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Araflão |
i
E S T U D O S

SOBRE

likilii e Teia-

FEITOS

POR ORDEM DO GOVERNADOR DO ESTADO

O 1LLM. E FXM. SNK.

COKS. flâllâ

PELO MAJOR DO EXERCITO

U T H O - T Y P . E E N C A D E R N A Ç Ã O D E REIS Si C
2 3 - 2 5 - R u a da C o n c e f ç ã o - 2 3 - 2 5
EDITORES
-c-
1899
&ahia 3 2 0 de Junho de 1S§§.

<é7ifm. e &m. Sm: Softò. -Úuiz ÇPiamta, © © . Çcvernadcr c/c <$st«<te:

Honrado por V. Ex. com a nomeação para, em com-


missão com o segundo escriptumrio da Secretaria da Junta
Commrrcial, A l f r e d o Qetamàríò Soledade, proceder aos
estudos necessários e responder ao questionário junto, a
V. Ex, o f f e r e e i d o pela com missão centrai deste Estado
para commemoração do 4.° centenário do descobrimento
do Brasil; venho trazer a V. Ex. o relatório incluso, resul-
tado dos trabalhos de que f o i incumbida a commissão.
Sei que não corresponde elle á magn itude do assurnpto;
que não tem as bellezas de um estylo condigno da alevan-
tada idéia que V. Ex. patrocina; que não tem a respei-
tabilidade da competência de um nome conhecido e que
não pode, tão pouco, corresponder aos altos desejos de
V Ex. Mas, todas estas faltas sommadas, produzem
resultado menor que o esforço e boa vontade empregados
em corresponder d somma, ainda maior, de confiança
que por V. Ex. me foi dispensada.
Para melhor responder ao questionário, dividi, como
verá V. Ex., o trabalho em capítulos encerrando elles a
matéria fornecida.
Acompanha um mappa da Bahia Cabralia, a planta
da Villa de Santa Cruz, a do rebeirão Mutary e o projecto
da nova cruz.
Ficam em meu poder, até que V. Ex. determine a
quem devo entregar, as amostras constantes da relação
annexa.
Ainda uma vez, agradecendo a V. Ex. a confiança
que me dispensou, reiteiro os meus protestos de alfa con-
sideração e respeito.

Saúde e Fraternidade.

Safcador ?Jire$ de ôaroüíko e offiraqão.


I

Q U E S T I O N Á R I O

A Commissão precisa:

Desenho de toda a costa de Santa Cruz, para o norto o sul.

2.°

Sendo possível, deve ser sondada a bahia para dentro do


recife de P o r t o S e g u r o , para o norte, i n c l u i n d o a C o r o a V e r -
m e l h a , assim c o m o o b r a ç o de mar ou canal q u e fica entre
a coroa referida e a terra íirme.

3.°

Aquarella de toda a zona que nos interessa, de modo a


obter a tonalidade, em cores dos verdes, das areias, argillas, e t c ,
o q u e é n e c e s s á r i o p a r a q u e o t r a b a l h o q u e se vae f a z e r n a
E u r o p a n ã o r e p r e s e n t e nuances que n à o sejam nactonaes.

4.°

Um mappa comprehendendo toda a bahia Cabralia.

5.°

Photographias que devem ser tiradas do mar, ou, em falta


d e a l g u m p o n t o q u e se p r e s t e , de m o d o a t e r m o s a r e p r o -
d u c ç ã o da C o r o a V e r m e l h a em m a r é cheia e vasia e t a m b é m
o r e l e v o d a t e r r a , a s s i m c o m o i d é i a d a a l t u r a d a s e r r a q u e se
l e v a n t a a p o u c a d i s t a n c i a d o m a r , etc.
6.°

Explorar a terra Firme, procurando verificar se existe


algum m a r c o o u pedra deixada ahi a n t i g a m e n t e e m l o g a r
p r ó x i m o ou conhecido, assim como qualquer inseripçào que
p o r v e n t u r a exista em pedra, etc.

-"

Verificar quaes as fontes ou riachos em que ha agua e


o n d e , p o r t a n t o , se a b a s t e c e u a e s q u a d r a d e C a b r a l , q u e é
dc p r e s u m i r n à o tivesse a n c o r a d o l o n g e d'estcs p o n t o s .

8.°

Verificar qual o logar da costa que se poude prestar á cele-


b r a ç ã o da missa, a l é m d o exame que f o r feito na C o r ô a Ver-
melha e e m outra que lhe fica p r ó x i m a e especialmente o
p a d r ã o de madeira que a h i d e i x a r a m os portugueses, pois é
provável que tivessem escolhido a l g u m p r o m o n t o r i o o u ponto
e l e v a d o e d e s c o b e r t o p a r a ser b e m v i s t o .

9.°

Descrever o mais minuciosamente que for possível toda


a q u e l l a p o r ç ã o d o nosso l i t t o r a l , o seu estado a c t u a l , p o v o a m e n t o ,
e t c , e explorar para o interior, p r o c u r a n d o v e s t í g i o s dos í n d i o s
que os p o r t u g u e s e s a l l i e n c o n t r a r a m .

10.°

1 ndicar, precisamente, onde deve ser assentada a crus de pedra


q u e p a r a l á v a m o s m a n d a r . S e s e r á c o n v e n i e n t e c o l l o c a l - a na C o r ô a
m

V e r m e l h a , se p r ó x i m o á e n t r a d a d o p o r t o d e S a n t a Q r u z . D e v e m
s e r t a m b é m i n d i c a d a s as s u a s d i m e n s õ e s , a t t e n d e n d o a c n c u m -
s t a n c i a d e q u e elia í i c a r á e m p o n t o t a l q u e possa ser b e m v . s l a
do mar.
II.»

Procurar na costa interior ou praia da bahia Cabralia o


p o n t o o u p o n t o s e m q u e p o d i a m ter a t r a c a d o , e o m f a c . M a d e
os botes o u lanchas dos n a v i o s d a e s q u a d r i l h a , pois e n a t u r a l
q u e p r o c u r a s s e m a n g r a s , s u r g i d o u r o s o u c a l h e t a s , si t o d a a c o s t a
n ã o é accessivel.
12°

Fazer uma descripçâo do local e indicar quaes os ycgetaos


f r e q ü e n t e s . V a q u e l l a z o n a , assim c o m o os « « - m ã e s ( f l o . a e
f a u n a ) t r a z e n d o a m o s t r a s das are.as, arg.llas, p . d r a s <enchas
v e g e ú e s , e t c , as q u a e s s e r ã o c o n s e r v a d a s n o I n s t i t u t o , d e p o . *
de terem f i g u r a d o nas festas d o centenário.

13.°

Indicar o que for possível obter de mais circumstanciado


s o b r e o c l i m a e p r o d u c ç ã o d a B a h i a C a b r a l i a , se as s u a , e s t a ç õ e s
s ã o r e g u l a r e s , q u a e s as t e m p e r a t u r a s d o d . a e n o i t e , e t c .

14.°

Indicar o que se pôde esperar daquella zona para o futuro,


r e l a t i v a m e n t e ao c o m m e r c i o e e i v ü i s a ç ã o , a t t e n d e n d o aos s e u s
recursos naturaes, as c u l t u r a s q u e se p o s s a m adaptar ao seu
território, vantagens da p o s i ç ã o , p o r t o , etc.
2
TV

15."

Procurar informações seguras e estudar, não só tudo o que


p o s s a i n t e r e s s a r s o b r e as c o r r e n t e s o c e â n i c a s n a c o s t a , e s p e -
c i a l m e n t e nas p r o x i m i d a d e s d a b a h i a C a b r a l i a , c o m o sobre quaes
as v i r a ç õ e s r e i n a n t e s e m fins d e A b r i l e p r i n c i p i o d e M a i o e
q u a e s os l o g a r e s e m q u e d ã o m e l h o r d e s e m b a r q u e o u a t r a c a ç ã o
á e m b a r c a ç õ e s pequenas dentro da bahia.

16°

Trazer em phetographias e aquarella a idéa mais completa


d o M o n t e P a s c o a l , s e n d o as c h a p a s t i r a d a s e m h o i a s d i f f e r e n t e s
d e v e n d o as a q u a r e l l a s i n d i c a r o s d i v e r s o s a s p e c t o s d o m o n t e
e m t e m p o c l a r o e e n c o b e r t o ; q u a n d o e l l e se d e s c o r t i n a t o d o
d o m a r o u q u a n d o se a c h a p a r c i a l m e n t e e n v o l t o e m c i n z e i r o s
o u nevoas.

. Pela Onminis^n

(Assignado) ê$}a% c)o ^oAmaXafç

W H n n B B n n f l B n B
P R E F A C I O

\ a r m a d a p o r t u g u l z a , q u e , a 9 de M a r ç o de 1 5 0 0 , s i n g r a
d o T e j o a m e n o p a r a as á g u a s i n f i n i t a s d o O c e a n o , a n i m a d a
o e l a p r o t e c c à o de D e u s na d e r r o t a d o O r i e n t e , o p m s o de seus
c u i d a d o s , o n d e i a a m a n d o d e D . M a n o e l , o r e i , s o b as o r d e n s
de Pedro Alvares C a b r a l , p r i m e i r o da atrevida e x p e d i ç ã o .
a v i s t a e m 21 de A b r i l , d o m e s m o a n n o , p o r m u i t o se a n a s i a r
das costas africanas, s e g u i n d o , e m parte, os c o n s e l h o s do
O a m a , e, n o q u e n ã o f o r a d e s t e s , a r r a s t a d a , c a p l . v a m e n t e p e l a s
correntes fortes do elemento m o v e d i ç o e poderoso, o verde mar
q u e e « t ú a c b i a m e . signaes de t e r r a ; e os navegadores, p r o -
c u r a n d o - a sob a s e d u c ç ã o de taes v e s t í g i o s , recebam e m p r ê m i o
d a e s p e r a n ç a , a r e a l i d a d e , f a u s t a e a s s o m b r o s a , de u m a n o n -
rosissima descoberta. ,
« H e r v a s » n u n c i a t i v a s d o « a d i a m e n t o », m o s t r a m s o o i e s i ,
s

n o seguinte d i a , a a f i a r e m d o c e m e n t e , pelo a z u l sereno dos


e s p a ç o s , « • a v e s . » d o l o g a r , e. d e p o i s d e l l a s , « o o r n o d e u m
g r a n d e m o n t e , a l t o e r e d o n d o *, c u j a s o m b r a , c o m a de m a i s
b a i x a s s e r r a s , se e x t e n d e ao a r v o r e d o d e c h a n p l a n í c i e , q u e ,
r u t i l a s , i l l u m i n a m as d e r r a d e i r a s c l a r i d a d e s d o s o l f e c u n d o .
T e r r a n o v a ! V e r a - C r u z n'essa h o r a d e f o r t u n a , p o r t r e z e r t o s
e vinte e dois c o m p r i d o s annos a c o l ô n i a do Keino, no c o m e ç o
d-este - e c u l o a N a ç ã o i n d e p e n d e n t e , h o j e a R e p u b l i c a d o s
E s t a d o s - U n i d o s do B r a z i l , e , n a perpetuidade do t e m p o , a glor.a
de C a b r a l . . , , ,„„ .
O governo de D . M a n o e l , o « A f o r t u n a d o » , e sabedor, a
breve trecho, da espantosa n o v i d a d e , a c o n q u i s t a que para os
d o m í n i o s da Coroa Portugueza fizera a frota aventureira, plan-
t a n d o a c r u z de sua fé em regiões desconhecidas. C o m m u n . -
cados, q u e lhe c h e g a m , m u i t o s e e l o q ü e n t e s , n o m e i a m o leito

