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JOHN CÁRTER BROWN

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LITT. D.

KWOVLTOhS
l
I

I
S'-!
S E R M A M
DE SOLEDADfi, LAGRIMAS DE E

MARIA santíssima
SENHORA NOSSA
T RE GA 'D O
Na Sè da Bahia Metropoli do Brafil '%
noannode 1674.
PeloM.R.P.M.Fr. EUSÉBIO DA SOLEDADE,
Religiofo de N.S.do Monte do Carmo na Província do
Braíil , Lente de Prima da Sagrada Theologia
^ na mefma Cidade.
Moftrou no fim o Santo Sudário.

A
PEDRO SANCHES FARINHA
VO CONCELHO J)E SUJ ALTEZA.E SEU
Secretario das Mercesy & Expediente , Alcaide Mor, & Capitão
Geral da Ilha Graciofa^ Commendader da Ordem de ihrtjlo.

LISBOA.
NaOfficinade MIGUEL MANESCAL.
M. DC. LXXXI.
Com todas as Ikenfa-s necefiarias.
Si. liii
X-ii.

f djf^

nnes
iOHaBE HBPa

PEDRO SANCHES FARINHA,


do Concelho de S. A. & dasMerces^Sc
feu Secretario
Expediente, A-lcaide Mor, & Capitão Geral da
Ilha Graciofa 5 Commendador da
Ordem de Chrifto.

SENHOR.
NE y.S. taõ dtfcretamente as inteire^^t^s de
minljlro as amabilidades de Senhor ^ fie mere-
cendo nos applaufos de jujiicofo as prerogativas
de benévolo , da confiança â minha obrigação pêra
mojlrarlhe a F.S.o meu agradecimento. Ojfereco

a F^.S.efie papel j&fi^tísfaço aVentejadamente ao


Juthor defie Sermão ^pots permtttmdome nelle a
Itfonja de fa^er a F.S. efte obfequio^ eu lhe grau-

(Teyo afortuna de bujcarlhe em F.S. taõ fignularpatrocimo , que he V. S.


%õgenerofo^ que nao f abe prenderje de húa offerta ^fem anttctpar o faVor
de hua protecção. Conheço fie naõ ha outro cammho pêra o meu de/empe-
nho mais que os exerctctps 5
que dou a F.S. pêra lograr em mim o feu am-
A ij p^ro

^jMum
umm^B^ :^ ' T^^ist:

I
^aro : olhe V.S,pera a minha Vontade , & achará huas refpekofas emula-

coens da fua grandeza. Jpejfoa de KS. guarde Deos mui dilatados an-

nosj como os fe^obri^os lhe defejao^ & had mifler. Lisboa ^Je Ago-
Jlo de. i.ôHi, — '
<

CappellaódeV.S.
I

DOUTOR ANTÓNIO DA SYLVA PINTO.


,

HBi
I
hijm.

'iãSr^cT^c, ^^Mf

SCISS^ SUNT AOUJB ^ ET TO^I^^NfES


infolítudine. Efaix cap. 35.

Epultadofinalmé- to he o laftimofo aííumpto, íobre


teo Rede mp tordo que h©je havemos de fâllar;mas
mundo , & reduíi- porque bavemos de faljar hoje ?
do jà o Author da Em hua trifte íolcdade , aonde c6
vida aos apertos de tanto íilencio correm deíattadas
huaícpultura ,que as lagrimas , aonde mudo o íenti-
fehavia de feguir , íenaó íepul- mento naófó íuípendeo as quei-
,

tarfe a Mãy Saotiílima de Deos xas, mas embargou osfuípiros,


nas anguftias de hua folcdad ? Ef- porque íe havia de permittir, que
tando fepultadoo Sol nomayor tiveííem lugar as vozes ? Entrou
apartamento da Lua , & interpo- Agar cm hua foledade , & diz a
fta a terra da fepuitura, entre a Efcrittura, que erraUt tn^oinu dt- Genef.
Lua,& o SoI,que tinha que ver , q «í:naõsòquer dizer que andava ^^^^^'
havia de ecjypfarfe a Lua ? Tanto perdida, íenaó também que anda-
que o Divino Sol de Juftiça che- va errada ; pois em que efteve o
gou a íeu occafo, & fe metteo no erro de Agar ? em miíturar vozes
orizonte da fepuitura, tanto que a com lagrimas Levava votem fuã^
:
'

Maria Santiííima íe lhe encobrio -&fievít, Eftava Agar em hua fo-


có a terra o feu Divino Sol,eclyp- ledade triíle, & íaudoía, por hum
íada de dor, & de trifteza, acom- 'filho, que lhe morria ao pè de hua
panhada sò de íua magoa , íc reti- arvGre,"& levantar a voz neíta la-
rou a feu recolhimento , &àlhsò >'ftima,& nefta íoledadc, quem du-
coníigo arraiados os olhos em vida, que foi hum grande erro ?
lagrinas cercidj o coração de errabattn jotítudine. Os rciãlcs , ÔC
martírios, no fijencto da noite <os pefarcs grandes quanto mais
faadofa, & folitaria começou a 4è callaó mais fe encarecem:porq
,

ponderar as rafóes de feu fenti- 'hc diicredito do fentimento che-


mento , ôc a íentir o tormento de gar a dizerfe, & he cncarecimen-
íaafojedade. :;-!i fto da dor naó poder expiicarle
;
£lta fokdadc pois, eftc torme- eípeciaimente nefta foledade sò
A iij íâbc
i 6 Sermão
fabc difcrefeamciite fallar, quem quenomeyo de todoaquelle fi-

íabe mudamente ;
porque a
íentir Icncio sò yio, que corriaô muda-
foledadie da S.enh«ra , ou por fua mente rios, & correntes de lagri-
gra ndefa oit por fua laftima , he
, mas Scifa (um aqiu ,
: tor rentes&
matéria sò pêra íentida , naó he in foftudine. Muito temosque re-
dor pêra explicada, naó havia efta pararneftas lagrimas, que correm
loledade.de fc referir com vozes y . hoje por efta foledade ; pocèm aa-
sò fe havia de explicar com lagri • tes, que reparemos nas lagrimas ,

mas j íó lagrimas poderão íer in- reparo primeiro nos golpes : Sàjf<e
terpretes de íua dor, porque sò as funt ; diz Eíaias , que à força de
lagrimas com que íe chara faõ as goJpes rebentavaó as agoas : os
eloquências com que fe explica : golpes,, que a Senhora fentio em
pais íe he noíío íingular intento íWfoledade , claro eftà , que eraõ
aíliítir á Senhora nefta occafiaô de golpes de dor j mas quem dea ef»-
íua magoa, quanto mais acertado fesgalpes^ naqucUa íoledade ? Ea
fora fentir com lagrimas fua dor , imagine, que eraõ golpcs,que da-
que inquietar com ruidos fua fo- vaa mefma imaginaçaôjporque fe
kdade ? Com tudo já que he íof- n^. foledade fe apura © entendi-
çoío failar , perdoai, ó muda fo- mento ,. que muito foíTe taó agu-
ledade perdoai , que minhas vo-
1 do pêra ferir,a0nde çftavataó dili-
zes profanem voíTo íilencio ; íerà cado pêra difcorrcr ? Tanto que a
parte de voíía dor interromper- morte roubou aChrifto dos olhos
mos voíTa quietação^ & credito de de Maria, diz S. Joaó no fc u A po-
voíla grandeza andarmos errados calypfe , que fe retirou a Senhora
pcra hua íoledade : raptus elifiitus: Apoc;.
era voíTa imiti eníidade.
Entrando pois por cfta eípaço- & mulier fugtt in joluudmem ; & t%^^
ia íoledade, que he o que vemos? accrefeenca logo , que íe deraõ à d. 14..

