Você está na página 1de 854

R. P. CHAIGNOI\!, S. J.

MEDITACÕES SACERDOTAIS ou

D PADRE SAHilflCADD PELO DRACDD


VERSÃO PORTUGUESA
PELO PADRE

FRANCISCO LUÍS DE SEABRA

2.ª edição inteiramente refundida

VOLUME Ili


PÔRTO
Ediçõ'" do APOSTOLADO DA IMPRENSA
Travessa da Carvalhosa, .56

1935
IMPRIMI POTEST.
28 Jan. 19)4.
Paulus Durão, S. J.
Draep. Prov. Lusil.

PODE IM PRI MIR-SE.


Pôrlo, 4 de Fevereiro de 19.l4.
1" A. A., Bispo do Pôr(o.

Todos os direitos reservados;·

Tipografia • Mincn-a • - Famaliciio

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA PARTE

Neditatoes sDbPe os dluersos mistéPios, dltePentes tempos


e testas do ano e11esiáslirn

ADVER TÊNCIA

Temos seguido nas meditações precedentes o


plano indicado por Santo Inácio: admirável sistema
de santificação, que faz passar o homem por três ca­
minhos. O primeiro purifica-o, o segundo esclare­
ce-o e enriquece-o das mais sólidas virtudes, confor­
mes às de Jesus Cristo, o terceiro prepara-o imedia­
tamente para a suma felicidade, unindo-o a Deus
pelo amor. Mas, ainda que êste plano em si nada
deixe a desejar, contudo não nos permitiu tratar dos
assuntos, que conveem especialmente aos diferentes
tempos do ano eclesiástico, por não nos podermos
demorar-nos quanto a piedade o desejaria, nos gran­
des mistérios das solenidades cristãs.
As festas devem atrair tanto mais a nossa aten­
ção, quanto somos obrigados a conformar-nos com
seu espírito, para nossa salisfaç&o pessoal e para
bem das almas, cujo cuidado nos está confiado.
Ora, nestes dias privilegiados, que nos trazem suces­
sivamente o tributo dos dons celestes, que lhes é
próprio, o objeclo das nossas conversações com
Deus. está naturalmente indicado. l Como celebrar
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8 MEDITAÇÕES �ACERDOTAIS

com fervor e fruto as festas do Natal, da Páscoa, de


Pentecostes, a festa do Corpo de Deus, a do Cora­
ção de Jesus, ele., as que são consagradás a honrar
Maria e os Santos, se não nos conformarmos com
as intenções da Igreja, meditando no que ela medita?
Àlérn disto urna acertada variedade de assuPtos dá
descanso à nossa alma, recreia-a e revigora-a.
O ano eclesiástico divide-se em três épocas.
O Advento abre a primeira, que termina na festa da
Purificação: a segunda compõe-se d� Ouaresrna e
do tempo pascal; a terceira abrange o resto do ano,
desde o- Pentecostes até ao primeiro domingo do
Advento. Estas três épocas formarãà três secções,
cada urna das quais se dividirá em Próprio do lempo
e Próprio dos Santos.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SECÇÃO PRIMEIRA

O ADVENTO E O NATAL

§. J.º
Vróprio do tempo

O Advento é um tempo de oração e de penilên­


cia, instituído pela Igreja para dispôr seus filhos a
celebrarem dignamente o mistério do Nascimento de
Jesus Cristo. Q que é a Ouaresma para a Páscoa,
o que foram para a vinda do Messias os quatro mil
anos do antigo testamento, são para a festa do Natal
as quatro semanas do Advento.
Três vindas do Filho de Deus preocupam a Igreja
neste santo tempo, e devem ser o ohjeclo das nossas
meditações. • Na primeira, diz S. Bernardo, Jesus
veio na nossa carne, e revestiu-se das nossas enfer­
midades; na segunda, vem a nós por sua graça, em
espírito e virtude ; na terceira, virá com todo o
poder e majestade para nos julgar• (1). Pedro de
Biais acrescenta: • A primeira foi humilde e oculta,
a segunda é misteriosa e cheia de amor, a terceira
será manifesta, terrível para os pecadores e gloriosa
par� os justos• (l

(1) De Advenl. Serm. V. - (2) lbid. Serm. III.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
rn MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

I MEbITAÇÃO
1.0 Domingo do Advento.-Deveres do sacerdote
com relação às três vindas de Jesus Cristo.

I. Jesus vem à !erra pelo seu nascimento, para a renovar.


II. Às almas pela sua graçe, pere nelas viver e o,s sanlificar.
Ili. Ao mundo no fim dos tempos, para o julgar.

I. Vinda do filho de Deus à ferra por seu


nascimento, para a renovar. - E' aquela vinda cujo
aniversário a Igreja se dispõe a celebrar brevemente.
é. Oue era o mundo antes que o Verbo se fizesse
carne e habitasse entre nós? e. Oue veio êle a ser
depois dêste nascimento, pelo qual tanto suspiravam
lodos os verdadeiros filhos de Abraão? é. De que
profunda miséria o tirou? Comparel'{lOS a nossa sorte,
nós principalmente,• padres e amigos de Jesus, com a
dos mais favorecidos no tempo da primeira aliança.
Nós já possuímos êsse Messias que tantos votos, du­
rante quarenta séculos, pediram ao céu, às nuvens, e
à ferra: êle é o nosso Emmanuel. Nós gozamos das
grandes vantagens, que esperavam os patriarcas e
profetas. é. E damos suficientes graças à Providên­
cia que, predestinando-nos para a vida, se dignou
fixar o nosso tempo na parle dos séculos, que de­
viam seguir-se à vinda do Redentor? é. Ouem pensa
neste imenso benefício ? E se os povos o esquecem,
e. não é porque nós, seus pastores e seus guias, nêle
pensamos tão pouco?
O' padre, a festa do Natal deve ser para vós
mais que uma piedosa lembrança. Tõdas as manhãs
renovais no aliar os prodígios de Belém, realizais o
mistério do seu nascimento. Quantas vezes celebrais

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PRl!IIEIRO DOMINGO DO ADVE!llTO H
o augusto sacrifício, {antas vezes dais ao mundo o
-mesmo Salvador que lhe deu a mais pura das vir­
gens. Vossa bôca fã-lo nascer, diz Tertuliano, pélr­
furienfe línguél, vossas mãos e vosso coração servem­
-lhe de berço, as espécies sacramentais são suas
faxas I Adorai, amai a êste Deus recém-nascido; rece­
bei-o possuído de júbilo e de esperança. Êle vem
operar em vós, pela comunhão, mudanças análogas
às que operou no universo: dissipar vossas trevas,
reformar vossas inclinações, dar-vos a santidade e a
felicidade. Oh! se lhe prometêsseis fazer a vós
mesmo lodo o bem que êle vos deseja 1

II. Vinda espiritual de Jesus Crislo às almas,


para as santificar e salvar. - De nada nos serviria
que o filho de Deus viesse, há mais de mil e oitocen­
tos anos, visitar o género humano nas enfrélnhéls da
sua misericórdiél,' se não viesse ainda incessantemente
trazer, conservar, e aperfeiçoar em nós essa viéla de
·graça, cuja fonte só está nêle. O' mistério, que de­
veria enternecer todos os corações 1 <'. Oue faz êste
Salvador cheio de bondade, sabendo que não pode­
mos ser agradáveis a seu Pai, senão emquanlo vê em
nós seu próprio filho, único objeclo das suas compla­
cências? Ele vem a nós, transforma-nos nêle, de tal
sorte que não sejamos nós que vivamos, mas êle que
viva em nós: Vivo, jélm non ego, vivif vero in me
Chrisfus, e· vendo-nos Deus seu Pai, possa dizer de
cada t1m de nós: • Este é meu filho querido• . Eis o
homem mais que levantado da sua queda original;
ei-lo divinizado I Tal é a nobre tarefa imposta à
Igreja, que a cumpre pelo ministério sacerdÓtal.
<'. Oue homem merece, tanto como o padre, ser cha­
mado o bemfeitor de seus semelhantes?
Durante estas quatro semanas do Advento, Jesus
bate com mais instância à poria dos corações; nas­
cerá nêles, se houver lugar para êle: nos justos,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
12 �IF.DlTAÇÕES SACERDOTAIS

dando-lhes um acréscimo de vida espirilual, nos pe-.


cadores, retirando-os da morle: porque êle quer que
até o ímpio se con11erléJ e viva. Nós, que somos
seus ministros, ajudemo-lo a realizar seus m'isericorc
diosos desígnios. Preparemos-lhe o caminho, endi­
reitemos as veredas por onde deve chegar às almas.
Ser-nos-á preciso abater os montes da soberba,
encher os vales do desalento e da pusilanimidade.
é Oue obstáculos le'remos a vencer? Mas é que não.
podemos nós com o auxílio de um Deus que, unin­
do-se à nossa fraqueza, nos comunica sua fortaleza?
Sejamos os primeiros a dispôr-nos para esta feliz
visita. Para excitar e sustentar o nosso zêlo, o temor
ajunta-se à esperança-.

III. Última vinda de Jesus Cristo ao mundo,


para o julgar. Na aproximação do Natal, a Igreja
prevê com dõr, que muitos de seus filhos, e talvez
alguns de seus ministros, imilarão a criminosa indi­
ferença dos habitantes de Belém, quando seu adorá­
vel Espôso se , dignou nascer no meio dêles: Et sui
eum non receperunf. -,- Non era/ eis locus. é Oue
não faz ela para nos resolver a receber melhor o
nosso libertador? Na sua liturgia, não se ouvem
senão as súplicas da oração e os gemidos do arre­
pendimento. Ela quer que a voz do grande apóstolo,
a voz de Isaías, a voz de João Baptista nas margens
do Jordão, e a do próp"rio Messias, se misturem com
as vozes dos pregadores, para despertar os homens
de seu sôno: Hora esl jam nos de somno surgere, e
para os fazer entrar generosamente no caminho de
um� verdadeira penitência: Facife ergo fruclus dignos
poenilenliae. Abala as consciências com o terror do
juízo universal. Diz a lodos: • Escolhei, ou a mise­
ricórdia, ou a justiça; ou o cordeiro cheio de doçura,
que vem tirar e perdoar os pecados do mundo, ou o
leão terrível, que vem tirar dêles uma severa vingan-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO

ça. Se receberdes com amor aquele que vai apre­


sentar-se a vós no presépio, não lereis que temê-lo,
participareis até do seu triunfo. quando vier a julgar
os vivos e os mortos. Mas ai! dos que não tiverem
conhecido e aproveitado o tempo da sua visita ! Por
terem fechado o seu coração ao terno Menino, que
chorou sõbre êles no bêrço, soltarão êsle grilo de
desespêro: Montes, caí sôbre nós; rochedos, esma­
gai-nos/
O' padre, e. limitar-vos-eis a pregar estas verdades
tremendas, sem as aplicardes a vós? E' para os
homens do santuário que o juízo universal reserva
ou mais glória, ou uma confusão mais amarga.
Tomai por"tanto, à entrada dêsle santo tempo, a re­
solução de o passar conforme as intenções da Igreja,
as necessidades da vossa alma e a salvação do vosso
povo. Com relação a vós, uma vida mais retirada,
mais aplicada à oração, uma vida de santas aspira­
ções : Rara/e, coeli, desuper. - Veni, Domine Jesu,
veni. Com relação às vossas ovelhas, redobrai o
vosso zêlo em instruí-las, em edificá0 las, em renová-las
pela graça dos sacramentos.

Resumo da Meditação

I. Vinda do filho de Deus à ferra, para a


renovar. - E' aquela vinda cujo aniversário a Igreja
vai celebrar. é. Oue era o mundo antes desta' vinda?
l Oue veio a ser depois? -- Comparemos a nossa
sorte com a dos mais favorecidos da primeira alian­
ça. Nós gozamos das grandes vantagens, que os pa­
triarcas esperavam. Adoremos êsle Deus que nasce,
e que vem operar em nós, pela sua graça, mudanças
análogas às• que operou no universo.

II. Vinda espiritual de Jesus Cristo às almas,


para as santificar e salvar. - Vem transformar-nos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
i4 Mr-:nlTA\iÕKS SACERDOTAIS

em si; de tal sorte que não sejamos nós que vivamos,


mas êle que viva em nós. Durante o Advento, Jesus
bale com mais instância à poria dos corações. Ouer
nascer nos justos, dando-lhes um acréscimo de vida
interior, nos líbios fazendo-os sair do seu sôno, e
nos pecadores que êle deseja se convertam e vivam.

III. Última vinda de Jesus Cristo ao mundo,


para o julgar. -·Durante estas quatro semanas, a
Igreja emprega lodos os esforços de seu zêlo, para
nos resolver a bem recebermos o nosso · Salvador.
Abala as consciências com o terror do juízo univer­
sal. Diz-nos: Escolhei : ou a misericórdia, ou a
jusliça; ou o Cordeiro cheio de doçura, que vem
tirar os pecados do mundo, ou o leão terrível que
vem castigá-los com rigor. - Tornai a resolução de
passar êsle santo tempo conforme às intenções da
Igreja, às necessidades da vossa alma e à salvação
do vosso povo.

IS!

II MEDITAÇÃO
2.0 Domingo do Advento. - A prêgação de
João Bapfisfa. - Suas disposições para ela.

Qualquer padre fiel à sua missão é precursor


de Jesus Crislo. Temas direi lo a aplicar-lhe esta
palavra : Prophe!a Altissimi vocaberis, praeibis enim
ante faciem Domini, parare vias ejus (1). • O Salva­
dor mandou seus apóstolos adeanle de si por lôdas

(1) Luc. I, 79.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDO DO�IINGO DO ADVENTO 15
as cidades e lugares, aonde êle linha de ir. ( 1 ) ;
porque, diz S. Gregório: Prnedicalores suas Domi­
nus sequifur: qúia praedicafio praevenif, ef /une ad
mentis nosfrae hahifaculum Dominus venif, qqando
verba exhorlalionis praecurrunf (2). E' pois pela pre­
gação, que precedemos a Jesus Cristo, para lhe pre­
parar os caminhos. João Baplista ensina-nos com
seu exemplo, como devemos dispõr-nos para êste no­
bre � divino ministério, e com que zêlo devemos exer­
cê-lo. Meditemos hoje sõbre as disposições que re­
quer, e notemos três principais neste santo pre­
gador.
1. Recolhimenfo hobifuol e oração.
li. Dependência perfeito do 11spíri!o de Deus.
Ili. Vido penilente e morfificodo.

1. João Bapfisfa preparou-se para a pregação,


pelo recolhimento e oração. - Retirou-se para o
deserto desde a mais tenra idade ; aí esteve muito
tempo, só co·m Deus, lendo com· êle a mais íntima
comunicação; e êste hábito de recolhimento e santo
comércio com o Senhor, nunca o perderâ no exercí­
cio do ministério apostólico.
Não há tempo mais utilmente empregado na sal­
vação das almas, que aquele que, na opiníão dos
homens superficiais, parece perdido para o aposto­
lado. l Oue faz êste bom pastor em seu oratório,
durante essas horas de silêncio e de oração, durante
as quais parece esquecer que tem um_povo inteiro a
salvar? O que fazia João Baptista no deserto. Estuda
os desejos de Deus, e prepara seu próprio coração.

(1) ln omnem civifofem et' locum quo era! ipse venfurus.


Luc. X, 1.
(2) Horn, XVII. in Evong.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Hi M!;:DITAÇÕKS SACE:IDOTAIS

Provê-se de espírito de fé, de caridade ardente, de


humildade, de paciência, etc., Ião necessárias ao ho­
mem apostólico. Exercita-se na prática das virtudes,
de que brevemente deverá dar lições e exemplos.
Há quem se que_ixe de que nos púlpitos e nos
discursos que ali se pronunciam, se enconlre menos
a palavra de Deus que a do homem. é. Será isso es­
tranho, se os pregadores não sabem falar a Deus,
nem ouvi-lo na meditação? Prius aurem cordis ape­
riaf voei Creaforis, ef posfmodum os sui corporis
aperiaf auribus plebis ( 1 ). Assim fizeram todos aqueles
pescadores de homens, que lançaram com proveito a
rêde da divina palavra. O mesmo Jesus Cristo de­
clàrou que só ensinava ao mundo o que linha apren­
dido de seu Pai: Ouae audivi ah eo, haec loquor
in mundo (2). Oh! que fria é a pregação, que não é
animada do Espírito Santo I Nós esquecemos, Se­
nhor, qual é a vossa parle, e qual é a nossa na obra
da sanlificllção das almas: Nos loquimur foris, diiZ
Santo Agostinho, eis ludo o que podemos fazer; só
·a Deus pertence abrir a inteligência e comover o co­
ração: /pse infe//ecfum aperil, ipse ferrei, ipse mo­
vei, ipse aedi6caf. Portanto, atraia'mos Deus a nós
pela oração, e sejamos dóceis às suas inspirações.

II. Joiío Baplisfa deixa-se dirigir inteiramente


pelo Espírito Santo. - Privou-se durante trinta anos
da consolação de vêr àquele cuja presença o fizera
estremecer de alegria no seio de sua mãe; e privar­
-se-á ainda da felicidade .de viver na _sua cpmpanhia
com os apóstolos. i E que consolação não teria
achado nas efusões dessa divina amizade! Mas o
Senhor pede-lhe o sacrifício delas, e êle fá-lo. Para
compreender o mérito dêste sacrifício, convém recor-

(1) 5. Greg. in Ezechiel. lib. 1. - (2) Joan. VIII, 26.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO li

dar que, ainda antes do seu nascimento. eslava 1a


impaciente de anunciar ao Messias, como diz 5. João
Crisóstomo ( l ). Ora, sendo êste desejo efeito de
seu amor, devia ler aumentado sempre durante a
sua longa e santa soledade: por isso nela se conserva
até que Deus lhe faça conhecer que é tempo de se
manifestar: Era/ in deserlis usque in diem o::;fensio­
nis suae éld fsréJe/ (2). Não se antecipa; mas apenas
chega o momento, não se demora: Félcfum est verbum
Domini super Joannem . . . Et venil in omnem regia­
nem Jordanis, praedicans baplismum poenifenfiae (3).
Vai para onde o Espírito de_ Deus o envia; pregã o
o que o mesmo Espírito quer que êle pregue; b
tempo, o lugar, o assunto, o estilo da sua prégação,
tudo é determinado por êsse E.spíriio divino, do qual
é poria-voz e dócil instrumento: Ego vox claméJn/is
in deserto.
é. Qnde estão os pregadores assim ligados pelo
Espírito Santo, que o seguem fOnstantemente ( 4 ), para
não fazerem nem dizerem senão o que êle quer e
da maneira que êle quer? é. Ü (! antos conlrt1riam a
sua acção com intuitos humanos, e desejos que não
são subordinados aos seus impulsos? é. Ouanlos se
deixam guiar pela natureza, em um ministério que só
deve tender a destruir o reino da natureza para o
subsliluir pelo da graça?

III. João Baplista consegue o bóm éxilo da


sua pregação por meio da sua austera e santa vida.
- Jesus dã-lhe êsle leslemunho na presença do povo,
que o viu, com admiração e o ouviu com fruto:
i. • Oue fõsles vêr ao deserto? é. Um homem leviano,

(1) Lição do 2.0 noel., fesla da Visifação.


í2) Luc. 1, 80. - ( 3) (d., 111, 2, 3.
t · 1) Ecce alligafus ego spirifu, vado in Jerusalem. Acl. XX, 22.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
i8 MEDITAÇÕF.S SACE8DOTAJ8

irrefleclido, semelhante a uma cana agitada pelo ven­


to? e. Um homem vestido de roupas delicadas, amigo
das comodidades da vida, escravo do seu corpo e
dos seus sentidos? Nunca leríeis deixado vossas ca­
sas, in,errompido vossas ocupações para ir ouvir se­
melhante pregador; àlém disso nunca ele vos leria
inspirado pensamentos Ião salutares. O que vos
atraiu e subjugou neste novo profeta, foi a sua grande
sanfülade, que acertadamente reconhecestes, não nos
éxtases ou no dom dos milagres, mas no desprêzo
de ludo o que o mundo estima, na abnegação, na
mortificação da carne e das suas concupiscências• .
A vida penitente e mortificada de um apóstolo é a sua
eloqüência. Influi igualmente em Deus e nos ho­
mens; porque convém, diz Bossuet, que se fale ao
céu para que a !erra seja persuadida, visto que é do
céu que -vem a graça, que muda os corações e vence
as vontades rebeldes. Ora, e. há alguma coisa, que
comova mais o coração de Deus, o incline mais efi­
cazmente a compadecer-se dos pecadores, do que a
caridade de seu ministro, lomando sôbre si uma parle
da pêna que merecem os pecados dêles?
Vejo agora, Senhor, porque é que os obreiros,
que cultivam o campo da vos:;a Igreja, ainda que co­
locados aparentemente nas mesmas condições, obteem
resultados Ião diferentes: alguns recolhem, quási sem
ler semeado; a maior parle, semeando sempre,
nunca recolhem nada. A semente é a mesma; é
sempre a vossa palavra, viva e eficaz (1). Mas ao
passo que os sacerdotes líbios paralizam a sua acção
com sua vida dissipada, tôda huma_na e sensível, vós
a fecundais na bôca dêsses sacerdotes fervorosos
que nada recusam à vossa graça, sacrificando-se
pel� vossa �lória e pela santificação de seus irmãos.

(1) Hebr. IV, 12.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SF.GUNDO DOMl�GO DO ADVENTO t9

t Como me tenho eu disposto até agora para falar na


vossa presença e em vosso nome? t Eslava eu bem
convencido de que, se iôdt1 t1 formosurt1 dt1 filha de
Sião vem do seu inferior, lodo o poder do vosso
embaixador vem da sua união convosco? i, Oual foi
a minha submissão ao vosso Espírito? e Oue peni­
tência lenho feito para aplacar a vossa justiça, e
atrair as bênçãos do vosso amor sôbre aqueles a
quem eu anunciava vossos oráculos? O' Jesus,
quando eu tiver de pregar, vinde ao meu coração e
passai aos meus lábios, a-fim de que eu anuncie 'digna
e iililmenle o vosso Sagrado Evangelho: Dominus
si/ in corde meo e/ in !t1hiis méis, ui digne el cóm­
pefenfer t1nnunliem evangelium. Amen.

Resumo da Meditação

I. João Baptisfa prepara-se para a pregação


pelo recolhimento e oração,;- Retira-se pa'ra o
deserto desde a mais tenra idade. Não hã tempo
mais iililmente empregado para o ministério evangé­
lico do que aquele que prepara o seu bom éxilo com
o hábito do recolhimento e da oração. Nos loquimur
foris; · só a Deus pertence abrir a inteligência e in­
fluir no coração. Atraiamos Deus a nós pela me­
ditação, e quando êle nos inspirar, sigâmo-lo dàcil­
menle.

li. João Bapfisfa deixa-se dirigir infeiramenfe


pelo Espírito Santo no ministério da pregação. -
Não antecipa o tempo marcado por Deus para o
começar a exercer; mas logo que chega, não se
demora. Vai para onde o Espírito de Deus o envia;
prega o que o mesmo Espírito quer que êle pregue.
Ouantos pregadores contrariam a sua acção com
vistas humanas, em lugar de ü auxiliar 1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
';!0 MEDITM;ÕES s·ACERDOTA1S

III. João Bapfisfa consegue com a sua santi­


dade o bom resultado da suá pregação. - é'. • Üue
fôsles vêr ao deserto? e. Um homem vaidoso e le­
viano? e. Um homem amigo das suas comodidades e
imorlificado •? O que atrai e converte no ministro
do Senhor, é o seu espírito de penitência e de san­
tidade.
No mesmo dia: Outra meditação - ConfiélnÇél
'
em Deus. Tômo II, pág. 589.

III MEDITAÇÃO
3.0 Domingo do Advento. - Conlinuélçiio
da pregação de João Bapfisfo.

1. Melérie que !rafe ;


li. Zêlo que moslre.

I. Matéria da pregação de João Bapfisfa. -


Pode-se reduzir a duas palavras: penitência, e apro­
ximação de Jesus Cristo,
1.0 Penitência. O santo precursor mostra quanto
é necessária, determina suas qualidades, combale
suas dilações.
e. Como evitarão homens culpados a ira do Se­
nhor, se não procuram aplacá-la? Ouis oslendit vo­
bis fugere a ventura ira ? (1) e. Como escaparão ao
rigor da sua sentença, aos tormentos que reserva aos
seus inimi�o�, se não deixam de ofendê-lo? Seme­
lhante a um solícilo lavrador, Jesus Cristo aparecerá

(1) luc. Ili; 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Tl':Rr.ElllO DOMl!'lGO DO ADVF.llTO 21
um dia, com a joeira na mão, para separar o trigo·
da palha : O trigo se�á recolhido no celeiro do céu,
e a palha queimada num fogo que nunca se apa­
gará ( 1 ). E' necessário pois fazer penitência; mas
uma penitência verdadeira, que produza frutos, e
dignos frutos: facile ergo frucfus dignos poenilen­
fiae, penitência completa, que destrua as causas do
pecado, repare os seus efeitos, mude e reforme a
vida do pecador.
E ai! daquele que diferir esta periilência! Jam enim
securis ad radicem arborum posifa esl ! Vai ser cor­
tada essa árvore estêril; <, e qual será a sua sorte?
Oh ! arrependimenlos dilacerantes, que chegarão
muito tarde ! Oh I desesperação inúlil ! Omnis_ arbor
non faciens frúcfum bonum, excidelur, ef in ignem
miffefur. Alm·a minha, l entendes lu esta palavra,
omnis arbor? Não há exc:epção. Mas se esta ár­
vore, cullivada com particular cuidado, obrigada por
isso mesmo a dar mais frutos e frutos mais excelen­
tes, nenhum desse, ou os desse maus, é. que castigo
ainda mais rigoroso não deveria ela esperar?
2. 0 Ocupando-se em retirar as almas do pecado,
S. João Baplista leva-as a Jesus Crislo; ou antes,
mostra-lhes êste Deus Salvador como médico que
vem curar tôdas as feridas que lhes fêz o pecado,
que vem destruir o mesmo pecado : Ecce Agnus Dei,
ecce qui tollif peccafum mundi (2). Não se serve da
confiança dos povos, senão pa.ra os trazer a Jesus
Cristo; nem .da autoridade que lhe dão suas virtu­
des, senã'o para os submeter à lei de Jesus. Em
tôda a ocasião, dá testemunho de Cristo, do· seu
supremo poder, da sua geração eterna, da sua divin-

(1) Congregabil lrificum in horreum suum, paleas aulem com­


buref igni inexlinguibili. Luc. Ili, .17.
(2) Joan. 1, 29.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
22 MEnJTAÇÕES SACElll)OTAIS

dade. Envia-11\e seus discípulos, dedarando-lhes que


viu, o Espírito Santo des�er sôbre êle; que se nasceu
no tempo, existia antes de lodos os tempos; que
entre o seu próprio baplismo e o de Jesus, não há
menos diferença do que entre a água que só lava o
exterior, e o fogo que peneira e purifica o inferior ( 1).
Ah I quanto lhe custa vêr êsle divino Messias no
meio dos homens, desconhecido daqueles que vem
salvar! (2) O que todos os santos pregadores pro­
curam, é manifestar a Jesus Cristo, fazê-lo adorar e
amar. Praedicamus Chrislum (3 ).

II. Zêlo de João Baplisfa no ministério da


pregação. - Zêlo ardente e enérgico. Tratando-se
de comover os pecadores endurecidos, faz-lhes ouvir
terríveis ameaças, desmascara-lhes os vícios. Se se
traia de impedir ou extinguir o escândalo, não se
contenta com falar; increpa, clama, troveja. T rala
sei:n contemplação os hipócritas e soberbos, como os
tratará brevemente o divino Mestre, que virá depois.
Vendo· que muilos dos fariseus e dos saduceus vinham
ao seu· baplismo, diz-lhes: Raça de víboras, que infi­
cionais as almas com o veneno das vossas falsas
interpretações e perversas doutrinas, i quem· vos en­
sinou? é. vindes aprender o meio de evif{Jr a ira di­
vina? Pois fazei penilêncitJ. Esta veemência é muitas
vezes necessária ao pregador evangélico: lgnifum
eloquium fuum vehemenler (4 ). Surrexil Elias pro­
phela quasi ignis, e/ verbum ipsius quasi facu/tJ
ardebal ( ).
5

O' padre, é. é vosso discurso vivo, peneirante?


é. Causa também felizes impressões que cc,nverlem?
\

(1) ld. 1, 34; Luc. Ili, 16. - / 1 1 ld. 1. 26.


(SJ I Cor. I, 23. - (1) Ps. CXVIII, 140.
(") Ecdes. XLVIII, 1.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TERCEIRO DOMINGO DO ADVENTO 23

l E' um incenlivo, é um fogo que queima? O zêlo


não é senão o ardor da caritlade. U� bom pai pre­
Ít'riria não empregar meios de rigor para com um
filho indócil; emprega-os porém, porque o ama : o
pregador é o pai das almas.
Zelo prudente, e a-pesar da sua fôrça, sempre
cheio de doçura. Se João Baplisla se vê na pre­
sença de pecadores humilhados, desejosos de se
instruírem, e/ inlerrogabanf eum dicenles: Ouid ergo
faciemus? anima-os pela facilidade do perdão; para
o obter, não são obrigados a viver como êle num
deserto; não se exige dêles senão a jusliça, a esmo­
la, a exaclidão em cumprir os deveres de seu estado.
A santidade é acessível a lodos. Não consiste nas
grandes austeridades, nem nas acções heróicas, mas
em querer o que Deus quer de nós na nossa con­
dição.
Zêlo humilde no bom éxilo, e livre de lôda a
vaidade. e. Oue tentação de vanglória não leria um
homem menos convencido do seu nada, ao avistar-se
com aquelas deputações que lhe mandavam, e ao ver
a admiração geral de que era objeclo? João Baplista
humilha-se e confunde-se. Não pode tolerar que se
pense em tomá-lo pelo Messias, nem que seus inve-,,
josos discípulos ousem dizer-lhe: Aquele de quem
lu desfe fesfemunho, ei-lo ai a bdpfizar, e lodos v,fo
ler com êle ('). Ouanlo mais querem exaltá-lo, mais
êle se humilha. Longe de ser o Messias, êle não
merece a honra de lhe prestar os mais humildes ser­
viços. Só lt"m uma ambição, é a de desaparecer,
para que o Salvador apareça; só deseja uma coisa,
é que se ocupem de Jesus, e se esqueçam do seu
precursor: Opor/e! illum crescere, me aulem mi­
nui (2 ). Meu Deus, i quão pouco merece os bons

(1) Joon. Ili, 26. - (21 lbid. 30.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SAC�:ROOTAIS

éxilos do ministério evangélico aquele que os deseja


men9s para vós do que parn si! Com lanlo que
possuais os corações, i, que imporia àquele que vos
ama, o instrumento de que vos servis para os alrair
a vós?
Zêlo infatigável.' Não se enfastia da duração de
seus trabalhos: não se desgosta da ignorância dos
que lhe fazem preguntas; responde a tôdas, suporia
ludo.
Zêlo intrépido, que arrosta os perigos. Não co­
nhece as vis complacências, e sabe declarar a Hero­
des onde termina o seu poder: Non /icei. é Convi­
ria ler considerações com os poderosos da !erra, até
ser cúmplice de suas desordens? Ouanlo mais po­
deroso é um pecador público, mais funesto é o con­
tágio do .seu exemplo. João Baplisla alcançara a
glória do martírio com sua invencível firmeza; é po­
dia êle esperar melhor recompensa?
Senhor Jesus, i que belo modêlo ofereceis ã minha
imitação I i, Será assim que eu lenho combatido por
vós? Será assim que lenho disposto as almas a re­
ceber-vos, anunciando-lhes vossa palavra? é Terei eu
êsse zêlo ardente, mas dirigido pela prudência, mo-
9erado pela doçura; êsse zêlo humilde, e áo mesmo
tempo de constância inabalável? E' porém verdade,
ó meu Deus, que ciiamando-me, como a João Baplis­
la, . para ser vosso precursor, · me favorecestes mais
que a ê!e, quanto aos meios de cumprir esta santa e
sublime missão, pois lenho todos os dias a felicidade
de comer vossa carne e de beber vosso sangue.
O' Jesus, se uma só das vossas visitas, quando
João eslava ainda no seio maternal, lhe ,comunicou o
espírito e d virtude de Elids ( 1 ); tantas visitas que
me fazeis com uma caridade ainda mais admirável,

(1) Luc. 1, 17.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TERr.EIRO DOMINGO DO ADVENTO -·'
g••

<'. não me !ornarão um apóstolo, um ministro do Evan­


gelho, segundo o vosso coração? Suplico-vos que
me concedais hoje mesmo esta graça, e darei ao
vosso povo a sciência da salvação; e nascereis e
vivereis para sempre em tôdas as almas que me
confiastes.

Resumo da Meditação

1. Matéria da pregação de João Baplista. -


J • 0 Tirar as almas do pecado pela penitência. Ne­
cessidade desla penitência; o pecador não tem outro
meio de aplaC"ar a Deus. Esla_penitência deve se!'
verdadeira e não sim.ples'mente aparente: deve pro­
duzir frutos e dignos frutos. Ai! daquele que a di­
fere! Como árvore estéril, será cortado e lançado
ao fogo. 2. 0 Levar a Jesus Cristo almas arrancadas
do pecado; mos Irar-lhes Jesu� Cristo, como o cor­
deiro que vem tirar os pecados do mundo. Ah !
quanto sofre um sacerdote fervoroso, por ver ao Sal­
vador Ião pouco ou nada conhecido!

li. Zêlo de João Bapfisfa no minislério da


pregação. - Zêlo ardente e corajoso, quer para
comover as consciências endurecidas, quer para im­
pedir e fazer cessar os escândalos: lgnitum .e/oquium
fuum vehemenfer. Zêlo prudente e cheio de mansidão
a-pesar da sua veemência. Anima pela facilidade do
perdão. A santidade é acessível a lodos. Zêlo hu­
milde, ·no bom éxilo. Objeclo da admiração geral,
João Baplista confunde-se. Ouanto mais querem
exaltá-lo, mais êle se humilha. /Zêlo infatigável e in­
trépido : não pode cansá-lo; arrosta com lodos os
perigos.
No mesmo dia: Outra meditação. - A alegria
espirifual. Tômo 11, pág. 596.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEOITAÇÕES SAC!sl\DC.TAIS

IV MEDITAÇÃO
4.0 Domingo do Advento - Vidd de Jesus
no seio de Môrid

O mistério da Incarnação realizou-se há quas1


nove meses; é chegado o tempo, em que o filho de
Deus vai entrar no mundo. A Igreja convidando-nos
a orar, já não diz: Regem venfurum Dominum, ve­
nife, ddoremus; mas Prope esf jt1m Dominus, venife,
éJdoremus. Seus cantos são mais animados, mais viva
sua alegria. Nas Ldudes exclama; •Tocai a trom­
beta em Sião, porque o dia do Se�hor está próximo;
ei-lo, vem salvar-nos, Q/eluid, d!eluid •. Nas Vésperds,
prorrompe .em exclamações cheias de amor e res­
peito: • O' sabedoria eterna I O' Adonai ! O' Em­
manuel • ! O Libertador tão desejado está no seio de
sua Mãe; e neste sanluário, o mais digno que se
pode achar cá nti terra, já !em exemplos a dar-nos.

1. Sacrir.ca-se à glória de seu Pai.


li. Dedica-se à salvação dos homtns.

1. Vida de Jesus no seio de Maria, vida de


sacrifício para glória de seu Pai. - Apenas a alma
de Jesus Cristo se uniu ao seu corpo, e sua huma­
nidade ao Verbo, começou êle sua missão repara­
dora. Desde o primeiro momenlo da sua conceição,
gozando da visão beatífica, e do livre uso de suas
faculdades inlelecluais, conheceu a excelência infinita
da glória de Deus, e a ofensa que recebeu do ho­
mem pecador; apresentou-se logo a seu Pai como
vítima de adoração, de louvor, de expiação; acei­
tando lôdas as disposições da sua Providência, e· em

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUARTO DOlllNGO DO Al>VENTO 2]

particular o cális amargo dos sofrimenlqs e humilha­


ções, pelos quais deverá reparar o pecado: lngre­
diens mundum dicil: Hosfiam ef oblafionem noluisfi,
corpus aufem apMsfi mihi. . . Tunc dixi: Ecce ve­
nio ( 1). Tai é sua ocupação no seio materno; será
a de tõda a sua vida. Não só em cada um dos mis­
térios que realizará: nascimento, circuncisão, fugida
para o Egipto, etc.; mas em cada passo que der na
sua carreira, renovará esta oblação de si mesmo ;
continuamente seu coração dirá: • Eis-me aqui, meu
Pai,· eis-me aqui; é. que quereis que eu faça para vos
glorificar? Esta lei está gravada em minha alma, e
me dirigirá sempre. (2).
Não tardará que os anjos nos anunciem um
grande gôzo. Regosijemo-nos desde já; porque
Deus tem a nosso respeito pensamentos de reconci­
liação e de amor: começou a recobrar sua glória.
Logo que um Deus hu_manado se tornou servo e ado­
rador de Deus; o Sêr Infinito recebe honras pro­
porcionadas às suas infinitas perfeições.· Unamos
nossas honras ãs do Deus nosso medianeiro; oh!
que valor lhes dará esta união!
Aprendamos também a estimar, a amar a glória
de Deus, a procurá-la em ludo; a sabedoria incar­
nada ludo lhe sacrificou. O' divina glória, 1 que grande
é aquele que só vive e trabalha para vós, visto que
vive e trabalha como Deus, que em lõdas as suas
obras não pode propôr-se outro fim que não seja êle
mesmo 1 Universa prop/er semefipsum operafus esf
Dominas (3). j Ouanlo é amado de Deus, pois o ama
com o amor mais perfeilo, esquecendo-se de si, para
só vêr e considerar a Deus! i Mas que bem traia de
seus próprios inlerêsses, vislo que a menor acção, e
a mais indiferente, sendo feita por causa de Deus e

fl) Hebr. X, 5. 7.- (2) -Ps. XXXIX, 9.- ( 3) Prov. XVI, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
28 _ M_E_D_IT_A�Ç_ÕF.S. sv:ERDOTA IS
� � ___ __
em estado d_e graça, pode aumentar sua felicidade
eterna! O' divina glória, se fôsseis o alvo de làdas
as minlias obras, o móbil de làdas as minhas resolu..
ções, 1 qual seria a minha paz, qufll seria a minha fe­
licidade, ainda mesmo cá na terra! Cumprindo o
meu flm, seria justo; pois, é. não é a paz o fruto dd
justiça, a recompensa dos que amam a lei de
Deus? (1 ) A paz é prometida à boa vontade; é. pode
haver uma vontade melhor que a do homem que em
ludo e sempre busca só a glória de Deus?

li. Vida de Jesus no seio de Maria, vida de­


dicada à salvação das almas. - A glória de Deus,
a ú_nica que pode receber das criaturas inteligentes,
consiste em que elas o conheçam, adorem, amem e
sirvam, condição necessária para que possa asso­
ciá-làs à sua suprema felicidade E' êste o fogo sa­
grado que Jesus vem trazer à !erra; oh I quanto lhe
!arda vê-lo acender-se I Representa-se-lhe vivamente
e sem cessar o triste estado do género humano, abis­
mado nas trevas, carregado de todos os crimes, !an­
tas almas desgraçadas que caem a cada inslaple nas
profundezas do inferno! i 0ue tormento para o seu
coração compassivo! Oh! quanto lhe tarda reme­
diar tantos males I é,.Üuando poderá êle correr o seu
caminho como gigante? (2)
Contudo êle já preludia as grandes'emprêsas de
seu zêlo: inspirá a sua Mãe, que o leve a casa de
Zacarias oi;ide santifica o seu precursor; enche a
S. Isabel do Espídto Santo; derrama abundantes
graças sàbre tôda esta ditosa família; e não é esta
a sua única maneira de exercer desde já o ministério
de Redentor. Trabalha já na sua obra de salvação
com suo submissão à vontade de seu Pai, com a ofe-

(1) Is. XXXII, 17; Ps. CXVHI, 165.-(2) Ps. XVIII, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUARTO TIOllllNGO ·110 ADVENTO 29
renda contínua que lhe foz do seu caliveiro, de seus
abalimenlos, principolmenle com sua oração. Pede e
obtém tôdas as graças, que serão concedidas, alé ao
fim dos séculos, ao ministério sacerdotal.
i Oue falsas idéias nós lemos a respeito daquilo
que fecunda o zêlo e santifica as almas! Trabalha­
mos muilo, oramos pouco; por isso, que resultados
conseguimos? Confiando demasiado em nós,- e pouco
em Deus, obrigamo-lo a deixar-nos trabalhar .sós.
E' o que aconlece na Judéia; as sei11:1s religiosas
agitam-se e nada conseguem, emquanlo que um me­
nino, que eslá ainda no seio de sua mãe, atrai,
orando, as bénçãos do céu sôbre tôda o humanidade,
e lança os fundamentos desta Igreja, que vai breve­
mente renovar a face da terra.
A um bom padre nunca lhe faltam meios de
concorrer para a salvação das almas, em qualquer
situação que se ache. Emprega para isso o oíício
divino, o augusto sacriÍicio, os seus exercícios reli­
giosos, as eníermidades, os sofrimentos, a obscuri­
dade e humilhações de uma vida aparentemente inú­
til. Meu Deus, 1 quanto bem se pode fazer sem os­
tenlàção, em segrêdo, permanecendo tão desconhe­
cido dos homens, como o Salvador no seio de Maria!
O' Jesus, dai-me um coração que compreenda e
imile o vosso; um coração Ião isento ,do amor das
criaturas e de si, que mereça que o abraseis com as
chamas celestes que vos consomem; um coração
cheio de zêlo da gló.ria de Deus e da salvação de
meus irmãos; mas juntamente, um coração tranqüilo,
que espere o tempo marcado por vosso Pai, sem o
antecipar; que seja dócil às inspirações da graça.
Esclarecei-me a respeito do valor dessas almas, que
ides remir por Ião alto preço, da excelênda da gló­
ria que dão à adoráv.el Trindade sua santificação e
salvação; nada haverá já na minha vida, que não
seja dirigido para um fim Ião nobre. E.m particular

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
30 MEDITAÇÕES SACKRDOTAIS

e em público, nas ocupações exteriores, e na oração,


terei em vista uma só coisa : a glória de Deus por
meio da salvação das almas.

Resumo da Meditação

1. Vida de Jesus no seio de Maria, vida sa­


crificada à glória de seu Pai. - Desde o primeiro
instante da sua conceição, o Verbo incarnado apre­
sentou-se a Deus como uma vitima de adoração, de
louvor e de expiação. A cada passo que der no seu
caminho, seu coração repelirá: • Eis-me aqui, meu
Pai, eis-me aqui; <'. que quereis que eu faça para ,·os
honrar dignamente•? Aprendamos a estimar e a amar
a glória de Deus, a buscá-la em tôdas as coisas.
O' divina glória, se fôsseis o móbil de tôda a minha
vida, <'. qual seria a minha paz? Cumprindo o meu
fim, eu seria justo. A minha vontade seria perfeita;
e a paz é prometida à boa vontade.

II. Vida de Jesus no seio de Maria, vida de­


dicada à salvação das almas. - Já se lhe repre­
senta vivamente o !riste estado do sénero humano:
tantos desgraçados que se perdem! i Oue aflitiva
perspectiva para seu coração compassivo! Já prelu­
dia as piedosas emprêsas de seu zêlo : ora, e ensi­
na-nos com seu exemplo a amar a vida obscura, a
humildade, e inspira a sua _Mãe, que o leve .a casa
de Zacarias, onde vai santificar seu precursor, encher
Isabel do Espírito Sanlo, derramar graças abundan­
tes sôbre esla família feliz. Meu Deus, j quanto bem
se pode fazer, sem chamar a atenção, permanecendo
Ião desconhecido dos homens, como o era o Salva­
dor no seio de sua Mãe !

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
V�PERA llO NATAL
---·--·-------------------

y' MEDITAÇÃO
A véspera de Natal. - Viagem a Belém

1, A sobedoria e II bondade de Deus II ordenom;


li. A obediênci11 e II con611nç11 em Deus II empreendem e lev11m o
C11bo.

PttIMEIRO PRELÚDIO, Ver tõda a terra em mo­


vimento, para obedecer ao imperador romano, e a
côrle celeslial, que considera atentamente a pequenina
casa de Nazarelh, onde eslá aquele Senhor, por
causa de quem tudo se agita e se prepara.
St-:GUNDO PHELÚDio. Eu vos suplico, õ meu
Deus, que me façais conhecer e amar os" caminhos
sempre sábios e paternais de vossa Providência, para
que os siga inleiramenle, a exemplo de Maria e de
José.

1. Sabedoria e bondade de Deus, que ordenam


a viagem de Belém. - César Augusto, tendo dado
a paz ao mundo, quer saber a extensão do seu po­
der, as riquezas e fôrças de seu império, e mnnda
recensear todos os seus súbditos. Obedecem-lhe;
seu orgulho triunfa. Mas, oh I profundidade da sabe­
doria de Deus I César julga olhar pela própria glória,
e trabalha pela de Jesus Cristo, preparando a prova
da sua divina missão com o cumprimento das profe­
cias.
Maria vive em Nazareth; aproxima-se o tempo
em que deve nascer Jesus sem que ela pense em dei­
xar esta cidade, e todavia está predito que o Salva­
dor nascerá em Belêm. Maria está em sua casa, na
de seu espôso, e todavia, para nossa instrução, e
para solicitar com ma.is eficácia o nosso amor, con-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEOITA._:ÕES 8Af.ERDOTAIS

vém que o Filho de Deus nasça em um presepto.


Maria é a espôsa de um pobre operário, e todavia
convém que se prove autenticamente, que se:-u filho é
da estirpe real de David; ccnvém que seu nome ins­
crito nos arquivos públicoiltl prove com certeza o
lempo e lugar do seu nascimento, perfeitamente de
acôrdo com o lempo e lugar designados pelos prof.e­
las. Convém que êste Messias, objeclo de tantas es­
peranças, entre neste mundo num estado de abjecção
e. pobreza completa, para ser o fundador de um remo
espiritual, que submeterá todos os reinos às leis dfl
humildt1de, da renúncia e da paciência.
Tudo" está sob a mão de Deus e subordinado ao
seu poder. O edito do imperador leva Maria a Be­
lém, e a aíluência dos forasteiros que, éomo ela,
obedecem ao edito, impede-a de achar ali hospeda­
gem. Assim, os grandes �conlecimentos e os peque­
nos, os vícios e as virtudes, a vaidade de Augusto e
a humildade de Maria, tudo serve para a execução
dos desígnios do Senhor, e su� bondade tudo' dirige
para. bem dos que o amam: Diligen!ihus Deum
omnitJ cooperaillur in honum ( 1 ). i Oue tesoiro de
merecimentos, que fonte de consolações vão José e
Maria achar nesta viagem, que parece tão penosa
aos olhos 'da sabedoria humana I Bonum esf conli­
dere in Domino, quam conlidere in homine. Bonum
esf sperare in Domino, quàm sperare in principi­
hus (2).

II. Obediência e confiança de Maria e José


na viagem a Belém. - Por ordem de Augusto, lodo o
império romano se põe em movimento: cada um vai
alistar-se à sua cidade: lhanf omnes, ui prolileren­
lur, singuli in suam civila/em. A José e a Maria não

[l) Rom. VIII, 28. - (2) Ps. CXVII, 8, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
n;SPEI\A DO !\"ATAI.

faltavam razões para molivar uma isenção: a digni­


dade incomparável da Santíssima Virgem, as ih.com­
preensíveis grandezas do filho que ia dar ao mundo,
os perigos a que parecia expô-la essa viagem, no es­
tado em que ela se ichava. Mas, obedientes, os
dois esposos só vêem a autoridade de Deus na do
imperador; não hesitam um instanle: Ascendi/ au­
lem e/ Joseph a Galilaea, de civifafe Nazarelh, in
Judaeom, in civiltilem Ddvid cum Maria despon­
sala sibi uxore praegnanle.
Os perigos eram de prever, e abundaram, lanto
no decurso, como no lêrmo da viagem; mas a con­
fiança foi inallerável. Até ali, sua vida não linha
sido senão uma resignação filial, sempre juslificada
pelas circunstâncias; mas na ocasião presente, êles
deviam confiar mais que nunca nos ternos cuidados
de uma Providência maternal: Maria !razia em seu
seio virginal o Senhor do universo. Podia dizer-lhe
com mais razão que David: Si ambu!avero in media
umbrae mortis, non limebo mala, quoniam tu mecum
es ( 1 ).
O' alma minha, é. nunca saboreaste a verdade des­
la palavra Quando Jesus ades!, folum bonum esf,
nec quidquam difficile videfur? (2) Não ponhas limi­
tes à lua confiança: Maria vai dar-te brevemente
Jesus. Já se ouve um canto jubiloso: Venife, exul­
lemus Domino . . Hodie sciefis quitJ venief Dominus,
el mtme videbilis gloriam ejus (3). Só algumas horas
nos separam de tão feliz vinda.
i. Ouando é que Jesus pertencerá mais aos seus
ministros do que nesta festt1, em que, celebrando três
\ ezes os sagrados mistérios, se lhe unirão outras

(1) Ps. XXII, 4. - (2) lmif. lib. li, cap. VIII. - (3) Oífic.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
�IEDITAÇÕii:S SACEl\DOTAIS

lanlas vezes com a maior intimidade? ( 1) O' meu


bom padre, i não se diria que êle se compraz mais
em estar no vosso coração, do que em qualquer oulra
parle? Ah! se êsse coração é puro, se está animado
de santos desejos, de que divinos tesoiros vai ser
cheio! Ouia haec dicif Dominus exercifuum: Adhuc
unum modicum esf, ef ego commovebo coe/um ef
ferram; ef movebo omnes gentes, e/ veniel desideralus
cuncfis genfibus, ef implebo domum islam gloria (2).
• Concedei-nos, omnipotente Deus, que, assim como
antecipamos com os nossos votos o adorável nasci­
mento do vosso fil�o, assim recebamos também com
alegria os prémios eternos daquele que convosco vive
e reina por todos os séculos dos séculos. Amen • (3 ).

Resumo da 1\1.edltação

1. Sabedoria ê 1bondade de Deus, ordenando a


viagem a Belém. - César julga não trabalhar senão
pela própria glória, e trabalha pela de Jesus Cl'isto,
preparando provas da sua div•na missão. Para se
realizarem as profecias, é necessário que o Messias
nasça em Belém, que seja autenticamente reconhe­
cido por filho de David; é necessário que entre
neste mundo no estado mais abjeclo, pois vem fundar­
um r.eino espiritual, que lerá por alicerces a humil­
dade, a paciência, a pobreza. Tudo está na mão de
Deus. Êle faz concorrer ludo ·para o cumprimento
de seus desígnios; a vaidade de Augusto contribuirá

(1) Ouám íelix es, sa�erdos, cui hodie non semel (anlum, sed
ler ascendere !icei ad mensam Domini, ui vires labore fradas ilera(o
reficias pabulo vifae ae!ernae I Seul. lid., 25 decemb. - Nullus, ex­
ceplo die Na!ivila!is Domini, praesumal nisi unam missom ce­
lebrore in die, quia lelix esl qui celebro! dig ne unam. Cone. Tolel.
an. D24.
(2 J Agg. II, 7, 8, - (3) Posl. Com.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DIA DE NATAL

para isso, assim como a humildade de Maria. 1 Oue


tesoiro de merecimentos, que consolações vão achar
Maria e .José nesta viagem, Ião penosa aos olhos
dos homens! ...

II. Obediência e confiança de Maria e José


na viagem a Belém. --Os santos esposos tinham
s6lidas razões para se eximirem desta viagem; mas
seu amor à obediência-não lhes permite vêr senão a
autoridade de Deus na do impei:ador. Parlem. Pre­
vêem os perigos; mas a sua confiança é inalterável.
i Oue tinham êles a temer? Maria !razia em seu seio
virginal o Senhor do universo. - O' alma minha,
brevemente o possu"irás. Oh ! que grata não é para
um padre a noile de Nalal !

f8l

VI MEDITAÇÃO
O dia de Natal. - Nascimento de Jesus Crisfo.­

.
Con/emplaç.io

1. Confemplar as pessoas;
li. Ousir as pal11vras;
Ili. Considerar as acções..

P1m,JEIHO PHELtú10. • Como José era da casa


e família de David, subiu também da Galiléia à Ju­
déia, da cidade de Nazareth à cidadt de David, que se
chamava Belém, .para se alistar com sua espõsa Ma­
ria... E estando ali, aconteceu completarem-se os
dias, em que havia de dar à luz; e deu à luz o seu
filho primogénito, e o enfaixou, e o reclinou em um
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:rn
- m:JJl'rAÇÕF.S
- - ----- SACKRDOTA'S
-----
presépio, porque não havia lugar para éles na esta­
lagem• ( 1 ).
SEGU�uo PRELt'.:010. Ver o caminho de Nazarelh
a Belém, sua extensão, suas dificuldades; depois o
presépio, e ludo o que tem de incómodo; o seu es­
tado de ruína, a sua pobreza, ele.
TELH]IW<O PH�:I,ÚDIO. Pedir a Deus íntimo co­
nhecimento dêste mistério, para amar mais ardente­
mente e imilar com mais generosidade ao divino Rei,
que vem livrar-nos dos nossos êrros e paixões, ini­
ciando-nos numa vida nova.

1. Contemplar as pessoas. - Conlemplai no


caminho, e principalmenle nas ruas de Belém, uma
multidão de povo: viajanles que partem, outros que
chegam; parenles que se encontram; os habilanles da
cidade, que !iram proveito dêsle concurso de genle.
Todos os seus pensamentos são terrenos e mesqui­
nhos. - A Virgem Maria, lõda absorta no mistério
cujo segrêdo possui. Contemplai-a no caminho; à.
poria das eslalagens, cuja entrada lhe recusam; no
presépio. i, Oual é por lõda a parle a serenidade do
seu roslo, a lranqüilidade da sua alma, a sua modés­
lia, paciência e união com seu divino filho? -­
S. José: no seu porte exterior não falta dignidade,
mas é um operário que vive do seu trabalho. i Oue
contraste entre o seu recolhimento de espírito e a
dissipação de tõda essa i;ienle que passa I i Oue
aflição se divisa em suas feições, quando vê chegar
a noile, sem ler podido achar um albergue para sua
sanlíssima espõsa ! . . . i Oue triste está, quando,
olhando para o presépio abandonado, parece indicar
a Maria que lhe não resta já oulro ·recurso I O' José,
denlro de bem pouco sereis consolado ! - Mas de-

(1) Luc. 11, 4-7.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OI.\ DE !'.ATAL

tende-vos principalmente ,a considerar aquele que vai


enh:ar no mundo; e'. quem suspeitará que é o filho
de um Rei, que é o Rei dos reis que vai nascer?
é.. Oue palácio. que _bêrço lhe estão preparando?
Como os outros meninos, começará a vida com lá­
grimas; mas nenhum outro será condenado depois
do seu nascimento, a tantas privações e dõres. j Oue
falia, até das coisas mais necessárias! Ouê ! em
uma estação lão desabrida, e'. não há ou Iro albergue
senão êsle presépio arru"int1do e t1berlo a todos os
venlos? O' alma minht1, reconhece contudo nêle o
Messias esperado há quatro mil anos, o Admirável,
o Deus forte, o ·Redentor do mundo, o Senhor do
Universo!. Daqui a um instante será necessário
que te abismes · cheia de respeito na sua presença, e
convides tõdas as tuas potências a adorá-lo: Chris­
fus nBfus esf nobis, venife, adoremus. . . Será neces­
sário também, desde êste momento, que estejas alenta
às suas lições, que estudes seus exemplos ; porque
êle é a luz, que vai alumiar as trevas: ai! das trevas
que recusarem compreendê-lo ! ( 1)

II. Ouvir as palavras. - As que Maria e Jo�é


ouvem a essa multidão de gente que enche o caminho
de Belém e a cidade: quando não pecaminosas, pelo
menos inúteis. - Mas prestai mais atenção às que os
dois esposos dizem de tempos a tempos para sua
mútua edificação; Jesus era o objeclo delas; que
santas são ! Ouvi a José que pede com humildade
uma pousada; i e que áspera resposta lhe dão! i com
que palavras de desprêzo o despedem! Maria con­
sola-o, e agradece-lhe o cuidado que lem dela. fala
pouco porém, porque um excesso de amor a adverte

(1) Joan. 1, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
;J8 M F.D ITAÇÕES SACERDOTAIS
_ _____ _ _

de que se aproxima a hora, em que vai dar-nos um


Salvador. , E quando Jesus nasceu . . . O' Maria, ó
José, que dizeis? l que dizem principalmente vossos
corações? ... - é. Oue diz o Coração de Jesus a seu
Pai, a Maria, a José?. . . l Oue me diz êle a mim?
é. E eu, que lhe direi ? é. Recusar-lhe-ei o que me
pede?

III. Considerar as acções. - Considerai aqui a


prontidão da obediência com que os dois santos via­
jantes parlem de Nazarelh, sua paciência pelo cami­
nho, sua resignação em Belém, quando vêem que tô­
das as porias se lhes fecham. e. Onde irão descansar,
depois de lanlas fadigas? Mas, depoJs de krdes cho­
rado seus sofrimenlos e admirado suas virtudes,. in­
vejai sua felicidade. O pobre presépio torna-se um
paraíso. Jesus nasceu. O fruto de vida separou-se
da árvore sem esfôrço, o relâmpago saiu da nuvem
sem a· rasgar; Jesus nasceu da Virgem Imaculada,
como renascerá do seu sepulcro, sem o abrir nem que­
brar. i Oue transportes de alegria fazem palpitar o co­
ração de Maria I Neste Menino reconhece seu filho,
mas ·aó mesmo .tempo o filhó eterno de Deus; o pró­
prio· Deus, Deus verdadeiro de Deus ve-rdadeiro. Está
arrebatada de amor e de respeito. Toma nos bra­
ços o seu filho e o seu Deus, traia-o com as mais
ternas carícias, enfaxa-o, e tendo-o reclinado no pre­
sépio, prostra-se deanle dêle, adora-o e dá-lhe graças,
em nome de lodo o género humeno, que êle vem sal­
var. Mas e. quanto não !em ela que lhe agradecer em
seu próprio nome, pelos privilégios ç favores que lhe
,concede? e. Com que afeição se lhe qferece para o
.servir? José , participa da ·alegria de sua espôsa;
com ela oferece a Jesus recém-nascido a sua àdo­
tação, os seus cuidados, o seu vivo reconhecimento
pelos · divinos encargos que se dignou confiar-lhe.
O' Jesus, I em· que chamas abrasáveis êstes dois co-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
;-19

rações Ião puros, que tão perfeitamente se vos l�nham


consagrado!
Colóquio com· Jesus, Maria e José. . falai-lhes
com simplicidade, de tudo o que vo5 comove neste
passo. Implorai a graça acomodada a êste· mistério,
e que nossos corações se enterneçam à vista de um
Deus Menino, começando num presépio uma vida
que terminará numa cruz;. e que aprendamos em que
consistem os verdadeiros gozos, as verdadeiras hon­
ras e riquezas: O' Deus, ó -mundo, 1 quão opostos
são os vossos juízos! Sc1/vum. me fac, Domine, quo­
niam defecif sanclus: quoniam diminufae sunf ve­
rifales a filiis hominum ( 1). Durante êstes santos
dias, não quelrais sair de Belém; ide muitas vezes
ao presépio, onde achareis com o Salvador recém­
-nascido, a sciência da salvação e a graça de a pra­
ticar. Depois da missa, vêde a Jesus Menino no
vosso coração. Êste pensamento vos dará a humilde
confiança, à gual êle se compraz em atender sempre.

Resumo da Meditação

1. Contemplar as pessoas. - No caminho, nas


ruas de Belém, é. quais são os -sentimentos dos via­
jantes que chegam, dos parentes que se encontram,
dos habitantes da cidade? - Maria, absorta no mis­
tério, cujo segrêdo possui; que tranqüilidade! que re­
signação! -José, j como está triste, quando, olhando
para o presépio abandonado, parece indicar a Ma­
ria, que lhes não resta já outro recurso! - Conside­
rai principalmente aquele que vai entrar no mundo;
quem é? i. Oue palácio, que berço lhe está desti­
nado? Vem alumiar o mundo; apressemo-nos em es•

(1) Luc. li, 8-20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:'IIEDITAÇÕES �ACF.ROOTAIS

ludar seus exemplos; mais tarde meditaremos seus


orácu.los.

II. Ouvir as palavras. -As que ouvem Maria


e José. -As que êles dizem de tempos a tempos. -
Ouvi a José pedindo hospitalidade: i que áspera res­
posta recebe! -Maria consola-o; fala pouco. Ouan-
1 do Jesus nasceu, ouvi o que dizem os corações de
Maria e de -José ao adorável Menino; o que diz o
Coração de Jesus a seu Pai, a Maria, a José, a vós
mesmo. Oue lhe respondereis?

III. Considerar as acções. - A obediência dos


dois santos viajantes, partindo de Nazareth; a sua
resignação em Belém; a sua felicidade, quando Je­
sus nasceu. é. Oue faz Maria, que faz José? e. Oue
honras tribulam ao Menino Deus? O' Jesus, i em que
celestes chamas abrasais dois corações tão puros e
que Ião perfeitamente se vos tinham consagrado 1
CCllóquio com Jesus, Maria e José. Verdade que
ressalta dêsle mistério: O' Deus, ó mundo, i quão
opostos são vosso_s juízos!

IS!

VII MEDITAÇÃO
Os pastores no presépio

1. Aparece-lhes um enjo;
II. Vão II Belém;
Ili. Seu regresso.

PRIMEIRO PHF.Léo10. Naquela mesma comarca


havia uns pastores, que vigiavam, e guardavam du­
rante a noite o seu rebanho. Nisto apareceu junto

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
dêles um anjo do Senhor, e a claridade de Deus
os cercou de luz, e tiveram muito temor. Então o
Anjo lhes disse: Não temais: porque vos venho
anunciar uma grande alegria, que o será para todo o
povo: e é que hoje vos nasceu na cidade de David
o Salvador, que é Cristo Senhor. E. êsle é o sinal
que vo-lo fará conhecer: Achareis um Menino envolto
em panos, e reclinado num presépio. E. subitamente
apareceu com o anjo uma multidão numerosa da mi·
lícia celeste, que louvavam a Deus, e diziam : glória
a Deus no mais alio dos céus, e paz na terra aos
homens de boa vontade . . . Os pastores correram a
Belém, onde viram com os seus próprios olhos o que
o anjo anunciara. E. voltaram glorificando e louvando
a Deus por ludo o que tinham visto e ouvido ( 1).
SEGUNDO PHlO.ÚDIO. Ver a comarca. onde os
pastores guardam o seu rebanho, o caminho que an­
dam até chegar a Belém, depois o presépio.
T1mcm1w PHJ<jLÚIJIO. Pedir a graça de participar
dos sentimentos dêsses primeiros adoradores de Je­
sus, e dos favores que dêle recebem.

J. Aparição de um anjo aos pastores. - éÜuais


são os primeiros que o Salvador chama a colhêr os
frutos do seu nascimento, e como são chamados?
1. 0 Tudo se mantém, nada se desmente na vida
de Jesus Cris lo. Nasceu pobre: é aos pobres que
se maniíesla primeiro; êles recebem seus primeiros
favores, assim como serão sempre o objeclo de sua
predilecção. Envia anjos por embaixadores, não a
monarcas poderosos, mas a pastores, a homens
simples. laboriosos e vigilantes; gosta, diz S. Gre­
gório, de vêr nêles a imagem dos pastores da sua

(1) Luc. !1, 8-20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Igreja ( 1 ). Busca os pobres e os pequenos. Viyerá


como êles e no meio dêles durante trinta anos. Quando
chegar o tt"mpo de prêgar o reino de Deus, a êles
se dirigirá primeiro. porque é por causa dêles que
seu Pai o enviou: Evangelizare pauperibus misil me.
Sem desprezar os ricos e os sábios, não mosirará
que os procura, para não sair do seu carácter e do
humilde caminho. que a si mesmo traçou. Prevê que
êsle proceder ofenderá os grandes, e lhes irritará a
soberba; mas não deixará por isso de executar seu
plano, formado desde tôda a eternidade, ainda que
seja vítima dêle. -O' meu bom padre, é. imitais nisto
a Jesus? é. São seus amigos os vossos? é. E' entre
os pobres e os pequenos, que mostrais mais gôslo
de estar? Quando_ anunciais a palavra divina, é. sentis
prazer em instruir as almas simples, falando-lhes de
forma que vos compreendam? é. No confessionário
recebei-las com tal solicitude e mansidão, que se
veja que lhes fendes afeição de pai? Na direcção
das almas, é. não sois vós daqueles que pensam que
a vida espiritual não diz respeito aos pobres, que são
incapazes de meditar e de praticar virtudes perfeitas,
pôsto que lenham muitas vezes mais disposições que
os ricos, e entendam melhor a linguagem da cruz,
acostumados como estão às privações e tribulações?
2. 0 Os pastores são cercados de uma refulgente
luz; vêem um anjo e leem muito temor. Üllando
Deus visita uma alma, costuma humilhá-la primeiro
pelo temor; mas êste :senlimenlo não dura; é substi­
tuído logo pela confiança. • Não temais, diz o espí­
rilo celeste ; anuncio-vos uma grande alegria, que será

(1) Ouid es( quod vigilanlibus pas(oribus angelus apparel,


eosque Dei claritas circumfulgef, nisi quod illi prae caeferis videre
sublimia merenfur, qui lldelibus gregibus prceesse sollici(e sciun(;
dumque ipsi pie super gregem vigilanf, divina super eos gralia lar­
gius coruscaf? S. Greg. Horn. VIII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
os PASTORES E�J m:u:�r

para lodo o povo: nasceu-vos hoje em Belém o Sal­


vador. Mas é. como reconhecereis vós êste Salvador
poderoso e tão ardentemente desejado? Achareis
um menino envollo em panos e·reclinado numa man­
gedoira. Sim, êsle menino é o Messias 1. . . Afl in­
sígnias da sua grandeza são pobres panos; o seu
lrôno é uma mangedoira I Orgulho humano, vem
confundir-te aqui; e vós, Senhor, começai a nossa
salvação, abrindo-nos os olhos; fazei-nos compreen­
der' a humildade: lnvenielis inft1nfem; a pobreza:
pannis involutum, a mortilicação dos sénlidos: posi­
lum in prt1esepio.

li. Os pastores vão. a Belém. - Êles crêem


nas palavras do Anjo, por mais opostas que sejam a
todos os juízos humanos; confiam na sabedoria, no
poder, na bondade de Deus; e, peneirados 'de reco­
nhecimento pela graça de que os previne, exortarn-!'e
mutuamente a ir a tõda a pressa, buscar êsse Salva­
dor recém-nasciqo: Transeélmus usque Bethleem, ef
videt1rr.us hoc verbum quod ft1cfum esl, quod Domi­
nus osfendil nobis. O Anjo nada linha ordenado;
basta mostrar o bem a uma alma fervorosa, para
que a éle se incline com ardor: olha as boas inspi­
rações como outros tantos mensageiros celestes.
Logo que o Anjo desapareceu, os pastores par­
lem. Apressam-se: Venerunl fesfinanles; ó prudente
docilidade I Foi o Senhor que folou e se dignou re­
velar-se-lhes: Dominus osfendil nobis. O' santa
prontidão I Amt1ns valai, curril el laeléifur (1).
ê, Ouando cederei eu assim, ó meu Deus, aos vossos·
atraclivos? é. Ouando me farão as luzes do vosso
espírito e o fogo do vosso amor sair das criaturas e
de mim mesmo, para vos buscar com esta presteza ?

(1) !mil. lib. Ili, e. v.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

• Acharam Maria, José e o Menino, que eslava rec:li­


nado no presépio • . Eis o fruto de sua reclidão e
obediência. Longe de se entibiarem à vista desta po­
br�za, sentem ainda mais fervor em se aproximar de
um Salvador, que se mostra Ião acessível, e em hon­
râ-lo e contemplá-lo. . . <'. Oue não fazem êles para
lhe provar seu respeito, sua alegria, seu amor?
Estes ditosos pastores estiveram orando todo o
lempo que se demoraram no presépio, sem saberem
o que é a oração. Entregavam seu coração a0 Me­
nino Deus, e deixavam-no aduar nêles livremente,
limitando-se a cooperar com a acção de Jesus, sem
a· estorvar. Imitemos esta candura, e Jesus orará em
nós, como orou nêles.

III. O regresso dos pastores. - Bem longe de


encobrirem o favor que tinham ,recebido, falaram
dêle com lodo o entusiasmo que inspira a gratidão; e
êsle nascimento do Messias num presépio, esta apa­
rição do� anjos a pobres pastores, Ç> cântico de lou­
vores e de bênçãos .entoado pela milícia celeste:
todo êste conjunto de maravilhas, referido ingénua­
mente por homens simples, de quem não havia razão
de desconfiar, causaram aos judeus a maior admira­
ção : Omnes qui audierunf mirafi sunf. Não bastava
admirar; deviam correr ao presépio, disputar entre
si a honra de oferecer'hospitalidade àquele que vinha
salvá-los. <'. De que serve, ó meu Deus, uma estéril
admiração de vossas obras? é. Não esperareis mais
do que isso da nossa cooperação com a vossa graça?
Mas se os homens cegos e carnais tomavam
pouca parle em acontecimentos que lan"lo deviam in­
teressá-los, Maria alenta e fiel, nada perdia de ludo o
que se passava. Os pastores tinham-lhe referido a
aparição dos anjos e o mais que por essa ocasião
sucedera ; e ela conservava em seu coração todos
êsles prodígios, lôdas estas palavras, para alimentar
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS PASTORES EM ·11ELÉ.lí

a sua fé e aumentar incessantemente o fervor do seu


amor. Ensinava-nos como devemos meditar nos mis­
térios de Jesus Cristo. Ouanlo aos pastores, volta­
ram cheios das riquezas da graça, e foram divulgar
por tôda a parle o que tinham visto e ouvido, glori­
ficando e louvando a Deus, com suas palavras, e
mais ainda com sua santa vida. - Um sinal certo do
proveito que tirais da meditação e celebração dos
santos mistérios, é um ardente desejo de glorificar a
Deus e de fazer nascer Jesus Cristo nos corações.
Seja o- altar para vós hoje, o que foi o presépio para
os piedosos pastores. Procurai aproximar-vos dêle
com os mesmos sentimentos, e disponde-vos para ali
receber favores ainda mais preciosos.
Gaudens ef exultans, o Pafer aeferne, fransibo
usque Bethleem, ad domum panis illius suavissimi,
qui descendi/ de coe/o ef daf vilam mundo. fesfinãn­
ter advolabo ad altaris fui praesepium, ubi Filium
luum, Jesum meum, sub panis specie vela/um habeo,
quem multi reges olim afque prophetae voluerunf
videre el non viderunf. llluc propero laefus, ui vi­
deam hoc grande verbum, afque sfupendum amoris
fui miraculum. lnfroibo ad a/tare tuum, oplime Pa­
fer, ui immolando hosfiam laudis, tibi grafias agam
pro magna misericordia lua, quam in Nativilllfe Verbi
fui incarnafi, non solum pasforibus illis vigilanlibus,
sed ef nobis slJcerdolihus, cuncfisque peccaforibus
exhibuisfi. Respice, Paler, Unigenifum fuum, infanfem
amabilem, propler nos jllcenlem ef vagienfem in prae­
sepio ... ; fac ui, illorum more pllsforum, .ide humili
accedamus lld fraclandum mysferium fidei quod abs­
condisfi ll Sllpientibus ef reveÍllsfi pllrvulis (1).

(1/ Seu{. fid. 1. 1, p. 304.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
41; !,JgDITÀÇÕES SACERDOnls

Resumo da Meditação

1. Aparição de um anjo aos pastores. - O


Salvadcr nasceu pobre; são pobres os que hão de
receber seus primeiros favores.. Envia-lhes anjos por
embaixadores. E' aos pobres que vem anunciar o
Evangelho. Amemos os pequeninos, sejélmos nós pe­
queninos. O Anjo tranqüiliza os pastores assusta­
dos: Nasceu-vos hoje o Salvador. é. Por que sinais
o reconhecerão êles? Pela humildade, pobreza, so­
frimento . . . j Glória a Deus, autor dêsle mistério !
paz aos homens! E' para sua felicidade que êle se
realiza, com a condição única de que sejam homens
de boa vontade.

II. Os pastores dirigem-se a Belém. - Crêem


nas palavras do Anjo, e excitam-se mutuamente a ir
ao lug_ar, onde nasceu o Messias. Parlem a lõda a�
pressa; ó santa prontidão ! Busquemos a Jesus, sem
perder um só instante. Encontram Maria, José e o
Menino, que eslava' reclinado no presépio. é. Oue
não fazem êles para lhe provar seu reconhecimento e
amor? Jesus ora nêles; imitemos sua simplicidade, e
orará' também em nós.

III. Volfa dos pastores. - Divulgam o nasci­


mento do Salvador com lodo o enlusiasmo da alegria
e do amor; suas palavras causam admiração aos
judeus. da vizinhança . . Bastaria isto? l De que
serve, ó meu Deus, admirar vossas obras, se não se
coopera com a vossa graça? Maria atenta, nada
perde de ludo -o que se passa. 0uanto aos pastores,
retiram-se cheios das bênçãos celestes, glorificando a
Deus com suas palavras, e mais ainda com sua
santa vida.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
os' PASTORES EM BELÉM

VIII MEDITAÇÃO
O mesmo assunto. - Contemplação
1. Contemplar as pessoas.
11. Ouvir 11s p11l11vras
111. Consider11r as 11cções.

PRELÚDIOS. Como na meditação precedente.

I. Contemplar as pessoas. - No campo, um


anjo cercado de refulgente luz. E' um príncipe do
céu, um embaixador que Deus envia. Seu roslo in­
dica ale�ria; conhece-se que vem anunciar uma feliz
nova. Os pastores, homens simples vestidos pobre­
mente; estavam longe de esperar o extraordinário fa­
vor, que o céu ia fazer-lhes. Parecem tranqüilos.
Em tôdas as suas feições se reflecle a candura de
sua alma, a pureza de seu coração . Estão intei­
ramente dispostos a receber o Messias no estado
em que Deus quiser dar-lho. O' Senhor, se tendes
o desígnio de comunicar-vos aos homens, aqui fen­
des os que buscais: Cum simplicibus sermocit:afio
ejus ( 1 ). - Na cidade, esl_olagens, casas particulares,
tudo está cheio de habilanles e de forasteiros, que
leem laços de parentesco com Maria e José, des­
cendentes como êles da família real de David. l Não
há alguns que recusam reconhecê-los por causa da
sua indigência? Ricos soberbos e sensuais, avaren­
tos, homens aviltados por tôdas as paixões, encon­
tram onde hospedar-se; e a mais eminente virtude,
onde está hospedada ? .. - Transportai-vos ao ai�

(1) Pro,·. Ili, 32.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕF.S SACF.RllDTAIS

bergue arru"inado, e vêde Jesus, Maria, José. Jesus\,


o filho de Deus, o resplendor da sua glória, menino
envolto em panos, deitado sôbre palhas, transido de
frio; sua terna Mãe e 5. José, que o contemplam
sem poder desviar dêle os olhos; os anjos descidos
do céu para adorar o seu divino rei (1 ). E vós, que
ides fazer? l quais serão os vossos sentimentos?
l que fruto tirareis de ludo o que vêdes?

li. Ouvir as palavras. - E' o mensageiro ce­


leste que fala aos pas_lores; e, antes de mais nada,
anima-os : Nolile limere, não vos turbeis, não vos
assusteis: o mistério do Natal só inspira confiança;
o céu só tem hoje bênçãos 1:1 derramar sôbre a
terra : Hodie per fofum mundum me/JiOui facli sunl
coeli (2). Um Deus tão grande, que quer nascer
num estado tão pobre, provoca mais o amor que o
temor. . Evangelizo vobis gaudium m(jgnum; l que
coisa mais feliz podia acontecer-vos ? Nôlus esl vo­
bis hodie Sôl�ôlor. E' por vossa causa que nasceu,
é por vossa causa que é Salvador. Et hoc vobis
signum: êsle sinal não podia ser dado a todos,
mas dou-vo-lo a vós: vobis. - Vob1s humilibus, vobis
non ai/ô sôpienlibus, vobis vigiltmlibus ef in lege
Dei medilôntibus (3).
Oue dizem os pastores ? Não cuidam em res­
ponder aos anjos, eslão já cheios de Je5us. Exci­
tam-se mutuamente: • Vamos a Belém, e vejamos•.
é. Oue dizem êles à vista da sagrada família? l Oue
lhes dizem Maria e José? Mas principalmente l que
lhes diz ao coração o amável Menino que êles con­
templam? é Oue vão êles dizer, depois de saírem
do presépio ?. . l Com que palavras simples e ar­
dentes vão mostrar seu júbilo, seu reconhecimento e

\1) Hebr. 1, 6. - l2) Offic. - ( 3 ) S. Bern.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS PASTORES EM BELÉM

'zêlo? ... - Ouvi também o cântico dos - anjos, e


saboreai a suavidade da paz que êles proclamam :
Pax hominibus. . . A glória de Deus está reparada ;
sua justiça aplacada; concluída a paz entre o céu e
a ferra. Se os nossos pecados ainda clamam vin­
gança, os vagidos que parlem do presépio, chegam
até ao coração do Pai das misericórdias. Paz entre
os homens! Jesus vem uni-los pelos laç�s d� mais
íntima fraternidade . . . Paz nos corações de lodos
os homens; Jesus vem expulsar dêles os remorsos
que os atormentam, as paixões que os agitam. tE que
nos pede para gozarmos desta paz? A coisa 111ais
fácil do mundo: a boa vontade! Os anjos não di­
zem: Paz às almas justas e inocentes; paz aos ,San­
tos penitentes, que expiaram os seus pecados ; dizem:
Paz aos homens de boa vontade I Desde o momento
que eu lenha boa vontade, desde que eu esteja dis­
posto a conformá-la com a vontade de Deus, tenho
àireito a contar com a paz.

III. Considerar as acções. - A caridade dos


anjos, que se regozijam da felicidade do homem, como
se fõsse própria. A fidelidade com que os pastores
cumprem os deveres do seu estado : eranf vigiltmfes ...
e. e não é esta a primeira obrigação dos pastores? Se
faltassem a ela, é. teriam recebido a visita dos esP.íri­
los celestes, e os primeiros benefícios do Salvador? ...
A atenção que prestam à grande nolícia que lhes
trazem ... Sua perfeita docilidade: nem uma pre­
gunfa, nem uma objecção, nem sequer uma observa­
ção leem a fazer; Deus fala, é qual')to basta.. . Sua
união fraternal: animam-se reciprocamente, e logo
leem um só desejo, o de irem ler com Jesus, autor
da sua salvação .. . 1 E como vão fesfinanfes, com a
prontidão do fervor I Não esperam , que seja dia;
parlem imediatamente, cheios de confiança naquele
que os chama.. . Eu não adeanfo, ó meu Deus;

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
50 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

estou sempre no mesmo estado de doença espm­


tual . . . é. Porque me admirarei eu disto? Não vou
logo que me- chamais, e se vou, é sem ardor.
é. Oue acharam em Belém? lnvenerunf Mariam, ef
Joseph, ef fnfanlem posifum in praesepio... Ven­
do-os, caem de joelhos deante do presépio. Con­
templam � vontade o amável Menino, admiram-no,
adoram-no, e apresentam-lhe suas pequeninas ofertas;
Maria e José acolhem-nos com bondade . Jesus
inspira a sua Mãe, que o ofereça por um instante às
suas respeitosas carícias ; ela assim o faz, e o Menino
abrasa-os com o seu amor. . . Oue terno especlá- •
culol j Oue digna recompensa de sua candura, gene­
rosidade e fé viva ! ? Porque será a minha tão
frouxa? Estes bons pastores só vêem com os olhos
do corpo um débil menino na mais completa penú­
ria . é. Será êste realmente o Salvador de Israel?
Êles não duvidam; assim o crêem com lôda a sua
alma. E' verdade que os anjos os tinham informado
das g'randezas dêste Menino; mas a palavra dos
anjos é tanto para mim como para êles; tenho àlém
disto a mesma palavra de Deus, que me é transmi­
tida pelo ensino da sua Igreja . . . Não, ó meu Deus,
nada falta à minha instrução; e se eu tivesse bastante
vigilância e coragem para me servir sempre das luzes·
que me dais, nada faltaria à minha felicidade.
O' Jesus, é.quem poderia exprimir a satisfação
do vosso Coração, à vista dessas almas puras, que
vinham oferecer-se-vos? é. Ouão·, comovido estáveis
de sua candura, do seu sincero amor, e com que
profusão lhes concedíeis parte dos tesoiros da vossa
graça? Eu quero imitá-los, aproximando-me do vosso
altar. Creio como êles, e humilho a minha razão
perante tão grande mistério. Bem longe de me des­
gostar, a vossa pobreza encanta-me porque é a me­
dida do vosso amor para comigo. E' o vosso bêrço
de palhas, são as vossas faxas que eu busco; a ma-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS PASTORES EM BELÉM 5l

nifestação da vossa glória me . agradaria menos que


êste profundo escondimento. Acolhei-me, como um
dêsses pastores, e dai-me a paz prometida pelos
vossos anjos à boa vontade: Félc, o bone Jesu, uf
ego, ef omnes quorum mihi séllus cordi esf, homines
simus bonae volunfafis; ui qui de origine Adélmi nos
damnabililer esse nafos dolemus, gaudeamus de Na­
fivilafe lua nos felicifer esse renafos (1).

Resumo da Meditação

I. Contemplar as pessoas. - Na campina, o


Anjo que aparece. - Os pastores, homens simples,
que temem a principio, mas de-pressa se tranqüilizam.
- Na cidade, habitantes e forasteiros, que não co­
nhecem a Maria e José, provàvelmente porque são
pobres. - No presépio arru"inado, Jesus, Filho de
Deus, Maria e José que o contemplam; os anjos
descidos do céu para o adorar. . . l E vós, que ides
fazer?

II. Ouvir as palavras. - Dos anjos : não te­


mais; êste mistério não pede senão amor. Nasceu­
-vos hoje o Salvador: que maior motivo de gôzo
podia ser dado ao mundo? Este é o sinal que vo-fo
fará conhecer. . . l Oue dizem os pastores? l Oue
dirão êles, quando virem, a sagrada família, e princi­
palmente quando saírem do presépio? - Ouvi tam­
bém e saboreai o cântico celeste: Glória a Deus!
paz aos homens! Aos, homens, quaisquer que sejam,
com tanto que lenham boa vontade.

III. Considerar as acções e as virtudes prati­


cadas neste mistério: a caridade dos espíritos ceies-

(1) Seul, lid., f. 1, p. 307.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
52 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

tes, a fidelidade dos pastores; é à sua vigilância que


deveram os primeiros benefícios do Menino Deus ...
l Como vão ter com Jesus? A tôda a pressa; que
fervorosa prontidão ! - l Oue fazem em Belém? ...
caem de joelhos; admiram . . . adoram . . . Fazem
suas ofertas . . . como são recebidos? Ah! se eu
Íôsse simples como êles, se tivesse a sua fé ! . . . Re­
cebei-me, Senhor, como um dêsses pastores, e dai-me
a paz prometida à boa vontade.

IX MEDITAÇÃO
A Circuncisão

1. e!. Oue faz Jesus Crislo nesfe misfério?


II. i. Oue ensinomenfos dá o seus ministros?

Na oração preparatória, ofereçamo-nos a Deus


com fervor. 1:le gosta que se lhe consagrem as
primícias dos bens que dêle,se receberam; dêmos-lhe
êste primeiro dia do ano; mas dêmos-lhe principal­
mente os primeiros instantes dêste santo dia.

1. l Que faz Jesus Cristo no mistério da Cir­


cuncisão?- Humilha-se, padece, salva, e recebe o
nome de Jesus.
1. 0 Humilha-se. Divindade, santidade, geração
inefável no seio de seu eterno Pai, geração quási tão
admirável no seio virginal de Maria : todos êstes tí­
tulos isentavam o Salvador da circuncisão, e pare­
ciam proibir-lhe que se sujeitasse ·a ela, e, contudo,
sujeita-se. O que tornava esta lei extremamente hu­
milhante para o Homem-Deus, é que ela supunha o
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A CIRCUNCISÃO 53

pecado naquele que era circuncidado. O pecado e a


santidade, o pecado e a divindade, t que coisas mais
incompalíveis?. . . Mas o Filho de Deus fêz-se ho­
mem para nos salvar do pecado (1). Ouere repará-lo
de um modo superabundante; por éonseguinle é ne­
cessário que dêle se revista, que sofra a vergonha
que lhe está anexa . . . Desde então desaparecem lô­
das as suas grandezas ; já não lhe é permitiao va­
ler-se dos direitos de sua santidade e divindade, nem
opôr à lei as preeminências da sua origem. Eis até
que ponto a condição de Salvador aniqüila ao Verbo
incarnado. Revestindo a natureza humana, !ornou-se
inferior aos anjos; tomando hoje o nome e o lílulo
de Salvador, tornou-se em certo modo inferior aos
homens, pois lama sôbre si lodos os nossos peca­
dos. E' -pois no momento da circuncisão que se rea­
liza o prodígio de que fala S. Paulo, que aquele que
não conhecera pecado, se faz por assim dizer, pe­
cado (2); que aquele em quem lôdas as gentes ha­
viam de ser abençoadas, sujeita-se a maldição por
amor delas (3).
2. 0 Sofre. Desde o primeiro momento de sua
conceição, e durante lodo o tempo que passara no
seio de Maria, Jesus não cessara de se oferecer a
seu Pai, como Cordeiro que havia de tirar os peéa­
dos do mundp . . . Era a oblação do sacrifício;
mas _. . . agora vai começar a imolação. E' cortada
sua carne inocente,- corre sangue. Ei-lo já sacerdote
e vítima; derramando seu próprio sangue entra no
santuário: Per propriúm sélnguinem introivif semel in
sancléi. • O pouco sangue, que derrama hoje, pro­
mete a Deus o restante• (4). Sua circunsição é o
prelúdio e a aceitação solene de sua morte na Cruz.
Üiçan'lo-lo já aplicar a si a palavra do profeta: Ego

(1) Malfh.I,21.-(2) IICor.V,21.


( 3) Gal. Ili, 8, 1.3. - (4) Bossuet. Elévaf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
54, MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

in Dagella paralus sum: eis-me no estado que lanlo


desejei, estado de sacrifício pela salvação .dos ho­
mens; só a minha divindade não podia ligar-se com
o sofrimento nem com os meus desígnios misericor­
diosos; vou finalmente cumpri-los agora que !ornei
um corpo mortal: Corpus aufem apfasfi . mihi . ..
Tunc dixi: Ecce venio (1). Homens, conhecei vosso
Salvaaor; prometi-vos o meu sangue, e ele começa a
correr por vós... i Não pc>der eu já derramá-lo lodo,
morrendo para vos dar a vida! E vós, meu Pai, vós,
tendes agora em quem vingar a vossa glória ofen·
dida; feri o vosso Filho, mas poupai os homens• .
3. 0 Salva. A quem? A todos os filhos de Adão,
se quiserem, vislo que éle vem oferecer a todos abun­
dantes meios de santificação e salvação. Salva-nos
dos nossos pecados, porque os expia; das nossas
desobediências, com sua sujeição a leis que lhe não
dizem respeito; da nossa soberba, com as maiores
humilhações, descendo tanto, quanto um Homem­
-Deus pode descer, até à semelhança do pecado;
dos nossos prazeres sensuais, padecendo em tão
tenra idade. • Salva-nos do pecado, diz Bossuet,
perdoando-nos os que temos cometido, e ajudando­
-nos a não tornar a cometê-los, e conduzindo-nos à
vida, onde já se não podem cometer• (2).
Divino Menino, recebei pois o nome de Jesus,
cuja consoladora significação começais já a cumprir
tão perfeitamente, e que adquiris à custa do vosso
sangue. Recebei êste belo nome de Jesus, nome de
paz e amor, de conquista e de triunfo; nome pode­
roso que dissipa os receios, reanima as esperanças,
acalma as tempestades da alma, suspende os esfor­
ços do demónio. Trisfafur aliquis nosfrum? Venial
in cor ejus Jesus, ef inde salial in os; ef e�ce ad

(1) Hebr. X, 5, 7 - (2) Eléval. 1, 17 sem.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ClRGUNCISÃG

exorfum nomrms lumen, nubilum omne diffugif, redil


serenum (1). O' Jesus, seja louvado o, vosso nome
desde o· nascer do sol até ao seu ocaso; seja bemdito
agora e sempre (2), visto ser o primeiro, o mais no­
bre, o mais suave, o mais amável de todos os no­
mes: Nomen super omne nomen! Seja incessante­
mente invocado, visto trazer consigo a sal'var;ão:
Omnis quicumque invocaverit nomen Domini, salvus
erif (3). O Jesu mi dulcissime, spes suspiranfis ani­
mae, le quaerunf piae lacrymae, te clamor mentis in­
limae (4).

II. Oue ensinamentos dá Jesus a seus mm1s­


lros no mistério da Circuncisão, - Ensina-lhes, por
um lado, o que valem as almas e quanto deseja a sua
felicidade; por outro, o principal meio de concorrer
para a sua salvação.
1. º O preço das almas. Oh I que idéia nos dá
dêle esta terna vítima já ferida e ensangüentada pelo
golpe da circuncisão, emquanlo não recebe o golpe
de morte no Calvário! é. Podemos nós refleclir nesta
prontidão do Filho de Deus em se humilhar e sacri­
ficar pela salvação das almas, sem dizermos connos­
co: Ou êle faz ·demasiado, ou nós não fazemos bas­
tante? E' .necessário, ou que condenemos a Jesus
Cristo, ou que nos condenemos a nós mesmos ...
Reavivemos nosso zêlo, reavivando nossa fé, e tra­
balhemos mais seriamente, tanto na nossa salvação,
como na de nossos irmãos.
2.0 Jesus mostra-nos o meio de concorrer para
ela na circuncisão espiritual, que vem insliluir 1 abo­
lindo a antiga: Circuncisão do coração, isto é, a
separação de lodos os desejos criminosos, de lôdas
1

(1) S. Bern. Serm. XV, super Cem!. - (2) Ps. CXII, 21 3.


1
( ) Rom. X, 13. - (' ) Offic.
3

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
56 MEDIT<AÇÕES SACERDOTAIS

as paixões desregradas, causas dos nossos pecados;


uma só que ,poupássemos, bastaria para nos perder;
circuncisão interior, que chegou até às fibras mais
íntimas da alma, para extirpar dela tudo o que
pertence ao Adão terrestre, substituindo-o pela vida
do Adão celestial; circuncisão indispensável para
meter o homem no caminho da s5,lvação. Como as
recompensas que nos alcançou o Salvador, são infi­
nitamente superiores à natureza, ludo o que pertence
à ordem natural, é inferior à felicidade comprada com
o sangue de um Deus; subsliluindo a graça à natu­
reza, é que nós podemos merecê-la. Jesus assim o
ordena a todos os .seus discípulos : Si quis vult ve­
nire posf me, l1hnegef semefipsum ... , ef sequl1fur
me; e com maior razão aos seus ministros: Oui mihi
minisfrl1f, me sequl1fur. Ouanlo mais morrermos para
nós mesmós, mais viveremos para Jesus Cristo; e
quanto mais perfeita fôr em nós esta vida do Salva�
dor, mais fôrças leremos, não só para salvar-nos,
mas também para concorrer para a salvação de
nossos irmãos. é E não é esta a nossa sublime voca­
ção? /psi enim scifis quod in hoc posifi sumus (i),
Ide ao altar impetrar .a graça de uma completa
renovação, no princípio dêsle ano. -Retomai vossas
ocupações com todo o zêlo, com tôda a vigilância
e pureza de intenção com que as exerceríeis, se
tivésseis a certeza de que êsle ano havia de ser para
vós o último, e de que antes dêle findar, _havíeis de
entrar na eternidade. O que faríeis nesta convicção,
resolvei fazê-lo agora ; o dia é favorável: Jesus ofe­
recé-vos as primícias de seu sangue para expiação
dos vossos pecados, o seu nome para amparo da
vossa esperança, o seu· coração para .abrasar o vosso
com o fogo da_ caridade.

(1) Thes. III, 3.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A CTRCC'NCISÃO 57

Resumo da Meditação

1. O que faz Jesus no mistério da Circun•


cisão. - l .º Humilha-se. Esta lei era muito humi­
:hante para Jesus Cristo, porque supunha pecado
naquele que a ela se submetia. O pecado e a divin­
dade ..• l que coisas mais incompatíveis? Mas para
que sejamos aliviados do pêso das nossas iniqüida-
des, é necessário que o Salvador se revista delas .. .
Desde então desaparecem lôdas as suas grandezas .. .
0
2. Sofre. A imolação do Cordeiro divino começa .. .
Corre o seu sangue. A circuncisão· é a aceitação·
solene da sua morte na Cruz. .3.0 Salva. A quem?
A lodos os filhos de Adão, se quiserem . . . Expia
nossas desobediências com sua sujeição, nossa so­
berba com suas profundas humilháções, nossa sen­
�ualidade com suas dôres. Divino Menino, recebei
o nome de Jesus, e seja louvado êsle nome desde o
nascer do sol até ao seu ocaso !

II. Ensinamentos que nos dá Jesus Cristo


■este mistério. - Ensina-nos o preço das almas.
Ouando considero esta vida divina começada, con­
tinuada e terminada no sofrimento, sou forçado a
exclamar : Ou Jesus faz demasiado, ou eu não faço
bastante. Ensina-nos a circuncisão espiritual, que
êle institui: separação de todo ó desejo pecaminoso,
de lôd.a a paixão desregrada. E' essa a lei que mais
tarde há de promulgar, quando disser: Se alguém quer
,·ir após mim, ,:iegue-se a si mesmo, e siga-me. Ao
padre, chamado a uma santidade eminente, incumbe
mais estriclamente a observância desta lei.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
58 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

X MEDITAÇÃO
A Epifania - Contemplação

1. Con!emplar 65 pessot1s.
II. Ouvir as palavras.
Ili. Considerar as acções.

Meditaremos por alguns dias sôbre êsle mistério,


tão apreciado pela Igreja, e tão cheio de luz e edifi­
·cação; hoje consideri:-lo-emos em seu conjunto.
PRIMEIIW PHELÚoro. Tendo nascido Jesus em
Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, vieram do
Oriente uns Magos a Jerusalém, dizendo: é. Onde
está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos
no Oriente sua eslrêla, e viemos adorá-lo. Ouvindo
isto o rei Herodes, ficou perturbado, assim como
tõda a gente de Jerusalém. E pregunlando aos prín•
cipes dos sacerdotes e aos doutores da lei onde
havia de nascer o Messias, responderam-lhe que em
Belém. Os Magos parlem logo em direcção a esta
cidade, e a estréia, que tinham deixado de vêr, apa­
recendo-lhes de novo, enche-os de júbilo, e guia-os
até ao lugar,' onde está o divino Infante. Entram,
adoram-no, e oferecem-lhe presentes; depois, avisados
pelo çéu, voltam por oulro caminho, para a sua
terra (1).
SEGUNDO PHELÚDJO, Vér os caminhos escabro­
sos, desertos; Jerusalém, o palácio de Herodes, o
presépio de Belém.
TEHCEIHO PHELÚDIO. A Epifania, ou a manifes­
tação, é, por assim dizer, a festa da fé cristã; ºpedi a

(1) MaUh. II, 1.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A EPH"ANIA 59
Deus o dom de uma fé viva, para apreciardes a
graça e �empreenderdes quanto importa ser-lhe fiel,

1. · Contemplar as pessoas. - A estrêla é vista


por muitas pessoas; alguns admiram o seu brilho, e
rstão indecisos. A maior parle indiferente ou preo­
cupada presta-lhe pouca atenção.· Outros julgam vêr
nela algum'a coisa misteriosa, nias bem de-pressa se
distraem dõ5 salutares considerações que a graça
lhes inspira; e afinal acabam por não pensar mais
nela. Só os Magos refledem seriamente, e se resol­
vem a fazer o que sentem que Deus lhes pede. São
homens ricos, de alta jcrarquia, provàvelmente reis.
i Quantos laços a quebrar, quantos obstáculos a supe­
rar, para obedecerem à voz que os chama! ... Veja­
mo-los na ocasião da partida, quando se separam de
suas famílias; perto de Jerusalém, quando a eslrêla
desapareceu; nesta cidade, logo que entrarri, 1 Oue
surprêsa não achar lá o· povo festejando o sucesso! ...
Em Bel�m, logo que vêem a estrêla parar s.ôbre um
albergue de tão miserável aspecto; no presépio,
quando vêem�o ,Menino que de tão longe vieram vi­
sitar 1 - Consideremos os habitantes de Jerusalém,
o seu aspecto primeiramente indiferente, depois in­
quieto.; Herodes e a sua cõrte, agitados, perturbados,
ouvindo falar de um acontecimento que todos, .grandes
e pequenos, deviam receber com júbilo. - Mas con­
templemos mais à vontade a Santíssima Vii;gem, a
bemaventurada Mãe, com o seu santo espôso. i Oue
nobre simplicidade, que celestial modé�lia, que pro­
fundo recolhimento 1 1 Como seus p�nsamentos são su­
periores aos pensamentos da terra 1. . . Descubramos
no seu rõsto a impressão que lhes causa o que vêem
e ouvem. e.Mas ·quem é êsse Menino nos braços .de
sua Mãe? Consultemos a nossa fé ; ah I que pode­
roso não é nessa aparente fraqueza I j Oue rico nessa
penúria, que digno de honra e de louvores nêsse

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
60 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

profundo abatimento 1. . . E' por causa dêle que tudo


se agita no cêu e na terra 1

II. Ouvir as palavras'. - Dizem-se muitas no


Oriente, quando aparece a estrêla: Oue belo astro 1
iÜue anuncia êle ao mundo? é. Não será esta a
estrêla de Jacob, que promete Ião grandes destinos
ao novo povo de Israel? (1) Só os Magos é que di­
zem: E.is o sinal do grande Rei; parlamos, vamos
adorá-lo para participar dos seus primei,ros favores.
- Por lodo o caminho, que ouvem? Preguntas
àcêrca do sítio donde veem, do seu destino, do mo­
tivo da sua viagem numa estação tão incómoda. Al­
guns aprovam seu intento, quási todos o c;ensuram.
Ninguém diz: • Sigamos seu exemplo, vamos corri êles
adorar o Redentor do mundo• . E.m Jerusalém, que
se diz? Os Magos explicam-se claramente a respeito
do fim da sua viagem, e pregunlam a Herodes:
é. • Onde está o Rei dos judeus, que acaba de nascer?
Vimos no Oriente sua estrêla, e viemos adorá-lo • .
Oue coragem ! 1 que desprêzo dos juízos humanos ! ...
j Oue pureza de intenções I Vidimus ef venimus. Nêles
a graça não é estéril nem um só instante. - Suas
palavras e a notícia da sua chegada correm de bõca
em bõca. . . Dentro de pouco a cidade e a cõrle
não falam noutra coisa.
Herodes faz-lhes preguntas, como astuto político.
Os Magos respondem com franqueza. • Ide, lhes di:Z
o embusteiro, e informai-vos bem que menino é êsse;
e depois que o houverdes achado, vinde-mo dizer,
para eu ir também adorá-lo,. Q' hipócrita malícia!
O callidifas !icfa, o incredulifas impia, o nequifia
fraudulenta I Sanguis lnnocenfium, quem crude/iler
effudisli, afleslafur quid de hoc puero voluisfi (2).

(1) Num. XXIV, 17. - (2) S. fulge�!. Serm. V. de Epiph.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A EPIFANIA 61
é. Ouem não feria sido enganado com {ão belas apa­
rências? - No presépio, muitas vezes as bôcas estão
mudas; mas I que íntima correspondência entre os co­
rações 1 1 Ouanlas coisas dizem muluamenle ! 1 Oue
sentimenfos exprimem os olhos, as lágrimas, o pró­
prio silêncio 1

III. Considerar as acções. -As do Verbo in­


carnado, as dos judeus, as de Herodes e dos Magos.
No momento do seu nascimenfo, Jesus linha enviado
anjos aos pastores de Belém, .para os alrair ao seu
berço, tão impaciente eslava de ter ocasião de fa.
zer · bem e de exercer suas funções de Salvador.
Hoje manda aparecer ao longe ·uma eslrêla mila­
grosa, e pela sua graça, incita aqueles que a vêem, a
vir ler com êle. Só três respondem ao seu convite;
e por isso apenas poderá tornar felizes a três I i Oue
pouco é para aquele que vem oferecer a paz e a fe­
licidade a lodos os homens ! ...
Jesus quer que êsses esfranjeiros ilusfres entrem
em Jerusalém, e falando sem rodeios do fim que os
traz, despedem a atenção dos judeus, os obriguem a
consultar as EscrHuras, e a lembrar-se d"e que eslão
cumpridos os lempos. Leva alé a delicadeza a ponto
de lhes evitar a vergonha de uma lição dada por
genfios; é pàra se inslruírem, que os Magos se diri­
gem a êles. i O' bondade, ó condescendência miseri­
cordiosa! ... E em paga só recebe uma ingrata indife­
rença I Desgraçado povo, que conhece a verdade e
a não segue 1 • • • Desgraçados sacerdotes, que indi­
cam o lugar do nascimento do Messias, e não vão
adorá-lo! .•. Mostram o caminho, e exlraviam·se
volunlàriamenle . São aqueles de quem Jesus dirá
mais larde: Dicunf ef non faciunf . ..
Mas Herodes, que faz? Treme; o ímpio nunca
eslá tranqüilo, nem mesmo no trono .. . Medita um
horrendo projedo : um crime o livrará dêsse Menino,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
132 )!EOITAÇÕES SACllRDC,TAIS

né r.iual sua ambição invejosa vê um rival; e, para


corÍsl!guir mais fàcilmente tirar-lhe a vida, fingirá
que quer adorá-lo. . . Mas é. que homem prevalecerá
contra Deus? Herodes será confundido; apresen­
tar-se-á em breve como é , e se tornará a execração
de todos os séculos, que condenarão sua insensata e
bárbara política: Crude/is Herodes, Deum regem
venire quid limes? Tai é a sorte dos hipócritas ( 1).
Ao contrário, i que nobre é o proceder dos Ma­
gos! Transluz nêle a sabedoria, a verdadeira pie­
dade, a firme perseverança ; nenhuma dificuldade
vence a sua fé. Deixam ludo para seguir a voz de
Deus que os chama. Não dissimulam sua fé, nem
sequer na côrle de Herodes. Não deixam de esperar,
quando deixam de vêr a estrêla: é. não tem a Provi­
dência outros meios de os socorrer? Reconhecem o
seu Rei, o seu Deus, o se.u Salvador, nêsse Menino
Ião pobre, reclinado numa mangedoira. i Com que
júbilo lhe oferecem seus presentes, e se dedicam a
servi-lo ! . . . Oh I quanto se felicitam de ter empreen­
dido a viagem, e de ter sido inabaláveis no meio das
tribulações 1 . . . E' o mesmo Redentor, que a fé nos
descobre_ em nossos tabernáculos e altares; é. e por­
que não temos nós para com êle os mesmos sentimen­
tos? é. porque não lhe fazemos as mesmas aferias?
Colóquio com Deus-Padre, com Jesus, com Ma­
ria, e com os Magos. - Adorar o poder, a sabedo­
ria, a bondade de Deus, cuja graça opera tantas
maravilhas. - Suplicar a Jesus que receba nossas
aferias, como recebeu as dos Magos. - Pedir a Ma­
ria que as apresente a Jesus, emquanto nós repeli­
mos: Suscipe, Domine, ele.

(1) Job. VIII, 13.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A EPIFANIA li3

Resumo da Meditação

I. Contemplar as pessoas. - Os que vêem a


eslrêla e não tiram frulo desla aparição. - Os Ma­
gos, que refledem e se decidem intrepidamente a se­
1
guir o aviso celesle. Consideremo-los na ocasião da
parlida, na viagem e nos diversos incidenles. - Os
habilanles de Jerusalém, Herodes e i:;ua côrte. -
Contemplemos principalmente a Sanlís�ima Virgem e
S. José, à chegada dos Magos. Não percamos de
vista a Deus Menino; é por causa dêle que ludo se
agita no céu e na terra.

li. Ouvir as palavras. -é Oue se diz no Orien­


te, quando aparece a eslrêlá? é Oue dizem os Ma­
gos? é Oue ouvem por todo o caminho? - Em Je­
rusalém. é Com que simplicidade expõem os Magos
o fim da sua viagem? Com que intrepidez? - O
que Herodes lhes diz em sua hipócrita maldade. -
:'.'Jo presépio poucas palavras; j mas que ínlima cor­
respondência entre os corações 1 1 Oue sentimentos
não exprimem os olhos, as lágrimas, o próprio si­
lêncio 1

III. Considerar as acções. - As do Verbo in­


carnado. Suspira por exercer as suas funções de
Sl'llvador. Faz aparecer uma estrêla, e pela sutt
gi:aça, incila os que a vêem, a vir ler com êle. 1 Oue
poucos respondem. ao seu convite I é Oue não faz
êle pelo-s habitantes de Jerusalém? 1 Desgr�ado
povo, que reconhece a verdade, e não a segue 1- He­
rodes, que faz? 1 Oue horrível projedo medita 1-
Ao contrário, 1 que nobre é o proceder· dos Magos 1
Nada abala a sua coragem; mas I que recompensa
recebe a sua virtude I Colóquio com Deus-Padre t
com Jesus e Mari1:1.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

XI MEDITAÇÃO
A Epifania. - Belo modêlo de fidelidade à graça
é o proceder dos Magos

Se nada podemos na ordem da salvação sem a


graça, ludo podemos com êsle auxílio, que a ninguém
é recusado. E.' pois da fidelidade ou infidelidade
à graça, que dependerá a felicidade ou a desgraça
eterna 1 1 Ouanla recusa, quanta demora, quanto can­
saço em obedecer à graça I Por isso se perdem tantas
almas, a-pesar dos numerosos e eficazes meios. que
Deus lhes dá para· se salvarem. é. Oue fazem os
Magos, e em que devem êles servir-nos de m.odêlo ?

I. Seguem a luz da graça.


li. Seguem-na com pronfidão.
Ili. Seguem-na com grande conslãncia.

I. Os Magos seguem a luz da graça. - A es­


tréia, diz Bossuet, é a inspiração nos corações;
S. Leão chama-lhe grafiae signum. é. Ouanlos a
vjram no Oriente, e se contentaram com admirar o
seu brilho, sem tratarem de descobrir o seu misté­
rio? é. Quantos compreenderam em vão o ensina­
mento que lhes dava? Só os Magos se aproveil_a•
ram da graça oferecida a lodos. Deus chama-os ao
bê�ço de seu Filho; obedecerão, quaisquer que sejam
os sacrifícios que lhes pedir: Sacrifício de seu des­
canso : i que fadigas pre. vêem numa Ião longa viagem
e em semelhánle estação ! sacrifício das suas inclina­
ções mais caras: pátria, família, amigos; é necessário
deixar ludo, re;;islir às carícias e às lágrimas; sacri­
fício da sua reputação: êles passam por sábios, e o

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A EPIFANIA 65
�e:i proceder é qualificado de loucura; e pregunla-se
como é que homens sen_;,atos podem abandonar o
seu país, como é que príncipes podem deixar seus
estados, para ir, guiados por uma eslrêla, adorar um
Rei dos judeus, recém-nascido. Os Magos deixam
falar; e ouvindo só a voz de Deus, reprimindo tôdas
as queixas da carne e sangue, seguem a luz da graça.
Islo é o que fazem homens que são noviços na
:é ! . . . j Oue lição para aqueles que são mestres, pre­
gadores, guardas da fé 1 ( 1 ) À luz de uma esfrêla,
ao menor �inal que o céu lhes· dá, leigos, grandes da
terra, deixam o seu país, embora lhes ·custe; vão
buscar á, Deus, dar-se a Deus, unir-se a Deus ...
E nós, ministros do Senhor, alumiados por milhares
de luzes, ficamos talvez imóveis. Como os sacerdo­
tes judsus que instruem a Herodes e aos Magos, nós
dizemos onde se deve ir, para achar a Deus, e não
vamos; mostramos o caminho da verdade, e não o
seguimos I Assemelhamo-nos, diz. Santo Agostinho,
aos operários que trabalhavam na conslrnção da arca
em que Noé se salvou, e que não deixaram por isso
de perecer nas águas do dilúvio, porque não entraram
nessa arca: Símiles fBbris a rede Noe, aliis ubi eva­
derenf salvi praesfiferunf, ef ipsi diluvio perierunf (2).
Como os Magos, podemos dizer: Vidimus stellam;
i e podemos nós acrescentar como êles: Et venimus?
!:m certos momentos de reflexão, em que a fé nos
ilumina mais, vimos com terror o abismo, para o qual
nos arrasta a tibieza, vidimus: l mas arrancámo-nos
porventura de tão funesto estado, ef venimus? Co­
nhecemos a vaidade das coisas terrenas; e. mas desa­
pegou-se mais delas nosso coração? No fim de cada

(1) Sacerdo!es .•• lidei magisfri, recfae lidei cusfodes. S. Cy­


ril. Alex.
(2) De Epiph. Serm. I.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
(i6 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

dia lemos reconhecido as faltas que a dissipação nos


fêz comeler; é e andámos mais recolhidos no dia se­
guinte?. . . é Para onde vamos nós? é e que pensa­
remos na hora da morte, de tantos benefícios divinos
que nossa tibieza inutiliza?·

li. Os Magos seguem a luz da graça com


prontidão. - Apen·as viram ·a eslrêla e ouviram a voz
interior, apressam-se a obedecer. Vidimus, é a graça
que alumia e fala ao coração ; e/ venimus, é a cor­
respondência a essa graça. Nenhum intervalo entre
conhecer o dever e cumpri-lo. Passam num instante
da convicção ao desejo, do desejo à resolução, da
resolução à prática. E nisto mesmo, diz S. Tomás
que consiste a verdadeira devoção: Devo/ia nihil
llÍiud esse videlur, qullm volunflls qulledllm prompfe
frlldendi se lld ell qulle perlinenf lld Dei fllmulll­
fum ( 1). 1 Oue sabedoria há nesta prontidão, que pe­
rigos na� demoras da indolência I Se os Magos
demorassem sua partida por alguns dias, ileriam
achado o adorável Menino? Chegando a Belém,
leriam sabido que já lá não eslava, e que se ignorava
o lugar para onde se havia retirado. Se Zaqueu se
não apressasse tanto em descer da árvore, seguindo
a recomendação que lhe fõra feita, fesfinans des­
cende, é teria lido a felicidade de dar hospitalidade
ao Senhor do universo, e de ouvir esta suavíssima
palavra : Hodie SllÍus domui huic facta esl?
Quando Deus "fala, uma simples irresolução é uma·
infidelidade, a menor demora um perigo, A graça
tem o seu tempo: fempus stelllle (2); diferir obede­
cer-lhe, é correr o risco de nunca lhe obedecer;
i perdida a ocasião, voltará ela? é Terá Deus obri­
gação de esperar que eu queira receber os dons do

(1 ) 2. 2. q. 82. 11. t. - (2) S. Aug.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A_ EPIFANIA 67
seu amor? e:. Não é a mim que me compete esperar
que êle se digne concedermos? Aquele que não cede
à graça senão o mais tarde possível, dá mostras de
que só cede contra a sua vontade; a sua obediên­
cia é uma flôr murcha, que perdeu a frescura e o
primitivo aroma. Oh ! quantos motivos lenho para
bemdizer a divina paciência para comigo. para cho­
rar minhas pecaminosas e imprudentes demoras !

Ili. Os Magos seguem a luz da graça com


grande constância. - Se nada pôde impedir que
tomassem a resolução que Deus queria, também nada
os desanima na sua execução. 1 Oue obstáculos po­
rém, que contradições capazes de destruir uma reso­
lução menos firme! Tinham andado uma grande parte
do caminho, estavam perto de Jerusalém: de repente
a estréia desaparece: ei-los sem guia num país es­
tranjeiro; i quantos mo livos de temor 1 • • • é. Pensam
acaso em voltar para a s_ua terra ? Não, continuam
a caminhar, apoiando,se não já no que vêem, mas no
que viram; a verdade é imutável, como o mesmo
Deus: Verilãs Domini mtJnef in tJeferQum. Se no
meio de Jerusalém encontram um povo indiferente que
moslra não se importar com seu Rei e Salvador re­
cém-nascido; se os doutores e sacerdotes lhes decla­
ram friamente o lugar do seu nascimento, e não falam
em ir co111 êles adorá-lo; se Herodes se contenta com
enviá-los para que o procurem, ludo isto os espanto,
e os aflige, sim, mas não os desalenta.
Busquemos a Deus com um coração simples e
uma firme esperança, e nunca seremos confundidos:
ln simplicilãfe cordis qutJerife illum, quonitJm inveni­
lur tJb his qui non lenftJnf illum (1). - Oui susfinenf
te, non confundenlur (2). - Buscando-o assim, a nóssa

(1) 5op. 1, t, 2.- (2) Ps. XXIV, 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
68 M!':DITAÇÕF.S SAC�::moTAIS

alma viverá: Ouaerife Deum, et vivei anima veslra (1).


Nos começos da vida espiritual, Deus costuma atrair­
-nos com graças sensíveis e consolações abundantes·;
então julgamo-nos inabaláveis: Ego dixi in abundan·
fia mea: Non movebor in aelernum. Mas logo che­
gam as provações. Deus esconde-se, deixamos _de
sentir a sua presença. é Será porque o amamos me­
nos, ou então porque somos menos amados dêle?
Não: mas a natureza é imolada, é preciso mortificar
e crucificar o amor próprio. Oue fazer? Caminhar
através das dificuldades e trevas, confiar em Deus.
Se os interêsses da sua glória e da nossa santifica­
ção o exigirem, êsses momentos deliciosos voltarão,
a eslrêla !ornará a aparecer; e o nosso júbilo, ven­
do-a de novo, será tanto maior, quanto maior fôr a
paciência com que tivermos sofrido a· sua falta.
Resolução. Eslar sempre pronto a seguir a di­
vina vontade, logo que a eslrêla da fé (2) ma fiz\!r
conhecer, sem demorar um só instante uma obediên­
cia tão jusla, da qual depende a minha santificação
e felicidade. O' meu Deus, .sustentai minha constân­
t.:ia. Não é o desejo do bem e um certo ardor em �m­
preendê-lo, o que me falia; mas, ai I que pouco basta
para me abalar, para vencer minha coragem I Um
pequenino obstáculo, a privação de um prazer sen­
sível . . . Deixo de vos seguir, quando deixais de me
atrair a vós com o aroma dos vossos perfumes (3).
Compadecei-vos da minha fraqueza; já que me ins­
pirais o desejo de vos ser fiel, sêde o penhor da mi­
nha fidelidade. O' meu .Oeus, eu quero obedecer à
vossa graça, sem escusas, sem demoras, sem cansa-

(1) Ps. LXVIII, 33.


(2) Ou11si slell11 coeli lux fidei. S. Aug. Serm. 1. de Epiph.
l 3) Tr11he me posl le; curremus in odorem unguenlorum
luorum. C11nl. l; 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A EPIFANIA 60
ços, seguindo pelo caminho dos vossos mandamen­
tos, pois 'sei perfeilamenle que só nêles se encontra a
verdadeira vida. ln aelernum non obliviscar jusfiGca­
fiones tuas; quia in ipsis juslificasfi me (1).

Resumo da Meditação

1. Os Magos seguem a luz da graça. - Foram


os únicos que se apr9veilaram da graça oferecida a
todos. Seu sacrifício é gent"roso. Não é sõmenle o
descanso, as inclinações mais caras, que,sacrificam;
é a sua repuf_ação: passam por sábios, e o seu pro­
ceder é q_ualilicado de demência ... 1 Ouanlos podem
dizer com êles: • Vi a eslrêla • , sem que possam
acrescentar: • Obedeci à luz que ela me dava• !
i Tenho eu compreendido o nada das coisas terrenas,
e desapegado delas o meu coração? e. Oue pensaria
na hora da · morle a respeilo de tanlos benefícios di­
vinos, que a minha tibieza inutiliza?

li. Os magos seguem a luz da graça com


prontidão. -Viram: é a grac;a; vieram: é a corres­
pondência à graça. Nenhum inlrrvalo entre o dever
conhecido e o dever cumprido. Corramos para Deus,
apenas nos chame. - 1 Ouantos perigos há nas dila­
ções da indblência l Ou ando Deus fala, uma simples
irresolução é uma infidelidade; a menor demora pode
causar uma desgraça irreparável. Aquele que não
cede à vossa graça, ó Jesus,· senão o mais farde
possível, mostra bem que só cede com repugnância�
Sua obediência é uma flõr murcha.

III. Os Magos seguem a luz da graça com


conslância. - Nada pôde dissuadi-los de !ornar a re-

(1) Ps. CXVIII, 9).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
70 M E D ITAÇõ ES SACERDOTAIS
_______ _ _ _

solução que Deus queria; nada os desanimará, quan­


do começarem a cumpri-la. t Oue contradições, po­
rém, não tiveram êles de sofrer? A verdade não
muda; é. porque mudarei eu uma resolução que se
fundava na verdade? As provações fazem parle
essencial do plano divino. - Conservar-me sempre
pronto a seguir a vontade de Deus, apenas a estréia
da fé ma. tiver feito conhecer.

XII MEDITAÇÃO
Os Magos em Belém

I. O qye Íazem;
li. O que dão;
Ili. O que recebem.

l. l Oue fazem os Magos em Belém?- Saíram


ele Jerusalém, logo que souberam onde podiam achar
o Messias que nascera; 'no mesmo instante reapa­
rece a eslrêla, que vai adeanle dêles, e lhes mostra o
caminha. Com êste novo benefício do Senhor, foi ex­
lraordinàriamente grande o júbilo que sentiram: Ga­
visi sunf gaudio magno valde. O' meu Deus, é. quem
vos não bemdiria, vendo o cuidado que tomais dos
vossos servos? é. e não é já pertencer-vos o querermos
dar-nos a vós? Vós, Senhor, nunca feris senão para
sarar, não afligis senão para consolar.
Chegam a Belém. A esfrêla pára sôbre o sítio
onde eslava aquele que buscavam . . . i. Mas onde
está êle? é. Estará o Rei dos reis em um arruinado
albergue, de-slinado aos animais? . . . Assim o crêem
os Magos sem hesitar. E.' aqui que a sua fé atinge

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS Rl!:IS MAGOS EM BELÉM il

o maior grau de perfeição. Fôra grande, quando os


resolveu a fazer esta viagem; maior, quando a es­
trêla desapareceu, sem que desanimassem, e em Je­
rusalém, onde tinham esperado contra lôda a espe­
:-ança; é ainda mais heróica. em Belém. Enlram no
êlbergue; uma luz interior lhes diz ,que aquele menino
é o Salvador do mundo, e que nêle estão encerrados
todos os tesoiros da divindade. A pobreza da mo­
rada não os escandaliza; .as faxas, o presépio, a fra­
queza da inÍância não lhes causam estranheza. A fé
mostra-lhes as grandezas désle novo rei, e a natureza
do seu reino ..·. Caem de joelhos e adoram-no:
.\'on illis sordet sfobulum, non pannis oH'endunlur,
non scandalizanlur facenfis infanlia: procidunf, vene­
ranfor, adoranf (1).
Oh! que horizontes descobrem os olhos da fé!
Reconhece hoje ao Deus de !ôda a majestade num
débil menino; reconhecê-lo-á mais !arde num crucifi­
cado. Senhor, concedei-me um raio dessa luz, quan­
do subo ao altar. Vós dois a inteligência aos pe­
quenos e aos humildes; e revelais-lhes vossos segrê­
dos (2). Ouero humilhar-me, confundir-me, aniqüi­
lar-me na vossa presença, como os Magos: Et pro­
cidenfes adoraverunf eum. Descobri-me, como a êles,
alguns dos vossos divinos encantos; o mundo já nada
\·alerá para mim; só vós sereis lodo o meu amor.

II. l Oue oferecem os Magos a� Menino de


Belém? - Os seus presentes leem uma significação
relacionada com a idéia que formam dêste Menino.
O oiro é um tribulo voluntário, por meio do qual

(1) S. Bern. Serm. 1 in Epiph.


í 2 ) lnlelledum do! porvulis. Ps. CXVIII, 1.30. - Abscon­
disli haec a sapientibus ef prudenfibus, e! revelasfi ea parvulis.
Maffh. XI, 25. - Humili homini se inclinai ... humili suo secreta
revelai. /mil., lib. li, e. li.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
72 MEDITAÇÕ�:R SACERDOTAIS

reconhecem o recém-nascido por seu Rei; o incenso,


um culto pr.estado à sua divindade; pela mirra, que
se empregava em embalsamar os corpos, honram sua
humanidade santa, que êle se digna sujeitar à morte,
para nos livrar da morle eterna: emfim, reconhecem
nêle o seu Deus e Salvador.
Jesus é tudo isto para nós, assim como para êles;
ofereçamos-lhe os mesmos presentes e veja êle em
nossos corações o que via nos dos Magos. - A Sa­
grada E.scritura mostra-nos a caridade sob a imagem
de oiro puro, que passou pelo cadinho: A urum
ignilum, prohdium (1). E' necessário ir comprá-lo a
Jesus Cristo, para o dar depois a Jesus Cristo:
Suddeo lihi emere d me ( 2 ). Mas é. como comprar o
amor? Com o mesmo amor, responde Bossuet.
Amando, aprende-se a amar melhor; amando ao
próximo, aprende-se a amar a Deus. - O incenso é
uma substância que se volatiliza, que só produz seu
efeito, perdendo-se. Consumamo-nos deant_e de Deus,
diz lanibém Bpssuel. Ouando nos negamos a nós,
para nos consumirmos deante do Senhor, oferecemos­
-lhe o incenso que êle deseja. Segundo a Igreja, o
incenso é o símbolo da oração: Dirigdlur ordfio
med, sicuf incensum in c,onspeclu fuo, e a mirra, o
da mortificação, - Esta virtude embalsama por assim
dizer, nossas almas, preserva-as da corrução do pe­
cado, e faz de nossos corpos hóstias vivas, santas e
agradáveis a Deus (9 ).
Vamos, pois, a Belém, abramos nossos cofres;
façamos nossas ofertas de oiro, incenso, e mirra.
é. Onde estará a caridade, se não está no coração
dos padres? é. Ouem orará com fervor, se êles oram

(1) Apoc, Ili, 18. - (�) lbid.


3 Obsecro . • . ui ex-hibe1:1!is corporn ves(r1:1 hos!iom viven­
( )
lem, scindom, Deo pl1:1cenlem. Rom. XII, 1_.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-----------
OS REJ8 MAGOS EM BRI.ÉM
-----------
com negligência ? t Ouem teria obrigação de se sa­
crificar com Jesus Cristo, se a não tivessem aqueles
que todos os dias renovam o sacrifício de Jesus
Cristo?
O' meu Deus, dai-me o que quereis que vo� ofe­
reça: um coração conlrito e humilhado por· causa de
minhas numerosas infidelidades; !lm coração consu­
mido de santos desejos, cujas delícias sejam a medi­
tação e oração;, um coração cheio de reconhecimento
por lodos os benefícios que me tendes feito, e que se
derreia conlinuainente em acções de graças deanfe
de vos.

IIL i. Oue recebem os Magos no presépio de


Belém?- S. Boaventura representa-os de joelhos
deante daquele bêrço Ião pobre. Teem a alma cheia
das mais dôces consolações. Depois de adorarem o
Menino, conversam com ·a Virgem Mãe, Reforem-lhe
o que determinou sua viagem, o que nela se passou;
e ela instrui-os sôbre as grandezas de seu filho.
O Menino Jesus, olhando par,:i êles com bondade,
faz-lhes sentir que lhe são agradóveis suas adorações.
Por sua parle êles contemplam-no com indizível ale­
gria, tanto com a visla espiritual, que eslava inlerior­
menle iluminada, como também com a vista corporal,
1
porque era o mais formoso dos filhos dos homens ( ).
Pelo oiro que lhe ofereceram, diz um piedoso autor,
recebem dêle uma admirável sabedoria, que os inicia
no conhecimento do que a religião tem de mais ele­
vado em seus , mistérios, e os !orna capazes de o
ensinar aos outros; pelo incenso recebem um exce-

(1) Conspice e! puerum Jesum; nondum loqui!ur, sed s!11! cum


m11furif11!e e! l(rnvifafe, lanqu11m inlelligens, ef benigne respicit-illos;
el illi mulfum delecfonlur in eo, f11m visu menf11li, f11nquam infus edocli
ef illumin11li, quem corpor11li, tjui11 speci<>sus er11I prae llliis hominu!ll,
S. Bon11v. Med., e. IX.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

lente dom de meditação e oração, que os desprende


de tôdas as coisas do mundo, e os une intimamente
a Deus; pela mirra aprendem a sciência da cruz, mos­
trando-lhes o preço e inspirando-lhes o amor dos
sofrimentos.
Tendo recebido um aviso do céu, voltaram para
o seu país por outro caminho: Responso acceplo in
somnis ne redirenf tJd Herodem, per llliam vitJm re­
versi sunl in regionem sutJm; e publicando por tõda
a parle os prodígios que Deus operou em favor
deles, de adoradores de Jesus tomam-se seus após­
tolos, e serão seus mártires. i Oue rápidos progressos
na perfeição do santo amor! Uma eslrêla linha-os
avisado que fõssem buscar o Messias recém-nascido;
as Escrituras tinham-lhes ensinado onde deviam
achá-lo; são admitidos às mais íntimas comunicações
com Deus, e o mesmo Senhor se encarrega de dispôr
a sua volta. Téndo dado seu oiro a Jesus Cristo,
também lhe darão o seu sangue ( 1 ). Vêde até onde
pode conduzir uma pronta, uma intrépido e constante
fidelidade à graça.
Alegremo-nos com os Magos, e roguemos-lhes,
que nos obtenham as disposições que lhes alcançaram
tanta felicidade. Ouando nos preparamos para a
missa, e na acção de graças, penetremo-nos do espí­
rito da Igreja, lãa bem expresso na colecla do dia.
Ela quer que nesta festa, chamada no Oriente a festa
das stJnills luzes, imploremos o pleno conhecimento
de Deus e de seu Verbo incarnado; conhecimento
principiado na terra pela fé, e consumado no céu
pela visão beatífica: Concede propilius, uf qui jtJm

(1) Uma enfiga fradiçiio, seguide pela Igreja Celólica, diz que
êsles Magos erem reis, e que lendo regressedc eo seu país, ,renun­
ciarem iis sues corôas por amor de Jesus Cristo e receberam o
merlírio pela glória de seu nome.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS REIS MAGOS EM BELÉM

/e ex lide cognovimus, usque ad confemplandam


speciem fuae celsiludinis perducamur.

Resumo da Meditação

I. l Oue fázem os Magos em Belém? - Não


se demoram em Jerusalém mais tempo do que lhes é
preciso para se informarem do lugar em que nasceu
o Messias; e àpenas o sabem, parlem. A esfrêla
torna a aparecer; é. qual não é a sua ·alegria ? Che­
gam a Belém. Sua admiração é grande, quando
'"êem parar a estréia sõbre um albergue arru"inado.
Sua fé vence esla nova provação. Entram, caem de
joelhos e adoram o Menino Deus. O' Jesus, desco­
bri-me como a êles, alguns dos vossos divinos encan­
tos; o mundo já nada valerá para mim: só vós
possu"ireis todo o meu amor.

II. l Oue oferecem os Magos ao Menino


Deus? - Com seus presentes, honram a realeza, a
divindade, e a morte a que o divino infante se sujeita,
para nos livrar da morte eterna. Jesus Cristo é para
nós o que era para êles: ofereçamos-lhe os mesmos
presentes. O oiro é o emblema da caridade: o in­
censo, da oração; â mirra, da mortificação. O' meu
Deus, dai-me o que quereis que vos ofereça: um
coração contrito e humilhado, um coração abrasado
em santos desejos, um coração agradecido por lanlos
avores que lã<? generosamente me tendes concedido.

llI. l Oue recebem os Magos no presépio de


Belém? -- Sua alma eslá cheia das mais suaves con­
solações. Pelo oiro que ofereceram, recebem uma
admirável sabedoriâ; pelo incenso, um excelente dom
de meditação e oração; pela mirra, a sciência da
cruz e o amor dos sofrimentos.
Voltam para a sua terra por outro caminho, e

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
76 MllDITAÇÕES SACERDOTAIS

publicam por lôda a parle as divinas maravilhas. De


adoradores de Jesus !ornam-se seus apóstolos, e serão
seus mártires. Eis até onde pode conduzir uma pronta,
intrépida e constante fidelidade à graça.

XIII MEDITAÇÃO
Três funestos efeitos da resistência à graça
na pessoa de Herodes

1. Essa resislência perlurba-o.


li. Cega-o;
111. F.nd urece-o.

I. Herodes perturbado pela sua resistência à


graça. - O exemplo dos Magos, vindos de longe a
um país eslranjeiro, para adorar ao Messias recém­
-nascido; a resposta dos sacerdotes e dos doutores
da lei, que se explicam Ião claramente a respeito do
lugar do seu nascimento, nomeando a !ribu e éf-cidade,
e citando a profecia: tudo isto deve ter causado a
Herodes uma salutar impressão. E' a graça que o
alumia ; mas êle recusa obedecer-lhe, e �is o primeiro
efeito dessa resistência culpável: Turbafus esf. Um
menino no seu bêrço fá-lo tremer. ,;_ Ouem é êsse
menino? E' um rei? E' um Deus? Ouer sabê-lo,
mas não pode acreditá-lo. Sua per!urbação decide-o
a fazer as mais aclivas pesquizas, e essas pesquizas
só servem para lhe aumentar os receios. Entrevê a
verdade, mas essa verdade fere a· sua ambição, alor­
menla-o. Meu Deus, i que terrível sois para com
vossos inimigos, ainda mesmo quando os poupais !
lmpii quasi mare fervens, quod quiescere non potes! . .

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
HERODES CONTRA O MENINO JESUS 7i
.\'on esf pax impiis, dicif Do rp inus (1·). Não há tran­
qüilidade no seu espírito, não há sossêgo em seu
coração. A fé é para êles uma luz importuna, sufi­
cienlemenl_e forte para lhes tirar o repoiso de que
bem queriam gozar nas suas trevas; demasiado fraca
para dissipar suas ilusões e dar à sua alma aquela
paz, que é a única qu, pode ser fruto da obediência
à verdade.
Se Herodes seguisse os Magos, vendo reclinado
num presépio ·ao Menino, cujo nascimento lhe causava
tanto terror, compreenderia que seu reino não era
dêsle mundo, e que aquele que vinha oferecer as co­
rôas do céu, não pensava em se apoderar dos reinos
da terra; lôda a inquietação leria cessado. Um
homem indócil à graça é um homem rebelde a Deus;
sofre imediatamente o castigo do seu crime: Quis
resfilif ei e/ pacem habuil? (2) Tem mêdo, como Caím
depois de ler mataclo a seu irmão Abel. A paz não
é senão para os corações dóceis. • Se recebêssemos
a luz divina com in ',eira submissão, ela nos encheria
da consolação que o Espírito.de Deus tráz consigo,
e que comunica às almas que lhe não resistem• C).
Si me audieris e/ vocem meam secufus fueris, poferis
mui/a .ce frui (4). O' meu bom padre, quando
vossa alma estiver perturbada, quando estiver \riste,
não vos limiteis a pregunlar-lhe a causa da sua tris­
teza: Guare frisfis es, anima mea? Reconhecei essa
causa nas vossas infidelidades à graça; suplicai ao
Senhor que ·vo-las perdôe, e esperai nêle : Spera
in Deo.

II. Herodes cego pela resistência à graça. -


Não quis receber uma luz {}ue ia contra a sua paixão;

(1) Is. LVII, 20, 2L..'- (2) Job IX, 4.


(
3
J P. Lallemant. -:--(4) /mil., lib. 111, e. XXV.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
78 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

é-lhe retirada essa luz e lôda a sua sabedoria o


abandonfl. Já se não reconhece nêle o hábil político,
que subira ao trono graças, à sua sagacidade; é um
homem frenético, furioso, que forma os mais cruéis
desígnios. l Ou'e inconseqüência no seu proceder ! Se
crê que o menino de que se traia, é o Messias espe­
rado desde hã tantos séculos, e anunciado por tantos
oráculos, l como pode lisonjear-se de que acabará"
no bêrço com aquele que Deus envia para ser o
Salvador do género humano? Se não o crê, l para
que vai manchar-se com um crime inútil e tornar-se a
execração do universo, com uma carnificina insensata
e atroz? Nem sequer toma as precauções do bom
senso mais vulgar. Não conhecendo a êsses estran­
jeiros, fia-se dêles num negócio que lhe parece capi­
tal; deixa-os partir, sem os fazer acompanhar-; l não
é levar a cegueira até ao desatino?
Por isso, não consegue nada, e lôdas as medidas
que toma, se voltam contra êle. Cai no laço que
armava aos Magos: queria enganá-los, e êles enga­
nam-no; queria extinguir o nome dêsse novo Rei dos
judeus, e contribui para lhe dar a maior celebridade;
queria que dêle se não falasse, e emprega justamente
o meio de fazer com que se fale dêle po11> tôda a
terra e em lodos· os séculos. Com efeito, j que rumor,
que tumulto, que grilos confusos, quando tantas víti­
mas inocen!es são arrancadas desapiedadamenle dos
braços de suas mães, e imoladas à sua vista ! l Oue
povo poderá ignorar a inveja, a crueldade de Hero­
des, e não admirar o poder de Jesus Cristo? E' assim,
ó meu Deus, que destruís a sabedoria dos supostos
sábios, e que confundis a prudência insensata, que se
levanta conlra vós : Perdam sapienfiam sapienlium,
ef prudenfiam prudenfium reprobabo (1). A única

(1) 1 Cor. I, 19.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
HERODES CONTRA O MENINO JESUS i9

sabedoria, a verdadeira prudência é temer-vos, e fugir


de todo o mal, obedecendo-vos : Ecce limar Domini
ipsa esl sapienfia, e/ recedere a maio inlel!igenlia (1).

III. Herodes endurecido pela sua resistência à


graça. - Seguindo a luz celeste, os Magos subiram
de virtude em virtude, e chegaram à união mais íntima
com Deus, à felicidade da vista de Deus; repelindo
esta mesma luz, Herodes precipita-se de crime em
crime, de abismo em abismo até à impenitência final.
A sua inquieta inveja leva-o aos últimos excessos da
violência. Dizem�lhe que aquele, que intenta perder,
é o Messias, o Redentor de Israel; antes quer que
não haja Salvador para êle do que ler um concor­
;enle. Emprega o embuste e a impostura para o
descobrir; finge, que quer adorá-lo para o malar
com mais certeza. Ouando vê que foi iludido pelos
.\1agos: Videns quoniam illusus esse/ 4 Magis, des­
mascara-se, esquece tõda a humanidade, e não atende
senão ao seu furor: lrafus esl valde. Manda extermi­
nar milhares de meninos (2), sem poupar os seus (3).
�ão hesita em encher de sangue Belém e lodo o seu
lêrmo, e o seu próprio palácio, com tanto que con­
serve a sua corôa . . . Vã esperança também : o que
êle quer malar, é o único menino que lhe escapa; e
êle mesmo, passado menos .de um ano, é ferido pela
mão de Deus, e morre de desesperação e raiva. ln
peccalo vesfto moriemini (4), dizia o Salvador a ho­
mens que não queriam vêr a verdade; eis o horro­
roso fim a que muitas vezes leva o abuso das gra­
ças; te qual é o princípio ordinário dêsle criminoso
abuso? Uma má inclinação desregrada, que não é

(1)/ Job XXVIII, 28.


(2) Segundo a opinião mais comum, o número dos inocenles
�,terminados, foi de 14:000. Com. a Lt1p. in Mallh. e. II.
(J) lbid. - (") lbid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
80 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

reprimida a tempo e com fôrça. Oh! quanto imporia


que o cristão se entregue à mortificação interior!
Tudo está perdido, quando a paixão domina; ,à alma
que lhe não resiste, dentro de pouco tempo não ha­
verá consideração alguma, nem de Deus, nem dos
homens, que a contenha; não faz caso nem do nú­
mero, nem da gravidade dos seus crimes, nem dos
terríveis tormentos que em castigo dêles mereceu.
Armemo-nos, pois, contra nós mesmos; se é áspero
êste combate, o seu fruto é uma paz inapreciável.
Não temamos o trabalho, porque será de pouca du­
ração; alguns dias de paciência e de esforços, e de­
pois o descanso eterno. Chamemos Deus em nosso
socôrro, e recitemos a oração, que lhe dirige a Igreja
no ofício dos Santos Inocentes: Omnitf in nobis vi­
fiorum mala mortifica; uf lidem fuam, quam lingua
noslra loquilur, e/iam moribus vila fafeafur ( 1).

Resumo da Meditação

I. Herodes perturbado pela sua resistência à


graça. - Tudo o que linha passado, devia causar a
êsle príncipe uma salutar impressão . Mas êle re­
pele a graça, e perturba-se; eis o primeiro .castigo de
sua culpável resistência. Os ímpios são como um
mar agitado, que não acalma. A suavidade da paz
é só para os filhos de Deus; é a recompensa de sua
obediência à graça. O' alma minha, quando estás
triste, reconhece que a causa dessa tristeza são tuas
infidelidades.

II. Herodes cego pela sua resistência à graça.


- Repeliu a luz, a luz retira-se, e lôda a sua sabe­
doria o abandona . . . Não se vê já senão loucura e

(1) Collecl.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NOIIIE DE JESUS 8t

furor no seu proceder. Nem sequer foma as precau­


ções do bom senso mais vulgar. Por isso, tudo o
que faz, se vàlta confoa êle. Vai manifestdr ao mun-.
do a sua crueldade e inveja, e fazer admirar o poder
de Jesus Cristo. i{)' meu Deus, assim confundis a
prudência insensata que se levanta contra vós 1 ...

III. Herodes endurecido pela sua resistência à


graça. - Seguindo a luz celeste, os Magos caminha­
ram de virtude em virtude; repelindo-a, Herodes
precipitou-se de crime em crime. Alentados inúteis!
Aquele a quem intenta malar, é o único que lhe es­
capa : êle mesmo expirará bem de-pressa na deses­
peração e na raiva. Oh I quanto importa combater
e dominar a tempo as próprias inclinações!

XIV MEDITAÇÃO
O santo nome de Jesus

I. Excelência dêsfe nome.


II. Seus admiráveis efeilos.
Ili. Honra que lhe. é devida.

1. Excelência do nome de Jesus. - S. Paulo


no-la descobre em sua epístola aos filipenses: Jesus
aniqüilou-se lJ si mesmo, fomemdo a natureza de ser­
vo . . . Humilhou-se lJ si mesmo, feito obediente tJfé
à morte, e morte de cruz. Pelo quê, Deus fombém
o exaltou, e ihe deu um nome que é superior a qual­
quer outro nome: para que ao nome de Jesus se

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS
---
dobre lodo o joelho nos céus, na ferra e nos infer­
1
nos ( ).
Achamos nestas palavras a origem, a causa e tô­
das as grandezas do nome de Jesus. A sua origem :
vem do céu; os anjos revelaram-no primeiramente a
Maria, depois a José (2); o mesmo Deus o deu a
seu Filho: Donavil il/i nomen. Com efeito, ninguém
conhece o filho senão o Pai (ª); por conseguinte só
êle podia dar-lhe o nome quilhe convinha. Nenhuma·
criatura devia pronunciar êsle nome bemdilo. anles
que saísse da bõca do Senhor: Ouod os Domini
nominabil (�). Mas E>eus porque o deu? Ouis, afir­
ma S. Paulo, exaltar tanto a seu filho amado, quanto
êle se aniqüilou nos mistérios de sua incarnação e
morte: Propfer quod ef Deus exalfavif illum.
Com suas profundas humilhações, o Verbo glo­
rificou infinilamenlc; a seu Pai; <'. que fará o Pai para
recompensar a seu filho? Dar-lhe-á o nome de Je­
sus. Tudo isto nos dará uma idéia das prerrogativas
anexas a êsle adorável nome.
E' superior a qualquer outro nome, porque signi­
fica tudo o que se pode imaginar de maior, de mais
precioso e digno de estima. 1 .° significa lôda a sa­
bedoria, santidade, bondade, fortaleza, misericórdia e
amor de Deus, que !em concorrido para nos salvar;
2." tôdas as graças, virtudes e dons do Espírito
Santo, que servem para a santificação das almas,
pois é da plenitude de Jesus Cristo, como de fonte
inexhaurível, que os recebemos; 3.0 lodos os ofícios

(1) Philip. li, 7-10.


(2) Paries lllium el vocabis nomen ejus Jesum. Luc. 1, 31.
- P11ries filium el voc11bis nomen e jus• Jesum : ipse enim salvum
fociel populum suum a peccalis eorum. Mal!h. 1, 21.
,:1) Nemo novit filium nisi Paler. Mallh. XI, 27.
(4) Is. LX, 2.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NOME J>E JESUS 83

de mestre, de médico, de pai, de pastor, de pontífice,


que deverá exercer o filho de Deus na qualidade de
Salvador.
O nome de Jesus é superior a qualquer outro
pelos direitos que confere. Dando a seu filho o
nome de Jesus1 e constituindo-o Salvador, Deus con­
fia-lhe o cuidado de reparar StJa glória; torna-o ár­
bitro da salvação dos _homens : seu destino está nas
suas mãos, por sua vontade vai fechor�se o inferno e
abrir-se o céu. Ouem diz Jesus, diz um rei, de quem
todos os monarcas são súbditos, um juiz, em cujo
tribunal' comparecerão todos os homens, e cujas sen­
tenças serão irrevogáveis.
finalmente, o nome de Jesu� é superior a qual­
quer outro, porque exprime as mais admiráveis comu­
nicações, que Deus,pode fazer à sua criatura; comu­
nicação da personalidade do Verbo à humanidade
do Salvador, comunicação da vida da graça aos fiéis,
e da vida da glória aos bernaventurados.
Quando o profeta Isaías anunciava, que o Me­
nino que para nós nasceu·, se chamaria Admirável,
Conselheiro, Deus for/e, Pé1i do século fuluro, Prín­
cipe da pé1z, expunha, diz S. Bernardo, pela diversi­
dade dêstes nomes, as grandezas que estão compreen­
didas no de Jesus; porque, se êle é Admirável, é
principalmente na união incompreensível das dut1s
naturezas, que compõem a pessoa de Jesus. Se é
chamado Conselheiro do Altíssimo, é porque na sua
qualidade de Jesus, entra no conselho de Deus, para
defender os interêsses de seus queridos predestina­
dos. Se é chamado For/e, é porque, salvando-nós,
venceu a morte, derribou o poder do inferno, e destruiu
o pecado. Na qualidade de Jesus, é Pé1i do século
futuro, pois morrendo gera o povo dos escolhidos ;
é o Príncipe dé1 pé1z, pois reconcilia pelo seu sangue
o céu com a terra.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

II. Admiráveis efeitos do nome de Jesus. -


Assim os expõe S. Bernardo : • O nome do Espôso
é luz, alime,nfo, remédio: alumia, quando o publicfl­
mos; alimenta, quando o medilamos; suaviza e cura
os males, ·quando o invocamos. - {Como se espa­
lhou Ião ràpídamenle no universo esta grande luz-da
fé? Pregando o nome de Jesus. Servindo-se dêste
adorável nome, como de um farol, Deus nos féz
passar das lrevfis da infidelidade para a sua admirá­
vel luz. - Ao mesmo lempo que alumia, alimenta.
l Não vos sentis fortificado lôdas as vezes que vos
lembrais do que êle exprime ? {Haverá no mundo
melhor alimento, quer para o espírito, quer para o
coração? é. Haverá coisa Ião eficaz para reparar os
sentidos enfraquecidos, dar energia às virtudes, con­
servar as honestas e Cdslas afeições? Jesus é mel
para a minha bôca, melodia para o meu ouvido, ale­
gria para o meu coração. - Êsle nome sagrado é
remédio conlra o desalento e lôdas as outras doenças
da alma. Estais !riste ? Entre Jesus no vosso cora­
ção; passe dai aos vossos lábios, e apenas pronun­
ciardes o seu nome, lôda a núvem desaparece, e
volta a serenidade. l Cometeu alguém um pecado ?
é. Corre desesperado para a m�rle? Se invoca o
nome de Jesus, começa logo a respirar e a reviver.
Não, não há lenlação que não vença, paixão que
não' reprima. O' alma minha, lens um excelente an­
tídoto no nome de Jesus, que é ao mesmo tempo
tão dôce e Ião poderoso •.

III. l Oue fazer para honrar dignamente o


santo nome de Jesus? - Estudar sua significação e
compenetrar-nos bem dos senlime'!_los que inspira.
-- Reconhecimento : foi para nos salvar, que o Filho
de Deus tomou o nome de Jesus; êsle nome recor­
/da-nos os trabalhos, as humilhações, os sofrimentos
a que se sujeitou por nossa causa. Recorda-nos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JSOlll'.: DE JESl'S

lodos os mistérios de sua vida e morte, com as gra­


ças abundanles que nos alcançaram. - Confiança:
lemos em Jesus ·o mais terno dos pais, o mais fiel
dos amigos, o mais poderoso dos proleclores; seu
nome faz tremer o inferno e afugenta os demónics:
ln nomine meo daemoniél ejicienf. - Amor: não
basla que êsle nome sagrado saia muitas vezes da
nossa bôca; é preciso que o espírilo e o coração, a
inlenção e a afeição vivifiquem o culto que lhe tribu­
lamos. S. Paulo pronunciava-o, escrevia-o a cada
passo, porque amava a Jesus; sua linguagem era a
efusão de uma alma, que saboreia a suavidade dêsle
divino nome.
Excitar em nós o desejo de imitar as virtudes,
que êsle santíssimo nome exprime. - • Ouando pro­
nuncio o nóme de Jesus, diz S. Bernardo, julgo vêr
um homem manso e humilde de coração, bom, só­
brio, caslo, misericordioso, cheio de pureza e santi­
dade; mas ao mesmo tempo um Deus omnipotenle,
que me conforta com a sua graça, e me ajuda a ser
o que êle quer que eu seja. Emquanto homem, re­
cebo dêle exemplos; emquanlo Deus, recebo dêle um
'auxílio seguro • .
finalmenle o grande Apóslolo ensina-nos ainda
um excelente modo de honrar o nome de Jesus:
Façamos tudo. em nome do Senhor Jesus Cristo,
dando. por êle graças a Deus Pai ( 1 ). Refiramos
tudo à glória de Nosso Redentor, assim como êle
referiu ludo à- nossa salvação. Dêmos graças ao
Pai por seu filho, vislo que foi por êle que nos deu
ludo.
A exemplo da Igreja na sua liturgia, moslremos
nosso respeito, quando pronunciarmos ou ouvirmos
pronunciar o nome de Jesus, e adoplemos a bela

(1) Colos. 111, 17.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
86 MEOITAÇÕES �Ar.EROOTAIS

oração que ela hoje recita no fim .da missa: • Omni­


potente e elerno Deus, que nos criastes e remistes,
atendei propício aos nossos votos; e dignai-vos re­
ceber com rôsto favorável e serêno o sacrifício da
vítima da salvação, que oferecemos a vossa majes­
tade em honra do nome de vosso Filho, Nosso
Senhor Jesus Cristo; parn que, depois de lermos
recebido a vossa graça pelo nome glorioso de Jesus,
nos regozijemos de que nossos nomes foram escritos
no céu por uma predestinação elernt1. Nós vo-lo pe­
dimos pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor,.

Resumo da Meditação

I. Excelência do nome de Jesus. - Vem do


céu, só Deus pode dá-lo, porque só êle conhece
perfeitamente a seu Filho. Ouis exaltá-lo lanlo· com
êste santíssimo nome, quanto êle se humilhou pelos
mistérios de sua vida e morle. r.ste nome adorável
é superior a qualquer outro nome: - Pelas infinitas
perfeições, que supõe naquele que o tem; - pelos
direitos que confere. Re�ebendo-o, Jesus é consfi-_
tuído reparador da glória de Deus, árbitro da salva­
ção dos homens. - Anunciando que o Messias se
chamaria Admirável, Conselheiro, Deus forte, Pai do
século fuluro, Príncipe da paz, Isaías profetizava as
grandezas do nome de Jesus.

II. Admiráveis efeitos do nome de Jesus. -


Alumia, quando se publica ; alimenta, quando é me­
ditado; cura, quando se invoca. Foi a pregação do
nome de Jesus, que espalhou tão ràpidamente no
mundo a luz da fé. l Haverá melhor alim,,ento, quer
para o espírito, quer para o coração ? l Remédio
mais eficaz contra o desalento e tôdas as doenças da
nossa alma?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PURll'ICAÇAO OE MARIA

III. Como devemos honrar o santo nome de


Jesus. - Estudando sua significação e compenetran­
do-nos dos sentimentos que inspira� reconhecimento,
confiança, amor. - Excitar em nós o desejo de pra­
ticar as virtudes que êle exprime. Tudo o que fizer­
des, seja por palavra ou por obra, fazei-o em nome
do Senhor Jesus Cristo, dando por êle graças a
Deus Padre. - Dar mostras de respeito, quando
pronunciarmos ou ouvirmos pronunciar o santo nome
de Jesus.

XV MEDITAÇÃO
Mistério da Purificação de Maria e da
Apresentação de Jesus.-ContempJação

1. Conlempl11r 11s pesso11s.


li. Ouvir 11s palavras.
Ili. Considernr 11s acções.

Pr.ummo PJIELÚOio. • Depois que foram con­


cluídos os dias da purificação de Maria, segundo a
lei de Moisés, levaram o Menino a Jerusalém, para
o apresen!arem ao Senhor. . . Havia então em Je­
rusalém um homem chamado Simeão; êsle homem
justo e timorato esperava a consolação de Israel, e
o Espírito Santo habitava nêle ... Veio por inspira­
ção de Deus ao templo. E trazendo os pais ao Me­
nino Jesus, Simeão tomou-o em seus braços, louvou
a Deus e disse: Agora, Senhor, deixais ao yasso

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
88 MEOITAÇÕE� SAC:EilOC,TAlS

servo em paz, segundo a vossa palavra. . . Ana a


profetiza, sobrevindo nesla mesma ocasião, dava gra­
ças a Deus, e �ava dêsle Menino a lodos bs que
esperavam a redenção de Israel• ( 1).
SEGUNDO PHKLÚDIO. Pedi ao Senhor que se
digne fazer-vos participar das graças dêste mistér:o:
espírito de sacrifício, humildade, obediência, e fervor
no serviço de Deus.

I. Contemplar as pessoas. - No céu, a Santís­


sima Trindade, que espera, que recebe a mais digna
oferenda, que as criaturas podiam fazer-lhe. . Os
anjos, que contemplam e louvam ...,- Em Belém, no
caminho, em Jerusalém,· gente que passa, sem pres­
tar atenção, ao lado de uma família pobre, mas que
não deixa por isso de ser a primeira família do uni­
verso. . . O' homens, é. que imporia a vossa estima?
-Jesus, nos braços de Maria ou José, depois nos
braços do ditoso Simeão, e no aliar. Com um olhar,
em que se reúnem as ingénuas graças da mais. amá­
vel infãncia e a reflexão da inteligência, olha para
sua Mãe e para os que a acompanham (2). - Maria,
confundida ao principio com as outras mulheres, e
não se diferençando délas exleriormenle senão pela
sua angélica modéstia; depois, ajoelhada deante do
aliar ( 3), apresentando a Deus o tesoiro que dêle re­
cebeu . Notai nas suas feições as imprelisões, que
senle sucessivamente a sua alma.. . feliz Mãe, eu
vos felicito por terdes nas mãos o Salvador do mun­
do, o resgate de todos os homeps ! ... Pobre Mãe,
lamento-vos por lerdes de pressentir lanlos sofrimen-

( 1 ) Cum mafurifa(e et graviiafe, lanqua,n intelligens, benigne


respicil ilias. S Bonav. Med. e IX.
( 2 ) Luc. II, 22.
(3) ld , ibid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PURIFICAÇÃO DE :IIAIIIA 8!1

tos, uma morte tão cruel para um Menino, que amais


mil vezes mais que a vós mesma! ... - Simeão, no
auge da felic'idade; a ale�ria, que-•lhe lrasborda do
coração, parece lê-lo remoçado. - Ana, abrasada
em caridade; i não poder ela dar a conhecer a lodo
o mundo o Menino-Redentor! -De ludo isto quan­
tos ensinamentos a tirar para a alma recolhida!

II. Ouvir as palavras. -Conversação de Ma­


ria e José durante o caminho de Belém a Jerusalém;
i. qual é o seu objeclo? ... Conversação interior dos
dois esposos com Jesus, terna vítima, que· vão colo­
car sõbre o aliar. Oh ! que belo modêlo para o pa­
dre que se prepara para o sacrifício! - O que diz
Maria, oferecendo o verdadeiro Cordeiro de Deus :
• Recebei, Dai sanlo, o vosso filho, que é também o
meu-; eu vo-lo ofereço, segundo o preceilo da vossa
lei, porque êle é o primogénito de sua Mãe. Nêle e
por êle, recebei .lõdas as homenagens que vos são
devidas. Seja êle a minha acção de graças e a
de tõdas as criaturas. Em consideração de seus
merecimentos infinitos, lende piedade dos homens,
e tratai os pecadores segundg a vossa grande mi­
sericórdia. Recebei a Mãe e o filho num mesmo
holocausto. O' Deus, princípio e fim, e Senhor uni­
versal de tudo, honra e submissão ao vosso sanlo e
supremo domínio, para sempre• ( 1 ). -O cântico de
Simeão: Nunc dimillis: • Deixai, Senhor, deixai
agora morrer em paz o vosso servo. Já vos podeis
fechar, olhos meus, já nada mais tendes que ver na
terra, pois acabais de contemplar aquele que há de
ser a luz e a salvação de lodos os povos• . Ouem
saboreou Jesus e a sua presença, é que mais poderá

(1) S. Bonav. Med. e. XI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JIJEDITAÇÕES SACERllOTAIS
-------
desejar sôbre a (erra? - As palavras do mesmo Si­
meão a respeito do destino de Jesus e de Maria:
• O' Mãe de Deus, i quantas aflições vos reserva a
divina Providência I Eu já vejo a espada que vos
há de atravessar o coração! . . l:sle vosso Filho
Ião querido, ai! quantos tormentos vos há de cau­
sar! 1 Ouanlas contradições há de êle experimentar 1
Ainda que veio para o meio dos homens, para os
tornar a todos felizes, ai! quantos encontrarão a sua
infelicidade eterna precisamente no abuso dos bene­
fícios dêsle vosso Filho• 1 -- As palavras da santa
viúva, iluminada fambém pelo Espírito do Senhor,
anuncia o cumprimento das promessas, a vinda do
Messias, e publica as grandezas dêsle Menino a lo­
dos os que esperavam a consolação de Israel.

III. Considerar as acções. - Maria e José


abandonam a sua pobre casa de Belém, deliciosa
habitação, onde tinham passado tão felizes dias, fal­
tos de tudo o que respeita às coisas da !erra. Mas,
ó meu Jesus, é. que falta a quem vos possui, senão
conhecer a sua felicidade? - Põem-se a caminho.
Segui-os com o pensamento, e vêde o Filho de Deus
que nos braços de sua Mãe, como a luz acêsa com
que a mulher do Evangelho busca a dracma perdida,
vai busca.r a salvação do mundo. Êle1 é o tesoiro
comum que há de pagar o resgate de todos os
homens.
- Chegam a Jerusalém, dirigem-se ao templo.
José leva a humilde oferenda que a Mãe deve apre­
sentar ao sacerdote: um par de rôlas ou de pombi­
nhos, segundo o costume estabelecido pela lei em
favor dos pobres. Leva também os cinco sidos,
preço do resgate do primogénito.
- No momento em que subiam os degráus do
templo, e.is que o justo Simeão, impelido pelo 'Espí­
rito Santo, e como que arrebatado pç,r seus ardentes

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PURIFICAÇÃO m; MARIA 9l
----- ··----------�---------
desejos, se encaminha para a casa de Deus, a-fim de
ali vêr ao ungido do Senhor, segundo a promessa
que dêle recebera. Apenas o avista, uma luz interior
descobre-lhe as infinitas perfeições daquele Menino.
Prostra-se de joelhos, e adora-o nos braços de sua
.\\ãe. Maria compreende a acção do santo profeta,
e apresenta-lhe o Menino. Êle recebe-o com respeito,
levanta-se e louva ao Senhor, dizendo: Nunc di­
mil/is. . . Nesse cântico prediz, com as perseguições
que esperam ao Filho, o martírio de sua Mãe.
- Aparece também a piedosa Ana, que todos
\·eneravam por sua virtude e avançada idade. Os
dois santos velhos representam o antigo testamento
ou o mundo antigo, e unem os seus entusiasmos para·
honrar' ao Menino que vai renovar a face da terra e
salvar o género humano. Simeão entrega a Maria o
filho que ela vai apresentar ao Senhor; oferece
Maria Santíssima as aves misteriosas-; dá o preço do
resgate; cumpre com as cerimónias prescritas pela
lei; e depois de ler adorado de novo a Deus neste
refiro sagrado, onde antes passara alguns anos de
Ião gratas recordações, a Virgem Mãe, sempre
acompanhada por seu fiel espôso, desce os degraus
do templo, levando e apertando contra o coração a
inocente vitima, que ela verá crescer atê ao dia do
sacrifício.
Cololóquio com Jesus, Maria, Josê, Simeão. -
Pedir à Santíssima Virgem que supra com as suas
fervorosas disposições, as que me faltam, quando
exerço no altar um ministério muito superior ao que
ela tão santamente exerce no templo de Jerusalém.
Pedir por sua intercessão o espírito de pureza, sa­
crifício, zêlo e obediência, que deve ser para mim o
fruto dêste mistêrio.
Resolução. - Consagrar-me inteiramente ã glória
do Senhor, e em tôdas as acções da minha vida es­
forçar-me por praticar esta palavra: Ecce venio . ..
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
92 MF.OITAÇih:� SACEROOTAIS

ui fadam, Deus, volunfdfem fuam ('). - Suscipe,


Domine, ele.

Resumo da Meditação

Contemplar as pessoas. - No céu a SS. Trin­


dade que espera e recebe a mais digna oferenda que
uma criatura podia fazer-lhe. - Em Belém, no cami­
nho, em Jerusalém, a família mais digna do universo,
na qual ninguém repara.
- Jesus nos braços de Maria, de José, do sanlo
velho Simeão, e no aliar. - Maria confundida com as
ou Iras mulheres; depois de joelhos, apresentando a
Deus seu divino filho. Ditosa Mãe! - Simeão no
auge da felicidade. Ana ardendo em caridade.

II. Ouvir as palavras. - As que Maria e José


dizem durante a viagem. - O que diz Maria, ofere­
cendo o adorável Cordeiro. - O cântico de Simeão:
anuncia a glória de Jesus, prediz as perseguições
que o esperam, e o martírio de sua Mãe. - As pa­
lavras da sanla ·viúva Ana.

III. Considerar as acções. - Maria e José


deixam a pobre casa, onde se achavam Ião bem,
porque eslava lã Jesus. Chegam a Jerusalém, e
sobem os degrãus do templo. Simeão cheio de ale­
gria, adora o Menino nos braços de sua Mãe, e
loma-o nos seus. Maria paga o preço do resgate, e
cumpre com as cerimónias reliaiosas. - Renovar
muitas vezes a minha consagração ao Senhor, e nas
acções da minha vida esforçar-me por praticar esla
palavra: Ecce venio. Eis-me aqui, ó meu Deus;
venho para cumprir a vossa vontade.

(1) Hebr. X, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEllPLO

XVI MEDITAÇÃO
O mesmo assunto da Apr�sentação

A obediêndB louvBdB nes(e mis(ério, e coníundido lodo o pre­


!exlo de desobediênciB.
li. Como MBriB cumpre 6 lei da purificBç1io.
Ili. Como Jesus é "presenlBdo e resgBIBdo por suB Miie.

1. Todo e qualquer pretexto de cfesobediência


é confundido pelos exemplos que nos oferece êsle
mistério. - Cumpre-se uma lei que encei:ra dois pre­
ceitos. O primeiro refere-se ao filho primogénito,
que devia ser oferecido ao Senhor, tanlo para reco­
nhecer o seu supremo domínio, como parà recordar
a morte dos primogénitos dos egípcios, da qual tinham
sido preservados os de Israel. Esta lei não podia
referir-se à pessoa de Jesus Cristo que, como Filho
de Deus, linha sõbre lõda a criatura o mesmo domí­
nio que seu Pai. Ouanlo ao flagelo do Egipto, fõra
o mesmo Filho de Deus que em sua misericprdia o
enviara, e não podia esquecer-se disso. e. E será re­
conhecido como Redentor do seu povo, se parecer
que precisa de ser resgatado? Nós diríamos que ·a
dispensa desta lei não só era legítima, mas necessá­
ria a respeito de Jesus. Porém a Sabedoria incar­
nada decidiu de modo diverso
A segunda lei era relativa às mães, que eram
consideradas impuras, por lerem dado. à luz um filho,
• estando como que excomungadas, diz Bossuet, por
sua própria feccndidade; j Ião desgraçado, e tão su­
jeito estava a uma inevitável maldição o nascimento
dos homens• ! A,'s mães era-lhes pro"ibido durante
quarenta ou sessenta dias, segundo o sexo da criança,
locar em coisas santas ou entrar no templo.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
!I_4_______l_IE_J>_IT_A�Ç_ÕES SACERDOTAi S

Mas i., que teria que vêr com as mães ordinárias,


a casta espôsa do Espírito Santo, virgem na concei:
ção de seu filho, virgem no seu milagroso parto,
sempre pura, e mais pura ainda depois de ter trazido
no seu seio àquele Deus que é (l mesma pureza ?
E contudo obedece, e julga-se a isso obrigada para
edificação pública ! Longe de se valer dos seus pri­
vilégios, para se isentar de uma· lei, que lhe tirava,
segundo o juízo dos homens, a glória daquela vir­
gindade de que se linha mostrado tão ciosa (1), ela
cumpre-a à risca !
Depois désle exemplo, junto ao de Jesus Cri_sto,
i., que valor terão os nossos mais especiosos pretex­
tos? t Ouando poremos nós. como Jesus e Maria,
lôda a nossa glória na de Deus, na honra de lhe
obedecer, na necessidade de edificar a sua Igreja?
Ah! que éngenhoso é o nosso orgulho em sugerir­
-nos razôes de dispensa! Se considerarmos a Deus
no mandamento que nos é impôslo, não vendo nêle
senão a sua divina vontade, respeitaremos, amaremos
até o que pode ler de humilhante.

II. , Como Maria cumpre a lei da purificação.


- A letra e o espírito, tudo é fielmente observado.
A-pesar da sua augusta qualidade de Mãe de Deus,
Maria pára à poria do tabernáculo, como as outras
mães de Israel, que não podiam entrar nele, antes de
serem purificadas. Humilha-se deanle do sacerdote,
;que ora por ela, como pelas ou Iras; por ela é Iam-·
bém oferecido o sacrifício de holocausto ou de ado­
ração, e o sacrifício pelo perndo: Unum in holocaus­
lum ef alferum 'pro peccalo: orabifque pro ea sacer­
dos, ef sic mundabiiur (�). Vendo-a de joelhos, como
se fôsse uma penitente, no meio daquelas mulheres

(1) Lué. I, :;4, - (2) Lev. XII, B.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
APltESllNTAÇÃO DE ,JESUS NO TEMPLO

pecadoras, tquem a tomaria pela Raínha .dos anjos e


pela Virgem das virgens? Mas Óeus conhece a sua
pureza, e isto lhe basta. Pouco lhe imporia a Maria
o que pensam dela os homens. Honra assim a infi­
nita santidade do Senhor, em presença da qual tôda
a santidade das criaturas é menos que uma sombra.
Ensina-me a humilhar-me, a purificar-me cada vez
mais, quando tenho de entrar no lugar terrível (1),
para ali exercer os ac_los do culto divino, e principal­
mente para oferecer em sacrifício a mesma vítima
que ela vai depositar sôbre o altar. Ensina-me a
desprezar os juízos dos homens ; eu sou o que sou
deante de Deus; a opinião dos meus semelhantes
nada pode tirar-me nem dar-me.
O' Virgem Santíssima, j que admiração e confu­
são me causam as vossas virtudes I Tôdas as mães
gostam de se reconhecer nos filhos. l Ouando terei
eu alguma semelhança convosco? Vossa pureza e
humildade conveem tanto à minha dignidade sacerdo­
fal, como à vossa dignidade de Mãe de Deus; mas,
; quão longe -delas eslou ! A soberba e a sensuali­
dade teem !antas vezes manchado a minha alma,
teem-lhe feito tantas feridas! Mas dir-vos-ei o que um
leproso dirá mais tarde a vosso Filho : • Se quereis,
podeis curar-me• (2). O' Mãe de Jesus,, ó minha
.\\ãe, l não o querereis vós?

III. Como Jesus é apresentado e resgatado


por sua Mãe. - Cumprida a lei da purificação, a
Santíssima Virgem entra no tabernáculo. Chegando
ao pé do altar, diz S. Boaventura (3). ajoelha e apre­
senta a Deus o seu Filho amado. O mesmo Jesus
se oferece pelas mãos de Maria, como se oferecerá

(1) Gen. XXVIII, 17. - (2) Marc. 1, 40.


( 3 J Med. VI, 11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERúOTAIS

mais farde pelas mãos de seus sacerdotes. Renova


solenemente a seu Pai a co�sagração que lhe fêz
desde o primeiro momento da sua conceição: lngre­
diens mundum; consagração de seu corpo e de sua
alma, do seu ser natural e do seu ·sêr místico; ofere­
cendo-se como cabeça do género humtmo, oferece
lodos os que lhe hão de pe'rlencer; mas os seus mi­
nistros sagrados eslavam especiulmente presentes no
seu pensamento, oferecia-os como seus cooperado­
res; e seu Pai, aceitando-nos, dizia-n·os : Eritis mihi
sancfi, quia saneias sum ego Dominus, ef separavi
vos . .. ui essefis mei ( 1). e.Tenho eu respeitado san­
tamente os sagrados direitos que Deus !em sõbre
mim, por tantos ·lílulos?
Jesus Cristo já não podia dispõr de si ; já não
pertencia, por assim dizer, nem a Maria, nem aos
homens: tinha-se entregado inteiramente a seu Pai.
Maria então resgata-o para nós e para ela. i Com
que alegria o recebe das mãos do sacerdote, depois·
de ter dado os cinco sidos mandados pela lei! O' te­
soiro do céu e da ferra, e.não valerás mais que isso?
• Remi-o, piedosa Mãe; mas vó.s não o guardareis
muito tempo: vê-lo-eis vendido,·;,por trinta dinheiros,
e enlregue ao suplício da Cruz. O' Jesus, remido
para ser meu desde a vossa infância, e vendido para
ser ainda mais meu no fim da vossa· vida; eu tam­
bém, por amor de vós, quero remi_r-me e libertar-me
dêsle mundo cheio de malícia; quero vender-me por
vós e entregar-me a tôdéls as obras de caridade " (I!) .
Dai graças a Deus por vos ler concedido �eu fi­
lho. Se pertenceis a Jesus, mais do que aos simples
fiéis, pelas obrigações do vosso santo estado, êle
também pertence mais a vós, pelos privilégios anexos

(') Lev. XX, 26.


(2) Bossuel. Elevaçiio sôbre êsle mistério.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-
APRESEISTAÇAO nll JESI _Ts_· _N_O_T_E_M Oi
' _P_L_o_____

eo vosso caracter sacerdolal. Ide pois ao aliar, re­


solvido a fazer melhor uso dêsse bem que encerra
todos os bens. Se souberdes aproveitá-lo, podereis
Íôcilmenle pagar com êle lôdas as vossas dívidas,
desempenhar lodos os deveres que vos . impõem as
infinitas perfeições e liberalidades do Senhor. Rogai
e Maria que vos. purifique, dando--vos uma centelha
do fogo sagrado que abrasava o seu coração, e que
,os apresente a Deus, como ela lhe apresentou seu
filho.
Resumo da Meditação

1. Todo e qualquer pretexto de desobediência,


confundido pelos exemplos que nos oferece êsle
mistério. - Nem a lei da apresentação podia refe­
rir-se a Jesus, nem a da purificação podia obrigar a
\'irgem SS. Ambos podiam eximir-se. E contudo
preferem a obediência. Depois destes dois exemplos,
,;_ que valem os nossos mais justificados pretextos?
Como Jesus e Maria, façamos consistir lôda a nossa
glória em promover a glória de Deus, e em edificar
o próximo.

li. Como Maria observa a lei da puri6cação.


- A-pesar da sua incompreensível dignidade, pára à
poria do tabernáculo, como se fôsse indigna de entrar
nêle. Humilha-se deanle do sacerdote que ora por
ela, como pelas outras mães. Oh I que, bem me en­
sina a humilhar-me, a purificar-me cada vez mais,
quando lenho de entrar no lugar sanlo, e a despre­
zar os juízos humanos I Eu sou o que sou deante
de Deus.

Ili. Como Jesus é apresentado e resgatado. -


O Salvador oferece-se pelas mãos de sua Mãe, como
se oferecerá mais tarde pelas de seus ministros. Ofe­
recendo-se como nossa cabeça, oferece ao mesmo

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
08 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

tempo o seu corpo místico. Eu eslava presente no


seu pensamento. Maria resgata a Jesus para nós e
pára ela. O' Maria, purificai-me, comunicando-me
uma centelha do fogo sagrado que abrasa o vosso
coração, e depois apresentai-me a Deus, como lhe
apresentastes o vosso Filho.

!SI

XVII MEDITAÇÃO
O santo velho Simeão
1. Está preparado parti a graça que recebe.
li. Oual é essa graça.
Ili. Oual é o fruto que lira.

1. Simeão está preparado para a graça que


recebe no templo. - O EvanRelho diz-nos que êle
era justo e timorato, e que esperava a consolação de
Israel. Cria nas divinas promessas, e vivendo nesta
fé, vivia na justiça, não tendo outro temor senão o
de desagradar a Deus, nem outro desejo senão o de
ver, na pessoa do Messias, a consolação e salvação
de seu povo. Os séculos iam passando. Muitos
patriarcas · e profetas que haviam esperado como ele,
tinham morrido sem que as esperanças se realizas­
sem; contudo ele esperava sempre; esperava, exspec­
fl1ns, mas a quem? Consolalionem Israel. O Espí­
rito Santo que habitava nêle, desprendia-o de todos
os falsos bens, e dirigia todos os seus afedos para
o Messias.
O' alma minha, deixa-te dirigir pelo mesmo Espí­
rito de verdade, e cessarás de correr atrás de vãos
fantasmas, só desejarás, só amarás a Jesus. Se as
suas consolações não chegam Ião de-pressa, espera
com paciência ; e depois de teres esperado, espera
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O SANTO SIME.,O !l!J

ainda mais: Expeda, reexpeda (1). Diz com o rei


profeta: Exspecfans exspecfavi Dominum (2). Será
talvez só no fim da minha vida, e uma só vez, e por
um instante, que me será dado, como a Simeão, ver
a Jesus com essa íntima visão que vale séculos de
felicidade. Essas graças, .únicas em si, cuja primeira
fru"ição não volta mais, demora-as Deus muito tempo,
para que a sua posse seja mais suave e a sua impres­
são mais profunda. Passam ràpidamente, mas deixam
um perfume que em certo modo as prolonga. e renova
pela recordação. - Tai foi a preparação remo la de
Simeão para o favor que lhe eslava reservado. Veja­
mos agora qual foi a preparação próxima.
Et venif in spirifu in femplum. Obedece a urna
inspiração que o incita a ir ao templo, e a ir sem
demora. Não sabe, pelo menos claramente, o que
ali encontrará; mas sente que Deus o chama. Sim,
vamos ao templo, in spirifu, se quisermos achar a
Jesus; não vamos lá por mero hábito. • Os verdadei­
ros adoradores adoram em espírito e em verdade» (3).
i, E' a fé que me leva aos exercícios religiosos, à reci­
tação do breviário, aos exercícios do ministério sacer­
dotal, ao santo sacrifício da missa? Se eu não con­
trariasse a ·acção do Espírito Santo em mim, oh !
que puras delícias acharia' nos meus colôquios com
Deus, e principalmente no banquete eucarístico !

II. Qual é a graça que Simeão recebe no tem"


pio. - Encontra o Messias (4), vê-o, conhece-o, e

(l) Is. XX, 13. - (�) Ds. XXXIX. 1. -{'1) Joann. IV, 24.
(4) Os gregos chamam a esta festa a. festa do Encontro.
O género humano, representado por Simeão, vai, por sua espe­
rança e desejos, ao encontro do seu Salvador. E' no lemplo que o
encontra; é ali que recebe a divina misericórdia naquele que é a
lonle das misericórdias: Suscepimus, Deus, misericordiam fuam in
medio templi fui. lnlróilo da fesla.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
i ()( ) M E D T
I AÇÕES SACERDOTAIS
__ _ _
_ _ _ ___ _ _

lama-o em seus braços. O mesmo Espirita que


con<;luzia ao templo a Jesus, Maria e José, atrai
também ao santo ancião, Êste buscava ao Salvador;
mas o Salvador buscara-o primeiro, e desejava dnr­
-se-lhe ainda mais do que Simeão desejava recebê-lo.
Feliz encontro o de uma àlma com Deus I Tendo-se
buscado muluamt:nte, vêem�se, conhecem-se e unem-se
estreitamente. Muitos viram a Jesus durante os trinta
e três anos de sua vida m�rlal; mas só foi conhe­
cido daqueles a quem o Espírito Sanlo o revelou:
Simeão teve esta felicidade. O' meu Deus, conce­
dei-a a todos os vossos ministros sagrados.
-Ef ip$e éJccepil eum in ulnas suas. Era mais do
que lhe fôra prometido: Responsum acceperaf ... non
visurum se mor/em, nisi prius videref Chrisfum Domini:
Não se tratava senão de o' vêr. O Coração de Deus
é muito diferente do nosso: dá mais do que promete;
nós sempre damos menos. Simeão toma ao Menino
Deus em seus braços: Inter brachia sua amplexans,
et ad sinum peclusque suum ardenlissime el suavis­
sime app/icans (1). i, Donde lhe vem tanta confiança?
Da sua humildade, da sua pureza, do se.u all)or, por­
que tudo isto exprimem �stas palavras: Juslus, fimo­
ralus, expecfans conso/afionem Israel. 1 Em que fogo
divino se sente abrasado. quando se vê de posse de
um tesoiro que Ião vivamente desejara, que Ião lon­
gamente esperara I Bem pode repelir com a espôsa
dos Cantares: lnveni quem diligif anima mea; fenui
eum, nec dimiffam (i). Mas nós sabemos com que
palavras manifestou a sua alegria.
O' meu bom padre, compdrai o insigne favor que
foi concedido ao santo Simeão, com o que vós rece­
beis todos os dias. Não vêdes vós debaixo das apa­
rências de pão e de vinho, o mesmo Deus lodo-po-

(1) Corn. 11 Lop, - (2) Conl. 111, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O SANTO SIMEÃO rnt
deroso, que êle via debaixo da fraqueza da in­
fância?
l São vossas mãos menos honradas que as dêle,
ou empregadas em ministérios menos sagrados? Mais
feliz sois vós; pois l não é verdade que recebeis em
vosso peito ao mesmo Jesus, que êle apertou terna­
mente contra o seu coração?

III. fruto que lira Simeão da graça que lhe é


concedida. - Desapêgo do mundo, desejos santos
do céu, zêlo ardente de propagar a salvação dos
homens, propagando o amor de Jesus. Só linha de­
sejado a prolongação de seus dias para vêr o ungido
do Senhor, e dar testemunho dêle; agora que seus
votos se realizaram, já não há nada que possa pren­
dê-lo à vida. Ouem viu e saboreou a Deus com a
luz do Espírito Sanlo, que inspira, juntamente com
uma suavidade celeslial, não sei que segurança a res­
peito do perdão dos pecados, e um pressentimento
da felicidade elerna: precisa de muita paciência para
continuar nesta vida; j tão desejável lhe parece a
morlel
O' meu bom padre, é. não seria essa luz mais pro­
veitosa para vós do que o foi para o santo velho
Simeão? A êle àbriu-lhe apenas o limbo; a vós
abriria o céu. Depois que uma comunhão fervorosa
nos deu a Jesus Cristo, l poderá custar-nos a sepa:
ração das criaturas? Ouem achou a fonte das águas,
l que irá buscar aos arroios?
Diz o Evangelho que Simeão, cheio de alegria, e
lendo nos braços aquele que tanto desejava vêr, o
abençoou: Et benedixil eum. • A bênção que nós
damos a Deus, diz Bossuet, vem da que êle nos dá.
Deus abençôa-nos derramando sôbre nós os seus
bens; nós abençoamo-lo, quando, reconhecendo que
todos os bens que temos, nos veem da sua bondade,
e qut nada podemos dar-lhe, louvamos suas infhtitas

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
tot MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

perfeições, que constituem o objeclo da nossa ale­


gria•.
O Espírito Santo, que manifesta ao santo ancião
as ocultas prerrogativas do adorável Menino, abra­
sa-o ao mesmo tempo em desejos de o tornar conhe­
cido, e logo celebra suas grandezas num cântico
sublime, que sérá repetido em todos os séculos :
Nunc dimiffis. Exalta a Jesus como luz das gentes,
glõria de Israel e salvação de lodos os povos.
Semelhantes expressões não podiam parecer
novas a Maria e a José;, contudo o Evangelho
adverte que estavam admirados ao ou\·i-las. Oh!
quanto amor há nesta admiração I i Oue excelente
modo de honrar os mistérios do Salvador I O pri­
meiro efeito do amor é fazer admirar o objeclo que
se ama. Considerar com admfração interior a prodi­
giosa caridade de Jesus Cristo, emmudecer cheio de
assombro e reconhecimento, é um louvor perfeitíssimo:
Tibi silenfium /{Jus. O' luz da luz, infundi-me tôdas.
as luzes da fé viva. Glõria de Israel, glória de Deus,
glória e ornamento do universo, ó Jesus, vós sois a
miriha glória; eu só me elevo aproximando-me de
vós. Não quero gloriar-me senão em vós, na vossa
Cruz, que me ensina o que eu valho, e nas minhas
enfermidades, que humilhando-me, purificam-me e
tornam-me menos indigno de me unir a vós. O' sal­
vação de lodos os povos, sêde a minha salvação, e
concedei-me que eu concorra eficazmente para a de
meus irmãos.

Resumo da Meditação

1. Simeão es16 preparado para a graça que


recebe no templo. - Era homem justo e timorato;
esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo
que habitava nêle, linha-o desenganado a respello
dos bens terrenos, e dirigia tôdas as suas afetções

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O SANTO SIMEÃO

para o Messias. O' alma minha, deixa-te dirigir pelo


mesmo Espírito, e só amarás, só desejarás a Jesus.
Tai foi a preparação remota de Simeão. Vejamos a
preparação próxima. Vem ao templo, movido por
um impulso do espírito de Deus. Vamos ao templo,
à oração, não por hábito ou rotina, mas guiados
pelo espírilo de fé.

li. Oual é a graça que Simeão recebe no


templo. - Encontra o Messias, reconhece-o, toma-o
nos braços. i Feliz encontro o de uma alma com
Deus! Tendo-se buscado mutuamente, encontram-se
e unem-se eslreilam_enle. é Ouanlos viram a Jesus,
sem o conhecer?
- Simeão recebe mais do que esperava; Deus
dá mais do que promete. O santo ancião toma o
.\1enino nos braços. O que lhe inspirou esta con­
fiança, foi o sua pureza, a sua humildade, o seu amor.
i. Oue se passou então na �ua alma? - é Não lenho
eu a felicidade de receber lodos os dias no meu
coração aquele mesmo que Simeão Ião ternamente
apertou contra o seu peito?

Ili. Ouc fruto _!i�a Simeão da graça que rece­


beu no templo. -- Desapêgo completo de tôdas as
coisas da terra, desejo do céu, zêlo ardente. Só
tinha amor à vi'da, pela esperança de vêr o Messias;
1iÍU·O.
O' terra, já não possuis nada que o detenha !
Ouem ama deveras a Deus, precisa _de muita paciên­
cia para viver. Oh I que suave deve ser a morte,
depois de uma fervorosn comunhão I O Espírito
Santo, que descobre ao santo ancião tôdas as gran­
dezas de Jesus, abrasa-o em desejos de o -tornar
conhecido. Por isso prorrompe num cãnlico em que
o exalta como luz das gentes, glória de Israel e sal­
vação de lodos os povos. O' Jesus, sêde a minha

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
l04 M K D T I AÇÕES SACERDOTAIS
___ _
_ ___ _ _ _

salvação, e concedei-me que eu contribua para a sal­


vação de meus irmãos.

XVIII MEDITAÇÃO
Profecia de Simeão a respeito de Jesus
e de Mária

1. Jesus será a ruína de muifos e a ressurreição de muifos.


II. Será objecfo de con!rndição.
Ili. A alma de Maria 55. será fraspassada por uma espada
de dõr.

Os mesmos prelúdios que na meditação XV.

I. Ecce posilus esf · hic in ruinam, ele. -- De,


pois que o santo velho Simeão satisfêz a sua devo­
ção, publicando o glorioso destino do Menino que
tinha nos braços, entregou-o a seus pais, que esta­
vam alegres pelo que tinham ouvido. Mas a alegria
dêsle mundo, ainda a mais pura, é de pouca dura­
ção. i Oue aflição lhes não causariam as últimas pa­
lavras do profeta I E' a Maria direclamenle, é ao
seu coração de mãe que as dirige: Dixif ad Ma­
riam mafrem ejus. • Êsle filho que vos é Ião caro;
êsle Deus, feito homem para salvar a lodos os ho­
mens: ai! não os salvará a lodos; será para muitos
objecto dei escândalo; oh l para quantos será oca­
sião de ruína• 1 O Salvador das almas ser ocasião
de perdição de almas, não de algumas sõmenle, mas
de um grande número, mulloruril, ! triste mistério da
perversidade humana! E isto já fôra profetizado:
Erif Dominus in laqueum ef in ruinam habilantibus

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PROFECIA DO SANTO SIMKÃO

Jerusalem: e/ offendenl ex eis plurimi, el cadenl, e!


conferenfur ( 1).
S. Paulo mostrava êsle oráculo já cumprido no
seu tempo; e nos nossos dias não o está menos:
Offenderunf in lapidem offensionis, sicuf scripfum
esf: Ecce pono in Sion lapidem offensionis e/ pe­
fram scandali (2). Os judeus não quiseram receber
o Messiás: Et sui eum non receperunf. Recusando
a luz e rejeilando a salvação, tornaram-se mais cul­
pados e desgraçados pelo abuso que fizeram dos
meios de salvação que lhes eram oferecidos. E' por­
tanto verdade que Jesus Cristo (em sido ocasião de
ruína: mi;is para quem? Para cegos voluntários, para
homens ingratos e invejoscs, para escribas e fariseus,.
que se obslinavam em ser maus, porq1Je êle era bom,·
e não podiam perdoar-lhe os seus milagres, os seus
benefícios, a sua virtude, e a afeição do povo que
essa virtude lhe granjeava. Aqueles a quem a infi­
nila misericórdia não justifica, a êsses condena-os.
O' Jesus, i para quantos cristãos e até sacerdotes,
vós sois ainda hoje ocasião de ruína I Êles vêem a
verdade, e recusam-se ll segui-la. Vós os esperais e
incitais a vir a vós; vós os cumulais de benefícios:
mas ai! os vossas excessivos favores são Õcasião de
seus excessivos crimes, e inutilizam todos os sacrifí­
cios que fizestes pela sua Ielicidade. Calcam aos
pés o vosso sangue; obrigam-vos, mau grado vosso ,
a afastar-vos dêles e a reservar-lhes tantos tormenlos.
quantas delícias lhes tínheis preparado. Omnis qui
cecidéril super illum lapidem, conquassabilur; super
quem aufem ceciderif, comminuel i/lum (3).

li. Et in signum cui confradicefur. - Estas pa-


---------
(1) lsai. VIII, 14, 15. - (2) Rom. IX, 32, 33.
( 3 ) Luc. XX, 18.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Wli MEDITAÇÕES SACERDOTAIS
---�- -
- - -- -
- . . ·----

lavras são a explicação das precedentes. e. Porque


não salva o Redentor dos homens a lodos aqueles
a quem oferece a salvação? é. Porque não eleva tôdas
as almas justas ao grau de santidade e de glória que
lhes destinava? Porque é objeclo de contradição.
Foi-o durante a sua vida, de lôdas as maneiras e da
parle de lôdos; é-o ainda hoje. Os seus milagres, a
sua doutrina, a sua condescendência e afabilidade:
iudo nêle foi e é atacado e combalido. 1 Oue horrí­
vel contradição não sofreu ho Calvário da parle dos
pecadores! (1) Mas êsses não o conheciam: Si
enim cognovissenf, nunquam Dominum gloriae cruci­
íixissenf e). Jesus pôde dizer a seu Pai: • Perdoai­
-lhes, porque não sabem o que fazem•. Mas, i que
doloroso é para o seu coração, ver-se contradito
por aqueles que êle tinha instruído com tanlo cui­
dado, e a quem linha confiado a instrução de seus
irmãos! Amar os elogios, rejeitar as humilhações,
buscar as comodidades, não querer negar-se a si
mesmo, nem tomar a sua cruz, é contradizer a Jesus
Cristo, é combatê-lo. é. E não é, Senhor, o que eu
faço muitas vezes? Minhas palavras são por vós;
mas a minha vida é contra vós; o meu modo de
proceder está em contradição com as vossas máxi­
mas e exemplos. Não, diz Bossuel, os judeus que
levaram a sacrílega au.dácia até insultá-lo na Cruz,
não era um povo mais rebelde do que nós somos
para com aquele Senhor que estendia para êles os
seus braços (3). Ah! Se êle pudesse ainda ser atri­
bulado em sua vida gloriosa e imortal, sê-lo-ia mais
do que nunca, e da mão dos seus ministros sagra­
dos receberia as mais profundas feridas: porque o
auge da contradição é que nós, a quem êle escolheu

(1) Hebr. XII, 5. - (2) I Cor. li, 8.


e) Rom. X, 21; Bossuel, 16.ª semana. Elevação XIX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
p°ROFECIA DO SANTO SIMEÃO 40i

,,ara executar os desígnios do seu amor, muitas ve­


zes lhes pomos obstáculos ! Oui fJ!ium doces, leipsum
non doces: qui praedicfJs non furandum, furdrjs ...
nomen Dei per vos blasphemalur inter gentes ( 1).
Não se pode crer que uma d0utrina vem do céu,
quando se vê tão mal praticada por aqueles que leem
o nobre encargo de a ensinar. O' Jesus, é pois ver­
dade que eu sou vosso adversário, porque não cesso
de vos contradizer. Mas, se não me ponho de acôr­
do convosco, emquanto estou no caminho desta vida,
é. que acharei no têrmo da viagem, senão uma terrí­
vel sentença, uma rigorosa condenação? (2) Meu
Deus, suplico-vos que extirpeis do meu coração tudo,
absolutamente ludo quanto se opõe à vossa santíssi­
ma vontade·.

Ili. E( luam ipsius animam perlansibil gladius.


- O que era contradição para um Filho tão terna­
mente amado, não podia deixar de ser ·sofrimento
para o coração de sua Mãe. O marlirio de Maria
linha já começado. Já antes da profecia do santo
Simeão, sabia que a honra de ser Mãe do Redentor
lhe havia de custar 'tribulações. Mas é hoje sobre­
tudo que ela sente a ponta peneirante daquela espada
de que lhe fala Simeão, porque é hoje que se vê
obrigada a ratificar, por assim dizer, a condenação
de seu Filho, apresentando-o a Deus como vílima.
A vista da. morle nunca impressionou· lanlo a Jesus
como no Jardim das Oliveiras, pôsto que a tivesse
previsto desde o primeiró instante da sua vida, por­
que ali teve que dar um consentimento mais explícito
à sentença dada por seu Pai: Non mea volunfas
sed lua fiai. Também Maria SS. no templo é que se

( 1) Rom. li, 21.


(2J Mallh. V, 25, 26,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
108 MEOITAÇÕES SACERDOTAIS

comove mais vivamente das dôres dêsle querido Fi�


lho, porque ali leve de abandoná-lo solenemente à
jusliç,a de Deus e à crueldade dos homens. Desde
então experimentou na sua alma um combate que li­
nha alguma semelhança com a agonia do Salvador.
Como o zêlo em qne se abrasava pela nossa salva­
ção, lutava no seu coração com aquele extremoso
amor que linha a Jesus, era cruelmente atormentada
por movimentos Ião conlrários.
O' Maria, 1 que lágrimas derramastes; que angús­
tias sofrestes por nossa causa ! é. Como ousamos nós
invocar-vos, sendo a causa de Ião cruéis tormentos?
A-pesar dos nossos crimes, amais-nos sempre, porque
somos sempre amados de vosso Filho. Sêde pois
sempre junto dêle a nossa poderosa advogada e.
Mãe. Alcançai-nos que não aflijamos mais o seu di­
vino Coração, mas sim, como vós, o-. sigamos com
fidelidade al.i: aos pés dessa Cruz que hoje se vos
apresenta.

Resumo da 1\\editação

I. Jesus será a ruína de muitos. - i O Salva­


dor dos homens ocasião de ruína não de alguns,
mas de muitos! Triste mistério da perversidade hu­
mana! Aqueles a quem a misericórdia não justifica,
condena-os. O' Jesus, 1 para quantos ainda agora,
sois vós pedra de escândalo! Vossos ex,essivos fa.
vores são ocasião de seus excessivos crimes.

li. Jesus será objeclo de contradição. - Foi-o


durante a sua vida, e de todas as maneiras; é-o
ainda hoje. Seus milagres, sua doutrina, sua bon­
dade: ludo nêle foi,. ludo é combatido. i Oue horrí­
vel contradição no Cal.vário ! Mas ali não era co­
nhecido. Amar os louvores, repelir as humilhações,
não querer negar-se a si mesmo, nem tomar a sua

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PROFECIA 00 SANTO SIMEÃO i09
cruz, é contradizê-lo. e.E não é o que eu faço inces­
santemente?

Ili. A alma de Maria será traspassada por


nma espada de dôr. - O martírio da 55. Virgem
tinha já começado. Ela sabia o, que lhe havia de
custar a honrei de ler por filho ao Redentor do
mundo. Mas hoje, i que novas e lrisks luzes veem
juntar-se às que já linha! Apresentar a Jesus no
templo é abandoná-lo à justiça de Deus e à cruel­
dade dos homens. O' Maria, i que lágrimas derra­
mastes, que angústias sofresle"s por nossa causa!

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
§ 2.º

V ró p r lo d os S a n tos

XIX MEDITAÇÃO
30 de Novembro. - S. André

1. Seu amor à cruz.


li. Molivos dêsfe amor.
Ili. Seus admiráveis efeifos.

I. Amor de S. André à cruz. - O Salvador,


caminhando ao longo do mar de Galiléia, e vendo a
dois irmãos, Pedro e André, disse-lhes que o seguis­
sem: Venife posf me; era o mesmo rque chamá-los
para a cruz. Com efeito ambos morreram pregados
nela; mas se Pedro a aceitou com amor, André
pediu-a com ardor.
Depois de sofrer tôda a espécie de fadigas e tri­
bulações que traz consigo o apostolado exercido no
meio dos povos bárbaros da Scítia e da Trácia, o
seu desejo de padecer ainda não eslava satisfeito; e
não o estará senão quando exhalar o último suspiro
na cruz.
foi em Palras,: na Acaia, que foi condenado a
êsle género de morte, objecto de lodos os seus ane­
los. Nunca mundano algum se mostrou tão apaixo­
nado e solícito do prazer, como André dos lormen­
l�s. Está extenuado pelos trabalhos e adeanlado em
anos: contudo corre para o lugar do suplício. O seu
coração dilata-se na presença da cruz. Saúda-a,
abençôa-a e abraça-a. O bonéJ crux, exclama; ó cruz,
instrumento de felicidade mais que de sofrimento,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. ANDIIÉ IH
i quanto lempo te desejei l Diu desiderafa. é. Será
possível conhecer-te, e não te amar? Sollicife aml1lét.
Eu te procurei sem descanso: Sine inlermissione
quaesill1. Finalmente possuo-te; estão satisfeitos todos
os meus desejos. Et aliquélndo cupienli animo prae­
parl1fa. - No delírio de seu amor, êle desejaria que
a mesma alegria que o faz estremecer, fizesse tam­
bém estremecer a cruz, e que o gôzo fõsse comum
entre ambos : ila uf ef tu exuflélns suscipil1s me. -
Ouê? pregunla S. Bernardo, l é· lania a sua alegria,
que se possa comunicar à cruz? Ergone fanfa esf
exuffafio, ui exultei ef ipsél crux? (1)
Ei-lo suspenso no patíbulo, onde permanece dois
dias inteiros; e durante todo êste tempo exorta a
uma grande multidão de gente que não se cansa de
o ver e de o ouvir, Ião contente parece. Do alto da
sua cruz prega o amor à cruz, e faz amar a cruz.
Verdade é que por um instante o seu rosto se torna
sombrio, e exprime tristeza; queixa-se, mas de quê?
De que pretendam separá-lo da sua tão estimada
cruz l O juiz sobressaltado com os grilos da turba,
consente em revogar a sentença; o mártir repele
enérgicamente uma compaixão que lhe parece cruel;
e se o povo se dispuser a livrá-lo, êle recorrerá ao
céu, para afastar esta desgraça. • Meu Deus, excla­
ma, entrego-me nas vossas mãos; mas não me recu­
seis uma graça, a única que vos peço: a �raça de
morrer nesta cruz! Não, meu Jesus, não permitais
que me tirem dela, nem que me reslituam uma vida
que eu vos entreguei : Télnfummodo in hélc voce
exaudi me; ne me permiflas ah impio judice deponi.
j Oue grandeza de alma, que perseverança no amor
da cruz! Êste é, mais ou menos, o especláculo que
os sacerdotes santos leem dado ao mundo em lodos

(l) ,Serm. in vigil. S. Andr.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACKRDOTAIS

os tempos. t E é o que eu lhe dou? Herdeiro do


seu miflislério, tsou-o também do seu amor aos sofri­
mentos?

li. Ouais eram, em S. André, os motivos dêsfe


amor. - Ê.le no-lo dirá. Encarava a cruz sob trés
aspectos, e todos o deliciavam: com relação a Jesus
Cristo que a linha amado, com relação ao tesoiro
de graça que ela encerra, e com relação ao lêrmo a
que nos conduz.
l .º Os apóslolos tinham muitas vezes admirado
o amor que o Salvador mostrava aos s9frimeAtos.
Falava déles em lôda a ocasião, mesmo no meio das
delícias do T a.bor, e então as suas palavras eram
cheias de animação e alé de entusiasmo : Desiderio
desiderayi hoc pascha manducare vobiscum. t E por­
quê esfa páscoa mais que as outras? Porque esta
será seguida imediatamente ,da suà Paixão: an/equam
paliar. Chamava aos sofrimentos um banho refrige­
rante, no qual desejava impacientemente entrar, p�ra
salvar o mundo: Bopfismo habeo bapfizari, ef quo­
modo coarclor usque dum perGciafur? Tinha querido
que o Espírito Santo denominasse o dia da sua
morte dit1 dos sens desposórios, dia do júbilo do seu
coração, pois morrendo, desposava-se com a sua
Igreja: ln die desponst1fionis illius, et in die laefifiae
cordis ejus (1 ).
Santo André tirava o seu amor à cruz, do seu
amor a Jesus Cristo • O' cruz, que recebeste os
membros ensangüentados do meu Salvador, 1 que
formosa és aos meús olhos! O bont1 crux, qut1e
decorem e{ pulchrifudinem de membris Domini sus­
cepisfi ! Por ti a minha morte se assemelhará algum
tanto à sua. Eu venho a ti, recebe-me; e repara no

(1) Canl. 111, tt.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. ANDRÉ H3

!lleu direito a~ êsle Íçivor: Sou discípulo daquele


Senhor que adoramos em teus braços. Susc,pe dis­
cipulum Chrisfi • .
2.0 O preço da cruz, e o tesoiro que ela encerra,
são para o santo apóstolo, novo motivo de a amar;
é por ela que a graça se lem propagado no mundo ;
e quandd' nela fõr pregado, espera receber abundan­
tes socorros e a Íôrçl'I_ invencível que dimanam dela.
O' cruz preciosa, crux prefiosd I De. li ludo espero;
por ti tudo po�so. e. Não é verdade que saras, ferin­
do, e que honras, humilhando? Receber de ti a
morle é ser vivificado. E' por isso que eu le amo
há muito lempo, e que lanlo lenho desejado unir-me
a li. Amafor fuus semper fui ef desideravi amplecfi te.
3. 0 finalmente vê o feliz lêrmo a que a cruz o
vai condu;;:ir, e o céu que ela lhe vai abrir. A cruz
levada com paciência é efecli vamenle o carácter que
distingue os escolhidos. Ser despre-zado, pade-cer,
morrer por Jesus e como Jesus, é o caminho mais
seguro para passar do desterro à pátria celeste.
O' lenho sagrado, por ti me receberá aquele que
me remiu por ti : Per fe me recipiaf qui per te mo­
riens me redemif.
Considerada sob estes três aspectos, a cruz não
é menos amável para nós do que era para S. André.
Jesus é o nosso modelo, como era o se-u. Temos
necessidade das mesmas graças, e a cruz é o meio
de as alcançar; aspiramos à �esma felicidade, e só
a cruz nos dá direitos a ela. E contudo, e. te-mos nós
amor à cruz·? Ainda mesmo entre os sacerdotes, re­
presentantes de Jesus c-rucificado, e. quanfos não há
a quem se podem âplicar as palavras de S. Paulo:
Multi ambulanf, quos saepe dicebam vobis, nunc au­
lem e/ Bens dica, inimicos crucis Chrisfi? ( 1 )

(1) Philip. ÍII, 18.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JH Ili EDITAÇÕll:S SACEMDOTAIS

III. Admiráveis frutos que S. André fira do


seu amor à cruz. - Primeiro para si mesmo. Êsse
amor afasta de seus sofrimentos lôda a amargura, e
converte suas dôres em alegria. Coisa singular! Só
com a lembrança da Paixão, Je�us estremece, e
suplica a seu Pai que afaste dêle aquele cális; e
André no meio dos seus tormentos, vend; que se
dispõem a libertá-lo, entristece-se e exclama : Não o
permitais, Senhor: ne permiffas ! O' condescendên­
cia, ó caridade de nosso Deus e Salvador! Dara
consolar os fracos, toma as nossas enfermidades ;
para honrar os seus mártires, comunica-lhes a sua
divina fortaleza 1
Oh ! que puras e sólidas consolações leria eu
podido granjear, se em lugar de arrastar as minhas
cruzes, soubesse levá-las com amor I Sim, ó meu
Deus, eu o sei; só de mim dependeu o não ler expe­
rimentado mais vezes que aqueles que vos amam,
nunca estão sós na tribulação : Cum ipso sum in fri­
hulafione. E' da cruz que dimana a suavidade ce­
leste: ln cruce infusio supernae-suavilalis (1). E' 1ela
que clã fôrça à alma e alegria ao espírito : ln cruce
rohur mentis, in cruce gaudium spirilus (2).
Mas há·· uma coisa que o homem apostólico de­
seja mais que tôdas as consolações: é a salvação
das almas. 5. André na cruz faz prodigiosas con­
versões. Milhares d� infiéis abjuram seus êrros e
abraçam o Evangelho; até o próprio irmão do pro­
cônsul se submete a Jesus Cristo. Da cidade de
Palras, onde o apóstolo padeceu, a luz estende-se às
províncias 'vizinhas, e dentro em . pouco tempo, entre
as igrejas nascentes, a de Acaia torna-se uma das
maiores e mais fervorosas. Estes são os frutos de
salvação que produz o amor da cruz.

