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MONS. DR.

TIHAMÉR TÓTH
BISPO oe Vl!SZPReM (HUNORIA)

PUREZA E FORMOSURA
ADAPTAÇÃO PORTUGUESA SOB A DIRECÇÃO
DO

P.e RODRIGO DA CUNHA

PORTO
LIVRARIA CATÓLICA PORTUENSE
DE MACHADO & RIBEIRO, L.º"
LAROO DOS LÓIOS, 50
Titulo do original húngaro
«A T/SZTA FÊRFIUSÀG#

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Porto, 18/ V/11/53
Nihil obstat
A. MARQUES

Imprimi potes/
Portuca/e, 18/ Vll//5.J
f ANTONJUS, Ep. Portucalensis

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A O LEITOR

frlÃO htJ ningutm talflez com alguma experllncia a quem


( (/L na vida nlJo tenha chegado, um dia, t1ta 'lJOz, tocada
de arrependimento e de rtflolta:
- Ah. ,e eu 1oubesse . ..
Por trtJs desta exclamaçlJo. esconde-se, quase sempre. um
pll83o de con.sequlncias irr�pardoei.J, e no condicionalismo ,ocial
em que olflemo, poucos silo aqaeles qae, maia tarde ou mai.r
cedo, nllo atribuam ao, seus pais ou preceptores resporuabili­
dades graves, que muita, oezes com razdo julgam pertencer-lhes.
SIJo factoa. Como tais, nlJo se discutem, embora po,,amo, dis­
cutir a sua explicaçlJo. No fundo, portm, todos chegaremo, a
aeordo num ponto: t que a obra da formaçllo moral da noua
Juoentude tem fracassado e 11quilo que se faz neste sentúlo nllo
••ttJ, d'- modo algum. dentro de moldei perfetto, nem mesmo
1atúfatório,.
O próprio leitor reconhecerd, com urteza, que lhe faltou
no momento oportun&J, a preparaçllo d� que preciJafJa ou a
peuoa amiga que • pudesse suprir. logicamente, somos por
tuo letJados a formular esta p,rgunta:
-Teremos de resignar-nos, pa.ultJamente. ,on�ncidos de
4ntemllo de que se estd num campo em que nada se pode fazer?
Ou deveremos, pelo contrdrlo, asientar na certeza de que esta­
mos em pre,ença dum problema de enormes proporçtles e que,
t:omo tal, requer um enorme e1/orço, que, infelizmente, att hoje,
ainda se nllo fez dentro dum pl4no conoeniente?
Hd palses que tlm tentado a 10,luçlJo, criando cursos apro­
priados para a formaçlJo moral da juoentude. É uma tentatloa
que, ,e for deoldamente orientada, ,e afigura ser digna do no110
inteiro a11entlmento. Sabemos ati qu, ponto é ilu16rio espera,
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que a in.struç4o. só por si, opere a transformaç4o moral da
sociedade. E certo. Mas tambtm é certo que o problema tem
de ser atacado dentro duma base positifla, como ele realmente se
pDe, sob pena de a juventude continuar d mercl do acuo quando
tem de tomar posiç4o perante um facto da vida, que t a todos
os títulos o mais grave. e num ambiente de tal modo cercado de
perigos que só por milagre podemos esperar que ease acaso
seja feliz
A.s estatísticas est4o por fazer. É difícil. quiçd impossfoel
Jazi-las. À boca pequena. porém, toda a gente sabe e fala
duma situaç4o que se afigura ter proporçfJes de catdstrofe.
E. todavia. somos constrangidos a reconhecer que, nestes casos.
o que se vl atrauts da realidade aparente fica muito aquém da
realidade dos factos. Esperamos. por isso. que n4o pode estar
longe o momento em que as naçfJes orientem os seus esforços no
sentido de encontrarem o caminho para a soluç4o que se impDe.
A experilncia dalgun.s poises que parece terem /d conseguido
resultado.s apreciáveis, fará no entanto compreender que só uma
campanha uerdadeiramente nacional, em que os meios coercititios
dlem aos persuasiuos o apoio conveniente conduzirá ao fim que
se deseja. A iniciativa particular, esporádica e desconeJCa, terá
sempre os resultados fortuitos que lhe estilo inerentes. Por outro
lado. aqui como no mais, a ordem moral está sujeita d lei das
proporçDes. Contra a multiplicidade e a forma organizada do
mal, n/lo podemos responder senao com uma multiplicidade maior
e com uma organizaç4o mais pufeita.
Ao apresentarmos ao público português este livro. temos
um conhecimento relativamente perfeito dos factos, e sabemos,
por isso, ª" que ponto silo limitadas as possibilidades da
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imprensa. A nossa posiç4o nllo é por con1eguirite optimista nem
pessimista: , objectfoa. Depositamos, no entanto, muita ft na
,nteliglncia e no coraçilo humano e naquela TJrO/unda rectidll.o
natural que flouste mesmo no, campos onde 11120 brilha o sol
das corivicçlJea religiosas e que levou Tertuliano a escrever:
«A alma , naturalmente crist4.» Para aqueles que possuem
esta rectid4o. que sabem distinguir o trigo do Joio e n4o hesitam
em ferretear o mal ainda quando ele veste de galas a escória
da cioilizaçllo moderna. o liaro ainda vale. A esses tioemos
presentes de modo especial, durante o nosso trabalho de
adaptaçtlo.
É passivei que uma ou outra pessoa, aliás bem intencionada,
6e impressione com a clareza posta em certos pontos que é cos•
tume c,rcarem-se de sombras ou meia, palaoras. Todos os
,ducarlores. no entanto. estilo hoje de acordo em chamar a atençtlo
para os inconvenientes deste mttodo, que tem, entre outros, o
grande perigo de despertar a curiosidade das adolescente,.
deixando-a depois insatisfeita. Sabemos que pureza não quer
dizer ignordncia. E sabemo, que um dia a jovem virá. com cer­
teza, a saber o que hoje se procura ocultar-lhe. Entre duas
pos1ibllidades: a de a revelaçtlo ser feita por ntJo se sabe
quem ou por nds, preferimos a segunda. Esta tese, alids, está
modernamente a ganhar campo cada vez maii.· seguro. pondo-se
apenas certas reservas quanto d ocasi/J.o e ao modo que na
prdtica devem preferir-se para melhor se atingir o fim em vista.
Dentro desta orientaçao. o livro n4o deve ser colocado indescri•
mtnadamente nas mllo, de todas as raparigas, mas sd nas
daquelas que os pais e educadores julgarem na idade pr6pria,
que serd, em regra, por volta dos 15 anos.
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Apesar de tudo, sabemos que vamos ter contra nós a repu­
gnt1ncia natural de algumas familias ligadas ainda a velhos
princlpios e a oposiç4o deliberada de algumas uut,as. Nada
mais temos a fazer do que esperar que o tempo e as lirDts
da uido sejam o seu melhor remldio, faundo-as cair pouco a
pouco em si próprias. Entretanto, contamos com as restantes,
as que sabem distinguir entre o pr,conr.eito ,. a verdade, as que
desejam sinceramente ver claro e se esforçam humildemente por
acerta ... E estamos convencidos de que estas constituem a grande
maioria. A sua posiçllo nllo será tllo cómoda, evidentemente.
As dificuldades stlo reais, por vezes ingratas, e implJem sempre
sacrifício. Mas vale a pena o sacriflcio. quando se trata de
ve11cer detl'rminadas relutdncias atávicas do falso pudor sobre
que p,sn a responsabilidade de tantas tragedias Intimas que se
podiam e deviam ter evitado.

P.e HODRl<iO DA CC.VHA.


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PÓRTICO

OS D OIS LAGOS

Q UANDO eu era jor,em ,atudante, costuma'Ua, frequente•


mente. passear Junto dum lago, nas montanhas. Sobre o
esp,-/ho cristalino da dgua bailavam os raios do sol. A dgua
pura brilhava. e por entre os seixos pousados no fundo zigue­
zagueavam inúmeros peixinhos, parecendo gozar a caricia dos
r,1ios do sol
Orlavam as suas margens miosótis azuis, e da água em
repouso emergiam llrios nquáticos, semelhando sentinelas com
os glâdios erectos das suas folhas. Os salgueiros, roçando com
a sua ramagem inclinada o dorso cristalino da dgua. pareciam
deleitar-se na conternplaçflo do céu azul, espelhado no lago. Uma
brisa suave e acariciadora agitava brandamente a verde
ramagem, produzindo um murmúrio doce ao perpassar pelos
canaviais.
Este lago. na mo n t a n h a, era para mim a imagem
duma alma juvenil, cheia de 1Jida, augre e feliz; era como
o olhar cdndido e aberto dn cria11ça, reflectindo a luz das
estrelas ...
Passaram-se largos emas e. com saudade. voltei, um dia,
a contemplar de novo esse lago da minha juflentude. Qual nâo
Jo;, porem, o meu espanto ao ver a transformaçllo que nele se
tinha operado. Os lirtos. caídos, estavam secos. Os salgueiros
encontravam-se despidos da sua ramagem, e a superfície lisa e
cristalina de t1ntes era agora um charco amarelecido p�las
folhas velhos.
Onde estavam aqueles lirios imaculados. as sentinelas de
outrora?
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Como desapareceu a coroa de folhagem verde que os sal­
gueiros majestosamente ostentavam?
Para onde foi o azul do ceu que. sorridente. se re/J,ctia no
espelho da água?
Com o meu coraçtlo oprimido, perguntei. enl4o: Será
e/ectfoamente este o lago de água pura e cristalina da minha
juventud,?

S4.o lindos como os miosótis deste lago os tl!us olllos, don­


zela, e é bela como o lago cristalino da montanha a tua alma.
Mas, ai! Quantas como tu deixaram morrer tllo prome­
tedoras esperanças!

E para conservares a tua alma sempre cristalina que eu


escrevo este livro. Poderás nele colher esta certeza: conservar
a alma pura e chegar com ela assim ao zénite da vida. é a mais
bela arte de 11iver.

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CAPITULO I

OS PLANOS
DO CRIADOR

1- O primeiro homem e a primeira


mulher.
11- Os planos do Criador.
111- A origem da vida humana.
1 V - Mãe e Filha.
V - Pensamentos sérios. Reflexões
importantes.
V! -Sedução pecaminosa,
V 11 - Mistério santo.

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• Criou, pais, D,:u,; n h�mt'ffl .i s1111 ima,rem: ,i i'lflll•
gern de Dn,; o criou: criou-as l1omern e muJhe�.
E d�-lhes Deus a IIUJ lli"fÍJO e J1ae: Crescei, e
multiplicai-vos, e e11chei a terra, e apossai-vos dllla. '"
( GÍl�ESIS, 1, 27-28 ).


�--�
t :-i ASSADOS eram já milhares de anos, em
_. que a terra girava vertiginosamente,
na sua órbita, à volta do sol. Em seu
seio refervia ainda a lava incandes-
cente; de tempos a tempos, a sua
)
-�::C.- l� · · crosta endurecida fendia-se ruidosa-
1t.:)c"r.\·. mente, m2s o seu arrefecimento con-
?,:.�ff!::.��f- tinuava ainda . • . Densos bosques
?!:if�if/: verdejavam por toda a parte. A Pri-
mavera cantava ji a sinfonia arreba­
tadora da luz e da cor deslumbrante
das flores; os trinos alegres das avezinhas, levados
pela brisa suave, enchiam os espaços de maviosa
harmonia. Por toda a parte a vida, a força, a ener­
gia em acção. . . Alguma coisa, por�m, faltava ainda.
Faltava alguém que se deleitasse com o trinar dos
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16 PUREZA E PORMOSURA·

passarinhos, com o perfume e o brilho das flores,


com os deliciosos frutos das árvores. . . Faltava um
ser racional, consciente, que abarcasse na sua alma,
ávida de infinito, todo este oceano de belezas; um ser
que, em lugar de constituir uma peça a mais no grande
mecanismo da natureza, fosse capaz de sentir e deli­
ciar-se com o gorgeio das aves, o murmúrio dos rega­
tos, o perfume das flores, o sussurro dos bosques, o
ciciar da brisa, a majestade das gigantescas montanhas,
o zumbido das abelhas; um ser que, das asas da gra­
tidão e embriagado por tantas belezas criadas, chegasse
ao conhecimento do Supremo Artlfice.

!--=- O primeiro homem e a primeira mulher

Deus criou, então, o prim e i r o par humano:


um homem e uma mulher, cada um com o seu sexo.
Embora seres acabados um e outro, foram destinados
a completar-se mutuamente para realizarem a obra da
geração de novos seres semelhantes a eles. Na uni.ão
dos dois, realizou o Criador o ideal da humanidade.
Cada sexo tem as suas notas carecterlsticas, mas de
tal modo que, unidos e completando-se mutuamente,
realizam o conceito adequado de homem.
Dotado de actividade criadora, como uma das
suas qualidades tlpicas, o homem � forte na sua von­
tade, inabalável no stu carácter, firme nas suas reso­
luções. Sente prazer em se defrontar, tenazmente,
com as mil e uma tempestades que se levantam no mar
da vida.
A mulher, ao contrário, desfaleceria nesta luta feroz
tantas vezes. O seu lugar é o doce ninho da familia.
Com um amor e sacrifício inesgotáveis, cuida do seu
lar, dos seus filhos, e faz aflorar na alma do marido um
sorriso de satisfação, quando à noite regressa a casa
para descansar, após um dia de rude trabalho. E: infe-

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OS PLANOS DO CklADOH 17

rior ao homem na força muscular, mas sobreleva-o na


perseverança, na paciência, na delicadl'za.
Criando o homem e a mulher, Dr.us realizou os
mais belos ideais da nossa raça. Os encantos da vida
de familia, o amor conjugal, o afecto dos filhos, e até
mesmo a saudade e o amor pátrio, nãü existiriam sem
a distinção dos sexos. Ê n�cessário, pois, que haj;i
hom,·m e mulher; a força dum e a ttrnura do outro.
Ê ntcessário que à energia e à actividade daquele
corresponda o amor, a beleza e a profunda sensibili­
dade desta, completando-se mutuamenlt!. foi por isso
que Deus pós ao lado da primeira mulher o primeiru
homem, deixando assim constituída, desde o princípio
da nossa história, a primeira família.

li - qs planos do Criad_o!

Outros planos maiores e mais santos teve Deus, no


entanto, ao criar o primeiro homem e a primeira mulher.
À união dos dois sexos, comunicou também uma força
maravilhosa. Quis associar os homens à Sua obu
divina de Criador. De modo que é com a sua coope­
ração que Ele dá vida a novas gerações, a fim de
pretncher o vazio cavado pela morte. Os jovens espo­
sos - exuberantes de vida, pl�namente desenvolvidos
dentro duma virgindade intacta segundo a vontade
de Dtus - unidos como num só coração, são a expres­
são dum sublime des(gnio do Criador. Ê assim que
deves habituar-te a considerar o matrimónio, de que
vou falar-te.
A Sagrada Escritura diz-nos que Deus, por si
mesmo, sem intermediários, criou os nossos protopa­
rentes Adão e Eva. Um dia houve, porém, em que tu,
donzela, fizeste a ti mesmo esta pergunta:
- E quem criou os outros homens? Se não foram
criados directamente por Deus, como Adão e Eva, de

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18 PUREZA E FORMOSURA

que modo vieram, então, ao mundo? Como nasci eu


e como nascem as outras crianças?
e uma questão realmente muito sena, cujos pro­
blemas despertam a curiosidade de muitas jovens como
tu. Para evitar que outros te respondam, talvez inde­
vidamente, vou eu cumprir o dever de esclarec�r-te.
Presta atenção. Como é já do teu conhecimento,
os seres criados dividem-se em dois grupos: o dos
S't!res .orgânicos e o dos inorgânicos. Ao criar os
do primeiro grupo, isto é, os seres orgânicos (plan­
tas, animais e homens), Deus comunicou-lhes uma
parte do seu poder criador, pelo qual podem transmi­
tir a vida a outros pequeninos seres, semelhantes a
eles. Assim é que a planta produz outras plantas, o
animal dá à luz outros animais, o homem comunica a
vida aos filhos.
Ao criar, porém, os seres do segundo grupo, isto
é, os inorgânicos (o sol, os astros, os minerais, as
montanhas, os mares, etc.), Deus, não lhes deu o
poder de criar outros seres semelhantes. Porquê? Por­
que estes seres não acabam tão fàcilmente como os
seres vivos, e por isso não têm necessidade de asse­
gurar a sua continuidade sobre a terra. Os peixes e as
aves, as árvores e as plantas, os animais e os homens,
envelhecem e morrem aos milhares cada momento.
Se não houvesse um meio de substituir todos estes
seres que vao morrendo, em pouco tempo a vida dej­
xaria de existir. É verdade que Deus poderia criar, por
si mesmo, outros seres em substituição dos que vão
desaparecendo. Mas, pela sua bondade, quis realizar
uma coisa mais sublime: deu a todos os seres vivos a
capacidade de comunicar, por si mesmos, a vida a
novos indivfduos, e tão misteriosamente, que os maio­
res sábios do mundo não conseguiram ainda penetrar
neste segredo.
Já reparaste, alguma vez, cara donzela, nos botõe­
zinhos quase imperceptfveis das árvores? Pois cada
um desses botõezinhos é o gérmen duma nova flor,

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OS PLANOS DO CIUADOR 19

dum novo fruto, duma nova árvore. Aguardam apenas


o beijo do sul primaveril para desabrochar e florir.
As flort's esperam a visita da fresca brisa de Maio
ou dalgum insecto qut transporte, nas suas asas ou nas
suas pequenina� patas, o pól!'n doutras flores e com
ele polvilhe os seus pístilos. Nesse momento, podemos
dizer que duas flores se juntam para criar outras flores.
Dá-se assim um fenômeno misterioso: a parte d2 flor
que recebeu o póleH vai crescendo dia a dia e ao fim
dalgumas semanas ou meses a planta oferece-nos um
fruto já maduro. Dentro dele está uma pequenina
semente qu .. será a origem doutra árvore, doutra nova
vida. E, dt·sta maneira, o Cri.ador vai renovando cons­
tantemente a Natureza .•.

E o Homem fita a imensidtlo, sorrindo:


Toda a tarde a levou nesses olhares.

-· Sozinho! -- E tudo vira em bando. aos pares:


A rola, a corsa . . . Enfim! mesmo as estrelas
Surgiam aos casais, rompenáo os ares.

As roseiras tambem. (e pôs-se a vê-las)


SemprP abraçadas entre si. trocando
Beijos. aromas . .. - Que diriam elns ! -

Silêncio. Um rouxinol, de quando em quando;


O mais. vago murmúrio: a cinza. o pó
De vous mortas que lá v(lo tombando.

Ad(lo se entristeuu: ele era só!


E Deus o compreendia. . . Sim! eu creio
Que D�us, a vez primei,a, tefJe dó

ANTÓNIO C0RJ.lt:/A DE OLIVEIRA.

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20 PURBZA E FORMOSURA

111 - Origem da vida humana

A conservação da nossa espécie dá-st! por urn


processo análogo. Deus dotou o homem duma força,
t:111 certo modo criadora: uma força misteriosa, uma
capacidade quase divina de comunicar a vida, de
chamar outros homens à existên c i a. Há efectiv::­
mente, no homem e na mulher, pequenas s�mentes
de cuja união resulta um novo str vivo, um novo
homem; Esta força criadora, esta semente de vida,
estt:s pequeninos gé:mens, jazem adormecidos na criança,
como os botõezrnhos na árvore durante o Inverno.
Em chegando a primavera da vida, o menino faz-se
homem e a menina torna-se mulher. Cintila o sol da
juventude ... O jovtm St!nte-st atraído para a donzela.
En�moram-st', reaiizam o seu casamento, e no santuá­
rio dil família unem-se inseparàvelmente na alma e no
corpo. Esta união tão real e tão completa, e:-te amor
entre os esposos, não só os enche de gozo mas eleva
a mulher à dignidade de mãe; o pequenino embrião
começa a viver, a crescer, a desenvolver-se e quando,
passados nove meses, tem força suficiente para sair do
invólucro que o guarda, o fruto cai d;: árvore ... e dize­
mos. �ntão: nascêU um menino. Este novo str não é
o pai nem a mãe em miniatura, mas um resumo dos
dois. Nele se reflectirão. pela vida fora, o modo de ser
e de viver, bom ou mau. qu� o pai e a mãe tiv�ram.
É por isso que, no mundo, não há amor cerno o dos
pais pelos filhos. É que eles são, no sentido mais
estrito da palavra, carne e sangue dos seus progenitores.

IV- Mãe e Filha


Escuta este diálogo íntimo entre uma rapariga e
sua mãe, que preferiu responder com sinceridade às
perguntas da filha, antes que ela pedisse explicações às
suas companheiras:

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OS PI.ANOS DO CRIADOR 21

- Mamã, que tamanho tinha eu; quando era muito,


muito peque nina, quando comecei a exi!,tir?
- Eras assim, como um pont,,; mais pt'quena
que a cabeça dum alfinete. Só com o auxílio duma
lente se te poderia ver
-Jesus! Então podia muito fàcilmente ser esma­
g.1da !
- Sim, com certeza, respondeu a mãe; todo o
ser vivo, e port,mto nós também, a princípio érJmos
p�queninos como pontos, como p�queninos grãos que
t>ra prl'ciso esconder muito bem, como a semente
dehaixo da terra, para assim res1!U1rd:.Jdos podermos
crescer. Deu�, que é tão bom, velou por ti para que
nada te acontecesse, enquanto er�s a�sim pequrnina.
Preparou para ti um lugar escondido dentro de mim.
pertinho do meu c,-,ração. Nt-sse lue:ar quentinho e
macio, cerno um ninho, tu começastt' a crescer
- E eu podia coinl:!r e respirar dfntro de:' li, mamã?
- Fazia-o eu no teu lugar. Alimt->nLwa-mt> hem
p.ua ser m,ds forte e dar-te força a ti. O que eu comi:,
transformava-se em ,._angue e o mfU sangue era n teu
alimento.
- Mas tu sabias, mamã, que Pn est,1va nes .. � lugar
assim t'scondida?
- Sabia muito bem, meu amrHzinho. Às vezes
sentia-tt' mexer e dizia-te, baixinho: «Bons di�s,
bébé ! Já l'Stás acordada? A tu<! mamãzinha t::mbém
já acordou e pensa muito em ti. Vai crescendo, e for­
tifica-te para que, quando tiveres força suficiente, possas
sair desse lugar e tu po,;;sa ver-te evm o� meus olhos e
com grande alegria. . . Estás a ohar tão admirad.-t que
até parr·ce a primeira VP.Z que ouves falar nisto l .•.
Afinal já o sabias, com certeza, mas não o compreen
dias. Não vês que ao rezar ::i Ave-Mari::1, todos os dias,
dizemos: « • • • e bendito é o fruto <1n vosso ventre,
Jesus"? Assim como uma maçã é fruto da macieira,
assim tu também, meu amor, és fruto da tua mamã.
Mas como tu vales muito mais que tod11s as maçãs do

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22 PUReZA E FORMOSURA

mundo, Nosso Senhor teve muito mais cuidado contigo,


e por isso deu-te um lugar escondido dentro de mim,
onde estiveste antes de apareceres no mundo.
- E quanto tempo estive dentro de ti, mamã?
- Nove meses. Também já o sabias. Queres
ver? Sabes que um anjo do céu veio dizer a Nossa
Senhora que ela ia ser a mãe do Menino Jesus. Sabt:s
quando é a festa da Anunciação do anjo a Nossa
Senhora? t no dia 25 de Março. . . E quando feste­
jamos o nascimento do Menino Jesus? Ê �m 25 de
Dezembro, não é ? . . . Ora, de 25 de Março a 25 de
Dezembro vão nove meses. Durante esse kmpo, eu
rezava muito por ti, para que fosses uma menina com
saúde, muito boa e amiga de Nosso Senhor. Procurava
estar sempre muito contente e alegre, porque desejava
que tu fosses assim também. E um dia, quando já
tinhas força, saiste de mim e nasceste. Senti muitas
dores, mas não me importava... Tu deste um grito e
começas-te a chorar. Peguei em ti e apertei-te contra
o meu coração. Beijei-te muito e também comecti a
chorar, mas de alegria, Com que ternura eu olhava
para ti, deitadinha no meu colo l Compreendes, agora,
porque te amo tanto?
- Sim, m2mã e também agora já sei porque te
amo tanto, tanto como a ninguéIT1 mais deste mundo.

V- Pensamentos sérios.
Reflexões importantes

Um momento de reflexão ba:,la para entoarmos,


com toda a nossa alm2, um hino de agr.:.decimento e
louvor pelo magnífico plano cJo Senhor.
Se Deus criasse todos os homens já adultL•s, como
Adão e Eva, tudo no mundo sena árido e frio. Não
havia familia, pai, mãe e filhos; não teríamos irmãos;
não terfamos com quem partilhar as nossas alegrias

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OS PLANOS DO CRIADOR 23

nem desabafar as nossas máguas. Não haveria crianças.


faltaria o som argentino das suas gargalhadas e o
sol da sua candura. Sem crianças, ficaríamos priva•
dos da alegria pura e descuidada da idade infantil.
Que amor tão grande nos revela Deus nesta maneira
sublime de conservar a espécie humana I Directamente,
!iiÓ criou o primeiro homem e a primeira mulher, mi•s
deu a õmbos e por meio deles a todos os outros, uma
p::rticipação da sua força criadora. Decretou que
to�sem elts quem, no futuro, daria a vida do corp0 aos
outros homens. Admirável, santo e sublime este plano
do Criador I Que respeito profundo nos merece a sua
santa vontade! Na missão de renovar continuamente
a tspécie human:-; - missão em certo modo criadora -
quis a colabüração do h,,mem ! Empregar o corpo só
par;1 o fim santo a qur de o destinou, isto é, renovar
e conservar a espécie humana, de tal modo que do
amor que une o homem e a mulher nasça um novo str,
um novo homem. é colaborar com Deus ... Mi�são pro•
videnc1al, deve realizar-�e divinamente, dentro das con­
dições impostas por Deus desde o princípio, a saber,
no cas::?mento indissolúvel.
Assim como a alma nos coloca acima dos outros
seres, assim pelo cumprimrnto t':Iaclo da lei moral, o
homem há-de elevar esta força criadora acima duma
função meramente material até às alturas sublimes do
mundo espiritual.
Renunciaremos ao nosso mais alto privilégio, à
própria natureza racional, quando nos p�rmitir-mus
qualquer manifestação de vida corporal que não seja
subordin;:ida a um pensamento digno.
Por isso, querida jovem, reflecte, muito a sério neste
grande mistério da vida; não prestes ouvidos a con­
versas livres sobre esta matéria, e evita falar dela com
leviandade. Respeita cuidados�mente o teu corpo.
O plano do Criador é claro. Que todcs, sem
e:z:cepção, se conservem puros de alma e corpo até ao
momento solene do casamento; e aqueles que, por

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24 PUReZA E FORMOSURA

motivos de ordem superior não se casam, como por


enmplo os sacerdotes para s2lvar almas, ou as religio­
sas para se dedicarem mais a Deus e ao próximo, esses
devt:m guardu a castidade até à mortt. Deus 56 per-'
mite a união dos sexos na forma por Ele prescrita, isto:
é. no casamento indissolúvel e com o fim primário de
dar vid:-! a novos seres. Aquela jovem que profanar o
seu corpo com prazeres proibidos peca gravemente con­
tra si, contra a sociedade, contra 2 natureza e contra a
vontade sacwssanta de Deus.
Pode ser que alguma dl'S tuas companheiras tt�
faça esta objecção: - rEntão aquilo que é licito e até
uma coisa s...,nta no casamento torn.i-se pecado tãc1
grave, fora dc mesmo? Uma coisa ou é sempre pecado
1

ou não•.
A resposta é fácil. Deus criou o corpo com as �uas
funções e tendências. Tudo isto considerado em si é
b:im, porqu,� assim o é tudo o qu� Deus faz O mal
está em fazer uso dos dons de Deus no momento e nas
c1.rcunstân,:ias P.m que Ele não permite. Esta tendência,
que é um dom de Deus, só pode ter satisfação dt!ntro
do cas�mento � cem a possiblidad-.� de se cri:ir íilhos. l1 >
Poder-se-ia perguntar? : - « Ma!i- porque e que
Deus di�pôs �ss1m ?» Diremos que só D�·us é s(�nhor
absoluto e que não tem que dar contas a ninguém
daquilo que ord·�na nas SUi:tS leis. Quem inventa uma
máqui1H sabe m•�lh,H do que ninguém o qu� C'. neces­
sário p;;ra o s ·u tlOm [uncion�mento e pan evitar .-!
1

sua deterioração. Deus criou o hom�m e a mulher e,


por isso, sabe melhor do QUt! ninguém como eles hão-de
viver para cumprir a sua missão humana.
Se reflectirmos um pouco, descobriremos que esli:
lei severa de Deus, que só pt!rmite a união do homem
e da mulher dentro do casamento, tem por finalidade o

U> Para um conhecimento mais completo deste assunto, que


� lmportantlsslmo, poder-se-4 recomendar, por exemplo, o livro de
Re.ul Plus, S. J. cO Caminho do Matrimónio•.

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OS PLANOS DO CRIADOR 25

bem da sociedade. Efectivamente só no casamento


essa união se pode realizar, sem que a mulher sofra
quebra da sua dignidade e pudor. Só no casamento
essa união � santa, porque só nele se realiza sem pre­
julzo da alma. Só no casamento indi�solúvel pode
haver uma educação esmerada dos filhos. Nem o
Estado nem a sociedade subsi�tiriam, se Deus não
tivesse restringido o exercício da vida sexual aos limites
do casamento indissolúvel. Satisfazt:r de qu;1lquer modo
essa tendência, fora do matrimónio, é at�ntar contra a
honra e a felicidade própria e alheia.

V 1- Sedução pecaminosa

Oêntre os dons com que Deus nos enriqueceu


poucos são os que nós não aproveitamos, muitas vezes,
para o mal. Mas é triste verificar que nunca o plano
de Deus é tão frustado como quando se faz mau uso
do poder de transmitir a vida. O desabrochar de nova
vida é sempre acompanhado de profunda alegria.
Contempla a natureza na Prim:wera : o sol brilha,
canta nos salgueirais o rouxinol, a brisa corre mansa­
mente, zumbe a abelha, o regato murmura; tudo são
encantos de beleza... Também na união do homem
e da mulher, no casamento, Deus deixou o prazer e a
alegria Assim melhor p,,derão aceitar os inúmeros
sacrifícios que lhes trará, depois, a educação dos iilhos.
O plano de Deus surge• nos em tod.:t a sua luminosa
clareza: não há dúvidas de que a união dum s6
homem e duma só mulher, no casamento indissolúvel,
foi instituída por Deus, para criar os novos se1c::,, con­
servar a espécie humana. Mas infelizmente, nos nossos
dias, uma onda de peças teatrais, pelfculas de cinema,
pinturas, romances, gravuras, revistas, jornais, livros e
falsos doutrinadores, proclamam que a mulher é livre �
pode dispor de si, dos seus dons, sem o casamento.
A familia, a educação dos filhos, são um estorvo ...

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26 PUREZA E FORMOSURA

«Vive como melhor te agradar .. _ ,. eis o lema dos que


assim pensam.
Querida jovem que me lês, talvez tenhas ouvido
estas e outras vozes ainda mais sedutoras Aos treze ou
catorze anos, sentes o teu corpo desenvolver-se. Experi­
mentas novas sensações e notas que a vida moderna está
cheia de perigos. Na rua, no cinema, nos livros, no
convívio com as tuas amigas, em toda a parte, ouvi­
rás escarnecer cs planos do Criador; sentirás à tua
volta, e talvez muito perto de ti, a torrente avassala­
dora da imoralidade. Chegarão às tuas mãos livros
sedutores, verás na tela do cinema cenas indecorosas,
quando não abertamente pornográficas; ü::rás até, entre
as tuas amigas, alguma de moral pouco segura. Mais:
quantas delas, ainda tão novinhc:s, nos anos da sua vida
colegial aprendem coisas impróprias para a sua idade;
quantas perderam já talvez o véu da sua candura e
inocência 1
Quem sabe mesmo se não terás ouvido, perto de
ti, algumas amigas que, com as suas conversas livres,
profanam a fonte da vida ... amigas que talvez já este­
jam corroídas deste mal terrível da nossa época, e que,
talvez com uma leviandade sem nome, desprezam o dom
mais sublime com que Üt.'US as prendou.
VII - Mistério santo

Quão dignas de lástima são tais amigas já tu o


sabes. Se conhecessem b1;.m o seu dever sagndo, o fim
para que Deus lhes deu certas tendências e aptidões ...
não falariam dessa maneira. Que sentimentos inferio­
res, que espírito tão degradante não revelam essas tuas
companheiras que se entretêm com palavras ou actos que
rebaixam tanto uma das qualidades mais nobres e
santas com que foram dotadas por Deus 1 . . . « Ignorais,
porventura, que os vossos corpos são templos do Espl­
rito Santo, que habita em vós?• - pergunta o apóstolo
S. Paulo, numa das suas cartas. Pois bem: assim

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OS PLANOS DO CRIADOR 27

como numa igreja tudo é santo, assim também no


tem pio do nosso corpo tudo é santo, porque tudo é
obra de D�us.
Quanto maior for a tua emoção e mais profundo
o teu respeito ao pensares nesta força misteriosa que
sentes em ti, dos treze aos quinze anos, quanto mais con­
vencida estiveres de que no teu corpo guardas, por
vontade do Criador, a vida, a felicidade de gerações
inteir.2s t o futuro da tua Pátria, tanto maior deve ser
o teu cuidado em evitares tudo quanto possa enfra­
quecê-la ou arruiná-la.
Na natureza inteira a origem da vida é um misté­
rio. Mistério assombroso e sãgrndo. A crisálida, para
ser borboleta, fica encerrada no casulo, oculta dos olhos
de todos.. E quem há que já vis3e como g�rmina um
grãozinho de trigo? Ê lançado à terra e ai fica, até
que surge transformado numa nova vida.
Quem alguma vez pôde ver a cristalização da vio­
lácec ;1mttista ou do rubi sangufneo, no silêncio recôn­
dito ao seio miskrioso da rocha? O principio, o
nascimentc, o brotar da vida fica oculto sob o véu do
mistério. Debalde bus c:1 r emos a origem da vida.
O investigador mais sábio e erudito, no fmal do seu
caminho, sente que atingiu apenas os umbrais dum
santuário impenetrável. Se tenta mais um passo, tem
de inclinar-se reverente perante o nome de Deus e parar.
Mas este segredo sublime que os sábios não conseguem
desvendar é, muitas vezes, entre algumas raparigas,
objectP d;is conversas mais indignas.
Tu já sabes que destino grandioso te reserva o
futuro. No dia em que segundo a Lei de Deus, realizares
o teu cas::imento, chamarás à existência novos seres huma­
nos, e�tarás destin.. da a ser mãe.
Mas, como canta o poeta:
Mtfe e palavra de mel.
Ml!e é venturosa estrela.
Nao hd nome como ele
Nem esperança como ela.

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28 PUREZA E. FORMOSURA

Sentes a enorme responsabilidade que pesa sobre


ti e o dever que tens de conservar intactas as forças do
teu corpo até chegar esse momento solene? Sabes
que, se não fores pura e modesta, destruirás a tua digni­
dade? Toda a jovem que não soube ser pura e casta
antes do casamento, dificilmente o será depois. A sortt
de muitas gerações futuras dep:·nde, totalmente. do cum­
primento da Lei do Senhor, nos anos da juventude.
As ralzes da ãrvore escondem-se nas entrJnhas da
tt'rra e daí sobe ao tronco e aos ramos a seiva que os
vivifica ; se as expomos ao sol, a árvore seca e morre
O processo de, de5envolvimento do teu corpo há-dt:
realizu-1,e também num silêncio de mistério, nurr,
ambitntt! sagrndo de sólida e sincera piedade, longe
d,� ollrnres curiosos e de p•�nsamentos indiscretos.
Com as tuas companheiras, nunca d�ns falar leviana­
mente ou por curiosidade deste assunto, porque a curio­
sid:ide humana não deve trazer à luz do sol o que z
sabedoria de Deus quis ocultar.
Deves, por isso, respeitar muito o trn corpo. con­
servando-o sempre puro e tarte, segundo os' planos do
Cri�dor
Lembra-te de que, nos anos da tua juventude, não
edificas ou desmoronas somente o edifício do teu corpo,
da tua alma, mas também o da tua família futura, e o
da felicidade dos teus filhos.
Não prestes ouvidos à sedução, seja qual for a
form,; atr�ente, literária ou artística, sob que se tt
apresente.
Infeliz daquela que correr atrás dos fogos-fátuos que
se levantam dos charcos imundos I Morrerá atascada
no lodaçal.
O desenvolvimento dessa misteriosa semente que
encerras dentro de ti terá boa ou mâ fortuna, segundo
a tua conduta de agora, segundo o teu recato e pureza.
Dela depende que mais tarde sejas a bênção ou ;, des­
graça do lar que fund3res. Não esqueças que um
gr.andt' número de crianças neurasténicas, raquíticas,

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OS PLANOS DO CRIADOR 29

cegas de nascença, paralíticas, cnminosas e ate louc2s,


são vítimas inocentes dos pecados e excessos que os
pais com�teram na juventude.
A boa vontade, os nobres sentimentos que agora
te animam, vão ser submetidos, talvez, a duras provas e
tentações. Livros, gr;;:vuras, cintmé!S, cartazes, postais
ilustr,,d(js, revistas humorísticas, factos, c .. nções ...
hão-de precipitar-se t'.m tropel sobr� ti, grit.rndo aos
teus ouvidos: • Não sejas bicho do buraco, at;asad;:i,
«beata,, •.. a rapariga moderna deve �aber tudo, deve
gozar a vida em cheio. »
Na scc1edade moderna, tão revolucionária e irre­
quieta, só ouvirás dizer: «O amor e o praur são o
único objectivo da vida »
No meio dest� ruído e desta barafunda, ficarás
aturdida, com o coração oprimido, sem saber que fazer,
que norma seguir. Encontrar-te-ás, então, numa encru­
zilhada decisiva para a tua vida. Teras diante de ti
esta questão grave a rf.Solv.::r: Para ondc e por onde
se.ruir;!

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CAPÍTULO li

O MEU DESTINO
E O MEU CAMINHO

1 - A casta veneziana.
I1-Já não és menina.
111 - O teu organismo desenvol­
ve-se.
1 V - No Abril da tua vida.
V - Outros pensamentos, outros
anseios.
V 1 - O primeiro amor.
VII - Os planos do Criador.
VI li- Pura e bela,
IX - No meio da tempestade.

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cNáo , rrl a4uele 4ue o não for de li me,,,.o, no


ço,enio • domllllo dOJ :seu apellte, e pab:6eJ,•

(V. Ili.nu DE ÃGR!DA -Com1)IOlldlnd1 U111 Jlllpe IV).

eNs já catorze ou dezasseis anos feitos.


Entras num peóodo novo da tua vida,
talvez o mais importante e decisivo.
Como numa visão caleidoscópica, o
mundo vai oferecer-te o panorama
sedutor das suas pompas. Terás aberto
diante de ti dois caminhos : o da
leviandade e o da pureza.
Contempla o primeiro. Por ele
passa em louca correria, como diz
Calderón, o teatro do mundo, em que tudo é máscara
e falsidade. Aos teus ouvidos chegarão convites e
galanteios, vozes de amor, de felicidade... Noites de
luz deslumbrante ...
Oposto a este, abre-se-te o caminho branco da
pureza. Se queres permanecer fiel ao Senhor, que um
dia entrou pela primeira vez no teu peito para te encher
o coração de santos anelos, renuncia aos falsos prazeres
e segue esse caminho. Foi já. o caminho de milhares

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34 PUREZ r.. E FORMOSURA

de jovens como tu e que hoje têm nas suas mãos a


palma do martlrio entrelaçado com açucenas de vir­
gindade.
1 - A casta veneziana

foi em 1454. Paulo Ericio, governador da ilha de


Negroponto ou Eubeia, tinha uma filha, notãvel pela
sua beleza e modéstia, A ilha é assaltada pelos turcos
que matam o governador, serrando pelo meio o seu
corpo vivo. Sua fiJha fica prisioneira e é levada à
presença do sultão Mahomé 11. Este, encantado da sua
formosura e do seu espirito de fortaleza, promete-lhe
riquezas e honrarias, se ela renunciar à sua fé e à sua
pureza.
- Sou cristã - respondeu a jovem - ; guarda
para outra as tuas promessas; pertenço a Cristo, a quem
prometi ser casta.
- Mas não vês que posso fazer-te rica e feliz?
- Desprezo as tuas riquezas. Esses reinos que me
prometes, para mim nada valem.
-Já vejo que a prisão te obscureceu o racioctnio.
Tens mais alguns dias para pensares bem na tua resolução.
O sultão entregou-a, depois, a dois guardas com
ordens secretas de a persuadirem a renegar a sua fé
cristã e a aceitar as suas propostas. As insinuações dos
seus guardas a donzela crista respondeu:
- Perdeis o vosso tempo. Dizei ao vosso senhor
que eu sei a morte cruel e dolorosa que deu a meu pai,
não obstante ter prometido conservar-lhe a vida. Sou
cristã: o meu corpo e a minha alma são santos.
Nunca os mancharei, com um só pecado que seja.
Prefiro morrer 1
- Mas, tu sabes quem é o nosso sultão? Os seus
reinos são extensíssimos, fabulosas as suas riquezas e
imenso o seu poderio. Em seus palácios habitam as
mulheres mais formosas. Só de ti depende seres a sua
princesa favorita.

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O MEU DESTINO E O MEU CAMINHO 35

- Terminai com as vossas razões. Dizei a Mahomé


que recuso com toda a força da minha vontade as suas
ofertas. Longe de me envaidecer com elas considero-as
como a mais grave ofensa que pode fazer-me.
Passados alguns dias, é levada novamente à pre­
sença do infame sultão que, perante as suas negativas
formais, tenta dominá-la à força, para satisfazer os seus
baixos instintos. A jovem resiste fortemente, repelindo
dt' si o brutal algoz que, irritado, ali mi:-smo lhe cortou
a cabeça com o seu alfanje.
Assim expirou a «casta veneziana•, sem renunciar
à sua fé nem perder a sua pureza.
Talvez venhas a ouvir, um dia, promessas seme­
lhantes, com a condição de renunciares à tua pureza.
Strá ocasião dt: tomares também uma decisão heróica
para saires vitoriosa, pois, como diz S. Paulo na sua
carta aos Gálatas, e a carne tem desejos contrârios ao
espírito».
Escuta com atenção o que vou dizer-te.

11 - Já não és <menina>

Entre os treze e os catorze anos ou até mesmo


antes, notas em ti coisas misteriosas, coisas inteiramente
novas. O teu corpo e a tua alma sofrem uma transfor­
mação notãvel. Passam-se novos fenómenos e experi­
mentas desejos e aspirações que até af não conhecias.
Acontece-te o mesmo que ao mosto, quando começa a
fermentar para se transformar em vinho delicioso. É a
idade da transição. A menina inconsciente e despreo­
cupada transforma-se em rapariga consciente da sua
personalidade e do seu valor.
Esta mudança atinge todo o teu ser. Trava-se,
dentro de ti, uma luta entre a «menina, condenada a
desaparecer e a «rapariga, que vai surgir. Assim como,
na Primavera, volta nova vida ao ramo das árvores

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36 PU�EZA E FORMOSURA

adormecidas no Inverno e a circulação da seiva vivifi­


cante faz desabrochar os rebentos, assim também, na
primavera da vida, o sangue corre e palpita mais nas
tuas veias, despertando novos pensamentos e anelos.
E tu que fazes?
Meio desconcertada e envergonhada perante a
estranha vida que em ti desperta, lanças um olhar à tua
alma e parece.te que já não és a mesma, quase te não
conheces. Como as avezinhas de arribação, aos pri•
meiros raios do sol do Outono, apodera-se de ti uma
certa angústia e inquietação. Não é assim?

111- O teu organismo desenvolve-�e

Primeiro, sofres uma grande transformação. Os teus


membros alongam-se, o teu corpo adquire traços carac­
teristicamente femininos. Não sabes que mais fazer
com a tua figura que começa a sobressair • • . Depressa
te desagradam os vestidos, que antes eram toda a tua
ilusão I Durante as férias cresces quinze centfmetros e
em dois ou três anos ficas quase uma senhora que se
considera linda e formosa. Já não corres como as
crianças, mas também não tens ainda o caminhar grave
e medido das senhoras. O teu peito e os teus músculos
desenvolvem-se; a cintura vinca-se. No teu rosto
infantil aparecem os primeiros traços de mulher já feita.
Quando ninguém te vê, corres ao espelho e ali passas
largo tempo contemplando o teu penteado, os teus
movimentos, o teu sorriso, a tua pessoa, afinal. Não �
verdade?
Tudo denuncia que estás na primavera da vida.
Ora a Primavera é um tempo de inestimável valor;
dela depende a colheita de todo o ano: se a Primavera
for má, o Verão será estéril e o Outono, horrfvel.
Nlo é só no teu uterior �ue se opera tal mudança.
A par desta transformação exterior, desenvolvem-se os
órgãos internos. O coração, os pulmões, o cérebro, o

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O MEU DESTINO F. O MEU O.MINHO 37

sistema nervoso evolucionam e desenvolvem grande


actividade para acompanhar o crescimento do teu corpo.
Esta transição da infância para a adolescência
levanta uma verdadeira tempestade, um forte vendaval.
Muitas vezes, sentes dores de cabeça e vertigens; solta­
-se-te o sangue do nariz e até o coração pulsa com mais
força. Todos os meses perdes uma quantidade variável
de sangue: é a menstruação. Muitas vezes sentes-te
cnnsada; não consegues fixar a atenção em coisas
Hérlas; invade-te a tristeza, choras e irritas-te com a
mais pequena coisa e, surpreendida, chegas a dizer:
«O qut! é isto que eu sinto?•.
Não te preocupes nem te assustes, querida jovem.
t a natureza que desperta, anunciando-te a mensagem do
Sl'nhor. Poderás, um dia, ser mãe. Precisas de sabê-lo:
� o mistério da maternidade que eu te vou explicar.
Quando a menina se faz mulher, todos os meses se
dt•sprendem dos seus ovários, que são uns órgãos
111ternos da mulher. os óvulos, umas como pequeninas
Kt'mentes. Vão-se deslocando e alojam-se noutro órgão,
o útero, onde aguardam a chegada doutro gérmen vivo,
muito mais pequenino, o sémen masculino. Se ambos
Nr unem nas devidas condições, desenvolve-se um novo
,a1•r que vai crescendo dia a dia, à custa da mãe, até que,
pno;sados nove meses, sai à luz do dia uma criancinha
qu,� é a alegria e o encanto da familia.
Se esta união não se realizar, os óvulos são expul­
Mos e o organismo liberta-se do sangue if.lútil. Estr fenó­
nwno. que talvez te cause incómodo, � um sinal de
J11vl'ntude. Desaparece com a velhice.
Compreendes, agora, o respeito religioso com que
c!i o vcs tratar essas partes do teu organi�mo, que são o
lnhrrnáculo sagrado da vida, e os cuidados que te deve
111,•rf!cer a pureza do teu corpo que, por vontade de
1 kus. é o berço do vida humana?
l Bendiz ao Senhor que te concede a honra de
wderes ser mãe, cooperando assim 110s planos da
>ruvidência.

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38 PUREZA E FORMOSURA

IV- No Abril da tua vida

O teu estado psíquico é tamb�m muito variável e


caprichoso; excitas-te com extrema facilidade; tor­
nas-t� sonhadora, retrafda, envergonhada e queres que
todos te estimem e aplaudam. Tanto estás de bum
humor, como de repente te irritas e indispões com tod,is.
És como o fevereiro que, dizem os antigos, matou a
mãe ao soalheiro. Pela manhã, vem o sol, a sorrir,
mas não tarda a esconder-se entre nuvens negras, � um
forte aguaceiro te surpreende na rua, deixando-te molha­
dinha até aos ossos. Apenas entras em casa, maldizendo
o sucedido, já o sol volta de novo a entrar pela janela ...
Também tu sofres a influência das impressões que
sentes, e mudas a cada instante: umas vezes estás em
maré alta de entusiasmo; outras vezes deixas-te cair
num profundo abatimento. quase a tocar as raias do
dt:sespero, e sem saber porquê. Apodera-se de ti o
desejo da solidão e queres mudar de lugar e de pessoas.
Por qualquer coisa, choras logo. Parece-te até que
todos te olham com desagrado e por isso procuras
evitar os seu olhares.
Estás aborrecida. Consider Js-te, entre os teus,
como uma pessoa estranha e incompreendida. Nestes
meses, nestes anos, a tua alma anda tão delicada e
sensível que a mais leve com'.ule de ar a inita I É uma
bronquite de a]ma ! Sente.-, uma febre a11gustios;1:
resmungas, estás descont�nte, zangas-te. Dificilmente
falas como a outra gente, com ser�nidad�. Não sabes
diztr nada, sem gritar, sem ralhar.
O que as raparigas desejam sobretudo, nesta idade,
é serem mulheres completas. Quanto não dariam elas
para terem mais quatro ou cinco anos. Daqui nasce o
esforço com que proct:dem para imitar as mi:liS velhas.
O pior é qu� não imitam as v1rtudts e os actos de
nobreza, mí:'!s sim as exkrioridade5 da vida; imitam-nas
no vestir, no andar, no penteado e 11a man�!ía de falar.

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O MEU DESTINO E O Ml!U CAMINHO 39

Aqueles que não conhecem esta idade cometem.


muitas vezes. a imprudência de se rirem de ti e de
dizerem: «Coitadinha l Parece um pavão armado I•.
Talvez até nem mesmo a tua mãe te compreenda.
Ninguém sabe explicar porque é que tu, antes tão obe­
diente, agora respondes e te melindras com qualquer
coisa. Foges das mais pequenas e pretendes acompa­
nhar com as maiores, amuando por tudo e por nada, o
que, às vezes, te faz desesperar.
Nada disto admira, porque constituis para ti mesma
um mistério; mereces amparo e ajuda e não escárneo.
feliz a rapariga que nesta idade encontra um guia
prudente, discreto, a quem possa consultar confiada­
mente sobre as suas dificuldades l Infeliz a que nas
suas dúvidas, nos seus problemas graves, recebe uma
iniciação insensata de companheiras indiscretas l

V - Outros pensamentos, outros anseios

Há ainda outras coisas estranhas que ferem a tua


delicada sensibilidade. Na tua alma de criança, até há
pouco serena, harmónica e despreocupada, dão-se modi­
ficações importantes. Sobre ti desce uma bruma estranha.
Todo o teu ser se envolve numa vaga neblina. Das
terras estranhas do desconhecido, assaltam-te pensa­
mentos e desejos de que nem sequer suspeitavas e de
que, agora, ao senti-los, experimentas uma certa confusão.
Lembras-te da tranquilidade que antes existia no teu
esplrito, da serenidade e firmeza de há poucos anos, e
no meio da perturbação que te causam os novos pensa­
mentos, ouves, apavorada, a voz da dúvida a dizer-te:
«Que se passa comigo? Perder-me-ei?>.
Não. Tranquiliza-te. Não há motivo para angús­
tias. Quero, todavia, que fixes bem esta ideia: todo
o teu futuro, a rectidão moral da tua vida, decide-se
nestes anos, na chamada «idade critica•. Agora, de duas,
uma: ou o espírito, o único chamado a governar, domina

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40 PUREZA E FO�MOSURA

os b,Ü%OS instintos e te convertes em senhora de nobres


sentimentos e elevado pensar, ou, então, ficarás subme­
tida, como vil escrava, ao jugo tirânico das paixões.
O que f•stou a escrever e o mais qui: SP. seguirá, diz
respeito àquelas raparigas que ch�gam a esta fase de
desenvolvimento sem ter sofrido nenhuma influência
exterior prejudicial, porque, desgraçadamente, são muitas
as que, iniciadas prematuramente por certas amigas,
sentiram a crise antes do tempo e não a passaram
incólumes.
Começas também a sentir em ti uma força nova
e estranha de que até agora nada sabias e de cuja
existência m:m :sequer suspeitavas: é a chamada
e força sexual•.
O plano de Deus é admirável. A criancinha nasce
impotente, e gradualmente vai adquirindo forças, segundo
a idade o exige. A principio não tem dentes nem pre­
cisa deles. Aos doze meses, começa a mastigar algum
alimento e aparecem, então, os primeiros dentes, cujo
número vai aumentando, segundo as necessid<ldes.
É certo que já ao nascer tem os dentes como em girmen.
mas encobertos pelas gengivas, esperando o tempo em
que a necessidade reclame os seus serviços.
Do mtsmo modo, a força sexual permanece )atente
ati aos doze ou quinze anos. As crianças, antes, não
sabem sequer que ela existe, a não ser que algumas
amigas imprud�ntes lhe falem nela e quase sempre em
termos pouco dignos. Mas, n�sta idade, começc1 a des­
pertar esta força, e à medida em que se manifesta,
desta ou daquela maneira, causa espanto e. atemorizi
as raparigas de consciência mais delicada. Estas mani­
ft!stações duram dos treze aos vint� e três anos aproxi­
madamente, e atingem o perfodo de maior intensidade
entre os catorze e os dezoito. Mas, o que é isto que
começas a sentir?
J:i sabias, embora sem te preocupares com isso,
que a humanidade está dividida em dois sexos. Dum
lado, os homens; do outro, as mulheres.

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O MEU DESTINO I! O MEU CAMINHO 41

As tuas relações com os meninos limitavam-se,


simplesmente, a que, quando te procuravam para brin­
car e jogar, tu lhes fagias. Agora, ao contrário, qaando
estás junto deles, sentes uma alegria estranha.
Se falas com rapazes, apodera-se de ti um desejo
especial de agradar, que antes não sentias; enches-te
de alegria e entusiasmo. Procuras parecer bonita e
queres impor-te pela tua beleza, real 011 imagintria,
pela tua delicadeza de maneiras; sentes-te envaidecida
quando um rapaz te oferece os seus serviços ou, quando,
elegantemente, apanha do chão a luva que te caiu e ta
entrega com tais mesuras e requintes de delicadeza que
parece estar disposto a dar a volta ao mundo só para
te agradar.
V 1 - O Primeiro amor

Vinda do colégio ou do liceu, entras em casa,


sentas-te à mesa de estudo e pegas nos livros. Se nlo
és estudante, terás diante de ti a tarefa dos trabalhos
domésticos. Procuras aplicar todas as tuas energias
para estudares as lições ou te desempenhares bem dos
trabalhos ao teu cuidado. Tu bem querias saber como
se resolve uma potência ou como se extrai a raiz qua­
drada a um número; querias ter «mãos de fada» para
os teus lavores; mas, sem dares conta, em vez da raiz
quadrada, desenhas na imaginação, e depois no papel,
uns olhos, umas orelhas, uma boca e, num momento,
aparece esboçada, na tolha do teu caderno ou diãrio de
matemãtica, uma simpática silhueta masculina 1
Pegas na História da Literatura. A principio excla­
mas: «Que maçada esta 1ição I•. Mas, logo, conti­
nuas : «Que simpatia de rapaz é aquele Carlos I Que
tipo formidável l Que dentes tão branco& ! Que gra­
vata tão elegante e chi.e I Não me quereri dizer alguma
coisa? . . . Com certeza que logo vou encontrar-me
com ele. Que vestido hei-de pôr esta tarde? Ficar•
-me-á melhor o azul? Estará bem assim o cabelo ondu-

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42 PUREZA E FORMOSURA

lado?... francamente, hoje não estou lá muito


bonita t •.••
E tudo isto não é mais do que um começo.
Vais sentindo, depois, que estes pensamentos e
outros semelhantes estão a ganhar terreno a pouco e
pouco, acabando por te dominar completamente. Já não
há mais voltas a dar. Terás de reconhecer que estás
«enamorada•. A tua consciência começa a agitar-se e
não chegas a compreender o que se passa em ti. Algo
de misterioso, por certo, de que a semente estava oculta
e adormecida no fundo da tua alma. E, agora, preo­
cupada e cheia de espanto, perguntas a ti mesma :
cl! trigo ou joio?•.

