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M A M A I D O S N E G O C I A N T E S

CONTENDO 0

CÓDIGO COMMERCIAL

DO

E OS REGULAMENTOS PARA A SUA EXECUÇÃO

Com referencia aos artigos dos mesmos Regulamentos, accrescentado com todos os Avisos, Por-

tarias , Ordens e Decretos que a t é ao presente se tem expedido, assim como as Consultas e

Decisões dos Tribunaes do Commercio, e Tabellas dos emolumentos das Secretarias; os Regu-

lamentos dos Corretores, Agentes de Leilões e Interpretes; o Decreto que diz respeito a

Trapicheiros e Administradores de Armazéns de Deposito, e para os Tribunaes do Commercio

decidirem as causas arbitraes; as Leis e Decretos relativos á r e p r e s s ã o do trafico de

Africanos, e finalmente varias outras disposições legislativas, cujo conhecimento se torna

indispensável ao Commercio.

ACCOMPANHADO

DO REGULAMENTO SOBRE O USO, PREPARO E VENDA DO

PAPEL SELLADO.

à VENDA E M CASA D E

EDUARDO & HENRIQUE LAEMMERT

Rua da Quitanda, 7 7

1853
C Ó D I G O C O M M E R C I A L

DO

IIMIÍPSÍM® m© igí&&©nn a

P A R T E L

DO COMMERCIO EM GERAL.

TITULO I.

DOS COMMERCIANTES.

CAPITULO t

Das qualidades necessárias para ser commerciante.

Art. 1.° Podem commerciar no Brasil: (Reg. Decr. 25 Nov. 1850,


cri. 58, % 2 j
I. T o d a s as pessoas q u e , na c o n f o r m i d a d e das l e i s deste império,
se a c h a r e m na livre administração de suas pessoas e b e n s , e não
f o r e m expressamente probibidas neste Código.
II. Os menores legitimamente emancipados.
III. Os filhos-famüias que tiverem mais de dezoito annos de
idade, c o m a u t o r i s a ç ã o dos pais, p r o v a d a por escriptura publica.
O f d h o m a i o r de v i n t e e u m a u n o s q u e f o r associado ao commercio
do pai, e o que c o m sua approvação, provada por escripto, levantar
algum estabelecimento commercial, será reputado emancipado e
maior para t o d o s os eííeitos legaes nas negociações m e r c a o tis.
IV. As m u l h e r e s casadas maiores de dezoito annos, com autori-
s a ç ã o de seus m a r i d o s para poderem commerciHr em seu próprio
nome, provada por escriptura p u b l i c a . As que se a c h a r e m separadas
da coliabitação dos m a r i d o s p o r s e n t e n ç a de divorcio perpetuo, não
precisão da sua autorisação.
Os menores, os filhos-familias e as mulheres casadas devem
inscrever os t i t u l o s d a sua habilitação civil, antes de p r i n c i p i a r e m
a c o m m e r c i a r , n o registro do c o m m e r c i o do respectivo districto.
Art. 2.° S ã o p r o h i b i d o s de c o m m e r c i a r :
L Os presidentes e os c o m m a n d a n t e s de armas das províncias,
os magistrados vitalícios, os juizes m u n i c i p a e s c os d e o r p b ã o s , e
ofíiciaesde fazenda, d e n t r o dos districtos e m que exercerem as suas
funcções.
I I * Os ofíiciaes m i l i t a r e s de primeira linha de m a r c terra, salvo
se f o r e m r e f o r m a d o s , e o s d o s c o r p o s policiaes.
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

III. As c o r p o r a ç õ e s de m ã o m o r t a , os c l é r i g o s e o « regulares.
IV. Os fallidos emquanto não fôrem legalmente rehabilitados.
(Reg. Decr. 25 Nor. 1 8 5 0 . art. 15.;
Art. 3.° Na p r o h i b i ç ã o d o arligo antecedente n ã o se comprehende
a faculdade de d a r dinheiro a juro ou a prêmio, comtanto que as
pessoas nelle mencionadas n ã o facão do exercicio desta faculdade
profissão habitual de commercio; nem a de ser accionista e m
qualquer companhia mercantil, uma vez que n ã o tomem parte na
gerencia administrativa da m e s m a companhia,
Art. Ninguém é reputado commerciante para efíeito de gozar
da protecção que este C ó d i g o l i b e r a l i s a e m f a v o r d o c o m m e r c i o , sem
q u e se l e n h a matriculado e m a l g u m dos tribunaes do c o m m e r c i o d o
Império, e f a c a da mercancia p r o f i s s ã o h a b i t u a l ( a r t . 9.) (Reg. art.
15, 17. Decr.'25 Nov. 1850 , arls. 15, 77 e 9 4 . Decr. 5 Set. 1850,
art. 3 J (*) *
Art. 5.° A petição da matricula deverá conter :
I. O nome, idade, naturalidade e domicilio do supplicante: e,
sendo sociedade, os nomes individuaes que a c o m p õ e m e a firma
adoptada (arts. 302, 311 e 325).
II. O lugar ou domicilio do estabelecimento.
Os m e n o r e s , os filhos-familias e as m u l h e r e s casadas d e v e r á õ jun-
t a r os t í t u l o s d a sua capacidade civil (art. l . ° ns. 2, 3 e
Art. 6.° O tribunal, achando que o supplioante t e m capacidade

(*) Entrando em discussão os s e g u i n t e s q u e s i t o s , o f f e r e c i d o s á c o n s i d e r a ç ã o


do tribunal pelo Sr. deputado Souza na sessão antecedente :
1." M a t r i c u l a d a u m a sociedade e m n o m e c o l l e c t i v o , reputa-se cada u m dos
s ó c i o s i n d i v i d u a l m e n t e m a t r i c u l a d o s p a r a o e f f e i t o de g o z a r e m das p r e r o g a l i v a s
e p r o t e c ç ã o q u e o C ó d i g o l i b e r a l i s a ao c o m m e r c i o n a q u e l l a s t r a n s a c ç õ e s indi-
viduaes de cada u m delles?
2.° D o u s o u mais negociantes m a t r i c u l a d o s u n i d o s e m sociedade c o m f i r m a
s o c i a l , c o m m u n i c ã o á s o c i e d a d e os p r i v i l é g i o s d e f i r m a m a t r i c u l a d a ?
h.° U m o u mais negociantes m a t r i c u l a d o s , r e u n i d o s e m sociedade c o m um
ou mais negociantes n ã o matriculados , d ã o á firma da sociedade os privi-
l é g i o s de f i r m a matriculada?
D e p o i s de breves reflexões dos Srs. Souza, Mayrink, Santos J ú n i o r , e
desembargador fiscal.
Procedendo-se á v o t a ç ã o , decidio-se unanimemente: 1.° que matriculada
uma firma s o c i a l , a sociedade collectivamente, e n ã o os s ó c i o s individual-
mente, ficava gozando de todas as prerogalivas concedidas pelo Código
C o m m e r c i a l aos c o m m e r c i a n t e s m a t r i c u l a d o s ; 2 . ° , q u e n a s s o c i e d a d e s c o l l e c t i v a s
sendo a firma social composta de nomes de commerciantes todos matri-
c u l a d o s , g o z a v a e s t a das m e s m a s p r e r o g a l i v a s q u e as firmas s o c i a e s m a t r i c u l a d a s ,
ainda que a sociedade c o l l e c t i v a m e n t e se n ã o m a t r i c u l a s s e , e que em taes
casos a matricula é necessária; 3.°, que havendo em qualquer sociedade
collecliva sócios commerciantes matriculados, estes não communicão as
suas prerogalivas á firma s o c i a l , sc esta não fôr composta de nomes de
commerciantes todos matriculados.
Sala do despacho do tribunal da capital do império, 6 de Fevereiro de
1 8 5 1 . — Antônio Alves da Silva Pinto, júnior, secretario.

( Estracto da sessão de 6 de Fevereiro de 1851. )


CÓDIGO COMMERCIAL 5

legal para poder c o m m e r c i a r e goza de credito publico, ordenará a


matricula; a qual será logo c o n i m u n i c a d a a todos os t r i b u n a e s do
c o m m e r c i o e p u b l i c a d a por editacs e pelos jornaes, o n d e os houver,
expedindo-se ao m e s m o supplicante o competente titulo. (Reg. Decr.
2 5 Nov. art. 18 § 1.)
Art. 7.° Os negociantes que se acharem matriculado* na junta
do commercio ficão obrigados a registrar o competente titulo no
t r i b u n a l do seu d o m i c i l i o , d e n t r o de q u a t r o m e z e s d a sua iu^tallação;
podendo o mesmo tribunal p r o r o g a r este p r a z o a f a v o r dos commer-
ciantes que residirem e m lugares distantes (art. o l ) .
Art. 8.° Toda a alteração que o c o m m e r c i a n t e o u sociedade vier
a fazer nas circunstancias declaradas na sua matricula será levada.
dentro no prazo marcado no artigo antecedente, ao conhecimento
do tribunal respectivo ; o qual a m a n d a r á averbar na mesma matri-
cula e proceder ás c o m m u n i c a ç õ e s e publicações determinadas no
art. 6.°
Art. 9.° O exercício efFectivo de c o m m e r c i o p a r a t o d o s os eíFeitos
legaes p r e s u m e - s e começar desde a data da publicação da matri-
cula. (*)

(*) Informando o Sr. desembargador fiscal que alguns commerciantes


entravão em duvida se, apezar de n ã o serem m a t r i c u l a d o s , estavão sujeitos
ás o b r i g a ç õ e s impostas n o c a p . 2 . ° d o t i t . 1.° da parte 1 . " d o C ó d i g o C o m m e r -
cial, parecendo a S . S. que sim, a v i s t a d a g e n e r a l i d a d e d a sua e p i g r a p h e ,
e manifestando todos os Srs. deputados que a mesma duvida lhes tinha
sido proposta p o r diversos commerciantes, a qual conviria que o tribunal
resolvesse , lavrando-se assento da resolução que se tomasse , observou o
Sr. presidente q u e era f ó r a d e d u v i d a q u e as d i s p o s i ç õ e s d o r e f e r i d o c a p i t u l o
obiigão a t o d o s os commerciantes matriculados e n ã o matriculados , não só
porque a generalidade da sua epigraphe— obrigações communs a todos os
commerciantes — n ã o admilte a figurada duvida, mas ainda mais p o r ser
inquestionável que o Código C o m m e r c i a l o b r i g a a t o d o s os commerciantes
matriculados e não matriculados, e que se a duvida proposta se f u n d a ,
c o m o p a r e c e , n o a r t . à.° d o m e s m o C ó d i g o , c u m p r i a o b s e r v a r q u e este a r t i g o ,
fazendo p r i v a t i v a s d o s m a t r i c u l a d o s as d i s p o s i ç õ e s d e p r o t e c ç ã o q u e o (Jodigo
Commercial generosamente liberalisa e m favor do commercio , não pôde
a d m i t t i r u m a intelligencia extensiva ás o b r i g a ç õ e s n o mesmo Código impostas
aos c o m m e r c i a n t e s ; antes a excepção firma a regra em contrario : e outra
prova semelhante offerece o art. 9 0 8 , declarando q u e — as d i s p o s i ç õ e s do
código relativamente ás fallencias são applicaveis somente ao d e v e d o r que
f ô r c o m m e r c i a n t e m a t r i c u l a d o . — Q u e m a i s se r e f o r ç a esta i n t e l l i g e n c i a quando
se r e í l e c l e q u e a d i s p o s i ç ã o d o a r t . Ix.° n ã o é d o u t i i n a n o v a , pois f o r a copiada
d o § 3 . ° d o a l v a r á de 30 de A g o s t o de 1 7 7 0 , o n d e e l l a se a c h a c o n s i g n a d a nos
seguintes t e r m o s : « S ó os m a t r i c u l a d o s p o r h o m e n s d e n e g o c i o p o d e r á õ usar
desta d e n o m i n a ç ã o ( h o m e m de n e g o c i o ) nos «eus requerimentos , e gozar de
t o d a s as g r a ç a s , i s e n ç õ e s e p r i v i l é g i o s coucedidos a f a v o r dos commerciantes.
ficando d e l l e s p r i v a d o s t o d o s os q u e n ã o f ô r e m escriptos na dita matricula.»
E já antes existia q u a s í igual disposição no § 1 4 do capitulo 2.° do alvará de
16 de D e z e m b r o de 17 5 7 , sem que a n i n g u é m oecorresse a d u v i d a que agora
parece dtascitar-se. Resumindo a queslão , c o n c l u i o S. E x . , a regra é que o
Código obriga a t o d o s os c o m m e r c i a n t e s no c u m p r i m e n t o dos d e v e i es nelle
6 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

CAPITULO I I .

Das obrigações communs a todos os commerciantes (*).

Art. 10. Todos os commerciantes são obrigados :


I. A seguir u m a o r d e m u n i f o r m e de c o n t a b i l i d a d e e escripturação
e a t e r os l i v r o s para esse fim necessário;-.
I I . A fazer r e g i s t r a r ã o r e ^ n t r o d o c o m m e r c i o t o d o * os d o c u m e n t o *
cujo registro for expressamente exigido por este C ó d i g o , dentro de
q u i n z e dias úteis da data do* m e s m o s documentos ( a r t . o l ) , se maior
ou menor p r a f c o *e n ã o a ç b a r m a r c a d o neste C >digo. ( R e g . Decr. 25
Nvt. 1 8 5 0 , art. 64 , 100.)
III. A conservar em boa guarda toda a escripturação. correspon-
dências e mais papei* pertencentes ao g v r o do seu C o m m e r c i o , e m -
-
impostos , com a única d i f f e r e n ç a de q n e as suas d i s p o s i ç õ e s na parte que
libera lis ã o aclos de protecção a favor do commercio só podem aproveitar
aos que f o r e m matiiculados : e para evitar inconvenientes futuros, propôz
<|ue se o r d e n a s s e á s e c r e t a r i a q u e a d m i t t i s s e o r e g i s t r o d e t o d o s os documentos
que o Código Commercial manda registar, e a rubrica dos livros que os
commerciantes são obrigados a ter, ainda q n e os documentos ou livros n ã o
pertencessem a commerciantes m a t r i c u l a d o s . E pondo-se o negocio a votos ,
venceu-se unanimemente na f ô r m a proposta pelo Sr. presidente.
ORDEM.
O S r . o f í i c i a í - m * i o r da secretaria deste t r i b u n a l fique na intelligencia deque,
em virtude da deliberação tomada em sessão de 16 do corrente, deve
admittir ao registro publico do c o m m e r c i o todos os documentos e títulos
q u e , na c o n f o r m i d a d e d o C ó d i g o C o m m e r c i a l , n e l l e d e v e r e m ser r e g i s t r a d o s ,
ainda que s e j á o apresentados por c o m m e r c i a n t e s que n ã o e s t e j à o m a t r i c u l a d o s ;
devendo praticar o mesmo a respeito dos livros dos c o m m e r c i a n t e s que forem
apresentados para serem rubricados.
Sala d o d e s p a c h o d o t r i b u n a l d o c o m m e r c i o da c a p i t a l d o i m p e i i o , em 21
de J a n e i r o de 1 8 5 1 . — O secretario, Antônio Alves da Silva Pinto, júnior.
( E x t r a c \ o da sessão de 16 de J a n e i r o de 1851.)

(*) TRIBUNAL DO COMMERCIO.

Pela secretaria de estado dos negócios da justiça baixarão a este tribunal o


aviso e a copia d o decreto, que abaixo se segue:
3 . " Sccrão.— M i n i s t é r i o dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a . — Rio de J a n e i r o , em 23
de Janeiro de 1852.
Com referencia à ultima parte do seu oflicio de 7 d o corrente , em que
V . S. informou com o seu parecer sobre a questão suscitada por vários
negociantes não matriculados da praça do Maranhão, — « se o privilegio
d o l ô r o c r i m i n a l nas causas o r i u n d a s d e d i v i d a ou contracto mercantil com-
p e t e aos commerciantes em geral, ou somente aos matriculados a—tenho
de communicar-lhe que o governo imperial resolveu a duvida proposta,
na conformidade do parecer de V . S. declarando ao presidente daquella
província que nas causas de q u e se t r a t a é competente o fôro commercial
para os commerciantes cm geral.
D e o s g u a r d e a V . S. — Euzebio de Queiroz Coutinlio Mattoso Câmara. —
S r . J o s é I g n a c i o Vaz V i e i r a .
CÓDIGO C O M M E R C I A L 7

quanto n ã o prescreverem as acções que lhes possao ser relativas


(Titulo XVIII).
IV. A formar annualmente u m balanço geral do seu activo e
passivo, o qual deverá comprehender t o d o s os b e n s d e r a i z , moveis
e semoventes, mercadorias, dinheiros, papeis de credito e outra
qualquer espécie de valores, e b e m assim todas as dividas e obri-
gações passivas; e será datado e assignado pelo commerciante a
quem pertencer.
Art. 11. Os livros que os commerciantes são obrigados a ter
indispensavelmente, na conformidade do artigo antecedente, são
o diário e o copiador de cartas. (Reg. Decr. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , art. 1 8 § 1.°)
Art. 12. No diário é o commerciante obrigado a lançar c o m
i n d i v i d u a ç â o e clareza todas as s u a s o p e r a ç õ e s de c o m m e r c i o , letras
e o u t r o s quaesquer papeis de credito que passar, aceitar, afiançar
ou endossar, e e m geral tudo quanto receber e despender de sua
ou alheia conta, seja por que titulo f o r ; sendo sufificiente que as
parcellas de despezas domesticas se l a n c e m englobadas na data e m
q u e f o r e m e x t r a h i d a s da caixa. Os c o m m e r c i a n t e s de r e t a l h o deveráõ
lançar diariamente no diário a somma t o t a l das suas vendas a
dinheiro, e e m assento separado, a somma t o t a l das vendas fiadas
no mesmo dia.
No mesmo diário se l a n ç a r á t a m b é m e m resumo o balanço geral
(art. 10 n.° 4), devendo aquelle conter todas as v e r b a s deste, apre-
sentando cada uma verba a somma total das respectivas parcellas;
e será assignado na m e s m a data do b a l a n ç o geral.
No copiador o commerciante é obrigado a lançar o registro de
todas as c a r t a s missivas que expedir, com as contas, facturas ou
instrucções que as acompanharem.
Art. 13 Os dous livros sobreditos devem ser encadernados,
numerados, sellados e rubricados e m todas as suas folhas p o r u m
dos membros do tribunal do c o m m e r c i o respectivo a q u e m couber
por d i s t r i b u i ç ã o , c o m t e r m o s de a b e r t u r a e e n c e r r a m e n t o subscriptos
pelo secretario do mesmo t r i b u n a l e assignados pelo presidente.
Nas províncias onde n ã o houver tribunal do c o m m e r c i o , as refe-
ridas formalidades serão preenchidas pela relação dodistricto; e
na falta desta, pela p r i m e i r a autoridade judiciaria da comarca do
domicilio do commerciante e pelo seu distribuidor e escrivão : se
o c o m m e r c i a n t e n ã o preferir antes m a n d a r os s e u s l i v r o s a o tribunal
do commercio. A disposição deste artigo só começará a obrigar
desde o dia que os t r i b u n a e s do c o m m e r c i o , cada u m no seu res-
pectivo districto, designarem. (Reg. Decr. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , arts. 18, § 1;
31, § 5; 35, § 2 ; 38, g 6; 95; 146, § 2.)
Art. 14. A escripturação dos mesmos livros será feita e m fôrma
m e r c a n t i l e seguida pela ordem chronologica de dia. mez e anno,
sem intervallo e m branco n e m entrelinhas, borraduras, raspaduras
ou emendas (*).
-*
(*) F o i lida s e g u n d a vez a seguinte proposta oíferecida á c o n s i d e r a ç ã o do
t r i b u n a l pelo Sr. S á n t o s j ú n i o r na sessão antecedente :
« P a r e c e n d o a m u i t o s n e g o c i a n t e s deeta p r a ç a s u s c e p t í v e i s de diversas i n t e l -
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 15. Qualquer dos dons mencionados livros que for achado
com a l g o m dos vicios especificados n o artigo antecedente, n ã o m e -
recerá fé alguma nos lugares viciados a favor do commerciante a

1 g e n c i a s as d i s p o s i ç õ e s d o s a r t i g o s 1 2 e l á d o C ó d i g o d o C o r n m e r c i o a c e r c a do
syslema de e s c r i p l u r a ç ã o a seguir-se; e do m o d o por que se d e v e m consignar
n a s c a r t a s m i s s i v a s as f a c t u r a s o u r e m e s s a s d e m e r c a d o r i a s e v a l o r e s ; e c o n v i n d o
que quaesquer duvidas a respeito s e j ã o esclarecidas e precisado aquillo, que
deve praticar-se , submetlo á consideração deste tribunal as seguintes
declarações :
« 0 melhodo de escripluração commercial na e x e c u ç ã o do Código do
C o m m e r c i o p o d e ser q u a l q u e r d o s a d m i t l i d o s , i s t o é , o d e p a r t i d a s dobradas,
inixtas ou singelas, comtanto que, guardadas as i n d i v i d u a ç õ e s exigidas no
artigo 1 2 , haja em qualquer dos m e l h o d o s ordem chronologica nos lança-
mentos , e as partidas coincidão com os auxiliai es, quando lenháo nelle
sua origem.
(( A s c a r t a s m i s s i v a s q u e t r a t a r e m de remessas de q u a l q u e r e s p é c i e devem
m e n c i o n a r , além do n o m e do navio ou conduetor que transportar o u c o n d u z i r
o o b j e c t o da remessa , a importância lotai da factura , q u e d e v e ser acompa-
nhada do conhecimento ou recibo. »
O Sr. Alayrink, obtendo a palavra, j u l g a necessaiia a declaração proposta
pelo Sr. Santos júnior, conformando-se com a primeira parle; quanto
porém á segunda , entra em duvida se cabe na a l ç a d a do tribunal dar ao
ultimo periodo d o a r l i g o 12 do Código Commerdial uma interpretação que
dispense que no copiador se lance a integra das coutas e facturas que
acompanharem as c a r t a s m i s s i v a s , por entender qne semelhante intelligencia
se o p p õ e d i a m e t r a l m e n t e á letra d o referido a r t i g o . S ã o da mesma o p i n i ã o os
Srs. Silva P i n t o e desembargador fiscal.
O Sr. presidente entende que a proposta do Sr. Santos j ú n i o r contém a»
Ires seguintes questões:—l. a
E'livre aos c o m m e r c i a n t e s d o B r a s i l preferir
entre os diversos systemas de escripturação m e r c a n t i l admittidos na pratica
a q u e l l e q u e m a i s c o n v i e r ao s e u g ê n e r o d e c o m m e r c i o , o u são obrigados pelo
C ó d i g o C o m m e r c i a l a seguir certo e determinado syslema de escripluração
mercantil? 2. a
O systema das p a r t i d a s d o b r a d a s é i n c o m p a t í v e l c o m a d i s p o -
s i ç ã o dos arts. 12 e l / i d o C ó d i g o C o m m e r c i a l , n a parte qne exigem que a
e s c r i p t u r a ç ã o seja diária , e seguida pela o r d e m c h r o n o l o g i c a d o d i a , mez e
anno ? 3." Os c o m m e r c i a i j t e s s ã o o b r i g a d o s a l a n ç a r p o r extenso no copiador
as c o n t a s , facturas ou instrneções que acompanharem as suas c a r t a s m i s s i v a s ,
o u será bastante que as l a n c e m p o r extracto?
A solução da segunda questão , c o n t i n u o u o Sr. p r e s i d e n t e , é u m corol-
l a r i o d a d e c i s ã o p r i m e i r a : e para r e s o l v e r esta c o m a c e r t o c o n v é m t e r p r e s e n t e s
os a r t i g o s p a r a l l e l o s d o s C ó d i g o s e s t r a n g e i r o s e l e i s p á t r i a s d o n d e os a r t s . 1 2 e
d k d o C ó d i g o C o m m e r c i a l t i v e r ã o sua o r i g e m .
Seja o p i o n e i r o que se c o n s u l t e o Código do C o m m e r c i o francez , de que
t o d o s os o u t r o s deiivão. « A r t . 8.° T o d o o c o m m e r c i a n t e é o b r i g a d o a ter u m
l i v r o Diário q u e a p r e s e n t e , dia por dia, aa suas dividas aclivas e passivas,
as operações do seu commercio, suas negociações, aceitação ou endossos
de efíeilos, e em çeral tudo o qne receber e pagar por qualquer titulo
que seja; e que enuncie mez por mez as sommas que empregar nas des-
pe/.as da sua casa.» Kogron , commentando este artigo, diz: aceitação e
endosso de letras de c a m b i o o u b i l h e t e s á o r d e m .
Do Código francez extrahio o Código doCornmercio hespanhol, c o m alguma
cilTerença deredaeçào., o seguinte:
« A r t . 33. No livro diário se a s s e n t a r ã o dia por dia , e negando a ordtm por
CÓDIGO C O M M E R C I A L

quem pertencer, n e m n o sen todo, quando lhe f a l t a r e m as forma-


lidades prescriptas no a r t i g o 1 3 , n u os seus vícios forem tanto* ou
de tal natureza que o tornem i n d i g n o de m e r e c e r fé.
Art. 16. Os mesmo* livros, para serem admittidos c m juízo,
deverão achar-se escriptos no idioma do paiz : se por serem de

que se forem fazendo, todas as operações qne o cotumercianle fizer no seu gênero
de n e g o c i o , designando a qualidade e circumstancias de cada o p e r a ç ã o , e o
resultado que produzir a favor do seu credito ou do seu debito , por
fôrma que cada partida mostre o credor e o devedor na operação a que
se r e f e r i r .
O m e s m o C ó d i g o , n o a r t . 5 5 , m a n d a a s s e n t a r n o d i á r i o t o d a s as p a r t i d a s que
o commerciante despender nos seus gastos d o m é s t i c o s na data em que as
e x t r a h i r da c a i x a . E no art. 3 9 , referindo-se aos c o m m e r c i a n t e s de retalho ,
d e c l a r a ser s u í í i c i e n t e « que lancem cada dia e m u m s ó a s s e n t o o p r o d u c t o das
suas v e n d a s a d i n h e i r o e p a s s e m a o l i v r o d e c o n t a s c o r r e n t e s as q u e houverem
fiado.»
Seguio-se o Código do Commercio dos Paiies Baixos , que reproduzio o
art. 8.° d o C ó d i g o francez c o m salutar desenvolvimento no art. 6.° « T o d o o
commerciante é obrigado a ter um livro diário q u e a p r e s e n t e dia por dia,
por ordem de datas , sem e s p a ç o s e m branco, entrelinhas ou transportes para
a margem, as suas d i v i d a s a c t i v a s e passivas, as suas o p e r a ç õ e s de com-
mercio, as s u a s n e g o c i a ç õ e s , aceitações ou endossos de letras de c a m b i o , e
outros effeitos n e g o c i á v e i s , as suas c o n v e n ç õ e s , e e m g e r a l t u d o o q u e receber
e pagar p o r q u a l q u e r t i t u l o q u e seja. »
Appareceu depois o C ó d i g o C o m m e r c i a l portuguez, que c o p i o u quasi litteral-
mente o art. 6.° d o C ó d i g o dos Paizes B a i x o s : «Art. 219. Todo o commer-
ciante deve necessariamente ter u m d i á r i o , isto é , u m registro , c o m t o d o s os
seguintes requisitos: que apresente dia por dia, por ordem de data, sem
lacunas , entrelinhas o u transportes para a m a r g e m , as suas d i v i d a s activas
ou passivas, as suas operações mercantis, as suas n e g o c i a ç õ e s , aceites ou
endosses de letras o u c r é d i t o s n e g o c i á v e i s , as suas c o n v e n ç õ e s , e em geral
tudo o que receber ou pagar , seja p o r que titulo fôr.» E accrescenta no
art. 229 : « Os commerciantes de retalho n ã o são obrigados a l a n ç a r n o diário
as suas v e n d a s i n d i v i d u a l m e n t e : basta q u e f a c ã o cada dia o a s s e n t o d o pro-
d u c t o de todo o d i a das que fizerão a d i n h e i r o de coutado , e nas contas
c o r r e n t e s as q u e h o u v e r e m B a d o . »
B o m s e r á q u e se t e n h a t a m b é m p r e s e n t e o a l v a r á de 13 de N o v e m b r o de
1756. que n o art. 14 estabelecia oseguinte: « . . . serão precisamente obrigados
a exhibir pelo menos um livro com o titulo d e Diário escripto pela ordem
chronologica d o s t e m p o s e das datas, sem i n v e r s ã o d e l l a s , e sem interrupções,
claro ou verba alguma posta nas suas m a r g e n s , n o qual se a c h e m lançados
t o d o s os a s s e n t o s d e t o d a s as m e r c a d o r i a s e f a z e n d a s q u e os m e s m o s f a l l i d o s d e
credito houverem comprado e v e n d i d o , e d e t o d a s as d e s p e z a s q u e houverem
f e i t o c o m a sua p e s s o a . . . . »
E não esqueça finalmente a m a g n a l e i c o m m e r c i a l as v e l h a s o r d e n a n ç a s de
Bilbao , que exigiâo « u m diário escripto contendo a conta detalhada de tudo
o q u e o c o m m e r c i a n t e r e c e b e s s e e pagasse , cada dia por ordem de datas.*
C o m p a r e - s e a g o r a c o m os r e f e r i d o s C ó d i g o s e m a i s d i s p o s i ç õ e s commerciaes
o C ó d i g o C o m m e r c i a l brasileiro nos lugares pararellos: A r t . 1 1 . Os l i v r o s que
os commerciantes são obrigados a ter indispensavelmente são o Diário e o
copiador de cartas.» « A r t . 12. No diário é o commerciante obrigado a lançar
com individuação e clareza todas as suas o p e r a ç õ e s de c o m m e r c i o , letras e
10 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

negociantes estrangeiros estiverem e m diversa língua, serão primeiro


traduzidos na parte relativa á questão, por interprete juramentado,
que deverá ser nomeado a aprazimento de ambas as partes, n ã o o
havendo publico ; ficando a estas o d i r e i t o de c o n t e s t a r a traducção
d e menos exacta. (Reg. art. 148.)

o u t r o s quaesquer papeis de c r e d i t o que passar, a c e i t a r , afiançar ou endossar.


e e m geral l u d o quanto receber e despender de sua o u alheia c o n t a , seja p o r
que titulo f o r : sendo sufficiente que as parcellas de despezas domesticas se
lancem englobadas na data e m que f o r e m extrahidas da caixa. Os commer-
ciantes de retalho d e v e r á õ lançar diariamente no diário a somma total das
suas v e n d a s a dinheiro , e em assento separado a s o m m a total das vendas
fiadas n o mesmo dia.» « Art. 14. A escripturação dos mesmos livros será
feita em f o r m a m e r c a n t i l , e seguida pela o r d e m c h r o n o l o g i c a do dia, mez
e a n n o , sem iutervallo e m b r a n c o , n e m e n t r e l i n h a s , b o r r a d u r a s , r a s p a d u r a s
ou e m e n d a s . »
E é indispensável a comparação dos diversos Códigos Commerciaes que
acabo de oíTerecer á consideração do tribunal , continuou S. E x . , porque
c o n v é m que saibão as pessoas q u e a c c u s ã o o C ó d i g o C o m m e r c i a l de exigente
de mais relativamente á escripturação mercantil, e aqoelles que o achão
impraticável, que elle nada innovou a tal respeito: copiou quasi litteral-
menle as o r d e n a n ç a s de B i l b a o , os C ó d i g o s do Commercio da França, que
dellas d e r i v o u o art. 8.°, e os d e H e s p a n h a , P a i z e s - B a i x o s e Portugal, que
nus aos o u t r o s se c o p i a r ã o n o essencial c o m mais o u m e n o s desenvolvimento
e pequena differeuça de r e d a c ç á o , e a antiga legislação do Brasil contida no
§ 14 d o a l v a r á de 43 de N o v e m b r o de 1756, notando-se apenas o pequeno
s e g u i n t e a d d i t a m e n t o nas u l t i m a s p a l a v r a s d o a r t 1 2 : « e e m assento s e p a r a d o a
s o m m a t o t a l das v e n d a s fiadas no mesmo d i a , » que senão eucoutrão em
nenhum outro Código.
E m t o d o 6 os C ó d i g o s , p o i s , e n o r e f e r i d o a l v a r á se o r d e n a « que a escriptu-
r a ç ã o s e j a diária e pela ordem chronologica , de dia , mei e anno; pois outra
cousa n ã o q u e r e m d i z e r as p a l a v r a s — d i a por dia - cada dia por ordem de
datas — ordem chronologica dos tempos e das datas , s e m i n v e r s ã o d e l l a s
dia por dia , e segundo a o r d e m p o r q u e se f o r e m fazendo — que se lêm
nos lugares transcriptos.
E se o Código Commercial brasileiro i m i t o u fielmente a disposição dos
C ó d i g o s estrangeiros r e f e r i d o s , e c o n s e r v o u a l e g i s l a ç ã o d o paiz , na disposição
d o s a r r s . 1 2 e 1 4 , r e l a t i v a m e n t e á s c o n d i ç õ e s c o m q u e d e v e ser e s c r i p l u r a d o o
diário, é conseqüência lógica que os mesmos artigos devem ser entendidos
e executados pelos commerciantes do Brasil pela mesma fôrma pratica que
os c o m m e r c i a n t e s d a s n a ç õ e s c u j o s c ó d i g o s se i m i t á r ã o , e n t e n d e m e executão
disposições idênticas: pois não pôde admiltir-se que o poder legislativo,
a d m i t t i n d o n o B r a s i l l i t l e r a l r n e u t e as d i s p o s i ç õ e s desses C ó d i g o s , quizesse que
fossem estas entendidas por diversa fôrma. E cumpre n ã o perder de vista
este p r i n c i p i o , que é j u r í d i c o , e a v e r d a d e i r a r e g r a sobre q u e deve assentar a
intelligencia o u i n t e r p r e t a ç ã o d o u t r i n a i dos r e f e r i d o s arts. 12 e 1 4 .
Passando depois a tratar da p r i m e i r a q u e s t ã o , d e c l a r o u S. E x . que não
encontra no Código Commercial do Brasil, nem nos C ó d i g o s estrangeiros , e
p a r t i c u l a r m e n t e n a q u e l i e s d o n d e os a r t i g o s 1 2 e 1 4 f f f l i ã o c o p i a d o s , n e m mesmo
n o s usos c o m m e r c i a e s d o B r a s i l e das m a i s n a ç õ e s , d i s p o s i ç ã o , e s t y l o o u pratica
m e r c a n t i l q u e p o s s a d a r o c c a s i ã o a q u e t a l d u v i d a se p o s s a s u s c i t a r ; que, pelo
CÓDIGO COMMERCIAL 11

Art. 17. Nenhuma autoridade , juízo ou tribunal, debaixo de


pretexto algum por mais especioso qne seja, pode praticar ou
o r d e n a r a l g u m a d i l i g e n c i a p a r a e x a m i n a r ee o c o m m e r c i a n t e arruma
ou não devidamente seus livros de escripturação mercantil, ou
nelles t e m c o m m e t t i d o algum vicio. (Reg. art. 6 e 211.)
Art. 18. A exhibição judicial dos livros de escripturação c o m -
mercial por inteiro, ou de balanços geraes de qualquer casa de

c o n t r a r i o , d e t e r m i n a n d o o C ó d i g o C o m m e r c i a l n o artigo 14 q u e — a e s c r i p t u -
ração dos livros dos commerciantes seja feita e m fôrma mercantil — istoé,
que os c o m m e r c i a n t e s e s c r i p l u r e m os seus l i v r o s pela f ô r m a usada no com-
mercio ; e h a v e n d o diversas f ô r m a s , m e l h o d o s ou syslemas de escripturação
mercantil , todos admittidos pela pratica e usos c o m m e r c i a e s do Brasil e de
todas as n a ç õ e s commerciantes, é de t o d a a evidencia e incontestável que o
C ó d i g o C o m m e r c i a l brasileiro deixa ao l i v r e arbítrio dos commerciantes do
Brasil a escolha de e s c r i p t u r a ç ã o que mais lhe conviesse , por partidas d o b r a -
das, simples, o u singelas, o u m i x t a s , ou por outro qualquer que mercantil
seja , d e v e n d o a s s i m e n t e n d e r - s e , n ã o s ó p o r ser esta a i n t e l l i g e n c i a l i t t e r a l e
obvia do Código Commercial, mas também porque por igual fôrma tem
s i d o e n t e n d i d a s na p r a t i c a iguaes d i s p o s i ç õ e s dos C ó d i g o s e s t r a n g e i r o s nos luga-
r e s p a r a r e l l o s p e l o s c o r n m e r c i a n t e s das r e s p e c t i v a s n a ç õ e s . E q u e , se a s u p p o s t a
duvida se f u n d a , c o m o se t e m d i t o , nas p a l a v r a s d o a r t i g o 1 4 , — escripturação
em fôrma mercantil , — pretendendo-se que sejão s y n o n y m a s de — partidas
dobradas,—é esta i n t e l l i g e n c i a t ã o e s t r a n h a , q u e n ã o p ô d e b e m ser q u a l i f i c a d a :
por que r a z ã o , — f ô r m a mercantil — ha de antes significar o systema das
partidas dobradas do que o das s i n g e l a s o u outro qualquer ? Será mercantil
toda a escripturação que a l c a n ç a o fim a q u e esta se dirige, isto é , a historia
das t r a n s a c ç õ e s d o c o m m e r c i a n t e e o estado da sua fortuna ; e como tanto a
f ô r m a d a s p a r t i d a s d o b r a d a s c o m o a das s i n g e l a s a l c a n ç ã o a m b a s o m e s m o fim,
se a m b a s f o r e m r e g u l a r m e n t e p r a t i c a d a s , tanto uma como outra é igualmente
escripturação mercantil; como bem observa o autor do C ó d i g o Commercial
porluguez no seu diccionario Commercial estabelecendo igual doutrina no
a r t i g o 2 1 8 d o m e s m o C ó d i g o — a f ô r m a d e sua a r r u m a ç ã o (dos l i v r o s ) é i n t e i -
ramente do arbilrio do c o m m e r c i a n t e , c o m t a n t o que seja r e g u l a r . E todos
sabem que—fôrma de arrumação de livros mercantis, — e — fôrma de
escripturação m e r c a n t i l — são fôrmas synonymas , empregadas no Código
C o m m e r c i a l brasileiro nos a r t i g o s 14 e 17.
Q u a n t o á s e g u n d a q u e s t ã o — S e o s y s t e m a das p a r t i d a s d o b r a d a s é i n c o m p a -
tível com a d i s p o s i ç ã o dos artigos 12 e 14 do C ó d i g o C o m m e r c i a l , na parte
que exige uma escripturação diária por ordem chronologica de dia, mez e
anno — , entende o m e s m o Sr. presidente que não ha incompatibilidade, e
que apenas h a v e r á mais difficuldade e m a i o r t r a b a l h o , pois que em todo e
qualquer methodo de e s c r i p t u r a ç ã o , p a r a ser m e r c a n t i l , é indispensável que
esta a p r e s e n t e , dia por d i a , c o m o d e t e r m i n ã o t o d o s os C ó d i g o s C o m m e r c i a e s
o estado activo e passivo do c o m m e r c i a n t e . E q u e , n ã o lhe c o m p e t i n d o e n t r a r
na fôrma pratica de accommodar a escripluração ás d i s p o s i ç õ e s do Código
C o m m e r c i a l , o b s e r v a r á apenas u m f a c t o , e é q u e , s e n d o a d i s p o s i ç ã o dos Códigos
C o m m e r c i a e s da F r a n ç a , Hespanha , Paizes Baixos e P o r t u g a l , inteiramente
análoga á do Código Commercial brasileiro, em t o d a s estas n a ç õ e s está em
pratica a escripturação por partidas dobradas, sem que nem as l e i s nem os
t r i b u n a e s das mesmas nações a t e n h ã o declarado incompalivel c o m as deter-
minações dos respectivos C ó d i g o s : e c o m o fôra absurdo que, tendo o poder
V2 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

commercio, só pude ser ordenada a favur dos interessados e m


questões de suocessão, ooininunhão ou sociedade, administração
ou g e s t ã o m e r c a n t i l p o r c o n l a de o u t r e m e e m caso de quebra. (Reg.
arts. 2 1 1 , 3 5 1 , 354, « 357.)

Art. 19. Todavia o juiz o u tribunal do c o m m e r c i o que conhecer


de u m a causa p o d e r á , a r e q u e r i m e n t o de p a r t e , o u m e s m o ex-oj]icio,
ordenar, na pendência da lide, que os livros de qualquer ou de
a m b o s os l i t i g a n t e s s e j ã o e x a m i n a d o s na presença do commerciante
a quem pertencerem e debaixo de suas vistas, o u n a de pessoa por
elle n o m e a d a , para dellesse averiguar e e x t r a b i r o tocante á questão.

S e o s l i v r o s se a c h a r e m e m diverso districto, o exame será feito


pelo juiz de direito do commercio respectivo na forma sobredita :
com declaração porém que e m n e n h u m caso os referidos livros
poderáõ ser t r a n s p o r t a d o s para fora do domicilio do commerciante
a q u e m pertencerem, ainda que elle nisso c o n v e n h a . (Reg.arts. 211
e 3 5 7 . Decr, 2 5 Nov. 1 8 5 0 , art. 18 § 7.)
Art. 20. Se a l g u m c o m m e r c i a n t e recusar apresentar os s e u s livros
quando judicialmente lhe fôr ordenado nos casos d o a r t i g o 1 8 , será
compellido á sua apresentação debaixo de prisão, e nos casos do
artigo 19, será deferido juramento suppletorio á outra parte.
Se a questão fôr entre commerciantes, dar-se-ha plena fé aos

legislativo do Brasil c o p i a d o d o s r e f e r i d o s C ó d i g o s os a r t i g o s 1 2 e 1 4 , quizeste


q u e elles tivessem na pratica intelligencia e a p p l i c a ç ã o diversa daquella que
tem nas n a ç õ e s dos C ó d i g o s C o m m e r c i a e s , que são fonte p r ó x i m a dos mesmos
artigos, como estabelecêra tratando da primeira questão, é conseqüência
l ó g i c a q u e se n ã o d á i n c o m p a t i b i l i d a d e f i g u r a d a , e q u e os c o m m e r c i a n t e s do
Brasil que adoptarem a escripluração por partidas dobradas satisfaráõ a lei
uma vez que a fação pela f ô r m a que se p r a t i c a pelos commerciantes das
referidas nações ; e que conveniente parece que o tribunal adquira a esle
respeito exacios i n f o r m a ç õ e s para i l l u s l r a ç ã o sua e dos commerciantes.

Pondo-se o negocio á votação, decidio-se p o r u n a n i m i d a d e de votos : 1.°,


q u e o C ó d i g o C o m m e r c i a l d e i x a ao l i v r e a r b í t r i o dos commerciantes do Brasil
a escolha d o m e t h o d o u u systema de e s c r i p t u r a ç ã o que a cada u m mais con-
vier: 2 . ° , que o syslema o u m e t b o d o de e s c r i p t u r a ç ã o por partidas dobradas
não é incompatível c o m a d i s p o s i ç ã o dos artigos 12 e l i , comtanto que em
ambos os casos se s a t i s f a ç a o p r i n c i p i o de que a e s c r i p t u r a ç ã o m e r c a n t i l deve
apresentar diariamente o estado a c t i v o e passivo do commerciante : — e que
este p r i n c i p i o será s a l i s f e i l o na pratica s e m p r e q u e os d i t o s commerciantes
entenderem e praticarem a d i s p o s i ç ã o dos artigos 12 e 1 4 pela m e s m a fôrma
q u e os c o m m e r c i a n t e s d e F r a n ç a , Hespanba, Paizes-Baixos e n t e n d e m e p r a t i c ã o
as disposições análogas, que d o s seus C ó d i g o s C o m m e r c i a e s passou para o
Código C o m m e r c i a l brasileiro. A 3. a
questão ficou adiada para as sessões
seguintes.

Sala do despacho do tribunal do c o m m e r c i o da capital do império , em


27 de Janeiro de 1 8 5 1 , — (Assignado) O secretario Antônio Alves da Silva
Pinto , júnior.

( Kxlraclo da sessão de 27 de Janeiro de 1851.


CQDTGO COMMERCIAL 13

livros do commerciante a favor de quem °e ordenar a exhibição,


se fôrem apresentados c m fôrma regular (arts. 13 e 14). art.
141 § 3 ; 166, 211 e 357.)

CAPITULO III.

Das prer o g ativas dos commerciantes.

Art. 21. As procurações bastantes dos commerciantes, ou sejão


feitas pela sua própria m ã o o u p o r elles s ó m e n t e assignadas, t e m a
mesma validade que se f o s s e m feitas por tabelliães públicos. (Reg.
arts. 15 e 140, § 1.)
Art. 22. Os e^criptos de obrigações relativas a transacções mer-
cantis, para as q n a e s se n ã o e x i j a p o r e s t e C ó d i g o p r o v a d e escriptura
publica, sendo assignados por c o m m e r c i a n t e , terão inteira fé contra
quem os h o u v e r a s s i g n a d o , seja q u a l f ô r o seu valor (art. £ 2 6 ) . (Reg.
arts. 141 § 2 , 247 § 4 . )
A r t . 2 3 . Os dous livros m e n c i o n a d o s n o a r t i g o 1 1 , q u e se acharem
com as f o r m a l i d a d e s p r e s c r i p t a s no artigo 13, sem vicio n e m defeilo,
escripturados na fôrma determinada no artigo 14 e e m perfeita
harmonia uns com os o u t r o s , fazem prova plena :
I. Contra as pessoas que dellas forem proprietários, originaria-
mente o u por suecessão.
II. Contra commerciantes com quem os proprietários, por si
ou por seus antecessores, tiverem ou houverem tido transacções
mercantis, se os assentos respectivos se referirem a documentos
existentes que mostrem a natureza das mesmas transacções e os
proprietários provarem t a m b é m por documentos que não forão
omissos e m dar e m tempo competente os avisos necessários, e que
a parte contraria os recebeu.
I I I . Contra pessoas n ã o commerciantes, se os assentos fôrem
comprovados por algum documento que só p o r si n ã o possa fazer
prova plena. (Reg. art. 141, § 3.)
Art. 24. Fica entendido que o* r e f e r i d o s livros não podem pro-
duzir prova alguma naquelles casos e m que este c ó d i g o exige que
ella s ó possa fazer-se por i n s t r u m e n t o p u b l i c o o u particular.
Art. 25. Illide-se a f é dos m e s m o s livros nos casos comprehen-
didos n o n . ° 2 do a r t i g o 23 por documentos sem vicio, por onde se
mostre que os a s s e n t o s c o n t e s t a d o s s ã o falsos o u menos exactos; e
quanto aos casos c o m p r e h e n d i d o s na disposição do n . ° 3 do mesmo
artigo por qualquer gênero de p r o v a a d m i t t i d a e m commercio.

CAPITULO VI.

Disposições geraes.

Art. 26. Os menores e os fiihos-familias commerciantes podem


obrigar, hypothecar e alhear validamsnte os seus bens de raiz sem
1
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

(jiie possão allegar o beneficio de r e s t i t u i ç ã o conlra estes a c t o s ou


oulras quaesquer obrigações commerciaes que contrabirem.
E m caso de duvida, todas as obrigações por elles contrahidas
presumem-se commerciaes. (Reg, art. 1, § 1.)
Art. 27. A m u l h e r casada c o m m e r c i a n t e n ã o pôde obrigar, hypo-
thecar ou alhear os bens próprios do marido adquiridos antes do
casamento, se os respectivos títulos houverem sido lançados no
registro do c o m m e r c i o d e n t r o de quinze dias depois do m e s m o casa-
mento (art. 31) , n e m os d e raiz que pertencerem e m c o m m u m a
a m b o s os cônjuges, sem autorisação especial do marido, provada
por escriptura publica escripta no dito registro.
Poderá porém obrigar, bypolhecar e alhear validamente os bens
dotaes, os p a r a f e r n a e s , os adquiridos no seu commercio e todos
os direitos e acções e m que tiver c o m m u n h ã o , sem que e m n e n h u m
caso possa alienar beneficio algum de direito. (Reg. Dec. 25 Nov.
1850, art. 58, § 2.)
Art. 28. A autorisação para commerciar dada pelo marido á
mulher pode ser revogada por sentença ou escriptura publica; mas
a revogação só sortirá effeilo relativamente a terceiro depois que
fôr inscripta no registro do c o m m e r c i o e tiver sido publicada por
editaes, e nos periódicos do lugar, e communicada porcarias a
t o d a s as p e s s o a s c o m q u e m a m u l h e r tiver a esse t e m p o transacções
commerciaes. (Reg. Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , , art. 58, § 2.)
Art. 29. A mulher commerciante, casando, presume-se autori-
sada pelo marido, emquanto este n ã o manifestar o contrario por
circular dirigida a todas as pessoas com quem ella a esse tempo
tiver transacções commerciaes, inscripta no registro do commercio
respectivo e publicada por editaes e nos p e r i ó d i c o s do lugar.
Art. 30. Todos os a c t o s d o c o m m e r c i o p r a t i c a d o s por estrangeiros
residentes no Brasil serão regulados e decididos pelas disposições do
presente código. (Reg. art. 14, § 3.)
Art. 3 1 . Os prazos m a r c a d o s nos artigos 1 0 , ns. 2 e 2 7 , começarão
a contar-se, para as pessoas q u e residirem fóra do lugar onde se
achar estabelecido o registro do commercio, do dia seguinte ao da
chegada do segundo correio, paquete ou navio que houver sahido
do districto do domicilio das mesmas pessoas depois da data dos
documentos que devem ser registados.

TITULO IL

DAS PRAÇAS DO COMMEttCIO.

Art. 32. Praça do commercio é não só o local, mas também a


r e u n i ã o dos c o m m e r c i a n t e s , c a p i t ã e s e mestres de navios, corretores
e mais pessoas e m p r e g a d a s n o commercio.
Este local c r e u n i ã o estão sujeitos á policia e inspecção das auto-
ridades competentes.
O regulamento das praças do commercio marcará tudo quanto
CÓDIGO COMMERCIAL 15

respeilar á policia i n t e r n a das m e s m a s p r a ç a s e m a i s objectos a ellas


concernentes.
Art. 33. O resultado das negociações que se operarem na praça
determinará o curso do c a m b i o e o p r e ç o c o r r e n l e das mercadorias,
seguros, fretes, transportes de terra e agua, fundos públicos,
nacionaes o u estrangeiros, e de o u t r o s quaesquer papeis de credito,
c u j o c u r s o p o s s a ser annotado.
Art. 34- Os commerciantes de qualquer praça poderáõ eleger
d'entre si u m a commissão que represente o corpo do commercio
da mesma praça.

TITULO III.

DOS AGENTES AUXILIAKES DO COMMETtCIO.

CAPITULO I.

Disposições geraes.

Art. 35. São considerados agentes auxiliares do commercio,


sujeitos á s leis commerciaes com relação ás operações que nessa
qualidade lhes respeitão:
I. Os corretores.
II. Os agentes de leilões.
I I I . Os f e i t o r e s , g u a r d a - l i v r o s e caixeiros.
IV. Os t r a p i c h e i r o s , e os a d m i n i s t r a d o r e s de a r m a z é n s de deposito»
V. Os c o m m i s s a r i o s de transportes.

CAPITULO II.

Dos corretores.

Art. 36. Para ser corretor requer-se ter mais de vinte e cinco
a n n o s de i d a d e , e ser d o m i c i l i a d o n o l u g a r p o r m a i s de u m anno.
Art. 3 7 . N ã o p o d e m ser corretores:
I. Os q u e n ã o p o d e m ser commerciantes.
I I . As mulheres.
III. Os corretores u m a vez destituídos.
IV. Os fallidos n ã o rehabilitados, e os r e h a b ü i t a d o s , quando a
quebra houver sido qualificada como comprehendida na disposição
dos artigos 800 n . ° 2, e 801 n.° 1.
Art. 3<8. T o d o o corretor é obrigado a matricular-se no tribunal
do commercio do seu domicilio: e antes de entrar no exercício do
seu officio prestará juramento de bem cumprir os seus deveres
perante o p r e s i d e n t e , p o d e n d o ser a d m i t t i d o s a j u r a r p o r procurador
es c o r r e t o r e s das praças distantes do lugar onde o tribunal residir;
16 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

pena de unia muüa correspondente a dez por cento da fiança que


houver prestado, e de que a sua gestão só produzirá o eííeito de
mandato. {Reg. Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , art. 18, § 1 ; 31. § 6; 5 1 , § 1.)
Art. 39. A petição para m a t r i c u l a deve declarar a naturalidade e
domicilio do impetrante, o gênero de commercio para que requer
habilitar-se, e a praça onde pretende servir de corretor; e ser
i n s t r u í d a c o m os s e g u i n t e s documentos originaes:
I. Certidão de idade.
II. T i t u l o de r e s i d ê n c i a , p o r o n d e m o s t r e q u e se acha domiciliado
ha m a i s de u m anno na praça e m que p r e t e n d e ser corretor.
III. Attestado de haver praticado o c o m m e r c i o sobre si, ou e m
alguma casa de c o m m e r c i o de grosso trato, na qualidade de sócio
gerente, o u pelo menos de guarda-livros o u primeiro agente, ou de
algum corretor, c o m b o m desempenho e credito.
Passados c i n c o annos, a contar da data da p u b l i c a ç ã o do presente
código, n e n h u m estrangeiro n ã o naturalisado poderá exercer o
officio de corretor, ainda que anteriormente tenha sido nomeado,
e se a c h e servindo.
Art. 40. Mostrando-se o i m p e t r a n t e nas circumstancias de poder
ser corretor, o tribunal o admittirá a prestar fiança idônea; e
apresentando certidão authentica de a ter prestado, lhe m a n d a r á
passar patente de corretor, procedendo-se aos m a i s t e r m o s dispostos
no artigo 6 para m a t r i c u l a dos commerciantes. (Reg. Dec. 25 Nov.
1850, art. 18, § 1; 51 § 1; 58, § 1.)
Art. 41. A fiança será prestada no cartório do escrivão do juiz do
commercio do domicilio do corretor.
Os tribunaes do c o m m e r c i o , logo que fôrem inslallados, fixaráõ
o quantitativo das fianças que devem prestar os c o r r e t o r e s , c o m
relação ao g y r o das transaoçõescommerciaes das respectivas praças;
podendo alterar o seu valor por u m a nova fixação sempre que o
iulgarem conveniente. (Reg. Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , art. 18, § 4.)
Art. 42. Na falta de íiança , será o habilitante admittido a
depositar a sua importância em dinheiro ou apólices da divida
p u b l i c a , pelo valor real que estas t i v e r e m ao t e m p o d o deposito.
Se no lugar onde deva prestar-se a fiança n ã o houver gyro de
apólices da divida publica , poderá effectuar-se o deposito na praça
mais próxima o n d e ellas g y r a r e m .

Art. 43. A fiança será conservada eífectivamente por inteiro, e


por ella serão p a g a s as multas e m que o corretor incorrer, e as
indemnisações a que f ô r o b r i g a d o , se as n ã o satisfizer i m m e d i a t a -
mente que nellas fôr condemnado, ficando suspenso e m q u a n t o a
fiança n ã o fôr preenchida.
Art. 44. No caso de morte, fallencia ou ausência de alguns dos
fiadores, ou de se terem desonerado da fiança por fôrma legal
(art. 2 6 2 ) , e e s s a r á o ofíicio de corretor emquanto n ã o preslar novos
tiadores.

Art. 45. O corretor pôde intervir e m t o d a s as c o n v e n ç õ e s , trans-


acções e operações mercantis: sendo todavia entendido'que é per-
C Ó D I G O COMMERCIAL 17

mittido a todos os c o m m e r c i a n t e s , e mesmo aos que o n ã o f ô r e m ,


tratar immediatamente por si, seus agentes e caixeiros as suas
negociações e as d e seus c o m m i t t e n t e s , e a t é i n c u l c a r e promover
para outrem vendedores e compradores, oomtanto que a inter-
venção seja gratuita.
Art. 46. N e n h u m corretor pôde dar certidão s e n ã o do que constar
do seu p r o t o c o l l o e c o m referencia a elle (art. 52); e s ó m e n t e poderá
attestar o que vio o u o u v i o r e l a t i v a m e n t e aos n e g ó c i o s do seu officio
por despacho de autoridade competente; pena de u m a multa cor-
respondente a dez p o r c e n t o da fiança prestada.
Art. 47. O corretor é obrigado a fazer assento exacto e methodico
de t o d a s as operações e m que intervier, tomando nota de cada
u m a , apenas fôr c o n c l u í d a , e m u m caderno manual paginado.
Art. 48. Os referidos assentos serão numerados seguidamente
pela ordem e m que as transacções fôrem celebradas, e deverão
designar o nome das pessoas q u e n e l l a s i n t e r v i e r e m , as qualidades,
quantidade e p r e ç o das e f f e i t o s q u e f i z e r e m o o b j e c t o d a negociação,
os prazos e c o n d i ç õ e s dos pagamentos e todas e quaesquer circums-
tanoias occurrentes que possão servir para futuros esclarecimentos.
Art. 49. Nos assentos de negociações de letras de c a m b i o deverá
o corretor notar as d a t a s , termos e vencimentos, as p r a ç a s onde e
sobre que fôrem sacadas, os nomes do sacador, endossadores e
pagador, e as e s t i p u l a ç õ e s r e l a t i v a s a o c a m b i o , se a l g u m a s se f i z e r e m
(art. 385).
Nos negócios de seguros é obrigado a designar ôs nomes dos
seguradores e do segurado (art. 667 n.° 1), o objecto do seguro,
seu valor segundo a c o n v e n ç ã o , lugar da carga e descarga, o n o m e ,
nação e m a t r i c u l a d o n a v i o e o seu porte, e o nome do capitão ou
mestre.
Art. 50. Os assentos do caderno m a n u a l deveráõ ser lançados
diariamente e m u m protocollo por copia litteral, por extenso e sem
emendas n e m interposições, guardada a mesma n u m e r a ç ã o do
m a n u a l . (Reg. Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , art. 18, § 196.)
O protocollo terá as formalidades exigidas para os livros dos
eommerciantes no artigo 1 3 , sob pena d e n ã o t e r e m f é os assentos
que n e l l e se l a n ç a r e m , e de u m a multa correspondente á metade da
fiança prestada.
O referido protocollo será exhibivel e m juízo, a requerimento de
qualquer interessado, p a r a os e x a m e s n e c e s s á r i o s , e m e s m o oílioial-
mente p o r o r d e m dos juizes e t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o (arts. 19 e20).
(Reg. art. 357.)
Art. 51. O corretor cujos livros f ô r e m achados sem as r e g u l a r i -
dades e formalidades especificadas no artigo 50, ou c o m falta de
declaração de a l g u m a das i n d i v i d u a ç õ e s m e n c i o n a d a s nos artigos 48
e 4 9 , será obrigado a i n d e m n i s a r as p a r t e s d o s p r e j u í z o s q u e dahí
lhes resultarem, m u l t a d o na quantia correspondente á quarta parte
da fiança, e suspenso por tempo de tres a seis m e z e s : no caso de
reincidência, será punido com a m u l t a de metade da fiança e per-
derá o oflicio.

MAN. MEG, 2
18 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

No caso p o r é m de se p r o v a r que obrou por dolo ou fraude, além


da indemnisação das partes, perderá toda a fiança e ficará sujeito
á acção criminal q u e possa competir.
Art. 52. Os livros dos c o r r e t o r e s q u e se a c h a r e m sem vicio n e m
defeito, e regularmente escripturados na fôrma determinada nos
arligos 4 8 , 49 e 5 0 , terão fé publica.
As c e r t i d õ e s extrahidas dos m e s m o s livros c o m referencia á folha
em que se acharem escripturadas, sendo pelos m e s m o s corretores
subscriptas e assignadas, terão força de i n s t r u m e n t o publico para
p r o v a dos c o n t r a c t o s respectivos (art. 4 6 ) , nos casos e m q u e p o r este
Código se não exigir escriptura publica o u outro g ê n e r o de prova
especial.
O corretor que passar certidão contra o que constar dos seus
livros incorrerá nas penas do c r i m e de falsidade, p e r d e r á a fiança
por inteiro e será destituído. ( R e g , art. 140 § 1.)

Art. 53. Os corretores s ã o o b r i g a d o s a assistir á e n t r e g a das causas


vendidas por sua intervenção, se a l g u m a das partes o exigir, sob
pena de u m a multa correspondente a cinco por cento da fiança,
e de responderem por perdas e damnos.
Art. 54. Os corretores são i g u a l m e n t e obrigados e m negociação
de letras ou de outros quaesquer papeis de c r e d i t o endossaveis o u
apólices da divida publica, a havê-los do cedente e a entrega-los
ao tomador, b e m como a entregar o preço.
Art. 55. Ainda que e m g e r a l os c o r r e t o r e s n ã o r e s p o n d ã o n e m
possão constituir-se responsáveis pela solvabilidade dos contra-
hentes, serão c o m t u d o garantes nas referidas n e g o c i a ç õ e s da entrega
m a t e r i a l d o t i t u l o ao t o m a d o r e do valor ao c e d e n t e , e responsáveis
pela veracidade da ultima firma de todos e quaesquer papeis de
credito p o r v i a delles negociados e pela i d e n t i d a d e das pessoas que
intervierem nos contractos celebrados p o r sua intervenção.

Art. 56. E dever dos corretores guardar inteiro segredo nas nego-
c i a ç õ e s d e q u e se e n c a r r e g a r e m ; e se d a r e v e l a ç ã o r e s u l t a r prejuízo,
s e r ã o obrigados á sua i n d e m n i s a ç ã o , e a t é c o n d e m n a d o s á perda do
ofíicio e da metade da fiança prestada , provando-se dolo ou fraude.

Art. 57. O corretor que no exercício do seu ofíicio usar de fraude


ou empregar cavillação ou engano, será p u n i d o c o m as penas do
artigo 51.
Art. 58. Os corretores, u l t i m a d a a t r a n s a c ç ã o de que t e n h ã o sido
encarregados, serão obrigados a dar a cada u m a das partes con-
trahentes copia fiel do assento da mesma transacção por elles
assignada, dentro do prazo de quarenta c oito horas úteis o mais
tardar; pena de perderem o direito que tiverem adquirido á sua
commissão e de indemnisarem as partes de todo o prejuízo que
dessa f a l t a lhes resultar.

Art. 59. É p r o h i b i d o aos corretores:


I. Toda a espécie de negociação e trafico directo o u indirecto ,
debaixo de seu o u alheio n o m e , contrahir sociedade de qualquer
denominação ou clas?e q u e seja, e ter parte o u q u i n h ã o e m navios
C Ó D I G O C O M M E R C I A L 19

ou na sua carga; pena de perdimento do ofíicio c de n u l l i d a d e do


contracto.
II. Encarregar-se de c o b r a n ç a s ou pagamentos por conta alheia ;
pena de perdimento do ofíicio.
III. Adquirir para si ou para pessoa de sua família cousa cuja
venda lhes fôr i u c u m b i d a o u a a l g u m o u t r o c o r r e t o r , ainda mesmo
que seja a pretexto do seu consumo particular; pena de suspensão
ou perdimento do ofíicio a arbítrio do tribunal, segundo a gravidade
do negocio, e de u m a multa correspondente ao d o b r o do preço da
cousa comprada. [Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 18 § 6.)
Art. 60. N a d ^ p o . M ç ã o d o a r t i g o a n t e c e d e n t e n ã o se comprehende
a acquisição de apólices da divida publica nem a de acções de
sociedades a n o n y m a s ; das q u a e s t o d a v i a n ã o p o d e r á õ ser directores,
administradores ou gerentes, debaixo de q u a l q u e r titulo que seja.
Art. 61. Toda a fiança dada por corretor e m contracto ou nego-
ciação m e r c a n t i l feita por sua intervenção, será nulla.
Art 62. Aos corretores de n a v i o s f i c a p e r m i t t i d o t r a d u z i r os ma-
nifestos e documentos que os m e s t r e s de embarcações estrangeiras
tiverem de a p r e s e n t a r para d e s p a c h o nas a l f â n d e g a s d o Império.
Estas traducções, b e m como as q u e f ô r e m feitas por interpretes
nomeados pelos t r i b u n a e s do c o m m e r c i o , t e r ã o fé p u b l i c a ; salvo ás
partes interessadas o direito de i m p u g n a r a sua falta de exactidão.
( R e g . Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 . arts. 148, 149; 18 § 2 ; 31 § 6.J
Art. 63. Aos corretores de navios que nas traducções de que
trata o artigo antecedente commetterem erro o u falsidade de que
resulte damno ás partes, s ã o a p p l i c a v e i s as d i s p o s i ç õ e s d o a r t i g o 5 1 .
Art. 64. Os t r i b u n a e s do commercio, dentro dos p r i m e i r o s seis
mezes da sua iustallação, organisaráõ uma t a b e l i ã dos emolumentos
que aos corretores e interpretes competem pelas c e r t i d õ e s que pas-
sarem.
Toda a corretagem, não havendo estipulação em contrario , será
paga repartidamente p o r a m b a s as p a r t e s . (Reg. art. 308, § 3; Decr.
art. 18 § 5.)
Art. 65. Vagando algum ofíicio de c o r r e t o r , o escrivão do juizo
do commercio procederá immediatamente á arrecadjção de todos
os l i v r o s e p a p e i s pertencentes ao ofíicio que vagar; e inventariados
elles , dará parte ao tribunal do c o m m e r c i o , para este lhes dar o
destino que convier.
Art. 66. O mesmo escrivão , no acto da a r r e c a d a ç ã o , é obrigado
a proceder a exame nos sobreditos livros e m presença das partes
interessadas e de duas testemunhas para se conhecer o seu estado.
Art. 67. O governo , precedendo consulta dos respectivos tribu-
naes do commercio, marcará o numero de corretores q u e deverá
haver e m cada u m a das praças de c o m m e r c i o do B r a s i l , e lhes dará.
regimento próprio, e bem assim aos agentes de leilão (*): c o m t a t i t o
que por estes r e g i m e n t o s se n ã o a l t e r e d i s p o s i ç ã o alguma das com-
prehendidas n o p r e s e n t e C ó d i g o . (Reg. Decr. IhNov. 1 8 5 0 art. 18, § 3.)

(*) A c h ã o - s e n o fim d o p r e s e n t e v o l u í n e .
*
20 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

C A P I T U L O I I I .

DDS agentes de leilões.

Art. 68. Para ser agente de leilões , requerem-se as mesmas qua-


lidades e habilitações que para ser corretor.
A o s a g e n t e s d e l e i l õ e s s ã o a p p i i c a v e i s as d i s p o s i ç õ e s d o s a r t i g o s 38,
5 9 , 6 0 e 6 1 ( a r t . 8 0 4 ) . [Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 18 § 1 ; 31
§ 6 ; 51 § 3; 58 § 1 . )
Art. 69. Os agentes de leilões, quando exercem o seu ofíicio
d e n t r o das suas p r ó p r i a s c a s a s d e l e i l ã o e f ó r a d e l l a s , n ã o se achando
presente o dono dos eíTeitos que houverem de ser vendidos, são
reputados verdadeiros consignatarios, sujeitos ás disposições do
t i t u l o V I I I — D A COMMISSÃO M E R C A N T Í L — a r t i g o s 167, 168, 169, 170,
171, 172, 173, 1 7 7 , 1 8 1 , 1 8 2 , 1 8 5 , 186, 187, 1 8 8 e 1 8 9 .
Art. 70. Os agentes de leilões ficão sendo exclusivamente c o m -
petentes para a venda de fazendas e outros quaesquer effeitos que
por e s t e C ó d i g o se m a n d ã o fazer j u d i c i a l m e n t e o u e m hasta p u b l i c a ,
e nesses casos t e m fé de ofíiciaes públicos.
Esta disposição não oomprehende as arrematações judiciaes por
execução de sentença. (Reg. arts. 287 e 358.)
Art. 71. E m cada agencia o u casa de leilão h a v e r á indispensável-
mente três livros: o — d i á r i o da entrada—, n o q u a l se l a n ç a r ã o por
ordem chronologica, sem interpolações n e m emendas ou raspa-
duras, as fazendas e effeitos que se receberem, indicando-se as
quantidades, v o l u m e s o u pecas, suas m a r c a s e signaes, as pessoas
de quem se recebêrão, e por conta de quem h ã o de ser vendidas;
outro, o—diário da sahida — , no q u a l se f a r á m e n ç ã o , dia a dia ,
das vendas, por conta e ordem de q u e m e a q u e m , preço e con-
dições do pagamento e as m a i s clarezas que pareção necessárias :
terceiro finalmente, o livro d e — c o n t a s correntes—entre a agencia
e cada u m dos seus c o m m e t t e n t e s . [Reg. art. 3 5 7 ; Decr. 25 Novembro
1850; 18 $ 7.)
Aos referidos livros são appiicaveis as d i s p o s i ç õ e s d o s artigos 13
e 15, e serão exhibiveis e m j u i z o c o m o os d o s c o r r e t o r e s (art. 50).
Art. 72. Effectuado o leilão, o agente e n t r e g a r á ao commettente,
dentro de tres dias, u m a conta, por elle assignada, das fazendas
a r r e m a t a d a s c o m as c o n v e n i e n t e s d e c l a r a ç õ e s ; e dentro de oito dias
immediatamente seguintes ao do leilão realisarà o pagamento do
liquido apurado e vencido.
Havendo mora por parte do agente de leilão, poderá o c o m m e t -
tente requerer, no juizo competente, a decretação da p e n a de prisão
contra elle a t é efTectivo p a g a m e n t o ; e neste caso p e r d e r á o m e s m o
agente a sua commissão.
Art. 73. Os agentes de leilão e m n e n h u m caso poderáõ vender
fiado o u a prazos, sem autorisação por escripto do commettente.
CÓDIGO COMMERCIAL 21

C A P I T U L O I V .

Dos feitores , guarda-livros e caixeiros.

Art. lí\. Todos os feitores, guarda-livros, caixeiros e outros quaes-


quer prepostos das casas de c o m m e r c i o , antes de e n t r a r e m no seu
exercício, devem receber de seus patrões ou preponentes u m a
n o m e a ç ã o por escripto que f a r á õ inscrever no t r i b u n a l do c o m m e r c i o
(art. 10 n . ° 2 ) ; pena de ficarem p r i v a d o s dos f a v o r e s p o r este Código
c o n c e d i d o s aos da c l a s s e . (Reg. art. 2 9 , Decr. 2 5 Novembro 1850, art.
5 8 § 1 , 8.)
Art. 75. Os preponentes s ã o r e s p o n s á v e i s pelos actos dos feitores,
guarda-livros, caixeiros e outros quaesquer prepostos, praticados
dentro das suas casas de c o m m e r c i o , que fôrem relativos ao gyro
c o m m e r c i a l das m e s m a s c a s a s , a i n d a q u e se n ã o a c h e m autorisados
por escripto. (Reg. art. 29.)
Quando porém taes actos fôrem praticados fóra das referidas
casas , s ó o b r i g a r ã o os p r e p o n e n t e s , a c h a n d o - s e os r e f e r i d o s agentes
autorisados pela fôrma determinada no artigo
Art. 76. Sempre que algum commeroiante encarregar u m feitor,
caixeiro ou outro qualquer preposto do recebimento de fazendas
compradas, ou que por qualquer outro titulo devão entrar e m seu
poder, e o feitor, caixeiro ou preposto as r e c e b e r sem objecçao ou
protesto, a entrega será tida por boa, s e m ser a d m i t t i d a ao prepo-
nente reclamação alguma, salvo as q u e podem ter lugar nos casos
prevenidos nos artigos 2 1 1 , 616 e 618.
Art. 77. Os assentos l a n ç a d o s nos livros de qualquer casa de
commercio por guarda-livros o u caixeiros encarregados da escrip-
turação e contabilidade, produzirão os mesmos effeitos como se
fossem esoripturados pelos p r ó p r i o s preponentes.
Art. 78. Os agentes de commercio sobreditos são responsáveis
aos preponentes por todo e qualquer d a m n o que lhes c a u s a r e m por
m a l v e r s a ç ã o , negligencia culpavel o u falta de exacta e fiel execução
das suas ordens e instrucções, competindo até c o n t r a elles acção
criminal no caso de malversação.
Art. 79. Os accidentes imprevistos e inculpados que impedirem
aos prepostos o exercício de suas funcções, não interromperão o
vencimento do seu salário, comtanto que a inhabilitação n ã o
exceda a tres mezes contínuos.
Art. 80. Se no serviço do preponente acontecer aos prepostos
algum damno extraordinário, o preponente será obrigado a i n d e m -
nisa-lo a juizo de arbitradores. (Reg. art. 189.)
Art. 81. N ã o se achando accordado o prazo do ajuste celebrado
entre o preponente e os s e u s p r e p o s t o s , qualquer dos contrahentes
poderá dá-lo por acabado, avisando o outro da sua r e s o l u ç ã o c o m
u m mez de antecipação.
Os agentes despedidos terão direito ao salário correspondente a
esse mez, mas o preponente n ã o será obrigado a conserva-los no
seu serviço.
22 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 82. Havendo u m termo estipulado, nenhuma das partes


podn.i desligar-se da c o n v e n ç ã o arbitrariamente; pena de ser obri-
gada a iodemnisar a outra dos prejuízos que por este facto lhe
resultem, a juizo de arbilradores. (Reg. art. 189.)
Art. 83. Julgar-se-ha arbitraria a inobservância da convenção
por parte dos prepostos, sempre que se não fundar e m injuria feita
pelo preponente á seguridade, honra ou interesses seus o u de sua
família.

Art. 84- C o m respeito aos preponentes, serão causas suífícientes


para despedir os p r e p o s t o s , sem e m b a r g o de ajuste por t e m p o certo :
I. As causas referidas no artigo precedente.
II. Incapacidade para desempenhar os deveres e obrigações a
q u e se s u j e i t a r ã o .
III. Todo o acto de fraude ou abuso de confiança.
IV. Negociação por conta própria ou alheia s e m ' p e r m i s s ã o do
preponente.

Art. 85. Os prepostos n ã o p o d e m delegar em outrem, sem auto-


risação por escripto dos prepronentes, quaesquer ordens ou encargos
que delles tenhão recebido; pena de responderem directamente
pelos actos dos s u b s t i t u í d o s e pelas o b r i g a ç õ e s p o r elles contrahidas.
Art. 86. São appiicaveis aos feitores as disposições do titulo V I
——DO M A N D A T O MERCANTIL—artigos 145, 148, 150, 151, 160, 161 e 162.

CAPITULO V.

Dos trapicheiros e administradores de armazéns de deposito.

Art. 87. Os trapicheiros e os administradores de armazéns de


deposito são obrigados a assignar no tribunal do c o m m e r c i o , o u
perante o joiz de direito do commercio, nos lugares distantes da
residência do mesmo tribunal, termo de fieis depositários dos gê-
neros que receberem, e á v i s t a d e l l e , se lhes passará titulo compe-
tente que !»erá l a n ç a d o no registro do commercio.
Emquanto n ã o tiverem preenchido esta formalidade n ã o terão
direito para haver das partes aluguel a l g u m por gêneros que rece-
b e r e m , n e m poderão valer-se das disposições deste c ó d i g o na parte
em que são favoráveis aos trapicheiros e aos administradores de
^ r m a z e n s d e d e p o s i t o . (Reg. art. 2 2 ; 2 8 0 . Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , arts. 18,
o> 5 1 , ^ 2, 58, § i.J

Art. 88. Os trapicheiros e os administradores de armazéns de


deposito s ã o obrigados : (Reg. Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , art. 18 § 1.)
I. A ter u m livro authenticado com as formalidades exigidas no
a r t i g o 13 e e s c n p t u r a d o sem espaços em branco, entrelinhas, ras-
paduras, borradürasou emendas.

I I . A lançar no mesmo livro numeradamente e pela o r d e m chro-


nologica de dia, mez e anno, todos os eíTeitos que receberem;
especificando c o m toda a clareza e individuacão as qualidades e
quantidades dos mesmos effeitos e os nomes das pessoas que os
CÓDIGO COMMERCIAL 23

remetterem e a q u e m , com as marcas e números que tiverem:


annolando competentemente a sua sahida.
I I I . A passar recibos competentes declarando nelles as quali-
dades, quantidades, n ú m e r o s e marcas; fazendo pesar, medir ou
contar, no acto do recebimento, aquelles gêneros que fôrem sus-
c e p t í v e i s de serem pesados , m e d i d o s o u contados.
IV. A ter e m boa guarda os gêneros que receberem, ea vigiar e
cuidar que se n ã o deteriorem, nem se vasem sendo líquidos;
fazendo para esse fim, por conta de quem pertencer, as mesmas
d i l i g e n c i a s e d e s p e z a s q u e f a r i ã o se s e u s p r ó p r i o s fossem.
V. A mostrar aos compradores, p o r o r d e m d o s d o n o s , as f a z e n d a s
e gêneros arrecadados.
VI. A responder por t o d o s os r i s c o s d o a c t o da carga e descarga
dos gêneros que receberem.
A r t . 89. Os a d m i n i s t r a d o r e s dos t r a p i c h e s a l f a n d e g a d o s remetteráõ,
até o d i a 15 dos m e z e s de J a n e i r o e J u l h o de cada anno, ao tribunal
do commercio respectivo, u m balanço e m resumo de todos os
gêneros que no semestre antecedente tiverem entrado e sahido dos
seus trapiches ou a r m a z é n s , e dos que nelles ficarem existindo:
c a d a vez que fôrem omissos no c u m p r i m e n t o desta o b r i g a ç ã o , serão
multados pelo m e s m o tribunal na quantia de 1 0 0 $ ) a 2 0 0 $ ) . (Reg*
Dec. 25 Nov. 1 8 5 0 , arts. 18 § 8, 5 1 g 3.)
Art. 90. Os tribunaes d o c o m m e r c i o p o d e r á õ o f f i c i a l m e n t e m a n d a r
inspeccionar os l i v r o s dos trapicheiros e os t r a p i c h e s , para certifi-
car-se da exactidão dos ditos balanços , sempre que o julgarem
conveniente. Se pela inspecção e exame se a c h a r q u e os balanços
são menos exactos, presumir-se-ha que houve extravio de direitos:
e ao trapicheiro c u j o f ô r o b a l a n ç o se imporá a m u l t a do duplo do
valor dos direitos que deveráõ pagar os gêneros que se presumirem
extraviados; applicando-se metade do seu producto á fazenda
nacional, e a outra metade ao cofre do tribunal do commercio.
(Reg. Dec. 2 5 Nov. 1 8 5 0 , arts. 1 8 , § 8, 5 1 , § 3.)
Art. 91. Os trapicheiros e os administradores de armazéns de
deposito são responsáveis ás partes pela prompta e fiel entrega de
todos os effeitos que tiverem recebido, constantes de seus recibos;
p e n a de serem presos s e m p r e que a n ã o efTectuarem d e n t r o de vinte
e quatro horas depois que judicialmente fôrem requeridos. (Reg.
art. 280.)
Art. 92. É licito, tanto ao vendedor como ao comprador de
gêneros existentes nos trapiches ou armazéns de deposito, exigir dos
trapicheiros ou administradores que repesem e c o n t e m os mesmos
effeitos no acto da sahida, sem que sejão obrigados a pagar quantia
alguma a t i t u l o de despeza de repeso o u contagem.
Todas as d e s p e z a s q u e se fizerem a t i t u l o de safame.nto, serão por
conta dos m e s m o s trapicheiros ou administradores.
Art. 93. Os trapicheiros e os administradores de armazéns de
deposito respondem pelos f u r t o s a c o n t e c i d o s d e n t r o dos seus trapiches
ou a r m a z é n s ; salvo sendo commettido por força maior; a qual
24 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

deverá provar-se, c o m citação dos i n t e r e s s a d o s o u dos seus consig-


natarios, logo depois do acontecimento.
Art. 94. S ã o i g u a l m e n t e r e s p o n s á v e i s ás partes pelas malversações
e omissões de seus feitores, caixeiros o u o u t r o s q u a e s q u e r agentes,
e bem assim pelos prejuízos que lhes resultarem da sua falta de
diligencia no c u m p r i m e n t o do que d i s p õ e o a r t i g o 8 8 n . ° 4»
Art. 95. E m todos os casos e m que fôrem obrigados a pagar ás
partes falta de effeitos o u outros quaesquer prejuízos, a avaliação
será feita p o r arbitradores. (Reg. art. 189.)
Art. 96. Os trapicheiros e os administradores de a r m a z é n s de
deposito tem direito de exigir o aluguel que fôr estipulado ou
admittido por uso na falta de e s t i p u l a ç ã o , podendo n ã o dar sahida
aos effeitos e m q u a n t o n ã o fôrem pagos: p o r é m , se houver lugar a
alguma reclamação contra elles (arts. 93 e 94), só terão direito a
requerer o d e p o s i t o d o a l u g u e l . (Reg. art. 236 § 3.)
Art. 9 7 . Os m e s m o s trapicheiros e os a d m i n i s t r a d o r e s de arma-
zéns de deposito tem hypotheca tácita nos effeitos existentes nos
seus trapiches ou armazéns ao tempo da quebra do commerciante
proprietário dos mesmos effeitos, para serem pagos dos alugueis e
despezas feitas c o m a sua c o n s e r v a ç ã o (art. 88 n . ° 4 ) » c o m preferencia
a outro qualquer credor.
Art. 98. As disposições do titulo X I V— DO DEPOSITO MERCANTIL —
são a p p i i c a v e i s aos t r a p i c h e i r o s , c aos administradores de armazéns
de deposito. (Reg. art. 280.)

CAPITULO VI.

Dos conductores de gêneros e commissarios de transportes.

Art. 99. Os barqueiros, tropeiros e quaesquer outros conductores


de g ê n e r o s o u c o m m i s s a r i o s , que do seu transporte se encarregarem
mediante u m a c o m m i s s ã o , frete ou aluguel, devem effectuar a sua
entrega fielmente no tempo e no lugar do ajuste; e empregar toda
a diligencia e meios praticados pelas pessoas exactas n o c u m p r i -
mento de seus deveres em casos semelhantes para que os mesmos
gêneros se n ã o deteriorem , fazendo para esse f i m , por couta de
quem pertencer, as despezas necessárias : e são responsáveis às
partes pelas perdas e d a m n o s que, por malversação ou omissão sua,
ou dos seus f e i t o r e s , caixeiros o u o u t r o s quaesquer agentes, resul-
tarem.
Art. 100. Tanto o carregador como o conductor devem exigir-se
mutuamente u m a cautela o u r e c i b o , p o r d u a s o u m a i s v i a s se forem
pedidas , o qual deverá conter:
I. O nome do dono dos gêneros ou carregador, o do conductor
ou commissario de transportes, e o da pessoa a q u e m a fazenda é
dirigida, e o lugar onde deva fazer-se a entrega.
II. Designação dos effeitos, e sua qualidade genérica, peso ou
n u m e r o dos v o l u m e s , e as m a r c a s o u o u t r o s s i g n a e s e x t e r n o s destes :
III. O frete ou aluguel do transporte :
CÓDIGO C O M M E R C I A L 25

IV. O prazo d e n l r o do q u a l deva effcctuar-se a entrega.


V. T u d o o mais que tiver entrado em ajuste. (Reg. art. 309 § 2.)
Ari. 101. A responsabilidade do conductor ou commissario de
transportes começa a correr desde o momento em que recebe as
fazendas, e só expira depois de e í f e c t u a d a a entrega.
Art. 102. Durante o transporte, corre por conta do dono o risco
que as fazendas soffrerem , proveniente de vicio próprio , força
maior o u caso fortuito.
A prova de qualquer dos referidos sinistros, incumbe ao con-
ductor o u c o m m i s s a r i o de transportes.
Art. 103. As perdas ou avarias acontecidas ás fazendas durante
o transporte, n ã o p r o v i n d o de algumas das causas designadas no
artigo precedente, correm por conta do conductor ou commissario
de transportes.
Art. 104. Se todavia se provar que para a perda o u avaria dos
gêneros interveio negligencia ou culpa do conductor ou commissario
de transportes, por ter deixado de empregar as precauções e
diligencias praticadas em circnmstancias idênticas por pessoas
diligentes (art. 99), será este obrigado â sua indemnisação, ainda
mesmo que tenha p r o v i n d o de caso fortuito, o u da p r ó p r i a natureza
da cousa carregada.
Art. 105. E m n e n h u m caso o conductor ou commissario de
transportes é responsável senão pelos effeitos que constarem da
cautela ou recibo que tiver assignado, sem que seja admissível ao
carregador a prova de que entregou maior quantidade dos effeitos
mencionados na cautela ou recibo, ou que e n t r e os designados se
continhão outros de m a i o r valor.
Art. 106. Quando as avarias produzirem sómente diminuição no
valor dos gêneros, o conductor ou c o m m i s s a r i o de transportes só
será obrigado a compor a importância do prejuízo.
Art. 107. O pagamento dos gêneros que o conductor ou com-
missario de transportes deixar de entregar e a indemnisação dos
prejuízos que causar serão liquidados por aibitradores, á vista das
cautelas o u recibos, (art. 100).
Art. 108. As bestas, carros , barcos, apparelhos, e todos os mais
i n s t r u m e n t o s p r i n c i p a e s e accessorios dos transportes, são bypotheca
tácita e m favor do carregador para p a g a m e n t o dos effeitos entregues
ao conductor o u c o m m i s s a r i o de transportes.
Art. 109. N ã o terá lugar reclamação alguma por diminuição ou
avaria dos g ê n e r o s transportados, d e p o i s d e se t e r p a s s a d o r e c i b o da
sua entrega sem declaração de diminuição o ü avaria. (Reg. art. 9,
309 $ 2.)
Art. 110. Havendo, entre o carregador e o conductor ou c o m -
missarios de transportes, ajuste expresso sobre o caminho por onde
deva fazer-se o transporte, o conductor ou commissario n ã o poderá
variar delle; pena de responder p o r t o d a s as p e r d a s e d a m n o s , ainda
mesmo que sejão provenientes de a l g u m a s das c a u s a s mencionadas
no artigo 102; s a l v o se o c a m i n h o ajustado estiver intransitável ou
offerecer riscos maiores.
26 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 111. Tendo-se estipulado prazo certo para a entrega dos


gêneros, se o conductor ou c o m m i s s a r i o de transportes o exceder
por facto sen, ficará responsável pela i n d e m n i s a ç ã o dos d a m n o s que
dahi resultarem na baixa do preço, e pela d i m i n u i ç ã o que o gênero
vier a soffrer na q u a n t i d a d e se a carga fôr de l í q u i d o s , a juizo de
arbitradores.
Art. 112. Não havendo na cautela ou recibo prazo estipulado
para a entrega dos gêneros, o conductor, sendo tropeiro, tem
obrigação de os carregar na primeira viagem que fizer, e sendo
commissario de t r a n s p o r t e s , é obrigado a expedi-los pela o r d e m do
seu r e c e b i m e n t o , s e m d a r p r e f e r e n c i a aos q u e f ô r e m m a i s m o d e r n o s ;
pena de r e s p o n d e r e m por perdas e damnos.
Art. 113. Variando o carregador a consignação dos effeitos , o
conductor ou c o m m i s s a r i o de transportes é obrigado a cumprir a
sua o r d e m , recebendo-a antes de feita a entrega no lugar do destino.
Se porém a variação do destino da carga exigir variação de ca-
m i n h o , ou que o conductor o u c o m m i s s a r i o de transportes passe
do primeiro lugar destinado, este t e m direito a entrar e m novo
ajuste de frete ou aluguel, e, n ã o se accordando, só será obrigado
a effectuar a entrega no lugar designado n a c a u t e l a ou. r e c i b o .
Art. 114. O conductor ou c o m m i s s a r i o de transportes n ã o tem
acção para investigar o direito por que os gêneros pertencem ao
carregador ou consignatario : e logo que se lhe apresente titulo
bastante para os receber, deverá entrega-los sem l h e ser admittida
opposição alguma; pena de responder por todos os prejuízos e
riscos que resultarem da mora e de proceder-se contra elle como
depositário. ( A r t . 2 8 4 . ) (Reg. art. 280).
Art. 115. Os c o n d u c t o r e s e os commissarios de transportes são
responsáveis pelos damnos que r e s u l t a r e m de ommissão sua o u dos
seus prepostos no c u m p r i m e n t o das f o r m a l i d a d e s das leis o u regu-
lamentos fiscaes e m todo o curso da viagem e na entrada no lugar
do destino, ainda que tenhão ordem do carregador para obrarem
em c o n t r a v e n ç ã o das m e s m a s leis o u regulamentos.
Art. 116. Os conductores o u commissarios de transportes de g ê -
neros por terra ou agua tem direito a serem pagos, no acto da
entrega, do frete o u a l u g u e l ajustado : passadas v i n t e e q u a t r o horas,
não sendo pagos n e m havendo reclamação c o n t r a elles ( a r t . 109),
poderáõ requerer seqüestro e venda judicial dos g ê n e r o s transpor-
tados e m quantidade que seja sufíiciente para cobrir o preço do
frete e despezas, se a l g u m a s tiverem supprido para q u e os gêneros
se n ã o d e t e r i o r e m ( a r t . 9 9 ) .
Art. 117. Os g ê n e r o s carregados são hypotheca tácita do frete e
despezas; mas esta deixa de existir logo que os g ê n e r o s conduzidos
passão do poder do proprietário ou consignatario para o domínio
de terceiro.
Art. 118. As d i s p o s i ç õ e s deste c a p i t u l o s ã o a p p i i c a v e i s aos donos ,
administradores e arráes de barcas, lanchas, saveiros, faluas,
canoas e outros quaesquer barcos de semelhante natureza empre-
gados n o transporte dos g ê n e r o s commeroiaes.
CÓDIGO C O M M E R C I A L 27

T I T U L O I V .

DOS BANQUEIROS.

Art. 119. São considerados banqueiros os commerciantes que


tem p o r p r o f i s s ã o h a b i t u a l d o s e u c o m m e r c i o as o p e r a ç õ e s chamadas
de banco.
Art. 1 2 0 . As o p e r a ç õ e s de b a n c o serão decididas e julgadas pelas
regras geraes dos contractos estabelecidos neste C ó d i g o que fôrem
appiicaveis segundo a natureza de cada u m a das t r a n s a c ç õ e s que
se operarem.

TITULO V.

DOS CONTRACTOS E OBRIGAÇÕES MERCANTIS.

Art. 121. As regras e disposições do direito civil para os contractos


em g e r a l s ã o a p p i i c a v e i s aos c o u t r a c t o s c o m m e r c i a e s c o m as modi-
ficações e restricções estabelecidas neste C ó d i g o . (Reg. art. 2).
A r t . 122. Os contractos c o m m e r c i a e s podem provar-se :
I. Por escripturas publicas.
II. Por escriptos particulares.
III. Pelas notas dos corretores e p o r certidões e x t r a h i d a s dos seus
protocolos.
IV. Por correspondência epistolar.
V. Pelos livros dos commerciantes.
VI. Por testemunhas.
Art. 123. A prova de t e s t e m u n h a s , fóra dos casos expressamente
declarados neste Código, só é admissível e m juízo c o m m e r c i a l nos
contractos c u j o valor n ã o exceder a quatrocentos m i l réis.
Em transacções de m a i o r q u a n t i a , a prova testemunhai somente
será admittida c o m o subsidiaria de outras provas por escripto.
Art. 124. A q u e l l e s c o n t r a c t o s p a r a os q u a e s n e s t e C ó d i g o se e s t a -
belecem fôrmas e solemuidades particulares, n ã o produzirão acção
em juizo c o m m e r c i a l se as mesmas fôrmas e solemnidades n ã o
tiverem sido observadas.
Art. 125. São inadmissíveis nos juizos do commercio quaesquer
escriptos c o m m e r c i a e s de obrigações contrahidas e m território bra-
sileiro que n ã o fôrem exarados no idioma do i m p é r i o ; salvo sendo
estrangeiros todos os c o n t r a h e n t e s , e neste caso d e v e r á õ ser apre-
sentados competentemente traduzidos na língua nacional. (Reg.
art. 147).
Art. 126. Os contractos mercantis são obrigatórios, tanto que as
partes se a c c o r d ã o sobre o objecto da convenção, e os r e d u z e m a
e s c r i p t o nos casos e m q u e esta p r o v a é necessária.
Art. 127. Os contractos tratados por correspondência epistolar
reputâo-se concluídos e obrigatórios desde que o que recebe a
28 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

proposição expede carta de resposta, aceitando o conlracto proposto


sem condição n e m reserva : a t é este ponto é livre retractar a pro-
posta , salvo se o que a fez se houver compromettido a esperar
resposta e a n ã o dispor do objecto do contracto senão depois de
r e j e i t a d a a sua p r o p o s i ç ã o , ou até que decorra o prazo determinado.
Se a aceitação fôr condicional, tornar-se-ha obrigatória desde
que o primeiro proponente avisar que se c o n f o r m a c o m a condição.
Art. 128. Havendo no contracto pena c o n v e n c i o n a l , se u m dos
contrahentes se a r r e p e n d e r , a parte prejudicada sô poderá exigira
pena (art. 218).
Art. 1 2 9 . S ã o n u l l o s t o d o s os c o n t r a c t o s commerciaes. (Reg. art.
682, § 1).
I. Que fôrem celebrados entre pessoas i n h a b e i s para contractar.
[Reg. art. 684, § 1).
II. Q u e r e c a h i r e m sobre obiectos p r o h i b i d o s pela l e i , o u c u j o uso
ou fim fôr manifestamente oífensivo da s ã a m o r a l e bons costumes.
(Reg. art. 684, § 1.)
I I I . Q u e n ã o designarem a causa certa de q u e deriva a obrigação.
(Reg. art. 684, § 1.)
I V . Q u e f ô r e m convencidos de f r a u d e , dolo o u s i m u l a ç ã o (art. 8 2 8 ) .
(Reg. art. 685.)
V. Sendo contrahidos por commerciante que vier a fallir. dentro
de q u a r e n t a dias anteriores à d e c l a r a ç ã o da q u e b r a (art. 827). ( R e g .
art. 684, § 1.)
Art. 130. As palavras dos contractos e convenções mercantis
devem inteiramente entender-se segundo o costume e uso recebido
no c o m m e r c i o , e pelo m e s m o m o d o e sentido por que os negociantes
se costumão explicar, posto que entendidas de outra sorte possão
significar cousa diversa.
Art. 131. Sendo necessário i n t e r p r e t a r as c l á u s u l a s do contracto,
a interpretação, além das regras sobreditas, será regulada sobre as
seguintes bases:
I. A intelligencia simples e adequada que fôr mais conforme á
boa fé e ao verdadeiro espirito e natureza do contracto , deverá
sempre prevalecer á rigorosa e restricta significação das palavras.
II. As c l á u s u l a s duvidosas s e r ã o entendidas pelas q u e o n ã o f ô r e m ,
e que as p a r t e s tiverem admittido, e as a n t e c e d e n t e s c subsequentes
que estiverem e m harmonia explicarão as ambíguas.
I I I . O facto dos contrahentes posterior ao contracto que tiver
relação c o m o objecto principal será a melhor explicação da vontade
que as p a r t e s t i v e r ã o no acto da celebração do mesmo contracto.
IV, O uso e pratica geralmente observada no c o m m e r c i o nos
casos da mesma natureza, e especialmente o costume do lugar onde
o contracto deva ter e x e c u ç ã o prevalecerá a qualquer intelligencia
em contrario que se pretenda dar ás palavras.
V. Nos casos duvidosos que n ã o possão resolver-se segundo as
bases estabelecidas, decidir-se-ha e m favor do devedor.
A r t . 132. Se para designar a moeda, peso o u m e d i d a , se u s a r no
contracto de termos genéricos que c o n v e n h ã o a valores o u quanti-
CÓDIGO COMMERCIAL 29

dades diversas, entender-se-ha feita a obrigação na m o e d a , peso


ou medida e m uso nos contractos de igual natureza.
Art. 133. O m i t t i n d o - s e na r e d a c ç ã o do contracto cláusulas neces-
sárias á sua execução, deverá presumir-se que as p a r t e s se sujeitarão
ao que é de uso e pratica e m taes casos e n t r e os c o m m e r c i a n t e s no
lugar da execução do contracto.
Art. 134. Todo o documento de contracto commercial e m que
houver raspadura ou emenda substancial n ã o resalvada pelos con-
trahentes c o m assignatura da resalva, n ã o produzirá eífeito algum
em juizo , salvo mostrando-se que o vicio fôra de propósito feito
pela parte interessada e m que o contraoto n ã o valha.
Art. 135. E m t o d a s as o b r i g a ç õ e s m e r c a n t i s c o m prazo certo, n ã o
se conta o dia da data do contracto, mas o immediato seguinte;
conta-se p o r é m o dia da expiração do prazo o u vencimento.
Art. 136. Nas obrigações c o m prazo certo n ã o é admissível petição
alguma judicial para a sua execução antes do dia do vencimento,
salvo nos casos e m q u e este C ó d i g o altera o v e n c i m e n t o d a estipu-
lação ou permitte acção de remédios preventivos.
Art. 137. Toda a obrigação mercantil que n ã o tiver prazo certo
estipulado pelas partes ou marcado neste c ó d i g o , será e x e q ü í v e l dez
dias depois da sua data.
Art. 138. Os effeitos da mora no cumprimento das obrigações
commerciaes, n ã o havendo estipulação no contracto, começão a
correr desde o dia e m que o credor, depois do v e n c i m e n t o , exige
judicialmente o seu pagamento. (Reg. art. 38.)
Art. 139. As questões de facto sobre a e x i s t ê n c i a de f r a u d e , dolo,
simulação ou omissão culpavel na formação dos contractos com-
merciaes o u na sua execução, serão determinadas por arbitradores.

TITULO YI.

DO MANDATO MERCANTIL.

Art. 140. Dá-se mandato mercantil quando um commerciante


confia a o u t r e m a gestão de u m ou mais negócios mercantis, obrando
o m a n d a t á r i o e obrigando-se e m nome do commettente.
O mandato requer instrumento publico ou particular e m cuja
classe entrão as cartas missivas; comtudo poderá provar-se por
testemunhas nos casos e m que é admissível este g ê n e r o de prova
(art. 123).
Art. 141. Completa-se o mandato pela aceitação do mandatário;
e a aceitação p ô d e ser expressa o u t á c i t a : o principio da execução
prova a aceitação para todo o mandato.
Art. 142. Aceito o mandato, o mandatário é obrigado a cumpri-lo
segundo as o r d e n s e instrucções do commettente; empregando na
sua e x e c u ç ã o a m e s m a diligencia que qualquer commerciante activo
e probo costuma empregar na gerencia dos seus p r ó p r i o s negócios.
Art. 143. N ã o é livre ao mandatário, aceito o mandato, abrir
30 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

m ã o d e l l e ; s a l v o se s o b r e v i e r c a u s a j u s t i f i c a d a q u e o i m p o s s i b i l i t e de
continuar na sua execução.
Art. 1 4 4 . Se o mandatário, depois de aceito o m a n d a t o , vier a ter
conhecimento de que o commettente se acha c m circumstancias
q u e elle i g n o r a v a ao t e m p o e m que aceitou, p o d e r á d e i x a r de exequir
o m a n d a t o , fazendo p r o m p t o aviso ao mesmo commettente.
Pôde igualmente o mandatário deixar de exequir o mandato,
quando a execução depender de s u p p r i m e n t o de f u n d o s , emquanto
não receber do commettente os n e c e s s á r i o * ; e até suspender a exe-
cução j á p r i n c i p i a d a se as s o m m a s recebidas n ã o f ô r e m sufficientes.
Art. 145. O m a n d a t o geral abrange t o d o s os actos de gerencia con-
nexos e c o n s e q ü e n t e s , segundo se e n t e n d e e pratica pelos commer-
ciantes em casos semelhantes no lugar da execução; mas na gene-
r a l i d a d e d o s p o d e r e s n ã o se c o m p r e h e n d e m os d e a l h e a r , hypotbecar,
assignar fianças, transacções ou compromissos de credores, entrar
em companhias o u sociedades, n e m os d e outros quaesquer actos
para os q u a e s se e x i g e m n e s t e c ó d i g o p o d e r e s especiaes.
Art. 146. O mandatário n ã o pode subrogar, se o m a n d a t o não
c o n t é m c l á u s u l a expressa que autorise a delegação.
Art. 147. Quando no mesmo mandato se estabelece mais de u m
mandatário, entende-se que são todos constituídos para obrarem
na falta, e depois dos o u t r o s , pela o r d e m da n o m e a ç ã o ; salvo de-
clarando-se expressamente no mandato qne devem obrar solidaria
e c o n j u n c t a m e n t e : neste u l t i m o caso, a i n d a que todos n ã o aceitem,
a m a i o r i a dos qne aceitarem poderá exequir o mandato.
Art. 148. Se o m a n d a t á r i o fôr constituído por diversas pessoas
para u m negocio c o m m u m , cada u m a dellas será solidariamente
o b r i g a d a p o r t o d o s os e f f e i t o s d o mandato.
Art. 149. O commettente é responsável p o r t o d o s os a c t o s prati-
cados pelo mandatário d e n t r o dos l i m i t e s do m a n d a t o , o u este obre
e m seu próprio nome, ou e m nome do commettente.
Art. 150. Sempre que o mandatário contractar expressamente
em nome do commettente, será este o ú n i c o responsável ; ficará
porém o mandatário pessoalmente o b r i g a d o se o b r a r no seu próprio
nome, ainda que o n e g o c i o seja de c o n t a do commettente.
Art. 151. Havendo contestação entre u m terceiro e o mandatário,
que c o m elle contractou e m nome do commettente, o mandatário
ficará livre de toda a responsabilidade, apresentando o mandato
ou ratificação daquelle por conta de q u e m contractou.
Art. 152. Se o m a n d a t á r i o , tendo fundos ou credito aberto do
commettente, comprar, e m nome delle m a n d a t á r i o , a l g u m objecto
que devêra c o m p r a r para o c o m m e t t e n t e por ter sido i n d i v i d u a l m e n t e
designado no mandato, terá este a c ç ã o para o obrigará entrega da
cousa comprada.
Art. 153. O commerciante, que tiver na sua m ã o fundos dispo-
niveis do commettente, n ã o pôde recusar-se ao c u m p r i m e n t o das
suas ordens relativamente ao emprego ou disposição dos mesmos
f u n d o s : pena de responder por perdas e damnos que dessa falta re-
sultarem.
CÓDIGO COMMERCIAL 31

Art. 154. O commettente é obrigado a pagarão mandatário todas


as d e s p e z a s e desembolsos q u e este fizer na execução do mandato,
e os s a l á r i o s ou commissões que fôrem devidas por ajuste expresso,
ou p o r u * o e p r a t i c a m e r c a n t i l d o l u g a r o n d e se c u m p r i r o mandato,
n a falta de ajuste. (Reg. art. 218.)
Art. 155. O commettente e o mandatário são obrigados a pagar
juros u m ao o u t r o r e c i p r o c a m e n t e : o primeiro pelos dinheiros que
o mandatário haja adiantado para cumprimento das suas ordens,
e o segundo pela m o r a que possa ter n a e n t r e g a dos f u n d o s q u e per-
tencerem ao commettente.
Art. 156. O mandatário tem direito para reter, do objecto da
operação que lhe f o i c o m m e t t i d a , quanto baste para pagamento de
tudo quanto lhe fôr devido e m cousequencia do mandato.
Art. 157. O mandato acaba :
I. Pela revogação do commettente.
II. Quando o mandatário d e m i t t e de si o mandato.
III. Pela morte natural ou civil, inhabilitação para contractar,
ou fallimento, quer do c o m m e t t e n t e quer do mandatário.
IV. Pelo casamento da m u l h e r commerciante que deu ou recebeu
o mandato, quando o marido negar a sua autorisação pela f ô r m a
determinada no artigo 29.
Art. 158. A n o m e a ç ã o de novo mandatário é sempre derogatoria
d o m a n d a t o a n t e r i o r , a i n d a q n e e s t a c l á u s u l a se n ã o e x p r e s s e n o novo
mandato.
Art. 159. O instrumento do m a n d a t o geral, e o da s ü a revogação
deverão ser r e g i s t r a d o s n o tribunal do c o m m e r c i o do domicilio do
mandante e do m a n d a t á r i o , ou no cartório do escrivão do juizo do
commercio, nos lugares distantes da residência do tribunal.
A falta de registro estabelece a p r e s u m p ç ã o da validade dos actos
praticados pelo mandatário destituído. (Reg. Decr. 2 5 Nov. 1850,
art. 58 § 3 . )
Art. 160. A morte do commettente, ou a sua incapacidade civil
não prejudica a validade dos actos praticados pelo mandatário até
que receba a noticia, n e m t ã o p o u c o aos a c t o s sucGessivos que fôrem
conseqüência dos primeiros, necessários para o adimplemento do
mandato.
Art. 161. Morrendo o mandatário, seus herdeiros, successores
ourepresentantes legaes s ã o obrigados a p a r t i c i p a - l o ao commettente,
e, até receberem novas ordens, devem zelar os i n t e r e s s e s d e s t e , e
c o n c l u i r os a c t o s da gestão começados pelo finado mandatário, se
da m o r a puder vir d a m n o ao commettente.
Art. 162. O mandatário responde ao c o m m e t t e n t e por todas as
perdas e damnos que no c u m p r i m e n t o do mandato lhe causar, quer
p r o c e d ã o de fraude, dolo o u malícia, quer ainda mesmo os q u e possão
atltribuir-se somente a o m i s s ã o o u negligencia culpavel (art. 139).
Art. 163. Quando u m commeroiantesem mandato, ou excedendo
os l i m i t e s d e s t e , c o n c l u e a l g u m n e g o c i o p a r a o seu correspondente,
é gestor do negocio segundo as d i s p o s i ç õ e s da lei g e r a l ; m a s se este
32 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

fôr ratificado, t o m a o caracter de mandato mercantil, e entende-se


feito no lugar do gestor.
A r t . 164. As d i s p o s i ç õ e s do T i t u l o V I I— DA COMMISSÃO MERCANTIL —
artigos 167, 168, 169, 170, 175, 180, 181, 182, 183, 184, 185,
187 e 188, s ã o applioaveis ao mandato mercantil.

TITULO VIL

DA COMMISSÃO MERCANTIL.

Art. 165. A commissão mercantil é o contracto do mapdato


relativo a negócios mercantis, quando pelo menos o commissario é
commerciante, sem que nesta gestão seja necessário declarar ou
mencionar o n o m e do commettente.
Art. 166. O commissario, contractando em seu próprio nome ou
no n o m e da sua firma ou razão social, fica directamente obrigado
às pessoas c o m q u e m c o n t r a c t a r , sem que estas t e n h ã o acção contra
o commettente nem este c o n t r a e l l a s ; s a l v o se o commissario fizer
cessão dos seus direitos a f a v o r de u m a das partes.
Art. 167. Competem ao commettente todas as excepções que
pôde oppôr o commissario ; mas n ã o poderá allegara incapacidade
deste, ainda q u a n d o se prove, para a n n u l l a r os e f f e i f o s d a obrigação
contrabida pelo m e s m o commissario.
Art. 168. O commissario que aceitar o mandato expressa ou
tacitamente, é obrigado a cumpri-lo na fôrma das ordens e ins-
trucções do commettente; na falta destas, e na impossibilidade de
as receber e m tempo opportuno, ou occorrendo successo impre-
visto, poderá exequir o mandato, obrando como faria e m negocio
próprio e conformando-se c o m o uso do commercio e m casos se-
melhantes.
•Art. 169. O c o m m i s s a r i o q u e se a f a s t a r d a s i n s t r u c ç õ e s recebidas,
ou na execução do mandato n ã o satisfizer ao que é de estylo e uso
do commercio, r e s p o n d e r á por perdas e damnos ao commettente.
Será porém justificável o excesso da c o m m i s s ã o :
I. Quando resultar vantagem ao commettente.
I I . N ã o admittindo demora a operação commeltida, ou podendo
resultar d a m n o da sua expedição, u m a vez q u e o c o m m i s s a r i o tenha
obrado segundo o costume geralmente praticado no commercio.
I I I . Podendo presumir-se e m boa fé que o commissario n ã o teve
intenção de exceder os limites da commissão.
IV. Nos casos do artigo 163. [Reg. art. 218.)
Ari. 170. O commissario é responsável pela boa guarda e con-
servação dos eífeitos de seus commettentes, quer lhe tenhão sido
consignados, q u e r os t e n h a elle c o m p r a d o ou os recebesse c o m o e m
deposito ou para os r e m e t t e r para outro lugar; salvo caso fortuito
ou de f o r ç a m a i o r , o u se a d e t e r i o r a ç ã o provier de vicio inherente
á natureza da cousa.
Art. 171. O c o m m i s s a r i o é obrigado a fazer aviso ao commettente,
na primeira occasião opportuna que se lhe offerecer, de qualquer
CÓDIGO COMMERCIAL 33

damno que s o f l f r c r e m os effeitos deste existentes e m seu poder, ea


verificar e m fôrma legal a verdadeira origem donde proveio o
damno.
Art. 172. Iguaes diligencias deve praticar o commissario todas as
vezes q u e , ao receber os e f f e i t o s consignados, notar avaria, dimi-
nuição ou estado diverso daquelle que constar dos conhecimentos,
facturas o u avisos de remessa ; se fôr omisso, o commettente terá
acção para exigir delle que responda pelos effeitos nos termos pre-
cisos e m que os conhecimentos, cautelas, facturas o u cartas de
remessa os designarem, sem que ao c o m m i s s a r i o possa admittir-se
outra defesa que n ã o seja a prova de ter praticado as diligencias
sobreditas.
Art. 173. Acontecendo nos effeitos consignados alteração que
torne urgente a sua venda para salvar a parte possível do seu valor,
o commissario procederá á v e n d a dos effeitos d a m n i f i c a d o s e m hasta
publica, e m beneficio e por conta de quem pertencer.
Art. 174. O commissario encarregado de fazer expedir u m a car-
regação de mercadoria em porto ou lugar differente, por via de
commissario que elle haja de nomear, não responde pelos actos
deste, provando que lhe transmittio fielmente as ordens do c o m -
mettente, e que g o z a v a d e c r e d i t o e n t r e os commerciantes.
Art. 175. O commissario n ã o responde, pela i n s o l v e n c i a das pes-
soas c o m q u e m contractar em execução d a c o m m i s s ã o , se a o tempo
do contracto erão reputadas idôneas, salvo nos casos d o a r t i g o 179,
ou obrando com culpa ou dólo.
Art. 176. O commissario presume-se autorisado para conceder
os prazos q u e f ô r e m do uso da praça sempre que n ã o tiver ordem
em contrario do commettente. (Reg. art. 218.)
Art. 177. O commissario que tiver vendido a pagamento deve
declarar n o aviso e conta que remetler ao commettente o nome e
domicilio dos compradores e os prazos estipulados: deixando de
fazer esta d e c l a r a ç ã o explicita, presume-se que a venda foi effectuada
a d i n h e i r o de contado, e n ã o será a d m i t t i d a ao commissario prova
em contrario.
Art. 178. Venoidos os p a g a m e n t o s das mercadorias ou effeitos
vendidos a prazos, o commissario é obrigado a procurar e fazer
effectiva a sua cobrança: e se n e s t a se p o r t a r c o m o m i s s ã o o u negli-
gencia culpavel, responderá ao commettente por perdas e damnos
supervenientes.
Art. 1 7 9 . A c o m m i s s ã o dei credere constitue o commissario garante
s o l i d á r i o ao commettente da soivabilidade e pontualidade daquelle*
c o m q u e m tratar por c o n t a deste, sem que possa ser o u v i d o com
reclamação alguma.
S e o dei credere não houver sido ajustado por escripto, e todavia o
commettente o tiver aceitado ou consentido, mas impugnar o
quantitativo, será este r e g u l a d o pelo estylo da p r a ç a onde residir o
commissario, e na falta de estylo por arbitradores.
Art. 180. O commissario que distrahir do destino ordenado os
fundos do seu commettente, responderá pelos juros a datar do dia

M A N . NEG. 3
34 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

em que recebeu os m e s m o s f u n d o s , e pelos prejuízos resultantes do


não cumprimento das ordens; sem prejuízo das acções criminaes
a que possa dar lugar o seu dolo ou fraude.
Art. 181. O commissario é responsável pela perda ou extravio de
fundos de terceiro t m dinheiro, metaes preciosos ou brilhantes
existentes e m seu poder, ainda mesmo que o damno provenha de
caso fortuito ou força m a i o r , se n ã o provar que na sua guarda em-
pregou a diligencia que e m casos semelhantes empregão os com-
merciantes acautelados.
Art. 182. Os riscos o c c u r r e n t e s na devolução de f u n d o s do poder
do commissario para a m ã o do commettente, correm por conta
d e s t e , s a l v o se a q u e l l e se d e s v i a r d a s ordens e instrucções recebidas
ou dos m e i o s usados no lugar da remessa, se n e n h u m a s houver re-
cebido.
Art. 183. O commissario que üiev u m a negociação a preço e
condições mais onerosas do que as correntes ao t e m p o da transac-
ção, na praça onde ella se operou, responderá pelo prejuízo,
sem que o releve o haver feito iguaes negociações por conta própria.
Art. 184- O commissario que receber ordem para fazer algum
seguro será responsável pelos prejuízos que resxiltarem se o n ã o
eífectuar, tendo n a sua m ã o f u n d o s suíficientes do c o m m e t t e n t e para
satisfazer o prêmio.
Art. 185. O commettente é obrigado a satisfazer á vista, salvo
convenção e m contrario, a importância de todas as despezas e
desembolsos feitos n o d e s e m p e n h o da c o m m i s s ã o , c o m os j u r o s pelo
tempo que mediar entre o desembolso e o effectivo pagamento e
as commissões que fôrem devidas.
As coutas dadas pelo commissario ao commettente, devem con-
cordar com os seus livros e assentos mercantis, e no caso de n ã o
concordarem, poderá ter lugar a a c ç â o criminal de furto.
Art. 186. Todo o commissario tem direito para exigir do c o m -
mettente uma commissão pelo seu trabalho, a qual, quando n ã o
tiver sido expressamente convencionada , será regulada pelo uso
commercial d o l u g a r o n d e se t i v e r executado o mandato (art. 154).
(Reg. art. 218.)
Art. 187. A commissão deve-se por inteiro, tendo-se concluído
a operação ou mandato; no caso de morte ou despedida do c o m -
missario, é devida unicamente a quota correspondente aos actos
por este praticados.
Art. 188. Quando porém o commettente retirar o mandato antes
de concluído, sem causa justificada procedida de culpa do c o m -
missario, nunca poderá pagar-se menos de m e i a c o m m i s s ã o , ainda
que esta não seja a que exactamente corresponda aos trabalhos
praticados.
Art. 189. N o caso de fallencia do c o m m e t t e n t e , tem o c o m m i s -
sario hypotheca e precedência privilegiada nos efftitos do mesmo
commettente para indemnisação e embolso de t o d a s as despezas,
adiantamentos que tiver feito, commissões vencidas e juros respec-
tivos, emquanto os mesmos e í f e i l o s se a c h a r e m d sua disposição e m

*
CÓDIGO COMMERCIAL 35

seu* armazéns, nas estações publicas ou e m qualquer outro lugar,


ou mesmo achando-se em caminho para o poder do fallido , se
provar a remessa por conhecimentos ou cautelas competentes de
data a n t e r i o r á d e c l a r a ç ã o da q u e b r a (art. 806).
Art. 190. As disposições do titulo V I— DO MANDATO MERCANTIL —
?ão appiicaveis â c o m m i s s ã o mercantil.