(1) lmil. lib. li, e. XII. - (2) lbid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. ANDRÉ H5
O' meu Deus, dai êsle amor a lodos os vossos
ministros; e vós, bemavenlurado André, implorai-o
para nós. Seguiremos, como vós, o caminho da ver­
dadeira santidade, conduziremos a êle as almas, e
sofrendo tribulações passageiras, que a unção da
graça suavizará, alcançaremos, com muitos irmãos
nossos, as delícias eternas do céu.

Resumo da Meditação

1. Amor de S. André à ci;uz.. - Foi em Palras


que o condenaram ao suplício de seu divino Mestre.
Era o objeclo de todos os seus anelos. O seu cora­
ção dilata-se à vista da cruz.
Saúda-a, abençôa-a, abraça-a. Vê nela a fonte
da felicidade. O' hona crux ! Nela se conserva sus­
penso durante dois dias, instruindo uma grande mul­
tidão de gente, que não se cansa de o vêr e ouvir,
tão feliz parece 1.. . Uma só coisa o perturba e in­
quieta: receia que o tirem de sua amada cruz, antes
de ter consumado o seu sacrifício. Os Sanfos dese­
jaram os sofrimentos: e eu procuro evitá-los!

II. Quais eram em S. André os motivos dêsfe


amor à cruz. - Considerava-a com relação a Jesus
Cristo que tanto a amou, com relação ao tesoiro que
encerra, e ao têrmo a que nos conduz. - A Cruz
recebeu os membros ensangüentados do Salvador; e
é isto que a faz �rilhar tanto aos olhos de seu discí­
pulo. - Conhece o tesoiro que ela encerra; dela
espera ludo. - finalmente contempla o céu que a cruz
lhe vai abrir. e Não tinha S. Paulo motivo para chorar,
lembrandc;i-se de que entre os discípulos do Salva­
dor, muitos se portavam como inimigos da sua cruz?

III. Admiráveis frutos que tira S. André do


seu amor aos sofrimentos. - Êste amor converte

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
H6 MEDITAÇÕES SACEBDO_T_A_IS
_______

suas dõres em alegria. Preparam-se para o liberlar,


e éle aflige-se e exclama: Não o permitais, Senhor!
Oh I quantos desgostos teria eu evitado, se, em lugar
de arrastar as minhas cruzes, as tivesse aceitado com
amorl - S. André deveu aos sofrimentos os frutos
do seu apostolado. l E a que devo eu atribuir a este­
rilidade do meu?

XX MEDITAÇÃO
o mesmo assunto. - S. André na cruz, modêlo
do sacerdote no púlpito e no altar.

Esta meditação, cuja substância é tirada do pane­


gírico de S. André por Bourdaloue, anima e dirige
os sacerdotes no cumprimento das duas principais
obrigações sacerdotais: a prêgação e a celebração
da missa. Sacerdolem oporlel o/ferre. . . praedi­
care ( 1 ).

1. S. André na cruz, modêlo do pregador.


11. S. André na cruz, modêlo do celebranfe.

1. S. André na cruz, modêlo do pregador. -


Prêgar com a autoridade que subjuga, e com a con­
vicção que persuade, e portanto prêgar com fruto:
eis a idéia que se deve formar do ministério da pa­
lavra divina. Foi principalmente na cruz que 5. An­
dré cumpriu estas (rês condições do perfeito prêgador.

( 1) Ponlil.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. ANDRÉ, MODÊLO DO SACER0OTE H7•
1. 0 Os apóstolos receberam, e lodos os padres
recebem, como primeira e essencial missão, a de
pregar um Deus ·crucificado, de anunciar aos homens
o mistério da crnz, como o único fundamento de suas
esperanças, e o inFalível meio de se salvarem: Nos
aulem prnedicamus Chrisfum cruciGxum (1). S. André
nunca o fêz com mais irresislivel autoridade do que
quando foi crucificado: CruciGxus cruciGxum prae­
dicahaf. A obrigação de tomar cada qual a sua cruz,
é o ponto mais difícil da moral evangélica; e esta
verdade não tem a mesma virtude, a mesma eficácia
na bôca de lodos os que a pregam. Os homens
querem ser instruídos nos seus deveres por aqueles
que os cumprem; e indignam-se contra aquele que
disfrutando as comodidades da vida, ousa falar-lhes
de vida penitente e mortificada. S. André pregou a
cruz, estando êle próprio na cruz. Foi isto o que
deu à sua pregação, não só a convicção que per­
suade, mas também a autoridade que subjuga com o
exemplo.
2. 0 Se um prêgador quer abalar as consciên•
cias, é preciso, diz S. Bernardo, que a sua voz, fraca
por si mesma, seja acompanhada de outra, cheia de
fôrças ; e esta voz poderosa, que atrai os espíritos e
subjuga os corações, é a voz do exemplo. Mostrai
com as vossas obras que estais inteiramente conven­
cido, e convencereis: Dabis voei fuae vocem virlqlis,
si, quod mihi suades, prius libi videaris persuasisse.
Por isso é que ·s.
André vence a infidelidade dos
pagãos. i.. Poderiam êles duvidar da convicção do
santo apóstolo, depois do testemunho que lhes dava?
lHaveria um só de seus numerosos ouvintes e es­
pectadores que não dissesse de si para si: • Se êste
homem não estivesse persuadido, não falaria, não

(1) I Cor. 1, 23.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
H8 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

procederia, não sofreria assim• ? De tudo quanto


viam e ouviam, e. que podiam êles concluir, senão que
havia nêste apóstolo alguma coisa de sobrehumano,
que só Deus podia inspirar um amor dos sofrimen­
tos tão superior à natureza do homem?
3. 0 Por isso os resultados de semelhante prega­
ção foram prodigiosos. De lôda aquela multidão de
gente reünida em redor da cruz de S. André, poucos
pagãos houve que, esclarecidos pelas luzes da graça,
e cedendo à fôrça de tal exemplo, não renunciassem
ao culto dos ídolos, para abraçar a lei de Jesus
Cristo. E êstes milhares de pessoas convertidas pas­
savam imediatamente da corrução do paganismo para
a perfeição das virtudes cristãs. e. E quem õperou
esta milagrosa transformação ? foi a fé ·num Deus
crucificado, pregada por um apóstolo crucifictido !
Eis aqui, diz S. Jerónimo, o que pode o Evangelho
da cruz, anunciado por um homem que padece e
morre na cruz!
e. Oue deverão pois fazer os pregadores, para que
a palavra divina tenha em sua bôca tôda a eficácia
que lhe é própria? Trazer em seus corpos a mortifi­
cação de Jesus Cristo : Semper morfi.icafionem Jesu
in corpore nosfro circumferenfes ( 1 ). Assim como a
vida do Salvador se manifesta nêles, assim também
se comunicará por êles: Ut ef vila Jesu manifesfe­
fur in corporibus nosfris (2). O' meu Deus, e. é assim
que eu tenho correspondido à honra que me fizestes,
de me escolher para vosso intérprete e embaixador?

II. S. André na cruz, modêlo do celebrante. -


A missa é para o sacerdote uma glória e u.m recurso
incomparável ; mas é preciso que êle se ofereça como
vítima a Deus, ao mesmo tempo que lhe oferece a

(1) II Cor. IV, 10..- ( 2) lbid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8, ANDRÉ, MODÊLO DO SACÊRDOTE H9

vítima divinà, imolada pela salvação do mundo. No


altar, como na cruz, Jesus, oferece-se todo a seu
Pai: ofere,ce-lhe o seu· corpo místico, cujos membros
principais são os sacerdotes, e juntamente o seu
corpo natural. Por isso é que 5. Paulo se julgava
obrigado a cumprir em sua carne o que foliava aos
sofrimentos do Salvador, cujo sacrifício se completa
com o nosso: Adimpleo ea quae desuni passionum
Chrisli in carne mea (1). O perfeito celebrante é o
que oferece a vítima divina que é Jesus, e o que se
oferece juntamente com êle.
São os dois exemplos que nos dá 5. André. Êle
nunca deixou de oferecer no altar o Cordeiro imacu­
lado; e coroou a sua vida sacerdotal, oferecendo-se
como vítima ·na sua cruz. Ouando o procônsul lhe
ordenou que sacrificasse aos ídolos para se livrar da
morte, deu-lhe esta resposta·: Ego omnipolenli Deo
,mmo/o quolidie, non faurorum carnes, sed agnum
immaculalum. Não se contenta porém só com êste
sacrific,io. Depois de ler cumprido o que havia de
mais essencial nb seu sacerdócio, juntou-lhe o que o
devia completar: sad-ificou-se a si mesmo. Come­
çou o sacrifício entregando-se a ,_Jesus para ser seu
discípulo e apóstolo; continuou-o consumindo-se por
Jesus nos trabalhos do ministério evangélico; e con­
sumou-o morrendo por êle na cruz.
Imitemos êsle belo modêlo, na proporção da
graça que nos é_ dada. Ofereçamos Jesus Cristo em
sacrifício, e ofereçamil-nos com Jesus Cristo. -
Consideremos como uma grande desgraça sermos
privados alguma vez, por nossa culpa, de subir ao
sagrado altar, onde tànlos inlerêsses sobrenaturais
nos chamam. No céu, na terra, no purgatório dese­
ja-se com ardor que imolemos a adorável vítima ;

(1) Coloss. 1, 24.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
t20 MEDITAÇÕES SACl':IIDOTAõ!Í

Deus para sua glória, os Anjos e os Santos para


sua alegria, a Igreja pelos frutos preciosos que disso
tira. é. E que bens não devemos nós m�smos espe­
rar? Ouando sacerdos celebrai, Deum honoral, an­
gelos laelifical, vivos adjuvai, defunclis requiem praes­
lal, e/ sese omnium honorum participem eflicil (1).
Mas não separemos o que deve estar unido.
Juntemos os nossos sofrimentos, as nossas humilha­
ções, essa morte lenta de um ministério penoso, às
humilhações, aos sofrimentos, à morte de Jesus
Cristo. Digamos-lhe com S. Paulo: Propler fe mor­
tificamur tola die; aeslimali sumus sicul oves occi­
sionis ( 2).
Sim, ó meu Salvador, eu abraço a vossa cruz,
pois é por ela q·ue exerço plenamente a mais nobre
função do ril�u sacerdócio. Há muito qut. ofereço
sacrifícios a expensas ' vossas cumpre que eu me
ofereça também. Vós sois a minha vítima, quero sêr
a. vossa; e visto que não céssais de vos sacrificar
por mim, não cessarei nunca de me sacrificar pela
vossa glória : lnfroibo in domum luam in holocaus­
fis. - Ouid esf holocauslum ?' To/um incensum, sed
igne divino. . . To/um meum consummal ignis tuus;
nihil mei remaneal mihi; foium sif lihi (3).

Resumo da Meditação

1. S. André na cruz, modêlo do pregador. -


O sacerdote recebe, como os apóstolos, a missão de
pregar um Deus crucificado; 'nunca o faz com tanta
autoridade,_ como quando êle mesmo está crucificado:
Crucifixus crucifixum praedicabaf. - Mostremos com
as nossas obras que estamos intimamente convenci-

(1) lmif. lib. IV, e, V. - (2) Rom. VIII, 56.


(ª) 5. Aug. in Ps. LXV.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
s. FRANr.1sr.o XAVIE'I

dos, e convenceremos: Ddbis voei fuae vocem vir­


lufis, si quod mihi suddes, prius libi videdris persud­
sisse. - e!. Oue deverão pois fazer os pregadores,
para que a divina palavra tenha em sua bõca tõda a
eficácia que lhe é própria? Trazer em seus corpos a
mortificação de Jesus Cristo: Semper morlificdlio­
nem Jesu in corpore nóslro circumferenfes.

II. S. André na cruz, modêlo do celebrante. -


A missa é para o sacerdote uma glória incompará­
vel, um recurso infinito, mas com a condição de que,
oferecendo em sacrifício a Jesus Cristo, se ofereça
ele também. Por isso é que S. Paulo se julgava
obrigado a cumprir em sua carne o que faltava aos
sofrimentos do Salvador. O perfeito celebrante é o
que oferece em sacrifício a vílima divina, Jesus Cris­
to, e se oferece juntamente com o mesmo Redentor.
Isto é o que vejo em S. André. é. E poderão os
outros vê-lo em mim ?

XXI MEDITAÇÃO
3 de Dezembro - S. Francisco Xavier

Um autor disse dêste Santo: Tolus era/ Dei,


fofus proximi, fofus sui. E' o mais completo elogio
da perfeição sacerdotal e pastoral.

1. Dedicou-se inleiramenfe ao amor e ã glória cie Deus.


li. A' santificação do próximo.
Ili. A' sua própria sanlificação.

I. S. Francisco Xavier dedicou-se inleiramenfe


ao amor e glória de Deus. - Tolus era! Dei. Isto
entende-se desde a sua conversão, porque êle mesmo

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
122 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

chorou sempre os anos pelo menos' inúteis e estéreis,


que precederam o dia- em que seus olhos se abriram
à luz daquele farol evangélico: Ouid prodesf? ele.
Os Exercícios espirituais que então fêz sob a direc­
ção de S. Inácio, acabaram de dissipar as. suas ilu­
sões.
Apenas reconheceu a vaidade de ludo o que não
é Deus, só teve um desejo: amar a Deus, e ganhai:
almas para Deus.. 1 Com que intrepidez não o viram
combater logo tudo o que nêle se opunha ao com­
pleto domínio do amor divino! Mendiga de porta
em porta, sendo antes tão melindroso a respeito da
honra mundana; presta aos enfermos nos hospitais
os serviços mais humildes, sendo antes Ião arrogante
e tão ávido de consideração. i Oue saciiÍicio se não
impõe, quando se desvia da sua pátria, que não tor­
naria a ver, e passando não longe do castelo de
Xavier, recusa ir despedir-se da sua familia! (1)
Um homem Ião desapegado das criaturas estava
admiràvelmente dispõsto para o santo amor de Deus,
e nêle se abrasou. Aparecia muitas vezes com o
rosto inflamado, os olhos banhados em lágrimas, e
saía nestas palavras ardentes que eram como cente­
lhas do fogo interior: • O' Santíssima Trindade.!
O' meu Jesus ! O' Jesus do meu coração • I Êle
desejaria derramar o sangue, para evitar uma ofensa
à divina Majestade. •Tenho horror à vida, escrevia
a um amigo ; antes queria morrer do que ver tantos
ultrajes feitos a Jesus Cristo, sem os poder impedir
nem reparar•. 1 Oue sofrimentos não suportou para
levar ao longe e por tôda a, parte, se pudesse, o
conhecimento e o amor de Deus! E depois de tantas
fadigas, julgava nada ter feito. Ouviam-no durante

(1) A mãe do Sanlo consla que morrera onze anos anles.


N. do E.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISCO XAVIER

as suas meditações e orações soltar suspiros acom­


panhados destas palavras: Quis mihi dei ui moriar
pro te, uf cognoscanf /e omnes fines ferrae?
Decla�ava pouco antes da morte, que tencionava,
depois de ler submetido a Deus o vasto império da
China, penetrar na Tart"ária, depois voltar à Europa,
combater a heresia e os maus costumes; em seguida
ir à África, e finalmente vollar à Ásia, para ali bus­
car e conquistar novos reinos para Jesus Cristo.
Eis aqui o zêlo inspirado pelo amor de Deus l Magna
res esf amor, magnum omnino honum. . . ad magna
operanda impellif, ef ad desideranda semper perfec­
fiora excilaf.. . Amans volal, curril e/ laefalur . ..
Amor modum saepe nescil; sed super omnem modum
fervescil. . . De impossihililafe non causafur, quia
t!uncia sihi posse ef licere arhilrafur (1).
Mas se é ês(e o verdadeiro amor, é.que devo eu
pensar a respeito do meu? Ocorre-me uma reflexão
que me envergonha. Xavier morreu na idade de qua­
renta .e. seis anos. Bastaram-lhe dez anos para exes
cutar imensos projeclos para glória do Senhor e
salvação das almas! E eu que sou sacerdote há
tantos anos, e talvez já começo a envelhecer. é. que
tenho feito por Deus e por meus irmãos? E con­
tudo, ó minha alma, é preciso escolher entre dois
caminhos: ou glorificar a Deus durante esta vida,
amando-o e fazendo-o amar, ou na outra ser objeclo
do ódio de Deus, e por lôda a eternidBde. Ah !
Senhor, .eu quero ser vosso e todo vosso. é. Oue é
que me tem impedido até ao presente, de vos 'amar?
Eu mesmo? Ouero vencer-me a mim próprio. O de­
mónio? Ouero resistir-lhe. é. O mundo e a sua estima
vã? Ouero, mais que nunca, desprezá-los.

(1) lmil. lib. III, e. V.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MF.DITAÇÕES SACl!:RDOTAIS

II. 5. Francisco Xavier dedicou-se inteiramente


à santificação do próximo: lofus erllf proximi. -
A sua caridade abrangia ludo: o corpo, a alma, o
tempo, a eternidade. Parecia não ler nascido senão
para alívio dos que padeciam : servi-los era o que
êle chamava as suas delícias. Mas o seu amor para
com o próximo distinguiu-se principalmente pelo zêlo
em salvar almas. Pode dizer-se dêle ·o que S. João
Crisóstomo disse • de S. Paulo : que o seu zêlo lhe
deu asas para correr por todo o mundo a conquistar
almas : Ouasi pennalus lofum perllgrllvil orbem.
Quando se contam as suas viagens por terra e por
mar, com meios de comunicação tão limitados, causa
verdadeira admiração que em Ião pouco tempo o
santo Xavier pudesse sequer aparecer em tantos paí­
ses diversos; e todavia lá pregou, baplizou, e admi­
nistrou os mais sacramentos; desarr�igou a idolatria,
reformou os costumes, fundou a fé e a piedade cristã.
A sua vida era arrancar ao inferno e dar ao céu
almas imortais, criadas ã imagem de Deus e remidas
pelo sangue de Jesus Cristo. Para Ião nobre fim, o
trabalho parecia-lhe descanso, o sofrimento prazer;
os perigos e as dificuldades, longe de o atemoriza­
rem, incutiam-lhe ânimo. l Querem que êle renuncie
ao intento de converter os habitantes de urna ilha
inculta? A horrível descrição que lhe fazem .dela,
só i�fl,oma os seus desejos. A ludo o que lhe objec­
lam, contenta-se com responder que, se . essa ilha
possuísse abundantes riquezas, mais de um comer­
ciante· lá leria já peneirado; e pregunla com certa
indignação se o amor das almas será menos intrépido
que o amor do dinheiro. • O mais terrível perigo,
dizia, é não ler confiança em Deus no meio dos
maiores perigos•. l Será assim que eu lenho amado
ao meu próximo? Na ordem temporal, na ordem
espiritual, l que compaixão lenho lido de seus
males?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISCO XAVIER

III. S. francisco Xavier dedicou-se inteira­


mente à própria santificação: Tatus erat sui. -
Um dos escolhos da vida apostólica e do ministério
pastoral, é entregar-se sem reserva às ocupações ex­
teriores, e esquecer-se de si mesmo. Jesus Cristo
argúi disto o bispo de Êfeso: Seio opera lua, e/ la­
borem el pafienliam luam, el quia non potes suslinere
ma/os. Há zêlo, sim; não se receia fadiga nem tra­
balho. Mas deixa-se distrair o espírito, resfriar a
alma, e endurecer o coração, porque não se lhes dá
o pão suficiente da oração e dos santos exercícios (1).
Dentro de pouco tempo a tibieza substitui a caridade:
Sed habeo adversum te, quod charilalem luam pri­
mam reliquisli: S. Francisco Xavier soube preser­
var·s.e dêsle perigo. Nunca padre algum foi mais
aplicado à sua própria santificação.
Trabalhava com ardente zêlo em santificar a seus
irmãos; mas linha também tempo marcado para con­
versar com Deus; e então esquecia o próximo, em
proveito do mesmo próximo. Estando em Gôa, reti­
rava-se para a tõrre da Igreja, para não ser interrom­
pido durante as duas horas que consagrava à medi­
tação. Nas suas viagens por mar orava regularmente
desde a meia noite até ao nascer do sol. Cumpria
com igual fidelidade os outros exercícios piedosos
que um bom padre costuma praticar: exames de
consciência, visitas ao SS. Sacramento, retiros espi­
rituais, etc. Conservando dêsle modo e aperfeiçoando
sempre a sua união com Deus, achava-se sempre em
estado de auxiliar os desígnios da divina misericórdia
a respeito da salvação das almas: san-ta aliança da
acção com a contemplação, que admiro em todos
os homens apostólicos. {Mas existe essa aliança em
mim?

(1) Aruil cor meum, quio oblilus sum comedere panem meum.
Ds. CI, 5.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ti6 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

O' i:an!o Xavier, o zêlo não se extingue lá no


céu. Sendo efeito do amor, só pode ser mais ardente
onde o amor recebe a sua última perfeição. E.' pois
pelo vosso zêlo, pelo vosso amor para com Deus e
para com o próximo, que vos suplicamos olheis para
os herdeiros do vosso sacerdócio. A glória de Deus
e a felicidade do mundo está em suas mãos; obten­
de-lhes a graça de se persuadirem bem disto. E. para
que sejam capazes de cumprir a sua grandiosa missão,
alcançai-lhes também a graça de se dediéarem intei­
ramente ao amor e glória de Deus, ao amor e santi­
ficação do próximo, e à sua própria santificação.

Resumo da Meditação

I. S. francisco Xavier dedicou-se inteiramente


ao amor e glória de Deus. - Depois que reconhe­
ceu a vaidade das criaturas, só leve um desejo: amar
a Deus e ganhar almas para Deus. 1 Com que ardor
combate em si ludo o que se opõe ao c;:ompleto do­
mínio do amor divino! 1 Oue trabalhos não padece
para levar ao longe o conhecimento e amor de Deus!
Bastaram-lhe dez anos para realizar tão grandes pro­
jecfos para a glória do Senhor. E. eu, sacerdote hã
tanto tempo, l que tenho feito por Deus?

li. S. francisco Xavier dedicou-se inteiramente


ao amor e santificação do próximo. - A sua cari­
dade abrange tudo : corpo, alma, tempo, eternidade;
mas o seu primeiro objedo eram as almas. j Oue
zêlo da salvação de fados I Ouasi pennafus lolum
peragravif orbem. A sua única ambição é arrancar ao
demónio e ao inferno o maior número de almas, e
dar-lhes a posse de Deus e a bemaventurança eterna.
Nada o detém para alcançar êsle fim ; os perigos,
longe de o assustarem, animam-no.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISC() XAVIER 127
III. S. francisco Xavier dedi'cou-se inteiramente
à própria santificação. - Evita um dos maiores es­
colhos da vida apostólica: esquecer-se de si para só
pensar nos outros. Tem seu tempo marcado para
conversar. com Deus, e então esquece o próximo em
proveito do mesmo próximo. Até nas viagens orava
ordinàriamente desde a meia noite até ao nascer do
sol. O' meu Deus, i quão longe estou de imitar tão
belo modélo !

xxn MEDITAÇÃO
Repetição da precedente sôbre as palavras :
Satis esf, Domine, safis esf.

O apóstolo das fndias e do Japão refratou-se a


si mesmo com êste grilo, que lhe saiu do coração, e
que exprimia:

1. Seu 11mor p11r11 c:om Deus.


li. Seu zêlo d11 s11lv11çiio d11s 11lm11s.
Ili. Su11 humildade.

l. Satis esf, Domine, salis esf: o seu amor


para com Deus.----: Nestas palavras descobre-se o
hábito, a intensidade, a pureza e o desinterêsse dêste
amor.
1. 0 Uma alma ainda frouxa na caridade, fãcil­
mente se deixa distrair e aliciar por milhares de
objedos, até durante o tempo que consagra à ora­
ção; e apenas conclui os seus exercícios piedosos,
entrega-se de novo às ocupações ordinárias, e já
quási não pensa nas coisas celestes. Não sucede
assim com um coração intimamente unido a Deus;
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MIWITAÇÕRS SACEllllOTAJS

não se separa déle com lanla facilidade. Xavier


achava e gozava por lôda a parle. daquele Senhor
que possuía lôda a sua afeição. Tanlo em público
como em 'particular; lanlo no meio da inumerável
multidão de infiéis ou novos cristãos que o importu­
navam, como na solidão ; aonde quer que fõsse, le­
vava o seu paraíso consigo, estando sempre unido a
Deus.
Algumas vezes, quando parecia mais absorto nos
cuidados de seu ministério, ouvia111-no revelar o se­
grédo de suas comunicações com Deus, e das con­
solações que então recebia, soltando ésle grilo:, Sa­
tis esf, Domine, salis esf. Entregava-se tanto às suas
ocupações, que se diria que não pensava noutra
coisa; mas durante elas conversava com Deus com
tal liberdade de espírito, que se diria que só em Deus
pensava.
2.º Amor puro e desinteressado. Deus meus ef
omnia. Ouid mihi esf in coe/o, el a le quid volui
super ferram? Tai é a caridade dos Santos. Tal foi
a de Xavier. êle só buscava a Deus. Os favores
espirituais com que o favorecia, e.ram para éle, por
assim dizer, uma carga. Sofria, por sofrer Ião pou­
co, e por achar tanto gõslo no cumprimento de seus
deveres. Preferiria servir a Ião bom Senhor, só por­
que o amava, sem ler em vista os seus próprios in­
lerésses. • Basta, Senhor, basta. Receio que as vos­
sas finezas alterem a pureza do meu amor, e que
amando os vossos dons, venha a amar-vos menos•.
Haec pura e/ defaecafa infenfio volunfafis, diz S. Ber­
nardo, quae nihil habef de proprio, sed lolum divi­
num; sic afGci deificari esl ( 1). Mas, ó meu Deu:;,
j como é raro êsle perfeito desinterêsse no vosso
amor! e. Não diz o vosso apóstolo: Omnes quae

(1) De e more Dei.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8, �'RANCISCO XAVIER 1'!9

sua sunf quaerunf? e. Achai-lo ao menos algumas ve­


zes no coração de vossos ministros sagrados? e. Não
merecerão êles a censura que fazíeis aos sacerdotes
do antigo iestamenfo,: Quis esf in vobis qui claudaf
oslia ef incendal ai/are meum gratuito? ( 1) Eu sei
que lhes recomend,ais a esperança e o amor, e que
os vossos servos mais fiéis se animaram a praticar a
vossa lei, movidos pela recompensa prometida: lncli­
navi cor meum ad faciendéls juslificélliones {uéls in
aefernum propfer refribufionem (2). Assim o farei
também, Senhor, pois a minha fraqueza assim o
exige. Mas, se o puro amor não puder ser para mim
durante esta vida um estado permanente, quero pelo
menos, com o auxílio da vossa graça, praticar ados
de amor mais freqüentes.

II. Satis esf, Domine, satis est: O seu zêlo


da salvação do próximo. - Estas palavras manifes­
tam a sua ardente generosidade, acompanhada de
discrição e paciência.
1. 0 Generosa aclividade do seu zêlo. O seu
coração está cheio das mais puras delícias; goza do
céu, em certo modo, estando ainda na terra. Mas
pensa no triste estado de tantas almas, que não co­
nhecem a Deus e se perdem; e arde em desejos de as
salvar. Teme por isso que entregando-se demasiado
às consolações da devoção, caia em uma espécie de
insensibiliclade para com seus desgraçados irmãos.
Para não perder pois um só dos instantes que pode
empregar em instruí-los e santificá-los, prefere deixar
ludo, e o mesmo Deus para trabalhar na salvação
das almas. Oh I quanto agrada a Deus êsle nobre
sacrifício!
E' como o de Aarão, que renuncia às consola-

t1) Mal. 1, IU- - (2) Ps. CXVIII, 112.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
130 l\!EDITAÇÕEB SACERDOTAIS

ções do tabernáculo, para se lançar, com o luríbulo


na mão, entre os mortos e os vivos, entre as chamas
vingadoras e os filhos de Israel, que elas vão devo­
rar (1). Não, isto não é deixar a Deus; é deixar-se
a si mesmo para achar a Deus.
2. 0 Prudente discrição, companheira inseparável
do verdadeiro zêlo. Saber limitar-se, e parar a tem­
po, não é efeito de uma virtude medíocre: Magnae
virfufis esf cum felicifafe lucfari; magnae felicifafis a
felicifafe non vinci (2).
Se mais de um padre se tem desgostado de seus
trabalhos pela salvação das almas, por causa da des­
medida l!Íeição ao sossêgo da vida interior, outros
também, impelidos pelo seu ardente zêlo, leem ido
mais longe do que era necessário. E' igual o peri­
go, ou de fazer mais do que Deus quer, ou de não
fazer tanto como êle quer. Xavier sentia que, se nãb
moderasse o seu fervor, êle o arrastaria a algum ex­
cesso, tornando-o incapaz de maior bem : • Basta,
Senhor, basta. Vós ordenais-me que seja prudente,
e eu quero sê-lo•. Mas ainda se revelam melhor nas
sobreditas palavras a sua paciência, e o desejo de
padecer.
3. 0 E' necessário amar os sofrimentos, para não
sucumbir jàmais ao pêso das tribulações que traz
consigo a vida apostólica. Xavier amava-as, e pa­
rece que o não podiam fartar; e êste é o motivo
daquele terno queixume: • Basta, Senhor, basta;
e. para que derramais Ião doces consolações sôbre
aquele que não quereria senão padecer por vós e pe­
las almas? E como estas almas vos são Ião caras, e
só pela cruz se salvam, deixai-me para as salvar,
unir as minhas pequeninas dôres às de vosso Filho• .

(1) Num. XVI, 46. - (2) S. Aug.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
----------
S. FUNCISCO XAVIER 131
----------
Xavier mostrou bem esla sua paixão pela cruz,
quando, pouco antes de partir para as fndias, mos­
trando-lhe Deus quantas tribulações sofreria para sal­
var a seus irmãos, exclamou : • Mais ainda, Senhor;
ainda mais. Aceito com alegria os perigos, as per­
seguições, as fomes, as sêdes, os frios, os naufrãgios
e as fadigas que me prometeis; ó meu Deus, dai-me
ainda mais: Amplius, Domine, amplius•.
Êsle é o heroísmo do zêlo sacerdotal. e'. E haverá
em mim alguns vestígios dêsle zêlo? Ouando se
trata de participar do ciilis dos sofrimentos de Jesus,
apenas o aproximo dos meus lábios, logo me queixo
da sua amargura, e acho que basta. Mas, quando
se trata de coisas que me agradam, e de consola­
ções, exclamo de bom grado : • Mais, Senhor, ainda
mais•.

III. Satis esf, Domine, safis est: A sua pro­


funda humildade. - Xavier desconfia de si, despre­
za-se é deseja ser desprezado : três caracteres da
sólida humildade, que as ditas palavras exprimem
admiràvelmenle.
1. 0 Os Santos quereriam, se possível fôsse, dar
a Deus tanto, quanto dêle recebem; e seria justo.
Mas, conhecendo a sua fraqueza, e sabendo que os
grandes favores do céu exigem uma grande corres­
pondência, receiam faltar à fidelidade perfeita, e ro­
gam ao Senhor que aumente a capacidade do vaso,
destinado. a conter o celeste licor da sua graça, ou
então que o derrame em menos abundância, para
que se não perca alguma gôta: • Basta, Senhor,
basta; o meu coração eslá cheio. Não permitais que
eu deixe improdutiva a mínima porção do talento que
a vossa hçmdade me confia. Antes quero receber os
vossos benefícios com parcimónia, do que estar su­
jeito ao perigo de não usar dêles santamente• . Oh !
quanto agrada ao Senhor esta súplica ! Oh ! que

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

bela homenagem prestada à liberalidade de Deu:, e à


excelência dos seus dons !
2.0 Mas Xavier não se limita a desconfiar de
si; despreza-se, e nada receia tanto como ser esti­
mado. Mostrou-o durante lôda a vida, depois da
sua conversão, Em muitas das suas cartas, chama-se
um péssimo homem, um grandíssimo pecador, e pede
a se"'s irmãos que lhe sirvam de intercessores pe­
rante Deus. • Importa extremamente para minha con­
solação, escrevia-lhes uma vez, que saibais a grande
aflição em que estou. Como Deus conhece a multi­
dão e gravidade de meus pecados, atormenta-me um
pensamento: receio que nos impeçam o bom sucesso
das nossas emprésas •. Ouanlo aos milagres que fa.
zia, afirmava que se deviam atribuir à inocência dos
meninos de que éle costumava servir-se para os rea­
lizar, ou à fé e confiança dos que os pediam.
0
3. A menor honra que lhe quisessem tribular,
cobria-o de confusão. Ouando roga ao Senhor que
modere para com êle a profusão de seus benefício_s,
salis esf, Domine, safis esf, declara que é indigno
dos favores que recebe, que treme ao lembrar-se que
o mundo os possa vir a conhecer, e a fazer alguma
estima de um pecador que só merece ser desprezado.
- • O' meu Deus, se a humildade se concilia com
o que excita mais a admiração entre os homens,
como são .as graças extraordinárias, o dom dos mi­
lagres, ele., énão deverá ser mais fácil a quem não
pode esconder a si próprio o profundo abismo de
suas misérias? Inspirai-me, Senhor, o amor do aba­
limt>nlo; fazei que eu seja bastante justo, para não
buscar dos homens senão o meu desprêzo. Para me
aniqüilar na vossa divina presença, tenho mil vezes
mais razão do que o santo apóstolo .d�s lndias,
cujas virtudes acabo de meditar. Dar-me-eis, Senhor,
tõdas as suas · virtudes, se me derdes a sua humil­
dade, a qual atrairá sõbre mim a vossa misericórdia,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, FRANCISCO XAVIER {33
e valerá para mim tanto como lodos os bens, porque
a humildade é sapienfiae solium, gra/iae pallium, glo­
riae proeludium ( 1 ).

Resumo da Meditação

1. Seu amor para com Deus. • Basta, Senhor,


bosta•, - Fôrça dêste amor. Ouando um coração
está unido ünicamente a Deus, acha-o em tõda a
parle : no tumulto dos negócios, no silêncio do re­
poiso. Algumas vezes no meio das maiores ocupa­
ções é que Xavier eslava mais possuído do divino
amor, e exclamava: Satis esl, Domine, safis esl. -
Desinterêsse dêsle amor. Não queria senão a Deus.
Sofria, por achar tanta felicidade no cumprimento
dos seus deveres. • Basta, Senhor, basta; receio
que os vossos favores alterem a pureza do meu
amor, e que amando os vossos dons, venha a 'Omar­
-vos menos a vós•.

II. Seu zêlo c;la salvação do próximo. - Goza


do céu, estando ainda na terra; mas pensa em tantas
almas que se perdem. Prefere deixar ludo, e em
certo modo o próprio Deus, para correr em socorro
delas. - Senie que o seu fervor, se o não modera,
poderá levá-lo a algum excesso, com prejuízo do que
deve às almas. - Ama os sofrimentos: _grande meio
de contribuir eficazmente para a salvação das almas;
e daí esta queixa: Basta, Senhor; basta de conso­
lação; ainda mais trabalhos e tribulações: Amplius,
Domine, amplius.

III. Sua profunda humildade. - Xavier descon­


fia de si, despreza-se, e deseja ser desprezado. • Se-

(1 ) S. Ambr. in Ps. CXVIII, 50.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS
- --
- ---- ---
nhor, eu antes quero receber os vossos bens com
parcimónia, do que expôr-me ao perigo de não usar
dêles sanlamenle•. Àlém disso, cheio de desprêzo
para consigo, nada receia fanfo como ser estimado.
l Oue faz êle, queixando-se das prodigalidades do
Senhor a seu respeito? Declara que é indigno dêsles
favores, que !reme, lembrando-se que o mundo os
possa vir a conhecer, e que estimem a um pecador,
que só merece o desprêzo dos homens. O' meu
Deus, dai-me a humildade: e/éJ é o trono déJ sabedo­
ria, o ml1nlo dél grl1Çl1, o prelúdio do. glório..

XXIII MEDlTAÇÃO
8 de Dezembro. - O privilégio da Imaculada
Conceição, considerado com relação a Maria

Tudo nêle é glória e felicidade para ela.

1. Razões que exigiam ês{e privilégio.


li. Maneira como lhe foi concedido.
Ili. Honras que lhe ocosionou.

1. Glória e felicidade de Maria nas razões


que exigiam para ela o privilégio da Imaculada
Conceição. - Estas razões eram os grandes desígnios
que Deus tinha a respeito dela. Ouando os Padres
do concílio de Trenlo trataram dcf- pecado original,
e da lei que a êle sujeita lodos os homens, declara­
ram formalmente que não era sua intenção compreen­
der e incluir nesta !riste e humilhante necessidade a
incomparável Virgem Maria. Podemos imaginar que
sucedeu uma coisa semelhante no conselho eterno
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
----------
IMACULADA
----------
CONCEIÇÃO

da San líssima Trindade, quando foi pronunciada a


sentença que condena lodos os homens a nascerem
pecadores. Cada uma das três pessoas divinas linha
suas razões a alegar para que se decretasse uma
excepção em favor de Maria.
Deus Padre via nela uma espõsa amada, que no
tempo seria Mãe daquele Filho que êle gera na eter­
nidade. é. Podia acaso permitir que ela fõsse man­
chada, nem por um instante, pela nódoa do pecado?
Deus Filho via nela sua Mãe, que êle amava já
infinitamente mais do que pode ser amada qualquer
outra mãe. Podendo dispõr da sorle dela. é. como
não faria por sua Mãe ludo quanto podia ? Salomão
vai ao encontro de Belsabé, e previne os desejos de
sua mãe: Pele, mélfer meél, neque enim Íéls esf ui
averfam faciem fu�rn.
Um Deus que escolhe mãe para si mesm�, é. será
porventura menos bom filho que Salomão? Ele sabe
o que pediria Maria SS., se existisse já, e se pudesse
pedir alguma coisa. Ouve-a dizer de antemão:
o· meu Filho, ó meu Deus, o que prefiro a tudo, é
ser sempre pura aos vossos olhos, é que nenhum
instante da minha vida, e ainda menos o primeiro,
pertença a outrem senão a vós.
Sereis atendida, ditosa Mãe, e por séculos de
séculos se repelirá: Benedicfo si/ sélncfo ef lmmél­
culafél Concepfio Beélfissimae Virginis Mélriéle. lslo
deve vosso Filho ao seu amor para convosco, e à
sua própria honra. O vosso sangue correrá nas suas
veias; é. e sofreria êle qm: o sangue divino que havia
de lavar o mundo, fõsse manchado na sua origem?
O Espírito �nlo via nela a obra prima da graça,
uma criatura em quem êle operaria mais maravilhas
que em tõdas as criaturas juntas. Ela será por exce­
lência o tabernáculo de Deus entre os homens (1);

t1) Apoc. XXI, 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
!36 MF.DITAc;ÕES SACERDOTAi;,

e o Espírito Sanl_o é o encarregado de preparar êsle


santuário vivo. Ele quer que nada falte à sua obra,
que a morada seja digna daquele que a há de habi­
tar, e daquele que é o seu arquileclo. i. E lê-lo-ia
sido, se o Divino Espírito não tivesse coberto com
sua sombra a conceição de Maria 55., para afastar
dela ainda a mais leve mácula?
Ora. i. que se pode imaginar de mais honroso
para a Virgem Mãe, do que êsses lílulos, êsses car­
gos, essas relações inefáveis que a uniram a Deus
Ião eslreilamente, e que exigiam que ela fõsse conce­
bida sem mancha de pecado? Êsle privilégio é por­
tanto a base em que assenta lodo o edifício de suas
grandezas: exige, por assim dizer, lôdas as outras.
Sabendo eu que Maria foi concebida sem mancha
de pecado, não pregunlo já para quem será a glória
da maternidade divina, a incorruptibilidade no túmulo,
a ressurreição antecipada, ele. Se semelhantes dis­
tinções estão reservadas a uma criatura, não compe­
lem senão à Virgem Maria, concebida em graça e
sem mácula do pecado original.

II. Glória e felicidade de Maria na maneira


como lhe foi concedido êsle privilégio. - Em pri­
meiro lugar não é concedido senão a ela. Deus,
pródigo de seus dons, mostrou-se avaro dêsle. Há
Santos em favor dos quais Deus !ornou impolente o
furor dos leões, a aclividade das chamas, ele. Há
alguns que foram por Deus santificados no sei�
materno; mas a isenção de lôda a mácula original é
um benefício só privativo de Maria.
e.E como procede Deus para a adornar dês!e
privilégio único? Se começasse de novo a criação,
dando-lhe o ser imediatamente, como o deu ao pri­
meiro homem, eu não veria nesta milagrosa conceição
mais que uma derrogação da lei que êle estabelecera
para a propagação do género humano. Mas não é

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
---------- ---- - - - - -!3i
IMACULAnA COl(C.EIÇ.\O
-
assim. De pais manchados como os outros homens
nascerá Maria tôda pura; de uma fonte corrompida
Deus fará sair o arroio mais límpido e cristalino.
Oh! quantas maravilhas nesta grande maravilha!
O demónio prende em suas cadeias .lôda a descen­
dência de Adão; só uma menina lhe escapa, e essa
lhe esmagará a cabeça! Um fogo abrasador assola
ludo; e no meio do incêndio geral, só uma vergôntea
fica inlacla: não só não é queimada nem lisnada, mas
antes produz a mais bela das flores, e dá um fruto
que será a salvação dos povos! Um tirano furioso
desola tôda a lerra, e estende por lôda a parle a sua
cruel dominação; só uma cidade lhe resiste e vem
a ser a senhora do universo! Esta menina, esta ver­
gõntea, esta cidade é a bemavenlurada Virgem Maria.
O' cidade de Deus, j que grandes e gloriosas coisas
se dirão de vós 1 (1)
finalmente, c1. quais são as preciosas prerrogativas
que Íoram o complemento ou as conseqüências dêsle
privilégio? Plenitude de graças e dons espirituais,
que desde êsle primeiro instante eleva a santidade de
Maria acima da dos maiores Santos; perfeito uso da
sua razão e de tôdas as faculdades desde aquele pri­
meiro momento; isenção da concupiscência e de
outros funestos efeitos do pecado original; abundân­
cia de luzes sobrenaturais; facilidade em adeantar
continuamente nos caminhos mais sublimes da santi­
dade, por uma perfeita correspondência a lôdas as
graças que recebe, sem que a menor imperfeição
venha jàmais deter os seus progressos.
Maria, logo depois de concebida, é já, segundo a
expressão dos Santos Padres, prt1esfanfissimum uni­
versi orbis mirt1culum, t1byssus miracuforum, fofo mi­
raculum. E' já, diz 5. João Damasceno, um mundo

(1) Gloriosa dich1 sunl de te, civi(as Dei. Ps. LXXXVI, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS
- --
� -----------'------ - - - -- - --
cheio de magnificência, a mais admirável obra da
criação : Ouam mundus isfe magnificus ! Ouam sfu­
penda creafio ! ( 1 )

III. Honras tribufadas a Maria por motivo do


privilégio da · sua imaculada conceição. - Nada
mostrou melhor quanto o culto da SS. Virgem eslava
arraigado nas almas, do que as controvérsias que se
levantaram a respeito dêsle seu privilégio. Foi como
no princípio do Cristianismo, quando a heresia ousou
contestar-lhe a qualidade de Mãe de Deus. Desper­
tou-se o entusiasmo por tõda a parte.
O clero e os fiéis, as universidades e os monar­
cas pelejaram com ardor contra uma opinião que,
ferindo a honra de Maria SS., feria o coração de
seus filhos. Nunca foram pronunciados tantos dis­
cursos, nem escritos tantos livros, nem feitas tantas e
tão solenes manifestações em honra de Maria, como
então.
O mesmo sucedeu nos nossos dias, quando uma
decisão dogmática e irreformável veio consagrar
esta crença, declarando-a por dogma de fé. é. Oue
se viu naquela data? é. Oue sucedeu em Roma e em
tõdas as partes do universo, onde a auloridade da
Igreja é respeitada? l Oual foi o coração católico,
que não eslremeceu de alegria, e não deu o seu tes­
temunho de dedicação filial ao cullo de Maria Ima­
culada?
Virgem SS., l pode alguém amar-vos, sem se r�
gozijar da vossa glória ? O bem da Mãe é o bem
dos filhos; o pensamento da vossa felicidade faz-nos
esquecer as nossas penas, e ajuda-nos a suportá-las.
Sim, nós damos graças ao Senhor convõsco, pelas
grandes coisas que fez em vosso favor. O' Maria,

(1) 5erm. II, in Naliv. B. M. V.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IMACULADA CONCÊIÇÃO 130
recebei as nossas felicitações; amai-nos sempre, e
obtende de Jesus Cristo, que nos tornemos menos
indignos do seu a.mor e do vosso: Caude, Virgo
gloriosa, super omnes speciosa. V(J/e, ó valde deco­
ra, ef pro nobis Chrisfum exora.

Resumo da Meditação

1. Glória e felicidade de Maria nas razões


que -exigiam que a sua conceição fôsse imaculada.
- Eram os grandes desígnios de Deus a respeito
dela. Deus Padre via nela uma espôsa amada, que
no tempo seria Mãe daquele que êle gera na eterni­
dade. Deus filho via sua Mãe, que êle amaria infi­
nitamente mais do que pode ser amada qualquer
outra mãe. Deus Espírito Santo via uma obra prima
da graça, na qual operaria mais maravilhas do que
em tôdas as criaturas juntas. Cada uma das pessoas
da 55. Trindade linha sua razão para conceder a
Maria êste glorioso privilégio. e Oue se pode imagi­
nar d� mais honroso para a Virgem 55., do que
êsses títulos, êsses cargos, essas relações com a Di­
vindade, que exigiam que ela fôsse concebida sem
mancha de pec1;1do ?

li. Glória e felicidade de Maria na maneira


como lhe foi concedido êste privilégio. - Só a ela
é concedido. E para que o milagre seja mais extraor­
dinário, Deus não começa de novo para Maria a
obra da criação; mas de uma fonte corrompida faz
sair o arroio mais cristalino. O' cidade de Deus,
i quantas coisas serão dilas para vossa glória, em
conseqüência dêsle privilégio! . . . é. E quantas prerro­
gativas serão o seu complemento? Plenitude de
graças e de dons espirituais, pe,feilo uso de tôdas as
faculdades, desde êste primeiro instante, isenção da
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1/JO MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

concupiscência, ek. Maria é já um mundo cheio de


magnificência e um abismo de milagres.

Ili. Honras tribufadas a Maria por ocas1ao


dêsfe privilégio. - Para o defender, o clero e os
fiéis, as universidades e os príncipes, rivalizaram em
zêlo; e o que se linha feito nos séculos precedentes,
renovou-se no nosso. e. Oual foi o coração católico
que não estremeceu de alegria, e não quis dar à Vir­
gem Mãe o seu testemunho de amor, quando a
Igreja proclamou o dogma da Imaculada Conceição
de Maria?

XXIV MEDITAÇÃO
O mesmo assunto. - O privilégio
da Imaculada Conceição de Maria,
considerado com relação a nós. -
Quanto nos importa fazer dêle o
objecto especial da nossa devoção

1. Por causa dos lições que dá aos que o medilam.


li. Por causa das bênçãos que alrai sôbre os que o honram.

I. Lições que encerra o privilégio da Imaculada


Conceição de Maria. - Hã nêle algumas lições que
são comuns a todos os crislãos, e outras particular­
mente acomodada� aos ministros do Senhor.
1. 0 Respira-se um perfume de inocência, quando
se reflecle neste mistério. Da parle de Deus e da
parle de Maria ludo nos prega aqui o horror ao
pecado, a estima da.graça, o desejo de uma santi­
dade cada vez mais perfeita.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IMACULADA CONCEIÇÃO UI

Deus tem tal aversão ao pecado, que ainda um


só, pôsto que efeito de uma vontade alheia, pôsto que
apagado desde o primeiro instant�, teria obstado aos
grandes desígnios que linha a respeito de Maria.
Pelo contrário, a graça é de tal preço a seus olhos
divinos, que, desejando dotar uma criatura mais que
tôdas as outras, lhe dá a graça antes de tudo, com
preferência a tudo, para que seja todo o seu bem.
'-Anles de ludo. Deus não pensa em conceder­
-lhe algum benefício, antes de lhe dar a graça; não
pode sofrer que esteja sem ela nem por um instante.
- Com preferência a tudo. Oh ! prodígio inefável!
Deus vai descer ao meio dos homens; precisa de ler
Mãe, e ostenta em favor dela o seu poder, a sua
sabedoria, as suas perfeições. l E que faz por ela'?
Dá-lhe a graça ; é o que tem de mais precioso nos
seus tesoiros ; e sendo Deus, parece•lhe contudo ler
feito bastante em favor da mais amada de suas cria­
turas ! - Para ser todo 0 seu hem. Maria será
cumulada dos bens da groça, e só desses. Não terá
parle nas riquezas, nos prazeres e nas honras que
outros tanto cobiçam; e só com os bens da graça,
não só nada lhe faltará, mas da sua plenitude po­
derá enriquecer a todos os homens. Isto é o que
Deus pensa a respeito da graça. l E que idéia le­
nho eiJ formado dela até este dia? é, Tenho prefe­
rido êste grande bem a todos os bens, para mim e
para meus irmãos?
Julguemos da estima que fêz dela a Virgem pru­
dentíssima, pelo cuidado que leve em conservá-la,
pelo seu zêlo em corresponder a ela; e confundamo­
-nos pelo contraste do nosso proceder com o seu.
Maria SS. não participou da nossa degradação mo­
ral; tôdas as suas tendências são para o bem. E to­
davia ela toma tõdas as precauções, que só a nossa
fragilidade nos for.na Ião necessárias: fuga do mun­
do, vigilância sõbre si mesma, penitência austera, tra-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:MEDITAÇÕES SACl!:RDC.TAIS

balho contínuo, oração fervorosa. Ela é cheia de


graça desde o momento da sua conceição; e con­
tudo, bem longe de confiar nos abundantes dons que
recebeu, dispõe-se continuamente a receber outros
novos; passa sem cessar de um merecimento a ou­
tro; cada instante da sua vida vem aumentar o seu
tesoiro. Nós também não devemos furtar-nos a esta
dupla obrigação. As nossas imprudências expõem­
-nos a perder a graça, e as nossas imperfeições im­
pedem-nos o aumento das riquezas espirituais. Com
a vigilância de Maria as graças que recebemos, se­
riam baslanle eficazes para nos preservar de peca­
dos; com a sua fidelidade seriam baslanle abundan­
_tes para nos elevar à perfeição do nosso santo es­
tado.
2. 0 Instruções ou lições apropriadas aos minis­
tros do Senhor. Maria devia ser a mais pura das
criaturas, preservada do pecado origin!'ll, confirmada
em graça, adornada de tôdas as magnificências da
graça divina, mas porquê? Porque havia de ler as
mais íntimas relações com Deus infinitamente santo.
é. E não é o destino do �acerdole, sob êste aspecto,
comparável ao de Maria? Gerson pôde dizer: Tam
divina esf Maria, ui quidquid Scripfura dicif de Sa­
pienfia aeferna, Ecclesia dica! de Maria. é. E não'
poderemos dizer também do sacerdote, com S. Am­
brósio : Oui sacerdofem dicif, divinum prorsus insi­
nuai virum? l Não está êle, guardada a devida pro­
porção, associado, como a Virgem Mãe, ao Padre,
ao filho e ao Espírito Santo, para a obra da Re­
denção?
Para trazer dignamente em seu seio virginal ao
Verbo Divino feito carne, não bastou que Maria
fôsse concebida sem pecado ; foi necessário que o
Espírito Santo a preparasse ainda para tal dignidade,
dando-lhe uma nova plenitude de graça: Ut dignum
Fi/ii fui habilaculum ellici mererefur, Spirilu Saneio

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-----------
IMACULADA CONCEIÇÃO

cooperante, praeparasfi. E então e. que inocência de


vida, e que santidade bastará àquele que é lodos os
dias no altar, como que o pai da sagrada humani­
dade de Jesus Cristo, que a toca na sagrada hóstia
com as suas mãos, e a recebe em seu peito? Si ha­
beres angelicam purilalem e/ Sancfi Joannis Bapfis­
fae sanclilafem, non esses dignus hoc sacramenfum
accipere nec fracfare (1). lno!Fensos ef immaculalos
decet Dei exisfere sacerdotes (2). Mas esteja tran­
qüilo o bom sacerdoté, porque o seu zêlo em honrar
a Imaculada Conceição de Maria, lhe alcançará a
eminente pureza que dêle exige a sua celeste vo­
cação.

II. O privilégio da Imaculada Conceição, fonte


de bênçãos para os que a honram. - O que_ mais
consola, principalmente aos servos e devotos de Ma-·
ria SS., é a convicção sàlidamenle fundada, do vali­
mento sem limites de que ela goza junto do Senhor.
Se a Virgem poderosa estiver· a favor dêles, c1, quem
estará contra êles? Esta é a razão por que procu­
ram constantemente ganhar cada vez mais a sua
afeição. Ora, c1, como duvidar que ela recebe com
especial· satisfação as honras tributadas ao privilégio
da sua conceição imaculada? Ela tem gôsto em que
os nossos louvores se unam aos seus, para dar gra­
ças a Deus por um benefício, cujo preço e valor bem
conhece. Porém é muito pouco para o seu reconhe­
cimento repelir sempre : Magnificai anima mea Do­
minum. E' preciso que diga a tôdas as criaturas in­
teligentes : Magnifica/e Dominum mecum .- e responder
a êste convite que nos faz, é merecer e participar
abundantemente dos .tesoiros de bênçãos de que ela
é dispensadora.

IV, e. V. - (2) Cone. Tole(. IV, e. X.


(1) lmif. lib.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTA.18

S. Francisco Xavier, Santa Teresa de Jesus,


S. Afonso Rodrigues, o B. João de Ávila e muitos
outros Santos, falavam por experiência, quando afir­
mavam que se obtém de Maria ludo quanto se quer,
honrando especialmente êsle privilégio, que é o da
sua maior predilecção. Oh I quantas tentações ven­
cidas, quantas calamidades debeladas, quantos pro­
dígios operados por êste simples ado de fé : Maria
foi concebida sem pecado original; ou então por esta
oração tão simples e terna: O' Maria, concebida sem
pecado, rogai por nós qúe recorremos a vós! Lem­
bremo-nos d� Meclalha MilagroslJ, Ha Arqui-Confraria
de Nossa Senhorà das Vitórias, e das santas indul­
gências concedidas pela Igreja em favor do Escapu­
lário da Imaculada Conceição ( 1).
Conformemo-nos pois com os desejos de nossa
Mãe Santíssima, e vejamos o que poderemos fazer,
para honrar e levar outros a honrar ês(e que é o pri­
meiro dos privilégios da Virgem Senhora. Ouanlo
mais devotos Alhos rios mostrarmos, mais experimen­
taremos os efeitos de sua ternura maternal. Aproxi­
ma-se o nosso derradeiro dia. Dentro em pouco
soará a hora tremenda, em que daremos conta de
tantas obrigações, de tantos meios de salvação, e
também (ai I de nós 1) de tantas infidelidades I t1. E quem
nos protegerá nesse terrível momento? 1 Feliz o sa­
cerdote, que puder dizer com grande confiança à Mãe
do se4 juiz supremo r • Eu falei por vós. ó Maria,
agora falai vós por mim ; eu sempre defendi a vossa
causa, defendei vós a minha ; lenho-vos amado, e
lenho procurado que outros vos amem, salvai-me• !
Renovai a vossa consagração a Maria, e a reso­
lução de praticar com fervor, de propagar com zêlo
a devoção à sua Imaculada Conceição.

( 1) Veja-se no fim dêsle volume urna inslrução II respeilo


dêsle Escapulário.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IMAf.lJLADA í.ONC.EIÇÃO

Resumo da Meditação

1. Lições que encerra o privilégio da Imacu­


lada Conceição. -- Tudo aqui nos prega o horror ao
pecado, a estima da graça e o desejo da perfeição.
- Deus !em tal aversão ao pecado, que a mais pe­
quenina mácula, ainda que apagada imedialamenle,
leria obstado aos seus desígnios a respeito de Maria.
- Para a dolar mais que a lõdas as criaturas, dã-lhe
a graça antes de ludo, com prefcarência a ludo, para
ser lodo o seu bem. Isto é o que Deus pensa relati­
vamente à graça. e. E que penso eu? - E Maria 55.,
oh I que grande estima tem da graça! Por isso em­
pregou lanlo cuidado em conservar, e lanlo zêlo em
cultivar êsse precioso lalenlo. Maria nada !em a te­
mer, e contudo não há precaução que não tome.
E eu, que lenho ludo a temer, exponho-me impruden­
temente 1 - foi-lhe necessária muita santidade, para
trazer o Verbo incarnado em seu seio. i E não é a
mesma humanidade sagrada que eu !orno presente
no aliar, e tomo em minhas mãos, e recebo em meu
peito·?

li. Graças que nos alrai o nosso zêlo em hon­


rar a Imaculada Conceição. - Maria pode ludo, e
nado nos ganha lanlo a sua afeição, como o nosso
zêlo em honrar um privilégio que lhe é Ião caro.
Ela deseja vivamente que a ajudemos a pagar a di­
vida de reconhecimento que conlraíu pela recepção
de Ião grande beneficio. Por isso muitas tentações
foram vencidfls, e muitos prodígios alcançados com
esta invocação: O' Maria concebidt:1 sem pecado,
rogai por nós, que recorremos a vós 1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
H6 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

XXV MEDITAÇÃO
21 de Dezembro. - S. Tomé. - Misericórdia
do Salvador para com êste apóstolo
1. N11 paciência com que soíre II sua incredulidade;
li. No bondade com que a combale;
III. Na vifóri11 que alcança sôbre ela.

I. Paciência de Jesus Cristo com o seu após­


tolo incrédulo. - A culpa de Tomé era enorme. De­
pois de lodos os discursos e milagres de seu Mes­
tre, convencido du sua divindade, e lendo-o muitas
vezes ouvido anunciar a sua ressurreição para o ter­
ceiro dia, a notícia que de tal milagre traziam as
santas mulheres, não devia surpreendê-lo, mas antes
causar-lhe a mais viva alegria. Mas Tomé julga isso
um sonho; e rejeita com 'O mesmo desprêzo o teste­
munho dos discipulos que viram ao Senhor ressus­
citado.
Para Tomé não passam de visionários e espíri­
tos fracos, S. Pedro, S. João e os outros apósto­
los: só êle se considera espírito forte. i Oue sober­
ba, que orgulho, que presunção I Ouer ditar leis ao
supremo Senhor, e impõe-lhe as condições a que de­
verá submeter-se para obter a sua fé na ressurreição:
Nisi videro in manibus ejus lixuram clavorum; e!
miffom digilum meum in locum clavorum, ef milfam
manum meam in latus ejus, non credam (1). j Oue
atrevida e sacrílega pretensão! Declara nada menos
que, ainda que visse e ouvisse a Jesus Cristo, não
se daria por vencido; é preciso que o apalpe à von-

(1) Jo11nn. XX, 25.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-1 ': i

iade: Nisi millam digilum meum. . nisi milfam mll­


num meam Mas se a vista e o ouvido podem
enganá-lo, e. porque não o enganaria o lado, mais
material, mais grosseiro que os outros dois sentidos?
ê. Não parece que perdeu a razão junlamenle com a
fé, non credam? Se não crê, está perdido; e. e po­
deria acaso arriscar a sua salvação com mais teme­
ridade?
Àlém disso o seu pecõdo não foi, como o de
Pedro, um êrro momentâneo; perseverou nêle por
alguns dias, a-pesar de lôdas as 41Civertências que lhe
fizeram, e de tôdas as provas que lhe deram. Neste
modo de proceder havia uma obstinação intolerável,
injuriosa para Jesus Cristo e escandalosa para qs
fracos: e o seu divino Mestre tudo suporia I Isto
era também uma grunde aflição para Maria, para o
colégio apostólico e para lôda a congregação dos
fiéis, cuja alegria era perturbada por esta criminosa
obstinação.
Mas, se Tomé recusa ouvir a Igreja, e. nao era
juslo que o excluíssem dela? Si Ecclesiam non llU­
dierif, si! lihi sicu/ elhnicus. A regra eslava traçada;
mas Jesus não permite que a sigam; inspira a lo­
dos a sua paciência, e espera. Oh ! quanto lhe custa
abandonar uma alma que êle amou e encheu de gra­
ças! i, E que meios não emprega para a !irar do
abismo em que já caíra, afastando-se dêle?

II. Bondade do Salvador no combale que dá


à incredulidade de Tomé. -Decorrem oilo dias, na
paz e felicidade para os discípulos fiéis, na agitação
e no remorso para o apóslolo culpado: Posl dies
oclo. Jesus aparece de novo; e desta vez é expres­
samente para o pecador. Condescende com a sua
fraqueza, e por um excesso de amor, concede o que
só podia pedir-se por um excesso de temeridade.
lferum eranf discipuli ejus inlus, e! Thomas cum eis.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1'18 MEDITAÇÕES SACEIIDOTAIS
---- --------- --- -
---- - - - - -- -
-
Venil Jesus j(jnuis cl(jusis, ef sfefif in media earum,
ef dixif: P(jx vabis. l E como entrou, estando fecha­
das lõdas as portas? Ei-lo in media earum, como
um pastor no meio do seu rebanho.
À vista do Salvador naquele estado glorioso, ao
som da sua voz, i que frémito de alegria na assem­
bléia ! Deinde dicif Thamae. l E era êsle que devia
ser o primeiro a atrair a atenção de Jesus? Esta­
vam presentes S. Pt'dro e S. João; e crê-se que
também ali estava a Santíssima Virgem. E não é a
nenhum dêles qu�se dirige. Atende menos à digni­
dade e ao mérito de muilos, do que à necessidade de
um só.
Eis aqui o Coração de Jesus Cristo, tal qual se
retratou nas parábolas do filho pródigo e do bom
pastor: Dimilfif nanàginfo novem 'in deserlo, ef va­
dif (jd il/(jm qu(je perier(jf. - Fifi, fu semper mecum
es . . . frafer fuu.s hic marluus er(jf, ef revixi! ( 1).
• Aproxima-te, discípulo infiel; amo-te muito; não
posso consentir que te percas. Sujeito-me ao que
exiges de mim. Sim, aqui tens as minhas mãos, que
deram saúde a tantos enfermos, e derramaram tantas
bênçãos. Aqui estão os pés que tanto correram em
busca da ovelha perdida; aqui tens êste peito que foi
aberto pelo ferro da lança ... r�para bem; e já que
te parece pouco ver, apalpa; inete o teu dedo nestas
chagas; mete a lua mão no meu peito, e entra neste
Coração que ainda te ama: mas não sejas incré­
dulo : lnfer digifum luum huc . . . affer manum fúam
e/ miffe in lafus meum, ef noli esse incredu!us, sed
lide/is•. Oh! que inefável compaixão I Oh! que
suave indulgência! Oh I que enternecedora bondade!
E vós, ministros do Senhor, é. tratais assim aos peca­
dores?

(l) Luc: XV, 31, 32.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
III. Vitória que a misericórdia do Salvador
alcança sõbre a incredulidade de Tomé. - O di­
\'ino Mestre linha-se servido do resplendor de seu
rosto para alumiar a Madalena, e segundo o hino
iilúrgico, para lhe atravessar o coração com um
dardo de amor: Currif amare saucia. Tinha-se ser­
\'ido de um olhar para fazer rebentar as lágrima.s do
apóstolo que o linha negado: Conversus Dominus
respexil Pefrum, Depois servir-se-á do seu nome
parn levar a cabo tJ ditosa transformação de Saulo,
derribado no caminho de Damasco: Ego sum Jesus
quem fu persequeris. Agora serve-se de suas cha­
gns, para converter a Tomé.
Apenas o apóstolo incrédulo loca as divinas
chagas, fica logo curado da sua infidelidade, recobra
a fé, e exclama: Dominus meus ef Deus meus!
A sua dôr e o seu amor não lhe permitem dizer
mais: a sua dôr, porque vê o seu crime; o seu
amor, porque é vencido pela bondade daquele a
quem Ião indignamente ofendeu, e que só se vinga
enchendo-o de benefícios. Mas· nestas poucas pala­
vras disse ludo. Reconhece a Jesus por seu Senhor:
Dominus meus, e até ao seu úllimo suspiro quer
servi-lo e reverenciá-lo. Reconhece-o por seu Deus:
Deus meus; já não vi verá senão para o amar e
ganhar almas para êle.
Está pois curado da sua cegueira, e é admitido
de novo entre os que serão a luz do mundo. Pode­
-se-lhe aplicar em certo sentido esta palavra da Sa­
grada Escritura: Sicul lenebrae ejus, ila e! lumen
ejus (1). As trevas da sua incredulidade ser-nos-ão
lãc úteis como a luz da sua fé.
S. Gregório vai mais longe: Pfus nobis profuif
ad lidem Thomae infideli!as, quam lides discipulorum

(1) Ps. CXXXVIII, 2.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:150 �IEDITAÇÕES SAC!sRDC,TAIS

creden!ium (' ). Oh! com que ardor rra pregar esta


mesma ressurreição, cm que êle só creu depois de
ser obrigado por um milagre de amor I Êle ensinou
o Evangelho aos Partos, aos Medos, aos Persas,
aos Scilas e aos Hircanos; e em Calamina, na lndia,
conseguiu o que tanto desejava: a glória de coroar
com o marlírio um apostolado que linha submetido
tantos povos a Jesus Cristo, pois um rei bárbaro o
mandou malar às lançadas ! Oh! com que amor
disse ainda ao expirar: Dominus meus ef Deus
meus!
Imploremos, pela intercessão de S. Tomé, aquela
fé viva e generosa que reparou Ião cabalmenle a sua
infidelidade; e visto que o Salvador se serviu de suas
divinas chagas para curar o espírito e o coração
dêsle apóstolo, não esqueçamos que no aliar rece­
bemos aquela mesma carne glorificada que lem a
virtude de curar lôdas as doenças da alma: Ouid
fom eflicdx ad curdndd conscienlide vulnera, necnon
dd purgdndt1m mentis aciem, quam Chrisli vulnerum
seduld medifolio? l2)

Resumo da Meditação

1. Paciência de Jesus Cristo com o seu após­


tolo incrédulo. - O pecado de Tomé era enorme.
j Oue soberba, que presunção! Impõe a Jesus con­
dições; 1 que sacrílega e feia pretensão! 1 Oue aflição
para Maria e para lodo o colégio apostólico ! 1 Oue
escândalo para os espíritos fracos e vacilantes!
O seu pecado não era como o de Pedro, um pecado
momenlâneo; perseverou nêle durante oito dias.
E conludo Jesus não permite que o separem da
Igreja, segundo a regra que lraçara.

(1) Horn. XXVI in Evang.


(2) 5. Be1n. in Can!. serm. LXII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. ESTÊVÃO 151

II. Bondade "do Salvador na conversão de


Tomé. - Aparece de novo aos seus discípulos reüni­
dos, e desta vez expressamente por causa do incré­
dulo. Depois· de desejar a paz a tôda a assembléia,
rnlla-se para Tomé, e diz-lhe: • Aproxima-le, meu
apóstolo; eu não posso consentir na lua perdição;
prefiro prestar-me às luas exigências temerárias. Vê,
apalpa, satisfaz-te, mas acaba por crêr • . Oh I que
sanla compaixão! Oh! que enternecedora bondade!

III. Vitória que a misericórdia alcança sôbre


a incredulidade. - Apenas o culpado loca nas di\'i­
nas chagas, recobra a fé, e exclama Senhor meu,
e Deus meu! Não pôde dizer mais; na realidade
disse ludo : reconhece a Jesus por seu Senhor, re­
conhece-o por seu Deus, e só viver.à dali em deanle
para o servir, para o amar e para lhe ganhar almas.
O' meu Jesus, 1 com que amor repelirá ainda ao
morrer o vosso mártir, que sois o seu Senhor e o
seu Deus!

131

XXVI MEDITAÇÃO

26 de Dezembro. - S. Estêvão

Sleph6nus plenus grafia e/ forlitudine, faciebat


prodigia el sign{J magna in populo . e/ non poleranl
resisfere sapienliae el spirifui qui foquebafur (').
Plenitude de graça, de sabedoria e fortaleza, fruto
de uma completa docilidade ao Espírito Santo: la! é

(1) Act. VI, 8, 1 o.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
lllWITAÇÕES SACERDOT.�IS

o elogio que a Sagrada Escrilura• íaz de 5. Estêvão,


e isto é o que o torna um perfeito ministro do Senhor.

1. Plenitude de grnça e fidelidade em seu modo de proceder.


li. Dleni(ude de sabedoria em sua prég11ção.
Ili. Plenitude de fortaleza em seu m11rlírio.

1. S. Estêvão foi cheio de graça e de fidelidade


à graça, para se preservar dos perigos do seu
ministério. - Êle era o primeiro dos diáconos, pri­
micerius diaconorum, diz S. Agostinho. Nesta quali­
dade linha a seu cargo adminislrar os bens da Igreja.
e governar as viúvas que. renunciando ao mundo, se
consagravam a Deus. Por êsles dois ofícios linha
grandes responsabilidades deanle de Deus e dos ho­
mens: deanle de Deus responsabilidades da sua
consciência, deanle dos homens responsabilidades de
sua reputação. Tanto num como noutro ofício havia
grandes perigos; mas livrou-se dêles pela graça de
que estava cheio, e à qual foi sempre fiel.
1.° Como dispensador dos bens eclesiáslicos,
tinha que defender-se de uma lentação que já derri­
bou uma das colunas da Igreja nascente, e mais
(arde havia de derribar ouIras. Na previsão das fu­
nestas conseqüências que o amor das riquezas traria
ao clero: Radix omnium malorum cupidilas, era ne­
cessário, diz S. João Crisóstomo, r:iue a êste escân­
dalo dado pelo apóslolo Judas. opusesse Deus um
exemplo que o remediasse. S. Eslêvãc foi de um de­
sinterêsse irrepreensível. Apenas começou a exercer
êste delicado minislério, não se !ornou mais a ouvir
queixa nem murmuração. Foi elogiado por lodos os
pobres, que eram igualmente socorridos. A sua ca­
ridade !ornava-o compassivo a lôdas as misérias. Só
recebia para dar; e no zêlo com que provia às ne­
cessidades de todos, só esquecia as suas. Ouando
um coração ·se entrega inteiramente à graça, com

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
g_ ESTÊVÃO

muita facilidade se eleva acima dos bens caducos da


terra, e goza de muita paz neste santo desapégo.
Siephanus plenus grafia.
2.° Como encarregado de governar as viúvas,
devia instruí-las, dirigi-las, ccnsolá-las, e tratar com
elas freqüentes vezes: outro escolho muis temível
ainda parn a virtude e honrl'I dos ministros sagrados.
Mas o Santo soube preservar-se dêle, e sempre se
distinguiu pela pureza de seus costumes.·
A sua repufação é Ião sólida neste ponto, que a
mais severa crítica tem de se calar. Mas, é. como
conseguiu êle fazer-se canonizar pela voz do povo,
num ministério em que é tão difícil escapar às ca­
lúnias?
Fiel à graça, cuja plenitude recebeu, usa de tõda
a vigilância, !orna tõdas as precauções que lhe ins­
pira o Espírito Santo. Grave sem afeclação, pru­
dente sem dissimulação, morlificado e austero sem
severidade, brando sem fraqueza, Estêvão é um ope­
rário evangélico que nunca tem de se envergonhar
nem do que diz nem do que faz: operariam incon­
fusibilem. Porta-se em tôda a ocasião com tanta cir­
cunspecção e modéstia, que ao vê-lo, julgam ver um
anjo: Viderunl faciem ejus lanquam faciem angeli.
Ora, esla poderosa graça com que conservou não só
a sua virtude, mas também a sua reputação, também
nós a temos. Sejamos pois vigilantes, prudentes, cir­
cunspectos, mortificados e dados à oração, como
S. Estêvão: e a graça de Deus nos preservará -a nós,
como o preservou a êle.

II. S. Estêvão foi cheio de sabedoria em sua


· pregação, para convencer os ouvintes. -:- Relido em
Jerusalém por causa dos seus ministérios, não pôde,
como os apóstolos, levar o Evangelho a povos lon­
gínquos; mas a chania do seu zêlo, ainda que eslava
limitado ao recinto de uma cidade, não é por isso
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Hi4 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

menos ardente. Prega no centro do judaísmo; l e


que trevas não !em a dissipar, que preconceitos a
vencer? Far-se-á uma. idéia da sua pregação pelo
seu discurso na sinagoga ( 1 ). Ali confunde os ju­
deus, lembrando-lhes os crimes de seus pais e as
desgraças que causaram, crimes que êles mesmos
também cometeram e excederam, não só malando os
profetas, mas crucificando ao Deus dos profelas!
E sendo culpados, e. como não lemem os mais terrí­
veis castigos ?
Se S. Eslêvão dissesse estas verdades em tom
arrogante e imperioso, irritaria os ânimos; mas, es­
tando êle cheio de sabedoria, temperava a dignidade
com a modéstia, e a veemência com à brandura:
• Viri fréllres ef péllres, éludife me; meus irmãos, ou­
vi-me; para vossa salvação é que Deus me inspirou
o zêlo que me anima. Eu não sou um desconhecido;
sou como vós, da linhagem de Abraão, e honro-vos
como a meus pais. Não desprezeis a minha palavra
que é a palavra de Deus, e não recuseis a graça
que êle vos oferece•.
Sem referir as suas santas conquislas e conver­
sões, o texto sagrado em poucas palavras diz-nos
muito: Et non pofer{ln( resisfere Sélpienfiéle ef spiri­
lui qui loquebélfur. Não era o homem, era o Espírito
de Deus que falava pela sua bôca. Contudo, se lo­
dos estnvam convencidos, nem todos estavam con­
verlidos. S. Estêvão vê que alguns se obstinam; e
para os salvar, o seu zêio inflama-se, e lança mão
das censuras e das ameaças divinas: • Corações
indóceis e rebeldes, l resistireis sempre ao Espírito
Santo? l Ouereis seguir até ao fim o exemplo de
vossos pais, encher a medida dos seus crimes, e es­
gotar o cális de suas desgraças? Se as palavras que

(1) Act. VII.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. ESTf;VÃO

ouvis, não servem para vos salvar, serv1rao para vos


confundir: Dura cervice et incircumcisis cordibus ef
auribus, vos semper Spirifui Saneio resisfifis; sicuf
pdfres vesfri, ifa et vos•. falar assim na presença
de homens furiosos, que se irritam com a verdade l 1),
é expôr-se a todos os perigos; mas o santo diácono
está dispõsto a sacrificar antes a sua vida do que a
atraiçoar a causa que se encarregou de defender.
Será possível matar ao homem de Deus, mas não
vencê-lo.

III. S. Estêvão foi cheio ·de fortaleza no seu


martírio, para vencer os seus inimigos. - Mostrou
a sua grandeza de alma, padecendo a morte, e per­
doando aos que o matavam. Dois milagres: um de
paciência, outro de caridade.
1. 0 Milagre de paciência. Lapidabani S!epha­
num invocanfem ef dicenfem. é. Ouereis saber o que
padece? Lapidabanf. Era um suplício cruel, reser­
vado para castigar o maior dos crimes, a blasfêmia
contra a lei. é. Ouereis conhecer como padece, e
com que divina intrepidez? lnvocanfem e/ dicenlem:
Domine Jesu. Emquanlo o sangue corre de lôdas
as partes do corpo, é, que faz êle, e em que I?ensa?
Invoca ao Senhor Jesus; só pensa em entregar a
sua alma a Deus: Accipe spirifum meum. Só o
exemplo e a graça de um Deus crucificado pode
dispôr-nos a sofrer dêsle modo. Oiçamos ao pri­
meiro mártir da S. Igreja; Video coe/os apertos ef
Filium hominis sfanlem a dexfris Dei. Nós precisa­
mos de fortaleza; a menor dôr abate-nos. Avivemos
a nossa coragem com, a dêsle grande Santo. Mos­
tre-nas a nossa fé o céu aberto: um só aclo de pa­
ciência pode introduzir-nos nêle. Vejamos ,Jesus à

(1) S!ridebanl denlibus in eum. Acl. VI, 54.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MF.lllTAÇÕF.S SACERDOTAIS

destra de seu Pai; êle contempla-nos, ampara-nos, e


coroará a nossa constância.
2. 0 Milagre d� caridade. Os inimigos fazem
cair sôbre êle uma chuva de pedras, e o santo már­
tir pede perdão para êles. Esquece o que sofre. e
só lhe dá cuidado a cegueira de seus verdugos. Da-.
rece amá-los ainda mais do que a si mesmo. Ouando
roga por si, é de pé, e com voz ordinária ; quando
encomenda a Deus os seus· algôzes, põe-se de joe­
lhos, e solta um grande brado: Posilis gçnibus cla­
ma vil voce magna dicens: Domine, ne sfafuas illis
hoc peccafum. i Quantas almas serão salvas em con­
seqüência destft caridade heróica, da qual parecia
depender a conversão de S. Paulo I Nam, si marfyr
Sfephanus non orasse!, Ecclesia Pau/um non habe­
ref: sed ideo de ferra erecfus esf Paulus, quia in
ferra inclinalus exaudilus esf Slephanus ( 1 ). Oh I di­
tosa súplica 1 1 De que suave morte ela será seguida
para o santo mártir! Ef cum hoc dixissef, ohdormivif
in Domino.
Morrer, depois de ler dado a Jesus Cristo o trí­
plice testemunho de seus bons costumes, com uma
vida irrepreensível, das suas palavras santas com uma
pregação cheia de zêlo e de sabedoria, do seu san­
i:;!ue derramado com uma constância cheia de forta­
leza, é. que mais poderá desejar um ministro do Se­
nhor? O' meu Deus, fazei que eu participe das vir­
t l! des de S. Estêvão; enchei-me do seu espírito, e
concedei-me, como a êle, que eu morra praticando a
caridade perfeita.

(1) 5. Aug. Serm. 382.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
�- ESTÊVÃO i5i

Resumo da Meditação

1. S. Estêvão foi cheio de graça no seu modo


de proceder, para. se preservar dos perigos nos
seus ministérios. - 1. ° Como dispensador dos bens
da Igreja, êle devia precatar-se da lentaçdo que ti­
nha derribado a Judas, e reparar o escândalo da
queda dêsle apóslolo, com um desinlerêsse exemplar.
O Santo não recebe senão para dar. O coração
que se entrega à graça de Deus, despreza fàcilmenle
as riquezas vãs. 2.° Como encarregado de governar
as viúvas, conserva .a sua virtude e reputação em
lôda a sua integridade.

II. S. Estêvão foi cheio de sabedoria na sua


pregação, para convencer os que o ouviam. - O
seu zêlo, limilado ao recinlo de uma só cidade, não é
por isso menos ardente. Prega com energia; mas
tempera a dignidade com a modéstia, a veemência
com a brandura: Viri fralres ef palres, audite me.
�ão era o homem, era o Espírito Sanlo que falava
por sua bõca.

Ili. S. Estêvão foi cheio de fortaleza no seu


martírio, para vencer os seus inimigos. - Morre
mártir. e perdoa. - Milagre de paciência: Lapida­
bani Slephanum. Milagre de caridade: invocanlem
ef dicenlem. Se a fé nos mostra o céu aberlci, sere­
mos capazes da mesma paciência, e do mesmo zêlo
para conseguir a salvação de nossos irmãos.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
!58 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

XXVII MEDITAÇÃO
1
27 de Dezembro. -S. João Evangelista. -Dis­
cipulus quem di/igebdf Jesus

1. Êsfe apóstolo foi o amigo predilecfo de Jesus.


li. Como se preparou para êsfe favor.

1. S. João foi o discípulo a quem Jesus


amava. - E.' êste o carácter que o distingue, e lhe
dá um lugar Ião elevado entre os Santos da nova
lei. A predilecção de Jesus Cristo para com éste
apóstolo manifestou-se principalmente na última ceia,
quando o Senhor lhe permitiu que recostasse a ca­
beça no seu peito: Oui ef recubuif in coend super
peclus ejus, e no Calvário, quando lhe deu o que
linha de mais caro no mundo, sua divina Mãe:
Ecce mdfer lud.
0
1. Para apreciar o primeiro dêstes favores, é
preciso considerar as circunstâncias. A ocasião era
cheia de mistérios : era na véspera da morte de Jesus
Cristo; tudo se dispunha para a sua imolação cruenta,
e ensaiava-se para ela com sua imolação mística, ins­
tituindo o sacrifício e o sacramento do altar. O seu
amor para com os homens não conhecia limites: in
finem dilexif eos. Por outro lado, os apósfolos esta­
vam consternados, porque lhes acabava de dizer que
um dêles o atraiçoaria.
No meio desta tristeza e dêste temor, i que es­
panto não seria o dêles, vendo que João reclinava a
cabeça sôbre o peito do Salvador, e que, quando
todos estavam perturbados, êle buscava confiada­
mente um refúgio no Coração de Jesus, seu querido
Mestre! é. Poderia permitir-se semelhante familiari­
dade em !ai ocasião, sem estar certo da terna afeição
que Jesus lhe tinha?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JO.'.i.O EVANC,ELISTA

Era o mesmo Jesus, diz Bossuet, quem o atraía,


e lhe inspirava esta confiança. Êle o toma em seus
braços e o aproxima de seu divino peito. Confia-lhe
a fonte de tôdas as suas liberalidades, isto é, o seu
divino Coração, sôbre o qual lhe ordena que repoise,
como sôbre um lugar que lhe pertence. • Vem, diz,
ó meu discípulo, eu le escolhi antes de lodos os
tempos para sêres o Doutor da Caridade; vem be­
bê-la na sua mesma fonte; vem aqui receber as pa­
lavras cheias de unção, com que hás de comover a
teus irmãos. Aproxima-te dêste Coração, que não res­
pira senão amor dos homens; e para falares melhor
do meu amor, vem ::enlir de perto os incêndios do
meu amor•.
O' meu bom padre, vós possuís a Eucaristia,
possuís o Coração de Jesus. Fazei dêle, como
5. João Evangelista, vosso lugar de repoiso, no
meio das vossa·s fadigas e trabalhos. Ponde nêsse
Coração Divino que vos pertence, todos os vossos
cuidados. Ide beber nêle a única sciência desejável,
aquela que nos ensina a conhecer a Deus e a amá-lo.
5. João, diz S. Hilário, tinha sido até então apenas
um pescador ignorante, e ocupado em lidar com as
rêdes: Manibus fino occupafis, veste humida, pedi­
bus limo oh/ifis, fofus e navi. Mas depois do sôno
misterioso que .dormiu sôbre o Coração de Jesus,
eleva-se acima dos tempos e dos séculos, para ir
descobrir o princípio de tôdas as coisas, e pronun­
ciar esta sublime palavra: ln principio eraf Verb.um.
E' no Coração de Jesus que êle contempla a luz
incriada : lpse Joannes sublimium praedicalor, ef
lucis infernae a/que aefernae fixis oculis contempla­
for (1). E' sôbre o Coração de Jesus que lhe é re­
velada esta definição de Drns: Deus carifas esf.

(1) S. Aug.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
·lliO M!!!DITAÇÕKS SACl!::IDOTAIS

E' ali que aprende a grande arte de peneirar e mu­


dar os corações. A palavra do sacerdote só tem
fôrça para instruir e comover, quando é inspirada
numa sincera devoção ao Coração adorável de
Jesus Cristo .
3.º S . João recebe no Calvário o último favor
com o último suspiro do Filho de Deus. Estando
quási a expirar, êste amigo generoso dispõe de ludo
o que possui. Dá o próprio sangue aos homens, o
seu paraíso ao bom ladrão, e os seus imensos mere­
cimentos à Igreja. Só lhe resta sua santa Mãe; dá-a
ao mais amado dos discípulos, ao mesmo tempo que
entrega seu discípulo à Virgem Maria sua Mãe :
Ecce lilius luus .. . ecce ma/er lua. Em virtude desta
palavr.1, imprime no coração de Maria tõda a ter­
nura do amor maternal para com aq1,1ele que dali em
deanle será filho da Virgem 55.; e no coração do
discípulo imprime a piedade filial mais perfeita para
com a Senhora que lhe é dada por Mãe.
<'. De que dons não adorna êle ao seu apóstolo fiel,
para o tornar digno de o substituir? Oh I que santo
devia ser quem era destinado, por assim dizer, a en­
ganar o amor de Maria para com Jesus, apresen­
tando-lhe aos olhos a viva e natural imagem dêsse
Filho adorado ! Mas àlém disso, <'. que bênçãos tão
novas e abundantes não atra"iria sõbre S. João o
desejo que tinha a Virgem 55. de o tornar seme­
lhante a Jesus Cristo? <'. Não devia a caridade ,do
filho adoplivo inflamar-se conlinuamenle com a comu­
nicação daquela caridade em que se abrasava o
coração de Maria?
A Mãe de Deus no Calvário ficou constituída
Mãe de lodos os cristãos, mas parlicularmenle Mãe
dos sacerdotes. Se S. João na sua qualidade de
discípulo, representava o corpo dos fiéis, na· sua
qualidade de apóstolo representava os sacerdotes.
Sim, lodo o bom padre pode dizer consigo: O co-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOÃO EVANGELISTA i6i
ração do Verbo incarncido pertence-me; Maria é
minha Mãe; eu sou o amigo e prediledo de Jesus.
- Mas, lque fazer, para corresponder a. lãa grande
favor?

II. l Como se preparou S- João para vir a


ser o amigo de Jesus? - A sua pureza e fidelidacle
explicam, na opinião dos Santos Padres, a divina
predilecção de que foi objeclo. Porque foi virgem,
'eve o privilégio de repoisar no peito de Jesus; por­
que foi inabalável na sua Lidelidade, foi-lhe dada por
_\\ãe a Virgem Maria.
1. 0 De todos os discípulos do Salvador, sendo
5_ João o único yirgem. por estado, não admira que
tivesse, com preferência aos outros, a qualidade de
discípulo amado de Jesus: Oui di/igil cordis mun­
diliam, habebif amicum regem. Nipguém linha mais
direitos à ternura de Jesus, filho, mestre e modêlo da
\·irgindade, do que um apóstolo que, freando virgem,
linha com êle mais semelhança. l A quem convinha
mais a honra de se reclinar no peito do Rei dos
anjos, senão àquele que mais se assemelhava aos
espíritos bemavenlurados? Se alguém devià ser o
confidente de um Deus três vezes santo, e conhecer
os seus segredos, era cerlamenle o discípulo que
pela pureza do seu coração, merecia já vêr 'a Deus:
Beafi mundo corde, quonkim ipsi Deum videbunf.
Tai foi o primeiro lílulo de S. João à predilecção do
Salvador: Di/igebaf eum Jesus, quor;iiam specialis
praerogafiva casfifafis ampliori dilecfione feceraf
dignum (1). O segundo foi a fidelidade.
2.° Fãcilmenle se consente em tomar parle na
prosperidade dos amigos; mas dificilmente no infor­
túnio, Muitos discípulos seguem a Jesus até à ceia,

(1 ) S. Greg. Nyss.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

poucos até à Cruz. Somos-lhe fiéis, emquanlo nos


aplana o caminho e nos leva nas asas da sua graça.
Chega porém a hora do sacrifício; é preciso fazer
um esfôrço, e sofrer um desgôsto: e folia a cora­
gem, e retrocede-se à vista do cális ! Era ali que Je­
sus Cristo nos esperava; à nossa constância estava
ligada a sua graça; a de S. João foi magnificamente
recompensada. Todos os outros abandonaram o seu
Mestre; só êle o acompanha alé ao pé da Cruz, e
ali se conserva éom uma perseverança invencível.
Jesus antes de morrer, quer dispôr de um tesoiro
que possui. e.Para quem será senão para o mais
constante no seu amor? Cum vidissef ergo Jesus
Mafrem e/ discipulum slanfem quem diligebal, dicif
Ma/ri suae: Mulier, ecce lilius fuus.
Tornemos uma resolução. Nós sabemos como
S. João conseguiu o favor do Filho de Deus, e
como tembém nós podemos consegui-lo. O' santa
pllreza, ó candura celeste, ó intrépida fidelidade nos
perigos I e. Eslimar-vos-êmos algum dia baslantemente?
Vós é que nos dais Maria por Mãe e Jesus por
amii;lo.
Subamos ao allar, e celebremos o santo sacrifí­
cio com mais fervor que de costume. Brevemente
receberemos êste Divino Coração, sô,bre o qual o
feliz apóstolo repoisou; entreguemo-nos a êle com
muita confiança. E depois da comunhão não duvide­
mos rogar a Nosso Senhor que diga a Maria SS. a
favor de cada um de nós, o que se dignou dizer-lhe
a favor de S. João Evangelista: Mulier ecce filius
fuus. S. Gertrudes afirmo que esta súplica é muito
agradável a Jesus, e que êle se compraz em atendê-la.

Resumo da Meditação

f. S. João foi o discípulo a quem Jesus amava.


- A predilecção do Salvador par� com êsle após-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOÃO EVANGELISTA !63
tolo manifestou-se principalmente na ceia e no Cal­
vário. - Na ocasião da última ceia os apóstolos es­
tavam consternados, por .causa da triste palavra que
então pronunciara o Salvador: Um de vós me há de
enfregBr. Foi então que S. João recostou a cabeça
no peito de Jesus, seu Mestre. Para usar de seme­
lhante familiaridade, devia estar bem seguro da terna
afeição que Jesus lhe tinha. O mesmo Salvador o
atraía, e lhe confiava seu adorá..-el Coração. cE que
recebeu S. João nessa fonte de tôda a luz e de lodo
o bem ? O' meu bom padre, o mesmo Coração vos
pertence a vós ; a Eucaristia vo-lo dá. - No Calvá­
rio João recebe o úllimo favor do seu adorável
amigo. Jesus agonizante dá-lhe sua Mãe, e dá seu
discípulo a Maria. Se, como discípulo, êle repre­
�entava todos os cristãos, como apóstolo representava
todos os sacerdotes.

li. l Como se preparou 5. Joãc;, para .vir a ser


o discípulo a quem Jesus amava? - Com a sua
;iureza e fidelidade. -A ternura de Jesus, filho, mes­
tre e modêlo da virgindade, eslava ganha por um
i!!póstolo que, permanecendo virgem, se tornara mais
semelhante a Jesus. - Sua fidelidade foi o segundo
motivo da predilecção do 'Salvador para com êle.
Todos abandonaram o seu Mestre; só João o se­
;uiu até ao pé da Cruz. Pureza imaculada, fideli­
:!ade intrépida nos perigos é também o que me pre­
Y.ira a posse do Coração de Jesus, o que me dará
'.\aria por Mãe.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

XXVIII MEDITAÇÃO
25 de Janeiro. - Conversão de S. Paulo.
- Contemplação

1. Confempl11r 115 pes�o115.


II. Ouvir 115 p11l11vr115.
Ili. Con5ider11r 11s ocções.

PRIMEIRO PRELÚDIO. Saulo avizinhava-se de


Damasco, 'para ali perseguir os discípulos do Salva­
dor com a mesma crueldaqe com que os linha com­
batido na Judéia, quando subitamente o cerca um
clarão de luz do céu; cai como que fulminado, e
ouve uma voz que lhe diz: • Saulo, Saulo, é. porque
me persegues•? - l • Ouem sois vós, Senhor •?
A voz responde: • Eu sou Jesus, a quem tu perse­
gues•. Saulo, cheio. de terror, diz: • Senhor, l que
quereis que eu faça•? Enlão obedecendo à ordem
q'ue lhe é dada, levanta-se, e levado pela mão,
porque lendo os olhos abertos, nada via, entra na
cidade, para saber de Ananias o que deve fazer.
Êsle restitui-lhe a visla, bapliza-o, e Saulo transfor­
ma-se no ardente apóstoló de Jesus Cristo.
SEGUNDO PHELÚuro. Imaginai a alguma distân­
cia de Damasco, uma planície· que Sauló atravessa
acompanhado de homens que o auxilia�·am em seus
projedos sanguinários.
TERCErno PRELÚDIO. Pedi a Deus conheci­
menfo e profundo sentimen-to da infinila misericórdja,
que realizou e realiza ainda todos os dias tantas con­
versões milagrosas.

1. Contemplar as pessoas. - No céu Jesus


Cristo que olha com grande compaixão para o seu

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
CON\IERSÃO DE S, PAULO 165
cruel inimigo e perseguidor, e se dispõe a fazer dêle
um vaso de eleição para o estabeleeim,ento ,da sua
Igreja e santificação de seus escolhidos: Vas ele­
cfionís esf mih; isfe, ui por/e/ nomen meum coram
genlibus ef regibus ef filiis Israel. - Na terra, em
Damasco, os fiéis assustados, que sabem da pró­
xima chegada à cidad!! , do. maior inimigo da fé, e
das intenções que. lá o levam. - Em Jerusalém vêde
os príncipes dos sacerdotes que mostram o seu con­
tentamento ao ouvirem o oferecimento que lhes faz,
e os poderes que lhes pede um homem como Saulo,
Ião capaz de servir o seu ódio contra os discípulos
de Jesus Cristo. - No caminho vêde os que acom•
panham a Saulo e que pàrecem participar do seu
furor. - Mas principalmente deveis repa_rar no mesmo
Saulo, o cl\efe, a alma de tôda aquela perseguição.
Estudai bem o seu génio violento, o seu coração
de fariseu (1), o seu extremo apêgo às antigas·tradi­
ções (2). Irrita-se, quando na sua presença se fala
da religião de Jesus Cristo; seus olhos, seu rosto,
todo o seu exterior respira ameaças, tudo anuncia
nêle um hom�m sedento de sangue, e que, tendo jà
derramado muito, necessita de derramar ainda mais:
Adhuc spirans minarum ef caedis. Reparai no seu
ar soberbo, quando avista as muralhas de Damasco ,
onde entrará brevemente. Depois vêde-o de-repente
lançado por terra, pálido, trémulo, atónito : sfupens
ac fremens; em redor dêle os outros homens espan­
tados : Viri aufem i/li qui comifabanfur cum eo, sfa­
banf sfupefacfi (3 ). Passados alguns-dias, contemplai
a Saulo, recebendo humildemente o baptismo, pre­
gando o Evangelho, e confundindo os judeus.
Admirai o poder e bondade do filho de Deus.

(1 ) Ego phariseus sum, filius ph11ris11eorum. Acl. XXIII, 6.


(2) Gal. 1, 14. - c:1) Acl. IX, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Hfü MEDITAÇÕES SACERliOTAIS

Tornai parte na alegria dos fiéis, quando consideram


no meio dêles �orno seu intrépido defensor, como seu
amigo e irmão, como zeloso apóstolo de Jesus,
àquele que ao sair de Damasco não devia lá deixar
nem um só de seus discípulos. Com êles publicai
bem alto que o Senhor é bom, e que a sua miseri­
córdia é eterna: Con.ifemini Domino quoniom bo-­
nus, quoniflm in flefernum misericordio ejus ( 1).

II. Ouvir as palavras. - As dos príncipes dos


sacerdotes, felicitando a Saulo pelo seu zêlo da lei,
assegurando-lhe a sua protecção em ludo o que em­
preender para exterminar uma religião que êles detes­
tam. - As palavras de Saulo que lhes agradece, e
lhes promete trazer brevemente a Jerusalém carrega­
dos de algemas, lodos os sequazes que puder desco­
brir daquela seita: UI si quos invenissef hujus vifle,
vii-os ac mulieres, vincfos perduceref in Jerusolem. -
Ouvi com mais atenção a voz de Jesus Cristo:
Saule, Saule. Chama-o pelo seu nome que pronun­
cia duas vezes. Foz-lhe prcguntas para o fazer en­
trar eni si, e lhe dar ocasião de refleclir sôbre o seu
indigno modo de proceder: Ouid me persequeris,?
é. Oue motivo le dei para me perseguires? Eu vivo
naqueles que tu persegues, e eu sôfro o que tu lhes
fazes sofrer. e. Oue le fiz eu? e. De que le queixas?
e. Pregunlas-me quem sou eu? Sabe que sou Jesus,
Deus feito homem para salvar os homens. Sou aquele
Redentor anunciado pelos profetas, tão desejado pe­
los antepassados. Oh I quanto me custou a tua sal­
vação I Contempla as minhas cha·gas; e decide se
mereço os teus insultos ou o teu amor. Ego sum Je­
sus quem fu persequeris!
i Oue suaves palavras estas : Ego sum Jesus!

11) Ps. CXXXV, t.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
CCÍNVF-RSÃO DE S. PAULO lfi7

1 Oue terna e penetrante censura e repreensão! Ouem


fu persequeris! E' um Deus que faz tentativas de
reconciliação, e com quem? Ego . .. fu; que compa­
ração I que oposição I Ego; que condescendência 1
Tu; que ingralidãoT Contudo eu não venho castigar
os teus crimes, venho oferecer-te o meu perdão·!
Oue responde Saulo? Domine, ó Senhor, por
tanto tempo desconhecido I O' Messias I O' Reden­
tor! 1 foi pois contra vós que eu proferi tantas blas­
fêmias! é. E vós, Senhor, perdoais-me? é. E é assim
que vos vingais de vosso ímpio perseguidor? O' meu
Senhor e meu Deus, só a vós quero servir e amar.
é. Oue guereis que eu faça? Já não lenho outra von­
tade senão a vossa: Domine, quid me vis lacere?
E�a palavra é breve, diz S. Bernardo, mas é cheia,
viva e eficaz. O' verhum breve, sed plenum, sed vi­
vum, sed ef.icax ! E' cheia de humildade, de eS'pe­
rança, de amor; é viva, pois é para o feliz vencido,
principio de uma vida tão nova, Ião generosa e Ião
fecunda; é eficaz, porque é seguida da mais completa
mudança. Entregando-se assim inteiramente à vontade
divina, um grande pecador transforma-se de-pressa
num grande Santo, e tem cerlo um magnífico destino.

III. Considerar as acções. - Limitemo-nos às


de Saulo e às de Jesus Cristo. O inimigo declarado
de Jesus, perseguiu-o já em seu primeiro mártir,
S. Estêvão, que êle apedrejava, como diz S. Agos­
tinho, pelas mãos de lodos os algozes do San lo:
Ut esse( in omnium lapidanlium manibus, ipse omnium
vestimenta servabat ( 1). Saulo não quer que haja
trégua na guerra contra Jesus. Difamar, caluniar a
sua pessoa e doutrina, excitar contra êle lodos os
ódios, assolar a sua Igreja, não é nesle homem uma

(1) Serm. XIV de Sanclis.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
t68 !IIEDITAÇÕES SACERDOTAIS

coisa pas�ageira, é um estado permanente, e· por


assim dizer, é á sua profissão.
Sabe-se com que intenções Saulo ia a Damasco.
e. E que faz o Salvador? Podia convertê-lo com uma
inspiração, com a pregação de seus apóstolos, com
os milagres que êles faziam por tôda a Judéia. Tinha
enviado um Moisés a Faraó, um· Jonas aos ninivitas;.
mas aqui vem em pessoa salvar a Saulo ! E' verdade
que por êle salvará inÚmeráveis almas. i Com que
paciência sofreu Jesus tantos alentados! i Com que
bondade o levanta, depois. de o ter lançado por
terra! j Com que brandura lhe.fala! A luz exterior
de que o cerca, não é senão o símbolo daquela com
que _lhe ilumina a alma. j Oue sublimes conhecimen­
tos lhe comunica num instante I i Oue ternos e pro­
fundos mistérios lhe descobre o adorável nome, cujo
sentido lhe é manifeslapo ! Já não tornará a dizer a
Jesus : e. Ouem sois vós, Senhor? Agora conhece-o
e ama-o. Oh I que impaciente está de dar a sua vida
para o fazer conhecer e amar !
Num colóquio desabafai o vosso coração no Co­
ração de Jes·us, que se mostra Ião rico em tesoiros
de graça e de misericórdia. De lôdas as homena­
gens que espera de nós, nenhuma lhe agrada tanto
como a da noss_a confiança. Recorrei para proveilo
vosso e de vossos irmãos, a êsses tesoiros que· vos
são franqueados, e dai graças a Deus por esta con­
versão que é para tôda a Igreja um imen°so e perpé­
tuo benefício; êsle milagroso acontecimento revelou
para sempre ao mundo a inefável bondade do Cora­
ção de Jesus Cristo.

Resumo da Meditação

I. Contemplar as pessoas. - No céu Jesus


Cristo que olha com grande compaixão para o s'eu
perseguidor, e se dispõe a fazer dêle um apóstolo

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
CONVERSÃO DE S. PAULO !69

seu. - Na terra, em Damasco, os fiéis assustados,


sabendo ·da chegada de Saulo; em Jerusalém os
príncipes dos sacerdotes cheios qe alegria, ouvindo
o oferecimenlo que lhes faz ; no caminho Saulo, o
provocador e a alma da· perseguição. Estudai o seu
carácter violenlo. Tudo nêle respira ameaças, e
anuncia um homem sequioso de sangue. Vêde-o su­
bitamente lançado por terra, pálido, tremendo ; e �m
breve pregando o Evangelho, confundindo os judeus.
- Admirai o poder e a bondade do Salvador.
Tornai parle na alegria dos fiéis.

li. Ouvir as palavras. - As dos sacerdotes fe­


licitando a Saulo pelo seu zêlo. - Escutai' principal­
meme a voz de Jesus Cristo : Saule, Saule, quid me
persequeris? Oue motivo le dei para me persegui­
res? l Pregunlas-me quem sou? Sabe que sou Je­
sus. Contempla as minhas chagas, e decide se me­
reço ofensas ou o leu amor. -,-- Pesai cada uma das
palavras do perseguidor convertido: Senhor, l que
quereis que eu faça?

IIL Considerar as acções. - O que faz Saulo


na Judéia; o que quer fazer em Damasco. Assolar
a Igreja de Jesus Crjslo, eis a sua profissão. - E o
Salvador? Desce do céu para converter a êsle
grande pecador. 1 Com que bondade o levanta, de­
pois de o ler lançado por terra I j Oue mistérios lhe
descobre, dando-lhe a inteligência do seu adorável
nome ! Saulo não tornará a dizer: e! Ouem sois vós,
Senhor? Oh I que impaciente está de fazer que
lodos o conheçam e amem !

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
i.70 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

XXIX MEDITAÇÃO
29 de Janeiro. - S. Francisco de Sales. -
A fôrça e a energia da sua mansidão.

Madalena pelas suas lágrimas, Teresa de Jesus


pelos seus éxtases, Francisco de Assis pelo seu amor
à pobreza, não são mais conhecidos do que Fran­
cisco de Sales pela sua mansidão. Mas <'. for-se-á
uma idéia justa desta virtude? S. João Clímaco pre•
gunla qual é a mansidão própria dos ministros de
Jesus Cristo, essa mansidão vencedora do mundo e
dos seus êrros, cuja primeira recompensa é o domí­
nio da terra, isto é, a direcção dos espíritos, e a
conquista dos corações para Deus. E. responde que
é uma mansidão mais que humana. mais que angé­
lica, lõda divina, por. não ler podido ser ensinada
aos homens senão pelas lições e exemplos de um
Homem-Deus. A mansidão nasce da fortaleza, assim
como a fortaleza nasce da fé e do amor : De forfi
egressa esf dulcedo (1). S. João Crisóstomo chega
a dizer: Nihil hac pasforali mansuefudine violen­
fius (2). Tal foi a mansidão de S. francisco de
Sales:

I. lnabalíível em empreender, e capaz de sacrificar tudo.


II. Inalterável em executar, e capaz de soírer ludo.

1. A doçura de francisco de Sales foi inaba­


lável em empreender, e capaz de sacrificar tudo:
- A natureza, a fortuna, as considerações humanas.

(1) Judie. XIV, 14. - (2) Horn. LVIII in Gen.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, f11ANC18CO DE SAT.ES t7l
t. 0 Sentindo cedo que é chamado ao estado
eclesiástico, aplica-se enérgicamente a santificar-se,
para ser capaz de santificar os oulros. Sonda o seu
coração, estuda fCldos os seus impulsos, e substituin­
do a graça à natureza, destrói ludo o que é do ho­
mem, para que nêle ludo seja de Deus. - i Oue obs­
táculos não teve que vencer para adquirir· a mansi­
dão I O génio ardente e cheio de fogo, o nasci­
mento ilustre, e tôdas as vantagens exteriores que
atraem os louvores e alimentam a soberba; até a de­
licadeza de sentimentos e a bondade de um coração
tanto mais fácil em ofender-se, quanto mais sensível e
amoroso é.
-é. E que assaltos não teve que susfenlar, quan­
do quis abraçar o estado eclesiástico e declarar ,a
escolha que dêle fizera? Então não lhe basta ser
corajoso; é necessário algumas vezes ser piedosa­
mente cruel: Per ca!ctJlum perge palrem, per ctJ!ctJ­
fom perge mtJ!rem (.1). Foram ainda maiores, quando
recebeu ordem de ir para o Chablais. Ouando pela
primeira vez o seu bispo falou nesta perigosa em­
prêsa, as palavras do prelado só excitaram o terror
em tôrno de si; todos os circunstantes ficaram es­
pantados com tal projeclo: só francisco não receou
oferecer-se. 1 Oue consternação na sua família, quan­
do o soube ! Oue vivas observações I Oue oposi­
ções I Lamentos, grilos, lágrimas, ludo foi pôslo em
jôgo para o demover, e tudo foi inútil.
Ouve a voz de um pai ternamente amado que se
esforça em combater tal resolução; mas ouve de
preferência a voz de Deus que lhe diz: Egredere de
ferra ef de cogntJfione lua ef de domo pafris fui, ef
veni in ferrnm qutJm mons!rtJbo fibi (2). Ouve os
suspiros de sua mãe que se queixa ; mas ouve lam-

(1) S. Hier. - (2) Gen. XII, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
17:! MEDITAÇÕES SACERI.JOTAIS

bém os desejos da Igreja que lhe diz, como a vale[)te


mãe dos Macabeus : • Meu filho, tem compaixão de
mim que te trouxe no meu seio ... dispensa aos teus
irmãos desgarrados, os cuidados que eu te dispen­
sei •: Fili mi, míserere mei, quae te in ufero poria­
vi ... ef in aefafem isfam perduxi (1). Vencida esta
tentação, a sua alma abrasou-se em novo zêlo da
glória de Deus e salvação do próximo. Sacrificou a
natureza; portanto cuslar-lhe-á pouco sacrificar a
fortuna.
2.0 O espírito de intMêsse não é muito raro no
santuário da Igreja. Sabendo que já se introduziu
no coração de um apóstolo, todo o eclesiástico deve
desconfiar dêle. · Se não há apêgo ao dinheiro, há
hilvez apêgo à honra. No mundo pretende-se enri­
quecer; no ministério do apostolado pretende-se so­
bressair. O desinterêsse de francisco de Sales re­
sistiu a tõdas as tentações. Se aceita o bispa,do de
Ge'nebra, é por obediência. Se l�e oferecem o arce­
bispado de Paris, responde: • Desposei uma igreja
pobre e arru'inada; seria duplamente infiel, se a dei­
xasse, para receber outra mais florescente e rica• .
Querem nomeá-lo cardeal; recusa sem hesitação.
Não aceita nada para si; mas pede para o seu infe­
liz rebanho. Dêste modo é que os Santos usam do
seu valimento junto dos grandes.
3. 0 r.ste valimento nunca foi para francisco de
Sales o preço de uma condescendência reprovada
pela consciência. l:.le não podia tolerar essa vil con­
temporização, que só sabe ser agradável e não ousa
ser útil. Servo de Jesus Cristo, nunca desejará
agradar aos homens: Si hominibus placerem, Chrisfi
servas non essem. Henrique IV dizia dêle: Vene­
ro-o, porque nunca o tentaram meus favoresj e
amo-o porque nunca me lisonjearam seus conselhos.

'(l) II Mach. VII, 27.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISCO DE SALES ti3

l Receou acaso ofender os magistrados de Tho­


non, quando, não obstante as observações que êles
lhe faziam, abriu naquela cidade a primeira _igreja, e
restabeleceu o culto católico? l Conformou-se por­
ventura com os tímidos intuitos do Conselho da Sa­
bóia, quando, a-pesar· da oposição dêsk, induziu o
soberano a publicar o interdito contra a heresia, e
a expulsão dos seus ministros? A sua mansidão não
leve, portanto, um só dos defeitos da fraqueza. Um
homem que �e domina, pode empregar na luta, quan­
do ela é necessária, tôda • a energia que recebeu da
natureza e da graça. E' o que lorrra a um bom pa­
dre inabalável nas• santas emprêsas do seu zêlo.

li. A mansidão de francisco de Sales foi inal­


terável em executar, e capaz de sofrer tudo. -
Trabalhos, resistências, perseguições, nada pôde
afrouxar o seu zélo apostólico.
1. 0 Trabalhos. e. Ouando houve missão mais la­
boriosa que a do_ Chablais? O Santo mostrou bem
em si mesmo as qualidades do bom pastor, tal como
é representado no Evangelho, correndo em busca da
ovtlha desgarrada, e trazendo-a sôbre seus ombros.
Nenhum lugar é Ião agreste, que assuste a sua
caridade, se nêle espera achar um desgraçadp para
consolar, uma alma para salvar. Vêem-no passar
por entre a neve e o gêlo, atravessar as torrentes,
escalar os montes. No meio das ruínas dos templos
demolidos ouvem-no exortar ao pequenino rebanho,
que ali conseguiu ajuntar. Se depois de incríveis fa­
digas, o convidam a poupBr a saúde, responde que a
obra de Deus é a suB vida, que sucede com êle o
que sucede com o segBdor, que nunca está mais
contente do que quando.. se encontra mais carregado.
Confissões, pregações sem número, jornadas contí­
nuas. . . a ludo acode, e não quer um momento de
descanso.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

0
2. Resislências. Enconlrou algumas, que leriam
desanimado a qualquer outro. A heresia não se
rende sem combale, pois a pertinácia é do ·seu ca­
rácter. Pedro de Biais dizia : •Trazer um homem
do pecado à graça, é muito; fazer de um idólatra
um cristão, é ainda mais; porém converter um hereje
obstinado, é uma espécie de milagre•. é. De que
perseverante firmeza não necessitou Francisco de
Sales, principalmente no princípio da sua missão?
Ouanfas caminhadas infrutuosas I Ouanlas tentati­
vas inúteis! Acaba de reparar uma igreja; o povo
amotina-se, e derriba-a de novo. Comoveu e con­
venceu a um célebre ministro luterano (1); e contudo
vê-o morrer na heresia. Se, depois de um ano de
trabalhos estéreis, tivesse desanimado, como fazem
tantos padres, limitando-se a dizer como êles: • que
remédio lhe havemos de dar•? é. que seria feito dêsse
desditoso país? é. E até onde leria chagado o contá­
gio?
3.º Perseguições. Atentam contra a sua vida,
atacam a sua honra. Sôbre êle pesa a mais atroz
calúnia durante lrês anos. Ê verdade que Deus
tomou a defêsa do Santo; mas entretanto, é. quaf\lo
não leve que sofrer? Entre lôdas estas provações
está tranqüilo, resignado. Vê agitar-se e subverter-se
ludo em redor dêle, sem que nada perturbe a sere­
nidade da sua alma. Desarma os perseguidores com
a sua caridade, pagando insullos com benefícios,
ódio com amor. É a sua vingança. é. Onde encon­
traremos mais acabado· modêlo de mansidão e de
fortaleza?
Entrai dentro �e vós mesmo. é. Ê empreendedor
o vosso zêlo? é. E baslimte forte para sacrificar à
glória de Deus e à salvação das almas, a natureza,

(1) Teodoro de Beze.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISCO DE SALES

a fortuna e as considerações humanas? é.Na execu­


ção é aclivo, perseverante, paciente? é. Não sepa­
rais vós o que deve estar unido: a mansidão e a
fortaleza? No altar recebeis a carne do Cordeiro
divino; 1 que doçura e suavidade na sq,,a imolação 1
mas sobretudo I que fortaleza e qu·e amor! Pedi-lhe
uma abandanle participação dêsle espírito, que é o
espírito de S. francisco de Sales.

Resumo da Medltaçã,o

1. A mansidão de S. francisco de Sales foi


inabalável em empreender, e capaz de sacrificar
tudo: -A natureza, a fortuna, as considerações .hu­
manas. A natureza; é. quantos combales não leve
que lhe dar para a submeter à graça, principalmente·
para adquirir a mansidão, para seguir a sua vocação,
a-pesar de tõdas as opo:-ições da carne e do san­
gue? - O interêsse; se não hã apêgo ao dinheiro,
muitas vezes hã apêgo à honra. francisco de Sales
só quiz ter afeição a Deus. - As considerações hu­
manas; Henrique IV dizia: • Venero-o, porque nunca
o lentaram os meus íavores; amo-o, porque nun::a
me lisonjearam os seus conselhos•.

II. A mansidão de francisco de Sales foi inal­


terável em executar, e capaz de sofrer tudo. -
Soube sofrer trabalhos, resistências e perseguições .
....:..... é. Ouando houve missão mais laboriosa que a do
Chablais? i Oue resislências da parle dos herejes,
que tentativas sem resultado I Nada o abale; nada
o desanima. - é. Oue perseguiçõe:; não sofre? Alen­
tam contra a sua vida, atacam a sua honra. Sõbre
êle pesa a mais atroz calúnia durante três anos .
.\-\as o Santo. retribui injúrias com benefícios, ódio
com amor. é. Onde encontrar mais acabado modêlo
de mansidão e fortaleza?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1 76
_ _ ______.M_E_D_I_TA�Ç�ÕES SACEIIDOTA IS

XXX MEDITAÇÃO
-- � '

S. Francisco de Sales. - Frutos de sua


mansidão

I. Com relação a êle mesmo.


li. Com relação ã igreja.

1. l Ouois foram os frufos da mansidão ·de


francisco de Sales com relação a êle mesmo? -
Uma grande santidade, e as mais preciosas consol&­
ções, que um sacerdote pode desejar.
1.° Como só a caridade faz apóstolos, também
só ela faz Santos. Se não tenho caridade, nada tenho,
nada sou; mas se possuo esta raínha das virludes, está
cumprida tõda a lei, sou um Santo: Plenitudo legis
dileclio. é Oue é a mansidão, diz Bossuel, senão a
flor da caridade que, lendo enchido o interior, der­
rama depois sõbre o exterior uma graça ingénua,
sem disfarce, e um ar de_ sã cordealidade, que só
respira afeição sincera? E a primeira virtude que
devemos aprender na escola de Jesus Cristo: Dis­
cife a me qui{J mifis sum. Torna-nos dignos de ser
chamados filhos de Deus: Beafi paci6ci, quoniam
filii Dei vocabunfur, porque faz de nós suas fiéis
imagens, e nos dá alguma semelhança com êle: Nihil
adeo vicinum Deo conformemque facif quam is/a
virlus (1). A perfeita mansidão é a renúncia a lôdas
as paixões. É por conseguinte o túmulo de lodos os
vícios, e é também o b�rço de tadas as virtudes.
Dá-nos principalmente três, diz ainda Bossuet, e estás

(1) S. Chrys.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S• .FRANOISCO OE SALES !77

três virtudes formam como que a essência da bon­


dade pastoral: A paciência, a compaixão e a con­
descendência; a paciência para suportai- os deíeilos
do próximo; a compaixão para nos tornar sensíveis
aos seus males; a condescendência para os remediar.
Além disso a mansidão e doçura é uma fonte
inexhaurível de graças, porque a alma tranqüila e
serêna eslá numa excelente disposição para orar
bem; e a sua oração agrada sempre ao Senhor:
Mansueforum semper fibi placuif deprecafio. A man­
sidão é a virtude de uso mais freqüente; as ocasiões
de a praticar são contínuas, pois exige uma vigilân­
cia e mortificação incessante,· para descobrir e repri,
mir logo lodo o impulso que lhe seja contrário. Daí
um rico tesoiro de merecimentos e novos títulos às
recompensas cel�stes.
A mansidão é o amor santo levado até ao heroís­
mo, o amor que se inflama e cresce com as injúrias
recebidas, com os desprezos, com as perseguições e
os sucessos dolorosos. S. 'francisco de Sales dizia:
• E' necessário que a nossa cabeça esteja entre os
espinhos das repugnâncias, e que o nosso coração
seja traspassado pela -lança das contradições ; é
necessário beber o fel, porque Deus o quer, e no
meio de tudo isto conservar uma doçura e mansidão
que passe do cor�çâo às palavras e ao semblante• .
<: Oue ê pois finalment� a mansidão perfeita? Ê a
natureza inteiramente sujeita à graça; é a vida da
Íé, a vida de Deus em nós, uma santidade consu­
mada: ln lide ef lenifafe ipsius sane/um fecif illum (1).
Eis o resultado de uma virtude que todos concordam
em achar amável, mas cujo valor e inapreciável fecun­
didade poucos chegam a conhecer.
2. 0 Já nesta v\da presente Deus recompensou a

(1) Eccli. XLV, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
178 ----------
MEOITAÇÕES SACERDOTAIS

mansidão de S. Francisco de Sales com muitas con­


iolações proporcionadas aos esforços que ela lhe
custara. Um coração como o seu, não conhece
maior felicidade do que fazer felizes a outros; e para
um pastor zeloso nenhuma alegria é comparável à
de salvar o seu rebanho. Ouanto mais perto do
inferno estiveram suas queridas ovelhas, tanto mais
se olegra, quando as vê entrar de novo no bom
caminho e dirigir-se para o céu. Ouonto o tinham
afligido as ofensas feitas à majestade do Senhor,
tanto o consolam as honras que lhe são tributadas.
i Com que reconhecimento o santo missionário admi­
rava as bênçãos que Deus derramava sôbre seus
trabalhos, e os milagres da graça que o Senhor
operava pelo seu ministério! é. Ouantas vezes não
misturou suas lágrimas com as dos pecadores como­
vidos e convertidos? i Oue belo foi para o seu cora­
ção o dia em que Jesus Cristo, oculto sob os véus
sacramentais, tornou a entrar triunfante na capital de
uma província, donde eslava desterrado havia setenta
anos!
O' padre, ó pastor de almas, ide que santas de­
lícias vos privais, quando tendes falta de zélo, ou
quando o vosso zélo é desprovido daquela doçura
e mansidão que lhe dá tôda a sua eficácia !

II. Quais foram os frutos da mansidão de


S. francisco de Sales com relação à Igreja. -
Esta mansidão do nosso Santo honrou a Igreja,
alargou o seu domínio, e aumentou os bens espiri­
tuais de que é depositária para a santificação de
seus filhos.
1.º A mansidão de Francisco de Sales honrou a
Igreja, mas deanle de quem? deante délqueles de
quem lhe importa ser ainda mais conhecida: de!'lnle
de homens mundanos que procuram persuadir-se de
que a virlude cristã é incompatível com os deveres e

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, FRANCISCO DE SALES {79
as conveniências da vida civil; e deante de herejes
que já não queriam reconhecer nela o espírito e a
moral de Jesus Cristo. Aos primeiros mostrava na
sua pessoa um modo de proceder acomodado aos
usos da sociedade; um fervor digno das mais belas
idades do Cristianismo; e uma condescendência sem
limites junta a uma extrema delicadeza de consciên­
cia; emfim as virtudes que o Evangelho requer, e as
qualidades que o mundo admira. Aos segundos pu­
nha-lhes deanle dos olhos uma vida santa que refu­
tava as colúnias espalhadas contra a Igreja. Os he­
rejes acusavam o clero católico de ser interesseiro,
ambicioso e amigo do fausto; e viam no Santo um
homem que, para fazer parle dêsse clero, tinha sacri­
ficado uma grande fortuna, grandes esperanças e
grandes di�nidades; um homem que �ó tinha acei­
tado por obediência o direito de mandar, que desde
a sua enlrada no sagrado ministério, se despojara de
tudo, fazendo-se pobre para socorrer os pobres; um
prelado que fugia do esplendor e da ostentação, per­
correndo a pé as povoações da sua diocese, ins­
truindo o povo simples e catequizando os meninos.
Esta modéstia, esta humilde e caridosa mansidão
vencia lodos os preconceitos.
2. 0 Honrando a Igreja, a doçura de francisco
de Sales alargava o seu domínio espiritual. Ava­
lia-se em selenla e dois mil o número de herejes que
fez entrar no seio da Igreja. Sujeitou à sua obediên­
cia lodo o Chablais e uma grande parte da diocese
de Genebra. é. E quem não sabe que essas conquistas
foram devidas à irresistível influência da mansidão
do santo prelado?
Convertem-se os herejes, diz S. Agostinho, muito
mais com testemunhos de caridade, que não com po­
lémicas e controvérsias em que os ânimos se exal­
tam. Um homem pode irritar-se contra vós, quando
impugnais as suas opiniões; mas o desejo que ten-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
180 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

des da sua salvação, êsse só vo-lo pode agradecer.


O suavíssimo bispo de Genebra persuadia sem custo
àquelas almas desgarradas, que as amava deveras, e
que chorava sentidamente a sua desgraça: e estando
comovido o coração, rendiam-se-lhe.
3. 0 finalmente os seus escritos e a Ordem Re­
ligiosa da Visitação que êle fundou, enriqueceram a
Igreja de novos meios de santificação, que ela ofe­
rece a seus filhos. francisco de Sales está sempre
vivo em seus preciosos escritos, onde tudo respira
paz, confiança e caridade celestial. 1 Oue solidez, e
ao mesmo tempo que unção I A piedade e a perfei­
ção reduzidas aos deveres mais comuns da vida
cristã, ali estão baseadas nos motivos mais fortes
que são o amor de Deus e o amor de Jesus
Cristo. ,
foi também a sua mansidão quem lhe inspirou o
pensamento de fundar a Ordem da V�silação, asilo
aberto a tantas virgens cristãs, que teriam permane­
cido no mundo pela impossibilidade de saírem dêle,
por não corresponderem as fôrças corporais ao fer­
vor do espírito. Assim êste grande Santo pelos
atraclivos da sua mansidão, continua sempre a sua
missão apostólica: instrui, consola e edifica.
No desejo que tendes de enriquecer a vossa alma
com a virtude da mansidão, que nos obtém a afeição
de Deus e dos homens, vêde qual das vossas inclina­
ções lhe é mais oposta, em que ocasião vos sucede
mais vezes perder a paz. Combatei intrepidamente
tal inclinação, e preveni-vos para essa ocasião, e
sobretudo orai.
O Domine, qui ipsa boniflls es et mansuefudo!
osfende mihi faciem fuam; videam clemenfiam fronlis
fuae, dulcedinem oculorum fuorum, suavilalem labio­
rum fuorum, benignilafem manuum tuarum, pµ/chri­
fudinem gressuum fuorum; e/ super haec, eminenfem
carifafem cordis fui. Habeam te prae oculis semper,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISCO D11: SALES 181
ui inGnifo amabililale lua capfus, mansuefudinem in•
duére studeam el imilari ( 1).

Resumo da Meditação

I. frulos da mansidão de francisco de Sales


com relação a êle mesmo. - Uma eminente santi­
dade, as mais preciosas consolações que pode dese­
jar o coração de um sacerdote. - A · mansidão é a
flor da caridade; se lenho caridade, cumpro tôda a
lei, sou um Santo. A doçura e mansidão é a sep'ul­
tura de todos os vícios, o berço de tôdas as virtu­
des que formam como que a essência da bondade
pastoral: a paciência, a compaixão, a condescen­
dência.
A mansidão é uma excelente disposição para bem
orar, e a boa oração atrai-nos tõdas as graças.
A mansidão perfeita é a natureza completamente su­
jeita à graça, é a vida de Deus substituída à nossa:
é uma santidade consumada. - Deus recompensa a
mansidão ainda mesmo cá na !erra, por meio de
consolações proporcionadas aos esforços que ela cus­
tou. Viu-se isto em S. Francisco de Sales. Üuanto
mais perto do abismo esliv�am as suas queridas
ovelhas, tanto mais as alegra, quando se vê entrar de
novo no bom caminho e dirigir-se ao céu.

II. frulos da mansidão de francisco de Sales


com relação à Igreja universal. - Esta mansidão
honrou a Igreja, tornando-a conhecida daqueles a
quem mais importava conhecê-la, isto é, dos cristãos
entregues ao espírito do mundo, e dos herejes. -
Honrando a Igreja, a mansidão de Francisco de Sa-

(1) Memorial. vil. sacerd., C. XLVI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
{8'1 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

les alargou o seu domínio com a conversão de tan­


tos herejes, com a composição de excelentes livros,
com a fundação de uma Ordem Religiosa tão edifi­
cante. Êste grande Santo, pelos atraclivos desta
mansidão, que se acha também em seus escritos e
nas almas formadas na sua escola, continua na Igreja
a sua missão apostólica.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA SECÇÃO

QUARESMA E TEMPO PASCAL

§ I.º

Vr6prlo d.o tempo

A grande festa da Páscoa tem como preparação


quarenta dias de recolhimento e de penitência. • Êste
santo tempo é o mais poderoso meio que emprega a
Igreja para reavivar no coração dos fiéis o sentimento
da sua vocação. Importa que êles não deixem passar
êsle tempo de graças, sem se terem aproveitado
<leias abundantemente, para a reforma da sua vida.
Era pois conveniente prepará-los para êste tempo de
salvação, que já é também uma preparação, para
que, extinguindo-se pouco a pouco em sua alma o
bulício do mundo, prestassem mais atenção à solene
advertência que a Igreja lhes há de fazer, quando
lhes impuser a cinza logo no princípio da Quares­
ma• (1).
Os !rês domingos que precedem a Quaresma,
leem o nome de Septuagésima, Sexagésimà e Qüin­
quagésima, porque são o sétimo, o sexto e o quinto
domingo antes do da Paixão•. Como o primeiro
domingo da Quaresma é chamado Quadragésima,

( t) D. Guéranger. Année lifurg.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

porque é o primeiro dia da quarentena, aqueles que


principiavam a jejuar oilo dias antes, chamaram
Oüinqul1gésima ao domingo .em que o seu jejum co­
meçava; pela mesma razão, os que principiavam num
dos dois domingos precedentes, chamaram a um
Sexagésima e ao outro Septuagésima (1).
Eslas três semanas são como que o prelúdio das
lágrimas de penitência que, purificando-nos, nos dis­
põem a celebrar dignamente a nossa Páscoa , isto é,
a nossa passagem p�ra uma vida mais santa e mais
ditosa. Ensaiamo-nos na penitência, para a empreen­
der com ânimo e fortaleza, quando a Igreja a ordenar.

!31

XXXI MEDITAÇÃO
Domingo da Septuagésima. - Parábola dos
trabalhadores mandados para a vinha.

Simile esf regnum coelorum homini pafrifamilias,


qui exiif primo mane conducere operarias in vineam
suam ( 2).

1. Todas os homens siio chamados a culfivar a vinha da sua


alma.
I 1. À cultura da sua alma . os sacerdo{es devem ajunlar a da
Igreja.
III. Ouando e como será recompensado o lrabalho dos operários.

1. Todos os homens são chamados a culfivar


a vinha da sua alma. - Deus é aquele pai de famí­
lia, que sai ao romper da manhã, e vai procurar tra­
balhadores na praça, no meio das distracções, dos

( 1) Bergier, Dict. fhéol. - t2) Mallh. XX, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO D.A SEPTUAGÉSIMA

negocios e dos prazeres do mundo. Em qualquer


parle que estejamos, incita-nos pela sua graça a tra­
balhar na nossa santificação, empregando tôdas as
faculdades que dêle recebemos : Vinea esf animfl
cuique excolenda. Ouae facif vinilor in vinea, haec
facial .ide/is in anima (1).
Se aplíco o meu entendimento a conhecer a Deus,
a minha memória a lembrar-me dos seus benefícios,
e a minha vontade a amá-lo; se sou pontual em des­
cobrir, e em combater os meu� defeitos, e em chorar
as minhas quedas; se me. exercito na prática das
verdades cristãs: cultivo a vinha da minha alma, e
torno-a fecunda em frutos de santidade: Revirescif
anima fanquam vinea per Dores el folia, id esf, per
sancffl desideria ef sermonem aedificanfem. Producif
lacrymt1s compuncfionis, emiffif odorem virfufis, juxfa
illud Canlicorum: Vineae Dorenfes dederunf odorem
suum; edil maturas uvas honoru.m operum (2).
- Esta vinhà pertence ao Senhor: ln vinet1m
suam. Plantou-a, e conserva-a; a sua glória acidental
é a renda que exige dela; a sua glória essencial não
depende de nós, mas na realidade Deus como que
nos contraia para um trabalho, cujo proveito é lodo
nosso. O preço do nosso trabalho será o precioso
denário da herança celeste: Convenfione lacta cum
opert1riis ex denario diurno. O dia de trabalho é a
vida; devemo-la tôda àquele Senhor a quem sempre
devemos servir. l E que é um dia de trabalho em
comparação de um descanso eterno?
-- O pai de família manda os trabalhadores em
diferentes horas, para significar as diferentes idades
em que os homens se entregam a Deus, cedendo ao
influxo da graça.
O' meu bom padre, é. haverá alguma vinha Ião

(1) Cornel. in Mafth. e. XX. - (2) lbid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
!86 MEDITAÇÕES SACKRDOTAI�

escolhida, protegida e cercada de c1.1idados como a


vossa alma ? e. E tem produzido ludo o que o divino
Mestre tinha direito a esperar dela? A vós é que
diz Jesus Cristo: Ego planfavi fe vinetJm elecfam,
omne semen verum; quomodo ergo converstJ es mihi
in prtJvum, vinea tJ!ientJ? (1) Ouid esf quod debui
ulfrtJ ÍtJcere vinetJe metJe, ef non feci ei? An quod
expecfavi ui ÍtJceref uvtJs, ef fecil !tJbrusctJs? (2) Êle
dignou-se chamar-vos desde a vossa infância. é. Oue
faltou à vossa educação sacerdotal ? e. Não foi lodo
o tempo da vossa preparação para o sacerdócio um
continuo e instante convite a renunciar-vos a vós
mesmo, para vos unirdes a Deus? E desde que sois
sacerdote, e. quantas vezes vos tem inspirado o pen­
samento de vos entregardes a êle com maior perfei­
ção? ArrtJnctJr e pltJn!tJr tem sido sempre a dupla
tarefa que vos impôs. E neste momento, e. não se
apresenta ainda à vossa mente êste pensamento, e não
influi êle na vossa vontade ? l Oue resolução ides
tomar? e. Oue hora é esta para vós? e. Não estais
próximo da última?

II. À cultura da sua alma os sacerdotes de­


vem ajuntar a da Igreja. - Se uma só alma é de
tanto valor aos olhos de Jesus Cristo, que eslá dis­
posto a dar por ela os seus suores, as suas lágrimas
e o seu sangue, e. que solicitude não terá êle da Igreja,
da congregação de tôdas as almas que lhe perten­
cem pela fé? A ·sua afeição a esta vinha mística é
expressa nos mesmos têrmos pelos profetas e pelos
evangelistas : VinetJ ÍtJc!tJ esf dilec/o meo . . . ef se­
pivil etJm. . . et plan!tJvil etJm elecitJm, ef tJedifictJyif
furrim in media ejus, e/ forcular exlruxil in etJ (3). -
Homo ertJf ptJfer ÍtJmilias, qui planitJvif vinetJm, ef

(l) Jercm. 11, 21. - (2) Is. V, 4, - ( 3) Is. V, 1 1 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA SEPTUAGESIMA t8i
sepem circumdedif ei, e/ fodif in ea forcular, e/ aedi­
licavif furrim (1).
- Dela sua incarnação e pelos mistérios que se
relacionam com ela, o mesmo Filho de Deus veio
plantar esta vinha, sem se poupar aos mais penosos
trabalhos. Cercou-a com a sua lei. Os seus anjos
e ministros sagrados estão encarregados de a defen­
der; a tôrre que nela erigiu, é a sua perpétua assis­
tência, que a põe ao abrigo de lodo o êrro. l:. tam­
bém a protecção de Maria: Turris David... quae
aediGcafa esl cum propugnaculis: mil/e clipei pendenf
ex ea (2 ).
Felicitai-vos, meu bom padre, por lerdes sido
mandado para esta vinha, depois de tantos obreiros
infatigáveis que a leem feito dar tão belos frutos :
lte ef vos in vineam meam. Mas aceitando esta hon­
rosa vocação, aceitai o seu trabalho. Não sejais
como êsses eclesiásticos, que. acharam o segrêdo,
diz S. Bernardo, de separar o que o seu estado tem
de penoso, do que tem de agradável e cómodo.
Adverfere esf prudenliam aliquorum, ef mirari que­
madmodum novo inter haec artificio discernentes ...
lo/um quod deleclaf eligunl ef ampleclunfur, quod
moles/um e/ fugiunf afque declinanf. Sudanl agrico­
lae, pulanl e/ fodiunl vinifores; ef clerici inter haec
lorpenf ofio, vivunf lrifico, bibunf uvae sanguinem
meracissimum: parum esf, impinguanfur ef di/afanlur
adipe frumenli. . . madenl deliciis oliosi (3).
Ouando há pastores que enveredam por êste fu­
nesto caminho, dentro em pouco tempo, não é já
sõmente a sua incúria que deixa sem cultivo a vinha
predilecla de Deus: são os seus maus exemplos que
a arruínam. Então é chegada a deso,lação universal:

(1) M11Uh. XXI, 3.3. - (2) Cnnf. IV, 4.


(3) T rnd. de mor. der. e. IV.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
lH8 �IEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Pastores multi demo/ili sunf vineam meam; conculca­


verunl parlem meam ,, dederunl porlionem meam desi­
derabilem in deserfum solitudinis, Posuerunl eam in
dissipalionem . . . Desolalione desa/ala esf omnis
ferra; quia nullus esf qui recogitei carde ( 1). Para
evitar tantos crimes e desgraças, l que seria necessá­
rio fazer? Bastaria pensar muitas vezes sôbre o fim
do dia, sôbre o fim da vida.

III. i Quando e como será recompensado o


trabalho dos operários ?-A esta pregunla responde
a última parle da parábola: Cum sera facfum esse!;
o fim da tarde é o fim da vida; ah I e como chega
ràpidamenle ! Mais uma hora talvez, e lerá terminado
o trabalho, e então só se !ralará de receber a recom­
pensa. Será Ião grande para os apóstolos e operá­
rios evangélicos, que os outros escolhidos a inveja­
riam, diz 5. João Crisóstomo, se a inveja pudesse
entrar no coração dos bemavenlurados: Per murmur
signillcalur mercedis ef gloriae magni!udo, quae fanfa
esl in aposlolis, uf caeferi elecfi ef beafi eis invMe­
renf e! murmurarenl, si invidia ef murmur in beatos
cadere passei (2).
Mas <. a que será proporcionada esta recompensa
magnífica para todos, e todavia tão diversa como os
merecimentos? Não será precisamente proporcio­
nada à duração do trabalho, pois os trabalhadores
da hora undécima receberão o mesmo salário que
os que liverem trabalhado lodo o dia; mas será cor­
respondente à graça e à cooperação prestada a essa
graça: Majus meri!um facil major non labor sed
graliae cooperafio (3). Eu mereço mais, fazendo
obras de si menos conaideráveis, se as faço com
mais caridade: Disce hic praxim facilem augendi

(1) Jerem. XII, 10, 11. -(2) Cornel. lbid. - (J) lbid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
nomNGO DA SEPTUAGÉSIMA :189
merila el gloriam esse, si quis crebro exerceaf acfus
cariflllis, eosque ardentes ei intensos ( 1).
Daí a conclusão da parábola: •Os últimos serão
os primeiros, e os primeiros os úllimos •. Poderoso
eslímulo para animar os que leem que reparar o tempo
perdido: um instante de fervor pode apagar as má­
culas e compensar as perdas causadas por uma
tibieza inveterada: Subifus calor longum vincif fepo­
rem (2). Grande e forte motivo para sermos sempre
humildes e não desprezarmos a ninguém: Êste peni­
tente de há pouco, é talvez mais fervoroso que eu;
ês!e grande pecador pode converter-se e vir a ser
um grande Santo, assim como eu posso perverter-me
e vir a ser um réprobo; • porque são muitos os cha­
mados e poucos os escolhidos•. Muitos são chama­
dos a um estado de perfeição, mas poucos são os
que respondem sériamente a êsle chamamenlo; mui­
tos são chamados. à penitência, mas poucos são os
que a abraçam pelo menos com persevera_nça; muitos
são· chamados à oração e à vida interior, mas são
poucos os que cuidam em entrar e progredir nestes
santos caminhos; muitos são chamados ao céu, mas
são poucos os que o alcançam, porque recusam ou
desprezam os meios de o alcançar.
O' meu Deus, eu descubro em mim resoluções,
desejos santos e chaml'l'menlos da vossa divina graça;
mas, é. onde estão as obras verdadeiramente boas,
que devem assegurar a minha eleição e salvação? (3)
Bemdito sejais, Senhor, p�la misericórdia com que
ainda vos dignais chamar-me; quando o dia está a
ler·rninar. Ah! pelo menos não tornarei' a perder
um só instante. Brevemente, quando subir ao altar,

11) lbid. - (2) S. Hier. Episl. XXXIV ad Julian.


( ª ) Salagile ui per bona opera cerfam veslram vocalionem
et elecfionem faciafis. li Pelr. 1, 10.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
mo MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

com Jesus nas mãos vos direi, e vos digo desde já :


Per ipsum, cum ipso e/ in ipso; por êste filho amado,
com êle e nêle recebei o VOSSO indigno servo. fazei
que a minha vida seja doràvante tõda vossa, e que
eu honre o sacrifício de Jesus, consumando o meu
nos trabalhos do ministério sacerdotal, e nas lágrimas
do arrependimento, da gratidão e do amor.

Resumo da Meditação

I. Todos os homens são chamados a cullivar


a vinha da sua alma. - Deus é o pai de família;
em qualquer parle que eslejamos, chama-nos a culti­
var a nossa alma, empregando no seu serviço o
nosso entendimento, a nossa memória e vontade. Esta
alma é a vinha de Deus: planlou0a, e conserva-a. -
O lrabalho do dia é a vida ; o salário dêsle trabalho
será a vida eterna. O' meu Deus, é que cuidados
alé ao presenle não fendes lido com a minha alma?
é E produziu ela os frutos de santidade que tínheis
direito a esperar dela?

II. A cullura da sua alma os sacerdotes devem


juntar a da Igreja. - Êles sabem quanto Deus ama
esta vinha mística. A incarnação e todos os mistérios
que leem relação com ela, provam-no de uma maneira
inconleslável. 1 Oue glória para mim, ser empregado
na santificação da Igreja ! Aceitando a honra de Ião
sublime vocação, devo sujeitar-me a trabalhar; para
me cuslar menos, pensarei muitas vezes no fim dêste
dia da vida.

III. Quando e cotfto será recompensado o


frahalho. - O fim da tarde é o fim da vida. Mais
uma hora talvez, e o meu salário me será dado.
E será tão magnífico para os bons sacerdoles, que
os outros escolhidos o invejariam, se pudessem ler

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA SEXAGÉSIMA Hll
inveja. Será mais proporcionado à perfeição da ca­
ridade do que à duração do lra:palho: poderoso estí­
mulo para animar os que leem de reparar o tempo
perdido. Forte motivo para sêrmos sempre humildes
e não desprezarmos a ninguém: Êsle penilenle de hã
pouco, êsle justo que ainda agora começa, talvez já
esteja mais adeantado que eu.

XXXII MEDITAÇÃO
Domingo da Sexagésima. - Semen esf
verbum Dei

1. O bom pensomenlo é umo semenfe que Jesus Crislo lanço


nos nossos olmos.
II. À polovra de Deus é umo semenle que Deus lanço, por nosso
inlermédio no almo de nossos irmãos.
Ili .. Como é que es(o duplo semenle, de si Ião fecundo, se lorn11
estéril.

I. O bom pensamento é uma semente que o


Salvador lança nas nossas almas. - Deus fala aos
homens de !antas maneiras, quantas as que !em de
se manifestar a êles. A inspiração ou o bom pensa­
mento, é uma das mais ordinárias. Todos os desí­
gnios de Jesus Cristo podem reduzir-se a !rês: Fa­
zer Santos cá na terra, bemavenlurados nu céu, pro­
mover a glória de Deus com a virtude de uns e a
íelicidade dos outros. Parat executar um plano Ião
digno déle, Deus serve-se principalmente do bom
pensamento, palavra interior e semente divina, que
contém em germe lodos os bens que o seu amor nos
quer dar no tempo e na eternidade.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
{92
-----··----
MEDITAÇÕES SACEIIDOTAIS
- - -
--- ----
------
O primeiro fim do filho de Deus, descendo do
céu à terra, foi reparar a glória do Pai, e criar-lhe
verdadeiros adoradores; por isso é que êle lança
nas almas raios de luz e inspira bons pensamenlos.
Isto nos faz conhecer, amar e servir a Deus, e esla­
belece em nós o seu reino. Com efeito, eu não
posso conhecê-lo, nem amá-lo, se êle se não revela à
minha inteligência e ao meu coração. é, Ouer que eu
glorifique a sua infinita sabedoria? Descobre ao
meu espírito os segredos da sua Providência, os
grandes desígnios que tem a meu respeito, os admi­
ráveis meios por que me governa. é, Ouer que eu
lema a sua jusliça? Mostra-me a desordem e malí­
cia do pecado, põe-me deante dos olhos, como à
Samaritana, os crimes que cometi, e vendo islo, con­
fesso que mereço os seus castigos.
Sucede o mesmo com os oulros dois fins da sua
incarnação, fazer Santos na !erra e bemaventurados
no céu. Para os conseguir emprega principalmente
os bons pensamentos. Deve dizer-se desta palavra
interior, que se faz ouvir no santuário da alma, o
que S. Ambrósio disse da palavra de Deus em ge­
ral: Mundaf, illuminaf, accendif audienfes. Conv.erle
e purifica os pecadores, inspirando-lhes o ódio do
pecado: Lex Domini immaculafa, converfens animas;
alumia os justos e dirige-os no caminho dos precei­
tos e conselhos: Lucerna pedibus meis verbum fuum;
abrasa os homens perfeitos com lodos os ardores da
caridade, e une-os es!reilamente a Deus: /gnifum
eloquium fuum vehemenfer.
Eis aqui tõda a santificação do homem, lodo o
segrêdo da sua predestinação. é, Donde provém a
perseverança final, que li:insuma a obra da salvação?
Da graça que vem coroar a vida boa com uma boa
morte. Mas, é, donde vem a boa vida senão das
boas obras? E as boas obras veem dos bons dese­
jos, e estes são fruto dos bons pensamentos. Por-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA SEXAGÉSIMA ma
tanto o bom pensamento é o primeiro móbil de to­
dos os merecimentos, a raiz de. lôdas as virtudes que
ncs tornam amigos de Deus, o princípio de tôda a
nossa santidade.
e. E crês lu, ó alma minha, que sem o bom pen­
samento não haveria fé entre os fiéis, nem pureza
entre as virgens, nem caridade entre os justos; e que
é êle que tem enchido os desertos-de penitentes, as
prisões de mártires, B Igreja de Stintos, e o céu de
bemavenlurados? Se o crês, e. como o recebes tão
friamente, quando Jesus to apresenta? e. Como não
lemes relê-lo cativo, ou mesmo sufocá-lo no meio de
lanlos pensamentos vãos e inúteis? e. Ignoras tu que
de um bom pensamento, segundo o uso ou o abuso
que dêle fizeres, pode depender para ti uma felicidade
ou uma desgraça eterna?

II. A palavra de Deus é uma semente que Je­


sus Cristo lança por nosso intermédio, na alma de
nossos irmãos. - Oualquer que seja o género da
instrução que dá, ou da �xorlação que faz um ope­
rário evangélico, em público ou em particular, é sem­
pre o Salvador que semeia o campo da sua Igreja:
Exiif qui seminaf, seminare semen suum,
Aqui devemos meditar cada uma destas pala­
\Tas. - Exiif. Jesus saiu do seio de seu eterno Pai;
\·eio ao mundo (1) para testemunho da verdade (2).
A SUB missão é prêgar: Evangelizare pauperibus
misif me (3). E' o semeador por excelência : Safo­
rem isfum nullum melius quam Filium Dei infel/igere
possumus, qui de sinu Pafris . . . egrediens, ad hoc
venif, ui fesfimonium perhiherel verifali (4). Mas, se

(1) E.ivi a Palre el veni in mundum, Joann, XVI, 28.


(21 Ad hoc veni in mundu111, ui feslimonium perhibe11m veri­
".ali. Joann. XVIII, 37.
(3J Luc. IV, 18. - ( 4 ) Bed. Commenf. in Luc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MIWITAÇÕES SACERDOTAIS

parece sair de seu Pai, para se aproximar de nós (1),


contudo não diz outras palavras senão as que êle
ouviu ao Pai (2). Está sempre no Pai, e o Pai sem­
pre nêle (3). lmporlanle lição para os oradores sa­
grados: Devem sair de Deus, isto é, devem ser en­
viados por Deus, e àlém disso não devem folar aos
homens senão depois de conversar com Deus, e de­
vem viver em íntima e constante união com Deus.
- Oui seminal, e não qui seminavif ou seminanl.
O que êle fêz por si mesmo durante três anos, fá-lo
agora por intermédio de seus ministros sagrados.
E' êle que prega, assim como é êle que bapliza :
ln discipulo magisfer audilur (4). A vossa glória, ó
meu bom padre, é servir de instrumento a Deus; o
vosso dever é mostrar-vos digno de Ião grande honra.
Avizinha-se o tempo em que ides exercer com mais
assiduidade o ministério da palavra divina: dispon­
de-vos a coadjuvar fielmente o zêlo do Salvador.
- Seminare semen suum. É. a sua própria pala­
vra que Jesus semeia; não a recebe de ninguém,
porque êle é a palavra d� Deus vivo: Non accipif
verbum quasi mufuafum, cum ipse nafuralifer si! Ver­
bum Dei (5). E' dêle que nós a devemos receber, nêle
é que devemos aprendê-la pelo estudo dos livros
santos e pela meditação. e oração. Nunca subamos
ao púlpito, sem lhe ler rogado que abençoe a sua
palavra na nossa bõca, e nunca lenhamos qualquer
intuito humano em uma obra Ião divina.
O Salvador vem prevenir os padres nesta pará­
bola, contra duas tentações funestas: o desalento, se

(1) Exiil non loco, sed incornolione, propinquior faclus nobis


per habilum cornis. S. Chrys. Horn. XLV in Ma!lh.
(2_1 Ouoecumque oudivi o Palre meo, nofo feci vobis. Joonn.
XV, 15.
(3) Ego in Palre, el Poler in me esf. Joann. XIV, 11.
\ ) Bed, ibid. - C') Calen. aur.
4

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA SEXAGÉSIMA l95

não são bem sucedidos; e 'a vaidade, se obteem


algum bom resultado. - No mau resultado aparente
do nosso ministério, somos lentados a dizer: • Perco
o meu tempo; tira-se tão pouco proveito das minhas
exortações• . . . l E'. porventura perder tempo prepa­
rar para Deus uma brilhante justificação no dia de
juízo, e reduzir o pecador a achar-se sem escusa, se
se condena? l Deixa Jesus Cristo de lançar à terra
a boa semente da divina palavra, quando prevê que
mais de metade nada produzirá, por causa do defeito
do terreno que a recebe? Discipulos erudif, ui, efsi
plures e,udienfium fuerinf qui pereanf, non propfer
hoc Dominus, qui omoia praevidif, desfifif a semi­
nando t1). - Se pelo contrário, as nossas pregações
produzem frutos abundantes, l por que razão nos
gloriaremos disso? Dêmos graças àquele Senhor
que dispõe os corações, e faz germinar neles a semente
divina.

Ili. l Como é que uma semenfe, -de si fão fecun•


da, se torna esféril na nossa alma e na de nossos
irmãos? - A palavra de Deus, quer sôe aos ouvidos,
quer seja interior, não tem menos fôrça para nos san­
tificar, do que teve, quando fêz sair o mundo do
nada; mas exige nos que a ouvem e nos que a anun­
ciam, disposições que neles se encontram raramente.
1.0 Três coisas, diz S. To más, são necessárias
àquele que ouve a palavra de Deus. E' preciso que
a conserve na memória, que a faça penetrar no cora­
ção, e que lhe aplique a vontade, para seguir o impulso
que ela lhe dá : Trio haec requirunlur: memoria,
amor, sollicifudo. Ora, isto é o que nos falta: Haec
fria per Iria !ollunlur: memorio per vanilofem, amor
per duriliam, solliciludo per germinafionem viliorum (2).

(1) S. Chrys Horn. XLV in MaUh.


(2) S. Thom. Expos. in Mallh. XIII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
----------
196 !IIEDITAÇÕES SACERDOTAIS

A nossa alma é como um largo caminho, aberto a


todos os transeuntes; a verdade é dêle expulsa pela
vaidade, e os bons pensamentos pelos pensamentos
frívolos. Mal a divina semente Clli ·nesse caminho,
logo o demónio a arrebata, ajudado pela dissipação
que em nós fomenta. A alma assemelha-se também
a um terreno pedregoso : a virtude ali não pode
lançar raízes; a-pesar de alguns sentimentos passa­
geiros de devoção, que só estão à superfície, o
coração é duro e insensível às coisas de Deus.
finalmente a alma parece-se com uma terra enfraque­
cido pelos espinhos que produz; os vícios sufocam
as virtudes; os negocios temporais fazem esquêcer o
único negócio necessário; uma inquieta solicitude
substilui o que o Salvador nos recomendou: Ouaerife
primum regnum Dei. O' meu Jesus, dai-me um espí­
rito sossegado e recolhido, que guarde a vossa pala­
vra, um coração sensível que a saboreie, e um tal
domínio das paixões, que me permita segui.la e pra­
ticá-la.
2. 0 Ouanto à palavra que anunciamos, já sabe­
mos que fôrça lhe comunica a sanlidade reconhecida
daquele que a prega. Lêmos na espístola do dia, por
que preço conseguiu S. Paulo os bons resultados do
seu apostolado: ln laboribus plurimis, in carceribus
abundanfius, in plagis supra modum, in morfibus fre­
quenfer. A Judaeis quinquies quadragenas, una mi­
nus, accepi. -Ter virgis caesus sum, semel lapidalus
sum, ler naufragium feci. . . ln labore ef aerumna,
in vigiliis mulfis, in fame ef sifi, in jejuniis mulfis, in
frigore ef nudifafe.
O' meu Deus, fende compaixão de vossos minis­
tros sagrados, pela compaixão que vos inspiram
tantas almas infelizes, que só esperam sacerdotes
santos para sair de seus desvarios, converter-s,e e
salvar-se.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DO)IIN(;Q DA SEXAGÉSIMA :197

Resumo da Meditação

1. O bom pensamento é uma semente que o


Salvador lança em nossas almas. - Todos os desí­
gnios de Jesus Cri5lo se reduzem a três : glorificar
a Deus, fazer Santos na terra, preparar bemavenlu­
rados para o céu. Para cumprir estes fins serve-se
principalmente dos bons pensamentos. -Eu não posso
glorificar a Deus, conhecendo-o e amando-o, se êle
não se revela ao meu entendimento e ao meu cora­
ção. E' pelo bom pensamento que Deus me manifesta
a sua grandeza, o seu poder, a sua santidade, lôdas
as suas infinitas perfeições. - Sucede o mesmo com
os outros dois fins da Incarnação : fazer Santos e
bemaventurados. O bom pensamento converte os
pecadores, alumia e dirige os justos, inflama os que
são perfeitos. E' o móbil de todos os merecimentos,
a raiz de tôdàs as virtudes, o princípio de tôda a
snntidade. De um só bom pensamento, segundo o
uso ou abuso que dêle fizer, pode depender o meu
eterno destino. Em vão te fala Jesus, pobre Sama­
ritana, se não ouves o que êle le diz, se não segues
a luz que êle te dá.

li. A palavra de Deus é uma semente que o


Salvador lança por nosso intermédio na alma dos
nossos irmãos. - E' sempre Jesus que semeia o
campo da sua Igreja: Exiif qui seminal seminare
semen suum. Devemos meditar cada palavra. Jesus
saiu do seio do Padre eterno; a sua missão foi
pregar; contudo está sempre no seio de seu Pai.
O pregador deve vir de Deus, sem deixar de estar
em Deus. A palavra de Deus é o que nós anunciu­
mos e o que Jesus anuncia por nós. Por isso não
desanimemos, quando a divina semente parece esté­
ril; nem nos vangloriemos, quando produz abundan­
tes frutos.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
198 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

III. l Como é que uma semente, de si tão fe�


cunda, se torna estéril, nas nossas almas e na dos
nossos irmãos? - Três coisas são necessárias a
quem recebe esta divina semente: conservá-la na
memória, fazê-la peneirar no coração, e submeter-lhe
a sua vontade. Não sabemos guardar os nossos
bons pensamentos; a distracção expulsa-os. A ver­
dade não lança raízes nos nossos corações endure­
cidos ; se neles causa alguma leve impressão, a nossa
vontade fraca cede, e foge das resoluções enérgicas.
-A divina palavra encontra os mesmos obsláculcs
naqueles que a ouvem; mas não esqueçamos a. fôrça
que lhe dá a santidade reconhecida do pregador.

XXXIII MEDITAÇÃO
Domingo da Qüinquagésima (1). - l Que
deverão ser para o bom padre 9s dias
de desordem que precedem a entrada
da Quaresma?

1. Dias de meditação, de penilência e de oração.


li. Dias de zêlo da glória de Deus e da salvação dos 11lmas.

I. Dias de meditação, de penitência e de


,oração. - l Oue , são êsses dias mundanos? Dias
,de dissipação, de loucura e de rebelião contra o céu.

( 1) O evangelho dêsle domingo encerra duas parles dislinlas,


admiriivelmenle adaptadas iis circunsliincias do lempo. Primeiro é
a P11ixão do Salvador proposta pelo mesmo Salvador ii medilação
de seus discípulos. A Igreja opõe-na como uma barreira ii licen­
ciosid11de e devassidão a que se enlregam muilos dos seus filhos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA QUINQUAGÉSIMA 199
l Ouem reconheceria enlão a face do Cristianismo?
Oir-se-ia que tôdas as potestades do inferno se de­
sencadearam, e que tôda a carne, éomo no tempo do
dilúvio, corrompeu os seus caminhos. Parece ler
desaparecido a razão e até a Íé ! Oue fascinação !
Oue cegueira universal! -·Jesus no Evangelho do
dia, fala dos opróbrios e tormentos que brevemente
vai sofrer em Jerusalém : Ecce ascendimus Jeroso­
lymam. Ali será entregue aos géntios, escarnecido,
açoitado e morto I Isto é o que o bom Mestre anun­
cia aos cristãos seus discípulos. Mas, longe de lhe
responderem com gemidos e lãgri01as, êles só fazem
ouvir cantos indecorosos, e excitações à devassidão!
O amor do prazer estonteia lõdas as cabeças e
exalta tôdas as imaginações.
Aqueles mesmos que são cristãos em outros
1empos, dão ocasião a que se creia que já o não são.
Divino Rei, é. é assim que vos são fiéis? é. E' cruci­
fü:ando-vos de novo nos seus corações, que se pre­
param para honrar o mistério da vossa morte ?
l E.' pela intemperança que se dispõem para o jejum?
é. Viu-se jàmais ensaiar' a súplica do perdão com um
aumento de íuror nos insultos ?
O bom padre evita nestes desgraçados dias ludo
o que se aproxima dos usos da vida mundana. 1 Oue
escândalo, se o seu exemplo autorizasse de alguma
sorte o que a religião condena I Não só se abstém
das demasias da mesa e dêsses divertimentos, tanto
mais nocivos à alma quanto mais deleitam os senti-

nesles dias de carnaval. Se pensassem nos sofrimenlos de seu


adorável Redenlor e espóso de su11s alm11s, i. deix11r-se-i11m corrom­
per pelo 11mor do pr11zer ? Depois vem II cura de um cego, oblida
pela or11çiio do mesmo cego. E' 11 imagem dêsses pecadores, po­
bres cegos, que Jesus curaria, se êles soubessem e quisessem pe-­
dir-lho. - Tiraremos daqui o assunto p11r11 11 nossa medi!açiio de
àmanhii e depois de ãmanhii.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
200 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

1
dos ( ); mas também vive retirado; quanto lhe é pos­
s(vel, para fazer mais assiduamente companhia ao
divino Rei, que os outros abandonam, e para não ser
testemunha das desordens que não pode impedir:
Ecce elongavi fugiens ef mansi in solifudine . .. , quo­
niam vidi iniquilalem el conlradiclionem ip civilafe ( 2 ).
Participa dos sentimentos de Santo Agostinho, éjuando
dizia: Bibani alii morliferas voluplales; porfio calicis
mei Dominus est e). Faz penitência, e ora por tantos
loucos, que provocam a ira do Senhor: Ululafe,
pastores, et dama/e ( 4 ). Plangife, sacerdotes; ululate,
minisfri altaris ( 5).

II. Dias de zêlo da glória de Deus e da salva­


ção das almas. - Nós somos os ami�os de Jesus;
é o nome que êle se digna dar-nos : Vos aulem dixi
amicos; i mereceríamos lê-lo, se não tivéssemos zêlo
da sua honra? é. E possu"iríamos nós êsle zêlo, se
não sentíssemos vivamente os insultos que lhe são
feitos? Opprobria exprobranfium fibi ceciderunl
super me (6). A amizade torna ludo comum entre os
corações que ela une. Vamos quantas mais vezes
pudermos alé 'junto do allar, e consolemos o nosso
divino Amigo. i Teria êle visto alguns dos seus mi­
nistros entre os ingratos que estavam presentes ao
seu pensamento quando dizia: lmproperium expecfa­
vif cor meum el miseriam; ef susfinui qui simul con­
frislarefur ef non fui!? {7) Se lhes pregunlasse hoje
o que pregunlava aos seus apóstolos, depois de uma
!riste deserção: Numquid el vos vu/fis abire, é. have­
ria -um só, que lhe não respondesse com Pedro:

(1) Hoc maxime hominis inferiora consumi!, quod ex!eriora


delecfal. S. Leo, de Jejun. Penlec. Serm. 1, e. 1.
(2) Ps. LIV, 8, 10. - ( 3 ) ln Ps. XLV.
( 4 ) Jerem. XXV, 34. - (") Joel 1, 13.
(º) Ps. LXVIII, 10. - (7) lbid. 21.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA QUINQUAGÉSIMA 201

Domine, ad quem ibimus? Verba vitae aefernàe


habes. Sim, ó meu Deus, ajudados da vossa graça,
estaremos conslanlemente convôsco, participando das
vossas amarguras e dôres: Vos eslis qui permansis­
lis mecum in fenlafionibus meis ( 1).
Mas a grande consolação, que Jesus espera dos
seus bons ministros, é vê-los voar em socôrro dêsses
cegos, que, ofendendo-o, correm para a sua eterna
desgraça_ Ouanlo mais abunda o pecado, lanlo mais
o homem de Deus se anima a combatê-lo.
Sua inércia nunca é mais criminosa do que
quando as almas estão mais expostas a perder-se.
Ora, nestes deploráveis dias, é. não caem elas no in­
ferno como as folhas do outono no momenlo da tem­
pestade? Redobremos de zêlo, quando o demónio
redobra de furor. Conselhos, pregações, cerimónias
religiosas, não desprezemos nada, para excitar o fer­
vor dos fiéis e para conter a torrente devastadora ou
deminuir seus estragos. A Sagrada Escritura disse
de Josias, que soube consolidar a piedade em dias
de desordem: ln diebus peccaforum corroboravif
pieldfem. é. Oue tendes feilo até êste dia, e que fareis
vós doràvanle para merecer Ião belo elogio?
Preparando-vos para a missa, fazei pública repa­
ração a Jesus Cristo, de lôdas as abominações que
êle vê do alto dêsse Irona a que o elevou o seu
amor. Uni-vos às almas piedosas que o visitam com
freqüência duranle as quarenta horas, e oferecei-lhe
lodos os sentimentos de adoração, de reconhecimento,
de amor terno e generoso, que a sua presença euca­
ríslica tem inspirado aos Santos.

(1) Luc. XXII, 213, 29.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Resumo da Meditação

I. Dias de meditação, de penitência e oração,


- l Oue são êles para os mundanos? Dias de dissi­
pação, de loucas alegrias e de pecado. Aqueles
mesmos que são crislãos em outros tempos, dão oca­
sião a que se pense que já o não são. O bom padre
evita com cuidado ludo o que pareceria aproximá-lo
da vida mundana: Bibani alii mor/ileras volupfafes;
porfio calicis mei Dominus esf. Faz penitência por
tantos loucos que provocam a divina ira.

li. Dias de zêlo da glória de Deus e salvação


das almas. - O sacerdote é o amigo de Deus.
l Como poderá deixar de sentir as ofensas que lhe
fazem? Opprobria exprobranfium Tibi ceciderunf
super me. Mas a grande consolação que dá ao Sal­
vador é de voar em socôrro de tantas almas que se
perdem. Redobra de zêlo quando o demónio redobra
de furor. Nada despreza para combater os escânda­
los e excitar o fervor dos fiéis.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA DA QUINQUAGÉSII\IA 203

XXXIV MEDITAÇÃO
Segunda-feira da Qüinquagésima. - Os sofri­
mentos e a morte de Jesus Cristo

Aquele que aprofunda êsle mistério com atenção,


acha nesta meditação o comêço e a consumação da
verdadeira santidade:

1. O lemor que sep11r11 do pecado, que é o supremo mal.


li. O amor, que une II Deus, que é o sumo bem.

1. Os sofrimentos e a morte de Jesus Cristo


pregam-nos energicamente o temor, que nos desvia
do pecado, pela idéia que nos dão do rigor, com que
Deus o castiga. Lembremo-nos de quem é aquele
que sofre, e o que sofre.
1. 0 Em primeiro lugar, se consul!o a minha fé
sõbre a dignidade da vítima, debaixo da forma de
servo descubro uma infinita majestade. Jesus é o
resplendor da luz eterna; Deus Padre reconheceu-o
por seu Filho amado; o céu e a !erra, os anjos e
os demónios, as pedras banhadas com seu sangue, e
os algozes que o mataram, dão testemunho da sua
divindade. Mas quê? exclama S. Bernardo, l é crível
que aquele que sucumbe aos esforços de seus inimi­
gos, seja efedivamenle o Tado-Poderoso, e que
êsse homem que expira num infame palibulo, seja o
senhor da vida, o dominador do universo? Ergone
credendum esf quod isfe si/ Deus, qui Ragelldfur, qui
conspuilur, qui cruciGgifur? Tu o crês, alma minha,
e adoras êsle Deus crucificado. E' pois sôbre um
Deus que caem os golpes de um Deus ofendido pelo
pecado; e êsle Deus penitente _não !em mais que a
semelhança do pecado. Sim, ó meu Deus, o profeta
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERIJOTAIS

linha razão para dizer: Quis novif polesfalem irae


fuae? E. S. Paulo com razão nos apresenta a vossa
Cruz como a manifestação da vossa tremenda justiça:
Quem proposuif Deus propilialionem per lidem in
sanguine ipsius, ad oslensionem jusliliae suae ( 1 ).
l Ouem será poupado, se o Filho de Deus o não é?
Quando vos contemplo, morrendo no Calvário, julgo
que vos oiço dizer por tôdas as vossas chagas, como
por outras fanfas bôcas eloqüentes: • Homens cegos,
vós não sabeis quem é aquele que deveis temer; vou
ensinar-vo-lo: Oslendam vobis quem limealis; temei
aquele, que até mesmo sôbre um Filho amado, esten­
deu seu terrível braço, e não quis ser aplacado senão
pelo seu sangue : //a dica vobis, hunc lime/e. E. acon­
selho êsle temor a lodos, e também a vós, meus
apóstolos e amigos : Dica aulem vobis amicis meis,
hunc lime/e (2).
2.º e. Oue sofre êsle Cordeiro de Deus, que é a
mesma inocência e santidade? Oiçamo-lo predizer
seus opróbrios e tormentos: Tradefur, illudetur, lla­
gellabilur, conspuefur . .. , occidenf eum. E.is o sumá­
rio da sua Paixão. Tradelur, é entregue por um dos
discípulos a seus inimigos, pelos judeus a Pilatos,
por Pilatos aos algozes, por seu Pai e por si mesmo
a lodos os géneros de injúrias e sofrimentos: Tra­
didit semefipsum pro me. Interiormente: tristeza
mortal, agonia cruel, abandôno de Deus e dos ho­
mens. . . Exteriormente: sofre nos seus bens ; é des­
pojado de ludo, reparlem suas vestiduras ; na sua
honra : 1 que insultos, que escárneos I Não é um ho­
mem. é o opróbrio dos homens. No seu corpo :
A planta pedis usque ad ver/icem non esf- in eo sa­
nitas (3). e. Oue veio a ser êsse corpo divino? Vul-

------ -
-
(1) Rom. Ili, 25. - t2) Luc. XII, 5. - (�) Is. 1, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA D.� QUINQUAGÉSIMA 'tQ;'j

nus, livor, plaga fumens ( 1). A cabeça é coroada de


espinhos, o rosto esbofeteado e coberto de cuspinhos,
os olhos banhados de sangue e de lágrimas, os bra­
ços carregados de cadeias, as mãos e os pés Iras•
passados por cravos. O' homem de dôres, se é
assim que a justiça de vosso Pai castiga em vós
iniqüidades que não era possível que cometêsseis,
i. que castigo merece aquele que as cometeu? (2)
i Oue será dos pecadores, quando Jesus Cristo no
dia de juízo opuser a pouca penitência dêles .à muita
que por êles fêz em sua Paixão I O' Cruz sagrada,
que sois hoje a minha esperança, não sejais então o
objeclo do meu terror. Tremam no dia da aflição os
que foram vossos inimigos; eu quero, aproveitando­
-me das graças qUe me ofereceis, achar em vós o meu
amparo e descanso : Non sis tu mihi formidini, spes
mea tu in die alliclionis . .. ; paveanf illi, ef non pa­
�•eam ego ( ª ).

li. Os sofrimenfos e a mor(e de Jesus Cristo


pregam-n�s o amor ainda mais que o temor. -
Absorto na contemplação dêste mistério, S. Bernardo
exclamava desfeito em lãgimas: Ouis haec omnia
fecif? - Amor. Por certo que foi o amor de Deus
para com os homens, o primeiro móbil dêsle drama,
terrível e ao mesmo tempo consolador. Foi êle que
concebeu o plano, e o executou. Foi éle que fêz ludo
o que vejo no horto das Oliveiras, no palácio de
Herodes, no prelório, no Calvário 1 ... ·é.E que fim
se propôs um Deus Ião amoroso, senão o de ser
amado por nós, e o de nos santificar e salvar? Com
efeito, é. qual é o homem, pregunla o santo Doutor,

(1) lbid.
(2) Si in viridi ligno haec fociunl, in arido quid fiel? Luc.
XXIII, .'li.
(3) Jerem. XVII, 17, 18.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
200 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

que, embora lenha um coração de pedra, se não sente


enternecido, por pouco que considere êste mistêrio?
Cujus vel s(lxeum pecfus fanfa ef falis a fali ef fanfo
co//(lf(l multiludo benelicioru1n non emolliaf? Lem­
brando-nos de um Deus que se fêz maldição para
nos livrar da maldição ( 1 ), e se entregou à morte para
nos dar direitos à vida eterna, e. como não exclama­
remos com S. Paulo: Carifas Chrisfi urge! nos?
e. como não aprovaremos o anátema, que êle profere
contra µma alma tão ingrata, que resiste aos atracli­
vos de uma bondade tão terna e generosa? Si quis
non amai Dominum. nos/rum Jesum Chrisfum, si/
anathema (2 ). Devemos responder: Domine, fu seis
quia amo fe, a um Salvador que nos diz : lnfel/ige,
.ili; dilexi te, ef fradidi memefipsum pro te; me crea­
forem pro te creafura, me palrem pro te prodigo fi­
lio, me Deum pro te homuncione, me oRénsum pro
fe oH'endenfe, me benefacforem pro te ingrato, me
summe beafum pro fe miserrimo (3). Amemos pois
com todo o nosso coração e com todo o nosso ser,
diz S. Lourenço Justiniano, aquele que . se dignou
sofrer tanto por nosso amor: Clamanf vulnera, el
super omnia clamai amor, ui fofo corde fofisque
visceribus diligalur, qui pro di/ecfione fanfa el ia/ia
perferre dignalus esf.
O' Cruz do meu Salvador, sangue do m:u Deus,
fazendo-me conhecer a fôrça do seu amor, i quão vi­
vamente me lançais em rosto a fraqueza do meu !
Concluí vossa conquista, ó Jesus crucificado! Apos­
sai-vos de um coração, que eu sinto prestes a esca­
pat-vos no mesmo momento em que promete unir-se
irrevogàvelmente ao vosso. Fazei que eu seja do nú-

(1) Chrislus nos redemit de m11lediclo legis, í11clus pro nobis


m11lediclum. G11I. Ili, 13.
(2) 1 Cor. XVI, 22. - (3) Memor. vil. sac. e. XIX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA DA QUINQUAGÉSIMA 207

mero daqueles a quem vossos sofrimentos- leem ins­


pirado o temor que separa do pecado, supremo mal,
e o amor que une a vós, sumo bem. Oh ! que eu vos
tema e vos ame! Mas seja vosso amor ainda mais
forte em mim do que vosso temor! Eu só quero te­
mer-vos amando-vos, temer-vos para sempre vos
amar. Assim acharei na meditação da vossa Cruz
ludo o que é útil e necessário à minha santificação :
Oui se inlenle el devo/e in sanc/issima Passione Do­
mini exercef, omnia ufilia e! necessaria sibi abun­
danfer ibi invenif ( 1). - Nihil Iam salufiferum esf
quam quofidie cogifare quanta pro nobis perfulif
Deus homo ( 2). - Haec medilari dixi sapienfiam; in
his jusfifiae mihi pt;rfecfionem consfifui; haec mea
sublimior philosophia, scire Jesum, e! hunc crucifi­
xum (3).

Resumo da Meditação

I. Os sofrimentos e a morte de Jesus Cristo


pregam-nos energicamente o temor, que afasta do
pecado, pela idéia' que nos dão do rigor, com que
Deus castiga . .,- 1. 0 Ouem sofre? Debaixo da forma
de servo, eu reconheço nêle a suprema majestade.
e. E' críveJ que êste homem que expira num patíbulo,
seja o senhor da vida? Tu o crês, alma minha, e lu
adoras êste Deus crucifict1do! E' pois sôbre um Deus
que caem os golpes de um Deus ofendido pelo peca­
do ! é. Ouem será poupado, se o Filho de Deus o
não é?- 2. 0 l Oue sofre êsle Cordeiro divino, que
é a mesma inocência e santidade? Interiormente: tris­
teza mortal, desamparo de Deus e dos homens ...
Exteriormente : não é lodo êle senão uma chaga!

(1) S. Bonav. Collal. VII. - (2) S. Aug. Serm. XXXIII.


(ª) S. Bern. Serm. XLIII. in Canf.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
208 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

A cabeça, o rosto, os olhos, os braços, as mãos, os


pés : tudo nêle não é senão dõr ! .., . O' Jesus, l que
será de mim, quando opuserdes a minha pouca peni­
tência à que fizestes por mim ?

II. Os sofrimentos e a morte de Jesus Cristo


pregam-nos ainda mais o amor do que o temor.
- Foi o amor de Deus para connosco o móbil dêste
drama terrível e consolador. l E que fim se propôs
um Deus tão amoroso, senão o de ser amado por
nós, e o de nos salvar? l Como não exclamar com
S. Paulo: A clJridade de Jesus Cristo nos cons­
trange? l Como não aprovar o anátema que êle
pronuncia contra o homem ingrato, que resiste a Ião
terna bondade ?

XXXV MEDITAÇÃO
Têrça-feira da Qüinquagésima. - O cego
curado perto de Jericó. -Contemplação

1. Confempl11r. 115 pe550IIS,


II. Ouvir 115 p11l11vr115,
III. Con5ider11r 115 11cções.

PRIMEIRO Pli fJL ÚDIO. Jesus acabava de predi­


zer a sua Paixão, e aproximava-se de Jericó, por
onde havia de passar,, para ir a Jerusalém, quando
um cego que eslava assentado à beira do caminho e
pedia esmola, ouvindo o tropel de gente que passava,
pregunlou que era aquilo. Logo que soube que era
Jesus que passava, exclamou: • Jesus, filho de David,
tende misericórdia de mim • . O Salvador manda

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Tf:ÍIÇA-FEIIIA DA Q[T[NQUAGÉSl!IIA 209
que lho apresentem, e pregunta-lhe que quer que
lhe faça. O cego responde: • Sennor, fazei que eu
veja•. Então Jesus diz-lhe: •Vai, a lua fé te sal­
vou •. Naquele instante é curado, e logo vai seguindo
ao divino Mestre (1).
:-,EGUNDO PRELÚDIO. O' meu Deus, curai a mi­
nha cegueira, e servi-vos de mim para curar a ce�ueira
de meus irmãos.

I. Contemplar as pessoas. - Jesus Cristo,


preocupado com a Paixão, gostando de falar dela.
Vai sofrê-la pela salvação dos homens ; 1 não estarem
êles mais bem dispostos a aproveitar-se de seus pade­
cimentos e morle 1. . . O seu divino Coração medita
continuamente algum novo benefício.
- Os apóstolos, que não compreenderam o mis­
tério da cruz, que o seu Meslre acabava de lhes
revelar ; só pensam em precedências, e meditam pro­
jeclos de ambição, até depois que lhes fêz conhecer
com que opróbrios vai expiar o orgulho humano.
Oh ! como é difícil compreender lõda a verdade, que
vai contra os nossos preconceitos e paixões 1
-A gente que cerca. a Jesus, ãvida de emoções,
impaciente de ver algum milagre. - Um pobre cego,
sentado à beira do caminho, não lendo outro recurso
senão a piedade pública : Sedebaf secus viam men­
dicans. Oue aflitiva situação! Mas êle pelo menos
sente a sua miséria e deseja vivamente sair dela.
Oh I quanto mais dignos são de lástima tantos peca­
dores engolfados nas trevas em que se comprazem,
mendigando das criaturas gozos que os aviltam e só
lhes aumentam os sofrimentos! 1 Ouanlo mais deplo­
rável é o estado de. um padre líbio, a q4em se diri­
gem estas palavras I do Salvador: Dicis quod dives

(1) M11rc. X, 46; Luc, XVIII, 35; M11llh. XX, 29.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2m
------- -MEDiTAÇÕES SACllRDOTAIS
------------ -
sum. . . ef nescis quia fu es miser ef miserahi/is, ef
pauper, ef caecus ef nudus?

li. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as


acções. -- Ouvindo o ruido de gente que se apro­
xima, o cego pregunta, e sabe que é Jesus que passa:
Dixe/unf ei quod Jesus Nazarenus fransiref. Esta
nolícia é para sua alma um raio de esperança. Ouviu
falar de Jesus, do seu poder, da sua bondade, da
sua terna compaixão para com lodos os desgraçados.
Sabe que Jesus sarou a outros cegos, e até um
cego de nascimento. Recorre a êle, exclamando :
• Jesus, filho de David, tende misericórdia de mim•
Ouerem obrigá-lo a calar-se, e clama ainda mais
alto. Oh I que sábias e santas importunações! Jesus
passa ; é uma ocasião de salvação que passa tam­
bém. é. E voltará ela de novo ? O' meu Deus,
é. quando clamarei eu a vós com êste ardor que au­
menta com as dificuldades que se lhe opõem? é. Não
saberei eu que vos agradam as iilstãncias, e as san­
tas importunações da oração?
Jesus pára: Stans Jesus. Milagroso efeito de
uma humilde súplica, animada de confiança I Ela faz
parar o lodo-poderoso, "desarma o seu braço, abre­
-nos o seu coração. O' mundanos cegos, é. não diri­
gireis também as vossas petições a Je-sus Cristo?
é. Ignorais o seu poder e a sua inclinação a fazer
bem ? é. Não ouvis o tropel dessa piedosa gente que
vai adorá-lo nos seus templos? Preguntai ao menos,
procurai saber o que é. E. responder-vos-ão: E.' o
Salvador que passa; são dias de graça, horas pro­
pícias que decorrem. E' o vosso Deus que vos oferece
o perdão e uma eterna felicidade. Oue fareis?
Jesus manda que lhe tragam o cego. • Levan­
ta-te lhe vão dizer ; o Mestre chama-te•. Oh!
que agradável surpresa I Oh I que alegre esperança
para êste infeliz! Dá um salto, e vem ter com Jesus

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TERÇA-FEIRA DA QUINQUAGÉSIMA 2H

que lhe diz: Ouid fihi vis faciam? • t Oue queres lu


que eu te faça•? O' filho de Deus, l pondes assim
o vosso poder e lodos os vossos tesoiros à disposi­
ção de um pobre' cego que lodos desamparam?
• Sim, estou pronto a conceder-lhe o que êle quiser• .
t E que vai êle pedir? l Oue faríeis vós no seu lugar?
é. De que lhe servirão lodos os bens, emquanlo esti­
ver sem a luz dos olhos? Para um cego, l haverá
maior bem que a vista? Domine, ui videam. Per­
suade-te, alma minha, de que esta petição tudo
encerra. A inteligência das verdades celestes dispõe
para tõdas as' graças, pode produzir tõdas as virtu­
des. Tiremos ao espírito os seus erros, e o coração
será curado de suas pai.xões.
- • Vê, lhe diz Jesus, a lua fé te salvou•. E no
mesmo instante viú. Cheio de júbilo louva ao Senhor,
e acompanha ao filho de Deus. Assim, para ser
cumulado dos vossos dons, ó meu Jesus, basta re­
correr a. vós e pedir com fé. l E permanecerei eu
por mais tempo prostrado pelas minhas enfermidades
espirituais, lendo um meio Ião fácil de me vêr livre
delas? Senhor, não me recuseis esta fé, cheia de
confiança perseverante e humilde, à qual prometestes
a salvação. Fazei que eu veja o meu nada e a vossa
grandeza. O' luz que sois vida, dai-me inteligência e
viverei. lnlél!ecfum da mihi ef vivam. Mas, 1 quantos
êrros é preciso dissipar nestes dias de trevas !
, Ouanlos · cegos é preciso curar! Compreendo,
Senhor; vós quereis que eu participe da vossa pie­
dade, e seja instrumento de vossas misericórdias.
• Vê, me dizeis, respice. Vê os meus discípulos, que
em tão grande número desertam da minha bandeira,
para militarem debaixo da de Satanás; vê o inferno
que triunfa, e os anjos de paz que choram amarga­
mente. Respice, vê êsses infelizes, que são teus irmãos,
e que se alegram com aquilo que é para êles a su­
prema desgraça ! Aonde irão parar? l Oue pesares,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

que desesperação não preparam para si? E po­


dendo alumiá-los, não o farás? Sê fiel, para sua
salvação, às inspirações da minha graça, e eu aben­
çoarei o leu zêlo • .
Conversai dêsle modo com Deus Nosso Senhor.
Tornai alguma resolução particular. Repefi muitas
vezes hoje, por vós e por lodos os cegos espirituais:
O' Jesus, filho de David e Filho de Deus, tende
piedade de nós•; ou sàmente esta terna invocação:
• Meu Jesus, misericórdia• ( 1 ).

Resumo da Meditação ,

1. Contemplar as pessoas. - Jesus, preocu­


pado com a sua Paixão e mor:le_, gostando de falar
dela ... Medita algum novo benefício. - Os após­
tolos, que não entendem o mi�tério da cruz, e só for­
mam projedos de ambição. - A gente que rodeia a
Jesus, ávida de emoções. - Um pobre cego, sen­
tado à beira do caminho. A sua situação é aflitiva;
mas sente e conhece a sua miséria. Mais dignos de
lástima são tantos pecadores, pobres cegos, que se
comprazem no seu estado.

li. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - Ouvindo o tropel de gente que se apro­
xima, o cego pregunta e sabe que Jesus passa.
O seu coração abre-se à esperança, e clama : Jesus,
.ilho de David, fende piedade de mim. - Jesus que
passa, é uma ocasião de salvação que passa tam­
bém . . . 1 Admirável efeito da oração ! Ela detém ao
lodo-poderoso ! Jesus manda que lhe tragam o
cego. Oh I que agradável surpresa para êsle desdi-

(1) Indulgência de cem dias, cada vez que se recilar esla


...�..riin. Pio IX. Decreto de 23 de Setembro de 1856.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUARTA-FEIRA DE CINZA

toso 1 . . . O Filho de Deus põe à disposição do


cego lodo o seu poder : i Oue queres que eu le
Íélça? l Oue irá êle pedir? Para um cego não há
coisa melhor que a visla. Senhor, fazei que eu veja.
E' atendido. O' meu Jesus, l quando serei eu aten­
dido também? Meu Deus, dai-me inteligência, e
viverei.

XXXVI MEDITAÇÃO
Quarta-feira de Cinza. - A Quaresma
do bom pastor de almas.

1. ,;_ Ouois são os deveres porliculores que.êsle tempo lhe impõe?


li. ,;_ Oue molivQs devem resolvê-!<:> o cumpri-los fielmenle?

1. A Quaresma impõe ao padre, e principal­


mente ao pastor de almas, obrigações particulares.
- Umas são relativas à sua própria santificação,
oulras dizem respeito ao cuidado do seu rebanho.
1. 0 A intenção da Igreja, na inslilu'ição da
Quaresma, foi fazer dela um tempo de reparação e
de emenda, consagrado ao retiro e à oração, à peni­
lêacia e às boas obras. Ouer honrar dêste modo a
solidão e o longo jejum de Jesus Cristo, e prepa­
rar-nos para a Páscoa, isto é, para a passagem da
morte para a vida, ou de uma vida imperfeita para
uma vida mais santa, assim como o divino Mestre se
preparou com um retiro e jejum de quarenta dias,
para renovar o mundo com a pre�ação do Evangelho.
O que ela exige de seus filhos, exige�o ainda mais
de seus ministros.
Conformando-se com ês(es in(uilos da Igreja, e
seguindo, o mais de perto possível, a Jesus Cristo, o

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

bom padre entra com éle numa vida mais retirada e


silenciosa. Da dissipação e das conversas vãs l po­
derão acaso vir as inspirações celestes? Por isso
priva-se de todo o trato com as pessoas, quando não
é necessário.
Ouanlo mais se afasta das criaturas, mais se
aproxima de Deus por meio de uma comunicação
íntima e freqüente. Faz oração com Jesus que ora
por nós no deserto, e con,o êle, junta o jejum à ora­
ção, repelindo os conselhos da natureza a respeito
dos salutares rigores que prescreve a santa Oua­
resma. l E não deve êle edificar o seu povo? l Com
que fruto pregaria a penitência, se não a praticasse
na medida das suas fôrças?
Tendo descido do monte onde estivera quarenta
dias sem comer nada, habitando com as feras e dor­
mindo em terra, Jesus terá direito a abrir o curso
das suas instruções com esta severa sentença : Poe­
nifenfiam agife, appropinquavif enim regnum coelo­
rum (1). i Oue poderosa é a autoridade do exemplo!
l E leem-na lido até hoje as minhas pregações?
O Homem-Deus não precisava de orar, nem o Santo
dos Santos de fazer penilência. Santificava-se por
nós, como êle diz a seu eterno Padre. Ego pro eis
sancfifico meipsum. O pastor de almas deve santifi­
car-se por si e pelo seu rebanho.
0
2. A Quaresma é o tempo dos grandes lra�a­
lhos do zêlo apostólico; é sobretudo então que o
sacerdote deve mostrar a sua aclividade, e é também
então que alcança as mais consoladoras vitórias.
Durante êstes dias de graça, o bom pastor está con­
tinuamente ou aos pés de Deus, para interceder pelo
seu povo, ou ao pé de suas ovelhas, para as conver­
ter ou fazer progredir na virtude.

(lJ Mallh. IV, 17.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUARTA-FEIRI>. DE r.JNZA

_ ln fempore irélcundiéle facfus es.f reconciliélfio (1).


Este dever já imposto ao sacerdote da antiga lei,
constitui para nós uma obrigação ainda muito mais
estricla. A Igreja no-lo recorda hoje, mandando-nos
ler estas palavras do profeta Joel: Inter veslibufum
ef él!lélre plorabunf sélcerdofes minis/ri Domini, ef
dicenl: Pélrce, Domine, parce populo fuo; ef ne
des haereditafem fuarn in opptobrium, ui dominenfur
eis naliones (2). Assim o compreenderam sempre os
homens de Deus, encarregados da direcção das
almas. Samuel derramou tantas lágrimas por causa
do pecado de Saúl, que o Senhor teve de as sus­
pender e de lhe dizer; Usquequo tu luges Saul?
Sabemos quais foram os gemidos de Moisés, de
Isaías, de Jeremias, por causa da incorrigibilidade
dos hebreus; e quais os de S. Paulo (3) e de Jesus
4
Cristo ( ), por causa da cegueira e endurecimento
dêsse mesmo povo.
Chorai, pois, ó Padres, ministros da reconcilia­
ção, a exemplo de todos os bons pastores e do
chefe de todos os pastores. Anjos de paz, chorai
amargamente pela perdição das almas, pelos vossos
rebanhos, no meio dos quais a iniqüidade abunda, a
fé se extingue e os escândalos se multiplicam. Mas
ao mesmo tempo que as vossas orações, penitências
5
e lágrimas ( ) falarem a Deus para o aplacar, falai a
rnssos irmãos para os instruir, converter e salvar.
Falai no púlpito e na catequese, na administração
dos sacramentos, em público e em particular ( 6 );
a Ouaresma é por excelência o tempo da prêgação
::ob tôdas as formas. Não é só um ou outro ponto

(1) Ecch. XLIV, 17. - (llJ Joel li, 17. -{3) Rom. IX, 2
i") Luc. XIX, 41.
(:') Sacerdo!um esf pro populo propiliare plandu, precibus
e� poenilen!iis. Corn. 11 Lap. in Joel.
1 6 ) Vos scilis .•. quomodo nihil sub(raxerim ulilium, quominus
�nnunliarem vobis, e( docerem vos publice ef per domos. Acl. XX, 20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2t6 Mlrnl'fAÇÕF.:S SACF.:ADOTA IS

do dogma ou da moral que se deve Ir.alar; é um


curso completo de instruções que se deve dar ao
povo. Traçai um plano; preparai as matérias com
o maior cuidado; e não esqueçais que deveis tornar
atraente a palavra de Deus. Por isso, quando falar­
des, procurai despertar a atenção, se desejais colhêr
abundante fruto. Reflecli seriamente sõbre Ião gra­
ves obrigações; examinai se faltastes a ela� em
alguma coisa; e para perseverardes na resolução de
as cumprir fielmente, considerai:

li. Motivos que induzem o bom pastor de al­


0
mas a passar santamente a Quaresma. - 1. Hã
falias a expiar, almas a salvar, e só as salvará tra­
balhando com ardor na salvação do seu povo.
E.' obrigado a fazer penilência, e a penitência custa­
-lhe; mas sente-se como que impelido a empreendê-la
com grande ânimo, e a perseverar nela com muita
constãncia, nestes dias que Deus nos dá expressa­
mente para êsle :fim:
Advenerunt· nobis dies poenifenlit1e. Os ofícios
da Igreja, as necessidades do seu rebanho, a peni­
tência que lhe prega, tudo lhe está pregando também
a êle mesmo a· penitência.
2. 0 Vê na sua fidelidade às graças dêsle santo
tempo um meio admirável de ajuntar um rico tesoiro
de merecimentos. Os trabalhos a que vai entregar-se,
as obras de misericórdia que vai praticar .sem inter­
rução. . . i que magnífica messe a recolher I e. Deixaria
êle perder Ião preciosas ocasiões de entesoirar para
o céu ? Thest1urizt1fe vobis lhest1uros in coe/o. E' a
advertência que hoje mesmo lhe faz o Evangelho.
3. 0 Nenhuma outra estação do ano eclesiástico
promete mais seguros resultados ao seu zêlo da sal­
vação das almas. Da parle dos povos, os ânimos
estão melhor dispostos; um resto de religião e o bom
exemplo, comovem algumas vezes corações inteira-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUA111'A-FEIRA DE CINZA ':!li

�ente apáticos. Da parle de Deus devemos esperar


o mesmo, porque' o Senhor está mais inclinado à
clemência. l Não é verdade que Deus deseja que
façamos vollar ·para, êle os pecadores com palavras
cheias de ternura? Derelinqual impius• viam suam,
el vir iniquus cogilafiones suas, el reverlalur ad Do­
minum, el miserehilur ejus: quia henignus el mise­
ricors esf, ef praeslahilis super mvliliâ Dominus
Deus nosfer ( 1). Ainda que estivesse irado, deixar­
-se-ia aplacar: Numquid ohliviscefur misereri Deus?
Aul conlinehil in ira sua misericotdias suas? Con­
traste bem extraordinário! O homem não pode con­
ter sua ira; e Deus não pode conter sua misericórdia!
Deixa-a trasbordar de seu coração, principalmente
durante êste jejum universal, em que tantas almas
puras se afligem para o aplacar. Estão anexas gra­
ças particulares aos dias comemorativos da nossa
redenção. • Ouando está próximo o tempo em que
a Igreja celebra a memória da Paixão, não se deve
duvidar de que o céu derrame com mais abundãncia
sôbre nós os iflfluxos dêsse adorável sangue que
foi derramado no Calvário, com tanto que lhe não
ponhamos obstáculo. (2).
Bom pastor de almas, ao começar êsle santo
tempo, lembrai-vos do seu fim. é. Como querereis
vós lê-lo passado? é. Oual será vosso contentamento,
se puderdes dizer convosco mesmo: Durante esta
quaresma, dei 'vistà a cegos, purifiquei leprosos, curei
enfermos, ressuscitei mortos; trouxe para o aprisco'
ovelhas desgarrãdas ? Com que alegria dareis o
corpo de Jesus Cristo a êsses novos convidados,
que vós mesmo preparastes para o banquete pascal 1
Se Deus recusa consolações temporais aos esforços
do vosso zêlo, contudo será, não o duvideis, em
proveito da vossa recompensa eterna.

(1 ) Offic. 1. Oominic. Ouadrag. (2) P. Nouel, (. V.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
':H8 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Resumo da Meditação

1. A Quaresma impõe ao padre, e principal­


mente ao pastor de almas, obrigações particulares.
- Umas relativas à sua própria santificação, outras
relativas ao seu rebanho. O que a Igreja exige de
seus filhos, exige-o muito mais de seus ministros:
retiro, penitência, boas obras ; é por isso que ela
quer preparar-nos para a Páscqa. O bom padre
priva-se de lôdas as relações exteriores que não são
necessárias. Ora com Jesus; e a seu exemplo, junta
o jejum à oração. Santifica-se por si e por seu
povo : Pro eis stmcliGco meipsum. - A Quaresma é
o tempo dos grandes trabalhos do Lêlç, sacerdotal.
O bom pastor de almas não cessa, nestes dias de
salvação, de trabalhar junto de Deus para o aplacar,
e junto de suas ovelhas para as trazer para Deus ou
fazer progredir na virtude.

II. Motivos que induzem o bom pastor de al­


mas a passar santamente a Quaresma. - 1 • 0 Tem
de salvar almas, e não as salvará senão trabalhando
com fervor na salvação de seu rebanho. E' neces­
sário que faça penitência por si e pelas almas que
lhe estão confiadas. 2. 0 Vê na sua fidelidade às
graças da Quaresma um poderoso meib de ajuntar
um rico tesoiro de merecimentos: Thesaurizale vobis
lhesauros in co.elo. 3. 0 Nenhuma outra estação do
ano eclesiástico promete lanios resultados ao seu zêlo.
Da parle dos povos, os ânimos estão melhor dis­
postos ; da parle de Deus há maior inclinação à cle­
mência; estão anexas graças particulares aos dias
comemorativos da nossa redenção. O bom pastor
de almas colherá na Páscoa o que tiver semeado
na Quaresma.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
LO DOlllNr.O DA QUARESMA fül

XXXVII MEDITAÇÃO
1.0 Domingo da Quaresma. - Jesus Cristo
!enfado no deserlo

I. Ninguém e�hí m6is exposto às (enlações do que os pedres e


os poslores de olmos.
li. Não devem expôr-se o elos.
Ili. Mos, se fielmen(e os evilom e repelem, niio devem inquielor-se.

1. Os padres, mais que os outros, estão ex­


postos à tentação. - E' uma necessidade que resulta
da sua vocação e das ocupaçõts que lhe são pró­
prias.
Entra nos desígnios da Pro.vidência, que lodos os
homens sejam tentados; mas, se a alma se deve
preparar para a tentação, logo que toma a resolu­
ção de abraçar o serviço de Deus: Fifi, accedens ad
servilufem Dei . .. , praepara animam fuam ad fenfll­
fionem l t), e'. quanto mais se deve preparar para ela a
alma daquele que se dedica ao mesmo-tempo a servir
a Deus e a dar-lhe servidores? Outmto mais sêde
tem o , inimigo das almas, d.a sua eterna perdição,
tanto mais se desencadeia contra os que procuram
arrancá-las ao seu furor. Os padres compõem a mi­
lícia de Jesus Cristo, que assim continua por seu
intermédio a guerra que êle pessoalmente iniciou
contra tôdas as potestades do inferno ; não é para
admirar que o inferno lhes dê os mais fortes assaltos.
Àlém disso o demónio sabe as vantagens que tira da
queda de um padre, para a execur;ão de seus pro­
jeclos: todo o exército é, por assim dizer, ferido no

(1) Eccli. li, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2'W MEDITAÇÕF.S SACE:IDOTAIS

seu chefe, lôdas as ovelhas no seu pastor: Anliquus


hostis caput pofius · quam membra, duces exercilus
pofius quam ovium greges oppugnare conalur (1).
Até mesmo as nossas ocupações auxiliam o ini­
migo. Umas põem-nos em conlàcto com a corrução
do século e todos os seus vícios. e. Oue facilidade
não dão aos espíritos das trevas, para despertar em
nós paixões mal dominadas, para -nos alormenlar
com importunas recordações? Outras atraem-nos
estima, respeito, consideração; o soberbo Lúcifer
aproveita-se disso para nos induzir ao pecado que
o perdeu. Se !ornamos parte nas coisas exteriores,
eis-nos lentados da dissipação, do esquêcimenlo de
Deus, do amor do mundo. Vivemos retirados? -
A soledade tem também os seus demónios. Todo o
padre pode dizer com S .. Bernardo: Undique hei/a
mihi vidt:o, undique ··tela volanf, undique lenfBmenfa,
undique peric:ula :. quocumque me veriam, nu/la secu­
rilas esl. E' necessãtio pois contar com as fenla­
ções; dardos previstos são quãsi sem perigo: Jacu/a
minus feriunl quae praevidenlur (2).

II. Os padres não devem expôr-se à tenta­


ção; - O Espírito Santo que o Salvador recebera·
visivelmenle nas margens �o Jordão, levou-o depois
ao deserto, para ali ser lentado (3 ). Nós recebemos
o mesmo Espírito na nossa ordenação. Se é êle, e
não o nosso espírito; se é a caridade, um zêlo ve�­
dadeiro, uma intenção pura que nos expõe à lenla­
ção: Deus estará ao nosso Jado no combale; mas se
vamos imprudentemente ao encontro _d�. um inimigo,
que jurou nossa perdição ; se procur�os as oca­
siões perigosas, não contemos com o socôrro divino.

(1) S. Laur. Jus1. De regim. praef.


(2) 5. Greg. Homil. XXX. in Evang. C) Mafth. IV, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
t,o DOMINGO DA QUA RF.SMA 22{
Lançar-nos por própria vontade num mar agitado,
esperando que Deus, para nos livrar da morte, o
acalmará e nos estenderá a mão, para nos trazer ao
pôrto de salvamento, é querermos que êle anime a
nossa temeridade, e recompense a nossa presunção.
S. Pedro e S. Paulo fornecem-nos um notável
e�emplo dislo. Ambos vão a Jerusalém, e ambos
se expõem ao perigo em circunstâncias semelhantes.
Traia-se de defender os inlerêsses de Jesus Cristo
na presença de seus inimigos. Um dêles vai negá-lo
publicamente; o ou Iro vai confessá-lo com desassom­
bro. Ambos parecem estar nas mesmas disposições.
Pedro disse m,ais de uma vez que nada o ,abalaria,
que eslava pronto a morrer; Paul0 diz outro tanto:
Ego non solum dlligdri, sed e! mori. . . pdrdfuS sum,
propfer nomen Domini Jesu (1). Todavia Pedro é
vencido, e Paulo vence. e. Donde provém a diferença?
E' que Pedro buscou a occ1sião ; pois e. para que
entrava êle no páteo de Caifãs? e. Para que se mis­
turava com essa gente ímpia? Já não sucede o
mesmo com Paulo. E.' yerdade que se apresenta na
sinagoga e no palácio do pretor; mas é o Espírito
San_lo que lá o conduz. Tudo quanto faz, é inspi­
rado por Deus: Alligalus ego Spirifu vddo in Jeru­
sa/em (2). Se Pedro seguisse os conselhos de pru­
dência, que füe havia dado seu Mestre, a graça o
leria amparado e impedido de cair; e se Paulo se
tivesse exposto por sua conta ao perigo, a graça
não o leria feito vencedor.