V 11- Os planos do Criador

Uma vez mais, querida jovem, te digo: Nada tens


que temer. Tudo isto é uma coisa natural que se passa
com todas. Para te talar claramente, posso dizer-te que
tudo isto faz parte do plano de Deus.
Lembra-te de que eu te disse, no primeiro capitulo,
ao tratar do «Plano do Criador», que Ele quis que a
terra se alegrasse com o sorriso das criancinhas. Viste
já. com que admirável e santa sabedoria Deus providen­
ciou quanto à conservação da humanidade. t vontade
do Senhor que, no santuário da família, se juntem e fun­
dam o amor mútuo dum homem e duma mulher e que,
com a união dos corpos e o amor das almas, a huma­
nidade vá contando novos seres humanos, e assim se
preencham as vagas causadas peia morte.
Por isso, estes novos sentimentos nascem em ti
segundo as leis da natureza; e as lets da natureza
são santas, e santas continuam enquanto o homem as
não transtorna com a sua mão louca e pecadora.
A nossa alma é santa, se segue as leis de Deus. Santo
é também o nosso corpot morada de incomparável
beleza, preparada para a alma.

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O MEU DESTINO E O MEU CAMINHO 43

Já vês, querida jovem, qual é o plano do Criador.


Ê pela sua divina vontade que começa s despontar, na
tua adolescência, o interesse, a atracção pelos rapazes
entre os quais encontrarás, um dia, o companheiro da
tua vida. Assim vês que o amor, isto é, a inclinação
reciproca entre os dois sexos, no seu devido tempo e
lugar, não só não é pecado como até constitui um dos
mais preciosos dons de Deus.
Mas o amor pode ser também um precipfcio de
morte 1
VI li ·- Pura e bela

Segundo a vontade eterna e santíssima de Deus,


tstas tendências que em ti começam a despertar e qt1e
se inltnsificam à medida que a idade aumenta, só
podem encontrar sattsfaçdo no casamento que o mesmo
Criador instituiu para conservação da espécie humana.
Mas tu tstás ainda muito longe do casamento •..
Tens, portanto, o dever sagrado de guardar estes
desejos e tendências até ao dia em que te apresentarás
diante do altar do Senhor, onde o teu futuro marido te
receberá pura e branca como a neve.
Antes do casamento, nunca, se/a pelo motivo que
for, hds-de dar satisfação a estas tendênctas e nem
sf'qur.r pre$tar ouvidos a vozes sedutoras.
Fora do matrimónio não é licito consentir, com
conhecimento e plena deliberação, em pensamentcs,
desejos, sensações e acto� que se refiram à chamada
«vida s�xual11.
Está vigilante e não consintas em tais pensamentos,
olhares, conversas ou acções. E se, apesar de tudo,
surgem na tua imaginação semelhantes imagens, afas­
ta-as, logo que ddas te apercebas, dizendo qualquer
oração ou jaculaté ria a Jesus ou a Nossa Senhora, ou
procurando rmtros pensamentos. Nunca te esqueças de
que, antes de contrair matrimônio, nunca te é licito
satisfazer tais sentimentos. Se assim procederes, segui-

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44 PUREV, P. FOR!'M SUi{�

1ás pelo caminho recto. Este ponto é, de todos, o mais


importante; encarecidamente te recomendo qut:: tom�s
nota disto, para que nunca o esqueças.
A fantasia, nestes anos, constitui também um grave
perigo. É a idade em que toda a rapariga é sonhadora.
Conv�m-te estar sempre de sobreaviso para não caires no
mal de tantas e tantas jovens, que durante semanas e
meses andam loucas pelo herói de alguma novela ou
pellcula; e, enquanto vão arquitectando planos magní­
ficos e brilhantes para o futuro, descuram os seus
deveres, os seus trabalhos e sofrem um enorme atraso
na sua vida. Cuidado I Que a neblina da fantasma­
goria St>ntimental não envolva a tua alma 1
Volto a repetir o que já te disse. Estes novos dese­
jos, estes sonhos, estes instintos são próprios de toda a
r11pariga na sua adolescência. A tendência sexual que
experimentas tem alguma coisa de santo, visto ser uma
p,uticipação da força criadora de Deus. Não deve, por
isso, causar-te perturbação. Isso quer dizer somente
que já começou em tt o jen6meno da ovuloçdo e que
já se vão acumulando, segundo os planos de Deus,
aquelas forças e elementos de que mais tarde necessitarãs
p ara cumprir a tua missão de mãe. Quanto mais tarde
entrares neste período, melhor. Aquelas que o experi­
mentam antes da idade própria são enfermiças e de
fraco sistema nervoso; as que o expl:!rimentam mais
tarde (aos quinze anos) são as mais saudáveis. Não
tt."nhas, por isso, pena de ficar muito tempo «criança,.
Antes pelo contrário. Assim pod�rás desenvGlver-te
melhor. Como as primeiras frutas, as raparigas preco­
ces não são as melhores. Poderás observar que, se
fores a um pomar quando as maçãs na sua maior parte
e!õ,tão ainda verdes e encontrares uma ou outra de cor
madura, notarás, ao comê-la, que a não podes tra�ar.
«As coisas boas precisam de tempo•, diz um provérbio
alemão.
Quando o teu desenvclvimento atingir o seu �stado
de maturação, deves considerar um dever sagrado o não

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O MEU DESTINO E U Mlfü CAMINHO 45

,i:citar ou não alimentar com leituras, conversas. olha­


res, imagens ou actos sensuais, os instintos que desper­
tam, mas antes refreá-los com a lembrança dos deveres
que te esperam dentro do sagrado plano do Criador.

IX - No meio da tempestadEt

Eis como, na marcha do teu desenvolvimento,


chegarás também um dia à dolorosa encruzilhada.
À semelhança da ccasta veneziana•, também te apare­
cerão a «Culpa, e a cVirtude•, a convidar-te a seguir
os seus respectivos caminhos. A cCulpa, numa forma
encantadora, há-de oferecer-te, a mãos cheias, os seus
prazeres voluptuosos.
As tendências de que antes falámos, à medida que
os anos avançam desde as carteiras do colégio aos
bancos da universidade ou duma modesta sala de cos­
tura, aumentarão o seu domfnio sobre ti, cada vez com
mais exigência e tirania.
Como o roncar sinistro das hienas e dos chacais
ferozes aterrorizam a caravana que, de noite, descansa
no deserto. assim as fortes arremetidas das tendênci,s
sexuais produzem contrnuas perturbações e sobressaltos
nos anos da juventude. O prazer e o gozo que o
pecado te promete dum modo tão sedutor, apresentam­
-se-te com as cores mais atraentes. Repetidas tentações
te convidam a abandonar o caminho da pureza ; parece
que um espirita diabólico se agita dentro de ti, te
suplica, te faz mil promessas, te lança no desespero e
te leva a mergulhar totalmente no gozo das tuas ten­
dências.
No meio da tempestade às vezes quase que não !obri­
gas sequer a nobre figura da e Virtude,; apenas ouves a
sua voz de admoestaçlo, no meio do motim e da gri­
taria dos sentidos. Querida jovem, não sigas a ,Culpa• 1
Conserva-te pura. Não peques, nem sequer por pen­
samentos, contra a pureza. Guarda intactos, segundo

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4b PUR�ZA E FORMOSURA

o mandamento do Senhor, o ltu corpo e a tua alma;


guarda-os para o futuro companheiro da tua vida •.• ;
para os teus futuros filhos. Acredita-me: só assim
poderás ser, um dia, mulher digna, mulher feliz, mulher
de carácter ...
E o furacão continua a aumentar de violência.
Aos dezoito, aos vinte e aos vinte-e- um anos, at111ge o
seu pontt, culminante. Hás-de, então, permanecrr firme,
hás-de erguer-te aprumada no meio das ondas encape­
ladas e espumantes. Terás de sustentar o combate das
paixões durante vários anos; mas, repara, estes anos
de dura guerra são realmente anos «que contam dobra­
damente•. Dobradamente, porqu,.• é neste tempo que
se forma definitivamente o teu carácter. Decide-se,
aqui, a sorte de toda a tua vida.
Soam, como fortes marteladas. estas palavras do
pagão Ovídio: e Não há arte capaz de reparar o pudor
ferido; perde-se para sempre• < 1 > Não há dúvidas.
A pureza virginal só se perde uma vez. Ai de ti, se
dás a primeira queda, porque começas então já a des­
lizar no plano inclinado. Rapariga de carácter é aquela
que nos seus anos juvenis soube dominar as suas pai­
xões. Cair é sempre muito mais fac1l do que levan­
tar-se. Cuidado I Que por um passo em falso não tenhas
de chorar inutilmente, um dia, a felicidade e a inocên­
cia dua tua alma com palavras semelhantes às de Orillpar­
zer: «Malvado, restitui-me a paz da minha alma, toda
a felicidade da minha vida, a minha inocência».

Boesewü·ht, gib mir zurück


Meinrr Seele goldnen Frteden.
Meines Daseins ganus Glück
Meine Unschuld mir Zuriich.

(Dle Abnlrau, Ili, 109/

ltl Ovld. Hcr., V. 103-10�.

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O Ml:fü DE:STINO I! O MEU CAMINHO 47

Queres conservar-te pura ? Compreendes que, na


ipoca de desenvolvimento, os teus novos desejos não
têm direito a exigir satisfação, porqut! são, apenas,
avisos de Deus, a anunciar-te a obra sublime, criadora,
a que estás destinada no futuro? Queres preservar o
vergel da tua alma da devastação causada pela geada
de Maio? Queres dominar. com mão vigorosa, as tuas
tentações tão violentas? Queres pôr ordem nos teus
pensamentos? Queres ter a firmeza do granito e não
vaguear atrãs da luz enganadora de fogos-fátuos?
Queres algemar com as leis do espírito os instintos
loucos, quando um inferno de desejos abrasa o teu
sangue? Cara donzda, 91urcs conservar- te pura;!
Há raparigas que, infelizmente, não vigiam, que,
sem receio, caminham pela vertente que leva ao preci­
pício. Ai daquela que começa a descer I Ai daquela
cuja alma, tm plena Primavera, apanha a geada duma
noite de Maio 1

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CAPITULO Ili

GEADAS DE
PRIMAVERA

1 - Na vertente.
1 1 - Mariposas.
111- Luta,
1 V - Ruínas do templo.
V -Jardins e lagartas.
V 1 - A caminho da derrota.
V 11 -- A lei da gravidade.
V 111 - O naufrágio.

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_
!'&�j
{ � �- ,, Cuidado! Não escolhas o cammho
· · !
sedutor! Muito dificilmente poderá
deter-se aquele que se desiquilibrou
ao descer uma vertente escorreg�dia.
Repara na triste sorte das raparigas
que enveredltm pelo caminho resva­
ladio da frivolidade. Como em todas,
também em ti despertará o desejo de
falar com pessoas que sabem muito
destas coisas. Sentirás uma curiosidade indifinivel, um
vago desejo de perscrutar os segredos da vida e satis­
fazer as tendências incipientes. Uma curiosidade doen­
tia lev2.r-k-á à fala com pessoas que sabem dizer-te
muitas coisas. Um ca�o:
Uma rapariga tinha quinze anos, quando foi, um
dia, pela primeira vez ao cinema. Precisamente nessa
altura estava em exibição uma peltcula censurável, um
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52 PUREZA E FORMOSURA

drama de amores condenãveis. Homens e mulheres,


numa promiscuidade duvidosa, divertiam-se num caba­
ret. Os homens visivelmente fora de si e as mulheres
indecentemente vestidas. Taças de champanht! a tilin­
tar, música desenfreada ...
Na alma da pobre rapariga despertou um senti­
mento, um desejo, um pensamento que até ali não sen­
tira; foi como se nesse momento �xperimentasse uma
queda grave. Um castelo amado, um mundo de sonhos,
estava em ruína a seus pés ...
- Escuta: não gostarias tu de ser uma destas
«que triunfam• ? Que te parece? - murmurou-lhe aos
ouvidos. de olhar inflamado, uma das suas amigas,
jovem como ela.
- cSim l• - lhe gritou uma voz interior. cNãol•,
lhe respondeu logo outra voz. cSim I•, e logo outra
vez: cNãol• ...
De olhos pregados na tela, continuava a contem­
plar a cena. O seu rosto afogueou-se, a emoção quei­
mava-a. Quando terminou a sessão e saiu para a rua,
respirando o ar fresco, sentiu uma tristeza enorme e
concluiu: «Cometi um pecado mortal.•
Chegou a casa. Q11is estudar a lição para o dia
seguinte. Impossível! A sua inteligência estava como
que embotada e a sua alma fortemente perturbada,
«Vou-me confessar•. E só se tranquilizou, quando
sobre a sua alma assim perturbada caíram, como bál­
samo acariciador, estas palavras do sacerdote: •Daqui
para o futuro tem mais cuidado, filha.•
- Prometo nunca mais ...
Alguns meses depois, por desgraça, foi ver uma
peça teatral. O titulo era inocente: •Ü despertar da
Primavera.• Quem poderia imaginar que rapazes e
raparigas se apresentariam no palco de maneira tal que,
se fosse na rua, haveria intervenção da policia? A rapa­
riga não podia consigo mesma. De olhos esbugalha­
dos, fixava atentamente o cenário. O coração pulsava
em ritmo de fogo.

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Gl".ADAS DP. PRIMAVF.RA 53

Quando chegou a casa, pensamentos condenáveis


redemoinhavam na sua cabeça. Rezando, ao deitar-se,
:1 oração do costume, sentiu o aguilhão do remorso .
• Tornei a pecar, > A Virgem das Dores, no seu qu 1dro
pendente da parede do quarto, contemplava-a, l;1cri­
mosa. Não conseguiu dormir em toda a noite. A sua
alma soluçava. «Amanhã irei confessar-me. > Com este
propósito adormeceu, por fim, rr.as já de madrugada.
Aconteceu. porém, que. de manhã, ao levantar-se,
já não estava com disposição de se confessar. Procurou,
at·::, :mim.:r-se, dizendo: .. Afinal já sou uma mulher­
zinha I Tenho de saber estas coisas! Já não sou
cri;rnça I Isto interessa-me para o futuro, para a minha
vida.•
Algumas semanas mais tarde, num intervalo das
aulas, uma das suas «amigas> chamou-a à p.,rte e
emprestou-lhe uma novela ilustrada. A nossa jovem sG
a muito custo dominou a curiosidade. Espera, ansiosa,
o toque de acabar as aulas. Corre para casa, e fecha-se
no seu quarto. A principio vai folheando, com hesih:ção,
e aquelas págim1s descaradas > ; envergonh3-Se de si
mesma e chega a fechar a novela. Porém, depois, acaba
por devorar essas páginas. De vez em quando a cons­
ciência lev:inta a sua voz, no silêncio da noite, m .:1s vai
enfraquecendo cada vez mais até se extinguir por co;n­
plt:to. Um silêncio de morte, um silêncio sepulcral,
envolve para sempre a alma desta jovem.
Era precisamente o que ela desejava : que nin­
guém lhe estorvasse o passo, quando se lançasse em
cheio a gozar a mocidade.
E esta jovem agora .•• passou a «viver a sua vida>.

1-Na vertente

Ouviu já, leu, viu e talvez até fez muitas coisas ...
A pouco e pouco, transformou-se numa rapariga •livre e
sem preconceitos.•

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54 PUREZA E FORMOSURA

Nos seus momentos de ócio, sonha com prin­


cesas. No estudo. nos lavores ou na costura, persegue-a
o prfncipe dos seus doirados sonhos. «Quem pudesse
voar!• ...
A nossa jovem é uma elegante da última moda;
nunca falta ao passeio das «meninas bemJ), Todas as
tardes sai a dar a sua volta, convencida de que é «ini­
mitàvelmente• encantadora. Sapatos do último modelo,
meias de vidro, luvas de pele finfssima, carteira elegante,
com o seu estojo de tolllete completo: um mundo de
coisas lá dentro. Comparadas com ela, as cestrelas•
perdem o seu brilho e tornam-se quase inperceptíveis.
Na aula, ao aproximar-se dela, todos estranham a
nuvem de perfume intenso e penetrante que a segue.
Quem duvidará de que esta damazinha é na pena do
poeta Ruben Dario, a sonhadora princesa •de lábios de
morango• que passeia em luxuosa carruagem, dentro
das suas ilusões?
«Como eu triunfo I•, pensa esta jovem, esquecendo
que •nem tudo o que luz é oiro•.

11 - Mariposas

Continua a passear na rua com as amigas da


«mesma cor• e em conversas •edificantes•. Ai do
rapaz que tem a pouca sorte de se cruzar com este
grupo de raparigas modernas l Ainda ele vem longe e
já elas, estas elegantes, o fulminam com o seu olhar
penetrante e ao cruzarem-se soltam em voz alta algu­
mas frases, seguidas de gargalhadas intencionais, espe­
rando, a seguir, mais outra vítima das suas «gracinhas•.
Entretanto uma delas dá a nollcia de que saiu uma
interessante novela, diferente de todas as outras por
tratar da vida tal qual é. Entram na livraria. A Maria­
zinha tira o seu porta-moedas para a comprar. Preve­
nindo uma possível estranheza por parte do livreiro,
apressam-se a dizer-lhe: «Não se preo cupe. Sabemos

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OEADAS OE PRIMAVERA 55
já muito bem o que podemos comprar. Há muito que
deixa mos o uniforme do colégio.•
DeP.ois, diante da montra duma perfumaria :
- O Carlota, olha: agora usa-se um novo tom
de «rouge• ...
- Quanto custa, Milu ?
- Que atrasadas andais l Isso já se vende por ai
há muito I Um pouco mais caro, mas isso não tem
importância I É maravilhoso 1
Na sua carteira também há um lugar para os cigarros.
- Quem é capaz de passar um dia sem fumar?
Até se anda mal disposta.
-Agora já são horas de tomar o chá. Devemos
ir a um salão elegante, não?
Entram e ocupam os lugares que são mais da
moda. «Vão ali tantos «meninos bem•... Além disso
não falta música e podem dançar com quem muito bem
quiserem> •..
Tomam alguma coisa, fumam e bailam.
- Delicioso, encantador, formidável l ...
- Que bem que se está aqui 1
Entre dança e música, também há conversas livres,
ditos maliciosos dos rapazes.
- Que sorte 1- O «aparte, que tiveste com aquele
rapaz que dança tão bem, foi delicioso l Há muitas que
têm sorte 1
Estas cenas são frequentes entre jovens «modernas•.
A queda de muitas raparigas segue por estes caminhos.
Em geral, as que entram na vettente da leviandade
fazem-no levadas ou seduzidas por amigas ou compa­
nheiras de costumes e atitudes ,desempoeiradas•.

Ili-A luta

À noite não pode adormecer. Está preocupada,


mas não é por ter omitido o trabalho que ao outro dia
terá de apresentar na aula. Ao fim e ao cabo, com

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56 PUREZA R FORMOSURA

uma mentirinha arranja-se a desculpa . As conversas


daquela tarde, a bailarem na sua imaginação, eis a
causa das insónias; sobretudo aquelas conversas em
que as amigas levianas explicavam, com reticências e
piscar de olhos, como se pode provocar um rapaz.
Atrb dum pensamento vem outro. Alguns anos
antes, só o nome de semelhantes coisas faziam-na
estremecer. O seu coração começa a pulsar doidamente;
o sangue ferve e revolta-se. Gostaria de experimentar,
ainda que só em parte, esse prazer que as companhei­
ras tanto apreciam. Não sendo possfvel satisfazê-lo com­
pletamente, porque não procurar senti-lo ao menos em
parte? O desejo sobe em labaredas altas que a queimam.
«Vamos. Aqui ninguém me vê». Ê uma experiência.
E excitada pelas leituras, conversas, cinema ou baile
daquela tarde, pratica esse acto vergonhoso que é um
pecado contra Deus e contra a dignidade humana ...

IV - Destruição do templo

Descendo a tal indignidade, a pobre rapariga ati­


rou-se ao pântano ... conompeu-se a si mesma. Esse
prazer sensual que a dominou e venceu durou, apenas,
meio minuto, mas bastou para abrir uma brecha no
baluarte da fortaleza... Por esta brecha vai escoar-se
a pouco e pouco toda a energia e frescura deste corpo
jovem e todo o encanto e delicadeza desta alma.
A consciência, adormecida, solta um grito de alarme,
ao despertar do seu letargo. A rapariga sente-se amar­
gurada pelo remorso que a persegue. Por instantes,
contempla a sua alma pura e formosa tal como era
antes; e agora, após a primeira queda, chora horrori­
zada a destruição, a ruína instantânea de mil sonhos
puros e luminosos.
Assim deveria ter chorado o profeta Jeremias sobre
as rufnas da cidade e do templo de Jerusalém. Se na
morte choramos o corpo que se vê abandonado pela

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OEADAS DE PRIM-'Vl!.RA 51

alma, quanto mais não é digna de lástima a alma que


se encontra, assim, abandonada de Deus 1
Oxalá que, ao menos, esta jovem chorasse Iágri•
rnas de sangue por ter profanado o templo do seu
corpo I Todos os templos da terra não são mais que
ll-souros amontoados sem vida, bem pouca coisa, se os
compararmos com o templo vivo de Deus, que é o
nosso corpo. Ê por isso que o Apóstolo S. Paulo, na
sua primeira carta aos fiéis de Corinto1 lhes disse:
• Não sabeis que sois templo de Deus e que o esplrito de
Deus habita em vós? Pois se alguém profana o tem•
pio de Deus, Deus perdê-lo-á. Porque o templo de
Deus, que sois vós, é santo•.
Mas este despertar da consciência não dura mais
que uns dias t!penas. Não tardará muito que esta
jovem se encontre, novamente, com as mesmas compa­
nheiras que saberão ensinar-lhe sempre «coisas novas•.
Outros jovens aparecem. Novos desejos despertam.
Ao fim duma semana voltará a cair, e assim por diante.
Durante algum tempo, ainda sente um rebate de cons�
ciência que será o último clarão duma chama que se
apaga e que, em breve, acabará por se extinguir de todo.
Pobre rapariga I A tua energia, aquela força de
vontade da tua juventude ficou sepultada nas ruínas do
teu corpo l Colas os teus lábios na taça, para libar
sôfregamente o néctar do prazer, e não reparas que, no
stu fundo, há um veneno que mata l Se aos quinze anos
pudesses prever o dilúvio de lágrimas amargas que
derramarás aos vinte por causa da influência maldita
desse pecado I Ah I Se pudesses prever o pedaço de lava
incandescida que será o teu coração consumido por
esse fogo devorador I Vê o teu coração, que agora 6
tio puro e virginal l Ah I Se te fosse dado contem­
plar de antemão esse farrapo sujo que será a tua alma,
mergulhada no pântano da impureza I Ah I Se a pudes­
ses, agora, ouvir gritar: e Ai de mim! Má hora em
que eu cedi à tentação. O que é feito do meu coração,
onde ardeu um fogo que irradiava calor e Juz ao longe

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58 PUREZA� FORMOSURA

e ao largo I Dos meus olhos que, puros e cândidos,


reflectiam o sorriso de Deus I Do meu sangue que ji
não corre e circula com o ritmo de antes I Que des­
graça I Que desgraça l Tudo quanto era, toda a minha
doce juventude jaz aqui agora, sem vida». (RADVÁNY).
No ténis, se perderes uma jogada, podes compen­
sá-la com outra e talvez ainda ganhar o jogo. Tudo
depende duma boa direcção que dês à bola. Mas,
em moral, é sempre muito diffcil recuperar o per­
dido, quando o não é de todo imposslvel: Nessun
maggtor dolore Che rtcordarst del tempo felice Nella
mtseria.
cNão há dor maior do que recordar na miséria os
tempos felizes.• (DANTE - Dtvtna Com Mia, Inferno,
V, 121 -123).
V - Jardins e lagartas

E que dizer, agora, do carácter? Energia, genero­


sidade, piedade filial, delicadeza, heroismo, tudo o que
há de mais belo na alma da rapariga, desaparece para
dar lugar à indolência e à dissipação. Um roseiral, em
plena Primavera. quando devia ostentar viçosas flores,
está sem rebentos, sem folhas, e todo devastado por
asquerosos vermes. Poderá haver espectáculo mais
triste e desolador? Tal é o quadro da inocência per­
dida, da inocência que o furacão terrível das paixões
desordenadas açoitou e desfolhou. O roseiral mais for­
moso, quando invadido pelas largatas vorazes, constitui
um espectáculo triste e desolador; os botões sem as
folhas a protegê-los queimam-se antes de desabrochar.
Ainda não estará totalmente morto, mas, se as lagartas
continuam a sua marcha destruidoral. estará dentro em
pouco irremediàvelmente perdido. l:. também assim a
destruição que o pecado da sensualidade causa naquela
que teve a infelicidade de se tornar sua escrava.
Como o orvalho matutino a brilhar, qual diamante,
nas pétalas das flores, assim é a pureza na alma: Uma

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GEADAS DE PRIMAVERA 59

pequenina gota, cujo brilho encanta e atrai, se a levian­


clsuk ou a imprudência humana a expulsa do cálice da
llor, nem toda a água do oceano bastaria para a subs­
lituir. Conheces, certamente, a lenda daquela mulher
ntraordinàriamente bela, chamada Pandora. No dia do
�t·u casamento, apresentou, em dote, a seu marido, uma
linda caixinha de ouro. Quando ele a abriu, porém,
!ialram inesperadamente dela a miséria, a dor e as dotn­
�as que se espalharam pelo mundo. Os prazeres ilíci­
tos são como esta cai.xinha doirada que parece ter den­
tro um rico tesouro, mas só por fora... Ai daquela
que com de a imprudência de a abrir 1
E não julgues que essa jovem, perdendo a paz da
,ma alma, encontrou, em troca, a felicidade. Se assim
losse, não continuaria à busca de novos prazeres. O seu
rnrpo, a quem proporcionou alimentos proibidos, é um
usurário insaciável. Nunca se dá por satisfeito, ainda
mesmo que viva continuamente mergulhado no p1azer.
Como resultado duma vida de gozos illcitos, a alma
como que se transforma em carne; torna-se egoísta,
cruel e insensivel. Obscurece-se, perde a energia e o
entusiasmo, e o corpo revolve-se continuamente em
desejos impuros. Infeliz a rapariga que desceu a tal
abismo. As plantas, acariciadas pelo sol da Primavera,
florescem e dão frutos; as avezinhas enchem os espaços
com seus trinados, e dos ninhos espreitam as cabe­
cilas ainda implumes dos filhinhos; toda a natureza
segue o caminho que Deus lhe traçou; só nós, seres
livres, transtornamos os planos divinos.
Quando as caravanas, na travessia do deserto,
sentem a tortura da sede e descobrem, lá ao longe,
Aguas cristalinas onde se reflectem as palmeiras, correm
ofegantes à sua busca; mas as águas traidoras fogem e
os infelizes caminheiros do deserto, com as gargantas
ressequidas e os olhos em togo, acabam por sucumbir.
Quando julgavam entrar na posse das águas frescas,
não encontraram mais que areias calcinadas... Miragens
do deserto 1

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60 PUREZA i FORMOSURA

VI - A caminho da ruína

O maldito desejo continua. A jovtm anseia por


gozar cada vez mais intensamente, sem parar nunca.
Os remorsos já mal os sente. Quer gozar tudo.
Segredos, para quê? Que h a v e rá que não devR
•saborear• a rapariga que se julga com direito a viver
a «sua vida• em cheio, a dar ao seu corpo todos os
prazeres que ele lhe pede?
A destruição oprime-nos sempre a alma. Que
pr,,tund? tristeza, quando se vê um magnifico templo
em ruin�s ou uma seara destruída por furiosa tempes­
tade I e, porém, mil vezes mais triste a destruição que
uma conduta pecaminosa causa no templo vivo duma
jovem, onde há pouco ainda brilhav.! o mármore alvfs­
simo do altar santo e ardia o fogo sagrado de puros
ideais.
Agora já não há segredos para ela. Já ouviu,
observcu e experimentou tudo. Ei-la a viver a «sua
vi,1a•. Será, porém, realmente feliz? Não é.
Porque será que, aos seus olhos, assoma de quando
em quando uma tristeza profunda? Que significa esta
sombra misteriosa que lhe empana as feições do rosto?
Porque não tem já aquele olhar puro e franco de antes?
Porque se começou a atrasar nos seus estudos e traba­
lhos? Por onde vagueiam os s�us pensamentos?
Porque será, finalmente, que ela �e sente como estranha
entre as antigas companheiras e amigas? Porquê,
st>, afinal, ela conhece tudo? ...
Sabe tudo, é verdade, e por isso mesmo não é feliz.
É que ela sabe também que a felicidade que buscava
febrilmente, sacrificando-lhe a sua pureza, o seu carácter
e a sua dignidade, essa felicidade desapareceu. Pro­
curou-a onde a não podia encontrar. Não a encontrará,
talvez, nunca.
Se aproximarmos do ouvido um búzio marinho,
sentimos a voz misteriosa do mar, sua antiga pátria.

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GEADAS DE PRIMAVEHA

Assim esta jovem, em horas de solidão, pela noite fora,


ouvirá a voz soluçante dos seus desejos passados e dos
�eus puros anelos; ouvirá a voz da sua alma que agora,
ntormrntad2 1 também chora. Quando de faces afoguea­
das e de coração palpitante estendeu a mão para captar
nquela mariposa de iriadas cores, a mariposa da suposta
felicidade, esta fugiu-lhe; e nas mãos da pobre rapariga
11ada mais ficou do que uma poalha escura e insigm­
ftcank que se lhe desprendera das asas. Em troca de!,ta
pualha, a mariposa arrebatou-lhe a paz, a felicidade e o
porvir da sua alma.
cAo prazer sucede sempre o pesar; ao dia, sempre
helo e agradável, suctde sempre a noite>. (LOPE DE VBoA).
Que restou do antigo paraíso r Um abismo de
medonhas profundezas: um abismo sem esperanças,
sem alegrias, sem estrelas; um abismo de letargo e de
morte ...
Na alma desta jovem onde deviam ecoar trinados
de rouxinol, ouve-se, agora, o crucitar de sinistros corvos
que esvoaçam à maneira dt:: espectros horrendos.
Um dia, Branca de Castela, rainha de França. disse
a seu filho, mais tarde S. Luls: «Meu filho, eu amo-te
mais do que ao meu próprio coração. Tu és a minha
única alegria, na terra; tu és a tsperança da nossa
pátria, mas antes queria ver-te morto do que saber que
tinhas cometido um pecado mortal.•
Antes a morte do que cometer um pecado mortal!
Como seriam amargas as lágrimas dos pais; como
ficaria esmagado sob o peso da dor o seu coração, se
vissem que sua filha estremecida tinha sossobrado na
luta contra o pecado, se soubessem a que abismos de
miséria moral ela desceu 1
Querida jovem, não é verdade que queres poupar
a tal sofrimento os teus pais, que tanto se preocupam
com a tua felicidade ?
Atenção, pois, e medita estas palavras de Shakes­
peare: e Tende sempre na vossa mão as rédeas da razão
que dominam e vigiam o estímulo das paixões, e

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62 PURRZA E FORMOSURA

defendei-vos da seta do desejo . . . Na manhã da


juventude, na época das rosas aliciantes, é que são
mais frequentes os hálitos contagiosos e mortais-.

V 11 - A lei da gravidade

Em física, há uma lei segundo a qual um corpo, ao


cair, não mantém a mesma velocidade inicial, senão que
esta vai aumentando há medida que o corpo se apro­
:iima da terra para onde é atraido por forças misteriosas.
Esta lei da gravidade não existe só no mundo tisico;
verifica-se também na vida moral. A alma tem as suas
tendências, as suas inclinações para baixo; se lhes
cedemos um pouco, sentimo-nos irresistivelmente atraf­
dos para os abismos escuros do pecado. Um pequeno
descuido, a primeira queda... e começa a actuar a lei
da gravidade .
Quando passa o vento da imoralidade, o sem­
blante, antes levantado e garboso, turva-se; um cir­
culo arrocheado envolve os olhos; empalidecem as
faces; quebranta-se o carácter; transforma-se em pân­
tano da podridão o que devia ser um lindo jardim de
viçosas flores.
Querida jovem, lagartas vorazes vivem escondidas
no fundo da nossa natureza decaída.
Não consintas que te devorem estes vermes insa­
ciáveis. Não lhes dês a comer a carne do teu corpo
· puro cQualquer
e virginal.
outro pecado que o homem cometa, diz
S. Paulo, existe fora do corpo; mas aquele que se
entrega à impureza peca contra o próprio corpo. >

V 111 - O Naufrágio

Era no mês de Abril de 1912. Um soberbo e


luxuoso transatlântico, o Titanic, faz a sua primeira

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GEADAS DE PRIMAVERA C,3

viagem com rumo a New York. Marcha veloz, porque


pretende ganhar a e flâmula azul» dos cruzeiros marítimos.
Na sua construção aplicaram-se os últimos inventos
r dizia-se que era insubmerglvel. Nos estaleiros de
Bdfast mão desconhecida escrevera ao longo do seu
costado, durante a construção, estas palavras blasfemas:
c l:ste não o mete Deus no fundo». Instalados em
l111uosos camarotes, viajavam nele os magnates da
fortuna. Para tr_1rnar ainda mais cómoda e agradável a
travessia, organizam-se a bordo luzidas festas, bailes e
concertos Em dada altura do percurso, e na escuridão
da noite, surge, porém, um enorme iceberg, trazido das
regiões boreais.
Os rdlecto r e s descobrem-no e o vigia grita:
•Perigo!> •Escaleres à água, imediatamente!,, ordena
o capitão do barco. Quer evitar o choque a todo o
rusto, mas já é tarde. Aquela montanha de gelo choca
rom o Titanic Os passageiros acordam sobressaltados.
Só se ouve gritar: «Estamos perdidos I•. E a telefonia
sem fios lança no espaço a Chiimada aflitiva de socorro:
•S. O S.... , S. O. S. Salvai-nos!». Ràpidamente os
passageiros assaltam os escaleres de salvação. •Pri­
meiro as mulheres e crianças!•, grita a voz de comando.
Os barcos já não comportam mais gente. O grande
transatlântico começa a afundar-se.
Mas, quem será aqueb jovem que ainda luta contra
as ondas agitadas? Ah! � uma cantora de ópera que,
há três horas apenas, tinha sido adamadíssima no salão
de festas 1 Quer salvar-se, mas em vão. Gelam-se-lhe
as mãos: paralizam-se-lhe os pés. Ninguém há que a
salve. E arrastada para o abismo e desaparece para
semp_re.
E assim também, querida jovem, a sorte da rapa­
riga que naufraga na castidade: a vida imoral absorve-a
e começa inevitàvelmentt! a submergir-se ...

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CAPÍTULO IV

NO FUNDO
DO ABISMO
1- Um templo destruído.
li-Só uma vez?.
111 - Plantas vorazes.
1V- Descida do averno.
V-As raparigas «avançadas:,,
V 1- Será isto alegria e felicidade?
VII-Jardim devorado pelos ver­
mes.
V 1,11 - Castigo físico.
IX- O que são as hormonas?
X-Apodrecer em vida.
XI -Tremenda responsabilidade.
X11 - Os teus pobres filhos I
X111- Esperanças e desalento.
XIV- Quem levou as tuas pétalas?

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• É falso a danaif"e, I vã a fonnosura : a mulhir


que lt:me a �nhor, ess� 1,rd lo111•ada.•

( P•ov.huos, XXXI, 30 ).

ODA a rapariga, cedo ou tarde, ouvirá


o canto feiticeiro ou a voz imperiosa
dos desejos impuros. A sua razão,
a sua alma virginal, o seu coração
puro, o seu pudor, os nobres entu-­
si asmos que a anirnam conjugam-se
para a preservar da queda; a sua
consciência, como o toque dum sino
a rebate, grita-lhe interiormente: e Vê
Já 1... não faças isso ... não caias!. .. •
Mas, precisamente nesta conjuntura, vibra também
<> canto da sereia, canto sugestivo, feiticeirg, cativante.
E este canto, muitas vezes, tnleia os sentidos e a
voluptuosidade com a mira�tm d�tm gozo falaz, dum
momento de prazer, arrastando a pobre alma. Esta
voz sedutora não te diz o que se seguirá após esse
momento, nem até onde descerás ou o que te espera
depois; não te diz que dar os primeiros passos é atacar
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68 PUREZA E FORMOSURA

e enfraquecer o teu sistema nervoso, é causar a rulna


certa do teu carácter, é desgraçar-te por toda a vida.
Quando, no cinema, a máquina projecta a sua luz
e enche a tela, o teu olhar, queiras ou não, fixa-se
nesse quadro deslumbrante e nada mais vê à sua volta.
Assim o fulgor do prazer sensual deslumbra a pobre
rapariga que, sem pensar ou reflectir, satisfaz cegamente
esse desejo.
Nesse momento começa a descer a vertente do
pecado ...
E ai da rapariga que começa a descer a vertente.

1 - Um templo destruído

Não hã no mundo prazer menos duradoiro nem


mais caro que o da impureza, porque se paga sacrifi­
cando o próprio corpo e a própria alma,
Sem nada exagtrar a pura realidade, quero pintar-te
a triste so1te da rapariga que se deii:ou cair, Talvez
chegues a classificar de inverosímil o quadro ou, pelo
menos, de exagerado; dirás que um só pecado, o
pecado da impureza, não pode trazer tantas e tão gra­
ves consequências.. . que uma desgraça tão espantosa
não pode ser efeito dum só pecado. Pois fica sabendo,
estimada leitora, que as linhas que se seguem não são
ainda o quadro completo da degradação enorme, da
ruína do corpo e da alma que a imoralidade pode levar
a muitas gerações sucessivas.
Não afirmo que o pecado da impureza cause sem­
pre a rufna do corpo; uma coisa, porém, é absoluta­
mente certa: é que a jovem que se torna escrava deste
vício sofre um transtorno profundo no sistema nervoso.
Quanto mais cedo se submeter ao jugo tirânico desta
paixão e quanto mais intensa esta se tornar, maiores
serão as funestas consequências que advirão inevi­
tàvelmente. Embora se trate dum organismo são
e robusto, os danos causados são incalculáveis. Não

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NO PUNDO DO ABTSMO 69

lt• dtixes levar pelo aspecto, aparentemente saudável,


clnquela que 11Ao guarda a pureza do seu corpo. Talvez
rnnserve ainda por certo tempo as cores do rosto e algu-
1110s energias físicas. As energias morais, porém, que­
hrantam-se imediatamente. O espírito jaz, em breve,
r�magado sob as ruínas. A alma chamada a ser rainha
t• senhora, submete-se ao jugo vergonhoso de paixões
ck�iudantes. Com a ruína moral, vem a ruína espiritual:
11 vontade afrouxa, a memória enfraquc:ce e a capacidade
111telectual diminui.
Este pecado é mentiroso e ousado: ataca sem medo.
Alr:Jente e astuto, antes de o praticares far-te-á magníficas
prnmessas; m:1s quando te fizeres sua escrava, lança-te
1111m angustiante mal-estar, deixando-te despojada dos
lt'souros mais sagr3dos de tua alma ...
E o que é pior e mais triste é que dificilmente se
pode curar este pecado. A sua prática embota a sen­
!'oihilidade moral da :4lma, tornando-se ineficazes as
1,1íplicas e inúteis as advertências e conselhos do sacer­
<lnte, que fala com a autoridade do seu ministério
sagrado. A força de vontade já não existe.
A infeliz jovem cai neste paradoxo terrível: quer
e não quer. De manhã perde muitos quartos de hora
" dialogar com a sua vontade, já débil, sobre se há-de
levantar•St! ou não, e acaba por ficar, amolecida, na
c;ima. Se se decide a fazer alguma coisa, fica longa­
mente � pensar no que há-de começar primeiro. Pre­
guiçosamente a bocejar, ora folheia um livro ora outro,
r não consegue fazer coisa nenhuma. Estará cõmo­
damenta sentada durante meia hora, uma hora, sem
fazt:r nada, a sonhar. Não � capaz de qualquer decisão
séria. Algumas vezes suspira e diz, com franqueza:
,Oh I quem me dera não ser assim!,. Quereria corri­
gir-se, mas não faz esforço algum para o conseguir.
Assemelha-se às fiandeiras do pintor Velasquez: vis­
tas hoje, amanhã e daqui a anos, estaq sempre na
mtsma- atitude de fazer alguma coisa, mas não pas­
sam daí.

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70 PUREZA E FORMOSURA

Às vezes, depois dum abalo mais forte, estremece


e diz: «Agora sim, tem de ser I Daqui por diante
serei mais pura ... >.
Propósito vão. É como um foguete de ilumina­
ção que num momento nos deslumbra com a sua
luz multicolor; mas depois a escuridão é mais densa
que antes ...
Esta rapariga diflcilmente poderá salvar-se, porque
não quer pensar nisto a sério.

11-Sóumavez?

No capitulo precedente, viste a rapariga a dar o


primeiro passo no caminho do mal. Pede ser que fosse
levada apenas pela curiosidades e nada mais.
Fiou-se na promessa falaz que fizera a si mrsma:
•Eu faço isto só uma vez para experimentar. > Igno­
rava que só o primt-iro pecado é difícil de praticar;
os outros são muito fáceis. Por caminhos aplanados
corre-se com mais facilidade, e chegando a um declive
é impossível deter a marcha.
Não julgues que, se as tentações forem muito vio­
lentas e te assaltarem a todo o momento. mesmo 11',S
horas de trabalho, bastará ctder-lhes para iicJres livre
delas. Terrível engano 1
O primeiro deslize moral enche a fanta�iP. d� im.1-
gens obscenas, tão vivas e tão persistentes em exigir
nova queda, que se torna impossível qu:ilquer esforço
sério e porfiado.
A pobre rapariga compreenderá, horrorizada, que
se antes de pecar lobos famintos ululavam no seu inti.�­
rior, ao menos estavam presos; ao passo que agora,
depois de pecar a primeira vez, as cadeias qutbraram e
eles tornaram-se mais exigenks.
Os filhos das leoas são mansos e inoft•nsivos
enquanto não vêem sangue, mas depois que mordem
em carne fresca, tornam-se ferozes.

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NO FUNDO DO ABISMO 71

Sê forte e resiste ao primeiro embate, à primeira


solicitação, porque no dizer do Barão de Eõrvõs • enga­
na-se todo aquele que, tendo sido fraco na puberdade,
pensar que mais tarde. na idade avançada, Jogrará
adquirir um carácter forte:11,
Costuma chegar tarde o remédio quando a]guém jã é
escravo do mau hãbito. Todos os esforços e todas as artes
11erão necessárias para preparar as jovens neste ponto,
prevenindo esse perigo de que nenhuma está imune.
Quem poderá dizer em que momento começa o Outono?
Primeiro cai uma ou outra folha; a pouco e pouco,
despem-se os ramos, e, dum dia para o outro, ventos desa­
bridos de Inverno sacodem as árvores nuas da floresta.
O mesmo pode acontecer com este p e c a d o.
Ê necessária toda a atenção, toda a vigilância, porque
11ao há nenhum vicio que se inocule na alma tão insen­
�ivelmente como ele. Ai daquela que começou a
«brincar:11 com os pecados da impureza ou a compra­
zer-se na força de atracção dos dois sexos e quis expe­
rimentar •Só uma vez• aquele prazer que Deus só per­
mite no casamento 1
Ah I quantas jovens chegam a manifestar, por entre
lãgrimas e com a alma a sangrar de dor, quanto se
envergonham das suas quedas! Quantas prometem
conjugar todas as suas forças para, custe o que custar,
começarem uma vida nova e não tornarem a cair 1
A sua promessa é sincera; mas quando a tentação as
assalta novamente, a vontade é tão fraca que sucumbem
sem resistência. Já é tarde. Estão perdidas. Só com
muita oração e com muito esforço poderão emendar-se.

111 - Plantas vorazes

Como chegou a tal extremo a pobre rapariga?


Não soube ser forte no prtmelro assalto. Ignorava que
na vida humana, tal como num jogo, qualquer passo
dado em falso, cedo ou tarde, será pago.

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72 PURl!ZA B FORMOSURA

Certas conversas, leituras e atitudes, a princ1p10


pouco frequentes, transformaram-se, pouco a pouco,
em hábitos diários. Não pensa a sério corrigir-se, por­
que a sua consciência já não protesta, e temos de con­
fessar que ainda mesmo que o quisesse, seria necessária
uma vontade de ferro para sacudir o Jugo dos sentidos
que a tirantzam.
O mau hábito exerce sobre ela tal dominio que,
frequentemente mesmo durante o sono, em perfeito
estado de inconsciência, é arrastada para o mal.
Quantas mais vezes se comete o pecado, tanto
mais exigente se torna a paixão que o provocou. A repe­
tição frequente dum acto mau produz o hábito; o hábito
cria a necessidade. A princípio o pecado não foi mais
que o peregrino ocasional que pede dormida; depois,
instala-se como hóspede e, finalmente, impera como
dono e senhor da casa. Segundo a mitologia grega,
Anteu, em luta com Hércules, sentia novas forças sempre
que tocava a terra com os pés. Também a paixão má
redobra de intensidade e de tirania, cada vez que a
alma toca na lama suja da impureza.
Quando Prometeu roubou o fogo do Olimpo, os
deuses, como castigo, acorrentaram-no a um penedo do
Cáucaso. Uma águia ia todos os dias devorar-lhe o
ffgado. Este renascia e, no dia seguinte, a águia voltava
a fazer o mesmo. O quadro retrata bem a jovem que
acendeu no coração o fogo da impureza: os seus actos
acorrentam-na a um vfcio que dia a dia lhe vai cor­
roendo a alma.
Quanto mais vezes cair, mais forte será a pai:z:ão.
A infeliz assemelha-se ao cesto da costura que alguém
jamais seria capaz de encher de água. O pecado da
impureza torna-se como uma necessidade, à semelhança
da nicotina, o álcool ou o ópio, que constituem uma
• necessidade da vida•.
Sttuaç4o terrlrJel esta: o pecado necessidade da vtda/
Os exploradores da África do Sul falam duma ser­
pente que encanta as avezinhas com o brilho dos seus

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NO fUNDO DO ABISMO 73

olhos. Fascinada por esse estranho brilho, a pobre ave­


zinha saltita, de ramo em ramo, sem poder resistir ao
olhar maléfico da serpente que a domina e atrai. Assim
se vai aproximando a pouco e pouco, irresistivelmente,
até ser devorada por ela. Não há mais rxacta ima-
2"em da alma que se debate e cai finalmente nas garras
da impureza. Em muitos casos, as primeiras faltas
podem ser inconscientes. É necessário que as mães o
saibam Pode acontecer que alguma companheira, já
iniciad;i na prática de acções condenáveis, tenha lev.1do
a adolescente " praticá-las também. Que isso era pecado,
já o compreendia, porque não se atreveria a fazê-lo sob
o� olhares de quem quer que fosse. A própria natureza
lho fazia Sêntir A princípio, preferia mesmo tudo, a
própri1 morte, a que sua mãe ou alguém descobrisse a
realização de tais actos.
Já ouviste dizer, com certeza, que há plantas insectl­
voras; se qualquer insecto pousa nas suas folh�s vis­
cosas, estas enrolam-se e ele fica imediatamente preso.
Ao fim de alguns dias, as folhas abrem-se de novo. mas
do pobre insecto nada mais resta senão o esqueleto.
f!.. planta chupou-lhe todAs as energias. toda a vida.
E uma outra imagem do pecado da impureza, quando
se instala no coração duma jovem. Consome todas as
suas energias espirituais transformando-a, sob as suas
garras, num triste despojo. Assim se explicam certas
mudanças no carácter e até na saúd� do corpo que se
vão tornando visfveis, mesmo quando se fazem esfor­
ços para as esconder. Com as asas enlameadas, � ãguia
não pode voar.
IV-A descida do averno

Com a prática de acções imorais, a jovem perde


energias que tão necessárias são ao corpo e à alma
como preparação para a sua vida futura. As professo­
ras, os pais e até as companheiras notam a grande
transformação que nela se operou, perdendo muito da

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PUREZA H FORMOSURA

sua vivacidade, inteligência e alegria. Admiram-se


de que ela, até então a mais aplicada da sua turma,
passe à categoria de negligente ou de simples apro­
vada nos seus exames. Durante as aulas, talvez esteja
sossegada, mas se repararmos nela, não será diffcil
adivinhar que os seus pensamentos vagueiam por muito
longe. O seu olhar fixa-se num ponto distante ...
Não pensa. Sonha com os divertimentos que a espe­
ram naquela tarde. Se a professora a chama, sobres­
salta-se e cora. Nota-se que para estar «presente»
naquele momento, teve de fazer um «rt�resso• de muito
longe . . O mais pequeno esforço intelectual custa-lhe
extraordinàriamente. Além disso, vai abandonando a
companhia das suas amigas de antes, que eram boas.
Agora, só uma cu duas merecem a sua confiança, as
que são da sua cor. Acompanha sempre com elas;
nas horas de descanso, ou ao sair das aulas, sempre no
mais rigoroso segredo, traça com estas os seus planos.
E se uma estranha :iO grupo se aproxima, recebem-na
com uma cara tão carrancuda que ela imediatamente se
apressa a retirar-se. Seja qual for o assunto tratado na
aula, já por nada se interessa. Ainda que quisesse, não
conseguia concentrar a atenção por muito tempo.
A dirtctora. que ª conhece desde os doze anos e que
gostava dela pela nobreza do seu carácter e pela sua
franqueza, nota, surpreendida, que ela cai muitas vezes
em mt'.ntiras. Que diferença quando outrora, com razão,
se orgulhav?.. de dizer sempre a verdade I Mas como
há-de preocupar-se com as faltas leves, se tem a alma
corroída pelas faltas graves? Agora já não ht'Sita nem
cora quando mrnte. Para ap;m::ntar diante das cutras
uma vida honesta, mtnk, mente, com um descaramento
que a todos espanta. Torna-se m('stra na arte de mentir,
e mente às professoras, às companheiras e aos pais.
A verdade é filha da inocência, t a mentira é irmã da
impureza ...
Com a sinceridade desaparecem as demais virtudes:
a delicadeza, a polidez, a gratidão, o afecto, o gosto pelo

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NO FUNDO DO ABISMO 75

que é nobre e belo. Isto compreende-se, porque a


pureza d a pedra de toque da firmeza moral. Se falta
a pur�za e a honestidade, aparece a corrupção, Que
vale a maçã vermelha, se por dentro está rofda
pelos bichos? Que vale ser a urna dourada, !i,t! dentro
está um cadáver? A jovem que desprezou a virtude da
purna, rebaixa-se cada vez mais; a sua antiga e amá­
vel candura desaparece como o perfume e a belez�
duma rosa que mão grosseira desfolhou ao vento.
Perto de Roma, havia antigamente grandes regiõ�s
pant.mosas. Durante séculos e até há poucos anos,
as sua ... exalações corrompiam o ar de toda a região,
envenenando os corpos e oprimindo os ânimos dos
habitantes diis povoações vizinhas. Viam-se então
estes �iomé>nS, pálidns como cera, de olhar triste,
remando vag.irosamente por sobre a água pant;,­
nosa; e se um estrangeiro lhes perguntava, amà­
velrr.ent� come sta ?, (como está?), em vez do
costumado: Si vive (vai-se vivendo), usu.:l em toda
.i Itália, ouvia-se, como respo3ta : Si mu(lrt: (vamos
morrendo) ...
Nao é na escuridão dos túneis que crescem as
árvores ou desabrocham as flores. Quem tem a alma
escravizada, não pode produzir nenhuma flor de virtude;
tudo o que dela nascer levará sempre a marca do
animc1l. (SZÉCHNYI).
Agora se compreende por que se tornou sombrio
esse olhar cândido e porque se encheu de rug;,is prema­
turas esse rosto juvenil. Triste espectáculo o dum arco­
-íris que começa a esfumar-se. Esta jovem perde até
o conceito moral da economia. A todas as horas pede
dinheiro. Quem poderá passar sem comprar o último
perfume tia moda, o carmim mais elegante e o vestido
mais chie? Quem dispensará a lt:itura de toda a espécie
de revistas frlvolas, ou a assistência à fita que celebra
os últimos triunfos duma cestrela• predilecta? Como
renunciar aos bailes elegantes, aos châs dançantes e a
outros passatempos da sociedade moderna?

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76 PUIU!ZA E FORMOSURA

Mas naturalmente tudo isto custa dinheiro. A sua


pobre mãe não se cansa de repetir: « Minha filha, tu
consomes-me I Não te posso dar mais dinheiro !11 Ela,
porém, sabe o processo de o adquirir. E forma o
propósito de apresentar as suas contas, quando fizer as
compras no dia seguinte ...
Todas as suas faculdades se inferioriz;im. A infeliz
já não é capaz de se interessar por coisas dignas, nem
de sentir aquelas impressões que nos elevam e engran­
decem. Já não vale a pena falar-lhe em trabalhos
sérios; é inútil falar-lhe de ciência, de arte ou de cari­
dade. Apag=t-se nela toda a alegria juvenil. Já não
tem ilusões, e o seu espírito não é capaz de conceitos
de beleza. Desap;uecem e morrem nela todos os ansr.ios
dt> perfeição. Não faz mais que divagar, e não conse­
gue qualquer progresso no seu trabalho ou profissão.
E certo que ainda solta gar�alha<.!as. mas falta-lhes
aqu�le timbre claro e vibrante do riso franco. Ainda se
dedica ao trab�lho algum3s vezes com entusiasmo, mas
falta-lhe a persever::mé;a. Nos seus pensamentos, andam
quase sempre imagen3 impuras. São tias que domi­
nam a sua fantasia e as que unicamente lhe interessam.
A energia e a força de vontade estão paralizadas.
É uma simples boneca e nada mais .•.
Torna-se retra(da, hipócrita, maliciosa e sem carác­
tt'r. Acompanham-na por toda a parte os seus destjos
impuros e as suas incHnaçõ�s levianas; já não sabe
olhar para nada com simplicidade e inocência. Tor­
na-se nervosa e insuportável. Às vezes, chega até a
ser cruel com as suas irmãzinhas inocentes.
E o pior é que ela já não pode ter outra maneira
de ser. Quem diz ao fogo que não queime ou ao
mar embravecido que serene como um laKo? Impos­
sível 1
O ladrão rouba os bens de outrem, mas quem
levar uma vida de impureza rouba a si mesmo o
tesouro de maior valor: as energias da alma ..
A descida do averno ...