TITULO VIII.

DA COMPRA K VENDA MERCANTIL.

Art. 191. O contracto de compra e venda mercantil é perfeito e


acabado l o g o q u e o c o m p r a d o r e o v e n d e d o r se accordáo na cousa,
no preço e nas condições ; e desde cs*e momento nenhuma das
partes p ô d e arrepender-se sem c o n s e n t i m e n t o da o u t r a , a i n d a que
a cousa se não ache entregue nem o preço pago. Fica entendido
que nas vendas condicionaes não se reputa o contracto perfeito
senão depois de verificada a c o n d i ç ã o (art. 127).
E unicamente considerada m e r c a n t i l a c o m p r a e venda de effeitos
moveis ou semoventes, para os revender por grosso ou a retalho ,
na mesma espécie ou manufacturados. ou para a l u g a r o seu uso,
comprehendendo-se n a classe dos p r i m e i r o s a moeda metallica e o
papel-moeda , títulos de fundos públicos, accões de companhias e
papeis de credito commerciaes, o o m t a n t o q u e nas referidas trans-
a c ç õ e s o c o m p r a d o r o u v e n d e d o r s e j a c o m m e r c i a n t e . (Reg. art. 13.)
Art. 192. Ainda que a compra e venda deva recahir sobre cousa
existente e certa, é licito c o m p r a r cousa incerta, c o m o , por e x e m p l o ,
lucros futuros.
Art. 193. Quando se faz entrega da cousa vendida sem que pelo
instrumento do contracto conste do p r e ç o , e n t e n d e - s e q u e as partes
se sujeitárão ao que fosse corrente no dia e lugar da e n t r e g a ; na
falta de accordo por ter h a v i d o diversidade de preço no mesmo dia
e lugar, prevalecerá o termo rnedio.
Art. 19l\. O preço da venda pôde ser i n c e r t o e d e i x a d o na esti-
m a ç ã o de terceiro: se este n ã o puder ou não quizer fazer a esti-
m a ç ã o , será o preço determinado por arbitradores (Reg. art. 189).
Art. 195. N ã o se tendo estipulado no contracto a qualidade da
moeda e m q u e d e v e f a z e r se o p a g a m e n t o , e n t e n d e - s e ser a corrente
no lugar onde u mesmo pagamento ha de eífecluar-se sem agio ou
desconto.
Art. 196. N ã o havendo estipnlação e m c o n t r a r i o , as d e s p e z a s do
instrumento da venda e as que se fazem para se r e c e b e r e trans-
portar a cousa vendida, são por couta do comprador.
Art. 197. Logo que a venda é perfeita (art. 1 9 1 ) , o vendedor fica
obrigado a entregar ao c o m p r a d o r a c o u » a vendida no prazo e pelo
modo estipulado no contracto; pena de responder pelas perdas o
damnos que da sua falta resultarem.
Art. 198. N ã o procede porém a obrigação da entrega da cousa
vendida antes de t í f c c l u a d o o pagamento do p r e ç o , se, entre o acto
36 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

da venda e o da entrega, o comprador m u d a r notoriamente de


estado, e n ã o prestar fiança idônea ao pagamento nos prazos con-
vencionados. (Reg. art. 620 § 8).
Art. 109. A tradição da cousa vendida, na falta de estipulação
expressa, deve fazer-se no lugar onde a mesma cousa se achava ao
tempo da venda , e pôde operar-se pelo facto da entrega real ou
symbolica, ou pela do titulo, ou pelo modo que estiverem uso
commercial no lugar onde deva verificar-se.
Art. 200. Reputa-se mercanlilmente tradição symbolica, salva
prova e m c o n t r a r i o no caso de e r r o , f r a u d e o u dólo:
I. A entrega das chaves do a r m a z é m , loja ou caixa e m que se
aohar a mercadoria ou objecto vendido.
I I . O facto de pôr o comprador a sua marca nas mercadorias
compradas e m presença do vendedor ou c o m o seu consentimento.
III. A remessa e aceitação da f a c t u r a , sem opposição immediata
do comprador.
IV. A cláusula—por conta—lançada no conhecimento ou cautela
de remessa, n ã o sendo reclamada pelo comprador dentro de tres
dias úteis, achaudo-se o vendedor n o l u g a r o n d e se r e c e b e r a cautela
ou c o n h e c i m e n t o , o u pelo segundo correio ou navio que levar cor-
respondência para o lugar onde elle se achar.
V. A declaração o u a v e r b a ç ã o e m livros o u despachos das estações
publicas a favor do comprador, de accordo de ambas as partes*
(Reg. art. 186.)
Art. 2 0 1 . Sendo a venda feita á vista de amostras ou designando-se
no c o n t r a c t o qualidade de mercadoria conhecida nos usos do c o m -
mercio, n ã o é licito ao comprador recusar o recebimento se os
gêneros correspondem perfeitamente ás amostras ou á qualidade
designada; offerecendo-se duvida, será decidida por arbitradores.
{Reg. artt. 189. 218.)
Art. 202. Q u a n d o o vendedor deixa de entregar a cousa vendida
no tempo aprazado, o comprador t e m o p ç ã o o u de rescindir o c o n -
tracto o u de d e m a n d a r o s e u c u m p r i m e n t o c o m os d a m n o s da m ó r a ;
s a l v o os casos f o r t u i t o s o u d e f o r ç a maior.
Art. 203. O comprador que tiver ajustado por junto u m a partida
de g ê n e r o s sem declaração de a receber por partes ou lotes, ou e m
épocas distinctas, não é obrigado a receber parte c o m promessa de
se l h e f a z e r p o s t e r i o r m e n t e a e n t r e g a do resto.
Art. 204. Se o comprador, sem justa causa , recusa recebera
cousa vendida ou deixar de a receber no tempo ajustado, terá o
vendedor acção para rescindir o contracto ou demandar o c o m -
prador pelo p r e ç o c o m os j u r o s legaes da m ó r a , devendo no segundo
c a s o r e q u e r e r d e p o s i t o j u d i c i a l d o s o b j e c t o s v e u d i d o s . (Reg. art. 401.)
Art. 205. Para o vendedor ou c o m p r a d o r p o d e r ser considerado
em m ó r a , é necessário que preceda interpellação judicial da entrega
da cousa v e n d i d a o u do pagamento do preço.
Art. 206. Logo que a venda é de todo perfeita e o vendedor põe
a cousa vendida á disposição do comprador, são por conta deste
todo9 os r i s c o s dos effeitos vendidos e as despezas q u e se fizerem
CÓDIGO C O M M E R C I A L 37

com a sua conservação, salvo se o c c o r r e r e m por fraude ou negli-


gencia culpavel do vendedor ou por vicio intrínseco da cousa ven-
dida ; e tanto e m u m como e m o u t r o caso o vendedor responde ao
comprador pela restituição do preço com os juros legaes e indem-
n i s a ç ã o dos damnos.
Art. 207. Correm porém a cargo do vendedor os damnos que a
cousa v e n d i d a s o f f r e r antes da sua entrega :
I. Quando n ã o é objecto determinado por marcas ou signaes
distinctivos que a differencêem entre outras da m e s m a natureza e
espécie, c o m as q u a e s p o s s a a o h a r - s e c o n f u n d i d a .
II. Quando, por condição expressa no contracto, o u por uso pra-
ticado e m commercio, o comprador tem direito de examinar e
declarar se se contenta c o m ella antes que a venda seja tida por
perfeita e irrevogável.
I I I . Sendo os efFeitos d a n a t u r e z a d a q u e l l e s q u e se d e v e m contar,
pesar, medir ou gostar emquanto não fôrem contados, pesados,
medidos ou provados; e m taes compras a tradição real suppre a
falta de contagem, peso, medida ou sabor.
IV. Se o vendedor deixar de entregar ao comprador a cousa
v e n d i d a , e s t a n d o este p r o m p t o p a r a a receber.
Art. 208. Q u a n d o os g ê n e r o s são vendidos a esmo ou por partida
inteira, o risco corre por conta do comprador, ainda que n ã o tenhão
sido contados , pesados o u m e d i d o s , e bem assim nos casos d o n . 3
do artigo antecedente, quando a contagem, peso ou medida deixa
de fazer-se por culpa sua.
Art. 209. O vendedor que, depois da venda perfeita, alienar,
consumir ou deteriorar a cousa vendida , será obrigado a dar ao
comprador outra igual e m espécie, qualidade e quantidade, ou a
pagar-lhe , na falta desta, o valor e m que por arbitradores fôr esti-
mada , c o m r e l a ç ã o ao uso que o c o m p r a d o r delia pretendia fazer
ou ao lucro que podia provir-lhe, abatendo-se o preço se o c o m -
prador o n ã o tiver ainda pago. (Reg. art. 189.)
Art. 210. O vendedor, ainda depois da entrega, fiica responsável
pelos vicios e defeitos occultos da cousa vendida que o comprador
não podia descobrir antes de a receber, sendo taes q u e a tornem
imprópria do uso a que era destinada ou que de tal sorte d i m i n u ã o
o seu valor, que o c o m p r a d o r , se o s c o n h e c ê r a , o u a n ã o comprára
ou teria dado p o r ella m u i t o menor preço.
Art. 211. T e m principalmente applicaçao a disposição do artigo
precedente quando os gêneros se entregão e m fardos ou debaixo
de coberta que impeção o seu exame e conhecimento, se o c o m -
prador, dentro de dez dias immediatamente seguintes ao do rece-
bimento, reclamar do vendedor falta na quantidade ou defeito na
qualidade; devendo provar-se n o p r i m e i r o c a s o q u e as extremidades
das peças estavão intactas; e no segundo que os v i c i o s o u d e f e i t o s
não podião acontecer, p o r caso f o r t u i t o \ e m seu poder.
Esta reclamação n ã o tem lugar quando o vendedor exige do
comprador que examine os g ê n e r o s a n t e s d e os r e c e b e r , n e m depois
dc pago o preço.
33 M A M A L DOS NEGOCIANTES

Art. 212. Se o c o m p r a d o r reenvia a cousa c o m p r a d a ao vendedor,


e este a aceita (art. 76). ou , sendo-lhe entregue contra sua vontade,
a n ã o faz depositar judicialmente por conta de q u e m pertencer,
com i n t i m a ç ã o d o deposito ao c o m p r a d o r , p r e s u m e - s e q u e consentiu
na rescisão da venda. (Reg. art. 401.)
Art. 213. E m t o d o s os c ^ s o s e m que o comprador t e m direito de
resilir do contracto, o vendedor é obrigado n ã o só a restituir o preçn,
mas t a m b é m a pagar as despezas que tiver oceasionado, c o m os
juros da lei.
Art. 214- O v e n d e d o r é o b r i g a d o a fazer b o a ao c o m p r a d o r a cousa
vendida, ainda que n o c o n t r a c t o se estipule qne n ã o fica sujeito a
responsabilidade alguma, salvo se o comprador, conhecendo o
perigo ao t e m p o da c o m p r a , declarar expressamente no instrumento
do contracto que toma sobre si o r i s c o , d e v e n d o entender-se que
esta cláusula n ã o comprehende o risco da cousa vendida que por
algum titulo possa p e r t e n c e r a terceiro.
Art. 2 1 5 . Se o c o m p r a d o r f ô r i n q u i e t a d o sobre a posse o u domínio
da cousa comprada, o vendedor é obrigado á evicção e m juizo, de-
fendendo à sua custa a validade da v e n d a : e se f ô r v e n c i d o , n ã o s ó
restituirá o preço com os juros e custas do processo, mas poderá
ser condemnado á composição das p e r d a s e damnos conseqüentes,
e até às penas criminaes, quaes n o caso c o u b e r e m . (Reg. artt. 12,
117, 189, 585.)
A restituição do preço tem lugar, posto que a cousa vendida se
ache depreciada na q u a n t i d a d e o u ua q u a l i d a d e ao t e m p o da evicção
por culpa do comprador ou força maior. Se p o r é m o comprador
auferir proveito da d e p r e c i a ç ã o por elle causada, o vendedor t e m d i -
reito para reter a parte do p r e ç o que fôr estimada por arbitradores.
Art. 216. O comprador que tiver feito bemfeitorias na cousa
vendida, que augmentem o seu v a l o r ao tempo da e v i c ç ã o , se esta
se vencer, t e m d i r e i t o a reter a posse da mesma cousa a t é ser pago
d o v a l o r das b e m f e i t o r i a s , p o r q u e m p e r t e n c e r . (Reg. art. 585.)
Art. 217. Os vicios e diferenças de qualidades das mercadorias
vendidas, serão determinados por arbitradores. (Reg. art. 189.)
A r t . 218* O d i n h e i r o a d i a n t a d o antes da e n t r e g a da cousa vendida,
entende-se ter sido por conta do preço principal, e para maior fir-
meza da compra, e nunca como condição suspensiva da conclusão
do contracto: sem que seja permittido o arrependimento, n e m da
parte do comprador, sujeitando-se a perder a quantia adiantada, n e m
da parte do vendedor, restituindoa , ainda mesmo que o que se
arrepender se offereça a pagar outro tanto do que houver pago ou
recebido; salvo se assim fôr ajustado entre ambos como pena con-
v e n c i o n a l d o q u e se a r r e p e n d e r (art. 128).

Art. 219. Nas vendas e m grosso ou por atacado entre c o m m e r -


ciantes, o vendedor é obrigado a apresentar ao c o m p r a d o r p o r dupli-
cado, no acto da entrega das mercadorias, a factura ou conta dos
gêneros v e n d i d o s , as quaes serão por ambos assignadas, u m a para
ficar na m ã o do vendedor e outra na do comprador. N ã o se decla-
CODJGO COMMERCIAL 39

rando na faclura o prazo do pagamento, presume-se que a compra


foi á vista (art. 137).
As facturas sobreditas, n ã o seudo reclamadas pelo vendedor ou
comprador dentro de dez dias subsequentes á entrega e recebimento
(art. 135), presumem-se contas liquida*.
A r t . 2 2 0 . A r e s c i s ã o por lesão n ã o t e m l u g a r nas c o m p r a s e vendas
celebradas entre pessoas todas commerciantes, salvo provando se
erro, fraude ou simulação. (Reg. art. 685.)

TITULO IX.

DO ESCAMBO OU TROCA MERCANTIL.

Art. 221. O contracto de troca ou escambo mercantil opera ao


ttiesmo tempo duas verdadeiras vendas, s e r v i n d o as c o u s a s trocadas
de preço e compensação reciproca (art. 1 9 1 ) . T u d o o que pôde ser
v e n d i d o p ô d e ser trocado.
Art. 222. Se u m dos permutantes, depois de entregue da cousa
trocada , provar que o outro não é dono delia , n ã o será obrigado a
entregara que promettêra, mas somente a devolver a que recebeu.
Art. 223. O permutante que f ô r vencido na evicção da cousa le-
cebida e m t r o c a t e r á a o p ç ã o , o u d e p e d i r o s e u v a l o r c o m os damnos,
ou de repelir a cousa por elle dada (art. 215); mas se a esse tempo
tiver sido alienada, só terá lugar o primeiro arbítrio.
Art. 22Zj. Se u m a cousa certa e determinada, promettida c m
troca, perecer sem culpa do que a devia dar, deixa de existir o con-
tracto, e a cousa que já tiver sido entregue será devolvida áquelle
que a houver dado.
Art. 225. E m tudo o mais as t r o c a s mercantis regulão-se pelis
disposições do Titulo VIII — DA, C O M P R A E VENDA MERCANTIL.

CAPITULO X.

Da locação mercantil*

Art. 226. A locação mercantil é o contracto pelo qual uma das


p a r t e s se o b r i g a a d a r a outra, por determinado tempo e preço certo,
o uso de alguma cousa o u do seu trabalho.
O que dá a cousa ou presta serviço chama-se locador, e o que a
t o m a o u aceita o serviço locatário.
Art. 227. O locador é obrigado a entregar ao locatário a cousa
alugada no t e m p o e na f o r m a do c o n t r a c t o ; pena de responder pelos
damnos provenientes da n ã o entrega.
A presente disposição é applicavel ao empreiteiro que deixar de
entregar a empreitada concluída no tempo e na fôrma ajustada.
Art. 228. Durante o tempo do contracto, n ã o c licito ao locador
retirar a cousa alugada do poder do locatário, ainda que diga ser
para uso seu; n e m a este fazer entrega delia ao l o c a d o r , antes de

i
40 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

findo o tempo convencionado; salvo pagando por inteiro o aluguel


ajustado.
Art. 229. O locatário n ã o é obrigado a indemnizar o damno que
a cousa alugada soffrer por caso f o r t u i t o ; s a l v o se p o r alguma fôrma
puder attribuir-se a culpa sua, como, por e x e m p l o , se t i v e r empre-
gado a cousa alugada em outro destino ou lugar que n ã o seja o de-
signado no contracto, ou por u m modo mais violento e excessivo
que o regularmente praticado.
Art. 230. O locatário é obrigado a e n t r e g a r ã o locadora cousa
alugada, findo o tempo da l o c a ç ã o : se r e c u s a r f a z e r a e n t r e g a , sendo
requerido, pagará ao l o c a d o r o aluguel que este arbitrar por toda
a demora, e responderá por qualquer damnificação que a cousa alu-
gada soffrer, ainda mesmo que proceda de força m a i o r o u caso for-
tuito.

Art. 231. Nos ajustes de locação de serviços ( * ) , se o locador,


oíficial o u a r t í f i c e se e n c a r r e g a r de fornecer a matéria e o trabalho,
perecendo a o b r a antes da e n t r e g a , n ã o terá direito a paga alguma;
s a l v o se, depois de p r o m p t a , o l o c a t á r i o f ô r negligente e m a receber.
Art. 2 3 2 . Se o empreiteiro contribuir só com o seu trabalho ou
industria, perecendo os m a t e r i a e s sem culpa sua, perecem por conta
do dono, e o empreiteiro n ã o t e m direito a salário algum; salvu
se, estando a obra concluída, o locatário fôr omisso e a receber,
ou a cousa tiver perecido p o r vicio p r ó p r i o da sua matéria.
Art. 233. Quando o empreiteiro se encarrega de uma obra por
u m plano designado no contracto, pôde requerer novo ajuste, se o
locatário alterar o p l a n o antes o u depois de começada a obra,
Art. 234. Concluída a obra na conformidade do ajuste, ou n ã o
o havendo, na fôrma do costume geral, o que a encommendou c
obrigado a r e c e b ê - l a : se p o r é m a obra n ã o estiver na f ô r m a do con-
tracto, plano dado ou costume geral, poderá engeita-la, ou exigir
que se f a ç a abatimento no preço. (Reg. art. 221.)
Art. 235. O operário que, por impericia ou erro do seu oíiioio,
inutilisa alguma obra para que tiver recebido os m a t e r i a e s , é obri-
gado a pagar o v a l o r destes , ficando c o m a obra inutilisada.
Art. 236. O que der a fabricar a l g u m a obra de empreitada poderá
a seu arbítrio resilir do contracto, posto que a obra esteja já come-
çada a executar, indemnisando o e m p r e i t e i r o de t o d a s as despezas
e trabalhos, e de tudo o que poderia ganhar na mesma obra.
Art. 237. Se a obra encommendada tiver sido ajustada por m e -
dida ou n ú m e r o s , sem se fixar a quantidade certa de medida ou
números, tanto o que fez a e n c o m m e n d a como o empreiteiro podem
dar por acabado o contracto quando lhes convier, pagando o loca-
tário a obra feita.
Art. 238. O empreiteiro é responsável pelos factos dos operários
que empregar, com acção regressiva contra os mesmos.

(*) A locação de serviços c o m estrangeiros é regulada pela lei de 13 de


S e t e m b r o de 1 8 5 0 , alterada pela de 1 1 de O u t u b r o de 1 8 3 7 .
CÓDIGO C O M M E R C I A L 41

Art. 239. Os o p e r á r i o s , no caso de n ã o serem pagos pelo emprei-


teiro, t e m acção para embargar na m ã o do dono da o b r a , se ainda
n ã o tiver pago, quantia que baste para pagamento dos jornaes de-
vidos. (Reg. art. 321, § 1.)
Art. 2^0. A m o r t e do empreiteiro dissolve o contracto de locação
de obra. O locatário, quando a matéria tiver sido fornecida pelo
empreiteiro, é obrigado a pagar a seus h e r d e i r o s ou suecessores, à
proporção do preço estipulado na convenção, o valor da obra feita
e dos materiaes apparelhados.
Art. 2 4 1 . Os mestres e a d m i n i s t r a d o r e s , o u directores de fabricas
ou qualquer outro estabelecimento mercantil, n ã o podem despe-
dir-se antes de findar o tempo do c o n t r a c t o , salvo nos casos previstos
no artigo 8 3 ; pena de responderem por damnos aos preponentes; e
estes, d e s p e d i n d o - o s , f o r a dos casos especificados no artigo 84, serão
obrigados a pagar-lhes o salário ajustado por todo o tempo que faltar
para a duração do contracto.
Art. 242. Os m e s m o s mestres, administradores ou directores, no
caso de morte do preponente, são obrigados a continuar na sua
gerencia pelo tempo do contracto, e na falta deste até que os
herdeiros ou suecessores do fallecido possão providenciar opportu-
namente.
Art. 243. Todo o mestre, a d m i n i s t r a d o r o u director de qualquer
estabelecimento mercantil, é responsável pelos damnos que ocea-
sionar ao proprietário por omissão culpavel, impericia ou malver-
sação, e pelas faltas e omissões dos empregados que servirem de-
baixo das suas ordens, provando-se que f o i omisso e m as prevenir
(art. 238).
Art. 244. O c o m m e r c i a n t e , e m p r e z a r i o de f a b r i c a , seus adminis-
tradores, directores e mestres, que por si o u por interposta pessoa
alliciarem empregados, artífices o u operários de outras fabricas que
se acharem contractados por escripto, serão multados no valor do
j o r n a l dos alliciados de tres mezes a u m anno, a beneficio da outra
fabrica.
Art. 245. Todas as questões que resultarem de contractos de
locação mercantil serão decididas em juizo a r b i t r a i . (Reg. art. 411»
§ 2 . )

Art. 246. As disposições do Titulo V I — D O MANDATO M E R C A N T I L —

tem l u g a r a respeito dos mestres, administradores o u directores de


fabricas, na parte e m que fôrem appiicaveis.

TITULO XI.

DO MUTUO E DOS JUROS MERCANTIS.

Art. 247. O mutuo é empréstimo mercantil, quando a cousa


emprestada pôde ser c o n s i d e r a d a gênero commercial, ou destinada
a uso c o m m e r c i a l , e pelo menos o mutuário é commerciante.
Art. 248. E m c o m m e r c i o podem exigir-se juros desde o t e m p o do
&2 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

desembolso, ainda que n ã o sejão estipulados, e m t o d o s os casos em


que por este Código são permittidos ou se m a n d ã o contar. Fóra
desles casos, n ã o sendo estipulados, sei p o d e m exigir-se pela móra
no pagamento de dividas l í q u i d a s , e nas illiquidas s ó depois da sua
liquidação.

Havendo estipulação de juros sem declaração do quautitativo ou


do tempo, presume-se que as p a r t e s c o n v i e r ã o nos juros da lei, e só
pela m o r a (art. 138).

Art. 249. Nas obrigações que se limitão ao pagamento de certa


somma de dinheiro, os damnos e interesses resultantes da mora
consistem meramente na c o u d e m n a ç ã o dos juros legaes.
Art. 250. O credor que passa recibo ou dá quitação de juros
menores dos estipulados n ã o pôde exigir a differenca relativa ao
v e n c i m e n t o p a s s a d o : t o d a v i a , o s j u r o s f u t u r o s n ã o se j ú l g ã o p o r esse
lacto reduzidos a menos dos estipulados.
Art. 251. O devedor que paga juros n ã o estipulados n ã o pôde
repeti-los, salvo excedendo a taxa da lei; e neste caso só pôde
r e p e t i r o e x c e s s o 011 i m p u t a - l o n o c a p i t a l .
Art. 252. A quitação de capital dada sem reserva de juros faz
presumir o pagamento delles, e opéra a descarga total do devedor,
ainda que fossem devidos.

Art. 253 E p r o h i b i d o c o n t a r j u r o s de j u r o s : esta p r o h i b i c ã o n ã o


c o m p r e h e n d e a a c e u m u i a ç ã o de j u r o s v e n c i d o s aos saldos liquidados
e m conta corrente de a n n o a a n n o .

Depois que e m j u i z o se i n t e n t a a c ç ã o contra o devedor, n ã o pôde


ter lugar a aceumuiação de capital e juros.

. A r t
' 2 5 Z u N á o s e r à 0
admissíveis e m juizo contas de capital c o m

l ü ' ™ / C m q U 8 6 n à o a c h a r e m
reciprocamente lançados sobre
as p a r c e l l a s d o d e b i t o e c r e d i t o d a s mesmas contas.
Art. 255. Os descontos de letras de cambio ou da terra, e de

ls p?rte s
a e r C r e d h
° n e
S ° c i a v e i s
> r e g u l à o - s e pelas convenções

TITULO XII.

DAS FIANÇAS, E CAItTAS DE CREDITO E ABONO.

CAPITULO I.

Das fianças.

Art. 256. Para que a fiança possa ser reputada mercantil é


ind.spensavel qne o afiançado seja commerciante, e a obrigação

ioZt J:;r
a de oausa comlnercia,
' ™ ™»w,r.?K
b

f ' . 9 P Provar-se por escripto: abrange sempre


25? A f,a n a s<i
1
óde

t o d o » os a c c e s s o r . o s d a o b r i g a ç ã o principal, e n ã o admitteTn e r T ?
t a ç a o extens.va a mais d o que precisamente se c o J r e n
o b r i g a ç ã o assignada pelo fiador. """'prenenae na
CÓDIGO COMMERCIAL 43

Art. 258. Toda a fiança c o m m e r c i a l é s o l i d a r i a : n a s q u e se prestão


judicialmente, as testemunhas de abonação ficão todas solidaria-
mente obrigadas na falta do fiador principal.
A obrigação do fiador passa a seus h e r d e i r o s ; mas a responsabili-
dade da fiança é l i m i t a d a ao t e m p o d e c o r r i d o a t é o dia da m o r t e do
fiador, e n ã o pôde exceder as f o r c a s d a sua h e r a n ç a . (Reg. art. 372,
§ 5 ) .
Art. 259. O fiador mercantil pôde estipular do afiançado u m a
retribuição pecuniária pela responsabilidade da fiança; mas estipu-
lando retribuição, n ã o pôde reclamar o beneficio da desoneração
permittido no a r t i g o 2 6 2 . (Reg. art. 236, § 3).
Art. 260. O fiador que paga pelo devedor fica subrogado e m
todos os direitos e acções do credor (art. 889). H a v e n d o mais fia-
dores, o fiador que pagar a divida terá acção contra cada u m delles
pela porção correspondente, e m r a t e i o g e r a l ; se a l g u m f a l l i r , o r a t e i o
do quinhão deste t e r á l u g a r p o r t o d o s o s q u e se a c h a r e m solventes.
Art. 261. Se o fiador fôr executado com preferencia ao devedor
originário, poderá oíferecer á penhora os bens deste, se o s tiver
desembargados; mas se c o n t r a elles a p p a r e c e r e m b a r g o ou oppo-
sicão , ou não forem suílicientes, a execução ficará correndo nos
próprios ben* do fiador, até eífectivo e real embolso do exequente*
(Reg. art. 496).
Art* 262. O fiador fica desonerado da fiança, quando o credor ,
sem o seu consentimento ou sem lhe ter exigido o pagamento,
concede ao devedor alguma prorogação de t e r m o , o u faz c o m elle
novação do contracto (art. 4 3 8 ) : e p ô d e desonerar-se da fiança que
tiver assignado sem limitação de t e m p o , sempre que lhe convier;
ficando t o d a v i a o b r i g a d o p o r t o d o s os e í f e i t o s d a f i a n ç a anterior ao
acto amigável o u sentença por que fôr desonerado*
Art. 263. Desonerando-se, morrendo ou fallindo o fiador , o de-
vedor originário c obrigado a dar nova fiança ou a pagar i m m e d i a -
tameute a divida.

CAPITULO Ií.

Das cartas de credito.

Art. 264. As cartas de credito devem necessariamente contrahir-se


a pessoa o u pessoas d e t e r m i n a d a s , c o m limitação da quantia credi-
tada: o commerciante que as e s c r e v e e abre o credito fica respon-
sável pela quantia que em v i r t u d e dellas fôr entregue ao creditado
até a concorrência da somma abonada.
As cartas que n ã o abrirem credito pecuniário com determinação
do m á x i m o , presumem-se meras cartas de r e c o m m e n d a ç ã o , sem
responsabilidade de quem as escreveu.
44 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

T I T U L O X I I I .

DA HYPOTHECA E PENHOR MERCANTIL.

CAPITULO I.

Da hypotheca.

Art. 265. A hypotheca de bens de raiz feita para segurar qualquer


obrigação ou divida commercial, só pode provar-se por escriptura
publica, inscripta no registo do commercio (art. 10 n.° 2 ) : fica
porém entendido que a presente disposição n ã o comprehende os
casos e m que por este código se estabelece a hypotheca tácita.
(Reg. arts. 1 2 , 1 5 9 , 2 8 2 g 2 ; Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 5 8 § [\. 64.)
Art. 266. A escriptura deve enunciar a natureza da d i v i d a , a sua
importância, a causa de que procede, a natureza dos bens que se
bypothecão, e se estão livres e desembargador, o u s e se achão
sujeitos a outra hypotheca ou a outro algum ônus. Hypothe-
c a n d o - s e diversos b e n s , d e v e m todos ser n o m e a d o s especificamente :
a hypotheca geral sem nomeação especifica de bens n ã o produz
e fiei to a l g u m nas obrigações mercantis.
Art. 267. Se o c o m m e r c i a n t e devedor fôr casado, n ã o é válida a
hypotheca que reoahir sobre bens do caral e m que a m u l h e r seja
meeira, se esta n ã o a s s i g n a r t a m b é m a escriptura.
Art. 268. A hypotheca de bens dotaes da m u l h e r feita pelo m a -
rido é nulla, ainda que a escriptura seja p o r elle assignada (art. 27.)
Art. 269. S ã o effeitos da hypotheca : ,
I. Tornar nulla, a favor do credor hypothecario s ò m e n t e , qual-
quer alheação dos bens bypothecados que o devedor posteriormente
fizer por titulo quer gratuito quer oneroso :
II. Poder o credor hypothecario c o m sentença penhorar e exe-
cutar para seu pagamento a cousa hypotheoada, e m qualquer parte
que e l l a s e a c h a r : (Reg. art. 492 § 6.)
II. Dar ao credor hypothecario preferenoia nos bens bypothe-
cados, pela fôrma que se dirá no titulo — DAS PREFERENCIAS. [Ren.
arts. 12, 13.)
Art. 270. Se alguma cousa fôr hypothecada a dous ou mais
credores, estes preferirão entre si pela ordem estabelecida nos
arts. 884, 885; mas se o valor da cousa hypothecada cobrir todas
as hypotheoas, o u se, paga a p r i m e i r a ainda houver sobras, nestas,
ou no excedente do valor ficaráõ radicadas a segunda ou mais hypo-
thecas.

CAPITULO II.

Do penhor mercantil.

Art. 271. O contracto de penhor, pelo qual o devedor ou um


terceiro por elle entrega ao credor u m a cousa movei e m segurança
CÓDIGO C O M M E R C I A L 45

e garantia de obrigação c o m m e r c i a l , sò pôde provar-se por escripto


assignado por q u e m recebe o penhor.
Art. 272. O escripto deve e n u n c i a r c o m toda a clareza a quantia
certa da divida, a causa de que procede e o tempo do pagamento,
a qualidade do penhor, e o seu valor real ou aquelle e m que fôr
estimado : n ã o se declarando o v a l o r , se e s t a r á , no caso d o credor
deixar de restituir o u de apresentar o penhor quando fôr requerido,
pela d e c l a r a ç ã o jurada do devedor. (Reg. art. 172.)
Art. 273. Podem dar-se e m penhor bens moveis , mercadorias e
quaesquer outros effeitos, títulos da Divida Publica, acções de com-
panhias ou emprezas, e e m geral quaesquer papeis de credito nego-
ciáveis e m commercio.
Não podem porém dar-se e m penhor c o m m e r c i a l escravos, n e m
semoventes.
Art. 274- A entrega do penhor pôde ser real ou symbolica, e
pelos mesmos modos por que pôde fazer-se a tradição da cousa
vendida (art. 199.)
Art. 275. Vencida a divida a que o penhor serve de g a r a n t i a , e
não a pagando o d e v e d o r , é licito ao c r e d o r pignoraticio requerer a
venda judicial do mesmo penhor, se o d e v e d o r n ã o c o n v i e r e m que
se f a ç a de c o m m u m accordo. (Reg. art. 282.)
Art. 276. O credor que recebe do seu devedor a l g u m a cousa e m
penhor o u g a r a n t i a f i c a p o r esse f a c t o c o n s i d e r a d o v e r d a d e i r o depo-
sitário da cousa r e c e b i d a , sujeito a todas as o b r i g a ç õ e s e responsa-
bilidades declaradas n o T i t u l o — D O D E P O S I T O M E R C A N T I L . (Reg. art. 281.)
Art. 277. Se a cousa empenhada consistir e m títulos de credito,
o c r e d o r q u e os t i v e r e m penhor entende-se subrogado pelo devedor
para p r a t i c a r t o d o s os a c t o s q u e s e j ã o necessários para conservar a
validade dos m e s m o s títulos, e os d i r e i t o s d o d e v e d o r , ao q u a l ficará
r e s p o n s á v e l p o r q u a l q u e r o m i s s ã o q u e possa ter nesta parte. O c r e d o r
pignoraticio é igualmente competente para cobrar o principal e red-
ditos do titulo o u papel de credito e m p e n h a d o na sua m ã o , sem ser
necessário que apresente poderes geraes ou espeoiaes d o devedor
(art. 3 8 7 ) . (Reg. arts. 12, 373 § 2.)
Art. 278. Offerecendo-se o devedor a remir o penhor, pagando a
divida ou consignando o preço em juizo, o credor é obrigado á
entrega immediata do m e s m o penhor; pena de se proceder contra
elle c o m o d e p o s i t á r i o remisso (art. 284.)
Art. 279. O credor pignoraticio , que por qualquer modo alheiar
ou negociar a cousa dada em p e n h o r o u g a r a n t i a , s e m p a r a isso ser
autorisado por c o n d i ç ã o ou consentimento por escripto do devedor,
incorrerá nas penas do c r i m e de estellionato.

TITULO XIV.

DO DEPOSITO MERCANTIL.

Art. 280. Só terá a natureza de deposito mercantil o que fôr feito


por cousa proveniente de c o m m e r c i o , e m poder de commerciante
ou por conta de commerciante.
&6 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 281. Este contracto fica perfeito pela t r a d i ç ã o real o u sym-


bolica da cousa depositada (art. 199); mas só pôde provar-se por
escripto assignado pelo depositário. (Reg. arts. 2 7 0 . 720 § 1.)
^ Art. 282. O depositário pôde exigir, pela guarda da casa depo-
sitada, uma commissão estipulada no contracto, ou determinada
pelo uso da praça; e se nenhuma houver sido estipulada no con-
tracto, nem se a c h a r e s t a b e l e c i d a pelo uso da praça, será regulada
por arbitradores. (Reg. arts. 236 § 3; 278.)
Art. 283. O deposito voluntário confere-se e aceita-se pela
mesma fôrma que o mandato ou c o m m i s s ã o , e as o b r i g a ç õ e s reci-
procas do depositante e depositário regulào-<e pelas que*se achão
determinadas para os mesmos contractos entre commettente e
mandatário ou commissão, em tudo quanto f o r e m appiicaveis.
Art. 284. N ã o entregando o depositário a cou-a depositada no
prazo de quarenta e oito horas da intimaçáo judicial, será preso
ate que effectne a entrega do deposito ou do seu valor equivalente

158* m) ^ '
J D€Cr 25 Novembro 1850
> <>
arts W

Art. 285. Os d e p ó s i t o s feitos e m bancos ou estações publicas fieão


«ujeilos ás disposições das leis, estatutos o u regulamentos da sua
instituição.

. A r t
- 2
' 8
* d i s p o s i ç õ e s d o c a p i t u l o I I — DO
6 A
PENHOR M E R C A N T I L —
sao a p p i i c a v e i s ao d e p o s i t o m e r c a n t i l .

TITULO XV.

DAS COMPANHIAS E SOCIEDADES COMMERCIAES.

CAPITULO. I.

Disposições geraes.

Art. 287. É da essência das companhias esociedades commerciaes


que o ob,ecto e fim a que se p r o p õ e m seja l i c i t o , e que cada u m
dos s o c o s c o n t r i b u a para o seu capital c o m alguma quota , ou esta
consista e m dinheiro ou em eíTeito e qualquer sorte de bens, ou
em trabalho ou industria.

Art. 288. È nulla a sociedade ou companhia e m que se estipular


que a totalidade dos lucros pertença a u m s ó dos associado, ou
em que a l g u m se,a excluído, e a que desonerar de toda a contri-
buição nas p e r d a s as sornm.s „ u effeitos entrados por u m ou mais
sócios para o f u n d o social. ( R e g . art. 682 g 1 )

Art. 289. Os sócios devem entrar para o fundo social C o m as


quotas e contingente, a qne .se o b r i g a r e m n o s píazôs e pela fôrma
que ,e> e s t i p u l a r no contracto. ü que deixar l „ fazer r e s p o n T r á
a soç.edade ou companhia pelo damno emergente da móra ,c .t
contingente nao consistir e m dinheiro; consistindo e m u i n h e r o
pagara por m d e m n . s a ç ã o o juro legal s ó m e n t e (art. 2*9). N ' u m è
n outro caso p o r é m p o d e r ã o os o u t r o s s ó c i o s p r e f e r i r , á i n d e m n i , ,
pela m ó r a , a rescisão da sociedade a respeito do sócio rem o
CÓDIGO COMMERCIAL 47

Art. 290. E m nenhuma associação mercantil se p ô d e r e c u s a r aos


sócios o exame de todos os livros, documentos, escripturação e
correspondência e do estado, da caixa da c o m p a n h i a o u sociedade,
sempre que o requerer, salvo tendo-se estabelecido no contracto,
ou outro qualquer titulo da instituição da c o m p a n h i a o u sociedade,
as épocas em que o mesmo exame unicamente poderá ter lugar.
Art. 291. As leis particulares do commercio, a convenção das
partes sempre que lhes n ã o f ô r c o n t r a r i a , e os usos commerciaes
regulão toda a sorte de associação mercantil; não podendo recor-
rer-se ao direito civil para a d e c i s ã o de q u a l q u e r d u v i d a q n e se oífe-
reça senão n a falta de l e i o u uso c o m m e r c i a l . (Reg. arts. 1 e 218.)
Art. 292. O credor particular de u m sócio só pôde executar os
fundos liquidos que o devedor possuir na companhia ou sociedade,
não tendo este outros bens de*enibargados, o u se, depois de exe-
c u t a d o s , os q u e tiver n ã o fôrem sufíicientes para o pagamento.
Quando uma mesma pessoa é m e m b r o de diversas companhias
ou sociedades c o m diversos sócios, fallimlo uma, os credores delia
só p o d e m executar a quota liquida que o sócio c o m m u m tiver nas
companhias ou sociedades solventes depois de pagos os credores
destas.
Esta d i s p o s i ç ã o t e m l u g a r se a s m e s m a s pessoas f o r m a r e m diversas
companhias o u sociedades; fallindo uma, os credores da massa
fallida só tem d i r e i t o s o b r e as m a s s a s solvente* depois de ptgos os
credores destas. (Reg. arts. 498, 529 § 1 0 , ; 530 § 6.)
Art. 293. Os sócios, a d m i n i s t r a d o r a » o u gerentes são obrigados a
dar contas j u s t i f i c a d a s d a sua administração aos o u t r o s s ó c i o s .
Art. 294. T o d a s as q u e s t õ e s sociaes que se suscitarem entre os
sócios durante a existência da sociedade ou companhia, sua liqui-
dação o u partilha, serão decididas e m juizo arbitrai. (Reg. art. 411,

§ 2 . )
CAPITULO I I .

Das companhias de commercio ou sociedades anonymas.

Art. 295. As companhias ou sociedades anonyma«, designadas


pelo objecto ou empreza a que se de-tinão, sem firma social e
administradas por mandatários revo^aveN, sócios ou não sócios,
só p o d e m estabelecer-se por tempo determinado e c o m autorisação
do governo, dependente da a p p r o v a ç ã o do corpo legislativo quando
h a j ã o d e g o z a r de a l g u m p r i v i l e g i o ; e d e v e m p r o v a r - s e por escriptura
publica ou pelos seus estatutos e pelo acto d o p o d e r q u e as houver
autorisado.
As c o m p a n h i a s s ó p o d e m ser d i s s o l v i d a s :
I. E x p i r a n d o o prazo da sua duração.
II. Por quebra.
I I I . Mostrando-se que a companhia não pôde preencher o intuito
e fim social.
Art. 296. A escriptura, estatutos e acto da autorisação das c o m -
panhias devem ser inscriptos no registro do c o m m e r c i o , e publi-
48 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

cados pelo tribunal respectivo antes que as companhias comecem


a exercer suas operações.
As c o m p a n h i a s só podem ser prorogadas c o m approvaçao do
poder que houver autorisado a sua instituição, procedendo a novo

r e g i s t o . (Reg. Decr. art. 58 § 5.)


Art. 297. O c a p i t a l das c o m p a n h i a s d i v i d e - s e e m acções, e estas
podem ser s u b d i v i d a s e r n fracções.
As acções podem ser exaradas e m f ô r m a de titulo ao portador
ou por inscripções nos registros da companhia; no primeiro caso,
opera-se a transferencia por via de endosso; no segundo, só pôde
operar-se por acto lançado nos mesmos registros c o m assignatura
do proprietário ou de procurador com poderes especiaes, salvo o
caso de e x e c u ç ã o judicial.
Art. 298. Os s ó c i o s das c o m p a n h i a s o u sociedades a n o n y m a s não
são responsáveis a m a i s do valor das acções ou do interesse por que
se h o u v e r e m comprommettido.
Art. 299. Os administradores o u directores de u m a companhia
respondem pessoal e solidariamente a terceiros que tratarem c o m
a mesma companhia até o momento e m que tiver lugar a inscripção
do i n s t r u m e n t o o u titulo da sua i n s t i t u i ç ã o no registro do commercio
(art. 296); eíTectuado o registro, respondem só á companhia pela
execução do mandato.

CAPITULO III.

Das sociedades commereciaes.

SECÇÀO i.

Disposições geraes.

Art. 300. O contracto de qualquer sociedade commercial só pôde


provar-se por escriptura publica o u p a r t i c u l a r : salvo nos casos dos
arts. 304 e 325.
Nenhuma prova testemunhai será admittida contra e além do
c o n t e ú d o n o i n s t r u m e n t o d o c o n t r a c t o s o c i a l . {Reg. art. 182 § 2.)
Art. 301. O teor do contracto deve ser lançado no registro do
c o m m e r c i o do t r i b u n a l do districto e m que se h o u v e r de estabelecer
a casa c o m m e r c i a l da sociedade ( a r t . 1 0 , n . ° 2 ) , e se e s t a t i v e r outras
casas de c o m m e r c i o e m diversos districtos , e m todos elles t e r á lugar
o registro.
As sociedades estipuladas e m paizes estrangeiros c o m estabeleci-
mento no Brasil são obrigadas a fazer igual registro nos tribunaes
do commercio competentes do I m p é r i o antes de c o m e ç a r e m as suas
operações. [Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 . art. 58 § 5.) s
Emquanto o instrumento do contracto n ã o fôr registrado, n ã o
terá validade entre os sócios n e m contra terceiros, mas dará acção
a estes c o n t r a t o d o s os s ó c i o s s o l i d a r i a m e n t e (art. 304). (Reg* <wt. 3
§ 2, 159.)
CÓDIGO COMMERCIAL 49

Art. 302. A escriptura, ou seja publica ou particular, deve conter:


( A r t . 3 1 9 . ) (Reg. art. 682 § 2; 720 § 1.)
I. Os n o m e s , naturalidades e domieilios dos sócios.
I I . Sendo sociedade c o m firma, a firma por que a sociedade ha
d e ser conhecida.
I I I . Os n o m e s dos sócios q u e p o d e m usar da firma social o u gerir
em nome da sociedade; na falta desta declaração, entende-se que
todos os sócios p o d e m usar da firma social e gerir e m nome da
sociedade.
IV. Designação especifica d o o b j e c t o da s o c i e d a d e , da q u o t a c o m
que cada u m dos sócios entra para o capital (art. 2 8 7 ) , e da parte
que ha de ter nos l u c r o s e nas perdas.
V. A f ô r m a da n o m e a ç ã o dos á r b i t r o s para juizes das d u v i d a s sociaes.
VI. N ã o sendo a sociedade por t e m p o i n d e t e r m i n a d o , as épocas
em que ha de c o m e ç a r e acabar, e a f ô r m a da sua l i q u i d a ç ã o e par-
tilha (art. 344).
VII. Todas as mais cláusulas e condições necessárias para se
d e t e r m i n a r e m c o m p r e c i s ã o os d i r e i t o s e o b r i g a ç õ e s d o s s ó c i o s entre
si e para c o m terceiros.
Toda a cláusula ou condição ooculta, contraria ás cláusulas ou
condições c o n t i d a s n o i n s t r u m e n t o ostei sivo do c o n t r a c t o , é nulla.
Art. 303. Nenhuma acção entre os sócios o u destes c o n t r a ter-
ceiro, que fundar a sua intenção na existência da sociedade, será
admiltida e m juizo se n ã o f ô r l o g o acompanhada do instrumento
probatório da existência da mesma sociedade. (Reg. arts. 159,
673 § 7. e 682 § 2.)
Art. 304. São admissíveis, sem dependência da apresentação do
dito i n s t r u m e n t o , as acções que terceiros possão intentar contra a
sociedade e m c o m m u m , o u c o n t r a q u a l q u e r dos sócios e m particular.
A existência da sociedade, q u a n d o p o r p a r t e d o s s ó c i o s se n ã o a p r e -
senta instrumento, pôde provar-se por todos os gêneros de prova
admitlidos e m c o m m e r c i o (art. 122), e até por presumpções f u n -
dadas e m factos de q u e exista o u existio sociedade. (Reg. art. 185.)
Art. 305. Presume-se que existe ou existio sociedade sempre
que alguém e x e r c i t a actos p r ó p r i o s de s o c i e d a d e , e que regularmen-
t e se n ã o c o s t u m ã o p r a t i c a r s e m a q u a l i d a d e s o c i a l . (Reg. art. 185.)
Desta natureza são especialmente:
I. Negociação promiscua e c o m m u m .
II. Acquisição, alheação, permutação ou pagamento c o m m u m .
III. Se u m dos associados se confessa sócio, e os outros o n ã o
contradizem por u m a fôrma publica.
IV. Se duas ou mais pessoas propõem u m administrador ou
gerente c o m m u m .
V. A dissolução da associação c o m o sociedade.
VI. O e m p r e g o d o p r o n o m e nós o u nosso nas cartas de correspon-
d ê n c i a , livros, facturas, contas e mais papeis commerciaes.
VII. O facto de receber ou responder cartas enderessada* ao
nome ou firma social.
VIII. O uso d o n o m e e o m a a d d i ç ã o — e companhia.

MAIS'. IVEG. 4
50 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

A responsabilidade dos sócios o c c u l l o s é pessoal e solidaria, como


se f o s s e m s ó c i o s o s t e n s i v o s ( a r t . 3 1 6 ) . (Reg. art. 186.) (*)

(*) TRIBUNAL DO COMMERCIO DA CAPITAL DO IMPÉRIO.

Exíracto da sessão de 6 de Fevereiro de 1851.

Entrando em discussão os seguintes quesitos, oíferecidos á consideração do


t i i b u n a l pelo S r . d e p u t a d o Souza n a s e s s ã o anlecedente:
1.° M a t r i c u l a d a urna sociedade em nome colleclivo, reputa-se cada u m dos
sócios individualmente matriculados para o effeilo de gozarem das preroga-
tivas e p r o t e c ç ã o q u e o C ó d i g o l i b e r a l i s a ao c o m m e r c i o n a q u e l l a s transacções
i n d i v i d u a e s de cada u m delles?
2.° Dous ou mais negociantes matriculados, unidos em sociedade com
f i r m a s o c i a l , c o m m u n i c ã o á sociedade os p r i v i l é g i o s d e firma matriculada ?
3.° U m o u mais negociantes matriculados reunidos em sociedade c o m um
ou mais negociantes n ã o m a t r i c u l a d o s , dão á firma da sociedade os pri-
v i l é g i o s d e firma m a t r i c u l a d a ?
D e p o i s de breves r e f l e x õ e s dos Srs. Souza, M a y r i n k , Santos J ú n i o r e desem-
bargador fiscal, o Sr. presidente d e c l a r o u q u e , conformando-se com a opi-
nião que acabavão de expender alguns membros do tribunal, se abster i a
de tomar a palavra , que em negocio tão fóra de duvida se não julgasse
c o n v e n i e n t e accrescentar algumas ligeiras o b s e r v a ç õ e s , principiando por notar
que a bypothese d a m a t r i c u l a das s o c i e d a d e s c o m firma apenas se e n c o n t r a
prevenida no Código Courimercial portuguez, art. 6.°, donde passara para
o art. 5.° do Código Commercial do Brasil; e que a pratica havia já mostrado
a u t i l i d a d e desta disposição na m a t r i c u l a de duas sociedades com firmas
inglezas, uma das quaes pelo menos não poderia gozar das prerogalivas
c o n c e d i d a s aos c o m m e r c i a n t e s matriculados, porque a firma s o c i a l se compõe
de indivíduos residentes fóra do Império.
Passando a tratar dos quesitos propostos, encontra a sua decisão nos
dous seguintes p r i n c í p i o s f u n d a m e n t a e s das sociedades c o m firma :
1.° Nas sociedades c o m firma só podem fazer parte da firma social nomes
de sócios (jue s e j ã o c o m m e r c i a u t e s , Código Commercial , art. 305.
2.° A firma s o c i a l r e p r e s e n t a a s o c i e d a d e , e s ó os g e r e n t e s d a q u e l l e , ou,
o que é o mesmo , só a firma social pôde praticar actos sociaes d e com-
m e r c i o , c o n t r a b i d o s estes e x c l u s i v a m e n t e a t r a n s a c ç õ e s q u e n ã o s e j ã o estranhas
aos n e g ó c i o s d e s i g n a d o s no contracto social, Código C o m m e r c i a l , art. 316.
Donde resulta que na m a t r i c u l a das sociedades com firma, é verdadeira-
m e n t e a firma s o c i a l a m a t r i c u l a d a ; m a t r i c u l a - s e a s o c i e d a d e c o l l e c t i v a m e n t e ,
e n ã o cada u m dos sócios i n d i v i d u a l m e n t e .
E se é s ó a firma social a m a t r i c u l a d a , é t a m b é m s ò a esta q u e a m a t r i c u l a
attribue as p r e r o g a t i v a s c o n c e d i d a s aos c o m m e r c i a n t e s m a t r i c u l a d o s . E sendo
esta attribuição limitada exclusivamente aos actos sociaes d e commercio , e
t a n t o q u e os p r ó p r i o s g e r e n t e s d a firma social n ã o g o z ã o d e l i a nos actos d e seu
commercio individual, se p o r outro titulo não fôrem individualmente ma-
triculados , absurdo fora pretender que ella protegesse os s ó c i o s n ã o matri-
culados nos seus n e g ó c i o s individuaes, quando nem mesmo lhes é per-
mittido praticar actos sociaes. Que quanto ao 2 . ° e 3.° quesitos, cumpria
distinguir entre firma social composta de nomes de commerciantes matri-
culados , e firma social composta de commerciantes não matriculados. Que
na primeira hypothese era f ó r a de duvida que a firma social c o m m u n i c a v a
á sociedade todas as p r e r o g a t i v a s de firma social matriculada : nem outra
podia ser a intelligencia do art. 315 do Código Commercial , pois que a
CÓDIGO COMMERCIAL 51

Art. 306. A pessoa q u e emprestar o seu n o m e como sócio, ainda


que n ã o tenha interesse nos lucros da sociedade, será responsável
por todas as obrigações da mesma sociedade que fôrem contra-
hidas debaixo da firma s o c i a l , c o m a c ç ã o r e g r e s s i v a c o n t r a os sócios,
mas não responderá a estes p o r p e r d a s e damnos.
Art. 307. Se, expirado o prazo da sociedade celebrada por tempo
determinado, esta tiver de c o n t i n u a r , a sua continuação só poderá
provar-se por novo i n s t r u m e n t o , passado e l e g a l i s a d o c o m as mes-
mas f o r m a l i d a d e s q u e o da sua instituição (art. 301).
O mesmo terá limar quando se fizer alguma alteração no contracto
primordial. (Reg. Decr. art. 58 § 5.)
Art. 308. Quando a sociedade dissolvida por morte de u m dos
s ó c i o s t i v e r d e c o n t i n u a r c o m os h e r d e i r o s d o f a l l e c i d o ( a r t . 3 3 5 , n . a ) t

se entre os herdeiros algum ou alguns fôrem menores, estes n ã o


poderáõ ter parte nella , ainda que sejão autorisados judicialmente;
*>alvo s e n d o l e g i t i m a m e n t e emancipados.
Art. 309. Fallecendo sem testamento algum sócio que não tenha
herdeiros presentes, quer a sociedade deva dissolver-se pela sua
morte, quer haja de c o n t i n u a r , o juizo a que c o m p e l i r a arrecadação
da fazenda dos ausentes n ã o p o d e r á entrar na arrecadação dos bens
da h e r a n ç a do fallecido que existirem na massa social, n e m ingerir-se
por fôrma alguma na administração, liquidação e partilhada socie-
dade; competindo somente ao mesmo juizo arrecadar a quota l i -
quida que ficar pertencendo á dita herança. ( A r t . 856.)

exigência de que só possão fazer parte da firma social n o m e s de commer-


ciantes tem por único fim revestir os actos da sociedade n a s pessoas dos
seus representantes legítimos de um caracter commercial , e contradictorio
fora e x i g i r - s e q u e estes s e j ã o commerciantes, e negar-lb.es ao m e s m o tempo
as attribuições de matriculados, ainda quando individualmente o sejão.
Devendo portanto entender-se que uma firma social, composta de nomes
todos de c o m m e r c i a n t e s matriculados, é pti feitamente igual em preroga-
livas commerciaes ás firmas sociais matriculadas, e que a matricula das
s o c i e d a d e s destas s ó é necessária nos casos em qne a firma social c o n t i v e r
nomes de sócios n ã o matriculados. Na s e g u n d a hypothese, porém, se os
commerciantes m a t r i c u l a d o s , p o r n ã o serem gerentes da firma, não podem
praticar actos sociaes, como poderáõ e l l e s c o m m u n i c a r as suas attribuições
i n d i v i d u a e s a actos q u e n ã o s ã o p o r elles praticados?
Procedendo-se á votação, decidio-se unanimemente: l. ,
8
que matriculada
uma firma social, a sociedade c o l l e c l i v a m e n t e , e n ã o os s ó c i o s individual-
mente, ficava gozando de todas as p r e r o g a t i v a s c o n c e d i d a s p e l o C ó d i g o C o m -
mercial aos c o m m e r c i a n t e s m a t r i c u l a d o s : 2 . ° , q u e n a s sociedades colleclivas
sendo a firma social composta de nomes de commerciantes todos matri-
culados, gozava esta das m e s m a s p r e r o g a t i v a s q u e as firmas sociaes matri-
culadas , ainda que a sociedade collecli v ã m e n t e se não matriculasse, e que
em taes c a s o s a matricula é necessária : 3.°, que havendo em qualquer
s o c i e d a d e c o l l e c t i v a s ó c i o s c o m m e r c i a n t e s m a t r i c u l a d o s , estes n ã o communicão
as suas prerogativas á firma social , se esta n ã o f ô r composta de nomes
de commerciantes todos matriculados.
Sala do despacho do tribunal da capital do I m p é r i o , 6 de Fevereiro de
1851. — Antônio Alves da Silva Pinto Júnior, secretario.
52 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

No caso do sócio fallecido ter sido o caixa ou gerente da sociedade,


ou, quando n ã o fosse, sempre que n ã o houver mais de u m sócio
sobrevivente, e m e s m o fóra dos d o u s r e f e r i d o s c a s o s se o e x i g i r u m
n u m e r o tal de credores q u e represente metade d e t o d o s os créditos,
nomear-se-ha u m novo caixa o u gerente para u l t i m a ç ã o das nego-
ciações pendentes : procedendo-se â liquidação e partilha pela fôrma
determinada na secção V I I I deste c a p i t u l o ; c o m a única difTerença
de que os credores terão parte na n o m e a ç ã o da pessoa o u pessoas
a q u e m deva encarregar-se a liquidação.
A nomeação do novo caixa o u gerente será feita pela m a i o r i a dos
votos dos sócios e dos credores reunidos e m assembléa presidida
pelo juiz de direito do commercio, e só poderá recahir sobre sócio
ou c r e d o r q u e s e j a c o m m e r c i a n t e . (Reg. arts. 21 § 1 ; 23 § 2.)
Art. 310. As disposições do artigo precedente tem igualmente
lugar sempre que algum commerciante que n ã o tenha sócios, ou
mesmo a l g u é m , ainda que n ã o seja c o m m e r c i a n t e , fallecer sem
testamento n e m herdeiros presentes, e tiver credores c o m m e r c i a n t e s :
nomeando-se, pela f ô r m a a c i m a declarada, dous administradores e
u m fiscal para arrecadar, administrar e liquidar a herança e satis-
f a z e r t o d a s as o b r i g a ç õ e s do fallecido.
Não existindo credores presentes, mas c o n s t a n d o pelos livros do
fallecido ou por outros títulos authenticos que os ha ausentes ,
serão os dous administradores e fiscal nomeados pelo t r i b u n a l do
commercio. (Reg. arts. 1 5 , 2 1 § 2 ; 2 3 § 2 . Decr. 2 5 Novembro 1850 ,
art. 18 § 9 . )

SECÇÂO II.

Da Sociedade em commandita.

Art. 311. Quando duas ou mais pessoas, sendo ao menos uma


commerciante, se a s s o c i ã o para fim commercial, obrigando-se uns
como sócios solidariamente responsáveis, e sendo outros simples
prestadores de capitães, c o m a condição de n ã o serem obrigados
além dos f u n d o s que f ô r e m declarados no c o n t r a c t o , esta associação
tem a n a t u r e z a d e s o c i e d a d e em commandita.
Se h o u v e r m a i s de u m s ó c i o s o l i d a r i a m e n t e r e s p o n s á v e l , o u sejão
m u i t o s os e n c a r r e g a d o s da gerencia ou u m s ó , a sociedade será ao
mesmo tempo e m n o m e c o l l e c t i v o p a r a e s t e s , e e m commandita para
os s ó c i o s p r e s t a d o r e s de capitães. ( A r t . 805.)
Art. 312. Na sociedade e m commandita n ã o é necessário que se
inscreva no registro do c o m m e r c i o o n o m e do sócio commanditario,
mas requer-se essencialmente q u e se d e c l a r e no mesmo registro a
q u a n t i a c e r t a d o t o t a l d o s f u n d o s p o s t o s e m c o m m a n d i t a . (Reg. Decr.
2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 58 § 5.)
Art. 313. Na mesma s o c i e d a d e os s ó c i o s c o m m a n d i t a r i o s n ã o s ã o
obrigados, além dos fundos c o m que entrào o u sc o b r i g ã o a entrar
na sociedade, n e m a repôr, salvo nos casos do art. 8 2 8 , os l u c r o s
que houverem recebido; mas os sócios responsáveis respondem
CÓDIGO COMMERCIAL 55

solidariamente pelas obrigações sociaes pela mesma fôrma que os


sócios das sociedades collectivas (art. 316).
Art. 314. Os sócios commanditarios não podem praticar acto
algum de geslão nem ser e m p r e g a d o s nos n e g ó c i o s da sociedade,
ainda mesmo q u e seja c o m o procuradores, nem f a z e r p a r t e da firma
social, pena de ficarem solidariamente r e s p o n s á v e i s c o m o os outros
sócios : não se comprehende porém nesta p r o h i b i ç ã o a faculdade
de tomar parte nas deliberações da sociedade nem o direito de
fiscalisar as s u a s o p e r a ç õ e s e e s t a d o (art. 290).

SECÇÀO III.

Das Sociedades em nome collectivo ou com firma.

Art. 315. Existe sociedade em nome collectivo, ou com firma,


quando duas ou mais pessoas, ainda que algumas n ã o sejão c o m -
merciantes, se u n e m para commerciar em c o m m u m debaixo de
uma firma social.
Não podem fazer parle da firma social nomes de pessoas q u e não
sejão sócios commerciantes.
Art. 316. Nas sociedades c m nome collectivo, a firma social
assignada por qualquer dos sócios gerentes que no instrumento do
contracto fôr autorisado para usar delia, obriga todos os sócios
solidariamente para c o m t e r c e i r o s , e a estes p a r a com a sociedade,
ainda mesmo que seja e m negocio particular seu ou de terceiro,
com excepção sómente dos casos e m que a firma social fôr empre-
g a d a e m t r a n s a c ç õ e s e s t r a n h a s aos n e g ó c i o s d e s i g n a d o s no contracto.
Não havendo no contracto designação de sócio ou sócios que
tenhão faculdade de usar privativamente da firma social, n e m
algum excluído, presume-se que todos os s ó c i o s t e m direito igual
de fazer uso delia.
Contra o sócio que abusar da firma social dá-se acção de perdas
e damnos, tanto da parte dos sócios c o m o de t e r c e i r o : e se c o m o
abuso concorrer t a m b é m f r a u d e o u d o l o , e*te p o d e r á i n t e n t a r contra
elle a a c ç ã o c r i m i n a l que n o caso couber. ( A r i s . 305 § 9. 313. 333 e
805. j (Reg. art. 185 e 186.)

SECÇÀO IV.

Da Sociedade de capital e industria.

Art. 317. Diz-se sociedade de capital e industria aquella que se


contrahe entre pessoas que entrão por u m a parte c o m os fundos
necessários para u m a negociação commercial em geral ou para
alguma operação mercantil em particular, e por outra parte c o m a
sua industria sómente.
O sócio de industria não p ô d e , salva convenção em contrario,
empregar-se e m operação alguma commercial estranha á sociedade;
pena d e ser p r i v a d o dos l u c r o s d a q u e l l a e e x c l u í d o desta.
Art. 318. A sociedade de capital e industria pôde formar-se
54 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

debaixo de u m a firma social o u existir sem ella. No primeiro caso,


são-lhe appiicaveis todas as disposições estabelecidas na secção I I I
deste capitulo.
Art. 319. O instrumento do contracto da sociedade de capital c
industria, além das enunciações indicadas no artigo 302, deve
e s p e c i f i c a r as o b r i g a ç õ e s do sócio ou sócios que entrarem na asso-
ciação c o m a sua industria sómente, e a quota de lucros que deve
caber-lhes na partilha.
Na falta de declaração no contracto , o sócio de industria tem
direito a u m a quota nos lucros igual á que fôr estipulada a favor
do sócio capitalista de m e n o r entradi.
Art. 320. A obrigação dos sócios capitalistas é solidaria e esten-
de-se a l é m do capital c o m que se o b r i g a r e m a e n t r a r na sociedade.
Art. 321. O sócio de i n d u s t r i a n ã o responsabilisa o seu patrimônio
particular para com os credores da sociedade. Se p o r é m , além da
i n d u s t r i a , c o n t r i b u i r para o capital com alguma quota e m dinheiro,
bens ou effeitos, o u fôr gerente da firma social , ficará constituído
sócio solidário e m toda a responsabilidade.
Art. 322. O sócio de industria n ã o é obrigado a repor, por motivo
de perdas supervenientes, o que tiver recebido de lucros sociaes
nos dividendos; salvo provando-se dolo ou fraude da sua parte
(art. 828).
Art. 323. Os fundos sociaes e m n e n h u m caso p o d e m responder
nem ser e x e c u t a d o s por dividas ou obrigações particulares do sócio
de industria sem capital; mas poderá ser executada a parte dos
lucros que lhe couber na p a r t i l h a .
Art. 324. Competem t a n t o aos sócios capitalistas como aos cre-
dores sociaes c o n t r a o sócio de i n d u s t r i a , todas as acções que a lei
faculta contra o gerente o u maudatario infiel o u negligente culpavel.

SECÇÀO v.

Da Sociedade em conta de participação,

Art. 325. Quando duas ou mais pessoas, sendo ao menos uma


commerciante, se r e ú n e m , s e m firma s o c i a l , para lucro c o m m u m ,
em uma ou mais operações de commercio determinadas , traba-
lhando u m , alguns ou todos e m seu nome individual para o fim
social, a associação toma o nome de sociedade e m conta de parti-
cipação, aocidental, m o m e n t â n e a o u a u o n y m a : esta s o c i e d a d e n ã o
está sujeita às formalidades prescriptas para a f o r m a ç ã o das outras
sociedades, e pôde provar-se por todo o g ê n e r o de provas admittidas
nos contractos commerciaes ( a r t . 1 2 2 ) . (Reg, Decr. 2 5 Novembro 1850
art, 58, § 5.)
Art. 326. Na sociedade e m conta de p a r t i c i p a ç ã o , o sócio osten-
sivo é o único que se obriga para c o m t e r c e i r o : os o u t r o s sócios
ficão unicamente obrigados para c o m o mesmo sócio por todos os
resultados das transacções c obrigações sooiaes emprehendidas nos
termos precisos do contracto.
C Ó D I G O COMMERCIAL 55

Art. 327. Na mesma sociedade o sócio gerente responsabilisa


todos os fundos sociaes, ainda mesmo que seja por obrigações
p e s s o a e s , se o terceiro com quem tratou ignorava a existência da
sociedade; salvo o direito dos sócios prejudicados contra o sócio

gerente.
Art. 328. No caso de quebrar ou fallir o sócio gerente, é licito
ao terceiro com quem houver tratado saldar t o d a s as contas que
com elle tiver, posto que abertas sejão debaixo de distinetas designa-
ções, com os f u n d o s p e r t e n c e n t e s a q u a e s q u e r d a s mesmas contas:
ainda que os o u t r o s sócios mostrem que esses f u n d o s l h e s perten-
cem , u m a vez q u e não provem que o dito terceiro tinha conheci-
mento, antes da quebra, da existência da sociedade e m conta de

participação.

SECÇÃO vi.

Dos direitos e obrigações dos sócios.

Art. 329. As obrigações dos sócios começão da data do contracto


ou da época nelle designada; e acabão depois q u e , dissolvida a
sociedade , se a c h ã o s a t i s f e i t a s e e x t i n c t a s t o d a s as responsabilidades

sociaes.
Art. 330. Os ganhos e perdas s ã o c o m m u n s a t o d o s os s ó c i o s na
razão p r o p o r c i o n a l dos seus respectivos q u i n h õ e s no fundo social;
s a l v o se o u t r a cousa fôr expressamente estipulada no contracto.
Art. 331. A m a i o r i a dos sócios não tem faculdade de entrar e m
o p e r a ç õ e s diversas das c o n v e n c i o n a d a s no contracto sem o consen-
timento unanime d e t o d o s os s ó c i o s . N o s m a i s casos t o d o s os negó-
cios sociaes serão decididos pelo voto da m a i o r i a , c o m p u t a d o pela
f ô r m a prescripta no artigo 486.
A r t . 332. Se o c o n t r a c t o social f ô r da n a t u r e z a daquelles que só
valem sendo feitos por escriptura p u b l i c a , nenhum sócio p ô d e res-
ponsabilizar a firma social validamente sem autorisação especial
dos outros sócios, outorgada expressamente por escriptura publica

(art. 3 0 7 ) .
Art. 333. O sócio que, sem consentimento por esoripto dos outros
sócios, a p p l i c a r os f u n d o s o u effeitos da sociedade para negocio ou
uso de conta própria ou de terceiro, será obrigado a entrar para
a massa c o m m u m com todos os lucros resultantes: e se houver
perdas ou damnos, s e r ã o estes p o r sua conta particular ; além do
procedimento criminai qne possa ter l u g a r (art. 316).
Art. 334. A nenhum sócio é licito c e d e r a u m terceiro, que não
seja s ó c i o , a parte que tiver na sociedade, nem fazer-se substituir
no exercício dos foneçõe* que nella exercer sem expresso consen-
t i m e n t o d e t o d o s os o u t r o s s ó c i o s ; pena de nullidade do contracto;
mas poderá associa-lo á sua parte, sem que p o r este f a c t o o asso-
ciado fique considerado m e m b r o da sociedade.
5 6
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

SECÇÀO V I I ,

Da dissolução da sociedade.

Art. 335. As sociedades reputão-se dissolvidas:


I. E x p i r a n d o o prazo a j u s t a d o d a sua duração
II. Por quebra da sociedade o u de q u a l q u e r dos sócios.
III. f o r m u t u o c o n s e n s o de t o d o s os sócios

IV Pela m o r t e de u m dos sócios ; salva c o n v e n ç ã o e m contrario


a respeito dos que s o b r e v i v e r e m . ( A r t . 308 )

V P o r vontade de u m dos sócios, sendo a sociedade celebrada


por tempo indeterminado. ccicurdua

E m todos os ca os deve c o n t i n u a r a sociedade,


? sómente para «e

t^z^T - - ^«iS
penden,es; procede do 8e a

m e m e 3
Jf" f ™ ™ ? » / o c i e c I a d c .
e
p o d e m ser dissolvidas indiciai-

^ i q u e r d p i s o S ? ' 0 m M
° ° ° * * * * * 3
- ^ - r i m e n t o

í. Mostrando-se que é impossível a continuação da sociedade

oní^ ° d 9 80CÍ
- > ^ -Cidade moral

dali J«cSÍ^ ? ° cumprimento VÍ Iaçã0 U fa,,a de

, A ^ r . f > s o c , a 0 1 1
S * ^
f
a l g u m dos sócios.
u

Art. o37. A sociedade formada por escriptura publica ou narti

(^r*. 444.; P q lá,ra,e t,ver ,u


5 amigavelmente.
ar

Art. 338. O distrate da s o c i e d a d e , o u s e j a v o l u n t á r i o ou indiciai

*:,;,*• 2"°"'™" " "'" *» pe j


CÓDIGO COMMERCIAL 57

não p ô d e ser a o c i o n a d a c o n t r a os o u t r o s s ó c i o s , ainda qne o endos-


sado pos^a p r o v a r q u e t o m o u a letra e m boa fé por falta de noticia :
nem ainda mesmo que prove que a letra foi appiicada, pelo sócio
sacador o u aceitante, á l i q u i d a ç ã o de dividas sociaes, ou que adian-
tou o dinheiro para uso da firma durante a sociedade; salvos os
direitos q u e ao s ó c i o sacador o u aceitante possão competir contra os
outros sócios.
Art. 3 4 2 . F a z e n d o - s e p a r t i c i p a ç ã o aos d e v e d o r e s , depois de dissol-
vida a sociedade, de que u m sócio designado se acha encarregado
de receber as d i v i d a s a c t i v a s d a mesma sociedade, o recibo passado
posteriormente por u m dos outros sócios n ã o desonera o devedor.
Art. 3Z|3. Se a o t e m p o d e d i s s o l v e r - s e a s o c i e d a d e , u m sócio tomar
sobre si receber os c r é d i t o s e p a g a r as d i v i d a s passivas, dando aos
outros sócios resalva contra toda a responsabilidade futura , esta
resalva não prejudica a t e r c e i r o s , se e s t e s n i s s o não convierem ex-
p r e s s a m e n t e ; s a l v o se f i z e r e m c o m a q u e l l e a l g u m a n o v a ç ã o de con-
tracto ( a r t . A 3 S ) . T o d a v i a , se o s ó c i o que passou a resalva continuar
n o g y r o da n e g o c i a ç ã o q u e fazia o b j e c t o da sociedade e x t i n c t a , d e b a i x o
da mesma o u de nova f i r m a , os s ó c i o s q u e sahirem da sociedade f i -
carão d e s o n e r a d o s i n t e i r a m e n t e , se o c r e d o r c e l e b r a r . com o sócio
que continua a negociar debaixo da m e s m a o u de nova f i r m a , trans-
acções subsequentes, indicativas de que confia no seu credito.

SECÇÀO VIII.

Da liquidação da sociedade.

Art. 344- Dissolvida uma sociedade mercantil, os sócios autorisa-


dos p a r a gerir d u r a n t e a sua e x i s t ê n c i a d e v e m o p e r a r a sua liquidação
debaixo da mesma firma, additada c o m a cláusula—em liquidação—;
salvo havendo estipulaçao diversa no contraoto, ou querendo os
sócios, a aprazimento c o m m u m o u p o r p l u r a l i d a d e de votos e m caso
de d i s c ó r d i a , encarregar a liquidação a algum dos o u t r o s sócios n ã o
g e r e n t e s , o u a pessoa de f ó r a da sociedade. ( A r t . 302 § 6.J
Art. 3Zj5. Os l i q u i d a n t e s s ã o o b r i g a d o s :
I. A f o r m a r i n v e n t a r i o e b a l a n ç o do cabedal social nos q u i n z e dias
immediatos á sua n o m e a ç ã o , pondo-o logo no conhecimento do
t o d o s os s ó c i o s ; p e n a d e p o d e r n o m e a r - s e e m j u i z o u m a a d m i n i s t r a -
c ã o l i q u i d a d o r a á c u s t a d o s l i q u i d a n t e s se f ô r e m s ó c i o s ; e n ã o o sendo,
não terão direito a retribuição alguma pelo trabalho que houverem
feito:
II. A communicar mensalmente a cada sócio o estado da liquida-
ç ã o , debaixo da m e s m a pena:
III. Ultimada a liquidação, a proceder immediatamente á divisão
e p a r t i l h a d o s b e n s s o c i a e s ; se os s ó c i o s n ã o a c c o r d a r e m q u e os divi-
dendos se f a c ã o na razão de tantos por cento, á proporção que os
d i t o s b e n s se f ô r e m l i q u i d a n d o , d e p o i s d e s a t i s f e i t a s t o d a s as obriga-
ções da sociedade.
Art. 346*. N ã o b a s t a n d o o e s t a d o d a c a i x a d a s o c i e d a d e para pagar
58 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

as dividas exigíveis, é obrigação dos liquidantes pedir aos sócios o»


fundos necessários, nos casos e m que estes fôrem obrigados a
presta-los.
Art. 347. Os l i q u i d a n t e s s ã o r e s p o n s á v e i s aos sócios pelo damno
que á massa resultar da sua negligencia no desempenho de suas
funcções, e por qualquer abuso dos effeitos da sociedade.
No caso d e o m i s s ã o o u n e g l i g e n c i a c u l p a v e l , p o d e r á õ ser destituí-
dos pelo tribunal do commercio ou pelo juiz de direito do com-
mercio nos lugares fóra da residência do mesmo Tribunal, e não
terão direito a paga a l g u m a do seu t r a b a l h o : p r o v a n d o - s e abuso ou
fraude, haverá contra elles a acção criminal que competir. (Tit.
único art. 1 7 . — R e g . art. 2 2 . Drc. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 1S § 10.)
Art. 348. Acabada a liquidação, e proposta a f o r m a da divisão e
p a r t i l h a , e a p p r o v a d a u m a e o u t r a pelus s ó c i o s l i q u i d a d o s , cessa t o d a e
qualquer reclamação da p a r t e destes, e n t r e si r e c i p r o c a m e n t e e con-
tra os l i q u i d a n t e s . O s ó c i o q u e n ã o a p p r o v a r a l i q u i d a ç ã o o u a p a r t i l h a
é o b r i g a d o a r e c l a m a r d e n t r o de dez dias depois desta l h e ser c o m -
municada; pena de n ã o p o d e r m a i s ser a d m i t t i d o a reclamar, e dc
se i u l g a r por boa a mesma liquidação e partilha.
A reclamação que fôr apresentada e m t e m p o , n ã o se accordando
sobre ella os interessados, será decidida por árbitros dentro de
outros dez dias úteis; os quaes o juizo de direito do c o m m e r c i o
poderá p r o r o g a r p o r m a i s dez dias i m p r o r o g a v e i * . ( A r t .444). (Reg.
art. 411, § 2 . )
Art. 349. N e n h u m sócio pôde exigir que se l h e entregue o seu
d i v i d e n d o e m q u a n t o o passivo da sociedade se n ã o achar todo pago
ou se tiver depositado quantia sufíiciente para o pagamento ; mas
poderá r e q u e r e r o d e p o s i t o das q u a n t i a s q u e se f ô r e m apurando.
Esta disposição n ã o comprehende aquelles sócios que tiverem
f e i t o e m p r é s t i m o à s o c i e d a d e , os q u a e s d e v e m ser p a g o s d a s quantias
mutuadas pela m e s m a fôrma q&e outros quaesquer credores.
Art. 350. Os bens particulares dos sócios n ã o p o d e m ser execu-
tados por dividas da sociedade, senão depois de executados todos
os b e n s sociaes. (Reg. arts. 497, 531, § 1.)
Art. 351. Os l i q u i d a n t e s n ã o p o d e m transigir n e m assignar c o m -
promisso sobre os interesses sociaes, sem autorisação especial dos
sócios dada por escripto; pena de nullidade.
Art. 352. Depois da liquidação e p a r t i l h a d e f i n i t i v a , os l i v r o s de
e s c r i p t u r a ç ã o e os r e s p e c t i v o s d o c u m e n t o s s o c i a e s s e r ã o depositados
em casa de u m d o s s ó c i o s q u e ó p l u r a l i d a d e d e v o t o s se escolher.
Art. 353. Nas liquidações de sociedades commerciaes e m que
houver menores interessados, procederá a liquidação e partilha
com seus tutores e c o m u m curador especial que para este fim lhes
será nomeado pelo juiz dos o r p h ã o s : e t o d o s os actos que com os
ditos tutor e c u r a d o r se p r a t i c a r e m s e r ã o válidos e irrevogáveis, sem
que contra elles e m tempo algum se possa allegar beneficio de
restituição; ficando unicamente direito salvo aos menores para
haverem de seus tutores e curadores os d a m n o s que de sua negli-
gencia culpavel, dolo ou f r a u d e lhes resultarem. ( A r t . 911.) (Reg.
art. 594. § 1 ; 679.)
CÓDIGO C O M M E R C I A L 59

T I T U L O X V I .

DAS LETRAS , NOTAS PROMISSÓRIAS E CRÉDITOS MERCANTIS.

CAPITULO I.

Das letras de cambio.

SECÇÀO I.

Da fôrma das tetras de cambio e seus vencimentos.

Art. 354. A letra de cambio deve ser datada e declarar : (*)


I. O lugar e m que fôr sacada.
I I . A somma que deve pagar-se, e e m que espécie de moeda.
I I I . O v a l o r r e c e b i d o , e s p e c i f i c a n d o se f o i e m m o e d a , c a sua qua-
lidade, era mercadorias, em conta ou por outra qualquer maneira.
IV. A época e o lugar do pagamento.
V. O nome da pessoa que deve paga-la e a q u e m , e se é e x i g i v e l
á ordem e de quem.
VI. Se é sacada por p r i m e i r a , segunda, terceira o u mais vÍ3s,
não sendo única. Faltando esta declaração, entende-se que cada
u m dos exemplares é u m a letra distincta.
Se uma letra de c a m b i o tiver nomes suppostos de pessoas o u de
lugares, onde e por quem deva pagar, só valerá como simples
c r e d i t o : t o d a v i a , os que nella intervierem e tiverem conhecimento
da supposição da pessoa ou do lugar, n ã o poderáõ allegar este
defeito contra terceiros , e valerá c o m o letra regular.
Art. 355. A l e t r a de c a m b i o p ô d e ser p a s s a d a :
I. A vista.
I I . A dias o u mezes de vista.
III. A dias o u mezes de vista precisos.
IV. A d i a s o u mezes da data.
V. A dia ou mez certo e prefixo. (**)

(*) A L e i n ã o d e c l a r a se a letra deve ser assignada pelo sacador , p o r e m


p a r e c e ser i s t o d e r i g o r , c o n s u l t a n d o - s e o art. 362.

(**) EXTRACTO DA SESSÃO DO TRIBUNAL DO COMMEKCIO DA CAPITAL DO IMPÉRIO DE


1 3 FEVEREIRO DO CORRENTE A1SNO.

Foi lida a seguinte proposta do Sr. secretario Silva Pinto , apresentada na


sessão de 6 do c o r r e n t e :
« Antes da p r o m u l g a ç ã o d o C ó d i g o d o C o m m e r c i o existia entre n ó s o uso
dos chamados dias de graça, favor ou cortezia, para as letras de c a m b i o e da
terra, que, c o m q u a n t o fosse g e r a l m e n t e c o n s i d e r a d o u m abuso , e c o m o t a l j á
abolido pelo C ó d i g o C o m m e r c i a l f r a n c e z , e pelo portuguez, art. 2 6 8 , todavia
prevalecia ainda entre n ó s , p o r ter sido autorisado pelo a l v a r á de 25 de A g o s t o
d e 1 6 7 2 , e l õ d e J u l h o d e 1 7 1 / i . P o r é m , t e n d o t i d o o n o s s o C ó d i g o sua f o n t e
próxima n a q u e l l e s o u t r o s C ó d i g o s , n ã o p a r e c e p r o v á v e l q u e se q u i z e s s e d e i x a r
s u b s i s t i r a q u e l l e a b u s o ; e l a b o r a n d o g r a n d e h e s i t a ç ã o n o nosso c o r p o d o c o m -
60 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

m e r c i o a s e m e l h a n t e r e s p e i t o , p o r n ã o s e r e m s u f f i c i e n l e m e n t e e x p l í c i t o s os a r t s .
555 até 558 do Código Commercial, c além disto pelo art. 424 do mesmo
C ó d i g o p a r e c e r q u e Fe p ô d e p r o s e g n i r n o u s o q u e e s t a v a i n t r o d u z i d o , v i s t o n ã o
se a c h a r e x p r e s s a m e n t e r e v o g a d o , p o r isso s u b m e t t o á c o n s i d e r a ç ã o d o T r i b u -
nal a seguinte p r o p o s t a : Q u e para resolver a d u v i d a q u e existe n o c o m m e r c i o ,
se s u b s i s t e m o u n ã o os d i a s d e g r a ç a o u c o r t e z i a n a s l e t r a s d e c a m b i o e d a t e r r a ,
e l a v r a r - s e a s s e n t o d a d e c i s ã o q u e se h o u v e r d e t o m a r , se p r o c e d a á s d i l i g e n c i a s
d e t e r m i n a d a s nos arts. 22 e 26 d o r e g u l a m e n t o d e 25 de N o v e m b r o d e 1 8 5 0 . •
E e n t r a n d o e m d i s c u s s ã o , d e c l a r o u o seu a u t o r q u e para elle n ã o era d u v i d o s o que
o Código C o m m e r c i a l n ã o a d m i t t e dias de g r a ç a o u cortezia n o p a g a m e n t o de
l e t r a s ; mas q u e a p r e s e n t á r a a s u a p r o p o s t a c o m o fim d e q u e . m a n i f e s t a n d o o
Tribunal a sua o p i n i ã o , cessasse a i n c e r t e z a q u e i n c o m m o d a v a a a l g u n s com-
merciantes, fundando-se elles em duas r a z õ e s : l . a
, porque, admittindo o
C ó d i g o n o a r t . 355 o uso de letras—a dias o u mezes de vista precisos, — parecia
q u e i n d i r e c t a m e n t e c o n s e r v a v a os d i a s d e g r a ç a a n t e r i o r m e n t e a d m i t t i d o s p e l o
uso e pela l e i , sendo p o r o u t r a f ô r m a ociosa a c l á u s u l a — p r e c i s o s : — 2 . % p o r q u e
no art. 424 se manda decidir as questões sobre pagamento e protestos
de letras segundo as l e i s e u s o s c o m m e r c i - i e s d a s p r a ç a s o n d e t a e s a c t o s fôrem
p r a t i c a d o s ; e q u e c o n v i n h a q u e o T r i b u n a l d e s v a n e c e s s e e s t a d u v i d a . T o d o s os
m a i s Srs. d e p u t a d o s e o Sr. desembargador fiscal concordarão com a opinião
do Sr. secretario. O Sr. presidente, t o m a n d o a palavra, principiou por observar
q u e c u m p r i a t e r p r e s e n t e q u e t o d o s os u s o s c o m m e r c i a e s c o n t r á r i o s á s d i s p o s i -
ções do Código Commercial ficarão sem v i g o r d e s d e q u e este c o m e ç o u a t e r
execução: e que, partindo deste principio incontestável, toda a questão se
reduzia a e x a m i n a r se o u s o d o s d i a s d e e s p e r a , g r a ç a o u c o r t e z i a se o p p õ e á s
d i s p o s i ç õ e s d o C ó d i g o C o m m e r c i a l ; mas q u e , antes de e n t r a r nesta q u e s t ã o , era
n e c e s s á r i o fazer u m a d i s t i n e ç ã o i m p o r t a n t e e n t r e letras sacadas antes d o 1.° d e
J a n e i r o d o c o r r e n t e a n n o , e m q u e o C ó d i g o c o m e ç o u a v i g o r a r , e as q u e fôrem
sacadas d e p o i s : n ã o p o d e n d o padecer d u v i d a q u e a respeito das p r i m e i r a s e s t ã o
em v i g o r os r e f e r i d o s u s o s . A q u e s t ã o , p o i s , d e v e v e r s a r s o m e n t e s o b r e as l e t r a s
sacadas d e p o i s d o 1.° de J a n e i r o .
Basta c o n s u l t a r , c o n t i n u o u S. E x . , o a r t . 3 5 7 , p a r a c o n c l u i r q u e as l e t r a s
devem ser p a g a s — no dia do seu vencimento.— O art. 376 c o n f i r m a a mesma
doutrina nas palavras — o p o r t a d o r de l e t r a de c a m b i o aceita o u n ã o aceita é
o b r i g a d o a p e d i r o s e u p a g a m e n t o no dia do seu vencimento, e n ã o sendo paga, a
fazê-la protestar de não paga,— e está em perfeita harmonia c o m os dous
c i t a d o s a r t i g o s o 4 0 7 , o r d e n a n d o q u e — t o d a a l e t r a q u e h o u v e r d e ser p r o t e s t a d a
por falta de aceite o u de pagamento d e v e ser levada ao oííicial p u b l i c o do
p r o t e s t o n o m e s m o d i a e m q u e d e v i a s e r a c e i t a o u paga, antes d o sol p o s t o . — E
se ainda resta d u v i d a , o a r t . 3 5 8 as r e m o v e t o d a s , fixando por uma maneira
precisa a fôrma de contar os m e z e s taes quaes se achão fixados no Calendário
Gregoriano para os vencimentos das letras, e declarando seguidamente no
m e s m o a r t i g o , e m t e r m o s m u i c l a r o s e p o s i t i v o s , — q u e os p r a z o s s ã o c o n t í n u o s ,
e contados de data a data. — L o g o os d i a s d e g r a ç a e s t ã o e m m a n i f e s t a c o n t r a d i c -
ção do Código C o m m e r c i a l , pois, a subsistirem, as l e t r a s não serão pagas
no dia do seu vencimento,—os m e z e s d e i x a r ã o d e s e r — t a e s quaes se achão fixados
no Calendário Gregoriano,—e os prazos não serão contados de data a data.
E disposições tão positivas, tão terminantes e claras, n ã o p o d e m tornar-se
q u e s t i o n á v e i s pela h y p o l h e s e a d m i t t i d a n o art. 3 5 5 , d e l e t r a s — a dias o u mezes
de vista precisos, — pois que n o art. 357 se e n c o n t r a a explicação. Quiz o
Código conservar o uso antigo do f a v o r d e u m d i a c o n c e d i d o ao pagamento
das letras á v i s t a , mas c o m alguma m o d i f i c a ç ã o nos seguintes t e r m o s : — o
pagamento da l e t r a à v i s t a é e x i g i v e l n o a c t o d a sua a p r e s e n t a ç ã o , e s ó p ó d c
CÓDIGO C O M M E R C I A L 61

ser d e m o r a d o p o r 2 6 h o r a s , se nisso convier o portador,—e para q u e n ã o ficasse


e m d u v i d a q u e esta d e m o r a se l i m i t a v a s ó á s l e t r a s á v i s t a , e q u e e s t a v a n a m ã o
do s a c a d o r e v i t a r a t é esta p e q u e n a d e m o r a , a d m i t t i o - s e a e s p é c i e d e l e t r a s — a
dias ou mezes de vista precisos, —e a r e s p e i t o d e s t a s se firmou a regra de que
d e v e m ser p a g a s n o d i a d o s e u v e n c i m e n t o , i s t o é , s e m m e s m o a e s p e r a d a s 24
horas, ainda que o portador convenha.
A segunda r a z ã o , deduzida do art. 426, é ainda menos procedente , pois que
a sua disposição é exclusivamente relativa aos a c t o s d e a c e i t e , p a g a m e n t o , e
p r o t e s t o s de l e t r a s p r a t i c a d o s e m paizes e s t r a n g e i r o s s e m a p p l i c a ç ã o ao Brasil,
c o m o d o m e s m o a r t i g o se c o l l i g e , e m a i s a m p l a m e n t e e s t á d e c l a r a d o n o a r t . 2 2
do regulamento dos tribunaes do c o m m e r c i o :—actos de letras de cambio
p r a t i c a d o s em paizes estrangeiros prevenidos no art. 424 do Código C o m m e r c i a l .
Os a r g u m e n t o s d i r c c t o s e x p e n d i d o s , c o n t i n u o u S. E x . , s ã o r e f o r ç a d o s p o r
outros indirectos de m u i t a f o i ç a .
Forão os d i a s de graça e cortezia abolidos pelos C ó d i g o s C o m m e r c i a e s da
F r a n ç a , H e s p a n h a , P a i z e s - B a i x o s , P o r t u g a l , e o u t r o s ; e s e n d o t o d o s estes C ó d i -
gos as p r i n c i p a e s f o n t e s p r ó x i m a s d o C ó d i g o C o m m e r c i a l b r a s i l e i r o , c o m o era
p o s s í v e l q u e este q u i z e s s e c o n s e r v a r taes u s o s , s e m d e l l e s f a z e r m e n ç ã o , a o m e s -
mo t e m p o que fixava o p r i n c i p i o q u e os a b o l i o , e m p r e g a n d o os m e s m o s t e r m o s ,
com m a i s c l a r e z a e p r e c i s ã o a i n d a , d e q u e a q u e l l e s C ó d i g o s se s e r v i r ã o ? N e m
se diga que o Código hespanhol e o portnguez abolirão expressamente os
dias de cortezia e graça: também o Código Commercial francez e o dos
P a i z e s b a i x o s os a b o l i r ã o , e t o d a v i a j u l g a r ã o d e s n e c e s s á r i a s e m e l h a n t e declara-
ç ã o : o C ó d i g o b r a s i l e i r o p r e f e r i o i m i t a r estes d o u s m o d e l o s .
E é i m p o r t a n t e para a q u e s t ã o saber-se que a e x l i u c ç ã o dos dias de g r a ç a o u
cortezia f o i objecto questionado e maduramente d e l i b e r a d o na r e d a c ç à o d o
projecto d o C ó d i g o C o m m e r c i a l . O p r o j e c t o o r i g i n á r i o , apresentado e m 6 de
Janeiro de 1834, continha a seguinte disposição:—Art. 6 8 6 . As letras de
c a m b i o p o d e m ser p a s s a d a s : 1 . ° , à vista ; 2 . ° , a d i a s o u mezes d e v i s t a ; 3 . ° , a
tantos dias o u mezes de d a t a ; 6 . ° , a d i a o u mez certo e p r e f i x o . — U m a c o m m i s -
s ã o m i x t a das d u a s c â m a r a s legislativas, encarregada de examinar aquelle p r o -
jecto , substituio o r e f e r i d o artigo pelo seguinte , que c o p i o u d o art. 307 das
emendas impressas da commissão da praça do c o m m e r c i o : — A s letras de
cambio s ã o passadas : 1 . ° , á vista ; 2 . ° , á vista p r e c i s a ; 3 . ° , a dias o u mezes d e
v i s t a ; 6 . ° , a dias o u mezes de vista precisos ; 5 . ° , a dias o u mezes de d a t a ; 6 . ° , a
dias o u mezes d e data precisos; 7 . ° , a dia certo e determinado. A r t . 309. As
letras á vista precisa devem ser pagas d e n t r o d e v i n t e e q u a t r o h o r a s d a sua
a p r e s e n t a ç ã o . A s l e t r a s á v i s t a , seis d i a s d e p o i s d a a p r e s e n t a ç ã o , s e n d o s a c a d a s
e m paizes e s t r a n g e i r o s , e q u i n z e s e n d o sacadas nas p r a ç a s d o i m p é r i o . A s l e t r a s
a d i a s o u m e z e s d e v i s t a , e a d i a s o u m e z e s d a d a t a , n o s m e s m o s seis o u q u i n z e
dias depois de preenchido o tempo n e l l a s e n u n c i a d o . E as d e d i a s o u m e z e s
p r e c i s o s , d e d i a s o u m e z e s d a d a t a p r e c i s o s , e as d e d i a d c t e i m i n a d o n o u l t i m o
dia do prazo.
A r e f e r i d a c o m m i s s ã o n ã o c h e g o u a a p r e s e n t a r o r e s u l t a d o d o s seus t r a b a -
lhos , m a s elles f o r ã o redigidos á proporção q u e se iáo fazendo. Nomeou-se
depois s e g u n d a c o m m i s s ã o , c o m p o s t a d e m e m b r o s d e a m b a s as c â m a r a s , que
f o i a j u d a d a p o r tres dos m a i s d i s t i n e t o s j u r i s c o n s u l t o s e m m a t é r i a s c o m m e r -
ciaes, e esta p r e f e r i o a d o u t r i n a d o p r o j e c t o o r i g i n á r i o , a r e s p e i t o d o s v e n c i -
mentos de l e t r a s , j u l g a n d o i n a d m i s s í v e i s as e m e n d a s da c o m m i s s ã o da praça
do commercio, que conservavào os d i a s d e graça e cortezia, e o parecer da
primeira commissão que os a d o p t á r a , p o r e n t e n d e r q u e n ã o e r a c o n v e n i e n t e
c o n s e r v a r n o B r a s i l u m u s o o p p o s t o á n a t u r e z a d a s l e t r a s q u e t o d o s os C ó d i g o s
depois do francez h a v i à o d e s t r u í d o . P r o c e d ê r ã o p o i s os r e d a c t o r e s do Código
62 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 356. O vencimento das letras que forem sacadas a dias ou


mezes de vista principiará a coutar-se do dia i m m e d i a t o no do seu
aceite. O prazo das que fôrem passadas a dias o u mezes da data
começará do dia subsequente ao da sua data. ( A r t . 4 0 7 . ) (Reg. art.

3 8 t ) n
Art. 357. O pagamento da letra á vi»ta é exigivel no acto da sua
apresentação, e só pôde ser demorado por viote e quatro horas,
se n i s s o c o n v i e r o p o r t a d o r : as l e t r a s a dias o u mezes certos e prefi-
x o s s e r ã o p a g a s n o d i a d o s e u v e n c i m e n t o . ( A r t . 4 0 7 . ) (Reg. art. 381).
Art. 358. Os mezes para o vencimento de letras são taes quaes
se achão fixados pelo calendário gregoriano. O dia 15 é sempre
r e p u t a d o o m e i o d e t o d o s os mezes.
Os prazos s ã o c o n t í n u o s e contados de data a data. Se o dia do
vencimento fôr feriado pela lei, reputa-se a letra vencida no ante-
cedente. (ArU. 373 e 407.) (Reg. art. 381 e 730.)
Art. 359. H a v e n d o differença entre o valor l a n ç a d o p o r a l g a r i s m o
no alto da letra e o que se achar por extenso no corpo delia, este
ultimo será sempre considerado o verdadeiro, e a differença n ã o
prejudicará a letra.

SECÇÀO II.

Dos Endossos.

Art. 360. As letras de cambio pagaveis á ordem são transferiveis


e exeqüíveis por via de endosso (art. 364). ( A r t . 386.)
Os endossantes anteriores s ã o r e s p o n s á v e i s pelo resultado da letra
a t o d o s os e n d o s s a d o s posteriores até o portador (art. 381).
Art. 361. O endosso para ser c o m p l e t o e r e g u l a r d e v e preencher
os s e g u i n t e s requisitos:
I. Ser datado do dia e m que se faz, e escripto nas costas de
qualquer das vias da letra.

C o m m e r c i a l c o m p e r f e i t o c o n h e c i m e n t o de causa, e c o m a d e l i b e r a d a i n t e n ç ã o
d e a c a b a r as g r a ç a s e c o r t e z i a s n o s v e n c i m e n t o s d a s l e t r a s .
Procedendo-se á v o t a ç ã o , d e c i d i o se u n a n i m e m e n t e q u e o C ó d i g o C o m m e r -
c i a l a b o l i o o uso de dias de graça.

(*) SESSÃO DO TRIBUNAL Dl) COMMERCIO DE 19 DE MAIO DE 1851.

O Sr. presidente declarou constar-lhe que um dos tabelliáes desta corte


tem entendido dever contar o prazo das letras sacadas a dias precisos,
do dia da data do saque, e não do dia do aceite; e propondo esta
questão ao t r i b u n a l p a r a q u e p o r m e i o d e u m a d e l i b e r a ç ã o se e s t a b e l e ç a regra
fixa a r e s p e i t o , este p o r v o t a ç ã o u n a n i m e j u l g o u i n c o n t r o v e r s o , q u e , na c o n -
formidade da parle p r i m e i r a do art. 356 do Código Commerrial, o prazo de
taes l e t r a s d e v e ser contado do dia subsequente ao da data do aceite ,
pois que só a respeito das que s ã o p o s i t i v a m e n t e sacadas a dias da data,
se deve contar o prazo do vencimento do dia subsequente ao d o respectivo
saque, c o m o claramente está d e t e r m i n a d o na parte segunda do mesmo artigo
356 d o citado C ó d i g o .
CÓDIGO COMMERCIAL 63

II. Expressar o nome daquelle a cuja ordem deve fazer-se o


pagamento.
III. Declarar se é — valor recebido — , o u — em conta — , ou se
confere sómente poderes de mandatário ou procurador. Sendo o
valor fornecido por terceiro, deverá esta circumstancia ser m e n -
cionada no endosso. ( A r t .874 § 3.)
O e n d o s s o — d ordem — , sem declarar se é — valor recebido—ou
em conta — , confere sómente poderes de m a n d a t á r i o , sem transfe-
rencia da propriedade.
E p r o h i b i d o escrever nos endossos qualquer declaração que n ã o
seja r i g o r o s a m e n t e restricta á natureza do endosso; pena de nulli-
d a d e dessa declaração.
Art. 362. Ainda q n e os e n d o s s o s i n c o m p l e t o s o u e m branco sejão
tolerados, todavia exige-se , para serem válidos, que, pelo menos,
contenhão a data do dia em que se fizerem, escripta pela própria
letra do endossante que o assignar: e presume-se sempre que são
p a s s a d o s á ordem com valor recebido.
Art. 363. O endosso falso é nullo, mas só vicia os endossos
posteriores; ficando a c ç ã o salva ao portador contra quem o tiver
assignado. ( A r t . 675.)
Art. 364. Os endossos de letras já vencidas ou prejudicadas, e
daquelles que n ã o s ã o pagaveis á ordem , tem o simples effeito de
cessão civil. (Reg. art. 250, § 6 . )

SECÇÀO III,

Do Sacador.

Art. 365. O sacador é obrigado a dar ao tomador toda? as vias


da letra de cambio que este p e d i r antes d o v e n c i m e n t o ; e perdidas
as primeiras, não pôde negar-se a dar-lhe outras, que deveráõ ser
passadas com resalva das que se h o u v e r e m perdido : faltando esta
resalva, e n t e n d e - s e q u e s ã o vias de letra di«tincta.
Art. 366. O sacador é obrigado a ter sufíiciente p r o v i s ã o de f u n d o s
em poder do sacado ao tempo do v e n c i m e n t o ; pena de responder
por perdas e damnos sobrevenientes, se por falta de provisão
sufíiciente feita em devido tempo, a letra deixar de ser aceita ou
paga, emquanto esta não prescrever (art. 443), ainda que n ã o
tenha sido protestada e m t e m p o e f o r m a r e g u l a r ( a r t . 3 8 1 ) . (Reg. art.
372 g2.)
Art. 367. Sendo a letra passada por conta de terceiro, a este
i n c u m b e fazer a provisão de f u n d o s em t e m p o competente, debaixo
da sobredita pena; sem que todavia o sacador d e i x e de ser s o l i d a -
riamente responsável ao portador e endossados pela s e g u r a n ç a da
mesma letra na fôrma do artigo antecedente. (Reg. art. 372, § 4.)
Art. 368. Entende-se que existe sufíiciente provisão de fundos
em poder do sacado, quando este, ao tempo do vencimento, é
d e v e d o r ao s a c a d o r o u á q u e l l e p o r c o n t a de q u e m a l e t r a f o i passada,
de quantia ao menos igual, ou quando qualquer dos dous tiver
64 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

credito aberto pelo sacado qne baste para o pagamento da letra


(art. 392). ( A r t . 3 8 1 . ) (Reg. art. 372, § 2.)
Art. 369. O sacador é responsável pela importância da letra
(art. 4 2 2 ) a t o d a s as p e s s o a s q u e fôrem successivamente adquirindo
a sua propriedade até o ultimo portador.
Cessa porém a responsabilidade do sacador quando o portador
deixa de apresentar a letra, ou é omisso e m a protestar e m tempo o
fôrma r e g u l a r , u m a vez que prove q u e t i n h a sufíiciente provisão de
fundos em poder do sacado ao tempo do vencimento.
Art. 370. O sacador, que é obrigado a solver u m a letra de c a m b i o
porque o sacado a n ã o paga, tem acção de perdas e d a m n o s contra
este; salvo se o sacado deixar de pagar por falta de s u f í i c i e n t e pro-
visão de f u n d o s do sacador e m seu poder.

SECÇÀO IV.

Do Portador.

Art. 371. O possuidor de letra de cambio á vista , ou a dias ou


mezes de vista, é obrigado a fazer expedir u m a via para o aceite na
primeira ocoasião opportuna que seofferecer, n ã o podendo nunca
exceder o tempo que decorrer da sahida do segundo correio, paquete
ou navio que levar correspondência para o lugar da residência do
sacado o u aceitante (art. 420) ; pena de ficar prejudicada a respon-
s a b i l i d a d e de t o d o s os e n d o s s a n t e s anteriores.
Esta disposição n ã o isenta o sacado da o b r i g a ç ã o de aceitar a letra
q u a n d o lhe fôr apresentada. (Reg. art. 384.)
Art. 372. Sendo a letra de c a m b i o expedida e m t e m p o sufíiciente
para, segundo o curso ordinário, chegar antes do v e n c i m e n t o ao
lugar onde deva ser p a g a , e n ã o chegando senão depois do venci-
mento por impedimento justificado, como por e x e m p l o , de força
maior, o portador conserva t o d o s os s e u s d i r e i t o s , u m a v e z q u e apre-
sente a letra n o dia seguinte ao da sua chegada, e i n t e r p o n h a o c o m -
petente protesto , n ã o sendo aceita o u paga.
Art. 373. O p o r t a d o r da letra de c a m b i o é o b r i g a d o a apresenta-la
ao sacado n o m e s m o dia e m q u e a receber, n ã o sendo f e r i a d o pela lei
(art. 3 5 8 ) , para este p ô r o seu aceite. Recusando o sacado o aceite
ou o pagamento, o portador é obrigado a fazer o competente
protesto.
Sendo m a i s de u m os s a c a d o s , quando o s s e u s n o m e s se acharem
unidos pela c o n j u n c ç ã o — e — , o portador é obrigado a requerer o
aceite e pagamento de t o d o s , e a p r o t e s t a r se a l g u m o recusar. Se
p o r é m os n o m e s dos s a c a d o s f ô r e m s e p a r a d o s pela con j u n e ç ã o — o u — ,
o primeiro será considerado comi» sacado, e os o u t r o s n a s u a falta
nu a u s ê n c i a ; e a todos o portador d e v e r á requerer successivamente,
na falta de aceite o u p a g a m e n t o , o u n a ausência dos antecedentes,
f a z e n d o o s c o m p e t e n t e s p r o t e s t o s . (Reg. arts. 371, § 1 e 730.)
Art. 374. A l e t r a d e v e ser a p r e s e n t a d a ao sacado o u aceitante na
casa da sua residência ou no seu esoriptorio. N o caso de n ã o estar
C Ó D I G O COMMERCIAL 65

na terra, achando-se dentro do termo do lugar onde o aceite ou o


pagamento fôr exeqüível, o p o r t a d o r e m p r e g a r á os m e i o s possíveis
p a r a q u e a letra l h e seja a p r e s e n t a d a q u a n t o antes : n ã o s e n d o encon-
trado, ou estando em lugar maÍ3 distante, é obrigado a protestar.
( A r t . 4 1 1 ; Reg. art. 371, § 2.)
Art. 375. O portador que consentir e m aceite condicional, sem
protestar, tomará s o b r e s i o s r i s c o s d a l e t r a . (Arte. 394 e 398.)
Se o aceite fôr puro, mas restricto quanto á somma sacada, é
livre ao p o r t a d o r a d m i t t i r o aceite parcial, protestando pelo resto ,
ou recusa-lo, protestando p e l o t o d o . (Reg. art. 371, § 5.)
Art. 376. O portador de letra de cambio aceita ou n ã o aceita é
obrigado a pedir o seu pagamento no dia do vencimento, e, não
sendo paga, a fazê-la protestar de n ã o paga. O pagamento deve ser
pedido, e o protesto feito no lugar onde a letra fôr cobravel (arts.
3 7 4 e 4 H ) . (Reg. art. 371, § 6.)
Art. 377. O p o r t a d o r de letra de c a m b i o protestada é obrigado a
fazer aviso á q u e l l e de q u e m a tiver recebido , e a remetter-lhe certi-
d ã o d o p r o t e s t o p e l a p r i m e i r a v i a o p p o r t u n a q u e se l h e o f T e r e c e r ( a r t .
371); pena de ficar extincla toda a acção que podia ter para haver
o seu embolso d o s a c a d o r e e n d o s s a n t e s . (Art. 403.)
Se a l g u m dos interessados na letra f ô r m o r a d o r no mesmo lugar,
a n o t i f i c a ç ã o s e r á feita d e n t r o de tres dias ú t e i s , e d e b a i x o da mesma
p e n a (art.' 4 0 9 ) . (Reg. art. 3 8 3 . 384- 385.)
Art. 378. T o d o s os endossados s ã o o b r i g a d o s a t r a n s m i l t í r o pro-
testo r e c e b i d o , e na mesma dilação (art. 3 7 7 ) , aos seus respectivos
endossadores; pena de serem responsáveis pelas perdas e damnos
que da sua missão resultarem. (Reg. art. 385.)
Art. 3 7 9 . N o t i f i c a d o o protesto de letra n ã o aceita ao u l t i m o endos-
sador, o portador, exhibindo o competente protesto de n ã o aceite,
t e m direito para exigir delle, do sacador, o u de q u a l q u e r o u t r o obri-
gado á letra , fiança que segure o pagamento no seu vencimento.
(Art. 832.)
Recusada a fiança, p ô d e o portador tirar mandado de e m b a r g o , e
pôr em deposito bens de qualquer dos obrigados á letra , que che-
g u e m para total pagamento, até que este se r e a l i s e no seu venci-
mento ( a r t . 8 3 1 ) . (Reg. art. 321, § 1.)
Art. 380. Quando o protesto é unicamente de não aceite, o
portador só t e m a c ç ã o contra o sacador e endossadores, e quaesquer
outros garantes da letra. Sendo porém o protesto de aceita e não
paga , o portador p ô d e accionar t a m b é m o aceitante e os s e u s abo-
nadores, se o s houver.
Art. 3 8 1 . O portador que nSo tira e m tempo util e fôrma regular
o protesto da letra n ã o aceita , perde todo o direito e a c ç ã o contra
os endossados, e só o conserva contra o sacador: sendo p o r é m o
protesto de falta de pagamento, perde todo o direito contra o sa-
cador e endossadores, e só o conserva contra o aceitante; salvo no
caso prevenido nos artigos 367 e 3 6 8 , em que o eonserva t a m b é m
contra o sacador, e contra aquelle por conta de q u e m a letra f o i
passada. ( A r t . 4 2 2 ; Reg. arts. 372 § 2 , 3 ; 373 § 1.)