III. O padre que Gelmenle evita e repele as


tentações, não deve inquielar�se. - 1. °Comba­
tamo-las logo de princípio, constantemente, e com as
armas que nos indicou o Salvador. E em primeiro

('} Acf. XXI, 13. - (2) lbid. XX, 22.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
222 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

lugar rebatamos logo a má sugestão, sem disculir,


sem .transigir com o inimigo: No/o sinas cogi!tJlio­
nem crescere. . . Dum parvus esf hostis, inferlice (1).
, Oponhamos ab assalto uma constante resistência ; e,
mesmo depois de o ter vencido, desconfiemos do de­
mónio; êle só se retirou até certo tempo: Recessjf
ah illo usque ad lempus (2). Desconfiemos das nos­
sas paixões, ainda mesmo quando nos deixam tran­
qüilos. E.' durante a paz que os inimigos maquinam;
mas, visto que cada uma de nossas vitórias nos lor·
nau mais fortes, e'. porque sucumbiríamos nós, quando
o triunfo nos deve ser mais fácil?
Jesus mele-nos na mão duas armas invencíveis ;
não se traia senão de fazer bom uso delas: a vigi­
lância e a oração (3). A vigilância conserva. os
olhos da alma sempre abertos, para descobrir o pe­
rigo, donde quer que êle venha, e seja qual fõr o
tentador; porque o tentador não ê sempre o demó­
nio; é muitas vezes o que se ama, o que se leme,
e algumas vezes até o que se respeita. A vigilância
mantém-nos riesse recolhimento que nos faz achar
fôrça na fé: Cui resisti/e fortes in .ide (4). Podemos
então cobrir-nos com êsle escudo, contra o qual veem
extinguir-se os dardos inflamados do inferno: Scri­
plum esf l5); está escrito no livro onde tudo é ver­
dade. Tai é a arma com que Jesus repele o demónio.
Oh I que luz entra no entendimento, que energia na
vontade ante êsle poderoso pensamento: Scripfum
esf, está escrito ! A vigilância descobre-nos o perigo
e incita-nos a combatê-lo; a oração oblém-i:ios a

(1) 5. Hier. Epis!. XXII 11d Eusloch. - (2) Luc. IV, 13.
(3 ) Vigil11fe el or11fe, ui non inlrelis in fenlafionem. M11lfh.
XXVI, 45.
( 1) I Pelr. V, 9.
5
( ) ln omnibus sumentes sculum fidei, in quo possilis omni11
tel11 nequissimi igne11 exlinguere. Eph. VI, 16.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1.0 DOMINGO DA QUARESMA

graça de o vencer: Clélmélbit éld me, ef ego exéludiélm


eum; cum ipso sum in fribulélfione, eripiam eum, ef
glorificélbo eum (1).
2. 0 Se assim nos conservarmos perto de Deus
pela oração, perto de nós pela vigilância, nada tema­
mos. Sem o querer, o inimigo trabalha mais pela nossa
glória do que pela nossa desgraça; multiplica nossas
vitórias, aumenta nossos merecimentos, multiplicando
os nossos combales. As tentações são um grande bem
para os verdadeiros· servos de Deus : Omne géludium
exislimélfe, freifres mei, cum in lenlélliones variéls inci­
derilis . . . Beélfus vir qui sufferf fenléllionem (2).
Elas instruem-nos a respeito do nosso nada, e dão-nos
o sentimento da nossa frequeza. Humilhando-nos,
desapegam-nos desta vida em que ludo está cheio
de escolhos. Dão-nos ocasião para honrar a Deus
com a nossa confiança, recorrendo a êle: lnvocél me
in die fribulélfionis; eruélm te, el honorificélbis me (3).
Depuram, fortificam e aperfeiçoam nossas virtudes :
Virlus in infirmifélfe perficifur. Bem longe de provar
que Deus nos rejeita, elas são muitas vezes o penhor
do amor de predilecção que nos !em: Ouiél élccepfus
eras Deo, necesse fui/ ui lenlalio probélrel /e ( 4).
Ide ao altar alimentar-vos com o pão dos fortes:
Mens deficit, quélm non recepta Euchélrisfiél erigi! e/
5
élccendif ( ). O demónio treme, quando vê nossos
lábios tintos do sangue divino: Hic sanguis, cum
r.
digne suscipifur, délemones procul pellif ( )_ - Célro
Chrisli nosfrélrum refrigerélf éleslum cupidifélfum, ef
lihidinis ignem exfingui/.

(1) Ps. XC, 15.- ( 2 1 Jac. 1. 21 12.-(3) Ps. XLIX, 15.


(4) Tob. XII, 13. - ( 5) S. Cypr. Episf. LIV. ad Cornel.
6 S. Chry s. Homil, XV. in Joan.
()

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
llEOITA ÇÕES SAr._ER_O_O_T_A_IS
_ _ _
� -
-

Resumo da Meditação

I. Os padres, mais que os outros, estão expos­


tos às tentações: - Em conseqUência da sua vocação
e das suas ocupações. Devemos contar com elas
logo que nos resolvemos a servir a Deus, e com
maior razão, quando queremos dar-lhe servidores.
Quanto mais sêde lem o inimig� das alma§, da sua
eterna perdição, tanto mais se desencadeia contra os
que se esforçam por salvá-las. - Nossas ocupações
auxiliam-no. Serve-se delas para despertar em nós
paixões mal dominadas: tentações de soberba, se
somos bem sucedidos; de desalento, se o não
somos . . . Undique feia volanf, undique fenfamenfa,
undique pericula.

li. Os padres não devem expôr-se às (en(a­


ções... Se é o Espírito Santo, a caridade, o ver­
dadeiro zêlo que me expõe a elas, Deus estará ao
meu lado no combale: se as procuro imprudente­
mente, não devo contar com que êle anime minha
temeridade . . O exemplo de S. Pedro e de S. Paulo
assim o provam.

Ili. O padre que 6elmente evita e combale as


tentações, não deve inquielar-se; mas deve resistir­
-lhes resolutamente, e servir-se conlra elas, das armas
que Jesus Cristo nos põe na mão. - Não di6ramos
um só instante: No/o sinas cogifafionem crescere ...
Dum parvus �si hostis, inferlice. - Vigilância e ora­
ção.. A vigilância faz-nos descobrir o perigo, de
qualquer lado que venha, e qualquer que seja' o ten­
tador. A oração obtém-nos a fôrça de o vencer.
Se tomarmos prudentes precauções, o inimigo traba­
lhará mais por nós, que não contra nós.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TRÊS TENTAÇÕES 225

XXXVIII MEDITAÇÃO
O mesmo assunto (continuação).-Os obreiros
evangélicos estão principalmente expostos
a três tentações, análogas às de
Jesus Cristo no deserto

1. Um cuidado excessivo do corpo e da saúde.


II.. Um desejo desmedido de se !ornarem conhecidos.
Ili. Vislas de inlerêsse. próprio e de ambição.

1. Cuidar muito do corpo e da saúde. - O .de­


mónio, vendo a fome que sofreu Jesus Cristo, durante
a sua longa abstinência, ,aconselha-lhe que transforme
as pedras em pão. Se êle é o Filho de Deus, lem
direito a fazer milagres, e no estado de prostração
em que se acha, é uma necessidade. O inimigo das
almas ataca os padres do mesmo modo : incule-lhes
o cuidado da saúde. Os prelexlós não faliam: jul­
gam que são úteis, talvez necessários à gloria de
Deus, ao serviço da Igreja, fazem fruto, vêem um
largo campo aberto ao seu zêlo·: ê necessário poupar
as fôrças. E segundo êste princípio, cuja aplicação
deixam ao amor desregrado de si IJlesmos, começam
por abandpnar a prática de tôda a mortificação.
Procuram, quanto podem, ludo o que entra no plano
de uma vida cómoda e agrndável; e, se por efeito
das circunstâncias, se acham condenados a alguma
privação, e na necessidade de sofrer alguma coisa,
queixam-se.
é Poderá esta disciplina relaxada formar um após­
tolo? é Foi êste porventura o exemplo que nos deu
Jesus Cristo ? Logo que recebeu o baptismo e a
missão exterior que seu eterno Pai lhe deu, procla­
mando-o seu Filho e o objedo de tõdas as suas

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
226 MEDITAÇl)ES SAGKRDOTAIS

complacências, retira-se para o deserto, levado pelo


Espírito Santo. E uma vez ali, que faz? Ora e
1e1ua. lE qual é o seu jejum? Ouaren!a dias sem
comer nem beber! Se repoisa por alguns instantes,
é sõb r,e a terra nua. l Não era isto ensinar-nos que,
longe- de renunciar à penitência, quando desempe­
nhamos as funções da vida aposlõlica, é então prin­
cipalmente que devemos considerá-la mais indispen­
sável?
Hã pecadores por quem nós devemos fazer peni­
tência, se quisermos convertê-los, assim como hã
demónios que não se lançam fora senão à fôrça de
oração e de jejum (1). Verdade é que a prudência
deve regular o uso das mortificações. Mas, se aten­
dermos ao exemplo de Jesus Cristo e ao dos Santos
Padres, parece que se pode ir longe sem faltar à ,
prudência. Como quer que seja, não nos queiramos
guiar por nós mesmos; não sigamos os conselhos
do espírito das trevas, que nos prega a cautela, para
nos levar a uma vida sensual ; oiçamos, sim, os
conselhos do espírito de verdade que nos cone.luz
por intermédio do nosso direclor espirHual. Despre­
zemos a sabedoria da C6rne, verdadeira morte, por­
que é inimiga de Deus; e adaptando as suas máximas
não se pode agradar a Deus (2).
Entreguemo-nos aos cuidados da Providência.
Aquele Senhor que provê às necessidad�s das aves
e de tantos homens que só se servem de seus bene­
fícios para o ofender, c1. poderá esquecer-se de seus
ministros? Ouanto menos cuidarmos da nossa saú­
de, mais cuidado lerá dela o nosso divino Mestre.

(1) Hoc nulem genus non ejici{ur, nisi per or11tionem el jeju­
nium. M11t1h. XVII, 20.
(2) Prudenlin c11rnis mors esl. . . Sopienli11 cnrnis foimic11
esl Deo • . . Oui in c11rne sunf, Deo pl11cere non possunf. Rom.
VIII, 6-8.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TRÊS TE�TAÇÕES

Não esqueçamos que uma grande mortificação e uma


grande confiança em Deus, são as duas disposições
'mais necessárias aos homens apostólicos.
1

II. Um desejo desmedido de se mostrar. -


E' a segunda tentação, contra a qual devemos estar
prevenidos, principalmente quando se começa a exer­
cer o sagrado ministério. Apenas entram nêle, julgam
alguns que são aptos para tudo. Tornam encargos
que não podem satisfazer; aspiram a mais do que é
devido; e algumas vezes os contratempos são o cas­
tigo desla presunção. Pode um sacerdote ser cha­
mado ao serviço das almas, sem contudo ter graça
e missão para tôdas as obras do migistério sacerdo­
tal. Se Deus, que dispõe de vós por intermédio de
vossos superiores, quer sàmente que ensineis a dou­
trina cristã, não vos melais a pregar; se éle quer que
pregueis na igreja, de uma aldeia, não penseis em
subir aos púlpitos das cidades. Não vos deixeis se­
duzir pelas aparências do zélo; só trabalhareis com
segurança para vós, e com fruto para o próximo,
onde Deus quer que estejais, e nos ministérios que
éle vos destina.
Desconfiai désse empenho em mostrar-vos muito
cédo, e onde não· deveis; não é o Espírito Santo
que vos impele, é o tei;itador. Jesus Cristo é enviado
para alumiar o mundo com sua divina palavra, e to­
davia é levado ao deserto, aonde ninguém irá ou­
vi-lo. Esperai; cada coisa tem sem tempo. ê.le sai'rá
dessa solidão, começará suas pregações, quando che­
gar o dia marcado, e a glória de Deus e a salvação
do mundo nada perderão com esta demora. Eis o
nosso modêlo. Entreguemo-nos a ocupações obscu­
ras, .limitemo-nos aos emprêgos em que a humildade
se exerce juntamente com a caridade: confessar
os pobres, instruir as crianças e os ignorantes; os
melhores operários evangélicos por aí principiaram e

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
I\IEDITAÇÕES SACERDOTAIS

nada preferiram a isto em todos os seus ministérios.


Se mais tarde fôrmos chamados a alguma coisa
maior no conceito dos homens, obedeceremos com
uma coragem mais firme, pois teremos aprendido
melhor a desconfiar de nós e a confiar só em Deus.

III. Vistas de ambição e inferêsse: duas tentp­


ções reünidas no último esfôrço de Satanás contra o
Filho de Deus. Depois de o ter levado ao pináculo
do templo, para que êle desse espedáculo e atraísse
a adm_iração de todos com um milagre, transporta-o
a um alto monte, onde lhe mostra o que o mundo
tem de mais sedutor: as riquezas e as honras; apre­
senta-lhe aos Qlhos as grandezas da terra, não na
sua realidade, mas na sua aparência, gloriam eorum;
e promete dar-lhe tudo isto, se consente em adorá-lo.
Haec omnia fibi dabo, si cadens adoraveris me. l Oue
enganadoras promess!:ls faz ainda todos os dias, não
só aos seculares mas aos eclesiásticos! i Quantos
se deixam deslumbrar, quando lhes- dá esperança; de
conseguir essas dignidades, que os Santos tanto te­
meram 1 1 Quantas imaginações êle exalta! Fanlaziam
brilhantes sucessos; vêem-se louvados, considerados.
Insinuam-se na confiança das pessoas ricas e pode­
rosas; e então 'é. até onde não levam suas esperanças?
é. A que indi-gnas complacênciqs não descem a.lgumas
vezes?
Envergonhemo-nos sem desanimarmos, se êstes
humilhantes pensamentos se oferecem ao nosso espí­
rito, pois vemos que o pai da mentira ousou sugerir
ao Mestre da verdade pensamentos semelhantes.
Respondamos com Jesus : • Está escrito: Adorarás
o Senhor teu Deus, e só a êle servirás.. Sim, a Deus
só I Ou,Jquer outra servidão nos aviltaria. Afei­
çoemo-nos só aos bens que durarão sempre, e não
aos que se desfazem como um sonho. Conservemos
tôda a nossa liberdade e, se fôr possível, não deva-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TRêS TENTAÇÕES

mos nada a ninguém senão à nossa caridade (1).


A ambição leva ao precipício; 1 quantos padres leem
achado nas dignidades eclesiásticas ocasião de sua
eterna ruína! Ouam mui/is honor occasio exilii
fui/! (2) A primeira conseqüência da ambição e da
cobiça é sempre o avillamenlo do carácter sacerdotal.
O mesmo demónio o reconhece, observa Santo lre­
neu, na expressão de que se serve: Si cadens .. .
Com efeito, é descer da elevada dignidade de homem
de Deus à escravidão de Satanás (3) ; é sujeitar-se
àquele que se deveria ter debaixo dos pés; e caindo
neste abismo, l em que abismos de crimes e desgraças
não cai 1,1m padre? Omnium malorum radix cupidi­
fos, ex qua sacrilegla, simonia, e/ omnium fere maio­
rum cohors prodil _(4).
Jesus Cristo, vencedor em lodos os assaltos que
lhe deu o demónio, é honrado e servido pelos anjos,
que veem da parle de seu Pai h-azer-lhe um alimento
celeste. Deus costuma proceder assim com seus mi­
nistros firis. O seu desinlerêsse e humildade fá-los
estimar; procuram-nos, e muitas vezes ocorrem às
suas necessidades. Mas não aspiremos nestã vida
senão à honra de servir a Deus, e de ser pobres com
Jesus Cristo e por Jesus Cristo.

Resumo da Meditação

I. Cuidar excessivamente do corpo e da saúde.


- Foi por aí que ·o demónio atacou primeiramente ao
filho de Deus, vendo-o debilitado pela sua longa
abstinência. Não lhe foliam prelexlos para incitar os
padres a cuidar da saúde. Representa-lhes lôda a

(1) Rom. XIII, 8.- (9) S. Aug. De verbo Dom. Serm. XII.
( 3) S. lren. Advers. haeres. 1. v, e. XXII.
( 1) Convenf. Melodun. 11n. 1579.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
230 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

mortificação como prejudicial ao ministério sagrado.


Daí a urna vida efeminada só dista um passo. Ape­
nas o Salvador recebeu a sua missão, começou-a
pelo jejum. E que jejum I A penitência é indispen­
sável ao apóstolo; a prudência regula o seu uso,
sem fazer abandonar a sua prática. Uma grande
mortificação e uma grande confiança em Deus são
as duas disposições mais necessárias ao homem
oposlólico.

II. Um desejo desmedido de se mostrar. -


Desconfiemos do empenho em mostrar-nos muito
cedo e onde não é preciso. Jesus é enviado para
alumiar o mundo com sua prêgação, e todavia o
Espírito Santo leva-o ao deserto. Começará a pre­
gar, quando chegar o dia marcado; a salvação do
mundo ·nada perderá com isso. Limitemo-nos às
ocupações obscuras, e pelo tempo que Deus quiser
que a elas nos entreguemos.

III. lntuifos de ambição e inlerêsse. - Estas


duas tentações acham-se reünidas no último esfôrço
de Satanás contra Jesus Cristo ! j Oue enganadoras
promessas faz ainda hoje o demónio aos f'clesiásti­
cos I Respondamos com o divino Mestre: Está es­
crito . . . A ambição leva ao precipício. O êlesinte­
rêsse e a humildade constituem a glória do sacerdócio.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
---,--------- ----------
2.• DOMINGO DÍ QUARESMA 231

XXXIX MEDITAÇÃO
2.0 Domingo da Quaresma. - Jesus no Tabor.
- A Transliguraçiio e a Paixiio.

). Reloção que leem enfre si êsles dois 1j1islérios.


li. Ouan!os cristãos e padres procuram separíi-los.

1. Os mistérios da Transfiguraçií.o e da Paixão


teern entre si íntima relação. - E' no meio dos res­
plendores da sua Transfiguração, que Jesus Cris!o
fala da sua mor!e, com dois dos seus ministros do
Antigo T eslamenlo, e na presença de lrês do Novo.
t Oue havia de comum entre o Tabor e o Calvário?
t Para quê aproximar duas situações Ião opostas?
No primeiro dêstes mistérios ludo é glória e delícias
para Jesus Cristo ; no segundo ludo é opróbrio e
sofrimento. No Tabor o seu rosto é refulgente como
o sol, suas vestiduras se fazem brancas como a neve;
no Calvário está nu, desfigurado, ensangüentado. Ali
o Padre Eterno reconhece-o por seu filho amado;
aqui o filho queixa-se de ,ser desamparado e desco­
nhecido de seu Pai. Hoje seus apóstolos não podem
separar-se dêle; no dia da sua morte, todos o aban­
donarão 1 ... Todavia êsles dois mistérios leem entre
si íntima relação. Um mostra-nos a corôa que nos é
destinada; o outro ensina-nos por que preço a alcan­
çari;_mos. A sua união faz-nos conhecer que neste
mundo .a doçura e a amargura, a glória e a ignomínia
não podem estar separadas muito tempo. Modera a
nossa alegria na prosperidade, consola-nos na adver­
sidade, e anima-nos com a esperança. Tem principal­
mente uma admirável fôrça para abrasar nossos co­
rações no amor divino. Sem a Transfiguração como-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ver-nos-ia menos a Paixão. Depois de contemplar


as grandezas do filho de Deus, apreciamos melhor
a caridade que o fêz descer por nós ao último grau
de humilhação. Se não tivesse o cuidado de reve­
lar-nos suas grandezas, l pensaríamos nós no sacri­
fício que fêz delas por amor de nós, não durante
algumas horas sàmenle, ou alguns dias, mas durante
lôda a vida? E.' um piedoso sentimento, quási geral­
mente admitido pelos autores místicos, que o estado
de Jesus Cristo no Tabor era seu estado naturàl,
quanto olhos mortais podiam sustentar seu resplen­
dor, e que sua Transfiguração não foi um milagre,
mas a interrução momentânea de um milagre de amor,
sem o qual não leria podido humilhar-se, nem pade­
cer, nem morrer por nós. No jardim das Oliveiras
suspendeu o efeito da visão beatífica, para que sua
alma fõsse oprimida de tristeza; durante lôda a vida,
suspendeu o efeito da união hiposlálica, para que sua
santa humanidade estivesse sujeita às humilhações,
aos sofrimentos e à morte.
Mas lporque são a<lm_ilidos só os apóstolos ao
espedáculo da Transfiguração ? Como os ministros
de Jesus haviam de ler neste mundo uma parle mais
abundante em seu-s opróbrios, e haviam de beber, mais
que os outros, do' seu cális de amargura, era neces­
sário ensinar-lhes que, se fõssem fiéis, haviam de ser
os primeiros no seu reino. Três classes de bemaven­
lurados leem no céu um lugar separado e uma auréola
de glória, que os distingue: os que venceram o espí­
rito da mentira, estabelecendo e defendendo a ver­
dade, como os dou/ores; os que triunfaram do �un­
do, como os márlires; os que subjugaram a carne,
como as virgens. Os primeiros são representados
no Tabor por S. Pedro, o mestre da fé por exce­
lência; os segundos por Santiago que, antes dos
outros apóstolos, selou com seu sangue a verdade
evangélica ; e os úllimos por S. ,João, cui Chrisfus

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2.0 DO�flNGO DA QUARESMA 233

in cruce Mafrem virginem virgini commendavif. Ora,


um padre justo e santo adquire direitos a esta tríplice
aureola. E' virgem; pode-se dizer dêle como do
discípulo a quem Jesus amava: Virgo esf elecfus a
Domino. E' mártir da caridade, sacrificando-se con­
tinuam.ente pelo seu rebanho: Marfyr semel propler
Chrisfum morifur, hic vera mul!ofies propler gregem.
Sic Paulus: Ouofidie morior propfer vesfram salufem,
fréJfres (1). E' doulor; sua missão é dissipar as lre­
vas da ignorância: docefe; e, se a cumpre com zêlo,
pode conlar com a divina promessa: Oui ad jusfi­
liam erudiunf mui/os, fulgehunf quasi sfellae in per­
pefuas aefernifafes. O' meus bons padres, no meio
das vossas tribulações lembrai-vos do céu. Estre­
mecei de alegria, pensando nessa glória incomparável
que vos está reservada, e que aumentará incesssan­
!emente com o júbilo daqueles que o vosso zêlo tiver
salvo. Tende paciêl'l,cia, e dizei com S. Paulo : Non
sunl condignae passiones hujus femporis ad fulurnm
gloriam quae revelahilur in nohis- (2). Pensai muilas
vezes nas ínlimas relações que há entre a T ransfigu­
ração e a Paixão, entre o Tabor e o Calvário.

II. Ouanlos cristãos e padres procuram sepa­


rar êsles dois mistérios. - Assim procedem todos
aqueles a quem seduzem as ilusões de uma devoção
cómoda: Bonum esf nos hic esse. Querem, como
Pedro, estar com Jesus Cristo, com a condição de
que seja nas honras e delícias. Oue quimera I Jesus
só está um instante no Tabor, e ainda assim lodo
absorto nos seus sofrimenlos. Tôda a sua vida per­
tence à cruz e há de ser um martírio prolongado:
ToléJ vila Chrisfi crux fui! ef marlyrium. é Como é

11) S. Chrys. Homil. XXIX. in Episl. ad Rom.


(2) Rom. VIII, 18.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
�H:DITAÇÕE� SAC_E_R n_o_T_A_l s_______

possível não ver que uma devoção muito cómoda


está em oposição formal com a piedade que .J�sus
nos ensinou com sua doutrina e exemplos? Üs' 'seus
exemplos mostram-nos a piedade em conlinuo sacri­
fício. A sua doutrina faz consistir a piedade em
três coisas: negar-se a si mesmo, !ornar a sua cruz,
e segui-lo (1).
Estas três palavras são o resumo da moral, que
veio ensinar aos homens. Viver na piedade, é morrer
para as minhas inclinações, para os meus gozos,
para mim mesmo. é, E' possível que eu morra para
tudo e para mim mesmo, sem que isso me custe?
Todavia, é, que coisa mais comum entre pessoas
religiosas, e desgraçadamente também no santuário,
que esta pretensão de ajuntar a piedade com as co­
modidades? • Muitos drsejam o celeste reino de
Jesus, mas poucos consentem em tomar a sua cruz .
Acha muitos companheiros parif a sua mêsa, mas
poucos para a abstinência; todos querem participar
da sull alegria, mas poucos querem sofrer alguma
coisa por êle. Muitos seguem a Jesus até ao partir
do pão, mõs poucos até beber o cális da sua Pai­
xão ; admiram seus milagres, mas não gostam da
ignomínia da cruz• (2). é, Ouantos padres renovam
todos os dias no altar a memória de um Deus peni­
tente, morrendo por nós no Calvário, e quási _ne­
nhuma penitência fazem? i Ouanlos pregam o seu
Evangelho de mortificação, e permanecem estranhos a
tõda a prática de mortificação! Procuram uma
vida sem trabalho no mais laborioso de lodos os
estados, e buscam prazer no serviço de um Deus
crucificado! Jesus fêz milagres para sofrer e ser
saturado de opróbrios; êles fá-los-iam, se pudessem,
para afastar de si tudo o que os incomoda e humi-

(1) Mt1lth. XVI, 24.-(!) /mil. 1. li, e. XI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2. 0 DOMINGO DA QUARl!:S'.'IU 235

lha 1 . . . é Como podem lêr sem receio êsle oráculo


de S. Paulo : Si quis Spirilum Chrisfi non hDhef,
hic non esf ejus? (1) Entrai pois finalmente com va­
lentia e conslância neste caminho da cruz, onde vos
precederam os homens apostólicos e lodos os San­
tos : Ouid times fol/ere crucem per quam ifur ad
regnum? ln cruce sDÍus, in cruce vifD . . . ln cruce
infusio supernae suavifa/is . . . ln cruce perfectio
stmctifofis. Tolle ergo crucem fuam ef sequere Je­
sum, ef ihis in vifom Defernam (2).

Resumo da Meditação

I. lnlima relação que feem enfre si os misfé­


rios da Transfiguração e da Paixão. - Um mos­
tra-nos a corôa que nos é destinada; o outro faz-nos
conhecer por que preço n obteremos. Na terra as
doçuras e as amarguras não podem estar separadas
muito tempo. Sem a Transfiguração comover-nos-ia
menos a Paixão. Parti apreciar os sacrifícios que
Jesus fêz por nós, é necessário que nos lembremos
sempre de quem êle é. Admite como testemunhas
da Transfiguração aquêles q:ie hão de ler maior par­
ticipação nos seus opróbrios, neste mundo, e na sua
glória, no outro.

li. l Ouanfos cristãos e padres procuram se­


parar êstes dois mistérios? - São lodos os inclina­
dos a uma devoção cómoda. Querem estar com
Jesus Cristo, com tanto que seja nas honras e de­
lícias. é Como é possível que não vejam que uma
piedade sem incómodo, sem sacrifício, está em · con­
tradição com a piedade própria do espírito de Jesus

(') Rom. VIII, 9. - 12) lmif. 1. 11, e. XII.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
236 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Cristo? Oue ensinou êle? Como viveu? Sua dou­


trina resume-se em três coisas: negar-se a si mesmo,
tomar a sua cruz e segui-lo. Uma só palavra resume
todos os seus exemplos: padecer. Entremos final­
mente com valor e constância neste caminho da
cruz, onde nos precederam os homens apostólicos e
todos os Santos.

XL MEDITAÇÃO
3.0 Domingo de Quaresma. -Eraf Jesus
eficiens daemonium, ef illud era! mufum.
-o DEMÓNIO Muoo.

1. Eslragos que foz no rebanho de Jesus Crisfo.


li. Como devem os pastores combolê-lo.

I. O demónio mudo foz grandes estragos no


rebanho de Jesus Cristo. - A morte e a vida estão
em poder da língua, diz o Espírito Santo: Mors ef
vila in manu linguae (1). i Oue fonte de vida no bom
uso do dom da palavra! Mas ao mesmo tempo,
l que coisa mais funesta que d _seu abuso? Santiago
chama à língua um mundo de iniqüidades : Univer­
sifas iniquilafis. l Não ,é o silêncio, quando Deus
manda falar, um crime enorme e uma causa de gran­
des desgraças? E.' o demónio mudo que impede que
os escravos do respeito humano se declarem publica­
mente por Deus, ainda que o adorem no íntimo do
coração, e que se levantem contra as desordens que

(L) Prov. XVlll, 21,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
3.º DOMINGO DA QUARESMA 237
presenceiam, pôslo que interiormente as deplorem.
Manteem a verdade cativa, e não ousam confessar
públicamente a sua fé, ainda mesmo quando o silên­
cio é uma espécie de apostasia. Oêste modo a vir­
tude é abandànada aos insultos, por aquêles mesmos
que a amam ; a impiedade e a liberdade são autori­
zadas, animadas .e propagadas por aquêles que leem
amor à religião e aos bons costumes; e, como nada
há mais contagioso que esta fraqueza, cem cora­
ções magnânimos cederão, porque um só se deixou
vencer.
E: o demónio mudo que faz afastar dos sacra­
mentos, e principalmente da confissão, um grande
número de homens virtuosos, fiéis às outras obriga­
ções do Cristianismo. Ouando acabaram por se
submeter a um dever que o espírito de mentira lhes
havia pintado com falsas côres, são os primeiros a
pregunlar a si mesmos como puderam por fanfo tempo
arriscar a salvação e privar-se de Ião dôces consola­
ções. E' êle que converte em veneno mortal o remé­
dio mais salutar para essas almas sacrílegas, que êle
induz à dissimulação na confissão das suas culpas.
Uma pessoa desej.ava aliviar-se do pêso que a opri­
mia; sentia-se vivamente incitada a ser sincera; tinha
começ.ado bem; uma palavra mais, e tem o céu se­
guro, e na vida presente essa paz que sobrepuja lod0
o entendimento; uma palavra menos, e merece o
inferno, .e .desde já o remorso que a dilacera. é. Oue
poder oculto fêz morrer em seus lábios essa palavra
indispensável? - O demónio mudo.
Mas os seus estragos no rebanho de Jesus Cristo
nunca são Ião deploráveis como quando exerce a sua
tirania sôbre os mesmos paslores. Seu maior triunfo
é encadear a palavra sacerdotal. Ou fecha a bõca
aos ministros do Senhor, ou não lhes permite que fa­
lem senão com timidez, quando deveriam falar com
energia. O' padre, vós concedeis-lhe êsse funesto

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

triunfo, quando, sendo cura de almas, vos descuidais


de as instruir com a catequese e a pregação, pois
é certo que a ignorância da religião acarreta lôdas
as desgraças ; quando não corrigis, com prudência
é verdade, .mas também com a santa liberdade que
vos convém, os pecadores escandalosos que perver­
tem o povo, os libertinos, os blasfemos, os profana­
dores do domingo ; quando não vos opondes, corno
um muro de bronze, aos costumes perniciosos que
procuram introduzir-se; quando, na administração
dos sacramentos, não ousais advertir quanto seria
necessário, para que os recebam com respeito e
fruto; quando no sagrado tribunal poupais a delica­
deza dos culpados, à custa da sua salvação, deixan­
do-os na ignorância das graves obrigações que só
vós podeis ensinar-lhes. e. Oue cruel misericórdia é
essa, pregunla S. Cipriano, que consiste, não em
curar o ferido, mas em esconder a sua ferida, para
nela encerrar a morte? Nihil in sacerdote, diz Santo
Ambrósio, Iam periculosum esf apud Deum, Iam
furpe apud homines, quam quod sentia{ non libere
denunliare. Examinai-vos sôbre todos êsles pontos.
é.Tendes vós o zêlo que repreende, roga, e admoesta
com tôda a paciência? (1) O dever de corrigir
está Ião ligado ao vosso ministério, que, para vos ilu­
dirdes a êste respeito, seria preciso que pudésseis es­
quecer o que sois. Si sacerdos esf ef non corrigi!
delinquentes, sacerdoiis oflicium praeferif (2).. Evitai o
desgôsto de dizer mais tarde : Ai I de mim que me
calei, quando us leis mais sagradas me obrigavam a
falar I Vae mihi, quia facui ! (3 )

II. Como devemos combater o demónio mudo.


- e. Traia-se do respeito humano? Voltemos contra

(1) li Tim. IV, 2. - (2 J 5. Hier.. Commenf. in Til.


(3) Is. VI, 5• .
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
3.0 DOMISGO DA QUARESMA

êle suas próprias armas. Êle ataca os homens com a


vergonha e o temor: façamos que o seu vil e desgra­
çado escravo se envergonhe e lema. Conseguiremos
êste fim, se o obrigarmos a encarar o objeclo datsuõ
vergonha e do seu temor.
é. De que se envergonha êle? Da virtude, da re­
ligião, de Deus, de Jesus Cristo, islo é, de ludo o
que constitui a glória do homem. E que leme? Uma
palavra, um sorriso, a opinião dos homens hipócritas
e pervertidos que êle despreza! Ouer inculcar inde­
pendência, e sujeita-se à mais indigna servidão, sub­
metendo-se aos êrros, aos caprichos, às paixões de
lodos os que se aproximam dêle, deixando-se domi­
nar até na própria consciência. é. Havetá escravo
mais escravo? Se ainda não perdeu a fé, mostre­
mos-lhe outro objeclo de confusão e de terror nêste
oráculo da mesma verdade: Oui me erubuerif ef
meos sermones, hunc Filius hominis erubescei cum
veneril in majesfofe sua (1).
Nêstes dias de preparação para a comunhão pas­
cal, tenhamos particular cuidado dessas pobres al­
mas a quem o dem�nio mudo arma o mais perigoso
de lodos os laços no mesmo tribunal da reconcilia­
ção, inspirando-lhes culpáveis reticências, quando a
humilde confissão lhes ia alcançar. um perdão Ião
consolador. i Por que cegueira lhes faz achar vergo­
nha naquilo que mais honra o coração humano : a
sinceridade, a franqueza, a lealdade I e. Como pode
o orgulho temer uma humilhação Ião gloriosa? Evi­
temos a tentação com palavras animadoras. E' aqui
principalmente que o confessor deve mostrar a con­
descendência, a terna compaixão de um pai.
finalmente, para nos livrarmos e nos defender­
mos das pérfidas insinuações do demónio mudo, pen-

(1) Luc. IX, 26.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
llfEDITAÇÕES SACERDOTAIS

semos muitas vezes na terrível confo que havemos


de dar dos talentos e ministérios, que nos leem sido
confiados. O pastor de almas deve ser ·prudente e
ciramspedo, mas ao mesmo tempo deve ser firme e
animoso. Deus dissipará os ossos daquêles que
procuram agradar aos homens : Deus dissipavif ossa
eorum qui hominibus placenf (1). Castigará os tímidos
tanto como os mais criminosos: Timidis aulem ef
incredu/is, ef execra/is ef homicidis . . , pars illorum
erif in slagno ardenfi igne e! sulphure (2). Medite­
mos a advertência que nos faz Santo Ambrósio:
Canes mufi reprobanfur in scripfuris: unde et tu
disce vocem fuam exercere pl'o Chrisfo . ne quasi
mulus canis commissam tibi Ecclesiae custodiam
quod praevaricalionis si/enfio deseruisse videaris (5).
Adaptemos a bela mtíxima de S. Gregório Nazian­
zeno: Um servo de Deus só deve temer uma coisa,
que é temer alguma coisa mais do que a Deus: Nec
quidquam mefuendum esf, quam ne quid magis quam
Deum mefuamus.
No altar recebereis aquele cujo poder era admi­
rado por um povo inteiro que ex�lamava : Surdos fecif
audire ef mufos loqui. Suplicai-lhe como graça par­
ticular que, ao dar-vos seu divino corpo, vos solte a
língua para que, faleis desassombradamente tõdas as
vezes que o exigirem 'os inferêsses da sua glória e a
salvação das almas.

Resumo da Meditação

I. O demónio mudo faz grandes estragos no


rebanho de Jesus Cristo. - A morte e a vida estão
em poder da língua. O mero silêncio é algumas
vezes um crime e uma causa de grandes desgraças.

(l J Ps. LII, 6. -.(2) Apoc. XXI, 8. - (ª) ln Ps. CXVIII.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
3,0 DOMINGO DA QUARESMA

- E' o demónio mudo que impede a fala aos escravos


do respeito humano, que os afasta dos sacramentos
e principalmente da confissão, ou os impele ao sacri­
légio. Mas nunca seus estragos são Ião deploráveis,
como quando encadeia a palavra sacerdotal. Daí a
instrução desprezad·a� a correcção omitida ou mal
dada. Evitemos o desgôsto de dizer lprdiamenle:
Vae mihi quit1 ft1cui !

II. Como devemos combater o demónio mudo.


- Se se traia do respeito humano, façamos que' o
seu vil e desgraçado escravo se envergonhe e trema,
mostrando-lhe o objecto da sua vergonha e do seu
temor. r.le envergonha-se de tudo o que há de mais
honroso: a virtude, a religião e Deus. Teme o que
há de menos temível: a opinião dos homens hipó­
critas que êle despreza. i Mostremos-lhe outro mo­
tivo de confusão e de terror: Oui me erubuerif . ..
- Tenhamos especial cuidado dessas· almas, a quem
o def!1Ónio mudo arma o mais perigoso de lodos os
laços no tribunal da penitência; façamos-lhes com­
preender a honra e felicidade das confissões que
elas temem. - Finalmente, para nós mesmos nos
preservarmos dessa indigna fraqueza, pensemos na
conta que devemos dar dos talentos e ministérios
que nos tiverem sido confiados. Deus dissipt1vif assa
eorum qui hominibus plt1cenf. - Nec quidqut1m ma­
gis meluendum esf, quam ne quid magis quam Deum
mefut1mus.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
't\_'t______M_E_D_I_T_A---'Ç'-Õ_E _S _ S_A_CE_R_D_O_TA_l_S ________

XLI MEDITAÇÃO
4.0 Domingo da Quaresma. -Mulliplicaç§o
dos p§es - Confemplaç§o

I. Confempl11r 11s pesso11s;


li. Ouvir 11s p11l11vr11s;
III. Consider11r 11s 11cções.

PRIMEIRO PRELÚDIO. Jesus Cristo, lendo subido


a um mohle, e vendo-se r·odeado de uma grande
multidão de gente, em lug!lr 'de a despedir em jejum,
como pediam os apóstolos, manda-lhe distribuir cinco
pães e dois peixes, que se multiplicam alé saciar
cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças.
Vendo o milagre que Jesus operou, o povo quer
aclamá-lo rei (1).
S1mu:mo PRELÚDIO, Imaginai uma vasta planí­
cie, e Jesus no meio dos se!,JS apóstolos, não deixando
de instruir a grande multidão de gente que o cerca,
se"não para curar os enfermos que lhe são apre­
sentados.
TE)WElRO PRELÚDIO, Supliquemos ao Salvador
que nos instrua a respeito do milagre da multiplica­
ção, dos pães; que faça brotar em nós os sentimentos
que êle inspirou; e, principalmente que nos façç1 com­
preender e amar o banquete eucarístico figurado por
êsle milagre.

I. Contemplar as pessoas. - Jesus Cristo.


Seu zêlo é infatigável. Depois de empregar lodo o

(1) Jo11n. VI, 1,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
(l,o DOMINGO DA QUARESMA

dia em instruir o povo e curar os enfermos, tinha-se


retirado com os apóstolos para um monte vizinho,
a-fim de aí se entregar à oração; mas não tardou a
descer dêle. Na planície esperava-o uma grande
multidão de gen�e qu�, lendo-o já ouvido, queria
ainda ouvi-lo, pôsl_o que não tivesse comido há muito
tempo. Lêde no rosto dêste divino Mestre, a terna
compaixão que sente, vendo tantas pe�soas necessi­
tadas, tantas ovelhas sem pastor, que nêle leem o
único recurso: Cum sublevasse{ oculos, el vidissef
quia mui/iludo magna venif ad eum . . . Feliz a alma
que vos causa compaixão, Senhor I Qualquer que
seja a sua aflição, será consolada. Feliz aquele que
vos busca, e que vêdes que vem ter convosco! -
Os apóstolos. Mostram-se aqui com seus defeitos e
qualidades. Notai a suá diligência, primeiramente
em obter de Jesus Cristo que despeça tôda essa
genle, sem lhes dar muito cuidado ·o que será feito
dela, quando o tiver deixado, e depois em. socorrê-la
e servi-la, quando Jesus o ordenou. Vêde o seu
embaraço, quando lhes manda que dêem de comer a
êsse povo, sabendo que nenhuns meios tinham.
E, todavia, com que simplicidade executam suas
ordens : Aif ad discipulos suos: Pacile ilias discum•
bere ... , fecerunf omnes ... - Reparai no povo.
De certo não tinha de Jesus Cristo a idéia que
devia ter, e o motivo que o levava a segui-lo; não era
Ião perfeito como deveria sê-lo. Mas j que amor e
simpatia mostra à pessoa do Salvador! i Oue cons­
tância em segui-lo, sem querer separar-se dêle I Tem
fome da divina palavra, e esta fome da alma faz-lhe
esquêcer a do corpo. i Como confia no poder e
bondade do filho de Deus ! Emquanto tem a felici­
dade de o vêr e ouvir, nada teme. t Poderia sua
confiança estar melhor colocada? Porque é a minha
Ião fraca?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

li. e III. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - Como já era muito tarde (1), e ninguém
pensãva em se retirar, os apóstolos chegaram-se a
Jest'Js e disseram-lhe: • Êste lugar é deserto, e já é
tarde; despedi êste povo para que ,vá para os casais
e aldeias da comarc�, e lá compre alguma coisa de
comer». Eis como são os homens. Ouando se tra­
tar de prestar algum serviço, recorrerão sempre aos
expedientes que menos lhes custem; gostam de lançar
sôbre outrem tudo o que lhes é pesado. Se Jesus
Cristo fõsse tão pronto em despedir essa multidão
de gente, já extenuada por longa abstinência, como
os apóstolos em pedir-lhe que a despedisse, e. quantas
pessoas não teriam talvez morrido? O' meu Deus,
não me envieis às criaturas, para comprar aquilo de
que preciso. e. E. fê-lo-ão acaso? e. Ouererão vender­
-mo? E. porque preço? Dai-mo vós, Senhor; eu só
preciso do vosso amor.
Todavia, falando humanamente, a observação dos
apóstolos era justa, e a resposta do Salvador havia
de lhes causar. bastante eslranhe1.a: • Não é neces­
sário que eu os despeça; dai-lhes vós de comer• . -
• Mas, Senhor, replicam êles, nem com duzentos di­
riheiros poderemos comprar pão para tanta gente•!
E.ra o mesmo que dizer, que estavam numa absoluta
impossibilidade de alimentar essa mullidão, e esta
era precisamente a confissão que Jesus desejava
ouvir.· Ouanto mais visível é a impotência humana,
mais fácil é rec-onhecer a acção de Deus. Pregun­
tou-lhes quantos pães tinham. • Só cinco, responde­
ram, e dois peixes• , apressando-se em acrescentar:
Sed haec quid sunf infer tantos? Então disse-lhes:
•Trazei-me êsses cinco pães e os dois peixes, e fazei
sentar tôdas essas pessoas para comer, divididas em

(1) Cum j11m hora mul!11 Aerel. M11rc. VI, 35.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4.0 DOMINGO DA QUARESMA 245
grupos de cem ou cincoenta • . Depois, levantando os
olhos ao céu, dá graças a seu Pai pelo poder que
lhe deu, abençôa os pães e os peixes, parle-os, e
dá-os aos apóstolos para que os distribuam pelo
povo. Nas suas mãos divinas o pão mulliplica-se.
Todos comeram, todos ficaram fartos, e do que so­
bejou encheram-se doze alcofas de fragmenlos. i Oue
se passava na alma dos apóstolos, ·emquanto por seu
ministério se operava tão grande milagre? i Oue se
passava na alma de todos os que comiam dêsse pão
milagroso? i Oue pura e modesta alegria reinava
nessa refeição 1
Assim o filho de Deus confirmava a fé de seus
discípulos, dava-lhes uma idéia do seu poder, e dispu­
nha-os para a divina institu·ição do banquete euq1rís­
tico, • porque, adverle o Evangeli�la, estava perto a
Páscoa• (1). Convinha pôr-lhes deante dos olhos
uma imagMJ da Páscoa- cristã, em que o Cordeiro de
Deus imolado seria comido sob a figJra de pão.
Com efeilo, dentro de pouco tempo a Igreja será
espalhada por tôda a terra, dividida , em diversos
grupos, cada um debaixo da direcção de seu pastor,
de quem receberá o pão celestial; e êste alimento
vivo e vivificanle nunca se acabará.
Mdnducaverunf omnes ef safurdfi sunf. - Todos
comeram e ficaram fartos, porque todos tinham 'fome,
e saboreavam o excelente alimento que lhes era
apresentado. Oh I quãnto mais justo é que sabo­
reemos a adorável Eucaristia! é Não temos nós en­
fermidades· e fraquezas no deserto desta vida? iE não
é o pão celestial que recebemos, incomparàvelmente
superior àquele que farlou o povo judeu? é Quantos
milagres não encerra? G Quantos mistérios não re­
sume? r. Ouanlas graças não comunica'? -Todos

(1) Joan. VI, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

foram fartos, e fortificados. Eis o efeito do pão euca­


rístico; quando se come com boa disposição, faria;
não se buscam os prazeres da terra, quando já se
gozou dos do céu; conforta, e é neste sentido que
se chama o pão dos fortes.
Admirada do poder e da bondade do Salvador,
aquela multidão de gent li, que êle acaba de alimen­
tar, quer aclamá-lo rei. O humilde Jesus recusa esta
honra, e retira-se para o monte sàzinho (1). Seu reino
não era dêste mundo. Nós, que o conhecemos me­
lhor que eis judeus, chamemo-lo a reinar em nossos
corações; êle deseja esta realeza; i quanto devemos
desejá-la nós também ! A comunhão bem· feita su­
jeita-lhe tôdas as faculdades da nossa alma, e põe-nos
inteiramente debaixo da sua dependência, que nos
torna felizes. Sopliquemos-lhe hoje com a Santa
Igreja a graça de participar sempre santamente de
Ião grande mistério : . Da nobis, quaesumus, miseri­
cors Deus, ui saneia tua, quibus incessanfer exple­
mur, sinceris fracfemus obsequiis, ef fideli semper
mente capiamus ( 2).

Resu1110 da Meditação

1. Contemplar as pessoas. - Jesus Cristo,


cheio de zêlo infatigável. Depois de cuidar das al­
mas, cuida dos corpos. Como olha compadecido
para essa multidão de gente esfomeada, que para o
ouvir, se esquece de comer. - Os apóstolos com os
seus defeitos e boas qualidades: primeiro a sua dili­
gência em pedir a Cristo que despeça tôda aquela
gente; e depois o seu empenho em socorrê-la, quan­
do o divino Mestre assim o ordena. - Reparai tam­
bém na grande multidão de gente; como confia no

(1) Joan. VI, 15. -(2) Posl. Comm.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6,_• DOMINGO DA QUARESMA 26,i

poder e bondade do Salvador. Emquanto o pode


ver e ouvir, nada leme.

II. e III. Ouvir as palavras e considerar as


acções. -é. Oue dizem os apóstolos a Jesus Cristo?
• Êsle sítio é deserto., e já é tarde; despedi todo
êsle povo• . Assim são os homens. Não desejam
senão lançar sôbre outros tudo o que lhes é pesado.
O' meu Deus, não me envieis ãs criaturas; eu só le­
nho confiança em vós. - é. Oue responde o Salva­
dor? Manda aos apóstolos que dêem de comer a
tõda aquela gente, para os obrigar a reconhecer a
sua impotência, e a atribuir a êle lôda a honra do
milagre que vai realizar. Nas mãos de Jesus os dons
de Deus mulliplicam-se; todos comem, lodos ficam
satisfeitos; e do que sobrou recolheram-se doze cês­
tos. é. Oue se passava na alma dos apóstolos, ins­
trumentos do milagre, e na dos que comiam o pão
milagroso?
Esta santa refeição oferece-nos uma imagem do
banquete eucarístico. é. Não é o pão que al_i come­
mos, infinitamente superior ao que alimenta o povo
judeu? é. De quantas graças não é êle fonte inexhau­
rível? Conforta os que o recebem dignamente. Imi­
temos o reconhecimento dessa mullidão. Se Jesus
recusa a realeza que ela lhe oferece, aceitará a dos
nossos corações. Não só a aceita, deseja-a.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÔKS SAÇEHDOTAIS

XLII MEDITAÇÃO
Domingo da Paixão: Quis ex vohis arguef me
de peccr1fo? (1) - O, homem aposfõlico
e os seus pefseguidores.

1. Terá muitos perseguidores, se cumprir o seu dever.


li. t Como deve proceder p<1ra com êles?

I. O homem apostólico será sempre perse"


guido, nesle sentido pelo menos: que lerá sempre ini­
migos e conlradilores. Se alguém merecia uma abso­
lu!a admiração e uma afeição universal, era por cerlo
o Salvador dos homens. A doçura e amabilidade
do seu car,ácler, a multic;lão é n alureza de seus mila­
gres, que mostravam sua bondade e seu poder, deviam
ganhar-lhe todos os corações. E, todavia, nunca
homem algum foi objeclo de mais encarniçados ódios.,
é. Que lêmos hoje rio Evangelho? Conhecendo
que os fariseus se obstinavam em maquinar contra a
sua vida, procura abrir-lhes 'os olhos sôbre a enormi­
dade de um lal alen!ado. • Mas por fim, lhes diz,
l de que me acusais vós? Apontai um fado e pro­
vai-o; é. qu ai. de vós me argüirá de pecado? Ouis ex
vobis arguef me de peccafo,? Era necessário estar
muito seguro de- si, para falar assim a inimigos tão
sagazes. Mas é. que pode a verdade sôbre homens
que não querem ouvir senão a paixão? Depois dêste
desafio simples e modesto, não replicar era reconhecer
que Jesus era irrepreensível. • E' pois um justo, um
profeta, lalvei: o Messias•, conclu"iria qualquer ho­
mem de juízo. · Mas a_ inveja diz: • E' um samaritano,

(i) Joan. VIII, 46.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINr.O DA PAIXÃO

um 1mm1go de De·us e de seu povo, é um possesso :


Nonne bene dicimus nos, quia Samarifanus es fu ef
daemonium habes • ? Ouê ! é. sou inimigo de Deus e
um endemoninhado, porque não tenho pecados?
O ódio confundido enfurece-se; já não sabe senão
insultar e blasfemar.
Se os ministros .de Jesus c1Jmprirem fielmente seus
deveres, participarão sempre da sorte de seu divino
.v\estre: .Si me persecufi. sunf, ef vos persequenlur .­
si sermonem meum servaverunf, ef vesfrum serva­
bunf (1). Tudo foi predito. Eles são a luz do mundo
e o sal da ferra; a luz fere os olhos doentes, a vir­
tude desagrdda ao vício : Si verifalem dica vobis,
quare non credi/is mihi? ( 2) Ah! Senhor, é precisa­
mente porque vós dizeis a verdade, que não querem
crêr-vos. Lisonjeemos i:> soberbo com agradáveis
mentiras, e êle nos crerá· sem custo ; instruamo-lo
com verdades que contrariam suas jnclinações, e
será uma felicidade, se não empregar violência contra
nós: 1ulerunf ergo lapides, ul jacerenf in eum. .
Não são sõmenle os ímpios declarados e os liber­
tinos de profissão, que nos suscitarão desgostos; a
contradiçãú virá algumas vezes daqueles que tínhamos
por amigos. S. Paulo queixa-se disto de um modo
especial. Escrevendo aos Gálatas, diz-lhes: • Vós
recebestes-me como a um Atijo de Deus, como a
Jesus Cristo. Era tão grande a vossa afeição para
comigo, que arrancaríeis os olhos, para mos - dar a
mim! é. Como é pois, que me transformei em vosso
inimigo; dizendo-vos a verdade? Ergo inimicus vobis
3
facfus sum, verum dicens vobis •? ( ) Não há meio
lêrmo: · ou faltar aos deveres do meu ministério, sa­
crificando a minha consciência, ou sujeitar-me a ser
eslorvad0 nos meus desígnios, combatido, perseguido.

(1) Joan. XV, 20. - \2) lbid. VIII, 46. - (3) Gal. VI, 16.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
250 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Se quero ser bem visto do mundo, devo submeter-me


aos seus erros e paixões. O' meu Deus, preservai-me
de tão culpável fraqueza.

II. l Como deve proceder o homem apostólico


para com seus perseguidores? - Jesus Crislo no­
-lo dirá. Para um judeu, chamar-lhe samaritano, era
um grande insulto; e-o para qualquer pessoa, cha­
mar-lhe end,emoninhado; 1 quanlo mais para o Filho
de Deus! Não responde à primeira invectiva, porque
não passava de um insulto; à segunda, que devia des­
considerá-lo deante do povo, ·e não podia conciliar-se
com o zêlo da glória de seu Pai, repele-a, expondo
simplesmente a verdade : • Não, eu não estou pos­
sesso; mas dou honra a meu Pai, e vós em paga
deshonrais-me• . 1 Oue domínio sõbre si mesmo I Oue
divino sossêgo I Ouando repreendia os vícios, diz
S. Jerónimo, sua voz era áspera, asper eraf: mas,
quando se defendia de alguma afronta, usava maior
mansidão: Multa mansuetudine ufehatur. Negou que
fõsse possesso, afirmou que dava honra a seu Pai;
foi a sua única justificação.
Eis o nosso modêlo. Vinguemos com energia as
injúrias que se referem a Deus, e desprezemos as
que só a nós se referem: Ouae ad Deum perfinenf
vindicare, quae vero li1:Í vos, despicere (1). Façamos
esforços por poder dizer como Jesus, sem que o co­
ração desminta os lábios: Ego aufem non quaero
gloriam meam: esf qui quaeraf ef judicef. 'Sim, ou­
tro cuidará da nossa honra: Deus que vê tudo, di­
rige tudo, julga tudo e manifestará ludo: Oui ou/em
judicaf me, Dominus esf . .. ; qui ef i/luminahif ahs­
condita fenebrarum, ef manifesfabif consílio cor­
dium ( t): A exemplo do Salvador, reservemos para

(1) Homil. LIV in Jo11n. - (2) 1 Cor. IV, 4, 5,


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA PAIXÃO

o juízo de seu Pai as injúrias que nos fazem: !!ldfas


confumelias Pdtris judicio reservdf (1). Entreguemos­
-lhe a nossa reputação; a nossa causa é a sua,
fá-la-á triunfar com certeza, no dia de juízo, e talvez
na vida presente. Amaldiçoados pelos homens, sere­
mos abençoados por Deus, que proporcionará a ale­
gria dos seus servos às tribulações que tiverem pade­
cido por êle: Mdledicenf illi, ef tu benedices: qui
insurgunf in me, confundenlur: servus aufem fuus
laefobifur (2).
A bondade de Jesus não faz mais que exasperar
êsses endurecidos; pegam em pedras, e querem con­
dená-lo, sem forma de processo, ao· suplício dos
blasfemos: o apedrejamento. Mas o amor que nos
tem, fizera-o escolher um tormento ainda mais igno­
minioso e cruel. Passa pelo meio dêles sem que o
,·ejam, e só os castiga, deixando-os. é. Não linha êle
poder e direito para os punir? Sim, mas quer ensi­
nar-nos, que o poder deve muitas vezes ceder à pa­
ciência, o direito à caridade, e que há mais verda­
deira grandeza em padecer do que em vingar, em
não querer o que se pode, do que em poder o que
se quer.
Não esquêçomo's que somos enviados como cot­
deiros para o meio de lôbos, e lenhamos sempre
tanta paciência, que nem sequer os mais indignos tra­
tamentos nos arranquem nunca uma palavra ofen­
siva. Retribuamos mal com bem e ódio com amor:
Noli vinci a maio, sed vince in bono ma/um (3).
O Cordeiro de Deus, que será daqui a um instante
o alimento da nossa alma, nos comunicará estas san­
tas disposições, se lhas pedirmos com fervor.

(1) S. Bon11v. Expos. in IV, t. - (2) Ps. CVIII, 2õ.


(3) Rom. XII, 21.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Resumo da Meditação

1. O homem apostólico será sempre perse­


guido. - Terá sempre contraditores e inimigos; le­
ve-os o Salvador. Quis ex vobis arguef me de pec­
cafo? Depois dêste desafio, não replicar era confes­
sar que Je'sus era irrepreensível. Seus inimigos não
o enlende.m assim: chamam-lhe samaritano e ende­
moninhado. Tal é a sorte do bom padre. E' a luz
do mundo e o sal da !erra; mas a luz fere os olhos
doentes, a virtude desagrada ao vício. A contradi­
ção vem-nos muitas vezes daqueles que olhávamos
como amigos. Ou faltarei aos deveres do meu mi­
nistério, ou serei combatido e perseguido 1

II. l Como deve proceder o bom padre para


com seus perseguidores ? - Jesus Cristo no-lo
dirá: • Não, eu não eslou possesso, mas dou honra
a meu Pai• . 1 Oue domínio sôbre si mesmo! Oue
paciência! _;_ Vinguemos com energia as injúrias que
dizem respeito a Deus, e ,desprezemos as que dizem
respeito só o nós. Deixemos ao Senhor o cuidado
da nossa justificação: nossa causa é sua. Não es­
queçamos que somos enviados como cordeiros para
o meio de lõbos. Paguemos mal com bem.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEXTA-FEIRA DA SEMANA DA_ PAIXÃO 253

XLIII MEDITAÇÃO
Sexta-feira da semana da Paixão. - Maria
junto ci Cruz

1. Seu amo_. para com Jesus Cristo dá-nos idéia dos seus sofri­
menCos.
li. Seus sofrimentos ajudam-nos a compreender o seu amor para
connosco.

1. Amor de Maria para com Jesus, prova e


medida dos seus sofrimentos junto à Cruz. -
Ouanto mais ama ao adorável padecente que tem
deanle dos olhos, tanto maior é a parle que toma
em seus_ sofrimentos. E' um martírio de amor: o
coração é a vítima. Ora, é. qual é o amor de Maria
para com Jesus? E' o da mais terna das mães para
com seu filho, da mais santa das criaturas para com
seu Deus.
1. 0 Amor de mãe; a natureza não conhece ou­
tro que o iguale em ternura. Uma mãe· vive, sofre,
alegra-se no seu filho, como em si. Oiçamos o grilo
da Cananéia : Miserere mei . .. , Glia mea ma/e a
daemonio vexafur: é dela que o Salvador lerá com­
paixão, sarando sua filha. Criando Maria, Deus
destinava-a a ser mãe, e mãe de·. seu Verbo incar­
nado; por conseguinte deu-lhe o mais perfeito cora­
ção de mãe. Àlém disto o coração da Virgem Ima­
culada não participou das afeições mais ou menos
desregradas, .de que participam os corações das ou­
tras mães; nunca amou senão o que devia amar.
finalmente, nenhum outro filho ofereceu mais alracli­
,·os ao amor de uma mãe, quer sob o ponto de vista
de qualidades pessoais, quer por causa dos favores
incomparáveis que recebera de Jesus. é. Hã um só

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

de seus privilégios que não tenha relação, como


princípio ou conseqüência, com a divina maternidade?
Amava-o como filho, como o mais amável de todos
os filhos. Mfls àlém disto:
2. 0 Amava-o como a Deus. Às chamas do amor
maternal vinham juntar-se em seu coração os ardores
da divina caridade. Os mais graves doutores opi­
nam que, desde o momento da sua imaculada con­
ceição, o seu amor para com Deus excedeu o dos
serafins. Ora, êste amor foi sempre crescendo pelo
traio íntimo que teve com Jesus, não só durante os
nove meses que o trouxe em seu seio virginal, mas
também durante os trinta e três anos de sua vida
morta� e pela fidelidade às graças, que recebia a
cada instante, fidelidade sempre recompensada com
um aumento de caridade. Era com êste coração que
Maria amava a seu Filho e seu Deus. Parlamos
daqui para sondar o abismo de aflição, em que ficou
imersa, quando leve notícia do comêço da Paixão,
quando seguiu seus passos, e principalmente quando.
viu com seus olhos o trágico desenlace do Cal­
vário.
Logo que foi informada do que se tinha passado
durante a noite, no jardim das Oliveiras e em casa
de Caifãs, oh I quanto sentiu não ter estado ao pé de
Jesus, para limpar seu suor de sangue, e servir-lhe
de anjo consolador, para compensar tantas afron­
tas com sua adoração, tanta crueldade com sua ter­
nura! ...
Apresse,-se em ir em sua procura. Ai I e. onde
vai achá-lo, e em que estado? Vê o povo correr
para o pretório, quando se anuncia que êle vai ser
flagelado . . . Ouve o estrondo dos açoites, que dila­
ceram os membros de ·seu Filho; mais tarde o dos
martelos que enterram os cravos em seus pés e
mãos. Mas é principalmente junto à Cruz que se
deve contemplar a -Rainha dos mártires. Ali tôdas as.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEXTA-FEIRA DA SEMANA DA PAIXÃO �51)

suas dõres são excessivas. Não são já, como na


circuncisão, algumas gôtas de sangue de Jesus, que
ela podia estancar; é todo êsse sangue divino que
corre de numerosas e profundas feridas. Longe de
lhe dar o menor alívio, sua presença é para êle um
acréscimo de sofrimento. Quis esf homo qui non
lleref, mafrem Chrisfi si videref in fanfo supplicio?
O' Filho, ó Mãe I i Oue comunicação de amarguras,
que fluxo e refluxo de dõres entre estas duas almas
que tão bem.se compreendem! Ferem-se mutuamente
com seu múfuo amor. São dois incêndios que comu­
nicam um ao outro as chamas. Parece-nos ouvir
Maria queixar-se com Jesus agonizante e resignar-se
como êle : • Deus meus, Deus meus, ui quid dereli­
quisli me? Mas não obstante isto, ó meu Deus,
sempre submissa à vossa vontade sanlissima, nas
vossas mãos encomendo a minha alma, encomen­
dando a de meu Filho, que me é cem vezes mais
cara que a minha •. Assim, ludo está consumado ;
o Filho e a Mãe são imolados um pelo outro : Con­
summafum esf. Misturemos as nossas lágrimas com
as daquela Mãe tão desolada, e confessemos que fo­
mos nós os causadores de sua profunda aflição;
mas depois procuremos nela os motivos ·das mais só­
lidas consolações.

II. Sofrimentos de Maria no Calvário, prova


e medida de seu amor para connosco. - Oue a
Mãe de Deus tem sôbre seu Filho uma verdadeira
omnipotência, e que lhe basta _pedir para alcançar, é
coisa indubitável, depois da infimdade de factos ave­
riguados que o atestam, e das palavras formais dos
Doutores da Igreja que o ensinam. S. Anselmo re­
sume dêste modo a tradição sõbre êste ponto: Ut
impossibile esf quod illi a quibus Virgo Maria ocu­
los suae misericordiae averfif, salvenfur, ifa necessa­
rium esf quod hi ad quos converfil oculos suas, pro

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
'l56 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

eis advocans, juslificenfur ef glorificenfur (1). é. Oue


mais podemos nós desejar, se o amor de Maria para
connosco é igual ao seu poder, e se quer a nossa
felicidade e pode alcançá-la? Mas, é. quem nos dará
tão consoladora certeza? Maria junto à Cruz. Com­
preendamos o que ela faz por nosso amor, e o que
faz Jesus agonizante, para aumentar ainda mais êsse
amor.
I.º S. Tomás é de opinião que Deus exigiu o
consentimento formal de Maria para �e tirar seu
divino filho, assim como o exigira para lho dar.
Ela teve de consentir na imolação cruenta de Jesus
Crislo, assim como consentira na incarnação em seu
seio virginal. Mas, é. haveria alguma coisa capaz de
compensar, no coração de uma tal Mãe, a perda de
tal filho, sobreludo com Ião horrível morl,e? Sim, o
desejo de nos salvar. Foi isto o que levou S. Boa­
ventura a dizer: Sic Maria dilexit mundum, ui Fi­
liam suum unigenifum ddref. Seu amor para com
Jesus foi o seu algoz; seu amor para connosco foi
o seu amparo e lenitivo.
Desde o momento em que o Anjo lhe anunciou
que seria Mãe do Redentor, ela entrevira o que lhe
havia de cus lar Ião gloriosa dignidade; vê-o, e sente-o
agora. Mas o mesmo desejo de nos salvar, que lhe
fizera já acei,tar tantas tribulações, fortifica-a nesla
última. O que dissera ao Anjo, aceitando a divina
malernidade: Piai mihi secundum verbum fuum, re­
pele-o a Deus Padre, no meio das suas maiores dôres;
ou então diz com Jesus e com os mesmos sentimen­
tos: Pafer, si posslhile esf, franseaf a me calix is/e.
Meu Dai, se é possível que êste cális passe de mim,
sem que eu o beba até às fezes, olhai para a face de
Jesus, vosso filho e meu Filho também. é. Não sofreu

(1) Apud. S. Anton. in-parle IV, fil. XV, e. XIV.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEXTA-FEIRA DA SEMANA DA PAIXÃO �5i

êle já bastante? Ah! se pudésseis conservar-lhe a


êle e a sua pobre Mãe, o sôpro de vida que ainda
lhes resta! . . . Se porém a redenç,ão dos homens
não pode ser abundante, sem que éle exale deante de
meus olhos o último suspiro, faça-se a vossa vontade:
Non mea volunfas, sed lua fiai.
Deus esperava êste momento em que o amor de
Maria para connosco chegasse ao maior grau de per­
feição, obtendo dela o mais doloroso sacrifício, para
a investir nos direitos que lhe perlcncem como nossa
Mãe : Ecce filius fuus. ecce mBfer fuél. Mas,
e. avàliamos nós bem a impressão que lhe causou êsle
último ado da vontade de Jesus a nosso respeilo'?
2. 0 Ainda mesmo que ela nos olhasse com indi­
ferença até então, e. não lhe leriam semelhantes pala­
vras, nas circunstâncias em que as ouvia, inspirado
o mais ardente amor de mãe? E' seu Filho mori­
bundo que lhe fala: • Mulier, ó mulher, eu poupo a
vossa sensibilidade, não · vos dando um nome mais
suave; vêdes o que eu fiz pelos homens e quanto
desejo a sua felicidade; entrego a sua sorte nas vossas
mãos. Sêde 'Sua mãe; amai-os como me tendes amado
a -m}m. Ecce 6/iu� luus •. Se pensarmos nas dispo­
sições de Maria, que nos eram já Ião favoráveis,
quando ouvia estas palavras, e. que idéia faremos do
acréscimo de ternura que lhe infundiu esla última re­
comendação de Jesus agonizante? Ah I ainda quando
oulra mãe fõsse capélz de esquecer seus filhos, Maria
não pode esquecer-nos, corno não pode esquecer o
Calvário. Consolemos a sua dôr, esforcemo-nos por
substituir, se possível fôsse, o adorável Filho que ela
sacrificou por nós; mas temamos sobretudo afligi-la
ainda, desconfiando do seu amor. Ternos direilo a
êle corno sacerdotes e cooperadores de Jesu� Cristo
na redenção dos homens. Se S. João na sua quali­
dade de discípulo representava lodos os cristãos, na
sua qualidade de apóstolo representava todos os ope-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

-ranos evangélicos, que até à consumação dos sécu­


los haviam de aplicar às almas os merecimentos do
sangue redentor. Eia maler, fons amoris, me senlire
vim doloris, fac ui lecum lugeam. . . fac ui ardeBf
cor meum in amando Chrislum Deum, ui sibi com­
placeam.
Resumo da Meditação

I. Amor de Maria para com Jesus, medida de


seus sofrimentos junto à Cruz. - Amava-o como
filho. O coração maternal é o símbolo da ternura.
Uma mãe vive em seu filho, tanto e mais que em si.
Nunca outro filho ofereceu tantos olractivos ao amor
de sua mãe-. l Há um só dos privilégios de Maria,
que ela não devesse a Jesus? - Amava-o como
Oeqs. Se a sua caridade, desde o momento da sua
conceição imaculada, excedia já a dos serafins, l qual
não seria, depois de trinta· e três anos, em que não
cessou um só instante de a aumentar? Partamos
dêstes dois princípios para sondar sua profunda afli­
ção, quando teve notícia do comêço da Paixão,
quando seguiu seus passos, quando viu com seus
olhos o terrível desenlace do Calvário.

II. Sofrimentos de Maria junto à Cruz, medida


de seu amor para connosco. - S. Tomás é de opi­
nião que Maria SS. deu consentimento formal para a
imolação cruenta de seu divino Filho, no Calvário,
como o tinha dado para a incarnação. O amor para
com Jesus foi o seu algoz, e o seu amor para con­
nosco foi o seu alívio. i.. Oual era a fôrça dêsse
amor, que a tornava capaz de um tal sacrifício? -
E. todavia êle cresceu ainda prodigiosamente, quando,
do alto da Cruz, e como expressão de sua última
vontade, seu divino Filho, quási a expirar, lhe reco­
mendou que nos adaptasse por filhos. Os padres

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE HA.MOS 259
leem direitos particulares ao amor de Maria por se­
rem os cooperadores de Jesus Cristo na redenção
dos homens.

XLIV MEDITAÇÃO
Domingo de Ramos. - Enfrada triunfal de Jesus
em Jerusalém. - Contemplação.

1. Contemplar ns pesso11s;
li. Ouvir ns p11lnvr11s;
Ili. Considerar 11s 11cções.

PRI.llElRO PHELÚOIO, Avizinhando-se Jesus com


seus discípulos de Jerusalém, disse a um dêles: Ide
a essa aldeia, que está em frente de vós, e achareis
uma jumenta prêsa com seu jumentinho; desatai-a, e
trazei-mos. Os discípulos fizeram o que lhes havia
mandado, e lendo trazido a jumenta e o jumentinho,
puseram sôbre êles os seus vestidos, e fizeram monlar
a Jesus. . . Muitos do povo estenderam seus vestidos
pelo caminho; outros cortavam ramos de árvores, e
com êles juncavam o chão por onde havia de passar;
e tanto os que iam dean!e como os que vinham atrás
clamavam dizendo: • Hossana ·ao Filho de David• I
�as os fariseus disseram a Jesus : • Mandai calar
\'Ossos discípulos• ( 1 ).
SEGUNDO PRKLÚUIO, Representai-vos o caminho

{1) Matth. XXI, 1 ; Luc. XIX, 29.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

de Belfagé (1) a Jerusalém, (apelado de roupas, jun­


cado com ramos de árvores, e a multidão de gente
que acompanhava ao Salvador.
'l'EHCEIHO PRELÚDIO. Supliquemos a Nosso Se­
nhor que nos faça conhecer tõda a fragilidade da
glória humana, que entre triunfante nas nossas almas
e nunca mais delas se ausente.

I. Con(emplar as pessoas. - Jesus, o adorá­


vel triunfador. Sai de Betânia e da casa de Lázaro,
onde deixou cheia de alegria uma família que achara
desfeila em pranto. Ei-lo agora que se presta ao
júbilo de um povo, que o reconhece por Messias,
ou pelo menos por grande profeta. Admirai o conhe­
cimento que tem do futuro e do presente, dos acon­
tecimentos que dependem de uma vontade livre, e dos
que são efeito de uma causa necessária, quando
manda dois dos seus discípulos à aldeia próxima, e
lhes prediz tão claramente o resultado da sua missão.
Notai· sua dõce e amável majestade no meio desta
ovação espontânea, em que ludo respira simplicidade.
Está tão tranqüilo nas honras, como há de estar nos
opróbrios. Sem ser insensível aos testemunhos de
aíeição que recebe, pensa na inconstância do cora­
ção humano. - Os apóstolos, que cercam o Mestre
e tomam parle no triunfo de que é objedo. <1.Haverá
maior satisfação para os ministros do Senhor, do
que vê-lo conhecido, adorado e amado? Os bons
padres associam-se a êle em tôdas as circunstâncias:
afligem-se, quando é ofendido, e alegram-se, quando
é glorificado. - O povo, que contribui para êsle
triunfo. Compõe-se de habitantes de Jerusalém e de
forasteiros que lá se tinham dirigido por causa da

(1) Aldeia si(uada a pouca disliincia de Beliinia, e a meia


légua de Jerusalém.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE IIA:l!OS 21H

festa da Páscoa. Uns eram já seus discípulos, outros


estavam dispostos a sê-lo, depois dbs milagres que
lhe tinham visto fazer, ,ou cuja narração tinham
ouvido. Todos se achavam sob a impressão favorá­
vel, que a todos linha causado a 1ressureição de
Lázaro. Vêde a alegria que transparece nos rostos,
e vós mesmos regozijai-vos da justiça que finalmente
fazem a vosso divino Rei. - é. Mas onde está Maria?
l Porque não vem ela gozar do triunfo com que é
recebido seu filho? Estava ao pé dêle no presépio,
e acompanhá-lo-á ao Calvário; mas no dia da sua
apoteose esconde-se. E' necessário que ela me ensine
que a, obscuridade e o desejo de ser desconhecido
das criaturas, são .o caminho mais- seguro para per­
manecer unido a Deus e crçscer no seu· amor. Con­
vém que ela me incite com seu exemplo a procurar
durante esta vida, destinada ao sófrimento, não o que
lisonjeia a natureza, mas o que a mortillca.

II. Ouvir as palavras. - Entre êsse povo que


manifesta a sua alegria, os que professam ser discí­
pulos de Jesus, dividem-se em grupos, cantam seus
louvores, referem seus milagres e benefícios. Comu­
nicam seus sentimentos a tõda aquela gente, e em
breve os grupos que vão à frente e os que o seguem,
celebram à porlla a glória de Deus, e bemdizem ao
Filho de David, que vem em nome do Senhor: Turhoe
quae praecedehanf ef quae sequebonfur clamabanl
dicenfes: Hosanno filio Dt1vid: henediclus qui venif
in nomine Domini, hosonno in oltissimis !
Mas os louvores de Deus são o tormento do
ímpio. Os fariseus invejosos não podem ouvir sem
repugnância o que se diz, nem vêr o que se faz.
Queriam que o Mestre impusesse silêncio aos seus
discípulos : Magisler, increp<J discípulos tuas, Mas
o Senhor responde-lhes : • Eu vos asseguro que, se
êles se calassem, falariam as mesmas pedras• • Essas

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

pedras falaram, e clamaram na morte do seu Criador,


quando os discípulos se calaram. Sua voz foi ouvi­
da, comoveu os corações mais endurecidos, e obri­
gou-os a reconhecer que êsse crucificado era verda­
deiramente o filho de Deus (1).
O' Jesus, a bôca de vossos ministros e. ficará
muda para vos louvar e vos ganhar corações, quando
a dos maus é tão fecunda em palavras blasfemas e
escandalosas? Fazei que falemos com ousadia, quando
se trata dos inlerêsses da vossa glória; fazei princi­
palmente que a santidade de nossa vida solte um
brado que confunda vossos inimigos e edifique vossos
servos, que ludo em nós vos bemdiga e honre como
a nosso divino Rei.

III. Considerar as acções. ...:..... Depois de saírem


de Betânia, manda Jesus dois discípulos à aldeia
vizinha, para que lhe tragam uma jumentinha; êles
nada objeclam a esta ordem, que devia parecer-lhes
extraordinária, imprudente, pouco edificante, e alé
injusta. A estima e respeito que leem ao divino
Mestre, não lhes permite semelhante pensamento.
Parlem sem demora, e ensaiam com esta obediência
à que exigirá dêles, quando os mandar instruir lodos
os povos, quebrar as suas cadeias, e lrãzer-lhos para
servirem no seu triunfo.
Em Jerusalém, logo que o povo é iníormado de
que Jesus se aproxima, corre ao seu encontro. Ao
avistá-lo, sente-se cheio de respeito, e transportado
de alegria põe-se a cortar ramos de palmeira e oli­
veira, que agiJa em sinal de regozijo. Cada qual
foz o que pode para festejar o Rei de Israel, o enviado

(1) Cenlurio 11ulem, e! qui cum eo eranl cuslodienles Jesum,


viso lerrae molu ... timuerunl valde, dicenles: Vere filius Dei era!
isle. M111!h. XXVII, 54.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOlllNGO OE RAMOS

do Senhor. Uns !iram seus mantos, e estendem-nos


pelo caminho; outros juncam o solo com ramos de
árvores. Jesus adeanta-se, entra em Jerusalém, e vai
ao templo no meio das aclamações de' uma multidão
de gente, que aumenta cada vez mais, e não cessa de
o bemdizer. Reconhece-se aqui o cumprimento desta
profecia : Dicife G/iae Sion: Ecce rex fuus venif libi
mansuefus.
Além disto o triunfo aclual é imagem de oulro,
em que êste oráculo se cumpre ainda mais perfeita­
mente, quando o Filho de Deus, depois de ler expul­
sado o pecado de uma alma, entra nela por meio de
uma fervorosa comunhão. As palmas são o símbolo
das vitórias, que a alma alcançou sõbre seus inimi­
gos; os vestidos estendidos pelo caminho figuram os
vícios de que ela se despojou, para ser menos indigna
de participar da divina mêsa. O' padre, vós con­
seguis êste triunfo para Jesus, tõdas as vezes que
trazeis o'velhas desgarradas ao aprisco, filhos pródi­
gos à casa de seu pai. No momenlo em que entra
nesses templos vivos, preparados pelos vossos cuida­
dos, comove-se a Jerusalém celeste: Cum inlrassef
Jerósolymam, commofa esf universa civifas. Os anjos
ceTebram o bom éxilo do vosso zêlo, a glória de
JesUs, a felicidade de vossos irmãos: Dico vobis,
gaudium erif coram· angelis Dei super uno peccalore
poenifenliam agente (1).
Colóquio com Jesus Cristo. - Adorá-lo, glorifi­
cá-lo com lodos os anjos e santos do céu. com
lodos os justos da !erra. - Dar-lhe graças por ter
vindo a nós cheio de doçura, pelo mistério da Incar­
nação; por se dignar entrar em nós lodos os dias,
de um modo ainda mais admirável, pelo sacramento
do seu corpo e sangue. - Pedir-lhe a graça de uma

(1) Luc. XV, 10.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MF.OITAÇÕF.R SACl!ROOTAIS

constância inabalável no seu amor, para que possa­


mos louvá-lo agora e. sempre, e por todos os séculos
dos séculos. Amen.

Resumo da Meditação

1. Contemplar as pessoas, - Jesus, prestan­


do-se à ovação que lhe faz um povo reconhecido.
Notai a sua dôce mojestade. Sem ser insensível às
provas de afeiç�o que recebe, pensa na inconstância
do coração humano. - Os apóstolos que cercam o
divino Mestre e se regozijam do seu triunfo. i,Haverá
para um padre maior satisfação do que vêr a Jesus
conhecido, adorado e amado ? - O povo contente e
buscando lodos os meios de manifestar a sua afeição
para com Jesus Crislo. - Maria não está ali, quer
ensinar-me a procurar, durante esta vida atribulada,
não o que lisonjeia a natureza, mas o que a mor­
tifica.

II. Ouvir as palavras. -· Os discípulos do Sal­


vador publicam seus louvores, narram seus milagres,
bemdizem ao Filho de David que vêm em nome •do
Senhor. - Os fariseus murmuram. e. Oue lhes res­
ponde Jesus Cristo? O' bom Mestre, e. estará muda
a bôca de vessos ministros, quando se traia de vos
louvar e de vos ganhar corações?

III. Considerar as acções. - Docilidade dos


dois disétpulos que Jesus encarrega de lhe trazerem
uma jumenlinha; não fazem a menor observação. --
0 povo sai de Jerusalém ao encontro daquele que
vai fazer sua entrada triunfal na cidade. Cada qual
rivaliza em zêlo para festejar o enviado do Senhor.
Jesus adeanta-se no meio das aclamações de uma
multidão de gente que não cessa de o bemdizer.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
, �EGUNDA-FEIRA DA SEMANA SANTA �(j:,

Êste triunfo é a imagem do que êle alcança, quando


torna a entrar por uma fervorosa comunhão, numa
alma de onde o pecado o tinha feito sair.

XLV MEDITAÇÃO
Segunda-feira da Semana Santa. - TriunféJ Jesus
Cristo, .enlréJndo em nossas éJ/mas pela
sagrada comunhão

1. Ouan!o deseja o Salvador ês(e lriunfo.


li. Ouanlo devemos nós desejá-lo.

PRIMEIRO PUELÚDCO. Vejamos a Nosso Senhor


falando pela primeira vez do mistério da Eucaristia,
e o espanto daqueles que o ouvem anunciar �o ex-
traordinária doutrina.
SEGUNDO PHELÚmo. Supliquemos-lhe que nos
esclareça a respeito dêsle inefável mistério, e nos dê,
com uma fé perfeita, um grande amor à sagrada co­
munhão.

I. Jesus deseja vivamente unir-se a nós pela


sagrada comunhão. - Ouando somos incitados à
execução de um desígnio por uma vontade forte e um
ardente desejo, nenhuma dificuldade parece ins'uperá­
vel, nenhum sacrifício causa embaraço,- nenhum meio
se despreza. Estas considerações aludam-nos a com­
preender quanto o filho de Deus deseja dar-se a nós
pela sagrada comunhão.
t • 0 Em primeiro lugar i quantas dificuldades,a
vencer(, i Um Homem-Deus, vivo e imortal, fazer-se
alimento dos homens, permitir-lhes, que comam sua

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
'l/i/i MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

carne e bebam seu sangue! . . . A razão confunde-se


só com esta idéia. é Oue coisa se pode imaginar, que
ofereça ao espírito mais impossibilidades, quer da
parle de Deus, quer da parle dos homens? é Ouem
somos nós, Senhor, e quem sois vós, para que pen­
seis em honrar-nos com esta aliança incompreensí­
vel? O alimento que eu tomo, !orna-se uma só coisa
comigo; e. como é possível que o nada se torne uma
só coisa com o Criador do universo? Vós dizeis-me:
Oui manduca( me, ef ipse vivei propfer me. Viver
por vós, ó meu Deus, é de certo o mais desejiivd
de lodos os bens; mas é como é possível que eu vos
tome em alimento? As poleslades celestes tremem
na vossa presençt1, fremunf pofesfafes; i como po­
deis vós dizer a criaturas que não são nada: •To­
rnai e comei, êsle é o meu corpo; bebei, êsle é o
meu sangue•? - • Sim, me responde o Salvador,
eu faço a todos os meus discípulos êsle convite, que
causa admiração ao céu e à terra. Sim, eu quero
ser leu, como o pão qu: te alimenta, como t1 bebida
que te apaga a sêde : Caro enim mea vere esf ci­
bus, ef sanguis meus vere esf pofus. E' verdade
que, para chegar a cu'mprir êsle desejo, eu deveria
empregar a fôrça do meu braço e mulliplicar os pro­
dígios. E' por mim que reinam os monarcas, e serii
preciso, que eu obedeça, nãc durante alguns instan­
tes, mas até ao fim dos séculos. Será preciso que,
à voz dos meus servos, eu destrua a substância do
pão, sem allerar suas aparências. Serii preciso que
eu esteja ao mesmo tempo em milhares de aliares,
em milhares de hóstias, sem perder minha unidade ;
que se possam partir essas hóstias, sem que eu deixe
de ser indivisível. Meu amor pede êsles milagres,
meu poder os fará • . Mas hii mais.
2. 0 Para realizar êste projeclo de incompreensí­
vel caridade, convinha que o filho de Deus se su­
jeitasse de novo a humilhações, que pareciam incon-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA llA SEMANA SANTA 26i
ciliáveis com sua humanidade glorificada. l Ousaría­
mos nós tomá-lo em alímento, se êle não se tivesse
aniqüilado muilo mais ainda do que nos mistérios de
sua incarnação, nascimento e morte? E' principal­
mente na mêsa eucarística que êle será o Deus es­
condido e, infeli"zmenle, desconhecido I i Ouanlas al­
mas sacrílegas abusarão indignamente de uma obscu­
ridade que a Jesus pareceu necessária para se tor­
nar acessível a lodos I Mas êle mais receou pertur­
bar a confiança dos justos, se manifestasse um raio
da sua glória, do que expôr-se aos · ullrajes dos pe­
cadores, ocultando lodo o resplendor de sun divina
majestade. Será pois negado, desprezado, insultado!
E' necessário que a ludo isto se sujeite, se quiser
unir-se a nós nessa sagrada intimidade. Prevê-o, seu
coração espera-o: lmproperium expecfavif cor meum
ef mis�riam; e não retrocede deanle dêsle cális
amargo; tudo é sacrificado ao desejo que tem, de
nos identificar consigo e de poder dizer falando de
cada um de nós : ln me manei, et ego in eo.
3. 0 Àlém disso, como a união que desejava
contrair connosco, devia ser livre da nossa parle,
convinha que a isso inclinasse nossas. vontades, assim
como êle está inclinado; que vencesse nossa indife­
rença cega, assim como êle vencera, por assim dizer,
sua majestade humilhando-se, e sua santidade expon­
do-se ao conlaclo de mãos impuras e de corações
manchados. Por is.so, é. que meios não emprega para
nos induzir a aproximar-nos dêle? Convida-nos para
êsle banquete eucarístico, onde tudo é Ião grande:
aquele que o dá, o alimento celeste que ali se dis­
tribui, e o número dos convidados: Fecif coenam
magnam, ef vocavif. muitos.. Ao convite ajunla vi­
vas .inslâncias e urna lerna importunidade: Compe//e
infrare. Ainda é pouco. Usa da sua suprema autori­
dade: impõe-nos o mandamenlo formal de comer a
sua carne, de beber o seu sangue. i. E poderia o Se-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2G8 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

nhor dar uma sanção mais eficaz a êste mandamento,


que é a honra do seu coração, pois prova Ião exce­
lentemente a sua excessiva bondade, e a vergonha
do nosso, pois necessitamos de tal mandamento? -
i Vida feliz e imortal para quem o observa fielmente;
condenação eterna, morte horrorosa para quem rt:­
cusa cumpri-lo! l 1) O' desejo, ó amor invencível de
Jesus, e. como serias compreendido de seus discípu­
los, se o não és de seus ministros?

li. Ouanfo devemos desejar unir-nos a Jesus


Cristo pela sagrada comunhão. - O profeta Zaca­
rias exclamava: e. • Oual é o bem, que o Senhor tem
para dar ao seu povo, senão o pão dos escolhidos e
o ví'nho que !orna castos e puros os que o bebem
dignamente•? (2) Meditemos o oráculo do- mesmo
profeta, citado no Evangelho, e digamos à. nossa
olma o que estamos encarregados de dizer à filha de
Sião: Ecce rex fuus venil fihi m-ansuefus. E' o meu
rei que vem, vem a mim, vem para inim !
Ecce rex fuus. Jesus é o meu rei; possui lôdas
as virtudes reais no mais alio grau de perfeição ; mas
neste mistério, a sua caridade e mansidão apagam,
por assim dizer, o brilho de suas outras virtudes,
mansuefus. Era manso em Belém, quando veio ao
mundo; era manso na· sua entrada em Jerusalém:
em redor dêle, nêle, nada infundia temor, ludo inspi­
rava confiança; é ainda mais manso, quando se dá a
mim na sagrada comunhão. Oir-se-ia que êle fecha os
olhos aos meus defeitos e não quer vêr senão minhas
misérias. Vem, venif, sem esperar que eu vá a êle;
vem, não já ao mundo, nem a um povo, nem a uma

(1) Joon. VI, 54, 55.


(�) faciens castos ef puros eos qui digne haec mysleria per­
cipiunt. Menoch. in Zach. !X, :7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA DA SE:l!ANA SANTA 2G9
cidade, mas a mim, venif tib,� do seio de seu Pai ao
meu. Oh I que indigno sou de ser sua morada 1
l Co_mo pode êle habitar no meio de minhas libiezas,
de meus pensamentos vãos, de minhas negligêricias,
de minhas inumeráveis imperfeições? Vem para mim;
l que lucro pode êle tirar desta união? é. Oue con­
veniência acharia nela, se não conviesse à bondade
o fazer bem?
Sim, ó meu Deus, neste triunfo tudo é para mim.
Trazeis-me a compaixão do vosso coração, o socorro
da vossa omnipotência, os tesoiros da vossa graça.
Vindes dar vista a um cego, curar um enfermo, soltar
um prêso, restituir à minha alma uma ditosa liberdade,
quebrando todos os laços que a prendem às criatu­
ras, dando-me a paz, submetendo tôdas as minhas
inclinações à vossa lei. O' Jesus, purificai meu co­
ração, ·adornai-o com vossas virtudes, para fazerdes
dêle a sede do vosso reino; e quando, daqui a um
momento, os anjos vos virem tomar poss� dêle,
oxalá que, repetindo o celeste hossana, êles possam
predizer que o vosso reino em mim não !ornará a ser
perturbado, e que não lerá fim, como o que destinais
aos vossos escolhidos: E! regni ejus non eril Gnis.
Reanimai em vós mesmo o amor da sagrada co­
munhão: inspirai-o, quando pudf'rdes, ao próximo,
como um meio se�uríssimo de agradar a Jesus Cristo,
e de salvar as almas, comunicando-lhes a mesma
vida do seu Salvador.

Resumo da Meditação

I. Jesus Crislo deseja vivamente unir�se a nós


pela sagrada Eucaristia. - Compreendamo-lo pelas
dificuldades que vence, pelos sacrifícios que faz, pelos
meios que emprega.-1. 0 j Um Homem-Deus, fazer-se
alimento dos homens!. . . A razão confunde-se ao

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2i0 :MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ouvir islo. <'. Oue somos nós, Senhor, e que sois vós,
para que penseis em tal união? - • Desejo-a, nos
responde o Senhor, e se, para a !ornar possível, fõr
necessário multiplicar milagres, muJliplicá-los-ei •. -
2.º O Salvador prevê os insullos a que se expõe,
escondendo-se quanto é necessário, para nos permilir
que nos aproximemos dêle; não retrocede deanfe
dêsle novo cális, sacrifica tudo ao desejo de se unir
a nós. - .3.° Como esta união deve ser livre da
nossa parte, é. que não faz êle para nos atrair a ela?
Convida-nos para o banquete eucaríslicG. Aos con­
vites, ajunta as instâncias; usa até da sua autoridade.
Manda-nos, sob pena de morte eterna, se resistirmos,
e com promessa da mais ditosa vida, se obedecer­
mos.

II. Ouanlo devemos desejar a entrada de Je­


sus Cristo em nossos corações pela sagrada co­
munhão. - • Eis aí o leu Rei que, vem a li cheio de­
mansidão• 1 Jesus é o meu Rei; vem, atrai-me com
sua mansidão. Traz-me a sua terna compaixão, tôdas
as suas perfeições infinitas, o tesoiro de tôqas as suas
graças. Vem restituir a vista a um cego, curar um
eníêrmo, dar-me a paz, encher-me de lodos os bens ...
Oh! vinde, Rei amabilíssimo, e oxalá que no momento
em que [ornardes posse do meu coração, os anjos
possam predizer que o vosso reino em mim não terá
fim 1

IS!

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Tf:RÇA-FEIRA DA SE�IAN.� SA:'iTA 271

XLVI MEDITAÇÃO
Têrça-feira da Semana Santa. - Jesus chora
sôbre Jerusd!ém. - Confemp!dçào.

1. Con(emplar as pessoas;
11. Ouvir as palavras;
Ili. Considerar as acções.

P1rn,1ErnO PHELÚDIO. Ouando Jesus chegou


perlo de Jerusalém, vendo a cidade, chorou sôbre
ela, dizendo •Ah! se ao menos neste dia, que te é
dado, conhecesses o que te pode trazer a paz; mas
agora ludo islo está encoberto aos teus olhos I Por­
que virá um tempo funesto para ti : no qual teus ini­
migos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão; e te
porão elJl apêrlo de tôdas as parles: e te arrasarão,
e não deixarão em li pedra sôbre pedra, porque não
conheceste o tempo da lua visitação• C).
S1muxno PHELÚ010. Imaginai o caminho de
Belfagé a Jerusalém juncado com ramos de árvores
e apinhado de povo alegre, no meio do qual Jesus
caminha em triunfo. Seu rosto exprime alegria mis·
turada de tristeza.
TEHCEIHO Pl,Er,ÚDIO, Supliquemos ao Coração
de Jesus que nos infunda os sentimentos de compai­
xão que lhe causa a cegueira e a perdição dos
pecadores.

1. Contemplar as pessoas. - Em Jerusalém, os


inimigos do Salvador e os indiferentes. Jesus pensa
mais nêles, nos seus perigos, nas suas desgraças, do

(1) Luc. XIX, 4 t, 44.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

que nos testemunhos de eslima e afeição que recebe.


Os inimigos ouvem falar com desgõslo do milagre
da ressurreição de Lázaro, que é o assunto de !õdas
as conversas, e que alrai lanla consideração àquele
cuja glória os ofusca; exaspera-os o contentamento
que mostram os admiradores de Jesus, e sua diligên­
cia em sair da cidade para ir ao seu encontro. Os in­
diferentes, entregues aos negócios ou prazeres, ligam
pouca imporlância às questões religiosas, quási não
prestam atenção a ludo o que se diz. - Fora de
Jerusalém, os numerosos grupos, que manifestam à
porfia seu respeito e amor para com ésse glorioso
filho de David que fêz h.:do bem (1). - Os apósto­
los, contentes porque se faz finalmente justiça a seu
bom Mestre; há tanto lempo desconhecido, ei-lo
agora honrado como merece: lõdas as bõcas publi­
cam seus louvores, não se ouvem senão palavras de
bênção, não se vêem senão sinais de alewia. - Je­
sus, cuja presença causa êsle contenlam(!llto e a
quem se dirigem lodos êsles cantos de triunfo. Só
êle descobre um molivo de tristeza nestas aparências
lisonjeiras. Vê a Jerusalém, e chora. Oh! que· vãos
são os pensamentos dos homens! Oh! quantas vezes
uma alma pensaliva que examina as coisas ã luz da
fé, acha motivo para gemer, quando os oulros se
alegram ! Jesus chora sõbre uma cidade que vai
crucificá-lo, e nós sabemos que êle anseia vêr chegar
a ocasião, em que nos há de baptizar no seu sangue.
e. O uai é a causa dessas lágrimas, se êle deseja a
cruel morte, que se seguirá ao seu triunfo? Meu
Jesus, meu lemo e generoso amigo, os vossos sofri­
mentos, que nos salvam, amai-los; mas os nossos
males é que vos arrancam !antas lágrimas, i e não nos
comoverão as nossas desgraças nem o vosso amor!

(1) Marc. VII, 37.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TÊRÇA-FE!RA DA SEMANA SANTA 'i!73
II. e III. Ouvir ás palavras e considerar as
acções. - O Filho de Deus, lembrando-se de tudo o
que tem feito pela cidade culpada, e do que ela vai
fazer para encher a medida dos seus crimes, não se
contenta com chorar sôbre ela; mas, para nos ins­
truir, quer que todos conheçamos a causa das suas
lágrimas. Aflige-se, porque prevê o novo abuso, que
Jerusalém vai fazer das suas graças, não se aprovei­
tando desta última visitação: • Ah ! se ao menos
neste dia, que te é dado, cidade ingrata, in hac die
lua, dia que pode ainda ser o da tua salvação, qui­
sesses conhecer o que venho oferecer-te, oferecendo-te
a paz 1 . . . Si cognovisses . .. quae ad pacem fihi ! ...
Não conclui; suas lágrimas, seu silêncio dizem o
resto.
l Ainda não passou o tempo da misericórdia para
esta cidade culpada? Não, mas passará brevemente;
não falta senão um dia I E a vida inteira é. será outra
coisa, ccwiparada com a eternidade? Ah I quão rápi­
damente decorre I Se durante êste dia favorável, Je­
rusalém, abrindo finalmente os olhos à verdade, rece­
besse o seu libertador com a mesma boa vontade que
a gente que formava seu cortejo ; se lodos os seus
habitantes concorressem, como deviam,. a esta ovação,
o triunfo de Jesus leria sido completo. êle manifes­
taria sua alegria, em lugar de derramar lágrimas :
Jerusalém seria para sempre a cidade amada do Se­
nhor e a raínha das nações. Assim também não hã
pecador, por mais perto do abismo que se suponha,
que não possa converter-se; mas é necessário que êle
queira. E quererá êle ? Jerusalém obstina-se e endu­
rece-se. Não quer vêr os bens que perde, nem os
males que atrai sôbre si, nem os crimes que come­
teu, nem o que vai cometer: Nunc aufem ahscondifa
sunf ah oculis fuis. Deixou passar o tempo da sal­
\'ação; é. e que lhe acontecerá? Venienf dies in fe.
Dias de ira sucederão a dias de clemência; a elerni-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
27&. MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

dade de Deus subsfitu'irá o dia do homem; êle visi­


tará com indignação os que não quiseram recebê-lo,
quando os visitava com amor : Ef circumdahunf fe
inimici fui vallo . . . ef coangusfahunf fe undique: ef
ad ferram prosfernenl te . .. , ef non relinquenf in fe
lapidem super lapidem, eo quod non cognoveris
fempus visifotionis fuae (1). Eis aqui o que enche de
aflição o Coração de Jesus no meio desta manifes­
tação da alegria que dá a sua presença. é. Não de­
viam suas lágrimas enternecer os corações mais endu­
recido�, e penetrar de compunção os mais rebeldes?
De algum modo compreendo que se resista às pro­
messas e ameaças, mas, é. como resistir às lágrimas
de um Deus? lÜue pensar de um réu, que despreza
o juiz, ainda mesmo quando êsse juiz, desfeito em
pranto, parece dizer-lhe: • Evitai-me a dôr de vos
condenar, porque bem vêdes que vos amo•?
O' padre, compreendei por estas divinas lágrimas
a desgraça da impenitência, a desordem da� paixões,
a malícia do pecado, a loucura das alegrias mun­
danas, mas principalmente a caridosa compaixão
do Coração de Jesus. Aprendei desta profunda afli�
ção a sua excessiva ternura para com lodos os ho­
mens, e quanto lhe é dolorosa. a perdição dos peca­
dores. Suplicai-lhe a graça de chorar com êle a
triste sorte dessas almas que êle ama até morrer para
as salvar, e que não salvará, nem mesmo morrendo
por elas 1 . . . Trabalhai sem descanso, orai e procurai
que se ore pela conversão dos pecadores.

Resumo da Meditação

1. Contemplar as . pessoas. - Em Jerusalém,


os inimigos do Salvador e os indiferentes. Os pri-

(1) Luc. XIX, 43, 44.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TÊRÇA-FEIRA DA SEMA!'iA SANTA 275
meiros exasperam-se, vendo a satisfação que mostram
os admiradores de Jesus ; os outros não dão atenção
ao que ouvem e vêem. - Fora de Jerusalém, nume­
rosos grupos manifestando à porfia seus sentimentos
para com aquele que ludo Íêz bem. Os apóstolos,
contentes porque se faz justiça a seu Mestre. Jesus,
objedo desta ovação; só êle descobre um motivo de
tristeza debaixo de tão lisonjeiras aparências. Êle ama
os seus sofrimentos, que nos salvam; a nossa ceguei­
ra, que nos perd,e, arranca-lhe lágrimas.

II. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - Jesus aflige-se, prevendo o novo abuso
que Jerusalém vai fazer de uma misericordiosa visita,
que será a última: • Êste dia, que le é dado, ó cidade
ingrata, pode ainda ser o da lua salvação. Ah I se
lu quisesses abrir os olhos• 1 . . . Suas lágrimas dizem
o reslo. Não há pecador, que não possa voltar para
Deus, mas é necessário que .queira. Se se obstina,
os dias de ira substituirão os dias de clemência.
l Oue pensar de um réu, que despreza o juiz, ainda
quando êsle, chorando, parece dizer-lhe: • Evilai-me
a dõr de vos condenar, porque bem vêdes que vos
amo»? O' padre, estudai nestas divinas lágrimas a
desgraça da impenitência e a caridosa compaixão de
Jesus.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
276 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

XLVII MEDITAÇÃO
Quarta-feira Santa. - Jesus lava os pés aos seus
apóstolos. - Contemplação

I. Confempl11r os pessoas ;
li. Ouvir os p11l11vr11s ;
Ili. Consider11r os 11cções.

PRIMEIRO PRELÚDIO. Acabada a ceia, Jesus,


que sabia que seu Pai depositava em suas mãos lô�
das as coisas, e que saíra de Deus e ia para Deus,
levanta-se da mêsa, e começa -a lavar os pés aos
seus discípulos (1). Em vão quer a humildade de
Pedro opôr-se à do filho de Deus. Pedro cede.
Tendo lavado os pés a cada um dêles, o Salvador
torna-se a senlar à mêsa, e explica-lhes a misleriosa
acção que praticou.
SEGUNDO PHELÚDIO. Imaginai o cenáculo la[
qual Jesus o descrevera de antemão: Caenaculum
magnum s/rafum, e o divino Meslre à mêsa com seus
discípulos.
TERCEIRO PRELÚDIO. O' Jesus, concedei-me a
graça de imitar os exemplos, de praticar as lições de
humildade e caridade, que nos dais nesle mistério.

I. Confemplar as pessoas. - Jesus Cristo.


f.Ie conhece sua suprema auloridade e seu poder
absolulo : Sciens quia omnia dedif ei Pafer in ma­
nus: sabe o que é, de onde vem, para onde vai:
Ouia 11 Deo exivif e/ ad Deam vadif. l Valer-se-á
disso para exigir as atenções, que lhe são devidas?

(1) Luc. XIII, 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUARTA-FEIRA SANTA 't.77
Não, mas para acrescentar uma nova fôrça à lição
de humildade que vai dar-nos : Surgi/ a caena. Sua
adorá*! pessoa parece ter neste momento alguma
coisa de mais augusto, que de ordinário não costu­
mava praticar. - Os apóstolos em geral. Estão aten­
tos ; uma espécie de curiosidade respeitosa se mani­
festa nêles. Parecem pressentir que se vai realizar
um grande mislério.-Pedro; 1 como está perturbado,
confuso, quando vê o Mestre chegar-se a êle e dis­
pôr-se a lavar-lhe os pés 1 - Judas; 1 como está som­
brio, pensativo I Parece insensível no meio da emo­
ção geral. Observemos o que se vai passar, e não
percamos uma só circunstância desta scena tão ins­
trutiva e comovedora.

II. e III. Considerar as acções, ouvir as pala..


vras. - Acabada a ceia: Caena facfa, estando os
apóstolos ainda à mêsa, Jesus levanta-se. Depõe
seus \'estidos, cinge-se com uma toalha, lança água
numa bacia . .. Oue vai fazer? é. Oual é o espanto
dos que vêem êstes preparativos, e qual deve ser o
nosso, se nisto refleclirmos? Ouê? 1 o Criador do
universo, o Senhor do céu e da terra, vai ajoelhar
aos pés dos homens, e prestar-lhes serviços de um
criado 1 . . . é. Não sabe Jesus, que é Deus de Deus,
em tudo igual a seu Pai, que brevemente sua huma­
nidade santíssima será glorificada, e que o Senhor
lhe dirá: • Senta-te à minha direita, até que eu re­
duza teus inimigos a escabelo de teus pés•? êle
sabe-o muito bem. Não o esqueçamos nós, e ajude­
-nos a idéia de suas grandezas a sondar melhor o
abismo de suas humilhações.
Chegou a Simão Pedro; e ajoelha deante dêle ;
mas Pedro confuso levanta-se, e prostrado exclama :
Domine, tu mihi lavas pedes? . .. é. Oue é isto, Senhor?
Vós, a quem adoro como a Cristo, filho de Deus
vivo, é. quereis lavar-me os pés, e consenli-lo-ei? ...

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
'l78 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Jesus responde-lhe: • Ouod ego Ídcio, fu nescis


modo, scies aufem posfea. Pedro, não investigues a
profundidade dos meus desígnios. O que e1.i faço,
tu não o compreendes agora, compreendê-lo-ás mais
tarde. Ignoras que pureza exige o alimento que vou
dar-te, a dignidade e os ministérios que te destino• .
Oh I quantas coisas permanecem ocultas a nossos
olhos, nos desígnios de Deus a nosso respeito! Dei­
xemos agir a Providência, submetamo-nos, adoremos.
O tempo, e principalmente a eternidade, nos revela­
rão muitos mistérios. A estas palavras, Pedro olha
para o divino Mestre; fiça por. um momento inde­
ciso; mas logo volta ao seu primeiro pensamento, e
não pode consentir que Jesus lhe preste semelhante
serviço. • Não, nunca me lavareis os pés: Non la­
vabis mihi pedes in aefernum•. Era levar muito
longe a resistência. Reconheçamo-nos indignos dos
benefícios de Deus, mas êle é quem manda, o nosso
dever é obedecer. A humildade que recusa seus
dons, quando êle os oferece, degenera em soberba e
em presunção. Jesus deu uma resposta, que decidiu
a contenda : • Si non lavero te, non babebis partem
mecum: ou obedeces, ou deixarei de te olhar como
meu discípulo; não serás mais dos meus• . A ameaça
era terrível; 1 ser separado de Jesus, não ler já parle
no seu reino 1 . . . Pensando nisto, Pedro estremece:
• Ah I Senhor, se assim é, lavai-me, não sõmente os
pés, mas também as mãos e a cabeça• . Aqui o
Salvador corrige outro excesso, e instrui as almas
timoratas, a quem nenhuma expiação do passado,
nenhuma confissão, nenhuma preparação basta: • Di­
cif ei Jesus: Oui lofus esf, non indigef nisi ui pedes
lavei. Aquele que se lavou nas águas do baplismq,
ou nas da penitência, não tem já necessidade de ser
purificado senão de algumas leves máculas inevitáveis
à fragilidade humana• . Então o Filho de Deus la­
vou os pés ao chefe dos apóstolos, e deixou-o banha-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUARTA-FEfRA SANTA 2i9
do em lágrimas, abrasado em amor, e com o coração
cheio das mais puras e dôces consolações. Tais são
os frulos da obediência, inseparável da verdade,i-a
humildade.
De Pedro o Salvador passa aos oulros; ei-lo aos
pés de Judas. Êsle desgraçado não se comove com
o eslado em que vê ao divino Mestre,. nem com o
estado em que o seu Mestre o vê a êle I Olha cini­
camente para o Senhor dos senhores prostrado aos
seus pés, lavando-lhos e enxugando-lhos! i E tanta
bondade, tanta condescendência não lhe enternecem
o coração ! e. E' o meu menos duro? e. Em que es­
tado vejo eu lodos os dias a Jesus Cristo no sacra­
mento do altar? Despojado de todo o resplendor
da sua divindade, até da forma da sua humanidade,
i oculta-se debaixo de vis aparências, para me servir
de alimento, para ser a minha vítima 1 . . . Os santos
sacerdotes e piedosos fiéis não podem contemplar êste
aniqüilamento sem transportes de amor e lágrimas de
devoção; 1 e eu lenho-o nas mãos, recebo-o, possuo-o
dentro. em mim, sem me enternecer 1 . . . O' Jesus,
curai-me desta insensibilidade, que lanto vos ofende.
Judas acabava de ouvir uma palavra que deveria
lraspassar-lhe o coração: • Vós estais limpos, mas
não todos> . O traidor está pois descoberto, êle não
pode duvidar; e foi para o advertir, que Jesus falou
assim. 1 Ouanlas solicitações da graça para o fazer
entrar em si I Tudo é inútil; as mais ternas miseri­
córdias· não o comovem. Vêde até que ponlo a pai­
xão pode aviltar o córação de um apóstolo!
O Salvador, lendo relomado os vestidos, torna-se
a pôr à mêsa, e dá a todos esta importante lição:
• Sei/is quid fecerim vohis? Muitos hão de ler no
decurso dos tempos o que eu acabo de fazer, muitos
o ouvirão dizer, sem o compreender; mas vós ·ao
menos, queridos apóstolos, compreendei-lo? Cha­
mais-me vosso Mestre, e falais verdade, porque o sou.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Ora. se eu, sendo vosso Senhor e Mestre, vos lavei


os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos
outros•. O' humildade, ó caridade, virludes tão
recomendadas, tão admiràvelmenle praticadas por
Jesus Cristo, l sois vós bastante conhecidas dos seus
discípulos e até dos seus ministros? Todavia não
basta conhecer-vos; é necessário reduzir-vos à prá­
tica : • Si baec scifis, beali erilis si fecerilis ea.
Sim, a bemaventurança depende disso; heafi, o céu
é dado por éste preço, si fecerifi_s. j Oue feliz é nesta
vida o ministro de Jesus, que se humilha com seu
Mestre, que pratica o zêlo e a caridade com êle, e
com êle se sacrifica para glória de Deus e salvação
de seus irmãos 1 1 Oue puras delícias, que abundantes
graças estão ocultas debaixo dêsse exterior modesto,
agradável, laborioso, sofredor I Oh I que vida tão
agradável a Deus I Tê-la-ei, se o meu proceder fõr
cheio de uma sincera humildade e ardente caridade,
não receando jàmais humilhar-me, para me empregar
no serviço de Deus a quem eu reconheço na pessoa
de meus irmãos.

Resumo da Meditação

1. Contemplar as pessoas. - Jesus Cristo.


Conhece a sua autoridade e o seu pode�, mas não
se valerá disso, para acrescentar uma nova fôrça à
lição' de humildade que vai dar-nos. - Os apóstolos
em geral; uma espécie de curiosidade se manifesta
no seu rosto. - Pedro, perturbado, confuso, quando
vê que seu M�stre quer lavar-lhe os pés. - Judas;
1 como está pensativo e parece insensível 1

II. e III. Con�iderar as acções, ouvir as pala­


vras. - Acabada a çeia, Jesus levanta-se; depõe
seus vestidos; que vai fazer,? Vem a Simão Pedro.
Êste, confuso, prosterna-se, e exclama; • l Ouºê, Se-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUINTA-FEIRA SANTA 28l

nhor, vós quereis lavar-me os pés•? 1 . . . • Pedro, o


que eu· faço, tu não o compreendes agora; compre�n­
dê-lo-ás mais tarde». Não investiguemos os segreclos
e desígnios de Deus, e entreguemo-nos nas mãos da
sua Providência. Em vão Pedro quer ainda resistir:
sua humildade é vencida pela humildade de Jesus.
De Pedro o Salvador passa aos outros; ei-lo aos
pés de Judas, cujo coração se não enternece perante
Ião enternecedora bondade. e E' meu coração menos
insensível, depois da sagrada comunhão? - Jesus,
tendo retomado seus vestidos, termina tudo com estas
graves palavras: • Vós chamais-me vosso Mestre, e
sou-o na verdade. Ora, se eu vos lavei a vós os
pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros• .

XLVIII MEDITAÇÃO
Quinta-feira Santa. - lnsfifuição da Eucaristia
e do sacerdócio

• No cenáculo, assim como hã mais que uma


refeição, assim também hã outra coisa além do sacri­
fício. Há a inslitu"ição de um novo sacerdócio.
l Como teria Jesus dito aos homens: Se não comer­
des a minha carne e não beberdes o meu sangue,
não lereis vida em vós, se não pensasse em criar um
ministério, pelo qual renovasse, até ao fim dos sécu­
los, o que então acabava de fazer na presença dos
doze apóstolos? Ora, eis aqui o que diz a êsses
homens que escolheu: Fareis isto em memória de
mim. Dá-lhes por estas palavras o poder de con­
verter o pão em seu corpo e o vinho em seu sangue;
e êste sublime poder transmitir-se-á na Igreja pela
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

sagrada ordenação, até à consumação dos séculos.


Jesus continuará a realizar pelo ministério de homens
mortais e pecadores, o milagre que fêz no cenáculo;
e, ao mesmo {empo que dota a sua Igreja com êste
único e perpétuo sacrifício, dá-nos, segundo a sua
promessa, com o pão do céu, o meio de nós perma­
necermos nê/e, e é/e em nós, (1).
Estas duas institu"ições reünidas encerram dois
poderosos motivos de reconhecim.enlo, que hão de
ser hoje o objedo da nossa meditação. O primeiro
refere-se a todos os fiéis: Accipile ef manduca/e, hoc
esf corpus meum . .. .- accipile e/ bibife, hic esf sanguis
meus: o segundo refere-se em particular aos padres :
Hoc facife in meam commemorafionem.

I, Amor de Jesus Crislo para com os homens na inslilu'ição dos


mislérios dêsle dia : Hoc est corpus meum.
li. Amor p11dicular de Jesus Crislo para com os seus minislros:
Hoc facile in meam commemorationem.

1. Amor do Salvador para com os homens na


insfifu'ição dos mistérios dêsfe dia. - A Eucaristia
é o testamento do Filho de Deus, que vai morrer; é
um dom, último penhor da sua ternura. Oual é êsle
dom ? A quem é feito? l Quando e porquê é êle
feito? Só um àmor infinito era capaz destas inven­
ções inefáveis, que já os profetas entreviram : Notas
facile in populis adinvenfiones ejus (2).
1. 0 •Tendo amado aos seus que estavam neste
mundo, amou-os até ao fim•. Tudo estava prepa­
rado, e era chegada a hora de cumprir o grande
desígnio formado pelo Coração de Jesus. • Emquanto
ceavam, tomou Jesus o pão, benzeu-o, partiu-o, e
deu-o a seus discípulos, dizendo: •Tornai e comei :

(1) D. Guéranger. Ann. liturg. - (2) Is. XII, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUINTA-FEIRA SANTA 283

êste é o meu corpo, que será entregue por amor de


vós• . E tomando o cális, deu graças, e deu-lho, di­
zendo: • Bebei dêle todos, porque êsle é o meu san­
gue do Novo Testamenlo, que por vós será derra­
mado• (1). l Posso eu ouvir estas palavras, sem me
sentir tomado de respeito e transportado de amor?
1 • Êste é o meu corpo, êste é o meu sangue• 1
l Oue é o que Jesus nos dá? E' infinitamente mais
que o seu reino; é êle mesmo, seu poder, sua bon­
dade, suas graças, seus merecimentos 1 . . . A sua
carne crucificada por amor de nós idenfifica-se com
a nossa carne; o seu sangue, que salvou o mundo,
mistura-se com o nosso sangue. Nossa alma uni�-se
à do Redentor; sua divindade· penetra-nos, e consome
em nós ludo o que o pecado havia corrompido.
O amigo fiel repoisa no nosso seio, e diz-nos: Pone
me ui signaculum super cor fuum. O' homens, bus­
cai lá um bem, que não esteja neste dom inestimável!
e vêde se o amor de Jesus para convôsco o não tor­
nou pródigo de si mesmo, pois julgou que era muito
pouco dar-vos tudo o que possui, se vos não desse
também tudo o que êle é! O Deum, si Ít1s esf di­
cere, prodigum sui prt1e desiderio hominis ! An non
prodigum, qui non solum sut1 sed seipsum impen­
dil? ( 2)
2.0 Mas, la que homens privilegiados será des­
tinado tão mimoso favor ? l Será reservado para a
incomparável Virgem, para o apóstolo a quem Jesus
amava, para algumas almas escolhidas, émulas da
pureza de Maria e de S. João? Não. Jesus conce­
de-o a todos os seus discípulos: Dedifque discipulis
suis, a lodos os filhos da sua Igreja, de todos os
tempos, de todos os lugares, de lôdas as condições.
Nenhum é excluído, se não se exclui por sua própria

(1) MaUh. XXVI, 26. - (2) Guerric. Àbb. in die Pentec.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
28i MEl)JTAÇÕES SJI.CERDOTAIS

vontade; e é por isso que, depois de ter feito êste


prodígio, compêndio de todos os prodígios, ordena
aos seus ministros, que façam o que êle acaba de
fazer, que perpetuem êsle milagre de amor, renovan­
do-o até ao fim dos séculos, em lôda a parle onde
co:::quistarem para êle servidores. Oh! como é ver­
dade que o seu amor para connôsco não tem limites,
pois se dá lodo inteiro e a lodos I E êsle amor é
também desinteressado.
3.0 Ouando instiluíu a Eucaristia, é. que esperava
êle dos homens ? Quando lhes dava uma prova do
seu generoso e extremoso amor, é. que lhe preparavam
êles? E' na véspera da sua Paixão, in quél nocle
fréldebélfur, no momento em que os judeus delibera­
vam sôbre os meios a empregar para lhe darem uma
morte infame e cruel, no momento em que Judas bus­
cava ocasião de o entregar ao seu ódio e inveja.
Quando os homens mereciam mais sua indignação, é
que êle leva o amor para com êles até aos últimos
limites: ln finem dilexif eos. Vê o que se maquina
contra êle, conhece as profanações futuras e os alen­
tados presentes; nada o detém : Aquéle mul!éle non
pofuerunf exfinguere célrilélfem, nec lluminél obruenf
iÍÍélm (1).
4. 0 finalmente, 1.. que se propõe êle nesta admi­
rável inslilu'ição, senão vencer a excessiva perversi­
dade com a excessiva bondade? Os homens rejei­
tam-no, vão dentro em breve grilar: Tolle, folie,
crucifige eum; e êle prende-se a êles para não os dei­
xar mais. Ouerem, por assim dizer, com seus enor­
mes crimes, forçar Deus a feri-los sem misericórdia,
e Jesus quer interpôr-se como vítima de propiciação,
com um sacrifício perpétuo, entre a justiça de seu Pai
e os crimes dos homens. Não podem suportá-lo; e

(1) Cant. VlIJ, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
---------- SANTA 285
QUINTA-FEIRA----------

êle, dir-se-ia que não pode abandoná-los; isó se


achará bastante perto dêles, depois que tiverem co­
mido a sua carne e bebido o seu sangue I Ouer
ser o alimento de suas almas : Ego reliciam vos;
quer comunicar-lhes sua vida divina, que aproveitará
também a seus corpos, e em virtude da qual os res­
suscitará no último dia (1). Tais são os intuitos do
seu amor neste mistério: estar sempre com os hó­
mens, sacrificar-se sempre por êles; unir-se . a êles
como seu alimento, para os transformar nêle. Deus
Nosso Senhor cumpre assim magnificamente em favor
do povo da nova aliança o que prometera ao da an­
tiga: Venienf ef laudabunf in monte Sion. Eis a
Igreja, cujo bêrço foi Jerusalém : E! confluenf ad
hona Domini super frumenfo ef vino. . . Erifque
anima eorum quasi horlus irriguus, e/ ultra non esu­
rienf. Eis lodos os bens do Senhor encerrados na
Eucaristia: Ef inebriabo animam sacerdofum pingue­
dine, ef populus meus bonis meis adimplebifur (2). Tai
é a parle de todos os cristãos neste imenso benefício;
mas l qual é a dos padres ?

]]. Amor do Salvador para com os seus mi­


nistros na instituição dos mistérios dêste dia. -
A Eucaristia, que é a riqueza de lõda a Igreja, é o
tesoiro particular do sacerdócio. O quam magnum
ef honorabile esf oflicium sacerdolum, quibus datum
esf Domínum majeslafis verbis sacris consecrare, la­
biis benedicere, manibus fenere, ore proprio sumere
ef caeleris ministrarei ( 3 ) j Oue vasto campo aberto
às mais santas reflexões nestas palavras, consecrare,
benedicere, fenere, sumere, ministrarei
cE sôbre quem exercemos nós um poder Ião amplo?

(1) Joan. VI, 55. - (2_) Jerem. XXXI, 12, 14.


(3) /mil., lib. IV, e. XI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
286 MEDITAÇÕES l!ACEBDOTAIS

Sõbre o Senhor de lôda a majestade. e. Houve jãmais


ministério mais divino? e. Como o desempenhais vós?
é. Com que atenção, com que devoção pronunciais a
fórmula sagrada, que vos assemelha ao Eterno Padre,
gerando seu Filho, a Jesus Cristo reproduzindo-se e
imolando-se por meio de vós? Fazei pois em memó­
ria dêle o que êle fêz no Cenáculo, e renova lodos
os dias no altar com lanlo amor para convôsco,
porque vós éreis um daqueles a quem êle dizia:
Hoc facife in meam commeinorafionem. Tôdas as vezes
que celebrais os santos mistérios, ouvi-o repetir-vos
êsle terno convite: « Pensai em mim, vós a quem eu
escolhi para ser meu represenlanle, meu amigo, meu
consolador, outro eu. Üuási todos me esquecem:
vós ao menos, lembrai-vos dos meus benefícios, pensai
principalmente na minha imolação no Calvário: Haec
quofiescumque fecer.ifis, in mei memoriam faciefis • .
Depois que a consagração tornou presente no
altar o Verbo incarnado para nossa redenção; quando
está ali deanle de vossos ollios, sem movimento, sem
vida aparente, êle que dá vida a ludo o que respira,
é. que fazeis dêle, ó padre? é. Oferecei-lo pelos vivos e
defuntos, por vós e pela salvação de lodo o mundo?
Entrando nas intenções que êle tinha na Cruz e lem
ainda no altar, é. olhais para o céu como êle olhou,
a-fim de glorificar a Deus, de o adorar com os Santos
e de lhe dar graças? é. Olhais para a (erra, a-fim de a
santificar, atraindo sôbre ela as graças que êle lhe
alcançou? é. Olhais com compaixão para a Igreja pa­
decente que podeis consolar com tanta eficácia? Du­
rante o sacrifício, 1 quantas vezes abençoais aquele de
quem dimana lôda a bênção 1 1 Ouanlas vezes pegais
naquele que os anjos apenas ousam contemplar !
E depois comeis êsse pão celeste, dai-lo : UI sumanf
et denf caeferis; dispondes dêle como propriedade
vossa 1
Hoje honrai o Santíssimo Sacramento e o sacer-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUINTA-FEIRA SANTA 287
dócio com particular devoção. Lembrai-vos do ditoso
momento em que recebestes o poder de glorificar a
Deus e santificar o mundo, quando vos foi dite-:
Accipe polesfafem o/Ferre sacrilicium Deo missdsque
celebrare, iam pro vivis quam pro defunclis, in no­
mine Domini. Usai dêste poder com fanfa devoção e
fervor, que sejais no último dia um dêsses sacerdotes
santos que Jesus elogiará na presença do universo,
porque veneraram dignamente os niislérios - do seu
corpo e sangue : Deus qui nobis sub socrdmenfo mi­
rdbili, pdssionis fuae memoriam reliquisfi; fribue,
quaesumus, ila nos corporis et sanguinis fui sacra
mysferid venerari, ui redem!!,fionis lude frucfum in
nobis jugifer senfiamus. Oui vivis ef regnas in sae­
cuÍd saeculorum.
Estes três últimos dias da quaresma, passados no
recolhimento e fervor, acabarão a vossa prepa'ração
para a festa da Páscoa : Per immensdm hdnc chdri­
lafem Iliam, Domine, pelo grdfiam ef6cdcem, ad
emendandos mores ef honorificandum minisferium
meum. Dd mihi spirifum compunclionis, praeserfim
in hoc triduo sacro. Plorans nunc piorai sancfa ma­
ler Ecclesia, ef lacrymae in mdx.illis ejus. Pro dÍiis
ef prae dÍiis peccaforibus oporfet me lugere ad pe­
dem crucis fude ef implorare misericordiam fuam.
Obsecro fe, bane Jesu, per amarissimam passionem
fuam, uf me, meosque omnes, digneris lacere partici­
pes inGnitorum merilorum fuorum. Amen (1).

Resumo da Meditação

I. Amor do Salvador para com os homens na


institu"ição dos mistérios dêste di�. - A Eucaristia
é um dom. l Oual é êsse dom ? l A quem é feito ?

(1) Seul. lld.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
288 MEDITAÇÕES SACEROOTAIS

é. Quando e porquê é êle feito? O que Jesus dá


aqui é infinitamente mais do que o seu reino; é êle
mesmo, Era muito pouco para o seu amor, dar-nos
tudo o que tem, se lhe não acrescentasse ludo o que
é: divindade, humanidade 1 . . . Mas é. a quem é feito
êste dom? a lodos os filhos da sua Igreja, de lodos
os tempos, de lodos os lugares, de lôdas as condi­
ções. c..E que tempo escolhe para realizar êste misté­
rio, obra-prima da caridade do seu coração? A mes­
ma noite em que ·vai ser entregue por Judas a seus
inimigos, por seus inimigos a Pilatos, por Pilatos
aos seus algozes. Finalmente, que pretende êle?
Vencer a excessiva pc-rversidade com a excessiva
bondade. Os homens vão gritar: • Tirai-o, tirai-o
da nossa vista•; e êle prende-se no meio dêles ! Não
podem suportá-lo? êle não pode separar-se dêles.
Até ao fim dos séculos, terão junto a si o taberná­
culo em que reside, o altar em que se imola, a sa­
grada mêsa em que se dá como alimento.

li. Amor do Salvador para com os seus mi­


nistros na instituição dos mistérios dêste dia. - A
Eucaristia, que é a riqueza de tôda a Igreja, é o te­
soiro parlic-ular do sacerdócio. O' padres, quibus
dafum esf Dominum majesfafis verbis sacris conse­
crare, labiis benedicere, manibus fenere, ore proprio
sumere el caeferis minisfrare ! l Houve jàmais minis­
tério tão divino? Como o exerceis vós? Honrai
hoje o Sanlíssimo Sacramento e o sacerdócio com
especial devoção.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEXTA-FEIRA SANTA 289

XLIX MEDITAÇÃO
Sexta-feira, Santa. - Tudo eslá cumprido

Na nossa oração preparatória. ao mesmo tempo


que apresentamos à Santíssima Trindade lôdas as
faculdades da nossa alma, para serem empregadas
no seu serviço durante êsle santo dia, e especial­
mente durante êsle exercício, ofereçamos-lhe a ago­
nia e o último suspiro do Salvador. Nunca Deus foi
tão glorificado como neste dia. Nunca o seu ço­
ração se comove tanto das misérias humanas como
quando celebramos êstc trágico aniversário. Hoje a
oração pode esperar milagres. Por isso a Igreja
desconsolada, c;onhecendo o poder das suas lágri­
mas, unidas ao sangue do seu ·divino E.spôso, es­
tende sua solicitude maternal às necessidades de todo
o género humano. Os hen;jes, os scismálicos, os
pérfidos judeus, todos leem parle nas solenes depre­
cações que ela faz a Deus junto à Cruz; de seu Filho.
Pode-se fazer a contemplação, que vem no se­
gundo volume, LXXX/X Medi/ação, Jesus .na Cruz,
ou sôbre esta palavra ,cheia de mistérios: Consum­
mafum esl (l).

1. Oual é o senlido desla palavra na bõca de Jesus moribundo.


II. Oual será o senlido desta palavra na bõca do justo e do pe-
cad�r, na hor� da. súa rriorfe.

I. Íudo está cumprido para Jesus moribundo,


relativamente à vontade de seu Péli, à sua imolação,

(1) Nihil parficularifer perhibui! consumma!um, ui immensa


5Ub hoc verbo in!elligas esse completa. S. Laur. Jus!.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
'l90 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

e à grande obra que empreendera : a redenção dos


homens.
1. 0 Tudo está cumprido coi:n relação à vontade
de Deus que enviou seu Filho a êste mundo. O que
o Verbo tinha prometido no momento da sua Incar­
nação: • Eis-me aqui para fazer, ó Deus, a vossa
vontade• (1), declara ao morrer, que o fêz. Obser­
vou à risca a lei que seu Pai lhe impusera, e que
êle aceitara, com amor. As figuras estão cumpridas,
as profecias realizadas. Não há uma única circun­
slância do seu nascimento, da sua vida e morte que
não esteja conforme ao que eslava escrilo no livro
dos decretos eternos: ln cãpile libri scriplum esl de
me: UI fãciam� Deus, volun/a/em /uam. Êle pode
dar a si mesmo ês!e leslemunho, ao morrer, e ler a
consolação, entre tantas dôres, de que desempenhou
a sua missão, fazendo e sofrendo ludo o que fôra da
divina vontade: Opus consummavi, quod dedisli mihi
uf faciam. -Consummalum esl. -1 Oue suave é esta
consolação! Oue sólida é ! 1 Oue firmeza dá à almo
ao sair dêsle mundo 1
O' homens, ouvi o vosso Mestre; vêde-o vivo e
moribundo; aprendei dêle como deveis viver e mor­
rer. Se quereis ser seus discípulos, deveis na vida e
na morte submeter-vos em ludo e sempre à vontade­
de Deus. Ah I Senhor, é. posso eu lisonjear-me de ler
assim procedido até ao presente? Se hoje mesmo
me fôsse necessário morrer, ousaria eu tomar por
testemunha o céu e a terra, de que fiz a vossa von­
tade e cumpri todos os desígnios que .tínheis a meu
respeito, opus consummavi, quod dedisli mihi uf fa­
ciam?
2.º Tudo está cumprido na imolação de Jesus
Cristo. Os judeus não leem já .tormentos e insultos,

(1) Hebr. X, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEXTA-FEIRA SANTA 29{
para o martirizar. A hora do poder das trevas
passou; a Paixão terminou; o filho de Deus esgotou
o cális que lhe eslava preparado 1. . . O' Jesus, l qual
é o sacrifício que consumais para minha salvaçãt>_f
fazei-me medir a sua extensão. - Meu filho, consi­
dera o estado em que me vês nesle patíbulo. Eis
a minha vida que se exlin·gue, as úllimas gôlas do
meu sangue, que correm. Lembra-te dos sofrimentos
e opróbrios a que tive de sujeitar-me, para chegar a
ésle último instante; das aflições da minha alma, das
dôres do meu corpo, dos tormentos do meu coração.
Sacrifiquei ludo por li, e para obedecer a meu Pai: o
meu repoiso, a minha liberdade, a minha honra, a
minha vida. Ofereço-me em holocausto, e não me
queixo de comprar muito cara a lua felicidade eterna,
com tanto que correspondas ao meu amor. Sim, ó
meu Salvador, a vossa caridade obriga-me; neste
dia em que o vosso coração se mostrou Ião generoso
para comigo, quero também eu consumar finalmente
o sacrifício de lôda a minha existência à glória de
vosso Pai e à vossa, sacrifício !arrias vezes começa­
do, e nunca levado a bom lêrmo. Ao pé da vossa
Cruz, no dia da vossa morte, não é já possível recu­
sar-vos coisa alguma, amar-vos com reservas ; não se
pode viver jéi senão para vós: UI el qui vivunf, jam
non sibi vivem!; sed ei qui pro ipsis morluus esl ( 1).
En servus fuus ego, parafus ad omnia, quoniam non
desidero mihi vivere sed fibi, ulinam digne e/ per­
fecfe (2).
3. 0 Tudo está cumprido para o filho de Deus
na obra da nossa redenção. O resgate dos cativos
está pago, o pecado destruído, a ira do Senhor apla­
cada, a graça adquirida, o céu oberlo, a felicidade
eterna preparada; 11 Igreja está fundada, o sacerdó-

(1) li Cor. V, 15. - (2) /mil., lib. Ili, e. XV.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
292 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

cio e os sacramentos estão instituídos. Compreen­


damos a advertência, que nos faz Jesus agonizante:
Consummofum esf. • Eu cumpri a minha parle na
· obra da vossa ·salvação; cumpri vós a vossa. Vós
tendes a minha palavra para vos instruir, os meus
exemplos para vos dirigir, a minha graça para vos
ajudar. Se empregardes os meios de santificação,
que vos deixo, consumareis comigo a vossa felici­
dade».
O' meu bom padre, 1 que honrosa parle vos toca
na obra da redenção universal, pois vós a aplicais às
almas I Vêde essas almas a(ravés das· chagas de Je­
sus Cristo, e elas vos parecerão tão preciosas, que a
nada vos poupareis para as salvar. Direis com
S. Paulo: Adimpleo ea quae desuni passionum
Chrisfi in c1Jrne mea. Não basta que Jesus tenha
padecido na sua carne divina; é necessário que pa­
deça no seu corpo místico, cujos membros princi­
pais são os padres : Pro corpore ejus, quod esf
Ecclesia ( 1).

li. Tudo éslarã consumado para o pecador e


para o justo na hora da morte, mas num sentido
muito diferente.
Consummafum esl ! Verdade insuporlável para o
homem rebelde à graça durante a vida, e impenitente
na hora da morte. Tudo está consumado para êle.
Riquezas; prazeres, honras, ludo passou ; projeclos,
negócios, diverlimenlos, ludo está findo; corpo, alma,
saúde, parentes, amigos, ludo está perdido ! . . Não
lhe restam senão os seus crimes e os horríveis tor­
mentos com que a justiça de Deus vai castigá-los.
Morre, e entra numa região onde · ludo lhe é desco-

(1) Coloss. 1, 24.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEXTA· FE!RA S.4NTA 2()3

nhecido ; onde não encontra senão um 1u1zo terrível,


um inferno eterno... Oh! que horrorosa morte!
ConsummfJfum esl J Reflexão cheia de encantos
e de consolação para o cristão fiel, e principalmente
para o bom padre moribundo. Tudo eslit consum",,tio.
Pelejei segundo as minhas fôrças, acabei a minha
carreira, guaTdei a minha fé, fui unido à• Igreja, ser­
vi-a, e morro no seu seio. Observei a lei de Deus,
e não tive maior desejo do que fazê-la observar.
Padeci, tomei a minha cruz, e segui a Jesus. E' ver­
dade que cometi fallas; mas lavei-me no sangue do
Cordeiro, e multiplicando as obras de misericórdia,
esforcei-me por merecer misericórdia ( 1). Se me resta
alguma 'dívida a pagar, o meu Salvador fêz-se meu
fiador: suas satisfações pertencem-me desde que uni
o meu sacrifício ao seu; espero dêle a corôa da jus­
tiça: Bonum cerfomen cerlovi, cursum consummavi,
lidem servfJvi. ln reliquo reposi/8 esl mihi coronfJ
juslilifJe ( 2). Oh I ditosa morte a que termina uma
semelhante vida, e é acompanhada de !ais sentimen­
tos! Para sermos dignos dela não basta entregar-nos
a Deus com fervor; é necessária a perseverança .
.\-\as e. quando poderemos nós obtê-la com mais cer­
teza do que num dia,, em que o céu é como que for­
çado a aceder a tõdas as nossas súplicas?
O' Jesus, sêde a minha fortaleza e o meu am­
paro; assis li-me durante tõda a minha vida, e fazei-me
a graça de poder repelir com grande confiança à hora
da morte, esta palavra·: • Tudo está consumado•!
LfJrgire mihi donum perseverfJn!ifJe finfJ!is, e/ specifJ!em
hfJnc grfJ!ifJm, ui indefesso sfudio de virlufe fJd virlu­
lem progredifJr, ui fJrdufJ vocfJfionis meae negolifJ rife
conficifJm, e! anfequfJm morifJr, sfJcro VifJ!ico munifJr
ad cursum meum feliciler consummandum, ui in horfJ

(1) Malfh. V, 7. - (2) 11 Tim. IV, 7, õ.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

mor/is meae conGdenfer possim dicere: Consumma­


lum esf; nec aliud mihi restai, nisi aefernifas unde­
quaque beata. Amen ( 1).

Resumo da Meditação

1. Tudo estií cumprido para Jesus moribundo,


com relação à vontade de seu Pai, à sua imolação,
e à- salvação dos homens. - 1. 0 Observou pontual­
mente a lei que seu Pai lhe impusera, e que aceitara
com amor. Entre tantas dôres pode ler a consolação
de que cumpriu fielmente a sua missão. Se hoje
morresse, l poderia eu dar de mim êsle testemunho ?
- 2.º Tudo está cumprido na imolação do Salva­
dor. . . O' meu Mestre, fazei-me medir a extensão
do vosso sacrifício. Eu quero hoje consumar o sa­
crifício da minha existência à glória de vosso Pai e à
vossa. Ouem vive, não pode viver já senão para vós:
- .3. 0 Tudo está cumprido para Jesus Cristo na obra
da nossa redenção; oiçamo-lo dizer-nos : • A minha
parle está cumprida; pertence-vos, meus discípulos,
cumprir a vossa• .

II. Tudo esfará consumado para o pecador e


para o justo na hora da morte. - Verdade insu­
portável para o homem rebelde à graça durante a
vida, e impenitente à hora da morte; riquezas, pra­
zeres . . . ludo passou ; corpo, alma, saúde, esperan­
ça.. . tudo está perdido. Oue horrível morte 1 -
Verdade cheia de consolação �a partida desta vida
para o padre que desempenhou fielmente suas obri­
gações� Tudo estii consumado: não lenho já inimigos
a vencer, todos os meus combales estão terminados.
Não me resta, Senhor, senão receber das vossas

(1) Seul. 6d.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SÁBADO SANTO 295
mãos a corôa prometida à minha fidelidade. Meu
Deus, fazei-me a graça de poder, na hora da minha
morte, repelir com confiança esta palavra: Tudo
está cumprido!

C?J

L MEDITAÇÃO
Sábado Santo. - O sepulcro de Jesus Cristo

1. Abismo de suas humilhaçõ�s.


li. Comêço de sua glória.
Ili. Escola de perfeição para nós.

1. Jesus aniqüilado no sepulcro. - Depois da


sua morte, é descido da Cruz, depositado por alguns
instantes nos b�aços de sua inconsolável Mãe que o
cobre de lágrimas, e em seguida prestam-lhe, como
aos outros homens, as honras da sepultura 1 ... Para
um Deus, estas honras são o úllimo grau de humi­
lhação, e é· hoje· que se verifica plenamente a palavra
de S. Paulo: Exinanivif semefipsum. Pelo mistério
da Incarnação, Deus tinha-se como que aniqüilado
no homem, visto que o homem não é nada em com­
paração .de De!,-IS; mas no sepulcro o aniqüilamento
é mais completo. Não esqueçamos, que êsse corpo
inanim�do é sempre o corpo de um Deus; que a di­
vindade nunca se separou dêle. Durante a vida do
5a[yador, Deus vivia e operava nêle; por êle mani­
festava sua glória, fazendo obras evidentemente divi­
nas. No sepulcro, é um homem-Deus sem vida e
sem acção; um homem-Deus, em quem não aparece
nada de homem: nem o movimento, nem a palavra,
nem o sentimento. Eis o estado de um Deus sepul-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2!Jfi MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

lado. e. Não será êste o abismo de tôdas as suas


humilhações, e o remate, por assim dizer, de lodos
os seus aniqüilamentos? Só na comunhão achamos
uma imagem dêles.
Também ali já não é só Deus, é o homem igual­
mente· que desapareceu; e ainda mais que no sepul­
cro, onde pelo menos existia a forma. exterior de um
corpo humano. Adoremos êsles aniqüilamenlos de
Jesus Cristo, novas provas de seu amor para con­
nôsco. Êle só se abateu e escondeu tanto na Euca­
ristia, para nos animar a chegar-nos Ili :êle, a unir-nos
a êle até comer sua carne e beber o seu sangue.
O' padre, que feliz sois por poder sepultá-lo lodos
os dias no vosso coração e preparar-lhe, na alma dos
fiéis, sepulcros onde goste de estar I Sim, purificai as
consciências; infundi nas almas os aromas dessas vir­
tudes que devem pela sua sinceridade embalsamar o
Salvador, e pelos seus efeifos, pelo bom odor da
edificação que exalam, embalsamar o próximo; mas
tende cuidado em vos dispôrdes a tratar sempre digna­
mente êsles mistérios. José e Nicodemos receberam
dos braços da Cruz o divino corpo já sem vida ;
vós recebei-lo do céu, não sõmenle vivo, mas dando
vida e imortalidade: Bone Jesu, fribue mihi pauperi
servo fuo necessaria vir/ufum ornamenta, velut aro­
mafa, uf digne fe sepeliam in proecordiis meis. Dealba
me ef munda cor meum ah omni criminum macula, ui
conscienfia pura, fonquam in sindone munda, fe reci­
piam : ef qui voluisli in monumento novo sepeliri, da
mihi cor novum ef spirifum · novum, ui innovalo quo­
fidie piefafis ardore, sacris operari valeam (t).

II. Aniqüilamenfo de Jesus Cristo no sepulcro,


comêço de sua glória. - E' impossível deixar de

(1) Seul. lld.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SABADO SANTO

vêr os desígnios da Providência divina, ao permitir


que se fechasse a entrada do ·sepulcro com uma
grande pedra, e que fõsse mandado selar e guardar.
Com efeito, Deus queria que tõdas estas precauções
servissem para comprovar a morte e sepultura ·de seu
filho; queria com · isto refutar 'de cmtemão a fábula
ridícula do roubo do corpo; e dar à ressurreição uma
certeza que vencesse a móis obstinada incredulidade.
Já se cumpre a predição do profeta : Et erif, sepul­
crum ejus gloriosum. Ainda ·que a vaidade do homem
se estenda até à sua sepultura; airida que êle mande
gravar no mármore o que foi; êsse m·ármore atestará,
mau grado seu, que já não é nem será coisa al­
guma; só vós, ó meu Salvador, achais na vossa se­
pultura o princípio do triunfo que vosso Pai vos
confere·. Profundamente humilhado· no sepulcro, sois
glorificado pelo mesmo sepulcro:· Fllclus obediens
usque lld morfem . . . Propfer quod ef Deus exlllfavif
illum. A terra e qs céus Jão regozijar-se dêste
triunfo; felizes os vossos verdadeiros discípulos e
servos fiéis, porque participarão dêle um dia.

IH. Sepulcro de Jesus Crisfo, escola de per­


feição. - E' dêsle adorável Redentor que se deve
dizer com muito maior razão do que do justo Abel:
Defunclus adhuc loquifur. Aprendamos algumas das
lições que Jesus nos dá neste mistério. 1. 0 Perma­
nece escondido, e diz-nos que amemos a vida oculta.
Isto nos diz no seio de sua Mãe, no presépio de Be­
lém, na solidão de Nazarelh; e ainda mais enêrgica­
mente no-lo diz na obscuridade do sepulcro. A vida
oculta oferece tantos meios de conservar a inocên­
cia ! . . . E' Ião fácil pensar em Deus e andar na sua
presença 1 . . . é. E não é êste o meio de ser perfeito?
Amhula coram me, ef esfo perfeclus. 2.0 Admira a
docilidade com que Jesus obedece e se entrega àqueles
que traiam de o sepultar; é um corpo morto ... Mas
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
i08 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

muito mais admira a obediência que mostra aos seus


ministros no sacramento do seu amor, permitindo-lhes
que disponham dêle como entenderem, que o levantem,
que o abaixem, ou que o levem para onde quiserem.
Sua aparente insensibilidade no estado eucarístico
faz-me invejar a virtude dessas almas verdadeiramente
marias para o mundo e para si mesmas, movidas sã­
mente pelos inlerêsses de Deus. é. Ouando poderei eu
dizer com tanta verdade como S. Paulo : • O mundo
está crucificado para mim, e eu crucificado para o
mundo? ( 1) 3. 0 A divindade sempre unida ao corpo
de Jesus Cristo preserva-o de tôda a corrução no
sepulcr.o.; no mundo, ó -meu Deus, onde sou obrigado
a viver no meio dos pecadores, necessito de uma es­
pécie de milagre para permanecer puro. Fareis êste
milagre, se eu procurar estar inseparàvelmente unido
a vós, vivendo só por vós e para vós. 4.° Final­
mente, o que admira sobretudo, é que Jesus Cristo
conserve no sepulcro tôda a sua fôrça para dêle sair,
e vencer a morte no próprio reino da morte. f.ste
milagre, Senhor, também o praticais em vossos mi­
nistros fiéis. Impotentes por si mesmos, êles recebem
de vós fôrça para vencer as mais violentas paixões,
para quebrar os mais fortes laços, para domar a na­
tureza, e entrar convôsco no estado de uma feliz imor­
talidade. Assim se cumprem, com relação a êles,
todos os desígnios da vossa misericórdia. Depois
que a vossa graça 1hes fêz conhecer a incarnação do
vosso Filho, honrar seus mistérios, observar seus
preceitos e imitar seus exemplos, pela sua Paixão e
Cruz vós os conduzis à glória da sua ressurreição :
Graliam luam, 'quaesumus, Domine, mentibus nosfris
infunde; ui qui. . . Chrisfi filii fui incarnafionem

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SÁBADO SANTO

cognovimus, per Passionem ejus ef Crucem ad resur­


recfionis ·gloriam perducamur.
Como finda hoje a Ouaresma, recordai o que
nela fizestes em proveito de Deus, do próximo, e de
vós mesmo, e o que teríeis pódido fazer. Depois
de terdes reparado vossas faltos, oferecendo em sa­
tisfação lodos os sofrimentos e humilhações de Je­
sus Cristo, disponde-vos a celebrar djgnamente a
festa da Páscoa, chamada por $. Gregório • a festa
das festas, porque nos tira da terra para nos trans­
portar ao céu, de que nos faz gozar desde agora
pela fé, esperança e caridade• ( 1).
Nunc aufem in hoc u/fimo quadragesimalis je­
junii die, supplico fibi, ·bone Jesu, ui omnia poeni­
fenfiae opera benigne suscipias, quae hucusque per­
egi, fibique jam denuo humilifer o-ffero. Haud equi­
dem dignus sum laelilia paschali, quia quadragena­
riam hanc absfinenfiam minus accurafe servavi, nec
corpus• meum ad Ecclesiae praescriplum safis severe
maceravi. Condona mihi negligenfias meas, per me­
rifa amarissimae Passionis fuae. Dirige me meos·
que omnes, ui /andem, emenso peregrinafionis nos­
lrae ifinere, ad aelernam coeleslis pafriae. fesfivifa­
lem pervenire mereamur. Amen (2).

Resumo da Meditação

I. Jesus aniqüilado no sepulcro. - Para um


Deus, o sepulcro é o último grau de humilhação.
Só achamos imagem dela na comunhão. Ali tam­
bém, não é só Deus que desaparece, é o próprio
homem, e ainda mais que na sepultura, onde ao me­
nos conservava a forma exterior de um ccrpo hu­
mano. Não se abaixou tanto na Eucaristia, senão

(1} Horn. XXIII. in Evang. - ( 2) Seul. Gd.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
300 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

para nos inspirar a confiança de que precisávamos,


para comer a sua carne e beber o seu sangue. Pre­
paremos-lhe no nosso· -coração um sepulcro, em que
lenha gôsto de ·estar. José e Nicodemos receberam
o divino corpo privado de vida: nós recebemo-lo
vivo e dando a imortalidade 1

II. Aniqüilamenlo de Jesus Cristo no sepul�


cro, comêço de sua glória. - Foram tomadas tôdas
as medidas para que, sendo legalmente provada ft
morle e a sepultura, -a ressurreição o fôsse também:
e eis que já se cumpre a. predição: O seu sepulcro
será glorioso.. O' Jesus, profundamente humilhado
no sepulcro, sereis glorificado pelo mesmo sepulcro.

Ili.- O sepulcro de Jesus Crislo, escola de


perfeição, - J .,º Nessas trevas, em que se envolve,
também nos diz que amemos a vida · solitária; porque
é muito favorável à inocência e ao progresso ·na vir­
tude. 2. 0 Belo modêlo de obediência: é um corpo
morto. Mas admiro ainda mais a obediência que
presta a seus ministros sagrados, que dispõem dêle
como querem. 3. 0 E' inacessível a tôda a c:orrução,
por causa da divindade a que está unido. Vós, Se­
nhor, também me tornais incorrulívei no meio do
mundo, se permaneço constantemente unido a vós
pelo amor. 4.° Finalmente, no sepulcro, Jesus con­
serva lôda a fôrça para sair dêle; também eu rece­
berei da minha união convosco o poder de vencer
as paixões e o inferno, e como vós, pela cruz, alcan­
çarei a glória da ressurreição.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE PÁSCOA ::101

LI MEDITAÇÃO
Domingo de Páscoa. - Confemplação

1. Conlemplor as pessoas;
li. Ouvir as p11l11vr11s;
III. Con7ideror os acções.

Haec dies quam fecif Dominus, AlleJuia. - De


lodos os dias é êste o dia, a que Deus deu mais
esplendor. Nenhum outro fêz tã,o glorioso para si,
Ião vantajoso para nós; porque o milagre, cujo ani­
versário- se celebra, confirma todos os milagres reali­
zados por Jesus Cristo. Graças a êste bemaventu­
rado dia 1 o pecado é desfruído, Deus será digna­
mente honrado na terra, e o homem salvo. Regozi­
jemo-nos pois, e alegremo-nos nêle: Exullemus e/ lae­
femur in ea.
PRIMEUW PRELÚDIO. Ao amanhecer o primeiro
dia da semana, vieram Maria Madalena e outras
santas mulheres vêr 0, sepulcro. Então houve. um
grande terremoto. Um a.njo do Senhor revolveu a
pedra, e sentou-se sôbre ela. Os �uardas,, cheios de
temor, ficaram como mortos. Mas O· anjo tranqüili­
zou as santas mulheres, e depois de as ler conven�
ciclo da ressurreição do Salvador, disse-lhes que
fõssem dar a nova aos seus discípulos e).
SEGUNl>O PHELÚDIO, Imaginai o sepulcro aber­
to, as santas mulheres e os discípulos vindo vê-lo,
ou retirando-se.
TERCEIRO PRELÚDI.O, O' Jesus, vencedor da

(l) Mallh. XXVIII, t; Marc. XVI, 1; Luc. XXIV, t; Joan.


XX, t.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
30! :MEDITAÇÕES BACRBDOTAIS

morle e do inferno, regozijo-me do 'vosso triunfo.


Fazei que eu ressuscite convôsco, deixando hoje e
para sempre as minhas ilusões e enfermidades espi­
rituais.

1. Contemplar as pessoas. -O Anjo, cujo as­


pecto é tão terrível pará os inimigos de Jesus, e Ião
benévolo para os que o amam. As suas vestes leem
a brancura da neve, o símbolo da vida pura de uma
alma ressuscitada. - As santas mulheres, que vão
muito cedo ao sepulcro: Volde diluculor Lembre­
mo-nos da advertência que, nos fêz a Igreja todos os
domingos da Quaresma: Non si! vobis vonum mane
surgere ante fucem: quio promisif Dominus coronam
vigilonfibus ( 1 ). Elas sabiam que era guardado por
homens armados, e não se inquietam �om isso ; sa­
biam ·que uma pedra enorme lhe tapava a entrada,
e não deixam por isso de correr. E' verdade que
diziam entre si : é. • Ouem nos tirará a pedra da en­
trada do sepulcro? Ouis revolvei nobis lapidem• ?
Mas esta dificuldade não as detém. é. Oue é que as
anima e fortalece? é. Oue é que lhes inspira tanta
coragem? E a mim é. que é que me torna tão tímido
e covarde? é. Porque é que o menor obstáculo me
descoroçoa, quando se traia de empreender alguma
coisa pela glória de Deus-? Ah I se eu tivesse o
mesmo amor 1- Considerai depois os príncipes - dos
sacerdotes e todos os que concorreram para a morte
de Jesus ·cristo. Vêde nos seus rostos o espanto,
o temor e a raiva, quando ouvem o que lhes referem
os guardas pálidos e trémulos. O que dá alegria
aos bons, causa terror &Os maus.
é. E não receará Caifás que êste môrlo ressusci­
tado lhe apareça ameaçador, e lhe venha exprobrar a
sua injustiça e hipoçrisia, preguntando-lhe ·se merecia

(1) lnvil11I.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE PÁSCOA 303
ser acusado de blasfe.mo, quando se proclamava
Filho de Deus? é. Não ficará Herodes confundido,
vendo que . leve, por' louco ao vencedor da morte?
é. Onde está agora a {única ignominiosa? é. Não lerá
Pilatos vergonha daquela indigna fraqueza que lhe
fez desamparar a inocência reconhecida, e agora divi­
namente provada? é. 0ue emoção não sente tõda e
cidade de Jerusalém, ao ouvir referir semelhante
acontecimento, e ao yêr os diversos mortos ressusci­
tados, que apareceram a muitas pessoas? (1)
- Considerai os discípulos e os apóstolos, tris­
tes porque não crêem. A primeira impressão que
lhes causa o que se refere à ressurreição do Senhor,
é uma impressão de temor e espanto (2). Persua­
dem-se que os seus inimigos, os judeus, levaram o
corpo do Salvador, para assim poderem acusá-los
de o ler roubado, e dar por isso aos discípulos os
tratos que deram ao seu Mestre.
Os discípulos aproximam-se uns dos outros com
ar inquieto e desanimado; mas à medida que suas
dúvidas se dissipam, e que a luz da fé lhes ·peneira
na alma, seus rostos serenam, e seus corações en­
chem-se de alegria.
- Finalmente, contemplai a Jesus Cristo no seu
novo estado. 0ue suave majestade I 0ue divino
resplendor I é. Reconheceis aquele que vos inspirava
tanta compaixão no prelório e na Cruz? Vêde na
sua glória o penhor da que vos está reservada, se
fordes fiel.

II. Ouvir as palavras. - As do Anjo que anime


as santas mulheres, e as convida a entrar no sepul­
cro; já lhes não oferece à sua veneração mais que
os lençóis sagrados, • Não lenhais mêdo, lhes diz;

( 1) Mallh. XXVII, .52, .53. - (2) Luc. XXIV, 22.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACEIIDOTAlS

eu sei. o que vos .traz aqui, e conheço os vossos


desejos. O mêdo ·só é. próprio dos inimigos de Je­
sus; vós que- o amais, não vos assusteis. Buscais o
Salvador crucificado: já. não está aqui; ressuscitou,
como tinha dilo. Vinde e vêde o lugar onde o Senhor
eslava colocado : Surrexit, non esf hic; venife ef
vide/e locum ubi posifus eraf Dominus • . Ressusci­
tou, surrexif; 1 que grito de triunfo ! i como ressoará
por todo o universo 1 -1 Ouanl.as bõcas o repelirão,
ajuntando-lhe o alegre Alleluia !
- Ouvi as narrações da Madalena, das suas
companheiras e dos discípulos, que foram as primei­
ras pessoas que viram o Salvador em seu estado
glorioso: narrações cuja verdade, à medida que se
torna evidente, ganha tantos mais atradivos, quanto
mais se resistira a crer em Ião grande felicidade. -
Ouvi também os príncipes dos sacerdoles confundi­
dos. Estes ensinam aos guardas o papel que hão d�
representar, para enganar o público, àcêrca de um
acontecimento que os enche de vergonha, e lhes
atrai a execração universal. • Dizei que vieram de
noite os seus discípulos, e furtaram o corpo de Cris­
to, emquanto vós estáveis dormindo•. Sim, dai por
testemunhas homens que. estavam a dormir, e que
a-pesar disso viram e ouviram o que se passava du­
rante o seu sono! O' sabedoria humana!, é. Oue
loucura é a lua, quando !e. li1,onjeias de prevalecer
contra Deus, e de obstar aos seus desígnios?

III. Considerar as acções. - é. Oue faz Jesus


Cristo? Coroa magnificamente. a grande. obra pela
qual. descera à ferra, Com sua morte linha expiado
os nossos pecados; com· sua ressurreição justifica­
-nos : Tradifus esf propfer deli.ela nosfra, e/ resur­
rexif propfer jusfificBfionem noslrBm (1). Justifica a

(1) Rom. IV, 25.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE PÁSCOA 305
nossa fé, a nossa esperança e o noss·o amor: ··a
nossa fé, porque êste milagre confirma todos os
outros, e imprime à sua doutrina o sêlo da imorlali­
dade; a nossa esperança, porque nos dá no seu
triunfo o penhor de um -triunfo semelhante que só de
nós depende alcançar; o nosso amor, porque, me­
diante êste grande milagre, conhecemos agora aquele
Senhor que tanto se humilhou e padeceu por nós.
t Oue fazem os discípulos e os apóstolos? T re­
mem, escondem-se, e recusam crer, ·um até com obs­
tinação, neste acontecimento com que deviam contar,
vislo que adoravam àquele que lho tinha predito tan­
tas vezes e tão claramente. Com sua fraqueza e
inclinação para a incredulidade, mostram-nos quanta
graça de Deus nos é necessária para fêrmos fé;
assim como depois com seus trabalhos e sofrimen­
tos, nos mostrarão a grande fortaleza de que nos pode
tornar capazes esta mesma fé.
e. Oue fazem os inimigos do Salvador? Fecham
os olhos à luz. Com o testemunho dos soldados não
puderam duvidar da ressurreição, e portanto da di­
vindade' de Jesus Cristo. Tinham êles dito: • Se é
filho de Deus, que venha Deus a livrá-lo•; e Deus
livrou-o não só das suas mãos, mas também das
prisões da morte. Os homens que êles tinham esco­
lhido para lhes confiar a guarda do sepulcro, são
testemunhas irrecusáveis disso. Confessariam o seu
crime, se o orgulho soubesse reconhecer o mal pra­
ticado. Dão maior realce à verdade do milagre,
precisamente por quererem ocullá-lo.
Colóquio com Jesus ressuscitado. Felicitemo-lo
por tão glorioso triunfo, e tomemos parle nêle. -
Supliquemos-lhe que nos conceda a graça de viver­
mos uma vida nova, pois êste deve ser em certo
modo o fruto principal dêste mistério (1). Tornemos

(1) Rom. VI, 4.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
306 MEDITAÇÕES SACEBDOTAIS

parle na felicidade de Maria SS. que ressuscita por


assim dizer, na pessoa de seu divino Filho: Regina.
coeli, laélare.

Resumo da Meditação

I. Contemplar as pessoas. - O Anjo cujo as­


pecto é lerrivel para os inimigos de Jesus, e cheio
de benevolência para os seus amigos. - As santas
mulheres, a sua presteza em ir ao sepulcro, a suõ
constância inabalável, a-pesar da enorme pedra que
lapa a entrada dêle, e do presença dos guardas. -
Os príncipes dos sacerdotes e outros perseguidores
de Jesus Cristo. é. Oue pensam Caifás, Herodes,
Pilatos? - Os discípulos, primeiramente tristes, por­
que são incrédulos; mas o seu rosto alegra-se à
medida que a fé penetra na sua alma. - Finalmente
Jesus Cristo no seu estado glorioso . . . é. Reconhe­
ceis aquele que vos inspirava tanta compaixão nõ
Cruz?

II. Ouvir as palavras. - As do Anjo, que


anima as santas mulheres: Não temais; o médo só
é próprio dos inimigos de Jesus. Ressuscitou. -
Ouvi também os príncipes dos sacerdotes, comprando
o silêncio dos guardas.: Dizei que os discípulos vie­
ram de noite, e furtáram o corpo, emquanto estáveis
dormindo 1 . . . O' sabedoria humana, que loucura
é a lua!

III. Considerar as acções. - Oue faz Jesus


Cristo? Corôa gloriosamente a sua obra; jusli6ça a
nossa fé, a nossa esperança e o nosso amor. Oue
fazem os discípulos? Tremem, escondem-se. . . Com
sua tendência para a incredulidade mostram-nos que,
para crêr, precisamos de muita graça; mais tarde
mostrarão de que magnanimidade a fé nos torna

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
GLÓRIA DE JESUS NA RESSUUREIÇÃO 307

capazes. é. Oue fazem os inimigos do Salvador?


Fecham os olhos, dão à verdade da ressurreição a
maior certeza, precisamente quando se esforçam
por ocultá-la.

31

LII MEDITAÇÃO
Glória de Jesus Cristo na sua ressurreição

Corpo, alma, divindade, ludo na pessoa do Sal­


vador, havia sido como que aniqüilado pelos opró­
brios e sofrimentos da sua Paixão; ludo é reparado,
glorificado mi sua ressurreição.

1. E' glorillcada sua alm11 ;


li. Glorillc11do seu corpo ;
Ili. Glorificada suo divindade.

I. A alma de Jesus Cristo glorificada na sua


ressurreição. Contemplámos esta santíssima alma
no hôrto das Oliveiras e na Cruz, imersa num abismo
de tristeza e de aflição. Hoje, ei-la que sai vitoriosa
do Limbo. Ouando ela pedira o afastamento do
amars;{o cális da Paixão, precisou de ser confortada
por um anjo ; ah I que consolação e felicidade pode
hoje difundir 1 1 De que alegria acaba de encher o co­
ração dos justos que suspiravam tão ardentemente no
Limbo pelo dia em que o céu lhes seria aberto I Ela
acaba de lhes declarar que êsse dia está próximo, e
que já a Redenção se efecluou ! Muitos dêles acom­
panham-na, e formam o seu cortejo, quando vai reü­
nir-se ao corpo. Com a sua própria ressurreição,
êles ·serão as primeiras testemunhas da ressurreição

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
308 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

do Salvador. Mostra-lhes o sagrado corpo, pálido,


ensangüentado, estendido no sepulcro 1 ... i Oue terna
compaixão, que reconhecimento e amor não é o deles,
considerando eslas profundas e inumeráveis chagas
que lhes fazem conhecer quanto o Filho de Deus pa­
deceu para os remir! Deante dêsle especláculo pa­
rece que os ouvimos dizer o que um Santo Doutor
dirá mais tarde: • O' meu Deus., amais-nos tanto,
que parece que vos odiais. 1 (1)
Mas já a bemavenlurada alma se reüniu ao corpo.
i Como ela se regozija de poder recompensá-lo de
todos os sacriÍícios, que êl.e lhe deu ocasião de so­
frer, de lhe proporcionar mais glória e delícias, do
que opróbrios e tormentos ela lhe ocasionou I Resur­
reclionis gloria sepelivil morienfis injuriam (2). Deus
não humilha senão para exaltar. Aceita pois, alma
minha, tôdas as humilhações que lhe apraz enviar-te
durante o leu' deslêrro na terra; consente em ser se­
pullada nas lr:vas, desprezada; aniqüilada; o dia da
tua glória há de chegar.

II. O corpo de Jesus Cristo glori6cado na


sua ressurreição. - êste adorável corpo fõra que­
brantado pelos nossos crimes: Allrifus esl propfer
se.e/era nosfra (3): Coberto de feridas, que o tinham
desfigurado, é leria sido possível reconhecer o mais
formoso dos filhos dos homens? Com a ressurreição,
ei-lo admiràvelmente transformado I Não só está isento
da morte e do sofrimento, mas também adornado, em
grau incomparável, de tõdas as prerrogativas dos
corpos gloriosos. Suas chagas converteram-se em
fontes de luz, e dão-lhe um realce de beleza que ex-

(1) Tanlum me diligis, Deus meus, ui {e odisse videaris.


S. Bonav.
( 9 ) S. Ch rys. Serm. LXXV. - (3) Is. LIII, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
GLÓRIA DE JESUS NA RESSURREIÇÃO 300
cede in6nilamenle a que lerão os corpos de lodos os
outros escolhidos, reformados segundo êsle modêlo.
i Com que religioso fervor os anjos que tinham ado­
rado seu Rei ao entrar no mundo, o adoram de novo
ao renascer do seio da morte I é. Porque não entoa­
riam em redor do seu sepulcro vazio, o alegre canto
que tinham feito ouvir em redor do seu bêrço: Glo­
ria in excelsis Deo? e. Porque não repetiriam os pa­
triarcas, os profetas e lodos os justos o cântico reve­
lado por S. João: •Digno é o Cordeiro que foi
morto, de receber a virtude, a divindade, a sabedo­
ria, a fortaleza, a honra, a glória e a bênção•? (')
O próprio Filho de Deus, anunciando êste triunfo
por bôca do profeta rei, exprimira seu vivo reconhe­
cimento para com o Eterno Pai, que havia de coroá-lo
de tanta glória: • Senhor, tirastes-me do sepulcro,
pusestes-me a salvo dos que descem ao lago da
morte; de tarde em lágrimas, e de manhã em alegria;
convertestes o meu pranto em gôzo; rasgastes a mi­
nha veste de tristeza, e todo me cercastes de alegria,
para que vos cante na minha glória um cântico de
louvor• (2}.
1 Como Deus é bom, e recompensa generosamente
tudo o que se faz ou sofre para o servir I Jesus
Cristo morreu e ressuscitou, mostrando-nos na sua
Paixão, diz Santo Agostinho, o que devemos padecer
agora pela verdade, e na sua ressurreição o que de­
vemos esperar dela na eternidade (3). Chora-se du-

(1) Apoc. V, 12.


(2) Domine, eduxisli ab infero animam meam; salvasli me a
descendenlibus in lacum . . • Ad vesperum demorabilur llelus, e! ad
malulinum laelilia.. • Converlisli planclum meum in gaudium mihi ;
conscidisli saccum meum el circumdedisli me laelilia, ui cantei lib
gloria mea. P11 . XXIX, 4.
(3) Passione oslendens quid pro veri!a!e tolerare, resurreclio
ne quid in aelernilale sperare debeamus. Lib. VIII, e. XLIX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
310 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

rante a noite desta triste vida: Ad vesperum demo­


rt1bifur flelus; mas de manhã, ao romper do dia
eterno, a alegria· sucede à tristeza: Ad mélfufinum
!t1efifÍél; alegria sempiterna por alguns instantes de
aflição, alegria plena e abundante por penas ligeiras,
alegria pura por pranto sempre suavizado pela espe­
rança. E' aqui que se deve aprender o verdadeiro
amor de si mesmo. Oh I que glória e que delícias
eu recuso ao meu corpo, se recuso sujeitá-lo à mor­
tificação de Jesus Cristo !

Ili. A divindade do Salvador glorificada na sua


ressurreição. - E' o sol que sai da nuvem e ostenta
o esplendor dos seus raios. A divindade de Jesus
Cristo estivera como que eclipsada durante a sua Pai­
xão. Por um lado, é verdade que alguns vislum­
bres de glória que haviam transparecido através dos
seus opróbrios, tinham indicado que êle era mais
que homem; mas, por outro, i, quem jàmais se asse­
melhou menos a um Deus do que um triste conde­
nado, açoitado como um escravo, expirando num pa­
tíbulo entre dois ladrões? Sua suprema grandeza
começa a aparecer nesta milagrosa saída do sepulcro;
porque sai dêle por sua própria virtude, mostrando
o absoluto poder que tem sôbre a vida e a morte.
Sai dêle sem levantar a pedra que fechava a entrada
do sepulcro, como saíra do seio de sua Mãe San­
tíssima, sem detrimento da sua virgindade.. Sai dêle,
como José da prisão, para governar um povo inteiro,
e fazer seus irmãos participantes da sua felicidade e
�lória; como Moisés das águas do rio, para vir a
ser o Salvador da sua nação; como Daniel do lago
.dos leões, para ser elevado acima dos invejosos que
se tinham conjurado para o perder. Sai dêle vence­
.dor do inferno e do pecado, e, depois de ter qi,ie­
brado as cadeias da,, morte, muda, diz S. Leão, sua

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
GLORIA DE J&SUS NA RESSURREIÇÃO 3H

fraqueza em fortaleza, sua mortalidade em eterni­


dade, seus opróbrios em honra e glória ( 1 ).
O' padre, saí também da sepultura das vossas
imperfeições. Procedei de forma que se possa dizer
de vós: •Ressuscitou, já não eslá aqui-. Já não
eslá na tibieza, na negligência culpável que levava
consigo alé ao sagrado altar; já não eslá nesse es­
quecimento de Deus e de si mesmo, nessa dissipa­
ção de espírito, nessa leviandade, nessa desigualdade
de génio, e em lôdas essas más inclinações, que re­
tardaram tanto tempo seus progressos na virtude, e
perturbaram a paz da sua alma; 1 que feliz mudança
se operou nêle 1
Ide receber no aliar aquele que é a ressurreição
e a vida: Ego sum resurrecfio cf vila. Ouando con­
templardes no santuário do vosso coração êsse corpo
glorioso mais resplandecente que o sol; adorai, dai
graças, orai, mas com êsse gôzo que nasce da con­
fiança e do amor. A seqüência Vicfimae paschali é
uma piedosa e 'ingénua expressão dos sentimentos,
que o mistério da ressurreição inspira à Igreja, e
deve inspirar a seus filhos. Bom seria rezá-la se­
gundo o terceiro modo de orar, aconselhado por
Santo Inácio ( 2).

Resumo da Meditação

I. A. alma de Jesus Cristo glorificada na sua


ressurreição. - Sai do limbo triunfante e alegre;
acaba de anunciar aos justos do Antigo Testamento
que a Redenção está cumprida. Mas já entrou de
novo no corpo divino, que transforma ... Oh! que gló­
ria lhe comunica! j com que delícias ela recompensa
as suas dôres ! . . . Aceita, alma minha, lôdas as hu-

(1) Serm. II de Ascens. Oomini. - (2) Tõmo 1, pág. 489.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
312 ,MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

milhações que Deus te envia; o dia da lua glória


hã de chegar.

li. O corpo de Jesus Cristo glorificado na


sua ressurreição. -As suas chagas estão transfor­
madas em fontes de luz. Sua beleza excede infinita­
mente a que terão os corpos de lodos os escolhidos.
Consolêmo-nos nas nossas penas: chora-se durante
a noite desta vida; mas, de manhã, ao romper do
dia eterno, i que alegria sucede à tristeza!

III. A divindade de Jesus Cristo glorificada


na sua ·ressurreição. - Estivera como que eclipsa­
da durante a Paixão. Agora sai mais radiosa da
nuvem. E' José que passa de uma obscura prisão
para ocupar a primeira dignidade do Egipto; é Moi­
sés salvo das águas do rio, para ser o salvador de
seu povo. Saiamos também da sepullura das nossas
imperfeições, e comecemos uma vida nova, uma vida
verdadeiramente sacerdotal.

LIII MEDITAÇÃO
Madalena no sepulcro do Salvador

I. Busca a Jesus.
II. Acha-o.
III. Anuncia-o.

1. Madalena busca a Jesus, com lõda a pres­


teza, tôda a solicitude, tôda a veemência e constân­
cia do verdadeiro amor.
1. 0 Presteza do amor. Depois de uma noite�

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MADALENA JUNTO AO SEPULCRO DO SENHOR 31:J

cujas horas lhe pareceram compridíssimas, chama


suas companheiras muito cêdo, vtJ!de diluculo, e
põe-se a call'!inho. Está impaciente por venerar os
despojos mortais daquele, que sente amargamente ler
perdido. Corre, e é.que espera ela' achar no sepul­
cro? O corpo de seu Mestre num estado que vai
renovar fôdas as suas dôres. O' alma minha, é. não
deverias tu correr mais pressurosa para a sagrada
mêsa, .onde o mesmo corpo divino te será dado em
seu estado glorioso?
2. 0 Solicitude do amor: MtJria aufem sfabal ad
monumenlum foris, plorans. Dum ergo Derel, incli­
navif se, et prospexif in monumenfum ( 1 ). Os discí­
pulos retiraram-se; as outras santas JJlUlheres segui­
ram-lhes o exemplo; só Madalena é que não se re­
fira: Maria s/aba/. Já tinha o_lhado algumas vezes
para o sepulcro, e torna a olhar: Amanfi semel
aspexisse non sufficif, quia vis amoris infenfionem
mulfiplicaf inquisifionis (2). O amor nuncn está con­
tente senão quando achou o que buscava ( 3 ). Et vi­
dil duas angelos in a/bis sedentes ... Dicunf ei illi.­
Mulier, quid pioras? Dicil eis: Ouia lulerunl Domi­
num meum, el nescio ubi posuerunl eum. Vê dois
anjos. Não se assusta, nem se admira de sua repen­
tina aparição; não repara sequer nas vestes brancas
de neve. Ouve-os, responde-lhes, sem se distrair do
sublime objeclo de suas pesquizàs. Só os escuta,
só lhes -fala, para saber onde está Jesus. Até está
disposta o deixar os anjos por um jardineiro, na es-

(1) Joan. XX, 11. - (2) S. Creg. Homil. XX V in Evang.


( 3) Guia prae caeleris dilexil, el diligenJo llevil, el Ilendo
quaesivif, el quaerendo perseveravil, ideo prima omnium le videre,
te alloqui meruil. Et non solum haec, sed eliam ipsis discipulis
glorioscie resurrecfionis fuae praenunlia extilil, te praecipienle et
clemenler monenle: Vade, dic fralribus meis, ele. S. Ànselm. Ora-
tio XVI.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
3U, MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

perança de obter dêle alguma informação que lhe


ajude a encontrar o divino Mestre. Indiferente a
tudo o mais, só tem um desejo: achar a Jesus. l:sfe
desejo alheia-a tanto de si, que parece nem repara
no que diz. Chama Senhor ao que tem lôdas as
aparências de um homem do povo. • Se vós o tiras­
tes, dizei-me onde o pusestes• . é. De quem fala ela?
1 Parece-lhe que lôda a gente deve saber de quem se
trata! E' assim a alma dominada pelo sentimento.
3.° Fôrça e constância do amor. Nada a des­
coroçôa. l Como se demora ela num lugar Ião triste,
principplmenle depois que reconheceu que o corpo
de seu divino Mestre já ali não eslâ? é. Como- ousa
dizer que se o achar, o levará? Poderia levá-lo?
Se o tentasse, é. a que se não exporia ela? O amor
não faz estas reflexões: Plus a.ieclal quam valei;
de impossibilifale non causafur, quia cuncla sibi posse
el licere arbilralur ( 1 ). é. E' assim, ó meu Deus, que
eu vos desejo, que eu vos busco? é. E' assim que eu
vos amo?

li. Madalena acha a Jesus. - r..le está muitas


vezes ao pé de nós, e julgamo-lo distante. Era êle
mesmo que então acabava de falar à sua serva, pre­
guntando-lhe a causa de seu pranto: Dicil ei Jesus:
Mulier, quid plorç1s? Êle bem conhecia esta causa,
1 e . como lhe era agradável 1 A nossa aflição agra­
da-lhe, quando provém do nosso amor para com ele.
Se nos deixa algum tempo na angústia, esconden­
do-se de nós, ê para aumentar nosso merecimento, e
tornar a nossa alegria mais suave, quando de novo
nos fizer sentir a sua presença.
O amor de Madalena levá-la-á a esquêcer-se da
sua fraqueza, e a desprezar todos os perigos; sua

(1) lmif. lib. III, e. V.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MADALENA JUNTO AO SEPULCRO DO SENHOR 315

�sperança foi firme, não será iludida. Jesus recom­


pensa-a, abrindo-lhe os olhos e mostrando-se a ela,
antes de aparecer a nenhum dos seus discípulos:
Dicif ei Jesus: Maria I Conversa ilia dicif ei: Rab­
honi ! São duas palavras: uma de Jesus e outra
<le Madalena; mas nestas duas palavras, quantas ma•
ravilhas! 1 Oue graças, que luzes acompanham a pri­
meira I j Oue amor e que santa alegria exprime a
segunda I Maria 1- E' quanto basta a Jesus para
se dar a conhecer. Bom mestre! - E' quanto basta
a Maria pàra provar a Jesus que o conhece. 1 Oue
afeição, que ternura no Coração de Jesus 1 quando
pronuncia esta palavra : Maria! i Oue deliciosa co­
moção, que vivo reconhecimento no coração de Ma­
dalena, quando exclama: Rabboni ! Ela eslava num
abismo de tristeza, que linha como que entorpecido
as potências da sua alma; num instante a voz do
Mestre dissipou lôdas as nuvens, e encheu-a de ce­
lestes consolaç·ôes. O' Jesus, permiti que eu oiça
essa íntima palavra do vosso coração, que produz na
alma tão santas comoções, que a alumia Ião ràpida­
menle e a consola com lanta eficácia. Ouero tor­
nar-me menos indigno desta felicidade, fechando os
ouvidos a todos os bulícios da terra, para não ouvir
senão a vós, buscando-vos com Madalena, e não
buscando senão a vós.

III. Madalena anuncia a Jesus. - O divino


Mestre havia-lhe dito: • Não me toques., Espera por
ou Iro tempo, para me dares provas da lua venereção;
ainda não eslou a ponto de deixar a terra para su­
bir ao céu; lerás ocasião de me tornar a vêr. Agora
vai ler com meus irmãos, e dá-lhes a nova da minha
ressurreição• . Oue terna solicitude! é. E a favor de
quem? é. Ouem são aqueles que Jesus se apressa em
consolar, aqueles a quem chama irmãos? é. Oue fi­
zeram êles para merecer tanta ternura?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:116 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Madalena foi logo anunciar aos discípulos que


tinha visto o Senhor, e transmitiu-lhes exaclamerlte as
suas palavras (1). 1 Com que admiração lhes falou
do seu estado glorioso 1 . . . é. Oue não fêz ela, assim
como suas companheiras, para os convencer. da ver­
dade de uma narração que devia causar-lhes tanta
alegria? Tudo foi in�lil. • Estas mulheres deliram•;
tal foi sua resposta a tão consoladora mensagem 1
Tinham acreditado em Madalena, quando maniíestara
uma simples desconfiança a respeito de um facto que
imaginara ( 2 ); e recusam acreditá-la, quando refere o
que viu ,com seus próprios olhos, e ouviu com seus
ouvidos I Oh I dureza do coração do homem para
com as coisas da salvação I i Uma fábula impressio­
na-nos, e as verdades da fé, fundadas na autoridade
do mesmo Deus, com dificuldade vencem a obstina­
ção do nosso espírito! . . . Humilhemo-nos, mas ao
mesmo tempo afegremo-nos, já que o Senhor se aco­
moda às nossas misérias com Ião dôce caridade.
A exemplo de Maria Madalena, não receemos dei­
xar a Jesus para socorrer nossos - irmãos: servin­
do-os, é a êle que servimos. êle nos levará em conta
o nosso zêlo.

Resumo da Meditação

I. Madalena busca a Jesus. - 1. 0 Presteza


do seu amor. Parle muilo cedo . . . Corre, e que
espera achar? O' alma minha, tu deverias correr
com mais fervor para a sagrada mêsa... 2. 0 Solici­
tude do seu amor. Os discípulos retiram-se; ela

(1) Venil Maria Magdalena ennuncians discipulis: Guia vidi


Dominum e! haec dixit mihi. Joan. XX, 18.
(2) Tulerunl Dominum de monumento, e! nescimus ubi posue-
runt eum. Joan. XX, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MADALENA JUNTO AO SEPULCRO no SENHOR 3{7
não pode resolver-se a isso. Tinha já olhado algu­
mas vezes para o sepulcro; olha ainda. Sem pres­
tar atenção aos anjos que lhe falam, não os ouve
senão para saber onde eslá Jesus. Sua preocupa­
ção mostra-se nas suas palavras: chama Senhor
àquele que não parece passar de ·um jardineiro. • Se
vós o !irastes, dizei-me onde o puse,stes • . Julga que
tôda o gente sabe de quem fala. 3. 0 fôrça do seu
amor. Nada a desanima. O amor tenta mais do
que pode . . . é. E' assim, ó mc;u Deus, que eu vos
busco? é. E' assim que vos amo?

li. Madalena acha a Jesus. - A sua esperança


foi firme; não será iludida : Maria I Bom Mestre!
Eslas duas palavras dizem ludo. - Maria I E' quanto
basta: já se deu a conhecer Jesus. - Bom· Mestre!
Não é preciso mais: Maria provmt.lhe que o co­
nhece. O' Jesus! permiti que eu oiça essa palavra
íntima do vosso coração, que produz na alma Ião
santas comoções.

III. Madalena anuncia a Jesus. - Por ordem


sua, ela vai ler com os discípulos. é. Com que admi­
ração lhes fala do que viu• e ouviu? é. Oue não faz
ela para os convencer da verdade da sua narração?
Trabalho perdido I Tornam o que ela diz, por desva­
rio ! . . . A exemplo de Madalena, não receemos dei­
xar a Jesus para socorrer os nossos irmãos. Não
nos admiremos das contradições, de qualquer lado
que nos venham.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
318 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

LIV MEDITAÇÃO
Jesus aparece aos dois discípulos
que iam para Emaús

1. J unia-se a êles ;
li. Conversa com êles ;
Ili. Separa-se dêles.

1. Jesus junta-se aos dois discípulos de Emaús.


- Tudo respira a mais terna bondade, o zêlo mais
aclivo, mais condescendente e mais humilde, no
modo de proceder do Salvador para com os dois
discípulos a quem aparece, e de quem se serve para
dispôr os apóstolos reünidos, para receberem o mes­
mo favor (1).
Cheios de tristeza saem os discípulos de Jerusa­
lém no mesmo dia da Ressurreição, e para dissipar o
enfado vão procurar as distracções do campo: Con­
verlunfur ad sensu8li8, qui exspecfare debebanl di­
vin8 (2). Ovelhas imprudentes, que se separart1m do
rebanho: e não era isto expôr-se ao perigo? A sua
fé era já mui lo fraca; tinham rejeitodo o testemunho
das santas mulheres e dos apóstolos que, tendo visi­
tado o sepulcro, o haviam achado vazio, e afirma­
vam que o Salvador linha ressuscitado. Por isso já
só lhe chamam profeta: qui fui/ vir propheto. Já
quási não tinham esperança: sperabomus. Felizmente
conservavam um resto de amor para com seu bom
Mestre, e falavam déle: /psi loqueb8nlur od invicem
de his omnihus qu8e 8Ccider8nl . . . de Jesu N8z8-
reno. Oh I que bom é falar de Deus e das coisas

(1) Luc. XXIV, 13. - (2) Avancin.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS DISCÍPULOS DE EMAÚS 3i9

de Deus, quer seja connosco, quer seja com o pró­


ximo I Ouanelo estamos oprimidos por alguma per­
plexidade ou lrisleza, se íalamos de Deus, logo êle
vem a nós, confortando, iluminando os nosso:; cora­
ções, e abrasando-os no seu amor (!).
Vêde com que presteza, humildade e bondade
Jesus corre em socorro daqueles que se mostraram
Ião pouco fiéis no momento da prova; êle não pode
deixá-los numa aflição que é fruto da própria incre­
dulidade. Estes dois homens não eram apóstolos,
mas sim discípulos, inferioris gradus, diz S. Boaven­
tura.
Jesus vem, aproxima-se, fala familiarmente com
êles, como se fõsse um dêles. Não os despreza por
serem só dois, revela-lhes os seus mistérios, como
faria deante de uma multidão de gente, como fizera
à borda do poço de Jacob, onde só· o ouvia a Sa­
maritana. Pastor de almas, eis o vosso modêlo.
Correi em demanda das vossas ovelhas que se des­
garram ; aproximai-vos désses pecadores que se per­
derão, se a vossa caridade os não previne. Falai
com êles; provocai uma franqueza que pode destruir
eis seus preconceitos e ocasionar a sua salvação.
Não sejais como aqueles que só querem ouvintes nu­
merosos, e que, seg4ndo a expressão de S. Boaven­
tura, nolunf ampullosa verba sua sp argere infer
paucos.

II. Conversação de Jesus com os dois discí­


pulos no caminho de Emaús. - Admirai a sábia
condescendência com que os dispõe para a graça
que vai fazer-lhes. Começa por lhes preguntar: Oui

(1) Si enim grnvnli nliqun perplexifo(e vel ncedin de ipso lo­


quimur, slnlim ndesl conforlnns, ef illuminnns corda nosfra, ef eliam
inílammans amore sui. S. Bonav. Med., e. XCII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
3W MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

sunf hi sermones quos conferfis ad invicem amhulan­


les, ef esfis tristes? As preguntas que faz um Deus,
não são para saber alguma coisa que não saiba
ainda. Jesus sabia o objeclo desta conversa e desta
tristeza , mas queria que êles desabafassem, e lhe· ma­
nifestassem a sua própria infidelidade. Êles assim o
fizeram, e Jesus imediatamente se põe a instruí-los,
despertando-lhes primeiro a atenção com uma censura
que já lhes havia feito durante as suas pregações:
• O' estultos e tardos de coração, para crer ludo o
que anunciaram os profetas I é. Porventura não cum­
pria que Cristo sofresse tôdas estas coisas, e que
assim entrasse na sua glória•?
Enlão explicou-lhes o que a êle se referia em tô­
das as Escrituras, mostrando-lhes a perfeita confor­
midade das proíecias com os acontecimentos que se
tinham efecluaao naqueles dias. Esclarecendo,lhes o
espírito, abrasava-lhes o coração, e nêles acendia um
fervor celestial. Dentro em pouco tempo êles dirão
um ao outro: Nonne cor nosfrum ttrdens eraf in no-
bis, dum loquerefur in via?
O' discípulos, 1 que bem inspirados éreis, quando
saindo de Jerusalém, em lugar de falar de coisas
vãs, faláveis de Jesus e dos seus sofrimentos I Aquele
que era objeclo da vossa conversação, ajuntou-se a
vós; falou-vos; e à sua voz, as trevas da vossa
alma foram substituídas pela luz, a tristeza pela ale­
gria, o desalento pela confiança e pelo amor. é. Me­
recemos nós que o Salvador venha assim tomar parle
nas nossas conversas? 1 Quantos padres deveriam
envergonhar-se, se êle lhes aparecesse de-repente, em
certas ocasiões, e lhes preguntasse de que falavam!
Oui sunf hi sermones? é. •Conveem essas palavras
inconsideradas, imprudentes e indiscretas aos meus re­
presentantes, a ho1J1ens de Deus, a padres que cele­
bram os santos mistérios, e cujos lábios estão ainda
tintos do meu sangue,? Ex ore socerdofis nihil nisi

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
08 msr.ÍPULOS DE AIIAÚS 3'H

sancfum, nihil msi honesfum el ufile procedere debef


qui Iam saepe Chrisli accipil·sacramenlum (1);

III. Jesus separa-se dos ·dois discípulos, de­


pois que; o conheceram. - Emquanlo êle falava, o
tempo decorria ràpidamenle. • Estavam perto da al­
deia para onde caminhavam, e êle fingiu que ia para
mais longe• . Tai é muitas vezes o proceder de Deus
para com seus servos: finge que se retira, para nos
atrair mais; encobre seus favores, para animar nossos
desejos. Terno pai, parece esconde11-se de filhos a
quem ama, para excitar seu amor, e evitar que êle
resfrie. EI coegerunf illum dicenfes: Mane nobis­
cum, quoniam advesperascil. Oh I santa importunação
da oração I é. Ouem não admirará seu poder? Ela
obriga a· Deus a ficar na nossa companhia, e a con­
ceder-nos o que lhe pedimos : lnlravif cum illis. Es­
tando sentado com êles à mêsa, o Salvador tomou
o pão e abençoou-o, e lendo-o partido, lho deu. No
mesmo instante se lhes abriram os olhos e o conhece­
ram. 1 Oue precioso foi êste tempo, mas que pouco
durou I Et ipse evanuif ex oculis eorum. l Ouais fo.
ram então seus sentimentos? 1 Oue deliciosa paz fica
numa alma, a quem Jesus f1:1lou e fêz saborear a ver­
dade dos seus mistérios 1
Aumentamos a nossa alegria associando a ela
aqueles a quem amamos. • E levantando-se na mes­
ma hora, os dois discípulos voltaram para Jerusalém,
onde acharam juntos os apóstolos. . . Contam-lhes o
que lhes havia acontecido no caminho, e como co­
nheceram o Salvador ao partir do pão• {2). Ouando
Jesus nos enche das suas graças, é ordinàriamenle
para nos incitar a ,ganhar-lhes corações.
• Reconhecem, diz o autor da lmifaç,fo, verdadei-

(1) lmif., lib. IV, e. XI. - (1) Luc. XXIV, �5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ramente o Senhor, ao partir do pão, aqueles que sen­


tem abrasar-se-lhes o coração, quando Jesus está na
sua companhia; mas ai I que longe está de mim,
muitas vezes, uma afeição tão t�rna, um ardor lão
vivo 1 (1) Procurai a causa dislo. l Não será porque
a vossa fé é frouxa, porque distracções continuas,
nem sempre involuntárias, vos fazem esquêcer de
Deus? Ocupai-vos dêle; não vos ocupeis senão
dêle; não deixeis de pensar nêle, e bem de-pressa,
como os dois discípulos, sentireis abrasar-se-vos o
coração no seu amor. Não há gêlo, que se não
derreta aos ardentes e contínuos raios dêsle sol.
Ide ao ultar partir o pão celeste ; e nessa ocasião
rogai a Jesus Cristo que vos abra os olhos. Podeis
na vossa acção de graças dirigir-lhe esta súplicç1 de
Santo Anselmo: Amahilissime Jesu, da mihi ui dili-.
gam le semper, quantum possum ef deheo, ui fu solus
sis medifolio mea. Si11e cessafione te senfiaf cor
meum, le alloquafur spirilus meus, lecum ef de fe fa­
hulefur mens mea. Fac me rerum franseunfium ohli­
visci, prae magniludine amoris lui. Bone Jesu, repie
cor meum inexfinguihili di/ecfione fui ac continua re­
cordafione fui. Dulcis Chrisfe, Deus meus, accende
me lofum igne luo, ui fotus dulcedine amoris fui ple­
nus, folus Damma carifafis succensus, di/igam te Do­
minum meum ex fofo corde meo, lo/isque medullis
praecordiorum meorum, hahens le in corde, in ore,
ac prae oculis meis semper et uhique.

Resumo da Meditação

I. Jesus ajunla�se aos discípulos que vão a


Emaús. - l:.les saem de Jerusalém para dissipar o
enfado, ovelhas imprud.entes que se apartam do re-

(1) Lib. IV, e. XIV.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS DHCÍPULOS DE EMAÚS

banho I Sua fé era já muito frouxa. Já só chama­


vam ao Salvador, profeta, e sua esperança estava
quási perdida : Sp erélbélmus. 1 Com que ardor Jesus
os busca I Aproxima-se dêlés, vai e fala familiarmente
com ·êles. Descobrirá seus mistérios a dois discí­
pulos, assim como o fizera à Samaritana; i que zêlo
cheio de caridade I que humildade ! O' pastor de al­
mas, eis o vosso modêlo.

li. Jesus conversa com os dois discípulos:­


Começa por lhes fazer pregunlas, para lhes dar oca­
sião de desabafarem. Põe-se a instruí-los, mostran­
do-lhes a conformidade das profecias com os acon­
tecimentos que se tinham efecluado. Alumiando-lhes
o espírito, abrasa-lhes o coração.. . Oh I que boa
inspiração tinham tido tomando o Salvador e os seus
sofrimentos por objeclo de sua conversação I Ouantos
padres se envergonhariam se, aparecendo-lhes Jesus
em certas ocasiões, lhes preguntasse de que falam 1
Não nos esqueçamos jàmais de falar como convém
ao nosso estado.

Ili. Jesus separa-se dos dois discípulos e de­


sàparece. - Tinham chegado perto da aldeia, onde
haviam de poisar. O Salvador finge que vai para
mais longe; mas êles insistem em que se detenha.
Oh I poder da oração I ela obriga a Deus a ficar na
nossa companhia; força-o, por assim dizer, a ouvir
lodos os nossos pedidos. Entra pois com êles ... e
ao partir do pão, abrem-se os olhos daqueles discí­
pulos, e reconhecem-no. Mas já desapareceu ; são
Ião pouco duradoiras estas consoladoras visitas 1 ...
i Ou� doce paz deixam na alma I Os dois discípu­
los não pensam já senão em fazer a outros partici­
pantes da sua felicidade.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
IIBDITAÇÕES S;\CP:IIDDTA.19
----------

XV MEDITAÇÃO
Aparição .de Jesus aos apóstolos.
- Contemplação

1. Contemplar 11s pesso11s;


II. Ouvir 11s p11lavr11s;
Ili. Considerar 11s acções .

.PRIMlfülO PREI.ÚDlO. • Chegada a farde do


mesmo dia da Ressurreição, estando fechadas as
portas da casa, onde os discípulos se achavam juntos,
por causa do mêdo que tinham deis judeus, apresen­
tou-se Jesus no meio dêles, e disse-lhes: A paz seja
convôsco . . . Mostrou-lhes as mãos, os pés e o lado ...
E êles alegraram-se com a vista do Senhor• (1).
SEGUNDO PRELÚoro. Representai-vos esta casa
retirada, solitária, onde os apóstolos se encontravam
juntos (2).
TEUCEfRO PHELÚOIO. Rogai a Nosso Senhor que
se dê a conhecer no santuário das nossas almas, e
nos inspire os sentimentos que sua aparição fêz nas­
cer no coração dos apóstolos.

I. Contemplar as pessoas. - Vêdes nesta cõsa


lodo o colégio apostólico; só Tomé eslava ausente;
e que lágrimas derramará por não se ler achado

(1) Joan. XX, 19; Luc. XXIV, 36.


(!) Crê-se geralmenle que era o cenáculo, onde os epós!olos
desde e noile do Ceia tinh11m continuedo a tomar juntos as refei­
ções. Alguns escritores pensam, que eli niio estavam meis pessoas
iilém dos apóslolos, quando Jesus apareceu ; mas S. Boavenlur11 diz
que se achavam lã l11mbém II S11nlissima Virgem, os discípulos de
Emaús e Maria Mad11len1:.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
APARIÇÃO DE JESUS CRISTO AOS APÓSTOLOS 3i5

nesta assembléia I Estudai as fisionomias de lodos


os que a compi;em. Teem sentimentos diferentes.
Uns crêem na ressurreição, outros não. Aqueles
mesmos que estão persuadidos dessa verdade, não o
estão tanto, que não temam a ira dos judeus: Propfer
mefum judaeorum. A inquietação e o mêdo transpa­
rece-lhes no rosto. O' meu Deus, e. seria eu Ião tí­
mido na presença dos vossos inimigos, se tivesse uma
fé viva e uma firme esperança? e. Oue mal me podem
êles fazer, se vós me protegeis ? ê.sses homens a
quem tudo faz tremer hoje, serão dentro de pouco
tempo, de uma intrepidez a tôda a prova, e espantarão
o mundo com suá invencível corage·m; fortificai-me,
Senhor, pela graça do vosso Espírito. - Reparai
nos dois discípulos de Emaús, que entram de-repente.
j Com que entusiasmo contam o que lhes aconteceu
no caminho, e como reconheceram o Senhor I Mas,
ai ! ainda que falem com a convicçã.o de homens que
viram e ouviram; ainda que o que êles dizem, confir­
me a fé em alguns, não pode vencer a obstinação de
outros, que persistem na sua incredulidade. - Con­
templai a Jes1,1s Cristo no momento em que aparece ...
IÜue bondade em lôdas as suas feições I iÜue raios de
luz saem de suas gloriosas chagas I i Oue ar afável, e
ao mesmo tempo, que majestade ! Nas vossas relações
lão contínuas· e familiares com êle, nunca separeis o
respeito da confiança, nem a confiança do respeito.
No vosso traio com vossos irmãos, se vos são infe­
riores, procurai antes inspirar-lhes confiança do que
respeito. Jesus vai dar-vos esta lição no seu proce­
der e nas suas palavras, assim como vo-la dá na ex­
pressão de lodo o seu exterior.

II. e IIJ. Considerar as acções e ouvir as Pª"


lavras. - Emquanlo os discípulos de Emaús se es­
forçavam por comunicar sua alegria, e se conversava
a respeito do que tinham referido, e se confirmava o

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SAC__E RD O T A S
I
_ _ _ _ _______
que outros haviam já contado, apresenta-s� Jesus no
meio de todos os discípulos que ãli se achavam, e
diz-lhes: • A paz seja convosco I eu vo-la linha pro­
metido, eu vo-la dou I Sou eu, não temais•. Ven­
do-o, ouvindo aquela voz tão conhecida, os apósto­
los ficam perturbados e atônitos e, não podendo
acreditar em Ião grande felicidade, cuidàm que vêem
algum fantasma : Confurbafi ef conierrifi exisfima­
banf se spirifum videre.
E' necessário que Jesus os tranqüilize de novo.
l • Porque estais perturbados, lhes diz êle, e que pen­
samentos são êsses que vos assaltam o espírito?
l Já não conheceis a Jesus? E' êle mesmo que vos
fala neste momento. Olhai para as minhas mãos e
pés ; eu conservei estas chagas como um monumento
eterno do meu amor para convosco; apalpai, vêde:
urn fantasma não tem carne, nem ossos, corno vós
vêdes qu.e eu- teriho•. Falando assim, mostrava-lhes
as mãos, os pés e o lado. l Oue impressão lhes
causou êste delicioso ·espectáculo ? l Ousaram tocar
naquele adorável corpo ? Mas o Senhor convida­
va-os a isso, quási lho ordenava. O' sagradas chagas,
que eu tenho a felicidade de adorar e tocar todos
os dias, sarai tôdas as enfermidades da minha alma.
De tôdas elas ê. não será a mais perigosa, a minha
lentidão em crêr, e a minha pouca fé?
Não obstante isto, alguns duvidam ainda, tão
transportados de gôslo e admiração estavam (1).
Para não omitir nenhum meio de os convencer, o
Salvador preguntou-lhes se tinham alguma coisa de
-comer, e efeclivarnente comeu na sua presença. Ao
mesmo tempo abriu-lhes o entendimento, e fêz-lhes
compreender as Escrituras (2). Depois de os ler
assim animado e plenamente convencido, fêz-lhes uma

(1) Luc. XXIV, 41. - (2) Luc. XXIV, 54.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
APARIÇÃO DE JESUS CRISTO AOS APÓSTOLOS 3i7

grave censura, não para os contristar, mas para dei­


xar a seus ministros um exemplo da moderação e
caridade com que devem repreender, quando leem
obrigação disso. Exprobravil incredulitalem eorum .. .
quia iis q11i videranf eum resurrexisse non credide­
runf (1). Gueixa-se de não crêrem no testemunho
daqueles que afirmavam lê-lo visto ressuscitado.
Mas, Senhor, êles te·em uma falia muito mais grave,
de que não falais: não crêram nas vossas pró­
prias palavras, quando lhes anunciáveis tão clara­
mente a vossa ressurreição ao terceiro dia! Em sua
vida gloriosa, assim como antes, é sempre a mesma
bondade, a mesma humildade. Oir-se-ia que uma
injúria nada vale , quando só é pessoal. Os apósto­
los reconheceram-se culpados perante o Mestre, e
lembraram-se de que não era a primeira vez. A in­
dulgência com que os tratava, cobrmdo-os de uma
saiu lar confusão, comoveu-os profundamenle, e uniu-os
ainda mais a êle·. Aprendamos de Jesus a cumprir
bem o difícil dever da correcção fraterna: o meio
mais seguro de obler a reparação de uma falia é,
muitas vezes, mostrar que se não conserva lembrança
dela, sobreludo se nos ofende diredamente. Apren­
damos dos apóstolos a levanlar-nos das nossas que­
das, e a fazê-las redundar em proveilo da nossa hu­
mildade e do nosso amor para com Deus.
Colóquio com Nosso Senhor, unindo a nossa
adoração à dos apóstolos, a nossa alegria à sua ale­
gria. - Pedir a Jesus ressuscitado que produza em
nós, pela sagrada comunhão, os felizes efeilos que
produziu nêles a sua aparição.
Domine Jesu, ergo te humilifer, ui, sicuf posf
gloriosam resurreclionem fuam discipulis dixisli: Ego
sum, nolile limere, sic efiam animam meam clemenfer

(1) M11rc. XVI, 14.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
328 MEOITAÇÕES SACERDOTAIS

resp1c1as, eamque consolari iisdem verbis fuis. Pra�­


serlim in hora tnorlis meae dic animae meae: Salus
tua ego sum, noli limere de iniquilatibus fuis, quia
ego sum advocalus reorum; noli limere a corruplione,
quia ego sum resurreclio; noli fimere a mor/e, quia
ego sum vila: noli limere ah inferno, quia ego sum
merces lua magna nimis (1).

