade, a condessa, a partir do
inesquecível dia da graça, mandou
Bertha jamais deixava de cuidar esculpir no centro do escudo dos
da flor com o mesmo requintado Senil, por entre as armas e insi-
esmero, tal como si o filho ainda gneas condaes, uma rosa branca,
se achasse em perigo. e ao pé desta, á guisa de.mote,
A virtude prodigiosa da flor e a invocacão poderosa da ladainha
as domais circmnstancias do mila christã : « Rosa mystica, ora pro
gre, circularam por muitas léguas nobis !»
em redor. Uma tarde, veio ao so
212 A M ensageira
í^lmeida Junior
(A ’ memória do distincto artista.)
T ea ja n o P ib e s
A M knsageiea 213
i^rimeira esperança
Q uem és tu, bran ca flor que resplandeces
Na som bria m ansão do m eu d estin o?
Serás ainda um a chim óra, um desses
F alsos en can tos de um fu lgor d ivin o ?!
A u bba P ise s
19 6 — 99.
I í
214 A M ensageira
A MENSAGEIÍ lA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direstora — Presciliana Duarte de Almeida
creada por alguns membros do Tri ciaes, das idéas de liberdade e dos
bunal Civil e Criminal a essa justa sentimentos depurados de justiça,
pretensão feminina, que sem a in aboliu-se o preconceito de casta.
tervenção do Congresso o proble Só 0 do sexo se mantém lutando
ma ficaria de pé, continuando a contra a eloquência das reivindi
dualidade de opiniões, ao arbítrio cações femininas — já porque o
dos magistrados, com grave damno homem sente que a emancipação
para as partes interessadas e para da mulher o lesa nos seus interes
a ordem e seriedade da justiça. ses egoistas, pela concurrencia em
Felizmente o Supremo Tribunal quasi todos os ramos da activida-
poz termo á questão, firmando dou de, e esta é a razão pratica, já
trina decisiva, que, para honra da porque elle se habituou, do longos
nossa cultura social, respeitou o séculos, a considerai-a como um
espirito da nossa Constituição, a ser inferior, incapaz de exercitar
corrente liberal da época, as idéas utilmente a sua liberdade, util só
de emancipação da mulher, sujeita mente para os gosos do amor ou
ainda ao regirnen de subalternida para os misteres do lar, e esta é
de moral e legal, que, nem por ser a razão moral.
adoçado pela brandura dos nossos Lentamente a mulher destruiu a
costumes, perdeu o seu caracter falsa noção da sua inferioridade,
iniquo e jugo de oppressão. affirm ando, por provas numerosas
Para nós, brazileiros, deve cons e brilhantes, que em quasi todas
tituir um motivo de orgulho o as espheras de trabalho ella riva-
modo sereno, claro e breve, por lisa com 0 homem, iguala-o na as
que se consagrou esse direito, que siduidade, no escrúpulo, no tino,
em quasi toda a parte do mundo na perfeição. As suas qualidades
é ainda objecto de debates renhi administrativas são inegualaveis,
dos, de campanhas intellectuaes ar trazendo para a gestão dos seus ne
dentes, fundadas no mais arraiga gócios commerciaes, para o serviço
do, no mais intolerante e no mais de escriptorio ou de balcão, os pre
absurdo dos preconceitos — o do ciosos hábitos de ordem, de eco
sexo. A generalisação do livre nomia, de ari’anjo, adquiridos no
exame acabou com o preconceito governo domestico e que as tor
religioso. Graças á victoria dos nam em muitas cidades e nas ca
princípios democráticos, está por sas que uma vez recorreram aos
pouco a eliminrção total do pre seus préstimos, verdadeiramente in
conceito de raça. Pela constante substituíveis. Nas industrias, a
infiltração, nas altas camadas so- cooperação da mulher ó tanto mais
A M ensageira 219
pagina intima
Foi aqui. Esta viride e fiondente Como um casal de enamoradas aves.
Laranjeira de curvos galhos grossos Ou c o m o d u a s Candidas cr e a n ç a s .
Foi nossa doce e muda confidente, Tu me fallavas nums mil nadas suaves,
Ouviu a historia dos amores nossos. Eu te beijava as desatadas tranças.
Um céo de jaspe ; e sob o céo e pelas Seu tronco altivo, de nodosos flancos.