MAN. NEG. Ò
66 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Art. 382. O portador de lelra de cambio devidamente protes-


tada por falta de p a g a m e n t o , que fôr omisso e m accionar a mesma
letra dentro de u m a n n o a contar da data do protesto, sendo passada
dentro do I m p é r i o , e d e d o u s a n n o » se t i v e r s i d o s a c a d a o u n e g o c i a -
da fóra delle, p e r d e r á t o d o o seu d i r e i t o c o n t r a os e n d o s s a d o r e s , mas
conserva-lo-ha contra o sacador e o aceitante, emquanto a letra
não prescrever (art. 443).
Art. 383. O p o r t a d o r de letra de c a m b i o d e v i d a m e n t e protestada
pode haver o seu e m b o l s o p o r u m dos dous m o d o s seguintes:(//rt. 415.)
I. Resacando do lugar onde a l e t r a d e v i a ser p a g a , sobre o saca-
dor o u u m dos endossadores, pelo principal, c o m juros, recambios
e despezas legaes (art. 422); de modo que, salvas as despezas e
juros, venha a receber na praça do sacado exactamente o mesmo
que r e c e b e r i a se a l e t r a f o s s e p a g a , e n a d a mais.
II. Remettendo a letra acompanhada do protesto para o lugar
e m que f o i sacada ou endossada, para a l i ser paga pelo sacador
ou endossador com a mesma quantia nella designada, reduzida a
moeda c o r r e n t e d o c a m b i o d o d i a e m q u e se e f f e c t u a r o pagamento,
ha vendo-o; e se o n ã o h o u v e r , ao u l t i m o c a m b i o eirectuado. c o m
os juros desde o dia e m que o dinheiro f o i dado pela letra até o do
embolso. e despezas legaes.
Art. 384. O endossador que pagar a letra protestada t e m direito
para haver o seu embolso do sacador, o u de q u a l q u e r dos endos-
sadores anteriores, pelo m e s m o modo por que elle o h o u v e r effec-
tuado , na fôrma anuunciada no artigo antecedente. ( A r t . 415.)
Art. 385 Se o sacador ou qualquer dos endossadores, quando
negociou a letra, restringir por declaração n e l l a e s c r i p t a as praças
e m q u e p ô d e ser n e g o c i a d a , s ó será r e s p o n s á v e l pelas ditferenças de
c â m b i o s , c o m m i s s õ e s e c o r r e t a g e m dos resaques o u remessas d a letra
das p r a ç a s c o m p r e h e n d i d a s e m tal d e c l a r a ç ã o (art. 421). ( A r t . 4 1 5 . )
Art. 386. O p o r t a d o r de letra de c a m b i o q u e receber o seu i m -
porte, e b e m assim todos os endossadores, são regressivamente
garantes da validade dos endossos anteriores para c o m o pagador
(art. 360).
Ari. 387. O simples possuidor de u m a letra , a i n d a q u e n ã o tenha
endosso, nem outro algum titulo, pôde e deve fazer a respeito delia
as d i l i g e n c i a s e p r o t e s t o s n e c e s s á r i o s , e e x i g i r o d e p o s i t o d o s e u i m -
p o r t e n o d i a d o v e n c i m e n t o ( a r t . 2 7 7 ) , ( A r t . 8 3 3 . Reg. arts. 12, 373, § 2 . )
Art. 388. O portador de letra de c a m b i o d e s e n c a m i n h a d a antes
do aceile, o u depois de protestada por falta delle, tem direito para
pedir o seu embolso do sacador por acção ordinária, provando a
propriedade da letra, e prestando fiança idônea. ( A r t . 398.)
Se porém o extravio acontecer depois do aceite, será o aceitante
obrigado a consignar o valor da letra e m deposito , por conta de
quem pertencer; mas o portador n ã o tem direito para levantar o
deposito, sem que preste fiança idônea para s e g u r a n ç a do aceitante.
A fiança prestada nos dous r e f e r i d o s casos só pôde levantar-se
apresentando-se a letra desencaminhada, o u depois da sua pres-
cripção ( a r t . 4 4 3 ) . (Reg. art. 378.)
CÓDIGO COMMERCtAL 67

Art. 389. O proprietário ou mandatário de lelra desencaminhada


deve avisar i m m e d i a t a m e n t e ao s a c a d o r e ao u l t i m o endossador, e
fazer notificar judicialmente ao sacado para que n ã o aceite, e tendo
aceitado n ã o pague sem exigir fiança ou deposito.
Art. 390. Quebrando o aceitante de letra de c a m b i o antes do
vencimento, o portador, logo que tiver noticia da quebra, deve
interpor o competente protesto para segurança de seus d i r e i t o s , e
tem acção para exigir fiança idônea do ultimo endossador ou do
s a c a d o r * ( a r t . 8 3 1 ) . (Reg. art.' 371, § 7.)
Art. 3 9 1 . O p o r t a d o r de letra de c a m b i o d e v i d a m e n t e protestada
por falta de pagamento pôde, e m caso de quebra do aceitante,
apresentar-se pela totalidade do seu c r e d i t o a t o d a s as massas f a l -
lidas dos que na mesma letra fôrem coobrigados, e os d i v i d e n d o s
recebidos de u m a das massas descarregarão as n u t r a s , e os coobri-
gados solventes a t é seu inteiro p a g a m e n t o (art. 892).

SECÇÀO v.

Do sacado e aceitante.

Art. 392. O commerciante que por escripto autorisa a outrem


para sacar sobre elle é obrigado a aoeitar e pagar, e fica sujeito a
t o d a s as r e s p o n s a b i l i d a d e s e i n d e m n i s a ç õ e s , c o m o se f o s s e o próprio
sacador (art. 422).
A promessa porém de aceitar u m a letra se ella f ô r sacada, sem
expressa autorisação para o saque, sómente d á acção por damnos
contra o promettente que recusa aceitar e pagar.
Art. 393. O c o m m e r c i a n t e sobre q u e m fôr sacada alguma letra
de cambio é obrigado a aceitar a primeira das vias que lhe fôr
apresentada, ou a negar o seu aceite, dentro de vinte e quatro
horas, ao mais t a r d a r , d a sua a p r e s e n t a ç ã o , o u no m e s m o d i a se a
letra fôr pagavel á vista.
Art. 394. O aceite deve ser puro, e concebido nos seguintes
t e r m o s — aceito—-ou aceitamos — (art. 3 7 5 ) , e escripto no corpo da
letra : o sacado n ã o pôde riscar n e m retractar o seu aceite depois
de assignado.
N o s casos de aceite f a l s o , o p o r t a d o r t e m r e c u r s o , c o n t r a o saca-
dor e endossadores.
Art. 395. S e n d o a letra passada a dias o u mezes de vista, o aceite
deve ser d a t a d o : não o sendo, será a letra protestada, e correrá o
prazo do v e n c i m e n t o da data d o p r o t e s t o . [Reg. art. 371, § 9.)
Art. 396. Aquelle q u e c o m m e l t e r o erro de aceitar mais de u m a
via da mesma letra ficará obrigado a pagar t o d a s as que aceitar,
c o m direito salvo para embolsar-se de q u e m indevidamente tiver
recebido (art. 400).
Art. 397. Na falta de aceite do sacado, tirado o respectivo pro-
testo (art. 403) , qualquer terceiro pôde ser a d m i t t i d o a a c e i t a r o u
pagar a letra de c a m b i o por conta ou honra da firma do sacador,
68 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

ou de q u a l q u e r o u t r a o b r i g a d a á l e t r a , a i n d a q u e p a r a este a c t o n ã o
se a c h e expressamente autorizado.
O próprio sacador e qualquer outra firma obrigada á letra pôde
offerecer-se para aceitar o u pagar.
O pagador da letra e m taes casos fica s u b r o g a d o nos direitos e
acções do portador para c o m a firma o u firmas por conta de quem
pagar. (Reg. art. 371, § 8 . )
Art. 398. O aceitante n ã o é obrigado a pagar, se o p o r t a d o r lhe
não entrega o exemplar da letra e m que firmou o aceite; salvo
desencaminhando-se a letra (art. 3 8 8 ) , o u q u a n d o o aceitante a n ã o
paga por inteiro (art. 375) : neste ultimo caso, só p ô d e exigir-se do
portador que lance o recebimento na letra, o u q u e passe r e c i b o e m
separado da quantia paga.
Art. 399. Aquelle que paga u m a letra de cambio no seu venci-
mento sem opposiçao de terceiro, presume-se validamente deso-
brigado.
Art. 400. Q u e m paga u m a letra de cambio por u m a via e m que
não se a c h a o seu aceite, n ã o fioa desonerado para c o m o portador
do aceite: pagando t a m b é m a este, t e m direito para haver o seu
embolso daquelle que indevidamente houver recebido (art. 396).
(Art. 406.)
Art. 401. OfTerecendo-se o sacado, a q u e m se tiver protestado
u m a letra por falta de aceite, a fazer o p a g a m e n t o desta no venci-
mento, será admittido c o m preferencia a outro qualquer; mas por
este p a g a m e n t o n ã o ficará desonerado da o b r i g a ç ã o de pagar todos
os d a m n o s e despezas legaes r e s u l t a n t e s da sua falta de aceite.
Art. 402. Fazendo-se o pagamento de intervenção por conta ou
h o n r a da f i r m a do sacador, t o d o s os e n d o s s a d o r e s ficão desobrigados.
Se o pagamento se f a z p o r c o n t a o u h o n r a de u m dos endossado-
r e s , t o d o s os s i g n a t á r i o s s e g u i n t e s na o r d e m dos endossos ficão des-
onerados. (Reg. art. 382.)
Art. 403. E m t o d o s os casos d e i n t e r v e n ç ã o d e t e r c e i r o n o aceite
ou pagamento de letras, o portador é obrigado a t i r a r os compe-
tentes protestos, declarando nelles o nome do interventor, e por
conta e h o n r a de q u e f i r m a i n t e r v e i o : e s ã o t a m b é m indispensáveis
os avisos do aceitante pela f ô r m a determinada no artigo 377. (Reg.
art. 3 7 1 , § 8.)
Art. 404. Offerecendo-se o aceitante, ou a l g u é m por elle, a fazer
o pagamento da letra antes do v e n c i m e n t o , e m todo ou e m parte,
o portador n ã o é obrigado a receber, ainda que a o f f e r t a se faça
sem desconto n e m rebate (art. 4 3 1 ) .

ÍECÇÃO vi.

Dos protestos. (*)

Art. 405. Os protestos das letras de cambio devem ser feitos pe-
rante o escrivão privativo dos protestos, o n d e o h o u v e r ; e n ã o o ha-

(*) Consulte-se a L e i de 12 de M a i o 1840 , art. 8.


CÓDIGO COMMERCIAL 69

vendo, perante qualquer tabellião do lugar, o u escrivão c o m fé publica


na falta o u i m p e d i m e n t o de tabellião. (Reg. art. 3 7 0 , 3 7 5 , § 1. 2 . 3.)
Art. 406. O acto do protesto deve conter essencialmente: (Reg.
arts. 380, 682 § 2.)
í. Declaração da hora , dia , m e z e anno e m que a letra f o i apre-
sentada ao o f f i c i a l do protesto:
II. Copia litteral d a m e s m a l e t r a , e d e t u d o q u a n t o n e l l a se achar
escripto, e pela m e s m a o r d e m por que tiver sido escripto :
III. Certidão de intimação feita ao sacado e á s m a i s pessoas a
q u e m c o m p e t i r (arts. 377 e 4 0 0 ) , para q u e aceitassem o u pagassem,
ou dessem a razão p o r q u e n ã o aceitavão o u n ã o pagavão, e a resposta
dada, ou declaração de que nenhuma derão: ( A r t . 409; Reg. arts.
380, 383, 682 § 2 . )
IV. A cominação de perdas, damnos, interesses e despezas
legaes c o n t r a t o d o s os o b r i g a d o s á l e t r a :
V. Assignatura da pessoa q u e protestar :
VI. Data do dia e m que o protesto fôr interposto, e a data e m que
se t i r a r o i n s t r u m e n t o ; o q u a l d e v e s e r a s s i g n a d o pelo protestante,
e subscripto pelo official publico, c o m duas testemunhas presenciaes.
Art. 407. T o d a a letra que h o u v e r de ser p r o t e s t a d a por falta de
aceite o u de p a g a m e n t o d e v e ser l e v a d a ao o f f i c i a l p u b l i c o d o pro-
testo no mesmo dia e m que d e v i a ser a c e i t a o u p a g a , antes do sol
p o s t o ( a r t . 3 5 6 , 3 5 7 e 3 5 8 ) . (Art. 409.)
O p r o t e s t o d e v e ser t i r a d o d e n t r o d e tres dias ú t e i s p r e c i s o s ; pena
de ser n u l l o ( a r t . 4 1 4 ) . (Reg. arts. 381, 382, 383, 388.)
Art. 408. O official publico perante q u e m se i n t e n t a r o p r o t e s t o ,
immediatamente que a letra de cambio lhe fôr apresentada, t o m a r á
a p o n t a m e n t o delia e m livro que é obrigado a ter destinado exclusi-
v a m e n t e p a r a este fim, competentemente aberto e encerrado, n u -
merado e r u b r i c a d o pelo juiz de direito do c o m m e r c i o , escripto
s e g u i d a m e n t e , e s e m i n t e r v a l l o a l g u m e m b r a n c o q u e possa d a r l u g a r
para outro apontamento. O referido livro deve pagar o sello da l e i
á n t e s d e n e l l e s e c o m e ç a r a e s c r e v e r . ( A r t s . 4 1 0 « 4 1 4 ; T i t . unic. art. 17.)
No alto da letra a v e r b a r á a folha do livro e m que a mesma letra
ficar apontada, c o m a data da sua apresentação, e assiguará esta
annotação c o m o appellido de que usar. (Reg. art. 21 § 7 ; 380, 388.)
Art. 409. O official publico é obrigado a fazer por escripto as
intimações necessárias (art. 4 0 6 n . ° 3 ) , d e n t r o dos sobreditos tres dias
ú t e i s ; debaixo da m e s m a pena de nuilidade (arts. 407 e 4 1 4 ) . ( A r t .
377; Reg. arts. 380, 383, 388.)
Art. 410. Feito o protesto , o official publico é obrigado a lançar
ò instrumento que formar e m u m livro de registro p r i v a t i v a m e n t e
d e s t i n a d o p a r a este fim, preparado e escripturado c o m as formali-
dades prescriptas n o art. 4 0 8 . Deste registro d a r á á s partes as cer-
tidões que lhe f ô r e m pedidas. (Reg. art. 2 1 , § 7; 380.)
Art. 4 1 1 . A s letras de c a m b i o d e v e m ser p r o t e s t a d a s no lugar do
domicilio do sacado o u aceitante.
Se as l e t r a s f ô r e m sacadas o u aceitas para s e r e m pagas e m outro
domicilio que n ã o fôr o do sacado o u aceitante, o u por u m a terceira
pessoa d e s i g n a d a , nesse d o m i c i l i o d e v e ser f e i t o o p r o t e s t o ( a r t . 3 7 4 ) .
70 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

S e o q u e d e v e a c e i t a r 011 p a g a r a letra fôr desconhecido, o u sc n ã o


puder d e s c o b r i r o sen d o m i c i l i o , far-se-ha o protesto n o l u g a r d o pa-
gamento, e a inlimação .«era f e i t a p o r denunciação do official que
tomar o protesto, aflixada nos lugares do estylo, e publicada nos
jornaes. ( A r t . 3 7 6 ; Reg. arts. 3 7 1 , § 4 ; 3 7 4 , § 1. 2 ; 386.)
Art. 412. Se acontecer que o sacado, lendo ficado c o m a letra c m
seu poder para aceitar ou pagar, se r e c u s e á s u a e n t r e g a a tempo de
p o d e r ser l e v a d a ao p r o t e s t o , s e r á este t o m a d o s o b r e o u t r a v i a , o u em
s e p a r a d o se a n ã o h o u v e r , c o m essa d e c l a r a ç ã o : e p o d e r á proceder-
se a p r i s ã o contra o sacador até qne eífectue a entrega da letra.
Para poder porém ordenar-se a prisão é indispensável que o por-
tador da letra produza e m juizo prova sufíiciente de que a letra foi
entregue ao sacado, e que sendo-lhe pedida a n ã o entregára. E m
a j u d a de p r o v a , o juiz p ô d e deferir ao p o r t a d o r j u r a m e n t o s u p p l e t o r i o .
(Reg. arts. 166; 3 7 1 , § 3 ; 376.)
Art. 413. A letra de c a m b i o que tiver sido aceita por intervenção
deve ser protestada de n ã o paga contra o sacado que lhe negou o
a c e i t e , e c o n t r a t o d a s as m a i s firmas responsáveis pelo seu pagamento.
F a l t a n d o este protesto, o interventor fica desonerado da obrigação
de pagar; c pagando sem protesto, perde todo o direito e acção
c o n t r a os o b r i g a d o s a o p a g a m e n t o d a l e t r a . (Reg. art. 371, § 8 . )
Art. O official publico que, por omissão ou prevaricação,
fôr causa da nullidade de algum protesto (arts. 408 e 4 0 9 ) , será
obrigado a indemnisar as partes de t o d a s as perdas, damnos e des-
pezas legaes q u e dessa n u l l i d a d e r e s u l t a r e m , e p e r d e r á o seu ofíicio.
( A r t . 4 0 7 ; Reg. arte.'382, 383, 388.)

SECÇÀO VII.

Do Recambio.

Art. 415. O recambio eiTectua-se pelo resaque, que é uma nova


letra de c a m b i o passada sobre o sacador o u sobre u m dos endossa-
dores, per meio da qual o p o r t a d o r se r e e m b o l s a do principal da
letra, juros e despezas legaes, pelo curso do c a m b i o ao tempo do
resaque (arts. 383, 384 e 385).
Art. 416. A letra de r e c a m b i o será a c o m p a n h a d a : ( A r t . 418.)
I. De u m a conta de retorno, a q u a l deve enunciar o nome da-
quelle sobre quem se r e s a c a , e o p r e ç o d e r e c a m b i o por que a letra
íoi negociada, certificado por corretor ou por dous commerciantes
na falta deste, e conter o principal da letra de c a m b i o protestada,
j u r o s e despezas legaes (art. 4 2 2 ) .
II. D a letra de c a m b i o protestada e do protesto, o u de u m a cer-
tidão authentica delle.
Sendo o resaque feito sobre u m dos endossadores, deve mais a
letra de recambio ir acompanhada de documento que prove o curso
do c a m b i o do lugar onde a letra era pagavel sobre o lugar onde foi
sacada, o u sobre aquelle e m que fez o embolso.
Não se poderá exigir o recambio, se a conta do retorno n ã o fôr
acompanhada dos documentos referidos.
CÓDIGO COMMERCIAL 71

Art. 417. O r e c a m b i o , a respeito do saoador, será regulado pelo


curso do cambio entre o lugar do saque e o lugar do pagamento ;
e e m n e n h u m caso é a q u e l l e o b r i g a d o a pagar m a i s alto curso.
A respeito dos endossadores, será regulado o recambio pelo curso
d o l u g a r o n d e a letra de c a m b i o f o i p o r elles e n t r e g u e ou negociada,
e o l u g a r o n d e se f e z o e m b o l s o .
Art. 418. N ã o havendo curso de cambio entre as differentes
praças, o r e c a m b i o será regulado pelo curso do c a m b i o que a praça
mais vizinha tiver c o m o lugar onde o r e s a q u e h o u v e r d e ser p a g o ,
provado pela f ô r m a sobredita (art. 416).
Art. 419. Os recambios não podem accumular-se: cada endos-
sador supporta s ó m e n t e u m recambio, b e m como o sacador.
Art. 420. As letras de r e c a m b i o d e v e m ser sacadas na primeira
occasião q u e se offerecer depois do protesto, não podendo nunca
exceder do tempo que decorrer da tirada do mesmo protesto até a
sahida do segundo paquete, correio ou navio que levar correspon-
dência para o lugar da residência do resacado 'art. 371).
Art. 421. Os resaques ou letras de recambio são negociáveis
sómente para a praça onde as letras originaes forão sacadas ou
negociadas (art. 385).

SECÇÃO v m .

Disposições geraes.

Art. 422. Todos os que sacão ou dão ordem para o saque, en-
dossão ou aoeitão letras de c a m b i o , o u a s s i g n ã o como abonadores,
ainda que n ã o sejão commerciantes, são solidariamente garantes
das mesmas letras e obrigados ao seu pagamento, c o m juros e
recambios havendo-os, e t o d a s as despezas legaes, como s ã o , c o m -
m i s s õ e s , portes de cartas, sellos e p r o t e s t o s ; c o m direito regressivo
do ultimo endossador até o sacador, sempre que a letra tiver sido
apresentada ao sacado , e regularmente protestada (art. 381). Arts.
383, 392 e 416.)
Art. 423. Os juros da letra protestada por falta de pagamento
devem-se do dia do p r o t e s t o , e os j u r o s das despezas legaes do dia
em q u e estas se f i z e r e m .
Art. 424. As contestações judiciaes que respeitarem a actos de
apresentação de letra de c a m b i o , seu a c e i t e , pagamento, protesto
e notificação, serão decididas segundo as l e i s o u u s o s commerciaes
das praças dos paizes onde e s t e s a c t o s f ô r e m p r a t i c a d o s . (Reg. arts.
3 , § 2 ; 2 1 6 , Decr. 2 5 Novembro l S h ú , art. 22.)

CAPITULO II.

Das letras da terra, notas promissórias e créditos mercantis.

Art. 425. As letras da terra são em tudo iguaes ás letras de


cambio, c o m a única differença de serem passadas e aceitas na
mesma província. (Reg. arts. 247, § 3; 370.)
72 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 426. As notas promissórias e os escriptos particulares ou


créditos c o m promessa ou obrigação de pagar quantia certa, e c o m
prazo f i x o , a pessoa d e t e r m i n a d a o u ao portador, á ordem ou sem
ella, sendo assignados por commerciante, serão reputados como
letras da t e r r a , sem que comtudo o portador seja o b r i g a d o a pro-
testar q u a n d o n ã o s e j ã o pagos n o v e n c i m e n t o ; s a l v o se nelles houver
algum endosso. ( A r t . 3 6 4 ; Reg. arts. 1 4 1 , g 2 ; 247, § 4 ; 370.)
Art. 427. Tudo quanto neste titulo fica estabelecido a respeito
das letras de cambio servirá de regra igualmente para as letras
da terra, para as notas promissórias e para os c r é d i t o s mercantis,
t a n t o q u a n t o possa ser a p p l i c a v e l .

TITULO XVIL

DOS MODOS POR QUE SE DISSOLVEM E EXTINGUEM AS

OBRIGAÇÕES COMMERCIAES.

CAPITULO I.

Disposições geraes.

Art. 428. As obrigações commerciaes dissolvem-se por todos os


meios que o direito civil admilte para a extincção e dissolução das
o b r i g a ç õ e s e m g e r a l , c o m as m o d i f i c a ç õ e s d e s t e C ó d i g o . (Reg. art. 2.)

CAPITULO II.

Dos pagamentos mercantis.

Art. 429. O pagamento só é valido sendo feito ao próprio credor


ou a pessoa p o r elle c o m p e t e n t e m e n t e autorisada para receber.
Art. 430. N a falta de ajuste de l u g a r , deve o pagamento ser feito
no domicilio do devedor.
Art. 431. O c r e d o r n ã o p ô d e ser o b r i g a d o a r e c e b e r o pagamento
em lugar differente do ajustado, n e m antes do t e m p o do venci-
mento ; n e m a receber por parcellas o que fôr devido por inteiro,
salvo : 1.°, sendo i l l i q u i d a a q u a n t i a r e s t a n t e ; 2 . ° , q u a n d o se devem
sommas e prestações distinctas , o u provenientes de diversas causas
ou titulos; 3 . ° , se a o b r i g a ç ã o é divisivel por direito, como nas par-
tilhas de credores, sócios o u herdeiros ; 4.% nas e x e c u ç õ e s judiciaes,
quando os bens executados n ã o chegão para o total pagamento.
(Art. 404.)
Se a divida fôr e m moeda metallica , na falta desta o pagamento
pôde ser effectuado na moeda corrente do paiz ao cambio que
c o r r e r n o l u g a r e d i a d o v e n c i m e n t o : e se, h a v e n d o m o r a , o cambio
descer, ao curso que tiver no dia e m que o pagamento se e f f e c t u a r ;
salvo tendo-se estipulado expressamente q u e este deverá ser feito
em certa e determinada espécie, e a cambio fixo. (Reg. arts. 397, §
2 ; 3; 592.)
CÓDIGO C O M M E R C I A L 73

Art. 432. As verbas creditadas ao devedor e m conta corrente


assignada pelo credor, o u nos livros commerciaes deste (art. 23),
fazem presumir o pagamento, ainda que a divida fosse contrahida
por escriptura p u b l i c a o u p a r t i c u l a r . (Reg. arts. 185 e 186.)
Art. 433. Quando se deve por diversas causas ou títulos diffe-
rentes, e dos recibos ou livros n ã o consta a divida a que se fez
applicação da quantia paga, presume-se o pagamento feito:
I. Por conta de divida liquida e m concurrencia c o m outra
illiquida.
II. Na concurrencia de dividas igualmente líquidas, por conta
da que fôr mais onerosa.
III. Havendo igualdade na natureza dos d é b i t o s , imputar-se-ha
o pagamento na divida mais antiga.
IV. Sendo as dividas da mesma data e de igual natureza, en-
tende-se feito o pagamento por conta de todas e m devida proporção.
V. Quando a divida vence j u r o s , os p a g a m e n t o s por conta i m -
p u t ã o - s e p r i m e i r o nos j u r o s , q u a n t o baste para s o l u ç ã o dos vencidos.
(Reg. arts. 185 e 186.)
Art. 434. O credor, quando o devedor se n ã o satisfaz com a
simples entrega do titulo, é obrigado a dar-lhe quitação ou recibo,
por d u a s o u t r e s v i a s se e l l e r e q u e r e r m a i s de uma.
A quitação ou recibo concebido e m t e r m o s geraes sem reserva
ou limitação , e quando contém a cláusula de — a j u s t e final de contas,
resto de maior quantia,—ou oulra equivalente, presume-se que
comprehendetodo e q u a í q u e r debito q u e p r o v e n h a de causa anterior
á data da m e s m a q u i t a ç ã o o u r e c i b o . (Reg. arts. 185, 186 e 393 § 3.)
Art. 435. Passando-se q u i t a ç ã o geral a uma administração, n ã o
ha lugar a reclamação alguma contra esta; salvo p r o v a n d o - s e erro
d e c o n t a , d o l o o u f r a u d e . (Reg. art. 247, § 3.)
Art. 436. A solução o u pagamento feito por u m terceiro desobriga
o devedor; mas se este tinha interesse em que se n ã o fizesse o
pagamento, porque podia illidir a acção do credor por qualquer
titulo, o pagamento do terceiro é julgado indevida e incompeten-
temente feito, e n ã o perime o direito e acção do credor contra o
seu devedor.
Sendo o pagamento feito antes do vencimento, o cessionário
subrogado n ã o pôde accionar o devedor senão depois de vencido
o prazo. (Reg. art. 395.)
Art. 437. O devedor e m cujo poder alguma quantia fôr embar-
gada, e o C o m p r a d o r de a l g u m a cousa que esteja sujeita a algum
encargo ou obrigação , fica desonerado , consignando o preço ou
a cousa e m deposito judicial, c o m citação pessoal dos credores
conhecidos e e d i t a l p a r a os desconhecidos.
A citação edital n ã o prejudica o direito dos credores desconhe-
cidos que tiverem hypotheca na cousa vendida por tempo certo
designado na lei ou n o c o n t r a c t o , e m q u a n t o esse p r a z o n ã o e x p i r a r .
( R e g . arts. 393, § 4. 5; 395./
74 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

C A P I T U L O I I I .

Da novação e compensação mercantil.

Art. 438. Dá-se novação: 1.° quando o devedor contrahe com o


credor u m a nova obrigação que altera a natureza da primeira;
2.° q u a n d o u m novo devedor substitue o a n t i g o , e este fica desobri-
gado; 3.° q u a n d o por u m a nova convenção se substitue u m credor
a o u t r o , por effeito da qual o devedor fica desobrigado do primeiro.
( A r t . 343.)

A n o v a ç ã o d e s o n e r a t o d o s os c o o b r i g a d o s que nella nao intervém


(art. 262).

Art. 439. Se u m commerciante é obrigado a outro por certa


quantia de dinheiro o u effeitos, e o credor é obrigado o u devedor a
elle e m outro tanto mais ou menos, s e n d o as dividas ambas igual-
mente líquidas e certas, ou os e f f e i t o s d e igual natureza e espécie,
o devedor que f ô r pelo outro demandado tem direito para exigir
que se f a ç a c o m p e n s a ç ã o ou encontro de u m a divida c o m a outra,
em tanto q u a n t o a m b a s c o n c o r r e r e m . (Reg. art. 577, § 5.)
Art. 440. T o d a v i a , se u m c o m m e r c i a n t e , sendo demandado pela
entrega de certa quantia, ou outro qualquer valor dado e m guarda
ou deposito, allegar que o credor lhe é devedor de outra igual quantia
ou valor, n ã o terá lugar a c o m p e n s a ç ã o , e será obrigado a entregar
o d e p o s i t o ; s a l v o se a s u a divida proceder de titulo igual. (Arts. 272
*284; Reg. arts. 108, 2 7 8 , 577, § 5 . )

TITULO XVII.

DA FRESCRIPÇÂO.

Art. 441. Todos os prazos marcados neste Código para dentro


delles se intentar alguma acção ou protesto, ou praticar a l g u m
outro acto, s ã o fataes e i m p r o r o g a v e i s , s e m que contra a sua pres-
cripção se possa allegar reclamação ou beneficio de restituição
ainda que seja a favor de menores.
Além dos casos de prescripção especificados e m diversos artigos
deste Código (arts. 109, 2 1 1 , 5 1 2 , 527 e 7 1 8 ) , t a m b é m se d á pres-
cripção nos de que t r a t ã o os seguintes.
Art. 442. Todas as a c ç õ e s f u n d a d a s s o b r e o b r i g a ç õ e s commerciaes
contrahidas por escriptura publica ou particular* prescrevem n ã o
sendo intentadas d e n t r o de v i n t e annos.
Art. 443. As acções provenientes de letras prescrevem no fim de
cinco annos, a contar da data do protesto, e na falta deste da data
do seu v e n c i m e n t o , nos termos do artigo 3 8 1 . ( A r t s . 382 e 388.)
Art. 444. As acções de terceiro contra sócios n ã o liquidantes,
suas v i u v a s , h e r d e i r o s ou suecessores, prescrevem no fim de cinco
annos, n ã o tendo já prescripto por outro t i t u l o , a contar do dia do
tim da sociedade, se o distrate houver sido l a n ç a d o no registro do
CÓDIGO C O M M E R C I A L 75

commercio, e se houverem feilo os annuncios determinados no


artigo 3 3 7 ; s a l v o se taes acções fôrem dependentes de outras pro-
postas e m tempo competente.
As acções dos sócios entre si r e c i p r o c a m e n t e e contra os liqui-
dantes, prescrevem, n ã o sendo a liquidação reclamada, dentro de
dez dias depois da sua c o m m u n i c a ç ã o (art. 348).
Art. 445. A s dividas provadas por contas correntes dadas e aceitas,
ou por contas de vendas de c o m m e r c i a n t e a commerciante presu-
midas líquidas (art. 219), prescrevem no fim de quatro annos da
sua data.
Art. 446. O direito para demandar o pagamento de mercadorias
fiadas sem titulo escripto assignado pelo devedor, prescreve no fim
de dous annos, sendo o devedor residente na m e s m a província do
credor: no fim de tres a n n o s , se fôr morador n'outra província; e
p a s s a d o s q u a t r o a n n o s , se r e s i d i r f ó r a d o Império.
A acção para demandar o c u m p r i m e n t o de qualquer obrigação
commercial que se n ã o p o s s a p r o v a r s e n ã o p o r t e s t e m u n h a s , pres-
creve dentro de dous annos.
Art. 447. As a c ç õ e s , resultantes de letras de d i n h e i r o a risco ou
seguro m a r í t i m o , prescrevem no fim de u m anno a contar do dia
em que as obrigações fôrem exeqüíveis (arts. 6 3 8 , 660 e 667, n. O Í
9
e 10), sendo contrahidas dentro do I m p é r i o , e no fim de tres, tendo
sido c o n t r a h i d a s e m paiz estrangeiro.
Art. 448. As a c ç õ e s de salários, soldadas, jornaes ou pagamento
de empreitadas contra commerciantes, prescrevem no fim de u m
anno, a contar do dia e m que os a g e n t e s , c a i x e i r o s o u operários
tiverem sabido do serviço do c o m m e r c i a n t e , o u a obra da emprei-
tada fôr entregue. Se porém as dividas se provarem por títulos
escriptos, a presoripção seguirá a natureza dos títulos.
Art. 449. Prescrevem igualmente no fim de u m a n n o :
I. As acções entre contribuintes para avaria grossa , se a sua
regulação e rateio se não intentar dentro de u m anno, a contar
do fim da v i a g e m e m que teve l u g a r a perda.
II. As a c ç õ e s por entrega da carga, a contar do dia e m que findou
a viagem.
III. As acções de frete e primagem , estadias e sobr'estadias, e
as d e a v a r i a s i m p l e s , a contar do dia da entrega da carga.
IV. Os salários e soldadas da e q u i p a g e m , a contar do dia e m que
findar a v i a g e m . [Arts. 563 e 876 § 4.)
V. As acções por mantimentos suppridos a marinheiros por
ordem do c a p i t ã o , a contar do dia do recebimento.
VI. As acções por jornaes de operários empregados e m cons-
trucção ou concerto de navio, ou por obra de empreitada para o
mesmo navio, a contar do dia e m que os operários forão despe-
d i d o s o u a o b r a se entregou.
E m t o d o s os casos p r e v e n i d o s n o n.° 3 e seguintes, se a d i v i d a se
provar por obrigação escripta assignada pelo capitão, armador ou
consignatario, a prescripção seguirá a natureza do titulo escripto.
Art. 450. N ã o corre prescripção a favor de depositário, n e m de
76 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

credor pignoraticio; prescreve p o r é m a favor daquelle que, por


a l g u m titulo legal, succeder na cousa depositada ou dada e m penhor,
no fim de trinta annos a contar do dia da posse d o successor, não
se provando que é possuidor de m á lé.
Art. 451. O capitão de navio n ã o pôde adquirir por titulo de
prescripção a posse da embarcação e m que servir, n e m de cousa a
ella pertencente.
Art. 452. Contra os qne se acharem servindo nas armadas ou
exércitos irnperiaes e m tempo de g u e r r a , n ã o correrá prescripção,
emquanto a guerra durar, e u m anno depois.
Art. 453. A prescripção interrompe-se por a l g u m dos modos
seguintes:
I. Fazendo-se novação da obrigação, ou renovando-se o titulo
primordial delia.
II. Por via de citação iudicial, ainda mesmo que tenha sido só
para juizo conciliatório. [Reg. art. 38.)
III. Por meio de protesto judicial, intimado pessoalmente ao
devedor, o u p o r edictos ao ausente de que se n ã o t i v e r noticia.
A prescripção interrompida principia a correr de novo: no pri-
meiro caso da data da novação ou reforma do titulo ; no segundo
da data do ultimo termo judicial que se praticar por effeito da
citação; no terceiro da data da intimação do protesto. (Reg. art. 5$

Art. 454. A citação ou intimação de protesto feita a devedor do


herdeiro c o m m u m , n ã o interrompe a prescripção contra os mais
co-réos da divida. Exceptuão-se os sócios, c o n t r a os quaes ficará
interrompida a prescripção sempre que u m dos sócios fôr pessoal-
m e n t e citado ou i n t i m a d o do protesto.
Art. 455. Aquelle que possue por seus agentes, propostos ou
mandatários, pais, tutores ou curadores, entende-se que possue
por si.

Q u e m provar que p o s s u í a p o r s i , o u p o r seus antepossuidores , ac+


tempo do c o m e ç o da p r e s c r i p ç ã o , presume-se ter possuído sempre
sem interrupção.
Art. 456. O tempo para a prescripção de obrigações mercantis
contrahidas, e direitos adquiridos anteriormente á promulgação do
presente Código, será computado e regulado na conformidade das
disposições nelle contidas, c o m e ç a n d o a contar-se o prazo da data
da mesma promulgação.
CÓDIGO COMMERCIAL 11

P A R T E I I .

DO COMMERCIO MARÍTIMO.

TITULO t

DAS EMBARCAÇÕES (*).

Art. 457. Sómente podem gozar das prerogativas e favores con-


cedidos a e m b a r c a ç õ e s b r a s i l e i r a s as q u e v e r d a d e i r a m e n t e pertence-
rem a subditos do I m p é r i o , sem que a l g u m estrangeiro nellas possua
parte o u interesse.
P r o v a n d o se q u e a l g u m a e m b a r c a ç ã o , r e g i s t r a d a d e b a i x o d o n o m e
de brasileira, pertence no todo o u e m parte a estrangeiro, o u que
este t e m n e l l a a l g u m interesse, será apprehendida como perdida; e
metade do seu p r o d u c t o applicado para o d e n u n c i a n t e , havendo-o,
e a outra metade a favor do cofre do tribunal do commercio res-
pectivo.
Os subditos brasileiros domiciliados em paiz estrangeiro n ã o
podem possuir embarcação brasileira; salvo se n e l l a f ô r comparte
alguma casa c o m m e r c i a l b r a s i l e i r a estabelecida no I m p é r i o (**).
Art. 458. Acontecendo que alguma embarcação b r a s i l e i r a passe
por algum titulo a domínio de estrangeiro no todo ou em parte,
não poderá navegar c o m a natureza de propriedade brasileira, e m -
quanto n ã o fôr alienada a subdito do Império.
Art. 459. É livre c o n s t r u i r as embarcações pela fôrma e modo
que mais conveniente parecer: nenhuma porém poderá apparelhar-
se s e m se r e c o n h e c e r previamente, por vestoria feita n a conformi-
dade dos r e g u l a m e n t o s do g o v e r n ô , q u e se a c h a navegável.
O auto original da vestoria será depositado na secretaria do tri-
bunal do commercio respectivo; e antes deste deposito nenhuma
embarcação será admittida a registro (***).

(*) O R e g u l a m e n t o d a s c a p i t a n i a s d o s p o r t o s se a c h a e x a r a d o n o d e c r e t o n . °
4 4 7 , de 19 de M a i o de 1 8 4 6 . ( I n s e r i d o no A l m a n a k de L a e m m e r t para 1 8 4 7 . )
(**) Consulte-se o R e g . de 29 de N o v e m b r o de 1 8 5 1 sobre o m o d o d e se
i m p ô r e m as m u l t a s d e q u e t r a t a o a r t . 4 6 3 .
(***) O t r i b u n a l do c o m m e r c i o da c a p i t a l do i m p é r i o , t e n d o observado que
nos requerimentos apresentados para registro das embarcações destinadas á
n a v e g a ç ã o do alto-mar, fallãó alguns documentos necessários p a r a q u e possa
effectuar-se o dito registro, manda fazer publico, para conhecimento das
partes interessadas, que e m c o n f o r m i d a d e , dos arts. 459 até 463 taes d o c u -
m e n t o s s ã o os s e g u i n t e s :
1.° A u t o o r i g i n a l de vestoria pela capitania d o porto em como a embar-
c a ç ã o se a c h a n a v e g á v e l .
2.° Certidão do termo de a r q u e a ç ã o f<;ito n a mesa do consulado, com
r e f e r e n c i a á s u a d a t a , e m q u e d e c l a r e as d i m e n s õ e s d a e m b a r c a ç ã o e m p a l m o s
e pollegadas, sua capacidade em toneladas, armação de que usa, quantas
cobertas t e m , e a sua c o n f i g u r a ç ã o externa. ^
3.° D o c u m e n t o assignado pelo p r o p r i e t á r i o ou seu p r o c u r a d o r , em que
78 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 460. Toda a embarcação brasileira destinada d navegação


do alio m a r , com excepção sómente das que se e m p r e g a r e m ex-
clusivamente nas pescarias das costas, deve ser registrada no tri-
bunal do commercio do domicilio do seu proprietário ostensivo ou
armador (art. 484). c sem constar do registro n ã o será admittida
a despacho. ( A r t s . 466 c 567 g 1 ; Reg. Decr. 2 5 Novembro 1850, arts.
1 8 § 1 1 ; 5 8 § 6 ; 100.)
Art. 461. O registro deve conter: (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1850,
arts. 18 § 1 1 ; 58 § 6 e 100.)
I. A declaração do lugar onde a e m b a r c a ç ã o foi construída, o
n o m e d o c o n s l r u c l o r e a q u a l i d a d e das madeiras principaes.
II. As dimensões da embarcação e m palmos e pollegadas, e a
sua capacidade e m toneladas, comprovadas por certidão de arquea-
ção c o m r e f e r e n c i a á sua data.
III. A armação de q u e usa, e quantas cobertas tem.
IV. O dia e m que foi lançada ao mar.
V. O nome de cada u m dos donos ou compartes , e de seus res-
pectivos domicílios.
VI. Menção especificada do q u i n h ã o de c a d a c o m p a r t e , se f ô r de
m a i s de u m proprietário, e a época da sua respectiva acquisição,
com referencia á natureza e data do titulo, que deverá acompanhar
a petição para o registro.
O nome da embarcação registrada e de seu proprietário ostensivo
ou armador será publicado por annuncios nos periódicos do lugar.
Art. 462. Se a embarcação fôr de c o n s t r u c ç ã o eslr.»ngeira , além
das especificações sobreditas, deverá declarar-se no registro a na-
ção a que pertencia, o nome que tinha e o que t o m o u , e o titulo

declare o lugar onde a embarcação foi construída, o nome do constructor,


a qualidade das madeiras principaes, o dia e m que foi lançada ao mar,
o nome de cada um dos donos ou compartes e os seus r e s p e c t i v o s domi-
cílios, menção especificada do q u i n h ã o de cada c o m p a r t e , se f ô r mais de
nm proprietário, e a época d a sua respectiva acquisição com referencia á
natureza e data do titulo. Se a embarcação fôr de construcção estran-
geira, além das especificações sobreditas, deverá declarar-se no registro
a nação a que pertencia, o nome que tinha, e o que tomou, e o titulo
p o r q u e passou a ser d e propriedade brasileira , podendo omittir-se , quando
n ã o conste dos d o c u m e n t o s , o nome do constructor.
A.° Certidão da escriptura publica ou titulo por onde mostre que houve
a propriedade.
5.° O proprietário armador prestará um juramento por si ou por seu
p r o c u r a d o r nas mãos do presidente do tribunal, de que a sua declaração
é verídica, e que todos os proprietários da embarcação são verdadeira-
mente subditos brasileiros, obrigandose por termo a n ã o fazer uso illegal
do registro, e a entrega l o d e n t r o de um anno no mesmo tribunal, n o caso
da embarcação ser vendida, perdida ou julgada incapaz de navegar; pena
de i n c o r r e r na multa que o tribunal arbitrar, e obrigando-se mais a que,
todas as vezes que a embarcação mudar de proprietário ou de nome ,
será o seu r e g i s t r o apresentado n o t r i b u n a l p a r a as c o m p e t e n t e s annotações.
T r i b u n a l d o c o m m e r c i o da capital do império, em 15 de A b r i l de 1 8 5 1 .
— ( A s s i g n a d o ) O s e c r e t a r i o , Antônio Alves da Silva Pinto Júnior.
CÓDIGO COMMERCTAL 79

porque passou a ser de propriedade brasileira : podendo omittir-se


quando n ã o conste dos documentos o n o m e do constructor. (Reg.
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 18 § 11 ; 58 § 6.)
Art. Zi63. O proprietário armador prestará j u r a m e n t o p o r si o u
por seu p r o c u r a d o r nas m ã o s do presidente do tribunal, de que a
sua declaração é verídica, e de que todos os proprietários da em-
barcação são verdadeiramente subditos brasileiros: obrigando-se
por t e r m o a n ã o f a z e r uso ille.gal d o r e g i s t r o , e a e n t r e g a - l o d e n t r o de
u m anno no mesmo tribunal, n o caso da e m b a r c a ç ã o ser vendida,
perdida ou julgada incapaz de navegar: pena de incorrer na multa
no m e s m o termo declarada , que o tribunal arbitrará. (Reg. Decr. 25
Novembro 1 8 5 0 , arts. 18 § 11 ; 31 g 6 ; 51 g 2, 3) (*).

(*) DECRETO N . 8 7 9 DE 2 9 DE NOVEMBRO DE 1 8 5 1 .


Marca o modo por que os tribunaes do commercio devem impor a multa de que trata o
artigo 4 6 3 do Código Commercial.
Hei por b e m decretar o seguinte:
Art. 1.° Os t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o , q u a n d o tiverem de i m p o r aos pro-
p r i e t á r i o s a r m a d o r e s das e m b a r c a ç õ e s registradas a m u l t a , que lhes h o u v e r e m
a r b i t r a d o , n o s casos e na f ô r m a d o artigo 463 do Código Commercial, man-
d a r ã o trasladar e autoar pelo respectivo official m a i o r o t e r m o por elles assig-
nado, e a c e r t i d ã o negativa da entrega do registro dentro do anno (se esta
falta constituir o objecto do p r o c e d i m e n t o ) , e b e m a s s i m os d o c u m e n t o s ou
p r o v a s q u e h o u v e r d o uso i l l e g a l q u e elles t i v e r e m f e i t o d o m e s m o r e g i s t r o , o u
da v e n d a , perda o u innavegabilidade da e m b a r c a ç ã o ; e continuados os a u t o 9
com vista ao desembargador fiscal, o l f i c i a r á este c o m o entender de direito.
( C o d . C o m m e r c , arts. 4 6 0 , 4 6 1 , 4 6 3 , R e g u l . 7 3 8 , art. 1 8 , § 11.)
Art. 2 . ° Se os p r o p r i e t á r i o s a r m a d o r e s c o n t r a q u e m se h o u v e r de proceder
residirem n o m e s m o l u g a r e m q u e estiver o tribunal, serão notificados pelo
respectivo porteiro, e senão, p o r o r d e m do juiz de direito do c o m m e r c i o ; a
quem o tribunal sollicitará a n o t i f i c a ç ã o , para a l l e g a r e m o que lhes f ô r a b e m ,
e m c i n c o d i a s , q u e c o r r e r ã o da data da i n t i m a ç ã o , levando-se e m c o n t a , a l é m
destes , m a i s os q u e d e c o r r e r e m , á razão de q u a t r o l é g u a s p o r dia , para os
q u e r e s i d i r e m f ó r a d o l u g a r d a sede d o t r i b u n a l .
Art. 3." Se, findo o prazo, nada r e s p o n d e r e m , nem requererem, á sua
revelia decidir-se-ha sobre a m u l t a n o p r i m e i r o dia de s e s s ã o , segundo a p i o v a
dos autos, e presente o desembargador fiscal.
Art. 4 . ° Se d e n t r o d o p r a z o comparecerem p o r si ou seu p r o c u r a d o r ,
proceder-se-ba nos termos dos artigos 3 . ° , 4 . ° , 5 . ° , 6 . ° , 7 . ° , 8 . ° . 9 . ° e 10 d o
decreto n . 862 de 15 d o c o r r e n t e mez.
Art. 5 . ° D a d e c i s ã o q u e i m p u z e r a m u l t a n ã o h a v e r á r e c u r s o a l g u m , se n ã o
exceder de duzentos m i l reis. ( C o d . C o m m e r c . t i t . ú n i c o art. 26.)
Art. G . ° Se a m u l t a exceder essa q u a n t i a , é p e r m i t t i J o o r e c u r s o p a r a o
conselbo de estado n o efft i l o d e v o l u t i v o s ó m e n t e ; e q u a n t o ao fatal para sua
interposição, preparo, expedição e e x e c u ç ã o de s e n t e n ç a , observar-se-ha o
q u e se a c h a d i s p o s t o n o r e f e r i d o d e c r e t o .
Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso C â m a r a , do meu conselbo, ministro
e secretario de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , o t e n h a assim e n t e n d i d o e faça
executar. Palácio d o Rio de J a n e i r o , e m vinte e nove de N o v e m b r o de m i l
oitocentos e cincoenta e u m , trigesimo da independência e do Império.—
C o m a r u b r i c a d e S u a M a g e s l a d e o I m p e r a d o r . — Euzebio de Queiroz Coitinho
Mattoso Câmara.
80 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Nos lugares onde n ã o houver t r i b u n a l do c o m m e r c i o , todas a«i


diligencias sobreditas serão praticadas perante o juiz de direito do
commercio, que enviará ao tribunal competente as devidas parti-
cipações, acompanhadas dos d o c u m e n t o s respectivos. [Regi art. 22.)
Art. 4 6 4 . T o d a s as v e z e s q u e q u a l q u e r e m b a r c a ç ã o m u d a r de p r o -
prietário ou de n o m e , será o seu registro apresentado ao tribunal
do commercio respectivo para as competentes annotações. (Reg.
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 18 § 11 ; 58 § 6.)
Art. 465. Sempre que a e m b a r c a ç ã o mudar de c a p i t ã o , s e r á esta
alteração annotada no registro, pela autoridade que tiver a seu
cargo a m a t r i c u l a dos navios, no p o r t o o n d e a m u d a n ç a tiver lugir.
Art. 466. Toda a embarcação brasileira e m viagem é obrigada a
ter a bordo:
I. O seu. r e g i s t r o ( a r t . 4 6 0 ) .
II. O passaporte do navio.
III. O r o l da equipagem ou matricula.
IV. A guia ou manifesto da alfândega do porto brasileiro donde
houver sabido, feito na c o n f o r m i d a d e das leis, regulamentos e ins-
trucções fiscaes.
V. A carta de f r e t a m e n t o nos casos e m q u e este tiver lugar, e os
c o n h e c i m e n t o s da carga existente a b o r d o , s« a l g u m a exMir.
VI. Os recibos das despezas dos portos d o n d e sahir, comprehen-
d i d a s as d e pilotagem, ancoragem e mais direitos o u impostos de
navegação.
V I I . U m exemplar do Código C o m m e r c i a l .
Art. 467. A m a t r i c u l a deve ser feita no porto do a r m a m e n t o da
embarcação, e conter : ( A r t . 544 )
I. Os nomes do navio, capitão, oíficiaes e gente da tripolação ,
com declaração de suas ida<ies, e s t a d o , naturalidadee domicilio, e
o e m p r e g o de cada u m a bordo.
I I . O porto da partida e o do destino, e a t o r n a v i a g e m , se esta
for determinada.

III. As soldadas ajustadas, especificando-se se são por viagem


o u ao m e z , por quantia certa o u a frete, quinhão ou lucro na
viagem.

IV. As quantias adiantadas que se t i v e r e m pago ou promettido


p a g a r p o r c o n t a das soldadas.
V. A assígnatura d o c a p i t ã o e de t o d o s os o f í i c i a e s d o n a v i o e mais
indivíduos da tripolação que souberem escrever (art. 511 e 512).
Art. 468. As a l i e n a ç õ e s o u h y p o t h e c a s de e m b a r c a ç õ e s brasileiras
destinadas á navegação do alto mar só p o d e m fazer-se por escrip-
tura publica , na q u a l se d e v e r á i n s e r i r o t e o r d o s e u r e g i s t r o •, c o m
t o d a s as a n n o t a ç õ e s que nelle houver (arts. 472 e 474); pena de
nullidade.

T o d o s os a p r e s f o s , a p p a r e l h o s e mais pertences existentes a bordo


de qualquer navio ao tempo da sua venda, deverão entender se
comprehehdrdos nesta, ainda que d e l l e s se n ã o f a ç a expressa m e n -
ç ã o ; salvo h a v e n d o no contracto convenção c m contrario, (Ree
arts. 1 5 9 ; 6 8 2 , § 1.) * v 6
CÓDIGO COMMERCIAL 81

Art. 469. Vendendo-se algum navio e m viagem, pertencem ao


comprador os fretes que vencer nessa v i a g e m ; m a s se n a d a t a do
contracto o n a v i o tiver chegado ao l u g a r do seu destino, serão do
vendedor; salvo c o n v e n ç ã o e m contrario.
Art. 470. No caso de venda v o l u n t á r i a , a propriedade da embar-
cação passa para o comprador com t o d o s os seus e n c a r g o s ; salvos
os direitos dos credores privilegiados qne nella tiverem hypotheca
tácita. T a e s s ã o : (Arts. 473, 475, 476, 479, 627.)
I. Os salários devidos por serviços prestados ao n a v i o , compre-
hendidos os d e s a l v a d o s e pilotagem.
II. T o d o s os d i r e i t o s de porto e impostos de navegação.
III. Os v e n c i m e n t o s de depositários, e despezas n e c e s s á r i a s feitas
na guarda do navio, c o m p r e h c n d i d o o a l u g u e l dos a r m a z é n s de de-
posito dos aprestos e apparelhos do m e s m o navio.
IV. T o d a s as d e s p e z a s do custeio do navio e seus pertences, que
houverem sido feitas para sua guarda e conservação depois da u l -
tima v i a g e m , e d u r a n t e a sua estada n o p o r t o da venda. ( A r t . 4 2 7 . )
V. As soldadas do capitão, oííiciaes e gente da t r i p o l a ç ã o , ven-
cidas na u l t i m a viagem.
VI. O principal e prêmio das letras de risco t o m a d a s pelo capitão
sobre o casco e apparelho ou sobre os f r e t e s ( a r t . 6 5 1 ) durante a
ultima viagem, sendo o contracto celebrado e assignado antes do
naviopartir do porto onde taes o b r i g a ç õ e s fôrem contrahidas. (Art.
472.)
VII. O principrd e prêmio de letras de r i s c o , tomadas sobre o
casco e apparelhos ou fretes, antes de c o m e ç a r a ultima viagem,
no p o r t o <ia c a r g a ( a r t . 5 1 5 ) ( A r t . 4 7 2
VIII. As quantias emprestadas ao capitão, ou dividas por elle
contrahidas para o concerto e custeio do navio, durante a ultima
viagem, c o m os r e s p e c t i v o s p r ê m i o s de seguro , q u a n d o e m virtude
de taes e m p r é s t i m o s o capitão houver evitado f i r m a r letras de risco
(art. 515) ( A r t . 472).
IX. Faltas na entrega da c a r g a , prêmios de seguro sobre o n a v i o
ou fretes, e avarias o r d i n á r i a s , e tudo o que respeitar à u l t i m a via-
gem sómente.
Art. 471. São igualmente privilegiadas, ainda que contrahidas
fossem anteriormente á ultima viagem (Arts. 475, 476, 479):
I. As d i v i d a s p r o v e n i e n t e s d o c o n t r a c t o da c o n s t r u c ç ã o do n a v i o e
juros respectivos, p o r l e m p o de tres annos, a c o n t a r do d i a e m q u e a
construcção ficar acabada :
II. As despezas do concerto do n a v i o e seus a p p a r e l h o s , e juros
respectivos, por t e m p o dos dous ú l t i m o s annos , a contar do dia e m
que o concerto terminou.
Art. 472. Os créditos provenientes das dividas especificadas no
artigo precedente, e nos n ú m e r o s 4 , 6, 7 e 8 do artigo 4 7 0 , s ó serão
considerados como privilegiados quando tiverem sido l a n ç a d o s no
registro do c o m m e r c i o e m tempo util (art. 10 n . ° 2 ) , e as s u a s i m -
p o r t â n c i a s se a c h a r e m a n n o t a d a s n o r e g i s t r o d a e m b a r c a ç ã o ( a r t . 4 6 8 ) .
As m e s m a s dividas, sendo conlrahidas fôra do I m p é r i o , só serão
MAN. N Í G , 6
82 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

nttendidas achando-se authenticadas com o—Visto—do respectivo


cônsul. [Reg. Decr. 2 5 Novembro l&hO. art. 58, § 7.)
Art. 473. Os credores contemplados nos artigos 470 e 471 prefe-
rem entre si p e l a o r d e m dos n ú m e r o s em que estão collocados : as
dividas contempladas debaixo do m e s m o numero e contrahidas no
mesmo porto precederão entre si p e l a ordem e m que ficão classifi-
cadas, e e n t r a r ã o e m c o n c u r s o sendo de i d ê n t i c a natureza; porém se
dividas i d ê n t i c a s se fizerem por necessidade e m outros portos, ou
no mesmo porto a que v o l t a r o n a v i o , as posteriores preferirão ás
anteriores.
Art. 474- E m seguimento dos c r é d i t o s m e n c i o n a d o s nos arts. 470
c 471 , são t a m b é m privilegiados o preço da c o m p r a do navio não
pago, e os juros respectivos por tempo de tres a n n o s , a contar da
data do i n s t r u m e n t o do contracto ; c o m tanto porém que taes crédi-
tos constem de documentos escriptos lançados no registro do c o m -
mercio e m tempo util, e a sua importância se a c h e a n n o t a d a no re-
gistro da embarcação (Arts. 468, 475, 479).
Art. 475. N o ca.«o de q u e b r a o u i n s o l v e n c i a d o a r m a d o r d o navio,
todos os c r é d i t o s a c a r g o d a e m b a r c a ç ã o q u e se a c h a r e m nas precisas
circumstancias do arts. 470, 471 e 474 preferirão sobre o preço do
navio a outros credores da massa (Art. Z l l , § 6).
Art. 476. O vendedor de embarcação é obrigado a dar ao c o m -
prador u m a n o t a p o r c l i e a s s i g n a d a d e t o d o s os c r é d i t o s p r i \ i l e g i a d o s
a que a mesma embarcação possa achar-se o b r i g a d a (arts. 4 7 0 , 4 7 1 e
474) ; a qual deverá ser incorporada na escriptura da venda e m se-
guimento do registro da e m b a r c a ç ã o . A falta de d e c l a r a ç ã o de algum
credito privilegiado induz presumpção de m á fé da p a r t e d o vende-
dor; contra o qual o comprador poderá intentar a acção criminal
que seja c o m p e t e n t e , se f ô r o b r i g a d o a o p a g a m e n t o de a l g u m credito
não declarado. (Reg. art. 186.)
Art. 477. Nas vendas judiciaes extingue-se toda a responsabili-
dade da e m b a r c a ç ã o para cotn todos e quaesquer credores, desde a
data do t j r m o da a r r e m a t a ç ã o , e fica subsistindo sómente sobre o
preço, emquanto e s t e se n ã o levanta.
Todavia , se do registro do navio constar q n e este e s t á obrigado
por a l g u m credito privilegiado, o preço da arrematação será conser-
vado e m deposito, e m tanto quanto baste para solução dos créditos
privilegiados constantes do registro ; e n ã o p o d e r á levantar-se antes de
expirar o prazo da prescripção d o s c r é d i t o s p r i v i l e g i a d o s , o u se mos-
trar q u e e s t ã o todos pagos, ainda mesmo que o exequente seja credor
privilegiado, salvo prestando fiança idônea; pena de nullidade do
levantamento dn deposito; c o m p e t i n d o ao c r e d o r p r e j u d i c a d o acção
para haver de q u e m indevidamente houver recebido, e de perdas e
damnos solidariamente contra o juize escrivão que tiverem passado
e assignado a o r d e m ou m a n d a d o . (Reg. art. 556, § 3.)
Art. 478. A i n d a q u e as e m b a r c a ç õ e s s e j ã o r e p u t a d a s b e n s m o v e i s ,
comtudo nas vendas judiciaes se guardarão as regras que as leis
prescrevem para as a r r e m a t a ç õ e s dos bens de raiz: devendo as ditas
vendas, além da a f f i x a ç ã o dos editaes nos lugares p ú b l i c o s , e parlicu-
CÓDIGO COMMEUCTAL 83

l a r m e n t e nas Praças do C o m m e r c i o , ser p u b l i c a d a s p o r tres annun-


cios insertcs, c o m o inlervallo de oito d i a s , nos jornaes do lugar,
que habitualmente publicarem annuncios, e, não havendo, nos do
lugar mais vizinho.
Nasmesmas vendas, as c u s t a s j u d i c i a e s d o p r o c e s s o d a e x e c u ç ã o c
arrematação p r e f e r e m a l o d o s o s c r é d i t o s p r i v i l e g i a d o s . (Reg. art, 512,
§ 5 ; 542, 638.)
Art. 479. Emquanto durar a responsabilidade da embarcação
por obrigações privilegiadas, póile esta ser e m b a r g a d a e detida , a
r e q u e r i m e n t o de credores que apresentarem t í t u l o s legaes (arts. 4 7 0 ,
471 e 474), em qualquer porto do I m p é r i o onde se a c h a r , estando
sem carga ou n ã o tendo recebido a bordo m a i s da quarta parte da
que corresponder á sua lotação : o embargo porém n ã o será admis-
sível achando-se a embarcação c o m despachos necessários para
poder ser declarada desimpedida, qualquer que seja o estado d i
c a r ° a ; s a l v o se a d i v i d a proceder de f o r n e c i m e n t o s feitos no mesmo
porto e para a mesma v i a g e m . (Reg. arts. 338, 531, § 3.)
Art. 480. Nenhuma embarcação pôde ser e m b a r g a d a ou delida
por divida n ã o privilegiada; salvo no porto d i sua matricula: c
mesmo neste , unicamente nos casos e m que os d e v e d o r e s são por
direito obrigados a prestar c a u ç ã o e m juizo, achando-se previamente
intentadas as a c ç õ e s competente*.
Art. 481. Nenhuma embarcação, depois de ter recebido m a i s d i
quarta parte da carjia correspondente á sua lotação, pôde ser em-
bargada o u detida por dividas particulares do a r m a d o r , excepto se
estas t i v e r e m sido c o n t r a h i d a s p a r a a p r o m p l a r o n a v i o p a r a a mesma
v i a g e m , e o d e v e d o r n ã o t i v e r o u t r o s b e n s c o m q u e possa p a g a r ; mas
mesmo neste c a s o se m a n d a r á levantar o embargo, dando os mais
compartes fiança pelo v a l o r de seus respectivos quinhões, assigoati-
do o capitão t e r m o de voltar ao m e s m o lugar finda a viagem, e pres-
tando os interessados na expedição fiança idônea á satisfação da
divida no caso da embarcação n ã o voltar por qualquer incidente,
ainda que seja de f o r ç a maior.
O capitão que deixar de cumprir o referido termo responderá
pessoalmente pela divida, salvo o caso de f o r ç a m a i o r , e a sua falta
será qualificada de barataria.
Art. 482. Os navios estrangeiros surtos nos portos do Brasil não
p o d e m ser e m b a r g a d o s n e m d e t i d o s , a i n d a m e s m o q u e se a c h e m sem
carga, por dividas que n ã o fôrem contrahidas no território brasileiro
em utilidade dos m e s m o s navios o u d * sua carga ; salvo provindo a
divida de letras de risco o u de cambio sacadas e m paiz estrangeiro
nos casos d o art. 6 5 1 , e vencidas e m a l g u m lugar do Império.
Art. 483. N e n h u m navio pôde ser detido ou embargado, n e m
executado na sua totalidade por dividas particulares de u m c o m -
parte : poderá porém ler lugar a execução no valor do q u i n h ã o do
devedor, s e m p r e j u í z o da livre n a v e g a ç ã o do m e s m o navio, prestando
os m a i s c o m p a r t e s fiança idônea. (Reg. art. 499.)
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

T I T U L O I I .

DOS PROPRIETÁRIOS, COMPARTES E CAIXAS DE NAVIOS.

Ari. 484. Todos os cidadãos Brasileiros podem adquirir e possuir


embarcações brasileiras; mas a sua a r m a ç ã o e expedição só pôde
gyrar debaixo do nome e responsabilidade de u m proprietário ou
comparte, armador ou caixa, que tenha as qualidades requeridas
para ser commerciante (arts. 1 e 4 ) (Arts. 460, 492).
Art. 485. Quando os compartes de u m navio fazem delle uso
c o m m u m . esta sociedade ou parceria m a r í t i m a regula-se pelas dis-
posições das sociedades commerciaes (Part. I , T i t . X V ) ; salvas as
determinações contidas no presente Titulo.
Art. 486. Nas parcerias ou sociedades de navios, o parecer da
maioria n o valor dos interesses prevalece contra o da minoria nos
mesmos interesses, ainda q n e esta seja r e p r e s e n t a d a p e l o m a i o r n u -
mero de sócios e aquella por u m s ó . Os votos c o m p u l ã o - s e na pro-
porção dos quinhões; o menor quinhão será contado por u m voto :
no caso de empate, d e c i d i r á a s o r t e , se o s s ó c i o s n ã o p r e f e r i r e m c o m -
metter a decisão a u m terceiro ( A r t . 331).
Art. 487. Achando-se u m navio necessitado de concerto, e con-
v i n d o n e s t e a m a i o r i a , os s ó c i o s d i s s i d e n t e s , se n ã o q u i z e r e m annuir,
serão obrigados a veuder os s e u s q u i n h õ e s aos outros compartes ,
estimando-se o preço a n t e s d e p r i n c i p i a r - s e o c o n c e r t o : se e s t e s n ã o
quizerem comprar, proceder-se-ha à venda e m hasta publica.
Art. 488. Se o menor numero entender que a e m b a r c a ç ã o ne-
cessita de concerto e a maioria se oppuzer, a minoria t e m direito
para requerer q u e se p r o c e d a a vestoria judicial. Decidindo-se que o
concerto é necessário, t o d o s os c o m p a r t e s são obrigados a contribuir
para elle.

Art. 489. Se algum comparte na e m b a r c a ç ã o quizer vender o seu


q u i n h ã o , será obrigado a aífrontar os o u t r o s p a r c e i r o s : estes tem
direito a preferir na compra e m igualdade de c o n d i ç õ e s , comtanto
que eífectuem a entrega do p r e ç o á vista, ou o c o n s i g n e m e m juizo
n o caso de contestação. Resolvendo-se a venda do navio por delibe-
r a ç ã o da maioria , a minoria p ô d e exigir que se faça e m hasta p u -
blica.

Art. 490. Todos os compartes tem direito de preferir no freta-


m e n l o a q u a l q u e r terceiro, e m igualdade de c o n d i ç õ e s , concorrendo
na preferencia para a mesma viagem dous ou mais compartes, pre-
ferirá o que tiver m a i o r parte de interesses na e m b a r c a ç ã o ; no caso
de igualdade de interesses, d e c i d i r á a sorte : t o d a v i a , esta preferencia
não dá direito para exigir que se v a r i e d o d e s t i n o d a v i a g e m accorda-
da pela m a i o r i a .

Art. 491. Toda a parceria o u sociedade de navio é administrada


por u m o u mais caixas, que representa e m juizo e fóra delle a todos
os i n t e r e s s a d o s e os r e s p o o s a b i l i s a ; s a l v a s as r e s t r i c ç õ e s c o n t i d a s no
CÓDIGO COMMERCIAL

instrumento social ou nos poderes do seu mandato, compctente-


mente registrados (art. 10, n.2).
Art. 492. O c a i x a d e v e ser nomeado d V n t r e os c o m p a r t e s ; salvo
se t o d o s convierem na nomeação de pessoa e s t r a n h a á parceria : e m
t o d o s os c a s o s , é n e c e s s á r i o q u e o c a i x a t e n h a as q u a l i d a d e s e x i g i d a s
no artigo 484.
Art. 493. Ao caixa, n ã o havendo estipulação em contrario, per-
tence nomear, ajustar e despedir o c a p i t ã o e mais officiaes do navio,
d a r t o d a s as o r d e n s , e f a z e r t o d o s os c o n t r a c t o s relativos á a d m i n i s -
tração, fretamentos e viagens da e m b a r c a ç ã o ; obrando sempre e m
conformidade do accordo da m a i o r i a e do seu m a n d a t o , debaixo de
sua responsabilidade pessoal p a r a c o m os c o m p a r t e s pelo que obrar
contra o m e s m o accordo ou mandato.
Art. 494- T o d o s os p r o p r i e t á r i o s e compartes são solidariamente
responsáveis pelas dividas que o capitão contrahir para concertar,
habilitar e aprovisionar o navio, sem que esta responsabilidade
possa ser illidida, allegando-se que o capitão excedeu os limites
das suas faculdades o u instrucções, se o s c r e d o r e s provarem que a
quantia pedida foi empregada a beneficio do navio (art. 517).
Os mesmos proprietários e compartes são solidariamente respon-
sáveis pelos prejuízos que o capitão causar a terceiro por falta da
diligencia que é obrigado a empregar para boa guarda, acondiciona-
mento e conservação dos eíTeitos recebidos a bordo (art. 519). Esta
r e s p o n s a b i l i d a d e oessa , f a z e n d o a q u e l l e s a b a n d o n o do navio e fretes
vencidos e a vencer na respectiva viagem.
Não é permittido o abandono ao p r o p r i e t á r i o ou comparte que fôr
ao m e s m o tempo capitão do navio.
Art. 4 9 5 . O c a i x a é o b r i g a d o a d a r aos p r o p r i e t á r i o s o u compartes,
no fim de cada v i a g e m , u m a conta da sua gestão, tanto relativa ao
estado do navio e parceria, c o m o da viagem finda, acompanhada
dos d o c u m e n t o s c o m p e t e n t e s , e a pagar sem d e m o r a o saldo liquido
que a cada u m c o u b e r : os p r o p r i e t á r i o s ou compartes são obrigados
a e x a m i n a r a conta do caixa logo que lhes f ô r apresentada, e a pagar
sem demora a q u o t a r e s p e c t i v a aos seus quinhões.
A a p p r o v a ç ã o das contas do caixa dada pela m a i o r i a dos compartes
do navio n ã o obsta a que a minoria dos sócios intente contra ellas
as acções que julgar competentes.

TITULO III.

DOS CAPITÃES OU MESTRES DE NAVIO.

Ari. 496. Para ser capitão ou mestre de embarcação brasileira,


palavras synonymas neste C ó d i g o para t o d o s os eíTeitos de direito,
requer-se ser c i d a d ã o b r a s i l e i r o , d o m i c i l i a d o no Império, com capa-
cidade civil para poder contractar validamente.
Art. 497. O capitão é o commandante da e m b a r c a ç ã o ; toda a
tripolação lhe está sujeita, e é obrigada a obedecer e a cumprir a^
suas o r d e n s e m t u d o q u a n t o f ô r relativo ao serviço do navio.
86 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 498. O c a p i t ã o t e m a faculdade de i m p o r penas corrcccionaes


aos indivíduos da tripolação que perturbarem a ordem do navio,
com m e l terem faltas de disciplina, ou deixarem de fazer o serviço
que lhes c o m p e l i r , e a t é m e s m o de proceder a prisão por motivo de
insubordinação ou de qualquer outro crime commeltido a bordo ;
ainda mesmo q u e o d e l i n q ü e n t e s e j a p a s s a g e i r o ; f o r m a n d o os neces-
sários processos, os quaes é obrigado a entregar com os p r e s o s ás
autoridades competentes no primeiro porto do I m p é r i o onde entrar.
( A r t s . 545 § 4 , 555 § I . )
Art. 499. P e r t e n c e ao c a p i t ã o escolher e ajustar a gente da equi-
pagem. e despedi-la , nos casos e m que a despedida possa ter lugar
(art. 555), obrando de concerto c o m o dono ou armador, caixa ou
'consignatario d o n a v i o , n o s l u g a r e s o n d e e s t e s se a c h a r e m presentes.
O capitão n ã o pode ser o b r i g a d o a receber na equipagem indivíduo
algum c o n t r a a sua vontade.
Art. 500. O capitão que seduzir ou desencaminhar marinheiro
matriculado e m outra e m b a r c a ç ã o , ?erá punido c o m a multa de
1 0 0 ^ 0 0 0 rs. p o r cada indivíduo que desencaminhar, e obrigado a
entregar o marinheiro seduzido, existindo a bordo do seu navio:
e se a embarcação por esta falta deixar de fazer-se â vela, será
responsável pelas estadias da demora.
Art. 501. O capitão é obrigado a ter e s c r i p t u r a ç ã o r e g u l a r de tudo
quanto diz respeito á administração do navio e á sua navegação :
tendo para este fim tres livros distinetos, e n c a d e r n a d o s e rubricados
pela autoridade a cargo de quem estiver a m a t r i c u l a dos navios;
pena de responder por perdas e damnos que resultarem da sua falta
de e s c r i p t u r a ç ã o regular (*).

(*) M1NISTEKIO DA FAZENDA.

Expediente do dia 1 de Abril de 1852.


A o Sr. m i n i s t r o da j u s t i ç a , sobro a m a t é r i a do ofíicio do presidente de
S.Paulo, e consulta do tribunal do commercio , que a c o m p a n h o u o aviso
de 29 de N o v e m b r o , observa-se qne toda a duvida acerca da execução do
artigo 501 do Código do Commercio consiste na intelligencia das palavras
— r e g i s t r o e m a t r i c u l a d a e m b a r c a ç ã o — d e q u e se s e r v e o C ó d i g o ; i s t o é , se
são synonimos, ou se por terem objectos e fins diversos exprimem actos
diíTerentes. Confrontado o artigo 451 do Oodigo, que define o que seja
— registro — com o 467, que explica e m que consiste a matricula , parece
incontestável a piimeira opinião; pois q u e , além de d i v e r g i r e m nas decla-
rações que e x i g e m para cada u m dos dous actos d i s t i n e t a m e n t e mencionados
no artigo 466 , e n c o n t r ã o - s e nos artigos 4 6 0 , 463 designadas as auto)idades
competentes para o registro, ao passo que no artigo 467, tratando-se da
matricula, apenas se determina que seja feita no porto do armamento do
na\io; donde se s e g u e q u e o pôde ser por autoridade diversa da que fez
o registro. Da mesma natureza das declarações exigidas pelo Código para
cada um destes actos se v ê que o registro consiste na inscripção civil da
propriedade, cujo titulo subsiste émquánto *e conservão sem alteração as
e o n d i ç õ e s e m q u e e l l a a s s e n t a ; e q u e a m a t r i c u l a n ã o passa d e u m a inscripçào
de contracto entre o dono ou o armador do navio e a tripolação,
d o c u m e n t o especial, cuja validade é limitada ao tempo qne* d u r a r a viagem,
c variável a cada m u d a n ç a de destino da embarcação, segundo os novos
CÓDIGO C O M M E R C I A L 87

Art. 502. No primeiro, que se denominará—livro da carga—,


assentará diariamente as entradas e sahidas da carga, c o m decla-
ração especifica tias marcas e números dos volumes, nomes dos
carregadores e consignatarios, portos da carga e descarga, fretes
ajustados e quaesquer outras circumstancias occurrentes que possão
servir para futuros esclarecimentos. No mesmo livro se lançarão
t a m b é m os n o m e s d o s p a s s a g e i r o s , com declaração do lugar do seu
destino, preço e condições da passagem ea r e l a ç ã o da sua bagagem.
Art. 5 0 3 . O s e g u n d o l i v r o s e r á d a — r e c e i t a e despezada embarcação — :
e nelle, debaixo de competentes t í t u l o s , se l a n ç a r á , em fôrma de
contas correntes, tudo quanto o capitão receber e despender res-
pectivamente á embarcação; abrindo-se assento a cada u m dos
indivíduos da t r i p o l a ç ã o , c o m d e c l a r a ç ã o de seus v e n c i m e n t o s e de
qualquer ônus a qne se a c b e m obrigados, e a carga do que rece-
berem p o r c o n t a de suas soldadas. ( A r t . 544.)
Art. 504. No terceiro livro, que será d e n o m i n a d o — d i á r i o da
navegação—, se a s s e n t a r ã o d i a r i a m e n t e , e m q u a n t o o n a v i o f=e a c h a r
em algum porto, os trabalhos que tiverem lugar a bordo e os
concertos o u reparos do navio.
No mesmo l i v r o se a s s e n t a r á t a m b é m toda a d e r r o t a da viagem.
notando-«e d i a r i a m e n t e as o b s e r v a ç õ e s que os c a p i t ã e s e os pilotos
são obrigados a fazer, todas as o c c u r r e n c i a s interessantes á nave-

interesses dos m e s m o s , sendo t o d a s estas c i r c u m s t a n e i a s e s s e n c í a e s e c a r a c t e -


rísticas da m a t r i c u l a . E ' c e r t o q u e a m b o s estes a c t o s r.chaváo-se confundidos
em u m só regulamento de 30 de M a i o de 1 8 3 6 , cap. 8 . ° , sob a designa-
ç ã o —• m a t r i c u l a d a s e m b a r c a ç õ e s e d a g e n t e d o m a r — a c a r g o das mesas do
consulado; mas já no regulamento das capitanias dos portos de 19 de
Março de 1846 forão elles d e s c r i m i n a d o s , c o m o se v é d o s a r l i g o s 5 9 , 60,
70 e 7 1 ; e pelo C ó d i g o do Commercio, arligos 4 6 1 e 467 já citados, parece
inquestionável ter sido consagrada esta mesma doutrina., Não obstante,
porém, as d i s p o s i ç õ e s do regulamento das c a p i t a n i a s q u e a l t e r a r ã o essencial-
m e n t e o c a p i t u l o 8 . ° de 30 de M a i o d e 1 8 3 6 , e l a m b e m c e r t o q u e em algumas
províncias, continuarão as mesas d o consulado a fazer a maliicula das
embarcações , ou porque nellas n ã o houvesse caj itania , ou porque enten-
dessem os r e s p e c t i v o s a d m i n i s t r a d o r e s c o m p e l i r - l h e s a i n d a esse e n c a r g o , visto
n ã o ter sido expressamente dispensado pelo regulamento de 19 de Maio de
1846 ; e dahi procede a duvida, qne se suscita na execução do art. 501
do C ó d i g o . Das observações expendidas conclue-se: 1.°, que convém que
deixe d e ser ftita pelas mesas de consulado, como entende o tribunal do
commercio, a matricula das embarcações, observando-se que a respeito
dellas dispõe os a r t i g o s 59 e 6 0 do r e g u l a m e n t o de 19 de M a i o de 1846,
com a resalva da parte final do artigo 70 , sobre a a r q u e a ç ã o que deve
continuar a cargo dos competentes empregados fiscaes , dando-se certidões
e x - o f f i c i o aos c a p i t ã e s , para serem a p r e s e n t a d a s nas c a p i t a n i a s : 2 . ° , q u e nas
províncias onde não houver capilania, sejão i n c u m b i d a s de fazer a ma-
tricula das embarcações, c por conseguinte de rubricar os l i v r o s , as esta-
ções fiscaes que tiverem a seu cargo o despacho marítimo, visto que,
a n ã o adoptar-se tal providencia, não poderáõ os c a p i t ã e s d o s n a v i o s satis-
f a z e r d c m a n e i r a a l g u m a as o b r i g a ç õ e s que lhes i m p õ e os a r t i g o s 4 6 6 , § 3 . "
c 501 do Código do Commercio.
83 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

gação, acontecimentos extraordinários que possão ter lugar a bordo,


e c o m especialidade os t e m p o r a e s , e os damnos ou avarias que o
navio ou a carga p o s s ã o s o f f r e r , as d e l i b e r a ç õ e s que se tomarem
por a c c o r d o dos oííiciaes da e m b a r c a ç ã o e os c o m p e t e n t e s protestos.
(Arts. 5 1 6 § 3 , 5 2 6 , 5 3 9 ; Reg. art. 364.)
Art. 5 0 5 . T o d o s os p r o c e s s o s testemunhaveis e protestos formados
a b o r d o , tendentes a comprovar sinistros, avarias ou quaesquer
perdas, devem ser ratificados c o m juramento do capitão perante
a autoridade competente do primeiro lugar onde chegar; a qual
deverá interrogar o mesmo capitão, oííiciaes , gente da equipagein
(art. 545 n . ° 7) e passageiros sobre a veracidade dos factos e suas
circumstaneias, tendo presente o diário da navegação, se houver
s i d o s a l v o . ( A r t s . 5 2 6 , 7 4 3 ; Reg. arts. 360, 364, 365, 366.)
Art. 506. Na véspera da partida do p o r t o da carga , f a r á o capitão
inventariar, e m presença do piloto e contramestre, as amarras,
âncoras, velaraes e mastreaçáo, c o m declaração do estado e m que
se acharem. Este inventario será assignado pelo capitão, piloto e
contramestre.
Todas as alterações que durante a viagem soffrer qualquer dos
sobreditos artigos serão annotadas no diário da navegação e c o m
as m e s m a s assignaturas.
Art. 507. O capitão é obrigado a permanecer a bordo desde o
m o m e n t o e m que começa a viagem do mar, até a chegada do navio
a surgidouro seguro e b o m porto: e a t o m a r os p i l o t o s e práticos
necessários e m todos os lugares e m que os r e g u l a m e n t o s , o uso e
prudência o exigirem; pena de responder por perdas e damnos que
da sua falta resultarem.
r
A r t , 508. E p r o h i b i d o ao c a p i t ã o a b a n d o n a r a e m b a r c a ç ã o , p o r
m a i o r p e r i g o q u e se o í f e r e ç a , f ó r a d o c a s o d e n a u f r á g i o : e j u l g a n d o - s e
indispensável o abandono, é obrigado a empregara maior diligencia
possível para salvar t o d o s os e f f e i t o s d o n a v i o e c a r g a , e c o m pre-
ferencia papeis e livros da e m b a r c a ç ã o , dinheiro e mercadorias
de m a i o r valor.
Se, apezar de toda a diligencia, os o b j e c t o s t i r a d o s d o navio ou
os que nelle ficarem se perderem ou fôrem roubados sem culpa
sua, o capitão n ã o será responsável.
Art. 509. Nenhuma desculpa poderá desonerar o capitão que
alterar a derrota que era o b r i g a d o a seguir, ou que praticar a l g u m
acto extraordinário de que possa p r o v i r d a m n o ao navio ou á carga,
sem ter precedido deliberação tomada em junta composta de todos
os o í í i c i a e s d a e m b a r c a ç ã o , e n a p r e s e n ç a dos interessados do navio
ou na carga, se a l g u m se a c h a r a bordo. (Arts. 680, 764 § 2 1 , 770;
Reg. arts. 360 § 2; 3 6 2 , 364.)
E m taes deliberações, e e m todas as mais que fôr obrigado a
tomar c o m accordo dos oííiciaes do navio, o capitão tem voto de
qualidade; e até mesmo poderá obrar contra o vencido, debaixo
de sua responsabilidade pessoal, sempre que o julgar conveniente.
Art. 510. È p r o h i b i d o ao capitão entrar e m porto estranho ao do
seu destino; e, se ali fôr levado por força maior (artigo 740), c
CÓDIGO COMMERCIAL 89

obrigado a sabir no primeiro tempo opportuno qne se oflerecer:


pena de responder pelas perdas e d a m n o s que da d e m o r a resultarem
ao navio o u à carga (artigo 748).
Art. 511. O capitão que entrarem porto estrangeiro é obrigado
a apresentar-se ao cônsul do Império nas primeiras vinte e quatro
horas úteis e a depositar nas suas m ã o s a guia ou manifesto da
alfândega, indo de algum porto do Brasil, e a matricula: e a
declarar e fazer annotar nesta pelo mesmo cônsul, no acto da
a p r e s e n t a ç ã o , toda e qualquer alteração que tenha occorrido sobre
o mar na tripolação do n a v i o ; e antes da s a h i d a as q u e occorrerein
d u r a n t e a sua estada n o m e s m o porto. ( A r t . 467, § 5.)
Quando a entrada fôr em porto do I m p é r i o , o deposito do m a n i -
festo terá lugar na alfândega respectiva, havendo-a, e o da matri-
cula na repartição onde e s t a se costuma fazer, c o m as sobreditas
declarações. (Reg. art. 365.)
Art. 512. Na volta da embarcação ao porto donde sahio, ou
naquelle onde largar o seu c o m m a n d o , é o capitão obrigado a
apresentar a matricula original na repartição encarregada da m a -
tricula dos navios, dentro de v i n t e e q u a t r o horas úteis depois que
dér fundo, e a fazer as m e s m a s declarações ordenadas no artigo
precedente. ( A r t . 4 4 1 , 467, § 5, 743.)
Passados oito dias depois do referido tempo, prescreve qualquer
acção de procedimento que possa ter lugar contra o capitão por
faltas por elle c o m m e t t i d a s na matricula durante a viagem.
O capitão que n ã o apresentar todos os i n d i v í d u o s matriculados ,
ou n ã o fizer constar devidamente a razão da falta , será m u l t a d o ,
pela autoridade encarregada da m a t r i c u l a dos navios, em 1 0 0 ^ rs.
por cada pessoa que apresentar de menos, com recurso para o
t r i b u n a l do c o m m e r c i o competente. (Reg. art. 3 6 5 ; Decr. 25 Novembro
1850, art. 18 § 12) (*).

(*) DECRETO Pi. 9 1 6 DE 2 4 DE FEVEREIRO DE 1 8 5 2 .

Marca o modo por que deve ser interposto, processado e decidido o recurso de
que trata o artigo 512 do Código Commercial.

A t t e n d e n d o ao q u e m e r e p r e s e n t o u o t r i b u n a l d o c o m m e r c i o d a capital do
I m p é r i o : hei por b e m decretar o seguinte:
Art. i.° Os c a p i t ã e s d o s p o r t o s e as a u t o r i d a d e s a quem competir a ma-
t r i c u l a da gente d o m a r , quando tiverem de proceder contra os c a p i t ã e s das
embarcações no caso do artigo 512 do Código Commercial, observarão u
disposto nos artigos 116 , 117 , 124 e 125 do regulamento n . 447 de 19 de
M a i o de 1 8 4 6 .
A r t . 2 . ° D a d e c i s ã o q u e m u l t a r os c a p i t ã e s d a s e m b a r c a ç õ e s , p o d e r á õ e s t e s ,
ainda q u e a m u l t a n ã o exceda a c e m m i l reis, r e c o r r e r para o respectivo tribunal
do c o m m e r c i o , ( C ó d i g o Commercial, artigo 512. Regulamento n . 738 , artigo
18, § 1 2 . )
A r t . 3 . ° Nas p r o v í n c i a s e m que não houver tribunal do commercio, mas
onde houver relação , o recurso terá lugar para a respectiva j u n t a do c o m -
mercio. ( R e g u l a m e n t o n . 7 3 8 , artigos 72 e 7 7 . )
Art. 4 . ° Este recurso terá effeito suspensivo , e será i n t e r p o s t o dentro de
c i n c o dias contados do da p u b l i c a ç ã o d a d e c Í 6 à o na p r e s e n ç a d o recorrente ou
90 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Art. 5 1 3 . N ã o se a c h a n d o presentes os proprietários seus m a n -


datários o u consignatarios, i n c u m b e ao c a p i t ã o ajustar fretamentos,
segundo as i n s t r u c ç õ e s que tiver recebido ( art. 569 ).
Art. 514. O capiião, nos portos onde residirem os donos, seus
mandatários ou consignatarios, n ã o pôde, sem autorisação especial
desles, fazer despeza a l g u m a extraordinária c o m a e m b a r c a ç ã o .
Art. 515. É permittido ao capitão, e m falta de fundos, durante
a viagem, n ã o se achando presente algum dos proprietários da
embarcação, seus mandatários ou consignatarios, e na falta delles
algum interessado na carga, ou m e s m o se, achando-se presentes, n ã o
providenciarem, contrahir dividas, tomar dinheiro a risco sobre o
casco e pertences do navio e remanescente dos fretes depois de
p a g a s as s o l d a d a s , e até mesmo, na falta absoluta de o u t r o recurso,
vender mercadorias da carga, para o reparo ou provisão da embar-
cação; declarando nos títulos das obrigações que assiejnar a causa
d e q u e estas p r o c e d e m (art. 517). ( A r t s . 470 , § 1 e 8, 6 5 1 , 695, 754.)
As mercadorias da carga que e m taes casos se venderem serão
pagas aos carregadores pelo preço que outras de igual qualidade
obtiverem no porto da descarga, ou pelo que por arbitradores se

d o seu p r o c u r a d o r , o u d o d a i n t i m a ç ã o q u e l h e s e r á f e i t a p e l a pessoa p a r a isso


designada no artigo 6 n . 8. do regulamento de 19 de M a i o de 18a6 , sob pena
d e se t o r n a r a d e c i s ã o i r r e v o g á v e l e i i n m e d i a t a m e n t e e x e q ü í v e l . (Regulamento
de 19 de M a i o de 1846 , artigos 1 1 6 , 117 e 122.)
Art. 5 . ° A p e t i ç ã o p a r a o r e c u r s o d e v e r á e s p e c i f i c a r t o d a s as p e ç a s d o s autos
d e q u e se p r e t e n d a t r a s l a d o p a r a d o c u m e n t a - l o .
Art. 6.° Tomado o termo de recurso pelo respectivo secretario , regula-
m e n t o de 19 de M a i o de 1 8 4 6 , a r t . 1 2 2 , e e n t r e g u e p o r e l l e ao r e c o r r e n t e o
t r a s l a d o p e d i d o , d e v e r á este, d e n t r o de o u t r o s c i n c o d i a s , c o n t a d o s d o d a i n t e r -
posição do recurso, apresentar suas r a z õ e s i n s t r u í d a s com o dito traslado e
mais documentos que tiver.
Art. 7 . ° A u l o a d a s p e l o s e c r e t a r i o as d i t a s r a z õ e s , t r a s l a d o e d o c u m e n t o s , e
por certidão o termo de recurso , c a integra da d e c i s ã o ( s e n ã o c o n s t a r do
t r a s l a d o ) , s e r á o r e c u r s o c o n c l u s o ao c a p i t ã o d o p o r t o , q u e , d e n t r o d e outros
cinco dias , poderá reformar a decisão, ou mandar juntar ao recurso os
traslados q u e j u l g a r c o n v e n i e n t e s , e f u n d a m e n t a r o seu despacho.
Art. 8.° Os prazos c o n c e d i d o s ao r e c o r r e n t e p a r a j u n t a r o a r r a z o a d o e t r a s -
l a d o p o d e r á õ ser a m p l i a d o s a t é a o d o b r o pelo c a p i t ã o do p o r t o , se entender
q u e assim o exige a q u a n t i d a d e e qualidade dos traslados , o u a a f l l u e n c i a do
serviço a cargo do secretario.
Art. 9 . ° Se o c a p i t ã o d o p o r t o d e n e g a r o r e c u r s o , a i n d a m e s m o pelo fun-
d a m e n t o de ter sido interposta fóra dos c i n c o dias , artigo n e m p o r isso
deixará o recurso de f e r processado e expedido se o recorrente depositar no
c o f r e de que trata o artigo 113 do r e g u l a m e n t o de 1 9 de M a i o de 1 866 , a i m -
portância da m u l t a , que levantará n o caso de p r o x i m e n t o apresentado em
tempo.
Art. 1 0 . ° O recurso deve ser a p r e s e n t a d o na superior instância dentro dos
cinco dias seguintes ao da entrega dos autos pelo secretario c o m a resposta
do capitão do porto , além das de viagem na razão de quatro legoas por
dia , ou entregue na r e p a r t i ç ã o d o c o r r e i o d e n t r o dos ditos c i n c o dias.
Art. 1 1 . A p r e s e n t a d o s os a u t o s n a r e s p e c t i v a s e c r e t a r i a d o tribunal ou junta
do c o m m e r c i o , o oílicial m a i o r lavrará o t e r m o de a p r e s e n t a ç ã o , c fará o p r o -
CÓDIGO COMMERCIAL 91

estimar no caso da venda ter comprehendido todas as da mesma


qualidade ( a r t . 6 2 1 ) . (Reg. art. 21, § 3.)
Art. 516. Para poder tor lugar alguma das providencias autori-
sadas n o artigo precedente, é indispensável ( A r t . 651) :
I. Que o capitão prove falta absoluta de fundos e m seu poder
pertencentes áembarcação.
II. Que não se a c h e presente o proprietário da embarcação, ou
mandatário seu o u consignatario, e na sua falta algum dos inte-
ressados na carga; ou que, estando presentes, se dirigio a elles
e não providenciarão.
III. Que a deliberação seja t o m a d a de a c c o r d o com os o í í i c i a e s da
embarcação, lavrando-se no diário da navegação termo da neces-
sidade da m e d i d a tomada ( art. 50Zj).
A justificação destes r e q u i s i t o s s e r á feita perante 0 juiz de direito
do commercio do porto onde se tomar o dinheiro a risco ou se
venderem as mercadorias, e por elle julgada procedente, e nos
portos estrangeiros p e r a n t e os c ô n s u l e s d o I m p é r i o . (Reg. art. 2 1 § 3,
Tit. un. art. 17.)
Art. 517. O capitão que nos títulos ou instrumentos das obriga-
ções procedentes de despezas p o r elle feitas para f a b r i c o , h a b i l i t a ç ã o
ou abastecimento da e m b a r c a ç ã o , deixar de declarar a causa de que

cesso c o n c l u s o a o t r i b u n a l , j u n t a n d o aos a u t o s a l l e g a ç õ e s q u e f ô r e m o f f e r e c i d a s
pelo recorrente no prazo i m p r o r o g a v e l de vinte e q u a t r o h o r a s , contados do
dia da apresentação. (Regulamento de 19 de M a i o de 1 8 4 6 , a r l i g o s 1 2 3 e
125.j
Art. 1 2 . ° O tribunal o u junta do c o m m e r c i o com a possível brevidade jul-
gará o recurso , n ã o conhecendo d e l l e se n ã o t i v e r s i d o i n t e r p o s t o , a r r a s a d o e
apresentado e m tempo.
Art. 1 3 . ° P a r a a a p r e s e n t a ç ã o d o p r o v i m e n t o d e r e c u r s o ao c a p i t ã o d o p o r l o
é c o n c e d i d o o m e s m o t e m p o q u e se g a s t a p a r a a s u a a p r e s e n t a ç ã o , contando-se
da p u b l i c a ç ã o d o m e s m o p r o v i m e n t o .
Art. 1 4 . ° P a r a esse fim o official maior da secretaria d o t r i b u n a l o u j u n t a
d o c o m m e r c i o , l o g o q u e l a v r a r o t e r m o de a p r e s e n t a ç ã o , officiará declarando
o d i a d e s t a ao s e c r e t a r i o d a r e s p e c t i v a c a p i t a n i a d o p o r t o , para , e m caso de
n ã o p r o v i m e n t o , o u d e ser o p r o v i m e n t o a p r e s e n t a d o f ó r a d o t e m p o marcado
no artigo antecedente, ser a m u l t a c o b r a d a e x e c u t i v a m e n t e p e l o s m e i o s judi-
ciaes , quando o recorrente a n ã o pague amigavelmente , ou n ã o haja sido
depositada n o caso do artigo nono. ( Regulamento de 19 de M a i o de 1846
artigo 121.)
Art. 1 5 . ° S ó m e n t e n o c a s o d e p r o v i m e n t o s e r ã o os a u l o s o r i g i n a e s e n t r e g u e s
ao r e c o r r e n t e , f i c a n d o t r a s l a d o a u t h e n t i c o n a s e c r e t a r i a do tribunal ou junta
do commercio.
E u z e b i o de Qu e i ro z C o i l i n h o Mattoso C â m a r a , do meu conselho, ministro
e secretario de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a . assim o tenha e n t e n d i d o e faça
executar. P a l á c i o d o R i o de Janeiro , e m vinte e q u a t r o de F e v e r e i r o de m i l
oitocentos cincoenta e dous, t r i g e s i m o p r i m e i r o da i n d e p e n d ê n c i a e do I m -
pério.
Com a rubrica de Sua Magestade o I m p e r a d o r . — Euzebio de Queiroz
Coitinho Mattoso C â m a r a . — C o n f o r m e , Josino do Nascimento Silva.
(Assignado) O s e c r e t a r i o , Antônio Alves da Silva Pinto Júnior.
92 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

procedem, ficará pessoalmente obrigado para c o m as pessoas com


q u e m contractar : sem prejuízo da a c ç ã o que estas p o s s ã o ter contra
os donos do navio, provando que as quantias devidas forão effecti-
vamente applicadas a b e n e f i c i o deste (art. 494)* ( A r t s . 4 9 4 . 6 5 1 . )
Art. 518. O capitão que tomar dinheiro sobre o casco do navio
e seus pertences, enpenhar ou vender mercadorias, fóra dos casos
e m que p o r este C ó d i g o lhe é permitlido, e o que fôr convencido de
fraude e m suas contas, além das indemnisações de perdas e dam-
nos, ficará sujeito á acção criminal que no caso couber.
Art. 519. O capitão é considerado verdadeiro d e p o s i t á r i o da carga
e de quaesquer effeitos que receber a bordo, e como tal está obrigado
à sua guarda, b o m acondicionamento e conservação, e á sua
prompta entrega á vista dos conhecimentos (arts. 586 e 587).
(Art. 494.)
A responsabilidade do capitão a respeito da carga principia a cor-
rer desde o momento e m que a recebe , e continua até o acto da
sua entrega no lugar que se houver convencionado, ou que estiver
em uso no porto da descarga.
Art. 520. O capitão t e m direito para ser i n d e m n i s a d o pelos donos
de todas as despezas n e c e s s á r i a s que fizer e m utilidade da embar-
cação c o m fundos próprios ou alheios, comtanto que n ã o tenha
e x c e d i d o as suas instrucções, n e m as faculdades que por sua na-
tureza são inherentes á sua qualidade de capitão.
Art. 521. E p r o h i b i d o ao c a p i t ã o p ô r carga alguma no convez da
embarcação sem ordem ou consentimento por escripto dos carre-
gadores; pena de responder pessoalmente por todo o prejuízo que
dahi possa resultar. (Arts. 677, § 8, 790.)
Art. 522. Estando a embarcação f r e t a d a p o r i n t e i r o , se o capitão
receber carga de terceiro, o afretador tem direito de fazê-la des-
embarcar.
Art. 523. O capitão ou qualquer outro indivíduo da tripolação,
que carregar na embarcação, ainda mesmo a pretexto de ser na
sua câmara ou nos seus agasalhados, mercadorias de sua conta
particular, sem consentimento por escripto do dono do navio ou
dos afretadores, pôde ser o b r i g a d o a pagar frete dobrado.
Art. 52'i. O capitão que navega em parceria a lucro c o m m u m
sobre a carga, n ã o pôde fazer c o m m e r c i o a l g u m por sua conta par-
ticular, a n ã o haver convenção e m c o n t r a r i o ; p e n a de c o r r e r e m por
conta d e l l e t o d o s os riscos e perdas, e de pertencerem aos demais
p a r c e i r o s os l u c r o s que houver.
Art. 525. E p r o h i b i d o ao c a p i t ã o fazer c o m os carregadores ajus-
tes públicos o u secretos que revertão e m beneficio seu particular,
d e b a i x o de q u a l q u e r titulo ou pretexto que seja, pena de correr por
conta delle e dos carregadores todo o risco que acontecer, e de per-
t e n c e r ao d o n o do navio todo o lucro que houver.
Art. 526. E obrigação do capitão resistir por todos os m e i o s que
lhe dictar a sua prudência a toda e qualquer violência que possa
íntentar-se contra a embarcação, seus p e r t e n c e s e c a r g a : e se fôr
obrigado a fazer entrega de t u d o o u de parte, deverá munir-se com
CÓDIGO COMMERCIAL 93

os competentes protestos e justificações no mesmo porto, ou no


primeiro onde chegar ( a r t s . 5 0 4 e 5 0 5 ) . (Reg. art. 365.)
Art. 527. O capitão n ã o pôde reter a b o r d o os effeitos da carga
a titulo de s e g u r a n ç a do frete; mas t e m direito de exigir dos donos
ou oonsignatarios, no acto da entrega da carga, que depositem ou
afiancem a importância do f r e t e , avarias grossas e despezas a seu
cargo, e na falia de p r o m p t o p a g a m e n t o , deposito o u f i a n ç a , poderá
requerer embargo pelos fretes, avarias e despezas s o b r e as merca-
dorias da carga, emquanto e s t a s se acharem e m poder dos donos
ou consignatarios, ou estejão fóra das e s t a ç õ e s p u b l i c a s o u dentro
dellas; e mesmo para requerer a sua venda i m m e d i a t a se f ô r e m de
fácil deterioração, o u de g u a r d a arriscada ou dispendiosa.
A acção de embargo presoreve passados trinta dias a contar da
data d o ' u l t i m o dia da descarga. (Reg. arts. 318, § 1, 2 ; 321 § 1 ; 358,
520.)
Art. 528. Quando por ausência d o c o n s i g n a t a r i o , o u p o r se n ã o
apresentar o portador do c o n h e c i m e n t o á o r d e m , o capitão ignorar
a quem deva competentemente fazer a entrega, solicitará do juiz
de direito do c o m m e r c i o , e onde o n ã o houver da autoridade local
a q u e m competir, que n o m ê e depositários para receber os gêneros,
e pagar os f r e t e s d e v i d o s p o r c o n t a d e q u e m p e r t e n c e r . (Reg. art. 21
§ U , T i t . un. art. 17.)
Art. 529. O capitão é responsável p o r t o d a s as p e r d a s e damnos
que por culpa sua, omissão ou imperioia, s o b r e v i e r e m ao navio o u
á carga; sem prejuízo das acções criminaes a que a sua malversa-
ção o u d o l o possa d a r l u g a r ( a r t . 6 0 8 ) .
O capitão é t a m b é m civilmente responsável pelos furtos o u
quaesquer damnos praticados a bordo pelos i n d i v í d u o s da tripola-
ção nos objectos da carga, e m q u a n t o e s t a se a c h a r debaixo da sua
responsabilidade.
Art. 530. Serão pagas pelo capitão todas as multas que fôrem
impostas à embarcação por falta de exacta observância das leis e
r e g u l a m e n t o s das alfândegas e policia dos portos , e igualmente os
prejuízos que r e s u l t a r e m de d i s c ó r d i a e n t r e os i n d i v í d u o s da mesma
tripolação no serviço desta, se n ã o p r o v a r que empregou todos os
m e i o s c o n v e n i e n t e s p a r a os e v i t a r . ( A r t . 7 1 8 . )
Art. 531. O capitão, que, f ó r a do caso de i n n a v e g a b i l i d a d e legal-
mente provada, vender o navio sem autorisação especial dos donos,
ficará responsável por perdas e damnos, além da nullidade da ven-
da e do procedimento criminal que possa ter lugar.
Art. 532. O capitão, que, sendo contractado para u m a viagem
certa, deixar de a concluir sem causa justificada, responderá aos
proprietários afretadores e carregadores pelas perdas e damnos
que dessa falta r e s u l t a r e m .
E m reciprocidade, o capitão, que sem justa causa fôr despe-
d i d o antes de finda a viagem, s e r á pago da sua soldada p o r inteiro,
posto á custa do proprietário ou afretador no lugar onde c o m e ç o u
a viagem, e indemnisado de quaesquer vantagens que possa ter
perdido pela despedida.
n M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Pôde porém ser despedido antes da viagem c o m e ç a d a , sem di-


reito a i n d e m n i s a ç ã o , n ã o havendo ajuste e m contrario.
Art. 533. Sendo a e m b a r c a ç ã o fretada para porto determinado,
só pôde o capitão negar-se a fazer a viagem, sobrevindo peste,
guerra, bloqueio ou impedimento legitimo da e m b a r c a ç ã o sem
limitação de tempo.
Art. 534. Acontecendo fallecer algum passageiro ou indivíduo
da tripolação durante a viagem, o capitão procederá a inventario
de todos os bens que o fallecido deixar, com assistência dos oííi-
ciaes da e m b a r c a ç ã o c de duas testemunhas, que serão c o m prefe-
rencia passageiros, pondo tudo ern boa arrecadação; e logo que
chegar ao porto da sahida, fará entrega do inventario e bens ás
autoridades competentes.
Art. 535. Finda a viagem, o capitão é obrigado a dar sem de-
mora conta da sua gestão ao dono ou caixa do navio , c o m entrega
do dinheiro que e m si t i v e r , livros e todos os m a i s p a p e i s . E o dono
o u c a i x a é o b r i g a d o a a j u s t a r as c o n t a s d o c a p i t ã o l o g o q u e as r e c e b e r ,
e a pagar a somma que lhe fôr devida. Havendo contestação sobre
a conta, o capitão tem direito para ser pago immediatamente
das soldadas vencidas, prestando fiança de as repôr, a haver
lugar. (Reg. art. 297.)
Art. 536. Sendo o capitão o único proprietário da e m b a r c a ç ã o ,
será simultaneamente responsável aos afretadores e carregadores
por t o d a s as o b r i g a ç õ e s impostas aos c a p i t ã e s e aos armadores.
Art. 537. Toda a obrigação pela qual o capitão, sendo c o m -
parte do navio, fôr responsável á parceria, tem privibí»io sobre o
q u i n h ã o e lucros que o m e s m o tiver no navio e fretes. ( A r t . 877, § 9 . )

T I T U L O I V .

DO PILOTO E CONTRAMESTRE.

Art. 538. A habilitação e deveresdos pilotos e conlramestres são


pTescriptos nos r e g u l a m e n t o s de marinha.
Art. 539. O piloto, quando julgar necessário mudar de r u m o ,
c o m m u n i c a r á ao capitão as razões que assim o e x i g e m ; e se este
se o p p u z e r , d e s p r e z a n d o as s u a s o b s e r v a ç õ e s , que e m tal caso de-
verá renovar-lhe na presença dos m a i s o f f i c i a e s do navio, lançará o
seu protesto no diário da navegação (art. 504), o qual deverá ser
por todos assignado, e obedecerá às ordens do capitão, sobre q u e m
recahirá toda a responsabilidade.
Art. 540. O piloto que, por impericia, omissão ou malícia, perder
o navio ou lhe causar d a m n o , será obrigado a resaroir o prejuízo
que soíTrer o m e s m o navio ou a carga; além de i n c o r r e r nas penas
cnminaes qne possão ter lugar: a responsabilidade do piloto n ã o
exclue a do c a p i t ã o nos casos do a r t i g o 529.
Art. 541. Por morte ou impedimento do capitão, recahe o cora.
mando do navio no piloto, e na falta ou impedimento deste no
CÓDIGO C O M M E R C I A L 95

contramestre, c o m t o d a s as p r e r o g a t i v a s , f a c u l d a d e s , o b r i g a ç õ e s e
responsabilidade i n b e r e n t e s ao l u g a r do capitão.
Art. 542. O contramestre que, recebendo ou entregando fa-
zendas, n ã o e x i g e e e n t r e g a a o c a p i t ã o as o r d e n s , r e c i b o s o u outros
quaesquer documentos justificativos do seu acto, responde por
perdas e damnos dahi resultantes.

TITULO V.

DO AJUSTE E SOLDADAS DOS OFFICIAES E GENTE DA TRIPOLA-

ÇÃO , SEUS DIREITOS E OBRIGAÇÕES.