Resumo da Meditação

1. Conle mplar as p_essoas. - Todo o colégio
apostólico reüniclo; só Tomé está ausente. Os ros­
tos anunciam inquietação. Se a fé fõsse viva, que
alegria haveria L- Os dois discípulos de Emaús, que
entram de-repente, contam com animação o que lhes
acontecera. - Jesus Cristo aparecendo no meio dos
discípulos. i Ü'ue afabilidade e majestade em todo o
seu exterior 1

li. e Ili. Considerar as acções, ouvir as pala­


vras. - Jesus aparece: • A paz seja convosco ! não
temais•. Os apóstolos julgam vêr um fantasma.
E' necessário que o Salvador os anime de novo;- que
coma na sua presença, e lhes mostre que um espí�
rito não tem carne nem ossos .. . Convida-os a· to­
car nas suas chagas ; ao mesmo tempo, dá-lhes a
conhecer o sentido das Escrituras, e argúi-os ainda
uma vez de ser lentos em crêr. Mas, na sua vida
gloriosa, assim como antes, é sempre a mesma bon­
dade. Aprendamos dêle a cumprir bem o difícil de­
ver da correcção fraterna, e dos apóstolos a apro�
veitar-nos das nossas faltas, fazendo-as redundar erri
proveito da humildade.

(1) Ludovic. Blosius.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RESSURREIÇÃO DOS MORTOS 3t9

LVI MEDITAÇÃO
Ressurreição dos �ortos. - Ef expecfo
resurrecfionem morluorum

1. O bom padre espera c�m muita confiança a ressurreiçiio glo­


riosa.
li• Esforça-se em cumprir as condições requeridas para essa res­
surreiçiio.

1. O bom padre espera com muita confiança


a ressurreição gloriosa. - Vê o penhor dela na de
Jesus Cristo, que encerra ao mesmo tempo o princí­
pio, o motivo e- o modêlo da nossa ressurreição: Q
princípio pelo qual o Homem-Deus ressuscitado pode
ressuscitar-nos a nós, o motivo que o leva a ressus­
citar-nos na realidade;:, e o modêlo segundo o qual
nos ressuscitará.
0
1. Princípio da nossa ressurreição na ressurrei­
ção de Jesus Cristo. Foi por si mesmo que êle reco­
brou· a vida, assim como foi por sua própria vontade
que a deixara; não precisa de auxílio alheio. A sua
saída do sepulcro é nêle o aclo dum supremo po­
der; por conseguinte poderá fazer nos outros o que
fêz na sua pessoa. l Não é o milagre de um Homem­
-Deus morto que ressuscita, mais pasmoso que o mi­
lagre dum Homem-Deus vivo, que ressuscita a ou­
tros homens? êle pode ressuscitar-nos, e quer res­
suscitar-nos.
2. 0 Motivo da nossa ressurreição, tirado da res­
surreição do filho de Deus. - Nós estamos unidos
a êle por tantos vínculos sagrados, que a nossa res­
surreição é uma conseqüência necessária da sua. Oue
ê1e lenha saído do sepulcro não basta, nem para êle,
nem para nós; a nossa ressurreição deve completar

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
330 MKDITAÇÕE8 SACERDOTAIS

a sua. Se não nos associasse ao seu triunfo, seus


desígnios não seriam cumpridos ; porque assim como
a sua glória é o princípio da nossa felicidade, assim
também a nossa felicidade faz parle da sua glória. -
êle é a nossa cabeça, e nós somos os seus membros;'
é. não é natural que os membros participem da con­
dição da cabeça? Ouo enim praecessif gloria capi­
lis, eo vocafur el spes corpotis ( 1). Se êle quer, na
qualidade de cabeça, ,RUe seus membros acluem como
êle, padeçam, vivam, morram como êle, é. porque niio
havia de querer que ressuscitem como êle? é Não é
justo que, fazendo-nos participantes de seus trabalhos,
nos faça também participantes da sua recompensa?
- Êle é o nosso Salvador, e a sua redenção é abun­
dante; para que ela o seja, importa que recobremos
nêle tudo o que perdemos em Adão, a vida do corpo
e a da alma. Se não houvéssemos de ressuscitar,
poder-se-ia dizer que não salvara a todo o homem. -
Ele é a nossa vida; o espírito que o ressuscitou,
está em nós. E' tal o maravilhoso efeito da comu­
nhão, que já não somos nós que vivemos, mas êle que
vive em nós: Vivo autem, jam non ego, vivi{ vero in
me Chrisfus (2 ). é Como é, pois, possível, pregunta
um santo Doutor, que. haja homens Ião loucos, que
recusem a esperança de uma vida imortal a corpos
que se leem alimentado freqüentes vezes com a carne
de um Deus, em quem reside a mesma fonte da imor­
talidade? Oui manducai meam carnem, el bibit meum
sanguinem, habel vifam aelernam; e/ ego resuscifabo
eum in novissimo die (3 ). é Podia a promessa ser
mais formal?
Não, meu Jesus, vós não permitireis, que santuá­
_rios, tantas vezes consagrados pela vossa divina pre-

(1) S. Leo, Serm. I de Ascens. - (2) Gal. 11, 20.


(3) Joan. VI, 55.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RESSURREIÇÃO DOS MORTO� 331
sença, sejam reduzidos para sempre à corrução do
túmulo. A morte consolar-se-ia de não ler podido re­
ter-vos muito tempo no seu réino, se ali retivesse eter­
namente os que incorporastes convôsco pela partici­
pação do vosso divino sacramento: Non dabis
sancfum fuum videre corrupfionem (1). De tudo isto
concluía S. Paulo: Si resurrecfio morluorum non
esf, neque Chrisfus resurrexif (2).
3. 0 Ressurreição de Jesus Cristo, modêlo da
nossa. Representemo-nos o que há de mais magnífico
neste triunfo do Salvador: essa humanidade glori­
ficada, êsse corpo material, ainda que corpo, vivendo
à maneira dos espíritos, adornado de suas .prerroga­
tivas, e digamos : · Se eu quiser, eis o estado em' que
estarei um dia e por tõda a eternidade ! Ouando
Jesus vier tirar nossos corpos do pó do túmulo, lor­
ná-los-á conformes ao seu corpo glorioso : Refor,.
mabil corpus humili/afis nosfrae, configura/um corpori
clarifafis suae (3). Agora são corpos sujeitos à cor­
rupção, ao sofrimento, à morte: não é mais que uma
carne desprezível; mas �nlão terão a mesma incor­
rulibilidade que o corpo de um Deus, a mesma im­
passibilidade, a mesma subtileza, a mesma claridade :
Seminafur in corrupfione, surge/ in incorrupfione;
seminafur in ignohili/ale, surge( in gloria; seminafur
in infirmilale, surge/ in virfufe; seminalur corpus ani­
ma/e, surge! corpus spirifole (4 ).
E' verdade, porém, que esta feliz transformação
só tocará em sorte aos amigos de Deus. Porque, eis
um grande e terrível mistério I Ecce myslerium magnum
dico .vohis: onines quidem, resurgemus, sed non
omnes immufohimur. A ressurreição futura, doce es­
perança dos bons, é um grande objeclo de terror

(') Ps. XV, 10. - (2) I Cor. XV, 13.- (3) Philip. 111, 21.
4
( ) I Cor. XV, 42.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACE:\DOTAIS

para os maus. Os primeiros ressuscitarão, para viver


eternamente: Procedenf qui hona fecerunl in resur­
reclionem vitae; os s_egundos só sa'irão de uma se­
pullura, para serem lançados noutra; à sepultura da
terra sucederá uma de fogo que nunca se extinguirá:
Oui vero mala egerunf, in resurrecfionem judicii ( l ).
O' Senhor, 1 que cego é aquele que, com uma vida
líbia e .estéril, talvez cheia de pecados, se lisonjeia de
alcançar uma gloriosa ressurreição, que quisestes
fõsse a recompensa dos vossos servos fiéis I Oua­
propfer, fralres, magis safagile ui per hona opera
cerlam veslram vocalicfaem ef elecfionem facialis (2).

li. O bom padre esforça-se por cumprir as


condições requeridas para a ressurreição gloriosa
que êle deseja. - Oiçamos a S. Paulo: Si com­
morlui sumus, e/ convivemus. Si suslinehimus, ef
conregriahimus '(3). Cohaeredes aufem Chrisfi: si
lamen compalimur, úl ef conglorilicemur (4). Si com­
planlali facfi sumus similitudini mortis ejus, simul ef
resurrecfionis erimus ( 5 ). Os nossos direitos à res­
surreição gloriosa fundam-se na nossa união com Cris­
to, que S. Paulo chama primogenifus ex morfuis. E.' o
nosso Rei: combalamos com êle, e reinaremos com êle,
ef. conregnahimus. E.' nosso irmao; participaremos da
sua herança, cohaeredes Chrisfi, mas sõmenle se pa­
decermos com êle, si lamen compafimur. Membros
de uma cabeça humilhada, obediente alé à morte de
cruz, não seremos com êle glorificados, se não sacri­
ficarmos com êle a nossa honra, a nossa liberdade e
a nossa vida. Se nos assemelharmos a Jesus imolado,
assemelhar-nos-emos a Jesus ressuscitado. é. • Quere­
mos sair da sepultura, como .Jesus Cristo saíu do se-

( 1) Joon. V; 29. - (2) li Pefr. 1, 10.


(3 1Jt Tim. II, 11, 12. -(4) Rom. VIIJ, 17.
(') Rom. VI, 5,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RESSURREIÇÃO DOS MORTOS 333
pulcro? Entremos na sepullura como êle entrou. êle
sõ levou chagas; levemos nós ao menos um corpo
penitente. e consumido pelos trabtilhos do zêlo apos­
tólico. Além disso a Eucarislit:1 é-nos dada como
penhor da nossa glória futura: Fufurae gloriae nobis
pignus dafur. Por conseguinte honremos êste misté­
rio; recebamos com amor êsle pão vivo e vivificante.
Seremos ressuscitados pelo Espírito de Deus, e por
causa dês!e Espírito, que habita cm nós: Spirilus
ejus, qui suscifavif Jesum a morfuis, , habitat in vo­
bis . .. , vivificabil et morta/ia corpora veslra propfer
inhabilanfem Spirilum ejus in vobis ( 1); vivamos pois,
como Jesus, ela vida dêsle Espírito divino, sempre
dóceis às suas inspiraçõel:!.
Tais são as bases em que assenta a nossa glo­
riosa ressurreição ; e. não são elas de uma solidez
inabalável? Re�ecli sôbre a vossa .maneira de pro­
ceder, e tomai uma firme resolução. Como prepara­
ção para a missa, dirigi _a Nosso Senhor esta súplica
de .Santo Anselmo : Fac me, Domine Jesu, ila haec
mysferia ore ef corde percipere, atque .ide et aHeclu
senfire, ui per eorum. virfufem sic merear complanfari
similitudini mortis ef resurrecfionis tuae per veferis
hominis morfificationem et novifafem sancfae vifae .. . ,
ut maneam in te ef fu in me; quiJtenus in resirrrecfione
reformes corpus htimilifalis meae, conGgurafum cor­
pori clarifatis fuae, ef in aeiernum gaudeam de gloria
tua. Oui cum Palre ef Spirilu sancfo vivis ef regnas
in saecula saeculorum (2).

Resumo da Meditação

1. O bom padre espera com muila confiança


a ressufreição gloriosa. -A ressurreição, de Jesus

(1) Rom. VIII, t l. -(ll} Or11!. XXXIV.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Cristo prova que êle pode e quer ressu�cilar-nos.


---- Pode; o milagre de um homem-Deus morto, que
ressuscita por si mesmo, ê mais pasmoso e admirá­
vel que o de um Homem-Deus vivo, que ressuscita a
outros homens. - Ouer; nós estávamos unidos a êle
por tantos vínculos, que a nossa ressurreição é uma
conseqüência necessária da sua. Somos seus mem­
bros, e os membros seguem a. condição da cabeça.
E' nosso Salvador, e não o seria completamente, s e
não recobrássemos nêle tudo o que perdemos em
Adão, a vida do corpo e da alma. Ali�enta-nos
éom a sua carne ressuscitada; os nossos corpos
tornam-se seus verdadeiros santuários. é. Como pois
poderia Jesus permilir qu1; fõssem para sempre redu­
zidos à corrução do túmulo? Êle disse: O que come
o meu corpo e bebe o men sangue, !em a vida eter­
na, e eu o ressuscitarei no úllimo dip. - Nossa res­
surreição efectuar-se-á como a de Jesus. Verdade é
que há duas espécies de ressurreição: uma infeliz, e
a outra infinitamente fe-liz. Louvemos a Deus, por nos
ter colocado num estado em que nos é tão fácil es­
capar à desgraça da pri111eira, e alcançar a felicidade
da segunda ressurreição.

II. O bom padre esforça-se em cumprir as


condições requeridas para uma ressurreição glo­
riosa. - • Se morremos com Jesus Cristo, diz
S. Paulo, viveremos com êle». E' nosso Rei; com­
balamos com êle, e com êle reinaremos. E' nosso
irmão ; seremos seus coherdeiros, se participarmos
da sua pobreza e das suas dôres. Entremos na se­
pullura, como nela entrou Jesus; êle só levou cha­
gas, levemos nós ao. menos um corpo penilenle.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PRÉGAR DA RESSURREIÇÃO 335

LVII MEDITAÇÃO
Dogma da ressurreição. - Dois motivos
que teem os sacerdotes para o pregar
com zêlo
1. Especi11l cuid11do com que Deus o revel11.
li. frutos de s11lv11çiio que esl11 revel11çiio deve produzir.

1. O cuidado especial com que Deus revelou


ês(e dogma, deve inspirar aos sacerdotes um ·granN
de zêlo em o pregar. - O dogma da ressurr�ição
foi dado aos nossos primeiros pais logo depois da
sua queda. foi transmitido de século em século pe­
los patriarcas e profetas, selado com o sangue dos
mártires, alé mesmo antes da vinda do Messias, en­
sinado e professado sob a nova aliança, figurado em
lôda a natureza. Tudo isto prQva que o desejo de
Deus foi que o homem estivesse bem possuído desta
crença.
Logo que Adão é condenado, Deus consola-o
com a promessa de uma redenção, que encerra a
promessa da ressurreição: Sicuf in Adam omnes mo­
riunlur, ifa ef in Chrisfo omnes viviRcabunlur (1).
O primeiro homem compreende-o Ião bem, que dá à
sua espôsa o nome de Eva, mãe dos vivos, entre­
vendo já aquela Mãe cujo filho será a ressurreição
e a vida. E nosso primeiro pai não deixou de trans­
mitir esta fé aos seus descendentes.
Achamo-la flOS patriarcas Abraão, Isaac e Jacob.
f.ste último professa-a claramente pouco antes da sua

(1) 1 Cor. XV, 22.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
336 MEDITAÇÕES SACERDO_T_A_IS_______

morte: Saiu/are fuum expecfabo, Domine (1). Com


esta esperança descerá resignado à sepultura.
Achamo-la em lodos os profelas. Isaías diz ao.
povo fiel : Os teus mortos viverão. Despertai, e
cantai louvores, vós que habitais no pó, porque o
poder do Senhor peneirará no seio da terra, �orno o
calor do sol, e fecundará as vossas cinzas como um
benéfico or\'alho (2). Daniel fala na ressurreição dos
bons e dos maus: Evigilabunf, alii in viléJm delernam
ef alii in opprobrium, ui vidednl semper (3). é, Oue
coisa mais majestosa e admirável que a visão de
Ezequiel? Depois de a descrever, o profeta acres­
centa : Haec dicit Dominus Deus: Ecce ego dpe­
riam tumulos ves/ros, ef educl1m vos de sepulchris
vesfris . .. ef sciefis quia ego Dominus, cum aperuero
sepulchra veslra (4 ). Esta fé mitiga as dôres de Job :
Seio quod Redempfor meus vivi/, et in novissimo die
de ferra surrecfurus sum; ef rursum circundabor pelle
mea, ef in carne mea videbo Deum meum (5 ).
Nesta crença da ressurreição hauriam os maca­
beus a sua constância heróica. Um dêles, ao oferecer
os seus membros ao algoz, dizia-lhe : Propter Dei
/eges nunc haec ipsa despicio, quoniam db ipso me
ea recepfurum spero; e outro acrescentava: Pofius
esf ab hominibus morfi dafos spem expecfare a Deo,
ilerum ab ipso ressuscifandos (6).
Mas ne tempo da Lei Evangélica é que esta ver­
dade resplandece mais. é, Oue não faz Jesus Cristo
para nos convencer dela? Não só a ensina, mas
também a torna sensível co..-.- as ressurreições que
opera. E' primeiramente a filha de Jairo, que Jesus
re·slitui à vida·, pouco depois de ter expirado. E' de-

('l Gen XLIX, 18. -(2) Is. XXVI, 19. - lª) Dan. XXIl,2
(4) Ezech. XXXVII, 12, 13. -(&) Job XIX, 25, 26.
(li) 11 Mach. VII, tt, 14.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PRÉGAR DA RESSURREIÇÃO

pois o filho da viúva de Naím, que já levavam a en­


terrar. Mais tarde é Lázaro que linha morrido havia
quatro dias. Finalmente ressuscita o mesrpo Jesus
Cristo.
Deus faz mais ainda. Dara nos lembrar incessan­
temente um dogma tão consolador, quer que a natu­
reza nos ofereça por tôda a parle a imagem dele.
A mudança das estações, a sucessão do dia e da
noite, as numerosas transformações de que somos
testemunhas na ordem da natureza, tudo nos repre­
senta esta gloriosa ressurreição. No inverno tudo
parece morto; na primavera ludQ ressuscita. A se­
mente é lançada ã !erra, como o corpo á sepultura;
como 'êle, começa. por se decompôr, mas para re­
nascer: e em vez de um grão que perdeu, o lavrador
recolherá trinta ou quarenta. A morte! ,!. Oue lira
ela ao justo, se o comparamos com o que a ressur­
reição lhe dá?
Deus desejava ver esta verdade profundamente
gravada nos corações, como remédio contra as pai­
xões, como estímulo à virtude. Mas, para que ela
seja uma e outra coisa, não basta crê-la; é necessá­
rio meditá-la. Dai a obrigação que os padres leem
de fazer dela muitas vezes o objeclo de suas exorta­
ções.

li. frutos de salvação que deve produzir a


crença nesta ressurreição. - E.is aqui os principais:
Desprezar a morte corporal; estimar a morl� espiri­
tual que nos prepara para a ,vida eterna, amar san­
tamenle e respeitar os nossos corpos, visto lerem Ião
belo destino.
A morte não inquieta àquele que espera uma res-•
surreição gloriosa; a morte não consiste tanto na
perda da vida, como num sono, e êsle é o nome que
lhe dá a Sagrada Escritura. • Não queremos, irmãos,
diz S. Paulo, que ignoreis coisa alguma ãcerca dos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
338 MEDITAÇÕES SACKRDOTAIS

que dormem, para que não vos entristeçais, como os


outros que não leem a esperança que nós lemos• (1).
Só os insensatos crêem que as almas dos justos
morrem. Mas elas, quando saem desta vida, estão
em paz : Vi.si sunl oculis insipienfium mori. . . illi
aufem sunf in pace (2). Não há aflição que não se­
console com Ião doce esperança, quando ela está
bem arraigada no coração.
A fê na ressurreição, quando é viva, q'uanto mais
nos faz desprezar a morle, lanlo mais nos foz esti­
mar a mortificação ou morte mística, que nos lira dõ
sujeição dos sentidos, para nos sujeitar à graça.
Esta mortificação ê uma obrigação comum a todos
aqueles que perlencem a Jesus Cristo: Oui sunt
Chrisfi, carnem suam crucilixerunf (3): todo o cristão
deve crucificar sua carne com seus vícios e concupis­
cências; mas é obrigação mais eslricla para o padre,
que deve ser uma imagem mais perfeita de Jesus
crucificado. Por mais penosa que esta necessidade
seja à natureza, a esperança du ressurreição gloriosa
a suavizará: Propler hoc laelafum esf cor meum, ef
exultovif língua mea: insuper ef caro mea requiescef
in spe e). O Senhor prometeu tirar o meu corpo
do túmulo e associá-lo à glória do seu próprio cor­
po, se lhe fõr fiel; portanto, propfer hoc, quero
submeter-me à sua lei; nego-me a mim mesmo, tomo
a minha cruz, e bemdigo-o por se dignar, com tão
leves sofrimentos, preparar lanla glória e felicidade­
para o _meu corpo. Desde já' a minha carne repoisa
nesta esperança : Ef caro mea requiescef in spe.
finalmente, visto que o nosso corpo, que é o ins­
trumento das nossas virtudes, lerá 1ão grande parle
na eterna felicidade da nossa alma, é. não devemos

(1) I Thess11l. VI, 12. - (2) Sap. 111, 2, .:;,


(3) Gal. V, 24. - (4 ) Ps. XV, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PRÉGAR DA RESSURREIÇÃO 339

nós amá-lo e tratá-lo com respeito? O' meu bom pa­


dre, l que aílição é a vossa, quando vêdes vossos ir­
mãos levar a crueldade para consigo até aos mais
lamentáveis excessos? e Amará seu corpo aquele que
lhe recusa a glória e as delícias do· céu, para o vo­
tar ao opróbrio e aos tormeritos da eterna condena­
ção? Heu I quanfll insania, exclama S. Jerónimo,
exiguis el brevi fempore durafuris deliciis, aefernas
amilfere delicias ef crucialus subire sempifernos !
Compadecei-vos desta loucura. Ensinai, pregai sem
cessar o verdadeiro amor de si, tal qual ressalta tão
admiràvelmenle dêste mistério. Lembrai-vos muitas
vezes da advertência de S. Paulo: Nolife errare:
Deus non irridelur. Ouae enim seminaverif homo,
haec e/ melei. Ouoniam qui seminal in carne sua, de
carne e/ melei corruplionem; qui aufem seminal in
spirilu, de spirilu melei vifam aefernam (1). Tornai
para vós o conselho, que êle dá a Timóteo: Memor
esfo Dominum Jesum Chrisfum resurrexisse a mor­
fuis (2). Esta lembrança anima o apóstolo e o pastor,
assim como conforta o mártir.

Resumo da Meditação

I. Especi11l cuid11do com que Deus revel11 o


dogm11 da ressurreição, primeiro motivo do zêlo
com que devemos pregá-lo. - A crença neste dogma,
dada a nossos primeiros pais, transmitida de século
em século, selada com o sangue dos mártires, até
mesmo no tempo da antiga lei, ensinada e professada
no tempo da nova aliança, figurada em tõda a nature­
za. - Adão consolado com esta promessa. Abraão,
Isaac, Jacob. - Os profetas: Isaías, Ezequiel, Jpb.
- Os Macabeus. - Ressurreições operadas por Je-

(1) Gol. VI, 7, 8. -1_2) li Tim. 11, e.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

sus Cristo. - A natureza oferece-nos por lôda ll


parle a imagem da ressurreição. Obrigação de insistir
sôbre êste ponto na pregação.

II. frutos de salvação que deve produzir esta


crença. - Desprezar a morte corporal, estimar a
morte mística, amar santamente e respeitar os nos­
sos corpos. - A morte não passa dum sôno, para
aquele que espera a ressurreição. - Esta crença
faz-nos amar a mortificação: Propfer hoc laefafum
esf cor meum. - j Oue dignos de respeito são os
nossos corpos I E que pouco respeitados são!

IS!

LVIII MEDITAÇÃO
Domingo de Pascoela. - O bom padre
ministro de paz

1. r.le pede-a para a Igreja;


li. Leva-a a seus irmãos;
Ili. Conserva-a e aperfeiçôa-a em si,

1. O bom padre pede a Deus a paz em nome


da Igreja e para a Igreja. - Tendo-nos escolhfdo
para sermos perante o Senhor os intérpretes de seus
votos, a Igreja não nos deixa ignorar o que ela de­
seja. E' a paz o principal objeclo da oração .pública,
cuja obrigação nos impõe. Seus filhos provocam a
ira de Deus ofendendo-o, ela quer que seus minis­
tros se esforcem por aplacá-lo, oferecendo-lhe inces­
santemente o sacrifício de louvores e de propiciação.
Ouer sobretudo que no altar empreguem o imenso

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE PASCOELA 341
valimento que lhes dá o sangue de Jesus Cristo para
fazer descer do céu à terra lôdas as bênçãos da paz.
E' êste o primeiro fruto, que ela espera do divino
sacrifício: ln primis quae fibi oH'erimus pro Ecclesiti
lua ... quam paciGcare . .. digneris fofo orbe ferrarum.
Pouco antes da consagração, ela manda-nos estender
as mãos sôbre a oferenda, como para tomar em seu
nome posse de Jesus Cristo e de todos os seus me­
recimentos. e. Oue oração nos põe ela na bôca, neste
solene momento, em que o Tado-Poderoso vai obe­
decer à nossa voz? UI placafus accipias: aplacai-vos,
Senhor, à vista de vGsso filho imolado: Diesque
nosfros in fua pace disponas: fazei que, emquanlo
vivermos, gozemos da vossa paz; e que, depois, se­
jamos livres da eterna condenação e contados entre
o número dos vossos escolhidos: Alque ah aeierna
damnafione nos eripi, ef in elecforum tuorum jubeas
grege numerari. Mas já Jesus sacrificado está sôbre
o altar. Nós oferecemos a Deus esta .vítima que lhe
é lãa agradável; em atenção a ela, que pedimos nós?
A paz: Da propilius pacem in diebus nosfris: e,
quando -levantamos a voz, é para dizer a oração do­
minical, sinal de paz e reconciliação entre o pai e os
filhos ; é para pedir a perpelu'idade desta bemaven­
turada paz: Pax Domini si! semper vobiscum. final­
mente vamos consumar o santo sacrifício. Com os
olhos ternamente postos no adorável Cordeiro, bate­
mos três vezes no peito. Das duas primeiras vezes
suplicamos-lhe que lenha' compaixão de nós: Mise­
rere nobis, e da terceira, que nos conceda o que tem
de mais· precioso nos tesoiros da sua misericórdia, a
paz : Da nobis pacem. Depois, instamos ainda mais,
e lembramos a Jesus Cristo o que êle disse aos
apóstolos na véspera da sua morte: • que lhes dei­
xava a sua paz, que lhes dava a sua paz• ; pedimos
o mesmo favor para tôda a Igreja; não só pedimos
a paz, que êle deixa, e que os seus apóstolos tinham

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Ja, pois estavam puros (i), mas também a paz, que


êle dii, a sua; pacem meam, paz inalterável, de que
éle mesm·o goza, e que destina a todos os seus esco­
lhidos; paz que é portanto segundo a sua vontade,
secundum volunfafem fuam, pois éle quer reünir-nos
todos consigo no seio de seu Pai. Examinemos
nossa consciência. é. E' verdade que consolamos a
Igreja pelo fervor com que dirigimos a Deus estas
súplicas, pelas quais ela espera o fim de suas penas
e a salvação de seus filhos?

li. O bom padre leva a paz a seus irmãos. -


E' o fim de lodos os ministérios que êle exerce. Se­
gundo a definição de Santo Agostinho, a paz é a
tranqüilidade que resulla da ordem : Pax esf franquil­
lifas ordinis. Hã ordem e repoiso onde cada coisa
está no seu lugar. • O' homem, exclama o santo
Doutor, o leu lugar é no seio do leu Deus; Locus
fuus, Deus luus • . Não estás bem, senão permane­
cendo unido a Deus pela obediência e pelo amor.
Oue êle reine no teu espírito e rio teu coração; crê,
quando êle fala, e obedece quando manda, e estarás
na ordem e gozarás das delícias da paz.
Jesus Cristo só veio ao mundo para lhe alcançar
esta dupla paz, do espírito e do coração. E' com êste
intuito, que instituiu o sacerdócio; o padre conti­
nua a sua obra de pacificação. Ouándo instrui, dá
às almas a verdade, em qui:: o espírito repoisa como
em seu centro. Na administração dos sacramentos,
e principalmente no tribunal da penitência, dá a paz
do coração, pois dá a graça que é sempre acompa­
nhada da paz, quando a ela se corresponde (2). Com-

(1) Joan. XIII, 10.


12) Grafia vobis ef pax. E' com eslas palavras que S. Paulo
principia quósi sempre as suas Epíslolas.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
.
DOMINGO DE PASCOELA

bate incessantemente o pecado e. as paixões: o pe­


cado, que destrói a paz pelo remorso; as paixões
que produzem o pecado e que por si mesmas pertur­
bam, agitam, lançam nos corações milhares de semen­
tes de discórdia e de guerra : Unde bel/a ef files in
vobis?. . . Ex concupiscenfiis ( 1). A' cabeceira dos
enfermos aí aparece o paJre como anjo de paz, res­
tituindo a tranqüilidade a almas inquietas, apagando­
-lhes os pecados, e franqueando-lhes 'a entrada no
reino da eterna paz. Numa parróquia, no meio das
famílias, é. que suave e poderosa influência não exerce
um pastor zeloso, para evitar ou terminar dissensões,
afastar a discórdia, e conservar a união ? i O' evan­
gelista da paz, quanlo é belo o vosso ministério !
j Oue agradáveis a Deus e úteis a vossos irmãos são
os vossos passos I Ouam speciosi pedes evangeli­
zanfium pacem! (2)
Se a vossa consciência vos argúi de não lerdes
cumprido nesla matéria lodos os desígnios do Se­
nhor, recorrei à sua clemência, e tende por certo
que, quaisquer que sejam vossas falias, as perdoará,
se estiverdes arrependido; neste mom\:!nto não t�m a
vosso respeito senão pensamentos d«i paz: Ego enim
seio cogifafiones, quas ego cogito super vos . .. , co­
gilafiones pacis ef non aflliclionis (3).

III. O bom padre conserva e aperfeiçôa em si


o reino da paz, em proveito da sua santificação e
da do próximo. A paz é o caminho mais seguro e
mais curto para chegar à perfeição; dispõe a alma
para tôdas as virtudes, e põe-a num estado, em que
Deus gosta de enriquecê-la com seus dons: Dominus
4
benedicef populo suo in pace ( ). S. João Climaco

(1) J11c. IV, t.- (21 Rcm. V, 1 s.


( 3) Jerem. XXIX, 11. - ( 4) Ps. XXVIII, 11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

diz que a lranqiiili�ade da alma é adornada de virtu­


des, como o firmamento de eslrêlas, e que se lhe
pode cham_ar o céu interior do homem.
é. Oue sossêgo nos não ·é necessário para nos di­
rigirmos a nós, e dirigirmos bem os outros nas cir­
cunstâncias difíceis em que se encontram? Ouando
nosso espírito está tranqüilo, Deus alumia-nos; sua
luz reflecle-se em nós, como os raios do sol na água,
na água cristalina; o que levou Santo Ambrósio a
dizer: Summus sélpienliéJe finis esf ui simus mente
frélnquilléJ. Ouando estamos em paz, Deus está em
nós: Félclus esf in pélce locus ejus (1); é. e que poder
será então_ capaz de nos abalar? Deus in medio
ejus, non commovebilur ( 2).
Eis aqui também o meio que Jesus Cristo .em­
prega para fortificar os apóstolos depois da sua res­
surreição; êles viram-no em seu estado de glória, e
estão cheios de gôzo. Mas as provações virão bre­
vemente. A mais próxima será a privação da sua
presença visível. Trala-se de os consolar' e preparar
para as adversidades, que êle lhes anuncia. Oiça­
mo-lo: • Convém. que eu volte para meu Dai; den­
tro de pouco tempo já me não vereis. Mas, antes de
vos deixar, quero dar,vos um penhor do meu amor.
Oue vos darei? Riquezas? Ensinei-vos a calcá-las
aos pés. Honras? fui saturado de opróbrios, e pre­
feri o desprêzo dos homens à sua estima. . . Deixo­
-vos um bem que !em a virtude de suavizar a dõr e
de converter a tristeza em alegria: Pélcem relinquo
vobis, pé1cem meéJm do vobis • . Com efeito, é pelas
punis delídas da paz interior, que os apóstolos, os
mártires e lodos os Santos leem triunfado do mundo,
e dos seus prazeres e tormentos. Amai pois a paz,
buscai a paz: Inquire pé1cem e/ persequere pacem (3).

(1) Ps. LXXV, 3. - (2) ld. XLV, 6.- (3) ld. XXXIII, 15.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DE PASr.OELA

Subi ao altar e uni-vos ao príncipe da paz: lpse au­


fem Deus pacis sancfi6cef vos per omnia, ui infeger
spirilus vesfer e! anima e! corpus, sine querela in
advenlu Domini nosfri Jesu Chrisfi servefur (1).

Resumo da Meditação

1. O bom padre pede a Deus a paz para a


Igreja. - A paz é o primeiro objedo da oração
pública, o primeiro fruto do divino sacrifício: ln pri­
mis quae fibi olferimus, pro Ecclésia .. quam paci­
ficare . . . digneris ... - UI placafus accipias, dies­
que nosfros in lua pace disponas. - Da propifius
pacem, e/e.

II. O bom padre leva a paz ao prox1mo. -


E' o fim de lodos os ministérios que êle exerce, prin­
cipalmente no tribunal da penitência. À cabeceira
dos enfermos, é anjo de paz; nas famílias mantém
ou restabelece a paz; no púlpito, é o evangelista da
paz.

III. O bom padre conserva e aperfeiçôa em si


o reino da paz, em proveito da sua santificação e
da santificação do próximo. e. Oue sossêgo lhe não
é necessario para orar, para diri�ir? E' pela for­
taleza que dão as puras delícias da paz, que ,os após­
tolos, os mártires e lodos os Santos venceram o
mundo e o inferno.

(1) I Thess. V, 23.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

LIX MEDITAÇÃO
As condições da nossa paz

1. Não hã paz com Deus, se não hã inocência;


li. Não hã paz com o próximo, se não hã caridade;
Ili. Não hã paz connosco, se niio hã lula contra nossas paixões.

I. Não há paz com Deus, se não há inocência.


-Santo Agostinho pregunta: Ouid esf pacem ha­
bere ad Deum, nisi velle quod jubei ef nolle quod
prohibel? é. Como se há de estar em paz com Deus,
quando não se quer o que êle manda, quando se
quer o que êle proíbe?
Deus é o meu fim último, o meu sumo bem, o
meu centro; unido a ésle centro adorável estou tran­
qüilo; separado dêle estou necessàriamente inquieto,
e sofro. Oro, eu só estou unido a Deus, sujeitando
a minha vontade à sua; se me desvio desta vontade
suprema, saio da esfera do meu repoiso, e eis-me
numa situação violenta. Eu não posso resistir a uma
lei, que ludo na minha natureza e religião me -impõe
o dever de respeitar, sem que a minha razão se re­
volte contra mim, sem que a minha fé me condene
e atemorize, sem que a minha consciência me re­
morda. é. Será possível, Senhor, que eu esqueça por
completo vossos terríveis juízos e ameaças? é. Pode­
rei eu pensar nêles sem receio? Ma/a conscienlia
semper limida esf ef inquieta. Sua'(ifer requiesces,
si cor luum te non reprehenderil (1 ).
A paz é obra da justiça: Erif opus jusfifiae

(1) lmit., lib. li, c. VI.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AS CONDIÇÕES DA NOSSA P.U 3i7
pax ( 1). - Non confrisfabit jusfum qttidquid ei é/cci­
derif (2). - Pax .omni operélnfi bonuril (3). E' a pri­
meira recompensa da ordem, assim como a inquieta­
ção é o primeiro castigo da desordem. Portanto,
falias, ainda mesmo que sejam leves, numa profissão
Ião santa como a nossa, conteem uma infracção mais
culpável da justiça e da ordem; e não é para admirar
que um padre, tíbio e negligente, viva inquieto: Vis
héibere pacem? fac jusfifiam. Duae amicéle sunf; tu
forte unam vis, alteram non facis. Nemo esl qui nolif
pacem; sed non omnes volunl operari jusfifiélm (4).
Ouando uma alma tem a pureza que dá a justiça,
nada a impede de se unir a Deus, cenlro de seu re­
poiso: Acquiesce igifur ei, ef habelo pacem (5).

II. Não há paz com o prox1mo, se não há


caridade. - A nossa paz com Deus é fruto do nosso
amor para com Deus e para com a sua lei : Pax
multa di/igenlibus legem fuam; a .nossa paz com o
próximo é fruto dessa caridade sincera, que faz com
que o amemos, a-pesar dos seus defeitos e das ofen­
sas que nos possa ler fE"ito. Trate cada um os outros
como deseja que êles o tratem ; suporte-os, poupe-os,
desculpe-os, como quer ser suportado, poupado,
desculpado; ame, como quer ser amado, e não ha­
verá mais discórdia. Se o Deus de caridade está
connôsco, o Deus de paz connôsco estará também:
Deus péicis ef dilectionis erif vobisc�m (6). O mar
está bonançoso, quando nenhum vento o agita. Ouem
tirasse do mundo o meu e o teu, palavras de fogo, e
causa de tantas guerras e tantos incêndios, fundaria
no mundo o reino da paz.

(1) Is. XXXII, 17. - ( 2 ) Prov. XII, 21. -(3) Rom. li, 10.
4
( ) S. Aug. sõbre estas p11l11vros do Ps. LXXXIV: Jus filia
e! pax osculalae sunl.
(5) Job XXII, 21. - (6) li Cor. XIII, t t.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

O' paslor de almas, a felicidade da vossa vida, o


bom êxito do vosso ministério dependem em grande
parte da conservação da paz entre vós e o vosso
próximo, quer a Providência o haja colocado acima
de vós, quer o haja pôsto ao vosso lado ou dependente
de vós. Nada perturbe vossa boa harmonia com os
superiores, colegas e parroquianos. Si Geri pofesf,
quod ex vobis esl, cum oinnibus hominibus pt1cem
ht1benfes (1); e aquele, cujos filhos são os pacíficos,
mostrar-se-á para convôsco um terno pai. Prevenin­
do-vos e enriquecendo-vos com as bênçãos da sua
graça, conceder-vos-á o dom de pacificar os corações,
e podereis salvar vossos irmãos.
Mas i que abnegação é necessária para viver em
paz até com aqueles que odeiam a paz! Eis o que
nos é recomendado, diz Sanlo Agostinho, em quási
tôdas as páginas da Sagrada Escritura: Prope nullt1
esf pagina, quae nos non admoneaf. . . cum his qui
oderunl pacem es�e debere pacificas ( 2 ). Oiçamos a
S. Paulo. Êle roga-nos, como prisioneiro no Senhor,
que andemos (como convém à vocação, com que
fômos chamados) com lôda a humildade e mansidão,
com paciência, sofrendo-rios uns aos outros com ca­
ridade, trabalhando cuidadosamente em conservar a
unidade de espírito pelo vínculo da paz (3). Em ou­
tro lugar é ainda mais enérgico: • Portanto, se há
alguma consolação em Cristo, se algum refrigério de
caridade, se alguma comunicação de espírito, se al­
gumas entranhas de compaixão: fazei completo o
meu gôzo, de sorte que sintais uma mesma coisa,
lendo uma mesma caridade, um mesmo ânimo, uns
mesmos pensamentos. e). Só uma caridade gene­
rosa e solícita é capaz de fazer uma guerra ímpia-

(1) Rom. XII, 18. - (2) Epist. CCLIX, ad Reslifu!.


(3) Eph. IX. !-�- - ('1) Philip. 11, 1, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AS CONDIÇÕES DA NOSSA PAZ

cável ao pecado, de nunca ofender o pecador, de


amá-lo sempre.

III. Não há paz connôsco, se não há lufa con­


tra as nossas paixões, - E' um dos sentidos destas
palavras do Salvador: Non veni pacem mi/fere, sed
gladium, - Ínimici hominis domesfici ejus ( 1}. Só fa­
zendo continua guerra às minhas inclinações, inimigas
doméslicas, é que eu alcançarei essa imperturbabili­
dade, que me tornará superior a todos os aconteci­
menlos. A' paz é o fruto da vitória, assim como a
vilória é 0 fruto do combale.
Uma alma reflectida compreende a verdade desta
palavra do piedoso aulor da lmifaç§o: Ouando­
cumque homo aliquid inordinafe appefil, sfalim in se
inquielus fil (2); porque é tal o coração do homem,
que não pode estar sem desejos; e se .não reprime,
se não dirige seus desejos, êles transformam-se em
algozes seus. Não nos cansemos de meditar nestas
máximas: Resislendo passionibus invenifur pax vera
cordis. . . Non esl ergo pax in carde hominis car­
na/is, non in homine exlerioribus dedilo (3 ). - Beafi
simplices quoniam mullam pacem habebunl (4). O ho­
mem puro, livre das paixões, que só busca a Deus,
polesf sfabilis carde esse, e/ in Deo pacificus perma­
nere (5). Mas I quantos combates a sustentar e a
dar, para vencer as paixões, e submeter-se à graça !
Guare quidam sancforum Iam perfecli e! conlempla­
livi fuerunl? Ouia omnino se ipsos morfificare ah
omnibus ferrenis desideriis sfuduerunl; e/ ideo lo/is
medullis cordis Deo inhaerere, a/que libere sibi va­
care pofuerunl (6). Daí esta conclusão : Oui melius

(1) Mallh. X, 34, 36. - (2) /mil., lib. 1, e. VI.


(3) ld., lib, 1, e. VI. - (1) lbid., e. li.
(5) /mil., lib. t, e. Ili. - (º) lbid., e. XI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
350 MEDITAÇÕES SACEllDOTAIS

sei/ pali, majorem lenehil pacem; lsle esf viclor sui


ef dominus mundi, amicus Chrisfi e! haeres coeli (1).
Pureza de coração e acquiescência à vontade
divina, caridade cordial para com meus irmãos, re­
pressão ,das minhas paixões, são pois as condições
da minha paz, e por conseguinte da minha felicidade.
Eu quero cumpri-las, ó meu Deus; mos ajudai-me
com a vossa graça. Dai vós mesmo à minha alma o
silêncio, o sossêgo que esperais para vos comuni­
cardes a ela. Eu não vejo nela senão impaciente fer­
vor, confusos movimentos, perturbação. A acção
tranqüila, o desejo sem paixão, o zêlo que opera sem
precipitaçãp, só podem vir de vós, sabedoria eterna,
aclividade infinita, repoiso inalterável, que sois o prin­
cípio e o modêlo da verdadeira paz. Não nos recu­
seis êste dom celeste, que é o penhor do vosso amor,
o objeclo da;; vossas promessas e o preço do sangue
de vosso filho.

Resumo da Meditação

I. Não há paz com Deus, se não há inocência ..


- Deus é o meu centro; se me separo da sua so­
berana vontade, resistindo-lhe, saio da esfera do meu
repoiso. A minha religião, a minha razão voltam-se
contra mim. A paz é obra da justiça. Ouando uma
alma !em a pureza que dá a justiça, nada a impede
de repoisar em Deus.

li. Não há paz com o próximo, se não há ca­


ridade. - Se eu traio os outros como desejo que
êles me !ralem, suportando-os, poupando-os, descul­
pando-os, como quero que êles me suportem, me
poupem, me desculpem: não há discórdia possível

(1) lbid., lib. 11, e. lll.,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2.0 DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA. 351
entre mim e o próximo. Desde o momento, em que
o Deus de caridade está comigo, o Deus de paz
comigo estará também. Mas l de que paciência e
vigilância não precisamos, para viver em paz até com
aqueles que odeiam a paz?

III. Não 'há paz connosco mesmos, se não hã


luta contra as nossas paixões. - A paz é o fruto
da vitória, assim como a vitória é o fruto do com­
bale; dominando-me, dominarei de alguma sorte tudo.
• E' na resistência às paixões que se acha a verda­
deira paz. Ouem melhor souber padecer, maior paz
possu"irá •.

LX MEDITAÇÃO
2.0 Domingo depois da Páscoa. - O bom pélsfor

1. Oue idéia _nos dá dêle Jesus Cristo;
li. Oue padre realiza mais perfeilamenle esfa idéia.

I. Retraio do bom pastor, feifo por Jesus


Cristo. - Vós, a quem o filho de Deus associou no
govêrno das almas, tomai e lêde. Estimai a nobre
tarefa, que vos é im'posla; mas penetrai-vos do espí­
rito, que deve dar vida ao vo_sso ministério. Ego.sum
pélsfor bonus, nos diz o filho de Deus; é o mesmo
que dizer-nos que nenhum é bom pastor, sem que a
êle se assemelhe, ou procure assemelhar-se. Êle vai
fazer o seu retrato; estudemo-lo.
Bonus pastor animam suam délf pro ovibus ·suis.
Este primeir9 traço ensina-nos duas coisas : a dispo­
sição habitual do bom pastor, e o que éle faz pelo

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
35':! MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

seu rebanho. êle está sempre pronto a afrontar a


morte temporal, para preservar suas ovelhas da morte
eterna, e a sacrificar-se, se fõr necessario, pela sua
salvação, assim como Jesus Cristo se sacrificou por.
nós. Não leme os lõbos; arroja-se ao meio dêles,
quando as circunstâncias o exigem, e moslrf!•Se manso,
mas não tímido,. como um cordeiro. Deixa-se ferir,
dilacerar por êsses lõbos cruéis, e sua paciência
converte-os muitas vezes em ovelhas.
Animam suam dat, condição rigorosa; tomada à
leira nos primeiros séculos da Igreja. Felizes tempos,
em que lodos os fiéis mereciam o nome de S!mtos !
Mas também os pais eram dignos de seus filhos ;
que padres! que pastores!
Aceitar o cargo pastoral era votar-se ao martí­
rio; e S. Paulo tinha razão para louvar os que am­
bicionavam esta honra : Si quis episcopalum deside­
raf, bonum opus desideraf; era aspirar a morrer nos
tormentos pel!:1 salvação das almas! Tunc respersa
sunt ovilia sanguine pasforum, maduerunt campi cae­
dibus pasforum, cruenfafa sunf pBscua vulneribus
pasforum, sacrafa esf ferrtJ corporibus pasforum, di­
lata/um caelum animabus quas pasfores pro suis ovi­
bus posuerunf (1). O' padres, não esqueçais de quem
sois sucessores no vosso ministério. Se estais dis­
postos a morrer pelo rebanho que Jesus vos con­
fiou, l recusareis vós dar-lhe vossos suores, vossa
liberdade, vosso descanso? l Tereis falta de vigilân­
cia, para descobrir e afastar o l:lue lhe é nocivo, de
coragem para o defender, de atenção e prudência
para o conduzir aos melhores paslios?
Et cognosco meas ef cognoscunf me meae. O bom
pastor conhece suas ovelhas; estando sempre no
meio delas, visita-as, é acessível a lõdas; estuda suas

(1) Rup. in Jo11n. e. X.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
't.0 DOMINGO DEPOIS DA P.{SCOA

inclinações, suas doenças, suas necessidades. As


ovelhas conhecem-no ; 1 não leem elas continuas pro­
vas da sua solicitude e dedicação a todos os seus
inlerêsses? Êste conhecimento mútuo inspi,ca ao
pastor os mais vivos cuidados, zêlo ardente, escolha
dos meios, e às ovelhas confiança e docilidade.
Sicuf novil me Paler, ef ego agnosco Palrem, e/
animam meam pono pro ovibus meis. Assim como
meu Pai e eu nos amamos com um amor infinito,
pelo conhecimento que temos um do outro, assim
também o conhecimento que eu tenho das minhas ove­
lhas, me inspira para com elas um amor tão ardente,
que me sacrifico pela sua salvação. E' no Calvário
e no altar que_ o bom pastor aprende como deve
amar as almas.
Et alias oves habeo . .. , ef illas oporfef me addu­
cere. O bom pastor ama lôdas as suas ovelhas : as
que estão presentes não lhe fazem esquecer as ausen­
tes, tão desgraçadas e tão expostas a perder-se 1
Jesus Cristo poderia estabelecer-se em Jerusalém ou
em qualquer outro lugar da Judéia, e chamar para
junto de si os que precisavam dos seus serviços;
não o fêz, porque quis dar um grande exemplo aos
seus ministros. Lembrando-se de tôdas as ovelhas
errantes da casa de Israel, comoveu-se, discorreu pe­
las aldeias, pelas cidades, pelos desertos . . . Oh 1
quanto desejaria levar para o divino aprisco da sua
Igreja, todos os habitantes de Jerusalém, lodos os
judeus, todos os homens!... Venife ad me omnes!
t Oue faz êle junto ao poço de Jacob? Busca uma
ovelha desgarrada: a pecadora de Samaria. Busca
outra em casa de Simão leproso; é a Madalena. Na
lenda de Cafarnaum é Mateus; em Jericó é Zaqueu;
no caminho de Damasco é Paulo, por causa do qual
o Bom Pastor desce do céu segunda vez. O' meu
padre, que não vos dais ao trabalho de trazer para
Deus os que o abandonaram; é. que seria de vós, se

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAt;ÕES SACERDOTAIS

êle se não dignasse buscar-vos e prevenir-vos com a


sua graça ? Sede para vossos irmãos o que êle foi
para vós. Ao contrário daquele Bom Pastor que
·deixa no deserto noventa e nove ovelhas fiéis, para
ir buscar a que se perdeu, e. porque limitais vós o
vosso zêlo quási unicamente a algumas almas que
dêle precisam menos? Dizei também : Ef alias oves
habeo, lenho ainda outras ovelhas; 1 quanto me
assustam os perigos em que vivem ! E' necessário 6
todo o custo que eu as traga ao aprisco da salva­
ção: Ef ilias oporfef me adducere.
Ante eas vadit; é outro carácter do bom pastor
de almas. Em vez de obrigar em lom imperioso o
seu rebanho a caminhar adeanle dêle, atrai-o bran­
damente opós si, guiando-o, e praticando primeiro
tudo aqu.ilo que prega. Devendo empregar na santi­
ficação do meu povo lodos os meios que estão ao
meu alcance, e. como posso eu ignorar que o exemplo
é o mais eficaz de todos os meios?

II. l Oual é o sacerdote que realiza mais per­


feitamente esta idéia do bom pastor? - E' aquele
que imita melhor a ternura, a fortaleza, a constãncitt
do amor de Deus para com as almas; temos a provtt
disso no Antigo e no Novo Testamento.
O Senhor ordena a Moisés que traga o povo de
Israel em seus braços, assim como uma boa mãe
costuma trazer o seu filhinho (1). 5. Paulo escrevia
aos tessalonicenses: racfi sumus parvuli in medio
vesfrum, fanquam si nufrix foveaf filios- suos. é. Oue­
rnis ver o coração maternal de um bom pastor?
Ouvi a Moisés advogando a causa do seu povo, su­
plicando a Deus que perdôe ao povo de Israel, ou
então que o castigue a êle Moisés. Leia-se também

(1) Num. XI, 12.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2. 0 DO�IINGO DEPOIS DA PÁSCOA 355

tõda a segunda epístola de S. Paulo aos coríntios:


t • Haverá entre vós alguma doença que me não faça
sofrer a mim, ou algum desgõsto cujo efeito eu não
sinta, ou algum escândalo que não produza em mim
o efeito de um fogo abrasador? Oh I como sacrifi­
caria de bom grado por vossas almas, não só ludo
quanto lenho, mas ludo quanto sou, ainda que estou
bem longe de· ser amado por vós tanto como eu vos
amo! O' coríntios, aí tendes o meu coração aberto 1
Dilatou-se para vos reünir a todos; e não estais
apertados dentro dêle • .
Lembrai-vos do mesmo Deus, Pai e pastor de
lodos os homens, o qual se compara, já a uma águia,
provocans ad volandum pullos suos ef super eos vo­
li!tms ( 1 ); já a uma galinha inquieta e solícita, reco­
lhendo debaixo das asas os seus pinlaínhos, para os
livrar do perigo que os ameaça (2). i Comovedoras
imagens, terríveis acusações contra o pastor de almas,
que não tem afeição ao seu rebanho 1
A ternura do amor não basta; é necessária ener­
gia e fortaleza neste amor. O meu zêlo deve ser su­
perior a lodos os perigos, às mesmas queixa� das
minhas ovelhas enfermas, quando, para as curar, sou
forçado a causar-lhes alguma dõr. O seu inlerêsse
verdadeiro deve ser-me mais caro que a sua ami­
zade: só devo temer uma coisa: é temer alguma
coisa mais do que a Deus (3 ). S. João Crisóstomo
dizia a seu povo : Ouidquid ferroris habef mundus,
ego confemno. Efiamsi Ducfus insurganf, 'efiamsi lo­
tum pelagus adversum me confurbefur, efiamsi prin­
cipum furor . .. , ego millies pro vobis immoÍélri para­
fus sum.

(1) Deu!. XXXIII, t t. - (2/ Maflh. XXIII, 37.


(�) Nec quidquam meluendum est, quam ne quid magis quam
Deum metuamus. S. Greg. Naz.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
356 M E D ITAÇÕES SACERDOTAIS
_______ _ _ _
Finalmente o amor do bom pastor para com o
seu rebanho, supera lodos os obstáculos; nada cansa
sua constância: nem as dificuldades que o inferno
lhe ocasiona, e nas quais vê o penhor das bênçãos
do cêu; nem a indiferença ou insultos que recebe em
troca dos seus cuidados. A compaixão pelas suas
ovelhas aumenta em proporção com os agravos que
recebe delas. l Trala-se de um pecador muito afas­
tado de Deus ( -- r..le vai buscar essa ovelha desgar­
rada: Vadil ad eam quae perieraf. Persegue-a sem
descanso. Se as primeiras tentativas são infrutuosas,
faz outras; corre atrás dela, até a encontrar: Donec
invenial eam.
O' meu Deus, se vossos ministros vos amassem
como devem, i quantas almas alrai'riam ao vosso amor 1
Si ama/is Deum, rapife omnes ad amarem Dei . ..
Rapile quos poleslis, horfando, por/ando, rogando,
disputando, rationem reddendo cum mansUf;ludine ef
lenifale; rapife ad amorem, arripife, adducife, atfra­
hile quos poleslis (1).
No altar honrai a Jesus Cristo na sua qualidade
de bom pastor, e saboreai estas suavíssimas pala­
vras : Bane pastor, panis vere, Jesu, nosfri mise­
rere, ele. Animai-vos com esta magnífica promessa:
Cum apparueril princeps pasforum, percipielis im­
marcessibilem gloriae coronam (2 ).

Resumo da Meditação

1. Retrato do bom pastor, feito por Jesus Cristo.


- Dizendo-nos que êle é o bom pastor, Jesus diz-nos
que nenhum é bom pastor, sem que se lhe asseme­
lh.e. - Bonus pastor animam suam dai pro ovibus
suis: está sempre pronto a afrontar a moríe tempo-

(1) S. Aug. in Ps. XXXIII el XCVI. - (2) I Pelr. V, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
\!.• DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA 357
ral, para preservar 9 seu rebanho da morte eterna.
Nos primeiros tempos o cargo pastoral terminava
muitas vezes com o martírio. Cognosco oves meas
ef cognoscunf me meae. Dêste mútuo conhecimento
nasce uma mútua afeição. - Animam meam pono pro
ovihus meis, E' no Calvário e no aliar, que o bom
pastor aprende como deve amar as almas. -Ef alias
oves haheo. Ama tôdas as suas ovelhas; as presen­
tes não lhe fazem esquecer as ausentes. - Ante eas
vadit. Atrai-as com seu exemplo.

II. eOual é o padre que realiza mais perfeita­


mente esta idéia do bom pastor? -E' aquele que
imita melhor a ternura, a fortaleza e a constância do
amor de Deus para com as almas. - Moisés e
S. Paulo, admiráveis modêlos desta ternura. --A
fortaleza não deve faltar também: Ego miles pro vo­
his immolari parafus sum. - A consUincia acaba o
retraio do bom pastor: êle corre atrás da ovelha
desgarrada alé a encontrar: Donec inveniaf eam.

LXI MEDITAÇÃO
O mesmo dia. -Jesus aparece a muitos dos seus
discípulos junto do mar de Tiheríades.
- Confemplação

1. Conlempl11r 115 pesso115;


li. Ouvir 115 p11l11vr115;
Ili. Consider11r 11s 11cções.

PRIMEIJW PRELÚvro. Depois de festa da Pás­


coa, ·os discípulos foram para a Galiléia. Estan,do
juntos sete de entre êles, entraram numa barca e fo-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
358 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ram pescar; mas naquela noite nada apanharam.


Chegada a manhã, aparece Jesus na praia sem que
êles o tonheçam, e diz-lhes que lancem a rêde para a
parle direita da embarcação. Lançaram êles a rêde,
e fizeram uma pesca abundante. Então João 'diz a
Pedro : • E' o Senhor• . Pedro cinge-se com a sua
túnica, e lança-se ao mar; os outros veem para terra
na barca. Jesus, que lhes preparou a refeição, con­
vida-os a comer ( i ).
SEGUNDO PHJ.:LÚDIO. Representai-vos a praia do
mar, e a barca dos apóstolos, que está pouco dis­
tante da terra.
TEHCEIHO Pl!ELÚDIO. O' Jesus, concedei-me a
graça de vos conhecer tal qual vos quisestes mostrar
nesta aparição, cheio de caridade para com vossos
ministros. Fazei-me participar das luzes e pureza de
S. João, do fervor e dedicação de S. Pedro, do
gôzo que sentiram lodos nesta pesca mili,grosa, e da
santa refeição que se lhe seguiu.

I. Contemplar as pessoas. -Os apóstolos, que


eram pobres e viviam do seu trabalho nianual. Vê­
de-os na sua barca, trabalhando de acôrdo e em boa
harmonia. Parecem um pouco tristes por terem sido
inúteis seus esfôrços; porque, diz o Evangelista, ilia
nocfe nihi/ prendiderunf. . . Ah I se êles soubessem
que alegria sentirão bem de-pressa 1 . . - Contemplai
o Salvador; ei-lo na praia: Slefif Jesus in liflore.
Olha com bondade para seus amados apóstolos e
quer consolá-los. Compadece-se dêles, vendo que
se cansaram inutilmente e que, necessitando de repa­
rar as fôrças, nada leem para comer. O' meu Deus,
é assim que pensais em mim e nas minhas aflições!
Ouando me julgo desamparado, estais perto de mim.

(1) Jo11n. XXI, 1-13.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2.0 DOMINGO DEPOIS DA PÜCOA 359

i Ouanlas. vezes m·e tendes visiladà e socorrido eficaz­


mente, quando eu não descobria nenhum meio de sair
da minha !riste situação ! Se eu recorresse a vos
confiadamente, é. que não obteria eu da vossa infinita
misericórdia, visto que me concedeis tantos favores,
que eu nem sequer me lembrava de pedir?

II. e III. Considerar as acções, ouvir as pala"


vras. - Jesus procura em tôdas as ocasiões conven­
cer os seus ministros, de duas verdades importantíssi­
mas: uma, que vela pelos seus interêsses com uma
terna solicitude, e que nunca, no tempo marcado, lhes
faltará a sua assistência nem quanlo ao temporal,
nem quanlo ao espiritual: a outra, que por si mes­
mos e sem êle não. podem salvar-se nem salvar seus
irmãos. Com que amabilidade pregunla aos apósto­
los se teem alguma coisa de comer, ainda que o não
ignore, para os levar a reconhecer a sua necessidade,
e a dispô-los para a graça que vai, fazer-lhes: Pueri,
numquid pulmenfarium habetis? Responderunf ei:
Non. Sejamos simples na confissão das nossas mi­
sérias, reconheçamos francamente que não lemos
coisa alguma, nem mesmo o que nos é necessário,
nem humildade, nem luz, nem coragem, e que espe­
ramos tudo da sua divina bondade. Jesus diz-lhes:
• Lançai a rêde para a parle direila da barca• ; lan­
çam-na, e logo vem cheia de tantos peixes, que mal
podem arrastá-la:, Jam non valebanf illud frahere
prae mullitudine piscium. Tão inesperada felicidade
enche-os de admiração, e o discípulo a quem Jesus
amava, diz a Pedro: • E' o Senhor. f
S. João é o primeiro que reconhece a Jesus
Cristo, e S. Jerónimo dá a razão: Sofus virgo vir­
ginem agnoscif ( 1). 1 Oue bemavenlurados são os

l') L. 1. conf. Jovini1m.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
360 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

limpos de coração I êles vêem a Deus 1 (1) O' Senhor,


1 quando me será dado vêr-vos por tôda a parle onde
estais, e dizer ao mesmo tempo e em todo o lugar
com o vosso discípulo amado: Dominus esl I é. Para
quê filar meus olhos nas criaturas? E' o Senhor, é
êle mesmo quem me alegra neste bom êxito, quem
me aflige neste revés . . . Dominus esf. E' êle que
permite esta humilhação, êste contratempo I Era ne­
cessário, diz S. Gregório, o trabalho penoso e inútil
da noite, para preparar a admiração, que causou de
manhã o afortunado lanço de rêde, ordenado pelo
Salvador (2). O' Jesus, purificai-me; amar-vos-ei,
serei amado de vosso Pai e de vós, e vós dignar­
-vos-eis manifestar-vos a ºmim (3).
S. Pedro, ao pensar que o Senhor está na praia,
só atende. ã impetuosidade do seu amor; cinge-se
com sua túnica, e lança-se ao mar; os outros veem
na barca. Há dois caminhos para ir ter com Jesus:
um extraordinário, que não devemos reprovar, nem
querer sempre seguir; outro ordinário, com que de­
vemos contentar-nos. Entre os mais perfeitos servos
de Deus, há alguns de um �énio ardente, que não
podem permanecer metidos na barca. Saem de si e
vão lançar-se corajosamente nas águas amargosas do
sofrimento, para chegar mais de-pressa aos pés de
Jesus crucificado. Há outros de génio sossegado e
pacífico, que se conservam em repoiso na barca da
Providência, gozai;tdo dos favores do seu Senhor,
quando está presente, esperando em paz; a sua vinda,
quando está ausente. Admiremos, e segundo a me­
dida da graça que nos é dada, imitemos o fervor de
Pedro : é tal o desejo que tem de se aproximar de

(l) MaUh. V, 6. - (2) Homil. XXIV. in Evang.


ei Oui diligif me, diligefur a Palre meo; el ego diligam eum,
ef manifeslabo ei meipsum. Joan. XiV, 21.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
2.0 DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA 3(H
Jesus Cristo, que não repara nos perigos e trabalhos;
com efeito, êle chegou primeiro. Nada apressa tanto
os progressos de uma alma e a sua união com Deus,
como a generosidade.
Mas, l que se passa na praia,.quando estão lodos
juntos? e. E em primeiro lugar que vêem? • Brasas,
peixe e pão•, ludo preparado pelo mesmo Salvador.
Ele convida-os para uma refeição de que tinham ne­
cessidade: Venile, prandefe. Faz mais ainda, serve­
-os com suas divinas mãos: Et accipif panem ef da!
eis; ef piscem similifer . . . O' padre, l ferireis vós
sempre o Coração de Jesus, recusando confiar nê!e?
Não, não vos inquieteis por causa das coisas neces­
sárias à vida; êle encarrega-se de vo-las dar. Tem
para vós uma providência ainda mais paternal do
que para os outros: vós cuidais dos seus interêsses,
êle cuida dos vossos. Oue delicioso banquete vos
prepara no céu, emquanlo trabalhais em estender seu
reino na terra I B·revemenle vos dirá: • Vinde, ali­
mentai-vos com a minha divindade, entrai na alegria
do vosso Senhor•. Enlrelanto, alimentemo-nos com
o pão eucarístico. Vamos todos os dias reparar
nossas fôrças, reanimar nosso fervor nessa mesa sa­
grada. foco do zêlo apostólico.
e. Oue se passa na alma dos apóstolos durante
aquela santa refeição? A presença do Mestre ressus­
citado, seu rosto, sua voz, a afeição que lhes mostra,
o grande poder que manifesta,• a terna familiaridade
com que os lrata, tudo os encanta, ludo os enche de
gôzo. Nenhum dêles porém ousa pregunlar-lhe quem
é; sabem que é o Senhor ( 1 ). Contentam-se com
adorá-lo, e gozar em silêncio da sua divina conversa­
ção, da doçura do seu olhar... Uma alma abrasada

(1) Nemo audebol discumbenlium inlerrogore eum : Tu quis


es? scienles quio Dominus esl. Joon. XXI, 12.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES �ACERDOTAIS

no amor de Deus, e entregue à contemplação das


suas grandezas, só pode admirar; perde-se tranqüila­
mente nêsse oceano de perfeições, que descobre. E' o
comêço da posse da suma felicidade, é, já na terra,
uma torrente de delícias; é. que será na bemavenlu-
rança?
- Colóquio com Nosso Senhor. - Adorai o seu
poder e sua bondade, que provêem às necessidades
de tõdas as crialuras; adorai ainda mais essa Provi­
dência Ião solícita e extremosa para com seus minis­
tros. - Dai-lhe graças pelos socorros particulares,
que vos tem concedido liberalmente. - Entregai-vos
em suas mãos, e cuidai unicamente em glorificá-lo,
ganhando-lhe corações.

Resumo da Meditação

I. Confemplar as pessoas. -Os apóstolos, que


viviam do trabalho de suas mãos. Parecem tristes
por lerem sido inúteis seus esforços. - O Salvador:
ei-lo na praia; vem consolar seus queridos apóstolos.
O' meu Deus, quando me julgo desamparado de vós,
estais perto de mim.

II. e III. Considerar as acções, ouvir as pala­


vras. - Jesus procura incessantemente penetrar-nos
destas duas verdades tão impodanles: vela constan­
temente pelos nossos inlerêsses, e nunca sua assis­
tência nos faltará; mas por nós mesmos não podemos
nada; humildade e confiança. Como os apóstolos,
confessemos nossa miséria. Confiados na palavra
do Salvador, que �bundanle pesca! S. João exclama:
E' o Senhor I Êle era mais puro que os outros ; re­
conheceu a Jesus primeiro que êles. S. Pedro lan­
ça-se ao mar. Os companheiros veem na barca. Há
dois caminhos para ir a Jesus; sigamos o que êle
nos indicar. Admiremos porém o fervor de Pedro;

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PATROCÍNIO DE S. JOSÉ 363

nada apressa tanto os progressos na perfcição, como


a generosidade. é. Oue se passa na praia? 1 Oue re­
feição aquela, preparada, servida por Jesus Cristo 1
e. Oue se passa na alma dos apóstolos, emquanto
tomam a refeição milagrosa? Admiremos a ·eslremosa
bondade do Salvador em favor daqueles que deixa­
ram tudo para o seguir.

LXII MEDITAÇÃO
Patrocínio de S. José

A confiança que merece um proleclor, mede-se


não só pelo poder de que dispõe e pela afeição ptlra
com os seus protegidos, �as também pelo que pode·
e quer f azer para felicidade dêles. Estas duas. consi­
derações nos levarão a apreciar a vantagem que nos
advém do patrocínio de S. José. Depois veremos
como poderemos alcançar essa protecção.

1. «'.Üu11l é'no céu o v11limenlç, de S. José?


li. «'. Ou11n(o devemos conllar 1111 11feiçiio dês!e grande S11nlo?
Ili. «'. Oue devemos fazer para aumen!11r o llm!Jr que êle nos lem?

I. Qual é no céu o valimento de S. José. -


A idéia que dêle nos dá a Igreja, e os ministérios
que exerceu, dão-no-lo a conhecer..
1. ° Consultando o oÍício das duas festas princi­
pais que celebramos em honra de S. José, e sobre­
tudo o do seu Patrocínio, que notamos? é. Oual é
por assim dizer, o seu pensamento dominante? Po­
de-se formular dêste modo: Poder sem limites dado
no céu ao casto espôso da Virgem Mãe, figurado

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
366. MEDITAÇÕES SÁCERDOTAIS

por aquele poder que leve o antigo José do Egiplo.


Rezando o ofício dêste dia, julgamos ouvir o Senhor
dizendo aos filhos da sua Igreja o que Faraó dizia
aos egípcios, que aflitos recorriam a êle: • ld� a
José ; depositei nas suas mãos a minha autoridade;
êle é o dispensador das minhas graças; pode valer­
.vos tanto como eu•. Consfifuif eum dominum do­
mus suae, ef principem omnis possessionis suae. Pois
isto é o que a Igreja repete, manifestando a sua ale•
gria : Alleluia, Alleluia ! Tai é o juízo que ela quer
que formemos àcêrca do valimento dêste admirável
Santo, valimento que é a conseqüência dos ministé­
rios e cargos que exerceu.
2. 0 Deus tinha na terra um duplo tesoiro, objeclo
de tôdas as suas complacências : Jesus, seu Filho
muito amado, e Maria em cuja bôca a Igreja põe as
palavras do Espírito Santo: • Deus me possuiu desde
o princípio dos seus caminhos•. é. Oue fêz o Senhor
com relação a S. José? Confiou.lhe êsse duplo e
inapreciável tesoiro: consliluíu•o chefe d.a sua fa.
mília, senhor da, sua casa, e de ludo o que possuía
de mais caro : Consfifuif eum principem omnis pos­
sessionis suae; deu.lhe sôbre Jesus os direitos de
um pai sôbre seu filho, e sôbre Maria os direitos de
um espôso sôbre sua espôsa.
Nunca direitos alguns foram mais religiosamente
respeitados; porque nunca houve filho mais obediente,
nem espôsa mais submissa. Ora, é. quem poderá
persuadir.se de que êstes gloriosos títulos de S. José,
aos quais esteve ligado tão maravilhoso poder na
terra, sejam desconhecidos· de algum modo, desde
que está no céu ? Pensar que êle para com Jesus
que o trata.va por pai, e para com Maria, de quem
era verdadeiro espôso, já não tem outro valimento
senão o que resulta de uma eminente santidade, é.não
seria admitir que ào enfrar na morada da glória,
perdeu os mais belos florões da sua corôa, e que

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PATROCÍNIO OE S, J08É 365

achou uma espécie de castigo naquilo que é para os


outros a mais magnífica recompensa? Daqui vem
o sentimento lãa bem fundado, que atribui ao pai
adoptivo de Jesus um poder de intercessão, que não
conhece limites. Se há santos e sábios Doutores que
julgam com razão que Maria se chega ao trôno de
seu Filho mais como soberana do que como supli­
cante (1): outros, falando de S. José, afirmam que os
rogos. de um tal espôso e de um tal pai são precei­
tos para Maria sua espôsa, e para seu Filho Jesus;
e que, muito longe de o ler privado dos privilégios
que linha na terra, Deus os completou e consumou
no céu (2). E também afirmam que alguns bemaven­
turados só se invocam para certas doenças ou neces­
sidades mais restritas, como se o poder de nos so­
correr estivesse repartido entre êles; porém que
S. José recebeu o poder universal de nos assistir
eficazmente em lôdas as necessidades do corpo e da
almo (3); emfim que, como o Filho de Deus nunca
recusou coisa alguma a. S. José, seu pai adoptivo,
emquanfo viveu dependente dêle, com maior razão
lhe concede tudo o que pede para nós, agorp que
e,slá sentado à mão direita de seu elerno Pai lá no céu.
Daqui nasce também o convite que nos faz a
Igreja, para recorrermos ao segundo José com tanta
confiança, quanta tinham os egípcios, quando diziam
ao primeiro : 511/us noslr11 in m11nu fu11 esf; respice
nos fonlum, ef fl1eti serviemus regi. Mas, e. conse­
guiremos nós .que êle nos atenda?

(1) S. Pelri D11m. Serm. I in N11tiv. B. M. V. 1


(�) Dum vir, dum p11ler oral uxorem el nafum, veluf imperium
repulalur. Gerson. - Profeclo dubilandum non etil quod Chrisfus
familiarilalem, reverentiam, alque sublimissimam dignitalem, quam
illi exhibui{ dum agerel in humanis, lanquam filius palri suo, in coelis
ulique non negavit, quin polius complevit et consumm11vil. S. Ber­
nardini Serm. I de S. Joseph.
(ª ) S. Thom.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
36G MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

li. Ouanfo devemos confiar na afeição dêsfe


grande Santo. - Consideremos a sua bondade, a
sua caridade, o seu zêlo.
Tudo é previsto n·os desígnios de Deul?. Quando
criava o coração de S. José, criava o coração do
espôso de Maria, o coração do pai adoptivo de
Jesus. Oueria que houvesse nesta trindade visível,
Jesus, Maria e José, uma conformidade de afeclos
que se assem_elhasse ã que une as três divinas pessoas
da Trindade invisível e eterna. O coração de José
foi formado segundo o Coração de Jesus e de
Maria, e é sob êste aspecto que devemos considerar
êste assunto, para compreendermos, quanto possível,
as perfeições de que foi adornado, quais são ·a forta­
leza de alma e a elevação de sentimentos, indispen­
sáveis aos que leem grandes destinos a cumprir; mas
principalmente a sensibilidade, a terna compaixão, e
a necessidade de fazer bem: nobres inclinações de­
senvolvidas por graças extraordinárias e contínuas,
rico tesoiro de virtudes, sôbre o qual trabalhou du­
rante trinta anos o amor agradecido de Jesus e de
Marl�. l E poderiam êles recompensar melhor o seu
desvelo em servi-los, do que aumentando incessante­
mente a sua caridade, tornando sempre mais perfeita
a semelhança do coração de S. José, com o seu
próprio Coração ?
Preguntar se devemos confiar nas disposições
favoráveis de S. José, se quer com todo o seu po­
der, auxiliar os cristãos a salvar-se, os sacerdotes e
os pastores de almas a estender o reino de Deus,
.�alhando na salvação das almas, é, preguntar se
somos amados de Jesus e Maria, porque dos seus
corações é que êle recebeu os sentimentos que !em
para connosco; é preguntar se um bom pai deseja a
felicidade de seus filhos, pois S. José adoptou-nos a
todos em Jesus Cristo, cujos membros somos, em
Jesus Cristo que se digna chamar-nos seus irmãos;

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PATROCÍNIO DE S. JOSÉ 367

emfim é duvidar do zêlo dêsle grande Santo. Desde


o momento em que o Anjo lhe revelou o mistério
da Incarnação, realizado no seio de sua àugusta
espôsa, a sua vida foi uma contemplação contínua.
i E que contemplava êle senão o imenso amor de
Deus para connosco, personificado no Verbo divino
feito carne?" Sic Deus dilexil mundum! Oh! quantas
vezes lhe sa"iria do coração- êsle grilo de admiração t
Ouando olhava para o divino Menino reclinado
no presépio, nos braços de sua. Mãe, nos seus;
quando o via crescer ante seus olhos, e mais tarde,
participar dos seus ·humildes trabalhos; quando o
ouvia em celestes colóquios, manifestar-lhe o que
viera fazer ao mundo, o que sofreria pela glória de
Deus e salvação das almas·; é. não eram novas ch·a­
mas, que lhe aumentavam incessantemente o amor
que linha a Deus e aos homens?
Mal conhecemos a caridade· de Jesus Cristo para
connosco, se ignoramos que êle nada fêz e nada pos­
suiu na terra que não fôsse para interêsse nosso.
Ouis ter mãe e pai na terra, e infundiu-lhes no cora­
ção tanta, afeição para connosco, só para se ver, por
assim dizer, obrigado a conceder aos seus rogos o
que não poderíamos obter por nós mesmos; a Igreja
di-lo positivamente na oração do ofício de S. José:
ui quod possibilitas nosfra non oblinef, ejus nobis
inlercessione donelur. Vamos pois todos a José: fie
ad Joseph; mas não esqueçam os padres, que leem
direito particular à assistência dêste Santo, porque
trabalhando em glorificar a Deus, em fazer conhecer e­
amar a Jesus e Maria, em salvar as almas, realizam
os seus desejos mais ardentes, e executam a obra d1t
sua predilecção.

III. Como podemos aumentar ainda o grande


amor que S. José nos tem. - :Êste grande Santo
socorre até aqueles que o não conhecem, ou que, em-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
3 68 M E D I TA Ç ÕES SACERDOTAIS
_________ _ _ _ _ _ :..._

hora conhecendo-o, não lhe rendem culto; e nisto como


em tud_o o mais, é fiel imitador de Jesus e de Maria;
mas, como êles, tem também uma afeição mais viva,
uma dedicação mais generosa aos que o amam : Ego
diligentes me diligo. Ouanto mais nos mostramos
seus filhos, invocando-o com uma confiança filial,
tanto mais o seu coração se mostra coração de pai.
Sabe-se de que reconhecimento eslava penetrada
S. Te resa de Jesus, pelos favores que dêle recebera.
Depois de ter falado dêles, acrescenta: • Rogo pelo
amor de Deus aos que não me acreditarem, que fa­
çam experiência; e verão quanto é útil recorrer a
êste glorioso patriarca, e honrá-lo de um modo espe-
cial».
Tornemo-lo pois hoje como nosso patrono princi­
pal, nosso melhor e mais íntimo amigo e poderoso
intercessor (1). Deus escolheu-o entre todos· os ho­
mens, para ser seu fiel cooperador no cumprimento
do maior dos seus desígnios (2). O' meu bom pa­
dre, j quão útil vos será o seu concurso em ludo o
que empreenderdes para vossa sántificação, e salva­
ção do próximo I Consagrai�vos a êle, ou renovai
·com fervor o ado de consagração que já fizestes.
Dai-o como pai à vossa família espiritual, como pas-·
tor ao vosso rebanho. Determinai que provas lhe
dareis do vosso amor para o futuro, cada ano, cada
semana, cada dia. Se propagardes o seu cullo com
ardor e pe-rseverança, o vosso zêlo lhe agradará
muito, por lhe oferecerdes ocasião de socorrer as
almas, e sereis recompensado com as bênçãos que
do céu fará descer sõbre vossos trabalhos. Memento
igifur nos/ri, heafe Joseph, ef fuae orationis su.i'ragio

(1) Sume igifur peculiorem luum profecforem, omie um bonum,


infercessorem polenlem sancfum Joseph. Gerson.
(2) Solum in lerris magni consilii coodjuforem fidelissimum.
S. Bernordin.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PATROCÍNIO DE S. JOSÉ 369
é1pud fuum pulafivum filium intercede, sed ef bea­
fissimam Virginem sponsam fuam .nobis propifiam
redde (1).

Resumo da Meditação

l. l Oual é no céu o valimento de 5. José?­


A idéia que dêle nos dá a Igreja, e os cargos que
exerceu na terra, dão-no-lo a conhecer. A Igreja
acha a imagem do poder de S. José, no poder do
antigo José do E.gipto. Deus consfifuiu-o senhor da
sua casa, e superintendente de ludo o que possui.
Deus linha então na terra dois tesoiros verdadeira­
mente inapreciáveis: Jesus e Maria. Deu a José,
com relação a Jesus, os direilos de um pai sõbre
seu filho; e com relação a Maria, os de um espõso
sõbre sua espõsa. Nunca direitos alguns foram mais
respeitados na terra. <'. Julgaremos que o sejam me­
nos no céu? Daqui nasce o sentimento Ião bem fun­
dado, de que S. José tem todo o poder sõbre o Co­
ração de Jesus e de Maria. Daqui o convite que
nos faz a Igreja, para recorrermos ao segundo José
com lanla confiança como tinham os egípcios, quan­
do diziam ao primeiro: A nossa sorle eslá nas vos­
sas mãos; ãlendei-nos e seremos s11lvos.

II. Oue uso quer êsle grande Santo fazer do


seu poder para connosco. - Consultemos sua bon­
dade, sua caridade. seu zêlo. O coração de S. José
foi formado segundo os Corações de Jesus e de Mas
ria; porque tudo é previsto nos desígnios de Deus.
O amor reconhecido do filho e da espõsa não ces­
sou de trabalhar, durante trinta anos, em aumentar a
santidade de José, para o recompensar do stu ardor

(1) S. BernarJin. Sen. Serm. 1 de Joseph.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
370 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

em servi-los. e. Oual foi a recompensa dêste fraba•


lho? e. Quanto não aumentariam a caridade, o zêlo,
e tôdas as virtudes dêste bemaventurado patriarca?

Ili. Podemos aumentar ainda o vivo amor que


S. José nos tem. - Ê.le tem particular afeição aos
que o 'hmam e honram. Ouanto mais nos mostrar­
mos seus filhos, mais seu coração se mostrará para
nós, coração de pai. 1 Oue prodígios não veem con­
firmar nos nossos dias o que Santa Teresa escreveu a
êste respeito! e. Oue provas lhe daremos nós para o
futuro, da nossa devoção?

LXIII MEDITAÇÃO
4-.0 Domingo depois da Páscoa. -Jesus aparece
aos apóstolos ( 1) num monte da Galiléia.
- Missão que lhes dá

1. O seu amor para com os homens defermina esfa missão.


II. A sua omnipofência protege-a.

1. O amor de Jesus Cristo para com os h�.


mens determina o objedo da missão apostólica. -
e Partiram os onze discípulos para o monte da Gali­

léia, como Jesus lhes tinha ordenado; e vendo-o,


adoraram-no• (2). Alguns porém duv_idaram ainda

(1) ,Ainda que 5. Mateus só fala dos apósfolos, (em-se por


muifo provável, e é esta a opinião de 5. Jerónimo, que foi nesla
ocasião que Jesus Crislo se mostrou a mais de qui�henlos discípu­
los. Visus esf plusquam quingenfis fralribus simul. I Cor. XV, 6.
(2) Maflh. XXVIII, 16, 17.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4. 0 DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA :m.
de que fôsse verdadeiramente o Senhor. Mas era
uma dúvida de espanto e admiração, qiie não e in­
teiramente livre, e que bem de-pressa ia dissipar-se.
Adorai o Salvador rodeado dos apóstolos; crêde fir­
memente, ouvi com respeito o que êle lhes manda.
• Foi-me dado todo o poder no céu e na terra; ide,
instruí todos os povos, bapfizando-os em nome do
Padre e do filho e do Espírito Santo, ensinando-os
a observar tôdas as coisas que vos lenho mandado•.
Pela sua ressurreição é que Jesus Cristo entrou na
posse dêste poder sem limites: Tem-o no céu, para
lá subir, e sentar-se à destra de seu Pai, para enviar
o Espírito Santo, para atrair a si os servos fiéis e
associá-los ao seu reino eterno. Tem-o na terra, para
aqui fundar a sua Igreja, protegê-la, aumentá-la e
perpetuá-la.
Oh I admirável poder I é. Oue outra bôca ousaria
pronunciar estas palavras: Data esf mihi omnis po­
tes/as in coe/o ef in ferra? Não fardará muito que
se vejam verificadas pelos mistérios da Ascensão e
do Pentecostes, e pelos bons resultados da pregação
evangélica: Ef adorabunf eum omnes reges ferrae,
omnes genles servienf ei (1). Oh I poder· infinitamente
amável 1 1 que bem está nas mãos daquele, que se
dignou morrer por nós, e que só dêle se quer servir
para nossa felicidade I l:.le não diz : Ide vingar a mi­
nha morte, fazei sentir o pêso da minha ira aos que
me crucificaram . . . Diz: • Ide trabalhar na salvação
·dos homens, retirai-os de seus êrros, perdoai-lhes os
pecados ; recebam êles por meio de vós, tôdas as
graças que lhes alcancei, e cujos dispensadores vos
faço. Não limito já o vosso zêlo a uma nação, di­
zendo-vos: ln viam genfium ne abierilis; envio-vos a
lôdas as nações, a todos os povos. Vou subir ao

(1) Ps. LXXI, 11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
37'! MEDITAÇÕRS SACERDOTAIS

céu: ensinai a lodos os homens os meios de lá su­


bir após mim: a fé, o baptismo e a observância de
todos os meus preceitos• .
Tai foi a missão dos apóstolos; tal é a ,vossa, ó
padre I é. Não tendes o maior prazer em continuar Ião
nobres trabalhos? 1 Oue belo encargo o de levar o
nome dê- Jesus por lodo o mundo, de o fazer adorar
por todos os povos, de salvar almas, que êste bom
Meslre tanto tem amado I l Ouem não quereria dis­
correr por tôda a terra, para instruir e conduzir ao
céu criaturas que êle remiu à custa de todo o seu
sangue? Reinar sôbre as almas no tempo, para rei­
nar com elas na eternidade, eis a obra prima da bon­
dade e do amor de Jesus para com os homens.
é. E não é verdade que aqueles que levam a salvação
aos homens, são como que o carro triunfal de Cristo
Senhor Nosso? Et quBdrigBe fuae sBlvafio. Dai
pois graças a Deus pela vossa celeste vocação, e
compreendei o espírito dela: Ouaerere e/ salvum la­
cere quod perieraf.

II. A omnipotência de Jesus Cristo é o sus•


tentáculo da missão apostólica. - • Sabei que eu
estou convosco todos os dias alé à consiimação dos
séculos•. Consoladora promessa I E' um Homem­
-Deus que a faz. Êle acaba de dizer:. DalB esf mihi
omnis poleslBs in coe/o e/ in lerrB, e agora acres­
centa: Ecce vobiscum sum usque Bd consummBfionem
sBeculi. S. Mateus termina o seu Evangelho, comei
Ezequiel a sua profecia: Et nomen ci'!ifBfis ex illa
die: Dominus ibidem ('). Desde aquele dia, o nome
da Igreja fundada pelo Satvador, é: O Senhor está
aqui. Mas, com que presença? l E quais são os
seus efeitos? •

(1) Ezechiel. XLVIII, 35.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4. 0 DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA 373
Prometendo estar com os apóst�los até à consu­
mação dos séculos, Jesus promete estar com os que
continuarem seus trabalhos, como eslava com os
mesmos apóstolos ; e a sua presença será: presença
de direcção, conduzindo-os por meios e caminhos di­
reitos e seguros ; se êles permanecerem unidos, e fo.
rem dóceis às suas inspirações, alcançarão iníalivel­
menle a perfeição que Deus exige dêles, e farão que
as almas alcancem a santidade que .lhes é própria.
Em segundo lugar será presença de atenção e
especial afeclo, desvelando-se Jesus por que não lhes
falte o necessário, quer na ordem temporal, quer na
ordem espiritual. e. Não é verdade que êle é a fonte
de todos os bens? Em terceiro lugar será presença
de prolecção, livrando-os de todos os perigos, fanfo
quanto o exigir o inlerêsse de sua felicidade, e da
missão que tiverem de cumprir. l Oue poderão êles
temer, lendo a Jesus por si e ao pé de si? Pone
me iuxfa fe, ef cujusvis manus pugne{ contra me (1).
Com Jesus achou S. Félis uma defesa contra seus
perseguidores, numa leia de aranha; daqui a origem
destas belas palavras: Praesenfe Chrislo, aranea fif
murus; ahsen/e Chrislo, murus .it aranea. .Em quarto
lugar será presença de poder e fortaleza, fazendo-os
vencer o mundo, o demónio e a carne. e.les podem
ludo naquele que os conforta. O que lhes dá êsle
irresistível poder, é a sua fé e confiança em Jesus
Cristo: Si potes credere, omnia possihilia sunf cre­
denfi. . . Oui speranf in Domino, mulahunf forliludi­
nem; um sanlo Doutor acrescenta: propriam e/ di­
vinam; é o seu amor para com Jesus Cristo: For/is
ui mors _dilecfio: é a sua oração feita em nome de
Jesus Cristo! Si quid pefierilis Palrem in nomine
meo, dahif vobis.

(1) Job XVII, .3.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEIJITAÇÕES SACERDOTAIS

Finalmente será presença real e corpórea na sa­


grada Eucaristia, que faz com que a terra seja para
nós um céu (1). O altar e o tabernáculo são a inex­
pugnável defêsa da Igreja, a fortaleza e a consola­
ção do bom padre: Dominus regi/ me, nihil mihi
deeril. . . Et si ambulavéro in medio umbrae mortis,
non fimebo malã, quoniam lu mecum es. . . Parasfi
in conspeclu meo mensam, adversus eos qui fribulant
me (2).
Eu imagjno que, para me livrar dos meus vãos
temores, o meu Anjo da Guarda me diz o que outro
espírito celeste dizia a um mártir, livrando-o dos seus
tormentos: Gaudeas ef corroboreris in slJpienfia ef
grafia Domini nos/ri Jesu Chrisfi. Ecce enim fecum
esf Dominas. . . Consumma ergo cursam decerfafio­
nis fuae, ef venies ad Dominum nos/rum accipiens
coronam immorfolitafis ( 3). Ou antes é o mesmo Sal­
vador que no silêncio do sanluário, repele aos seus
ministros de todos os tempos a promessa feita aos
seus apóstolos: Ecce ego vobiscum sum usque ad
consummlJfionem saeculi. Emquanlo eu tiver a Jesus
sacramentado, por fraco que eu seja, poderei ludo;
nada me faltará, nada me prejudicará, nada me resis­
tirá. Eu não lemo tanto as minhas profundas misé­
rias, porque mais espero na sua infinita bondade.

Resumo da Meditação
I. O amor de Jesus Crisfo para com os ho­
mens determina o· objedo dá missão que êle dá
aos apóstolos. -.Adoremos o Salvador no meio dos
apóstolos, e oiçamo-lo dizer: Foi-me dado todo o

(1) Mvslerium faciens uf (erra nobis coelum sil. S. Chrys.


Homil. XXIV in I Cor.
(2) Ps. XXII, t, 4, 5. - ( 3) Surius, VII Febr.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4,.0 DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA 375
poder no céu e na ferra. é. Oue outra bôca ousaria
pronunciar estas palavras? Elas verificam-se na As­
censão; no Pentecostes, no triunfo e propagação da
Igreja. Oh I que amável poder I Jesus não diz: • Ide
vingar a minha morte., mas sim: Iae salvar os ho­
mens. Bemdigamos a Deus pela nossa admirável
vocação, e compreendamos o espírito desta vocação
celeste: Ouaerere et salvum lacere quod perieral.

II. A omnipotência de Jesus Cristo é o am­


paro da missão apostólica. - � Eu estou convôsco
todos os dias, até à consumação dos séculos ; e a
minha presença será de direcção, dirigindo-vos para
que possais chegar à santidade, e conduzir as almas
à santidade e felicidade ; será presença de atenção
parlicular, cuidando em que nada vos falte; será pre­
sença de prolt"cção, guardando-vos de lodos os peri­
gos, segundo os desígnios da. minha Providência;
será presença real e corpórt"a na sagrada Eucaristia• .
Quaisquer que sejam as minhas misérias, ó.meu Deus,
não me perturbam lan_to, quanto me tranqüiliza a
vossa bondade.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
376 MEDITAÇÕKS 8ACE:IDOTAIS

LXIV MEDITAÇÃO

As Rogações

Êstes dias de preces solenes, com que a Igreja se


prepara para a Ascensão de Jesus Cristo, recordam­
-nos duas qualidades que sempre leem �islinguido
aos bons sacerdotes..

1. Um grande amor ã or11çiio.


li. Um gr11nde zêlo em inspir11r -êsle amor.

1. Os bons padres distinguiram-se sempre­


pelo amor à oração. - é. E como a não hão de
amar ? Nela encontram tôda a honra, tôdas as gra­
ças, tôdas as consolações que podem desejar.
1. 0 Ter entrada com as pessoas importantes,
conversar com elas, ser seu familiar, é uma honra.
aos olhos do mundo. j E que invejas não cria ! ...
Mas é também uma vergonha, quando se contraem
os vícios dessas pessoas, o que muitas vezes acon-•
tece. Porém ter com Deus uma respeitosa familiari­
dade, falar-lhe como um amigo fala ao seu amigo�
contrair hábitos divinos nesta santa comunicação,
é. poderá haver honra mais sublime ou ambição mais.
nobre? Esta honra é de lodos os instantes para o•
bom sacerdote, cuja vida é orar; porque, se não está
incessantemente entregue à oração mental ou vocal,.
como trabalha sempre para Deus, buscando agra­
dar-lhe em ludo, está sempre orando, e cumpre assim
o preceito evangélico: Oporlet semper orare. Esta,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AS ROGAÇÕES 377
oração é um vínclllo sagrado, que o une sempre a
Deus, e o conserva na sua intimidade. é. E que bens
se não acham ligados a Ião grande honra ?
2. 0 é. • Ouereis, diz S. Boaventura, suportar com
paciencia as adversidades e tribulações, superar as
tentações, reprimir vossas más inclinações, conhecer
e evitar as cili;das de Satanás, confortar vossa alma
com bons pensamantos e piedosos desejos, extirpar
vossos defeitos, encher-vos de virtudes, elevar-vos alé
à contemplação e ao gôzo das celestes delícias? -
Sêde homem de oração•. S. Bernardo acrescenta:
• Chegamo-nos muitas vezes ao altar com tibieza e
secura; mas, se nos aplicamos à oração, e persisti­
mos em orar, de-repente a graça derrama-se sôbre
nós, o nosso peito dilata-se, e as águas benéficas da
piedade inundam-nos o coração,. Santo Agostinho
afirma que os nossos progressos na santidade seguem
exaclamente os nossos progressos na oração. Recle
novil vívere, qui recfe·novif orare.
O bom padre nada pede às criaturas fracas e
pobres como êle; espera tudo de vós, ó meu Deus 1
Confiastes-lhe a chave dos vossos tesoiros: a ora­
ção; serve-se dela para os abrir e aproveitar-se dêles.
O bom padre sabe que empenhando a vossa divina
palavra: Petife ef accipiefis; prometendo com jura­
mento: Amen, amen dico vobis: empenhando, por
assim dizer, a mesma pessoa de vosso filho, pois
que dando-no-lo, nos destes já todos os bens; impon­
do-nos o preceito de orar, vos impossibilitastes de
rejeitar as nossas preces. Êle conhece as vossas
promessas, a vossa ponlualidade em cumpri-las, e as
inesgotáveis riquezas da vossa graça em favor de
todos aqueles que vos invocam : Dives in omnes qui
invocanf illum. Não ignora finalmente que, ainda
mesmo que nada tivésseis prometido, só a nossa con­
fiança vos obrigaria a socorrer-nos e a salvar-nos,
porque esta confiança honra-vos e mostra-vos que

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
378 IIIEDITAÇÕES SACERDOTAIS

~conhecemos bem o vosso nome (1): nome amabilíssimo


com que quereis que comecemos a nossa oração :
Paler nos/er.
3. 0Daí as consolações ligadas � oração: Tris­
lafur aliquis vesfrum? Orei (2). Oh I que alívio
sente uma alma atribulada, quando se lança no seio
de Deus, como um "filho nos braços de seu pai, e lhe
conta çs suas mágoas, lhe mostra as suas feridas e
Jhe expõe o motivo dos seus receios 1 . . . é. Não é
certo que esta confiança cheia de amor faz o encanto
das npssas comunicações com Deus? Não há dúvida
que a oração enche o coração de inefáveis delícias,
pcis tem convertido muitas vezes um deserto horrível
num verdadeiro paraíso. é. Oue vida mais feliz que a
dos Paulos e dos Antônios no deserto? é. E não era
à oração o que· constituía a sua felicidade?
Um Santo e fundador de uma Ordem Religiosa,
imaginando a contradição mais penosa e o desgôsto
mais cruel que lhe podia sobrevir, afirmava que, se
Deus lhe enviasse essa prova, um quttrto de hora de
oração bastaria para sua alma serenar e recobrar a
paz. S. Bernardo escrevia a um homem que hesitava
-entre o retiro e o mundo : Oh! se conhecêsseis,
ainda mesmo por leve experiência, o deliciosCil gôsto
do pão celeste, de que há tantd abundãncia em Jeru­
salém, de boa vontade deixaríeis aos homens mun­
danos suas vãs consolações!
Um bom padre, digno dêste nome, nunca separa
da sua causa· a das almas, cuja salvação lhe está
confiada. Ouer que elas possam dar-lhe êste teste­
munho no último dia: Vere languores nos/ros ipse

(1) Ouoni11m in me sper11vi!, liber11bo eum. Pro!eg11m eum,


quoni11m cognovi! nomen meum. Ps. XC, 14. - lnvoc11 me in die
lribul11fionis: eru11m !e,. e! honorillc11bis me. Ps. XLIX, 15.
(2) J11c. V, D.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AS ROGAÇÕES 379

tulil. Por isso a oração com a pregação foi em


todos os tempos a arma mais poderosa do zêlo
apostólico: Nos vero oralioni et ministerio verbi ins­
tantes erimus (1). O espírito de oração é para nós
graça de estado; é um dos efeitos da imposição das
mãos; ai I de mim, se já não sinto sua influência sa­
lutar! E' tempo, que eu fome para mim a advertên­
cia de S. Paulo a Timóteo: Admoneo (e, ui ressus­
ci/es gra/iam Dei, quae est in fe per imposifionem
manuum mearum (2).

II. Os bons padres leem-se sempre distinguido


pelo seu zêlo em inspirar o amor da. oração. -
O abandôno da oração tão generalizado, é uma das
chagas mais deploráveis da nossa época, e um dos
sintomas mais assustadores do mal que a atormenta.
A oração é a alma da religião, e o grande meio de
salvação concedido ao homem. E' uma confissão do
meu nada, uma protestação pela qual adoro a Deus
como sendo o árbitro de lodos os destinos, como
bastante poderoso para me dar o que lhe peço, se
êle quiser, e bastante bom para querer dar-me o
que lhe peço. Orando, confesso que não posso so­
correr-me a mim mesmo, nem ser socorrido eficaz­
mente pelas criaturas, fracas como eu; mas que me
atrevo a esperar ludo do seu poder sem limites e da
sua infinita bondade. é. Não é êle honrado como de­
seja sê-lo com êste testemunho da minha dependência,
da minha confiança, do meu amor, e emquanto oro,
não deverei esperar ludo dêle?
Santo Agostinho, explicando o versículo do salmo
63: Benediclus Deus, qui non ,amovif orafionem
meam ef misericordiam suam a me, diz : • Há uma
aliança eterna entre a oração do homem e a miseri-

(1) Acl. VI, 4. - (2) 11 Tim. 1, 6.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
380 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

córdia do Senhor. Não deixeis de orar; e Deus não


apartará sua misericórdia de vós• . Mas se eu deixo
de orar, l pode restar-me alguma ·esperança de salva­
ção? l Recebe Deus de mim o menor culto? Um
Deus, a quem eu não oro, é um Deus, sem o qual
creio poder passar; l será êle um Deus para mim ?
• Senhor, quando vos invoco, é que eu conheço que
sois o meu Deus : ln quacumque die invocavero te,
cognovi quoniam Deus meus es. ( 1 ),
Eis aqui o que enche de amargura a alma de
todos aqueles que amam a religião e os seus irmãos:
os homens dos n-ossos dias já não oram. Eis flqui o
que excita os bons padres a falar freqüenlemerrle da
oração, a demonstrar seu poder, sua necessidade,
sua facilidade, a explicar suas condições e diferentes
formas. l Já lêmos com atenção o que diz S. Afonso
de Ligório em seu opúsculo, a lmporffmcia da Ora­
ção? Começa assim :
• De todos os escritos espirituais que lenho publi­
cado, êsle é certamente um dos mais úteis, porque a
oração é um meio indispensável e seguro para obter
a salvação. Quisera que me fõsse possível mandar
imprimir tantos exemplares dêsle livro, quantos cris­
tãos hã na terra, pô-lo nas mãos de lodos, para que
nenhum houvesse que não compreendesse quão ne­
cessário nos é orar para sermos salvos. O que me
aflige, é que se fale disto Ião poucas vezes nos ser­
mões e exortações, e que se não insista a êsle res­
peito nos livros de piedade • . Concluindo, acres­
centa: 1 • Quantas pobres almas pecam, continuam a
viver no pecado, e se perdem, porque não oram 1
O que é. ainda mais deplorável, é que hã poucos
pregadores e confessores que excitem ao uso da
oração . . . Eu por mim digo muitas vezes e repelirei

(') Ps. LV, 10.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AS ROGAÇÕES 381

sempre, que todo o negócio da salvação depende da


oração, e lodos os pregadores no púlpito, lodos os
confessores no sanlo tribunal, deveriam inculcar so­
bretudo a oração; desejara que repelissem conlinua­
menle: Orai, orai e não cesseis de orar, porque, se
orardes, tendes segura a salvação ; se não orardes,
a vossa condenação eterna é certa • .
No altar, suplicai a Nosso Senhor que infunda
no coração de lodos os seus ministros o espírito de
graça e de oração: EH'undam super domum Da­
vid.. . spirilum graliae el precum: para que daí se
infunda em lodo o corpo da Igreja. Disto depende a
salvação.

Resumo da Meditação

I. Os bons padres feem-se sempre distinguido


pelo seu amor à oração. - Ela obtém-lhes tanta
honra, tantas graças, tanta consolação ! ... - l Oue
coisa mais honrosa para o homem, do que falar a
Deus, como um amigo ao seu amigo? Esta honra é
conlínua para o bom padre que se entrega sempre ã
oração vocal ou mental. - Acha lodos os bens que
deseja, na oração: paciência, luz, fôrça, ele. Os
nossos progressos na santidade, são proporcionados
aos nossos progressos no exercício da oração. -
Oh! que consolação sente uma alma oprimida sob o
pêso das suas misérias, em poder lançar-se no seio
de Deus, como um filho nos braços de seu pai I E' a
oração, que tem convertido horríveis desertos em
paraísos terrestres. O pastor necessita tanto de orar
pelo seu rebanho, como por si.

II. Os bons padres leem-se sempre distinguido


pelo seu zêlo em inspirar o amor da oraçã�. -
O abandôno desta santa prática é a chaga da nossa
época. A oração é a alma da religião e o grande

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

meio de salvação concedido ao homem. Sem oração,


não há religião. Um Deus, a quem eu não oro, é
um Deus, sem o qual julgo poder passar; não é já
um Deus para mim. Eis o que excita os bons padres
a falar com freqüência sôbre êste assunto. Se eu
inspiro ao meu povo o amor da oração, ponho-lhe
na mão a chave do céu. Convém que se leia o opús­
culo de S. Afonso de Ligório sôbre a lmporffmciél
da OrBção.

LXV MEDITAÇÃO

Ascensão de Jesus· Cristo. - Medifélção


de S. Boavenfurél

A contemplação dêste mistério acha-se no II vo­


lume, a páginas 563. Mas êste assunto é tratado
com tanta unção pelo Seráfico Doutor, que nos pa­
rece útil dar aqui a substância da sua meditação.
Pode dividir-se assim:

1. Úllimos prep11rn!ivos p11r11 o mislério d11 Ascensiio.


li. Re11liz11çiio dêsle mislério.

1. Jesus acaba de preparar os discípulos para


o mistério da sua Ascensão. - A ternura e bon­
dade de Nosso, Senhor tinham-lhe conciliado tanto
a afeição dos discípulos e principalmente dos após­
tolos, que não podiam resignar-se a separar-se dêle.
Em vão lhes dissera que ia preparar-lhes moradas
na casa -de seu Pai, e que lhes convinha que êle
fõsse; só a idéia da sua ausência, ainda mesmo tem­
porária, enchia-os de tristeza. Tendo pois chegado o

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASCENSÃO DE JESUS CRISTO 383
quadragésimo dia depois da sua ressurreição, tomou
consigo os santos patriarcas e os .outros justos, que
tirara do limbo, e veio ler com os apóstolos que es­
tavam no Cenáculo com sua Mãe e os outros, e apa­
recendo-lhes, quis, antes de subir ao. céu, comer com
êles, como prova do seu amor. Emqucmlo lodos par•
ticipavam com grande júbilo dêsle último banquete
com seu Mestre, o Senhor Jesus diz-lhes: • E' che­
gado o tempo de eu voltar para aquele que me en­
viou; mas vós permanecei nesta cidade, até que se­
jais revestidos da virtude do alto. Depois ireis por
lodo o mundo pregar o meu Evangelho, baptizar os
crentes, e me sereis testemunhas até aos confins da
terra•.
Todos êles comem, conversam e gozam da pre­
sença do seu Senhor; mas não obstante isto, per­
turba-os a sua partida. é. E que dizer de sua Mãe,
que comia ao lado dêle? é. Não é crível que, ouvindo
anunciar esta partida, ela recline cheia de ternura
maternal, sua cabeça no peito de Jesus? é. Não linha
ela mais direito a isso que S. João? E diz-lhe ba­
nhada em lágrimas : • Meu Filho, se quereis partir,
levai-me convôsco •. E o Senhor consolando-a, lhe
responde: • Peço-vos, minha querida Mãe, que vos
não aflijais, porque vou para meu Dai; e vós_ convém
que fiqueis ainda algum tempo na ferra, para confor­
tar os que crêem em mim; depois, virei ler convõsco
e vos levarei para a minha glória•. Então sua Mãe
disse resignada: • O' meu Filho, seja feita a vossa
vontade I Eu estou disposta a ficar e a morrer, em
favor dessas almas que remistes com o preço do
vosso sangue; mas lembrai�vos de mim • . O Senhor
consolava-a, assim como à Madalena e aos discípu­
los, acrescentando: • Não se perturbe vosso cora­
ção, não vos hei de deixar órfãos. Vou, e hei de
voltar a vós, e estarei sempre convôsco•, Finalmente
diz-lhés a lodos, que saiam e se dirijam para o monte
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACl!RDOTAIS

das Oliveiras, porque dali se elevaria ao céu; e de­


sapareceu. Sua Mãe e os oulros partiram logo para
êsse monle, onde o Salvador lhes apareceu de novo.

II. Realização do mistério da Ascensão. -


Considerai alentamente o Mestre, os discípulos, e
tudo o que se passa. Estando cumpridos lodos os
mistérios, ·o Senhor Jesus abraça sua Mãe, e diz-lhe
adeus, e sua Mãe estreita-o ternamente nos braços.
Os apóstolos, Madalena e lodos os outros prostram-se,
e desfeitos em pranto beijam com ternura seus divi­
nos pés. :Êle levanta com bondade os apóstolos e
abraça-os. Então começa a elevar-se ao céu por sua
própria virtude. Vendo-o elevar-se, todos se pros­
tram de novo. Nossa Senhora dizia : • Meu aben­
çoado Filho, lembrai-vos de mim• . Ainda que cho­
rosa, experimentava urna íntima· alegria: seu Filho
subia ao céu com tanla glória I Por sua parte
os apóstolos e discípulos diziam: • Senhor, nós re­
nunciámos a tudo para vos seguir; lembrai-vos de
nós•.
E Jesus, com as mãos levantadas, o rosto ra­
dioso, coroado e vestido como um rei, eleva-se
triunfalmente ao céu I Então, abençoando-os, diz­
-lhes: • Sêde constantes, tende coragem, porque
estarei sempre convôsco • . E subia, levando após
si aquele exército de escolhidos, a quem abria o
caminho do céu, segundo a profecia de Miquéias:
Ascendei pandens iler ante eos (1). E' assim que o
Senhor cheio de glória, vestido de branco, com o
rosto alegre e radiante, os precedia. E êles cantan­
do, transportados de júbilo, seguiam-no repetindo:
Canlemus Domino qui ascendi! super occasum: Do­
minus nomen illi. - Confileanlur Domino misericor-

(1) Mich. li, D.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASCENSÃO llE JESUS CHISTO
---------
dil1e ejus, ef mirl1hilil1 ejus G/iis hominum. - B�ne­
diclus es, Domine, Deus nosler, qui Sl1Ívos Íl1cis .spe­
ranles in te; deducens popa/um fuum in exulll1tione
e/ elecfos fuos in Íl1efilil1. - Exl1Íli1re super coe/os,
Deus, ef super omnem ferram gloria lua, ul.liberen­
fur dilecfi fui. - lnfroibimus in domum fu,am ef in
conspeclu Angelorum fuorum f!bi psi1/lemus. - Glo­
ril1, Ídus el honor tibi sil, Rex Chrisfe, Redempfor.
- Regna ferrae, cl1nfole Deo, psi1/lite Domino . . .
Todos os coros de anjos, poslos1 em ordem segundo
a sua jerarquia, descem e veem ao encontro de Je­
sus, todos se inclinam profundamente deanle dêle, seu
supremo Senhor, e o acompanham, repetindo hinos e
cânticos inefáveis. E os patriarcas, que seguiam a
Jesus, cantavam e diziam: Alleluia,.alleluia, i1/leluia!
Benedicfus es, Domine, qui sedes super Cherubim,
e/ inlueris ahyssos. Alleluil1, l1Íleluia, alleluia ! -
Dignus es, Domine, omni li1ude e/ honore, i1lleluia,
qui vicloriam gloriose fecisfi, alleluial - Confifeanfur
coeli mirl1hilia lua, Domine, dlle!uia, e/ virlulem lul1m,
alleluil1 ! Ecce nunc ascendunl fribus Domini, i1/leluii1,
ui conlilel1nfur ef dicl1nl fibi alleluil11 Ad laelandum
in li1elilii1 gentis lui1e, ui Íi1uderis cum hl1eredill1le
iud. Alleluil1, i1/leluii1, alleluil1 !
Vêde como duma e doutra parle, lodos honram
o Senhor, se alegram da sua presença, e cantam
sua glória, com o maior júbilo. Assim se realiza o
oráculo do profeta: Ascendei Deus in juhill1fione e/
Dominus in voce iubde.
Jesus vai-se elevando pouco a pouco, para con­
solação de sua Mãe e de seus discípulos, para que
possam gozar dêste especláculo ; depois, por fim,
uma nuvem interpõe-se, e oculta-o a0s olhos de lodos.
Mais um instante, e estará com lodos os anjos e pa­
triarcas na pátria celestial.
Mas, conio a Mãe do filho de Deus e os após­
tolos com os discípulos, ainda que já o não viam, se

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
386
- ---------
- MEDITAÇÕF.S SAf:ERllOTAIS

cànservassem se'mpre de joelhos, com 'os olhos filos


no- céu, foi necessário qüé' dois anjos vies'sem tirá-los
dêsle éxlase, dizendo-lhes: • Varões de ··Galiléiá,
é. porque estais olhando para o céu? Êsle Jesus q·ue
subiu· ao céu :corri lanfa glória e majestade, há de
tornar do mesmo modo à !erra. Voltai para Jeru­
salém, como êle vos· màhdou, e esperai ali o cumpri­
mento das suas promessas;. Nolài esta atenção de
Jesus para com os seus: màl se ocultou aos ólhos
di!les, logo lhes mandou os 'seus anjos, para que 'se
r-,ão canserti em olhar daquela maneira, e para que
sejam confortados com êsle leslemunho dos habitan­
tes do céu, que vem juntar-se ao dêles, àcêrca da
ascensão do seu bom: Mestre.
·Tendo-ouvido estas palvrtIS, a Virgem SS. rogou
humildemen·te àos anjos que a recomendassem a seu
Filho; e os anjos, inclihando-se deante de Maria ·àté
ao chão, receberam de bom grado a sua mensagem.
Os apóstolos, a Madalena e lodos· os mais fizeràm
aos ànjos a mesma peliçãci; e desaparecendo os
santos anjos, voltaram ·todos para a cidade, pera o
monte de Sião, e àli ficaram ·esperandô, com·o o Se­
nhor Jesus lhes ordenara ( 1).
Também eu, ó Jesus, meu divino rei, com a minha
alma cheia• de júbilo e esperança, feliz pela vossa
glória, vos obedeço, e me retiro pare onde vossa
vontade me chama. Elevo-rrte desde ·j'á acima das
coisas terrenas; quero qu·e tddos os meus pensamert­
tos e afeclos estejam no céu: Ubi Chrisfils est in
dexfera Dei sedens. Dedico-me àos trabalhos e ao

(1) ''Auditis ergo fiis verbis, Domino humilifer rogovil on'g,los


ut :eom·recommendorenl filio suo. llli ,,,ero se· usque '11d terrom incli­
nonles eidem, libenfer susceperun,f rnondotun1 , ejtis; simililer apos­
toli, Magdalenfl , �t. qmne;, l)lii dixerunl ,eis. lllis ilaque displlren­
iibu·s; ipsí redie'ri,n( in c:ivifa!i-m ocf mó,ntem 5ion, ibique mÔrllboo-
,for expecltlitles, ui Domln'us 'Jesus manclovei-of 'eis. ' ''• ,·, . ':

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASCENSÃO DE JF.WS· CHUTO 387
sofrimenlo, que são nesle mundo a sorte dos vossos
ministros, depois de..ler, sido a vossa; esperarei com
paciência a feli�idade que lh.es reservais no fim dos
tempos, na vossa triunfante e última ,ascc;nsão.

Resuirto da Meditação

I. Últimos preparativos para .o mistério da


Ascensão. - Tendb chegadà o quadragésimo dia,
Jesus aparece aos seus discípulos que eslavam reü­
nidos no Cenáculo; come com êles, e anuncia-lhes
que' vai subir· ao ·céu: é Ou:e impr.essãb :é.llusa aos
discípulos, .e principalmente a. Maria SS; e.sla ,pala­
vra de põrlida? Depois de os. ler consolado,,diz-Jhes
que se \dirijam .ao monte das. .Oliveiras, onde lh_es
aparece·· de novo.

II. ,Realização , ,do mistério,. ,da . Ascensão, �


Jesus ·despede-se de sua Mãe;, ·lo.dos os discípulos
se prostram banhados erri lágrimas.-, Então o Sei;ihor
começa a elevar-se ao céu. por sua própria virlude.
é Ou ais são as últimas· pala,\lras que lhei .dizem Maria
e os -discipulos ?, Jesus, ·abençoando-os. ia subindo
triunfalmente ao céu_. Tôdas as ordens dos. espíritos
bemaverilurados veem ao seu encontro,., e o :acompa­
nham, fazendo reliPir os ares com seus cânlicos,
Uma. núvem oculta-o qOS olhos, da ferra, ,e.. todos
os espectadores olham para• 0: céu,.. .E' �ecessá�io
que venham dois anjos tirá-los de seu éxlasc; só
então descem do, .mo.nle. e. ·voltam .a. Jernsalém. Tam­
bém eu, .ó meu Rei, ,me entrego :a.os frabaJhos e so­
frimenfos,;. para vós .e. para vossos roinisJrns é o único
caminho, que leva ao ,céu ..

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
388 MEDITAÇÕES SAC�:RliOTAIS

LXVI MEDITAÇÃO
Motivos de alegria que oferece ao bom padre
o mistério da Ascensão
1. A glorificação de Jesus Crisfo;
II. A glorificação do minislério s11cerdo!al;
Ili. A glórit1 prome!ida ao bom padre.

1. O Salvador glorificado em sua Ascensão.


- 5. Lucos termina a narração dêste mistério com
estas palavras, que são também as últimas do Evan­
gelho: Et ipsi ddoranles regressi sunl in JerusdÍem
cum gaudio magno. - Gdudebanf aposfoli propfer
Domini sui glorificalionem, propfer diaboli humilia­
lionem, propler juddeorum confusionem, pr'opter ge­
neris humani faclam redemplionem, propfer angelicde
ruinde reparnfionem ( 1). Nós consideraremos agora
o primeiro dêsles motivos de alegria para o bom pa­
dre: a gloriricação de Jesus Cristo.
Os apóstolos nunca tinham conhecido Ião bem
ao seu divino Mestre, como depois da sua ressurrei­
ção. As diversas aparições e tôdas as circunslãn­
cias da sua ascensão dão-lhes muitas e novas provas
do seu poder e grandeza, mas principalmente da sua
bondade e afeição para com êles. O seu júbilo era
proporcionado ao seu amor; a felicidade de JesuS'
fazia a felicidade dêles. E contudo só tinham visto a
menor parle da sua glória, pois a nuvem havia ocul­
tado aos seus olhos o lado celt'ste do triunfo. Mas
o que lograram ver, abria um vasto campo às suas
meditações: • O Senhor, diz 5. Boaventura, seguido

( 1J Hugo cardin. in Luc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ALEGI\IA NA ASCENSÃO 380

da bemavenlurada e bela escolla que o acompa­


nhava, abre as porias do céu, fechadas alé então
para o género humano, e enlra néle lriunfante. Do­
bra o joelho deanle de seu Pai, dá-lhe graças pela
\ ilória que lhe fêz alcançar sôbre o inferno, e apre­
senta-lhe os cativos, cujas cadeias quebrou. Mas
acrescenta logo: • Prometi a meus irmãos que dei­
xei no mundo, que lhes enviaria o Espírito Santo;
suplico-vos, Pai meu, que deis cumprimento à minha
promessa; eu vo-los encomendo•. Então o Pai le­
vantando-se, faz sentar à sua destra êsle Filho amado,
que Ião nobremente executou os seus desígnios, e
tanta glória lhe granjeou; e diz-lhe que lhe deu lodo
o poder, e que pode dispôr como quiser de tôdas
as coisas, e da missão do Espírito Sanlo.
O mesmo Santo descreve depois como os santos
patriarcas, os profetas e todos os justos são introdu­
zidos no reino eterno, e como cada um dos nove
coros de anjos veem sucessivamente celebrar os lou­
vores do divino Rei, e oferecer-lhe as suas homena­
gens: Omnes exulfonf, omnes gaudenf, omnes juhi­
lanf, omnes manihus olandunf, omnes choriumf, omnes
jucundanfur, omnes · fripudianf. E' verdadeiramente
então que por tôda a parle ressoa, na Jerusalém ce­
leste, o· cântico de alegria, e se ouve o Alleluia (1).
Nunca, desde o princípio do mundo, houve no céu
semelhante festa; nunca a haverá comparável, senão
talvez no dia de juízo, quando os escolhidos lá en­
trarem com seus corpos gloriosos, e é isto, diz ainda
S. Boaventura, o que distingue tanto esta solenidade,
da maior parle das outras. A Incarnação do Filho
de Deus, o seu Nascimento, a sua Paixão . . , são
por certo grandes feslas, mãs para nós e não para

(1) Vere nunc in superna Hierusalem audifur canficum laefi­


{iae, ef per omnes vicos ejus ab universis dicilur: Alleluio. 5. Bonov.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
_39_
_0 ___
_ M_1m_lTA90ES SAC1mnoTAIS

êle, porque só· achou nestes mistérios · humilhação,


pobreza, ·sofrimento Sua ressurreição é uma festa
maibr, tal'lto · para êle como para nós, pois nela lrian­
fou 'dá"morle, e. nós fômos justificados,; mas a-pesar
dêste triunfo;· êle não eslava ainda sentado ·à direita
de seu Pai•,: no trôno de sua glória; a-pesar da nossa
justifitação, o ceu não eslava ainda aberlo para nós.
Tôdàs esléi's coisas se cumpriram no dia da sua.
ascensão. Sem êste mistério a glória do Redentor
ficaria' imperfeila. • A alma que ama sinceramente,
a ,Jesus, Cristo, deve pois alegrar-se mais neste :dia
do qúe ·em outro qualquer do ano. Por isso, êste
b<!Jm' Mestr� dizia,, ·li seus discípulos: Se vós me
am'ásseis, cer!amenie havíeis de folgar 1 de que eu vá
para o Pai• (1); Mas há nesta festividade um mo­
Hv,o. de alegria particular para os padres.

II. O ·minislério sacerdotal glorificado· no mis...


(ério da Ascensão. - S. Paulo junta a ascensão de­
Jesus Grislo à dignidade de seu sacerdócio: Prae0
cursor pro nobis inlroivif Jesus, secundum ordinem
Melchisedech, pontifex facfus in aelernum (2). En­
trou no céu, para lá reinar à destra de seu Pai, e
exercer elernamenle em nosso proveito as funções
de medianeiro e de ponlífice: Novi Tesfaménfi me­
dinfor esf . , uf repromissionem accipianf qui vocafi
sunf aefernae haeredifafis. Unde ef salvare in per­
peluum potes! accedenfes per semefipsum ad Deum,•
semper vivens ad inlerpellandum pro nohis (3).
O' padre, vós sois o minis Iro dêste grande Rei: -Sic

(1) Anima quae bene diligeref Dominum Jesum magis hodie


exultaref, quam in aliquo die anni. Unde ipse dicebaf discipulis
suis: Si dili�erelis me, gauderelis ulique, guia vado ad Palrem .
S Bonav.
(2J Heb, VI, 20. --(3) lbid. IX, 15; VII, 25.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
________A��_E!i_f-'-\I_AN�A_s_c_E�N_Ã
i:- _O_,'-.
' _____....;ª-=--9l:

nos exfsfiU1ef homo ul, m/ris(ros Çhr/sfi V). Sois Q


Yigário dêsle divino )Poc,ilífice,;, .é o cpncílio de T1;enlo,i
que vos ,dá 1�01.bel(l J\l uJo: Domjnµs nosfer;Je.sus;
Chrisfu�, e ferr/� , �$censuru� a.</ c9e/os, . S'(Jferdofe� .
.sui ipsius .vicario.s:. religuif..l �). Vós el{erc�is na !errn:
•:J mes.mq sap;rdócio ,q u:e .êle exerce no ç� u , Por;,VÇ>S;
e convôsço éle ado�a, ora,, imola-se,: negçiceia a Pf'!Zi
e a .salvpçãp .de, lqd.9: e:, münd , .Q. /c'.G:de,que f1:1vqres>
:ião gozais vós . em ,cQ_nseqiiên�ia, dê�te ..au gus,to rnjgis�J
tério? ,Jesus con,slilui-,yos .�eu, represenlanti::. e� na-i
terra: .Oui vqs <1�c/il m� twdi(.. Cqnfiaa,VO? ;O p.Iir1
dad.o ,q�; s u a gló.r ii:i, 'qs, lt;so,i�os c,la,,!,Ua graça, ,q:mçerj
denqo-vqs a honr1a de. ps, dis . lri.b u ir ao se u pov,o.,
Disponde� do. se.!,' ;p9der;, aqr\s,, e ningué,m. fecl)a .; , fe�.
chais, e ningu�� i:ibre; ;QµlJecumq!-{e . . alligaver!fis S/h
per .feq,am,. ,�runf ligq/a e! in, 1 ,co.elot; .e:f,guaec,,,1mque,
.solveri(is super ferr,a.m;.; erunf. s,0/4!{:J ef in, COf/o.-,
Aquele que ,sµ�iu ,aq ,mais,.aHo dos ,c,éu,s, çlesce .lodo;:;'
os d.ias �s yo,ssas. ,m.w,s ;. P\i�mi!e'-vc:,sí que pegu ejsr
nêle, qu e o tomeis e deis em alime11lo; .-� e q u e;dir/!;,
mos d.i:i rec;ompen�a. q u e vo�. reserna'.? Si qq/s, inihi
minisfr,c•,pil, honor:iGc:abi( e4m /?<tler meus.,

m. 0
Glória,q, 11e pro�ele a.o bÇttn Pit1.dre o rnis,"":
. . -'-P mi,i;ii. st�rio -:5acerdotal nãq.é;
tério da Ascei;i,sã«:>;
senão 1.Jll)â coqlínt.Jl'I ab,nega,çãq, , urna aceilaçp.o dç,
tôda a s,cirle qe,
.trab,alhos e �ofrjrnenlos p�)a, ,ca11s�!
de Deys e das alnw�: nad,él rpais ..penci�o.pqra a. n\i·
turrza; i m!'ls a que f�li;z lêrmo ,cqnd u z êste \l)inis��::'.
rio! Jes u s escoihe O, sílio q u e foi teatro de SUEIS b u ,-,
milhaçõ.e� pa�a s�r q, de s.eu tr�u.n.fo. Seus discíp11-:
los vin1m-no, agor,ii�qJl[e 90 sopé doimqnle d_as, Oli�
niras; do ,cimo q�sse .i:nonl� v�em-no s.u _bl�. aq çé,11.1
Ele quer penetrá)os foder:i,.eJ1.te ,dçst'e pensamei;ilo,.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

que não há proporção entre os sofrimentos da vida


presenle e a glória eterna ( 1 ). Com efeito, compa­
re-se Jesus agonizante a Jesus triunfante. Ei-lo, vai
ser reconhecido e proclamado senhor do mundo, rei
4-_mortal de todos os séculos l. . . i Oue raios de gló­
ria fizeram desaparecer suas feridas I j Oue elevação
pelos seus abatimentos, que torrentes de delícias por
cada uma de suas lágrimas I Um povo rebelde ousou
dizer: Nolumus hunc regnare super nos. Mas i, que
é isto em comparação de lodo o universo, onde a
pregação · da sua palavra e a publicação dos seus
benefícios· vão submeter-lhe tantos povos? 1 Oue sin­
ceras homenagens e profundas adoraçôes por vãos
desprezos e ultrajes insensatos! 1 Ouanlos altares por
uma Cruz! 1 Ouanlos templos por um Calvário! Mas
onde o espírito humano se perde, e não acha pro­
porção alguma entre o caminho e o lêrmo, é quando
se !rala da duração. Horas, dias, alguns anos na
tristeza e na lula, e uma eternidade no descanso, na
al·egrià e na glória !
·Daí, depois da Ascensão do Salvador, a intrepi­
dez de seus apóstolos, que os faz olhar a sangue frio
para os tormentos, que lhes preparam. Daí o ardente
zêlo com que. vão pregar o seu Evangelho: /Ili au­
fem praedicaverunf ubique. E' porque não perdem
de vista·, diz S. Paulo, o espedáculo de que foram
testemunhas: Aspicíenfes in aucforem lidei ef con­
summalorem· Jesum, qui proposilo sibi gaudio, susfi­
nuif crucem confusione contempla (2}. E' aí também,
ó meu Salvador, que eu quero haurir fôrça e conso-
1-ação : Vivi/ Dominus, non derelinquam /e. Por
muifo feliz !"e dou em padecer por amor de vós neste
mundo, visto que por êste preço vos dignais prome­
ter-me vossa eterna felicidade no outro.

(1) Rom. VIII, 18. -(2) Hebr. XII, 2,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AU:GRIA NA ASCEN�ÃO 393

Resumo da Meditação

1. O Salvador glorificado na sua Ascensão, -


S. Boaventura representa-nos a Jesus Cristo entrando
no céu, cujas porias abre. l Oue acolhimento aí re­
cebe de seu Pai, cujos desígnios preencheu tão bem ?
Os outros mistérios do Salvador: sua Incarnação,
seu Nascimento, etc., são grandes festas; mas para
nós e não para êle, pois êstes mistérios só lhe acar­
retaram humilhações e sofrimentos. Nem mesmo õ
Ressurreição o linha ainda feito sentar no trôno da
sua glória. Sua Ascensão completa a grande obra
da redenção. Portanto êste é o dia de maior alegria
para Jesus Cristo e para tôda a alma que o ama
sinceramente.

li. O ministério sacerdotal glorificado no mis­


tério da Ascensão. - S. Paulo junta a Ascensão de
Jesus Cristo à dignidade do seu sacerdócio. Êle
entrou no céu para aí exercer eternamente em nosso
favor as fu�ções de Pontífice . . . O' padre, vós sois
o vigário dêste Pontífice! Por vós e convôsco, êle
adora, ora, imola-se . . . Confia-vos os interêsses de
sua glória . . . l Oue diremos da recompensa que vos
reserva?

III. Glória que promete ao bom padre o rnis•


lério da Ascensão. - O Salvador escolhe para
teatro de seu triunfo o mesmo local de suas humi­
lhações. Ouer penetrar-nos dêste pensamento: que
não há proporção entre os sofrimentos da vida pre­
sente e' as delicias da vida futura. Contemplemos o
nosso divino Rei. j Oue elevação pelos seus abati­
mentos! 1 Oue templos por um Calvário I Por isso
os apóstolos foram sempre intrépidos depois d6

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEOITAÇÕRS SACERDOTAIS

Ascensão de seu divino Mestre! E' neste pensamento


e no meu amor para convôsco, ó Jesus, que eu
quero buscar dorávanle fôrça e consolação.

LXVII MEDITAÇÃO
O bom padre prepara-se para a festa
do Pentecostes, d!!sejando vivamente
a visita do. Espírito ·santo

A fé, que nos revela o mistério da es�ência divi­


na, parece não nos descobrir nêle senão o mislêrio
d.o amor de Deus para con,nôsco. pois moslra-nos,
as três pessoas da Santíssima Trindade, fazendo
por assim dizer, da felicidade do homem a sua ocu­
pação especial e contínua. E' por causa de nós
que o Pai criou tudo pelo seu poder, e conserva
e dirige ludo pela sua Providência. E' por causa.
de nós que o filho ê Salvador, e o Espírito Sanlo
completa a. o,bra da nossa salvação com as graças
santificantes que nos prodigaliza. E' pois juslo que
rendamos a cada uma das pessoas divinas um cullo
particular, pelos benefícios que recebemos delas.
O tempo de Pentecostes é destinado a pagar esta
dívida ao Espírito Santo. E' êle que sugere à Igreja
as piedosas devoções que ela fomenta ou ordena.
<'. És limamos nós, e pralicamos quanto convém, a
devoção que tem por fim honrá-lo direclamenle?
O bom padre conforma-s,e com a recomendação.
que Jesus Cristo fêz aos apóstolos,. quando se sepa­
rou dêles: Praecepil eis t1b Jerosolymis ne discede-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PAIIA O PENTECOSTES

renf, sed expecforenf promissionem P{J/fis (1); ,desde:


a Ascensão até ao Penlecosles, êle não sai. de Jeru•.
salém; permanece, quanto tempo lhe .é possível no
santuário da sua alma, esperando sempre a promess.a.
Deseja ardentemente a visita do Espírito Sé!nlo, e
chama-o com freqüentes. aspirações:. Ven,i, Crealor:
Spirilus, mentes luorurq visita ... ,é. Ouais são os. moli-,
vos dêsles sa.nlos. desejos í' São:

I. O:s, grandes: bens que espera dessa visifa.


li. A fi.rme .espe�ahça de os obfer, se para ela .se prep�rar, • ..
IIr. O �r�fundo .�en(imenfo da necessidade que fem dessa visifa.

I. .d.s grandes bens que lraz a uma alm(I tt:


visili:t dQ Espírito Santo, primeiro mQtivQ para. ,a:
desejar ardenlemenhi. - Não suce,de, com a frsla do:
Penlecosles·, diz Bourdaloue, o mesmo que com .as
oulras festas do, aiJo, que se limilam a kmbrar-nos,
um mistério, cumprido de uma vez -para. sempre;
quélndo estamos preparados, ela é ,para nós um.e no!va
realização dêste mistério. • O ,mesmo Espírito que
desceu visivelmente sôbre os apóstolos, desce ainda,
actual e verdadeirame,nle sôbre nós, não com o mesmo.
esplendor nem com os mesmos prodígios,. mas com os
mesmos efeitos de .conversão e santificação (2). Puri­
fica-nos, ilumina-nos, abrasa-nos no divino amor , e.
põesnos em estado de, reali:i;ar lodos os desígnios da:
misericórdia do Senhor relalivamenle à. nossa salvas
çào e à de nossos irmãos. E' o dom d.e Deus por.
excelência, donum Dei. Mas pregunla-se: é. Não.
nos deu. Deus seu Filho, e nêle lodos os bens? Sim,,
mas êsle dom inapreciável é o Espírito Santo que
no-lo faz conhecer, que no-lo entrega de alguma
sorle. Pela fé, esperança e caridade, cujo• principio

(1) Act. I, 4. - (2) Sermão do Espírito Sanfo. Exo�d.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MF.:lllTAÇÕF.:S �ACERDOTAIS

em nós é êle, mele-nos de posse de Jesus Cristo.


Aplica-nos seus merecimentos, constitui-nos seus
membros, comunica-nos sua vida, e imprime assim o
sêlo à nossa redenção, que êle completa.
Numa alma justa, êsle adorável Espírito é como
uma fonte dé vida que, por sele admiráveis canais, se
difunde sôbre tôdas as suas potências, e a faz dar
os frutos das mais excelentes virtudes: são os sete
dons do Espírito Santo. 1 Oue preciosos são, prin­
cipalmente para um padre e para um pastor de almas!
5. Pedro caracteriza-os, dizendo: Maxima e/ pre­
fiosa nohis promissa donavif ( '). Chama-lhes pro­
missa, porque por um lado, êles são o objeclo das
promessas divinas, e por outro, são o penhor da
glória, que nos é promelida. Chama-lhes maxima e/
preliosa; e dá uma razão convincente, afirmando que
nos fazem participar da natureza divina: UI per haec
efficiamini divinae consorfes nafurae ( 2 ).
E' o temor füial que torna uma alma timorata e
delicada em matéria de infidelidade, e lhe inspira
sumo respeito para com a divina majestade. - E' o
gôzo espiritual, que a piedade nos faz experimentar
em lodos os exercícios que se referem à honra e
ao serviço de Deus: na meditação, na oração, no
canto dos psalmos, ele. - E' a coragem, a fortaleza,
que nos faz desprezar todos os bens, todGs os ma­
les da vida presente, e nos !orna capazes dos mais
generosos sacrifícios (3). Isto quanto aos !rês dons
que aperfeiçoam a vontade. Os outros quatro, que
operam de um modo imediato sõbre o enlendimenlo,
podem ser comparados, diz um piedoso autor ( 4 ), a

(1) I Pefr. 1, 4. - (2) li Pelr. 1, 4.


e1) Amai, ardei, fervei; calcai omnia quae delectanl, e1 fran­
sil; venil ad aspera, horrenlia, lruculenla, imminenlia ... , ce.lcal,
frangil el (ransif. S. Aug. �
(r,) P. Nouef.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PARA O PENTEr.OSTES 397
quatro línguas de fogo, de· que o Espírito Santo se
serve para nos instruir e dirigir. - Êle fala-nos, ora
como um amigo que dá conselho ao seu amigo nas
ocorrências difíceis, sugerindo-nos um -óplimo expe­
diente para sairmos delas; ora como um mestre que
.nos ensina a mais nobre de tôdas as sciências, a
sciência dos Santos, com a qual nós julgamos dis­
cretamente de tôdas as coisas, dando-lhes exacla­
mente o grau de estima ou de desprêzo que lhes é
devido. Com o auxílio dêsle farol, descobre-se cla­
ramente o nada de ludo o que passa ; vê-se na po­
breza o preço de um reino eterno, nas enfermidades
do corpo a saúde da alma, na -mesma morte um
princípio de imortalidade. - O dom de sapiência
preserva-nos da horrível loucura dos pecadores no
que respeita à salvação; retira as nossas afeições
das criaturas para as levar para Deus; eleva os
nossos ,corações da terra ao céu: Ouae sursum sunl
sapile, non quae super ferram (1). - O dom de en­
tendimento faz-nos peneirar os mistérios e dá-nos
uma luz tão viva, que a fé atràvessa as nuvens; vê-se,
por assim dizer, o que se crê. Tira tôda a obscuri­
dade a essas · verdades práticas, cruciantes para a
natureza: a abnegação e o amor da cruz; faz-nos
compreender como pode achar-se a .felicidade nos
sofrimentos, a honra no desprêzo, e como são os
Santos os únicos que entendem bem o amor de si
mesmos. O' padre, vós recebestes o Espírito Santo;
-é. mas possuí-lo vós com a abundância de seus dons?
Se por -muito tempo o tendes constrangido a conce­
der-vos só uma pequena porção, porque .tardais?
é. Porque não .buscais unicamente tão grande bem?
Mas buscando-o, l achá-lo-eis vós nas festas que es-

( 1) Coloss, Ili, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MET)ITAÇÕES SACi,;llDOTAH!

tão'' pr6ximas? Sim, ·por certo; e é islo o que ·de­


:verá tornar mais ardentes os vossos des·ejos.

II. A •firme esperança .de obter a visita do Es­


pírito Sanh1;-'- Esta esperança funda-se na mesma
natureza do Espírito Santo, em direitos incontestá­
veis, nas pr@me· ssas mais positivas:,
O que: é bom, diz 5. Tomâs, procura difundir-se
e comunitar;se: Bonum dicilur diHusivum sui. Ora,
o ·Espírito Santo é a própria bondade; é; em certo
modo, o Coração de Deus, cujus naf.ura bonitas.
-·E1 por êle que o Dai e o filho se amam e nos
1
amam; alribuem0 seslhe as obràs de amor. Longe de
ser ·avaro ·de seus• tesoiros, não cessa de os oferecer;
· o seu maior gôsto é derramá�los sôbre nós. é Dara
que ·bale ã poria de nossos corações, senão porq1,1e
·deseja entrar nêles? Si quis audier.if vocem melJtn,
ef aperueril mihi jlJnuam, infrabo ad· illum ·( 1). Po­
der0se-ii'I dizer que nos pede que lhe roguemos, visto
que o pensamento e a von'lade- de· lhe· dirigirmos
nossas súplicas, dêle veem. :Faz ainda mais: éle mes­
mo· ora em· nos, e por nós, ·com gemidos inexplicá­
veis · (2). t Corno poderâ rejeitar as orações que êle
provoca e inspira?
Àlém disto, é que fazemos nós, q1:1ando pedimos o
Espírito Santo? Reclamamos um bem que nos per­
tence. Foi-nos obtido pelos 1rabalhos,· pelos sofri­
mentos e morte do filho d& Deus;· por conseguinte
:os··nossos· di.reifos são · certos; 1 mas nós, também,·te­
mos prom·essas que não podem enganar: Sem fal�r­
mos ·de muilas outras, ponderemos a .que se encerra
nestas palavras do Salvador, que S. Lucas · refere:

(1) Apoc, III, 20.


,2) tpse Spirilus postula! pro nobis gemHibus irenarrobilibus.
Rom. VIII, 26. . '·, .. ··''" '

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPAnAç.fo "PARA o' l'ENTECOSTfó:S 3!)!)
• Pois se vós, diz 'aos judeus, sendo maus, sabeis ·dar
boas dâdivas a voss·os filhos, é. quanto ·mais o vosso
Pai celestial dará o seu bom espírito aos que lho
pedirem ? Si vos cum silis m{J/i, nosfis hona d{J{a
dare Bliis veslris, qu{J[ifo m{Jgis f>af�r vésfer de coe/o
dabil spíriliim honum pefenlibus se•? (1} Por'isso b
padre fiel espera com confianta, aà mesmo' le111pb
que pede com ·ardor, : á visita do E'spíriki Santo:
Veni, Cre{J/or Spirlfus, ·mentes fuo'rtim visifo. O qiie
por fim acaba de inflamar seus desejos, é

IH. O prófundó senliinenfo da necessidade


que tem desta \'isita, tanto parfl si, como para ô rni­
nislériô cjue lhe é confiado. · Co·nhete a sua pobre
nalurezi:i, que não tem de' seu senão à ign'orância 'e o
pecado; sabe 'que de si 'não 'pode absàlutamenle
nada, na ordem do salvação. Nemo pofesl dícere,
Domlnifs Jesus, nisíi n Spirifu sBncfo (2). Oh! quanto
lhe tarda :;:er revestido da fortaleza do eito, única que
é capaz de ajudar elkazmenle a nossa fraqueza!
Spirilus {Jdjuv{Jf infirmilafem nosfr{Jm (3): fraqueza
do enlendimentb,' que tem tão pouca· aptidão para a
inteligência das verdades elernas; fraqueza da von­
tade, que não •efha eni sí" se'riãó inclinações opostas
à virtude; fraqueza da memória, que se esquece de
Deus fão fàcilinerite; fraqueza par.a frab'alhar, fra­
queza para padecer, fraqueza para orar, 'pois não
saber:nos o q·ue convém pedir, nem como convém
pedi-lo.
Mas se lodo o verdedeiro cristão necessita de
receber os dons do Espírito Santo: Repie fuorum
corda fidelium, (em que abundância deverá possuí-los
aquele' a qiiem são ·impostas as obrigàções do sater-

(1) Euc. XI; !13.•_,(2) 1 �or, Xll1 -3.


(3j ,_, !R·om1 Wn,.. ,26.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
400 MEDITAc_;ÕES SACEROOTAIS.

dódo? O ministério do padre, diz Santo Ambrósio,


confunde-se com o do Espírito Santo: Munus Spi­
rifus saneli, o{ficium sacerdofis (1). Todo o padre
.deve ser paráclilo, nas .três significeções desta pala­
vra: um homem que intercede, que exorta, que anim�
ou conforta. Do padre, da sua palavra, dos sacra­
mentos que administra, das graças anexas à sua ora­
ção serve-se o Espírito Santo para as suas divinas
operações na Igreja; é pelo Espírito Santo, que o
padre é a luz do mundo, o sal da terra; é por êle
principalmente que é consolador: Spirilus Domini
.super me ... , ui consolarer omnes lugenles (2 ). -
ConsoÍdlur nos in omni fribulafione noslra, ui possi­
mus el ipsi consolari eos qui .in omni pressura
sunl (3 ). Excitai e conservai em vós um ardente de­
.seja de receber tõdas as graças do Espírito Santo.
Não podeis dispôr-vos melhor para as_ festas do Pen­
tecostes. Si/il siliri, diz S. Gregório Nazianzeno;
eis o coração de Deus 1 . .. • Infinito como é, nós po­
demos obrigá-lo. é. E de que modo? - Pedindo-lhe
que nos force e obrigue; porque êle dá com mais
vontade do que nós recebemos• (4).

Resumo da Meditação

I. Os grandes bens que lraz a visilo do Espí­


rito Santo. - Para as almas bem dispostas, esta
festa é a renovação do mistério do Pentecostes.
O Espírito Santo é o dom de Deus por excelência.
Aplica-nos os merecimentos de Jesus Cristo, cons­
titui-nos seus membros, comunica-nos sua vida.
E' como que uma fonte divina, que se infunde na
alma por sele admiráveis canais: são os sele dons

(1) De poenil. lib. 1, e. li. - l2) Is. LXI; t, 2.


(3) li Cor. 1, 4. - ( 6 J Bossuel. Serm. 'da Visitação.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PARA Ó PENTECOSTES iQl
do Espírito Santo. Três dêles aperíeiçôam a vonta­
de: o temor, a piedade, e a fortaleza; os outros
quatro, que são o conselho, a sciência, a sapiência e
o entendimento, operam de um modo imediato sôbre
a inteligência.

li. A firme esperança de obfer a visifa do


.Espírito Santo. - Funda-se na mesma natureza do
Espírito Santo, nos direitos mais ínconleslãveís e nas
promessas mais iníalíveis. - O que é bom, procura
comunicar-se; ora, o Espírito San lo é a própria bon­
dade; é como que o Coração de Deus. -Àlém disso,
pedindo-o, reclamamos o que é nosso; êle foi-nos
obtido pela morle de Jesus Cristo. - Temos também
as promessas que não podem enganar-nos.

III.
O profundo sentimento da necessidade
que temos dela. - Por nós mesmos não podemos
absolutamente nada, em ordem à salvação. Só o
Espírito Santo é que pode ajudar eficazmente nossa
fraqueza 1 . . . Desejemos ardentemente: Deus tem
sede da nossa sêde; e obriguémo-lo, pedindo-lhe
que nos obrigue.

LXVIII MEDITAÇÃO
Procedimento do bom padre nos dias
que precedem o Pentecostes

1. Remove os obstáculos que poderiam 11l11sl11r o Espírito S11nlo.


li. Empreg11 os meios de o 11lr11ir.

1. Remover os obsfiículos à vinda e ao reino


do Espírito Santo em nós: o pecado, o espírito do
mundo, a concupiscência.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

·1.º O pecado é o grande inimigo do Espírito


Santo : contrista-o (1 ), e até o obriga a retirar-nos a
sua luz (2); resfria, quando não destrói, a caridade
que êste divino Espírito derrama em nosso cora­
ção (3 ); contraria todos os seus intuitos. Por con­
seguinte o nosso primeiro cuidado, nestes dias de
preparação, deve ser combater o pecado, cuja mancha
não pode conciliar-se com a infinita pureza daquele
que é como que a personificação da santidade. Os
nossos corações são os vasos destinados .a receber
o precioso licôr da sua graça; comecemos por puri­
ficá-los, nos diz Santo Agostinho: Vas es, sed adhuc
plenus es ..., funde, ui implearis; bono implendus
es, funde ma/um. Pulas quia mel/e vull te Deus
implere, si acefo plenus es? (4 ) O arrependimento
que êle nos inspira é como que o primeiro passo
que o Espírito Santo dá a-fim de nos dispôr para a
sua visita. Afligimo-lo com a nossa ingratidão, afli­
ge-nos com salutares remorsos. Abre os olhos a uma
alma que não via ou linha em pouco as suas infide­
lidades. Lança em rosto a êsse padre, seu ministro
e amigo, a facilidaàe com que lhe faz tantas ofensas
que julga leves. Trazendo-lhe à memória uma vida
cheia de negligências, se não de pecados, prei;iunta­
.)he se os que comete ainda, depois de tantos per­
dões, não deveriam dilacerar-lhe o coração. Excita-o
assim a deplorá-los : Cum a Spirifu St1nclo mens
visifafur, slalim peccala sua piorai C').
2.º O espírito do mundo é outro obstáculo à
presença e ao reino do Espírito Santo. e. Oue união

(1) Nolile confrisfare Spirifum snnclum Dei. Eph. IV, 30.


(2) Spirilum nolile exlinQuere. 1 Thess. V, 19.
(3) Charilas Dei dilfusa esl in cordibus noslris per Spirilum
sancfum. Rom. V, 54.
(�) ln Ps. X. - (5) S. Bern,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PARA O PENTECOSTES

pode haver entre a luz e as trevas (1), a verdade e a


mentira? Eis a razão por que o Salvador, rogando
a seu Pai que envie o Espírito Santo a seus discí­
pulos, para os santificar na verdade: Santifica eos
in veri/ale (2), observa que êles não são do mundo,
como também êle não é do mundo: Non sunf de
mundo, sicul ef ego non sum de mundo (3); que os
escolheu do mundo (4); que não roga pelo mundo,
incapaz de receber ês-te Espírito de verdade, porque
o não vê, e porque é tão grande a sua cegueira, que
precisa de apalpar e vêr, antes de admitir e crêr.
Spirilum verifalis quem mundus non po/esf accipere,
q11ia non vide{ eum ( 5 ). As apreciações do mundo e
as do Espírito Santo são diamelr�lmenle opostas;
sucede o mesmo, diz S. Bernardo, com os sentimen­
los que inspiram : Va/de sihi adversanfur amor
mundi e amor Dei. O Espírito Santo aparta os co­
rações do amor das cria luras para os unir a Deus;
o espírito do mundo aparta-os de Deus para os unir
às ·criaturas: Amor· Dei hominem revocaf a mundo,
e/ amor mundi revocaf a Deo. O' padre, não esquê­
çais que vos consa�rastes a combater e a destruir o
espírito do mundo (6); que desordem, se participásseis
de seus juízos erróneos a respeito da pobreza e da
riqueza, da honra e do desprêzo 1 . . . Oue escândalo,
se vossas acções ou palavras dessem a entender,
que amais o que êle ama, que estimais o que êle es­
tima 1
Ourante esta semana, examinai com cuidado vos­
sos pensamentos e afeclos, para conhecer se é o
espírito de mentira ou o espírito de verdade que vos

(1) Ou11e socief11s luci 11d fenebr11s? li Cor. VI, 14.


(2) Jo11n. XVII, 11. - (") lbid. 14. - (4) Jo11n. XV, 19.
(5) lbid XIV, 17.
º
( ) 0evovisfi 11nim11m fu11m 11d desfruend11 e11 qu11e sunl hujus
511eculi. S. Ambr.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MElllTAÇÕES SACERDOTAIS

anima. Combatendo o espírilo do múndo, combate­


reis ao mesmo tempo o da carne, terceiro obstáculo
aos desígnios misericordiosos do Espírito Santo a
nosso respeito.
3. 0 Vendo a corrução geral do género humano,
Deus proferiu esta sentença irrevogável: que o seu
espírito não permanecerá no homem carnal (1). A
carne e o espírito estão sempre em guerra : Caro
concupiscil adversus spirilum: • spirilus aulem adver­
sus carnem (2). Se deixamos dominar a carne, morre­
mos; perdemos a vida sobrenatural e divina. Se
pelo contrário mortificamos a carne pelo espírito, vi­
veremos da vida que dá o Espírito Santo, da vida
de Jesus Cristo, que é a dos escolhidos: Si secun­
dum carnem vixerilis, moriemini: si aulem spirilu fa­
cla carnis morlilicaveriiis, vive/is (3 ). Mas o que nos
mostra até que ponto deve chegar nos homens apos­
tólicos êste desapêgo de tôda a afeição carnal, e a
extrema delicadeza do Espírito Santo a êste respeito,
é esta palavra do Salvador aos seus primeiros minis­
tros: Si non abiero, Paraclilus non venief ad vos.
Coisa singular, exclama S: Bernardo, o filho de
Deus declara aos apóstolos que, se lhes não lira da
vista a sua carne santíssima, não receberão o seu
Espírito: Nisi abstulero vobis carnem, non habe­
bilis Spirilum I Mas quê, divino Espírilo I e. é possí­
vel que essa adorável carne' formada por vós do.
mais puro sangue de Maria, seja desagradável aos
vossos olhos, e vos impeça derramar vossos abun­
dantes dons em almas a-liás Ião bem dispostas? Je­
sus quer ensinar-nos, responde o Santo Doutor, que
convinha que êsses homens, chamados a santificar o
mundo, fôssem privados de sua presença sensível, e
da natural alegria que ela lhes causava, para esta-

(1) Gen. VI, 3. - (2) Gal.. V, 17. - e) Rom. VIII, D.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PIIEPARAÇÃO PARA O PENTECOSTES

rem aptos para receber a plenitude do Espírilo San lo:


Nisi carnis praesenlia veslris subtrahatur aH'ectibus,
spirilualis grafiae plenifudinem mens occupafa non
admiflef. <'. Como ousaria pois um homem sensual,
que anda sempre em busca das sufls comodidades,
lisonjear-se de receber a sua visita e consolação?
Audeal ergo qui carnem sapif, qui carnem /ovei, iliam
consolationem supernae visifafionis expecfare/ (1) Eu
conheço os obstáculos ao bem infinito que desejo;
com o auxílio da vossa graça, ó meu Deus, quero
vencê-los.

li. Empregar os meios de atrair a nós o Es�


pirita Santo. - Achamo-los indicados nas últimas
palavras do Salvador aos seus discípulos, quando
eslava· quiisi a subir ao céu, e na pontualidade com
que êles cumprem o que lhes ordena. Jesus disse­
ra-lhes : Sedefe in civiiafe quoadusque induamini vir­
fufe ex alto (2). Era recomendar-lhes três coisas:
que ficassem em Jerusalém, in civilafe; que aí se
conservassem com o espírito tranqüilo, sedele; que
esperassem com perseverança, até que fôssem reves­
tidos da virtude do alto, quoadusque.
Com efeito, os discípulos, deixando o monte das
Oliveiras, voltam para a cidade, entram no cená­
culo; e ali, que fazem ? Eranf perseverantes unani­
miler in oralione cum mulieribus e/ Maria malre
Jesu (3). Ei-los separados do mundo, reünidos numa
casa cheia de augustas e santas recordações. Reina
entre êles a mais perfeita união e paz; perseveram
unãnimemente em oração. Decorrem oito dias, nove
dias, sem verem o cumprimento .das promessas de
Jesus; sua constância não ê abalada, oram sem-

( 1) S. Bern. Serm. Ili, de· Ascens. - (2) Luc. XXIV, 49.


( 3) Act. 1, 14.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
406 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

pre . . . Felizes disposições, para atrair a visita do


Espírito Santo: Descendi! Spirilus super unanimes,
sedentes afque orantes: diligif hic Spirilus uni/alem,
amai pacem, di/igif concordiam (1). Maria era o vín­
culo desta união, a alma desta oração . . . Oh I que
poder tinham suas orações e suspiros para fazer
descer seu adorável Espôso, e obrigá-lo a encher das
suas graças os que iam ser seus instrumentos para a
conversão do mundo I Per Mariae. suspiria e/ ora­
fiones Spirilu sancfo repleli sunl aposloli (2).
Traia-se agora de traçar· o·
plano de vida que
devo seguir esla semana para me dispôr para a vi­
sita do Espírito Santo. Vida conlemplaliva e reli­
radt1, quanto me fôr possível: Si praeparas aurem
inferiorem, fuge curam exleriorem (3); vida penitente,
para que a minha indignidade, que me ·torna esta
visita mais necessária, não a impeça: vida cheia de
caridade para com o próximo, expulsando do meu
coração qualquer fermento de animosidade que nêle
descobrir, e dispondo as almas que me estão confia­
das para as abundantes bênçãos que espero para
mim mesmo; vida de fervorosa oração, seguindo o
conselho de um piedoso intérprete da Sagrada Escri­
tura: • Se desejais ardentemente essa suavidade ce­
leste; se suspirais pela visita do Espírito Santo, ouvi
o que êle vos ordena: Abri a vossa bõca, e eu a
encherei• ( 4 ).
O' podres, figurai-vos o Salvador como S. João
o representa no meio dos judeus; está de pé, e cla­
ma: •Se algum tem sêde, venha a mim, e beba •.
Êle tinha dito neutra ocasião : • A água que eu lhe
der, v:rá a ser nele uma fonte de água, que brote

(1) S. Leur. Jusf. · Serm. in Denl.


( 2) Oionys. C11rfhus. De laudib. B. V., lib. IV.
(") S. Bern. - (�) Rich. Vict. Serm. de Spiri!. S11ntf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO P\RA O PENTECOSTES

para a vida elerna (1). Pedi com a maior confiança,


pois sereis auxiliado pela mediação de Maria. E' um
refúgio que nunca nos falia, mas, que nos é prin­
cipalmente garantido, quando _pedimos os dons do
Espírito Santo, porque é para no-los obter, que ela
lhe foi dada por Espôsa e a nós por Mãe.

Resumo da Meditação

1. Remover os obstáculos à visita do Espírito


Sanló: o pecado, o espírilo do mundo, as afeições
demasiado. humanas. - Nossas almas são os vasos
destinados a receber o precioso licôr· da graça; co­
mecemos por purificá-los. Afligimos o Espírito Santo,
êle aflige-nos com os remorsos, pois quer perdoar­
-nos. - O espírito do mundo é inteirament,:: oposto
ao Espírito Santo. -Combatamos também o impé­
rio da carne; se a deixamos dominar, é a morte.
Se morlificarmos suas obras pelo espírito, viveremos.
Os mesmos apóstolos necessitavam de ser separados
<le Jesus Cristo, a quem amavam de um modo dema­
siadamente humano.

II. Empregar os meios de alraír a nós o Espí­


rito Santo. - Permanecer no reliro, estar em paz, e
perseverar na esperança e na oração: vida contem­
plaliva, penitente, cheia de caridade para COí[I o
próximo; vida de oração, auxiliada pela mediação
de Maria.

(1) Joan. VII, 37; IV, 14.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6,()8 MEDITAÇÕF.S �ACE:IDOTAIS

LXIX MEDITAÇÃO
O Pentecostes. - Contemplação

1. Contemplar as pessoas.
li. Ouvir as palavras.
Ili. Consider11r as acções.

PRIMEmo PHJ.1LÚDIU. Tendo chegado o dia de


Pentecostes, os apóstolos estavam todos juntos no
mesmo lugar, e de-repente ouviu-se um g rande ruído
vindo do céu, como de vento impéluoso, o qual
encheu tôda a casa em que estavam reünidos. No
mesmo instante apareceram umas como línguas de
fogo que poisaram sôbre cada um dêles , e ficaram
todos cheios do Espírito Santo, e começaram a folar
em várias línguas. T unto que se espalhou esta mara­
vilha, acudiu muila gente, e foi extraordinário o
assombro. Uns admiravam-se; outros escarneciam.
Então Pedro toma a palavra, e neste seu primeiro
discurso convertem-se três mil pessoas ( 1).
::;1WUNUO PHELÚDIO. Imaginai vêr a cidade de
Jerusalém, e no monte de Sião o cenáculo, bêrço d&
Igreja nascente.
TEI<CEIHO PHELÚ010. Pedi ao Espírito Santo o
que a Igreja vai pedir-lhe _com inslãnda durante tôda
a semana: Veni, sancfe Spirifus. - Accende lumen­
sensibus, infunde amarem cordibus.

1. Contemplar as pessoas. - No Cenáculo,


olhai para os apóstolos pouco antes . da realização
dêsle mistério. Teem o rosto inflamado; oram com

( 1) Acl. II. 1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O PENTEr.OSTES

fervor: umas vezes de joelhos, de pé, ou sentados,


entregues à meditação; outras vezes, com os olhos
e as mãos levantadas parn o céu. Não conhecem
ainda por experiência o bem que esperam ; mas,
para o desejar vivamente, basta-lhes saber que é o
Espírito de Deus, o Espírito de Jesus, seu bom
Mestre, que vem substituí-lo junto dêles, compensar,
até com vantagem, a privação da sua presença visí­
vel. Reparai em Maria, absôrla em profunda medi­
tação; pedi com da o que ela pede para vós. Vêde
os anjos que enchem êstc lugar santo, e levam ao
trôno do Senhor tão puras e fervorosas orações;
t são as· vossas dignas de ser unidas às dêles? -
No .céu contemplai a Santíssima Trindade alenta aos
votos que tanto lhe agradam, e dispondo-se a satis­
fazê-los. - Na cidade, notai o grande número de
habitantes e de estranjeiros atraídos pela festa, e que
veem adorar o Senhor. em seu templo; e. obedecem
êles sàmente a motivos de religião? Oue apaixona­
dos movimentos I que tumulto I que frívolos pensa­
mentos I E' um estranho contraste com a tranqüili­
dade e os piedosos exercícios do Cenáculo. Contudo,
entre tôda esta gente, Ião pouco ocupada das coisas
eternas, Deus distingue corações reclos que em breve
serão cheios da luz do alio, e receberão os dons do
Espírito Santo. Vê alguns que, pela sua fidelidade a
uma primeira graça, atingirão bem de-pre�sa um ele­
vado grau·de santidade; porque é desta multidão de
gente, agitada como as ondas do mar, que vai sair
a Igreja de Jerusalém, modélo de lôdas as Igrejas.

li. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - De-repente ouve-se um grande ruído como
de vento impetuoso, e estremece lodo o Cenáculo.
Aparece um �lobo de fogo que se divide em forma
de línguas que vão poisar sôbre cada um dos cir­
cunstantes. e. Oue se passa em suas almas neste

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
.440 MEDITAÇÕES SACRBDO_T_A_IS_______

momento? 1 Oue súbita ilustração, que deliciosa e


santa emoção 1 e. Oue corações celestes se substituem
repentinamente a corações alé ali Ião lentos em crêr
e amar? Mas na narração dêste mistério devemos
meditar cada palavra de per si.
fdcfus esf sonus. Todas ficam impressiona<;los
com êsle grande ruído; se lá se achava algum espí­
rito adormecido, despertou. Deus quer que estejamos
alentos às operações da sua graça. - Repente. A vi­
sita do Espírito Santo não !em hora marcada; inspira
onde quer e quando quer; como sempre o deveis
desejar, sempre o deveis esperar. 1 Desgraçada da
alma que não está dentro de si, quando o divino Espí­
rito vem honrá-la com a sua presença e enriquecê-la
com seus dons! - De coe/o. e. Oue esperamos nós da
terra? e. Não é do céu que recebemos todo o bem ver­
dadeiro, lodo o dom perfeito? ( 1 )-Tdnquam spirilus.
Podeis considerar aqui as .propriedades do vento,
como símbolo do Espírito Santo: a sua súbita che­
gada, a sua invisibilidade, a sua rapidez, a mudança
que foz na. atmosfera. - Vehemenlis'. Oh! que
grande necessidade lem de ser fortemente excitada,
para sair do vício e alé da tibieza, uma alma entre­
gue às paixões, uma- alma, frouxa!· - Ef replevif
fofam domum ubi erdnf sedentes. Esta casa é a
lgrejõ, que está tõda cheia do Espirilo Santo.
A vossa alma será cheia do .Espírito divino, se a
abrirdes às suas inspirações; mas êle .quer achar-vos
tranqüilos. -Sedentes. Não está .na perlurbação. Os
apóstolos recebem o que lhes foi prometido, porque
cumpriram fielmente o que lhes linha sido ordenado:
Vos dulem- sede/e.
O Espírito Santo manifesla0se ainda por outro

(1) Omne d11tum oplimum e! omne donum períeclum desur­


sum esf, descendens a P alre luminum. Jac. 1, 17.
_

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O PENTECOSTR�

símbolo: Et dppBruerunf _illis disperfifoe lingude


fanqudm ignis. O fogo, que de todos os elementos
é o mais 'nobre, tem a virtude de alumiar, purificdr,
abrasar; e isto mesmo é o que faz em nós o Espírito
Santo. Como espírito de verdade, ·alumia-nos; como
espírito de fortaleza, anima-nos; fortifica tôdas as
nossas potências e enche-nos de zêlo. A forma de
línguas que !orna êste fogo divino, exprime os mara­
vilhosos efeitos que produzirá pela palavra dos após­
tolos e dos seus companheiros, no ministério evangé�
lico.
E êsses efeitos não se. fizeram esperar: Replefi
sunf omnes Spirilu Stmcfo, ef coeperunf !oqui. Ape­
nas aqueles homens, até ali Ião tímidos. receberam o
Espírito Santo, abrem as portas do Cenáculo, que
êles tinham antes cuidadosamente fechado, aparecem
no tetnplo e nas praças públicas, e anunciam a Jesus
Cristo no meio daqueles mesmos judeus que Ião cruel
e indignamente o crucificaram. Corre logo por lôda
a cidade a nol'icia do que acontecera no cenáculo.
Junta-se uma grande mullidão de gente que. fica
pasmada, mente confusa esf, porque ouve os apósto­
los a falar em tõdas as línguas. O assombro é geral,
e todos preguntam: e.Porventura não são galileus
éstes homens? e. Como é então que os ouvimos falar
cada um na nossa língua materna? e. Oue quer isto
dizer? StupehBnl omnes e/ mirobonlur dd invicem,
dicenfes: Ouidndm vull .hoc esse? Mas havia ali
alguns espíritos indiferentes .e escarninhos; e riam-se
daquilo que a outros enchia de admiração: Alii au­
lem irridenfes dicebanf: Guia muslo pleni sunl
isfi (' ).
Ouvi
° principalmente as palavras de S. ,Pedro.
l Donde lhe vem aquela sciência, e a eloqüência

(1) Act. 11, 13.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

arrojada e atraente ? • Varões israelitas, Jesus Na­


zareno tornou-se célebre entre vós pelos milagres e
prodígios que operou à vossa vista, como prova da
sua missão divina. Vós não o podeis negar ... vós
o levastes à morte; mas Deus o ressuscitou, e nós
somos ·testemunhas disso. E ludo o que aconteceu, e
o que hoje mesmo acontece, não é senão o exaclo
cumprimento das profecias. Saiba-o todo o Israel:
Este Jesus a quem vós crucificastes, é o Senhor e o
Messias, é Cristo, é o ungido de Deus• (1). Estas.
palavras inspiradas excitam em muitos uma salutar
compunção. e exclamam : • Irmãos, é. e que faremos
nós•? E S. Pedro responde: •Fazei penitência, e
cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus
Cristo; vossos pecados vos serão perdoados, e re­
cebereis o Espírito Santo•. Dficeis a esta palavra e
à graça interior que a acompanha, três mil cônver­
tem-se, e são baptizados.
Colóquio com os apóstolos e com Maria SS.,
pedindo-lhes que intercedam por vós.' Depois recor­
rei ao mesmo Espírito Santo, dizendo com pausa,
pelo segundo modo de orar de Santo Inácio, a sú­
plica, que a Igreja oferecerá à vossa consideração
no aliar, lodos os dias desta oitava, obrigando-vos a
dobrar o joelho nessa ocasião: Veni Sôncfe Spirifus,
repie fuorum cordô Gdelium, ef fui ômoris in eis
ignem ôccende.

Resumo da Meditação

1. Contemplar as pessoas. - No Cenáculo,


pouco antes da realização do mistério: os apóstolos,

(1) Certissime sciel ergo omnis domus Israel, qui11 el Domi­


num eum el Christum fecil Deus, hunc Jesum Guem vos crucifixislis.
Act. ll, .36.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA DE PESTECOSTES

.\.1aria, os anjos. No céu, a adorável Trindade


alenta aos valos que tanto lhe agradam.� Na cidade,
uma multidão de gente agitada. 1 Oue contraste com
a tranqüilidade do Cenáculo I E' todavia desta gente
dissipada que vai sair a primitiva Igreja de Jerusa­
lém, modêlo de tôdas as Igrejas.

II. e III. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - é. Oue ruído é aquele? é. Oual é o seu
efeito?-· Donde vem? Faz-se ouvir de-repente. Des­
graçada a alma que não está dentro em si, quando
o Espírito Santo vem visitá-la. - E' como um vento
impetuoso, que enche tôda a casa; que casa é esta?
- E' fogo: alumia, purifica, abrasa; toma a forma
de ºlínguas, em conformidade com o ministério t1pos­
tólico. - Maravilhosa mudança, operada em homens
Ião imperfeitos e Ião tímidos. - Pregação de S. Pe­
dro: efeitos dela. - Colóquio com os apóstolos, com
Maria, com o mesmo Espírito Santo.

LXX MEDITAÇÃO
Segunda-feira de Pentecostes. - O Espírito
Santo sanliGcéidor do clero, e por êle,
déi lgrejél universal

1. Como s11nlific11 os 11póslolos e os homens 11poslólicos;


li. Como son!ific11 o Igreja pelos opóslolos e homens oposlólicos.

1. Operações do Espírito Santo na santifica­


ção dos apóstolos e dos homens apostólicos, -
Considerando o que fêz em favor dos apóstolos no
dia de Pentecostes, atrai-nos a atenção a abundância

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACl!RDOTAIS

de graças que os transformou de-repenle em outros


lanlos vasos de eleição, e os habilitou para o minis­
tério evangélico; é êsle o lado milagroso do mislé­
rio; mas é ma.is úlil encarar o seu lado prálico, in­
quirindo qual foi, da parle dos apóstolos, o princípio
de mudança tão maravilhosa. Não foi outro senão a
sua fidelidade em aproveitar as menores graças.
Com efeito, por mais rápida que fõsse a transfor­
mação dêsses homens destinados a transformar o
mundo, teve contudo comêço, aumento e progresso.
Vê-se que o divino Espírito lhes dispõe os corações
por meio de 'graças comuns que, aproveitadas, lhes
atraem ou Iras maiores; e eslas, conservadas com
igual fidelidade, são coroadas de favo'res extraordi­
nários.
Sedefe in civi!dfe: eis, por assim dizer, a pri­
meira faísca dêsse incêndio sagrado, que é hoje o
objedo de tanta admiração: graça de recolhimento.
Êles aproveitam-na: Jesus ordenara-lhes que ficassem
em Jerusalém; não saem do cenáculo e do templo:
EI eranl semper in templo. é Podiam êles mostrar
mais perfeita docilidade? A recompensa é uma graça
mais poderosa, mas ainda ordinária, pois a ninguém
é recusada a graça da oração : Eranl perseverantes
in oratione. Sua obediênci� ao espírilo ele oração
faz descer sôbre êles o espírito de fervor e de zêlo,
figurado pelas línguas de fogo que poisam sôbre suas
cabeças: graça extraordinária, fruto da correspon­
dência às que a precederam. Enlão, cheios do Espí­
rilo Santo, não conleem já o ardor que os devora;
falam, publicam em vciz ,alia as grandezas de Deus,
a missão, a morle, a ressurreição do Salvador:
/aquentes magna/ia Dei. Às palavras santas ajunlam
as boas obras. Fundam a Igreja com incríveis tra­
balhos, e a sua fidelidade a estas graças sempre
crescentes, oblém-lhes ll graça que é o remate de· tô­
das, a de padecer e de morrer por Jesus Cristo.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA DE -PENTECOSTES 415
Assim, porque obedeceram à inspiração divina,
permanecendo dez dias solitários no meio do mundo,
tornaram-se homens conlemplativos; porque maneja­
ram bem a eficacíssima arma da oração, tornaram-se
pregadores fervorosos, poderosos em obras e em pa­
lavras: o seu zêlo em fazer conhecer e amar a Jesl!S
Cristo alcançou-lhes a felicidade de morrer por êle;
e porque foram na terra os primeiros mártires da
Igreja militante, são no céu os chefes gloriosos da
Igreja triunfante. Assim se formam os Santos em
geral, e em particular assim se leem formado os sa­
cerdotes sanlos depois dos apóstolos. Lembremo­
-nos da vida de S. Francisco de Sales, de S. Fran­
cisco Xavier, de S. Afonso de Ligório, ele.
Tai é a norma ordinária do Espírito Santo na
santificação dos homens apostólicos; regula os au­
mentos da graça que lhes dá, pelo uso que fazem·
dela. A principio não é senão um orvalho que vai
caindo gõla a gõla (1); mas, quando é receblda com
reconhecimenlo e conservada com cuidado, transfor­
ma-se numa chuva copiosa, que proáu:c: frulos de só­
lidas virludes e de grande perfeição (2). Primeiro
não é mais que uma ténue aragem que procura insi­
nuar-se no fundo do coração (ª ); mas, se êsle cora­
ção lhe franqueia a entrada, é dentro em pouco um
vento impetuoso que o enche lodo (4). Oh I como
vejo claramente a triste causa da esterilidade da
graça em mim I j Tenho celebrado 'jã tantas vezes as
festas do Pentecostes, e estou Ião pouco adeanlado
nos caminhos do Espírito Santo! e. Sucederia assim,

(1) Descende! sicuf pluvia ef sfilliciàia slillanlia super !erram.


Ps. LXXI, 6.
( 2) Pluviam voluntariam segregabis, Deus, haeredi!ali (uae.
Ps. LXVII, 10.
( 3) Spiri(us ubi vulf spiraf. Joann. Ili, 8.
\ ) Replevit lotam domum. Act. li, 2.
4

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4Hi MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

se eu tivesse aproveitado os seu� primeiros dons, se­


guido os seus primeiros impulsos, e auxiliado as suas
inspirações?

II. Operações do Espírito Santo na santifica­


ção da Igreja pelos apóstolos e homens apostó­
licos. - Eslava predito que Deus enviaria o seu
Espírito, que seriam criados homens· novos, e reno­
vada a face da !erra ( 1) ; que a ferra que eslava
sêca, seria banhada pelas águas da graça ( 2). Estas
profecias começtiram a cumprir-se com particular
esplendor, no dia de Pentecostes. Já conhecemos os
prodígios de sanlificaçã0 que operou o Espírifo Santo
pelos trabalhos dos apóstolos. As palavras ardentes
que saem de seus lábios, esclarecem, inflamam e
convertem de-repente um grande número de judeus
cegos e endurecidos; e logo que êsles homens abra­
çaram a fé, ninguém os reconhece; a transformação
é completa. O egoísmo, a cobiça, lodos os vícios
desapareceram, e são substituídos por virtudes des­
conhecidas até então: Mullitudinis credenlium erdf
cor unum el dnima una: nec quisquam eorum quae
possidebdl dliquid suum esse dicebal (3). De Jeru­
salém, onde se achavam eslranjeiros de tõdas as
nações, a voz dos apóstolos ressoou por tõdà a
terra: ln omnem ferram exivif sonus eorum (4).
A partir dêsle dia, diz S. Leão, rios de bênçãos se
espalharam por lôda a terra: A die Pentecostes
imbres charismafum, Oumind benediclionis omne de­
5
serium el universam aridam rigaverunl ( ).

{1) Eínilfe Spirilum (uum, el creobunlur, e{ renovobis fociem


lerrae. Ps. CIII, 30.
( 1) Ouae era( 11rid11, eril in sl!1gnum, el siliens in fontes
aquorum. Is. XXXV, 7.
( 3 1 Act. IV, 32. - (4) Rom. X, 18.
(�) Serm. 1. de Penf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SEGUNDA-FEIRA OE PF.NTKCOSTF.S 417
Nada é mais digno de admiração em lôdas as
épocas da' Igreja, que esta acção contínua do Espí­
rito Santo santificando os seculares pelo clero, os
rebanhos pelos pastores, algumas vezes povos intei­
ros por Úm ·só padre, abrasado em zêlo epostólico.
l Oue maravilhosos efeitos não conseguem pelo mi­
nistério de S. Domingos, de S. Vicente ferrer, de
5. francisco Xavier, de Santo António de Lisboa,
ele. ? Agora somos nós os dispensadores de suas
graças, os instrumentos de que êle se serve para in­
fundir a verdade nos espíritos, a caridade nos cora­
ções. Recebemo-lo na ordenação, menos para nós
do que para os· ministérios de que estamos encarre­
gados. Dá às águas Jo baplismo a virtude de puri­
ficar as almas, a tôdas as nossas fórmulas sacramen­
tais a virtude de operar o que elas significam. Fa­
úmo-lo descer do céu pela oração, comunicando-o
pela administração dos sacramentos; é êle que perdoa
o;; pecados, instrui, 11dmoesta, consola tôdas as vezes
que exercemos algum dos nossos ministérios sacer­
dotais. é. Como correspondeis vós ao desejo que êle
tem de santificar e salvar por meio do vosso zêlo?
l Prêgais segundo as luzes que êle vos concede?
Proul Spirifus Sóncfus dahal eloqui illis. l E' sempre
êle, e só êle quem, vos inspira? Visto lerdes a honra
de lhe serdes asst!>ciado para a comunicação de seus
dons, é. com que doçura e caridade não deveis coo­
perar para êste misericordioso trabalho? i Oue in­
digno contraste, se o ministro da suprema bondade
se mostrasse áspero, quando pretende executar a sua
obra, se o instrumento do Espírito Santo que é mais
dôce que o mel ( 1), falasse com amargura! é. Invo­
cai-lo com fervor no princípio das vossas acções
príncipais, sobretudo das que se referem ao vosso

"
(1) Spirilus meus super mel dulcis. Eccli. XXIV, 27.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERl)OTAIS

ministério sagrado, bem convencido de que não po­


deis nada sem,êle? (1) ê. Renunciais ao vosso próprio
espírito, para não proceder senão conforme ao de
Deus, como fazem os seus verdadeiros filhos ?
Ouicumque spirilu Dei agunlur, sunl filii Dei ( 2).

Resumo da Meditação

1. Operações do �spírito Santo na sanlilica­


ção dos apóstolos e dos homens apostólicos. -
O princípio da maravilhosa _mudança operada nos
apóstolos foi a sua fidelidade em aproveitar as meno­
res graças. A primeira que recebem, é uma graça de
recolhimento: Ficai na cidade: passam lodo o tempo
no Cenáculo ou no templo. Em recompensa de sua
fidelidade, recebem o dom. da oração, e a sua fideli­
dade a esta nova graço atrai-lhes o espírito de fervor,
de zêlo, de constância ... Tal é o procedimento or­
dinârio do Espirilo Santo.

li. Operações do Espírito Santo na santifica­


ção da Igreja pelos apóstolos e homens apostó­
licos. - Eslava predito, que seriam criados homens
novos, e renovada a face da terra pelo Espírito Santo.
Estas profecias cumprem-se. é. Oue fizeram os após­
tolos, e depois dêles os homens apostólicos ? Nós
somos os dispensadores das graças do Espírito
Santo. E' êle que dá às águas do bapfismo a virtude
de purificar as almas, às fórmulas sacramentais o
poder de operar o que elas significam. Como corres­
pondemos nós ao desejo que êle tem de salvar as
almas pelo nosso zêlo?

. fl) Sine luo numine, nihil esf in .homine nihil· esl innoxium.
e) Rom�JII, 14.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TbÇA-FEIRA DE PENTECOSTES

LXXI MEDITAÇÃO
Têrça-feira de Pentecostes. - Consolações
do Espírito Sánfo

Jesus Cristo linha declarado muitas vezes aos


apóstolos que a vida presente seria para êles cheia
de angústias e tribulações; que em troca do bem que
fizessem, só deviam e�perar da parle do mundo
insullos e perseguições. Havia-lhes anunciado uma
grande e iminente aflição, dizendo-lhes que ia sepa­
rar-se dêles, e voltar para seu Pai. A lrisleza apode­
rou-se do coração dos Apóstolos: Trisfi(iél implevil
cor vesfrum; para os consolar promete-lhes o Es­
pírito Santo. Com êle não ficarão órfãos ( 1), e a sua
consolação será Ião grande, que não a comprarão
muito cara, sacrificando-lhe a presença visível do seu
Mestre (2); o ministério particular do Espírito Santo
é pois o de consolador.

1. e: Corno nos consol11 o Espírito Sanlo?


li. <'.Para quem são estas consolações?

1. l Como nos consola o Es pírilo Sanfo? -


Pelos tes"temunhos que nos dá, pela confiança que
nos inspira, pelas mesmas exprobrações que nos faz.
0
1. Sem falarmos do testemunho da boa con­
sciência que a Sagrada Escritura compara a um ban­
quete continuo (3), e que é fruto do Espírito Santo,

(1) Non relinquam vos orphanos. Joan. XIV, 18.


(2) Joan. XVI, 7
3
( ) Secura mens quasi juge convivium. Prov. XV, 15.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES BAm;RDOTAl!I

êste divino Espírito dá-nos outros dois frutos muito


consoladores. Pelo primeiro, instrui-nos a respeito
de Jesus Cristo; pelo segundo, ensina-nos o que so­
mos em Jesus Cristo. O Salvador li,nha dilo aos
apóstolos: • Ouando vier o Consolador, aquele Es­
pírito de verdade, que eu vos enviarei da parle do
Pai, êle vos ensinará a conhecer-me: Cum venerif
Paraclifus, quem ego mi/Iam vobis, a Palre, spirilum
verilalis ... , ille lesfimonium perhihebil de me (1 ).
Com efeito, a descida do Espírito Santo foi para
êles como uma. revelação a respeito de Jesus Cristo
e de seus mistérios. Se antes o tinham conhecido
segundo a carne, conheceram-no então de um modo
incomparàvelmente mais perfeito: 5i cognovimus se­
cundum carnem Chrislum, sed nunc jam non novi­
mus · l2). Sucede o mesmo com relação a nós. Oh 1
que grande diferença há entre a fé comum e a que
recebeu as grandes influências do Espírito Santo 1
Ouando uma alma, com o auxilio dos dons do Espí­
rito Santo entra no conhecimento da caridade de Je­
sus Cristo; quando mede, por assim dizer. o com­
primento, a largura, a sublimidade e profundidade de
seu amor para connosco, tem nêle uma fonte inesgo­
tável de consolações, porque compreende que há ali
para ela recursos infinitos, em qualquer situação que
se encontre ou possa vir a enconlrar-se. O segundo
testemunho que nos dá o Espírito Santo não é me­
nos proprio para desafogar nos�os corações; é que
somos filhos de Deus, e por conseguinte, seus her­
deiros, irmãos e coherdeiros de Jesus Cristo: lpse
Spiritus lesfimonium reddil spirifui nosfro, quod su­
mus G/ii Dei; si aufem G/ii, e/ haeredes; haeredes
3
quidem Dei, cohaeredes aufem Chrisfi ( ). Recebe-

111 Joan. XV, 26. - (l!) li Cor. V, 16.


\ 3 ) Rom. VIII, 16, 17.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TÊRÇAcFEIBA DE PENTECOSTES f&.21

mos o espírito de adopção de filhos, segundo o qual


clamamos, dizendo: Pai, Pai ( 1). E' verdade que po­
demos perder a herança de nosso Pai celestial, e
êste pensamento tem feito tremer os Santos; mas po­
demos também segurar essa herança, porque foi adqui­
rida para nós, e já possuímos um penhor dela que é
o mesmo Espírito Santo: Signafi esfis Spirifu pro­
missionis saneio qui esf pignus haeredifafís nos­
frae (2). Por �sso a alma solicita em conservar Ião
precioso penhor, modera seus receios, pelo cuidado
que tem em consf'rvar a caridade que o Espírito
Santo lhe infundiu, ou até os. expulsa, aperfeiçoan­
do-a: Perfecfa charilas foras milfif fimorem ( 3). Re­
poisa pois em paz no seio de seu Pai.
2. 0 A sua confiança faz a sua felicidade. O Es­
pírito Sa·nto que, para desapegar a alma de si mes­
ma, lhe mostra a corrução da sua natureza e a sua
incurável inclinação ao pecado, descobre-lhe ao mes­
mo tempo Ião claramente o poder de Deus, sua fide­
lidade em cumprir as promessas, sua bondade, sua
ternura para com aqueles que o invocam e amam,
que a �ua fé viva dá uma suhslãncio, uma realidade
ao que não é ainda senão uma esperança: rides
sperondorum suhsfanfio rerum. E' um gôzo anteci­
pado ; o coração saboreia com delícias as verdades
cujo conhecimento dão à alma Ião grande conso­
lação.
0
3. O Espírito Santo consola-nos até com as
exprobrações que nos faz. A sua missão, formando
e santificando a Igreja, é convencer o mundo, inimigo
de Jesus Cristo, de peccalo, ef de jus/ilia, ef de ju­
dicio (4 ). Não cessa de combater nos fiéis, e princi-

(1 \ Àccepislis spirilum 11doplionis nliorum, in quo cl11m11mus:


Abb11 1 Poler. Rom. Vlll, 15.
1•1 Eph. 1, n, 14. - (3) I Joan. VI, 16.
4
, ( ) Joan. XIV, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MElllTAÇÕES SACEROOTAl8

paimente nos padres, alé os últimos restos do espí­


rito do mundo, em que ludo é pecado, injustiça e
mentira. Ora, para estar inteiramente livre dêle, é ne­
cessário ler alcançado a perfeição. Gueixa-se-nos
pois das infidelidades voluntárias que com·etemos, e
que ofendem sua infinita santidade: Arguef mundum
de peccllfo. Gueixa-se das nossas supostas boas
obras,• tão defeituosas e talvez Ião condenáveis: De
jusli/ill. l Oue são aos seus olhos tô,das as nossas
justiças? Oullsi pllnnus mensfrullille universae jusli­
fiae nosfrae (1). Gueixa-se dos nossos falsos juízos :
De judicio: em lugar de pensar como êle, sõbre
uma multidão de coisas, pensamos como o mundo;
em lugar de se alimentar com a verdade, o nosso
espírito alimenta-se com a mentira. Tudo isto impede
que o Espírito Santo funde em nós o seu reino, e
nos eleve à perfeição e felicidade, que nos destina.
l Não são as suas queixas e exprobrações a prova
do seu amor para connosco? l Preferiríamos que êle
se calasse? E' o terrível castigo que êle inflige àque­
les de quem principia a apartar-se. Espírito divino,
não mo inflijais jàmais: Domine, ne silells; Domine,
ne discedlls a me (2). Eu reconheço e bemdigo a
vossa ternura nestas aparências de rigor: Virgll full
e/ bllculus luus, ipsll me consolllill sunf (3).

II. lPara quem são as consolações do Espí­


rito Santo? - Só são consolados· o:s que choram :
Bellfi qui lugenf,· quonillm ipsi consolllhunfur (4).
Oui non gemi/ ut peregrinus, non glludebit ui ci­
vis (5). Uma alma que se sente bem no seu des­
lêrro, que aí busca sua alegria, conslanlemenle ocu­
pada em afastar o que incomoda, a procurar o que

(') Is. LXIV, 6. - 121 Ps. XXXIV, 22.


{3) Ps. X.XXII, 4. - (' / MoUh. V, 5. - (&/ S. Aug.
1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TERÇA-FF.IRA DF. PF.NTECOSTF.�

a lisonjeia, não deve esperar nada da sabedoria do


alio: Non invenilur in ferra suélvifer vivenlium ( 1).
As consolações do Espírito Santo s·ão a recompensa
ordinária da generosidade que se sacrifica pela gló­
ria e serviço de Deus. Os apóstolos foram açoitados
por lerem anunciado a .Jesus Cristo, e não podem
conter seu gôzo : /bani géludenfes a conspeclu con­
cilii, quoniam digni hahili sunl pro nomine Jesu
conlumeliam pali (2). Os primeiros cristãos, abra­
çando a fé, expunham-se a lodos os sofrimentos e à
morte; S. Lucas sõ fala das consolações de que eram
cheios: Ecclesia. . . consolalione sancfi Spirilus
replehafur ( 3 ).
Entre as visitas do Espírito Santo, podem-se dis­
tinguir três. Visita de compaixão, para nos curar,
combatendo a cegueira do nosso espírito e a dureza
do nosso coração. Visita de provações, para nos
purificar: Purgélbil filios Levi, el colahil eos quasi
'1urum e/ quasi argenlum ( "'). Ouer habitar em nossas
almas; mt1s se as vê governadas pela natureza, sen­
suais, vaidosas, deixa-nos sentir o pêso das nossas
misérias, para nos obrigar a recorrer a êle. Visita
de amizade e ternura, que nos une mais estreita­
mente a Deus, e nos anima a sofrer, não só com pa­
ciéncia mas também com alegria. As duas primeiras
destas visitas dispõem-nos para a terceira. Ouanto
mais dóceis somos para com o Espírito Santo, tanto
mais dispostos -estamos a receber suas abundantes
consolações. E' verdade que lemos seml!)re os seus
dons, mas conservamo-los presos pelas nossas dissi­
pações, más inclinações e numerosas infidelidades.
Resistimos ao Espírito Santo, conll'islamo-lo; êle
mesmo se queixa disto; l como queremos que nos

(') Job. XXXVIII, n. - (2) Acl. V, 41.


3 lbid. IX, 31. - (4) M11I. 111, .J.
()

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACKlllJOTAIS

console? Procuremos purificar o coração ·com a vi­


gilância e mortificação ; o fervor da caridade cres­
cerá em nós, e em breve experimentaremos como o
Senhor é bom; poderemos então falar por experiên­
cia das consolações do Espirilo Sanlo.

Resumo da Meditação

1. i. Como nos consola o Espírito Santo? -


Pelos testemunhos que nos dá, pela confiança que
nos inspira, pelas mesmas exprobrações que nos faz.
Dá-nos dois testemunhos cheios de consolação, escla­
recendo-nos a respeito de Jesus Cristo, e do que
somos em Jes.us Cristo. A vinda do Espírito Santo
foi para os apóstolos como uma nova revelação de
Jesus Cristo; e sucede o mesmo com relação a nós,
quando se digna visitar-nos. Além disso revela à alma
cristã o que ela veio li ser em Jesus Cristo. - A c-on­
fiança que nos inspira d�scobrindo-nos o poder, a,
fidelidade, a bondade de Deus, infunde uma grande
paz em nossas almas. - As queix1:1s e censuras que
nos faz ouvir, são outra prova consoladora do seu
amor para connosco.

li. l Para quem são as consolações do Espí­


rito Santo? - Só são consolados os aflitos: Bema­
venfurados os que thor�m ! Os primeiros crisiãos,
abraçando a fé, expunham-se a fodos os sofrimentos,
e eram cheios de consolações. Não resistamos ao
Espírito ,Sànto,, purifiquemos nosso.s corações; apren­
damos ,a vencer .as nossas paixões, e em breve sabe,.
remos 9uão sµave é o Senhor.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
§ 2.º

Vr6prlo dos Santos

LXXII MEDITAÇÃO
2 de Fevereiro. - Purificação da Santíssima
Virgem
(Vêr antes, pág. 87)

LXXIII MEDITAÇÃO
10 de Fevereiro. - Santa Escolástica

Irmã de S. Bento, esta ilustre virgem consagrou-se


a Delis desde a i:i,ais tenra idade, e logo que chegou
à maioridade, retirou-se para o monte Cassino, e
fundou um convento de religiosas, a pouca'- distância
do mosteiro de seu irmão. Visitava a seu ii:mão uma
vez cada ano, e ocupavam-se em louvar a Deus e em
falar de coisas espirituais. A úllima vez que leve
lugar a costumada visita, depois de passarem o dia
a cantar salmos e a conversar sôbre diversos assuntos
de piedade, tomaram juntos a sua refeição à noite; a
Santa, que previra talvez que não !ornaria a vêr seu
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
.M'EOITAÇ!lES SACEROOTAIS

irmão, pediu-lhe que demorasse a partida até ao dia


seguinte, e que continudsse com ela uma conversa­
-ção, que lhe era tão proveitosa. Bento, fiel obser­
vante da regra, respondeu, que não a transgrediria
passando a noite fora do mosteiro. Contristada com
esta recusa, Escolástica põe-se a orar. Mal linha
concluído a sua oração, quando sobreveio um tão
violento lemporal, acompanhado de chuva, relâmpa­
gos e trovões, que Bento não pôde voltar para o mos­
teiro naquela noite; passou-a conversando cem sua
irmã a res�eito de Deus e da glória dos seus esco­
lhidos. Três dias depois, S. Escolástica morreu; e
S. Bento, que estava então em contemplação na sua
cela, viu a alma de sua irmã subir ao céu sob a
forma de pomba. Aprendamos desta Santa :

1. Ouanlo devemos amar II solidão;


li. As vanlagens das conversações espiriluais;
Ili. O poder que nos dá a inocência.

1. Amor da solidão. - Escolástica, apenas teve


notícia do retiro de seu irmão S. Bento, sentiu vivo
<lesejo de o imitar. Tinha-se já ensaiado na vida so­
filária em casa de seus pais; mas Deus linha a res­
peito dela maiores desígnios: numerosas virgens de­
viam a seu exemplo consagrar-se ao divino Rei (1).
Ela linha achado u Deus, não podia gostar senão de
Deus. Sua alma ardia em sêde daquele, que é a
fonte da fortaleza e da vida ( 2). 1 Oue belo dia aquele,
em que põde dizer com tõda a verdade: • Eu reti­
rei-me para longe, fugindo, e permaneci na. soli­
dão. 1 e) Buscar a solidão com ardor, permanecer

( 1 ) Ps. XLIV, 15.


f2) Silivit anima mea in Deum forlem vivum. Ps. XLI, :3.
(31 Ecce elongavi fugiens, e! mansi in soliludine. Ps. LIV, 8.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
�ANTA ESCOLhTIC:A

nela constanlemenle, é, diz S. Lourenço Justiniano,


o meio mais eficaz de fazer progressos na vida inte­
rior.
Com efeito, se para conversar com Deus convém
ter o espírito sossegado, a solidão é um pôrfo tran-'
qüilo. Se convém ler o coração puro para nos apro­
ximarmos do centro da mesmci pureza (1), ci solidão
é à sepultura das paixões que nos manchcim; inicia­
•nos de cilguma sorte na vidci dos ciníos. Se ci grciçci
é necessária pcira bem orar, t onde se recebe mciis
abundante do que na solidão, visto ser cili que nos
visitei o Espírito Santo, quando quer falar-nos cio co­
ração? (2) l • Sabeis, diz o pcidre Nouel, a rcizão
por que Deus vos não faz visitas mais freqüentes e
familiares? E' porque vos achei no mundo, ou por­
que achei o mundo em vós. Êle gostei de falcir em
segrêdo, e a vossci cilma quási nunca está só •.

li. Vantagens das conversações espirituais. -


Santa Escoláslicci só gozavci umci vez cada ano da
dila de conversar com seu irmão, de lhe expôr as
dúvidcis, de ouvir os seus conselhos e exorlcições; e
bcistava só esta conversação, para lhe inflcimcir a
almci e a guicir em todos os cciminhos da perfeição.
A última vez que Deus lhe concedeu êsJe favor, foi
para ela uma prepcircição próxima pcirci a morte: Oh 1
que inapreciáveis frutos podem produzir as conver­
seis piedoscis I Lembrai-vos das de Santo Inácio com
S. Francisco Xavier, das de S. Dciulo corn Tito e Ti­
móteo, das de Jesus Cristo com seus apóstolos, com
a Samaritana, Zaqueu, Mciria Madcilena, ele. e: Oue
coisa mais terna a êsle respeito que o que refere
Santo Agostinho? • Estava próximci a época, em

(l ) lncorruplio facil esse proximum Deo. S11p. IV, 2�.


(2) Os li, 14.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MF.DITAÇÕl>.8 8ACERllOTAl8

que minha mãe deixaria êste mundo·. Um dia, em


que ela e eu nos achávamos à borda do mar, sós e
sem teslemunhas, conversávamos com inexprimível
doçura: Esquecendo o passado, para não pensar­
mos senão nos bens futuros, pensávamos deante
de vós, ó meu Deus, que sois a imutável verdade,
que felicidade será essa que os olhos do homem não
viram, nem o espírito é capaz de compreender.
O nosso coração aspirava a essa felicidade suma, de
que sois, a fonte. Elevávamo-nos até, vós, falando de
vós e admirando as vossas obras; gozávamos já de
alguma. sorte as delicias da vida futura pelos nossos
veemenles desejos. Vós sabeis, Senhor, quão vis e
desprezíveis nos pareciam durante esta conversação,
as coisas mais aprazíveis da terra•.
A conversação dos Santos está nos céus ( 1 );
onde está a minha? ê.les não cessam de falar e de
ouvir falar de Deus ; l gosto eu destas santas con­
versações?

III. Poder da inocência.-David exclama:


Ouão bom é o Deus de Israel para os que são san­
los de coração! (2) E em outra parle: l Ouem su­
birá ao monle do Senhor? iOuem enlra no seu san/o
lugar? O inocente de mãos e limpo de coração (9).
Uma alma simples, que nada tem de que se ar­
güir, acha-se à vontade com Deus; espera tudo dêle.
Aquele que possui o Coração de Deus, possui, por
assim dizer, o seu poder. Escolástica deseja continuar
durante tõda, a noite uma conversação, que aumenta
incessantemente o seu fervoroso amor; se para isto
é necessário um milagre, l com que simplicidade o
pede? l Com que facilidade o obtém? Reclina a

( 1)Philip. 111, 20. - (2) Ps. LXXII, 1.


(ª) Ps. XXIII, 3, 4.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SA PA ESCOLÁSTICA 4'.!0

cabeça sõbre a mêsa que banha de lágrimas, e no


momento em que a ergue, é Ião abundante a chuva,
que S. Benlo não pode sair. i Oue ingénua resposta
lhe dá a Santa, quando, querendo êle repreender a
infracção à disciplina religiosa, que ,ela lhe faz come­
ter, lhe diz: Deus vos perdoe, minha irmã! Oue fi­
.zestes ?- • Na verdade, meu irmão, vós sois bom;
mas confessai que Deus é muito melhor do que vós.
Fiz-vos um pedido e recusosles-mo; recorri o Deus,
e ê/e atendeu-me. Parti agora, se podeis•. Mas,
l como ousastes vós, limida virgem, resislir a um ir­
mão, que veneráveis como um oráculo? l Ouem vos
disse que podia haver coisa melhor nêsse momento,
do que a sua austera exaclidão em observar uma
regra santa, que êle tinha estabelecido , e que devia
sustentar com o seu exemplo? Oh I quanto uma
alma pura é cheia de luz, e que poder tem sõbre o
Coração de Deus 1
Meditemos e digamos ·muitas vezes a oração da
Igreja no ofício dêsle dia: • O' Deus, que para nos
mostrardes o caminho da inocência, quisestes. que a
alma da vossa bemaventurada virgem Escolástica su­
bisse ao céu sob a forma de uma pomba, concedei­
-nos, por sua i_nlercessão, que lenhamos uma vida
tão inocente e Jão pura, que mereçamos também
alcançar a glória eterna• .

Resumo da Meditação

I. Amor da solidão. - Escolástica linha achado


a Deus; não podia gostar senão de Deus. i Oue
belo dia foi para ela aquele, em que pôde dizer:
• Fugi, para permanecer na sole_dade • 1 Buscar a so­
lidão, permanecer nela com grande constância, é o
meio mais ellcaz d'e progredir na vida interior. A so­
lidão é um pôrlo. tranqüilo, é a sepullura das pai-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4-__
30 M ED I TA Ç ,ÕES SACERPOTAIS
_______ _ _ _ _ �
xões e o berço das virtudes. Facilila a oração e ini­
cia-nos na vida dos anjos.

li. Vantagens das conversas espiriluais. -


é. Oue frutos tirou a nossa Santa daquelas que leve
com seu irmão? Lembrai-vos das de Santo Inácio
com S. Francisco Xavier, de S. Paulo com Tito e
Timóteo, e de Santo Agostinho com Santa Mónica.
A conversação dos San los está nos céus; é. onde
-está a minha?

Ili. Poder da inocência. - Uma alma pum


acha-se à vontade com Deus, e ousa esperar ludo
dêle. Aquele que possui o Coração de Deus, possui
o seu poder. O que Escolástica deseja, i com que in­
génua candura o pede I com que facilidade o obtém!

LXXIV MEDITAÇÃO
24 de Fevereirc,. - Eleição de S. Matias.
- Contemplação

(. Co�{emplar 11s pessoas.


li. Ouvir as p11l11vr11s.
Ili. Considerar 11s 11cções.

P1mrnn.o PI,ELÚl)IO. Depois da Ascensão, os:·


apóstolos, lendo voltado para Jerusalém, retiraram-se
pare um mesmo lugar, a-fim de ali esperarem a vinda
do Espírito Santo, conforme lhes ordenara Jesus.
Cristo. Os discípulos, em cujo número entrava
5. Malias, lã se reüniram também. Então S. Pedro1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
_______E_L_EIÇÃO DB S. M,\TIAS 63l
levantando-se no meio de lodos êles, fêz vêr a ne­
cessidade de substituir Judas. Foram propostos dois
discípulos: todos se puseram em oração, e lançando
series, caíu• a sorte sõbre Matias, que foi associado
aos onze apóstolos.
81mUNUU PBELÚ010. Figurai-vos o Cenáculo, já­
consagrado pela instituição da Eucaristia, pela apari­
ção de Jesus ressuscitado, e que em breve o será de
novo pela descida do Espírilo Sa_nto.
T1mc�;1 HO PHELÚUIO. O' Deus, a quem só per­
tence escolher os vossos enviados e ministros, fazei­
-me compreender a excelência desta vocação, e con­
cedei-me, como a S. Matias, a graça de cumprir fiel­
mente lodos os deveres que ela impõe.

1. Contemplar as pessoas. - São lodos discí­


pulos e apóstolos. A Igreja inteira está representada
nesle santo lugar, onde vêdes seu chefe visível, o
corpo docente, e uma parle dos lléis. 1 Oue sossêgo,
que caridade reinam nesta sociedade! Nada ali de­
nota ambição, ou intuitos humanos, que depois se
leem introduzido algumas vezes em deliberações,
onde tudo deveria vir do céu. Peneirai no interior
daqueles que a assembléia vai propôr para serem
eleitos, e daqueles .em quem poderá recair a escolha,
e vereis' em todos tranqüila humildade, sanla indife­
rença, antes temor do que desejo de alcançar um
cargo, que exige tantas virtudes, e lraz consigo tanta
responsabilidade. Só se cuida da glória de Deus e
do bem geral da Igreja. Oh! que idéia formam da
missão de um apóstolo, mõrmente da que vai ser
confiada ao sucessor de Judas! i Oue santidade lhe
será necessária para reparar o escândalo que ele
causou, e fazer esquecer a sua horrível queda! Se
nada lemos de que argüir-nos a respeito da nossa
vocação, se ela foi efeclivamenle' a obra do Espírito
Santo, agradeçamo-lo ao Senhor; mas lembremo-nos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

muitas vezes da advertência que nos foi feita: Per­


fecti esse dehenf qui divinis mancipanfur ofGciis.