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NO f'UNDO DO ABISMO 71

V - As raparigas «avançadas•

Se não se tratasse duma coisa tão séria e de tão


funestas consequências, seriamos tentados a rir ao ver
u desprezo, a leviandade, a ironia e a indiferença, com
que certas raparigas falam de moral e religião. As coi­
sas mais sérias, os mais transcendentes problemas, tra­
tram-nos elas com a maior facilidade.
e Céu, inferno.. • já os temos nesta vida, sem pre­
cisarmos de e spe r ar pela outra l Seria impossível
viver torturada por tais preconceitos l Isso não seria
viver 1
Com tranquilidade incrível, declaram abertamente
que já aprenderam muito, e dizem, com o vulgo:

Ou no setimo hd perdt1o
E no sexto muito mais,
Ou resta uma so/uçtio:
Encher o ceu com pardais.

Mas, afinal, o que sabem estas raparigas? Qual


foi a sua escola? Pois se as grandes mulheres da
História não foram indiferentes nem descrentes l ...
Picam bem aqui estas palavras que a rainha Isabel, a
Católica, proferiu no seu leito de morte:
«Não choreis por mim, nem percais tempo a pedir
o meu restabelecimento. Pedi, sim, pela salvação da
minha alma. :it
Querida jovem, poderá admitir-se que sejas indi­
ferente, que não tenhas fé? Não creio. Nasceste em
Portugal, terra de heróis cristãos, e os sinos da igreja
da tua aldeia repicaram festivamente no dia do teu
baptismo.
Quando muito, serãs do número daquelas pobres
raparigas que erradamente supõem que a ciência, o

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78 PUREZA l! FORMOSURA

progresso, a emancipação, estã em romper com a tradi­


ção, com o pudor, com a decência I Mas, eu sei que,
no recolhimento e na solidão do teu quarto, quando
ninguém te vê, aos teus lábios afloram palavras de
súplica; sei que, nas horas amargas e aflitivas da tua
vida, elevas o teu coração para esse Deus misericor­
dioso e bom que agora parece esqueceres ...
Eu bem sei que, no citmpo religioso, há mulheres
incrédulas ou cépticas que pretendem negar a existência
histórica de Jesus Cristo e a autenticidade do Evangelho;
mas isso o que significa? Que a mulher «no mais
íntimo do seu ser, no mais profundo da sua dignidade,
se torna infiel a si mesma•. (M. SCHLUTTBR Hl!RMKES).
Não foi a cultura, nem o muito saber, nem o pro­
gresso que roubou à rapariga a sua fé e que a afastou
de Deus. Foi a ânsia dos prazeres, a convivência
com pessoas sem moral nem dignidade, foi a vida
sensual .•.
e Ninguém abandona a religião para ser melhor•,
disse um filósofo cristão. E aqueles que abandonaram
a religião, no seu Intimo tem de reconhecer que isto é
verdade. Terá coragem de se aproximar do que é santo
e divino, quem sente esmagada sob o peso da carne
a sua vontade fraca ?
As «estrelas• do teatro e do cinema costumam ser
vitimas duma doença própria da sua profissão - a
cegueira. Vivem sempre l'lUm ambiente de luz intensa,
é certo ; mas é precisamente essa luz artificial e potente
que depressa as torna incapazes de receber a luz do
sol. .. O mesmo acontece a essas jovens que, para serem
avançadas se expõem a todas as luzes artificiais do
prazer; ficam cegas para a luz de Deus, que é o sol
da Verdade. Se alguma vez encontrares uma destas
pobres cegas, vazias de fé em Deus, sabe que é porque
têm em pouco apreço a virtude da pureza.
Haine, filósofo descrente, insusp�1to portanto, deixou
escritas, para ti, estas palavras: mulher formosa sem
religião é uma flor sem perfume•.

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NO PUNDO DO ABISMO 79

V 1 - Será isto alegria e felicidade?

Pobre rapariga I Julgas-te ser feliz satisfazendo os


teus desejos de prazer. Mas esta felicidade que pagas
tão cara, será realmente a tua felicidade?
Se dizes que sim, enganas-te a ti mesma. Não és
sincera. Se és realmente feliz, então porque vives
momentos de ansiedade e de depressão de ânimo?
Momentos em que nada, mesmo nada deste mundo, te
pode dar alegria? Porque te vemos sentada diante dos
livros com o trabalho diante de ti, mas o olhar vago,
perdido no espaço?
O teu coração •.. não o assaltam dúvidas? Afagas
o rosto pálido com as tuas mãos trémulas, que logo se
cansam. Quiseste ter uma vida alegre... Porque estás,
então, assim pensativa? Não o conseguiste?
Que significa esse vazio profundo na tua alma, essa
tristeza, esse abatimento e essa aridez? Que quer dizer
o soluçar triste, inconsolável, que nos momentos de
silêncio lança lá longe, mas muito longe, esse passa­
rinho tímido, espavorido, que outrora se chamava «vida
pura•? Enquanto viveu no ninho quente da tua alma,
ele era com os seus doces gorgeios a tua alegria.
E agora?
Porque é que, em momentos de reflexão, te ator­
menta o triste pensamento de que não houve felicidade
no teu passado nem ha esperança de a teres no futuro?
Porque a impureza, oferecendo-nos com uma mão o
prazer, com a outra rouba-nos o tesouro do mais ines­
timável valor.
Que é feito da tua energia? Onde a voz êle sereia
que te dizia obstinadamente ao ouvido: liberta-te de
preconceitos e goza à tua vontade? Agora já estás
livre, já sacudiste o jugo da lei de Deus ..• mas gemes,
feita escrava dos teus instintos, sempre insatisfeitos e
sempre amargos. Olha com que alegria ainda sabem
rir-se as tuas amigas e companheiras I Oh l se, ao

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80 PUREZA E FORMOSURA

menos, fosses um dia sincera contigo mesma ... se qui­


sesses reconhecer que ao procurar a Jellcidade por
caminhos protbldos encont,aste a desilusão e a des­
graça do teu Juturo 1

V 11 - Jardim devorado pelos vermes

A ruína espiritual é uma das funestas consequências


do pecado da impureza. Nenhum delinquente a pode
evitar.
Outro castigo é o da pena corporal. •O estipêndio
do pecada é a morte•, diz S, Paulo; morte da alma,
em todos os casas, e muitas vezes a do corpo também.
Quantas doenças repugnantes causadas pelo vicio
da impureza. A satisfação dos prazeres proibidos, seja
de que maneira for, esgota as energias, e ao fim de
algum tempo causa graves transtornos no sistema
nervoso.
Conheces a lenda da Atlântida, o magnifico conti­
nente coberto pelo oceano? Diz-se que em dias de
grande calmaria o olhar penetra até ao fundo do mar,
onde jaz submerso esse grande continente. Os mari­
nheiros que sobre ele navegam podem então ver torres,
cúpulas e soberbos edifícios que lhes causam espanto e
admiração. Sentem como que estremecer-lhes a alma,
quando vêem assim sepulta d a sem remédio tanta
grandeza.
Para muitas raparigas esta lenda é uma triste rea­
lidade. Quantas, já sem esperanças, choram, em vão,
as belezas da sua alma, perdidas para sempre .••
sub1nersas no fundo do mar do pecado?
A violação do sexto mandamento é um lamentável
e grave desvio dos plano do Criador. E um verda­
deiro atentado. A jovem dominada pelo pecado da
impureza calca aos pés as leis da natureza. Um tal
atentado não é ,mpunemente que se comete. A trans­
gressão destas leis tem castigos terríveis, já mesmo

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NO FUNDO DO ABISMO 81

nesta vida. Ou na ordem moral ou na ordem ffsica, as


consequências duma vida desregrada são inevitáveis.
Todos os pecados rebaixam a dignidade humana.
Nenhum faz excepção. Este, porém, pode arruinar
IÍjmb�m a saúde do corpo. E esta ruína t�m muitas
vezes a forma dum castigo verdadeiramente horroroso.
n certo que o Código Penal do Estado não tem sançõts
para estes pecados; m;1s a natureza é mais severa que
lodos os j ui zes. Foi por isso que os homens da época
diluviana sofreram as inundações das águas, que os
hRbitantes da cidade de Sodoma foram devorados pelo
fogo, e que, em nossos dias, muitos sofrem doenças
mcuráveis. castigo bem mais duro que o fogo e a água.
Perguntemos às religiosas que nos hospitais cuidan, de
lnntos infelizes, e elas nos dirão que só num espírito
,!e grande caridade cristã é que elas podem encontrar
corn��m para se aproximarem d )s leitos onde jazem, a
1

desfazer-se, essas vítimas dos prazeres proibidos por


Deus e pela natureza.
VIII - Castigo físic9.

Todo aquele que se atreve a transtornar os planos


de Deus, reduzindo-os a mercadorias de prazer, pagá­
-lo-á bem caro. Hoje, fiada nas tuas energias de jovem,
vais bebtndo cegamente a taça dos prazeres, sem pen­
sar, sequer, que dentro de pouco� em alguns dias talvez,
ié estarás escrava dum mau hábito. Ao fim, restar-te-ão,
sõment�. ft:zes amargas e asquerosas. Julgas que não
há nada que te possa fazer mal? Julgas que podes
gozar impun�mente? Ê neces.sário saberes que não.
Quanto mais fino, perfeito e complicado, for um orga­
nismo tanto mais tempo a natureza necessita para o
formar; o corpo humano, organismo admiràvelmente
delicado, precisa de mais de vinte anos para atingir o seu
desenvolvimento completo. Durante lustres, a natureza
vai trabalhando em silêncio, dia e noite, nesta obra
maravilhosa; e é de suma importãncia que os órgãos

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82 PURI!ZA E PORMOSURA

destinados à conservação da esp�cie humana se desen­


flolvam tranquilamente no sllêncto. sem obstdcu.Los de
espécte alguma. Será isso o que tens procurado?
Se uma rapariga cortasse, todos os dias, um boca­
dinho dos seus pulmões, onde estaria ela ao fim dum
ou dois anos? Pois é isto o que fazem, afinal, aquelas
que desperdiçam loucamente as suas energias. Medita na
influência que qualquer desmando desta ordem exercerá
no teu organismo, em pleno desenvolvimento e numa
idade em que se exige a tranquilidade dum repouso
virginal. Reflecte nas ruínas que produzirá este mal­
baratar, aos catorze, quinze, dezoito anos, tantas ener­
gias novas e preciosas que a natureza entesoura, para
que um dia as transmitas aos teus filhos ...
A excitação violenta do organismo e o estado de
tensão em que fica, abalam profundamente o sistema
nervoso. Já poderás compreender por que, hoje em
dia, observamos certas jovens sempre abstractas, sem
aquela viveza e aquela limpidez que é uma manifesta­
ção da pureza interior, e em cujo rosto se vê desfolhada
a rosa da juventude; pálidas como cera, pretendem
alegrar o rosto com pinceladas de rouge; estão sem­
pre cansadas e enfraquecidas, por mais que durmam.
Não têm nenhuma doença, mas Deus nos livre de con­
templar a sua cara antes da maquilagem. Causaria
medo. e que os olhos reflectem os destroços da alma.
Levam em si o terrível castigo da sua vida deso­
nesta: ,Es tst Oerachtlgtett auf Erden. dass Oelster
Oestchte u,e,den., ,Hã uma justiça na terra: o espí­
rito revela-se no rosto.,
Esta frase de Orethe nunca foi tão verdadeira como
neste caso. Nada predispõe tanto o organismo para a
rulna como o pecado. A semelhança da sanguessuga
insaciável, ele vai chupando lentamente a saúde e o
bom humor, faz desaparecer do rosto as cores róseas
da juventude, apaga o brilho do olhar, e a chama da
vida perde o seu fulgor. As observações da medi­
cina moderna permitem afirmar que o estado da alma

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NO FUNDO DO ABISMO 83

tem sempre influência sobre o corpo. O novo método


da psicoterapia intenta a cura do organismo doente
haseando-se neste principio. Pôde-se muitas vezes
concluir, com segurança, que certas depressões habi­
tuais do espírito dalgumas jovens infelizes são devidas
ao enfraquecimento do seu sistema nervoso, embora
e�se enfraquecimento, hoje em dia, seja frequentemente
htreditário.
IX--0 q_ue_são_as hormonas?

O organismo humano estã cheio de glândulas,


pequenos órgãos produtores de secreções que tanto podem
ser expelidas como ficar retidas para o seu funcionamento
normal. Há, por isso, glândulas internas e externas.
De secrt'ção externa ou exôcrina são, por exemplo, as
glândulas lacrimais, salivares e sudorfparas, porque os
seus produtos saem para fora do organismo. Há, porém,
outras cuja secreção se faz para o interior e que penetra
na circulação do sangue, cabendo-lhe o trabalho magni­
fico e misterioso do desenvolvimento e conservação do
corpo. São as glândulas de secreção interna ou endó­
crina, denominada tecnicamente hormona
Algumas delas começam a sua aclividade numa
idade muito precoce, como, por e:rem pio, a glândula
chamada timo, cuja hormona serve para a formação e
crescimento dos ossos, e que se vai atrofiando, à medida
que se aproxima o limite do desenvolvimento corporal.
Há outras que não começam a produzir a hormona
se não mais tarde, aos doze ou treze n11os, e vão aumen­
tando gradualmente a quantidade de produção. A estas
pertencem as glândulas �exuais. Ora, para que haja
um desenvolvimento harmónico, � ncrt•ssório haver um
equilíbrio perfeito entre os virias produtos hormonais
segregados pelas glândulas internas (corrrl11çau de hor­
monas) e que este equilíbrio não seja 11ltrr11clo por quais­
quer actos desordenados, porque e!iHn 11llrrnçtl() poderia
trazer perniciosas consequências. A ncllvu1ndl· prema-

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84 PURUP, B FORMOSURA

tura das glândulas sexuais pode, por isso, ocasionar per­


turbações muito graves se não houvtr a correlação de
hormonas, porque atrofia a glândula timo antes do tempo.
Convém advertir que o bom funcionamento d�sta glân•
dula se reveste de enorme importância, porquanto é
ela que faz cre:scer os ossos d�s t�xtremidades, desen ·
volver o sistema nervoso e colr:,rir " pele. Favorece,
por isso, o crescimento do corpo 1.::m gt·ral e a fixação do
cálciO, influindo assim no rnhustccim�nto lle todo o
sistema ósseo. Quando a rapa ri ,. J km uma vida pura,
as glândulas sexu:iis entram lentamente em actividade.
depois dum desenvolvimento gradual, durank vári,1 s
anos, e a hormona que elas produzem é que há-de
fazer cessar, também gradualmenk, a actividade do
timo. Ê este o caminho são � normal para o desen­
volvimento do corpo. Na jovem que não sabe ser pura,
a actividade viulenta e exctssiva das glândulas sexuais
provoca uma .atrofia prematura e:: rápida do timo, e a
falta de equílib1io que dai resulta pode sempre ter c-on­
sequências muito graves p�ra todo o organismo.
O nosso corpo é um «sistema de forças fechado, e, por
isso, se com qu.alquer actividade gastamos forças de
mais, não podemos compensá-las d1:vidamente com outras
vindas de fora: teremos de as tirar a outra parte do
OJganismo. P::;ril suprir a perda de energia num ponto,
tem que haver sempr� a diminuição equivalente no
outro. Assim se explica a falta de saúde, de memória,
de inteligência e de alegria, na vida de certas jovens.
Aquela que se tornou vítima de maus hábitos diminuirá,
automàticamente, a força de resistência geral do orga­
nismo. O trabalho dos órgãos da digestão, da respiração
e da circulação do sangue torna-se mais diflcil. Com o
tempo torna-se pãlida e anémica, e muitas vezes abre a
porta à terrível doença da tuberculose. Algum::ts trazem
estampado no rosto o estigma do seu vício. Olhos
encovados, mas de criança ainda I Sulcos e rugas a esbo­
çarem-se no rosto, mas feições de rapariga I E tão fácil
trocar a frescura da Primavera pela languidez do Outono t

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NO FUNDO DO ABISMO 85

Querida jovem, ao pactuar com a tentação, pen­


saste que ela exigiria que assim lhe pagasses, com tão
inexoravel pontualidade. Pensaste que terias de lhe
d,ir as tuas energias, os teus olhos radiantes e puros,
os teus nervos, a tua alma?
Ma51, agora reparo eu. No meu escritório hã um
vciso com flores � neste momento, enquanto eu escrevia,
caiu diante de mim uma pétala. Interrompo um instante
o meu trnbalho e penso: porque caiu esta pétala? ... Já
comprétndo: estava murcha, não servia para r1dornar a
flor e, por isso, esta e.1pulsou-a. Pobre pétal-3 ! . . . E tu,
pobr� botão humano, que começaste a murchar c1ntes
dn flornção I A vida expulsa-te, porque não lhe serves
p.:ra adorno... Rapariga que lês este livro, pesa com
serenid,1de a tua vida. Num dos pratos d:i balança põe
aquele prazer momentâneo que te profana: um 2cto deso•
nesto; e no outro coloca o preço por que te ficou esse
gt1zo efémero: a intranquilidade da alma, os anos
mHlbaratados, esperanças desfeita!-, o carácter deprimido,
a tua juventude murcha precocemente. Faz este balanço:
o que é que se •goz2• no pecado e o que é que se cdá,
a troco do prazer? E a resposta não se fará esperar ..•
Mas isto ainda não é tudo. O abismo é mais profundo.

X - Apodrecer em vida

Não te julgo ainda uma pervertida. Se alguém


tentasse ultrajar a tua dignidade de jovem honesta, sei
que te defendias valorosamente. Mas para firmar-te
ainda mais nesse teu nobre propósito, quero mostrar-te
a que e:z:tremos de miséria poderá chegar quem culpa­
damente cede a tal solicitação.
O vicio da impureza pode provocar doenças espe­
ciais. Sinto tremer- me a pena ao escrever estas coisas,
porque sou forçado a pôr a descoberto a tragédia de
muitas jovens e de muitos lares; tragédia de que, tal•

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86 PURBZA E FORMOSURA

vez, até agora nunca tiveste conhecimento, mas que


tenho o dever de te mostrar, para que vejas a que extre­
mos de miséria pode levar-te um só pecado de sensua­
lidade e para que um dia não tenhas de amaldiçoar,
como muitas, o momento fatal em que, por fraqueza ou
prazer, cedeste às solicitações animalescas de algum
sedutor sem consciência.
As relações sexuais proibidas podem causar•ü,
duma sd vez, doenças, cujos estragos durarão muitos
anos, talvez a vida intetra, com o perigo de se trans­
mitirem, como herança maldita, aos filhos, aos netos
e a toda a descendência. Sabe que há muitos con­
tagiados amaldiçoando a memória de sua mãe que
lhes deixou tão triste herança. A extensão destes males
é tão grande que a sociedade começa a procurar, com
verdadeiro pânico, os meios de os isolar, e até já houve
quem lançasse a ideia dum exame sanitârio geral, para
que, no caso de haver sintomas de ctrtas doenças, se
marcassem os seus portadores com am sinal visível, no
J
corpo, a im de que todas as pessoas honradas jossem
adverttdas do perigo que haveria em tratar com ess�s
infelizes. Estas doenças têm várias classes. Uma delas,
a sífilis, causa mais vitimas que a peste, a cólera e a
malária juntas.
As estatlsticas das Companhias de Seguros são
assustadoras. Segundo essas estatísticas, a vida fica
diminufda dez anos, não obstante os mais variados tra­
tamentos.
E que dizer em especial das doenças nervosas?
Desgraçadamente, quase na sua totalidade, têm como
causa a slfilis.
Muitas vezes parece que a doente ficou completa­
mente restabelecida. O próprio médico assim o jul­
gava. Mas um dia, passados vários anos, quando a
doente já nem sequer pensa nos s�us antigos males,
estes manifestam-se com uma violência mesistlvel.
Os micróbrios, ocultos no organismo, recobraram o seu
antigo vigor. Aparece então o enfraquecimento da

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NO f'UNDO DO ABISMO 87

espinha dorsal (tabes), a imbecilidade, a paralisia e até


a cegueira. Tratando-se desta doença, diflcilmente se
poderá contar com uma cura completa e radical. Médi­
cos que nada têm de escrupulosos, como o Dr. Húhner,
director do hospital judaico de Manhattan (Estados
Unidos}, afirmam que o micróbio da sifilis fica latente
no corpo ainda que os reagentes não acusem a sua
presença. Mais tarde, ao menor incidente, reaparece.
A infeliz, que na sua juventude era motivo das mais
risonhas esperanças, acaba por se tornar uma calami­
dade viva, sendo um fardo terrfvel para a familia e para
a Humanidade.
E se se casa e tem filhos? Terrlvel herança I Não
quero já falar das dores atrozes que a tabes provoca
nem do presseRtimento que se apodera do enfermo de
que irá acabar num manicómio. Oxalá que todas as
raparigas, na eminência de ceder a solicitações peca­
minosas, tivessem bem presente na sua memória esta
horrível trag�dia I Por uns escassos minutos de prazer.
talvez a medula espinal attngtda e o manicómio d
vJsta... Não é, realmente, um triunfo que se possa
desejar.
Não julgues que exagero ou que pretendo aterro­
rizar-te. Não venhas dizer-me que, se estas doenças
fossem realmente tão perigosas, não se falaria doutra
coisa e sempre ouvirf amos dizer; Fulana ou Sicrana
morreram desta doença vergonhosa. Ê muito natural
que os que sofrem destas doenças procurem ocultá-las
aos olhos dos outros, e muitas vezes esta doença mani­
festa-se noutras, de nomes muito diferentes; só os
médicos são testemunhas da horrlvel tragédia que se
desenrola e só eles poderiam dizer-nos em quantos
casos a sífilis foi justamente a causa verdadeira duma
doença dos pulmões, no fígado, nas artérias, no cére­
bro ou nos ossos. Alguns deles mostram aos seus
próprios filhos o espectáculo dos hospitais, na certeza
de que à vista de certas doenças é o melhor remédio
para as evitar.

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88 PUREZA B FORMOSURA

O terrlvel micróbio chama-se ctreponema pálido•,


e pode eJ:istir nas pessoas por hireditariedade ou por
contágio.
A medida que te vais desenvolvendo, ainda que
gozes, aparentemente de boa saúde, também em ti se
vão desenvolvendo esses micróbios. Gastam quinze anos
para atingir o seu completo desenvolvimento. E assim
quando a mulher chega à idade madura, quando aos
quarenta ou quarenta e cinco anos atinge o ponto mais
elevado na curva da actividade humana, se na sua
juventude contraiu essa doenç:i, não obstante as suas
faces rosadas e os músculos consistente8, caminha
direita à sepultura. O micróbio está então em plena
virulência, e repentinamente põe em grave risco a vida
da sua vitima. No zénite d� existência, no momento
em que poderia, enfim, gozar de certa prosperidade e
conforto de familia, terá talvez, depois de horríveis
sofrimentos, de baixar à sepultura.
Num gráfico apresentado pela Deutsche Oesellschnff
Zur Bekaemfung der Oeschlechtskrankhetten, -sociedade
alemã que se destina precisamente a combat�r estas
doenças- verifica-se claramente que os sifilílicos (mesmo
já curados) morrem doutras doenças, em número muito
maior que os que nunca tiveram a slfilis. Se para indi­
car os casos de morte dos não sifilfticos tomarmos como
unidade o número 100 (que marcamos com a linha per­
pendicular), verificaremos que, à excepção dos tuber­
culosos e dos doentes das vias respiratórias, em todos
os mais casos, os sifillticos morrem numa proporção
superior à unidade, sobretudo tratando-se de paralisia,
enfraquecimento dorsal e aneurisma.

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NO FUNfHl 1:u .".BISMO 8\l

.\tORTE DE SiflLfTICOS, SEGUNDO AS DIVERSAS


ENFERMIDADES

MortaliJade dos seaurados JOO

Tub�rculoso�, 48
.. --. 1
.. Enfermld�d:: do� drJ?lL.s re1r,lratorlr1, 99

�I En!cr111iiladrs ccnta�1t•:<:1s, 110

· -- 1 Enkrmid•des dos rins, IM

- ·-··-1 Enfermld,1d,:� do ,stõmdgo e dn, intestinos, 18)

-··--· · 1 Enfcrmldad�s dos 6r11ãu d� circulação, 216

=�-��, Sulcidic,s, 222

. . · -::.� --�:::: 1 En fcrmtd ades cerebral�, excepto a paralisia, 245

---· - ------- -
--------··· -··-
. -

A mitologia grega fala dum monstro, com r.abeça


de touro e corpo de homem, que o rei Minos encerrara
no labirinto de Creta e a que se davam, como alimento,
todas as semanas, sete rapazes e sete raparigas de Ate­
nas. Trata-se dum mito, mas todos os destroços desse
monstro mitológico seriam bem poucos se os comr,a­
rarmos com a devastação causada pelo pecado da impu­
reza. Nos sinistros abismos da perdição espiritual ou
corporal- isto é um facto que não devemos continuar
a querer ignorar - é sacrificada em holocausto a grande
maioria da nossa juventude ...
Um antigo m�dico francês, dos que melhor conhe­
ciam os terrfveis males deste pecado, disse: e Quem

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90 PUREZA H FORMOSURA

não temer a Deus, tema pelo menos a doença.• Só as


vitimas de tais doenças podem ;fValiar, em todo o seu
peso, a gravidade desta horrlvel praga. Em muitos
casos, porém, os médicos são testemunhas de que na
verdade é sempre pouco tudo quanto se fizer para pre­
venir a juventude. Verifica-se infelizmente quase sem­
pre o que diz um provérbio alemão: Lust und Freude
sterben jung und bald: Der Kummer wird hundert
Jah,e alt. «O prazer e a alegria passam depressa ;
a dor vive cem anos.»
Conheces, por certo, alguma reprodução do qua­
dro de «A última Ceia» que imortalizou o célebre pintor
Leonardo de Vinci. À volta deste quadro, deu-se um
episôdio que talvez desconheças. Pensava o artista na
maneire de encontrar um modelo para retratar o rosto
sublime de Jesus Cristo, quando descobriu, entre os
cantores duma igreja, um jovem que logo chamava a
atenção pela sue formosura extraordinária. Pietro Ban­
dinelli, assim se chamava, gostosamente se prestou a
servir o artista, e o seu rosto ficou para sempre imorta­
lizado na figura de Jesus. Passaram-se dois anos.
Leonardo de Vinci percorria, então, as ruas à busca
doutro modelo para a figura de Judas. Procurava
alguém que no seu rosto revelasse claramente toda a
maldade de que ele imaginava Judas ser capaz. Por
fim encontrou um homem, ainda novo mas envelhecido
prematuramente, de tal modo que, por baixo das rugas
que lhe sulcavam o rosto, se advinhava uma alma pro­
fundamente perversa. Convidou-o para seu modelo,
colocou-o diante de si mas, quando no quadro se
esbuçou o rosto de Judas, do coração daquele infeliz
romperam soluços desesperados 1
O desconhecido era Pietro Bandinelli
Entregara-se a uma vida depravada, e em dois anos
apenas o seu rosto ficou tão desfigurado que serviu para
rosto de Judas 1 , . . Era assim no exterior. Como devia
estar a sua alma 1 Oh I se os sepulcros silenciosos dos
cemitérios, onde o pecado da impureza levou antes do

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NO FUNDO DO ABISMO 91

tempo tantas vidas jovens, cheias de risonhas esperan­


ças, pudessem falar um dia 1
Interrompe agora, querida jovem, esta leitura e
medita com espírito de oração estas palavras de perene
valor, saídas da pena de S. Paulo: .. se alguém profa­
nar o templo de Deus, Deus perdê-lo-á. Porque é
santo o templo de Deus que vós sois». Ol

E se ao menos te perdesses tu só l Mas podes


perder os outros. Assim como um momento de prazer
é suficiente para que um infectado transmita o micróbio
da terrlvel doença, assim também, e com a mesma faci­
lidade, tu podes ser a causa da desgraça dos teus des­
cendentes que, sem culpa, receberão de ti a contagiosa
doença. Com a tua mão infectada, tocas no batente da
porta; �braças a tua amiga mais íntima; usas para
os lábios o lápis que passa depois a outra mão ..•
O pente, os talheres, o copo, a escova de dentes, a
toalha. tudo isto são meios de comunicar aos outros a
tua doença. Serás para os que vivem contigo uma
permanente ameaça. Ouve este caso impressionante.
Nos jardins de certa capital brincava, um dia, uma
encantadora criança. De repente escorrega e cai sobre
uma pedra. ferindo-se num joelho. Sua mãe acode
pressurosa. tenta vedar o sangue com um lenço. mas
em vão. Então, uma jovem, que estava ali perto sen­
tada, tira da sua elegante carteira um pedaço de seda,
corta-lhe um pequeno quadrado e, humedecendo-o com
a língua, aplica-o delicadamente sobre o ferimento.
A mãe, muito reconhecida, agradece.
Ao fim de algumas semanas, porém, o joelho da
criança apresentava sintomas de sífilis, transmitida sem
dúvida, pela saliva daquela jovem.

111 Epistole I.ª aos Corlntlos, 111-17.

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92 PUREZA E FORMOSURA

Pensa, agora, que se contraíres esta doença, não


poderás, sequer, beijar os teus filhos I E o perigo é ainda
maior pelo facto de que a doente, ao principio, não nota o
seu mal, nem sente dores; muitas vezes, só por casua­
lidade descobre em si certas anormalidades que o médico
irá diagnosticar ...
Sentes, pois, a tremenda responsabilidade que sobre
ti pesa?
Alerta, jovem desprevenida 1 Muito cuidado 1
Todo o cuidado 1
XI 1- Os teus pobres filhos

Tendo sido vitima de tal doença, não seria atrevi­


mento constituir familia? Não seria vergonhoso unir-se,
para sempre, com um jovt:rn sadio e bom, que, em
sonhos da mais fagueira ilusão, pensava na sua futura
consorte, virgem. casta? Talvez essa rapariga tente
encobrir o seu mal e pense consigo: o meu noivo
não sabe nada... Fingirá., por isso, uma pureza que não
tem e um pudor virginal que lhe falta. E assim engana
o jovem que, ignorante, a adora, e que e:ra mert>cedor
duma rapariga mais digna e virtuosa.
Infelizmente, porém, os casos mais frequentes são
os de jovens que, gastos pela luxúria, se atrevem a
casar com raparigas inocentes e puras, a quem tor­
nam desgraçadas para toda a vida. Acautela-te, jovem
leitora.
Hã raparigas belas e cândidas que, poucas semanas
depois do casamento, se encontram repentinamente con­
tagiadas pela sífilis � outras doenças igualmente peri­
gosas, e que, durante anos e anos, se arrastam pelo cami­
nho da dor e do sofrimento.
Talvez apareçam os filhos l Pobres criaturas ino­
centes l Mais lhes valia não ter nascido I Aos três ou
quatro meses de idade, já se notam os indicias da
triste herança. Ao fim de meio ano, a maioria morre.
Se, porém, tiverem a desgraça de viverem, manifestar-

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NO PUNDO DO ABISMO 93

-�t-ão nelas, entre os dez e os vinte anos, as conse­


quências da doença.
Mu1tRs crianças nascem cegas; outras, ao nasct!r
já sofrem de oftalmia purulenta, com perigo de cega:-,
por causa do contágio rectbido da própria mãe. p0r
sua vez já contagiada pelo marido.
M3s também eles transmitirão a �ua desgraça
ans filhos. lnf 1>.liz�s I A su.a vida en·venena·ia, pelos
pais e trnnsjorm'ld-t em triste he.rança. Um terrível
t'Xército r!e desiquilibr.:1dos, dt! cnanças idiutas e par3-
lític;;s sã,J kstemunhas t! vitimas do ptcado... Terr(vel
argumento, a demonstrar os estragos causado1- pela
1m1_;ra iidade na juventude _que despreza a virtude da
puraa.
E toda esta mis�ria, essa infinidade de desgraças
tamiliares, essa ruína trágica da fehcidatl� do lar, talvez
tenha sido resultado da inexperiência, da ignorância ou
da despreocupação da rapariga que confiou a sua sorte
a uu1 jovem contagiado! Rapariga, vale a ptna pagar
tão caro um casamento impruà•�nte? Terás cora•
gem para, amanhã, escutar dos lábios da tua filha,
cega ou par.alltica, estas perguntas cortantes: «Mãe,
porque estou cega? Porque não posso andar? As ou­
tras meninas vêem e éindam e eu porque o não posso
fazer?�
Ao contrário, aquela que não deixou contaminar o
sangue, que antes do matrimónio cultivou com esmero
a flor da pureza, deixa aos filhos uma herança mais
valios?. do que se lhes tivesse legado uma fortuna
de milhões.
Oxalá que, no dia de amanhã, os teus filhos sejam
tão fortes e sadios que possas dizer deles o que disse
Cornélia, mãe dos Gracos: e Eis aqui as minhas jóias
e os meus adornos b
A saúde é a maior riqueza.

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94 PUREZA R FORMOSURA

XIII - Esperanças e desalento

Já viste alguma vez um rio que desce da serra?


As suas águas límpidas e impetuosas saltam entre
penhascos, como se cantassem de alegria. .e
claro,
transparente, porque se alimenta de neve .••
Mas um dia sobrevém um terrfvel aguaceiro.
O 1io transparente turva-se, mancha as suas águas li
longe, na sua infância, quando não é mais do que um
pequeno ribeiro.
De nada vale que as suas águas não recebam mais
enxurro. Continuará toldado e lamacento, apesar da
neve que a 1 i men t a a sua fonte. Querida jovem l
O rio alegre da tua vida pode toldar-se com a tua
juventude leviana ; não te esqueças de que isso
pesará sobre ti, como uma maldiçao, quando fores
mulher adulta. À medida que a primeira edição deste
livro for passando pelas mãos das nossas raparigas, o
correio há-de trazer-me, com certeza, cartas das suas
leitoras.
Quanta miséria I Quantas lutas I Quantos tor­
mentos l Quantas esperanças desfeitas l E são tantas as
que choram a primeira falta I Lamentam a hora em que
conheceram o pecado e dirão angustiadas: - Porque
fiz eu aquilo? Infeliz de mim que não tive a meu lado
um coração amigo que me guiasse 1 ••• Entretanto, aos
pés do Crucifixo, que tenho diante de mim, peço pelas
minhas ltitoras e digo ao Senhor e Mestre:
« Velai, compadecido, por tantas jovt:ns filhas vos­
sas, que querem guardar intacta a sua pureza.
Ajudai as que lutam com a tentação, que lhes ofe­
rece comodidades e elegância a troco da sua pureza.
Sustentai-os, quando Vos chamam, dizendo: Salvai-nos,
Senhor, que perecemos. Ajudai as que, vitimas da
sedução, jà calram, mas que desejam levantar-se da
lama. Ajudai as que se mancharam de qualquer
modo ...

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NO FUNDO DO ABISMO 95

Pensando em ti, jovem menina, que agora pisas


os umbrais do mundo, ofereço à tua consideração
alguma coisa do que escrevem as mulheres. Lê:

,Reverendo Padre:
Em busca duma ajuda, dum conforto, tomo a
pena para lhe escrever duas letras, pedindo encarecida­
mente uma resposta o mats breve pos�-fvel, para minha
tranquilidade espiritual.
S011, uma rapariga de dezoito anos e que, todavia,
sente a alma tdo cansada e oprimida como a duma
mulher de cinquenta. Nascida e criada na abunddn.cla,
nada faltou à minha educação. No desporto, não hd
dtflculdades para mim; com a mesma faciltdade com
que ;ogo o ténis, também pratico a natação e o cski>.
Prezo-me de sabe, ser elegante, dançar bem, alindar o
meu rosto como a cestrela• mais «chie> do teatro ou
do cinema ...
- E para que serve tudo issp, dirá?
- Padre, nem eu o sei. Unicamente lhe posso
dize, que de tudo me falaram na vida. menos daquilo
que se refere à pureza. Por isso, os meus conhecimen­
tos nesta matlria são dtfettuosos, vagos, incompletos ...
E com esta de/lcléncia de conceitos, lancei-me no mando
das sensaçôes julgando-me apta para tudo. E um pouco
diabôllcamente, pensava comigo: •Quem, como eu?•
Hoje também repito amargamente: e Quem tifo
desgraçada com<J eu?, Uma curiosidade insacldvel,
uma vontade sem domlnio, foram os algozes da minha
honestidade.
Certo dia abandonei a minha casa, para gozar
esse mundo que tanto me prometia, atravts do cinema,
das novelas, das conversas li'Vres. Para mim, o pudor
era uma coisa sem Lmportdncia. Esquisitices de bea­
tas! Tudo se pode ver, ouvir e provar. Tal era o crl­
tülo que guiou a minha aventura até chega, a entregar,

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96 PUREZA E FORMOSURA

como louca, a minha honra nas mãos dum homem que,


Jtngindo ,imor, me rebaixou a uma sirnaçâo lndlzivel.
Vtvt dois anos entre pes!,oas sem escrúpulos, com­
preendendo claramente até onde era po.1:sivel acreditar
no amor quando se ·uive só da carne; se alguma coisa
me ficava da dtgnidr,de inata, ttzdo era es�·amecido e
,tdtcul(lrizado. A princ!pl", embriagada pdo gozo. não
dava conta de nada ,· dFpots comecei a ilpalpar a rec,­
Udade am11rga: a vida era toda um puro engano.
A carne não quer se, dominada, é preciso deixd-la
gozar à lare.-.1 ...
Então vl que eu era a primeira vitima das teortas
do vulgo; eu, que sempre me orgulha-va de ser uma
rapariga sem preconceitos nem plegutces, era fJ(ttma
das minhas p1óprias loruuras.
Diminui La perante a s (•c l e d u .,. e , severamente
admo."stada pelos meus pai.�, odiada por meus irmtJ.os
como a vergonha do se11. futuro, só me ,estava uma
esperança : lefJtmttJr os {)lhos para Deus, como a
Madalena.
Chorei a.-. mirthl4S loucun,;s com lágrimas ardentes,
e agora queria que V. Rev.cia mP. a;udasse com os seus
conselhos a preservar d:? toda a impureza a mtnha vida
futura.
Confesso que vai 5e; mu;to duro, multo diflcil
porque vivt sempre a meu caprtr.ho ,· mas tenho /1 e
confiança em Deus. e estou atsposta n tudo o que for
necessdrio, atnda que me custe ldgrtmas de sangue.
Diga-me, padre, o que devo fazer.
Com o mato, respeito. sauda-o e espera uma res­
posta,
Marta Paula.
P. S - Se, para exemplo doutras raparigas, julgar
conveniente dar publtctdade a esta.ç Lnttmtdades da
minha alma arrutnada, pode Jazê-lo. Oxald que a
minha tnfellctdade Jaça luz em tantas jovens que vtf/tm
sem se preocupar com a sua pureza.•

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NO FUNDO DO ABISMO 97

«Senhor Padre:

A necessidade dos conselhos de V. Reverincia,


neste momento dlflcil da minha fJida, constitui o motivo
da minha carta.
Para n4o demorar a sua leitura e roubar muito
tempo a V. Reverin.cia, n4o entro em pormenores, ex­
ponho apenas a minha situaçao:
Ha um ano que estou nolva dum rapaz cujas qua­
lLdades exteriores me encantaram. Estou, deveras,
enamorada dele. e serta para mim um verdadeiro cal­
vdrlo se por qualquer motivo fosse obrigada a romper
as nossas relaçôes.
Combtndmos entre ambos o casamento, mas ao
dar conhecimento a meus pais, estes negaram-se a
dar-me o seu consentimento.
Quais as raz"es? Parece-me que, como diz o
cantar, •no amor n6.o hd. raz"es> ,· todavia, como
crlstd e filha de pais fervorosos, n6.o posso deixar de
ouvir os seus conselhos.
Ah, Padre, tenho um pressentimento de que fiai
começar o meu calvd.rlo I
E certo que eu, quando esqt1.eço a minha patx4o e
raciocino um pouco, vejo que os meus pais Um raz6.o.
O rapaz , pouco ou nada religioso, bastante livre de
costumes e frequenta assiduamente certos lugares de
moral duvidosa.
Minha mãe diz-me: «que confiança poderd ter-se
na sua fidelidade ao lar, d esposa e aos seus filhos,
se os tiver?,
No meu entusiasmo por ele, respondo que cjd
me encarreguei de o converter.> Mos, depois, per­
gunto a mim mesma: Serei capaz disso? Terei
suficiente abnegaç4o para empreender a conquista da
sua alma?
Neste momento, vem-me d memória uma norma
que V. Reverência me deu, certa ocastao: Minha
filha, deve m procurar-se maridos «convertidos»,· doutra
7

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98 PUREZA E FORMOSURA

manelra, nao recelo em prognostlcar às mulheres mul­


tas amarguras no seu matrlmónlo . . .•
Entre as mlnhas melhores amt�as, uma. aconse­
lha-me que proponha ao meu nolflo uma mudança de
vida, ao menos como prova de amo, por mim. Pare­
ce-me que se fizer isto, não voltarei a vê-lo. E temo
Jazer-lhe semelhante proposta 1 Demais, haveria sem­
pre mptlvos para duvidar de semelhante conversdo.
E muito duro tomar uma decisdo nestes momen­
tos! Estou cheta de tnqutetaç"es. Reconheço que o
pensamento e a voz dos meus pais são o aviso de
Deus, mas o meu coração sangra e recusa-se a aban­
donar o objecto do seu amor.
Esquecer I Que horror I E, todavia, é necessário ..•
Meu Deus, que f arel 1 Quisera ter coragem para
dominar os meus sentimentos, mas falta•me a mdo
carinhosa de V. Reverência para me auxllJar a aceitar
de boa vontade o que convém à minha alma atribulada.
Ajude-me� Padre.
Respeitosamente, subscreve-se multo grata a
Fernanda.•
•Rev."'º Snr.
Faltam poucos meses para me casar e agora, que
tudo me sorri, recebo repentinamente uma terrfvel sur­
presa que me trouxe o mator desengano.
Ttve sempre confiança naquele que escolhi para
compartilhar comigo a vlda do lar, mas hoje encon•
tro-me desolada.
Porqul? Dirá V. Reverência.
Está multo longe de lmaglnar o que vou d;zer-lhe.
Jd me conhece bem e sabe com que esmero procurei
conservar-me sempre pura, em tudo o que dtz respeito
d minha vida física e moral. Para meu not-vo guardei
intacto todo o meu ser. Todavia ele, hoje, duvida de
mim. Exige-me uma prova que eu não posso dar-lhe.
•Afinal já falta pouco para o nosso casamento. Que

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NO r'UNDO DO ABISMO 99

I que te custa dor-me este gosto, antecipando aconte­


cimentos? Assim eu terei a certeza de que te guar­
daste intacta para mim . . . >
Que so/rlmento ao ouvir tal proposta/ E quando
se escaparam dos meus ldhios exclamaçôes de surpresa
e angústia, ele respondeu-me com ironia: e Não set
parque te oplJes assim. Para quê indignares-te comigo?
/-lo/e todos o Jazem, os ricos e os pobres... Que mais
faz antes que depois da cerimónia matrimonial?,
Este rapaz diz-se cristão e ati ,bom católico,.
,A minha resposta Jd estd dada, lhe disse eu.
Quando se não tem /é na mulher a quem se entre-
gou o coração, o mais prudente i recolM-lo de no'Oo e
dar-lhe outra morada. Se te não basta a minha pala­
vra, acabemos com estes amores. ainda que se desfaça
a minha alma para te esquuer. A minha /1 crista ntlõ
me permite conceder- te esse /avo,. Para até ao altar
e casta ati à sepultura/,
Fiz bem? Creio que slrn: mas preciso de qae
V. Reverência me envie palavras de alento para forta­
lecer a mtnha decisdo.
Ansiosamente espera duas letras a
Ana Marta.,

Querida jovem. tntre muitas que possuo, escolhi


estas três cartas. Não sei qual delas te impressionará
mais: o que te posso garantir é que nada do que
nela está escrito é ficção ; pelo contrário, nas suas
linhas palpita a ret1lidadt! da vida.
Se lhe quiséssemos dar um nome, diríamos que
são três corações femininos pintados ao vivo nas pãgi­
nas duma escritura... Três corações de mulher a quem
a vida está dando as suas lições. Aprende-as. Podes
ter de passar por momentos semelhantes. Sê discreta,
vigilante. cautelosa, mas ao mesmo tempo nobre, alegre,
encantadora. Numa palavra: sê mulher e anjo ao
mesmo tempo. Al estâ o segredo.

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100 PUREZA E FORMOSURA

XIV - Quem te levou as tuas pétalas?

Pobre rapariga I Nascida como águia para voar


nas alturas e embriagar-se de sol, debate-se com as
asas quebradas... ; ela que antes erguia a fronte e
desafiava altiva o perigo 1
Enquanto era casta, ardia em chamas de aposto­
lado. No meio do seu entusiasmo juvenil, queria salvar
o mundo. Na sua alma, cheia de altos anelos, germi­
nava um futuro de magnlficos ideais.
Mas pecou ... e em vez de se levantar como o
pródigo e exclamar: /rel ter com meu Pat e dtr-lhe-et:
Pat, pequei contra o céu e contra Vós ... envergonha-se
e teme lançar-se aos pés do ministro de Deus, para
confessar a sua culpa e receber dele palavras de con­
forto e perdão.
A sua consciência desperta, cedo ou tarde, sente
medo perante as consequências tisicas e morais do
seu acto. Talvez uma maternidade em perspectiva ...
Antes quereria morrer do que suportar o opróbrio da sua
desonra. Mas enfraqueceu tanto a sua força de von­
tade, que o mais firme propósito é um mesquinho
pedaço de papel, que se rasga com a maior facilidade.
E, quando, apesar de todas as promessas, comete
de novo o pecado, uma indizível amargura se apodera
da sua alma. O abatimento aniquila o seu o ser .. .
Daqui ao suicídio é um passo. Um minuto mais e...
envenena-se ... , atira-se à linha, à passagem do com­
boio ... , precipita-se duma ponte... Ou então, conhe­
cedora de certas técnicas e medicamentos, talvez tente
eliminar o motivo da sua infâmia.
flor imaculada, que abrias ao sol a tua beleza,
em manhã de Primavera, onde estás?
Pura em sua inoclncia,
Entre a sarça espinhosa
Purpúrea esplende, inda em botao intacto,
Na madrugada a rosa.

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NO FUNDO DO ABISMO 101

É da campina a virgem
A pudibunda flor;
Em seus eflúvtos matutina brisa
Bebe o primeiro amor.

O sol inunda as veigas;


Calou-se o rouxinol;
E a flor, lbria de glória, d luz Jeruente,
Desabrochou-a o sol.

O sopro matutino
No seio seu pousara:
Prostitulda d luz, fugiu-lhe a brisa.
Que a linda rosa amara.

Bela se ostenta um dia;


Saúdam-na as pastoras;
nt10-lhe mil beijos, gorjeando, as aves;
Voam do gozo as horas.

ld vem chegando a noite,


E ela empalideceu:
Incessante prazer mirrou-lhe a seiva;
A rosa emurcheceu.

Desce o tuft10 dos montes.


Os matos ,acudindo;
Desfalecida a flor desprende as /olhas.
Que o vento vai sumindo.

i Onde estard a rosa,


Do prado a bela filha?
O tufão, que espalhou seus Jrdgeis restos,
Passou: nc!o deixou trilha.

Da sarça a flor virente


Nasceu, gozou e I morta;
i E a qual desses amantes de um momento
Seu fado escuro importa?

Nenhum, nenhum por tia


Oemeu saudoso d tarde;
NlJo hd quem junte as de"amadas folhas,
Quem amoroso as guarde.

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102 PU�RZA E FORMOSURA

Só da manhll o sopro,
Passando no outro dia.
Da rosa. que adorou. quando a inoclncia
Em seu botllo sorria,

Junto do tronco humilde


O curso demorando.
Veio depositar pudllo, saudade,
Queixoso sussurrando.

De quantas és a imagem.
Ó desgraçada flor!
Quantos perdoes ,obre um sepulcro abjecto
1'em murmurado o amor!

(ALEXANDRE Hl:.'RCULANO).

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CAPITULO V

LUTAR
1 - Ainda estás a tempo,
11- Animo às que lutam.
111-A águia em liberdade,
1 V - Que posso fazer pela minha
Pátria,
V - Pela integridade do lírio.
VI - e Vide abundante,,,.
VII - Pela felicidade da tua alma.
VIII- De vida ou de morte.
1 X - Resiste.
X - Quem está dentro da razão?
X 1 - Atenção, perigo 1
X 11 - Isso não me prejudica .••

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XIII-O único remédio: evitar o
pecado.
XIV - Ê preci so v ar rer as ruas.
X V - Contr a a corrente !
XVI-Ainda souno va,masembora!
X.V 11 - Não é verdade! Mil ve zes
não 1
X V 111- Com fogo não se brinca l
X IX - Aproveita a mocid ade l
XX - Pureza e saúde.
X X 1 - Que diz a ciência médica?
XXII - Deu s e a natureza.
XX II1-Quem é que não pode ser
casta?
XXI V - Pura de corpo e alma ...

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Dois arcanjos se combatem


No teu ser. O ,:ampo l tev .
Lonfa-te à lida II conquista
O gladio de oiro do ci.u.

(PADRK llloRKIRA DAS Ne:ves).

'Jl�r..����
...,. ; jovem, olha para mim ; fita-me
· MADA
de modo que eu possa ver bem os
teus olhos. Assim ... É o que eu
esperava I A chama duma vontade
inquebrantável brilha no teu olhar.
O teu coração palpita veemente com
firmes e santos desejos. Os teus
lábios tremem em silêncio, sob o peso
duma decisão enérgica. Os teus
olhos luminosos e o teu coração palpi­
tante ainda que os teus lábios se:: con­
servem mudos, revelam-me o santo
propósito que acabaste de conceber no fundo da tua
alma. ,Se Deus me ajudar, permanecerei pura. Embora
o mundo sedutor me censure, ainda que me humilhem
e desprezem, apesar dos combates e tentações ... nunca.
Antes morrer que pecar 1-

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106 PUREZA E PORMOSURA

Conheces a lenda do arminho? Ao ver-se acossado


pelos caçadores, por um lado, e cercado de lama pelo
outro, prefere morrer a salpicar de lodo a sua pele
branquíssima, a sujar-s e... Tu, repete também:
Maio mor{ quam Jadari I Antes morrer que man­
char-me com o pecado impuro.
Bem, querida jovem, era o que eu esperava de ti.
Conheço os teus propósitos:
•Não quero perder a minha pureza virginal, em
troca duns momentos de prazer.
Não quero cair murcha prematuramente, come flor
arrancada pelo vendaval.
Não quero manchar a minha alma com o lodo.
Não quero envenenar a minha vida.
Não quero corar ante os olhos da minha mãe
coalhados de lágrimas.
Não quero levar à rufna o meu carácter, a minha
dignidade.
Não, não quero l•
Querida jovem, não temas. Se a tua vontade for
tão forte no dia de amanhã como o é hoje a tua deci­
são ... não cairás no abismo.
Desperta, pois, e à luta com o pecado impuro •.•

<lança-te à luta e conquista


O glddio d, oiro do ceu. -.

1- Ainda_ estás a tempo.

Mas, talvez. descubra outra coisa nos teus olhos.


Vejo uma sombra... triste, dolorosa. V�jo rtcorda­
ções... humilhantes, negras. Perturba-te continuamente
a imagem maldita de pecados começados por incons­
ciência. Envolve-te a tua vida frívola, vazia. Uma
tristeza indefinlvel soluça no teu íntimo. •Oh I Por­
que não veio este livro parar às minhas mãos dois ou
três anos antes?, Tudo isso eu vejo; vejo o teu

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LUTAR J07

combate incerto, vejo as tuas hesitações, vejo a tristeza


profunda ..• que renuncia a toda a esperança.
Ao ler os capitulas antecedentes, uma nova luz se
acendeu na tua alma, e por ela vês com espanto que já
em tenra i �ade, talvez nos anos de col�gio, apre ndeste
coisas de cuja mallcia então nem sequer suspeitavas e
cuja gravidade agora descobres.. . Talvez que à tua
alma perturbada acuda esta angus tiosa reflexão:
Há quanto tempo que eu sou uma impura! «O templo
da minha alrr,a há muito caiu em ruínas!> ...
Amada jovem, não desanimes. Somos responsá­
veis dos nossos actos se tivermos perfeita consciência
da sua malícia ncJ momento em que os cometemos.
Somente o Omnipotente sabe se as levi:mdades da tua
meninice podem ou não considerar-se como pecados, e
até que ponto. Nao te lamentes das antigas e incons­
cientes quedas, mas sim pr<:para-te para uma vida nova,
para um novo ideal.
Não te consumas em dolorosa angústia pelo que jã
passou, Recorda as palavras de São francisco de Sales:
A tristeza que nos acomete depois do pecado e ncs tira
o brio e o ânimo para nos levantarmc:s de novo, não é
de Deus; repele-a como um ardil do demónio.
Alegra-te de vida pura que vais levar no futuro.
Não és ainda má; o templo da tua alma nao está des­
truído atê aos alicerces. . . desde que não pronuncies
aquela palavra que estava para escapar-se dos teus
lábios. Não, não a pronuncies. Peço-te.
Aquela palavra não e:xi�te. Pelo menos não existe
para uma jovem. Jamais deves pronunciar a fatldica
palavra «tarde•. Não digas nunca: «Já é tarde para
mim.• Compreendo o que queres dizer com isso;
mas não é verdade, não é tarde E quanto mais tenhas
demorado, mais urgência tens em te levantar.
O Senhor não te esqueceu. Tamhém a ti Ele diz
como à pecadora do Evangelho que chorava a seus
pés arrependida : Perdoados te são os teus peca­
dos ...

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108 PUREZA H FORMOSURA

A tua /1 te salvou. . . . Aquele a quem mais se perdoou


, aquele que mais ama. <o
Em todos nós, mesmo nos menos pecadores, tre­
mula uma débil chamazinha de bem ; mas esta luz
somente sabe notá-la Quem ama os infelizes.
Minha filha, por mais vezes que tenhas caldo, por
muito que tenhas afeiado a formosura da tua alma,
ainda que não haja mais que ruínas no lugar do antigo
templo, eu te peço encarecidamente: Tem fé em Deus
e confia em ti, Confia sem vacilar. Que sirva para
aumentar a tua confiança esta frase de Séneca: ,Pars
sanitatts velle sanahi fuit., •A que quer curar-se já
está curada em parte ... » E se tu ainda não pecaste, imita
o Senhor acolhendo ao menos com uma frase de comis­
seração as infelizes vítimas que querem sair do seu
pecado. E, podendo, ajuda-as corajosamente.