Art. 543. O capitão é obrigado a dar ás pessoas da tripolação,


que o exigirem, u m a nota por elle assigoada, em que se d e c l a r e a
natureza do ajuste e preço da s o l d a d a , e a lançar na mesma nota
as q u a n t i a s q u e se f ô r e m pagando por conta.
As condições do ajuste entre o capitão e gente da tripolação, na
falta de o u t r o titulo do contracto, p r o v ã o - s e pelo r o l da equipagem
ou matricula; subentendendo-3e sempre comprehendido no ajuste
o sustento da tripolação.
Não constando pela matricula, n e m por outro escripto do con-
tracto, o tempo determinado do ajuste, entende-se sempre que
foi por viagem redonda ou de ida e volta ao lugar e m que teve l u -
g a r a m a t r i c u l a . (Reg. arts. 152, § 6; 293, 295.)
Art. 544- A c h a n d o - s e o livro da receita e despeza do navio con-
forme á matricula (art. 467) , e escripturado c o m regularidade (art.
503), fará inteira fe para s o l u ç ã o de quaesquer duvidas que possão
suscitar-se s o b r e as c o n d i ç õ e s do contracto da soldada : q u a n t o po-
rém á s quantias entregues por conta , p r e v a l e c e r ã o , e m caso de d u -
vida, os assentos lançados nas notas de que trata o artigo pre-
cedente. (Reg. arts. 14Í, § 3; 211.)
Art. 545. São o b r i g a ç õ e s dos oííiciaes c gente da t r i p o l a ç ã o :
I. Ir para bordo promptos para seguir viagem no tempo ajus-
tado; pena de p o d e r e m ser despedidos.
II. N ã o sahir do navio n e m passar a noite fóra sem licença do
capitão; pena de p e r d i m e n t o de u m m e z de soldada.
III. N ã o retirar os seus effeitos de bordo sem serem visitados
pelo capitão o u pelo segundo ; debaixo da mesma pena.
IV. Obedecer sem contradicção ao capitão e mais oííiciaes nas
suas respectivas qualidades, e abster-se de brigas, debaixo das
penas declaradas nos artigos 4 9 8 e 555.
V. Auxiliar ao capitão, e m caso de ataque do n a v i o , o u desastre
sobrevindo á embarcação ou á carga, seja qual fôr a natureza do
sinistro; pena de p e r d i m e n t o das soldadas vencidas.
VI. Finda a viagem, fundear e desapparelhar o navio, conduzi-
lo a surgidouro, e amarra-lo, sempre que o capitão o exigir;
pena de p e r d i m e n t o das soldadas vencidas.
V I L Prestar os d e p o i m e n t o s n e c e s s á r i o s p a r a r a t i f i c a ç ã o dos pro-
% M A N U A L DOS NEGOCIANTES

cessos t e s t e m u n h a e s e p r o t e s t o s formados a bordo (art. 505), rece-


bendo pelos dias da d e m o r a uma indemnisação proporcional ás sol-
dadas que vencião: faltando a este dever, n ã o terão acção para
demandar as s o l d a d a s vencidas.
Art. 546. Os o f í i c i a e s e q u a e s q u e r o u t r o s i n d i v í d u o s d a tripolação,
que, depois de m a t r i c u l a d o s , a b a n d o n a r e m a v i a g e m antes de co-
m e ç a d a , o u se ausentarem antes de acabada, p o d e m ser compel-
lidos com prisão ao c u m p r i m e n t o do c o n t r a c t o , a r e p ô r o que lhes
houver pago adiantado, e a servirem u m mez sem receberem sol-
dada.
Art. 547. Se, depois de matriculada a equipagem, se r o m p e r a
viagem no porto da matricula por facto do d o n o , capitão ou afre-
tador, a todos os i n d i v í d u o s d a tripolação justos ao mez se abonará
a soldada de u m m e z , além da que t i v e r e m v e n c i d o : aos que esti-
verem contractados por viagem abonar-se-ha metade da soldada
ajustada.
Se porém o r o m p i m e n t o da viagem tiver lugar depois da sahida
do porto da matricula, os indivíduos justos ao mez tem direito a
receber, n ã o só pelo t e m p o vencido, mas t a m b é m pelo que seria ne-
cessário para regressarem ao porto da sahida, ou para chegarem ao
do destino, fazendo-se a conta por aquelle q u e se a c h a r m a i s p r ó -
ximo: aos c o n t r a c t a d o s por viagem redonda se pagará como se a
viagem se achasse terminada.
Tanto os indivíduos da equipagem, justos por v i a g e m , c o m o os
justos por mez, tem direito a que se lhes pague a despeza da pas-
sagem do porto da despedida para aquelle onde o u para onde se
ajustárão, que fôr mais próximo. Cessa esta obrigação sempre que
os indivíduos da equipagem podem encontrar soldada no porto da
despedida. (Reg. art. 290.)
Art. 548. Rompendo-se a viagem por causa de força m a i o r , a
equipagem, se a embarcação se achar no porto do ajuste, só t e m
direito a exigir as s o l d a d a s vencidas.
São causas de forca maior:
I. Declaração de guerra, ou interdicto de commercio entre o
porto da sahida e o porto do destino da viagem,
II. Declaração de bloqueio do porto, ou peste declarada nelle
existente.
I I I . Prohibição de admissão no mesmo p o r t o dos gêneros carre-
gados na embarcação.
IV. Detenção ou embargo da embarcação (no caso de se n ã o ad-
mittir fiança ou n ã o ser possível dá-la), que exceda ao t e m p o de
noventa dias.
V. Innavegabilidade da embarcação acontecida por sinistro.
Art. 549. Se o r o m p i m e n t o da v i a g e m p o r causa de força maior
acontecer achando-se a embarcação em algum porto de arribada,
a equipagem contractada ao mez só tem d i r e i t o a ser paga pelo
tempo vencido desde a sahida do porto até o dia e m que fôr des-
pedida , e a equipagem justa por viagem n ã o tem direito a soldada
alguma se a v i a g e m se n ã o conclue.
CÓDIGO COMMERCIAL 97

Art. 550. No caso de embargo ou detenção, os indivíduos da


tripolação justos ao m e z venceráõ metade de suas soldadas durante
o impedimento, não excedendo este de noventa dias; findo este
p r a z o , caduca o ajuste. Aquelles p o r é m que f ô r e m justos por viagem
redonda são obrigados a cumprir seus contractos até o fim da
viagem.
Todavia, se o proprietário da embarcação vier a receber indem-
nisação pelo embargo ou detenção, será obrigado a pagar as sol-
dadas por inteiro aos que fôrem justos ao mez, e aos de viagem
redonda na devida proporção.
Art. 551. Quando o proprietário, antes de começada a viagem
der á embarcação destino differente daquelle que tiver sido decla-
rado no contracto, terá lugar novo ajuste; e os q u e se n ã o ajusta-
rem só terão direito a receber o vencido, o u a reter o que tiverem
recebido adiantado (Art. 550, § 1).
Art. 552. Se depois da chegada da e m b a r c a ç ã o ao p o r t o do seu
destino, e ultimada a descarga, o capitão, e m lugar de fazer o seu
retorno, fretar ou carregar a embarcação para ir a outro destino,
é livre aos indivíduos da tripolação ajustarem-se de novo ou reti-
rarem-se, n ã o havendo no contracto estipulação em contrario.
Todavia, se o capitão, fóra do I m p é r i o , achar a bem navegar
para o u t r o porto livre, e nelle carregar o u descarregar, a tripolação
não pôde despedir-se, posto que a viagem se p r o l o n g u e além do
a j u s t e ; r e c e b e n d o os i n d i v í d u o s justos p o r v i a g e m u m augmento de
soldada na p r o p o r ç ã o da prolongação.
Art. 553. Sendo a tripolação justa a partes ou quinhão no frete,
n ã o lhe será devida indemnisação alguma pelo r o m p i m e n t o , retar-
dação ou prolongação da v i a g e m causada por força maior ; mas se
o rompimento, retardação o u p r o l o n g a ç ã o provier de f a c t o dos car-
regadores, terá parte nas indemnisações que se concederem ao na-
vio ; fazendo-se a divisão entre os d o n o s dos navios e a gente da
tripolação, na mesma proporção e m que o frete deveria ser d i -
vidido.
Se o r o m p i m e n t o , r e t a r d a ç ã o ou prolongação provier de facto do
capitão ou proprietário d o n a v i o , estes s e r ã o o b r i g a d o s ás indemni-
sações proporcionaes respectivas.
Quando a viagem fôr mudada para porto mais vizinho, ou abre-
viada p o r o u t r a q u a l q u e r c a u s a , os indivíduos da tripolação justos
por viagem serão pagos por inteiro.
Art. 554. Se alguém da tripolação, depois de m a t r i c u l a d o , fôr
despedido sem justa causa, terá direito de haver a soldada contrac-
tada por inteiro sendo redonda, e se f ô r ao m e z , far-se-ha a conta
pelo termo médio do tempo que c o s t u m a r gastar-se nas viagens,
para o porto do ajuste. E m taes casos, o c a p i t ã o n ã o t e m direito de
exigir d o d o n o d o n a v i o as i n d e m n i s a ç õ e s q u e f ô r o b r i g a d o a p a g a r ;
salvo tendo obrado c o m sua autorisação (Reg. art. 390).
Art. 555. S ã o causas justas p a r a a despedida ( A r t s . 4 9 9 , 545 § 4 ;
Reg. art. 139):
I. Pcrpetração de a l g u m c r i m e o u d e s o r d e m grave que perturbe

MAN. 1VEG. 7
98 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

a ordem da e m b a r c a ç ã o , reincidência em insubordinação, falta


de disciplina o u de c u m p r i m e n t o de deveres ( a r i . Z|98).
I h Embriaguez habitual.
III. Ignorância do mister para que o d e s p e d i d o se t i v e r ajustado.
IV. Qualquer occurrencia que o inhabilile para desempenhar
as s u a s o b r i g a ç õ e s , c o m excepção do caso p r e v e n i d o n o artigo 560.
Art. 556. Os oííiciaes e gente da t r i p o l a ç ã o p o d e m despedir-se antes
de c o m e ç a d a a v i a g e m , nos casos seguintes:
I. Quando o capitão m u d a do destino ajustado (art. 551).
I I . Se, depois do ajuste, o I m p é r i o é envolvido e m guerra maríti-
m a , ou ha noticia certa de peste n o l u g a r do destino.
III. Se, assoldadados para irem em comboi, este n ã o t e m lugar.
IV. Morrendo o capitão ou sendo despedido.
Art. 557. N e n h u m indivíduo da tripolação pôde intentar litígio
contra o navio ou capitão, antes de terminada a viagem : todavia ,
achando-se o navio e m b o m porto, os i n d i v í d u o s maltratados, ou a
q u e m o capitão houver faltado c o m o devido sustento, poderáõ de-
m a n d a r a rescisão do contracto.
Art. 558. Sendo a embarcação apresada ou naufragando, a tri-
polação n ã o t e m direito á s soldadas vencidas na viagem do sinistro,
nem o d o n d d o n a v i o a r e c l a m a r as q u e tiver pago adiantadas.
Art. 559. Se a embarcação a p r i s i o n a d a se r e c u p e r a r achando-se
ainda a tripolação a bordo, será esta paga de suas soldadas por
inteiro (Ârts. 111, 760).
Salvando-se do naufrágio alguma parte do navio o u da carga, a
tripolação terá direito a ser paga das soldadas vencidas na ultima
\iagem, c o m preferencia a outra qualquer divida anterior, até onde
< hegar o valor da parte do navio que se p u d e r s a l v a r ; e n ã o che-
gando esta, ou se nenhuma parte se t i v e r s a l v a d o , p e l o s f r e t e s da
carga salva.
Entende-se ultima viagem o tempo decorrido desde que a em-
barcação principiou a receber o lastro o u carga que tiver a bordo
na occasião do apresamento ou naufrágio.
Se a tripolação estiver justa a partes, será paga s ó m e n t e pelos
fretes dos salvados, e e m devida proporção de rateio c o m o capitão.
Art. 560. N ã o deixará de vencer a soldada ajustada qualquer
indivíduo da tripolação que adoecer durante a viagem e m serviço
do navio, e o curativo será p o r c o n t a d e s t e : se p o r é m a doença fôr
adquirida fóra do serviço do navio, cessará o v e u c i m e n t o da soldada
emquanto ella durar, e a despeza do curativo será por conta das
soldadas v e n c i d a s ; e se e s t a s n ã o c h e g a r e m , por seus b e n s ou pelas
soldadas que possa vira vencer ( A r t . 355 § 4).
Art. 561. Falleceudo algum indivíduo da tripolação durante a
viagem, a despeza do seu enterro será paga por conta do navio, e
seus herdeiros t e m direito á soldada devida até o dia dofallecimento
estando justo ao m e z ; até o porto do d e s t i n o se a morte acontecer
em caminho para tlle, sendo o ajuste por viagem; e à de ida e
volta acontecendo e m t o r n a v i a g c m , se o ajuste fôr por viagem
r e d o n d a . [Reg t art. 289.) * 0
CÓDIGO COMMERCIAL 99

Art. 562. Qualquer que tenha sido o ajuste, o i n d i v í d u o da tri-


polação que fôr morto e m defesa da e m b a r c a ç ã o será considerado
como vivo para todos os vencimentos e quaesquer interesses que
possão v i r aos da sua classe, até que a mesma embarcação chegue
ao p o r t o do seu destino.
O mesmo beneficio gozará o que fôr aprisionado e m acto do
defesa da e m b a r c a ç ã o , s e e s t a c h e g a r a s a l v a m e n t o . (Reg. arts. 289.)
Art. 563. Acabada a viagem, a tripolação tem acção para exigir
o seu p a g a m e n t o d e n t r o de tres dias depois de u l t i m a d a a descarga,
com os j u r o s d a l e i n o c a s o d e m ó r a (art. 449 n.° 4 ) .
Ajustando-se os oííiciaes e gente da tripolação para diversas
viagens, poderáõ, terminada cada viagem, e x i g i r as s o l d a d a s ven-
cidas.
Art. 564. T o d o s os i n d i v í d u o s d a e q u i p a g e m t e m h y p o t h e c a t á c i t a
no navio e fretes para serem pagos das soldadas vencidas na ultima
viagem, c o m preferencia a outras dividas menos privilegiadas; e e m
n e n h u m caso o r é o s e r á o u v i d o s e m d e p o s i t a r a q u a n t i a p e d i d a . (Res
art. 291.) V Ò
*
Entender-se-ha por equipagem ou tripolação para o dito effeito
e para todos os mais dispostos neste t i t u l o , o capitão, oííiciaes,
marinheiros e todas as mais pessoas empregadas no serviço de
navio, menos os sobrecargas.
Art. 565. O navio e frete respondem para c o m os d o n o s da carga
pelos d a m n o s que soffrerem por delictos, culpa o u omissão culposa
do capitão o u gente da t r i p o l a ç ã o , perpetrados e m serviço do navio;
s a l v a s as a c ç õ e s dos proprietários da e m b a r c a ç ã o contra o capitão ,
e deste c o n t r a a gente da tripolação. (Arts. 165, 877 , ^ 9 : Re t f .
art. 289.)
O salário do capitão e as soldadas da equipagem são hypotheca
especial nestas acções.

TITULO VI.

DOS FRETAMENTOS.

CAPITULO I.

Da natureza e fôrma do contracto de fretamento e das cartas partidas.

Art. 566. O contracto de fretamento de qualquer embarcação,


q u e r seja n a sua totalidade o u e m parte, para u m a ou mais viagens,
q u e r seja á c a r g a , colheita ou prancha, o que tem lugar quando o
capitão recebe carga de quantos se a p r e s e n t ã o , deve provar-se por
escripto. N o p r i m e i r o caso, o i n s t r u m e n t o q u e s e c h a m a carta partida
ou carta de fretamento, d e v e ser assignado pelo fretador e afretador,
e por quaesquer o u t r a s pessoas q u e i n t e r v e n h ã o no contracto, do
qual se dará a cada u m a das partes u m exemplar: e no segundo
o instrumento chama-se conhecimento, e basta ser a s s i g n a d o pelo

*
100 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

eapilão e o oarregador. Entende-se por fretador o que dá , e por


alreiador o que toma a e m b a r c a ç ã o a frete.
Art. 567. A oarta partida deve enunciar:
I. O nome do capitão e o do navio, o porte deste, a nação a que
pertence e o porto do seu registro (art. 460).
II. O nome do fretador e o do afrelador, e seus respectivos
d o m i c í l i o s : se o f r e t a m e n t o f ô r p o r c o n t a d e t e r c e i r o , d e v e r á l a m b e m
declarar-se o seu nome e domicilio.
III. A designação da v i a g e m , se é r e d o n d a o u ao m e z , para uma
ou mais viagens, e se estas s ã o de ida e v o l t a , o u s ó m e n t e para ida
ou v o l t a , e f i n a l m e n t e se a e m b a r c a ç ã o se f r e t a n o t o d o o u e m parte.
IV. O gênero e quantidade da carga que o navio deve receber >

designada por toneladas, n ú m e r o s , peso ou volumes, e por conta


de quem a mesma será conduzida para b o r d o , e deste para terra.
V. O tempo da carga e descarga, portos de escala quando a haja,
as estadias e sobrestadias ou demoras, e a fôrma por que estas se
hão de v e n c e r e contar.
V I . O preço do frete, quanto ha de pagar-se de p r i m a g e m ou
g r a t i f i c a ç ã o , e de estadias e sobrestadias, e a fôrma, tempo e lugar
do pagamento.
VII. Se ha lugares reservados no navio, além dos necessários
para uso e a c c o m m o d a ç à o do pessoal e material do serviço da
embarcação.
VIII. Todas as m a i s e s t i p u l a ç õ e s e m q u e as p a r t e s se accordarem.
Art. 568. As c a r t a s de fretamento devem ser l a n ç a d a s n o registro
do c o m m e r c i o , d e n t r o de quinze dias a contar da sahida da embar-
cação nos lugares da residência dos tribunaes do c o m m e r c i o , e nos
outros, dentro do prazo q u e estes d e s i g n a r e m (art. 31). (Reg. Decr.
2 5 Novembro 1 8 5 0 , art 58 § 7 . )

Art. 569. A carta de f r e t a m e n t o v a l e r á c o m o i n s t r u m e n t o p u b l i c o


t e n d o sido feita por i n t e r v e n ç ã o e c o m assignatura de a l g u m corretor
de navios, o u , na falta de corretor, por tabellião que porte por fé ter
sido passada na sua presença, e de duas testemunhas c o m elle
assignadas. A carta de fretamento que n ã o fôr authenticada por
alguma das duas referidas f ô r m a s , obrigará as próprias partes, mas
não dará direito contra terceiro.
As cartas de fretamento a s s i n a d a s pelo c a p i t ã o valem ainda que
este tenha excedido as faculdades das suas inslrucções; salvo o
direito dos d o n o s do navio por perdas e damnos contra elle pelos
abusos que commeller. (Reg. arts. 140 § 1 ; 159.)
Art. 570. Fretando-se o navio por inteiro , entende-se que fica
sómente reservada a câmara do capitão, os a g a s a l h a d o s d a equi-
pagem, e as accommodações necessárias para o material da e m -
barcação.
Art. 5 7 1 . Dissolve-se o contracto de f r e t a m e n t o , s e m que haja
lugar a exigência alguma de parte a parte ( A r t . 573) :
I. Se a sahida da embarcação fôr i m p e d i d a , antes da partida ,
por f o r ç a m a i o r t»em l i m i t a ç ã o de tempo.
II. Sobrevindo, antes dè principiada a viagem, declaração de
CÓDIGO C O M M E R C I A L 101

guerra, ou inlerdicto dc c o m m e r c i o com o paiz para onde a e m -


barcação é destinada, e m conseqüência do qual o navio e a carga
conjnnotamente n ã o sejão considerados como propriedade neutra.
III. Prohibição de exportação de t o d a s ou da maior parte das
fazendas comprebendidas na carta de f r e l a m e n t o do l u g a r d o n d e a
embarcação deva p a r t i r , o u de i m p o r t a ç ã o n o do seu destino.
IV. Declaração de b l o q u e i o do porto da carga o u d o seu destino,
antes da partida do navio.
E m todos os referidos casos as despezas da descarga serão por
conta do afretador ou carregadores.
Art. 572. Se o i n t e r d i c t o de commercio com o porto do destino
do navio acontece durante a sua viagem, e se por este motivo o
navio é obrigado a voltar c o m a carga, deve-se s ó m e n t e o f r e t e pela
ida. ainda q u e o n a v i o tivesse sido f r e t a d o p o r ida e volta. ( A r t . 5 7 3 . )
Art. 573. Achando-se u m navio fretado em lastro para outro
porto onde deva carregar, dissolve-se o contracto, se, chegando a
esse p o r t o , s o b r e v i e r algum dos impedimentos designados nos ar-
tigos 571 e 572, sem que possa ter l u g a r i n d e m n i s a ç ã o alguma por
nenhuma das partes, quer o impedimento venha só do navio, quer
do navio e carga. Se porém o impedimento nascer da carga e n ã o
do navio, o afretador será obrigado a pagar metade do frete
ajustado.
Art. 574. Poderá igualmente rescindir-!*e o contracto de fretn-
mento a r e q u e r i m e n t o d o a f r e t a d o r , se o c a p i t ã o lhe tiver oceultado
a verdadeira bandeira da e m b a r c a ç ã o ; f i c a n d o este pessoalmente
responsável ao mesmo afretador por todas as despezas da carga e
descarga , e por perdas e damnos, se o valor do navio não chegar
para satisfazer o prejuízo. (Reg. art. 172.)

CAPITULO li.

Dos Conhecimentos.

Art. 575. O conhecimento deve ser datado e declarar (Art. 586) :


I. O nome do capitão e o do carregador e consignatario ( podendo
omitlir-se o nome deste se fôr à ordem), e o nome e porte do navio.
II. A qualidade e a quantidade dos objectos da carga , suas
marcas e números, annotados à margem.
III. O lugar da p a r t i d a e o d o d e s t i n o , c o m d e c l a r a ç ã o das escalas,
ha vendo-as.
IV. O preço do frete e primagera, se esta fôr estipulada, e o
lugar e fôrma do pagamento.
V. A assignatura do capitão ( art. 577) e a do carregador.
Art. 576. Sendo a carga tomada em virtude de carta de freta-
mento, o portador do c o n h e c i m e n t o n ã o fica r e s p o n s á v e l por algu-
ma condição ou obrigação especial contida na mesma carta, sc o
conhecimento n ã o t i v e r a c l á u s u l a — s e g u n d a r a carta de fretamento.
Art. 577. O capitão é obrigado a assignar todas as vias de u m
102 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

mesmo conhecimento que o carregador exigir, devendo ser todos do


mesmo teor e da m e s m a data, e conter o numero da via. U m a via
ficará em poder do capitão, as outras pertencem ao carregador.
( A r t . 575 § 5.)
Se o c a p i t ã o f ô r ao m e s m o tempo o carregador, os conhecimentos
respectivos serão assignados por duas pessoas da tripolação a elle
immediatas no c o m m a n d o do navio, e u m a via será depositada nas
m ã o s do armador ou do consignatario.
Art. 5 7 8 . Os c o n h e c i m e n t o s serão assignados e entregues dentro
de vinte e quatro horas, depois de ultimada a carga, e m resgate
dos recibos p r o v i s ó r i o s ; pena de serem responsáveis por todos os
damnos que resultarem do retardamento da viagem, tanto o capitão
c o m o os carregadores que h o u v e r e m sido remissos na entrega dos
mesmos conhecimentos.

Art. 579. Seja qual fôr a natureza do conhecimento, n ã o poderá


o carregador variar a consignação p o r via de novos conhecimentos,
sem que faça prévia entrega ao capitão de todas as vias que este
houver assignado.

O capitão que assignar novos conhecimentos sem ter recolhido


t o d a s as v i a s d o p r i m e i r o , f i c a r á r e s p o n s á v e l aos p o r t a d o r e s legítimos
que se a p r e s e n t a r e m c o m a l g u m a das mesmas vias.
Art. 580. Allegando-se extravio dos primeiros conhecimentos,
o capitão n ã o será obrigado a assignar segundos, sem que o carre-
gador preste fiança á sua satisfação pelo valor da carga nelles
declarada.

Art. 581. Fallecendo o capitão da embarcação antes de fazer-se


á vela , ou deixando de exercer o seu o f í i c i o , os carregadores t e m
direito para exigir do successor que revalide c o m a sua assignatura
os conhecimentos por aquelle assignados, conferindo-se a carga
com os m e s m o s conhecimentos : o capitão q u e os a s s i g n a r sem esta
conferência responderá p e l a s f a l t a s ; s a l v o se os c a r r e g a d o r e s convie-
rem que elle declare nos conhecimentos que n ã o conferio a carga.
No caso de m o r t e do capitão ou de ter sido despedido sem justa
causa , serão pagas pelo d o n o d o n a v i o as d e s p e z a s d a conferência;
m a s se a d e s p e d i d a p r o v i e r d e f a c t o d o c a p i t ã o , s e r ã o p o r c o n t a deste.
Art. 582. Se as fazendas carregadas n ã o tiverem sido entregues
por n u m e r o , peso o u m e d i d a , o u n o caso de h a v e r d u v i d a n a conta-
gem , o capitão p ô d e declarar nos conhecimentos que o mesmo n u -
m e r o , peso o u medida lhe são desconhecidos; mas se o carregador
não c o n v i e r nesta declaração, deverá proceder-se a nova conta-
gem, correndo a despeza por conta de q u e m a liver occasionado.
Convindo o carregador na sobredita declaração, o capitão ficará
somente obrigado a entregar n o porto da descarga os eíTeitos q u e se
acharem dentro da e m b a r c a ç ã o pertencentes ao m e s m o carregador,
sem q u e este tenha direito para exigir mais carga; s a l v o se provar
que houve desvio da parte do capitão ou da tripolação.
Art. 583. Constando ao capitão que ha diversos portadores das
differentes vias de u m c o n h e c i m e n t o das mesmas fazendas, ou ten-
CÓDIGO COMMERCIAL 103

do-se feito seqüestro , arresto ou penhora nelles , é obrigado a pedir


deposito judicial, por conta de quem pertencer. (Reg. art. 402.)
Art. 584. N e n h u m a penhora ou embargo de terceiro, que não fôr
p o r t a d o r de a l g u m a das vias de c o n h e c i m e n t o , pôde, f ó r à do caso do
reivindicação, segundo as disposições deste C ó d i g o (art. 874 n.° 2),
privar o portador do mesmo conhecimento da faculdade de requerer
o deposito ou venda j u d i c i a l das fazendas no caso s o b r e d i t o ; salvo o
direito do exequente o u de t e r c e i r o o p p o e n t e sobre o p r e ç o da venda.
(Reg. art. 604.)
Art. 585. O capitão pôde requerer o deposito judicial todas as
vezes q u e os p o r t a d o r e s de conhecimentos se n ã o a p r e s e n t a r e m para
receber a carga immediatamente que elle der principio á descarga
(Reg. art. 4 0 2 ) , e nos casos e m que o consignatario esteja ausente
ou seja fallecido.
Art. 586. O conhecimento concebido nos termos enunciados no
art. 575 faz inteira prova entre t o d a s as p a r l e s i n t e r e s s a d a s n a carga
e frete, e entre ellas e os s e g u r a d o r e s ; f i c a n d o salva a estes e aos
donos do navio a prova e m c o n t r a r i o . ( R e g . art. 140, § 1.)
Art. 587. O conhecimento feito e m f ô r m a r e g u l a r (art. 575) tem
força e é accionavel corno escriptura p u b l i c a . (Reg. arts. 140 § 1 ;
247, § 5 ; 370, 720 § 1.)
S e n d o p a s s a d o á ordem é transferivel e n e g o c i á v e l p o r via de endosso.
Art. 588. Contra os c o n h e c i m e n t o s só pôde oppôr-se falsidade,
quitação, embargo, arresto ou penhora e deposito judicial ou per-
d i m e n t o d o s e f f e i t o s c a r r e g a d o s p o r c a u s a j u s t i f i c a d a . (Reg. art. 251.)
Art. 589. Nenhuma acção entre o capitão e os c a r r e g a d o r e s ou
seguradores será admissível em j u i z o se n ã o f ô r l o g o acompanhada
do conhecimento original. A f a l t a deste n ã o p ô d e ser s u p p r i d a pelo*
recibos provisórios da c a r g a ; salvo provando-se que o carregador fez
diligencia pelo obter, e que, fazendo-se o navio á vela s e m o capitão
o haver passado, interpôz competente protesto d e n t r o dos p r i m e i r o s
tres dias ú t e i s , c o n t a d o o da sahida do navio, c o m i n t i m a ç ã o do ar-
m a d o r , consignatario ou outro qualquer interessado, e na falta destes
por editaes; o u sendo a q u e s t ã o de seguros sobre sinistro acontecido
n o p o r t o d a c a r g a , se p r o v a r q u e o m e s m o s i n i s t r o a c o n t e c e u a n t e s do
conhecimento p o d e r ser assignado. (R'.g. arts. 159, 390, 673 § 7.)

CAPITULO III.

Dos direitos e obrigações do fretador e afretador.

Art. 590. O fretador é obrigado a ter o navio lestes para receber a


carga, e o afretador a eífectua-la no tempo marcado no contracto.
Art. 591. N ã o se tendo determinado na carta de fretamento o
tempo em que deve c o m e ç a r a carregar-se, e n t e n d e - s e qxie princi-
pia a correr desde o dia e m que o capitão declarar que está prompto
para receber a c a r g a : se o t e m p o q u e d e v e d u r a r a c a r g a e a d e s c a r g a
não estiver fixado, o u q u a n t o se h a d e p a g a r d e p r i m a g e m c e s t a d i a s
104 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

e sobrestadias, e o tempo e modo do pagamento, será tudo regulado


pelo uso d o p o r t o o n d e u m a o u outra deva effectuar-se.
Art. 592. Vencido o prazo e o das estadias e sobrestadias que
se t i v e r e m a j u s t a d o , e n a f a l t a d e a j u s t e as d o u s o n o p o r t o d a carga,
sem que o afretador tenha carregado effeitos alguns, t e r á o c a p i t ã o a
escolha, ou de resilir do contracto e exigir do afretador metade do
frete ajustado e primagem c o m estadias e sobrestadias, o u de e m -
prehender a viagem sem carga, e finda ella exigir delle o frete por
inteiro e primagem, com as avarias que fôrem devidas, estadias
e sobrestadias. (Arts. 611. 596.)
Art. 593. Quando o afretador carrega só parte da carga no tem-
po aprazado, o caoitão. v e n c i d o o t e m p o das estadias e sobrestadias,
tem direito, o u de proceder á descarga por conta do m e s m o afreta-
dor e pedir m e i o frete, o u de e m p r e h e n d e r a v i a g e m c o m a parte da
carga que tiver a bordo para haver o frete p o r inteiro no porto do seu
destino, c o m as mais despezas declaradas no artigo antecedente.
{Art. 596.}
Art. 594. Renunciando o afretador ao contracto antes de co-
m e ç a r e m a c o r r e r os d i a s s u p p l e m e n t a r e s da carga, será obrigado a
pagar metade do frete e p r i m a g e m .
Art. 595. Sendo o navio fretado por inteiro, o afretador pôde
obrigar o fretador a que faça sahir o navio logo que tiver mettido a
bordo carga sufíiciente para pagamento do frete e p r i m a g e m . esta-
dias ou sobrestadias, ou prestado fiança ao pagamento. O ca-
p i t ã o neste caso n ã o p ô d e t o m a r carga de terceiro s e m consent i m e n t o
por escripto do afretador, n e m recusar-se á sahida. salve por falta de
promptificação do navio, q u e , s e g u n d o as c l á u s u l a s d o f r e t a m e n t o ,
não possa ser i m p u t a v e l ao f r e t a d o r .
Art. 596. Tendo o fretador direito de fazer sahir o navio sem
carga ou só c o m parte delia (arts. 592 e 5 9 3 ) , p o d e r á , para segu-
rança do frete e de outras iuderanisações a que haja lugar, c o m -
pletar a carga por outros carregadores, independente de consenti-
mento do afretador; mas o beneficio do novo frete p e r t e n c e r á a
este. ( A r t . 6 1 1 . )
Art. 597. Se o fretador houver declarado na carta partida maior
capacidade do que aquella que o navio na realidade tiver, n ã o exce-
dendo tia décima parte, o afretador terá opção para annullar o
contracto, ou exigir correspondente abatimento no frete, com
i n d e m n i s a ç ã o d e p e r d a s e d a m n o s ; s a l v o se a d e c l a r a ç ã o e s t i v e r con-
forme á lotação do navio.
Art. 598. O fretador pôde fazer descarregar á custa do afretador
os effeitos que este i n t r o d u z i r no navio além da carga ajustada na
carta de fretamento ; salvo prestando-se aquelle a pagar o frete
correspondente, se o n a v i o o s p u d e r receber.
Art. 599. Os carregadores o u afretadores respondem pelos d a m -
nos que resultarem, se, sem sciencia e consentimento do capitão,
introduzirem no navio fazendas, cuja sahida ou entrada fôr prohi-
bida, e de q u a l q u e r o u t r o facto illicito que p r a t i c a r e m ao tempo d y
carga o u descarga; e, a i n d a ( p i e as f a z e n d a s s e j ã o c o n f i s c a d a s , sefâo
CÓDIGO C O M M E R C I A L 105

obrigados a pagar o frete e p r i m a g e m por inteiro e a avaria grossa.


( A r t . 790.)
Art. 600. Provando-se que o capitão consentio na introducção
das fazendas prohibidas, ou que, chegando ao seu conhecimento
em tempo, as n ã o f e z d e s c a r r e g a r , o u , sendo informado depois da
viagem começada , as n ã o d e n u n c i a r a n o a c t o d a p r i m e i r a visita da
alfândega que receber a bordo no porto do seu destino, ficará soli-
dariamente obrigado para c o m todos os i u t e r e s s a d o s por perdas e
d a m n o s que resultarem ao navio o u á carga, e sem a c ç ã o para haver
o frete, n e m indemnisação alguma do carregador, ainda que esta
se t e n h a estipulado.
Art. 601. Estando o navio a frete de carga geral, n ã o pôde o
capitão, depois que tiver recebido a l g u m a parte da carga, recusar-se
a receber a mais q u e se l h e e í f e r e c e r p o r f r e t e i g u a l , não achando
outro mais vantajoso: pena de p o d e r ser c o m p e l l i d o pelos carrega-
dores dos effeitos recebidos a que se faça á vela c o m o primeiro
vento favorável, e de pagar as perdas e damnos que da demora
resultarem.
Art. 602. Se o c a p i t ã o , quando tomar frete a colheita ou a pran-
cha, fixar o tempo durante o qual a embarcação estará á carga,
findo o tempo marcado, será obrigado a partir c o m o primeiro vento
favorável ; pena de responder pelas perdas e d a m n o s q u e resultarem
do retardamento da viagem; salvo convindo na demora a maioria
dos carregadores em relação ao valor do frete.
Art. 603. N ã o tendo o capitão fixado o t e m p o da partida, é obri-
gado a sahir c o m o primeiro vento favorável depois que tiver rece-
b i d o m a i s de dous terços da carga correspondente á l o t a ç ã o do navio,
se a s s i m o e x i g i r a m a i o r i a d o s c a r r e g a d o r e s em r e l a ç ã o ao valor do
frete, sem que n e n h u m dos outros possa r e t i r a r as f a z e n d a s que
tiver a bordo.
Art. 604. Se o c a p i t ã o , no caso do artigo antecedente, não puder
obter mais de dous terços da carga d e n t r o de u m mez depois que
houver posto o navio a frete geral, p o d e r á subrogar outra embar-
cação para transporte da carga que tiver a bordo, comtanto que
seja igualmente apta para fazer a viagem , pagando a despeza da
baldeação da carga e o a u g m e n t o de frete e do prêmio do seguro :
será porém l i c i t o a o s c a r r e g a d o r e s r e t i r a r d e b o r d o as s u a s fazendas,
sem pagar frete, sendo por conta delles a despeza de desarrumação
e descarga , r e s t i t u i n d o os recibos provisórios ou conhecimentos ,
e dando fiança pelos q u e t i v e r e m r e m e t t i d o . Se o c a p i t ã o n ã o p u d e r
achar n a v i o e os c a r r e g a d o r e s n ã o q u i z e r e m descarregar, será obri-
gado a sahir sessenta dias depois q u e houver posto o navio à carga
com a que tiver a bordo.
Art. 605. N ã o tendo a e m b a r c a ç ã o capacidade para receber toda
a carga contractada com diversas carregadores ou afretadores,
terá preferencia a que se a c h a r a b o r d o , e d e p o i s a q u e t i v e r prio-
ridade na data dos contractos: e se estes f ô r e m todos da mesma
data, haverá lugar a rateio, ficando o capitão responsável pela indem-
nisação dos d a m n o s causado?.
106 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 606. Fretando-se a embarcação para ir receber carga em


oulro porto, logo que lá chegar, deverá o capitão apresentar-se
sem demora ao consignatario, exigindo delle qne lhe declare por
escripto na carta de fretamento o dia, mez e anno da sua apre-
sentação; pena de n ã o principiar a correr o tempo do fretamento
antes da sua apresentação.
Recusando o consignatario fazer na carta de f r e t a m e n t o a decla-
ração requerida, deverá protestar e fazer-lhe intimar o protesto e
avisar o afretador. Se, passado o tempo devido para a carga, e o
da demora ou de estadias e sobrestadias, o consignatario n ã o
tiver carregado o navio, o capitão, fazendo-o previamente intimar
por via de novo protesto para effecluar a entrega da carga dentro
do tempo ajustado, e não cumprindo elle, n e m tendo recebido
ordens do afretador, fará diligencia para contractar carga por conta
deste para o p o r t o do seu d e s t i n o ; e c o m carga o u sem ella seguirá
para elle, onde o afretador será obrigado a pagar-lhe o frete por
inteiro c o m as demoras vencidas, fazendo encontro dos fretes da
carga tomada p o r s u a c o n t a , se a l g u m a h o u v e r t o m a d o ( A r t . 696 ;
Reg. art. 390.)
Art. 607. Sendo u m navio embargado na partida, e m viagem,
ou no lugar da descarga, por facto o u negligenciado afretador o u
de algum dos carregadores, ficará o culpado obrigado, para c o m o
fretador ou capitão e os m a i s c a r r e g a d o r e s , pelas perdas e damnos
que o n a v i o o u as f a z e n d a s v i e r e m a s o f f r e r p r o v e n i e n t e d e s s e f a c t o .
Art. 608. O c a p i t ã o é r e s p o n s á v e l ao d o n o d o n a v i o e ao a f r e t a d o r
e carregadores por perdas e damnos, se por c u l p a sua o navio fôr
embargado ou retardado na partida durante a viagem, ou no lugar
do seu destino. ( A r t . 529.)
Art. 609. Se antes de c o m e ç a d a a viagem, ou no curso delia, a
sahida da e m b a r c a ç ã o fôr impedida temporariamente por embargo
ou força maior, subsistirá o contracto, sem haver lugar a indem-
nisações de perdas e d a m n o s pelo r e t a r d a m e n t o . ( A r t . 612.)
O carregador neste caso p o d e r á descarregar os seus effeitos d u -
rante a demora, pagando a despeza e prestando fiança d e os tornar
a carregar logo que cesse o i m p e d i m e n t o , o u d e pagar o frete por
inteiro e estadias e sobrestadias, n ã o os reembarcando.
Art. 610. Se o navio n ã o puder entrar no porto do seu destino
por declaração de g u e r r a , interdicto de commercio ou bloqueio, o
capitão é obrigado a seguir i m m e d i a t a m e n t e para aquelle que tenha
sido prevenido n a sua carta de ordens. N ã o se achando prevenido,
procurará o porto mais próximo que n ã o estiver impedido; e abi
fará os a v i s o s c o m p e t e n t e s ao afretador e afretadores, cujas ordens
deve esperar por tanto tempo q u a n t o seja n e c e s s á r i o para receber
resposta. N ã o recebendo esta, o capitão deve voltar para o porto
da sahida c o m a carga.
Art. 6 1 1 . Sendo arrestado u m navio no curso da sua viagem por
ordem de u m a potência, n e n h u m frete será devido pelo tempo da
detenção sendo fretada ao m e z , n e m a u g m e n t o d e f r e t e se fôr por
viagem.
CÓDIGO COMMERCIAL 107

Quando o navio fôr fretado para dous o u mais porto*, e acontecer


que em u m delles se saiba ter sido declarada guerra contra a po-
tência a que pertence o navio ou a carga, o c a p i t ã o , se n e m esta
n e m aquelle fôrem livres, quando n ã o possa p a r t i r e m c o m b o i o u
por algum outro modo seguro, deverá ficar no porto da noticia a t é
receber ordens do navio o u do afretador.
Se só o navio n ã o fôr livre, o fretador pôde resilir do contracto,
com d i r e i t o ao f r e t e v e n c i d o , estadias e sobrestadias e avaria grossa,
pagando as d e s p e z a s d a d e s c a r g a . S e , pelo contrario , só a carga n ã o
fôr livre, o afretador t e m direito para rescindir o contracto, pagando
a despeza da descarga, e o capitão procederá na conformidade dos
artigos 592 e 596.
Art. 612. S e n d o o navio o b r i g a d o a voltar ao porto da sahida ou
a arribar a outro qualquer por perigo de piratas ou de inimigos,
podem os carregadores ou consignatarios convir na sua total des-
carga , pagando as d e s p e z a s d e s t a e o f r e t e d a i d a p o r i n t e i r o e pres-
tando a fiança determinada no artigo 609.
Se o f r e t a m e n t o f ô r ao m e z , o frete é devido s ó m o n t e pelo tempo
que o navio tiver sido empregado.
Art. 613. Se o capitão fôr obrigado a concertar a embarcação
durante a v i a g e m , o afretador, carregadores o u consignatarios, n ã o
querendo esperar pelo concerto, podem retirar as suas fazendas
pagando todo o frete, estadias e sobrestadias e avaria grossa,
havendo-a, as d e s p e z a s d a descarga e desarrumação.
Art. 614. N ã o admittindo o navio concerto, o capitão é obrigado
a fretar por sua conta, e sem poder exigir augmento algum de
frete, uma ou mais embarcações para transportar a carga ao lugar
do destino (*).
Se o capitão n ã o puder fretar outro ou outros navios dentro de
sessenta dias depois que o navio fôr julgado innavegavel, e quando
o concerto fôr impraticável, deverá requerer deposito judicial da
carga e i n t e r p o r os c o m p e t e n t e s protestos para a sua resalva: neste
caso, o contracto ficará r e s c i s o , e s ó m e n t e se d e v e r á o f r e t e v e n c i d o .
Se porém os afretadores ou carregadores provarem que o navio
condemnado por incapaz estava innavegavel q u a n d o se fez á vela,
n ã o s e r ã o obrigados a frete a l g u m , e t e r ã o a c ç ã o de perdas e damnos
contra o fretador. Esta prova é admissível, n ã o obstante e contra
os c e r t i f i c a d o s d a visita da sahida. (Arts. 645, 738, 746, 757, 766
§ 5 ; Reg. arts. 318, § 2; 390, 4 0 2 . )
Art. 615. A j u s t a n d o - s e os fretes por peso, sem se d e s i g n a r se é
liquido ou bruto, deverá entender-se que é peso bruto, compre-
hendendo-se nelle qualquer espécie de c a p a , caixa ou vasilha, e m
q u e as f a z e n d a s se a c h a r e m acondicionadas.
Art. 616. Quando o frete f ô r justo por n u m e r o , peso o u medida,
e houver condição de que a carga será entregue no portaló do na-

(*) D e v e ser f e i t a p e r a n t e o j u i z m u n i c i p a l a v e s t o r i a p a r a se v i r n o conhe-


c i m e n t o , se o n a v i o a d m i t t e o c o n c e r t o . (Art. 6 7 2 do Código.)
108 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

vio, o oapitão tem direito de requerer que os eíTeitos s e j ã o conta-


dos, medidos o u pesados a bordo do mesmo navio antes da des-
carga : e procedendo-se a esta d i l i g e n c i a , n ã o r e s p o n d e r á por faltas
que possão apparecer e m t e r r a : se p o r é m as f a z e n d a s se descarrega-
rem sem se c o n t a r e m , medirem ou pesarem, o consignatario terá
direito de verificar em terra a identidade , numero , medição ou
peso, e o capitão será obrigado a conformar-se c o m o resultado
desta verificação. ( A r t . 76.)
Art. 617. Os gêneros que por sua natureza são susceptíveis de
augmento ou diminuição, independentemente de m á a r r u m a ç ã o ou
falta de estiva, o u de defeito no vasilhame, como é, por exemplo,
o sal, será por conta do dono qualquer diminuição ou augmento
que os m e s m o s gêneros tiverem dentro do navio : e e m u m e outro
caso deve-se frete do que se n u m e r a r , medir o u pesar no acto da
descarga. ( A r t . 711 § 7.)
Art. 618. Havendo presumpção de que]as fazendas forão d a m n i -
ficadas, roubadas ou diminuídas, o capitão é obrigado, e o consig-
natario e quaesquer outros interessados t e m direito a requerer que
sejão j u d i c i a l m e n t e visitadas e examinadas, e os d a m n o s estimados
a b o r d o antes da descarga, o u d e n t r o e m vinte e quatro horas depois :
e ainda que este procedimento seja requerido pelo capitão, não
prejudicará os seus m e i o s d e d e f e s a . (Arts. 76 e 772.)
Se as fazendas fôrem entregues sem o referido exame, os con-
signatarios tem direito de fazer proceder a exame judicial no pre-
ciso termo de quarenta e oito horas depois da descarga ; e passado
este prazo, n ã o haverá mais lugar a reclamação alguma.
Todavia, n ã o sendo a avaria o u diminuição visível por fóra, o
exame judicial poderá validamente fazer-se dentro de dez dias de-
pois que as fazendas passarem ás m ã o s dos consignatarios, nos
termos d o a r t i g o 2 1 1 . (Reg. art. 212.)
Art. 619. O capitão ou fretador não pôde reter fazendas no navio
a pretexto de falta de pagamento de frete, avaria grossa o u des-
pezas: poderá porem, precedendo competente protesto, requerer
o deposito de fazendas equivalentes, e pedir a venda dellas, íi-
cando-lhe o direito salvo pelo resto contra o carregador no caso de
insuííiciencia do deposito.
A mesma disposição tem lugar quando o consignatario recusa
receber a carga.
Nos dous referidos casos, se a avaria grossa n ã o puder ser re-
gulada immcdiatamente, é licito ao capitão exigir o deposito j u -
dicial da somma que se a r b i t r a r . (Reg. arts. 318, § 1, 2 ; 3 2 1 , § 1 ;
390.)
Art. 620. O capitão que entregar fazendas autes do receber o
frete, avaria grossa e despezas, sem pôr e m pratica os meios do
artigo precedente, o u os q u e l h e f a c u l t a r e m as l e i s o u usos do Lugar
da descarga, n ã o terá acção para exigir o pagamento do carrega-
dor ou afretador, provando este que carregou as fazendas por
t o n t a de terceiro.
Art. 621. Pagào frete por inteiro as fazendas que se deteriora-
C Ó D I G O COMMERCIAL 109

rem por avaria ou diminuírem por m á o acondicionamento das


vasilhas, caixas, capas ou outra qualquer cobertura em que fôrem
carregadas, provando o capitão que o damno n ã o procedeu de
a r r u m a ç ã o o u de estiva. ( A r t . 624.)
Pagão igualmente frete por inteiro as fazendas que o capitão c
obrigado a vender nas circumstaneias previstas no artigo 515.
O frete das fazendas alijadas para salvação c o m m u m do navio
e da carga, abona-se por inteiro, c o m o avaria grossa. ( A r t . 764.)
Art. 622. N ã o se deve f r e t e das mercadorias perdidas por nau-
frágio ou varação, r o u b o de piratas o u presa de i n i m i g o , e, tendo-
se p a g o adiantado, repete-se; salva c o n v e n ç ã o e m contrario.
Todavia, resgatando-se o navio e fazendas, ou salvando-se do
naufrágio, deve-se o frete correspondente a t é o lugar da presa ou
naufrágio : e será p a g o p o r i n t e i r o se o c a p i t ã o c o n d u z i r as fazendas
salvas até o lugar do destino, contribuindo este ao fretador por
avaria grossa no damno ou resgate.
Art. 623. Salvando-se no m a r o u nas praias, sem cooperação da
tripolação, fazendas que fizerão parte da carga, e sendo depois de
salvas entregues por pessoas estranhas, n ã o se d e v e p o r c i l a s f r e t e
algum.
Art. 624. O carregador n ã o pôde abandonar as fazendas ao
frete. Todavia p ô d e ter lugar o abandono dos líquidos, cujas vasi-
l h a s se a c h e m vasias o u q u a s i vasias. (Arts. 621, 711 § 5.)
Art. 625. A viagem para todos os effeitos do vencimento de
fretes, se o u t r a c o u s a se n ã o ajustar, começa a correr desde o m o -
mento e m qu3 a carga fica debaixo da responsabilidade do capitão.
Art. 626. Os fretes e avarias grossas t e m hypotheca tácita e es-
pecial nos effeitos que fazem objecto da carga, durante trinta dias
depois da entrega, se a n t e s d e s t e t e r m o n ã o h o u v e r e m p a s s a d o para
o d o m i n i o d e t e r c e i r o . (Art. 877 § 7 . )
Art. 627. A divida de fretes, p r i m a g e m , estadias e sobrestadias,
avarias e despezas da carga prefere a todas as outras sobre o valor
dos effeitos carregados ; salvo os casos de que trata o artigo 470
n.° 1. ( A r t . 877 § 7.)
Art. 628. O contracto de f r e t a m e n t o de u m navio estrangeiro
exeqüível no Brasil ha de ser determinado e julgado pelas regras
estabelecidas neste Código, quer tenha sido ajustado d e n t r o do I m -
pério, quer e m p a i z e s t r a n g e i r o . (Reg. art. 3 § 2.)

CAPITULO IV.

Dos passageiros.

Art. 629. O passageiro de um navio deve achar-se a bordo no dia


e hora que o capitão designar, quer no porto da partida , quer e m
qualquer outro de escala ou arribada; pena de ser obrigado ao
pagamento do preço da sua passagem por inteiro, se o n a v i o se fizer
de vela s e m elle.
Ü O M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Art. 630. Nenhum passageiro pôde transferir a terceiro, sem


consentimento do capitão, o seu direito de passagem.
Resilindo o passageiro do contracto antes da viagem c o m e ç a d a , o
capitão tem direito á metade do p r e ç o da p a s s a g e m ; e ao pagamento
por inteiro, se a q u e l l e a n ã o quizer continuar depois de começada.
Se o passageiro fallecer antes da viagem c o m e ç a d a , deve-se só
metade do preço da passagem.
Art. 631. Se a viagem fôr suspensa o u i n t e r r o m p i d a , por causa
de força maior no porto da partida, rescinde-se o contracto, sem
que n e m o capitão nem o passageiro, tenhão direito a indemnisa-
ção alguma : tendo lugar a suspensão ou interrupção em outro qual-
quer p o r t o de escala ou arribada, deve-se sómente o preço corres-
pondente á viagem feita.
Interrompendo-se a viagem depois de começada por demora de
concerto do n a v i o , o passageiro pôde tomar passagem e m outro,
pagando o preço correspondente á v i a g e m f e i t a . Se q u i z e r esperar
pelo eoncerto, o capitão n ã o é o b r i g a d o ao seu sustento : s a l v o se o
passageiro não encontrar outro navio e m que commodamente se
possa transportar, o u o p r e ç o da nova passagem exceder o da primei-
ra, na p r o p o r ç ã o da viagem andada.
Art. 632. O capitão tem hypotheca privilegiada para pagamento
do preço da passagem c m t o d o s os e f f e i t o s q u e o passageiro tiver a
bordo, e direito de os r e t e r e m q u a n t o n ã o f ô r pago. ( A r t . 877 § 9.)
O capitão só responde pelo d a m n o sobrevindo aos eíTeitos que u
passageiro tiver a bordo debaixo da sua i m m e d i a t a guarda, quando
o d a m n o p r o v i e r de f a d o seu ou da tripolação.

TITULO VII.

DO CONTRACTO DE DINHEIRO A RISCO OU CAMBIO MARÍTIMO.

Art. 633. O contracto de empréstimo a risco ou cambio marítimo,


pelo qual o dador estipula do tomador u m prêmio certo e determi-
nado por preço dos riscos de mar que toma sobre si, ficando c o m
hypotheca especial no objecto sobre que recahe o empréstimo, e
sujeitando-se a perder o c a p i t a l e p r ê m i o , se o dito objecto vier a
perecer por effeito dos riscos t o m a d o s no tempo e lugar convencio-
nados, só pôde provar-se por instrumento publico ou particular, o
qual será registado no tribunal do c o m m e r c i o dentro de oito dias
da data da escriptura o u letras. Se o c o n t r a c t o tiver lugar e m paíz
estrangeiro por subditos brasileiros, o instrumento deverá ser au-
thenticado c o m o—visto—do cônsul do I m p é r i o , se abi o houver :
e e m todo o caso, aunotado no verso do registro da e m b a r c a ç ã o , se
versar sobre o navio o u fretes. Faltando no i n s t r u m e n t o do contracto
alguma das sobreditas f o r m a l i d a d e s , f i c a r á este s u b s i s t i n d o e n t r e as
p r ó p r i a s partes, mas não estabelecerá direitos contra terceiro.
E p e r m i t t i d o fazer e m p r é s t i m o a risco n ã o sô e m dinheiro, mas
t a m b é m e m effeitos próprios para o serviço e consumo do navio,
C Ó D I G O COMMERCIAL 111

ou que possão ser o b j e c t o de c o m m e r c i o ; m a s e m taes casos a c o u s a


emprestada deve ser estimada em valor fixo para ser paga c o m
dinheiro. ( A r t . 877 § 8; Reg. arts. 3 § 2, 140 § 1 ; 1 5 9 , Dec. 25
Novembro 1850, art. 58 § 7.)
Art. 634. O instrumento do contracto de d i n h e i r o a risco deve
declarar (Reg. art. 692):
I. A data e o lugar e m que o empréstimo se f a z .
I I . O capital emprestado, e o p r e ç o do risco, a q u e l l e e este especi-
ficado separadamente.
I I I . O nome do dador e o do tomador, c o m o do navio e o do seu
capitão.
IV. O objecto o u effeito sobre que recahe o empréstimo.
V. Os riscos tomados, com m e n ç ã o especifica de cada u m .
V I . Se o empréstimo tem lugar por u m a ou mais viagens, qual a
viagem e por que termo ;
VII. A época do pagamento por embolso e o lugar onde deva
effectuar-se ;
V I I I . Qualquer o u t r a c l á u s u l a e m q u e as p a r t e s c o n v e n h ã o , com-
tanto que n ã o seja opposta á natureza deste contracto o u probibida
por lei.
O instrumento e m que faltar alguma das declarações enunciadas
será considerado como simples credito de d i n h e i r o de empréstimo
ao prêmio da lei, sem hypotheca nos eíTeitos sobre q u e tiver sido
dado, n e m privilegio algum.
Art. 635. A escriptura ou letra de risco exarada á ordem tem
força de letra de c a m b i o contra o tomador e garantes : e é transferi-
vel e exeqüível por via de endosso, c o m os mesmos direitos e pelas
mesmas acções q u e as l e t r a s de cambio.
O cessionário toma o lugar de e n d o s s a d o r , tanto a respeito do ca-
pital como do prêmio e dos riscos, mas a garantia da solvabilidade
do tomador é restricta ao capital ; salva condição e m contrario
quanto ao prêmio. (Reg. arts. 247, § 3 1 , 370.)
Art. 636. N ã o sendo a escriptura ou letra de risco passada á or-
d e m , s ó p ô d e s e r t r a n s f e r i d a p o r c e s s ã o , c o m as m e s m a s formalidades
e effeitos das cessões civis, sem outra responsabilidade da parte do
cedente, que não seja a de garantir a existência da vida. (Reg. art.
692.)
Art. 637. Se no instrumento d o c o n t r a c t o se n ã o t i v e r f e i t o m e n -
ção especifica dos riscos com reserva de a l g u m , o u deixar d e se es-
tipular o tempo, entende-se que o dador do dinheiro tomára sobre
si todos aquelles riscos m a r i l i m o s , e pelo m e s m o tempo que geral-
mente costumão r e c e b e r os seguradores.
Art. 638. Não se d e c l a r a n d o na escriptura o u l e t r a de risco que
o empréstimo é só por ida o u só por volta, ou por u m a e outra , o
pagamento, recahindo o empréstimo sobre fazendas, é exeqüível no
l u g a r do destino destas, declarado nos c o n h e c i m e n t o s ou fretamento;
e se r e c a h i r sobre o n a v i o , no fim de dous mezes depois da chegada
ao porto do destino, se n ã o a p p a r e l h a r de volta. ( A r t . 447.)
Art. 639. O empréstimo a risco p ô d e recahir:
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

I. Sobre o casco, fretes e pertences do navio;


I I . Sobre a carga;
III. Sobre a totalidade destes o b j e c t o s , conjuncta ou separada-
m e n t e , o u sobre u m a parte determinada de cada u m delles.
Art. 640. Recahindo o empréstimo a risco sobre o casco e per-
tences do navio, abrange na sua responsabilidade o frete da viagem
respectiva.
Quando o contracto é celebrado sobre o navio e carga, o privile-
gio do dador é solidário sobre uma e outra cousa.
Se o empréstimo fôr feito sobre a carga ou sobre u m objecto
determinado do n a v i o o u d a c a r g a , o s s e u s e f f e i t o s n ã o se estendem
além desse o b j e c t o o u da carga.
Art. 641. Para o contracto sortir o seu effeito legal, é necessário
que exista dentro do navio no m o m e n t o do sinistro a importância
da somma dada de empréstimo a risco, e m fazendas, ou no seu
equivalente.
Art. 642. Quando o objecto sobre que se t o m a dinheiro a risco
não chega a pôr-se effectivamente em r i s c o p o r n ã o se e f f e c t u a r a
viagem, rescinde-se o contracto: e o dador neste caso t e m direito
para h a v e r o c a p i t a l c o m os juros da lei desde o dia da entrega do
dinheiro ao t o m a d o r , sem outro algum p r ê m i o ; e goza d o privilegio
de preferencia q u a n t o ao c a p i t a l sómente.
Art. 643. O tomador que n ã o carregar effeitos no valor total da
somma tomada a risco é obrigado a restituir o remanescente ao
dador antes da partida d o n a v i o , o u t o d o se n e n h u m empregar; e
se não restituir, dá-se acção pessoal contra o tomador pela parte
descoberta, ainda que a parte coberta o u empregada venha a perder-
se (art. 655).
O mesmo terá lugar quando o dinheiro a risco fôr t o m a d o para
habilitar o navio, se o t o m a d o r n ã o chegar a fazer uso delle o u da
cousa estimavel, e m todo o u e m parte.
Art. 644. Quando no i n s t r u m e n t o de risco sobre fazendas houver
a f a c u l d a d e d e — t o c a r e fazer escala—, ficão o b r i g a d o s ao contracto,
não só o dinheiro carregado em espécie para ser empregado na
v i a g e m , e as f a z e n d a s c a r r e g a d a s n o l u g a r d a partida , mas t a m b é m
as que fôrem carregadas e m retorno por conta do tomador, sendo
o contracto feito de ida e volta; e o tomador neste caso tem facul-
dade de troca-las o u vendé-las e comprar outras e m todos os portos
de escala.
Art. 645. Se ao tempo do sinistro parte dos effeitos objecto do
r i s c o j á se acharem e m terra, a perda do dador será r e d u z i d a ao que
t i v e r f i c a d o d e n t r o d o n a v i o : e se os e f f e i t o s s a l v o s f ô r e m transporta-
dos e m outro navio para o porto do destino o r i g i n á r i o (art. 614)? neste
continuão os r i s c o s d o dador.
Art. 646. O dador a risco sobre effeitos carregados e m navio no-
minativamente designado no contracto, n ã o responde pela perda
desses e f f e i t o s , a i n d a mesmo que seja acontecida por perigo de mar,
se f ô r e m transferidos o u baldcados para o u t r o n a v i o ; salvo provando-
se l e g a l m e n t e que a baldeação tivera lugar por força maior.
CÓDIGO C O M M E R C I A L 113

Art. 647. E m caso de sinistro, salvando-se alguns effeitos da car-


ga objectos do r i s c o , a obrigação do pagamento de dinheiro a risco
fica reduzida ao valor dos mesmos objectos estimado pela fôrma
determinada no artigo 694 e seguintes. O dador neste caso t e m d i -
reito p a r a ser p a g o d o p r i n c i p a l e p r ê m i o p o r esse m e s m o valor até
onde alcançar, d e d u z i d a s as d e s p e z a s d e s a l v a d o s , e as s o l d a d a s v e n -
cidas nessa viagem.
Sendo o dinheiro dado sobre o navio, o privilegio do dador c o m -
prehende n ã o s ó os fragmentos náufragos do mesmo navio, mas
t a m b é m o frete adquirido pelas fazendas s a l v a s , d e d u z i d a s as des-
p e z a s d e s a l v a d o s , e as s o l d a d a s vencidas na v i a g e m respectiva ; n ã o
h a v e n d o d i n h e i r o a r i s c o o u s e g u r o e s p e c i a l s o b r e esse f r e t e .
Art. 648. H a v e n d o sobre o m e s m o navio o u sobre a m e s m a carga
u m c o n t r a c t o de risco e o u t r o de seguro (art. 6 5 0 ) , o producto dos
effeitos salvos será dividido entre o segurador e o dador a risco pelo
seu capital s ó m e n t e , na p r o p o r ç ã o de seus respectivos interesses.
Art. 649. N ã o precedendo ajuste e m contrario, o dador conserva
seus direitos Íntegros contra o tomador, ainda mesmo que a perda
ou damno da c o u s a o b j e c t o d o risco p r o v e n h a d e a l g u m a das causas
enumeradas no art. 7 1 1 .
Art. 650. Quando alguns, mas n ã o t o d o s os r i s c o s , o u u m a parte
sómente do navio o u da carga se a c h ã o seguros, pôde contrahir-se
e m p r é s t i m o a risco pelos riscos o u parte n ã o segura a t é á c o n c u r r e n -
cia do seu valor por inteiro (art. 6 8 2 ) . ( A r t s . 6 4 8 , 656 § 4.)
Art. 6 5 1 . As letras mercantis provenientes de dinheiro recebido
pelo c a p i t ã o para despezas indispeusaveis do navio o u da c a r g a , nos
termos d o s a r t s . 5 1 5 e 5 1 6 , e os p r ê m i o s do seguro correspondente,
quando a sua importância houver sido realmente segurada, tem o
privilegio de letras de e m p r é s t i m o a risco, se contiverem declaração
expressa de que o importe foi destinado p a r a as r e f e r i d a s d e s p e z a s :
e são exeqüíveis, ainda mesmo q u e t a e s o b j e c t o s se p e r c ã o p o r qual-
quer evento posterior, provando o dador que o dinheiro foi effectiva-
i n e n t e e m p r e g a d o e m b e n e f i c i o d o n a v i o o u da carga (arts. 515 e 5 1 7 ) .
( A r t s . 470 § 6 , 4 8 2 , 6 9 5 , 7 6 4 $ 1 2 e 1 9 , 7 9 1 ; Reg. art. 247 § 3.)
Art. 652. O empréstimo de d i n h e i r o a risco sobre o navio toma-
do pelo capitão no lugar do domicilio do dono sem autorisação es-
cripta deste produz a c ç ã o e privilegio s ó m e n t e na parte que o capi-
t ã o possa ter no navio e frete; e n ã o obriga o dono, ainda mesmo
que se p r e t e n d a provar que o diuheiro foi applicado a benefício da
embarcação.
Art. 653. O empréstimo a risco sobre fazendas, c o n t r a h i d o antes
da viagem c o m e ç a d a , deve ser m e n c i o n a d o nos c o n h e c i m e n t o s e no
manifesto da carga, c o m d e s i g n a ç ã o da pessoa a q u e m o c a p i t ã o deve
participar a chegada feliz no lugar do destino. Omittida aquella
declaração , o consignatario , tendo aceitado letras de c a m b i o , ou
feito adiantamentos n a f é dos c o n h e c i m e n t o s , p r e f e r i r á ao portador
da letra de risco. Na falta de d e s i g n a ç ã o a q u e m deva participar a
chegada, o capitão pôde descarregar as f a z e n d a s , sem responsabili-
dade a l g u m a pessoal para c o m o portador da letra de risco.

MAN. NEG. 8
114 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 654. Se entre o dador a r i s c o e o c a p i t ã o se d e r algum ctín-


luio por c u j o m e i o os armadores ou carregadores soffrão prejuízo,
será este i n d e m n i s a d o s o l i d a r i a m e n t e p e l o d a d o r e pelo c a p i t ã o ; c o n -
t r a os q u a e s p o d e r á i n t e n t a r - s e a a c ç ã o c r i m i n a l q u e c o m p e t e n t e seja.
Art. 655. Incorre no c r i m e de estellionato o t o m a d o r que receber
dinheiro a risco por valor m a i o r que o do objecto do risco, o u quan-
do este n ã o tenha sido e f f e c t i v a m e n t e e m b a r c a d o (art. 643) : e no
mesmo crime incorre t a m b é m o dador que, n ã o podendo ignorar
esta c i r c u m s t a n c i a , a nao declarar á pessoa a q u e m endossar a letra
de risco. N o p r i m e i r o caso o t o m a d o r , e no segundo o dador respon-
dem solidariamente pela i m p o r t â n c i a da l e t r a , ainda quando tenha
perecido o objecto do risco.
Art. 656. É nullo o contracto de c a m b i o m a r í t i m o . (Reg. arts.
682 § 1 ; 684 § 1.)
I. Sendo o e m p r é s t i m o feito a gente da tripolação. (Reg. art. 692.)
I I . Tendo o empréstimo sómente por objecto o frete a vencer,
ou o l u c r o esperado de a l g u m a n e g o c i a ç ã o , o u u m e outro simultâ-
nea e exclusivamente.
III. Quando o dador n ã o corre algum risco dos objectos sobre
o s q u a e s se d e u o d i n h e i r o .
IV. Quando recahe sobre objectos cujos riscos já t e m sido toma-
dos por outrem n o seu i n t e i r o valor (art. 950).
V. Faltando o registro o u as f o r m a l i d a d e s e x i g i d a s no artigo 516
para o caso de que a h i se trata.
E m todos os referidos casos, ainda que o contracto n ã o surta os
seus effeitos legaes, o t o m a d o r responde pessoalmente pelo princi-
pal mutuado e juros legaes, posto que a cousa objecto do contracto
tenha perecido no tempo e no l u g a r dos riscos.
Art. 657. O privilegio do dador a risco sobre o navio compre-
hende proporcionalmente, n ã o s ó os f r a g m e n t o s n á u f r a g o s do mes-
mo navio, mas t a m b é m o frete adquirido pelas fazendas salvas,
deduzidas as despezas de salvados e as soldadas devidas por essa
viagem ; não havendo seguro ou risco especial sobre o mesmo
frete.
Art. 658. Se o c o n t r a c t o a risco c o m p r e h e n d e r navio e carga , as
fazendas conservadas são hypotheca do dador, ainda que o navio
pereça: o mesmo é vice-versa, quando o n a v i o se s a l v a e as fazendas
se perdem.
Art. 659. E livre aos contrahentes estipular o p r ê m i o na quanti-
dade, e o modo de pagimento que bem lhes pareça; mas u m a vez
concordado, a superveniencia de risco n ã o dá direito a exigência
de augmento ou diminuição de prêmio; salvo se outra cousa fôr
accordada no contracto.
Art. 660. Não estando fixada a época do pagamento, será este
reputado vencido apenas tiverem cessado os riscos. Desse dia c m
diante c o r r e m para o dador os j u r o s d a lei sobre o capital e prêmio
no caso de m o r a ; a q u a l s ó p ô d e provar-se pelo protesto. ( A r t . 447.)
Art. 661. O portador, na falta de p a g a m e n t o no termo devido , é
obrigado a protestar, e a praticar todos os d e v e r e s d o s p o r t a d o r e s de
CÓDIGO COMMERCIAL 115

letras de cambio para vencimento dos juros e conservação do di-


r e i t o r e g r e s s i v o s o b r e os g a r a n t e s d o i n s t r u m e n t o d e r i s c o . (Reg. art.
370.)
Art. 662. O dador de dinheiro a risco adquire hypotheca no
objecto sobre que recahe o empréstimo; mas fica sujeito a perder
todo o direito á s o m m a mutuada, perecendo o objecto hypothecado
no tempo e lugar, e pelos riscos convencionados ; e só t e m direito
ao embolso do principal e prêmio por inteiro no caso de chegada
a salvamento. ( A r t . 873 § 8.)
Art. 663. Incumbe ao tomador provar a perda, e justificar que
os e f f e i t o s , o b j e c t o do e m p r é s t i m o , existião na embarcação na oc-
casião do sinistro.
Art. 664. A c o n t e c e n d o presa ou desastre de m a r ao n a v i o o u f a -
zendas sobre que recahio o e m p r é s t i m o a risco, o tomador t e m obri-
g a ç ã o de noticiar o a c o n t e c i m e n t o ao d a d o r , apenas tal nova chegar
ao seu c o n h e c i m e n t o . A c h a n d o - s e o t o m a d o r a esse t e m p o n o navio,
ou próximo aos o b j e c t o s s o b r e q u e r e c a h i o o e m p r é s t i m o , é o b r i g a d o
a empregar na sua reclamação e s a l v a ç ã o as diligencias próprias
de u m administrador exacto; pena de responder por perdas e d a m -
nos q u e da sua falta resultarem.
Art. 665. Quando sobre contracto de dinheiro a risco oceorra
caso que se n ã o ache prevenido neste t i t u l o , procurar-se-ha a sua
decisão por analogia, quanto seja c o m p a t í v e l , no titulo — nos SE-
GUROS MARÍTIMOS—e vice-versa.

TITULO VIII.

DOS SEGUROS MARÍTIMOS.

CAPITULO I.

Da natureza e fôrma do contracto de seguro marítimo.

Art. 666. O contracto de seguro marítimo, pelo qual o segura-


dor, t o m a n d o s o b r e s i a f o r t u n a e r i s c o d o r n a r , se o b r i g a a indem-
n i s a r ao segurado da perda ou damno q u e possa s o b r e v i r ao objecto
do seguro, mediante u m prêmio ou somma determinada, equiva-
lente ao risco t o m a d o , só pôde provar-se por escripto, a cujo ins-
trumento se chama Apólice-, comtudoj julga-se subsistente para
obrigar reciprocamente ao segurador e ao segurado desde o m o -
mento em q u e as p a r t e s se c o n v i e r ã o , assignando ambas a minuta,
a qual d e v e c o n t e r t o d a s as declarações, cláusulas e condições da
apólice. (Reg. arts. 159, 302.)
Art. 667. A apólice de seguro deve ser a s s i g n a d a pelos segura-
dores, e conter (Reg. art. 302):
I. O nome e domicilio do segurador e o do segurado; declarando
este se segura por sua conta o u p o r c o n t a de t e r c e i r o , c u j o nome
116 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

pôde omittir-ae : omittindo-se o n o m e do segurado , o terceiro, que


faz o seguro e m seu n o m e , fica pessoal e s o l i d a r i a m e n t e responsável.
A apólice e m n e n h u m caso p ô d e ser concedida ao portador.
II. O n o m e , classe e bandeira do navio, e o nome do capitão;
salvo n ã o tendo o segurado certeza do navio (Art. 670j.
III. A natureza e qualidade do objecto seguro, e o seu valor fixo
ou estimado.
IV. O lugar onde as mercadorias forão, devião o u devão ser
carregadas.
V. Os portos ou anooradouros onde o navio deve carregar e des-
carregar, e aquelles onde deva tocar por escala. ( A r t . 674.)
VI. O porto donde o navio partio, devia o u deve partir: e a
época da partida, quando esta h o u v e r sido p o s i t i v a m e n t e ajustada.
VII. Menção especial de todos os r i s c o s que o segurador t o m a
sobre si.
V I I I . O tempo e o lugar e m que os riscos devem c o m e ç a r e
acabar.
IX. O prêmio do seguro e o lugar, época e f ô r m a do pagamento.
(Art. 447.)
X. O tempo, lugar e fôrma do pagamento no caso de sinistro.
(Art. 447.)
X I . Declaração de que as p a r t e s se sujeilão à decisão arbitrai,
q u a n d o h a j a c o n t e s t a ç ã o , s e e l l a s a s s i m o a c c o r d a r e m . (Reg. art. 300.)
X I I . A data do dia em que se concluio o contracto, c o m decla-
r a ç ã o , se a n t e s , se depois do m e i o dia.
X I I I . E geralmente todas as outras condições e m q u e as partes
convenhão.
Uma apólice pôde conter dous o u mais seguros differentes. (Reg.
art. 302.)
Art. 668. Sendo d i v e r s o s os s e g u r a d o r e s , cada u m deve declarar
a quantia por q u e se o b r i g a , e esta d e c l a r a ç ã o será datada e assig-
nada. Na falta de declaração, a assignatura importa responsabi-
lidade solidaria por todo o valor segurado.
Se u m dos s e g u r a d o r e s se o b r i g a r p o r c e r t a è d e t e r m i n a d a quantia,
os seguradores que depois delle assignarem sem declaração da
quantia por que se o b r i g ã o ficaráõ responsáveis cada u m por outra
igual somma.
Art. 669. O seguro pôde recahir sobre a totalidade de u m objecto
ou sobre parle delle s ó m e n t e : e pôde ser feito antes da viagem
começada ou durante o curso delia, de ida e volta, ou só por ida
ou só por volta, por viagem inteira o u por tempo limitado delia,
e contra os riscos de v i a g e m e transportes por m a r s ó m e n t e , o u
comprehender t a m b é m os riscos d e t r a n s p o r t e s p o r c a n a e s e rios.
Art. 670. Ignorando o segurado a e s p é c i e de fazendas que h ã o de
ser c a r r e g a d a s , o u n ã o tendo certeza do navio e m que o devão ser,
pôde effectuar validamente o seguro debaixo do n o m e g e n é r i c o —
fazendas—no p r i m e i r o caso, e — s o b r e um oumais navios—no segundo ;
sem que o segurado seja o b r i g a d o a designar o n o m e do navio, u m a
vez que na apólice declare que o ignora, mencionando a data e
CÓDIGO COMMERCIAL 117

assignatura da ultima carta de aviso o u ordens que tenha recebido,


( A r t . 667 § 2 . )
Art. 671. Effectuando-se o seguro debaixo do n o m e g e n é r i c o de
— f a z e n d a s — , o segurado é obrigado a provar, no caso de sinistro ,
que e f f e c t i v a m e n t e se embarcarão as fazendas no valor declarado
ua apólice; e se o s e g u r o se t i v e r f e i t o — sobre um ou mais navios — ,
incumbe-lhe provar que as fazendas seguras forão effectivamente
embarcadas n o n a v i o q u e s o f f r e u o s i n i s t r o ( a r t . 7 1 6 . ) (Reg. art. 302.)
Art. 672. A designação g e r a l — fazendas — n ã o compreheudo
m o e d a de qualidade alguma, n e m jóias, ouro ou prata , pérolas ou
pedras preciosas, n e m m u n i ç õ e s de g u e r r a : e m seguros desta natu-
r e z a é n e c e s s á r i o q u e se d e c l a r e a e s p é c i e d o o b j e c t o s o b r e q u e recahe
o seguro.
Art. 673. Suscitando-se duvida sobre a intelligencia de alguma
ou algumas das condições e cláusulas da apólice, a sua decisão
será d e t e r m i n a d a pelas regras seguintes :
I. As c l á u s u l a s e s c r i p t a s t e r ã o m a i s f o r ç a d o q u e as impressas.
II. As que fôrem claras e e x p u z e r e m a natureza, objecto ou fim
do seguro, servirão de regra para esclarecer as o b s c u r a s e p a r a fixar
a i n t e n ç ã o das parte* na celebração do contracto.
III. O c o s t u m e geral, o b s e r v a d o e m casos i d e n t i c o í n a p r a ç a onde
se c e l e b r o u o c o n t r a c t o , p r e v a l e c e r á a qualquer significação diversa
q u e as p a l a v r a s p o s s ã o ter e m uso vulgar. (Reg. art. 216.)
IV. E m caso de ambigüidade que exija interpretação, será esta
f e i t a s e g u n d o as r e g r a s e s t a b e l e c i d a s no artigo 1 8 1 .
Art. 674. A cláusula de fazer escala comprehende a faculdade
de carregar e descarregar fazendas no lugar da escala, ainda que
esta c o n d i ç ã o n ã o seja expressa n a a p ó l i c e (art. 667 n.° 5).
Art. 675. A apólice de seguro é transferivel e exeqüível por via
de endosso, s u b s t i t u i n d o o indossado ao segurado e m todas as suas
obrigações, direitos e acções (art. 363). (Reg. arts. 247, § 6; 370.)
Art. 676. M u d a n d o os effeitos segurados de p r o p r i e t á r i o durante
o tempo do contracto, o seguro passa para o novo dono, indepen-
dente de transferencia da apólice; salva condição em contrario.
(Reg. art. 492, § 6 . )
Art. 677. O c o n t r a c t o de seguro é nullo (Reg. art. 6 8 2 § 1) :
I. Sendo feito por pessoa que n ã o tenha interesse no objecto
segurado. (Reg. art. 684 § 1.)
II. R e c a h i n d o sobre a l g u m dos objectos prohibidos n o artigo 686.
(Reg. art. 684, § 1.)
III. Sempre que se provar fraude ou falsidade por alguma das
partes. (Reg. art. 685.)
IV. Quando o objecto do seguro n ã o chega a pôr-se effectiva-
m e n t e e m risco. (Reg. arts. 305 § 1, 2, e 3 ; 684, § 1.)
V. Provando-se que o navio sahio antes da época designada na
apólice, o u q u e se demorou além delia, sem ter sido obrigado por
forca maior.
VI. Recahindo o seguro sobre objectos já segurados no seu inteiro
valor, e pelos mesmos riscos. Se porém o primeiro seguro n ã o
118 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

abranger o valor da cousa por inteiro, o u h o u v e r sido effecluado


com excepção de a l g u m o u alguns riscos, o seguro prevalecerá na
parte c pelos riscos exceptuados. (Reg. art. 684 § 1 - )
VII. O seguro de lucro esperado que n ã o fixar somma determi-r
nada sobre o valor do objecto do seguro. (Reg. art. 684 § 1.)
VIII. Sendo o s e g u r o d e m e r c a d o r i a s q u e se c o n d u z i r e m e m c i m a
do convez, n ã o se t e n d o f e i t o n a apólice declaração expressa desta
circumstancia. ( A r t s . 5 2 1 , 7 9 0 ; Reg. art. 684, § 1.)
I X . Sobre objectos que na d a t a d o c o n t r a c t o se a c h a v ã o já per-
didos o u salvos, havendo presumpção f u n d a d a de que o segurado
ou s e g u r a d o r p o d i a ter noticia do e v e n t o ao t e m p o e m q u e effectuou
o seguro. Existe esta p r e s u m p ç ã o , provando-se por alguma fôrma
que a noticja linha chegado ao lugar em que se f e z o seguro, ou
aquelle donde se expedio a o r d e m para e l l e se e f f e c t u a r a o tempo
da data da apólice ou da expedição da mesma o r d e m , e que o
segurado o u segurador a sabia,
Se p o r é m a apólice c o n t i v e r a c l á u s u l a — p e r d i d o ou não perdido—,
ou sobre boa ou má nova—^ f cessa a p r e s u m p ç ã o ; salvo provando-se
fraude,
Art. 678. O seguro pôde t a m b é m anoullar-se (Reg. arts. 685,
686 § 1 ) :
I. Quando o segurado occulta a verdade ou diz o que n ã o é
verdade.
II. Quando faz declaração errônea, calando, falsificando ou
alterando factos ou ciroumstancias, ou p r o d u z i n d o factos o u cir-r
cumstancias n ã o existentes, de tal natureza e importância que, a
não se terem occultado, falsificado o u produzido, os seguradores,
ou n ã o houverão admittido o seguro, o u o terião effectuado debaixo
de prêmio maior e mais restrictas condições.
Art, 679. N o caso de f r a u d e da parte do segurado, além da n u l -
lidade do seguro, será este condemnado a pagar ao segurador o
prêmio estipulado e m dobro. Quando a f r a u d e estiver da parte do
segurador, será este condemnado a retornar o prêmio recebido e
a pagar ao segurado outra igual quantia.
E m u m e outro caso pôde-se intentar acção criminal contra o
fraudulento.
Art. 680. A desviação voluntária da derrota da viagem, e alte-
ração na o r d e m das escalas que n ã o f ô r o b r i g a d a p o r u r g e n t e neces-r
sidade ou força maior, annullará o seguro pelo resto da viagem
(art. 509;. ( A r t . 711 § 2.)
Art. 681. Se o n a v i o t i v e r vários pontos de escala designados na
apólice, é licito ao segurado alterar a ordem das escalas; mas em
tal caso só p o d e r á escalar e m u m único p o r t o dos especificados na
mesma apólice,
Art. 682. Quando o seguro versar sobre dinheiro dado a risco,
deve declarar-se na apólice, n ã o só o n o m e do navio, do capitão
e do tomador do dinheiro, c o m o o u t r o s i m fazer-se m e n ç ã o do risco
q u e este q u e r segurar e o dador exceptuára, ou qual o valor desco-
berto sobre que é permHtido o seguro (art. 6 5 0 ) . A l é m desta decla-r
CÓDIGO COMMERCIAL 119

ração, é necessário mencionar t a m b é m na apólice a causa da divida


para que servio o dinheiro.
Art. 683. Tendo-se effecluado s e m f r a u d e diversos seguros sobre
o mesmo objecto, prevalecerá o mais antigo na data da apólice.
Os seguradores cujas apólices fôrem posteriores são obrigados a
restituir o prêmio recebido, retendo por indemnisação meio por
cento do valor segurado.
Art. 684. E m todos os casos e m que o s e g u r o se a n n u l l a r p o r
facto que n ã o resulte directamente de força maior, o segurador
adquire o prêmio por inteiro, se o o b j e c t o d o seguro se t i v e r posto
em risco; e se n ã o se tiver posto em risco, retém meio porcento
do valor segurado.
Anoullando-se porém algum seguro por viagem redonda com
prêmio ligado, o segurador adquire metade (tão sómente) do prê-
mio ajustado.

CAPITULO II.

Das cousas que podem ser objecto de seguro marítimo.

Art. 685. Toda e qualquer cousa, todo e qualquer interesse apre-


ciável a dinheiro, que tenha sido posto o u deva pôr-se a risco de
mar, pôde ser o b j e c t o d e s e g u r o marítimo, n ã o havendo prohibição
em contrario.
Art. 686. E prohibido o seguro :
I. Sobre cou?as c u j o c o m m e r c i o n ã o seja l i c i t o pelas leis d o I m -
pério, e sobre os n a v i o s nacionaes ou estrangeiros que nesse c o m -
mercio se e m p r e g a r e m . ( A r t . 6 7 7 § 2 ; Reg. art. 684? § 1«)
II. Sobre a vida de a l g u m a pessoa livre.
III. Sobre soldadas a vencer de q u a l q u e r i n d i v í d u o da tripolação.
Art. 687. O segurador pôde segurar por outros seguradores os
mesmos objectos que elle tiver segurado, c o m as m e s m a s ou diífe-
rentes condições, e por igual, maior ou menor prêmio.
O segurado pôde tornar a segurar, quando o segurador ficar i n -
solvente, antes da noticia da terminação do risco, pedindo e m
juizo annullação da primeira apólice: e se a esse t e m p o existir
risco pelo qual seja d e v i d a a l g u m a i n d e m n i s a ç ã o ao segurado, en-
trará este p e l a s u a importância na massa do segurador fallido.
Art. 688. N ã o se d e c l a r a n d o n a apólice de seguro de d i n h e i r o a
r i s c o , se o seguro comprehende o capital e o prêmio , entende-se
que comprehende só o capital, o qual, no caso de sinistro, será
indemnisado pela f ô r m a determinada no artigo 647.
Art. 689. Pôde segurar-se o navio, seu frete e fazendas n a mes-
ma apobce, mas neste caso ha de determinar-se o valor de cada
o b j e c t o d i s t i n c t a m e n t e ; f a l t a n d o esta e s p e c i f i c a ç ã o , o seguro ficará
reduzido ao objecto d e f i n i d o na apólice sómente. (Arts. 755, 780.)
Art. 690. Declarando-se genericamente na apólice q u e se segura
o navio sem outra a l g u m a especificação , entende-se que o seguro
comprehende o c a s c o e t o d o s os p e r t e n c e s d a e m b a r c a ç ã o , aprestos,
120 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

apparelhos, mastreação e velame, lanchas, escaleres, botes, uten-


sílios e vitualhas ou provisões ; mas e m n e n h u m caso os fretes
nem o carregamento, ainda que este seja por conta do capitão ,
dono ou a r m a d o r do navio.
Art. 691. As apólices de seguro por ida e volta c o b r e m os riscos
seguros que sobrevierem durante as estadias intermedias, ainda
q u e esta c l á u s u l a seja o m i s s a na apólice. ( A r t . 703.)

CAPITULO III.

Da avaliação dos objectos seguros.

Art. 692. O valor do objecto do seguro deve ser declarado na


apólice em quantia certa, sempre que o segurado tiver delle co-
nhecimento exacto. (Arts. 700, 7 0 1 , 780.)
No seguro de n a v i o , esta d e c l a r a ç ã o é essencialmente necessária,
e faltando ella, o seguro julga-se improcedente.
Nos seguros sobre fazendas , n ã o tendo o segurado conhecimento
exacto do seu verdadeiro importe, basta que o v a l o r se d e c l a r e por
estimativa. (Reg. art. 305, § 7.)
Art. 693. O valor declarado na apólice, quer tenha a cláusula
—valha mais ou valha menos—, quer a n ã o tenha , será considerado
em juizo como ajustado e admittido entre as partes para todos os
eíTeitos do seguro. Comtudo, se o segurador allegar que a cousa
segura valia ao t e m p o do c o n t r a c t o u m quarto menos, ou dahi para
cima, do preço e m que o segurado a estimou, será admittido a re-
clamar a avaliação; i n c u m b i n d o - l h e justificar a reclamação pelos
meios de prova admissíveis e m commercio. Para este fim, e e m
ajuda de outras provas, poderá o segurador obrigar o segurado á
exhibição dos documentos ou das razões e m q u e se fundàra para
o calculo da avaliação que déra na apólice; e se p r e s u m i r á ter ha-
vido dolo da parte do segurado se e l l e se negar a esta exhibição.
(Art. 701.)
Art. 694. N ã o se tendo declarado na apólice o valor certo do
seguro sobre fazendas, será este d e t e r m i n a d o p e l o p r e ç o da compra
das mesmas fazendas, augmentado c o m as despezas que e9tas t i -
verem feito até o embarque, e mais o p r ê m i o do seguro e a c o m -
missão d e se e í T e c t u a r , quando e s t a se tiver pago, por f ô r m a que,
no caso de p e r d a t o t a l , o segurado seja e m b o l s a d o de todo o valor
posto a risco. Na apólice de seguro sobre fretes sem valor fixo,
s e r á este d e t e r m i n a d o pela carta de f r e t a m e n t o , o u pelos conheci-
mentos e pelo manifesto, o u livro da carga, cumulativamente e m
ambos os casos. (Arts. 6 4 7 , 6 9 7 , 700, 779.)
Art. 695. O valor do seguro sobre d i n h e i r o a risco prova-se pelo
contracto original, e o do seguro sobre despezas feitas c o m o navio
ou carga durante a viagem (arts. 515 e 651) c o m as respectivas
contas competentemente legalisadas.
Art. 696. O valor de mercadorias provenientes de fabricas, la-
CÓDIGO COMMERCIAL 121

vras o u fazendas do segurado, que n à o fôr determinado na apólice,


será avaliado pelo preço q u e outras taes m e r c a d o r i a s p o d e r i ã o obter
no lugar do desembarque, sendo ahi vendidas, augmentado na
f ô r m a do artigo 694.
Art. 697. As fazendas adquiridas por troca estimão-se pelo preço
que poderião obter no mercado do lugar da descarga aquellas
que p o r e l l a s se t r o c a r ã o , augmentado na f ô r m a do artigo 694.
Art. 698. A avaliação e m seguros feitos sobre m o e d a estrangeira
faz-se, r e d u z i n d o - s e esta ao valor da moeda corrente no Império
pelo curso que o c a m b i o tinha na data da apólice.
Art. 699. O segurador e m n e n h u m caso p ô d e obrigar o segurado
a v e n d e r os o b j e c t o s d o s e g u r o p a r a d e t e r m i n a r o s e u valor.
Art. 700. Sempre qne se provar que o segurado procedeu c o m
fraude na declaração do valor declarado na apólice, ou na que
p o s t e r i o r m e n t e se fizer n o caso d e se n ã o t e r f e i t o n o a c t o do con-
tracto (arts. 692 e 694) , o juiz, reduzindo a estimação do objecto
segurado a seu verdadeiro valor, c o n d e m n a r á o segurado a pagar ao
segurador o dobro do prêmio e s t i p u l a d o . (Reg. etrt. 305, § 6.)
Art. 701. A cláusula i n s e r t a n a a p ó l i c e — t a l h a mais ou valha me-
nos— n ã o releva o segurado da condemnação por fraude; n e m
p ô d e ser valiosa sempre que se p r o v a r que o objecto seguro valia
menos de u m q u a r t o que o p r e ç o fixado n a a p ó l i c e (arts. 692 e 6 9 3 ) .

CAPITULO IV.

Do começo e fim dos riscos.

Art. 702. Não constando da apólice do seguro o tempo em que


os r i s c o s d e v e m c o m e ç a r e acabar, os riscos de seguro sobre navio
principião a correr por conta do segurador desde o momento e m
que a embarcação suspende a sua p r i m e i r a a n c o r a para velejar, e
terminão depois que tem dado fundo e amarrado dentro do porto
do seu destino, n o lugar que ahi fôr designado para descarregar,
se levar carga, ou no lugar e m que der fundo e amarrar, indo
em lastro.
Art. 703. Segurando-se o navio por ida e volta, ou por mais
de u m a viagem, os riscos c o r r e m sem interrupção por conta do
segurador, desde o c o m e ç o da primeira viagem até o fim da ultima
(art. 691).
Art. 704. N o seguro de navios por estada e m algum porto, os
riscos c o m e ç ã o a correr desde que o navio dá fundo e se amarra
no mesmo porto, è findão desde o momento e m que suspende a
sua primeira ancora para seguir viagem.
Art. 705. Sendo o seguro s o b r e m e r c a d o r i a s , os riscos t e m prin-
cipio desde o m o m e n t o e m que e l l a s se começão a embarcar nos
cães ou á borda d'agua do lugar da carga, e só t e r m i n ã o depois
q u e s ã o postas a salvo no lugar da descarga; ainda mesmo no caso
122 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

do capitão ser o b r i g a d o a descarrega-las e m algum porto de escala


ou de arribada forçada.
Art. 706. Fazendo-se seguro sobre fazendas a transportar alter-
nadamente por mar e terra, rios ou canaes, e m navios, barcos,
carros ou animaes, os riscos c o m e ç ã o logo que os e í T e i t o s são en-
tregues no l u g a r o n d e d e v e m ser carregados, e só expirão quando
são descarregados a salvamento no lugar do destino.
Art. 707. Os riscos de seguro sobre frete tem o seu começo
d e s d e o m o m e n t o e á m e d i d a q u e s ã o r e c e b i d a s a b o r d o as fazendas
que pagão frete; e acabão logo que sahem para fóra do portaló
do navio, e á proporção que v ã o s a b i n d o ; s a l v o se por ajuste ou
por uso do porto o navio fôr obrigado a receber a carga à beira
d'agua, e a pô-la e m terra por sua conta.
O risco do frete neste caso acompanha o risco das mercadorias.
Art. 708. A fortuna das sommas mutuadas a risco principia e
acaba para os seguradores na mesma época e pela mesma f ô r m a
que corre para o dador do dinheiro a risco: no caso porém de se
não ter feito n o i n s t r u m e n t o do contracto a risco m e n ç ã o especifica
d o s r i s c o s t o m a d o s , o u se n ã o h o u v e r e s t i p u l a d o o t e m p o , entende-se
que os s e g u r a d o r e s tomarão sobre s i t o d o s os r i s c o s , e pelo m e s m o
tempo que geralmente costumão receber os dadores de dinheiro
a risco.
Art. 709. N o seguro de lucro esperado, os r i s c o s a c o m p a n h ã o a
sorte das f a z e n d a s respectivas.

CAPITULO V.

Das obrigações reciprocas do segurador e do segurado.

Art. 710. São a cargo do segurador todas as perdas e damnos


que sobrevierem ao objecto seguro por algum dos ri>cos especifi-
cados na apólice.
Art. 711. O segurador n ã o responde por damno ou avaria que
aconteça por facto do segurado o u p o r a l g u m a das causas s e g u i n t e s :
(Art. 6li9;Reg. art. 305 g 4.)
I. Desviação voluntária da derrota ordinária e usual da viagem.
II. Alteração voluntária na ordem das escalas designadas na
apólice; salva a e x c e p ç ã o estabelecida no artigo 680.
III. Prolongação voluntária da viagem além do ultimo porto
atermado na apólice. Encurtando-se a viagem , o seguro surte pleno
e í l e i t o , se o p o r t o o n d e e l l a f i n d a f ô r d e e s c a l a d e c l a r a d a n a apólice;
sem que o segurado tenha direito para exigir reducção no prêmio
estipulado.

IV. Separação espontânea de c o m b o i o u de o u t r o n a v i o armado,


tendo-se e s t i p u l a d o na a p ó l i c e de ir e m conserva delle.
V. D i m i n u i ç ã o e derramamento de líquidos (art. 624).
VI. Falta de estiva o u defeituosa a r r u m a ç ã o da carga.
VII. Diminuição natural de gêneros que por sua qualidade são
CÓDIGO C O M M E R C I A L 123

susceptíveis de dissolução, diminuição ou quebra e m peso ou


medida, e n t r e o seu e m b a r q u e e o d e s e m b a r q u e ; salvo tendo estado
encalhado o navio, ou tendo sido d e s c a r r e g a d a s essas f a z e n d a s por
occasião de f o r ç a m a i o r : devendo-se e m taes casos fazer deduccão
da diminuição ordinária que costuma haver e m gêneros de seme-
lhante natureza (art. 617).
"VIII. Quando a mesma diminuição natural acontecerem cereaes ,
assucar, café, farinhas, tabaco, arroz, queijos, f r u c t a s seccas ou
verdes, livros ou papel e outros gêneros de semelhante natureza,
se a a v a r i a n ã o e x c e d e r a dez por cento do valor seguro ; salvo se
a e m b a r c a ç ã o tiver estado encalhada o u as m e s m a s f a z e n d a s t i v e r e m
sido descarregadas por motivo de f o r ç a maior, ou o contrario se
houver estipulado na apólice.
I X . Damnificação de amarras, mastreação , velame ou outro
qualquer pertence do navio, procedida do uso ordinário do seu
destino.
X . Vicio intrínseco, m á qualidade ou m á o acondicionamento do
objecto seguro.
X I . Avaria simples ou particular, que, incluída a despeza de
documentos justificativos, não exceda de tres por cento do valor
segurado.
X I I . Rebeldia do capitão ou da equipagem; salvo h a v e n d o esti-
pulação em contrario declarada na apólice. Esta estipulação é nulla
^endo o seguro feito pelo capitão, por conta delle ou alheia, ou
por terceiro por conta do capitão. (Reg. art. 305, § 4 . )
Art. 712. Todo e qualquer acto por sua natureza criminoso pra-
ticado pelo capitão no exercício do seu e m p r e g o , ou pela tripolação,
ou por u m e outro conjunctamente, do qual a c o n t e ç a damno grave
ao n a v i o o u á c a r g a , em opposição á presumida vontade legal do
dono do n a v i o , é rebeldia.
Art. 713. O segurador que toma o risco de rebeldia responde
pela perda ou damno procedente do acto de rebeldia do capitão ou
da equipagem, ou seja por conseqüência immediata, ou ainda
casualmente, uma vez que a perda ou damno tenha acontecido
dentro do t e m p o dos riscos t o m a d o s e na v i a g e m e portos da apólice.
A r t . 71Zj. A c l á u s u l a - — l i v r e de avaria—desobriga os seguradores
das avarias simples particulares; a c l á u s u l a — livre de todas as ava-
rias— desonera-os t a m b é m das grossas. N e n h u m a destas cláusulas
porém os i s e n t a nos casos e m que tiver lugar o abandono.
Art. 7 1 5 . N o s s e g u r o s f e i t o s c o m a c l á u s u l a — livre de hostilidade—,
o segurador é l i v r e , se o s e f f . i t o s s e g u r a d o s p e r e c e m o u se deteriorão
por effeito de hostilidades. O seguro neste caso cessa desde que foi
retardada a viagem ou mudada a d e r r o t a p o r c a u s a das hostilidades.
Art. 716. Contendo o seguro sobre fazendas a cláusula—carre-
gadassobre um o u mais navios—, o seguro surte todos os e f f e i t o s , p r o -
vando-se que as fazendas seguras forão carregadas por inteiro e m
um s ó n a v i o , o u p o r partes e m diversas embarcações. ( A r t . 671.)
Art. 717. Sendo necessário baldear-se a carga, depois de come-
ç a d a a v i a g e m , para embarcação differente da que tiver sido desig-
124 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

nada na apólice, por innavegabilidade o u força m a i o r , os riscos


continuâo a correr por conta do segurador até o navio substituído
c h e g a r ã o porto do destino, ainda mesmo que tal navio seja de
diversa b a n d e i r a , n ã o sendo esta inimiga.
Art, 718. Ainda que o segurador n ã o responde pelos d a m n o s que
resultão ao navio por falta de exaeta observância das leis e regula-
m e n t o s das alfândegas e policia dos portos (art. 530) , esta falta n ã o
o desonera de responder pelos que dahi sobrevierem á carga.
(Art. M l . )
Art. 719. O segurado deve sem demora participar ao segurador,
e, havendo mais de u m , sómente ao primeiro na o r d e m da subs-
cripção, todas as n o t i c i a s q u e r e c e b e r d e qualquer sinistro aconte-
cido ao navio ou á carga. A omissão culposa do segurado a este
respeito p ô d e ser qualificada de presumpção de m á fé. (Art. 722;
Reg. art. 3 0 2 ; 305 § 5.)
Art. 720. Se, passado u m anno a datar da sahida do navio nas
viagens para qualquer porto da America, o u dous annos para outro
qualquer porto do m u n d o , e tendo expirado o tempo limitado na
apólice, não houver noticia alguma do navio, presume-se este
perdido, e o segurado pode fazer abandono ao s e g u r a d o r , e exigir
o pagamento da a p ó l i c e : o qual todavia será obrigado a restituir se
o n a v i o se n ã o houver perdido, ou se v i e r a p r o v a r que o sinistro
a c o n t e c e u d e p o i s d e t e r e x p i r a d o o t e r m o d o s r i s c o s . ( A r t . 7 5 3 , § l\ ;
Reg. art. 302.)
Art. 721. Nos casos de n a u f r á g i o o u v a r a ç ã o , presa o u arresto de
inimigo, o segurado é obrigado a empregar toda a diligencia possivel
p a r a s a l v a r o u r e c l a m a r os o b j e c t o s seguros, sem que para taes actos
se f a ç a n e c e s s á r i a a procuração do segurador; do qual pôde o segu-
rado exigir o adiantamento do dinheiro preciso para a reclamação
intentada ou que se p o s s a intentar; sem q u e o m á o successo desta
p r e j u d i q u e ao e m b o l s o do segurado pelas despezas oooorridas. (Reg.
arts. 302, 305, § 5.)
Art. 722. Quando o segurado n ã o pôde fazer p o r s i as devidas
reclamações, por deverem ter lugar fóra do Império ou do seu
domicilio, deve nomear para esse fim competente m a n d a t á r i o ,
avisando desta nomeação ao s e g u r a d o r (art. 719). Feita a n o m e a ç ã o
e o aviso, cessa toda a sua responsabilidade, n e m responde pelos
actos do seu m a n d a t á r i o , ficando u n i c a m e n t e obrigado a fazer cessão
ao segurador das a c ç õ e s que competirem, sempre que este o exigir.
Art. 723. O segurado, no caso de presa o u arresto de inimigo,
só está obrigado a seguir os termos da r e c l a m a ç ã o até a p r o m u l -
gação da s e n t e n ç a da primeira instância.
Art. 72/j. Nos casos dos tres artigos precedentes, o segurado é
o b r i g a d o a o b r a r d e a c c o r d o c o m os s e g u r a d o r e s . N ã o havendo tempo
p a r a os c o n s u l t a r , o b r a r á como melhor entender, correndo as des-
pezas p o r c o n t a dos mesmos seguradores.
E m caso de abandono admittido pelos seguradores, ou destes
tomarem sobre si as diligencias dos salvados o u das reclamações,
cessão t o d a s as s o b r e d i t a s o b r i g a ç õ e s do capitão o do segurado.
CÓDIGO COMMERCIAL 125

Art. 725. O j u l g a m e n t o de u m tribunal estrangeiro, ainda que


baseado p a r e ç a e m fundamentos manifestamente injustos, ou factos
notoriamente falsos ou desfigurados, n ã o desonera o segurador,
mostrando o segurado que empregou os meios ao seu alcance e
produzio as provas que lhe era possivel prestar para prevenir a
injustiça do julgamento.
Art. 726. Os objectos segurados que fôrem restituidos gratuita-
mente pelos apresadores voltão ao domínio de seus d o n o s , ainda
que a restituição tenha sido feita a favor do c a p i t ã o o u de qualquer
outra pessoa.
Art. 727. Todo o ajuste que se f i z e r c o m os a p r e s a d o r e s n o alto
mar para resgatar a cousa segura, é nullo; salvo havendo para isso
autorisação por escripto na apólice.
Art. 728. Pagando o segurador u m damno acontecido á cousa
segura, ficará subrogado e m todos os direitos e acções que ao
segurado c o m p e t i r e m contra terceiro; e o segurado n ã o pôde pra-
ticar acto algum e m p r e j u í z o do direito a d q u i r i d o dos seguradores.
Art. 729. O prêmio do seguro é devido por i n t e i r o , sempre que
o segurado receber a indemnisação do sinistro.
Art. 730. O segurador é obrigado a pagar a o s e g u r a d o as i n d e m -
nisações a que tiver direito, dentro de q u i n z e dias da apresentação
da conta, instruída c o m os d o c u m e n t o s r e s p e c t i v o s ; s a l v o se o prazo
do p a g a m e n t o t i v e r s i d o e s t i p u l a d o n a a p ó l i c e . (Reg. art. 302.)

TITULO IX.

DO NAUFRÁGIO E SALVADOS.

Art. 731. Ninguém pôde arrecadar as fazendas naufragadas no


mar o u nas praias, estando presente o capitão ou quem suas vezes
fizer, sem consentimento seu.
Art. 732. O juiz de direito do c o m m e r c i o respectivo, logo que
lhe constar q u e a l g u m n a v i o t e m n a u f r a g a d o o u se a c h a e m perigo
de n a u f r a g a r , p a s s a r á s e m d e m o r a ao l u g a r do n a u f r á g i o , e empre-
gará todas as diligencias que fôrem praticaveis para a salvação da
gente, navio e carga: e faltando o capitão o u q u e m suas vezes faça,
ou n ã o apparecendo neste a c t o o d o n o , c o n s i g n a t a r i o o u pessoa por
elles, m a u d a r á p r o c e d e r a i n v e n t a r i o d o s o b j e c t o s s a l v a d o s , e os fará
pôr e m boa e segura guarda.
Se o naufrágio acontecer e m porto onde houver alfândega ou
mesa de rendas, o u e m c o s t a s v i z i n h a s , as d i l i g e n c i a s d o i n v e n t a r i o
e arrecadação serão praticadas c o m assistência dos empregados res-
pectivos, e na s u a f a l t a o s d a s c o l l e c t o r i a s . (Reg. art. 21 § 5 \Tit. un.
art. 17.)
Art. 733. Os objectos salvados que p u d e r e m deteriorar-se pela
demora serão vendidos e m hasta publica, e o seu p r o d u c t o posto
em deposito, por conta de q u e m pertencer. Os objectos que se
acharem e m b o m estado serão conduzidos para a respectiva alfande-
126 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

ga , procedendo-se a respeito delles na conformidade do regimento


das a l f â n d e g a s (*).
Art. 734. Achando-se presente o capitão, ou o dono das merca-
dorias, ou q u e m suas vezes l a ç a , t o m a r á conta das fazendas salvas, e
as poderá conduzir para o porto do seu destino o u outro qualquer ,
com declaração p o r é m de q u e , se as f a z e n d a s , por serem de origem
estrangeira, estiverem s u j e i t a s ao p a g a m e n t o de alguns direitos, se
o capilão ou dono preferir navega-las para porto do I m p é r i o , só lhe
será p e r m i t t i d a a v i a g e m se nesse p o r t o h o u v e r alfândega.
Art. 735. Se a l g u é m puder salvar navio, f r a g m e n t o o u carga aban-
donados no alto m a r ou nas costas, entregando tudo immediata-
mente e sem desfalque ao juiz de direito do c o m m e r c i o do districto ,
h a v e r á u m p r ê m i o de dez a c i n c o e n t a por cento do seu v a l o r : d e i x a n -
do de fazer a entrega, incorrerá nas penas criminaes impostas aos
que n ã o entregão a cousa a l h e i a p e r d i d a . ( T i t . un. art. 17.)
Art. 736. O salário que vencerem as p e s s o a s e m p r e g a d a s no ser-
viço do salvamento do navio ou carga, e b e m assim os prêmios que
se d e v e r e m nos casos e m q u e estes p u d e r e m t e r l u g a r , s e r ã o regula-
dos por árbitros ; tendo-se e m consideração o perigo e a natureza do
serviço, a p r o m p t i d ã o c o m que este f ô r p r e s t a d o , e a fidelidade c o m
que as pessoas n e l l e e m p r e g a d a s h o u v e r e m feito entrega dos objec-
tos salvos.
Art. 737. O capitão e pessoas da tripolação que salvarem ou
ajudarem a salvar o navio, f r a g m e n t o s o u carga, além das suas sol-
dadas pela v i a g e m (art. 559), t e m direito a u m a gratificação corres-
pondente ao seu t r a b a l h o e aos perigos que tiverem corrido. (Arts.
759, 877 § 4.)
Art. 738. A s d e s p e z a s c o m os s a l v a d o s , as necessárias para habi-
litar o navio para a sua navegação, e as q u e se fizerem c o m o trans-
porte da carga (art. 614)? t e m h y p o t h e c a especial e preferencia nos
objectos salvos o u n o seu producto.
Art. 739. As questões que se m o v e r e m s o b r e o p a g a m e n t o de sal-
vados serão decididas por árbitros no lugar do districto onde tiver
acontecido o naufrágio. (Reg. art. 411 § 2.)

TITULO X.

DAS ARRIBADAS FORCADAS.


9

Art. 740. Quando um navio entra por necessidade em algum porto


ou l u g a r d i s t i u c t o dos d e t e r m i n a d o s na viagem a que se propuzera,
diz-se q u e fizera arribada forçada (art. 510).
Art. 741. S ã o causa justa para arribada forçada :
I. Falta de viveresou aguada.
II. Qualquer accidenlc acontecido â equipagem, carga ou navio,
que i m p o s s i b i l i t e este de c o n t i n u a r a navegar.

(*) V . D e c * d e 2 2 d e J u n h o d e 1 8 4 6 .
C Ó D I G O COMMERCIAL 127

III. T e m o r f u n d a d o de i n i m i g o o u pirata.
Art. 742. Todavia n ã o será justificada a arribada 1
I. Se a falta de viveres o u de aguada proceder de n ã o haver-se
feito a provisão necessária segundo o costume c uso da navegação,
ou de haver-se perdido e estragado por m á arrumação ou descui-
do , ou porque o capitão vendesse a l g u m a parte dos m e s m o s viveres
ou aguada.
II. Nascendo a innavegabilidade do navio de m á o concerto, de
falta de apercebimenlo ou esquipação, ou de m á arrumação da
carga.
III. Se o t e m o r de inimigo ou pirata n ã o fôr fundado e m factos
positivos que não deixem duvida.
Art. 743. Dentro das primeiras vinte e quatro horas úteis da
entrada no p o r t o de a r r i b a d a , deve o c a p i t ã o apresentar-se â auto-
ridade competente para lhe t o m a r o protesto da arribada, que justi-
ficará perante a mesma autoridade (art. 505 e 5 1 2 ; Reg. art. 365 ;
T i t . un. art. 17.)
Art. As despezas occasionadas pela arribada f o r ç a d a correm
por conta do fretador ou do afretador, ou de ambos segundo fôr
a causa que as m o t i v o u , com direito regressivo contra quem per-
tencer.
Art. 745. Sendo a arribada justificada, n e m o dono do navio
n e m o capitão respondem pelos prejuízos que puderem resultar á
carga: se porém n ã o fôr justificada, u m e outró serão responsáveis
solidariamente até a concurrencia do valor do navio e frete.
Art. 746. S ó pôde autorisar-se a descarga no porto de arribada,
sendo indispensavelmente necessária para concerto do navio, ou
reparo de avaria da carga (art. 614). O capitão neste caso é respon-
s á v e l pela boa g u a r d a e c o n s e r v a ç ã o dos effeitos descarregados, salvo
unicamente os casos de força maior, ou de tal natureza que n ã o
possão ser prevenidos.
A descarga será reputada legal e m juizo quando tiver sido auto-
risada pelo juiz de direito do commercio. Nos paizes estrangeiros
compete aos cônsules do Império dar a autorisação necessária , e
onde os não houver será requerida á autoridade local competente.
(Reg. art. 2 1 , § 6; T i t . un. art. 17.)
Art. 747. A carga avariada será reparada ou vendida, como pa-
recer mais conveniente; mas e m todo o caso deve preceder autori-
sação competente.
Art. 748. O c a p i t ã o n ã o p ô d e , debaixo de pretexto a l g u m , differir
a partida do porto da arribada desde q u e cessa o m o t i v o delia; pena
de responder por perdas e damnos resultantes da d i l a ç ã o voluntá-
ria (art. 510).

T I T U L O X I .

DO DAMNO CAUSADO POR ABALROAÇÃO.

Art. 749. Sendo um navio abalroado por outro, o damno in-


teiro c a u s a d o ao n a v i o a b a l r o a d o e á sua carga s e r á pago p o r aquelle
128 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

que tiver causado a abalroação, se esta tiver acontecido por falta


de observância do regulamento do porto (*), impericia ou negli-
gencia do capitão ou da tripolação; fazendo-se a estimação por á r -
bitros. (Reg. art. 189.)
Art. 750. T o d o s os c a s o s de abalroação serão decididos, na me-
nor dilação possivel, por peritos, que julgarão q u a l dos navios f o i
o causador do d a m n o , conformando-se c o m as disposições do
Regulamento do porto e os usos e praticas do lugar. N o caso dos
árbitros declararem que não podem julgar c o m segurança qual
navio foi o culpado, soffrerá cada u m o damno que tiver recebido.
(Reg. art. 189.)
Art. 751. Se, acontecendo a abalroação no alto m a r , o navio
abalroado fôr obrigado a procurar porto de arribada para poder
concertar, e se perder nesta derrota, a perda do navio presume-
se causada pela abalroação.
Art. 752. Todas as p e r d a s resultantes de abalroação pertencem
á classe de avarias particulares ou simples: exceptua-se o único
caso e m que o navio, para evitar d a m n o maior de u m a abalroação
imminente, p i c a as suas a m a r r a s , e abalrôa a outro para sua pró-
pria salvação (art. 764). Os d a m n o s que o navio ou a carga neste
caso soffre são repartidos pelo navio, frete e carga por avaria
grossa.

TITULO XII.

DO ABANDONO.

Art. 753. É licito ao segurado fazer abandono dos objectos se-


guros , e pedir ao segurador a indemnisação de perda total nos
seguintes casos:
I. Presa ou arresto por ordem de potência estrangeira, seis
mezes depois da sua intimação, se o arresto durar por mais deste
tempo.
II. Naufrágio, varação, ou outro qualquer sinistro de m a r c o m -
prehendido na apólice, de que resulte n ã o poder o navio navegar,
ou cujo concerto importe e m tres quartos ou mais do valor por
que o navio foi segurado.
III. Perda total do objecto seguro, ou deterioração que importe
pelo menos tres quartos do valor da cousa segurada (arts. 759 e
777).
IV. Falia de noticia do navio sobre que se f e z o s e g u r o , ou e m
que se embarcárão os effeitos seguros (art. 720). (Reg. arts. 3 0 1 ,
305, § 8 . )
Art. 754. O segurado n ã o é obrigado a fazer abandono; mas
se o n ã o fizer nos casos e m que este Código o permitte, n ã o po-

0 Vide Decreto n . ° 447 de 19 de Maio de 1846.


CÓDIGO COMMERCIAL 129

dera exigir do segurador i n d e m n i s a ç ã o maior do que teria direito


a pedir se houvera acontecido perda total; excepto nos casos de
letra de cambio passada pelo capitão (art. 515), de naufrágio,
reclamação de presa o u arresto de inimigo, e de abalroação.
Art. 755. O abandono só é admissível quando as perdas acon-
t e c e m depois de c o m e ç a d a a viagem.
Não pôde ser parcial, d e v e c o m p r e b e n d e r t o d o s os o b j e c t o s c o n -
tides na apólice. Todavia, se na mesma a p ó l i c e se tiver segurado
navio e carga, pôde ter lugar o abandono de cada u m dos dous
objectos separadamente ( a r t . 6 8 9 ) . [Art. 847.)
A
* -
1
N ã o é admissível o abandono por titulo de i n n a v e g a b i -
lidade, se o navio, sendo concertado, pôde ser posto e m estado
de continuar a v i a g e m a t é o l u g a r do destino; salvo se, à vista das
avaliações legaes a que se deve proceder, se vier no conheci-
m e n t o de q u e as d e s p e z a s d o c o n c e r t o e x c e d e r i ã o pelo menos a tres
quartos do preço estimado na apólice.
Art. 757. No caso de innavegabilidade do navio, se o capitão,
carregadores ou pessoa que os represente não puderem fretar
outro para transportar a carga ao seu destino dentro de sessenta
dias depois de j u l g a d a a i n n a v e g a b i l i d a d e (art. 6 1 4 ) , o segurado pôde
fazer abandono.