O que là viao Profeta Efaias, cu- Senhora huas aias de Agma DatA :

íasfaó as palavrasdo Thema, que f^nt malíeri aU dua aqutU ma<^na.


propuzrvioelleem efpiritopro- Neílas aias reparo que à moríc
:

fetico hua íoledade ; ôccomonos do Filho fe íeguiíle a foledade da


deixou em fui pcnfaó de quem era Máy,eílà bem.; masque aMãy
a foledade, que via , íicanos lugar tomaíTe afãs de Águia pcrâ hir fê-
pera podermos accommodar fuás tir amorte do Filho com que ra-
,.

palavras à foledade da Senhora. íaó? Seja embora, que em íua fo-


Ncí^a foledade vio o Profeta, que ledade fc veíliííe a Senhora de aias
nem hum íòfufpiro íe dava nem , peracarregaríe de pennas ; mas jà
humsòayfe percebia; sò ofilé- qjuetomavaas pennas por íolita"
cio envolto em lagrimas era toda ria, aííi como era Fcnix em íer {í\

arethoii;adaquelUíbledade;p(>r- porquenap veílio afãs de Fénix ?


porque
;

II

T)à Soledade.
I
7
porque mais afãs de Águia ? pôr a ferio com golpes íogo reben-,

iílb meímo porque


;
íe vio Fénix tou em agoas Per cuttem [titcem
:
, j,j^,„,

íolitaria por iífo quiz íer Águia


, egrefjdífum a^n^.AíTi eílava Maria Cap.^-a
entendida, porque coma agude- em fua foledade, como pedra fir- ^ ^^^

fa de Águia foubeíTe fentir a fole- me, & conftánte , retolhidas as ia-


dade de Feiíix. A alma do fenti- grimas dentro do leu dilatado co-
mento lie a agudefa daraíaó;por- raçaó; porque as faudades de hú
que aíli como a alma anima o cor» filho auíente , ou pêra fallar mais
po , aííi a diícriçaó aviva o íenti- ao próprio a laftima de hum filho
nventoiadortanto he mais agu- crucificado tinhaó convertido o
<ia, quanto he mais entendida ; feucoraçaõem húmmar delagri-
porque tanto mais fe experta o mis; Magna eílvelut maré cintri- Thien,
ícnfitivo, quanto mais íe apura o tto tua* CrefciaÕ as ondas huas cap. 2,
'*^*
racional: pois pêra Maria avivar íobre as outras embaraçadas em
as dores de fua foledade , que me- fi mefmas,porque a tcrmenta,que
Ihor meyo ,que apurar os difcuri- paliava aquèllè magoado coração
los de íua diícriçaó ? quiz melhor lhe faziamuito mais crefcer as on-
entender pêra melhor fentir , & das; com tudoainda naó brotavaó
pêra fentir mais o verfe folitaria as lagrimas, porque fe repremiaõ
como Fénix : Tugit infolitudwem as ondas daquelle mar , quebran-
quiz remontarfe entendida eomo dofe nas margens de fua pruden-
Aguia : Dau funt mulmi ai(Z ciua cia; mas nefta firmeza de pedra
à^mUmagní. chegou a còníideraçaó pêra mais
Defta í©rte como Águia ente- profundamente impremir os gol-
dida fe achava Maria em íuà' fole* •
pes, levantando àltarnente os dif-
Jade , cohíidcrando miudamente cútíos: per éutUnsfiUcen?. Eíks fo-
todas ascircunftancias de fua pe-i raó os golpes ,
que nefta foledade
na , recorrendo pela mçmoria to- padcceo o coração de Maria gol- ,

das as rafóes de feu tormento; & j>es de entendimento folitario ,


quem duvida, que cada diícurfo, agudo, & magoado ; pois a gol-
<jue penetrava>& feria o ponto dt pês de confideraçaõ, que havia dc^
fua doír erahúm rigoroío golpe refponder fenaó eccos de lagri-
de íua alma pois donde foraó taõ
f^ mas ? egreff<e funt aqm íe de hua> :

fienetrantesos golpes, que muito pedra inícníivel tiraò agoas os


foliem taó copiolas as lagrimas ? golpes de hua vara, que tinha que
Aquella pedfa, de que Mòyfes ti^ ver que de húa dma folitaria ha-
roTi agoa no deíerto , naó ha duvi- viaô de tirar lagrimas golpes de
da,queefí:avaem.haaíohdaó, & tatita confíderaçaó ? ií?/^ funt
com tudo tinha as agoas recolhi-í aqú£,^:& torrentes infúlttudtne.
dascmfi; mas tanto que Moyfcs Ainda dou outfò fentido' is'

A iii; mcfmas
:• -

.8 SemtíB
radmis palavras Sclfj'<& funtJ^dLÒ
: duas agoas : S^ifa; ftinf aqtu , & na
sò qiiiz dizer o Profeu , que as outra fe dividiaõ também outras
àgoas defta íoledadc fabiraó àfor« duas: Sciíf>& junt torrentes; & afli

Ç4 de golpes, íemó , qac íe parti- qué na foledade da Virgem San-


rão, &íâhiraó divididas cni.duas tifílma cílavaó as lagrimas corren •
partes; as agoas por hua partc,poc do de quatro em quatro , porque
outra parte as torrentes: aííi que híía era á Madre, duas as fonte s,&
rebentavaõ agvoas divididas em quatro os rios de lagrimas , que
duas partes Safdí fitnt aqus ,
: & mudamente corriaõ pelos dilata-
Grr eme i;ncín sò rebentavaó di- dos cfpaços daquella trifte foleda-
vididas torrentes, & agoas, íenaó de, Scijfi funt aqu£ : &. torrentes
queasmefmas agoss fe partirão infoLitudine»
timbem em duas torrentes Sc<fij6 : Pêra entendermos agora a pro-
fum aqu<£;8c as mefmas torren- fuadidadc,& grandefa dcftes qua-
tes íe dividirão em
duas agoas : tro caudaloíos rios feri neccíTario,
Scijf^funt torrentes de maneira , : que tomemos agoa de mais lon-
que naõ erahúasò agoa,^nem hua ge, & que vamos a bufcarlhe feu*
sò torrente, eraõ duas torrentes , principios, & naíeimentos. Pri.
& duas agoas, aqa^y torrentes ; & meirámente naó ha duvida , que
& adi que vinhaóafer quatro rios aííi como todos os rios t razem fua

difíerentes , que igualmente re- origem do mar, aííi também eílds


partidos corriad por aquella fole- quatro rios de lagrimas faó agoas»
dade .*
Sci^á^funt aqitA ; & torrentes que do mar íahiaõ ; porque nafci-
que naquel-
in faíitudincDc forte, aõ do còraçaõde Maria , conto la-
la íoledade havia hum mar de grimas mui aafcidas do j:oraçáó/>*
anrarguraSjdous olhos, dcagoa , & aííi como a cauía do mar,que fe
& quatro rios de lagri nis; o cor formava naquelle coração era a
raçaóde Maria era hum martem- morte do Filho , & a foledade da
pe^ioío donde fe derivavaó qua- Máy,naõhaque duvidar também,
tro caudalofos Rios; de todas eí- que efl:a morte , & eíla foledade
tas agoas Maria era a Madre, os erão a primeira origé, deftes ^qua-
•lhos eraõ as fontes, as lagri & tro rios de lagrimas ; porçni, eíta
mas eraõ as agoas : do mar do co- era a origem de todos em com
ração íobiaõ occiíltamente as la- mum, & eu quiíera faber mais eí-
grimas , &
pêra rebentar por duas pecialmente o principio , nafci-&
fontes fe dividiaõ em duas partes mento de cada jhum delles em
5íi//€ Çant icfit^ &torrenter. Nas particular. Aquelles quatro rios
fontes dos olhos íe tornavaò a di- tão celebres do Paraifo todos nai- Gea.
vidir as lagrimas , porque em ca- cem de Kum mefmo principio :