1_1- Ânimo às que lutam

Uma palavra de alento para aquelas que, por sua


desgraça, se encontraram demasiado tarde com este
Jivro ... que, por uma imprudência pueril ou por sedu­
ções de companheiras levianas, foram fracas, tendo
já caido, talvez, muitas vezes, mas, que, agora querem
levantar-se e triunfar no combate da pureza.
Estas verificam a cada passo, com desalento, o
quanto é difícil vencer o mau hábito. Frequentemente,
lutam durante anos com esforço heróico, e, não obstante,
reincidem. A estas heróicas combatentes, quisera infun­
dir-lhes ânimo e energia ...
Ainda que caiam uma e outra vez, o seu pecado já
não é o mesmo que antes. Nosso Senhor vê os seus
esforços. Sabe que já não querem pecar como queriam
noutro tempo, e que agora é o triste e maldito costume

oi Sao LucRs, VII, 37-50.

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LUTAR 109

que as faz cair. Sinceramente, com toda a alma, quiseram


levantar-se, voltando a cair apesar de tudo, .. Não temam,
entretanto, não percam a coragem por reincidir ..•
Continuem a lutar com firmeza, persistindo até à vitória
definitiva, depois da qual não haverá mais quedas.
Se não compreenderes esta linguagem, não a
estranhes. e necessário saberes que há raparigas que
na sua inocente meninice aprenderam doutras o pecado
impuro. Pobres delas! Acreditavam que tudo aquilo
era apenas um jogo divertido, e quando deram conta
rta gravidade do mal, sentiram já sobre si o peso da sua
cruel tirania Mas não importa. Quiseram vencê-lo.
Lutaram durante muito tempo. Reincidiram por vezes.
E agora, aos dezassete, dezoito, dezanove anos, embora
à custa de heréicos sacriffcios, triunfam e levam uma vida
casta que as dignifica e enobrece. Souberam ser herofnasr
Hoje a alegria pura ilumina de novo estas almas!
Já ouviste com certeza o nome da célebre artista
francesa EvE LAVALIERE. Depois duma vida viciosa,
converte-se ao Senhor e faz penitência das suas culpas.
Ao sentir-se enferma, exclama: e Sejas, Senhor, louvado
por tudo aquilo de que me privaste. Pelo meu corpo
de pecadora que se decompõe; ptlos meus membros
paralisados: pelos meus órgãos, minha boca e meus
ouvidos, invadidos pelo pus... faço-te a entrega deles,
meu Deus, reputando-me feliz se :-1ceitares o meu mise­
rável oferecimento. Recebe também, Senhor, a minha
reputação, os meus prazeres e o meu orgulho, se por
ventura os desejas.• <O
Ili-A águia em liberdade

Li não sei onde um emocionante episódio, a res­


peito duma águia poderosa. Quando nova ainda caiu
nas mãos dum rapaz, que lhe pôs um cadeado nos pés

(1) O. Engletert: Eve lavaliere.

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110 PUREZA E PORMOSURA

e a prendeu a uma rocha. Como se debatia a pobre


águia real para se libertar! Mas em vão. Por fim aca­
bou por cansar-se desta luta, luta de largos anos, luta
sem esperança; e o sentimento acabrunhante do cativeiro
apoderou-se dela por completo. Um dia, por casuali­
dade, rompeu-se um elo da cadeia, mas a pobre ãguia
não o notou. Ali esteve aninhdda, com os olhos baços
talvez durante semanas I Diante dela o imenso céu, no
seu coração o desejo intenso da liberdade, nas suas
º
asas força . . . e tudo inutil porque não se apercebia
disso. Oh, se desse um só passo em frente I Se tentasse,
uma só vez mais, a sorte I Se abrisse as asas apenas 1 ...
Jovens queridas. se houver raparigas ainda preséls
ao pecado, que se animem... Ao ler este livro, terão
afrouxado já os elos da escrélvidão. E agora, adiante 1
Lançai-vos para as alturas 1
- Podereis emendar-vos ainda? - Podeis.
-- Quereis emendar-vos? - Oh, sem dúvida 1
Então, mãos à obra 1
- Quando? Um dia? ... - Não, isso não. Tem
de ser hoj� mesmo. neste mesmo instante.
Em lt"ca estã só Penélope, a formosa rainha,
mulher de Ulisse!-. Os·. u m�ndCl partiu para a conqu•sta
de Tróia. As �ülicitaçõt'S pers:.:-guem-na. Falt...rá Pené­
lópe �o amor llu stu ausente? Promete com astúcia aos
pretendent,·s quí.• dHá ;i ma palavra qu�ndo acabar
de tecer a tt:ia que teni t11trc mãos, Mas de noik.. sem
que ninguém �• vej.i, destaz o que urdiu durante o
dia. Pa�s,1 m dias e stmélnas .. . Penélope, incansável,
tece e desmancha... Até que, depois de vintt! anos,
Ulisses regre�sa ...
Tambem podeis como da, tnganar os que vos
propõem faltar ao vosso devtr de jovens puras: des­
prezai as suas insinuações, virai-lhes as costas, caminhai
sempre em frente.
A tentação, o desejo impuro, .is sug.-stões perigosas,
assalt::ir-vos-ão repdidas vezes, um dia e outro dia; vós,
longe de aceder às suas in�tâncias, de noi.te quando

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LUTAR 111

ninguém vos vir, caí aos pés do Senhor, desfazei a


trama da tentação e redobrai os vossos desejos de
pureza
Sabd que se uma jovem é, desde há muito tempo,
escrava do pecado de impureza, a sua libertação será
diflcil, dificílima. Quantas vezes sentirá a alma esma­
gada pelo desalento, ao ver com amargura que o seu
desejo de emenda, o seu firme propósito, que lhe brotou
do fundo do cornção, se frusta uma e outra vez ...
Ê desl:spt:rnda a luta entre as suas resoluções e o mau
hábito que ;; oprime. Cairá, cairá de novo, depois de
ter prometidu, tantas vezes, não reincidir jamais!
Nos últimos decénios, multiplica-se o número dos
valentes expl0r:idores que se põ�m a caminho para
desa>brir o Polo Norte e o Poiu Sul. Suportando
privações superiores a forças humanas, vão avançando
através de campos e montanhas de n�ve que nunca
terminam .. , e nenhuns cht:gam à meta. Não obstante,
saem sempre novos e novos exploradores, dispostos à
aventura. Se, um dia, eles conseguissem :::tingir o stu
propósito, que vimtagens lhes adviriam? Dir-se-ia com
satisfação que um viajante pisou um ponto do Polo,
onde antes não tinha posto o pé homem i:ilgum . .
E só por isto, só por um resultado tão fútil, quantos

e
homens não vacilaram em defrontar cem vezes a mortel
Pergunto eu agora: - lícito a uma jovem desa­
nimar, no meio duma luta, que sustém não por amor
ao polo coberto de neve, mas pela tranquilidade do
seu espirita, pela conquista das regiões puras do espi­
rita, por amor da própria alma?
Não devemos ocultar que a luta é árdua, mas não
se deve desanimar por isso. Podemos diant� de Deus
cobrar ânimo se quisermos, para voltar de novo ao
combate. E todo o poder do inferno não poderã indu­
zir-nos ao pecado, contra a nossa vontadt.>.
Toda :i jovem pode sair vencedorn se não se
acobarda, se quer realmente vencer. O segredo estA
em ... conseguir passar algumas semanas, alguns meses

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112 PUREZA E FORMOSURA

sem pecar. Neste caso, já está quase ganha a causa,


porque então ir-se-á convencendo de que tem realmente
vontade e de que pode ... se de facto quiser.
Amada jovem, se a tua alma se mantém ainda
incólume ajoelha-te, dá graças a Dtus e conserva, com
firmeza, o teu precioso tesouro; se já caíste, suplico-te
encarecidamente: abre combate com esse dragão de sete
cabeças, que é a impureza. De ti depende o futuro da
pá.tria amada, e de ti depende também a salvação da tua
própria alma. Que mais poderei dizer-te?

1 V - Que posso fazer pela minha Pãtria?

O vigor ou a debilidade da raça, no futuro, depende


em grande parte deste facto: ou a juventude actual é
uma juventude de novos ideais ou a humanidade se vai
precipitando na vertente da imoralidade até à ruína fatal.
Isto é o que intentam de modo sistemático, corrompendo
a juventude na alma e no corpo, esses inimigos da nação,
os propagandistas da vida obscena, das imagens, dos
impr�ssos, dos livros imorais.
faz-se um verdadeiro e demolidor trabalho de sapa
em toda a sociedade, no teatro, nos cinemas, nos livros,
nos periódicos, contra a vida pura da juventude, espe­
cialmente das raparigas. Os que fazem esse trabalho
sabem muito bem que enquanto uma raça degenera no
moral, e por consequência no físico, eles, os invasores,
podem assentar arraiais pelo paí:, em fora, sem encon­
trar resistência.
No presente da juventude está o futuro da nossa
Pátria.
«É um fenómeno de todos os dias que os filhos e
netos de homens ricos herdeiros de fortuna mas não
de moral, chegam em pouco tempo à bancarrota.
O mesmo se pode afirmar das nações, cuja ruína se não
consegue suster com nenhuma espécie de governo
quando a vaga da imoralidade cresce., {HtLTV).

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1.UHR 113

Roma que um dia conquistou todo o mundo então


r.onhtcido, sangra e morre na degr,1dação e moleza
quandc, as mulheres fazem gala das suas leviandades, e
•cont�m os anos da sua vida não ptlo número de côn­
sules mas pelo número dos seus maridos.• (SfNECA).
Públio Emílio repudia a esposa e insulta-a com
,•stn frase: «Senhora, parti imediatam�nte; assoais-vos
com demasiada frequência, e conto já com outro nariz
meno•: húmido para substituir-vos.•
Pc:rante espectáculo tão vergonhoso, a pena de
Tácito treme. Junto à tumba onde a libertinal;!tm pre­
cipitou Roma, compraz-se em contré!por a vida pura,
timbre dos germanos, à dos pagãos vitoriosos.
«Scepta pudlcitia ogunt, nullls spectoculorum ille­
cf'bris nullis convtvlorum irritattonibus corrupta! ... Pau­
rit.sima ln tam numerosa gente adulter/a, quorum
pcEna presens et maritls permissa : abscisis cr/nibus
nudatum coram proplnquis expellit domo maritus, ac
per omnem vlcum verbere aglt; publlcatCE enim pudl­
ritla! nulla venta; non forma, non cetate, non opibus
marttum invenerlt. Nemo emtm illic vltia, ridtt, nec
corrumpere et corrumpt Sa!culum 'l·ocatur. ..
«As mulheres impõem-se pela sua honestidade e
não se corrompem com peças teatrais licenciosas nem
com b.rnquetes que excitam os sentidos.. . Püuquíssi­
mos são os adultérios num povo tão numeroso e o
seu castigo é imediato e inoxerável. O marido tem o
direito de expulsar, na pn::sença dos parentes, a mulher.
São-lhe publicamente cortados os cabelos e arrancados
os vestidos, depois do que tle lhe vai dando chicotadas
através de toda a povoação. Aquela que prostituiu a
sua honestidade não encontra perdão; nem pela sua
tormosura, nem pela sua juventude, nem pel11s suas
riquezas, poderá arranjar marido. Porque ali não se riem
do pecado, e a sedução e a queda não se consideram
coisas próprias do mundo.•
É quase incrlvel que entre os germanos, reinasse
um tão puro conceito da moral. Nós, povos cristãos e

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114 PUREZA E FORMOSUl{A

civilizados, perante a onda da imoralidade que aumenta


em nossos dias, temos de corar ao ver como se expres­
sava um escritor pagão.
Rapariga, a tua Pátria chama-te.
Põe em ti as suas esperanças de reconstrução e
bem-estar. De cada jovem pura espera a mãe dos seus
futuros cidadãos, porque sabe que um filho de uma mãe
honesta é garantia de glórias e grandezas futuras.
Guerra pois a todas as publicações obscenas, propaga­
das por gentes não cristãs e aventureiras; não têm
outro fim senão debilitar a raça e ridicularizar a mater­
nidade.
cA base de todos os países é a moral pura; se
esta desaparece, Roma cairá, e terã de suportar o jugo
da escravidão.,
No altar do amor pátrio só é aceite o sacriflcio
daquelas jovens corajosas que souberam vencer-se a si
mesmas.
Satanás - assim o li numa poesia - passou revista
em certo dia �os seus adeptos. Cada um fazia gala
do seu poder. O esphito da ira, da inveja, da embria•
guês, da paixão, do jogo e outros espíritos do mal, por­
fiavam num mesmo ponto : ver quem sabia causar
mais dano à humanidade. Ao fim, Satanás premiou o
espfrito da impureza com as seguintes palavras: «Ele
é o que tem a espada mais afiada e o veneno mais
mortífero, porque se ele quiser pode destruir nações
inteiras. »
Quer isto dizer que te desejo tornar chocha ou tris­
tonha? Por nada no mundo. Antes pelo contrário.
A que está na primavera da sua vida há-de ter a
alma fresca, chtia de rócio. Quero que no teu cora­
ção palpite a energia da tua futura e grande missão.
Quero que sejas mulher dos pés à cabeça, Eu olho
sempre com desvanecimento a juventude e sinto por ela
um profundo respeito. cRes sancta puer•. cA rapariga
é uma coisa santa,:it Diante de vós, jovens, levanta-se a
cordilheira dos grandes deveres ; por isso, eu vos respeito.

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115

Mas também se abre a vossas pés o precipício de


inúmeros perigos; temo por vós. O duplo pensa­
mtnt,) de respeito e temor põe-me nos lábios f'ste grito:
Jovens, apreciai ;i chama divina que traztis c,)nvr.:sco:
a vossa alma! Mais difícil e mais bela que qualquer
obra de arte é a tormação da mulher casta, porque
•é necessário muito mais para isso do que para formar
um homem valcnt�• (CLAMOYNE).

Jovem, �ê tenaz e nobremente orgulhosa [ Grita a


todo o pecado, a toda a impureza: Ad matora natus
sumi Nasci para coisas maiores! Não consintas que
as jovens da tua pátria sejam escravas do pecado aos
dezassei� anos, envelhecidas aos vinte, e cepticas aos
vinte e quatro. Porque, se não tomamos knto, a Pátria
chorará as misérias que as suas mulheres semearam.
Eu quisera que se pudesse dizer com verdade de todas
as nossas jov�•ns: Vós estais ainda chei�s ck espe­
ranças: tendes beleza. sois puras, não estais marcadas
para a vida com o estigma do maligno.
Sentis-vos impelidas para um trabalho criador pela
chinexhausta pubertas• (TAc110), por uma juventude
intacta, pela força duma adolescéncia não desDaratada.
A vossa grácil figura é firme e airnsa; a vossa face
tresca e lisa; o vosso olhar luminoso; convosco se
tnche de sül e esperança a Pátria arrasada talvez de
lágrimas. Aprendei a ser diligentes no trabalho, entu­
si :-:istas na virtude, constanh:s na paciência; tão suave­
mente enérgicas que mert'Ç;!i� ser comparadas à «barra
de ferro forrada d!! veludo. (L. Co1.0MA). A sorte da
Pátria depr.nde de vós, e, ai! não há senão uma
Pátria.
Acimn das exigências da estética, e�tão as obriga­
ções morais. Tudo quanto favoreça a virtude da mulher
é obra patriótica; 1udo quanto ;:i pn:judique é vil trai-

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116 PUREZA E FORMOSURA

ç_ão. O sexto mandamento é o escudo dos povos.


E verdade ainda hoje o que dizia Salviano a respeito
do Império de Roma: •ÜS inimigos não puderam ven­
cê-lo, mas venceu-o o pecado. Grande é a perda de
sangue nas guerras; mas cem vezes pior é a corrupção
das mesmas. Na sala do festim de Babilônia, em que
Baltasar troçava das coisas santas, apareceu uma mão
terrível que escrevia na parede a sua destruição. Esta
mão continua hoje escrevendo toda a história uni­
versal.�
«Conserva com santo orgulho a tua pur�za. Não
te deixes impressionar por nada que seja impuro; por
muito que brilhe externamente, encobre imuildície e
podridão no seu interior.
«Evita, e com desprezo, a companhia de pessoas
sem pudor, as conversações, os livros, as represen­
taçõ..,s de duplo sentido e perversão; numa palavra
tudo quanto leva à impureza. Procura o que nos di
forças: moderação, trabalho honrado, diversões nobres,
abnegação, amizade séria. Tudo isto ajuda eficaz­
mente.> UI
Só pode ser patriota de verdade aquela em quem
vibra a energia da actividade, aquela que não permite
que o seu coração, incendiado ao rubro, seja envolto
pela serpente fascinadora do prazer impuro.
Não formes no cortejo das virgens loucas, daquelas
que dormiram e deixaram apagar as suas lâmpc:das, que
perderam na frivolidade e impureza os seus melhores e
mais felizes anos. Não adormeças, luta sem descanço,
trabalha por Deus, conserva bem acesa a lampada da
tua fé, alimentando-a com a castidade.
Raparigas l Vós trazeis, em vosso seio, a Pátria
de amanhã f A Pátria não é o mapa, a Pátria não são

(1> Slk: Magyar Cserkisuezetõk cãnyve. Budapeste, 19�2.


pdg. õO.

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LUTAR 117

os montes, nem os vales. Está Lltente no vosso cora­


çã1), ali vive e !;e transforma em realidade ... ou em
ruína, se empregares mal as tuas forças. A intrgri­
dade da Pátria só pode obter-se, com r.::-sa juventude
que sabe ser forte, e sabe lutar pela beleza da sua �lma.
pela integridade do lírio.
O futuro da Pátria só pode Str lavrado por uma
juventude que não tenha complacências com o lodo
nem gaste as suas forças em diversõts e loucuras; uma
juventud� cuj,Js olhos são estrelas; uma juventude que
luta por um ideal e é austera consigo mesma ... uma
juventud� que não se curva cobMdemcnte diante d a
tentação, mas que sabe enfrentar-se tenazmente com a
imoralidade e lançar-lhe o grito de «não, não, nunca,
jamais•, da integridade moral.
Acreditai-me: as jovens que prestigiam a Pátria
P. a enaltecem, não são essas rapariguitas prematura­
ml·nte mulheres, de aspecto cansado e rosto desfigu­
rado pela maqu11Iage, mas sim 2quel::is outras de alma
radiante e pura, em redor das quais até cs cardos flo­
rescem. Sabes o que, diz a lenda, :iconteceu à Virgem
MMia? Ao ir visitar Isabel, atravessou um bosque de
espinheiros, que há sttc anos estavllm d�spidos, sem
folhas, quase secos. Ao passar Maria com Jesus no
seu coração, tragantes rosas brotaram dos ávidos espinhos.
A pintura cristã imortalizou este episódio no quadro de
Nossa Senhora do Amor. Ê uma 11:'nda, é certo. Mas
vós compreendeis o simbolismo ...

--------
VI- «Vide Abundante>

A natureza sabe vingar-se. Já Tácito ao ponderar


a força dos germanos, assinalou como a sua fonte prin­
cipal a «Jnexhausta pubertas>, a juventude não esgo­
tada. De maneira que a própria naturez:i tem essa lei :
a felicidade e a desgraça da geração vindoura, dependem
desta alternativa: ou olhamos com sagrado respeito as

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118 PUREZ� E fORMCSURA

relações do homem e da mulher, ou desceremos a espan­


tosa vertente pela qual são precipitadas inevitàvelmente as
nações quando as suas mulheres se entregam à vaidade
e ao prazer.
Roma confiou a guarda do fogo sagrado, garantia
do seu futuro, a umas virgens: as vestais.
Eleitas desde muito pequenas entre as principdis
famflias, faziam voto de castidade por trinta anos:
se o violavam castigavam-nas enterrando-as vivas.
Ao aparecer em público, porém, tinham direito a faze­
rem-se acompanhar de lictores com varas, emblema da
soberania imperial. Quem se atrevesse a passar debaixo
da sua liteira era condenado à pena de morte. Os
próprios cônsules e imperadores paravam e cediam-lhes
o passo. Tal era a veneração e previlégios de que
Roma cercava as suas vestais. Vê-las era o mesmo que
ver o s(mbolo do futuro.
Também a Pátria espera da vossa pureza, raparigas,
o futuro da sua glória, o novo amanhecer do seu império;
cada jovem há-de ser, um dia, vitls abundans, a vide que.
mostrando o verde dos seus pâmpanos e o ouro dos
seus frutos, há-de renovar o sangue da Pátria.
A guerra, a desgraça, a dor, arruinam os corpos;
mas, oferecidos por Deus e pela Pátria, são timbre de
glória.
Vós que ledes este livro, vós que hoje •não sois
mais que um enigma•, mas amanhã sereis mães e
educadoras da nação ... vós semeais em cada um dos
vossos actos o que mais tarde haveis de colher: o bem
ou o mal, a felicidade ou a desdita. Tu ês agora o sacrá­
rio da futura geração, e amanhã strás a alma ou a
sepultura da tua Pátria.
Toda a jovem tem, pois, um dever sagrado: fazer
quanto esteja ao seu alcance para ser, depois duma
juventude pura e continente, é1 mulher sã, a mãe de
família, capaz de transmitir a saúde física � moral 20s
homens de amanhã. O que mais urge para o futuro
da Pátria é ter mães sãs e de carácter.

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LUTA� 119

Hoje talvez não o compreendas bem; mas acre­


dita-me, rapariga, o tesouro mais valioso duma nação
não é o seu império dilatado, os seus exércitos, as
suas riquezas, as suas mulheres formosas, mas sim
uma juventude selecta. uma juventude que sabe entu­
siasmar-se e lutar, uma juventude generosa e pura.
Perder uma parte do seu território não é um mal tão
grave para a nação como seria perder os valores espirituais
da i:;ua juventude. No concerto das nações, levarão a
palma unicamente os povos que tenham mulheres Inte­
gras, mulheres completas, com energia de esplrito
activo, mulheres de carácter e perseverança. Como
pode a vida brotar dum coração já gasto, e com as
esperanças truncadas?
Como construir a vida nacional que há-de desafiar
vitoriosamente as investidas do tempo, capazes de cor­
roer o próprio granito, com uma juventude vazia, uma
juventude mole, degenerada e entregue à caça dos
prazeres?
VII-Pela felicidade da tua alma

Através duma triste experiência chegou a humani­


dade à conclusão de que os melhores planos são os do
Criador: Terá Deus alguma vantagem - diz a Sagrada
Escritura - em que tu sejas Justo? Ou. que lhe apro­
veita se o teu procedimento é sem mácula? ltl Real­
mente nada.
Deus não tem proveito nem prejuízo em que tu,
minha filha, cumpras o teu dever. Os seus eternos
desfgnios realizar-se-ão de qualquer modo. Cumprir­
-se-ão sem ti . . . ainda mais, contra ti.
E tu? Importa-te muito viver segundo as leis
divinas, porque disso depende o rumo da tuai vida
terrena, e a sorte da tua vida eterna.

Jnh, XXII. 3.

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120 PUReZA f FORMOSURA

O destino da tua alma, a formação harmónica da


tua vida futura. dependem disto: que aceites ou evites
o combate contra o dragão de sete cabeças, contra o
monstro da imoralidade. Quem pode esperar um futuro
sério depois duma juventude desonesta? Qul non
assuesctt vtrtuti, dum juvenesctt, a ·c,lttis nesctt descis­
cere, quando senesctt. .. «Quem não sabe acostumar-se à
virtude, quando j,;vem, não saberá livrar-se dos vícios
quando velho.»
Conheço-te bem, rapariga O teu ideal é nobre,
generoso: ter caráct�r, ser mulher ccompleta•. Justa­
mente por tal razão, peço-te que medites bem nesta
verdade: o perf�ito carácter cristão exige também uma
força de vonbde extraordinária, uma força capaz de
esmagar mundos, disposta a impor o predomlnio da
nossa melhor parte, do!- nossos anseios espirituais, sobre
as exigências das baixas pai:r.ões. Tu bem sabes que se
as tendências sexuais levantam a cabeça e gritam e se
alvoroçam muito antes do matrimónio, não lhes deves
dar satisfação, por isso. Não têm direito 2 exigi-la.
Se queres atingir um dia aquele carácter cristão
que hoje é apen�s um puro objectivo, tem por certo que
só poderás consegui-lo à custa de árduo trabalho. Só
depois duma luta heróica e porfiada, é que poderás
alcançar o mais belo elogio: e Esta sim, é uma rapa­
riga de carácttr l• O carácter não é um presente para
o teu aniversário, nem um traje elegante que pões
quando te apraz, mas é uma jóia que terás de adquirir
à custa de grande esforço.
Ao escalar um alto monte, tens de empregar a fundo
as tuas forças antes de chegar ao cimo. Quanto mais
alto for o ideal que perseguimos, tanto mais difícil será
alcançá-lo. Para uma rapariga não há objectivo mais
alto que a modelação perfeita do seu carácter.
Por este ideal lança-te, pois, num comb;jte •.•
que é de vida ou de morte,

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LUTA� 121

VIII - De vida ou de morte

É q uestão de vida ou de morte. Toda a rapariga


deve perguntar a si mesma: Há-de ser a minha alma
um inconstante cata vento que gire ao sopro do prazer
até aniquilar-se, ou um pára-raios erecto, que desafie
u raio e o destrua ?
Há-de a tendência sexual empurrar-te como se foras
barca sem leme, para a inevitável perdição, ou gover­
narás com mão firme, o teu barquinho, no meio da
tempestade, sem te importares com as ondas furiosas?
Ou consegues passar incólume atra\·és de inumerá­
veis escolhos, vencendo as tentações da juventude, e
então, para além dos perigos, espera-te a mis!ião sublime
clum:.: vida honrada; ou naufraga:; no mar encapelado
d�s tuas más tendências, e então arrastarás contigo, toda
a vida um passado desonesto.
Mas não, não estabeleço bem as alternativas.
Porque, se reparo nos teus olhos, vejo neles uma deci­
são firme, uma vontade forte, que promete vitória.
Parece-me, mesmo, ouvir a tua resposta: Estou pronta
a aceitar o combate, ardo já em santos propósitos;
desde que eu conheça as armas com que posso triunfar
na luta dtcisiva dos meus anos de adolescência.>
Assim creio, minha filha. No capítulo seguinte,
vou ilucidar-te sobre este ponto com mai.s demora.
Mas quero desde já frisar um:1 coisa, para que não te
desalentes, quando apesar de todos os teus esforços,
sintas o quanto é difícil acalmar uma tempestade, e para
que, depois de mil vitórias, não adormeças sobre os
louros, mas continues firme no mais duro da luta.
Considera que é um dragão de sete cabeças, no
sentido _restrito da palavra, o que ataca a pureza da tua
almr1. E um inimigo que não poderãs �niquilar, t'.nquanto
correr pelas tuas veias sangue jovem. Se lhe cortas
uma cabeça, crescer-lhe-á imediatamente outra. Se hoje
ficas vitoriosa, não sabes por que lado te vai acometer

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lí.2 PUREZA E FORMOSURA

amanhã. Na idade dos dezasseis, vinte, vinte e quatro


anos, estás empenhada numa guerra sem quartel ... Mais
tarde, abrandará um pouco a tentação, mas nunca ces­
sará por completo. Mesmo quando o equillbrio da
idade madura acalmar a força do instinto, ainda então
deverás estar alerta. Não esqueças, pois, nunca esta
verdade: o prazer momentâneo que o pecado poderá
oferecer-te é incomparàvelmente inferior à tranquilidade
de consciência que conseguirás triunfando do pecado.
Recorda o heroísmo da casta Susana. Calunia­
ram-na, pela sua pureza, aqueles mesmos a quem ela
havia repelido. Susana, no entanto, «desfeita em lágri­
mas, levantou ao ciu os seus olhos, porque o seu cora­
ção estava cheio de confirmça no Senhor.• 1=: conde­
nada à morte. ttl Mas reza, e o Senhor escuta a sua
oração, livrando-a dos seus caluniadores.
Queixas-te de ter de lutar muito pela tua pureza?
Mas diz-me: não vês que em torno de nós toda a vida
é um continuo combate? Se há alguma coisa que não
está em luta, que se mantém parada, que se não move,
apodrece, cria bolor e morre. E se em tudo temos de
lutar, porque regateamos, quando se trata de combater
a impureza?
Pode infundir-te coragem a certeza deste pensa­
mento: ainda que tenhas de lutar contra a tentaçi!o
durante toda a tua vlda, nada poderá obrigar-te a
capitular, a depor as armas ... se tu não quiseres.
Pensa que esta luta nunca é sem esperança. Se a
tua alma se conserva ainda intacta, podes também con­
servar a pureza no futuro, ainda que não sem esforço;
e se já tens de chorar alguma falta, se acaso o lodo te
manchou, apesar de toda a tua força de vontade, podes
ainda levantar vitoriosamente a cabeça e começar a
vida nova duma alma purificada.
Lutar contra nós próprios é o mais dificil combate,
mas vencermo-nos é também a mais gloriosa vitória.

IIJ Deniel, Xlll, 35.

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123

IX- Resiste

() teu lirme propósito em breve será notado por


muit;:s raparigas que te rodeiam sob a capa da ami­
zade... e que ligam pouca aknção à guarda da sua
pureza. Notarão a gr,mde diferença que começa a
haver �ntre o seu critério moral e o ku; acabarão por
veriiic:.r que tomaste uma norm;.i de conduta que não se
coaduna com a sua. Em breve, desencadearão uma
forte ofensiva. Será um verdadeiro assalto organizado
contra ti. Meter-se-ão contigo, farão troça d� ti, serás
o alvo dos seus gracejos.
Falo-te destas coisas com pormenores, porque mui­
tas nobres decisões se frm,taram, neste ponto, devido,
precisamente aos dardos inflama dos da zombaria.
O orgulho feminino atraiçoou, deste modo, os mais
nobres sentimentos.
-Adeus •s a n t inha,; não te julgava tão
e beata• !. ..
Depois a seta da ironia:
- Olha, que modos afectados, que puritana l Deve-
mos ser mulheres 1 •••
- Eu beata, eu puritana, eu uma ingénua?!...
Julgas-te humilhada e segue-las ..•
Oh! quantos firmes propósitos se quebraram desta
forma! Quantas raparigas caíram, assim, pela primeira
vez nas garras do pecado, sàmente para não parecerem
cândidas colegiais 1
É grande o perigo, principalmente se as circunstân­
cias lla vida te obrigam a frequentar o trato de compa­
nheirn�� cujo conceito moral é rasteiro e muito afastado
dos ttus nobres ideais (por exemplo num internato,
num l�•r). Porque ser boa entre boas é natural. Mas
consuvar-se pura no meio da leviandade, ser lírio ima­
culado tm campo aberto ao vento... é difícil;
para isso, a rapariga necessita de carãcter e de vontade
dt aço.

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124 PUREZA E FORMOSURA

Muitas são, entretanto. as jovens que, por um admi­


rável heroísmo, souberam conservar a rcctidão e pureza
da sua alma durante os anos de estudo ou ao começar
a ganhar a vida. Um dia, porém, num sal.ão, numa
festa, num espectáculo, para não parecerem beatas aos
olhos das amigas, abandonaram a vid:-i honesta que segui­
ram tantos anos e cometeram o primeiro pecado.
Em qualquer caso, vamos reflectir um momento:
Onde está o verdadeiro carácter e onde se esconde
realmente a fraqueza? Quem é ingénua e quem é
verdadeiramente mulher?

X -- Ouem está dentro da razão?

Tens de reconhecer que muitas vezes foste covarde,


fraca, hipócrita. Dir-me-ás, talvez, que eu sou imper­
tinent�.. . que na prática é difícil, que não desejas
passar por colegial ou por s2ntarrona... que não
precisas de entrar para o convento e que, portanto,
necessitas de G:Viverit . , .
Absolutamente de acordo. Mas quem ntcessita
duma conduta mais equilibrada e duma vontade mais
firme, a que se dispôs a resistir com têmpera de aço às
exigências ilegltimas do sexo, ou a que se inclina debil­
mente a cada sopro das concupiscências; como cana
movida ao vento? Quem é melhor amazona, a que
com mão firme domina o corcel fogoso e o faz andar
p:Jr onde ela qu�r, ou a que se vê arrastada num galope
st'lvagem a capricho do animal, e QU.! depois de
mil sacudidelas e inúteis esforços cai desamparada num
charco à beira do caminho?
E tu já s�b�s que a impureza é mais imunda que o
charco do caminho ...
A cada momento te lançam em rosto: .Que
criança t.s, que tonta I Não te atreves a nada I•
Ah, sim? Mas, na verdade serás criança? Porque
a castidade significa justamente disciplina e vontade

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1.UíAR 125

forte... E não é criança, não é, mais "inda, mulher


sem carácter, a que St! inclina sem resi�tência perant�
as txigências sexuais, e vai oscilando, como oscila
sobre o oce:1no o fumo qut! sai da ch:1miné dum barco?
Sê mulher de carácter e não borboleta I Quem
mais di!,!w·, d,.> nosso re�peito que essa jove:n de fina
têmpera, que não se dtixardo atemorizar pelas alfim·­
tad:1s e injúrias das companheiras, persiste, com von­
tade inflexível, na formação do seu c:Hácter � prosse­
gue no seu caminho com inquebrantávtl em r�ia ?
Eu descubro-me diante dela, e aplico-lhe. o magnífico
elogio da Sagrada Escritura: «Fr!Cit enim mir11 b!li:l in
v;t,· sucz . .,, 11Tem feito coisas admirávC'iS na sua vida ...
fê-1:-is, quando com valentia repeliu a tl'ntação astuta
que, a meia voz, lhe soprava talvez uma companheira
ou «amiga, sem pudor.
•Aind,1 que todas as minhas colegas estejam con­
taminad:Js por esse pecado ..• , eu não o ceimeterei
nunca. aind::1 mai!- não, o cometerei justamente por isso. >
Este !�ma é belo; mas é heróico. Estremece-me
o coração todas vezes que vejo como, quais mansas
ovelhas, as raparigas seguem atrás duma ou outra que
mais se destaca pelo caminho do mal. E, sem embargo.
reagir decididamente é privilégio dé! poucas Rapariga
de carácter só poderá sê- lo a que tiver b::stante energia
para remar contra a corrente. Podes mudar de vestidos
todas as vezes que queiras, mas d� carácter, nunca 1
Bem o sabes.
Pi:rmitirás, pois, qut! raparigas levianas torçam o
rumo dos teus nobres ideais? Que valor moral podem
ter essas jovens? São lírios murchos e espezinhados
no caminho.
Porque tu evitas os prazeres ilícitos e os temes,
julgam-te fraca, mesmo cobarde. As que fogem com
terror dos bacilos da tuberculose ou do tifo, ess�s não
o serão também? Não obstante, repara na diferença :
Tu procuras conservar limpa a tua alma, elas somente
guardar a imunidade do seu corpo ...

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126 PUREZA F. FORMOSURA

Lê o que disse um sábio pagão: �se fazes uma


coisa convencida de que a deves fazer, não temas fazê-la
abertamente. ainda que o vulgo pense doutra maneira.
Se procedes mal, sim, envergonha-te dos teus actos;
mas se procedes bem, porque temes quem te critica
sem direito?» (EPICTETO).
Diz• me: que é mais fácil, mostrar um carácter
firme para com as exigências do sexo, ou render-se
diante delas?. . . Tu já sabes que neste campo o espl­
rito e o corpo sustentam o mais duro combate. Só à
que pode cantar vitória neste ponto se deve reservar o
direito de afirmar que é verdadeiramente mulher de
carácter.
,A que se não atreve a levantar a voz, em defesa
das suas convicções, tem uma vontade comparável à
cana. que ao ser açoitada pelo vento se inclina gemendo,
mas sem poder deter com o seu triste lamento a força
que a dobra». (BARÃO DE EôRvôs).
Por desgraça, grande parte das raparigas não sabem
andar pelos seus próprios pés; nunca refltctem sobre o
rumo que dão à sua vida, e vêem-se s2cudidas, como
as folhas pdo furacão, perante o sentir geral doutras
raparigas frivolas, especialm�nte quando estas são de mais
alta esfera socia L
Ale:randre Magno disse um dia a Diógenes:
- Eu sou o senhor do mundo.
E o filósofo, cinico, respondeu:
- És, antes, o escravo dos meus servos, porque eu
domino todas as paixões que te escravizam.
Pois bem: eu não quero ser escrav,;; não quero
nadar ao sabor da corrente. Eu não quero ser uma
mulher vulgar I Eu nasci para coisas maiores l

X 1 -- A ten_ção. perigo!

Pode acontecer que não tenhas outra solução que


romper definitivamente com uma tua amiga.

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LUTAR 127

Em algumas ocasiõi;:s será suficiente que não dês


importância às suas zombarias t: chistes frívolos. Ainda
qut: tl! fale em tom de •gr,m·jo• de certas coisas, o
aspecto severo do teu rosto dará a conhecer, sem equí­
vocos, o h'u modo de pensar: tu considera� indigno
duma jov�m dizer, mencionar sequer, certas coisas,
ainda que se perfumem com a essência da graça e com
o tom da brincadeira.
Outras vezts poderás dizer com J maior tranquili­
dade, que te aborrece e que te é muito desagradá­
vel alguém querer tratar contigo de semelhantes coisas.
E porque rc::ilmente assim é, st-ntes-te ofendida por quem
supust:r que és complacente com a impureza.
O célebre condt! Estêvão Széchnyi, referindo-se, não
a uma conversição suja, mas somente a conversas levia­
nas escrrve: •A frnqueza, o pecado, é inseparável do
homem, mas fazer gala disso, é o maís baixo uegrau da
corrupção. »
lsabd Clara Eugénia mostrou-nus até onde pode che­
gar o poder do �spirito duma jov�m casta. Soube infundir
tal respeito pela sua pessoa, ser tão recRtada, qut nin­
guém ousava falar de coisas frívolas na sua presença.
No palácio, os jogos e diversões não ofendiam � piedade.
A princesa ma11tinha a ordem e a disciplina, evitando
toda a malícia dos gestos, hlda a imodéstia das palavras.
Sómente permitia galanterias sérias e gozos puros.
Não permiL1s também que na tua presença se ofenda
a delicadeza e o pudor. Mostra com firmeza que certas
conversas ferem o teu gosto senhoril e a delicadeza do
teu pensamento.
Se apesar de tudo não prestarem atenção à tua
advertência, então, deves pensar que uma rainha vestida
de arminho dos pés à cabeça não deve encostar-se a
pessoas sujas e d�sgrenhadas; e por muito grande que
seja a vossa amizade, termina-a l
Deves ouvir o eco daquelas graves palavras de
JESUS CRISTO: cSe um dos teus olhos i para ti o,astdo
de escândalo, arranca-o e lança-o para longe: i melhor

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128 PUREZA E FO�MOSURA

entrares na vlda eterru.. wm um só olho que ter os dois


e ser lançado av fogo do inferno.• 11>
Se el-sa amizade te escandaliza abandona-a porque
melhor k é entrar só na vida eterna, que, com ela,
seres prl:'cipitada no inferno. Sei que talvez te custe.
Mas quem não respeita as tuas santas convicções e a tua
nobre maneira de pensar, quem não tem delicadeza de
sentimentos e de linguagem, não merece o dom da tua
amizade.
Coragem, não hesites um instante na tua decisão.
Rompe quanto antes, ainda que te custe. Primeiro, a
tua pureza 1
«A e -:sttdade é o patrimónto e a glórfa das mulhe­
res, (LE MAiTRE).
Ser mulher forte significa dominar firmemente as
más tendências.
Ser jovem significa irradiar no brilho dos olhos a
alegria esplendorosa da aurora da vida.
Ter valor significa governar com energia todas as
inclinações do instinto, e ser mais dura consigo mesma
que o bisturi do cirurgião com a parte enferma do
corpo.
Desculpa-me a comparação, algo estranha; se
alguém adoece do estômago e começa a vomitar, não
é verdade que uma pessoa normal não se põe diante,
para se deleitar com tal espectáculo? Pela mesma razão
se uma jovem, doente do espírito, começa a vomitar, na
conversação, a sujidade da sua alma, a mulher digna não
pode escutá-la. O médico examina o doente, e vê qual
é o seu mal. Tu também podes fazer o diagnóstico,
pelas conversas e maneiras de muitas pessoas: saberás,
imediatamente, as enfermidades de que padecem as
suas almas •..
Plutarco, escritor pagão, fala-nos dum filósofo que
perguntou, na rua, a uma rapariga que corria pressurosa:

U> Sào M11teus, XVUI. 9.

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LUTAR 129

«De quem foges tu, com tanta pressa?• - •Dum


homem que quer seduzir-me e arrastar-me ao mal.• -
Envergonha-te - replicou-lhe o filósofo - de que não
seja ele quem fuja de ti I•
Não te deixes pois, impressionar por vozes estri­
dentes. Quando o pequeno exército de Alexandre Magno
começou a temer o enorme acampamento dos persas
que tinha na sua frente, sebes com que o animou o
general?
- •Porque temeis? Se é bem verdade que ali hã
muitos inimigos, hil poucos soldados.•
Porque motivo pôde afirmar tal coisa? Porque
sabia que os persas levavam uma vida imoral.
Portanto, se certas raparigas levianas se desmandam
em te «explicar• essas coisas, ergue-te com coragem.
Sim, querida jovem, coragem I Algumas vezes bastarã
um olhar sério para lhes afogar a voz na garganta ...
t sempre cobarde quem se compraz com a imoralidade.
E essas que se dizem avançadas merecem este epfteto,
muito pouco lisonjeiro, do pagão Horácio: •Amtca
luto sas.• «Porcas que se deleitam no estrume. ..
Portanto não te intimides.
Condenada à morte Lemora, esposa de Concini,
pediram-lhe os julzes para dizer com que sortilégio
dominava Maria de Médicis. •Ü meu encantamento -
respondeu - foi o das almas fortes, sobre os espíritos
fracos•. 11,
XII- Isso não me prejudica ...

Não te iludas, com a desculpa, muito frequente de


que a ti não te prejudica este ou aquele livro provocante;
esta ou aquela pintura, esta ou aquela peça teatral ou
pelfcula, esta ou aquela amiga desenvolta. Funesto erro 1
Se assim pensas, é porque não sabes quão enraizado

111 Eptst. 1, 2.

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130 PUREZA E PORMOSURA

está em nós o instinto de imitação. Ignoras que há


redemoinhos tão perigosos que até o remador mais
vigoroso os procura evitar, e ninguém se lembra de lhe
chamar cobarde por isso?
Seja qual for o nosso trabalho, pensamos quase
inconscientemente na maneira como os outros o fazem.
Em todos está inveterada, mais ou menos, a lei da
imitação. Conta-se a propósito que um astuto aprendiz
de sapateiro chupava uma laranja, diante duma banda
militar. Todos os executantes sentiram, então, que se
lhes enchia a boca de saliva, e a música teve de parar •••
Esta mesma influência invencível exercem, sobre a nossa
vida moral, as leituras, os olhares, as conversações, as
amizades.
Não há ninguém no mundo que se possa libertar,
por completo, da influência do ambiente. Posta na
fogueira, toda a lenha arde ... E tu afirmas, desdenhosa,
que não te prejudicará o mau exemplo de jovens impúdi­
cas l Poderá o moleiro, continuamente a moer, afirmar
que a farinha não o salpicará? E acreditarias, se alguém
to afirmasse, que possa não se pôr negra a chaminé
duma cozinha?
Não te faças demasiado forte. Muita razão tem o
dito antigo: O forte é aquele que sabe que é fraco.
cFortls est, qut se negat esse fortem ..»

XIII - O único remédio: evitar o pecado

Talvez o descaramento de certas jovens chegue


a tentar induzir-te ao pecado, dizendo-te que podes
gozar sem consequências ••• que se vendem preservati­
vos seguros para evitar a maternidade, que há médicos
que curam ccom êxito certo� doenças secretas •••
Quero crer, querida rapariga, que se te absténs de
pecar não será, em primeiro lugar, por temor à desonra
mas pelos teus prtnclptos morais. Mesmo assim, julgo
que é bom saberes isto : ctenti/icamente n4o há nenhum

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LUTAR J3J

meio seguro para evitar a maternidade nem profilaxia


C(lntra a infecção. Mediante uma cura larga e paciente,
com mercúrio, com iodeto de potáss;io. com salvarsan é
possfvel às vezes melhorar o estado dos doentes; mas
aqueles •êxitos seguros> com que te animam para te
induzir ao pecado, raras vezes chegam a ser uma cura
completa. Em regra não fazem mais do que suprimir os
sintomas da doença; esta fica latente no corpo. E de
que serve acalmar a febre se os micróbios continuam
vivos no organismo? De muito pouco. Podes crer
que muitas vezes era bem melhor morrer do que ficar
assim ccurada•.
Lê o que escreve a este respeito um médico :
«Não se pode negar que a cura em muitos casos é
apenas aparente. Ainda depois do mais cuidadoso tra­
tamento clfnico, ao cabo de meses, muitas vezes anos,
aparecem novamente acidentes desagradáveis, prova
de que o veneno da slfilis, ainda que não se mani­
festasse abertamente, estava oculto no corpo: encon­
trava-se •latente• segundo a terminologia técnica. Se o
médico intervém ímediatamente, pode obter que cessem,
por algum tempo, estes sintomas e que a slfilis tique
de novo •latente•; muitas vezes, porém, os resultados
são os mesmos que da primeira cura. <O
Ainda mais. Suponhamos que se obtém a cura.
Neste caso, a própria doença e o tratamento que se faz
i, base de venenos, perturba sempre, fortemente, a
resistência do organismo; e assim quem se cura da
sffilis adquire maior propensão para outras enfermida­
des. Este facto foi descoberto recentemente, mercê das
observações do célebre médico de Munich, Grüber, que
notou a coincidência de nas grandes cidades as pessoas
morrerem, em proporção muito maior que no campo,
entre os vinte e seis e os sessenta anos de idade.

li) Dr. Med. H. Paul: Halte deine /ugtnde rein. Conserva


pura II tua juventude. Stuttgar1, p•g. 29.

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132 PUREZA E PORMOSURA

A medicina não acertava, ao principio, com o motivo


deste facto surpreeRdente, pois que não se registava,
nas grandes cidades, nenhuma epidemia especial que
pudesse justificar tal mortandade. De repente, porém,
fez-se luz; grande parte das pessoas que nas cidades
populosas morriam na idade madura tinham sido sifilí­
ticas na sua juventude. Curaram-se. mas não conse­
guiram nunca mais recuperar o seu antigo fndice de
vitalidade.
Se contemplasses o espectáculo da mulher, quando
vitima de doenças venéreas I Uma pena feminina, Con­
ceição Arena], descreveu a traços largos a tragédia das
suas vidas:
«Com razão se chama a uma prostituta uma mulher
perdida. Perdida está com efeito a infeliz quando.
abandonada pelo seu sedutor ou fugindo da sua insu­
portável tirania, esqueceu todo o sentimento da honra
e se esqueceu até de si mesma; nesse dia desapareceu
pera ela, ao mesmo tempo, a virtude e a felicidade.
«Nunca o meu coração se comove tão profunda­
mente como ao entrar num desses hospitais de mulheres,
onde se curam as doenças da prostituição. As doentes
não se lamentam; sabem que ninguém se compadece
delas, e neste abandono procuram sufocar a dor tisica
com ditos obscenos, com blasfémias e com gargalhadas,
que penalizam como as dum louco
«A infeliz passa c;onUnuamente dos braços da
luxúria à cama do hospital, onde a ninguém inspira
compaixão, onde a todos inspira desprezo e ascot
onde se cura para tornar a servir, como um animal que
o dono manda curar porque lhe pode ainda ser útil.
Não há comparação que nos possa dar a ideia do que
se passa num hospital com a mulher desonesta, quando
as próprias companheiras se riem das suas dores, quando
o operador, ao queimar ou retalhar a sua carne, lhe
dirige, à guisa de consolo, alguma graça obscena. Se
não morre ainda nova, que coisa mais digna d� com­
paixão que a sua velhice prematura e o seu fim, num

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LUTAR 133

abandono total I• (CONCEIÇÃO ARENAL: Ca,tas aos


delinquentes).
Antes de concluir, sinto o dever de aconselhar com
o maior empenho que, logo ao notarem-se os primeiros
sintomas da terrfvel doença, se consulte um médico de
consciência. Nem só as jovens que cometem actos
imorais, mas também as outras, podem contrair a doença
por contágio; envergonhar-se, ocultar o mal diante
do médico, não traz qualquer beneficio e acarretará o
inexorável progre&so da doença. Nestes casos há um
só caminho a seguir: tratar-se. O tratamento médico
feito a tempo, embora não possa eliminar o vfrus da
doença, pode pôr um obstáculo ao seu desenvolvi­
mento fatal.
Mas não esqueças: a ciência diz (:JUe há apenas
um preservativo seguro contra a enfermidade. Um só 1
Sabes qual? A castidade, a vida pura. Essa é a
única profilaxia segura.

XI V - É preciso varrer as ruas

Não és médica, e no entanto querida rapariga,


podes fazer alguma coisas para impedir a extensão do
contágio moral. Deve-se declarar-lhe guerra. Creio
que daria algum resultado, principalmente nas cidades
pequenas, onde as livrarias não abundam, se algumas
Jovens, as de sempre, as mais dignas, se unissem sob
este lema: «E1:igimos que se varram as ruas!•
Bem ou mal jã se varre o lixo, as cascas de frutas.
as pontas de cigarro, os focos de bacilos. Pois bem, nós
exigimos uma limpeza de tal ordem que sejam varridas
sem contemplação as montras dos quiosques, das livra•
rias, das tendas e se lance em lugar adequado, entre os
detritos de todos os dias, aquele montão de grosserias
qu� sob a vinheta da arte, contagiam os transeuntes.
Se se declara a peste em alguma parte, sabes qual é a
primeira medida que se toma? Exterminar os ratos

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134 PUREZA E FORMOSURA

porque são eles que propagam o mal. Assim deverão


também ser exterminadas as ratazanas da peste moral.
Continuar de braços cruzados, diante deste processo
de caça ao dinheiro baseado na excitação das baixas
concupiscências, consentir nos mostruários das livrarias
novelas que só falam de namoricos, deslumbrar-se com
os produtos de salão parisienses, é sinal de frivolidade
e decadência.
Até mesmo os quadros de pintores de renome, as
obras da época clássica, podem ser ocasião de pecada,
se se colocarem em certos lugares, ou se se reproduzi­
rem de maneira que não esteja de acordo com a inten­
ção do artista. Porquê, não deitar pois mão do legítimo
meio de defesa, declarar guerra aos piratas da rua que
nos escaparates gritam os mais ignominiosos insultos à
dignidade da mulher?
É pena que a virtude ao enfrentar-se com o pecado
seja sempre mais tímida, e o pecado mais audacioso.
Temos de lutar pelo inverso. Temos de defender com
denodo os nossos direitos. •Temos direito à rua!•
A lei reconhece este direito muito abertamente, e pro•
tege-nos para que ninguém nos ataque. Demos a e'lte
direito a extensão que se impõem. t necessário exigir
que todos nela se comportem honestamente. Se alguém
tivesse a ousadia de fazer publicamente o que se vê
nos livros e estampas de certas montras ou no cinema,
a policia ch;:imá-los-ia à ordem imediatamente, Porquê,
pois, hão-de continuar a passar tantos jovens, tantas
raparigas e mulherts honradas, tantos homl.!ns de bom
senso moral, transigindo com os abusos comerciais de
alguns vampiros, olhos baixos com timidez e cautela,
diante de certas montras, para que não lhes suba o
sangue ao rosto, ao ver esse vil desprezo da moral, que
ocultando um fito comercial se arroga o nome de «pos­
tais artlsticos». Pedimos policia e varredorts de ruas 1
A isso nos obriga o nosso decoro.
A sociedade sã, que ainda preza a moral declara
guerra. Se num quiosque vires postais impertinentes,

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LUTAR 135

afirma claramente que não voltarãs ali a comprar nada.


Se numa livraria vês livros imorais diz ao dono que
nunca mais porás os pés na sua loja. Querida rapariga,
não vás comprar nada a uma casa em que se vende
veneno espiritual e imundície.
Nem molhando a minha pena no fogo da maior
indignação, poderia descrever os pântanos de miséria
moral em que semelhantes livros e estampas precipitam
a juventude.
XV- Contra a corrente!

É possível que hoje, para defenderes as tuas con­


vicções tenhas de, muitas vezes, remar contra a corrente;
mas bem sabes que ir ao sabor da corrente é ir descendo.
Opõe-te ao sentir geral da sociedade moderna que não
vê nada com que escandalizar-se, no rebaill:amento do
teu sexo. Sei bem que era necessário uma revolução
para mudar este conceito moderno e frfvolo, e sei tam­
bém que todo aquele que pretender revoltar-se neste
ponto, deve ter uma coragem à prova de bombas. Mas
é de esperar que venham tempos melhores, em que se
não admita a inconsciência pasmosa que se verifica
no sentir geral de hoje. São mulheres sem moral que
impõe a moda no vestir, no desporto, no passeio.
Proclama-se «indigna dum salão• a que comete o mais
pequeno furto, dizendo-se que ela rouba ; mas ao
mesmo tempo admite-se, e mais ainda festeja-se e lou­
v�-se, a que com as suas seduções e artificias destrói
um lar, roubando o marido à mulher legítima e um pai
aos filhos abandonados.
Trabalha com o teu próprio exemplo para o advento
duma época em que de novo sejam as jovens mais deli­
cadas e puras as que dêem o tom, e não as dissolutas,
que exibt!m em público o seu impudor e descaramento.
Sê uma verdadeira «senhora•, quer dizer uma jovem
de carácter nobre, distinta no sentir e no pensar,
que vê rebaixamento de gosto na mlnima palavra

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136 PURE.ZA E FORMOSURA

licenciosa, no mais pequeno gracejo de mau toque, na


mais leve insinuação de duplo sentido. Pensa nobre­
mente, quer dizer, «irrepreensivelmente> como diz o
alemão: ,AdeUg, dass helsst untadelig.•

XVI - Ainda sou nova, mas embora!