Art. 758. Quando, nos casos de p r e s a , constar que o navio foi


retomado antes de intimado o abandono, n ã o é este admissível;
salvo se o damno soffrido por causa da presa e a despeza c o m o
prêmio da retomadia ou salvagem importa e m tres quartos pelo
menos do valor segurado, ou se, em conseqüência da represa, os
effeitos seguros t i v e r e m passado a d o m í n i o de terceiro.
Art. 759. O abandono do navio comprehende os fretes das mer-
c a d o r i a s q u e se p u d e r e m s a l v a r , os q u a e s s e r ã o c o n s i d e r a d o s como
pertencentes aos seguradores; salvo a preferencia que sobre os
mesmos possa competir á equipagem por suas soldadas vencidas
na viagem (art. 564), e a outros quaesquer credores privilegiados
(art. 738). ( A r t .753 § 3.)
Art. 760. S e o s f r e t e s se a c h a r e m seguros, os q u e f ô r e m devidos
pelas mercadorias salvas pertencerão aos seguradores dos mesmos
fretes; deduzidas as despezas dos salvados e as s o l d a d a s devidas á
tripolação pela v i a g e m (art. 559).

TITULO XIII.

DAS AVARIAS.

CAPITULO I.

Da natureza e classificação das avarias.

Art. 7 6 1 . T o d a s as d e s p e z a s e x t r a o r d i n á r i a s f e i t a s a b e m d o n a v i o
ou da carga, c o n j u n c t a o u separadamente, e t o d o s os d a m n o s acon-
MAN. NEG. 9
130 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

tecidos aquelle ou a esta, desde o embarque e partida até á sua


volta e desembarque, são reputadas avarias.
Art. 762. Não havendo entre as partes c o n v e n ç ã o especial exa-
rada na carta partida ou no c o n h e c i m e n t o , as a v a r i a s h ã o de qua-
lificar-se e regular-se pelas d i s p o s i ç õ e s deste Código.
Art. 763. As avarias s ã o de duas espécies: avarias grossas ou
communs, e avarias simples o u particulares. A i m p o r t â n c i a das pri-
meiras é repartida proporcionalmente entre o navio, seu frete e a
c a r g a ; e a das segundas é supportada, o u só pelo n a v i o , ou só pela
cousa que soffreu o d a m n o o u deu causa á despeza.
Art. 76Z|. S ã o avarias grossas (Arts. 6 2 1 , 752) :
I. Tudo o que se d á a o i n i m i g o , corsário ou pirata por composi-
ção ou a titulo de resgate do navio e fazendas, conjuncta ou separa-
damente.
I I . As cousas alijadas para salvação c o m m u m .
I I I . Os c a b o s , mastros, velas e outros quaesquer apparelhos de-
liberadamente cortados o u partidos por força de vela para salvação
do navio e carga.
IV. As â n c o r a s , amarras e quaesquer outras cousas abandonadas
para salvamento ou beneficio c o m m u m .
V. Os damnos causados pelo alijamento ás fazendas restantes
a bordo.
VI. Os d a m n o s feitos deliberadamente ao navio para facilitar a
evacuação d ' a g u a e os d a m n o s a c o n t e c i d o s p o r esta o c c a s i ã o á carga.
VII. O tratamento, curativo, sustento e i n d e m n i s a ç õ e s da gente
da tripolação ferida ou mutilada defendendo o navio.
VIII. A i n d e m n i s a ç ã o o u resgate da gente da t r i p o l a ç ã o mandada
ao m a r o u á t e r r a e m s e r v i ç o do navio e da carga, e nessa occasião
aprisionada ou retida.
IX. As soldadas e sustento da tripolação d u r a n t e arribada forçada.
X. Os direitos de pilotagem e o u t r o s de entrada e sahida n ' u m
porto de arribada forçada.
X I . Os a l u g u e i s de a r m a z é n s e m que se d e p o s i t e m , e m porto de
arribada forçada, as f a z e n d a s que n ã o puderem continuar a bordo
durante o concerto do navio.
X I I . A s despezas da r e c l a m a ç ã o d o n a v i o e carga feitas c o n j u n c t a -
mente pelo capitão n'uma só instância, e o sustento e soldadas da
gente da tripolação durante a mesma reclamação, u m a vez q u e o
navio e carga sejão relaxados e restituidos. ( A r t s . 6 5 1 , 791.)
X I I I . Os gastos de descarga e salários para alliviar o navio e
entrar n'uma abra ou porto, quando o navio é obrigado a fazê-lo
por borrasca ou perseguição de inimigo, e os d a m n o s acontecidos
ás fazendas pela descarga do navio e m perigo.
X l V . Os damnos acontecidos ao corpo e quilha do navio que
premeditadamente se faz varar para prevenir perda total ou presa
do inimigo.
XV. As despezas feitas para p ô r a nado o navio encalhado, e toda
a recompensa por serviços extraordinários feitos para prevenir a sua
perda total ou presa.
CÓDIGO COMMERCIAL 131

X V I . A s perda-s ou damnos sobrevindos ás fazendas carregadas


em barcas ou lanchas, e m conseqüência de perigo.
X V I I . As soldadas e sustento da tripolação, se o navio depois da
viagem começada é obrigado a suspendê-la por o r d e m de potência
estrangeira, ou por superveniencia de guerra; e isto por todo o
tempo que o navio e carga f ô r e m impedidos.
X V I I I . O prêmio do e m p r é s t i m o a risco, tomado para fazer face
a despezas q u e d e v ã o e n t r a r na regra de avaria grossa.
X I X . O prêmio do seguro das despezas de avaria grossa e as
perdas soíTridas na venda da parte da carga no porto de arribada
forçada para fazer face ás mesmas despezas. (Arts. 651, 791.)
X X . As custas judiciaes para r e g u l a r as avarias e fazer a repar-
t i ç ã o das avarias grossas.
X X I . A s despezas de u m a quarentena extraordinária.
E e m g e r a l , os damnos causados deliberadamente e m caso de
perigo ou desastre imprevisto, e soífridos c o m o conseqüência i m -
mediata destes eventos, bem como as despezas feitas e m iguaes
circumstaneias, depois de deliberações motivadas (art. 509) , e m
bem e salvamento c o m m u m do navio e m e r c a d o r i a s , desde a sua
carga e partida a t é o seu retorno e descarga.
Art. 765. N ã o serão reputadas avarias grossas, posto que feitas
voluntariamente e por deliberações motivadas para b e m do navio e
c a r g a , as d e s p e z a s c a u s a d a s p o r vicio i n t e r n o do n a v i o , o u por falta
ou negligencia do capitão ou da gente da tripolação. Todas estas
despezas s ã o a cargo do c a p i t ã o o u do n a v i o (art. 565).
Art. 766. S ã o avarias simples e particulares :
I. O damno acontecido ás fazendas por borrasca, presa, nau-
frágio ou encalho fortuito, durante a viagem e as d e s p e z a s f e i t a s
para as salvar.
II. A perda de cabos, amarras, âncoras, véias e mastros, cau-
sada p o r borrasca ou outro accidente do mar.
III. As despezas de reclamação, sendo o navio e fazendas recla-
mados separadamente.
IV. O concerto particular das vasilhas e as despezas feitas para
c o n s e r v a r os e f f e i t o s a v a r i a d o s .
V. O augmento de f r e t e e despeza de carga e descarga , quando
d e c l a r a d o o n a v i o i n n a v e g a v e l , as fazendas s ã o levadas ao l u g a r do
destino por u m o u mais navios (art. 614).
E m g e r a l as d e s p e z a s feitas e o damno soífrido só pelo navio o u
só pela carga, d u r a n t e o t e m p o dos riscos.
Art. 767. Se, e m r a z ã o de baixos o u bancos de areia conhecidos,
o n a v i o n ã o p u d e r dar à vela do lugar da partida c o m a carga inteira,
nem chegar ao l u g a r do destino s e m descarregar parte da carga e m
barcas, as despezas feitas para aligeirar o navio n ã o são reputadas
avarias, e correm por conta do navio sómente; n ã o havendo na
carta p a r t i d a o u nos c o n h e c i m e n t o s e s t i p u l a ç ã o em contrario.
Art. 768. N ã o são igualmente reputadas avarias, mas simples
despezas a cargo do navio, as despezas de pilotagem da costa e
barras, e outras feitas por entrada e sahida de abras o u rios : nem
132 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

os direitos de licenças, visitas, tonelagem, marcas, ancoragem e


outros impostos de navegação.
Art. 769. Quando fôr indispensável lançar-se ao mar alguma
parte da carga, deve começar-se pelas mercadorias e effeitos que
csliveiem e m c i m a do convéz: depois s e r ã o a l i j a d a s as m a i s pesadas
e de menos valor, e dada igualdade ás que estiverem na coberta e
mais á m ã o r fazendo-se toda a diligencia possivel para t o m a r nota
das m a r c a s e n ú m e r o s dos v o l u m e s alijados.
Art. 770. E m seguimento da acta da deliberação q u e se houver
tomado para o alijamento (art. 5 0 9 ) , se f a r á d e c l a r a ç ã o b e m espe-
c i f i c a d a d a s f a z e n d a s l a n ç a d a s a o m a r ; e se, p e l o a c t o d o alijamento,
algum damno tiver resultado ao navio o u á carga remanescente, se
fará t a m b é m m e n ç ã o deste a c c i d e n í e . (Reg* art. 364.)
Art. 7 7 1 . A s d a m n i f i o a ç õ e s q u e s o f f r e m as f a z e n d a s p o s t a s a b o r d o
de barcos para sua conducção ordinária, ou para aligeirar o navio
em caso de perigo, s e r ã o reguladas pelas disposições estabelecidas
n e s t e c a p i l u l o q u e l h e s f ô r e m a p p i i c a v e i s , s e g u n d o as d i v e r s a s causas
de q u e o d a m n o resultar.

CAPITULO II.

Da liquidação, repartição e contribuição da avaria grossa.

Art. 772. Para que o damno soffrido pelo navio ou carga possa
considerar-se avaria a cargo do segurador, é necessário que elle
seja examinado por dous arbitradores peritos que d e c l a r e m : 1.° de
que procedeu o damno; 2.° a parte da carga que se a c h a avariada
e por que causa, i n d i c a n d o as suas marcas, n ú m e r o s ou volumes;
3.° tratando-se do uavio ou dos seus pertences, quanto valem os
objectos avariados, e quanto poderá importar o seu concerto o u
reposição.
T o d a s estas diligencias, exames e vestorias serão determinadas
pelo juiz de direito do respectivo districto, e praticadas c o m citação
dos interessados, por si ou seus p r o c u r a d o r e s ; podendo o juiz, no
caso de a u s ê n c i a das parles, nomear de olíioio pessoa intelligente
e idônea q u e as r e p r e s e n t e ( a r t . 6 1 8 ) . ( T i t . un. art. 17.)
As d i l i g e n c i a s , exames e vestorias sobre o casco do navio e seus
pertences devem ser praticadas antes de dar-se principio ao seu
c o n c e r t o , nos casos e m q u e este possa ter l u g a r . (Reg. arts. 2 1 , § 8;
53 § 3 ; 212.)
Art. 773. Os effeitos avariados serão sempre vendidos e m publico
leilão a q u e m mais d é r , e pagos no acto da a r r e m a t a ç ã o : e o mesmo
se p r a t i c a r á c o m o n a v i o , q u a n d o e l l e t e n h a d e s e r v e n d i d o segundo
as disposições deste Código: e m taes casos o juiz, se assim lhe
parecer c o n v e n i e n t e , o u se algum interessado o requerer, poderá
determinar que o casco e cada u m dos seus pertences se venda
separadamente. (Reg> art. 358.)
Art. 774. A estimação do preço para o calculo da avaria será feita
sobre a d i f f e r e n ç a entre o respectivo r e n d i m e n t o b r u j o das fazendas
CÓDIGO COMMERCIAL 133

sãas e o das avariadas, vendidas a dinheiro no tempo da entrega ;


e e m n e n h u m caso pelo seu r e n d i m e n t o liquido , n e m por aquelle
que, demorada a venda ou sendo a prazos, poderião vir a obter.
Art. 7 7 5 , Se o d o n o o u c o n s i g n a t a r i o n ã o quizer vender a parte
das mercadorias sãas, n ã o pôde ser compellido; e o p r e ç o para o
calculo será e m tal caso o corrente que as m e s m a s fazendas, se
v e n d i d a s f o s s e m ao t e m p o d a entrega , p o d e r i ã o obter no mercado ,
certificado pelos p r e ç o s correntes do lugar, o u , na falta destes,
attestado d e b a i x o de j u r a m e n t o p o r dous c o m m e r c i a n t e s acreditados
de fazendas do m e s m o gênero.
Art. 776. O segurador n ã o é obrigado a pagar m a i s de dous terços
do custo do c o n c e r t o das avarias que tiverem acontecido ao navio
segurado p o r f o r t u n a d o m a r , c o m t a n t o q u e o n a v i o fosse estimado
na apólice por seu verdadeiro valor, e os c o n c e r t o s n ã o excedão de
tres q u a r t o s desse v a l o r n o d i z e r de arbitradores expertos. Julgando
estes p o r é m q u e p e l o s c o n c e r t o s o v a l o r r e a l d o n a v i o se augmentaria
além do terço da somma que custarião, o segurador pagará as
despezas, abatido o excedente valor do navio. (Reg. art. 189.)
Art. 777. Excedendo as d e s p e z a s a t r e s q u a r t o s d o v a l o r d o navio ,
julga-se este declarado innavegavel a respeito dos s e g u r a d o r e s ; os
quaes neste caso serão obrigados, não tendo havido abandono, a
pagara s o m m a segurada, abatendo-se nesta o valor do navio dam-
nificado ou dos seus fragmentos, segundo o dizer de abitradores
expertos. ( A r t . 753 § 3.)
Art. 778. Tratando-se da avaria p a r t i c u l a r das mercadorias, e
achando-se estas e s t i m a d a s na apólice por valor certo , o calculo do
d a m n o será feito sobre o p r e ç o q u e as m e r c a d o r i a s a v a r i a d a s alcan-
çarem n o p o r t o d a e n t r e g a e o da venda das n ã o avariadas no mesmo
l u g a r e t e m p o , s e n d o d e i g u a l e s p é c i e e q u a l i d a d e , o u , se t o d a s che-
gárão avariadas, sobre o p r e ç o que outras semelhantes n ã o avaria-
das alcançarão ou poderião alcançar; e a differença, tomada a
proporção entre urnas e outras, será a somma devida ao segurado.
Art. 779. Se o valor das mercadorias se n ã o tiver fixado na
apólice, a regra para achar-se a somma devida será a mesma
do artigo precedente, comtanto que p r i m e i r o se determine o valor
das mercadorias n ã o avariadas; o que se f a r á a c c r e s c e n t a n d o á i m -
portância das f a c t u r a s o r i g i n a e s as d e s p e z a s s u b s e q u e n t e s ( a r t . 69/i).
E tomada a differença proporcional entre o preço p o r q u e se ven-
d ê r ã o as n ã o a v a r i a d a s e as a v a r i a d a s , se a p p l i c a r á a p r o p o r ç ã o relativa
á parte das fazendas avariadas pelo seu primeiro custo e despezas.
Art. 780. Contendo a apólice a cláusula de pagar-se avaria por
marcas, v o l u m e s , caixas, saccas o u e s p é c i e s , cada uma das partes
designadas será considerada como u m seguro separado para a
fôrma da liquidação das avarias, ainda que essa p a r t e se a c h e en-
globada no valor total do seguro (arts. 689 e 6 9 2 ) .
Art. 7 8 1 . Qualquer parte da carga, sendo objecto susceptível de
avaliação separada, que se perca totalmente, ou que por algum
dos riscos cobertos pela respectiva apólice fique tão damnificada
que n ã o valha cousa alguma, será indemnisada pelo segurador
n u M A N U A L DOS NEGOCIANTES

como perda lolal, ainda que r e l a t i v a m e n t e ao todo ou á carga se-


gura seja parcial, e o valor da parte perdida ou destruída pelo
damno se a c h e n o t o t a l d o seguro.
Art. 782. Se a a p ó l i c e contiver a cláusula de pagar avarias como
perda de salvados, a d i f f e r e n ç a para menos do valor fixado na apó-
lice, que resultar da venda liquida q u e os g ê n e r o s avariados produ-
zirem no lugar onde se vendêrão, sem attenção alguma ao pro-
dueto bruto que tenhão no mercado do porto do seu destino, será
a e s t i m a ç ã o da avaria.
»
A r t . 7 8 3 . A r e g u l a ç ã o , r e p a r t i ç ã o o u r a t e i o das avarias grossas
s e r á f e i t o p o r á r b i t r o s n o m e a d o s p o r a m b a s as p a r t e s , a i n s t â n c i a s
do capitão.
Não se querendo as partes louvar, a n o m e a ç ã o de á r b i t r o s será
feita pelo tribunal do c o m m e r c i o respectivo, ou pelo juiz de d i -
reito do commercio a que pertencer, nos lugares distantes do
domicilio do m e s m o tribunal.
Se o capitão fôr omisso e m fazer effectuar o r a t e i o das avarias
grossas, pôde a d i l i g e n c i a ser p r o m o v i d a por outra qualquer pessoa
que seja interessada. (Reg. arts. 4 1 1 , § 2 ; 4 2 2 , 4 2 3 ; Decr. 25 Novem*
Oro 1 8 5 0 , art. 18 § 1 3 ; T i t . un. art. 17.)
Art. 784. O capitão tem direito para exigir, antes de abrir as
escotilhas do navio, que os c o n s i g n a t a r i o s d a c a r g a prestem fiança
idônea ao pagamento da avaria grossa, a que suas respectivas m e r -
cadorias f ô r e m obrigadas n o rateio da c o n t r i b u i ç ã o c o m m u m .
Art. 785. Recusando-se os consignatarios a prestar a fiança exi-
gida, pôde o c a p i t ã o requerer deposito judicial dos effeitos obrigados
á contribuição, a t é ser pago, ficando o preço da venda subrogado
para se e f f e c t u a r p o r e l l e o p a g a m e n t o da avaria grossa, logo que o
r a t e i o t i v e r l u g a r . (Reg. art. 321 § 1.)
Art. 786. A regulação e repartição das avarias grossas deverá
fazer-se no p o r t o da entrega da carga. T o d a v i a , quando, por d a m n o
aconteoido depois da sahida, o navio f ô r obrigado a regressar ao
porto da carga, as d e s p e z a s necessárias para reparar os d a m n o s da
a v a r i a grossa, p o d e m ser nestes ajustadas.
Art. 787. L i q u i d a n d o - s e as a v a r i a s g r o s s a s o u c o m m u n s n o porto
da entrega da carga, h ã o de c o n t r i b u i r para a sua composição :
I. A carga, incluindo o dinheiro, prata, ouro, pedras preciosas
c t o d o s os m a i s v a l o r e s q u e se a c h a r e m a bordo.
I I . O navio e seus pertences, pela sua avaliação no porto da
descarga, q u a l q u e r que seja o seu estado.
III. Os f r e t e s , por m e t a d e do seu valor t a m b é m .
Não entrão para a contribuição o valor dos viveres q u e existirem
a bordo para m a n t i m e n t o do navio, a bagagem do capitão, tripo-
lação e passageiros que f ô r do seu uso pessoal, n e m os objectos
tirados do m a r por mergulhadores á custa do dono.
Art. 788. Q u a n d o a l i q u i d a ç ã o se f i z e r n o p o r t o d a c a r g a , o valor
da m e s m a será e s t i m a d o pelas respectivas facturas, a u g m e n t a n d o se
a o p r e ç o d a c o m p r a as d e s p e z a s a t é o e m b a r q u e : c q u a n t o ao n a v i o
c f r e t e , se o b s e r v a r ã o as r e g r a s e s t a b e l e c i d a s no artigo antecedente.
CÓDIGO C O M M E R C I A L 135

Art. 789. Quer a liquidação se faça no porto da carga, quer no


da descarga, contribuirão para as a v a r i a s g r o s s a s as importâncias
que fôrem resarcidas por via da respectiva contribuição.
Art. 790. Os objectos carregados sobre o convéz (arts. 521 e 677
n,°8), e os q u e tiverem sido embarcados sem conhecimentos assig-
nados pelo capitão ( a r t . 5 9 9 ) , e os q u e o p r o p r i e t á r i o , ou seu repre-
sentante, na occasião do risco de mar, tiverem mudado do lugar
em q u e se a c h a v ã o arrumados sem licença do capitão, contribuem
pelos respectivos valores, chegando a salvamento; mas o dono , no
segundo caso, n ã o tem direito para a indemnisação reciproca,
ainda quando fiquem deteriorados ou tenhão sido alijados a bene-
ficio c o m m u m .
Art. 7 9 1 . Salvando-se qualquer cousa e m c o n s e q ü ê n c i a de algum
acto deliberado de que resultou avaria grossa, não pôde quem
s o f f r e u o p r e j u í z o c a u s a d o p o r este acto e x i g i r i n d e m n i s a ç ã o alguma
por contribuição d o s o b j e c t o s s a l v a d o s , se e s t e s p o r a l g u m accidente
não c h e g a r e m ao poder do dono o u consignatarios, o u se, vindo ao
seu poder, n ã o tiverem valor a l g u m ; s a l v o os c a s o s d o s a r t i g o s 651
e 764, ns. 12 e 19.
Art. 792. No caso de a l i j a m e n t o , se o n a v i o se t i v e r salvado do
perigo que o motivou, mas continuando a viagem vier a perder-se
d e p o i s , as f a z e n d a s salvas do segundo perigo são obrigadas a con-
tribuir por avaria grossa para a p e r d a das que forão alijadas na
occasião do primeiro.
S e o n a v i o se perder no primeiro período e algumas fazendas se
puderem s a l v a r , estas n ã o c o n t r i b u e m p a r a a i n d e m n i s a ç ã o das que
forão alijadas na occasião do desastre que c a u s ó u o naufrágio.
Art. 793. A sentença q u e h o m o l o g a a r e p a r t i ç ã o das avarias grossas
com c o n d e m n a ç ã o de cada u m dos contribuintes, tem força de
definitiva, e pôde executar-se logo, ainda que d e l i a se recorra.
Art. 794. Se, depois de p a g o o r a t e i o , os donos recobraremos
effeitos indemnisados por avaria grossa, serão obrigados a repôr
pro rata a todos os contribuintes o valor liquido dos effeitos reco-
brados. N ã o tendo sido c o n t e m p l a d o s no rateio para a indemnisação,
não estão obrigados a entrar para a contribuição da avaria grossa
com o valor dos gêneros recobrados depois da partilha e m que
d e i x a r ã o de ser considerados.
Art. 795. Se o s e g u r a d o r tiver pago u m a perda total e depois vier
a provar-se que ella foi só parcial, o segurado n ã o é obrigado a
restituir o dinheiro recebido; mas neste caso o segurador fica
subrogadj em todos os direitos e acções do segurado, e faz suas
t o d a s as v a n t a g e n s que p u d e r e m resultar dos effeitos salvos.
Art. 796. Se, independente de q u a l q u e r l i q u i d a ç ã o ou exame, o
segurador se ajustar e m p r e ç o c e r t o de i n d e m n i s a ç ã o , obrigando-se
por escripto na apólice, o u de o u t r a q u a l q u e r f ô r m a , a p a g a r dentro
de certo p r a z o , e d e p o i s se r e c u s a r ao p a g a m e n t o , exigindo que o
segurado prove salisfactoriameute o valor real do d a m n o , n ã o será
este obrigado á prova senão no único caso em que o segurador
136 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

tenha e m t e m p o reclamado o ajuste por fraude manifesta da parto


do mesmo segurado.

PARTE III.

DAS QUEBRAS.

TITULO h

DA NATUREZA E DECLARAÇÃO DAS QUEBRAS E SEUS EFFEITOS»

Art. 797. Todo o commerciante que cessa os seus pagamentos,


entende-se quebrado ou fallido.
Art. 798. A quebra ou fallencia pôde ser c a s u a l , c o m culpa ou
fraudulenta.
Art. 799. É casual quando a insolvencia procede de accidentes
de casos f o r t u i t o s o u f o r ç a m a i o r (art. 8 9 8 ) . ( A r t . 8 1 9 . )
Art. 800. A quebra será qualificada c o m culpa, quando a insol-
vencia pôde attribuir-se a a l g u m dos casos seguintes ( A r t . 819) :
I. Excesso de despezas no tratamento pessoal do fallido, e m
relação ao seu cabedal e n u m e r o de pessoas de sua familia.
I I . Perdas avultadas a jogos, ou especulação de aposta o u agio-
tagem.
III. Venda por menos do p r e ç o corrente de effeitos que o fallido
c o m p r á r a nos seis mezes anteriores á quebra, e se ache ainda
devendo.
IV. Acontecendo que o fallido , entre a data do seu ultimo
balanço (art. 10 n . ° 4 ) e a d a f a l l e n c i a ( a r t . 8 0 6 ) , se a c h a s s e devendo
por o b r i g a ç õ e s directas o d o b r o do seu cabedal a p u r a d o nesse b a l a n ç o .
Art. 801. A quebra poderá ser q u a l i f i c a d a c o m c u l p a :
I. Quando o fallido n ã o tiver a sua escripturação e correspon-
dência mercantil nos termos regulados por este Código (arts. 13
e 14.) ( A r t . 819.)
II. N ã o se a p r e s e n t a n d o no tempo e na fôrma devida (art. 805).
III. Ausentando-se ou occultando-se.
Art. 802, E fraudulenta a quebra nos casos e m que concorre
a l g u m a das circumstaneias seguintes ( A r t . 819) :
I . Despezas o u perdas fictícias, o u falta de justificação do emprego
d e t o d a s as r e c e i t a s d o f a l l i d o .
I I . Occultação no balanço de qualquer somma de d i n h e i r o o u
de quaesquer bens o u títulos (art. 805).
III. Desvio ou applicação de fundos ou valores de que o fallido
tivesse sido depositário ou mandatário.
IV. Vendas, negociações e doações feitas, o u dividas contrahidas
com simulação ou fingimento.
V. C o m p r a de bens e m n o m e de terceira pessoa.
V I . N ã o tendo o fallido os livros que deve ter (art. 11), ou se
os a p r e s e n t a r trancados ou falsificados.
CÓDIGO COMMERCIAL 137

Art. 803. S ã o c o m p l i c e s de quebra fraudulenta ( A r t . 819, 820).:


I. Os q u e por qualquer modo se m a n c o m u n a r e m c o m o fallido
para f r a u d a r os credores, e os que o auxiliarem para occultar ou
d e s v i a r b e n s , seja q u a l f ô r a s u a e s p é c i e , q u e r antes quer depois da
fallencia.
I I . Os que occultarem ou recusarem aos a d m i n i s t r a d o r e s a en-
trega dos b e n s , créditos ou títulos que t e n h ã o do fallido.
I I I . Os q u e depois de p u b l i c a d a a d e c l a r a ç ã o do fallimento admit-
tirem cessão o u endossos do f a l l i d o , o u c o m elle celebrarem algum
contracto ou transacção.
IV. Os credores legítimos que fizerem concertos c o m o fallido
em prejuízo da massa.
V. Os corretores que intervierem e m qualquer operação mercantil
do fallido depois de declarada a quebra.
Art. 804. As quebras dos corretores e dos agentes da casa de leilão
sempre s e p r e s u m e m f r a u d u l e n t a s . (Art. 819.)
Art. 805. Todo o commerciante que tiver cessado os seus paga-
mentos é obrigado, no preciso t e r m o de tres d i a s , a apresentar na
secretaria do t r i b u n a l do c o m m e r c i o do seu domicilio u m a decla-
ração datada , e assignada por elle o u seu procurador, e m que
exponha as causas do seu f a l l i m e n t o e o estado da sua casa; ajun-
tando o balanço exacto do seu activo e passivo ( a r t . 1 0 n . ° 4)> c o m
os documentos probatórios ou instructivos que achar a bem. Esta
declaração, de cuja apresentação o secretario do tribunal deverá
certificar o dia e a hora, e da q u a l se d a r á c o n t r a f é a o apresentante,
fará m e n ç ã o n o m i n a t i v a de todos os sócios solidários, c o m desig-
nação do domicilio de cada u m , quando a quebra disser respeito
a sociedade collectiva (arts. 3 1 1 , 316 e 8 1 1 ) . (Arts. 801, § 2 , 8 1 7 ,
823; Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 0 8 , 110, 118, 184.)
Art. 806. Apresentada a declaração da quebra, o tribunal do
commercio declarará sem demora a abertura da fallencia, isto é ,
fixará o t e r m o legal da sua existência , a contar da data — da decla-
ração do fallido—, o u da sua ausência—, o u d e s d e q u e se fecharão
os seus armazéns, lojas o u escriptorios — , ou finalmente de outra
época anterior e m que tenha havido effectiva cessação de paga-
mentos: ficando porém entendido que a sentença que fixara aber-
t u r a da quebra n ã o poderá retrotrahi-la a época que exceda além
de quarenta dias da sua data actual. (Arts. 189, 827, 876 § 3; tit,
un. art. 1 7 . Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 41 § 2; 109, 111.)
Art. 807. A quebra pôde t a m b é m ser declarada a requerimento
de algum ou alguns dos credores legítimos do f a l l i d o , depois da
c e s s a ç ã o dos p a g a m e n t o s deste; e t a m b é m a pôde declarar o tribunal
do c o m m e r c i o e x - o f f i c i oq u a n d o l h e conste por notoriedade publica,
fundada e m factos indicativos de u m verdadeiro estado de insol-
vencia (art. 806). N ã o é porém permittido ao filho a respeito do
pai, ao pai a respeito do filho, n e m á m u l h e r a respeito do marido
ou vice-versa, fazer-se declarar fallidos respectivamente.
O f a c t o s u p e r v e n i e n t e da m o r t e do fallido que e m sua vida houver
cessado os seus pagamentos n ã o impede a declaração da quebra,
138 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

nem o andamento das diligencias subsequentes e conseqüentes,


achando-se esta a n t e r i o r m e n t e d e c l a r a d a . ( A r t . 8 1 0 ; Reg. Decr. 25
Novembro 1 8 5 0 , arts. 3 § 2; 41 § 2 ; 108, 118.)
A r t . 8 0 8 . N o caso d o artigo precedente, poderá o fallido embargar
o despacho que declarar a quebra, provando n ã o ter cessado os
seus pagamentos. Os embargos n ã o terão eífeito suspensivo ; mas
se f ô r e m recebidos e julgados provados , o que terá lugar dentro de
vinte dias improrogaveis, contados do dia da sua a p r e s e n t a ç ã o , e
por conseguinte fôr revogado o despacho da declaração da quebra,
será tudo posto no antigo estado; e o commerciante injuriado
poderá i n t e n t a r a sua acção de perdas e damnos contra o autor da
i n j u s t i ç a m a n i f e s t a . (Reg/Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 41 § 2 ; 113.)
Art. 809. Na sentença da a b e r t u r a da q u e b r a , o tribunal do c o m -
mercio ordenará que se p o n h ã o sellos e m t o d o s os b e n s , l i v r o s e
papeis do fallido; designará u m dos seus m e m b r o s , d'entre os
deputados commerciantes, para servir de juiz commissario o u de
instrucção do processo da quebra, e u m dos oííiciaes da sua secre-
taria para servir de escrivão no mesmo processo: e n o m e a r á
d'entre os c r e d o r e s u m o u m a i s q u e s i r v ã o de c u r a d o r e s fiscaes pro-
visórios, ou, n ã o os havendo taes que possão convenientemente
desempenhar este Cargo, a outra pessoa ou pessoas que tenhão
a capacidade necessária. Os curadores nomeados prestarão jura-
mento nas m ã o s do presidente, a quem incumbe expedir logo ao
juiz de paz respectivo copia a u t h e n t i c a da sentença da abertura da
fallencia, c o m a participação dos curadores fiscaes n o m e a d o s , para
proceder á apposição dos sellos.
Sendo possivel inventariar-se t o d o s os b e n s d o f a l l i d o e m u m dia,
proceder-se-ha immediatamente a esta d i l i g e n c i a , dispensando-se
a apposição dos sellos. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 35 § 3 ;
109, 1 1 1 , 142, 187.)
Art. 810. Constando que algum devedor commerciante, que tiver
cessado os seus p a g a m e n t o s , i n t e n t a a u s e n t a r - s e o u t r a t a d e desviar
todo ou parte do seu aclivo, poderá o presidente do tribunal do
commercio, a requisição d o fiscal o u de qualquer credor, ordenar
a apposição provisória dos sellos, como medida conservatória do
direito dos credores, convocando immediatamente o tribunal para
deliberar sobre a declaração da quebra ( a r t . 8 0 7 ) . (Reg. Decr. 25
Novembro 1 8 5 0 , arts. 31 § 7; 4 1 § 2; 108.)
Art. 811. Recebida-pelo juiz de paz a sentença declaratoria da
quebra , passará i m m e d i a t a m e n t e a f a z e r p ô r os sellos e m todos os
bens, livros e documentos do fallido que fôrem susceptíveis de os
receber, quer os b e n s p e r t e n ç ã o ao estabelecimento e casa social,
quer a cada u m dos sócios solidários da firma fallida.
Não se porá sello nas roupas e moveis indispensáveis para uso
do fallido ou fallidos e de sua família; mas n e m por isso deixarão
de ser d e s c r i p t o s n o inventario.
Aquelles bens que n ã o puderem receber sello s e r ã o depositados
e entregues p r o v i s o r i a m e n t e a pessoa de c o n f i a n ç a . ( A r t . 805; R<^.
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 145.)
CÓDIGO COMMERCIAL 139

Art. 812. Postos os sellos e publicada pelo juiz commissario a


sentença da abertura da quebra, cuja publicação se fará dentro
de tres dias depois do r e c e b i m e n t o , por editaes aífixados na praça
d o c o m m e r c i o , n a p o r t a d a casa d o t r i b u n a l , e nas do escriptorio,
lojas o u a r m a z é n s do f a l l i d o , o dito juiz pelos m e s m o s editaes con-
vocará a t o d o s os c r e d o r e s do fallido para que, e m lugar, dia e hora
certa, n ã o excedendo o prazo de seis d i a s , compareção perante elle
para procederem á nomeação do depositário ou depositários que
hão de receber p r o v i s o r i a m e n t e a casa f a l l i d a . (Reg. Decr. 25 Novem-
bro 1 8 5 0 , art. 130.)
Art. 813. Nomeados o depositário ou depositários na f ô r m a dita,
o c u r a d o r fiscal requererá ao juiz de paz o rompimento dos sellos
e procederá á descripção e inventario de t o d o s os b e n s e e f f e i t o s d o
fallido; e e s t e i n v e n t a r i o se f a r á c o m autorisação e perante o juiz
commissario, presentes o depositário ou depositários nomeados e o
fallido o u seu procurador, e n ã o comparecendo este, á sua revelia
(art. 822).
Havendo bens situados e m lugares distantes, serão as funcções
do juiz commissario exercidas pelo juiz o u juizes de paz respectivos.

A r t . 8 1 A- A ' m e d i d a que se f ô r e m r o m p e n d o os sellos , e se fizer


a descripção e inventario dos b e n s , s e r ã o estes e n t r e g u e s ao depo-
sitário ou depositários; os q u a e s se o b r i g a r ã o por termo á sua boa
guarda, conservação c entrega, como fieis depositários e m a n d a t á -
rios que ficão sendo.
O juiz commissario mandará lavrar termo nos livros do fallido
do estado e m que e s t e s se achão, e rubricará os títulos e mais pa-
peis que julgar c o n v e n i e n t e : e findo o inventario, inquirirá o fallido
ou seu procurador para declarar, debaixo de juramento, se tem
mais alguns bens que devão vir á descripção. (Reg. Decr. 25 Novem-
bro 1 8 5 0 , arts. 131, 152.)
Art. 815. Concluído o inventario, o curador fiscal proporá ao
j u i z c o m m i s s a r i o d u a s o u m a i s pessoas q u e h a j ã o d e a v a l i a r os bens
descriptos: o juiz pôde recusar a primeira e mandar fazer segunda
proposta , e se n ã o se conformar c o m esta , n o m e a r á de per si os
avaliadores que julgar idôneos e m numero igual, para procederem
á avaliação juntamente com os segundos propostos pelo curador
fiscal. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 5 3 ; 157 § 3.)
Art. 816. Os gêneros ou mercadorias que f ô r e m de fácil dete-
rioração, o u que n ã o possão guardar-se sem perigo o u grande des-
peza, serão vendidos e m leilão por determinação do juiz c o m -
missario, ouvido o curador fiscal. T o d o s os o u t r o s b e n s não poderáõ
ser vendidos sem ordem ou despacho do tribunal. (Reg. Decr. 25
Novembro 1 8 5 0 , arts. 4 i § 2; 156, 157 § 5.)
Art. 817. Quando o fallido n ã o tenha ajuntado á declaração da
quebra o balanço da sua casa (art. 805), ou quando depois, tendo
sido citado para o fazer e m tres dias, o não apresentar, o curador
fiscal procederá a organisa-lo á vista dos livros e papeis do fallido,
e sobre as informações que puder obter do mesmo fallido , seus
140 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

caixeiros, guarda-livros e outros quaesquer agentes do seu com-

mercio.
N o b a l a n ç o se d e s c r e v e r ã o t o d o s os b e n s d o f a l l i d o , q u a l q u e r que
seja a sua natureza e espécie, as s u a s d i v i d a s a c t i v a s e passivas (art.
10 n . ° 4 ) , e os seus g a n h o s e perdas, accrescentando-se as obser-
vações e esclarecimentos que parecerem necessários. ( A r t .859; Reg.
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 120, 122.)
Art. 818. Fechado o b a l a n ç o , ou ainda mesmo pendente a sua
organisação, procederá o juiz commissario, conjunctamente c o m
o curador fiscal, ao e x a m e e averiguação dos livros do f a l l i d o , para
conhecer se estão e m forma legal (art. 13), e escripturados c o m
regularidade e sem vicio (art. 14). I n d a g a r á outrosim a causa ou
causas verdadeiras da fallencia, podendo para este fim perguntar
as testemunhas que julgar precisas e sabedoras, as quaes serão i n -
terrogadas na presença do fallido o u seu p r o c u r a d o r , e do curador
fiscal; a cada u m dos quaes é licito contesta-las no mesmo acto,
e b e m assim requerer qualquer diligencia que possa servir para
descobrir-se a verdade; ficando t o d a v i a ao a r b í t r i o do juiz recusar
a diligencia quando lhe pareça ociosa ou i m p e r t i n e n t e .
Do exame dos livros, da i n q u i r i ç ã o das t e s t e m u n h a s e sua con-
testação, e de qualquer diligencia que se tenha p r a t i c a d o , se la-
vrarão os competentes autos ou termos , mas tudo e m u m só
processo. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 2 1 , 1 5 7 § 6; 1 8 6 , 1 8 7 . )
Art. 819. Ultimada a instrucção do processo, o juiz commissario
o remetterà ao t r i b u n a l do commercio , acompanhando-o de u m
relatório circumstanciado c o m referencia a todos os actos da ins-
trucção, e c o n c l u i n d o - o c o m o seu parecer e juizo àcerca das causas
da quebra e sua qualificação , tendo e m vista para as s u a s con-
clusões as regras estabelecidas nos arts. 799, 800, 801 , 802,
803 e 804. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 122.)
Art. 820. Apresentado ao tribunal o processo, será proposto e
decidido na primeira conferência.
Qualificada a quebra na segunda ou terceira espécie, será o fallido
pronunciado como no c a s o c a i b a , c o m os c o m p l i c e s se os houver
(art. 803): e serão todos r e m e t t i d o s presos c o m o traslado d o pro-:
cesso ao juiz criminal competente, para serem julgados pelo jury
sem q u e aos p r o n u n c i a d o s se a d m i t t a r e c u r s o algum da pronuncia*
Qualquer que seja o julgamento final do jury, os e f f e i t o s c i v i s da
pronuncia do tribunal do c o m m e r c i o n ã o ficarão inválidos (*). ( A r t .
824; Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 3 § 1 ; 41 § 2 ; 124, 125,186.)
Art. 821. Emquanto no Código Criminal outra pena se n ã o de-
terminar para a fallencia c o m culpa, será esta p u n i d a c o m prisão
de u m a oito annos.
Art. 822. Logo que principiar a instrucção do processo da quebra,
o fallido assignará termo nos autos de se a c h a r presente p o r si o u

(*) O j u l g a m e n t o d e s t e c r i m e p e r t e n c e , p e l a l e i d e 2 d e J u l h o d e 1 8 5 0 , a o j u i z
de direito c r i m i n a l que decide definitivamente, O decreto de 3 dc O u t u b r o de 1850
serve dc regulamento á mencionada l e i .
CÓDIGO COMMERCIAL 141

por s e u p r o c u r a d o r a t o d o * os a c t o s e d i l i g e n c i a s d o p r o c e s s o , pena
de r e v e l i a . (Reg.Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 2 9 , 1 4 3 : Arts. 813,
825, 842, 845.)
Art. 823. O devedor que apresentar a sua declaração de fallido
em devido tempo (art. 8 0 5 ) , e assistir pessoalmente a t o d o s os actos
c diligencias subsequentes, n ã o pode ser preso a n t e s da pronuncia.
Art. 824. Contra todos os que se a p r e s e n t a r e m fóra de tempo,
ou deixarem de assistir aos actos e diligencias subsequentes, pode
o tribunal ordenar que sejão postos e m o u s t o d i a , se d u r a n t e a for-
m a ç ã o do p r o c e s s o se r e c o n h e c e r que o devedor está convencido de
f a l l e n c i a c u l p o s a o u f r a u d u l e n t a , o u se a u s e n t a r e m ou ocoultarem.
(Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 3 § 1 ; 124, 125.)
Art. 825. N ã o existindo presumpção de culpa ou fraude na fal-
lencia, o fallido que se não occultar, e se tiver apresentado e m
todos os actos e d i l i g e n c i a s da instrucção do processo (art. 822) ,
tem direito a pedir, a titulo de soccorro, u m a somma a deduzir
de seus bens, p r o p o s t a pelos administradores, e fixada pelo tribunal,
ouvido o juiz commissario, e tendo-se em consideração as neces-
sidades e família do mesmo fallido, a sua boa f é , e a maior ou
menor p e r d a q u e d a f a l l e n c i a t e r á de r e s u l t a r aos credores.
Art. 826. O fallido fica inhibido de direito da administração e
disposição dos seus b e n s desde o d i a e m que se p u b l i c a r a sentença
da abertura da quebra.
Art. 827. S ã o nullas, a beneficio da massa s ó m e n t e (Reg. art.
684 § 1 . Dec. 2 5 Novembro 1 8 5 0 arts. 144, 165):
I. As d o a ç õ e s por titulo gratuito feitas pelo fallido depois do u l -
timo balanço, sempre que delle constar que o seu activo era
naquella época inferior ao seu passivo.
II. As hypothecas de garantia de dividas contrahidas anterior-
mente à data da escriptura, nos 40 dias precedentes á época legal
da quebra (art. 806).
As quantias pagas pelo fallido por dividas n ã o vencidas nos 40
dias anteriores á época legal da quebra, reentraràõ na massa.
Art. 828. Todos os actos do fallido alienativos de bens de raiz,
moveis ou semoventes, e todos os mais actos e o b r i g a ç õ e s , ainda
mesmo que sejão de o p e r a ç õ e s c o m m e r c i a e s , p o d e m ser annullados,
qualquer que seja a época e m que fossem contrahidos, emquanto
não prescreverem, provando-se que nelles interveio fraude e m
damno de credores. ( A r t s . 3 1 3 , 3 2 2 ; Reg. arts. 12, 13, 495 ; 684 § 1 ;
685; 686 § 1, 5; 6 9 4 . Dec. 2 5 Novembro 1850 art. 165.)
Art. 829. Contra commerciante fallido, n ã o correm juros, ainda
que estipulados sejão, se a massa fallida n ã o chegar para paga-
mento do principal: havendo sobras, proceder-se-ha a rateio para
pagamento dos juros estipulados, dando-se preferencia aos cre-
dores privilegiados e hypothecarios pela ordem estabelecida no
art. 880. (Reg. art. 637.)
Art. 830. As e x e c u ç õ e s q u e ao t e m p o da d e c l a r a ç ã o da quebra se
moverem contra commerciante fallido, ficaráõ suspensas a t é a ve-
rificação dos c r é d i t o s , n ã o excedendo de trinta dias; sem prejuizo
1U2 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

de quaesquer medidas conservatórias dos direitos c a c ç õ e s dos cre-


dores privilegiados o u hypothecarios.
Se a execução f ô r de reivindicação (art. 874), proseguirá, sem
suspensão, com o curador fiscal.
T o d a v i a , se os b e n s executados se a c h a r e m já na praça cora dia
d e f i n i t i v o para sua arrematação fixado por editaes, o curador fiscal,
com autorisação do juiz commissario, poderá convir na conti-
n u a ç ã o , entrando para a massa o p r o d u c t o se a e x e c u ç ã o proceder
de créditos que n ã o sejão privilegiados nem hypothecarios, ou o
remanescente procedendo destes. (Reg. art. h l l § 6.)
Art. 831. A qualificação da quebra torna exigiveis todas as d i -
vidas passivas do f a l l i d o , ainda mesmo que se n ã o a c h e m vencidas,
ou sejão commerciaes o u civis , c o m abatimento dos juros legaes
correspondentes ao t e m p o q u e faltar para o vencimento. (Arts. 379,
390.)
Art. 832. Os coobrigados cem o fallido e m divida n ã o vencida
ao t e m p o da quebra são obrigados a dar fiança ao pagamento no
vencimento, n ã o preferindo paga-la i m m e d i a t a m e n t e (art. 379).
Esta disposição procede sómente no caso dos coobrigados si-
m u l t â n e a mas n ã o successivamente. Sendo a obrigação suecessiva,
como nos endossos, a fallencia do endossado posterior n ã o dá d i -
reito a accionar os endossatarios anteriores antes do vencimento
(art. 390).
Art. 833. Incumbe ao curador fiscal requerer ao juiz commis-
sario que autorise todas as diligencias necessárias a beneficio da
massa: e é obrigado a praticar todos os actos necessários para
conservação dos direitos e a c ç õ e s dos credores, e especialmente os
prevenidos nas disposições dos artigos 277 e 387, requerendo para
esse fim a immediata abertura e r o m p i m e n t o dos sellos nos livros
e papeis do fallido.
Havendo despezas q u e fazer, serão pagas pelo depositário , pre-
cedendo autorisação do m e s m o juiz (art. 876 n . ° 2 ) . (Reg. Decr. 25
Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 5 6 ; 157 § 7 ; 159 § 3.)
Art. 834. O curador fiscal é obrigado a diligenciar o aceite c
pagamento de letras e d e t o d a s as dividas activas do fallido, pas-
sando as competentes quitações, que serão por elle assignadas c
pelo d e p o s i t á r i o , e referendadas pelo juiz commissario. (Reg. Decr.
2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 156, 157 §8.)
Art. 835. As dividas aclivas exigiveis e m diversos domicílios
podem validamente cobrar-se por mandatários competentemente
autorisados pelo sobredito juiz.
Art. 836. As sommas provenientes de venda de effeitos ou co-
branças, abatidas as despezas e custas, serão lançadas e m caixa
de duas chaves, das quaes terá o curador fiscal u m a e o depositário
outra; salvo se os c r e d o r e s accordarem e m que sejão recolhidas a
algum banco c o m m e r c i a l ou deposito publico. (Reg. Decr. 25 Novem-
bro 1 8 5 0 , art. 156.)
Art. 837. A sahida de fundos da mesma caixa só pódc ter lugar
em v i r t u d e de o r d e m do juiz commissario.
CÓDIGO COMMERCIAL 143

Art. 838. Desde a entrada do curador fiscal e m exercício, todas


as acções p e n d e n t e s c o n t r a o d e v e d o r f a l l i d o , e as q u e h o u v e r e m de
ser intentadas posteriormente á fallencia, só poderáõ ser continua-
das ou intentadas contra o mesmo curador fiscal. Este porém não
pôde intentar, seguir o u defender acção a l g u m a e m n o m e da massa
sem autorisação do juiz commissario. (Reg. art. 23 § 2 . Dec. 25
Novembro l S Ú . a r t , 157 § 9 . )
Art. 839. O curador fiscal e os d e p o s i t á r i o s p e r c e b e r ã o uma c o m -
missão , que será arbitrada pelo tribunal do commercio, e m re-
lação á importância da m a s s a , e á diligencia, trabalho e responsa-
bilidade de uns e o u t r o s . {Reg. Decr. art. 157 § 9, 158.)
Art. 840. O tribunal, sobre proposta do juiz commissario, e c o m
audiência do curador fiscal, arbitrará a gratificação que deve ser
paga aos guarda-livros e caixeiros que fôr necessário empregar na
escripturação da fallencia e mais negócios e dependências correla-
tivas, c o m a t t e n ç ã o ao seu t r a b a l h o e á i m p o r t â n c i a da massa. ( A r t .
885; Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 156, 157 § 1 0 ; 167.)
Art. 841. Fica entendido que todas as d e s p e z a s e custas que se
fizerem n a s diligencias a que se proceder relativas á quebra com a
devida autorisação, d e v e m ser pagas p e l a massa dos b e n s d o fallido
( a r t . 8 7 6 n . ° 2 ) . ' ( R e g . Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 156.)

TITULO II.

DA REUNIÃO DOS CREDORES E DA CONCORDATA.

Art. 842. Ultimada a instrucção do processo da quebra, o juiz


commissario, dentro de oito dias, fará chamar os c r e d o r e s do fal-
lido para e m dia e hora certa, e n a s u a p r e s e n ç a se r e u n i r e m , afim
de se verificarem os créditos, se deliberar sobre a concordata,
quando o fallido a proponha, o u se f o r m a r o c o n t r a c t o de união,
e se p r o c e d e r á nomeação de administradores.
O chamamento a respeito dos credores conhecidos será por carta
do escrivão, e os n ã o conhecidos p o r editaes e annuncios nos pe-
riódicos: e nas mesmas cartas, editaes e annuncios se advertirá
que n e n h u m c r e d o r s e r á a d m i t t i d o p o r p r o c u r a d o r , se e s t e n ã o tiver
poderes especiaes para o acto (art. 145) , e que a procuração n ã o
pôde ser d a d a a pessoa q u e seja d e v e d o r ao f a l l i d o , n e m u m mesmo
procurador representar por dous diversos credores (art. 822) (*)
(Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 132, 133, 187.)
Art. 843. O curador fiscal, os administradores, e t o d o s os cre-
dores presentes, por si o u p o r seus p r o c u r a d o r e s , assignaráõ termo
no processo da quebra, de que se d ã o p o r i n t i m a d o s de todos os

(*) Na r e u n i ã o d o s c r e d o r e s d e u m a casa f a l l i d a n a B a h i a p a r a a nomeação


dos administradores suscitou-se a questão, se u m credor podia representar
o u t r o , c o m o p r o c u r a d o r , visto a l e i só fallar do p r o c u r a d o r e d o d e v e d o r , e
não do credor. O juiz c o m m i s s a r i o , c o m o presideute da a s s e m b l é a , d e c i d i o
q u e n ã o , p o r ser i n t e n ç ã o da l e i , q u e u m a pessoa n ã o tivesse d o u s v o t o s .
144 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

despachos do tribunal do commercio, que no mesmo fôrem


proferidos e m sessão publica, e das decisões do juiz commissario
que estiverem patentes e m m ã o do escrivão do processo.
Art. 844. Os credores que n ã o comparecerem a alguma reunião
para que tenhão sido competentemente convocados, entende-se
que adherem ás resoluções que tomar a maioria de votos dos cre-
dores que comparecêrão; comtanto que, para a concessão o u ne-
gação da concordata, se ache presente o numero dos credores exi-
gidos n o artigo 848.
Art. 845. Reunidos os credores sob a presidência do juiz c o m -
missario, e presente o curador fiscal, e o fallido por si o u por seu
procurador, ou á sua revelia (art. 8 2 2 ) , o m e s m o juiz fará u m re-
latório exacto do estado da fallencia e de suas circumstaneias, se-
gundo constar do processo: e apresentada e m seguimento a lista
dos credores conhecidos, que estará de a n t e m ã o preparada pelo
curador fiscal, e n a q u a l se a c h a r ã o i n s c r i p t o s os que se houverem
apresentado, c o m os seus n o m e s , domicílios, importância e natu-
reza de seus respectivos créditos (art. 8 7 3 ) , assentando-se e m c o n -
tinuação os credores que neste acto de novo se a p r e s e n t a r e m , o
referido juiz proporá a n o m e a ç ã o de u m a commissão que haja de
verificar os c r é d i t o s apresentados, se a r e u n i ã o os n ã o d e r l o g o por
verificados.
Esta commissão será composta de tres dos credores; e exami-
nando os l i v r o s e p a p e i s do fallido n o e s c r i p t o r i o o n d e se acharem,
é obrigada a apresentar o seu parecer e m outra r e u n i ã o , que n ã o
poderá e s p a ç a r - s e a m a i s de oito dias da data da primeira.
Os créditos dos membros da commissão serão verificados pelo
curador fiscal. {Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 136.)
Art. 846. Na segunda reunião dos credores, apresentados os pa-
receres da c o m m i s s ã o e curador fiscal, e n ã o se o f f e r e c e n d o d u v i d a
sobre a admissão dos créditos constantes da lista, e havidos por
verificados para o fim tão sómeute de habilitar o credor para poder
votar e ser votado, o juiz commissario proporá à deliberação da
reunião o projecto de concordata, se o f a l l i d o o tiver apresentado.
(Art. 855.)
P o r é m se h o u v e r c o n t e s t a ç ã o s o b r e algum credito, e nao podendo
o j u i z c o m m i s s a r i o c o n c i l i a r as partes, se l o u v a r á õ estas n o mesmo
acto e m dous j u i z e s á r b i t r o s ; os q u a e s r e m e t t e r á õ ao mesmo juiz
o seu parecer, dentro de cinco dias. Se os dous árbitros se não
conformarem, o juiz commissario dará v e n c i m e n t o c o m o seu voto
áquella parte que lhe parecer, para o fim sobredito s ó m e n t e , e
desta decisão arbitrai n ã o haverá recurso algum. (Reg. art. 411 § 2;
424; Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 136.)
Art. 847. Lida e m nova reunião a sentença arbitrai, se passará
seguidamente a deliberar sobre a concordata ou sobre o contracto
de u n i ã o (art. 755). ( A r t . 844.)
Se ainda nesta reunião se a p r e s e n t a r e m novos credores, poderáõ
ser admittidos sem prejuízo dos j á inscriptos e reconhecidos; mas
se n ã o f ô r e m admittidos, n ã o poderáõ tomar parte nas deliberações
CÓDIGO COMMERCIAL 145

da reunião; o que todavia n ã o prejudicará aos d i r e i t o s que lhes


possão competir, sendo depois reconhecido (art. 888).
P a r a ser v a l i d a a c o n c o r d a t a , exige-se q u e seja c o n c e d i d a p o r u m
n u m e r o tal de credores que represente pelo menos a maioria destes
em n u m e r o , e d o u s t e r ç o s n o v a l o r d e t o d o s os c r é d i t o s sujeitos aos
eíTeitos da concordata. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. Zjl § 2;
173.)
Art. 848. N a o é licito tratar-se da concordata antes d e se acha-
rem satisfeitas todas as formalidades prescriptas neste titulo e no
antecedente: e se fôr concedida c o m preterição de alguma das
suas d i s p o s i ç õ e s , a todo tempo poderá ser annullada.
Não pôde dar-se concordata n o caso e m que o fallido fôr julgado
com culpa ou fraudulento, e quando anteriormente tenha sido con-
cedida, será revogada.
Art. 849. A concordata p ô d e ser r e s c i n d i d a pelas m e s m a s causas
por que tem lugar a revogação da moratória; procedendo-se e m
taes casos, e nos d e ser a n n u l l a d a , pela f ô r m a determinada no ar-
tigo 902.
Art. 850. A concordata deve ser negada ou outorgada, e assig-
nada na mesma reunião e m que fôr proposta. Se n ã o houver dis-
sidentes, o juiz commissario a homologará immediatamente; mas
havendo-os assignará a t o d o s os dissidentes c o l l e c t i v a m e n t e o i t o dias
para dentro delles apresentarem seus embargos; dos quaes m a n -
dará dar vista ao curador fiscal e ao f a l l i d o , que serão obrigados a
contesta-los dentro de c i n c o dias. Os embargos com a contestação
serão pelo juiz commissario remettidos ao t r i b u n a l do commercio
competente, no prefixo termo de tres dias depois de a p r e s e n t a d a a
contestação. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 136, 137.)
Art. 851. Apresentados e vistos os embargos, proferirá o tri-
b u n a l a sua sentença, rejeitando-os o u recebendo-os e julgando-os
logo provados. T o d a v i a , se a o t r i b u n a l parecer que a matéria dos
embargos é relevante, mas que n ã o está suííicientemente provada,
p o d e r á assignar dez dias para a p r o v a ; e findo este prazo, s e m mais
audiência que a do fiscal, os j u l g a r á afinal.
Da decisão do juiz commissario que homologar a concordata,
não haverá recurso senão o de embargos processados na fôrma so-
bredita : da s e n t e n ç a porém do tribunal que desprezar os embargos
dos credores que se oppuzerem á homologação , haverá recurso
de appellação para a relação do districto, no effeito devolutivo
sómente.
Os prazos assignados neste artigo e nos antecedentes são i m -
prorogaveis. ( A r t . 9 0 6 ; Reg. art. 7 § 2 . Decr. 2 5 Novembro 1850,
arts. 4 1 § 2; 7 7 , 9 9 , 1 3 8 , 184.)
Art. 852. A concordata é obrigatória extensivamente para c o m
t o d o s os c r e d o r e s , salvos u n i c a m e n t e os d o d o m í n i o (art. 874), os
privilegiados ( a r t . 8 7 6 ) è o s h y p o t h e c a r i o s ( a r t . 8 7 9 ) . (Reg. art. 577

§ 4 . )
Art. 853. Os credores do dominio, os p r i v i l e g i a d o s e hypothe-
carios , n ã o podem tomar parte nas deliberações relativas á con-

MAN. NEG. 10
146 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

cordata; pena de ficarem sujeitos a todas as deci*ões que a respeilo


da m e s m a se t o m a r e m .
Art. 85Z|. Intimada a concordata ao curador fiscal , e ao depo-
sitário ou depositários , estes s ã o o b r i g a d o s a entregar ao devedor
t o d o s os bens q u e se acharem e m seu poder, e aquelle a prestar
contas da sua administração perante o juiz c o m m i s s a r i o ; ao qual
i n c u m b e resolver quaesquer duvidas que hajão de suscitar-se sobre
a entrega dos bens ou a prestação de contas; podendo referi-las
á decisão de árbitros, quando as p a r t e s assim o requeirão. (Reg.
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 6 0 , 16Zj § 2 ; 170.)

TITULO UÍ

DO CONTRACTO DE UNIÃO, DOS ADMINISTRADORES,

DA LIQUIDAÇÃO E DIVIDENDOS.

CAPITULO I.

Do contracto de união.

Art. 855. Não havendo concordata, se passará a formar o con-


tracto de união entre os credores na mesma reunião, se o fallido
não tiver apresentado o seu p r o j e c t o (art. 8 ^ 6 ) , o u e m o u t r a , quando
o tenha apresentado, que o juiz commissario convocará até oito
dias depois que a sentença do tribunal que a houver negado lhe fôr
remettida. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 139.)
Art. 8 5 6 . E m v i r t u d e d o c o n t r a c t o d e u n i ã o , os c r e d o r e s presentes
nomearão d ' e n l r e si u m , d o u s ou mais administradores para admi-
nistrarem a casa fallida, concedendo-lhes plenos poderes para
liquidar, arrecadar, pagar, demandar activa e passivamente, e
praticar todos e quaesquer actos que necessários sejão a b e m da
massa, e m juizo e fóra delle.
A nomeação recahirá c o m preferencia e m pessoa q u e seja credor
commerciante, e c u j a d i v i d a se a c h e verificada; e será vencida pela
m a i o r i a de votos dos credores presentes, correndo-se segundo escru-
tínio , no ca«o de se n ã o obter s o b r e os mais votados e m numero
duplo dos a d m i n i s t r a d o r e s q u e se pretenderem nomear; e se neste
igualmente se n ã o obtiver m a i o r i a , recahirá a n o m e a ç ã o nos mais
votados, d e c i d i n d o a sorte e m caso de i g u a l d a d e de votos.
Nome.ando-se mais de u m administrador, obraráõ collectivã-
mente, e a sua responsabilidade é solidaria. ( A r t . 3 0 9 ; Reg. art.
23, § 2 . Decr. 2 5 N o v e m b r o 1 8 5 0 , arts. 1 3 1 , 1Z|0, 1 6 2 , 167.)
Art. 857. O administrador que intentar acção contra amassa,
ou fizer opposioão em juizo ás deliberações tomadas na r e u n i ã o dos
credores, ficará p o r esse f a c t o i n h a b i l i t a d o p a r a c o n t i n u a r n a a d m i -
nistração, e se p r o c e d e r á a nova nomeação.
Art. 858. E permittido aos credores requerer directament© ao
tribunal do commercio a destituição dos administradores , sem
CÓDIGO C O M M E R C I A L 147

necessidade de allegarem causa justificada , c o m t a n t o que a petição


seja assignada pela m a i o r i a dos credores e m quantidade de divida.
Dando-se causa justificada, a destituição pôde ter lugar a requeri-
m e n t o assignado por qualquer credor, e até mesmo ex-o/ficio. (Reg.
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 18 § 10 ; 163.)

CAPITULO II.

Dos administradores, da liquidação e dividendos.

Art. 859. Os administradores, logo que entrarem no exercício


das suas f u n c ç õ e s , e x a m i n a r ã o o balanço que houver sido apresen-
tado pelo fallido ou pelo curador fiscal (art. 817), e farão outro
parecendo-lhes que n ã o está exacto. Reverâõ outrosim a relação
dos credores, cujos títulos lbes s e r ã o entregues n o prazo de oito dias;
e à proporção que os f ô r e m conferindo c o m os l i v r o s e mais papeis
do fallido, poráõ e m cada u m a s e g u i n t e n o t a — Admittido ao passivo
da fallencia de F . por tal quantia:—ou — Não admittido por taes e taes
razões—, segundo entenderem e acharem justo: esta nota será
datada e assignada pelos ditos administradores. (Reg. Decr. 25 No-
vembro 1 8 5 0 , arts. 164 § 3; 174, 176, 179.)
Art. 860. Offerecendo-se contestação sobre a validade de algum
credito ou sobre sua classificação (art. 873), o juiz commissario
ordenará que as partes deduzão perante elle o seu direito, breve
e summariamente, no peremptório termo de cinco dias; findos
os q u a e s , devolverá o processo ao tribunal do c o m m e r c i o : e este,
achando que a causa p ô d e ser d e c i d i d a p e l a v e r d a d e sabida, cons-
tante das allegações e provas, a julgará definitivamente; dando
appellação, se f ô r r e q u e r i d a , p a r a a r e l a ç ã o d o d i s t r i c t o , o u remet-
terâ as partes para os meios ordinários, quando seja necessária
mais alta indagação.
No s e g u n d o c a s o , e s e m p r e q u e n o p r i m e i r o se i n t e r p u z e r recurso,
poderá o tribunal ordenar que os p o r t a d o r e s d o s c r é d i t o s contes-
tados sejão provisionalmente contemplados, como credores simples
ou chirograpbarios, nos dividendos da massa, pela quantia que elle
julgar conveniente fixar (art. 888). (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1850,
arts. 41 § 2 ; 164 § 4; 175, 184.)
As custas do processo , quando a opposição fôr feita por parte
dos administradores e elles decahirem, serão pagas pela massa,
mas s e n d o feita p o r t e r c e i r o , s e r ã o pagas p o r este. (Reg. art. 7 <§ 1 . )
Art. 861. Constando pelos livros e assentos do fallido, ou por
algum documento attendivel, que existem credores ausentes, o
tribunal do commercio decidirá, sobre r e p r e s e n t a ç ã o dos adminis-
tradores e informação do j u i z c o m m i s s a r i o , se devem ser provisio-
nalmente c o n t e m p l a d o s nas r e p a r t i ç õ e s da massa, e p o r q u e quantia
(art. 8 8 6 ) . ( A r t . 8 8 8 . Reg. Decr. 2 5 Novembro I850,or<5. 41 § 2; 175.)
Art. 862. Os administradores da quebra , sem necessidade de
outro a l g u m tilulo mais que a acta do contracto da união, e inde-
pendente da audiência do fallido, procederão á venda de todos os
148 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

seus bens, effeitos e mercadorias, qualquer que seja a sua espécie


e a liquidação das suas d i v i d a s activas e passivas. A venda será feita
cm leilão publico, precedendo autorisação do juiz commissario e
com as s o l e m n i d a d e s d a l e i . (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 140.)
Art. 863. N e m o juiz c o m m i s s a r i o e seu e s c r i v ã o , riem os admi-
nistradores e o curador fiscal poderáõ comprar para si o u para
outrem bens alguns da massa; pena de p e r d i m e n t o da cousa e do
preço a beneficio do acervo c o m m u m .
Art. 864. É permittido aos administradores vender as dividas
activas da massa que fôrem de difíicil liquidação ou cobrança, e
entrar a respeito dellas em qualquer transacção ou convênio que
lhes p a r e ç a útil para o fim dc apressar-se a liquidação, comtanlo
porém que preceda assentamento dos credores e a u t o r i s a ç ã o do juiz
commissario. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 167.)
Art. 865. Os a d m i n i s t r a d o r e s poderáõ chamar para o serviço da
administração e liquidação d a m a s s a os g u a r d a - l i v r o s , caixeiros e
mais empregados que possão ser necessários (art. 840). (Reg. Decr.
2 5 Novembro 1 8 5 0 . art. 167.)
A r t . 8 6 6 . T o d a s as q u a n t i a s r e c e b i d a s s e r ã o arrecadadas e m caixa
de duas chaveí, u m a das q u a e s se c o n s e r v a r á sempre n o p o d e r <io
juiz commissario e outra na m ã o de u m dos administradores; salvo
o caso e m q u e os c r e d o r e s se a c c o r d a r e m e m serem depositadas e m
algum banco commercial ou deposito publico.
Art. 867. Os a d m i n i s t r a d o r e s a p r e s e n t a r ã o ao juiz commissario
de mez a m e z u m a conta exacta doestado da f a l l e n c i a e das quantias
em c&ixa ; e o juiz m a n d a r á proceder á repartição ou dividendo
toda vez que o rateio possa chegar a cinco por cento. As quantias
pagas serão notadas nos respectivos créditos ou títulos, e lançadas
em u m a folha q u e os c r e d o r e s a s s i g n a r á õ . O saldo a favor da massa
determinará o ultimo rateio. ( R f g . Decr. 2 5 Novembro 1850 , arts.
167, 169, 180.)
Art. 868. Ultimada a liquidação, o juiz c o m m i s s a r i o convocará
os credores para que reunidos assistão à prestação das contas dos
administradores, cujas funeções acabaráõ l o g o q u e as t e n h ã o pres-
tado. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 170, 181.)
Art. 869. Se acontecer que, pagos i n t e g r a l m e n t e t o d o s os cre-
dores, fiquem sobras, serão estas r e s t i t u i d a s ao f a l l i d o ou atsseus
herdeiros e suecessores: e quando estes n ã o appareção, sendo
c h a m a d o s p o r e d i t a e s c a n n u n c i o s r e p e t i d o s tres vezes n o s periódicos
com iníei vallo de tres dias, s e r ã o mettidas e m deposito publico por
contada *;uem pertencer. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 41 § 2.)
A r t . 8 7 0 . Se os b e n s nao chegarem para integral pagamento dos
credores, na mesma reunião de que trata o artigo 868, proporá o
juiz c o m m i s s a r i o se deve ou não dar-se quitação plena ao fallido.
Se dous terços dos credores e m numero , que representem dous
terços das dividas dos créditos por solver , c o n c o r d a r e m c m a dar,
a quitação é obrigatória m e s m o a respeito dos credores dissidentes :
eo fallido ficará p o r este a c t o desobrigado de qualquer responsabi-
l i d a d e p a r a o f u t u r o . (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 41 § 2; 172.)
CÓDIGO COMMERCIAL 149

Art. 871. Torna-se porém de nenhum eíFeilo a quitação, se,


dentro de tres annos immediatamente seguintes, se p r o v a r q u e o
fallido fizera a l g u m ajuste ou trato occulto c o m a l g u m credor para
o induzir a assignar a quitação c o m promessa ou prestação real de
algum v a l o r . E neste caso, t a n t o o fallido c o m o a pessoa o u pessoas
com quem elle se conluiasse poderáõ ser processados criminal-
m e n l e como incursos e m estellionato.
Art. 872. Os bens que o fallido possa vir a a d q u i r i r de futuro
quando os credores lhe n ã o passem quitação ficão sujeitos às
dividas c o n t r a h i d a s a n t e r i o r m e n t e ao seu fallimento.

TITULO IV.

DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE CRÉDITOS E SUAS GRADUAÇÕES.

Art. 873. Os credores do fallido serão descriptos em quatro rela-


ções distinctas, segundo a natureza dos seus titulos : na primeira
serão lançados os credores de domínio; na segunda os credores
privilegiados; na terceira os credores com hypotheca; e na quarta
os c r e d o r e s simples ou c h i r o g r a p h a r i o s . [Arts. 8 4 5 , 8 6 0 ; Reg. Decr.
2 5 Novembro 1850,arts. 174, 177.)
Art. 874. Pertencem á classe de credores do domínio (Arts 830,
852, 881):
I. Os credores de bens que o fallido possuir por titulo de de-
posito, penhor, administração, arrendamento, aluguel, c o m -
modato ou usufructo.
II. Os credores de mercadorias em commissão de c o m p r a ou
venda, transito ou entrega. ( A r t . 584 )
Ilí. Os credores de letras de c a m b i o , o u o u t r o s q u a e s q u e r titulos
commerciaes endossados sem transferencia da propriedade (art.
361 n. 0
3).
IV. Os credores de remessas feitas ao fallido para u m fim de-
terminado.
V. O fillio-familias, pelos bens castrenses e adventicios, o
herdeiro e o legutario pelos bens da h e r a n ç a o u legado, e o tutelado
pelos bens da tutoria ou curadoria.
VI. A mulher casada: 1.°, pelos bens dotaes, e pelos para-
pharnaes que possuísse antes do consórcio, se os respectivos t i -
tulos se acharem lançados no registro do commercio dentro de
quinze dias subsequentes á celebração do matrimônio (art. 31):
2.°, pelos bens adquiridos na constância do consórcio por titulo
de doação, herança ou legado, com a cláusula de não entrarem
na c o m m u n h ã o , uma v e z q u e se p r o v e p o r d o c u m e n t o competente
que taes bens entrarão effectivamente no poder do marido, e os
respectivos titulos e documentos tenhão sido inscriptos no re-
gistro do c o m m e r c i o d e n t r o de q u i n z e dia3 s u b s e q u e n t e s ao do re-
c e b i m e n t o ( a r t . 3 1 ) . (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 58 § 2.)
VII. O dono da cousa furtada existente em espécie.
150 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

VIII. O vendedor antes da entrega da c o u s a v e n d i d a , se a venda


não fôr a credito (art. 1 9 8 ) . (Reg. art. 620 § 8.)
Art. 875. O deposito de g ê n e r o sem designação da espécie , e o
dinheiro que vencer juros, n ã o entrão na classe de créditos do
dominio: desta natureza são t a m b é m as sommas entregues a ban-
queifos para serem retiradas á vontade, venção ou n ã o juros.
Art. 876. S ã o credores privilegiados aquelles cujos créditos pro-
cederem de a l g u m a das causas seguintes ( A r t . 8 8 4 . Reg. art. 621):
I. Despezas f u n e r á r i a s feitas sem luxo e c o m relação á qualidade
social do fallido, e aquellas a que déra lugar a doença de que
fallecêra.
I I . Despezas e custas da administração da casafallida, tendo
sido feitas c o m a devida a u t o r i s a ç ã o (arts. 833 e 8 4 1 ) .
III. Salários ou soldadas de feitores, guarda-livros, caixeiros,
agentes e domésticos do fallido, vencidas no anno immediatamente
anterior á data da declaração da quebra (art. 806).
IV. Soldadas das gentes de m a r que n ã o estiverem prescriptas
(art. 449 n.°4).
V. Hypotheca tácita especial.
VI. Hypotheca tácita geral.
Art. 877. T e m o credor hypotheca tácita especial:
I. Nos moveis que se a c h a r e m dentro da casa, para pagamento
dos alugueis vencidos, e nos fructos pendentes, a respeito da
renda o u f ô r o dos prédios rústicos.
II. Nas b e m f e i t o r i a s o u n o seu valor, pelos materiaes e jornaes
dos o p e r á r i o s empregados nas m e s m a s bemfeitorias.
I I I . O credor pignoraticio, na cousa dada e m penhor.
IV. Na cousa salvada, o que a salvou pelas despezas c o m que
a fez salvar (art. 738).
V. Na embarcação e fretes da ultima viagem, a tripolação do
navio (art. 564).
VI. N o n a v i o , os q u e c o n c o r r ê r a o c o m d i n h e i r o p a r a a sua c o m -
pra, concerto, aprestos o u provisões ( a r t . 4 7 5 ) . (Reg. art. 621.)
VII. Nas fazendas carregadas, o aluguel ou f r e t e , as despezas
e avaria grossa (arts. 117, 626 e 627).
VIII. No objecto sobre que recahio o empréstimo m a r í t i m o , o
dador do d i n h e i r o a risco (arts. 633 e 6 6 2 ) .
IX. N o s m a i s casos c o m p r e h e n d i d o s e m diversas d i s p o s i ç õ e s deste
C ó d i g o (arts. 108, 156, 189, 537, 565 e 632.) (Reg. art. 621.)
Art. 8 7 8 . T e m h y p o t h e c a t á c i t a g e r a l e m t o d o s os b e n s d o f a l l i d o :
(Reg. art. 621.)
I. O credor por alcance de contas de curadoria ou tutoria que
o f a l l i d o tivesse exercido.
I I . O credor por herança ou legado.
III. O credor que presta alimentos ao fallido e suafamilia, ou
de o r d e m do fallido, nos seis m e z e s a n t e r i o r e s á quebra (art. 806).
Art. 879. S ã o credores hypothecarios aquelles que tem os seus
créditos garantidos por hypotheca especial (art. 266). ( A r t . 852.)
T o d o s os m a i s s ã o c r e d o r e s simples ou chirographarios.
CÓDIGO COMMERCIAL 151

T I T U L O V .

DAS PREFERENCIAS E DISTRIBUIÇÕES.

Art. 880. Os credores preferem uns aos outros pela ordem em


que ficão classificados, e na mesma classe p r e f e r e m p e l a ordem da
sua enumeração. (Ari. 8 2 9 . Reg. art. 624.)
Art. 881. Não se offerecendo duvida sobre os credores de do*
minio (art. 8 7 4 ) , n e m sobre os p r i v i l e g i a d o s ( a r t . 8 7 6 ) , o j u i z c o m -
missario poderá mandar entregar logo a cousa aos primeiros, e aos
segundos a importância reclamada.
A cousa será entregue na mesma espécie e m que houver sido re-
cebida , ou naquella e m que exislir tendo sido subrogada : na falta
da espécie, será pago o s e u v a l o r . [Reg. art. 625; Decr. 25 Novembro
1850, art. 41 § 2; 167.)
Art. 8S2. Os p r i v i l e g i a d o s e n u m e r a d o s no artigo 876 e m 1.°, 2 . ° ,
3.° e 4«° l u g a r s e r ã o p a g o s p e l a m a s s a , os d a 5. a
espécie só podem
ser p a g o s p e l o p r o d u c t o dos bens em que tiverem hypotheca tácita
especial, e até onde esta chegar sómente, os d a 6." e s p é c i e serão
embolsados pela massa depois de pagos os privilegiados que os
preferirem; procedendo-se a r a t e i o e n t r e os ú l t i m o s , dada a igual-
dade de direitos, e n ã o havendo bens que bastem. (Reg. art. 626 )
Art. 883. Os administradores podem remir os p e n h o r e s a bene-
ficio da m a s s a ; e n ã o sendo possivel r e m i r e m - s e , o juiz commissario
fará citar o* credores pignoraticios para os trazerem a leilão. A
sobra, havendo-a, entrará na massa; mas se, pelo c o n t r a r i o , n ã o
bastar o seu producto, a ditTerença entrará e m rateio entre os cre-
dores p i g n o r a t i c i o s e os chirographarios.
Art. 884. Concorrendo dous ou mais credores c o m hypotheca
especial sobre a mesma cousa, preferem entre si pela ordem se-
guinte ( A r t . 270):
I. O que á hypotheca especial reunir o privilegio de hypotheca
tácita especial ou geral por algum dos titulos especificados no
artigo 877.
II. O que f ô r mais antigo na prioridade do registro da hypotheca.
(Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 67.)
Art. 885. Apparecendo duas hypothecas registradas na mesma
data, prevalecerá aquella que tiver declarada no instrumento a
hora e m que a escriptura se l a v r o u . S e a m b a s h o u v e r e m sido apre-
sentadas para o registro s i m u l t a n e a m e n t e , os portadores dos ins-
trumentos entrarão em rateio entre si. ( A r t . 270.)
Art. 886. Os credores hypothecarios a respeito dos q u a e s se n ã o
der contestação, ou que tenhão obtido sentença , serão embolsados
pelo producto da venda dos bens hypothecados: a sobra, haven-
do-a, entra na massa; e pela falta ou differença concorrem e m
r a t e i o c o m os c r e d o r e s c h i r o g r a p h a r i o s . ( A r t . 8 6 1 . )
Art. 887. Quando acontecer que o credor hypothecario nada re-
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

ceba dos bens hypothecados por serem absorvidos por outro que
deva preferir na m e s m a hypotheca, entrará no rateio como credor
chirographario. (Reg. art. 630.)
Art. 888. Se a n t e s de l i q u i d a d o d e f i n i t i v a m e n t e o d i r e i t o d e pre-
f e r e n c i a d e a l g u m c r e d o r p r i v i l e g i a d o o u h y p o t h e c a r i o , se proceder
a algum rateio, será contemplado na qualidade de credor chiro-
graphario; e a quota que lhe pertencer ficará e m reserva na
caixa, para ter o destino que pela decisão final do processo deva
dar-se-lhe. O mesmo se p r a t i c a r á a respeito de outro qualquer cre-
dor mandado contemplar p r o v i s i o n a l m e n t e nos rateios o u repar-
tições (arts. 8 6 0 e 8 6 1 ) . ( A r t . 847.)
Art. 889. Os credores que tiverem garantia por fianças serão
contemplados na massa geral dos credores chirographarios, de-
duzindo-se as quantias que tiverem recebido do f i a d o r : e este será
considerado na massa por tudo quanto tiver pago e m descarga do
f a l l i d o ( a r t . 2 6 0 ) . (Reg. art. 631.)
Art. 890. Os credores da quarta classe t e m todos direitos iguaes
para serem pagos e m rateio pelos remanescentes q u e ficarem depois
d e s a t i s f e i t o s os c r e d o r e s das outras classes.
Art. 891. N e n h u m credor chirographario que se a p r e s e n t a r ha-
bilitado com sentença simplesmente de preceito obtida anterior-
mente á declaração da quebra, t e m direito para ser contemplado
nos rateios.
Art. 892. O credor portador de titulo garantido solidariamente
pelo fallido e outros coobrigados t a m b é m fallidos, será admittido
a representar e m t o d a s as m a s s a s p e l o v a l o r n o m i n a l d o s e u c r e d i t o ;
e participará das repartições que nellas se fizerem a t é seu inteiro
pagamento ( a r t . 3 9 1 ) . (Reg. Dec. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 187.)

TITULO tf:

DA REHABILITAÇÃO DOS FALLIDOS.

Ar. 893. O fallido que tiver obtido quitação plena de seus cre-
dores pôde pedir a sua rehabilitação perante o tribunal do c o m -
mercio que declarou a quebra. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1850, art.
182.)
Art. 89/j. A petição deve ser instruída c o m a quitação dos cre-
dores e certidão do cumprimento da p e n a , n o caso de lhe ter sido
imposta. Se a quebra comtudo houver sido julgada c o m culpa,
está no arbítrio do t r i b u n a l , procedendo ás averiguações que julgar
convenientes, conceder ou n e g a r a rehabilitação,* ( T i t . un. art.
10, Reg. Decr. 25 Novembro 1 8 5 0 , art. 41 § 2.)
Art. 895. O fallido de quebra fraudulenta n ã o pôde nunca ser
r e h a b i l i t a d o . (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 182.)
Art. 896. Da sentença de concessão ou denegação de rehabili-
tação n ã o ha recurso. Todavia póderá reformar-se a sentença que
a houver negado no fim de seis m e z e s , apresentando a parte novos
CÓDIGO COMMERCIAL 153

documentos que abonem a sua regularidade de conducta. (Reg.


Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 41 § 2 ; 182.)
Art. 897. Rehabilitado o fallido por sentença do tribunal com-
petente, c e s s ã o t o d a s as interdicções legaes p r o d u z i d a s por effeito
da declaração da quebra.

TITULO VIL

DAS MORATÓRIAS (*).

Art. 898. Só pôde obter moratória o commerciante que provar


que a sua impossibilidade de satisfazer de p r o m p t o as obrigações

(*) AVISO DE 8 DE JULHO DE 1851, AO JUIZ MUNICIPAL DA SEGUNDA VARA DA CORTE.


Declara que o Código Commercial não concede o favor dasmoratorias aos negociantes
não matriculados em alguns dos tribunaes do commercio do Império.
3 . " Secção.—Ministério dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a . — R i o de J a n e i r o , e m 8 de
J u l h o de 1 8 5 1 .
Foi presente o ofíicio q u e V m . d i r i g i o , e m d a t a d e 2 6 d o passado , a esta
secretaria de estado, e n o q u a l , fundando-se n o art. 185 do regulamento n .
738 de 25 de N o v e m b r o do anno passado, d á c o m o m o t i v o de n ã o haver
p r o c e d i d o á a b e r t u r a d a f a l l e n c i a d a casa c o m m e r c i a l n ã o m a t r i c u l a d a Hobkirk
W e e t m a n & C . o n ã o haver ella apresentado d e c l a r a ç ã o de f a l l e n c i a e m f ô r m a ,
a

n e m a p p a r e c i d o , p a r a esse fim, r e q u e r i m e n t o a l g u m d e c r e d o r , e n t r e t a n t o q u e
Vm. reconhece haverem requerido a esse j u i z o uma moratória fundada em
cessação de pagamentos ; mas u m t a l r e q u e r i m e n t o constitue u m a d e c l a r a ç ã o
d o e s t a d o d e i n s o l v e n c i a , p e l a m a n e i r a m a i s f o r m a l q u e se p o d e r i a e x i g i r , e d e -
veria V m . ter-s'í delia servido para proceder ás diligencias que lhe i n c u m b e m
os a r t s . 1 8 5 e 1 8 6 d o c i t a d o r e g u l a m e n t o , e a d m i t t i r ao d e p o i s o processo da
concordata e contracto de u n i ã o , que, segundo o art. 848 do C ó d i g o Commer-
c i a l , e 1 8 7 d o r e g u l a m e n t o , n ã o p o d e r i ã o ter t i d o l u g a r s e m q u e tivessem sido
p r e v i a m e n t e p r a t i c a d a s essas d i l i g e n c i a s e a i n s t r u c ç ã o d a f a l l e n c i a , q u e i n t e r e s s a
não s ó aos c r e d o r e s , mas a t é á justiça publica , cuja acção delia dependa.
{Código C o m m e r c i a l , art. 820, regulamento, art. 188.)
Em vista d o e x p o s t o , j á V m . t e r á r e c o n h e c i d o q u a l a s o l u ç ã o da d u v i d a q u e
p r o p õ e sobre a c o n c e s s ã o e j u l g a m e n t o da m a t é r i a , cuja p e l i ç ã o jamais deveria
ter a d m i t t i d o , e m vista d a expressa d i s p o s i ç ã o d o a r t . 1 8 7 d o regulamento,
pois euumerando e l l e as d i s p o s i ç õ e s d o C ó d i g o C o m m e r c i a l q u e s ã o a p p i i c a v e i s
aos c j m m e r c i a n t e s n ã o m a t r i c u l a d o s , d e i x o u d e m e n c i o n a r as m o r a t ó r i a s , e,
p e l o c o n t r a r i o , f a z e n d o r e m i s s ã o a o C ó d i g o C o m m e r c i a l , c i t a os a r t s . 8 4 2 a 8 9 2 ,
e V m . t e r á v i s t o q u e d a s m o r a t ó r i a s t r a t ã o os a r l s . 8 9 8 e s e g u i n t e s : n e m p o d e r i a
o r e g u l a m e n t o o u t r a cousa d i s p o r e m vista dos arts. 9 0 8 e 9 0 9 d o C ó d i g o .
E', a l é m d i s s o , p r i n c i p i o c o r r e n t e q u e as m o r a t ó r i a s c o n s t i t u e m u m l a v o r ;
e a p r o t e c ç ã o q u e o C ó d i g o l i b e r a l i s a ao c o m m e r c i o n ã o aproveita aos q u e se
n ã o t e m m a t r i c u l a d o e m a l g u m dos t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o , c o m o é expresso
n o art. 40 d o mesmo C ó d i g o .
F i q u e , p o r t a n t o , V m . n a i n t e l l i g e n c i a d e q u e , e m vez de a d m i t l i r a c o n v o c a -
ç ã o d e c r e d o r e s , p a r a a c o n c e s s ã o d a m o r a t ó r i a , d e v e r i a l e r c o n s i d e r a d o os
r e q u e r i m e n t o s p a r a esse fim a p r e s e n t a d o s c o m o d e c l a r a ç ã o d e i n s o l v e n c i a , e
base p a r a p r o c e d e r d e c o n f o r m i d a d e c o m o a r t . 1 8 5 d o r e s p e c t i v o regulamento.
D e o s g u a r d e a V m . — Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.—Sr. juiz
m u n i c i p a l da 2.* vara da corte.
154 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

contrahidas procede de accidentes extraordinários imprevistos ou


de força maior (art. 799), e que ao mesmo tempo verificar por
u m balanço exacto e documentado que t e m f u n d o s bastantes para
pagar integralmente a todos os seus credores, mediante alguma
espera.
Art. 899. O tribunal do c o m m e r c i o do districto do impetrante,
quando o r e q u e r i m e n t o se a c h e n o s casos previstos n o artigo ante-
cedente, poderá expedir immediatamente u m a ordem para sustar
todos os procedimentos executivos pendentes, ou que de futuro
c o n t r a e l l e se i n t e n t e m , até que d e f i n i t i v a m e n t e se determine a
moratória. E quer esta ordem se expeça, quer n ã o , o tribunal
n o m e a r á logo dous dos credores do impetrante, que lhe pareção
mais idôneos, para verificarem a exactidão do balanço apresentado
â vista dos livros e papeis, que o mesmo impetrante deve facultar-lhes
n o seu escriptorio, e c o m a nomeação m a n d a r á ao juiz de direito
do commercio a que pertencer que chame á sua presença, e m
dia certo e improrogavel, a t o d o s os seus c r e d o r e s que existirem
no districto de sua jurisdicção para responderem á moratória; de-
vendo o chamamento fazer-se por cartas do escrivão, e por editaes
ou annuncios nos periódicos. ( T i t . un. art. 1 7 ; Reg. art. 21 § 9 ;
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 41 § 2.)
Art. 900. Reunidos os credores no dia assignado, que n ã o será
nem menos de dez n e m mais de vinte do e m que a o r d e m do tri-
bunal tiver sido apresentada ao juiz e lida a informação dos cre-
dores syndicantes, que lh'a deveráõ remetter c o m anticipação, serão
os mesmos credores e o impetrante ouvidos verbalmente p o r si ou
seus p r o c u r a d o r e s : e reduzidas a termo a contestação e a resposta ,
tudo e m acto successivo, o juiz devolverá t o d o s os p a p e i s c o m o
seu parecer ao tribunal.
O tribunal, ouvido o fiscal, concederá ou negará a moratória
como julgar acertado; podendo, antes da decisão final, mandar
proceder a qualquer exame ou diligencia que entender necessária
para mais cabal conhecimento do verdadeiro estado do negocio;
sendo necessário para a concessão que nella convenha a maioria
dos credores e m n u m e r o , e que ao m e s m o tempo represente dous
terços da t o t a l i d a d e das dividas dos credores s u j e i t o s aos effeitos da
moratória. (Reg. art. 21 § 9; Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. l\l § 2.)
Art. 901. N ã o pôde e m caso a l g u m conceder-se moratória por
maior espaço que o de tres annos.
O e s p a ç o conta-se do dia da c o n c e s s ã o da moratória.
Art. 902. Concedida a moratória, o tribunal n o m e a r á dons dos
credores do induciado para que fiscalisem a sua conducta durante
a mesma moratória: e esta será revogada a requerimento dos fis-
caes, o u ainda de a l g u m o u t r o credor, sempre q u e se p r o v a r , o u que
o impetrante procede de m á fé e e m p r e j u í z o dos credores, ou que
o estado d o s s e u s n e g ó c i o s se acha de tal sorte deteriorado, mesmo
sem culpa sua, que o activo n ã o bastará para solver integralmente
as d i v i d a s passivas.
Nestes casos o tribunal, revogada a moratória, procederá i m m e -
CÓDIGO COMMERCIAL 155

diatamente a declarar a fallencia, continuando nos m a i s actos u l -


teriores e conseqüentes.
Art. 903. O effeito da moratória é suspender toda e qualquer
execução, e sustar a o b r i g a ç ã o do pagamento das d i v i d a s puramente
pessoaes do induciado; mas a moratória n ã o suspende o anda-
mento ordinário dos litígios intentados ou que de n o v o se inten-
tem; salvo q u a n t o á sua execução.
A moratória não comprehende as a c ç õ e s ou execuções intenta-
das antes o u depois da sua concessão, que procederem de créditos
do d o m í n i o , privilegiados ou hypothecarios, nem a p r o v e i t a aos co-
obrigados ou fiadores do devedor. (Reg. art. 5 7 7 , § 3.)
Art. 904- O devedor que obtiver moratória n ã o pôde alhear,
n e m gravar de maneira a l g u m a seus bens de r a i z , moveis ou se-
moventes, sem assistência ou autorisação dos credores fiscaes. A
contravenção a este preceito não só annulla o acto, mas pôde
determinar a revogação da moratória, se a s s i m p a r e c e r ã o tribunal,
á vista da gravidade do caso.
Art. 905. A moratória e m que deixar de cumprir-se alguma
das formalidades prescriptas neste Código, a todo o tempo pôde
ser annullada.
Art. 906. Da sentença do tribunal do commercio que negar mo-
ratória , só ha recurso de embargos pela fôrma determinada no
artigo 851 : haverá porém o de appellação para a relação do dis-
tricto nos casos de concessão, no effeito devolutivo s ó m e n t e . (Reg'
Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 1 § 2 ; arts. 77, 99.)

TITULO VIII.

DISPOSIÇÕES GERAES.

Art. 907. Das decisões do juiz commissario , haverá recurso de


aggravo para o tribunal do c o m m e r c i o , devendo ser interposto no
peremptório termo de cinco dias, e decidido no primeiro dia de
sessão do m e s m o tribunal depois da sua interposição, (Reg. Decr.
2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 18 § 15; 99,184.)
Art. 908. As d i s p o s i ç õ e s deste Código relativamente ás fallencias
ou quebras são appiicaveis sómente ao devedor que fôr commer-
c i a n t e m a t r i c u l a d o . (Reg. art. 15.)
Art. 909. Todavia na arrecadação, administração e distribuição
dos bens dos negociantes que n ã o fôrem matriculados, nos casos
d e f a l l e n c i a , se guardará no juizo ordinário quanto se a c h a deter-
minado pelo presente Código para as quebras dos commerciantes
matriculados, na parte q u e f ô r a p p l i c a v e l . (Reg. art. 15, 16.)
Art. 910. Os direitos e responsabilidades civis dos credores falli-
dos passão para seus herdeiros e suecessores até onde chegarem
os b e n s d a q u e l l e s , e n ã o m a i s .
Art. 911. Os menores herdeiros dos fallidos, sendo legalmente
r e p r e s e n t a d o s p o r seus tutores o u curadores, n ã o g o z ã o de privilegio
156 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

algum nos casos de quebra, e a respeito delles t e m applicação o


disposto n o a r t i g o 3 5 3 . (Reg. arts. 594, § 2; 679.)
Art. 912. O presente Código só principiará a obrigar e ter exe-
c u ç ã o seis mezes depois da data da sua publicação na côrte. (Reg.
art. 741.)
Art. 913. A contar da referida época e m diante ficão derogadas
todas as leis e disposições de direito relativas a m a t é r i a s de com-
mercio , e todas as m a i s q u e se o p p u z e r e m à s disposições do pre-
sente Código.

DA ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA NOS NEGÓCIOS E CAUSAS


COMMERCIAES.

CAPITULO I.

Dos Tribunaes e Juizo Commerciaes.

SECÇÃO I.

Dos Tribunaes do Commercio.

Art. 1. Haverá tribunaes do commercio na capital do Império,


nas capitães das províncias da Bahia e P e r n a m b u c o , e nas provín-
cia onde p a r a o f u t u r o se c r e a r e m , t e n d o cada u m por districto o
da respectiva província.
Nas províncias onde n ã o h o u v e r t r i b u n a l d o c o m m e r c i o , as suas
attribuições serão exercidas pelas relações; e na falta destas, na
parte a d m i n i s t r a t i v a , pelas autoridades a d m i n i s t r a t i v a s , e na parte
judiciaria , pelas autoridades judiciarias que o governo designar
(art. 2 7 ) . (Reg. art. 8 . Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 72 , 89.)
Art. 2. O tribunal do commercio da capital do Império será
c o m p o s t o de u m presidente l e t r a d o , seis d e p u t a d o s commerciantes ,
servindo u m de secretario, e tres supplentes t a m b é m c o m m e r -
ciantes; e terá por adjunto u m fiscal, que será sempre u m desem-
bargador c o m exercício eífectivo na relação do Rio de Janeiro.
Os tribunaes das províncias serão compostos de u m presidente
letrado, quatro deputados commerciantes, servindo u m de se-
cretario, e dous supplentes t a m b é m commerciantes; e terão por
adjunto u m fi«cal, que será sempre u m desembargador c o m exer-
cício eífectivo na relação da respectiva província.
Art. 3. Os presidentes e os fiscaes são da nomeação do I m -
perador, podendo ser removidos sempre que o b e m do serviço o
exigir.
Os deputados e os supplente3 serão eleitos por eleitores c o m -
merciantes.
CÓDIGO COMMERCIAL 157

Art. [[. Os deputados commerciantes e os supplentes serviráõ


por quatro annos, renovando-se aquelles por metade de dons e m
dous annos.
Na primeira renovação recahirá a exclusão nos menos votados;
decidindo a sorte e m igualdade devotos.
Nos casos de vaga do logar de deputado ou supplente c o m -
merciante, proceder-se-ha a nova eleição; mas o novo eleito
servirá sómente pelo t e m p o q u e faltava ao s u b s t i t u í d o . (Reg. Decr.
5 Setembro 1 8 5 0 . art. 1.)
Art. 5. N e n h u m commerciante poderá eximir-se do serviço de
deputado ou supplente dos tribunaes do c o m m e r c i o ; excepto nos
casos de idade avançada ou moléstia grave e continuada que
absolutamente o impossibilite. Os que sem justa causa não acei-
tarem a nomeação nunca mais poderáõ ter voto activo n e m
passivo nas eleições commerciaes.
Não é porém obrigatória a aceitação antes de passados quatro
annos de intervallo entre o serviço da a n t e c e d e n t e e nova nomeação.
Art. 6. Não poderáõ servir c o n j u n c t a m e n t e no mesmo tribunal
os p a r e n t e s dentro do segundo gráo de aíiioidade emquanto durar
o cunhadio, ou do q u a r t o de consangüinidade, nem t a m b é m dous
ou mais deputados commerciantes que t e n h ã o sociedade entre si.
Art. 7. E m cada tribunal do commercio haverá u m secretaria
com u m official maior, e os escripturarios e mais empregados
que necessários sejão para o expediente dos negócios.
A primeira nomeação do official m a i o r , escripturarios e mais
empregados será feita pelo Imperador, tendo preferencia os que
actualmente servem no tribunal da junta do commercio, se t i -
verem a precisa idoneidade. As subsequentes nomeações e de-
missões dos oííiciaes maiores, escripturarios e porteiros terão lugar
por consulta dos respectivos tribunaes: aos quaes fica pertencendo
no futuro a livre nomeação e demissão de todos os m a i s empre-
pregados e a g e n t e s s u b a l t e r n o ! . (Reg. 3
Decr. 2 5 Novembro 1850, arts.
43, 81.)
Art. 8. Aos tribunaes do commercio competirá, além das at-
tribuições expressamente declaradas no Código C o m m e r c i a l , aquella
jurisdicção voluntária, inherente á natureza da sua instituição , que
fôr marcada nos regulamentos do poder executivo (art. 27). ( A r t .
WlwReg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 1 1 , 22, 26, 31 § 4 . )
Art. 9. Ao tribunal do commercio da capital do Império é es-
pecialmente encarregada a estatística annual do c o m m e r c i o , agri-
cultura, industria e navegação do Império; e para a sua orga-
nisação se entenderá com os tribunaes das províncias, e ainda
com outras autoridades, que serão obrigados a cumprir as suas
requisições. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 21.)
Art. 10. Os negócios de mero expediente poderáõ ser despa-
chados por tres membros do tribunal, sendo u m delles o presi-
dente. T o d o s os o u t r o s o s e r ã o p o r m e t a d e e mais u m dos membros
que o compuzerem, comprehendido o presidente. Exceptuão-se
unicamente os casos de que tratão os artigos 806 , 820 e 894 do
158 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Código Commercial, para a d e c i s ã o dos quaes é indispensável que


o t r i b u n a l se ache completo. E m todos os casos a maioria absoluta
dos votos determina o vencimento. (Reg. Decr. 3 5 Novembro 1850,
art. 16.)
Art. 1 1 . H a v e r á nas secretarias dos t r i b u n a e s do commercio u m
registro publico do commercio, no qual, e m livros competentes,
rubricados pelo presidente do tribunal, se inscreverá a matricula
dos commerciantes (Cod. Commerc. art. Zi), e todos os papeis,
que, segundo as disposições do Código C o m m e r c i a l , nelle devão
ser registrados (Cod. Commerc. art. 10 n.° 2.) (Reg. Decr. 25 No-
vembro 1 8 5 0 , arts. 56, 58 § 1.)
Art. 12. Os presidentes dos tribunaes do commercio das pro-
víncias são obrigados a f o r m a r annualmente relatórios dos negócios
que perante os mesmos tribunaes se apresentarem, c o m as de-
cisões que se t o m a r e m ; e delles remetteráõ copia ao presidente
do tribunal da capital do Império, c o m as observações que jul-
garem convenientes. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1850, arts. 31 § 1 1 ;
33, 80.)
Art. 13. O presidente do tribunal do commercio da capital do
Império , formando pela sua parte igual relatório, os l e v a r á todos
ao c o n h e c i m e n t o do governo, acompanhados das suas observações,
para este p r o v i d e n c i a r c o m o achar conveniente na parte que couber
nas suas attribuições, e propor ao p o d e r l e g i s l a t i v o as disposições
que dependerem de medidas l e g i s l a t i v a s . (Reg. Decr. 25 Novembro
1850, art. 32.)

SECÇÃO I I ,

Da eleição dos deputados commerciantes.

Art. lZj. Podem votar e ser votados nos collegios commerciaes


todos os commerciantes (art. U) estabelecidos no districto onde
tiver lugar a eleição que fôrem cidadãos b r a s i l e i r o s e se acharem
no livre exercício dos seus direitos civis e políticos, ainda que
tenhão deixado de fazer profissão h a b i t u a l do commercio.
Na primeira eleição, n ã o havendo, pelo menos, vinte c o m -
merciantes matriculados no tribunal da junta do commercio para
formar o collegio commercial, serão admittidos a votar e ser
votados os negociantes que tiverem ou se p r e s u m i r terem u m ca-
pital de quarenta contos.
Ficão porém excluídos de votar e ser votados aquelles com-
merciantes que e m algum tempo forão convencidos de perjúrio,
falsidade ou quebra com culpa ou fraudulenta, posto que tenhão
cumprido as sentenças que os c o n d e m n à r ã o ou se achem reha-
bilitados. (Reg. Decr. 5 Setembro 1850, art. 3, Zj, 5.)
Art. 15. N e n h u m commerciante pôde ser deputado ou sup-
plente, antes de trinta annos completos de i d a d e , e sem que tenha
pelo menos cinco annos de profissão habitual de commercio. A
nomeação do presidente n ã o poderá recahir e m pessoa q u e tenha
menos da referida idade. (Reg. Decr. 5 Setembro 1850, art. U.)
CÓDIGO C O M M E R C I A L 159

Art. 16. Os tribunaes do commercio designarão a época em que


deverá ter l u g a r a r e u n i ã o do collegio eleitoral dos commerciantes;
e será este p r e s i d i d o p e l o presidente do tribunal. (Reg. Decr. 5 Se-
tembro 1 8 5 0 , art. 6.)
A designação do dia da primeira eleição será feita pelo m i n i s t r o
do I m p é r i o na corte e pelos presidentes nas províncias. (Reg. Decr.
2 5 Novembro 1 8 5 0 , art. 31 g § l e 6 ; Reg. Decr. 5 Setembro 1 8 5 0 , art. 1.)

SECÇÃO jll.

Do juizo commercial.

Art. 17. As attribuições conferidas no Código Commercial aos


juizes de direito do commercio serão exercidas pelas justiças or-
dinárias; ás quaes fica t a m b é m competindo o conhecimento das
causas commerciaes em primeira instância, com recurso para as
relações respectivas; c o m as excepções estabelecidas no Código
Commercial para os casos de quebra. (Reg. art. 6 ; Reg. Decr. 25
Novembro 1 8 5 0 , art. 166.)
Art. 18. Serão reputadas commerciaes todas as causas que
derivarem de direitos e obrigações sujeitos ás disposições do Código
C o m m e r c i a l , c o m t a n t o q u e u m a das partes seja c o m m e r c i a n t e . ( A r t .
2 6 deste tit.; Reg. art. 10.)
Art. 19. S e r ã o t a m b é m julgadas n a c o n f o r m i d a d e das disposições
do Código Commercial, e pela mesma forma de processo, ainda
que n ã o i n t e r v e n h a pessoa commerciante:
I. As q u e s t õ e s entre particulares sobre titulos da divida publica,
e outros quaesquer papeis de credito d o g o v e r n o . (Reg. art. 20, § 1.)
II. As questões de companhias ou sociedades , qualquer que
seja a sua natureza ou objecto. (Reg. art. 20, § 2.)
III. As questões que derivarem de contractos de l o c a ç ã o c o m -
prehendidos nas disposições do titulo 10 do Código Commercial,
com excepção sómente das que fôrem relativas á locação de pré-
d i o s r ú s t i c o s o u u r b a n o * . (Reg. arts. 13, 20, § 3.)
Art. 20. Serão necessariamente decididas por árbitros as ques-
tões e controvérsias a que o Código Commercial dá esta fôrma
de decisão.
Art. 21. Todo o tribunal ou juiz que conhecer de negócios ou
causas do commercio, todo o arbitro ou arbitrador, experto ou
perito que tiver de decidir sobre objectos, actos ou obrigações
commerciaes, é obrigado a fazer applicação da legislação c o m -
mercial aos casos o c e u r r e n t e s . (Reg. art. 1.)

CAPITULO II.

Da ordem do juizo nas causas commerciaes.

Art. 22. Todas as causas commerciaes devem ser processadas,


em t o d o s os j u í z o s e instâncias, breve e summariamente, de plano
1 6 0 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

e pela verdade sabida, sem que seja necessário guardar stricla-


mente todas as fôrmas ordinárias, prescriptas para os processos
civis: sendo unicamente indispensável que se g u a r d e m as f o r m u l a s
e t e r m o s essenciaes para que as partes possão allegar o seu direito
e p r o d u z i r a s s u a s p r o v a s . (Reg. art. 672, g 2.)

Art. 23. N ã o é necessária a conciliação nas causas commerciaes


que procederem de papeis de credito c o m m e r c i a e s q u e se acharem
endossados, nas e m q u e as partes n ã o podem transigir, n e m para
o s a c t o s d e d e c l a r a ç ã o d e q u e b r a . (Reg. arts. 23 g g 1 , 2, 3; 6 7 3 , g 1.)
Art. 24. Nas causas commerciaes s ó se e x i g e q u e seja pessoal a
primeira citação e a que deve fazer-se no principio da execução.
(Reg. arts. 47,'673 g 2 ; 7 04-)

Art. 25. Achando-se o réo fóra do lugar onde a obrigação foi


contrahida, poderá ser citado na pessoa de seus mandatários, ad-
ministradores , feitores ou gerentes, nos casos e m que a acção
derivar de actos praticados pelos m e s m o s mandatários, administra-
dores, feitores ou gerentes. O mesmo terá lugar a respeito das
obrigações contrahidas pelos capitães ou mestres de navio*, con-
signatarios e sobrecargas, n ã o se a c h a n d o presente o principal de-
v e d o r o u o b r i g a d o . (Reg. art. 48.)

Art. 26. N ã o haverá recurso de appellação nas causas c o m m e r -


ciaes (art. 18) c u j o valor n ã o exceder de duzentos milréi*, n e m o
d e r e v i s t a se o valor n ã o exceder de dous c o n t o s d e r é i s . (R"g. arts.
7 § 2 ; 646, 665, 735.)

Art. 27. O governo, além dos r e g u l a m e n t o s e i n s t r u c ç õ e s da sua


competência para a boa execução do Código Commercial, é auto-
risado para, e m u m regulamento adequado, determinar a ordem do
juizo n o processo commercial; e particularmente para a execução
do segundo período d o a r t i g o 1.° e do artigo 8.°, tendo e m vista as
disposições d e s t e t i t u l o e as d o C ó d i g o C o m m e r c i a l ; e o u t r o s i m para
estabelecer as r e g r a s e f o r m a l i d a d e s q u e d e v e m s e g u i r - s e n o s embar-
gos de bens e na detenção pessoal do devedor que deixa de pagar
divida commercial. (Reg. Decr. 2 5 Novembro 1 8 5 0 , arts. 7 2 ; 89.)

Art. 28. Os lugares de presidente, deputado e fiscal dos tribu-


naes do commercio, são empregos honoríficos, e os que os ser-
virem só perceberáõ por este titulo os e m o l u m e n t o s que direita-
m e n t e lhes pertencerem. Recahindo a nomeação de presidente e m
desembargador, este accumulará os dous empregos , mas só per-
ceberá o seu o r d e n a d o se t i v e r e x e r c í c i o e í f e c t i v o n a r e l a ç ã o d o l u g a r
o n d e se a c h a r o tribunal do c o m m e r c i o .

Os demais empregados dos mesmos tribunaes perceberáõ u m a


gratificação arbitrada pelo governo sobre consulta dos respectivos
tribunaes, e paga pela caixa d o s e m o l u m e n t o s . (Reg. Decr. 25 No-
vembro 1 8 5 0 , art. 45.)

Art. 29. O governo estabelecerá a tarifa dos e m o l u m e n t o s que


devem perceber os tribunaes do c o m m e r c i o . T o d a s as multas de-
cretadas no Código Commercial sem opplicação especial entraràõ
CÓDIGO COMMERCIAL 161

para a caixa dos emolumentos dos respectivos tribunaes do com-


mercio (*).
Art. 30. Fica extincto o tribunal da junta do commercio. Os
membros do mesmo tribunal serão aposentados c o m as honras e
prerogativas de que gozavão, e os v e n c i m e n t o s correspondentes ao
seu tempo de serviço.
Os demais empregados do mesmo tribunal, que não puderem
ser a d m i t t i d o s nas secretarias dos tribunaes do c o m m e r c i o , conti-
nuarão a perceber os seus v e n c i m e n t o s p o r i n t e i r o , emquanto não
fôrem novamente empregados.
Mandamos portanto a todas as autoridades a quem o conheci-
mento e execução da referida h i pertencer que a c u m p r â o e
façãocumprir e g u a r d a r t ã o i n t e i r a m e n t e c o m o n e l í a se contém.

(*) M a n d a S u a M a g e s t a d e o I m p e r a d o r p e l a s e c r e t a r i a d e e s t a d o d o s negócios
d a j u s t i ç a , r e m e t t e r á j u n t a d o c o m m e r c i o d a p r o v í n c i a de S. P a u l o , a i n c l u s a
t a b e l i ã assignada pelo o f f i c i a l m a i o r da m e s m a secretaria de estado, marcando
os e m o l u m e n t o s q u e p r o v i s o r i a m e n t e d e v e r á õ ser c o b r a d o s pela secretaria da
r e f e r i d a j u n t a ; a q u a l p o d e r á p r o p o r as m o d i f i c a ç õ e s n a d i t a t a b e l i ã , que a
pratica m o s t r a r serem convenientes.
P a l á c i o d o B i o d e J a n e i r o , e m k d e M a r ç o d e 1 8 5 2 . — Euzebio de Queiroz Coi-
tinho Mattoso Câmara.
N. B.— I d ê n t i c a s se e x p e d i r ã o ás j u n t a s do c o m m e r c i o das p r o v í n c i a s do
M a r a n h ã o e Rio Grande do S u l .

Tabeliã a que se refere a portaria supra, dos emolumentos que devem ser cobrados
provisoriamente pelas juntas do commercio.

i.° P o r quaesquer t e r m o s , cada lauda m i l e q u i n h e n t o s r é i s .


2 . ° P o r quaesquer c e r t i d õ e s , cada lauda m i l e q u i n h e n t o s r é i s .
3.° P o r cada busca, cada u m anno quatrocentos r é i s . A t i t u l o de busca nunca
se c o b r a r á m a i s d e o i t o m i l r é i s .
4 . ° P o r quaesquer registros, cada lauda m i l e q u i n h e n t o s rtis.
5 . ° A o fiscal, c a d a o f í i c i o m i l r é i s .
6.° Pelo registro dos d o c u m e n t o s q u e os c o m m e r c i a n t e s matriculados são
o b r i g a d o s a i n s c r e v e r n o r e g i s t r o p u b l i c o d o c o m m e r c i o , e p e l o d o s das e m b a r -
c a ç õ e s brasileiras destinadas á n a v e g a ç ã o d o alto m a r , — cada lauda m i l e q u i -
nhentos réis.
7 . ° P e l a s c a r t a s d e m a t r i c u l a das d i t a s e m b a r c a ç õ e s , c o b r a s - s e - h ã o os s e g u i n t e s
emolumentos:
D e u m a escuna para c i m a , q u i n z e m i l r é i s .
Assignatura, quatro m i l réis.
D e s u m a c a s , sete m i l e q u i n h e n t o s r é i s .
A s s i g n a t u r a , d o u s m i l t#h.
D e lanchas, tres m i l setecentos e c i u c o e n t a réis.
Assignatura, m i l réis.
Pelas a v e r b a ç õ e s f u t u r a s , m i l r é i s .
8.° R u b r i c a de livros, q u a r e n t a réis cada u m a .
D i s t r i b u i ç ã o e assignaturas, m i l réis.
T e r m o s de abertura e e n c e r r a m e n t o , o i t o c e n t o s r é i s .
Secretaria de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , e m 4 de M a r ç o dc 1 8 5 2 . — J o s i n o
do Nascimento Silva.