f a Z l f n T Z , ' V' ,° ' P ó s o u t r o s , os successos


a c o n l a n d o u n s d e

da 2 d e s c o b e r t a , e, m a i s q u e e s t e s , e n c a n t o s e o p u l e n c i a s

terra » ' °' ^ *


S a
' ' ^ loȣ
tOd0S pareceU e era

visão ,;ii .° ^r ' "'- "° ' <) > ^ da



5
16 Re n dÍZ6m ticias ue aos rllm

s e m M f Z Z L T ™ " « P ' s caravellas, encontrando,


a S S r e d a

s e g u i d a m e n t e , p r a i a s e g e n t e s , e, m a i s a l e m . s o b e r b o a n c o r a d o i r o
que se chamou, então, . Porto-Seguro», onde esquifes e ba eis

fffiKLX** ° W S m í6k
desatais fica" do
simn oíc Aiv,^fr , , "°
P reZ a de,e
fo"«osis-
Sa de uma enseada

s i m a , que A l v a r e s C a b r a l p e r c o r r e , v e n d o a t e r r a q u e se alar<ri
tão *Z Jr*r> °
& 88 flS maPSaS
P ° das fiore s, virgenT
flra 0 sei q
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prhnea m Tn.T n "'^ Detalham


> » ' cerimonfa da
ai da a

Sr" - - - ~ s rs^ss
a a

Numerosos certamente, foram documentos taes Mas se

^TÊS^TÍ? ° ^de^pitSo recebera em ben '


d

fados beneficentes poupam, comtudo, á inclemencia das


d e v a s t a ç õ e s a carta de Pero V a z de C a m i n h a , u m dos e s c r i v ã e s
d a f r o t a g l o r i o s a , escripta á e l - r e i , d a « t e r r a n o v a * , para
i n s t r u i l - o sobre a a v e n t u r a d o « a c h a m e n t o » de V e r a - C r u z .
P r e c i o s a r e l í q u i a , o n d e se g u a r d a o s e g r e d o d e n o s s a o r i g e m ,
e é n a T o r r e d o T o m b o , o s e u s a c r a r i o , a t t e s t a d o e f a m a as
t r a d i ç õ e s da n a ç ã o descobridora, l u z de seusdizeres a verdade
d o p a s s a d o , r e i v i n d i c a d a p o r e l l a c o n t r a as l e n d a s d a p h a n t a s i a ,
a i m p e d i r q u e a s a f f i r m a ç õ e s d a H i s t o r i a se t i v e s s e m d e f u n d a r
no c r i t é r i o das f á b u l a s e no s e n t i r errado de c h r o n i c a s i n f i é i s .
S o b e j a m , p o r isso, ao bello d o c u m e n t o i m m e n s o s gabos,
lustres que v ã o caber á m e m ó r i a d o escriptor, imperccivel c o m
a de Cabral na j u s t i ç a d o tempo, onde, reunidamente, « m a e
o u t r a c o n s e g u i r a m os direitos merecidos e sagrados da mais
h o n r o s a i m m o r t a l i d a d e . A y r e s de C a s a l o p u b l i c a , e m 1 8 1 7 ,
incorporando-o á « Geographia do Brazil». O cita M u n o z , fazendo
a h i s t o r i a c r i t i c a d a A m e r i c a . P o r t o - S e g u r o o e n g r a n d e c e neste
digno louvor: « É o documento mais antigo da historia colonial,
que existe em nossa l i n g o a materna, escripto n o p r ó p r i o paiz;
a c h r o n i c a m a i s m i n u c i o s a q u e p o s s u í m o s d o seo d e s c o b r i m e n t o » .
O Dr J o a q u i m M a n o e l de Macedo o d e n o m i n a « auto solemne
do descobrimento, a primeira palavra da Historia do Brazil ».
E n \ i m a u n a n i m i d a d e d e q u a s i v e n e r a ç ã o , a j u s t a d a a te i n l a l -
Éivel de s e u s c r é d i t o s , t o d o s o s p a r e c e r e s o a c a t a m e s u b l i m a m
n a c o n d i ç ã o o r a c u l a r de u m t e s t e m u n h o e x a c t o , d i z e n d o a o
f u t u r o a nossa p r o c e d ê n c i a e i l l u m i n a n d o para a certeza h i s t ó r i c a
o m y s t e r i o , q u e e l l a seria, s e m o c l a r ã o d e seos a v i s o s .
A fama grangeada á carta de C a m i n h a reclamava, c o m t u d o ,
os b e n e f í c i o s de u m c o n f r o n t o , o n d e o t e m p o d e s t r u i d o r nao
tivesse d e s t i n g i d o , o u a p a g a d o , os v e s t í g i o s da tradição.
rv

Se a r e a l i d a d e das paragens d e f i n i d a s conviesse, n o e x a m e


aos d e s e n h o s d o c h r o n i s t a , era saber que, sobre a a u t h e n t i c i d a d è
ao escripto, restavam a garantil-o asevidenciasdo facto. E onde
a n a r r a ç ã o houvesse s u g g e r i d o d e s a c c ò r d o s , por entenderem-na
d i v e r s a m e n t e os seos c o m m e n t a d o r e s , d a r i a o e s t u d o d e c i s i v a
s o l u ç ã o a veraz intelligencia dos trechos d i s p u t a d o s . E m q u a l -
q u e r dus casos caberia á h i s t o r i a os f r u e t o s da a p u r a ç ã o , q u e
era desmanchar d u v i d a s , acertando c o m o d e p o i m e n t o ' i l l u s t r e
os modelos da p i n t u r a .

Este serviço, tão opportuno como necessário, prestou-o ao


nome de C a m i n h a , á verdade d a nossa o r i g e m c á g l o r i a dos
navegadores portuguezes, que, anles de o u t r o s , pisaram o s ó l o
v i r g e m de V e r a - C r u z , o M a j o r S a l v a d o r Pires de C a r v a l h o e
.Aragao.

Incumbida á sua competência de habilissimo profissional


e a sua actividado i n c a n s á v e l e desinteressada de laureado
patriota, j a experimentada em mais duras provas, onde colheo
honrosos g a l a r d õ e s , a analyse do scenario magestoso do drama

verifiS^f ° !'' '


d Bm
' P«™ digníssima,
he f0i f0rluna na em

m ! q u e a g o a s e terras d a l e g e n d á r i a b a h i a r e s p o n d i a m aos
marcos da Carta alviçare.ra, illustrando-a como emblemas do
suecesso, q u e o tempo por q u a t r o c e n t o s a n n o s conservara.

dM*KK* V* considera
' P^ysagens que detalha, profundi-
HOI.Í ' * S O
S '
n d a
™ q u e se e n t r a n h a ;
n 0 S q u e n a v e a m a t t a s e

Càhm ^ f f L 'o ? , l ; « h é o , onde d e s c a n s á r a


U f o r m o s a a l i 0

nur s L i í : H e n r i q u e a primeira missa, e t r e m u l a r a á s


•m l , 1 , f a S
christandade; acolá o ribeirão, que,
b a n d e i r a d a

c m l a i g o trecho, . anda sempre ao c a r ã o da p r a i a e fora a


V

^ t t & : £ £ ü & s & « a s

solemne do descobrimento»!
P U r, f i n e f o i a i n v e s t i g a ç ã o d o p a t r i o t a ! e i s o q u e é este

e devidas honradas.
_ • j p t ; t n c Unhas, e s f o r ç o de q u e m , se

diflicil entender, não poude resisUr aos d.rettos da est.ma, que


VI

as s o l i c i t a r a s e m m e d o a o s r i s c o s d a i n c o m p e t ê n c i a , s e g u r a
d e q u e a s u p p r i r i a m o s r e f l e x o s d a c o n q u i s t a , q u e este l i v r o é
e de si s o m e n t e valiosas pela sinceridade de s u a i n s p i r a ç ã o '
recommendando e applaudindo a b ô a lavra, e m que a m e m ó r i a
d e C a m i n h a se e x a l t a , a f a m a d e C a b r a l se e n g r a n d e c e , e i r m a -
n a d a s , r e b r i l h a m j u n t a s as g l o r i a s de P o r t u g a l e d o B r a s i l

Bahia—1900.
C A P Í T U L O S

I — A bahia Cabralia.
I I — A s p e c t o geral da costa.
I I I — A Corôa Vermelha.
IV—Rios e ribeiros.
V—Santa Cruz.
V I — O fundo da bahia.
VII—Sondagem.
VIII—Marcos. r

I X — O n d e se a b a s t e c e u d * a g u a a e s q u a d r a d e C a o i a i .
X —Onde foi collocada a primeira cruz.
j q — P o n t o s onde podem atracar e m b a r c a ç õ e s pequenas.
XII—Vestigiòs dos indios encontrados por Cabral.
X I I I — Flora e Fauna.
X I V — O n d e d e v e ser l e v a n t a d a a nova cruz.
X V — D i m e n s õ e s da nova cruz.
X V I — T e r r e n o s e culturas.
X V I I — O monte Paschoal.
XVIII—Correntes oceânicas.
XIX Ò q u e se p ô d e e s p e r a r d ' e s t a z o n a p a r a o futuro.
X X — N o t i c i a sobre Porto-Seguro.
APPENSOS—Mappas e quadro dos ventos.

NOTA

A «•> ,1* \Unl de 150D, daoia do descobrimento do Brazil, vigorava 9


t»lfr&fe t t t l » por J u ü ó Oe*ar é .doptado pelo c o n c h o de

«*> 'ffUHpU^S&tt ox^o e,a, apuada,™.*,

£5XS£ S rà^oVd^ttimlnuíndo M*. «o dito »«no o.

eeriodo^OOann^
bissi-xvos osan
nov
" ° 4.© em vivtude d o n a eorroeíS» denominada - G r e g o r i o n a - quo o dia 22
r 4

do , S n
A ~ . " r d ; ^ r ; - ü u T w i o u s i d e r i d o S d . Maio.
a
I

W L s i - A bahia é formada pela curva enorme da costa,


desde a ponta de Santo A n t ô n i o , ao norte, a t é a
« « W * Corôa V e r m e l h a , ao sul e pelos recifes Sequa-
rafybXltassepanema, Alagadas, Baixinhada C o r ô a Vermelha
e pela rocha da mesma corôa. T e m a bahia . 2.964 metros
de c o m p r i m e n t o , sobre 5-556 de largura, sendo protegida
pela l i n h a de recifes q u e m a r g ê a a costa.
A s coordenadas da ponta norte que forma uma das
entradas sao: . 6 " - 1 5 ' - 3 5" ^ latitude e 4 ° 5 de
l o n g i t u d e , r e f e r i d a ao m e r i d i a n o d o R i o de Jane.ro.
S ã o c i n c o os recifes q u e f e c h a m a leste a bahia, todos
differentes e situados deste á p o n t a n o r t e ate a C o r o a \ er-
m e l h a ; f o r m a n d o c i n c o passagens, das quaes q u a t r o sao t ã o
p r o f u n d a s q u e d ã o ingresso á navios das maiores dimensões.
A quinta, que fica mais ao norte, entre a ponta de
Santo Antônio c o recite Sequaratyba, s ó é praticavel por
e m b a r c a ç õ e s d e p e q u e n a c a b o t a g e m que n a v e g a m ao l o n g o
da costa, p o r dentro dos recifes dos Arar.pes.
Depois do recife Sequaratyba, o que fica mais ao norte

6 o Itassepanema, a r u m o S E da ^ ^ ^ n £
T e m clle 3 . 7 0 0 m e t r o s d e c o m p r i m e n t o N N E . S S W , ficando
8

a descoberto em quasi toda a sua e x t e n s ã o ; tendo n o centro


uma corôa chamada Corôa Alta. Este recife forma com
o í m m e d i a t o , A l a g a d a s , u m a p a s s a g e m de 1.389 m e t r o s c o m
12 m e t r o s d e p r o f u n d i d a d e . A esta passagem chamam
Boqueirão Grande.