4a hua das foutes fe dividiaõ cm l>ilQ(io Voluptatisi yidíjf^ Ccxplica o B. u


Abu-
Va Soledade.
3
^
Abiileiífe)'/^ tnedte Taradifi
;
quer da Senhora , Sr a cnufa de fuás la -
dizer, que todos aquelles quatro grimasfoi aMoIedade da morte :

rios aalcciTj do centro do coração que Chrifto padecefíc a morte, Òc


do Paraifoj & com tudo , alem que a Maria lhe ficafíe a vida ?
dcfte nafcti-nento kommum , ca- que ficaíle em íoledade por morte
dahum daquelies quatro rios tem de Chriilo,c^ue ate a Maria a mor-
fea principio, & íeu nafcimento telhe faltafle naquella foledade ?
Gen. particular : Qui inde dividitm in oh que íaudoía que mor- eftà pela
loco quAtUQT (Apita de hum priacipio
: te do Filho oh que que
! lolitaria
proxi-
nafce o Ganges, de outro brota o eílá peia auíencia da morte Mo- !
me.cita
to Nilo, de outro mana o Tigris, & nabátuv , & mn poterat moii : diz
de outro começa o Euphrates : Arnoldo Carnoteníejmas como
Arnoldi
pois da mefma forte os quatro pode iito fer ? como naó podia q anie>
riosdeftiíoledade , criftalina có-* ''' " morria ?^ he " mor-
morrer fe ella
x

q '

petencia dos quatro rios do Parai- úã J>or morrer r morria rK> defejo»

lo, poílo que todos elles nafciao & naõ podia morrer na execuçaót
de hum mefmo centro , &
cora- morria, porque lhe faltava a vida :
ção, cada hum deiles tinha feu naó podia morrer, porá naó che-
particular principio : Qut tnde di gava a morte. A vida, & a alma
vidtturin qumuor t^pit a, Ifto pois daquelle faudofo coração , era a
quifera eu agora buifcac: neftafo- divina preíença de feu único Fi-
ledade , o principio particular de lho : pois fenaó dura o Filho, co*
cada bum deftes quatro rios. Dif* mo naó morre a Máf ? que fe lhe
ficukòfa empenho ; porque como apartaífe a alma , que fe lhe aca-
eftes principiois eftavaó taó occbU bâíle a vida : & qtie com tudo naõ
tos,:& efcondidos no coração , & chegaíTe; a morte ! oh trifte e©n-
alma de Maria, quem,fehaa sòel- díçaó oh ^triftc cftado efta fo*
i i

}a,poderia dar raíaó de taó fecre- fem duvida a primeira rafaô por-
tos principios ? com= tudo , ainda que à Senhora lhe rebentarão as
que nos faltaó noticiai ^ naõ no& lagírimas , ver que naó chegava â
feltaraDConjcâruKas.^ Ora vamos mèri©j quando o ijjhô acabáVa a
penetrando; efta foledad-e, pcra vida í eftar em tal fiolèdide jpoif
buícarmos eítes principios. morte do filho , que athe améfma
Começando pois pelo primei-!, morte lhe faltafíe caquella fole-
torso de lagrimas >que corre pòr d^de. ' > - > ^^ - ^ (O. ii
<-

cfta íoiedade , diga que foi' httíí M or reu Aèf àlao '

p e rí ^êfe tíè efe


principia a fole daide da morte ; hfl ia arvore ]Ôc recebendo a trií^ie
quero dizer , faltarlhc a morte à nova feu Pay Darid , retirando^-
Senhora em fua íoiedade. A morte fedo eoncurío da gente ^ corante
ile Chrifto foi a caiiia da foledade ^a a cãorat lua metxé tíwtiifia^
tm
I io : -
y 'Serinaõ
tus itaquf ^^}S iÇíendiíy & flevlt; de Teus filhos y diíTe qae defejavâ
?. rve|.
^ (i^dtio â rafaó de fuás lagrimas, veríe piettidò na loledade de hua*
(ijj. 'dilíe entre amsudados íuCpiros , fepultura : Requiefceremcum Kígi"' Job c.i

que o que mais fencia , & mais bufy& cumconfuUbuh qtil dáficant,' ^ ^'
choravaeranaó morrer em lugar (ih foUttiíUnesi Parece que o fen->
>

deAbíalaõ: Filt rtn AbfalQniy Ab* timentoike embaraçava o diícur*>


lAÍõftifilimty quis mthi tribuat ut fo : fe o íentimento de lob «ra
ego moriíir pro fíimasfe ifto dizia yerfe em íoledade dos filhos , co«
David lia morte de hum filho re- mo defcjava lob mais foleda-
belde, com
quanta mayor raíaó o des ? naó defejava mais, deícjava
diria aSenhora na morte de íeu outra; eftava na foledade dos
amado Filtio ? Quis mthi tnbuat vivos, & queria a foledade dos
ut ego mniar pro tc\ Oh Divino mortos : hua íepultura he a ío-
Abíalao meu doce Filho , cooao ledâde dos mortos , hua foleda-
fenaõ trocou a morte pêra, que fe de he a íepultura dos vivos..;
trpcafle a. vida f ficareis vòs com a mas comelta difFerença^ , que
minha vida , & padedera cu a voí- na íoledade de hua íepultura fal-
ía morte :oh morte cruel! cruel ta o fcntim^nto ^ na íepultu-&
pela vida, que deftruifte , & cruel ra de hua íoledade falta a mor-
pela vida, que deixafte 1 fe havias te ; pois porque lob deíejava a
de tirar hua vida porque mais
, morte em fua^ foledade y pear iíío
me mattafte 6 Filho l porque defejavatrocar a foledade dos vi
lhe na5 matcafte a Máy ? fize- vos pela foledade dos mortos
ras em mim a execução ,
que eu por iífo deíejava hua foledade,queí
te agi-*<idecera a morte ,, sò por- fòUè hfia fepultura :íRequitfcerem
que elle lograíle a vida; mas jà eâmíiegvhus^ &^um confulil^MSter-*
que lhe tiralle a vida , como me tdyqui edificam fpHfslitUdwes; mai
naó á%s a morte ? aííí como qual feria a raíaó porque queria
houve hum íó amor, que unif- lob trocar as. foledades? a rafaó
fe çftas duas almas > cpmO; naó he y porque hè muito mais de i en#
houve .hua sò morte , -quçi lé" ,
tir a íoledade do5 vivos , que a fo.4

vafle eíí:as diias vidas ! cbmo me kdade dos mortos^ na foledade


.dcixafte a vida , íe me roubaíte a doí mortos ha apartamento lem
4tp^ ? f? me. deixafte morta pêra o dor ; na foledade dos vivos íentefc
go{to,como me deixas viva pêra; a dor. do apartamento,; afoledad«
ò to wepio o.Filhò morto , & a
.? dos viwos he pêra nellafe padecei:,
M4y<yi.^a,jQh t/-ifte. Mãy.ljsohdo*-' &aioledade d oS mortos he pêra
ce Filhp '.
Qjiis mlbi tnbuat ut ego nellaíe defcançar rcqtnefartmi
;

worUr f)rçte ? ^ logo maÍ5 padecia lob eílando cm


Q^aj^dft JqI?, chomva a mwc foledade vivo^que fc eliivera em
íole*
Da Soíedad U
faledade morto* Alem de que íc funt[\ ijftim fõíum wanft. Eíb
lob eílivcra moi'to,l:ora menor íua nicíma mayor convenieneia po-
íbledadej porq ainda que eftivera derá achar a Senhora na morte ,q
apartado dos filhos , eftwera ao lhe faltava em fua foiedadej' mas
menos aíliílido da morte. Antes comoaraoite lhe caufou a fok-
né ainda dos fíibos eftivera apar dade . levandolhe o filho , pêra
tado j porque como os ;filhos eíta- lhe caufar mayor íoledáde a na5 ,

vaómortos> morrendo lob efti- quiz acompanhar , nem abda


a
vera morto em companhia dos fi- a própria morte
, & aífi que
lhos; & citando vivo eftava sò íem neita íoledáde naó podia
relpi-
íem mortç pois
fiihos,)& eftava íó : rara Senhora , porque naó aca «
'

c|,uemuito que na fua íoledáde bava de efpirar /^.confidcrando-


'^

íentifíe a vida ? que muito > que le eterna, pêra a á<n


, immortâ'1

defejaíTe a morte ? Reqmefcerem pêra o ícntimcntóif^ viva pêra


a
ium Regibus , & cum cofifulibus pena , morta pêra o gofto ; ih
terra > qui Adi§cmt fili. foltludi" pêra os alivios morta , sò pêra
nes. os tormentos viva. Que trifte
,
Por eftas mefma« raíoens ícn^ quelaftimofo eftado, aonds sò a
tia a Senhora faltarlhe a morte era morte poderá fervir de alivio , &
íua íoledáde ^porque mais quiíe - aonde chegava a fclur atè o alivi©
ra acompanhar ao filho morta, do da morte L
^ue ficar íem o filho viva. E ver- N^ morte dos Innocentes fdi^
dadeiramente confí^erãdo otor- S^ Mattheus
) que chorava Ra-
. mento da folcdade , em q eftava, quel i Rachel pior ans filhs fuos y'^^^'th.
melhor lhe eftivera padecer o &nolmt confoUii ^ quia tion funul^l'^
laal da morte,q padecer o mal da Se Raquel era jà morta qKan-Je''^
^^^^
Íoledáde. O graó de trigo, q naô do morrerão os Innocentes, co- ^'^^
^ morrer ,& ficar fcmfrufeò(difle mo chorava
Raqqd dizem", .^