MAIN'. NEG. j.1


162 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

O seoretario (Testado dos negócios da justiça a faça i m p r i m i r ,


publicar ecorrer. D a d a n o p a l á c i o d o R i o d e J a n e i r o , aos v i n t e e c i n c o
de Junho de m i l oitocentos ecincoenta, vigésimo nono da Inde-
p e n d ê n c i a e do Império.

IMPERADOR Com Rubrica e Guarda.

Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

Carta de Lei pela qual V. M. I. Manda executar o Decreto da A s-


sembléa Geral, que houve por bem sanccionar sobre o Código Commer-
cial do Império do Brasil, na fôrma acima declarada.

Para Vossa Magestade Imperial ver.

Antônio Alvares de Miranda Varejão a fez.

Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Gamara.

Sellada na Chancellaria do Império em o 1.° de Julho de 1850.

Josino do Nascimento Silva.

Publicada na secretaria d'estado dos negócios da justiça em o


1.° d e J u l h o d e 1850.

Josino do Nascimento Silva.

Registrada a folhas 8 do livro 1.° das Leis e Resoluções. Secretaria


d i s t a d o dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , 1.° de J u l h o d e 1850.

Manoel Antônio Ferreira da Silva.


AVISO DE 5 1 DE AGOSTO DE 1 8 5 2 AO V I C E - P R E S I D E N T E DO RIO GRANDE DO %VL,

Âpprova a decisão por elle dada provisoriamente sobre o conflicto de júris*


dicção occorrido entre o juiz municipal e o do cível da cidade de Port*-
Alegre, por occasião da arrecadação dos bens do fallecido negociante não
matriculado Serafim de Magalhães Rlwdes.

Ministério dos negócios da justiça. —Rio de Janeiro, em 31 de


Agosto de 1S52.

lllm. e Exm. Sr. — Levei ao c o n h e c i m e n t o do governo imperial o


ofíicio de V . Ex. de 30 do mez a n t e c e d e n t e sob n. 66, no qual par-
ticipa que fallecendo nessa cidade o negociante não matriculado
S e r a f i m de Magalhães Rhodes , o juiz municipal procedêra logo á
arrecadação de seus b e n s e á formação do respectivo processo de
instrucção; e que, entendendo o juiz do eivei que a elle, e não
áqnelle juiz, competia o conhecimento deste negocio, lhe dirigira
urna avocatoria , que não foi cumprida : do que , dando conta a
essa p r e s i d ê n c i a , V, Ex. resolvêra provisoriamente que o juiz m u n i -
cipal lhe passasse o processo; e tendo o mesmo governo ordenado
ao vice-presidente do tribunal do c o m m e r c i o da capital do Império
que informasse acerca de semelhante objecto , de conformidade
com a opinião deste, manda declarara V. Ex. que, embora deva
u m tal conflicto de jurisdicção ser definitivamente decidido pela
relação do districto, nos t e r m o s da l e i de 22 de S e t e m b r o de 1828 e
regulamento de 3 de Janeiro de 1833, V. Ex. resolvêra bem a
questão provisoriamente, segundo a lei de 3 de Outubro de 1834;
p o r q u a n t o , se p o r estabelecer o art. 17 do tit. ú n i c o do C ó d i g o C o m -
m e r c i a l que á s j u s t i ç a s o r d i n á r i a s c o m p e t e m as a t t r i b u i ç õ e s d e juizes
de direito do commercio, com as e x c e p ç õ e s m a r c a d a s p a r a os casos
de quebra, se p ô d e concluir que os j u i z e s m u n i c i p a e s s ã o os únicos
competentes para fazer essas arrecadações, verificada a quebra,
por serem e l l e s os des gnados nos arts. 99 e 184 do regulamento n.
738 de 25 de Novembro de 1850 por bem do art. 909 do Código
Commercial, me-mo nos lugares em que houver juiz do eivei,
c o m b i n a n d o - s e esses d i v e r s o s a r t i g o s d o c i t a d o C ó d i g o e regulamento
com as demais disposições da legislação em vigor subsidiário nos
casos omissos (na c o n f o r m i d a d e do art. 743 do regulamento n. 737):
e com a pratica estabelecida nos juizes commerciaes desta côrte,
vê-se que onde ha juizes do civcl cessa p o r ora toda a jurisdicção
c o m m e r c i a l dos juizes m u n i c i p a e s , nos t e r m o s da lei de 3 de Dezena-
MAN. NEC. * 11 A
M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

bro d e '184 U a q u e t a c i t a m e n t e se r e f e r e o art. 17 do ti!, unicn do


Código, e expressamente o art. 6 do sob r é d i t o r e g a i » m e o t o n. 737 ,
«» q u e assim já f o i d e c i d i d o pelo aviso de 25 de A c o s t o de 1851.
l)eos guarde a V. Ex.—José í Ide forno dc Souza Ramos,— Sr. vice-
presidente da província do Rio Grande do Sul.

N o t a r e l a t i v a ao Cap. 2.° do tit. I.° da parte I.» d o Código


do Commercio.

TRIBUNAL DO COMMERCIO.

EXTRACTO DA SESSÃO DE 16 DE JANEIRO DE 1851-

I n f o r m a n d o o Sr. d e s e m b a r g a d o r fiscal que alguns cnmmercian'e<


enlrnvão c m d u v i d a se, npezar de não serem matriculado- , éstavão
sujeitos ás obrigações imposta» n o cap. 2 . * d o t i t . 1.° d a p a r l e l . a
do
Código C o m m e r c i a l , parecendo a S. S. q u e s i m , á vista da generali-
dade da sua epigraphe, e m a n i f e s t a n d o t o d o s os S r s . deputado* que
a mesma d u v i d a lhes t i n h a sido proposta por diversos commercian-
tes, a q u a l c o n v i r i a q u e o t r i b u n a l resolvesse, lavrando-se assento da
resolução que se t o m a s s e , observou o Sr. presidente que era fóra de
duvida que as disposições do referido capitulo obri:;ão a todos os
commerciantes matriculados, e n ã o matriculados, n ã o só porque a
generalidade da sua epigraphe — Obrigações commnns a todos ns
commerciantes — n ã o admitte a figurada duvida, mas ainda mais
por ser inquestionável que o Código C o m m e r c i a l obriga a todos os
commerciantes matriculados e não matriculados. E que sc a d u v i d a
proposta se funda, como parece, no art. 4-° do mesmo Código,
cumpria observar q u e este a r t i g o , f a z e n d o p r i v a t i v a * dos matricula-
d o s as d i s p o s i ç õ e s d e protecção que o Código C o m m r t ciai generosa-
mente liberalisa e m favor do c o m m e r c i o , n ã o p ô d e aduiittir u m a i n -
telligencia extensiva ás obrigações no mesmo Código impostas aos
commerciantes ; antes a excenção firma a regra em contrario : ç
outra prova semelhante offereco o art. 908. declarando que « ai
disposições do Código relativamente ás fallencias são applicaveii
sómente ao d e v e d o r que, f ô r c o m m e r c i a n t e matriculado. Que mais
se r e f o r ç a esta i n t e l l i g e n c i a , quando s c r< flecte que a disposição do
art. 4 . ° n ã ò é d o u t r i n a nova, pois f ó r a copiada d o § o.° do alvará do
30 de Agosto de 1770, onde ella se acha consignada nos seguintes
termos: « S ó os m a t r i c u l a d o s p o r h o m e n s de negocio poderáõ usar
desta denominação (homem de negocio) nos seus r e q u e r i m e n t o s .
e gozar de todas as g r a ç a s , isenções e privilégios concedidos a favor
dos c o m m e r c i a n t e s , ficando delles privados todos os que n ã o forem
escriptos na dita m a t r i c u l a : » e já a n t e s e x i s t i a quasi igual disposi-
ção no § 14 do cap. 2.° do alvará de 16 de Dezembro <t«'. 1 7 5 7 , sem
que a ninguém oceorres-e a duvida que agora parece suscitar-se.
Resumindo a questão, concluiu S. Kx.: a regra é que o Código
obriga a t o d o s os c o m m e r c i a n t e s no c u m p r i m e n t o dos d e v e r e s iu:H<-
impostos, com a uniça differença de que as suas disposições, na
APPENDICE 165

parte que liberalisão actos de protecção a favor do c o m m e r c i o , s ó


podem a p r o v e i t a r aos q u e fôrem matriculados. E para evitar incon-
venientes futuros propôz que se ordenasse á secretaria que admit-
tisse o r e g i s t r o de t o d o s os documentos que o Código Commercial
manda registrar, e a rubrica dos livros q u e os c o m m e r c i a n t e s são
obrigados a ter, ainda q u e os documento» o u livros n ã o pertences-
sem a commerciantes matriculados.
E pondo-se o negocio a votos, venceu-se u n a n i m e m e n t e na fôrma
proposta pelo Sr. psesidente.

ORDEM.

O Sr. olBcial-maior da secretaria deste tribunal fique na intel-


ligencia de que, e m virtude da d e l i b e r a ç ã o t o m a d a e m sessão de 16
do corrente, deve admiltir ao registro p u b l i c o do c o m m e r c i o todos
os d o c u m e n t o s e titulos que, na conformidade do Código Commer-
cial, nelle deverem ser r e g i s t r a d o s , a i n d a q u e s e j ã o a p r e s e n t a d o s por
commerciantes que n ã o estejão matriculados; devendo praticar o
mesmo a respeito dos livros dos c o m m e r c i a n t e s que f ô r e m apresen-
tados para serem rubricados.
Sala do despacho do tribunal do c o m m e r c i o da capital do I m p é -
rio, e m 21 de Janeiro de 1 8 5 1 . — O s e c r e t a r i o , Antonio Alves da Silva
Pinto Júnior.

T R I B U N A L D O C O M M E R C I O .

EXTRACTO DA SESSÃO DE 3 DE FEVEREIRO DE 1851.

Entrando em discussão a seguinte 3. questão que ficára adiada na


a

s e s s ã o de 27 de Janeiro : — O s c o m m e r c i a n t e s s ã o obrigados a registrar


por extenso no copiador, as contas, facturas e instrucções que
acompanharem as suas cartas missivas , ou será bastante que as
lancem porextracto?—o Sr. M a y r i n k m o s t r o u que o sentido gram-
matical do art. 12 l h e parecia tão claro, que n ã o podia deixar dc
entender que o Código C o m m e r c i a l exige que os d o c u m e n t o s de
que se trata sejão litteralmente inscriptos no copiador , salvo so
puder mostrar-se q u e as c a r t a s m i s s i v a s t a m b é m se p o d e m registrar
porextracto, pois q u e a c o n j u n e ç ã o — c o m — liga por tal maneira
o r e g i s t r o das c a r t a s missivas c o m o das contas e f a c t u r a s , q u e pela
mesma fôrma que se dever fazer o daquellas se d e v e f a z e r o destas.
Que s e n d o esta a sua o p i n i ã o , e p a r e o e n d o - l h e que a litteral intelli-
g e n c i a d o a r t . 1 2 se p ô d e s u s t e n t a r dividindo-se o copiador e m dous
volumes, oíTerecia à c o n s i d e r a ç ã o do tribunal a seguinte emenda á
proposta do Sr. Santos Júnior :

« Proponho:

a Que se consulte ao governo mostrando a conveniência da divisão


do copiador de cartas e m duas partes, sendo a m b a s rubricadas, des-
166 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

tinando-se uma para o r e g i s t r o das c a r t a s missivas e instrucções, e


o u t r a p a r a o das c a r t a s o u f a c t u r a s que as acompanharem, afim de
que tal divisão seja autorisada por disposição regulamentar apro-
priada. »
O Sr. Silva Pinto observou que se o Código julgasse sufíiciente o
e x t r a c t o das contas e facturas, n ã o houvera ordenado o seu registro
no copiador, p o r ser b e m s a b i d o q u e taes extractos n ã o p o d e m deixar
de ser lançados no diário, e que além disso a r e d a c ç ã o do art. 12
lhe parece tão clara, que n ã o pôde deixar de o entender no sentido
Literal que offerece, e muito mais p o r estar c o n v e n c i d o da neces-
sidade da providencia nelle proposta. O Sr. desembargador fiscal
foi de igual parecer, citando o exemplo de contas contradictorias
contestadas em juizo. O Sr. Santos Júnior, allegando razões plau-
síveis em que fundara a sua proposta, declarou que n ã o insistiria
n e l l a depois da d e c l a r a ç ã o q u e o Sr. presidente fizera, de que, tendo
tido parte na redacção do art. 12, sempre entendera que este e x i g i a
o registro l i t t e r a l das contas e facturas, e n ã o por extracto.

O Sr. presidente, manifestando a sua satisfação por ver todo o


tribunal unanime na verdadeira intelligencia do § ultimo do art. 12
do Código C o m m e r c i a l , na parte que impõe aos commerciantes a
obrigação de registrarem no copiador por e x t e n s o as c o n t a s e fac-
turas que acompanharem as suas cartas missivas, declarou que,
sendo esta d i s p o s i ç ã o nova, pois se n ã o e n c o n t r a e m outro a l g u m
Código C o m m e r c i a l , julgava do seu dever aproveitar a opportuni-
dade da occasião para e x p ô r as r a z õ e s por que os r e d a c t o r e s d o C ó -
digo Commercial a adoptárão. E facto incontestável, disse S. Ex.,
que e m juízo e fóra delle t e m apparecido m u i t o s casos de contas e
facturas discrepantes de outras anteriormente dadas, nas quanti-
dades dos g ê n e r o s e nos p r e ç o s , e a t é nas datas de a l g u m a s parcellas;
e que isto acontecia sem duvida por u m a de duas causas: ou por-
que quem as remettia n ã o deixava registro, ou se o d e i x a v a era
e m livro que facilmente podia reformar. U m tal abuso ou fraude
reclamava providencias preventivas, e que se a que se adoptou n ã o
era remédio heróico capaz de evitar de todo o m a l , pelo menos
muito o diminuirá, attentu a impossibilidade de r e f o r m a r o livro de
contas e facturas u m a vez lançadas no copiador, que n ã o pôde ser
reformado. E que cumpria observar que, na classe commercial
como e m t o d a s as outras, os a c t o s de i m m o r a l i d a d e de uns desmo-
ralisavão infelizmente o credito de todos : e que, se b e m se averi-
g u a s s e m as verdadeiras causas do descrédito em que cahira o c o m -
mercio, se havia de reconhecer que a iafidelidade de contas fora
u m a das principaes,

Q u e a referida causa fora reforçada por outras que se t i v e r ã o pre-


sentes. O art. 209 do C ó d i g o C o m m e r c i a l , c o n t i n u o u S. Ex,, depois
de dar ás facturas ou contas de vendas dadas e aceitas a mesma
força de prova que lhes attribuem os Códigos Commerciaes da
F r a n ç a , art. 109; o Hespanhol, art. 262 ; o Belga, tit. V I , artigo
único ; e o Portuguez, art. 9 M ; accresoentou que as mesmas fac-
APPENDICE 167

turas, n ã o sendo reclamadas dentro de dez dias subsequentes á


entrega, presumem-se liquidadas, cláusula nova, de transcendente
importância, que se n ã o encontra em nenhum outro Código Com-
mercial. E que igual f o r ç a d e p r o v a l e g a l se d é r a á s m e s m a s facturas
no art. 624, mandando-se determinar pelo preço da c o m p r a das
fazendas o valor certo do seguro, quando este n ã o f ô r d e c l a r a d o na
apólice : d o u t r i n a anteriormente estabelecida no art. 21 da casa dos
seguros—E justo o valor dos objectos segurados segundo a factura—:
donde veio a regra, que o conhecimento prova a carga, e a factura o seu
valor.

E se t a n t a importância atlribuioo Código Commercial ás facturas


ou contas de venda, se a s u a falsificação pôde arruinar credores e
devedores, e a t é a terceiros, nos casos de seguros e outros, como
fôra possivel que o m e s m o C ó d i g o , c u j o pensamento dominante é o
de garantir a boa fé de uns contra omissões ou fraudes de o u t r o s ,
por meio de u m a regular escripturação, deixasse de revesti-los de
formalidades rigorosas, que os p r e s e r v a s s e m o m a i s q u e fosse pos-
sivel d o v i c i o das o m i s s õ e s e d a prevaricação das fraudes?
São pois i n j u s t a s as queixas contra o rigor da exigência do re-
gistro das facturas e m u m livro tão authentico como o copiador:
embora esta e x i g ê n c i a occasione a l g u m i n c o m m o d o , este fica b e m
saldado com a vantagem da fé dada a taes d o c u m e n t o s . E q u e se tal
e x i g ê n c i a viesse a ser dispensada, e n v i d a r i a t o d a s as s u a s f o r ç a s para
que fosse t a m b é m cerceada a i m p o r t â n c i a dada á s facturas de venda.
Que felizmente havia u m m e i o legal de harmonisar o f i m do C ó -
digo, e m e s m o a sua l e t r a , c o m as c o n v e n i ê n c i a s de mais commoda
escripturação, qne lembrára nas sessões antecedentes, e h o j e p r o p u -
zera o Sr. M a y r i n k na sua e m e n d a ; mas q u e n o caso d e ser adoptada,
como era de esperar, seria indispensável consultar a opinião dos
tribunaes da Bahia e P e r n a m b u c o antes de representar ao governo,
na c o n f o r m i d a d e do art. 20 d o r e g u l a m e n t o dos t r i b u n a e s d o c o m -
mercio, e que seria t a m b é m conveniente ouvir o parecer do instituto
dos advogados desta cidade.
Procedendo-se á votação, decidio-se por u n a n i m i d a d e de votos:
1.°, q u e a d i s p o s i ç ã o do art. 12 do C ó d i g o Commercial na parte que
o b r i g a os c o m m e r c i a n t e s a l a n ç a r n o c o p i a d o r o registro das contas,
facturas e instrucções que acompanharem as c a r t a s missivas, exige
que o r e g i s t r o se faça por extenso; mas que é licito aos commer-
ciantes dividir o livro copiador e m dous tomos, destinando o pri-
meiro para o registro das cartas missivas e instrucções, e o se-
gundo para o registro das contas e facturas que acompanharem as
mesmas cartas; comtanto que ambos os tomos se achem igual-
mente revestidos das formalidades determinadas n o art. 13 do C ó -
digo Commercial, e sejão escripturados pela f ô r m a prescripta no
art. 14; 2.°, que se c o n s u l t a s s e a opinião dos tribunaes da Bahia e
Pernambuco, e c o m as r e s p o s t a s q u e se r e c e b e s s e m , se r e p r e s e n t a s s e
ao g o v e r n o , pelo m i n i s t é r i o da justiça, a n e c e s s i d a d e d e se declarar
o referido art. 12 pela f ô r m a sobredita; 3.°, que se c o n s u l t a s s e ao
mesmo t e m p o o instituto dos advogados desta cidade.
168 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Sala do despacho do Iribunal do c o m m e r c i o da capital do Império,


em 3 de Fevereiro de 1851.—Antônio Alves da Silva Pinto Júnior ,
secretario.

M I N I S T É R I O B A J U S T I Ç A .

Aviso de 30 de Agosto de 1852 ao presidente da província de Pernambuco,


declarando, quaes os feriados que no foro commercial se devem observar.

Ministério dos negócios da justiça.— Rio de Janeiro, 30 de Agosto


de 1852.
U l m , e E x m . S r . — H a v e n d o o n e g o c i a n t e dessa p r a ç a , Francisco
Jo«é Barbosa, feito subir á presença de S. M . o I m p e r a d o r u m reque-
rimento, pedindo que se d e c l a r a s s e se e m f o r o c o m m e r c i a l se davao
os m e s m o s feriados que para o fôro c o m m u m se m a n d á r ã o observar
pelo decreto n . 7 4 0 , de 28 de N o v e m b r o de 1 8 5 0 , c o m o havia enten-
d i d o o j u i z de d i r e i t o d o e i v e i dessa c a p i t a l , e c o n s t a v a d o despacho
deste, exarado na petição que o supplicante lhe dirigio, e juntou por
documento , foi o m e s m o Augusto Senhor servido m a n d a r consultar
o t r i b u n a l do c o m m e r c i o da capital do I m p é r i o acerca desemelhante
negocio, e de conformidade c o m o parecer do dito tribunal, orde-
nou-me que fizesse constar a V. Ex. que, n ã o obstante vigorar o
decreto n . 740 de 28 de N o v e m b r o de 1 8 5 0 , para o juizo c o m m e r -
cial, n ã o só por ser de data posterior á do decreto n . 737 de 25
daquelle mez e anno, mas t a m b é m p o r q u e elle n e n h u m a distineção
estabelece, ficando por isso vigente, tanto para o fôro c o m m u m ,
como para os j u í z o s e s p e c i a e s e p r i v a t i v o s , c o m o s e j ã o o d e orphãos,
o dos feitos da fazenda, e por c o n s e q ü ê n c i a o do c o m m e r c i o , segundo
se t e m e n t e n d i d o nesta côrte. e n e l l e s se g u a r d ã o os f e r i a d o s mar-
cados na tabeliã que baixou c o m o referido decreto n . 7 4 0 , c o m -
tudo para as causas privilegiadas e favorecidas por direito, como
s e j ã o as mencionadas no artigo 720 do regulamento 737 de 25 de
Novembro de 1850 , as q u a e s p o r qualquer demora ficarião preju-
dicadas, e e m g e r a l t o d o s os s u m m a r i o s q u e de sua natureza reque-
rem prompta execução, n ã o pôde t e r l u g a r essa d i s p o s i ç ã o , a que
se oppõe o artigo 729 do citado regulamento, e a o r d e n a ç ã o do livro
3.° t i t u l o 1 8 , § § 9 e 10 ; a l é m d e q u e , s e n d o esses f e r i a d o s marcados
p a r a os j u i z e s e t r i b u n a e s j u d i c i á r i o s , c o m o t a e s n ã o p o d i ã o ser con-
siderados, e ?im como repartições p u b l i c a s , os c a r t ó r i o s dos tabel-
i ã e s , para os quaes apenas s ã o f e r i a d o s os d i a s d e s i g n a d o s na reso-
lução da assembléa geral legislativa, sanecionada pelo decreto n .
501 de 29 de A g o s t o de 1848, que revogou o de n. 142; o que t e m
sido praticado nesta capital, quer antes, quer depois da promul-
gação do Código C o m m e r c i a l . Pelo que fica exposto, é evidente que
n ã o foi legal o despacho do referido juiz de direito do eivei, quando
ordenou ao tabellião dos protestos dessa c a p i t a l que, na execução
do artigo 358 do Código C o m m e r c i a l , e outros actos idênticos e
APPENDICE 169

semelhantes de seu ofíicio, observasse a tabeliã qne baixou com o


sobredito decreto n. 740, intelligencia que sem duvida traria graves
e incalculáveis prejuízos ao commercio e á navegação do Império,
se f o s s e a d m i t t i d a p a r a os a c t o s e x t r a j u d i c i a e s , o u p a r a as transacções
effectuadas fóra do juizo, com m u l u o accordo das partes, e sem
intervenção do m e s m o juizo. O que V. Ex. c o m m u n i c a r á ao sobre-
dito juiz de d i r e i t o d o eivei dessa c a p i t a l . — Deos g u a r d e a V . E x . —
José lldefonso de Souza Ramos.— Sr. presidente da p r o v í n c i a de Per-
nambuco.

D E C R E T O M . ° 6 8 9 D E 3 0 D E J U L H O D E 1 8 5 0 .

Altera o systema de despacho por factura.

Hei por bem, em virtude da autorisação concedida pelo artigo 46


da l e i n . ° 5 1 4 de 28 de O u t u b r o de 1848, que nas alfândegas do I m -
pério se o b s e r v e o regulamento que altera o pystema de despacho
por factura, que c o m este baixa assignado por Joaquim José Ro-
drigues Torres, do m e u conselho, senador do I m p é r i o , ministro e
secretario d'estado dos n e g ó c i o s da fazenda e presidente do tribunal
do thesouro publico nacional, que assim o tenha entendido e faça
executar. Palácio do R i o de Janeiro, e m 30 de J u l h o de 1850, 29.°
da independência e do I m p é r i o . — C o m a r u b r i c a d e S. M . o Impe-
r a d o r . — Joaquim José Rodrigues Torres.

REGULAMENTO SOBRE OS DESPACHOS POR FACTURA.

Art. I O despacho das mercadorias que não tiverem avalia-


o

ção na pauta far-se-ha p o r f a c t u r a , isto é , pelo preço que a parte


lhe der n a sua nota, pela m a n e i r a seguinte:
§ 1.° O feitor a quem foi distribuída a nota para o despacho
apresenta-la-ha ao inspector da a l f â n d e g a com o seu parecer por
escripto sobre o p r e ç o d a d o p e l a p a r t e a c a d a u m a das mercadorias
comprehendidas na m e s m a nota.
§ 2.° Se o i n s p e c t o r se c o n f o r m a r c o m o p r e ç o d a d o p e l a parte,
m a n d a r á proseguir no despacho.
§ 3.° Se o inspector porém nao se c o n f o r m a r c o m o p r e ç o dado
pela parte, ainda quando o feitor concorde c o m ella, será o preço
arbitrado por u m a commissão composta de tres feitores (ou quaes-
quer outros empregados) nomeados pelo inspector.
§ 4-° Esta commissão, procedendo ás precisas averiguações,
a r b i t r a r á dentro de 48 horas o p r e ç o p o r q u e d e v e ser d e s p a c h a d a a
mercadoria, tomando por base do arbitramento o preço do mer-
cado e m grosso o u atacado ( d e d u z i d o s os d i r e i t o s d e c o n s u m o ) o u o
de outras mercadorias análogas, o u , n a f a l t a destes d a d o s , o preço
do paiz e x p o r t a d o r a u g m e n t a d o c o m 10 por cento.
§ 5.° Q u a n d o o i n s p e c t o r o u a p a r t e n ã o se c o n f o r m a r c o m a de-
170 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

cisão da commissão , poderá o primeiro ordenar e o segundo re-


querer novo arbitramento, o qual será feito por outra commissão
composta do inspector da a l f â n d e g a , de dous empregados nomea-
dos p o r elle e de dous peritos o u práticos do c o m m e r c i o , escolhidos
pela parte n a .lista de q u e t r a t a o a r t i g o 6.
§ 6.° Reunida a commissão no dia e hora marcada sob a pre-
sidência do inspector , e x a m i n a r á o objecto da q u e s t ã o , e ouvida a
parte, decidirá c o m o lhe parecer mais acertado.
§ 7.* N ã o comparecendo algum ou ambos os p e r i t o s nomeados
pela parte, será ainda assim decidido o recurso pelos outros m e m -
bros da commissão.

Art. 2.° Das decisões de que trata o § 6.° n ã o h a v e r á recurso, m a s a


parte que n ã o q u i z e r c o n f o r m a r - s e c o m ellas p o d e r á reexportar suas
mercadorias para fóra do I m p é r i o , pagando os r e s p e c t i v o s direitos.
Art. 3.° Não ficão sujeitas ás regras estabelecidas no a r t i g o 1.°,
mas serão despachadas pelo preço de facturas:
1.° A s a m o s t r a s de mercadorias que, embora tenhão avaliação
na tarifa, n ã o e x c e d e r e m ao valor de 1 0 0 $ rs.
2.° As mercadorias que transitarem ou sahirem por baldeação
ou reexportação.

3.° As m e r c a d o r i a s sujeitas a direitos de expediente.


Art. Zj.° A s informações, decisões e amostras das mercadorias
serão archivadas para s e r v i r e m d e b a s e á s d e c i s õ e s q u e se houverem
de t o m a r e m casos idênticos.
Art. 5.° Quando a mercadoria submettida a despacho de con-
sumo se achar avariada, na fôrma do regulamento n . 590 de 27 de
Fevereiro de 1849, e o inspector da alfândega n ã o convier e m que
ella seja v e n d i d a e m leilão, arbitrar-se-ha, pelo m o d o prescripto no
a r t i g o 1.°, o abatimento que, e m razão da a v a r i a , se d e v e f a z e r na
taxa correspondente á mesma mercadoria.
§ único. O apparelho, m a ç a m e e objectos usados do serviço dos
navios serão t a m b é m despachados pela m a n e i r a estabelecida*neste
a r t i g o , e sobre o preço do arbitramento o u da venda e m leilão se-
rão cobrados os r e s p e c t i v o s direitos.
Art. 6.° O ministro da fazenda na côrte e os presidentes nas
províncias nomearão os n e g o c i a n t e s ou mercadores que lhes pare-
cerem precisos para servirem de peritos ou práticos do commercio
nas questões de que trata o § 5.° do a r t i g o 1.° As relações dos
escolhidos serão remettidas ás respectivas alfândegas.
Art. 7.° Haverá e m cada alfândega u m a commissão da pauta
nomeada na corte pelo thesouro, e nas províncias pelas thesou-
rarias, a qual, á vista dos despachos feitos na fôrma deste regu-
lamento , organisarà annualmente e remetterà ao thesouro u m a
relação das m e r c a d o r i a s que d e v ã o ser a c c r e s c e n t a d a s n a t a r i f a c o m
a quota fixa de direitos que deve pagar cada u m a dellas.
Art. 8.° F i c ã o revogados o decreto n. 588 de 27 de Fevereiro de
1849; os artigos 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221 e 222 do re-
g u l a m e n t o de 22 de J u n h o de 1 8 3 6 ; e b e m assim o artigo 6.° do de-
APPENDICE 171

creto n. 590 de 27 de Fevereiro de 1849 na parte que estabelece


o m e i o d e se f a z e r o d e s p a o h o das mercadorias avariadas.
P a l á c i o do R i o de Janeiro, e m 30 de J u l h o de 1 8 5 0 . — J o a q u i m José
Rodrigues Torres.

L E I N . ° 5 6 7 D E 2 2 D E J U L H O D E 1 8 5 0 .

Faz extensiva ás apólices de l;00O$000 a disposição do art. 64 da Ui de


1 5 de Novembro de 1827.

Dom Pedro Segundo, por graça de Deos e unanime acclamação


dos povos, Im\perador constitucional e defensor perpetuo do Brasil,
fazemos saber a todos os nossos subditos que a assembléa geral
legislativa decretou e n ó s queremos a lei seguinte :
Art. 1.° E extensiva ás apólices de 1.000^)000 a disposição do
art. 64 da lei de 15 de Novembro 1827, que permitte a trans-
ferencia das de menor valor por meio de escriptura publica, ou
escripto particular; mas terá lugar, quer a respeito de u m a s quer
de outras, sómente no tempo e m que e s t i v e r e m s u s p e n s a s as trans-
ferencias na caixa de amortisação.
A r t . 2.° A t r a n s f e r e n c i a das a p ó l i c e s nos livros da c a i x a s ó se sus-
penderá durante o tempo preciso para a o r g a n i s a ç a o das folhas do
pagamento do juro; logo porém que este p r i n c i p i a r , c o n t i n u a r á a
fazer-se c o n j u n c t a m e n t e a das a p ó l i c e s de que jà t i v e r e m sido pagos
os j u r o s .
Art. 3.° Para q u e possa ser e x e c u t a d a a disposição do artigo an-
tecedente, fica creado mais u m l u g a r de ajudante do corretor c o m
o mesmo vencimento do que actualmente existe, ficando abolidos
os dous lugares de praticante da contadoria. Continuarão porém a
s e r v i r os q u e a c t u a l m e n t e existem até que vaguem lugares na caixa
em que p o s s ã o ser e m p r e g a d o s , ou até que t e n h ã o outro destino.
Art. 4 . ° Os a j u d a n t e s d o c o r r e t o r f a z e m parte d o pessoal da con-
tadoria, e fóra do tempo destinado ao p a g a m e n t o dos juros serão
occupados no serviço de escripturação e contabilidade delia pro-
m i s c u a m e n t e c o m os d e m a i s e m p r e g a d o s da mesma.
Art. 5.° N o fim de cada e x e r c í c i o a c o n t a d o r i a da caixa de amor-
tisação tomará as c o n t a s do thesoureiro, c o r r e t o r e seus ajudantes
para reconhecera responsabilidade delles; e q u a n d o se a c h e m cor-
rentes, a junta administrativa delia lhes dará quitação, salva a
revisão das mesmas no thesouro.
Art. 6.° F i c ã o revogadas as d i s p o s i ç õ e s e m contrario.
M a n d a m o s p o r t a n t o a t o d a s as a u t o r i d a d e s a q u e m o conhecimento
e execução da referida lei pertencer que a c u m p r â o e facão cumprir
e guardar tão inteiramente como nella se contém. O secretario
de estado dos negócios da fazenda a faça imprimir, publicar e
correr. Dada no palácio do Rio de Janeiro, aos 22 dias do mez de
172 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

J u l h o de 1850 , vigésimo nono da independência e do I m p é r i o . —


IMPERADOR c o m rubrica e guarda. — J o a q u i m José Rodrigues Torres.
Carta de lei pela q u a l Vossa Magestade Imperial manda executar
o decreto da assembléa geral legislativa que houve por bem sanc-
cionar, fazendo extensiva ás apólices de 1:000^)000 a disposição do
art. 64 da lei de 15 de Novembro de 1827, e dando outras provi-
videncias, como n e l l a se declara.
Para Vossa Magestade Imperial ver. — J o a q u i m Diniz da Silva
Faria, a f e z . — E u z e b i o de Q u e i r o z Coitinho JMaltoso C â m a r a .
Sellada na chancellaria do I m p é r i o , e m 27 de J u l h o de 1850.—
Josino do Nascimento Silva.
Publicada na secretaria de estado dos n e g ó c i o s da fazenda, e m
31 de J u l h o de 1850.—João Maria Jacobina.
Registrada na mesma secretaria de estado no livro 1.° d e seme-
lhantes. R i o de Janeiro, e m 31 de Julho de 1850.—Joaquim Diniz
da Silva Faria.

D E C R E T O N . ° 8 0 6 D E 2 6 D E J U L H O D E 1 8 5 1 .

Estabelece regimento para os corretores da praça do commercio do Rio de


Janeiro.

Hei por bem, sobre consulta do tribunal do commercio da capital


do Império, decretar o seguinte :

REGIMENTO DOS CORRETORES DA PRAÇA DO COMMERCIO DO RIO

DE JANEIRO.

TITULO ÚNICO.

DOS CORRETORES.

CAPITULO I.

Da nomeação, suspensão e destituição dos corretores e da imposição das


multas.

SECÇÃO i.

Da nomeação dos corretores.

Art. l.° Os corretores da praça do Rio de Janeiro são da nomea-


ção do tribunal do c o m m e r c i o da capital do I m p é r i o , pela f ô r m a
d e t e r m i n a d a nos artigos 36, 3 7 , 38, 39 e 4 0 d o Código Commercial.
Os corretores a c t u a l m e n t e existentes s ã o obrigados a registrar os
titulos da sua n o m e a ç ã o no referido tribunal; e a prestar o jura-
APPENDICE (CORRETORES) 173

mento determinado no artigo 38 do sobredito Código, dentro de


q u i n z e dias c o n t a d o s da publicação do presente Regimento, pena de
suspensão do seu ofíicio.
Art. 2.° H a v e r á na praça do R i o de Janeiro tres classes d e corre-
tores, a saber:
l . a
De fundos públicos.
2.° De navios.
3. a
De mercadorias.
Não excederá de dez o n u m e r o dos corretores de f u n d o s públicos,
de oito o dos de navios, e de dez o dos de mercadorias.
Este numero pôde ser augmentado ou diminuído pelo governo,
s o b r e c o n s u l t a d o t r i b u n a l d o c o m m e r c i o ( a r t . G7 d o C ó d i g o ) segundo
exigirem as n e c e s s i d a d e s c o m m e r c i a e s ; mas, n o caso de r e d u c ç ã o ,
esta s ó p o d e r á ser l e v a d a a e f f e i t o á p r o p o r ç ã o que houver vagas.
Art. 3.° Cada u m dos corretores de f u n d o s públicos prestará u m a
f i a n ç a de dez c o n t o s d e r é i s , e os d e navios de c i n c o contos de réis,
e os d e m e r c a d o r i a s de c i n c o contos de réis.
As quantias destas f i a n ç a s p o d e m s o f f r e r a l t e r a ç ã o e nova fixação,
sempre que o governo assim o resolver, sobre consulta do tribunal
do commercio. (Código C o m m e r c i a l , artigo 41-)
A fiança será prestada no cartório do escrivão do juizo municipal
e do commercio do domicilio do corretor. (Código Commercial,
artigo 41.)
Art. 4.° Os corretores que accumularem o serviço de diversos
ramos de c o r r e t a g e m s ã o obrigados a prestar separadamente a fiança
correspondente a cada u r a dos r a m o s de c o r r e t a g e m q u e exercerem.
Art. 5.° E m l u g a r de f i a n ç a , s e r á o i m p e t r a n t e a d m i t t i d o a depo-
sitar no thesouro publico a importância delia e m dinheiro ou apóli-
ces d a d i v i d a publica pelo v a l o r r e a l que estas t i v e r e m ao tempo do
d e p o s i t o : das a p ó l i c e s receberá na caixa da a m o r t i s a ç ã o os dividen-
dos de j u r o s , e do d i n h e i r o o juro annual, que o mesmo thesouro
publico marcar, pago semestralmente. (Código C o m m e r c i a l ,
artigo 42.)
E livre ao proprietário das apólices substituir o deposito pela
respectiva quantia em dinheiro, ou mesmo pela fiança, sempre que
o julgar conveniente.
Art. 6.° No caso de deposito de apólices da divida publica, o
secretario do tribunal do c o m m e r c i o r e q u e r e r á à junta administra-
tiva da caixa da amortisação que ordene que se facão nos livros
competentes os d e v i d o s assentamentos ou averbações, para que as
a p ó l i c e s depositadas n ã o p o s s ã o ser t r a n s f e r i d a s , e m q u a n t o subsistir
o deposito. (Artigo 15.)
Art. 7.° O deposito, ou seja e m dinheiro ou em apólices , será
conservado effectivamente por inteiro, e por elle serão pagas as
multas e m que o corretor incorrer, e as indemnisações a que fôr
obrigado, se as n ã o satisfizer immediatamente que nellas fôr
condemnado; ficando suspenso emquanto o deposito não fôr
preenchido. (Código C o m m e r c i a l , art. 43.)
Art. 8.° N o caso de m o r t e , fallencia ou ausência de algum dos
174 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

fiadores, ou de se lerem desonerado da fiança, por fôrma legal


(Código Commercial, artigo 262), cessará o oíficio do corre-
tor, emquanto n ã o prestar novos fiadores. (Código Commercial
artigo 4u\)
O corretor qne não reforçar a fiança, ou n ã o preencher o deposito
dentro de tres mezes contados da data d a s u s p e n s ã o , s e r á destituído.
Art. 9.° Os corretores são obrigados a registrar na secretaria do
tribunal do c o m m e r c i o , a t é o dia 15 de J u l h o , o conhecimento do
pagamento do imposto annual que fôr determinado por l e i ; pena
d e s u s p e n s ã o : e os q u e o n ã o a p r e s e n t a r e m até o fim do ultimo mez
do p r i m e i r o trimestre f i n a n c e i r o , serão destituídos.
Art. 1 0 . O ofíicio de c o r r e t o r é pessoal e n ã o p ô d e ser s u b s t i t u í d o ;
pena de n u l l i d a d e dos actos de c o r r e t a g e m que fôrem praticados
pelo substituto. Todavia, será permittido aos corretores, no caso
único de moléstia adquirida depois da sua n o m e a ç ã o , exercer as
f u n c ç õ e s do seu ofíicio p o r v i a de pessoa p o r elles n o m e a d a e appro-
vada pelo tribunal do c o m m e r c i o , que reuna as condições necessá-
r i a s p a r a p o d e r ser c o r r e t o r , p r e s c r i p t a s nos a r l i g o s 37 e 39 d o Código
Commercial; ficando o corretor solidariamente responsável por
todos os actos que essa pessoa praticar, como se p o r e l l e próprio
praticadas fossem.
Art. 11. A n e n h u m corretor é permittido abandonar o exercício
do seu ofíicio sem communicar previamente ao tribunal do com-
mercio a sua resolução, e fazer i m m e d i a t a m e n t e entrega de todos
os livros e mais papeis p e r t e n c e n t e s ao seu ofíicio ao secretario da
junta dos corretores, que os r e m e t t e r á , sem demora, ao secretario
do tribunal do c o m m e r c i o .
Art. 12. Vagando algum ofíicio de corretor por outro qualquer
titulo, o escrivão do juízo do c o m m e r c i o do domicilio deste proce-
derá immediatamente á arrecadação de todos os l i v r o s e papeis
pertencentes ao ofíicio que vagar, e ao e x a m e do estado e m que se
acharem, na presença das partes interessadas e de duas testemu-
nhas; e de tudo fará remessa ao t r i b u n a l d o c o m m e r c i o , n a f ô r m a
determinada nos artigos 65 e 66 do Código Commercial.
Art. 13. O tribunal do commercio, logo que receber os l i v r o s e
mais papeis mencionados nos dous artigos antecedentes, procederá,
na primeira sessão, ao e x a m e d o e s t a d o e m q u e se a c h a r e m , e deste
se l a v r a r á competente auto nos p r ó p r i o s livros, que s e r á incorporado
na acta da mesma sessão. Depois do referido exame serão os ditos
livros mandados guardar no archivo para serem e n t r e g u e s ao corre-
tor que fôr provido no ofíicio vago.
Art. 14. A vaga de qualquer ofíicio de corretor será mandada
annuuciar pelo t r i b u n a l do c o m m e r c i o no jornal da p u b l i c a ç ã o dos
seus annuncios.
Art. 15. O deposito que houver prestado o corretor a q u e m
pertencia o ofíicio vago c o n t i n u a r á p o r t e m p o d e seis m e z e s contados
da data da sobredita publicação : e s ó p o d e r á ser levantado á vista
de d o c u m e n t o legal do tribunal do c o m m e r c i o por onde conste que
não pende c o n t r a elle r e c l a m a ç ã o alguma.
APPENDICE (CORRETORES) 175

SECÇÃO I I .

Da suspensão e destituição dos corretores, e da imposição das multas.

Art. 16. São competentes para multar, suspender e destituir os


corretores, nos casos e m que estas penas são appiicaveis: 1.° o
tribunal do commercio, com recurso para o conselho de estado,
no effeito devolutivo sómente nos casos de suspensão e imposição
de m u l t a s , e e m ambos os e f f e i t o s n o s casos de destituição (Código
Commercial, artigo 59, n . 3 e Regulamento dos tribunaes do com-
mercio, a r t i g o 1 8 , n . 6 ) : 2 . ° as j u s t i ç a s o r d i n á r i a s , que conhecerem
de causas de perdas e damnos intentadas contra corretores, nos
casos dos a r t i g o s 5 1 , 5 3 , 55, 56. 57, 58 e 63 do C ó d i g o Commercial,
com recurso para a r e l a ç ã o do districto, nos referidos effeitos.
A c o n d e m n a ç ã o e m perdas e d a m n o s só p ô d e ter lugar pelos meios
ordinários.
Art. 17. O t r i b u n a l do c o m m e r c i o p r o c e d e á i m p o s i ç ã o das penas
sobreditas: 1.° oííicialmente; 2.° sobre denuncia da j u n t a dos cor-
retores; 3.° sobre p e t i ç ã o de partes.
Art. 18. Constando ao tribunal por documentos, ou por outra
alguma fôrma segura, que algum corretor t e m praticado ou deixado
de praticar algum acto pelo qual possa haver lugar a imposição
das penas sobreditas, m a n d a r á autoar pelo official m a i o r da secreta-
ria os ditos documentos, ou a copia da acta da sessão por onde
constar que o acto chegou a seu conhecimento, c o m as diligencias
a que julgar conveniente proceder: sendo os autos continuados
com vista ao desembargador fiscal: e este, achando que o procedi-
mento pôde ter lugar, reduzirá a artigos a matéria da accusação.
Sobre o ofíicio do desembargador fiscal m a n d a r á o tribunal
responder o c o r r e t o r n o t e r m o d e c i n c o d i a s i m p r o r o g a v e i s ; e se e s t e
p e d i r t e m p o para p r o v a r a sua defesa, l h e c o n c e d e r á dez dias t a m b é m
improrogaveis.
Art. 19. Se d e n t r o dos c i n c o dias o c o r r e t o r n a d a responder, será
o processo julgado na l . a
sessão do tribunal com a presença do
desembargador fiscal, segundo a prova constante dos autos. Se
p o r é m o corretor p r o d u z i r sua defesa e pedir t e m p o para a prova,
findo o termo que lhe fôr assignado para esta, c o m prova ou sem
e l l a , s e r ã o os a u t o s c o n t i n u a d o s c o m vista ao c o r r e t o r p o r c i n c o dias
para allegar, e e m ultimo lugar ao desembargador fiscal para
ofliciar o que se lhe offerecer: e findos os r e f e r i d o s t e r m o s , que
serão improrogaveis, será o processo julgado na p r i m e i r a sessão do
tribunal que o presidente designar.
Art. 20. Nos casos do processo t e r l u g a r sobre d e n u n c i a da junta
dos corretores o u de petição de partes , autoadas e s t a s , se proce-
derá e m tudo pela fôrma determinada nos artigos antecedentes,
com a única d i f f e r e n ç a de que á j u n t a dos corretores ou ás partes
queixosas se c o n c e d e r ã o os mesmos termos q u e se c o n c e d e r e m ao
176 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

corretor, para contestarem a resposta deste, e para provarem a sna


queixa ou denuncia, e allegarem afinal, e sobre tudo officiará afinal
o desembargador fiscal.
Art. 21. E m semelhantes processos servirá de escrivão o ofíicial
m a i o r da secretaria do t r i b u n a l : as t e s t e m u n h a s , se as h o u v e r , serão
inquiridas na presença deste pelo desembargador fiscal, e pelas
partes ou seus advogados. A defesa e as a l l e g a ç õ e s serão escriptas
n o s a u t o s : os t e r m o s p a r a contentar e allegar principiarão a correr
desde o dia e m que os autos f o r e m continuados ás partes, e os da
prova, da data da i n t i m a ç ã o do despacho do t r i b u n a l ás mesmas
partes.
No caso de recurso para o conselho de estado , s u b i r ã o os autos
originaes, ficando traslado authentico na secretaria do tribunal.
A r t . 22. Às s e n t e n ç a s que condemnarem os c o r r e t o r e s e m multas
serão executadas no juizo municip i l do domicilio dos executados :
as d a s u s p e n s ã o ou destituição serão mandadas iotimarpelo tribunal
do c o m m e r c i o por via do porteiro do m e s m o tribunal , e sobre ellas
se n ã o admittiiáõ embargos do executado, excepto de terceiro,
quanto ás muitas.

CAPÍTULO II.

Das funcções dos corretores.

Art. 23. O corretor pôde intervir em todas as convenções, trans-


acções e o p e r a ç õ e s m e r c a n t i s : e os actos p o r elles p r a t i c a d o s , sendo
provados por assentos r e g u l a r e s , e x t r a h i d o s dos seus livros, tem fé
publica. (Código C o m m e r c i a l , artigos 45 e 52.)
A r t . 2Zi. As pessoas q u e e x e r c e r e m attribuições próprias do ofíicio
de c o r r e t o r de q u a l q u e r classe de c o r r e t a g e m , s e m t i t u l o competente,
fóra dos casos exceptuados no artigo 29, soífreráõ, além da pena
criminal imposta no artigo 137 do Código Criminal, u m a multa
correspondente ao t r i p l o d o valor da corretagem que houverem per-
cebido, e os seus actos não terão mais força do que os d e simples
mandatários.
Art. 25. Aos corretores de f u n d o s p ú b l i c o s compete:
1.° A c o m p r a , v e n d a e t r a n s f e r e n c i a de q u a e s q u e r fundos públicos
nacionaes ou estrangeiros.
2.° A negociação de letras de cambio, e de quaesquer emprés-
timos commerciaes.
3.° A c o m p r a e venda de metaes preciosos, c u m u l a t i v a m e n t e c o m
os corretores de m e r c a d o r i a s (artigo 2 7 ) , e a c o t a ç ã o de seus p r e ç o s .
A r t . 2 6 . Os f u n d o s p ú b l i c o s nacionaes ou estrangeiros, b e m como
as acções de companhias reconhecidas pelo g o v e r n o , p o d e r á õ ser
negociados á vista o u a prazos, comtanto que a operação seja legi-
tima e real. A simulação por parte dos corretores s e r á punida c o m
as p e n a s i m p o s t a s n o a r t i g o 5 1 d o C ó d i g o C o m m e r c i a l .
A transacção sobredita será considerada legitima e real, se, ao
tempo e m q u e f ô r f e i t a , os t i t u l o s q u e fizerem objecto delia perten-
c e r e m v e r d a d e i r a m e n t e ao vendedor.
APPENDICE (CORRETORES) 177

Àrt. 27. Aos corretores de mercadorias compete privalimente a


compra e venda de q u a e s q u e r g ê n e r o s e mercadorias, e a de metaes
preciosos cumulativamente c o m os corretores de f u n d o s públicos
(art. 25), ea cotação de seus preços.
Art. 28. Aos corretores de navios compete:
1.° A c o m p r a e v e n d a de navios.
2.° Os f r e t a m e n t o s , a c o t a ç ã o de seus p r e ç o s e os carregamentos.
3.° A agencia dos seguros de navios.
[\.° Servirem de interpretes dos capitães de navios perante as
autoridades.
5.° A traducçao dos manifestos e documentos que os c a p i t ã e s ou
mestres de embarcações estrangeiras tiverem de apresentar para
despacho nas a l f â n d e g a s . E*tas t r a d u c ç õ e s , b e m c o m o as q u e fôrem
feitas por interpretes nomeados pelo tribunal do commercio, terão
fé p u b l i c a ; salvo á s partes interessadas o direito de i m p u g n a r a sua
f a l t a de exactidão. (Cod. C o m m e r c . , art. 62.)
Art. 2 9 . F i c a e n t e n d i d o q u e é p e r m i t t i d o a t o d o s os commercian-
tes, e mesmo aos que o n ã o fôrem, tratar immediatamente por si,
seus agentes e c a i x e i r o s , as suas n e g o c i a ç õ e s e as d e s e u s commit-
tentes, e até inculcar e promover para o u t r e m vendedores e compra-
dores, c o m t a n t o q n e a i n t e r v e n ç ã o seja g r a t u i t a , e m todo e qualquer
gênero de transacção comprehendido na disposição dos artigos 25 ,
26, 27 e 28.
Art. 30. Os corretores desta praça cobraráõ de c o m m i s s ã o o se-
guinte:

MAN. NEG 12
178 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

PAGA O COM PAGA O


OBJECTOS. OBSERVAÇÕES.
PRADOR. VENDEDOR.

A p ó l i c e s da divida p u -
blica 1/8 p o r ° / 0 1/8 p o r % Sobre o valor eíTectivo.
A c ç õ e s de companhia? 1 $ 0 0 0 1&000 Cada uma.
Metaes 1/8 p o r • / „ 1/8 p o r ° / 0
Sobre sua importância em
dinheiro corrente.
Letras de c a m b i o . . 1)8 por % Idem.
D i t a s de desconto a t é
íi m e z e s 1/8 por °/ 0

Ditas de desconto alé


8 mezes. . , . . . 2/8 por */ 0

Ditas de desconto alé


12 mezes 3/8 por %
D i t a s p a r a nnais d e 1 2
mezes Conforme convenção mutua.

GÊNEROS NACIONAES DE
EXPORTAÇÃO.

Assncar ....... 1/2 p o r 1/2 p o r ° / 0


S o b r e sua importância.
Café 10 r s . p o r arr.
Couros . 1/2 p o r ° / 0

Outros quaesquer g ê -
neros t/2 por /
0
o

GÊNEROS ESTRANGEIROS
DE IMPORTAÇÃO E DE
É
REEXPORTACÃO.

Venda de navios. . , 2 1 /2 p o r ° / 0

F r e t a m e n t o s de ditos, 2 1/2 p o r ° / 0
Pagos pelo proprietário ou
consignatario sobre o valor
do frete.
Agencia de seguros. . 1/10 p o r ° / 0
Pago pelo segurado.
Traduzir manifestos. 5 # 0 0 0 Pagos pelo proprietário ou
consignatario , por cada
uma das tres primeiras
paginas , e 2 # 000 rs. p o r
cada uma das seguintes,
nunca excedendo a i m p o r -
Certidões , n ã o exce- tância toda a mais de
d e n d o as c o l a ç õ e s a ZiO ^ 0 0 0 r s .
mez 2#000 Cada uma.
E x c e d e n d o as c o l a ç õ e s
a um mez l\ $ 000 Cada uma.

Art. 31. N e n h u m corretor poderá augmentar o u d i m i n u i r as c o m -


missões ou corretagens marcadas no artigo 3 0 , sob pena de u m a
seis mezes de suspensão, e de multa de cinco a dez por c e n t o da
fiança prestada.
A r t . 32. O c o m m e r c i a n t e q u e e n t r e g a r ao c o r r e t o r c o n h e o i m e n l o s
APPENDICE (CORRETORES) 179

ou notas de gêneros para vender, ou o incumbir de quaesquer outros


negócios em tempo determinado, n ã o poderá realisar os mesmos
negócios por intervenção de o u t r o c o r r e t o r sem ter decisão do pri-
meiro com quem tratou, sob pena de pagar a este a corretagem
correspondente como se a operação fosse por intervenção delle
ultimada.
O mesmo terá lugar quando qualquer commerciante, tendo rece-
bido de u m corretor a nota do desempenho de alguma commissão
de que o houver encarregado, deixar de ultimar o negocio por sua
intervenção por lhe n ã o agradarem as condições, e o vier a realisar
particularmente ou por i n t e r v e n ç ã o de o u t r o c o r r e t o r , c o m as mes-
mas partes e iguaes condições, dentro dos primeiros tres dias
seguintes; e provando-se que houve dolo para fraudar o corretor,
será o commerciante o b i i g a d o ao pagamento do decuplo da corre-
tagem que seria devida.
Art. 33. A incumbência de qualquer negociação feita a u m cor-
retor, entende-se finda no mesmo dia, salvo convenção e m con-
trario.

CAPITULO III.

Da junta dos corretores.

Art. 3Zj. Haverá uma junta composta de cinco corretores, dos quaes
tres pertenceráõ á classe de fundos públicos, eleita annualmcnle
pelos corretores de todas as c l a s s e s , por maioria absoluta de votos
dos que se a c h a r e m presentes.
Art. 35. A eleição será presidida pelo presidente da junta, ser-
vindo de secretario o da m e s m a junta, o qual e m livro privativa-
mente d e s t i n a d o p a r a este fim escreverá a competente acta, que será
a s s i g n a d a p o r t o d o s os votantes.
Na falta do presidente, presidirá o corretor mais antigo na ordem
das matrículas.
Art. 36. Os m e m b r o s eleitos para compor a nova junta elegeráõ
d'entre si o p r e s i d e n t e , secretario e thesoureiro da m e s m a junta.
Art. 37. A j u n t a servirá por u m anno; mas os seus m e m b r o s po-
d e r á õ ser reeleitos.
A r t . 38. N e n h u m corretor p o d e r á e x i m i r - s e de ser m e m b r o da j u n t a
sempre que f ô r eleito; salvo por moléstia grave e continuada, pro-
vada perante o t r i b u n a l do c o m m e r c i o , que resolverá a respeito como
entender justo.
Não é porém obrigatória a a c e i t a ç ã o n o caso de r e e l e i ç ã o antes de
passar u m a n n o de intcrvallo entre o serviço da antecedente e a nova
nomeação.
O corretor que fóra dos dous referidos casos recusar o cargo da
junta para que fôr nomeado pagará u m a m u l t a de 5 0 0 ^ ) a 1:000$
r s . , e se, s e n d o i n t i m a d o p e l o t r i b u n a l d o c o m m e r c i o p a r a q u e s i r v a ,
c o n l i n a r a recusar-se. s e r á d e s t i t u í d o do seu ofíicio.
180 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Art. 39. A junta poderá deliberar sempre que se achar presente


metade e mais u m de seus membros: os negócios serão decididos
por m a i o r i a absoluta dos votos presentes: no caso de empate, o
presidente tem voto de qualidade. De todas as deliberações que se
tomarem em junta, deverão l a v r a r - s e as c o m p e t e n t e s actas no livro
mencionado no artigo 44? assignadas por t o d o s os c o r r e t o r e s pre-
sentes.
Art. 40. A junta actual organizará c o m a possivel brevidade o seu
regimento interno, que submelterá á approvação do tribunal do
commercio.
Art. 4 1 . C o m p e t e á j u n t a dos corretores:
1.° E n t e n d e r sobre t o d o s os c o r r e t o r e s , a f i m de q u e se contenhão
nos l i m i t e s de suas f u n e ç õ e s legaes : p o d e n d o examinar, sempre que
o julgar necessário, os s e u s livros, precedendo autorisação do tri-
bunal do commercio. ( C ó d i g o C o m m e r c i a l , a r t i g o 50.)
2.° Censurar os a c t o s dos c o r r e t o r e s q u e parecerem irregulares, e
levar ao conhecimento do tribunal do commercio aquelles que
contra vierem á disposição das leis commerciaes do presente regi-
mento, ou do i n t e r n o dos c o r r e t o r e s , e as queixas da3 parles que
lhe fôrem presentes, c o m as informações necessárias para conhe-
cimento da verdade.
3.° Fiscalizar q u e n e n h u m i n d i v i d u o s e m t i t u l o l e g a l se entremetta
nas funeções de c o r r e t o r , promovendo contra os i n f r a c t o r e s pelos
meios competentes a applioação das penas i m p o s t a s no artigo 24.
4 . ° D e c i d i r as c o n t e s t a ç õ e s que se s u s c i t a r e m entre os corretores
relativamente ao exercício de suas f u n e ç õ e s : c o m recurso para o
tribunal do commercio.
5.° P r o p o r ã o tribunal do c o m m e r c i o tudo o que julgar conveniente
á boa execução do seu regimento interno e ás difíiculdades que
encontrarem na execução do Código Commercial e do presente
regimento.
6.° Cotar ou fixar d i a r i a m e n t e , a i n d a q u a n d o se n ã o t e n h a reunido
a metade c mais u m de seus m e m b r o s , á vista das notas de todos os
corretores, o p r e ç o dos c â m b i o s , fundos públicos, descontos, metacs
preciosos, fretes e mercadorias p r i n c i p a e s ; n ã o s ó dos que actual-
mente estão c m uso de serem cotados . mas mesmo de quaesquer
novos eíTeitos, mercadorias ou papeis de credito que possão appa-
recer no mercado, que d ê m lugar a consideráveis transacções, e
que por sua natureza sejão susceptíveis de estabelecer u m preço e
curso regular.
Art. 42. A casa da praça do, c o m m e r c i o é o ú n i c o lugar compe-
tente para a reunião dos corretores.
Chegada a hora de fechar-se a dita praça, se r e u n i r ã o nella todos
os c o r r e t o r e s c o m os m e m b r o s da j u n t a , para o fim de v e r i f i c a r e m e
colarem os p r e ç o s das transacções do dia pela f ô r m a sobredita.
Art. 43. Os preços que fôrem cotados deverão ser l a n ç a d o s e m
livro para esse fim privativamente destinado, com declaração do
m á x i m o e do m i u i m o dos mesmos preços obtidos naquelle dia.
Uma copia a u t h e n t i c a das cotjções que se lançarem no referido
APPENDICE (LEILÕES) 181

livro, assignada pelo presidente da j u n t a e pelo secretario, será pu-


blicada na Tolha official do dia seguinte, pena de s u s p e n s ã o , e de
u m a m u l t a de 1 0 0 $ a 2 0 0 $ rs., quo será d u p l i c a d a nas reinci-
dências.
Art. 44. O livro das actas e registo dos preços correntes será
rubricado por u m dos deputados do tribunal do c o m m e r c i o , a q u e m
couber por distribuição, e findos serão r e m e t t i d o s ao secretario do
t r i b u n a l do c o m m e r c i o para ali serem archivados.
Art. 45. O presidente da junta r c m e t t e r á semanalmente o boletim
do curso do cambio e fundos públicos ao presidente do tribunal do
thesouro publico nacional, c ao secretario do tribunal do c o m -
mercio , accrescentando no que remetter a este o preço dos mais
g ê n e r o s e eíTeitos cotados durante a semana, pena de s u s p e n s ã o , e
de uma m u l t a de 1 0 0 $ a 2 0 0 $ rs., q u e será d u p l i c a d a nas rein-
cidências.
Art. 46, A junta é responsável pela exaclidão dos preços cotados
debaixo das penas impostas no artigo 52 do Código Commercial;
mas se f ô r i n d u z i d a e m e r r o pelas notas d e a l g u m c o r r e t o r , as refe-
ridas penas r e c a h i r á õ sómente sobre o corretor que houver assig-
nado a nota c o m preços falsos.
Art. 47. Os corretores e o secretario da junta perceberáõ pelai
certidões que passarem, os p r i m e i r o s p a r a si, e o segundo metade
para si, c outra metade para a caixa dos e m o l u m e n t o s do tribunal
d o c o m m e r c i o , os e m o l u m e n t o s marcados no artigo 30.
Art. 48. Todas as multas que não tiverem applicaçao especial
neste regimento entrarão para a caixa dos e m o l u m e n t o s do tribunal
do commercio.
Art. 49. As d i s p o s i ç õ e s d o a r t i g o i . ° c o m p r c h e n d e m os interpretes
do commercio.
Os m e s m o s interpretes perceberáõ pelas traducções que fizerem,
e certidões dellas que passarem, os m e s m o s emolumentos que ficão
fixados para os c o r r e t o r e s n o a r t i g o 3 0 .
Euzebio de-Queiroz Coitinho Mattoso C â m a r a , do m e u conselho,
m i n i s t r o e secretario de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , a s s i m o tenha
entendido e faça executar. Palácio do Pvio d e J a n e i r o , e m 26 de
Julho de 1 8 5 1 , trigesimo da independência e do I m p é r i o . — C o m a
rubrica d e S. M . o I m p e r a d o r . — Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso
Câmara.
182 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

D E C R E T O N . 8 5 8 D E 1 0 D E N O V E M B R O D E 1 8 5 1 .

Estabelece regimento para os agentes de leilões da praça do Rio de Janeiro.

Hei por bem, sobre consulta do tribunal do commercio da capital


do Império, decretar o seguinte :

REGIMENTO PARA OS AGENTES DE LEILÕES.

CAPITULO i.-^Da nomeação dos agentes de leilões.

Art. l.° Para ser agente de leilões requer-se ter vinte e cinco
annos de idade completos, e ser domiciliado no lugar por mais de
u m anno. ( C ó d i g o C o m m e r c i a l , artigos 36 e 68.)
Art. 2.° N ã o p o d e m ser a g e n t e s de l e i l õ e s :
1.° Os q u e n ã o p o d e m ser commerciantes.
2.° As mulheres.
3.° Os corretores e agentes de leilões u m a vez destituídos.
A.° Os faliidos n ã o rehabilitados; e os rehabilitados, quando a
quebra houver sido qualificada c o m o comprehendida na disposição
dos artigos 800 n . 2.% e 801 n. l.° do Código Commercial. (Cod.
C o m m e r c , artigos 37 e 68.)
Art. 3.° Passados c i n c o a n n o s , a contar da data da p u b l i c a ç ã o do
Código Commercial, n e n h u m estrangeiro n ã o naturalisado poderá
exercer o ofíicio de agente de leilões, a i n d a q u e a n t e r i o r m e n t e tenha
sido nomeado e se ache servindo. (Cod. C o m m e r c , artigo 39.)
Art. 4.° Os agentes de leilões do domicilio do tribunal do c o m -
m e r c i o da capital do I m p é r i o são da n o m e a ç ã o do m e s m o tribunal:
e esta t e r á lugar e m c o n f o r m i d a d e das disposições dos artigos 38,
3 9 e ZjO d o Código Commercial.
4 Art. 5.° O numero dos agentes de leilões das praças de c o m m e r -
GÍO comprehendido no domicilio do sobredito tribunal, ê por ora
indeterminado; e os que actualmente servem sómente poderáõ
continuar a exercer as suas f u n e ç õ e s depois d e se habilitarem na
f ô r m a prescripta neste regimento.
Art. 6.° Passado u m mez depois de publicado o presente regi-
mento, as p e s s o a s q u e na praça da c a p i t a l do Império exercerem as
funeções de agentes de leilões sem se acharem habilitados c o m a
respectiva patente passada pelo tribunal do commercio soffreráõ
além da pena imposta no artigo 137 do Código Commercial, u m a
multa correspondente ao decuplo do valor das commissôes que
houverem recebido.
Os que servirem nas outras praças dislanles do tribunal do c o m -
mercio da capital do I m p é r i o , deveráõ n o p r a z o de tres m e z e s impe-
t r a r sua nomeação.
Art. 7.° Os que pretenderem matricular-se como agentes de
leilões da p r a ç a do c o m m e r c i o do R i o de Janeiro d e v e r á õ prestar u m a
APPENDICE (LEILÕES) 183

fiança no valor de quatro contos de réis : e sendo de outra praça


comprehendida no districto do tribunal do c o m m e r c i o da capital
do Império, no valor de dous contos de réis.
Estes valores p o d e r á õ ser alterados p o r u m a n o v a fixação, sempre
que o tribunal do c o m m e r c i o o julgar conveniente.
A referida fiança será prestada no cartório do escrivão do juizo
m u n i c i p a l e do commercio do domicilio do agente de leilões. (Cod.
C o m m e r c , arts. 38, 40 e 41.)
Art. 8.° E m l u g a r de fiança, será o impetrante admittido a depo-
sitar n o thesouro publico o importe delia e m dinheiro ou apólices
da divida p u b l i c a pelo v a l o r q u e estas t i v e r e m ao t e m p o d o deposito.
Das apólices receberá o proprietário os r e s p e c t i v o s dividendos na
caixa da amortização, e do dinheiro e juro annual que o thesouro
publico arbitrar, pago semestralmente.
E livre ao proprietário das apólices substituir o deposito dellas
pelo da respectiva quantia e m dinheiro, ou mesmo pela fiança,
sempre que assim lhe convenha.
Art. 9.° Quando, e m vez de fiança, se v e r i f i c a r o deposito e m
apólices da divida publica, o secretario do tribunal do commercio
requererá á junta da caixa da a m o r t i z a ç ã o o ordenar que se facão
nos livros competentes as necessárias annotações ou averbações,
para que as apólices depositadas n ã o possão ser t r a n s f e r i d a s e m -
quanto subsistir o deposito.
Art. 10. O deposito, o u seja e m apólices ou e m dinheiro, será
conservado eífeclivamente por inteiro; e por elle serão pagas as
multas em que incorrer o agente de leilões, e as i n d e m n i s a ç õ e s a
que f ô r o b r i g a d o , se as n ã o satisfizer logo q u e nellas fôr condem-
nado: ficando suspenso e m q u a n t o o deposito n ã o fôr preenchido.
Art. 11. A fiança prestada subsistira por tempo de seis mezes,
depois do dia e m que qualquer agente de leilão tiver cessado de
exercer o seu ofíicio e feito a devida participação ao tribunal do
commercio, o qual m a n d a r á fazer p u b l i c o pelos jornaes que o refe-
rido a g e n t e d e i x o u o e x e r c í c i o das respectivas funeções.
A mesma fiança sómente p o d e r á ser d e c l a r a d a e x t i n e t a , o u conce-
der-se o levantamento do deposito feito e m d i n h e i r o o u e m apólices,
á vista do d o c u m e n t o legal do t r i b u n a l por onde conste n ã o pender
contra o agente dc leilões r e c l a m a ç ã o alguma.
Art. 12. N o caso de m o r t e , fallencia ou ausência de a l g u m dos
fiadores, o u d e se t e r e m e x o n e r a d o d a f i a n ç a p o r f ô r m a l e g a l (Código
Commercial, artigo 262), cessará o ofíicio de agente do leilões,
emquanto n ã o prestar novos fiadores.
E o agente de leilões que n ã o reforçar a fiança, ou n ã o preen-
cher o deposito dentro de tres mezes da data da suspensão será
destituído.
Art. 13. Os agentes de leilões são obrigados a fazer registrar na
secretaria do tribunal do c o m m e r c i o até o dia 15 de J u l h o de cada
anno o conhecimento do pagamento do imposto annual, pena de
suspensão; e o que não o apresentar até o fim do u l t i m o mez do
primeiro trimestre financeiro, será destituído.
184 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Art. 14. O ofíicio de agente de leilões é pessoal, e não pôde ser


delegado: todavia nos casos de i m p e d i m e n t o por moléstia tempo-
rária^ poderáõ exercer ã s f u n e ç õ e s de seu o f í i c i o p o r m e i o de u m seu
proposto, o qual deverá r e u n i r as qualidades requeridas nos arligos
36 e 37 do Código C o m m e r c i a l , e ser previamente habilitado com
titulo de sua n o m e a ç ã o approvado pelo t r i b u n a l do commercio, e
registrado na secretaria do mesmo tribunal. (Código Commercial,
artigo 74.)
E m todo o caso, corre p o r conta do agente de leilões a responsa-
bilidade que resultar dos aclos praticados pelo seu proposto. (Código
Commercial, artigo 75.)

CAPITULO n.—Da suspensão e destituição dos agentes de leitões, e da


imposição das multas.

Art. 15. Sao competentes para suspender, destituir e multar os


agentes de leilões, nos casos e m q u e estas p e n a s s ã o a p p i i c a v e i s :
1.° O tribunal do commercio c o m recurso para o conselho de
estado n o efTeito d e v o l u t i v o , s ó m e n t e nos casos de s u s p e n s ã o e impo-
sição de multas; e e m ambos os eíTeitos nos casos de destituição.
(Regulamento dos t r i b u n a e s do c o m m e r c i o , artigo 18 n . ° 6.)
2. &
As justiças ordinárias, que conhecem das causas de mora e
falta de p a g a m e n t o intentadas contra os a g e n t e s d e l e i l õ e s , segundo
a disposição do artigo 72 do C ó d i g o C o m m e r c i a l ; e das de perdas e
damnos, nos casos dos artigos 169, 170, 1 7 1 , 172, 173, 177, 181 e
182 do citado Código, c o m recurso para a relação do districto e m
ambos os r e f e r i d o s eíTeitos.
A c o n d e m n a ç ã o e m perdas e damnos só pôde ler lugar pelos
meios ordinários.

Art. 16. O t r i b u n a l do c o m m e r c i o procede á i m p o s i ç ã o das penas:


l.°Ofíicialmente. " F

2.° Sobre petição de partes.


3.° Sobre denuncia.
Art. 17. Quando por parte do tribunal do commercio houver de
ter l u g a r a i m p o s i ç ã o de pena c o n t r a agentes de leilões, seguir-se-ba
a f ô r m a de processo estabelecida para os c o r r e t o r e s no regimento
n.° 806. 5 3

CAPITULO III.—Das funeções dos agentes de leilões.

Art. 18. Os agentes de leilões podem vender em almoeda, quer


nas suas próprias casas, quer fóra dellas, os e f f e i t o s d e commercio
cuja venda lhes f ô r encarregada pelos p r ó p r i o s donos, ou por pessoa
devidamente autorisada. (Cod. C o m m e r c , artigo 69.)
E são exclusivamente competentes para a venda de fazendas e
outros quaesquer effeitos que pelo Código C o m m e r c i a l se m a n d ã o
fazer j u d i c i a l m e n t e , ou e m hasta p u b l i c a , e nesses casos t e m fé de
officiaes p ú b l i c o s .

Esta disposição n ã o comprehende as arrematacõos por execução


de s e n t e n ç a . (Cod. C o m m e r c . art. 70.)
APPENDICE (LEILÕES) 185

Art. 19. Os agentes de leilões não poderáõ receber em suas casas


effeitos alguns para serem v e n d i d o s se n ã o f ô r e m acompanhados de
carta missiva o u guia assignada pelo c o m m i t t e n t e queos especifique,
devendo declarar n e l l a as o r d e n s ou instrucções que julgar conve-
niente dar-lhe, e fixar, querendo, o m i n i m o dos preços por que os
ditos objectos deveráõ ser v e n d i d o s , pena de u m a m u l t a da quinta
parte da fiança prestada, que será d u p l i c a d a nos casos de reinci-
dência, e provando-se dolo serão demittidos.
Art. 20. Os agentes de leilões, quando exercem o seu ofíicio
d e n t r o d e s u a s c a s a s e f ó r a d e l l a s , n ã o se a c h a n d o p r e s e n t e s o s donos
dos effeitos que h o u v e r e m d e ser v e n d i d o s , s ã o r e p u t a d o s verdadeiros
consignatarios, e nesta qualidade :
1.° S ã o o b r i g a d o s a cumprir fielmente as i n s t r u c ç õ e s que recebe-
rem dos committentes.
2.° São responsáveis pela boa guarda e conservação dos effeitos
consignados, s a l v o caso f o r t u i t o o u de força m a i o r , o u se a deterio-
ração p r o v i e r de vicio inherente á natureza da cousa. (Cod. C o m -
m e r c , art. 170.)
3 ° S ã o obrigados a f a z e r aviso aos committentes, na primeira oc-
casião opportuna que se lhes oíferccer, de qualquer damno que
s o f f r e r e m os e f f e i t o s d e s t e s e x i s t e n t e s em seu poder, e a verificar em
fôrma legal a verdadeira origem donde proveio o d a m n o : devendo
praticar iguaes d i l i g e n c i a s t o d a s as vezes q u e ao r e c e b e r os e f f e i t o s
notarem avaria, d i m i n u i ç ã o ou estado diverso d a q u c l l e que constar
das g u i a s d e r e m e s s a . Se f ô r e m o m i s s o s , os c o m m i t t e n t e s t e r ã o acção
para e x i g i r e m delles que r e s p o n d ã o pelos effeitos nos t e r m o s precisos
em q u e as g u i a s os d e s i g n a r e m , sem que se l h e p o s s a a d m i l t i r outra
defesa que n ã o s e j a a p r o v a d e l e r e m p r a t i c a d o as d i l i g e n c i a s sobre-
ditas. ( C o d . C o m m e r c , arts. 171 e 172.)
Ó.° N a s v e n d a s a p a g a m e n t o d e v e r á õ declarar no aviso e conta que
remetterem ao c o m m i t t e n t e o n o m e e domicilio dos compradores,
e os p r a z o s estipulados: deixando de fazer esta d e c l a r a ç ã o explicita,
presume-se que a venda f o i effectuada a d i n h e i r o de contado, e n ã o
lhe será admittida prova e m contrario. (Cod. C o m m e r c , art. 177.)
5.° Respondem pela perda ou extravio de f u n d o s dos c o m m i t -
tentes e m seu poder, ainda mesmo que o damno p r o v e n h a de caso
f o r t u i t o o u d e f o r ç a m a i o r , se n ã o p r o v a r e m q u e n a s u a guarda em-
pregarão a diligeneáa que em casos s e m e l h a n t e s e m p r e g ã o os c o m -
merciantes acautelados. E correm por conta d e l l e s os r i s c o s sobre-
venientes na devolução de f u n d o s d o seu poder para a m ã o do com-
m i t t e n t e , se se d e s v i a r e m d a s o r d e n s e i n s t r u c ç õ e s r e c e b i d a s , ou dos
m e i o s u s a d o s n o l u g a r d a r e m e s s a , se n e n h u m a s houverem recebido.
(Cod. C o m m e r c , arts. 181 e 182.)
6.° T e m direito para e x i g i r e m dos c o m m i t t e n t e s u m a commissão
pelo seu trabalho, e m conformidade do que vai disposto no presente
regimento, e a importância de todas as despezas e desembolsos
feitos no d e s e m p e n h o de sua agencia pela fôrma determinada nos
artigos 185, 186, 187 e 188 do Código Comrnercial.
Art. 21. Fóra das próprias c a s a s , os a g e n t e s d e leilões são obri-
186 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

gados, sempre qne se achem presentes os donos dos eíTeitos, a


cumprir as o r d e n s v e r b a e s q u e e s t e s j u l g a r e m c o n v e n i e n t e dar-lhes.
Art. 22. Antes de c o m e ç a r e m o acto do leilão , f a r ã o patente as
condições e termos da venda, f ô r m a de pagamentos e da entrega
dos objectos arrematados, podendo exigir dos arrematantes as
c a u ç õ e s o u signaes que lhes p a r e ç ã o necessários.
Art. 23. Apresentando qualquer objecto para ser arrematado,
cumpre-lhes declarar o seu estado e qualidade, principalmente
quando pela simples intuição n ã o puderem estas circumstaneias
ser c o n h e c i d a s f a c i l m e n t e pelos compradores; e b e m assim o peso,
medida ou quantidade dos objectos, quando o valor destes houver
de ser regulado por estas qualidades; pena de incorrerem na res-
ponsabilidade que no caso couber por fraude, dolo, simulação ou
omissão culpavel.
A r t . 2Z|. A t a x a d a c o m m i s s ã o dos agentes de leilões será regulada
por convenção entre elles e os c o m m i t t e n t e s sobre todos o u sobre
alguns dos eífeitos a vender. N ã o sendo estipulada, n ã o p o d e r á õ nos
leilões feitos dentro de suas p r ó p r i a s casas e x i g i r dos committentes
mais de dous e meio por cento; e nos feitos f ó r a de suas casas mais
de cinco por cento. Aos compradores e m caso n e n h u m poderáõ
levar mais de dous e meio por cento.
Art. 25. Os agentes de leilões n ã o poderáõ vender fiado, ou a
prazos s e m a u t o r i s a ç ã o p o r escripto dos c o m m i t t e n t e s . (Código Com-
mercial, artigo 73.)
Art. 26. Eífectuado o leilão, o agente e n t r e g a r á ao committente,
dentro de tres dias, u m a conta por elle assignada das fazendas
arrematadas c o m as c o n v e n i e n t e s d e c l a r a ç õ e s , e d e n t r o de oito dias
immediatamente seguintes ao do leilão realisará o pagamento do
liquido apurado e vencido. Havendo mora por parte do agente do
leilão, poderá o committente requerer no juizo competente a decre-
tação da pena de p r i s ã o c o n t r a elle a t é e í f e c t i v o p a g a m e n t o ; e neste
caso perderá o mesmo agente a sua commissão. (Cod. C o m m e r c ,
artigo 72.)
Art. 2 7 . Nos casos d o a r t i g o p r e c e d e n t e , o effeito da m o r a para a
decretação da pena de p r i s ã o c o m e ç a r á a correr desde o dia e m que
o c o m m i t t e n t e exigir j u d i c i a l m e n t e o seu p a g a m e u t o . (Código C o m -
cial, artigo 138.)
Art. 2 8 . Os a g e n t e s de l e i l õ e s s ã o o b r i g a d o s a t e r os tres livros —
Diário da e n t r a d a — D i á r i o da s a h i d a — e de contas correntes—, que
lhes são determinados pelo Código Commercial, artigo 7 1 , escrip-
turados pela f ô r m a ahi prescripta, e c o m as f o r m a l i d a d e s q u e são
exigidas para os livros dos commerciantes. (Código Commercial,
arligos 13 e 15.) Os ditos livros serão exbibiveis e m juizo a reque-
rimento de qualquer interessado para os exames necessários, e
mesmo officialmente por o r d e m do t r i b u n a l do c o m m e r c i o , o u dos
juizes. (Código Commercial, artigo 50.)
Art. 29. O agente de leilões cujos livros fôrem achados sem as
regularidades e formalidades especificadas no artigo 71 do Código
Commercial, incorrerá nas penas do artigo 51 do m e s m o Código.
APPENDICE (LEILÕES) 187

Art. 30. As contas dadas pelos agentes de leilões aos committentes


devem concordar com seus livros e assentos; e n o caso de não con-
cordarem, p o d e r á ter lugar a a c ç ã o criminal de f u r t o . (Código C o m -
mercial, artigo 85.)
Art. 3 1 . As c e r t i d õ e s ou contas extrahidas dos livros dos agentes
de leilões, escripturados l e g a l m e n t e , relativas á s vendas de f a z e n d a s
ou outros quaesquer effeitos que pelo Código C o m m e r c i a l s e m a n d ã o
fazer judicialmente ou em basta publica, sendo pelos mesmos
agentes subscriptas e assignadas, t e m fé p u b l i c a . ( C ó d i g o C o m m e r -
cial, artigo 70.) Por taes c e r t i d õ e s o u contas p e r c e b e r á õ os agentes
d e l e i l õ e s os e m o l u m e n t o s fixados para as dos corretores no regula-
mento n....
Art. 32. É p r o h i b i d o aos a g e n t e s de l e i l õ e s : 1.° T o d a a e s p é c i e de
negociação e trafico direclo ou indirecto debaixo do seu o u alheio
n o m e ; contrahir sociedade de q u a l q u e r d e n o m i n a ç ã o o u classe que
seja, e ter p a r t e o u q u i n h ã o e m navios o u na sua carga, p e n a de per-
dimento, e de nullidade do contracto: 2.° Encarregar-se de co-
branças ou pagamentos por conta alheia ; pena de perdimento do
o f í i c i o : 3.° A d q u i r i r p a r a si o u p a r a pessoa de sua família cousa cuja
venda lhes fôr i n c u m b i d a , o u a a l g u m o u t r o agente de leilões, ainda
mesmo que seja a pretexto de seu consumo particular; pena de
suspensão ou perdimento do ofíicio a arbítrio do tribunal do c o m -
mercio , segundo a gravidade do negocio, e de uma multa corres-
pondente ao d o b r o do p r e ç o da cousa comprada. (Código Commer-
cial, artigo 59.)
Art. 33. Na disposição do artigo antecedente n ã o se compre-
hende a acquisição de apólices da divida publica, nem a de acções
de sociedades anonymas, das quaes todavia não poderáõ ser direc-
tores, administradores ou agentes, debaixo de qualquer titulo que
seja. (Código C o m m e r c i a l , artigo 60.)
Art. 3/j. Toda a fiança dada por agentes de leilões e m contracto
ou negociação m e r c a n t i l feita por sua i n t e r v e n ç ã o , será nulla. (Cod.
C o m m e r c , art. 61.)
Art. 35. As quebras de agentes de leilões sempre se presumem
fraudulentas. (Código C o m m e r c i a l , artigo 804.)
Art. 36. Fica prohibido aos agentes de l e i l õ e s e x e r c e r e m nos do-
mingos quaesquer actos de seu ofíicio, pena pela p r i m e i r a vez de
suspensão p o r t e m p o de tres mezes e de u m a m u l t a da d é c i m a parte
da fiança prestada , e de p e r d i m e n t o do o f í i c i o , c de t o d a a fiança
nos casos de reincidência.
E u z e b i o de Queiroz Coitinho Mattoso C â m a r a , do m e u conselho,
ministro e secretario de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , o t e n h a assim
entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, e m dez de
Novembro de m i l oilocentos cincoenta e u m , trigesimo da indepen-
dência e do I m p é r i o . — C o m a rubrica de Sua Magestade o I m p e -
r a d o r . — Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.
188 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

D E C R E T O N . 8 6 3 D E 1 7 D E N O V E M B R O D E 1 8 5 1 .

Estabelece regulamento para os interpretes do commercio da praça do Rio


de Janeiro.

Hei por bem, sobre consulta do tribunal do commercio da capital


do I m p é r i o , decretar o seguinte:

Regulamento para os interpretes do commercio da praça do Rio de Janeiro.

CAPITULO i.—Da nomeação dos interpretes do commercio.

Art. l.° Os interpretes do commercio na praça do Rio de Janeiro


são da nomeação do tribunal do c o m m e r c i o da capitai do Império.
(Cod. C o m m e r c , art. 62, e regulamento n . 738, art. 38 g 2.°)
Art. 2.° Os interpretes actualmente existentes são obrigados a
r e g i s t r a r os t i t u l o s d e s u a n o m e a ç ã o no referido tribunal, e a prestar
o juramento delermiuado nos artigos citado?, até quinze dias
cuntados da publicação do presente regulamento, pena de destitui-
ção de seu ofíicio, que será logo annunciado pelo tribunal, no
jornal da publicação dos seus actos.
Art. 3 ° O numero dos interpretes na praça do Rio de Janeiro
não excederá de tres para cada lingua , podendo cada u m delles
servir para diversas. Nas demais praças sujeitas á jurisdicção do
tribunal do c o m m e r c i o da capital do Império, o mesmo tribunal
n o m e a r á u m ou mais interpretes, segundo a importância dos
mesmos lugares e os i n t e r e s s e s d o commercio.
Ait. O ofíicio de Interprete é pessoal, e n ã o pôde ser substi-
tuído, pena de nullidade dos actos que fôrem praticados pelo
substituto. Todavia será permittido aos interpretes, no caso único
de m o l é s t i a adquirida depois de sua n o m e a ç ã o , exercer as funeções
de seu ofíicio p o r v i a de pessoa p o r elles nomeada e approvada pelo
tribunal do c o m m e r c i o , que reuna as qualidades precisas para ser
interprete, ficando responsável por todos os actos que essa pessoa
praticar, como se p o r e l l e p r ó p r i o praticados fossem.
Art. 5.° Para ser interprete requerem-se as mesmas qualidades
e x i g i d a s p a r a ser commercianle, e conhecimento pratico de lioguas
estrangeiras.
Não podem ser interpretes:
1.° As mulheres.
2.° Os interpreles que h o u v e r e m sido destituídos de seus ofíicios
por sentença.
Art. 6.° A petição para n o m e a ç ã o deve declarar a naturalidade e
domicilio do impetrante, e a praça e m que pretende exercer o
o f í i c i o , e ser instruída c o m os s e g u i n t e s documentos:
APPENDICE (INTERPRETES) 189

1.° C e r t i d ã o de idade.
2.° Attestado o u titulo de residência.
3.° Atlestado da direcção da praça do commercio do Rio de
Janeiro, pelo qual mostre ser versado em línguas estrangeiras, e
q u a e s estas s e j ã o .
Ari. 7.° Os interpretes eão obrigados a registrar na secretaria do
tribunal do commercio, alé o íim do primeiro mez de cada anno
financeiro, o conhecimento de pagamento de qualquer imposto ou
contribuição annual a que sejão sujeitos, pena de suspensão do
ofíicio até a satisfazerem.
Art. 8.° A n e n h u m interprete é permittido abandonar o exer-
cício de seu ofíicio, n e m mesmo deixa-lo temporariamente,
sem communicar previamente ao tribunal do commercio a sua
resolução ou intenção u m mez antes de largar o m e s m o ofíicio, sob
pena de ser r e p u t a d o vago, e de n ã o poder m a i s exercer no Império
o referido ofíicio.
Art. 9.° A vaga de qualquer ofíicio de interprete será mandada
annunciar pelo tribunal do c o m m e r c i o no jornal da p u b l i c a ç ã o de
seus actos.

CAPITULO n. — Das funeções dos interpretes.

Art. 10. Aos interpretes compete :


1.° P a s s a r e m c e r t i d õ e s e f a z e r e m t r a d u c ç õ e s , em língua vernácula,
d e t o d o s os l i v r o s , d o c u m e n t o s e mais papeis escriptos em qualquer
l í n g u a estrangeira que tiverem de ser a p r e s e n t a d o s e m j u i z o , ou e m
qualquer repartição commercial, e que para as m e s m a s traducções
lhes fôrem confiados judicial ou extrajudicialmenle por qualquer
interessado.
2.° I n t e r v i r e m , quando nomeados j u d i c i a l m e n t e , nos exames a
que se tenha de p r o c e d e r para verificação da e x a c t i d ã o de qualquer
traducção que tenha sido argoida de menos conforme c o m o
origina!, errada ou dolosa nos termos dos a r l i g o s 15 e 19.
3.° Interpretarem e verterem verbalmente em língua vulgar,
quando t a m b é m para isso fôrem nomeados judicialmente, as
respostas o u d e p o i m e n t o s que houverem de d a r e m juizo quaesquer
estrangeiros que n ã o fallarem o idioma do Império, e no mesmo
juizo tenhão de ser interrogados ou inquiridos como interessados,
ou como testemunhas ou informantes :
Examinarem, quando pelos inspectores das alfândegas lhes
fôr ordenado, ou por qualquer autoridade judicial competente, a
falta de e x a c t i d ã o c o m que fôr impugnada qualquer traducção feita
por c o r r e t o r d e n a v i o s , d o s m a n i f e s t o s e d o c u m e n t o s q u e os mestres
de e m b a r c a ç õ e s estrangeiras tiverem de apresentar para despacho,
na f o r m a d o a r t i g o G2 d o C ó d i g o C o m m e r c i a l .
A estes exames, quando ordenados por autoridade judicial, são
a p p i i c a v e i s as d i s p o s i ç õ e s dos arligos 15, 16, 17 e 18.
Art. 1 1 . N e n h u m livro, documento o u papel de q u a l q u e r natureza
que fôr, exarado e m idioma estrangeiro, p o d e r á ser a p r e s e n t a d o e m
190 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

juizo, ou e m qualquer estação ou repartição c o m m e r c i a l , sem ser


traduzido e m língua nacional (resolução de 13 de Agosto de 1781,
Código Commercial artigo 125, e regulamento n. 737 artigos 147
e 151).
Art. 12. A excepção das traducções feitas pelos corretores do
navios, pelo que respeita aos manifestos e documentos que os
mestres das embarcações estrangeiras tiverem de apresentar para
d e s p a c h o nas alfândegas do Império, s ó t e m f é p u b l i c a as f e i t a s por
qualquer dos interpretes nomeados pelo tribunal do commeicio.
(Código C o m m e r c i a l artigo 62, regulamento n. 737 artigos 148 e
449.)

Art. 13. S ó m e n t e na falta do impedimento de todos estes, terão


f é as t r a d u c ç õ e s feitas por interpretes nomeados pelo juiz a apra-
zimento das partes (Código C o m m e r c i a l artigo 1 6 , e regulamento
ri. 7 3 7 a r t i g o 148.)

Art. 14- F i c a salvo aos interessados o direito de i m p u g n a r a falta


de e x a c t i d ã o destas t r a d u c ç õ e s . ( C ó d i g o C o m m e r c i a l , artigos 16 e 62.)

Art. 15. Quando alguma traducção fôr arguida de inexacta c o m


fundamentos plausíveis, a autoridade judiciaria perante q u e m fôr a
traducção apresentada, ou o j u i z c o m m e r c i a l , se fôr apresentada
perante autoridade administrativa, ordenará exame , que será feito
em sua p r e s e n ç a , exhibido o original (regulamento n. 737 artigo 150)
e c i t a d o o i n t e r p r e t e t r a d u e t o r p a r a a e l l e a s s i s t i r , se e s t i v e r presente
no lugar.

Art. 16. Este exame será feito por dous dos interpreles provisio-
nados, e s ó e m falta destes p o r i n t e r p r e t e s nomeados a apraziineuto
das parles, nos termos do artigo 13.

Art. 17. O exame só versará sobre o tópico ou tópicos da traduc-


ção impugnados de inexactos.

Art. 18. O resultado do exame não será m a i s objecto de contro-


vérsia, e a traducção assim sustentada ou reformada terá inteira
fé, sem mais admitlir-se discussão ou emenda.

Art. 1 9 . Se do exame s ó se c o n c l u i r f a l t a d e e x a c ç ã o d a traducção


c o m o objecto «cientifico, a n e n h u m a pena fica sujeito o interprete,
se delle se concluir erro de q u e resulte eífectivo d a m n o ás partes;
será o interprete traduetor obrigado a indemnisa-las dos prejuízos
que dahi lhes provierem, e c m juizo competeute; porém se se
provar dolo ou falsidade na traducção, além das penas e m que o
interprete incorrer pelo Código Criminal e legislação existente, e que
lhes serão impostas no competente juizo ou tribunal, será condem-
nado ex-ofiQcio pelo t r i b u n a l do c o m m e r c i o , o u a r e q u e r i m e n t o dos
interessados, e m suspensão, multa ou destituição, segundo a gravi-
dade do caso.

Art. 20. Nas mesmas penas incorrerão os interpretes que se


recusarem, sem causa justificada, aos exames ou diligencias
judiciaes ou administrativas para que tenhão sido competente-
incntc intimados, além da desobediência, se l h e s f ô r c o m i n a d a .
APPENDICE (INTERPRETES) 191

CAPITULO I I I . — D a suspensão e destituição imposta aos interpretes.

Art. 21. É competente para a suspensão e destiluição dos inter-


pretes (além dos casos e m que ella possa ter lugar em virtude de
pronuncia ou sentença e m juizo competente) o tribunal do commer-
cio nos casos m a r c a d o s neste r e g u l a m e n t o .
Art. 22. Da decisão sobre suspensão nos casos dos artigos 7.° e
20 n ã o haverá recurso algum.
Art. 23. Da decisão sobre suspensão n o caso do artigo 19 , e da
que impuzer multa ou decretar a destituição, haverá recurso c m
ambos os e f f e i t o s p a r a o conselho de estado , i n t e r p o s t o dentro de
oito dias, contados do e m que a decisão fôr intimada.
Art. 24. Sómente depois que a m e s m a d e c i s ã o passar e m julgado,
o u por haver sido c o n f i r m a d a , ou por d e l i a se n ã o i n l e r p ô r recurso,
serão p r o v i d o s os l u g a r e s vagos.
Art. 25. Na decretação destas penas o tribunal do commercio
procederá nos termos do artigo 18 e seguintes do r e g u l a m e n t o n . 806
de v i n t e e seis d e J u l h o d o c o r r e n t e anno.

CAPITULO iv.—Dos emolumentos dos interpretes.

Art. 26. Cada um dos interpretes do commercio cobrará de


emolumentos pelas c e r t i d õ e s que passar, pelas t r a d u c ç õ e s que fizer,
e pelos actos que praticar nos termos do artigo 10 paragrapho
1.°, 2 . ° , 3.° e Zi.% o seguinte: 1.° D e c a d a m e i a f o l h a d e t r a d u c ç ã o ou
certidão (artigo 10 § 1.°) m i l e d u z e n t o s réis pagos pelo interessado
no acto da entrega da traducção.
Esta quantia é devida, ainda que a traducção ou certidão n ã o
preencha uma lauda.
Se a t r a d u c ç ã o ou certidão tiver mais que m e i a f o l h a , cada lauda
conterá pelo menos vinte e cinco linhas, e cada linha pelo menos
trinta letras.
Se a traducção fôr ordenada em conseqüência de procedimento
official, estes emolumentos só serão cobrados afinal se houver
condemnação.
2.° P o r e x a m e s p a r a v e r i f i c a ç ã o da e x a c t i d ã o de outras traducções
(artigo 10 § 2.°) q u a t r o m i l réis de cada exame, pagos no fim delle;
para o que o interessado preparará o juizo.
Se o exame durar m a i s de u m dia, o juiz no fim delle decretará
aos i n t e r p r e t e s u m a diária, que n ã o será menor de tres m i l r é i s .
3.° Por verbalmente verterem em língua n a c i o n a l respostas ou
depoimentos ( a r t i g o 10 § 3.°) m i l e d u z e n t o s r é i s d e c a d a interroga-
tório, e pela i n q u i r i ç ã o de cada testemunha ou informante.
Zi.° P o r e x a m i n a r e m a e x a c t i d ã o das t r a d u c ç õ e s dos c o r r e t o r e s de
navios (artigo 10 § 4.°), o mesmo que vencem no caso do n . 2.°,
sendo o exame judicial.
Sendo a averiguação extrajudicial e por ordem do inspeotor
da a l f â n d e g a o mesmo que v e n c e m n o caso do n . l.°
192 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Euzebio de Q u e i r o z Coitinho Mattoso C â m a r a , do m e u conselho,


ministro e secretario de estado dos negócios da justiça, o tenha
assim entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, em
dezesete de N o v e m b r o de m i l oitocentos cincoenta c u m , trigesimo
da independência e do I m p é r i o . C o m a r u b r i c a de Sua Mageslade o
I m p e r a d o r . — E u z e b i o de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

D E C R E T O N . 8 4 4 D E 18 D E O U T U B R O D E 1 8 5 1 .

Determina o modo de preparar os processos cm que os tribunaes do com-


mercio fôrem nomeados árbitros, e de fazer seguir os seus recursos.

Hei por bem decretar o seguinte :

Art. l.° O preparo das causas e m que os t r i b u n a e s d o commercio


fôrem nomeados árbitros (Reg. n . 737 de 25 de N o v e m b r o de 1850 ,
art. 470) terá lugar perante juiz singular , escolhido expressamente
pelas partes ou pelo tribunal, que poderá designar qualquer de
seus membros. Se as partes n ã o escolherem juiz, ou não deixarem
expressamente sua escolha ao tribunal, o processo preparatório
continuará p e r a n t e o j u i z da causa, se já tiver c o m e ç a d o ; aliás será
i n s t a u r a d o p e r a n t e o juiz- de d i r e i t o d o commercio.
Art. 2.° C h e g a n d o a c a u s a aos t e r m o s de julgamento final, m a n -
dará o juiz preparador que se f a ç a o f e i t o c o n c l u s o ao tribunal, que
procederá ao julgamento na fôrma do Reg. citado art. 453 e seguin-
tes, p o d e n d o a n t e s de proferir a sentença mandar proceder em sua
presença ou na do juiz da causa, como entender mais conveniente,
ás d i l i g e n c i a s de que trata o art. 454.
Art. 3.° Proferida a sentença (arts. 4 5 8 e 469) perante o tribunal,
será interposta a a p p e l l a ç ã o , e feita a avaliação (salvo o art. 650) ,
recebimento e attmpação.
Art. 4.° Havendo necessidade de sentença para ser executada,
nos termos do art. 653 , será extrahida em nome do tribunal, e
exeqüível depois de assignada pelo presidente e secretario.
Ait. 5 ° Se no juizo da execução o executado oíferecer e m tempo
embargos infringenles do julgado, serão remettidos ao tribunal
para os receber ou rejeitar in limiue. (Arts. 586 e 743 do Reg.
citado, Ord. liv. 3.° tit. 87 § 12.)
E u z e b i o de Queiroz Coitinho Mattoso C â m a r a , do meu conselho,
ministro e secretario de estado dos negócios da justiça, o tenha
assim entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, cm 18
de Outubro de 1851, trigesimo da independência e do I m p é r i o . —
Com a r u b r i c a de S. M . o Imperador.—Euzebio de Queiroz Coitinho
Mattoso Câmara.
APPENDICE (SELLO) 193

D E C R E T O N . 6 8 1 D E 1 0 D E J U L H O D E 1 8 5 0 .

Manda executar o regulamento do imposto do sello, e de sua arrecadação.

Atlendendo á conveniência de adoptar-se, para melhor arrecadação


do imposlo do sello, a venda do papel sellado em vez de verbas
escriptas nos papeis sujeitos a este i m p o s t o , c o m o a t é agora se tem
praticado: attendendo outrosim a que o novo methodo só pôde ser
posto em execução gradualmente, e ao p a r e passo q u e se fôr pre-
parando e remettendo ás estações competentes o papel sellado; e
que sendo por isso forçoso continuar ainda o actual methodo de
cobrança, indispensável se torna n ã o só compilar as multiplicadas
ordens expedidas para a arrecadação do referido imposto, como
alterar as q u e p a r e c e m menos cohcrentes c o m as disposições da lei
n. 317 de 21 de Outubro de 1 8 4 3 ; e tendo o u v i d o as s c e c õ e s de
fazenda e justiça do conselho de estado, hei por bem ordenar que
se e x e c u t e o r e g u l a m e n t o q u e c o m este b a i x a , assignado p o r Joaquim
José Rodrigues Torres, do m e u conselho, senador do I m p é r i o , m i -
n i s t r o e secretario d'estado dos negócios da fazenda, e presidente do
tribunal do thesouro publico nacional, que assim o tenha enten-
dido e faça executar. Palácio do Rio de J a n e i r o , em 10 de J u l h o de
m i l oitocentos e cincoenta, vigésimo nono da i n d e p e n d ê n c i a e do
I m p é r i o . — C o m a r u b r i c a de S u a Magestade o I m p e r a d o r . — Joaquim
José Rodrigues Torres.

REGULAMENTO DO IMPOSTO DO SELiO E DE SUA ARRECADAÇÃO.

PARTE I.

DO IMPOSTO DO SELLO.

TITULO I.

Do sello proporcional.

CAPITULO I.

Dos titulos e papeis de que se deve pagar o sello proporcional.

Art. l.°È devido o sellj proporcional dos tiíulos comprehendidos


nas seguintes classes, e na importância marcada nas tabellas.

i.* CLASSE.— Letras de cambio e da terra, escriptos á ordem, notas pro-


missórias e créditos, escripturas ou escriptos de venda, hypotheca, doação,
deposito extrajudicial, e qualquer titulo de transferir a propriedade ou
usufrueto ; quinhões hereditários e legados, quitações judiciaes.

TABELLA.

De 1 0 0 ^ 0 0 0 até 400^)000 $ 2 0 0
Demais de 4 0 0 ^ 0 0 0 a l é 1:000^)000 ^ 5 0 0
De cada 1:000^000 mais. . . . . . . . . . . $ 5 0 0

MAN. ATG. 13
194 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

2.' CLASSE.-— Fretamentos, apólices de seguro ede risco.

TABELLA.
» g obre o
De f r e t a m e n l o s de n a v i o s : Para f ó r a do I m p é r i o 1/5 d e 1 ° / « ! " r ^ v a 0

P a r a d e n t r o 1/10 d e 1 °/ 0 . . • j r r e t e

Das apólices de seguro e risco 2 por cento da importância do


prêmio estipulado.

3.° CLASSE.— Titulos de nomeação expedidos pelo governo, ou empregados


de sua escolha , por autoridades ecclesiasticas e pelas mesas das câmaras
legislativas e das assembléas provinciaes.

TABELLA.

Um por cento do ordenado ou lotação, comprehendidos os emo-


lumentos.
CAPITULO I I . — D o s titulos da l . a
classe.

SECÇÃO 1 . " — L e t r a s , escriptos á ordem, notas promissórias e créditos.

Art. 2.° Nos titulos desta s e c ç ã o s ã o c o m p r e h e n d i d o s os seguintes:


I . T o d a s as l e t r a s d c c a m b i o e d a terra.
II. Letras de c a m b i o para os p a i z e s estrangeiros.
I I I . Letras passadas pelos devedores da fazenda nacional, a q u e m
se c o n c e d e fazer pagamento por prestações.
I V . Letras passadas e aceitas pelos contractadores p a r a o pagamento
do p r e ç o dos contractos.
O sello s e r á pago pelos devedores e contractadores.
V. Letras e notas promissórias, créditos e escriptos à o r d e m , ainda
que em forma interior de cartas.
VI. V a l e s a c e i t o s e n t r e os c o m m e r c i a n t e s d a praça.
V I I . N o t a s , vales o u letras de quaesquer associações, contendo
promessa o u o b r i g a ç ã o de pagamento.
VIII. Cautellas ou vales de transacções de empréstimo de di-
nheiro sobre penhores de preciosidades, e de quaesquer outros
o b j e c t o s , q u e se f a z e m n o M o n t e doSoccorro, e m quaesquer associa-
ções e e m m ã o de particulares.
Art. 3.° As letras serão selladas no lugar e m que se v e r i f i c a r o
pagamento, e n ã o nos e m que fôrem sacadas ou negociadas. As
letras que tiverem de ser apresentadas ao aceite ou pagamento,
serão as m e s m a s que deveráõ ser selladas.
Das sacadas sobre paiz estrangeiro, só será apresentada ao sello
uma das vias e nos l u g a r e s do saque.
Art. Os e s c r i p t o s á o r d e m n ã o p o d e m ser aceitos, transferidos
ou negociados no lugar e m que t e m de ser p a g o s , sem prévio paga-
m e n t o de sello.
Art. 5.° Os pertences passados nas letras e c r é d i t o s depois do seu
v e n c i m e n t o , c o m o titulos de t r a n s f e r e n c i a , s ã o sujeitos ao sello, r e v a -
lidação e multa.
APPENDICE (SELLO) 195

Se os c r é d i t o s n ã o tiverem prazo estipulado para o vencimento,


serão s u j e i t o s a o s e l l o os p e r t e n c e s passados ern q u a l q u e r tempo.
Art. 6.° Todas as l e t r a s , e s c r i p t o s , notas promissórias e créditos
que estivessem \encidas ao tempo do regulamento de 26 de Abril
de 1 8 4 4 , se d e p o i s d a e x e c u ç ã o delle f ô r e m ajuizadas, pagarão novo
sello.

SECÇÃO 2. — Escripturas ou escriptos de venda, hypotheca, doação, depo-


a

sito extrajudicial, e qualquer titulo de transferir a propriedade ou


usufructo, legados e quitações judiciaes.

Art. 7.° Nos titulos desta secção comprehendem-se também:


I . As escrípturas e escriptos de c o n t r a c t o s celebrados c o m o go-
verno, ou qiialquer repartição publica.
I I . As escripturas p u b l i c a s o u particulares dos contractos de socie-
dade, na razão do respectivo capital.
I I I . As e s c r i p t u r a s a n t e n u p c i a e s , e de dote o arrhas,
IV. As escripturas de fiança ou abono de qualquer natureza que
sejão , excepto as que preslão os r é o s p r e s o s o u p r o n u n c i a d o s , para
s o l t o s se livrarem.
V. As escripturas de d i s s o l u ç ã o de sociedade.
VI. Os t i t u l o s q u e s e p a s s ã o acs a r r e m a t a n t e s das r e n d a s p u b l i c a s ;
devendo o sello ser c a l c u l a d o n ã o p e l o v a l o r t o t a l d o c o n t r a c t o , mas
pela lotação do excesso de rendimento que elle deve produzir e
constituir o v e n c i m e n t o do arrematante,
Art. 8.° O sello p r o p o r c i o n a l dos contractos de aforamento de
m a r i n h a s , o u de q u a e s q u e r outras propriedades pertencentes a par-
ticulares, câmaras municipaes ou outras repartições publicas, deve
p a g a r - s e a n t e s da e x p e d i ç ã o das escripturas o u titulos, avaliando-se
para esse fim o aforamento na somma de vinte annos de fôro.

Disposições communs.

Art. 9.° Não são comprehendidos nos titulos desta secção para
pagamento de sello p r o p o r c i o n a l :
I. Os titulos de contractos de arrendamentos de prédios rústicos
ou urbanos.
II. Os de l o c a ç ã o de m o v e i s , s e r v i ç o s de colonos e escravos.
III. A divisão de bens entre marido e m u l h e r divorciados por
sentença.
IV. Os c o n t r a c t o s de e m p r e i t a d a e e n g a j a m e n t o em geral.
Art. 10. S e r á c o n s i d e r a d a c o m o v é s p e r a d o v e n c i m e n t o dos titulos
da l . a
e 2. a
secção d a 1.» c l a s s e q u e n ã o tiverem prazo estipulado, a
do dia e m que fôrem ajuizados.
Art. 11. Dous ou mais titulos do m e s m o contracto, ainda que
passados entre dous ou mais conlractantes, pagaráõ u m s ó sello.
Art. 1 2 . Os sellos dos titulos c o m p r e h e n d i d o s nas r e f e r i d a s secções
são devidos, ainda que sejão arguidos de nullidade e m juizo ou fóra
d e l l e ; p o r é m se c o m o taes f ô r e m declarados competentemcnte, será
restituida a importância do sello pago.
196 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

SECÇÃO 3 . — Quinhões
a
hereditários.

Art. 13. É.devido sello dos quinhões hereditários, quae*qucr que


sejão, ainda dos de ascendentes e descendentes.
Art. lli. Os quinhões hereditários, ainda que sejão havidos e m
virtude de partilhas feitas e x t r a j u d i c i a l m e n t e por escripturas pu-
blicas ou particulares, estão sujeitos ao mesmo sello que os das
judiciaes.
Art. 15. Para o pagamento do i m p o s t o do sello do artigo antece-
dente nas partilhas judiciaes, basta u m a simples nota declaraliva
do respectivo escrivão, ou q u i t a ç ã o dada ao interessado antes de ser
assignada, na f ô r m a do disposto nos § § 2.° e 3.° do alvará de 2 de
Outubro de 1811, pondo-se a verba do pagamento do sello na
mesma quitação, o q u e se c u m p r i r á nas e s t a ç õ e s competentes.
Art. 16. Os quinhões hereditários, judiciaes o u extra judiciaes ,
são sujeitos a sello, ainda que provenhão de i n v e n t a r i o de pessoas
fallecidas antes da execução do dito regulamento, se depois delle
fôrem expedidos ou executados.

CAPITULO III. —DOÍ titulos da 2. classe.a

SECÇÃO 1."—Fretamentos,

A r t . 1 7 . O sello de f r e t a m e n t o d e n a v i o s d e v e ser pago u m a só vez


pelo consignatario ou mestre, a vista de u m a n o t a p o r este assignada,
em que declare o n o m e , n a ç ã o e tonelagem da e m b a r c a ç ã o , e o i m -
porte total do frete.
Esta nota lhe será restituida c o m a verba da taxa que pagar.

SECÇÃO 2. —Apólices de seguro e de risco.


a

A r t . 18. A s a p ó l i c e s de seguro, c o n t r a c t o s o u letras de risco deveráõ


ser selladas d e n t r o de t r i n t a dias, c o n t a d o s d a s d a t a s d e s s e s t i t u l o s : as
c a r t a s d e f r e t a m e n t o , a n t e s q u e as m e s a s do consulado e de rendas,
ou seus agentes, expeçáo o despacho da embarcação para sahir do
porto onde taes c o n t r a c t o s ou conhecimentos fôrem passados.

CAPITULO IV.— Disposições communs aos titulos da l. e 2.° classe. 5

Art. 19. Os titulos destas duas classes que tiverem de ser lavrados,
a saber:
I. E m livro dc notas de tabellião, n ã o o serão sem terem pago a
taxa.
II. E m actos judiciaes, ou officialmeníe fóra delles, n ã o serão
assignados o u subscriptos pelo escrivão o u official competente sem
serem sellados.
III. Por particulares e m lugar onde houver recebedor do sello,
o u distante delle a t é tres léguas, serão sellados dentro de trinta dias,
contados da sua data; e sendo e m m a i o r distancia, mais trinta dias
por cada tres l é g u a s . E p o r é m a p p l i c a v e l a estes t i t u l o s o disposto
no artigo 20.
APPENDICE (SELLO) 197

Os prazos marcados neste § s e r ã o c o n t a d o s da data do aceite para


as l e t r a s d e q u e t r a t a o a r t i g o 3.°
IV. E m livros de c o m p a n h i a s , pelo que pertence á transferencia
de suas a c ç õ e s , pagaráõ o sello antes de lavrado o t e r m o o u assento
delia.
Àrt. 20. O papel e m que se h o u v e r e m de l a v r a r os d i t o s titulos,
p o d e r á s e r s e l l a d o a n t e s d i s s o c o m as q u o t a s q u e as p a r t e s indicarem;
c se a c o n t e c e r inutilisar-sé por engano ou accidente, e fôr apresen-
tado á estação do sello d e n t r o de seis mezes, contados da data e m
q u e f ô r a sellado, p o d e r á ella sellar o u t r o papel s e m n o v o pagamento,
recebendo da parle interessada, e cancellando o inutilisado, que
será guardado pelo recebedor.
A disposição deste a r t i g o c o m p r e h e n d e t a m b é m os p a p e i s s u j e i t o s
ao sello fixo, que se p o d e m s e l l a r em branco; a substituição porém
não terá l u g a r se o papel inutilisado contiver algum acto escripto,
e se a c h a r assignado por q u e m o deva firmar.
Art. 2 1 . A substituição do papel sellado, que é p e r m i l l i d a quando
este por e n g a n o o u a c c i d e n t e d e f a c t o se i n u t i l i s o u , d e v e r á realisar-se
sempre que se n ã o possa suspeitar que houvesse fraude ou intenção
de a praticar.
Art. 22. D e v e ser r e s t i l u i d o o sello de escripturas de quaesquer
contractos, quando ellas não chegão a ser lavradas e m nota, ou
assignadas pelas partes.