Escarnecerão da tua conduta séria; rir-se-ão de ti,


por te verem retraída quando as outras querem ani­
mar-te com as suas conversações livres i serás objecto
de troça por corares à primeira palavra picante.
Minha filha, orgulha-te com isso! Orgulha-te de sabe­
res corar 1
O sentimento do pudor não é «puerilidade•, não é
•beatice•, não é atributo de •santarronas• - como elas
dizem - mas sim um valor inestimável, uma arma que
a natureza nos dá para que o nosso eu superior se
defenda quase inconscientemente de pensamentos peri­
gosos. O pudor duma rapariga. pelo qual a sua alma,
sensfvel como a bússola mais perfeita se afasta ao pen­
sar na impureza, é um tesouro valioslssimo, é um dique
contra as ondas turvas que acometem de continuo as
intactas de corpo e alma.
Já o nobre pagão, Plauto, sentiu que cperece
aquele em quem pereceu o pudor.• E é preferível que
alguma amiga se ria de ti, chamando-te «antiquada»,
«hipócrita•, «beata>, que seres aplaudida ao pores em
grave perigo a pureza da tua alma. Recorda-te da
frase magnifica de Santo Agostinho: «Não odeies os
homens pelos seus erros e vícios, mas também não
ames os vícios e os erros por causa dos homens.•
Que cobarde e pusilâmine é a rapariga que não
sabe suportar, por amor às suas convicções, a mais leve
contrariedade I Houve jovens que por amor a Cristo
foram capazes de suportar, sem uma palavra de queixa,

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LUTAR 137

as garras de feras esfomeadas e os mais cruéis tormentos.


Não te lembras das santas e jovens, Inês. Lúcia, Águeda,
Cecília? Preferiram morrer por Cristo a renunciar à
sua pureza.
Santa Fausta, jovem bela e rica, mas sumamente
virtuosa, respondeu quando a mandaram oferecer sacri­
flcios aos deuses:
•Eu não sacrifico a estes deuses, que são surdos,
cegos e sem sentido algum Eu tenho no céu a meu
Pai e Esposo, Jesus Cristo, e nlo posso abandoná-lo,
porque digo-vos: embora pequena na Idade, o meu
coraç4o é grande para Deus.•
Mandou então o tirano rapar-lhe a cabeça, pren­
dê-la nua a um poste e açoitá-la cruelmente. Tudo
inútil. Ela permaneceu inabalável.
O sarcasmo, a sedução da tua amiga, explicam-se
muito bem. Quando uma porca se revolve no estrume,
grunhe satisfeita, para que as outras também se metam
no charco.. . fino, suave, perfumado I Grunhirá de
desprezo a tua amiga ao ver que não queres juntar-te
a ela na imundície I A rã, ainda que a instales num
trono, de um salto se meterá outra vez no pântano,
porque só lá se encontra à vontade.
Talvez conheças este dito antigo : Sunt a qulhu�
vltuperart laudart est. « Há pessoas em cuja boca o
vitupério é um louvor•. Não duvides. O burro tam­
bém vitupera a rosa, por não dar cardos. Porque é
disso que ele gosta.
Sempre me causou surpresa haver quem ligue
importância às palavras desses espíritos transtornados.
Em Pisa, antiga cidade da Itália setentrional, a torre da
catedral está de tal modo inclinada que nos espanta
como pode manter-se de pé. Pois se esta torre pudesse
pensar, certamente se riria de todas as demais torres do
mundo: - «Olha que coisa I De todas as torres eu sou
a única que me conservo direita l. .. ..
Num pequeno povoado, escondido entre as faldas
duma montanha, todos, homens e mulheres, tinham

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]38 PUREZA E FORMOSURA

papeira em consequência da má qualidade da água, e


do seu modo de viver. Um dia, passaram por ali alguns
turistas, pessoas de cara normal. Pois bem. As crian­
ças seguiram-nos com grande algazarra, pela rua, e rin­
do-se e troçando gritavam: e Olha, olha! Que genk 1
Não têm papeira I•
Querida jovem, que em todos os transes te lembre
e te dê força para perseverares esta refle:rão: quem
quiser deixar perder o seu carácter, a sua personalidade
e prestigio, e consentir em ser escrava dos instintos,
essa que mergulhe nos prazeres; mas a que tem apreço
pelo seu carácter, a que quer chegar a ter uma persona­
lidade harmónica, a manter a sua dignidade, deve con­
servar intacto, como ouro de lei, o seu corpo e a sua
alma, até ao sacramento do matrimônio, até à hora
marcada por Deus. cTapfer is der lôwenstger -
escreve Herder, - tap/er lst der Welbesleger; tapfer
wer slch Selbst bezwang I• < Valente é o que vence o
leão, valente é o que vence o mundo, mais valente,
porém, é o que se vence a si mesmo.• Aumentas de
estatura sem o notares, as pernas crescem-te sem que
dês por isso, mas o verdadeiro carácter não aparecerá
assim, por geração espontânea. Por ele terás de lutar,
dia após dia; é com um sacriffcio permanente, um
esforço continuo e consciente, que hás-de triunfar pouco
a pouco da tua fraqueza ingénita. Não terás outro
caminho.
X V 11- Não é verdade! Mil vezes não!

O que é que não é verdade?


Não é verdade o que, à falta de outros argumentos,
dizem certas pessoas, para combater o firme propósito
daquelas que desejam levar uma vida absolutamente
pura. Não é verdade o que, à base da própria e:rpe­
riéncia e do conselho dalguns médicos, se diz e se
repete a cada passo: cA pureza t uma beatice, ou
uma maluqueira I É inútil alguém esforçar-se por se

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LUTAR 139

conservar puro até ao matrimónio; é um absurdo.


Ê querer o impossível. A juventude deve expandir-se.
Devem-se aproveitar os anos da mocidade. Só um
modo de pensar antiquado pode exigir à juventude tal
pureza. .. E mais:
•Todo o corpo jovem, saudável e bem desenvol­
vido, é incapaz disso. O desejo sexual é como ... a
respiração, como o pulsar do coração. Vem espontâ­
neamente, não há culpa disso. E o que é lei da natureza
não pode ser nocivo nem se deve suprimir. Para quê
esforç:ir-se: virão as doenças, os •nervos•, os achaques.
se se recalcam as exigências do sexo, se se espera até
ao matrimónio. »
Parece que é realmente a ciência que fala ...
Tem-se essa ilusão, com frequência. Pois a isto res­
pondo: cNão é verdade I• Não e verdade que as
transgressões das leis da castidade sejam uma necessi­
dade. como hoje se apregoa levianamente. A lgn:ja
Católica exige o celibato, a castidade das suas religiosas,
durante toda a vida, e apesar de tudo elas não adoecem;
pelo contrário, costumam viver mais tempo que as
demais. .Ê um facto. Quem é capaz de afirmar que é
imposslvel conservar a pureza até ao matrimónio, se
elas a conservam durante a vida inteira? A isto volto a
responder: cNão é verdade I• Não é verdade que
um organismo jovem, bem desenvolvido, seja incapaz
de guardar continência. Não é verdade QU!! alguém
tenha adoecido em consequência duma vida pura.
Então ..• o que é verdade?

?.(._VIII-Com fogo não se brincai

É por uma pequena faúlha que sempre começa um


grand� incêndio.
Aqueles que falam com o tim de seduzir-te, enerva­
ram, pelo hábito de pecar, a sua força de vontade, a ponto
de agora lhes parecer realmente impossível a vida pura.

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140 PURfZA B FORMOSURA

São esses que, julgando os outros por si, divulgam


essas frases que tens ouvido tantas vezes e em que,
talvez, acreditaste. t o momento de corrigires este
modo de pensar.
No Museu Nacional de Berlim, há um quadro
comovedor que só pode suscitar pensamentos tristes a
quem o contempla. No fundo dum precipfcio, entre
horrorosos penhascos, corre espumante, vertiginosa,
quase pulverizando-se, uma corrente da montanha.
Sobre o abismo passa uma ponte, que se vai estreitando
de tal modo que termina por ser uma tâbua estreita ...
Com a cara ardente, os olhos em fogo, um jovem
cavaleiro atravessa a ponte.
Não vê o precipício, não vê a estreita passagem,
não vê mais que uma coisa: lá no outro lado, sobre
uma rocha, chama-o a fada sedutora, a feiticeira dos
prazeres sensuais. Não a vê senão a ela. Para ela se
dirige com fatal cegueira . . . Junto dele vai a morte
que sorri irónica e fria, levando na mão uma ampulheta.
As areias já calram quase todas; o jovem cavaleiro
está a chegar à prancha estreita... ; um momento
mais. . . e cai. . . e precipita-se . Em baixo, espe­
ram-no as ondas espumantes as fauces abertas, as
fauces sem fundo do inferno ...
Sim; quem começou a pisar a senda da imorali•
dade dificilmente poderá deter-se... Isto é que é
verdade.
Os antigos falavam dum monte no meio do oceano
a que atribuíam uma poderosa força magnética. Diziam
que se uma tempestade arrojasse um barco para junto
das suas praias, este monte o atraia com uma força
tremenda, fazendo-o em bocados e submergindo-o no
fundo do mar. falavam também de sereias que, com
o seu canto feiticeiro, atraiam à sua ilha o viajante
�ncantado, para ali o sepultarem, cruelmente, no meio
das ondas.
Pois bem: aquele monte magnético não existe na
realidade, nem tampouco as sereias; mas a que começa

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LUTAR 141

e brincar com os incentivos da vida impura corre maior


perigo que se tivesse de lutar contra essa força magné­
tica ou esse canto. Esta é a verdade.
E é verdade também que se fossem mais severa­
mente reprimidas as primeiras tentações, hoje a vontade
não seria trapo roto, gasto, impotente diante da ten­
tação. Ao princípio, esses desejos são sempre tímidos,
sem grande veemência ; é então que se deve ter
vontade de aço, pois só assim não se terã mais tarde
que arranjar falsas razões . . . para desculpar o pecado.
Todo o mundo sabe que é possfvel dominar até as feras
mais terrlveis; o domador aventura-se mesmo a pôr a
cabeç_a na boca do leão, e este não lhe faz mal.
E bem mais fácil de dominar a paixão no principio l
A tendência em si não é invendvel; só o é a tendência
artificialmente excitada, que a vontade enfraquecida, não
pode dominar.
Não queres adoecer? Então, porque introduzes no
teu organismo os bacilos da febre? Não queres ter o
tifo. Mas, porque bebes água dos pântanos?
Dir-me-ás, com certeza :
- •Mas se é a própria natureza que me instiga à
vida sexual, como hei-de sufocá-la?• Lê o que res­
ponde a tal dificuldade um professor de medicina da
Universidade de Budapeste, Leão Liebermann:
•E agora respondamos ainda àqueles que, acredi­
tando completamente nos instintos postos em nós pela
própria natureza, afirmam que nlo pode ser nocivo
darmos satisfação a uma coisa que a natureza pede.
cA estes respondemos que a natureza dotou o
homem de vários instintos: cada um com o seu fim
determinado, porque não basta um só instinto para os
diversos fins da natureza. Um desses fins é a conser­
vação da espécie humana; por isso, dotou o homem
com o instinto sexual; outro dos seus fins é que a
nova geração seja si e que o individuo, como criador
imediato dela, conserve a sua incolumidade, a sua
saúde. Mas, porque a satisfação do instinto sexual,

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142 PUREZA I! FORMOSURA

encaminhado para a procriação, poderia fàcilmente causar


detrimento ao outro fim, por isto nos dotou também de
outro instinto regulador do primeiro, que poderíamos
chamar instinto de pensar.
«Os instintos, tomados isoladamente, são com bas­
tante frequência mentirosos.
•Ü convalescente de tifo sempre tem fome, até ao
extremo de chorar e suplicar que se lhe dê um bocado
de pão. O instinto da alimentação talvez nunca se
manifeste em nós com uma intensidade tão grande
como neste transe. E, no entanto, que sucede, se por
comiseração cedemos às súplicas do doente e lhe damos
o que pede? Expomos a sua vida ao maior perigo.
Os seus intestinos, cobertos de chagas. ainda mal cica­
trizadas, não resistem ao alimento apetecido, as feridas
abrem-se novamente, e se um destes desgraçados chega
a passar pela mesa de operaçõt!S vemos que foi justa­
mente o alimento desejado que o matou, perfurando-lhe
os intestinos.
cQuem não se sentiu instigado uma vez ou outra
a beber um copo de água fresca ou a banhar-se quando
está a ofegar cheio de calor? Mas todos sabemos as
consequências fatais que pode acarretar uma impru­
dência nestes momentos; por isso creio que não é
necessário falar mais disto. Todos reconhecem e exac­
tidão da nossa afirmativa: o instinto pode ser enga­
noso e pode necessitar dum freio.»
O animal faz tudo guiado apenas pelo instinto, e
este que lhe foi dado por Deus para esse fim, não o faz
errar o caminho. Mas, em nós, as tendências estão
subordinadas à luz da razão, e a voz da razão é con­
trária, muitas vezes, às exigências do instinto.

XIX - Aproveita a mocidade!

Sim, a mocidade deve aproveitar-se, e dela se deve


tirar o maior partido passivei: não dando rédea solta

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LUTAR 143

a todos os nossos instintos, mas sim trabalhando na


formação do carácter com seriedade santa, com perfeito
conhecimento do que significam na vida os anos de
adolescência. Se as forças jovens estão a ponto de
estalar de tão tensas, se o teu coração palpita com
veemência, ocupa-te em coisas sérias e aproveita as
tuas energias de forma a cumprires do modo mais per­
feito as obrigações diárias. Façamos todos por que flo­
resça e adquira papel de guia o nosso eu superior, o
nosso espírito, e que se exercitem em abnegação e obe­
diência os desejos sexuais.
•Liberdade•, ,independência•, são palavras que
seduzem a juventude. Realmente deves ser livre e
independente, mas também prudente e sóbria.
No mundo da moral, como no da natureza, há leis;
e não é passivei prescindir delas.. pelo menos sem
merecer castigo. Se ao escalar as montanh�s vês
um resguardo ao lado duma passagem perigosa, por
muito livre e independente que sejas, não gritarás
indignada parn ele: •Porque pões obstáculos à minha
liberdade?• E se apesar de tudo avanças e o forças,
cairás no profundo abismo. Resguardo são as leis da
moral. Podem produzir-te o efeito dum entrave abor­
recido, mas na realidade, são salvaguarda do desenvol­
vimento harmónico da tua personalidade e perser­
vam-te das mais graves quedas. Aproveita pois a tua
juventude, mas não enganando a lei moral. Sê senhora
de ti e cumpre, com uma vida pura, a vontade sublime
do teu Criador.
Mais duma vez soar! aos teus ouvidos: cSufocar
os instintos e extirpar as más inclinações é ir-se contra
a natureza.•
Contra a natureza? Os religiosos da Idade-Média
desbastaram florestas virgens, que eram produto esplên­
dido da natureza. Mas fizeram-no para criar em seu
lugar a civilização •..
•Aproveita a vida I Procura expandir-te!•, ouvi­
rás a cada momento, doutros lados... Pois bem : Cristo

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144 PU�EZA E FORMOSURA

também não te proíbe isso. Nem Ele te ensina que


deves viver afogada, coibida. O que Ele exige é isto:
Ainda que gozes a vida, não te manches no lodo •••
para o alto, para o alto l Olha a roseira que viveu à
vontade na sua juventude, quer dizer, a roseira que o
jardineiro não podou. Terá forças para dar flores?
Nunca l, porque malbaratou em renovas selvagens
as energias mais preciosas da sua juventude. Minha
filha, tu és a jardineira responsável do jardim da
tua alma 1 •..
Oh I quantas raparigas gemem, no meio de solu­
ços, e gritam a sua queixa em noites escuras, sem espe­
rança: cPorque é que ninguém me chamou a atenção,
a tempo, sobre as consequências terríveis do pecado?
Sobre o primeiro pecador O primeiro 1... Aquele! ..•

XX - Pureza e saúde

Quero pôr-te de guarda contra certas teorias moder­


nas que não será raro chegarem aos teus ouvidos.
Teorias lançadas por alguns médicos, que, por levian­
dade, - não me atrevo a escrever por ganância do
lucro,-falam dos cmales causados pela castidade>.
Como é natural, não poucas jovens acolhem com gosto
a palavra destes doutores. Qualquer médico sério,
porém, apelidaré de curandeiros estes colegas. Jeder
Arzt, der so rat, begeht eitt infames Verbrechen•, diz
com todo o direito o professor Ziemssem. 11 1 .Q médico
que dá. tais conselhos comete um crime infame.>
Quanto mal não tem causado a jovens bem inten­
cionadas estas teorias, segundo as quais uma rapariga
que leve uma vida pura está condenada a adoecer e
tomar-se histirica I Estas teorias tem penetrado de tal

Ul Dr. Med. Aug. Müller : 1hr sollt keusch und züchtig


leben! •Tendes que vlvu casta e püdlc�ment.::•, pjg_ 21. Ora
mlemburg.

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LUT.'\R 145

modo no ambiente juvenil que a pobre rapariga, sem


se dar conta, começa a duvidar das suas convicções, e,
se alguma vez lhe dói a cabeça, o coração lhe bate mais
apressadamente, ou sente qualquer angústia ou mal­
-estar, pergunta com medo a si própria: «Estarei a
ficar histérica? Será uma neurose?• Querida rapa­
riga não te deixes enganar por estas patetices. Nenhum
médico digno deste nome será capaz de te aconselhar
a impureza como remédio, se o fores consultar. Antes
pelo contrário.
Ainda, porém, que houvesse qualquer fundamento
científico em semelhantes doutrinas, o maior tesouro na
terra não é a saúde. O carácter, a dignidade, a recti­
dão, valem mais que ela. Supondo, pois, que te custa­
ria alguns ligeiros e hipotéticos incómodos, seria lfcito
manchares a pureza da tua alma por causa de seme­
lhantes ninharias?
Mesmo que isso se desse, permitir-te-ias pôr de
parte a saúde da alma para evitar pequenos incómodos
ao corpo?
Mas não é verdade. Nenhum médico te provará
cientificamente que a vida pura prejudique no mínimo
a saúde. Não hã um só trabalho de especialista, um
trabalho sério, cujo autor se &treva a apresentar semelhan­
tes afirmações perante a ciência; não há um só médico
dos que têm consciência da sua missão, que possa
apresentar, com provas, uma só doença originada pel■
observância da castidade. Acredita-me. Não o encon­
trarás em toda a face da terra. Ao contrário, há milha­
res de livros que tratam dos espantosos destroços cau­
sados pela vida impura. É certo que há médicos tão
pouco escrupulosos que não têm repugnância em explo­
rar as inclinações sensuais da juventude - logo que o
negócio lhes corra 1 -, e nas suas consuttas privadas
tácita ou abertamente aprovam as transgressões da moral.
Não te será diflcil verificar, no entanto, que têm um
parecer muito diferente aqueles que, em nome da cién­
cia e apoiados no rigor dos factos, são as prlmetras
1U

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146 PUREZA E fORMOSURA

au.torldades na matlrla, no nosso pais ou no estran­


gelro.

XXI - Oue diz a ciência médica?

Talvez que alguma jovem te sopre ao ouvido:


e Bom, bom. As coisas são muito diferentes... Não
está mal o que se diz neste livro. Mas, é claro, os
sacerdotes e as freiras têm que falar deste modo.•
- Ah, sim? Então quem diz isto são os sacerdo­
tes e as freiras, não é verdade? Se não te aborrecer,
lê os seguintes depoimentos de alguns médicos exf­
mios, de fama mundial, e que, por certo, não são sacer­
dotes ...
O Dr. Herbst, médico de Nuremberg: cDevemos
afirmar energicamente que todas essas afirmações são
falsas. A perfeita continência não causa o menor dano.
Aquele que sustenta opinião diferente, ou está equivo­
cado, ou então procura vãs desculpas para encobrir as
suas próprias faltas. E seja-me permitido fazer constar
aqui outra coisa: A continência absoluta é possivel,
não só corporal mas também espiritualmente. Para
isso, não é unicamente o corpo que há-de estar alheado
de semelhantes actos, mas também a imaginação ...
Sim, a vida pura é possf vel, e não só passivei como
também muito saudáveb < 1>
O segundo Congresso Internacional que os médicos
do mundo inteiro celebraram de 1 a 6 de Setembro
de 1902 em Bruxelas, para tratar de higiene e de moral,
tomou por unanimidade a seguinte decisão: « • • •Deve-se
ensinar principalmente à juventude que a vida pura não
prejudica no mlnimo a saúde, antes é muito recomen­
d4vel sob o duplo aspecto higiénico e médico.•

1 11 Dr. Hcrbst: Geschechtstrieb und Sittlichkeit. Instinto


1exu11l e moralidade, pág, 5 e 6.

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l.UT/\R 147

O Dr. Surbled: «É possível viver castamente sem


que daí advenha qualquer perigo. A vida imoral pode
acarretar muitos malts; a continência nenhum. Demons­
tra-o o simples f actn de que as enfermidades por exces­
sos sexuais são tratadas em volumosas obras médicas,
enquanto as originadas pela vida casta ainda estão espe­
rando um escritor que lhes dedique um livro.• 1 1 >
A faculdade de Medicina de Cristiânia publicou o
seguinte manifesto: •A afirmação, propagada nestes
últimos tempos por certos indivíduos e repetida também
pda publicidade na imprensa e em reuniões, de que a
vida moral e a continência são prejudiciais à saúde,
segundo a nossa experiência unânime carece de funda­
mt-nto; nãc, conhecemos nenhuma doença ou debili­
dade da qual seja lícito ou possível afirmar que tenha
a sua CJrigem numa vida completamente pura e regrada.•
Assinado: J. Nico LA YSON, E. WINOE, JoKMANN, J. HEl­
BERO, J. IJORT, J. WANN, MOLLER, E. SCHÔNBERO, pro­
fessor�s da Faculdade de Medicina da Universidade de
Cristiânia.
O Dr. Mantegazza, fisiólogo italiano: •As bên­
çãos durirn vida casta são experimentadas por todos os
homens, especialmente os jovens. A memória é fácil e
tenaz, o pensamento vivo e fecundo, a vontade forte, o
carácter adquire tempera de aço... Nenhum cristal ao
decompor a luz pode mostrar o ambiente com cores
tão celestiais como o prisma da pureza, que projecta as
cores do arco fris sobre todas as coisas do mundo e
comunica uma felicidade sem nome.• <2>
Osterlen, na sua obra intitulada Handbuch. der
Hygtene (Manual de Higiene) diz: •Ü jovem e a jovem
devem aprender a guerdar continência até que chegue
o seu tempo. Não lhrs c11st21á fazê-lo se meditarem

(I} Good: Erküles ts cró. «Moral e forçu, 13ud?pest,


pég. 53.
121 foerster: Jugendlhere,

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148 PUREZA E FORMOSURA

nesta verdade: Todo o seu futuro, principalmente a


felicidade do seu matrimônio, depende da vida que
tenham levado na sua juventude. Importa instruir, por­
tanto, os jovens, mostrando-lhes que o rico galardão da
continência é uma saúde florescente, uma robusta ener­
gia de actividade, uma consciência varonil. > 11 >
Doutor May: cNa minha prática de cerca de trinta
anos, tenho tido ocasião de ver inumerãveis vltimas da
imoralidade; pelo contrário, não vi uma só vitima da
moral." t2>
O Dr. Hajós Lajas: e Não somente no seu con­
junto, mas também nos problemas que estão mais liga­
dos à vida sexual e conjugal, os postulados higiénicos e
morais seguem tão paralelos, são tão idênticos, que
a pureza sexual, os deveres de fidelidade conjugal,
o anátema contra a supressão artificial dos filhos, contra
o aborto, contra a teoria do filho único que são, por um
lado, mandatos religioso-morais, soam, por outro lado,
aos ouvidos do médico, como dogmas de higit!ne. De
tal modo que, pelo seu conteúdo· ideológico, as graves
afirmações teóricas do médico, a respeito dos perigosos
desvios da vida sexual e matrimonial, parecem alocuções
de prop;1ganda moral, relatadas conforme a ideologia da
ciência m�dica." <3>
Com que gravidade escreve o Grupo feminino da
Associação Nacional de Médicos Húngaros: e Em nome
das faculdades cristas, cuja fé e saber te enviam unâni­
memente esta mensagem, quisera gritar-te para que o
ouças durante toda a tua vida, no meio de todos os
murmúrios da sedução e da adulação: N4o é verdade
que a vida casta tenha consequénctas nocivas l Não
hã um só médico honrado e competente que possa

tt> Szuszal: A tiszta électrol.


C2) E. H1mmelr111b: Teutonenkraft und sexuelie Frage
<3l Dr. Hajós Lajos: Hazasság is eruestudomdny. •Matri-
mónio e medicine•. Magiar kultura, 1930 pdg. 257.

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LUTAR 149

numerar uma única enfermidade causada pela continên•


eia. Se há estados nervosos cuja causa, segundo alguns,
seria a continência sexual, esses estados nunca se apre­
sentam em pessoas de pensamentos puros e que afas•
tem as imagens obscenas da fantasia, mas sómente naque­
les que, com leitura, companhias, etc., excitaram a sua
imaginação e os seus nervos e se abstiveram depois do
acto, unicamente por medo das consequências imedia­
tas. Por outro lado, cada médico pode dar uma extensa
lista de pessoas desgraçadas que vão povoando os
manicómios, os institutos para cegos, os cárceres, por
culpa própria ou por culpa dos próprios pais. .. < 1 >
Ai tens uma breve antologia de manifestos lança­
dos por m�dicos sérios. Repito: e!,ites manifestos não
procedem de sacerdotes nem de freiras mas de médicos
de primeira categoria.
Junta agora aquele mar de misérias e doenças, que
são corolários da vida impura, e medita que a maldição
de um só pecado é expiada durante l2rgos anos, por
milhares e milhares de pessoas, que talvez cheguem à
ru(na completa espiritual e corporal ... ; medita e pode­
rás responder àquelas pessoas que arengam diante de ti
sobre a impossibilidade e as inlluências nocivas da
vida casta. Mostra-lhes os numerosíssimos hospitais e
manicómios em que sofrem aos milhares as pobres
vitimas da impureza, e pede-lhes por tua vez que te
indiquem, se puderem, um só hospital em que se subme­
tam a tratamento os que adoeceram por causa da cas­
tidade. Que te indiquem um, basta um 1
E, o que vemos no campo individual, observamo- lo
também na vida dos povos. A História conhece gran­
des povos que chegaram à decadência pela imoralidade;
mas não se conhece um único que haja perecido por
causa dos seus bons costumes.

(1) Dr. M. Cs�h,1 y Sra. dei Dr. Cstáné: Amit rgy nagy
léanynak tudnia bell. .o que uma rapariga crescida deve saber.»
Budapest, 1931, pág. 31.

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150 PUREZA f FORMOSURA

X X 11 - Deus e a natureza

Não pode ser doutra maneira. Tens visto que as


leis santas do Criador exigem castidade completa antes
do matrimónio. Não hesito em afirmar: se Deus
tivesse dado leis, cujo cumprimento escrupuloso pudesse
prejudicar alguém, então estaria em contradição consigo
mesmo ... e isto é imposslvel.
Não se manifesta com luz meridiana o castigo de
Deus no facto de que justamente aquela força criadora
que, aproveitada segundo a santa vontade do Criador,
seria fonte de nova vida, se transforma, por abusos
pecaminosos, em instrumento de desgraça e extermínio de
inumeráveis vidas humanas? Pode a natureza levantar
a sua voz dum modo mais eloquente contra as rela­
ções impuras que fulminando contra a vida imoral
tão espantosas desgraças? A natureza defende-se,
defende as suas sagradas leis da maneira que pode :
com o exército formidável de milhões e milhões de
bacilos. E não é a casualidade, mas sim expressão ine­
quívoca da voz da natureza, o facto de que só a vida
pura ou o matrimónio legítimo, ordenado, santo, pode
preservar-nos com segurança ··dessas e doutras enfermi­
dades.
Por outro lado há uma razão muito especial que
deve levar a mulher a guardar o seu coração. Entre
os seres criados, só ela recebeu de Deus os dons de
ternura e abnegação necessárias para ser mãe. Esses
sentimentos são tão fortes nela que um pequenino
qualquer recebe, muitas vezes, as doçuras do seu
carinho.
Digam-nos tantos pobres órfãos, desprotegidos da
sorte, a quem uma alma feminina tomou sob a sua pro­
tecção. Como cantou o poeta.

Toda a mulher, por Deus assim ter querido.


Traz em seu peito um filho adormecido.

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LUTAR 151

Pois bem, querida rapariga, permite-me que volte


a repetir: da tua pureza dependerá a glória de Deus, o
futuro da Pátria, a saúde e a alegria dos filhos de ama­
nhã, a felicidade do teu lar. De ti depende que os teus
filhos te aclamem: - Bendita a mãe que Deus me deu l
Sentiria profundo pesar de que pensasses como
certas raparigas modernas, para quem uma criança é
um estorvo, uma impertinência, e que sonham para o
dia de amanhã com um matrimónio sem filhos, ou
então só com um ou dois. Isso não é cristão nem natural.
A rapariga que assim pensa é uma egofsta; não
perdoará nada que perturbe a sua comodidade e gozo;
inclusive, far4 sua desgraçada vitima o homem com
quem partilhar a vida.. . Contrariando de tal modo a
natureza, aparece diante da razão humana como um ser
anti-natural, um monstro.
Mesmo no que respeita às legitimas aspirações e dese­
jos ela deve ser pura, querendo o que Deus dispôs para a
mulher. isto é o matrimónio para a propagação da vida, e
não apenas o gozo sensual. Pensar doutra maneira é ir
também contra a natureza, e por isso é uma imoralidade.
Contra essas raparigas que desdenham dos peque­
ninos, levanta-te, tu, jovem leitora, e diz-lhes que cse
deve querer o que o Céu dispõe», que se deve aceitar
a vida como Deus a fez e a missão de mulher com todo
o entusiasmo e fidelidade.
Se fores para o matrimônio com intenções diferen­
tes, previno-te de que a natureza se vingará.
Guerra às mulheres que não querem ser mães nem
de espírito nem de corpo I São o expoente mais signifi­
cativo da decadência dum povo ! São a fonte da mal­
dição de Deus.

XXII!- Quem é que não pode ser casta?

A jovem que unicamente quer abster-se do acto


exterior, mas se entrega a pensamentos obscenos e

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152 PUREZA E f'OkMOSUIU

consente em desejos impuros, cedo ou tarde chegarã


aos factos. Porque neste terreno não se pára a meio
do caminho. O corpo e o espírito estão em intima
correspond@ncia, e todas as quedas deste, influem na
debilidade daquele.
Neste ponto não se pode ser condescendente, não
se pode contemporizar. Não podemos ficar tranquilos
dizendo: «Chego sàmente com o pensamento até ao
ponto em que ainda não há pecado, e não dou nem
mais um passo». Impossfvel. A que refledidamente
é impura em seus pensamentos e neles se com­
praz, é como se de facto tivesse cometido o pecado.
Juvenal escreve nas suas sátiras (13,209): cNam scelus
Intra se tacitans qul cogtgat ultum, factl crtmen habet.,
Quem vai ruminando no seu interior um crime oculto,
já é réu desse crime.•
Por tal motivo, é de grande importância conservar
puros os pensamentos. As imagens obscenas, os pen­
samentos impuros, podem transtornar o organismo,
porque a excitação se transmite do c�rebro à espinal
medula, e dai aos órgãos sexuais. E o instinto exci­
tado reclama em altos gritos a acção imoral. Claro está
que não podes sufocar o incêndio abrasador; mas não
foste tu que fizeste saltar a primeira faísca?
Lê o que escreveu a este respeito um c�lebre pro­
fessor de Medicina da Universidade de Pásmány, de
Budapeste, o Dr. Liebermann:
cOs leigos acreditam frequentemente que uma vez
excitado o instinto sexual é necessário dar-lhe satis­
fação, sob pena de se prejudicar a saúde. istoe:
verdade?
A continência não tem consequências nocivas que
mereçam tomar-se em conta sêriamente ; ao contrário a
incontinência, pela natural comoção do sistema nervoso,
pode produzir alterações que se manifestam principal­
m ente em desordens do cérebro e da medula espinal, e,
consequentemente, em anomalias do sistema nervoso e
da actividade.

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LUTAR 153

E não se diga que há bastantes pessoas que levando


uma vida Jicensiosa são apesar de tudo sãs e robustas.
Estes exemplos nada provam. Confesso que não repugna
haver alguém de constituição tão extraordinàriamente
forte, que aparentemente possa malbaratar a sua saúde
durante algum tempo. Mas temos de pensar que nin­
gu�m sabe de antemão até que ponto chegam as suas
torças. Com todo o direito, pode perguntar-se à tal
pessoa robusta ou sã se não o seria muito mais tendo
levado uma vida moderada.
Por outro lado, não nos devemos fiar demasiado
na saúde aparente ou suposta, pela simples razão de
que em geral não nos sentimos muito inclinados a
reconhecer os nossos defeitos corporais ou espirituais;
pelo contrário, somos até muito propensos a oculti­
-los e a aparentar com frequência, por vaidade ou orgu­
lho, que as nossas qualidades são melhores do que na
realidade.
Quem vive sbbriamente e cumpre rigorosamente
os seus deveres, trabalha com seriedade e corta as com­
panhias frívolas, as leituras licenciosas, as obras teatrais
de mau gosto, desprezando-as como coisas que fazem
um negócio vil com a sensualidade e as paixões .••
sentir-se-á muito pouco molestado por excltaçôes rebel­
des, e com um pequeno es/orço de vontade podera
Jàcllmente fltncl-las. u,
Sabias que em ti dorme uma fera; porque a des-­
pertaste?
Sabias que o teu pensamento é como a pólvora;
porque brincaste com o fogo?
Sabias que não é permitido estoir:1r foguetes em
certos lugares; porque o fizeste?

111 Leó Llt'b�rmann: Az cgyte111ek es foiskolnk ,:,ofgáraihoz.


c,\os universitários e alunos das escolas supcrlorr�.• Budapest, 1912,
9-11.

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154 PUREZA R FORMOSUR�

XXIV - Pura de corpo e alma ...

Queridas raparigas, ponderai seriamente nas con­


sequências fisiológicas e psicológicas dos pensamentos
impuros, dos desejos não satisfeitos.
Os actos inibidos ou coibidos não suprimem a ener­
gia psicológica que deles é causa e que tende a descar­
regar para o exterior por actos directos ou reflexos.
Se quereis viver sãs de corpo e alma, se quereis o
equilfbrio do vosso sistema nervoso, evitai os pensa­
mentos e os desejos proibidos que levam à acção, por­
que todos sabemos, e a psicologia do subconsciente já
o demonstrou, que nenhum acto interior morre total­
mente em nós.
Muitos desarranjos nervosos não são devidos à
violência da luta da pureza, mas sim ao fogo terrlvel
dos pensamentos e aos desejos que penetram, como
lfquidos corrosivos na psicologia espiritual e corporal
do subconsciente, fazendo gastar enormes tesouros de
energia para aliment4-los na sua tendência irresistlvel
de realização. E então vêm as quedas, os estados histé­
ricos, a misantropia, o mau génio no trato social, etc.
Não é pois a pureza causa de doenças, mas sim o pre­
tender ser pura de corpo sem sê-lo também de alma.
Quando a rapariga, na sociedade que frequenta,
nas suas leituras ou assistindo a obras teatrais e pelf­
culas obscenas; peca interiormente contra a pureza e
consente que os seus pensamentos se transformem em
tiranos, não hã dúvida: essa não será muito tempo
casta nos seus actos.
Mas que à jovem pura nos pensamentos e no seu
conceito da vida, lhe seja impossível permanecer casta,
ou que a sua saúde seja prejudicada por isso no mlnimo,
nego-o absolutamente ...
Não I verdade.

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CAP(TUL'O VI

 N I M O, C O N FI A l
1- Vida pura! Alma pura!
li-Se não c o nsent e s, n ão há
pecado.
111-Uma pérola maravilhosa.
1 V -O contágio da impureza.
V -As tuas leituras.
VI- Livros.
V11 - Diários e revistas,
V 111- Quadros.
1X - Teatro, cinema.
X-Baile.
X 1 -A verdadeira senhora.
XI 1- Entre santa e santo.
XIII - O teu noivo.
·XIV-A limpeza exterior,

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XV -- Morre e ressurge I
XV 1- Almas raquíticas,
XV 11 - Robustece a tua vontade l
XVI 11 -A alegria do triunfo,
XI X - Na terra, mas não da terra.
X X-A que não sabe mentir.
XXI- Fortalece o teu corpo.
XXII -- Suporta a dor!
XXII! - Vida higiénica,
XXIV- Escolhe bem os teus ves­
tidos,
XXV - Não estejas ociosa.
XXV 1-Algunsconselhosmédicos,
XXVII - Um amigo paternal.
XXVIII- Do diário duma rapariga.
XXIX-Junto à fonte duma nova
vida.
XXX- Comigo está o Senhor I
XXXI - «Vou>.
XXXI 1- Maria é minha mãe.

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«Aquele que se vence, l'lrnce., , •

(V, MAIIA Ili! A,,R!DA - Corrupoadtacia cam Filipe IV)

o meio da vida frfvola da corte de


Filipe 1v ergue-se a voz duma mulher.
As suas palavras voam dos claustros
franciscanos de Agreda até aos salões
reais, onde a voluptuosidade e o pra•
zer fazem por vezes esquecer os sagra­
dos deveres da vida, cQue fazer,
sóror Maria?•, escreve angustiado o
monarca, e conta-lhe as suas lutas e
tentações.
«Aquele que se vence, vence:,,
lhe respondeu da sua pobre cela a clarividente e austera
religiosa.
Querida rapariga, acaso tamb�m tu, acossada p,la
tentação. me perguntarás:
- Que hei-de fazer?
- Vencer-te, não dar entrada à tentação, conservar
a tua pureza.
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158 PUREZA E FORMOSURA

Onde se guarda um precioso tesouro é que se põe


uma fechadura mais resistente. E quanto maior é a
fortuna que se guarda, melhor se ft:cham as portas contra
os ladrões. O teu maior tesouro é a pureza; guarda
pois, com incansável perseverança, as portas por onde
penetra o inimigo para roubar-te esse tesoura da tua
alma. Vigia todos os teus sentidos. Vigia os teus
pensamentos, as tuas palavras, os teus olhares, os teus
actos, e principalmente cuida em não dar o primeiro
passo em falso, porque atrás da primeira queda com
facilidade vêm as outras.
Sei bem que neste perlodo de inquietação em que
te encontras, nesta quadra em que o sangue te ferve
nas veias, tens de estar constantemente de sobreaviso,
se quiseres conservar o equilfbrio da tua alma. Mas,
agora já sabes claramente que está em jogo todo o teu
futuro; e é bem compensador combater com perseve­
rança para assegurar o grande tesouro que deve ser o
teu ideal nos anos juvenis. Este grande tesouro é o
carâcter.
1 - Vida pura! Alma pura!

Estás preparada para todos os combates, desde que


conseguiste salvar a tua pureza Sabes que para a vida
do corpo é necessária a limpeza - casa limpa, fatos
limpos, comidas limpas, ar puro - e sabes também
que a primeira condição de vida para a tua alma é uma
moral pura.
Ao esfregar uma escada, começa-se o trabalho pelo
degrau superior; de modo análogo, para purificar a
tua vida, hás-de começar o trabalho de limpeza pelo
mais alto: pelos pensamentos. Conserva, pois, a
pureza não somente nos actos e nas palavras, mas
também em todos os pensamentos; porque quem peca
contra esta virtude, seja como for, ainda que só pelo
pensamento, já começa a minar o precioso palâcio da
sua alma, e será questão de tempo o desmoronamento

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ÂNIMO, CONFIA! 159

definitivo. «Bem-aventurados os puros do coração,


porque eles verão a Deus.•
O espirita da pureza é tão sensível como o cristal
da Boémia. Vai-se deitando em água fria a matéria
que o há-de formar; com tal cuidado, porém, que não
se lhe piJde tirar o mais pequeno fragmento, porque ao
primeiro toque o cristal desfaz-se em pó ... Tu também
seffis completamente pura - pura até nos pensamentos
- ou te tran�Jormards em pó.
Neste ponto não há meio termo.
Cum a pureza, com a honra, não se pode regatear
nem é posslvel ser honrada a meias, nem o é tampouco
ser pura a inh:rvalos. E muitas vezes a impureza do
pensamento e da fantasia podem constituir um perigo
maior para a saúde que o próprio acto proibido.
«Guarda o teu coração com toda a vfglldncia porque
dele emana 1z vida.» < 1 >
Santo Agostinho, que na juventude sofreu grandes
tentações e teve profundas quedas, explica desta maneira
a sua triste situação: e Antes de cometerem o pecado
da desobediência, os nossos primeiros pais dominavam o
instinto sexual, como hoje dominamos, por exemplo, os
nossos dedos. Movemo-los como e quando queremos.
«Mas não sucede o mesmo com os rebeldes incen­
tivos da concupiscência. Levantam-se e despertam em
nós pensamentos, sentimentos, desejos, movimentos,
mesmo quando não queremos; e não cessam por mais
que o desejemos. Declaro-lhes guerra; esforço-me
por pô-los em fuga .•. ; inútil: não me obedecem.
O homem - prossegue o Santo - cometeu o desatino
de desobedecer ao Senhor, no Paraisa. Agora Deus
impôs-lhe como castigo e como lição uma coisa seme­
lhante; uma parte do homem - o desejo sexual - não
obedece, mas segue os seus caprichos contràriamente à
razão e à reflexão. :.

(1) Prové, blos, l V, 23.

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100 PUREZA P. FORMOSURA

Que se conclui disto? Que não é licito suscitar


em ti, sem motivo e voluntàriamente, este dilúvio que
tudo invade ... , se ele principiar sem culpa tua, não te
� licito permitir que ele avance e te domine. Nos pri­
meiros momentos, a voz do instinto não é mais do que
uma tentativa; ainda podes opor-te, podes, orientar
a tua atenção para outros pontos e . . . estaris si e
salva. Mas se tu cederes ao primeiro pensamento, já
se te escapou a rédea da mão, e não sabes qual será
o fim.
11- Se não consentes, não hã pecado

Serão os teus pensamentos, os teus desejos repen­


tinos e veementes os que te oferecerão maior dificuldade
porqut! são os que menos dominas. Desejo, por isso,
chamar-te a atenção para este particular e assim livrar-te
de escrúpulos vãos. A inclinação para o mal não é
pecado. O que importa é a decisão da vontade. Se lhe
pões um limite, a inclinação natural transforma-se em
carácter; pelo contrário, se p�rmites que se apodere
de ti, transformar-se-á em paixão.
Nio somos responsáveis dos nossos pensamentos
enquanto não são conscientes, isto é, deliberados e con..
sentidos.
Notarás, muitas veies, que em qualquer lugar e
momento-acaso a estudar, a jogar, ler ou mesmo
rezar-te assaltam de repente maus pensamentos, e a
tua consciência delicada pensa com preocupação se não
terás jà maculado a pureza da tua alma. Tranquili­
za-te. Se chegaram sem dares conta deles, não és res­
ponsável. Não evitaremos que os pardais voem por
cima da nossa cabeça, mas sim podemos evitar que
pousem e se aninhem nela. O que importa é ser
forte, agora, neste instante e em seguida,... sem um
momento de demora I Toma com pulso firme a rédea
dos teus pensamentos. põe em fuga o hóspede indese­
jável e fica descansada.

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ANIMO CONFIA 1 161

Que hás-de fazer? Primeiramente, repeli-los com


um acto positivo da tua vontade, pedindo ao Senhor,
graça pera jamais consentir neles. Depois, ocupar-te em
qualquer outra coisa, afim de que os maus pensamentos
sejam imperceptivelmente substitufdos por outros. Apli­
ca-te a uma leitura interessante, joga, senta-te ao piano,
trabalha, estuda, cose, reza, canta. até que a tua fantasia
esteja limpa de toda a imagem impertinente. Mas
fá-lo com tranquilidade, sem te angustiares nem excitares
com isso.
As imagens torpes são como as moscas zumbindo
� pousando em nós. Não vale a pena arreliarmo-nos.
E difícil afugentá-las e inútil ficarmos irritados, porque
elas voltam ainda mais insistentes e descaradas.
Não entres em combate imediato com tais pensa­
mentos; quando te voltas para eles - ainda que seja
com o fim de combatê-los- já ganham força. O mais
prudente I virar-lhes as costas, deixá-los. Chamam ?
Batem à porta da tua alma ? Insistem? Diz para ti
mesma com desdém : Aqui não entrareis I Despa­
che-os na primeira ocasião, porque se te pões a con­
versar com eles tornam-se perigosos. Não te assustes;
continua em paz o teu caminho.
Os cães ladram-te com maior impertinência se
notam que tens medo deles. Mas se passas com san­
gue frio, despreocupada, baixam a cauda e, envergo­
nhados, vão meter-se na sua casota.
Aprende a manter esta serenidade perante os meus
pensamentos e diz-lhes com desprezo: «Para quê
tanta zaragata? De qualquer maneira nada consegui­
reis. É simplesmente imposslvel que eu consinta nesse
pecado.•
Não te desesperes ainda que tenhas de combater
der vezes num dia ou numa hora contra tais pensa­
mentos e desejos. Nisto é preciso teres ideias claras,
porque habitualmente as raparigas de consciência deli­
cada desperdiçam muitas energias e esfalfam-se na luta
espiritual, por falta de orientação.
11

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]62 PUREZ-\ E. FORMOSURA

O instinto da carne e a sua maturação entr;;m no


plano de Deus; portanto, se em ti surgem tais pensa­
mentos, isso é uma consequência completamente natural
do processo do desenvolvimento orgânico; nem sequer
chegam a tentação. Para cortar-lhes o caminho e
impedir que cheguem a ser pecado, procede como se
não desses por eles.
Não te assustes, não te defendas, não te ponhas
nervosa, porque assim se fixariam ainda mais; afas­
ta-os com uma superioridade calma, dizendo para ti
própria: «Ai cabecita louca, que pensamentos kns 1
Senhor meu, Jesus Cristo, ajudai-mel•
E não te preocupes. Se tiveres consentido, conti­
nua a lutar e não desanimes, ainda que te pareça que
tudo é inútil, que eles não se afastam, que não conse•
gues afugentá-los.
As tentações frequentes não são sinais de pecado.
mas um bem para a incolumidade espiritual, já que o
inimigo não assalta com renovados ataques, senão a
fortaleza que apesar de tudo se ergue intacta. O sol­
dado que se vê atacado pelo inimigo não tem motivo
para envergonhar-se; a desonra está em render-se.
Poderá confortar-te saberes que não houve pecado, se
distralda e por casualidade te entretiveste com tais pen­
samentos, porque o não fizeste voluntàriamente. Se com
verdade não queres manchar a tua alma, se queres con­
servá-la pura, - sairás triunfante de todos os combates.
Non nocet sensus ubl deest consensus (SÃO BERNARDO).
«O pecado não está em sentir, mas em consentir.>
Enquanto lutaste não pecaste! O pecado começou
quando a vontade cedeu.
Aconteça em mim o que acontecer, se a minha
vontade não consente não há pecado. Do que possa
acontecer enquanto durmo, por mais vivo que seja o
meu sonho, eu não sou responsável, a não ser que
tenha dado origem a estes sonhos licenciosos com o
meu comportamento trivoto durante o dia, sabendo
o que poderia acontecer.

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ÂNIMO. CONFIA ! 163

Portanto, cede o caminho quando vires o cão rai­


voso, não prest�s atenção ao desejo, dirige a outras
coisas a tua atenção I Porqué? Trata-se duma coisa
asquerosa, humilhante? De_ maneira nenhuma. O desf­
gnio sublime do Cnador é santo; não o deves profanar
ou manchar.
! 11 - Uma pérola maravilhosa

Conta-se que nos tempos do rei Artur, herói legen­


dário da Grã-Bretanha, se celebrou um animadíssimo
torneio em Camelot.
Um maravilhoso brilhante. glória e orgulho dos
escrfnios reais, era o prémio destinado ao vencedor da
lide. Muitos cavaleiros se apresentaram com armaduras
luxuosas, as cabeças ornamentadas de flamantes plumas.
A luta trava-se com dureza. Distingue-se entre os
combatentes um gu�rreiro cujo escudo é desconhecido
e que leva um penacho de seda vermelha bordado a
pérolas, preso ao capacete. A sua espada brandindo
sobre os adversários derriba-os com rapidez pasmosa.
Ninguém sabe donde sai tanta força � destreza.
Vence os melhores campeões; a pé, a cavalo, com
lança, e de todas as maneiras que as leis do torneio
autorizam.
A glória da sua dama e o formoso brilhante aumen­
tam a sua destreza e o seu brio até ao heroísmo,
conduzindo-o à vitória, através de t..idoc; os perigos que
sucessivamente puseram em risco a sua vida.
Um prémio mil vezes mais valioso está oculto na
alma de cada rapariga; o mal é que muitas jovens
ignoram-no e jogam imprudentemente com esse prémio
de valor imenso. Quantas maculam para sempre a
sua alma, tão pura, tão branca pouco antes I Quantas
a expõem imprudentemente a graves perigos I Quantas
perdem a precicsíssima pérola da virtude porque não
conhecem que o seu preço é incomparàvelmente supe­
rior ao brilhante do rei Artur.

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PlJRl!ZA E FORMOSURA

Nas grandes cidades, há entre as ruas passagens


estreitas que encurtam as distâncias: são as travessas.
Não há maneira de as conservar limpas. Passam muitas
pessoas. . • e vão deixando detritos, sujidade. Quantas
almas de raparigas são comparáveis a estes passadiço�!
Pensamentes, desejos, palavras, olhares, ... vão e vêm,
entram e saem a stu belprazer. Será d� estranhar que
chegue a amontoa-se nelas a impureza, o lixo?
A jovem prudente vigia a sua casa. Diante das
portas põe de guarda a sua vontade disciplin..:da, e antes
de deixar entrar, exige a cada um o seu p;issaporte.
Queres ver como?
Vai pela rua adiante e chega defronte duma mon­
tra, em que se apresentam vários quadros. A curio�i­
dade desperta imediatamente: vejamos esta montr2 ...
De repente o St'U olhar tropeça com um quadro obsceno,
imoral, vergonhoso. Cuidado I Grita-lhe a vontade!
Tu não deves olhar... A jovem vence a sua curiosi­
dade,_ vira as costas e segue.
E assim que deves exigir o certificado a cada pen­
samento, a cada conversação, a cada peça teatral, a
cada livro; antes de franquear-lhes a i:=ntrada da tua
pequena fortaleza, do te_u pequeno templo, da tua alma,
submete-os e exame. E bom? Pode entrar. É mau?
Repele-se. Não se lhe abre a porta de modo algum.
Se procederes deste modo, não tenhas medo de nada.
Serás uma jovem heróica, de alma recta, ainda que
tenhas de fugir cem vezes dos maus pensamentos. Neste
ponto, valente ê aquela que foge imediatamente. Nesta
luta, venctm os que fogem, repetia São Filipe de Néry.
O importante é, pois, não consentir jamais, nem
por um momento, em pensamentos obscenos. Noutras
coisas, conseguirás êxito se nelas pensares com atenção;
aqui, a condição do êxito é pensar nelas o menos
possível.
Ao passares por um jardim, se deres conta de que
um asqueroso verme caiu sobre a tua mão, não te
deténs a examiná-lo, mas atira-lo fora, imediatamente,

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ÂNIMO, CONFIA 1 165

porque doutra maneira ... sujar-te-ia. E se te salta uma


faúlha sobre o teu vestido, não a contemplas tranquila­
mente, não examinas como vai queimando o tecido,
como aum�nta cada vez mais o circulo, mas apágá-la
no mesmo instante, porque doutra maneira . . • Assim
terás que expulsar e sufocar os pensamentos desonestos.
Chamo-te a atenção em especial sobre um ponto
que pod� encher de escrúpulos as raparigas de cons­
ciência delicada, se não tiverem ouvido íalar dele.
Quando começa o teu desenvolvimento corporal, sentes
às vezes durante o sono, em teu corpo, certa agitação ou
movimento sensual. Não te perturbes. Isto não é
pecado, mas efeito natural do desenvolvimento do
organismo, da maturidade �exual.
E, ainda que com menos frequência, pode ser
devidu a debilidade dos nervos, ou ao facto de te terei
cansado demasiado no dia anterior, de teres excitado o
espirita com qualquer acontecimento, etc. Isto não
depende de ti, como não depende de ti o bater do
coração ou a respiração; é coisa absolutamente natural.
Mas a excitação, o prazer sensual que acompanha
este fenômeno. também não é pecador Não porque
não o provocaste, Também isto é inteiramente natural.
Mas, alerta I Dai ao pecado é um passo. Pecado
seria comprazere�-te nisso, em estado de plena cons­
ciênciH, dares o consentimento da tua vonta de, ou, o
que é pior, provocares tu mesma de qualquer maneira
a excitação. Nestes casos, levanta a Deus o teu espírito,
reza, pen sa noutra coisa e deixa a natureza seguir tran ..
quila o seu caminho até adormecert>s de novo; se nada
fizeste voluntàriamente, a tua alma guardná a sua ino­
cência.
Nos anos da adolescência, notarás muitas vezes
certa excitação, ou prurido, sem que haja qualquer
motivo especial. Se isto acontecer espontâneamente,
não lhe dês importância: é também um fenómeno do
desenvolvimento físico; mas cuida de que a roupa
interior, por ser justa e quente ..• o modo de sentar-te ...

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166 PURl'ZA e FORMOSUR,\

os movimentos imprudentes ... os toques desnecessário� ...


te não provoquem, porque a excitação sexual busc2da
de propósito, é pecado grave.
Quero lembrar-te mais uma vez: tudo depende da
vontade, do consentimento. No homem há o apetite
sensitivo, apetite rasteiro, em que a vontade não pode
mandar sempre. Por exemplo: visitas uma exposição
e o teu olhar depara por casualidade com um quadro
indecente, O apetite sensitivo desperta imediatamente,
instiga-te ao pecado, excita-te. Isto, porém, não é um
acto consciente. Não és responsável, portanto. A tua
inteligência compreende bem o que se prepara contra
ti; talvez se desviares o olhar nesse mesmo instante
e o fi:rares noutro quadro, desapareça a recordação do
primeiro... Às vezes isto é tão fácil I Em qualquer
caso, para o pecado, é necessário que tenha havido não
só a sensação do apetite sensitivo, mas também o con­
senll mento da vontade racional. E para este consenti­
mento é necessário que tenhas advertido, reflectindo
que tal olhar, tal complacência, tal desejo, eram pecí!­
minosos.
IV - O con!_ã_gio da_impurez�

A fantasia ou imaginação é regularmente o campo


de batalha em que se decide a sorte do combate tra­
vado pela pureza. É o alvo do primeiro f.Jgn; as pala­
vras e as obras não passam de gotas de água ; a fonte
está no antro oculto da fantasia. Por tal motivo a
jovem que é dona cta própria casa, a que �overna os
seus próprios pensamentos, procura acima de tudo e
antes de mais nada. preservar de contaminação a própria
fonte. AI é que está o tssencial.
Não esqueças que o contágio mural se prop:1!{a
com mais rapidez do que a peste uu a cólera mais
i11knsas. Temos de precaver-nos contra a imoralidade
como nos defendemos das enfermidadts contagios::s,
cuja melhor medicina é, como bem sabes, a higiene.