Chrifto)qpadeceriaadeígraçade que grande cxceíTo de dor


foi

^, ^ãt$Q:NíJlgranum frummt ca^ chorar ainda defpois de


morta t
^^"^ »« ^^'^'*"'' mortmmfuerit, ipfu eu digo , que chorar defpois
«P,i2. dê
/fl/«w W4»ff; pois
d.24, q mal he o ficar morta foi grande parte de ali-
fó ? he tâó grande mal,que contra- vio : fundome no texro : fjcluit
pondo o Senhor ao mal da morte confoUri, N^ fç quiz alegrar.-
o^mal da foledade, julgou que lhe logo chorou porque quiz
v^,.. «,... «.,.^^.
v òq
fora mais conveniente - j.
ao graó de íorte,que em íeu querer ou
,
trigo , a troco de naó padecer o nao querer eftava , otiíeu pran-
maldafoledade, padecer antes o to ©u íeu
, alivio : logo as fe-
mal da morte ; mfi granum frti- grimas de Raquel deípois de
niemi íddíns in teriam ^ moriumn m<)jctç eraõ por vontade, naõ craó
gor
-;

i Sermão
1 íl
portormento; Agrarafe qui- fc paahiá ; porem com lící^nça de
iera , naõ fe a|e,grou porque naõ todos, a Senhora teve companhia
quiz N:/f<tf C9niol<tre',dc'ú{o porq?
: em fuás dores. Naó-eíleve a Mag-
porquecraõ lagrimas deípois de dalena junto ao Sepulcro chotati-
morta. Maô alíi a mais fermofa doaauíencia defeu Senhor? aao
R-âqucl na morte do mais innoce- efteve o EvágeUfta ao pê da Cruz
te filho , coaio naó ellava em íua fentindo a falta de feu Meftre os .?

maó deixar de íentir, naó podia Apoftolos todos naó fentiraô a


deixar de chorar: &
he que Ra- morte de Chrifto l E que fez todo
quel chorava có alivio de morta,& o univerfo ? o Sol efcureceoíe de
Maria chorava com o íentimento magOa,o arenjutoufe de fentimé-
devivatRaquelchoravaafoledade to,oveo do Templo raígouiedc
dos filhos , (im em companhia da laílima , as pedras rebentarão de
morte, &
Maria em foledade da dor, a terra eftremeceo com <i«í-
J^^^^J^'''
*

-morte, chorava a foledade do Fi- mayos ; &


finalmente todas as ^ j^

lho. Oh quanto mais folitaria eftá creaturas fentiraô a morte de íeu


Maria,do que Raquel l pois quá- Creador logo teve a Senhora có-
:

to mais copiofas,& quanto mais panhia cm lua íoledade naó fe !

amargas íeriaó as lagrimas de Ma- pode negar logo naó foi total a
:

ria que a morte lhe levaíTe o Fi-


!
foledade da Senhora? afíihcjmas
lho 1 &
que nefta cruel íoledade nem por iíío foi menor a íua ío-
Ike fâltaífe âtè a própria morte l ledade, Lementava leremias a ío-
oh qiiaó jufta , &
quaó profunda - ledade de lerulalcm ; & dizia de-
mente correm as lagrimas por eíla lia forte Quomodofedet foU avi'
:

foledade! Scijf<efunt aqu£; &tor^ tas plena popiíh,0\\ quaó folitaria,

ttntei in folitudtne. que cílà lerufalem cheya de po-


Dellenafcimentodo primeiro vo : jà ve m a contradicçaó; í e elta

rio de lagrimas ficará fácil de dar va cheya de povo, como eílava


no nafcimento do legando ; & vê lolitaria? por iífo mefmo, porque

clle a fer foledade de íoledade í a mefraa companhia lhe fazia ma-


porque a Senhora eftava em
fe yor a foledade : A hum coraeaá
íoledade da morte fegueíe, que ;
magoado naó lhe cauía mayor ío-
citava era companhia da vida lo- : ledade a falta de companhia,fenaá

go naó ellava em total íoledade : a falta de íoledade: nunquam mt,"


íim; masitlofehade dizer da fo« n us folus , quam cum folus ; diíTc o
ledade da Senhora? parece, que Príncipe da eloquência , nunca Xalliua
he diminuilla; antes fie encarecei- 'humtrifte coração èílà mais acó.
la. Todos pêra eiicarecer a fole- panhado, que quando eílá menos
dade da Senhora dizem, que nin- aíTxttido : melhor acompanha a hu

guem em fuás dores Ilie fizera có* triftc a Íoledade, que a còpanhia
porque

C%Z\
; 3

Soledade. Da 1
porque fe a campanliia lhe naó
ja que íé naõ vè íofem cotnpam

airub,eíUsòeiiiíolecladc decó- nhia nunca fe veja íó lem lagri- ,

panhia j & lokáaãt lhe


íe ate a mas,- jaqucneftaioledade lhe íal-
feita,ficaem ioUdade de foleda- Uatç alivio de chorar Tó, .chore-
deipoiscomo a mayor íoledade eoatinuamente,íem interpolação >
pêra hum criite coração canfifte &.íem alivio; & Lacrjm^ejus tn.
na falta de foledade, por iflb lerc- maxfllts ejuí»
mias nas ruinas de lemíalem a &
Morrerão lonathas, Saul , &
deicrevco aíFiftida , pcraa lamen- fedo lonathas taó aináte de David,
tar folitaria; por iílo lhe encare- raádou David às íUhas delfrael^ Ô
ceu a frequência , pêra lhe exage- clioraííc todas a morte de Saiil, Sc
rar a íolidaó : Qmmodo [edtt foU naó lhes mandou,que choraíTem sí
mas dahi que
civitas plena populo ? morte de lonathas: FilU Ifrael fum
k íegLiio ? pioram pioram in noãe, per SmlfUte: pois fc Jonathas ha- «
& UcrymA ejus inmaxtíhs ejus :. via amado tanto a David, como iz^i!
Começou Hierufalem a chorar naõ manda David que chorem a ^^24,'
dobrado : Plcrans píorant ; ôc a morte de lonathas? A razaõdizé,
chorar fem interpolação; & iacry que foi porque como lonathas eni
ma ejus tnmaxiilif ejus : Chorava fua vida havia obrigado tanto a
rerfe arruinada, &
chorava verfe David,quiz David tomar íobreíi
aílifttda; chorava a dor de fuafo. to da a dor de fua morte
; &por
ledade, & chorava ter companhia iílo naõ quiz , que outrem
choraf-
emíuador,porqueameímacom- fe a morte de lonathas. Eílahea
panhia lhe augmentava a foledade: razaô , que fe dà por parte de
Da-
íluomodo fedet foU plena populo ? O vid porem eu imagino que to.
:
,
mefmo podemos Senho-
dizer da mar David íobre fi todo o íenw^
ra acompanhada da foledade do íi- mento na morte de lonathas nàõ
lho : Cómodo fedet fola que ío* foi pêra mayor dor, fe
\
naõ 'pêra
Jicaria , que eftà taÕ folitaria que
! algum alivio : as finezas que Dá-
,
,
lhe faltou até a meíma foledade ; vid devia à lonathas, he
certo,que
como lhe faltou a companhia do o obrigavaó á mayor dor- pois
pe-
filhonaó quizeracóíigo outra cõ^ ra bufcar algum alivio 4
dor ta6
panhia ; na fokdade do filho qui- grande , que fez ? fez gloria do
fe
aerahuatotal Soledade, como & timento, quiz ter a gloria
de cho.
atheefta foledade lhe faltou he do- rar elle íò a morte de
bradaafua foledade: poisjaquea
lonathas ,
'Çaõqniz admittir companhia
&
iokdade
em
fe dobrou , íejaõ as lagri. fua dor , pêra que efta
fingularida^
n^as dobradas: P/.r^«, ploravu^ de lhe íerviíle de alivio
naquejía
chorea oledadedofiiho,&cho. morte. Porem fe David:
re o nao íe ver ío emíiiaioledíule
a IcL ou
cfta glçria, a Maria lhe faltou cftc
alivio
i
alivio : faítoullie na íoledade da noíío Rcdemptor ? pois porque
filho aqiielle único alivio da íole- pede oRedemptordomundo , q
dade •
& como lhe faltou atè efte lhe náo chorem a morte ? Notem
as palavras ^oUte fiere fuper me ,
^mò ,. que muito , que crefcefle" :