A rumo SSW do Itassepanema se acham dois recifes,


tendo um 415, metros e o outro 3Q3 de comprimento,
ficando na baixa m a r c o m 2 metros d'agua, deixando entre
si uma passagem a que denominam Boqueirão Pequeno e
a ambos os r e c i f e s - - A l a g a d a s .

A sondagem desta passagem dá de 15 a 12 metros.

A rumo S W das A l a g a d a s existe uma rocha coberta,


onde o mar raramente quebra chamada Baixinha da Corôa
Vermelha c forma o limite sul da grande passagem. Esta
rocha fica a rumo de 43* S E da Egrcja de Santa Cruz.
l e m ella 4 8 ',50 d e e x t e n s ã o , a c e u s a n d o a sonda, s o b r e ella,
na baixa-mar, 4 metros.

Pode, entretanto, ancorar perto qualquer navio pois,


em torno, a sonda diz que tem de r 1 a 14 m e t r o s d e p r o -
tundiçjade.

A 1.200 metros da Baixinha e a rumo SSW delia


esta o Fecife d a C o r ô a V e r m e l h a que, i n d o juntar-se a p o n t a
da mesma corôa f o r m a a extremidade sul da bahia. Sobre
este reefe, que fica a descoberto, na baixa-mar, está a
Corôa Vermelha c o m 55 metros de comprimento por 10
de largura sempre visível na prêa-mar.

O recife da Corôa Vermelha que fica a rumo N N E ,


i o r m a c o m a costa, a q u e se liga, e q u e c o r r e a r u m o d e N W
um porto perfeitamente a b r i g a d o dos ventos d o sul, aceu-
sando a sonda de 10 a 5 metros de p r o f u n d i d a d e .

% canal que forma a Baixinha c o m o recife sobre o


q u a l se a c h a a C o r ô a V e r m e l h a , d i z a s o n d a t e r 11 metros,
s e n d o esta a q u a r t a p a s s a g e m q u e d á i n g r e s s o á bahia.

Ao sul o recife caminha sempre acompanhando a


c o s t a ate unir-se aos d e P o r t o - S e g u r o , t e n d o antes f o r m a d o
A \A M u t á . d e b a r r a m u i t o e s t r e i t a , f o r m a d a
a pequenaenseadado M u t a . d e bar, V e m e l aoh a e

ao norte pela ponta sul d o roa d Q S

sul pela ponta ltã, a que

Francezes. r ô Vermelha até Porto-

canôas, isso mesmo na prêa-mar.


I I

tójKh íinl fla costa

a costa u m aspecto alegre ^ n c a n t a d o n & c o l l i n a

humano. . remoto, esteve bom


A matta, c m tempo nao mu o temoto

e 20 metros da praia.
o r a t g g f f e a
P ° u c a
Estância acompanha a costa,

o » I Z í n ' ^ ° ' ^ h a que t 0 m a n d m a i s e s t r e i t a a

e x i s t e e n t r e ella e o m a r , a i n d a se a c h a c o b e r t a d e m a i o ,
ao mais o p r i m i t i v o , p o r é m de c a p o e i r ã o bastante grosso

d
° °^° P«'a tira/em S
f e

m a d e i r a s E s t a c o l h n a q u e a o n o r t e é b a i x a , v e m se l e v a n -
tando a t é q u a s i a m a r g e m e s q u e r d a d o rio J o ã o d e T i b a

ST romba °" ^ °T' P° formar o M


Se d6 ÍS de

DarJform ; P 3 a C O m a n h a n d o
« e m p r e . O r a alteiando-se
p a i a f o r m a r as B a r r e i r a s , ora se abaixando para formar
os v a les d o A c u b a , d o A r a m u n g u ê , d o M u t u m , etc

Na margem direita quasi a p r u m o com a altitude de

descore ^ ^Cru" de

S S M Í Z , AT ^ C
° S t a
- m
° é u m a
<*>luna
n T i s t e n , T P a Ç
° & C S p a Ç 0 V a e m u d a n d o d c
direcçao
e M u S P H r P a S S a g C m a O S r i b e i
™ d a
Fonte, Váya
ia d e S a n t a Cruz
'3

N o alto da collina caminhando para oeste estàc os


capoêirôes que engrossam a medida que nos internamos,
para repentinamente acharmo-nos em grandes campos,
verdadeiras pastagens naturaes. Estes campos s ã o divididos
p o r fachas, mais o u m e n o s largas d e mafeto e se estendem
a mais de seis l é g u a s . D e p o i s a m a t t a , virgem n à o , pelos
estragos dos cortes dc madeiras.
A matta
P3
1>
m
mm

O
u
C
U
D a C o r ô a V e r m e l h a descortina-se t o d a a costa, desde a
ponta dc Santo Antônio, ao norte a t é a p o n t a sul, onde se
acha collocada a cruz dos capuchinhos. D'ahi domina-se
t o d a a enseada d o M u t á ao sul e barra d o M u t a r y ao norte.
TííJ
m
1
I V

Rios e ribeiros

J o ã o de T i b a

. « 3 H [ S S I M d e n o m i n a d o p o r se h a v e r e s t a b e l e c i d o , no anuo
jttWík de 1530, e m sua m a r g e m o colono pprtuguez Joílo
de Tiba. Desconhece-se o nome indígena deste rio que,
nascendo na serra dos A y m o r é s e no valle d o Jequitinhonha,
é navegável, por canôas, e m quasi t o d o o seu curso, vindo
lançar-se na bahia a 3.700" metros d a villa de Santa-Cruz.

Vindo d e oeste, d e p o i s d e b a n h a r a villa situada, hoje,


em sua margem direita, volta-se, r a p i d a m e n t e , á tomar o
r u m o d e N N E , c o r r e n d o paral leiam ente a o . m a r ao l o n g o d o
r o c h e d o q u e l h e s e r v e d e caes, se l a n ç a n o m a r c o m u m a f o z
de 280 metros de largura.
21

i
Na e r n b o c a d u r a acha á sonda 5 ,20, na prea-mar, e pelo
m

canal a t é a villa varia a p r o f u n d i d a d e de 3 a 2 metros.

Os rochedos, que f o r m a m v e r d a d e i r o caes, á margem


direita d o rio, abrem-se a 1.850 metros d a villa, dando por
ahi passagem a embarcações pequenas. Chamam a esta
passagem Boqueirão.

A s margens d o rio s à o baixas e cobertas de mangues a t é


a villa, i n d o d'ahi e m d i a n t e o t e r r e n o sc elevando e m a m b a s
as margens.

D a s collinas que o margeam, d a villa para cima, descem


ribeiros q u e v ê m e n g r o s s a r as s u a s águas.

Existem algumas cachoeiras m u i t o acima da villa, mas


fáceis do transpor em canôas..

O s principaes ribeiros que nelle d e s a g u a m s à o : o Acuba,


verdadeiro canal que communica a rumo N S o rio Santo
A n t ô n i o c o m elle, e m u m a e x t e n s ã o d e 18 . 0 0 0 m e t r o s , t e n d o
sua foz a u m quarto de l é g u a da villa; o Caramogy que,
v i n d o de sudoeste, d e s á g u a fronteiro ao A c u b a ; o Aramun-
guc que, vindo do norte, d e s á g u a a uma légua do porto;
o Muturn, também v i n d o d o n o r t e , sc l a n ç a n o J o à o d e T i b a
a duas léguas da villa; o Tanque q u e . v i n d o d o s u l , se lança
no rio depois de formar a grande lagôa; o Ticupáhy que,
vindo de sudooste, tem sua foz a quatro léguas dc Santa
Cruz;o Bomsitccesso que, vindo d o norte, d e s á g u a u m a l é g u a
acima do Ticupáhy. Acima do Bomsuccesso, uma légua e
meia, dá-se a confluência dos dois braços d o rio, vindo o
ramo principal a r u m o de N \ V e o outro do sul. O braço
chamado do Norte vem do vallc d o Jequilinhonha, onde
tem seus p r i n c i p a e s affluentes, sendo o mais n a v e g a d o .

O braço chamado do Sul, v e m da Serra dos Aymorés


onde tem sua origem. N a cabeceira do braço do Norte,
a distancia ao Jequitinhonha é menor de 3 léguas. A o ponto
da confluência dos dous braços, chamam Amba/as águas.

O vallc d o rio Joào de Tiba é t à o fértil c o m o os dos


rios Pardo e Jequitinhonha.
23

A matta m a r g ê a o rio e m t o d o o seu curso, c o m inter-'


r u p ç õ e s m u i t o pequenas das p l a n t a ç õ e s d e cereaes de alguns
lavradores.

A floresta, grandemente d a m n i f i c a d a pelos tiradores


de m a d e i r a e piassava, e s t á a menos de m i l metros do rio.
R i b e i r o Y á y a

Correndo a rumo dc N E, desemboca no rio Joào de


Tiba e no mar, o ribeiro Yáya. Nasce da confluência dos
dois riachos Yáya da Praia e Yáya Grande, que se en-
contram a p e q u e n a distancia ao sul da villa.

Yáya da Praia tem nascimento em uma grande lagoa c


corre do sul para o norte c o Ydyà Grande nasce na colr
Una e v e m de sudoeste para o norte. Estes dois riachos, um
nascendo na lagôa, completamente coberta de juncos, tem
pequeno declive e m a r g e n s arenosas e descobertas; mantém
temperatura que varia de trinta á trinta e cinco gráos
centígrados; o outro, Yáya Grande, nascendo na collina,
tem grande velocidade, percorre, até a confluência, terreno
coberto de v e g e t a ç ã o e m a n t é m temperatura que varia dc
vinte á vinte e cinco gráos, também centígrados; razão
porque o vulgo diz: que um é d'agua quente e o outro de
agua fria, attribuindo-lhes virtudes medicinaes que escapam
a m i n h a c o m p e t ê n c i a deltas tratar.

As á g u a s do Yáya, depois da confluência, são engros-


sadas pelo riacho d a Fonte, o n d e se abastece a população
da villa.