11. e 111. Considerar as acções, ouvir as pala­


vras. - Pedro começa a exercer o supremo poder,
que Jesus lhe deu. Levantando-se no meio de seus
irmãos, fala com autoridade, interpreta e aplica a
Escritura com inteligência, prescreve com sabedoria
as regras da eleiç�o. Ouvem-no em silêncio, execu­
tam logo o que êle determina. l Donde lhe vem a
sciência sagrada, a arte de governar, a supremacia e
jurisdição que ninguém lhe contesta? l Não é êle um
pescador do lago de Tiberíades, que ai� ali só co­
nheceu a barca e a réde? Sim, mas sabe-se de
quem recebeu o poder que exerce; e julga-se ainda
ouvir o Salvador dizer-lhe: Pasce agnos meos, pasce
oves meas. A Igreja nascente olha-o como o repre­
sentante do filho de Deus, que subiu ao céu. Já se
manifesta admiràvelmente, nos apóstolos e em seu
chefe, o espírilo que lhes comunicou Jesus no dia da
ressurreição (1 ).
Pedro começa por lembrar o crime de Judas,
qui fui/ dux eorum qui comprehenderunl Jesum. De­
via conduzir e dirigir os adoradores do filho de
Deus, e pôs-se à frente dos que o crucificaram 1. Não
era a vocação que lhe faltava: Connumeralus era.f
in _nobis el sorfifus esf sorfem minisferii hujus. Vem
depois o seu terrível e. juslo castigo: Suspensus cre­
puif medius. finalmente a necessidade-de lhe dar um
sucessor: Et episcopafum ejus accipiaf alter. Pedro
propõe, que se eleja um duodécimo apóstolo, que
receba a plenitude do Espírito Sanlo, dê testemunho,
pela pregação e pelo sacrifício da sua vida, não só
da ressurreição do Salvador, mas também da ver-

( 1) Joan. XX. 22.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ELEIÇÃO DE S, MA'l'IA8

dade de tudo o que êle ensinou e confirmou por esta,


ressurreição. Pedro quer, que a esta eleição proceda
tôda a assembléia, lôda a Igreja, Ião interessada em
não ler senão pastores santos. Ef sfaluerunf Jo­
seph ... , qui cognomina/as esf jusfus el Mathiam.
Depois desta proposta, todos dirigem a Deus esta
oração: Tu, Domine, qui corda nosfi omnium, os­
fende quem elegeris ex his duobus unum, accipere
locum minisferii hujus ef aposfolafus, de quo praeva­
ricalus esl Judas, ui abiref in locam suum. l Óue
abismo é êsse, de que não nos preserva o sagrado mi­
nistério, onde até precipita mais profundamente àquele
que se atreve a profaná-lo? l Oue objeclo de medi­
tação para 5. Matias I Cecidif sors super Malhiom,
e/ annumeralus esf cum undecim aposto/is. Se, de
um lado, êle devia louvar a Deus que, por uma mise­
ricórdia lôda gratuita, o. incluía no número dos ho­
mens da sua destra, destinados a conquistar-lhe o
mundo, por outro lado, l podia êle não temer, pen­
sando naquele a quem vinha substituir? E' provável
que êsle. pensamento nunca se lhe apagasse da me­
mória, e o animasse à vigilância, ao zêlo e à cons­
tância na fidelidade em cumprir todos os deveres do
apostolado. Judas caiu, quando tudo contribuía para
tornar inabalável a sua virtude, quando lhe era Ião
fácil chegar à mais eminente santidade 1 . '. . 'E onde
caiu? ln locam suam!. . . l Onde está agora? Se
êsle pensamento não curn o ineu orgulho, o meu or­
gulho é incurável. Nusquom esf securifas, exclama
S. Bernardo, neque in coe/o, neque in poradiso, multo
minus in mundo; in coe/o enim cecidil Angelus, sub
proesenlia divinilafis; Adam in paradiso, de loco vo­
lup/afis; Judos in mundo de scholo Salvaforis ( 1).
Não nos limitemos a dar graças a Deus pela

(1) De div. scrv. XXX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

nossa vocação, e a considerar como lhe temos cor­


respondido; avive-nos a eleição de S. Matias o de­
sejo de contribuir, por todos os meios possíveis, para
a santificação do clero, primeiro objeclo da solicitude
da Igreja. Foi principalmente para obter bons padre5,
que ela inslituíu o jejum das ·Qua.lro Têmporas.
E' para chamar sõbre os seus ministros os dons mais.
abundantes do Espírito Santo, que ela diz tantas e
Ião ternas orações nos· ordenações sacerdotais. Enco­
menda-os lodos os dias à intercessão de M·aria:
Stmcfa Maria ... inferveni pro clero; acelera a sua­
eritrada na glória com uma oração especial na missa
pro defuncfis... Tõda a obra da Igreja assenta sô­
bre os sacerdotes;· é dêles que espera a glorificação
de seu adorável Espôso e a salvação de seus filhos.
Oremos pois, e incitemos os outros a que orem pelo
clero. Santa Teresa dizia às suas religiosas: e Pedi
a Deus duas coisas: a primeira, que 'êle anime os
ministros da sua Igreja; a segunda, que às ampare
no combate, e lhes feche os ouvidos aos cantos da
sereia. . . Não imagineis que seja inútil estar assim
continuamente ocupado em orar a Deus pelos defen­
sores da sua Igreja. Crêde que nenhuma oração é
melhor, nem mais útil que esta ( 1).

Resumo da Meditação

I: Conlemplar as pessoas. - Discípulos e após­


tolos; tõda a Igreja está representada no Cenáculo
com o seu chefe visível. i Oue dôce caridade, que
sossêgo, nesta sociedade de irmãos I Nada ali denota
a menor ambição. A glória de Deus, o bem geral
da Igreja, é o que preocupa lodos os espíritos e co­
rações.

(1) Caminho d11 perfeição, e. Ili.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
l!. TOMÁS DE AQUINO 435
li. e III. Considerar as acções, ouvir as palaM
vras. - Pedro começa a exercer o sumo poder que
recebeu. Fala; ouvem-no em silêncio, executam ime­
diatamente o que êle prescreve. Recorda o crime de
Judas e o seu terrível castigo. Propõe a eleição, e
determina o seu objeclo. Tôda a assembléia se põe
em oração, e depois procede à eleição. Roguemos
a Deus que envie à Igreja santos pastores, e oremos
muitas vezes pelo clero.

LXXV MEDITAÇÃO
7 de Março. - S. Tomás de Aquino. -
Estudos eclesiásticos

S. Tomás, descendente de uma ilustre família do


reino de Nápoles, nasceu no comêço do ano de 1225.
Mostrou desde a mais tenra idade extraordinária in­
clinação para o estudo. Aos dezassete anos, entrou
na ordem de S. Domingos, a-pesar da violência e
dos meios diabólicos empregados para o dissuadir.
A sua peneiração, a sua grande sciência, juntas a
uma admirável pureza e fervorosa piedade, alcança­
ram-lhe o nome de • doutor angélico•. Tendo-lhe
Jesus Cristo dilo um dia: Tens escrifo bem a meu
respeito, Tomás; i. que recompensa desejas fu ?­
Nenhuma outra senão vós, Senhor, respondeu êle.
Compôs, por ordem de Urbano IV, o ofício para a
fesla do Santíssimo Sacramento, a que linha parti­
cular devoção. Recusou constantemente as dignida­
des, que lhe foram oferecidas, e morreu em 1274.
Durante tôda esta obra só temos tocado por in-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
436 llilEDITAÇÕE8 SACERDOTAIS

cidenle o importante assunto dos estudos eclesiásti­


cos; meditemos hoje:

1. Suo necessidade,
li. Suas gr11ndes vanl11gens,
Ili. As disposições que requerem.

1. O padre tem sempre necessidade de estu­


dar, seja ,para adquirir novos conhecimentos, seja
para conservar os conhecimentos adquiridos.
t .º Estudar para aprender. e. Oual é o padre,
por mais instruído que se suponha, que não sente a
necessidade de alargar a c-sfera dos. seus conheci­
mentos? A sciência eclesiástica é imensa. Ouanto
mais se avança neste vasto campo, mais os seus li­
mites parecem afastar-se. A primeira das nossas fun­
ções é ensinar, docefe; eis a nossa missão. Para
ensinar a religião, convém sabê-la magistralmente.
S. Paulo quer que sejamos capazes de exorfar con­
forme a sã doutrina, e de convencer os que {1 con­
{r{Jdizem (1). e. Onde aprender.emas nós a expôr com
exadidão e precisão os dogmas da fé e os princípios
da moral, senão num estudo profundo e contínuo?
i Não sômos nós obrigados, ao sair do seminário, a
adquirir por nós mesmos, depois da educação ecle­
siástica que lá recebemos, uma educação sacerdotal
e pastoral, pois a primeira nos ensinou talvez mais
palavras do que coisas? Não devemos nós, àlém
disto, ser sacerdotes da nossa época ? E. quando as
sciências humanas vão em progresso; quando uma
emulação, que tende a generalizar-se, leva os espíri­
tos para a instrução, pode o clero recusar a si pró-

(1) Uf pofens sil exhorf11ri in cloclrino, sona, el eos qui con­


fradicunl arguere. Til. 1, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. TOMÁS DE AQUINO .\37

prio um género de consideração, que lhe é necessá­


rio para fazer o bem ?
2. 0 Estudar para conservar os conhecimenlos
adquiridos. As faculdades da nossa alma não se
debilitam menos ràpidamenle que as do nosso corpo,
quando deix�mos de as cultivar; e dentro em pouco
tempo esquece-se o que se havia aprendido. Cite­
mos duas graves aufori�ades: PrlJeplJrlJ opus fuum,
monel Spirilus sélncfus, ef cum id minime su/Gciélf,
sféllim subdit: ef diligenler exerce agrum fuum. Uli­
nam non conlingeref, quod !lJmen frequenlissime vide­
mus, aliquof nempe SlJcerdotes, qui inilio prlJecllJris­
sime confesslJrii munus susceperunf, inde. . . omni
sludiorum cura neglecla, prislinam morlJ!is theologiae
scienfilJm lJmilfere, ifo ui, qui in eiusmodi lJrle peri­
lissimi fuerunl, tandem exígua solum confuslJque ipsius
éirlis scienlia, primisque rudimenlis inslrucli, vix inler
lyrones adnumerenlur (1). -Nullus confesslJrius in­
lermilfere debel lheologilJe morlJlis sfudium quilJ ex
foi diversis quae ad hanc scienliam perfinenf, mu/fo
quélmvis lecfél, femporis progressu decedunf e men­
te l2). Acreditemos na experiência. - Era com receio
de perder os conhecimentos que tinha adquirido em
moral, que o bispo de Amiens se sujeitava a lêr to­
dos os dias um certo número de páginas da teolo­
gia de Doiliers. Por mais que façamos, vér-nos-emos
sempre na necessidade de dizer a Deus: lgnoranlilJs
meéls ne memineris ( 3 ); di-lo-emos sem que a nossa
consciência se perturbe, se nada tivermos desprezado
para aprender o que devíamos saber, e para conser­
var ·o que tínhamos aprendido.

(1) Bened. XIV. lnsfrucf. de Sacram. Poenil.


(2) S. Ligor. Prax. conf.
(�) Ps. XXIV, 1.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
438 ----------
MEDITAÇÕES S,ACERDOTAIS

II. Grandes vantagens dos estudos eclesiásti­


cos : favorecem a santidade sacerdotal, ao mesmo
tempo que a protegem e defendem.
1 .º O que acelera os nossos progressos na ver­
dadeira santidade, e nos faz ser assíduos no estudo,
é a vida retirada, a meditação, o espírito de sacrifí­
cio, o lf'gílirno e continuado uso nas nóssas faculda­
des intelecluais. A primeira necessidade de um pa­
dre estudioso é afastar-se do mundo e das suas fri­
volidades; comprnz-se em estar no seu gabinete de
estudo e na sua igreja. Gosta de lêr e de refleclir a
respeito do que lê e de si mesmo. Habitua-se a pro­
ceder conforme à razão ou à prudência. Há na sua
vontade um não sei quê de firme e de conslanle, que
o faz caminhar sem desvio e sem fraqueza para o
fim, que se propôs alcançar. Dizer que um padre é
estudioso, é dizer que é um homem enérgico ; por­
que a sciência não se adquire sem esforços. Con­
serva a sua alma em exercício, e dá incessanlemenle
um üli( alimento à sua aclividade natural . . . l Oue
coisa mais apta para nos fazer progredir na santi­
dade sacerdotal?
2. 0 Santificando-nos, o estudo protege-nos con­
tra as tentações que, sem êle, nos assaltariam. Isto
não quer dizer que pelo estudo evitamos lôda a
classe de tentações; mas então serão menos perigo­
sas. O estudo foi deixado ao padre corno um meio
poderoso para o subtrair à tirania dos sentidos.
Prende a imaginação, Ião terrível inimiga, quando lhe
permitem vagUear. é. Oue caminho poderá achar a
tentação para chegar até à alma, quando o espírito,
preocupado com graves pensamentos, reduz o corpo
a funções pura-mente passivas? O estudo purifica o
homem, espiritualiza-o, separa-o de ludo o que é ter­
reno. Ouando se trata da sciência divina, entregar o
espírito ao estudo, é elevá-lo ao céu.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8, TOM,Í.S llF: AQ!Jl!'i'O fi.39

III. Disposições que requer Q estudo. - A


sciência tem seus perigos: ScienfilJ inlllJf. Sem falar
de uma curiosidade temerária, de uma presunção in­
dócil, é para temer que familiarizando-nos com o que
os nossos mistérios leem de mais augusto, essas ver­
dades sagradas saiam do coração à medida que en­
tram no espírito. Pode .acontecer que se. saboreiem
tanto menos, quanto mais se aprofundam. Utilis le­
dio, diz S. Bernardo, ulilis erudi/io, sed mui/o mlJ­
gis uncfio necessiiria. S. Paulino escrevia a um de
seus amlgos : Temperdi lodos os vossos conhecimen­
ios com os senlimenfos dd fé (1). S. Tomás costu­
mava dizer que tinha aprendido mais aos pés cio
crucifixo do que nos livros. Para adquirir a sciência
de Deus, a oração é auxiliar indispensável do es­
tudo: Si sapientilJm invocaveris ... , scienliam Dei
invenies (2). Estudemos com ordem, com assidu·i­
dade, mas sem paixão.
O que mais imporia é pregunlar-nos a nós mes­
mos que fins nos propomos com o estudo. Oiçamos
ainda S. Bernardo: Sunf qui scire vaiuni eo fine
fãnfum ui scidnf, ef furpis curiosifas esf: qui scire
volunf ui scidnlur, ef furpis VlJnillJs esf: sunf qui scire
volunf ui scienlilJm vendanl, el lurpis quaeslus esl:
sunl quoque qui scire volunf ui lJedilicenf, ef carifas
esf: ef item qui scire volunf ui lJediGcenfµr, ef pru­
denfilJ esf. Estas duas intenções, santificar-se e san­
tificar o próximo, são as únicas que deve ter em
vista um bom padre.

Resumo da Meditação

'I. O padre tem sempre necessidade de -�&fu..


dar. - 1.0 Para adquirir novos conhecimentos; a

(1) Philosophi&m llde condi&s. Epist. ad Jovin.


(2) Prov. li, 3. 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
M-0 MEDITAÇÕES SACKRDOTAIS

sciência eclesiâslica é imensa. S. Paulo quer que


sejamos capazes de exortar conforme a sã doutrina,
e de convencer os seus contraditares. Só um estudo
profundo e contínuo pode pôr-nos em condições de
expôr com exaclidão e precisão os dogmas da, _fé e
os principios da moral. O clero nocessila de auto­
ridade, e nos nossos dias .desgraçadamente a sciên­
cia dá mais autoridade que a virtude. E' para de­
sejar que o clero dirija o movimento que leva os
espíritos para a instrução. 2. 0 Para conservar os
conhecimentos adquiridos; é fácil esquêcer o que se
sabia; acreditemos em Bento XIV e S. Afonso de
Ligório; acreditemos na experiência.

li. Grandes vantagens dos estudos eclesiásti­


cos. -Favorecem a virtude sacerdotal e protegem-na.
- Favorecem-na com uma vida retirada, com a me­
ditação, com o espírito de sacrifício, com o legílimc.
uso das faculdades intelectuais. - Protegem-na. O es­
tudo prende a imaginação, espiritualiza- o homem,
subtrai-o ao império dos sentidos. Ouando se !rafo
da sciência de Deus, entregar o espírito ao estudo, é
elevar o coração ao céu.

Ili. Disposições que requer o estudo. - A


sc,encia tem seus perigos: Scienfiél inllBI. Alimen­
tando o orgulho, pode enfraquecer e destruir a pie­
dade. Fecundemos e santifiquemos o estudo com a
oração, à imitação dos Santos· e especialmente de
S. Tomás. Seguindo a recomendação de S. Ber­
'nardo, não nos proponhamos outros fins nos nossos
estudos, senão a nossa própria santificação e � do
próximo.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOSÉ

LXXVI MEDITAÇÃO
19 de Março. - S. José. - Seus privilégios
e grandezas:
1. Como espôso de Maria;
li, Como pai P!)falivo de Jesus.

A devoção para com um San!� cujo nome anda


Ião inlimamenle unido aos dôces nomes de Jesus e
de Maria, terceiro favo de mel, exige de nós que o
veneremos pelas suas grandezas, que o imitemos pe­
las suas virtudes, e confiemos nêle pelo poder e
desejo q(!e tem de nos socorrer eficazmente. ê.stc
úllimo culto tem relação direcla com o seu patrocí­
nio; e será o objeclo da nossa meditação no dia em
que a Igreja celebra essa festa. Meditemos hoje e
àmanhã os privilégios e virtudes do espôso de Ma­
ria, pai adoplivo de Jesus : Jacob aufem genuif Jo­
seph, virum Mc,rilJe, de qua nafus esf desus (1).

1. Privilégios de S. José como espôso de


Maria : Virum MarilJe. E' o primeiro motivo da
nossa profunda veneração e das nossas felicitações.
Todo o esplendor da Santíssima Virgem, aos olhos
da fé, reflecle sõbre aquele que o mesmo Deus lhe
deu por espôso. t Houve jàmais união mais consen­
tânea de parle a parle? é. Oual devia ser o feliz
mortal escolhido pelo Senhor, entre todos os homens,
para participar do destino de sua Mãe? Esta só
consideração eleva S. José a uma dignidade quási
tão gloriosa para êle, como era para a incomparável

(1) Mallh. 1, 46.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Virgem a maternidade divina. Como ela, José pode
exclamar cheio de admiração e de reconhecimento:
recil mihi magna qui pol�ns esl. Oh! que honra e
felicidade há para êsle grande Santo nestas duas pa­
lavras: Virum Mariae ! Maria, essa cria lura de uma
ordem lôda di 'l'. ina, sobrelevada a lôdas as outras
por tantos privilégios: conceição imaculada, parlo
virginal, morte de amor, ressurreição antecipada,
gloriosa assunção; Maria, adornada de lôdas as vir­
tudes, de lôdas as perfeições, compatíveis com a na­
tureza humana; Maria, que lodos os Doutores, lodos
os Santos, lôdas as línguas, lôdas as gerações leem
louvado e louvarão sempre; Maria recebeu da mão
do mesmo Deus um espôso digno dt>la, e êsle espôso
é José; <1, não basta islo para que digamos, que não
havia outro semelhante a éle em glória e felicidade?
Non esl invenlus similis illi ( 1).
Ditoso José! eu compreendo, que não deplorás­
seis a perda do trono de David, a corôa de Judá;
a qualidade de espôso de Maria valia para vós mais
que lodos os tronos do universo. Dizei-nos, se po­
deis, qual foi o dote que vos trouxe esta admirável
espôsa, e os frutos que colhestes desta união sa­
grada. Dizei-nos de que tesoiros espirituais vos en­
riquecestes durante trinta anos, pelo !ralo contínuo,
pela fcrvenle oração e ardente caridade daquela a
quem Deus havia enchido de graça, e que, amando­
-vos como nunca espôsa alguma amou a seu espôso,
nada possuía que não quisesse repartir convôsco.
Peneirada dos sentimentos de seu filho, 1 quanto não
desejava poder acender por tôda a parte o sagrado
fogo do seu amor! (2) Mas I em que chamas não
abrasou ela o coração de José, Ião bem disposto
para os favores celestes!

11) Eccli. XLIV, 20. - (2) Luc. XII, 49.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOSJÍ

O' padre, felicitai S. José; admirai sua vocação;


e pensai também na vossa. Como espôso de Maria,
éle é o chefe da sagrada família. Ela nada faz sem
ordem e direcção de José. E' a êle que falam os
anjos, quer se lrale de ir para o Egiplo ou de vol­
tar para a Judéia; é a êle, assim como à augusta
Virgem, que é revelado o nome do adorável Menino.
Deus consliluíu-o chefe de sua casa, senhor de Ma­
ria, que observa fielmente para com êle a lei imposta
a tôdas as espôsas: Mulieres suhdi!ae sinf viris
suis (l). Confia-lhe o ,que tem de rnais caro: Cons­
lifuil eum dominum domus suae, e/ principem omnis
possessionis suae. Fá-lo seu ministro na ext"cução de
um mistério, que não é ainda tempo de manifestar ao
mundo.. O' padre, <'. não é isto o que vós sois na
Igreja, essa casa de Deus, onde exerceis ttrnlos po­
deres, onde desempenhais Ião sublimes funções, onde
cooperais pora Ião misericordiosos desígnios?
Como espôso de Maria, José foi seu bemfeilor;
salvou-lhe a honra, ti vida, ele. Adquiriu numerosos
direitos ao seu reconhecimento, por tudo o que fêz e
padeceu por causa de seu divino Filho Virgem San­
tíssima, <'. que não deveis vós também a todos os
bons sacerdotes? Deveis-lhe mais que a vossa gló­
ria, visto que promovem a de vosso filho. e. Não é
o seu zêlo que o faz conhecer e adorar? O' meu
Deus, chamastes-me pois a alegrar o coração de
vossa Mãe! na profissão que exerço, lenho muitos
meios de obter a sua afeiçào; bemdito sejais por
isso! Suplico-vos, que não cesseis de aumentar o
meu amor para com ela. Ouando êle fõr perfeito,
nada mais lerei a desejar no céu, onde ludo se in­
teressará pela minha felicidade, nem neste mundo, do
qual me desafeiçôa o amor de Maria.
------ -
·- -
-

(1) 1 Pefr. 111, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACEBDO_T_A____
IS _
_ _ _
II. Privilégios de 5. José como pai de Jesus:
De qua nalus esf Jesus.- Este lilulo é a conseqüên­
cia do primeiro: Si vir Mariae, diz S. Jerónimo,
ef paler Dei esf. Aqui principalmente o espírito
confunde-se contemplando as grandezas de S. José.
Ei-lo, por assim dizer, ass'ociado à glória da paterni­
dade divina, visto ser pai de um filho, que é Filho
único do mesmo Deus; pai, não por simples deno­
minação, mas por delegação do Padre Eterno, que
lhe dá sôbre o Verbo incarnado os direitos de um
pai sôbre seu filto; pai por óbra do Espírito Santo,
que lhe formou o cotação paternal em lôda a sua
perfeição, e lhe deu para com Jesus lodos os senti­
mentos, lôdas as emoções, lôda a dedicação de um
pai. O que êle não era por natureza, veio a sê-lo
pela graça. Como Maria, êle admira-se e alegra-se,
quando ouve predizer as grandes coisas, que há de
cumprir o divino Menino: Erant pater êjus ef mafer
miranles super his quae dicehanfur de illo. Como
ela, aflige-se, quando julga ler perdido êsse querido
objeclo de seu amor. i Com que ansiedade, com que
lágrimas o 6dsca em Jerusalém! Regressi ::,uni in
Jerusalem, requirenles eum. •Onde está êle? é.Üue
foi feito do precioso depósito, que o céu me havia
confiado? Oue profunda aflição! i E quão bem conhe­
ria Maria o coração de José, quando, achando a
Jesus, lhe dizia: Ecce paler luus ef ego dolentes
quaerebamus ie!
j Oue admirável paternidade, Ião consoladora
para nós, como foi gloriosa para S. José! t Veio êle
a ser pai do filho de Deus, sem que o fôsse de seus
filhos adoplivos? é. Pode o pai de Jesus não olhar
como filhos, os que Jesus olha como irmãos? Sim,
grande Santo, vós tendes um coração de pai para
com o Verbo feito carne, e tendes entranhas pater­
nais para com todos os que por êle e nêle foram
feitos filhos de Deus. Nós queremos participar dos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOSÉ

sentimentos de Jesus para convôsco, da sua ternura


filial, do seu respeito, ela sua inteira confiança.
Não omitamos na nossa meditação as inapreciá­
veis prerrogativas, que resultaram para S. José desta
celeste paternidade, e das quais participam todos os
bons padres. Como pai de Jesus, é encarregado
de o alimentar. Aquele que dá sustento aos famin­
tos ( 1 ), quer receber o seu pão quotidiano de um ar­
tífice, que não tem outro recurso senão o seu traba­
lho. José sustenta a Jrsus com 9 suor do seu
rõslo; mas i que ·suaves são as suas fadigas I Con­
serva uma vida que há de ser a salvação do mun­
do! . . . t Oue é o que principalmente forlifica um
bom padre em sua dedicação? Êste pensamento :
eu canse-me, abrevio os meus dias talvez; mas Jesus
viverá e reinará nos corações; contribuo para salvar
almas.
Como pai de Jesus, José tem a seu cargo go­
verná-lo. Dirige exteriormente àquele que tudo di­
rige no universo com infinita sabedoria, dá ordens
.àquele, cujos mandados lõdas as criaturas executam
no céu e na lerra. Et erd/ subditus il/Js. Coisa pas­
mosa ! os historiadores do Salvador só nos dizem
estas três palavras a respeito de dezóilo anos de
uma vida, que foi um encadeamento de prodígios;
querem por certo fixar a nossa atenção sõbre esta
maravilha de um Deus, Ião longo tempo e tão perfei­
tamente submisso a um homem, maravilha que se
perpetua no meio de nós pelo ministério sacerdotal ;
<'. pensamos nós nisto devidamente? O' padre, l que
fazeis vós ao aliar? t Não exerceis sôbre o mesmo
Deus uma autoridade ainda mais admirável? José
deu ordens ao supremo Senhor durante a sua vida
mortal e humilhada; e vós dispondes dêle à vossa
vontade, no seu estado glorioso !

(1) Oui ... d11t esc11m esurientibus. Ps. CXLV, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MIWITAÇÕES SACEFIDOTA IS

Como pai de Jesus, José é encarregado de pro­


tegê-lo, defendê-lo, e sendo necessário, de salvá-lo.
E salvou-o efectivamente, quando o subtraiu à sanha
de Herodes. Mas. esta grande honra <'. será exclu­
sivél de S. Josê? Não, eu acho-a- ainda no bom pa­
dre. Também êle é o protedor, e de alguma sorte o
salvador de Jesus. Protege a sua glória contra os
insullos da incrtdúlidade, da impiedade e da liberti­
nagem. Protege a sua adorável presença na Euca­
ristia, contra as irreverências e profanações sacríle­
gas; protege a sua vida nas almas, contra o pe­
cado mortal. que o expulsa delas. Se, por meio d o
meu zêlo, obsto a uma grave infracção d a lei di­
vina, preservo Jesus de uma nova crucifixão, se­
gundo a expressão do apóstolo S. Paulo ( 1 ).
Finalmente, como pai de Jesus, José recebe dêle
essas pro.vas de ternura, que contribuem tanto para
a consolação e felicidade dos pais. Para nos repre­
sentarmos essa scena patética, seria necessário peneirar
respeitosamente na casa de Nazarelh, e aí contem­
plar a José, tendo em seus braços o Menino Jesus,
que lhe chama pai, e lhe prodigaliza as mais ternas
carícias. Oh! que delicias enchiam então o coração
do ditoso pai I Mas, é. é o padre, que comunga to­
dos os dias, menos privilegiado que S. José? Êle
possui o mesmo bem, e possui-o de uma maneira
mais íntima.'.. Meu Deus, dai-me a pureza, dai-me
a caridade dêsle grande Santo, e nada terei que in­
vejar-lhe.

Resumo da Meditação

I. Privilégios de S. José, como espôso de Ma­


ria. - Todo o esplendor da Santíssima Virgem, aos

(1) Rursurn crucifigen(es sibimefipsis Filium Dei. Hebr. VI, 6,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOSÉ

olhos da fé, rellede-se sôbre seu espôso. é. Oual ha­


via de ser aquele que o mesmo Deus se dignou es­
colher enlre lodos os homens, para participar do
destino de s.ua M�e, para ser seu proleclor e defen­
sor?- José é o chefe da sagrad,a família, a qual
nada faz sem sua ordem e direcção. E' ·a êle que
os anjos falam. Deus escolhe-o para seu ministro
na execuçã9 de um dos mais belos desígnios de
Deus; e o padre?

li. Privilégios de S. José, como pai de Jesus.


-De·us dá-lhe sôbre o Verbo inca.rnado os direitos
de um pai sôbre seu filho. O que êle não era por
natureza, vem a sê-lo pela graça. - Na qualidade de
pai de Jesus1 é encarregado de o alimentar: José
ganha o sustento d(' Jesus, com o suor de seu rôslo.
E' encarregado de o guiar: dá ordens àquele cujos
mandãdos lôda a criatura executa. E' encarregado
de defendê-lo e salvá-lo; �ubtrai-ó à sanha de Hero­
des, e vem a ser o salvador do Salvador universal.
- finalmente, como pai de Jesus, José recebe dêle
as provas de ternura., que lanlo contribuem para a
felicidade dos pais. Oh I que parle eu posso ler em
lodos os favores, de que foi cheio êsle grande Sanlo t
Meu Deus, dai-me a sua pureza, a sua caridade, e
nada lerei que invejar-lhe.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

LXXVII MEDITAÇÃO
Três virtudes de S. José, particularmente
propostas à imitação dos padres

1. fé viva.
li. Profunda humildade.
Ili. Esperança inobalável.

I. Fé viva de S. José. - Ouando Deus predes­


tina um homem para um grande ministério, adorna-o
de tõdas as graças, que conveem à sua vocação, e o
tornam capaz de exercê-lo dignamente. Antes de ser
elevado à gloriosa dignidade de espôso de Maria, e
aos ministérios que lhe eram anexos, S. José foi dis­
posto para ela pelo dom de uma admirável fé. A fe­
licidade de Maria foi ler acreditado: Bell/8 qulle
credidisfi. foi também a felicidade de José. Êle crê
que pelo poder divino, a maternidade mais fecunda
não é incompatível com a virgindade mais pura, e
que Maria é chamada a realizar esta maravilha. Crê
que êsse pobre menino, nascido em um presépio, e
falto de ludo, é o Rei dos reis, o Criador do uni­
verso, a alegria dos anjos, o terror dos demónios.
Crê que o filho de Deus, vindo ao meio dos homens
para os salvar, se humilhou alé querer de alguma
sorte ser salvo por um homem: que éle, José, sendo
escolhido para Ião admirável minislério, deve levar a
Jesus para o Egiplo, através dos desertos, ainda que
ludo pareça demonstrar, que esta fugida é, não só
cheia de perigos, mas também absolutamente impra­
ticável. Crê a-pesar das obscuridades, a-pesar das
aparenles impossibilidades. A simplicidade da sua
fé, não é só origem de elevados méritos, mas obtém­
-lhe aquelas vivas luzes, que serão a sua rl'com-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TRÊ� VIRTUDES DE s. •rnsi:: 449
pensa. Tudo o que êle vê, ludo o que ouve, a ali­
menta; todos os obstáculos a fortificam, e em breve
Deus mostra-se quási sem véu, ao seu fiel servo.
Revela-the os seus segrêdos, comunic,a-lhe os seus
desígnios, fã-lo peneirar o mistério de seu Verbo in­
carnado.
Daí êsse profundo respeito que jàmais o aban­
dona nas suas relações mais familiares com o Me­
nino Jesus, na mesma autoridade que sôbre êle
exerce: ao mesmo tempo que lhe dá ordens, adora-o,
Daí também a dôce e contínua contemplação, as de­
lícias da vida futura, que êle começa a gozar na vida
presente.
A santidade e a bemavenlurança antecipada são
os frutos da fé viva. Pela fé nós crêmos o que não
vemos ; pela fé ardente vemos de alguma sorte o
que crêmos. A fé, diz Santo Agostinho, é a vista
do coração. Se esta vista é penetrante, e se lras­
passa as nuvens, logo o amor se inflama; l e não
é o amor de Deus, na sua plenitude e elevação, a
perfeição da terra e a felicidade do céu? Oh I quão
útil, quão cheia de luz e de santo .amor é· esta fé
para os padres I O sacerdócio é uma profissão tôda
de fé e de caridade, diz o Papa S. Leão ( 1). Exige
homens sobrenatu-rais e divinos. lDonde tiraremos os
impulsos generosos, o zêlo, a paciência e a lema
compaixão, indispensáveis aos que devem salvar as
almas, se a fé nos não ensinar o que elas valem ?
é. Comô estaremos nós ao altar com a profunda de­
voção que deve inspirar a presença de Jesus Cristo,
se não vemos, por assim dizer, os raios de sua gló­
ria por enlre as aparências, que o encobrem aos
olhos da nossa carne?

(1) Episl. XXVIII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

II. Humildade de S. José. - Duas coisas, que


·em uma alma menos iluminada ou menos fiel pode­
riam ser o escolho desta virtude, serviram em S. José
para a tornar mais sólida e mais patente: as humi­
lhações a que Deus o sujeitou e os favores de que
o encheu.
José descende da família mais ilustre do uni­
verso: é a que ·deve dar ao mundo um redentor;
conta vinte e !rés reis entre os seus antepassados;
mas está reduzido à indigência ; e para não sucum­
bir ao pêso da miséria, tem de exercer um obscuro
ofício, nos mesmos lugares onde seus anlepassados­
reinaram. E' necessário que êle se sujeite aos capri­
chos, à grosseria, ao desprêzo dos mais ínfimos dos
seus conterrâneos, e que lhe agradeça, quando o en­
carregam de alguma obra, e lhe pagam o seu traba­
lho; tal é a profissão que a Providência lhe prepa­
rou. Longe de se queixar, alegra-se por isso, e
aceita as humilhações dêsle estado. Nunca fala de
seu nascimento. Ouer ser tido por um plebeu, e co­
nhecido como filho de um arlífice: Nonne hic esf
{abri filius? Não busca outra glória, não tem outra
ambição, senão retirar-se do traio do mundo, para
ser mais fiel ao seu Deus.
Mas os favores que dêle recebeu, foram talvez
ainda para a sua humildade uma tentação mais pe­
rigosa. José é o deposilãrio de um segrêdo, que in­
teressu extremamente a todo o género humtmo. Se
êle manifestasse o mistério de um Deus incarnado,
confiado aos seus cuidados, é, que consideração não
poderia granjear, ao mesmo tempo que alcançaria
para Jesus Cristo justas homenagens? é, Porque não
o descobre - confidencialmente, ao menos a amigos
discretos? Parece que assim o devia fazer, para
glória de Deus e cumprimento de seus desígnios.
Esse Messias, tão desejado, não tinha descido à
terra para ser nela ignorado ; cêdo ou tarde havia

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TRê_S VIRTUDES DE S, JOSÉ

de ser conhecido; e. podia êle sê-lo muito cêdo? ...


i Oue motivos para folar 1 1 que pretextos um amor
próprio engenhoso nos leria sugerido em ocasião
tão difícil ! . . . José cala-se. Não está encarregado
de dar a conhecer o Messias; pelo contrário está
encarregado de o ocul!ar até ao dio marcado para a
sua manifestação. Limita-se ao ministério que lhe é
assinado, e a gozar em silêncio da sua felicidade.
O' José, eu venero em vós a sombra em que se
escondia a divina majestade: Posuisfi fenebras lafi­
bulum fuum. A vossa glória só aparece aos olhos
do Senhor e de seus anjos; os homens não são di­
gnos de a apreciar. Obtende-me a graça de com­
preender e saborear uma máxima, que praticastes
com tanta perfeição, e que eu nunca leio sem que ela
faça tremer o meu orgulho: Ama nesciri e/ pro ni­
hi/o repufari. Alcançai-me a humildade, que é o mais
belo ornamento do sacerdócio, o princípio de tôdas
as graças, o fonte de lodos os bens: Humilifas sa­
cerdolum gemma ( 1). - Nu/la splendldior gemma . ..
humililafe (2). - Saneia humilitas- exhibet praesulem
possessorem sui, acceplum Deo, huminihus charum,
dignum coe/o, angelorum socium, praeditum sancfi­
fafe, receplaculum Paracleli, confemplorem mund1�
diaboli viciarem (3).

Ili. Esperança de 5. Jo�é.-As contrarieda­


des firmam-na e tornam-na mais inabalável. Pode
dizer-se dêle, como do pai dos crentes, que esperou
contra lôda a esperança ( 4 ). A pobreza foi a menor
das suas tentações; tão superior às coisas da terra
o linha feito a sua fé viva I Só lhe foi penosa por
causa das privações e dos sofrimentos, que dava a

(1) S. Laur. Jusl. - (2) S. Bern.


(1) De ins(. e( regim. prael., e. XX!. - (4) S. Laur. Jus!.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Jesus e a Maria. Oh! quanto lhe custou em Belém


não poder oferecer outro asilo, senão um presépio
abandonado, àquela que o Messias escolhera para
sua Mãe, e que ia em breve dá-lo à luz 1 . . . Ainda
mesmo então, não lhe faltou a confiança em Deus, e
nunca foi melhor justificada: essa noile Ião triste­
mente começada, inundará de inefáveis delícias o co­
ração de Maria e de José.
Quando o Anjo lhe ordenou que partisse para o
Egiplo, é. preguntou porventura S. José quem lhe ser­
viria de guia, quem faria as despesas da viagem,
quem lhe daria os meios de sustentar o Menino e a
Mãe, num lugar onde nenhuns recursos leria? Nem
sequer procura conhecer quanto tempo durará o seu
exílio; basta-lhe saber que Deus o ordena.
A mais dolorosa das provações foi a cruel ansie­
dade, que lhe causart1m com relação a Maria as
conseqüências dum mistério, que êle ignorav'a ainda.
Oue fazer? que partido tomar? Recorre à oração;
volta-se para Deus. Nãq, Deus não o abandonará
em Ião justificada aflição. Oue feliz momento aquele,
em que o Anjo do Senhor vem dizer-lhe: Joseph, fifi
Ddvid, noli fimei'e accipere Mariam conjugem fuam;
quod enim in ea nafum esf, de Spirifu saneio esl I
O' santa esperança, virtude das almas grandes,
tu és em especial a virtude dos homens apostólicos.
Magnd dudenf, diz S. Bernardo, quia mdgni sunl.
Ouando por ordem do céu executamos alguma em­
prêsa, não são os perigos o que devemos temer; é
a nossa pusilanimidade. Omnia possum in eo qui
me confortai, eis o padre dirigido pela fé. Assegu­
ra-se da vontade de Deus, e depois vence lodos os
receios, todas as supostas impossibilidades., Sente
até um secreto prazer em se ver privado de lodo o
apoio humano, porque então entrega-se com mais
confianç11- nas mãos da Providência. Lembrai-vos de
S. francisco Xavier, de S. Vicente de Paulo e de

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TRÊS VIRTUDES DE S, JOS•i 453

outros Santos. Nada honra lanto a omnipotência de


Deus, como fazer omnipotentes os que nêle esperam.
Nihil omnipolenfiam Dei clariorem reddil, quam quod
omnipotentes facil omnes qui in se speranf ( 1). é. Por­
que me tenho eu privado tanto tempo do merecimento
e doçura de uma virtude que infunde na alma tanto
descanso, lanla fortaleza, tantas consolações? Oui
omnem sollicitudinem suam in Deum iacfaf, héJbel
ipsum Dominum in provisorem (2 ). - Cujus esf for­
liludo Dominus, Iam non cadif quam non cadif Domi­
nus (3 ). - O spes, tu omnia por/are facis du/cifer ef
suaviler (4). - S. Lourenço Justiniano diz da espe­
rançt1 : lpsa esf in labore requies, in aeslu lempe­
ries, in Delu solalium (").

Resumo da Meditação

I. fé viva de S. José. - A felicidade de Maria


foi ler crido; foi tamôém a de S. José. Êle crê,
a-pesar das obscuridades, ar-pesar das aparentes im­
possibilidades. Deus recompensa a sua fé com ínti­
mas comun,icações, que o fazem peneirar os misté­
rios. Daí es'sa profunda devoção com que adora ao
Menino Jesus, ao mesmo tempo que lhe dá ordens;
dai essa dôce e contínua contemplação.

II. Humildade de S. José. - Teve que triunfar


das humilhações, a que foi sujeito, e dos favores ce­
lestiais de que foi cheio. - Descendia da mais ilus­
tre família do universo; e em vez de reinar como
muitos dos seus antepassados, estava reduzido a co­
mer o pão com o suor de seu rosto, como o mais

(1) S. Bern. LXXXV. Serm. in Carl. - (2) S. Bon11v•


(3) S. Augusl. ln ps. CXVII.
l 4) )d. Serm. X. 11d Ír,11lres erem. - ( 5) Tv11cl. de spe, e. 11:

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

humilde artífice. Aceitou de boa vontade esta obscura


profissão. - A sua humildade mostrou-se ainda mais
nos insignes favores de que o céu o cumulou. Nem
a sua augusta união com a Mãe de Deus, nem os
sublimes ministérios, que se seguiram dela, lhe fize­
rnm esquecer o seu humilde estado. é. De que con­
sideração não teria êle gozado, se desse a conhecer
o glorioso ministério, que lhe fôra confiado? Abste­
ve-se de falar dêle.

Ili. Esperança de S. José. - As contrarieda­


des, longe de o abaterem, fortificam-no. Em Belém,
onde não acha albergue, na partida para o Egipto,­
na volta à Palestina, espera contra tôda a esperança.
Sua confiança foi sempre justificada. Oh! que fonte
de alegria ela foi para êle, quando o Anjo veio dizer­
-lhe: Não (emas receber a Maria lua espôsa ! ...

LXXVIII MEDITAÇÃO
21 de Março. -S. Bento

Se a festa dêsfe dia interessa particularmente ao


estado religioso, porque nela se honra o Santo que
teve a especial missão de estabelecer a sua regra e
de comunicar o seu espirita, não interessa menos ao
sacerdócio, encarregado de instruir e dirigir• as almas
religiosas e tõdas as que são chamadas à perfeição.
Nasceu pelos anos de 480, no ducado de Spoleto,
de pais nobres e ricos. Mandado para Roma na.
idtide de sete anos, fêz rápidos progressos nas sciên­
cias humanas, e ainda mais rápidos na da stilvação.
Aos quinze anos, buscou no deserto um asilo para

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. DENTO

a sua inocência. No meio de rochedos alcantilados,


orlados de precipícios, achou uma caverna, onde vi­
veu três anos, lendo por confidente do seu retiro um
homem caridoso, que lhe ievava cada semana alguns
bocados de pão. Descobriram-no afinal uns monges
da vizinhança que, à fôrça de instâncias, conseguiram
que os acompanhasse para o seu mosteiro e os go­
vernasse. Mas, como tentasse reprimir os seus abu­
sos, recusaram obedecer-lhe, e resolveram envene­
ná-lo. Misluram pois veneno com o vinho, e quando
o Santo eslava .ã mêsu, apresentaram-lhe o copo,
para que o benzesse na forma do costume; porém
apenas Bento fêz o sinal da cruz sõbre o copo, êsle
quebrou-se; e o Santo voltou para o seu retiro.
Foi seguido de Ião grande número de discípulos,
que edificou nesse deserto doze mosteiros, e mais
tarde o do monte Cassino, onde redigiu a regra da
sua Ordem, e morreu a 21 de Março de 543. No
momento, em que expirou, dois de seus religiosos,
em dois mosteiros muito distantes, viram uma via
luminosa, que se elevava da cela do Sanlo até às
nuvens, e ouviram uma voz que dizia: Por êsle cami­
nho, Bento, amado de Deus, subiu ao céu. Nenhum
Santo conhecemos em quem se manifestasse mais a
bênção do cento por um, prometida pelo Salvador
aos que renunciaram a tudo para o seguir. A graça
fêz-lhe achar de maneira prodigiosa:

I. À vida na morfe.
li. À riqueza n11 pobreza.
UI. À glória na mais profunda obscuridade.

1. Prodígio da graça· para com S. Bento que


acha a verdadeira vida na morte. - Se tivesse dei­
xado o mundo sàmenle para evitar os perigos que
nêle encontra a virtude, e trabalhar com mais segu­
rança na própria perfeição, poderia escolher um re-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
436 MEDITAf,ÕES SACE.RDOTA IS

tiro menos agreste, abraçar mortificações menos rigo­


rosas; mas, quando ·vemos um moço de quinze anosi
cercado alé então dos· cuidados que prodigalizam à
infância, sem consultar pessoa alguma senão a Deus,
encerrar-se numa caverna, onde só lerá a companhia
das feras, por leito ·uma pedra, por vestido um cilício,
e por alimento quási só raízes, deduzimos destas dis­
pos1çoes providenciais que Deus quer fazer dêle um
prodígio de santidade, e dar-lhe, em troca da vida
corporal que ·êle sacrifica, uma vida sobrenatural e
extraordinária.
E de facto, que aconteceu? As sucessivas aus­
teridades, que deveriam esgotar-lhe as fôrças em
poucos dias, não só lhas conservaram e aumentaram,
mas até pode dizer-se com alguma proporção, àcêrca
desta sepultura onde se linha enlerrado emquanlo
vivia, o que se disse do sepulcro do Salvador:
• A casa da morte veio a ser para êle a mansão da
vida. A concavidade de um rochedo é o seio de
uma mãe milagrosa, que concebe um morlo, e dá à
luz um vivo• ( 1 ). O animoso mancebo executa o
projeclo de morrer para si mesmo e para tudo o
mais, a-fim de viver só para Deus, e Deus retribui-lhe
com usura tudo o que sacrificou por êle; dá-lhe,
com a saúde, a sciência, e uma sciência mais pre­
ciosa, do que a que adquiriria em lõdas as academias
do universo. Fá-lo mestre de um povo de Santos e
de sábios. e. Pode-se porventura pensar nos filhos de
S. Benlo e nas suas obras, sem admirer lõda a seiva
que havia na raiz, ·donde saíram semelhantes vergôn­
leas, e que produziu frutos tão maravilhosos?
e. Oue é que nos conserva pusilânimes e tíbios?
Ouási sempre o louco pensamento de que é neces-

(1) Domus mortis mansio llt vifalis; u[eri nova forma mor­
luum concepil, pari! vivum. S. Petr. Chrys.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. BENTO

sário dar muito a Deus, para merecer que êle nos


eleve à santidade. Tememos perder numa !roca, em
que ludo é proveilo para nós! . . Compreende por­
tanto, ó alma minha, que a morte é a que conduz à
vida; que quanto mais le desprendes de teus inlerês­
ses humanos, mais mereces ser· cheia das bênçãos
celestes.

II. Prodígio da graça para com S. Bento, que


acha a riqueza na pobreza. - Êle podia esperar
ludo o que os homens buscam na fortuna, na cullura
do talento e no exercício do poder: a ludo renun­
ciou por amor de Jesus Cristo. e. Oue féz o Salva­
dor para o recompensar? Tratou-o como aos após­
tolos, e pareceu dizer-lhe como a .êles: •Vem após
mim; sendo pobre, melhor disposto estás para ser
enriquecido dos meus dons. Ouanlo mais abundante
é a fonte, mais vazio deve ser o vaso que ali vai en­
cher-se• (1).
Porque desprezou a herança paterna, e quis, à
imitação do Salvador, não ler onde reclinar a ca­
beça, os ricos do mundo abrem-lhe- os seus lesoiros;
mas assim como os apóstolos, quando os fiéis lhes
lançavam aos pés o preço de seus bens, não o em­
pregavam senão no alívio de seus irmãos, S. Bento
não recebe com uma das mãos senão para dar com
a outra, e fica Ião pobre c0mo se nada tivesse rece­
bido. Invejemos-lhe porém um cenlo por um mais
excelente, o dos bens espirituais, de que foi Ião co­
piosamente enriquecido.
S. Gregório disse dêle, que foi cheio do espírilo
.de lodos os jus/os (2); quer dizer, que o Senhor lhe
concedeu os diversos dons; q_ue reparle pelos outros

(1) Tom largo fon(i vos inane odmovendum esl. S. Aug.


(2) Spirifu omnium juslorum plenus fui!.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Sanlos; e o que mais admira, é que Benlo saiu da


sua caverna, adornado de lôdas estas riquezas da
graça, por uma espécie de criação nova: sábio, sem
ler estudado, doulor sem ter aprendido, legislador
sem ter lido" outra lei senão a do Evangelho, direclor
consumado sem que ninguém o tivesse dirigido.
A graça deu-lhe o espírito de govêrno como a Moi­
sés, de profecia como a Elias e a Eliseu, de zêlo
<:orno aos apóslolos.
Para ser mais perfeito servo de Deus, linha recu­
sado o poder e as dignidades, a que era chamado
pelo seu nascimento; e Deus reveste-o de uma auto­
ridade quási absoluta sôbre tôdas as criaturas. Os
animais, os elementos, os demónios, obedecem-lhe;
os mortos ressuscitam à sua voz: faz milagres, e co­
munica o poder de os fazer.
Oh I que bom Senhor nós servimos! Concentre­
mos todos os nossos cuidados nêle, e para deixar
em plena liberdade a acção da graça, não lenhamqs
apêgo às coisas do mundo, neguemo-nos a nós mes­
mos.

III. Prodígio da graça para com 5. Bento,


que acha uma glória incomparável na mais pro­
funda obscuridade. - Cheio de desprêzo de si mes­
mo, fugira a empreender tudo o que fôsse ilustre na
ordem das coisas humanas; Deus, porém, escolhe-o
para cumprir altos e magníficos desígnios. Ouanto
mais se esconde, lanlo mais a Providência parece
mostrá-lo. Foge da vista do seu século, e vem a ser
um objeclo de veneração para todos os séculos. Re­
tira-se do mundo, e os mais distintos personagens
do mundo buscam-no no· deserto. Os príncipes, os
bispos consultam-no como um oráculo. Respeitado
dos grandes, amado dos pequenos, faz-se temer ainda
mesmo daqueles que espalham por tõàa a parle o
terror; lembrai-vos de Tótila aos pés do humilde so-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. BENTO

litário (1). Mas nada fêz tanta honra a S. Bento


como a fundação de uma ordem célebre, que se pro­
pagou Ião ràpidamenle por lôdBs as parles da Eu­
rnpa, servindo ulilmenle a Igreja pelos seus escrito­
res, seus apóstolos, seus mártires. e por numerosos
sumos pontífices e santos bispos {2).
Honremos êste iluslre mestre da vida monáslica
e religiosa. Invocando-o, recorramos também à in­
tercessão dessa inumerável multidão de bemavenlura­
dos, que leem entrado depois dêle no reino da gló­
ria pelo caminho luminoso que lhes traçou. Como
5. Bento. e os seus discípulos fundemos o edifício da
nossa, santificação sôbre quatro colunas inabaláveis:
a oração, o trabalho, a mortificação dos sentidos e
o silêncio.

Resumo da Meditação

I. Prodígio da graça para com S. Bento, que


acha a verdadeira vida na morte. - O animoso
mancebo executa o projeclo de morrer para tudo e
para si mesmo, a-fim de viver só para Deus; e em
troca da vida corporal, que êk sacrifica, Deus dá-lhe
uma vida sobrenatural tôda extraordinária. Com­
preende, alma minha, que nunca o Senhor se deixa
vencer em generosidade; compreende, que é a morte
que conduz à vida; quanto mais le despojares do que
é humano, fanlo mais revestida serás do que é divino.

(1) t.sle príncipe, querendo experimenlar o espírilo profélico


de Bento, disfarçou-se, para saber dêle qual seria o seu destino;
mas o Sonto recpnheceu-o, predisse-lhe o que lhe havia de aconte­
cer, e que, passados nove anos, seria o fim de suas conquistas e
de sua vida.
(2) Em 1780, segundo Godescard, a ordem de S. Bento
conlava )7;000 casa�. Supondo sõmen(e 10 monges em cada uma,
eram quiisi 400:000 pessoas, que viviom sujeifos à sua regra.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
460 l!EDITAÇÕES SACERDOTAIS

li. Prodígio da graça para com S. Benfo, que


a.cha a riqueza na pobreza. - Porque desprezou
a herança paterna, e quis como o Salvador,- não ter
onde reclinar a cabeça, os ricos abriram-lhe os seus
tesoiros. Invejemos-lhe principalmente o grande au­
mento dos bens espirituais, de que foi abundantemente
provido. Ele foi cheio do espírito de todos os jus/os.
Oh ! que bom mestre nós lemos ! Concentremos nêle
lodos os nossos cuidados.

III. Prodígio da graça para com S. Bento, que


acha uma glória incomparável na obscuriclade mais
profunda. - Ouanlo maís se esconde, tanto mais a
Providência parece mostrá-lo. foge do mundo, e
ludo o que no mundo há de mais distinto vem bus­
cá-lo em seu deserto. Mas nada faz tanta honra a
êsle grande Santo como a fundação da sua Ordem.
Como S. Bento, firmemos o edifício da nossa santi­
ficação sôbre quatro colunas: a oração, o trabalho,
o silêncio e a mortificação.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ANUN CIAÇÃO
,

LXXIX MEDITAÇÃO
25 de Março (1) - A Anunciação

I. A embaixada que o céu envia a Maria.


n. Como recebe a Sanlíssima Virgem esta honr11.
III. Grandez11 de ânimo que mostr11 nesle mistério.

PRmEmo PR!i:LÚoro. Transporlemo-nos com o


pensamento à morada da Santíssima Virgem em Na­
zareth. Consideremos o seu pobre quarto, as suas
dimensões, a sua mobília. Tal é o templo, onde vai
efecluar-se o inefável mistério da Incarnação. Ma­
ria ora.
SEGUNDO PllELÚDIO. Imploremos por interces­
são da Santíssima Virgem, a graça de participarmos
das suas santas disposições, nós sacerdotes, que le­
mos tanta parle nas SUf\S grandezas.

I. O céu envia uma embaixada a Maria. -


Solenidade, objeclo, fim desta embaixada. - Gabriel,
tJ fôrça de Deus, é o mensageiro celeste. Vem em
nome e da parle do Senhor: Missus a Deo. 1'odo
o céu está alento ao grande acontecimento que vai
verificar-se, pôsto que tenha nêle muito menos inte­
rêsse que a terra ! - ê De que se trata?
De reconciliar Deus com o homem. A Santís­
sima Trindade não diz como outrora: • Façamos o
homem à nossa semelhança•; diz: • Façamos Deus

(1) A festa dêsfe di11 tem dois objecfos: a lnc11rn11çiío do


Verbo, e II Anunci11çiío d11 S11nlíssim11 Virgem. Encarãmo-la sob o
primeiro aspecto na ,medi111çiio do 2.0 volume, pág. 97; consiile­
r11mo-la 11qui sob o segundo.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4fi2 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

à semelhança do homem; façamos o Homem-Deus,


e por êle seja reparada a ruína da humanidade cul­
pada. A justiça manifestou-se no castigo dos anjos
rebeldes; manifeste-se - a misericórdia na salvação dos
homens! . . . O' prodígio de amor, ó· benefício ines­
perado! l Será algum.:1 vez necessário lembrá-lo aos.
mortais? A pessoa do Verbo vai livrar-nos do in­
ferno, e elevar a nossa natureza até ao trono da divin­
dade 1 - é. Oual é o fim desta embaixada? é. Aonde
vai o mensageiro celeste? l A quem oferecerá a mais
insigne honra, que o mesmo Deus pode oferecer a
uma criatura? Havia então, como hoje, nobres prin­
cezas revestidas de púrpura, caberias de oiro e de
pedras preciosas . O Criador do Universo pro­
cura uma Mãe neste mundo; não a procura nos palá­
cios, nem entre o que brilha aos nossos olhos car­
nais. Realiza-se a palavra de Daniel, quando nos
representava a Deus sentado sôbre os querubins, e
olhando ao fundo dos abismos ( 1 ). E' num abismo
de humildade que a Santíssima TrindDde fixa os olhos,
para escolher uma habitação para um Deus humi­
lhado.
O' padre, não alra"ireis a benévola atenção do
Senhor para vós, e não sereis digno de concorrer para
a obra da sua misericórdia, senão em proporção de
vossas humilhações voluntárias: Excelsus super omnes
gentes Dominus. Humilia respicif in coe/o ef in ferra (2).
Foi pois enviado um arcanjo, a quem? A uma
Virgem, que nãó é, na opinião dos homens, senão a
espôsa de um pobre artífice, e que é menos ainda,
que não é nada, segundo o seu próprio pensamento.
E.' nela e em seu favor, que o Todo-Poderoso quer
operar a mais pasmosa maravilha. 1 Oue atenções
tem Deus com ela I Não lhe envia o anjo S. Gabriel

(1) Dan. III, 55. - (2) Ps. CXII, 4, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ANUNCIAÇIO

para lhe intimar ordens, mas para lhe pedir um con­


sentimento. Digna-se negociar com Maria o que po­
dia ser o objecto de um decreto absoluto. e. Como
suportará ela o pêso das grandezas tão imprevistas
e incompreensíveis, que vão ser-lhe anunciadas?

li. Maria recebe a embaixada celeste e a


honra da divina maternidade. - Meditemos nas pa­
lavras do Anjo e nas respostas da Virgem, que êle
saúda com tanto respeito. Encontraremos nas pri­
meiras o que o céu pode oferecer de maior, e nas
segundas o que a terra pode. produzir de mais santo.
lngressus angelus ad eam dixif: Ave grafia plena.­
Dominus /ecum : henedicfa tu in mulierihus. - Em
três palavras, que magnífico elogio I Maria devia
acreditar nêle: era Deus que lho fazia pela bôca de
seu embaixador. Nós, cegos, cheios de misérias, se­
parados de Deus talvez ·pelo pecado, e dignos de
tõdas as maldições, damos crédito a qualquer palavra
que nos lisonjeia, de qualquer parle que ela nos ve­
nha.- Maria turba-se, porque o céu lhe dá louvores
que lhe são devidos: Ouae cum audissel turba/a esf
in sermone ejus; e eu perturbo-me, aflijo-me, se me
recusam louvores, de que sou tanto mais indigno,
quanto mais julgo merecê-los! ... Sua turbação era o
indício de sua humildade; ê.que prova a minha, senão
o meu orgulho? - Maria pregunla-se a si mesma:
i que saüdação é esta? CoQiiahal qualis esse/ is/a sa­
iu/alio: que prudência! E eu entrego-me sem des­
confiança ao contentamento e alegria, quando me dão
uma prova de estima, ditada muitas vezes pela lisonja,
que vem alimentar o meu amor próprio! ... - Oue
demência 1 e muitas vezes que perigo!
O Anjo. apressa-se em tranqüilizar a humilde Vir­
gem : Ne timeas, Maria; invenisfi enim grafiam apud
Deum. ê. Oue podemos temer, quando achamos graça
deante de Deus? ê. Oue podia recear a crialura amada

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERílOTAIS

do Senhor entre lôdas as criaturas, aquela a quem é


anunciado que eslava predestinada para ser Mãe do
Altíssimo; que seu Filho reinará não só sôbre a casa
de Jacob, mas também sôbre lodo o universo, e que
o seu reino não terá fim? - Não obstante isto, Ma­
ria não está ainda tranqüila: é virgem, e não quer
deixar de o ser. é. Como se conciliarão as grandezas
que lhe anunciam. com o voto que fêz e que jàmais
quebrantará? i Ouomodo fiel islud, quonidm virum
non cognosco? Não há nesta pregunla desconfiança
nem dúvida; ela crê de antemão o que o mensageiro
vai dizer-lhe: Non erif impossibile dpud Deum omne
verbum. E' um sentimento espontâneo, é a súbita
expressão de seu extremo amor ã, pureza. O' Vir­
gem, 1 quanto esta ·disposição de vosso coração é
agradável a Deus e c�nforme aos seus desígnios a
vosso respeito I Foi ela precisamente, que vos alcan­
çou a mais gloriosa de lôtlas as escolhas. Gabriel
explica-lhe a inefável maravilha. Spirifus 5dnclus
super11enief in te e! virtus Altissimi obumbrabit libi.
Maria dá então o seu consentimento, em poucas pa­
lavras, que nos revelam tôdas as suas virtudes: sua
fé, sua humildade, sua obediência, seu amor para
com Deus, seu ardente desejo de cooperar para a
salvação dos homens; mas principalmente a sua ma­
gnanimidade : Ecce ancilla Domini, fiai mihi secun­
dum verbum fuum.

II. G'6ndeza de ammo de Maria no mistério


da Anunciação. - Mostrou-se esta virtude tanto na
recusa que eslava disposta a dar àcêrca da materni­
dade divina, como depois no consentimento que deu.
Santo Ambrósio, Santo Agostinho, S. Bernardo
e muitos outros Doutores da Igreja, declaram positi­
vamente que Maria receou que a sua pureza virginal
sofresse na conceição que o anjo lhe anunciava; e
que se ela não pudesse ser virgem e mãe ao mesmo
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ANUNCIAÇÃO 41i5
tempo, preferia permanecer o que era: Angelus par­
tum nunfi(Ji; ai ilia virginilafi inhaerel; ef inlegrila­
lem angelicae demons/rafioni anfeponendam judi­
cai ( 1 ). - Ela pensava com razão que a graça que
nos santifica e nos !orna agradáveis a Deus, é prefe­
rível em si a todo o favor que só nos engrandece e
exalta. - Mas, l que sublimes sentimentos supunha
semelhante resolução? Mais esclarecida que os an­
jos, Maria conheciti o preço do que ela eslava dis­
posta a sacrificar. O' Rainha das virgens, outras vi­
rão depois de vós, e militarão d'ebaixo da bandeira
que levantais; rnas se a sua coragem merecerá lou­
vores, e. quantos mais• não merece a vossa? Elas
consentirão em conservar-se virgens, para serem es­
põsas do Filho de Deus; e vós, para permanecer vir­
gem, renunciais .à honra incomparável de ser sua
Mãe ! . . . i Oue grandeza de ânimo era necessária
para recusar semelhante maternidade! Nem era me­
nos necessária para a aceitar.
Maria não se· enganava a respeito das conse­
qüências, que lhe resultariam do seu consentimenlo;
sabia que, dando-o, sacrificava seu descanso e sua
vida, e infinitamente mais, o Filho de Deus de que
seria Mãe. Tinha lido nos profetas lôda a história
dêsse Filho Ião justamente amado, e linha compreen­
dido a sua imolação. e. Oue heróica fortaleza lhe foi
necessária, para se sujeitar às aflições que ela pre­
via? O' Virgem, vós sereis Mãe dó mais amável de
todos os filhos; mas a sua mesma am11bilidade fará
o vosso tormento. é. Oue alegria podereis sentir na
sua présenço.? Não o vereis jàmais, sem que a sua
Cruz e lodos os opróbrios e tormentos da Paixão
vos lembrem ao mesmo lempo. 1 Oue terror vos
causa êsle só pensamento! Assim é que, quando

(1) S. Greg, Nyss.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Mlfi MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

oiço a vossa resposta: • Eis a escrava do Senhor,


faça-se em mim, segundo a tua palavra•, julgo ouvir
a Jesus no hõrlo das Oliveiras, aceitando o cális
amargo, sácrificando-se por amor a se� Pai, e por
nós. Receber a mais incompreensível· de tõdas as
honras é da vossa parle o mais generoso de todos
os sacrifícios.
O' Maria, 1 quão longe estou de vossas virtudes,
ainda que a minha dignidade lenha tanta semelhança
com a vossa 1 1 Oqe pureza inalterável, que fortaleza,
que santidade admiro em ,,.ós, sem deixar de me es­
pantar com a Igreja, de que o Verbo se não horro­
rizasse de incarnar em vosso seio virginal I Mas,
i quanto mais me devo espantar, adorando lodos os
dias o mesmo Verbo incarnado nas minhas mãos! ( ')
O' minha boii Mãe, dai-me ao menos uma parle­
zinha dess6 profunda humildade, em que reconheceis
a causa de vossa grande felicidade. Ouia respexif
humilifafem ancillae suae . .. , beatam me dicenf omnes
generafiones. Sim, eu quero comb vós, humilhar-me,
aniqüilar-me mais e mais, para que o Senhor olhe
para mim e me abençõe : Oui in alfis habifal, el hu­
milia respicil in coe/o ef in ferra (2).

Resumo da Meditação

1. O céu envia uma embaixada a Maria. -


l Oual é o seu objedo? Trata-se d� reparar a grande
ruína da humanidade culpada. l Oual é o fim desta
embaixada? l A quem vai ser oferecidà a honra
maior, que o mesmo Deus pode oferecer? O' alma

(1) Vere veneranda sácerdolum dignifas, in quorum menibus


Dei filius veluf in ulero Virginis incarnofur 1 5. Aug. opud Mo­
lino, de dign. sacerd.
(�I Ps. CXII, 5, 6.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ANUNCIAÇÃO

minha, l queremos nós merecer a atenção do Altís­


simo, atrair os seus favores? ·humilhemo-nos.

II. Maria recebe a embaixada celeste. - Me­


ditemos sôbre as palavras do Anjo, e as respostas da
augusta Virgem : Deus te séJ/ve, cheiéJ de graçéJ ...
ele. Oue belo elogio ! Era Deus que o dirigia a
Maria pela bõca de um anjo. .. Ela turba-se; dis­
corre pensaliva; que humildade! que prudência 1 •.•
Gabriel tranqüiliza-a; l que tem ela a temer, tendo
achado -graça deanle do Senhor? O Anjo explica-lhe
como se cumprirá o mistério; e então Maria con­
sente: ra<;éJ•Se em mim, segundo éJ ÍUéJ palavrn.

Ili. Grandeza de ânimo de Maria no mistério


da Anunciação. - Aparece na recusa que eslava
disposta a dar, e no consentimento que deu. - Ma­
ria recusaria antes a maternidade divina, do que per­
der a sua virgindade. Para serem espôsas do Verbo
incarnado, outras consentirão em permanecer virgens;
e Maria, para se conservar virgem, renunciaria à fe­
licidade de ser Mãe de Deus I Mas aceitando essa
hon·ra, Maria não mostra menos magnanimidade.
Êste Deus feito homem há de expiar todos os peca­
dos dos homens; ah I que sofrimentos Maria prevê
para seu filho e. para si mesma I Receber a mais
sublime de tõdas as dignidades, era da sua parle o
mais generoso de todos os sacrifícios.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ME:DITAÇÔKS SACE:tDOTAIS

LXXX MEDITAÇÃO
O mesmo dia 25 de Março. -A Ave-Maria

A saüdação angélica tem duas parles distintas :


a primeira é um cântico de louvores, composto das
mesmas · palavras que o Espírito Santo inspirou a
S. Gabriel e a Santa Isabel, em honra da Santíssima
Virgem ; a segunda é uma breve petição acrescen­
tada pela Igreja. Em seu conjunto estas duas parles
resumem os nossos deveres para com Maria, visto
que êstes deveres consistem principalmente ·em hon­
rá-la corno nossa Rainha, e invocá-la corno nossa
medianeira e Mãe. Mas ê necessário que a nossa. fé
vivifique esta oração, e que dizendo-a, nos animemos
dos sentimentos do Espírito Santo e da Igreja.

1. O Espírito Sanfo ensina-nos com as pala\'ras de Gabriel e de


0

Isabel como devemo s. honrar Maria.


li. A Igreja ensina-nos pela oração que lhe acrescenfo, como de­
vemos invocá-la.

I. Aprendamos do Espírito Santo como deve­


mos louvar e honrar Maria. - Ouando meditamos
nas palavras do Anjo e de Santa Isabel, descobri­
mos nelas urna fonte inesgotável de luzes e de pios
afeclos.
J. 0 Ave, Maria. Consideremos primeiramente a
quem prestamos o nosso culto. é. Oual é o nome
dessa criatura excelsa, que sa.üdarnos com o arcanjo
Gabriel? Maria! t H� algum mais dôce, depois do
adorável nome de Jesus? i • Oue grande, que miseri­
cordiosa, que digna de louvor sois, ó Maria I Não
se pode pronunciar o vosso nome, sem que o cora-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A AVÉ-MARIA 4-6!)

ção se inflame. Basta que se ofereça ao pensamento


dos que vos amam, para os encher de alegria e con­
solação• (1).
2. 0 Grafia plena. Maria é cheia de graça. Salomão
viu-a caminhando como a aurora, quando se levanta ;
formosa como a lua, escolhida como o sol: Sicuf
aurora consurgens, pulchra ui /una, elecfa ui sol (2).
Mas estas graças exteriores são apenas um reflexo
da sua bela alma: Omnis gloria liliae regis ab inlus.
E' lôda cheia de dons celestes: Grafia plena. A nós,
a graça é-nos dada com proporção; mas em Maria
entrou como um rio no tabernáculo do Senhor, para
santificá-la, e fazer dela o canal de tõda a santifica­
ção (3). Maria é cheia de graça pelo privilégio da
sua imaculada conceição, e pela sua perfeita coope­
ração com lôdas as que recebeu sem cessar, desde o
primeiro instante; lem-a para si, tem-a para nós lo­
dos, di-z S. Tomás, e para tõdas as nossas misé­
rias (4 ).
3. 0 Dominus fecum. O Senhor é sempre com
Maria, assiste-a, protege-a, comunica-se· ao seu espí­
rito e coração, com uma plenitude proporcionada aos
seus merecimentos e à sublime dignidade a que a
elevaram a sua santidade e as suas virtudes. Deus
eslava com ela duma maneira tõda inefável, ainda
antes da Incarnação; é. que diremos desde que habi­
tou durante nove meses em seu seio mais puro que
o sol?
O' meu Deus, quando desço do aliar, é, sou eu
menos favorecido que vossa Mãe? é. Onde estais

(1) O magna, o pia, o mulfum laudabilis, Maria! Tu nec no­


minari peles, quin occendns, nec cogilari quin recrees affeclus dili­
genlium !e. S. Bern. ap. S. Bonav. Specul. B. M. V.
! 2) Canl. VI, 9. - ( 3 ) Ps. XLV, 5.
( l ) Plena grafia quoad refusionem in omnes homines. Opus­
cul. in Saiu!. Ang.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4í0 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

vós, Senhor, nesse precioso momento? l Não me


diz também a mim o meu Anjo, para me faze('
apreciar a minha felicidade, Dominus fecum? Ah 1
quão de-pressa o esqueço I Divina Mãe, assisti-me;
rogai comigo e por mim, quando, eslando próximo a
contrair com Jesus Ião íntima união; lhe faço esta
súplica: Et lJ fe nunqulJm separari permi/!lJs. Sim,
seja êle sempre comigo; com o meu espírito para o
esclarecer, com o meu coração para o abrasar em
amor; seja sempre comigo nos meus trabalhos, nas
minhas intenções, nas minhas provações ... , para
que eu seja sempre com êle e convôsco em seu
reino.
4. 0 Benedicla fu in mulierihus. Maria ! l quem
a não louvaria no céu e na terra? l Ouem a não
-bemdiria não só entre lõdas as mulheres, mas ainda
enlre lodos os Santos, todos os anjos, tôdas as cria­
turas? l Há alguma oulra que fôsse escolhida para
ser Mãe do Criador; alguma outra, cujo filho vir­
ginal livrasse os filhos de tôdas as mães da maldi­
ção atraíd1:1 'pela nossa primeira mãe?. (1) Bemdila
pois sejais, ó Maria, pelos abundantes privilégios e
bens espirituais que admiramos em vós; bemdila se­
jais pelas numerosas misericórdias que derramais sô­
bre nós; ·bemdita sejais pela infinita dignidade a que
vos elevou o filho de Deus incarnado em· vosso
seio; bemdita sejais pela imensa glória que tendes
no céu ( 2 ). O' pastor, ponde êsles louvores de Ma­
ria nos lábios aindu puros de vossos filhos; ensi­
nai-os a bemdi:.:ê-la e a amá-la; nada podeis fazer
de mais agradável ao céu, nem mais úlil ao vosso
povo e a vos.

( 1) Benedic!a lu infer mulieres, per cujus parlum virgineum a


na!is mulierum malediclio primae malris exclusa esl, bed,, ap.
S. Bon. Specul. B. V. M.
(2) S. Bonav. Specul. B. M. V.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A AVÉ-lfAIIIA 4it

5. 0 Et benediclus fruclus venlris fui, Jesus. Es­


tas palavras de Santa Isabel são ao mesmo tempo
uma felicitação drrigida à Santíssima Virgem, e um
hino à glória de Jesus Cristo, Maria não tem valor
senão por Jesus, e em atenção a Jesus. Sua mater­
nidade divina é o foco donde irradiam os esplêndi­
dos raios que a corôam. O filho é pois o têrmo de
tôdas as hc:mras que rendemos à Mãe, assim como é
o seu princípio. Só a êle se refere lodo o cullo tri­
butado àós Santos e à Rainha dos Santos. Beafae
Virginis honor e/ gloria laus ef grafiarum adio esf
Redemploris (1). - Tolus honor impensus malri sine
dubio redundai in gloriam filii (2). Maria não aceita
os nossos louvores sen.ão para os referir a Jesus.
O que Ih� torna o sacerdócio tão precioso, é que,
pelo nosso ministério, em todos os tempos e lugares,
Jesus, frulo de suas entranhas, é bemdilo.

II. Aprendamos da Igreja como devemos invo­


car Maria. - Celebradas as suas grandezas i e len­
do-nos regozijado da sua glória, vamos implorar a
3
sua assistência ( ).
I ." Saneia Maria, maler Dei, ora pro nobis pec­
caforibus. Maria, Mãe de Deus, primeiro motivo em
que se firma a nossa confiança. Ela tem sôbre Jesus
todos os direitos de uma mãe sôbre seu filho; é que
poderia êle recusar-lhe? Recebeu dêle uma verda­
deira omnipotência. não de mando, mas de súplica:
Omnipofenfia súpplex. Seu valimento é portanto sem
limites; mas, é quererá ela usá-lo em favor nosso ?

(1) , S. lldef. Tolef. Serm. Vlll de Assumpf.


( 2 ) Ruperf. lib. VI, VIII, in Canf.
(º) Crê-se que esfa segunda parle do Saüdaçõo Angélica re­
monla ao concílio de Éfeso, e que foi obra de S. Cirilo de Ale­
xandria.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
472 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Sim, quer, porque é também nossa Mãe. O' Maria,


a mais terna das mães, togai por êstes filhos que
vos custaram tantas dõres. Se nos é necessário ou­
tro direito à vossa compaixão, nós lemo-lo: somos
pecadores (1 ). Nossa miséria é um direito à vossa
misericórdia. é. Hâ maior miséria que o pecado ? Se
sois a rainha da misericórdia, o mais miserável dos
pecadores é o primeiro dos vossos súbditos: Tu re­
gina misericordiae, e/ ego miserrimus peccalor subdi­
forum maximus (2).
2. 0 Nunc, et in hora mortis nosfrae. êsle agora,
para o qual imploramos a compaixão de Maria e sua
poderosa intercessão, é o momento presente de nossa
vida. O passado não nos perlence já, e deixa-nos
pecados a expiar: só temos de nosso o presente; j e
com que rapidez nos foge I Oh I quão pouco dura­
doira é a existência humana cá na terra I Mas êsle
momento, nunc, é o tempo da prova e dos comba­
les; ah I que perigos nos cercam, que inimigos se
encarniçam em perder-nos! . O' Maria I é. quem
nos salvará, se nos desamparais? Sicuf pulli, volan­
fibus desuper mi/vis, ad gallinae a/as occurrunf, ilü nos
sub velamenfo alarum fuarum abscondimur. Nesci­
mus aliud refugium nisi fe: fu sola es unica spes
nosfra ,· fu sola unica patrona nosfra, ad quam omnes
aspicimus ( 3 ).
Rogai pois, Virgem Sanlíssima, rogai por nós
agora; porque dêsle dia, desta hora, dêste momento
pode depender a nossa eternidade! - Mas há uma
hora ainda mais crítica; é a última hora que fixará
irrevogàvelmente a nossa sorte; hora de trevas e an-

( 1) To(um quod habes, si fos est dicere, pecc11foribus debes:


omni11 enim propler pecc11fores fibi coll11lo sunl. S. G�rm. De rhe!.
div. e. XVIII.
12) S. Bern, in Salve.
( 3) S. Thom. o Vi1111nov. Serm. Ili. de N11f. Virg.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A AVÉ-:UAR!A 473
gúslias, até para a alma mais santa, em que se pode
reparar ou perder ludo. E' enlão principalmente, que
necessitaremos de um .socorro tanto mais poderoso,
quanto mais terríveis fõrem os assaltos que nos derem
os nossos inimigos. O' Maria, na hora da morte, in
hora mortis nosfrne, estai ao pé de nós, defendei-nos,
rogai por nós! . . . Feliz aquele que expira nos vos­
sos braços maternais, com os olhos filos na vossa
imagem, e o vosso bemdito nome nos lábios ! Ador­
mece na terra pBra acordar no céu-!... Maria, ma­
ler gratiae, mafer misericordiae, tu nos ah hoste pro­
1
tege, ef mortis hora suscipe ( ).

Resumo da Meditação

I. Aprendamos do Espírilo Santo como deve­


mos honrar Maria. -Ave, Maria. e. Oual o nome
dessa criatura excelsa, que saüdamos com o mensa­
geiro celeste? Maria! e. Hii algum mais dõce, depois
do nome de Jesus? -- Grafia plena. A nós a graça
é-nos dada com proporção; ela entrou abundante
como um rio no coração de Maria, (abernácul'o do
Altíssimo, - Dominus fecum. O Senhor eslá com ela,
com uma perfeição proporcionada aos seus mereci­
mentos. - Benedicfa tu. e. Ouem não bemdiria à Vir­
gem Maria, por causa dos privilégios' que recebeu,
e das misericórdias que difunde sõbre nós? - Ef be­
nediclus, ele. O filho é o lêrmo de lõdas as honras,
que tribulamos à Mãe.

II. A prendamos da Igreja como devemos in­


vocar Maria. - Saneia Marià, ele. Maria, Mãe de

1 1 ) Morienfibus beata Virgo, non fanfum succurril, sed eliam


occurril. .S. Hier. Epis/. li ad Eus/ach. - Beala Virgo animas
morienlium suscipil. S. Vinc. Ferr. Serm. de Assumpf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4i4 �IEDITAÇÕF.S SACERDOTAIS

Deus, primeiro motivo de nossa confiança: seu vali­


mento é sem limites; e dêle usará por causa de nós,
porque ela é também nossa Mãe. E depois, tnão
somos nós pecadores? Se ela é a Raínha da mise­
ricórdia, os mais miseráveis pecadores são os seus
primeiros súbditos. --'-- Nunc ef in horo, ele. Êsle
l'lgora é a vida presente; é o tempo da prova e dos
co_mbales. Mas, 1 quanto mais necessária nos será
ainda a sua inlercessão, quando chegar a hora da
nossa morte, horn decisiva, da qual dependerá a
nossa eternidade.!

IZ!

LXXXI MEDITAÇÃO
O 1.0 de Maio. - O mês de Maio
do bom cura de almas

1. Êsfe mês é para êle cheio de esperanças.


li. Meios qu·e emprega para as realizar.

1. O mês de Maria é para o bom pasfor de


almas um mês cheio de esperanças. - A Páscoa
passou, e o mês consagrado à Virgem, com os seus
exercícios eslimados de lodos, conlinuará o impulso
religioso dado à parróquia. Para as ovelhas fiéis,
ou restituídas ao aprisco, êle será o mês da acção de
gràças e da perseverança; será uma nova ocasião
de conversão para as que ainda não cumpriram com
o preceito da Igreja. A devoção para com a Mãe.
amáve!, principalmente com as galas que revesle nesle
belo mês. tem poderosos encantos, até para os homens
mais indiferentes e aparlados de Deus. Todas os
anos se vêem alouns. sôbre os auais durante a aua-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MÊS l)F. MAIO DO llOll í:URA D�; ALMAS 4-iJ

resma, à palavra evangélica foi apenas como o malho


sôbre a bigorna, sem lhes causar mais que uma co­
moção inútil, ou que talvez nem quiseram ouvi-la; e
depois arrastados por uma fôrça secreta para o altar
de Maria, deixam-se mover e cànverler pela graça
que acompanha aqueles cpnlos suaves; aquelas ceri­
mónias tão simples, aquelas exortações Ião palernais
em honra de Maria.
i,Podemos amar a Sanlíssima Virgem, e ficar
muito tempo no desagrado de seu adorável filho?
é. E' possível não a amar, quando tendo deante dos
olhos o especláculo da alegria, que inspiram os seus
benefícios, quando tudo fala da sua misericórdia em
favor dos que eram mais indignos dela? c1. ficarão
impenitentes os pecadores por quem ela rogar, ou
recusará interceder por êles, quando lho pedirem as
almas que lhe são mais caras, e que vê ansiosas de
lhe ganhar lodos. os corações?
S. Epifãnio diz, que o Verbo incarnado é o an­
zol espiritual em que se prendem os escolhidos, e
Maria o engôdo que os a Irai : Ave, esca spirifél/is
hami; in fe siquidem hamus diviniléis (1). Nunca os
pescadores de homens lançam mais eficazmenle a
rêde da divina palavra, do que quando exorlam a
invocar a Mãe do Redentor. Bom padre, c1. quando
pregais com mais unção, se não é quando expondes
os favores de Maria? é. Seríeis bom padre, se Mada,
que vos retirou do mundo. vos dispôs para o sacer­
dócio, e vos ofereceu ao Senhor no dia da vossa or­
denação, não fôsse depois de Deus o primeiro e mais
dôce objeclo de vosso amor? No mês que lhe é con­
sagrado, virão algumas festas em auxilio do vosso
zêlo pastoral ; talvez celebreis então a da primeira co­
munhão. é. Oue valimenlo Ião lereis perante a Rainha

(1) De laud. Deip.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
4iG MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

dos anjos, quando lhe apresentardes as almas de


vossos filhos, purificadas no sangue de Jesus e c·heias
de sua graça? Entrai com grande confiança por êsse
caminho, onde tudo promete consolações aos vossos
trabalhos apostólicos.

li. l Que foz o bom pastor para realizar as


esperanças que êle fundou neste belo mês? -
Chama os seus parroquianos ao santuário de Maria,
fala-lhes de Maria, renova com êles a sua consagra­
ção ao cullo de Maria.
1. 0 As reüniões de tarde, em lôrno de um allar
da Senhora, adornado com lodo o cuidado possível,
são aqui o ponto capital; se se consegue que sejam
numerosas e edificantes, êsle primeiro éxito responde
pelos outros. Lançai mão de todos os meios para
conseguir êsle fim, excitando uma piedosa curiosi­
dade. O zêlo industrioso estuda os gôslos, varia os
meios; o principal é que venham ao mês de Maria,
e que oiçam com prazer o loque do sino, que anun­
cia a reünião ; é necessário a lodo custo fixar a
atenção.
2.° Cantos simples e bem executados dispõem
a alma para as impressões salutares; mas a exorta­
ção é à exercício essencial. Se ela é breve, adaptada
ao auditório, preparada mais pela oração que pelo
estudo; se é a linguagem do coração, produzirá fru­
tos preciosos, com lento que se faça conslanlemenle
sobressair o poder e a bondade de Maria, mais ainda
a sua bondade que o seu pode� A conversão dos
pecadores começa, logo que éles gostam de ouvir
narrar os prodígios de graça, que lodos os dias
opera a Mãe de misericórdia; eslá muilo adeantada,
quando se lhes inspirou a resolução de a invocar e
de a honrar. Convém seguir o que os Doutores en­
sinélram e os Santos praticaram a êsle respeito.
S. João Crisóstomo diz à Mãe de Deus, que ela

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MÊS DE MAIO DO BOM CURA DE ALMAS /i,ii

foi predestinada para esta dignidade incomparável,


para salvar com a sua ternf1 compaixão os que não
podia salvar a justiça de seu Filho ( 1 ). • Não, divina
Maria, exclama S. Bernardo, vós não repelis o peca­
dor, por mais criminoso que seja; não o desprezais,
quando suspira por vós, e arrependido implora a
vossa clemência; estendeis-lhe a mão caridosa; arran­
cai-lo do abismo da desesperação, dais-lhe esperança
e vida. Abraçais com maternal afeclo aquele .a quem
todo o mundo despreza, e não deixais de lhe dispen­
sar os vossos cuidado�, alé que se reconcilie com o
supremo juiz• ( 2 ).
O padre Ségneri nunca fazia uma missão sem
pregar da misericórdia de Maria; era o seu assunto
predileclo. S. Afonso de Ligório linha adoptado o
mesmo costume. Depois de citar esta palavra da
Bemavenlurada Virgem a Santa Brígida: Assim como
o íman alrai o ferro, assim lambém eu a/raio a mim
as a/mas mais endurecidas C1 ). «E' um pr0dígio da
graça, acrescenta o santo bispo, que se renova todos
os dias nas nossas missões . . . Pecadores endureci­
dos, até então insensíveis a lodos os· outros sermões,
leem-se comovido e convertido, ouvindo celebrar a
misericórdia de Maria». Eis a razão que dá outro
Santo: • Nós louvamos, diz êle, e gostamos de ouvir
louvar a humildade da Mãe de Deus; admiramos a
sua virgindade; mas, como pecadores, é a sua mise­
ricórdia que nos comove mais eficazmente; é a ela
que nos acolhemos; ela nos ocorre mais vezes à
memória, e a invocamos• (4 ). Com efeito, a miseri­
córdia não supõe merecimentos nem direitos naquele

(1) ldeo Ma ler Dei praedicla es 11b oelerno, ui quos juslilio


Dei s11lv11re non polesl, tu per (uom salvares pielalem. Horn. de
Prnecon. Virg.
(21 Apud S. Bonav., Specul. B. M. V.
(3) Rev. de _S11nlo Brig,, lib. Ili, e, XXXII. -(4) S. Bern. Sen.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SAC�:RDOTAIS

que é dela objeclo; só supõe misérias; e quanto


maiores, mais comiseração excitam.
3.º E'. chegado o úllimo dia de Maio; a Rainha
do céu vê seus filhos coroar o culto que lhe rende­
ram cada dia, com um culto ainda maior e mais so­
lene. O sacerdote fervoroso põe em jôgo para a
conclusão dos exercícios do mês de Maria, lodos os
recursos de seu zêlo. De manhã, uma comunhão
numerosa e fervorosa; à tarde, uma reünião que ex­
cede lôdas as outras em inlerêsse, e que é como que
uma despedida dos filhos a sua Mãe; finalmente uma
exortação patética, terminada por uma consagração,
em que o pastor de almas descarrega de alguma
sorle tôda a responsabilidade sôbre a divina pastora,
entregando à sua guarda, confiando ao seu amor um
rebanho que se lhe tornou Ião caro. Esta cerimónia
bem feita pode causar impressões indeléveis, conser­
var e multiplicar os frutos de graça, que deu o belo
mês das flõres.

Resumo da Meditação

I. O mês de Maria é para o bom pasfor um


mês cheio de esperanças. - 1. 0 O tempo é favorá­
0
vel. 2. A devoção à Santíssima Virgem tem pode­
rosos alraclivos, ainda mesmo para os grandes peca­
dores: Maria é chamada esctJ spirilalis hami. O bom
padre nunca fala com mais unção do que quando
prega os favores e o patrocínio de Maria; experi­
mentou-os tantas vezes! .

II. iÜue faz o bom pastor para utilizar êsle


belo mês? - 1. 0 Emprega os meios para ter numero­
sas e edificantes reüniões. Nada despreza para as tor­
0
nar inleressantes; cantos, decorações, ele. 2. A exor­
tação, qualquer que seja a sua forma, é o exercício

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO !)A SANTA CRUZ

essencial. Seja breve, variada, adaptada aos ouvin­


tes; mas principalmente seja a linguagem do coração,
e realce incessantemenle o poder, e ainda mais a
misericórdia, a compaixão de Maria. Laudamus hu­
mili!afem, miramur virginilalem; sed misericordia mi­
seris sapif dulcius. 3. 0 O bom pastor põe em acção
para a conclusão, lodos os recursos do seu zêlo:
comunhão geral e fervorosa, consagração solene do
pastor e do rebanho ã divina pastora.

LXXXII MEDITAÇÃO
3 de Maio - O mistério da santa Cruz,
considerado com relação a nós e à nossa
própria santificação

J. Meditando-o ganhamos o coroção de Óeus.


li. Damos a Deus o nosso coração.

I. Meditündo os sofrimentos de Jesus Crisfo,


ganhamos o coração de Deus, porque isto lhe agrada
extremamente. Com efeito êste mistério é o grande
objeclo dos divinos pensamentos. No Antigo Testa­
mento, ludo está cheio déles. E' a Paixão do Mes­
sias, que os profetas predizem mais circunslanciada­
mente. Isaías, Jeremias, Davi.d não só a anunciam,
mas também a n!')rram como os Evangelistas. Isaac,
José, a· serpente de bronze, o cordeiro pascal, são
vivas figuras de Jesus Cristo, sacrificado por seu
Pai, levando para o monte a lenha que há de servir

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

para a sua imolação; de Jesus vendido por um


daqueles a quem chamava seus irmãos; de Jesus pre­
gado na Cruz, e curando as feridas, que o pecado
fêz às almas; do Cordeiro divino, cujo sangue nos
preserva da espada do anjo exterminador 1
Deus compraz-se evidentemente nesta reparação
oferecida à sua glória; o seu coração está no Calvá­
rio, e ali chama os nossos. Oh! quanto gosta de
vêr-nos medir, no dom qve nos fêz de seu Filho para
vítima, o comprimento, a largura, a sublimidade e a
profundidade de sua caridade para connosco I Mas,
j que contentamento não causamos ao mesmo Jesus,
quando meditamos no mistêrio da sua morte! Ela
foi o constante objeclo de seus desejos. Só veio ao
mundo para nos remir, padecendo e morrendo por
nós na Cruz. Só viveu e respirou para a Cruz.
Compara a sua morte a um baplismo de sangue, que
lavará todos os nossos pecados; ah! quanto lhe
tarda conclui-lo! (1) A aproximação dêsse feliz mo­
mento, não contém já os seus desejos; ê necessário
que esta chama de amor lhe saia do coração: Desi­
derio desiderlJvi hoc pascha manduclJre vobiscum,
anfequam pafiar. Foi na Cruz que êle realizou com­
pletamente o que os anjos tinham prometido em seu
nome no dia de seu .nascimento: glória a Deus, e
paz tJOS homens!
Deus honra.do quanto merece sê-lo, o homem pre­
servado da mais horrível de tõdas as desgraças, ele­
vado à dignidade de Filho de Deus e,associado à sua
suprema felicidade, são os frutos da Cruz. Oh I quão
verdadeiramente é a árvore da vida! . l Mas sê-lo-á
pa_ra riós, se desprezarmos alimentar a nossa alma
com os seus ensinamel)tos sagr·ados?

(1) B11plismc h11beo b11pliz11ri: el quomodo co11rc!or usque­


dum perGciofur ! Luc. X!I, 50.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO DA SANTA CRUZ 4,8{

Eis a razão por que Jesus Cristo, para que nos


lembremos incessantemente de seus sofrimentos, não
só inspira à sua Igreja que nos apresente à vista por
tôda a parte a cruz, que grave a imagem da sua
morte na madeira, na pedra, no mármore, no oiro e
na prata; mas também, oferecendo-se êle mesmo ·no
sacrifício de nossos altares, que é a viva representa­
ção e a continuação do do Calvário, faz-nos de seu
próprio corpo glorificado, ocullo sob vis aparências,
um memorial perpétuo desta Paixão tão dolorosa
para êle, e para nós tão proveitosa: Unde e/ memo­
res . . . léJm beafae passionis.
Quando pronunciamos estas palavras na missa,
conformamo-nos com a .terna recomendação, que Je­
sus nos féz na véspera de sua morte: Hoc lacile in
meam commemorafionem; e que torna a repelir naquele
mesmo instante: Haec quofiescumque fecerilis, in mei
memoriam faciefis. E' como se nos dissesse: • Não
esqueçais um Deus que morre para vos salvar. Eu
pensava em vós nos meus tormentos e angústias,
pensai em mim, ao menos quando me torno presente
no altar, para vos lembrar a minha morte, e vos
aplicai: os seus merecimentos•. O' minha alma, e. re­
cusarias tu esta consolação ao leu Salvador? e. Po­
derias desprezar um. meio Ião seguro de obter a sua
afeição?

II. Meditando os sofrimentos de Jesus Cristo,


damos a Deus o nosso coração. - Oue amável
condescendência naquele que em si acha todás os
bens, dignar-se pedir-nos um coração que êle mesmo
nos deu: Prt1ebe, .ili mi, cor fuam mihi ! Mas nunca
nos insta com um motivo tão forte, como quando faz
falar para o obter, o abismo de opróbrios e sofri­
mentos, em que é imerso no Calvário.
O amor não se paga senão com amor. O misté­
rio da Cruz é o excesso do amor de Deus para

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

connosco (1). Se deixasse à nossa escolha a prova do


grande inlerêsse que toma por nós, e nos dissesse,
como ao rei de Judá: Pele fibi signum, e. quem ou­
saria jàmais pedir-lhe a incarnação e principalmente
a morte de seu Filho? Sua bondade preveniu os nos­
so!' desejos, e excedeu infinilamenle as nossas espe­
ranças. Oiçamo-lo dizer: • O' homens, e. que fareis
vós para realar êsses laços de amor, que vos uniam
a vosso Criador, a vosso Pai, e que tão indigna­
'menle quebrastes, ofendendo-o? Nenhum meio ten­
des para isso; mas ouvi, e compreendei o meu amor
para convôsco, se podeis: Eu lenho um Filho único,
gerado eternamente de minha substância; é outro eu;
tomai êsle Filho amado; dou-vo-lo, se êle consentir;
eu mesmo consinto que êle se aniqüile pt1ra expiar a
vossa soberba, e morra para vos salvar•. Sic Deus
dilexif mundum, o mundo dos pecadores ingratos,
manchados de todos os crimes; porque não havia
outros, quando Deus nos deu seu Filho.
E êsle Filho, em ludo igual a seu Pai, não duvi­
dou aceitar um cális tão amargo. Viu lodos os opró­
brios e dôres, que leria de sofrer por nós; e nada o
pôde deter. Sujeitou-se a todos os golpes da justiça
divina: • Eis-me aqui, meu Pai, lhe faz dizer S. Paulo;
eu venho oferecer-vos lôdas as reparações, que vos
são devidas, e que não acharíeis em sacrifícios des­
propqrcionados à vossa infinita grandeza. Penitente
por todos os homens, constiluo-m@ vossa vítima;
descarregai sôbre mim a vossa ira; feri, feri o vosso
Filho, mas poupai os homens•. O' hôrlo das Olivei­
ras, ó Prelório, ó Calvário, quão eloqüentemente nos
falais do amor que Jesus nos tem I e. Não será tempo
que os que vivem, deixei:n de viver para si, e come-

(1) Dice bani excessum ejus, quem complelurus era! in- Jeru­
s11lem. Luc. IX, 3L - Pode-se d11r êsle senlido à palavra excessum.
V. Corn. a Lapid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O l!ISTÉRIO D.>. S.>.NTA CRU?. &83
cem a viver para aquele que os remiu com a sua
morte? (1) é. Oue novo benefício esperamos nós para
nos darmos a Deus?
Nós sabemos qual era o fogo celestial que a me­
mória dos sofrimentos de Jesus acendia no coração
dos Santos. Olhando para o crucifixo, Santa Mada­
lena de Pázzi exclamava: • O' amor, ó amor, quão
pouco amado sois I O' almas, criadas pelo amor e
para o amor, <'. porque não o amais•? S. Francisco
de Assis, aflito com a insensibilidade dos homens,
convidava os rochedos a que chorassem com êle a
morte do Filho de Dêus. S. Boaventura dizia que
as chagas de Jesus Cristo eram capazes de enterne­
cer corações de pedra, de inflamar almas de gêlo, de
fazer derreter em amor, entranhas mais duras que o
diamante.
Cruz de Jesus, sangue do meu Deus, que me fa.
zeis conhecer tôda a fôrça de seu amor; ah I quão
vivamente me lançais em rosto a fraqueza do meu 1
i. Será amar a um Deus crucificado o buscar tôdas
as comodidades, e repelir todo o sofrimenfó? é.Será
amar a um Deus humilhado e desprezado, o desejar
a estima, e temer até a aparência de desprêzo? Com­
pletai a vossa conquista, Senhor; servi-vos de vossa
beleza, daquela beleaa que vos dão a meus olhos os
vossos opróbrios e tormentos, como de um arco ar­
mado, para me ferir, e para sujeitar a vós tudo o
que há em mim, ludo o que depende de mim : Specie
lua ef puk:hritudine tua intende, prospere procede, ef
regna (2). Apossai-vos de um coração, que está
prestes a fugir d.e vós, no momento em que promete
unir-se a vós.

(1) UI e! qui vivunf, j11m norr sibj viv11nl, sed ei qui pro ipsis
mor!uus es!. li Cor. V, 15.
(2) Ps. XLIV, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

A hora de subir _ao altar aproxima-se; ao menos


hoje levarei uma alma unicamente preocupada e pos­
suída da Paixão do meu Salvador. Vinde, Jesus
agonizante, vinde ensinar-me a morrer para ludo o
que vos desagrada. Ouero amar um Deus, cuja
Cruz me abriu o céu, cujo sangue lavou as minhas
iniqüidades, cuja morte me reslituíu a v·ida, cujos me­
recimentos me dão direito a aspirar ã felicidade de
o amar eternamente. Super omnia fe mihi amabilem
reddil, o bone Jesu, calix quem bibisfi, opus nos­
frae redempfionis. Hoc enim omnino amorem nos­
frum sibi vindica{, hoc devofionem nosfram blandius
allicil, jusfius exigi/ (1).

Resumo da Meditação

I. Meditando os sofrimentos de Jesus Cristo,


ganhamos o coração de Deus. - Tudo está cheio
dêste mistério enternecedor no Antigo Testamf'nto, e
muito mais no Novo. Vê-se que êle é o grande objeclo
dos pensamentos divinos. O Senhor compraz-se
nesta admirável reparação, oferecida à sua glória
ultrajada. Seu coração está no Calvário, e para lá
chama os nossos. Nunca damos lai:1ta satisfação a
Jesus Cristo, como quando medilambs o excesso de
seu amor para connosco no mistério de sua morte.
A Igreja sabe-o, e é por isso que por tôda a parle
nos apresenta a Cruz deanle dos olhos. E.' por esta
razão que o mesmo Salvador se oferece no sacrifí­
cio de nossos altares, viva representação do Calvá­
rio. .Fazei isto em memória de mim; não esqueçais
a um Deus, que vos ama até morrer por vós, e vós
o amareis. O' minha alma, é. desprezarás porventura
um meio tão fácil de cativar a afeição do leu sobe­
rano juiz?

(l) S. Bernardo.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO DA SANTA CRUZ 485
II. Meditando os sofrimentos de Jesus Cristo,
damos a Deus o nosso coração. - Eu amo a quem
me ama. Na Cruz é que o amor de Jesus para
connosco chegou aos seus últimos limites. Nós sa­
bemos que fogo celeste a memória da Paixão acen­
dia no coração dos Santos; um dêles dizia que as
chagas de Jesus Cristo são capazes de comover
corações de pedra, de inflamar almas de gêlo, de fa.
zer derreter em amor entranhas mais duras que o
diamante.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
TERCEIRA SECÇÃO

Desde o Pentecostes até ao Advento

§ l.º

Vróprlo do tempo

LXXXIII MEDITAÇÃO
Domingo da Santíssima Trindade

1. Como se ocupa o bom padre em honrar êsfe mistério.


li. Como se esforça por que lodos o honrem.

L O bom padre honra o mistério da Santís­


sima Trindade, oferecendo-lhe a. homenagem de seu
entendimento,' de seu coração e de sua.imitação.
1 . 0 Homenagem do enfendimenlo. Primeira­
mente sujeita a sua inteligência à fé; e. que coisa mais
racional? ê.ie tem por si o testemunho do Filho uni­
génito qué está no seio do Pai (1).; e. pode desejar

(1) Unigenifus Filius, qui esl in sinu Pa!ris, ipse enarravil,


Joan. 1, 18.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA SANTISSIMA TRINDADE 487
mais, para crêr o que é inacessível ao entendimento
humanó? Alegra-se de sacrificar a Deus a sua razão,
e de lhe dizer: • Creio, Senhor, tudo o que revelas­
tes a respeilo dêste profundo mistério. Minha razão
parece querer opõr-se-lhe; mas eu contradigo-a, e
sacrifico-a à voss.a glória. Sinto prazer em reconhe­
cer a minha ignorância, para honrar a vossa suprema
sabedoria, e exclamo com um dos vossos servos, que
sois um Deus cuja grandeza excede infinitamente a
nossa sciência : Ecce Deus magnus vincens scienfiam
noslram (1). Perscrutar êsle mistério seria da minha
parle uma temeridade; admi!i-lo, confiando na vossa
palavra, é um efeito da minha piedade ; conhecê-lo
plenamente, vê-lo às claras, será a minha elerna feli­
cidade ( 2). Darei a minha vida para defender a minha
fé; e assim como sois três pessoas no céu, cujo tes­
temunho recebo, o Dai, o Verbo e o Espírito Santo:
assim também desejara dar-vos na ferra os três les­
te�unhos de minha fé, de minhas obras e de meu
sangue•.
2.
0
Homenagem do coração. Êsle mistério, que
exige tantos sacrifícios da parle do entendimento,
enche de consolações o coração; o bom padre acha
nêle as suas delícias. Sente um indizível p�azer em
contemplar ali todos os benefícios divinos em seu
princípio. A Criação, a Incarnação, a Igreja, os sa­
cramentos, lodos os favores pessoais que recebeu,
vê-os na Sanlíssir::na Trindade. Enche-se de júbilo
ouvindo cada um·a das adoráveis pe'ssoas dizer-lhe
esta palavra amorosa: ln cariilJ/e perpetua dilexi fe.
Não é pois sem razão, que a Igreja, na festa
dêste dia, nos conduz à fonte cujos arroios nos
mostrou nas diferentes feslfls do ano; descobre-nos
êsse imenso mar, donde derivam tõdas as bênçãos

(1) Job XXXVI, 26. - (2) S. Bern.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

que se derramam sôbre nós. Ouer que sejamàs gra­


tos a esta adorável Trindade, que achando em si tôda
a felicidade, cuida efernamente da nossa; porque, diz
S. Paulo, foi antes do estabelecimento do mundo,
que Qeus nos escolheu (1): O Pai para seus filhos,
o Filho para seus irmãos, e o Espírito Santo para
mostrar em nós as riquezas da sua graça (2).
Daí vem que a Igreja nos recorda continuamente
a Santíssima Trindade. No comêço, no decurso, e
no fim de seus ofícios, nas preces que faz, não cessa
de exprimir a sua crença no Padre, no filho e no
Espírito Santo. Não canta um salmo, um hino, um
cântico, sem os concluir glorificando a adorável Trin­
dade; quer que ·os seus ministros repilam cem vezes
no dia: Gloria Pafri ef Filio et Spirifui saneio; tão
convencida está de que ·não podem dirigir a Deus
um louvor que lhe seja mais agradável, uma oração
mais capaz de nos alcançar todos os dons de sua
graça. Oh! que prazer sente o bom padre em repe­
ti-la! Houve piedosos solitários que durante muitos
anos não tiveram outro exercício senão êste.
3. 0 Homenagem de imitação. Duas coisas ado­
ramos neste mistério: a unidade de natureza, e a trin­
dade d_e pessoas; o sacerdote espiritual esforça-se
por imitar uma e outra: a unidade pela união, amando
sinceramente todos os homens, a trindade pela comu­
nicação, fazendo-lhes todo o bem que puder.
E' certo que um dos fins da lncarnação foi for­
mar na ferra uma imagem da unidade que há em Deus,
visto que é esta uma das graças especiais que Jesus
pediu para seus discípulos na véspera da Paixão:
UI sinf unum sicuf ef nos unum sumus ( 3 ).

(ri Eph. 1, 4.
(ª3 ) Bourdal, 5erm. sõbre a 55. Trinei. 2." pari.
( ) Joan. XVII, 22.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE t,,89

O' padre, é. não trabalhareis vós cuidadosamente


em conservar essa unidade de espírito que S. Paulo
desejava vêr em todos os cristãos, e que é muito mais
necessária ainda aos seus modelos e guias? So/licifi
servare uni/alem spirilus in vinculo pacis ( 1).
Mas, assim como em Deus a Trindade só subsiste
por inefáveis comunicações, derramando o Pai todos
os tesoiros de sua essência no seio de seu filho,
dando o Pai e o filho ao Espírito Santo lôda a sua
divindade; assim também devemos tornar perfeita a
nossa união, fecundando-a com as obras de cari­
dade. Os numerosos favores que o Senhor nos pro­
di"galiza, são menos para nós, seus ministros, do que
para os nossos irmãos. Quanto mais nos dedicar­
mos à sua santificação, inais Deus se mostrará ge­
neroso para connosco: Da/e e! dabifur vobis. Oiça­
mos o Salvador, hoje mesmo, exortar-nos a essa
caridade comunicativa, quando nos diz no Evangelho
que lêmos no fim da missa : Esfole misericordes, si­
cuf e! Paler vesfer misericors esf ( 2 ).

II. O bom padre esforça"se em que todos


honrem o mistério da Santíssima Trindade, pelo
zêlo assíduo e ·prudente com que instrui os fiéis sôbre
êsle ponto fundamental da nossa fé, e pelas conse­
qüências que dêle lira, para lhes inspirar devoção.
1. 0 S. Jerónimo admira a ordem cheia de sa­
bedoria, que Jesus Cristo dá aos apóstolos, de ensi­
narem primeiramente a doutrina da fé, e em seguida
de conferirem o sacramento do baptismo: Ordo
praecipuus: jussif aposto/is ui primum docerenf uni­
versas gentes, deinde fidei inlingerenf sacramento (3).
E' p&ra temer que, ainda mesmo nos países calóli-

( 1 ) Eph. IV, 3. - (2) Evang. da 1.ª dom. depois do Penlec.


( ) Comm. ;n M11lth. lib. IV.
3

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
\90 MEDITAÇÕES SACl!:RDOTAJS

cos, algumas almas estejam fora do ca!llinho da sal­


vação, por não conhecerem suficientemente êste au­
gusto mistério. e.Não há algum1:1s, que não leem outra
idéia das três divinas pessoas, senão de três pessoas
humanas? O' pastor, falai muitas vezes sõbre êste
grande objeclo das nossas crenças; mas ao expô-lo,
cingi-vos aos têrmos consagrados pela Igreja ; tem
havido catequistas e prêgadores que, para aclarar
mais uma verdade necessáriamente cercada de uma
venerável obscuridade, procuravam de alguma sorte
fazer desaparecer o mistério.
Ouando instruímos sõbre êste assunto, é. decla­
r-amos nós francamente, que nada há mais impene­
trável para a razão, mas também nad� mais evidente
aos olhos da fé? Consolemo-nos com um santo
doutor, de não compreender o que Decs não quer
que compreendamos. • Os arcanjos com tõda a sua
luz não podem penetrar êste dogma; êle não foi en­
sinado aos anjos; os séculos mais ilustrados não
suspeitaram sequer da sua existência; os profetas só
dêle tiveram um conhecimento confuso; o Apóstolo
não pediu a sua explicação ; Jesus Cristo não a deu ;
não nos queixemos da nossa ignorância• ( 1).
2. 0 Esclarecendo os fiéis a respeito dêste dogma,
infundamos-lhes a devoção. O bom padre adverte-os
de que na Igreja tudo quanto se faz, lodos os minis­
térios que se cumprem, lodos os dons espirituais que
se distribuem, é ludo em nome da Santíssima Trin­
dade. E' em nome do Padre e do filho e do Espí­
rito Santo, que êles foram regenerados pelo b'aplismo,
que são fortificados pela graça da confirmação, que
recebem a remissão dos pecndos, a bênção do sacer­
dote e todos os socorros da religião. Ensina-os a
santificar todos os seus trabalhos, e lôdas as suas

(1.l S. Hil.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DOMINGO l)A SANTÍSSIMA TRil'IDADE fi�:I.
obras, começando-as em nome do Padre e do Filho
e do Espírito Santo. Mostra-lhes esta sacrossanta
Trindade, não só .no céu e nos templos, mas também
em lôda a parle e nêles mesmos; e inspira-lhes res­
peito para com a sua presença.
Recolhei-vos neste momento deante da suprema
Majestade, e pregunlai a vós mesmos como tendes
honrado êsle mistério, como o tendes feito hqnrar.
é. Falastes dêle freqüentes vezes? é. Não olharíeis
como estranha aos costumes, a pregação de um
dogma que é a base de tôda a moral cristã, vislo
que é o princípio dessa caridade, pela qual somos
unidos com Deus e com os nossos irmãos? Consa­
grai de novo às três pessoas divinas as três potên­
cias da vossa alma: a memória ao Pai, o entendi­
mento ao Filho, a vontade ao Espírito Sanlo.
O' Jesus, por quem nós pertencemos de um modo
mõis especial à Santíssima Trindade, visto que nos
marcastes com o seu sêlo, imprimindo-nos os sagra­
dos caracteres do baptismo, da confirmação e do
sacerdócio, dignai-vos fazer-nos participantes nas
honras, que lhe rendeis perpetuamente no céu e nos
nossos tabernáculos. Concedei aos vossos ministros,
que lenham uma vida Ião perfeita, que seja um con­
tínuo louvor, e uma préparação incessante, para o
louvor eterno, do Padre, do Filho e do Espírito
San lo: Benedicamus Palrem e/ Filium cum saneio
Spirilu; laudemus e/ superexalfemus eum in saecufa.
Amen.

Resumo da Meditação

I. O bom padre honra o misfério da Santís­


sima Trindade. - 1. 0 Oferece-lhe a homenagem de
seu entendimento pela fé. Crença mais gloriosa para
Deus, porque exige um maior sacrifício à minha ra­
zão. O' meu Deus, eu sinto prazer em reconhecer a
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

minha ignorância, para honrar a vossa sciência infi­


nita : Scrufari femeriftJs, credere pieftJs, nosse ôeferna
felicitas. 2. 0 Oferece-lhe a homenagem de seu cora­
ção pela esperança e pelo amor. Compraz-se em
contemplar neste mistério a fonte de todos os benefí­
cios divinos. Enche-se de júbilo, ouvindo cada uma
das três pessoas adoráveis dizer-lhe ; Amei-te com
um amor eterno. 3.0 Oferece-lhe a homenagem da
sua imitação. Adorando duas coisas neste mistério,
a unidade de natureza e a trindade de pessoàs, êle
imita uma e outra quanto pode: a unidade pela
união, amando sinceramente todos os homens; a
trindade pela comunicação, fazendo-lhes lodo o bem
que puder.

Il O bom padre esforça-se por que todos


honrem o mistério da Sanlíssima Trindade : pelo
zêlo assíduo e prudente com que os instrui a respeito
dêsle ponto fundamental da fé, e pelas conseqüências
que daí lira para inspirar a devoção. N,enhuma parle
da doutrina católica exige ser inculcada com mais
cuidado e tratada com mais prudência. O bom padre
tira grande proveito dêsle mistério, não só para ins­
truir, senão também para incitar à devoção.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DO SANTÍSSIMO SACIIAMENTO 493

LXXXIV MEDITAÇÃO
Festa de;, Santíssimo Sacramento

1. Porque instifuíu a Igreja esfa fesfa.


li. Deveres do �11dre p11r11 entrar nos desígnios da Igreja.

I. fins que se propôs a Igreja na fesfa do


Santíssimo Sacramento. -O que mais nos espanta
nesta memórit1 dt1s divint1s mt1rt1vilht1s (1), são as hu­
milhações a que o filho de Deus se sujeitou; o que
deve comover-nos mais, é o amor que nos. mostra ...
Mas, como desgraçadamente só correspondemos
muitas vezes aos seus benefícios com ingratidão;
como às humilhações, que são da sua escolha e que
nos obteem os maiores bens, acrescentamos ainda
outras, que são fruto do nosso crime, e nos atraem
horríveis desgraças, t que faz a Igreja? Preocupada
com estas duas classes de humilhações, ela esforça-se
hoje por nos fazer honrar as primeiras com um amor
agradecido, e por nos fazer reparar as segundas com
um amor penitente.
1 . 0 Em nenhum de seus mistérios Jesus Cristo
é tão humilhado como na Eucaristia. Em qualquer
outra parle, se a sua divindade se encobre, reve­
la-se também por algum lado; até no Calvário, por
entre os opróbrios do homem_ moribundo, se divisa o
filho de Deus: Vere hic homo Filius Dei era/ (2).
Pelo contrário na Eucaristia, longe de .parecer um
Deus, nem mesmo tem semelhança com o homem.
Não é porque ali não opere milagres; S. Tomás

(1) Ps. CX, 4. - (2) M11rc. XV, 39.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

chama a êste mistério : Maximum miraculum Chrisfi ( 1).


Mas emquanlo que os prodígios que se manifestaram
no seu nascimento, durante a sua vida e na sua morte,
eram destinados a patentear as suas grandezas, os
que multiplica neste sacramento, são empregados em
rodeá-las de uma obscuridade impenetrável. Ah ! se
estas humilhações nos confundem, e. quanto nos deve
comover o amor que as inspira ?
Para realizar os projeclos da sua. generosa ter­
nura, era necessário que o Salvador se impusesse
tôdas estas humilhações, por mais incompreensíveis
que sejam. e. Oue desejava e que fêz? Oueria estar
connosco, comunicar-se a nós com tôda a efusão da
amizade mais confiante, renovar incessantemente o
seu sacrifício por nós, identificar-se, por assim dizer,
connosco, dando-nos a sua própria carne como co­
mida e o seu sangue como bebida: Caro mea vere
esf cibus, sanguis meus vere esf pofus. Ora, cada
um dêstes favores, o ultimo principalmente, obrii:iava-o
a descer a êsse abismo de humilhação, onde só a fé
o reconhece. Esle mistério não é a humilhação das
humilhações, senão porque é, segundo S. Bernardo,
o amor dos amores. Mas daí e. que conseqüência
se tira?
Quanto mais o Filho de Deus, na Eucaristia, abale
por causa de nós, a sua infinita grandeza, tanto mais
devemos, por assim dizer, levantá-la com as ·nossas
adorações. E' o que faz a Igreja instituindo uma
festa que é o triunfo solene de Jesus humilhado no
Santíssimo Sacramento. - Triunfo público: não é
já só nos templos que ,se adora; é levado solene­
mente ao meio de seu, povo; lodo o joelho se dobra
na sua passagem. - Triunfo universal; qualquer que
seja a nação que o sol alumie, vêem-se lá os filhos

(t) Opusc. LVII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
.
da Igreja, ajoelhados aos pés do Salvador, presente
na Eucarislia. - Triunfo brilhante, pela pompa das
cerimônias, pela piedosa comoção e alegria dos fiéis.
Assim, o nosso amor agradecido torna gloriosas para
Jesus Cristo as profundas humilhações, que êle tinha.
procurado para se aproximar de nós e se unir a nós,
primeiro desígnio da Igreja nesta festa. Eis aqui o
segundo.
2. 0 Às humilhações voluntárias do Salvador
nesle mistério, os homens acrescentam oulras, que
são inteiramenle opostas aos seus desejos: às humi­
lhações que aplacam o céu, opõem êles humilhações
que o irrilam; porlanlo devíamos a um amor agra-­
decido acrescentar um amor penitenle.
Três objedos vemos no santuário, que nos falam
eloqüentemente da excessiva caridade de Jesus par�
connosco, e da ingratidão com que pagamos os seus
mais noláveis benefícios: o taberniiculo onde habita;
o aliar onde se sacrifica; a sagrada mêsa onde é o
pão viyo de seus discípulos. Sem falarmos dos maio­
res atentados da heresia e da impiedade, é. qual dês­
les três monumentos divinos nos não recorda a Jesus,
Cristo indignamente desamparado, e ainda mais indi-
gnamente insultado?
e Onde está o fervor dós fiéis em honrar a sua,
presença visitando-o, o seu sacrifício assistindo a êle,.
o seu celestial banquete parlicipando dêle? Despre­
zam os favores de um Deus. São cheio's de atenções­
para com aqueles de quem julgam ler necessidade ;.
é. não se dirii le,lvez que Jesus é o único que nãô
merece atenções, o único de quem nada leem a espe­
rar nem a temer? . . Ainda mesmo enlre os cristãos
que parecem ter alguma devoção ao Santíssimo Sa­
cramento, j que tibieza nas visitas que lhe fazem, nas,
supostas honras que lhe tributam ! Apenas passa­
ram alguns minutos na sua presença, enfadam-se.
Em outra qualquer parte seriam constantes, e conter-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
496 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

-se-iam; só na companhia do Senhor é que se impa­


cientam : Solius Dei impafienfes sumus, diz enêr.
gicamente Tertuliano. Não obstante, ó Jesus, vós
suportais tão culpável impaciência; e sofreis com
inefável misericórdia aqueles corações que, com um
desprezível tédio, não seriam capazes de vos so­
frer I Não, os judeus não mereciam tanto como
nós, a exprobração que lhes fazíeis: generafio incre­
dula ef perversa, quousque era vobiscum? Usquequo
paliar vos? (1)
Contudo não é ainda êste o menor dos nossos
agravos para com Deus sacramentado. Não só é
esquecido, desamparado, mas também insultado.
l Ouem contará tõdas as irreverências, tõdas as pro­
fanações sacrílegas, de que tem sido objec!o há mais
.de dezóilo séculos? Ai! l e não continua a sê-lo?
Cor Jesu, e/iam nunc ah ingrafis hominibus in san­
cfissimo amoris sacramento dilacerafum, miserere no­
bis ! E.is o que dizem gemendo as almas fervorosas;
mas esta só reparação não basta; a Igreja quer que
ela seja solene. Segundo o seu intuito, a festa dêste
.dia não é sõmente um triunfo conferido a seu divino
E.spôso; é também a penitência pública de seus filhos.
Não ignorando que estão reservados os mais terrí­
veis castigos aos que leem pisado aos pés o mesmo
Filho de Deus, e profanado o seu sangue (2 ), emprega
esta pompa extrardinária para reavivar a nossa fé,
pondo-nos de alguma sorte deante dos olhos essa
Majestade santa e !remenda, para nos incitar a apla­
-cá-la, humilhando-nos na sua presença. Convida-nos
a juntar as nossas adorações às suas adorações, e as
nossas lágrimas às suas lágrimas.

II. .l Oue deve fazer o bom padre, para enfrar


no espírito desta festa? -A norma de seu proce-

(•) MaUh. XVII, 16. - (2) Hebr. X, 29.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DO SANTÍSSl!IIO SACR.\MENTO 4()j

der é-lhe· indicada pelos dois fins, que se propôs a


Igreja, in•stituindo-a.
O amor da Eúcaristia deve ser a primeira das
suas devoções, assim como êste mistério é a grande
glória de seu sacerd�cio e a fonte mais abundante de
suas consolações. Ele aprovei!a pois com ardor a
ocasiãó ·que lhe é oferecida, de honrar e fazer hon­
rar o Santíssimo Sacramento. i Não lhe ser possível
levar consigo. todos os homens aos pés di:; .um Deus,
que ama Ião term1mente os hom'ens 1 • êle emprega
lodos os meios nesta ocasião, para excitar nos fiéis
o desejo de contribuir para a pompa religiosa do
triunfo solene de Jesus. Instruiu de antemão os seus
parroquianos sõbre o objeclo da festa, sõbre a sua
significação; e quando levar em procissão o divino
triunfador, êste majestoso especláculo lhes avivará a
fé. Julgarão vêr o Salvador di.scorrendo ainda pelas
cidades e aldeias, expulsando os demónios, sarando
os enfêrmos; suplicar-lhe 0ão que abençôe as suas
casas, as suas emprêsas, os seus trabalhos; e poder­
-se-á dizer ainda uma vez, que êle passou fazendo
bem: Perfransiif benefãciendo. Mas o que princi­
palmente atrai as graças sõbre o rebanho, é a ora­
ção do· pastor; o que· alegra os anjos e edifica os fiéis,
é a sua modéstia, a sua gravidade, o seu profundo
recolhimento de espírito no exercício de uma função
tão santa: OuiB speclaculum facli sumus mundo e/
angelis e{ homiriibus ( 1).
Ao culto que honra a Jesus sacramentado, o bom
padre ac'rescenta o culto reparador dos insuflas re­
cebidos. Ah ! quão pouco nos comovem ! O faclo
de que a santa humanidade do Filho de Deus, desde
que enfrou na glória, não pode já ser ferida pelos ho­
mens pe·rversos, como durante a sua vida mortal,
.

(1) f Cor. IV, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
498 l\lEDITAÇÕRS SACEIIDOTAIS
--------�--------------
(. será razão para ser insensível aos alentados de que
ela é objeclo? Eis aqui o que a éste respeito pensa
Bourdaloue: • Ponderai bem o que digo; sim, a
carne do Salvador sofre mil vezes mais da nossa
parle na Eucaristia, do que nunca sofreu dos judeus
na sua Paixão, porque então sõ sofreu por certo
tempo; aqui está sujeita a sofrer até ao fim dos sé­
culos; na sua Paixão só sofreu quanto Jesus Cristo
queria, e porque queriÊI; aqui sofre por assim dizer,
forçosamen1e. Se elai sofreu na sua. Paixão, era no
estado de uma natureza passível e mortal; aqui sofre
no próprio eslado de impassibilidade. O que sofreu
na sua Paixão, era glorioso a Deus e salutar aos ho­
mens; o que sofre aqui, é pernicioso aos homens e
fojurióso a Deus• ( 1). Renovemos a resolução tan­
tas vezes feita, de sermos mais zelosos da honra de
tão augusto sacramento:· Tanlum ergo sacramenfum
veneremur cernui. - Jesu, quem vela/um nunc aspicio,
oro, fiai illud quod iam sitio, ui te revela/a cernens
facie, visu sim beafus luae gloriae/

Resumo da Meditação

1. O que a Igreja se propôs, instituindo- esta


festa. - Honrar as humilhações, a que Jesus volun­
táriamente se expôs na Eucaristia, reparar as que lhe
acrescenta a ingratidão dos homens. - Em nenhum
dos seus outros mistérios se humilhou o Sahiador
tão prof�ndamenle ; e estas humilhações eram neces­
sárias para o cumprimento dos seus desígnios a nosso
respeito. Ouanto mais abate, por amor de nós, a
sua infinita grandeza, tanto mais devemos exalçá-la
com o nosso culto. Daí éste triunfo público, univer­
sal, brilhante, que a Igreja lhe tribula nesta soleni-

(1) Sermiio para '11 festa do S1mtíssimo Sacramento.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PARA A MISSA

dade. A estas humilhações, que são o efeito de


seu amor, ajuntamos as que são o efeito da nossa
ingratidão, e que convém reparar. No tabernáculo,
no altar, à sagrada mêsa, vemos a Jesus abando­
nado, insultado! 1 Oue motivos de tristeza para um
bom padre!

II. O que tenho a fazer para entrar nas infen..


ções da Igreja, ao instituir esta festa. - Aproveitar
com ardor a ocasião que se me: oferece, de honrar e
de fazer honrar a Jesus sacramentado; contribuir
para a pompa do seu triunfo, alegrar-me das adora­
ções que recebe, e forcejar para reparar as ofensas
que lhe são feitas, e instruir cuidadosamente os fiéis
sõbre o objeclo desta festa. Tornemos a resolução de
sermos mais zelosos da honra de tão augusto sacra­
mento: Tan/um ergo sacramen/um veneremur cernui.

LXXXV MEDITAÇÃO
Preparação para a missa

1. Esfo prep1m1çiio é indispens6vel.


li. Jesus com seu exemplo ensina-nos II Íllzê-111.

I. Necessidade da preparação para o divino


sacrifício. - i.Pode um padre duvidar disto, ainda
que pouco alcance da excelência do ministério que
exerce ao altar? • Se é indispensável confessar que
nenhuma outra obra Ião santa, tão divina, se exe­
cuta na terra, é evidente que se deve ter lodo o cui­
dado e atenção em fazê-la com a maior pureza de
coração, e a maior reverência exterior que seja possí-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-tiOO MEDITAÇÕES SACEBDOT."S

vel • (1). Isto quer dizer que é necessárfo que o pa­


·dre se prepare para ela. Começar de-repente esta
função angélica, sen:i tomar tempo para recolher o
nosso espírito, nem purific_ar o nosso coração, quando
vamos subir áo altar, em nome e proveito de tõdas
as criaturas, l não seria cometer uma grave irreve­
rência, converter para nós em ocasião de pecado e
de terrível castigo, , a · mais sf!luta'r e santifica_nle de tõ­
das as nossas funções?
Nada há na missa, que possa ser percebido pe­
los sentidos. Se antes de a começar, não desperto
em mim essa fé viva, que lraspassa as riuvens, não
tardarei a manchá-la com a minha tibieza, e me ex­
porei à horrível desgraça de a profanar. Sacerdo­
tes, meditai• muitas vezes as palavras de um piedoso
e sábio cardeal, e penetrai-vos destas reflexões:
Pauci sunf qui admirabiles hujus sacri convivii in
se senfiemf effecfus, .quill pauci sunf qui se ad illos
recipiendos rife disponBnf, qui serio cogifenf se ad
5Bncfll sancforum accedere, Bd Bitare Dei, Bd Deum
ipsum. fdeo multi sunf inlirmi ef imbecilles, et dor­
miunt multi. Mor/em olim sammo sacerdofi minaha­
fur Deus, si Busus fuissef infroire in Saneia sBncfo­
rum sine slrepifu finlinnobulOrum; non rndians gem­
mis, non fulgens Buro, omnium virfufum Vllriefafe cir­
cumBmiclus: quam ergo poenllm merebilur novBe le­
gis sBcerdos, qui non Bd arcam fypicam, sed ad
Deum ipsum accedif, uf Filius ejus Dominum Jesum
Chri$fum immolef, tangai, comedBf, nisi id Íllcillf ea
sollicifudine, affenfione, ef apparàlu, qui dignus sif
fali convivia, dignus Deo? lnsfanfe ilaque celebra­
fione, fofis viribus curBre debef ui · in ara cordis
ignem divini amorÍs succendaf Bcfusque elicillf diver­
sarum virfufuin, qui heroic{ �fn_t,· el fãnfo sacrilicio,

(1) Cone. Trid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PARA A MISSA 50{

quantum Geri poferif, convenientes ( 1).. E' necessário


pois que nos preparemos; mt1s como?

IL Jesus Cristo, com o seu exemplo, ensina�


-nos esta preparação. - O Salvador preparou-se
durante tôda a sua vida para a imolação na Cruz.
Desejou-a ansiosamente: Desiderio desideravi
A seu exemplo, o bom pastor prepara-se continua­
mente para a sublime função que exerce no _altar.
Não só o ofício divino, que tem tão estreita relação
com a missa, o exame de consciência à noite e a
oração da manhã; mas· ainda tôdas as suas ,acções,
boas obras, mortificações, tudo refere à missa, de
tudo se serve como de um meio de a celebrar digna­
mente. Sim, p_ensemos muitas vezes, pensemos habi­
tualmente na missa, sobretudo à noite; é tão bom
adormecer com �ste pensamento: À manhã assentar­
-me-ei ainda à mêsa do grande Rei ( 2 ). Renovemo-lo
quando acordarmos, desviando qualquer outra preo­
cupação: Deus, Deus meus, ad /e de fuce vigi/o (3).
Mas se quisermos um belo modêlo de preparação
próxima, achã-lo-êmos no Coração de Jesus Cristo,
dispondo-se na véspera da sua morte para o seu du­
plo sa·crifício, místico no altar, e cruento no Calvá­
rio: Sciens Jesus quia omnia dedif ei Paler · in ma­
nus, ef quia a Deo exivif et ad Deum vadif, surgif a
coena ... , ef coepif lavare pedes discipulorum.
Jesus conhece o poder que seu Pai lhe deu:
Omnia dedif ei Pafer in manus. Conhece a sua pró­
pri1:1 dignidade; Deus de Deus, é igual em tudo a
seu Pai: A Deo exivif. Não ignora a sua sublime
misslio, nem os grandes interêsses que leem relação

(1) Bona. De miss. celebra/. e. V.


(2) Cras eliam cum rc.-ge prans'urus sum .•. Esth. V. 12.
(3) Ps. VI, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
50i MEDITAÇf)ES SACF.RDOTAIS

com ela: glorificar a Deus pela salvação do mundo,


tal foi o fim de sua Incarnação e de sua vida, tal é
o fim de sua morte: Ad Deum w1dil. Vós também,
ó padre, quando estiverdes próximo a subir ao altar,
pensai no imenso poder, que irles exercer; na digni­
dade infinita da pessoa que ides representar; na
suma importância dos negócios que ides tratar, e en­
tregai-vos aos afeclos que excitarem em vós estas
considerações.
1 . 0 E primeiro que ludo, é. quais serão os vos­
sos poderes? Em breve se poderá dizer de vós com
alguma proporção, como do adorável Redentor:
Omnia dedif ei Pafer in manus. 1 Oue poderoso se­
reis, quando um Deus estiver, por assim dizer, de­
baixo do vosso domínio 1 1 Oue cadeias podereis que­
brar, que lágrimas podereis enxugar, de que desgra­
ças podereis preservar, a quantos podereis fazer feli­
zes, quando vos forem abertos todos os tesoiros da
divina misericórdia! Seja a vossa confiança igual a
tão amplos poderes; sabei empregar santamente em
proveito vosso, de vossos irmãos, de lodo o mundo,
o ilimitado valimento que vos dará perante Deus a
hóstia imaculada que ides oferecer-lhe. Não receeis
senão ler pouca esperança; em breve lereis nas mãos
um penhor mais precioso que ludo o que ousardes
pedir.
2. 0 Mas é. a quem ides representar, continuando
o seu sacrifício? Peneirai-vos dêsle pensamento: eu
vou emprestar a minha voz, as minhas mãos, o meu
ministério, ao sumo e único sacerdote, Jesus Cristo.
Vou mostrá-lo ao mundo; porque êle estará em mim,
falando, e operando os mais inauditos prodígios:
Ora, ubi Chrisfus esf, ibi quoque modesfiei (t). Por
conseguinte conformai de lal sorle o vosso rosto, as

(1) S. Greg. Naz.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PREPARAÇÃO PARA A MISSA 503
vossas acções, todo· o vosso exterior com a gravi­
dade e a modéstia do filho de Deus, que, alegrando
o céu com as vossas disposições interiores, edifiqueis
os fiéis. forcejai por ser tão puro, Ião devoto, tão
digno do divino sacerdole cujas vezes fazeis, que
aquele que vê as coisas mais recõndilas. possa dizer
ele vós, . considerando-vos ao altar: Hic esf Filius
meus dileclus, in quo mihi bene complt1cui (1).
.3.u Pregunlai-vos depois a quem e por quem
ides oferecer o sacrifício. Oferecê-lo-eis ao Deus in­
finitamente poderoso, misericordioso e justo, ao Deus
que não podia ser honrado como merece, se não ti­
vesse um Deus por adorador e por vítima. Ofere­
cê-lo-eis em nome de tôda a Igreja, e para os mes­
mos fins que se propôs Jesus Cristo imolando-se no
Calvário. Encham estas quatro sublimes intenções o
vosso espírito, exaltem a vossa alma ! - Sacrifício
Ít1trêulico; Deus vai pois ser glorificado cômo Deus,
honrado quanto merece sê-lo; podereis dizer-lhe com
tôda a segurança: Secundum _norµen fuum, Deus, sic
el laus lua ( 2 ). - Sacrifício euct1ríslico ou de acção
graças. é. Não é o mais belo testemunho do nosso
reconhecimento para com Deus, oferecer-lhe o mais
excelente de todos _os seus dons? Oferecer-lhe Je­
sus Cristo, é. não é porventura dar-lhe quanto nos
deu?- Sacrifício propiciatório; é. há pecados, por
mais numerosos e graves que se suponham que não
possa expiar uma só missa, isto é, a satisfação, as
lágrimas e a morte de um Deus vítima? - Sacrifício
impelralório. A oração, jã Ião poderosa de si,
l quanto mais poderosa não é, quando um Deus ora
éonnosco, e faz orar por nós o sangue e as chagas
de que está coberto, o abismo de opróbrios em que
está submerso?

(1) Mallh. III, 18. - (2) Ps. XLVII, 11.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MED_ITAÇÕES SACERDOTAIS

finalmente, para acabar-a .vossa preparação, con­


templai o Salvador, que se levanta da mêsa: surgif
a coena. Não se humilha já sõmente deanle de seu
Pai; abate-se _a ponto de se põr de joelhos ao!5 pés
de seus discípulos: coepif la vare pedes disçipulorum.
Oue lição! que modêlo I Lição de pureza e inocên­
cia; é possu"iremos -nós tanta pureza, que possamos
olhar sem mêdo para êsle altar de Deus, que faz
tremer os Santos.? Modêlo de humildade, um Deus
que se faz servo dos homens! Modêlo de caridade,
Jesus .lavando os pés aos seus apóstolos que o­
abandonarão, e ao mesmo Judas! . . . Humilhai-vos.
precisamente porque ides ser elevado ã maior honra:
Ouanlo _magnus es,, humilia te in omnihus, e! coram
Deo invenies grafiam (1). E preguntai ao vosso co­
ração se nada tem que precise de perdão.
O' meu Deus, se eu assim me tivesse preparado
antes de -subir ao altar, não me turbaria, lembran­
do-me dos numerosos sacrifícios, de que lerei que
dar-vos conta. Ouero ao menos, a datar dêsle dia.
tratar com tanto respeito êstes augustos mistérios�
que possa obler as graças da verdadeira santifica­
ção; quero doràvante comer o pão sagrado, e beber
o cális celestial com uma fé tão viva e uma devoçãç:>
tão profunda, que sejam realmente para a minha alma
o pão .da vida eterna,· e o cális da vida perpétua :
Panem sancfum vilãe aefernae, ef calicem salutis per­
pefuae.

Resumo da Meditação

-1. Necessidade da preparação para o divino­


sacrifício. - Começar precipitadamente esta função
angélica, não tomar tempo para recolher o espírito,

(1) Eccli. III, 20.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
------ -PREPARAÇ.�0
-- - PARA A MISSA

nem purificar o coração, l não é porventura cometer


uma grave irreverência, e expôr-se a um terrível pe­
rigo? - Nada há nos nossos sagrados mistérios que
possa ser percebido pelos sentidos; se antes de co­
meçar a celebrá-los, ·n·ão desperto· ·em mim ·essa fé
que traspassa as nuvens,· 'não fardarei a manchá-los
com a minha tibieza; l preservar-me-ei sempre de os
profanar?

II. Jesus Cristo, com o seu exemplo, ensina­


-nos a preparar-nos para o divino sacrifício. -
Tôda a vida de Nosso Senhor não foi senão uma
preparação para o seu sacrifício cruento; tôda a vida
do bom padre o prepara para celebrar- dignamente o
sacrifício incruenlo. Belo modêlo da preparação pró­
xima, nestas palavras de 5. João: Sciens Jesus quia
omnia dedif ei Pafer in manus, ef quia a Deo exivif
ef ad Deum vadif, surgi! a coena, .. ef coepif la vare
pedes _discipulorum. - Reflectir nos grandes poderes
que vou exercer: tôdas as coisas serão depositadas
nas minhas mãos; na infinita dignidade daquele a
a quem vou representar: vou mostrar Jesus Cristo
ao mundo. Preencherei ao altar os mesmos fins que
êle preencheu na Cruz. O Salvador humilha-se:
lava os pés aos seus discípulos e a Judas! . . . Oue
lição de pureza ! que modêlo de caridade 1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MF.Ol'fAÇÕKS SACERílOTAl!I

LXXXVI MEDITAÇÃO
A acção de graças depois da missa;
sua obrigação

1. E' um dever do m11is justo reconhecimento.


II. E' um dever, cujo ex11clo cumprimenlo nos oblém os maiores
bens.
Ili. E' um dever, cujo omissão conlém um11 irreverência gravíssima.

1. A acção de graças depois da missa é um


dever do mais justo reconhecimento. -Deus digna-se
de se mostrar sensível à nossa gratidão, e exige que
lha tributemos. As festas, instituídas no Antigo Tes­
tamento, e pela sua Igreja no Novo, devem quási lã­
das a sua inslilu'ição a algum insigne favor, cuja mé­
mória Deus quis perpetuar: são outros tantos convi­
tes ao reconhecimento. Os judeus tinham a sua hós­
tia pacífica, ou s1;1crifício de acção de graças; nós
temos a missa, cujo primeiro fim é lembrar- nos os
mistérios de nossa redenção: Hoc facife in mellm
commemorllfionem; é o sacrifício eucllríslico por ex­
celência
Ainda que o Salvador se sacrificava por nós,
desinteressadamente, queixava-se contudo, e em sen­
iidos têrmos, quando em troca de seus benefícios só
recebia ingratidão: • Curei dez leprosos, e um só me
<1gradece; onde estão os outros nove•? (1) •Tenho
operado muitas obras boas, que fiz com a virtude
de meu Pai; é. por qual destás obras me quereis ape-
drejar•? (2)
Dar graças ao Senhor é uma obrigação de jus-

(1) Luc. XVII, 17. -- (2) Joan. X, 32.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ACÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS DA MISSA l'í0i

liça, como o declaramos antes de começar o cânon


da missa: Vere dignum et jusfum esf. . . nos lihi
semper ef ubique grélfiéls agere. Mas se, em todo o
tempo e lugdr, devemos agradecer a Deus, porque
sempre e em lôda a parle nos comunica os seus
dons, é. quanto mais lhe devemos agradecer, quando
acabamos de receber um dom que é o mesmo Deus?
Trê-s coisas em um beneficio provocam a grati­
dão : o valor do mesmo beneficio, o amor que su­
põe naquele de quem se recebeu, a preferência de
que foi objeclo, recebendo-o. - O' pndre, quando
desceis do aliar, é. que 1lesoiro levais convôsco? que
recebestes? Audeo dicere, quod Deus, cum sif omni­
polens, plus dare non polui!; cum si/ sapienlissimus,
plus ddre nescivif; cum sif dilissimus, plus dare non
habuif ( 1). e. Oue vos falta, quando possuís Jesus
Cristo, seu corpo, sua alma, sua divindade, e a mais
sanla familiaridade vos permite dizer-lhe o que êle
dizia a seu Pai: • Meu Salvador, fôdds as vossas
coisas são minhds • ? (2) A palavra que S. francisco
de Sales gostava tanto de repelir, quem possui Jesus,
possui ludo, e. não é para vós nesse momento, a verdade
mais consoladora? - e. E não é ünicamenle ao amor
de Jesus, que deveis êsse lesoiro, que contém lodos
os tesoiros? Oh ! não, meu Deus, vós nada lendes
a lucrar desta união Ião íntima com a vossa indigna
criatura: dando-vos a mim, só consultastes a vossa
infinita bondade. - Há até nesta caridade para co­
migo uma preferência, que deveria enternecer o cora­
ção menos sensível. Ouando considero que não foi
concedido locar o que eu loco, comer o que eu
como, fazer o que eu faço, a nenhum dos grandes
Sanlos - do Antigo Teslamenlo, a Moisés, a Abraão,

(1) S. Aug. Trad. LXXXIV. in Joan.


( 2J Joan. XVII, 10,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
JOS
a Jeremias, ele., nem mesmo a êsse adm\rável pre­
cursor., do qu_al dissestes: Non surrexif mojor inter
nofos mulier.um: quando considero que tantos povos,
pela- irfidelid:ade ou heresia, são privados da divina
comunhão, que até entre os filhos da vossa Igreja, a
sagr1;1da mêsa só. é de fácil.. acesso a um pequeno
número; quando. considero qye sou um dêsses privi­
legiados, que leem a felicidade de participar dela to­
dos os dias, e a quem o pão dos apjos pertence,
por assim dizer, de pro.priedade, visto _que é das suas
mãos que os outros o 'recebem : a mim mesmo pre­
gunto, ó meu Deus, de que vivo reconhecimento eu
deveria estar peneirado: Benedic, anima meB, Do­
mino.

II. A acção de graças d�pois da missa é um


dever de que podemos tirar frutos inapreciáveis.­
A presença de Jesus Cristo em nós, as disposiç_ões
de seu coração a nosso respeito, a sua acção, o es­
tado de imolação em que se ofere!=e a sru Pai, tudo
contribui para fazer do tempo que se segue à cele­
bração do .augusto sacrifício, o tempo mais precioso
da nossa vida.
Antes da missa, vós adoráveis o filho de Deus
no céu e no s.acrário; durante a missa adorávei-lo no
altar e nas vossas mãos ... , agora, onde o adorais?
onde está êle? ln me manei, ef ego in eo. 1 Oue belo
momento aquele em que podeis aplicar os vossos lá­
bios ao lado aberto de Jesus Cristo, beber a longos
tragos nessa fonte de tôdas as graças 1 . . . é. Não lhe
ouvis dizer como deixa à vossa disposição todo o
seu poder e infinitas riquezas? Ouid tibi vis faciam l
Está em vós, e não está ocioso.
Segundo a opinião de muitos e graves teólogos, os
adas de virtude praticados imediatamente depois da
comunhão, leem urn merecimento especial, por serem
produzidos por uma alma substancialmente unida à

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A· ACÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS DA MISSA 5fl!)

alma do filho de Deus. Tudo o que fazeis ·então,


por impulso de seu espírito, 'fá-lo êle convõsco : ado­
rais, e êle adora; agradeceis e êle agradece. Vossos
aclos, idenlillcados com os seus, são de· alguma
sorte feãndricos como êles, ou divinamente humanos.
Nunca Deus vos olhou com tanta complacência.
De fado, l em que estado vê em vós ao seu fi­
lho? Vê-o aniqüilado, sacrificando�se en-lão ainda
pela sua Igreja e por vós. Emquanlo o tempo de­
corre, talvez sem o advertirdes, os anjos contemplam
em vós inefáveis maravilhas: pela alteração que so­
frem as espécies 'do pão e do vinho, Jesus perde
pouco a poUco o seu sêr sacràmenlal; no vosso co­
ração, como num altar vivo, sacrifica-se adualmenle
a seu Dai, adorando-o, dandn-lhe graças, rogando
por vós. l Oue poderá seu Dai · recusar-vos nesse
momento, se não puserdes obslãculos aos seus mise­
ricordiosos desígnios?

m. A acção de graças depois da missa é um


dever, cuja omissão ·encerraria uma gravíssima
irreverência. - O apóstolo S. João disse do pérfido
Judas: Cum t1ccepisset· buccellt1m, exivif confinuo.
A êle se assemelham cerlos padres, quando, apenas
descem do aliar e• entram na sacristia, tiram à pressa
os ornamentos sacerdotais, atendem 'a quem lhes quer
falar, excepluando unicamente a Jesus Cristo, que leria
tantas coisas a dizer-lhes, tanto bem a fazer-lhes; e,
depois de algumas orações rezadas sem atenção, le­
vam o adorável hóspede ao meio dos negócios ou
das conversações frívolas, esquecido no seu coração,
como um niórlo na sepultura.
Onde está a fé? i que cegueira em Um padre I An­
tes de ·receberdes o filho de Deus, convidáveis já
todos os corações ã acção de graças : Sursum cor­
da . .. , Grt1fias t1gt1mus Domino Deo nosfro . .. ; e
faltais a êste dever, quando se tomou para vós in-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
5!0 MEDITAÇÕES SAGEIIDOTAIS

comparàvelmenle mais rigoroso 1 . . . Poucos momen­


los antes declaráveis até três vezes, com todos os
sinais de profunda convicção, que não merecíeis, ser
a morada de um Deus Ião santo: Domine, non sum
dignus ui inlres sub leclum meum: e logo que se deu
a vós, com uma bondade que mele admiração à
Igrej1:1: O res mirabilis I já não pensais nêle, nada
tendes a dizer-lhe, nenhuma adoração a render-lhe,
nenhuma graça a pedir-lhe! . . é. Não temeis vós
converter o amor mais generoso em terrível ira,
quando faltais de um modo Ião ofensivo ás atenções,
que são devidas à primeira de lôdas as majestades?
Meditai no que diz S. João Crisóstomo a êsle
respeito : A udiamus, ef sacerdotes ef subditi. . . Du­
rum for/asse videbilur quod sum diclurus; sed ne­
cesse esl lamen ui, oh plerorumque negligenliam, di­
cafur. Quando ullimae caenae communicavil Ju­
das . .. , caeferis omnibus recumbenfibus, ips.e se
proripiens excessil; illum imifanlur ef isfi, qui ante
grafiarum acfionem discedunf. Tralar assim o Filho
de Deus, continua o Santo Doutor, non mediocrem
conlempfum habet: e algumas linhas depois acres­
centa: Ouid esf aliud, qutlm extremo supplicio sese
obnoxium reddere? ( 1 )
Examinai-vos sêriamenle a respeito desta grave
obrigação; é. como a tendes cumprido até ao pre­
sente? Se a vossa consciência vos argúi de alguma
culpável negligência nesta matéria, pedi perdão a Je­
sus Cristo antes de celebrar hoje os santos misté­
rios. Tornai a resolução de consagrar ·sempre ao
menos um quarto de hora à acção de graças depois
da missa, e desconfiai dos pretextos com que busca
desculpar-se a tibieza, para abreviar um tempo já Ião
curto : Nullum cerle pielafis sensum habere convin-

(1) Horn. de b11plism. Chrisf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ACÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS OA MISSA ;'H f
cilur, qui non /ibenfer cum Deo mllnef. Nec vlllenf
praelexfus negoliorum, vel sludii, quibus se fepidi
excusanf; quod enim • grllvius ef ulilius negofium,
quam de animae saiu/e cum Deo fracfllre? vel quid
possunl docere libri, quod non Deus prllesens melius
doceaf? (1)

Resumo da l\1edltação

1. A acção de graçH depois da missa é um


dever do mais justo reconhecimento. - Deus quer
a nossa gratidão. Jesus queixa-se, quando se lhe
falta com o reconhecimento. • Curei dez leprosos, e
um só me ngradece; onde estão os outros nove•?
Se devemos dar graças ao Senhor, em lodo o tempo
e lugar: 5emper e/ ubique; l q1ianto mais as deve­
mos dar ao pé do aliar, onde acabamos de exercer
Ião glorioso ministério, e de receber um dom que
excede todos os dons? Ouem possui Jesus, possui
tudo; e. e como, e por que motivo se deu êle a mim?
O' grandes Santos do Antigo Testa.menta, vós nunca
comungastes; e já no tempo da lei ºnova, i quão
poucas almas são favorecidas como eu a êsle res­
peito 1

II. frutos inapreciáveis, que podemos tirar da


acção de graças depois da missa. - Jesus Crjsto
já não está sómente no céu, no tabernáculo e no al­
iar ; está no vosso coração, e não está ocioso; con­
vôsco e por vós, adora, dá graças, ora . . . Se vos
unirdes a êle, os vossos adas identificados com os
seus terão um valor infinito. - Mas àlém disto, e. em
que estado vê Deus em vós o seu filho amado?
Vosso coração é um altar vivo, em que Jesus se sa-

(1) Bon11, e. VI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERüOTAIS

crifica adualmente, pela· alteração que sofrem as espé­


cies sacramentais. . . Pode Deus recusar-vos alguma
coisa em semelhante ocasião?

Ili. A acção de graças depois da missa é um


dever que não pode ser omitido sem grave irreve�
rência. - Logo que Jud�s comungou, ausen(ou-se ...
Sair da Igreja sem dar graças, é nâo é porventura
imitar o primeiro profanador da divina rnêsa? Antes
da missa,· vós declaráveis que nada era mais justo
que agradecer ao Senhór nosso De·us: Vere dignum
ef jusfum esf, ele ... ; e agora faltais a êsle dever,
quando êle se tornou para vós mais rigoroso ! Achá­
veis-vos indigno de receber a Jesus Cristo: Domine,
non sum dignus; e depois de o receberdes, não pen­
sais já nêle 1 . . . Nada tendes a dizer-lhe f.. . ·r. Não
temeis as conseqüências de urna falta de atenção Ião
ofensiva?

LXXXVII MEDITAÇÃO
A acção de graças depois da missa:
sua �°Tática._

E' para desejar que um padre não precise de se


impôr a si mesmo um método, para empregar bem o
tempo que se segue à celebração do santo sacri­
fício; e que cedendo à graça, ora contemple em si o
Salvador e o oiça em profundo si'lêncio, ora lhe fale,
sob a só inspiração desta divina presença. Mas
visto que, mesmo então, sentimos muitas vezes a ne­
cessidade de reprimir a nossa imaginação e de diri­
gir as nossas faculdades interiores, socorramos os

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ACÇÃO DE GRAÇAS- DEPOIS DA MISSA fíf3

que falam tão dificilmente com Deus,. numa ocas1ao


em que deveria ser impossível dislr.air-se. da sua pre­
sença.. Neste santo, exerníc:'io, ,podemos, como na
oração, distinguir- três par.les ;.

"
I. O comêço da ac:çlió de graças.
li. O c6rpo d1:1 acçãó de 'graçà·s.
..
Ili,• •A-- conclusiid da acção de graças,

L Começa-se,. o santo - exerc1c10- da acção de


graças, por meio de três aclos produzidos. por .uma.
fé viva: a admiração, a adoração; o -amor..
�. 0
Logo que· ,o bom padre deixa os ornamentos
sagrados e recita ,o cântico prescrito, Benedicile, re­
tira-se a um lugar apropriado..à .meditação, e encer­
rando-se com Jesus Crislo·- no,sanluário de sua alma,
impõe silêncio ,a 1-õdas as criaturas e a si mesmo:
Dominus in templo saneio suo; sileaf t1 facie ,ejus
omnis ferra (').. Conser-va-se a.li ,quanto tempo pode
em silenciosa admiração, contemplando em -si o ,Rei
do universo. Suspende lodos os·-movimenlos de sua
alma dea-nte d_e- lão -augusta -e dõce majestade, dei­
xando que a adorável subsl-ância de .Jesus peneire e
transforme- lõdas -as suas potências, - tome posse dêle,
e substitua uma vida humana por uma vida divina.
Nenhum modo de honrar a Deus tem mais relação
com a sua suprema grandeza, nem convém mais ao
nosso nada do que,esta cessação·momer.ilânea - de tõda
a acção, -de lodo -o raciocínio,•-e de -alguma sorte, de
lõda a vida própria, na sua presença. E' confessar
que éle é--infinilamen-le superior, não só a todos os
nossos louvores; mas ainda a lodos .os· nossos - pen-sa­
rnentos; é prestar homenagem de ,ludo -o que - somos,

(1) Habac. II, 20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ao seu sêr infinito: é dizer-lhe: Senhor, i quem é se­


melhante o vós? (1)
2, 0 Adorai com Maria, em profundo silêncio, o
Verbo que incarnou em seu seio \·irginal, e que ha­
bita em vós. Humilhai-vos deante dêle tanto mais,
quanto êle mais humilhado está. Adorai êsse Deus
adorador, que desaparece, se aniqüila por vós deanle
de seu Pai. Convocai tôdas as potências da vossa
alma, todos os sentidos do vósso corpo, e dizei-lhes :
Venile, adoremus, et procidamus ante Deum, como
faria aquele que, recebendo um príncipe em sua casa,
chamasse os seus servos, parentes e amigos, para lhe
tribular honras. Uni as vossas adorações ·às dos
anjos, prostrados em lôrno de vós neste momento,
convidai-o;; a adorá-lo em vós e convôsco: Adora/e
eum omnes ongeli ejus.
J.0 Mas o sentimento que deve então dominar
lodos os outros, é o amor. i, Oue faríeis do vosso
coração, se o não désseis inteiramente àquele que
para o obter, emprega tão poderosas graças? · i Oue
bondade, que ternura, que esquecimento de si, se
assim podemos falar, para só se lembrar de vós 1
Vós acendestes o fogo no vosso seio; i, poderia êle
não vos abrasar? O amor é tudo na acção de gra­
ças do bom padre; é o amor que admira, o amor
que adora; e êle produzirá ainda lodos os aclos que
se seguirem.

li. O corpo da acção de graças consiste tam­


bém em três aclos principais: agradecimento, oração,
ofrenda.
1.° Cumulado pessoalmente dos divinos favores,
sois encarregado por tõda a Igreja de tribular ao
bemfeilor universal o reconhecimento que lhe é de-

(1) Ps. XXXIV, to.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ACÇÃO DE GRAl,iAS Dl!:POT!I DA MISSA 5f5
vido. Subindo ao altar, aceitastes a missão de dar
graças a Deus por todos os benefícios que fêz ao
género humano, e principalmente aos habitantes da
pátria celestial. l Oue vos não devem êles, ó meu
Deus, pródigo de vós mesmo? Apóstolos, mãrtires ,
confessores, virgens, e vós sobretudo, Raínha de to­
dos os Santos, a mais privilegiada e agradecida de
tõdas as criaturas, l que relribu"ireis ao Senhor, por
lodos os bens que dêle recebestes? Vós convidais-me
a glorificá-lo convôsco : Magni.icate Dominum me­
cum. Assim o faço ; agradeço-lhe por vós e por
mim. Oh I quão agradável me é adquirir direitos ao
vosso reconhecimento, ajudando-vos a desempenhar
o vosso I Graças à sua infinita misericórdia, acho-me
em estado de pagar a vossa dívida e a minha, por
imensas que sejam. Deu-me seu Filho, o resplendor
de sua glória, o objeclo de sua eterna complacência.
E' êsle Filho amado, que neste momento louvo, e lhe
dou graças dentro em mim, em nome de tôda a Igreja,
de quem êle é o chefe. Igreja da terra, Igreja do
céu, louvemo-lo por um dom que nos torna aptos
para reconhecer dignamente todos os seus dons :
Grafias Deo super inenarrabili dono ejus ( 1).
0
2. Não sõmenle sois encarregado de dar gra­
ças por lodo o mundo, senão também de orar por
êle. Foi-vos dado lodo o poder, desde que Jesus
Cristo entrou no vosso coração. Pela ilimitada in­
fluência que tendes sôbre êle, e por êle sôbre seu
Dai, tornastes-vos, para assim dizer, como a incompa­
rável Virgem, omnipofenlia supplex; rogai pois por
vós e por tôdas as almas, cuja salvação prezais.
Abri a vossa bôca, vos diz. Jesus, e ea a encherei :
DillJ!lJ os fuum, ef implebo illud •.
Rogai por lodos os pecadores e justos, mas prin-

(1) li Cor. IX, 15.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

cipalmen!e pelo . clero, cuja sanlificaçãci 8ã a Deus


!anta glóri�, e à humani.dade inteirá tanta felicidade.
Podeis servir-vos· da oraç�o do Salvador depois da
Ceia: Pafer, v_enif hora; c;lari�ca Ffliúm tuum, uf
Filius fuus. clflriGcef te.(1). 1 Oue admiráveis palavras
na bôca. de, um -padre, depi:,is de celébrar 1
Pale.r, saboreai pr_imeiramente tão 'dôce nome, e
não receeis demorar-v�s muito tempo: e Pafer ! Sim,
meu Pt1i ! porque o sois, Senhór: conheço;o, com­
preendo-o nesla hora, melhor do que nunca. 'O de­
ver de um pat é alimentar s,eus fühos; l e que ali­
mento. acabais de me. dar? Pafer, meu Pai·; porque
Jesus Cristo é vosso filho, e neste momento sou um
com Jesus Cristo: Ele esf/J em mim, e eu estou
nê/e; 6 seu sangue corre _nas minhas veias, 'O seu
Coração junta as suas palpitações às palpilações dQ
meu ; vendo�me a mim, vêdes a Jesus. é. Oue não
concedereis aos rogos de Jesus, que são os meus?
Venif hora; 1 Dai, é chegada a hora 1 a hora favorá­
vel aos· desígnios de vosso amor . . E' chegáda, ou
então jàmais chegará, a hora de mostrardes o que
sois, - o melhor, o mais lemo, o mais generoso dos
pais; de me 'dardes tõdas as luzes, todos ·os socor­
ros, tõdos. as graças que desejo ou devo desejar;
de mos_ prodigalizardes, àlém .mesmo dos meus dese-.
jos e e�p�ra�ças; porq'ue vosso F\lho, que está em
mim, que roga por mim e comigo, merec·e infinita­
mente n,ai_s do que eu po:5so pedir-vos.
• Clar_iliça Fi/ium tuum. Jesús cuidou da vossa
glória, q meu Pai; cui,dai da _'sua. D'ara vos dar
honra é que êle se humilhou fanfo, e afnda neste mo­
mento se aniqüila deanle de vós no altar do meu
coração., Senhor, dài-ihe a glória que êle deseja.
A glória de um rico é socorrer o indigente: a de um

(1) Joon. XVII, J.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A Ar.ÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS DA IIIJSSA Jl 7

médico é curar, a de um Salvador é salvar.. . Pai


santo, dai-lhe · es'ta glória. Não ·permitais que se
possa db;er que êle'veío visitar um enfêrmp sem o
curar, um pobre sem o consolar, um pecador arre­
pendido, que se lan.çáu nos seus' braços, sem o san­
tificar .e qalvar .. : Uf filius fuus clarillcef te: Pai
de Jesus e meu Pai, se· me concederdes esta graça,
sereis glorificadp, não Janto por mim cor'nó por vosso
filho · em. mim. Estará n'o meu coração, pará me
abrasar no vosso . amor; rio meu . espírito, para me
inspirar sanl6s proie!=los; na minha bôca para vos
louvai-, p�ra anunciar a vossa palavra; ·e m lodo 0
meu minislêrio, para· o abençoar. Os pec. adores se
converterão, os. tíbios se reanimarão, e ludo redun­
dará em gloria vossa •.
3.? Oferecei-vos primeiramente a Jesus Crislo,
e depois oferecei Jesus Cristo a seÚ Pai.� O Filho
de .De.us· deu-se a vós, e pede que vos deis a êle.
Entregai-vos inteiramente' a um ainígo Ião generoso,
confiando-lhe lodos os vossos cuidados emquanlo ao
tempo' e á eternidade, não lendo outro desejo senão
o de )�e 'agradar_; _faz�ndo-o operar e"Viver em vós,
como em uiT]a casa onde ludo lhe pertence. Tendes
um .belo modêlo desta oferta na oração Suscipe,
Ddmine (1). - Mas visto que Jesus Cristo vos per­
tence, usai dêle segundo a sua intenção, oferecendo-o
a seu Pai. _Jesus foi-vos dado para suprir tudo o
que vos. f�lta; có'm 'ele·, que po·de 'foltar-v�s? é. Oue

r.
tendes a temer ?
é.
·
a .i�sufidencia ºdas vossas adorações, que da
vossa parle nada'. valem? Vêde em vós um · Deus
aniquilando-se na presença de Deu�: êle 'lhe presta,
e vós l�e prestais por êle um culto· tão· grande
qual}lo Je!;u;, / granc\e. <1. E' !3- le�brariça das vossa�

(1) Veja_-se no
, ,
fi� dêsfe
'r"
volume.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
518 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

culpas, a imperfeição da vossa penitência, a ausência


de tôda a virtude, que vos inquieta e assusta ? Ofe­
recei a Deus a penitência que Jesus Cristo fêz por
vós: a contrição de seu Coração, a tristeza de sua
alma, as dôres de seu corpo, porque tudo isto vos
pertence. Oferecei a santidade de sua vida para ré­
parar as manchas da vossa; as suas virtudes pelos
vossos vícios, a sua mansidão pelas vossas impaciên­
cias, a sua humildade pela vossa soberba. Dizei-lhe :
• Eu sou incapaz, ó meu Deus, de vos honrar por
mim mesmo. As trevas da minha inteligência, os ex­
fravios da minha imaginação não me permitem ler
um pensamento digno de vós; mas ofereço-vos os
divinos pensamentos de Jesus, os louvores que vos
dá em mim agora, e que vos dará no céu por tôda
a eternidade. Meu coração é para convôsco de uma
insensibilidade que me aflige; mas ofereço-vos o Co­
ração de vosso filho e tõda a sua ardente caridade.
Amo-vos por êsse Coração divino, que me destes.
Não me façais já a pregunla que contristava o chefe
de vossos apóstolos, Diligis me? porque vos res­
ponderei como êle, e com tõda a afoiteza: Sim, meu
Deus, amo-vos, e deveis agradar-vos do meu amor,
visto que recebe uma infinita perfeição do Cora>ão
de Jesus, que me pertence•.

Ili. A conclusão da acção de graças é a reso­


lução, de executar, no mesmo dia, os protestos de
reconhecimento e de dedicação feitos a Jesus Cristo.
Quando recebemos semelhan'te testemunho de seu
dmor, estamos impacientes de lhe provar. o nosso,
não desejamos senão um ensejo favorâvel: Domine,
quid me vis facere? Estamos prontos a empreender
tudo, a sofrer ludo pela sua glória: trabalhos, humi­
lhações, contradições de todo o género . . . Para/um
cor meum, Deus, para/um cor meum. Uma vida de
recolhimento, de zélo, de abnegação, deve ser uma

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A ACÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS DA MISSA 5f9

acção de graças contínua depois da missa. Deter­


minai em que coisas, e em que circunstâncias mos­
irareis particularmente que não esqueceis. o incompa­
f"ável favor que Deus se dignou fazer-vos.

Resumo da Meditação

1. Começa-se· o exercício da acção de graças


<:om três aclos: 1.º Retirado com Jesus Cristo ao
íntimo do vosso coração, suspendei todos os movi­
mentos de vossa alma, e permanecei em muda admi­
ração ... Nenhum modo de honrar a Deus é mais
<:onforme à sua infinita grandeza ... E' dizer-lhe:
Senhor, é. quem é semelhante a vós? 2. 0 Adorai em
profundo silêncio o Verbo incarnado. Uni as vossas
adorações às de Maria e dos anjos; convidai tõdas
as criaturas a adorá-lo em vós e convõsco. 3. 0 Mas
o sentimento que deve dominar e animar lodos os
outros, é o amor.

II. O corpo da acção de graças encerra tam­


bém três actos: Agradecer, orar, oferecer. 1. 0 Agr1:1-
decei em nome de lodos os habitantes do céu. Após­
-tolos, mártires, confessores .. . e vós, principalmente,
Raínha de todos os Santos, é. que não deveis vós a
Deus? ajudar-vos-ei a pagar a imensa dívida que vos
fizeram conl-rair os seus benefícios. .. 2. 0 Pedi:
foi-vos dado todo o poder. Dilatai os vossos dese­
jos; rogai por todos, mas particularmente pelo clero.
Dizei a terna oração de Jesus depois da ceia: Pai,
i chegada a hora; glorificai o vosso Filho, para que
vosso Filho vos glorifique em mim, comigo e por
mim. 3. 0 Oferecei-vos a Jesus Cristo: Recebei, Se­
nhor, ludo o que lenho, tudo o que sou ... ; mas
àlém disto, oferecei Jesus Cristo a seu Pai. Êle foi­
-vos dado para suprir a vossa indigência ... Ofere-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEOITAÇÕRS SACERDOTAIS .

ceia santidade de sua. vida,para·reparar· as 'Culpas e


falias da vossa1

III. A conclusão da acção de graças. - E' re­


duzir a obras os protestos de reconhecimento e de
amor, que fizestes a J��us Cristo '. , Uma vida reco­
lhida, .cheia de zelt>. ê âóiiegáça·o·; é:leve ser uma acção.
de graças contínua depois da missa.

1:::1

LXXXVIU MEDÍTAÇÃO
Segunda-feira na oitava· do Santíssimo
Sacramento.
· -'- As santas delícias
da comunhão bem' feita
º
1. E próprio duma boa comunhão causar con!iolações espirituais.
li. Em que consistem estas sanfos consolações.

l. E' própria- da C!Omunhão causar.consolações


espirifbais. � O ·Espírito .Santo, falando· do maná,
que ·figurava a Eucaristia, diz: PtJnem de coe/o
prtJeslilisli-'eis- ... ;. omne deleclamenlum in se h�hen­
fem, d dmnis saporis suavilafem (1). • t.sle pão ce­
leste, dit S. Cipri·ano. encerra, à semelhança do maná,
todos os gõzos imagináveis, e..por uma admirável vir­
tude, faz· sentir -aos •que o recebem dignamente aquele
gõslo que ·êles -desejam; e excede em suavidade lo­
dos os,.oulràs· gostos { 2} •. ,S.. Macário afirma que a
alm·a bem dispost-a acha na ·comunhão delícias inex­
plicá't'eis; 'que ·descobre nela riquezas •que os olhos
/

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A •CJOMUNHÃJ') BEM• 'FEITA

não -viram. nem •os ouvidos,ouviram,( t ). - S. B0aven­


tura. põe, nos lâbios de,-Jesus Cristo estas• palavras:
•O'. alma, lnão tens lu cor:1hecido por·expe:riência; ao
receber-me, que saboreavas o. •mel com o favo que ,o
contém\ a d0çura da minha divindade unida ,ao meu
corpo ·e sangue•? Tõdas as -obras dos. Santos .Pa­
dres exprimem ,·os ·mesmos.. senlimenlos. Ouanto á
Sagrada ,Escritura, da dá-nos· a entender,• pelos sím­
bolos· de que se -serve, quando fala da Eucaristia,
quão delicioso é êsfe sagrado ,alimento para as al­
mas bem dispostas. Ora é uma· bebida esquisita, ora
uma comida delicada, um pão feito de bom lrigo.
Representa-nos a comunhão como um magnífico ban­
quete, tal qual o de um rei que faz as w3das de seu
filho. Os intérpretes' aplicam à .Eucaristia os diver­
sos textos dos •livros santos, onde se fala- de vinho,
de leite, de mel, de tudo o que há de mais agradável
em matéria de comidt1 e bebida. Suavifafem hu/us
sacramenfi, diz 5. Tomás1 - nu/Jus- -exprimere sufficit,
per quod spirifualJs dulcedo in suo fonfe gusfafur (2).
Oh! quão bem compreendem as almas devotas e in­
teriores esla palavra de S. Jerónimo: Hoc solum
hahemus in praesenli saeculo honum, si v1rs0amur
carne Domini ! ( 3) O amável S. ·João -Bérchmans
dizia ternamente a Nosso Senhor: •O' meu Sal·va­
dor, e. que há, depois da divina comunhão, que possa
dar-me cá na terra doçura e contenlamenlo •?

II. Em que consistem as santas cansolações


que a Comunhão •causa à alma. -A•. resposta de
S. Tomás .a esta pregunta deve tranqüilizar os que
se queixam cle não sentir - gõslo-•comungando, põsto
que procurem fazê-Jo dignamente. Pode um objedo

(1) Hórri. IV . ..:... (2) ·opusé. LVH.


(3) ln :cap. lll Ezech.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACl!RDOTAIS

causar-nos prazer ou por si, quando impressiona


aclualrnente os nossos sentidos, corno quando o vê­
mas, o saboreamos ... , ou pela sua imagem, quando
pensamos na idéia agradável que dêle formamos.
Com efeito o pensamento de um bem, principalmente
quando o possuímos ou esperamos, basta para pro­
duzir na alma um sentimento agradável. Assim o
avarento que conserva os tesoiros encerrados no co­
fre, sem os vêr nem lhes locar, sente alegria tôdas as
vezes que pensa nêles. A comunhão faz .as delícias
da alma fiel, ora de um, ora de outro dêstes dois
modos.
1 .0 Ainda que, ao comungar, eu não experi­
mente alguma consolação sensível, l não é põra a mi­
nha alma uma grande consolação saber com certeza
que Jesus Cristo se dá a mim, e que possuindo-o,
possuo o sumo bem, a fonte de todo o bem? Ouando
o Filho de Deus vem a nós, dizia o padre Alvares,
não deixa no céu as suas riquezas espirituais, as
suas graças, os seus favores; vem com as mãos
cheias de dons, e o coração cheio de amor. Mas
ainda que viesse só, l não bastaria êle para a minha
felicidade? l Não é Jesus o mais precioso de todos
os tesoiros? l Posso eu ignorar que os gôzos e as
consolações sensíveis são um dos menores frutos da
comunhão, e que êste bom Senhor priva dêles mui­
tas vezes os seus mais devotos servos, para os ensi­
nar a estimar mais os seus dons? •Oh! que doçura
há em estar contente com Deus, sem esperar dêle
nenhuma outra doçura! Se conhecêsseis o bem que
Deus vos foz, dando-se a vós, ainda quando vos
deixa sem sentimento algum de devoção; se pudés­
seis, depois de receber a sagrada Eucaristia, com­
preender estas palavras do Salvador aos apóstolos
na última ceia, depois de lhes dar a comunhão por
sua própria mão, Sei/is quid fecerim vobis? estando
sem outro gôzo, estaríeis mais satisfeito do que

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A COMUNHÃO BEM FEITA

se tivésseis todos os gozos do mundo. Jesus acaba


de vos dar o seu corpo em aliinenlo, o seu sangue
como bebida, a sua vida como resgate, a sua divin­
dade como amparo, o seu paraíso como herança.
Esclarece o vosso entendimento, aumenta o vosso
amor, purifica o vosso coração, mortifica os vossos
sentidos, enfraquece as vossas paixões; comunica­
-vos as suas virtudes, santifica-vos. é. Oue doçura é
comparável a esta excessiva bondade para con­
,,õsco •? (1) Devemos concordar com S. Francisco
de Sales, que muito avaro é aquele a quem Deus
não basta.
2. 0 Mas sucede também que a comunhão in­
funde na alma consolações sensíveis, quando Jesus
Cristo faz gostar 1:1 doçura da sua graça e a suavi­
dade da acção por meio da qual a produz. Então,
diz S. Lourenço Justiniano, não há coração Ião
duro, que não seja peneirado dos mais lemos afe­
clos. A alma, embalsamada de celestiais perfumes,
abrasa-se em amor divino, canta os louvores daquele
que é todo dela : Dilecfus meus mihi, e dá-se tõda a
êle: Et ego illi. Dedica-se ao seu serviço, só espera
a ocasião de fazer um sacrifício para mostrar que o
ama. Experimenta suma repugnância a lodos os.
prazeres da terra, e torna-se insensível a tõdas as
desgraças da vida, de sorle que nem a comovem as
'injúrias, nem as contradições, nem o abandôno das
criaturas. Duas coisas produzem nela êsle feliz es­
tado: a vista e o amor de Jesus Cristo.
E' verdade, que estas grandes delícias da comu­
nhão não são concedidas a lodos, nem no mesmo
grau aos que a recebem; poucas almas são Ião
puras, que saboreiem tôda a doçura dessas puras
consolações. Ouanto ao gôzo espiritual, que produz

(1 ) P. N_oue!.- Vida mística de Jesus no Santíssimo Sacra­


mento.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MElllTAÇÕES SACEI\D0.TAIS

o conhecimenlo. ..dQ!\ gr1mdes ben s _contidos nesle sa­


cram.ento, não . há .c.rislão a. lgum, que não possa
se�li-lo.. Basl!'l para isto estimar os bens , d.a graça,
desejar, a salvação,. s.uspirar pelo ç��, ç não esquê�er
que a Eucaris.tia é o IlJelhor [T\eio de reali;zffr êsles
i;anfos desejos,
Eu .. compreend.o,, Senhor, o mi_s erjc:;o,rdioso desí,
gnio• que vos. propuses tes,. in.st\tui(Jgo um sacr/imenlo
com lanla razão chamado_, Dulced.o·dulcedinum, amor
amorum. Quisestes un , ir-v.os aq . homem, torná-lo se­
melhante. a vós , enchê-lo.de delícias, e dêst�. modo,
inspirar-lhe o amor perfeito, em que consisl_e çi santa
vida, .cujo princípio é êste pão celestial, assim como
é o· penhor da vida elerll,a. O' Jes us, cu_mpri em
nós., vossos. m.inislros, um desígnio tão digno de
vosso Coração, e depois servi-vos de noss.o ,zêlo
para. o .cumprir em ,todo!i os vossos discípulos. Fazei
que .o , vosso am.or se,j.a a vida de 'to.d.os os vos.sos
ministros. Oh! que rlObr,e e dit<;>sa .vida é amar-vos,
s er amado de. vós, e só eslar ocupadi> em ganhar-vos
corações !
Resumo da- Meditação

1. E' própriQ..da comunhão causar con��lações


espiriluai�.-.-,- O m.aná, simp,les figura da Eucaristia,
é chamado na Sagrad,a ç.scrilura pão dq céu que tem
em sLtôdét a delícia. •Ninguém. há, diz. S. Tomás,
que possa exprimir a s1;1aridf!de. dêsle sacramento,
em que as delícias espjrilul'!is são sabo�etic;las na sua
fonte•.• Não, l«mos . neste IT\uodo seo/:io um só. ver­
dadeiro prazer, diz..S. Jerón.imo, .o de .comçr .ª carpe
do Salvado.r.; uma .só, dõr..a• que devemos s er s�nsí­
veis, a .de .sermos.privados. dêl_e,

li. l Em que consis{em as santas consolações


que dá a comunhão? - São de dois modos:
1. º Aínéla mesmo que nenhum gozo sensível eu

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DISPóSíÇi'iE'S 'PARA 'A 'cOMUNHÃO ti25

experimerttásse, e não •é 'para ·'mim uma"grande conso­


lação· saber êom· t·erteza'que póssuo a Jesus Cristo.
e que, possi.Jin•do-o, j:>óssuo a fonte·de todos os bens?
O Salvador vem a nós com as mãos cheias· de dons,
e o Coração cheio de amor. é, Não sei eu que os
gozos sensiveis são os· inenor'es frutos da comunhão?
Oh! quanta doçura .há em eslar conlenle com Deus,
sem esperar dêle qualquer outra doçura !
2. 0 Algumas· v'êzes 'Jésu·s" C"risto faz-nos sabo­
rear a suavidade dá acçào, por m•eiô da qual produz
em nós a sua graça; e enlão não há coração tão
duró, que· hão ·seja penetrado dos mais lemos afe­
clos. Deixemos êste 'bom· Salvador operár em nós
como ··entên'der, 'e enl'reguemó�nós "ao seu divino Co­
ração:·

LXXXIX MEDITAÇÃO
Têrç�-feirà na Oitava"d.o Santíssimo
Sacr:amen_to. l)isposições para a sagrada
· · ·' corriunbão ·

· enle da· fé •viva, ·da ··humildade, e


'Jn·dependentem
sobrefodó da pure·za de cciração, tão p&rfeila ·quanlo
nos é póssível, 'que ''são disposições · gerais' para a
sagrada comJnhão, achah\os duas· outras excelenles
nestas palavras da E'spôsa dóS · Carüares :· Sub um­
bra i//;us quem 'desidera·veram ·sedi, ef Iruc!us ejus
dulcis gulfuti ·meb (1'). 'Desejar imir0nos ao Salvador,
que deseja Ião ardentemenle unir-se a nós, e reco-

(1) Canf. 11, 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
526 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

lher-nos em nós, quando estamos próximos a con­


trair, ou acabamos de contrair com êle esta união,
são duas disposições muito eficazes para comungar
com proveito.

1. Desejo ardenle de comuJ'\l!ar


li. Rei:olhimenlo profundo na comunhão.

1. Desejo ardente de comungar. - é. Oual é


a importância dêste desejo? é. Oue deve excitá-lo
em nós?
1. 0 Assim como a fome dos alimentos materiais
indica ordinàriamente a boa disposição em que estã
o corpo para os aproveitar, assim também um grande
desejo de receber a Eucaristia é uma excelente dis­
posição para participar abundantemente de seus be­
néficos efeitos. O homem interior, diz S. Agostinho,
deve ler fome do pão celestial para o comer santa­
mente (i). E' o que S. Jerónimo exprime muito bem,
comentando êste versículo do salmo oitenta: Di!tJfo
os fuum, ef implebo illud. é. • Quereis, diz êste Santo
Padre, receber o alimento do Senhor, e comer ao
mesmo Senhor? Ouvi o que êle vos diz: Abri a
vossa bõca, e. eu a encherei. Abri a bõca do corB­
ção, porque recebereis à prop.orção que a abrirdes.
A medida dBs graças que vos serão dadBs, não de­
pende de mim, mas de vós: Non esf in metJ pofes­
fate, sed in futJ esf; si volueris, me lofurrl tJccipies •.
O' minha alma, aprofunda esta palavra: se desejBs
B Jesus Cristo, se o desejas com todo o ardor de­
que és capaz, recebê-lo-ás todo.
lgifur accedtJt nemo cum nqusetJ, nemo resolufus,
omnes tJccensi, omnes fervenles e! excifofi. . • Ne

(1) Panis isle Tomem hominis inlerioris requirit. Tracl. XXVI.


in Joan.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Dl�POSIÇÕES PARA A COMUNHÃO

lorpeí1mus fanfa digni carifale ef honore pufafi.


Nonne vide/is quanta prompfifudine parvuli papillas
capiunf, ef quanlo impefu lahia uherihus inligunf?
Accedamus cum fanfa nos quoque alacrilale ad hanc
mensam, el ad uhera poculi spirifa/is: quinimo cum
longe majori frahamus, /amquam infantes /acfanfes,
spirifus grafiam, el unus sil nohis dolor hac esca pri­
vari (1). Nunca estamos melhor dispostos a receber
as graças dêste sacramento, do que quando podemos
dizer ao Salvador: • Minha alma vos desejou de
noite, e 'Jogo ao alvorecer do dia, para vos buscar
com tôda a minha alma e com todo o meu cora­
ção ( 2). Os primeiros cristãos chamt1vam à Eucaris­
tia desiderafa, porque ela era coitlo o centro de to­
dos os seus desejos.
2.º Duas coisas contribuem principalmente para
excitar em nós o desejo de comungar: a reflexão e
a mortificação. O desejo é um movimento da alma,
pelo qual conhecrndo o valor de um bem. de que
está privada, aspira a possuí-lo. E' preciso pois re­
íleclir sôbre os maravilhosos frutos do sacramento
dos nossos �ltares. Uma alma apaixonada pela sua
santificação, e que conhece a virtude da Eucaristia,
seja para destruir em si o pecado até à sua raiz,
seja para a' elevar à mais sublime perfeição, arde ne­
cessàriamente em desejos de a receber.
Mas ainda aqui é necessário juntar o jejum à ora­
ção, isto é, a mortificação dos sentidos à meditação
dos bens infinitos, que obtém uma fervorosa comu­
nhão. A fru'ição dos prazeres terrestres deminui as
fôrças da alma, e torna-a menos capaz de desejar os
celestes. As ale'grias sobrenaturais leem pouco atra­
ctivo para um coração todo ocupado de gôzos pura­
mente humanos; mas se o privam -0êsses gôzos,

(1) S. Joan Chrys. ad pop. Anlioch. - ( 2) Is. XXVI. 9.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:,:MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

�orno não poderia viver- sem prazer, corre com tôdas


as· -suas fôrças pelo ·caminho que lhe ·aorem, mos­
trando-lhe· a doçura que .experimentará no banquete
eucarístico, Os. hebreus. deviam cingir os r�ns para
comer o·. cordeiro pascal; deviam misturar com êsle
alimento• aHaces .. bravas e amargosas: para· nos ensi­
nar, com êstes •símbolos de mortificação, quão con­
veniente é dispôr-nos para a comunhão cóm os exer­
cícios da penitência. Deus, ·não promete ·o maná e a
s·ua secreta consolação :senãa ao vencedor) ao ho­
mem que sabe domar as suas paixões: Vincenfi dabo
man-na --abscondilum (1). A Eucaristia é uma fonte
-de inefáveis• delícias, -mas para quem ? para os que
-dominam a sua s@nsualidade, e nã,o para os que são
escravos dela : Praebebil delicias regibus (2).
'
-li. Recolhimento, antes da comunhão, durante
ela e depois.-dela. Se uma alma ·deve estar atenta.
ao- que faz, é ·principalmente quando- se trata de pra­
ticar um acl<'>· tão divino·. t Não é deplorável que
mesmo então o ·nosso espírito esteja distraído? En­
·tre ·as comunhões que- se fazem em -estado de graça
e com disposições ·absolutamente suficienles, S. · To­
más ·distingue a ·que , êle chama comunhão habitual­
mente espiritual, e a- comunhão -acfualmenfe espiritual.
Numa come-se o· pão eucaríslieo, lendo -apenas o há­
bito da ,fé;- da ·caridade, ele., porque a alma esf.á dis­
traída; -na oulra ·pralicàm-se os aclos· dessas virtudes,
porque está aplica , da à·gr-ánde acção, q1,1e faz. · A-pri­
meira .. basta para ·aumentar a graça sanlificanle; por­
-que s_e supõe que não se·consenle nessas·distracções;
mas a -segunda· é necessária para a refeição espiri­
tual, _isto ·é, tomo.. o· Santo Doutor •explica, •para go­
zar a doçura· do sacramento, e -receber-,todos os seus

'(1)' Apoc. II, 17. - (.:!) ,Gen. XLIX, 20,:

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DISPOSIÇÕES PARA A COMUNHÃO l'i2!1

frutos. Jesl!S Cristo impõe-nos como preceito a pri­


meira, quando diz: Tomlli e comei, êsfe é o meu
corpo; e parece recomendar-nos a segunda, quando
acrescenta: Fazei_ is/o em memória de mim, vis lo que
equivale a dizer-nos: Pensai em mim, crêde, esperai
em mim, amai-me. Êste último modo de receber a
Eucaristia, com uma atenção respeitosa e produzindp
todos· os aclos interiores, que deve inspirar-nos a
grandeza e bondade do Filho de Deus, é a única
verdadeiramente digna dêle e de nós. E.' dela tam­
bém que falam os 09utores da Igreja, quando nos
exortam a que adoremos a Jesus Cristo dando-se a
nós, que nos humilhemos na sua presença, que falemos
com êle, e lhe peçamos os auxílios de que precisamos;
porque nisto consiste a comunhão espiritual, que de­
vemos juntar à comunhão sacramental. •Quando o
Salvador entra em uma alma bem disposta, diz S. João
Crisóstomo, ilumina-a e enche-a de sua unção. Exci­
ta-a a amá-lo, e é principalmente com a fiel corres­
pondência à graça, que ela se une a êle com o espí­
rito e com o coração, e faz rápidos progressos na
virtude•·. E.m Ião felizes momentos tenhamos o maior
cuidado de nos desprender de lôdas as coisas dêsle
mundo, para pertencermos unicamenle a Jesus Cristo.
Imitemos a Abraão que, querendo oferecer sacrifício
a Deus, deixou (ôda a sua comitiva na raiz do monte,
e a Moisés, que subiu sõzinho ao Sinai, ordenando
ao povo que ficasse em baixo. lngemisce ef do/e
quod adhuc ila carna/is sis ... , Iam immorli.icalus a
passionibus . .. , Iam cifo disfraclus, iam raro fibi
plene colleclus (1).

(1) /mif., lib. IV, e. VII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERíJflTAIS

Resumo da Meditação

1. Desejo ardente de comungar: nada nos dis­


põe melhor para comungar santamente. l « Ouereis,
diz S. Jerónimo, receber com grande fruto o corpo
do Senhor? Ouvi o que êle vos diz: •Abri a vossa
bõca, e .eu a encherei ... ; abri a bõca do coração,
porque recebereis na medida que a ·abrirdes•. As
graças que nos são concedidas, são ordinàriamente
em proporção dos nossos desejos: Esurienfes imple­
vit bonis. - Duas coisas excitam em nós êstes santos
desejos: a reflexão, que nos esclarece a respeito do
preço inestimável de uma boa comunhão, e a morti­
ficação. A fruição dos prazeres terresires torna uma
alma menos capaz de desejar os celestiais. Para sa­
borear êste maná escondido, é necessário domar as
paixões.

II. Recolhimento, antes da comunhão, durante


ela e depois dela. E' principalmente então, que uma
alma deve estar atenta ao que se passa em si, e ao
que faz. Deixemos falar a nossa fé : adoraremos
Jesus Cristo dando-se a nós; humilhar-nos-emos na
sua presença, conversaremos com éle, pedir-lhe-emas
os socorros de que necessitamos, e não poremos li­
mites à nossa confiança, porque nisto consiste a co­
munhão espiritual, que devemos juntar à comunhão
sacramental.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
VISITAR O SS. SA.CRAMENTO 531

XC MEDITAÇÃO
Quarta-feira, na Oitava-Visitas ao Santíssimo
Sacramento

1. O bom podre � assíduo em visifor o Sonlíssimo Socromenlo.


li. Como, emprego o pr�cioso tempo destes visites.

1. O bom · padre é assiduo em visitar o San­


tissimo Sacramento. - l Oue ocupação lhe poderia
parecer mais justa, mais agradável ou mais útil?
1. 0 Uma reflexão muito simples foz sentir a con­
veniência da nossa assiduidade em visitar a Jesus
sacramentado. Suponhamos que um monarca, uni­
Célmente para me honrar, me proteger, e me mostrar
a afeição que me tem, vem residir no lugàr que eu
habito, para que eu possa apresentar-me de�hte dêle,
e recorrer à sua bondade quantas vezes quiser:
é. serei insensível a esta benevolência? l Não me obri­
gará ela a nada? l Como seria julgado o meu pro­
ceder, se eu não tratasse de o ir vêr e de me apro­
veitar de Ião generosa dedicação? ·pois o que jàrrÍais
rei algum fêz pelo mais amado de seus súbditos, fá-lo
Jesus Cristo por nós. l Oue fim se propôs êle, habi­
tando no meio dos homens ? Se só quisesse servir­
-lhes de vítima sacrificando-se por êles, e dar-se-lhes
como alimento, bastar-lhe-ia apresentar-se debaixo
das sagradas c:spécies na ocasião do sacrifício e da
comunhão. Permanecendo continuamente ao pé de
nós, quis estar sempre ao nosso alcance, e prestar­
-nos a caJa instante os bons ofícios da mais terna
amizade. l E deixá-lo-íamos só, nas nossas igrejas?
é. E os seus mesmos ministros não iriam muitas vezes
oferecer-lhe as suas adorações, receber os seus bene-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ficios? Admiremo-nos da ingratidão dos judeus, que


não o conheceram nem amaram, pôsto que passasse
no meio dêles, fazendo bem e multiplicando os mila­
gres; mas confessemos que a.nossa indiferença deno­
taria da nossa parte uma cegueira não menos ofensiva
para o seu adorável Coração. O' padre, ide visitá-lo
em vosso nome e em nome das almas que êle vos
confiou. é. Há para vós ocupação mais justa e mais
conveniente? é. Há alguma que deva ser-vos mais
agradável?
2. 0 é. Oue bom filho não gosta de ir ler com seu
pai e de lhe falar? é. Não é o maior prazer de um
amigo conversar com seu amigo fiel.? Ah I quanto
deveríamos felicitar-nos de ler o nosso Salvador tão
perto de nós no lugar do nosso deslêrro, de poder
confiar-lhe as nossas pena:;, e derramar as· nossas lá­
grimas em seu seio : A Sagrada Escritura refere
como uma graça insigne concedida a José, que a sa­
bedoria descesse com êle ao cárcere, e não o abando­
nasse nas cadeias (1). Mas, é. não é ,um favor incom­
paràvelmenle maior, que o Verbo humanado, a Sabe­
doria incarnada esteja connosco na prisão desta triste
vida, e que aí esteja emquanto dura o nosso cativeiro?
O bom padre não vai buscar a outra parle as suas
consolações; uma visita ao Sanlíssimo Sacramento
conforta-o, alegra-o, reanima-lhe as esperanças. Oh!
quantas vezes, lendo entrado na sua igreja com o co­
ração amargurado, dela saiu cheio· de alegria e de
coragem ! Oue bem exprimiu David a minha dispo­
�ição habitual, quando disse: Ouam dilecfa laberna­
cl)/a lua, Domine virfutuml Concuf'iscil e/ deficit
anima mea in afria Domini(2).

(1) Descendi! cum illo in fove11m, el in vinculis non dereliquil


illum. S11p. X, 13.
(2) Ps. LXXXIII, 2 1 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
VISITAR O SS. SACRAMENTO 533
3. 0 Mas a êstes motivos convém acrescentar o
de um imenso interesse. Ninguém vaj levado pela fé,
visitar a Jesus sacramentado, que não receba alguma
preciosa bênção. Os seus tesoiros estão sempre
abertos para enriquecêr os que lhe vão expôr as
suas misérias. t Não é êle na Eucaristia o que era
durante a sua vida mortal, o amigo dos pecadores, o
consoltidor dos tiflilos, o st1lvt1dor dtis almas? Ali
opera êle ainda os prodígios de poder e de bondtide,
que operava nti Judéia: curando os enfermos, dando
vista aos cegos, ressuscitando os mortos. Gosta de
vêr os seus ministros vir tratar com êle as emprêsas
de seu zêlo, pedir-lhe conselho, e receber do seu Co­
ração o fogo sagrtido, que devem ticender no de
seus irmãos.
Esta devoção foi notável em tôdas as almas sa­
cerdotais de que Deus se serviu para as i;irandes
obras de. sua misericórdia; lembrai-vos de S. Vicente
Ferrer, de Santo António de Lisboa, de S. Francisco
Xavier, de S. Vicente de Paulo, de M. Olier, e ou­
tros. O apóstolo das fndias passava muitas vezes
noites inteiras em adoração deante da divina. Euca­
ristia. S. Vicente de Paulo, ao sair de casa,' nunca
deixava de saüdar primeiramente o Santíssimo Sa­
cramento, e quando voltava, ia dàr conta a Jesus
Cristo do que tinha feito pela sua glória. M, Olier
dizia: • O padre que é assíduó em honrar o Salva­
dor neste mistério, e em rogar-lhe pelos pecadores,
obterã cêdo ou tarde a sua conversão. E' impossí­
vel que, estando assim deante do Santo dos Santos,
em fervorosa súplica, não participe dos sentimentos,
do fervor, e da virtude de Nosso Senhor, para mo­
ver, instruir e converter os povos. Morro de dôr,
vendo· que Jesus Cristo não é honrado no Santís­
simo Sacramento nem pelos sacerdotes nem pelos
povos•.
No quinto século, piedosos cenobitas dedicaram-se
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACEIIDDTAIS

a formar uma guarda de honra perpétua ao divino


Rei. Divididos em diversas famílias, como outrora os
filhos de Israel, nunca cessavam de cantar salmos no
templo do Senhor. Bemdigamos a Providência por
ter suscitado nos nossos dias éomunidades religiosas,
cuja vocação é também prestar continuas . honras ao
Deus de nossos santuários. Hã mais ainda: êsse
zêlo não se limita aos claustros; fervorosos secula­
res dão dêle belos exemplos; vêmo-los em muitas
das nossas cidades adorar o Santíssimo Sacramento
durante tõdas as horas não só do dia, mas também
da noite. A-pesar de Ião louvável emulação, j quantas
razões não temos nós ainda para deplorar o esquêci­
mento quási universal, em que se deixa tão admirável
e divino mistério I Reconheçamos, que • há numero­
sos associados da Adoração Perpétua, mas também
há milhões de pessoas insensíveis à presença do Fi­
lho de Deus que reside no meio de nós• (1).

li. l Oue foz o bom padre nas suas visitas ao


Santíssimo Sacramento? - San lo Agostinho diz que
sua mãe ia todos os dias duas vezes à Igreja, para
ouvir o Senhor, e para que o Senhor ouvisse os
seus rogos. Ouvir a Jesus Cristo e falar-lhe, eis o
que tornará as nossas visitas igualmente. consolado­
ras e salutares.
1. 0 Nós não ouvimos bastante a Nosso Senhor,
principalmente quando acabamos de recebê-lo pela
comunhão e quando vamos visitá-lo. Convém que
depoi's de nos penetrarmos do sentimento da sua
presença com um ado de fé, guardemos profundo
silêncio, preguntando a nós mesmos : • Onde estou?
onde estais, meu Deus? t Ouem sois vós, e quem
sou eu• ? e prestando atenção ao que Deus me fa­
lar: Audiom quid loquolur in me Dominus Deus r).

(1) P. Berlhier. Reíl., 1. II. -- (2) Ps. LXXXIV, 9.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
VISITAR O SS. SACRAMENTO 535

Oiçamos o que êle nos inspira, o que espera de nós,


o que censura, e o que aprova no nosso proceder.
Êle fola ordinàriamenle de um modo mais luminoso
depois da comunhão; mas fala também à alma inte­
rior nas visitas que ela lhe faz; e lemos uma prova
quási infalível da sua palavra, quando nos dá o gôslo
de seu amor, o desejo de trabalhar e de sofrer muito
por êle. O' Jesus, é. que não dissestes vós aos san­
tos pregadores de vossa lei, a lodos os vossos mi­
nistros fiéis, quando se apresentaram aos pés de
vosso altar? Ouando estamos sós no santuário, com­
prazeis-vos em fazer-nos ouvir esta palavra pene­
irante, que sôa no fundo do coração: Ducam eam
in solitu<jinem, el loquar ad cor ejus (1).
2.º Mas se o Salvador quer que o oiçamos,
quer também que Ih.e falemos. é. Não temos nós ado­
rações a tribular-lhe, petições a fazer-lhe? Honremos
a sua infinita grandeza, reconhecendo deanle dêle o
nosso nada; o seu supremo domínio, oferecendo-lhe
tudo o que recebemos dêle; a .sua santidade, enver­
gonhando-nos das nossas manchas; o seu poder e
bondade, pela confiança que anima as nossas súpli­
cas. Temos livros que conteem orações a Jesus sa­
cramentado; mas, quando o espírito de fé se apo­
dera de nós, os afectos multiplicam-se sem estudo, as
aspirações saem do coração como as faíscas da for­
nalha: Cor meum ef caro mea exuflaverunf in Deum
vivum (2); e então, é. que não ousamo,s pedir a Jesus
Crislo, para nós, para nossos irmãos, para a Igreja ?
1 Com que simplicidade lhe descobrimos as nossas mi­
sérias, lhe expomos as nossas penas, e o consulta­
mos nas nossas dificulélades e dúvidas 1 • Jesus sa­
cramentado conversa com aquele que o ouve, como
um amigo conversa com seu amigo I Avivemos a

(1) Os. 11, 14. - (2) Ps. LXXXVIII, 2.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
536 MEDITAÇÕES SACEIIDOTAIS

nossa fé; visitemo-lo muitas vezes, e conheceremos


dentro de pouco tempo que êste exercício é não só
um dos mais s,mtos, mas também um dos mais agra­
dáveis, mais consoladores, e mais importantes da re-
ligião• (').

Resumo da Meditação

1. O bom padre é assíduo em visitar o San­


tíssimo Sacramento. - Não há ocupação mais justa,
mais agradável e mais útil. Comparação de um mo­
narca que, para me dar provas de seu 'amor, vem re­
sidir perto de mim. Se o Salvador não tivesse em
vista senão o sacrifício e a comunhão, bastaria que
estivesse presente debaixo das sagradas espécies,
quando se eíecluam êstes grandes aclos; logo quer
outra coisa ! E deixamo-lo só? - i Oual é o bom
filho que não gosta de visitar a seu pai? -Vamos
buscar ali as nossas consolações. /Quão lJmáveis são
os vossos !lJbernáculos, Senhor dos exércitos! -
Também ali nos chamam os nossos inlerêsses: de
uma só visita podemos colhêr frutos inapreciá.veis.

li. l Oue. faz o bc;,m padre nas suas visi(as ao


Santíssimo Sacramento? - Adora, ouve e fala. -
Entrega-se a um profundo silêncio, e atende às inspi­
rações de seu ·adorável hóspede. O' .Jesu$, i que não
dizeis vós lodos os dias, às almas que meditam ao
pé do vosso altar? - Mas o Salva�or quer também
que se lhe fale; i não lemos nós adorações a render­
-lhe, nem petições a fazer-lhe? Exponhamos-lhe as
nossas aflições, consultemo-lo nas nossas dificulda­
des e dúvidas. Assim leem feito sempre os sacerdo­
tes santos. Lembremo-nos de S. Vicente Ferrer, de

(1) Berlhier, 1. V.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO nA EUCARISTIA

S. Francisco de Borja, de S. Francisco Xavier, de


Santo António de Lisboa, de S. Vicente de Paulo,
de M. Olier, ele.

XCI MEDITAÇÃO

Aplicação dos ,sentidos (') ao mistério


da Eucaristia

1. Aplicação d11 visla.


li. Aplicação do ouvido.
III. Aplicação do olfodo.
IV. Aplicação do gôslo.
V. Aplicaçiio do lado.

P1m,rnmo PRELÚDIO. Se eu não fizer êste exer­


cício num santuário em que Jesus Cristo reside,
transportar-me-ei com o pensamento à presença do
Santíssimo Sacramento solenemente exposto; se o fi­
zer depois de dizer missa, a minha alma será o san­
tuário, em que me encerrarei.
SEGUNDO PHEL!;DIO. Iluminai-me, Senhor, com­
padecei-vos do minha cegueira. Oue o vosso Verbo,
luz eterna, que desceu à terra, para alumiar lodo o
homem que vem a êsle mundo, dissipe as trevas da
minha alma, para que eu o conheça tal qual a minha
fé mo dá a conhecer no sacramento de nossos alta­
res: 11/uminel vu/fum suum super nos, ef misereafur
nos/ri (2).

(1) êsle exerc1c10, cujo mélodo expusemos no princípio do


1.º volume, lnlrod., pág. 27, pode ser empregado ufilmenfe depois
da comunhão, ou nlls visitas 110 Santíssimo Sacramenlo.
(2) Ps. XIV. j,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
538 MEDITAÇÔKS SACEtlDOTAIS

1. Aplicação da vista. - Vêde a sanfa humani­


dade de Jesus Cristo. Nunca homem algum leve
tanta formosura, ainda mesmo exterior: Speciosus
forma prae filiis hominum (1). A fisionomia, a pre­
sença, as maneiras, tudo é divino. No deserto, as
turbas esqueciam, vendo-o, até a necessidade de co­
mer. Considerai-o nos diferentes estados de sua vida,
mas principalmente na sua Paixão e depois da sua
Ressurreição, para excitar o vosso reconhecimento e
amor. Vêde a sua cabeça outrora coroada de espi­
nhos, e agora coroada de glória; os seus pés e
mãos outrora traspassados de cravos, e agora m11is
resplandecentes que os astros. Contemplai tôdas as
potências de sua alma: a sua memória incessante­
mente ocupada dos inlerêsses de Deus e dos vossos,
da glória de seu Dai, e da salvação dos homens.
No seu entendimento, que tesoiros de sabedoria e
de -sciência! ln quo sunl omnes thesauri sapienfiae
ef scienliae abscondili (2). Na sua vontade, que no­
bres inclinações I que virtudes! que chamas de cari­
·dade! 1 Oue terna compaixão para com as nossas mi­
sérias!
Vistes o homem, vêde a Deus. Considerai êsse
Verbo, gerado desde lôda a eternidade nos esplen­
dores dos Santos, infinitameníe sábio, bom, pode­
roso, unido pessoalmente à natureza humana. E' êle
que está .esconclido debaixo de Ião fracas aparências;
crêde-o Í!rmemente. E' êle o hóspede, cuja morada
vós sois, quando comungastes, que vem a vós para
vos encher de seus favores. Admirai, adorai, louvai,
agradecei. Adoro /e supplex, ele.