mais o tormento? A meímaambi- fed fu^r filtos veíltos : fallava o


caóde penas foi mayor caufa de Redemptor do> mundo com as

lagrimas quiíera, queíenaõ re-


:
molhcres de leruíalem , pedia- &
paruíle por ninguém o fentiméto lhes, que naó chorai! em por elle ,
daqaella morte ;porq quiíera pc- mas que cada qual choraíTe por
ra li todo aqiielk Xentímento ; &
íeus filhos ; como fe diíTera , cada

tao ámbiciola eftava de padecer , máy chore sò pelo fiiho que tem ,
que quifera recolher em fi todas & aíTi que por mim ninguém cho-
aspenas,p€ra as padecer ella to- re ; porque loa May afíligidiíTima,

.das; mas vendo que naó era cila que tenho/ó ella quero, que cho-
'sòa^qaefeatiaamorte deCbrifto, repor mim. Mayordifficuldade :
-rebentava em lagrimas de dor, pois como fenaó compadece o
Senhor deíua affligidiífima Máy I
luó sò poíque íentia , íenaÕ porq
naò fentia sò. As lagrimas , que naó bafta que ella sò tenha a dor
David chorava por íonathas , co* de perder o filho , íenao que so
ella ha de chorar elta dor ? líto he
mo tinhaó eerto-o alivio na gloria
quererlhe accreícentar o tormen-
de as Cborar elle sò^ íempre íe in-
tei^mpiaÓ com o aUvio j porem to ? naÓhe fenaó querenhe lolici-
Maria nem ainda tar o alivio Via o Senhor, que o
âs la^-rimas de
:
,

tivcnóoaliviode que as choraíTe único alivio , que em í^aaíoledade


poderia ter íuaaffltguhíTima May,
ellisò: pois por ifloíem ceírar,íé
feria sò chorar em Toledade via
ftunca k interromperem corriaÓ
;

tàóperennemente as lagrimas de que oAinico alivio,que poderiater


a Senhora em íifas lagrimas , era
Marta: por iíloforaó taó- conti-
naó terem Tuas lagrimas compa-
nuas, que parecerão permanen-
nhia; pois por líTo, pêra que ella
tes- EtUcryLeJHsinmaxHltsejus:
tivefle,algum ahvio em íuas penas,
Quando o Redemptor do mun^
pediao Senhor que moguem a
doíobia ao Monte Calvário pe^: ,

de leruíalem, que naó acompanhaíle em íuas lagrimas.


diò ás filhas
diora(ramporelle,.ícnaópor íeus Pedia lob que o deiKaaem ficar
,

sò porque queria chorar hum -

t\hos.t^oLfla,fuperme,íedfu^ ,

notável petiçap çouco:D^mtiecrgo me, utpUn^j,^


,^erúb.svefiris :
Câp,2 5
D.28. de Chrií^ ; naó eraó mui juílas g.m paululum
f
^^;;'«^!«^«^«- ^^
f "P,-;-
Lellas.lagrimasí&íobremui porque raraoeRandosonaocho^
X,na5:muitb'devid.s ?naóde- rariamuitoi porque quem chora

Sos chorar todos a morte de sò fcmpre Icute meão. , & q^cm

^
5

Da Soledade. 1
chora acompanhado íemprecho^ : Porem fe haviaquem acom- I
ra mais ; porque naô sò íente a dor panhaíTe a Senhora em íua íole -
que chora, mas íente a dor de nao dadç meíma^íenaó acompa-
, ella
chorar sò ; pois como Job entei^- nhava.a porque de tal forte ab-
fi :

dia , que chorando acompanha-i ftrahida cftav^a de ít. meíma na


do fentiriamais, &
chorando sò foledade do filho , que de íi
íentiria menos , como
via, que a meíma eftava cm íoledade ;- &
companhia lhe accrcfcentava a eftehe o naícimento do terceiro
ílor, entendeo, quei foJcdadi rio de lagrimas:; Íoledade de íi
lhe diminuiria a pena; poc i0o pe-! meíma. Falia &. Joaó da íoledade
ra chorar menos , pedio que o 4eí^a Senhora »& diz, qiiequan- jo^ofú-
deixaííemsò: Oimitte eigty, me, ut do a morte lhe roubara o Filho, pra d-
plangam paululum dolorem meum que fe retirara ella pêra a fua fo- ^^^^*
Iftofuppoíto» com rafap pedio o; ledade : R^msifi fiUus ^jus ^ &
Senhor , que cada mãy- choràíTe fá ímltgr fàgirm fotitudinem r ( W«-
por ícu filho , pêra que |xor elle; kitt.) aqui repató y aíli como diz ,'

choraíTe sò fua Santiííima Máy 5 quc: morrera b filho : Viaptus eíi


porque como deícjava > que ella j5/f«x; porque náo diz ,
qia)e fu-
algum alivio en% ÍUia. íole*
Jtiveíiè gira a Máy peraa loledadé ? por-
úãd^^fo^ iíTo.pera íeu ;.àIi^^iq) piÇ'» qu:e diz (sòraentc: ,' iqiie. vficára enj
4i%> que ninguém a ^companhaíl-í fóbdaáiehua ihôlheti Multèr fu^
íe em fua dor ; porem como Íç* gitinfoinuàmem ; poíque verda-i
Jiaõ deu comprimento a eíla pe^ deiramentç a Senhora não era jà
iiçaó,(íe Chrifto , como Iheialtoa Máy na foledade ; em quanto vi*
Á Senh0jraeíle alivio, dd fua íoki- yo o^Filhoisà tdiiha forma Hdade de
^dade,.cr€fçia muitormais 4
cauía Máyyt^oco que Éa-ltoua esiftencía
de íua don Na íoledade do £lho do Filho , lõ^o
> ficou: íem' a ra^
quifera eít ar a Senhora em háía íàò y ôc formalidade de Máy»
foledade total, sò fem aíBílencia^ ( He doutrina àíTentada ) bemj
lem companhia , porque a çosmí* mas ao meiips; , porque nao
.panhia de outras lagrimas lhe fa>. diíTe o Evangieliíla' ,;q.Mj^::;quem
ziaÓ ruidoáft^a foledade,; mas^pr iicàra na. foJedade era^l^toia ?
Jiu> na foledade dofilhor a i mefm^ porque diilè, sò que > ficara bua
/olcdade lhe faltava , por iíTo.re^ iTiolher t Hulier fufjt in fôiiíu-
bentavaõ as lagrimas com muito dtnem ? Porque Maria cm íua
n^qr exíeíÍQ, porquç í^ via,naõ fòle.dadei, nem era Maria , nem
so na fokdade do filho , mâs( em era Máy. : nemife pôde dcter-
t<?3tdade da iiKÍraa fo|leda.Híe;.S 1/- piifladamente íjvcriguar s o^ que
€J^a í- çra h§a íó natureza no eí-
tado da. folidaó : M ulm . E ra bua
ide a
,