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ÂNIMO, CONFIA ! 167

Onde se declara a cólera, aparecem no dia seguinte


cartazes chamando a atenção de toda a população,
pedindo-lhe que se esmere na maior limpeza possfvel:
que ninguém toque na boca com a mão nem coma
frutos que não estejam perfeitamente limpos; que se
lavem com frequência as mãos; que não se permita
uma só mosca sobre a comida ...
Eu também quisera pôr cartazes, escritos com letras
de fogo, na alma das jovens, com as regras preventivas
para conservar a pureza.
- cMinha filha, alerta com os bacilos que propa­
gam a imoralidade I Previne-te porque eles pululam
por toda a parte. Ê possível apagar um incêndio, é
possível canalizar com diques uma torrente ... mas o
contágio da imoralidade é mais devastador que os
incêndios, é mais perigoso que as inundações.•
- «Sim. Ê necessário vigiar. Dir-me-eis. Mas
sabe V.• Rev.• em que mundo de pecado, em que
mundo de perturbação e confusão vivemos? Temos
de estar de sobreaviso para conservar a alma pura. Sim.
Mas se em torno de mim se levantam nuvens de espuma,
e se a onda suja de mil e mil tentações ameaça cons­
tantemente submergir a minha alma?•
Sinto com pesar a terrivel e legitima acusação que
vibra nestas e em semelhantes queixas, que muitas
jovens de alma levantada lançam contra a vida moderna.
Sinto, querida rapariga, que tens razão ao acusar-me;
mas permite-me, não obstante, que eu não desista na
minha luta, nas minhas exigências: tu tens de perma­
necer pura de coração e de c0rpo.
- Mesmo no meio das mil e uma tentações da
vida?
-Sim.
- Mas se hoje em dia se exibe tanto lixo nos
cinemas 1? E se, no teatro, deparamos com tanta
crueza 1?
- Mas, precisamente, quem te obriga, a ir ver essas
fitas ou peças?

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168 PURRZA E FORMOSURA

- Mas se nos chás dançantes toda a gente se


diverte com coisas nada limpas 1
- E obrigar-te-á alguém a �ntrar �m tais lugares?
- Mas, se os cartazes são tão descarados e os
escaparates estão tão cheios de quadros impúdicos 1.
- Que necessidade tens de contemplá-los?
- Se até na ruas nos lançam gracejos que fazem
corar a mulher honesta!
- Procura não os provocar pelos teus vestidos,
pelo teu andar •..
- E se pessoas trocistas e tagarelas aproveitam
a minha pres,nça para dizer grosserias e obsceni­
dades?
- Corta a conversa, não as escutes. Por muitas
que sejam as pessoas corrompidas, acredita-me, há
todavia e talvez em maior número do que tu suspeitas,
jovens de vida pura, que têm de lutar como tu, e que
em vez de se desalentarem no combafr, em vez de
perderem ânimo e força, se agigant,!m para a luta.
Trava amizades com elas: com as almas nobres e
puras que merecem respeito.
Jovens há que se me têm queixado desta maneira:
•Que torturas me causa esse instinto que despertou em
mim l Quantas tentações perturbam os anos da minha
juventude I Porque não despertam mais tardt: estes
anseios? Porque nos molestam numa ida4e em que
ainda não podemos pensar no casamento? E tão difícil
o combate!•
Não imaginam, talvez, estas raparigas quão sàbia­
mente falam ac) queixar-se deste modo. Com efeito,
boje em dia, a tendência sexual desperta mais cedo, do
que o pede o natural desenvolvimento, o crescimento
normal do organismo juvenil. A causa está em que :i vida
moderna se afastou demasiado dos s�us caminhos
naturais, fustigando a cada momento a imaginação e a
sensibilidade com estlmulos a que se não pode ser indi­
ferente. Os cinemas, os teatros, as leituras, os anún­
cios, os numerosíssimos bailes e diversões, a vida

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ÃNIMO, CONFIA! JõQ

demasiado ociosa, a falta de e:z:erclcio corporal, as comi­


das excessivamente condimentadas, o á1cool, etc., provo­
c-:1m o organismo da jovem da cidade muito antes e com
muito maior veemência do que acontece com a rapariga
do campo, que não só se fatiga em trabalhos corporais
mas l�va uma vida mais natural e simples, num ambiente
absolutamente isento de solicitações precoces. Con­
vém, finalmente, notar que a rapariga entregue ao
trabalho espiritual tem mais tentações desta 11atureza
que a jovem da provincia.
De tudo isto se conclui que é muito mais complt!ta
11 preparação moral necessária a uma do que à outra.
Nenhuma porém pode furtar-se ao perigo do contágio.
que existe em toda a parte e que em toda a parte
pode contar com a cumplicidade dos nesses próprios
instintos.
V - As tuas leituras

Cuidado 1 Cuidado com os olhos I Não permitas


nunca. sob nenhum pretexto, que eles se fixem em nada
que possa ofender no minimo a pureza da tua alma.
Não esqueças que no mundo actual pulula em torno
de ti uma multiplicidade de inimigos.
Na rua, no teatro, no cinema, vês e lês coisas que
ocultam milhares e milhares de tentações. Vigia em
toda a parte e sê cautelosa . • . Mas vigia de modo
particular as tuas leituras, porque este ·inimigo é o
mais traiçoeiro. Pode vir-te duma pessoa qu� julgas
amiga, ;1té do próprio colégio onde vais para te educar,
para adquirir a formação da tua alma ...
Há livros fr(volos, que são o escãrneo não só da
moral mas também do bom estilo literário. De maneira
que, embora te aconselhe que leias muito - é um pos­
tulado da cultura -peço-te não menos encarecid�mente
que não admitas livro algum que se ria da moral, pro­
ponha conceitos frlvolos da vida e iomente a liberdade
de costum�s, aberta ou veladamente

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170 PURl::ZA E FORMOSURA

Esses livros, mesmo no que respeita ao estilo, são


em regra torpes e imundos; por este motivo é pena
perder o tempo com eles. Tal cliteratura• não ajuda a
cultura e abre um abismo sepulcral em que se enterra­
rão desfeitos em pô, os belos sonhos das mães e os
nobres ideais das raparigas.
Mas, por dE:sgraça, há mtstres do bom estilo, espe­
cialistas da arte de escrever, homens que receberam de
Deus uma pena maravilhosa e que se não envergonham
de molhá-la no lodo. Esses, com ondulações de ser­
pente, descrevem as cbelezas•, as calegrias• e os «gozos•
da vida impura, que desejam excitar e propagar. Tende
cuidado. O estilo é o homem, como vós sabtis. Estes
escritores são os mais ptrigosos, porque, com o poder
irresistivel da sua pena, acabam sempre. mais tarde ou
mais cedo, por atrair à sua própria degradação a alma
dos seus leitores.
«Viel Talent und wentg Charn.kter•, «muito talento
e pouco carácter•. Esta frase poderia pôr-se como rótulo
nos hvros desses escritores que, embora se considerem
semideuses, são . . . uns imundos irracionais. Por muito
artlstica, porém, que fosse uma taça, não seria motivo
para a levares aos teus lábios e sorver o veneno contido
nela. Cuidado I Que nesses livros cartlsticos• não
esteja a morte da tua alma. Pensa que ninguém passa
sobre o lodo sem se manchar. E para quê escavar
numa esterqueira - ainda que esteja semeada de oiro
em pó 1 - se, graças a Deus, podes encontrar na nossa
literatura abundantes diamantes? Temos de reconhecer
com profunda tristeza que a literatura actual, a !itera•
tura e moderr.a•, não é, em grande parte, mais que um
panegírico de falsos amorc:s, de abusos e aberrações da
vida sexual. Se esse grupo de novelistas e poetas
tivessem razão, teríamos de admitir que o homem se
eleva, não pelos seus pensamentos nobres, não pelos
seus desejos santos, mas somente pelos seus baixos �ns­
tintos, pelos seus desejos sexuais. Mas nestes. precisa•
menlt, ele assemelha-se a qualquer animal. O que,

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ÂNIMO CONFIA ! 171

mesmo nisto o distingue, é a orientação dos seus instin­


tos, dentro duma norma racional e para um fim superior.
De modo que. . • está alerta e sê precavida nas
leiturds. Que tristes são estas palavras que uma rapa­
riga �screveu: cAo principio, buscava o prazer sensual
niiS 1:nvela�; mais tarde procurei-o, na realidade. >
Não imites as raparigas que lêem a torto e a direito
tudo quanto encontram ao alcance da sua mão. Quem
devora tudo o que aparece arru(na fatalmente o seu
estômago!
VI - Livros

Não penses agora que vou falar-te daqueles céle­


bres livros de cavalaria que faziam o encanto das mulhe•
res d.• antanho. É pena perder o tempo com tais Ieitur,s.
Excitam a tua fantasia e enchem-na de romantismo oco,
Qmmdo há tantos livros óptimos que não tens tempo
de ler, é loucura aproveitar os teus momentos livres com
esta literatura vazia.
Mas. não é precisamente a esses que desejo refe­
rir-mi:'. E sobretudo aos livros imundos que talvez já
tenhas lido, a essas revistas humorísticas sem pudor e
a esses folhetins que alguma das tuas companheiras lêem
às furtadelas em casa, cheias de emoção, com o coração
palpitante, e a fantasia incendiada. Tais leituras são tão
prejudiciais ao sistema nervoso como o álcool, a nico­
tina ou a cafelna.
Suponho que te sentirás ofendida, se alguém tiver a
ousadia de oferecer-te semelhantes leituras e de querer
iniciar-te nos seus segredos.
Mas bastantes mulheres raciocinam de modo muito
estranho no que respeita a este particular. Lêem sem
tom nem som, sem encomendar-st: a Deus nem ao diabo,
o primeiro livro que enc,intram, mesmo sabendo que é
dos que ofendem as suas crenças religiosas e a sua
moral. É que .•• •eu ap�nas quero saber que coisas se
escrevem por af; de qualquer modo, isto nada me pre-

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172 PUREZA E FOkMOSUIU

judicará; não leio com má intenção; mas por curiosi­


dadt'. » Concedo sem reparo que se não leia o livro
com má intenção, mas por curiosidade. O que não
posso admitir é que esta leitura não prejudique.
Tu também não acreditarias em mim. se eu te dis­
sesse que não morreria por entrar na farmãcii.J .,1 fim
de provar todos os venenos que ali se podem encontrar,
desde que quero prová-los •náo com má intenção,., «não
para que me prejudiquem•, mas «só porque quero saber
como eles são.• E, sem dúvida, amada jovem, nas pági­
m.s de muitos livros há um pó mDis venenoso qu� o
mais forte cianeto de potássio. Nenhuma leitora é c;1paz
d� ln esses livros sem sofrer os eft'itos desse pó ...
Há raparigas realmen t e incomp1eensfve i s: se
encoutram um cabelo na sopa, já não podem continuar
a comer; se sentem algum cheiro no quarto. já se
incomodam, não o suportam; mas, ao mesmo tempo,
devoram os livros mais sujos e pestil�ntos.
A própria Teresa de Jesus, depk:ra o tempo que,
sendo menina, gastou na leitura de livre� de cavalaria,
nem todos, aliás. inteiramente dtcentes.
«Parecia-m� que não eram mal gastas muitas horas
do dia e da noite em tão vão exercício ... , e em tal
extremo nisto me envolvia que, se nao tivesse um livro
novo, me puecia não ter alegria.,
Seja a tua delicada consciência o melhor termó­
metrn das tuas leituras. Escolhe um livro, o que qui­
seres, o mais artístico dos escaparates. Se encontrares
nele uma passagem que ofe-nda no mínimo a pureza da
tua alma, tem suficiente força de vontade para passar
essas páginas sem as ler, e se te encontras repetidas
vezes com semelhantes passagens, deixa o livro, quei­
ma-o. Não te arrependerás se seguires t'Sta t'::'gra e
toma para teu lema o do antigo poeta:
«Meu Dt!US, dai-me um coração recto e uma inteli­
gência esclarecida. Mas se tiveres de negar-me um
d1.::stes dons celestiais, nega-me " ciência deslumbrante,
e dá-me um coração puro., (fERBNC VERSEOHY.)

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ÂNIMO CONFIA 1 173

Na tua idade é imprescindível que leias, além de


novelas e livros científicos, alguns livros sérios. dos que
formam o cardcter e educam a vontade; quer dizer:
em vez dt: lê-los como costumas fazer com as novelas,
tem: de meditá-los, saboreá-los, capitulo por capítulo.
Verás que recta orientação te dão estes livros � estas
meditações e como tonificam a tua vontade. Natural­
mente, para este fim hás-de escolher os melhor�s
livros.
Não quero engan21-te dizendo que é fácil esta
esp�cie de leitura, pois que encerra pensamentos pro�
fundíssimos. Mas, se durante o dia podes consagrar
dez ou quinze minutos a um dtstes livros, farás os teus
trabalhos com mais ânimo e com uma energia mais
fresca. Seria um costume muito proveitoso lêr, cada
noite, depois das tuas orações, algumas frases dos
EvanJ.:.""'.elhos e meditá-las até adormecer. Experimenta e
verás que profunda influência exercem na tua alma.

V 11 --- Diãrios e revistas

Não ac�itarãs indescriminadamente estas leituras.


Dtves escolher. E julgo até conv�niente dizer-te qu�
não perderia muito a tua formação espiritual St', durante
os teus primeiros anos de juventude, não os lesses.
Terás tempo mais tarde para isso.
Como, no entanto. hoje se encontra muito espa­
lhada esta espécie de leitura, é natural que também te
interesses pelos acontecimentos do dia. Se dispões d�
tempo, não k proibo em absoluto que o faças; mas
alerta com estas publicações. Nem todas te convêm.
A maior parte delas saem das mãos de editores
cuja preocupação principal é o maior êxito material
possível; cuidam, por isso, muito pouco de pôr os seus
artigos e ilustrações de harmonia com os princlpios da
honra ou com os conceitos morais da vida. Os contos,
as poesias, as novelas - para não falar das secções de

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174 PUREZA E: FORMOSURA

correspondência e anúncios, abertamente ao serviço da


imoralidade, - não passam de historieti!S ;Jmorosas, que
ou apregoam a vida imoral às claras, ou a introduzem
subtilmente no ânimo do público.
Querida rapariga, sabes já qual é o teu dever neste
ponto. Há diários e revistas de primeira categoria e de
orientação segura, que podes ler com tranquilidade;
mas se por qualquer motivo tiveres de ltr outros perió­
dicos, cuidado sempre com os contc,s e novelas que ali
se publicam. Como regra não leias, porque se devemos
fugir da s�rpente é antes dela nos ter mordido. Depois,
é inútil.
VIII -Quadros

Sê cautelosa também no que refere às exposições,


tanto de escultura como de pinturas. O quadro, a
estátua, quaisquer objecto de exposição, sàmente são
dignos de ser contemplados se despt!rtam em ti pensa­
mentos nobr�s. Quando ofendem a tua alma, no mfnimo
que seja - ainda que se trate da Vénus de Milo, de fama
universal - o teu dever é desviar o olhar. f que dizer
dos chamados cpostais artísticos• que sob o lema de
«história da ade>, escandalizam e instigam muitas vezes
ao pecado?
Os artistas clássicos da Antiguidade e da Idade
Média apr�sentam, frequentemente, o corpo humano
despido; as suas obras, porém, não estão orientadas
para excitar a sensualidade, mas para irradiarem o poder
do espírito, este poder que comunica ao homem domí­
nio sobre o corpo. Eles procuram conciliar o sensível
com o suprasensível e representar, no corpo despido, o
corpo glorificado; nas suas obras, o rosto, distingue-se
por uma expressão de e:z:traordinária gravidade; o pró­
prio corpo nu leva selo de nobreza divina 1
1: possível que até essas estátuas anti�as perturbem
a tranquilidade da tua alma delicada; em tal caso, não
as olhes.

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ÂNIMO, c:)NflA 1 lí5

O que f incontestável é que os artistas modernos,


na sua maioria, não intentam com os nus outra coisa
senão txcitar a sensualidade; ainde mais, pintores há
que se aproveitam do nu para encobrir o impotente e
inepto da sua arte.
Não dês crédito às razões que algumas pessoas
apresentam para defender teorias diferentes: «O corpo
do homem também foi criado por Deus; portanto não
pode havt::r nd� nada indecente ou que me não seja
lícito olhar. > Sabes a que extremos levaria tal �outrina ...
Severa contiJ!O mesma, não olhes srm um mntivo sério,
nem mesmo- no teu próprio corpo, nac1a que possa
excitar as baixas paixões. Verdade é que 0Pus criou
o corpo do humt!m e que tste corpo é uma obra
prima. Nele descobrimos a mão do Cri;?dor e a sua
providência admirável e amorosa com maior facilidade
do que em qualquer outra criatura. O mal, claro está,
não se encontra no corpo humano, mas sim na fraqueza
de quem o contempla.
Com isto deve contar tanto o artista como tu.
Por mais acabados e artlsticos que sejam, o quadro, a
estátua, a película, se provocam as nossas inclinações
pecaminosas. não podem pretender a categoria de ver­
dadeira arte. Porque obra-prima é aquela cuja con­
templação não é perturbada por nenhuma excitação
grosseira. Corolário do prazer est�tico, é a serenidade
da alma.
Sim; para nós o corpo humano é santo e pode
ser objecto do nosso interesse; mas só na medida que
serve de instrumento da alma e quando manifesta os
seus sentimentos e afectos. No momento em que o
artista mostra o corpo por si mesmo, já reduz a alma à
escravidão; o estado de desordem por ele assim
criado ofende o nosso sentido moral e ei:cita a sensua­
lidade.
Não só as leis da ética, como também as da esté­
tica, exigem que só se apresente nu o corpo com o fim
de manifestar fenómenos espirituais e nunca por si

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176 PUREZA E FORMOSURA

mesmo. Faz subir o sangue ao rosto pensar que os


escultores pagãos, gregos e romanos, procediam muito
mais correctamente neste ponto que os pintores e escul­
tores cristãos dos nossos dias. As estátuas antigas -
ainda que despidas - encontram-se tão regularmente
saturadas de espiritualismo e ddicadeza, que não nos
escandalizam. Pelo contrário, os nus dos artistas moder­
nos não passam, muitas vezes, dum foco de pensamen­
tos imorais e baixas concupiscências.
Que fim têm em vista, nos salões e nas €Xposições.
os intermináveis nus, as cacademias• dos pintores moder­
nos, em regra os de menos talento? cQuerem fazer
arte?• «Querem uma contt!mplação abstracta, esti­
tica?• Não tomes a mal se te digo, sem rodeios, o
que querem: querem explorar propositadamente, os
instintos do bruto que há em nós. Queres prestar-te
à ignóbil ei:ploração?
Resumindo: é-te permitido contemplar um quadro
ou uma estátua do nu? A resposta depende das cir­
custâncias: 1.ª - Que fím teve em vista o artista ao
apresentar despido o corpo humano? 2 • - Que espé­
cie de temperamento é o teu?
Se o fim do artista foi produzir uma excitação
impúdica e exaltar os instintos animais - e, por des­
graça é este o objecto da maioria dos quadros
modernos -- , entao passa com asco diante dessas
obras. Se ao contrário, o artista se propôs representar
o corpo humano para e�pressar assim mais fortemente
uma ideia elevada e moral por exemplo no magni­
fico corpo de Laocoonte •-. então podes contemplá-lo.
Mas neste caso, toma em conta a segunda condi­
ção: at�nde ao temperamento.
Há raparigas que pelo seu sangue frio ou pela sua
excelente formação dominam perfeitamente a vontade,
a ponto de tais obras não as perturbarem; estas podem
olhar ordinàriamente os nus sem qualquer perigo.
Oxalã todas as jovens tivessem este domlnio das suas
paii:ões.

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ÃNIMO, CONFIA 1 177

Há outras que, no momento, não são assaltadas


por maus pensamentos mas o são mais tarde; em tal
caso, apenas se lhes apresentem esses pensamentos
devem procurar afastar a contemplação do quadro, da
estátua, pensando noutra coisa, lendo ou ocupando-se
em qualquer trabalho.
finalmente, há outras excessivamente sensfveis,
que não podem contemplar as obras-primas sem serem
acometidas de maus pensamentos; estas não devem
contem piá-las.
Portanto, qual é a regra? Não olhes nada que
esteja para além das tuas forças, que suscite em ti maus
pensamentos que não possas depois dominar.
Não esqueças, porém, que hã quadros e estátuas
demasiado fortes, demasiado crus, para toda a rapariga
que estime o seu pudor.
IX-Teatro, cinema

Também devo chamar-te a atenção para o perigo


do teatro e do cinema. A critica dos periódicos, esplên­
didam·ente paga na sua maior parte pelos autores ou
empresários, louva encomiàsticamente todas as peças,
de modo que é quase impossível saber antecipadamente
se vão impingir-te ou não, durante três horas as imo­
ralidades mais refinadas.
Críticos de fama mundial, crlticos imparciais, têm
afirmado que hoje em dia o teatro, e sobretudo o cinema,
têm muito pouco que ver com a arte.
Tu mesma terás podido observá-lo. Basta deitar
um lance de olhos à tua volta e de há alguns anos
para cá. Em que teatro se representam as obras dos
grandes dramaturgos, as peças clássicas, as obras con­
sagradas? Se houve excepções, foram rarfssimas.
Ao contrário, as obras ,modernas•, saturadas de
imoralidade, adultérios, seduções, amores secretos, são
o pão nosso de cada dia. O vulgo aprecia mais
estas. . . dão maior rendimento . . . Concordo. Mas
12

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178 PUREZA B FORMOSURA

que ninguém advogue em favor de tais teatros, sob o


pretexto de cultura.
Se tivessem razão alguns dramaturgos e novelistas
modernos, teríamos de fazer constar com assombro,
que o objecto mais sublime e elevado que se pode pro­
por ao homem é a satisfação da vida sexual, dos baixos
instintos. Mas é este na realidade o fim do homem?
Será precisamente por este ponto que nos elevamos
do nfvel do animal ? •••
Onde achar, hoje, uma obra teatral sem uma his­
tória amorosa? Ainda mais, sem relações pecamino­
sas? O que fica de semelhantes obras no ãnimo do
espectador é que o objectivo principal da vida é o
amor. E isto é mentira. O amor. este amor de novela
e teatro, limita-se a uns escassos anos na vida humana, e
ainda durante estes anos é sàmente uma das inumeri­
veis coisas a que se dedicam os mortais.
Antigamente, o teatro era um instrumento ao ser­
viço da cultura ; servia para corrigir os defeitos. Hoje
em dia, as salas de espectáculos não são mais do que
lugares de corrupção em que se atiça positivamente o
fogo das paixões. O simples anúncio, atractivo de
muitas pellculas, o próprio titulo de muitas obras tea­
trais, são sedução e incentivo para a imoralidade.
Catão, o velho, não queria o teatro permanente,
porque este, no seu sentir, levava o povo à imoralidade;
e Seneca, apoiando-se na experiência, escreve: cNlo
há coisa mais perigosa para os bons costumes que o
teatro. Nele nos acometem os pecados com maior
facilidade sob o véu do prazer. Ao sair do teatro, sou
mais avaro, mais vão, mais sensual e até mais cruel,
mais desumano... <1>
Por desgraça, não hã motivo algum para rectificar
a respeito do teatro moderno o jufzo severo dos pagãos.

(l) Dollingtr; Heitúntum und Judentum. p-'g. 727.

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ANIMO, CONFIA! 179

Não alirmo, desde já, que a literatura moderna


seja completamente vazia de obras de grande valor.
Mas os acontecimentos lit e rár i o s de categoria
perdem-se no meio dos inumeráveis e fúteis livros e
peças teatrais qut pululam e se introduzem, com char­
latanaria, no mercado.
Paf.sa-se connolico u que se passa com o jardineiro
que não trata do seu jardim, pelo que neste, junto das
rosas, crescem os cardos, a cicuta, a beladona ..• ; e os
porcos fossam, a seu prazer, nos canteiros de flores que
ainda restam.
De maneira qur, se te apregoam as excelências do
teatro • m(;d�mo>, s� lês a literatura • moderna io, não
esqueças um só momento que a sensualidade excitada
por estas ouras j:rniais t!levará a dignidade e decoro da
mulher .
Tais escritort:s não fazem senão encobrir, com o
rótulo de arte, as muitas imoralidades que hoje não se
atrevem ainda a propalar abt'rtamente. Portanto, não
temas srr urna antiqu3da n::1 arte, na cultura, se escolhes
com esmero as obras teatrais ou pelfculas a que vais
assistir, o livro moderno que vais ltr. Em muitos casos,
ba�ta o título para saberes que tal obra é suja e gros­
seira.
Sei que intencionalmente não irás ver essas peças.
Mas, se vais de boa fé e te encontr�s com semelhante
provocação? Talvez não possas retirar•te sem chamar
a atenção; mas podes afastar os olhos - e não deixes
de fazê-lo 1 - enquanto dura a cena imoral ou passa
a imagem inconveniente. Preservar-te-ás de tentações
se seguires tste conselho e se puderes refrt:ar a curiosi­
dade que � natural em his casns.
Na guarda da pureza, o ttu princípio deve str este:
1: preferível ser mais tlmida que o necessário a ser mais
ousada que o devido.

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PUREZA E. FORMOSURA

X-Baile

Depois de tratar do teatro e do cinema, ai vão


agora algumas palavras a respeito do baile. Já estarás­
pensando assustada que to vou proibir.
Calma, rapariga, calma.
É certo que essa loucura do baile que se estende
na sociedade actual, assenta bem a qualquer, menos a
uma rapariga sossegada e de s�rio pensar. HA boa
parte de razão no julzo severo dos antigos romanos,.
que contavam o baile entre as coisas indignas dos
homens livres. Muitas jovens que têm a febre do baile
deveriam ler as palavras com que Clcero defendeu o
cônsul Murena, acusado de ter bailado : «Não há que
lançar imprudentemente tal acusação contra um cônsut
romano: que crimes cometeu até agora, para se poder
acreditar em semelhante coisa? Não dança senão o
borracho e o louco • U>
Ainda que o impor-se às tuas pernas uma dura
gimnástica de várias horas nas salas de baile, demasiado
quentes, cheias de pó e com o ar viciado, não seja a
diversão mais saudável - não temas 1 - eu sou mais
moderado que Cfcero, e não te proíbo em absoluto o
baile. Em seu tempo e lugar, pode ser uma diversão
honesta para as raparigas de caricter.
Talvez perguntes com surpresa: que tem que ver
o baile com o carácter? Pois justamente a dançar se
tornam patentes o carácter firme ou a voluptuosidade
repulsiva. Até talvez não se descubram uma e outra
em nenhum outro ponto, com maior facilidade que no
baile. O baile é a grande prova em que se revela o
caricter.
Em cada movimento, em cada olhar, em cada pala­
vra, se vê o que tu sentes no Intimo. O carácter defor-

(1) Pro L. Muren11, 6, 13.

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ÂNIMO, CONPIA ! 181

mado aproveita esta ocasião para a frivolidade, para


fomentar as baixas concupiscências. Ao contrário, a
rapariga de carácter recto não esquece então que, se o
rapaz com o qual dança deve ser cavalheiro e tratá-la
com respeito, ela, pela sua parte, deve estar alerta para
recalcar o mais pequeno pensamento ou desejo que
ofenda a sua pureza.
A rapariga de carácter sabe escolher o companheiro
de baile e mantê-lo sereno, numa atitude deferente e
delicada; presta atenção aos passos da dança e, ao mesmo
tempo, imprime o ritmo à conversação. Esta rapariga.
do mesmo modo que não teme resvalar no pavimento
do salão, também não deve recear que o baile termine
com uma queda moral.
Não assim as jovens débeis de carácter, que somente
procuram deslizar graciosas no pavimento esquecendo
a importância que tem para o carácter o seu compor­
tamento nestas situações.
Posso afirmar, com plena convicção, que a conduta
das jovens durante o baile é a melhor prova da firmeza
do seu carácter e do seu nobre modo de pensar.
Por outro lado, não deixa de ser verdade o que diz
o provérbio: «Belm Tanz geigt der Teujel geme. »
«O diabo toca violino com o maior prazer durante o
baile. > Quer dizer : o baile é sempre ocasião de
perigo. Portanto nunca vás a um baile sem primeiro
ergueres a tua alma a Deus, numa oração breve, pedin­
do-lhe que conserve a brancura da tua alma, preser­
vando-a de toda a mancha.
Se observares tudo isto, podes tomar parte nos
bailes, mas em bailes decentes.
Alguma leitora, ao ver estas linhas, replicará que,
segundo o exposto, se deve condenar em absG>luto a
maneira de dançar de hoje, porque o baile moderno não
é outra coisa senão a excitação consciente dos baixos
instintos. Claro está, volto a dizer: eu dou licença
unicamente para bailes irrepreensíveis. Porque há bai­
les que parecem destinados a macacos, a cabras e ...

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182 PUREZA f! FORMOSURA

a mulheres que há muito passaram a linha de demar­


cação do porte honesto. Tu sabes distingui-los.

X 1 - A verdadeira senhora

Entusiasmam-te as herolnas da história: Débora,


Judite, S.t• Joana d' Are, D. Leonor, D. Filipa de Vilhena,
S.t• Isabel. Pois bem : não hã no mundo herofsmo
maior nem triunfo mais glorioso que saber impor aos
baixos desejos do instinto a lei da razão, como não há
escravidão mais humilhante que gemer acorrentada ;io
jugo das paixões. Pensa bem nos momentos diflceis
quando te vires em transe de sustentar novos combates.
Aparece sempre e em todas as partes como jovem
de espfrito delicado. E seja a tua conduta exterior
e:rpressão dos teus sentimentos, para que todos quan­
tos para ti olharem possam recordar o pensamento de
Schiller, na sua célebre poesia do cSino• :

W,e ein Oebild ans HimmleshlJh'n


Sieht er die Jungfran fJor sich steh'n.
(Da1 Lled YOa der Olocke).

�uma bela imagem d.os altos céus


Deve ser a virgem aos olhos ti?us. •

Não posso aconselhar-te os requebras e o afectado


donaire que algumas raparigas «puritanas» confundem
com a verdadeira e senhoria>. Tenho, pelo contrário, a
vista posta naquelas damas medievais cuja mão estava
sempre aberta para mitigar as dores da pobreza e da
desgraça. O seu rosto recatado só se descobria para
administrar justiça ou para exercer a misericórdia.
A verdadeira dama só infunde respt•ito e em ninguém
despeita maus desejos nem ousadas liberdades. Diante
dela, o jovem recorda a sua própria mãe e irmã, e

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ÃNIMO, CONFIA 1 183

considera ignominioso apro:s:imar-se com baixos dese­


jos, como consideraria um ultraje que outro fizesse isso
com a sua irmã ou mãe.
Queridas raparigas, não vos sentiríeis verdadeira­
mente felizes se pudésseis ver naqueles versos do poeta
a vossa própria imagem ?

Toda a Paz, todo o Amo,, toda a Bondade,


Toda a ternura que de ti me vem,
Amparam-me esta triste mocidade
(.omo nos tempos em que tinha M4e.
Quanto eu te de110 ! Ódio, impiedade.
lndig11 içiJes e ,aivas contra alguem.
Loucu.�a.f de rapaz, tédio, vaidade,
Tudo isso perdi -- e ainda bem!
Salvaste-me! Trouxeste-me a Esperança,
Nunca m·a tires nlfo, linda criança,
r linda e tifo boa nl2o o farás talvez!)
Pois que perder-te, meu amor, agora,
Ai que desgraça horrít•eJ J Isso fora
P,rder a minha Mtle, segunda vez.

( ANTÓNIO NOBRE)

Tendes nas vossas mãos esta felicidade.


E. acreditai, não há outro caminho que possa,
algum dia, dar satisfação aos profundos anseios da
vossa alma.
Se o procurais na exteriorização moderna e frfvola
tarde ou cedo chegará a triste desilusão.

X
.
11 - Entre
- santa e santo

Se tens este conceito do teu sexo, el:e tornar-se-á


evidente em todas as tuas conversas e no trato.
Por agora não deves procurar a companhia dos
rapazt:s; se, porém, te encontrares alguma vez no meio

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184 PUREZA E FORMOSURA

deles, não deves perturbar-te. Os teus sentimentos


nobres serão a salvaguarda da tua conduta.
Na conversação, nos olhares, no jogo •.. nunca
percas de vista os teus deveres de mulher cristã. E não
hás-de permitir-te, com nenhum rapaz, aquilo que verias
com maus olhos outra jovem fazer com teu irmão.
Quando sentires que o jogo, inocente ao principio, passa
a ser ocasião de pecado (por exemplo, se se dá uma
prenda e hã que pagá-la com um beijo ou outra incon­
veniência qualquer), sê hábil, discreta, e encaminha
noutro sentido o bom humor e o jogo.
Não copies, nunca, gestos ou maneiras dos rapazes.
Com eles destróis a graça do teu sexo e prejudicas o teu
carácter.
Vontade firme, temperamento de aço, isso sim;
correcção, d e I i c a d e z a. Tudo isto deve ser o teu
sonho.
O sentimentalismo, os beijos, as caricias, os mimos
incessantes ... guarda-os para os pequeninos. Habitua-te
a mover-te com dignidade; s! carinhosa, mas nunca
pegajosa.
•Ü sonho é o anjo mau • Algumas raparigas são
capazes de sonhar durante semanas com uma figura de
novela; vão tectndo grandes planos para o futuro, e
nem sequer notam o momento em que o sentimento se
transforma em sensualidade. Cuidado 1
Recomendo às raparigas que não admitam dema­
siado a companhia dos rapnes antes d� chegar a idade
de casar. Perdem em delicadeza e recato o que ganham
em ccoquetterie• e intriga. O amor não é jogo de
meninos nem os anos de juventude estão destinados a
aventuras e frivolidades.
Não deves manter relações mais estreitas com
Renhum jovem enquanto não estiveres em condições de
poder pensar sêriamente no casamento. Qualquer inti­
midade que não seja orientada para este fim é brincar
com fogo, é expor a perigo iminente a decência e a
honra.

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ÂNIMO, CONFIA 1 185

Com toda a verdade reza o adágio popular:


PDt-se o lumt ao pé da estopa
Vem o diabo e sopra.

A mulher, em seu trato com o homem. deve sempre


guardar prudente distância; de contrário, muito fàcil­
mente sofreri as consequências.

XIII - O teu noivo

Muitos passos falsos evitarás se pensares frequen­


temente que um dia, seguindo os planos de Deus, jurarás
fidelidade eterna a um homem que será o teu esposo.
Ora, para que em teu branco e puro véu nupcial não
haja qualquer nódoa, conserva com pudor a inocência
virginal para o futuro companheiro que Deus te reserva.
Tua alma, é realmente pura?
O teu modo de pensar é recto?
O teu coração é são?
Guarda todas as tuas forças, todas as tuas ilusões,
todos os teus pensamentos, para aquele amor. grande,
único, com que hãs-de unir-te para toda a vida com o
teu futuro noivo.
A sua figura hã-de ser para ti como o anjo custódio
que guarda o teu grande tesouro, ;i pureza, de que
brotarão mais tarde as flores do teu amor e a vida da
tua famllia.
Com a tua vida de hoje, pura, sem mancha, virgi­
nal. hão-de confluir as dádivas sagradas que o teu noivo
deixará cair ni:is tuas mãos trementes.
A mulher completa não procura conquistar mais
que um homem, o seu futuro esposo. E prepara-lhe o
mais rico presente: um corpo puro e uma alma incon­
taminada.
Não poderá ser feliz a tu a vida de casada se não
for pura a tua vida de solteira. Disto se tira a con-

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PURl!ZA R 1-'0RMOSUR,\

clusão de que tão somente podes permitir-te aquelas


relações que têm por objecto o matrimónio, como ainda
estas só na idade oportuna. Os demais amores são
brincadeira imprudente e falta de carácter.

XIV- A limpeza exterior

Às anteriores admoestações quero acrt!scentar, no


entanto, uns conselhos de ordem puramente prática.
Ama a limpeza exterior. Láva-te várias vezes ao
dia e banha-te com frequência (pelo menos uma ou duas
vezes por semana). Pela manhã, sobretudo no Verão,
lava-te até à cintura com água que deves ter no teu
quarto e que, para esse efeito, deves tirar da torneira a
noite anterior. Faz diàriamente, mesmo de Inverno,
com preferência antes de te deitares, lavagens intimas
com àgua ligeiramente temperada: A sujidade pode ser
causa de tentações e moléstias. A ordem exterior con•
tribui para a ordem do espírito.
Não quero afirmar com isto que toda a rapariga
elegantemente vtstida tenha devidamente em ordem
tambem o seu interior; infelizmente, não é assim.
Mas é verdade que a desordem interior da alma se
reflecte fàcilmente no exterior; a rapariga descuidada,
de vestidos sujos, cara e mãos por lavar, unhas bas•
lante crescidas e nada limpas, em regra, é desleixada
no seu porte intimo e propensa à g rosseria.
A limpeza e2terior é, em muitos casos, garantia do
pureza interior; aumenta a nossa simpatia por tudo u
que � limpo e faz-nos circunspectos em tudo o que
pode manchar a nossa alma. � inkressante este facto:
a que se banha com frequência e cuidado, conserva
mais fàcilmente limpo o espfrito, como se por encanto
o corpo asseado afastasse espontâneamente o que pode
manchar a alma.
Ê, todavia, necessário teres presente, ao banhar-te,
que o teu corpo é templo de Deus; respeita-o e evita

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ÂNIMO, CONFU\ 1 187

sempre o que pode ofender o Senhor que habita em ti.


«Não sabeis que os vossos corpos são templos do
Espírito Santo?• escrevia São Paulo aos cristãos de
Corintt1•
- Ê possível, não obstante, que a questão de
limpeza desperte escrúpulos em algumas raparigas.
A �ssas desejo tranquilizá-las, dizendo que o banho é
bom, mesmo santo, quando praticado com recta inten­
ção e com o devido recato. Não quero dizer-lhes que
devam submergir-se na tina vestidas dos p�s à cabeça,
mas também não aconselho que façam e:ribição do seu
corpo despido, nem sequer estando sós.
E que dizer das piscinas, solários, praias, em que
soh o pretexto de saúde e pele bronzeada, se expõem
os CGrpus femininos? Toda a jovem amante da pureza,
se ;�caso tem de ir para tais lugares, deve saber por­
tar-se com modéstia ,- evitando tudo o que desdiga dos
sentim�ntos verdadeiramente cristãos.

X V- Morre e re�s��g�_!

Não quero enganar-te, querida jovem. Digo-te sem


eufemismos: é coisa bastante dificil educar de tal modo
a vontade que ela obedeça como um cordeiro aos
dit1ames da recta razão. Por este motivo, deves lançar
mão de todos os meios que possam ajudar-te.
É um dos poucos casos em que a negação � o
caminho.
- Negação de si mesma? lrr 1- replicam mui­
tas jovens. - Hoje estamos na época de «afirmar a
vida•; hoje em dia, não se pode falar senão de
«viver com intensidade• ; hoje, todo o mundo quer
«viver> a sua vida e não diminuí-la, não pô-la em
surdina ou negá-la ...
Atendt' um momento. Vamos a ver. Sabes o que
é a abnegaçãn? Talvez não saibas. Se soubesses que
ela é um desejo e um meio de obter essa vontade

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188 PURE.ZA E PORMOSURA

forte, que dizes não ter, mas que desejavils possuir


porque a reconheces absolutamente necessária para ter
um carãcter nobre, talvez te detivesses alguns momentos
a ler estas linhas com gosto.
Negar-se a si mesma é orientar devidamente as
inclinações desordenadas e os desejos carnais. De modo
que - repara bem - não se trata de calcar a natureza
nem de atacar as capacidades do nosso ser - jt que
sem estas nada valeríamos-; o fim da abnegação é
vigiar os desejos desordenados refrear os excessos que
podem pôr em perigo a nossa própria dignidade,
Reconheces que estamos cheios de defeitos; por­
tanto, necessitamos dum freio, A abnegação obtém-nos,
como resultado, o domfnio de nós mesmos, já que sabe­
mos não haver dúvida de que fatalmente se perde toda
a rapariga que, por falta de abnegação, se se dei.z:a ven­
cer das pai%ões.
A abnegação dá-nos paciência para com nós mes­
mas e para com os outros; sP.m ela: nada podemos na
vida social.
A abnegação dá-nos o triunfo sobre o próprio eu,
triunfo sem o quul não há ideias nobres e sublimes, não
hã personalidade nem caráckr.
Estes objectivos não podem obter-se senão com
arrojo e bravura, com a •violência• feita às más
inclinações. Esta violência que chamamos abnegação
não é um fim; não é mais que um meio, uma mano-
1.Jra, um estado de transição para chegar à vitória e
conseguir a alegria, a que pode aspirar na vida toda a
jovtm guiada pur um alto ideal. Em compensação, as que
talam d� --satisfazer livremente os instintos•, de cviver
a sua vida ... », e se inclinam, cobardes, perante qual­
quer desejo desordenado, são justamente as que perdem
o sentido da vE:rdadeira alegria e abalam a própria
vontade, o próprio carácter, a própria saúde e também ...
a dignidade feminina.
«Ê. preciso viver a vida intensamente., De acordo;
mas isto não significa dei%ar em plena liberdade os

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ÃNIMOt CON PIA 1 189

instintos i significa. pelo contrário, governá-los melhor,


com mão firme, porque nisso é que está a verdadeira
felicidade. Sob uma grande pressão, a água alcança uma
força incrfvel, e a locomotora arrasta toneladas de peso,
como se fossem fardos de palha. f: assim a força da
abnegação: levanta a nossa natureza cafda que se arrasta.
Compreendes a frase do Evangelho? Para que o
grão produza tem de morrer primeiro ...
E também este o sentido da frase célebre de Goethe:
«Stirb und werde I• «Morre e ressuscita. -.

XV 1 - Almas raquíticas

Tens visto alguns desses meninos pálidos, maci­


lentos, com as pernas, o colo ou o dorso oprimi­
dos por um aparelho e que se vão arrastando, curvados,
sob o peso dos seus males? A todos inspiram com­
paixão: « Pobres meninos I O que é ser raquítico I •
Se tivéssemos uma lâmpada como a do célebre
conto de Aladino, com que pudéssemos ver a alma
dos outros, como nos verfamos obrigados a exclamar a
cada passo: «Pobres almas raqufticas I•
Quais seriam elas?
Essas que, devido às mil comodidades da civilização
e à preguiça a que se entregaram, perderam toda a
ene;gia. São como a cera: cedem sempret não suportam
o menor esforço. Repugna-lhes todo o dever, todo o
domlnio próprio, toda a abnegação. Talvez ainda
nutram a inteligência com certas leituras, mas a vontade
- a que é mais necessária e que tem o primeiro
lugar na vida-é frouxat anémica i nútil. Pobres
almas raquíticas I Rapariga, queres tu permanecer em
tal estado?
- Permanecer? - perguntais-me - Mas, acaso eu
sou assim?
- Sim, não tenhas dúvida. O raquitismo corpora),
graças a Deus, é bastante raro entre os meninos i mas

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190 PUREZA E FORMOSURA

o raquitismo espiritual - precisamente pt>la fraqueza da


vontade - é coisa geral, inata. Temos de submeter­
-nos a um tratamento especial para nos curarmos
Tens um irmãozito de quatro ou cinco anos de
idade? Observa a sua conduta e verás como nele predo­
mina a vida corporal. Se à merenda a tua bolacha
é um centímetro maior que a sua, como grita, como
choraminga! E como ainda não sabe resistir aos seus
desejos, quão pouco se domina! A sua vontade é
débil, portanto 1
XV 11 - Robustece a tua vontade

É, püis, de grande impcriância pclí:!S suas con­


sequências prãticas o conselho que te vcu d,u em
seguida, relativo ao robustecimtnto da vontade e à
disciplina do corpo.
As raparigas que mais depressa tropeçam no cami•
nho da moral são as que, perante as exigências dos seus
sentidos, não resistem e consentem em ser joguete de
desejos instintivos. Quero chamar-te a atenção de
modo tspecial para este ponto Acostuma o tiU corpo
a um pouco de abnegaçõo. Renuncia, de vez em quando,
a coisas que seriam mu1tu al!.radáveis aos teus sentidos
e que te não são proibidas.
Não di�o amiúde, mas d� vez em quando, à maneira
de prova, para ver se a tua vontade adquire firmtza.
Abstém-te de beber durante um quarto de hora
ao chegar a casa, morta de sede, depois dum passeio ...
Ao c omeres os teus doces favoritos, deixa um
bocadinho, e se algum prato sabe a qu�imado come-o
sem proferir palavra .•.
Se chegas com apetite das aulas ou da oficina, não
resmungues, não digas à tua mãe nem à criada que nlo
podes esperar nem um momento pela comida ..•
Ao servires-te da sopa, por muito apttite que tenhas,
não te ponhas a sorvtr com avid�z; antes impõe dis­
ciplina ao teu estômago exigente.

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ÁNl,\\O, CONFIA ! IQI

Por muito que as montras das pastelarias agucem


o teu apetite, não deites lego a mão ao porta-moedas;
resiste. uma vez por outra.
Se, ao )avires-te, se te escapa das mãos o sabão, não
te zangues, mas solta um2 gargalhada e diverie-te com
a massada de e, apanhar.
Si:- rebenta o cordão do sapato, quando mais pressa
tens em vestir-te, não o atires ao chão, mas trauteia uma
cançãozita alegre enquanto enfias outro
Se te escapar das mãos um embrulho com os livros
que l�vas, não te impacitntes, mas 2p,1nha-os com bom
humor e toma um ar Rlegrt.
Se não sabl'S dtsatar o cordel, não pegues logo na
tesoura ; procura desamarrar com paciência o nó górdio,
sem lançar mão da espada.
E quando o sol de Maio envia os seus ale­
gres raio!i, procura ficar tranquila .1 trabalhar s�ria­
mente ou a estudar em teus livros, em vez de te pores
a bailar.
Agora, algumas perguntas:
Pela manhã, quando soa a hora de te levantares,
sabes saltar imediatamente da cama com bom humor,
e não bocejar e estender-te de novo, apesar da tentação
que oferecem os lençóis quentes e a fofa almofada?
E depois dum longo passeio, quando já não podes
com as pernas de tanta fadiga, sabes andar de corpo
direito, sem abandonar as boas maneiras?
Com a companheira que tt! é tio «antipática�.
sabes portar-te afàvelmente? Se te mandam fazer qual­
quer coisa cumpres imediatamente, sem réplicas, ainda
que te custe?
E se não encontras depressa o que procuras, sabes
dominar os teus nervos? E se te irritam, sabes respon­
der sem mau humor? E se abrem a porta, não olhas
imediatamente para li ? E se recebes uma carta, sabes
esperar um momento antes de a abrir?
E se alguém te ofende, sabes aplicar o penso frio
duma resposta calma à febre ardente da cólera? E se

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]92 PUREZA E FORMOSURA

uma novidade luta por se escapar da tua boca, sabes


conservá-la em segredo, durante o dia inteiro?
E, depois de comer, és capaz de conservar alguns
bombons e deixá-los intactos até à noite, por muito
que te convide a gula?
E se tens uma leitura interessantlssima, sabes fechar
o livro no ponto culminante e não recomeçar até ao dia
seguinte?
Sabes estar quieta à mesa, durante as refeições?
Sabes sentar-t e sempre direita, ainda que estejas
cansada? ...
Talvez objectes: - Estas coisas são bagatelas ...
t verdade, são. Mas todas as coisas grandes são fei­
tas de insignificâncias. Com setecentos pedaços de vidro,
procedentes de diferentes monumentos, se fez na Cate­
dral de Toronto o vitral que em memória dos mortos
da Grande Guerra.
Estas pequenas vitórias de todos os dias aumentarão
a tua confiança em ti mesma, e assim não retrocederés
fàcílmente perante as dificuldades com que tens de
deparar na vida. A jovem que sai vitoriosa do mais
diffcíl combate é a que se vence a sl mesma. Saberá
triunfar também nas demais lutas da vida. E desta
dizemos que é uma «rapariga de carácter».
A mais pequena abnegaç4o com que fores exerci­
tando o teu corpo, aco5tumando-o a segulr as ordens da
razdo, é um aprovisionamento inapreciável de energias
para os tempos de tentaçdo que htJ.o-de exigir de ti uma
dectsdo firme. Assim como os acumuladores formam
com pequenas cargas uma poderosa força eléctrica,
assim estas bagatelas te irão convencendo de que o
espfrito é capaz de dominar a matéria.
A juventude que se conserva pura atinge o ideal
mais sublime. Mas só à custa de continuas progressos,
de incessantes esforços, de pequenos sacrilfcios, se pode
chegar às alturas.
Roma não se fez num só dia, nem as grandes vitó­
rias se prepararam numa hora.

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ÂNIMO, CONFIA ! 193

O carácter não é o primeiro prémio de lotarja que


nos cai do céu.
X VI 11- A alegria do triunfo

O melhor mejo de obter força e domfnio contra


os excessos do instinto, �. regra geral, não entrar
em luta directa com ele, mas atacá-lo por assim
dizer de soslaio, pelos flancos. Não penses mutto sobre
estas coisas, n4o lkes prestes atençao, desvia-as pelo
contrd.rlo, da tua mente quanto seja pos5[vel; em com­
pensaçdo, ataca a fundo a paixão domlnante e pôe-te de
guarda contra todas as tuas Jraquezas.
Sempre que triunfas da preguiça, ou vences a falta
de pontualidade fazes um acto de renúncia, de silêncio,
de paciência, adquires novas forças para resistir às
ei::igências ilegftimas dos teus instintos.
A que nunca se priva de alguma coisa licita não é
capaz de evitar todas as que são proibidas. Para cair no
pecado não � necessário fazer esforço algum ; em com­
pensação, para levar uma vida recta, é necessária uma
vontade forte.
O melhor método para conseguir alguma força contra
os incentivos do prazer é impor à vontade uma ginástica
dura noutro campo, mediante pequenas provas, abne­
gações, renúncias.
à força de ginbtica se robustecem os músculos ;
também com ginástica se acostuma a vontade a obedecer;
torna-se fácil proceder bem e apodera-se de nós uma
alegria indescritlvel, graças à vida espiritual que dai brota.
Aquela que, quando menina, quando rapariga,
quando jovem, sabe refrear, em coisas pequenas, a
curiosidade, a gula, a preguiça ... aquela que a pé firme
e com olhar sereno, o rosto luminoso e a cabeça erguida,
sabe suportar o calor e o frjo, a fome e a sede ..•
aquela que sabe calar e mandar nos seus olhos ... que
sabe afogar a ira que lhe sobe à garganta ... não correrá
grande perigo diante dos assaltos do instinto. Por-
13

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194 PUREZA B FORMOSURA

que, à sua voz de comando, as tendências mais rebeldes


se curvarão gemendo, como escravos obedientes. A que
na idade de dez anos já sabe abster-se expontdnea­
mente dum pastel, na idade de dezasseis saberd. vencer
as tentações dos seus sentidos.
Dizes que isso custa? De acordo ; mas custa e
dá alegria ao mesmo tempo.
Precisamente a juventude gosta de tomar parte nos
concursos de bola, ténis, natação . . . Pois bem ; ai está
a ocasião propicia para demonstrares a tua força de von­
tade, e ainda mais, robustecê-la, fortificá-la. Experi­
menta com regularidade estes pequenos exercícios. Não
só hoje ou amanhã, mas sempre. Asseguro-te que
encontrarás gosto nisso. Esta mesma luta, este doml­
nio próprio te encherá de gozo. E, que dizer quando
mais tarde, nas horas de luta, brotar em ti o sentimento
de alegria do triunfo. Quando sentires bem palpável
essa energia que nos torna capazes de vencer todos os
obstãculos? Isso não se exprime. Para ji, poderb
saborear a fntima satisfação que te proporcionam os
primeiros e pequenos triunfos alcançados sobre a von­
tade obstinada, sobre os caprichos, sobre as exigências
do teu corpo. Essa plenitude, essa consciência de força
que não conhece dificuldades, tê-la-ás mais tarde. Que
a alegria desta vitória te impulsione a perseverar.
Desejas naturalmente principiar. Se me pedes que
te auxilie, dir-te-ei que deves escolher um dos teus
maus hábitos, de que desejas sinceramente corrigir-te.
Ao principio, deves fixar um curto espaço de tempo,
por exemplo quatro ou cinco dias. Dentro dum espaço
tão pequeno, não te será difícil conseguir evitar a queda.
E, quando, ao fim desses dias, verificares que foste
capaz, poderás exclamar com alegria: «Meu Deus 1
Afinal eu sempre tenho alguma força de vontade.
Na próxima semana, hei-de vencer de novo I•
Se o conseguires já tens a haver duas semanas de
vitória. E, com isto, maior coragem para prosseguir
na luta.

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ÁNIMO, CONPIA [ 195

Alguns povos selvagens têm como protector da sua


tribo um animal: crocodilo, águia ... a que chamam
tóteme. Só lhes é permitido sacrificá-lo em banquete
sagrado,· crêem, então, que as forças e qualidades do
tóteme se comunicam a quantos dele se alimentam.
Também tu, sempre que dominas os baixos instint os e
os sacrificas, Rlcanças nova energia. Porque toda aquela
que alguma vez saboreou estas alegrias, sente o fmpeto
das suas energias bem firmes, empurrando-a para maio­
res triunfos; e forçosamente tem uma superioridade
que não sofre confronto com a pobre infeliz que se
inclina e cede, impotente, aos seus desejos carnais, como
débil cana ao sopro de todos os ventos. Esta, por
cobarde, a assediam sem medo, a cada momento, os
desejos impuros.
Maria Antonieta de frança dizia numa carta ao
conde de Argenteau:
«Creia que, seja qual for a desgraça que me persiga,
poderei ctder às circunstâncias, mas jamais consentirei
nada indigno de mim; na desgraça. é quando se
reconhece o que se vale.•
Querida rapariga, jamais consintas nada indigno
de ti, Luta por te manter fiel a ti mesma, à tua pureza,
que, neste caso, é o mesmo que a tua dignidade.
Traz à memória a magnifica frase do pagão Boécio:
«Supe,ata tellus sidera donat,, vence a terra e terás as
estrelas.
E não julgues que esta vigilância contínua, esta
guerra sem quartel haja de amargurar-te a vida ou que
o domfnio próprio e a abnegação sejam um peso insu­
portável sobre os teus ombros. É sim um peso, mas
um peso que te levanta. Também as asas são um peso
para as aves, mas sem t:las não poderiam lançar-se nas
alturas. Em todas as guerras, e também em todos os
combates da alma, a ofensiva é a melhor defesa. O que
fizeres para robustecer a tua vontade, numa época em
que nlo sentes ainda os ataques das baixas concupiscên­
cias, é defenderes-te eficazmente de antemão.