II. Aplicação do ouvido. - Ouvi o Padre Eter­


no, que vos diz como aos discípulos do Tabor: Mie
esf rilius meus dileclus; ipsum audite ( 3 ). Sim, ouvi-o.

(1) Ps. XLV, 3. - \2) Col. li, 3. -eJ Luc. IX, 35.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO DA EUCARISTIA 539
Rogai ao Espírito Santo que vos conceda a graça
de compreender bem o que êle vai ensinar-vos. Com
Maria Madalena prostrai-vos aos seus pés, e prestai
atenção a cada uma de suas palavras; porque êle
costuma neste mistério anunciar-nos o seu Evangelho.
Oh! quão eloqüentemente ali prega o desp(êzo do
mundo, a estima de Deus, a abnegação, a obediên­
cia, a paciência, a vida interior! . . . i Oue admiráveis
segrêdos ali descobre aos sacerdotes recolhidos .e
fervorosos! 1 Oue admoestações cheias de ternura·
ali faz aos libios, imorlificados, distraídos, sem pie­
dade pa1·a com as almas, sem reconhecimento para com
êle ! Se mereceis estas admoestações, humilhai-vos e
prometei-lhe ser mais fiel. Dizei-lhe pelos desejos de
vosso coração o que a vossa bõca lhe repete todos
os dias: Lucerna pedi bus meis verbum fuum, e/ lu­
men semi/is meis: As vossas palavras, Senhor, se­
rão a regra de todos os meus juízos, ·a luz que guiará
lodos os meus passos; só as vossas máximas se­
guirei.

III. Aplicação do olíado. - O nome de Cristo,


que juntamos ao de Jesus, desperta-nos a idéia de
bálsamo e de perfume. 5. Lourenço Justiniano chama
à Eucaristia uma dispensa, que contém os mais pre­
ciosos aromas: Cellarium conlinens omnium ar.oma­
tum preliosi/alem e/ virlufem. Estes aro.mas, de que­
se fala tantas vezes no livro dos Cânticos, são as
virtudes de Nosso Senhor, que excitam as almas a
retirar-se da corrução do mundo, e as fazem correr
após êle no ceminho dos mandamentos e conse­
lhos: Trahe me posl /e; curremus in odorem- .un­
guenlorum luorum ( 1). Representai-vos a Deus-Padre,
que vos ·diz como Isaac a Jacob: • O perfume de

(1) Canf. 1, 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
5-iO MEDITAÇÕES SACP.RDOTAIS

meu filho é semelhante ao de um campo cheio de


flôres e de frutos• ( 1). Estas flôres e êstes frutos
são a imagem das virtudes que Jesus pratica no San­
tíssimo Sacràmento: uma· paciência inalterável, a ca­
ridade, o desapêgo, o estado de vítima a que está
reduzido para honrar seu Pai, para o aplacar e nos
obler as graças de que necessitamos. Considerai
quão • agradável é à Santíssima Trindade êste sacrifí­
_cio perpéluo, que embalsama o céu e a terra: Odo­
•rafus esf Dominus. odorem suavifofis (2). Lembrai-vos
de que, se os sacerdotes, colocados mais perto de
Jesus Cristo e tendo com êle mais íntimas relações,
respiram mais o bom cheiro de suas virtudes do que
os simples fiéis, são também mais obrigados a espa­
lhá-lo em tôrno de si; e nunca esqueçais a recomen­
dação que vos fizeram no dia em que fostes elevado
ao sacerdócio: Si! odor vitae vesfrae delecfamenlum
Ecclesiae Chrisfi C). Considerai, finalmente, que su­
cede com o bom exemplo o mesmo que com o in­
censo, cujo perfume se exala, emquanto é consumido
pelo fogo; assim as nossas virtudes mais edificantes
deante dos homens, tiram lodo o seu merecimento
deante de Deus, da caridade que as anima, e que
nos sacrifica aos inlerêsses da sua glória.

IV. Aplicação do gôsto. - E' de todos os sen­


tidos o que se aplica mais naturalmente à sagrada
Eucaristia. Neste mistério tudo tem relação com o
gôsto: as fi�uras que o representam, os nomes que
lhe são dados, os símbolos sob que Jesus se esconde,
os convites que nos faz para dêle nos aproximarmos.
Ouando nos chama a êste Sacramento, convida-nos
para um banquete: •,Tomai, comei o· meu, corpo, be­
bei o meu sangue. Vinde, amigos meus, bebei dêste

(1) Gen . .X.XVII, 27. - (2 ) Jd. VIII, 21. - ( 3) Ponlif.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO DA EUCARISTIA

vinho, que dá à alma uma santa embriaguez, um


dôce sono, um suave repoiso•. Segundo a lingua­
gem da Igreja, a Eucaristia é um pão celestial, que
contém tôdas as verdadeiras delícias: Omne delecfa­
menfum in se habenlem. Mas assim como o alimento,
para ser bem saboreado, precisa de ser tomado com
certa lentidão, assim também, quanto mais à vossa
vontade meditardes a condescendência, a ternura, a
beleza, tôdas as -qualídades de Jesus sacramentado,
tanto mais deliciosamente o gostareis. Se estas con­
siderações vos comoverem e afervorarem,. sentireis
um celestial gôzo, que. vos inspirará o desprêzo de
todos os prazeres mundanos e carnais: Gusfalo spi­
rifu, diz S. Bernardo, necesse esf carnem despicere.
Direis então com o Sanlo Job: é.• Como é possível
comer os manjares insípidos, gostar o que dá a morte,
depois éle ler tomado o alimento que comunica à
alma a mais ditosa vida•? (1)
fazei ao Salvador esta bela oração de Santo
Agostinho: Obsecro, Domine Jesu, omnia mihi ama­
rescanl, ef tu solus dulcis appareas, quia fu es dulcedo
inaeslimabilis, per quam omnia dulcoranlur.

V. Aplicação do lacto. - Mal' o fogo loca a


lenha, logo, a aquece, a inflama e a converte em
fogo; as ervas, o bálsamo, as bebidas medicinais
curam as feridas pelo contado. é. Buscais o remédio
para as enfermidades de vossa alma? Aplicai-lhes
o corpo e sangue de Jesus Cristo.. Durante a sua
vida mortal, saía dêle uma virtude, que sarava a lo­
dos os enfermos (2); sucede ainda o mesmo na Eu­
caristia. S. João Crisóstomo, falando da comunhão
por ocasião da Hemorroíssa, diz: • Toquemos tam­
bém esla orla do vestido de Jesus; ou antes lo-

(1) Job, VI, 6. -(2) Luc. VI, 19.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
l\lEDJTAÇÕES SACERDOTAIS

quemos a Jesus. Cheguemo-nos a êle com uma fé


viva e uma firme esperança; porque, se os que loca­
ram a sua vestidura, receberam tão perfeita saúde,
l como não seríamos nós curados, quando o possuí­
mos•? Uni pois, não só os vossos sentidos aos
sentidos do Salvador, mas também a vossa alma à
sua alma. Uni o vosso entendimento ao seu, para
ficardes livre da cegueira da alma, a vossa vontade à
sua vontade, para não querer com êle senão o que
Deus quer. Aplicai todo o vosso sêr à sua divin­
dade, pela fé, pela confiança e pelo amor. Achareis
lá o vossG centro, o lugar de vosso repoiso, e um
anlegôslo das celestiais delícias.
findando esta oitava, formai como que um rama­
lhete espiritual de tôdas as resoluções que tendes
tomado em honra do Santíssimo Sacramento. Oh!
que júbilo, ou que espanto nos causará êsle misté­
rio, quando comparecermos no tribunal de Deus!
Não se traia de nos afastarmos dêle: não nos é isso
permitido, pois seria afastar-nos da vida; traia-se de
nos portarmos a ·seu respeito com tôda a devoção
que êle merece. Dirijamos a Nosso Senhor estas
palavras de Santo Anselmo: En igilur, misericordis­
sime Jesu, faleor immensae honilafi fuae me esse ni­
mis audacem peccaforem, ac plurima quae fihi displi­
cenl quolidie facienlem, ef famen allaris fui servifium
quofidie lacere praesumenfem, non enim possum de
fufJ misericordia desperare. . . ralear, ah! /atear,
peccalor sum, immundus sum, indignus sum; et fa­
men non recedo a te, dulcissime Jesu! non dimiflo
te; sed quofidie, efsi infirma ef trepida manu, feneho
fe. Non recedas a me, donec ah omni conlagione
peccafi absolvas me; e! sic corporis ef sanguinis fui
mysferia parlicipanlem, luaeque volunfali jugiler .in­
hôerenfem, el proecepla lua assidue facienlem me
perducas ad veram saiu/em, vide/icei ad fe verum sa­
cerdolem; ubi cum bealis sacerdolibus fuis ego quo-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O MISTÉRIO DA EUCARISTIA

que, !une non Bmplius peccBfor, sed dignus sBcerdos


ef minisfer fuus, te glorilicabo per Beferna saecula.
Amen (1).

Resumo da Meditação

1. Aplicação da vista. - Olhai para a santa hu­


manidade de Jesus Cristo. Ela está ali em seu es­
tado glorioso : a formosura do corpo, a formosura
da alma . . Vistes o hom,em, vêde a Deus. 1 Oue
majestade, que grandeza, que poder, escondidos sob
tão comuns aparências !

II. Aplicação do ouvido.- Ouvi o Padre Elerno


que vos diz: Este é o meu Filho limado, escu!di-o.
Oh I quão eloqüentemente prega neste mistério o, des­
prêzo do_ mundo, a estima de Deus, a abnegação, a
obediência ! i Oue admiráveis segrédos ali desco­
bre às almas puras e interiores 1

Ili. Aplicação do olfado. - O nome de Cristo,


que juntamos ao de Jesus, desperta-nos a idéia do
bálsamo e do perfume; i que perfume difundem neste
Sacramento, e que encanto exercem sôbre as almas
a bondade, a paciência, a caridade do Filho de
Deus I l Pode uma pessoa que comunga muitas ve­
zes santamente, deixar de espalhar em tôrno de si o
bom odor de Jesus Cristo?

IV. Aplicação do gôsfo. - Neste mistério ludo


tem relação com os sentidos. A Eucaristia é um pão
celestial, que tem em si tõda a doçura. Ouem o
come coma convém, não tarda em aborrecer todos
os prazeres carnais e mundanos.

(1) Seul. fid. 1. VI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

V. Aplic�ção do fado.-Logo que o fogo toca


a lenha, aquece-a, abrasa-a; assim faz a Eucaristia à
alma que a recebe santamente. Se houve enfermos,
que por lerem tocado o vestido do Salvador, recebe­
ram Ião perfeita cura, l como não seríamos nós cura­
dos, quando o possuímos dentro de nós?

XCII MEDITAÇÃO
Festa do Sagrado Coração. - O Coração
de Jesus Cristo falando ao coração
do sacerdote

1. Gueixas;
li. Súplicas;
Ili. Promessos.

PRIMEIRO PUEI.ÚUIO. Imaginai o Salvador apa­


recendo a cada um de seus ministros, como apare­
ceu a Santa Margarida Maria, e dizendo-lhe: • Eis
aqui êste Coração, que amou tanto aos homens, e
que por êles é tão pouco amado. Mas o que mais
sinto, é que encontro ingratos até entre os meus mi­
ni!ilros l Tu não podes mostrar-me maior amor do
que fazendo o que já tantas vezes te pedi. Prome­
to-te, que o meu Coração se abrir.à para derramar as
suas bênçãos sôbre os que o honrarem e emprega­
rem o seu zêlo em fazê-lo honrar• ( 1 ).

( 1 ) Nós só mudamos os p11lavras relatadas nos esc:rifos da


bemavenfurada Margarida Maria, quando é necessário para !ornar
mais conciso o objec:to d11 Medilaçiio. J

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

SEGUNDO PRELÚDIO. Implorai a graça de com­


preender bem os desejos do Coração de Jesus, e de
vos conformardes fielmente com êles.

I. As queixas do adorável Coração de Jesus.


- Dirige-as êle a todos os seus ministros.
1. 0 • Eis aqui o Coração•. Jesus no-lo oferece;
é o seu. E' a obra prima do Espírito Santo: ln ipso
inhabiilll omnis plenitudo diviniflllis corpora/iler ( 1).
E' o órgão. das mais nobres, das mais puras, das
mais sublimes afeições. E' o coração do melhor
dos senhores, do mais terno dos pais, do mais sin­
cero dos amigos. Oh! que paciente foi a sua bon­
dade para com os apóstolos 1 1 que consoladora para
com a viúva de Naím e as irmãs de Lázaro! r..le é
sempre o mesmo, sempre tão pronto a comover-se na
presença dos que sofrem ! O' minha alma, i que sen­
sível é à tua miséria 1 1 que compassivo é para com
tantos desgraçados, que se perdem, a-pesar do ar­
dente desejo que tem de os salvar 1
2. 0 ·, • Oue tanto amou os homens•. Notai a
palavra fanfo. Sem dúvida que o Salvador dos ho­
mens os amou a lodos, visto que morreu por todos,
e nenhum hã que não possa dizer: Dilexi! me e/ tra­
didil semetipsum pro me (2 ). l Mas até que ponto
os amou? Ouem o compreenderá? Ouem o dirá?
Recordai-vos de alguns dos seus principais benefí­
cios. Lembrai-vos do presépio, da Cruz, do altar! ...
Sim, o altar, êsse mistério da Eucaristia, que medi­
tastes durante êstes oito dias, e que ser,ã o eterno
objeclo da admiração dos Anjos e dos Santos; um
Deus descendo dos resplendores da sua glória até
às misérias da nossa humanidade, sujeitando-se a
tôdas as humilhações, para nos elevar até ao seu

(1) Col. li, 9, - (:1) Gal. li, 20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
.MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

trono, suportando todos os tormentos para nos al­


cançar uma suprema felicidade; um Deus fundando
o Igreja, para nela estar sempre connosco, querendo
que o seu corpo seja a nossa comida e o seu san­
gue a nossa bebida 1. e.Não é êsle um Deus, que
ama infinitamente, e que .teria direilC> a um amor infi­
nito da .nossa parle, se possível fôsse? O cor inlinile
amans ef inlinife amandum ( 1) 1 Mas se Jesus amou
tanto os homens, é. que lugar ocupais vós, ó padre,
entre os que êle tem amado? é. Oual é o vosso ofí­
cio nesta Igreja, em que êle reside, se oferece, tem
sacriÍício, e se nos dá ? é. Oue parle tendes nos fa­
vores; que êle prodigaliza aos seus mais prezados
amigos? Comedife, amici, e/ bibife, el inebriamini,
cari!;simi ( 2). Pois bem I agora considerai qual é o
agradecimento dos homens, e qual é o vosso. Por·
tanto amor, l que recebe o Coração de Jesus?
3. 0 · < E que dêles é Ião pouco amado• . Oh t
que aflitiva palavra 1 Não examinemos já o que de­
veria ser, vejamos o que é. t Ouanlas almas desco­
nhecem a generosa caridade do Coração de Jesus
pa�a com elas 1 Contai-as. 1 Ouanlas ou Iras a conhe­
cem, sem que -lha agradeça'm I Contai-as de novo.
• Eu só recebo ingratidões da maior parle dos ho­
mens. Sou abandonado, desprezado, insultado no
sacramento do meu amor•. ,Jesus queixa-se, piOcurn
consoladores: Suslinui qui simul confrisfarelur .. ... ,
ef qui consolarelur; ai ! e não os acha : Ef non fuif . .•
ef non inveni (3). .( Pois quê 1 1 nem mesmo na iríbu.
sacerdotal, entre os que êle distinguiu de todos os
outros, com uma afeição incomparàvelmente mais.
terna 1 . . . Ouvi, ó padre, e deixai penetrar as , se­
gui.n'tes palavras na vossa alma, como selas agudas.
4.0 ·• Mas_ o que mais sinto é que os meus mi-

(1 ) Olf. do S. C.-(2) C11nl. V,'1.-(3) :Ps.LXVlll,21.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

nislros assim procedam comigo• . Se êles o não


amam, quem o amará? E contudo, l quantos padres
dão ocasião a tão dolorosas queixas? Sem falarmos
dos que lhe fazem uma guerra sacrílega com as pro­
fanações e os escândalos, ,é. quantos o lralam sem res­
peito, sem amor verdadeiro? . . . Enfasliam-se da
sua presença; celebram com tibieza; não leem lempo
para couversar com êle depois da missa . , O' Je­
sus I quero confessá-lo, i::ior mais que me custe : eu
mereço cem vezes mais exprobrações que as que me
dirigis. Humilho-me fazendo-me justiça: sou um dos
ingratos de quem dizíeis: • Os outros limitam-se a
ferir o meu corpo; mas êstes ferem o meu Coração,
que nunca deixou de amá-los•.

II. Os pedidos do Coração de Jesus. - • Não


podes mostrar-me maior amor, continua o Salvador,
falando sempre à sua fiel serva, do que fazendo o
que tantas vezes te pedi•. Eis pois o Supremo Se­
nhor, pedindo I Poderia mandar, e não o faz; pede,
e com instância, não se limitando a manifestar uma
vez o seu desejo. é. E que pede êle? Em geral, que
o seu Coração seja consolado, desagravado dos
insultos que recebe, glorificado pelo nosso amor.
• Nosso Senhor Jesus Cristo fêz-me conhecer qae o
grande desejo que tem de ser perfeitamente amado
dos homens, lhe sugerira o pensamento de lhes mani­
festar o seu Coração, e de lhes dar nestes últimos
tempos esta nova prova de sua ternura, propondo­
-lhes um objeclo tão própiio para os comover
Dignou-se declarar-me, que sentia o maior prazer em
ver o seu amor honrado sob a figura de um coração
de carne, tal qual me fõra mostrado, e cuja imagem
queria que fõsse exposta ao público, para enternecer
o coração insensível dos homens• . Pediu em parti­
cular três coisas: lnstilu'ição de uma festa, comu­
nhões fervorosas, desagravos públicos . . . Era para

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MS MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

isto que recorria a uma humilde religiosa, tão inca­


paz, na aparência, de conseguir a realização dêste
desígnio : ln.irma mundi elegi/ Deus. Mas a nós,
seus ministros, encarregados por nossa vocação, de
realizar os projedos de sua misericórdia, é.que nos
pede êle, talvez há muito tempo? é. Praticamos, pro­
pagamos esta devoção quanto êle deseja? é. Não nos
tem. êle incitado já freqüentes vezes a fazer alguma
coisa mais pela glória de seu divino Coração? é. Tal­
vez a consagrar-lhe a nossa parróquia, ou ao menos
algumas almas mais bem dispostas? é. Taivez a recorrer
a êle com mais confiança, a falar desta devoção mais
vezes e com mais zêlo, no confessionário, à cabe­
ceira dos enfêrmos? . Ah I ao menos hoje, se ou­
virmos a voz dêste adorável Coração, não endure­
çamos o nosso! Neste dia, que a Igreja consagra
especialmente a reparar o passado, dêmos-lhe esta
consolação; e êle não deixará de a recompensar.

III. As promessas do Coração de Jesus. -


Umas são relativas a nós e a todos os fiéis, e outras
aos ministérios que exercemos para salvação das al­
mas. - • Prometo-te que o meu Coração se abrirá, para
derramar as suas bênçãos sôbre quem o honrar e
empregar o seu zêlo em fazê-lo honrar• . Estas pa­
lavras dizem respeito a todos aqueles que dão culto
ao Sagrado Coração, e contribuem, quanto podem,
para que lho dêem. • Se estais, diz a bemaventurada
Margarida, em um abismo de fraqueza, de recaídas
e misérias, recorrei ao Coração de Jesus, que é um
abismo de misericórdia e de fortaleza. . . Não sei
que haja exercício espiritual mais capaz de elevar
de-pressa uma alma à mais alta perfeição».
Mas ainda há mais, e m11is animador, para nós:
•O meu Salvador deu-me a entender que aqueles
que se empregam na salvação das almas, serão ca­
pazes de as comover e converter, se eslivreem pene-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 54-9

Irados de uma terna devoção ao seu divino Cora­


ção• . Bom padre, que quereis mais? l Desejais,
salvando-vos, salvar almas e muitas almas, e quereis
abalar as consciências mais arraigadas no mal?
Já conheceis o meio de o conseguir; o mesmo Jesus
dignou-se ensinar-vo-lo.
O' ·sagrado Coração, adoro-vos no augusto sa­
cramento, que nos recorda todos os prodí�ios de
vossa bondade para com os homens. Amável Cora­
ção, 1 quão pouco amado e conhecido sois até por
aqueles que leem a honrosa missão de vos ganhar to­
dos os corações I Sereis finalmente e sereis sempre
o meu refúgio nas aflições, o meu recurso nas dificul­
dades, a minha esperança e fortaleza nos momentos
de ansiedade e inquietação, em que a minha alma es­
liver quãsi a sucumbir à tristeza. Com o vosso au­
xílio, escaparei aos perigos que ameaçam a minha
salvação, e contribu"irei eficazmente para a de meus
irmãos. Coração de Jesus, vós fostes o coração de
Paulo, o coração de Xavier e de todos os varões
apostólicos; sêde também o meu I Vinde reproduzir
em mim a vossa humildade, a vossa mansidão, o
vosso zêlo e tôdas as vossas virtudes. De novo me
consagro a vós : dedico-vos os meus trabalhos, as
minhas penas e alegrias, a minha vida e o fim da
minha vida. E agora, para vós me volto, ó Trindade
Santíssima; depois de vos bemdizer por me terdes
dado o Coração de Jesus, permiti que vo-lo ofereça.
Ah I dignai-vos, como vos suplico, aceitar a repara­
ção que êle vos dá de lodo o mal que eu cometi, e
de todo o bem que deveria ler feito.
Resumo da Meditação
1. As queixas do Coração de Jesus. - Eis
aqui o Coração. Estudai a sua nobreza, a sua exce­
lência ... - Oue amou IBnlo os homens. Notai esta
palavra fanfo, e recordai-vos dos principais benefí-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
550 MIWITAÇÕES
--------- SACRRPOTAIS

cios, que comprovaram êsle amor. - E que dêles é


Ião pouco amado. Triste verdade I Jesus não recebe
da maior parte senão ingratidão e desprêzo .... Pro­
cura consoladores; onde os acha? - Mas o que
mais sinto, é que os meus ministros assim procedam
comigo I. . . O' Jesus, é. quem vos deveria amar mais
do que ·os vossos ministros ?

II. Os pedidos do Coração de Jesus. - O Su­


premo Senhor pedi'ndo I Poderia mandar, e suplica.
Mendiga o nosso amor, as nossas reparações, e o
nosso zêlo em o fazer conhecido e amado. Pede a
uma pobre religiosa que promova uma devoção que
havia de ganhar-lhe numerosos corações; mas a mim,
seu ministro, é. não faz êle também algum pedido?

Ili. As promessas do �oração de Jesus. -


O· meu Coração se abrirá, poro derramar os suas
bênçãos sôbne quem o honrar, e empregar o seu zê/o
em o fazer honrar. Assim, promessas para nós;
e promessas· para o bom éxilo de nossos trabalhos.
Santa Margarida Maria dizia : Não sei que haja
exercício de piedade mais capaz de elevar de-pressa
as almas a uma alta pe-rfeição . . . Os que praticam
esta devoção, lerão o especial talento de comover os
corações. Amemos pois, e façamos amar o Cora­
ção, que nos tem amado tanto.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8ANTJDADE DO� SAC.EJIDOTES

XCIII MEDITAÇÃO
3. Domingo depois do Pentecostes. - Hic
0

peccalores recipil. (T. I, pág. 444)

Três efeitos da divina misericórdia para com


os pecadores.

XCIV MEDITAÇÃO
4. Domingo depois do Pentecostes. - Ex
0
hoc
jam homines eris capiens. (T. II, pág. 401)

O padre, pescador de homens.

XCV MEDITAÇÃO
5. Domingo depois do Pentecostes:- Nisi
0

abundaver1f jus/ilia vesfra p/iJs quam Scribarum


e! Pharisaeorum, non in.fi-abitis in regnum
coelorum (1)

t Deus espera dos saceráofes uma f!bundanle jusliçà.


li. Como podem merecer as e,probrações feitas aos Escribas
e fariseus.

I. Deus espera dos sacerdotes uma abundante


iustiça. -- Para vos convencerdes disto, basla que
vos lembreis das !rês comparações de que se serve

(1) Malth. V, 20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
:MEDITAÇÕES llACERDOTAIS

Jesus Cristo, instruindo os seus ministros a re�eilo


das obrigações que lhes impõe: Vos esfis sal fer­
rae . .. , lux mundi . .. , civifas suprll montem po­
sifa (1). - O Salvador, diz Cornélia a Lápide, aca­
bava de proclamar as oito bemavenluranças, que são
como um compêndio da perfeição evangélica; e apli­
ca-as aos apóstolos e aos seus sucessores no sagrado
ministério.
A primeira coisa que exige dêles, é que sejam o
sal dB ferra: como se lhes dissesse: • Vos, o apos­
to/i, quos eligo, ui ineo exemplo sifis pauperes s1:iri­
fu, miles, mundo carde, misericordes ... : hoc 17:Jso
erilis sal ferrBe, Escolhi-vos para fazer cessar a
corrução geral; portanto, é. de que pureza, de que
santidade não precisais ? Sereis o st1I da terra, se
falardes como oráculos, se viverdes como deuses.
5Bcerdoles ergo sinf sal ferrae, ui eBm prBesfenf
morum infegrifalem, quBe coeferorum sif censura ef
disciplinB, quod efficienf si loquanfur uf orBcula, vi­
vBnf uf numina • { 2). - A luz do mundo. O padre
é na Igreja, que é um mundo espiritual, o que o sol
é no mundo físico: Sicul ergo sol illuminllf c!oBcfls
pufidBs, sed Bh iis non sordidBlur . . . lia el tu, o
Sflcerdos, doceBS hominem carnBlem, ef eum emundes,
sed ah eo nu/Iam !Bbem confrBhas. Sol esf in coe/o,
sed inde rndios spBrgif in ferram, quibus eam illus­
frBf; ifa ef tu menfe sis ,n coe/is, corpore in ferra,
ui eam fuo sermone ef exemplo virfufis illumines, ca­
lefacias ef acçendBs (9).
- A cidBde siluBdll sôbre um monfe, e que não
pode esconder-se, ensina ao padre que lodos os
olhos estão filos nêle; que é um homem, que se deve
a todos, e que é desHnado à mais alta perfeição.

( 1) lbid, 13, 14, - ( 1 ) C•mmenf. in hoc loc.


( 3) Corn. 11 L11p, Commenl, in hoc loc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S.�NTIDADE DOS SACERDOTES 553
Já o profeta tinha dito: Super montem excelsum
dscende lu, qui evdngelizas Sion; exd/18 in forliludine
vocem (udm, qui evangelizds Jerusdlem (1). O' meu
Deus, se eu tivesse meditado muitas vezes nestas
palavras, compreenderia melhor que o zêlo socerdo­
lal me obriga a falar com energia, que tendo a meu
cargo dirigir as almas, até nos caminhos mais per­
feitos, devo ser o primeiro a seguir êsses caminhos.
E' pois verdade que os padres precisam de ume­
justiça abundante. São os continuadores de Jesus
Cristo; representam-no, são os seus vigários. . . Eis
a razão por que S. Bernardo lhes diz : Nonne ea
vid qua Chrisfus ambulavif, el vos debelis ambuh1re?
Nonne sicul conversdfus esl, ef vos vicarii ejus de­
belis conversari? E S. Boaventura: Vicarius Chrisfi
vicem Chrisfi debef gerere, in beneplacifi ejus pro­
molione, in polesfafis ejus auclorilafe, e/ in similifu­
dinis ejus repraesenlafione ( 2). Mas representar o
filho de Deus pela vossa elevada dignidade, e com:.
batê-lo com a vossa vida desregrada ou ao menos
líbia; estar revestido da sua autoridade e do seu
poder, e não vos esforçardes· por adquirir uma emi­
nente santidade, e. não é porventura ofendê-lo, e que­
rer dividir· o que de si é indivisível?
Se se quiser saber qual é essa abundante justiça,
que é necessária ao sacerdote, S. Gregório de Na­
zianzo responde : Haec summa esl, ui virlufe fales
exislanf, ui uno Verbo dict1m, coefesles sinf: ac pos­
sinl purgdri primum, deinde purgare: sapienlia ins­
trui, a/que alios sapienles reddere; lumen Geri, ef
8/ios colfusfrare; accedere ad Peum, ef alios addu­
ª
cere; sanclificari, e/ aliis sanclificafionem aKerre ( ).

(1) Is. XL, 9.


l2)° De sex elis Sereph. e. VI. - (3) ln disfichon.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

li. Como podem os sacerdotes merecer as


exprobrações feitas aos Escribas e fariseus. - No
capítulo vigésimo terceiro de S.. Mateus, onde Jesus
Cristo combate diredamente êstes falsos doutores,
cujo procedimento era para o povo um tão grande
escândalo, a primeira censura que lhes inflige, é de
mostr_arem o caminho d� salvação sem o seguirem:
Dicunf ef non faciunf. Ou não anuncieis a divina
lei, se recusais cumpri-la; ou observai-a, se a pre­
gais. Dizer e não fazer, é pôr-vos em contradição
convôsco mesmos; é edificar com uma das mãos, e
destruir com a outra; é induzir ao desprézo da dou­
trina, fazendo desprezar aquele que a anuncia. é. E é
raro na Igreja éste vício, Ião comum na sinagoga?
Ah ! quantas vezes eu deveria ler-me acusado déle !
Àlém di�lo, os Escribas e Fariseus eram rigoro­
sos com os outros e indulgentes consigo: Afliganl
onera gravia ef imporfabilia,. ef imponunf in humeros
'hominum: digito. aufem suo no/uni ea movere. Nada
mais oposto à caridade cristã e ao espírito do Sal­
vador, que tomou sôbre si as nossas enfermidades, e
os nossos crimes, e se mostrou sempre cheio de
compaixão para com os pecadores. . • Mas era prin­
cipalmente a soberba e a hipocrisia dêsses homens
perversos, que indignava o Filho de Deus: Omnia
opera sua faciunf ui videanfur ah hominibus: di/afanf
phy/acferia sua ... Amanf primos recubifus in coenis,
ef primas caihedras in synagogis, ef saluiaiiones in
foro. Desejo imoderado de estima e consideração,
paixão da vanglória I Ai I quantos padres vã_o ainda
despedaçar-se sôbre êsle escolho I S. Tomás disse,
depois de S. João Crisóstomo; Tolle inanem glo­
riam de clero, ef sine labore omnia vifia reseca­
his (1). O' padre, homem de Deus, temei éste vício

(1) Expos. in hoc· loc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SANTIDADE DOS SACERDOTES

que, destruindo tõda a reda intenção no coração,


não deixa néle lugar algum para Deus. Ouanlo à
hipocrisia, fulminada sele vezes por Jesus Cristo
nesse mesmo discurso, se não tendes felizmente a que
esconde as maiores iniqüidades debaixo de especiosas
aparências, e que faz de um suposto Santo um se­
pulcro branqueado, há 'outra de que talvez não este­
jais inteiramente isento: são dissimulações farisaicas,
que· vigiam éom mais cuidado as palavras -do que os
pensamentos, que se importam menos com os juízos
de Deus do que com os dos homens, que se in­
demnizam em segrêdo dos incómodos da vida pú­
blica, e debaixo de um exterior irrepreensível ocul­
tam imperfeições e negligências culpáveis.

Resumo da J\\edltação·

I. Deus espera dos sacerdotes uma abundanle


justiça. - Sal da terra, luz do mundo, cidade situada
sôbre o m.onte, eis o padre. Deus escolheu-o para
fazer cessar a corrução geral; <'. quãl deve ser a sua
pureza 7 Êle é na Igreja o que o sol é no mundo
físico: deve alumiar, fecundar as almas. Deve com­
bater ·lodos os escândalos com os seus bons exem­
plos. Mas àlém disto, êle é o continuador e o repre­
sentante de Jesus Cristo; eis a razão porque S. Ber­
nardo nos diz: Nonne ea via qutI Chrislus ambufa­
vif, ef vds debelis ambulare?

li. Como podem os sacerdotes merecer as ex­


probrações feitas aos Escribas e fariseus. - Mos­
trando o caminho da salvação sem o seguir: Dicunl
ef non faciunl; sendo rigorosos com os outros e in­
dulgentes consigo; mas· principalmente buscando a
estima e consideração dos homens� Ut videanfur ah
hominibus. Paixão da vanglória! jquantos padres vão

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
---------
;i56 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ainda despedaçar-se sôbre êsle escolho I Tol/e ina­


nem gloriam de clero, ef sine labore omnia vi/ia re­
secabis.

XCVI MEDITAÇÃO
6.0 Domingo depois do Pentecostes. - Mul­
tiplicação dos pães (T. lll, pág. 242)
181

XCVII MEDITAÇÃO
7.0 Domingo depois do Pentecostes. -Oui facil
110/unlafem Palris mei, qui in coe/is esl, ipse inlrabil
in regnum coelorum. (T. 11, pág. 610)

Conformidade com a vonfade de Deus:


o que lucra a a/ma

XCVIII MEDITAÇÃO
8.0 Domingo depois do Pentecostes.
-O mordomo infiel, mas prudente.
- Preparação para dar contas a Deus

1. Necessidade desla preparação.


li. Como devo fazê-la.

1. A prudência exige que eu me prepare para


dar contas a Deus. - Ainda que esta parábola con­
venha a todos os homens, visto que todos são, não

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DAR CONTAS A DEUS 55i
proprietários, mas simples administradores dos bens
que receberam na ord�m ·dn na_lureza e da graça,
aplica-se todavia mais especialmente aos padres e
pastores de almas, escolhidos pelo soberano Senhor
para dispensadores dos seus mais ricos tesoiros :
Dispensa/ores mysferiorum Dei (1). - Villicus eum
significai cujus o/Gcium esf in custodia ef regimine
Ecclesiae ( 2 ). Os padres são por excelência os fei­
tores, os mordomos, os ecónomos de Deus.
Ouanlo mais graves e importantes são os inte­
rêsses confiados aos meus cuidados, tanto mais tre­
menda é a conta que hei de dar da minha adminis­
tração. Vida, saúde, talentos, dignidade incompará­
vel, poderes de alguma sorte ilimitados, merecimen­
tos e sangue de Jesus Cristo : eis, ó meu Deus, o
que me encarregastes de administrar; promover a
vossa glória, reconciliar-vos com os homens, comba­
ter os poderes infernais, salvar as almas, eis os ne­
gócios cuja direcção me confiastes. é. E achais em
3
mim um dispenseiro fiel? ( ) é. Não me acusa perante
vós o uso que lenho feito até êsle dia, dos vossos
inapreciáveis dons? Hic diffamalus esf apud eum,
quasi dissipasse! hona ipsius.
O amo chamou o feitor: Ef vocavif illum. A cada
instante posso ser chamado à presença do meu juiz;
é. acho-me em estado de responder às acusações que
poderá fazer-me: • Ouid hoc audio de le? Não oiço
senão murmurações e acusações contra ti; é um cla­
mor geral; lodos reclamam a minha justiça- contra o
mau uso que fazes dos meus favores. A doutrinação
do leu povo, a visita dos enfermos, o cuidado dos
pobres, os teus principais deveres despre�ados, os
meus mistérios tratados sem respeito: tudo exige que

(1) I Cor. IV, 1. -(,) 5. Anselm. Hom. XII.


l3) I Cor. IV, 2.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

eu te castigue como um minis Iro prevaricador• . -


Confesso, ó meu Deus, icom extrema confusão, que
dei à vossa justiça muitos -motivos de queixa. Dei-os
em tõdas as idades da -minha vida, em todos os lu­
gares que habitei, em lôdas as situações em que me
lenho achado, em tõdas as funções, em todos os mi­
nistérios que exerci. Dei-os a todos aqueles com
quem tive ·algumas relações: superiores, iguais e in­
feriores. Dei-os com ·as minhas acções e omissões,
com as minhas palavras e exemplos . . . O céu e a
terra condenam-me; a vossa misericórdia é o meu
úni,co recurso. Eu a imploro, .ó Jesus, compadecei­
-vos de mim: Ante diem rBlionis donum fBc remissio­
nis. Hoje posso ainda aplacar vossa ira; podê-lo-ei
àmanhã?
Ü· feitor é obrigado a dar conta da sua adminis­
lração, e privado do seu emprêgo: Redde rBfionem
villicafionis fuae, jBm enim non poferis villicBre. i.Üue
golpe para um homem que vivia tranqüilo na sua
iniqüidade, dissipando a seu bel-prazer os bens que
lhe não pertenciam I Êle reconhece emfim, que tem
um amo cujos direilos desprezou, e que vai julgá-lo
com lodo o rigor. Será privado de tudo: do seu
emprêgo, de todos os meios de reparar as suas· cul­
pas. Na hora da morte, que me restará? Tõdas as
fontes da salvação estarão esgotadas para mim, por­
que rne será tirado o tempo. O' minha alma, medila
nestas palavras de Job: Ouid fBciBm, cum surre­
xerif Bd -judicBndum Deus? ef cum quaesit:rif, quid
respondebo illi? ( 1 ) e na de S. Paulo: Horrendum
esf incidere in mBnus Dei vivenfis (2 ). Toma as tuas
providênçias; bem sabes de que eternidade se trata,
segundo a sentença te fõr contrária ou favorável.
Teem sido chamados Ião grande número dos meus

(l) Job XXXI, 14. - (2) Hebr. X, 31.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DAR·CONTAS A DEUS 559
colegas, quando menos o esperavam 1 , , , é, Terei
tempo de pôr em ordem as minhas contas, quando
chegar a ocasião de as prestar?

II. Como devo preparar-me para dar confas a


Deus.---,- Aprendo-o do feitor prudente, ainda que in­
fiel. Oue faz êle? Primeiro que ludo reflecle; é por
onde começa a reforma da vida, Diz consigo mesmo:
Ail aulem villicus inira se:- é. • Oue ·farei, visto que
meu amo me lira a administração? Ouid faciam?
Cavar não posso, mendigar. . lenho vergonha : fo­
dere non valeo, mendicare erubesco • . Oh I como é
verdade que a preguiça e a soberba são grandes
obstáculos à sincera conversão! Todavia a penitên­
cia, para ser completa, deve ser praticada no corpo
e no espírito; no corpo, afligindo-o com algum tra­
balho; no espírito, humilhando-o; e é o que a nossa
pusilanimidade e soberba recusam fazer: Perfecfio
poenilenliae consisti/ in af.iicfione e/ labore corporali,
ef in humilifafe e/ pudore menfa/i: ef haec duo recu­
sai animus inGrmi hominis (1). Felizmente Deus é
cheio de misericórdia, e em sua infinita bondade
digna-se oferecer-nos outro meio de salvação.
Em uma instrução, na qual se tratava também
de nos preparar para sermos julgados, o Salvador
linha exigido duas coisas para esta preparação: pai­
xões mortificadas e obras santas: Sinf lumbi vesfri
praecincfi, ef lucernae ardentes in manibus ves­
lris (2), a fuga do mal e a prática do bem; aqui só
fala da esmola, considerando-a Ião capaz de como­
ver o Coração de Deus, que nos obterá lõdas as
disposições necessárias para nos reconciliar com êle,
e nos restituir os nossos direitos à celeste herança.

(1) S. Bonav, Expos. in hoc loc.


(2) Luc. XII, .35.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
500 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Com efeito, na Sagrada Escritura tudo é prome­


tido à esmola. Ela livra-nos de todo o pecado e da
morte, e não deixará cair a alma nas trevas (t).
Assim como a água apaga o fogo mais ardente, assim
também a esmola resiste aos pecados (2); alcança-nos
os dois maiores bens que pode desejar um homem
prudente, a misericórdia neste mundo, e uma vida
cheia de felicidades no outro (3). O' padre, que te­
meis com tanta razão os juízos do Senhor, fazei
esmola; fazei-a de todos os ,modos, e tão abundante,
quanto puderdes. Dai às almas, dai aos corpos.
Instruí, exortai, consolai. Dai algumas gôtas do
sangue de Jesus Cristo às almas do purgatório; dai
a paz a tantos infelizes, atormentados pelos remor­
sos. Oh I que bela esmola ! Mas, não vos esque­
çais da caridade corporal. Compadecei-vos de tôdas
as misérias, seguindo o conselho de Santo Ambró­
sio : fazei o que puderdes, e algumas vezes mais do
que . puderdes : Compaliamur alienis inGrmilãiibus:
necessilafes aliorum quanlum possumus juvemus, ef
plus inferdum quam possumus ( 4 ). A esmola, diz
Santo Agostinho, é a consolação da nossa fé, o
ampuro da nossa esperança, o remédio contra o pe­
cado; ganha-nos a afeição do nosso juiz, torna-nos
credores de Deus. Oh I poder da esmola I Aqueles a
quem tivermos socorrido, introduzir-nos-ão nos taber­
náculos eternos : UI cum defecerilis, recipianf vos
in aeferna tabernacula.
i Oue suave luz, ó meu Deus, difunde na minha
alma esta consoladora palavra I Agora sei eu tam­
bém o que hei de fazer, para vos encontrar propício,

(1) Eleemosyna ob omni peccalo el a morle liberal, el non


p111ielur 11nim11m ire in lenebras. Tob. IV, 11.
(i) lg;nem ardcnlcm cxling;uil aqua, cf clecmosyna resislil pcc­
:n.
calis., Eccli. Ili,
(3 J Tob. XII, 9. - (4 ) De olf. minislr. lib. li, e. XXVIII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DAR CONTAS A DEUS 561
quando comparecer no vosso tribunal: Seio quid
faciam. Grànjearei perante vós intercessores e ami­
gos, que vos falarão em meu favor. Cobrirei a mul­
tidão dos meus pecados, multiplicando as minhas
obras de zêlo e de caridade ( 1 ). Visto que vireis
brevemente ao sagrado altar visitar o vosso indigno
servo, dai-lhe, eu vo-lo suplico, um coração sempre
mais sensível às diversas ne�essidades do próximo.
Descobri-lhe todo o mistério 'do necessitado e do
pobre, na ordem espiritual e temporal, para· que no
dia terrível, quando para os outros fõrdes juiz inexo­
rável, sejais para êle o seu omnipotente libertado'r:
Beafus qui inlelligif super egenum e/ pauperem; in
die mala liberabif eum Dominus (2).

Resumo da Meditação

I. A prudência exige que eu me prepare para


dar contas a Deu!ft - O feitor infiel é acusado pe­
rante seu amo, de ler dissipado os seus bens. Os
nossos mais temíveis acusadores no tribunal de Deus
serão o Evangelho, as graças recebidas, a nossa
consciência. Os padres são por excelência os feito­
res, os dispensadores de Deus : Dispensa/ores mys­
feriorum Dei: Ah I e de que negócios, me confiou a
geréncia I A cada instante posso ser chamado ao
seu tremendo tribunal. Tenho dado muitos mol-ivos
de queixa contra mim. O' Jesus, o céu e a terra
condenam-me; a vossa misericórdia é o meu único
recurso. - O feitor é privado do seu einprêgo; uma
vez morto, eu serei privado de todos os meios de
salvação. O' minha alma, toma as tuas providên­
cias; bem sabes de que eternidade se tràta, segundo
a sentença te fôr contrária ou favorável.

(1) Ctirilos operíf mulli(udinem peccolorum. I Pelr. IV, 8.


(2 ) Ps. XL, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACKRDOTAIS

II. Como devo preparar-me para dar contas


a Deus. - Aprendê-lo-ei do feilor prudente, ainda
que infiel. - Reflecle; e por onde começa lôda a
reforma de vida : • Cavar não posso, tenho vergo­
nha de mendigar• : . a soberba e a preguiça, grandes
obstáculos à verdadeira penitência 1 - Recorre à
esmola. Esta livra-nos dos pecados e da morte ; é
para o pecado o que a•água é para o fogo. t Temeis
os juízos do Senhor? fazei esmola. Dai às almas,
dai aos corpos. Oh I que poder o da esmola, pois
nos faz credores de Deus 1

XCIX MEDITAÇÃO
9.º Domingo depois do Pentecostes. - As lá­
grimas de Jesus Cristo. (Ver pág. 271)

C MEDITAÇÃO
10.º Domingo depois do Pentecostes. - O Fa­
riseu e o Publicano. - A soberba

1. Carãcfer particular dês!e vício.


li. Sua inconseqüência e loucura.

1. Carácter particular da soberba. - Procura


lornar-se notável; esconde-se algumas vezes; enco­
bre-se até debaixo das aparências da humilqade.
1." A soberba procura tornar-se nolável. E' dêste

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A SOBERBA 563

modo que Jesus no-la represenla no Evangelho.


Emquanto o humilde publicano se conserva no fundo
do templo, com a cabeça e os olhos inclinados para
a lerra, e batendo no peilo pede perdão e miseri­
córdi� a Deus, e se confessa grande pecador, o fa.
riseu eslii em pé, deanle do allar: Pharisaeus sfans.
No seu porle, no seu gesto, na sua suposta oração,
mostra-se como um homem que tem admiração de
si mesmo, e quer ser admirado. Um soberbo pro­
cura sempre dar-se importância. 1 Oue vaidade, que°
presunção, que jactância nas suas palavras e acções !
Chamar a alençâo sôbre si, granjear louvores, eis
em que pensa.
Para nos curar ou preservar dêsle vício, ó meu
Salvador, é que vós nos ordenais que não busquemos
a estima dos homens no bem que fazemos, que ore­
mos em segrêdo, que não nos gloriemos dos socorros
prestados ao próximo, e não nos vangloriemos das
nossas penitências. Por isso nos recomendais que
!ornemos em lõda a parle o último lugar, que nos
lenhamos pelos mais pequenos de lodos. Sanlas
máximas, sábios conselhos!
E' um Deus humilhado que no-los dá; é. não tem
êle direito a exigir que me conforme em tudo com
êles? é. Tenho-o feito até êsle dia? Os vossos mi­
nistros, Senhor, pregam a humildade; mas, é dão
êles sempre o exemplo ? Dois homens sobem ao
templo ( 1 ) : um, pelo seu estado, é obrigado a dar
bom exemplo, e escandaliza : o outro, ainda que pe­
cador, edifica só com a sua modéstia. O' Jesus,
i para quantos dos vossos ministros se não lorna o
mesmo templo, em que dislribuem as riquezas da
vossa graça, um tribunal em que são condenados
pelo exemplo dos seculares, de quem eram juízes 1

(1) Duo qprnines 11scenderun( in fernplurn. Luc. XVIII, 10.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
56!& MEDITAÇÕES SACEIIDOTAIS

2.0 Mas se a soberba gosta de se tornar nolá­


vel, muilas vezes também procura esconder-se. De
um lado, o soberbo. quer brilhar, dominar, granjear
1:1dmiradores; do ou Iro, sabe que, se dá a conhecer o
que prelende, se torna ridículo -e desprezível;· por­
tanto dissimula, finge proceder mais por dever do que
pelo desejo de ser louvado. Mas por mais que se
contrafaça, desmente-se logo, representa um papel
que não lhe é natural. Para conhecer que é um ho­
mem vaidoso, ávido de consideração, não é preciso
estudá-lo mais tempo. Se não fazem caso dêle, e lhe
parece que o desprezam, mostra-se triste, ressentido.
l De quanlôs outros modos se não descobre a so­
berba? Muitas vezes esta paixão denuncia-se pelas
precauções que toma, para não ser notada : quando
um receia tanto de passar por soberbo, é prova de
que o é.
3.? A soberba encobre-se até debaixo das apa­
rências da humildade. O fariseu dá graças a Deus :
Deus, grafias ago libi; portanto reconhece-lhe·a sua
grandeza, o seu supremo domínio ; parece ·_humilhar-se
ua sua presença.. Mas, l porque lhe dá graças?
E' por não ser como os demais homens, por ser
isento de seus vícios, e por. ler as virtudes que- êles
não leem : Ouia non sum. sicui caeferi homines . ..
Eis a soberba que se m�stra até no ado e pelo
mesmo ado da dependência. Não, não pode haver
equívoco. l Quereis descobrir um sobérbo? obri­
gai-o a confessar essa inferioridade que finge; tra­
tai-o como êle merece, relegando-o para o .úllimo lu­
gar, e o amor próprio ferido deixará logo escapar
mais de um sinal da sua presença. Pôde-se destruir
êste vício, mas não se pode encobrir sempre. O' meu
Deus, desarraigai-o do meu coração; tenho tanta
razão para o detestar I E' tão funesto, é tão contrá­
rio à dignidade dos vossos ministros, e ao espírilo
que deve animá-los 1 ...

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A SOBERBA 565
II. . Inconseqüência e loucura da soberba, -
Ouando consideramos os fariseus e o publicano à
saída do templo, é.a qual dos dois concedemos a
nossa estima, a qual desprezamos? é. Oue obteve o
primeiro com a sua oração oslenlosa, e o segundo
humilhando-se ? Oueremos engrandecer-nos aos olhos
dos homens; mas, 1 quão mal procedemos, quando es­
peramos consegui-lo; dando-nos importância! Aquele
que se louva a si mesmo, ainda mesmo de coisas
louváveis, lira aos que o ouvem, a idéia favorável
que for�avam dêle. Desde que dá a conhecer a am­
bição de ocupar o primeiro lugar no meu espírito,
sou lentado a pô-lo no último. Não há senão um
meio de alcançar a verdadeira glória, é fugir dela ;
Oui se humiliaf exalfahitur; e o meio de atrair o
desprêzo, é correr atrás da glória : Oui se exalfaf
humiliahifur. O mundo, por mais cego que seja, só
estima o merecimento que despreza os seus louvo­
res. Por conseguinte, a soberba· não sõmente é um
pecado, mas também uma loucura. Não é menos
oposta à razão do que o mentira à verdade, a noite
ao dia. l Oue diríamos de um anão que se julgasse um
gigante, só por se contemplar no alto de um monte,
e se imaginasse maior que êle, porque o vê debaixo de
seus pês? Tai é a demência do soberbo, diz S. João
Crisóstomo; incha-se, exalta-se, pensando que vale
mais que os outros, e não se mede com êles, senão
para os julgar inferiores a si. Há todavia esta dife­
rença, continua o Santo Doutor, que, como a lou­
cura do pr-imeiro � o triste efeito de um desconcêrlo
dos seus, órgãos, causando riso, causa compaixão;
emquanlo que o delírio do segundo, porque é inten­
cional e voluntário, só excita a indignação de Deus
e dos homens : Odibilis coram · Deo esf et hominibus
superbia (1).

(1) Eccli. X, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
566 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Por isso na Sagrada Escritura, 1 que maldições e


ameaças contra êsle detestável vício ! Como vai mais
diredamenle que nenhum outro contra a glória que
só a Deus pertence e da qual não pode abdicar:
Gloriam meam a/feri non dabo, provoca necessária­
mente contra si os mais terríveis castigos: Retribuel
Dominus abundanfer facienfibus superbiam ( 1 ). Abun­
dantes castigos por abundantes pecados, e. não nas­
cem êles lodos da soberba? Oui lenuerif superbiam,
adimplebilur malediclis (2). Mas a maldição especial,
ligada à soberba, é a ignomínia: Ubi fuerif �uperbit1,
ibi erif e/ conlumelit1 ( ª ). - Ai! da soberba! E.' uma
flôr caduca. O Senhor veemente e forte cai sôbre
ela como vendaval impetuoso, acompanhado de uma
chuva de pedra; ela será pisada aos pés (4). - Deus
dissipa os ossos daqueles que ambicionam agradar
aos homens; despreza-os, e são confundidos (5). -
E.' no momento em que �, elevam, que êle os derriba :
Deiecisfi eos dum allevarenlur; a sua elevação é a
sua ruína: E!evafio ipsa ruína esf ( 6 ). S. Gregório
Nisseno define a soberba: Ad inferiora descensus;
e diz em outra parle: Oui recedi! a Deo, in profun­
dam if. Oh I quanto se avilta um cristão e principal­
mente um padre, quando esquece a sua dignidade,
até mendigar a estima dos mundanos! Os soberbos
serão castigados por onde pecam : quanto mais de­
sejam a glória, mais confundidos serão; o oráculo
realiza-se já na vida presente: Oui se ext1ltat, humi­
liabitur. Mas, 1 que será no juízo final e durante a

(1) Ps. XXX, 24. - (2) Eccli. X, 15. -{3) Prov. XI, 2.
4
( ) Yae coronae superbiae ... el Dori decidenli •.. Ecce va­
lidus el forlis Dominus, sicul impetus grandinis, turbo confringens:
pedibus conculcabi(ur corona superbiae. fa. XX VIII, 1.
(f') Deus dissipavil ossa eorum qui hominibus placenl; con­
fusi sunl, quoniam Deus sprevil eos. Ps. LI 1, 6.
('1) S. Aug. in hoc loc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A SOBERBA 567
eternidade! Oiçam o que lhes diz o Senhor: Dabo
vos in opprobrium sempifernum, ef ignominiam aelet­
nam, qi.Jae numquam oblivione delebilur (1).
O' meu Deus, visto que justificais o pecador que
se humilha, ao mesmo tempo que· condenais o so­
berbo, que ousa confiar na sua jusliç�, peço-vos
como o publicano: Propifius esfo mihi peccafori !
Reconheço-me com êle indigno de levantar os olhos
e de. aparecer perante vós; mas compadecei-vos da
minha indignidade. 1 Oxalá esta súplica, cuja grande
eficácia me ensinais no vosso Evangelho, repare os
defeitos de tantas outras orações infrutuosas por falta
de humildade 1 (2) Ouero dirigir-vo-la muitas vezes,
persuadido de que ela vos comoverá, e me alcançará
misericórdia ; mas repeli-la-ei com mais confiança
ainda, quando logo receber o adorável sacramento,
que contém uma virtude singular para reprimir e cu­
rar a nossa soberba : O medicinam omnia- fumenlia
comprimenlem I Ouae superbia sanari pofesf, si hu­
militafe Filii Dei nori sanafur? (3)

Resumo da Meditação

I. Carácter pa�licular da soberba. - Procura


tornar-se notável : o humilde publicano conserva-se
no fundo do templo ; o fariseu está em pé deante do
altar. Em seu porte, em sua suposta oração, vê-se
que !em admiração de si mesmo, e quer ser admi­
l'ado. - Se a soberba gosta de se mostrar, muitas
vezes também se esconde, dissimulando, para que
não pareça que se busca a si mesma. Finge que só

(1) Jerem. XXIII, 40.


(2) Humilíum ••. semper fibi placuil deprecalio. Judith IX, 16.
- Orelio humilianfis se nubes penelrabit. Eccli. XXXV, 21.
(3 ) -5. Aug. De agon. Chrisl.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
508 MEDITAÇÕES 8ACERDOTAIS

procede por dever; mas logo se atraiçoa, porque re­


presenta um papel contra o seu natural. - Até de­
baixo das aparências da humildade se encobre a
soberba.

II. Inconseqüência e loucura da soberba. -


é. Oue obteve o fariseu com sua oração ost.entosa, e
o publicano com sua humildade? O mundo, a-pesar
de ser cego, não estima senão o mérito que despreza
os próprios louvores. é. Oue se dirá de um anão que
se julga um gigante, só porque se vê no alio de um
monte? - Procurando fazer-se notável, é. que obtém
o soberbo ? Da parle dos homens o desprêzo ; da
parle de Deus as maldições e os mais terríveis cas­
tigos. O' meu Deus, a vós me dirijo com � súplica
do publicano : Meu Deus, sêde-me propício, que
sou pecador.

31

CI MEDITAÇÃO
11. 0 Domingo depois do Pentecostes. - Bene
omnia fecil. (Tômo li, pág. 252).

Fazer bem ludo o que se fizer, meio seguro


de adeanlar rilpidamenle na virtude.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
o BOM SAMARITANO 56!)

CII· MEDITAÇÃO
12.º Domingo depois do Pentecostes. - O bom
Samdrilano.

T. Jesus Cristo é êsfe bom s11mflril11no.


li. Êle quer que os seus discípulos, e princip11lmenle os seus mi­
nistros, imifem II suo Cflrid11de.

I. O mesmo Jesus é o bom Samaritano, de


que nos fala no Evangelho. (1). - Depois de consi­
dernrmos o triste estado do infeliz viajante, e de re­
provarmos a cruel insensibilidade do sacerdote e do
levita, que, ao vê-lo, pássaro de largo, admiremos o
procedimento do caridoso samaritano, o qual repre­
senta fielmente o de Jesus Cristo a nosso respeito-:
5dmarifflnus quidam, iler faciens, venif· secus eum.
<'.Porque desceu o Filho de Deus ao meio dos ho­
mens? Só o seu amor, como canta a Igreja (2), o
impeliu a isso. Sabia onde estávamos, e a deplorável
condição a que nos ha\'ia reduzido o pecado, de
que bens nos linha despojado, que feridas nos linha
feito. Se êle não tivesse vindo à ferra, seríamos con­
denados à mais terrível morte, à morte eterna. SaJ:,ia
também que éramos mais criminosos que desgraça­
dos; escravos rebeldes, tínhamos as• armas na mão
-contra êle, e só pensávamos em perseverar na nossa
rebelião. E' nestas circunstâncias que êle veio até
nós: Venif sec,us eum, não para nos castigar, como
pedia a sua justiça, mas para nos reconciliar consigo
e para nos salvar. Vestiu-se das nossas enfermida­
des para as curar; tomou sôbre si as nossas dívidas

(1 ) Luc. X, 30. - (!) Amoris 11clus impelu. Hymn. Adv.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
570 l\lEDITAÇÕES SACERDOTAIS

para as pagar, os nossos crimes para os expiar.


Ouantos pecados graves cometemos, tantas feridas
mortais nos fizemos a nós mesmos; e êste generoso
amigo vem aplicar a essas feridas o bálsamo da sua
graça. Oh I que terna misericórdia !
O bom Samaritano, vendo aquele homem coberto
de sangue, move-se à compaixão (1), ala-lhe as feri­
das, e lava-lhas com azeite e vinho ( 2) . 1 Oue cuida­
dos lhe não dispensa ! ( 3). Assiste-lhe no resto do
dia, vela de noite à sua cabeceira, e obrigado depois
a partir para os seus negócios, dá algum dinheiro ao
estalajadeiro, e diz-lhe que tome cuidado do enfêrmo,
e que ludo o mais que tiver de gastar, lho satisfará
na volta (4). Oh! que apagada é a figura em pre­
sença da realidade ! Vindo até nós, e vendo as nossas
mfsérias, é.que não fêz Jesus Cristo para as reme­
diar? é. Pôs limites à sua compaixão? Bens, repoi­
so, reputação, a mesma vida, ludo sacrificou por nós.
Nem depois da sua morte nos abandonou ; confiou­
-nos à sua Igreja, depositária dos seus tesoiros.
Encarregou os seus ministros de nos continuarem a
dispensar os seus cuidados, e recompensa-os larga­
mente, por ludo o que fizerem por nós.
Se eu estivesse no lugar daquele desgraçado,
<. quais seriam os meus sentimentos para com o meu
libertador? é. Deixaria perder a ocasião de lhe mos­
trar a minha gratidão? Desejaria empregar em ser­
vi-lo a vida que me havia conservado. O' minha
alma, é. não é islo o que lu deves? ou, melhor, é. não·
deves tu ainda mais a Jesus, leu Salvador e leu Deus,

(t) Ef videns eum misericordia motus es!. Luc. X, 33.


\2) EI 11ppropi11ns allig11vil vulnera ej us, iníundens oleum e!
vinum. lb. 34,
(8 ) lmponens illum in jumenfum suum, duxif in sfabulum, ef
cur11m ejus egil. lb.
( 4 ) Luc. X, 35.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O BOM SAMARITANO 5í{
qui Sdndf omnes infirmifafes tuas, qui redimi/ de in­
terifu vifam fuam . . qui repiei in bonis desiderium
luum? Bemdiz pois ao Senhor, e nunca le esqueças
dos bens inapreciáveis, que recebeste dêle. Benedic,
anima mea, Domino, ef noli oblivisci relribuliones
ejus. Mas basta bemdizê-lo? Ouve ; êle vai ensi­
nar-te o que· espera do leu reconhecimento: Vade,
e/ tu {de similifer: Faz tu pelos outros o que êle
fêz por ti.

li. Jesus qu�r que os seus discípulos, e prin­


cipalmente os seus ministros, imitem a sua cari­
dade para com o próximo. - Não há ponto na di­
vina lei, de que fale mais vezes nas instruções que
nos dá. Ora nos diz que a medida de que nos ser­
virmos para com os nossos irmãos, será a de que
Deus se servirá para connôsco; e que quanto mais
indulgenles e misericordiosos fôrmos com êles, tanto
mais o será Deus connosco; ora nos declara que o
nosso amor deve abranger até os que nos odeiam, se
quisermos ser filhos do Pai celestial, que ordena ao sol
que fecunde o campo do pecador assim como o do
justo, etc. Pode-se dizer que fala desta obrigação
essencial, a tempo, e fora de tempo. Se lhe pregun­
tam qual é o primeiro de todos os mandamentos,
depois de ljesponder à pregunta, acrescenta logo, sem
que sõbre isso o interroguem : • E o segundo , seme­
lhante a êste, é amar ao próximo como a nós mes­
mos• . Faz ainda mais. Torna êste mandamento
como seu, e faz dêle o seu preceito; mas, quando ?
Na véspera de sua morte, quando fala aos discípulos
pela última vez com tôda a efusão do seu amor.
Nunca as suas palavras foram mais ternas e carinho­
sas: • Pilioli, adhuc modicum vobiscum sum: Pouco
tempo eslarei ainda convôsco, mas êste pouco tempo
emprego-o em repdir-vos o que já vos lenho dito
tantas vezes: amai-vos uns aos outros, assim como

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

eu vos amei. Êste é o meu preceito, aquele que mais


desejo que guardeis fielmente: Hoc esf praecepfum
meum, ui diligafis invicem sicuf dilexi vos. . . Haec
mando vobis. Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos (!). Depois de Ião vivas recomendações,
levanta os olhos ao céu, ·ora primeiramente pelos
seus apóstolos e ministros, depois por todos aqueles
que por seu ministério crêrem nêle. l Oue pede em
particular para uns e outros? Oue sejam um, como
também seu Pai e êle são um_ (�). Oh! santa união
de todos os corações, imagem da unidade de Deus
em três pessoas I Oh I caridade fraternal, tão cara ao
Coração de Jesus Cristo I O ministério sacerdotal é
encarregado de a consolidar, de a conservar, de a
aperfeiçoar _na terra.
Mas é principalmente no modo de proceder com
os pecadores, que os padres devem imitar o bom
Samaritano. Êste, vencendo a repugnãncia que natu­
ralmente lhe causava o espedáculo que tinha deante
dos olhos, aproxima-se. Do Jllesmo modo o bom
padre, por mais desesperado e repugnante que pa­
reça o estado de uma alma entregue ao pecado, não
a <:ibandona; chega�se a ela quanto pode, e pro­
cura inspirar-lhe confiança. Venif secus eum. Con­
seguiu-o? Liga então as feridas desta pobre alma;
vai logo à fonte do mal, e começa por suspender a
corrente de suas más paixões; emquanlo o sangue
corresse, a cura seria impossível. Lança nela azeite
e vinho, símbolos da doçura e da fôrça, que êle sabe
empregar igualmente. Não se limita a curar as feri­
das do pecador, retira-o das ocasiões perigosas,
põe-o em lugar seguro. Continua a tratar dêle por

(1) Joan. XIII, 33-35.


(2) UI sint unum, sicut el nos unum sumus. Ego in eis el lu
in me: ui sinl consummali in unum. Joan. XVII, 22.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O BOM SAMA-RITANO 573
si ou por outros: conforla-o, consola-o nas aflições,
mantém-o nos seus desejos, afeiçôa-o a Deus. Seria
impossível dizer quan_la paciência, quanta circuns­
pecção esta convalescença das almas exige do mé­
dico espiritual.
5. Bernardo dava graças a Deus por ter lançado
mais azeite que vinho nas feridas da :,ua alma (1); o
médico divino procede do mesmo modo para com
tôdas as nossas enfermida'des.
No cuidado que tenho das minhas ovelhas enfer­
mas, t domina também a doçura, a bondade, a com­
paixão?
Ao preparar-me para a missa, pedirei perdão a
Jesus Cristo de ter observado tão mal o seu pre­
ceito, principalmente no que diz respeito ao zêlo da
salvação das ovelhas desgarradas. , Todos os djas
me dá o seu Divino Coração na missa; e!, quando
participarei eu da sua terna caridade para 'com os
pecadore�?

Resumo da Meditação

I. Jesus Cristo é o bom Samarifano do Evan­


gelho. - e!, Porque desceu êle à terra e se aproximou
de nós? Sabia bem onde estávamos, e a que triste
condição nos tinha reduzido o pecado. Veio ler
connosco, não para nos castigar, mas para nos cu­
rar e salvar. Bens, repoiso, reputação, vida, tudo
sacrificou por nós. Confiou-nos à Igreja, encarre­
gando os seus ministros de nos dispensarem todos
os cuidados e assegurando-lhes a recompensa do

(1) Oleum infudisti vulneribus meis, Domlne ! infudisfi e! vi­


num, sed minus quam olei. Sic nempe congrueba! inlirmih1fibus
meis, ui misericordiam superexalfares judicio, quemadmodum ef rino
oleum supernafaf infosum. ln C1mf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

que fizerem por nós. O' minha alma, bemdiz ao Se­


nhor, e nunca te esqueças do que recebeste da sua
bondade.

!I. Jesus quer que os seus discípulos e prin­


cipalmente os seus ministros imitem a sua cari­
dade. - Nenhum ponto hã da sua doutrina em que
fale mais vezes. Lembra-nos incessantemente esta
obrigação essencial. Adapta o mandamenfo da ca­
ridade fraterna por seu próprio mandamento: Amai­
-vos uns aos outros, assim como eu vos amei; é êsfe
o meu preceito, o que mais lenho a peito vêr-vos
guarder fielmente. Oh I santa união de lodos os co­
rações, imt1gem da unidade de Deus em três' pessoas,
lu começas a sociedade dos escolhidos na terra !
Mas é principalmente no modo de proceder com os
pecadores, que tenho aqui um belo modêlo para imitar.

CIII MEDITAÇÃO
13.0 Domingo depois do Pentecostes. - Nonne
decem mundl1ti sunl? El novem ubi sunf? (1)

Ingratidão para com Deus

[. Em que consisfe.
li. Ouiío pecaminosa é.
Ili. Ouiío funes!11.

I. E.m que consiste a ingratidão para com


Deus. - A ingratidão é o contrário da gratidão que
induz a pensar nos benefícios recebidos, a agradecer

(1) Luc. XVII, 17.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A INGRATIDÃO 575
ao bemfeitor, a fazer bom uso dos seus dons: três
deveres perfeitamente cumpridos pelo leproso, cuja
gratidão se nos propõe para imitar. Ouando se
sente curado, dirige o pensamento, o coração, e os
passos para aquele a quem deve tão grande benefí­
cio: Ut vidif quiB mundus esf, regressus esf. En­
grandece a Deus em altas vozes: Cum mBgna voce
mBgnificBns Deum. Lança-se aos pés de Jesus Cristo,
como para. se unir a. êle, e para. dedicar ao seu ser­
viço a saúde recebida : Cecidif in Íaciem Bnie pedes
ejus, grBfil1s agens. O homem ingrato para. com
Deus procede intein;imenle ao contrário. E.m lugar
de recordar i!S graças que dêle recebeu, esquece-as;
em lugar de as agradecer ao Senhor, desconhece
que as recebeu dêle, e atribui-as a si; em lugar de
as empregar em servi-lo, abusa delas para o ofender.
Ao vêr êsses dez leprosos saírem ao encontro do
Salvador� estarem de longe cheios de respeito, e pe�
direm-lhe com tanto fervor que se compadeça dêles:
Jesu prnecepfor, miserere nosfri, julgar-se-ia que, se
fõssem atendidos, nada poderia apagar-lhes da me­
mória um benefício tão vivamente desejado. Mas
apenas o receberam, lodos o esquecem, à excepção
de um só. Êsle indigno esquecimento é muitas vezes
lançado em rôsto ao antigo povo judaico (1). é. E me-
recemos nós menos esta exprobração?
- Se se pensa no bem que se possui, desconfie:.:
ce-se o seu princ1p10. E.m lugar de o agradec�r à
Deus, o ingrato atribui-o a si. Non esf invenfus qui
redirei ef dBref gloriam Deo. Se não tem a ousadia
de dizer: Manus nosfrB excelsB, ef non Dominus,

(1) Oblilus es Domini creaforis fui. Deu!. XXXII, 18. Non


fuerunl memores mulliludinis misericordiae luae. Ps. CVII. - Oblifi
sunl Deum qui salvavif eos. lbid. 21. - Oblili sunl benefoclorum
cjus e( mirabilíum quae oslendil eis. Ps. LXXVII, 11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
576 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

fecif hdec omnid (1), pretende ao menos participar


com Deus da glória· do bom éxilo. O homem que­
reria, em seu orgulho, dever tudo a si mesmo; não
podend·o, esforça-se por deminuir a sua dívida.
- Mas o cúmulo da ingralidãp é ofender ao seu
bemfeilor, e empregar contra êle os seus próprios
dons. E' nova queixa que Deus faz ao seu povo :
• Filhos de Jacob, não me invocastes; nem lu, Israel,
te aplicaste a me servir; antes me fizeste servir nos
teus pecados> (2). Oh! como é freqüente.ainda mesmo
entre os padres, esla profanação dos dons de Deus!
l Oue padre ousaria dizer : Nunca os talentos que o
Senhor me confiou, e os bens que dêle recebi, foram
aplicad,os a servir qualquer má propensão, secreta
ambição ou vaidade?

II. Ouão pecaminosa é a ingratidão. - Posso


JB avaliá-lo pelas reflexões, que até aqui tenho, feito.
Algumas novas considerações me descobrirão lõda a
sua enormidade.
O homem ingrato priva a Deus do único tributo,
que êle pode e quer receber da sua criatura racional.
Eis o que diz o Senhor i • Audi, populus meus, ef
loquar: Israel, ef fesfi!icdbor fibi: Deus, Deus fuus
ego sum (3). Ouve, povo meu; tu não podes desco­
nhecer que sou o teu Deus, e que, tendo recebido de
mim lodos os bens que possuis, é justo que me mos­
tres a tua ingratidão com alguma oferenda. Mas,
l que me oferecerás lu? Eu não necessito de templos,
nem de vítimas. l Oue podes dar-me, que não me
pertença já? Só há uma coisa, que. eu desejo rece­
ber de ti: é• o sacrifício de louvor, em reconheci­
mento dos meus benefícios : lmmo!d Deo Sdcrilicium

(1) Deu!. XXXII, 27. - (2J Is. XCIII, 22, 24.


tª) Ps. XCIX, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A INGRATIDÃO 577
laudis: ef redde Allissimo vota lua• (1). Eis precisa­
mente o qué o homem ingr�to recusa a Deus 1
Ainda não é tudo,: não depende déle que o
Senhor seja privado do frulo de tôdas as suas obras
na criação e conservação do mundo material. A fé
e a razão demonstram-nos que o primeiro Sêr, o.Sêr
infinito, fêz lôdas as suas obras por causa de si
mesmo : Universa propfer semefipsum operalus esl
Dominus ( 2). Oue se propôs êle em lôdas as coisas
que Íêz? unicamente a sua glória. As criaturas in­
sens1ve1s proclamam-na cada uma a seu modo; e
pode-se dizer de lôdas, o que o Rei-Profeta di�se
dos céus : Coeli enarranf gloriam Dei. E' verdade
que elas não leem língua para falar; mas a sua be­
eza, a sua utilidade convidam o homem, para quem
elas são feilas, a louvar e a agradecer ao seu comum
bemfeilor. Se o homem não louva nem 'dá graças a
De:.1s, priva-o, quanto em si eslá, do fruto de seus
trabalhos; impede que as criaturas cumpram o seu
fim, e êle mesmo se !orna inútil, visto que foi tirado.
do nada, sõmenle para lhes emprestar a sua voz e
as pôr em estado de glorificar ao Senhor.
finafmente o último alentado que corneie a ingra­
tidão, é ser ela a negação de Deus. Para o homem
ingrato, Deus não é já a fonte adorável da qual di­
mana todo o bem, o fim úllimo a que tudo se deve
referir. Subsli_lui-se com audácia ao primeiro princí­
pio, atribuindo a sí as qualidades que possui, como
se fôsse o aulor delas; e em 'lugar de glorificar por
elas ao autor de todo o bem, guarda a honra para
si. E', segundo S. Agostinho, o que forma a essên­
cia da soberba e da ingratidão que é o seu efeito.
Ouid esf superbia, nisi perversae ce/siludinis appeli­
lus? Perversa enim celsiludo esl, deserto eo cui

(1) lbid. 14. - (2) P;ov. X VI, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
578 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

animus adbaerere debet principio, sibi quodam modo


fieri a/que esse principium. Não é pois para admirar
que o mesmo Santo Doutor diga a Deus: Seio quod
ingra,ifuc/o multum fibi displiceaf ( 1); e S. Bernardo:
Nihil ifa displicef Deo, praeserfim in filiis grafiae ...
quemadmodum ingrafiludo (2). O' meus padres, vós
não sois sõmenle os filhos da graça, mas também os
pais, visto que a produzis na alma do próximo; por
isso muito mais pecaminoso seria em vós um vício
que até nos simples fiéis é Ião horrendo.

II. funestos efeitos da ingratidão para com


Deus. - S. Bernardo diz que êste vício detestável é
o maior inimigo da alma, a destru'ição dos seus mere­
cimentos, a ruína das suas virtudes e a perda dos
benefícios que ela havia recebido. E' um vento abra­
sador, que seca a fonte dos dons celestiais (3).
E' 1,1ma corrução de coração, que priva das primeiras
graças e obsta às segundas, porque um ingrato me­
rece perder o bem que possui, e não merece obter
o que lhe falia. O santo doutor exprime o seu pen­
samento com esta comparação: Se opondes a um
rio algum obstáculo que o impeça de correr para o
mar _aonde deve dirigir-se, que acontecerá? Primei­
ramente a água do rio corrompe-se: Fluminis aqua,
si sfare coeperif, ef, ipsa pufrescel; depois a água
que vinha da fonte, será repelida: Et aqua superve­
niens repe/lefur. Eis o que acontece à alma ingrata.
A sua má disposição impede os dons que recebera,
de ir para onde tendiam, para a gló.ria de Deus e
para a sua própria santificação; êstes dons perdem-se

(1) Solil. XVIII. - (11) Serm. de 7 mis.


(ª) lngraliludo inimica esl animae, exinenilio merilorm:n, virlu­
fum dispersio, beneficiorum perdilio • , • , venlus urens, sicc11ns Fon­
tem pielafis, rorem rnisericordi11e, íluenla gr111i11e. Serm. LI in C11nl.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A INGRATIDÃO 579
e corrompem-se por negligência sua; mas àlém disto
a corrente das outras .graças é interrompida. Deus
recusa-lhe os novos bens que lhe destinava, e de
que ela se torna indigna: Sic pléme graliarum decur•
sus cessabil, si recursus non fuerif: non modo nihil
augefur ingrato, sed el quod acceperal, verlifur ei in
perniciem (1). • Pois que tu te esqueceste de mim,
cidade ingrata, diz o Senhor a Jerusalém, sofrerás a
pena do leu crime: Ouia oblila es mei .. . , tu quo­
que poria scelus luum. (2). Mas, é. qual é essa pena?
Deus no-la dá a conhecer. pelo profeta Oséias: • Não
me tornarei mais a compadecer da casa de Israel;
anles apagá-los-ei inteiramente da minha memória:
Non addam ultra misereri domus Israel; sed obli­
vione obliviscar eorum. ( ª). Terrível castigo, que
condµz à eterna condenação!
Temamos os funestos efeitos da ingratidão, e de­
testemos o pecado que ela encerra, principalmente
quando é um padre que o corneie. Para nos preser­
varmos déle, pensemos muitas vezes na nossa voca­
ção e nos benefícios que lhe são anexos; ou antes,
seguindo o conselho do Apóstolo, ofereçamos a Deus
no altar do nosso coração o sacrifício de louvor:
Offeramus hosliam laudis semper Deo (4 ), para que
a nossa acção de graças atraia sôbre nós benefícios
sempre novos e sempre mais. e1celenles: UI te per­
ceplis munerihus grafias exhibenfes, beneficia pofiora
sumamus ( 5 ).

Resumo da Meditação

1. Em que consiste a ingrntidão para com


Deus. - E' inleiramenle o contrário do agradeci-

(1) S.Bern. Serm. LI in Canl. (2) Ezech. X�III, 35.


( 8) Os. 1, 6. - (l ) Missal. - -:-
(º ) Hebr, XIII, 15.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
580 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

menlo. Oue se pense nos benefícios recebidos, que


se agradeça ao bemfeitor, e se faça bom uso de seus
dons, é o que ordena a gratidão, e o que fêz o le­
proso curado. O homem ingrato para com Deus
faz inteiramente o contrário: esquece-se do benefício,
desconhece o seu autor, ofende o supremo bemfeitor
com os seus dons. Oh I como é freqüente esta in­
digna· profanação dos dons de Deus 1

II. Quão pecaminosa é a ingratidão para com


Deus. - O homem ingrato priva a Deus do único
tributo que deseja receber das suas criaturas inteli­
gentes: • E.u não necessito, diz o Senhor, dos vossos
dons, nem das vossas vítimas. Uma só coisa há que
desejo de vós: é um sacrifício de louvor em troca
dos meus benefícios• . Tôdas as criaturas ,ainda
mesmo insensíveis, proclamam a glória de Deus, e
nos convidam a louvá-lo . . . Se não o fazemos, pri­
vamos a Deus, quanto de nós depende, do fruto de
seus trabalhos. - O homem ingrato toma o lugar do
primefro princípio, atribuindo a si as qualidades que
possui, ou julga possuir, como ,se proviessem de si
mesmo.

III. Quão funesta é a ingratidão pa,;-a com


Deus. - 5. Bernardo diz que a ingratidão é um
vento abrasador que seca o orvalho da graça, e es­
tanca a sua fonte. 1 • Cidade ingrata, diz o Senhor a
Jerusalém, pois te esqueceste de mim, apagar-te-ei da
minha memória• 1 Terrível castigo, que conduz à
condenação eterna 1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O AMOR DE DEUS 581

CIV MEDITAÇÃO
14-. 0 Domingo depois do Pentecostes. - Nolile
sollicili esse dicenfes: 'Ouid manducàhimus, ele.
- O bom padre honra a Providência.
(T. II, pág. 194)

CV MEDITAÇÃO
15.0 Domingo depois do Pentecostes.- Ecce
morte. (T. I, pág. 357)
defuncfus efferehalur. - A

CVI MEDITAÇÃO
16.º Domingo depois do Pentecostes. - Re­
cumbe in novissimo loco.
- A humildade necessária aos homens
apostólicos. (T. II, pág. 115).

CVII MEDITAÇÃO
17 .° Domingo depois do Pentecostes. - Dili­
ges Dominum Deum fuum ex fofo corde luo.
- O amor de Deus. (T. II, pág. 616).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

CVIII MEDITAÇÃO
18.0 Domingo depois <Jo Pentecostes. -Ecce
offerebdnf ei pdrdlyficum.
- Cuidado dos enfermos - (T. II, pág. 456)

CIX MEDITAÇÃO
19.º Domingo depois do Pentecostes.
- O banquete eucarístico

[. Ou11nfo excede em excelência II lodos os b11nqueles do mundo.


II. Ou11I é II vesle nupcial com que os sacerdotes devem 11presen­
l11r-se nêle.

1. O banquete eucarístico é infinitamente su"


perior a todos os banquetes do mundo. - Ouem o
dá? E' o Rei imortal dos séculos, que une seu filho
à Igreja pelos laços mais indissolúveis: a céia euca­
rística é o festim dos desposórios. E' Deus que o dá,
e dá-o como Deus. Isaías entrevendo a mag1tificência
dêste banquete divino, linha dilo: • O Senhor dos
exércitos fará neste monte para lodos os povos um
banquete em que serão servidos os manjares mais fi­
nos, e os vinhos mais generosos·• (1). A Igreja, com­
posta de lodos os povos, chama todos os seus filhos
para esta mêsa, que lhes preparou seu adorável
Espôso. Serve-se da vossa voz, ó padre, para os
convidar a tomar parle nela; manda-vos instruí-los,

(1) Is XXV, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O B'ANQUET& EUCARÍSTICO 583

conslrangê-los, se preciso fôr, a entrar na sala � ban­


quete: /te dd exifus vidrum, e/ quoscumque inveneri­
lis, vocdle dd nupcias ( 1). - Exi cito in pla!eds ef
vias (2).-Exi in vias e/ sepes, ef compel!e infrdre (3 ).
Oh! se os homens conhecessem a honra que ,Jesus
lhes faz, e os bens que lhes oferece, quando lhes diz :
Venife, comedi/e pdnem meum, e/ bibife vinum quod
miscui vobis ! ( 4) 1 Com que fervor viriam à casa de1
Deus receber de vossas mãos o dom celestial: O sd­
crum convivium, in quo Chrislus sumilur, recolilur
memorid pdssionis ejus, mens implelur grdlid, e/ fu­
lurde gloriae nobis pignus ddlur.
Meditando em cada uma destas palavras, com­
preendei, e fazei compreender �os fiéis a diferença
que há entre o banquete eucarislico e os banquetes
mais lautos do mundo.
Estes últimos são profanos. é Busca-se acaso
nêles a glória de Deus e a felicidade eterna do ho­
mem? O banquete de Jesus é sagrado: O sacrum
convivium! Tudo nêle e santo, próprio para glorifi­
car ao Senhor e santificar as almas; é efeclivamente
a comunhão que contribui com mais eficácia para
formar os Santos.
Os banquetes do mundo são tanto mais festeja­
<:los e procurados, quanto maior variedade de igua­
rias apreser?!am. Ouer-se que as haja para lodos
os gostos; e como nenhuma comida na terra contém
todos os sabores, nenhuma pode por si causar uma
completa saciedade. No banquete de Jesus é servido
a todos um só manjar, que é o mesmo Jesus: ln
quo Chrislus sumilur. Este pão da vida, descido do
céu, bem infinito e princípio de todo o bem, encerra
em grau eminente, ludo o que o homem pode dese-

(1) Mollh. XXII, 9. - (2J Luc. XIV, 21. - (3) lbid. 23.
- (4 ) Prov. XI, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

jar. Melhor que o maná que o figurava, faz gozar


aos justos tôdas as puras delícias·, e satisfaz lodos os
nobres apeliles da alma: Ouid mihi esl in caelo e/
a fe quid volui super ferram?
Nos banquetes do mundo, a conversa não traia
da morte, das tribulações e aflições; mas só de coi­
sas que lisonjeiam os sentidos. No banquete euca­
rístico, ludo fala da morte e Paixão do Filho de
Deus, ludo no-la recorda : Recolifur memoria passio­
nis ejus. De um lado, esta recordação é amarga;
mas do outro, oh! como é suave! Dilexil me, el fra­
didil semefipsum pro me. j Como é útil principal­
mente pelos sentimentos- que inspira, pelas virtudes
que faz brotar e crescer, e que eleva até à perfeição 1
Os homens saem saciados dos banquetes profa­
nos, muitas vezes com prejuízo da saúde, com a
consciência agravada com alguma ofensa de Deus, e
quási sempre com a alma incapaz de se entregar às
funções do e�pírilo. Pelo conlrário, e. quanto não
aproveita o homem inferior à mêsa de Jesus? Não
é uma graça que a1i recebe, é uma plenitude de gra0
ças, e a mesma fonte de tôdas as graças: Mens im­
plelur grafia.
Daí uma última diferença, que é a conseqüência
das outras: Se os banquetes do mundo, pelos exces­
sos que nêles se corneiem, e pecados que ocasionam,
acarretam muilas vezes a -ruína do corpo e da alma,
a piedosa participação do banquete eucarístico salva
lodo o homem: é o penhor da nossa predestinação:
Et fulurae gloriae no.bis pignus dafur. • Uma comu­
nhão bem feita é uma caria de recomendação para o
céu• (1). Como esta sagrada carne opera sôbre o
corpo e sôbre a alma, tôdas (!S vezes que a come­
mos dignamente, imprime em nós o sêlo da vida

(1) P. Corlos Lollemiml.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O BANQUETE EUCARÍSTICO 585
eterna : Oui manducdf meam Cdrnem ef bibit meum
sdnguinem, hdbet vifdm deferndm, e deposita na nossa
carne um gérme de gloriosa ressurreição: El ego
resuscifabo eum in novissimo die (1).
é. Instruístes já os fiéis sôbre os tesoiros de que
os enriquece uma boa comunhão? é. Já refleclistes
nislo com relação a vós mesmo?· Não sois sômenle
encarregado de convidar, de dispôr os vossos irmãos
para o banquete do l!rande Rei, e de fazer as honras
da sua mêsa na qualidade de seu ministro.; sois o
primeiro dos seus convidados: se ninguém recebe
senão das vossas mãos o pão celestial, ninguém tam­
bém o come senão depois de vós. i.. Ouanto deveis
a Jesus Cristo debaixo dêstes dois aspeclos?

li. Oual é a veste nupcial com que o sacer�


dote deve apresentar-se no banquele eucaristico.­
i O santuário profanado por aquele mesmo a quem
eslava confiada a guarda do santuário 1 . . Em ou Ira
parle consideramos êste horroroso crime; uma missa
sacrílega, que alentado I Segundo o Evangelho dêste
dia, podemos conjeclurar qual será o seu castigo:
Amice, quomodo huc inlrBsli non hdbens vestem nu­
plialem?. . . Tunc dixil rex minisfris: Ligdfis mdni­
b.us ef pedibus ejus, miflile eum in fenebras exterio­
res; ibi eril llefus e/ slridor denlium. Esta veste
nupcial é a caridade ( 2 ). E, é. quão perfeita deve ser
no amigo privilegiado de Jesus, que, subindo lodos
os dias ao altar, participa lodos os dias do celestial
banquete? Compara-se o coração dos fiéis a essas
hospedarias onde o príncipe só repoisa de passa­
gem, e onde se contenta com o necessário. Não pro-

(1) Joan. Vl,55.


(�) Ouid debemus inlelligere per ves!em nup!iolem nisi cho­
rilalem? S. Greg. Horn. XXXVIII in Evong.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
586 MEDITAÇÕES SACERDÔTAIS

cede porém assim no palácio, que edificou e mobilou


para sua residência; quer que tudo ali seja de uma
magnificência real. A vossa alma, ó padre, é o palá­
cio do monarca universal, que prodigalizou as rique­
zas da sua graça para a adornar de tôdas as virtu­
des; é. julgais vós que Jesus ficará salisfeilo, não vendo
nela senão disposições comuns, e uma justiça ordi­
nária? Os Santos Doutores dizem-vos que a vossa
alma deve ser mais pura que os raios do sol ( 1) j que
tendo sido preferido aos anjos para lerdes favores de
tão subido preço, a vossa vida deve ser mais angélica
do que humana (2). Meditai no que ensina o concí­
lio de Trento: Si necessBrio fafemur nul!um aliud
opus adeo sancfum ac divinum a Chrisfi fidelibus
lracfari posse, quam hoc ipsum fremendum mysfe­
rium •.. , safis efiBm apparef omnem operam ef dili­
gehliam· in eo ponendam esse, 11/ quanta maxima lieri
poferif inferioris cordis mundiiia ef purifale, a/que
exferiori devofionis ac piela/is specie paragafur ( 3).
· À ling,uagem das palavras, a Igreja acrescenta
a das acções e das figuras. Antes de nos permitir o
exercício do mais su·blime dos nossos ministérios,
conduz-nos a um lugar santo, onde estão deposita­
das as insígnias dos clérigos; e onde, como no ves­
tíbulo do céu, nos prepara para aparecer deante do
trono de Deus. Pela significação que liga às vesti­
mentas que ela benzeu e de que nos adorna, asse­
melha-nos ao seu Espôso, tal qual era na sua Paixão:
amito, cíngulo, manipulo, estola, ludo representa as
humilhações e os sofrimentos de Jesus. Ela desejaria
revestir o seu representante de inocência e pureza

(1) Solaribus radiis puriorem esse oporlel animam sacerdo­


lis. S. Chrys. De sHcerd. lib. VI.
(2) Polius angelicam quam humanom debenl conversalionem
hobere. 5. Laur. Jus!. Serm. de Euch.
( �) Sess. XXII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O BANQUETE EUCARÍSTICO 58i
com a alva que é o seu símbolo, de caridade com
a casula que é o seu emblema. Recorda-nos por
todos os modos, que é necessária uma eminente san­
tidade para enlrar no Sanda Sancforum. Porém,
l como é que se dispõem para o divino sactiÍício e o
banquete sagrado, que o completa? l Por que razão
se encontra sõmenle nos padres mais desapegados
do mundo, mais interiores, êsse salutar temor que,
longe de excluir a confiança, vem a ser o seu mai, s
sólido fundamento? • Eu receio, diz o P. Berlhier,
que a sagrada hóstia, que está lantas vezes nas mi­
nhas mãos, se levante um dia contra mim, e sele a
minha condenação . Para precipitar um padre no
fundo do abismo, não é necessário que êle corneia
pecados graves, e se desvie inleiramenle dos princí­
pios da religião; basta que lenha uma vida tíbia,
sensual; que proceda só com intuitos humanos; que
ore sem pensar em Deus; que se es<Jueça quási con­
tinuamente da moi:lificação cristã; que tenha muito
amor próprio, e pouco amor de Deus• (1).
Examinai-vos sõbre um ponto de tanta importân­
cia, e segui o conselho de Santo Ambrósio: Mutel
vilam qui vull accipere vifam; nam si non mulaf vi­
Iam, ad judicium accipief vilãrn (2 ).

Resumo da Meditação
'
I. O banquete eucarístico in6nitamenfe supe­
rior a todos os banquetes do mundo.:-- E' Deus
que o dá, e dá-o como Deus·: Vinde, nos diz êle,
comei o meu pão, bebei o vinho, que vos preparei (3 ).
O sacrum convivi um! é. Por que razão sacrum?
E' porque ludo ali é santo, principalmente a comida,

(1) Reílex. Espir. e. X. 1. 0 episl. aos Corinl. - (2) Serm.


dom. IV. Adv. - l"J Prov. IX, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
588 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

in quo Chrislus sumilur, e é admirável a recordaçã


que nos desperla este banquete : Recolilur memori
ptJssionis ejus. j Oue abundância, que plenitude d
graças ali se recebe I Mens implelur grtJliél. O digm
uso deste sacramento é o penhor certo da nossa pre
destinação : Et fu!urtie gloriae nobis pignus dafui
Cada comunhão bem feita é uma carta de recomen
dação para o céu.

li. Qual é· a veste nupcial com que o sacer


dote deve apresentar-se neste banquete. - A graç
santificante ou a caridade basla para evitar uma ho1
rível profanação; mas, é.quão perfeita deve ser est
caridade no amigo privilegiado de Jesus? A alm
do fiel cristão é como uma hospedaria, onde o prír
cipe repoisa de passagem ; a vossa, ó padre, é
palácio dêsle grande rei. Solaribus radiis puriore,
esse opor/e! animam sacetdolis. Preferido aos anjo
para uma funçãÔ tão celestial, a vossa vida deve se
mais angélica do que humana. é. Oue não faz
Igreja, para só enviar ao altar homens de eminent,
santidade?

C� MEDITAÇÃO
20.º Domingo depois do Pentecostes. - Cn
didil homo .sermoni quem dixil ei Jesus.
- O poder da fé. (T. I, pág. 19).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O TALENTO SAí:ERDOTAL 589

XCI MEDITAÇÃO
21.0 Domingo depois do Pentecostes. - Uso
do talento sacerdotal

Assimila/um esf regnum coe/o.um homini regi, qui


voluif ralionem ponere cum servis suis ( 1).

Pode-se juntar esta parábola àquela de que se


fala no capítulo XXV de S. Mateus; ambas se apli­
cam tão naturalmente aos sacerdotes, que Ürígenes
disse : Servi hi soli sunf qui dispensafores verbi ha­
benfur, ef quibus hoc esl commissum, ui negofienlur
ef foenerenf (2).

1. Oue lolenlo nos é confledo no dia de nosse ofdeneção.


II. Felicidede do pedre que foz render fielmente o talento recebido.
Ili. lnfelicidede do padre que oculte o seu telenlo.

1. Oue talento me foi confiado no dia da miM


nha ordenação. - Ao bom uso dos dons recebidos,
e não ao seu grande número e superioridade, é que
são devidos os elogios, e que serão concedidas as
recompensas; mas, quanto mais numerosos e exce­
lentes, maior é também a responsabilidade; é. qual é
pois a minha? Se os talentos n'õturais e puramente
humanos me sujeitam já a uma rigorosa conla, é. que
será quanto ao talento celestial que me foi confiado
no momento em que recebi as ordens sacras?
E' uma lei geral que, quando Deus destina um
homem a algum ministério, destina-lhe ao mesmo
tempo as graças, que conveem à sua vocação, e de

(') Mellh. XVlll, 23. - (2) Trec!. Vil in Mallh.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
590 MEOITAÇÕRS SACERDOTAIS

que necessita para a cumprir dignamente. Propor­


ciona os meios ao fim com infinita sabedoria. O fim
do padre não é outro senão o de Jesus Cristo : Sicuf
misif me vivens Pater, ef ego miflo vos. é Oue gra­
ças, que poderes não são necessários àquele que
deve continuar a obra da Redenção, propagar o co­
nhecimento e amor de Deus, defender e consolar a
Igreja, santificar e salvar as almas? Por isso, é que
dizem os Santos Doutores? Poleslas sacerdofis esf
sicuf poleslas divinarum personarum ( 1 ). - Sacerdo­
tibus datum esf, uf polesla/em habeanf, quam Deus
oplimus neque Archangelis datam esse voluif, neque
enim ad illos diclum esf: Ouodcumque ligaverilis su­
2
per ferram, ele. ( ) - Deus, diz 5. Tomás, insliluíu o
sacramento da Ordem na Igreja, para que aquele que
o recebe, assemelhado em certo modo a Deus, coopere
com Deus, e, como membro mais nobre do corpo
místico de Jesus Cristo, sirva para o bem dos outros
membros. Deus posuif ordinem in Ecclesia, ui qui­
dam aliis sacramenta frt1derenf, suo modo Deo in hoc
assimila!i, quasi Deo cooperantes: sicul in corpore
naturali quaedam membra aliis influunf C).
Sim, meu Deus, vós confiastes-me o mais rico, o
mais precioso de todos os lt1lenlos, quando me <;1dmi­
tistes à honra de anunciar a vossa palavra, de aben­
çoar o vosso povo, de presidir à oração, de perdoar
os pecados, e principalmente de vos oferecer em sa­
crifício pelos vivos e defuntos: Sacerdofem oporfef
offerre, benedicere, praeesse, praedicare ef bapli­
zare (4). Do alto da vossa Cruz, olhastes para o
céu, a-fim de lá glorificar vosso Pai: para a !erra,
a-fim de nela santificar os homens; para o limbo►

(1) S. Bern. Sen. Serm. XX.


(21 S. Chrys. lib. Ili. de sacerd. vif.
(�) Sum. Theol. suppl. quaest. XXXIV. - (4) Ponfif.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
o TALENTO SACERoo·rn 591

a-fim de tirar de lá os juslos: assim deve fazer o vosso


ministro nas suas diferentes funções, e principàlmenle
no altar. O céu, a terra, o purgatório estão na ex­
pectativa do uso que êle fará de seus !alentos; 1 quanto
lhe importa pois, empregá-los sanlamenle !

II. Felicidade do padre que faz render fiel•


mente os seus talentos. - A sua mesma fidelidade
o torna feliz; e torná-lo-á ainda mais feliz a glória
eterna, que receberá em recompensa. Como refere
unicamente a Deus os- dons que reconhece dever à
sua liberalidade, não o deslumbra o seu esplendor,
nem o embriagam os louvores que êles lhe atraem.
Humilde na prosperidade, sem abatimento na adver­
sidade, a sua alma -tranqüila goza sempre as delícias
da paz. Oh ! que prazer lhe causa êsle pensamento:
Passo a vida no serviço de Deus e de meus irmãos;
não lenho, não quero ler outra ambição senão a de
glorificar o Senhor, e dispôr criaturas, que lhe são
caras, a glorificá-lo eternamente, participando da sua
suprema felicidade.
Mas se o vosso ministro não busca senão a vós,
ó meu Deus, e. não lhe pagareis glória• com glória, a
dêsle mundo, que desprezou por causa de vós, com
a glória dos escolhidos? S. Gregório fêz a pintura
dos apóstolos, vindo no último dia apresentar a Je­
sus Cristo o fruto dos seus !alentos; que admirável
pintura I Unusquisque quid si/ operafus oslendefur.
lbi Pefrus cum Judaea conversa, quam posf se fra­
xif, apparebil; ibi Paulus conversum, ui ila dixerim,
mundum _ducens; ibi Andreas posf se Achaiam, ibi
Joannes Asiam, Thomas lndiam in conspeclu sui
judieis ducet (1). Mas depois dêstes heróis do apos­
tolado evangélko, que conquistaram tantos povos,

(1) Horn. XVII in Evang.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
592 MEDITAÇÕES SACKIIDOTAIS

aparecerão lt1mbém com honra todos os bons padres,


que lucraram para Deus quantas al"'as lhes foi pos­
sível: lbi omnes dominici gregis élriefes, cum llnima­
rum fucris é1ppé1rebunf (1). Um dirá: •Senhor, vós
cnlregasles-me cinco talentos; aqui tendes outros cinco
mais, que lucrei•. - Outro: • Vós entregastes-me
dois talentos; aqui tendes outros dois, que com êles
granjeei • . - A lodos responderá : • Euge, serve
hone ef lide/is I Eu meço a recompensa pela vossa
fidelidade; proporciono-a aos ardenles desejos, aos
puros motivos que animaram e dirigiram o vosso
zêlo; o meu gôzo não poderia entrar no vosso cora­
ção; entrai vós no gôzo de vosso Senhor•. O' mi­
nha alma, l que trabalho te poderá assustar, quando
se trata de merecer esta recompensa, e de escapar à
triste sorte do servo que escondeu o seu talento?

III. Infelicidade do padre que não faz render


os dons que recebeu. - O servo a quem só se
havia confiado um talento, chegando-se a seu Senhor,
diz-lhe : Se( que sois um homem de rijéJ condição ( 2 ).
Oue cegueira I acusa-se a lei, quando se não ousa
observá-la. Tive mêdo, e escondi o vosso flllenfo!
Culpável negligência, ilusão funesta: receiam afo­
gar-se com os que naufragam, e esquecem que, sendo
obrigados a preservá-los desta, desgraça, por lodos
os meios possíveis, se perdem por isso mesmo que
não se esforçam por s�lvá-los. Por isso, l como, é
qualificado êsle homem, que não dissipou nem Íêz
valer os dons recebidos? Serve mélle ef piger. Omi­
tir o bem que se devia fozer, é um mtil; recustir ser
útil, qutindo se pode, é umti impiedade, uma cruel­
dade, segundo Santo Agostinho: Nu/li prodesse,
impium et crude/e est (3). Julguemos do crime pelo

(1� lbid. - (2) M11!1h. XXV, 24, -(3) Enarral. in Ps. XCV.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
O TALENTO SACERDOTAL 593
rigor do castigo : Tirai-lhe o fa/en,fo que fem: é p�
vado das graças e dos benefícios divinos, não os hii'
jii para êle; lançai-o nas trevas exteriores: é explrllo
definitivamente da face de Deus e da glória dos es­
colhidos; ali haverá chôro e ranger de dentes ( 1): é
condenado ao suplício eterno.
A inacção do clero desenfreia tôdas as paixões,
favorece lodos os estragos das potestades infernais;
l que admira pois que provoque os castigos do Se­
nhor? O que deve causar aqmiração, é que padres
que, depois de exercerem durante alguns anos o mi­
nistério, se retirem, para ter uma vida quási inútil,
como se estivessem quites para com Deus e a Igreja,
e possam lêr e meditar estes oráculos sem tremer 1
Ministros de Jesus Cristo, quem quer que sejais, ouvi
o �rande apóstolo, que vos fala como a Timóteo:
Noli negligere grafiam, quae in te esf, quae da/a esl
tibi r) ; e tomai a resolução que vos sugere S. Ba­
sílio : Unusquisque, quocumque !andem dono eum
Deus dignalus si!, id mulfiplicef, hoc ipso ·ad benefi­
ª
cenfiam e/ ulililafem plurium adhibilo ( ).

Resumo da Meditação

1. l Oue talento me foi confiado no dia da


minha ordenação? -Ao santo uso dos dons recebi­
dos, e não ao seu grande número ou à sua superio­
ridade, é que serão concedidas as recompensas. Lei
geral : Deus proporciona os meios ao fim; o fim do
padre é o de Jesus Cristo: continuar a obra da Re­
denção I Por isso l que poderes nos são dados?
Pofestas sacerdofis esf sicut pofesfas divinarum per­
sonarum. Do alto da sua Cruz, Jesus olhou para o

( 1) M111!h. XXV, 28. - (2) I Tim. IV, 14.


(3) Regu). brev. 25.3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

céu, paro lá glorificar a seu Pai; para a terra, para


nela santificar os homens; para o limbo, paro de lá
tirar os justos. Sucede o mesmo com o podre: o
céu, a terra, o purgatório estão na expectação do
uso que êle fará de seus talentos.

li. felicidade do padre que faz render fiel­


mente os seus talentos. - A sua mesma fidelidade o
torna feliz. Oh! que delícias acha neste pensamento�
Passo a vida no serviç,o de Deus e de meus irmãos t
Glorifico ao Senhor, e disponho almas para o glo­
rificarem eternamente, participando da sua supremõ
felicidade I Mas se o vosso ministro não busco senão
a vós, ó meu Deus, é.não lhe pagareis glória com gló­
ria, o do mundo que êle desprezou, com a glória
dos escolhidos? é. Oue trabalho lhe pode parecer pe-·
noso, pensando na recompensa que lhe reservais?'

III. Desgraça do padre que não faz render os


seus talentos. - Omitir o bem que se devia fazer, é
um mal; recusar ser útil, quando se pode, é umõ
crueldade e uma impiedade, diz Santo Agostinho.
Tire-se-lhe o talento que tem ; seja lançado nas trevas
exteriores; ali haverá chôro e ranger de dentes.
A inacção do clero prepara t1 vitória do inferno_
Noli negligere gréJliéJm quéle in te esf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DEVERES PARA COM AS AUTORIDADES 595

CXII MEDITAÇÃO
22.º Domingo depois ·do Pentecostes. - Reddite
quae sunl Cae:Saris Caesari ( 1 ), - Deveres
do clero para com as autoridades supe_riores.

L Ensinar aos povos as obrigações para com os governantes.


li. Dar-lhes o exemplo da fidelidade no cumprimento dess11s
obrigações.

I. O clero deve ensinar aos fiéis as obriga­


ções para com os governanfes. - Êsle ponto da
moral evangélica é difícil; mas é de uma importância,
que deve excitar e sustentar o nosso zêlo. Man­
dando preguntar ao Salvador se era lícito dar o tri­
bulo a César, os fariseus julgavam armar-lhe uma
cilada inevitável. Diziam entre si: • Se responde que
se deve pagar, perde a estima de seus compatriotas,
que olham a autoridade dos Romanos como usur­
pada, e passa por traidor à pátria. Se diz que se
não deve pagar o tribulo, declara-se inimigo dos Ro­
manos: seja qual fôr o partido que tome, torna-se
odioso, ou ao povo judaico ou ao César •. Oue foz
Jesus Cristo? Para não ofender a ninguém, <'. recusa
êle exp1icar-se? Não; e por maior que seja o abuso
que se i .... ça da sua palavr�, êle pronuncia êste orá­
culo, que nunca será esquecido senão para desgraça
dos povos: Reddile ·quae sunf Caesaris Caesari, ef
quae sunf Dei Deo. Imitemos o nosso modêlo: se­
jamos prudentes, mas falemos; devemos dizer a ver­
dade a lodos. Ensinemos aos fiéis que êles leem
duas obrigações a cumprir para com os que são su-

(1) Maffh. XXII, 21.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
596 MEDITAÇÕKS SACEl\DOTAIS

periores na ordem temporal: respeitar a sua digni­


dade, submeter-se à sua autoridade.
1. 0 A religião exalta ·o homem, ainda mesmo
nas provas de respeito, que ela o obriga a dar aos
príncipes do século e seus magistrados, porque lhe
ensina a não as dar senão a Deus, honrado nos de­
positários do sea poder.
Per me reges regnanf, diz a Sabedoria eterna.
Não só os direilos do mando supremo veem de
Deus e são estabelecidos por sua lei; mas tamhém a
escolha dos que estão revestidos· dêstes direitos é
obra da Providência : se devem a sua elevação ao
nascimento, êle é o Senhor da natureza; se a alcan­
çam por eleição, êle assiste a todos os conselhos.
A majestade real é uma emanação da divina majes­
tade : Deum lime/e, regem honori.icale ( 1 ). O se­
gundo dêstes deveres : regem honori.icale, é a con­
seqüência cfo primeiro: Deum limefe. S. Paulo,
depois de repelir muitas vezes, que os príncipes são
ministros de Deus, acrescenta: •Tribulai honra a
quem deveis honra. (2).
· Bossuet aplica aos reis as palavras do profeta:
Sois deuses, e todos sois filhos do Allíssimo (9 ); e
depois exclama: • Mas, ó deuses de carne e de san­
gue, ó deuses de ferra e de pó, morrereis como os
demais homens. Não importa, sois deuses ainda que
tenhais de morrer; porque a vossa dignidade não
morre: transmite-se tôda aos vossos sucessores, e
imprime por lôda a parle o mesmo respeito, a mesma
veneração•. S. Gregório Nazianzeno, pregando na
p�esença dos Imperadores, convida-os a serem súbdi­
tos de Deus, assim como são os seus representantes.
O mesmo ensinam todos qs livros do Antigo

(1) I Pefr. li, 17. - (2 ) Rom. XIII, 7.


(3) Ps. LXXXII, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DEVERES PARA COM AS AUTORIDADES 597

Testamento, que mandam tribular respeilo aos pode1.es


superiores, até no pensamento: ln cogifafione tua,
regi ·ne defrahas (1); e referem com elogio os belos
rasgos dêste respeito. é. Oue exemplo mais admirável
que o procedimenló de David para com Saúl, ainda
depois que Deus o escolheu para reinar em seu lugar,
e quando Saúl o perseguia com mais furor ?
2. 0 Devemos submissão à autoridade de César
pela mesma razão por que devemos respeitar a sua
dignidade. O monarca temporal é o delegado do mo­
narca eterno. Causa admiração a insistência com
que Jesus Cristo e os seus apóstolos inculcam esta
verdade, principalmente considerando em que mãos
se achava então o poder civil.
O Salvador ia morrer; é. e que diz êle ao pretor
romano, que usava Ião mal da sua autoridade? Non
haberes polesfafem adversum me ullam, nisi tibi
dalufT! esse/ desuper (2). Nada mais formal: Deus,
que reina no céu, dera a Pilatos o poder que exercia
sõbre Jesus Cristo. Sim, •porque não há poder
que não venha de Deus, e as potestades que há,
foram por Deus ordenadas• (3). Não podemos re­
cusar a nossa obediência às potestades superiores,
que se acham estabelecidas, sem a recusar ao mesmo
Deus, não mandando elas coisa alguma contrária
aos preceitos de Deus; porque então em lugar de
serem mandatárias, seriam adversárias da divindade.
Todo o homem esteja pois sujeito às potestades su­
periores, não sómente pelo temor do casti�o, m·as
também por obrigação de consciência ('). S. Pedro
pr9íbe que se faça distinção entre os diferentes depo-

(1) Eccli. X, 20. - (2) Jo1m. XIX, 11.


( 3) Rom. XIII, 1.
(4 1 Omnis anima polesfafibus sublimioribus subdifa sif ... ;
non solum propfer iram, sed efiam propler conscientiam. Rom. XIII,
1, 5.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
598 MEDITAÇÕES .SACERDOTAIS

sitários do poder; porque todos o receberam de


Deus; porlanto devemos obedecer· a todos: Subjecfi
esfole omni bumanae creafurae propfer Deum: sive
regi, quasi praecellenfi: sive ducibus, tanquam ah eo
missis (1).
1 Oue sublime idéia dos soberanos nos dá a fé 1
Ela no-los moslra reveslidos de um ,poder que rece­
beram de Deus; coloca o seu trono no lugar mais
seguro, na consciência, onde o mesmo Deus tem o
seu. Não admite pretexto algum de revolta, nem tão
pouco de idolatria ou aposlasia. Não reconhece
neles agravo que possa tirar-lhes o direito à obediên­
cia, a não ser, como se acaba de dizer, que mandem
o que Deus proíbe, ou proíbam o que Deus manda;
porque importa obedecer antes a Deus do que aos
homens. Não se diz que se resisla aos homens para
obedecer a Deus ; porque nesle mesmo caso a resis­
tência ordenada não consisle em opôr a fôrça à .fôrça,
mas em sofrer e morrer.
E' verdade que, se a religião forna inviolável a
autoridade dos príncipes, consagrando os seus di­
reilos, impõe-lhes também grandes deveres. Se no-los
dá por soberanos, dá-lhes um soberano que devem
temer. Se êles fazem lremer os oulros, ela fá-los
tremer por seu turno, ameaçando-os com um juízo
tanto mais rigoroso, com tormenlos tanto mais horrí­
veis, quanto mais poderosos forem: Judicium duris­
simum bis qui praesunf fiel . ..: Pofen/es pofenfer
tormenta pafienlur (2). Os padres, apóstolos da ver­
dade, não só n�o podem deixar os povos na igno­
rância deslas obrigações, mas devem cumpri-las com
mais perfeição do. que aqueles a quem as ensinam.

(1) I Pelr. II, 13.


(1) Sop. VI, 6, 7.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OEVF.RF:S PARA COM AS AUTOBlnADE� 5911

II. O clero deve dar o exemplo, cumprindo


fielmente os deveres para com as potestades supe­
riores. - Nós somos os médicos das almas, e co­
nhecemos a doença dominante da nossa época. é. Po­
deremos porém combater eficazmente esta febre de
independência, que se manifesta todos os dias por
meio de sintomas tão assustadores, e que poria em
perigo a mesma sociedade, se os fiéis não virem em
nós os modelos do respeito e da obediência que lhes
pregamos?
O Salvador abateu-se até nascer em um presépio,
para se submeter ao edito de um imperador idólatra.
Consenliu em morrer na Cruz, sem impugnar a -iní­
qua sentença que o condenava a êste suplício.
Emquanto pieparava para o apostolado os primeiros
obreiros evangélicos, operou um milagre, para ensi­
nar aos seus ministros quanto devem evitar tudo o que
possa çscandalizar nesta matéria. Depois de demons­
trar que não era obrigado a pagar o tributo, Jesus
disse logo a Pedro, a quem destinava para chefe
da tríbu sacerdotal: Ut aufem non scanda!izemus
eos, vade ad "?are, ef miffe hamum; ef eum piscem
qui primus ascenderif folie, ef aperfo ore ejus inve­
nies sfaferem: illum sumens, da eis pro me e/ fe (1).
Ministros de Jesus Crislo, regulai-vos sempre
pelos senlimentos e obras de vosso adorável Senhor:
palavras, maneira de proceder, tudo em vós mante­
nha o grande principio da subordinação, tão aba­
lado em nossos dias. As temerárias censuras que se
teem feito à autoridade, leem sido mais de uma vez
•O prelúdio de declamações criminosas; longe de !o­
rnar parle nelas, coinbatâmo-las quanto nos fôr possí­
vel. Soframos alguma coisa, soframos tudo ant�s que
expôr-nos à malevolência, e olhemos estas provações

(1) M11Uh. XVII, 26,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
600 -------- -
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

como uma graça preciosa: Haec esf enim grafia, si


propfer Dei conscienfiam susfinef quis lrisfifias, pà­
liens injusfe (1).
finalmente oremos, como S. Paulo nos reco­
menda, por aqueles que são os mandatários de Deus
no govêrno dos povos, e que tanto influem nos seus
destinos, não só temporais, mas também eternos;
nada é mais agradável a Jesus Cristo nosso Salva­
dor: Obsecro igifur primum omnium Geri observa­
liones, orafiones, postulafiones . .. , pro regibus ef
omnibus qrii in sublimifafe sunf, uf quieftim ef lran­
quillam vifam agamus . ..: hoc enim bonum esf ef
aceepfum coram Salvatore nosfro Deo (2).

Resumo da Meditação

I. O clero deve ensinar aos 6éis as obrigações


para com os governantes. -A exemplo di:, Jesus
Cristo, sejamos prudentes ao instruir àcêrca de um
assunto tão delicado; mas instruamos. -São deyidas
duas coisas aos nossos superiores na ordem tempo­
ral: respeifo à sua dignidade, submissão à sua auto­
ridade.
1.0 É. a Deus que honramos nos depositários do
seu poder: Per me reges regnanf. A majestade
real é uma emanação da divina majestade: Deum
fimefe, regem honorificafe; o segundo dêstes deveres
é a conseqüência do primeiro. Oiçamos S . .Paulo,
Bossuet, S. Gregório de Nazianzo. ê.ste ensino
acha-se no Antigo Testamento, assim como no Novo.
2. 0 Devemos submissão à autoridade pela mesmtt
razão por que devemos respeito ã dignidade. O mo­
narca temporal é o delegado do monarca eterno:
Non haberes pofeslalem adversum me ullam, nisi libi

(1) I Pefr. 11, 19 - (2J I Tim. II, 31.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MORTE DA ALMA 601
dafum esse/ desuper. Aos poderes que achamos es­
tabelecidos, quae sunf, não podemos recusar obe­
diência, sem a recusar a Deus. E' verdade que, se
a religião torna inviolável a autoridade dos prírtcipes,
impõe-lhes também grandes deveres. Se eles fazem
tremer os outros, ela fã-los tremer por seu turno.

II. O clero deve dar o exemplo, cumprindo


fielmente os deveres para com os poderes supe•
riores. - Médicos d.as almas, devemos combater a
doença dominante da nossa época, o espírito de inde­
pendência. O Salvador mostrou-se ainda a este res­
peito nosso modelo, no seu nascimento, durante a
sua vida e na sua morte. Antes sofrer ludo do que
expôr-nos à malevolência.

CXIII MEDITAÇÃO
23.ºDomingo depois do Pentecostes.
- Morte e ressurreição da filha de
Jairo. - Morte e ressurreição das almas,
grande objeclo da solicitude sacerdotal.

1. Mor!e da alma pelo pecado, que a separa de Deus.


li. À alma ressusci!ada pela graça sanliRcanle, que II reconcili6
com Deus.

I. Morte da alma pelo pecado. - Segundo a


sua vida natural, a alma não pode morrer; mas pode
perder a vida sobrenatural e divina: lia immorfalis

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
60i MEDITAÇÕliS SACERllOTAI�

esf, ui mori non possil (1). O pecado, depois de con­


sumado, gera a morte: Peccafum cum consummalum
fuerif, general morfem (2). Assim como Deus é a
vida da alma, assim tambél'll a alma é a vida do
corpo: Sicuf anima esf vila corporis, sic animae vila
esl Deus (3). l Julgais que êsse homem está vivo,
porque caminha, vê, fala? Enganais-vos; o que
vive nêle é sõmente o corpo. A casa está ainda em
pé. mas não é htibilada senão por um morto ...
l Oue compaixão será a vossa, se chorardes um
corpo de que a alma se separou, e não chorardes
uma alma separada de Deus, pelo pecado? (4)
Há muita analogia entre um cadáver e uma alma
em pecãdo mortal. - O mais belo· rosto torna-se he­
diondo, quando a morte o fériu ; o pecado imprime
na alma uma horrível deformidade. - O homem que
viveu na opulência, nada possui no momento em que
expira; a alma, por maiores que sejam deanle pe Deus
os seus merecimentos, perdeu tudo no momento em
que incorreu no seu desagrado, ofendendo-o. - Não
se podem adquirir bens depois da morte; nada se faz
de valioso para o céu, depois de cair em pecado
mortal. - Nêsse cadáver há um coração·, mas não
palpita; há olhos, mas já não vêem ; há ouvidos, mas
,já não ouvem ; l não é a imagem do pecador, caído
na cegueira e no endurecimento? Deus revolve os
céus e a terra para o comover, e êle é insensível a
ludo 1 . . . Será ainda uma felicidade para êle, se não
exalar um cheiro· de corrução, e se o conl�gio de
seus escândalos não espalhar a morte ein lôrno de
si. - finalmente, assim como êsle corpo, separado
da alma, será brevemente lançado num sepulcro, para

(1) S. Greg. IV Moral. e. Vll.-(11) Jac.-1, 15.


(ª ) S. Aug. de verb. Dom. Serm. V.
(4) S. Aug. de verb. 11posl. Serm. XXVIII.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MORTE DA ALMA 603
ali ser despôjo dos vermes; assim também a alma,
em pecado, será sepultada no inferno (1), para ali ser
atormentada pelo verme do remorso (2 ), se não voltar
à lida da graça.
E é neste estado, ó bom padre, que se acham al­
guns,· e talvez, por desgraça, um grande número dos
vossos filhos espirituais!. iÜuão doloroso é êste
pensamento I Ouando Deus castigou com a última
praga a dureza de faraó, ferindo de morte, em uma só
noite, todos os primogénitos do Egipto, ouviu-se um
grande alarido de uma a outra extremidade do reino:
Orfus esf clamor magnus in Aegypfo (3). O escritor
sagrado dá a razão disto ; é porque não havia casa
onde não houvesse algum morto : Nec enim era!
domus in qua non jaceref morfuus . . (4) Na vossa
parróquia, ó pastor, é. vê Deus muitas casas, onde
não haja algum modo? é. Não vê talvez muitas, em
que só há mortos? Contudo, é. onde estão os ge­
midos? é. onde •a aflição? é. onde as lágrimas? Nin,
guém pensa; pensai ao menos vós, que sois pai de
tantas almas infelizes. Dizei com Jeremias : Plorabo
die ac nocle inlerfecfos G/iae popu/i mei ( 5 ). Mas,
chorando a sua morte, não desprezeis meio algum de
chamá-las à vida.

II. A alma ressuscitada pela graça sanfificanfe.


- O Evangelho só nos fala de três ressurreiçies vi­
síveis, operadas por Jesus Cristo; as que êle operou
invisivelmente, contam-se aos milhares, diz Santo
Agostinho ( 6 ). i E quão diversamente interessam o
seu divino Coração I Tudo o que a morte do pecado
linha tirado a uma alma, formosura, merecimentos,

(1) Sepullus esf in inferno. Luc. XVI, 22. - ( 2 ) M11rc. IX,


47. - (3) Exod. XII, 29, 30. - 1 ) Ibidem.
4
ü, 45,
(5 j Jei:-em. IX, t. - (6) De verb. Dom. Serm, XLIV.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
604, MEDITAÇÕES SAC�;RDOTAIS

dignidade, direitos adquiridos, ludo lhe é restituído


com a graça santificante, quando tem a felicidade de
a recobrar. E' um rei c,alivo que reassume o seu
trôno. Se a ressurreição da filha de Jairo, do fiLJ,o
da viúva de Naim, e de Lázaro, causou grande júbilo
às suas famílias, 1 que júbilo não causa ao céu a con­
versão de um só pecador! (1) Mas, é. como a con­
seguirá o padre? Imitando ésse príncipe da sinago­
ga, cuja dõr e consolação nos lembra hoje a Igreja.
Ele vê a sua filha agonizante, recorre com fervor ao
Senhor da vida. Chegando-se ao Salvador, adora-o,
e diz-lhe: • Senhor, a minha filha acaba de expirar
agora: mas vinde, ponde a vossa mão sôbre ela, e
viverá• . Segundo S. Marcos, o pedido foi feito com
instância: Et deprncabafur eum mui/um.. ( 2 ). Nas
obras de Deus, não nos ajudemos senão de Deus;
mas seja a nossa confiança sem limites, como é sem
limites o seu poder e bondade. Cheguemo-nos a
Jesus, e digamos-lhe : • Senhor, estão mortos os fi­
lhos que me tínheis dado; o pecado separou-os de
vós, princípio da verdadeira vida; mas vinde com o
vosso ministro, falai-lhes por sua bôca, assoprai sô­
bre éles, e reviverão•: lnsuflla super inlerfecfos is/os,
el reviviscanl (3 ).
Véde com que bondade o Filho de Deus atende
à súplica de Jairo : Et surgens Jesus sequebafur
eum. � No caminho, fortifica-lhe a fé, sarando a He­
morroíssa, que lhe locou o vestido. Entra na casa,
e ainda que a multidão. de gente que lá se encontra,
o escarneça, e/ deridebeml _eum, nã'o deixa de fazer o
milagre. Se em atenção às lágrimas de um pai, Je­
sus restitui à vida um corpo que há de morrer de novo,
é. quanto mais não deseja êle ressuscitar as almas,

(') Luc. XV, 7, 10. - (2) Marc. V, 2.3.


(3) Ezech. XXXVII, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A MORTE DA ALMA 605

que hão de viver eternamente? Ide pois ao altar


despertar a vossa fé, reanimar o vosso zélo: e
quando tiverdes ante os olhos, nas mãos, no vosso
próprio peito, a vílima imolada pela redenção dos
pecadores, rogai por lodos os mortos espirituais,
cuja ressurreição a Igreja pede, e principalmente por
aqueles cuja salvação vos é confiada. Lembrai-vos
de que Deus regula a sua misericórdia pela espe­
rança com que a pedimos: riaf misericordia tua,
Domine, super nos, quemadmodum speravimus in fe.

Resumo da Meditação

1. Morte da alma pelo pecado. - Deus é a


vida da alma, assim como a alma é a vida do corpo.
Analogia entre um cadáver e uma alma em pecado
mortal: ambos perderam ludo ! formosura, mereci­
mentos• dignidade, direitos adquiridos. . . Ambos são
destinados ao sepulcro, ao verme roedor E é
neste estado que se, acha talvez um grande número
de almas, cuja salvação o Senhor me confiou 1 ...
Se ninguém nisto pensa, é. posso eu, pai dessas almas,
não o sentir muito?

H. A alma ressuscitada pela graça santificante.


- Tudo o que a morte do pecado linha tirado a essa.
alma, formosura, merecimentos, direitos, ludo lhe é
restituído com a graça santificante. O júbilo que
produz em uma família a ressurreição de um dos
membros, comunica-o ao céu a conversão de um pe­
cador. Mas, é. como ,pode um padre consegui-la?
Imitando Jairo: recorrendo a Nosso Senhor, orando
com inslãncia. Se em atenção às lágrimas de um
pai, Jesus restitui à vida um corpo que ·há de mor­
rer de novo, é. quanto mais não deseja ressuscitar as
almas que hão de viver eternamente?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
606 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

CXIV MEDITAÇÃO
24. º Domingo depois do Petencostes.
- Juízo final. (T. 1, pág. 401)

CXV MEDITAÇÃO
25.º Domingo depois do Pentecostes.
- Dedicação das igrejas,
- Respeito que lhes é devido.

O patriarca Jacob, depois de um sonho miste­


rioso, que lhe manifestara a presença do Senhor, ex­
clamou cheio de um santo temor: Quão terrível é
êsfe lugar/ Isto não é outra coisa senão a casa de
Deus, e a poria do céu (1). Estas duas honrosas
denominações que conveem perfeitamente às nossas
igrejas, recordam-nos duas obrigações, comuns ao
cristão e ao· padre: Respeitar o lugar santo e
amá-lo.

1. Respeifemos o lugar santo; é 11· c11s11 de Deus: Domus Dei.


li. Amemos o lugar s11nlo: é II poria do céu: Porta coe/i.

I. As nossas igrejas são as casas de Deus,


respeifemoNlas. - Ouando Salomão, rodeado de
todo o povo de Israel, fêz a dedicação do templo
que êle edificara, a pompa das cerimónias. e a majes-

(1) Gen. XXVIII, 11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RKSPEITO As IGREJAS 607

fade do Senhor, que se !ornou visível, encheram os


filhos de Israel de um senlimenlo religioso tão pro­
iundo, que se prostraram com o rosto em !erra, e ex­
clamaram: i E' possível que habite Deus com os ho­
mens sôbre a ferra? (1) A mesma impressão senti­
ríamos nós lôdas as vezes que entramos numa igreja,
se estivéssemos peneirados destas palavras-: · E' · li
casa de Deus. Sim,. a sua. casa I foi-lhe consagrada,
!ornou-a para sua habitação, e nela dá a conhecer a
sua presença. Oh I quão majestosa é aos olhos da
fé católica a mais pequena Igreja!
Só a religião inspirou o p.ensamenlo de construir
êsle edifício; s.ó ela juntou os. materiais, assentou os
alicerces, levantou as paredes. Eslava jã concluído,
adornado, antes de ser a casa ·de Deus. Só veio a
sê-lo, quando a Igreja, com as suas orações, lustra­
ções e unções o separou dos edifícios profanos, e o
consagrou ao culto divino. Então foi ali oferecido o
sacrifício do Cordeiro imaculado; o Salvador tomou
dêle posse, não para lã habitar por pouco tempo,
mas para sempre. Desde êsse momento pode-se di­
zer, mostrando-o: Ecce• tabernaculum Dei cum homi­
nibus, el habifabif in eis (2) ; e a promessa de Jesus
Crisfo: Ecce ego tçbiscum sum usque ad consumma­
fionem saeculi (3), cumpriu-s� mais uma vez pela pre­
sença da sagrada Eucaristia.
Assim como um monarca tem nos seus estados
palã�ios onde recebe homenagens, dá audiências, e
mais imedia lamente exerce a sua autoridade suprema;
assim também Deus, que está presente em lôda a
parle por sua essência, seu poder e sua providência,
quis ler templos onde residisse, para receber nêles o
culto que lhe é devido, e realizar os desígnios da sua

(1) II Parai. VI, 18. - (2) Apoc.' XXI, 3.


(ª) Maflh. XXVIII, 20.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-008 MEDITAÇÕES SACF:RDOTAIS

misericórdia. Com efeito, l não é principalmente' nas


nossas igrejas, que o Salvador continua a sua obra
de redenção? l Cessa êle de ali manifestar a sua
presença dando vista aos cegos, curando os enfer­
mos, ressuscitando os mortos? A cada um dos
nossos templos se aplica, num sentido mais elevado
que ao de Salomão, êste oráculo do Senhor: • Eu
escolhi e santifiquei êste lugar para nêle ser honrado.
Os meus olhos se ·abrirão, e os meus ouvidos aten­
derão à oração daquele que orar neste lugar• (1).
Mas, l que concluir daqui, senão que nenhum lugar
no universo merece tanta veneração? Devemos por
certo muito mais respeito ao santuário católico do
que ao antigo tabernáculo. l Pode o maná ser com­
parado ao mais augusto dos sacramentos? lnfroiho
in domum fuam, Domine: adoraho ad femplum san­
cfum fuum in fimore fuo (2). l E' o que faço sempre,
ó meu Deus? Se não tenho de me penitenciar de
irreverências exteriores na vossa casa para com a
vossa divina majestade, l quão grande não tem sido
muitas vezes a minha distracção ? O meu corpo e os
meus lábios honram-vos a seu modo; mas o meu
coração i quão longe está muitas vezes de vós !
Oxalá a vossa adorável presença me cative tanto
doràvante, que eu só pense em vós, e na vossa santa
morada I Ouando nela entrar, direi com S. Ber­
nardo : • Ficai da parle de fora, pensamentos terre­
nos; não tendes aqui lugar•. O templo, diz S. _ Nilo,
é lugar celestial ; quando nêle estivermos, não diga­
mos nem façamos nada que cheire a ressaibos da.
terra (3).

( 1) li Parai. VII, 15, 16. - ( 2 ) Ps. V, 8.


3
() Ecclesi11e coelum 11di; nihil in eo loquere aul age quod
!erram s�pial.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
.RESPEITO ÁS IGREJAS 609

II. As nossas igrejas são a poria do céu;


amemo-las. - Alcança-se o céu pela graça, e lôdas
as fontes da graça nos são fr1mqueadas no lügar
santo. Nestas fontes baplismais fõmos revestidos
dessa primeira inocência, que nos tornou filhos de
Deus, irmãos e coherdeiros de Jesus Cristo. Nestes
tribunais de misericórdia, os nos::sos pecados são-nos
perdoados, e recobramos os nossos direitos ao reino
eterno. Neste tabernáculo habita o sanlilkador das
nossas almas, sempre disposto a prodigalizar-nos os
seus benefícios. A esta sagrada mêsa é-nos servido
o pão dos anjos, princípio e penhor da nossa bem­
aventurança. Este altar é um novo calvário, onde a
grande vítima renova lodos os dias o mistério da
nossa redenção. E' dêste púlpito que Deus nos ins­
trui e nos exorta ; porque ouvir o seu ministro é ou­
vi-lo .a êle.
A igreja é, pois, para lodo o cristão, o vestíbulo
do céu. Se os. seus inimigos o perseguem, é ali que
êle se refugia; é neste arsenal que êle toma as
armas de que precisa para se defender. Por mais
benefícios que deseje obter, a casa de Deus é a casa
da oração, e da oração mais fàcilmenle atendida.
Oh'! que atraclivos tem a igreja para o homem de
fé! Alegra-se quando lhe dizem: •Vamos à casa do
Senhor» (1).
O' Senhor Deus dos exércitos, l quem não amará
os vossos' tabernáculos? Concupiscil ef deficit anima
mea in a/ria Domini . . passer invenif sibi domum,
ef furlur nidum sibi. . . a/faria tua, Domine virlulum,
rex meus ef Deus meus! Para respeitar sempre o lu­
gar santo e amá-lo, bastar-me-á daqui em deante di­
zer a mim mesmo : Non esl hic aliud nisi domus Do­
mini ef poria coeli.

(l) L11ef11lus sum in his qu11e dicf11 sunl mihi: in domum Do­
mini ibimus. Ps. CXXI, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6W MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Resumo da Meditação

1. As nossas igrejas são a casa de Deus;


respeitemo-las. - Sim, são a sufl casa; visto que lhe
foram consagradas, visto que nelas habita, e não
cessa de assinalar a sua presença. - Construído
para Deus, êste edifício foi separado dos edifícios
profanos, e dedicado ao culto do Senhor. Depois
de diversas cerimónias e orações, que lhe imprimi­
ram um carácter religioso, foi nêle oferecido o divino
sacrifício : Jesus tomou dêle posse. Desde então
pode-se dizer: Ecce labernaculum Dei cum homini­
bus, e/ habilabil in eis. A presença real do Filhb de
Deus na Eucaristia é o cumprimento literal da pro­
messa : Ecce vobiscum sum omnibus diebus . .. - Je­
sus Cristo está connosco nos nossos santuários, e­
não está ocioso: continua ali a sua obra de reden­
ção, alumiando, curando, aplicando às almas os me­
recimentos de seu sangue. Diz' de éada uma das
nossas igrejas: Elegi ef sancfificavi locum is/um, uf
sif nomen meum ibi . .. , oculi mei erunl aperli el au­
res erecfae, e/ cor meum ibi. Tiremos daqui esti.
conseqüência: nenhum lugar no universo merece {anti.
veneração. . Ouando nêle entrar, direi com S. Ber­
nardo : • Ficai da parle de fora, pensamentos terre­
nos, não tendes aqui lug.:ir • .

li. As nossas igrejas são a poria do céu ;


amemo-las. - Entra-se no céu com o auxílio do­
graça; ora lôdas as fontes da graça nos são fran­
queadas nos nossos templos pela pregação, pelo sa­
crifício da missa e pelos sacramentos. O lugar santo
é verdadeiramente o \'eslíbulo do céu, o nosso refú­
gio, o nosso arsenal; em nenhuma parle a nosso­
oração é tão fàcilmenle atendida. . . Oh I que alrac­
livos a igreja tem para o homem de fé ! Laelafus

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ZÊLO DA CASA DE DEUS 6H

sum in his quae dic/11 sunf mihi. . . Deus dos exérci­


tos, quem não amará os vossos tabernáculos : Üullffl
dilecfa tabernacula tua, Domine virlulum !

CXVI MEDITAÇÃO
O mesmo assunto. - O zêlo da casa de Deus
devora ao bom padre: Zelus domus fuae
comedi! me (1)

1. Os motivos dêsle zêlo.


ll. As suBs quBlidBdes.

I. Motivos que devem inflamar o nosso zêlo


da honra das igrejas. -Se remontarmos à solene
propiulgação da lei divina no Sinai, entre os manda­
mentos, acharemos êsle : Pavele ad sancfuarium meum;
ego Dominas (2). i Oue majestade nestas palavras 1
Nós sabemos a que minúcias o Senhor se dignou
descer, que precauções se dignou tomar para rodear
o antigo tabernáculo da veneração que lhe era de­
vida, e para evilar qualquer irreverência; com que
rigor puniu as menores transgressões da sua lei a
êste respeito. Sem dúvida alguma, o tabernáculo era
santo; mas, e. era-o tan_to como as nossas igrejas?
Sabemos também que indignação, durante a sua vida
mortal, manifestou o Salvador contra os profanado­
res do templo de Jerusalém. Deus era a própria
mansidão, e contudo viram-no munir-se de um azor­
rague, expulsar do santo lugar os que nêle vendiam

(1) JoBn. li, 17. -(2) Levif. XXVI, :.!.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6U MEDITAÇÕES SACEIIDOTAIS

o que era necessário para os sacrifícios, artojar por


l�ra o dinheiro dos cambistas e derribar as mesas
dizendo: • Não façais da e.asa de meu Pai casa de
negociação> {1). Coisa notável I Aquele que os pro­
fetas tinham predito que não apagaria a candeia
ainda fumegando, deu duas vezes êste exemplo de
uma santa cólera: uma no comêço, outra no fim da
sua vida pública; e a Igreja manda-nos lêr êste rasgo
tão admirável três vezes cada ano, no evangelho da
2
mi::isa ( ). e. Não há nisto uma lição para o sacer­
dote?
Além disso, a Igreja dá-nos muitas outras provas
do desejo que tem de vêr o lugar santo respeitado e
honrado. lnstituíu a ordem de osliário, para ali con­
servar a limpeza e o asseio. Se nos seus concílios
ela tem louvado os que, como Nepociano, se distin­
guiram pelo seu zêlo em ho.nrar a casá de Deus :
Era/ sollicilus si nileref ai/are, si parieles absque fu­
/igine, si pavimenta fersa, si sacrarium mundum, si
vasa luculenfa . . . te111 severamente repreendidp a
êsses padres faltos de piedade, em cujas casas se
estadeia o luxo, mas que não sabem achar tempo
nem recursos para conservar a sua igreja num estado
decente (3 ).
Para excitar em mim êste ardente zêlo, devo pen­
sar nos dois sublimes ministérios, que me impôs o
sacerdócio: glorificar a Deus e salvar os meus irmãos.
--,- Como o Senhor me conslituíu administrador da
sua casa, e me encarregou dos interêsses da sua glória,
hei de empregar todos os meus esforços para que êle
seja respeitado no seu santuário, e para evitar tôda

-(1) Joan. II, 15, 16.


(2) :;,•.feira depois do 1. 0 domingo de Ouaresma."""".2.•-feira
depois do 4. 0 domingo da Quaresma. - 9. 0 domingo depois do
Penfecosfes.
( 3). Agg. 1, 4.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ZÊLO DA CASA DE DEUS 6f3

a irreverência. - Por outro lado, se desejo a salva­


ção dos meus irmãos, devo atrai-los à igreja, fazer­
-lhes amar a igreja, onde podem recorrer a lôdas as
fontes da salvação. Virão à igreja, amá-la-ão, se
estiver limpa e asseada, se tudo ali corresponder,
quanto as circunstâncias o permitirem, à majestade
de Deus que a habita. E' .muitas vezes por aí que
principia e se efeilua a reforma de uma parróquia.
Sucede porém o contrário, quando um párroco é des­
provido dêste santo zêlo.

li. As qualidades do zêlo sacerdotal em honrar


as igrejas. - Do mesmo modo que o zêlo em geral,
é aclivo sem deixar de ser prudente; é intrépido e
constante.
Não há fogo sem calor. O sacerdote, em qual­
quer parle que está, faz sentir a sua presença: • Os
vossos ministros, Senhor, são fogo abrasador• ( 1 ).
Não é sõmenle na limpeza e asseio da igreja, que o
padre zeloso mostra que ama a formosura da casa
de Deus: Di!exi decorem domus luae (2) ; mas em­
prega lodos os meios para fazer respeitar nela aquele
Senhor que os anjos louvam, as dominações adoram,
e ·deante de quem tôdas as potestades !remem. Não
descansa sem que haja expulsado dela os abusos e
as irreverências. Ouanlo mais grave é o escândalo,
tanto mais o seu zêlo se anima; os obstáculos não
servem senão para o inflamar. Se não é bem suce­
dido, chora, geme. A exemplo do profeta, mirra-se
de dôr. Tabescere me feci/ zelus meus. - Ouae
forte ibi perversa viderif, sefagif emendare, cupil cor­
rigere, non quiescif. Si emendare non pofesf, tolerai,
gemi/ ( 1 ). S. João Crisóstomo, insurgindo-se contra
as imodéslias na casa de Deus, temia ser ferido de

(1) Hebr. I, 7. - (2) Ps. XXV, 8.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6U MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

um raio, se não as impedisse por todos os meios ao


seu alcance.
Mas não esqueçamos, que é principalmente neste
ponto que devemos pregar com o exemplo; porque o
povo crê mais o que vê, que não o que ouve. O que
as palavras não aclaram, aclara-o o exemplo. Nunca
apareçamos n'o santuário senão com um religioso
temor. Dara o inspirar a si mesmo, S. Tomás, che­
gando à presença da sagrada Eucaristia, começava
por dizer a Nosso Senhor: Judex crederis esse ven­
furus. é. Ouem não sabe que o espedáculo de um
bom padre, prostrado deante do tabernáculo e en­
tregue a uma profunda contemplação, tem sido o
meio empregado mais de uma vez pela Providência
para convencer incrédulos e converter grandes pe.ca­
dores? Ah ! quão belo é não ter necessidade senão
de ser visto para ser útil : Ouam pulchrum esf ui vi­
dearis ef prosis ! (2)
Senhor, eu quero meditar e, com o auxílio da
vossa graça, praticar fielmente o que vos dignais di­
zer-me pela pena de um sacerdote segundo o vosso
coração: Pave ad sancfuarium meum, fifi; videaf te
populus meus pavenfem, ef paveaf ipse. . . Locus
isfe lerribilis: time ergo quando ingrederis, ef fremdre
concufianfur ossa lua . . . Dum celebras, dum divina
officia peragis, dum sacramenta ministras, videaf ef
mirelur pop,J/us reverenfiam ef decenfiam fuarn in
cu/tu meo: ef sic ad pieflllem excifefur. Nil in silu,
in molu, in incessu, in voce t1ppt1ret1f nisi modesfia,
gravilafe, humililafe, dignifafe, ef religione plenum . ..
O si populus videref faciem fuam, lanquam faciem
Angeli, sicuf olim in Sfephano visa esf ! qualifer mys­
feria mea venérarefur ef coleref ! (3 )

(1) S. Aug. - (� S. Ambr.


(3) Memoriole viloe socerdol.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ZÊLO DA CASA DE DEUS 615

Resumo da Meditação

I. Motivos do zêlo sacerdotal em honrar as


igrejas. - Pavefe ad sancfuarium meum, ego Domi­
nus. Oue majestade nestas palavras do Senhor, pro­
mulgando a sua lei no Sinai ! Nós sabemos tôdas as
precauções que êle tomou para assegurar ao antigo
tabernáculo o respeilo devido. Se êste tabernáculo
era santo, e. era�o tanto como as nossas igrejas?
Nós sabemos também como o Salvador, que era a
mesma mansidão, expulsou do templo os que o pro­
fanavam. - A Igreja, dirigida sempre pelo Espírito
5anlo, nada tem desprezado para fazer respeitar a
casa de Deus. Para nela conservar a limpeza e de­
cência, instituiu a ordem de ostiãrio. Nos concílios
-tem louvado sôbre êste ponto o zêlo dos sacerdotes
fervorosos e repreendido severamenle a negligência
<los líbios. - Além disto, e. qual é o fim do sacerdó­
cio? Glorificar a Deus, salvar os homens. O Senhor
constituíu-me administrador da sua casa, e confiou-me
os inlerêsses da sua glória; por conseguinte devo
fazê-lo respeitar na sua morada, honrá-lo e fazer que
se lhe tributem as honras que lhe são devidas. Na
qualidade de salvador de meus irmãos, devo atraí-los
à igreja, visto que é lã principalmente que encontr�m
as fontes da salvação. Virão à igre� de boa von­
tade, se nela reinarem a ordem e a decência.

II. Qualidades do zêlo sacerdotal em honrar


as igrejas. - Não hã _fogo sem calor. Um padre,
devorado dêste zêlo, não descansa, emquanto não
expulsa do santo lugar a imodéslia e o escândalo.
Se o não consegue, mirra-se de dôr, geme. Temeria,
com S. João Crisóstomo, ser ferido de um raio, se
não fizesse o possível para impedir estas profanações
sacrílegas. Neste ponto principalmente preguemos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
616 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

com o exemplo. Nunca apareçamos no santuário


senão com um santo temor. Estamos na presença
daquele, quem laudanf angeli, adoranf dominafiones,
fremunf potes/ates; entreguemo-nos a uma profunda
contemplação, e inspiraremos os nossos sentimentos
aos fiéis.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
§ 2.º

Próprio dos Santos

CXVII MEDITAÇÃO
16 de Junho. - S. João Francisco de Régis

Na vida dêste homem de Deus, assim como na


de S. Francisco Xavier, que êle tinha tomado por
modêlo, ludo respira a mais ardente caridade. Mos­
trou numa das províncias de França, pela santificação
das almas, o mesmo zêlo que o apóslolo das Indias
pela conversão dos infiéis. O apostolado de um e
outro durou só dez anos, mas nestes poucos anos
i quantas e quantas almas convertidas! A Igreja fêz-nos
o retrato de 5. João francisco de Régis na oração
da sua festa; o mesmo Clemente XI, que o beatificou,
e o invocava com particular confiança, a quis com­
pôr: Deus, qui ad plurimos pro saiu/e animarum
perferendos labores, beafum Joannem Franciscum
mira carifafe ef invicfa pafienfia decorasfi, ele. Des­
tinado a suportar grandes trabalhos pela salvação do
próximo, era-lhe necessário receber do céu uma admi­
rável caridade e uma paciência invencível. Medite­
mos sôbre êsles dois pontos:

1. Sua ardenle caridade.


li. Sua invencível paciência.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6i8 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

I. Ardente caridade de S. João francisco de


Régis. - Toda o homem tem sua paixão : Régis
parece que não leve outra senão amar a Deus e fa.
zê-lo amar. Começou a manifestar êsle amor desde
a infância. Sendo simples estudante, aplicava-se a
inspirar bons costumes aos condiscípulos. Foi lãa
feliz nas suas lenlalivas, que a muitos dêles ganhou
para Jesus Cristo. Nomeado professor, despertava
freqüentes vezes o pensamenlo das coisas eternas, e
aproveitava lôdas as ocasiões para inspirar aos dis­
cípulos o horror ao pecado. Um dia, em que um
dêles havia cometido uma falta mais grave, falou-lhes
dos castigos de Deus com !anta energia, que ficaram
aterrados: alguns confessaram depois que sentiam
ainda a mesma impressão, quando se lembravam do
que então lhes dissera. Foi êste como que o prelú­
dio da sua vida apostólica, que depois continuou
duranle as suas missões.
Logo que êsle campo se abriu ao seu zélo, po­
de-se dizer dêle o que se diz do profeta Elias: Sur­
rexif Elias quasi ignis, ef verbum ipsius quasi facula
ardebat (1). Não leve mais do que um desejo, uma
ocupação: glorificar a Deus, santificando as almas.
Nisto empregava todo o tempo, nas cidades e aldeias,
nas igrejas e praças públicas, nas prisões, nos hospi­
tais e nas casas particulares. Pregando, expunha
claramente u1'1a verdade cristã; depois deduzia con­
sequencias morais, e com rasgos patéticos atraía os
ânimos dos ouvintes. Falava com !anta veemência,
que lhe faltava muitas vezes a voz. Expunha com
tanta unção o que dizia, que de ordinário o pregador
e os que o ouviam, desfaziam-se em lágrimas.
Insensível a ludo o mais, ardia em desejos de
defender a causa de Deus e das almas. Uma vez,

(1) Eccli. XLVIII, 1 •


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOÃO FRANCISCO DE REGIS 6{!)

tendo empregado todos os meios para converter um


pecador, e vendo que não o podia conseguir, disse­
-lhe chorando: • Deixai de ofender assim o vosso
Criador, ou traspassai-me o peito com a vossa es­
pada• . l:.le confessou a um dos seus amigos, que a
vida lhe seria insuportável, se não lhe servisse para
socorrer as almas e estender o reino de Jesus Cristo.
Nunca sentiu esfriar a caridade·; o fogo que o
abrasava, foi crescendo sempre até exalar o último
suspiro. Ei-lo caído doente na idade de quarenta e
qualro anos; sabe que está próximo ao seu têrmo;
mas tinha anunciado uma missão em Lalouvesc, e
uma grande multidão de gente para lá se dirige de
fôdas as parles a-fim de ouvir a palavra de Deus.
Régis corre aonde o chama o seu ministério, e onde
a morte o espera. Chega exausto de fôrças, sem
descansar um só instante, começa os seus penosos
exercícios. A doença faz progressos, e êle redobra
de ardor nos trabalhos. finalmente a natureza su­
cumbe; levam-no, mau grado seu, para um casebre,
onde, numa pobre cama, conclui confissões começa­
das, ouve outras, e morre no exercício adual do seu
zêlo. Por isso não nos admiraremos, se no momento
em que dava a alma a Deus, voltando-se para aquele
que lhe assistia, lhe dizia: •Ah! meu caro irmão,
quão contente morro• 1
e'. E' com esta tranqüilidade, esta a'legria, que ve­
�ão chegar a morte .tantos eclesiásticos que passam a
vida sem desordem aos olhos dos homens, mas sem
verdadeira utilidade aos olhos de Deus? Êles não
escanda1izam; mas, e'. fazem o bem que deveriam fa­
zer? A messe exige obreiros infatigáveis; e'. e é
grande o seu número? Meditemos na queixa de
S. Gregório, e temamos ser objedo dela: Ad mes­
sem multam operarii pauci sunf, quod sine gravi moe­
rore loqui non possumus. . . Ecce mundus sacerdofi­
bus plerius esl, sed ftJmen in messe Dei rarus valde

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
620 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

reperilur operafor: quill ofGcium quidem sacerdofllle


suscepimus, sed opus officii non implemus . . . Relin­
quunf Deum hi qui nobis commissi sunf, ef fllcemus;
in pravis acfibus jacenf, ef correpfionis manum non
fendimus; quotidie per mulftJs nequifias pereunf, e/
eos ad infernum fendere negligenfer videmus ( 1).

II. Paciência invencível de 5. francisco Régis.


- S. Paulo ensina-nos que a paciência é o primeiro
fruto da caridade: Charifas paliens esl (2); e o
apóstolo Santiago diz que ela é a perfeição de tõdas
as virtudes: Palienfill opus perfeclum habef (3 ).
E.' certo que ela é a fonte dos nossos merecimentos,
e que tira todo o valor, não das palavras que pare­
cem manifestá-la, mas das obras que a mostram com
os sacrifícios mais ou menos penosos, que supõem :
Non diligamus verbo neque lingua, sed opere e/ veri­
fllle ( 4). Nenhuma outra virtude é tão necessária ao
pastor de almas, em razão dos numeroso.s cuidados,
dos trabalhos incessantes ligados ao seu ministério,
e da� contradições que se opõem quási sempre aos
seus projee!los. O bom padre combate tôdas as pai­
xões, e tõdas as paixões o combatem a êle. Coope­
rando com Jesus Cristo para a magnífica obra da
Redenção, deve ser como êle, um homem de dõres,
e como êle um homem paciente. Tal foi o apóstolo
do Vivarais e do Velay.
Tinha Francisco de Régis pedido a missão do
Canadá, esperando derramar ali o sangue por Jesus
Cristo. Não foi atendido; mas pode-se dizer que o
seu ministério no Languedoc foi um martírio contí­
nuo. Durante os mais rigorosos invernos, em regiões
medonhas, transpõe torrentes impetuosas, arrasta-se

1
(1) ln Eveng. lib. 1, hom. XVII. - (2) I Cor. VIII, 4.
(3) Jec. 1, 4. - (4) 1 Joan. Ili, 18.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. JOÃO FRANCISCO DE RÉGIS 621

à borda dos precipícios. Algumas vezes, parando


no meio dos bosques, para contentar a multidão de
gente ávida de o ouvir, trepava a um rochedo, ou
a um monte· de gêlo, e distribuía ao povo o pão pa
divina palavra. Não deixava de pregar senão para
confessar, muitas vezes até alia noite.
Mas a sua paciência foi ainda mais admirável
nos insultos e maus tratos que sofreu, sem que se
queixasse nem mostrasse a menor tristeza. Um dia,
em que o lastimavam por ler recebido uma bofetada
no meio de uma praça pública, respondeu: e• E'
muito suportar uma bofetada por amor de Jesus
Crisl�? Parece-me que não se pode ser discípulo
dêsle bom Mestre sem gostar de sofrer por causa
dêle alguma afronta• . Ouerem desacreditá-lo com
as mais odiosas calúnias ; não consentiu nunca em
justificar-se, ainda que lhe fõsse fácil; e quando os
seus amigos queriam ,defendê-lo, pedia-lhes que se
calassem, para não lhe tirarem lão bela ocasião de
participar das ignomínias do S�lvador, Foi atacado
mais de uma vez por homens devassos que, não con­
tentes com escarnecê-lo, o espancaram, o calcaram
aos pés e o deixaram por morto; e o San lo orava
por êles. Numa destas ocasiões exclamou: j • Ouanlo
me gozo de sofrer um pouco por almas cuja salva­
ção custou tantos sofrimentos ao Filho de Deus• !
Por�m nada o penalizou tanto como ser contra­
riado e estorvado nos seus trabalhos apostólicos,
por a·q'-!eles mesmos que êle esperava que o animas­
sem e protegessem. Um dos seus superiores enten­
º
deu que devia pro ibir-lhe algumas obras, e a respeito
doutras, restringir-lhe o zêlo. Régis sujeitou-se, em­
quanto durou a prova, a uma espécie de inacção,
mil vezes mais penosa do que o tinham sido as
maiores fadigas do apostolado. Sucedeu o mesmo,
quando um piedoso prelado, lendo-o· chamado à sua
diocese, e lendo-se primeiramente alegrado, dos bons

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

resultados do seu ministério, acabou por entrar, sem


o saber, nos desígnios dos inimigos do nosso Santo.
Manda-o ir à sua presença, acusa-o de supostas in­
discrições, e dispõe-se a despedi-lo verg(?nhosamenle.
O humilde padre põe-se de joelhos, não diz uma só
palavra para refutar a calúnia, e atribui aos seus pe­
cados a desgraça de se vêr removido de uma missão,
pela qual desejaria dar a última gôla do seu sangue.
Só então o bispo, abrindo os olhos, conheceu o laço
armado' à sua devoção, e admirou mais qu.e nunca
uma paciência lão heróica.
O' Jesus, lembrando-se dos vossos sofrimentos e
amando-vos, linha tanta fortaleza e paciênciê! êsle
Santo, cujas virtudes eu quisera imitar; atraí-me, in­
clinai-me à meditação do mistério da vossa Cruz; eu
vos amarei, e acharei delícias em dar-vos a mais se­
gura prova disto, padecendo por vós. Ulrumque es
nobis, Domine Jesu, e/ speculum paliendi ef prae­
mium pafienfis; ulrumque for/iler provocai ac vehe­
menfer accendii (1).

Resumo da Meditação

1. Ardente caridade de 5. francisco de Régis.


- Todo o homem tem a sua paixão; Régis pareceu
não ler outra senão a de amar a Deus e de o fazer
amar. Jovem, discípulo, professor, é já apóstolo.
Uma vez entrado nas missões, entrega-se inteiramente
ao zêlo da glória de Deus e da salvação das al­
mas; nas cidades e aldeias, nas igrejas e praças
públicas, nas prisões e nos hospitais busca almas.
Não vê senão a Deus e às almas. Cai doente,
acaba numa pobre cama confissões que havia come­
çado; ouve outras, e morre no exercício do zêlo.
"
(1) 5. Bern. Serm. XLVII. in Canl.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, LUIS DE GOSZAGA

II. Paciência invencível de S. João francisco


de Régis. - Todo o cristão, e com maior razão todo
o padre, representante de Jesus Cristo, deve ser
como êle um homem de dõres, e como êle um ho­
mem cheio de paciência; tal foi Régis. O seu mi­
nistério nas missões foi um martírio contínuo. A sua
paciência foi ainda mais admirável nos maus tratos
que sofreu. • Parece-me, dizia êle, que se não pode
ser discípulo de Jesus Cristo sem gostar de sofrer
afrontas. por amor dêle •. O' Jesus, da lembrança
dos vossos sofrimentos e do seu amor para convõsco
tirava S. João Francisco de Régis a sua paciência e
fortaleza; inclinai-me à meditação da. vossa Cruz, e
abrasai-me no vosso amor.

IS!

CXVIII MEDITAÇÃO
21 de Junho. - S. Luís de Gonzaga

1. Sua inocência.
II. Sua penilência.

E' um êrro pensar que estas duas virtudes se ex­


cluem mutuamente, e que a segunda não pode caber
ao lado da primeira. A Igreja admira-as no mesmo
grau em Luís de Gonzaga, e da união delas forma
o carácter especial da sua santidade (1). São ambas
indispensáveis aos padres e aos pastores de almas.
Continuadores de Jesus Cristo, com êle medianeiros

(1) Oral. diei.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6 � -4 M E D ITAÇÕES SACERnOTAIS
_ _ ______ _ _ _

e penitentes públicos, sômos encarregados de aplac�r


a Deus, de desarmar a sua justiça; é. como nos será
isto possível, se não fôrmos seus amigos? Si non
places, non placas (1); e é a pureza que nos dá êsle
glorioso privilégio : Oui diligif cordis mundifiam, ha­
bebil amicum regem (2). Sem ler sido elevado ao
sacerdócio, êsle jovem tão santo tem direito a ser-nos
proposto por modêlo.

1. Inocência de Luís de Gonzaga. - Como foi


perfeita. Como foi recompensada.
1. 0 A Igreja qualificou êsle amável Santo de
jovem angélico. Com efeito, é. há algum outro que,
pela pureza do corpo e alma, se aproximasse mais
da natureza dos anjos? Logo que chegou à idade da
razão, graças aos cuidados de uma piedosa mãe,
aplicou a si êstes oráculos da Sagrada Escritura :
• Foge dos pecados, como da vis/a de uma serpente.
- Aplica-te com lodo o cuidado possível à guarda
do leu coração, porque dê/e é que procede a vida.
- Abstém-te de tudo o que tem aparência de mal• .
Por isso manifestou desde a mais tenra idade horror
ao pecado e a tudo o que pode dar ocasião ao pe­
cado. 1 Oue consternação lhe não causou o pensa­
mento de que:: havia ofendido a Deus, tirando uma
pequena quantidade de pólvora aos soldados de seu
pai, e repelindo, quando tinha quatro anos, algumas
palavras indecentes, que lhes ouvira proferir e que
não compreendia I Passados três anos, com tanta
dôr fez a confissão geral, que caiu desmaiado. Qui­
seram consolá-lo, e êle exclamou: • Ah I Deus é tão
bom, e eu ofendi-o tão indignamente• 1 Considera­
va-se como o maior pecador. Chorava amargamente
o que chamava os seus grandes pecados, e que

(1) S. Bern. - (2) Prov, XXII, 11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8, urís DE GONZAGA 625
5. Carlos Borromeu tachava apenas de leves imper­
feições.
Esta vida tão pura teve-a Luís de Gonzaga na
côrte dos príncipes1 onde se encontra tudo o que
pode deslumbrar os olhos, lisonjear os sentidos e
perverter o coração; mas conservou intacta a sua
virtude em meio de todos os vícios. Moisés no de­
serio viu uma çarça rodeada de chamas sem ser
consumida; irei, disse êle, e considerarei esta grande
maravilha: Videbo visionem héJnc méJgnéJm; eis aqui
um especláculo mais admirável: 1 um mancebo cer­
cado de tôdas as paixões, sem que elas lhe causem
abalo I Oh! que bom é ser virtuoso desde a infân­
cia! 1 Oue invejável é a sorte dos que se conservam
no caminho de uma perfeita inocência: Beélfi imméJ­
culati in via 1 (1)
2. 0 • Senhor, l quem habitará nó vosso taberná-
culo? l Ouem descansará no vosso monte sanlo.? O
que caminha na inocência, e faz obras de justiça• (2 ).
Luís de Gonzaga, êmulo dos anjos pela sua grande
pureza, igualava-os quási em felicidade neste mundo.
Sempre entregue a uma contemplação seráfica, tinha
as mais dôces conversações com o Espôso das vir­
gens. Na idade, em que os outros meninos mal po­
dem balbuciar algumas orações, êle sabia-as e reci­
tava-as com a maior devoção. Tendo-se o S('U di­
reclor admirado um dia de que passasse neste· santo
exercício uma hora sem distracção, disse-lhe o Santo:
• O que me admira ainda mais, é que estando a orar,
se possa deixar de pen�ar em Deus• . Daí essa
tranqüilidade de alma, que a Sagtada Escritura com•
para a um banquete contínuo.
Mas é ,no céu que S. Luís de Gonzaga recebe a
recompensa da sua pureza. Ouem nos dera contem-

(1) Ps. CXVIII, 1.- (2) Prov. XV, 15.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6'!6 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

piá-lo no céu I Êste favor foi concedido, por um


·instante, a Sanla Maria Madalena de Dázzis, que ex­
clamou lransporlada de admiração: • Oh ! como é
grande a glória de Luís, filho de Inácio ! Não o
acreditaria, se o meu Senhor Jesus ma não mos­
trasse. Desejaria que me fõsse possível percorrer· o
universo e dizer por tôda a parle, que Luís foi um
gran�e Santo• .

II. Penitência de Luís de Gonzaga.·- Em su6


terna solicitude pela salvação dos seus filhos, a
Igreja conta m·enos com a sua inocência conservada,
do que com a sua inocência recuperada ; por isso,
não ousando propôr à nossa imitação a angélica pu­
reza de Luís de Gonzaga, tanto ela lhe parece o
fruto de uma graça extraordinária, pede com instân­
cia, que ao menos o sigamos no caminho da peni­
tência. Demais disso, a pureza, que conduz à visão
beatífica, conduz necessàriamente a amar a Deus, e
o espírito de sacrifício é inseparável do amor. Amar
a Deus e ler um santo ódio de nós mesmos, são uma
mesma coisa na linguagem evangélica. O' Senhor,
l de que não é capaz um coração que vos é devo­
tado, quando a vossa graça o sustenta e -anima?
Luís de Gonzaga conheceu o uso das penitências
desde os primeiros anos, e continuou-as até nos bra­
ços da morte. A sensualidade é menos engenhosa
em procurar o que pode satisfazê-la, do que Luís o
era em achar meios de se mortificar e de padecer.
Por mais que eu diga que Deus não exige de
mim lôdas as austeridades que admiro nos Santos,
não deixa por isso de ser verdade que lenho peca­
dos. a expiar; que para pertencer a Jesus Cristo,
não só como padre, mas também como simples fiel,
necessito de crucificar a minha carne com as suas
concupiscências; que há uma mortificação do cora­
ção continuamente obrigatória, segundo esta palavra

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. LUÍS DE GONZAGA 527
do concílio de Trento :Tôda a vida do cristão deve
ser Úma perpétua penitência ( t). Além disto, eu sei
que hei de responder por tôdas as almas cuja salva­
ção me tiver sido confiada; que devo instruí-las, cor­
rigi-las,_ rogar e satisfazer por elas. J..uís de Gon­
zaga foi penitente sem ser pecador; e eu sou peca­
dor sem ser penitente: a minha consciência obri­
ga-me a fazer esta confissão; l mas posso eu fqzê-la
sem me envergonhar e tremer?
Amável Santo, severo só para convôsco, vós le­
vastes · a compaixão para com os vossos irmãos até
sacrificar por êles a vida (2). Ah I apiedai-vos de
nós I Se não pudestes ter uma vida apostólica à me­
dida dos vossos desejos, Deus parece que quer in­
demnizar-vos disso, com as graças de misericórdia e
de salvação, que concede aos que vos invocam.
Ajudai-nos a reparar os belos anos que perdemos.
A vossa caridade é sempre a mesma, o vosso poder
é maior no céu que na terra: obtende-nos o amor da
inocência e da penitência, para que nós também te­
nhamos a felicidade de vêr a Deus, e de possuí-lo
convôsco no reino da glória.

Resumo . da Meditação

1. lnocfncia de Luís de Gonzaga. - Como foi


perfeita, como recompensada. - Desde a mais tenra
idade, aplicou a si êstes divinos oráculos: Pilho, foge
dos pecados como da vis/a de uma serpente. Apli­
ca-te com lodo o cuidado possível à guarda do cora­
ção, porque dê/e é que procede a vida. Ahsfém-fe
de ludo o que /em aparência de mal. O horror a
tôda � ofensa de Deus, o afastamento de tudo o que

(1) Tola vila chrislioni perpetua debel esse poenilenlia.


(2 ) Morreu vílima do seu zêlo no serviço dos empestados.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
628 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS
--------
pode dar ocasião a cometê-la, o desapêgo absoluto
de tôda a criatura: tal foi sempre a sua inocência.
Por causo de algumas palavras indecentes que linha
repelido sem as compreei;ider, olhava-se como um
grande pecad_o r, e chorava amargamente o que cha­
mava seus pecados. 1 E linha uma vida tão pura, na
côrte dos príncipes, onde ludo é escôlho para a vir­
tude! ... - Por isso, 1 que dôces foram as suas comu­
nicações com Deus! O privilégio da alma pura é ler
por amigo o Rei dos reis ; é. há amizade mais conso­
ladora? Já tão largamente recompensado na terra,
quem dirá como êste angélico mancebo é recompen­
sado pela sua pureza no céu?

II. Penitência de Luís de Gonzaga. - A per­


feila inocência conduz necessàriamente ao amor de
Deus e ao espírito de sacrifício. Luís de Gonzaga
conheceu o uso das macerações desde os primeiros
anos, e continuou-o até na hora da morle. Nunca a
sensualidade foi mais engenhosa em procurar o que
pode satisfazê-la, do que êle o era em achar meios
de se mortificar e. de padecer. é. Ousarei eu -compa­
rar-ple a êsle modêlo? Luís de Gonzaga foi peni­
tente sem ser pecador; e eu sou pecador sem ser
penitente! ...

181

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NASCIMENTO DE S, JOÃO BAPTISTA 6i9

CXIX MEDITAÇÃO
24 de Junho-Nascimento de S. João Baptista

Um anjo Íêz o mais belo elogio dêste Santo, di­


zendo: Erit magnus coram Domino (1). Não é a
seus próprios olhos, nem sõmente na estimação dos
homens; é deante de Deus, que êle será grande.
Mas, l donde lhe virá tõda a sua grandeza? Unica­
mente das suas 'relações com o Messias, que êle pre­
cederá no espírito e virtude de Elias, e a quem pre­
parará o caminho. João Baptista é predestinado, con­
sagrado para a obra de Jesus Cristo. O seu nasci­
mento e a sua vida, as suas palavras e acções, a sua
glória e as suas virtudes referem-se a Jesus Cristo,,
como ao seu centro, e é principalmente debaixo dêste
ponto de vista, que nos oferece um excelente assunto
de meditação sacerdotal ; recordando-nos o nosso
fim na qualidade de padres, excita-nos com o seu
exemplo a cumpri-lo fielmente.

I. Foi lodo p11r11 Jesus Cristo.


II. Foi lodo de Jesus Cristo.

1. Na pessoa de S. João Baptisfa tudo é para


Jesus Cristo: o ministério que lhe é confiado, e as
graças que recebe.
1.° Fazer conhecer o Filho de Deus incarnado,
e com isto lançar os fundamentos do reino de Cristo
na terra, tal é a vocação de João Baptista. No mo­
mento de seu nascimento, seu pai, cheio do Espírito

(1) Luc. 1, 15.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
630 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Santo profeliza, dizendo: • Bemdilo seja o Senhor


Deus de Israel I Os dias· da sua grande misericórdia
são chegados. Começam com os teus, ditoso me­
nino; para aparecer, o Messias só espera que a tua
voz o anuncie• (1). João Baptista não é a luz que
há de salvar o mundo, alumiando-o; mas nasceu para
a mostrar ao mundo (2). Jesus receberá dêle não a
sua missão, mas a autenticidade da sua missão.
O servo dará testemunho do amo, e lhe dará a posse,
por assim dizer, do seu título de Salvador: Ecce qui
to/lif peccalum mundi (3). é. Hã ministério mais su­
blime? é. Não basta êle para juslificar a palavra do
Anjo : Eril magnus, _e a do mesmo Jesus: Non sur­
rexif major inter na/os mulierum? O' padre, reco­
nhecei a vossa grandeza na de João Baptista. r.le é
o homem de Jesus ·Cristo, encarregado de o mani­
festar ao mundo e de lhe franquear a entrada dos
corações; é. não é esta a vossa honrosa vocação?
é. E' para outro fim que Deus vos destinou desde
o ventre de vossa mãe, e vos chamou pela sua
graça? (4)
2. 0 Para que o precursor possa cumprir o seu
nobre ministério, Jesus concede-lhe graças extraordi­
nárias.,
O seu nascimenlo. é acompanhado de tantos mi­
lagres, que João Baptista não precisará já de os fa.
zer, para estabelecer a verdade do seu testemunho.
Zacarias, detido no santuário por uma aparição ce­
leste, e a feliz notícia que recebe, e o sinal que lhe é

(l) Tu puer, prophela Allissimi vocaberis: praeibis enim anle


fadem Domini parare vias ejus. Luc. 1, 76.
(2) Nçm eral ille lux, sed ui lestimonium perhiberet de lumine.
Joan, 1, 8.
( 3 J Joan. 1, 29.
4
( ) Oui me segregavil ex. ulero malris meae, el vocavil per
gr11ti11m suam. Gal. 1, 15.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NASCIMENTO DE S. JOÃO BAPTISTA 631
dado, e que é o casligo da sua pouca fé, e êste ho­
mem que perde de-repente a fala, e a recobra no
nascimento do menino, para celebrar a glória do
Messias e o destino do _recém-nascido: tôdas estas
maravilhas se divulgaram por tôdas as montanhas da
Judéia, e a impressão que causaram, foi geral e pro­
funda : Et facfus esf limor super omnes vicinos
ebrum: el super omnil1 monlanél Judrere divulgl1hl1n­
lur omnil1 verbél hélec. El posuerunl omnes in corde
suo dicenles: Quis pulas, puer - isfe eril: Elenim
mélnus Dei eréll cum illo (1). João Baplista, apenas
nasce, é conhecido e respeitado, como o enviado de
Deus; fale êle, e os povos o acreditarão.
Não bastava convencer os espíritos; era necessá­
rio mover os corações, arrancá-los das paixões e tra­
zê-los para Jesus Cristo; e para conseguir êste, fim,
o precursor do Messias precisava de uma santidade,
que atraísse as vistas e a admiração. Viram-na em
João Baplista. Êle foge para os desertos desde a
sua mais tenra infância: Erl1f in deserlis, e aí se
conserva até ao dia em que se manifestou: Usque
in diem oslensionis suéle éld lsrnel (2). é Em que se
ocupa durante êste longo reliro? Em conversar com
Deus, e em praticar uma rigorosa penitência. é Tinha
pecados que expiar? Não: êle fôra santificado desde
o ventre de sua mãe, e à medida que crescia em
idade, crescia em perfeição (3). Aplacava a Deus em
favor dos pecadores, aos quais êle havia de anunciar
o Messias.
Portanto em S. João Baptista tudo é para Jesus
Cristo no ministério que lhe foi confiado, e nas gra­
ças que lhe foram co"tlcedidas. A Providência, em
tudo o que fêz por êste Santo, só teve uma coisa em
vista: pô-lo em estado de influir eficazmente nos es-

(1) Luc. I, 15. - (2) ld., 80. - (3) lbid.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACBBDOTAIS

piritas e nos corações, e de nêles fundar o reino. de


Jesus Cristo. Isto mesmo é o que Deus se propôs
chamando-me, dispondo-me para o sacerdócio, e
dando-me tantos meios de santificação. Tôdas as
graças que me foram prodigalizadas, durante a mi­
nha educação eclesiástica, na minha ordenação, e
depois que sou padre, tiveram um único fim: fazer
de mim um digno ministro de Jesus Cristo, um
Santo.' O' meu Deus I não ter eu correspondido aos
vossos desígnios tão fielmente como o vosso precur­
sor! ...

II. Na pessoa de S. João Baplista tudo é de


Jesus Cristo. - Como não recebeu outra missão
senão a de dar testemunho de Jesus ( 1 ), a isto con­
sagrou tôda a sua existência. E' o 'perfeito modêlo
dos homens apostólicos. O seu coração arde em
zêlo, as suas obras são cheias de santidade. lnlimida
com as suas ameaças, persuade com os seus exem­
plos, instrui com as suas palavras, edifica· com a sua
humildade, sustenta a honra do seu ministério com in­
vencível firmeza; e todos êstes rasgos devem achar-se
em mim em certo grau, se possuir o verdadeiro espí­
rito do sacerdócio.
João Baplista prega, sõmente com se apresentar
tio povo. Antes de abrir a bõca, o seu rosto aba­
tido, a sua vida austera tem já dado a conhecer que
sente a necessidade de fazer penitência . . . Depois
de nos dispormos durante trinta anos para exercer o
ministério de precursor, temos direito a dizer: Parafe
viam Domini.
Para exortar efic_azmente à penitência, atemoriza
as almas, bem convencido de que o temor é geral­
mente o freio mais poderoso para conter os homens

(1) Joan. I, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NASCIMENTO DE S, JOÃO BAPTISTA 633
no cumprimento do dever: •Raça de víboras, ser­
pentes ingratas, que o Senhor tem alimentado em seu
seio, e que não cessais de vos levantar contra êle,
pensai em vos preservar da sua vingança. Arvores
estéreis, o machado da morte vai ferir-vos, ides ser
lançadas no fogo, apressai-vos em aplacar a ira de
Deus•.
Se as suas ameaças são terríveis, a sua moral é
cheia de sabedoria e moderação; é proporcionada a
todos os estados. Aos ricos que lhe pregunlam que
hão de fazer para salvar-se: Ouid faciemus? não
diz: Renunciai aos vossos bens, mas sim: Fazei es­
mola, e 1lrai-a do que tendes de mais. O mesmo su­
cede com as instruções que dá aos soldados e aos
publicanos; em ludo é exado, e nunca exagerado.
Obtém os mais felizes resultados dos s·eus traba­
lhos. E' lido por Elias, ou por um dos antigos pró­
feias ressuscitado; é lido pelo próprio Messias.
Longe de se deixar seduzir por esta glória, humi­
lha-se, confunde-se. Oue perturbação sente, quando
ouve a Jesus pedir-lhe que o baplize I Oue aflito não
fica, quando uns discípulos invejosos lhe veem dizer:
Rabbi, qui era/ fecum frans Jordanem ... , ecce 'hic
bapfizaf, el omnes veniunl ad eum I ( 1) <'. E vós não
sabeis, lhes respondeu, que convém que êle cresça, e
eu deminua • ? (2) Oh I quão raro é conservarmo-nos
humildes, quando recebemos uma grande honra 1
A vaidade é um vício muitas. vezes repreendido nos
oradores evangélicos; <'. e não parece que os acusam
disso, quando os louvam?
Mas, <'. lornar-se-á complacente a humildade de
João Baplisla na presença dos grandes? Não; êle
disse a verdade nas margens do Jordão, e di-la-á no

(1) Jo11n. Ili, 26.


t2) Illum oporlef crescere, me 11u(em minui. Jo11n. III, .30.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACl':RDOTAIS

meio da côrle. Faz ouvir ao rei Herodes esla pala­


vra arrojada : Non /icei. Combale o escândalo in­
lrêpidamenle. Melem-no no cárcere; degolam-no 1 ... ;
é. há recompensa mais digna da ambição de um mi­
nis Iro fiel? Na vida e na morle, o precursor de Je­
sus Cristo dá leslemunho dêle. Tudo nêle é de Je­
sus Cristo, assim como ludo é para Jesus Crislo.
O' meu amável Salvador, vós desejais agora,
como enlão, enlrar nas almas, para lhes levar a paz
e a salvação; dai-nos pois santos precursores, que
vos preparem o caminho. Fazei de todos os vossos
ministros, como de João Baptista, alâmpadas acesas,
para que à luz que alumia, junlem sempre a cari­
dade que abrasa. Tanfum lucere vanum, fanlum ar­
dere parum, a�dere el lucere perfecfum ( 1).

Resumo da Meditação

I. Na pessoa de João Baplisfa, tudo é para


Jesus Cristo: o ministério que lhe é confiado, as
0
graças que recebe. - 1. E' chamado a fazer co­
nh�cer �o Salvador, e a lançar os fundamenlos do seu
reino cá na terra. Foi o que lhe profetizou seu pai,
no momenlo de nascer. Este menino não será a luz
do mundo; ma� veio para a anunciar .. . O' padre,
reconhecei a vossa grandeza na de João Baptist11 !
A sua missão é a vossa. - 2. 0 Para cumprir lãa
nobre ministério, precisou de graças extraordinárias:
foram-lhe concedidas. As maravilhas que acompa­
nham o seu nascimento, a eminente sanlidade da sua
vida, dispuseram-no para influir eficazmenle nos espí­
rilos e nos corações. Tôdas as graças por mim rece­
bidas até êste dia, tiveram um só fim: fazer de mim
um Sanlo, e dispôr-me para formar Santos. O' Je-

(1) S. Bern. Serm. in N11!. S. Joan. B.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, PEDRO, CHl!FE DA IGREJA 6::15
sus ! t tenho eu correspondido aos vossos desejos,
tão fielmente como o vosso precursor?

II. Na pessoa de João Baptisfa, tudo é de


Jesus Cristo. - Não veio à. terra senão para êlc,
nada faz senão para êle. Emprega lodo o ascendente
que lhe dão as suas virtudes, e o seu milagroso nas­
cimento, em lhe preparar o caminho, e em dirigir para
êle todos os corações. Alumia com as suas instru­
ções, persuade com os seus exemplos, edifica com a
sua humildade, sustenta a honra do seu ministério
com a sua invencível firmeza! Na vida e na morte,
d!'testemunho de Jesus Cristo: Lucere 11anum, ar­
dere parum, ardere ef lucere perfecfum.

CXX MEDITAÇÃO

29 de Junho. - S. Pedro constituido chefe


da Igreja. - Contemplação

1. Contemplar as pessoas;
li. Ouvir as palavras;
Ili. Considerar as acções.

PRIMEIRO PUELÚOIO! • Depois de comerem, pre­


guntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João,
é. amas-me mais do que êstes •? Interrogado três ve­
zes, Pedro responde que o ama, e recebe o encargo
de governar tõda a Igreja. Jesus prediz-lhe em' se-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
636 MEDITAÇÕES 8ACEI\DOTÀl9

guida com que género de morte o havia de glorifi­


car (i).
SEGUNDO PRJ.JLÚDIO. Representai-vos a praia do
mar, e em redor de Jesus os apóstolos, depois de
tomarem o alimento, que êle mesmo lhes preparou.
TERCEIRO PHELÚDlO. Implorai a graça de com­
preender todo o sentido das palavras dirigidas a Pe­
dro· nesta ocasião, e de participar das disposições do
santo apóstolo.

I. Contemplar as pessoas. - Primeiro os dis­


cípulos. Tinham tomado parle nos trabalhos inúteis
de S. Pedro durante a noite, e agora reconhecem a
Jesus à vista do seu poder, da sua bondade, ainda
que não ousam dizer-lho. A sua alegria é contida
pelo respeito, e o respeito aumenta essa mesma doce
alegria, tornando-a mais sossegada. Examinam o seu
olhar, todo o seu exterior, e não perdem uma só das
suas palavras. Nenhum dêles se mostra admirado,
nem invejoso de o vêr honrar a Pedro mais que aos
outros; já o tinham ouvido fazer-lhe esta promessa:
Tu es Pefrus, ef super hanc pefram aedi.icabo Eccle­
siam meam. - Pedro, cujo coração, oprimido de dõr,
necessitava de desafogar-se manifestando o seu amor.
Ouanlo mais Jesus parece ter esquecido o seu peca­
do, tanto mais lhe vem ao pensamento. Reparai na
tristeza que o seu rosto exprime à terceira pregunta
do Salvador. l Teria Pedro a desgraça de se en�a­
nar a respeito dos próprios sentimentos? Assim o
receia. - O filho de Deus ressuscitado, que vem
consolar os seus apóstolos da sua infrutuosa pesca,
e confirmá-los na sua fé, na sua esperança e no seu
amor. Lê na alma de Pedro o desejo de reparar a
sua falta; 1 com que agrado lhe oferece ocasião apro-

· (1) Joan. XXI, 15, 19,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8. PEDRO, CHEFE DA IGREJA 637

priada ao passo que instrui todos os pastores da sua


Igreja, descobrindo-lhes a sua terna solicitude pela
salvação das almas 1

li. e III. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - Devendo brevemente subir ao céu, o Sal­
vador reveste da suprema autoridade aquele que
escolhera para o substituir de um modo visível na
!erra; mas quer que se saibt1 que eslB preeminente
dignidade e poder só é concedida a um amor avan­
tajado. Na presença dos outros discípulos, que tam­
bém acabavam de tomar a sua refeição, pregunta a
Pedro : Simon Joannis, diligis me plus his? Pedro
responde: Etiam Domine, lu seis quia amo /e. Jesus
diz-lhe: Pasce agnos meos. Era o mesmo que dizer,
a êle e a lodos os que na sua Igreja exercessem o
cargo de pastor das almas: • Aprendei até que ponto
essas almas me são caras. A melhor prova que
podeis dar-me do vosso amor, é instruí-las, dirigi-las,
salvá-las. Neste cargo lereis necessidade de uma
grande paciência, de uma grande afabilidade, de uma
grande abnegação; tudo isto possu"ireis, se me amar­
des, e só o vosso amor para comigo vo-lo pode
dar> . Com efeito, é. que ·é a vida de um bom pastor
senão uma vida de oração, de estudo, de trabalho,
de zêlo, de sofrimento? Para conservar esta vida
cheia de abnegação, é. não é necessário porventura
ser amparado pela energia, que inspira a cari­
dade?
A resposta de Pedro foi humilde. Não diz: Vós
sabeis que eu vos amo. mais que os outros; conten­
ta-se com afirmar o seu amor. Depois da queda,
desconfia de si, e abstém-se de se antepôr a pessoa
alguma. O' meu Deus, é. quando me tiproveitarei eu
assim, das lições que me dá continuamente a expe­
riência da minha fraqueza? Ai I quão longe estou
disso I dir-se-ia que a soberba cresce em mim ã. me-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
638 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

dida que em mim aumentam os motivos de me humi­


lhar.
Jesus não se limita a uma primeira pregunta; mas
repele-a duas e !rês vezes. é. Não sabe êle que vai
afligir o coração de Pedro? Sabe, mas são necessá­
rios três proleslos de afeição p.t1ra expiar !rês nega­
ções: Ne minus amori lingua servia/ quam limori (1).
E' preciso ensinar aos que são chamados a dirigir as
almas, que êsle minislério exige um amor generoso,
uma caridade cheia de fôrça e constância. Depois
dêsle momento de penosa prova para o apóslolo pe­
nitente, Jesus enche-o de favores. Já lhe não diz sã­
mente : Pasce agnos meos; acrescenta : Pasce oves
meas. Confia-lhe tôda a Igreja : cordeiros e ovelhas,
pastores e fiéis. O cuidado, de que o encarrega, é
a recompensa do seu amor; o zêlo que empregar no
desempenho dêsle cargo, será uma nova prova dêste
amor. E a esta dignidade incomparável não é ele­
vado o amor inocente de João, mas o amor arre­
pendido de Pedro. Assim tratais, ó meu Deus, a
um grande pecador; é. porque hei de eu desanimar,
lembrando-me das minhas falias?
Constiluindo a Pedro chefe visível d� Igreja uni­
versal, é. que lhe promete, que lhe anuncia o Salva­
dor? Perseguições, martírio, morte de cruz: Amen
dico libi: Cu_m esses junior, cingebas te et ambula­
bas ubi volebas. Antes de me confiarem o cuidado
das almas, eu podia gozar de alguma liberdade; já
não a lenho, depois que sou pastor; pertenço ao
meu rebanho; devo-lhe todos os instantes da minha
existência. Anles era só o P,êso das minhas misérias
que eu linha de suportar; agora lenho que padecer
por causa de mim e do meu povo. Cum autem se­
nueris, exfendes manus tuas, el alius te cingef, el

(1 ) S. Aug. Tracf. CXXII, in Joan.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. PEDRO, CHEFE DA IGREJA 639

ducel le quo lu non vis. Hoc aulem dixil signiGcans


qua morte clariGcafurus esse/ Deum. Estas palavras
anunciam-lhe as cadeias que traria, e o género de
suplício que havia de sofrer� Mas, e. vão porventura
os bons pastores e os mártires para os sofrimentos e
para a cruz, mau grado seu, ducel le quo lu non
vis? Se os desejam pelo impulso da• graça, temem­
-nos pelo impulso da natureza. e. Ouem é, pregunta­
Santo Agostinho, que ama as aflições e as tribula­
ções? Por isso, Senhor, vós não me ordenais que
as ame, mas sõmente que as sofra (1).
Amar as almas e a Jesus Cristo nas almas, à
custa do meu descanso, da minha saúde, da minha
vida: lmpendam ef superimpendar ipse pro anima­
bus vesfris e), é o exemplo que me deram os após­
tolos e lodos os homens verdadeiramente apostóli­
cos. O' Jesus, concedei-me a graça de- honrar tão
santa e admirável voc;ação (3); de seguir sempre o
caminho, que me indicardes, embora me custe; sem­
pre pronto a glorificar-vos com a minha vida e a mi­
nha morte; sempre contente, com tanto que eu sacri­
fique uma e outra ao vosso amor.

Resumo da Meditação

1. Contemplar as pessoas. - Os discípulos que­


tomaram parle nos trabalhos inúteis de S. Pedro,
durante a noite, e que se regozijam com êle da pesca
milagrosa. - Pedro, cujo coração oprimido de dôr
necessita desafôgo, manifestando o seu amor. - Je­
sus que lê na alma de ·Pedro o desejo de reparar as
negações.

(1) Coní. lib: X, e. XXVJII. - (2) 11 Cor. XII, 15.


(3) -Rom. VI, 13.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
66.0 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

II. e III. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - E' chegada a hora, em que o Salvador
reveste da suprema autoridade ao que êle escolheu
para ser o seu vigário cá na ferra. Interroga a Pe­
dro a respeito do seu amor, e exige que lho prove,
dedicando-se à salvação das almas. A resposta é
humilde. PedI'O contenta-se com ofirmar o seu amor;
não se antepõe a pessoa alguma. Jesus não se )i:.
mila a uma primeira pregunla, e embora aflija ao após­
tolo, quer um triplicado protesto de arrependimento e
amor. Assim o faz Pedro, e para o recompensar, o
Salvador confia tôda a sua Igreja, cordeiros e ove­
lhas, a quem foi tão grande pecador. é. Porque hei de
eu desanimar, lembrando-me das minhas faltas? -
Devo amar as almas e a Jesus Cristo nas almas, a
exemplo dos apóstolos e dos homens apostólicos.

IS!

CXXI MEDITAÇÃO
2 de julho. - Visitação da Santíssima Virgem

Esta jornada de Maria que vai visitar a S. Isa­


bel, foi comparada à do filho de Deus que veio vi­
sitar o género humano pelo mistério da Incarnação.
Uma e outra devem servir de modêlo aos sacerdo­
tes, nas suas relações com o próximo. Refleclindo
nestas duas visitas, reconhece-se que:

1. A caridade inspira-as;
li. A humildade realiza-as;
Jll. A sanlificação das almas é o seu fim.

I. A caridade é o único motivo que determina


o filho de Deus a visilar o género humano, e MaM
ria a visilar Isabel. - Ainda que o Verbo, filho de

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DA VIS_IT_A....cÇA_-_______
o 6_4l

Deus,. e Deus como o Padre Eterno, encha ludo


com a sua imensidade, o Espírito Santo, para se
conformar com o nosso modo de falar, representa­
-nos o mistério da Incarnação sob a imagem de uma
jornada e de uma visita: Exivi a Palre ef veni in
mundum (1). Visifavil nos oriens ex alio (2). Mas,
i. que é que moveu o Senhor a formtrr um desígnio
tão vantajoso para o homem? O seu amor para
com o homem : Sic Deus dilexif mundum, ui Filium
suum unigenifum darei (8); e para com cada homem
em particular: Dilexil me, ef fradidif semefipsum pro
me (4). este projec!o foi concebido nas entranhas da
sua misericórdia : Per viscera misericordiae Dei nos­
/ri ( 5 ). Deus não pôde .consentir em deixar-nos pe­
recer à míngua de recursos; a sua compaixão, o seu
amor para connosco, prevaleceram a lôdas as consi­
derações da sua justiça.
O mesmo sucede proporcionalmente com a visita
que hoje faz a SS. Virgem. Como !em, por assim
dizer, um só e mesmo coração e uma só e mesma
vida com o adorável Filho que traz em seu seio, tem
também um só e mesmo princípio de acção. Se em­
preende esla jornada, diz Santo Ambrósio, não é
porque tenha a menor dúvida a respeito da verdade
do que o Anjo lhe disse, e porque queira certificar-se
por si mesma: Non quasi incredula de oraculo, nec
quasi incerta de nunlio. Nem também a determina
um amor puramente natural para com os que lhe são
unidos pelo sangue; porque desde a mais tenra idade
tinha mostrado quão septirada estava dêles, e era ne­
cessano lodo o poder da caridade para a obrigar a
sair do seu refiro. Ouer felicitar Isabel e regozi-

(1) Jo11n. XVI, 28. - (2) Luc, 1, 78, - (3) Jo11n. III, 16.
t') Gal. li, 20. - ( 5 ) Luc. I, 78.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

jar-se com ela das grandes misericórdias do Senhor


a seu respeito. No eslado em que se acha, a sua
prima pode ter precisão dos seus serviços ; vai ofe­
recer-lhos. finalmente senle necessidade de comuni­
car os tesoiros de graça com que Deus se dignou
enchê-la, e leva as bênçãos de seu filho a uma fo.
mília disposta ·a recebê-los devidamente.
Por isso, tud.o respira caridade no modo coi:no o
Evangelista fala desta jornada. Vemos nela diligên­
cia e fervor: Exurgens Maria abiit .cum fesfinafione.
Vêmos coragem para vencer as dificuldades: nem os
escabrosos caminhos, nem as altas montanhas po­
dem deter Maria: Abiif in montano ... lNão são
êstes os dois principais caracteres do amor divino?
Nihil dulcius esl amare, nihil forlius. Amans volaf,
currif, ef laefafur (1).
l Assemelham-se . tôdas as jornadas dos padres ã
de Jrsus e de Maria? lE' a caridade sempre o seu
princípio? Ai I quanlas jornadas inúleis 1 1 quantas
visitas que não leem outro molivo senão a ociosi­
dade, a curiosidade, o aborrecimento da solidão e da
vida conlemplt1liva I Ouando a glória de Deus e o
inlerêsse do meu próximo exigem que eu saia de casa,
l estou pronto a pôr-me a caminho? l Pode um pas­
tor de almas ler falta de zêlo, quando se lrala de
lhes levar a verdade, a paz, o mesmo Deus ? Oh!
não, êle não hesita um só ihstanle em sacrificnr o seu
descanso, os seus goslos, e alé as deliciosas comu­
nicações com o Senhor.

II. Humildade do filho de Deus visitando os


homens pela Incarnação, e de Maria visitando a
5. Isabel. - Jesus, consultando sômenle o seu amor

(1) lmif., lib. Ili, e. V.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
________F_ES_T_A_DAVI_S_IT_A�ÇÃ_o
_______6�_3

na visita que faz ao género humano, desce dos esplen·


dores da sua glória até se revestir da nossa carne.
Noutra meditação (1), distinguimos comó que cinco
degraus diferentes, pelos quais o Verbo eterno incar­
nando, chegou à maior humilhação possível a Deus:
Homo factus esf. - Formam servi accipiens. - . Ver­
bum caro facfum est. - ln simililudinem carnis pec­
cafi. - Exinanivif semetipsum.
Na sua visita a SS. Virgem imita admiràvelmenle
a humildade de seu Filho. Esta virtude é sem dúvida
alguma a virtude de tôda a sua vida, de tôdas as
situações em que · se encontra, mas aqui parece
atingir uma perfeição ainda mais alta. No momento
em que foi elevada à incompreensível dignidade de
Mãe de Deus, apelida-se escrava: Ecce ancilla: mas·
de quem ? Do supremo Senhor: Domini. Na sua
visita a Isabel, constitui-se escrava de uma pessoa
que lhe era muito inferior. Não espera que sua prima
venha visitá-la, vai ela. 1 Oue prodigiosa humildade
no silêncio sôbre o grande acontecimento, cujo se­
grêdo só ela possui I é. Não parece que os mais for­
tes motivos exigiam que falasse? Desde que o Verbo
incarnou em seu seio, é. não deveria, para glória do
Senhor e consolação de Israel, revelar um mistério,
objeclo de _tantos desejos? é. Como é que, ao menos,
o não descobre a S. José? . . . O oráculo de Maria,
a sua regra de proceder, está nela; seu Filho e seu
Deus humilha-se; e. poderia ela exaltar-se? E.le escon­
de-se; é. desejaria ela mostrar-se? Jesus cala-se;
Maria imita o seu silêncio, e não diz uma só palavra
a respeito da escôlha que o céu fêz dela para o mais
glorioso de todos os destinos, até ao momento em
que Isabel, cheia do Espírito Santo, exclama em alta
voz: Benedicta fu inter mulieres, ef benedicfus frucfus

(-1) T. II, Med. XVI, p6g. 103.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6U, MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

venfris fui. E! finde hoc mihi uf venial mafer Domini


mei ad me? (1)
Agora que se descobriu o segrêdo, Maria vai
falar; é o seu dever : impõe-lho a humildade e o re­
conhecimenlo. E' necessário que ela refira a Deus
lôda a honra que querem fazer-lhe, e que para si não
guarde senão o seu nada. •Tu louvas-me felicitan­
do-me, responde Maria, engrandeces-me entre as ou­
tras mulheres; mas eu não louvo, não engrandeço
senão ao Senhor: Magnifica{ anima mea Dominum.
Sei que aquele que é poderoso, me fêz grandes coisas,
e que tôdas as gerações me chamarão bemavenlu­
rada; sou-o com eíeito ; mas porquê? Porque o Al­
tíssimo pôs os olhos na baixeza de sua escrava:
Ouia respexif humi/ifofem ancillae suae. Êle queria
chegar ao último grau de humilhação, e achou-o na
minha miséria• . Eis o que pensa Maria a seu res­
peito. Deus só a preferiu a qualquer outra criatura,
para a elevar à mais sublime dignidade, porque se
julgava a mais indigna de a receber. A humildade
será sempre o único meio de atingir a grandeza, o
único fundamento sólido de lôdas as virtudes crislãs
e sacerdotais, a primeira disposição para as graças e
para os mais excelentes dons de Deus, a condição
indispensável para contribuir para a grande obra da
redenção do género humano.

III. A santificação das almas é o único flm da


Incarnação de Jesus e da Visitação de Maria. -
Jesus Crislo só desceu à terra para lhe trazer a fe­
licidade com a salvação. Libertar os homens da
servidão do pecado para os santificar, tal é o fim da
visita que lhes faz, e o fruto que quer colhêr da sua
vida e morte. Todas os seus mistérios leem em vista

(1) Luc. 1, 42, 43,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA D.A VISITAÇÃO 66:5
a perfeição dos Santos. O fim principal da Visitação
de Maria fài também sanlificnr a João Baptista, e
encher de celestial gôzo tôda a família de Zacarias :·
UI audivil salufafionem Mariae Elisahefh, exulfavif
infans in ufero ejus (1).
é. Ouantas almas, divina Mãe, participarão dos
frutos da visila que fazeis ao precursor de Jesus?
e. E a quantas preparais vós a santificação, quando
contribuís para santificar um padre e um pastor?
Visto que a graça começa já a ser difundida por
vossas mãos, uma àas primeiras que vos pedimos, é a
de compreendermos quanto devemos confiar na vossa
maternal mediação, e que uso devemos fazer dela.
Sirva ela para nos encher das luzes de Deus como a
João Baplista e sua mãe, e para nos santificar pelo
seu Espírito; sirva ela, segundo as intenções de vosso
filho, para nos tornar menos indignos de o represen­
tarmos no meio dos homens, e mais pontuais em cum­
prir os deveres da nossa vocação de salvar os
nossos irmãos.

Resumo da Meditação

I. Caridade de Jesus Cristo visitando o géN


nero humano, e de Maria visitando S. Isabel. -
O mistério da Incarnação é-nos representado na Sa­
grada Escritura debaixo· da imagem de uma visita.
O projedo desta visita foi concebido nas entranhas
da divina misericórdia. é. Oue motivo determina tam­
bém a SS. Virgem a visitar a sua parenta? Ouer
felicitar Isabel e oferecer-lhe os seus serviços; quer
levar as bênçãos de seu filho a uma família bem dis­
posta a recebê-los . . . e. Teem as minhas relações com
e próximo o mesmo princípio e o mesmo fim ? ...

(1) Luc. I 41.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Ouando a glória de Deus e o amor do próximo exi­


gem que eu saia de casa, que deixe uma ocupação
que me agrada, é. estou pronto a sacrificar os meus
gostos?

II. Humildade de Jesus Cristo visitando os


homens pela Incarnação, e de Maria visitando
S. Isabel. - Jesus desce dos esplendores da glória
até ao nosso nada. Maria desce da sua dignidade
de Mãe de Deus à humilde condição de serva. Não
espera que Isabel venha visitá-la;· vai ela. 1 Oue hu­
mildade no silêncio, sôbre as próprias �randezas !
1 Oue humildade quando delas fala 1

III. A santificação das almas é o único fim


da Incarnação do Verbo e da Visitação de Maria.
- Livrar os-homens do pecado e submetê-los à graça,
fazer Santos, eis o fruto que Jesus quer colhêr da
sua vida e morte. Santificar a João Baptista, e por
êle, preparar a santificação de muitos outros, eis o
fruto que Maria quer tirar e que tira da sua visita.

131

CXXII MEDITAÇÃO
16 de Julho• .;_ Nossa Senhora do Carmo. -
O Escapulário da Santissima Virgem

A confraria do Escapulário teve por institu'idora


a Virgem Maria, que a revelou ao bemaventurado
Simão Stock, sexto Geral dos carmelitas. Êsle Santo
nasceu em 1164, de uma ilustre família de Inglaterra.
Na idade de doze anos, retirou-se a uma exlensa flo­
resta, onde se entregou a tôdas .as austeridades dos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
N, SENHORA DO CARMO 6i7
antigos solitários. A cavidade de um carvalho foi a
sua habitação, a água da rocha a sua bebida, ervas
e raízes a sua comida, a oração a sua ocupação.
Vivia assim, havia vinte anos, quando dois fidalgos
inglêses, voltando da Terra Santa, trouxeram na sua
companhia alguns religiosos do Monte Carmelo. Si­
mão, movido da devoção que tinham para com a
Rainha do céu, juntou-se a êles, e seis anos depois
foi nomeado Geral da sua Ordem.
Um dia em que êle, na efusão da sua alma, se
queixava a Maria das perseguições que sofria esta
Ordem venerável, pediu-lhe, desfeito em lágrimas, que
não abandonasse urna família religiosa que ela linha
adoplado, e que lhe desse algum sinal da sua mater­
nal prolecção. A augusta Virgem apareceu-lhe, no
meio de urna refulgente luz, e entregando-lhe um es­
capulário, disse-lhe: • Recebe, meu caro filho, êsle
escapulário, sinal do privilégio que obtive para li e
para os filhos do Carmo. Aquele que morrer reves­
tido dêste hábito, será preseãvado das chamas eter­
nas; é um sinal de salvação, uma defesa dos perigos,
e o penhor duma paz e protecção especiais• .
O Santo, cheio de alegria, mostrou o precioso
dom, que tinha recebido, não só para os Carmelitas,
mas também para lodo o povo cristão. Dentro em
pouco tempo viram-se os personagens mais distintos
pela sua piedade e jerarquia, entrar nesta associação.
S. Luís, Branca de Castela e tõda a família real de'
frança, foram dos primeiros a revestir o santo hábito;
e a confraria do Escapulário, autorizada e animada
pelos Papas, propagou-se ràpidarnente por lodos os
países católicos.
Meio século mais tarde, Maria dignou-se ainda
manifestar-se ao Papa João XXII, e ordenou-lhe que
confirmasse e fizesse conhecer as graças, privilégios
e favores, que seu divino filho, a seu pedido, linha
concedido aos religiosos e aos con(rades do Carmo,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

acrescentando que, como Mãe compassiva, todos os


sábados visitaria o purgatório, para lá .consolar as
almas de seus filhos, que houvessem falecido revesti­
dos de seu hábito (1).

1. A devoção do ·escapulário, excelente em si mesma.


li. Mais excelente ainda nos privilégios que lhe siio anexos.
III. Prática desta devoção.