Altas zonas da aboboda azulina, Erguia aos céos a fronde verde-escura,
Vinham raiando as limpidas estrellas, Toda arraiada de corymbos brancos,
Vinha raiando a estrella vespertina. Toda ungida de seiva e de frescura.
Sobre alcatifas de frouxeis e flores. «Nosso amor, como esta arvore, risonho.
Dormitava, embalada, a primavera. De alegres flores viverá no meio . . .
Erravam no ar noctambulos odores. Será qual doce e luminoso sonho.
Sonhos erravam na deserta esphera. De eterna primavera sempre cheio.»
Que instante aquelle! O mesmo enlevo terno Emtanto, o pobre tronco solitário,
Nos prendia no mesmo laço brando. Seceo, sem folhas, misero, sombrio.
Tu me jurando teu amor eterno. Si teve o inverno triste e funerário.
Eterno amor, formosa, eu te jurando. Teve empós o clarão de um novo estio.
carne molle não lhe obedecia á a maior demora deveria ter sido
convulsão da vontade. na casa do João Romão, á beira
Gilda cortou uma taquara, las- da estrada, deitada na esteira, no
cou-a com força e, approximando- pomarzinho de tangerinas, d’aquel-
se, varou o peixe de guelra a guel las pequeninas, que tanto elle,
ra. Elle estrebuxou languidamen como ella, comiam com casca e
te, e a negra sorriu, empunhando tudo...
0 bambú, como uma lança de guerra João Romão cantava á viola e
sobre o corpo vencido de um ini trazia pelo beiço toda a crioulada
migo. da redondeza. Gilda amava-o e
Foi só depois de tudo consu mordia-se de ciúmes sempre que
mado que a Gilda se lembrou de 0 via lá no engenho de D. Ricarda
que tinha de entregar os beiiús Maria, mais voltado para a Paula
ainda quentinhos á irmã da sua ou para a Norberta do que para
senhora... Voltou-se; uma môsca ella. Elle levantava os hombros e
varejeira zumbia sobre a toalhinha ia dizendo que gostava de conten
branca, em lampejos de metal azul. tar a toda a gente ...
Um gésto da negra, e eil-a que Pois era sol-posto, quando a Gil
partiu. da divisou lá no outeiro, a egreja
Ueviam ser iioras de se ir en de S. Nicolau, com o seu raatto
caminhando para a freguezia de de limoeiros ao pé e as suas pa
S. Nicolau do Paço . . . redes brancas alvejando em uma
Recomeçou a caminhada; apa tristeza de abandono . . .
nharia o peixe no regresso, mar Nem um badalar de sinos. Pom-
cou o sitio, e foi-se embora. bas-rolas voavam baixo, á procura
dos ninhos . . . mais alguns metros
e a Gilda entrou na primeira rua
da povoação. Apressou ó passo.
Que voltas teria dado a uegra 1). Luiza Maria andava do visita
por aípielles morros e aquellas var- a uma comadre; Gilda deixou-lhe
gens, que só ú tardinha entrou na a cesta de beijús, com a cosinhei-
freguezia, com a cesta de beijús, ra Sophia e gyrou sobre os cal-
que deveria entiegar (pientinhos, canhaies, pensando no teiror da
já muito desfalcada? estrada, pelo escui'o. Bem faria
Foi talvez no mandiocal de scfí se assim caminhasse setnpre; mas,
Neves, (juando esteve ouvindo as no canto, da praça viu gente ajun-
cantigas e vendo arrancar man tada na poiJa da venda e foi-se
dioca bonita, de lua n o v a ... Mão, chegando, curiosamente.
A M ensageira 227
^osa de Keve
A Alice Guadalupe
Um dia, minlia flor, talvez p o r sympathia,
T u ]ue deste uma rosa, extranha. com certeza,
Uma rosa de neve em que toda a l)elleza
D o sublim e ideal peideitam eiite eu via !