Depois de penetrar na villa bifurca-se o riacho, indo


um b r a ç o lançar-sé no J o ã o de T i b a e o outro no mar, por
entre rochedos.

Chamam a foz do Yáya, no mar, Aracacahy e assim,


t a m b é m d e n o m i n a m os recifes, neste p o n t o d a costa.

Esta passagem por entre recifes só não é vedada á


canoas, na p r ê a - m a r , isso mesmo com g r a n d e s riscos, p o i s
o mar sempre quebra com fúria.
V

t
1
27

R i b e i r ã o M u t a r y

Este ribeirão chamado pelos indígenas Itacumirim,


nasce a rumo d e s u d o e s t e e, d e p o i s d e percorrer grande
d i s t a n c i a c o m esta o r i e n t a ç ã o , volta-se p a r a leste e m p r o c u r a
do mar. A n t e s , p o r é m , de a h i chegar, b r u s c a m e n t e , volta-se
para sueste e percorre 719 metros parallelamente ao mar;
l a n ç a n d o - s e n a bahia Cabralia a oitocentos metros ao norte de
sua e x t r e m i d a d e s u l ; t e n d o antes a 2 1 0 metros recebido as
á g u a s d o riacho Jardim, que v e m d o sul.
Este ribeirão que tem e m m é d i a 4. 8o dc largura, corre
m

em leito m u i t o alto, de m o d o que as marés tem, somente,


influencia á muito pequena distancia da costa.
A sua fóz m u d a de direcção. Ora está voltada para
n o r d e s t e , se o s v e n t o s s ã o do quadrante opposto, ora para
s u d o e s t e ; se o s v e n t o s s o p r a m d e nordeste.
P e r c o r r e n d o t o d a a costa, q u e r d a bahia Cabralia desde
a ponta de Santo Antônio, a t é a C o r ô a Vermelha; quer dahi
até o rio Buranhcn, em Porto-Seguro; só encontramos,
desaguando no mar o ribeirão de que tratamos.
Ò Yáya, como dissemos, deságua por um dos seus
dois braços no mar, por entre os recifes Aracacahy, mas,
quer na baixa, quer na p r é a - m a r suas á g u a s s ã o salgadas
d e v i d o ao nivel m u i t o b a i x o d o seu leito.
Viajando da Corôa Vermelha, pela costa para o sul,
encontramos tres pequenas lagoas salgadas, cujas com-
m u n i c a ç f i e s c o m o m a r , s ó se e s t a b e l e c e m nas marés altas.
C h a m a m - s e e s t a s l a g ô a s Sabãcús. Ainda encontramos o
r i a c h o d o Mangue, baixo, lodozo, salgado e sem valor algum,
pois sua barra também fica fechada, na baixa-mar, pelos
comoros de areia; o m e s m o acontecendo aos feletes d-agua
Fonte c S Francisco.
Podemos, pois, a f f i r m a r , sem receio de contestação,
que o único riacho, ribeiro ou ribeirão de agua dôce, que
deságua no mar desde a ponta dc Santo Antônio até o
rio Buranhen, é o ribeirão Mutary.
V

Santa Cruz

fj^jjEMOKA esta villa a 16 - - 1 3 ' — 2 0 " de latitute e 4 " —


o

^MLM g ' — ^ " dc longitude do meridiano do R i o dejaneiro.


Sendo a primeira terra descoberta, só foi elevada á
cathegoria dc villa pelo Decreto dc 13 d e D e z e m b r o de
1832; dando o Presidente'da Frovincia, em 18 d e M a i o dc
1833 os limites do novo município q u e s ã o a leste: uma
légua para o sul (ponta do Mutá) e cinco para o norte
(barra do rio Mugiquissaba).
T e v e l o g a r a i n s t a l l a ç ã o d a v i l l a n o d i a 23 de Julho de

1833.
No ando de 1530, veio estabelecer-se á margem do
rio o colono João de Tiba, p r i m e i r o habitante civilisado,
depois do descobrimento. Exclusão feita dos degradados
deixados por Cabral e dos dois grumetes desertores.
No anno de 1535 veio c o m sua família, tomar posse
d a capitania, que lhe havia sido doada Pero d o C a m p o T o u -
rinho i n d o estabelecer a séde á margem do rio Buranhen,
onde Christovam Jacques j á havia fundado uma colônia.
Pero d o C a m p o T o u r i n h o f u n d o u e m 1 5 3 6 as p o v o a ç õ e s de
Vera-Cruz, onde já a 6 a n n o s se achava J o ã o de T i b a e a
de S a n t o A m a r o ao sul d o Buranhen.
Muitas vezes foi Vera Cruz arrasada pelos Aymorés,
razão pela qual n ã o desenvolveu-se como Porto-Seguro,
3o

que, sendo a séde d a Capitania, c h a m o u p a r a si a t é a de-


nominação dada por Cabral a bahia que lhe serviu dc
abrigo.

Conta a tradicção local, que o ultimo arrasamento, teve


logar e m n o i t e d e N a t a l cie a n n o n à o l e m b r a d o . Referem:
quê estando toda pequena p o p u l a ç ã o na egreja e o padre
celebrando, sentiu-se ella cercada pelos Aymorés; que o
vigário depois de lançar a benção, s e m ser a oceasião
prescripta na ecremonia, collocou a patétía sobre o calix e
p r o c u r o u s a h i r pela p o r t a q u e se a b r e p a r a leste; m a s sendo
perseguido, tentou descer pela Íngreme rampa do fundo
da egreja por onde rolou â margem do rio. Dizem,
a i n d a , q u e á este u l t i m o m a s s a c r e , s o m e n t e escaparam dois
meninos que f o r a m pela costa dar noticia e m Porto-Seguro.
Asseveram também que annos depois foram achados, na
m a r g e m d o rio, a patena, o p é d o calix e a ossada d o padre,
cujo nome n à o conservaram.
Divide-se a villa e m parte alta e parte b a i x a ou á margem
do rio.

Aquella foi a primeira edi ficada e as ruinas existentes


attestam certo desenvolvimento que teve. A s construceões
eram boas e em sua totalidade de alvenaria de pedra. As
casas eram espaçosas e dc certo gosto. Hoje, em quasi
abandono pela edificação da parte b a i x a , o n d e se a c h a o
pequeno c o m m c r c i o , c o n t a a casa d a Câmara Municipal, a
egreja bastante arruinada e quarenta e seis casas muito
estragadas.
- - !!*.;"
0.
—i
<

V
a.

c
C/3
A\
-o
33

Esta parte da villa, situada no alio da collina e a qua-


renta metros acima d o nivel d o m a r é m u i t o s a u d á v e l . Dahi
descortina-se um dos mais soberbos panoramas. Vô-se ao
norte a parte da bahia comprehendida entre a foz d o J o ã o de
Tiba e a ponta de Santo A n t ô n i o ; junto a praia o recife
Itassemerim; no m a r o Sequaratyba, o Itassepanema enci-
m a d o pela Corôa Alta; a parte baixa da villa á mareem
do rio;

4
35

a leste o caes n a t u r a l f o r m a d o pelos rec.fes q u e margeam


o r i o - os B o q u e i r õ e s Grande e Pequeno, as Alagadas; as
ilhas cobertas de m a n g u e s que esmaltam o no, e por entre
coqueiros a barra d o Y á y a dentre os rochedos Aracacahy.

—*.

ol

SP
37
t

Ao sul a curva graciosa da bahia, como que traçada


por gigantesco compasso; a barra do Mutary; a ponta sul
d a costa onde a 3 de M a r ç o de 1 8 9 8 c o l l o c a r a m os missio-
nários Capachinhos uma cruz de madeira e finalmente a
Corôa Vermelha.

s
CO

o;
<c

a
39

A parte baixa da villa ê regularmente arruada, possue


algumas casas boas, embora se note achar-se em deca-
dência.

Está edificada á margem direita do Joào de Tiba.


w '••••••*>.-•-

No seu porto, porém, podem ancorar navios que


demandem um metro e setenta centímetros. A gravura
mostra o .S'. Fe/ix ancorado no porto.
43

Toda a villa conta actualmente 268 fogos, com 832


almas, contando o município 6.200.

A renda municipal é orçada em 3:5003000. *

O registro civil annotou, em 1898, 22 casamentos, 48


nascimentos e 9 óbitos.

Tem o município duas escolas sendo uma para cada


sexo, f u n e c i o n a n d o a m b a s na villa c m p r é d i o s que carecem
das c o n d i ç õ e s p a r a este fim.

A pobreza faz c o m que n e m toda a p o p u l a ç ã o escolar


esteja m a t r i c u l a d a . A escola d o sexo masculino t e m matri-
cula de 43 alumnos e f r e q ü ê n c i a de 30. A d o sexo femi-
nino tem de matricula 39, de freqüência 35.

Concorre o município para a m a n u t e n ç ã o das escolas


com a 6 U
parte de sua renda, contribuindo o listado c o m o
restante.

1
I

V I

O f i l i o k M i a

FUNDO cio m a r , dentro da bahia, é de areia ou de


. vaza, existindo, e m alguns pontos, conchas e casca-
lhos, salvo rias proximidades da costa e p e r t o dos recifes
que margeam o rio, que é d e calcareo e nas passagens dos
Boqueirões que o fundo é formado pelos recifes das
Alagadas.
1
V I I

J j | s sondagens da bahia e do rio constam do mappa,


tendo sido effectuadas na baixa-mar e referidas sempre ao

metro.
V I I I

ÊRCORRÉRDO toda a costa, desde a ponta de Santo


Antônio, até o rio Burànhen, em Porto-Seguro, assim
c o m o o interior, n ã o encontramos senão dous marcos.

U m de madeira, fincado na p o n t a d o M u tá, pelas Inten-


dencias de Santa-CYuz e Porto-Seguro, para assignalar
os limites dos dois municípios; outro de cantaria portu-
gueza, lavrado em quina viva, t e n d o e m u m a das faces a
C r u z d e A v i z , e n a o u t r a as a r m a s de Portugal.

8
Marco. Face das armas
5*

Este marco está collocado ao lado da egreja de Porto-


Seguro; olhando a Cruz para sueste e as armas para
noroeste.
53

Referem os habitantes antigos que semelhante marco


existia n o meio d a p r a ç a de Porto-Seguro, mas que dahi f o i
t i r a d o p a r a s e r c o l l o c a d o o n d e h o j e se a c h a , a f i m d e evitar
os c h o q u e s dos c a r r o s e c a r g u e i r o s q u e p o r alli passavam.

Devido a confusão que pretendeu lançar sobre a pri-


meira pagina de nossa historia o Sr. Visconde de Porto-
Seguro, ficou nos filhos dessa localidade a c r e n ç a de que
foi cila a p r i m e i r a terra descoberta. E, como faltem a bahia
de entrada mui larga e. alta, a ancoragem tão grande, tão for-
mosa e tão segara que podem jazer dentro ne/la mais de tre-
zentos navios e nãos, a Corôa Vermelha e as demais con-
dições tào bem descriptas por Caminha; mostram elles o
marco, como tendo sido alli plantado por Pedro Alvares
Cabral para assegurar a posse d a terra descoberta, c m nome
dc El-Rei D . Manuel.