iié Senmo
Mea folítaría , que iiém era fin- me: Ue vacetts me^oanuÇed am^'^
guiar, porcjue ertavaabftrahida de fam, Ifto mefmo que aconteceu
h meítna nem era comniiiia
, , por-í èa fóledade de Noemi ^ aconteceu
que eftando taó sò cefí^^/mtiy também à Senhora em íua íòleda-
íiaguiar :: eia hua alma; icidèter- de: porque nòs podemos fazetd
riiiiiada, hum eipirito abforto, hu meíma pregunta,& a Senhora nos
coração extadco , que nem eftava pode dar a mefma repofta. Nos
todo em íi pêra aííiftir com Chri- podemos perguntar , íe he efta
fto,.aem todbèftgva cam Chrifto aquella Mairia ? Hw eft UI4} a quel-
per i padecer èm íi.:?erá hua rrtio- Ia,
que foi May de Deos , efta he
Iher Tem indinduaç^õ :de Maria , aquellaPmasja naó he aquella ,
fem propriedade de May final, : eftahe outra: aquella foi Maria a
mente hua natureza íolitaria: Al«-^ May Santiílíma de Deos efta nem :

lièr fugitinfoUtudimmi - ob; .• he Maria, nem he May: heyhuma


, - Delpoisde enterrar a dous fi- cifra de penas , hua idea de fenti-
Ihoi, & hum tomava pêra
êí poto mentos > buma trágica fombra do
Ruth. fua
pátria a termoía Neomi; Sc que era , hua memoria trifte do
cap.i. taõ traçada vinha do que fora,que que fora eftasfaóas cinzas da^
:

admirados os que a:cpnheciaó fc quelle íer , que algum tempo éx*


perg-untavao; ['auas. •aoscioutíros : illio , & ja agora riaò tení fer-jeíi-
M£€ e<ft tlU ííffáEWJí PrEftaJHe ^quél- trago daquella grandeza '^ que éftà
la Noe íni ? Pois íe ella he efta, co- agora^ em íoledade de fi mefma.
mo perguntâó íe he aquellá ? quê Aííí que nefta meíma conformi-
diz efta da que eftà prefen-
, falia dade nos pode reíponder a Senho*
te, quem diz aquella falia de outra ia : Me vocetis me HAatMWjfed ama^
paílada pois fe ella he efta, como
: isií»;. Naòme chamem ja Maria

he outra? he que na fóledade dos chamem^nea íolitaria Ia naó fou :

filhos tanto à ú fe havia trocado ,


a meíma que fuy,por que eftòti
Â:ta5 outra fora do que era, que tm íoledade de mim meíma neí*- :

íe duvidava ainda, íe era aquella ta trifte íoledade íò vereis as ruii-


meíma,.que fora: Hdtc eft tllalCo^ iías do que fui , naótereis evidén-

firmaefte penfamão a repofta da Cias do que fou porque íou hu'm


,'

própria Noemi Nf vifceHs ntem- : c^rpo fem alma, hua alma fem vi
emt ifed amaram: naó me chame vida hua vida fem coração íem alc-
ja Noemi , chamem me a -trifte. to ) hum alento fem entidade , hua
Verdade he, que eu fui aquella entidade íem fer; Oh trifte íer l
Nocmijmasjà naó fou aquella que oh dura íoledade!
fui; porque a fóledade dos filhos, Vendofepois a Senhora em (o-
em que fiquei, aifi como me tirou ledade de fi mefma , que magoa-»
o fer, 4(íi cambem me levou o no • da, que trifte , que fentida clíaria
cm
,

cmfwa íoledade ? quizera (erto- tias inverno fU^eU-^quta lota ce ver la


da a que era perafe empregar çm tn i/jfíí.Nefta foled^de diz o íanto,
fentime;itos coda; mas vendo que íiaó íeacha Maria ^ fó íc acha 6 do-
i^ap er^ jà May,nem era jà Maria res, &.marúrÍQs; porque cíiàtoda
fcmia do que fora,por-
íer íò partç convertida cm dores : pois por if-
que quizera ler toda a que fentira, fo o Profeta quando qiiena com-
chorava a quella parte , que jà naó parar a Senhora: Cm conparahcíc}
era,porfer parte fua, que naócho- porque achou a dor ,& naõa Se-
ravajmas pera(uprir a dor, que nhora, fe reíolveu a comparara
naõpadeçiaaq^ella parte, que íal- dor: Uagnatíivdnt nare co^iri-
tava , dedobrava a dor
tal ÍOrte th lua. Diz que era fua dor leme-
.na outra parte exiftia , que t©- que Ihante a hum mar , & com grande
dafe transformava, & convertia propriedade; porque ornar be o
cm dor. Grande prova íe me naó principio dos Rios ^ & eíla dor da
«ngano Querendo leremiasbuf-
: íoledade de fi meíína,quem duvi-
car algua lemelhança à Virgrm da ,quç havia de fcr principio de
Santillimaemfua lo.edade, diíTe Iagrima:> ? quem duvida , que íe
deílaforte : Cmcortipaiabú ts? lai havia de desfazer em lagrimas ,
Thren.
CHI cffwit ah te rphgo, filia Storl quem íe desfazi-a deíimelmaPhe o
ntAgntefi tmWfVelut mí^r ycomt fiO me imo, que difle Izaias Sctffa^/ut :

tua, Çom quem vos çompararey ^^qu<t : CT torrentes tnfcluhditu ;díz


ò Virgem anguíliada? Verdat^^y- q rcbentavaó ncfía íoledade Pvios
jramente a voíla der he íemelh^n- ck [agrim^s pois de quem naíci-
:

te a humgrande mar ; íem duvida, aócíiesRios? quem citava nefta


i|ue de laftima pcrdeç o tino o íea íçledadç ? ningupm eftava ; fò íe
Uáo Profeta: íeo intento de Je- viaô ali duros golpes de íentimen*
remias era dar hua íemelfiança à tg : ^ciffS fmt y íò íc viaõ correr
Virgem em fua íoledade:C.«í ^cpm-» {erenamçnte quatro rios de lagri-
fdrabo te ? como foy dar femeihan- mas aque, ^ tortentes :k íe via hu
jça àíua dor? yWgna eft enimveíut hermo folitario , htima íoledade
marecontrtttçtua.íriç o que àizi^', tnftejtaó íò, que efíando aíli a
jnos: ainda que o intento, do Prp^ S^nhor^, nem a mefma íenbora
.feta foi fazer com a Slephora h^m;3., ievia naqyeila íoledade , porque
xomparaçap ;com tudp qu^pdQ de (i íTiefinâ silav^ V-5 abí^rahida.
foi à comparação naó ^qhou a ^&i q eíhy.a cm íoje^ade de ú melma :

nhQra:poisJ9gp,^agh,<?iii^c'í?Qi^ irif?Át(mmr
SQ a dor da5ejit^@í;^- piQí^we ^^4 . Çh^gi,](Çfpp6 finalmente ao naí-
« Senhora fritii^I^ ^mh^Pí^io 9^'^*^ çÍ5JiientO( 4p ^Jcimo Rio ;ôí vem
D. Bo-
dar qu4ro H^riéí^^iih ^.BQayety-
: t\iêa /Gr, a íoledade da prcíença
r*>yo- «.«;.,„-«;- w..;^ :..^.^:- /..
t^)& non inpem Mmtãjíííiçm Jpir ^^ Dq^s: achaíe hoje Maria em
B íua

rjãmF^ . ^MÊÊÊ
'
'TTS

1 8 Sermão
ília foledacíí , auíente da vifta de pelo caminho da Paleftina,que oê
&
hum Fillio Deos , íendo eíla a naó havia de acompanhar 5 mas q
fohdide de Maria naó pode haver cm íeu lugar mandaria hum An-
miis rigoroía foledade ; porque jo,qiie os acompanhaííe , & de-
folcdade de filho, muytas mãys tendcí^c por todo o caminho: wíf- Exod.
a padecerão; íoledade de Deos,to - tam pracur forem Angelum, mn enim ^*.^^^^

dos os dannados a padecem ; po- afcendim tecum : m


farte dtfper'
rèm íoledade de filho, & junta- i/aw fí.Ouvindoo povo efta re-
mente Deos, ou de Deos,& junta- foluçaó de Deòs , diz a Efcrittura,
mente filho , fò Maria unicamen- que derramarão todos muitas Ia-
te ninguém mais padeceo efta
,
grimas: Audtenfque populus fertno*
defiga ai íoledade :fò do Eterno nemhuncpefftmumy luxit i & mU
Padre fe podia imaginar , que eí- lus ex more tndutus eft cultu fuff,