1. Excelência da devoção do escapulário con•


siderada em si· mesma. - Ainda que eu só visse na
confraria do Escapulário o pensamento de mostrar o
meu zêlo da glória da Santíssima Virgem, trazendo
êste hábito como uma prova da minha dedicação ao
seu culto, não duvidaria de que semelhante prática
lhe fôsse agradabilíssima, e me alcançasse a sua be­
névola protecção. Se, à imitação do Pai celestial, que
faz nascer o sol sôbre bons e maus, Maria faz bem
até aos que a esquecem e ofendem, l quanto mais o
fará aos que só procuram ocasiões de lhe provar o
seu amor? Enlre as devoções que leem por fim hon­
rá-la, esta tem duas vantagens, que imporia meditar:
a publicidade e a continuação das honras que lhe
tributa.
1. 0 Honras públicas. Quando vou consagrar-me
à Mãe de Deus, receber solenemente, ao pé do seu
altar, o sinal da minha consagração ao seu culto,
para o trazer pendente do pescoço todos os dias da

(1) Benlo XIV, fal!mdo da primeira destas apariçoes, de­


clara acreditar nela, e que lodos devem considerá-la como verda­
deira. Toma igualmente a defesa da segunda. Um grande número
de outros Sumos Ponlíllces, entenderam que deviam preconizar
êstes favores. Exortaram os fiéis a trazer o escapulório, e enri­
queceram com numerosas indulgências esta prova de devoção para
com Maria: Alexandre V, Clemente VII, Paulo III, S. Pio V, Gre­
gório XIII, Paulo V, Clemenle X, Inocêncio XI, ele.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
N. SENHORA DO CARMO 6i9
minha vida, não me contento já com amá-la no ín­
timo do meu coração, faço uma pública declaração
disso. Ainda que a essência da devoção seja inferior,
não é menos verdade que é pouco devoto aquele que
receia parecê-lo; e se o Salvador negará deanfe de
seu Pai cio mau cristão que o nega deante dos homens,
Maria porá também uma grande distinção entre o
servo que se teme de ser visto quando a honra, e
aquele que, entrando na sua confraria, mostra que se
gloria de trazer o seu hábito, de lhe pertencer, de a
respeitar como Rainha, e de a amar como Mãe.
2. 0 Honras contínuas. As nossas práticas pie­
dosas sáo subordinadas a tempos, a lugares; a devo­
ção do escapulário é de lodos os lugares e momen­
tos. Graças ao meu hàbilozinho, em qualquer parle
que eu estej11, qu11lquer que seja II minha ocupação,
M11ria vê sempre pendente do meu pescmço II prova
11utêntica do meu 11pêgo ao seu culto. E.m tôda a
parte e .sempre a honro, e lhe dirijo súplicas. Em
tôda a parle e sempre o meu escapulário lhe fol11 por
mim, me recomenda à sua ternura, e lhe· diz que a
amo e que lhe confio os meus interêsses.

li. A excelência da devoção do escapulário


considerada nos privilégios que lhe são anexos. -
Admitindo-me ria sua família do Carmo, a SS. Vir­
gem promete-me lrê.s favores inapreciáveis: o de me
defender nos perigos, o de me ajudar a bem morrer
e o de me proteger depois da morte ( 1).
1 . 0 Promete defender-me nos perigos (2) que
ameaçam a minha s11lvação. Se bem que pela minha
vocação, a c11sa de Deus me pertence, é. estou eu nela

(1 ) Um verso lalino exprime êsfes beneficias: Prolego nunc,


in morte juvo, post funera solvo.
(2 J Salus in periculis.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
füiO MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

livre de todo o perigo? Ouanto mais santo e ditoso


é o meu estado, mais excita a inveja e raiva de Sata­
nás; mas se Maria me protege, l que lenho eu que
f'ecear? l Estou menos seguro em seu seio maternal
do que no seio de Abraão? 1 Oue consoladora cer­
ieza 1 Se .é grato saber que nunca foi invocada em
vão, lquanlo mais grato é ouvi-la afirmar-nos que nos
defenderá nos perigos, ainda antes de recorrermos a
ela? Conhecerei um dia lôdas as lenlaçôes, cuja
veemência ela lerá deminuído, em atenção a êste pe­
nhor do meu amor para com ela; quantas vezes,
depois das minh'as quedas, me lerá preservado de um
desalento mais funesto que essas mesmas quedas.
0
2. Promete salvar-me: Aquele que morrer· re­
veslido dêsfe hábito, será preservado das chamas
efernd-5. Ouando Maria nos faz esta promessa, que
nos causa admiração, por exceder lôdas as nossas
esperanças, é como se nos dissesse: • Emquanlo te
vir revestido dêste hábito, que distingue os meus fi­
lhos amados, esta prova da tua afeição me inspirará
para contigo o amor mais vigilante e terno. Obter­
-te-ei socorros tão abundantes, que le facilitarão a
prática da virtude. Tudo o que a Igreja pede para
li, quando le admite na minha confraria, te será dado
a meu rôgo: tempo de bem viver (1), ocasião e meio
de fazer boas obras (2), constância para perseverar
na justiça (3). Ainda quando lenhas a desgraça de
incorrer no desagrado de meu Filho ofendendo-o,
não te abandonarei, se vir pendente do teu pescoço
-0 sinal da minha aliança. Tirarei para · ti dos tesoi­
ros divinos uma graça Ião eficaz, que te compungirá.
A não ser que, resistindo obstinadamente a todos os
esforços da minha ternura, me obrigues a expulsar-te

(1) Tempus bene vivendi. - ( 9) Locum bene 11g;endi,


(3) Consf11n611m bene persever11ndi.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
N. SENHORA DO CARMO 65!
da minha família, e a privar-te do meu escapulário, a
minha- bondade para contigo chegará a tal ponto,
que, purificado pelos sacramentos ou pelo ado de
contrição, te livrarás das penas eternas, se morreres
lendo êsle santo hábito ao pescôço • .
3. 0 finalmente Maria promete proteger-me efi­
cazmente no purgatório e abreviar a sua duração.
Visitará, segundo a sua promessa, os confrades do
Carmo na triste morada, onde acabarão de .expiar as
suas faltas ; é. como duvidar de que esta visita lhes
leve refrigério, luz e paz? Àlém disso ela o declara :
• Quando tiverem deixado o século presente e entrado
no purgatório, eu descerei, como sua terna Mãe, ao
meio dêles no sábado seguinte à sua morte; livrarei
aqueles que lá encontrar, e os conduzirei à montanha
santa, à feliz morada da vida eterna• (1).

III. Prática da devoção do escapulário. - Nada


mais fácil, se nos limitarmos só ao que é exterior;
mas neste caso, é. é esta devoção verdadeira? E.u devo
aplicar-me a cumprir exadamente ludo o que é pres­
crito, quer para ser membro da confraria, quer para
participar das graças que lhe estão anexas (2), e tor­
nar-me dócil às lições que me dá o santo hábito.

(1) Siio as p11l11vr11s de M11ri11 na bula de Joiio XXII, conhe­


cida pelo nome de Sabhafina, e confirmada por muitos soberanos
pon!ífices, seus sucessores.
(2) Para alcançar o primeiro privilégio do escapulário, 11
graça de uma boa morte, e para participar das indulgências da con­
fraria, e dos merecimentos da Ordem do Carmo, é necessário en­
trar nesta confraria, recebendo e trazendo o escapulário, e lê-lo
penden{e do pescoço na hora da morte.
P11r11 gozar do privilégio da bula Sabbafina, ãlém das condi­
ções precedenles, exige-se que o conírade guarde II castidade pró­
pria do seu estado, recife o pequeno Ofício da SS. Virgem, ou niio
podendo, observe os jejuns da Igreja, e 11 11bstinênci11 nas quarfas­
.feir11s, ãlém das sexlas-feiras e sãbados, exceplo no dia de Natal,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS.

O santo hábito da Virgem Imaculada prega-me


a inocência e a fuga de todo o pecado. E' o sêlo
da aliança, que contraí com ela, e o sinal particular
dos que a tomaram por Mãe ; exorta-me a regular
os meus passos, a velar sôbre tôdas as minhas
acções, a purificar tôdas as minhas intenções, a nada
omitir de ludo quanto pode contribuir para a minha
santificação e para a edificação do próximo; porque
é nisto que Maria reconhece os seus filhos e desco­
bre néles a sua imagem. O escapulário é um sinal
de predestinação e salvação; devo, revestindo-me
déle, revestir-me da caridade, da mansidão, da abne­
gação, da modéstia, da justiça, numa palavra, de
ludo o que faz os Santos e escolhidos de Deus.
Augusta Virgem, encho-me de confusão, ao lem­
brar-me dos favores, que me tendes liberalizado, e ao
comparar com êles a minha ingratidão, 1 que repreen­
sões me dá o precioso dom, que foi o penhor da
minha entrada na vossa família do Carmo I Ah 1
quantas vezes o lenho profanaáo I Mas por mais
indigno que eu seja de vos chamar minha Mãe, su­
plico-vos que continueis a mostrar que o sois. Seja
sempre o vosso santo hábito o meu adôrno e a mi­
nha ,.defêsa. Esteja eu dêle revestido na hora da
morte; seja para mim 1;1gora um vestido de justiça,
para se transformar um dia em vestido de glória
eterna.

se c11ir num d11queles di11s: • Ou11ndo hã gr11ve impedimenlo, o con­


fr11de niio é obrig11do II rez11r o Ofído sobredilo, nem II observ11r o
jejum e 11 11bsfinênci11 n11s qu11rl11s-feir11s e sãb11dos. E' preciso po­
rém induzir os fiéis, neste c11so, 11 que se sujeilem 110 juízo de um
coníessor doulo e prudenle, 11-fim de obter dêle algum11 coinul11-
çiio •. Congr. d11s ,lndulg., 12 de Agôslo de 1840. - 22 de Junho
de 1842, etc. (P. M11urel).

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
N. SENHORA DO CARMO 653

Resumo da Meditação

1. Excelência da devoção do escapulário con­


siderada em si mesma. - O primeiro fim da confra­
ria do Escapulário é uma profissão de dedicação ao
culto de Maria, pelas honras públicas e contínuas
que lhe são tribuladas. Honras públicas: gloriar-me
de trazer o seu hábito; honras contínuas: Maria vê
sempre em mim a prova autêntica do meu zêlo ·em
honrá-la. Por tôda a parle e sempre, o meu esca­
pulário fala-lhe por mim, é recomenda-me ao seu
amor.

II. Excelência da devoção do escapul6rio, con­


siderada em seus privilégios. - 1. 0 Maria promete
defender-me nos perigos: se Maria é por mim, é quem
será contra mim? 2. 0 Promete salvar-me� Aquele
que morrer revestido dêsfe hábito, será preservado
das chamas eternas; é como se me dissesse: •A não ser
que, resistindo obstinadamente à minha ternura, me
obrigues a expulsar-te da minha família, privando-te
do meu escapulário, conduzir-te-ei à morada da gló­
ria• . .s·. 0 Promete-me proteger-me no purgatório e
abreviar a sua duração.

Ili. Prática da devoção do escapulário. - Nada


mais fácil quanto ao exterior; mas é necessário que
nos penetremos do seu espírito, mostrando-nos dóceis
às inudas lições que nos dá êste santo hábito.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEOITAÇÕES SACEIIDOTAIS

CXXIII MEDITAÇÃO
19 de julho. - S. Vicente de Paulo.
- Paler eram pauperum (1)

O Santo, cuja memória honra a Igreja no dia de


hoj·e, dizia muitas vezes: 1 • Oue excelente coisa é um
bom padre I é. Quanto pode fazer, e quanto faz com
a graça de Deus• ? ê.Ie mesmo o provou. Filho de
pais pobres, ainda que ricos de virtudes, viu a luz do
dia em uma província de França, e em sua meninice
foi destinado a guardar um pequeno rebanho. E' neste
humilde oficio, que Deus o escolhe para ser o instru­
mento de magníficos desígnios (2). Elevado ao sacer­
dócio, uma série de acontecimentos, dispostos pela
Providência, conduziram-no à capital francesa, onde,
depois de parroquiar sucessivamente duas freguesias,
com uma reputação sempre crescente, se viu colocado,
sem o saber, à frente de tôdas as boas obras do seu
tempo. Procurou e achou um remédio, ou ao menos
uma consolação, para todos os sofrimentos da huma­
nidade. A sua generosa compaixão estendeu-se a
lodos os desgraçados: moços, velhos, enfermos, pre­
sos, _galeotes e alienados. A França está coberta de
monumentos da sua caridade e zêlo; e o que mais
admira é que, no meio de lôdas as o�ras brilhantes,
só ambicionava o esquecimento. Morreu em Paris no
ano de 1660, lendo 85 anos de idade. Para resu-

(1) Job XXIX, 16.


l2) Elegi! David servum suum, et susfulif eum de gregibus
ovium. Ps. LXXVII, 10.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, VICENTE llR PAULO 6115

mirmos Ião vasto assunto, consideremos em S. Vi­


cente de Paulo:

1. O seu amor para com os pobres em geral.


li. E em par!icular o seu zêlo da salvação dos pobres.

1. Amor de S. Vicenfe de Paulo para com os.


pobres. - Desde a infância, privava-se dos vestidos,
para vestir os que .estavam nus, da comida para a
dar aos que precisavam dela. Tanlas associ11ções
instituídas e dirigidas por êle, tantos hospilais funda­
dos, tantos socorros agenciados para províncias de­
vastadas pelos flagelos da guerra, da fome e da peste,
tantas quantias de dinheiro distribuídas aos escravos·
da Berberia e aos cristãos do Líbano, tôdas as suas
emprêsas e tôda a sua vida atestaram o seti amor para
com os pobres. Foi por causa dêles que inslituíu as­
Irmãs da Caridade, as quais se gloriam de ser as
servas dos pobres; por causa dêles é que deu à Igreja
uma nova Congregação de sagrados ministros.
• Nós somos os Padres dos pobres, costumavo,
dizer aos seus missionários; Deus escolheu-nos para­
êles •.
O aspecto dos pobres, o seu mesmo nome, cau­
sava-lhe uma impressão que não podia conter; enter­
necia-se pronunciando esta invocação: Jesu, pafer
pauperum, miserere nobis. Sofria de antemão, quando
previa que êles teriam que sofrer. No comêço de um
inverno que se manifestava rigoroso, dizia a um dos­
seus: é. • Oue farão os pobres? Para onde irão?
Confesso que é o que me dá mais cuidado e aflição ..•
Êles dizem que, emquanto tiverem fruta, viverão; mas
que depois disto, não lhes restará senão cavar as pró­
prias sepulturas e enterrar-se vivos. O' ineu Deus 1
que miséria extrema I é. e como remediá-la•?
Nas exortações à sua comunidade, falava-lhe mui­
tas vezes do que dizia respeito aos pobres. • Deus

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
656 ll!EDITAÇÕES 8ACl!RDOTAIS

ama-os, e por conseguinte ama os que os amam; por­


que, quando temos afeição a alguém, temo-la aos seus
amigos e servos. . . Portanto, meus irmãos, empre­
guemo-nos com um novo fervor no serviço dos po­
bres, que são os prediledos de Deus; e leremos mo­
tivo parH esperar que, por amor déles, nos amará ...
Todos aqueles que amarem os pobres durante a sua
\'ida, não temerão a morte; sei-o por experiência; por
isso costumo inculcar esta máxima ãs pessoas que
vejo receosas da morte•.
Embora tivesse para com seus filhos entranhas
de pai, põrecia que não os arnàva senão em atenção
aos pobres, assim corno não amHva os pobres senão
e[Jl atenção a Deus. • Evitemos sempre, lhes dizia,
merecer a queixa que o Senhor faz pela bôca de seu
profeta: Susfinui qui simul conlrislarefur, ef non fuif•.
Oueria que todos tivessem lal compaixão dos infeli­
zes, que se pudesse dizer, vendo-os: Aqueles são va­
rões de misericórdia (1). O' padre I examinai o vosso
coração e as vossas obras. é. Amais vós os pobres?
l Compõdeceis-vos dos seus sofrimentos? é. Socor­
rei-los e consolõi-los, quanlo vos é possível? é. Amai­
-los como padre, isto é, principalmente lendo em vista
a suH salvação?

II. Zêlo de S. Vicente de Paulo pela salvação


dos pobres. - Para ser sua consolação e seu pai,
no sentido mais amplo, quis ser o seu apóstolo. De­
terminaram-no a isso três motivos parliculHres: a ex­
trema necessidade de socorros espirituais, que leem
de ordinário os pobres; o lugar distinto que ocupam
na lgrejH ; os frutos mais fáceis e abundõnles, que
junto dêles colhe o ministério sacerdotal.
t. 0 S:, Vicente de Paulo tinha notado a igno-

( 1) Illi viri misericordi11e sunl. Eccli. XLIV, 10,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8. VICENTE DE PAULO 657
rância das verdades religiosas, e por conseguinte a
corrução em que jazia a classe indigente das cidades
e das aldeias; sabia que, até nos asilos, então muito
raros, abertos a tôdas as pessoas desgraçadas, se se
prestava alguma atenção às misérias do corpo, as da
alma eram extremamenle desprezadas; tinha visto o
estado deplorável dos condenados ãs galés, <lebaixo
dêstes dois aspectos. Não era necessário tanto para
inflamar o seu zêlo. Convoca bons padres, infunde­
-lhes a caridade de Jesus Cristo, e envia-os em so­
corro de tantas almas, que se perdem. Reúne algu­
mas santas donzelas e consagra-as à santificação dos
pobres; cuidando dos seus sofrimentos temporais,
procurarão, com as suas orações e os seus bons exem­
plos, dispô-los para a graça dos sacramentos. Pro­
põe o mesmo fim a damas piedosas que associa ao
seu apostolado nos hospitais e nas prisões. Por tõda
a parle conseguiu os melhores resultados. No espaço
de um ano, houve, sàmenle no hospital de Paris, mais
de setecentas e sessenta abjurações e conversões.
2. 0 Um segundo motivo animava e sustentava a
5. Vicente nos trabalhos pela salvação dos pobres:
a sua eminente, dignidade debaixo do ponto de vista
da fé.. • A Igreja no seu primeiro plano, diz Bossuel,
só foi edificada para os pobres , que são os verda­
deiros cidadãos dessa bemavenlurada cidade, que a
Sagrada Escritura chama cidade de Deus•. é. Não
declara o Salvador que êles são o objeclo especial
da sua missão, no meio dos homens : Evangelizare
ptwperib11s misif me? (1) Dirige-lhes felicitações, e é
assim que principia a sua pregação, naquele sermão
do Monte, em que amaldiçôa os ricos: • Bemaventu­
rados vós, os pobres, porque vosso é o reino de
Deus• (2). Se é a· êles que pertence o céu, que é o

(1) Luc. IV, 18. -(2,1 ld. IV, 20.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
638 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

reino de Deus na eternidade, é a êles também que


pertence a Igreja, que é o reino de Deus no tempo (1).
Com efeito êles são os primeiros que nela entram :
Videfe vocflfionem veslrflm, frfllres, quifl non mulli
sflpienfes secundum Cflrnem, non multi polentes, non
mulli nÓbiles (2).
1 E com que atenções os tratava o grande Após­
tolo I Pede à Igreja que o ajude com as sui:is ora­
ções: Obsecro vos . .. ui fJdjuvefis me in orflfionibus
vesfris. Para conseguir o quê? Oue os pobres de
Jerusalém lenham por agradável a oferenda que vai
fazer-lhes: Uf obsequii mei ohlflfio fJCcepffl fiai
in Jerusfl!em sfJncfis ( 3 ). Considera-os como os prin­
cipais membros do corpo de Jesus Cristo, como os
predileclos do divino Rei.. Daí também o respeito
que lhes tinha S. Vicente de Paulo. Obrigava-os a
comer à sua mesa, e servia-os primeiro.
0
3. O que o levava ainda a cuidar com prefe­
rência da santificação dos pobres, é que junto dêles
se exerce o ministério com menos perigo e mais fruto.
As nossas relações com os ricos podem inspirar-nos
o amor do mundo, lisonjeando as nossas más inclina­
ções. é. A que tentações de vanglóriQ e de vaidade
nos hão expõem? Com os pobres temos sempre oca­
sião de praticar a humildade, a paciência, a mortifi­
cação. Não precisamos de recorrer a tantas precau­
ções; o nosso zêlo exerce-se com mais independência.
Ouanlo ao resultado, bem sabemos quanto custa aos
ricos praticar a moral evangélica; o mesmo Salvador
diz: Ouflm dif.icile qui pecunifls hflbenf, in regnum
Dei infrflbunf ! (') Pelo contrário, os pobres, por

(1) Bossuef. Sermão sõbre a eminenle dignidade dos pobres


na Igreja.
(2) 1 Cor. 1, 26. - (3) 'Ron1, XV, 30, 31.
(') Luc. XVIII, 24.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
$. VICENTE DE PAULO 659

sua mesma cohdição, estão dispostos a entrar. Oue


docilidade nestes ! Oue resistência naqueles 1
Acrescentemos que muito escandalizamos os povos,
parecendo estimar só as almas dos ricos, e ao revés só
os edificamos, quando imitamos a Jesus Cristo, cui•
dando com preferência da salvação dos pobres. Um
obstinado hereje disse um dia ao nosso Santo que o
que mais o 11fosl11v11 da Igreja católica; era vêr um
g'rande número dos seus ministros ler uma vida ociosa
nas cidades, emquanlo que as pessoas do campo
eram' privadas da instrução mais indispensável. Mas
o exemplo de S. Vicente e dos que tomavam p·arte
nos seus trabalhos, serviu felizmente- para o desenga•
nar; veio procurá-lo no ano seguinte, e disse-lhe :
• Eu creio agora que o Espírito Santo dirige a Igreja
Romana, visto que nela se cuida da salvação dos
pobres aldeões; estou pronto II tornar II entrar nela·,
quando quiserdes •.
Na nossa preparação para a missa e acção de
graças, roguemos a Jesus Cristo, que nos comunjque
o espírito de um Santo, que se dedicou Ião genero•
samenle e com Ião bom êxito, por si e pefos seus, ao
alívio temporal e à felicidade eterna dos pobres.

Resumo da Meditação

I. Amor de S. Vicente de Paulo para com os


pobres. - Tôdas as suas emprêsas, tôdas as suas
fundações e obras pias atestam ardente e compassiva
caridade para com os pobres, cujo nome . bástava
para o comover. • Nós somos os padres dos pobres,
dizia êle aos seus missionários; Deus escolheu-nos
para êles • . Ouando exortava a sua comunidade,
falava muitas vezes sôbre êste assunto. éSerã ver•
dade que eu amo os pobres e que me compadeço
dos seus sofrimentos ?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
660 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

li. Zêlo de 5. Vicenfe de Paulo da salvação


dos pobres. - Três motivos o defermim1ram a fa.
zer-se seu apóslolo: 1. 0 A extrema necessidade que
leem de socorros espirituais; principalmente para pro­
veilo das suas almas é que fundou tantas associa­
ções; 2.0 A sua eminente dignidade debaixo do
ponto de vista da fé; l não declara o Solvador que
êles são o objedo especial da sua missão no meio
dos homens? .3. 0 Junlo dos pobres exerce-se o zêlo
com menos perigo e mois fruto. Roguemos a Deus
que nos comunique o espírito de um Santo qúe se
dedicou tão generosa e eficazmente ao alívio tempo­
ral e à. felicidade eterna dos pobres.

131

CXXIV MEDITAÇÃO
25 de Julho. - Santiago Maior

Êsle apóstolo ocupa o terceiro lugar entre os doze


escolhidos pelo Salvador. Era filho de Zebedeu, e
irmão mais velho de S. João Evangelista. Chama­
mo-lo Maior para o distinguir de Sanfü1go Menor, filho
de Alfeu, e que foi bispo de Jerusalém. Crê-se que
era natural de Belsaida, cidade de Galiléia, assim
como S .. Pedro e Santo André. Era como êles, pes­
cador. Em muilas ocasiões teve as predilecções do
Senhor, do mesmo modo que seu irmão. Ambo� lhe
mandaram pedir por sua mãe os dois primeiros luga­
res no seu reino : mas Jesus lhes pre�untou se po­
diam participar com êle do cális da sua Paixão.
Santiago leve bem de-pressa esta glória ; porque foi o

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SANTIAGO MAIOR 66{
primeiro mártir entre os apóstolos, sendo decapitado
em Jerusalém por ordem do rei Herodes Agripa.

1. Santiago honrou o ministério aposlólico com os predicados


que possuía.
II. Maneira como exerceu êste minis!ério.

1. Santiago honrou o ministério apostólico com


os predicados que possuía: - Vocação, fidelidade,
sincera afeição à pessoa de Jesus Cristo.
1. º No minislério apostólico, a -vocação é, quási
ludo. Ainda que o homem possua lodos os talentos,
se não é chamado, não tem o que forma o apóstolo.
O homem não dá a si mesmo as virtudes : l como as
poderá produzir nos outros? Neque qui planlaf esl
aliquid, neque qui rigaf ( 1 ). Assim o entendeu o
apóstolo Sanliago. Conhecia, desde a�um tempo, ao
Salvador, e ardia em desejos de o seguir; mas era-lhe
necessário que êle o chamasse. O' meu Deus, l que
farão na vossa Igreja os profetas que vós não cha­
mais ? Obterão talvez os louvores e a admiração
dos homens ; mas de-cert� não os converterão. Po­
derão ser homens célebres; mas nunca serão instru­
mentos de graça e- salvação. Deleitarão o espírito,
sem ganhar o coração ; ou se o ganham, é para êles
que o ganharão e não para Jesus Cristo. O que
não vem de Deus, não pode conduzir para Deus.
2. º Santiago é fiel á sua vocação. l Oual não
foi a sua alegria, quando ouviu esta palavra: Venile
posf me, ef faciam vos Geri piscafores hominum? (2)
Não hesita; apressa-se em comprar à custa do mais
completo sacrifício, a felicidade de viver e morrer
com Jesus: sacrifício verdadeiramente heróico, aten-

(1) I Cor. lll, 7, 7. - (2) Mal!n. IV, 19.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTA1S

dendo aos sentimentos que o inspiram, às circunstân­


cias que o acompanham, à extensão que abrange. -
O que dá valor a um sacrifício, não é tanto a vítima
que é oferecida, como a veemência e pureza do amor
que o oferece, ou o coração desta vítima, quando é
ela mesma que se imola. Os desejos de Santiago de­
dicando-se a Jesus Cristo, vão muito àlém da sua àfe­
renda. Para dar mais, não lhe falta senão ter mais.
- Além disto, segundo observa S. João Crisóstomo,
se êle abandona coisa pouca, acha ainda menos.
A graça apenas lhe tira as rêdes; mas só lhe apre­
senta em troca misérias, contradições e perseguições.
Separa-o de um pai pobre e desconhecido; mas só
lhe dá um amo, menos conhecido por seus prodígios
do que pelo desprêzo dos grandes, pelo ódio dos
escribas e dos fariseus . . . Deixa uma vida labo­
riosa, mas pacífica; e começa urita vida mais peni­
tente, mais austera, agitada e desvenlurada. - Ouanto
à extensão do sacrifício, êsle que o nosso Santo. faz,
não sõmente encerra ludo quanlo tem, mas também
tudo quanto pode desejar e esperar. . . desejos vãos,
esperanças enganosas, embora; nada vale para a ra­
zão, vale muito para a imaginação e para o coração.
Renuncia a sua vontade, assim como renunciou a sua
barca e os. seus parentes. Não viverá já senão em
Jesus Cristo e para Jesus Cristo; não lerá já a tra­
tar de outros interêsses sertão dos de Jesus Cristo ...
O' padres, !ornai sentido: é ê6te espírito que �eve
animar-vos. A graça que vos chama ao ministério
evangélico, chama-vos ao mesmo tempo a ludo quanto
é necessário para o cumprir ulilmente; e ser-vos-á
isto possível sem que renuncieis a tõdas as inclina�
ções da carne e do sangue? A abnegação é indis­
pensável ao cristão que deve seguir a Jesus Cristo,
quanto mais ao seu ministro que deve segui-lo de
mais perto, e induzir os outros a imitá-lo: S{ quis
vult posf me venire, abnegef semelipsum : .. , ef se-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SANTIAGO MAIOR. 663
quafur me (1). A vocação ao sacerdócio é vocação
f
para milhares de sacriícios; só um amor ardente
e generoso à pessoa adorável de Jesus C_rislo pode
torná-los fáceis.
3. º T ai foi a virtude especial do apóstolo San­
tiago: Amor ardenle. Reconhece-se já pela prontidão
com que responde ao divino chamamento: Venife
posf me. Apenas ouviu esla palavra, um fogo celeste
lhe abrasa o coração, e destrói lodos os laços que o
prendiam às criaturas. Desde então, ludo o que fere
a glória de seu Mestre lhe faz a êle mesmo uma do­
lorosa ferida. Se os samaritanos não querem rece­
ber na sua cidade aquele que vem ensinar-lhes a
sciência da salvação, êle indigna-se, e parece-lhe que
Deus deve imediatamente castigar semelhante injúria
feita a seu Filho: Domine, vis dicimus ui ignis des­
·c.endaf de coe/o ef consumai eos? (2) Estes arrebata­
mentos eram contrários à mansidão evangélica; por
isso o Salvador os modera, ainda que, aprove o seu
princip�.
Amor generoso. é.• Podes lu beber, lhe pregunla
Jesus Cristo, o cális que eu hei ele beber? (3) -
Posso, responde êle logo; aceitá-lo-ei da vossa mão,
assim como vós da mão de vosso Pai• . A sua ge­
nerosa dedicação alcançou-lhe os favores do divino
Mestre. Jesus escolhe a Santiago, com Pedro e
João, para ser o depositário de seus segi:êdos, o
companheiro das suas vigílias e orações, a testemu­
nha de seus mais pasmosos milagres (4 ). Jesus
ama-o muito, pois lhe manifesta a sua glória no Ta­
bar; e flO mesmo tempo crê que o santo apóstolo
lhe tem também grande amor, visto que lhe patenteia

(1) Mallh. XVI, 24.-(2) Luc. IX, 54.-(3) M11uh·. XX, 22.
(4) Luc. VIII, .51.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
66&, MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

a sua aparente fraqueza no hôrlo das Oliveiras (1).


Felicitemos êste apóstolo pelas suas boas disposições
para o m_inistério que o Salvador lhe confiou, e en­
vergonhemo-nos de nos vermos tão afastados delas.

II. Como exerceu Santiago êste sublime e di­


vino ministério. - Perfeilo modêlo do homem apos­
tólico, oferece à nossa imitação o zêlo que se aplica
à santificação das almas, o exemplo que as persuade,
a coragem que aceita todos os sofrimentos para as
salvar.
1. 0 Não foi em vão que Jesus Cristo lhe deu o
nome de filho do trovão: lmposuil eis nomina Boa­
nerges, quod esf, G/ii lonifrui (i ). A palavra divina era
na sua bôca, cheia de fôrça e eficácia. é. Oue salu­
tar terror não causou o estrondo dêste trovão às
consciências culpadas. Segundo a observação de
S. João Crisóstomo, o furor dos judeus não se teria
acendido desde o principio contra êle, se pelo seu
zêlo se não distinguisse entre todos os apóstolos:
Stafim ah inilio rerum fanfum ardore concaluif, ui a
perseculoribus óccisus si/. Concorreu consideràvel­
menle para o progresso da fé, não só na Judéia,
3
mas também no meio das nações longínquas ( ).
2. ° Conheçamos bem a causa principal das suas
conquistas. é. Oue podem as palavras, que podem alé
os milagres, quando se !rata de mudar e converter
os corações? De todos o's prodígios que fizeram os

( 1) S. Joiio Crisóstomo, pregunfando II si mesmo II raziio de


Jesus Cristo conceder um11 dislinçiio fiio honros11 aos frês apóslo­
los, responde: Pefrus, quia Chrisfum valde diligebaf; Joannes,
quia diligebatur; Jacobus, responso quod dedit: Possumus hunc
calicem bibere, ef quia implevif quod dixeraf.
(2) M11rc. Ili, 17.
(3) Niio se pode duvidar de que S11nfi11go lev11sse II fé &
Esp11nh11. Vêr os Bol11ndisf11s.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SANTIAGO MAIOR 665
apóstolos, o de suas virtudes foi o que mais contri­
buiu para santificar o mundo; e não foi tanto pre­
gando como praticando a virtude, que êles submete­
ram os povos à lei do Evangelho (1). Nós sabemos
que Santiago guardou continência, e teve uma vida
muito austera e mortificada. ,Êmulo da pureza virgi­
nal de seu irmão, abriu com êle às almas escolhidas
a carreira dos grandes combates e vitórias, e arras­
tou com o seu exemplo milhares de homens a viver
uma vida angélica numa carne frágil: Jacobus ef
Joannes in virginifafe perstsfenfes, cerfaminis illius
gloriam summa cum admirafione reporfarunf; secun­
dum quos infinita hominum mil/ia in mundo, in mo­
nasferiis, ejusdem cerlaminis decus adepta sunf ( 2 ).
3.0 Mas o que coroou os seus merecimentos e
fêz dêle um perfeito modêlo do homem apostólico,
foi que ao zêlo que busca as almas, à santidade
que as atrai e ganha, juntou a coragem que se
sujeita a lodos os sofrimentos para as salvar .. far­
-se-á uma idéia das contraJições e h:ibulações de lodo
o género, que teve que sofrer, trazendo à memória :
que êle exerceu quási sempre o· seu ministério no
meio de Israel, o povo mais cego, mais indócil e mais
endurecido de todos os povos, e rematou-o com o
martírio, e bebeu o cális de seu Mestre, como o pro­
metera. foi o único apóstolo, à excepção de San­
tiago Menor, que teve o privilégio de derramar o
sangue em Jerusalém, na mesma terra que recebera
o do filho de Deus. A morte do Salvador ·deu prin­
cípio à Igreja; a de Santiago deu-lhe um maravilhoso
aumento, tendo ocasionado a dispersão dos apósto­
los, que foram pregar o Evangelho por todo o mundo.

( 1 ) Non in persu11sibilibus hum11n11e s11pienli11e verbis, sed in


os!ensione spirifus ef vi,fufis. I Cor. II, 4.
( �) S. Epiph.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
666 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Jesus Cristo, quási a expirar, linha rogado pelos seus


algozes; Santiago ao- morrer, converte o seu, abra­
çando-o. Oh I poder da caridade que se sacrifica
pela salvação das almas!
Tornai a vossa resolução, e ide ao • altar beber
outro cális q·ue vos preparou Jesus Cristo. Êle abrasa
os bons padres com o fogo do amor divino; adoça­
-lhes os sofrimentos; Oh! que santa embr-iaguez lhes
causa I Calix meus inebrians quam praeclarus est (1).

Resumo da Meditação

1. Santiago _honrou o �inislério apostólico com


os predicados que possuía: - Vocação, fidelidade,
sincera afeição à pesspa de Jesus Cristo. Logo que
con?eceu ao Salvador, ardeu em desejos de o seguir . .._
l Oue alegria não foi a sua, quando ouviu esla pala�
vra: Venife posf mel Não hesitou um só instante:
barca, rêdes, parentes, ludo foi sacrificado.. . Para
dar mais, não lhe faltou senão ler mais . . . Se re­
nunciou a pouco, acho� ainda menos. . . O seu sa­
crifício não só abrange ludo quanto !em, mas também
tudo quanto éle é e pode esperar. A abnegação é in­
dispensável ao discípulo de Jesus, e muito mais ainda
ao �eu ministro. - Amor ardente e generoso a Jesus
Cristo, com um inteiro desapêgo das criaturas, são
as duas qualidades essenciais do homem apostólico.

II. De que modo Santiago exerceu o divino


ministério. - l:.le oferece à nossa imitação o zêlo
que se aplica à santificação das almas, o exemplo
que as persuade, a coragem que aceita lodos os so­
.frimenlos para as salvar. � A palavra divina era na
sua bôca, cheia ,de fôrça. Os judeus só se enfurece-

(lJ Ps. XXII, 5.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S; INÁCIO DE LOIOLA 667
ram desde o princípio contra éle, porque se distinguia
pelo seu zêlo. Com suas palavrõs comovia, com o
exemplo arrastava. De todos os prodígios que fize­
ram os apóstolos, o de suas virtudes foi o que mais
conlribuíu para a conversão do mundo. - Ao zêlo
que busca as almas, à santidade que as ganha, ajun­
tou a coragem e a paciência que sofre tudo para as
salvar.. Jesus Crislo quási à expirar, pediu perdão
para os seus algozes; Santiago ao morrer, converteu
o seu, abraçando-o.

CXXV MEDITAÇÃO

31 de Julho. - Santo Inácio de Loiola

Era filho de uma· ilustre família de Espanha.


Tendo passado a mocidade na côrte e no exército,
onde vivera com honra, mas esquecido da sua salva.­
ção, causou-lhe .tal impressão a leitur'a de um livro re­
ligioso que lhe caíra nas mãos, à falia de um livro
profanô que tinha pedido, que se converteu e entregou
generosamente a Deus, e em pouco tempo se elevou
a uma alia perfeição. Fôra servo da glória humana,
fêz-se servo da glória de Deus : Servus meus es tu,
quia in te gloriabor (1). Desde a sua conversão até
à sua morte, se lhe pregun!assem o motivo das suas
penitências, das suas lágrimas, e das suas emprêsas,

(1) Is. XLIX, :3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
668 l\lEDITAÇÕE8 SACERDOTAIS

poderia responder com o profela Elias : Zelo zelalus


sum pro Domino Deo exercifuum (1).

1. Em lôd11s 11s coisas buscou a glória de Deus.


II. Só buscou a glória de Deus.
III. Só buscou a maior glória de Deus.

I. Santo Inácio buscou em tõdas as coisas a


glória de Deus. - Um antigo autor dividia os ho­
mens em quatro classes: homens do céu, homens da
terra, homens dos homens, e homens de Deus. Os pri­
meiros, procuram os bens eternos; os segundos apai­
xonam-se pelos falsos bens terrenos; os homens dos
homens são escravos do respeito humano ; os homens
de Deus unem-se a Deus, e só aspiram à felicidade
de lhe agradar. Santo Inácio distinguiu-se entre os
primeiros e os últimos. Tinha sempre o coração, e
com freqüência os olhos, voflados para o céu, e cos­
tumava dizer suspirando: Ouam sordel fellus, dum
coe/um infueor ! Pelo que respeita ao amor para com
Deus, lêmos nas adas da sua canonização, que a
Deus referia, como a seu fim,· todos os pensamentos,
fôdas as palavras e acç:ões, dirigindo tudo à sua honra
e glória. Pode-se dizer, que se esforçou por dar a
Deus a glória mais excelente, mais universal.
1. 0 Glorifica-se a Deus conhecendo-o e aman­
do-o; glorifica-se da maneira mais excelente, ·quando
além disto se procura torná-lo conhecido e amado. -
O primeiro cuidado de Santo Inácio foi glorificar a
Deus com a su·a própria santificação. Percorreu to­
dos os degraus, pelos quais uma alma se eleva à mais
eminente santidade, e começou por ser penitente. Tro­
cando os vestidos de fidalgo pelos de um pobre, ves-

(1) Ili Reg. XIX, to.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. INÁCIO DE LOIOLA 669
lido de saco, e cingido com uma corda, passa uma
noile inteira a orar anle o altar de Maria, com o co­
ração dilacerado ·de dôr, e já abrasado em amor,
para se dar lodo ao filho pelas mãos da Mãe. Desde
êsse momento, não se olhou mais senão como um
homem crucificado para o mundo e para quem o
mundo estav.a crucificado. A gruta de Manresa, os
hospitais, as praças públicas foram leslemunhas das
suas penitências e humilhações. Oh I quão genero­
samente reparou o âano que durante a sua vida
mundana linha causado à glória do Senhor I Todos
os seus vícios se transformaram em virtudes. 1 Oue
abnegação, que humildade, que paciência, que amor
para com Deus e para com os seus irmãos 1 1 Oue
ardente desejo de concorrer para a salvação das
almas 1 1 Oue coragem, que magnanimidade nos seus
primeiros ensaios da vida apostólica I é. Trala-se de
ir à Palestina para ali defender os interêsses de Jesus
Cristo no meio dos scismálicos e dos infiéis? é. Julga,
depois de vollar à Europa, que lhe é necessário
aprender .as letras humanas para ser mais úlil à gló­
ria do Senhor? é. Espera que poderá, com um ado
heróico, interromper o trato Hícilo de um homem com
uma mulher impudica? A distância dos lugares, os
obstáculos que parecem insuperáveis, nada detém
nem resfria o seu zêlo. Assim glorificou a Deus da
maneira mais excelente, pois o glorificou por seu pró•
ximo e por si mesmo. - Deu-lhe a glória mais uni­
versal.
2.º Pode-se aplicar a Santo Inácio esta palavra
de um profeta: Slefif, ef mensus esf ferram (1). Pa­
rou e mediu a terra; viu o deplorável eslado da re­
ligião em tôdas as partes do universo, e empreendeu
remediar lodos os males que descobria. Estendeu o

(1) Habac. Ili, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6 7 0 M E D IT A Ç ÕES SACERDOTAIS
_ _ ______ _ _ _ _ � _

seu zêlo a lôdas as idades, a tôdas as condições, a


todos os povos, a todos os tempos ... ,- por_que êsle
é o largo campo que abriu à Companhia de Jesus,
de que é fundador. Deus responde à sua grande es­
perança com tão abundantes bênçãos, que antes de
morrer, vê os seus filhos peneirar no seio de quãsi
lôdas as nações, para aí tornar conhecido o· nome
de Jesus Cristo e .acender em lodos os corações o
fogo de seu amor. Se S. Gregório é chamado após­
tolo da Inglaterra, porque lhe mandou pregadores da
palavra divina, Santo Inácio· merece o m·esmo nome
com relação aos numerosos países do Oriente, visto
q-ue lhes enviou S. F,rancisco Xavier, cujas pisadas
seguiram depois tanlos obreiros evangélicos.
Admiramos tão nobre zêlo; basta porém isto?
e.Devemos nós glorificar a Deus menos do que o
santo fundador, cujo zêlo contemplamos? é. Não é
a glória de Deus o nosso fim, assim como foi o seu?
é. Oue lemos nós feil°' ou padecido até êsle dia par,a
lha dar? é. Somos homens do céu, ou da terra?
é. homens de Deus, ou dos homens? Oue buscamos
nós? é. Temos um verdadeiro zêlo dos inlerêsses do
Senhor? é. Glorificamo�lo quanto podemos, por nós
e pelos outros? Ah ! que lágrimas deveríamos derra­
mar, 'se, fôssemos obrigados a reconhecer que o le­
mos deshonrado por nós e pelos outros 1

li. Santo Inácio só buscou a glória de Deus.


- Êle pode dizer com o seu adorável Mestre: Ego
aufem non quaero gloriam meam. Mediante as luzes
recebidas na oração, adquiriu dentro em pouco tempo
um conhecimento tão perfeito de si mesmo, que, se­
gundo confessa, a lenlaç_ão que menos temia era a
do amor próprio. ê.ste homem, que fõra tão melin­
droso no que respeila à honra mundana, era ávido
de humilhações e desprêzos. Não podia sofrer que
lhe mostrassem estima, nem mesmo que louvassem a

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8, INÁCIO DE LOIOLA 671

sua Companhia na sua presença. Uma das suas as­


pirações ordinárias eta esta: i Senh.ar, que quero eu,
ou que posso eu querer fora de vós? Mas nada ca­
racteriza melhor seu desinteressado amor dei que aquilo
que êle disse um dia a um dos seus: • Se me fôsse
concedido ou ir imediatamente para o céu, ou. per­
manecer na terra, incerto de me salvar, mas seguro
de dar a Deus alguma glória, tomaria êste "último
partido sem hesitar•. E acrescentava: • A perda
que eu sofresse com esta escolha, seria tão inferior
ao proveito, quanto são. inferiores todos os interêsses­
do homem aos ínterêsses de Deus•. Não via senão
a Deus, não sentia senão as ofensas feitas a Deus.
O mesmo inferno só o assustava, porque lá se ouve
incessantemente blasfemar o nome de Deus. Oh !·
quão poucos padres há, que vivam neste desapêgo
das criaturas, e para quem seja uma verdade completa
êste brado de amor do pio Boudon : • Só Deus, só
Deus » 1 l Onde estão os que podem dizer: Basta-me
Deus, contento-me de o ler por testemunha das mi­
nhas intenções e obras; só a êle busco, só .a êle
amo, só para êle trabalho, s.ó a êle desejo _dar gló­
ria ? Rarus profecia reperifur, qui solo leslimonio
conlenlus sif divino. Hoc probalissimorum virorum
esf proprium, qui in luce verilalis infrorsus gradien­
tes, Deo fanlum placere concupiscunl {1).

III. Sanfo Inácio só buscou em fôdas as coi­


sas a maior glória de Deus. - Era a sua divisa.
Acha-se em cada página das suas Constilu"ições �
linha-a incessantemente na bõca ; fôda a sua vida a
exprimia. Se se propusesse sõmenfe a glória de
Deus, poria limites ao seu zêlo, por que então ainda
lhe seria possível i::lesejar ou dar a Deus alguma coisa

(') S. L11ur. Jus!. De compl. Chrisf. perfed., e. XIX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

mais; mas buscando a maior glória de Deus em tudo


e unicamente, estendeu o seu amor até ao infinito.
Uma prova certa de que não vivemos senão para
Deus e sua maior glória, é a tranqüilidade e paz em
meio dos diversos acidentes, que turbam os outros
homens; Santo Inácio estava tão unido a Deus, tão
fixo, por assim dizer, na imutabilidade de Deus, que
os acontecimentos mais imprevistos, os contratempos
mais penosos não podiam alterar-lhe a serenidade da
alma. S. Filipe de Néri dizia ao vê-lo: Eis um ho­
mem que fem um roslo de anjo. S. Inácio amava
ternamente a sua Companhia, que êle via ocupada
em estender o reino de Jesus Cristo. Sentiria em
extremo a sua destru"ição; e todavia afirmava que, se
a maior glória de Deus lhe exigisse êste sacrifício,
de boa vontade o faria, e lhe bastaria um quarto de
hora de oração, para se restabelecer do abalo que
tão penoso golpe lhe causasse.
Roguemos a Deus, que nos dê alguma idéia da
sua glória, e a amaremos. Buscá-la-emos em tõdas
as coisas, só a ela buscaremos; e como Deus faz
tudo para nosso maior bem, faremos e sofreremos
tudo para sua maior glória.

Resumo da Meditação

1. Santo Inácio buscou em lôdas as coisas a


glória de Deus. - Tinha sempre o cor�ção e muitas
vezes os olhos voltados para o céu. J •0 Glorif:icou
a Deus da maneira mais excelente; porque não se
limitou a conhecê-lo e a amá-lo, dedicou-se lodo a
torná-lo conhecido e amado. Desde o momento da
sua conversão, considerou-s_e como um homem cru­
cificado para o mundo e para quem o mundo estava
crucificado. Logo que entrou no caminho da salva­
ção, esforçou-se por fazer entrar nêle os outros.
2. 0 Glorificou a Deus da maneira mais universal.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, DO:IIINGOS íi73
O seu zêlo abrangeu tôdas. as idades, lôdas as con­
dições, todos os ·povos, todos os tempos; porque
abriu êsse largo campo · à Companhia que êle fun­
dou. A glória de Deus é o nosso fim, assim como
foi o seu; é que lemos nós feito e padecido para o
conseguir?

li. Santo Inácio só buscou a glória de Deus.


- l:.le pôde dizer com o seu adorável Mestre: Eu
não busco a minha glória. Como êle mesmo o de­
clara, a tentação que menos temia, era a do amor
próprio. Não amava senão a Deus. E eu, Senhor,
<'. ousarei dizer que vós me bastais, que não busco
senão a vós?

IIL Santo Inácio só buscou em fôdas as coi­


sas a maior glória de Deus. - Era a sua divisa.
Tinha-a incessantemente na bôca; era a expressão
de tôda a sua vida. Daí essa paz, essa tranqüili­
dade de alma, que êle conservava no meio dos aconle­
mentos mais inesperados. Nada podia alterar a se­
renidade do seu rôsto. Fazei que eu vos conheça, ó
meu Deus, e eu buscarei sempre a vossa glóda, a
vossa maior glória, e não buscarei outra coisa.

131

CXXVI MEDITAÇÃO
4 de Agôsto. - S. Domingos

Nascido em Espanha em l 170, falecido em Bo­


lonha (Itália) em 1221, o Santo que hoje honramos,
foi um dêsses homens extraordinários, que Deus envia

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ao mundo para nêle cumprir uma missão conforme as


necessidades da sua época. Santo Tomás de Can­
tuária, com uma morte gloriosa, acabava de defender
os direilos da Igreja, opondo-se como um muro de
bronze aos prbjeclos dos seus inimigos; Jesus C�islo,
para consolar a sua Espôsa, deu-lhe Domingos e, por
êle, um exército de defensores e de mártires.
No ano de 1215, êsle varão admirável fundou,
com o nome de Pregadores, uma Ordem religiosa
destinada a unir o retiro e a contemplação ao estudo
das sciências sagradas e às funções do apostolado.
Aplicarem-se sem descanso à sua perfeição pessoal,
e habilitarem-se para trabalhar úlilmenle na salvação
das almas, tal era o duplo fii;n, que êle propunha aos
seus discípulos, e o objeclo das exortações que lhes
fazia. Oueria que cada um deles pudesse dizer, como
o Salvador, com alguma proporção: Pro eis sancli­
lico meipsum. Se alguém lhe preguntava : é. Üue é
necessário antes de tudo para vir a ser um Sanlo?
êle respondia: dominar-se: é. e para salvar almas?
amá-las. Recomc.-ndava, principalmente com as. suas
palavras e os seus exemplos, o recolhimento. e a vida
interior, o zêlo da salvação do próximo. • Falai ao
coração, repelia êle muitas vezes aos seus missioná­
riós, e fá-lo-eis, se os vossos corações forem cheios
de caridade• . Um dia que, descendo do púlpito, e.
deixando os seus ouvintes profundamente comovidos,
lhe pregunlavam de que livro se linha servido para
compõr um sermão Ião palélico, deu esta resposta:
do livro da cBridade.
A vida de S. Domingos não foi mais que uma
série de prodígios, e o maior foi a conversão dos
Albigenses. Mas, é. como se efecluou esla milagrosa
mudança? O' padres, ó pastores, j que imporlanle
objedo de meditação· há aqui para vós! Também
vós quereis fazer bem, salvar almas; aprendei de
S. Domingos que a devoção para com Maria SS. é

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, DOMINGOS 675
um dos mt1is poderosos t1uxílios do seu zêlo sacer­
dotal.

1. Devoção II Maria SS., poderoso auxílio do zêlo s11cerdof11I,


li. R11zões desta. prodigiosa eGcácia.
III. Como poderemos !,linda 11umenfá-l11.

!. A devoção a Maria SS. é um poderoso au­


xílio do zêlo sacerdotal. - E' difícil fazer idéia do
estt1do lt1mentável, a que os erros dos Albigenses, e
a corrução dos costumes que eram a sua conse­
qüência, tinht1m reduzido as províncias meridionais da
França. S. Bernardo havia-se esforçado, inutilmente
por lhe dar remédio; a sua veemente eloqüência' e os
seus milagres não tinham podido vencer a obstinação
da heresia nem a dureza dos corações. Os esforços
de S. Domingos durante algum tempo não foram
mais felizes. Estava inconsolável por causa disso.
Na amargura da sua alma recorreu à Santíssima Vir­
gem, suplicou-lhe, com os olhos banhados em lágri­
mas, que combatesse com êle, e lhe indicasse o meio
de salvar aquelas pobres t1lmas. Esta Mãe de mise­
ricórdia dignou-se apt1recer-lhe, e disse-lhe que, •como
a Saüdação Angélica fõra o princípio da redenção
do mundo, convinha que fõsse também o princípio da
conversão dos herejes; que, se pregasse o �osário,
que contém 150 Ave-Marias, veria os seus tr-abt1l hos
coroados de consoladoras bênçãos• . O homem de
Deus obedeceu. Em vez de se limitar, como linha
feito até então, às controvérsias, aplicou-se principal­
mente a pregar as grandezas e finezas da Mãe de
Deus, expondo as vantagens e a prática do Rosário.
Reconheceu-se dentro em pouco tempo a eficácia
desta devoção, tão santa em sua simplicidade. Mais
de cem mil herejes convertidos e um número incalcu­
lável de grandes pect1dores tirados das suas desor­
dens, justificaram admiràvelmenle as promessas do

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
676 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

céu, e propagaram esta célebre confraria, estabelecida


agora em lodo o universo e enriquecida pelos Sumos
Pontífices com os mais preciosos privilégios.
Se não bastasse um tal exemplo para demonstrar
a virtude da devoção a Maria, empregada como au­
xiliadora do zêlo sacerdotal, a história da Igreja nos
subministraria milhares de outros. Para nos limitar­
mos a"as dos últimos séculos, S. Bernardino de Sena,
S. Vicente de Paulo, S. Francisco de Sales, S. Afonso
de Ligório, etc., gloriavam-se de atribuir a esta causa
lodos os frutos do seu apostolado.

II. Razões desta poderosa eficácia. ...:..... Sucede­


•nos perdermos muitas vezes de vista duas verdades tão
incontestáveis como capazes de nos amparar no meio
das nossas provações; uma, que Maria tem para com
os sacerdotes uma predilecção especial; outra, que
de tôdas as nossas ocupações nenhumas há, cujo
bom éxito ela mais deseje, do que o daquelas que
tendem direclamente à salvação das almas. Oh!
quanto nos animam êstes doís pensamentos 1
E em primeiro lugar, não admira que a Mãe de
Deus se interesse particularmente pelos sacerdotes, e
que os ame com preferência; 1 está ligada ao sacer­
dócio por tantos laços sagrados 1 ... Ela deve-lhe a sua
glória àcidental. Se não houvesse sacerdotes, é. quem
enloaria os louvores da Virgem Mãe na terra? é. Ouem
celebraria as suas festas e adornaria os seus aliares?
é. Teria ela até festas e altares? Maria deve ao sa­
cerdócio infinitamente mais que a sua própria glória;
deve-lhe a, glória de seu Filho. é. Não são os padres,
que levam o nome de Jesus a tôdas as gentes, que
anunciam o seu Evangelho, e lhe submetem os espí­
ritos e os corações ?
Acrescentemos que se a semelhança atrai a bene­
volência, o sacerdócio dá-nos com Maria maravilho­
sas relações, que lhe fazem, em cerlo modo, achar

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8. DOMINGOS 677

em nós as suas imagens. Ainda que pecador como


sou, participo da sua dignidade, do seu ministério,
do seu poder, da sua felicidade. - Da sua dignida­
de, porque o Criador do universo digna-se pôr-se
debaixo da minha dependência, como se pôs debaixo
da sua, e obedecer-me, como lhe obedecia a ela; do
seu ministério, porque, se ela concorreu para a re­
denção do género humano, dando-lhe aquele que o
remiu à custa do seu sangue, eu concorro pora ela
aplicando aos homens os efeitos desta abundante re­
denção; do seu poder, pois que os mesmos Doutores.
da Igreja, que tanto admiraram a virtude dêsse fia{
que atraiu uma vez o Filho de Deus ao seu seio vir­
ginal, não admiram menos a virtude das palavras sa­
cramentais, que todos os dias o fazem descer às
minhas mãos; finalmente, da sua felicidade, e aqui eu
oiço a San lo Agostinho, que me diz: Si beafus ven­
fer qui novem mensibus Chrisfum porfavil, ifem beata
debenf esse corda in quibus sibi hospifium quofidie
eligif Fi/ius Dei.
Mas o que inclina para nós o coração da Santís­
sima Virgem de uma maneira mais irresistível em
certo modo, é o ministério cheio de misericórdia, que
exercemos para com o próximo. Maria ama tão ter­
namente as almas I l como não se interessaria ela vi­
vamente por uma existência empregada tôda em san­
tificá-las e salvá-las? S. Tomás afirma que ela devia
consentir na cruenta imolação de Jesus, assim como
linha consentido na sua Incarnação. Mas, l havia no
céu' ou na terra alguma coisa, que pudesse compen­
sar no coração de uma lal Mãe Ião doloroso sacri­
fício? Sim, a salvação das almas. Depois que Maria
fêz êste sacrifício de \)m heroísmo sobrehumano, pa­
recia que nada podia aumentar o seu amor para com
as almas; e todavia, 1 que nova chama lhe veio juntar
a úllima recomendação de Jesus na Cruz 1 . . . Dizer
a Maria, mostrando-lhe lodos os pecadores : ado-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
078 MEDITAÇÕES j!ACl':RDOTAIS

piai.os por filhos, sêde sua Mãe, era o mesmo que di­
zer-lhe: • Vêdes o que a sua salvação me custou, e
até que ponto os. amo; protegei-os, salvai-os ; é o
único alivio que podeis dar aos meus sofrimentos •.
l Ouem compreenderá a impressão, que faria seme­
lhante recomendação no coração da Rainha dos Már­
tires, nas circunstâncias em que se achava? Apren­
dei daqui, bons padres, a alegria que à SS. Virgem
causàm os vossos trabalhos apostólicos, e a diligên­
cia que ela emprega em lhes prestar o seu poderoso
auxilio.

III. Como podemos interessar cada vez mais


a Mãe de Deus no bom éxito dos· nossos traba­
lhos. - O bom sacerdote, para quem a devoção
a Maria não é menos uma necessidade do que um
dever, comunica-a quanto pode. Propaga adivamenle
e conserva as diversas práticas 'piedosos, que leem
por fim honrá-Ta: Rosário, escapulário, confrarias, o
costume de lhe consagrar um mês cada ano, um dia
na semana, alguns momentos no dia, ele. faz amar
as suas festas, e dispõe para elas as suas melhores
ovelhas. Pelos seus desvelos, a devoção à Virgem
SS., tão boa guarda da inocência, é inculcada à mo­
cidade desde a mais tenra idade. Como todos falam
de boa vontade do que mais .amam, os seus sermões
versam muil11s vezes sõbre o nome e o culto de Maria.
Exalta as suas grandezas e virtudes; mas apli­
ca-se principalmente a fazer sobressair a sua compai­
xão para com os pecadores. Não se descuida de
observar que ela não tem, como seu filho. o cargo
de exercer justiça inexorável, nem de condenar ho­
mens ingratos; mas só tem que sarar corações enfer­
mos, consolar aflitos, salvar filhos. Maria não é juiz,
é Mãe, e Mãe de misericórdia.
E.' necessário medilar no que ensinam os Douto­
res e praticaram os Santos sõbre esta matéria. fa-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. DOMINGOS üi!)

!ando à SS. Virgem, S. João Crisóstomo diz-lhe,


que foi predestinada para ser Mãe do seu Criador,
e para salvar com a sua compaixão os que não podia
salvar a justiça de seu Filho. •Oh I não, divina Mãe,
exclama S. Bernardo, vós nunca repelis o pecador,
por maior que seja. Estendeis-lhe mão caridosa:
arrancai-lo do abismo da desesperação; resliluís-lhe
a esperança e a vida. Apertais ao vosso malernal
peilo aquele que o mundo repele, e não cessais de
lhe prodigalizar os vossos cuidados, emquanlo o não
reconciliais com o seu juiz•
O padre Ségneri nunca fazia um refiro sem prê­
gar sôbre a misericórdia de Maria. Era, dizia êle, o
melhor dos seus sermões, e o que produzia mais
abundantes frulos. S. Afonso de Ligório linha adop­
lado o mesmo costume; e depois de citar esla pala­
vra da SS. Virgem a Sanla Brígida: Assim comó o
íman atrai o ferro, assim lambém eu atraio a mim as
almas mais endurecidt1s, acrescenla: • Eis um prodí­
gio da graça que se renova todos os dias nas nossas
missões•. E' cerlo que muilas vezes homens enve­
lhecidos na impiedade, insensíveis a lôdas as oulras
verdades da fé, se leem comovido e convertido, ou­
vindo falar da misericórdia de Maria. Refúgio dos
pecadores. Eis aqui a razão que dá S. Bernardino
de Sena: • Nós louvamos, e gostamos de ouvir.louvar
a humildade da Mãe de Deus, e admiramos a sua vir­
gindade; mas pecadores e miseráveis como sõmos, é
a sua misericórdia que nos é mais gra!o invocar,
Com efeito, a misericórdia não supõe merecimento,
nem direito naquele que é dela objeclo; só supõe
misérias, e quanlo maiores são, mais camiseração ex­
citam.
S. Epifãnio diz que o Verbo incarnado é o anzol
espirilual em que são apanhados os escolhidos, e
Maria a isca que os atrai: Esca spirilôlis hami.
O' padres, pescadores de homens, nunca lançareis

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
680 MEDITAÇÕES SACEIIDOTAIS

mais eficazmente a rêde da divina palavra, do que


quando exortardes os vossos ouvintes a honrar e a
invocar a Mãe de Deus, que é também a Mãe dos
homens.
Deploremos não ter dado mais vezes ao nosso
zêlo sacerdotal o poderoso auxílio que lhe oferece a
devoção a Maria.

Resumo da 1\\edltação

I. Devoção a Maria, poderoso auxílio· do zêlo


sacerdotal. - Era lamentável o estado da religião e
dos costumes no meio-dia da França, por causa da
heresia dos Albigenses. S. Domingos, �epois de
S. Bernardo, esforça-se em vão durante algum tempo,
por lhe dar remédio. Recorre a Maria; a Mãe de
mi_sericórdia aparece-lhe, e diz-lhe que, como a Saüda­
ção Angélica foi o princípio da redenção do mundo,
deve ser também o princípio da conversão dos here­
jes: que, se êle pregar o Rosário, serão abençoados
os seus trabalhos. O homem de Deus obedece, e a
conversão de mais de cem mil herejes, e a de um nú­
mero incalculável de pecadores, justificam a promessa
da SS. Virgem. Daí o admirável aumento desta cé­
lebre Confraria. Muitos outros obreiros evangélicos
se le.em gloriado de atribuir os frutos de seus traba­
lhos apostólicos ao seu zêlo em propagar a devoção
a Maria.

li. Razões desta poderosa eficácia. - Recor­


demos duas verdades consoladoras: t .º Mariá tem
para com os padres uma predilecção especial. Ela está
ligada ao sacerdócio por tanlos laços sagrados 1 ...
Deve aos padres a sua glória acidental: e.sem êles
seria ela louvada? Deve-lhes mais que a sua glória,
a de seu Filho; e. não são os padres que o tornam
conhecido e lhe submetem os corações? 2.0 Ela
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. DOMINGOS 681

ama tão ternamente as almas 1 . . Consentiu p�ra as


salvar, na imolação de seu Filho ; e é o sacerdócio
que as i;alva. - Àlém disto, é. como não amaria ela
os que leem com ela tão admiráveis relações, visto
que participam da sua dignidade, do seu ministério,
do seu poder, da sua felicidade?

Ili. De que modo podemos inferessar cada vez.


mais a Mãe de Deus no bom éxilo dos nossos tra"
balhos. - O padre consagrado ao culto de Maria,
propaga aclivamenle e conserva as diversas práticas
piedosas que leem por fim honrá-la: Rosário, esca­
pulário, ele.; faz amar e celebrar as su�s festas ; es­
força-se por que esta santa devoção seja inculcada à
mocidade ·desde a mais tenra idade. Fala muitas
vezes de Maria nos seus sermões, e aplica-se espe­
cialmente a fazer sobressair a sua compaixão para
com os pecadores. Maria não é juiz, é Mãe de mi­
sericórdia. Não esqueçamos sôbre esta matéria o
ensino e a prática dos Santos. Oiçamos S. Bernar­
dino de Sena: Laudamus humili/a/em, miramur vir­
ginilafem ... , sed miseris misericordia sapil dulcius.
Com efeilo, a misericórdia não supõe senão misérias;
e quanto maiores são, lanto mais excitam a comise­
ração. - Deploremos não lermos dado mais vezes ao
nosso zêlo um auxílio tão poderoso.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
6_8_�______M_E_DI_T_AÇÕRR SACEADOTA IS

CXXVII MEDITAÇÃO
6 de Agôsto. - A transfiguração.
-- Contemplação
1. Confemplar as pessoas;
li. Ouvir as palovros ;
Ili. Considerar as acçÔ<'s.

P.HIM:E.IRO PHELÚOJO. Seis dias depois de Nosso


Senhor predizer a glória da sua última vinda, tomando
consigo a S. Pedro, Santiago e S. João, levou-os a
um allo monte, e transfigurou-se deante dêles. Ali
lhes apareceram Moisés e Elias falando com êle ...
Pedro disse a Jesus: • Senhor, bom é que nós fi­
quemos aqui; se quereis, façamos aqui três taberná­
culos, um para vós, outro p1ut1 Moisés e outro para_
Elias• . Estando êle ainda falando, eis que uma bri­
lhante nuvem os cobriu, e seíu da nuvem uma voz,
que dizia: • ê.ste é o meu querido Filho, em quem
lenho pôslo tôda a minha complacência: ouvi-o• (1).
SEGUNDO l'HELÚDIO. Representai-vos um allo
monte, e no seu vértice Jesus que chega, e com êle
três dos seus apóstolos.
TEHCEmo PHELÚoJO. O' Jesus, o mais formoso
dos homens, fazei brilhar aos olhos da minha (:lima
um raio da vossa glória; concedei-me a graça de vos
conhecer, e nada poderá separar-me de vós: do Ta­
bor, seguir-vos-ei ao Calvário.
l .º Contemplar as pessoas. - Jesus Cristo,
buscando sempre e fazendo nascer a ocasião de fir­
..
mar a fé dos seus apóstolos, e de dispô-los, e nêles

(1) Ma!lh. XVII, 1.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR 683
todos os pastores da sua Igreja, .para as generosas
virtudes que exige esta vocação; depois, mostrando-se
com o rôsto refulgente como o sol, e as vestiduras
brancas como a neve. 1 Ditosos olhos, Senhor, os que
vos viram, e que vos hão de vêr na vossa glória 1-
S. Pedro, Santiago e S. João, únicos escolhidos para
serem testemunhas da Transfiguração. Os favores
extraordinários só são concedidos a algumas almas
privilegiadas. Felicitemos êstes três apóstolos, e im­
ploremos por sua intercessão, a graça de nos pene­
trarmos como êles, das grandezas do filho de Deus.
Era necessário que aqueles que haviam de vêr de
mais perto as humilhações da agonia de Jesus no
hôrto das Oliveiras, o contemplassem ao menos um
instante nos esplendores da glória. As· grandes graças
dispõem para as grandes provações. - Moisés e
Elias, falando com Jesus a respeito da morte que êle.
há de sofrer em Jerusalém. Moisés representa a man­
sidão e paciência, necessária a lodo o pastor de al­
mas. Era{ enim Moises vir mifissimus super omnes
homines, qui morabanfur in ferra ( 1). Poria eos in
sinu fuo sicuf por/are solei nufrix infanfulum (2). Elias
é a cari,dade ardente : Surrexif Elias prophe!a quasi
ignis ( ª ). Em suma, é todo o zêlo pastoral. A medi­
tação da Paixão e morte de Jesus é a sua verdadeira
fonte. Aprendemos a amar as almas e a sofrer tudo
pela sua salvação, quando refleclimos no amor que
Deus lhes tem; e quando amamos, somos pacientes:
Carilas pafiens esf . .. , omnia sufferl (4 ).

li. e III. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - l De que se fala nêsse monte cercado dos
esplendores do filho de Deus? Da morte cruel e

(1) Num. XII. 3. - (2 1 lbid. XI, 12. - ( 5) Eccli. XLVIII, 1.


(1) 1 Cor. XIII, 4, 7.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ignominiosa com que êle há de fazer a vontade de seu


Dai e realizar a salvação dos homens, as figuras da
antiga lei e os oráculos dos profetas. O' Senhor, é.era
êste um objecto de conversação que devesse agra­
dar-vos, quando manifestáveis a vossa glória ? Sim,
falar-vos da vossa morte, é folar-vos do vosso amor
para com o homem ; ela é raras vezes o assunto dos
meus colóquios convosco. é. Porque é . que, ainda
mesmo no aliar, oferecendo o sacrifício que mea pre­
senta aos olhos esta morte, não me sinto peneirado
dela? O memoria/e mor/is Domini ! Oh ! Paixão e
morte do meu Deus I Oh I excesso de amor ! é. Não
sereis vós pagos jámais senão com um excesso de
ingratidão !
Chegando ao Tabor, Jesus pôs-se em oração e
os três apóstolos puseram-se a orar com êle; mas
.deixaram-se logo oprimir do sôno, de sorte que não
viram o comêço da Transfiguração, e perderam uma
parte dêsle delicioso especfáculo. . . Ah I quantas
graças e luzes nos faz perder o sôno da tibieza 1 ...
Mas despertam, e vêem a majestade do seu divino
Mestre : .Evigilrmfes viderunf méljesfélfem ejus. Trans­
porlado de admiração, Pedro exclama : • _Senhor,
bom é que nós fiquemos aqui, e façamos três·tendas •.
Êle não sabia o que dizia, anota o evangelista sa­
grado. E com razão, pois o homem de fé não con­
sidera a terra como um lugar de gôzo e descanso.
Se Deus nos concede nela alguma passageira· conso­
lação, é para nos animar a trabalhar e a padecer.
1 Quantos padres porém desejariam estar sempre em
uma situação que os lisonjeia ! Esquecem o que de­
vem à religião e a seus irmãos. 1 Oue perda, que
desgraça para o mundo, se os apóstolos tivessem
permanecido sempre no Tabor 1
Apenas Pedro acabou de fazer a sua súplica,
quando um novo especláculo se oferece aos olhos dos
três discípulos. Veio uma luz brilhante e os cobriu, e
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR 685

ao mesmo tempo, da nuvem saíu uma voz que dizia:


• Este é o meu querido filho, em quem tenho pôslo
tõda a minha complacência: ouvi-o•. 1:.ste é pois
o Mestre que Deus dá ao género humano; é seu
filho amado, a quem êle encarrega de nos instruir.
l Precisava êle de recomendar o seu ensino à nossa
atenção, à nossa docilidade ? Os apá11tolos, cheios
de mêdo, caem por terra; mas o Salvador, chegan­
do-se a êles, toca-os com bondade, e diz-lhes : • Le­
vantai-vos, e não temais•. Êles então levantando os
olhos, não viram senão a Jesus: Levantes oculos,
neminem viderunf, nisi solum Jesum. Tudo se trans­
figura. numa alma admitida às comunicações íntimas
com o seu Deus. Tudo aí toma uma nova forma.
Feliz o padre que, depois de se ter ilustrado na oração
à luz da eterna verdade, não vê mais que a Jesus,
não considera senão a Jesus no próximo, não busca
senão a Jesus, e o prazer de lhe ganhar corações,
não deseja senão a sua aprovação e não procura em
tudo senão agradar-lhe.-
Ao terminar a meditação podeis falar sucessiva­
mente com o Senhor e com as testemunhas da sua
Transfiguração. Com ,Jesus, regozijai-vos da sua
glória,' venerai as suas grandezas; prometei à sua
palavra uma atenção mais respeitosa e mais dócil.
Rogai a Elias que vos obtenha o seu zêlo, a Moisés
a sua mansidão, e aos santos apóstolos que vos co­
muniquém a fé, esperança e caridade que tiveram
por prémio êste insigne favor, para que do Tabor
sigi;!is a Jesus até ao Calvário. Aceitai por amor dêle
as tribulações dêste dia; e quando chegar o tempo
dos grandes sofrimentos, animem-vos estas palavras
de S. Paulo: Salvaforem exspecfamus Dominum nos­
frum Jesum Chrisfum, ·qui reformabit corpus humili­
fafis noslrae, con6guralum corpori clarifofis suae (1).

(1) Philip. Ili, 21.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
686 !IIEDITAÇÕF.S SACBllDOTAIS

Resumo da Meditação

1. Contemplar as pessoas. - Jesus Cristo.


Ei-lo no monte ...- S. Pedro; Santiago e S. João.
l Por que razão sõmenle três apóstolos? é. Por que
êstes de pref�rência aos oufros?- Moisés e Elias fa­
lando com Jesus. Moisés é a paciência, Elias é o
zêlo. - Uma e outra virtude se obteem meditando a
Paixão e morte de Jesus Cristo.

li. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as


acções. - é. De que se fala nesse monte? O' Jesus,
nenhuma conversação vos agrada tanto como a que
!em por objeclo a vossa Paixão e morte. Em­
quanto ora é que o Salvador se transfigura. Ilusão
de Pedro, pedindo para ficar no Tabor; a terra,
para o homem de fé, não é o lugar do gôzo e do
descanso. A brilhante nuvem que desce sôbre o,
monte; a voz celestial que proclama a Jesus por
filho amado de Deus, e manda ouvi-lo. Os apósto­
los enchem-se de mêdo, o seu bom Mestre anima-os.
Colóquio com o Senhor, e com as testemunhas da
sua Transfiguração.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, CAETANO 687

CXXVIII MEDITAÇÃO
7 de Agôsto. - S. Caetano, fundador da Ordem
dos Teatinos. - Suscilabo mihi sacerdotem !ide/em,
qui juxla cor meum el animam meam facief (1).

S. Caetano foi um sacerdote fiel, que Deus sus­


citou para restabelecer e sustentar a dignidade do
sacerdócio. A Ordem que êle instiluíu, tinha por fim
renovar no clero a vida apostólica dos primeiros
tempos, e tapar a bôca ao_s herejes, sempre dispostos
a alegar,, nas suas contendas com a Igreja, a relaxa­
ção d�s seus ministros. Estes clérigos regulares fa­
ziam voto de tão grande pobreza, que nem sequer
deviam mendigar, vivendo únicamente das esmolas
que lhes dessem os fiéis, inspirados pela Providência.
Caetano edificou sucessivamente, com o exemplo das
suas virtudes e os trabalhos do seu zêlo, Vicência
sua pátria, Veneza, Nápoles e Roma. Achava-se
nesta última cidade, quando ela foi tomada e posta a
saque pelo condestável de Bourbon. · E.m S. Caetano
aparece-nos o padre perfeito, o homem ,dedicado à
glória de Deus, ao serviço do próximo, e desapegado
de tõdas as coisas terrenas. Três caracteres do es­
pírito sacerdotal, que êle deixou por herança à sua
fervorosa congregação :

1. Com relação a Deus, espíri(o de religião.


li. Com relação ao próximo, espírito de Cllridllde.
III. Com relação a si próprio; espírito de abnegação.

(1) I Reg. 11, 35.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
688 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

I. 5. Caetano, com relação a Deus, praticou


em grau eminente a virtude da religião. - Bem
cêdo a graça deposiíou nêle o germe do profundo
respeito para com a divindade, que os anos desen­
volveram. Na sua mocidade, formava tão elevada
idéia do Senhor de quem os padres são ministros,
que só o pensamento do sacerdócio lhe infundia. ale­
gria e temor ao mesmo tempo. e. Ouem poderia ex­
primir os sentimentos com que recebeu as ordens sa­
cras, e ·a impressão que lhe causava o sacrifício da
missa? Deu-os a conhecer numa caria que escreveu
a uma pessoa piedosa: 1 • Desprezível pó, trago o
Todo-Poderoso sob frágeis espécies! 1 Tenho-o deante
dos olhos, e êles não se desfazem em lágrimas 1 1 Te­
nho-o no meu peito, e o meu peito não arde• 1
Conservou durante tôda a sua vida éste profundo
respeito para com Deus no exercício das funções do
seu ministério. Daí uma atenção, uma gravidade,
uma modéslia, que edificavam os fiéis. Dilí também
um ardente zêlo da exacta observância das cerimó­
nias da Igreja, e de tudo o que pode contribuir 'para
a glória e majestade do culto. A sua ambição era
que lodos e cada um de seus irmãos pudessem dizer
com o rei profeta: Zelus domus fui1e comedi! me (1).
- Domine, dilexi decorem domus fude ef locum ha­
hilafionis gloride fude (2).
E eu também, ó meu Deus, amei durante algum
tempo a formosura de vossa ·casa, e o lugar onde
vos dignais hahitar no meio de vosso povo. As pri­
meiras vezes que celebrei o sacrifício, justamente cha­
mado o iniÍdgre dê nossos mistérios (3), e distribui
aos homens o pão dos anjos, causou-me admiração
a nobreza de um miriislério Ião divino: sentia-me

(1) Ps. LXVIII, 10. - ( 2) Ps. XXV, 8.


(3) 5. Chrys. Horn. LXI. ad pop. Antioch.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
li. CAETANO 689
como que oprimido do pêso de vossa majestade;
comoviam-me os benefícios de vossa excessiva bon­
dade. Ai I de mim! é.que foi feit� daquela fé -viva?
l Porventura não imolo já a mesma vítima? é. Não
recebo em meu peito o mesmo pão de vida e o m.es­
mo cális de salvação? é. Não adoro as mesmas perfei­
ções divinas? E se, por uma feliz excepção, a minha
tibieza e as trevas em que me envolve, não se esten­
dem ainda até à missa: é. que sucede com as minhas
outras obrigações? i Posso eu asseverar que as
exerço tõdas de uma maneira digna de Deus, com
atenção, respeito e devoção?

II. S. Ca.�fano foi, com relação ao prox1mo,


um modêlo de caridade. - Esta virtude. em um bom
padre deve juntar o que o zêlo lem de mais ardente
para s(llvar as ·almas, com q que a misericórdia tem
de mais compassivo pará consolar e socorrer os in­
felizes.
1. 0 Para avaliar o zêlo que S. Caetano tinha da
santificação das almas, recordemos o deplorável es­
tado da Igreja na época em que êle apareceu. Via
realmente, como Jeremias, o oiro do templo escure­
cido, as pedras do santuário espalhadas, e escânda­
los sem número. Não se limitou a chorar males que
exigiam os remédios mais eficazes. O seu zêlo teve
tõdas as qualidades do zêlo apostólico: aclividade,
firmeza, afabilidade, paciência.
Zêlo aclivo e laborioso. Sem perder um só ins­
tante, põe mãos à obra: anuncia a divina palavra,
dirige as consciências, aceita controvérsias em que
o êrro é confundido. Chama para junto de si obrei­
ros que êle resolve a participar dos seus trabalhos, e
a quem comunica o fogo que o devora. - Zêlo firme
e in!répido: nem os grandes com o seu poder, nem
os libertinos com a sua audácia, nem os herejes com
o seu ódio podem detê-lo nas suas emprêsas para

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
690 MEDITAÇÕl!IS SACERDOTAIS

salvar o próximo. - Zêlo afável e insinuante que lhe


dá, quando é preciso, as maneiras mais agradáveis.
- Zêlo paciente que lhe faz suportar as vigílias, as
fadigas, as injúrias, os insultos, e as violências.
l Quanto não teve que sofrer, quando em Roma, sa­
queada e cheia de sangue, o viram arremessar-se ao
meio dos mortos e dos vivos, reanimar os fiéis, ensi,
ná-los a aproveitarcse das suas desditas e a morrer­
crislãmente, se Deus exigisse êsle último sacrifício;
quando, êle mesmo acometido, no templo do Senhor,
foi espancado, algemado, e encarcerado?
l Oue leria feito em seu lugar um padre tímido e
frouxo? l Ter-lhe-iam faltado pretextos para se sub­
trair aos perigos, ou para não levar tão longe um
zêlo que abriu o céu a tantas almas? S. Caetano
imitou o grande Apóstolo: é• Posso eu vêr os meus
irmãos em perigo de se perderem, sem que arda em
desejos de os salvar? Óuis scandalii.afur, ef ego non
uror? l Posso eu vê-los sofrer, sem que sofra tam­
bém? Quis inGrmafur ef ego non inGrmor• ?(1) A sua
caridade abrange as enfermidades do corpo e as da
alma.
0
2. Ouási lodos os flagelos juntos tinham en­
chido a Itália de indigentes, de enfermos, de órfãos,
de prisioneiros. S. Caetano ouve a voz de tôdas
estas misérias, e empreende aliviá-las. Vai pedir so­
corros de casa em casa, e reparle-os pelos pobres ;
passa noites inteiras ao pé dos enfermos, e presta-lhes
os mais penosos serviços. Se ãs outras calamidades
vem juntar-se uma grande escassez de víveres, reúne
as pessoas esfomeadas, e distribui-lhes os alimentos,
de que se priva. Se a peste assola Veneza, e afugenta
todos os que vivem na abundância, êle permanece
impávido com os seus companheiros, aos quais anima

(1) li Cor. XI, 29.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
!I. CAETANO 691
com o seu exemplo . . . Oh I não, êle não receia ser
ferido de peste; Ião bela mo,rle ser-lhe-ia tão vanta­
josa I ·. . . Eis aqui o padre fiel; é todo de Deus, todo
do próximo por amor de Deus: mas esta caridade
supõe um desapêgo de lodos os _bens da terra e uma
completa abnegação.

Ili. S. Caetano foi, com relação a si mesmo,


um modêlo de desapêgo e de confiança em Deus.
- Êle podia dizer ct>m David: TéJ,Ilquam prodigium
faclus sum mui/is: el lu adjufor forfis (1). •Olharam-me
como porfenlo, considerando a minha pobreza. Mui­
tos a condenaram porque _saía das regras da prudên­
cia; mas vós, Senhor, fostes o meu poderoso defen­
sor•. Efeclivamente não se sabe o que se deve
admirar mais, se a sua firme esperança em Deus, se
o cuidado que Deus tem de justificar essa esperança.
1.0 Nesta triste época, a cob.iça tinha-se intro­
duzido no santuário; a heresia exultava. Caetano
vingou a honra do sacerdócio com um desinterêsse
até ali sem exemplo. Renunciou não só todos os
haveres, mas ainda tõda a e,spécie de recursos huma­
nos, contentando-se com os que a Providência lhe
fornecesse. Os outros pobres de Jesus Cristo nada
possuem, mas podem pedir; o nosso Santo priva-se
dêste meio de subsistência. Mendigará para os ou­
tros pobres, nunca para êle nem para os seus reli­
giosos; e até do que lhe é oferecido, não aceita
senão o que lhe é indispensável, interpretando no
sentido mais rigoroso a máxima do Salvador: Ne
2
sollicifi si/is ( ). Se um bispo vem em seu socorro,
êle acha logo as suas liberalidades muito freqüentes
e abundantes; afastar-se-á do bemfeilor, se não demi­
nui os seus benefícios. <'. Em que auxílio se funda?

(1) Ps. LXX, 7. - (1) Mellh. VI, 25.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

No vosso, ó meu Deus, no da vossa Providência,


cuja sabedoria, cuja t,rnura e poder conhece. Sabe
que Deus vê tôdas as nossas necessidades: Sei!
enim Pafer vesfer quia his omnibus indigefis (1). Sabe
que Deus quer assistir-nos, porque nos ama: /pse
enim Paler amaf vos (2); que pode socorrer-nos em
qualquer aflição, _porque desde uma extremidade do
mundo até ã outra exerce um poder absoluto: Allingif
a fine usque ad finem for/iler (3). Tai é o auxílio, que
o Santo não pode dispensar, mas com o qual dis­
pensa fãcilmente lodos os mais.
2.° Com efeito a sua confiança foi sempre admi­
rãvelmente justificada. Metido a bordo de um navio
no Tibre, corre um .perigo que parece inêvitável: a
Providência salva-o. No meio dos empestados, lem
por tôda a parte a morte deanle dos olhos: a Provi­
dência conserva-o. Numa apertada conjuntura neces­
sita de uma quantia de dinheiro: a Providência en­
via-lhe uma pessoa desconhecida que lha enlrega.
Ouer ter companheiros nos seus trabalhos: e a Pro­
vidência agrega-lhe homens recomendáveis e escolhi­
dos. Deseja instituir uma Ordem, e, a-pesar das di­
ficuldades humanamente insuperáveis, a Ordem dos
Teatinos floresce bem de-pressa em tôda a Itália,
donde se estende às outras nações.
Fiemos de Deus tudo o que "nos diz respPito, e
nunca esperaremos em vão. Aproveitemo-nos do
exemplo que nos dá S. Caetano e da recomendação
que nos faz S. Pedro. Visto que Deus se digna en­
carregar-se de tôdas as nossas solicitudes, confiemos­
-lhas; não tenhamos mais nenhuma senão a de lhe
mostrar o nosso amor, pelo nosso zêlo dos interêsses
de sua glória e do serviço do próximo: Omnem sol-

(l) lbid. 32. -- (2) Joan. XVI, 27. - (3) Sap. VIII, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. CAETANO 6!13
-----------'----------------
licifudinem vesfram projicienfes in eum, quoniam ipsi
cura esf de vohis (1).

Resumo da Meditação

1. S. Caefàno, com relação a Deus, pratica


em grau eminente a virtude da Religião. - Só o
pensamento do sacerdócio lhe infundia na sua juven­
tude alegria e temor. Depois de tomar ordens sacras,
escrevia: Desprezível pó, eu trago o Todo-Poderoso
sob frágeis espécies I Tenho-o deanfe dos olhos e os
meus olhos não se desfazem em lágrimas! . . . Inspi­
rava aos que o viam, o seu profundo respeito a tudo
o que se refere ao culto divino. Oueria que todos os
membros da Ordem que fundou, pudessem dizer com
tõda a verdade : Zelus domus fuae comedi! me. -
Domine, dilext decorem domus luae. E eu Senhor,
amei também a formosura da vossa casa . . . Mas,
ai I de mim I l que é feito daqueles dias de fé viva e
de fervor ardente?

II. 5. Caetano foi com relação ao prox1mo,


um modêlo de caridade. - Zêlo ardoroso, afável,
firme, paciente: isto quanto às almas. Prega, dirige
ele. faz-se acompanhar dos obreiros evangélicos que
se lhe agregaram. Não se limita a chorar males que
exigem remédios mais eficazes. - A sua caridade
abrange as enfermidades corporais. Recebe esmolas
e reparle-as pelos pobres. Dedica-se ao serviço dos
empestados.

III. S. Caetano foi, com relação a si mesmo,


um modêlo de desapêgo e confiança em Deus. -
Não se sabe o que se deve admirar mais, se a sua

(1) J Pe!r. V, 7.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
69& MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

perfeita confiança em Deus, se o cuidado de Deus


em justificar esta confiança. Renuncia não só a lodos
os haveres, mas também a lodos os recursos huma­
nos, contentando-se com os que a Providência lhe
fornece; priva-se do direito de pedir, a não ser uni­
camente ao Pai celestial. - A Provicléncia vem cons­
tantemente em seu socõrro em todos os perigos e
aílijões.

CXXIX MEDITAÇÃO
15 de Agôsto. - Assunção
da Santíssima Virgem

São objedo desta festa, a maior de tôd{ls as que


a Igreja celebra em honra de Maria, três mistérios
gozozos e admiráveis, realizados quási simultãnea­
menle: a sua morte, a sua ressurreição antecipada, e
a sua entrada triunfante no, reino eterno. Ninguém
pode amar a Virgem Mãe, sem se alegrar com a sua
felicidade; por isso tõdas as almas que lhe são dedi­
cadas, se deleitam em contemplar hoje a sua glória,
porque hoje foi coroada e proclamada Raínha dos
anjos e dos homens, do céu e da terra. Todavia, se
consultarmos sõmente os desejos de Maria, sempre
conformes com os nossos interesses, aplicar-nos-emos
a considerar, menos a sua glória do que aquilo que
lhe deu origem, e acharemos que foi a sua santidade,
a qual nos · cumpre imitar, quanto couber em nossas
fôrças.

1. Maria deve à sua santidade II sua morfe, 11 sua ressurreição, 11


sua 11ssunç1io gloriosa.
li. Maria excede em glória II fados o:i S11nfos, porque os excede 11
todos em santidade.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASSUNÇÃO DA SS, VIRGEM 693
1. Maria é glorificada na morle, na ressurrei­
ção e na assunção, por causa da sua santidade. -
Para ser coroado, diz S. Paulo, é necessário ter
combatido dignamente ('); A mais privilegiada de
tôdas as criaturas não foi dispensada desta lei.
Triunfa, porque venceu ; é glorificada, porque mereceu
sê·lo: a sua felicidade é o fruto da sua santidade,
{lssim como a sua santidade é o fruto de suas obras.
Apliquemos a Maria, que é a mulher forte por exce·
1ência, êsle oráculo da Sabedoria: Date ei de frucfu
manuum suarum, ef lauderif eam . . . opera ejus (2).
<. Ouando o compreenderei eu, ó meu Deus? .Não é
o que fazeis por mim, que me dá direito às vossas
recompensas, mas sim o que faço por vós. l E' a
imaculada conceição de vossa Mãe, é a sua divina
maternidade, ou todos os seus privilégios juntos que
premiais hoje? Não: seria caso para eu desanimar.
Os vossos grandes favores, Senhor, são para nós
�randes obrigações, e terríveis motivos de acusação,
se dêles não nos aproveitarmos. O que premiais em
Maria, é a profunda humildade· na sua elevação, a
paciência inalterável no meio das mais penosas tribu­
lações, a sua piedade, a sua caridade, lôdas as vir·
fodes que ela praticou com tanta perfeição.
D. bom servo do Evangelho não diz sõmente a
seu senhor, que recebeu dêle cinco talentos: Domine,
quinque talenfa fradidisfi mihi; l há nisto algum mé·
rito? Mas acrescenta que com êl1es ganhou outros:
Ecce .a/ia quinque superlucralus sum: não apresenta
outro direito à recompensa; assim como também o
seu senhor, concedendo·lha, não alega parn isso
outra ·razão senão a sua fidelidade : Ouill ... fuisfi
lide/is, infra in gaudium Domini fui (3). Deve se dizer

(1) li Tim. li, 5. - (�) Prov. XXXI, :;1.


(3) Moflh. XXV, 20, 2:;.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
696
---------
l\lEDITAÇÕES SACERDOTAIS

outro tanto da SS. Virgem : o que dá ocasião à sua


suave morte e gloriosa assunção, não são as prerro­
gativas que deve só a Deus; é a sua santidade que lhe
vem depois de Deus, da correspondência à graça e
das boas obras. Santo Agostinho afirma, que se ela
não tivesse concebido o Verbo de Deus ainda mais
santamente na sua alma do que o concebeu no seu
seio, a mesma maternidade divina teria sido para el1;1
um título glorioso, mas inútil: Materna enim propin­
quifas nihil ei profuissef, nisi felicius ipsum .ide, quam
carne gesfassef.
l Mas daí que se segue? Ouapropfer, frafres,
magis safagife, ui per hona opera cerlam vesfram ...
e/ecfionem faciafis (1). Portanto, se a criatura mais
amada do céu não teve outro meio senão a santidade
para alcançar a felicidade eterna, que nos é prome·
tida como a ela, devemos trabalhar na nossa santifi­
cação' com um zelo sempre mais generoso e ardente:
Magis safagife. O que deve consolar-nos é que de­
pende de nós fazer certa a nossa predestinação :
Ut cerlam vesfram e/ecfionem faciafis; é que ela não
está ligada a graças extraordinárias, mas às virtudes
de nosso estado e às boas obras que a nossa vocação
nos mete, por assim dizer, a cada instante debaixo
da mão: Per hona opera; porque, se quisermos, será
isto para nós, na hora da morte, uma fonte inesgo­
tável de esperança e consolação.

li. Maria excede em glória a todos os Santos,


porque os excede a todos em santidade. - Visto
que Deus, segundo a lei da sua justiça, não recom­
pensa, ainda mesmo em sua Mãe, senão a santidade
das obras, é justo também que a recompensa corres­
ponda exadamente a esta �antidade; e assim como,

(1) li Pelr. 1, 10.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASSUNÇÃO DA S8. VIRGEM 697
para conceder a recompensa, só se funda nos mere·
cimentos, deve proporcioná-la à extensão e perfeição
dêsses merecimentos. Se pois nenhuma santidade,
fora a de Deus, iguala a santidade de Maria, deve­
mos crêr, com S. Bernardo ·e tôda a Igreja, que Ma­
ria sobreexcede todos os sêres criados : Super
omnem exaflafa creafuram (1). Nunca uma pura cria­
tura possuíu !antas graças, nem semelhantes graças,
e nunca ela recebeu uma só sem a multiplicar com a
cooperação mais perfeita. Uma plenitude de glória
devia corresponder a uma plenitude de santidade:
Ouanfum enim grafiae. in ferris adepta esf prae caefe­
ris, fanfum ef in caelis obfinef gloriae singularis (2).
Por isso o mesmo S. Bernardo exclama cheio de
admiração: Chrisli generafionem e/ Mariae assum 1

pfioner'n quis enarrabil? Maria é elevada ao mais


alio dos céus, porque se humilhou mais profunda­
mente na terra . . . Goza no seio de Deus as delícias
da eterna -bemavenlurança, porque desprezou os fal­
sos prazeres do mundo. Ouanto semeou -nas lágri­
mas, tanto colhe na alegria. E' assim que seremos
!ralados: Oui seminal in benediclionibus, de benedi­
clionibus e/ melei (3). Ouanlas vitórias eu alcançar,
lanlas corôas receberei; quantas humilhações e tribu­
lações, tantos �plendores celestes e celestiais praze­
res (4). Conforme o que eu der, assim receberei. Se
multiplico deanle -de Deus os meus merecimentos, êle
me enriquecerá, não só com os dons da .sua graça.
mas também com os dons da sua glória; êle os au­
mentará e os derramará sõbre mim com profusão:
Ef mulliplicabif semen vesfrum, ef augebif incremenftt
frugum jusfiliae vesfrae (5).

(1) Serm. 1 de Assumpf. - (2) lbid. - (3) li Cor. IX, 6.


(4) lnebriabunlur ab uberfafe domus fuae. Ps. XXXV, 9.
(á) li Cor. IX, 10.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
698 MEDITAÇÕES SACRRDOTAIS

Compreendo agora, ó Maria, como podeis ser


Mãe de um Deus, e beber na torrente das mais
amargas tribulações; como o Filho mais terno e mais
poderoso pôde deixar-vos tanto tempo na aílição, e
concorrer para provações que fizeram da vossa vida,
assim como da sua, um martírio continuado. As
consolações da vossa morte deviam compensar abun­
dantemente as dôres da vossa ·vida; a vossa assun­
ção gloriosa devia reparar com imensa vantagem tô­
oas as vossas humilhações. O amor que Jesus ·vos
tinha, o desejo de realçar sempre o vosso triunfo,
aumentando continuamente o tesoiro de vossos mere­
dmenlos, levavam-no a usar convôsco dêsses rigores
aparentes, que mostrou nas bôdas de Caná, no tem­
plo, até junto à-Cruz (1). Aí de mim I e eu queixo-me,
quando êle me trata como tratou a sua Mãe! ..
Virgem fiel, levai-me atrás de vós por um caminho
que conduz a lãa feliz têrmo . . . Sim, eu quero hu­
milhar-me, quero padecer, e santificar-me com a hu­
mildade e paciência. Mas ajudai-me, ó minha Raí­
nha, ó minha Mãe. Fazei que eu lenha sempre pre­
sente êste pensamento, que o que me causõ hoje dôr,
me causará àmanhã prazer, e que as tristezas tempo­
rais preparam as alegrias eternas.

Resumo da Meditação

I. , Maria é glorificada na sua morte, na sua


ressurreição e assunção, em virtude da sua sanli"
<lade. - Lei geral: para ser coroado, cumpre ler
combatido bem. Não, ó meu Deus, não é o que fa.
zeis por mim, que me dá direito às vossas recompen­
sas; é unicamente o que eu faço por vós. O bom
servo do Evangelho não só diz ao seu senhor, que

(1) Jo1m. II, 4: Luc. 11, 49; Joon. XIX, 26.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, BERNARDO 699

recebeu _cinco talentos, mas também que os fêz valer.


Sucede o mesmo com a Virgem Maria. l Daí que
se segue? Esforçemo·nos por assegurar a nossa vo­
cação e eleição para a glória, por meio das boas
obras de que ela é a recompensa.

II. Maria excede em glória a todos os San­


tos, porque os excedeu a todos em santidade. -
Assim como, para conceder a glória eterna, Deus só
se funda nos merecimentos, assim ta·mbém quer que
esta glória corresponda exaclamen!e aos merecimen­
tos. Ouanlo Maria semeou nas lágrimas, tanto colhe
na alegria. E eu também, ó meu Deus, receberei em
proporção do que tiver dado. Virgem fiel, levai•me
atrás de vós pelo caminho doloroso, que conduz a
tão feliz têrmo. Fazei que eu lenha sempre presente
êste pensamento: que o que me causa tristeza du­
rapte a vida, me causará alegria na hora da morte.

181

CXXX MEDITAÇÃO
20 de Agôsto. - S. Bernardo

r.ste Santo, destinado a restaurar o espírito mo­


nástico, e a ser o ornamento e sustentáculo de tôda
a Igreja, nasceu no ano de 1091, em Fontaine, perto
de Dijon. Era filho de pais nobres e virtuosos. Na
idade de vinte e dois anos, receoso dos perigos do
mundo, retirou-se para Cister, aonde com as suas
exortações e o seu exemplo atraiu seus cinco irmãos,
seu tio e mais trinta parentes ou amigos. O seu
próprio pai seguiu-o mais tarde, e se fêz discípulo de
seu filho. Foram todos recebidos com grande júbilo

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
700 MEDITAÇÕES SACl!:RDOTAIS

pelo- piedoso abade. Estêvão e pelos seus religiosos.


Passado pouco tempo, Bernardo é obrigado a dei­
xar· esta santa casa para ir fundar a abadia de Cla­
raval, donde saem numerosas colónias de religiosos, e
vê durante a sua vida cento e sessenta mosteiros de­
baixo da sua obediência. Isto porém foi apenas umà
parte de suas ocupações. Depois de trabalhos quási
incríveis para defender a Igreja, que êle edificou com
as suas virtudes, instruiu com a sua doutrina e ilus·
Irou com os seus milagres, morreu a 20 de Agõslo
de 1153, na idade de sessenta e três anos. A sua
vida oferece:' contrastes cheios de instrução para os
pastores das almas; eis aqui três que meditaremos
ulilmente:

I.

..
Sua 11usler11 penilênci11 unid11 à su11 inocênci11.
li. Su11 vida conlemploliv11 unida II um11 vid11 l11borios11.
Ili. Su11 vida humilde no meio "da 11dmir11çiio de que é .o�jkclo•

1. S. Bernardo juntou uma penitência austera


a uma perfeita inocência. - Tinha recebido ao nas­
cer, aquela candura e bondade, que são como o pres­
ságio da piedade. Seus pais haviam cuidado em in·
fundir-lhe amor à virtude, e o seu exemplo fõra para
êle um contínuo ensino. Todavia ninguém talvez es­
teve mais exposto às seduções da mocidade, por
causa de todos os dotes do espírito e do corpo, de
que é tão fácil abusar no mundo; mas resguardou-se
obedecendo às inspirações da graça. Um dia, tendo
olhado por inadvertência para "um objec!o perigoso,
foi logo lançar-se num tanque de água frigidíssima,
onde se deixou estar muito tempo, para castigar o
que lhe parecia uma fraqueza imperdoável; 1 preciosa
timidez de consciência, que não pode suportar um
só instante o pêso da mais leve falta I Jesus e Maria
recompensaram-no dêste amor à pureza, favorecen­
do-o com as suas freqüentes visitas e com um dom
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. BERNARDO 701

particular de contemplação e oração. E já os seus


colóquios com Deus eram quási contínuos. Tai foi
no mundo a vida do jovem Bernardo; l que linha êle
pois a expiar com a rigorosa penitência que abraçou,
quando deixou o século, e que praticou até ao fim da
sua vida?
Com um corpo franzino e uma débil saúde, não
acha austeridades que satisfaçam o amor que tem à
mortificação. Enfraqueçam-no os jejuns, extenuem-no
as vigílias·, prostrem-no as doenças:_ nada o detém.
O qúe perde a carne, ganha-o o espírito. Acha sem­
pre novas fôrças para continuar as mesmas austeri·
dades ou entregar-se a outras ainda maiores. Só con•
cede à natureza uma p0uca de água, alguns legumes,
um pequeno repoiso; e esta vida penitente, tem-a por
tôda a parle, tanto no palácio dos reis, como no seu
mosteiro.
Os Santos são incitados à penitência por motivos
que nós meditamos muito pouco. Ouanfo menos cul­
pados são, mais julgam sê-lo,; quanto mais pura é a
sua alma, mais manchas descobrem até em suas acções
mais perfeitas. O zêlo que êles leem da glória de
Deus, persuade-os de que as menores ofensas contra
a infinita majestade, merecem- as mais rigorosas ·ex•
piaçoes. Se não é o passado que lhes mele mêdo, é
o futuro. Parece-lhes mais prudente evitar o pecado
que ler de chorá-lo. Além disto amam muito a Jesus
Cristo e por isso não se recusam a padecer, lem·
brando-se de quanto Jesus padeceu por êles ; querem
que lhes seja permitido dizer que estão cravados com
êle na Cruz : Chrisfo crucilixus sum cruci (1). Eis a
razão por que todos os que a Igreja honra como
Santos, os honra como penitentes. O Espírito de
Deus não tem a êste respeito diversos caminhos. Mas

(') Gel. II, t 9.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
702 MIWITAÇÕES SACERDOTAIS

quanto aos homens aposlólicos, o que os faz amar as


macerações, é o zêlo da salvação do próximo. Como
Jesus Cristo salvou os homens pela Cruz, o melhor
meio de nos dispormos para lhes aplicar os mereci·
men!os da salvação, é imitar, quanto possível, a peni·
lência de Jesus crucificado.

li. Vida contemplativa de S. Bernardo unida a


uma vida laboriosa. - � Sou a quimera do meu sé·
culo, exclamou éle; solitário sem solidão, ocupado
em lodos os negócios do mundo, depois de ler dei·
xado o mundo para não pensar senão em Deus• .
E' cerlo, que êle tomou parle em lodos os aconteci­
mentos da sua época, ou antes, foi a alma dêles.
Se o seguirmos às cidades, às cõrles, aos concílios,
passando !rês vezes os Alpes, percorrendo tõda a
frança, peneirando alé ao fundo da Alemanha, acha•
mo-lo encarregado das negociações mais espinhosas,
dos ministérios mais difíceis, combatendo ora o scisma,
ora a heresia, sempre as paixões mais indomáveis.
Mas, no meio desta agitação exterior, eslá tranqüilo,
unido sempre a Deus e fazendo o que é de seu agrado:
Ouae placifa sunf ei facio semper. Lamenta-se, geme,
tõdas as vezes que se vê obrigado a deixar o seu
mosteiro: !fane, bone Jesu, fofa deficit in do/ore
vila mea? Trislis esf anima mea usquedum redeam.
Deixa·o todavia; mas sem interromper o seu intimo
comércio com Deus. Se não pode levar consigo a
sua cela, diz um historiador da sua vida, leva o seu
amor e o espírito de recolhimento. Ubique solus era/.
Semelhante aos anjos que, em seus diversos ministé­
rios, contemplam sempre a face de Deus, S. Bernardo,
engolfado nos negócios do mundo, está sempre sepa­
rado do mundo, e só descobre o seu coração a Deus.
Tai é o verdadeiro espírito da vida apostólica.
Não é nem a adividade de Maria, nem a contempla­
ção de Maria; é a união de uma e outra. Tralar ex-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. BEIINAIIDO i03

teriormente com o próximo no interêsse de Deus, partl


o fazer reinar nos corações; estar interiormente unido
a Deus-no interêsse do próximo, trabalhar eficazmente
em santificá-lo e salvá-lo; nisto é que sobressaiu o
nosso Santo, e nisto é que todos os pastores-das ai·
mas devem imilál-o. Imitem também a sua profundõ
humildade.

III. Vida humilde de S. Bernardo no meio da


admiração de que é objecfo. - é. Ouem foi mais ve­
nerado que êle? Os reis procurn"l•no na sua soli­
dão; três Papas dirigem-se por seus conselhos, e con­
fiam-lhe, por assim dizer, o govêrno da Igreja, nas
mais difíceis conjunturas. Por tôda a parle é olhado
como um anjo vindo do céu, ouvido como um orá·
culo. A sua autorizada palavra e o respeito que êle
inspira decidem tôdas as contendas. E' êle que re·
dige os cãnones dos concílios de Pisa, de Troyes, de
E!ampes e �e Reims. No Languedoc, triunfa do he·
resiarca Henrique, na Guianna de Guilherme, que êle
transforma de lôbo em cordeiro. Faz condenar a
Gilberto de la Porrée, e a Pedro Abelardo. Com a
sua eloqüência e os seus milagres atrai a si inumerá­
veis pessoas; lodos suspendem os seus trabalhos para
o ver. Em Spira, em Constança, os bispos e o clero
são obrigados a formar-lhe uma trincheira com o seu
corpo, e em Francfort, um imperador leva-o sôbre os
ombros para o subtrair à !urba que o atropelava.
Todavia no meio de acções tão brilhantes e de
sucessos lão lisonjeiros, a sua humildade fortifica-se.
Só busca escurecer o esplendor que o cerca. Se os
habitantes de algumas cidades o pedem para bispo,
insta tanto com o Papa, que obtém por um Breve
ser excluído de lôda a dignidade eclesiástica. Con­
dena-se em certo modo a si mesmo como um pecador,
quando tôdas as vozes o declaram por Santo. Lou­
vam-no, e êle suplica que se compadeçam da sua

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
706' MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

alma. • Dai·me mais crédito a mim, escreve êle aos


se_us amigos, do que àqueles que me louvam sem me
conhecer, pois só vêem as aparência�. Ou1mdo falo
a meu respeito, não é por conjectura, mas pelo sen­
timento e experiência quie tenho da minha miséria (1).
Deseja parecer tão vil e abjeclo, que se envergo­
nhem de o elogiar (2). Oue lição para aqueles que,
com tantos motivos de se humilharem, procuram
exaltar-se 1
Ao preparar-vos para a missa, oferecei a Deus
as ·disposições de S. Bernardo, quando sobe ao altar,
e lembrai-vos do que êle. diz do pão do ·céu, como
remédio para as enfermidades das almas: Si quis
veslrum non Iam saepe modo, non Iam acerbos senti/
iracundiae mofus, invidiae, luxuriae aul caelerorum hu­
jusmodi, grafias agaf corpori ef sanguini Domini,
quoniam virlus sacramenfi operafur in eo; ef gaudeaf
quod pessimum ulcus accedal ad sanifafem.

Resumo da Meditação

1. Vida penitente de 5. Bernardo unida. a uma


perfeita inocê-ncia. - Passou a sua mocidade na
mais admirável pureza de costumes; todavia deixou
o mundo, e entregou-se no estado religioso às mais
cruéis mortificações. Os Santos, quanto menos peca­
dores são, mais. julgam sê-lo; se não lemem do pas­
sado, temem-se do futuro; o conhecimento de ·sua
fragilidade e o seu zêlo da glória de Deus, é o que
excita nêles êsse ardente amor da penitência. Lem­
brando-se de um Homem-Deus que tanto padeceu por
êles, entregam-se também à penitência.

(1) Episl. XI. - (2) lbid.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. A(;OSTINHO

li. Vida con(empl11.tiv11. de S. Bernardo unida


à vida mais acliva. - Tornou parle em lodos os
aconlecimenlos · da sua época; foi encarregado das
negociações mais espinhosas; combateu lodos os
erros e paixões ; e todavia esteve sempre tranqüilo,
sempre unido a Deus, e fêz o que era do seu agrado.
i Oue ditosa é, Senhor, a alma que sabe assim juntar
a aclividade de Maria e a contemplação de Maria !

III. Vida humilde de S. Bernardo no meio de


(ôdas as provas de estima que recebe. - Os reis
procuram-no; os Papas dirigem-se pelos seus conse­
lhos; os povos tribulam-lhe honras extraordinárias;
opera grandes milagres; e no meio das suas felizes
emprêsas, a sua humildade fortifica-se. Humilha-se,
esconde-se. - 1 Oue lição para aqueles que, com
tantas razões para se humilharem, só buscam exal­
tar-se!

CXXXI MEDITAÇÃO
· 28 de Agôsto. - Santo Agostinho

Nascido em Tagaste, na África, a 13 de Novem-•


bro do ano de 354, Agoslinho mostrou desde a sua
infância � vivacidade do seu espírito ; mas, arrastado
pelas suas paixões, enlre!lou-se a uma vida dissoluta,
e veio a cair na heresia dos Maniqueus. Mónica, sua
piedosa mãe, derramou lanlas lágrimas para obter a
sua conversão, que o céu a aler,ideu. As pregações
de San lo Ambrósio começaram a converlê-lo; a lei­
tura de um livro das Epístolas de S. Paulo acompa­
nhada de graças extraordinárias acabou de vencer a
sua vontade alé enlão rebelde: deu-se todo a Deus,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
70G JIIWITAÇÕ►:S SACBRDOTAIS

à Igreja e às almas. Valério, bispo de Hipona, or­


denou-o de sacerdote, confiou-lhe o ministério da di­
vina palavra, ·e repartiu com êle os cuidados do cargo
pastoral, tomando-o por seu coadjutor. Santo Agos­
tinho era dotado de um prodigioso engenho, de uma
concepção vasta; a sua sciência só era igualada pela
sua caridade. Diz um autor, que êle era: Paler
Patrum, Docfor Doclorum, par angelis ín fervore, par
prophetis ín abscondilorum mysferíorum revelafíone,
1
par aposto/is ín praedicafíone ( ). Morreu, emquanto
a cidade de Hipona era sitiada pelos Vândalos. A sua
conversão tão gloriosa ã graça, tão úlil ã Igreja, é
um facto notável da sua vida. Consideremos:

1. A vitória que a graça alcançou na conversão de Agostinho.


II. O precioso fruto que a Igreja !irou des(a conversão.

1. Vitória que a graça alcançou na conversão


de Agostinho. - A vitória, que a graça de Deus al­
cançou sõbre êste pecador, destinado a ser pai de
numerosos Sanlos, foi tanto mais gloriosa, quanto
mais difícil e completa. •
1 •0 Vitória difícil. Em Agostinho, ludo se opu­
nha à graça, o espírito e- o coração, a pertinácia da
heresia e a tirania das paixões.
Ouando o êrro se apodera de um espírito emi­
nente, que tem consciência da sua superioridade,
e que dificuldades não opõe ã graça? O maniqueísmo
lisonjeava o orgulho de Agostinho ; fêz-se seu sequaz.
Se bem de-pressa o deixou, foi para seguir outras
seitas. Até ã sua conversão, leve a vaidade de um
filósofo e a obstinação de um hereje. Oue obstácu­
los da parle do seu espírito à simplicidade da fé, mas
principalmente da parle de seu coração à pureza da

(1) Possidius.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, AGOSTINHO 707
moral evangélica ! Escravo da ambição, da avareza,
da luxúria, tõdas estas paixões desordenadas o con­
servavam enredado nos seus laços, e disputavam entre
si, diz êle, qual seria a sua paixão dominante : lnhia­
hBm honoribus, lucris, conjugio, ef pBliehBr in eis
cupidilalibus amarissimas dif.icullales . . . Certabanf
in meipso el de meipso, cujus polissimum esse vide­
rer (1).
t Com que paciência a graça sofreu as suas de­
longas 1 1 Oue fôrça empregou para vencer a sua
resistência ! A libertinagem passara a ser nêle um
imperioso hábilo, e o hábito uma espécie de necessi­
dade : Suspirabam /igalus, non ferro alieno, sed
ferrea mea volunlale. Ora o encantava a beleza da
virtude, ora o oprimia o pêso das suas cadeias.
Oueria e não queria; pedia a Deus, e temia ser ou­
vido. Algumas vezes exclamava: • Senhor, em bre­
ve; esperai um momento, e depois serei vosso• . Mas
aquele em breve não chegava nunca, e aquele mo­
menlo durava sempre. Modo, ecce modo, sed modo
non habebBI modum. Finalmente, o feliz momento
chegou; a graça derriba-o, como a Saulo no cami•
nho de Damasco; e, para empregar a expressão de
S. Zenão de Verona, de uma vez destrói nêle o ho­
mem vélho e cria o novo : Uno icfu inlerGcil velerem
hominem, creal novum.
2. 0 Vitória completa; no meio de suas agitações,
ouve uma voz que lhe diz : •Torna e lê : Tolle el
lege,. Obedece, e logo desaparecem tõdas as dúvi­
das, mudam-se-lhe os pensamentos e os afeclos.
Êsle homem, que era Ião sensual, é agora um homem
caslo, que não tem já senão santas e sublimes aspira­
ções. • Levantou-se em mim, diz êle, uma grande tor­
menta, seguida de uma abundante chuva de lágrimas.

( 1) Conf. VI, 6,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
708 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Como o retiro me parecia mais próprio para os ge­


midos da dôr, fui sentar-me debaixo de uma figueira,
para chorar à minha vontade ... Voltei-me para vós,
ó meu Deus, e dizia-vos: Até quando, Senhor, até
quando? Ah! não vos lembreis mais das minhas
iniqüidades •. Oue compunção I Nunca se perdoará
a si meS!'flO o ter ofendido tanto tempo a um Deus,
cuja bondade o enternece muito mais do que o
assusta a sua justiça.
Toma a defêsa desta adorável justiça, e não trata
já senão de dar provas de seu arrependimento. Uma
vida austera reparará a sua vida sensual; humilhações
voluntárias expiarão a sua soberba. Tinha buscado
os louvores dos homens, e já não busca senão o seu
desprêzo. Não só censura as suas próprias obras,
retratando o que escreveu de menos exaclo, mas
compõe um livro, no qual, como n'um aliar, segundo
êle mesmo diz, oferece a Deus o sacrifício da própria
reputação. l Viu-se jámais um semelhante exemplo
de humilhação? Agostinho conserva a inocência
baplismal, e faz uma confissão pública, aquela que
nem mesmo dos penilenleS' públicos se exigia; e fã-la
à face de tôda a terra, num livro que durará tanto
como o mundo; por lôda a parle e sempre se co­
nhecerá quais foram os seus exlravios e maus cos­
tumes.
Oh! quão nobremente reparou também as suas
culpáveis inclinações! O fogo sagrado transformou
aquele coração carnal, e fêz dêle um coração celeste.
Quando lêmos os seus Solilóquios, as suas Confis­
sões, os seus Comentários sõbre os Salmos, só
encontramos movimentos de admiração, acções de
graças, efusão do mais ardente amor. lntredihile
esf, diz, quantum in me Deus excilaverif omoris in­
cendium ! Em outro lugar exclama: • Vae fempori
quo te non omavi I Deus, vila mea, qui ohlilum fui
non es ohlifus ! Mens mea devota, fihi, fui amore

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. AGOSTl:-IHO 709
succens1J, fibi spir1Jns, fibi inhi1Jns, fe solum videre
desider1JI •.
Concedei hoje, Senhor, à súplica dêsle ilustre pe­
nitente e à nossa, o que vos pedem lodos os dias
ainda os mais santos de entre os sacerdotes: Con­
verte nos, Deus, s1J!ularis nosler.

II. Precioso fru(o que a Igreja fira da conver­


são de Ago_stinho. -- No décimo livro de suas Con­
fissões, o Santo Doutor diz-nos que logo que se ren­
deu às inspirações da graça, e ela lhe abriu os olhos,
quis retirar- se para a solidão, para ali chorar os seus
desvarios até _ao fim da vida; mas que Deus a isso
se opôs, fazendo-lhe conhecer que linha outros de­
sígnios a seu respeito. Fõra uma admirável conquista
da graça, devia ser um de seus mais admiráveis ins­
trumentos. A caridade de Jesus Cristo eslimula-o;
necessita de induzir a que seja amado aquele Deus a
quem êle tanto ofendeu. Não se conlenla com distri­
buir ao seu povo o pão da divina palavra; estende,
como S. Paulo, o seu zêlo a tôdas as igrejas do
mundo. A graça faz por êle o que ela fêz nêle:
submete os espíritos, ganha os corações.
Na sua bõca, assim como nos seus escritos, a
verdade católica vence a cegueira dos pagãos, a
subtileza dos filósofos, a obslinação dos herejes.
Combale os Arianos, Maniqueus, Donatislas, Prisci­
lianislas, Pelagianos e Semi-Pelagianos com tanta
eficácia, que S. Jerónimo lhe escreve, dizendo: M1Jcfe
virfule, in orbe celebraris: Catholici te condilorem
anliquae sursum lidei veneranlur afque suspiciunt; ef
quod signum majoris gloriae esf, omnes h1Jerelici de­
fesfanlur (1). E' a alma dos concílios, a voz e o ór­
gão de tõda a Igreja, o mestre de lodos os sábios.

(1) lnler episl. Aug. 195.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7t0 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

S. Fulgêncio, S. Próspero, S. Leão, S. Gregório Mo­


gno, S. Bernardo, S. Tomás gloriaram-se de ser seus
discípulos. Parece que Deus o suscitou para confun­
dir os erros de seu tempo e os de lodos os séculos.
Submele os espíritos à verdadeira doutrina, su­
jeita os corações à divina lei. Nunca saberemos o
número de conversões efeiluadas só pela leitura de
suas Confissões. E.ste precioso livro com a con6ança
que êle inspira, l quantas almas não tem preservado
ou lirndo da desesperação? l Ouanlos pecadores,
depois de lêrem a simplicidade com que um Ião
grande homem · confessa publicamente os seus des­
mandos, não recearam declarar as suas culpas no
santo tribunal? l Ouanlos se leem santificado nas
Ordens religiosas que adoplaram o seu espírito e a
sua regra, e o reconhecem por seu primeiro funda­
dor? Mas a vitória que a Igreja mais aprecia, é a
que a graça alcança sõbre os seus mesmos minis­
tros, elevando-os às mais perfeitas virtudes da sua
sublime vocação, visto que a santificação dos pasto­
res exi:rce Ião decisiva influência sõbre a de seus re­
banhos. Dara isto concorreu eficazmente Santo Agos­
tinho, tornando-se o modélo de lodos os pastores.
Agradeçamos a Deus ó que êle fêz por êsle
grande Santo, e por êle à Igreja universal. Como
Agostinho, dêmos à graça o que lhe devemos, fazen­
do"ª reinar sõbre nós e sõbre nossos irmãos. Com
êle digamos muitas vezes a Deus: Agnosce quod
fuum esl: ignosce quod meum esl. O que recebo de
vós, Senhor, são inapreciáveis benefícios; o que re­
cebeis de mim, são ingratidões, que me fazem cõrar
de pejo, e das quais quero pedir-vos sempre perdão.
Com os meus pecados eu mereço o inferno, e o
lemo ; com os vossos benefícios pertence-me o céu,
e espero-o. Ah I l e porque não comecei eu mais
cêdo a amar-vos? Sero /e amavi, pulchrifudo Iam
antiqua e/ fam nova, sero fe ama vi!
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
!I. AGOSTINHO 7H

Resumo da Meditação

1. Vilória que a graça alcança na conversão


0
-de Agostinho. - t. Vilóría difícil. Nêle ludo se
opunha à graça: o espírito, o coração, a pertinácia
<la heresia, a tirania das paixões. Até à sua conver­
são, leve a vaidade de um filósofo e a pertinácia de
um hereje. Tôdas as paixões, diz êle', disputavam
entre si qual seria a sua paixão dominante. 2. 0 Vi­
tória completa. No meio de suas agitações, ouve
uma voz que lhe diz: Toma e lê. Obedece, e logo
se dissipam as suas dúvidas, mudam os seus afeclos
e pensamentos. Ora, chora, não !rala já senão de
mosl-rar o seu arrependimento. Uma vida austera re­
parará a sua vida sensual; humilhações voluntárias
expiarão a sua soberba.

II. Precioso fruto que a Igreja {ira da conver�


.são de Agostinho. - r.le Íôra uma glcriosa conquista
<la graça, devia ser um dos seus mais admiráveis instru­
mentos. Necessita de induzir a que seja amado aquele
Deus que êle ama, depois de o ter ofendido tanto.
A graça foz por êle o que fêz nêle: submete os es­
píritos, ganha os corações. Êle combale lodos os
erros, e tão eficazmente, que parece um milagre. Su­
ieila os corações à divina lei, assim como os espíri­
tos à verdadeira doutrina. i.Üuanlas conversões efei­
tuadas só pela leitura de suas Confissões I é. Ouanlas
comunidades religiosas leem adaptado a sua regra e
<lado ao céu uma multidão de Santos?

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
712 MEDITAÇÕF:S SACERDOTAIS

CXXXII MEDITAÇÃO
8 de Setembro. - A Natividade da Santíssima
Virgem. - Ouae est ista, quae progredi!ur
quBsi aurora consurgens, pplchra ui lunB,
elecla ui sol, ferribilis ui caslrorum acies
ordinala? (1)

1. Esta festa recorda-nos o benefício da nossa vocaçiio.


li. Excila-nos a cumpri-la dignamenle.

1. Esta festa recorda-nos o grande benefício


da nossa vocação. - l Oual foi II de Maria? Ima­
ginarei um parente ou amigo de S. Joaquim, que en­
tra em sua casa ·pouco tempo depois deste bemaven­
turado nascimento. Emquanlo êle considera no bêrço
a amável recém-nascida, na qual estão rtünidos lo­
dos os encantos da natureza e da graça, uma
luz sobrenatural, suponho, descobre-lhe as maravi­
lhas que Deus tem já operado em seu favor, e o que
ela mesma tem já feito por Deus: a sua conceição
imaculada com tõdas as suas prerrogativas, a cor­
respondência aos dons celestes, que já a tornou su­
perior aos maiores Santos . . . é. Oual será a sua
admiração? é. Oue pensará a respeito do destino
desta Menina? é. Não sçrá levado a crêr que, se o
Altíssimo quer uma E.spôsa, seu filho uma Mãe, se
os pobres pecadores devem ler uma Medianeira jt:mlo
de Deus, esta Espôsa, esta Mãe, esta Medianeira
acaba de entrar no mundo?
De facto Maria nasceu para ser· Mãe de Jesus:
De qua nafus esf Jesus. Tai é p princípio de todos

(1) Cant. VI, 9.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NATIVIDADE DA SS. VIRGF.:!lf 7t3

os seus privilégios, o resumo de lodos os seus lou­


vores: Ouidquid de Virgine scire, auf infel/igere
cupis, fofum in• hoc claudilur breviloquio: De qua
nafus esf Jesus (1). E' como Mãe do Redentor dos
homens, que ela será o refúgio e a .advogada dos pe­
cadores; o seu nascimento dá princípio à salvação
do género humano; ela é a aurora, que precede o
sol: O heafa Virgo, fu es aurora de sole procedens
e/ orlum ·solis praeveniens (2). Daí um júbilo universal
na celebração desta festa: Gaudeamus ef exu//emus
in Nalivifale beafissimae Dei genifricis Mariae, quae
no•vum mundo nunfiavif gaudium, e/ folius exfilif hu­
manae saiu/is exordium (3). - Cum summa exulla­
fione gaudeal /erra noslra, fanlae virginis illusfrafa
na/ali (4). E' certo que, se os homens conhecessem a
felicidade que lhes trazia êste nascimento, se leria
visto renovado, de uma até outra extremidade do
mundo, o que se refere a respeito do povo judaico,
quando se viu preservado da morte pela mediação de
Ester: Nova lux oriri visa esl; gaudium, honor e/
lripudium, apud omnes populos . . , mira exulfolio (5).
O' padre, também vós nascesles para um sublime
destino I Cumpri-o fielmente, e sereis para o céu e
para a terra a causa de uma indizível alegria. A nossa
vocação, que foi a de Maria, é dar Jesus ao mundo,
e com Jesus dar-lhe lodos os bens; e é o que ins­
pira à SS. Virgem tão viva afeição, tão maternais
cuidados para com os bons padres (6). Apreciemos o
favor que Deus nos fêz, chamando-nos ao sacerdócio.

(') S. Thom. a Villan. Serm. de Na!. B. M.V.


(2) S. Bonav. Exspecf. B M. V.
(3) S. Petr. Dam. Horn. XLVII, de Naliv. B. M. V.
(-1) S. Au11. Serm. de Naliv. B. M. V.
!'') Eslh. VIII, 16, 17.
(6 J Ver Meditação de 4 de Agõslo, pág. 673.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7H m:nITAÇÕF.S SACF.RDOTAI�

II. Esla festa anima-nos a cumprir os deveres


da nossa vocação: - com o exemplo que Maria nos
d-á, e com o poderoso socorro que ela nos obtém.
1. u Maria acaba de nascer, e já tributa a Deus
com um fervor mais que seráfico, a adoração e o amor
que nunca deixou de lhe tributar desde o primeiro
momento de sua imaculada conceição. Já os mais
perfeitos sentimentos de submissão à divina majestade,
de reconhecimento pelos seus benefícios, lhe fazem
produzir aqueles adas excelt"ntes, que lhe permitiram
dizer: Cum essem parvula, placui Allissimo; D�s
Padre acha nela a sua mais perfeita imagem, desfigu­
rada pelo pecado nos demais homens. O Espírito
Santo, expulso de quási todos os corações, habila
no Coração de Maria como num santuário digno
dêle. Deus filho descobre nela tantas virtudes, que lhe
tarda em certo modo o momento de chamar-lhe
Mãe . . . Já Maria exerce o seu sacerdócio: Virgo
sacerdos, oferect"ndo à Santíssima Trindade, pela sua
glória e pela salvação dos homens, os sacrifícios de
que a sua vida será uma longa e continuada série.
Sim, depois de Jesus, Maria oferece-nos o mais pt"r­
feilo modêlo da santidade sacerdotal. Como não po­
demos igualá-la, procuremos ao menos corresponder,
tão fielmente quanto nos fõr possível, às graças que
também nos são concedidas tão profusamente.
2. 0 Mas o que deve principalmente animar-nos
e confortar-nos, qualquer que seja a nossa fraqueza
pessoal, e as dificuldades de nosso ministério, é pen­
sar que temos na protecção da SS. Virgem, um re­
curso como que infinito. Se Maria é por nós, t quem
será contra nós? t E a favor de quem seria ela, se
não fõsse a favor dos propagadores da glória de seu
Filho e de sua própria glória? O amor que tem a
Jesus, a sua terna compaixão para com as almas,
de quem só pode vir a ser Mãe pelo sacrifício
dêsse Filho Ião extremosamente amado, dizem-nos de

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NATIVIDAOE DA li�. VIRGEM 715

sobejo quanto ela se interessa pelos trabalhos do


nosso zêlo. Invoquemo-la com ilimitada confiança.
êste dia principalmente é favorável às nossas peti­
ções. Se os reis e as rainhas cá da terra gostam de
celebrar com benefícios o aniversário do seu nasci­
mento, l que graça poderia recusar hoje a Rainha do
universo, que nasceu precisamente para ser a dispen­
sadora de tôdas as graças, para dar vida ao mundo
e atrair sôbre êle tôdas as divinas bênçãos? (1) Im­
ploremos a sua protecção para. nós e para. as almas
que nos são confiadas. Oh I quão eficazmente traba­
lharemos na sua salvação, se por ocasião des�a festa
as exortarmos a dar alguma honra a Maria I Faça­
mos-lhe conhecer a veneração, a gratidão e o amor
que ela merece: PrtJedictJ reverendtJm tJngelis, desi­
dertJfom genlhius, ptJlritJrchis prophefisque progeni­
fom, elecltJm ex omnihus . .. , mtJgniGctJe grtJfitJe in­
venlricem, meditJlricem stJÍufis, ef resfaurtJ!ricem sae­
culorum (2).

Resumo da Meditação

1. Esta festa recorda-nos o grande benefício da


nossa vocação.-Se alguém, contemplando a Maria,
quando acabava de nas�er, tivesse a. revelação do que
ela era já, e. que pensaria a respeito de seu fuluró
destino? l Não diria consigo mesmo: Se Deus há de
ler Mãe, ei-la. neste berço? Com eíeito, é para. isto
que nasceu esta admirável Menina. Daí !anta alegria.
na celebração desta festa: Cum summl1 exultalione
gtJudetJI ferrtJ nosfrl1 fonftJe virginis iluslraftJ ntJfaÍi.
O' padre, vós também nascestes para um sublime

(1) M11ri11, hodie prodiisli ••• , g11udium mundo universo


11nnunli1ms, vil11e l11rgilrix, benediclionis concilialrix. S. Germ. p11-
lri11rch. Consl.
t2J S. Bern. Episl. CLXXIV.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7IG MEDITAÇÕR� SACERDOTAIS

destino, para dar Jesus ao mundo. -1 Oue admiráveis


relações enlre vós e a Mãe de Deus! Participais da
sua dignidade, do seu ministério, do seu poder, da
sua felicidade 1

II. Esta fesla anima-nos a cumprir os deveres


da nossa vocação: - com o exemplo que Maria nos
dá, e. com a assislência que nos oferece. - i Com que
fervor tribula a Deus a adoração e o amor, que
nunca deixou de lhe tribular desde o primeiro mo­
mento da sua imaculada conceição! . . . Já exerce o
seu sacerdócio, oferecendo à Sanlíssima Trindade
lodos os sacrifícios, de que a sua vida será uma
série conlínua. -Mas o que deve principalmenle arii­
mar-nos, é que lemos na prolecção da SS. Virgem
um recurso como que infinilo. Invoquemo-la com
grande confiança. Imploremos a sua. prolecção para
nós e para as almas que nos são confiadas. Induza­
mo-las a honrar Maria.

CXXXIII MEDITAÇÃO .
14 de Setembro. - Exaltação da Santa Cruz

J. Ouão recomendável e indispensável é 110 p11dre II medil11çiio do


mistério do cruz.
II. Ouiio poucos crisliios e p11dres compreendem êsle mistério.

1. Nada mais recomendado e indispensável ao


padre do que a meditação da Paixão de Jesus
Cristo. - Dirigindo-se para Jerusalém, o Salvador
prediz pela lerédra vez a sua Paixão e morle: Ecce
ascendimus Jerosolymam, ef consummabunfur omnia

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ il7

quae dicla sunf per propheias de Filio hominis (1).


Prodígios de caridade e de paciência da parle do
filho de Deus, prodígios de ingratidão e de perver­
sidade da parte dos homens, tudo vai brevemente
complelar-se; o Con$ummafum esf será pronúnciado
dentro em pouco tempo. E' aos apóstolos chamados
à parle, que Jesus faz esta declaração: Assumpsit
duodecim discipulos secreto ef ait i!lis. Nem lodos
os homens compreendem a linguagem da cruz, e não
é necessário que todos a compreendam no mesmo
grau; mas convém que os homens apostólicos pos­
suam eminentemente esta sagrada sciência ; que este­
jtim penetrados dêsle mistério; por isso o Salvador
lhes fala dêle tantas vezes.
Até no Tabor, êle quer que os seus apóstolos
pensem na Paixão: Dicebanf excessum ejus quem
complelurus era/ in Jerusalem (2). Se êles se lison­
jeiam de ocupar um lugar distinto no seu reino, re­
corda-lhes as ignomínias da sua morte: Potes/is bi­
bere éa/icem quem ego bibilurus sum? Se lhes dá o
seu corpo como alimento e o seu sangue como be­
bida, tem o cuidado de lhes dizer que é o mesmo
corpo que será entregue, o mesmo sangue que será
derramado por êles: Ouod pro vobis lradefur . .. ,
qui pro vobis fundelur: a comunhão deverá sempre
lembrar a PaiÃão (3). Se lhes confere o poder de
oferecer no altar êsse corpo imolado, êsse sangue
derramado, é para que se 'recordem dêle e da sua
morle: Haec quoliescumque fecerifis, in mei memo­
riam facielis: t1 sua implação mística será o memo­
rial da sua imolação sangrenta. O' padres, é.,pode-

(1) Luc. XVIII, 31. - (2) ld. IX, 31.


3
( ) O sacrum convivium, in quo Chri11fus sumifur, recolilur
memoria P11ssionis ejus. - O memoriole morfis Domini, panis vi­
vus, vilam praeslans homini.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
748 MEDITAÇÕES SA.r.RRDOTAIB

mos nós repelir estas enternecedoras palavras, com que


termina a consagração, sem admirarmos o amor de
Deus, e sem nos confondirmos? f.le morre por causa
de nós, e recomenda-nos que pensemos nêle! .
Envergonhemo-nos d'a dureza de nosso coração, que
tornou necessária esta recomendação, e que a torna
muitas vezes inútil 1
Esta recordação que nos é tão recomendada,
está, por assim dizer, ligada a lõdas as nossas obri­
gações. Sem uma freqüente meditação da Paixão e
morte de Jesus Crislo, o nosso zêlo afrouxará. Não
conheceremos nem as infinitas perfeições de Deus :
a sua grandeza, a sua santidade, a sua misericórdia,
a sua justiça, ele. E nesse caso é. como nos afervorare­
mos em promover a sua glória? Emfim não conhe­
ceremos o preço das almas, julgadas dignas de uma
tal redenção, nem a imensa felicidade ou desgraça
que as espera! ... é. Onde iremos buscar êsse gene­
roso zêlo, de que precisamos para as salvar? Se
não somos assíduos em meditar sõbre a cruz, faltará
alguma coisa essencial às nossas fonções. A primeira
é instruir; é a nossa missão: Eunles doce/e. Mas,
t que ensinaremos nós senão Jesus, e Jesus crucifi­
cado? Nos aulem praedicamus Chrislum cruciG­
xum (1). Êsle mistério é a suma da prêgação apos­
tófica ; é a base de lôdas as nossas crenças. O per­
f�me da cruz, diz S. Pedro Damião, exala-se de tô­
das as páginas da Sagrada Escritura: Ouae esl sa­
cri eloquii pagina, quae crucis mysferia non redo­
leal? (2) O crucifixo é um livro que devemos meter
nas mãos dos ignorantes e dos sábios, dos pecado­
res e dos justos: Legil simplex, ef laetiGcalur a/que
compungi/ur; exercifafus vero e/ infe/Jigens irradialur
a/que accendifur (8).

(1) I Cor. 1, 23. - (2) Serm. de lnvenf. Crucis.


(3) S. L11ur. Jus(. De triumph. Chrisfi agone.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ 719

Nesle livro aprenderemos a paciência, a mansi­


dão, e a terna compaixão, que nos são indispensáveis
no púlpito, no santo tribunal, ao pé dos doentes.
Êsle livro nos inslru'irá sôbre o augusto ministério
que exercemos no aliar. Leamo-lo com atenção, es­
forcemo-nos em compreendê-lo, e deixaremos de
afligir os. anjos, representando friamente a pessoa de
um Homem-Deus agonizante no hôrlo das Oliveiras,
arrastado aos tribunais, crucificado, morlo, sepul­
tado!... E' necessário, porlanlo, que o padre possua
uma profunda sciência de Jesus crucificado, ainda
que não lenha outra : Non judicavi me scire aliquid
inler vos nisi Jesum Chrisfum, e/ hunc crucifixum (1).
Mas para adquiri-la, é necessário que êle faça muitas
ve;;:es dêsle mistério o assunto de· suas piedosas me­
ditações.

li. Quão poucos cristãos e padres compreen­


dem a doutrina da cruz. -Os lêrmos que linha em­
pregado o Salvador, pregando a sua morte próxima,
nada continham de obscuro; ludo nêles era claro e
preciso; todavia as suas palavras foram um enigma
para os que as ouviram. i Estranha falia de com­
preensão, de que parece admirado o Evangelista 1
.Ef ipsi nihil horum infe/lexerunl, e{ eraf verbum isfud
abscondifum ah eis, ef non intelligebanl quae dice­
banfur ( !). Os apóstolos, diz S. Boaventura, eram
aqui a imagem dêsses pastores de almas, que não
penetram o mistério da cruz, nem o vêem à sua ver­
dadeira luz (3).
Três coisas obstam a que os homens compreen­
dam uma verdade Ião salutar: - O orgulho, que es­
curece a fé; só se crê frouxamente esta excessiva

('l I Cor. li. 2. - (2) Luc. XVIII, 34.


\ ª) Expos in hoc loc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7i0 MROlTAÇÕR� SAr.Rlll)OTAIS

caridade de Jesus. Não queremos que Deus tenha


mais bondade que a que podemos compreender.
O' Jesus, e. será possível que o grande amor que
tendes aos homens, seja para êles um motivo de vos
ofender, recusando crêr nêle? - A distracção; só se
pensa raras vezes e superficialmente em um mistério,
que era o objeclo habitual da meditação dos Santos.
Triste verdade I Hã padres que lêem e explicam �
Paixão de Jesus Cristo, celebram lodos os dias o
santo sacrifício que é a sua continuação e a sua apli­
cação, e ficam insensíveis, até no altar I Oh I quão
diversamente sucede com os sacerdotes verdadeira­
mente espirituais I Uma só palavra sôbre a Paixão e
morte do Homem-Deus, um só relance de olhos para
a cruz os enternece, lhes excita o amor e· o reconhe­
cimento. Mas, ai I de mim I é. porque não sou eu dêsle
número? - A imorlificação; não se quer compreen­
der o que é incompatível com uma vida tíbia e sen­
sual, que se [!ão quer deixar. Os apóstolos não
compreendiam uma doutrina que não amavam : Non
infelligebani, quia hanc verifatem non diligebanf (1).
Ouando a virtude da cruz e a graça do Espírito
Sanlo os tiver mudado, êles a amarão, a compreen­
derão; e um dia hão de exclamar: O hona crux,
quae decorem ex membris Domini suscepisfi, diu de­
sideraill, .sollicife amafa . . accipe me ah hominibus,
ef redde me magisfro meo, ui per fe me recipiaf qui
per fe me redemif !
Senhor, vós dignai-vos inspirar-me a resolução de
meditar e pregar muitas vezes a vossa Paixão e
morte, e eu tomo-a. Se a conservar, bastará para
santificar a minha vida e fecundar o meu ministério.
Acharei ali o motivo e o modêlo de tôdas as virtu­
des sacerdotais; acharei ali as mais sólidas consola-

(1 ) S. Bon11v. Expos. in hoc loc.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
EXALTAÇÃO DA �ANTA c�uz 7U

ções e, amando-vos, o prazer de vos ganhar cora·


ções. Haec medifare, fifi; in his esfo; ef Rei lihi in
cruce mea salus, vila, prolec/io ah hoslibus, infusio
supernae suavilalis (1).

Resumo da Meditação

I. Nada nos é mais recori:iendado, nem mais


indispensável que a meditação do mistério da cruz.
- O Salvador falava muitas vezes sõbre êsle assunto.
Alguns dias antes da sua Paixão, prediz os seus
pormenores; fala dela ainda mesmo no Tabor. lns­
tilu'ição do sacerdócio, inslilu'ição da Eucaristia, ludo
tende a recordar-nos o mistério da cruz. Com efeito,
o crucifixo é o livro dos escolhidos. Foi êsle livro
que !ornou os Santos Ião sábios na sciência da sal­
vação. Êle é principalmente o livro dos sacerdotes;
é nesta fonte que bebem o zêlo da glória de Deus, e
da s1:1lvação das almas.

II. Poucos crislãos e padres compreendem


êsle miflério. - Quando Jesus Cristo o 1munciava,
falava claramente, e contudo os apóstolos não pene­
travam coisa alguma do que lhes dizia: Et ipsi nihil
horum infellexerun/. Três obstáculos se opõem à
compreensão duma verdade lã� salutar: o orgulho,
que escurece a fé: não queremos que Deus tenha
mais bondade do que a que podemos compreender;
a disfracç,fo, que nos impede aprofundar coisa al­
guma; a imor/i.icação: admite-se dificilmente o que é
incompatível com uma vida tíbia e sensual que se não
quer deixar.

(1) Memor. vil. socerdof. e. XIX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
_7_�-�- -
- ---�-F:
I _l
, l_lT_A_Ç�Õ.ES SACF.RIJl)TAI_S _______

CXXXIV MEDITAÇÃO
29 de Setembro. - S. Miguel.
Faclum esf praelium magnum in coe/o Michael
ef Angeli ejus praeliabanfur cum dracone ( 1).

1. A soberba de Lúcifer punida; a humildade de S. Miguel re­


compensada.
II. Como a soberba prepora a quedo, e a humildade II flev11\ão.
Ili. Como poderemos evitar o casligo dos soberbos, e mere&ir a
recompensa dos humildes.

1. A soberba de Lúcifer punida; a humildade


de S. Miguel premiada. - 1. 0 Segundo o sentir de
S. Jerónimo e de S. Gregório, Lúcifer era, na ordem
da natureza e da graça, a obra mais perfeita, que saíra
das mãos de Deus ( 2 ). Consta pela Sagrada Escri­
tura, que a soberba foi a causa da sua queda; mas
não se pode dizer com !anla cerleza em que consisliu
essa soberba. Crê-se geralmenle que, como os anjos
foram criados na graça e justiça, Deus quis que êles
merecessem a felicidade elerna pelo uso de sua li­
berdade. Durante êsle tempo de prova, Deus desco­
briu-lhes alguns desígnios de sua Providência, espe­
cialmente a Incarnação do Verbo, e ordenou-lhes que
o adorassem, em sua união hipostática com a natu­
reza humana. Cativado de sua própria excelência,
Lúcifer ressente-se de semelhante ordem. E'-lhe pe­
noso humilhar-se deante de um homem. Pensa que,
se a divindade deve unir-se inlimamenle a uma de

(1)
Apoc. XII, 7.
( 2)
Hunc primum condidif. qurm reliquis angelis eminenliorem
íecil. 5. Greg. Moral. lib. li. c. XXX.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. M!GUEL

suas criaturas, nenhuma pode haver, que mereça essa


honra tanto como. êle ; mas vêde: segundo a expres­
são de um profeta, o seu coração deslumbrou-se no
próprio esplendor, e perdeu a sua sabedoria na pró­
pria formosura : Eleva/um esl cor luum in decore
luo: perdidisli sapienfiam tuam in decore fuo (1).
Não se limita a recusar a submissão que Deus
lhe exige; desvia dela os outros anjos, e persuade a
u·m grande número, que o decreto divino que vai dar
tanta glória· à humanidade, é injurioso à natureza an�
géliça L Oh I funesto efeito do escândalo, quando é
dad'o por aqueles que eram mais obrigados ã edifi­
car 1. . . O dragão, diz S. João, arrasta na sua revalia,
a lêrça parle das eslrêlas do. céu (2). e. E aonde vai
precipitar-se com os arrjos que seduziu? No fogo
eterno, preparado para êle e seus cúmplices� ln
ignem aefernum, qui parafus esf ·diabo/o ef ange/is
ejus. Oue horrível queda! e. Donde cai e onde cai?
Pela primeira vez cumpre-se o oráculo: Qui se
exaltai humilidhilur. O' padre, temei tanto mais a
soberba, ·quanto maior fôrdes e maior respeito se
dever à vossa dignidade: Altiorem locum sorlifus es,
non tufiorem (3). Só estareis seguro imitando a hu­
mildade de 5. Miguel.
2. 0 Êsle gr�nde a'rcanjo indigna-se com a ofensa
feita ao supremo Senhor. • Quis ui Deus? exclama
êle; e. quem é comparável a Deus? e. Ouem pode de·­
sobedecer, quando êle manda•? A sua fidelidade
consolida a dos anjos bons; com êle declaram-se a
favor de Deus, repelindo: Quis ui Deus? Comba­
lem contra Lúcifer, e vencem-no. A sua prova está
finda; ei-los confirmados em graça. Deus descobre­
-lhes então tôda a sua glória; vêem-no face a face;
,

(1l Ezech. XXVIII,. 17. - (2) Apoc. XII, 4.


{3) 5. Bern. De consid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7U MEDITAÇÕ&S SACKIIDOTAIS

possuem-no. 1 Oue recompensa e felicidade para lo­


dos, mas principalmente para o chefe da santa milí­
cia I S. Miguel é constituído sôbre lodos os prínci­
pes do céu, condutor do povo de Deus, defensor da
Igreja, proledor do sacerdócio católico, com o qual
combaterá até à consumação dos séculos. Numero­
sos altares e templos- lhe serão consagrados ; insti­
tuídas serão. associações em sua ·honra; o seu nome
virá na sagrada liturgia logo depois do da Raínha do
universo (1). i E com que glória aparecerá no fim
dos tempos, quando, lendo vencido ao Anticristo,
tornar a subir triunfante ao céu, à frente de lodos os
escolhidos ! Eis aqui o que mereceu, humilhando-se
perante o Senhor.

II. Como a soberba prepara a queda, e a hu­


mildade a elevação. - 1. ° Caímos inevilàvelmente,
quando por um lado somos a própria fraqueza, e do
outro lemos contra nós uma fôrça invencível.
Em primeiro lugar nada mais vacilante que o so­
berbo. David fazia a Deus esta :súplica : Non venial
mihi pes superbiae C). O meu pé não pode firmar-se
sôbre uma areia movediça. l Em que se apoia um
homem que se deixa dominar pela soberba? -Em si
mesmo. l Em que põe a sua confiança? Em si. Tai
é o carácter dêsle vício, que Jesus Cristo descreveu
em duas palavras: ln se con.idebanl (3). Ora, de si,
l que é o homem senão vaidade e nada ? Si quis
exis/imaf se aliquid esse, cum nihil sif, ipse se se­
ducif (4). - Homo vanilafi similis ( 5 ). - Subsfanfia
mea fanquam nihilum ante te ( 6 ). Lúcifer saíu da ver­
dade para se apoiar na mentira ; a sua queda não

(1) Con6feor... Beafo Michaeli, ele.


1 :!) Ps. XXXV, 12. - (S J Luc. XVIII, 9. - (4) Gal. VI, 3.
(11} Ps. CXLIII, 4. - (G) Ps. XXXVIII, 6.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, MIGUEL 7i5
leve outra causa : ln verifole non sfefif (1). S. Ber­
nardo pregunla qual é esta verdade; e responde :
Êle devja formar de si éste conceito tão justo : Eu
nà'o sou nada por mim mesmo ; se sou alguma coisa,
a Deus o devo; a êle pois tôda a glória, a mim nada.
Mas ainda mesmo que o soberbo fôsse tão forte
como julga, c.'suslentar-se-ia êle contra o poder infi­
nito que o combate? Deus superbis resisfif'(�). Deus
declarou que não cederia a sua glória a pessoa al­
guma ( 3) ; e. não destrui'rá êle o temerário que preten­
der tirar-lha?
·2.º As rozões que mostram que o soberbo há
de cair, mostram que o humilde será exaltado.
O mesmo Deus que resiste aos soberbos, dá a sua
graça aos humildes: Humilibus dt1f grafiom; mas,
que graça ? a da submissão à sua divina vontade, a
da perseverança, etc.; tôdas as graças são' para êles.
São inabaláveis, Deus sustenta-os; nada leem a temer,
4
Deus guarda-os: Cusfodiens parvulos Dominus ( ).
A verdade, isto é, o conheci!'Tlenlo intimo de seu nada,
faz que se apoiem em Deus, livra-os de lôda a ruína
espiritual: Verifas liberohif eos C'). A sua confiança
é uma honra tribulada à bondade, ao poder, à fide­
lidade do Senhor; agrada-lhe extraordinàriamenfe, e
atrai-lhes lôdas as suas bênçãos : Humilem Deus
profegil ef libero{; humilem diligil el conso/ofur; hu­
mili homini se inclinaf, humili largilur groliam magnom,
6
ef posf ejus depressionem lel'al od gloriam ( ). Eis a
suprema elevação preparada à humildade 1

111. l Como poderemos nós evitar o castigo dos


soberbos, e obter a recompensa dos humildes?-To-

! 1 ) Jonn. VIII, 4. - (2) 1 Pe(r, V, 5.


3
( ) GloriBm meBm•51(eri non dõbo. Is. XLII, 8.
( 4 ) Ps. CXIV, 6. - C') JoBn. VIII, 32.
(6) /mil, lib. li, e. li.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ii6 M!i:DITAÇÕF.:S SACEI\DOTAIS

mando para norma de proceder o grilo de guerra de


S. Miguel: Quis ui Deus? e merecendo a protecção
particular dêsle poderoso arcanjo.
é. Ouer o espírito de mentira inspirar-nos vangló­
ria? Respondamos-lhe com_ S. Miguel : Quis ui
Deus? é. Ouem sou eu, e que são comigo· tõdas as
crialurtis, em comparação de Deus? c.'Sou lentado a
murmurar e a impacientar-me? Quis ui Deus? é. Oual
será mais juslo, que Deus faça a minha vontade, ou
eu a sua? Se êle é meu rei, l não devo eu obede�
cer-lhe? Se é meu pai, l não devo eu amá-lo? é. E' a
inclinação ao prazer que busca seduzir-me? Qui:s ui
Deus? O' meu Deus, e. quem é semelhante a vós?
e. Ouem pode satisfazer os desejos de minha alma e
conlenlar. o meu coração, senão vós, ó sumo bem?
O mesmo meio não é menos eficaz para excitar em
nós o respeito e o fervor, quando nos aproximamos do
altar, ou quando começamos ·a recitação do Ofício
divino: Ouis ui Deus?
Mas não é sõmenle com o seu exemplo, que
S. Miguel quer ajudar-nos a nós padres, que lhe per­
tencemos como os soldados ao chefe que os comanda,
defendendo a mesma causa, combatendo os mesmos
inimigos. e. Oue socorros não lemos dirdlo a esperar
dêle, se lhos pedirmos com mui la confiança? E' êle
principalmente que apresenta a Deus as nossas ora­
ções e sacrifícios : Slelit tmgelus juxla lJrlJm lernpli,
0

habens fhuribulum aureum in mlJnu sulJ (1); êle, que


nos prolege na hora da morte, recebe as nossas a(..
mas e as introduz no céu: Archl1ngele Michael,
2
consfilui _/e ... -super omnes l1niml1s suscipiendt1s ( ).
,- Signifer SlJnclus Michael reprl1esenlef elJs in Iu­
cem slJnclam (3), Ouando eu estiver para· expirar,
e.que pedirão para mim? Suscipiaf eum sancfus Mi-

(1) Brev. - (2) lbid. - (3) Miss. deíuncl.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
. S, lJIGUEL 727

-chaêl, .. , qui mili/iae coeleslis ineruil principa-


ium (1).
Honremos a S. Miguel como a mais viva imagem
<la divindade, e- a mais rica expressão d� suas gran­
<lezas. lnvoquel'!lo-lo muitas vezes, principalmente no
altar, quando, ontes de subir a· êle, nos humilharmos
<:om a confissão pública de nossas falias: Confi­
leor, ele. S. Lourenço Justiniano recomenda dêste
modo a devoção a S. Miguel : Agnosctmf singuli
proleclorem suum, illum faudibus efferanl, frequen­
len/ precibus, volis amp/ecfanlur, devolione inclinenf,
ef per emenda!lonem vifoe laefilicenl; non enim po­
feril oranles despicere, repellere conlldenfes, decli­
nare amantes, quippe cum defenda! humiles, pudicos
diligal, dirigal innocenfes, custodiai viléJm, regai in
via, perducal in palriam.

Resumo da Meditação

I. A soberba de Lúcifer punida; a humildade


.de �- Miguel recompensada. - Lúcifer, cativado da
sua própria excelência, recusa humilhar-se deante de
um Deus feito homem; arrasta na sua rebelião a um
grande número de anjos, e vai precipilar-se com êles
110 fogo eterno, preparado para êle e seus cúmplices.
- S. Miguel exclama :
1
Ouis ui Deus? A sua fideli­
dade consolida a dos anjos bons . . . l Oual ê a sua
magnífica recompensa?

II. Como a soberba prepara a queda, e a hu­


mildade a elevação. - Nossa queda ê certa, quando
por um lado somos fracos, e por outro somos comba­
tidos por uma fôrça invencível. Nada mais fraco do
que o soberbo, porque se apoia únicamente em si
mesmo, e só é vaidade. - O mesmo Deus, que re-

( 1) Ri!. commend. anim.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
728 MEDiTAÇÕE8 SACERDOTAIS

sisle aos soberbos, dá a sua graça aos humildes; l e


quanto não podemos, quando temos a Deus por pro­
tector e amparo?

III. Como evitar o castigo dos sober�os, e al­


cançar a recompensa dos humildes. - Tornando
para regra de proceder o grilo de guerra de S. Mi­
guel: Quis ui Deus? Repilamo-lo, quando formos
tentados de vanglória, de impaciéncia, ele., quando a
inclinação para o prazer busca seduzir-nos. Demais
disso l que auxílios não devemos esperar de S. Mi­
guel, se o honrarmos e o invocarmos?

131

CXXXV MEDITAÇÃO
2 de Outubro. -- Os Anjos Custódias

1. Com que bond11de Deus nos confi11 ã gu11rda dos Anjos.


li. Como os Anjos desempenham para connosco o enc11rgo que
Deus lhes deu.

P1HMJ.IRO PUELÚ010. Imagínemos sôbre a face


da terra uma multidão de anjos, que se desvelam em
prestar aos homens tôda a sorte de serviços, com
respeito ao corpo e à alma. Vejamos ao nosso lado
aquele que Deus nos deu por guarda, e adoremos
com êle a infinita majestade do Senhor.
SEGUNDO PHEI.ÚDIO. Imploremos a graça de
compreender os benefícios que recebemos de Deus
pelo ministério dos anjos, e de cumprir fielmente os
deveres que êstes benefícios nos impõem.

1. Com que amor Deus nos confia ii guar�a


dos Anjos. - i Oue grande é o homem pela divina

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
08 ANJOS DA GUARDA 729

misericórdia e pelo seu glorioso destino 1 1 Oue pe­


queno é, considerado em sua fraqueza e suas misé­
rias! S. Jerónimo, explicando eslas palavras de Je­
sus Cristo: Angeli eorum semper videnf faciem Pa­
fris mei (1), exclama: 1 • Como é grande a dignidade
das almas, visto que cada uma delns, ã sua entrada
na vida, !em um anjo, encarregado por Deus de a
guardar I Magna dignifas animarum, ui unaquaeque
habeal, flh orlu nalivifalis, in custodiam sui angelum
depufafum (2). A Igreja chama hoje a nossa atenção
para um favor inefável, quási geralmente esquecido:
Deus, qui ineH'abili providenfia sane/os angelos fuos
ad nosfram custodiam miffere dignaris.
Um poderoso rei vê um menino do povo, aban­
donado de lodos e falto de ludo, e ordena a um
príncipe da sua côrle, que o tome sob sua prolecção,
o eduque com o maior cuidado, e não o deixe de dia
nem de noite. E eu digo entre mim: Eis aqui um
monarca, que !em um coração de pai para com êsle
menino; a extraordinária bondade com que o traia,
prova de sobejo que êle o destina a uma alia digni­
dade no seu reino. 1 Terna imagem do que Deus faz
por nós pelo ministério dos anjos I Oue somos -nós?
que podem9s? e. em que estado nos achávamos à
nossa entrada neste mundo? Mas, oh I caridade in­
compreensível I Deus não se conlenlou, diz S. Ber­
nardo, com enviar-nos seu Filho e o Espírito Santo;
a-fim de que ludo o que eslá no céu, concorresse
para a nossa felicidade, enviou também os seus an­
jos, para nos servirem; porque !ai é .o ministério,
que êles leem a exercer para connosco, segundo o
ensino do grande Apóstolo : Nonne omnes sunl ad-

(1) Mallh. XVIII, to.


(tJ Lib. Ili comm. in cap. XVIII Mallh.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
730 MEDITAÇÕES S'ACERDOTAIS

minisfrélforii spirilus, in minisferium missi propfer eos


qui héleredifotem Célpienf séllutis? ( 1)
AqUi o Santo Do"ulor não contém já a sua admi­
ração, e para no-la cómunicar, exorta-nos a refleclir,
e exclama entusiasmado: • Angelis suis mélndélvil de
/e! Mim digna tio! ef vere mélgnél dilecfio chélrilélli5 !
Ouis enim, quibus, de quo, quid mandélvif, sludiose
consideremus, frélfres; diligenler commendemus me­
moriae hoc Íélm grande mandatum. Aquele que o
envia, ,é Deus, aquele ser infinitamente independente,
que encontra em si os meios de ser feliz. Os que êle
envia são seus anjos, espíritos Ião puros, Ião sanlos,
tão superiores em poder a todos os i:eis da !erra:
Angelis suis. E não é uma recomendação que lhes faz,
é uma ordem que lhes dá: Mandavil. é. E que lhes
ordena? Não só 1 que defendam aos reinos, mas
também a cada u'm de nós: De te; que nos prote­
jam a nós, pó e nada; a nós, pecadores ingratos e
pérfidos I é. E a que deverão os seus cuidados esten­
der-se ? A lôdas as situações, a tôdas as circuns­
lâncias da nossa vida e morte; serão os nossos
amigos, até àlém túmulo. . . Deus quer que êles nos
guardem em lodos os caminhos: Ut cusfodiélnt fe in
omnibus viis fuis, e que sendo preciso,. nos tragam
nas suas mãos : ln memibus portélbunf {e, como se
traz um meninq, que se quer preservar de alguma
queda: Ne forte o!Fendéls éld lapidem pedem fuum.
j Oue consoladoras são estas pàlavras ! . . . Adsunl
igilur, acrescenta S. Bernardo: e/ adsunf libi: non·
modo lecum, sed efiélm pro fe; éldsunl uf profegélnf,
adsunf ui prosinf (2). é. Ücie é pois o homem, ó meu
Deus, para que o ameis a tal ponto, que ponhais ao
pé dêle um príncipe da vossa côrle, com ordem para
cuidar de lodos os seus interêsses?

('J Hebr. 1, 14. - ( 2) ln Ps. Oui habilaf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS ANJOS DA GUA�DA 731
li. Como exercem os nossos Anjos da Gu@rda
o seu ministério - Sem falarmos dos serviços que
nos prestam na ordem temporal, e!. quanto se não es­
forçam por nos obter a salvação? Mostram-nos o
caminho, removem os obstáculos, dão-nos os meios
de a alcançarmos. e!. Como somos nós tão pouco sen­
síveis ao seu generoso zêlo?
I . 0 A Providência designou a cada um de nós
o caminho que há de seguir, o lugar que há de ocu­
par no céu. • Eu enviarei o meu anjo, diz o Senhor,
que vá adeante de ti, e te guarde pelo caminho, e te
introduza no lugar que eu te tenho preparado• ( 1).
Assim como os espíritos celestes das primeiras
jerarquias transmitem aos das jerarquias inferiores a
luz e o amor, assim também os nossos Anjos da
Guarda nos fazem conhecer o verdadeiro bem, e a
êle nos induzem. Ouando sentimos alguma inclina­
ção para nos entregarmos mais períeitamente a Deus,
é uma inspiração do nosso caridoso guia. Nada há
mais engenhoso que o seu _zelo da nossa sanlificação.
Ora nos propõe o exemplo de Jesus Cristo, ou dos
Santos cuja índole se assemelha mais com a nossa;
ora nos mostra a pouca duração da vida, a hora da
morte, a elernidade; ora nos oferece aos olhos os
alraclivos aa virtude, os encantos da paz, o fruto da
boa consciência, as recompensas prometidas à fideli­
dade constante. 5. Bernardo representa-nos êste
príncipe do céu, disfarçado em pagem da nossa alma,
seguindo-a por tõda a parle, para adverli-la e exor­
tá-la incessantemente (2). Frei Luís de Granada vê

(1) Ecce ego milfam angelum meum, qui praeceda( le e! cus­


lodiol in via, e! in!roduca! in locum quem paravi. Exod. XXIII, 20.
(21 lpse esl qui in omni loco, sedu!us quidam pedissequus
animae, non cessai sollicilare eam ef assiduis suggestionibu:. monerc.
Serm. Ili, in Cant.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
73i MEDITAÇÕES SACEl\DOTAIS

nos nossos Anjos da Guarda pais cheios de lernura,


que se dedicam de todo ao bem de seus filhos, ricos
que servem a pobres, doutores que ensinam a igno­
ranles (1).
2.
0
O Anjo da Guarda remove os obstáculos,
que se encontram no caminho dél salvação. l E' umB
ocBsião perigosa ? Incita-nos B deixá-la, e faz-nos
como B Loth uma espécie de violência : Apprehen­
derunl manum ejus ... , eduxerunlque eum (2). l E' uma
IBnguidez espiritual que nos abate, a tristeza e o desa­
lento que se apoderam de nós? O Anjo da Guarda
consola-nos ; fortifica-nos, e derrama na nossa alma
umB unção secreta que a cura. Mas o maior obstá­
culo à nossa eterna felicidade é a cruel guerra que
nos fazem os espíritos das trevas. Ardendo em in­
vejB, êles não podem perdoar-nos o amor que Deus
nos tem, a glória que nos destina : Ardens invidio
pellere nililur, quos coe/o Deus odvocéll. Tranqüili­
zemo-nos porém ; se êles empregBm grandes esforços
para nos perder, o nosso Anjo Custódio emprega
ainda maior zêlo em nos defender. Faz por nós o
que o. Anjo Rafael fêz por Tobias: encadeia o� de­
mónios, ou expulsa-os para longe de nós. E é por
isso que o profeta, lendo dilo: Angelis suis mondél­
vil de /e, acrescenta logo para nos anim"ar: Super
élspidem el basiliscum élmbulélbis, e/ conculcélbis leo­
nem ef drélconem. Êsse leão e esse basilisco são as
potestades infernais, que nós calcamos aos pés com
o auxílio dos nossos anjos bons.
3. 0 r.les contribuem ainda mais direclamenle
para a nossa salvaçao orando por nós, e apresentam
a Deus as nossas orações.
Os outros anjos intercedem por nós em virtude
de uma caridade comum, que une entre si todos os

(1) Tralado da ora_çiio, e. IV. - (2) Gen. XII, ló.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
OS ANJOS DA GUARDA 733
filhos de Deus; os nossos Anjos da Guarda não só
se interessam por nós em razão dessa caridade, mas
também em razão de uma obrigação inerente ao seu
ministério, e do zêlo ardente de que Deus os encheu,
quando nos confiou aos seus cuidados. A Sagrada
E.scrilura diz que, consliluindo-os seus ministros, lhes
deu a adividade das chamas: Oui facil angelos suos
spirilus, ef ministros suos Dammam ignis (1). Êles es­
tão ao mesmo lempo ao pé de Deus, que contem­
plam, gozando as delícias de o possuir, e perlo de
nós, vendo as nossas misérias e os nossos perigos.
Daí o compassivo fervor com que não cessam de pe­
dir para nós novas bênçãos.
Êles apresenlam a Deus as nossas orações.
• E. veio um anjo, diz S. João, e parou deanle do
allar, lendo um turíbulo de oiro; e foram-lhe dados
muitos perfumes das qrações de lodos os Santos,
para que os pusesse sõbre o allar de oiro, que eslava
anle o trono de Deus• (2). O anjo Rnfael faz a
Tobias esla declaração: Ouando tu oravas com lá­
grimas, e enlerravas os mortos, e deixavas o teu
jantar, e ocultavas os marias em tua casa de dia, e
os enterravas de noite, apresentei as tuas orações ao
Senhor• (3 ) 1 • Oue felizes somos, exclama Bo�suet,
por ter deanle de Deus amigos tão dedicados I Êles
não se contentam com apresentar a Deus as nossas
orações, apresentam-lhe também· as nossas boas
obras: a caridade' exercida para com os pobres e os
enfermos, a esmola secreta, a injúria perdoada, o je­
jum, a mortificação e até. os nossos bons desejos e
pensamentos. Ah I quem pudesse exprimir a ale­
i;!ria, com que êles lhe npresentam as lágrimas do arre­
pendimento, os sofrimentos suportados por amor dêle
com humildade e paciência • !

(1) Hebr. 1, 7. - (2) Apoc:. VIII, 3, 4.


(3) Tob. XII, 12.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Finalmente, quando chega a morte, nêsses últimos


combales, em que se vai decidir o nosso destino
elerno, redobram de vigilância e solicilude para
reprimir o furor dos nossos inimigos, e inculir-nos
o espírito de ·compunção, de penitência e de fervor.
A sua missão continua ainda mesmo àlém do túmulo.
Se somos condenados a últimas e do_lorosas expia­
ções nas chamas do purgatório, visilam-nos e conso­
lam-nos; solicitam sufrágios em nosso favor, inspiram
a almas fervorosas o pensamento de nos assistir efi­
cazmente, e negoceiam com Deus o nosso livramenlo.
;_ Oue temos nós feito até ao presente para agrade­
cer esta bondade do Senhor, êste zêlo Ião puro, Ião
terno e tão constante do anjo .que êle nos deu por
guarda? Choremos a nossa ingratidão, e hoje mesmo
comecemos a repa_rã�la.
1

Resumo da Meditação

I. Com que a.mor Deus· _nos confia à guarda


dos Anjos. - A lgrejá chama hoje � nossa atenção
para um favor divino, que lhe parece inefável: Deus,
qui ine-H'abili providenfia . .. Oh I caridade incompreen­
sível!. Deus não se contentou com enviar-nos seu fi­
lho e· o Espírito San lo; enviou-nos também os seus
anjos para nos servirem: Angelis suis mandavil de fe.
Ouem envia é Deus; os que êle envia são príncipes
da sua côrle; ;_ a quem os envia êle e para quê?
E' necessário pesar cada uma destas palavras.

II. l Como exercem os Anjos da Guarda o seu


ministério? - Sem falar dos, serviços que nos pres­
tam na ordem temporal, é quantos nos não pres­
tam na ordem espiritual? Mos Iram-nos o caminho da
salvação, re_movem os obstáculos, dão-nos os meios
de a obter. - fazem-nos conhecer o verdadeiro bem,
e ajúdam-nos a pralicã-lo com as suas santas inspi-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DF.VERES PARA COM O ANJO'DA GUAROA 73.>

rações. - Desviam-nos do mal, descobrem-nos os


perigos, fortificam-nos nas nossas fraquezas, conso­
lam-nos nas nossas penas, defendem-nos do demónio.
- Contribuem ainda mais direclamenle para a nossa
salvação, orando por nós, e apresentando a Deus as
nossas orações. Ouando chega a morte, aumenlam
a sua vigilância e soliciluqe em no_s assegurer a vitó­
ria nêsses últimos combales. A sua caridade, acom­
panha-nos ainda àlém do túmulo; visitam-nos e con­
solam-nos no purgatório; pedem para nós sufrágios
e, por lodos os meios, apressam a nossa entrada na
glória eterna.
!SI

CXXXVI MEDITAÇÃO
O mesmo assunto. - Nossos deveres
para com o Anjo da Guarda
1. Deveres comuns a lodos os fiéis.
li. Deveres p11rliculares dos padres e paslores de almas.

1. Deveres comuns a lodos os fiéis para com


o Anjo da Guarda. - S. Bernardo reduz êstes de­
veres a três: respeito, reconhecimento, confiança.
A presença do nosso Anjo da Guarda exige q·ue o
respeitemos; os seus serviços que o amemos; a sua
prolecção Ião eficaz que confiemos nêle: Reverenfiam
pro praesenlia, devolionem pro benevolenfia, fidu­
ciam pro cusfodia.
t .º Respeito. E' o mesmo Deus que no-·lo or­
d€na: Observa eum, nos diz êle, nec conlemnendum
pules; esl nomen meum in illo (1 ).. S. João, lendo

(l) Exod. XXIII, 21.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
736 MEDITAÇÕ.ES SACERDOTAIS

vislo aquele anjo que lhe revelara lanlos mistérios,


prostrou-se para o adorar, julgando que era o Filho
de Deus. Sanlo Anselmo-afirma que, se um anjo se
manifestasse em tôda a sua glória, no lugar do sol,
obscureceria com a sua luz lanlos sóis, se existis­
sem, quantas eslrêlas há no firmamento.
Se a majestade de um rei mortal infunde respeito
a lodos aqueles que se aproximam dêle; é. de que
veneração não devemos nós estar cheios na presença
dêsse príncipe do céu, Ião superior a lodos os po­
tentados da terra? e Em qualquer parle que estiver­
des, diz S. Bernardo, na igreja ou em casa, na rua
ou na praça pública, só ou acompanhado, o vosso
anjo estará ao pé de vós. Não façais deanle dêle o
que não ousaríeis fazer deanle de mim: Tu ne. au­
deas, ilia praesenfe, quod, vidente me, non auderes.
é. Duvidais que êle esteja ao vosso lado, porque o
não vêdes? Mas o testemunho da vista não é nem
único, nem o mais seguro que lemos da presença
das coisas. Êste sentido não atinge os objeclos es­
pirituais, e os corporais nem todos são por êle per­
cebidos. Percebem-se os sons? Vêem-se os cheiros?
é. Ouem se lembrará de os negar, sob pretexto de
que os não vê? Vide quia non solo visu rerum prae­
senlia comprobafur. A vista da nossa fé vale bem a
dos olhos. Andai pois com muita cautela, porque o
vosso anjo observa-vos: Caule ambula, ui vide/icei
cui adsunf angeli • (1).
2. 0 Ao respeito ajuntai o reconhecimento e o
amor. Depois que o anjo do povo hebreu dividiu as
águas do mar Vermelho, e sepultou os egípcios nos
seus abismos, continuou a assistir-lhe por ordem do
Senhor, até o introduzir na terra da Promissão. As­
sim faz o nosso anjo bom. Depois de nos lêrmos

( 1) ln. Ps. Oui habitai.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DEVERl!IS PARA COM O ANJO DA GUARDA 737

liberlado pelo sacramento do baplismo, dos poderes


do inferno, êsle zeloso proleclor acompanha-nos no
deserto desta vida, que nos é preciso atravessar para
chegar ao céu. Ora, como uma nuvem misteriosa,
tempera o ardor das nossas paixões ; ora, como um
fogo brilhante, nos alumia na noite da nossa ignorân­
cia. Para nós, faz cair, quando convém, o maná
das celestiais consolações, e adoça as águas amargas
da penitência. faz-nos entender a lei de Deus, e es­
força-se por gravá-la na tábua viva de nossos cora­
ções.
V�rdade é que eu devo ao Senhor lodos êsles
benefícios: Ouid retribuam Domino? Eu não leria
um anjo para me servir, se êste bom Senhor mo não
concedesse: Angelis suis mandavif de fe. Glória a
Deus que deu esta ordem I Mas· devo também alguma
coisa àquele que a executa com tanta caridade ..
E' por imitação da bondade divina, que os anjos nos
leem tão benéfica inclinação. Contemplam às claras
os divinos mistérios da Incarnação, da Redenção e
todos os que leem ligação com êles. Ah! se tives­
sem uma vida a oferecer e sangue a derramar pela
nossa salvação, 1 com que boa vontade os dariam 1
Não, nós não podemos ser ingratos para com tais
amigos.
O jovem Tobias não sabe que prova de reconhe­
cimento há de dar ao seu caridoso. guia: Pafer,
quam mercedem dabimus ei? auf quid dignum pofe­
rif esse beneGciis ejus?. . . Me duxif ef reduxit sa­
num . . Banis omnibus per eum replefi sumus ...
E eu, é,que farei para agradecer os benefícios que
devo ao, meu Anjo da Guarda? Amá-lo-ei terna­
mente, ouvirei a sua palavra, serei dócil às suas ins­
pirações, evitarei o que ofende a sua santa presença;
praticarei as virtudes que êle mais preza: pureza,
humildade, zêlo, conformidade com a vontade do
Senhor.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
738 ---------
MEJJITAÇÔES SACERDOTAIS�

0
3. finalmente porei nêle a minha confiança;
FiducilJm pro cuslodit1. Se eu tivesse um amigo que
me parecesse com razão o mais prudente, o mais fiel,
o mais poderoso de lodos os homens, e. qlle confiança
leria nêle? Tais são os nossos anjos da guarda, diz
S. Bernardo: Prudentes sunf, lide!es sunf, polentes
sunl. Não podem enganar-se, porque recebem as
luzes da própria verdade: Semper videnf Ít1ciem Pt1-
fris. Ainda menos quereriam enganar-nos, porque
são amigos fidelíssimos. Lembremo-nos do triplice
vínculo que os une a nós: amam-nos porque sabem
que Deus no·s ama; amam-nos porque vêem em nós
a imagem da divindade; amam-nos porque ·nos olham
como a seus irmãos e futuros companheiros no céu.
Além disto o poder não lhes falia nem a sciência e o
amor; com a virtude q�e recebem do alio, um só de
entre êles lem mais fôrça para nos salvar, que todos
os demónios juntos para nos perder; o que levou
Tertuliano a dizer que, com o auxilio dos anjos, o
poder do demónio é sujeito ao do homem. Oiçamos
ainda a S. Bernardo: Ouid sub ftJnfis cuslodibus
fimet1mus?. . . Tt1nfum sequt1mur eos, t1dht1eret1mus
·eis, ef in pro{ecfione Dei coeli commoremur. Ouofies
ergo gravissimt1 cernifur urgere fenfafio, ef fribulafio
vehemens imminere, invoct1 cuslodem fuum, duelarem
fuum, t1djulorem fuum . . . lnclt1ma eum, ef dic: Do­
mine, st1/va nos, perimus.

II. Deveres particulares dos padres e pastore&


de almas para com os Anjos da Guarda. - e. Donde
precedem êstes deveres e quais são?
I .º As numerosas e honrosas relações que lemos
com êsles espíritos celestes, os grandes socorros que
dêl'es recebemos, como padres e como pastores, são
motivos de devoção para com êles, que só a nós
conveem.
A milícia do céu confunde-se quási com a da

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DEVERES PARA COM O ANJO DA GUARDA 739

!erra. Entre o paslor de almas e o Anjo da Guarda


qu·anlas coisas q>muns I O mesmo nome: Labia sa­
cerdotis cuslodienl scienliam ... , quia angelus Do­
mini exerciluum esf; com relação a Deus, cantar os
seus louvores, propagar, conservar o seu culto; com
relação aos homens, purificá-los, alumiá-los, defen­
dê-los; o mesmo ministério em certo modo, ministé­
rio de amor, de verdade, de reconciliação e de paz,
com a única diferença que os anjos não operam visi­
velmente; de modo que o sacerdócio católico, auxi­
liand_o a operação invisível dos anjos e auxiliado
por ela, é o dispensador visível dos mislérios de
Deus. O padre fala aos ouvidos, o anjo actua sô­
bre o entendimento e o coração. Pelo mútuo con­
curso do padre e do anjo, efeclua-se a obra da san­
tificação.
Eis a razão por que os ministros do Senhor são
o objeclo especial da protecção dos anjos. O seu
zêlo pela glória de Deus e salvação das almas inte­
ressa-os vivamente nos nossos trabalhos. Ah I quão
úlil nos é a sua assistência, quando anunciamos a
palavra divina, quando estamos no aliar, no confes­
sionário, ao pé dos moribundos I é. Ouanlas graças
de preservação recebidas dêles, quando corríamos os
maiores perigos? é. Ouantas inspira'ções repentinas
em ocasiões difíceis? é. Quantas vezes, ansiosos e
talvez desanimados, não dissemos entre nós: Oue
farei? é. como sa'irei dêste passo difícil? E o nosso
bom anjo livrou-nos dêsse perigo, como a Pedro da
sua prisão. Se os benefícios são para o amor o que
a lenha é para o fogo, ninguém deve amar os bons
anjos tanto como os padres e pastores. Mas, é. de
que modo lhes provaremos nós que os amamos?
2.º Sem falar dos deveres gerais, que acabamos
de meditar, nem dêsse culto de- imitação, que lhes
seria tão agradável, visto que nos oferecem um per­
feito modêlo das virtudes sacerdotais: recolhimento

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
7&0 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

profundo nas acções, bondade, paciência, dedicação;


comP,ele-nos ensinar os fiéis a honrá:los, e suprir a 'in­
diferença quási universal com que lhes são pagos tão
carinhosos cuidados. l Ouem conhece os santos an­
jos, e a felicidade de ter a um dêles por guarda?
Ou ao menos, quem pensa nisto? l Falais vós muitas
vezes sôbre um assunto tão importante? l Recomen­
dais esta devoção à infância, à mocidade, a lôdas as
idades, principalmente para a ocasião da tenlação?
Discorrei mentalmente peles países heréticos e infiéis,
pelos grandes centros de população ; passai por en­
tre, essas numerosas gentes . . . j Oue milhares de an­
jos tutelares desconhecidos· e esquecidos! Tributai­
-lhes culto. Mas tribulai um culto particular aos da
vossa parróquia e aos das almas que vos são con­
fiadas. Pastor, rogai-lhes, que vigiem convôsco sô­
bre o vosso rebanho, que vos chamem a tempo para
junto das ovelhas enfermas ...- O bom padre cos­
tuma saüdar no confessionário os anjos da guarda
de seus penitentes; no púlpito, na catequese, os de
seus ouvintes. Orações, ofícios, administração dos
sacramentos, visitas, nada faz senão de acôrdo e em
união com êsses poderosos cooperadores. Por si e
pelas pessoas que dirige, é muitas vezes repetida a
piedosa invocaç'ão: Angele Dei, qui cus/os es mei,
me tibi commissum piefafe superna illumina, cusfodi,
rege e/ guberna (1). Vêde que falias tendes cometido
para com os anjos da guarda, e tomai. as vossas re-
soluções para o futuro.

(1) lndulgênci11 de ·cem di11s por c11da vez que se rezar es(a
or11ção, e um11 indulgênci11 plenári11 por mês, rez11ndo-se lodos os
di11s.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
DEVERES PARA COM O ANJO DA GUARDA 74,i

Resumo da Meditação

I. Deveres comuns a todos os fiéis para com


o seu Anjo da Guarda. - S. Bernardo reduz êsles
deveres a três: respeito, reconhecimento, confiança:
ReverenliéJm pro prélesenlia, devolionem pro henevo­
lenliéJ, GduciéJm pro cuslodiéJ. 1.0 Respeito. E' Deus
que no-lo ordena: OhservéJ eum, nec confemnendum
pules; esl nomen meum in illo, Não façais deanle
dêle, diz S. Bernardo, o que não ousaríeis fazer
0
deanle de mim. - 2. Reconhecimento. Presta-nos
Ião grandes serviços, e com tanta caridade ! ...
O jovem Tobias não sabe que prova de gratidão
há de dar ao seu guia; e eu, é. que farei pelo meu
°
bom anjo? - 3. Confiança. ê.le é prudente e ilus­
trado; é fiel e dedicado; é poderoso. é. Oue lenho
eu a temer debaixo da sua direcção, com tanto que
lhe seja dócil?

II. Deveres particulares dos padres e dos pas·


fores para com os Anjos da Guarda. - Nós temos
com êles as mais honrosas relações: a mesma missão
com respeito a Deus; com respeito aos homens ...
O padre fola aos ouvidos, o anjo aclua sôbre a in­
teligência e o coração. Pelo seu mútuo concurso,
efeclua-se a obra da santificação. - Nós somos o
objeclo especial da prolecção dos anjos, o seu zêlo
interessa-os vivamente no bom éxilo dos nossos tra­
balhos. Se os benefícios são para o amor o que a
lenha é para o fogo, ninguém tanto como os padres
e os pastores devem amar os bons anjos, Imitemo-los
quanto nos fõr possível. Ensinemos os fiéis a hon•
rá-los, e supramos a indiferença com que são pagos
os seus carinhosos cuidados.

IS}

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

CXXXVII ME'oITAÇÃO
4 de Outubro.-S. Francisco de Assis

Êste San{o nasceu em Assis, cidade da Úmbria,


em 1182. Mostrou-se a princípio muito inclinado aos
prazeres e riquezas; mas em compensação destas in­
clinações funestas, Deus inspirou-lhe uma terna afei­
ção aos pobres, e as suas esmolas obtiveram-lhe a
graça de alcançar gloriosas vitórias sôbre o mundo e
sôbre as próprias paixões. Tinha quási vinte e cinco
anos de idade, quando um ado heróico ·o fêz entrar
no caminho da mais perfeita santidade.
Seu pai, que era mercador e muito apegado aos
bens terrenos, não podendo compreender nem sofrer
as piedosas liberalidades de francisco para com os
pobres, propôs-lhe que renunciasse à sua herança, na
presença do bispo. francisco anuiu, e impelido pelo
seu fervor, despindo os seus vestidos, os arremessou
aos .pés de seu pai, dizendo-lhe: • Até agora vos
chamei pai na terra; daqui por deante repelirei com
mais segurança : Pai nosso, que estais no céu • .
A datar dêste dia houve nêle uma completa mu­
dança : tudo se tornou prodigioso na sua vida. Reü­
niu em lôrno de si numerosos discípulos, com os
quais fundou a ordem dos Frades N\enores. Morreu
a 4 de Outubro de 1226, na idade de quarenta
e cinco anos, e foi canonizado a 16 de Julho
de 1228.
Deixar tudo para seguir a Jesus Cristo, tal é o
generoso sacrifício que foz um bom padre, ao entrar
no sacerdócio; achar em Jesus Cristo ce1p vezes
mais do que deixou por êle, tal é a primeira recom­
pensa promelida a êste sacrifício.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, FRANC:ISCO DE A�SIS

S. Francisco de Assis apresenta-nos :

I. O conselho da abnegaçiío evangélica praticado em tôda a sua


perfeiçiio.
U. A promessa do cen(o por um cumprida em (ôda a sua exlensiío,

I. S. francisco praticou a abnegação evangé�


lica em fôda a sua perfeição.,- Com o auxílio de
três paixões, o amcir das riquezas, nas honras e dos
prazeres, Satanás assola o mundo, ofende a Deus,
perde as almas; com· o auxílio de três virtudes, em
que consiste a abnegação evangélica, o amor da po­
breza, do desprêzo, e dos sofrimentos, Jesus Cristo
e os seus Santos glorificam a Deus, destroem t1 obra
de Satanás e salvam as almas. Estas virtudes res­
plandeceram em S. francisco de Assis.
1. 0 Amor da pobreza. Bossuel disse do nosso
Santo, que éle foi o mais dedicado amigo da po­
breza. Amou-a, e soube fazê-la amar.
Tinham-no visto distinguir-se entre os mancebos
da sua idade pelo luxo e sumptuosidade. Vêem-no
deixar a opulência, para se reduzir à mais completa
penúria; que sacrifício I Para se resolver a fazê-lo, ê
necessário que êJe combala até o santo prazer que
sentia em socorrer os pobres. Prefere C'omer com
Jesus Cristo o pão da esmola a alimentar Jesus
Cristo na pessoa dêles. Ouvem-no exclamar: « Um
Homem-Deus nasceu, viveu, morreu falto de ludo,
não lendo onde reclinar a cabeça! . . O' sant� po­
breza, ó tesoiro inapreciável I Não, as riquezas nada
valem em vossa comparação• (1).
Êle chamdva à pobreza sua raínha, sua mãe, sua
espôsa, e pedia-a com instância a Deus. A sua ora­
ção predilecla era : • Senhor Jesus, mostrai-me os

(1) Oivifias nihil esse duxi in comparalione illiu.s. Sap. VII, 8,


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
74. !i. MEDT I AÇÕES SACEROOT.AIS
_ _ ___�__ _ _ _

caminhos da pobreza. Eu amo-a tanto, que não


posso viver sem ela. Marcai-me com o seu sêlo;
seja o meu privilégio e o dos meus companheiros
nada possuir, não viver senão de esmolas, e ser tão
moderados no uso que fizermos delas, que nunca
estejamos sem sentir alguns efeitos da santa po­
breza>.
• Se as virtudes livessem uma forma humana, diz
o padre Nouet, a pobreza evangélica leria tomado o
corpo,. o espírito, o nascimento, a vida, e a morte de
S. francisco: o seu nascimento, porque nasceu em
um estábulo; a sua morte, porque antes de expirar,
quis que o estendessem sôbre cinza, depois de lhe
tirarem o seu vestido, para lhe darem como esmola
um vestido rasgado; a sua vida, porque, depois de
renunciar a herança paterna, nenhuns outros bens
possuiu na terra; o seu corpo, porque q tra­
taya como um escravo, a quem recusava: ludo o que
não era absolutamente necessário para a sua subsis­
tência; o seu espírito, porque era direclamente
oposto ao da avareza. O avarento tem inveja ao ho­
mem que é mais rico do que êle; francisco tem in­
veja a todo o pobre, que o excede em indigência.
O avarento jàmais atha que tem bastante; francisco
acha sempre que tem muito; quanto mais pobre é,
tanto mais contente está>. Amou a pobreza e leve
o dom de a fazer amar.
Percorre as cidades e as aldeias, repetindo por
lôda a parte o primeiro oráculo de Jesus Cristo no
sermão do Monte: • Bemavenfurados os pobres!
Bemaventurado aquele que só ama a Deus no mundo 1
ainda mais bemavenlurado o que não possui nêle
coisa alguma• ! A sua palavra e o seu exemplo fa­
zem tal impressão, que· em tôrno dêle se junta uma
multidão de pobres voluntários. forma com êles uma
sociedade, à qual dá por fundamento a pobreza de
Jesus Cristo, prometendo-lhe o auxílio do céu e

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. FRANCISr.O DE ASSIS

abundantes bênçãos, emquanto esla virtude nda flo­


rescer. l Oue precauções não toma para conservar
nessa sociedade o completo desapêgo de lodos os
bens terrenos? Alé nos templos que se edificam para
glória do Senhor, quer que ludo respire simplicidade,
modéstia, pobreza. Sempre paciente, sempre indul­
gente, só é severo para fulminar anátemas contra os
que lentassem enfraquecer na sua família religiosa o
espírito da santa pobreza.
2. 0 Amor do desprêzo. Na perfeita humildade,
diz Santo Agostinho, é que consiste principalmente
a pobreza espiritual ( 1). S. Francisco não podia igno­
rar que abraçar uma vida inleira'menle oposta à sa­
bedoria do mundo, era expôr-se aos seus desprezos.
Com efeito, o povo de Assis, vendo-o tão desfigu­
rado, vestido de uma maneira Ião exlravaganle, se­
gue-o pelas ruas e escarnece-o; seu pai manda-o
prender e carregar de cadeias como um doido peri­
goso. . . A exemplo de Jesus Cristo, êle tinha fome
de opróbrios; e foi saturado dêles. Ouando, mais
tarde, viu que era objeclo de uma admiração univer­
sal por causa de seus milagres, faz-se ainda mais
pequeno a seus próprios olhos. l Falam-lhe das gran­
des coisas que realiza? Dá a resposta de Maria a
Isabel: • Respexif humilifofem; se Deus se serve
dêle, é porque entre os homens nenhum há mais vil,
mais fraco, nem por conseguinte mais próprio para
tornar evidente o mérito do artífice pelo insignificante
instrumento que emprega• . Aniqüila-se, consideran­
do-se como um grande pecador, capaz de lodos os
crimes, se a mão paternal de Deus o não contivesse.
Ouanlo mais graças recebe, tanlo mais deplora a
sua ingratidão, persuadido de que qualquer outro fa­
ria melhor uso delas.

(1) lnfelligunfur p11uperes spirifu humiles.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEUITAÇÕl!:S SACERDOTAIS

.3. 0 Amor do sofrimento. Desde e sue conver­


são eslava tão incendido no amor divino, que e Pai­
xão de Jesus Cristo era o objeclo ordinário de seus
peilsemenlos. Ardia em desejos de lhe pagar vida
com vide. Procura três vezes ocasião de sofrer o
martírio no meio dos infiéis; mas êste favor é-lhe re­
cusado sempre. Só se consolava castigando o seu
corpo pele penitência. é. Há tormentos que não in­
vente pera crucificar e cerne? Dorme sõbre pedras,
como se e terra fõsse muito mole pera êle; traz sem­
pre um áspero cilício; jejua quásí todo o ano, e ape­
nes _ se sustente com ervas, pão e âgue fria ... Ainda
que os sentidos m�rmurem, e a natureza se qu_eixe,
Francisco só pense em imitar e Jesus padecente.
Não vive senão pera e cruz. Contemplando conti­
nuamente ao Salvador coberto de chagas, não pode
resolver-se a viver sem chagas (1). Seu desejo será
satisfeito. Emquanlo num deserto se queixa de que
os homens, que derramaram o sangue do Senhor, se
obstinam em poupar o do servo, recebe em seu corpo
e impressão das chagas de Jesus Cristo, que o trans­
formam numa hóstia viva, e o assemelham ao homem
das dôres. é. Viu-se jámeis a abnegação evangélica
praticada com mais perfeição? é. E essa abnegação
viu-se em tempo algum mais generosamente nicom­
pensada, ainda mesmo na terra ?

li. A promessa do - cenlo _por um admiràvel­


rnenle cumprida em favor de S. francisco. - foi
rico na indigência, feliz nos sofrimentos, honrado nas
humilhações.
t.0 Na indigência S. francisco achou a abun­
dância. Na véspera de sua morte, Jesus Cristo pre­
gunlava aos apóstolos: Ouando vos mandei cami

(1) S. Bem.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8. FRANCISCO DE ASSIS
---------- 7'1,7
--�-------
nhar sem bõlsa, e sem alfõrge, e sem çapalos, faltou­
-vos porventura alguma coisa? (i) A resposta foi
unanrme: • Nada, Senhor•. Francisco não é mais
que um pobre obscuro, sem valimento, sem autori­
dade; mas porque é pobre de Jesus Cristo, a sua
pobreza será fecunda e lhe fornecerá um tesoiro mais
seguro que todos os tesoiros do mundo. Construem­
-lhe conventos, trazem-lhe víveres para sustentar a sua
numerosa família. Ocupa-se mais em recusar o su­
pérfluo do que em procurar o necessário; em defen­
der os seus filhos do atractivo das riquezas, que lhes
são oferecidas, do que em suavizar-lhes os rigores
da pobreza que abraçaram. O pobre de Jesus
Cristo, diz S. Bernardo, é muito mais rico, porque a
Providência lhe dá tudo o que precisa e mais do
que deseja.
2. 0 Nos sofrimentos, achou a fonte das mais
verdadeiras delícias. Julga-se que a cruz de Jesus
Cristo não forma senão Sanlos; é um êrro: ela faz
também felizes. O homem é feliz, diz Salviano,
quando é o que quer ser (2). Ora, nunca ninguém se
sentiu mais feliz do que Francisco de Assis sofrendo.
t Havia na terra quem estivesse mais contente com a
sua sorte do que êste pobre que, no seu deserto,
sõbre os seus rochedos, no meio de lõdas as tribu­
lações, cheio de alegria, fora de si, passava noiles
inteiras a repelir: • Deus meus ef omnia? Eu pos­
suo o ·meu Deus e ludo no meu Deus,. Buscava a
felicidade no que mais o separava das criaturas e o
unia mais estreitamente a Deus. Achava-o, porque
Deús está ali; e não se cansava de repelir: Meu
Deus e meu ludo I e dizendo-o, suspirava, derramava
uma torrente de lágrimas, dessas fágrimas que o

(1) Luc. XXII, 35, 36.


( 2) Nulli bea!iores sunl, quam qui hoc sunl quod volunf.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
74, 8 M E D ITAÇÕES SACERDOTAIS
_ __ _ _
_ _ ___ _

Deus consolador faz derramar, quando se dá à alma


por íntimas comunicações. Dizia-o na contemplação
e no trabalho, a lôda a hora, em lodos os lugares, e
sempre com novos transportes: O' meu ludo 1
O' meu Deus l
3. 0 finalmente nas humilhações, achou o cúmulo
da glória. Diz-se de Salomão, que excedeu lodos os
reis em riquezas e sabedoria ( 1); Francisco de Assis
distinguiu-se entre os Santos por sua loucura apa­
rente e seu amor da pobreza. Ouanlo mais se es­
força por obler. o desprêzo do mundo, mais o mundo
se desvela em honrá-lo. l Oue vai êle pedir a êsse so­
berbo sullão do Egiplo, inimigo figadal do nome cris­
tão? O menos que espera é ser !ralado por êle, como
Jesus o foi por Herodes. Longe disso; é admirado,
e em lugar de opróbrios, são honras o que recebe.
Ouando voltou à pálria, 1 que entusiasmo, que acla­
mações à sua entrada nas cidades 1 1 que concorrência
do clero e do povo I que cantos de alegria! Ambi­
ciona locar-lhe os vestidos, beijar-lhe os pés I Os
seus companheiros participavam destas honras e,
como êle, quanto mais procuravam os desprezos do
mundo, mais o mundo aumentava as provas de es­
tima e veneração. l Como podia não ser assim, à
vista dos dons extraordinários, que o céu fazia so­
bressair no pai e nos seus filhos? E' dêste modo, ó
meu Deus, que vos apressais em recompensar as al­
mas generosas: se elas não põem limites ao seu sa­
crifício, vós não os pondes ao vosso amor. Desa­
feiçoai-nos das coisas terrenas e de nós mesmos.
Amemos a vós, e só a vós; e como S. francisco,
confiaremos inteiramente em vós, e diremos cheios de
felicidade: O' meu Deus, ó meu tudo 1

(1) III Reg. XI, 23.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, FRANCISCO DE ASSIS

Resumo da Meditação

J. S. Francisco praticou a abnegação evan"


gélic-a em tôda a sua perfeição. - A perfeita abne­
gação encerra três virtudes:
1.0 Amor da pobrezt1. Foi tal em Francisco de
Assis, que lhe sacrificou até o santo pra.zer de so­
correr os pobres;, preferiu comer com Jesus Cristo
o pão da esmola, a alimentar Jesus Cristo na pes­
soa dêles. A sua oração predilecla era: • Senhor,
mostrai-me os caminhos da pobreza ... Amo-a tanto,
que não posso viver sem ela,.. Amando a pobreza,
leve o dom de a fazer amar.
2.0 Amor do desprêzo. E' a perfeita humildade.
A exemplo de �eu divino Mestre, S. Francisco linha
fome de opróbrios; foi saturado dêles. Escarnecido,
insultado, a sua alegria é completa; quanto mais o
honram, mais pequeno e desprezível é a seus pró­
prios olhos.
3.
0
Amor do sofrimenlo. A Paixão de Jesus
Cristo era o objeclo ordinário de seus pensamentos;
ardia em desejos de lhe pagar vida com vida. l Há
algum género de tormentos que êle· rião invente
para crucificar a sua carne? êle poderá dizer com
S. Paulo, que traz impressas no seu corpo as chagas
do Senhor Jesus.

II. A promessa do cento por um admiràvel"


mente cumprida em S. Francisco. - Achou a élbun­
diJncia na miséria. A sua pobreza foi para êle um
tesoiro mais seguro que todos os tesoiros do mundo;
e cuidou mais em recusar o supérfluo, que em bus­
car o necessário. - Achou delícias nos sofrimenlos.
No seu deserto, sôbre os seus rochedos, passava
noites inteiras a repelir: Meu Deus e meu tudo! e
dizendo estas palavras, sentia-se cheio de alegria.-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
750 l\lEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Adiou a glória nas humilhações; e. que homem foi


mais louvndo que êle? Quanto mais procurava o
desprêzo do mundo, tanto mais o mundo lhe dava
provas de estima e veneração.

CXXXVIII MEDITAÇÃO
15 de Outubro. -Santa Teresa

Esta ilustre Santa nasceu em Ávila, de Espanha,


a 28 de Março de 1515. A leitura da vida dos
Santos, que se fazia lodos os dias em comum em
casa de seus virtuosos pais, inspirou-lhe desde a
mais tenra idade um ardente desejo de morrer por
Jesus Cristo. Tendo inütilmente lentado dirigir-se a
terras de Moiros, a-fim de lá achar o martírio, resol­
veu viver Ião solitária na casa paterna, quan-to pu­
desse. Perdeu sua mãe na idade de dôze anos, e
pouco tempo depois entregou-se à leitura de novelas,
que lhe seria funesf.a, se seus pais a não mandass�m de
pensionista para uma casa religiosa. Aí Deus fêz-lhe
ver o precipício de que a preservara, e inspirou-lhe a.
resolução de se retirar para o convento das Carme:..
litas de Ávila, onde !ornou o hábito a 21 de Novem­
vembro de 1536, na idade de vinte e um anos. A or•
dem do Carmo não tinha já o seu primitivo fervor;
Teresa recebeu do céu o encargo de a reformar. Co­
meçou pelas religiosas. Bem de-pressa, animada pelo
bom resullado, empreendeu com o auxílio de S. João
da Cruz, fazer a mesma reforma nos conventos dos
religiosos. Deus abençoou-lhe os esforços, e depois
de numerosas contrariedades, teve a consolação de
vêr trinta e dois conventos que, te·ndo abraçado a
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S, TEBEBA DE JESUS 751
sua regra, difundiam o perfume das mais puras vir­
tudes. Morreu em 1582, e foi canonizada em 1621.
Aplicar-lhe-emas estas palavras de Isaías: • Re­
solutamente farei o bem, e não temerei, porque o Se­
nhor é a minha fortaleza e a minha glória• (1).

1. A su11 coragem confunde II noss11 cob11rdi11.


li. O bom result11do de suas emprêsns confunde II nosso descon­
ll11nç11.

I. A coragem de Santa Teresa confunde a


nossa cobardia. - A coragem mede-se pela gran­
deza das emprêsas que se lentam, e das dificuldades
que se vencem. Teresa não se propõe menos do que
alcançar uma eminente santidade, e induzir um grande
número de almas a alcançá-la; mas para realizar ês­
tes dois .nobres desígnios, t que há de mais difícil
de vencer, do que os obstáculos que se lhe oporiam?
E.m si mesma, inclinaçqes capazes de lhe tirar lõda a
esperança de alcançar essa santidade; do lado dos
outros, as contradições mais próprias para lhe fazer
abandonar a obra da sua santificação. Com a graça
de Deus e com a sua constância triunfou de ludo.
1. 0 Desde a sua infância sente um ardente de­
sejo de sacrificar a sua vida pelo seu Deus, que a
amou a ponto de morrer por ela. . . Mas, oh! for­
taleza e fraqueza I ela leria a coragem de morrer
mártir, e não tem a de viver vigilante 1 . . . Não
recusaria a Jesus Cristo derramar por êle todo o
seu sangue, e recusa privar-se por êle de algµns gõ­
zos terrenos! Se o encanto tivesse durado, ela es­
lava perdida: o seu coração, que o amor divino tor-

(1) Fiducialifer 11g11m e! non fimebo, quia for!iludo men d


laus me11 Dominus. Is. XII, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

nará lão grande, e lhe oblerá o sobrenome dé S_erá­


fica, viria a ser escravo de umo miserável vaidade.
Vós vi�iáveis sôbre ela, ó meu Deus! Estes desfa­
lecimentos passageiros só servirão para fazer so­
bressair o poder da vossa graça e a paciência do
vosso amor.
A sua vocação para a vida religiosa ocasionou­
-lhe terríveis combates. Deixar ludo e para sempre,
que sacrifício I Viver em uma perpétua sujeição a
uma regra austera, que incómodo I Mas ... expôr-se
à condenação eterna, que temeridade I Pertencer lôda
a Deus, que glória! Nunca mais ser livre, que tor­
mento 1 ... Jesus apresenta-lhe a sua cruz, e ela acei­
ta-a. E'-lhe tão penosa esta determinação, que a
deslocação de seus ossos, seus membros arrancados
com violência, são as expressões, de que se serve
para descrever o seu tormento. Todavia nada a
vence. Só acha o cális mais amargo; para ter mais
merecimento, esgotando-o. Ainda mesmo depois da
sua profissão, o Espôso celeste exigiu dela dolorosos
sacrifícios, incitando-a a renunciar a conversações
muito freqüentes e íntimas com pessoas do mundo.
• Deus, diz ela, chamava-me de um lado, e o mundo
do oulro. A minha alma eslava continuamente tur­
bada. Passei vinle anos nesta luta! As minhas que­
das eram numerosas e só me levantava frouxamente•.
E' pois verdade que os Santos não eram de uma
natureza diferente da nossa, nem isentos de defeitos;
que alguns se conservaram muito lempo num estado
de languidez, antes de- atingir uma sólida perfeição;
é. porque pois nos desanimaremos? Mas Teresa não
queria limitar-se à sua santificação pessoal.
2. 0 Arde em zêlo da glória de Deus e da salva­
ção de seus irmãos. Refleclindo em que se perdem
tantas almas, enche-se da mais viva dôr. Ora pela
conversão dos pecadores, pelos apóstolos que vão
levar a fé às nações eslranjeiras . . . Ainda mais:

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S. TEIIF.SA DE 'JE�US

sente-se inspirada a trabalhar no aperfeiçoamento


das almas religiosas; e neste intuito, empreende a
reforma do Carmelo. Prevê os clamores que vai
provocar; mas Deus é a sua fortaleza, e ela nada
teme.
Com efeito, mal são conhecidas as suas intenções,
logo se manifesta contra ela uma grande indignação
em tõda a Espanha. E' uma reprovação geral. Acu­
sam-na de soberba, de hipócrita, de querer dominar
na religião, distinguindo-se com acções de estrondo;
por tõda a parle se opõem aos seus desígnios. Os
mais moderados lastimam-na, como sendÓ o ludibrio
de, uma imaginação exaltada e de um zêlo sem pru­
dência. 1 Oue dissabores não teve que sofrer durante
os vinte últimos anos de sua vida, que consagrou à
execução dêsle desígnio I· Longe de descoroçoar,
julga vêr nesta oposição dos homens, um seguro
penhor do socôrro do céu. Tudo quanto leme, é te­
mer alguma coisa, quando se trata de defender os
inlerêsses de Deus.
As virtudes, que foram o fruto de fanlas prova­
ções, obrigam-nos a reconhecer, que foi mais glorioso
para Sanla Teresa e mais insli'ulivo para nós, que
os seus piedosos projedos encontrassem tantos obs­
táculos. Mais glorioso para ela, porque a sua firmeza
nos faz. admirar o heroísmo de uma alma, que pare­
cia fraca. Mais instrutivo para nós, porque vendo a
sua invencível coragem, envergonhamo-nos da nossa
cobardia, que não· ousa empreender coisa alguma, e
que desanima à menor dificuldade. Humilhemo-nos
profundamente, e façamos um ado de fé no oráculo
divino: Tudo posso naquele que me confor!fJ (1).