Refutando e cabalmente demonstrando os erros com-


mettidos pelo Visconde de Porto-Seguro, o Sr. General
H e n r i q u e de Beaure-paireRohan,cuja c o m p e t ê n c i a ninguém
contestará, escreveu o Primitivo e actual Porto-Seguro, me-
mória que publicou em 1 8 8 1 , o n d e se lô a c o n f i r m a ç ã o das
descripções feitas p o r Pero V a z de C a m i n h a e m sua carta
ao rei D . Manuel, escripta no ancoradouro de Vera Cruz e
dat-ada d e \? de Maio de 1500 ( 1 1 de Maio).

Depois da memória do íllustre General, veio ainda á


discussão o assumpto e sobre elle o Sr. Catramby, em
resposta ao Almirante Fonseca, magistralmente tratou da
questão, dando a ultima de mão a um assumpto que o
Sr. V i s c o n d e de Porto-Seguro i/uiz pôr em jogo para estro-
piar a historia do descobrimento (palavras textuaes do Ge-
neral P>cauro-paire).

Esquecem os que mostram o marco, como tendo sido


a l l i d e i x a d o p o r C a b r a l , d e q u e as a r m a s d e P o r t u g a l f o r a m
pregadas na primeira cruz e m i.° d e M a i o d e 1 5 0 0 ( 11 d e
Maio) e n ã o gravadas em marco de cantaria.
54

Diz Caminha: CJieuiiada a cruz com às armas è divisas


dc Mossa /lilcm que lhe primeiro puzeram, etc.

O marco em questão, segundo refere a tradicçào trans-


m i t t i d a a t é nossos dias, f o i alli c o i i o c a d o p o r P e r o d o C a m p o
Tourinho, primeiro d o n a t á r i o da Capitania de Porto Seguro.
I X

W % ° M O d i s s e m o s
' e m t o c l a a
costa, desde a p o n t a de
•**kJ Santo Antônio até a C o r ô a Vermelha, apenas dois
ribeiros desaguam no mar.
U m o Yáya, por e n t r e os rochedos do Aracacahy, onde
o mar sempre quebra com vigor, de leito muito baixo,
salgando o mar as suas águas, até mui grande distancia,
n ã o d a n d o entrada á escaleresou esquifes antigos, nem fun-
d i a d o u r o aos mesmos, c o m o veremos por simples inspecção
do mappa, gozando de tão insignificante importância que,
nem Mouchez, Argollo ou Baggi o mencionam em seus
respectivos mappas.
O outro, o Mutary (Itacumirim) ao sul do primeiro,
v i n d o de oeste, d e p o i s d e percorrer 719 metros parallcla-
m e n t e a c o s t a , sc lança na bahia em um dos melhores pon-
tos da ribeira.
D'ahi para o sul a t é o rio Buranhen, c o m o já referimos,
n e n h u m r i a c h o existe.
Diante de facto tão positivo podemos affirmar que a
esquadra de Cabral se abasteceu d'agua no r i b e i r ã o Mu-
tary, affinnativa que n à o pode soffrer contestação.
Diz Caminha que no domingo, 26 de A b r i l (6 de Maio)
— Fomos iodos nos bafeis em terra armados e a bandeira com-
uosco élífís (inâios) andavam alli na pjaia a bocca do rio onde
50

no's iamos e antes que chegássemos do ensino que d antes1


tinham
pozeram todos os anos e accenaram que sahissemos e tanto
que os bafeispozeram asptôas em terra pasmam-se logo todos
atem do rio o qual não é mais ancho que um jogo de manguás,
etc. Mais adiante lemos: E depois moveu o capitão para cima
ao longo do rio que anda sempre ao carão da praia, etc.

O rio que n à o é mais ancho que u m j o g o de manguás


e que anda sempre ao c a r ã o da praia é o ribeirão Mutary.
Oüfle foi collocafla a primeira cruz

Ào sito s i m p l e s p r e s u r n p ç õ e s q u e nos l e v a m a a f f i r -
mar que a cruz plantada por Cabral, tendo n-ellá
p r e g a d a s as a r m a s e d i v i s a s d e E l - R e i D . Manuel, foi ergui-
da á m a r g e m do ribeirão Mutary. #•
A l é m d o facto material de n à o existir, desaguando na
b a h i a , t e n d o praia a bocca, outro rio, ribeirão ou riacho,
q u e corra ao farão da praia, de á g u a s n ã o salgadas e em
c u j a f o z p ô d e atracar escaler, bote, batei o u esquife; temos
a carta de Caminha, primeira pagina d a n o s s a h i s t o r i a , es-
cripta no mesmo dia do descobrimento da terra de Vera-
Gruz.
Diz Catramby que « se o u t r o qualquer documento não
existisse bastaria s o m e n t e ella p a r a nos levar c o m segurança
a o p o n t o d s s e j a d ó %.
Narrador imparcial e observador profundo, não em-
mittiu uma asserção que n ã o se e n c o n t r e , ainda hoje, a
mais p e r e m p t ó r i a confirmação.
D i z e l l e : //o/c que c sexta-feira primeiro dia de Maio í n
de maio) sahimos pela manhã em terra com a nossa ban-
deira e fomos desembarcar acima do rio contra o sul, onde
nos pareceu que seria melhor chantar a cruz para ser me-
lhor vista e alli assignou o Capitão, onde fizemos a cova
para chantar c emquanto a ficaram fazendo, elle e todos

«Í?V Í?;//;W fomos pela cruz abaixo do rio onde estava. Trouxe-
mol-a d-aüi com esses religiosos e sacerdotes diante, cantando
maneira de procissão. Eram j á alli muitos d'elks (índios)
obra de setenta ou oitenta e quando nos assim viram vir
alguns d'elles se foram mefter jlebaixo d*ella a ajudar-nos.
Passámos o rio ao longo da praia e fomol-a por onde havia de
ser que será do rio obra de - dons tiros de besta.
O r i b e i r ã o M u t a r y q u e n ã o é m a i s ancho que um jogo de
manguás, pois tem e m média 4 8o m
de largura e que corre
p a r a l l e l a m e n t e a o m a r o u que anda ao carão da praia 719
metros é o referido por Caminha.
A distancia que o separa do mar sendo, em média, de
25 metros e a ribeira c o n s t i t u í d a p o r c o m o r o s de areia, n ã o
f o i n e c e s s a r i a m e n t e a h i eme p l a n t o u C a b r a l a p r i m e i r a c r u z .
Além de que falta u m a das c o n d i ç õ e s descriptas—a distan-
cia que m e d i a d a c r u z a o rio que será obra de dois tiro* de
bésta.
59

S u b i n d o o rio d e s d e a sua fóz na distancia de 71 Q me-


tros que e l l e corre ao carão da praia muda rapidamente a
orientação junto de u m pequeno m o r r o coberto, hoje de pal-
meiras ficando perfeitamente visivel do mar do qual dista
cento e poucos metros. D a parte plana da pequena elevarão
a o n o d i s t a r a obra dc dom tiros de besta (45 a 50 metrôs)
Esta elevação está acima d o nivel d o m a r onze metros
rodeada de jussaras e mussàndós e estende-se para oeste
acompanhando o rio n a d i s t a n c i a d e m a i s d e u m kilometro
X I

Pontos onfle p i e m atracar embarcações

A foz do rio Joào de T i b a até o Aracaeahy existem


os recifes que formam, o caos natural que separa
o r i o d o m a r e onde n ã o pode atracar e m b a r c a ç ã o alguma,
do lado da bahia.
Do A r a c a e a h y para o sul a costa muito alcantüada não
permitte atracar embarcações. Depois da praia assim alta
conhecida por Praia dos Lençóes, por ter j u n t o ao mar
areia p r ó p r i a das costas encimando-as uma facha dc areia
branca que d o mar bello effeitò produz; o talude da costa
vae suavemente t o r n a r í d a - s e m a i s d o c e a t é as p r o x i m i d a d e s
do Mutary e d'ahi para o sul até a Corôa Vermelha em
qualquer ponto podem atracar lanchas, cscaleres, botes,
bateis, esquifes o u canoas.
X I I

Mips dos índios encontraflos por Cabral

ao existem vestígios materiaes dos indios encon-


trados por Cabral nem mesmo descendentes dire-
ctos que tenham d'elles conservado a pureza da raça pri-
mitiva.
O s t y p o s q u e a q u i a p r e s e n t a m o s s ã o , c o m o se v ê , indi-
víduos já degenerados, conservando, apenas, traços mui
a p a g a d o s dos seus p r i m e v o s , d e v i d o ao crusamento.
Estes typos são os melhores que encontramos n'esta
região.
Procural-os nas proximidades da- s e r r a dos Aymorés,
s e r i a f a l s e a r as investigações porquanto, os habitantes sel-
vicolas que alli existem n à o s ã o d a mesma raça dos encon-
trados por Cabral e t ã o b e m pintados por Caminha.
C o m o sabemos o sul do Estado era habitado pelos T u p i -
niquins, r a ç a forte e valente, tratavel e b ô a ; ao passo que
os senhores dos Aymorés são mãos e vingativos, bravios e
traiçoeiros.
1
Os indios encontrados p o r Cabral uzavam de tatuagem,
trabalho de g a r r i d i c e a q u e n ã o se e n t r e g a m os Aymorés.
A d e l i c a d e z a d o tembetc, ainda vem confirmar que não
d o m i n a v a m a q u e l l a s p a r a g e n s os g r o s s e i r o s butucúdos. O tra-
to a m i g á v e l e hospitaleiro, contrasta com a brutalidade dos
arrasadores de Vera-Cruz.
§4

Chamamos, ainda, e m nosso auxilio, H e r d i n a n d D i n i s que


faliando de Caminha diz: « g r a ç a s ao raro talento de obser-
v a ç ã o de que era dotado, graças, sobretudo a fácil i n g e n u i -
dade de seu estylo o Brazil teve u m historiador no próprio
dia de seu descobrimento. Caminha descreve admiravel-
m e n l e os silios q u e teve sob os olhos c os t r a ç o s salientes
da nação Tupiniquin q u e os p o r t u g u e s e s acharam de posse
d'essa bella r e g i ã o * .
E m O l i v e n ç a , tres léguas ao sul da cidade de Ilhéos
«vivem e m palhoças descuidados do futuro» indios descen-
dentes da grande nação Tupiniquin.
Hoje, vão rareando os representantes da raça pura
porquanto os elementos preto e fjranco c suas múltiplas
combinações tem concorrido para alterar a physionomia
caracteristica dos antigos aborígenes, irmoculan ^ novo
sangue as g e r a ç õ e s que lhes v ã o suecedendo. O mesmo
acontece c o m os da Villa-Verde.
Aqui em Santa-Cruz existem descendentes dos Paque-
jús, tribu oriunda dos Tupiniquins.
Francisca, idade desconhecida. Netta de u m indio com

uma mulata.
1
Júlio, 14 a n n o s . F i l h o d e u m b r a n c o c o m a f i l h a d e uma

índia com u m mulato.


Leandro, 27 annos. Filho de uma mulher, que por sua

vez era filha de uma india c o m u m preto, com um mestiço.


Leonidia, 32 annos. N e t t a de u m a índia c o m u m creolo

e filha deste p r o d u c t o c o m u m mulato.