O anno que findou foi bem di Outro dia, em um bond de Bo
verso de muitos outros que se tafogo, tive occasião de apreciar
têm ido para a escala dos séculos, um facto muito engraçado:
formar o pedestal do Passado. Na rua dos Voluntários da Pa-
Bem diverso pelo menos para tria, era frente a um prédio rico,
0 Brazil. Vejamos: a invasão da de magnifico jardim, duas velhi
peste bubônica, só por si bastava nhas ]á arcadas e trôpegas fizeram
para lhe dar uma nota extranha e signal para 0 nosso bond parar.
medonha. O annunciado fim do O cocheiro travou 0 bond imme
mundo, 0 terrivel 13 de Novem diatamente, e as velhinhas, cuja
bro, que passou íiualmente como edade sommada devia orçar pelos
qualquer dia passa — bom para 150 annos, despediram-se terna-
uns e máo para outros — marcou mente.
uma epocha. A primeira audição Uma embarcou, era a menos ve
de uma opera nacional e de real lha. tinha a apparencia de uns bons
merecimento; a primeira defesa de 70 annos. A mais enrugadinha ficou
uma mulher no jury, cujo exito encostada á pilastra do jardim e de
excellente todos nós sabemos, são lá, por entre os dedos mirrados e
factos que raras vezes se reprodu trêmulos enviando um beijo á ami
zem. ga que partia, disse, sorrindo: —
Disse algures um chronista ele adeus Bebé. Em paga desse beijo
gante que todos os annos se pare carinhoso, a meiga Bebé respondeu
cem uns com os outros. A prin com 0 mais terno sorriso e dizen
cipio as festas do anno bom, as do: adeus Nenê.
mesmas esperanças em todos os O bond partio e a Nenê lá do
corações de um anno fértil e ale portão, com 0 peso de seus 80 an
gre, depois... decepções que não nos prováveis, sacudia, carinhosa
se fazem esperar, as mesmas tris mente, 0 seu lenço grande de ta-
tezas, as mesmas dores. baquista respeitável.
O anno de 99 teve muitos ac- Riam-se todos da infantil ter-
232 A M knsageira
Soneto
V erd e mar da Esperança, em tuas ondas
leva o roseo batei d os m eus am ores ;
qu ero que no teu seio as m inhas dores
com o um am igo p ied oso escondas.
e cálculos acima descriptos são evi bella, nada temos a dizer; pois que
tados com 0 emprego da tabella do se acha claramente exposto na me
illustre engenheiro Dr. Américo dos moria de que vem ‘ acompanhada.
Santos, que nos dá com ella uma Terminando, damos parabéns ao
utilissima simplificação e sobretudo illustre auctor por ver o seu tra
grande economia de tempo nos tra balho bem acceito, o que demons
balhos de explorações de estradas. tra o facto de já ter feito delle a
Quanto ao modo de usar da ta- H." edição. B.
0ançoneta
(Ao Lirio)
T ilias em ílôr, cam élias em botão,
L irios do valle esparsos pelo clião !
Contemplação
(A’ exeelsa poetisa Adelina A. Lopes Vieira)
r
A M ensageira 243
Pag. Pag.
A Alm a e a M orte, notas, Elma- N otas p e q u e n a s ............................. 115
n o d o V a l ....................................80 D r. C ândido Esjjinlieira, retrato
Sem pre o am or, so n e to , O scar seguido de a r t i g o .................. 117
d ’A lva . ...........................................81 Soneto, C ândido de Carvalho . . 1 1 9
A noiva, .\delina A. L o p e s V ieira 81 Carta d o R io, Maria Clara da Cu-
E lores d ’alma, poesia, M aria Jucá 84 nha S a n t o s ....................................119
S elecçã o .....................................................84 A V irgem de M urillo, ex cerp to de
O co n cilio das maguas, soneto, drama em verso, A delina L.
P erpetua do V a l l e .................... 8 6 V i e i r a .............................................. 122
t’ai’ta do R io, Maria Clara da Cu- A escolh a de um m od elo . . . 124
nha S a n t o s .................................... 8 6 Ju n to ao b e rço de Dalila, poesia.
V esper, poesia, D elm in d a Silveira 88 B ellarm iiio Carneiro . . .. 1 2 7
C om ares de chronica, M aria Emi- S e l e c ç ã o ............................................. 128
l i a ....................................................88 L e F ém inism e au Brésil, X avier
A in ven ção da r e n d a ....................89 de Carvalho .................................... 129
Som bras, poesia, Prescihana D u- E scala d o V iver, poesia, Presci-
arte de A l m e i d a ......................... 91 liana D uarte de Alm eida . . . 130
N otas p e q u e n a s .............................. 91 V olta aos pagos, soneto, Candida
Julia L o p e s de A lm eida (retrato. F o r t e s ............................................. 131
segu ido de um artigo de G uio- N otas p e q u e n a s ..............................131
mar T o r r e z ã o ) .............................. 97 A M ulher d o F uturo, Maria Ama-
D uas epochas, son eto, S ilvio de liíi de Carvalho . . . . 133
A l m e i d a ........................................102 M artyrio incrivel, soneto, Aurea
R uélia form osa, son eto, Z alin a Ro- P i r e s ..................................... - . 139
h m .................................................... 102 B razil'— Paraguay, critica literaria.