CAPITULO V.—Dos títulos da l. 6 2. classe, que são isentos do sello


a a

proporcional.

Art. 23. São isentos do sello os titulos seguintes :


I. As letras de c a m b i o e da terra passadas, negociadas o u aceitas
pelo governo e seus d e l e g a d o s ; os bilhetes , notas promissórias e
quaesquer titulos de credito, emittidos pelo thesouro publico; os
saques para m o v i m e n t o de f u n d o s de u m a s para outras repartições
de fazenda.
Ií. As escripturas sujeitas ao p a g a m e n t o da siza dos b e n s d e raiz,
e bem a s s i m as q u i t a ç õ e s e oulros titulos dc dinheiro provenientes
de contracto, que já tenha pago o devido sello, de sorte que este se
não repita e m u m a mesma transacção.
III. A s letras de c a m b i o e da terra, bilhetes e notas promissórias,
t i t u l o s de credito e saques para movimentos de f u n d o s , que fôrem
relativos á fazenda provincial, e expedidos pelas autoridades pro-
vinciaes.
IV. A s letras passadas e m conseqüência de c o n t r a c t G s , de que se
t e n h a pago o sello proporcional.
V. Os conhecimentos que se d ã o nas estações fiscaes do recebi-
mento do i m p o s t o da siza p a r a serem i n c o r p o r a d o s nas esoripturas.
VI. Os c o n h e c i m e n t o s e m f ô r m a , q u e aos vendedores de gêneros
para o s a r s e n a e s se p a s s ã o p a r a h a v e r e m seu p a g a m e n t o ; b e m como
as contas ou facturas que servem de base para a extracção dos
referidos conhecimentos.
198 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

V I I . As transferencias das apólices da dívida publica, quer gerac«,


quer provinciaes, naquellas províncias a que este f a v o r tiver sido
concedido por lei.
VIII. As c o n c o r d a t a s commeiciaes.
I X . Os e n d o s s o s o u p e r t e n c e s p a s s a d o s n a s l e t r a s e c r é d i t o s a n tes do
vencimento.
X . Os titulo?, actos e papeis lavrados e processados nos consula-
dos das nações estrangeiras dentro do I m p é r i o , se t i v e r e m de pro-
duzir todos os seus eíTeitos fóra dos mesmos, não havendo nelles
cláusula ou condição que tenha, o u possa ter v e r i f i c a ç ã o e validade
dentro do Brasil entre nacionaes ou estrangeiros.
XT. As quitações judiciaes, quando fôrem relativas ás letras,
bilhetes e outras transacções a favor de que se d e c r e t a a excepeão
do art. 15 § 1.° da lei dc 2 1 de O u t u b r o de 1843.
t Art. 24. N ã o s ã o sujeitos ao sello a c t u a l nem á maioria delle, se
já o antigo tiverem pago, todos os t i t u l o s e p a p e i s da l . a
e 2 . ' classe,
que já estavão lavrados ao tempo da execução do regulamento de
26 de A b r i l de 1844, e assignados por particulares, o u nas notas dos
tabelliães, livros das companhias, em autos judiciaes, ou oficial-
mente fóra delles.
Art. 25. Tendo já sido pago o sello proporcional devido dos
quinhões hereditários e legados i n s c r i p t o s nas respectivas partilhas,
as quitações judiciaes dos mesmos quinhões n ã o s ã o sujeitas ao
mesmo sello, e s i m ao fixo como qualquer documento.

CAPITULO VI.— Dos títulos da 3. classe. 3

Art. 26. Nos titulos desta classe são comprehendidos:


I. Os de n o m e a ç ã o expedidos pelo governo, ou por empregados de
sua escolha, por autoridades ecclesiasticas, e pelas mesas das assem-
b l é a s legislativas e das asscmbléas p r o v i n c i a e s , os q u a e s p a g a r á õ u m
por cento do vencimento annual ou lotação de 5 0 ^ ) 0 0 0 rs. e para
c i m a , comprehendidos os emolumentos.
I I . Os que concedem reformas, aposentadorias, pensões, tenças,
meios soldos, e quaesquer outras mercês pecuniárias; e b e m assim
os titulos dos empregados das câmaras municipaes que vencem
ordenados, para p o r e l l e s se d e v e r pagar o sello p r o p o r c i o n a l de u m
por cento quando o vencimento f ô r de 5 0 ^ 0 0 0 rs. annuaes, ou
maior.
I I I . Os q u e pelas thesourarias e repartições fiscaes se passão aos
agentes dos collectores e ajudantes de seus escrivães, para o que
deveráõ os m e s m o s declarar quaes s ã o os s e u s vencimentos.

CAPITULO VII.—Dos títulos da 3.* classe que são isentos do sello


proporcional.

Art. 27. São isentos do pagamento do sello nesta classe :


I. Os titulos de n o m e a ç ã o que n ã o fôr vitalícia, ou pelo menos de
mais de anno.
APPENDICE ( S E L L O ) 199

II. Os de s u b s t i t u i ç õ e s temporárias, ou nomeações interinas.


III. Os dos oííiciaes da g u a r d a nacional.
IV. Os alvará*, cartas e m e r c ê s n ã o especificadas.
V. Os dos e m p r e g o s d e r e n d i m e n t o m e n o r d e 50<JJ{)000 r s . a u n u a c s .
VI. Os de n o m e a ç ã o dos inspectores de quarteirão.
VII. P r o v i s õ e s de v i g á r i o s encommendados.
V I I I . As apostillas simplesmente dcclarativas, que são lançadas
nas patentes dos oííiciaes m i l i t a r e s , que passão de umas para outras
classes, e m virtude e por execução de disposições legislativas, que
dizem respeito ao quadro do exercito.
Esta isenção n ã o se e s t e n d e a o u t r a s q u a e s q u e r a p o s t i l l a s e m que
as p a s s a g e n s se c o n c e d ã o a outro titulo.
I X . As aposlillas de remoções dos juizes de d i r e i t o de uns para
outros lugares.

Art. 28. Os titulos c o m p r e h e n d i d o s n a 3.* c l a s s e n ã o p a g a r á õ sello


por inteiro, ou a maioria sobre o antigo, se ao tempo da execução
do dito regulamento já t i n h ã o passado pela c h a n c e l l a r i a , os q u e são
sujeitos ao transito delia, tinhão assentamento e m f o l h a , os q u e n ã o
t r a n s i t ã o pela c h a n c e l l a r i a , e c a r e c e m desse a s s e n t a m e n t o ; o u tinhão
p r o d u z i d o seu e f f e i t o p e l a posse e e x e r c í c i o dos t i t u l a d o s , os q u e n ã o
transitão pela chancellaria, n e m carecem de assentamento.

CAPITULO VIII.—Das revalidações.

Art. 29. As letras, escriptos á ordem, notas promissórias, créditos,


cautelas e vales, q u e n ã o t i v e r e m pago o sello n o prazo maroado no
§ 3.° do artigo 19, ou tiverem pago u m sello inferior ao devido ,
s e r ã o sujeitos ás disposições da l e i de 21 de O u t u b r o de 1843, artigo
13 e seus § § , relativos á s revalidações.

Art. 30. A d i s p o s i ç ã o d o § 2 . ° d o d i t o a r t i g o 13 d a lei n ã o é appli-


c a v e l aos créditos.

Art. 3 1 . Os outros titulos c o m p r e h e n d i d o s na l . a


e 2.* classe, que
não pagarem a taxa d e n t r o dos prazos m a r c a d o s neste regulamento,
ou que a pagarem menor que a devida, poderáõ ser revalidados na
í ó r m a do artigo 14 § § l . a
e 2.° da citada lei de 1843.

Art. 32. Não serão a d m i t t i d o s a o s e l l o os t i t u l o s q u e n ã o tiverem


data.

TITULO II.

Do sello fixo.

Art. 33. São sujeitos a este sello, m conformidade do art. 12, §§


2. 8
e 3.° da l e i , os papeis, livros e titulos comprehendidos nas
seguintes classes:
200 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

C A P I T U L O I . — Classe l . — D o s
a
que pagão a taxa segundo o numero de
folhas.

Secção l. —Papeis forenses.


a

Art. M. Por cada


% meia folha.

A u t o s de posse, t o m b o , i n q u i r i ç ã o e j u s t i f i c a ç ã o de genere,
justificação de serviços ^ 1 2 0
Autos de qualquer outra natureza, comprehendidos os
q u e c o r r e m a n t e os d e l e g a d o s e s u b d e l e g a d o s . . . . $ 0 6 0
A u t o s q u e se findarem por haver composição das parles.
As justificações ou legitimações feitas para h a v e r passa-}* $ 1 0 0
porte e para ser r e c o n h e c i d o c i d a d ã o b r a s i l e i r o .

Escripturas de qualquer contracto em que se n ã o d e c l a r e '


quantia
Traslados das m e s m a s
P r o c u r a ç õ e s feitas j u d i c i a l m e n t e . . . . . . .
Traslados dc autos, quando fôrem extrahidos como taes,:
c n ã o como i n s t r u m e n t o de publica fôrma . . . .1
Sentenças extrahidas do processo .
Sentenças de formal de partilhas
Mandados de preceito
Cartas testemunhaveis
Cartas p r e c a t ó r i a s , advocatorias, r o g a t ó r i a s , de inquirição
e arrematação, ainda que expedidas a favor da fazenda
provincial
Paga antes da assignatura ou concerto.

Secção 2 . — P a p e i s e documentos
a
civis.

Art. 55.

Testamentos o u codicillo3 $ 1 6 0
Paga depois da verba do p r i m e i r o registro.

Passaportes, guias de m u d a n ç a de domicilio e titulos de


residência
Titulos de nomeação interina, de substituição e outros
que n ã o devem durar mais de a n n o V $ 1 6 0
T i t u l o s dos oííiciaes da guarda n a c i o n a l , os d o s emprega-
dos de r e n d i m e n t o menor de 5 0 $ rs. e os d e nomea-
ção de inspectores de quarteirão

Provieões de parochos encommendados . ) v*irn


Traslados de autos e m publica fôrma . ) $ 1 6 0
Paga antes da assignatura da autoridade q u e os d e v e passar.
APPENDICE (SELLO) 201

Editaes, mandados de penhora, seqüestro, citação ou\


para outro qualquer fim \
Certidões das citações, e de q u a e s q u e r outros actos judi-
ciaes, e m e x e c u ç ã o de m a n d a d o s , o u despachos relativos
a causas pendentes, Certidões quaesquer
Attestados #
. . . .
Procurações particulares
Os titulos e papeis comprehendidos na l . a
classe, que
fórem de valor m e n o r de 1 0 0 $
Recibos e quitações particulare*
Q u i t a ç õ e s judiciaes de menos de 1 0 0 $
Qualquer outro documento ou papel
Cartas de ordens ecclesiasticas
Compromissos das irmandades, confrarias e ordens ter-
ceiras
Quitações, ainda que sejão sobre objectos judiciaes, apre-
sentadas nas repartições publicas para se haver dellas
algum pagamento de m a i s de 1 0 0 $ rs
Paga antes da j u n t a d a a autos e petições, o u de apresenta-
ção para produzirem e m publico o effeito para que
forão passados.

s
Cada via de c o n h e c i m e n t o de f r e t e s , antes q u e as mesas
do consulado e de rendas, o u seus agentes, expeção o
despacho da e m b a r c a ç ã o para sahir do porto onde taes
conhecimentos fôrem passados $ 0 8 0
Art. 36. São sujeitos ao sello fixo do a r t i g o 35 os documentos
offerecidos e apresentados pelos p r o m o t o r e s públicos e fiscaes, e m
requerimentos, officios, o u quaesquer i n q u é r i t o s do desempenho de
seus e m p r e g o s , devendo, quando se h o u v e r e m d e j u n t a r a o s autos,
ser averbados para se e f f e c t u a r o pagamento dos sellos pela parte
obrigada a pagar custas.

Secção 3. —Livros.
a
Por cada folha
Art. 37- do livro.

Os dos t e r m o s de b e m viver e s e g u r a n ç a , e os dos cul-)


pados ' V $ 1 0 0
Os dos cofres dos orphaos e ausentes . . . . . . .V
Os do c o m m e r c i o (diário, mestre ou razão e copiador de
cartas)
Os das ordens terceiras, irmandades e confrarias . .
Os de assento de b a p l i s m o s , c a s a m e n t o s e ó b i t o s das paro-
chias e curatos
Os livros e protocolos de tabelliães e escrivães de qualquer
j u i z o , c o m p r e h e n d i d o s os dos e s c r i v ã e s d e j u i z e s de paz,
delccacias e subdelecacias
Os livros de depositários geraes, distribuidores e conta-
dores judiciaes .
202 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Paga anle3 de rubricados pela autoridade competente, e de se


começar nelles a e s c r i p t u r a ç ã o para que devão servir.

Secção A.*-— Loterias.

Art. 38.
Bilhetes de loterias, s*egundo o numero de inteiros do
plano, cada u m . ^J150
Paga antes da venda.

Secção 5 . ' — C a r t a s de jogar.

Art. 39.
Baralhos dc cartas de jogar fabricadas d e n t r o ou fóra do
Império, cada u m $ 1 6 0
Paga, a saber:
As f a b r i c a d a s fóra do I m p é r i o , logo que fôrem despachadas nas
alfândegas, para o q u e os respectivos inspectores, nesse a c t o , par-
ticiparão por escripto ao chefe da estação fiscal do sello, o n o m e do
i m p o r t a d o r , sua morada e quantidade de baralhos despachados.
As fabricadas d e n t r o do I m p é r i o , antes de expostas á venda.
Nas estações de arrecadação do sello, haverá u m carimbo para
s e l l a r os b a r a l h o s que fôrem apresentados, os quaes deveráõ levar
na capa ou envoltório u m a abertura redonda, para s o b r e e l l a se i m -
primir o sello, q u e s e r á de m a i o r c i r c u m f e r e n c i a q u e a da abertura,
de sorte que o sello fique estampado, parta sobre a primeira carta
(que será o az d e e s p a d a s ) , e parte sobre a capa na circumferencia
da abertura.
As cartas expostas á venda, encontradas nas m ã o s dos p a r t i c u l a r e s ,
e nas casas de jogo, sem sello, ou c o m sello falsificado, s e r ã o a p -
prehendidas; ficando s u j e i t o s os i n f r a c t o r e s á m u l t a de 1 0 $ rs. por
c a d a b a r a l h o , e ao p e r d i m e n t o dos m e s m o s , a l é m das p e n a s dos a r t i g o s
167 e 168 do C ó d i g o Penal.
Este delicto é caso de d e n u n c i a nos t e r m o s do § 9.° do alvará de
3 de J u n h o de 1 8 0 9 : a autoridade policial m a n d a r á p r o c e d e r a b u s-
cas e mais diligencias à requisição do chefe da estação do sello, e
achando-se baralhos n ã o sellados, i n c o r r e r á o infractor, a l é m do per-
dimento dos baralhos, nos tresdobro da referida m u l t a , a favor do
denunciante.

C A P I T U L O I I . — Classe 2 . — D o s titulos
a
que pagão a taxa segundo a sua
qualidade.

Secção 1.*— Títulos e tratamentos.

Art. U0.
Carta de m e r c ê o u titulo de d u q u e ou duqueza . . . 1 0 0 $ 0 0 0
Dita de m a r q u e z o u m a r q u e z a 9 0 $ 0 0 0
Dita de conde o u condessa, e de grandeza 8 0 $ 0 0 0
APPENDICE ( S E L L O ) 203

Carta de visconde o u viscondessa 6 0 $ 0 0 0


Dita de b a r ã o ou baroneza 5 0 $ 0 0 0
Dita do conselho 5 0 $ 0 0 0
Alvará de m e r c ê de tratamento de E x c e l i e n c i a . . . . 8 0 $ 0 0 0
Dito dito dito de S e n h o r i a . . 50$>000

Secção 2."—Nobreza e brazão.

Art. 41.
Alvará de mercê de fidalgo cavalleiro, ou m o ç o fidalgo
com exercício / . . . 5 0 $ 0 0 0
D i t o de fidalgo escudeiro, o u m o ç o fidalgo 4 0 $ 0 0 0
D i t o de cavalleiro fidalgo, o u escudeiro fidalgo . . . 2 5 $ 0 0 0
Dito de b r a z ã o d'armas 3 0 $ 0 0 0

Secção 3.*—Officios da casa imperial.

Art. 42.
Mercê do cargo de m o r d o m o - m ó r , capellão-mór, estri-
beiro-mór, camareira-mór, vedor e qualquer ofíicial-
m ó r d a casa i m p e r i a l 8 0 $ 0 0 O
Dita de g e n t i l h o m e m da c â m a r a , veador e honras de
cfíicial-mór 60$>000
Dita de d a m a ou honras de d a m a 5 0 $ 0 0 0
Dita de m o r d o m o , guarda-roupa ou açafata . . . . 3 0 $ 0 0 0
Dita de o f í i o i a l - m e n o r , o u honras desse ofíicio . . . 2 5 $ 0 0 0
Dita de q u a l q u e r outra n o m e a ç ã o de ofíicio ou empre-
go na casa i m p e r i a l , expedida pela m o r d o m i a - m ó r . 1 0 $ 0 0 0

Secção 4. —Condecorações honoríficas.


a

Art. 43.
Mercê de g r a n - c r u z de q u a l q u e r das ordens . . . . 100$00O
Dita de g r a n d e dignitario da o r d e m da Rosa . . . . 8 0 $ 0 0 0
Dita de dignitario da imperial ordem do Cruzeiro e da
Rosa 6 0 $ 0 0 0
Dita de c o m m e n d a d o r da Rosa 5 0 $ 0 0 0
Dita de official do Cruzeiro e da Rosa 4 0 $ 0 0 0
Dita de c o m m e n d a d o r das outras ordens 3 5 ^ 0 0 0
Dita de c a v a l l e i r o de q u a l q u e r o r d e m 2 0 $ 0 0 0

Secção 5.*—Diplomas scientificos e litterarios.

Arf. 44.
Carta de D r . ou bacharel f o r m a d o 2 5 $ 0 0 0
Dita de boticários e parteiras 20<jj000
T i t u l o s de D r . e m medicina, boticários e parteiras pas-
sados pejas universidades o u faculdades estrangeiras. $ 1 6 0
204 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

T i t u l o s de prêmios concedidos pelas academias e escolas


publicas, e de a p p r o v a ç ã o do curso da aula do c o m -
mercio \ . . * 2 $ 0 0 0
Dito de advogado do conselho de estado 2 5 $ 0 0 0
Dito de solicitador ou procurador de causas ante os tri-
bunaes e juízos da côrte, Bahia, Pernambuco e Mara-
nhão 1 5 $ 0 0 0
Sendo ante os j u í z o s das outras cidades e villas . . . 6«5Jí)000
Dito de a p p r o v a ç ã o de pilotos e práticos , de machinistas
de b a r c a s de v a p o r , o u f a b r i c a s 2 $ 0 0 0

Secção 6. —Privilégios.
a

Art. 45.
Diploma de privilegio exclusivo concedido a qualquer
empreza a t é tres annos 1 0 $ 0 0 0
A t é dez annos 3 0 $ 0 0 0
Dahi para cima I 0 0 $ 0 0 0
C a r t a de fabrica para gozar isenção de direitos * . . 5 0 $ 0 0 0
Dita de diploma de m a t r i c u l a de negociante de grosso
trato 1 0 $ 0 0 0

Secção 7. — Outras mercês.


a

Art. 46.
Diplomas de q u a l q u e r m e r c ê feita pelo poder executivo ,
comprehendidas cartas de naturalisação de cidadão
brasileiro, de p e r f i l i a ç ã o e adopção, de confirmação
de compromisso e de provisão de confirmação na
parte ecclesiastica, e quaesquer outras n ã o especifi-
cadas 1 0 $ 0 0 0

Secção 8. —Bullas, breves e dispensas.


a

Art. 47.
Bulla ou breve de c o n f i r m a ç ã o de arcebispo ou bispo . 8 0 $ 0 0 0
Dita d e b i s p o in partibus 6 0 $ 0 0 0
D i t a de prelado d o m é s t i c o de Sua Santidade . . . . 5 0 $ 0 0 0
Dita conferindo honras a clérigo secular ou regular . . 4 0 $ 0 0 0
D i t a de s e c u l a r i s a ç ã o o u m u d a n ç a 4 0 $ 0 0 0
Dita n ã o especificada 1 0 $ 0 0 0
Dispensa de interstícios para ordens, o u de idade. % , 1 5 $ 0 0 0
Dita de lapso de t e m p o concedida pelos b i s p o s . . . . 1 5 $ 0 0 0
B u l l a de i m p e d i m e n t o de m a t r i m ô n i o , salvo sendo a f a v o r
de pobres 10$>000
D i t a de p r e g ã o , salvo no casamento de c o n s c i ê n c i a . . 1 0 $ 0 0 0
Dita ou supplementos de idade ou e m a n c i p a ç ã o . . . 1 0 $ 0 0 0
Dita o u dito de consenso de pais, tutores e curadores para
casamento 1 0 $ 0 0 0
APPENDICE (SELLO) 205

Bulla de fianças de banhos, as c h a m a d a s de têmporas,


irregularidades, & c , quando dadas pelo ordinário,
n ã o s e n d o das especificadas neste artigo «JJ160
Dita de illegitimidade para o provimento de benefícios
ecclesiasticos $ 1 6 0
As dispensas e l i c e n ç a s sobre objectos ecclesiasticos, es-
pecificados o u n ã o especificados neste artigo, são su-
jeitas ao sello fixo declarado no dito artigo, ou sejão
concedidaspelos bi-pos, o u pelo S u m m o P o n t í f i c e , ou
por quaesquer outras autoridades maiores ou menores,
que poder tenhão p a r a as conceder.

ie
Secção 9.'—Licenças.

Art. 48.
Para oratório particular.
Por u m a s ó vez 1 $ 0 0 0
Por u m anno 3 $ 0 0 0
E por mais de u m anno:
Nas povoações 3 0 $ 0 0 0
No campo , ou em lugar distante da igreja matriz . . 1 0 $ 0 0 0
As licenças concedidas a empregados que n ã o percebem
vencimento algum pelo e x e r c í c i o de seus e m p r e g o s . 1 $ 0 0 0
Licenças a empregados públicos:
Sendo a t é tres mezes c o m v e n c i m e n t o 2 $ 0 0 0
S e n d o a t é seis m e z e s i d e m 4 $ 0 0 0
Idem sem vencimento 1 $ 0 0 0
Licença para advogar, concedida a indivíduo que n ã o
seja f o r m a d o , n ã o sendo vitalícia, por cada anno . . 5 $ 0 0 0
Dita para advogar, concedida a indivíduo que n ã o seja
formado e m direito nas academias do Império, cu
sendo-o em universidade estrangeira 5 0 $ 0 0 0
Dita para citar o procurador da coroa 1 $ 0 0 0
Dita para aceitar e m p r e g o , pensão ou condecoração de
qualquer governo estrangeiro 2 5 $ 0 0 O
Dita para o exercicio de qualquer industria no paiz ,
sendo nacional o licenciado, comprehendidasas licen-
ças annuaes de que trata o artigo 76 do regulamento
das capitanias dos portos:
Por uma s ó vez 1 0 $ 0 0 0
Annual 1 $ 0 0 0
Sendo estrangeiro :
Por u m a s ó vez 2 0 $ 0 0 0
Annual • 2 $ 0 0 0
Dita para a b e r t u r a de lheatro n a c i o n a l , cobrados p o r u m a
só vez 4 0 $ 0 0 0
Idem idem para o estrangeiro « 8 0 $ 0 0 0
Dita de qualquer divertimento de espectaculo p u b l i c o . 3 0 $ 0 0 0
206 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Licença, qne deve ser annual, para abrir casa de jogo licito :
Nas cidades d o R i o de Janeiro, Bahia e Pernambuco . 6 0 $ 0 0 0
Nas outras c a p i t ã e s de p r o v í n c i a s 3 0 $ 0 0 0
Nas demais cidades, villas e p o v o a ç õ e s 1 5 $ 0 0 0
Licenças concedidas pelas câmaras municipaes para
q u a e s q u e r actos da sua competência 2 $ 0 0 0
Licenças concedidas por quaesquer autoridades íiácaes
e civis para os c a s o s , e n a c o n f o r m i d a d e d e s e u s r e s -
pectivos regimentos 2 $ 0 0 0
Qualquer outra licença nao especificada 2<5j>000

Secção 10."—Titulos de despachantes das alfândegas e de corretores.

(Vide a declaração de 10 de Setembro de 1850, no fim deste Re-


gulamento.)

Art. 49.
Estes titulos s ã o sujeitos ao sello fixo de 5 $ 0 0 0 rs.
Art. 50. As l i c e n ç a s de que se d e v e p a g a r o sello fixo, sem excep-
tuar as n ã o especificadas, são sómente aquellas de que se expedem
titulos especiaes assignados pelas respectivas autoridades, n ã o sendo
p o r t a n t o sujeitas ao sello o r d e n a d o no a r t i g o Zi8 as s i m p l e s permis-
sões que os juizes concedem por seus despachos e m casos de ne-
cessidade para as partes ou seus procuradores assignarem os arti-
culados e allegsções, para o que não é preciso expedir titulo ou
diploma algum; devendo sómente pagar a taxa de 160 rs., como
comprehendida no a r t i g o 35 deste r e g u l a m e n t o , debaixo da desig-
n a ç ã o de qualquer outro documento ou papel.
Art. 5 1 . Os titulos, diplomas, alvarás e m e r c ê s , que tiverem sido
passados e expedidos antes do regulamento de 26 de A b r i l de 1844,
ainda que não tenhão pago sello a l g u m , sómente deveráõ p^gar
aquelle a que estavão sujeitos ao tempo de sua expedição, no caso
de t e r e m já antes p r o d u z i d o seu effeito, e p o r e l l e se t e r f e i t o obra,
escriplurando-se a taxa nos livros actuaes c o m a declaração, tanto
no assento c o m o na verba, de ser taxa antiga. Quando p o r é m taes
titulos, ainda que anteriormente expedidos, n ã o tiverem tido o seu
cumprimento, então pagaráõ o sello actual.

C A P I T U L O I I I . — D o s titulos da 1 . * e 2 . * classe que são isentos do sello fixo.

Art. 52. São isentos do pagamento do sello fixo:


I. Os processos e m que fôrem partes a justiça ou a fazenda p u -
blica : sendo p o r é m o r é o , quando afinal condemnado, sujeito ao
pagamento d o s e l l o r e s p e c t i v o , se n ã o f ô r p o b r e .
II. As mercês c o n f e r i d a s aos m i l i t a r e s d e t e r r a e m a r por serviços
extraordinários de campanha; aos príncipes e aos s u b d i t o s estran-
geiros que se fizerem dignos da benevolência do Império.
III. Os primeiros traslados de escripturas que já tiverem pago o
proporcional.
APPENDICE ( S E L L O ) 207

IV. Os m a n d a d o s judiciaes passados ex-oííxcio.


V. Os recibos, q u a n d o f ô r e m relativos ás letras, bilhetes de c r e d i t o
e mais transacções a favor de que se d e c r e t a , á excepção do artigo
15, § 1.° d a l e i d e 21 de O u t u b r o de 1843.
V I . Os d o c u m e n t o s apresentados pelos agentes da fazenda nacio-
nal ou quaesquer outros empregados públicos para legalisar suas
contas nas respectivas repartições.
V I I . Os d o c u m e n t o s q u e p e r t e n c e m ao e x p e d i e n t e das repartições,
como s ã o , guias, attestados, folhas, relações, recibos authenticados
de vencimentos militares e empregados públicos, ferias, salários,
pensionistas e outros semelhantes.
V I I I . Os livros das câmaras municipaes e os das casas de cari-
dade.
I X . Os dos t e r m o s das m u l t a s dos j u r a d o s e das correicões e dos
registros das leis.
X. As licenças que d ã o os c o m m a n d a n t e s m i l i t a r e s e as autori-
dades p a r a q u e seus s u b o r d i n a d o s p o s s ã o r e q u e r e r o u s e r e m citados.
X I . As licenças para divertimentos e espectaculos de q u e os en-
carregados, directores o u donos n ã o percebem lucro.

CAPITULO IV.— Das revalidações.

Art. 53. Os diplomas ou titulos comprehendidos na 2.» classe que


fôrem sujeitos ao t r a n s i t o da c h a n c e l l a r i a , s e r ã o sellados antes delle:
os outros o serão antes d e se lançar nelles a verba do registro na
repartição onde fôrem lavrados ou antes da assignatura da auto-
ridade que os e x p e d e , quando n ã o carecão do dito registro o u verba
delle.
Art. 5Zj. O s t i t u l o s c o m p r e h e n d i d o s n e s t e t i t u l o , q u e n ã o p a g a r e m
a taxa antes dos actos q u e nella v ã o declarados, ou que a pagarem
m e n o r que a devida, poderáõ ser r e v a l i d a d o s p e l a fôrma que dispõe
o § 1.° d o a r t i g o 1 4 d a l e i , n a parte relativa ao sello fixo.

PARTE II.

DA COBRANÇA DO SELLO.

TITULO ÚNICO.

CAPITULO I. — Do preparo, venda e uso do papel sellado.

Art. 55. O ministro da fazenda mandará vender nas estações pu-


blicas que designar, titulos de l e t r a s , escriptos á o r d e m , notas pro-
missórias , créditos, cautelas e vales , m a r c a d o s c o m sello branco,
constando de u m circulo c o m as i n i c i a e s — I B — n o c e n t r o , e e m
roda a l e g e n d a — M e l h o r a m e n t o d o m e i o c i r c u l a n t e — c o ma taxa por
baixo e m letras brancas sobre u m fundo preto.
208 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Art. 56. Será todavia permittido á s c o m p a n h i a s e casas de c o m -


mercio acreditadas fazerem cunhar nas recebedorias do R i o de Ja-
neiro, Bahia, Pernambuco, M a r a n h ã o , Pará e Rio Grande de S.
Pedro do Sol, o papel de que usarem e m suas transacções. Para
obterem porém esta p e r m i s s ã o deveráõ requerê-la, na corte ao the-
s o u r o , e nas p r o v í n c i a s aos i n s p e c t o r e 3 das r e s p e o t i v a s thesourarias ,
declarando, cada vez q u e o fizerem, o numero dos titulos o u papeis
de cada u m a das classes o u valores q u e q u i z e r e m sellar.
Art. 57. O mesmo ministro fará distribuir i g u a l m e n t e os títulos
dos artigos 3 4 , 35 e 36 m a r c a d o s c o m o sello preto a tinta de oleo,
em fôrma t a m b é m circular, e com a mesma legenda.
Art. 58. O mesmo ministro applicará, no que fôr possivel, o
systema do p a p e l sellado de q u e usa o correio do I m p é r i o a quaes-
quer outros titulos, se a experiência mostrar que c o n v é m assim
fazê-lo.
Art. 59. Quando por qualquer oceurrencia n ã o fôr escripto e m
papel sellado qualquer dos actos de que se d e v a sello na f ô r m a dos
arligos 55 e 57, deveráõ as p a r t e s a elle obrigadas u n i r - l h e s p a p e l
sellado da importância correspondente, escrevendo o seu n o m e ,
parte sobre o sello, e parte sobre o papel, e a autoridade a que fôr
apresentado o i u u l i l i s a r â c o m t r a ç o s de tinta, e a s s i g n a r á , sob pena
d e f i c a r e m s u j e i t a s a r e v a l i d a ç ã o e m u l t a , se o n ã o f i z e r e m n o s prazos
marcados nos artigos 19, § 3.°, e 53.
Art. 60. Quando se verifique a bypothese do artigo antecedente
e m papeis do artigo 34, a parte o u partes interessadas serão obri-
gadas a pagar o sello fixo da revalidação, e o escrivão soíTrcrá a
multa de 1 0 $ a 5 0 $ rs.
Art. 61. O ministro da fazenda designará os lugares e os empre-
gados que fôrem incumbidos da venda do papel sellado. H a v e r á u m
almoxarife, sob c u j a guarda esteja o papel depois q u e fôr sellado na
oíficina respectiva.
Art. 62. O preparo dos cunhos e mais utensílios necessários será
encarregado ao p r o v e d o r da casada moeda.
Art. 63. A o mesmo provedor i n c u m b e fazer entrega do papel e m
branco ao a l m o x a r i f e , e tanto deste como do sellado lhe m a n d a r á
fazer a devida carga.
Art. 64. O almoxarife entregará no thesouro, no f i m de cada mez,
ou quando p o r este l h e f ô r o r d e n a d o , o p a p e l q u e e s t i v e r sellado.
Art. 65. Nos tres primeiros dias de cada m e z o mesmo provedor
m a n d a r á dar b a l a n ç o ao a r m a z é m e m que estiver o papel sellado, e
combinando a sua importância c o m o que tiver sido carregado
ao almoxarife, o d e c l a r a r á quite e livre, o u responsável, procedendo
neste caso n a f ô r m a das leis.
Art. 66. O syslema da v e n d a do sello p o d e r á p r i m e i r o ser ensaiado
em o m u n i c í p i o da c ô r t e , a n t e s de ser g e n e r a l i s a d o a t o d o o Império.
Art. 67. Por u m a f o l h a de papel para o s e l l o , se e n t e n d e r á a que
não exceder nas suas d i m e n s õ e s 12 pollegadas de comprido c 8 de
l a r g o , q u a l q u e r q u e seja a q u a l i d a d e d o p a p e l . O sello s e r á posto e m
- a m b a s as m e i a s f o l h a s .
APPENDICE (SELLO) 209

C A P I T U L O II»—Onde e por quem deve ser arrecadado e escripturado o


imposto do sello.

Art. 68. O imposto do sello será arrecadado e escripturado nas


mesmas estações, e pelos m e s m o s empregados que ora o arrecadão,
a saber: as r e c e b e d o r i a s d e r e n d a s i n t e r n a s ; as a l f â n d e g a s q u e t a m -
b é m servem de taes r e c e b e d o r i a s ; as m e s a s de rendas e suas agen-
cias; as c o l l e c t o r i a s , e as a d m i n i s t r a ç õ e s d o s c o r r e i o s , o u as thcsou-
rarias nos lugares onde as alfândegas que servem de recebedorias
n ã o estiverem ao alcance commodo do publico. Exceptuão-se os
seguintes :
§ 1 ° O sello fixo dos passaportes de e m b a r c a ç õ e s , e documentos
pertencentes ao d e s p a c h o dellas, o serão nas mesas de c o n s u l a d o e
de rendas c suas agencia*, por onde t a e s d e s p a c h o s se expedem.
§ 2.° O dos autos e processos qne c o r r e m perante os d e l e g a d o s c
subdelegados (art. 34), de lugares onde n ã o houver alguma das
estações referidas, e o de alguns títulos que ahi se passarem , c o m -
prehendidos nos artigos 35 c 48 , será arrecadado e escripturado
pelos respectivos e s c r i v ã e s , os q u a e s r e m e l t e r á õ o producto no fim
de cada trimestre á estação fiical do districto c o m a guia compe-
t e n t e ; e por este encargo t e r ã o 5 por cento do m e s m o producto.
§ 3.° O das letras, escriptos á o r d e m e notas promissórias com-
prehendidos na l . a
classe do sello p r o p o r c i o n a l , e o das apólices de
seguro, e c o n t r a c t o de risco c o m p r e h e n d i d o s na 2. a
classe, passados
ou emittidos por banco ou companhia publica ou particular, será
arrecadado pelo caixa ou thesoureiro delia c o m o reeebedor; a saber:
1.° Os das companhias publicas ou autorisadas pelo governo ou
seus delegados, se f ô r e m para isso expressamente autorisados pela
respectiva directoria; e assignarem termo na recebedoria do sello
no q u a l se obriguem a entregar-lhe nos p r i m e i r o s dez dias de cada
mez o p r o d u c t o da taxa arrecadada no mez antecedente, acompa-
nhada de u m a n o t a da q u a n t i d a d e dos títulos passados o u emittidos,
e valor delles d u r a n t e o d i t o m e z ; e a e x h i b i r os l i v r o s da escriplu-
ração quando o chefe da recebedoria queira conferir c o m elles a
dita nota.
2." Os d e c o m p a n h i a s p a r t i c u l a r e s , se, além dos requisitos a c i m a
referidos, obtiverem licença do tribunal do thesouro na côrte, e das
t h e s o u r a r i a s n a s p r o v í n c i a s , a q u a l l h e s e r á c o n c e d i d a se oflereeerem
sufíicientes garantias do c u m p r i m e n t o dos m e s m o s requisitos.
§ 4 . ° O dos bilhetes de loterias será arrecadado pelos thesoureiros
dellas, e entregue na recebedoria ou estação do sello do l u g a r da
extracção, acompanhada de guia competente.
Art. 69. Na recebedoria da côrte haverá u m reeebedor especial
do sello, que será empregado delia , nomeado pelo governo, c o m o
ordenado de 8 0 0 $ rs. e u m a g r a t i f i c a ç ã o igual a oito partes da por-
centagem distribuída aos o u t r o s e m p r e g a d o s da r e c e b e d o r i a , e pres-
tará fiança idônea à satisfação do tribunal do thesouro.
MAN. NEG. 14
210 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

5 l . a
Este reeebedor terá u m fiel por elle nomeado, o qual será
pago á sua custa. O fiel servirá debaixo da mesma fiança que der o
reeebedor.
§ 2.° Entregará ao thesoureiro da recebedoria o que arrecadar
cada dia.
Art. 70. Serão escrivães do sello e seus a j u d a n t e s , nas recebedo-
rias ou alfândegas que servirem de recebedorias, e nas mesas do
consulado, os e m p r e g a d o s dellas que os r e s p e c t i v o s e s c r i v ã e s desig-
narem. Nas mesas de rendas e collectorias desempenharão esse
encargo os p r ó p r i o s escrivães dellas.

CAPITULO III.—Signal do sello e verbas nos papeis.

Art. 71. Emquanto se não derem outras providencias, todos os


papeis sujeitos ao sello serão sellados de relevo c o m cunhos das
armas i m p e r i a e s , f o r n e c i d o s pela casa da m o e d a , os q u a e s t e r ã o u m a
legenda da recebedoria a que pertencerem, v. g.—Rcceb. da côrte.
—Receb. da c i d . da B a h i a , —etc.
§ único. N ã o precisão signal de c u n h o :
1.° Os despachos de mercadorias expedidas pelas alfândegas e
consulados, e os b i l h e t e s d e l o t e r i a s .
2." Os papeis cuja taxa fôr arrecadada pelos caixas de b a n c o s e
companhias publicas c particulares. (Art. 68, § 3.°)
3.° Os que pagarem a taxa e m estação onde ainda o não houver.
Art. 72. O pagamento da taxa far-se-ha constar pelo signal do
sello na frente ou no verso dos papeis ou titulos, como fôr mais
commodo , e por u m a verba escripta abaixo delle, a qual daverá
conter o numero do assento respectivo do l i v r o de r e c e i t a , e o mais
que mostra o modelo n. 1.
§ 1.° Nos papeis revalidados e nos reformados se acerescentará
ao lado da q u a n t i a em a l g a r i s m o — R e v . ; R e f — ( M o d e los ns. 2 e 3.)
§ 2.° Nas letras, escriptos á o r d e m , e notas p r o m i s s ó r i a s , passadas
ou emittidas por bancos ou companhias publicas c particulares,
cuja taxa fôr cobrada pelos ?eus c a i x a s , na c o n f o r m i d a d e do artigo
68 , g 3.°, a verba será lançada no espaço anterior á assignatura do
p a s s a d o r , a s s i m : p »g. de s e l l o , etc.
§ 3.° Nas m i n u t a s para as a p ó l i c e s de seguro e nos contractos de
risco, cuja taxa fôr cobrada pelos caixas das r e s p e c t i v a s companhias,
será lançada a verba do modelo n. 1, mas só c o m a r u b r i c a do caixa.
Ari. 73. O signal do sello e verba dos titulos que deverem ser
lavrados depois de paga a t a x a , c o m o os de notas dos t à b e U i à e s , e 03
de transferencias de acções de c o m p a n h i a s publicas e particulares,
cujos caixas n ã o estiverem autòrisaios a arrecadar a taxa, será
que deve ser apresentada na
recebedoria, contendo os nomes das partes, qualidade e valor da
transacção, a data e assignatura de algumas dellas, ou do tabellião
ou caixa; c no titulo ou assento, que só á vista desta nota ou
d e c l a r a ç ã o se p o d e r á lavrar, far-se-ha mertçào do numeio, quantia
e data da verba do sello.
APPENDICE ( S E L L O ) 211

Art. 7Z|. A c o n t a das f o l h a s de a u t o s , s e n t e n ç a s , traslados e livros


forenses, e a da taxa respectiva seiá feita e declarada na ultima
folha dtdles pelo respectivo escrivão ou tabellião; e a das f o l h a s dos
outros livros pela parte a quem deva servir o livro apresentado.

CAPITULO W.—Escripturação.

Art. 75. Em cada uma das recebedorias , comprehendidas as


alfândegas q u e o s ã o , das m e s a s de r e n d a s e c o l l e c t o r i a s , h a v e r á u m
livro de receita do imposto do sello, que será escripturado como
mostra o modelo annexo.
§ único. Nas estações onde h o u v e r m a i o r c o n c u r r e n c i a de papei*,
serão dous os livrou de receita, u m para o sello fixo c outro para o
proporcional, tendo cada u m d e l l e s as c o l u m n a s necessárias para as
respectivas classes ; e q u a n d o ainda assim n ã o bastem para o promp-
t o a v i a m e n t o dos papeis, h a v e r á dous p a r a cada u m dos ditos sellos, ou
para aquelle que precisar, d i s t i n g u i n d o - s e pelas classes a q u e fôreui
applicados: e n o caso d c s e r e m necessários dous para u m a classe, se
distinguiráõ pelos signaes—A—13—que serão indicados na verba do
papel, afim de p o r e l l e s se c o n h e c e r o livro em que foi lançado.
Art. 76. O recebimento do imposto das cartas de contracto de
fretamento, ou dos c o n h e c i m e n t o s , nas mesas do consulado , será
lançado, podendo ser, no mesmo livro do sello dos passaportes e
documentos dos despachos das embarcações, mas em columna
distineta, por pertencer ao sello proporcional.
Art. 77. Apresentado para o sello q u a l q u e r p a p e l o u t i t u l o , se lhe
imprimiiá p r i m e i r a m e n t e o signal do sello; depois o e s c r i v ã o lançará
a verba , e o reeebedor receberá a importância da taxa que nella
estiver, e rubricará; o que feito, o escrivão lançará o assento no
livro, e entregará á parte o papel. Se houver escrivão e ajudante ,
aquelle lançará a verba, e este o n u m e r o no papel, e o assento no
livro de receita, depois do recebimento da importância pelo reee-
bedor.
Art. 78. A numeração dos assentos de receita será u m a e m cada
livro, começando de n . ° 1 e m cada dia, tendo cada assento o mesmo
numero da v e r b a d o t i t u l o , e x c e p l o se u m a parte apresentar dous ou
mais papeis semelhantes, que paguem uma taxa igual, porque neste
caso, ainda que cada u m deve ter numero distineto e seguido,
c o m t u d o no livro deveráõ i r debaixo de u m s ó assento, c o m o mostra
o modelo.
Art. 79. No fim do expediente de cada dia sommar-se-hão os
livros de receita, e conferida a somma com o dinheiro recebido, se
fechará, assentando e m seguida o escrivão a declaração por extenso
do rendimento do dia ; c no fim de c a d a mez fará o recenseamento
das sommas diárias, d i s t i n g u i n d o a taxa das revalidações, e a dos
bilhetes de loterias, tudo c o m o vai no modelo.
Art. 80. As multas provenientes do sello s e r ã o escrípturadas e m
u m livro de receita, corno mostra o modelo n . 9 do r e g u l a m e n t o de
22 dc Junho de 1856, quando a r e p a r t i ç ã o já o n ã o tenha para as
212 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

provenientes de outros impostos, porque nesse caso serão nelle


t a m b é m escripturadas as do sello.
Art. 8 1 . A remessa do p r o d u c t o do sello arrecadado pelas diversas
estações paia o thesouro e thesourarias, e a dos livros de receita,
guias que os d e v e m acompanhar, e todo o mais expediente relativo
à arrecadação deste i m p o s t o , fazer-se-ha segundo o que a respeito
desta renda e outras internas está determinado nos r e g u l a m e n t o s e
ordens e m vigor, no que neste n ã o vai providenciado.

CAPITULO \.—Fiscalisaçâo.

Art. 82. As contas das estações e pessoas que arrecadâo o imposto


do sello serão tomadas nas estações fiscaes, e pelo modo que a
respeito desta renda e das outras internas está determinado nos
regulamentos e ordens e m vigor.
Art. 83. Quando se t o m a r e m as c o n t a s ás estações e pessoas que
a r r e c a d â o o i m p o s l o d o sello, o thesouro ethe^ourarias terão p a r t i c u l a r
cuidado e m conferir c o m os l i v r o s de receita as v e r b a s dos papeis
que existião nessas e s t a ç õ e s fiscaes, a f i m d e se y e n f i c a r se forão o u
não devidamente lançados, e pago o sello c o m p e t e n t e ; e poderáõ
mandar para o mesmo f i m empregados seus e m qualidade de fiscaes
ás repartições publicas c cartórios a tomar nota dos papeis sellados
que ali existão.
Art. 84. Os delegados, subdelegados e juizes de paz são fiscaes
do procedimento dos seus escrivães a respeito das obrigações que
lhes s ã o i m p o s t a s p o r este r e g u l a m e n t o como recebedore* do sello.
Art. 85. Os juizes de direito, nas correiçõns que fizerem, como
dispõe o artigo 207 do regulamento u . 120 de 31 de J a n e i r o de 18/*2,
examinarão p a r t i c u l a r m e n t e se os livros de notas e protocolos dos
tabelliães e escrivães estão devidamente s e l l a d o s , e se os delegados
e subdelegados t e m feito c u m p r i r , q u a n t o ao sello a r r e c a d a d o pelos
seus escrivães, as disposições do presente regulamento, que lhes
dizem respeito; e b e m assim examinaráõ na revisão que devem
fazer, e m v i r t u d e do artigo 36 do r e g u l a m e n t o n . 143 de 15 de Março
de 1842, se t a m b é m estão devidamente sellados os l i v r o s d a s ordens
terceiras, irmandades e confrarias, e das administrações qne os
devão ter: e quando encontrarem qualquer omissão ou irregulari-
dade, procederão na f ô r m a das leis c o n t r a os i n f r a c t o r e s das disposi-
ções do preseuts regulamento.

CAPITULO VI. — Multas.

Art. 86. Ficão sujeitos á multa de 5$ a 25$ rs., além das penas do
artigo 135, ns. 1, 2 e 3, combinado c o m os artigos 21 e 22 do
Código P e n a l , os e m p r e g a d o s na a r r e c a d a ç ã o do srllo, que exigirem,
averbarem ou lançarem no livro de receita taxa m a i o r o u m e n o r que
a marcada na parle primeira deste regulamento, menos quando o
papel f ô r sellado e m branco antes de lavrado o titulo.
Art. 87. Ficão sujeitos á m u l t a de 1 0 $ a 5 0 $ rs., a l é m das penas
dos artigos 153 e 154 do Código Penal:
APPENDICE ( S E L L O ) 213

§ 1.° Os juizes qne sentenciarem autos o u assignarcm mandado*


e quaesquer outros instrumentos e papeis s u j e i t o s ao sello, s e m que
a taxa correspondente tenha sido paga antes da sentença ou da
assignatura.
§ 2.° Os e m p r e g a d o s a c u j o cargo estiver o transito de papeis pela
chancellaria, e o assentamento em f o l h a de t í t u l o s de nomeação,
que sem prévio pagamento do competente sello a q u e são obrigados
os p a p e i s , diplomas ou titulos, os f i z e r e m o u d e i x a r e m t r a n s i t a r , ou
os a s s e n t a r e m e m folha.
§ 3.° O juiz, ou qualquer*autoridade civil, ecclesia«líca, militar
ou municipal, que d e r posse e e x e r c í c i o a qualquer empregado sem
que o seu titulo de n o m e a ç ã o esteja d e v i d a m e n t e sellado.
§ u.° O chefe de r e p a r t i ç ã o publica, juiz, ou outra qualquer
autoridade constituída, sem distineção de classe ou jerarchia, que
altender oííicialrnente, ou deferir qualquer requerimento ou outro
papel instruído de documentos s e m q u e estes t e n h ã o sido sellados,
ou fizer guardar e cumprir, ou que tenha eíFeito qualquer papel
sujeito a sello, sem que tenha pago a taxa correspondente.
§ 5." O empregado encarregado do registro de qualquer diploma
ou titulo sujeito a sello, c que não tiver assentamento c m folha,
q u e o registrar o u l a n ç a r n e l l e a v e r b a de registro antes do pagamento
da taxa. Nas mesmas penas incorrerá o oílicial maior ou chefe da
repartição onde deva ser registrado o titulo.
§ 6.° O tabellião que lavrar escriptura no livro de notas, ou o
e s c r i v ã o q u e c o n c e r t a r e a s s i g n a r p a p e l s u j e i t o ao sello s e m estar p a g o .
§ 7.° O thesoureiro das loterias que vender bilhetes de loteria
antes do pagamento do sello.
Art. 88. Fica sujeito á m u l t a de 2 0 $ a 1 0 0 $ rs., a l é m das penas
do artigo 177 do Código Penal, quem sublrahirao pagamento da
taxa correspondente q u a l q u e r papel sujeito a sello.
Art. 89. Ficão sujeitos á multa de 4 0 $ a 2 0 0 $ rs., além das
penas dos artigos 168 e 178 do Código Penal:
§ 1.° Os que f a l s i f i c a r e m o signal e s t a m p a d o ou a verba e*cripta
nos papeis sujeitos a sello, seja usando de falso c u n h o , seja alte-
rando de qualquer modo as verbas verdadeiras, seja escrevendo
verbas falhas.
§ 2.° O escrivão, ou outro qualquer empregado nas e s t a ç õ e s do
sello, que antedatar qualquer verba escripta, com o fim de evitar o
pagamento da revalidação do sello, ou que alterar qualquer alga-
rismo, data ou palavra da formula da verba, de sorte que não
confira com a escripturação do l i v r o de receita.-
Art. 90. Estas multas serão arrecadadas e cobradas executiva-
mente pelos a g e n t e s das recebedorias ou outros empregados a quem
esta d i l i g e n c i a c o m p e t i r nas diversas estações do sello.

CAPITULO VII.—Recursos.

Art. 91. As duvidas que se suscitarem entre as partes e os agen-


tes fiscaes ácerca da taxa correspondente ao titulo que o deva pagar,
214 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

a r e s p e i t o d o s p r a z o s m a r c a d o s p a r a as r e v a l i d a ç õ e s e s o b r e as m u l t a i
incorridas por infracção da l e i n . ° 317 de 2 1 de O u t u b r o de 1843 e
do presenle regulamento, serão julgadas pelos emprega-los que
servirem de chefes das e s t a ç õ e s fiscaes que arrecadâo o imposto do
sello.
Art. 92. Se as partes n ã o se conformarem c o m as decisões ou
j u l g a m e n t o s dos referidos chefes, depois de e n t r e g a r e m a quantia
que lhes f ô r exigida e de h a v e r e m o t i t u l o p o r o n d e conste a decisão
q u e lhes n ã o parecer justa, poderáõ recorrer:
§ 1.° Dos chefes das e s t a ç õ e s fiscaes do município da côrte para
o t r i b u n a l d o t h e s o u r o e d o c h e f e das estações fiscaes que arrecada-
rem o sello nas províncias para as t h e s o u r a r i a s respectivas, e destas
para o referido tribunal do thesouro.
§ 2 . ° D o t r i b u n a l d o t h e s o u r o , a s s i m c o m o das t h e s o u r a r i a s cujas
decisões fôrem sustentadas por aquelle tribunal para o conselho do
estado, nos t e r m o s d o r e g u l a m e n t o n.® 1 2 4 de 25 de Abril de 1842.
Ari. 93. Os chefes das estações que arrecadâo o sello recorrerão
ex-ofiicio de suas p r ó p r i a s decisões ou julgamentos, quando versa-
rem sobre a taxa do sello que exceda a 1 0 $ rs. e da multa que
exceda a 2 0 $ rs.
Art. 94. Ficão s e n d o p r o v i s ó r i a s as disposições da 1." parte do
art. 3.°, dos arts. 10. 15, 17, 18, 19. § § 1.°, 2 . ° e 4 A 32, 68, 69, 7 0 ,
71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 8 1 , 82, 83, 84, 85 c 8 6 ; e as
dos arts. 3 4 , 35 e 37 n a p a r l e r e l a t i v a ao t e m p o e o c c a s i ã o e m qne se
deva pagar o sello para terem observância emquanto e naquelles
lugares e m que se n ã o estabelecer o syslema da venda do papel
sellado.
Art. 95. As disposições dos arts. 8 0 , 88, 89, 90, 9 1 , 92 e 93 ^ão
permanentes, fazendo d e f i n i t i v a m e n t e parte integrante deste r e g u l a -
mento, c o m a alteração de que, depois de estabelecido o systema da
venda do papel sellado, incorrerão nas multas ordenadas nos arts.
87 e 88 as partes c empregados que escreverem, assignarem , des-
pacharem, sentenciarem, expedirem, registrarem e transitarem pela
chancellaria, autos, escripturas, instrumentos e quaesquer titulos
ou papeis sujeitos a sello que n ã o f ô r e m escriptos e m papel sellado
da taxa competente.
A?t. 96. As disposições dos arts. 19, § § 3.°, 29, 53 e 54, ainda
depois de estabelecido o systema da venda do papel sellado, conti-
nuaráõ a ter o b s e r v â n c i a no que lhe fôr applicavel.
Art. 97. Ficão revogadas t o d a s as d i s p o s i ç õ e s do regulamento n.°
356 de 26 de A b r i l de 1 8 4 4 e ordens expedidas posteriormente para
arrecadação do i m p o s t o do sello q u e n ã o estiverem comprehendidas
nos arligos deste regulamento.
Rio d e J a n e i r o , e m 1 0 d e J u l h o d e 1 8 5 0 . — Joaquim José Rodrigues
Torres.
APPENDICE ( S E L L O ) 215

A r t i g o s d a L e i d e 2 1 d e O u t u b r o d e 1 8 4 3 r e l a t i v o s a o s e l l o a q u e se r e f e r e
este r e g u l a m e n t o .

Art. 12. O imposto do sello será dWa em diante de duas espécies,


proporcional e fixo.
§ 1.° A o s e l l o proporcional ficão s u j e i t o s t o d o 3 os papeis de con-
tractos de d i n h e i r o , c o m o letras de cambio e da terra, escriptos á
ordem e notas promissórias; créditos, escripturas o u escriptos de
venda, hypotheca, doação, deposito extrajudicial e qualquer titulo
de transferir a propriedade ou u s u f r u e t o ; os quinhões hereditários
ou legados ; as quitações j u d i c i a e s ; os fretamentos e despachos das
alfândegas e dos c o n s u l a d o s ; as apólices de seguro o u de risco, e os
titulos de n o m e a ç ã o expedidos pelo governo ou por empregado dc
sua escolha, por autoridades ecclesiaslicas e pelas m e i a s das câmaras
legislativas e das assembléas provinciaes. Este sello s e i á regulado e
cobrado de todo o valor de 5 0 $ rs,., e dahi para cima, pelo modo
marcado na tabeliã. ( T i t . 1 , ° do regulamento.)
§ 2.° A o sello fixo lição sujeitos:
1.° N ã o f ó os p a p e i s que actualmente o pagão, como os processos
que correm ante os delegados, subdelegados e juizes de paz; os
livros e protocolos dos labelliães e escrivães de qualquer juizo; os
documentos ou papeis de qualquer espécie apresentados em juizo
ou nas r e p a r t i ç õ e s publicas. E o respectivo sello s e r á de 60 a 160 rs.
por m e i a f o l h a de papel.
2.° As cartas e d i p l o m a s q u e conferirem titulos, tratamento, no-
breza, brazão, condecorações honoríficas, privilégios ou outra qual-
quer m e r c ê ; as d i s p e n s a s d e qualquer natureza qne s e j ã o ; as licen-
ças de qualquer espécie, inclusive para jogos lícitos, e os d i p l o m a s
scienlificos e litterarios. E o respectivo sello s e r á de 1 $ a 1 0 0 $ .
3.° As cartas de j o g a r , c u j o sello s e r á de 160 rs. p o r baralho.
§ 3.° O governo é autorisado para marcar, e m tabellas que orga-
nisará, a taxa do sello fixo sobre cada u m dos objectos comprehen-
didos nos N . 0 5
1 e 2 do paragrapho antecedente; dentro do m í n i m o
c m á x i m o nelles iodicados e segundo a importância dc cada u m .
( T i t . 2 . ° do regulamento.)
Art. 13. As letras de c a m b i o e da terra, escriptos á ordem e notas
promissórias que fôrem passadas ou emiltidas dentro do Império
sem que tenhão pago o sello m a r c a d o na tabeliã A, n ã o p o d e r á õ ser
prote>tada3 nem atteudidas em juízo.
§ 1.° As que fôrem passadas o u aceitas nos lugares em que nao
houver estação fiscal p a r a o s e l l o , p o d e r á õ s e r r e v a l i d a d a s se pagarem
o sello nos prazos que o governo marcar nos seus regulamentos;
aquellas porém que fôrem passadas o u aceitas nos lugares e m que
houver a dita estação, só o podcTáõ ser pagando até o dia anterior
ao do vencimento, e m vez do sello, 20 por cento do respectivo
valor. Igualmente serão revalidadas as que, tendo pago antes de
passadas o u aceitas u m sello i n f e r i o r ao m a r c a d o , f ô r e m selladas alé
o dia do vencimeuto, pagando o tresdobro do sello devido.
§ 2 . ° E as que fôrem passadas e e m i t t i d i s sem prévio pagamento
216 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

do sello e n ã o f ô r e m revalidadas como dispõe o paragrapho antece^


dente, s ó m e n t e p o d e r á õ ser p r o d u z i d a s c o m o d o c u m e n t o s p a r a qual-
q u e r e í f e i t o l e g a l , p a g a n d o e m v e z d e s e l l o AO p o r c e n t o d o r e s p e c t i v o
valor.
§ 3.° As disposições do artigo e paragraphos antecedentes são
appiicaveis ás letras de cambio estrangeiras ou passadas fora do
Império que fôrem aceitas, endossadas o u negociadas e m qualquer
parte do Brasil sem que tenhão pago o sello m a r c a d o na tabeliã A .
§ Z|.° Q u e m negociar, aceitar ou pagar qualquer lelra de cambio
e da terra, escripto á ordem ou nota promissória passada no I m -
pério, o u q u a l q u e r letra de c a m b i o estrangeira, a n t e s de h a v e r pago
o sello m a r c a d o na tabeliã, será sujeito pela p r i m e i r a vez á multa
de 10 por cento do valor da letra, escripto o u n o t a , e ao d o b r o na
reincidência. Se porém o negociador da letra, escripto ou nota fôr
corretor, n ã o só ficará s u j e i t o ao d o b r o das multas como na reinci-
dência ficará inhabil para servir c o m o corretor.
A r t . 1 4 . T o d o s os p a p e i s , l i v r o s , & e . , comprehendidos nos § § 1.*
e 2.° do art. 1 2 , ficão obrigados ao pagamento do sello nns prazos
que o g o v e r n o m a r c a r nos seus r e g u l a m e n t o s . E depois de findos os
ditos prazos, os qne n ã o tiverem pago o sello m a r c a d o na tabeliã
annexa a esta l e i e nas que o governo organisar e m virtude do g 3.°
do art. 12, n ã o serão attendidos e m juizo.
g 1.° Serão porém revalidados pagando, e m vez do sello, 20 por
cento d o r e s p e c t i v o v a l o r os q u e f ô r e m sujeitos ao sello proporcio-
nal; e u m sello v i n t e vezes m a i o r do que o marcado nas tabellas os
q u e o f ô r e m ao sello fixo. E os q u e t i v e r e m p a g o d e n t r o d o s r e f e r i d o s
prazos u m sello inferior ao m a r c a d o s e r ã o t a m b é m revalidados pa-
gando o tresdobro do sello c o m p e t e n t e .
g 2.° A falta do pagamento do sello dos livros dos t a b e l l i ã e s e
escrivães n ã o prejudica aos actos escriptos nelles, se esses actos
tiverem pago o sello a q u e estavão sujeito*.
g 3.° Os escrivães o u oííiciaes p ú b l i c o s que escreverem actos, con-
tractos ou papeis obrigados ao sello, ou q u e os r e c e b e r e m e lhes
derem andamento sem prévio pagamento delle, além das outras
penas e m que possão incorrer, perderáõ o ofíicio ou emprego que
exercerem.
Art. 15. Ficão isentos do sello estabelecido p o r esta l e i :
g 1.° As letras de cambio e da terra , passadas, negociadas o u
a c e i t a s p e l o g o v e r n o e seus d e l e g a d o s ; os b i l h e t e s , n o t a s promissórias
e quaesquer titulos de credito emittidos pelo thesouro publico; os
saques para movimento de fundos de umas para outras repartições
d e f a z e n d a ; as t r a n s f e r e n c i a s d a s a p ó l i c e s d a d i v i d a publica fundada.
g 2 . ° Os processos e m que f ô r e m partes a justiça ou a fazenda p u -
blica, sendo porém o r é o , quando afinal condemnado, sujeito ao
pagamento d o s e l l o r e s p e c t i v o , se n ã o f ô r p o b r e .
g 3.° As e s c r i p t u r a s sujeitas ao p a g a m e n t o d a siza dos b e n s de r a i z ,
e b e m a s s i m as q u i t a ç õ e s e o u t r o s titulos de d i u h e i r o proveniente de
contracto que já tenha pago o devido sello, de sorte que e s t e se n ã o
repita e m u m a mesma transacção. Esta disposição porém n ã o é
APPENDICE (SELLO) 217

applicavel á reforma das letras de cambio eda terra ou á novação de


qualquer o u t r o contracto de e m p r é s t i m o de d i n h e i r o .
§ ü.* As mercês c o n f e r i d a s aos m i l i t a r e s de terra e mar por ser-
viços extraordinários de campanha; aos príncipes e aos subditos
estrangeiros que se fizerem diguos da benevolência do Império.

VERBAS.

MODELO N . ° 1 .
'Signal 1

do
Sello.,
N . ° l $ 1 6 0
Pg. c e n t o e sessenta r é i s . R i o de J u l h o de 1850.

(Rubricado Reeebedor). (Rubrica do Escrivão).

MODELO N.° 2.
/Signal 1

do
\ Sello.,
N. 1/t. 1 2 0 $ 0 0 0 Rev.
Pg, cento e vinte m i l réis por n ã o sellar antes do endosso. Rio
de J u l h o de 1850.
(Rubrica do Reeebedor). (Rubrica do Escrivão).

N. B . Quando o motivo da r e v a l i d a ç ã o fôr outro, declirar-se-ha


assim: v. g . — por n ã o sellar d e n t r o de 10 dias—antes do registro—
antes do transito na chancellaria — antes de lançada no livro
das Notas — antes de vencida — por ter pago menos taxa que a
devida, & o .
MODELO N.° 3.
'Signal 1

do
Sello.,
N.° 1. 1 $ 0 0 0 Ref.
Pg. m i l r é ' s pela verba n.° 11 de de J u l h o i n u t i l i s a d a . Rio
de J u l h o de 1850.
Rubrica do Reeebedor). (Rubrica do Escrivão).

MODELO N.® 4.

Sígnal\
do ]
Sello./
N.° 13. 2 $ 0 0 0 2. a
via.
Pg. pela l . a
via dous m i l réis. Rio de J u l h o de 1850.
(Rubrica do Reeebedor). (Rubrica do Escrivão.)

N. B . Quando houver dous ou mais livros para uma classe de


titulos: v. g. , l e t r a s , notas promissórias, escriptos à o r d e m , — n a
mesma c i d a d e o u v i l l a , os s i g n a e s q u e os d i s t i n g u e m — A , B , C , & c ,
s e r ã o indicados na verba assim :
A N.° 1, — 2 $ 0 0 0
Pg., & o .
218 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

Modelo do L i v r o de Receita do Imposto do Sello.

SELLO PROPORCIONAL. SELLO FIXO.

Revalidações l . a
CLASSE. 2. E 3.»
a
1.» 2."
CLASSE. 4. CLASSE.
a

e reformas. CLASSE. CLASSE.

RIO DE JANEIRO DE JULII0 Letras, no- Créditos, Tit. de em-


tas, &c. segur. , &c. preg. &c. Folhas. Titulos
DE 1850.

N«.
1j | Letras era branco a 400 rs. .
40000
11 Letra de Londres 10000
12 Letra de cambio (4 vias) . . . . 1,5000
13 Letra (dito) 3 vias 20000
14 Letra de F .. (dito) de 6000000
rs. , por não sellar antes do
primeiro endosso por B. . . . Reval. 1200000
15 Credito 40000
16 Escriptura de F..- (o nome do
comprador ou do que recebe
a cousa v< ndida , doada, cedi-
0800
da , &c. )
17 Quinhão de F... da herança de 40000
seu pai
18 Legado de F... deixado por sua 10600
n;ãi
19 4 acções da companhia N . . . 10600
transferidas a D
20 Apólices de seguro dc F... (o no-
me do segurado) Companhia 40000
tal
21 Decreto de F... l . ° cscripturario 40000
da thesouraria de
0880
22 Autns de F... (o nome do autor.
justificantf!. &c.) 0160
23 Procuração de F... (o nome do
constituinte) 09 £0
24 1 3 Documentos de F... (o nome 20000
27 J da pessoa a quem são passados)
28 Licença do F
Total recebido hoje de Julho 128^000 160000 40000 20000 20000
cento e cinroenia e dous mil
réis (1520000) • .
(Assignatura do rccehedor.)
(Assignatura do escrivão.)
BB jci.no DE 1850. Reform. . .
1 Letra n. 11 de de Julho . . . . 9000000
2 De F .. 3.» Loteria de
3 De F... thesoureiro do. Lanço
commercial, que arrecadou no 2000000
mez p. p
4 De F... caixa da companhia de 1000000 800000
seguro N . . . , dito
5 De F... vendedor de cartas de 200000
jogar, 2.° quartel dest>; anno.
Total recebido hoje, um conto 3000000 80 0000 920 0000
e trezentos mil rs. (1:3000000^
(Assignatura do reeebedor )
(Assignatura do escrivão.)
Somma tntal da receita de Ju-
lho, um conto quatrocentos
e cincoenta e dous mil réis 4280000 960000 4 0000 9220000 2 0000
(1:4520000)
Deste total pertence :
A revalidaçCcs em todas iV. B. No caso de haver ura livro especial para o
ns classes 1200000 sello lixo, e um ou dous para o proporcional, lauçar-
A bilhetes da loterias na sc-hão os assentos cm uma só pagina, se o tamanho
1." classe do sello fixo. . 9000000 do livro o permitiu*.
A carlas de jogar dito. . 200000
Os mais titulou e pap> is. 4120000
APPENDICE ( S E L L O ) 219

D E C R E T O N . e
8 9 5 D E 3 1 D E D E Z E M B R O D E 1 8 5 1 .

Manda executar o regulamento sobre o uso, preparo e venda do papel sellado.

Hei por bem ordenar qne a respeito do uso , preparo e renda do papel
s e l l a d o se o b s e r v e o r e g u l a m e n t o q n e c o m esle b a i x a , a s s i g n a d o p o r J o a q u i m
José Rodrigues Torres, do meu conselho, senador do Império, ministro c
secretario de estado dos negócios da fazenda, e presidente do tribunal do
thesouro n a c i o n a l , que assim o tenha entendido e faça executar. Palácio
d o R i o de J m e i r o , c m t r i n t a e u m de D e z e m b r o de m i l o i t o c e n t o s e c i n c o e n t a
e um, trigesimo da i n d e p e n d ê n c i a e do Império.
Com a r u b r i c a de Sua Magestade o Imperador.
Joaquim José Rodrigues Torres.

Regulamento sobre o uso , preparo e venda do papel sellado.

CAPITULO I.

Do uso do papel sellado.

Ari. 1." Devem ser escriptos em papel sellado, vendido por conta do
governo , os titulos e actos comprehendidos nas tabellas A e B , annexas
a este regulamento.
Os papeis da tabeliã A , c u j o v a l o r exceder a vinte contos de r é i s e
todos
os outros de que faz menção o regulamento que baixou com o decreto
n . 6 8 1 de 10 de J u l h o de 1850 c o n t i n u a r ã o a ser s e l l a d o s p o r m e i o de verbas.
Art. 2 . ° As secretarias de estado e outras repartições publicas que fizerem
uso de passaportes o u de quaesquci' titulos do seu expediente, que sejão
s u j e i t o s ao s e l l o , impressos o u escriptos e m papel diverso do que se vender
por conta do governo , p o d e r á õ manda-los sellar na casa d a moeda com os
c u n h o s p r ó p r i o s , o u p o r m e i o de verbas nas e s t a ç õ e s encarregadas da arreca-
dação da taxa, c o m o d e t e r m i n a o r e f e r i d o r e g u l a m e n t o de 1 0 de J u l h o „
Art. 3.° Quando os titulos de que trata o artigo antecedente tiverem
de ser sellados na casa d a moeda , pagar-se-ha primeiramente a taxa na
recebedoria do municipio , onde se dará ao portador um conhecimento,
assignado pelo reeebedor e pelo escrivão do sello, declarando o numero e
qualidade delles , e a i m p o r t â n c i a paga.
S e l l a d o s os t i t u l o s , ficaráõ taes c o n h e c i m e n t o s em poder do almoxarife ,
para serem apresentados p o r o c c a s i ã o dos b a l a n ç o s de que trata o art. 30 ,
e da tomada de contas.
Art. h.° Será igualmente permittido ás companhias e casas d e commercio
f a z e r s e l l a r n a casa d a m o e d a , e n a s r e c e b e d o r i a s do Rio de Janeiro, Bahia,
Pernambuco , M a r a n h ã o , Pará e Rio Grande do Sul as l e t r a s e o u t r o s papeis
de que usarem n a s suas t r a n s a c ç õ e s , separa isso fôrem previamente estam-
pados ou preparados.
P a r a o b t e r e m p o r é m esta p e r m i s s ã o d e v e r á õ r e q u e r ê - l a n a c ô r t e a o m i n i s t r o
d a f a z e n d a , e n a s p r o v í n c i a s aos i n s p e c t o r e s das t h e s o u r a r i a s , d e c l a r a u d o , cada
vez q u e o fizerem , o n u m e r o dos titulos de cada u m a das classes o u v a l o r e s
que q u i z e r e m sellar.
A r t . 5 . ° Q u a n d o os p a p e i s d e q u e t r a t a o a r t i g o a n t e c e d e n t e t i v e r e m de ser
s e l l a d o s n a casa d a m o e d a , p r o c e d e r - s e - h a pela m a n e i r a d e t e r m i n a d a n o a r t . 3 . °
Quando p o r é m tiverem d c o ser e m q u a l q u e r das recebedorias, ahi depo-
sitará a parte a importância da taxa, dando-se-lhe um conhecimento, com
o q u a l p o s s a r e q u e r e r a l i c e n ç a ; e s e n d o esta c o n c e d i d a , ficará o conhecimento
220 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

guardado na repartição competente, para ser confrontado com os assentos


da recebedoria quando se lhe tomarem contas.
Art. 6.° Também p o d e r á ser p a g a p o r m e i o d e v e r b a s n a s estações compe-
tentes, a taxa dos l i v r o s dos c o m m e r c i a n t e s , das o r d e n s t e r c e i r a s , irmandades
e c o n f r a r i a s q u e os q u i z e r e m t e r d e p a p e l d i v e r s o d o q u e se v e n d e r p o r c o n t a
do governo.
Art. 7.° O uso d o papel sellado para cada u r a dos t i t u l o s comprehendidos
nas tabellas n ã o será p e r m i t i i d o e m cada município senão depois de haver-se
ahi annunciado a sua venda por editaes das e s t a ç õ e s que f ô r e m delia encar-
regadas ; e í ó será o b r i g a t ó r i o depois que decorrerem t r i n t a dias da data do
annuncio.
Os editaes serão p u b l i c a d o s pela imprensa onde a houver.
Art. 8.° Quando P o r
qualquer oceurrencia f ô r escripto em papel não
sellado a l g u m titulo dos comprehendidos na tabeliã A , deverá a pessoa que
t i v e r de pagar a taxa a n n e x a r - l h e p a p e l sellado d a i m p o r t â n c i a correspondente,
c o m p r a d a e m a l g u m a das e s t a ç õ e s p u b l i c a s , o n d e a p r e s e n t a r á o m e s m o titulo,
e s c r e v e n d o o seu n o m e , parte sobre o signal d o seilo, e parle sobre o papel
em branco: e o funecionario encarregado da veuda fará lançar no mesmo
p a p e l u m a u o l a n e s t e s t e r m o s : — A n n e x a d a a uma letra sacada [ou a um credito
assignado, etc.) por.... comdata de.... — mencionando o lugar, dia, mez e auno,
e assignando-a com o seu escrivão, que fará igual declaração no assento
d o livro de receita.
O t i t u l o que n ã o f ô r assim legalisado n o prazo d o a r t . 19 , § 5.° do regula-
m e n t o de 10 de J u l h o de 1850 , ou que f ô r escripto e m papel sellado com
taxa i n f e r i o r á d e v i d a , ficará sujeito á r e v a l i d a ç ã o na fôrma d o a r t . 1 3 e seus
p a r a g r a p h o s da l e i d e 2 1 de O u t u b r o de 1 8 á 3.
Art. 9 ° Se f ô r e s c r i p t o e m papel n ã o sellado a l g u m dos t i t u l o s o u actos
comprehendidos n o s § § 1 . ° e 2 . ° d a t a b e l i ã B , q u e , s e g u n d o os arts. 3 4 e 35
d o r e g u l a m e n t o de 19 de J u l h o , d e v e m pagar o sello fixo antes da conclusão
para a sentença final , ou antes da assignatura ou concerto, ou depois da
verba do primeiro registro, deverá t a m b é m a parte interessada annexar-lhe
papel sellado, ficando, n o c a s o c o n t r a r i o , a s s i m c o m o n o d e ser escripto em
p a p e l sellado c o m taxa i n f e r i o r à devida, sujeito á revalidação na fôrma do
art. 14 , § 1.° da r e f e r i d a l e i na p a r t e r e l a t i v a ao sello fixo; e o funecionario
que houver de expedir, assignar, c o n c e r t a r o u c u m p r i r , iuutili>ará i m m e d i a t a -
mente com traços de t i n t a o mesmo papel sellado, lançando na primeira
pagina de cada folha u m a nota assignada, na qual declare o dia, mez e
anno em que o fizer.
A r e v a l i d a ç ã o dos t i t u l o s e actos m e n c i o n a d o s neste a r t i g o e n o antecedente
6erá feito p o r m e i o d e v e r b a s nas e s t a ç õ e s competentes.
Art. 10. Quando fôrem escriptos e m papel n ã o s e l l a d o ' os outros titulos
e actos comprehendidos no § 2.° da tabeliã B , e tiverem de ser juntos
a autos ou petições, ou apreseulados em publico, afim de produzirem o
effeito para que fôrem passados , deverá igualmente a parle interessada
annexar-lhe* papel sellado ; e o f u n e c i o n a r i o q u e houver de despachar os
autos o u p e t i ç õ e s , ou attender ofíicialmente a taes d o c u m e n t o s , o inutilisará
pela m a n e i r a d e t e r m i n a d a n o a r t i g o antecedente.
Esta disposição é também a p p l i c a v e l aos r e f e r i d o s t i t u l o s e actos que se
a c h a r e m escriptos antes da execução do presente r e g u l a m e n t o , e ainda não
s e l l a d o s p o r m e i o d e v e r b a s , e a q u a e s q u e r o u t r o s p a p e i s s u j e i t o s ao s e l l o fixo,
n ã o especificados na r e f e r i d a t a b e l i ã , n e m n o r e g u l a m e n t o de 10 de J u l h o .
Art. 1 1 . O chefe de r e p a r t i ç ã o p u b l i c a , j u i z o u q u a l q u e r outra autoridade
constituida ou funecionario , sem distineção de classe o u jerarchia, que
APPENDICE (SELLO) 221

não cumprir as disposições dos arts. 8.°, 9.° e 10.°, incorrerá (nas penas
do arl. 87 d o regulamento de 10 de J u l h o de 1850.

CAPITULO II.

Da compra do papel por conta do governo.

Art. 12. O director geral das rendas publicas é o encarregado de comprar


o p a p e l q u e h o u v e r d e ser s e l l a d o por conta d o goveruo, atlendendo sempre
a o c o n s u m o e í f e c t i v o o u p r o v á v e l , e e s c o l h e n d o s e g u n d o as d i m e n s õ e s e q u a l i -
dades que f ô r e i n mais p r ó p r i a s para os d i v e r s o s t í t u l o s conipreheudidos nas
tabellas A e B .
Art. 13. A c o m p r a será feita a quem offerecer condições mais favoráveis
á fazenda, precedendo annuncios impressos nas folhas publicas, com ante-
c i p a ç ã o de dez dias ao m e n o s , e devendo os v e n d e d o r e s apresentar as suas
propostas em cartas fechadas (acompanhadas das amostra!-) para serem
abertas e m p r e s e n ç a d e t o d o s e l l e s n o d i a e h o r a q u e se d e s i g n a r .
Se fôr mais conveniente encomrnendar o papel f ó r a do paiz, o u manda-lo
fabricar para ser e x c l u s i v a m e n t e d e s t i n a d o ao s e l l o , n ã o p o d e r á o contracto
ter \ i g o r sem p r é v i a a p p r o v a ç ã o do ministro da fazenda.

CAPITULO III.

Do deposito e preparo do papel.

Art. lli. Para deposito do papel em branco, e sómente estampado ou


lithographado, haverá no edifício da casada moeda um armazém próprio;
e para o papel sellado uma casa forte , sendo lodo elle guardado sob a
responsabilidade de u m a l m o x a r i f e , q u e t e r á u m e s c r i v ã o e u m fiel.
Também haverá no a r m a z é m u m c o n t i n u o , que servirá de c o r r e i o .
Art. 15. O p a p e l q u e t i v e r d e ser c o n v e r t i d o e m l e t r a s e n o t a s promissórias
da q u a n t i a de c e m m i l l é i s para c i m a , e c o n h e c i m e n t o s de c a r g * , s e r á entregue
pelo a l m o x a r i f e ao d i r e c t o r da c f f i o i n a da estamparia das apólices existente
no thesouro, para o fazer estampar ou l i l h o g r a p h a r c o n f o r m e os modelos
que f ô r e m approvados pelo m i n i s t r o da fazenda , e r e v e r t e r á depois disto para
o armazém.
As chapas serão abertas n a casa da moeda.
Art. 16. Assim o papel estampado como o papel em branco que se
destinar ao sello p r o p o r c i o n a l e fixo será sellado em uma offieina anuexa
á casa da moeda, sob a immediata inspeeção do provedor, e recolhido
à casa forte , onde ficará convenientemente acondicionado e contado por
classe d e t i t u l o s e t a x a s , a f i m d e se p o d e r d i s t r i b u i r e balancear c o m facilidade
e promptidão.
Nesta o f f i e i n a haverá um mestre impressor encarregado de executar e
dirigir todo o trabalho , além dos o p e r á r i o s e serventes q u e f ô r e m precisos.
Art. 17. Os papeis comprehendidos na tabeliã A serão marcados com
sello b r a n c o , constando d e u m c i r c u l o c o m as i n i c i a e s I B n o centro, e em
roda a legenda — melhoramento do meio c i r c u l a n t e — c o m a taxa em lelra9
brancas sobre u m f u n d o preto , e a i n d i c a ç ã o dos valores para que puderem
servir.
Os papeis comprehendidos na tabeliã B serão marcados com o sello p r e t o
e tinta de o l e o , e m f ô r m a t a m b é m c i r c u l a r e c o m a m e s m a legenda.
Art. 18. Para as l e t r a s d e c a m b i o preparar-se-ha a qaantidade de papel
q u e p a r e c e r s u f í i c i e n t e c o m as t a x a s d e 1 0 0 r é i s , 2 0 0 r é i s , 4 0 0 r é i s , 6 0 0 r é i s ,
e assim p r o g r e s s i v a m e n t e até 4 # 0 0 0 réis ; e para as l e t r a s d a t e r r a e outros
t i t u l o s s u j e i t o s ao sello p r o p o r c i o n a l , de q u e faz m e n ç ã o a tabeliã A , com
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

as t a x a s dc 200 reis, 500 réis, 1 $ 000 r é i s , 1 # 500 r é i s , e assim progressiva-


mente até 10 0 000 rs.
A r t . 1 9 . Nos papeis de q n e t r a t ã o os a r t s . 2 . ° e 4 . ° s e r á i m p r e s s o o signal
do sello e m l u g a r d i f f e r e n t e d a q u e l l e o n d e o t i v e r e m os que fôrem vendidos
por conta do governo.
A r t . 20. H a v e r á na casa de moeda um invenlaiio das chapas, cunhos
e quaesquer outras peças destinadas ao t r a b a l h o da estamparia e do sello,
que o provedor conservará em seu poder , para verificar-se a qualquer
tempo a responsabilidade das pessoas a quem fôrem confiadas.
Art. 2 1 . No principio de cada mez o provedor dará balanço a todos
os o b j e c t u s q u e e s t i v e r e m s e r v i n d o na o f f i e i n a d o s e l l o , t e n d o sempre cuidado
em fazer substituir e inutilisar q u a l q u e r c u n h o q u e se a c h e a r r u i n a d o .
As chapas e cunhos de reserva serão guardados em u m cofre com duas
chaves , das quaes ficará uma em poder do provedor e outra do almoxarife.
Art. 22. N e s t a o f f i e i n a se o b s e r v a r ã o as d i s p o s i ç õ e s d o s arts. 2 . ° , 3 . ° , k.°,
1 1 . ° , 1 4 . ° , 1 5 . ° , 1 6 . ° e 1 7 . ° d o r e g u l a m e n t o de 23 de M a r ç o de 1 8 3 8 , n o que
pelo presente n ã o f ô r alterado.
A r t . 2 3 . O d i r e c t o r g e r a l da despeza publica fiscalisará a execução deste
regulamento na parle que toca á casa d a moeda, ás officinas da estamparia
e do sello , dando as p r o v i d e n c i a s que couberem em suas attribuições , e
propondo ao ministro da fazenda as que delle dependerem , para que o
serviço se f a ç a c o m a c o n v e n i e n t e r e g u l a r i d a d e , p e r f e i ç ã o e s e g u r a n ç a .

CAriTULO IV.

Da venda do papel sellado.

Art. 24. O papel sellado será vendido nas recebedorias de rendas internas ,
mesas de rendas , c o l l e c t o r i a s , a d m i u i s l r a ç õ e s e agencias do correio , e em
outras estações que designar o m i n i - l r o da fazenda.
Deslas mesmas estações será distribuído á s agencias q u e se estabelecerem
nos respectivos dHrictos.
Art. 25. O ministro da fazenda designará as casas particulares do
município da c ô r t e e da provincia do R i o de Janeiro , que convier encar-
regar da venda do papel sellado.
O mesmo farão nas o u t r a s províncias os inspectores das thesourarias de
fazenda.
Art. 26. O director geral das rendas publicas é i n c u m b i d o de regular
a e n t r e g a e r e m e s s a d o p a p e l s e l l a d o , p a r a ser v e n d i d o n a c ô r t e e n a s províncias,
p r o c u r a n d o evitar quanto ser possa q u e o p u b l i c o s i n t a f a l t a delle para os
seus n e g ó c i o s e dependências.
A remessa s e t à feita às thesourarias de f a z e n d a , o u d i r e c t a m e n t e ás e s t a ç õ e s
s u b a l t e r n a s , q u a n d o seja assim m a i s fácil o u menos dispendiosa , dirigindo-se
c m t o d o o caso a c o n v e n i e n t e p a r t i c i p a ç ã o ás mesmas thesourarias.
Art. 27. O papel que tiver de ser posto á venda sahirá encaixotado do
a r m a z é m , e s e m p r e a c o m p a n h a d o d e u m a g u i a c o m as m e s m a s e s p e c i f i c a ç õ e s
que c o n v i e r á descarga feita ao almoxarife no competente livro, tendo os
v o l u m e s u m a m a r c a p r ó p r i a da r e p a r t i ç ã o , a l é m d o c o n v e n i e n t e sobrescripto,
para que possão transitar pelos consulados e a l f â n d e g a s sem serem abertos.
Cada resma levaiá escripto na capa o n u m e r o de m e i is f o l h a s o u t i t u l o s
q u e c o n t i v e r , c o m d e s i g n a ç ã o das taxas r e s p e c t i v a s e d a sua i m p o r t â n c i a total.

CAPITUI.0 v.

Da escripturação e contabilidade.

Art. 28. A renda proveniente do papel sellado será escripturada com dis-
t i n c ç à o da d o sello p o r v e r b a 9 , e a despeza c o m d i s l i n e ç ã o de q u a l q u e r outra.
APPENDICE (SELLO) 225

Art. 29. Haverá para a escripluração e contabilidade do papel os seguintes


livros :
§ 1.° No a r m a z é m a cargo do a l m o x a r i f e tres l i v r o s de e n t r a d a e sahida ,
e u m de l a n ç a m e n t o o u r e g i s t r o .
1.° Para o papel em branco , que será escripturado por n u m e r o de resmas
(de 500 folhas) e meias folhas o u t i r a s , c o n f o r m e o m o d e l o n . ° 1 .
N e s t e m e s m o l i v r o se a b r i r á conta ao p a p e l que se i n u t i l i s a r nas oflicinas
da e s t a m p a r i a e d o sello , c o m o mostra o dito modelo.
2.° Para o papel estampado o u lithographado , que será escripturado pelo
n u m e r o de tiras e titulos, c o n f o r m e o m o d e l o n . ° 2.
3.° Para todo o papel já sellado, dividido em diversos tomos ou contas
dislinctas ; e tantas columnas para o numero dos titulos estampados ou
l i l h o g r a p h a d o s , e de meias folhas do sello fixo quantas as d i v e r s a s taxas ;
e mais u m a c o l u m n a e m cada conta para a importância d o respectivo s e l l o ,
m o d e l o n . ° 3.
h.° De lançamento dos papeis do expediente das repartições publicas,
assim como dos que as companhias e casas commerciaes fizerem sellar
c o u f o r m e as d i s p o s i ç õ e s d o s a r t s . 2 . ° , 3 . ° , li, 0
e 5.° dividido l a m b e m e m tomos
o u contas distinetas, c o m o mostra o m o d e l o n . ° h,
§ 2.° Na offieina da estamparia um livro para a entrada, por numero de
resinas e tiras d o papel b r a n c o , e sahida do estampado o u l i t h o g r a p h a d o por
n u m e r o de tiras e titulos, e d o i n u t i l i s a d o , m o d e l o n . ° 5.
§ 3.° Na segunda contadoria do thesouro nacional u m livro de contas
c o r r e n t e s c o m as d i v e r s a s e s t a ç õ e s , a q u e se r e m e l t e r o p a p e l s e l l a d o p a r a ser
vendido, modelo n.° 6.
Para q u e as d i t a s estações sejão debitadas, l o g o q u e se l h e s fizer qualquer
remessa de papel s e l l a d o , o a l m o x a r i f e e n v i a r á ao director geral das rendas
publicas u m a g u i a i d ê n t i c a á q u e t i v e r d a d o ao c o n d u c t o r ; e o director geral,
depois de h a v e r f e i t o o c o n v e n i e n t e aviso á e s t a ç ã o a q u e f ô r r e m e t t i d o o p a p e l ,
d e v o l v e r á a m e s m a guia á d i r e c t o r i a geral de c o n t a b i l i d a d e , a f i m de proceder-se
á vista d e l i a á d e v i d a e s c r i p t u r a ç ã o .
§ N a s t h e s o u r a r i a s d e f a z e n d a das p r o v í n c i a s :
Um l i v r o de entrada e sahida, como o do modelo n.° 3.
D i t o de contas correntes , c o m o o do m o d e l o n . ° 6 , p a r a se a b r i r c o n t a á s
e s t a ç õ e s encarregadas da venda d o papel.
§ 5 . ° Nas recebedorias e outras e s t a ç õ e s encarregadas da venda d o p a p e l .
Um livro de entrada e sahida, como o do modelo n.° 7.
Dito d e c o n t a s c o r r e n t e s c o m as pessoas q u e f ô r e m e n c a r r e g a d a s d a venda
do papel , c o m o o modelo n . " 6.
D i t o da receita p r o v e n i e n t e d o papel s e l l a d o , m o d e l o n . ° 8 , e o u t r o d o sello
por verbas, c o n f o r m e o m o d e l o a q u e se r e f e r e o r e g u l a m e n t o d e 1 0 d e Julho
de 1850.
As partidas de receita e despeza serão assignadas pelos responsáveis c
e s c r i v ã e s , c o m o m o s l r ã o os m o d e l o s .
Art. 30. Os c h e f e s das e s t a ç õ e s , o n d e h o u v e r t h e s o u r e i r o d o p a p e l sellado,
daráõ balanço no fim década mez ao deposito do mesmo papel, fazendo
lavrar os c o n v e n i e n t e s termos nos livros próprios.
Ao armazém e casa forte dar-se-ha balanço no fim de cada semestre,
a s s i s t i n d o o d i r e c t o r g e r a l das r e n d a s p u b l i c a s , o u o s u b d i r e c t o r , q u e também
assignará os termos, e fará c o n s u m i r e m sua p r e s e n ç a t o d o o papel que se
tiver inutilizado na offieina da estamparia e do sello.
Art. 31. O almoxarife e o escrivão do armazém serão nomeados por
decreto imperial; o fiel pelo a l m o x a r i f e p a r a s e r v i r sob sua responsabilidade,
precedendo approvação do ministro da fazenda > e o mestre impressor e
o continuo por portaria do mesmo ministro.
M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

A o p r o v e d o r d a casa d a m o e d a c o m p e t i r á a e s c o l h a e a d m i s s ã o d o s operários
c serventes da offieina do sello, depois que o ministro tiver fixado o numero
e a r b i t r a d o os s a l á r i o s q u e d e v e r e m vencer.
Ari. 32. O almoxarife perceberá o vencimento annual de 2:000 0 , o
escrivão 1:600 0 , o fiel 8 0 0 0 , o m e s t r e i m p r e s s o r 80 0 0 e o c o n t i n u o 480 0 .
Art. 33. Os e m p r e g a d o s das diversas e s t a ç õ e s publicas que fôrem incum-
b i d o s da venda do papel sellado p e r c e b e r á õ d o seu p r o d u c t o a p o r c e n t a g e m
qne lhes f ô r arbitrada pelo thesouro e thesourarias de fazenda , como sc
p r a t i c a a r e s p e i t o d e o u t r a s r e n d a s , e os p a r t i c u l a r e s a c o m m i s s ã o q u e parecer
razoável, devendo estes p r e s t a r fiança correspondente ao v a l o r d o p a p e l que
houverem de receber.
Art. 3 4 . C o n t i n u â o e m v i g o r as d i s p o s i ç õ e s d o r e g u l a m e n t o d e 1 0 d e J u l h o
de 1850 n ã o alteradas pelo presente.
P a l á c i o d o Rio de Janeiro , e m 3 1 de D e z e m b r o de 185!.
Joaquim José Rodrigues Torres.

T A B E L L A A.

Titulos sujeitos ao sello proporcional, que devem ser escriptos em papel


sellado, na fóima do regulamento desta data.
§ 1.° Letras de cambio para dentro ou fóra do Impeiio.
De 1 0 0 0 0 0 0 alé 4 0 0 0 0 0 0 100 rs. por cada via.
D e mais de 4 0 0 0 0 0 0 a t é 1 -.000 0 0 0 0 2 0 0 rs. » » »
D e mais de 1:000 0 000 a t é 2:000 0 000 400 rs. »» » »
E assim p r o g r e s s i v a m e n t e , c o b r a n d o - s e mais 200 rs, por via de Ioda a
q u a n t i a que exceder a cada c o n t o de réis.
g.2.° •» ca
-
Letras de terra C U
o o o o -o D

Ditas passadas o u aceitas p e l o s d e v e d o r e s d a fazenda © o © o t> 0>


n a c i o n a l , a q u e m se c o n c e d e f a z e r p a g a m e n t o por w A o * t>
prestações. ^ »
D i t a s passadas o u aceitas p e l o s c o n t r a c t a d o r e s , p a r a paga-
. o omoe"on t.2
o d o p r e ç o dos contractos
Motas p r o m i s s ó r i a s f © © © d
Créditos 3
-Q} -o -flJ O C
Escriptos á o r d e m , ainda que e m f ô r m a interior de carta*.
• — — — a;
Vales aceitos entre os c o m m e r c i a n t e s da p r a ç a . . . . » n s A *
N o t a s , vales o u letras d e q u a e s q u e r associações, contendo ^ £ ^ s i - í »
2 o o o .2 o 2
promessa o u o b r i g a ç ã o de pagamento mm L_ r~\
Cautelas ou vales d e transacções de empréstimo de d i -
n h e i r o , sobre penhores de p r e c i o s i d a d e s , e de quaesquer 222§§
A ^5 Q. -a o
o u t r o s o b j e c t o s q u e se fazem e m Montes de vSoccorro,
~ » . « « _ »
em quaesquer associações, e e m m ã o de particulares. o 5 " * °
* a a a í o 3
1 o o a o *
T A B E L L A B .
Titulos e actos sujeitos ao sello fixo, que devem ser escriptos em papel sellado
na fôrma do regulamento desta data.
Por cada
§ 1. Papeis forenses. meia f o -
lha.
Autos de posse, t o m b o , inquirição c justificação de gerene t e
justificação de serviços. 120
A u t o s d e q u a l q u e r o u t r a n a t u r e z a , c o m p r e h e n d i d o s os q u e c o r r e m
a n t e os d e l e g a d o s e s u b d e l e g a d o s , e os q u e findarem por haver
c o m p o s i ç ã o das partes , 60
APPENDICE ( S E L L O ) 22*

Justificações ou legitimações feitas para h a v e r passaporte, e para


ser r e c o n h e c i d o cidadão brasileiro . . 100
Escripturas de qualquer c o u t r a c t o e i n q u e se n ã o d e c l a r e quantia.
T r a s l a d o s das m e s m a s
Publicas f ô r m a s
P r o c u r a ç õ e s feitas j u d i c i a l m e n t e
Traslados de autos , q u a n d o fôrem extrahidos c o m o taes, e não
como i n s t r u m e n t o s de p u b l i c a f ô r m a
160
S e n t e n ç a s e x t r a h i d a s d o processo
S e n t e n ç a s de f o r m a l de p a r t i l h a s
Mandados de preceito
Cartas testemunhaveis .
Cartas p r e c a t ó r i a s , avocatorias , r o g a t ó r i a s , de i n q u i r i ç ã o c arre-
matação , ainda que expedidas a f a v o r da fazenda provincial, j

§ 2 . ° Papeis e documentos civis.


Testamentos ou codicillos
Passaportes, guias de m u d a n ç a de d o m i c i l i o e t i t u l o s de r e s i d ê n c i a . \
T i t u l o s de n o m e a ç ã o de inspectores de q u a r t e i r ã o
P r o v i s õ e s de p a r o c h o s e n c o m m e n d a d o s
Traslados de autos e m p u b l i c a f ô r m a
E d i t a e s , m a n d a d o s de p e n h o r a , s e q ü e s t r o , c i t a ç ã o , o u para o u t r o
q u a l q u e r fim
C e r t i d õ e s das c i t a ç õ e s , e de q u a e s q u e r o u t r o s actos j u d i c i a e s , em
e x e c u ç ã o d e m a n d a d o s o u despachos r e l a t i v o s a causas pendentes.
Certidões quaesquer
Attestados
160
Procurações particulares - . . .
Os titulos e p a p e i s c o m p r e h e n d i d o s n a 1 . " classe d o sello propor-
cional , que f ô r e m de v a l o r m e n o r de 100 0
Recibos e quitações particulares
Q u i t a ç õ e s judiciaes de m e n o s de 100 0 •
Cartas de ordens ecclesiasticas •
Compromissos das irmandades, confrarias e ordens terceiras.
Quitações, ainda que s e j ã o sobre objectos judiciaes , apresentadas
n a s r e p a r t i ç õ e s p u b l i c a s , p a r a se h a v e r d e l l a s a l g u m pagamento
de mais de 100 0 i
Cada via de c o n h e c i m e n t o de carga 60

§ 5.° Livros. Por foi.


de livro.
O s d o s t e r m o s d e b e m - v i v e r e s e g u r a n ç a , e os d o s c u l p a d o s . . . j
O s dos c o f r e s dos o r p h ã o s e ausentes r 100

Os d o c o m m e r c i o ( d i á r i o , mestre o u r a z ã o , e c o p i a d o r de cartas). 40
O s das o r d e n s t e r c e i r a s , i r m a n d a d e s e c o n f r a r i a s
Os d e assentos de baptismos, c a s a m e n t o s e ó b i t o s das parochias
e curatos
Os livros e p r o t o c o i l o s de t a b e l l i à e s e escrivães de qualquer juizo ,
c o m p r e h e n d i d o s os d o s e s c r i v ã e s dos juizes de paz , delegacias
e subdelegacias. .
Os livros de d e p o s i t á r i o s geraes, d i s t r i b u i d o r e s e contadores j u d i c i a e s .
Palácio do R i o de J a n e i r o , em 31 de D e z e m b r o de 1851.—Joaquim José
Rodrigues Torres.

MAN. NEG. 15
226 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

M I N I S T É R I O D A F A Z E N D A .

Regulamento do Sello.

Joaquim José Rodrigues Torres, presidente do tribunal do the-


souro nacional, julgando necessário solver algumas duvidas susci-
tadas na execução de diversas ordens que tem explicado o regula-
mento de 10 de Julho de 1850, na parte relativa ao sello propor-
cional a que então s u j e i t o s os t i t u l o * da 3. a
classe, declara : 1.°, que
o empregado publico a q u e m , por qualquer m o t i v o , se p a s s a r novo
titulo, ainda que para continuar no mesmo lugar que estiver oceu-
pando, c o m ou sem a c e r e s c i m o de v e n c i m e n t o , d e v e r á pagar, segundo
o disposto no art. 26 do dito r e g u l a m e n t o , o sello p r o p o r c i o n a l da
lotalidade do vencimento de u m anno; 2.°, que o empregado a
quem se conceder qualquer acerescimo de vencimento, por titulo
especial, ou por apostilta l a n ç a d a no do emprego, deverá pagar
sómente o sello correspondente ao acerescimo; 3.°, que n e n h u m
sello se deverá cobrar do acerescimo do vencimento concedido ao
empregado quando se lhe n ã o passar título ou apostilla. Thesóuio
n a c i o n a l , e m l\ d e O u t u b r o d e 1 8 5 2 . — J o a q u i m José Rodrigues Torres.

E x t r a c t o do expediente de 11 de Setembro de 1850.

Regulamento do Sello.

Ao inspector da a l f â n d e g a , em solução ao que representou , se


declara: 1.°, que, sujeitando o regolamento de 10 de Julho deste
anno ao i m p o s t o do sello s ó r n e n t e ps t í t u l o s d o s d e s p a c h a n t e s , n ã o
se c o m p r e h e n d e d e b a i x o desta d e n o m i n a ç ã o os d o s caixeiros despa-
chantes e ajudantes, devendo considerarem-se esses t i t u l o s como
licenças concedidas pelas autoridades fiscaes para se exibir a taxa
da penúltima parte d p a r t . Zj8 d o citado regulamento ; 2.°, que o
r e f e r i d o sello d e v e ser cobrado pela alfândega, como até agora, na
f ô r m a do art. 63; 3.°, que debaixo do titulo de — L i c e n ç a s nao
especificadas, — de q u e traia o regulamento, se o o m p r e h e n d e m as
que, em vista d o r e g u l a m e n t o das alfândegas e eslylos, se passão,
? i m a vez q u e se e x p e ç ã o titulos especiaes dellas. assignados pelas
respectivas autoridades, por n ã o serem bastantes simples p e r m i ^ õ e *
c o n c e d i d a s p o r d e s p a c h o s , as q u a e s s ó d e v e m p a g a r a taxa de 160 rs.
do art. ol\.

Extracto do expediente de 21 de O u t u b r o de 1852.

Ao administrador da recebedoria , sobre o pagamento do sello da


escriptura de d i s s o l u ç ã o da sociedade de H u g o Hutton, e Carlos Co-
Jeman e João (íardner, se d e c l a r a que c o m quanto cabe á denomi-
n a ç ã o d e — - e s c r i p t u r a de. d i s s o l u ç ã o d a s o c i e d a d e — , de q u e trata o ar-
t i g o 7 . ° S 5 . ° d o R e g u l a m e n t o d e 1 0 d e J u l h o d e 1 8 5 0 . se compreheo-
dem t a n t o as p u b l i c a s c o m o as particulares, da m e s m a forma que


APPENDICE 227

comprehcndidas expressamente se a c h ã o n o § 2.* do m e s m o artigo,


e n ã o procede por isso o a r g u m e n t o de Hulton, f u n d a d o na falta de
f o r m u l a de escriptura p u b l i c a n a que fica m e n c i o n a d a ; todavia, s ó -
mente s ã o s u j e i t a s a o s e l l o p r o p o r c i o n a l as d i t a s e s c r i p t u r a s publicas
ou particulares quando, por suàs estipulações, se podem subordinar
á r e g r a g e r a l d o a r t i g o 1 2 § 1.° d a lei de 21 de O u t u b r o de 1 8 4 3 ; isto
é, quando n e l l a s se conlracta a divi*ão de bens da sociedade entre
os s ó c i o s , o u se e s t i p u l a q u e c a d a u m , ou quaeaquef delles, terá de
haver uma quantia, ou valor e m d i n h e i r o , o u bens de q u a l q u e r es-
pécie. N ã o se v e r i f i c a n d o e s t a s c i r c u m s t a n e i a s na de q u e se trata,
posto que nella se p o n h a f i m a uma sociedade) comtudo de nada
mais p o r o r a se t r a i a d o q u e t e r m i n a r as s u a s t r a n s a c ç õ e s , e proce-
der á liquidação, para o que. se dão regras, sem determinação
alguma d o q u e aos s ó c i o s h a j a d e p e r t e n c e r , p o r isso n ã o e s t á sujeita
ao sello p r o p o r c i o n a l , n ã o obstante a multa nella estipulada, pela
sua natureza de condicional*

A.V1SO t>E 3 0 DE AGOSTO DE 1852, AO VICE-PRESIDENTE DA 1'ROVIRCIA


DO RIO GRANDE DO S U L .

Declara que sendo o deputado da junta do commercio daquella província,


Delfino Lorena de Souza , 1 . ° supplente do delegado de policia da cidade
do Rio Grande, em exercido , deve ser substituído nos seUs impedimentos
pelos supplentes que se lhe seguirem na delegacia, segundo a ordem de
sua designação.

Ministério dos n e g ó c i o s da justiça.—Rio de Janeiro, em 30 de


Agosto de 1852.
Illm. e E x m . S r . — C o m m u n i c a n d o - m e V. É x . j e m seu ofíicio ri.
03 de 26 do mez próximo pretérito, que* em conseqüência de lhe
haver o presidente substituto da j u n t a do c o m m e r c i o da cidade do
Rio Grande, dessa província, consultado sobre quem devia substi-
tuir o deputado da mesma junta Delfino Lorena de Souza , V . Ex.
lhe declarara qne$ sendo o referido deputado í. d
supplente do de-
legado de policia daquella cidade, em exercício, d e v i a ser substi-
tuído, nos seus i m p e d i m e n t o s , pelos s u p p l e n t e s q u e se l h e seguirem
na delegacia ^ segundo a o r d e m de sua designação; o governo impe-
rial , a q u e m foi presente o citado ofíicio de V. E x . , m a n d a respon-
der-lhe que approva a decisão por V. Ex. dada , por ser t a m b é m
dessa o p i n i ã o o vice-presidente do tribunal do c o m m e r c i o da capital
do Império, que fôra ouvido sobre o objecto e m questão. O que V.
Ex. fará constar ao mencionado presidente substituto da junta do
c o m m e r c i o da cidade do R i u Grande.

Deos guarde a V . E x . — J * s è Itdefonso de Souza Rimos. — Sr. vice-


presidente da província do Rio Grande do Sul.

*
228 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

D E C R E T O N . 1 0 5 6 D E 2 3 D E O U T U B R O D E 1 8 5 2 .

Revoga os artigos 533 e 534 do regulamento n. 737 de 25 de Novembro


de 1 8 5 0 , na parte relativa d nomeação dos avaliadores commerciaes.

Hei por bem, tendo attenção ao qne me representou o tribunal


do c o m m e r c i o da e ô r t e , decretar o seguinte:
Art. 1.° O s a v a l i a d o r e s commerciaes serão nomeados pelos tribu-
n a e s d o c o m m e r c i o , de tres e m tres annos.
Art. 2.° Se, durante este prazo, v a g a r a l g u m destes l u g a r e s , será
nomeado quem o substitua, mas sómente para servir pelo tempo
que f a l t a r ao substituído.
Art. 3.° Os avaliadores c o m m e r c i a e s , e m cada u m a das especia-
lidades para que h o u v e r e m sido nomeados, e e m cada juizo servi-
rão por distribuição.
Art. 4 o
Somente n o caso de falta, impedimento ou suspensão
de todos os avaliadores nomeados em cada u m a das artes o u offi-
cios, a que respeitarem os b e n s avaliados, terá lugar a louvação
das partes, ou a do juizo á revelia dellas.
Art. 5.° F i c a , nesta parte sómente, derogado o disposto nos
artigos 533 e 534 do regulamento n . 737 de 25 de N o v e m b r o de
1850.
José I l d c f o n s o de Souza Ramos . do meu conselho, ministro e
secretario de estado dos n e g ó c i o s da justiça, a*<irn o t e n h a enten-
dido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, e m vinte e tres
de Outubro de m i l oitocentos cincoenta e dous , trigesimo-pri-
meiro da independência e do i m p é r i o . — C o m a rubrica de
S. A l . o I m p e r a d o r . — J o t è lldefonso de Souza Ramas.

Papel sellado.

Pela recebedoria do m u n i c í p i o da c ô r t e se f a z p u b l i c o q u e do 1.°


de Janeiro de 1853 e m diante n ã o será a d m i t t i d o m a i s ao sello, p o r
verbas, os títulos e actos da I a
classe sujeitos ao sello f n o e cons-
t a n t e s da t a b e l i ã n . l i ,a n n e x a ao r e g u l a m e n t o de 3 1 de D e z e m b r o de
1851, e m conseqüência de principiar nesse dia a ser obrigatório o
uso do papel sellado, qne para esse fim existirá á venda nesta repar-
tição, c o m o está determinado pela portaria do t r i b u n a l do thesouro
de 26 de N o v e m b r o de 1 8 5 2 . R e c e b e d o r i a do m u n i c í p i o , em 2 7 de
N o v e m b r o d e 1 8 5 2 . — O a d m i n i s t r a d o r , Hermmegildo Duarte Monteiro.

Titulos e actos sujeitos ao sello fixo, que devem ser escriptos em papel
sellado do dia 1 . ° de Janeiro de 1 8 5 3 em diante, segundo as disposições
do regulamento de 3 1 de Dezembro de 1 8 5 1 .

§ 1.°—PAPEIS FORENSES. Por cada


meia folha.
Autos de posse, t o m b o , i n q u i r i ç ã o e j u s t i f i c a ç ã o de gênero
e justificação de serviços Rs. 120
APPENDICE 229

Autos de qualquer outra natureza, comprehendidos os


que c o r r e m ante os delegados, subdelegados, e os que
findarem p o r haver c o m p o s i ç ã o das parles Rs. 60
Justificações ou legitirnaeões feitas por haver passaporte e
p a r a ser r e c o n h e c i d o c i d a l ã o b r a s i l e i r o » 100
Escriptura de q u a l q u e r c o n t r a c t o e m q u e se nao dec l a r e
quantia » 160
T r a s l a d o s das m e s m a s * 160
Publicas-fórmas » 160
Procurações feitas j u d i c i a l m e n t e » 160
Traslados de a u t o s , quando fôrem exlrahidos como taes,
e n ã o c o m o i n s t r u m e n t o s de publica forma . . . . » 160
Sentenças extrahidas do processo » 160
Sentenças de f o r m a l de partilha » 160
M a n d a d o s de p r e c e i t o > 160
Cartas testemunhavei* » 160
Cartas precatórias, avocalorias, rogatórias, de inquirição
e arrematação, ainda que expedidas a favor da fazenda
provincial » 160

§ 2.° — PAPEIS E DOCUMENTOS CIVIS.

Testamentos o u codicillos » 160


Passaportes, guias de m u d a n ç a de d o m i c i l i o e titulos de
residência » 160
T i t u l o s de n o m e a ç ã o de inspector de q u a r t e i r ã o . . . . » 160
Provisões de parochos encommendados . » 160
Traslados de autos e m p u b l i c a f ô r m a • 160
Editaes, mandados de penhora , seqüestro , citação, ou
para outro qualquer fim » 160
Certidões das citações e de quaesquer outros aclos judi-
ciaes, em e x e c u ç ã o de m a n d a d o s o u despachos relativos
a causas pendentes » 160
Certidões quaesquer » 160
Attestados > 160
Procurações particulares » 160
Os titulos e papeis c o m p r e h e n d i d o s na p r i m e i r a classe do
sello p r o p o r c i o n a l , que f ô r e m do valor m e n o r de 1 0 0 ^ . » 160
Recibos e quitações particulares » 160
Cartas de o r d e m ecclesiastica » 160
Compromissos das irmandades, confrarias e ordens ter-
ceiras » 160
Quitações, ainda que sejão sobre objectos judiciaes,
apresentadas nas repartições publicas para se haver
dellas a l g u m pagamento de m a i s de 100^í) . . . . » 160

§ 3.° — LIVROS.

O s d o s t e r m o s de b e m v i v e r e s e g u r a n ç a e os d o s c u l p a d o s . » 100
Os dos cofres dos o r p h ã o s e ausentes » 100
Os das o r d e n s terceiras, irmandades e confrarias . . . » 80
230 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

Os dos assentos dos b a p t i s m o s , c a s a m e n t o s , e óbitos das


parocbias e curatos Rs. 80
Os livros protocollos de tabelliâes e escrivães de qualquer
j u i z o , c o m p r e h e n d i d o s os d o s e s c r i v ã e s dos juízos de paz,
delegacias e subdelegacias » 80
Os livros de depositários geraes, distribuidores e conta-
dores judiciaes » 80

Directoria g e r a l das r e n d a * p u b l i c a s , e m 12 d e O u t u b r o de 1852.


— * Luiz Antônio de Sampaio Vianna.

AVISO DE 3 0 D E DEZEMBRO DE 1852.

Ao presidente da província de Pernambuco. Declara que as prescripções


em matérias commerciaes, não podem ser reguladas pela legislação civil,
por ser o direito commercial excepcional, salvo nos casos omissos.

Ministério dos negócios da justiça.—Rio de Janeiro, em 30 de


D e z e m b r o de 1852.