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196 PUREZA E FORMOSURA

Porque o robustecimento consciente da vontade


chega com o tempo a dar-lhe uma têmpera especial.
Para a que é fraca de carácter, a que precisa de espiar,
receosa, cada passo, cada palavra, cada olhar, a vida é
realmente um suplicio: mas para ti não se trata disto,
porque com a ginástica da tua vontade já conseguiste
que esta obedeça ao primeiro olhar, qual manso cordel­
rito, e se defenda espontdneamente, como por encanto,
num reflexo inconsclente, contra todo o pensamento
e desejo desonesto. Será um escudo sempre pronto.
Quando a poeira das ruas quer entrar nos teus
olhos, as pestanas fecham-se instintivamente para defen­
dê-los. O melhor galardão do teu esforço será também
este: a tua vontade forte seguindo o bom caminho,
como por reflexo, sem dares conta disso, qual anjo da
guarda, invislvel e invulnerável, defenderá o teu preciso
tesouro, a pureza da tua alma.

XIX- Na terra, mas não da terra

É natural que, mais duma vez, tenhas pensado:


•Hoje não é passivei realizar tio belo ideal.. . Acre­
dito que, recolhendo-se a gente num convento, vivtndo
escondida, longe do mundo ... seja posslvel dedicar-se
à perfeição, modelar o carácter... Talvez ... talvez
assim seja passivei. Mas, como estão as coisas hoje
em dia! ..• Viver no meio dum mundo que ferve ...
ir para as aulas ou para o trabalho e tratar com uma
infinidade de pessoas que têm um conceito completa­
mente diferente da vida ... ir ao teatro, ao cinema como
toda a gente. . . passar aturdida pelo ruldo febricitante
das ruas... viver no redemoinho duma metrópole
moderna e não ter vertigens. . • quem é capaz de tanto
herolsmo ?»
Pois bem, rapariga, eu não desejo encerrar-te em
nenhum convento, e não obstante espero que hás-de
cumprir tudo o que te tenho prescrito. Não vás para o

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ÂNIMO, CONf'IA 1

convento, porque ali a fragância da tua santidade exa­


laria solitária o seu aroma, somente à vista de Deus;
deixa-te ficar aqui entre nós, na confusão da vida
moderna, no meio deste ruido ensurdecedor, fervente..•
deixa-te ficar e sê a flor perfumada dum ca,dcter firme,
no jardim da moral crlst4.
Vês a rosa? As suas ralzes estão no lodo, na
terra fria, na obscuridade, e não obstante, as suas péta­
las aveludadas, rubras, que pureza não tem 1 A sua raiz
está no lodo, mas ela não se salpica; cresce no pó,
mas nunca se cobre dele.
Caminha também sobre a terra, mas que a tua
alma nunca chegue a manchar-se na lama; e o teu
ideal de moralidade, qual ardente raio de sol, fará bro­
tar em tua alma as rosas ultraterrenas do carácter.
Faz, hoje mesmo, o teu propósito inalterável:
ainda que me envolvam nuvens de poeira, eu terei o
cuidado de a sacudir! Ainda que em torno de mim
não haja senao lama, eu nunca me salpicarei com ela I
Ainda que todos vivam no lodo, eu nunca, nunca/
Lutar, rezar e antes morrer... do que ceder um
ápice 1
Justum ac tenacem propositi 1Jirum
Si fractus illibatur orbis,
impaflidum Jerient ruina.

•Se o mundo desconjuntado ruisse, as suas rufnas


encontrariam impivido o homem justo e tenaz em seus
propósitos.•
Nas tardes de Inverno, quando a geada nos corta,
passo muito tempo a olhar para o pequeno pardal que
está. agachado no beiral do telhado. Pode fazer um
tempo glacial, pode toda a gente tremer com frio, de
dez graus abaixo de zero, e, não obstante ali estã este
passarito que se ri de tudo. Pode soprar o vento, pode
cair a neve, pode gelar-se o mundo inteiro - parece
dizer o pardalito -, aqui tenho uma luz, uma luz para

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198 PURHZA E fORMOSURA

mim, que me vivifica : o meu coração inflamado; aqur


nada pode entrar l

XX - A que não sabe mentir

O amor à verdade pode também prestar-te uma


prestimosa ajuda no combate. Não quero, agora, falar-te
da coragem que o teu carácter exige que ponhas em
tudo o que se refere à verdade, nem chamar a toa aten­
çlo para a triste sorte daquelas cuja conduta nos leva
a não ter nelas a mesma confiança.
Neste lugar, quero apenas dizer-te uma coisa que
nunca te disseram talvez: aquela que nunca mente
pode estar quase segura de que não cair4 nos p4ntanos
da tmoraltdade ,· e paralelamente, a que se dã ao pecado
da impureza, nlo hi dúvida, é mentirosa. Conheces
o provérbio antigo: Omnts masturbator mendax ?
Quem se entrega ao vicio é mentiroso ...
O caminho da consciência pura e da verdade é
recto, aberto, claro; os segredos, a antiguidade, a
astúcia, a mentira, começam quando na consci�ncia
entraram pensamentos e actos vergonhosos ...
Uma ocasião, quis Condé persuadir sua irmã, a
duqueza de longueville, a que não confessasse a ver­
dade sobre certas palavras que ela havia pronunciado
contra Lu(s x1v por este lhe ter negado um favor.
- Quereis - replicou a duqueza - que repare esta
falta com outra maior? O que me acusou ao rei fez
mal, mas não tenho o direito de fazê-lo passar por
caluniador, porque ele disse a verdade.
Hã aqui uma sinceridade admirãvel e digna de
imitação.
A que mente desonra-se a si própria, compromete o
carácter, polui a alma, e não vacilará por isso em man­
char o seu corpo com actos impuros quando chegar a
tentação. Pelo contrário, a que luta contra e mentira,
nlo a consentindo por nada deste mundo, luta também
fàcilmente contra a degradação do corpo. Acostuma-te.

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ÃNIMO, CONFIA ! 199

pois, a não mentir, para que em todas as circunstlncias


se possa dar crédito às tuas palavras, como se fossem
sagradas. Educa-te de maneira que realmente sejas
incapaz de proferir uma falsidade. Que se possa afir­
mar de ti com todo o direito este magnifico louvor :
É uma mulher. . . Esta não engana I
Procura conservar, no teu coração, um grande amor
à verdade. E não esqueças: a que não sabe menttr
não se corrompe. Pelo contrário, sabe como abster-se
de todo o pensamento ou acto que não tenha a cora­
gem de dizer de rosto erguido e firme.

XXI - Fortalece o teu corpo

Ama o desporto e cultiva-o, quando não seja peri­


goso para a saúde e procura exercitar-te à vontade.
Não estejas sentada muito tempo, porque isto perturba
a circulação do sangue. O teu lema deve ser: cansar
razodvelmente o corpo todos os dias. Deves estar
cansada quando te fores deitar, porque assim poderás
conciliar mais fàcilmente o sono, e é ocasião de muitos
pecados estar-se desperta na cama.
Nos exerdcios Hsicos, não tenhas como fim prin­
cipal conseguir formas belas e desenvolvidas; menos
ainda, chegar a ser campeã, para vencer todas as outras;
procura, antes, ajudar a alma com o corpo; porque
se o corpo �stá razoàvelmente desenvolvido, contrtbu.l
de modo mais eficaz para a execuçiJo dos teus nobreJ
ansetos, do que se for enfermiço, débil ; e se te ocupares
hàbilmente com os e.zercfcios cotidianos, terás menos
qae fazer com os desejos desordenados.
O corpo jovem, robusto, mas acostumado a priva•
çõ'8 e disciplina, é um meio de defesa natural muito
útil contra a preguiça e o re�llamento. êerclcio corpo­
ral, não para seres uma amazona ou campeã de ténis,
11111 sim para conseguires que todo o corpo obedeça à
tua vontade 1

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200 PUREZA 1!. PORMOSURA

Não te descuides demasiado com a roupa que


deves usar segundo a estação. Há raparigas que não
tomam as devidas precauções neste ponto para defender
do vapor da rua e do pó os seus órgãos delicados, boje
mais expostos ao perigo pelo uso da saia curta e pela
confecção especial de algumas peças interiores.
Um corpo robusto e disciplinado é a melhor defesa
contra os achaques e contra o frio. A rapariga que
malbarata as suas energias em actos imorais não se
deve, pois, admirar se os seus nervos, a sua pele, o
seu sangue, não funcionam normalmente, se qualquer
corrente a prejudica, se cai fàcilmente vítima de enfer­
midades contagiosas, e se, no Inverno, tirita de frio,
apesar de envolta em agasalhos.
Admiras as herofnas de outras eras ? Donde
lhes vinham as energias que assombravam o inimigo?
Quando Soliman II sitiou a praça húngara de
Sigeto, entre os seus moradores havia um cavaleiro
casado com uma mulher ilustre, cilebre pela sua for­
mosura. Prevendo o marido que a cidade ia cair no
poder dos turcos, resolve livrar da desonra a sua esposa,
dando-lhe a morte. Ela adivinha o, e diz-lhe: •Eu con­
fesso que devo colocar nas vossas mãos todo o meu
sangue e estou pronta a derramá-lo, mas permiti que
outro o verta e não vós. Fàcilmente encontraremos
uma morte honrada combatendo o inimigo. Vamos
juntos procurar uma morte ilustre•. Dito isto arma-se
e sai, espada na mio e o escudo no braço, seguida de
seu marido.
Após largo e cruel combate, são derrubados pelos
turcos exasperados ante a resistência da cidade. Ao verem
os esposos cristãos que a vida se lhes esvai com o san­
gue que brota das feridas, abraçam-se pela última vez
e caem sobre um montlo de cadáveres inimigos.
O autor das uniões puras receberá, no céu, abraçadas,
as suas almas.
cEntrega a tua espada•, disseram a Skander Bey,
vencido. cA espada posso entregi-la - replicou ele -,

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ÂNIMO, CONl'IA f 201

mas o segredo da minha força não está na espada, está


no meu braço; melhor ainda, nem sequer no braço, mas
sim no sangue.• No sangue puro, são, não contami­
nado pela impureza 1
X X li - Suporta a dor!

Aprende a conservar a serenidade, a igualdade de


ânimo perante as provações e a dor. Não fica bem a
uma rapariga de carácter gemer ou choramingar diante
de qualquer contratempo mais ou menos grave, nem
mesmo diante dos mais rudes golpes da sorte. Não
devemos suportá-los com má cara; mas pelo contrário,
transformar essas contrariedades, aproveitá-las para for­
mar o carácter, tirar delas partido para compreender
melhor as harmonias da vida, que não são completas a
não ser à luz dum ideal eterno.
Se te dói a garganta, se estás doente, se há
alguma coisa que não aconteceu como desejavas, se te
fizeram uma injustiça, se foste objecto duma preterição,
se te censuraram sem motivo, não te sintas prostrada,
não te afundes na tristeza. Já o pagão Epicteto sabia
que o caminho da virtude é a privação e a paciência.
cAbstLne, susttne!, •Abstente e aguenta•, tal foi o
seu lema.
A que se porta com frouxidão e passividade ante
as forças e os instintos que se agitam em nós, está em
risco de tropeçar e cair no pecado. Procura, portanto,
intervir de modo activo, com mão vigorosa e firme, em
todos os momentos diffceis da vida. Se te fere uma
desgraça, se estás doente, se te desprezam, se te tratam
-injustamente, não desesperes, não mordas os lábios, não
chores inconsolivel, mas procura tirar proveito de
tudo isso.
Proveito? Mas como?
Quando o ferreiro deixa cair o pesado martelo
sobre a bigorna, o ferro incandescente e até o aço vão
adquirindo forma . • • Quando caem sobre ti os golpes

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202 PUREZA E FORMOSURA

da desgraça, não os recebas com ar de impotência, mas


10 contrãrio, levanta a tua fronte para o ideal que te
propuseste. Se aprenderes a elevar deste modo o teu
esplrito mesmo quando se te deparam as dificuldades e
as lutas do coração, nunca atraiçoarás a alma por amor
do corpo.
cfaz o teu trabalho o melhor que possas. cAge,
quod agis I• cfaz aquilo que fazes.• Se a vida já é por
si amarga não a tornes mais amarga ainda, encarando
de espirita abatido, as provas que de nenhum modo
podes evitar. Trata-as, pelo contrário, com a energia
dum espirita superior; se o fizeres terás ficado mais
forte, mais valorizada, terás vencido, afinal.
Não julgues que, para aproveitar de modo cons­
ciente o valor educativo da dor, se tem de renunciar, a
cada momento, às alegrias da juventude. Pelo contrArio,
terãs uma alegria maior, mais serena, mais profunda, e
irás edificando, a passo e passo, o belo templo do teu
futuro.
Aprende na idade juvenil, em que é tão frequente
a teimosia, a inclinar-te perante a vontade alheia, sempre
que o devas fazer, por muito que isso custe ao teu
temperamento e à tua obstinação.
Estima o teu corpo mas não o animes em demasia.
Segue o pensamento do espírito profundo de São fran­
cisco de Assis, que o chamava e irmão asno>. clrmão•
e não inimigo; é companheiro de viagem na vida, �
um tesouro precioso, como é companheiro e tesouro
para o viandante o jumento que o transporta. Irmão
casnoi.; portanto não é senhor, não é para mandar,
mas para obedecer. A que o amima em e:z:cesso, a que
lhe oferece continuamente manjares e guloseimas, a que
nlo é capaz de negar nada a um estômago e:z:ig,nte,
depressa terá de reconhecer que o corpo lhe domina
o esplrito. A rulna da alma pode não estar longe.
Diz-me, querida amiga, que dirias se um dia, ao
saires para a rua, visses que o cocheiro ia atrelado
ao carro e os cavalos sentados no banco? ... Cuidadol

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ÃNIMO, CONf'IA ! 203

Não entronizes no teu coração tendências materiais cuja


função é obedecer, nem imponhas ao espfrito, destinado
a dominar, um jugo que lhe não pertence.

X_X 111 - V_i_da higiénica

COMIDAS E BEBIDAS. - Recomendo-te encarecida­


ment� que, na medida do possível ponhas ordem
razoável nas tuas comidas. Comer demasiadamente é
provocar exigências e revoltas do corpo; pelo contrário,
uma prudente sobriedade mitiga os desejos sensuais.
Os manjares muito condimentados excitam os nervos, e
os nervos excitados dificilmente obedecem.
Não abuses dos alimentos com excesso de albumina,
nem comas carne de mais, principalmente à noite.
Come, de preferência, legumes frutas e mesmo pastéis.
Principalmente na última refeição, sê muito sébria.
cA que se modera no comer é a melhor mldica de st
mesma " «Modicas clbi, medtcu., slbl. > Não te deites
logo depois da última refeição, mas duas ou três horas
mais tarde. Interrompe também os teus estudos e tra­
balhos, sobretudo se te exigem esforço, uma hora antes
de ires para a cama.
Às refeições e depois delas, bebe a menor quanti­
dade possível de líquido. Se não tiveres cuidado, os
ácidos do estômago necessãrios para uma boa digestão
diluem-se, perdendo a força necessária para atacar
devidamente os alimentos.
Não bebas, portanto, sem passarem umas três horas
depois das comidas.
O corpo humano é como uma estufa: precisa de
combustivel para estar quente. A estufa damos carvão;
ao corpo alimentos. O carvão queima-se depressa na
estufa, os alimentos queimam-se lentamente no corpo_
Uma pequena parte dos combustíveis sai pela chaminé,
sob a forma de fuligem; a maior parte fica em forma
de cinza sobre a grelha da estufa. Se nlo houver o

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204 PUR�ZA E FORMOSURA

cuidado de fazer regularmente a limpeza, a grelha obtu­


rar-se•ã, apagando-se o fogo.
Também o nosso corpo necessita de combustfvel.
Uma parte sai através da pele; é o suor. Hã neces­
sidade de limpar bem os poros, com banhos fre­
quentes, para mantê-los abertos. A maior parte das
matérias in a s s i m i lâv e i s, que o corpo não pode
aproveitar, mantêm-se em nós como um montão de
cinza.
É necessário descarregá-las todos os dias, de preferên­
cia de manhã, porque, doutro modo, poderiam causar
perturbações, eni:aquecas e até enfermidades graves.
Sê ordenada nestas coisas. Se puderes evacuar com
regularidade e todos os dias, estis a contribuir grande­
mente para o teu regular desenvolvimento Hã jovens
muito descuidadas neste ponto, talvez porque nunca
ninguém lhes chamou a atenção.
Não tomes muitas bebidas alcoólicas. Os actos
imorais cometem-se não poucas vezes pela e:icitaçlo
que essas bebidas causam. A Sagrada Escritura previ­
ne-nos: •Nollte tnebriart vino, in quo est luxu,ta• o,
e Não vos entregueis com excesso ao vinho; nele estã
a luxúria., E noutra passagem: • O vinho , causa de
luxúria e a emhriaguls i cheta de desordens; nao I
sensato quem a ela se entrega., 12> Já os antigos romanos
diziam que onde Baco atiça o fogo, se encontra escon­
dida Vénus, deusa da imoralidade. Muitas raparigas
que mantiveram durante anos, com esforço heróico, a
pureza da sua alma, perderam-na depois, quando se entre­
garam a bebidas alcoólicas. Alguns copos bastaram
para lhes destruir o pudor, numa noite de festa . . • e daf
à perda da pureza foi um passo.
Não esqueças pois a sentença da Sagrada Escri­
tura 1: «Jorntcatto et fJlnum et ebrte ta s auje,unt

ui Aoa Efislos, V, 18.


(2) Provtrblos. XX, 1.

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ÃNIMO, CONFIA ! 205

cor.• O> «A desonestidade, o vinho e a embriaguez tiram


o bom senso.»
O teu futuro e o de teus filhos estão estreitamente
ligados ao uso discreto ou insensato que fizeres do
âlcool. A cerveja, o vinho, os licores são muitas vezes
um verdadeiro veneno. t necessário estares de sobrea­
viso, para reflectires devidamente, antes de beber, sobre
quando e como o deves fazer. Saber tomar um cálice
quando as circunstâncias o requerem, é o segredo duma
rapariga de carãcter e educada. Evita com verdadeiro
empenho que ninguém possa ver-te animada e loquaz
pelo abuso do álcool. Não há nada mais vergonhoso
e difamante que a embriaguez da mulher.
Se pensas em casar-te, antes de tomares qualquer
compromisso, informa-te com especial cuidado acerca
do uso que o teu futuro marido faz das bebidas.
Um homem dado ao álcool não pode fazer-te feliz nem
dar-te senão filhos anormais, vitimas da escrofulose, da
cirrose hepática, da idiotez. de ataques epil�ticos ...
Cuidado, portanto, neste ponto 1
CAMA - À noite procura deitar-te cansada, e de
manhã, quando vires que já descansaste não permane­
ças na cama. O teu leito deve ser mais duro que fofo,
mais fresco que quente. Experimenta: quanto mais
dura for a cama. mais fàcilmente poderás dominar o
teu corpo caprichoso. Os cobertores servem para con­
servar durante a noite a temperatura a que durante o
dia o corpo se mantém, graças aos movimentos e ao
vestuário. Se, por conseguinte, deres mais calor ao
corpo durante o sono do que a temperatura normal
durante o dia, esse calor excessivo excitará os teus ner­
vos, podendo originar tentações muito fortes. O calor
e a cama excessivamente fofa são temível incentivo dos
desejos sexuais.

(1) Oscas, lV, li.

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206 PUREZA� FORMOSURA

Procura que o ar do quarto de dormir seja puro.


Se for passivei e o médico to permitir, dorme com a
janela entreaberta; o ar fresco é um banho para os
pulmões, como o é para o corpo a �gua pura. Que
diferente despertar o daquda jovem que dormiu com
ar puro, principalmente ar livre, do daquela outra que,
numa atmosfera carregada de gases, só com grande
esforço pode recobrar a boa disposição 1
Ao vestir-te evita os cintos demasiado justos, que
perturbam a circulação do sangue; no entanto, não te
aconselho que andes sem eles
SONO- Dorme sempre para o lado direito. Não
de costas, porque o calor da espinha dorsal excita o sis­
tema nervoso ; nem para o lado esquerdo porque isto
oprime o coração. De manhã, uma vez acordada, não
permaneças na cama. Posso dizer-te que, em regra, a que
permanece durante muito tempo na cama de manhl,
depois de acordar, chega a consentir em pensamentos
impuros. O pagão Horácio fazia já esta pergunta:
«Os assa�sinos levantam-se ainda de noite para aniqui­
lar as suas vitimas; não serás capaz de te levantar
para te aniquilares a ti mesma?•
Ut iugulmt homine.s surgunt de nocte lotrones:
Ut te ipsum serfJes, non expergiscaris?
1Ept11. 1, 2).

O diabo é um grande senhor; levanta-se tarde,


disse um orador. Quando começa a sua volta de cor­
rupção, as raparigas diligentes já há muito que estão a
trabalhar; a estas, nada lhes pode fazer. Mas, ai das
que ele ainda encontra na cama I Prende-as, consegue
seduzi-las, torna-as suas escravas.
Ao verdadeiro sono sucede o estado de sonolência,
e neste, muitas vezes, a vontade é... como manteiga
derretida: cai sem resistência na escravidão da anima­
lidade. A que se deixa estar na cama sem dormir, estã
deitada sobre as almofadas do diabo. Se não tens nada

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ÂNIMO, CONFIA 1 207

urgente que fazer dorme enqu1mto puderes; mas uma


voz acordada, salta da cama. Ê uma regra importante,
sobretudo para o tempo de férias, em que não tens
nenhum dever que te apresse.
G1NAsr1cA E BANHO - Se puderes, faz todas as
manhãs, durante um quarto de hora. exercfcios de
ginástica com a janela aberta; lava-te, depois, da cin­
tura para cima com água fria e, depois de en:iuta,
fricciona-te fortemente com a palma da mão seca. Esta
ginástica matutina e o uso da água fria tempera os
nervos.
Se, por qualquer motivo, tiven·s de ficar de cama
durante alguns dias, deves pôr especial cuidado em
ocupar-te com alguma coisa leve, rezando e lendo, por
exemplo; é um facto qut muitas jovens são acometi­
das de pensamentos pecaminosos justamente nas doen­
ças, quer dizer, precisa111ente quando espernm o resta­
belecimento da sua sal.ide corporal, como graça do amor
de Deus.
XXIV - �scolhe bem os teus vestidos

Gostaria de te dar alguns conselhos práticos, São


muitas as raparigas que com a preocupação de agradar,
esquecem a honestidade; mas o gosto e a modéstia
nunca se deviam separar. Em os saber unir está o
segredo da rapariga autênticamente cristã l
Por certo que é necessário cuidar da graciosidade
exterior; nisso reside grande parte dos atractivos femi­
ninos; mas o afã de domfnio e conquista, não deve
fazer esquecer, minha querida, que se as graças exte­
riores não andarem unidas às do coração e do espf rito,
todo o triunfo serã fictfcio. Tudo o que não acompa­
nhar a virtude. não tem solidez.
As raparigas, geralmente, costumam estar conven­
cidas de que a beleza é a única coisa que pode dar-lhes
a conquista e o domlnio que ambicionam. Lamentável
equivoco l A formosura, só por si, não basta para

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208 PURl!ZA B FORMOSURA

agradar por muito tempo, escreveu uma mulher, madame


de Lambert.
Para a rapariga cristã de verdade, o seu maior
interesse deve concentrar-se «em agradar pela doçura,
as atenções, o esplrito de ordem, o amor ao trabalho,
o afecto desinteressado. a paciência e o bom senso.
A formosura mais fresca e exuberante desagrada sem­
pre que a ela andam unidas as exigências, a aspereza,
o egotsmo e os arrebatamentos•, continua a citada
escritora.
O desejo de agradar, de triunfar, levou Maria Anto­
nieta de frança, a fotografar-se com a cabeça adornada
de monumentais penachos. Envia o retrato a sua mie,
Maria Teresa. A austera imperatriz da Alemanha, devol•
ve-lho, acompanhado destas palavras: «NIQ, este nlo
� o retrato duma rainha de frança ; equivocaram-se, é
o de alguma actriz. >
Eis duas mulheres que triunfaram na vida, mas de
modo muito diferente: Maria Antonieta, deixando a
sua cab�ça na guilhotina, passa à posteridade como
inconsciente e desgraçada, símbolo dos pecados de todo
o povo; Maria Teresa, cheia de bom senso e magna­
nimidade, como sfmbolo de grandeza do povo a quem
amou.
Uma preocupou-se só com a beleza, e não soube
dar eternidade aos seus actos, tendo um só gesto de
energia em toda a vida, ao subir corajosamente a gui­
lhotina, condenada pelo seu luxo e dissipação A outra
encheu a sua vida com valores eternos, derramando por
toda a parte as graças do seu coração e da sua inteli­
gência.
Tu, querida rapariga, que modelo escolherias?
Tem muito em conta, para teu governo, que nlo
são as jovens mais lindas e mais esbeltas as que con­
seguem a vitória no mundo das conquistas. Costumam
fiar-se demasiado nos seus dotes naturais. No seu orgu­
lho de atrair todos os olhares, creem que basta a sua
presença para triunfar. E colhem amargos desenganos 1

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ÂNIMO, CONFIA 1 209

Por isso nunca te queixes das tuas qualidades nem


tenhas inveja das outras raparigas. Na diffcil arte de
agradar, uma mulher, à força de querer apresentar o
que não é, pode converter-se numa afectada, numa
ridfcala, e também por desgraça, numa desmiolada ..•
Destes lamentáveis defeitos gostaria de ver livres
as minhas leitoras, quando forem estrear as suas graças
no grande teatro do mundo.
Uma exibição exagerada de vestidos, penteados e
adornos, pode pôr em grande perigo a pureza feminina:;
por isso queria dar-te algumas regras que te ajudem e
que deves interpretar discretamente sempre que preten­
das agradar.
Primeira - Conserva e realça os atractivos de que
Deus te dotou.
Segunda - Procura atenuar e corrigir as imperfei­
ções que tenhas, mas com tal arte e discreção que não
caias no ridlculo.
Terceira - Mostra-te, anda e fala com graça, sem
afectação nem gestos violentos.
Quarta - Aprende a vestir com elegànda, e foge
do exagero. Exagerar denota sempre mau gosto, al�m
de revelar ausência de qualidades ou falta de con­
fiança nelas.
Aconselho-te que nunca aceites as modas imedia­
tamente e sem reflectir. Estuda primeiro o que te con­
vém : olha se com elas favoreces a guarda da tua
pareza ou se a prejudicas. Pode-se muito bem ser ele­
gante sem recorrer ao descarado. Não deve a moda
ser tio tirana que obscureça a razão a uma jovem de
espfrito cristão.
Por outro lado, uma rapariga de compleição forte e
desenvolvida não pode aceitar determinados vestidos
e adornos que outra, de.figura delgada, poderia escolher.
Ambas podem vestir muito bem, mas nunca igual.
E, sobretudo, precisas de ter bem presente que
nunca deves ser motivo de tentações, mas sim fomen­
tadora de boas obras e de castos ideais. Aqui reside
u
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210 PUREZA E FORMOSURA

a maior dificuldade: raparigas jovens, vestindo sem


pudor, queixam-se da perseguição que por vezes lhes
fazem I De quem i a cnlpa? Nlo teremos de reco­
nhecer que elas não sendo más, são, todavia, incons­
cientes r Não é verdade que as domina o desejo de
agradar, a todo o custo? Coitadas! Esquecem que
têm alma e que são cristãs. Quantas se confundem,
pelo seu aspecto, com raparigas pouco sérias 1
foge, querida jovem, foge com santo horror do
exagero. Nada conseguirás com ele. Antes pelo con­
trário, denotaris uma grande falta de gosto e educação.
Não tornes afectada a arte de agradar, porque será muito
fácil caires no ridfculo.
Confesso que são muito poucas as mulheres que
sabem fazer bom uso deste sentido especial com que a
natureza as dotou. Umas, formosas, enfatuam-se com
a sua formosura, outras empregam esforços descabidos,
que dão mã impressão a quem trata com elas. O teu ideal
deve ser: elegantemente modesta e crtstdmen.te elegante.
,A moda - dizia um pensador - é uma dama pagl
que não é preciso baptiur para se conviver com ela•.
Cuidado I Não chegue o teu entusiasmo a tal ponto que
termines por ser pagl, vencida pela moda, quando é a
moda que deve terminar por ser cristã, vencida por ti.
Minhas jovens leitoras, alerta com o império da
moda I Não sejais escravas I Vestir bem, pensando
sempre que deveis agradar... mas não tentar ...
Ai daquela que provoca o escândalo! -disse o Senhor.
A Igreja, velando pelo bem das almas, traçou as
normas que devem guiar a mulher cristã. Procura
conhecê-las e praticá-las. Conserva sempre recta a tua
intenção para que a consciência não possa acusar-te à
hora da morte.
XX V - Não estejas ociosa!

Não i em vlo que dão à preguiça o nome de


•almofada do diabo�. Nunca é demais repetir-te que

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ÃNIMO, CONFIA l 211

nlo deve$ estar ociosa. nem mesmo durante as férias,


Ao passear através das montanhas, detenho-me sempre
com emoção nas margens dum riacho impetuoso. espu­
mante. Que diflcil trabalho o deste fio de água I Como
vai abrindo caminho no solo I Como vai corroendo a
rocha l Como vai preparando, cavando, o seu leito 1
Não descansa, não se detém um só momento. Passa
às vezes atravls de terra lamacenta. Mas, depois, que­
bra-se de encontro ãs rochas, pulveriza-se ... , e a sua
tgua, dentro em breve, é tão formosa, tão llmpida como o
cristal. Pelo contrário, ao chegar à cómoda planície,
onde escorrega como em seda, onde já não tem muito
que fazer... torna-se preguiçoso, menos esforçado.
E quando as éguas param •.. estacionando nas conca­
vidades, transforma-se num pântano fétido, pasto de
vermes.
A inércia, a imobilidade, são sinal de morte ·e
fomentem a anemia da vida espiritual. Quando a rapa­
riga vai pulverizando, com duro trabalho, as rochas que
lhe estorvam o passo na vida, enquanto vai abrindo com
o seu esforço o caminho dum belo futuro, a sua alma
pode conservar-se pura com relativa facilidade. Mas
estA eminente a queda, quando as forças jovens, em vez
<!um trabalho sério, se consPrvam inertes na cavidade
do tédio e da preguiça. cWer rustet rostet•, •O que
estA sem fazer nada enferruja•. Nlo foi em vão <:)Ue
Ovfdio escreveu: «Vtnus otta amat-., •Venus, a impu­
reza, ama o ócio•. A preguiça alimenta a imoralidade.
A perdição espiritual de muitas raparigas começa
justamente nas horas de tédio das férias, quando nlo
fazem nada . • • Quem nlo faz nada aprende a fazer o
mal. Muito profunda é a Sagrada Escritura ao dizer:
cA ociosidade j mtle de todos os 'D/elos-.. U>
O espfrito humano tende continuamente para tra..
balhar; estA sempre activo. E se a rapariga •nlo faz

(1) Eclcslástlto. XXXIII, 21.

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212 PUREZA E FORMOSURA

nada• já peca, porque condena à inércia a adividade­


da vida.
A que não sabe ocupar o espirito em qualquer coisa
não tardará a ser assaltada por maus pensamentos.
Dos maus pensamentos brota o desejo, do desejo o acto,
do acto o mau hábito, a corrupção. «O trabalho é o
sal da vida; preserva-a da corrupção• (TOMPA). Afoga,
portanto, no trabalho, as exigências das tuas más incli­
nações. Ocupa-te sempre, em qualquer coisa I Nunca
estejas ociosa 1
Todas as raparigas devem ter uma ocupação favo­
rita, a que se entreguem com mais gosto e em que
aproveitem as forças e o tempo que lhes sobram. Que
uma cultive as suas flores, que outra borde ou faça
malha, que uma terceira se dedique à música. Que
esta desenhe, aquela tire fotografias. Que esta crie
pombas, aquela coleccione selos ou trabalhe no jardim.
Hã quem tenha prazer em aprender llnguas estrangeiras,.
quem prefira a música ou o canto, a encadernação ou
a confecção de peças de vestuário. Se quiseres, não
terâs dificuldade em encontrar uma ocupação a que te
dês com alegria. . . Peço-te que não sejas daquelas
que não fazem nada.

XXVI-Alguns conselhos médicos

No ano de 1932, organizou-se em Budapeste uma


exposição de defesa da higiene social. A Associaçélo
Sexual-Ética dos M,dlcos Húngaros expôs ali, entre
outras coisas, dois pequenos cartazes; cada palavra é
ladice dum critério são, digno de médicos cristãos.
Ainda que alguns conselhos sejam dirigidos especial­
mente aos rapazes, convém-te sabê-los. Assim poderás
conhecer melhor se o jovem que te corteja é digno de ti.
Num dos letreiros lia-se :

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ÃNIMO, CONFIA ! 213

DECÀLOOO DA HIGIENE

1. N4o comas multo de cada 'CJez. Cela trls horas


antes de te delta,, e seja a tua re/eiçdo de alimentos
fragais e /dcllmente dlgerlfJeis.
2. Ndo tomes bebidas alcoólicas, nem multo chd
ou café forte; ndo comas alimentos excessivamente
condimentados nem multa carne.
3. Procura e'Vacuar didriamente, porque a reten­
ç�o congestlona o sangue e o baixo ventre.
4. Dorme em aposento fresco sobre colchdo duro,
pàra o lado direito ; para cobrir-te usa um cobertor
leve. nà9 excessivamente quente,· nil.o uses cedredon-..
5. Evita estar acordada na cama, pela manhd ,­
.levanta-te logo que despertes; a tua maneira de vestir
niJ.o deve parecer mole ou afectada.
6. PDe especial cuidado na limpeza da cútis, lava
grande parte do corpo. banha-te multas vezes e. se for
poss(fJel, dedtca-te um pouco à natuçãc,. O banho tipido,
a noite, contribui para um sono tranqatlo.
7. MofJlmenta-te quanto possas, ama a natureza,
faz, quando te seja posslvel, algum desporto, dedica
pelo menos uma hora diária ao passeto.
8. Repudia os livros, as revistas, os quadros
-licenciosos; Joge daquelas que manUm conoersas imo­
rais; n4o andes por lugares de di-oersdo frlvola e
obscena; na.o te dediques ao baile.
9. Procura criar em ti, e em torno de ti, um
ambiente puro e lrrepreenslvel do ponto de vista moral;
a melhor defesa , o ataque.
/0. Alimenta as tuas relaç6es com Deus,· li a
sua Rtflelaça.o. abre-lhe a tua alma, espera com I' ser
escutada, vive com o pensamento de que Ele estd sem­
pre ao teu lado.

O segundo letreiro diz assim:

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214 PUREZA E f'ORMOSURA

DECÀLOGO DO MATRIMÓNIO

1. Para te casares, es�ra que o teu corpo se


tenha desen1Jolvido o suficiente e estejas preparada com
os recursos necessdrios a toda a mile para sustentar
uma famtlia.
2. Aproveita os anos da jufJentude, principal­
mente para te preparares o melhor posslvel para a
grande luta da vida.
3. Aprende, desde solteira, a ser poupada e econd­
mica. A economta trard o bem•estar à /am!Ua. Si em
tudo sóbrta.
4. Ndo olhes o matrLmdnlo como fonte de praze­
r,s, como tempo em que tudo , permitido, porque a
vida conjugal tambim tem as suas dificuldades, tenta­
çôes e lutas.
5. O matrlm6nto , um deotr graTJe da flLda: está
c/r.elo de obrtgaçôes; Justamente por isso d um campo
mutto apropriado para desenvolver o carácter.
6. N4o escolhas o companheiro da tua vida
galada por vantagens matertats, porque uma má admi•
ntstraç4o ou urn golpe de sorte adversa podem destruir
a maior fortuna. Dispôe-te, antes, a colaborar, traba­
lhando tu tamblm, se /or necessário.
7. O ,mportante para ti n/J,o deve ser o exterior
agradável, porque a beleza murcha, e mesmo que se
conserve d um tesouro de valor tqu/voco, porque acar­
reta multas tentaçDes e perigos.
8. Procura no companheiro da tua vtda as qualt­
dades espirituais, a fidelidade, a dlUgincla, a econo­
mia, a deluadeza, a pactlncla, a pureza, e si tu a pri­
meira a cultivar estas qualidades.
9. N/Jo te precipites na escolha; procura pri­
meiro conhecer profundamente o teu escolhido na fllda
didria, e ntlo te detxes guiar pela casualidade nem por
tmpressôes de momento.

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ÂNIMO, CONPIA 1 215

10. O nol11ado n4o deve ser e:rcesstvamente prolon­


gado ; evita os encontros impuros, sensaats; prepara-te
com seriedade santa para o grande dever que te espera.
A unt4o mal.s feltz é a das almas que criem em Deus.

Por aqui podes ver que tudo o que te exige a moral


crista, no interesse da tua própria felicidade e do desen­
volvimento calmo do teu caráder. o exig e também a
ciência médica.
Mas as dez alfneas de ambos os letreiros inspi­
ram-me um pensamento sublime. de que gostaria de te
falar agora mais amplamente: é a relação que há entre
a vida de piedade e a pureza.

X X V 11 - Um amigo paternal

Procura um director espiritual. Nlo perguntes nada


às tuas amigas, sobre coisas sexuais. Se um cego guia
outro cego, ambos caem no precipicio. Como podera\
dar-te luzes para aclarar os teus problemas, uma pessoa
que também se debate na obscuridade, com as mesmas
dlividas, e recebe os seus conhecimentos de ciniciaçlo.,
talvez de fontes muito impuras, livros frlvolos e obsce­
nos ou conversações atrevidas? Essas amigas e ilustra­
das» falam, em regra, destas coisas, sumamente graves,
num tom bai.J:o e de tal modo leviano, que depois de
conversares com elas, a tua alma fica no maior desas­
socego, e a tua fantasia se povoa de representações
perigosas.
A SAGRADA ESCRITURA diz com tronla: EvUa falar
de santidade com o homem sem religt4o; de Justiça
com o inj,uto •• . ,- de guerra com o cobarde •.. ; d6
honestidade com o desonesto ..• �· com o seroo pregal­
çoao, sobre o esforço do trabalho. Nanca tome, conse­
ll&o, destes sobre tals coisas. c1>

U) Eclestástlco XXVll, 12-14.

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216 PUREZA E FORMOSURA

Não procures a solução das tuas dúvidas nos dicio­


nários, nem nos chamados livros de medicina. Muitos
dos que se vendem debaixo deste titulo, são por vezes
trabalhos grosseiros de charlatães, em que nlo há os
mlnimos requisitos de seriedade e que apenas servem
para excitar a fantasia já de si fogosa. Ademais, neste
terreno, como repeti em muitissfmas ocasiões, o que decide
uma vitória não é o saber mas sim o querer. t passivei
conhecer-se até aos últimos pormenores o funcionamento
dos nossos órgãos e os perigos que traz o abuso Geles
e, apesar de tudo, cair-se com frequência, mergulhar-se
mesmo na vida imoral, se faltar uma vontade forte, dis­
ciplinada, preparada por uma educação metódica.
O que te recomendo com o maior empenho é que
te não feches com as tuas dúvidas. «AI. daquele que
está só - diz a SAGRADA ESCRITURA-, porque. se cai,
ruJ.o tem quem o levante I
Mas põe-se-te o problema:
-A quem hás-de pedir explicações quando te assal­
tam dúvidas graves?
Em primeiro lugar, à tua mie ou ao teu director
espiritual. Em primeiro lugar à tua mãe. Se, porém,
ela não tiver tempo, ou se te nlo atreveres a ser com­
pletamente sincera com ela, podes dirigir-te. confiada­
mente, ao teu director espiritual. Sê com ele comple­
tamente sincera; sentirás alivio, e terás a vitória já
quase ganha.
Não temas que ele abuse da tua confiança. Se em
momentos de tentação lhe abrires completamente a
alma; não se rirá das tuas lutas; antes, pelo contrá­
rio, sentir-se-á honrado de que o tenhas escolhido para
depositário das tuas confidências. Ele sabe que, se não
resolvesse as tuas dificuldades, tu procurarias solução
noutra parte, donde receberias talvez uma resposta que,
longe de ser-te proveitosa, te poderia causar os mais
graves danos. Sabe que a juventude vagueia no meio
destas lutas como peregrino solitário perdido em noite
escura.

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ÃNJMO, CONPIA 1 217

Mas o que ele te disser não o vás repetir impruden­


temente às outras; lembra-te de que esse conhecimento
é um tesouro sagrado, e exp0-lo à luz do sol, descu­
bri-lo a outrem, pode ser prejudicial. Não esqueças de
que estas coisas são uma verdadeira e perigosa espada,
que pode não te ferir a ti mas ferir a outras que não
estejam em condições de a empunhar.

X X V 111 - Do diário duma rapariga

Oh! meu querido diário I Não escrevi até agora


nas tuas pêginas nada que se pareça com isto I Mas,
f)Ue hei-de fazer? Não posso calar. Confesso-te: estou
enamorada I Sim, sim I Não cores, não te escandalizes,
a culpa não é minha.
Sabes? Há já algumas semanas que, pela manhã,
no mesmo carro, viaja também um rapaz, simpitico
•estupendo». Tão atraente que não encontro expres­
sões para o descrever. Não é passivei. Transtor­
nou-me por completo. Desde então não tenho repouso.
É verdade.
*
Não sei explicar isto que se passa em mim. Hesito
em descrevê-lo, mas tenho necessidade de me e:ipandir.
Estou clouca•. E o que é mais, a minha mie está intei­
rada de tudo.
Ontem, depois de jantar, sentei-me a escrever as
impressões do dia. De repente, sem fazer ruido, ela
entrou. Num gesto instintivo, quis o c u l t a r o meu
caderno. Porém, arrependi-me logo: nunca tinha tido
segredos para a minha mãe . • . Suponho, todavia, que
um rubor me subiu às faces.
- Minha fiJha, gostaria de tratar contigo dum
assunto. Há qualquer coisa que te preocupa e tu não
me disseste nada.

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218 PURl!ZA E PORMOSURA

-Que me preocupa? Porque me dizes isso,


mamã?
- Oh 1 Os olhos de mãe são muíto penetrantes 1
Ao jantar, servi-te um dos teus pratos favoritos. Mal
deste conta. Os teus pensamentos vagueavam por
outras regiões. O que tens, minha filha?
Os seus olhos cravaram-se nos meus. Tive um
momento de sobressalto. Lembrei-me de que por des­
cuido havia deixado o meu diário aberto.
- Mamã, leste o meu diário ?
- Só um a frase, uma frase que escreveste ontem.
e ficou na pãgina aberta •. .
- Pois sim, maml. Para que negá-lo ?
-Nlo, não negues; não te envergonhes. fala.
Desde quando e como?
- Há umas semanas que vamos sempre juntos
no mesmo autocarro para o nosso trabalho. Sobe na
Praça e desce pouco depois. Não me falou ainda.
No entanto, não faz maia nada senão olhar para mim,
e, depois que me envolve com o seu olhar, sinto em
mim um calor estranho. Um dia caiu-me, com um
empurrão, a pasta que levava cheia de livros; imedia­
tamente se curvou para apanhá-la. foi tão amável,
ao devolver-ma e oferecer-me os seus serviços 1
Um dia P.m que o não vi, parecia que me faltava
qualquer coisa; toda a manhã estive de mau humor ...
Maml, est4s a rir? É passivei que julgues tratar-se
duma brincadeira. Mas eu já disse tudo. . . Muitas
vezes sonho com ele I E penso . . . O quê? - Nada.
Nada absolutamente. Quer dizer, penso, como é natu­
ral. Mas só assim, vagamente. Gosto de estar sen­
tada a olhar não sei para quê. . . sem fazer nada, a
olhar sbmente.
Nlo sei como as minhas amigas chegaram a saber.
Não me faltava mais nada I Ontem de manhã troçaram
de mim. «Aqui está a que fugia dos rapa zes•, •• que
nlo gostava dele&>, «Agora também caiu na redei•
Ainda que eu não seja namoradeira como alguma& das

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ÂNIMO, CONPIA ! 219

minhas companheiras, também não desgosto dos rapa­


zes. Pelo que elas chegaram a irritar-me com estas
coisas. A verdade, é que não sou tão louca como
algumas. Nlo me ponho com a janela aberta a fazer
cenas, nem escrevo papeJinbos com declarações ...
Mas elas não ficaram por ali; começaram a falar-me
de coisas ..., em tom de troça, ferindo-me extreordinà­
riamente.
A estas palavras, minha mãe olhou para mim, e
acrescentou em voz calma :
- Já falaste destas coisas com o teu director ?
- É uma coisa tão recente I Ainda não. Mas
conto falar-lhe por estes dias .

Pois bem, já não podia mais e fui falar com o
Padre. fesse como fosse, tinha de me explicar. Nunca
lhe havia ocultado nada, mas desta vez sentia dificul­
dade em abrir-lhe a alma.
Havia jã um quarto de hora que eu a esperava, sen­
tada junto do confessionário. Por fim, aproximou-se.
- Padre - preciso de ]he dizer uma coisa, mas
queria que me ajudasse.
- Compreendo o que desejas. Podes estar à von-
tade. Deves, realmente, pedir conselhos nestas coisas.
- Padre, gostaria de dizer-lhe ... que ele ...
Não pude continuar. O Padre interrogou-me:
- Queres dizer que estás enamorada, não é ver-
dade?
A pergunta não me surpreendeu. Estou jã tão
acostumada a que o seu pensamento penetre no meu
Intimo, que mesmo desta vez nlo me causou admiração.
Pelo tom das suas palavras compreendi que nlo
iria censurar-me. E contei-lhe tudo: o nosso encon­
tro, os meus sonhos ...
- Padre, mas será permitido a uma rapariga da
minha idade enamorar-se? - perguntei-lhe. E senti

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220 PURl!ZA E FORMOSURA

que o sangue me subia às faces. Ele deteve-se- mais


pensativo ainda que de costume - e respondeu-me com
-outra pergunta:
- Não queres trabalhar desde jt na preparação
do teu futuro ?
fiquei surpreendida.
- Claro que sim. Mas é esta a resposta à minha
pergunta?
- Sim, talvez seja I Sabes já pelos teus conheci­
mentos de Religião que o amor entra no plano de Deus.
Sabes que é um dos pensamentos mais sublimes, do
Criador. Mas o amor não pode ser brincadeira de crian­
ças. E os amores prematuros não são outra coisa, Sonhar
durante horas e horas, andar em passeios, ler cartas amo­
rosas, dei:z:ar que lhe façam a corte, e contudo cumprir
o seu dever ... é impossível Não concordas comigo?
- Sim. Mas não posso deixar de querer-lhe,
Padre. Tem o meu coração cativo. Hei-de romper
todos, todos os elos, que me prendem a ele? - E a minha
voz tremente denunciava a luta que se travava no meu
interior . , . Esperei ansiosa a resposta.
- Não, não digo isso, filha. Claro está que mais
-valia que isto não tivesse acontecido por enquanto.
Mas, realmente, não tens culpa de que os olhos desse
jovem te interessem mais que os teus estudos e trabalhos.
Estas coisas são próprias da vida. Cedo ou tarde,
acontecem com toda a gente. Mas faz o passivei por
esquecê-lo. Não rompas violentamente, mas procura
esquecê-lo de todo, e então a perturbação passará.
Encontra-lo muitas vezes?
- Só no autocarro.
- Nlo vos escreveis?
- Não. Uma vez pensei faz�-lo, mas senti que nlo
era bem e desisti.
- Trabalhas com o mesmo socego que dantes?
- Sim, com o mesmo I E, o que é mais, sinto-me
mais senhora dos meus pensamentos. Quando me vem
.alguma tentação custa-me menos afugentã-la.

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ÁNIMO, CONflA J 221

- Bem, minha filha, nlo te preocupes; presta ao


caso a menor atenção possfvt:I e promete-me uma coisa:
seres muito sincera. Se notares alguma mudança no teu
estado de espfrito, virás imediatamente consultar-me?
Enquanto o fizeres com absoluta confiança, não temo
por ti. O mal seria se alguma vez dissesses contigo
mesma : isto não o direi ao Padre.
Ainda que um pouco perturbada pela emoção,
respondi, sem hesitar :
Isso, Padre, não sucederá nunca ...
Deu-me a sua bênção e levantei-me com o coração
cheio de felicidade.

Acaba, aqui, o fragmento do diãrio.


Um bom director espiritual, � a melhor das bênçãos
que o Céu pode dar a uma rapariga.

XXI X-Junto à fonte duma nova vida

Há um outro meio poderoso para ajudar-te na luta:


a confissão e a comunhão. Não vou deter-me no estudo
deste meio tão eficaz de autoeducação e de domlnio
próprio. Mas queria que tu pensasses a respeito deste
ponto como deve pensar uma jovem de consciência.
O menino nlo quer que o lavem. Na vida do
espfrito acontece uma coisa semelhante; os principian­
tes sentem calafrios ao pensar na confissão. Mas tu já
sabes apreciar a sua força educativa, tu já conheces os
profundos sulcos que ela abre na alma. Não somente
a aprecias, mas ainda mais aproveita-la, espontânea­
mente, sem precisares que ta recomendem.
O corpo envenenado não descansa, enquanto se
não libertar do veneno; e se por acaso o não conse­
gue, por vezes morre. O mesmo sucede à alma quando
se não liberta do veneno do pecado. Portanto, à medida
que a luta aumenta, multiplica as tuas visitas ao confes-

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222 PURl!ZA B FORMOSURA

sionário, e se te for posslvel, procura sempre o mesmo


confessor.
Confessa-te com sinceridade ... e com firme pro­
pósito de emenda. No próprio momento em que apões
as tuas lutas ao director espiritual, já dAs um grande
pauo para te emendares, porque obrigas a tua natureza
obstinada a seguir par caminhas de que desejaria
afastar-se.
Ali encontrarãs uma suave mão paternal que te
ampare e te ajude nas tuas dificuldades. Encontraràs
um bálsamo que te cure as feridas, um pai benévolo
que com amor vela por ti, pondo o melhor do seu
esforço em te salvar dos perigos. Todos podemos errar,
mas reconhecer o erro e propor emendar-se é próprio
das jovens de carácter.
Tu sabes, por experiência, que fontes de energia e
paz indizlvel se abrem no teu espirita, ao ajoelhares-te
no confessionário e abrires a tua alma I As mais secre­
tas manifestações da paixão, as incipientes conquistu
do pecado, as tempestades desencadeadas pela tentação,
as feridas abertas em carne viva, as tu;,s dores mais
Intimas tudo ali descobres diante do confessor, que não
só toca as chagas com caridade cristã, com afecto de
verdadeiro pastor, compassivo e experimentado, mas
ainda mais com a força providencial que brota da sua
missão superior, divina.
- e Foi isto, Padre. Pequei nestas circunstlncias ..•
tantas vezes. Que hei-de fazer para ser mais forte?
Com o hei-de fazer para me corrigir, para me
libertar?
Prestarás atenção ãs prescrições e conselhos do teu
diredor espiritual que procurart dispor o melhor possl­
vel a tua alma para receber a graça de Deus. Depois.
levantar-te-is do confessionArio, o rosto brilhante como
um templo iluminado, o coração em paz, com a alegria
intima de quem se v� livre dum enorme peso. Sentirés,
com a tua própria experiência, que nlo há prazer como
o da paz do espirita. .E diante de Deus formarás o teu

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ANIMO, CONFIA 1 22!

propósito:- Não tornarei a pecar. Serei fiel toda


a vida.
São verdadeiramente inumeráveis as raparigas que
foram resgatadas pela Confissão e Comunhão. Prou­
vera a Deus, todavia, que tu conserves ainda a tua ino­
cência e não precises, por isso, de resgate. Para isso,
peço-te encarecidamente que te habitues, desde já, a
confessar-te com sinceridade e com devoção uma vez no
mês pelo menos. Posso assegurar-te que, se o fizeres.
não terás motivo para recear pela tua alma. É passivei
que tropeces na vida, é posslvel que chegues mesmo a
cair, mas levantar-te-ás de novo e não ficarás mergulhada
no pecado.
Duvidas?
A propósito de confissão, queria advertir-te que não
vãs no séquito de certas mulheres. Não te guies pela
moda para escolheres o teu confessor. Procura o que
mais convém ao teu actual modo de ser. cLdrado
sobretudo e não meio letrado>, como judiciosamente
ensina Santa Teresa.
Não imites aquela senhora que dizia em conversa:
- Eu não me confessaria senão ao Padre X , ..
que é um pregador célebre.
Poderias ouvir uma resposta do mesmo tom :
-Sim I Jâ se vê que a senhora tem pecados
célebres ...
Acautela-te, porque a vaidade pode insinuar-se até
nas coisas mais santas.

XXX- Comigo está o Senhor!

Os micróbios das doenças são vencidos pelo orga­


nismo, se um sangue quente, puro, corre por todo o
corpo e vivifica as mais pequenas células. Do mesmo
modo, perecem na tua alma os micróbios da enfermidade
moral, quando te anima e vivifica, depois da Sagrada
Comunhão, o sangue precioslssimo de Jesus Cristo, e tu

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224 PUR!ZA E FORMOSURA

podes repousar nas suas mãos a tua fronte cansada da


Juta � assim dirigir-lhe a magnífica prece da comunhão:

Alma de Crüto, santificai-me.


Corpo de Crilto, saloa,-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Âgua do lado de Crüto, laTJai-me.
Paix/Jo de Cri.tto, confortai-me.
Ó Bom Jesus, our,i-me.
Naa r,ouas chaga&, escondei-me.
N/Jo permitau que eu me separe u
Vós.
Do espirita maligno, defendei-me.
Na hora da morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vó1.
Para que oos louoe com 01 aos,os Santos.
Pelos stculos dos stculos.
Amen.

Santa Teresa quis fundar um convento, mas nlo


tinha mais que três quartos. Disse consigo: Tr!s
quartos e Teresa é muito pouco, Mas trb quartos.
Teresa e Deus, é muitlssimo. E fundou o convento.
Tu também queres erguer na tua alma o templo
mais formoso. Talvez já tenhas tentado virias vezes,
fracassando sempre: «Eu só ... i muito pouco. Mas
o meu propósito firme, a minha vontade e a graça
de Deus . . . ah J isto já não é a mesma coisa. Assim
conseguirei.>
Há muita verdade no que diz um provérbio antigo:
cDeo ja'CJente, navtgas vel fJlmine>, se Deus te ajudar
podes passar o Oceano, mesmo que seja numa canastra.
Toma pois muitas vezes «o Pão dos Anjos», ,o pão dos
fortes», recebe a Jesus na Santa Comunhão.
Dá, com frequência, entrada ao Senhor na tua
alma; e, quando rugir o furacão, pede com viva ins­
tância como fizeram os Apóstolos ao verem a barca
ameaçada pela tempestade: «Domine, salva nos
pertmus/ll> «Senhor, salva-nos, que perecemos•.

(1) Slo Matem, VUI, 25.