C a r a m u t y , 26 annos. F i l h o dc u m a india c o m u m mulato.
t ) a s n a r r a ç õ e s feitas q u e r p o r estes t y p o s , q u e r pelos f i -
lhos d a r e g i ã o que estudamos; n a d a se p o d e aftirmar, pois
adulteram os factos c o m o f i m de chamar a t t c n ç ã o para os
lances q u e j u l g a m mais merecedores de admiração.
Conservam, entretanto, s e m a l t e r a r as lendas q u e ouvi-
ram de seus maiores. Estas nada referem dos p r i m e i r o s t e m -
pos d o descobrimento, nem dos seus p r i m e i r o s h a b i t a d o -
res; mas s i m , aos diversos ataques dados pelos Aymorés,
as vinganças que exerceram c as tentativas da pirataria
franceza.
x n r

Flora B Fauna

ARfiCENDO d e c o m p e t ê n c i a p a r a e s t u d o t ã o s e r i o , q u a n t o
i m p o r t a n t e e d e m o r a d o , limitei-me ao e s t u d o das ma-
deiras de c o n s t r u c ç ã o , especialmente das q u e c o n s t i t u e m o
commercio de exportação, assim como das empregadas
. na marceneria.

Para não deixar de dar uma idéa geral sobre a matta,


q u e a m u i t o p o u c o e s t á d a villa, penetrei p o r cila, a t é g r a n d e
distancia, a f i m de m e l h o r sentir sua magestade e avaliar sua
riqueza.
•;Í.-

OJ
"O

ri

ü
•f•
m m

r:,i •

a.

U m dos muitos arrastadores para tiragem de madeira


60

As madeiras de construcçSo a c i m a referidas, constam


do mappa appenso onde, e m u m a c o l u m n a se ê o nome
vulgar pelo qual é a madeira conhecida na localidade; na
segunda, o nome da classificação botânica; na terceira, a
família; na quarta o pezo especifico; na quinta, finalmente,
a r e s i s t ê n c i a ao e s m a g a m e n t o por centímetro quadrado.

A f a u n a cVesta r e g i ã o é e g u a l a d e t o d o o B r a z ü , sendo
a q u i mais rica por, ainda, achar-se t o d o o seu sólo inculto,

e coberto de matto,
f
V

I
X I V

Ml leve ser levantada a nova cruz

[URGEM diversas opiniões com relação ao logar onde


deve ser erigida a nova cruz, immediatamente ao
encarar o assumpto.

Podemos, entretanto, resumir as diversas opiniões nas


seguintes perguntas:

i. Deve se levantar na terra firme fronteira a Corôa


a

Vermelha e n o l u g a r onde, e m 3 d e M a r ç o de 1898 collo-


cárarri os C a p u c h i n h o s a q u e lá existe?
o
6

>
«o
O
ü
-3

c
r=
• •—•
o

•Ti '

ri

ri
o
ti m
O
73

2. a
Deve-se collocal-a no ponto mais elevado da collina
q u e m a r g c a a costa, a f i m d e ser b e m vista d o mar?

I
w.

cr

<
X

>

ci
ri

ri
C


'
79

Analysemos as condições de cada uma das posições


indicadas.
Aquélles que dizem sim, a primeira interrogativa, pro-
curam justificar sua opinião, dizendo: «que sendo alli a
ponta sul da bahia mais a v a n ç a d a para o m a r e p r ó x i m o á
C o r ô a Vermelha, onde celebrou-se a p r i m e i r a missa e m 26
d e A b r i l ( 6 d e M a i o ) d e v e ser o p o n t o preferido».
Nào f o i alli q u e C a b r a l p l a n t o u a p r i m e i r a c r u z e t o m o u
posse da terra descoberta em nome de EI-Rci D . Manuel,
nem, t ã o pouco, o l u g a r onde celebrou-se qualquer das duas
missas.
Os que são de opinião que o lugar indicado pela
segunda pergunta é o melhor, procuram o único argumento
q u e lhes p a r e c e m a i s c o n v i n c e n t e - - « o ser m e l h o r vista d o
m a r ».
A' estes l e m b r a m o s ; que o caminho seguido pelos
navios e vapores que navegam, s e m escala, pelos nossos
portos d o sul, c t ã o longe ( 6 legoas) que p e r d e m a terra de
vista ou a vcem alagada ; para estes, t a n t o f a z que esteja
collocada no alto da collina c o m o na costa, p o r elles nào
será vista. P a r a as e m b a r c a ç õ e s que não passarem ama-
radas, mas, evitando, somente as p o n t a s d o s r e c i f e s A r a r i p e s
c Ttaculumis, será a cruz sempre b e m vista, quer esteja na
costa o u n a collina. A i n d a mais, n ã o milita e m f a v o r desta
p o s i ç ã o o facto histórico da c o l l o c a ç ã o da cruz pela esquadra
descobridora.
Xão h a j u s t i f i c a t i v a p a r a as o p i n i õ e s q u e s e p r e n d e m a
t e r c e i r a ' i n t e r r o g a t i v a , n ã o resiste n e m a simples inspecção
do mappa da bahia.
Finalmente, pensam muitos que d e v e ser a nova cruz
levantada no local i n d i c a d o pela quarta pergunta.
Fsta Opinião tem a seu f a v o r todas as j u s t i f i c a t i v a s ,
vindo, ainda, e m seu apoio a o r i g e m h i s t ó r i c a da collocação
da primeira cruz.
Da leitura da carta de Caminha e d o estudo do terreno,
pode-se, m a i s o u menos, p r e e i z a r o l u g a r o n d e , e m p r i m e i r o
de Maio de 1500 (11 de Maio), foi por Pedro Alvares
8o

C a b r a l p l a n t a d a a p r i m e i r a t e n d o n e l l a as a r m a s e d i v i s a d o
Rei de Portugal, celebrando-se ahi a segunda missa e
pregação.
Ahi ficará bem vista pelos navios que n ã o passaram
amarados; ahi f o i que teve l u g a r a posse d a terra descoberta;
ahi foi que Cabral deixou o signal material de sua estada.
Pela carta de Caminha a cruz foi levantada a margem
esquerda do ribeirão Mutary. D i z elle: « H o j e que é sexta-
feira p r i m e i r o dia de Maio, sahimos peia m a n h ã c m terra
com a nossa bandeira e fomos desembarcar acima do rio
contra o sul onde nos pareceu que seria melhor chantar a
c r u z , p a r a ser melhor vista e alli assignou o Capitão onde
fizemos a cova para a chantar e enquanto a ficaram fazendo
elle e t o d o s n ó s o u t r o s f o m o s pela c r u z a b a i x o d o rio onde
estava, etc. Passamos o r i o ao longo da praia e formal-a
por onde devia de ser, que será do rio obra de dois tiros
de besta ».
C o n v e n c i d o de q u e n ã o f o i s e n ã o alli q u e teve l u g a r t ã o
celebre quanto i m p o n e n t e c e r i m o n i a ; j á pela leitura d a carta
dc Caminha e estudo escrupuloso da costa; c o m o também
porque só existindo o ribeirão Mutary, a cerimonia referida
não podia ter sido effectuada em outro ponto; fiz o levan-
tamento do ribeirão, até o lugar onde, estou convencido,
foi p l a n t a d a a p r i m e i r a e a h i c o l l o q u e i u m m a r c o d e massa-
randuba, lavrado em quina viva, tendo um metro fóra da
t e r r a e e m c a d a u m a f a c e as i n i c i a e s d o « Instituto Histórico
e Geographico da Bahia » (1 H G B) tendo próximo ao
marco fincado u m mastro com a bandeira Nacional.
D este p o n t o d a costa q u e fica b e m visível, desde que
se d o b r a a p o n t a d e S a n t o A n t ô n i o a o n o r t e ; d e s c o r t i n a - s e o
do mar em todo o trajecto e m frente a bahia, mesmo que
os n a v i o s p a s s e m a seis m i l h a s d e distancia.
X V

Dimensões i a nova cruz

OMEMOS para comparar a cruz que os capuchinhos


collocaram, na p o n t a sul d a bahia, c m 3 de Março
de 1898.
liste cruzeiro tem 64 palmos de altura; é de massaran-
duba lavrada em quina viva, tendo em cada face oito pol-
lcgadas e está sustentado por um pedestal de alvenaria de
tijolo com tres d e g r á o s .
O referido pedestal t e m i m
8 o de altura e sua base, q u e
é u m quadrado, tem de lado i 2 o , t e n d o cada
m
degráoo m
40
de largura.
Í
A cru/, dos Capuchinhos
g 3 É £

Addicionando á altura da cruz dc madeira i 8o do pe-


ni

destal, teremos para a l t u r a total i 5 88.m

D o s navios que fronteiram a ponta de Santo Antônio,


avista-se a e x t r e m i d a d e sul da Bahia, a Corôa Vermelha;
m a s n à o se d i s t i n g u e a c r u z , s e n ã o a b i n ó c u l o e c o m grande
custo, d e v i d o a suas d i m e n s õ e s .

A g r a v u r a m o s t r a a c r u z q u e p r o j e c t e i , c o m o m e f o i de-
t e r m i n a d o ; d e v e r á t e r u m a f u n d a ç ã o cie i ^ o o X ó ^ o X S ^ o o .
S o b r e e l l a se l e v a n t a r á u m p e d e s t a l de cinco metros de al-
tura para receber a cruz c o m vinte metros, t e n d o as f a c e s
q u e d e v e m o l h a r para é s t e e oeste u m m e t r o de largura e
as d u a s o u t r a s o 6c>.
m

A g r a v u r a representa a cruz projectada reduzida pela


photographia.

A nova cruz
«5

t
d
,U S i m T " C
° r Ô a
^ r m e , h a
' n ã o
- fixará de avií
terra C O m
° ' P
° r t 0 d
° S 0 8
^ P a i r e m
X V I

B CDlt

Çiep e variado é o terreno desta região.


L N as m a r g e n s d o s r i b e i r o s e d o r i o , e m z o n a bastante
larga, estão os terrenos adequados á plantação do cacáo-
m a » adiante» o s yalles de m a s s a p ê ; mais l o n g e a fértil terra
n>xa, para o p l a n t i o d o c a f é ; nos altos o terreno selico-ar-iloso
e os areias ricas d e h ú m u s p a r a o c u l t i v o d o s cereaes"' Em
o p p o s i ç ã o a tanta riqueza natural, está a falta dc povoadores
e a indolência dos moradores.

fer/sob ' ° ° '


8 mUÍt P UC0S SC dCdÍCam & Cult
"ra de 130

[ O e x e m p l o n ã o lhes serve d e estimulo.


De u m lado o Jequitinhonha, quasi todo cultivado pela
lucrativa lavoura do c a c á o ; do outro o Buranhen, lambem
em g r a n d e parte, lavrado pelos cultivadores de c a c á o café

devoluta* ^ " ° 6 Ce tr Hquissima re


«" inculta e
iã0

A maior parte dos habitantes se entregam aos lucros


immectmtos, embora pouco remuneradores, do corte de
madeiras o t i r a g e m d e piassava.