L u d ib ria ventis, poesia, Bellarm i- S ilvio de A l m e i d a .................. 140
no C arneiro .................................. 102 M iniatura, poesia, Arthur A ndrade 142
Carta do R io, Maria Clara da Cu Saudade Incurável, conto, Maria
nha S a n t o s .................................. 103 Clara da Cunha Santos . . . 143
D om in go de Ram os, poesia, .-\u-.............. M agoa Infinita, soneto, Raul C or
rea P i r e s ....................................... 105 p g a ................................................... 145
Ju n to de um tum ulo de criança, a esm ola, I p o m é a ........................ 145
Julia L o p e s de A lm eida . . . 106 A subir . . . a subir . . ., poesia.
E sperança, soneto, G eorgin a T ei Preseiliana D uarte de A lm eida 146
xeira . . - ............................. 108 A paizagem , Narcisa Amalia . . 146
A B aroneza de H irsch . . . . 108 Notas p e q u e n a s ................................... 148
N oivado, poesia. P erce-n eige . . 109 A jjolog o, conto, Maria Clara da
B odas de Prata, con to, M aria Clai’a Cunha S a n t o s ............................. 149
da Cunha S a n t o s .................. 110 D e sonho em sonho, soneto, Ma-
V ida. soneto, Peres Ju n ior . . . 1 1 3 ria J u c á ......................................... 152
V olta ao passado, soneto, M anoel U rzes, critica literaria, S ilvio de
A r ã o ............................................ 113 Alm eida . . ...................................152
S e l e c ç ã o ............................................ 114 N enia, p oesia , R idelina Ferreira 154
E scuta, son eto R idelin a Ferreira 114 S e l e c ç ã o ................................. - . 155
244 A M en s AG K l H A
Pag. Pag.
Carta do R io, M aria Clara da C u A lm eida Junior, poesia. P erpetua
nha Santos ................................ 1Õ5 d o V a l l e ............................................. 205
A o crepu scu lo, phantasia, Fran- Passarinhos, poesia, Zalina R olim 205
cisca C l o t i l d e ................................ 158 A Solidariedade Fem inina, P oto
Um ca n to, p oesia , D elm in d a S il nié P i e r r e ........................................206
veira ................................................ 159 Storia breve, poesia, C. B ru n etto 208
Im p ressões de leitura, Perpetua T radu cção de uma O de de Sapho,
d o VaUe ........................................... 160 S ilvio de A l m e i d a ........................209
A p oetiza d o V izella, .Alberto P i A legen d a da rosa branca, con to,
m entel ................................................ 161 P elayo Serrano . . . . . . 210
Notas p e q u e n a s ................................167 A lm eida Ju n ior, son eto, T rajano
D iv ersid a d e, p o e sia , Presciliana P i r e s .................................................. 212
D uarte de A lm eida . . . . 168 S e l e c ç ã o .................................................. 212
C om ares de ch ron ica, M aria E m i Prim eira E sperança, soneto, Aurea
lia ..................................................... 169 P i r e s .................................................. 213
S on eto, A rthur A ndrade . . . . 1 7 3 A ’ m inha m ulher, poesia, M artins
Carta d o R io, M aria Clara da C u J u n i o r .................................................. 214
nha S a n t o s ......................................173 N otas p e q u e n a s .................................. 214
A p oetiza d o V izella, G eorgin a T e i D ireitos da M u lh e r. . . . ,. 2 1 7
xeira ................................................175 Pagina intima, poesia, A rthur A n
O fem inism o, .Anacleto P a cifico . 178 drade ...................................................223
Cantiga, Maria C. C. Santos . . 1 7 9 H oje, soneto, S ilvio de A lm eida . 224