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"1Nl,ti\O, CONFIA l 226

D. Maria, rainha de Portugal, dizia a sua filha


Isabel, futura imperatriz de Espanha:
-Olha, minha filha, vieste a este mundo para
amar e servir a Deus e assim merecer a felicidade etefna.
Tão gravadas ficaram naquela jovenzinba de treze
anos as palavras de sua mãe, que o seu coração foi
sempre puro e recto, a sua vontade firme e enérgica
para nunca se afastar do caminho do dever.
Apesar do seu diadema imperial, soube viver na
terra, sem esquecer o céu.
Tamblm tu, como ela, deves orientar os teus passos
para que em todas as conjunturas da vida eles t� condu­
zam a Deus.
Procura por isso, querida rapariga, travar relações
intimas de grande confiança com Nosso Senhor Jesus
Cristo. Dirige-te a Ele em todas as coisas com amor
vivo, sincero, palpitante. A pessoa de Jesus Cristo não
é um quadro histórico confuso, mas hoje e sempre Ele e
o teu Redentor. Ama-te, deseja a tua alma, porque
morreu por ela. Portanto, não deve ser para ti uma
simples recordação, uma imagem apagada, mas sim uma
r ealidade viva; com Ele deves estudar os teus planos,
a Ele deves oferecer todas as tuas esperanças. Sabes
que ele se alegra com as tuas vitórias e se entristece
com as tuas quedas. Nele deves recobrar as tuas
energias.
Nesta idade, todas ansiais por uma amizade ideal;
e deste sentimento brota tamb�m o mais puro amor.
Se me é lfcito expressar-me desta maneira, dir-te-ei:
enamora-te de Jesus Cristo, jâ que, por muito que pro­
cures, não acharás amizade mais nobre, amigo mais leal
e forte, auxilio mais eficaz.
Acostuma-te ao pensamento de que Nosso Senhor
Jesus Cristo está sempre contigo. Desde manhã até à
noite, acompanha-te em toda a parte ; estã contigo nJ
rua, no estudo, no jogo, no trabalho, no cinema ; está
presente quando estás só, quando te divertes e quando
te deitas à noite; senta-se na beira da tua cama,
u
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226 PURJ!ZA E PORMOSURA

olha-te com olhos cheios de amor e fala•te: Minha


filha, hoje lutaste bem l Aprende a rezar com este espfrito.
Um outro ponto: costumas rezar com regulari­
dade? Com regularidade I De manhã e à noite, e, o
que é mais, sempre bem, prestando atenção, com
amor inflamado, esplrito fresco, de todo o coração,
entregando-te sem reservas ...
Se nlo regares as flores. elas secam; também as
flores da tua vida moral murcham, se não as regas
como é necessirio, com a água cristalina da oraçlo.
Se rezares bem e assiduamente, sentirts perto de ti
a eternidade. Na oração ajoelhas-te perante a augusta
bondade de Deus Omnipotente; acalmam-se as tempes•
tades e serena a superffcie da alma agitada; a luta
torna-se fãcil ou, pelo menos, confiante.
Diz•me, que r i d a rapari ga, sabes rezar desta
maneira ? Nunca o soubeste? Pois aprende, então ...
Hi muito que já não rezas assim ? Começa de novo.
Mas não amanhã. Hoje mesmo. Esta mesma noite.
E continua sempre daqui em diante.
A oração fervorosa foi o mais sólido apoio de
Teresa de Jesus, não só na sua grande reforma do Car­
melo, mas também nos mais importantes pormenores
da sua vida. Eis como ela se refere com graça à per•
turbação que experimentou na fundação do mosteiro
de Salamanca.
«Véspera de Todos os Santos, ao meio-dia, chegi­
mos a Salamanca.
«A casa tinha sido desocupada de tarde. Já quase
de noite entrámos nela.
«foi a primeira vez que fundei uma casa sem
colocar lá o Santíssimo Sacramento, porque eu tinha
para mim que não era tomar posse quando o nlo
entronizasse. Ficámos sós nessa noite, eu e a minha
companheira.
«A casa era muito grande e com muitos desvios,
e a minha companheira, Maria do Sacramento, monja
de mais idade que eu, nlo podia afastar do pensamento

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ÂNIMO, CONPIA 1 227

os estudantes que tinham saido da casa, e pensava que


algum se tinha escondido nela.
• Não fazia mais nada que olhar para um e outro
lado, cheia de temores, e o demónio devia ajudá-la a
rt'presentar esses pensamentos perigosos, para pertur­
bar-me a mim, que com a fraqueza de coração que
tenho, pouco me era preciso. Perguntei-lhe porque
receava, pois que ali não podia entrar ningu�m ..• :11
Disse-me: «Madre, que farteis vós sozinha ?:11
Se aquilo acontecesse, pareceu-me que era de recear;
fez-me pensar um pouco e ter realmente medo ...
«O dobrar dos sinos ajudava, porque era noite de
Fiéis Defuntos; bons princfpios levava o demónio para
fazer-nos perder o pensamento em ninharias.•
Que faz a nossa Santa? Põe o seu coração em
Deus e, com graça, responde:
«Irmã, quando i::so acontecer, pensarei no que
hei-de fazer, agora deixai-me dormir.•
Querida rapariga, sabes tu confiar desta maneira
em Cristo? De modo que em qualquer tentação acorras
imediatamente a Ele, sem hesitação?
Se não fores religiosa de coração, ser-te-á moral­
mente imposslvel conservar a tua pureza durante a
juventude. A que quer levar uma vida pura sem a
graça de Deus, faz como a que pretende voar sem asas,
como a que quer tirar água da rocha ou cavar um poço
com um canivete. Assim o confessou de si mesmo o
Rei-Sibio, do Antigo Testamento: «Jã de menino era
eu de boa índole, e me coube em sorte uma alma boa ...
E logo que cheguei a entender que não podia ser con­
tinente se Deus mo não concedesse ... , corri ao Senhor
e pedi-lho:11, <O
Santo Agostinho faz notar, com verdadeiro acerto,
que se em nossa alma não reina a caridade de Deus,
domina nela a voluptuosidade. «Regnat carnalis cupt­
dttas, ubl nem est DPt charitas.•
U> Sabedoria, VIII, 19-21.

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228 PUREZA B FORMOSURA

Não é possível levar uma vida pura a nlo ser com


a ajuda de Nosso Senhor Jesus Cristo ... per Domlnum
nostrum Jesu,n Ch.rlstum.
Põe os teus olhos em Jesus Crucificado como o
pequenito olha a sua mie que o contempla com amor.
Sê uma alma enamorada da pureza eterna, tem espl­
rito de oração, traz continuamente a Cristo, no teu cora­
ção, e notarés, satisfeita, que com Ele é posslvel con­
servar a pureza.
Querida rapariga, a tentação acometer-te-á várias
vezes como incêndio abrasador i lançar-se-i contra ti,
qual mar embravecido que tudo engole, viria momen­
tos em que julgarás terem-se extinguido quaisquer outros
pensamentos, o teu nobre entusiasmo, todos os ideais;
sentes-te aniquilada, a tentação levanta a sua exigente
voz e crava-te profundamente o seu afiado aguilhão.
Nada há que possa ajudar-te a atravessar incólume
estes momentos de tempestade senão a mão suave e
segura do Redentor.
Não posso dar-te melhor conselho que o de Santa
Catarina de O�nova ao seu afilhado, num mundo incrf­
velmente corrompido: «Que Jesus esteja no teu cora­
ção, a vida eterna na tua mente, o mundo a teus pls,
a vontade de Deus nos teus actos e sobretudo que o
seu amor brilhe em ti.•
XXXI - cVou>

Era a 28 de Novembro de 1780. Uma mulher, já


entrada em anos, dispunha-se para morrer com augusta
serenidade. Recebe os últimos sacramentos com fervor
e dita as SlJas últimas disposições.
O dia passa e a noite cai lentamente, enquanto
Maria Teresa de Áustria, a grande imperatriz, luta com
o sono que quer dominá-la.
- Como quereis que adormeça, se a cada minuto
posso ser chamada à presença do meu Juiz? Temo
adormecer e não quero ser surpreendida; quero

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ÂNIMO, CONPIA 1 220

ver chegar a morte - responde a seus filhos que a


rodeiam.
Despontaram os alvores do dia 29; com tranqui­
lidade disse :
- Este é o meu último dia.
Antes de entrar na agonia, procura forças para se
levantar, apoiada em seu filho mais velho, e contempla
da janela o ciu, murmurando:
-Vou, vou!
- Estais mal? - lhe disse o filho enquanto a recli-
nava num sofl..
- Bastante bem para morrer - replicou.
Um instante depois, a sua alma voava para Deus.
Aqui tendes uma mulher corajosa. Como pôde
esperar a morte com esta serenidade? Sem dúvida, por­
que nunca esqaeceu durante a vida que teria de dar
contas a Deus um dia.
Querida rapariga l Se não encontras força para
safres do pecado, pensa nesta pergunta duma gravidade
esmagadora: E depois? Que seré de ti, depois?
Depois... quando te sentires prestes a dar contas ao
Deus omnipotente, justiceiro, que te vê onde quer que
estejas.
Num dos pitios árabes de Córdova, lê-se esta ins­
crição gravada por um monge muçulmano: cVL-vimas
qaasl eras morlturl ,· adl/tcamus, quasl stmper �Lcturt.. »
.. vtv,mos como quem amanhl tem de morrer; mas
-edificamos como quem houvesse de viver sempre.•
cEm todas as tuas acçbes recorda-te do Jtm da
tllll TJtda � n4o pecards nunca•, diz a SAORADA
ESCRITURA, (1)
Numa antiga lépide funerãria, lê-se esta inscrição:
cUt moruns ot'lleret, vlxit ut mortturas.• e Para alcan­
çar a vida na morte• viveu como quem sabe que hã-de
morrer.• Que profunda sabedorf a em tio poucas
palavras 1

u> Ecleal•suco, VII, 40.

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230 PURBZA E PORMOSURA

Recorda-te de que Deus te pedirá contas um dia, não


somente dos teus actos, mas também das mais insigni­
ficantes palavras, dos pensamentos mais ocultos. Deus
que te via quando mais ninguém te via, no escuro,
debaixo das mantas, no teu quarto ... Deus que ouvia
as tuas conversas secretas e seguia os teus pensa­
mentos ...
Minha filha, queres apresentar-te manchada de
corpo e alma, no grande dia da prestação de contas? t
� verdade que não? ...
É verdade que queres ser uma jovem de alma pura?

XXXII-Maria é minha Mãe

Professa uma devoção sincera, ardente e filial a


Nossa Senhora, sob o titulo que mais confiança te ins­
pire. Reza-lhe, pelo menos, três Ave-Marias todas as
manhãs, invoca-a com frequência.
Se conservas ainda sem mancha o Hrio da tua
pureza e inocência, confia-lho a Ela, que é a Virgem
das Virgens e que, com solicitude de Mãe, velará por
ti em todos os perigos.
Se já murchou a açucena da tua castidade mas
queres fazê-la florescer de novo pela penitência, invoca-a
também; pede que te estenda a Sua mão salvadora.
porque Ela é a Mãe dolorosa, o Refúgio dos pecadores,
a Consoladora dos aflitos. Espera-te sempre com lágri•
mas de carinho para levar-te aos pés de Jesus Crucificado,
primeiro, e depois ao exército das jovens valorosas que
lutam por uma vida pura, digna.
Por muito desesperada que te vejas nos teus comba­
tes e até nas tuas quedas, nunca demores em recorrer com
sinceridade à Santíssima Virgem. E traz gravado na tua
alma este lema: a que é verdadeiramente filha de Maria,
até nas suas quedas deve recorrer a Ela. Não toleres,
com o teu silêncio cobarde, que ninguém ultraje na
tua presença o augusto nome da tua Mãe do Céu..

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ÃNIMO, CONFIA 1 231

Jesus Cristo, Seu Divino filho, levar-te•4 a isso muito em


conta, na tua vida e na tua morte. Inumerãveis exem­
plos e milagres o comprovam. Demais, também não
farias outra coisa a quem de tal modo se portasse com
a tua mãe da terra.
Quando a venerável Sóror Maria de Agreda foi
nomeada superiora do seu convento, encomendou-se
maito sinceramente a Maria, para que a ajudasse no
seu cargo.
A Virgem disse-lhe: Minha filha, tranquiliza-te, e
que o trabalho não perturbe o teu coração; prepara-te
para ele, que eu serei tua Mie e suprirei as tuas fal­
tas... Em todas as tentações e trabalhos, acudirãs a
mim, para tomar o meu conselho... Eu te darei o
meu favor, e estarei atenta às tuas aflições,>
Sóror Maria escreveu, movida pelo espfrito de
Deus, a história da Rainha dos Anjos, intitulando-a
A Mlstlca Cidade de Deu.s.
Morreu em 1665. Em 1677, ao ser visitado o
sepulcro pelo rei Carlos 11, o seu corpo foi encontrado
inteiro e não mirrado, estando particularmente as mlos
muito brancas e formosas.
Aquelas mlos, que ela havia empregado ao serviço
da Virgem Santfssima, recebiam o seu prémio na terra,
nlo sendo pasto dos vermes 1
•Estando com Ela, diz S. Bernardo, nlo resvalare­
mos; protegendo-nos Ela, não devemos temer; guian­
do-nos Ela não nos fatigaremos.•

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CAPÍTULO VII

ALMA A SORRIR,
OLHOS EM FOGO
1 - O maior triunfo,
11- Oh! quão bela é a geração
casta l
111- Sem cadeias t
1 V - Vontade, força, vitória.
V - Desperta t
V 1 - Será de facto assim ?
V 11 - Nova geração.
V 111:- Vontade Santa.
1 X - Um último conselho.

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•Fi{lhuto o q11e Deus permittu.
Nó,, os hume,u, trabalhamo, segul'ldo o nouo poder,
fO'Fª' , ,,pirilo: ma, sd Dera dá a vlt4ria.-.

(CnLoe V - Dltcano ela IDI 1bdlcaçlo).

EUS Nosso Senhor deixou-nos três recor•


dações do Parafso : a luz das estrelas.
a beleza das flores e o brilho dos olhos
da juventude pura. Das três a mais
formosa é a última. Mas é também a
mais diffcil . A jovem pura é uma
verdadeira herolna. Tem de suportar
refregas mais duras que os combates
duma guerra. Mas os seus louros não
se tingem com o sange do inimigo. Tingem-se com
o seu próprio; nele se reflecte sempre a serenidade
luminosa e dourada do espfrito. Esta luz brilhante e
serena é a expressão da própria tranquilidade da cons­
ciência. Pela união substancial da alma e do corpo, a
serenidade e paz daquela manifesta•se neste. Quando
a alma sorri os olhos sorriem também.
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236 PUREZA l! f'ORMOSURA

1 - O maior triunfo

O maior triunfo está em nos dominarmos a nós


mesmos. Com o pleno conhecimento deste facto, a
antiguidade pagã prestava o seu tributo de homenagem
e respeito. a todos aqueles que sabiam dominar, com
vontade firme, o mais forte dos instintos. o instinto
se%ual. Ao compulsarmos os documentos, nlo nos é
diffcil encontrar, mesmo entre os mais antigos, o apreço
da pureza.
Clcero, entusiasmado, escreve: ,Nlhtl est fJtrtute
amabtlius•. cNada é mais amável que a virtude:..
Roma erigiu um templo à Pudicitia, a deusa da
pureza ; e Tfbulo apregoa com orgulho no seu livro:
•Casta placent superis•. •A castidade é agradável aos
deuses•.
Era dentro deste respeito que as vestais usufrulam
dos maiores privilégios . Se o carro duma delas se
encontrava, por casualidade, com um condenado à
morte, este era indultado. E como as vestais em Roma,
também os druidas na Gália e os sacerdotes do Nilo� no
Egipto, eram objecto de profdndo respeito, devido l sua
vida continente.
A Sagrada Escritura diz-nos: ,A mulher santi e
pudica é graça sobre gra�a. Não há nada cujo valor
possa comparar-se à sua alma casta. » U>
Mesmo a mulher que se deixou arrástar pela
vertente da imoralidade, sente espontâneanttrite certa
emoção e respeito, diante das jovens de vida purá.
Schiller, o grande poeta alemão, escreve:

Dtm holde� lauber nie entweihttr Jugend


Dem Taluman. d,r Undschuld und der Tuetnd,
Den wlll ich Sthn, der dltstm trotzen kann.

(11 Ecles"stlco, XXVI, 19, 20.

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ALMA A SORRIR, OLHOS EM POOO 237

«Quem h4 que se não sinta vencido pelo doce


encanto duma juventude nunca profanada, pelo talisml
da inoc�ncia e da virtude?
Nem mesmo os que riem cinicamente dos valores
morais podem subtrair-se à superior influência que irra­
dia das almas puras. Não há nada que tenha maior
valor sobre a terra. A virtude e o carácter impõem-se
àqueles próprios que os pretendem negar.
A jóia mais preciosa da coroa da humanidade é a
jovem que sabe vencer-se. Ela é o sustentáculo da
sociedade, pois com jovens moralmente degradadas esta
cairia na rulna; � o penhor dum futuro mais belo; é ver­
dadeiramente o sol da sua esperança.

11-0h ! quão bela é a geração casta 1

Muito se tem escrito e falado acerca da beleza


feminina. everdade que a mulher é a rainha da cria­
ção. Mas não tanto peta sua formosura corporal como
pela dignidade da sua alma. e
cheia de encanto a
cabecita duma criança, no seu sorriso e nos seus cabe­
los doirados; é admirtvel o brilho luminoso e e:rpressfvo
duns olhos infantis, muito abertos, com os seus lábios
rosados e pequeninos que nos dizem sempre alguma
coisa. Mas que pouco é tudo isto, quando se reflecte
em que o corpo humano é templo santo de Deus,
e em que, por trãs duns olhos sorridentes, puros como
rócio, hi um altar erguido para servir de trono ao Deus
eternal
Segundo um antigo adágio, o olhar é o espelho
da alma. Pois bem: a beleza da alma que mais for­
temente se reflecte no olhar é a pureza, que irradia dos
olhos da jovem casta. «Bem-aventurados os Umpos
de coraçdo, porque eles verlJ.o a Deus•. n>

Ul São Mateu1 1 V, 8.

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238 PUREZ.\ E l'ORMOSURA

Encerra um interessante e profundo pensamento o


facto da linguaRem humana chamar cvirginah à formo­
sura intacta, sublime, fresca da natureza. falamos dos
•cumes virgens•, das montanhas gigantescas, dos ccam­
pos virgens cobertos de neve•, das «florestas virgens•
que não sentiram ainda os golpes do machado. Aquele
silêncio, aquela piedade e santa emoção que se levanta
em nossa alma ao contemplar as belezas virgens da
natureza, não é nada em comparação com o que sen­
timos ao ver uma jovem de •alma virginal•. Ê como
se uma voz secreta nos sussurrasse, ao ouvido, aquelas
palavras que todo o visitante ouve ao chegar à sala de
Turene, no Museu Militar de Paris: e Aqui é o santuário
das bandeiras; todos se devem descobrir•·
Repara na vivacidade do seu espírito, na prontidão
para o trabalho, naquela alegria inalterãvel, naquela
felicidade transparente, naquela primavera risonha ••• ;
vê como os seus olhos brilham e cantam. Toda ela
é um sorriso matutino, uma promessa de alvorada, um
hino celestial.
Nos seus anos juvenis, surgem promessas, brotam,
dia a dia, forças novas, acumul&m-se energias latentes,
e a alma estremece numa santa espectativa. Na pureza
conservada incólume, estã a fonte misteriosa donde
nascem estes segredos.
Todos aqueles que desenvolveram uma séria e pro­
funda actividade, podem testemunhar com a sua própria
experiência este facto: a castidade contribui de modo
inapreciável e misterioso para criar em nós o desejo de
viver, para nos inspirar os mais belos planos e para dar
incremento ao labor espiritual. Uma primavera fervo­
rosa e exuberante canta, na adolescência pura, o entu­
siasmo, a alegria, a esperança duma vida em botão.
E enquanto as outras - as pobres desviadas - desper­
diçaram a maior parte das suas energias juvenis e agora
se arrastam sumidas no letargo da indiferença, rotas e
andrajosas de espfrito. o coração da jovem casta
bat� cheio de vigor e de alegria, os seus olhos lumino-

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ALMA A SORRJRJ OLHOS EM PO0O 239

aos brilham como miosótis sobre águas de sonho, e as


suas forças estio intactas e prontas para abraçar os
grandes ideais da vida.
A impureza leva à rufna; a castidade ao vigor, à
energia do espirita e do corpo. Nada mais fácil para a
jovem pura que cumprir o grande mandamento de Deus:
cAmards ao Senhor. teu Deus. com todo o teu. coraçdo.
com toda a tua alma e com todas as tuas forças.• <O
O rio da montanha corre vertiginosamente entre as
rochas. Se algu�m lhe desse, um momento, caminho
livre, poderia causar os danos mais espantosos. Mas a
mio do homem saberi escolher a melhor ocasião para
encaminhar as suas águas, para o transformar numa suave
corrente, que leva a ei:uberância aos jardins, a fecundi­
dade aos campos, e a frescura às Dores, ou num centro
de energia que iri põr em movimento as maiores fábricas.
força natural que irrompe com fúria é também o
instinto sexual. Se o deixares à vontade, livremente,
causará a mais espantosa destruição nos teus ideais, na
tua coragem para o trabalho, na tua alma, no teu corpo .••
mas se o guiares, se o contiveres dentro dos limites
marcados por Deus, este mesmo instinto, esta peri­
gosa força, transformar-se-á numa fonte de vida risonha
e feliz.
A pureza comunica à vontade humana uma força
invencfvel para resistir a todas as baixezas; por isso, a
pureza é o fundamento do carácter firme. A pureza faz
o carácter: faz-te mulher. Nada poderá vencer a que
se venceu a si mesma. As mártires heróicas do cristia­
nismo primitivo eram virgens ..•
No mosteiro de Santa Maria Real, de Nãjera, guar­
dam-se os restos duma bisneta do Cid, Branca de
Navarra.
Sobre a sua tumba lê-se este magnifico epitãfio :
cAqui jaz dona Branca. Branca de nome. Branca

to Deuteronómlo, IV, 5,

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240 PURl!Z� I! PO�OSURA

e formosa de corpo. Pura e cândida de espíritQ. Bel•


de ro$to. Agradável no trato. Honra e espelho d�•
mulheres.»
Querida rapariga I Brancura de lirio deve ser a da
µia pureza. Deves ter por lema ser como aquela rainb�:
•pura e cândida no espírito •.. » A tu4 glória dcv�
�onsistir em seres chonJa e espelho das mulher��:
Que magnUica florescência uma vida jovem I p��­
jos, sentimentos, esperanças duma alma que aspira à
eternidade... anelos que se erguem até às alturas aQ
Céu l Oh I quão bela é a mulher casta 1 •A pureza dq
itlma é a fonte de toda a beleza (CONDE Esr!VÃQ
Szt�HNYI). »
Se as jovens soubessem que maravilhosa fonte da;
fqrças e de alegria 6 a pureza, como a amariam co•
pai.zão, como a guardariam incólume do menor hilitQ
impuro, como a não exporiam a tantas frivolidades
perigosas 1
111 - Sem cadeia, 1

A liberdade entusiasma a juventude. E. um ideal


que se ajusta bem às suas aspirações e que, mais qu·e
nJnhum outro, as faz vibrar. Mas qual é a verdadeira
liberdade? Esüs convencida de que serãs verdadeira­
mente livre apenas a partir do momento em que qq
santuário da tua al,na e.zistir a ordem ? A par�r dQ
momento em que a razijo domine e governe os baixqs
instintos? Ninguém é mais dign, de compaixlo q��
a rapariga que chegou ao ponto de se ver presa, em
todos os seus movimentos, pelas verdadeiras cadeil#I �
galera, que são os instintos cegos do próprio ,corpo.
N4o é livre a que faz tudo o que lhe apetece, mi� sim
a que sabe querer o que deve querer, a que sabe man•
dar-se a si mesma e cumprir as ordens dadas
Viver na impureza 1.. . Ao que chamam liber­
dade I A esses falar-lhes de pureza é realmente o

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ALMA A SORRIR, OLHOS l!M FOOO 241

mesmo que deitar pérolas aos porcos. Para esses


foram escritas as duas palavras de Longau:
Wtnn ditltl Frtlhtit ist: fr,i lun nach alie, Lust
So 1ind tin Jrtlts Volk dit 1au'in ihrtn Wu.rt.

Não pode apreciar nem compreender a verdadeira


liberdade senão a jovem de vida pura, porque a verda­
deira liberdade consiste na liberdade da alma.
Ah I querida rapariga ! Se conseguisses manter
sempre a tua alma pura J Se fosses sempre invenclvel
reduto, nesta guerra de verdadeira e nobre independên­
cia, nesta cruzada da pureza cristã 1
Guarda este livro que escrevi para ti, e volta a abri-lo,
de quando em quando, nos anos que hão-de vir. Na uni­
versidade, se fores universitAria, e na oficina, se fores ope­
rária. Conserva-o contigo, e quando te assaltarem as ten­
tações, quando se te depararem os combates a que não
poderás fugir, relê algumas páginas. No atelier recorda
os seus ensinamentos; em tua casa não o percas de mio.
Grande 6 o número de raparigas que da sua leitura
blo-de tirar forças, coragem, perseverança para uma
vida casta, digna.
Oxall formes no cortejo das jovens puras que lutam
por estes ideais sublimes I Nao esqueças, querida
rapariga I Muitas se debatem, muitas se submergem,
muitas se afogam neste pecado terrlvel I Tu sabes que
algumas destas infelizes se acotovelam contigo. Sê o
seu anjo da guarda I Dá-lhes tudo o que sabes para
as ajudar.
Põe este livro nas suas mãos. Auxilia-as a com­
preender e a sentir as suas p4ginas. Dá-lhes o amor
da pureza cristã. Quem sabe quantas salvarás da rui na,
se assim fizeres. Quando vires, no decurso da tua
vida, que slo verdadeiramente inumerãveis os propa­
gandistas, servidores e colaboradores do pecado da
impureza; quando vires que não têm conta os que
fazem gala de corromper as almas e semear a imorali-

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242 PURJ!ZA I! f'ORMOSURA

dade, enche-te de coragem e toma com santo orgu­


lho esta decisão: «Se há tantos que se entregam à
corrupção das almas, eu entregar-me-ei à salvaçlo
delas•.
Quase sempre, as raparigas slo as que mais podem
conseguir neste ponto. A natureza colocou-lhes na
alma um dom especial de força e entusiasmo. Aproveita
esse dom, quando se falar na tua presença de coisas
lúbricas ou se aludir a elas; procura marcar posição,
pela tua seriedade, com doçura, mas com firmeza. natu• e
ral que, nesses momentos, salves alguém da primeira
queda. E nlo poderá haver maior satisfação que a de
poderes dar graças a Deus, na oração da noite: ,Obri­
gada, Senhor, por esta alma que salvei para ti.•
Fala com palavras sensatas, mas inflamadas: fala
principalmente com o exemplo da tua vida. A tua
alma vibrará de alegria, alegria profunda e indizlvel,
quando, com o teu exemplo, com as tuas palavras,
com o emprestares um livro, tiveres encaminhado e
talvez salvado uma companheira que abençoari a hora
em que te conheceu.
Como o poeta, poderás dizer com verdade:
«Deus enviou-me até junto de võs para que eu
irradie por toda parte, no silêncio, o fogo vivo dos
seus raios, que fazem arder o meu coração. Deus
enviou-me às irmãs que caminham pela noite, para lhes
servir de luzeiro.• (Stk).

1 V - Vontade, força, vitória

Já notaste que a pureza da alma comunica ao


olhar da criança uma expressão tão encantadora que
os pintores mais insignes do mundo, ao querer pintar
os anjos, tomam por modelo um rosto infantil ? No seu
olhar inocente, ht uma expressão de beleza que nos
eleva imediatamente o espirita para as realidades ultra­
terrenas.

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ALMA A SORRIR, OLHOS PM POOO 243

Também no rosto das jovens puras transparece


uma formosura que não 6 da terra. Compreende-se
que Platão escrevesse estas palavras: •Que é neces­
s4rio para ver a Deus? - Pureza e morte>.
Nlo há tanta serenidade no céu, ao raiar da aurora,
nem tanto fulgor nas estrelas acesas no firmamento.
Não brilha com tio maravilhosas cores a pérola de
orvalho, nem com tal limpidez o riacho cristalino.
Talvez fosse assim o olhar dos anjos e se tornassem
corpo.. . !! que, por aqueles olhos, espreita de facto uma
alma angelical, na primavera da vida ; através deles se
manifesta, numa virgindade intacta, a serenidade duma
alma que ainda não tocou o pó.
E se é formoso o reflexo da inocência natural e
inconsciente, se é bela a pureza espiritual do rosto dum
pequenino, é ainda mais belo o rosto duma jovem que
para manter intacta a virtude teve de sustentar as mais
duras refregas com firmeza varonil. l! bem conhecida
a grave sentença de Goethe: «Orosse Oedanken und
etn retnes Herz, das tst's was wir oon Qott erbiten
solUen>. t1> «Pensamentos elevados e um coração puro,
eis o que devemos pedir a Deus•.
A vida pura estabelece a harmonia entre a matéria
e o �pirita. A pureza da alma é o nosso mais nobre
tesouro, o alimento indispensãvel a toda a vida heróica,
um .fogo verdadeiramente celestial, a mais formosa mani­
feataçlo da semelhança divina em nós.

V - Desperta 1

!! passivei, querida rapariga, que também tu algum


dia te hajas desviado e que, ao voltar de novo, te
afüj111 com o espectro dos anos perdidos. Quero
.dizer-te que o passado não importa. Se chegaste a

(li Wllbelm Mclater: W1nderJ1bre. L. 1. Cap. 10.

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244 PUREZA E FORMOSURA

encontrar novamente o Senhor, permanece agora junto


dele para sempre. Se acordaste mant�m-te desperta.
Repara na inefável alegria que irradiam estes pará­
grafos de Eva Lavalliere, actriz celebre, que depois de
vãrios anos em que tropeçou tantas vezes, encontrou de
novo o caminho que leva ao Senhor.
,Tive fé quando criança. Mais tarde, na minha
vida de artista, as minhas crenças fraquejaram pelos
embates da dúvida que me rodeava. Hoje, duvido mais
que nunca ...•
Mas, ao fim, o Senhor triunfa por completo, e ela
encontra a paz:
«Cada vez me admiro mais por ter sido objecto de
tanto amor e de semelhante preferência, tão gratuita, da
parte de Deus. Quanto mais claramente vejo as minhas
misérias, os meus crimes e os meus vicios, mais sublime
e incompreensível me parece a divina misericórdia.
E Deus não contente com ter feito tudo isto por
mim, ainda faz com que eu o ame 1
,A vida é miserável, especialmente quando a fé e o
amor verdadeiro não a embelezam.>
Sua amiga, a Baronesa de Galembert, com quem
travou amizade após a conversão. escreve:
cHá dias em que recebe vinte cartas, convidando-a
a voltar ao teatro.•
cÀs vezes, tem grandes tentações. fia, que era sem­
pre a primeira entre todas e a mais admirada. quando
entra agora na sala de jantar do hotel, vestida modes­
tamente. sem sombra de pó de arroz, acha-se feia e
enrugada e sofre por causa disso ...
« Tem sido perseguida, atormentada, até caluniada.•
A própria Eva o confessa:
«Tenho sofrido muito. V. não me reconheceria
na actualidade. Sofrimentos morais, flsicos, misérias,
tudo... Novas dores se me preparam, agora, e provà­
velmente continuarei assim até ao fim dos meus dias.
Mas bendigo e dou graças a Deus por ter-se dignado
olhar para este ser tão espantosamente miserável.

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ALMA A SORRIR, OLHOS EM FOGO 245

. . . . . . . . .
«Trataram-me como uma doente. como neuras­
. . . . .
tlnica, como louca: tenho instantes de luta, de desfa­
lecimento; mas faço o contrário do que desejo, sob
os olhares do Senhor.
cO nome de Jesus é para mim um talismã: quando
o pronuncio, é como se me abrasassem e ardo verda­
deiramente. . . Nas minhas lutas, nas minhas provas,
nas minhas trevas, n'Ele constantemene encontro força.
Sinto- me apoiada sobre o seu coração, como a
ovelha perdida, que Ele foi procurar por entre sarças
e espinhos, e que amorosamente colocou aos seus
ombros. Somente n'Ele eu posso já pensar. Sonho
com o céu. Que formoso, que belo é tudo isto I Porque
não terei eu vinte anos para consagrar-lhe toda a minha
e:ristência ?•
e Contudo, - continua a sua amiga - era extrema­
mente simples, alegre, inteligente.•
Querida rapariga, vês nestas linhas, a alma duma
mulher que despertou chamada pelo Amor. Se tambfm
já despertaste, levanta-te com simpJicidade e procura não
mais dormir, em tudo o que diga respeito à tua pureza.
Coragem, e sê alegre, jovial I A alegria verda­
deira, pura, é também excelente meio para manter a
castidade. Onde não penetra o sol, tudo se cobre de
ferrugem, o ar é pesado, pululam asquerosas centopeias.
A fenugem do pecado, o ar pesado da corrupção e as
centopeias da impureza, cercam também com mais faci­
lidade a alma sombria, sem jovialidade.
Quanto mais pura for a tua alma, tanto mais deve
florir, nos teus lábios, o riso argentino da alegria. Quem
pode estar mais alegre que uma jovem de alma pura.
de nobres pensamentos, vivendo no amor de Deus?
Raparigas, desmenti categoricamente as opiniões em
voga: que o pecado dá alegria e que uma jovem, para
ser feliz, deve ter uma vida livre ...
Querida jovem, se já os provaste. viste bem que
todos os gozos prometidos e todos os atractivos enga-

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2t6 PURBZA E FORMOSURA

nosos capciosos de mil e mil pecados são coisa insigni­


ficante, em comparação com a doce tranquilidade, a
alegria padfica. que inunda a alma duma rapariga
casta, duma jovem que pode fitar, de consciência tran..
quita, o rosto do Salvador.

XI-Será de facto aaaim?

O último conselho que te quero dar neste livro,


minha filha, não pode ser senão este: conserva intacto
este precioso tesouro, a pureza da tua alma. Se tiveres
de chorar já algum rasgão na branca túnica da tua ino­
cência, não desanimes por isso. Começa uma vida nova
e restaura o ediffcio. Nlo esqueças estas palavras: não
está irremediàvelmente perdida senão a que abdica e se
entrega. Por muito que tenhas descido, querida rapa­
riga, podes ainda subir às alturas do céu.
Conserva a tua alma pura como a pérola mais
preciosa, como uma jóia magnifica. A pérola e as
pedras preciosas - a esmeralda, a safira, o rubi - são
muito senslveis; se alguém lhes toca, embaciam-se;
se alguém os expõe ao sol, perdem o brilho. Por isso
as guardamos fechadas num cofre especial. A tua
alma pura é também muito sensivel; se não a guar­
dares bem, expõe-la à morte.
Nos anos da adolescência, todos temos de supor­
tar as lutas que a natureza então nos prepara. Hà rapa•
rigas para quem estas lutas quase não existem e que,
por isso, nlo encontram dificuldade em vencer; outras,
porém, têm de sustentar uma luta diffcil, em duros e
sucessivos combates Não sei o que se passa contigo.
Talvez os teus instintos se rebelem com veemência e
que espantada, exclames: - É impossível. Nlo tenho
forças.
Não, filha, não é assim. Jã sabes que podes ven­
cer, que é poss(vel chegar com a tua alma e o teu corpo
intactos ao altar nupcial. É possfvel, mas ... custa.

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ALMA A SORRIR, OLHOS l!M POOO 247

Deve haver o propósito franco, sem reserva, de ofe­


recer luta cerrada Depois, vigilância continua, pre­
serverança, coragem e confiança na vitória. O teu
lema deve ser o que pôs na sua bandeira a Zelân­
dia, uma das provfncias dos Países Baixos, sempre
em luta aberta com o mar. •lacto, et emergo•. Estou
a lutar, mas sempre levantando a cabeça vitoriosa
das ondas.
Quero falar-te com sinceridade: � possível levar
uma vida pura, mas ndo é fd.cll le'Oà-la, Ê necessário
que o saibas de antemão .•• não nascemos puros, mas
sim fazemo-nos puros, mediante um contínuo esforço.
Por outras palavras: uma vida pura, incontaminada,
não se pode conseguir no mundo actual, senão através
duma luta heróica.
A tua razio diz-te : sê pura ; a tua religião diz-te:
sê pura ; mas o mundo moderno e a frivolidade que
boje alastra • . . as mil tentações e a natureza humana,
propensa ao mal, gritam-te: não sejas casta, não lutes
pela pureza.
E, contudo, tu deves manter-te firme, porque, tanto
pela beleza da luta como pela recompensa que te espera,
vale bem apena suportar os mais encarniçados com­
bates. Je schwerer, der Krieg, Je hehrer der Steg,.
cQuanto mais diffcil é a guerra, tanto mais gloriosa é
a vitória•.
A cruz do M�rito Militar não se concede senão
aos herôis que souberam merecê-la, que lutaram sem
descanso. Este caminho leva às alturas espirituais,
e dele já disse Séneca que não é caminho fácil:
cnon est ad astra molUs e terrls vta.• cNão há
caminho plano que nos leve da terra aos astros.•
Mas a força moral que tens empregado na tua juven­
tade, dourar! com a mais suave alegria os anos da
idade madu1a.
Nas tentações mais veementes, procura tirar forças
deste pensamento: Agora não luto só por mim mas
também pelos meus filhos. Que prazer se, dentro de

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248 PUREZA E FO�MOSURA

vinte e cinco ou trinta anos, a minha filha adolescente


puder dizer.me:
e Dou-te graças, mãe, por teres lutado heroicamente
na tua juventude, e teres com isso conseguido que seja
mais fácil a minha própria luta.
e Dou-te graças, por teres conservado com esmero
a tua pureza, e assim teres deixado em mim o gérmen
duma vida pura.
cDou-te graças por teres guardado a brancura da
tua alma, porque a essa luta e a esses triunfos devo
agora, o brilho dos meus olhos.
cDou-te graças, mie, por teres governado com mio
firme os instintos da tua juventude, porque a isso devo
agora a minha pureza e formosura •
Os p e r i ód ic o s esta.o cheios de anúncios de
diferentes drogas para p u r ificar o sangue e for­
talecer. cTome isto ..•• «Tome aquilo.• cFaça
deste modo.• cFaça daqueloutro. .• - e terá uma
vida larga . . . Sabes qual é a melhor garantia duma
vida longa e sã? A juventude casta, nunca viciada
pela impureza.
Creio que neste livro pudeste ver com toda a cla­
reza que a vida sexual não é invenção do diabo, nem
mesmo uma coisa má; pelo contrário, é um dom
sagrado do Criador, sinal da enorme confiança que Ele
deposita em nós. E se é um dom de Deus não pode
ser pecado, mas sim uma coisa santa.
A vigilância nos anos da juventude e a luta conti­
nua que deves sustentar não são para aniçtuilar a ten­
dência sexual, mas sim para ordeni-la. Ê necessãrio
chegares pura de alma e corpo à idade em que, segundo
a vontade de Deus, te seja permitida a vida do santo
matrimónio.
Se agora prestares atenção aos concelhos deste livro,
dentro de alguns anos, quando o teu sangue estiver já
temperado pela reflexão da idade madura, lembrar-te-ás,
com gratidão de que um dia, na tua juventu de, lêste um
livro, de cuja autor te não recordas, cujo titulo já talvez

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ALMA A SOR�IR, OLHOS EM FOGO 249

esqueceste, mas • • . que te penetrou na alma como luz


bendita, que te preservou de quedas graves, da misé­
ria moral.
Por muito sombrios que sejam os tempos, não há
-que temer pelo futuro da pátria, enquanto pudermos
ver o pavilhão nacional tremular no meio do alvlssimo
-cortejo das jovens puras.
Não há perigos de noites sem estrelas na história da
pátria, enquanto os olhos das jovens se incendiarem
com o fogo de ideais puros, enquanto tomarem por
divisa sua a duma princesa, Branca de Castela, mãe de
S. Luís:
•lllia. tnter lilia.• • Lírio entre lírios •
Serã este o ideal das raparigas portuguesas: puras
e brancas como as açucenas dos nossos vales.
Querida rapariga! Tenho passado longos anos
entre as adolescentes. Tenho visto muitas jovens come­
çar o seu caminho transbordando esperanças, como um
magnifico botão em flor; vi o carvalho firme e cheio
de promessas; mas vi também como podem morrer
as esperanças de muitas vidas jovens e prometedoras ...
Ah l vi murchar flores... cair o carvalho robusto, rof­
dos por oculto verme.
E, no entanto, algumas raparigas deram os primei­
ros passos pelo caminho do pecado só por ignorância,
por imprudência, porque não tiveram ninguém que lhes
chamasse a atenção a tempo e com palavras apropriadas.
Creio firmemente que as páginas graves deste livro
abrirão na vida de muitas raparigas uma nova época,
época de ruptura com o pecado, de vida nova, de vid�
idealmente bela, de vida pura e luminosa.

VII - Nova geração

Vai-se pondo o sol duma era em que se fazia uso


da ignorância como excelente meio para preservar a
pureza feminina. Era, então, este o lema: ignorar

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250 PURBZA E FORMOSURA

tudo, mesmo o necessirio, porque a vida enain•i .••


Mas esta ignorância acarretou os maiores deRn­
ganos.
Pois bem, entramos noutra geração : a das jcwens
que levam escrita na sua fronte a rectidão da alma e
cujos olhos brilham com a luz duma pureza consciente;
a das jovens castas que sabem claramente a missla que
Deus lhes confia ao chamâ-las a colaborar com Ele no
mistirio da vida. e a geração das que hlo.-de v�e
por todos os lados, cercadas de perigos, de vozes sedu­
toras, que procurarão faze-Ias titubear dizendo-lhes. que,
de qualquer modo, são vãos os seus esforços, que
tudo é inútil... que não bi no mundo uma Jovem
casta ... , que a castidade � um sinal de retrocesso.
que boje em dia já ninguém se preocupa com- a
pureza ...
Minha filha, acredita-me. Há raparigas que su►
tentam, dia a dia, o combate da pureza, sem quedas..
Hi raparigas - e o seu número cresce de ano para ano­
- que sabem passar incólumes peles mil tentaçõn do
mundo moderno, e que no altar nupcial ostentam o di�
dema das flores da larangeira, nlo fingidas mas autea..
ticas. perfumadas por uma alma pura e triunfante. O seu
corpo intacto respira saúde, o seu coração amor, a sua
alma nobres ideais.
E estas jovens aumentam em número; este fogo.
ao principio indeciso, vai alastrando cada vez mais;
esta fragrância cristã vai-se sentindo cada ve:r com maior
força; sim, a juventude que leva uma vida pura é hoje
UJDB realidade encantadoramente bela, grande e santa.
De ti depende, querida rapariga, que aumente com maia
uma o número destas herolnas.
Oh l Não há pérola mais preciosa que a santa
virtude da pureza l Domina serenamente as tentações
do prazer sensual, vence-as, sê a sentinela do maior
tesouro da naçlo: o corpo casto das jovens e a sua
nobre alma, correndo enamorada atrás de sublimes
ideais.

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ALMA A SORRIR, OLHOS EM FOOO 251

Jovens I Formai em volta da bandeira em que


ondula ao vento o lírio da pureza I Pela vossa felicidade
corporal e espiritual, pelo vosso futuro, pela vossa pãtria,
pela vossa dignidade I Por Deus e por Portugal 1

V 111-Vontade santa

Quando na China morre uma rapariga pura, os


seus parentes têm direiro a levantar em sua honra um
arco triunfal com a inscrição: «Schoeng Dsche•, quer
dizer, «Santa Vontade•. O arco do triunfo significa
que foi a vontade santa que guiou a jovem por toda
a vida.
Esta vontade forte, santa, é a guardia das jovens
que querem conservar a sua pureza no meio das difi­
culdades e perigos. Bem merecem que, se chegarem
salvas à sua pátria imortal, se lhes levante um arco de
triunfo no caminho da vida.
Em ti, querida jovem, vive esta «vontade santa>.
Com fé inquebrantãvel, trasbordante de candura e
graça, pertences ao número das que, Urio na mio,
caminham, sorridentes, para o cumprimento da missão
sublime que lhes confiou o Senhor? Ou pertences
àqueloutro grupo de jovens que regressam, desejando
emendar-se, e que, à custa da sua própria queda, apren­
deram de novo a querer com ardor a felicidade sem par
da vida pura? Dum ou doutro modo, tens esta von­
tade santa.
Serás, pois, corajosa, querida rapariga. Terás o
culto da pureza, porque Deus o quer e porque a vida
pura é força, alegria, distinção, liberdade, formosura •..
Não achas que vale a pena lutar por ela?
Neste momento, imagino que estás diante de mim,
e à maneira de despedida, olho-te com prazer, na ilu­
são de quem vê uma chama que se ergue ao vento,
como uma grande promessa de aurora; mas vejo tam­
bém as enormes tempestades morais, as provas, as ten-

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252 PURl!ZA E PO�MOSURA

tações, que cairão sobre ti; e do meu coração brota


uma fervorosa prece.
Elevando as minhas mãos ao Céu, peço ao Pai
celestial . que guarde puro, branco como a neve, o
lírio da tua alma.
Mas, se tu não quiseres, tudo será em vão. Rapa­
riga, confio em ti. Confio muito. Diante do Senhor
que nos olha, faz, no mais Intimo da tua alma, esta
promessa:
Eu segulrel sempre o caminho da pureza...•
Ou então:
Eu quero formar� novamente, ent,e as jovens pura,
como o l[,to.
Eu. . . quero . . . , porque quero... pureza ou. morte.

1 X - Um último conselho
Querida jovem, para adquirires e conservares esta
«santa vontade.-, nunca te recomendarei bastante que
todos os dias, sem faltar um só, rezes de manhã ao
levantar-te, uma Av e -Ma r i a à Santisstma Virgem,
seguida desta jaculatória, composta por Santo Afonso
Maria de Ligório :
Pela vossa lm aculada Conceição, oh Maria I puri­
ficai o meu coração, o meu corpo e a alma minha
(500 dias de indulgência).
Durante o dia, no meio das tuas ocupações, e
sobretudo nas horas de maior dificuldade, levanta para
ela o teu pensamento, e pede-lhe com o poeta :
Nossa Senhora das ermidas perdidas
Nas montanhas distante,
Ou entre searas onduladas,
Como pombais de pomba, foragidas:
Nossa Senhora das catedrais,
Epopeiu de .sonho e de granitos.
Com pedru humilhadas, murmurando ai,
E agulha, ,m ascese desferindo gritos:

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ALMA A SORRIR, OLHOS EM FOGO 253.

Tu �s A de olhos sempre veladores


E A de mtJos eternamente estendidas,
Para t:onsolaçao das nossas dores
E unçtJo das nossas feridas.

Aos pis do Teu Altar, cheio de luzes e lírios,


Cai o mundo ajoelhado, quando a noite avança,
Com ldgrimas de angústia e san,ue de martírios,
Sem nova esperança que nao se1a a tua esperança.

üsus. Jesus. Jesus: Eis a Esmola Infinita


Que u peço. a chorar no pior dos exilios.
;1tende quem te roga. Escuta quem te grita,
O Arca de Aliança, ó Âncora bendita,
ó Regaço de luz! Auxílio dos auxílios!
MOREIRA DAS NEVES.

E a Santfssima Virgem a quem tu chamas Mãe, te


protegerá sempre. Entrega-lhe hoje, sem reservas, a
pureza do teu coração juvenil; amanhã, a tua casti­
dade de esposa e a tua abnegação de mãe. E quando
chegar o teu fim sobre a terra, abandona a tua alma
em seus amorosos braços. Ela te levarã ao Céu 1
Seja o teu amor tão grande que, depois da tua
morte, deixe uma recordação à posteridade, como o de
certa nobre dama, cujos restos descansam sob os pés
da Virgem Maria no Mosteiro Real de Guadalupe.
O seu epitáfio é um testemunho de amor gravado na
pedra. Diz, mais ou menos;
«ln ntdu.lo meo mortar• (JOB, cap. 29, v. 18).
Dona Maria de Guadalupe Lencastre e C4rdenas,
Duquesa de Arcos, Aveiro, Maqueda e Torres Novas,
mandou que se enterrasse seu coração e corpo, neste
lugar, debaixo dos pés da Imagem, centro do seu amor
e esperança - 9 de Fevereiro de 1715. •
Que formoso exemplo de piedade l Deves imitá-lo,
querida rapariga.
faz dos teus anos juvenis um branco ramo de açu­
cenas, e, oferecendo-o no dourado jarrão das tuas espe•

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254 PUREZA E FORMOSURA

ranças e ilusões, diz confiada: - Senhora mlnha / Aqul


as tens. guarda-as na..s tuas m4os. Só Tu podes fazer
com que estejam sempre frescas, Virgem pudssima.
S� algum• dia se dobrarem os seus caules, faz que sob
as tuas mãos de pureza se conservem brancas u
pétalas.
O meu lema, doce Mãe, quero que seja o que nos
deb:aste em Fátima.
Mudar de 'Olda ••.
Nao ajlJgLr mats com o pecado a Nosso Senhor.
Recebei, Senhora, o meu firme propósito : Nane
c�pl.
Com a vossa bênção, vou começar de novo.

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ÍNDICE

LICENÇA l!CLeSIÃSTICA. 6
Ao Ll!ITOR 7
PóRTICo.
Os dol• lagos . 11

CAPiTULO 1- OS PLANOS DO CRIADOR. 13

I - O primeiro homem e 11 primeira mulher. 16


11 - Os planos do Criador • . • 17
111 - Origem da vida humana 20
IV - Mie e filha. . • • 20
V - Pensamentos s�rlos. Reflexões Importantes 22
V 1 - Sedaçlo pecaminosa 25
V11 - Mistério santo • 26

CAPITULO I 1 - O MEU DESTINO E O MEU CAMINHO • 31

1 - A casta veneziana 34
11 - J• nlo és cmenln.. 35
111 - O teu organltmo desenvolve-se 36
1 V - No Abril da tua vida . 38
V - Outro■ pensamentos, outros anseios • 39
VI - O Primeiro amor • 41

. . .
V 11 - Os plano• do Criador . 42
VIII - P1111 e bela . . . . 43
l X - No melo da tempestade 45

CAPITULO 111 - OEADAS DA PRIMAVERA . 49

1 - Na vertente • 53
li - Marlpoea, . 54

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256 INDICE

lll - A. luta • • , •
1 V - Destruição do templo


. . . . . ss
56
V - Jardina e taeartaa • • , • ss

.. .. . .
V 1 - A caminho da rulna • • • 60
V 11 - A lei da gravidade 62
VI li - O oaufr6glo • • • • • • 62

CAPITULO IV - NO FUNDO DO ABISMO . . . . 6S

1 - Um templo destruldo 68-


U - Só uma vez ? • . • • • • • 70
1 li - Plantas vorazu . • • • • • • 71
1 V - A descida do averno • • 73
V - As raparigas c11vançad11» 77
V l - Ser6 hto alegria e felicidade 1 19

. . .
V11 - Jardim devorado pelos vermea 80
V 111 - Castigo flslco . 81
IX- O que 110 11 bormonu? • 83
X - Apodrecer em vida . . • 85

. . .
XI - Tremenda respoo11bllld1de • • • 91
X 11 - 01 teus pobre• filhos • • . 9J
Xlll - fsperanc;■s e desalento 94
XI V - Quem te levou 11 t1111 pétalas 1 100

CAPITULO V- LUTAR . . . . . . 103

1- Ainda est4s a tempo • 106


li - Ânimo às que lutam , • • , • • • 108
111 - A águia em liberdade . • • • • 109
J V - Que posso fazer pela mfoba Ntrf1? . . . 112
V - Pela Integridade do llrlo . • , • • • JJ 5
V 1 - «Vide ab11ndante» • • • • • • 117
V11 - Pela felicidade da tua alma . . • . . J JI)
VIII - De vida ou de morte • , • , • 121
1X - Resiste • , • , • . • • , • • 123
X - Quem eat4 dentro d1 razio ? • • • • • 124
XI - Ateoçlo, perigo 1 , • • • • . 126
XII - Isso nlo me prejudica... • • • • 129
XIII - O único remédio I evitar o pecado • • . 130

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INDCIE 257

t
XI V - preciso varrer as ruas 133
XV - Contr11 a corrente ! 135
XVI - Ainda sou nova, mas embora! 136
X V11 - Não é verdade I MIi vezes não 1 138
X V 11 J - Com fogo nlo se brinca ! 139
XI X - Aprovelta a mocidade 1 142
X X - Pureza e saúde 144
XXI - Que diz II ct!ncla médica? 146
X X 11 - Deus e a natureza 150
XXlll - Quem t que não pode ser castl\? 15)
XXI V - Pura de corpo e Rlma ... 154

CAPITULO V 1 - ÂNIMO, CONFIA 1 155

1 - Vld11 pura I Alma pura 1 • 158


11 - Se nAo consentes, nllo hd pecado 160
111 - Um11 pérola maravilhosa 163
1 V - O conl�glo da Impureza . 166
V - As tuas leituras 169
VI - Livros • 171
V 11 - Dldrlos e revl5tas 173
V JIJ - Quadros 174
IX - Teatro, clnem11 177
X- Bafle . . . 180
XI - A verdadeira senhora 182
XI1 - Entre santa e santo 183
XI II - O teu noivo 185
XIV -A limpeza exterior 186
X V - Morre e ressurge ! 187
X V J - AlmH raqultlcas . 189
X V l l - Robustece a tua vontade ! 190
X V li I - A alegria do triunfo 193
XIX - Na terra, m11s nlo da terra 196
XX -A que não sabe mentir 198
X X 1 - Fortalece o teu corpo 199

.
XXII - Suporta a dor 1 201
XXlll - Vida higiénica 203
XXIV - Escolhe bem os teus vutidos 207

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258 fNDICR

XX V - Nlo e1tej111 ociosa 1 , . . . 210


XXV 1 - A lguoa conselhos mêdlcos • 212
X X V li - Um amigo paternal • . . • , 215
XX VI JI - Do d1,r10 duma rapartga , • • , • 217
XXIX - Junto à fonte duma nova vida 221
XX X - Comigo esU o Senhor 1 • . • • • • 223
XXXl- •Voa-. . . • • 228
XXXI 1- Maria ê minha Mie . 230

CAPiTULO V 11 - ALMA A SORRIR, OLHOS EM FOGO. 233

1 - O maior triunfo • • , • • • 536


11 - Oh I qulo bela � a geraçlo casta 1 • 237
ll l - Sem cadelas 1 • • • • • • 240
l V - Vontade, força, vitória 242
V - Desperta 1 . • • • • • • 243

. . .
V 1 - Ser, de facto assim? • 246
VII - Nova geraçlo , • • 249
VIII - Vontade aanta. • , • • 251
IX - Um último conselho . 252

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