Kxistem á m a r g e m do J o ã o de Tiba algumas pequenas


p l a n t a ç õ e s de cereaes e c a f é e a i n d a menores de cacáo
O s c e r e a e s p r o d u z i d o s p e l a l a v o u r a t e r r i t o r i a l nâ< > c h e c a m
para o consumo da pequena p o p u l a ç ã o do Município, sendo
88

necessário recorrer a Porto-Seguro, afim de importar até

farinha.
Comquanto existam léguas de pastagens náturaés, a
creaçâo do gado vaccum é t ã o insignificante que n ã o fornece
nomanimaes para o a ç o u g u e , nem para o trabalho.

Quer o gado para o consumo, quer para o serviço, é


importado de Minas.
X V I I

0 Monte Pasctioal

^ ^ V , A
i m p o s s i b i l i d a d e d e i r d c p e r t o e s t u d a r este m o n t e
J
J v S í * primeira porção de terra avistada pela esquadra de
Cabral em 22 de Abril de 1509 (3 de MaicV); assim
como photographal-o do mar, devido á quadra em que
e l l e se acha, coberto sempre de neblina, procurei e m uma
manhã clara apanhal-o, embora a grande distancia, da
torre da egreja de Porto-Seguro. A d i s t a n c i a n à o clá l u g a r
O
a q u e .se p o s s a f a z e r p r e c i s a e n i t i d a i d é a ; entretanto, aqui
juntamos a descripção feita pelo almirante Mouchez, afim
d e q u e se possa m a i s c l a r a m e n t e f o r m a r j u i z o a seu respeito:
«Latitude 1 6 — 5 3 ' — 20", longitude 4 1 — 4 4 ' — 4 7 "
o o
(meri-
diano de Paris), altura 536 metros, visível a 16 léguas.
Visto dc óste c de nordeste, esta montanha apparece como
um cabeço isolado de forma arredondada, ligeiramente
c o n i c a , d o m i n a n d o as t e r r a s c i r e u m v i s i n h a s ; mas de sueste
vê-se-o acorripanhado de muitos c a b e ç o s m e n o s elevados e
de u m pico m u i t o notável tendo a f o r m a cylindrica dc uma
grossa torre sobre o c u m e de u m a montanha.

E s t e p i c o é o João Leão, que está a 12 m i l h a s a rumo


de S W q. W do monte Paschoal e parece u m pouco mais
e l e v a d o q u e elle. S à o estes os ú n i c o s c u m e s , v i s t o s d o l a r g o ,
que se encontram entre os morros de Commandatuba
(15 o
V 2 d e l a t i t u d e ) c as a l t a s t e r r a s d o E s p i r i t o - S a n t o ( 2 0 o

de latitude).

Este monte está muito felizmente situado para prevenir


ao navegador de approximar-sc dos Abrolhos».
X V I I I

CORRENTE que mais influencia exerce 6 a grande


corrente equatorial.

Esta grande correnteza marítima t e m sua origem no


golpho de Guiné, na altura do cabo de Palmas 4 ° — 2 2 ' dc
latitude norte, apresentando u m a largura de 3 0 0 milhas.

Caminhando para oeste c h e g a a c o r r e n t e e q u a t o r i a l a t é


p e q u e n a distancia d a costa d o Brazil na altura do cabo de
S. R o q u e 5 0
-20' d e l a t i t u d e sul, o n d e se divide, seguindo
a p o r ç ã o mais i m p o r t a n t e p a r a oeste e noroeste c a menor
para o sul afastando-se d o Brazil 250 a 3 0 0 milhas com
uma largura de 6 á 7 gráos.
X I X

O p ss pode esperar Ma zona pra o Moro

v ^ K m o se t e r á á e s p e r a r do futuro d'esta região, apro-


veitados os recursos n a t u r â e s d e seu uberrimo sólo.

Além das madeiras dc construcção, das empregadas


na m a r c e n e r i a c tinturaria, o terreno v a r i a d i s s i m o d'estc ter-
r i t ó r i o se p r e s t a á c u l t u r a d o c a f é , c a c á o , c a n n a e d e todos
os cereaes.

Esta região fadada pela natureza para u m grande fu-


turo, espera, u n i c a m e n t e , q u e os p o d e r e s c o m p e t e n t e s sobre
ella lance suas vistas, d a n d o - l h e os e l e m e n t o s precizos p a r a
seu desenvolvimento.

O principal factor dc seu desenvolvimento, c o m o porto


de mar de primeira ordem (Garring), do progresso d o seu
commercio, da vitalidade de sua lavoura, do aproveita-
mento de suas riquezas; é a c o n s t r u c ç ã o de u m a linha férrea
que ligue a bahia Cabralia ao Salto.

Delineando o piano geral de viação d o Brazil o notável


Engenheiro A n d r é R e b o u ç a s disse: « q u e da bahia C a b r a l i a
com os seus dous ancoradouros (Corôa Vermelha é Santa
Cruz) abrigados p o r quebra-mares naturaes, f o r m a d o s petos
recifes c a r a c t e r í s t i c o s d a costa septcntrionald o Brazil e c o m
5 metros de calado, p o d e r ã o p a r t i r tres c a m i n h o s d c ferro
cm demanda do São Francisco».
9 |

N este
J
porto entram mios da Indià e ficam seguras de

todo o tempo.
« O exame mais superficial b a s t a r á para demonstrar que
as communicaçòes do norte de Minas com o R i o de Ja-
neiro em vez de serem feitas p o r p é s s i m o s caminhos, atrayez
de tantas cordilheiras c o m muito mais vantagem sc e f í e -
ctuaria caminhando directamenle para o littoral que fica
nó mesmo paraHeld e embarcando d'ahi para a Bahia ou
Rio» diz T h e o p h i l o Ottòni.
C h a m a m o s , ainda, e m nosso auxilio, o l u m i n o s o parecer
dado á Câmara Federal por Junqueira Ayres, Alberto
Torres, etc, em o qual dizem: Se houvesse desejo sincero
de encontrar um porto para libertar o centro de Minas
da oppressão que o desalenta, o dc Santa-Cruz, a que se
l i g a m as p r i m e i r a s r e c o r d a ç õ e s cio p a i z , s e a p r e s e n t a r i a , na-
turalmente, c o m o o mais propicio. Enseada profunda, barra
accessivel á navios d e t o d o s os calados, etc.».
Além das o p i n i õ e s citadas, a r g u m e n t o s de g r a n d e v a l o r
militam em favor do faetor que apontamos como primor-
dial d o desenvolvimento, riqueza e i m p o r t â n c i a da zona em
questão.
O vallc do Jequitinhonha, hoje todo cultivado, lueta
com grandes difhculdadcs para dar sabida aos seus pro-
duetos e receber aquelles dc que carece.
O r i o n ã o t e m b a r r a capaz para a entrada de navios de
calado maior que o dos barcos de cabotagem, a l é m de que o
transporte das m e r c a d o r i a s p a r a o alto J e q u i t i n h o n h a e b e m
assim a e x p o r t a ç ã o dos produetos d e sua lavoura; é feito
por canoas, que luetam com as c a c h o e i r a s e corredeiras;
perdendo-se muitas d'ellas iressas temerosas passagens.

A estrada que dc Santa-Cruz se dirigisse ao Salto


além d e trazer os a b u n d a n t e s produetos d o vallc do Jequi-
tinhonha, seria o vehiculo dos ricos municipios mineiros,
além, ainda, dos que produzisse as f e r t i l i s s i m a s q u a r e n t a e
tres l é g u a s d e seu percurso dentro da zona dc que nos
oecupamos.
97
I
I
O reconhecimento de semelhante traçado, já se acha
feito e approvados os estudos dos quinze primeiros kilo-
metros, á p a r t i r d a m a r g e m e s q u e r d a d o rio J o ã o d e Tiba,
cm ponto fronteiro a villa de Santa-Cruz.
A c o n c e s s ã o d e s t e c a m i n h o f o i feita ao D r . Magalhães,
residente na Capital Federal.
O outro factor do desenvolvimento e riqueza da zona
em questão é a colonisação debaixo das vistas fiscalisa-
doras do Governo do Estado.
Tudo se poderá esperar da c o l o n i s a ç ã o fazendo-se a
localisaçào com regularidade, methodo e principalmente
com seriedade e interesse pelo progresso material da Bahia.

1!
I

X X

P o r i o - S e p r o

OMO sabemos a 9 de M a r ç o dc 1500 parte de Belém,


depois da ceremonia celebrada no mosteiro, a que
assistio todo a Corte de El-Rei D. Manoel, o afortunado;
debaixo de ccremoneal desusado Pedro Alvares Cabral,
Capitão-mór da frota que se destina a Callecut. Ao seu
mando vão dez caravcllas e tres navios redondos, mil c
duzentos homens, marinheiros e soldados, oito capellães,
sete frades franciscanos chefiados pelo g u a r d i ã o frei Hen-
rique, um vigário para a feitoria de Callecut, o feitor
Ayres Correia e os e s c r i v ã e s G o n s a l o G i l B a r b o z a c Pero
Vaz de Caminha.
D'cstas caravellas e navios redondos apenas, J o ã o de
Barras, testemunha presencial da partida, cita os nomes da
Annunciada, S. Pedro c El-Rci.
A 14 acha-se a e s q u a d r a entre as Canárias a 3 ou 4
léguas da Gran Canária.
A 22 t e m c i l a a v i s t a as i l h a s d o C a b o V e r d e o u antes
uma destas i l h a s S. Nicoláo.
Navega em pleno e limpo m a r desde esse d i a até que
a 21 de A b r i l t e m os p r i m e i r o s c vagos signaes de terra.
A 22 v e m as a v e s t r a z e r a c e r t e z a d a p r o x i m i d a d e de*
terra e ás 3 horas da tarde avistaram o Monte Paschoal
e depois terra plana e coberta de soberba vegetação. Está
lOO

a f r o t a a seis l é g u a s d e t e r r a e ahi a n c o r a e m 19 b r a ç a s de

fundo.
A 23 caminha direito a terra até meia lcgua de dis-
tancia d'ella e a n c o r a m e m frente ao Carahyvamemuam em
9 b r a ç a s l a n ç a m as âncoras.
A noite o vento de sueste fez g a r r a r as náos, princi-
palmente a capitanea.
A 24 levantam ferro c n a v e g a m para o norte vindo as
náos pequenas aproximadas dc terra e as g r a n d e s amara-
d a s e m p r o c u r a d e abrigada e bom porto.
Navega 10 léguas e um pouco antes do sol posto acha-
ram os navios pequtnos um recife com um porto dentro muito
bom c muito seguro, com ?nui larga entrada e metteram-se
dentro. A h i f u n d e a r a m elles e as n á o s grandes a uma Ieg7ia
do recife com 1/ braças.

A f f o n s o L o p e s s o n d a o p o r t o n'essa m e s m a t a r d e , e na
manha seguinte demandam, as náos grandes a entrada
ancoram em 5 e 6 braças a qual ancoragem dfltíro e tão gran-
de e tão for moza e tão segura que podia jazhr dentro nella
mais de j o o navios e nãos.

Eis, portanto, a esquadra de Cabral ancorada.