As prim eiras sandalias, con to, Ip o Perfil de preta, con to, Julia L o p e s
m é a ........................................................179 de A l m e i d a ................................. 224
S o n h o ? son eto, Aurea Pires . . 180 J ’ai dit á ma i)lume, i)oesia, Bel-
S e l e c ç ã o .................................................. 180 larm ino C a r n e ir o .......................229
D e A m icis e seu F ilh o . . . . 181 R osa de N eve, soneto, Aurea P i
N otas p e q u e n a s ...................................182 res . . . . , 230
Carta do R io, M aria Clara da Carta d o R io, M aria Clara da C u
Cunha S a n t o s ...................................185 nha S a n t o s ..................................230
O u vin do um passaro, poesia, Nar- S on eto, D elm in d a S ilveira . . . 232
cisa A m a l i a ........................................ 188 Barcarola, R idelina F erreira . . 232
Ju lieta de M ello M on teiro, D a- T abella para o traçade de curvas
m asceno V ieira ; ........................ 189 nivel, apreciíição, B ................... 232
D a nascente á foz, poesia, S ilvio C an çon eta, P erce n eige . . . . 234
de A l m e i d a ........................................ iq g B arcarola, R id elin a F erreira . 235
Patria, critica literaria, S ilv io de
Carta aberta, R idelin a F erreira . 195
A l m e i d a ........................................235
E leita, son eto, R e n e d icto R il)ciro 196
, . M argarida, S ilvio de A lm eid a . . 236
H íile c ç íio ...................................................................................................... 197 x i - • -.-v .
_ _ C onteiiquaçao, poesia, P rescilian a
In cê n d io , son eto, J u lio P restes . 198
Duarti! de A l m e i d a ........................2.37
No Calvario, R icarilo M. G onçal E x p osiçã o A lm eida Junior, P erpe
v e s ..................................................... iqy
tua d o V a l l e ...................................239
Notas p e c p ie n a s ................................iqq S e l e c ç ã o .................................................. o.’.O
D ireitos da m u lh e r ..................... '. 201 N otas p e i p i e n a s .................................. 23>9
GOVERNO QUERCIA
A N T O N IO C A R L O S M E S Q U IT A
S E C R E T Á R IO D E E S T A D O DO G O V E R N O
D E P U T A D A BETE M ENDES
S E C R E T Á R IA D E E S T A D O D A C U L T U R A
AGÊNCIAS
Capital - Maria Antonia - Rua Maria Antoni a, 294 - Fone 256-7232
República - E stação R epú blica do M etrô - L oja 516 - Fone 257-5915
São B ento - E sta çã o São B ento do M etrô - L oja 17 - F one 229-6316
Postos de Venda no Interior - A raçatu ba-R u a Al mi rante B arroso, 239
F one (0186) 23-6882 - ramal 22
Guaratinguetá- Rua F rei Lucas, 80 - F one (0125) 22-3024
Marília - A v . R io B ranco. 803 - F one (0144) 33-5163
P resid ente P rudente - A v . M anoel G oulart, 2.109 - Fone (0182) 22-1622
Ribeirão P reto - A v . N ove de Julho, 378 - Fone (016) 625-2345 - ramal 32
São José do Rio P reto - Rua G eneral G licério, 3.947
F one (0172) 33-9277 - ramal 146
EDIÇÕES DO CONVÊNIO IM ESP/DAESP
1981/1987
1 Fac-símiles
A lm a n a c h L it t e r a r io d e S ã o P a u lo , (1 9 8 2 ).
A lm a n a k d a P r o v ín c ia d e S ã o P a u lo p a r a 1 8 73 , (1 9 8 5 ).
A lm a n a k d e S . J o ã o d o R io C la r o p a r a 1 8 73 , (1 9 8 1 ).
C a b r iã o , (1 9 8 2 ).
O s P r im e ir o s A lm a n a q u e s d e S ã o P a u lo , (1 9 8 3 ).
A lm a n a k A d m in is t r a t i v o , M e r c a n t il e I n d u s tr ia l d a
P r o v ín c ia d e S . P a u lo p a r a o A n n o d e 18 5 7 , (1 9 8 3 ).
A lm a n a k A d m in is t r a t iv o , M e r c a n t il e I n d u s tr ia l d a
P r o v ín c ia d e S . P a u lo p a r a o A n n o d e 1 8 5 8 , (1 9 8 3 ).
S ã o P a u lo , 1 9 3 2 , (1 9 8 2 ).
D e m o c r a c ia , (1 9 8 1 ).