tâva nefta íoledade por morte de Pois valhame Deos íe Deos os


,*

Chrifto ; porem o Eterno Padre havia de caftigar , fe o Anjo os


nucapcrdeo feu unigénito Filho, ha de defender, qual he a rafaò
nem o podia perder; &aíli, que porque efte povo chora ? raíao A
nunca deixou, nem podia deixar he, porque Deos fe auíenta : tan-
de fer Pay logo íò Maria padeceo
: to he pêra chorar a aufencia de
unicamente eltafoledade da pre- Deos , que ainda quando Deos ha
fençi de hum Deos Filho. 0'a de caftigar , & hum Anjo ha de
única mete rigoroía foledade, fem defender ) ainda entaó íenaó fuprc
par, íem exemplo, íem compa- cabalmente a aííiftencia de hum
ração. Deos, com a companhia de hum
Mas entrando a Senhora nefta Anjo; entaó folto o pranto,& per-
incomparável folcdade , que la- dido o decoro fe deve chorar a au^
grimasjhe naóarrancariaó do co- fenciade Deos: Audienfque pQpU"
ração aqiiellas aufeiicias de Chrif- l-us fer manem hunc pe/fimum^ lux tt :

tOySc aquellasfauda desde Deos? &nuUuiex more indutus efi cultu


confideravaíe a Senhora aufente fuo.AíCi chorava o povo no deíer-
daprefençade Chrifto, confide- to , féntindo a auíencia de Deos
ravaíe apartada da vifta de Deos; mas com quanta mayor rafaãcori-

& aqiiellas triftes memorias de rem hoje as lagrimas por eíta fo-
ChrKto morto, aqucllas firmes ledàde, do que là corriaó no de-
kudades de Deos aufente, quem íerto Se taó amargamente íe cho--
!

duvida, que tantas lagrimas lhe ti- rã a aufencia de hum Deos reti-
fariaò dos olhos, quantos, golpes ra3o , qUantà itilayor lafti-
còrti

Ihed-ivaóioc^raçaó? Noàeíerto ma fe chorara > aufencia de hunfi


difte Djos a Moyíes , que por fe Deos morto } /e taõ fentidamen-
riaópòr a rifco de caftigar o povo tei'fe chora» a auíencia de hum
Deos,

S»i-^
Va Soledade. i
p
Deos , de quem íc efpcravaô ca. como era Máy eílava de dentro ;
I
íligos , com quanta mayor ma- & naó fó eftava dentro do Se
goa íe chorará a morte de hum pulcro com a íaudade com o ,

Deos , de quem ferccebiaó favo- penUmcnta, & com a coníide-


res r raçaó , fenaó ainda cem o feu
Com dons Anjos Se- quiz o próprio langue ; porque era ían-

nhor fubftituir fua preíença pêra gue feu aquelle lantiílímo cada-
cnxugar as lagrimas da Mag- ver , que eftava dentro do Se-
dalena; &
com tudo naó íe ihc piacro ; pois quanto choraria
enxugarão as lagrimas : Muinr quem era de dentro , fe tanto
í°^^'
(imd /?/tfy4j? pereuntavac) os An- chorou quem era de fora ? Se~
cap. 20 / '
I
° Ir
*^
n I

C.ij. jos : qual ne a caula , oh triiíe tanto chorava aaufenciade Deos


Magdalena , qual he a raíaó por- qi em era íerva , quanto chora-
que chorais ^ Tulnunt Donú- ria a aufencia de Deos quem era
num meum^. finto, & choro a Máy } Sc efte tòrmento,que pade-
auíencia de meu Senhor ; pois cco a Senhora íe diftribuifliè igual-
naó eftaó aqui dous Anjos ? mente por todas as creaturas(dÍ2
E como podem os Anjos íuprir S.Bernardo ) que de pancada aca-
a aur<?ncia de Deos ? que im- bariaó todas : Si dolor Virgints in
D. Ber-
porta , que aílíftaó Anjos em omnescreaíuras dtvtderetur y omnes naid,

minha prefença , fe tenho a fuhito merirent : pois íe he tal a


Deos emhuma fepultura ? Tule- violência deíle tormento , ainda
runt Domtnum naum eftou au- : repartido que faria a Mày Santif-
,

fente de meu Deos & meu Se- , fima de Deos, fendo ella fó a pa-
nhor & he força, que ceguem có
; decer junto efte tormento ? Ailí
lagrimas os olhos que naó vem a , como a gloria , a bemaventu- &
Deos aííi eftava junto ao Sepul-
: rançaconfiftem na viftadeDeos,
croa Magdalena íentindo , & aíli aíír também na auíencia de Deos
períeverava chorando: Stabat confifte apena de danno nem
fô' ;

f is plorans.Mãs ícnaô pódcm en- pôde haver mayor pena; pois fe-
xugaríe as lagrimas de hua Maria melhante era a pena que có bem
faudofapor hum Deos, que era cuftoía experiência fentio Maria
feu Senhor , como íe haó de en- em fua foledadc porque como a ;

xugar as lagrimas de outra Maria íokdade de Maria era perda da


faudoía por hum Deos , que era viftade bum Filho Deos, naó faz
feu Filho? Maria MagdâJen^efta- duvida, que padecia cm fua fole-
vajuntoao Sepulcro, mas como dadehum abifrao de penas, hua
era ferva eftava de fora: Stabat fc^ quafí penadedamno hum como ,

Tts Maria Mãy de Deos


plorans : Interno de tormento: fedo filho,
eftavaauíente do Sepulcro , mas pelo deíemparo , que padecco
B ij do

^JMM
&,

fitrgaermrrr^^M mr^ 2k\. ^.32fc;

I
*2ò S^rma^
do Pay fe diz,que padecera dares
,
com^o de agoas , da foledade da
do Inferno Úohres inferni eircum-
: morte hum dilatado Ganges da ,

dedenmtme ; que muito , que fe foledade de íolcdade hum defpe-


dif^aom:fn^ia Míy peiaaafen- nhado Nilo y da foledade de íi

cia, qué íentiodo Fillio ? Antes


'

mefmahum arrebatado Tigris;


íe bem reparamos, em certo mo- dafokdade de Deos hum prcci-
do,mayor era o tormento de Ma- pitado Eu-phrates ; & crufandofe
ria, que o tormento úo Inferno ; impetuoâmente eftes quatro rios

porque o tarmento do Inferno he caudalofòs, innundaraã, & cobri-


foledade de Deos, que os meímos raó de lagrimas os eftendidoS eí-
dannados volantariamente quiie* paços delta trifte foledade t Sctfia
raó;&: o tormento de Maria he funt aqu<e<& torrentes in foittudi*
loledade de Deos , que os bornes w^.Ohque tormentolo,&inquie-
violentamènte lhe caufaraó o tor- : to deve là eftar o mar'do coração
mento do Inferno he íolèdade de quando corram cà taó abundantes
I Deos> que naÕbe filho , & ô tor- ^s forttes, & taó caudalafos os rios;
menta de Maria he íoledáde de que duvida faz, que vai là grande
hum Filho, que he o mefmo Deos: tormenta no mar ? Se tia íoledáde
a íoledáde do Inferna he de mui- de Maria correm taõ caudalofos
tos, porque muitas a padecem a , Os riosdefeus olhos, que duvida
foledade de Maria , he de Maria faz, que eftá mui tempeíluofo o

somente ^ parque he foledade fem mar de feu coração ? toiatempe-


femelliança,que sò Maria única- ftadetaó grande, que a ço cobrou :
mente a pa ieceo ; pois em taó in •
Tem^efl^s emer(itnie ; de tal forte> pf.dg,
comparável íoledáde, qUe muito, que na vaftidaa defta foledade jà A. 3^

que foílemítaóexceílivas as dores? naõapparece mais, que entre re-


que muito que foíle m taó copio- petidos golpes hua innundaçaó de
fasas lagrimas? Safa Çunt aquAi lagrimas : Scijf(& fmt aqua &:or^ :.