Nenhuma duvida f o i suscitada, desde 1500, sobre ser
a enseada da C o r ô a V e r m e l h a o logar da ancoragem. E m
1877 ou 377 annos depois s u r g i o a descoberta feita pelo
Visconde de Porto-Seguro tentando provar que foi a mar-
gem do Buranhem que teve logar tíío celebre aconteci-
mento. Immecliatamente o General Henrique de Beaure-paire
Rohan, inincia a contestação em nome da historia e da
verdade.
Tentou o Visconde provar que a carta de Caminha se
referia ao actual Porto-Seguro, e c o m o lhe faltasse o ilhéo,
( C o r ô a Vermelha), onde celebrou-se a primeira missa mos-
trou o recife que a m a r é cobre na prea-mar.

Na falta de uma bahia mostrou o lagamar formado»


entre a costa c o recife, pelo rio Buranhen. Desprezando
101

umas e à c c e i t a n d o outras das o b s e r v a ç õ e s de C a m i n h a ten-


tou provar o absurdo diante do que existe de mais posi-
tivo. Desprezou o que disse, e m 1576, Pero Magalhães de
Gandavo na Historia da Província dc Vera Cruz Nao
l i g o u i m p o r t â n c i a ao que escreveu em 1587 Gabriel Soares
d e S o u z a n o Roteiro do Brazil. Deixou á margem a Coro-
araikia Brazilica de A y r e s d o Cazal e b e m assim ao que
em 1709, escreveu Manoel Pimcntel, Cosmographo M o r do
R e i n o , e m s u a Arte dc Navegar e finalmente desprezou os
trabalhos executados em 1861 pelo Almirante Mouchez
para unicamente ver e m P o r t o - S e g u r o as c o n d i ç õ e s que a
força queria achar para ter a h i l o g a r tSo h i s t ó r i c o aconte-

cimento.
T u d o isso fez o Visconde de Porto-Seguro em 1877
quando j á havia e m 1840 publicado u m trabalho c o m o titulo:
O Descobrimento do Brasil; chronica do fim do século X V,
em o q u a l se. 16 n o c a p i t u l o u l t i m o :
« E o B r a z i l se d e s c ò b r i o . Onde são, porém os padrões
de t ã o glorio o e transcendente acontecimento, que influiu
na sorte d è tantos homens? A bahia Cabralia vae para qua-
tro séculos que espera p o r este nome, e c o m mais razão
espera u m monumento que a enobreça, c a terra circum-
visinha altamente o reclama.
O Uhéo ainda n ã o teve a fortuna de servir de base
a u m a t o r r e l u m i n o s a , q u e e m q u a n t o utilisè aos navegantes
qual outro pharol dc Alexandria, aceuse ao viajante, em
testemunho de g r a t i d ã o , q u e alli f o i p l a n t a d a a p r i m e i r a ar-
v o r e d o C h r i s t i à n i s m o , e sc c e l e b r o u p r i m e i r o a r e l i g i ã o de

nosso paiz. , . _
Pois já que faltam monumentos physicos. procuremos
nós, ajudados pelos Souza de Vasconcellos, c c o m auxiho
d o s m o d e r n o s , a p r e g o a r estes c o u t r o s factos d o território
em que os destinos da Providencia nos reservaram o

berço». , D c

Os navios que demandam o ancoradouro de Porto-Se-


guro, entram pela foz do rio Buranhem e fundeam em

frente a cidade.
102

A respeito d o rio B u r a n h e m , diz M o u c h e z : « l l c o u l e de


la c h a í n e des Aymorés et n'est n a v i g a b l e qua quelques
lieues de son embouchure.

Quand i l a r r i v e á la c ò t e i l t r o u v e t o u t le ri v a g e d e v a n t
la vallée b a r r é par une chaine de rochers qui devie son
c o u r s e t 1'oblige á r e m o n t e r a u nord, c o m m e une digue ou
u n q u a i . I I d e b o u c h e á V E . S. E . d c l a M a t r i z , p a r uni ca-
nal de 200 m è t r e s de largeur á mer haute; á une mille, ao
desstis, d e v a n t la ville, o u t r o u v e e n c o r e á m e r haute 3 50
m

á 4 o o d'eau; á
m
m e r b a s e it n e reste á lembouchurc que
i 70 á i 8o».
m m

Eis, cm resumo a dcscripção mais completa e mais


fiel d a bahia de Porto-Seguro.

Como vimos não é o ancoradouro descripto por


Caminha.

Não me demorarei sobre o assumpto mesmo porque


magistralmente j á foi debatido por Beaure-paire Rohan.

As photographias mostram a bahia de Porto-Seguro


vista do alto da Matriz.

Como já tivemos occasião de dizer; esta cidade que


c o m e ç o u pela feitoria fundada p o r C h r y s t o v a m Jacques, f o i
depois a séde da capitania de Porto-Seguro doada por
D . J o ã o 111 a P e r o d o Campo Tourinho; fundador também
de Vera-Cruz ao norte e Santo A m a r o ao sul. A cidade
divide-se em parte Alta e parte Baixa. Esta teve como
fundador Chrystovam Jacques c aquella Tourinho. A parte
baixa o u o m a r g e m do Buranhem tem bairros muito pitto-
rescos, salientando-se entre elles o de Pacatá.

Esta parte da cidade não é muito saudável devido a


visinhança do rio c a dc alguns p â n t a n o s que ainda existem.
N'èlla está collocado o commercio, assim c o m o os esta-
leiros para c o n s t r u c ç ã o de barcos p a r a p e s c a e p a r a o ser-
viço de cabotagem.

A parte alta é m u i t o s a u d á v e l e aprasivel. A h i estão a


casa d a C â m a r a M u n i c i p a l , obra antiga e b o a ; tendo n o pavi-
mento térreo a cadeia; a egreja, ta-nbem antiga, m a s bem
cuidada, possuindo imagens lindíssimas como a de Nossa
Senhora da Pena e do Coração de Jesus; boas casas; e
algumas r u í n a s que attestam o progresso dos remotos tem-
p o s . E n t r e as r u í n a s d e s t a c a m - s e as d o c o n v e n t o d o s J e s u í t a s
d e n t r o d a c i d a d e e as d o d e S. F r a n c i s c o n o a l t o d a c o l l i n a
v i s i n h a ao l a d o d o norte.

Existem diversas escolas para meninos de ambos os


sexos, bastante freqüentadas.

Seu c o m m c r c i o passou p o r u m p e r í o d o de decadência,


mas hoje está b e m acentuada a tendência á desenvolver-^
devido as p l a n t a ç õ e s de café e cacáo que já começam a
p r o d u z i r e estender-se pela m a r g e m d o B u r a n h e m .

O s cereaes sào bem cultivados c exportados para os


municípios visinhos e a t é para a capital. N a é p o c a própria,
muitas embarcações s ã o empregadas na pesca das garou-
pas, r a m o t a m b é m do c o m m c r c i o de exportação.

Dos seus estaleiros c a h e m n o Buranhem muitos barcos


alguns de rara e l e g â n c i a e de solida construcção.

Damos aqui a descripção de uma garoupeira por ser


Porto-Seguro que m a i s sc d e d i c a a pesca e também onde
s e c o n s t r ó c essas embarcações

O Capitão de M a r e G u e r r a C â m a r a a s s i m as descreve:
«A garoupeira é uma embarcação destinada a pesca da
g a r o u p a nos parceis dos A b r o l h o s , q u e é na B a h i a feita e m
g r a n d e cscalla, e c o r r e s p o n d e na costa d o Brazil á de ba-
c a l h á o nos bancos da T e r r a N o v a .

Em s u a f ô r m a assemelha-se nas o b r a s v i v a s a u m a lan-


c h a e nas o b r a s m o r t a s a um navio.

E e m b a r c a ç ã o de p ô p a fechada e grossa na p r ô a . T o d a s
tem convez e b o r d a f a l s a , e, assim sendo, a sua construc-
ç ã o e mais f o r t e d o q u e as d a s l a n c h a s . O cadaste é incli-
nado. 1 e m dous mastros, e g a r u p é s . N o mastro de prôa
armam u m grande redondo e no da p ô p a uma vela trian-
gular chamada burrique, cuja retranca é fixa e atravessa
IO4

a borda falsa. U s a m lambem de uma bujarrona á prôa.


Q u a n d o p e s c a m s o b r e os p a r c e i s n à o f u n d e a m , o f a z e m c o m
o burrique c a ç a d o para aproarem ao vento.

Estas embarcações quando usam latino quadrangular


em logar de redondo, tomam a denominação dc Pcrné.
Todos empregam âncoras e amarras de ferro».
V E N T O S G E R A E S

A orientarão dos ventos mais constantes n'esta região,


de accordo com as observações do Almirante Mouchez,
informações dos navegadores e reparo p r ó p r i o s ã o os que
se seguem;

i 1

86 N E 89 S E
Fevereiro 87 N E 86 S I
87 N E 81 S E
Abril . . . . . . . 77 S E 81 S E
Maio* 68 S E S E
W
76 S E 7i S E
Julho . . . . . 79 S E S E
65
74 S E 72 S E
Setembro 75 S E S E
79
Outubro . 87 N E 87 N E
81 N E 86 N E
7i N E 68 N E

* Observado do dia 12 em diante.

* Idem dia 1 a 20.

15
p S E P 1 PARA 0 GüMMERCIÜ DE EWOIIMÀD
M E I I M HE

Resistência aa

FAMÍLIAS Peso tspeciliK


CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA 0,01*
DENOMINARÃO V U L O A B

KiU^iuiniiu-
0.927 534
Lauraceas .
C à n e l l a parda Ncctrandca. . -. . . 1.089 792
Lauraceas .
C a n e l l a sassafraz Mesfilo daphne . . • 1.794 668
Apocyneas .
Peroba a m a r e l l a A s p i d o n psrma peroba . 968
Artocarpaceas 0.953
1'atagyba ( a m o r e ra M a d u r a sp. 0.984 084
Leguminsoas
Angelim . Andira inermis. . 0.792 | 536
Cl) rysobalaneas
Moquilea lomtmtosa . 516
Oity . . v Leguminosas 0.645 [
O l c o pardo . Mirocarpus frondoãus . 681
Cordcaceas. 0.923
Louro. C o r d i a sp 0.997 1.016
Leguminosas
Batinga . A s t r o n i u m sp. . 1.079 760
Sapotaceas.
Massaranduba Mimusops ellata . 974
Anonaceas . 1 310
Beriba. R o i i n i a sp. . 0.893 658
Myrtaceas .
Sapucaia . . Lecythis gianditlora . . 701
Terebenthaceas 0.919
Aderno . A s i r o m i u m sp.. . • 755
Apocyneas . 0.M71
P e q u i á amarello Aspidosperma sessilfliorum 741
Apocyncas . 0.836
Pequiá marfim Aspidosperma olivaceum. 545
Leguminosas 0.667
F-chyrospermam B a l t h a s a r i 467
Vinhaiico. Ccdrelaceas. 0.506
Cedrella braziiiensis - 791
Cedro. Leguminosas 0.872
J a c a r a n d ã cabiuna Dalbergia nigra . • • 1.035 1.073
Machium violaccum . Leguminosas
J a c a t a n d á violeta Leguminosas 1.185 1.37L
Páo Brazil Cccsalpina e c h i n a t a .

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