Illm. e E x m . S r . — A a s s o c i a ç ã o c o m m e r c i a l desta província d i -


rigio ao g o v e r n o i m p e r i a l u m requerimento pedindo que as pres-
cripções a respeito dos direitos e o b r i g a ç õ e s commerciaes ordinárias
se r e g u l e m p e l o s t e r m o s das prescripções dos direitos e obrigações
civis, apresentando alguns f u n d a m e n t o s pelos quaes entende ser
de grande p r e j u í z o p a r a os n e g o c i a n t e s d a m e s m a província os limi-
tadíssimos prazos que o Código Commercial estabelece nos arti-
gos 4 4 3 a 4 4 6 p a r a as prescripções extinetivas. Foi Sua Magestade o
I m p e r a d o r s e r v i d o m a n d a r q u e o T r i b u n a l do C o m m e r c i o da c a p i t a l d o
Império consulta-se sobre a pretenção dos s u p p l i c a n t e s , e t o m a n d o
em consideração o parecer do referido tribunal, houve por b e m
resolver que, apezar de s e r e m a l t e n d i v e i s alguns dos fundamentos
por elles ofTerecidos, c o m l u d o n ã o devem, n e m p o d e m as prescrip-
ções e m matérias commerciaes ser r e g u l a d a s pela legislação civil,
por ser o direito commercial e x c e p c i o n a l , salvo nos casos omissos;
além de que, sendo a prescripção estabelecida para evitar pleitos,
fôra cahir no extremo oppostuao ponderado pelos supplicantes se
se a d o p t a s s e a m e d i d a p o r e l l e s i n d i c a d a , v i s t o q u e as disposições das
leis v i g e n t e s a r e s p e i t o das p r e s c r i p ç õ e s civis, p r i n c i p a l m e n t e n a parte
relativa ás acções pessoaes, a u t o r i s ã o prazos excessivamente lon-
gos, e por conseqüência incompatíveis c o m os interesses e c o m
as questões commerciaes. O que c o m m u n i c o a V, Ex. para seu
conhecimento, e para o fazer constar à sobredita associação c o m -
m e r c i a l dessa p r o v í n c i a .

Deos guarde a V. Ex.—José lidefonso de Souza Ramos.—Sr, pre-


sidente da província de Pernambuco.
APPENDICE 231

N o t a ao artigo 12 do Código do Commereio,

Por consulta do Tribunal do Commercio de Pernambuco de 8 de


Março de 1 8 5 1 , a o d a B a h i a , se r e s o l v e u pedir a<> g o v e r n o a elimi-
nação das palavras—as contas e facturas — do ultimo período deste
artigo, ficando tudo o mais como está, com cuja resolução se con-
formou o T r i b u n a l da Bahia.

A v i s o de 26 de S e t e m b r o de 1850.—Achando-se revogada a regra


do a r t i g o 15 d o D e c r e t o n.° 182, de 14 de N o v e m b r o de 1846, sobre
a collisão do r e g i s t r o das hypothecas na mesma hora, pelo art. 265
do Cod. Com., cuja disposição é correlativa, e c o m m u m aos hypo-
thecarios civis e commerciaes, V. Ex. assim o fará constar aos
tabelliães de hypothecas dessa Província, recomniendando-lhes
que desde já declaiem a hora e m que tiver lugar o registro de
q u a l q u e r h y p o t h e c a . — E u z e b i o de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.—
Sr. Presidente da P r o v i o c i a do R i o de Jaueiro.

Aviso de 10 de Janeiro de 1851 remettendo a tabeliã dos emolu-


mentos que se d e v e m cobrar nos T r i b u n a e s do C o m m e r c i o do I m -
pério.

Tabeliã a que se refere o Aviso supra.

l.° Carla de commerciante matriculado, patente de cor-


retor, agente de leilão, e interprete de trapicheiros, e
administrador de depósitos 40^6000
Assignatura 1 0 $ 0 0 0
2.° Rubricas de livros 40 rs. cada u m a : distribuições e
assignaturas l<Jg)000
8.° Fianças e termo.-, cada lauda l<$j)500
4.° Registro de titulos e documentos, cada lauda. . . . l<jj)500
5.° Certidão, cada lauda l<j05OO
6.° Busca, cada anno $J400
A titulo de busca nunca se l e v a r á m a i o r quantia do que
oito m i l réis.
7.° Nos processos de quebra se p e r c e b e r á õ e m dobro os
mesmos emolumentos dos e s c r i v ã e s do judicial.
8.° A o fiscal, cada oílicio 1<^000
Secretaria de estado dos negócios tia j u s t i ç a , 31 de D e z e m b r o de
1850.

Por Portaria de 26 de Fevereiro de 1851 manda S. M. I. pela se-


cretaria de estado dos n e g ó c i o s da justiça declarar ao T r i b u n a l do
C o m m e r c i o da Província da Bahia, e m resposta ao seu ofíicio de 16
de Janeiro do anno corrente, q u e o a r t i g o 96 do C ó d i g o Commercial
reconhece nos trapicheiros e administradores de a r m a z é n s de de-
posito o direito de exigir o aluguei que fôr estipulado, e só na falta
232 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

de estipulação manda recorrer ao a d m i t t i d o p o r uso. É claro por-


tanto q u e os t r a p i c h e i r o s t e m , c o m o q u a e s q u e r o u t r o s proprietários,
a faculdade de p e d i r o aluguel que mais lhes convier, u m a vez que
facão de modo que o dono d< s gêneros recolhendo-os ao trapiche
tenha c o n h e c i m e n t o desse p e d i d o , é manifesto haver-se submettido
por conseqüência ao preço estipulado. S ó m e n t e a respeito dos tra-
picheiros alfandegados a e s t i p u l a ç ã o do p r e ç o seria i l l u s o r i a , p o r n ã o
haver da parte dos donos dos g ê n e r o s o direito de escolher outro
qualquer deposito; mas contra o abuso desses t r a p i c h e i r o s o r e m é -
dio está no artigo 195 do regulamento de 30 de M a i o de 1836, que
não admitte nos trapiches e a r m a z é n s alfandegados, alteração nos
preços estabelecidos, sem consentimento do tribunal do thesouro, e
das thesourarias nas Províncias.

N e m esta disposição se pôde con«iderar revogada pelo artigo 196


do Código Commercial, que, admittindoa liberdade da estipulação
nos trapiches, em geral, n ã o podia sem absurdo comprehender al-
fandegados, os q u a e s , em tudo o que se r e f e r e a e s t a q u a l i d a d e , n ã o
podem deixar de dirigir-se por princípios especiaes. Quanto aos
meios correctivos de que pôde lançar m ã o o Tribunal contra os
abusos e i n f r a c ç õ e s de q u a e s q u e r agentes auxiliares do C o m m e r c i o ,
o Código Commercial em alguns casos o autorisou expressamente,
como a respeito dos t r a p i c h e i r o s se vê no artigo 89. Fóra desses
casos os Tribunaes devem r e c o r r e r c o n t r a os q u e l h e s desobedece-
rem no exercício de suas a t t r i b u i ç õ e s , ao mesmo procedimento, a
que recorrem todas as autoridades, juizes e tribunaes do Império ,
em idênticas circumstaneias, salvos d e m a i s as p a r t e s i n t e r e s s a d a s ás
a c ç õ e s eiveis o u c r i m e s q u e l h e s c o m p e t i r e m , c o n t r a esses infracto-
res das ordens dos T r i b u n a e s . Finalmente, quanto á jurisdicção dos
Tribunaes do Commercio c o m relação aos trapiches, e para evitar
conílictos c o m as e s t a ç õ e s fiscaes, devem os T r i b u n a e s limitar-se á
i n s p e c ç ã o e i m p o s i ç ã o de multas nos casos declarados nos artigos
89 e 9 0 d o C ó d i g o , e a passar os t i t u l o s dos trapicheiros e adminis-
tradores de armazéns de depósitos, que estiverem satisfeito ao
disposto n o artigo 8 7 ; e isto independente da intervenção de qual-
quer das repartições fiscaes, que entretanto continuão a ser as
uoicas e competentes para alfandegarem os q u e julgarem conve-
nientes.

E para que haja inteira coherencia nas d i s p o s i ç õ e s relativas á es-


cripturação, ne*ta data solicito do Sr. m i n i s t r o da f a z e n d a a expedi-
ção de instrucções, que harmonisem com o artigo 88 do Código
Commercial, o regulamento de 29 de Janeiio de 1839, e as ordens
posteriores, relativas á escripturação fiscal. —Euzebio de Queiroz
Coitinho Mattoso Câmara.

Portaria de 9 de Maio de 1851.—Manda S. M. o Imperador, pela


secretaria de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , declarar ao T r i b u n a l do
C o m m e r c i o da P r o v í n c i a da Bahia, pelo que respeita á p r i m e i r a parte
do seu ofíicio datado de 13 d e Março ultimo, sobre proposta do T r i -
APPENDICE 233

bunal do C o m m e r c i o da capital do I m p é r i o , houve por b e m decidir


que pelas cartas de registro e m a t r i c u l a das embarcações brasilei-
ras, sendo de escnna para cima, se levasse de emolumentos no
mesmo Tribunal provisoriamente a metade d o q u e se l e v a pelas car-
tas de m a t r i c u l a dos c o m m e r c i a n t e s , pelas s u m a c a s metade do que
pagassem as r e f e r i d a s e m b a r c a ç õ e s , pelas lanchas a quarta parte, e
pelas averbações futuras m i l réis: o que se d e v e i g u a l m e n t e p r a t i c a r
no Tribunal do C o m m e r c i o da dita Província.
Quanto a levar-se emolumentos pelos j u r a m e n t o s que são obri-
gados a prestar os c o r r e t o r e s , agentes de leilões e os proprietários
armadores de e m b a r e a ç õ e s brasileira*, e por outros objectos, de que
trata a segunda parte do citado ofíicio, m a n d a o mesmo augusto
Senhor remetter ?o mencionado T r i b u n a l d<> C o m m e r c i o a inclusa
copia da informação que a tal respeito acaba de dar o Presidente
do da capital do Império, sobre o que n e l l e se p r a t i c a , e q u e deve
ser observado nos demais T r i b u n a e * do C o m m e r c i o . a f i m de haver
u n i f o r m i d a d e . — E u z e b i o de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.
Informação. — Ill. m 0
e Ex. m o
Sr.—O Tribunal do Commercio da
P r o v í n c i a da B a h i a c o n s u l t a , no ofíicio que devolvo, se a o s e u Pre-
sidente é devido algum emolumento, n ã o só pelos j u r a m e n t o s que
são obrigados a prestar os corretores, agentes de leilões e os
proprietários armadores de e m b a r c a ç õ e s brasileiras; mas t a m b é m
pelos termos que assignão os trapicheiros e administradores de
armazéns d e d e p ó s i t o s , e os p r o p r i e t á r i o s armadores; e ordena S.
M. o Imperador, por aviso de 29 de A b r i l , que eu informe sobre
o que se t e m praticado neste Tribunal a tal respeito. Neste Tribu-
nal ainda se não matriculou nenhum corretor nem e m b a r c a ç ã o ;
mas quando se hajão de matricular nenhuns emolumentos se hão
de cobrar para o Presidente; porque na Tabeliã Provisória de 31 de
Dezembro d e 1 8 5 0 se c o m p r e h e n d ê r ã o nas assignaturas dos respec-
t i v o s t i t u l o s os i n s i g n i f i c a n t e s , q u e p o d i á o c o r r e s p o n d e r aos sobredi-
tos juramentos e termos. E quanto aos trapicheiros e administrado-
res de a r m a z é n s de deposito , c o b r á r ã o - s e m i l réis de assignatura
para o Presidente e m cinco titulos , que se expedirão, por m á i n -
telligencia da Secretaria; mas , apenas este facto chegou ao m e u
conhecimento, ordenei que cessasse o abuso, e se restiluissem as
assignaluras indevidamente recebidas. Deos g u a r d e a V. Ex. Tribu-
nal do Commercio da capital do Império, 2 de Maio de 1851.—
III. m o
e Ex. m o
Sr. Euzebio de Q u e i r o z Coitinho Mattoso C â m a r a ,
Ministro e Secretario de Estado dos Negócios da Justiça. — José
Clemente Pereira.

DECRETO N. 807 DE 27 DE JULHO DE 1851.

Manda observar, na Praça do Commercio da Província da Bahia, o Regi-


mento para os Corretores da do Rio de Janeiro, com algumas alterações.

Hei por bem ordenar que , na Praça do Commercio da Província


da Bahia, se observe o Regimento expedido p a r a os c o r r e t o r e s da
do R i o de Janeiro c o m as s e g u i n t e s a l t e r a ç õ e s :
234 M A N U A L DOS N E G O C I A N T E S

1 / Os Corretores d é c a d a u m a das tres classes n ã o e x c e d e r ã o dc


quatro.
2. a
O* Corretores de fundos públicos prestarão fiança de seis
contos d e r é i s ; os de n a v i o s , de q u a t r o contos de r é i s , e os d e mer-
cadorias, de q u a t r o contos de réis.
3.* Os Corretores da dita Praça cobrarão de commissão o se-
guinte
Acções da d i v i d a publica. 1/4 P . °/,;
Ditas de companhias. 1/4 p . •/.
Pago pelo vendedor
Metaes 1/4 p . %
sobre o valor eífectivo ,
Letras de c a m b i o e da terra. 1/8 p . % |
salvo q u a l q u e r estipula-
Gêneros de exportação . 1/2 p . %
ção em contrario a res-
Ditos de importação e reexpor
peito de quem deva pa-
t a ç ã o . • • . 0 . . W p. •/.
Venda de Navios. gar.
2 1/2 p . • / .
Fretamento de ditos. 2 1/2 p . •/„
Agencia de seguros . . 0 1/10 p . •/„ Pago pelo segurado.
Traducção de manifestos . 5$>000 Pago pelo c o n s i g n a t a r i o
por cada u m a das tres p r i -
meiras paginas, e 2^)000
réis por cada u m a das se-
guintes, nunca excedendo
a importância total a
4 $ 0 0 0 réis.
Certidões, não excedendo as
cotações a mez . . . . 2 $ 0 0 0 Cada u m a .
4
Excedendo as cotações a u m
mez 4 $ 0 0 0 Cada uma.
Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara , do m e u conse-
lho, m i n i s t r o e secretario de estado dos negócios da justiça, assim
o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro,
em vinte e sete de Julho dc m i l oitocentos cincoenta e u m , trige-
simo da Independência e do I m p é r i o . — C o m a rubrica de Sua
Magestade o I m p e r a d o r . — E u z e b i o de Queiroz Coitinho Mattoso
Câmara.
Conforme.—Josino do Nascimento Silva.

D E C R E T O N . 3 6 5 D E 1 7 D E N O V E M B R O D E 1 8 5 1 .

Hei por bem, «obre informação do Tribunal do Commercio da


Província da Bahia, modificar a terceira alteração do Decreto
n. 807 de 27 de Julho do corrente anno, na parte que estabelece
para os corretores da praça da sobredita Província a commissão
de dous e meio por cento pelo fretamento de navios, a qual fica
reduzida a u m por cento sómente. — Euzebio de Queiroz Coitinho
Mattoso Câmara.
APPENDICE 235

D E C R E T O N . 8 6 2 D E 1 5 D E N O V E M B R O D E 1 8 5 2 .

Art. l.° Os Tribunaes do Commercio, quando tiverem de pro-


ceder contra os a d m i n i s t r a d o r e s dos trapiches alfandegados, nos
casos dos artigos 89 e 99 do Cod. C o m . , m a n d a r ã o antoar pelo
official maior da respectiva Secretaria a certidão negativa da re-
messa dos b a l a n ç o s dosgeneros nos prazos m a r c a d o s no primeiro dos
ditos artigos, o u a inspecção e exame que tiverem feito nos livros
dos t r a p i c h e i r o s , e do qual se d e p r e h e n d c r q u e os b a l a n ç o s remet-
tidos são inexactos, e continuados os a u t o s com vista ao desem-
bargador fiscal, este reduzirá a artigos a m a t é r i a da accusação.
Art. 2.° Offerecidos e recebidos os artigos por despacho do Tri-
bunal, m a n d a r á este que o trapicheiro accusado responda no termo
de cinco dias, concedendo mais a l é dez d i a s i m p r o r o g a v e i s se e l l e
pedir este novo prazo para provar sua defesa.
Art. 3.° Se d e n t r o dos c i n c o dias o accusado mandar responder»
será o processo julgado na primeira sessão do Tribunal, segundo
a prova dos autos, e presente o desembargador fiscal. Se, porém,
produzir defesa e pedir dilação para prova , findo o prazo conce-
dido para esta, e com prova ou sem ella, poderá o Tribunal
ordenar as d i l i g e n c i a s e exames que ainda entender precisos, no-
tificando o accusado para a elles assistir, querendo, deprecando da
alfândega, por ofíicio d o s e c r e t a r i o , os e s c l a r e c i m e n t o s que fôrem a
bem do processo pelo que respeita á fiscalisação delia nos termos de
seu regulamento.
Art. Zt.° S a t i s f e i t a s e s t a s d i l i g e n c i a s , h a v e r á o accusado vista dos
autos para a l l e g a r e m c i n c o d i a s , se a n t e s t i v e r juntado procuração,
e depois e e m todo o caso o d e s e m b a r g a d o r fiscal; e o feito será
julgado pelo Tribunal no p r i m e i r o dia de sessão que o presidente
designar.
Art. 5.° Nestes processos servirá de escrivão o official maior da
Secretaria do T r i b u n a l ; as testemunhas, se as houver, serão inqui-
ridas perante o presidente pelo desembargador fiscal, e pelo ac-
cusado ou seu advogado, e em dias consecutivos dentro da dila-
ção probatória; a defesa e allegações serão escriptas; os termos
para allegar principiarão a correr desde o dia em que os autos
fôrem continuados ás partes, e os da prova da data da intima-
ção do despacho, a qual, sempre que for preciso, será feita pelo
porteiro do Tribunal.
Art. 6.° Da decisão que multar n o caso do artigo 89 do Código,
ou das que m u l t a r , n ã o excedendo de 200^)000 réis, no caso do
artigo 90, n ã o haverá recurso algum. (Cod. C o m . , artigo 26, titulo
único.)
Art. 7.° Da decisão que multar em mais de 200^)000 réis no
caso do artigo 90, haverá recurso para o conselho de estado, no
effeito devolutivo somente; se f ô r interposto d e n t r o de c i n c o dias,
contados do da publicação da deoisão, estando presente o acou-
236 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

sado, ou do da intimação que lhe f o i feita pelo porteiro, n ã o es-


t a n d o presente a publicação.
Art. 8.° No caso de recurso interposto dentro do fatal designa-
do no artigo antecedente, subirão os a u t o s originaes, ficando tras-
lado authentico na Secretaria do Tribunal.
Art. 9.° As decisões serão executadas no Juizo Municipal do
domicilio do executado, e onde houver mais que u m , pelo que
o Tribunal para esse fim designar. Por elle será liquidado, se
fôr illiquido» ou n ã o tiver sido avaliado para o recurso, o valor
dos direitos que deveráõ pagar os g ê n e r o s que se p r e s u m i r e m ex-
traviados.
Art. 10. Esta liquidação, assim como a avaliação para o re-
curso (quando, se n d o interposto, houver duvida se c a b e n a alçada
marcada no artigo 6) se fará duplicando-se sómente o valor dos
mesmos direitos em virtude de esclarecimentos p a r a este fim pe-
didos e subminislrad< s pela estação encarregada de arrecada-los.
(Cod. C o m . , artigo 90.—Regulamento 737, art. 735.)—Euzebio de
Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

D E C R E T O N . 7 0 3 D E 1 4 D E O U T U B R O D E 1 8 5 0 .

Regula a execução da lei que estabelece medidas para a repressão do


trafico de Africanos neste Império.

Hei por bem, usando da attribaição que me confere o art. 102


§ 12 da constituição do Império, decretar o seguinte :

TITULO I.

Dos apresamentos feitos em razão do trafico, e fôrma de seu processo na


primeira instância.

Art. 1.° As autoridades e os navios de guerra brasileiros devem ap-


prehender as e m b a r c a ç õ e s b r a s i l e i r a s e n c o n t r a d a s e m qualquer parte,
e as estrangeiras nos portos, enseadas, ancoradouros ou mares
territoriaes do Brasil : 1.°, quando tiverem a seu bordo escravos,
cuja importação é prohibida pela lei de 7 de Novembro de 1831 ;
2.°, q u a n d o se r e c o n h e c e r que os desembarcarão no território do
Império; 3 . ° q u a n d o se v e r i f i c a r a e x i s t ê n c i a de signaes marcados
no titulo 3.° deste regulamento.
Art. 2.° Se, em virtude do que dispõe o artigo antecedente, fôr
apresada em alto m a r alguma e m b a r c a ç ã o , o apresador, depois de
inventariar e guardar lacrados, sellados e debaixo da rubrica do
capitão do navio apresado, t o d o s os p a p e i s , e e s p e c i a l m e n t e os m e n -
cionados no a r t i g o l\.° 9 e depois de fazer f e c h a r as e s c o t i l h a s e mais
lugares e m que vierem mercadorias, deverá, apenas chegar ao por-
to, declarar p o r escripto ao a u d i t o r da m a r i n h a o motivo do apresa-
m e n t o ; o dia e a h o r a era q u e foi eífectuado ; e m que paragem e
APPENDICE 237

altura ; que bandeira trazia o n a v i o , se f u g i o á v i s t a , o u se d e f e n -


deu com força ; (juaes os papeis mencionados no art. 4.°, que lhe
forão apresentados; que explicações derão pela falta de alguns ; e
t o d a s as m a i s c i r c u m s t a n e i a s d a presa e viagem.
Art. 3.° Quando entrar alguma embarcação apresada, a visita
o participará logo, e pelo t e l e g r a p h o , se o houver , ao a u d i t o r de
marinha, qiíe i m m e d i a t a m e n t e irá a bordo.
O mesmo f a r á a visita quando impedir a entrada ou sahida de
alguma embarcação por suspeita de destinar-se ao trafico de es-
c r a v o s , o u d e se h a v e r nelle empregado.
Art. 4.° O a u d i t o r de marinha, apenas chegar a bordo deverá
exibir, além da declaração de que trata o ar'. 2.°, os livros e
papeis mencionados nos primeiros para^raphos do artigo 466, e
nos artigos 501 até 504 do Código Gbmmercial, que vão abaixo
transcriptos.
E m seguida procederá â busca no navio e seu carregamento ;
arrecadando os papeis de bordo que lhe não tiverem sido entre-
gues, fazendo-os logo inventariar ou guardar lacrados e sellados
para serem inventariados depois , fazendo as perguntas que julgar
convenientes, e l a v r a n d o de t u d o processo verbal c o m as solemui-
dades e cautelas que exige o alvará de r e g i m e n t o de 7 de Dezembro
de 1 7 9 6 , nos artigos 20, 21 e 22 que vão abaixo transcriptos.
O processo verbal deverá declarar explicitamente se deixou de
ser apresentado a l g u m dos papeis, que, c o n f o r m e os artigos supra-
c i t a d o s d;o C ó d i g o C o m m e r c i a l , d e v e m existir a bordo, se de a l g u m
delles existe duplicata, e os motivos que allegárão os interessados
para explicar a falta ou a duplicata.
A r t . 5 . ° Se a b o r d o f ô r e m e n c o n t r a d o s a l g u n s dos signaes marcados
no titulo 3.° deste regulamento, o processo verbal deverá fazer
de cada u m delles especificada menção, assim como das explica-
ções que a seu respeito e dos factos que determinarão o apresa-
mento derem os interessados.
As perguntas e respostas relativas ao apresamento deveráõ ser
feitas de modo que não oução uns o que os outros tiverem res-
pondido ; e se, em vista das circumstaneias. parecer necessário
conservar por algum tempo separados e i n c o m m u n i c a v e i s os oííi-
ciaes , tripolação e m a i s pessoas d o navio apresado, o auditor dará
as o r d e n s convenientes.
Art. 6.° Se a embarcação fôr apresada tendo a bordo escravos,
cuja importação é prohibida pela lei de 7 de Novembro de 1831,
o auditor de m a r i n h a , depois de verificar seu numero, e se coin-
cide com a declaração do apresador , os fará relacionar por n ú -
meros seguidos de nomes, se os tiverem, e de todos os signaes
que os possão distinguir, fazendo-os examinar por peritos, afim
d e v e r i f i c a r se s ã o d o s p r o h i b i d o s . C o n c l u í d a esta d i l i g e n c i a , de que
se fará processo verbal especial, os fará depositar c o m a segu-
rança e cautelas que o caso exigir, e sob sua responsabilidade
Se os Africanos n ã o tiverem sido baptisados, ou havendo sobre
238 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

isso d u v i d a , o auditor de m a r i n h a d e v e r á providenciar para que o


sejão immediatamente»
Art. 7,° Se n ã o e x i s t i r e m a bordo escravos dessa qualidade, e
entretanto se e n c o n t r a r e m a i n d a os v e s t í g i o s de sua estada a bordo
destes m e s m o s *e f a r á e x p r e s s a m e n ç ã o no processo, fazendo o au-
ditor testificar sua existência por tres testemunhas fidedignas , c
especialmente por oííiciaes de marinha e homens marítimos,
Art. 8.° Concluído e assignado o processo verbal, o auditor fará
aííixar e p u b l i c a r p e l a i m p r e n s a e d i t a e s d e t r i n t a dias a t é seis m e z e s *
quando se t r a t a r d e e m b a r c a ç õ e s nacionaes. vindas de portos nacio-
naes, e até u m anno quando a embarcação fôr estrangeira, ou
vinda de porto estrangeiro , notificando os interessados no casco,
ou no carregamento, para virem d e f e n d e r seus direitos. Entretanto
proscguirá nos t e r m o s do processo, e mesmo nos da appellação*
§ 1.° Achando-se presente o capitão , será notificado para ver
proseguir o processo por parte dos.interessado*. Na falta destes, do
capitão, do cônsul ou quem suas vezes fizer, o auditor nomea-
rá curador para defender seus interesses,
§ 2.° Os interessados que e m v i r t u d e da c i t a ç ã o edital compare-
cerem tomaráõ a causa nos termos e m que »lia se achar. Se já
estiverem c o n c l u s o s os a u t o s , o a u d i t o r de m a r i n h a , a b r i n d o a con-
clusão, assignará u m termo, nunca maior de oito dias, para arra-
zoarem e ajuntarem documentos ; igual prazo será concedido aos
apresadores. se o r e q u e r e r e m . Se já estiver publicada a sentença,
nada poderáõ allegar e requerer senão na segunda instância.
§ 3.° N ã o p o d e r á õ r e c l a m a r este f a v o r aquelles que, embora rc-
veis na causa, tiverem estado presentes no l u g a r ao t e m p o da ap-
prehensão ou julgamento.
Art. 9.° No dia i m m e d i a t o . quando n ã o possa s e r n<» m e s m o dia
do exame a bordo, o auditor, em presença dos interessados que
comparecerem, e especialmente do capitão e oííiciaes do navio apre-
sado que estiverem detidos, e do navio apresador que quizerem
comparecer, para o que *erão notificados na pessoa «Io c o m m a n -
dante, ou de quem suas vezes fizer, depois de verificar os sellos.
abrir e i n v e n t a r i a r os p a p e i s , se. o n ã o tiver a bordo, interrogará
minuciosamente o c a p i t ã o do n a v i o apresado e seus oííiciaes sobre
o facto ou factos que derão l u g a r ao a p r e s a m e n l o , e s o l > r e as prin-
cipaes circumstaneias do processo verbal, e inquirindo as teste-
munhas e ouvindo as pessoas q u e entender conveniente para escla-
recimento da v e r d a d e , ou que lhe fôrem pelos interessados indi-
cadas, formará de tudo processo summario em termo breve, e
nunca excedendo de oito dias, sem causa justificada, que deverá
especificar.
Art. 10. Concluído este processo s u m m a r i o , se os interessados
tiverem protestado por vista, a teráõ por Ires dias d e n t r o do car-
tório para deduzir e offerecer suas razões, sendo os p r i m e i r o s tres
dias para os a p r e s a d o r e s . o u t r o s tres para o c u r a d o r dos Africanos,
se os houver apprehendidos, e os t r e s últimos para os apresados,
APPENDICE 239

c, f i n d o s estes prazos, nas 24 horas seguintes serão os autos con-


clusos ao auditor de m a r i n h a , que dentro de oito dias senten-
ciará sobre a l i b e r d a d e dos escravos apprehendidos, se os houver,
declarando logo boa o u m á presa a e m b a r c a ç ã o e seu carregamento,
e appellando ex-oííicio para o conselho de estado.
E«ta appellação produzirá eíTeito suspensivo; porém quando de-
clarar l i v r e s a l g u n s A f r i c a n o s , estes s e r ã o desde logo postos á dis-
posição do governo com as c a r t a s de l i b e r d a d e , as quaes n ã o lhes
poderáõ ser entregues antes de decidida a appellação.
Art. 1 1 . Se a visita, o capitão do porto ou qualquer empre-
gado apprehender alguma embarcação em virtude do que dispõe
o artigo 1.°, o p r o c e d i m e n t o d e v e r á ser o menino prescripto para os
apresamentos feitos por navio e m alto mar. O apprehensor deve d i -
rigir ao auditor de m a r i o h a a declaração dos motivos, e p o r si o u
por seu p r o c u r a d o r ser parle no processo, e. c o m o a p r e s a d o r , lhe
pertence o p r o d u c t o das vendas que m a n d a fazer o artigo 5.° da lei
n. 5 8 1 d e l\ d e S e t e m b r o d e 1 8 5 0 , d e d u z i n d o - s e apenas u m quarto
para o d e n u n c i a n t e , se houver.
Art. 12. Se fôrem apprehendidos escravos , cuja importação é
prohibida pela l e i de 7 de N o v e m b r o de 1 8 3 1 , fóra da embarcação
cpie os t r o u x e , mas ainda na costa antes do desembarque, ou no
acto delle, ou immediatamente depois em armazéns ou depósitos
sitos nas costas o u portos, .serão levados no a u d i t o r de m a r i n h a , que
procederá a respeito delles pela m e s m a fôrma determinada para os
apprehendidos a bordo ; ina<, concluído o exame feito pelos peri-
tos. as-ugnará o i t o d i a s aos i n t e r e s s a d o s para que alleguem e pro-
vem o que julgarem conveniente. Igual prazo será concedido aos
apprebensores, se o r e q u e r e r e m , e ao c u r a d o r dos A f r i c a n o s , a i n d a
que o n ã o requeira.
Além dos oito dias assignados fará aííi*ar, e p u b l i c a r pela i m -
prensa cartas de ediclos c o m os m e s m o s eíTeitos e prazos que no
art. 8.° se estabelecerão para o processo do apresamenlo de navios
naciona?*.
Art. 13. Concluído o prazo dos o i t o dias p a r a todos os interes-
sados, o processo subirá concluso nas 2/j horas seguintes ao auditor
da m a r i n h a , q u e , n o prazo de tres dias, proferirá sua sentença, ap-
pellando ex-nfficio para o conselbo de estado.
Art. 1Z|. S e c o m os e s c r a v o s , c u ja importação é prohibida pela
lei de 7 de N o v e m b r o de 1831, fôrem apprehendidos como ncces-
sorios barcos empregados em seu desembarque, occultação ou ex-
travio, a sentença que os j u l g a r livres condemnará t a m b é m os
barcos e seu carregamento e m b e n e f i c i o dos a p p r e h e n s o r e s , c o m
a deducção de u m quarto p a r a o d e n u n c i a n t e , se o houver.
Art. 15. Haverá auditores de m a r i o h a (além do geral que existe
na côrte) nas cidades de B e l é m do Pará, de S. Luiz do Maranhão,
Recife, Bahia e Porto Alegre. Este lugar será exercido pelo juiz de
direito que fôr pelo governo designado; e m falta de d e s i g n a ç ã o es-
pecial, servirá o juiz de direito que f ô r chefe de policia. Se o c h e f e
de policia fôr desembargador, servirá o juiz de direito da primeira
M A N U A L DOS NEGOCIANTES

vara crime. Os auditores não perceberáõ por este s e r v i ç o mais que


os emolumentos que lhes c o m p e t i r e m . Nas suas faltas ou impedi-
mentos serão substituídos pelo juiz m u n i c i p a l que f ô r pelo governo
ou pelos presidentes designado; e m falta de d e s i g n a ç ã o , servirá o da
primeira vara.
Se as c i r c u m s t a n e i a s o exigirem, poderáõ crear-se novas audito-
rias e m outras pontos do Impcrio.
Art. 16. Quando o commandante de u m a presa n ã o puder con-
duzi-la directamenle a porto e m qne haja a u d i t o r de marinha, de-
verá lavrar u m auto e m que d e c l a r e os m o t i v o s q u e a isso o obrigão.
Se houver necessidade de r e q u e r e r alguma diligencia, deverá diri-
gir-se ao chefe de p o l i c i a , juiz de direito, juiz muuicipal, delegado
ou subdelegado do lugar, peterindo-os pela o r d e m por que se achão
aqui enumerados.
Nada poderá desembarcar de b o r d o da presa s e m se l a v r a r a u t o ,
assigiudo pelos oííiciaes do navio apresador e do apresado que exis-
tirem a bordo , sem prévia C o m m u n i c a ç ã o á autoridade acima
referida.
Art. 17. Se houver necessidade de desembarcar escravos, cuja
importação é prohibida pela lei de 7 de Novembro de 1831, a
autoridade mencionada no artigo antecedente procederá a respeito
delles ás diligencias do artigo 6.°, ainda quando tenhão de voltar
para bordo.
Se fôrem desembarcados objectos que tenhão algum valor, a
mesma autoridade os fará depositar judicialmente; e sendo de
tal natureza que não devão guardar-se, os f a r á vender e m hasta
publica a r e q u e r i m e n t o dos iuteressados, mandando depositar o seu
preço nos cofres públicos.
A venda d e v e ser precedida de avaliação por peritos , e annuncios
pelo numero de dias que a qualidade dos objectos e as circumstan-
eias aconselharem.
Art. 18. Se alguma embarcação fôr apprehendida e m porto e m
que n ã o haja auditor de m a r i n h a , todas as d i l i g e n c i a s q u e a este
i n c u m b e m serão desempenhadas pela autoridade de que trata o
artigo 16.
O mesmo acontecerá se f ô r e m apprehendidos escravos, cuja i m -
portação é p r o h i b i d a pela lei de 7 de N o v e m b r o de 1 8 3 1 , e m costas
OU portos e m que não haja auditor.
Art. 19. De todas as d i l i g e n c i a s , d e c l a r a ç õ e s , inquirições e inter-
rogatórios , assim como dos n a v i o s , escravos ou quaesquer outros
objectos apprehendidos, deverá a mesma autoridade fazer remessa
o mais breve que f ô r possivel ao a u d i t o r de m a r i n h a mais próximo,
ou ao daqutlle porto para onde se j u l g a r conveniente conduzir o
navio apresado.
Art. 20. O auditor de marinha , logo que receber o procesM»,
continuará as d i l i g e n c i a s e t e r m o s que f ô r e m necessários para pro-
ferir sua sentença.
Quando julgar conveniente encarregar a qualquer autoridade
APPENDICE

essas diligencias, poderá fazê-lo por meio de ofíicios o u preca-


tórias.
Art. 2 1 . Proferida pelo auditor de marinha a sentença e inter-
posta a appellação ex-offtcio , na forma do artigo 16 , o escrivão ,
dentro de oito dias, deixando traslado no cartório, entregará o
processo original na secretaria de estado dos negócios da justiça,
e nas províncias na respectiva secretaria da presidência. Se a ac-
eumuiação de processos o u o u t r o s e m b a r a ç o s impedirem a prorop-
tificação dos traslados, o auditor de marinha poderá conceder-lhe
mais oito dias improrogaveis.
O recibo do processo será junto pelo escrivão ao traslado que
ficar no cartório.
Art. 22. Haverá u m escrivão especial para estes processos, de-
signados d'entre os que servem ante outros juizes ou tribunaes.
Nos seus impedimentos, ou emquanto n ã o fôr designado pelo go-
verno, servirá aquelle que o auditor de marinha escolher.

TITULO II.

Do processo e julgamento dos réos em primeira instância.

Art. 23. Havendo apprehensão de escravos, cuja importação é


prohibida pela lei de 7 de Novembro de 1 8 3 1 , e s e n d o essa appre-
hensão no alto mar, ou na costa antes do desembarque, no acto
delle o u immediatamente depois, em armazéns ou depósitos sitos
nas costas o u portos, os auditores de marinha devem exigir dos
apprehensores u m auto, ou parle circumstanciada da apprehensão
e lugar onde, e proceder immediatamente a u m auto de exa-
m e por meio de peritos juramentados, a f i m de verificar se os es-
cravos são ou n ã o dos importados {Ilicitamente.
§ 1.° Se t i v e r h a v i d o a p p r e h e n s ã o d e e m b a r c a ç ã o ou barcos e m -
pregados no trafico, sem que existão a bordo os escravos, cuja
importação é p r o h i b i d a pela lei de 7 de N o v e m b r o de 1831 , mas
existindo vestígios que m o s t r e m seu próximo desembarque ou sig-
naes que indiquem o destino ao trafico, o auditor de marinha
procederá com peritos juramentados a u m auto de exame desses
vestígios e signaes.
§ 2. 0
Se para o processo de pre-a já estiverem f e i t o s os a u t o s de
que trata este a r t i g o , basta q u e n o processo dos r é o s s e j ã o elles j u n -
tus por traslado.
Art. 24- F o r m a d o assim o corpo de delicto directo> o auditor
procederá á inquirição de testemunhas, interrogatórios, informa-
ções e mais diligencias que entender convenientes para descobrir
os criminosos, ou que pelos apprehensores ou pelo p r o m o t o r p u -
blico lhe fôrem requeridos-.
Art. 25. Concluídas estas d i l i g e n c i a s , q u e não excederão de oito
dias, s e m causas m u i t o ponderosas, que o auditor deverá especificar
no processo, proferirá o seu despacho de p r o n u n c i a o u n ã o p r o n u n -
cia contra os réos que fôrem descobertos, e que se acharem com-

MàN. NEG. 16
242 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

prchendidos em alguma das categorias do art. 3.° da lei n. 581 de â


de S e t e m b r o de 1850.
A respeito dos r é o s q u e fôrem descobertos , mas n ã o se acharem
comprehendidos no citado artigo, deverá remetier ao chefe de po-
licia t o d o s os i n d í c i o s e p r o v a s q u e c o n t r a e l l e s h o u v e r e m , afim de
que sejão processados e julgados no toro c o m m u m .
Art. 26. D o despacho que não pronunciar, recorrerá o auditor
ex-ofíicio para a relação.
Art. 27. Do despacho que pronunciar, ou. do qne ordenar a re-
messa de a l g u m r é o para o juizo c o m m u m , haverá recurso se fôr
intentado pelas partes ou pelo promotor publico, a quem taes des-
pachos devem s e m p r e ser intimados.
Art. 28. O recurso n ã o produz effeito suspensivo, e ainda sendo
de p r o n u n c i a , deve o auflitor proseguir nos t e r m o s do processo, até
julgamento e appellação inclusive.
Art. 29. Pronunciado o réo, o auditor de marinha m a n d a r á
logo d a r vista ao p r o m o t o r p u b l i c o , para este f o r m a r o libello, que
Ferá oíferecido na primeira audiência; e no caso de haver parte
accusadora, poderá ser admittida a addir ou declarar o libello ,
comtanto que o faça na audiência seguinte.
O auditor , se n ã o der duas audiências semanaes, deverá fazê-lo
desde que tenha processos desta natureza, aunuiaciando pelos jor-
n a e s os d i a s e as horas.
Art. 30. OíTerecido o libello, se seguiráõ até a sentença final
os t e r m o s e s t a b e l e c i d o s no decreto n . 7 0 7 d e 9 de O u t u b r o de 1850,
nos arts. 8, 9, 10, 1 1 , 12 e 26.
Art. 3 1 . Nas a p p e l l a ç õ e s interpostas dos processos desta natureza,
pelo p r o m o t o r publico, o auditor marcará ao escrivão u m prazo ,
nunca maior de t r i n t a dias, para que seja o processso apreseulado
no correio ou na r e l a ç ã o , sendo e m cidade que a tenha.

TITULO III.

Dos signaes que constituem presumpção legai do destino das embarcações


ao trafico.

Art. 32. Os signaes que constituem presumpção legal de que


uma embarcação se emprega no trafico de escravos são os se-
guintes :
1.° Escotilhas c o m grades abertas, e m vez das fechadas que se
usão nas embarcações mercantes.
2.° Divisões ou anteparos, no porão ou na coberta, e m maior
quantidade que a necessária e m embarcações de c o m m e r c i o licito.
3.° Taboas de sobresalente preparadas para se c o l l o c a r e m c o m o
segunda coberta.
4.° Quantidade d'agua em toneis, tanques ou e m qualquer outro
vasilhame, maior que a necessária para o consumo da tripolação t

passageiros e gado, e m relação ú viagem.


APPENDICE 243

? Q u a n t i d a d e de g r i l h õ e s , correntes ou algemas, maior que a


necessária para a policia da embarcação.
6.° Quantidade de bandeijas, gamellas ou cclhas de rancho ,
maior que a necessária para a pente de bordo.
7.° Extraordinária grandeza da caldeira ou n u m e r o dellas maior
que o necessário nas e m b a r c a ç õ e s de c o m m e r c i o licito.
8.° Q u a n t i d a d e e x t r a o r d i n á r i a de a r r o z . f a r i n h a , m i l h o , feijão o u
carne, que exceda v i s i v e l m e n t e as n e c e s s i d a d e s d a t r i p u l a ç ã o e p a s -
sageiros, n ã o vindo declarada no manifesto como parte da carga
para commercio.
9.° U m a grande quantidade de esteiras ou esteirões, superior ás
necessidades da gente de b o r d o .
A n . 33. T a m b é m constituem presumpção legal do e m p r e g o da
embarcação no trafico :
1.° A existência de vasilhame para líquidos, além do empregado
na aguada, que n ã o tiver sido especialmente despachado debaixo de
fiança de ter destino licito, ou quando se m o s t r a r q u e esse vasi-
lhame n ã o teve o destino que se i n d i c o u n a occasião de o des-
pachar.
2.* A d u p l i c a t a dos d i á r i o s de navegação.
3.° A falta dos papeis mencionados nos seis primeiros do
artigo 4 6 6 , e nos artigos 501 até 504 do Código Commercial, depois
que estiver e m execução.
4.° A substituição do verdadeiro capitão p o r o u t r o de bandeira,
ou nominal.
5.° A fuga da tripolação ou abandono do navio c m presença de
embarcação de guerra e m tempo de paz, ou em preseuça de au-
toridade que se dirija a bordo ; o incêndio ou damnilicação vo-
luntariamente feitos ao n a v i o p o r sua tripolação.
Art. 34- A existência destes signaes estabelece a boa f é do apre-
sador, e emquanto n ã o apparecer prova irrecusável do contrario,
justifica a apprehensão.
Art. 35. Quando alguma embarcação se destinar ao transporte
de colonos, ou a outra negociação licita, que exija imperiosamente
a existência a bordo de algum ou alguns dos signaes menciona-
dos no artigo 32, d e v e r á anticipadamente justificar perante o au-
ditor de m a r i n h a essa necessidade, especificando os signaes para
que pede a permissão.
Art. 36. O auditor nunca admittirà estas justificações sem que
a petição inicial declare o proprietário da e m b a r c a ç ã o , o afretador
e o capitão, e sem q u e os d o u s p r i m e i r o s , p e l o m e n o s , s e j ã o pessoas
abonadasj bem conceituadas, e n ã o suspeitas de interessadas no
trafico , o que, além das averiguações a que p o r si m e s m o deverá
proceder, fará objecto de i n q u i r i ç ã o de testemunhas conhecidas e
acreditadas.
Art. 37. Antes de julgar a justificação, o a u d i t o r de marinha
m a n d a r á p u b l i c a r pela i m p r e n s a , p o r oito dias, editaes que declarem
os nomes do navio, do proprietário e do afretador, e os signaes
cuja permissão se s o l i c i t a , d e c l a r a n d o q u e a s s i m se f a z p u b l i c o para
244 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

que possão reclamar os que tiverem razões para suppôr que a em-
barcação se d e s t i n a ao trafico de escravos.
Art.* 38. Somente os a u d i t o r e s de m a r i n h a creados pelo art. 15
deste r e g u l a m e n t o , e n ã o os q u e de novo se estabelecerem, s ã o os
competentes para julgar estas j u s t i f i c a ç õ e s , que deveráõ ser entre-
gues e m original dos j u s t i f i c a n l e s , f i c a n d o n o c a r t ó r i o os respectivos

traslados.
Art. 39. O julgamento da justificação deverá ser p u b l i c a d o pela
imprensa, e tanto essa publicação c o m o a dos editaes de q u e trata
o artigo 37, devem juntar-se aô processo original, e ao traslado
que t e m de ficar no cartório.
Art. 40. C o m uma certidão authentica do julgado, requererá o
justificante a permissão de que trata o artigo 35 á secretaria de
estado dos n e g ó c i o s da justiça, se a justificação tiver sido feita na
auditoria geral da côrte, aliás ao presidente da província e m que
h o u v e r sido julgada.
A r t . 4 1 . As l i c e n ç a s d e v e m " c o n t e r 03 n o m e s do navio , do pro-
prietário e do afretador; a declaração da v i a g e m e seu fim, e dos
signaes m e n c i o n a d o s no artigo 32, que ficão sendo p e r m i t t i d o s ; o
t e m p o de d u r a ç ã o da licença (nunca mais de dous anno-) , c o m a
expressa condição de que esta se deverá c o n s i d e r a r ipso facto sem
e f f e i t o se fôr mudado o nome d o n a v i o , o u se e s t e mudar de pro-
prietário o u de afretador, devendo e m q u a l q u e r destas h y p o t h e s e s a
renovação d a l i c e n ç a ser p r e c e d i d a d e nova justificação na auditoria
de mariuha.
Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso C â m a r a , do m e u conselho,
m i n i s t r o e secretario de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , assim o tenha
entendido e faça executar. P a l á c i o do R i o de J a n e i r o , e m 14 de O u -
tubro de 1850, vigésimo nono da I n d e p e n d ê n c i a e do Império.

Com a rubrica de Sua Magestade o Imperador.

Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

A r t i g o s d o A l v a r á d e r e g i m e n t o d e 7 d e D e z e m b r o

d e 1 7 9 6 , a q u e se r e f e r e o a r t i g o 4.° d e s t e r e g u -

l a m e n t o .

Art. 20. Depois de feita a referida declaração, passará logo in-


conlinenteo ditogovernador ou justiça, ao navio apresado, ou tenha
dado fundo em alguma bahia ou entrado no porto >e formarão o
processo verbdl da quantidade e qualidade das mercadorias, e do
estado e m q u e se a c h a r e m as c â m a r a s , camarotes, escotrllias c mais
paragens do navio, que logo íáráõ fechar e sellar com o sello que
iôr estylo, e p o r á õ guardas para terem sentido e impedir que se
divirtão os eflfcitos.
Art. 21. O processo verbal do governador, ou j u s t i ç a , se ha de
fazer e m presença do capitão ou patrão do navio apresado , e na sua
APPENDICE 245

ausência na dos oíficiaes p r i n c i p a e s , ou marinheiros delle, junta-


mente c o m o capitão o u outro official do navio apresador, e ainda
t a m b é m e m presença dos q u e p u z e r e m d e m a n d a á tal presa, e m
caso que se apresentem, o u se a c h a r e m presentes; e o dito gover-
nador, ou justiça, ouvirá aos c o m m a n d a n t e s e oííiciaes principaes de
ambos os n a v i o s , e a l g u n s m a r i n h e i r o s , se n e c e s s á r i o f ô r .
Art. 22. S e a c a s o se t r o u x e r a l g u m a p r e s a s e m prisioneiros, pas-
saporte , couhecimenlos e mais papeis, os oííiciaes, soldados e
marinheiros do navio que tiver feito a presa s e r ã o examinados se-
paradamente s o b r e as c i r c u m s t a n e i a s d a d i t a presa, e por que razão
veio o navio sem prisioneiros, o qual c o m suas mercadorias será
v i s i t a d o p o r pessoas expertas, para conhecer, se f ô r p o s s i v e l , c o n t r a
quem se f e z a presa.

A r t i g o s d o r e g u l a m e n t o n . 7 0 7 d e 9 d e O u t u b r o

d e 1 8 5 0 a q u e s e r e f e r e o a r t i g o 3 0 d e s t e r e g u -
l a m e n t o .

Art. 8.° Offerecido o libello, deverá o escrivão preparar uma có-


pia delle c o m a d d i t a m e n t o , se o tiver, dos documentos e do rol
das testemunhas, que entregará ao r é o , q u a n d o preso, pelo menos
tres dias antes do seu julgamento, e ao afiançado, se e l l e o u seu
procurador apparecerem para recebê-lo, exigindo recibo da entre-
ga, que j u n t a r á aos autos.
Art. 9.° Se o r é o quizer o f f e r e c e r sua c o n t r a r i e d a d e escripta lhe
será aceita ; mas sómente se dará vista do processo original a elle
ou a seu procurador, dentro do cartório do escrivão, dando-se-lhe,
porém, os t r a s l a d o s que quizer independente de despacho. Na con-
clusão do libello, assim como do seu additamento e da contrarie-
d a d e , se i n d i c a r á õ as t e s t e m u n h a s que as p a r t e s tiverem de apre-
sentar,
Art. 10. Findo o prazo do artigo 8.% na próxima audiência ,
presentes o promotor, a parte aceusadora , o r é o , seus procura-
dores e advogados, o juiz, fazendo ler pelo escrivão o libello, con-
trariedade e mais peças apresentadas, procederá ao interrogatório
do réo, e â inquirição das testemunhas, ás quaes p o d e r á õ t a m b é m
o promotor e as partes fazer as perguntas que julgarem conve-
nientes.
O interrogatório e depoimento serão escriptos pelo escrivão, as-
signados pelo respondente . e rubricados pelo juiz.
Art. 11. Além das testemunhas oíferecidas no libello e contra-
riedade, as p a r t e s terão o direito de apresentar, a t é se encerrarem
os debates, m a i s tres testemunhas.
Art. 12. O r e g u l a m e n t o n . 120 de 31 de Janeiro de 1842 será ob-
servado e m t u d o quanto p o r este n ã o estiver a l t e r a d o .
246 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

L E I N . 5 8 1 D E 4 D E S E T E M B R O D E 1 8 5 0 .

Estabelece medidas para a repressão do trafico de Africanos neste


Império.

D. Pedro, por graça de Deos e unanime acclamação dos povos,


Imperador Constitucional e defensor perpetuo do Brasil ; fazemos
saber a t o d o s os n o s s o s s u b d i t o s que a assembléa geral decretou e
nós queremos a lei seguinte :
Art. l.° As embarcações brasileiras encontradas e m qualquer
parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, an-
coradouros ou mares territoriaes do Brasil, tendo a seu bordo es-
cravos, cuja importação é p r o h i b i d a pela lei de 7 de Novembro de
1831 , ou havendo-os desembarcado, serão apprehendidas pelas
autoridades ou pelos navios de guerra brasileiros, e consideradas
importadoras de escravos. Aquellas que n ã o t i v e r e m escravos a bor-
do, nem os houverem proximamente desembarcado, porém que
se encontrarem c o m os s i g n a e s d e se empregarem no trafego de
escravos, serão igualmente apprehendidas e consideradas e m ten-
tativa de importação de escravos.
Art. 2.° O governo imperial m a r c a r á , em regulamento, os signaes
que devem constituir a p r e s u m p ç ã o legal do destiuo das embarca-
ç õ e s ao t r a f e g o de escravos.
Art. 3.° S ã o autores do c r i m e de i m p o r t a ç ã o de escravos ou de
t e n t a t i v a dessa i m p o r t a ç ã o , o dono, o capitão ou mestre, o piloto e
o contra-mestre da embarcação, e o sobrecarga. São complices a
equipagem e os que coadjuvarem o desembarque de escravos
no território brasileiro, ou que concorrerem para osoccultar ao co-
nhecimento da autoridade, ou para os s u b t r a h i r á apprehensão no
mar ou em acto de desembarque, sendo perseguidos-.
Art. 4.° A importação de escravos no território do I m p é r i o fica
nelle considerada como pirataria, e será p u n i d a p f l o s seus TribunatM
com as penas declaradas no art. 2.° da lei de 7 de N o v e m b r o de
1831. A tentativa e a complicidade serão punidas segundo as regras
dos artigos 34 e 35 d o Código Criminal.
Art. 5.° As embarcações de que t r a t ã o os n r t i g o s 1.° e 2.° e todos
os barcos empregados no desembarque, occultação ou extravio dos
escravos, serão vendidos c o m toda a carga encontrada a bordo, e
D seu producto pertencerá aos apresadores, deduzindo-se u m quarto
para o denunciante, se o houver. E o governo, verificado o julga-
mento de boa presa, retribuirá á tripolação da embarcação a presa-
dora com a somma de 40$) por cada u m Africano apprehendido,
que será distribuída c o n f o r m e as l e i s a respeito.
Art. 6.° Todos os escravos (pie i o r e m apprehendidos serão reex-
portados por conta do estado para os p o r t o s d o n d e tiverem vindo,
ou para qualquer outro ponto fóra do I m p é r i o que mais convenien-
te parecerão governo; e emquanto essa recxportação se não ve-
rificar, serão empregados em trabalho debaixo da tutela do governo,
não s e n d o e m c a s o a l g u m c o n c e d i d o s os seus s e r v i ç o s a particulares.
APPENDICE

Art. 7.° N ã o se daráõ passaportes aos navios mercantes para os


portos da costa dWfrioa, sem q u e seus d o n o s , capitães ou mestres
tenhão assignado termo de n ã o receberem a bordo delles escravo
algum ; prestando o d o n o f i a n ç a de u m a quantia igual ao valor do
navio e carga, a qual fiança s ó s e r á l e v a n t a d a , se d e n t r o d e dezoito
mezes provar que foi exactamente cumprido aquillo a que se obri-
gou no termo.
Art. 8 . ° T o d o s os apresamentos de e m b a r c a ç ã o de que tratão os
art. 1.° e 2 . ° , a s s i m c o m o a l i b e r d a d e dos escravos apprehendidos
no alto mar, ou na costa antes do desembarque, no acto delle ou
immediatamente depois e m a r m a z é n s e depósitos sitos nas costas e
portos, s e r ã o processados e julgados e m primeira instância pela au-
ditoria de m a r i n h a , e e m segunda pelo conselho de estado. O go-
verno marcará e m regulamento a fôrma do processo e m primeira
e segunda instância, e poderá crear auditores de m a r i n h a nos por-
tos o n d e c o n v e n h a , devendo servir de a u d i t o r e s os j u i z e s d e direito
das respectivas comarcas que para isso f ô r e m designados.
Art. 9.° Os auditores de marinha serão igualmente competen-
tes para processar e j u l g a r os r é o s m e n c i o n a d o s n o a r t . 3 . ° De suas
decisões haverá para as relações os mesmos recursos e appella-
ções que nos processos de responsabilidade. Os comprehendidos
no art. 3.° da lei de 7 de N o v e m b r o de 1 8 3 1 , que n ã o estão desig-
nados no art. 3.° desta l e i , c o n t i n u a r ã o a ser p r o c e s s a d o s e julgados
no fôro c o m m u m .
Art. 10. Ficão revogadas quaesquer disposições e m contrario.
Mandamos p o r t a n t o a todas as autoridades a quem o conheci-
mento e execução da referida lei pertencer que a cumprâo e facão
cumprir e guardar tão inteiramente como nella se contém. O se-
cretario de estado dos negócios da justiça a faça i m p r i m i r , publi-
car e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, aos 4 de S e t e m b r o de 1 8 5 0 ,
vigesimo-nono da I n d e p e n d ê n c i a e do Império.

Imperador, com rubrica e guarda.

Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

Carta de lei pela qual Vossa Magestade Imperial manda executar


o Decreto da assembléa geral, que houve por bem sanecionar, es-
tabelecendo medidas para a repressão do trafico de Africanos neste
Império, na f ô r m a acima declarada. Para Vossa Magestade Impe-
rial ver.

Antônio Alvares de Miranda Varejão a fez.


248 BI A N U A L DOS NEGOCIANTES

D E C R E T O N . 7 3 1 D E 1 4 D E N O V E M B R O D E 1 8 5 0 .

Regula a execução da lei n. 581 qm estabelece medidas d repressão


do trafico de Africanos neste Império.

Hei por bem, usando da faculdade que me confere o art. 102,


§ 12 da c o n s t i t u i ç ã o , tendo ouvido o conselbo de estado, decretar
o seguinte :
Art. Í.° Publicadas as sentenças e m que o a u d i t o r de marinha
deve appellar ex-ofíicio, e m c o n f o r m i d a d e dos artigos 10 e 13 do
Decreto n. 708 de 14 de O u t u b r o de 1850, o escrivão extrahirá o
traslado no prazo marcado n o artigo 21 do referido Decreto, e den-
tro desse mesmo prazo fará entrega do processo original na se-
cretaria de estado dos negócios da justiça, e nas proviacias na
secretaria da presidência, para p o r seu intermédio *er r e m e i t i d o á
da justiça. O recibo do processo original será u n i d o ao respectivo
traslado.
Art. 2 . ° A p r e s e n t a d o s os a u t o s n a s e c r e t a r i a d a justiça, o ministro
respeciivo designará para relator u m dos membros da secção de
justiça do conselho de estado, ao qual serão remettidos.
Art» 3.* O relator os apresentará na primeira conferência , e
nella a secção de justiça do conselho de estado deliberará se são
necessárias diligencias para esclarecimento da verdade, ou regula-
ridade d o p r o c e s s o ; e f e i t a s e s t a s d i l i g e n c i a s , se f ô r e m n e c e s s á r i a s ou
sem e l l a s , se o n ã o f ô r e m , o r d e n a r á q u e se d ê v i s t a a o s apresadores
e apresados, ao c u r a d o r dos A f r i c a n o s , ou outras partes que devão
ser ouvidas. Os autos serão entregues ao o f f i c i a l - m a i o r da secretaria
da justiça, que fará publicar na folha official p o r tres dias consecu-
tivos o despacho que dá vi*ta ás partes.
Art. 4.° Os advogados do conselho de estado que estiverem m u -
nidos de p r o c u r a ç ã o dos apresadores ou apresados, e o curador dos
Africanos obteráõ vista dos auto*, r e q u e r e n d o - a d e n t r o de oito dias
contados do p r i m e i r o a n n u n c i o ; e nesse c a s o os a u t o s lhe serão re-
mettidos assignando o seu recebimento e m protocolo. Os autos
serão cobrados passados c i n c o dias da entrega aos advogados dos
apresadores ou apresados; e serão remettidos ao relator c o m as
allegações e documentos apresentados ou sem e l l a s , se o n ã o t i v e -
rem sido. As partes que n ã o nomearem advogado do conselho de
estado poderáõ e x a m i n a r os autos na secretaria, onde apresenta-
rão s u a s r a z õ e s e d o c u m e n t o s , se os t i v e r e m , no prazo mencionado.
Art. 5.° N a p r i m e i r a conferência que se s e g u i r , o relator apre-
sentará u m relatório escripto, e feita a leitura das peças que julgar
necessárias, o u q u e os c o n s e l h e i r o s e x i g i r e m , a n n u n c i a r á o seu voto,
e estabelecido o d e b a t e , se procederá á votação, teodo precedên-
cia as questões judiciaes que se houverem suscitado.
Art. 6.° O relator escreverá o julgamento na f o r m a de consulta
e parecer, fazendo m e n ç ã o do voto v e n c i d o , se o houver.
Art, 7.° Este julgamento n ã o produz effeito algum senão depois
APPENDICE 249

da r e s o l u ç ã o do poder executivo, que o m a n d a r á publicar, c o m a


qual ge entenderá homologada e produzirá todos os eíTeitos de
sentença.
Art. 8.° Quando o poder, executivo entender que deve ouvir o
conselho de estado pleno, antes da p u b l i c a ç ã o do parecer da secção,
ordenará a sua convocação, e perante elle f a r á o r e l a t o r a sua ex-
posição e leitura de todas as p e ç a s , e r e c o l h i d o s os v o t o s , o secre-
tario lavrará o parecer na f ô r m a estabelecida, mencionando todos
os votos, e aquelles que fôrem homologados pela resolução impe-
rial terão o effeito de sentença.
Art. 9.° A resolução imperial tomada sobre parecer da secção
ou consulta do conselho de estado não pôde ser embargada senão
nos seguintes casos: primeiro, quando o julgamento parecer obs-
curo ou equivoco ; segundo, quando a causa tiver corrido á revelia
dos proprietários do navio o u do seu c a r r e g a m e n t o , u m a vez que
se apresentem dentro do prazo da carta de editos do artigo 8.° do
D e c r e t o n . 708 de 14 de O u t u b r o de 1 8 5 0 , p o r q u e s ó e n t ã o poderáõ
elles usar desse recurso. N ã o podem porém r e c l a m a r este favor
aquelles q u e , embora reveis na causa, se acharem presentes no
lugar ao tempo da a p p r e h e n s ã o ou do julgamento em primeira ou
segunda instância.
Nos e m b a r g o s seguir-se-ha o m e s m o processo que nas appellações
de que t r a t ã o os a r t i g o s antecedentes.
Art. 10. Os recursos interpostos pelo auditor de m a r i n h a nos ter-
mos d o a r t i g o 2 6 d o D e c r e t o n . 7 6 8 , e a q u e l l e s q u e as p a r t e s inter-
puzerem no caso de p r o n u n c i a , serão julgados pela f ô r m a dos arti-
tigos 32 e 33 do regulamento das relações de 3 de Janeiro de
1833.
As appellações serão julgadas na fôrma dos artigos 28, 29 e 30
do citado regulamento.
Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso C â m a r a , do m e u conselho,
ministro e secretario de estado dos negócios d i justiça, assim o te-
nha entendido e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, e m 14
de N o v e m b r o de 1850, vigesimo-nono da Independência e do I m -
pério.
C o m a r u b r i c a de Sua Magestade o Imperador.

Euzebio de Queiroz Coitinho Mattoso Câmara.

D E C R E T O N . 7 1 0 D E 1 6 D E O U T U B R O D E 1 8 5 0 .

Manda executar o regulamento sobre os manifestos das embarcações de


cabotagem.

U s a n d o da autorisação concedida pelo artigo 46 da lei n . 514 de


28 de Outubro de 1848? hei por b e m ordenar que nas alfândegas
e consulados do Império se observe o regulamento sobre os m a -
nifestos das embarcações de oabotagem, que c o m este b a i x a , assig-
250 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

n ado por Joaquim José Rodrigues Torres, do m e u conselho, se-


nador do Império, ministro e secretario de estado dos negócios da
fazenda, e presidente do tribunal do thesouro publico nacional ,
que assim o tenha entendido e faça executar. Palácio do Rio de
Janeiro, em 16 de Outubro de 1850, vige-dmo-norio da Indepen-
dência e do I m p é r i o — C o m a r u b r i c a de Sua Magestade o Impera-
d o r . — J o a q u i m José Rodrigues Torres.

Regulamento sobre os manifestos das embarcações de cabotagem.

Art. l.° As disposições dos arts. 146 e 148 do regulamento de 22


de J u n h o de 1836 ficão extensivas ás embarcações de cabotagem
s a b i d a s de p o r t o s o n d e existem alfândegas; devendo porém declarar-
se s e p a r a d a m e n t e nos manifestos das ditas e m b a r c a ç õ e s : 1.°, as
mercadoria* estrangeiras reexportados o u baldeadas; 2 . ° , as reexpor-
tadas depois de t e r e m pago direitos de c o n s u m o ; 3 . ° , as de produc-
ção nacional,
Art. 2.° O mestre de q u a l q u e r das referidas embarcações, lqgo
que tiver a bordo seu carregamento, e feito manifesto competente,
apresentará as d u a s v i a s delle ao a d m i n i s t r a d o r da mesa do consu-
lado ; o q u a l , depois de fazer conferi-las cuidadosamente c o m os
despachos e guias de r e e x p o r t a ç ã o das mercadorias estrangeiras , o
oe v e r i f i c a r se c o n t é m as d e c l a r a ç õ e s e x i g i d a s n o a r t i g o 1 . ° , n u m e -
rará e rubricará t o d a s as f o l h a s , r i s c a r á os l u g a r e s q u e e s t i v e r e m e m
branco, e certificará e m cada u m a que o manifesto está e m devida
fôrma.
Feito isto, reuniiá os despachos e as g u i a s de reexportação de
gêneros estrangeiros, que lhe devem ter sido remettidas pelo ins-
pector da a l f â n d e g a , a u m a das vias do manifesto; fechará estes
documentos c o m o sello da mesa e subscripto ao inspector da
alfândega ou administrador da mesa de rendas do porto a que se
destina a embarcação, e os e n t r e g a r á ao m e s t r e delia , archivando
a outra via do m e s m o manifesto.
Art. 3.° Se o manifesto que o mestre aprene?üar, aulhenticado
pelo a d m i n i s t r a d o r da mesa do consulado, contiver algum dos de-
feitos ou vicios que elle devesse ter acautelado , ou feito corri-
gir antes de authenticar o mesmo manifesto, recahirá a respon-
sabilidade sobre o administrador que assim houver procedido. Se
porém se c o n h e c e r que o vicio foi praticado depois da assignatura
do administrador , seiá responsável por elle o mestre da embar-
cação.
Art. 4 . ° Se a e m b a r c a ç ã o destinada a u m porto tocar ou largar
parte da carga em outro, levaiá deste porto certificado authen-
tico do que tiver descarregado ou de nada ter descarregada, para
apresenta-lo á alfândega do seu dest i n o . Se porém receber nova
carga, deverá fazer u m segundo manifesto, c o m a* m e s m a s f o r m a -
lidades do primeiro.
Art. 5.° As d i l f e r e n ç a s para mais o u para menos no numero de
volumes, e as diífereuoas de marcas ou qualidade encontradas nas
APPENDICE 25Í

descargas, serão julgadas pelo inspeotor da alfândega no que toca


ás mercadorias estrangeiras ou nacionaes sujeitas aos direitos de
expediente, e pelo administrador do consulado no que diz respeito
às mercadorias que n e n h u m direito pagão.
Art. 6.° Por cada d i f f e r e n ç a de qualidade de v o l u m e o u de marca
poderá impôr-se a multa de 1 $ a 2 $ ) rs., ainda que e m tudo o
m a i s a descarga confira c o m o m a n i f e s t o .
Art. 7.° A embarcação que entrar em lastro de q u a l q u e r dos re-
feridos portos, e n ã o apresentar certificado que assim o declare,
pagará uma m u l t a de 20$) a 200$) rs. Na mesma multa incorre
o mestre que, tendo tocado ou descarregado parte da carga e m
porto differente do seu destino, n ã o apresentar o competente
certificado.
Art. 8.° O mestre que n ã o apresentar o manifesto, ou n ã o o
apresentar authenticado na f ô r m a determinada neste regulamento,
ou trouxer aberta a via que receber fechada, pagará u m a multa
de 3 0 $ a 300$) rs.
Art. 9.° A embarcação que receber carga e m porto onde n ã o
houver alfândega, e q u e n ã o possa trazer m a n i f e s t o processado pela
m e s a de r e n d a s , dará entrada com u m a lista especificada da carga,
legalisada por qualquer autoridade do lugar. Os certificados exi-
gidos por este regulamento s e r ã o passados pelas respectivas alfân-
degas e mesas de rendas, ou por qualquer autoridade dos portos
onde n ã o e x i s t i r e m essas r e p a r t i ç õ e s fiscaes.
Art. 10. As embarcações de cabotagem daráõ entrada, como as
de l o n g o curso, nas respectivas alfândegas, donde serão remettidas
copias authentioas dos manifestos ás mesas do consulado.
Art. 1 1 . Nos despachos de mercadorias estrangeiras navegadas e m
barcos de cabotagem seguir-se-ha o que é determinado nos regu-
lamentos das alfândegas, quer as mercadorias sejão despachadas
para consumo, quer para serem reexportadas para outros portos do
Império,
Art. 12. Aos inspectores das alfândegas compete i n d a g a r se as
embarcações de cabotagem trazem o u n ã o manifesto de sua carga,
ou certificados de que t r a t ã o os a r t i g o s 4 . ° e 7 . ° , e i m p o r as multas
p e l a f a l t a o u i r r e g u l a r i d a d e desses papeis. Nos lugares e m que n ã o
h o u v e r a l f â n d e g a s , c o m p e t e m estas a t t r i b u i ç õ e s aos administradores
das mesas de rendas.
Art. 13. Ficão revogados os a r t i g o s 1 8 4 e 1 8 5 d o r e g u l a m e n t o de
30 de M a i o de 1836.
Art. 14. Os inspectores das alfândegas e administradores das
mesas de rendas a quem fôrem apresentados manifestos indevida-
mente authenticados ou desacompanhados dos despachos e guias
de que trata o artigo 2.°, deveráõ dar conta disso ao thesouro,
o qual poderá impor a m u l t a de 5 0 $ a 2 0 0 $ rs; a cada u m dos
empregados que fôrem responsáveis p o r taes irregularidade;*.
Rio de Janeiro, 1 6 d e O u t u b r o d e 1 8 5 0 . — J o a q u i m José Rodrigues
Torres.

MAN, NEG, 16 A
252 M A N U A L DOS NEGOCIANTES.

D E C R E T O N . 1368 D E 18 D E A B R I L D E 1854.

Determina o modo por que devem ser observadas as disposições

dos arts. 842 , 847 e 858 do código commercial do i m -

pério.

Hei por bem , usando da atlribuição que me confere o art. 102 §

12 d a c o n s t i t u i ç ã o , e de c o n f o r m i d a d e c o m a m i n h a imperial reso-

lução do 1.° d o corrente mez, tomada sob consulta da secção de

justiça do conselho de estado , decretar o seguinte :

Art. 1.° O c h a m a m e n t o dos credores de fallido, para deliberarem

sobre a concordata , terá lugar c o m a cominação de serem havidos

os q u e n ã o c o m p a r e c e r e m p o r si o u p o r seus p r o c u r a d o r e s c o m o ad-

herentes a mesma concordata , para cuja concessão serão contados

os votos dos ausentes assim n o t i f i c a d o s (arts. 8 4 2 e 847 do Código

Commercial).

Art. 2.° N o caso de destituição dos administradores de casa f a l -

lida (art. 858 do código commercialj, n ã o é l i c i t o aos credores pre-

sentes nomearem aquelles que forão destituídos : a n o m e a ç ã o se

h a v e r á p o r de n e n h u m e(Feito, e s e r á d e v o l v i d a aos t r i b u n a e s e juizes

do commercio.

Art. 3.° H a aggravo de petição (art. 669, § 1 5 , do regulamento

n. 737 de 25 de n o v e m b r o de 1850) do despacho do juiz municipal

que declara ou n ã o a abertura da fallencia.

José Thomaz Nabuco de Araújo, do m e u conselho, ministro e

secretario de estado dos n e g ó c i o s da justiça , assim o t e n h a entendido

e faça executar. Palácio do Rio de Janeiro, e m 18 de A b r i l de 1854,

33.° da independência e do i m p é r i o , — Com a rubrica de S. M . o

Imperador.

José Thomaz Nabuco de Araújo.


APPENDICE. 253

D E C R E T O N . 1 3 8 5 D E 2 6 D E A B R I L D E 1 8 5 4 .

Altera diversas disposições dos regulamentos fiscaes , e dá

outras providencias concernentes aos mesmos.

Attendendo ao disposto nos arts. 29 da lei n. 369 de 18 de


Setembro de 1845 , e 46 da lei n. 514 de 28 de O u t u b r o de 1848 ;
hei por b e m decretar o seguinte :
Art. l . ° A m u l t a de q u e trata o art. 135 do r e g u l a m e n t o de 22 de
Junho de 1836 será de 1 0 $ a 1 0 0 $ ) rs., a a r b í t r i o do inspector da
alfândega , segundo a gravidade do caso ; e poderá ser remettida
quando houver motivo justo.
A r t . 2.° N ã o obstante a d i s p o s i ç ã o do decreto n . 203 de 22 de Julho
de 1 8 4 2 , s e r á p e r m i t t i d o ao c a p i t ã o da e m b a r c a ç ã o , no acto da sua
entrada na a l f â n d e g a , fazer quaesquer declarações relativas a ac-
erescimo ou diminuição no manifesto , para serem apreciadas pelo
inspector, e attendidas ou n ã o , segundo as c i r c u m s t a n e i a s do caso ;
e não o sendo, ficará o capitão sujeito á m u l t a de 1 0 $ ^ a 1 0 0 $ por
volume, a arbítrio d o i n s p e c t o r , o u á de 1 0 a 5 0 °/ 0 d o v a l o r , se os
objectos vierem a granel.
Art. 3.° Verificada a hypothcse do § 9 . ° do art. 145 do mencio-
nado r e g u l a m e n t o , a m u l t a q u e ao c a p i t ã o deve ser importa será de
1 0 $ a 1 0 0 $ por v o l u m e , a arbitrio do inspector da alfândega,
segundo o valor presumido das mercadorias ; e sendo estas das que
contumão vira g r a n e l , a de 10 a 5 0 ° / . do v a l o r e s t i m a d o dellas.
Art. 4.° E m caso de acerescimo de v o l u m e s de mercadorias n ã o
comprehendidas no manifesto , verificado depois da descarga para
a alfândega na f ô r m a ordinária, terá lugar a m u l t a de 1 0 $ ) a 1 0 0 $ .
Se o acerescimo se v e r i f i c a r e m mercadorias importadas a granel e
não sujeitas a quebras, como ferro, ferragens grossas, taboado e
outras semelhantes , a m u l t a s e r á d e 1 0 a 5 0 °/o d o v a l o r d a s merca-
dorias n ã o manifestadas. Da importância de qualquer destas multas
pertencerá metade ao e m p r e g a d o que houver verificado a diíferença,
e a outra metade á fazenda nacional. Se porém fôr verificado e m
busca, ou por denuncia, ou na visita, estando as mercadorias
acondicionadas com dolo e m falsos d a e m b a r c a ç ã o , ou fóra do po-
rão em lugar o c e u l t o , o u suspeito de facilitar o e x t r a v i o , s e r ã o ap-
prehendidas as m e r c a d o r i a s e multado o capitão e m 5 0 °/o d o valor
dellas; ficando assim alterado o art. 155 do referido regulamento
de 22 de J u n h o de 1836.
Art. 5.° N o caso da difFerença de volumes ser para menos dos
constantes do manifesto, provando o capitão , a juizo do inspector
da a l f â n d e g a , que o volume ou volumes não forão embarcados, n u»
incorrerá nas penas do art. 156 do citado regulamento ; e não o
254 M A N U A L DOS NEGOCIANTES

provando, pagará direitos e m dobro das mercadorias contidas nos


v o l u m e s n ã o descarregados, arbitrado o seu valor segundo as decla-
rações do manifesto, e pelas qualidades superiores, ou por outros
volumes idênticos do mesmo manifesto, quando as declarações
relativas aos n ã o descarregados fôrem incompletas. E neste caso
pertencerá igualmente metade da multa ao empregado que tiver
verificado a differença.
Art. 6.° Nos g ê n e r o s importados a granel, sujeitos a acerescimo
ou diminuição, como carne secca, carvão, sal e semelhantes, só
terá lugar a m u l t a , quando a differença verificada fôr para mais de
10 °/ . 0 Se a differença porém f ô r para menos, ainda excedente a
1 0 7,>, n ã o t e r á lugar a multa , comtanto que os direitos se tenhão
cobrado da quantidade manifestada.
A r t . 7.° Nos g ê n e r o s s o l ú v e i s , c o m o o gelo , sal e s e m e l h a n t e s , po-
derá o inspector da alfândega, a requerimento do capitão no acto
da sua enirada na alfândega, e mediante o exame e lotação do car-
regamento por peritos de sua escolha , conceder u m abatimento
a t é 75 °/ 0 no gelo , e 25 % no sal, e outros de igual natureza.
Art. 8.° O capitão da e m b a r c a ç ã o que não trouxer o seu m a n i -
festo ou certificados revestidos das f o r m a l i d a d e s especificadas no
capitulo 8.° do r e g u l a m e n t o de 22 de J u u h o de 1 8 3 6 pagará a multa
de 5 0 $ ^ a 200$) , a arbítrio do inspector, segundo a qualidade da
falta e i m p o r t â n c i a do carregamento. Se por facto próprio e volun-
tário entregar aberta a via do manifesto que receber fechada , e esta
se a c h a r viciada , f i c a r á i n c u r s o na m u l t a de 100$) a 1:000$), a ar-
bítrio do inspector. Se s ó a p r e s e n t a r u m a v i a d o m a n i f e s t o , p a g a r á a
multa de 1 0 $ ) a 5 0 $ ^ , segundo a importância do carregamento, e
em qualquer dos casos i n d i c a d o s n ã o s e r á a embarcação admittida
a descarregar sem haver satisfeito o u depositado a multa.
Art. 9.° Se ao m a n i f e s t o f a l t a r a l g u m a f o r m a l i d a d e n ã o essencial,
p o d e r á o inspector , c o m attenção ao carregamento da e m b a r c a ç ã o ,
e a quaesquer circumstaneias e m favor do capitão, releva-lo da
multa do artigo antecedente.
S ã o f o r m a l i d a d e s essenciaes :
1.° S e r e m ambas as v i a s d o m a n i f e s t o f e i t a s e a s s i g n a d a s n o porto
da procedência.
2.° Conterem alguma authentioidade das a d m i t t i d o s , s e g u n d o o
porto da procedência.
3.° Acharem-se escriptas e m devida f ô r m a sem rasuras ou
emendas.
Art. 10. A embarcação que n ã o trouxer manifesto, vindo com
destino ao porto da entrada , será admittida a descarga completa e
carga , pagando a m u l t a de 2 $ ^ a 4 $ ) por tonelada de sua arqueação
ou 5 0
j & de direitos addicionaes da carga, a arbítrio do inspector.
Art. 1 1 . Nos portos e m que n ã o houver agente consular brasileiro
os m a n i f e s t o s , e b e m assim quaesquer documentos concernentes á
carga o u descarga de mercadorias, poderáõ ser a u t h e n t i c a d o s pela
alfândega ou estação fiscal do porto; devendo taes documentos ser
reconhecidos pelo consulado r e s p e c t i v o , se o h o u v e r no da entrada
APPENDICE. 255

da e m b a r c a ç ã o ; e f i c a n d o por esta f ô r m a a m p l i a d o o a r t . 1 5 1 do re-


gulamento supracitado.
Art. 12. Os navios d e guerra e transportes, quer nacionaes quer
estrangeiros, que trouxerem carga da praça, deveráõ manifesta-la
á alfândega do mesmo modo q u e as e m b a r c a ç õ e s mercantes; e e m -
quanto a não entregarem á dita estação fiscal, estarão sujeitos aos
mesmos exames e f i s c a l i s a ç Õ e s q u e as d o c o m m e r c i o , pelo que diz
respeito á mencionada carga.
Art. 13. Ficão isentas da m u l t a do art. 245 do r e g u l a m e n t o de 22
de J u n h o de 1836:
1.° A s e m b a r c a ç õ e s arribadas por força m a i o r , que para despezas
no p o r t o d i s p u z e r e m de parte da carga.
2.° A s que pelo m e s m o motivo entradas, sendo condemnadas por
innavegaveis, venderem e m hasta publica parte o u todo o carrega-
mento por avaria, reconhecida pela alfândega.
3.° As q u e e n t r a r e m para r e f r e s c a r , se s ó d i s p u z e r e m d a c a r g a suf-
íiciente para fazer face á s despezas do p o r t o .
4.° As procedentes de portos pouco freqüentados, e m que n ã o
houver alfândega, estação fiscal, ou outro qualquer meio de au-
t h e n t i c a r os manifestos.
Todas estas circumstaneias deveráõ ser provadas perante a al-
fândega do porto da entrada.
Art. 14. As embarcações que entrarem para espreitar o mercado,
e q u i z e r e m d i s p o r de parte o u de t o d o o seu c a r r e g a m e n t o , podê-lo-
h ã o fazer sujeitando-se á m u l t a de 1 $ a 2 $ ) por tonelada de sua ar-
q u e a ç ã o , a arbítrio do inspector, n ã o trazendo manifesto, ou tra-
z e n d o - o s e m as f o r m a l i d a d e s e x i g i d a s .
A r t . 15. O prazo de que trata a primeira parte do art. 213 do refe-
rido regulamento, para serem pela parte u l t i m a d o s os d e s p a c h o s ,
fica a m p l i a d o a t é 20 dias, n ã o sendo p o r i m p e d i m e n t o s da alfândega,
em c u j o caso n u n c a t e r á l u g a r a m u l t a ; sendo a p p l i c a v e l a todas as
mercadorias e m geral a disposição do mesmo artigo relativa á s des-
pachadas nos pátios e telheiro3. E para que t e n h a lugar a multa de-
cretada de 1 1/2 0
/ o deveráõ os feitores devolver ao escrivão da al-
fândega as notas para despacho, nos termos indicados, afim de
s e r e m p a s s a d a s a o e s c r i p t u r a r i o d o l i v r o m e s t r e p a r a as convenieutes
verbas.
Art. 16. As d i f f e r e n ç a s de q u a n t i d a d e de m e r c a d o r i a s , v e r i f i c a d a s
para mais na conferência da sahida , ficão sujeitas ao pagamento
em dobro dos direitos que deixárão de ser c o b r a d o s ; pertencendo
ao c o n f e r e n t e a d e m a s i a d e d i r e i t o s ; s a l v o se a differença verifioada
estiver c o m p r e h e n d i d a e m a l g u m dos casos previstos nos arts. 203 e
204 do regulamento de 22 de J u n h o de 1 8 3 6 , e m c o n f o r m i d a d e dos
q u a e s se d e v e r á então proceder.
A r t . 17. Se a d i f f e r e n ç a f ô r para m e n o 3 , s ó t e r á lugar a imposição
da m u l t a , quando se d e r e m c i r c u m s t a n e i a s q u e r e v e l e m f r a u d e 011
subtracção das mercadorias para rehaver-se os direitos pagos; os
quaes e m caso a l g u m s e r ã o restituidos f ó r a dos m e n c i o n a d o s no arU
212 do referido regulamento.
256 M A N U A L DOS NEGOCIANTES.

Art. 18. Q u a n d o a differença fôr na qualidade da mercadoria,


intervindo árbitros na f ô r m a do regulamento de 17 de Novembro de
1844, se a d e c i s ã o f ô r c o n t r a a p a r l e , pagará esta mais metade dos
direitos da d i f f e r e n ç a de q u a l i d a d e , para o conferente.
Art. 19. A avaria por successo3 de m a r , até a entrada da mer-
cadoria na a l f â n d e g a o u a r m a z é m alfandegado , para ser attendida
d e v e r á ser reclamada :
1." Pelo capitão o u consignatario do navio no acto da descarga do
volume, ou dentro de 24 horas depois, quando houver indícios ex-
ternos.
2.° Pelo dono ou consignatario do v o l u m e e m qualquer tempo,
não havendo indícios externos de avaria no v o l u m e , e n ã o se po-
dendo presumir q u e ella seja anterior ao e m b a r q u e do mesmo vo-
lume.
Art. 20. Nas mercadorias que pagão direitos na razão do seu peso
será sempre p e r m i t t i d o ao d e s p a c h a n t e e ao feitor verificar o peso
liquido, na f ô r m a do art. 6.° do regulamento n . 634 de 28 de Agosto
de 1849,, quando algum entender ser lesiva a t a r a marcada na ta-
beliã annexa ao dito regulamento, e a mercadoria n ã o f ô r das su-
jeitas ao ônus do pagamento dos direitos pelo peso bruto.
Art. 2 1 . As drogas n ã o especificadas na tabeliã mencionada no
artigo antecedente serão comprehendidas na regra geral para se ha-
v e r e m os d i r e i t o s p e l o p e s o l i q u i d o c o m os a b a t i m e n t o s respectivos ,
segundo a q u a l i d a d e de seus envoltórios.
Art. 2 2 . P o d e r á õ ser d e s p a c h a d o s c o m c a u ç ã o dos c o m p e t e n t e s di-
reitos de consumo, pagando 1 1/2 ° / 0 de e x p e d i e n t e : 1.° os objectos
pertencentes a companhias lyricas, dramáticas , eqüestres ou outras
ambulantes, que se destinarem a dar representações publicas ; 2.°
as c o l l e c ç õ e s scientificas de historia n a t u r a l , n u m i s m a t i c a e de anti-
güidade; os l a b o r a t ó r i o s chimicos ou outros apparelhos; as estatuas
e bustos de qualquer matéria que fôrem destinados á exposição ou
representação publica. Os direitos caucionados serão cobrados, se
dentro do prazo concedido pelo inspector da alfândega , que poderá
ser p o r elle r a z o a v e l m e n t e prorogado, n ã o fôrem os o b j e c t o s assim
despachados reexportados integralmente, ou n ã o fôr provado o seu
desperecimenlo e consumo, pelo uso o u ó b i t o , segundo a natureza
do objecto.

Art. 23. Ficão supprimidas as c a r t a s d e g u i a d a s merca lorias es-


trangeiras navegadas por cabotagem , e tendo pago j á os direitos de
consumo em alguma alfândega do império, e b e m assim os des-
pachos de gêneros de producção e manufactura nacional, annexos
aos manifestos de e m b a r c a ç õ e s de cabotagem, ficando taes docu-
mentos archivados na mesa do consulado do p o r t o de embarque
dos g ê n e r o s , e a c a r g o das m e s m a s mesas a d e s c r i m i n a ç ã o e especi-
ficação das mercadorias, á vista dos despachos p r e s e n t e s , e na fôrma
do art. l.° do regulamento n. 710 de 16 de O u t u b r o de 1850.

Qualquer v o l u m e de mercadorias estrangeiras , quando n ã o esti-


ver comprehcndido no manifesto organisado pela mesa, ficará su-
APPENDICE. 257

jeiio ao p a g a m e n t o de d i r e i t o s d e c o n s u m o , c o m o se directamente
fosse i m p o r t a d o de paiz e s t r a n g e i r o .
Art. 2Zj. F i c a d i s p e n s a d a a fiança e m caução dos direitos de ex-
portação que, e m virtude da ordem do thesouro n a c i o n a l de 25 de
Novembro de 1842 , prestão os c a p i t ã e s d e e m b a r c a ç õ e s nacionaes
de cabotagem na couducção dos g ê n e r o s d e p r o d u c ç ã o nacional de
uns para outros portos do império.
Art. 2 5 . F i c ã o r e v o g a d a s as d i s p o s i ç õ e s e m c o n t r a r i o .
O visconde de Paraná , conselheiro de estado, senador do i m -
pério , presidente do conselho de m i n i s t r o s , m i n i s t r o e secretario de
estado dos n e g ó c i o s da f a z e n d a e p r e s i d e n t e do t r i b u n a l do thesouro
nacional, assim o tenha entendido e faça executar.
Palácio d o R i o de Janeiro , c m 26 de A b r i l de 1854 , trigesimo
terceiro da independência e do império. — C o m a r u b r i c a de Sua
Magestade o Imperador.

Visconde de Paraná.

L E I N . ° 7 9 9 D E 1 6 D E S E T E M B R O D E 1 8 5 4 .

Declara que aos tribunaes do commercio compete o julgamento em segunda

instância das causas commerciaes com alçada até Rs. 5:000$)0O0; ficando

comprehendidos nesta jurisdicção os commerciantes matriculados e não

matriculados ; e dá outras providencias.

Dom Pedro, por graça de Deos e unanime acclamação dos povos,


Imperador constitucional e defensor perpetuo do Brasil: fazemos
saber a todos os nossos subditos que a assembléa geral decretou e
nós queremos a lei seguinte:
Art. l.° Compete aos tribunaes do commercio o julgamento e m
segunda instância das causas commerciaes c o m alçada alé 5:000$
rs. Nesta jurisdicção s ã o c o m p r e h e n d i d o s os c o m m e r c i a n t e s matri-
culados e n ã o matriculados.
Os tribunaes do c o m m e r c i o , para julgarem e m segunda instância,
se c o m p o r á õ dos seus m e m b r o s o r d i n á r i o s e de m a i s tres desembar-
gadores n a c a p i t a l d o i m p é r i o , e d o u s nas p r o v í n c i a s , os q u a e s s e r ã o
d e s i g n a d o s p e l o g o v e r n o c T e n t r e os d a r e s p e c t i v a relação.
A f ô r m a do processo para o exercício desta nova j u r i s d i c ç ã o será
estabelecida pelos regulamentos do governo.
Art. 2.° Nas províncias onde existirem relações serão estabelecidos
t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o , se o g o v e r n o j u l g a r conveniente.
Art. 3.° P a r a j u l g a m e n t o das causas commerciaes em primeira
258 M A N U A L DOS NEGOCIANTES.

instância serão nomeados juizes de direito especiaes nas capitães


onde f u n c c i o n a r e m os t r i b u n a e s do commercio.
Art. 4.° Ficão revogadas as l e i s e m contrario.
Mandamos portanto a todas as a u t o r i d a d e s , a quem o conheci-
mento e execução da referida lei p e r t e n c e r , que a c u m p r â o e facão
cumprir e guardar t ã o i n t e i r a m e n t e c o m o n e l l a se contém.
O secretario de estado dos negócios da justiça a faça imprimir,
publicar e correr.
Dada no palácio do R i o de Janeiro, aos dezeseis de S e t e m b r o de
m i l oitocentos e cinooenta e quatro, trigesimo-terceiro da indepen-
dência e do império. — IMPERADOR, COM RUBRICA, E GUARDA. — José
Thomaz Nabuco de Araújo.
Carta de lei pela q u a l Vossa Magestade Imperial manda executar
o decreto da assembléa geral, que houve por b e m sanecionar, de-
clarando que aos t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o c o m p e t e o j u l g a m e n t o e m
segunda instância das cansas c o m m e r c i a e s com alçada até 5 : 0 0 0 ^
rs., comprehendidos nesta jurisdicção os commerciantes matricu-
lados e não matriculados, e dando outras providencias, na f ô r m a
acima declarada. — Para Vossa Magestade Imperial ver.— Antônio
Alvares de Miranda Varejâo a f e z . — J o s é Thomaz Nabuco de Araújo.—
Sellada na chancellaria do império, e m 22 de Setembro de 1854-
— Josino do Nascimento Silva.—Foi publicada a presente lei na secre-
t a r i a de estado dos n e g ó c i o s da j u s t i ç a , e m 25 de S e t e m b r o de 1854-
—Josino do Nascimento Sitva.

K i o de J a n e i r o . T y p o g r a p h i a U n i v e r s a l de L A E M M E R T , r u a dos I n v á l i d o s , 6 1 B .
Í N D I C E

DAS MATÉRIAS CONTIDAS NESTE VOLUME.

PARTE I . — DO COMMERCIO E M GERAL.

Pag-
TITULO I . Dos commerciantes 3
CAPITULO i . Das q u a l i d a d e s n e c e s s á r i a s p a r a ser c o m m e r c i a n t e 3
CAPITULO u. D a s o b r i g a ç õ e s c o m m u n s a t o d o s os c o m m e r c i a n t e s . . . . 6
CAPITULO in. Das prerogativas dos c o m m e r c i a n t e s 13
CAPITULO iv. D i s p o s i ç õ e s geraes 13
TITULO I I . Das p r a ç a s do c o m m e r c i o 14
TITULO III. Dos agentes auxiliares de c o m m e r c i o 15
CAPITULO I . D i s p o s i ç õ e s geraes 15
CAPITULO I I . Dos corretores 15
CAPITULO m . Dos agentes de leilões 20
CAPITULO IV. Dos feitores, guarda-livros e caixeiros 21
CAPITULO V. Dos trapicheiros e administradores de a r m a z é n s de d e -
posito 22
CAPITULO V I . Dos conductores de gêneros e commissarios de trans-
porte 24
TITULO IY. Dos banqueiros 27
TITULO V. Dos contractos e o b r i g a ç õ e s mercantis 27
TITULO VI. Do mandato mercantil £9
TITULO VIL Da commissão mercantil 32
TITULO VIII. Da compra e venda mercantil 35
TITULO IX. D o escambo o u troca m e r c a n t i l 39
TITULO X. Da locação mercantil 39
TITULO XI. D o m u t u o e dos j u r o s mercantis 41
TITULO XII. Das f i a n ç a s e cartas de credito e abono 42
CAPITULO I . Das f i a n ç a s 42
CAPITULO I I . Das cartas de c r e d i t o 43
TITULO XIII. Da hypotheca e penhor mercantil 44
CAPITULO i . Da hypotheca 44
CAPITULO I I . Do penhor mercantil hk
TITULO XIV. D o deposito m e r c a n t i l 45
TITULO XV. Das c o m p a n h i a s e sociedades c o m m e r c i a e s 46
CAPITULO I . D i s p o s i ç õ e s geraes 46
CAPITULO II. Das companhias de commercio ou sociedades ano-
nymas kl
254 ÍNDICE.

Pag.
CAPITULO III. Das sociedades c o m m e r c i a e s 48
SECÇÃO I . D i s p o s i ç õ e s geraes 48
SECÇÃO n. Da sociedade e m c o m m a n d i t a 52
SECÇÃO I I I . Das sociedades e m n o m e collectivo o u c o m f i r m a 53
SECÇÃO iv. Das sociedades de capital e i n d u s t r i a 53
SECÇÃO v. D a sociedade e m conta de p a r t i c i p a ç ã o 54
SECÇÃO vi. Dos direitos e o b r i g a ç õ e s dos sócios 55
SECÇÃO vil. D a d i s s o l u ç ã o das sociedades 56
SECÇÃO V I U . D a l i q u i d a ç ã o da sociedade 57
TITULO XVI. Das l e t r a s , notas p r o m i s s ó r i a s e c r é d i t o s m e r c a n t i s . . 59
CAPITULO I . Das letras de cambio 59
SECÇÃO I . D a f o r m a das l e t r a s d e c a m b i o e seus v e n c i m e n t o s 59
SECÇÃO n. Dos endossos G2
SECÇÃO I I I . D o sacador 63
SECÇÃO iv. Do portador GZi
SECÇÃO v. D o sacado e aceitante 67
SECÇÃO V I . Dos protestos 68
SECÇÃO V I L Do recambio 70
SECÇÃO V I U . D i s p o s i ç õ e s geraes 71
CAPITULO I I . Das letras da terra, notas promissórias e créditos
mercantis e 71
TITULO XVII. D o s m o d o s p o r q u e se d i s s o l v e m e e x t i n g u e m as o b r i -
gações commerciaes 72
CAPITULO i . D i s p o s i ç õ e s geraes 72
CAPITULO I I . Dos pagamentos mercantis 72
CAPITULO I I I . Da novação e compensação mercantil 74
TITULO XVIII. Da prescripção.. 74

PARTE II. — DO COMMERCIO MARÍTIMO.

TITULO I. Das embarcações 77


TITULO I I . Dos p r o p r i e t á r i o s , c o m p a r t e s e caixas de navios 84
TITULO III. Dos c a p i t ã e s o u mestres de navios 85
TITULO IV. Do piloto e contramestre 94
TITULO V. D o ajuste e soldadas dos ofíiciaes c gente da tripo-
l a ç ã o , seus d i r e i t o s e o b r i g a ç õ e s 95
TITULO VI. Dos fretamentos 99
• CAPITULO 1. Da natureza e f o r m a do contracto de fretamento e das
cartas p a r t i d a s 99
CAPITULO 11. Dos conhecimentos K H
CAPITULO I I I . DOS direitos e obrigações do fretador e a f r e t a d o r . . . . 103
CAPITULO IV. Dos passageiros.. 109

TITULO VII. D o contracto de d i n h e i r o a r i s c o o u cambio m a r í t i m o 110


TITULO VIII. Dos seguros m a r í t i m o s 115
CAPITULO 1. Da natureza e f ô r m a do contracto de seguro m a r í t i m o 115
CAPITULO 11. Das cousas q u e p o d e m ser o b j e c t o d e s e g u r o m a r í t i m o 119
CAPITULO I I I . Da avaliação dos objectos s e g u r o s . . . * 120
CAPITULO IV. Do começo c fim dos riscos 121
CAPITULO v. Das o b r i g a ç õ e s reciprocas d o segurador e d o segurado 122
TITULO IX. D o n a u f r á g i o e salvados 125
ÍNDICE. 255

Pag.
TITULO X. Das a r r i b a d a s f o r ç a d a s 126
T I T U L O .X I . D o d a m n o causado p o r a b a l r o a ç ã o 127
TITULO XII. Do abandono 128
TITULO XIII. Das avarias.. 129
CAPITULO i. Da natureza e c l a s s i f i c a ç ã o das avarias 129
CAPITULO I I . Da liquidação, repartição e contribuição da avaria
grossa I 132

PARTE III. — DAS QUEBRAS.

TITULO I. Da natureza e declaração das quebras e seus eíTeitos 136


TITULO K. Da r e u n i ã o dos credores e da concordata 143
TITULO III. D o contracto de U n i ã o , dos a d m i n i s t r a d o r e s , da l i q u i -
dação e dividendos 1^6
CAPITULO I . Do contracto de u n i ã o 146
CAPITULO I I . DOS administradores, da liquidação e d i v i d e n d o s . . . . 147
TITULO IV. Das diversas e s p é c i e s de c r é d i t o s e suas g r a d u a ç õ e s . . 149
TITULO V. Das preferencias e d i s t r i b u i ç õ e s 151
TITULO VI. Da r e h a b i l i t a ç ã o dos fallidos 152
TÍTULO VII. Das m o r a t ó r i a s 153
TÍTULO VIIí. Disposições geraes 155
T I T U L O ÚNICO. Da a d m i n i s t r a ç ã o da justiça nos negócios e causas
commerciaes 156
CAPITULO I . Dos tribunaes e j u i z o c o m m e r c i a l 155
SECÇÃO I . Dos tribunaes do commercio 156
SECÇÃO I I . D a eleição dos deputados commerciantes 158
SECÇÃO I I I . Do juizo commercial 159
CAPITULO I I . D a o r d e m d o j u i z o nas causas c o m m e r c i a e s 159

Tabeliã dos emolumentos que devem ser cobrados provisoriamente pelas


juntas do commercio 161

A v i s o de 3 1 d e A g o s t o de 1 8 5 2 , ao vice-presidente d o Rio G r a n d e d o
S u l , a p p r o v a n d o a d e c i s ã o p o r elle dada p r o v i s o r i a m e n t e sobre o c o n -
flicto o c c o r r i d o e n t r e o j u i z m u n i c i p a l e o d o e i v e i d a c i d a d e d e P o r t o
A l e g r e , p o r o c c a s i ã o da a r r e c a d a ç ã o dos bens d o fallecid a negociante n ã o
matriculado S e r a f i m de M a g a l h ã e s Rhodcs 163
N o t a r e l a t i v a ao cap. 2 . " d o t i t . l . ° d a p a r t e 1.° d o C o d . C o m . ( E x t r a c t o
da sessão d o m e s m o t r i b u n a l de 16 de Janeiro de 1851) 164
Extracto da sessão do mesmo t r i b u n a l a respeito do art. 12 do Cod. do
C o m . de 3 de Fevereiro de 1851 165
A v i s o d e 3 0 d e A g o s t o de 1 8 5 2 ao presidente da província de Per-
n a m b u c o , d e c l a r a n d o q u a e s os f e r i a d o s q u e n o f ô r o c o m m e r c i a l se d e v e m
observar 168
D e c r e t o n . ° 6 8 9 d e 3 0 d e J u l h o d e 1 8 5 0 ; r e g u l a m e n t o s o b r e os despa-
chos p o r factura 169
Lei n . ° 567 de 22 de J u l h o de 1 8 5 0 : faz extensivas á s a p ó l i c e s de l : 0 0 0 g
a disposição do art. 6 4 da l e i de 15 de N o v e m b r o de 1827 171
256 ÍNDICE

Pag.
D e c r e t o n . ° 8 0 6 d e 2 6 d e J u l h o d e 1 8 5 1 : R e g i m e n t o p a r a os c o r r e t o r e s d a
praça do commercio do Rio de Janeiro 172
Cap. I . Da n o m e a ç ã o , s u s p e n s ã o e destituição de corretores e da i m p o -
s i ç ã o das m u l t a s 172
Secção l . Da n o m e a ç ã o dos corretores. . . . . . . . . .
a
172
Secção 2." Da s u s p e n s ã o e destituição dos corretores, e da imposi-
ç ã o das multas < 175
Cap. I I . Das f u n e ç õ e s dos corretores 176
Tabeliã da commissão que cobrarão os corretores da p r a ç a do R i o . . 178
Cap. I I I . D a j u n t a dos corretores k 179
D e c r e t o n . ° 8 5 8 d e 1 0 d e N o v e m b r o d e 1 8 5 1 : R e g i m e n t o p a r a os agentes
de leilões » 182
Cap. I . D a n o m e a ç ã o dos agentes de leilões . 182
Cap. I I . Dá suspensão e d e s t i t u i ç ã o dos agentes de l e i l õ e s , e da i m -
p o s i ç ã o das m u l t a s * 184
Cap. I I I . Das f u n e ç õ e s dos agentes de leilões 184
D e c r e t o n . ° 8 6 3 d e 1 7 d e N o v e m b r o d e 1 8 5 1 : R e g u l a m e n t o p a r a os i n t e r -
pretes do c o m m e r c i o da p r a ç a do Rio de Janeiro . 188
Cap. I . D a n o m e a ç ã o dos i n t e r p r e t e s d o c o m m e r c i o 188
Cap. I I . Das f u n e ç õ e s dos i n t e r p r e t e s 189
Cap. I I I . Da s u s p e n s ã o e d e s t i t u i ç ã o i m p o s t a aos i n t e r p r e t e s 191
Cap. I V . Dos e m o l u m e n t o s dos interpretes < 191
D e c r e t o n . ° 8 4 4 d e 1 8 d e O u t u b r o d e 1 8 5 1 : M o d o d e p r e p a r a r os p r o c e s s o s
e m q u e os t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o f ô r e m n o m e a d o s á r b i t r o s , e d e f a z e r
s e g u i r os seus r e c u r s o s 192

REGULAMENTO DO IMPOSTO DO SELLO E SUA


ARRECADAÇÃO.

PARTE I.—DO IMPOSTO DO SELLO.

Titulo I. Do sello proporcional 193


Cap. I . D o s t i t u l o s e p a p e i s d e q u e se d e v e p a g a r o s e l l o p r o p o r c i o n a l 193
Cap. I I . D o s t i t u l o s da l . classe a
194
Cap. III. Dos titulos da 2. a
classe 196
Cap. I V . D i s p o s i ç õ e s c o m m u n s aos t í t u l o s d a 1 / e 2 . a
classe 196
Cap. V. D o s t i t u l o s da 1 . e 2 . classe, q u e s ã o isentos d o sello p r o p o r c .
a a
197
Cap. VI. D o s t i t u l o s d a 3 . classe. a
198
Cap. V I I . D o s t i t u l o s d a 3 . classe q u e s ã o i s e n t o s d o s e l l o p r o p o r c i o n a l
a
198
Cap. V I I I . Das r e v a l i d a ç õ e s ^99
Titulo I I . D o sello f i x o 199
Cap. I . Classe l . D o s q u e p a g ã o a t a x a s e g u n d o o n u m e r o d a s f o Ú i a s
a
200
Secção l . Papeis forenses
n
200
Secção 2." Papeis e documentos civis »..!!!!!!! 200
Secção 3. a
Livros , '/ [ 201
Secção 4 . a
Loterias . . . . . 202
S e c ç ã o 5." Cartas de j o g a r 202
Cap. I I . Classe 2 . a
Dos titulos que pagão a taxa segundo a sua q u a -
lidade 202
Secção l . a
Titulos e tratamentos 202
Secção 2. a
Nobreza e brazão 203
Secção 3. a
O f l i c i o s d a casa i m p e r i a l 203
Secção 4." Condecorações honoríficas .. 203
ÍNDICE. 257

Pag.
Secção 5.' Diplomas scientificos e litteràrios 20;;
Seçção 6V Privilegieis 20Zt
Secção 7." Outras m e r c ê s 204
Secção 8.* Bullas, breves e dispensas 204
Secção 9. a
Licenças 205
Secção 10. T i t u l o s d e d e s p a c h a n t e s das a l f â n d e g a s e d e c o r r e t o r e s . . 206
Cap. III. D o s t i t u l o s d a í . " e 2 . " classe q u e s ã o i s e n t o s d o s e l l o f i x o . 206
Cap. IV. Das r e v a l i d a ç õ e s 207

PARTE II.—DA COBRANÇA DO SELLO.

TITULO U.MCO. Cap. I. Do preparo, venda e uso do papel sellado. 207


C a p . I I . O n d e e p o r q u e m d e v e ser arrecadado e escripturado o i m -
posto d o sello 209
Cap. III. Signal d o sello e verbas nos papeis 210
Cap. IV. Escripturação 211
Cap. V. Fiscálisacão 212
Cap. VI. Muitas..' 212
Cap. V I I . Recursos 213
A r t i g o s da l e i de 2 1 de O u t u b r o de 1843 r e l a t i v o s ao sello a q u e se
refere o r e g u l a m e n t o d o sello 215
M o d e l o d o l i v r o de r e c e i t a d o i m p o s t o d o sello 218

PREPARO E VENDA DO PAPEI. SELLADO.

Decreto n.° 895 de 31 de Dezembro de 1851: Regulamento sobre o uso,


p r e p a r o e v e n d a d o p a p e l sellado 2Í9
Cap. I . D o uso d o p a p e l sellado 219
Cap. I I . Da compra do papel por conta do governo 221
Cap. I I I . D o deposito e preparo do papel 221
Cap. IV. D a venda d o papel sellado 222
Cap. V. Da escripturação e contabilidade 222
Tabeliã A. T i t u l o s s u j e i t o s ao sello p r o p o r c i o n a ] , q u e d e v e m ser e s c r i p t o s
e m p a p e l sellado 224
Tabeliã B. T i t u l o s e actos s u j e i t o s ao sello f i x o , q u e d e v e m ser e s c r i p t o s
e m p a p e l sellado 224
D e c l a r a ç ã o d o m i n i s t é r i o da fazenda r e l a t i v a ao sello dos titulos da 3."
d a s s e , q u e p a g ã o os e m p r e g a d o s p ú b l i c o s 226

E x t r a c t o d o e x p e d i e n t e d e 1 1 d e S e t e m b r o d e 1 8 5 0 , r e l a t i v o aos despa-
chantes , 226
Extracto do expediente de 2 1 d e O u t u b r o d e 1 8 5 2 : sobre, o pagamento
d o sello da e s c r i p t u r a de d i s s o l u ç ã o 226

Aviso de 30 de Agosto de 1852, ao vice-presidente da província do Hio


Grande do S u l , relativo á s u b s t i t u i ç ã o de u m deputado da Junta do
Commercio 227
D e c r e t o n . ° 1 0 5 6 de 2 3 de O u t u b r o de 1 8 5 2 : R e v o g a os a r t i g o s 5 3 3 e 5 3 4
do regulamento 737 na parte relativa á nomeação dos avaliadores
commerciaes 228
258 ÍNDICE.

Pa f.
Execução da portaria do tribunal do commercio de 26 de Novembro
de 1852, relativa á venda do papel sellado dos titulos e actos da 1."
classe, s u j e i t o s ao sello fixo 228
Aviso de 30 de D e z e m b r o de 1 8 5 2 , ao p r e s i d e n t e da p r o v í n c i a de Per-
nambuco, declarando que as prescripções em matérias commerciaes
n ã o p o d e m ser reguladas pela legislação civil 231
N o t a ao a r t . 1 2 d o C o d . d o C o m m e r c i o p e d i n d o e l i m i n a ç ã o das palavras—
as c o n t a s e f a c t u r a s 232
A v i s o d e 2 ô d e S e t e m b r o d e 1 8 5 0 aos t a h e l i i ã e s d e h y p o t h e c a s q u e e l l e s
d e c l a r e m a h o r a e m que t i v e r l u g a r o registro de q u a l q u e r h y p o t h e c a . 232
T a b e l i ã d o s e m o l u m e n t o s q u e se d e v e m c o b r a r n o s t r i b u n a e s d o c o m m e r c i o
do Império < 232
Portaria de 26 de Fevereiro de 1 8 5 1 r e l a t i v a aos trapicheiros e admi-
nistradores de a r m a z é n s de deposito 232
P o r t a r i a de 9 de M a i o de 1 8 5 1 , declarando ao t r i b u n a l d o c o m m e r c i o d a
B a h i a q u a e s s ã o os e m o l u m e n t o s a levar pelas cartas de r e g i s t r o e m a -
tricula das embarcações brasileiras, igualmente pelos j u r a m e n t o s dos
corretores agentes de leilões e p r o p r i e t á r i o s de e m b a r c a ç õ e s brasileiras 234
Decreto n . ° 807 de 27 de J u l h o — M a n d a observar na p r a ç a de commercio
d a B a h i a , o r e g i m e n t o p a r a os c o r r e t o r e s d a d o R i o d e J a n e i r o 234
Decreto n . ° 865 de 17 de N o v e m b r o de 1 8 5 1 , r e d u z i n d o aos corretores
j da Bahia a c o m m i s s ã o pelo fretamento de navios 235
Decreto n . ° 862 de 15 de N o v e m b r o de 1 8 5 2 r e l a t i v o aos processos dos
administradores dos trapiches alfandegados 236
D e c r e t o n . ° 7 0 8 de 1 4 de O u t u b r o de 1 8 5 0 — R e g u l a a e x e c u ç ã o da l e i q u e
estabelece medidas para a repressão do trafico de A f r i c a n o s neste
Império 237
Titulo L Dos apresamentos feitos e m r a z ã o do t r a f i c o , e f o r m a de seu
processo na p r i m e i r a i n s t â n c i a 237
Titulo I I . D o processo e j u l g a m e n t o dos r é o s e m p r i m e i r a i n s t â n c i a . . . . 242
Titulo I I I . Dos signaes q u e constituem p r e s u m p ç ã o legal do destino das
embarcações ao t r a f i c o 243
A r t i g o s d o A l v a r á d e r e g i m e n t o d e 7 d e D e z e m b r o d e 1 7 9 6 a q u e se r e f e r e
o art. 4.° do regulamento sobredito 245
A r t i g o s d o r e g u l a m e n t o n . ° 7 0 7 d e 9 d e O u t u b r o d e 1 8 5 0 a q u e se r e f e r e
o art. 30 do regimento sobredito 246
L e i n . ° 5 8 1 de 4 de S e t e m b r o de 1 8 5 0 , estabelecendo m e d i d a s p a r a a r e -
p r e s s ã o d o t r a f i c o de A f r i c a n o s neste I m p é r i o 2'i7
Decreto n . ° 7 3 1 de 14 de N o v e m b r o de 1 8 5 0 , r e g u l a n d o a e x e c u ç ã o da l e i
n.° 581 acima mencionada 249
Decreto n . ° 7 1 0 de 16 de O u t u b r o de 1 8 5 0 , q u e m a n d a executar o regu-
l a m e n t o s o b r e os m a n i f e s t o s d a s e m b a r c a ç õ e s d e c a b o t a g e m 250

R i o de J a n e i r o . T y p o g r a p h i u U n i v e r s a l de L A E M M E R T , r u a dos l u v a l i d o s , G i B .
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