I n d ic a d o r d e S . P a u lo A d m in is t r a d o r , J u d ic ia l,
I n d u s t r ia l, P r o fis s io n a l e C o m m e r c ia l p a r a o A n n o d e
18 7 8 , (1 9 8 3 ).
0 H o m e m d o P o v o , (1 9 8 4 ).
B r á s , B e x ig a e B a r r a F u n d a , (1 9 8 2 ).
C o m e n t á r io s e n o t a s à e d iç ã o fa c -s im ila r d e 1 9 8 2 , d e
B r a s , B e x ig a e B a r r a F u n d a , d e A n t ô n io d e A lc â n t a r a
M a c h a d o , (1 9 8 2 ).
L a r a n ja d a C h in a , (1 9 8 2 ).
C o m e n t á r io s e n o ta s à e d iç ã o fa c -s im ila r d e 19 82 d e
L a r a n ja d a C h in a , d e A n t ô n i o d e A lc â n t a r a M a c h a d o
(1 9 8 2 ).
P a t h é -B a b y , (1 9 8 2 ).
C o m e n t á r io s e n o ta s à e d iç ã o fa c -s im ila r d e 19 82 d e
P a t h é -B a b y , d e A n t ô n i o d e A lc â n t a r a M a c h a d o , (1 9 8 2 ).
F u t e b o l, (1 9 8 2 ).
0 P o lic h in e llo , (1 9 8 1 ).
2D iversos
• I m p r e n s a d o in t e r io r , (1 9 8 3 ).
• J ú lio P r e s t e s e a P r im e ir a R e p ú b lic a , (1 9 8 2 ).
• R e la t ó r io s d o s P r e s id e n t e s d a P r o v ín c ia d e S ã o P a u lo
1 8 3 6 -1 8 8 9 , (1 9 8 2 ).
• F e r r o v i a , o c a m in h o c e r t o , (1 9 8 2 ).
• F u t e b o l e c u lt u r a , (1 9 8 2 ).
• S ã o P a u lo e m t r ê s t e m p o s , (1 9 8 2 ).
4 ♦
v;
■ F í ^ o
m N : : n
; . < .‘■ ■ : u ; í í í ^ i i
^ ■■•> 1 î t rv
ÿ Â > :
r > t i ’ à t ‘ h i . i . •„. •
Í. l - • : \ i } i - - ' i i . -..,
/ -■
’■fói
f ;vir* .
iiï- ; - X. k^ . % --: . - V . . - . í , -■ . '■■ .- ■T« ■ ' • • ■ .^ v r’» 3 í »
SV _í
ti?
#
V'
JAi^
aas^ .y..y^oo'
lüA^tÍJtó
:** IOv ■vj
ilíC
kf- -í?.-
, T . . .^ :. ..^ . « .j:.
«■»I'
•* ^ijüT
\ ,fc * •* *
■_'f>"■> V
Æ,
:.t*--
^Î7i 0
‘■*•'\•.* V-w 4
•i •.J '^'. i' ;
? . .. •'.
f>'’.. ^^
t
) -f Z'
•-4-V.-‘ .'
jfcH,?’. • ■
4..^
i-é ; ' -i . . V
■*w
'ii -» ? <^y : ; ' ^' . ' . ; .: '■ J . '■ ■; "; ■
t-'iii^y. - . '! ■. ' , . . ■ J' k. . *. ,. .< '' k .> * ;.-
1 k ' . V- ,
'■'
,
', ^
i^ '\ .
■ ' " ’
,,
'í ’
^ '.;‘-i.., 4 ^ -V,
Í: 'V '' “ ■ '’'■ &
i 7 -J ’ . w ,
" '^ '- ■ v ’- i ä
ii ' '■ " . ■■'
1-*
-t‘ V,'' Í -'rr;
- -♦ '' •V.' V
■1. ■'.' .»k ■; ‘ ' % , : , i v -; •, -’ . fc' '
é '
' i ,^'h*1 > ,. ' -, - " , ■■'”,; ■ . ’ j.
•-^jC-- -I
.M
? A
-------
it
'iiii.s
'•?'
1
■'
il
ii / ' >f , '
-ty; ■ : y ' \ - ? ' ± y -
V •*■.=€-*, 1 -
''. i-*yi
\ff
,.jk
r 1«^
1# ^
t ,’Á
J
ve.n:- í3r>;'Ss