C^ torrentes tn lolituãine. rentes in fohtudine^

Temos vifto os quatro rios de- Suppofto pois, que taó atorme»
fta íoledáde > feus principios , & tadaeftà o coração de Maria, ou
naícirnentos , caudal ofa emulação 4^ue eftàtaótormentoíoo mar de
dos quatro rios do Paraiío; porq feu coraçáó, defpois de vermos os.
naó havendo já penas com que có- principios dos rios , feguiafe ver

petir, atècamasdiliciasdo Parai- agora a cauía do mar ; porem a


lo competiraóem fua grandezaas caukeíláíepultadai.pois comohe
penas deita foledade. Sendo hua poíUvelque vejamos a caufa? oli
sa„&íolitaria a Madre de todas quem tivera daquelle fagrado t«-
cíbs lagrimas, rebentarão de duas mulo a divina caufa deite tormen-
fontes tad abundantes de pérolas, tofo mar , & tirada a cauía y naó sà
o mar
Va Sokâãde. Q í

o mar fe (erenàra fenaô também


, tos, cfta tormenta cíc chagas , cfta

fe extinguira Vòs ò candeio íos


1
ininuíndaçaó de feridas, eltcs dilu-

fios , vós que .deípenhados iguaU vios de iangue , eíka hc


cauía da»
a

mente correis por elklolcdade; quelle mar. A viítade tantos rios


combatei tuii forme mente a dure^ dcííangLic , àvifta de tantos rios de

xá daquella pedra, convertei, as lagrimas, quaó jufto , & quaõ divi-


ternuras em violências: conquiftai do iíerà , que nos embarace ctni
o marn^ore naais duro, com aquelr lagrimas-a viík.? Choravaó os fi-
le mefmoimpao,comque nacc-, }liios de Ifraeljfveindo correr os rios
ftes do cora^àò mais amorofo ba- : de Babylonia: Super flum m^ Bdj-Vf.tiC,
lei aqueHa penha .infixoravel , c-t- hm Uhc fedimus , fievimus j ôi, ^-i» &
calki aquelie muro inacccííivel,& tom quanta rafao devemos nòs
vede fe podeis tirar a golpes das chorar tamberfi vendo correr rios
entranhas daquella pedra o pcr ,,
ést lagiumas, & vendo correr rios
nhor dasentranhasde Maria. Oh de fangue? que coração deixará de
pedra! oh mármore que nem a I enternecerfe , & de eftilaríe pelos
tantos rios te abrandas l nem ati- olhos à vifta deftiC efpeâraculo de
tas lagrimas te entrifteces ! Se te chagas , & na confideraçaó .defte
naóaballa verte combatido de on^ emblema de fejiti mentos. O meu
das , como te nao move verte ba* Deos do meu coração, meu Jeíu^
nhado de lagrimas ?< que monte ^ meu Redemptor , que chaga-
naó fez ecco aos fufpiros ? .que pe- do , que ferido, que deípedaçado,
dra nao rédeo obediécia às agoas ? que eftais ! mas affi , Senhor , aíli

oh movaóte as Iagrimas,abrandéce chagado vos quero , alTi ferido vos


os fentimentos de ^ua May ma- amo aííí deípedaçado vos adoro.
,,

goada,trifte, & folitaria^ náiõrfe di- Quem vos trattou aíTí, meu Deos
ga de taó (antas , & ta.6*repjetid3s da minha alma , voílo amor ou ,

lagrimas, que naõ poderão âbrâJO- noílas culpas quanto vos ? Oh


dar tanta dureza ; cede por hum jmaltrAtaraónoíTasculpaslohquá-
pouco »& permitte, que yeianjos to vosobrigavoíío amorloh Vir*
pêra alivio de noffa dòr, a caufa de .gem Santiííinia , oh affiigidiíííma
noíTo tormento :cedeo finalmen- ,Máy l ved^e fe vos permittcm as
,,

te o tumulo , Ôc íe bem coníerva o lagrimas, vede íe conheceis cíías


cadáver , entregou com tudo as íombras : Vide utrum tmuca fi^tj Gentí
mortalhas; fe naó concede que ve- tii-Jit ati ren ? mas quem fcnaó hu ca^. y^
jamos o original, permitte ao me- Sol deixaria fombras por f ua au- ^•3^»'

iios,qu« vejamos o retrato. fenf ia ? nem he muito, que ficaííê


Efta he a caufa , fíeis , daqueííe as íombras em fangue, quando vi-
mar,que fe formou no coração de via t> Sol em carne. Mas fe defco-
Maria;€Íta teropeftade de termê' iilieccis,porque vos cegaõ as íagrí.
Bii| wias.
,

'T'=w^

2^- Ser mad


mas, fe defcoiiheGeis eíle cadáver tada , aííi em voíTo coração eftà eí-^

chagado Senhora , he o re-


; efte, culpida efta meírna imagem & :

trato de voííb Friho querido mas : aííi como aqui vedes hum mar de

de tal íortô he o retrato de voflo fangue, aííi voíío coração, he hum


querido Filho, que efte he o re- mar de lagrimas. Oh,
, Se- ajuntai
trato também de voíTo magoado nhora, eíle mar de lagrimas a efte
coração : vedevos nefte cfpciho mar de fangue ; pêra que em tan-
desIuliJo, & aqui vereis voíTo co- tos mares lave o mundo tantas
ração retratado: nem importa,^ culpas Oh almas Chriftáas , aqui
!

efte a feito em pedaços o efpelho :


j temos correntes de fangue pêra
antes aííi repreíenta melhor o voí- nos prendermos com Dcos rafaó !

fo coração feito em pedaços» Efte he, que vivamos mui unidos com
he, Senhora, o vôíTo dulciílímo Deos , quando nos correm tan-
Jefa, que taó expreíTo tende g era tas obrigações de íangue , lavemos
voíTo magoado coração efta ca- : noílas culpas có efte langue , porq
beça cruelmente eníangoentada nefte cadáver deípedaçado naó ha
eftes olhos mortalmente eclypfa- jà lugar pêra mais feridas; & aííi,

dos , eftas faces difcortefmente que jà nos naó fica lugar pêra mais
offs ndidas , efta bocca amargamé> culpas lavemos efte fangue com
:

te fechada, efte coração amor ofa- nòflas lagrimas


,
pêra que padeça
mente aberto, eftes braços fuave- naufrágio ©peio de noíías culpas,
mãos tyrá-
jTiente rendidos, eftas nefte mar de mifericordia ; mas
namentc rafgadas , eftes joelhos voltai Senhor : oflende factem tu-^r
barbaramente feridos eftes pês , am,&falpt etmus. meu aman-A-V O &
rigorofamente atraveíTados , todo tií]KmoIefu, amor meu , & vida^-^.
€Íte corpo enfangoentado , aíli minha OJi quanto me peia meu
!

aberto a açoutes, aííi deípedaçado Deos, de vos ter offendido Oh !

aferidas , eftahe aqueíja meín^.â quem nUnca vòs ofFendera meu


imagem, que tendes efculpidaem Deos dos peccados , que contra
!

voflb coração por íeiítimento , & vóstemosfeito vos pedimos per-


em voíía alma por amor pois ve- : dão, Senhor, por todos os tormê-
de fensfte painel efti bem retra- tos,que repreíenta efte divino re-
tado voíío coração. trato perdoainos,Senhor,& Dcos
:

E pêra que o vejaes mais clara- noflo ; perdoaitios por efte precio-
mente, vede por eftoutra parte ; & íiííimo íangue ,
por voíía Santilíi-
que vcrcisPque aííi como efte pan- ma Payxaó , pelas lagrimas , & fo-
no eftàtreípaííado de fangue , aííi ledade de vofla atííigidiííima Máy :
voflo coração eftà trefpaílado de E vós ó Máy afHigidiííima , jà que
dòr : aííi como nefte panno eftà vos molefta noíla companhia , fi-
imprsiTa efta imagem enfangoen» cai , Senhora em voíía íoledade •,

mas
Da Soledade. 23
mas pêra que vos acompanhe a xugar as lagrimas, ou cníango-
mefma cauía de voíla dor, fique cntar o coração ajuntareis cftes
,

companhia ellc retrato rios de fangue com eíles rios de


em voíTa
lagrimas ; & correrão por cfta fo-
de voffo Filhojlaftimofa prenda de
nefte panno en- ledade agua de lagrimas , & tor-
voíTa íaudade ;

fangoentado tereishum lenço,Se- rentes de íangue iSaJfxfunt aqua,-

nhora,ena que podereis, ou cn. & torrentes ín lolirutítm*

LAUS DEO-
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