II. O bom resultado das emprêsas de Teresa


coníunde a nossa desconfiança. - Ela é fraca, os

(1) Omnia possum in eo qui me conf�rl11f. Philip. IV, 13.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕE!I SACERDOTAIS

seus projeclos são grandes, as dificuldades parecem


insuperáveis, e todavia é bem sucedida em ludo, por­
que confia unicamente em Deus. Provada pelos dis­
sabores da vida espiritual, chega à mais eminente
santidade. Contrariada na emprêsa da sua reforma,
vê-a florescer e propagar-se:
Tõda a alma cristã e sacerdotal tem a sua graça
particular, e o grau de sua perfeição depende da sua
exaclidão em segui-lt1. A graça de Teresa foi a ora­
ção. • Um dia, diz ela, que, por ordem do meu con­
fessor, eu pedia a Deus, me fizesse conhecer a sua
vontade, tive um éxtase, e ouvi distintamente estas pa­
lavras: Eu niio quero que d fud conversdçiio sejél
senão com os dnjos:. Desde então houve nela uma
mudança radical. Renunciou a tõdas as suas antigas
relações, e entregou-se inteiramente às comunicações
mais íntimas com Deus. Nêsses colóquios celestes,
recebeu conhecimentos que fizeram de seus escritos
um dos ric:os tesoiros da sciência dos Santos. foi
ali principalmente que ela adquiriu o amor divino que
lhe dirigiu todos os passos e mitigou tõdas as dõres.
Os dois amores com que Deus santifica as almas
mais perfeitas, um do sofrimento e outro da alegria
santa, foram nela igualmente notáveis. - Amor so­
fredor. Os perpétuos jejuns, as longos vigílias, as
mortificações corporais, as doenças, as tentações,
tõdas as dõres que ela sofreu, são indizíveis, mas não
a saciavam. Quanto mais cruzes tem, mais quer ter;
só o sofrimento contínuo ou a morte é capaz de sa­
tisfazer o seu amor: duf pdfi auf mori. - Amor go­
zoso. e. Ouem poderia exprimir as delícias de que o
Salvador lhe enchia a alma durante os êxtases e apa­
rições, em que lhe descobria as maravilhas da sua
misericórdia com respeito a ela, assim como quando
lhe dizia, que, se não tivesse criado o céu, o criaria
para ela?. . . Por êstes dois caminhos Ião diferentes,
chegou à mais sublime perfeição.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8. TER ESA DE Jf:SUS 75S
Ela é. igualmente bem sucedida na reforma do
Carmelo. Depois de grandes resistências, até da
parle da autoridade eclesiástica, indisposta contra a
Santa, cumprem-se os seus desejos. Carecendo de
lodo o auxílio humano, mas confiada em Deus, exe­
cuta o seu projeclo. Atribui a glória de ludo ao
Senhor; porque foi o seu braço poderoso que tudo
féz: Forfiludo mea el laus mea Dominus.
Agradeçamos a Deus as graças que se dignou
conceder a Santa Teresa, e por ela a tõda a Igreja.
Imitemos a. sua coragem e a sua confiança em Deus;
e verificar-se-á também em nós, a palavra do Espírito
Santo: Os que esperam no Senhor, terão sempre
novas fôrças, tomarão asas como de iiguia, correrão
sem fadiga, andarão sem desfalecimento (1 ).

Resumo da Meditação

1. A coragem de Santa Teresa confunde a


nossa cobardia. - Grandeza das suas emprêsas;
propõe-se álcançar uma eminente santidade. e induzir
grande número de almas a alcançá-la. 1 Oue obstá­
culos a vencer da sua parle e da parle dos outros 1
Deus chamava-a de um lado, e o mundo do outro.
Empreendendo a reforma da ordem do Carmo, ela
prevê os clamores que provocará; mas Deus será a
sua fortaleza.

li. Os bons resultados das emprêsas de Santa


Teresa cQnfundem a nossa desconfiança. -- Provada
muito tempo pelos dissabores da vida espiritual, não
deixa por isso de alcançar uma eminente santidade.
Estorvada na emprêsa da sua reforma, viu-a florescer
e propagar-se. - Tôda a alma tem a sua graça par-

(1) Is. XL, 31.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
i56 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

ticular; a de Teresa foi a oração. Nela adquiriu os


dois amores divinos, que foram tão. notáveis nela:
amor de sofrimento e amor da alegria stmta.

IS!

CXXXIX MEDITAÇÃO
1 de Novembro. - Festa de Todos os Santos

A Igreja apresenta-nos nesta festa !rês grandes


objeclos de alegria e de edificação: a felicidade, o
exemplo, e a intercessão dos Santos.

1. A sua félicidade. foz-nos pressenfir a nossa, e inflama os


nossos desejos.
li. O seu exemplo moslra-nos o caminho que conduz a esla feli­
cidade, e no-lo !orna fácil.
Ili. Sua inlercessiio ajuda-nos a segui-lo com fervor e perseverança.

PRIMF.IRO PHELÚDJO. Imaginarei que vejo o céu


nberto, e nêle lodos os Sonlos estendendo-me os bra­
ços, e convidando-me a ir participar da sua felici­
dade, e repelir um alegre cântico: o Evangelho das
bemaventuranças: Beafi pauperes spirilu, quoniam
ipsorum esl regnum coelorum ... Beafi mifes . .. Beafi
mundo corde . .. Beali qui lu�enf, etc.
8EGUN"DO PRELÚDIO. O' Bemavenlurados ami­
gos de Deus, alcançai-me a graça de vos imitar fiel­
mente na vida de abnegação e caridade que abra­
çastes com tanta sabedoria,. e continuastes com tanta
perseverança e cor.agem.

I. A felicidade dos Santos faz-nos pressentir


a nossa, e inOama os nossos desejos. - O céu

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DE TOOOS OS SANTOS 7r,7
é-nos concedido como o foi à inumerável multidão de
bemavenlurados, cujas palavras e corôas a Igreja nos
mostra hoje : Vidi {urbam magnam quam dinumernre
nemo poleraf ... Et palmae in manibus eorum ( 1 ).
O sangue de Jesus Cristo dá-nos os mesmos direi­
tos a êle que aos bemaventurados; só se traia de
tomar posse dêlc.
O' alma minha, eleva-te açima da terra, ao me­
nos neste dia: Sursum corda. Entra no palácio áos
escolhidos, cujo arquiteclo é o mesmo Deus, e em
que ostenta lôda a sua magnificência. Contempla à
vontade a augusta e encantadora sociedade, onde
serás admitida, se não te excluíres dela. Vê os an­
jos, arcanjos, lrônos, dominações. . , os patriarcas,
profetas, apóstolos, mártires, pontífices e doutores,
todbs os bons sacerdotes que combateram com
tonto denodo por Jesus Cristo e pelas almas. De­
pois de uma tribulação momentânea e ligeira, ei-los
para sempre cheios de glória (2). Vêem, amam, lou­
vam a Deus; e os cânticos em que exprimem a sua
alegria é admiração, o seu reconhecimento e amor,
serão eternos como os• senlimenlos que os inspiram.
O' cidade de Deus, morada dos Santos, onde tudo
permanece e nada passa, onde há -ludo, e nada falia,
onde tudo é tranqüilo e dôce, sem mistura de agita­
ção e amargura I O' formoso céu. se não posso com­
preender-te, posso merecer-te! O' minha alma, ouve
a Jesus dizer-te neste momento: Fifi, non /e fran­
_qanf labores quos assumpsi�li propler me, nec tribu­
laliones te abjicianl usquequaque; .sed. ·mea promis­
sio in 'te omni el'enfu te roboref e/ consofetur ...
Leva faciem luam in coe/um; ec.ce ego el omnes

(1) Apoc. VII, 9.


(2) Momenfoneum el leve lribulafionis noslrae... aelernum
gloriae pondus operalur in nobis. li Cor. IV, 17.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
·i58 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS
------ ----- ------ -------
sancli mei mecum, qui in hoc saeculo magnum ha­
buere cerlamen; modo gaudenf, rr,odo consolanfur,
modo secuti sunf, modo requiescunf, e/ sine fine me­
cum in regno Palris m�i permanebunf (1).

li. O exemplo dos Santos mostra-nos o ca�


minho do céu, e no-lo torna fácil. - êles s�guiram
o _bom caminho, visto que cheg·aram ao seu fe­
liz fêrmo. Meditemos o pensamento de Bourda­
loue (�). é. Oue é um santo?. . . E' uma idéia real,
visível, palpável e substancial da perfeição evangé­
lica. Quando Deus nos mostra um Santo, diz-nos,
como oulrorn a Moisés, fazendo-lhe vêr a figura do
tabernáculo: lnspice, e/ fac secundum exemplar . ..
E' ésle retraio vivo que deves ser. . . O exemplo
dêsle predestinado te ensinará o que deves ao ·teu
Deus, ao leu próximo e a li mesmo: lnspice ef fac.
A vida de um Santo é uma lição inteligível para lo­
dos. Ao passo que nos instrui, ahima-nos, porque
dissipa as nossas ilusões e os nossos vãos receios.
Ilusão sôbre a natureza do verdadeiro mereci­
mento. Nós só consideramos como grandes virtudes
os grandes dons de Deus, dom de contemplação,
dom das lágrimas, ele. Mas, é. quantos Santos não re­
ceberam nenhum dêsles favores? é. Ouanlos parece­
ram mais temê-los que desejá-los? S. Bernardo ex­
clamava: • Menos unção, Senhor, e mais fôrça nas
minhas_ cruzes, menos doçura e mais caridade, menos
gôzo e mai� verdadeiro. fervor: His confenfus ero,
caefera derelinquo •. S. francisco Xavier sentia um
íntimo pesar das suas abundantes consolações: Satis
esf, Domine, safis esf.
Ilusão sôbre o que constitui o preço das obras.

(1) lmif., lib. 111, e. XLVII.


(2) Sermão para a fesla de 1 odes os Sanfos.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DE TODOS 08 SÀNTOS 759

E' o brilho? Um número incalculável de Santos e


5anlas de primeira grandeza, só encheram os seus
dias com as acções mais comuns. Oue fêz Maria?
<. Oue brilhantes obras fêz o Santo dos Santos, du­
rante quási lodo o tempo que viveu no meio dos ho­
mens? Entre os que. contemplamos no céu, i quantos
foram solilários no mundo, zelosos da fé sem a levar
.àlém-mar !
Ilusão sôbre os obstáculos, que julgamos ler em
nós à santidade: paixões violentas, e ainda forlifica­
das por numerosas quedas. . . e. Foram os escolhidos
de Deus isentos de paixões? e. Não os ouviram quei­
xar-se de que a carne se revoltava nêles contra o
espírito? lnlelix ego homo, quis me liberahil de cor­
pare mor/is hujus? (1) As grandes paixões sàbie­
menle dirigidas e. não formaram os grandes Santos?
Nós medimos a glória, de que êles gozam, pelas vi­
tórias que alcançaram; porlanlo cremos que tiveram
de combater assim como nós. . . Pelo que respeita
js nossas quedas e à fôrça do hábito que resultou
delas, muitos e grandes Santos foram primeiro gran­
des pecadores. O seu exemplo provará sempre irre­
sistivelmente que a santidade nada !em de impossí­
vel; que é alé fácil com a graça, que nunca falta ;
que lem doçuras Ião reais e infinilttmenle mais puras
que as do mundo. Finalmente, êsses gloriosos ami­
�os de Deus, modêlos animadores, são também po·
derosos proleclores. Podemos dizer de lodos o que
5. Bernardo disse de um de enlre êles: ln lerris vi­
.sus esf, uf esse{ exemplo, in coe/um levalus esl, ui
.si/ pafrocinio (2).

III. A intercessão dos Sanfos ajuda-nos a se­


jJuir o caminho do céu com fervor e perseverança.
- Rogam por nós; é um dogma da nossa fé.

(l-) Rom. VII, 24, - (2) Serm. li de 5. Yict.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
j/j() MEDITAÇÕF.S SACERDOTAIS .

l • Ouem pode duvidar, diz Bourdaloue, de que a sua


intercessão contribui mais para a nossa salvação que
as nossas próprias orações• ? E dá esta razão;
• Nós oramos segundo os nossos desejos, que são
muitas vezes injustos e desregrados ... Não pedimos
o que deve alcançar-nos o sumo bem. Mas os San­
tos que vêem na luz de Deus os nossos verdadeiros
interêsses, só pedem para nós o que nos é provei­
toso. As suas orações são eficazes, porque nenhuma
há que não seja conforme aos desígnios de Deus ..•
Tendo Jesus Cristo prometido no Evangelho conce­
der-nos ludo o que lhe pedirmos ( 1 ), e prevendo que
abusaríamos muitas vezes desta promessa, pedindo­
-lhe Í!3 lsos bens que nos perderiam, fêz intervir os
Santos, que oram por nós conlra nós mesmos, quando
o objeclo de nossas Orações não é o que deve ser;
de sorte que, sem faltar à sua palavra, tem direito o
não nos atender, porque atende os que empregamos
junto dêle para lhe encomendarem os nossos inte­
rêsses•.
Além disto, • a oração de um Sanlo é em si
muito mais poderosa que tôdas as nossas, porque a
dignidade da pessoa que ora, realça o merecimento
da oração. Cumpre acrescentar que os Santos, in­
teiramente desinteressados, rogam por nós com uma
caridade muito mais pura; que a presença e vista de
Deus tornam as suas orações niuito mais solicitas,
assim como o exercício do seu amor as torna muito
mais fervorosas. (2).
E' pois indubitável que os bemavenlurados não
esquecem as nossas misérias. Ouanto mais seguros
estão a respeito da sua felicidade, tanto mais solíci­
tos são a respeito da nossa salvação: Jam de sutt

(1) Ouodcumque voluerilis pele!is, e! fiel vobis. Joan. XV, 7.


(2) Sermão p11r11 11 lesl11 de Todos os S11ntos.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FESTA DE TODOS OS SA�TO� ifil

immor!alifafe securi, el de noslra salufe sollicifi.


j Oue confiança e alegria não deve inspirar-me eslii
reflexão: Todas os San los do céu são para mim
amigos devotados, que leem lodo o valimento junto
de Deus, porque o poder que êle lhes dá de me
assistir, é urna parle considerável da sua recompensa!
Todos me oferecem os seus valos. Se eu quiser. os
apóstolos me obterão o zêlo, os mártires a fortaleza,
os doutores a luz, as virgens uma pureza imacula­
da . O que me pedem em compensação, é que
pense nêles, principalmente na oblação do divino sa­
crifício, agradecendo por êles e com êles àquele que,
premiando os seus merecimentos, premiou os seus
próprios dons : UI illis proficitJl ôd honorem, nobis
aulem ôd salulem; el illi pro nobis inlercedere di­
gnenfur in coe/is, quorum memoriôm agimus in lerris.
Gostemos de repelir, hoje principalmente e durante
lõda a oilava, esta oração jaculatória: Sane/a Môria
e! omnes Sôncli infercedônl pro nobis ôd Dominum.­
ul nos mereamur ôb eo ôdjuvtJri e/ salvari, qui vivi/
el regnôl in saecula Sôeculorum. Amen.

Resumo da Meditação

I. A felicidade dos Santos faz-nos pressentir


a nossa, e inflama os nossos desejos. - O céu já
nos foi adquirido; o sangue de Jesus Cristo dá-nos
direitos incontestáveis à glória; só se traia de tomar
posse dela. Contemplemos à vontade a deliciosa
sociedade dos escolhidos. Vêem, amam, louvam a
Deus, e os seus cânlicos serão eternos como os sen­
timentos que os inspiram . formoso céu, se eu
não posso compreender-te, posso possuir-te!.

II. O exemplo dos Santos mostra-nos o cami­


nho do céu e no-lo torna fácil. - A vida de um
Santo é uma lição inteligível para lodos. lnslruindo-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
----------
&IEl)JTAÇÕES SACERDOTAIS

0
-nos, dissipa as nossas ilusões: - 1. Sôbre a natu-
reza do verdadeiro merecimento. Êsle não consiste
nas graças extraordinárias; e. quantos Sanlos parece­
ram mais temê-las que desejá-las? - 2. 0 Sôbre o
que constitui o preço das obras. A maior parle dos
Santos encheram os seus dias de acções comuns; a
mulher forte manuseou o fuso. - 3. º Sôbre os obslá­
culos, que julgamos achar em nós mesmos à santi­
dade. Os Santos tiveram paixões; muitos linham
sido grandes pecadores.

III. A intercessão dos Santos ajuda-nos a


adquirir a sua felicidade. - Rogam por nós, e a
sua intervenção contribui mais para a nossa salva­
ção que as nossas próprias orações. Vêem na luz
de Deus os nossos verdadeiros inlerêsses; pedem
para nós o que nos é realmen!e proveitoso. A eficá­
cia de suas orações é au�enlada pela dignidade da
sua pessoa, pelo desinterêsse da sua caridade. j Oue
confiança e alegria não deve inspirar-nos esta reílec
xão: Todos os Sanlos do céu são para mim ami­
gos dedicados, que leem um poderoso valimento
junto de Deus I felicilemo-los pela sua felicidade;
mereçamos participar dela um dia, invocando-os e
esforçando-nos por imitá-los.

CXL MEDITAÇÃO
2 de Novembro. - Dia de finados.
- Devoção às almas do purgatório
Não se pensa por muito tempo nos que já mor­
reram, diz o autor da lmifoçâo. A maior parle dos
defuntos seriam logo esquecidos inteiramente, se a

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ALMAS DO PURGATÓRIO í63
Igreja não inslituísse esta festa fúnebre, para nos re­
cordar a memória de lodos: Commemorôlio omnium
fidelium defunclorum. A devoção às almas do pur­
gatório tem relação com um dos dogmas mais con­
soladores da nossa fé, a Comunicação dos Santos.
O padre fervoroso pratica-a com alegria e propaga-a
com zêlo. Não podendo fazer aos vivos lodo o bem
que quisera, repara essa f alta com o que faz aos
mortos: nisso ao menos a sua caridade procede sem
obstáculos. Estas almas aflitas merecem a nossa
compaixão; é-nos fácil aliviar e abreviar os seus so­
frimentos; exercendo esta misericórdia alegramos o
céu e alcançamos preciosas vantagens; eis os moti­
vos em que se funda a verdadeira devoção para com
os mortos. Meditaremos hoje os dois primeiros, e
àmanhã os outros dois.

1. As nlmas do purgatório são dignns da nossa compaixão.


II. Podemos Íâcilmente aliviá-las e livris-las.

I. As almas do purgatório são �ignas da


nossa compaixão. - Considere-se o que elas são, o
que padecem, e a impossibilidade de obterem por si
o menor socôrro.
1. 0 E primeiro que ludo, é. para quem vem hoje
a Igreja solicitar a nossa comiseração, despertando a
nossa fé e a nossa memória, Commemoratio? Dara
almas santas, que leem segura a posse do reino
eterno. Pacientes, resignadas, bemdizem a Deus
como ao mais terno dos pais, conquanto as !rale
como juiz inexorável; reconhecem que mereceram os
seus castigos: Juslus es, Domine, e/ recfum judicium
fuum. Além disto estas almas leem connosco rela­
ções de natureza e de graça, que não nos permitem
ser insensíveis aos seus sofrimentos. é. Não há naque­
las tristes moredas ovelhas do nosso rebanho, filhos
de nossa família, penitentes que nos confessaram os

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
illí MF.OITAÇôEg SACEIIDOTAIS

seus pecados? e. Ouem sabe mesmo se somos intei­


ramente estranhos à causa de suas dôres? O nosso
zêlo mais vigilante e aclivo e. não leria deminuído o
número das suas faltas, ou obtido a sua completa
reparação durante a vida?
2. 0 Para as expiar ag0ra, que sofrem elas?
Privação da posse de Deus, suplício do fogo: pena
de dano, pena de sentido. . Nobres e santas víti­
mas. e. quem se não compadeceria dos vossos sofri­
rnenlos?
Para formar idéia da primeira destas duas penas,
notemos que a privação de um bem é lanlo mais do­
lorosa, quanto mais excelente é em si êsse bem,
quanto mais conhecido é, quanto mais incontestáveis
são os direitos à sua posse, e quanto mais veemente
é o desejo de o possuir. O bem, de que estão ex­
cluídas temporalmente as almas do purgatório, é o
mesmo Deus, centro e plenilude de lodo o bem,
Deus, que elas leem direito de possuir, em virtude
dos merecimentos de Jesus Cristo. Elas viram a sua
formosura,. amam-no incomparàvelmenle mais do que
se pode amar na !erra. e. Ouem compreenderá
quanto desejam possui-lo, e quanto sofrem por não o
possuir? O amor, que Íaz no céu a felicidade dos
escolhidos, faz o seu tormento no purgatório. Tudo
o que deminui neste mundo a inclinação de uma alma
para Deu�. seu princípio e seu fim, desapareceu, e
agora ela busca-o com um ardor inconcebível.
Ouando rezamos o Ofício dos Defuntos, julga­
mos ouvir os gemidos dessas pobres almas, impelidas
para Deus pelo seu veemente amor, e repelidas de
Deus como indignas de sua presença. Ora é a êle
que dirigem os seus suspiros e lamentos: Ouemadmo­
dum desideraf cervus ad fontes aquarum, ila desiderol
anima meo od /e Deus ( 1). - Ubi sunl misericordiae

(1) Ps. XLI, 2.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ALMAS DO PURGATÓRIO 761
luae. anliquae? ( 1) - Clamo ad fe, ef non exaudis
me. Sto, et non respicis me. Malulus es mihi in
crude/em, ef in durilid manus fuae adversaris mihi ( 1 ).
Ora é a duração do seu exílio, que elas deploram:
Heu mihi I quia inco/afus meus prol0ngafus esf I (3 )-
0uando. veniam ef apparebo ante faciem Dei? ( 4 )
Muitas vezes é a si mesmas que elas fazem amargas
exprobrações: é.• Onde está o leu Deus, alma insen­
sata? Ubi esl Deus fuus? e. Porque é que não gozas
da sua felicidade? Bastava que eu exercesse alguma
vigilância sôbre mim, que me impusesse alguns ligei­
ros sacrifícios, para evitar lão horrível desgraça 1 ...
Oh! funesta pusilanimidade, quão caro me custas,
vis lo que me privas da posse do meu Deus• 1
.Ao tormento desta privação acresce o suplício do
fogo. Meditemos 'o que dizem os Padres a respeito
da natureza, e dos sofrimentos que êle causa. • Pre­
guntais-me, diz S. Tomás, qual é êsse fogo. Res­
pondo que é o mesmo que o do inferno. Aqui devora
a palha, lá depura o ouro• ( 5 ). Santo Antonino não
vê diferença entre um e oulro senão na duração ( 6 ).
S. Gregório pensa que êsse fogo é mais insuportável
que tõdas as tribulações da vida presente ( 7 ). Santo
Agostinho exprime o mesmo sentimento em lêrmos
ainda mais enérgicos. Combate a cegueira dos que
diu:m: Afinal, êste fogo se extinguirá, e alcançarei a
glória eterna; pouco me imporia que seja um pouco
mais tarde. • Não faleis assim, continua o Santo
Doulor, porque as dõres que causa êsle fogo, são
maiores que tôdas as que se podem conhecer, ima-

1 1 ) Ps. LXXXVIII, 50. - (2) Job. XXX, 20, 21.


(S) Ps CXIX, 5.
14) Ps. XLI, 3. - r 5) ln IV disf. XXI, 11. 1.
(6) P. IV. Tr11ct. XIV, e. X. -(i) Comment. in Ps. I\'.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ifi(i MEDITAÇÕl!:S 8ACl!:8D0TAl!I

ginar e sentir, na terra• (1). S. Tomás diz: Minima


poena purgaforii major esf maxima poena hujus
mundi.
3. 0 finalmente, o que torna as almas do purga­
tório ainda mais dignas de compaixão, é que em seu
infeliz estado, só teem, por assim dizer, esperança
em nós. Um pobre com o seu trabalho remedeia a
sua própria indigência; se não pode trabalhar, men­
diga, e a pintura que faz de sua miséria, enternece o
coração. Sucede o mesmo com as outras pessoas
desgraçadas; resta-lhes sempre algum recurso: o mais
seguro é invocar o céu que nunca é surdo à oração.
Quanto às almas do purgatório, falta-lhes ludo, se
lhes falta a nossa caridade. l A quem recorreriam elas?
e. À misericórdia do Senhor? O seu reino passou.
Exige-se agora tõda a dívida: Usque ad novissimum
quadranlem. A novos merecimentos? Não se semeia
já no outro mundo; o dia findou, e foi substituído
por essa noite fal1:1l, em que não se pode já traba­
lhar (2 ). e.Às almas companheiras de seu infortúnio?
Tõdas elas estão na mesma impossibilidade de se
socorrerem mutuamente. Só a nós é que lhes seria
útil recorrer; mas ai ! nós não podemos vêr correr as
suas lágrimas, nem ouvir os seus gemidos. Oiçamos
ao menos as palavras, que a Igreja lhes ouve hoje;
e se, meditando-as, o nosso coração se enterne.cer,
não o endureçamos: Miseremini mei, miseremini
mei, saltem vos amici mei, quia manus Domini fefigif
me (3 ). e. Seremos nós com o nosso esquêcimento e
indiferença Ião severos para com elas, como o Deus
justo que as castiga? Ouare me persequimini sicuf
Deus? (4 ) A nossa insensibilidade seria mais cruel►

(l) Serm. XL de Sandis. Ef enarral. in Ps. XXXVII.


12) Venif nox, quando nemo polesf operari. Joan. IX, 4.
(S) Job XIV, 21. - (4) lbid.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AL!l!As DO PURGATÓRIO 767
porque a sua sorte está nas nossas mãos, e pouco
nos custaria dar-lhes um imenso alivio.

II. Podemos fãcilmenfe aliviar e livrar as almas


do purgatório. - Podemos, é um artigo de fé. • Não
poderíamos, diz o Catecismo Romano, ser mais gra­
tos à bondade do Senhor, que deu BOS homens o
poder de satisfazerem uns pelos outros, e de paga­
rem assim o que é devido à divina justiça•. Pode­
mos Íàcilmenle, visto que a religião nos fornece meios
Ião numerosos. Os principais são o sacrifício da
missa, a oração, a esmola e as indulgências.
No aliar acha se o nosso mais poderoso meio de
socorrer as almas do purgatório. O concilio de
Trento definiu: Purgaforium esse, animasque ibi de­
lentas .idelium suffragiis, polissimum vero accepfabili
alfaris sacrilicio juvari (1). • Não é em vão, diz
S. João Crisóstomo, que os apóstolos recomendaram
que se fizesse menção dos defuntos no santo sacri­
fício da missa; éles sabiam que leem grande parle
nos frutos dêste sacrifício•. Com efeito, a missa tem
um valor infinito. E' o sangue de Jesus Cristo que
ali fala, que pede justiça e misericórdia: justiça para
o Salvador, porque êle não faz rri'ais do que exigir o
preço de seus sofrimentos; misericórdia para essas
almas cativas, porque tem direito de lhes aplicar os
seus merecimentos. E' a morte de Cristo renovada
mislicamente, para apressar a vida gloriosa dessas
almas; são os seus sofrimentos substituídos aos seus
tormentos . . . Ouando Santa Mónica, estando quãsi
a expirar, falava da sua sepultura, dizia: Não vos
dê cuidado o meu corpo; fazei dêle o que quiserdes.
O que vos peço é que vos lembreis de mim ao aliar
do Senhor • (2).

( 1) Sess. XXV. - (2) Conf. 1. IX, e. XI.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
768 MEnt1'AÇÕRS SACERDOTAIS

Debaixo do nome de oração, incluem-se os dife­


rentes exercícios de piedade, que se praticam pelo
descanso das almas do purgatório; e debaixo do de
esmola, as obras de misericórdia; e as que se referem
à penitência, tais como jej1,ms, mortificações . . . Pela
aplicação das indulgências, valemo-nos dos tesoiros
da Igreja em favor dos fiéis defuntos, e comunicamos­
-lhes as salisfações superabundantes de Jesus Cristo
e dos Santos. l Oue coisa mais fácil que cumprir as
condições a que estão ligados a maior parle destes
favores inapreciáveis?
O' Jesus, bemdito sejais por vos dignardes con­
fiar-nos o alívio e livramento dessas almas santas,
que leem tanto direito à nossa compaixão ! i quão
agradável nos é poder consolá-las e socorrê-las 1 Nós
vos oferecemos por elas tôdas as boàs obras c:jue fi.
zermos até ao fim da nossa vida. Hoje principal­
mente, ó meu Deus, derramai o vosso sangue sôbre
as chamas do purgatório: Vós prometestes atender
os votos de vosso povo; deixai-vos comover por esta
oração, que se puve em lodos os vossos templos:
Pie Jesu Domine, dona eis requiem ..

Resumo da Meditação

1. As almas do purgatório merecem a nossa


compaixão. - O que elas são, o que elas padecem,
a impossibilidade em que estão de se socorrerem mu­
tuamenle: 1 . 0 São almas santas, a quem o céu per­
tence. Bemdizem a Deus, cuja justiça adoram. E:.tas
almas não nos são estranhas·; 1 que laços nos não
unem a elas 1 2. 0 Os seus sofrimentos excedem lo­
dos os que podemos imaginar: privação da posse de
Deus; mas de Deus conhecido, de Deus amado de
uma maneira muito diferente do que o é neste mundo.
Suplício do fogo, e de que fogo! S. Tomás diz que
é o mesmo que· o do inferno. 3. 0 Tudo falta a essas

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ALMAS DO PURGATÓRIO 769
almas aflitas, se lhes falta a nossa caridade. A Igreja
faz-nos ouvir os seus gemidos e rogos: é. seremos in­
sensíveis a êles?

II. E'"nos fácil aliviar e livrar as almas do


purgatório. - O principal meio é o sacrifício da
missa. O concílio de Trento no-lo ensina. A oração,
a esmola, as diferentes obras de misericórdia e de
penitência, mas principalmente as indulgências ganhas
em seu proveito, podem suavizar-lhes os sofrimentos,
e apressar a sua felicidade. Pie Jesu Domine, dona
eis requiem.

ISl

CXLI MEDITAÇÃO
Devoção às almas do PurgatóriQ.
- Continu.ação

1. Ouanlo esta devoção é agradável eo céu.


li. Ouanlo é proveilosa aos que a praticam.

I. A devoção que tem por fim aliviar e livrar


as almas do purgatório, é muito agradável ao céu.
- Agrada a Deus, não só por causa da caridade
fraternal que se pratica, e que êle gosta de vêr em
nós, mas também por causa da glória que se dá a
Deus. Glorifica a providência de Deus, que proveu
dêsle modo ao bem de seus filhos : dos mortos pelos
vivos, e dos vivos pelos mortos que se tornaram no
céu seus zelosos intercessores. Glorifica a santidade
de Deus, de que o purgatório nos dá uma sublime
idéia; a sua justiça, que recebe assim uma completa
satisfação pela aplicação dos merecimentos do Re-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
770 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

dentor; mas glorifica principalmente a sua bondade,


a sua misericórdia e o seu amor,. que ali resplande­
cem, e são, de lodos os �eus alribulos, os que mais
se compraz em manifestar. Meditemos a êsle res­
peilo as sólidas reflexões de Bourdaloue, que em
substância são as seguintes:
• Desprezar a devoção aos mortos é nâo ter zêlo
para com Deus que, achando a sua glória no livra­
mento dessas almas justas, quer obtê-la por nós, e
tem o direito de se queixar de nós, quando dela é
privado . . . Admiramos os homens apostólicos, que
passam os mares e vâo a países remotos converter
infiéis. . . Mas, é não sabemos nós que a devoçâo às
almas do purgalório é uma espécie de zêlo que, com
relação ao seu objeclo, não é inferior ao da conver­
são dos pagãos, e o excede alé de algum modo,
porque sendo essas almas santas, predestinadas, con­
firmadas em graça, são incomparàvelmenle mais no­
bres aos olhos de Deus, mais amadas de Deus, e
mais capazes de o glorificar que as dos pagãos•?
Acrescenta cjue o purgatório é um estado de violên­
cia, não só para as almas que nêle padecem, mas
para o mesmo Deus; e dá esta razão: • No purga­
tório Deus vê almas a quem tem sincero amor, e
todavia não pode fazer-lhes bem; almas cheias de
merecimentos, de santidade, de virtudes, e que não
pode ainda recompensar, que é até obrigado a casti­
gar. é Há coisa mais oposta às inclinações de um
Deus Ião misericordioso e caritativo? Compe­
te-nos -extinguir esta violência, livrando essas almas
de sua prisão, e abrindo-lhes o céu. Deus está com
as mãos prêsas, por assim dizer; nós desprendemos­
-lhas. Êle não nos diz como a Moisés: Dimiffe me,
uf irt1sct1fur furor meus; ao contrário diz-nos: Üpdn­
de-vps à minha vlndicla; não entregueis à mi,nha ira
almas que eu amo, e que vós deveis amar• . Pois
bem, que faremos nós? e. Deixaremos a Deus na

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ALJIIAS DO PURGATÓRIO 77!
dura necessidade de castigar aquelas que êle deseja.
premiar? t Não participaremos dos seus desejos?
O menor alívio que damos aos sofrimentos das
almas do purgatório, é também um aumento de glória
para a santa humanidade de Jesus Cristo, na honra
tribulada ao seu precioso sangue, visto que é em
virtude de seus merecimentos, que êsse alívio é con­
cedido. Ouanlo mais cedo saem de sua !riste mo­
rada, tanto mais cedo o Salvador recebe o último
frulo d\: tudo o que fêz e padeceu pela sua salvação;
até então não participaram ainda de tôda a redenção
que lhes estava reservada. Maria, Mãe de miseri­
córdia, consoladora dos aflitos ; os Anjos Custódias
dos fiéis defuntos ; os Santos seus protecfores e pa­
tronos: tôda a côrle celestial, que se aleizra da con­
versão de um pecador, alegra-se muito mais, quando
uma alma entra no reino eterno. O' padre, entre­
gai-vos a uma devoção Ião agradável a Deus e a
todos os amigos de Deus 1

II. A devoção às almas do purgatório é para


nós do maior interêsse. - As virtudes que nos leva
a praticar, as graças que nos obtém, as lições que
nos dá, fazem que seja para nós um admirável meio
de santificação.
1. 0 Esta devoção bem entendida, é uma perfeita
prática das virtudes teologais, fé, esperança e cari­
dade. - Praticamos a fé, visto que esta devoção nos
faz entrar num mundo invisível, e trabalhar por ela
com tanta energia e convicção, como se estivesse
deanle dos nossos olhos; fé na comunicação dos
Santos, nos efeitos do augusto sacrifício da missa,
no poder da Igreja em dispensar os merecimentos
superabundantes de que é depositária. -Praticamos
a esperança, persuadidos de que essas almas pade­
centes receberão as bênçãos do sangue divino, e nós
a recompensa de nosso zêlo em socorrê-las. Se lhes

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
77'!. MEDITAÇÕES SACKRDOTAIS

cêdo as minhas satisfações, em lugar de as guardar


para mim, l não farei eu um ado heróico de espe­
rança? - Praticamos a caridade, não só para com
irmãos, mas para com Deus ; amamo�las porque êle
as ama ; abreviamos o seu livramento para aumentar
a sua glória.
S. francisco de Sales observa que esta devoção
encerra tôdas as obras de misericórdia recomendadas
na Sagrada Escritura: a esmola, o cuidado dos enfer­
mos, a visita dos presos e encarcerados, ele. De facto,
com a nossa piedade para com os mortos, mitiga­
mos a fome, apagamos a sêde dessas almas que ar­
dem em desejos de vêr a Deus e de o possuir. Pa­
gando as suas dívidas com as nossas satisfações,
desppjamo-nos de algum modo, para as vestir da
glória eterna; livramo-las de um cativeiro mais cruel
que a morte; recebemos hóspedes, e é no céu que
os recolhemos . . . Ouando chegar o dia em que Je­
sus, nosso juiz, fizer estas pregunlas: • Tive fome;
l desle-me de comer? eslava enfêrmo, eslava em cár­
cere; vieste-me visitar•? feliz o cristão, feliz o pa­
dre que ouvir uma multidão de almas tomar a sua
defêsa e responder em lugar dêle: • Sim, Senhor,
êle assim o fêz; éramos os vossos membros pade­
centes· no purgatório; desceu lá com sua caridade,
e prestou-vos a vós os mesmos serviços que recebe­
mos dêles. (
2. 0 Pensemos também na fonte de graças, que
nos abre esta consoladora devoção. Deus prometeu
medir a sua misericórdia pela nossa, e derramar os
seus dons com abundância no seio daquele que so­
corre seu irmão indigente (1). Se pudesse esquecer
esta promessa, lembrar-lha-iam êsses cativos, cujas
cadeias quebrámos, e cujo reconhecimento será para

1_1) MoUh. VII, 2; Luc. VI, 38.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ALMAS DO PURGATÓRIO 773
nós, na vida e na morfe, em qualquer situação em
que precisarmos de socôrro, um recurso poderoso e
seguro: Amicus .ide/is proleclio forfis (1). Ouando
José predisse ao copeiro do rei do Egipto, que se.ria
brevemente restituído ao seu emprêgo, suplicou-lhe
q1.1e se lembrasse dêle e o protegesse junto de Fa­
raó (2). Súplica inútil, porque José foi esquecido.
Não sucederá o mesmo connosco, se livrarmos os
nossos irmãos do purgatório; no céu não há ingra­
tos. Essas almas bemaventuradas, cujos sofrimentos
abreviarmos e cuja felicidade anteciparmos, olhar­
-nos-ão sempre como a seus insignes bemfeitores.
E.las pedirãÕ e obterão para nós tudo o que nos
fór verdadeiramente útil ou necessário. Ainda que
estivéssemos no fim da vida, em perigo iminente de
nos perdermos, rogariam por nós com tanta instân­
cia, que Deus se enterneceria. Jónatas, depois de
salvar o exército de Israel, é condenado à morte por
ter transgredido um mandado de seu pai. Levan­
tam-se mil vozes em seu favor; de tôdas as parles
exclamam: Ergone Jonafhas morielur, qui fecif sa­
, lufem hanc magnam in Israel? (3) Saúl não pode re-
sistir, e perdôa a seu filho. Assim, as almas que eu
livrei da purgatório, intercederiam por mim perante
Deus, se preciso fõsse, e lhe diriam: • Ah I Senhor,
l permitireis vós a perdição daquele que usou de tanta
misericórdia connosco• ? Beafi misericordes, quoniam
ipsi misericordiam consequenfur. A verdeira piedade
para com os mortos é um penhor de predestinação ;
tanto mais que ela contribui ainda para nos santifi­
carmos com as santas reflexões que faz nascer.
.3. 0 Entregando-nos à devoção para com os fiéis
defuntos, aprendemos a temer a divina justiça, talvez
mais do que meditando àcerca do inferno. No in-

(1) Eccli. VI, 14. - (2) Gen. XL, 14.


(3) I Reg. XIV, 45.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
774 MEDITAÇÕES SACE\IDOTAIS

ferno Deus mostra-se terrível; mas, l sôbre quem des­


carrega a sua ira? Sôbre inimigos obstinados que
recusaram até ao fim as inspirações da sua graça;
sôbre pecadores que o serão sempre. No purgató­
rio êle vê justos que dormiram o sôno da pa�, esco­
lhidos que o céu espera, e que, longe de murmurar
contra o Deus que os 'fere, só sabem louvar e ado­
rar ao Deus que os salvou. As suas penas não demi­
nuem o seu amor; pela sua parle Deus ama.os ler•
namente, e todavia l com que severidade os trata?
l E que castiga nessas almas? . . . Quis non fimebii fe,
o rex genfium? Se eu obedeço à gr�ça que acompa­
nha estas reflexões, evito o mal, e até a aparência
do mal; abraço com ardor a penitência, persuadido
que Deus puniria em mim ludo o que eu não tivesse
punido, e que a satisfação com que eu vingo a Deus,
não pode comparar.se com os casl_igos, com que
Deus se vinga. O' alma minha, sigamos o conselho
de Santo Agostinho: Siudeaf ergo quisque sic deli­
cia corrigere, ui posl morfem non oporleal poenam
fo!erare. Com êle digamos muitas vezes a Deus:
ln hac vila purges me, ef falem me reddas cui jam
emendalorio igne non opus si!.

Resumo da Meditação

I. A devoção às almas do purgatório é muito


agradável ao céu. -Agrada a Deus, cuja providência,
santidade', justiça e misericórdia glorifica. E', com
relação ao seu objeclo, uma espécie de zêlo, que em
nada cede ao da conversão dos pagãos, e até o ex­
cede de algum modo. Deus não nós diz como a
Moisés: • Deixai.me exercer a minha vingança• ;
diz-nos pelo contrário: • Livrai.me da necessidade
em que me vejo, de castigar almas que me siio ca­
ras• . Maria, os Anjos, os Santos, lôdà o côrle ce­
lestial se alegra do seu livramento.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PltOMESSAS SAr.EROOTAIS 775
II. A devoção para com as almas do purgató­
rio é-nos muito proveitosa. -1. 0 Praticamos de um
modo excelente a fé, a esperança e a caridade.
S. Francisco de Sales faz observar que esta devoção
inclui tõdas as obras de misericórdia Ião recomenda­
das na Sagrada Escritura: a esmola, a visita dos
presos, o cuidado dos enfermos, ele. -2.'' E' para
nós uma fonte de graças abundanlíssimas: Deus
prometeu medir a sua misericórdia pela nossa. e. Es­
quecer-se-ão de nós no céu aqueles a quem apressámos
a feliéidade do céu? Ocupando-nos dos fiéis defun­
tos, nós aprendemos a temer a divina ju:;tiça; a evitar
até a aparência do pecado, a abraçar a penilência,
persuadidos de que Deus castigaria em nós o que
não livéssemos castigado nesta vida.

CXLII MEDITAÇÃO
21 de Novembro.--Apresentação da Santíssima
Virgem. - Renovação das promessas
sacerdotais. - Cave ne quando obliviscaris
pacfi Domini fui quod pepigif fecum (1).

1. Jesus Cris(o dii-se ao sacerdote, para ser a sua parle e a ;;��


hernnça.
li. O bom padre renova a promessa que l"êz de se dar a _: e­
sus Crislo.

I. Jesus Cristo dá�se ao sacerdote, para ser


a sua parle e· a sua herança. - O Salvador é o te­
soiro de lodos os fiéis; mas é também de um modo

(1 ) Deu!. IV, 23.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
776 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

mais �pedal o tesoiro de seus ministros. l Tenho


eu meditado bem nesta prerrogativa do cristão e do
padre?
1. 0 Oue todos os fiéis lenham sagrados direi los
sôbre Jesus Cristo, nada é mais certo; lodo o cris­
tão pode dizer no sentido mais consolador : O Sal­
vador é meu; seu Pai deu-mo, e êle deu-se a mim,
tomei posse dêle pelo baplismo, posso gozar dêle
pela fé. · Esta doação de Deus ao:s homens foi predita
pelos profetas { 1 )� publicada pelos anjos no d,a do
nascimento do Redentor (2), consignada no Evange­
lho (3), notificada a tôda a terra pelos apóstolos ( 4 ) e
seus sucessores; a Igreja faz dela o objeclo de seus
cantos mais melodiosos e solenes: Nobis ddlus, no­
bis ndlus. - Se ndscens dedil socium, convescens in
edulium, se moriens in prefium, se regndns ddl in
prdemium. l Ouem duvidará- de uma verdade fundada
em semelhantes provas?
O' cristãos, Jesus é vosso I l Oue mais podeis
desejar, se souberdes apreciar a vos�a felicidade ?
As lágrimas que êle derramou, a penitência que fêz,
a morte que sofreu, as suas virtudes, os seus mere­
cimentos: tudo o que é de Jesus é vosso, e podeis
dizer-lhe, com alguma proporção, o que êle dizia a
seu Pai : Omnia lua med sunt. Aceita, com ardor
um dom. que encerra todos os dons ; usai dêle para
o fim para que o recebestes : UI omnis qui credif in
5
eum non peredf, sed hdbeaf vifam deferndm { ).
Uni-vos a Jesus Cristo pela fé, esperança e caridade.

(1) P11rvulus n11lus esl nobis, el filius d11fus esl nobis. Is. IX, 6.
(2 1N11lus esl vobis hodie S11lv11lor. Luc. 11, 11.
3
( ) Sic Deus dilexil mundum, ui filium suum unigenilum cl11ref.
Jocmn. Ili, 16.
(4 l Tr11didil semelipsum pro me. G11l. If, 20. - Dedit se­
melipsum pro nobis. Til. II, 14.
(5) Jo11nn. Ili, 16.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PROMESSAS SACERDOTAIS 777
Oferecei-o a Deus, como um imenso· suplemento a
tudo o que vos falta ; oferecei a sua vida tão pura,
para cobrir e apagar as iniqüidades da vossa; as suas
virtudes, pelos vossos vícios; o seu coração abrasado
em amor, pelo vosso cqração líbio e lânguido. -
Nêle e por êle cumprireis lôda a justiça.
2. 0 Mas se Jesus Cristo é meu, como cristão,
é meu de um modo mais excelente na minha quali­
dade de padre. • Vós não lereis parle entre os
vossos irmãos, dissera o Senhor aos filhos de Levi;
eu é que sou a vossa parle e a vossa herança no
meio dos filhos de Israel• (1). O que só era uma
figura para o primeiro sacerdócio, é uma admirável
realidade para o segundo. Oh I palavras que nenhuma
bõca humana ousaria pronunciar, se a mesma ver­
dade a isto nos não autorizasse: Dominus pBrs
hBeredifolis meBe ef cBlicis mei I I O mesmo Deus é
a minha parle e a minha herança l A parle que êle
não quis dar-me entre os filhos do século, porque
não era digno nem da sua munificência nem do mi­
nistério celestial q que me chamava, dá-ma todos os
dias na posse real, pessoal, substancial dêle mesmo.
Ouando desço do altar, e. não é Jesus Cristo todo
meu?
Reflecfindo sôbre o lugar que Deus se dignou
assinar-me na sua Igreja, sõbre as funções que nela
exerço, compreendo porque é que só a tríbu sacer­
dotal tem o privilégio de se apropriar êste belo canto:
Dominus pBrs hBeredifBliS meBe. Desde o instante
que sou padre, Jesus pertence-me de tal sorte, que
posso dá-lo e dispôr dêle como eu quiser. Não é
sómente meu, está em mim, distribuindo as suas gra•
ças, exercendo os seus poderes, continuando a sua
obra de redenção. Ouer que na minha voz se reco-

(1) Num. XVIII, 20.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
778 MEnlTAÇÕES SACl!:llDOTAIS

nheça a sua: Oui vos audil, me audil; faltarem-me


ao respeito, seria ofendê-lo : Oui vos spernif, me
spernif. Todo o padre é um homem divino, que faz
maravilhas reservadas à divindade; vêde o que êle
faz no confessionário e no altar. Oh I rica herança
do sacerdócio católico 1
E.' verdade que entre Jesus e os seus ministros,
hii reciprocidade de promessas. Ele só é a parle de
sua herança a lílulo de permuta; é lodo meu com a
condição de que serei lodo dêle. Entrando na s·agrada
milícia, não só renunciei a parle dos bens, dos pra­
zeres, das honras que o mundo podia prometer-me,
mas também a minha liberdade, os meus gostos, a
minha própria' vida; o cariicle; que me conferiu o
pasmoso poder de imolar a um Deus vítima, imolou­
-me a mim mesmo. Sim, o padre eslii morto, e como
que sepultado com o Salvador em um novo ·baplis­
mo ; estii morto para o século, para as paixõe� que
o perturbam, para os receios que o agitam, para as
esperan�as que o iludem . . . Oh ! morte preciosa na
presença do Senhor, visto que é. a morte de seus
Santos ! Prefiosa in conspeclu Domini mors saneio­
rum ejus ! E.la dii-nos uma vida escondida aos olhos
do mundo, vida do espírito de Deus, vida da fé, ador­
nada de lôdas as virtudes, faz de nós imagens vivas
de Jesus Cristo: Mor/ui en.im esfis, e/ vifa vesfra
esf ahscondifa cum Chrisfo in Deo (1). Isto é o que
eu devia ser, desde que pertenço ao Filho de Deus
na qualidade de seu minis.Iro; isto é o que fui até
certo ponto no princípio da minha vida sacerdotal ...
Mas ai I quão fácil é deixar afrouxar o primeiro fervor .1
Por esta razão S. Paulo recomendava a Timóteo que
ressuscitasse em si a graça que tinha recebido pela
imposição das mãos. A isto me convida a fesia dêste

(l) Colos. Ili, 3.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PROMESSAS SACERDOTAIS 779

dia e o terno exemplo da SS. Virgem, dada ao clero


por Mãe, rainha e modêlo.

II. O bom padre renova a promessa que


fêz de se dar a Jesus Cristo. - Maria Ião nova
ainda, não ia enlão ao templo para se consagrar a
Deus; a sua irrevogável consagração datava do mo­
mento- da sua conceição imaculada; não ia dar-se,
mas apresentar-se ao Senhor, para reconhecer por
um aclo exterior e solene, que êle tinha sôbre ela o
mais completo domínio; ia oferecer-se de IJOVO para
cumprir lodos os seus desígnios; e é o que o bom
padre se esforça por imitar hoje. E.sle sabe que já
não pode dispôr de si, porque se deu para sempre a
Jesus Cristo. Oue faz pois? Recorda-se das miseri­
córdias do Senhor a seu respeito, e, para lhe dar
uma prova de reconhecimento, que lhe seja agradá­
vel, confirma e renova as promessas feitas.
1. 0 A vi�a da Santíssima Virgem não foi, por
assim dizer, senão uma continua acção de graças.
O sentimento que lhe há de inspirar um cântico su­
blime em casa de Isabel: Magnificai -anima mea Do­
minum, é o mesmo que, quando menina, lhe dirige os
passos paro o sagrado templo. Se o Toda-Poderoso
a prepara para grandes coisas, oh I que prodígio de
amor realizou já em seu favor, na sua milagrosa e
imaculada conceiçâo ! Feci/ mihi magna qui pofens
esf. Comovem-na tanto os benefícios divinos, que se
julga indigna dêles: Ouia respexif humili/alem ancil­
lae suae. O' padre, sereis vós ingrato? Não fôsles
vós que escolhestes o Senhor; foi o Senhor que vos
escolheu a vós. Non vos me efegislis, sed ego elegi
vos. é. A que nobre missão vos associou? Sicuf
misif me vivens Pafer, e/ ego miffo vos. Pretende
fazer de vós o companheiro de- seus trabalhos nesta
vida, onde ludo passa ràpidamenle, para repartir con­
vôsco a sua• glória nesse reino, onde ludo é estável e

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
780 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

permanente. l Merecíeis vós ser o objedo de Ião


gloriosa escolha? Pregunlai-vos pois com o Rei­
-Profeta que retribuireis vós ao Senhor por lodos os
benefícios que vos tem feito : Ouid retribuam Domino
pro omnibus quae retribui{ mihi? e respondei como
êle: Vota mea Domino reddam.
2.° Contemplai Maria, já prostrada de joelhos
deante do altar; achareis no seu sacrifício três mere­
cimentos diferentes, que aumentam o seu preço aos
olhos do Senhor: é pronto, generoso, constante. -
E' na mais tenra idade, que ela vai oferecer-se a
Deus. Outras meninas lhe tinham sido consagradas
muito cedo por seus pais ; porém Maria consagra-se
por si mesma, sem outro impulso senão o do seu
coração. Deplorai o tempo perdido, recobrai-o pelo
fervor que deve acompanhar a renovação das vossas
promessas. Hoje ao menos tende as disposições de
David, quando exclamava: Dixi: Nunc coepi (1);
disse, agora começo. Sim, meu Deus, eu cem vezes
lenho rejeitado ou desprezado a vossa graça ; mas
agora cedo emfim ao seu influxo. - Sacrifício gene•
raso. Renuncia às mais justas e lisonjeiras espe­
ranças, renuncia a ludo, para pertencer mais comple­
tamente a Deus, e faz esta renúncia com alegria, na
simplicidade de seu coração ; julgando ouvir excla­
mar o seu ilustre antepassado: Seio, Deus meus,
quod probes corda ef simplicifafem di/igas, unde ef
ego in simplicifafe cordis mei laetus obfuli uni­
versa (2). - Maria dá-se para sempre. O que ela
prometeu, cumpre-o fielmente. O seu sacrifício, uma
vez consumado, continua ainda; se torna a ocupar-se
das suas promessas, é para as confirmar por outros
adas de consagração e abnegação . . . Crescerá de
virtude em virtude, de' perfeição em perfeição, até

(l) Ps. LXXVI, 11. - (2) 1 Parai. XXIX, i7.


https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
PROMESSA8 SACERDOTAIS 781

que a sua santidade e glória se vão perder e absor­


ver na glória e santidade de Deus.
Ah I Senhor, eu conheço demasiado a minha in­
constância, por isso não confio nas minhas sinceras
resoluções; mas reco.ro a vós, que tendes todos os
corações nas vossas mãos: suplico-vos que me fir­
meis na resolução que tomo. Proporcionai os vossos
socorros à minha fraqueza, amparai-me nas minhas
tribulações; fazei que eu tire vantagem ainda das
mesmas tentações, para lhes resistir aturadamenle até
as vencer (1). O' céus, ouvi o que vou dizer-vos; ó
Maria, seja a vossa prolecção a garantia tia minha
promessa. Não é a minha bôca sàmenle, é o meu
coração, é tôda a minha alma, que vai pronunciar
esta profissão da minha fé, êsle reconhecimento dos
meus deveres, esta fórmula sagrada dos meus direi­
tos e das minhas esperanças: Dominus pàrs haere­
difafis meae e/ calicis mei; fu es qui resfifues haere­
difafem meam mihi..

Resumo da Meditação

1. Jesus Cristo dá-se ao sacerdote, para ser a


parle da sua herança. - O Salvador é o tesoiro de
lodos os fiéis, mas parlicularmenle de seus ministros.
0
1. Todo o .cristão pode dizer: Jesus Cristo é meu;
seu Pai deu-mo; deu-se êle mesmo também. Nobis
dafus, nobis nalus. - Se nascens dedit socium .
2. 0 Mas se o possuo como cristão, possuo-o de um
modo muito mais excelente como padre. O que não
era senão uma figura para o antigo sacerdócio, é
para o nosso uma admirável realidade: Ego pars ef
haeredifos lua in medio Gliorum Israel. Desde o ins­
tante que sou padre, posso dar Jesus e usar dêle

(1) facief e!iam cum fenfafione provenlum. I Cor. X, 13.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
782 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

como eu quiser. E' meu e está em mim : Oui vos


audif me audif. Mas há reciprocidade de promessas
entre Jesus e o seu ministro.

II. O bom padre renova a promessa. que


Íêz de se dar a. Jesus Cristo. - Maria não vai ao
templo para se consagrar a Deus; fê-lo no momento
de sua conceição; mas vai para se apresentar.
O mesmo sucede com o padre. E' um ado de re­
conhecimento de uma e outra parle. - O sacrifício
de Maria tem três merecimentos diferentes: ê pronto,
é gener06o, é constante. l Em que poderei eu imis
lá-la?

131

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ORAÇÕES
que se costumam rezar depois da Meditação

I
O Jesu, vivens in Maria, veni, el vive in famulis
luis, in spirilu sanclilalis luae, in pleniludine virlulis
luae, in perfeclione viarum luarum, in veritate virlu­
lum !uarum, in communione mysleriorum luorum :
dominare omni adversae poleslali in Spirilu lua, ad
gloriam Palris. Amen.

II
Anima Chrisli, santifica me.
Corpus Chrisli, salva me.
Sanguis Christi, inebria me.
Aqua laleris Christi, lava· me.
Passio Christi, conforta me.
O bane Jesu, exaudi me:
Intra lua vulnera absconde me.
Ne permitias me separari a te.
Ab hoste maligno defende me.
ln hora mortis meae, vaca me.
Et jube me venire ad te,
Ut cum sanclis tuis laudem le,
ln saecula saeculorum. Amen.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
----------
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

III
Suscipe, Domine, universam meam liberla!em.
Accipe memoriam, in!ellec!um, a!que volunla!em
omnem. Ouidquid habeo, vel possideo, mihi largilus
es : id tibi totum restituo, ac luae prorsus volunlati
subjicio. Amarem lui solum cum gratia lua mihi da­
nes, el dives sum salis, nec aliud quidquam ultra
posco.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ESCAPULÁRIO
DA

IMACU_LADA CONCEIÇÃO

Como a Igreja incluíu no número dos dogmas da


nossa fé a crença na Imaculada Conceição de Ma­
ria, esta grande e nova homenagem tributada à San­
tíssima Virgem, junta à convicção de que Deus re­
compensará generosamente o nosso zêlo em honrar
êste grande privilégio de sua incomparável Mãe,
exige da nossa parte alguma nova prova de venera­
ção e devoção. O escapulário da Imaculada Con­
ceição satisfaz a êste piedoso desejo. Revelado no
ano de 1616 à venerável Úrsula Benincaso, cujas
v irtudes foram declaradas heróicas por um decreto
de Pio VI, (7 de Agôsto de 179:5); enriquecido de
numerosas indulgências pelos Papas Clemente IX,
Clemente XI, Gregório XVI, e ullimamente por
Pio IX, êste escapulário oferece a lodos um meio fá­
cil de manifestar o amor à Virgem Imaculada, de aliviar
as almas do purgatório, e de participar dos tesoiros
espirituais, que a Igreja prodigaliza a seus filhos.
Contudo, façamos uma observação de grande
imporlânéia. Ouando a Igreja excita o nosso zêlo
em honrar a Imaculada Conceição de Maria, conce­
dendo inapreciáveis favores àqueles que se revestem
do escapulário de que falamos aqui, quer que seja
sem prejuízo das outras santas práticas e devoções,
que ela tem autorizado e recomendado em todos os
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
786 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

tempos, por exemplo: o antigo escapulário, a Via­


-Sacra, a adoração do Santíssimo Sacramento, ele.
O escapulário da Imaculada Conceição, a-pesar das
suas numerosas indulgências, é todavia, debaixo de
um pon_to de vista capital, muito inferior ao de Nossa
Senhora do Carmo, pois a êsle é anexa, como privi­
légio especial, a mais preciosa de tôdas as graças, a
de livrar-se dos tormentos eternos, quem morrer tendo
pendente do pescoço este sinal de devoção a Maria.
é. De que nos serviriam tôdas as indulgências imagi­
náveis, se não tivéssemos a felicidade de morrer na
amizade de Deus? Ouanto às duas outras devoções,
mencionadas, nenhum!)s há mais capazes de nos in­
fundir o amor divino, a detestação do pecado, até
venial, sem a qual não se pode ganhar indulgência
alguma plenária.
O escapulário da Imaculada Conceição é feito de
duas tiras de pano azul, às quais se pode, por devo­
ção, juntar uma imagem de Maria Imaculada. Deve
ser 'benzido e dado por um religioso teatino, ou por
um padre para isso autorizado pelo Geral da Ordem.
Traz-se, como o do Carmo, pendente do pescoço.
caindo, de um lado sôbre as costas, e do outro sôbre
o peito.
O fim principal que se deve ter em vista, toman­
do-o, é orar pela reforma dos maus costumes e con­
versão dos pecadores. Cada um se impõe para êsle
6m, ou se faz impôr pelo seu confessor, alguma ora­
ção que lhe sugerir a sua piedade. Esta condição
não é exigida sob pena de pecado; mas são neces­
sárias duas coisas para alcançar as indulgências;
1. 0 Trazer sempre pendente do pescoço êslê escapu­
lário; 2- 0 Orar segundo a intenção dos Sumos Pon­
tílices; Alguns cumprem esta última condição, re­
zando lodos os dias dôze Ave-Marias em honra dos
dõze privilégios de Maria, e três Padre-nossos em
honra da Santíssima Trindade.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ESCAPULÁRIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO 787

INDULGf.NCIAS
do escapulário da Imaculada Conceição

lndqlgências pe�árias (1)


Ooe se
· podem ganhar nas condições costumadas: confissão,
comunhão, efc.

- No dia da admissão; - em artigo de morte;


- lodos os primeiros domingos do mês; - lodos os
sábados . da Ouaresma; � no domingo e na sexta­
-feira da Paixão; - n{I quarla, quinta e sexla-feira da
semana sanla; - em um dos dias das quarenta ho­
ras ; - no primeiro domingo de Julho; - no primeiro
e último domingo da novena do Natal.
- Nas festas do Nalal, Páscoa, Ascensão, Pen­
lecosles, SS. Trindade, Invenção e f.:xallaçoo·· da
Santa Cruz.
: - Nas festas da Imaculada Conceição, da Puri-
6cação, da Anunciação, da Assunção e da Nativi­
dade da Santíssima Virgem.
...:.... No dia. 2 de Agôsto, festa de Nossa Senhora
da Porciúneula.
- Nas festas de S. Miguel, dos Anjos da Guarda,
de S. João Baplista, de S. José, de S. Pedro e
S. Paulo, de Santo Agostinho, de Sanla Teresa, de
Todas os Sanlos.
- Uma vez duranle os Exercícios Espirituais ; -
outra num dia à escolha, durante o àno.

(1) Decrelo de Gregório XVI, 12 de Julho de 1845. Tôdas


eslas indulgênci11s siio aplicáveis às alm11s do purgatório. Cfr. R.
P. fr. Beringer, S. J., Les lndulgences, 1, n.0 945 segs.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
788 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

- Nas Íestas principais dos Teatinos, a saber :


a 24 de Março, a 12 de Abril, a 17 de Julho, a 7
de Agôs(o, a 10 de Novembro e a 13 de Dezembro.
- No dia da primeira missa, se o associado é
sacerdote.
- Além disto, as indulgências das Esloções de
Roma, nos dias designados pelo IT\issal, visitando-se
a igreja dos T eatinos, ou, se possível Íôr, a sua pró­
pria igreja (1).
- Duas vezes no mês, podem-se da mesma ma­
neira lucrar as indulgênc_ias concedidas à visita das
sele igrejas de Roma, do Sanlo Sepulcro e da Terra
Santa.
- Indulgências plenárias que se podem ganhar
�em se confessar nem comungar. Dor uma graça
particular, e das mais autênticas, quando os associa­
dos rezam seis vezes o Pafer, o Ave, e o Gloria
Palri em honra da Santíssima Trindade e da bem­
aventurada Virgem Maria concebida sem pecado,
orando ao mesmo tempo pela exaltação da Santa
Igreja, extirpação das heresias, ele., podem lucrar,
cada vez, folies quofies, as indulgências concedidas
àqueles que visitam as sele basílicas de Roma, a
igreja da Dorciúncula em Assis, a igreja de Santiago
de Compostela, e a Terra Santa. E para participar
destas indulgências, não é necessário. dizer outras
orações, nem coníessar-se (2) e comungar; estas in-

(1) Os dias das estações, segundo o missal rom11no, são :


Todos os domingos do Advento; - os três dias seguintes, 26, 27
e 28 de Dezembro, 11 Circuncisão e II Epif11ni11; - os domingos da
Sepfu11gésim11, Sexagésima e Qüinquagésima; --, 11 quarta-feira de
Cinzo e todos os di11s seguintes até 110 domingo de P11scoel11 inclu­
siv11mente; - o dia de S. M11rcos, 25 de Abril, e os três di11s das
Rogações; - 11 Ascensão; 11 véspera do Pentecostes e lodos os
dins d11 sem11n11 seguinte; - os três dias "das qualro Têmpor11s de
Setembro e do Advento.
(2) M11s é necessário esf11r em asfado de gr11ç11.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ESCAPULÁRIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO 789
dulgências são aplicáveis aos defuntos. êsle favor
extraordinário foi reconhecido e aprovado de novo
pela Sagrada Congregaç�fo das lntlulgências. Oecrelo
de 31 de Março de 1856, confirmado pelo Papa
Pio IX, em 14 de Abril do mesmo ano.

Indulgências parciais

- 60 anos de indulgência a quem se entregar ã


meditação meia hora cada dia; 20 anos ã · visita dos
enfermos ou, havendo impedimento, ã recitação de
cinco Pt1/er e Avê com esta intenção;- 20 anos em
cada dia das oitavas de tôdas as festas de Nosso
Senhor e outras festas de várias ordens religiosas; -
7 anos e 7 quarentenas em tôdas as festas da San­
tíssima Virgem não mencionadas acima; - 7 anos e
7 quarentenas cada vez que se receberem os sacra­
mentos da penitência e da eucaristia; - 5 anos e 5
quarentenas cada vez que se visitar a igreja dos Tea­
linos, ou a sua própria igreja, rezando aí 5 Pt1fer,
A vê e Glorit1 Pt1fri, segundo as intenções 1,ostuma­
das ; - 300 dias em cada dia da oitava do Pente­
costes ; - 200 dias cada vez que se ouvir a palavra
de Deus; - 60 dias a qualquer obra de piedade ; -
50 dias ã invocação dos santos nomes de Jesus e de
Maria; - 50 dias à recitação de um Pafer e Avê
pelos fiéis vivos e defuntos.
Tôdas as missas, que se dizem em qualquer altar,
pelos associados defuntos, gozam do benefício de
altar privilegiado.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
APÊNDICE
Sôbre os retiros eclesiásticos

I. Os Exercícios Espirituais, a que se tem dado


o nome de refiro, são sempre os mesmos quanto à
substância, quaisquei que sejam as pessoas que a
êles se entregam e o tempo que lhes consagram ; só
diferem quanto à forma. Fazer um retiro, é sempre
retirar-se do bulício para o silêncio, da agitação para
o sossêgo, dos pensamentos humanos para os pensa­
mentos divinos; é sempre entrar dentro em nós por
meio de reflexões sérias e profundas, com o fim prá­
tico de combater e vencer as nossas más inclinações,
de reformar o que a nossa vida tem de mais ou me­
nos desordenado, e de regulá-la para o futuro, se­
gundo um plano conforme à vontade de Deus. E' ne­
cessário conhecer esta vontade santa, e abraçá-la: ó
homem dispõe-se e move-se a isso pela meditação
das verdades eternas, que o esclarecem, o estimulam,
o purificam· e o desprendem de tôdas as coisas, para
o unir unicamente a Deus, por meio de reflexões ou
exames sôbre o seu proceder, e pelo estudo e con­
templação dos mistérios de Jesus Cristo.
II. A condição mais indispensável de um bom
retiro é a soledade, exterior e interior, e esta ainda
mais que aquela. Não estamos verdadeiramente e
completamente em retiro, senão por um inteiro des­
prendimento de tôda e qualquer preocupação estra­
nha. Quanto mais nos afastamos das criaturas, tanto
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RETIROS ECLESIÁSTICOS 79{
majs Deus se aproxima de nós. Deus gos{a de en­
contrar a alma só, ao visitá-la em sua grande miseri­
córdia. Mas há exigências de estado, de posição, de
saúde, que não permitem a todos separar-se igual­
mente do mundo, ou conservar-se dêle _separados du­
rante o mesmo tempo. Daí três espécies de retiros
para eclesiásticos encarregados do ministério pas­
toral: retiros gerais, retiros particulares, e retiros
mixtos, que participam, debaixo de alguns aspectos,
das vantagens dos dois primeiros.
III. O primeiro faz-se em comum, sob a presi­
dência do Bispo, que convida anualmente uma grande
parle do seu clero, ou mesmo todo o seu clero, divi­
dido em vários retiros, pdra que ressuscite lJ grlJÇlJ
que recebeu pe!lJ imposição dlJs mãos (1). / Quão
bóm e quão sulJve é, depois dos combates do Senhor
e das fadigas do apostolado, hlJbiitJrem os irmãos
em união, na mesma casa (2 ), debaixo da direcção
do chefe, ou an{es do pai, que Deus propôs para o
govêrno da família 1 i Oue bemavenlurada solidão,
em que o ar é mais puro, o céu mais aberto, a luz
mais viva, Deus mais sensível ao coração, e o cora­
ção mais disposto às emoçôes da fé, aos enterneci­
mentos da piedade! 1 Oue fortificantes banhos, em
que os condutores dos povos, essas águias espiri­
tuais, sentem renovar-se o vigor da sua mocidade!
iOue celeste escola, onde todos os bons socerdoles,
todos os dignos pastores leem aprendido a praticar
as virtudes que nos tornam agradáveis a Deus e úteis
aos homens 1
E' incalculável o bem que pode resultar, e que
efeclivamente resulta dêstes retiros gerais, belas ima­
gens do colégio apostólico reünido em redor de Je­
sus Cristo. Tôdas as espécies de graças ali se en-

(1) II Tim. 1, 6. - {'1) Ps. CXXXII, 1.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
792 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

conlram juntas, e nas circunstâncias mais próprias


para assegurar a sua eficácia. E' por esta razão que
se. não deve estranhar que os nossos venerandos Bis­
pos, convencidos de que se trata aqui de progressos
ou de decadência, de vida ou de morte, cuidem em
regularizar nas suas dioceses os retiros sacerdotais,
e que os bons padres a êles concorram com tanta
diligência e edificação (1). Cumpre porém confessar
que muitas causas poderiam deminuir os seus exce­
lentes resultados, ou ainda mesmo inutilizá-los inteira­
mente; permita-se-nos que indiquemos algumas.
IV. Tem-se muitas vezes repelido que o recolhi­
mento é a alma dos retiros; nada há mais certo.
Poder-se-ia dizer com a mesma certeza, que o silên­
cio é a alma. do recolhimento: ora, o silêncio e a
meditação encontram obstáculos n_esfas numerosas
reüniões dos retiros gerais e periódicos. Monsenlior
Planlier, bispo de Nimes, em um discurso sóbre êste
assunto, pregunla a si mesmo quais são as fontes
donde provém ordinàriamente o espírito de dissipa­
ção, durante êsses dias de graças e salvação; e nota
três principais: leviandade, efusões da amizade, ne­
gócios.
• Um fala, porque não tem a coragem de se ca­
lar. Nada lhe repugna tanto como refledir, nada o
assusta tanto como a idéia de meditar e de conversar
com Deus; e busca um colega, que, participando da
sua repugnância, sinta <:orno êle a necessidade de
conversar. Se o acha, distraem-se um com o outro,
e passam em fúteis palestras os dias que lhes pare­
ceriam intermináveis, se fôsse preciso passá-los em
um contínuo recolhimento.

(1) O novo Código de direifo Canónii:o (cânon 126) decl11-


rou-os obrig11fórioa para todos os sacerdotes, ao menos de !rês em
três 11no&,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RETIROS ECLESIÁSTICOS 793

e Para alguns, a amizade supre ou auxil_ia a le­


viandade de espírito. Não viram há muito tempo
certos colegas, a quem leem afeição .. . i Oue segrê­
dos ansiosos de se manifestar 1 1 Oue coisas tristes
ou agradáveis aconteceram no presbitério ou na pró­
pria parróquia 1 1 Oue passa na diocese I i Oue há
de nov1:> no Estado e no mundo político! i Üuão
bom será fazer sõbre ludo isto urna mútua troca de
impressões e de juízos 1 . . . E aqui lemos um objeclo
de distracção, criado para o tempo do retiro• .
Algumas vezes são os negóçios que se encarre­
gam de perturbar o silêncio e o recolhimento. • Tem
um dificuldades na sua parróquia, está eni desinteli­
gência com as autoridades locais, talvez até esteja
metido em questões de interêsse e de dinheiro ...
é. Corno sair dêstes embaraços? E' o que vem bus­
car; e não pretenderá outro fim durante êstes santos
dias•.
Se queremos que o retiro produza os seus frulos,
é indispensável que cada um se sujeite ao regula­
lamenlo, mõrmente iÍ lei do silêncio. Deve-se pois
prover, quanto possível, a que lenha cada padre um
aposento, aonde se retire no intervalo dos exercícios,
para meditar em particular, no que ouviu em público,
para nofar as luzes, as graças que recebeu, as reso­
luções que tomou, ele. E' tam.bém muito para dese­
jar que todos aqueles que se propõem fazer os San­
tos Exercícios, os comecem e acabem juntos. Che­
gar no segundo ou terceiro dia do retiro, ou partir
antes de êle terminar, é prejudicar o bem geral, sem
proveito próprio.
V. Uma ilusão das mais perigosas, e que julga­
mos muito comum,. consiste em não trazer ao retiro
senão uma cooperação de alguma sorte tôda passiva,
em lugar de uma colaboração acliva. Eis aqui a
idéia que Santo Inácio nos dá dos Exercícios : Sicul
deambulare, ire, currere, sunl exercifia corpora/ia;

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
794, !IIEDITAÇÔES SACKRDOTAIS
---- - ---
ifa efiam quilibel modus praeparandi ef disponendi
animam ad lo/lendas a se omnes affecfiones inordi­
nafas, ef posfquam quis eas susluleril, ad quarendam
ef inveniendam volunfafem divinam, in vifae suae dis­
posi/ione, ad saiu/em animae, vocanfur -exerci/ia spi­
rilualia. Eis o que diz a êsle respeito um hábil co­
mentador do precioso livro, composto na gruta de
Manresa : Corpora/iler exercelur, non qui alium am­
bulanfem, eunfem, currenfem specfaf vel audif, sed
qui ipse ambulaf, ipse if, ipse currif.
fazer um retiro não é pois prestar alento ouvido
a quem exorta, reflecle, ora, e contempla em voz alta;
é exortar-se a si mesmo, refleclir, orar, contemplar por
si mesmo. E' necessário trabalhar, pagar com a sua
pessoa; é necessário exerci/ar-se. Oiçamos ainda
um excelente mestre da vida espiritual: • Enganam-se,
querendo sempre ler e orar vocalmenle, ou qµvir pie­
dosos discursos. Concordo que se comovam algu­
mas vezes com a boa leitura, ou com as palavras que
ouviram; mas se fecharem o livro, e se aquele que
fala se calar, a compunção desaparece para só vol­
tar com o livro, ou a piedosa prática. Convém, pois,
que o silêncio da meditação substitua o livro e a
pregação; do contrário temei que, aprenden'do sem­
pre, não chegareis a alcançar a sabedoria. Ai !
i,donde provém que haja tão poucos contemplativos,
até entre os eclesiásticos e os religiosos instruídos,
até entre os teólogos, senão da repugnância, quási
inaudita que sentem em estar a sós consigo mesmos,
para se entregarem _a reflexões sérias, profundas, e
aplicá-las às necessidades da sua alma•? (1)
VI. A escolha dos assuntos a tratar nos nossos
retiros, se não fôsse conforme ao. fim que se deve ler
'em vista, prejudicaria extremamente esta admirável

( 1) Gers. Oper., t. III. de mysf. Theol: pracl.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
RETIROS ECLESÜSTICOS

institu"ição. é. Oual é êsse fim? • Uma completa re­


novação, responde S. Vicente de Paulo. Aquele que
faz bem o retiro, passa para outro estado; não é já
o que era• . Introduzindo-se nesta soledade, onde
nos quer falar ao coração (1), Deus diz a cada um
de nós, como ao seu profeta : Ecce consfilui fe ho­
die ... , uf evellas e/ deslruéls ..., ef aedilices ef
plantes. ( 2 ). Com efeito, ali achamos os meios mais
capazes de operar em nós uma transformação radical,
como a exige aquele que se dignou conduzir-nos lá,
tudo o que é preciso para desfruir e edilicélr, pélrél
élrrancar e plantar. Mas entre êsles meios, o pri­
meiro, e talvez o mais importante é a meditação
dessas enérgicas verdades que comovem até o íntimo
da alma, abéllélm e fecundam o deserto (3). Suprimir
a meditação dos novíssimos: a morte, o juízo, o in­
ferno, é de alguma sorte suprimir o retiro. O co­
nhecimento dos nossos deveres faz-nos muito menos
falia que a vontade sincera de os cumprir; é princi­
palmente na vontade que se deve aduar.
VII. A inclinação do bom padre para o retiro
geral não é duvidosa, e parece-nos sõlidamenle mo­
tivada. Recebe sempre com júbilo o anúncio do dia
em que há de começar, e o convite que lhe é feito
para nêle (ornar parle. é. Mas se, privado desta van­
tagem, não !em meio algum de compensar uma perda,
que com tanta razão o aflige? Êle saberá, mais tarde
ou mais cêdo, livrar-se por alguns dias dos cuidados
do ministério, buscar uma solidão, mais ou menos
prolongada, em um seminário, em uma comunidade,
em casa de um colega ou na sua própria casa; e ali,
ajudado de um livro e de suQ boa vontade, entre­
gar-se em particular, aos seus. piedosos exercícios

( 1) Oseae li, 14. - (2) Jerem. 1, 10.


(3 ) Vox Dominí conculíenlis deserfum. Ps. XXVIII, 6.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
796 MEDITAÇÕES SACEROOTAIS

Deus, que se acha sempre, quando se busca com


simplicidade, abençôa os seus esforços : ilumina-o,
inspira-lhe santos desejos e boas resoluções.
VIII. Finalmente hã uma terceira classe de reti­
ros, que chamamos mixlos, porque, não sendo preci­
samente gerais nem particulares, sem lerem tantas van­
tagens como os primeiros, leem mais que os segun­
dos. Certas comunidades religiosas admitem, ordi­
nàriamenle em épocas determinadas, os eclesiásticos
que desejam ali reünir-se para fazer em comum os
santos Exercícios. Um direclor propõe os ponlos de
meditação, dá conselhos, e, 'segundo as cir-eunslân·
cias, faz uma conferência ou uma exortação, algu•
mas vezes uma e outra coisa. Nós aconselhamos
êsles retiros, quando são possíveis. O recolhimento
não encontra ali os mesmos obstáculos que nos -ajun·
lamentos mais numerosos; o que não impede que
nestes se receba a lição do bom exemplo e a graça
ligada à audição da palavra de Deus; a fé aumenta
em nós pelo mesmo meio de que Deus se serve para
no-la dar: Fides ex audilu. E' em visla destas ·duas
classes de retiros, e prioéipalmenle do segundo, que
fizemos a seguinte escolha de assuntos.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SELECÇÃO DE ASSUNTOS
P A RA T R � S R E T I R OS D E S E I S D IAS

PRIMEIRO RETIRO

Na véspera. - Jesus Cristo no deserto. Amor do


retiro. Tômo II, pág. 289.
Primeiro dia

I Med. - O fim do homem. I, 33.


II Med. - O fim do padre, comparado com o do
homem. 1, 59.
Consideração, ou leitura meditada. - Meios
concedidos ao homem para alcançar o seu
fim. I, 50.
III Med. - O pensamento da eternidade. 1, 157.
Segundo dia

I Med. - Castigo do pecado. 1, 188.


II Med. - O pecado mortal em utn padre. Sua na·
lureza. 1, 201.
Consideração. - A soberba. 1, 270.
III Med. - O inferno. Ninguém há que não deva
temê-lo. I, 416.
Terceiro dia

I Med. - A morte. 1, 357.


II Med. - Como devemos preparar-nos para a morte.
I, 382.
Consideração. - A tibieza em um padre. Sua
desordem. 1, 341.
III Med. - O filho pródigo. I, 437.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
798 MEDITAÇÕES SAr.ERDDTAIB

Ouarfo dia

Med. - Necessidade da imitação de Jesus Cristo.


11, 62.
II Med. - O mesmo assunto. 11, 68.
Consideração. - Prática da imitação d.e Je­
sus Cristo. II, 90.
III Med. - Jesus Cristo, modêlo da perfeita humil­
dade. II, 103.
Quinto dia

I Med. - Jesus em Nazareth. Contemplação. II, 215.


II Med. - Mistérios da vida oculta de Jesus Cristo.
II, 219.
Considercção. - O Ofício Divino. 1, 138.
III Med. - As duas bandeiras. II, 265.
Sexto dia

I Med. - A mansidão considerada no padre. 11,326.


II Med. - O mistério da cruz, considerado com re­
lação ao zêlo sacerdotal. II, 477.
Consideração. - Grande obstáculo ao zêlo,
o desalento. II, 353.
III Med. - Conformidade com a vontade de Deus.
O que a alma nisso acha. II, 610.

SEGUNDO RETIRO
Primeiro dia

- I Med. - Desenvolvimento da meditação sôbre o


fim do homem. I, 39.
II Med. - Dignidade do sacerdócio, considerado
em seu fim. 1, 64.
Consideração. - O recolhimento de espírito.
1, 109.
III Med. - Obrigação da santidade imposta ao pa­
dre por suas funções. I, 81.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ASSUNTOS PARA TRêS RETIROS 799

Segundo dia

1 Med. - O pecado mortal em um padre. - Seus


efeitos. I, 206.
II Med. - Motivos que devem encher-nos de horror
ao pecado. 1, 258.
Consideração. - Triste estado de um padre
sem recolhimento de espírito. 1, 121.
III Med. - O inferno. Ninguém deve temê-lo tanlo
como os padres. 1, 424.
Terceiro dia

1 Med. - O padre tíbio no leito da morte. 1, 376.


II Med. - A morle do bom padre. 1, 370.
Consideração. - A perda do tempo. I, 307
e 314.
III Med. - Três efeitos da divina misericórdia para
com os pecadores. 1, 444.
Quarto dia

Med. - A imitação de Jesus Cristo. Suas van­


lagen�. II, 72.
II Med. - A imitação de Jesus Cristo. Suas van­
tagens (continuação). II, 78.
Consideração. - O espírito de sacrifício. li,
31, 38.
III Med. - A humildade. Sua excelência. II, 108.
Quinto dia

Med. - Modêlo de confiança na Providência.


II, 187.
li Med. - Desenvolvimento d.a parábola das duas
Bandeiras. II, 271.
Consideração. - A aclividade e a prudência
do zêlo. 11, 314, 337. ·
Ili Med. - Motivos de zêlo da salvação das almas.
11, 276.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
800 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Sexto dia

Med. - Jesus faz-nos o sacrifício de sua reputa­


ção. 11, 502.
II Med. - Jesus Cristo na Cruz. 11, 533.
Consideração. - Os sofrimento� do homem
apostólico. 11, 538, 545.
III Med. - O amor de Deus. Seus motivos. 11,616.

TERCEIRO RETIRO
Primeiro dia

Med. - Dignidade do sacerdócio, considerado


em seus poderes. I, 70.
II Med. - Santidade do sacerdócio considerado em
seu fim. 1, 76.
Consideração. - Como deve o padre traba­
lhar na sua santificação. I, 98.
III Med. - O padre santificado no aliar. 1, 181.
Segundo dia

I Med. - O pecado venial. I, 331, 335.


II Med. -Abuso das graças. 1, 321, 326.
Consideração. - O espírito de fé. II, 13, 19.
HI. Med. - O pecado de S. Pedro. 1, 241, 246.
Terceiro dia

I Med. - O juízo particular. I, 395.


II Med. - O inferno. Aplicação dos sentidos. 1, 432.
Consideração. -Parábola da figueira estéril.
I, 478.
III Med. - S. Pedro, modêlo de penitência. 1, 468.
Ouarfo dia

I Med. - O reino de Jesus Cristo. II, 50, 56.


li Med. - A humildade. Motivos de a amar. 11,
108, 115.
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
AS�UNTOS PARA TRtS RETIROS
-------------------- 801
Consideração. - O espírilo de pobreza, te­
soiro do bom padre. 11, 161.
Ili Med. - O bom padre sacrifica a Deus as suas
mais caras tiÍeições. li, 204.
Quinto dia

I Med. - Vocação dos apóstolos. II, 296.


II Med. - A constãncia do zêlo sacerdotal. II, 347.
Consideração. - O cuidado dos enfermos.
li, 4.56, 462, 468.
Ili Med. - O zêlo em acção: A conversão da Sa­
maritana, 11, 360.
Sexto dia

1 Med.-Jesus Cristo, o amigo do sticerdote. II, 575.


li Med.-A Eucaristia, vínculo de amor entre Je­
sus Cristo e seus ministros. II, 581.
Consideração. - Confiança e alegria. 11, 589
e 596.
III Med. -e O bom padre no céu. II, .569.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE

SEGUNDA PARTE

Meditações sôhre os diverso!: mistérios, diferentes


tempos e festas do ano eclesiástico

Póg.
Advertência • 7

SECÇÃO PRDIEIRA

O Advento e o Natal

§ 1.º

Próprio do tempo

:i1rn1TAÇ.i.o. - J. 0 Domingo do Advento.


- Deveres do
sacerdole com relação ãs /rês vindas
de Jesus Cris/o.
1. Vinda do Filho de Deus à !erra por seu nasci-
mento, paro a renovar • • • • • • 1O
li. Vinda espiritual de Jesus Cristo às almas, para as
santificar e salvar • • • • • • • • 11
Ili. Üllima vinda de J. Cristo ao mundo, para o julgar. 12
II Mm. - '2.0 Domingo do Adven/o. - A pregação de
João Baplis/a. - .Suas disposições para
ela • • • • • • 14
1. João Baplisla preparou-se para a pregação, pelo
recolhimento e oração • 15
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
80i MEDITAÇÕES SAC.ERDOTAIS

Pág.
li. Deixa-se dirigir inleiramenle pelo Espírilo Sonlo • 19
Ili. Consegue o bom éxilo da suo prégoç1io, por meio
d1i auslera e sonla vida. 17

III MED. - .J.0 �ingo do Advento. - Conlinuação da


pregação de João Baplisla.
1. Maléria do pregoçiío de João B11plista • • • 20
li. Zêlo de Joiio Boplis!o no ministério do preg11ção. • 22

IV MED. - 4. 0 Domingo do Advenlo. - Vida de Jesus


no seio de Maria.
1. Vid11 de sacrifício para glória de seu Poi • 2ó
li. Vido dedic11d11 à salv11çiio d11s olmos • 28

Y MED. - A véspera de Natal - Viagem a Belém.


1. S11bedori11 e bond11de de Deus, que ordenam a
viagem de Belém • • • • • 31
11. Obediênci11 e conli11nç11 de M11rio e José no vi11-
gcm a Belém. 32

Vl 1\IED. - O dia de Natal. - Nascimento de Jesus


Cristo. -- Conlemplaçâo.
1. Contemplor 11s pessoos. 36
11. Ouvir 11s p11l11vr11s • • 37
111. Consider11r as acções • 38

VII MEo. - Os pastores no presépio. • 40


1. Àp6rição de um onjo oos pBslores . 41
11. o�
pastores vão II Belém • 43
Ili. O regresso dos pos(ores • 44

\"III MEn. - O mesmo assunto. - Conlemplação.


1. Conlemplar 11s pessoas. 47
11. Ouvir 11s polovros • 48
111. Considerar os acções 49

IX Mim. - A Circuncisão.
1. Oue Íoz Jesus Cristo no m:slério do Circuncisão. 52
li. Oue ensin11n1enlos dã Jesus II seus minislros no
mistério do Circuncisão. 55
T<,

X MED. - A Epifani�. - Con1/iftffli,ção 58


1. Contempl11r as pessoas. • - • 59
11. Ouvir llS palavr11s • 60
III. Considerar 11s acções 61

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
-----·
------
-----
INDICE 805
Pág.
XI Mw.. - A Epifania. - Belo modêlo de fidelidade à
graça é o proceder dos Magos.
1. Os Magos eeguem II luz da graça. 64
li. Com prontidão. • 66
Ili. Com grnnde consliincio. 67

XII :'IIED. - Os Magos em Belém.


1. Oue fozem os Magos em Belém • 70
li. Oue oferecem os Magos oo Menino Jesus • 71
Ili. Oue recebem os Magos no presépio de Belém 7)

XIII �IED, - Três funestos efeilos da resistência à graça


na pessoa de Herodes.
1, Herodes perlurbado pela suo resislência à groço • 76
li. Herodes cego pelo resislência à graça. • 77
Ili. Herodes endurecido pela suo resislência i, graça • 79

XIV :",IED. - O santo nome de Jesus.


1. Excelência do nome de Jesus • • • 81
li. Admiráveis efeitos do nome de Jesus • • • • 84
Ili. Oue fazer poro honrar dignamente o son(o nome
de Jesus. 84

X V :'ihm. - Mistério da Puri/Jcaçâo de Maria e da Apre-


sentação de Jesus. - Contemplação . 87
1. Contempl11r 11s pessoas. 88
li. Ouvir 11s p11lilvras • • 89
Ili. Considerar 11s 11cções • 90

XVI IIIED. - O mesmo assunlo.


1. Todo e qualquer prelexto de desobediênci11 é con�
fundido pelos exemplos que nos oferece êste
mistério • • . • • • • • • 9)
li. Como Maria cumpre o le-i da purific11ção. • • 94
Ili. Como Jesus é opresenlodo e resg11t11do por Morin. 95

XVII Mw. - O santo velho Simeão.


1. Simeão eslá preparado p11r11 11 graça que recebe
no templo •· • • • • • 98
li. Ou11l é o gr11ç11 que Simeão recebe no lemplo • 99
Ili. Fruto que tir11 Simeão d11 graça que lhe tcopcedida 101

XVIII l'tlEo. - Profecia dtfS;meiio a ��faÍilo de Jesus e


de Maria•. '..
1. Jesus ser,í II ruín11 de muitos e II ressurreição de
muitos 104

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
806 MEhlTAÇÕES SACJ;IIDOTAIS

Pág.
li. Será objeclo de conlr11diçiio • • • • • 105
Ili. A alm11 de M11ri11 55. serii lr11sp11ssod11 por um11
esp11d11 de. dôr • 1 07

Própri� dos S11nlos

XIX Mim. - JO de Novembro. - S. André.


1. Amor de S. André i, cruz. • • • • • • 110
li. Ou11is eram, em 5. André, os molivos dês(e 11mor. 112

XX MEo. - O mesmo assun/o. - S. André na cruz, mo-


dêlo do sacerdote no púlpito e no aliar.
1. 5. André na cruz, modêlo do prégador • 116
li. S. André na cruz, modêlo do celebrante. 118
XXI MEn. -- 3 de Dezembro. - S. Francisco Xavier.
1. S. fr11ncisco Xavier dedicou-se in(eirnrnenle ao
amor e glória de Deus . • • • 121
li. Dedicou-se infeiramenle à sanlific11çiio do próximo. 124
Ili. Dedicou-se inteiramente i, própria santificação. 125

XXII !l!En. - Repetição da anterior, sôbre as palal'ras:


Salis est, Domine, salis est.
1. O 11mor de Xavier parn com Deus. 127
li. O seu zêlo da salvt1çiio do próximo 129
Ili. A sua profunda humildt1de. 131
XXII[ Mim. - 8 de Dezembro. - O privilégio da Ima-
culada Conceição, considerado com rela-
ção a Maria.
1. Glória e felicidade de Maria : nas razões que exi-
git1m para da o privilégio da imacult1da conceiçiio 134
li. Na maneirB como lhe foi concedido êsle privilégio 136
Ili. Honr11s tributados a Maria, por motivo do privilé-
gio da sua im11culada conceição. 138
XXIY Mw. - O mesmo assunto. - O privilégio da ima­
culadada conceiçiio de Maria, considerado
com relação a nós. - Ouanto nos imporia
fazer dê/e o objecfo especial da nossa de­
voção.
1. Lições que encerra o privilégio da imaculada con-
ceição de Mt1rio - 140

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNnlr.F. 807
------------- - ------
- - -
- �-- - -
----

li. O privilé11,io d11 lm11culad11 Conceição de Maria,


Íonle de bênçãos pnra os que a honram • 14)

Mw. - 21 de Dezembro. - S. Tomé. - Miseri­


córdia do Salvlldor para com êsle apóstolo.
L Paciênci6 de Je�us Crislo com o seu 11póstolo in�
crédulo • • • • • • • • 146
li. Bondade do Salvador no combale que dii à incre-
dulidade de Tomé • • • • • • • • 147
Ili. Vitória que a misericórdia do SalvBdor olcançB
, sõbre II incredulidaJe de Tomé • 149
XXVI M 1m. - 26 de Dezembro. - S. Eslêvão • • • 151
1. S. falêviio foi cheio de grnça e de fldelidade à gra­
Ç6, para se preservar dos perigos do seu mi­
nisfério • • • • • • • • • • • 152
li. Clreio de sahedori11 em sun pregação, para conven-
cer os ouvinfes • • • • • • • .• 15)
Ili. Cheio de forlaleza no seu marlírio, par,:, vencer os
seus inimigos. 155
XXVII �h:n. - 27 de Dezembro - S. Joiio E.van'{elis/a.
1. .S João foi o discípulo a quem Jesus ama�o. • 1"58
IL Como se, preparou S. João para vir a ser o ami-
go de Jesus • 161

::-;:xYIII �h1,. --- 25 de Janeiro - Conversão de S. Pau-


lo. - Con/emplaçiio.
1. Conlemplar es pessoas. 164
li. Ou�ir os pelovres • • 166
Ili. Considerar as acções • 167

XXIX Mim ..- 29 de Janeiro. - S. Francisco de Sales.


- A fôrça e a energia da sua m�nsidâo.
1. A doçura de S. Fruncisco de Seles foi inebaliivel
em empreender, e capaz de sacriflçar ludo. • 170
li. A mansidão de F. de Soles foi inalterável em exe-
cular, e cepaz de sofrer ludo 173
XXX :'lh:11. - 5. Francisco de Sales. - Frutos de sua
mansidiio.
1. Ouais foram os frufos da mensidiio de F. de Sa-
les: com relBção a êle mesmo l 7-6
li. Com relnçiio à lgreje • 178

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
808 M�:ninçÕl<:s SACRRDOTAIS

Pág.
SEGUNDA SECÇÃO

Quaresma e tempo Pascal

§ J.º

Próprio do lempo

XXXI Mrm. - Domin'i[o da Sepluagisima. - PariJbola


dos trabalhadores mandados para a vinha,
1. Todos os homens siio chamados a cultivar o vi-
nha da sua alma. • • • • , • • 184
li. À cultura da sua alma os sacerdotes devem juntor
a culturn da Igreja • • • • 186
Ili. Ouando e como seró recompensodo o !rabalho·
dos operórios 186
XXXII Mrn. - Domingo da Sexagésima. - Semen est.
verbum Dei.
1. O bom pensamento é uma semente que o Salva-
dor l11nç11 nas nossas almas. • • • • l 91
li. A polavra de Deus é uma semente que Jesus Cristo
lança, por nosso intermédio, na alma de nossos
irmãos • • , , • • • • • • 19>
Ili. Como é que uma semente, de si Ião fecunda, se
torna estéril na nossa. alma e na de nossos
irmãos 195
XXXIII MED. - Dominr[o da Qüinquagésima. - i Que
deverão ser, para o bom Padre, os dias
de desordem que precedem a entrada da
Quaresma?
1. Dias de meditação, de penilência e de oraçiio. • 198
li. Dias de zêlo da glório de Deus e dti salvação das
almas. 200
XXXIV Mrn. ·-Segunda-feirada Qüinqua_qêsima. - Os
sofrimentos e a mor/e de Jesus Cristo.
1. Os sofrimenlos e a morle de Jesus Crislo pre­
gam-nos energicamenle o temor que nos desvia
do pecado • • • • • • 20�
li. Pregam-nos o amor ainda mais que o temor • 205
XXXV MEo. - Têrça-feira da Qüinquagésima. - O cego
curado, per/o de Jericó. - Contemplação. 205
1. Conlempl11r 11s pessoos. , • • • • • 209
li. e Ili. Ouvir as p11lavr11s e consider11r as acções • 21 O

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
80!)

XXXVI Mm. - Quarfo-feira d,. Cinza. - A quaresma


do bom pastor de almas.
!. A Ouoresmo impõe oo Podre, e principalmente llO
pos[or de almos, obrigações particulares. • 2D
li. Motivos que induzem o bom postor de almas o
passar son[amenfe o Ouaresma. 216
XXXVII M1so. - J.O Domingo da Q11aresma. - Jesus
Crisfo /enfado no deserto.
1. Os Podres, mais que os outros, estão expostos i,
tenftlçüo • • • • • • • • • 219
li. Os P11dres não devem expor-se i, fen[açiio 220
Ili. O Podre que fielmente evila e repele os lenfoções,
não deve inquietar-se. 221
XXXVIII .Mw. - O mesmo ossunlo. - Os obreiros evan­
gélicos principalmente estão expostos a
/rfa tentações, análogas às de J. Cristo
no deserto:
1. Cuidar muito do corpo e do saúde 225
li. Um desejo desmedido de se mostrar 227
Ili. Yislas de ambição e inferêsse. 228
XXXIX Ml!.D. -- 2. 0 Domingo da Quaresma. - Jesus no
Tabor. - A Transfiguração e a Paixão.
l Os mi�lérios da Transfiguroçõo e da Paixão leem
ínfima relação entre si • • • • • • 2)1
li. Ouan[os cristãos e Padres procuram separar êsfes
dois mistérios. 233-
X L :'1-IED. - .J. 0 Domingo da Quaresma. - O demónio
mudo. - Era! Jesus ejiciens daemonium,
ef illud era! mufum.
1. O demónio mudo foz grandes es[ragos no rebanho
de Jesus Cris(o • • • • • • • 2)6
li. Como devemos combater o demónio mudo 2)8
XLI �l1m. - +.º Quarto pomingo da Ouoresma. - Mul­
tiplicação dos pães. - Contemplação.
!. Contemplar as pessoas. • • • • • • • 242
li. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as acções . 244
XLII Mim. - Domingo da Paiúlo - O homem apostó-
lico e os seus perseguidores. - Ouis ex
vobis orguet me Je peccafo?
1. O homem apostólico será sempre perseguido. • 24S
li. Como deve proceder o homem apostólico para
com os seus perseguidores • 2.50

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
srn MEDITAÇÕF:S SACEI\DOTAIS

P.ig.
XLlll �h:1>, -· Sexla-feira da semana dd Paixão. - Ma­
ria junto à Cruz.
1. Amor de Mario para com Jesus, prova e medida
dos seus soírimenlos junte· à Cruz • • 25}
li. Soírimentos de Maria no Calvário, prova e me­
dida do seu amor parn connosco 255
XLIV Mw. - Domingo de Ramos. - Entrada triunfal
de Jesus em Jerusalém. - Conlemplação. 259
1. Con(emplar as pessoas. • • • • • 260
li. Ouvir as palavros • • 261
Ili. Considerar as t1cçõcs , ., 262
XLV �h:1>, - Segunda-feira da Semana San/a. - Triunfa
Jesus Crislo, c>nlrando em nossas almas
pela sagrado comunhão.
1. Jesus deRej11 vivamente unir-se a nós peb sagrada
comunhão • • • • • • • • 265
li. · Ouonlo devemos desejar unir-nos a Jesus Crislo
pela sograd<1 comunhão 268
.:'\.LVI Mm. - Têrça-feira da Semdna 5flnla. - J,;sus
chora sôbre Jerusalém. - Conlemplaçiio.
1. Conlempla a5 pessoos. • • • 271
li e Ili. Ouvir os palavras e rnnsiderar as acções 27}
X L \' 11 Mw. -- OuarlB-feiro sanla. - Jesus lava os pés
aos seus Bpóslolos. - Conlemplação.
1. C onlemplar as pessoas , • • 276
li e Ili. Considerar os acções, ouvir as polavros. 277
X L VIII M1w. ·- Ouintac fcirB sanld. - lnsfi/uição da Eu-
caris/ia e do sacerdócio • • 281
1. Amor do Salvador pora com os homens no insti-
lu·içiio dos mistérios dêste dia • • . ·. • 282
li. Amor do Sal,· ador para com seus minislros na
instituú;iio dos mistérios dêste dia • 285

XLIX !'tfr.1,. - 5exla-feira sanla. - Tudo es/li cumprido.


1. Tudo está cumprido para Jesus moribundo 289
li. Tudo eslará· consumado para o pecador e para o
justo na hora da morle , 292
L l\lEC,. - Slibado santo. - O sepulcro de J. Cristo.
1. Jesus aniqüilado no sepulcro . 295
li. Aniqüilomenlo de Jesus Crislo no sepulcro, co­
mêço de sua glório 296

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
INOl!':E 81t
Pág.
Ili. Sepulcro de J. Crislo, escola de períeição 297
LI MEi}. - Domingo de Páscoa. - Con/emplaçâo 301
1. Contemplar 11s pessoas. 302
li. Ouvir as p11l11vr11s , • 30)
Ili. Consider11r 11s acções • JO4
LI! MEo, - Glória de J. Cristo na sua ressurreição.
1. A alma de J. Crislo glorincnclo na su11 ressurreição. 307
li. O corpo de J. Cristo glorincado no sua ressurrei-
ção , • • • • • • • 308
Ili. A divindade do S11lrndo.- glorificada n11 sua sua
ressurreição • J t C)

Lili Mim. - Mada/rna no sepulcro do Salvador.


1. Mad11len11 busca II J�sus 3 t '..!
li. Ach11 a Jesus . 314
Ili. Anun.cia II Jesus • )15

LI V �h.n. - Jesus aparece aos dois discípulos que iam


pan, Emaús.
1. Jesus junla-se 110s dois disc•pulos de Emaús • 318'
li. Convers11çõo de Jesus com os dois discípulos no
Cllminho de Em11ús • ·• , . • 319
Ili. Jesus sepnra-se dos dois discípulos, depois que o
conhecer11m , 321
1. \" MEo. - Aparição de Jesus aos após/o/os. - Con­
lemp/11çâo.
1. Conlempl11r as pessoas. • • • 324
li. e Ili. Considerar 11s acções e ouvir 11s p11lavr11s . )25
L V 1 !li i,;D, - Ressurreição dos 111or/os. - E! expecto re­
surreclionem mortuorum.
1. O bom P11dre espera com muit11 confi11nç11 11 res-
surreiçiio gloriosa • • • • , • 329
li. Esforça-se por cumprir as condições requeridas
p11ra II ressurreição gloriosa que êle desejo. 3)2
I.YII Mt:o. - Dogma da ressurreição. - Dois motivos
que leem os sacerdo/�s para o pregar
com z�lo.
1. O cui,lado · especi11l com que Deus re,·elou êste
dogmél, deve inspirar aos s11cerdoles um grande
zêlo de o pregar. 3)5
II. Frutos de salvação que deve produzir II crerça
nesta ressurreição 337

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
812 MF.OITAÇÕES SACJ;I\DOTAIS
------ - -
-
Póg.
LVIII Mrn. - Domingo de Pascoela. - O bom Padre,
ministro da p11z.
!. O bom Padre pede a Deus a paz em nome da
Igreja e porn a Igreja 340
li. Leva o paz II seu� irmãos • • • 342
Ili. Conserva e aperfeiçoo em si o reino da paz 343

LIX �fEn. - As condições da nossa paz.


1. N;;o hã paz com Deus, se não hã inocência • 346
li. Niio há poz com o próximo, se não hã caridade • 347

LX �h:n. - 2 ° Domingo depois da Páscoa. - O bom


pastor.
1. Re(ra(o do bom pas(or, lei(o por J. Cristo • • 351
li. Oual é o sacerdote que renlizo mais perfeil11menle
esta idéia do bom pastor 3ii4

LXI Mw. - O mesmo dia. - Jesus aparece a mui/os


dos seus discípulos junfo ao mar de Tibe-
ríades. - Contemplação • 357
1. Contemplar as pessoas. • • • • 358
li. e Ili. Considerar as acções, ouvir ns palavras. 359
LXII l\h:11, - Patrocínio de S. José.
1. Oual é no céu o valimento de 5. José • 363
li. Ouanto devemos confior na afeição dês(e grande
Santo. • • • • • • • • • 366
Ili. Como podemos aumentar ainda o grande amor que
5. José nos tem 367
LXIII 0
!\h:n. - +. Domingo depois da Páscoa. - Jesus
aparece aos apóstolos num monte da Go­
liléia. - Missão que lhes dá.
1. O amor de J. Cristo poro com os homens deter­
min11 o objeclo da missão apostólica • • 370
li. A omnipo(êncio de J. Cristo é o sus!entãculo da
missão apostólica 372
LXIV M•:1,. - As rogações.
1. Os bons Padres distinguiram-se sempre: pelo
amor ã oração . • • • 376
li. Pelo seu zêlo em inspirar o amor ã oração 379
LXV !'t!En. -Ascensão de J. Cristo. - (Medi/ação de
S. Boaventura}.
1. Jesus acaba de preparar os discípulos para o mis-
tério da suo Ascensão • • • • 382
li. Realizaçiio do mistério da Ascensão • 384

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNOICE �13
Pág.
LX\'I MED. - Motivos de Dlegria que oferece ar, bom
Padre o mislério da Ascensão.
1. O Salvador glorificado em sua Ascensão. 388

. . . . . .
li. O ministério Sõcerdolol glorificado no mistério d,,
Ascensão. 390
Ili. Glória que promete ao bom Padre o mistério da
Ascensão. 391

LXYII Mim. - O bom Padre prepara-se para a fesla do


Penlecosles, desejando vivamente a visila
do Espírilo Santo. 394
1. Os grandes bens que trnz a uma ,,lm11 11 \'isito do

. . . . .
Espírifo Santo, primeiro motivo põrõ II desejar
ardentemente. . 395
li. A firme esperõnÇõ de obter " visitõ do Espirita
Sõnto. 398

LXVllí llf1rn. - Procedimento do bom PDdre nos dias


que precedem o Penlecosles.
• 1. Remover os obstãtulos ã vindo e oo reino do Es-'
pirita Santo em nós. • • • 401
li. Empregar os meios de atrair a nós o Espírito
Sanlo. 405

LX,X M En. - O Penlecosles. - Contemplação.


1. Conlemplar os pessoõs. • • 408
li e Ili. Ouvir as palavras e considerar as acções 409

LXX M. W. - Segunda-feira de Pentecostes - O Espí-


rito Santo sanlilicDdor do clero, e por êle,
da �qreja universal.
1. Operações do Espirita Santo: na sontificação dos
opóstolos e dos homens ,sposlólicos. • • 41:;
li. Na santificação d,, Igreja pelos apóslolos e pelos
homens apostólicos. 416

LXXI MED.- Têrça-feira de Pen/ecos/es.- Consolações


do Espirilo San/o.
1. Como nos consof,s o Espirita Santo • • • • 419
li. Para quem são as consolações do Espírito Sanlo. 422

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
---
814 -
- -----------------------
MEDITAÇÕE� SACERDOTAIS

Pág.
§ 2.º

Próprio dos S11nlo11

LXX ll llt:u. - 2 de Fevereiro. - Purificação dl!I Sl!ln-


tíssima Virgem. 424
LXXIII Mi,:n. - 10 de Fevereiro. Sl!lnfa Escoliist1cl!I
:_ 424
1. Amor d11 solidão • • • • • 426
li. Y11n(11gens das conversações espirilu11is 427
Ili. Poder d11 inocência. 428
LXX IV l\h:u. - 2+ de Fevereiro. - Eleição de S. Ma-
tias. - Contemplação. 430
1. Con(empler as pessoas. • • • • • 4)1
li e, Ili. Considerar 11s acções, ouvir as palavras. 4)2
LXX V �lim. - 7 de Março. -- S. Tomiis de Aquino. -
Estudos eclesiiislicos • • • 4)5
1. O Padre tem sempre necessidade de estudar. 4)ó
li. Grandes vantogens dos esludos eclesi�sticos • 4)8
LXXVI M1w. - 19 de Março. - S. José. - Seus pri-
vilégios e grandezas.
1. Privilégios de 5. José, como espõso de Maria 441
li. Como pai de Jesus. 444
LXX VII �lw. - Três virludes de S. José, particular-
me11/e propostas à imiltJção dos Padres.
1. Fé viva de .5. José. 448
li. Humildade de 5. José. 450
Ili. Esperança de 5. José • 451
LXXVIII Mi,:n.-21 de Março.--5. Bento • • 454
l. Prodígio da graça para com 5. Benfo que acha:
o verdadeira vida na mor(e • 455-
11. A riquezo na pobreza • • • • • • 457
Ili. Umo glória incomparável n11 mais profunda obscu-
ridade 458
LXXIX M �;o - 25 de Março. - A Anunciação.
1. O céu envia uma en1baix11d11 li Maria • • 461
li. Mi,ri11 recebe 6 embaixada celesle e a honra d11
divina maternidade 46)
Ili Gri,ndeza de animo de Moria no mislério d11
Anuncioçiio • 464

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNO:CE srn
.Pág.
LXXX MED. - O mesmo dia 25 de Março. - A .Avê­
-Maria.
1. Aprendamos do Espírito 5onlo como devemos lou-
var e honrar Maria • 468
li. Aprendamos da Igreja como devemos invocar
Maria 471

LXXXI }]Eo. - O r.• de Maio. - O mês de Maio do


bom cura de almas.
1. O mês de Maria é, para o bom paslor de almas,
um mês cheio de esperanças • • • • • 474
li. Oue foz o bom pasfor. paro realizor as espero'n-
ças que fundou nesle belo mês . 476

LXXXII M F.:u. - .3 de Maio. - O mislério da Santa


Cruz., considerado com relação a nós e à
nossa própria sanli!lcaçiio.
1. Medi[ando o� sofrimentos de J. Cristo: gonha-
mos o coroçõo de Deus. 479
li. D�mos a Deus o nosso coração . 481

TERC_füRA SECÇÃO

Desde o Pentecostes até ao Advento

Próprio_ do tempo

LXXXIII Mm. - Domingo da Sanlissima Trindade.


1. O bom Padre honra o mistério do 5anlissim11 Trin-
dade• • • • • 486
li. Esíorça-se em que lodos honrem o mistério da
55. Trindade 489

LXXXIV M ED. - Festa do SS Sacramenlo.


. 1. fins que se propôs o Igreja na festa do 55. 5a-
cramenfo. • • • • • • • • • 495
li. Oue deve fazer o bom Padre, para enfrar no Es-
pírito desta fesl�. 496

LXXXV Mr,o - Preparação para a missa.


1. Necessidade dH preparação para o divino sacrilitio. 496

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8t6 MIWITAÇÕE8 SAl:ERDOTAIS

li. Jesus Cristo, com o seu exemplo, ensina-nos esta


pre_paroçiio •. 501

LXXXVI MED. -A acção de graças depois da missa;


sua obrigação.
1. A acçiio de graças depois da missa é um dever
dn mais juslo reconhecimento • • • , • 506
li. E' um dever de ·que podemos !irar frutos inapre-
ciãveis • • • • • • • • • 508
Ili. E' um dever, cuja omissiio encl."rr11ria uma gr11vis­
sim11 irreverência. 509
LXXXVII M"Eo. ·- A ar-ção de graças depois da missa;
sua prálica. 512
1. Começa-se o s11nlo exercício da ·11cçiio de gr11çns, 5D
li. Corpo da acçiio de graç11s. • • 514
Ili. A conclusiio da ncção de grnç11s . 518

LXXXVIII M ED. - Segunda-feira, na oi/ava do Santíssi­


mo .Sacramen/o. - As santas delícias da comu­
nhão bem feita.
1. E' próprio d11 comunhão c11usnr consolações espi-
rituais. • • • • 520
li. Em que consislem as s11nl11s consolações que 11
Comunhiio c11usa is alma. 521

LXXXIX Mim. - Têrça-feira, na oitava do Santíssimo


Sacramento. - Disposições para a sagra­
da comunhão • 525
1. Desejo 11rdenle de comungar 526
li. Recolhimenlo • 528

XC M ED. -· Quarta-feira, na oitava do SS. Sacramento.


·- Visitas ao .SS. Sacramento.
1. O bom Padre é assíduo em visil�r o Sanlissimo
Sacr11menlo • • • • • • • 531
li. Oue faz o bom padre n11s suas visit11,i 110 S11nlís­
simo S11cr11menlo. 5:;4

XCI M ED. - Aplicação dos sentidos ao mislério da Eu-


caris/ia • · 537
1. Aplicação da visto • 538
· H. Aplic11çiio do ouvido 538
Ili. Aplicação do olfaclo 5:;9
IV. Aplicaçiio do gôslo. 540
V. Aplicaçiio do lacfo, 5+1

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNlllCE 817

XCII MEll. -- Festa do SBqrBdo CorBçâo. - O CorBçâo


de Jesus Cristo ftilBndo BO corBçâo do
sacerdote • • • • 544
1. As queixas do 5. Cor11ção de Jesus 545
li. Os pedidos do Coroção de Jesus. 547
Ili. As promess11s do Cor11çiio de Jesus 548

XCIU MEU. - 5.0 Domingo depois do Pentecostes 551


XCIV Mrm. - +.º Domingo depois de Pentecostes 551
XCV Ilho. -5." Domingo depois do Pentecostes -Nisi
obundo\"eril justitio veslro plus q�om scri-
bnrum .•.
1. Deus espero dos sacerdotes umo l'lbundonte jus-
tiço • • , • • • • • • • .5.51
li. Como podem os socerdotes merecer os exprobro-
ções feitos aos escribns e foriseus • .554
XCYI l\11m. - 6.� Domingo depois d� Penlecosfes. -
MulliplicBçâo dos pães 556

xr.v11 MEll. - 7.0 Domingo depois do Pentecostes. .556


XCVIII Mim. - 8. 0 Domingo depois do Penlecos/es. -
O mordomo inflei, mBs prudente. - Pre­
paração para dBr contas B Deus.
]. A prudêncio exige que eu me prepore pl'lro dor
contos II Deus • • • • • • • · , .556
li. Como devo preporl'lr-me poro dor contos l'l Deus, 559
XCIX MEn. - 9.0 Domingo depois do Pentecostes. -
As lágrimas de Jesus Cristo , 562
C - MEll. - to.º Domingo depois do Pentecostes. - O
fariseu e o publicano. - A soberba.
1. Corãcler p11rlicul11r do soberbo • • .562
li. Inconseqüência e loucura do soberbo. ' .565
Cl Mim. - 11.º Domingo depois do Penlecosfes. .568
CII MED. - 12. 0Domingo depois do Penfecos/es. - O
bom samarilBno.
1. O mesmo Jesus é o bom samaritano de que nos
Joio no Evangelho • , • , • • • · .569
li. Jesus quer que os seus discípulos e princip11lmen{e
os seus minislros, imitem l'l su11 coridade p11r11
com o próximo • .571

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
s_i_______
s M E ll IT A Ç'-ÕE!I SACERDOTAIS.
_ _ _ _ _,

Clll Mim. - IJ.0 Domingo depois do Pentecostes. - ln­


gratidão paPtr-com Deus. - Nonne decem
mundoli sunl? Et novem ubi sunl?
1. Em que consisle a ingratidão para com Deus. 574
li. Ouiio pecaminosa é o ingralidão , • 576
Ili. funeslos eíeilos· áa ingralidão para com Deus. 575

CI V MED. - /4. 0 Domingo depois do Pentecostes. - A


Providência de Deus , 581
CV MED. - J 5. 0 Domingo depois do Penfecosles. - A
mor/e • 58l
CVI M1rn. - /6.º Domingo depois do Penlecosles. - A
hurpildade • 58 l
CVII Mim. - 17. 0 Domingo depois do Penlecostes. -
· Amor de Deus 581
CVIII Mi::u. - /8. 0 Domingo depois do Pentecostes.:_
Cuidado dos enfermos, 582

CIX M�:D. - /9.º Domingo depois do Penlecos(es. - O


banquete eucarístico.
). O. banquete eucaríslico é infinitamente superior 11
lodos os bonqueles do mundo , • • , , 582
li. Oual é II veste nupcial com que o sacerdote deve
apresenlor-se no bonquele euc11ríslico • 58.>
CX M i,:o. - 20. º Domingo depois do Pentecostes. - O
poder da lê 585
CXI MED. - 2/.0 Domingo depois do Pentecostes. -
Uso do talento sacerdotal.
Oue tolenlo me foi confiado no dia da minha orde-
nação. • • •. • • , • • • • 589
li. Felicidade do Podre que Í11z render fielmente os
seus lalenlos. • • , , • • • , , 591
Ili. lníelicidade do Padre que niio foz render os dons
que recebeu • 592
CXII MED. - 22. 0 Domingo depois do Penlecosles. -
Reddile quae sunl Caesoris C6esori. -
Deveres do clero para com as autoridades
,
superiores.
1. O clero deve ensinor aos Géis as obrigações pora
com os governanles • , • , • • • 59'>
li. O clero deve dar o exemplo, cumprindo fielmente
os deveres para com os poleslodes superiores • 599

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
819
------- -------------------
Pãg.
CXIII Mim. - 2J. 0 Domingo depois do Penfecosfes. -
Morfe e ressurreição dB Glha de Jairo. -
Morfe e ressurreição das almas, grande
objecfo da solicifude saccrdofal.
1. Morle dll Blmll pelo pecado • • do1
li. A alma ressuscil11d11 pela graça sanlificanle 603
CXIV M1rn. - 2+. 0 Domingo depois do Penfecosfes. -
Juízo Gnal • 606
CXV 0
MED. - 25. Domingo depois do Penfecosfes. -
Dedicação das igrejas. - Respeifo que
lhes é devido,
1. As nossas igrejas siio as casas de Deus: respei-
·
!emo-las • • • • • • 606
li. As nossHS igrejas siio a poria do céu ; amemo-las. 609
CXVI Mt:lJ. - O mesmo assunfo. - O zê/o da casa de
Deus devora ao bom Padre.
1. Mo!ivos que devem inílamar o nosso zêlo da honra
das igrejas • • • • • 611
li. Oualidades do zêlo socerdolal em honrar as igrejas. 613.

§ 2.º
Próprio dos Sanlos

CXVII M1rn. - 16 de Junho. - .5. João Francisco de


Réqis • • • • • • 617
1. Arden!e caridade de.S. Joiio francisco de Régis. 618
li. Paciência· invencível de S. Joiio francisco de
Régis. 620
ex V II[ M ED. - s. luís de Gonzaga 623
1. Inocência de Luís de Gonzaga. 624
li. Penilência de Luís de Gonzaga 629
CXIX MED. - 2+ de Junho. - Nascimenfo de S. João
BBpfisfa.
1. Na pessoa de S. Joiio Baplisln: ludo é para Je-
sus Crislo • • 629
li. Tudo é de Jesus Cristo. · 6::12

CXX MEo. - 29 de Junho. - S. Pedro consfituído chefe


da Igreja. - Conlemplação 635
1. Conlemplar as pessoas. • • • • • • 636
li. e Ili. Ouvir as palavras e considerar as acções 637

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
820 MIWITAÇÕF.S �ACE:IDOTAIS

P,ig.
CXXl :'IIED. - Visitação da SS. Virgem.
]. A corid11de é o. único molivo que de!ermiM o Filho
de Deus o visilor o género humano, e Mario o
visilor Isabel . • • • • 640
li. Humildade do Filho de Deus, visi!ando os ho­
mens pelo Incarnação, e de Maria, visilondo o
S. Isabel. • • • • • • • 642
Ili. A sonliflcoção das olmas é o único fim do Incar-
nação de Jesus, e da Yisil11ção de Maria • 644

CXXII MEu. - 16 de Julho. - Nossa Senhora do Car-


mo. - O escapulário da SS. Virgem. 646
1. Excelêncio da devoção do escapulário, considerado
em si mesmo. • • • • • • 648
li. Considerodt1 nos privilégios que lhe são anexos 649
Ili. Pnifico do devoção do escapulário. 651

CXXIII MEn. - 19 de Julho. - S. Vicente de Paulo • M4


1. Amor de S. Vicenle de Paulo paro com os pobres. 655
li. Zêlo de S. Vicenlc de Paulo pelo salvação dos
pobres • 656

CXXlV M�:n. - 25 de Julho. - Santiago Maior. • 660


1. Sanliogo honrou o minislério oposlólico com os
predicodos que pos�uío • • • • 661
li. Como exerceu Sanliogo êsle sublime e divino mi-
nislério • 664
CXXV 1\ho. -- :JI de Julho. - S. Inácio de loiola. • 667
1. S. Inácio buscou em tôdas os coisos o glória de
Deus. • • • • 668
li. Só bu8cou o glória de Deus • • 670
Ili. Só buscou II maior glória de Deus. 671

CXX VI Mm. -- 1- de Agôsto. - S. Domingos • • 673


1. A devoção o Moria 55. é um poderoso auxilio do
zêlo socerdo!ol • • • • 675
li. Razões deslo poderosa eflcáci11 • • • • • 676
Ili. Como poderemos inleress11r cada vei mais II Mãe
de Deus no bom éxito dos nossos trob11lhos 678

CXXVII Mm. - 6 ·de Agôslo. - A fransliguraçâo. -


Confemplaçâo.
1. Conlemplor os pessoas. • • • • • • 682
li. e Ili. Ouvir os palavras e considerar as acções 683

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
INDICE 82l

Põg.
CXXVI li Mrn. - 7 de Agõs/o. - S. Caetano, fundador
da Ordem dos Tea/inos • • 687
1. S. C11el11no, com relação a Deus, praticou em grau
eminente a virtude da religião • • • • • 688
li. Com relação ao próximo, foi um modêlo de cari-
dade, • • • • • • • • 689
Ili. Com relação a si mesmo, foi um modêlo de desa-
pêgo e de confiança em Deus 691
CXXIX MED. - 15 de A_qôslo -Assunção da SS. Vir-
Jfem. • • • • • • 694
1. Maria é glorificada na morle, na ressurreiçiio, na
assunção, por causa da sua san(idade • • • 695
li. Maria excede em glória a lodos os 51:inlos, por-
que os excede II lodos em sanlidade 696
CXXX MEu. - 20 de Agõslo. - S. Bernardo • • 699
1. S. Bernardo junlou uma penitência auslera a uma
perfeila inocência • • • • • • • 700
li. Vida conlemplafiva de S. Bernardo, unida a uma
vida laboriosa • • • • • 702
Ili. Vida humilde de S. B�rnardo, no meio da admi­
ração de que é objeclo • 703
CXXXI Mw. -· 28 de Agôsto. - S. Agostinho. 705
1. Vilório que a graça alcançou na conversão de
Agoslinho • • • • 706
li. Precioso fruto que a Igreja lira da conversõo de
Agoslinho · 709
CXXXII Mi,:o.-8 de Selembro.-A Natividade da San-
lissima Virgem - Ouae esl isla quae pro-
gredilur ...
1. Esla feslo recorda-nos o grande benefício da nossa
vocação • • • • • • • • • 712
li. Anima-nos a cumprir os deveres da nossa vocação 714
CXXXIII !\li,:1,. - 14 de Setembro. - Exaliação da San/a
Cruz.
1. Nada mais recomendado e indispensável ao Padre,
do que a medilaçiio da Paixão de J. Cristo 716
· li. Ouão poucos crisliios e Padres compreendem a
. doutrina da truz. 719
CXXXIY M ED. - 29 de Setembro. - S. Miguel.
1. A soberba de Lúcifer · punida ; a humildade de
S. Miguel premiada • 722

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
82'.! MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Pág.
li. Como II soberba prepara a queda, e a humildade
a elevação • • • • • • • • 724
Ili. Como poderemos nós evitar o ca:,figo dos sober-
bos, e obter a recompensa dos humildes 725

CXXXV Mi,:o. - 2 de Ou!ubro. - Os anjos Cus/ódios.


1. Com que amor Deus nos confio i, guardo dos
anjos. • • • • • • • • • • • 728
li. Como exercem os nossos Anjos da Guorda o seu
ministério. 731

CXXXVI MED. - O mesmo assunlo - Nossos deveres


para com o Anjo da Guarda.
1. Deveres comuns o todos os fiéis para com o Anjo
da Guardo • • • • • • • • • 735
li. Deveres parficulores dos Podres e pastores de
almas para com os Anjos da Guarda . 738

CXXXVII Mi,:n. - 4 de Outubro. - S. Francisco de


Assis • • • • • • • • 742
1. 5. Francisco praticou a abnegação evangélica em
lôda a sua perfeição. • • • • • • 743
li. A promessa do cento por um, admiràvelmer,:e cum-
prida em favor de 5. Francisco • 746

CXXXVIII Mi,:n. - S. Teresa de Jesus • • • 750


1. A coragem de 5. Teresa confunde a nossa cobar-
dia • • • • • • • • • • • 751
li. O bom resultado das emprêsas de 5. TereM con-
funde a nosso desconfionço. 753

CXXXIX Mm. - 1 de Novembro. ..c..Fesfa de Todos os


San/os.
1. A felicidade dos Santos faz-nos pressentir o nosso,
e inílama os nossos desejos. • • • • 756
li. O exemplo dos Santos mostra-nos o caminho do
céu, e no-lo !orna fácil • • • 758
Ili. A intercessão dos Santos ajuda-nos a seguir o ca-
minho do céu com fervor e perseverança 759

CXL MED. - 2 de Novembro. - Dia de Finados. -


Devoção às almas .do purg�lório • • 762
1. As almas do purgatório sõo dignfis da nossa com-
paixão • • • • • 763
li. Podemos fàcilmente aliviar e livrar as almas do
purgatório 767

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNlllf.E 823
Pág.
CXLI MEi>. - Devoção iis almas do purgafório (Confi­
nuação).
1. A devoção que (em por fim aliviar e livrar os ol­
·mas do purgo(ório, é muifo ogrodãvel ao céu • 769
li. E' para nós do maior inlerêsse • • • • • 771
(XLII J\h:1 1• - 21 de Novembro. - Apresenfação da
SS. Virgem. - Renovação das promessDs sa­
cerdolais. - Cave ne quando obliviscoris ..•
1. Jesus Cristo dã-se ao sacerdote, para ser o sua
herança • • • • 775
li. O bom Podre renovo o promessa que Íêz de se
dar o Jesus Cristo • 779

Orações poro o llm da Meditação. 783

Escapulârio da lmoculada Conceição. 785

indulgências plenárias do escopulãrio do l!" oculodo Con-


ceição • 787

indulgências parciais do escopuliipio do Imaculada Con-


ceição • 789

Retiros espiriluois de sacerdotes 790


Assun/os poro (rês retiros de seis dias • 797

IS!

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Matérias principais de cada volume

Fim do homem. Meios. - Pecado. - Morte. Novíssimos.


- Penitência.

li
Reino de Cristo. - Exemplos de Cristo. - Vida pública.
- Paixão. - Vida gloriosa.

111
Ano litúrgico. Advento e Natal. Próprio do tempo.
Próprio dos Santos. - Quaresma e tempo pascal.
Próprio do tempo. Próprio dos Santos. -- De
Pentecostes ao Advento. Próprio do tempo.
Próprio dos Santos.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE ALFABÉTICO
(O número romano indico o lômo: o 11rábico, a págin11)

Abnegação. E' a pedra de loque da verdadeira virlude. 1, 35.


- Mal se dislingue da perfeição. 1, 35 seg. - Dar a Deus o que
eu possuo, é sacrifício quãsi sem valor, se não me dou o mim
mesmo inleiramenle a Deus 1, 86 - Frulos da 11bnegação em
5. Benlo. Ili, 455 seg. - Perfeição desla virlude em S. Francisco
de Assis. Ili, 743 seg. - Como Deus recompensa a abnegação.
Ili, 447 seg.
Absolvição. Misericórdia de Deus n9s· efeilos da absolvi­
ção sacrarr,enlal. 1, 450 seg. - Senlimenlos do verdadeiro peni­
knte no momenlo da absolvição. 1, 451.
Acção de graças depois da missa E' um dever de jusliça
e de gratidão. Ili, 506 seg. - Frutos da acção de graças bem feila.
111, 508 seg. - A omissão da acção de graças é uma irreverência
muilo culpável. Ili, 509 seg. - Prática desla acção de graças. Ili,
5 J 2. - Principio da acção de graças: o silêncio da ·admiração, a
adoração e o amor 111,. 513 seg. - Corpo da acção de graças, é:
o 11g,adecimenlo Ili, 51 J seg. - A oração e a súplica. 111, 515
seg. - E o oferecer-se a Jesus Crislo, e oferecer J. Cristo a seu
Pai. Ili, 517 seg - Conclusão d8 ecção de graças Ili, 518.
Acções. Perfeição de J Cristc em cada uma de suos
acções. li. 252 - f<azões que nos obrigam a fozer nossas acções
ordinárias com a maior perfeição. li, 254 seg. - As nossos acções
tiram quási lodo o seu merecimenlo da inlençiio que as anim�. li,
258 seg.
Actividade. E' a primeira qualidade do zêlo sacerdolal; o
zêlo comporado oo fogo. li, 3 J 4 seg. - Actividade do zêlo de
J. Cristo e dos homens aposlólicos li, jJ 5 seg. - Como e em que
actos se mosIra o actividade do zêlo. li, 3 J 7
Advento. E' o primera parle do ano lilúrgico. lll, 8 seg -
Intenção da ![:(rejo neste santo lempo. Ili, 6 - Deveres do sacer­
dote com relação as (rês vindas do filho de Deus: à terra por
meio do seu nascimenlo, para a renovar. Ili, 1O. - Às almas.
paro os sonl,ficar e sfilvar. 111, J J. - Ao mundo, no fim dos lem­
po:;, para o julgar. 111, 12.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8'!1l MEnlTAÇÕES 8ACKROOTAIS

Aflições. Grandeza da aíliçiio de J. Cris(o no Jardim dos


Oliveiras. Sues causas. li. 485 seg. - Oue devemos fazer nos
nossos 11ílições, e onde havemos de b�scar o rem�dio. li, 487 seg.
- Vêr Sofrimentos.
Agostinho (San!o). Resumo do sua vida. Ili, 705. - Diíl­
-culdades que opunham ii graça o espírilo e o cor11ção de Agosti­
nho. Ili. 706. - A graça g11nha nêle a mais comple(a vi(ória. Ili,
707. - Triunfo da Igreja e grandes Íru(os da conversão de Agosti­
nho. Ili, 709.
Albigenses convertidos pelos primeiros preg11ções e mila­
gres de S. Domingos. Ili, 674 seg. - Vêr Domingos.
Alegria. Sucessão de ol�grios e de tribul11ções na vid11 dos
Santos. 11, 566. - As alegri11s e consolações duram pouco sôbre a
1em,. Ili, 99.
Alegria espiritual. Verdodeira idéi11 que devemos ler
del11. li, .596 seg. - O que é gozor-se em Deus. li, 598. -
Gu11nto agr11d11. a Deus a 11legria espiritual. 11, 598 seg. - Ouanto
é úlil e necessário pbr11 a nossa s11nlific11çiio. li, 599.
Alma. Ou11l é II s1111 excelênci1.1. 1, 40. - O pecado mor­
tal rouba-lhe II belez11, 11 vida, os mérilos e o poder merecer. 1, 207
seg. - O pec11do veni11l desfigur11-11. 1, 336. - A encomend11çiio do
alm11 dii consol11çiio 110 bom s11cerdole, e lormento 110 m11u. 1, 366.
- Tõd11s 11s f11culd11des do 11lm11 leem o seu (ormento no inferno. 1,
419 seg. - Gôzo do 11lm11 no céu. 11, 569 seg. - A 11lma de Jesus
Cristo cheio de (ristez11 no Paixiio. li, 465. - E' glorifi:11d11 no
Ressurreiçiio, Ili, 307. - A alm11 do s11cerdote é ilmll vinho que se
deve cultiv11r. Ili, 185 seg. Vinho• escolhido, cuidodos que mere ­
<:eu II Deus. Ili, 186. - Amor de Jesus Crislo iis olmo�. li, 272
seg. - Como podemos ganhar muil11s 11lm11s poro Deus. li, 274 seg.
- O bom podre sempre (em meios de g11nhor cimas. Ili, 24. -
Preço dos oimas. li, 478; Ili. 55!
_ Ambição. J. Cristo foi len!11do de 11mbiçiio no deserto. Ili,
228. - Levo 110 precipício. Ili, 229. - O seu primeiro efei(o é avil­
for o c11riicfer s11cerdotal. Ili, 229. - Vêr Orgulho.
Amigo. Preço de um verd11deiro 11migo. 11, 583 �eg. - Je­
sus Crislo é o 11migo verd11deiro do socerdote. li, 583 seg. - E' o
amigo digno de confi11nça, generoso e pródigo. li, 584. - A nossa
amiz11de poro com J. Crislo deve ter 11s mesmos qu11lidades que 11
de J. Cristo p11r11 connoscô. li, 586 seg.
Amor. Compra-se com 11mor. Ili, 72. - Amor de Deus.
Ouanlo deseja Deus o 11mor dos homens. li, 616. - Deseja em
especiol o dos podres. 11, 618. - Ouanlo merece Deus o nosso
amor. li, 619. - Amor de Deus para connosco, terno e preve­
niente. li, 620. - Generoso e constante. 11, 621. -Amor de Deus
noliivel, sobretudo em S. Agoslinho. li, 619. - Em S. Inácio de
Loiola. Ili, 668 seg, - Em S. Froncisco X11vier. Ili, 121 seg. -

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNlllCE ALFADÉTICO

Amor sofredor e gozoso. Vér 5. Teresa. - Amor do próximo.


Vér Caridade fralerna.
André (Sanlo). Seu amor II cruz. Ili, 110 seg. - Molivos
dêste 11mor. Ili, 1 12 seg. - frulos que lira dêsle 11mor. Ili, J 14. -
S. André n11 cruz, modélo do padre preg11dor. 111, 116 seg. -
Modêlo do p11dre sacrificador. Ili, 118 seg.
Anjos, Bond11de de Deus em nos d11r Anjos da Gu11rda. 111,
728 seg. - Preciosas pal11vras de S. Bern11rdo. Ili, 729 seg. -
Os Anjos d11 Guarda cumprem o seu oficio: luz que nos comuni­
c11m. Ili, 731. - Obslãculos que removem. Ili, 732. -- Meios de
s11ntificoçiio que nos procuram. Ili, 733. -Assistem-nos durante e alé
depois d11 morte. 111, 734. - Deveres dos fiéis paro com os Anjos
d11 Gu,rdo: respeilo, gr11lidiio, confi11nç11. Ili, 735 seg. - Deveres
dos s11cerdotes e dos p11stores de almas p11ra com os Anjos da
Gu11rd11. Ili, 7.'>8 seg.
Anunciação. Emb11ix11d11 que Maria SS. recebeu do céu:
11 sua solenidade, o seu objeclo, o seu lêrmo. Ili, 461 seg. - Como
recebe Mari11 esl11 emb11i,11da: p11lavras do Anjo e resposta da SS.
Virgem. Ili, 463. - Grondeza de 11lma de Morio nesle mislério. 111,
464 seg.
Apóstolos. Sua vocoçiio. Fim que J. Crislo lem em visl11
oo chomã-los. li, 296. - Todo o socerdole tem porlé na graça
desto voc11çiio. li, 297. - Em que circunstãnci11s e como forom
chom11dos. li, 298. - Como corresponderom II groça da voco­
çiio. li, 299. - Crime e desgroço d11 infidelidade a esta graça. 11,
299 seg. - Só Deus pode chamar ao ministério apostólico. li, 301
seg. -- Só Deus deve determinar em particular a missiio do após­
tolo. li, 303 seg. - Só Deus foz frulific11r os tr11b11lhos do após­
tolo. li. 305 seg. - Aposlol11do do bom exemplo. 11, 307 seg. -
A virtude do oposlol11do comunic11d11 11 oulros pelo 11pústolo. li,
363 - Efeitos désie 11postol11do' múluo. li, 364 - J. Crislo Íllz
duns pesc11s mil11gros11s por meio dos seus 11póslolos. li. 401. - O
apó5tolo é um homem de 11cçiio. li, 565. - Os apóslolos no di11
d11 Ressurreição, 111, 305. - Ap11riçiio de Jesus ressuscit11do 110s
apóslolos reünidos. Ili, 324 seg - Perturb11ção dos após(olos;
como Jesus os tranqüiliz11 com �uii bond11d!'. Ili, 326 - Mis�iio e
poder que Jesus dã aos apóstolos. 111, 370 seg. - A omnipolência
de J. Cristo é o apoio e gar11nlia da missiio 11poslólic11 Ili, 3?2.
Aparições de J. Crislo_ depois d11 SUII ressurreição. - Vêr
Ressurreição.
Apresentação de J. Crislo no (emplo de Jerusalém. S11cri­
fício inspirodo a M11ri11 SS. por J.,sus. li, 173. - S11criÍícios que
Jesus impõe a si mesmo. li, 175. - Vêr Purificação
Apresentação d11 SS. Virgem. - Vêr Renovação das pro­
mess11s s11cerdolais.
Ascensão de J. Cristo. Contemplação. 11, 563 seg. - O

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
828 MP.ntTAÇÕ&S SACEIIDOTAIS

que diz Jesus anfes de subir ao céu. 11, 564. - _A mesma maféria
consideradti por 5. Bo11Venturo. Ili, 382 seg. - Ul!imos preporali­
vos paro o mistério da Ascensiio. 111, 383. - Realização dêste mis­
tério. 111, 384. - J. Cristo glorificado no sua ascensão. Ili, 385,
.388 seg. - Este misfério é a glória do sacerdócio. 111, 390. ·_ Re­
compensa que promele aos bons sacerdofes. 111, 391 seg.
Assunção. Três mislérios gloriosos para Maria, são objecfo
desta solenidade. 111, 694 seg. -- A sanfidt1de de Moda foi o prin­
cípio da sua glória. Ili. 695. -· A sua santidade é também a me­
dida do sua glória. Ili. ó96 seg.
Autoridade. O respeilo que se tem ã ou!oridade, foz a
fôrça e o beleza da Igreja. li, 232. - O mal profundo da nosso
época é o febre da independência. 11, 233. - Insistência com que
J. Cristo e os apóstolos pregam o submissão o lõdo o auloridode.
Ili, 595 seg.
Bandeiras. Medilação das duas bandeiras: convite ã vida
11postólic11. li, 265. - Bandeiro de Lúcifer: tudo indico o cHminho
largo, p11ixões desenfre11das, perturbação e inquielaçiio 11, 265 seg.
- O demónio exci!11 o ardor de seus sequazes, e ensino-lhes 11 11rte
de pe�der as almas li, 266. - Esl11ndorte de J. Crislo: ludo ex­
prime doçura e paz. 11, 267. - .O Salvt1dor envio os seus iipósto­
los o como11!er contra os desígnios de Lúcifer, e a salvar almas. li.
268 seg. - Desenvolvimento desta parábola: inílamo o zêlo. li,
271 seg. - Ensina o arfe de salvt1r almtis.. li, 274 seg.
Baptlsmo de J. Crislo. Conlemplação. li, 283 seg - Hu­
mildade de Jesus no seu baplismo. li, 284 seg. - Jesus glorifi­
c11do neste mislério. li, ?.86.
Baptista (5. João 1. Suo pregação. Como se prepora poro
ela. Ili, 14 seg. - O hábito do recolhimento. Ili, 14. 15. - Doci­
lidade e sujeição tio Espírito Stinto. Ili, 16. - Vida peni(enle e
mortificada. Ili, 1�- -- Como cumpre a obrigação de prêgar: maté­
ria de que !rafa. Ili, 20 seg. - Zêlo que mosfro. Ili, 22 seg. -
J-lumildade e obediência, baplizando II J Cristo. 11, 285 seg. -
Deve os seus friunfos ã sanlidade dos seus exemplos. Ili. 17; 18.
- Vêr Natividade de S. Joiio Baplis/a.
Belém. Viagem dti 55. Virgem e de 5. José a Belém. Sa­
bedoria e bondade de Deus que o manda. Ili, 31 seg. Obediên­
ci11 e conuançt1 de Maria e José empreendendo e realizondo o via­
gem Ili, 32 seg.
Bento (S.). Resumo de suo vida. 111, 454. - Acção da
graça sõbre 5. Benfo: foz-lhe enconlrar a vidn na morte. Ili, 455.
- A riqueza e o poder na pobreza. 111, 457. - E o glória na
obscuridade. Ili, 458.
Breviário. A sua excelência consider�o em �i mesmo. 1,
138. - Relações com o divino s11crificio da missa. 1. 139. - Ele­
menlos que o compõem. 1, 140. - Nêle o homem fala II Deus com

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ír.orcE ALFADÉTICO

palavras do mesmo Deus. 1, 140 seg, - Circunslâncias que acom­


pnnham a recitação do Breviário. 1, 141 seg. - Molivos que nos
obrigam a rezá-lo sanlamenle: é um lributo que devemos a Deus.
l, 145. - E ô Igreja, 1, 146 seg. - E' um dever que devemos cum­
prir pllra com os po�os. 1, 146 seg. - Grandes vantagens que lem
para nós mesmos o Breviário. l. 148 seg. - Terriveis conseqüên­
cias da negligência em cumprir esta obrigação. l, 149 seg. - Pen­
samenlo do P. Lejeune a ês(e respeito. 1, 150. - Preparar-se para
rezar o Breviário: tirando os obstiiculos. I, 152 seg. - Tornando
prudentes precauções. 1, 153, Fazer concorrer pora a recilaçiio,
a bôca, o espírito e o coração : Of//cium ori:S, menh:S, cordis. 1,
154 seg, - Meios para conservar ou desperlar a atenção e o fer­
vor. 1, 156.
Consolações que se encontram no recolhime:,to. 1, 117 seg.
- Consolações do bom sacerdole ã hora da morle. 1, 366, 371
seg. - Os Sõnlos temiam a abundância de consolações. 111, 127
seg. - Consolações inerentes ã oração. Ili, 130.
Constância. As contradições não devem 9uebranfar a cons­
tância do zêlo. li, 347 seg. - Exemplo de S. Francisco de Sales,
de S. francisco Xavier, efc. li, 349. - As conlradições devem
forlificar o zêlo. li, 349 seg. - Conslância nas boas resoluções.
Ili, 67. - Nas provações da ,,ida espiritual. Ili, 68. - Constância
de M. Madalena no seu amor a J. Cristo. Ili, 314. - Constância
de S. Teresa nas obras de zêlo. Ili, 753 seg.
Contemplação. Maneira prática de meditar as coisas sen­
síveis. 1, 27 seg.
Conversações espiriluais, sua grande ufilidade. Ili, 424 seg.
- Última conversação espiritual de S. Agostinho com sua mãe. Ili,
427. - Vêr Emaús.
Coração (Sagrado). A sua festa. Ili, 544, - Gueixas do
S. Coração de Jesus. Ili, 545. - Ouanlo ama aos homens. 111,
545. - Ouiio pouco é amado dêles. Ili, 546. - O que pede o
S. Coração. Ili, 547. - As suas promessas. Ili, 54ô. - Sua terna
compaixão. Ili, 271 seg.
Coragem do bom sacerdote em defender os inlerêsses de
Déus. 111, :.!61 seg. - Coragem das santas mulheres, indo ao se­
pulcro de Crislo no di11 da ressurreição. Ili, 302. - Corcgem de
5. Teresa para triunfar de si mesma, e elevar-se a uma eminenle
santidade.' Ili, 752.
Corpos. Prerrogativas dos corpos gloriosos. Ili, 331 seg.
Correcção. Caridade com que se deve fazer. Ili, 327.
Criaturas dadas ao homem como meios para conseguir o
seu fim. 1, 45 seg. - Como nos conduzem a Deus. 1, 45 scg, -
Como devemos servir-nos delas. 1, 47 seg.
Cristão. Como o define S. Tomás. 1, 56. - Tudo é para
êlc: a Igreja, o mundo, a vida, a morle, o presente e o ·porvir.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
830 MEDITAÇÕ�;s SACERDOTAIS

), 54 seg. - O cristão é para J. Crisfo. I, 57 - Signir.cação


dêste lindo nome de cristão. li, 63.
Cristo. Vêr Jesus Cristo.
Cruz. O mistério da Cruz prega-nos o temor de Deus. Ili,
203 seg. - Prega-nos mais ainda o 11mor de Deus. Ili, 205 seg.
- Os apóstolos não entendiam nado dêste mistério, que é rejeitado
pelo orgulho humtino. Ili, 209. -Amor ela cruz; motivos dêsle
amor. Ili, 112 seg. -·- Vêr 5. André. - Mistério da cruz, grande
objetlo dos pensamentos .de Deus que se compraz nesta reparação
feil11 â su11 glória ullrojada Ili, 479 seg. - A miss11, memorial do
mistério d11 cruz. Ili, 4ôl. - Êste mistério abrasou de amor o co­
ração dos Santos. Ili, 463. - Êste mistério inedilado: excita o zêlo
sacerdotal. li, 477 seg. - Ensina-nos a conhecer a Deus, o pe­
cado e a,; almé1s. li, 478 seg. - Ilumina o nosso zêlo, moslrando­
•nos donde lira a su11 er.cãcia. li, 479 seg. - Consola o nosso
zêlo. li, 461 seg. - J. Cristo na Cruz; conlemplaçiio. li, 533
seg. - Pt1lavras de Cristo na C�uz. li, 534. - O mundo só pode
ser salvo pela cruz, e a cruz de Cristo não ba�ta. li, 542. - A
meditação do mistério da cruz é recomendada aos sacerJoles. Ili,
716 seg. - A missa e a comunhiio devem recordar-nos sempre a
Paixão. Ili, 717 - Êste mistério da cruz é o compêndio da prega­
ção apostólica. Ili, 718. - A doulrina dé1 cruz é mal rompreen­
dida. Ili, 719 seg. - Vêr Paixão e .So/rimen/os.
Caetano (5.). Resumo da sua vida. Ili, 687.- Como pra­
!icou a ,·irlude da religião. Ili. 688 - Transmite II seus discípulos
o seu zêlo da casa de Deus. Ili, 689. - Modêlo de caridade para
com o próximo: na ordem espiritual. Ili, 689 seg. - E na ordem
temporal. Ili, 690. - Desinterêsse perfeito e resignaçiio complela
nas mãos da Providência. Ili, 691 seg. --- Como Deus justificou a
confiança de 5. · Caetano. Ili, 692.
Calfás. J. Crislo na casa de Caiíás. Conlemplação, li,
509 seg. - Jesus é interrogado. li, 510 seg. - O sumo sacer­
dote pregunta-lhe solenemente se é êle o filho de Deus. li, 512.
-Ulfrajes que récebe· J. 'Cristo 011 casa de Caifás. li, 511. 513.
Caridade fraterna. Modêlo que nos dá desta virtude o bom
samaritano do Ev1rngelho. Ili, 569 seg - Grande e forte insistên­
cia do Salvador neste ponto. da lei divina. Ili, 571. - Ouando e
em que circunstâncias fêz dêste preceito o· seu preceito ou manda/o.
Ili, 572. - Vêr Zê/o.
Castidade sacerdotol. Santidade dos laços que a ela nos.
prendem: a promessa solene da ordenaçiio. li, 137 seg. -· Os tí­
tulos que nos �ão dados. li, 139. - As funções que devemos de­
sempenhar. li, 140. - Três guardas da caslidade sacerdotal:
1. 0 a humildade. li, 143 seg. - O maior perigo é não acreditar
no perigo. li, 144. - Bom pensamento de 5. Fulgêncio. li, 145.
- 2. 11 a vigilância. li, 145 seg. -- Em que c_oisas é preciso vigiar.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDJr.F: ALFADÉTICO

li, 146 seg. - 3.n a generosidade; o que fizeram os Santos para


conservar êsle (esoiro. 11, 147: - Vêr Pureza.
Cego curndo perlo de Jericó. Ili, 208 - Cegos espiriluois;
seu estado deplorável. Ili, 21 O. - Todas som:>s cegos mois ou
menos. Ili, 211. •
Cegueira. Tõdos as paixões conduzem o elo. 1, 264. -
Principalmenle o avareza. 1, 288 seg.
Cerim ónlas religiosas. O bom socerdole respeito-as e obser­
vo-as. 11, 162. - Como ero cosligoda a infracçiio dos leis que se
reíeriam aos rilos on(igos. li, 183. - Decrelo do concilio de Trenlo
o respeito das cerimónias. li, Hn seg. - Como se devem obser­
var os rilos sagrodos. li, 184. - Ouanlo convém explicor 110 povo
a signillcaçiio dos ritos sagrodos. 11, 185.
Céu. O bom sacerdole no céu: niio sofre nem leme nenhum
mol. li, 569. - Niio lhe falia nenhum bem. li, .570. - Felicid�de
na memória. li, .571. - Felicidade na inteligência. li, .571. - Feli­
cid!ide na vontade. li, .572. - Não leme mudança alguma. li. 573.
- O pansomento do céu consolo e fortifica oo bom sacerdote.
Ili, 233.
Circuncisão. O que foz J. Cristo nes(e mistério: humi­
l�a-se lomondo o sinal do pecado. Ili", .52 seg. - Soíre e começo
o sua imolação songüinolenta. Ili, .53. - Salva o género humano.
Ili, .54. - Lição que dá Jesus a seus ministros: sóbre o valor dos
almas. Ili, .55. - E sóbre o circuncisão espiritual, como meio de
salvar as almas. Ili, .55 seg.
Clero. lnlerêsses imensos que andam ligados ã sonlillcação
do clero. 1, 6 seg. - T õdo o obra do Igreja apoio-se no clero.
Ili, 434. - A inocção do clero favorece o domínio de !ôdos as poi­
xões. Ili, .593.
Comunhão. Triunío reol de J. Cristo entrando na alma
pelo comunhiio. Ili, 265 - Ouonlo desejo Jesus êsle 1riunfo. Ili,
265 seg. - O que é preciso poro obter êste triunfo. Ili, 266 seg.
-- Ouonlo o deviam desejar os homens. Ili, 268. - Amor de Je­
sus pora connosco no Eucaristia. Ili, 282 seg. - Santos consola­
ções que produz o comunhão, segundo os 55. Padres. e o Escri­
turo. Ili, .520. - Em que consistem estas consolBções. Ili, .521 seg.
- Felicidode da olmo fiel no comunhão, prescindindo dos gostos
sensíveis. Ili, .522. -· Alegria sensivei. Ili. 523.- Disposições que
p�de a mêsa eucarística. Ili, 52.5 seg. -- Desejo ardente de comun­
gar. Ili, .526 seg. - Recolhimenlo proíundo onles e depois da co­
munhiio. Ili, .528 seg.
Conceição imaculado de Maria. Ili, 134. - Rlizões dêsle
privilégio: As relBções do SS. Virgem com os três pessoas divi­
nos. Ili. 135. - Êste priv.ilégio é o base de lôdos as suos grande­
zas. Ili, 136. - A maneiro como lhe foi concedido, é Ião glorioso
paro Maria como o mesmo privilégio. Ili, 136 seg. - Prerrogali-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEOlTAÇÕES SAC};HDOTAIS

,·as que são o complemenlo ou a conseqüência dêsle privilégio. Ili,


1)7. - Honras e teslemunhos de amor tribulados a Maria :SS. por
CllUSa dêste privilégio. Ili. 1 )8. - Para nós é muilo vantajoso hon­
rar a Imaculada Conceição de Maria. Ili, 140. Lições que nos
dii a todos êsle mistério. Ili, 140 seg. - E em �pecial aos sacer­
doks. 111, 142. -- Bênção que nos alrai o nosso zêlo em honrar 11
Imaculada Conceição de Maria. 111, 14).
Confissão (o ministério da). O bom sacerdote estima-o em
muito. li, 418 seg. - Minisléric muilo ai;iradiível 11 Deus e à Igreja.
li, 419. - E muilo úlil ao próximo. li, 419. - E lambém llO con­
fessor. li, 419 seg. - Ouem nos afasia dêsle ministério é quási
sempre a libiez11. li, 420 seg. - Primeira qualidade do confessor,
a bondade de um pai: ela adeanla-se ao penitente. li, 423 seg. -
Ela nnima-o. li, 425. - Sofre-o com paciênci11, 11, 426. - Se­
gunda qualidade do confessor, a jus/iça de um juiz. li, 428 seg. -
Jusliça imparcial. li, 4)0 - Jusliça esclarecida. li, 4)1. - Ter­
ceira qualidade do confessor, prudência de médico: deve ser tlis­
creto em querer conhecer o mal. li, 4)4 seg. - Discreto n11 esco­
lha e nplicação dos remédios. li, 4)5 seg. - Piedade e compaixão
do confessor. 11, 456 seg. -- O que faz o bom confessor: anles
de entrar no confessionário. li, 439. - Durnnte lodo o lempo das
confissões. li, 440 seg. - Depois das confissões. 11, 442. - Vêr
Penitência (.Sacramento).
Confiança do bom sacerdote na hor11 da morte. 1, )71 f,eg.
- O bom sacerdole mais espera do que leme, 1, 474. - Sabe
cohverter os mo(ivos de lemor em molivos de confiança, 1, 475. -
A confiança é a essência da amizade. li, 576. - Se amo a Jesus,
devÓ colocar nêle a minh!l confiança. li, 579. - O m11ior perigo é
a falia de confiança em Deus. Ili, 124. - Confiança dos homens
aposlólicos. Ili, )78. - Fundamenlos da confiança crislií e s11cer­
dolal: Deus compromeleu-se a não recusar nada ã confiança. li,
5ÇjO seg. - Co,;firmou suas promessas com juramenlo e com pe­
nhores de grande preço. 11, 590 seg. - Ainda que Deus não ti­
vesse prometido nada, êle não poderia recusar nad& ã nossa con­
finnça: porquê? li, 59) seg.
Conformidade com a vontade de Deus. li, 602 seg. -
Jusliça destll virtude. li, 60). - Excelênciil desla virtude. li, 604.
- Nenhuma virlude !orna o homem liio grande. li, 606. - Tor­
na-o oulro Jesus Cristo. li, 608. - Eleva-o até Deus. li, 607,
608. - Leva ã priilica de tôdas as virtudes pelo motivo mais per­
feilo. 11, 610 seg. - Exemplo de 5. Paulo logo no momento da
su11 conversão. li, 611 seg. - A conformidade: dii-nos a felici­
dade 11'11is completa. li, 612 seg. - Muda- o mal em bem. li, 61).
- E' na terra a herança 11nfecipnd11 dos filhos de Deus. li, 61).
- Concorre eficazmente para a conversão do próximo. li; 614.
Demónio. Redobra de furor ã hora da morte. 1, 366; li,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
INOICE ALFABÉTICO

472. -- E quando fazemos progressos na virtude. li, 539. - Ataca


mais aos pastores que aos rebanhos. 1, 425. - Demónio mudo.
Estragos que faz no rebanho de Crislo. Ili, 236. -- Fecha II bôca
aos escravos do respeito humano, e 110s falsos penilenles. Ili, 237.
- A grande vitória do demónio mudo é atar e encadear II palavra
sacerdotal. Ili, 237 seg. '
Desânimo. E" funes[o em seus efeitos: li, 353. - Mui[as
vezes condenável erri suas causas. li, 354. - Orgulho, ingraÜdão,
d�sleixo·, c11usas ordinárias do desânimo. li, 354 seg. -·o desâ­
nimo é sempre sem raziio nos seus prelexlos. li. 356. - O desâ­
ni,no com respeilo i, conversão dos grandes pecadores. li, 357." -
O desiinimo a respeito dos pecadores doenles. li, 457.
Desejos. Prémio dos santos desejos. 1, 128. - O bom
desejo é uma oração. 1, 128, 129. -- Bons desejos tornados inú­
teis pela afeição 110 pecado venial. li, 336.
Desinterêsse. Até onde deve ir no bom sacerdo!e. Ili,
172, - 5. Caetano parece levã-lo até ao excesso. Ili, 691 seg. ·­
Vêr lnlerêsse.
Desprendimento de lôdas as coisas dêsle mundo: até onde
leva. Ili, 128,743 seg. - Sua necessidade para imilar a J. Cristo.
li, 85 seg.
Deus. ·Meu princípio, fim e recompensa. 1, 34 seg. - Meu
primeiro dever é adorá-lo. I, 40. - Sou lodo de Deus e para
Deus; Deus é ludo pdra mim. 1, 40 seg. - O homem, a-pesar
do seu nada, pode pagar a Deus o que lhe deve. 1, 52, -­
Bondade de Deus para com-igo na graço da· vocação. 1, 60. -
Esquécimenlo de Deus, efei(os funestos. 1, 11.3. - Severidade de
su11 justiça no purgatório. 1, 339, - Bondade de Deus para com
os maiores pecadores. 1. 439 seg. - Paciência de Deus. 1, 444.
- Esquece os· pecados que perdoou. 1, 451 seg, - O que tem
direito a esperar de um padre, a quem cumulou de benefícios. 1,
479. - O que !em recebido de mim a!é hoje. 1, 4b0 seg. - Jesus
busca em ludo a glório de Deus. - Ili, 26. -- E' muito bom falar
de Deus. Ili, 319. - Sabedoria e bondade de Deus na viagem de
José e Maria a Belém. Ili, 31. - Contra Deus nunca hã vilôria.
Ili, 78. - Deus dá mais do que promete. Ili, 100 seg. - Exce­
lenle maneira dt: honrar II Deus. Ili, 102, 513, - Todo o homem
glorifica 1;1 Deus: ou II sua misericórdia, ou a sua justiça. Ili, 105
seg. - Podemos encontrar e gozar a Deus em !ôda a parle, Ili,
127, 128.
Doçura e mansidão com o próximo. Considerada em Jesus
Crislo. Como êle no-la ensinou. li, 320 seg. - Com que perfei­
ção a pra(icou. li, 323 seg. - Considerada no sacerdo(e, Exige-a
o seu ministério. li, 326 seg. - No púlpi(o, no coníessionãrio, li,
327. - O sacerdote, para seu próprio bem, deve usar de doçura.
li, 328 seg. - Poder da doçura, Torna-nos senhores: do nosso

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

próprio coração. li, .:,31 seg. - Do coração de nossos irmãos.


li, 332 seg. - E do coração de Deus. li, 334 seg. - N11da torna
o homem Ião semelhanle II Deus como esla virtude. li, 334. - Hã
recompensas particulares p<1r11 11 doçura. 11, :>35. - Ela é a flor e
11 perfeição da caridode. Ili, 176 seg. - Dâ-nos outras três virtu­
des que são como que 6 essência da bondade pastoral. Ili, 177 -
Não hã virtude cuja prática seja mais freqüente. Ili, 177. - P11l11-
vras de S. francisco de Soles sôbre a doçura. ili, 177. -,frutos
do doçura oindo no vida presente. Ili, 178.
Doentes. São o objeclo mais terno da c11rid11de s11cerdo­
l11l. li, 456 seg. - Direitos que êles leem ã dedicação do seu pas­
tor. li, 456 seg. - Não se pode fozer maior serviço ao próximo
do que ajudâ-lo a bem morrer. li, 457 seg. -·- Perigo II que se
expõe um pastor de olmos que não atende 110s enfermos, li, -458
seg. - O bom sacerdote deve esperar ludo dos cuidados dispen­
sados aos enfermos. li, 459. - Grandes. vantagens que lira poro
si mesmo, dêsfe cuidado. li, 462 seg. - Uleis reflexões que se fa­
zem nessa ocasião. li, 46:>. - Virtudes que então se praticam. li,
463 seg. - Grnços e merecimentos que se obteem. li. 464. - O
cuidado dos doentes honro ao ministério sacerdotal. li, 465 seg.
- Prâlico Jo zêlo poro C0'1J os doentes: visiló-lo!!. li, 468. -
Como devem ser essas visilos. li, 469. - Dar-lhes os últimos sn­
cromenlos, 11, 470. - A 11rle de assistir aos doentes é um qos
mais preciosos dons do céu. li, 470. -- Ouanlo imporia assisti-los.
nos últimos momentos. li. 472.
Domingos 15. t. Suo vid11. Ili, 673. - fund11dor da Or­
dem dos Padres Pregadores. Ili, 674.
Dons (do Espírito Santo). Vêr Espírito Santo. - Os dons
que Deus nos f11z, são penhor daqueles que nos promete. li, 592.
Doutores da Igreja. O que pensam: do son!idode socerdo­
lol. 1, 76 seg. - Do missa sacrílega. 1, 330 seg. -- Do 11mor que
mostramos o Deus por meio do nosso zêlo. li, 279 seg. - E das
sanl11s consolações que nos dâ o comunhão. Ili, 520.
Educação do juventude. J. Cristo deseja-o viv11menle. li,
444 seg. - Predilecção de Jesus pelo juventude\ li, 445. Gron­
des exemplos de dedicação à educoção -do juventude. li. 445 seg.
- A Igreja e o sociedode pedem a educação da juventude. li,
446 seg. - Conseqüências decisivas da primeira educ11ção. li, 449
seg. -- Tudo se pode esperar dos cuidodos preslodos à infância.
li, 451. - Grandes frutos que firo dêsles cuidados quem os em­
prego. li, 451 scg.
Emaús. J. Cristo oparece a dois discípulos que iam para
Emoús. Ili, Jl8. - Acomponho-os no cominho. llt, 318 seg. -
folo com êles. Ili, 319 seg. -- Exemplo que Jesus dii aqui aos
pastores de olmos. Ili, 321 se�. - Separo-se dêles. Ili, 321 . .,­
Os dois discípulos contam esta aporição. Ili, 321.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDl<:E: ALFABÉTICO

Endurecimento do coração: no sacerdote sacrílego. 1, 236.


- Em Judos, 1, 289, 291.
Epifania. Objcclo desta festa. Ili, 58. - Vér Magos.
Escândalo. No sacerdote, pecado enormíssimo. 1, 217
seg. - O padre escandaloso: grande inimigo da 55. Trindade. 1,
218. - GronJe inimigo das 11lmas que perde, devendo-as salvar. 1,
219. - Estragos horrorosos do escândalo dos maus sacerdotes. 1,
220. - O padre escandaloso é grande inimigo da Igreja, devendo-a
consolar. I, 220 seg. - Diversas espécies de escândalo: de inlen­
çiio e perversidade. 1, 223. - De tibieza e negligência. 1, 224. -
De ligeireza e imprudência. 1, 227.
Escapulário de N. S.ª do CHrmo. A mesmo SS. Virgem
é a fundadora da confraria do escapulário. Ili, 646 seg. - Exce­
lência da devoção do escapulãrio. Ili, 64ô. - Privilégio desta de­
voção: Prolecção especial de Maria durante a vida. - Ili, 649. -
Graça de uma boa morte. Ili. 650. - Indulgência sabatina. Ili,
651. - Condições que se requerem. Ili, 651 seg. - Espírito da
devoção do escapulário. 111, 652
Escolástica (Sonla). Resumo da sua vida. 111, 424. - Seu
amor ã solidão. Ili, 426. -· Suas práticas espirituais com seu ir­
mão, S. Bento. Ili, 427. - Sua simplicidade no traio com Deus;
poder desta simplicidade. Ili, 428 seg.
Esperança. Virtude das almas g:enerosas e grandes. 111,
451 seg. - Vêr Confiança e Constância.
Espírito Santo. Grandes bens que a sua visita dá ãs al­
mas. Ili, 395 - Fonte de vida que corre para a alma por sele
fonles da graçH. 111, 396. - Os dons do Espírito Sanlo. Ili, 396
·seg. - O Espírito Santo procura comunicar-se. Ili, 398. - Deve­
mos esperá-lo com confiança. Ili, 399. - Necessidade do seu Hu­
xilio, principalmente para os sacerdotes. Ili, 399. - Três obstiicu­
los ao bem que o E. S. nos quer fozer: o pecado, o espírito do
mundo e a carne. Ili, 402 seg. - Recolhimento, grande meio de
,itrair a nós o Espírito Santo. Ili, 405. - O Espírito S,inlo, santi­
ficador do clero. Ili, 413 seg. - Consolações do Espírito S., em
que consistem. Ili, 419 seg. - Consola-nos: com as luzes que
nos dá. Ili, 420. - Com a confiança que nos inspira. 111, 421.
- Com os c<'nsuras que nos faz. Ili, 421 seg. - Para quem são
os consolações do E. S. Ili, 422.
Estê\Cão (Santo). Foi cheio de graça e fiel ã graça. Ili,
152. - Seu desinterêsse. 111, 152. - Pureza de seus costumes.
Ili, 153. - Cheio de sabedori,i na pregação. 111, 1:53 seg. -
Cheio de fôrça no martírio. Ili, 155. - Caridade com seus inimi­
gos. Ili, 156.
Estudo e preparação para o ministério da palavra. li, 390
seg. - Estudo da Escrituro, necessário ao pregador; aprendamos:
da Igreja. li, 407 seg. - Dos concilias e dos Sontos Padres. li,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

408 seg. - Oualro Joles da Escritura, que correspondem aos


qualro fins da pregação. li, 410 seg. - fôrça divina da S. Escri­
tura. li, 41O. - Estudos eclesiásticos; sua necessidade, primeiro:
para aprender. Ili, 436. - Segundo, para conservar os conhecimen­
tos adquiridos. 111, 437. - Suas vantagens: favorecem a sonlidade
sacerdotol, prolegem-no e defendem-no. Ili, 438. - Disposições
que se requerem para êsses estudos. Ili, 439,
· Eternidade. Duroçiio incomensurável, siluaçiio imu1ãvel.
Sempre, nunc:a. 1, 158 seg. - Pnra o bom socerdote niio hã no
c:éu coisa mais consoladora, e par11 o mau niio !em o inferno coisa
mais atérr11dora. I, 160 seg. - De;,ende da vida de cada um. 1,
1 63 seg. - Algumils vezes depende de um momenlo da vida. 1,
165· seg. - O pensamento da eternidade, poderoso meio de sanli­
ficaçiio. 1, 168 seg. - Ela ilumina-nos em nossas dúvidas. 1,
169. - Exemplo de· S. Teresa, de S. Estanislau de .Koslka e de
S. Luís Gonzaga. i, 169. - Ampara-nos nos combates. 1, 170
seg. - O exemplo dos mãrlires. 1, 171. - Consola-nos nas lribu­
lações, 1, 172. - Conforta-nos na prialica do bem. 1, 172 seg.
Eucaristia. figurada na multiplicação dos pães. Ili, 242,
245 seg. - A quem se dá. Ili, 283. - Em que circunslãncias foi
insfiluida. Ili, 284. - Com que fim. Ili, 284. - E' laço de amor
entre J. Crislo e seus ministros. li, 582 seg. - Amor de Jesus
pora com os sacerdotes e lodos os homens, na S. Eucaristia. li,
583, seg. - Jesus fica no sacrário. li, 583. - Imola-se no al!or.
li, 584. - Dá-se na sagrado mesa. li, 585. - Provas de amor
que Jesus espera de seus minislros na Eucarislia. 11, 586 seg. -
Bonquele eucoríslico; supera infinilamenle lodos os banquetes do
mundo. Ili, 582. - O sac:rum c:onvivium. Ili, 583 seg. - Oual é
a veste nupcial que devem levor os socerdoles o êsle banquete. 111,
585. - Vêr Sac:ramenfo (Sanlíssimo) e Quinta-feira Santa.
Exemplo. Apostolado do bom exemplo; sua necessidade•.
li, 307 seg. - Suo eficácia. li, J09. - J. Crislo parece esperar
mais de seus exemplos do que de suas palavras e pregações. li,
309 - S. Joiio Crisóstomo coloca o poder do bom exemplo
acima do poder de fazer milagres. li, 310. - O bom exemplo
aclua sôbre o espirilo e sôbre o coração. li, 310 seg. - Bom
exemplo, apoio da pregação. Ili, 214.
Exercícios. O livro dos Exercícios Espirituais de S. Inácio.
1, 9, - Exercícios de piedade; o bom sacerdote e�ima-os em
muito. 1. 127 seg. -Trazem-nos grandes bens. 1, 128 seg. - O
bom sacerdote é fiel em os fazer. 1, 150. - Procura fazê-los bem.
1, 130 seg. - Negligência nos exercícios de piedade; prelexlos
com que se defende. 1, 132 seg. - Efeitos deploráveis desla ne­
gligência, 1, 134 seg. - Conduz olé ao endurecimento do cora­
çiio, 1, 136 seg.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
í1rn:cE ALFABÉTICO s:17
Família (Sagrada). Sua partida para o Egipto li, 188. -
Estnda no Egiplo. li, 189. -- Volla II N11z11reth. li, 191.
Fé. Espirilo de Íé; em que consiste. li, 12. - O que é vi­
ver de íé. li, 13. - Como nos s11lv11 o espirifo de Íé. li, 14. -
Dá verdade aos nossos pensdmentos. 11, 14. - Dá santidade
às nossas 11Íeições. li, 15. - Dá merecimenfo às noss11s 11�ções.
li, 15. - Como o espirito nos lorn11 c11p11zes de salvar II nossos
irmãos. li, 16. -.Poder do espírito de Íé sôbre o coração de
Deus. li, 19. - A Íé dos suplicantes concedia J. c'.�i!ilo os seus
milagres. li, 22. --· Poder do espirilo de Íé sõbre'''o coração
do homem. 11, 23. - Tôdos ns vilôrias dos Sonlos da antigo
Aliança e da Novo, são 11!ribuidas à sua fé. li, 23 seg. - Três
obslóculos 110 espiri{o de lé: 11 irreílexão.. li, 26. - O espírito do
mundo. 11, 27. - As inclinações n11fur11is. li, 29. -· A Íé é repre­
sentada pela eslrêla que 11p11rece 110s Magos. Ili, 64. - Os olhos
do fé são peneirantes. 111, 71. - A Íé que linha S. José. Ili, 448.
- Vanlagens da fé viva. 111, 449.
Fidelidade em cumprir II lei. li, 177 seg. - fidelid11de ã
gr11ç11. - Vêr Graça.
Fim do homem. 1, 33 seg. - fim d11s cri11tur11s. 1, 45 seg.
- Meios dados 110 homem_ para 11l�11nç11r o seu llm: meios n11!u­
r11is. 1, 45 seg. - Meios sobrenaturais. 1, 50 seg. - Meios divi­
nos. 1, 51· seg. - Fim do sacerdote comporado com o llm do ho­
mem. 1, 59 seg. -- O llm do sacerdote não é distinto do llm de
J. Crisfo. Ili, 590. - Os úllimos llns do homem ou os novíssimos ;
muil11s vezes hã descuido em os pregar. ll, 380.
Firmeza n11 Íé e na esperanç11. 111, 98, Q9. - Vêr Cons­
tância.
Francisco de Assis íS.). Resumo d11 sua vide. 111, 742.
- Pr11licoti o renúnci11 evangélica com lôda II pcríeiçiio: t>mor d11
pobrezo. Ili, 743. - foi II personillc11çiio desla virtude. 111, 744.
- Amor do dtsprêzo. Ili. 745. - Amor do so{rimenlo. Ili, 746.
- Achou o cenlo por um nesta dda : 11 11bundqncia 1\11 pobreza.
Ili, 74ó seg. - As delicies no sofrimento. Ili, 74'1• ..:.... E a glória
n11s humilhações. Ili, 748
Francisco de Sales (S.). Fôrça da suo doçurn. Ili, 1 70.
- Obs!iiculos que leve de vencer para olc11nç11r II doçuro, Ili, 171.
-- Seu de:sinlerês�e. Ili, 172. - Con10 se concili11 11 lõrça com 11
doçura. Ili, 172 seg. - Dedicação 11poslôlic11 de S. fr. de Sales.
Ili, 173. - Frutos da sua doçur11: p11r·11 si mesmo. Ili, 176. -
E p11r11 11 lgrej11. Ili. 178. - Honra que a su11 doçur11 foz i, lgrej11.
Ili, 179. - Conversões que operou com II sua doçura. Ili, 179 1
seg. - Aind11 conlinu11 11 sua missão 11poslôlic11. Ili, 180.
Francisco Régls (5.). Resumo d11 su11 vida. Ili, 617 -
Ardor da sua caridnde. Ili, 618. - Seu zêlo da s11lv11çiio d11s al­
m11s: morre exercitando-o. Ili, 619. - Sua p11ciênci11 im·encivel

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
838 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

nos trabalhos e soírimentos. Ili, 620. - Felicitava-se de sofrer ul­


trajes. Ili, 621.
Francisco Xavier (5.). Tolus erat Dei, folus pro�imi, lo­
fus sui. Ili. 121. - Zelo da glorio de Deus, ili, 12). - Amor do
próximo. Ili, 124. - Trobalhos imensos pela s11lvaçiio das almas.
Ili, 124. - Não se - descuido do próprio perfeição. Ili, 125. -
Amor de Deus; revela-se nos suas palavras : Satis est, Domine.
111, 127. - Gozava de Deus nos minislérios e na oração. Ili, 128.
- Dcsinterêsse do seu amor. Ili, 128 - Zêlo da salvação dos
homens- Ili, 129. - Amor dos sofrimentos. Ili, 1 )0. - Humil­
dade profunda. Ili, 131. - Avisos ao P. Barzeu, sõbre II prega­
ção. li, 398.
Glória de Deus: lim do homem. º
1, 34, 35, 40, 41, 42. -
l'im das criaturas. 1, 45 seg. - Fim do sacerdole. 1, 59 seg., 65.
- Primeiro lim do sacerdote. 1, 78 seg. - Primeiro lim do sacri­
fício dos nossos aliares Ili, 503 - Zelo da glória de Deus em
5. Inácio de Loiola. - Vêr Inácio (5.). - Glória de J. Cristo: na
ressurreição. Ili, 307. - Na ascensão. Ili, 388. - Na Íeslo do
55. 5acramen(o. 111, 493 se(/. -- Glória (vii}. Buscar-se a si
mesmo na prêg11ção. Como é repreensível. li, )95 seg. - Como
se deve combater. li, 398. -5. Torãs diz: Tol/e inanem _qloriam
e clero, et sine labore om11ia vilifl resecabis. 111, 554. - Ver Or­
gulho. - Glória eterna. Yêr Céu.
Graça exlerior e inferior. 1, 50, 51. - Convém muilo 11pro­
veitar o momento da graça. 1, 165 seg. - Grande pecado o abuso
das graças. 1, 321. - 5obretudo num padre. 1, 322 seg. - Ne­
cessidade da graça. 1, 323. - Deus costuma castigar o abuso das
graças, ainda nesla vida. 1, 326 seg. - Na ou(ra vida: juízo mais
severo, e remorsos mais cruéis. 1, 328 seg. - O abuso das gra­
ças vem muilas vezes da falta de mortificação e de espírito de sa­
críÍÍcio. li, 32 seg. - Aonde pode levar o abuso das graças. Ili,
79 seg. - Os 5antos ltmem o abuso das graças. Ili, 131. -
Como a graça prernra a conversão de uma alma lransviada. 1, 438.
- E' preciso obedecer à graça, cusle p que custar. Ili, 64 seg. -
Obediência pronla. Ili, 66 seg. - Três ef'ei!os funestos da resislên­
cia à graça na pessoa de Her_odes: perturba-o, cega-o, endurece-o.
Ili, 77 seg. - Graça sanlilicante; como Deus a estima. Ili, 140
seg. - Dã-a a Maria 55., como· o melhor de lodos os dons. Ili,
J 41. - Cuidado de Maria em a conservar e aumenlar. Ili, 142. -
A fidelidade às graças comuns conduz aos favores ex!raordinãrios.
Ili, 414 seg. - As grandes graças preparam para grandes prova­
ções. Ili, 753. - Graças (acção de) depois da comunhão. -- Yêr
Acção de graças.
Gravidade do sacerdote nas suas funções sagradas. li, 184.
- 5obrehdo no aliar. Ili, 5Ó2 seg.
Herodes lo _primeiro). Sua hipocrisia. Ili, 60. - Terror

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE ALFABÉTICO 839
que o invade. Ili, 59, 61. - O 'seu crime. Ili, 78, 79. - Cai no
-laço que armara aos reis Mõgos. li, 78. - A inveja que o alor­
menta, leva-o aos úllimos extremos dõ violêncid. Ili, 79, 80.
Herodes (o segundo). Jesus no palácio de Herodes. li, 51ó.
- Sua curiosidade e orgulho. li, 517. - Silêncio de Cristo n11
presença de Herodes. 11, 518, -Jesus desprezado e ultraj11do pelo
rei e pela côrle. li, 519.
Hipocrisia. Fulminada por J. Crislo sele vezes no mesmo
sermão. Ili, 555.
°
Humildade. J. Cristo modêlo de humildade n11 Incarnação.
li, 1 04. - Cinco degr11us·por onde Jesus desce até 110 úllimo 11b11-
1imento. li, 105. - Jesus modêlo de humildade em tôd11 11 sua
vida. li, 106. - Na sua Paixão. 11, 106, 502 seg. - Excelência
da humildade: em si mesma. li, 108. - �os seus frutos. li, 110
seg. - A humildade dei glória a Deus no lempo e na eternidade.
li, 112. - E' absolutamente necessiiri11 ao homem apostólico: p11r11
promover a glória de Deus. li. 115 seg. - Para tr11bõlh11r u!il­
menle na salvação das 11lmas. li, 1 17 seg. - P11ra se salvar II si
mesmo. li, 119. -· Nobreza e grandeza da humildade. li, 122. -
Tesoiros que encerra. li, 124 seg. - Atrai 11bund11nles bênçãos sô­
bre o ministério s11cerdolal. li, 126. - Jesus prega-nos II humil­
dade: no presépio. Ili, 36 seg. - Na Circuncisão. Ili, 52 scg.
- Alianç11 da humildade com a caridade. Ili, 279 seg. - A humil­
�ade glorilkada pelo mislério da lncatnõçiio. Ili, 461 seg. - Per­
feição da humildade na 55. Virgem. Ili, 463 seg. - Não hií hu­
mildade sem obediência. Ili, 278.
Ignorância da,:i verdades neces�érias à salvação. li, 379 seg.
Igreja. Diferenles imagens ou figuras da Igreja. 1, 66, -
O sacerdote ocupa na Igreja um lugar de honra. 1, 67 seg. - O
que pensa a Igreja àcêrca da santidnde s11cerdotal. 1, 77 seg. -
Lulou !rês séculos p11rn obter o reconhecimenlo do direilo de exis­
tênci11 sôbre n lerrn. li, 349. - Comp11rn-se II um11 vinha; os sn­
cerdotes devem cultivã-111. Ili, 186 seg.
Igrejas. Quanto devemos respeitá-los: Domus Dei. Ili,
ó06. - Ou11nto devemos 11mii-l11s: Porta coeli. Ili, 209. - Zêlo
d11 caso de Deus; seus molivos. Ili, 611. - Qualidades dêsle
zêlo. Ili, 613,
Imitação de J. Cristo, obrig11lóri11 para todo o cristão. li,
63, 68. - Mais obrigatória p11r11 o s11cerdot�. li, 64, - Todos os
tílulos do sacerdo!e dizem um dever de imit11r a J. Cristo. W, 64
seg. - O mesmo lhe pregam tõd11s 11s su11s funções. 11, 65 seg. -
Sem esla imi(11ção niio hã s11lv11çiio. li, 68 - E" um penhor de
predestinação. li, 69. - E' necess11rill para concorrer ellcõzmente
paro II salvação do próximo. li, 70. - Preciosas v11nt11gens desta
imil11ção: lira lôdas 11s nossas incertez11s. li, 72 seg. - Fortifica­
-nos conlra nossos fr11quezas. li, 74. - Adoça tõd11s 11s nossas

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MElllTAÇÕE$ SACl!:IIDOTAIS

penas. 11, 75 seg. - Santifica (ôdas as nossas acções. li, 78 seg.


- Faz-nos viver da vida de Cristo. li, 79, 80. - Aperíeiçoa tõdas
as nossas virtudes. li, 80, - Realiza todos os desígnios de Deus
11 respeito de nós. 11, 81. - E' uma de"illccçiio do homem 11, 81.
- Desprendimenfo· que_ exige a imilaçiio de J. Cristo. li, 85. -
Deixando ludo por seguir II Cris!o, nada perco. li, 86. - E ganho
ludo. li, 87. - Como se chega â imitaçõo de Cristo. Pelo conhe­
cimento do modêlo. li, 90 seg. - Pela comp11raçiio freqüente da
cópi11 com o modêlo. li, 9�1 seg. - A imitação de J. Cristo é de­
ver parlicular do homem apostólico. li, 70,
. lnãclo de Loiola (Santo). Resumo do suo vida. Ili, 667. -
Procura p11ra Deus II glória mois excelente no suo natureza. Ili,
668. - A mois universal na sua extensão. 111, 669. - Busca uni­
camente II glória de Qeus.. Ili, 670. - E II moior glória de Deus.
Ili, 671.
Incarnação. Contemplação deste mistério. li, 97 seg. -
Estado do género humano antes d11 Incarnação. li, 98. - ê.ste
mistério ensina-nos a eslimar e amar II pureza virginal. li, 129 seg.
Ingratidão dos homens para com Deus; em que consisle.
Ili, 574. - E' um grande crime. Ili, 576. - Como é Íunesla 11
quem a tem. Ili, 578. - Ingratidão para com J. Cristo no 55. Sa­
cramento. Ili, 495 seg. - Ver Saqrado Coração.
Injúrias. Vingar as que. �ão conlro Deus; desprezar as
que locam só em nós mesmos. Ili, 250. - Hã" maior grandeza em
sofrer, do que em !ornar ving,mça. Ili, 251.
Incenso. O que signillca na linguagem religiosa. Ili, 72.
Infância. Sua inocência. li, 449. - Perigos que II ro­
deiam. li, 450. - Ellciicia da oração na iníiincia. - Ver Educação.
Inferno. O que é. 1, 416. - lníerno para o corpo. I, 416
seg. - Propriedades sobrenaturais do fogo do iníerno. 1, 418. -
lnícrno pero II alma. 1, .419 seg. - Suplício: da imaginoçõo. 1,
419. - D11 memória, d11 inteli11enci11 e d11 vonlode. 1, 419 seg. -
P11r11 quem é o iníerno. I, 421 seg. - Mêda do iníerno nos maio­
res S11ntos. 1, 421 seg. - R11zões particulares que leem os s11cer­
dc,les p11r11 temerem o iníerno: estão muito expostos o cair nêle. 1.
424 seg. - O inferno dos m�us sacerdotes é mais horrível que o
dos outros condenados. 1, 427 seg. - O m11ior tormento do padre
réprobo é o bem que perdeu. 1, 428 seg. - E perdeu-o por sua
culpa. 1, 429. - Aplicação dos sentidos âs penas do iníerno. 1,
432-seg. - O que ali se vê. 1, 432. - O que ali se ouve. 1,433.
Instrução. Pregar sem inslruir, é iludir o preceito em vez
de o cumprir. li, 380. - Ver Pregação.
Intemperança; seus eíeilos; n11d11 mais opõslo ao llm do
ministério s11cerdot11l. 1, 303 seg. -· Como se deve combater contra
ela. 1, 304 seg.
Intenção boa é a primeira cousa, depois da graça, d11 san-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDlr.E Al,l'ABÉTlr.O

!idade das nossas acções, li, 258 seg. - lns(ante recomendação de


S. Paulo sõbre ês(e pon(o. li, 260. -- Qualidades da boa inlen­
ção: Recfidão. 11, 261. - Dureza. li, 261 seg. - Perseverança. li,
262 seg.
lnterêsse. Espírilo de inferêsse; sua oposição: com a
dignidade do sacerdole. 1, 282 seg. - Com a sua missão. ], 28}
seg. - Com o zêlo da salvação das almas. 1, 285. -- Injúria que
faz a Deus o padre in(eresseiro. 1, 284 seg. - Esta paixão cega;
exemplo de Judas. 1, 288 seg. - Disfarça-se com prelexlos fúleis.
1, 29ú. - Como se pode conhecer. 1, 290. - Endurece o coroçiio,
e forno-o capaz dos moiores crimes. 1, 291 seg. - Conduz à im­
penilência final. 1, 292 seg. - Como nos livraremos desta paixão.
1, 29} -Tormentos da cobiça: Dolor, labor, pavor. li, 161. -
O espírito de inlerêsse peneira às vezes no sanfuârio da Igreja.
Ili, 172
Inveja. Vicio odioso sobreludo no sacerdote. I, 29.5 seg.
- Inveja dos fariseus. 1, 296. - O que diz dela S. João Crisõs­
lomo. 1, 297 - Vício Ião insensato como culpâvel. 1, 297. - Vi­
cio pernicioso. 1, 297 seg. - Vicio muilo comum. 1, 299. - Com
dano da glória de Deus, denegrimos os homens que a procuram,
li, 405. - Inveja dos confessores. ], 298.
Jesus Cristo. Primeiro e único digno .servidor de Deus. 1,
1:',7 seg. - Torna-se visível no sacerdote. 1, 87 seg. - Lava os
pés a seus discípulos. 1, 95; Ili, 504. - Nos Salmos encontramos
a expressão dos sentimentos de J. Cristo. 1, 141. -Yirludes de
que Jesus nos dâ exemplo na 5. Eucaristia. 1, 177 seg. - Jesus
dâ-se lodo na comunhão. 1, 180. - Jesus serâ o defensor dos es­
colhidos no juízo final. 1, 40}, 40.5. - Jesus, nosso Rei. con\'ida­
-nos a segui-lo. li, 50. - Tudo nos obriga a seguir a Cristo. li,
.52. - Direilos que lem sõbre nós. li, .53. - O reino de Crislo na
alma fiel. li, 56. - Ouonto devo desejar que Jesus reine inleira­
menle em mim. li, 58. - Reino amiivel no seu poder. li, 58. -
Reino feliz nas suas leis. li, .59. - Glorioso na dignidade a que
me eleva. li, 59. - Reino cheio de doçura no seu govêrno. li, 60.
- Ouanlo é úlil proceder em união com Jesus Cristo. 11, 78, 79.
- A vida do cristão é uma exlensõo da vida do Salvador. li,
79, 80. - Jesus é o mais digno objecfo de nossos estudos. li,
90 seg. - Jesus é pouco conhecido. li, 91, 92, - Jesus Cristo
no seio de Maria. 111, 26. - Sacrifica-se desde então: ã glória de
seu Dai. 111, 26 seg. -- E ã salvação das almas. Ili, 28. - Na.sci­
melilo de Crislo. Ili, }5. - Seu amor para com os pobres. Ili,
41 seg. - Jesus Menino nos braços de sua Mãe. Ili, .59. -- Jesus
oferece-se 110 templo pelas mãos de Maria. Ili, 95 seg. - Consigo
mesmo oferece o seu corpo místico e parlicularmenle os seus po­
dres. Ili, 96. - Jesus, ocasião de ruír>a para muitos. Ili. 104. -
Objecfo de conlradição. Ili, 1 Oõ. - Jesus perdido .e achodo; con-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
�f&DITAÇÕF.S SACE:IDOTAIS

lempleçiio. 11; 210. O que responde a sua Mãe, quando o en­


contre. li, 212, - Onde devemos buscar II Jesus. li, 213. Je­
sus cm Nazarelh; contemplação, Ali é nosso modêlo de vida inte­
rior. li, 215 seg. - Ver Nuzarelh. - Come o pão com o suor do
seu roslo. li, 217. ·- Progride em idade e sanlidode. li, 248. -
Submissão 11 5. José. e aos seus sacerdotes. Ili, 445. - E' lentado
no deserlo. Ili, 219 seg. - A omnipotência de Crislo à disposição
de um pobre cego. Ili, 211. - Jesus retraia-se a si mesmo na his­
tória do bom samaritano. 111, 569. - Jesus Cris{o no mc-nlc Ta­
bor. Ili, 2.31. - Enlrega-se 110s seus inimigos; conlemplaçiio. li,
491. - O que diz a S. Pedro e aos que o vão prender. li, 492
seg. - Poder da palavra: Ego sum. li, 495. - Humilhação de
Jesus no sepulcro e na eucorislia. Ili, 295, 296. - Jesus glorifica­
do no seu túmulo. Ili, 297. - Perturbação dos inimigos de Cristo
no dia da su11 ressurreição. Ili, 362 seg. - Je5us Crislo pPrlenre
aos cri.slãos e nele leem ludo. Ili, 776 -- Jesus pertence mais aos
s11cerdoles do que aos simples fiéis. Ili, 777. - A fôrça do amor
de Jesus parn connosco, provada pelas humilhações a que se sujei­
tou. Ili, 266 seg. - Grnndes inslõncias que Jesus faz às almas
crisliis, para que se unam a êle pelõ comunhão. Ili, 267. - Terna
compaixão do seu Coração, Ili, 227, - Sua obediência no SS. Sa­
cramento. 111, 297 seg.
Jesus (Devoçiio ao Nome de). Excelência desta devoção.
Ili, 81. - Seus maravilhosos efeilos. Ili, 84, Prática desta de­
voção. Ili, 84 seg. - Pensnmenlo de S. Bernardo sôbre o San­
tíssimo Nome de Jesus. Ili, 85.
João (S.) Evongelisla; carácler que o dislingue: Discipulus
q11em dil,gebat Jesu,s. Ili, 158 seg. - Favor que lhe foi concedido
na última ceia. Ili, 158. - Parle que nele podem ler os bons sa­
cerdotes. Ili. 159. - Recebeu por Mãe a Maria SS. Ili, 160. -
Pureza de S. João E. Ili, 161. - Sua fidelidade; segue a Jesus
alé li Cruz.. Ili, 162,
João Baptiste I S.l. Ver Baplisla (5. João).
José (5.1. O seu patrocínio. Ili, 363. - A sua autoridade
no céu, figurada pelo do antigo José na cárie do rei do Egiplo. Ili,
364. - Uso que S. José quer fazer desta auloridade, sobretudo em
favor dos sacerdotes . Ili, 366, 367. - Amor de S. José paro con­
nosco. Ili, 366. - Seu zêlo da glória de Deus e da salvação das
almds, Ili, 366. - S. Teresa recomenda-nos a invocação de S. José.
Ili, 368, - Diferenles maneiras de o honrar. Ili, 368. - Seus pri­
vilégios: como espôso de Maria. Ili, 441. - Como pai nutrício de
Jesus. Ili, 444. - Sua fé, humildade e esperança. Ili, 448 seg. -
S. José, bemfeifor de Maria. Ili, 443. - Proledor de Jesus. Ili,
446. - Angústias de S. José, quando desapareceu o Menino Jesus.
Ili, 444, - O seu silêncio, fruto da suo humildade. Ili, 450,451.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
------ - -
lNOlr.E Al,FABÉTrr.o
- -----------------�
ffi
Judas, imp�dernido. Ili, 279. - lmpenifen(e. 1, 292 S!!g, -
Ver lr,lerêsse.
Juízo parlicufor. Nele o padre pecador encon(rarií um jui:1
mais severo. I, 396. - Serií submetido o um exame roais rigoroso.
1, 397. - Necessidade de se preparar para o juízo de Deus; pará­
bola do feitor infiel Ili, 556. - Aplicação desfa pariíbola llO sa­
cerdo(e. Ili, 557 seg. - Como se deve fazer estll preparação.
Ili. 559.
· J uizo universal. E' consolador para o bom sacerdofe : Pre­
parativos que o precedem. 1, 401 seg. - Circunstâncias que o
acompanham. Sentença final. 1, 405. ·- O bom sacerdote neste
grande dia será juiz, quando os oulros serão julgados. 1, 403,
404. - O sacerdote réprobo no juízo universal: é cilado a compa­
recer. 1, 407 seg - E' confundido. 1, 410 seg. - E' conde­
nado. 1, 41 3.
Lágrimas de J. Crisfo à vista de Jerusalém. Ili, 271 seg.
-- O que nos ensinam eslas lágrimas. Ili, 272. -- Pedro chora o
seu pecado. 1, 469. - As suas lágrimas leem para êle a efirácia
de um novo baplismo. 1, 470.
Liberdade. J. Cristo sacrifica por nós a sua liberdode. li,
497. - Jesus pede o sacrifício da nosso. li, 500, - O sacerdócio
é uma nobre servidão. li, 500. - Amor desenfreado da liberdade.
li, 233. Ver Obediência.
Luís Gonzaga (5.). Perfeição da sua inocência. 111, 624.
- Recompensa de sua inocêncid. Ili, 625. -- A sua p.enitência.
111, 626.
Madalena (S. Maria) no lúmulo de J. Cristo; com que
amor buscou ao Salvador. 111, 312. -- Com que alegria o achou.
111, 314. - Leva aos apóstolos a novo da ressurreição do Senhor.
Ili, 316.
Magos. A história do5 reis Magos. Ili, 58. - São modêlo
de fidelidade à graça. Ili, 64. - Seguem a luz da graça: com do­
cilidade. 111, 64 seg. - Com pronlidão. 111, 66. - Com grande
conslância. 111, 67. - Os Magos em Belém: o que fazem. 111. 70.
- O que oferecem a Deus Menino. 111, 71. - O que recebem.
Ili, 72.
Maio: O mês d<! Maio do bom pastor de almas: felizes re­
sultados que espera dêle. Ili, 474. - O que foz para os conseguir.
Ili, 476.
Maria. Seu nome e seus louvores. Ili, 468 se�. - Maria
não é nada senão por Jesus e para Jesus. 111, 471. -- A nossa mi­
séria é um direito à sua misericórdia. lil, 472. - Precisamos
da sua inlercessão agora, e sobretudo na hora da morte. Ili, 472
seg. - Maria SS. é a isca celestial para levar as lllm11s a Deus.
Ili, 475. - Maria ama aos bons sacerdotes com um amor de reco­
nhecimento. Ili, 475 seg. - Maria, modêlo do sace�dotc, nà sua

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕRS SACERDOTAIS

Àpresenloçiio. 111, 778 seg. - Em Belém en�ino-nos II medilor os


mislérios de J. Cristo. Ili, 47 seg. - À Virgem SS. no mislério do
Epifania. Ili, .Stl seg. - No mislério do Purificação. Ili, 87 seg. -
Suo obediência â lei. Ili, 93 seg. - Morio oferece seu Filho no
templo. Ili, 9.5 seg - E ensina-nos como devem os Padres ofere­
cê-lo no aliar. Ili, 96 seg. - O que sofre Morio oo ouvir os polo�
vras de Simeão. Ili, 107. - Sacrifício que foz nesle mistério. li,
173. - Sua profundo oílição quando perdeu o Jesus .no volto de
Jerusalém. li, 211. Morio oo pé do Cruz: À suo dõr mede-se
pelo amor que linho o Jesus. Ili, 2.53 seg. Amovo II Jesus, como
o seu Filho. Ili, 2.53. - Como o seu Deus. Ili, 2.54. - Ali lõd11s
11s suas dõres são exlremos. Ili, 2�.5. - Herôic11 submissão ii von­
{11de de Deus. )li, 2.56. - O sl'U amor paro connosco mede-se
pelo grandeza dos seus sofrimenlos. Ili, 2.5.5. - O seu amor 110. s
homens 11umenl11 ainda ao ouvir as últimas palavras de seu filho n11
Cruz. Ili, 2.57.-,- Os socerdoles entregues II Morio SS. no pessoa
de S. João. lll, 2.57 seg. - Devemos ludo a Maria. !, 482. - A
devoção a Maria é poderoso auxiliar do zêlo sacerdotal. Ili, 675.
- Motivos porticulares que leem os sacerdotes para honrar a Má­
rio. Ver Domingos (S.). - Como os sacerdotes podem mover a
SS. Virgem a ouxi.liar os seus trabalhos oposlólicos. Ili, 67ó, 678.
- Devem pregar sobretudo a compaixão que Maria SS. lem dos
pecadores. Ili, .578 seg.
Matias (S.). Suo eleição. Conlemplação. Ili, 430. - A
vocação ii vida apostólico deve vir do Espírilo Sanlo. lll, 432.
Meditação. Sua grande importáncio sobreludo poro os sa­
cerdotes. !, .5 seg. - Sentimentos dos mais sonlos e sábios varões
sõbre êsle ponto. !, 7 seg. - Diversos métodos de Meditação. !,
12 seg. - Tratado do R. P. Roolhaon De ra/ione medilandi. !, 14
seg. - Preporação remota e próximo. 1, 1.5 seg. - Princípio da
meditação; prelúdios. !, 16 seg. - Corpo do medilação. !, 18
seg. - Exercício da memório. I, 18 seg. -- Exercício do enlendi­
menlo. !, 19 seg. - Meio de enriqueeer e aclivar o enlendimento.
!, 19 seg. - Aplicação do vonlade. !, 23 seg. - Resoluções, pro­
pósitos. !, 23 seg. - Conclusão do mediloção. !, 25 seg. - Ver
Oração.
Miguel (5.). Meditação pora o dio da suo festa. Ili, 722.
- Suo humildade e o prémio que mereceu com ela. lll, 722. -
Seu grito de guerra: Ouis ui Deus? como devemos também usá-lo.
Ili, 723. - Devoção dos sacerdotes II S. Miguel. Ili, 726.
Misericórdia de Deus com os pecadores: espera-os com
pociêncio. 1, 444 seg. - Busco-os com ardor. 1, 446. - Jesus
multiplico os p11rãbol11s para no-lo der a conhecer. !, 447 seg -
Deus recebe com olegrio o pecador que volto p11r11 êle. 1, 448 seg.
- Grande misericórdià que o Senhor mostra na obsolvlção s11-
cr11menlol. 1, 450 seg. - A misericórdia· lem o seu tempo; infeliz

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
INDICE ALFABÉTICO 8í5
quem se niio oproveil11 dêle. Ili, 273. - Feliz quem exerce o mise­
ricórdia, sobreludo p11r11 com 11s olmos. li, 280 seg . - A miseri­
córdia só supõe misérias; e quanto maiores forem, m11is devem ex­
cit11r o comiseração. Ili, 679.
Missa. E' o m11is eficaz de lodos os meios de s11ntillcoçiio
dados 110 sacerdo!e. 1, 174 seg. - A miss11 ensin11-o: 11 morrer 110
mundo e II si mesmo. 1, 175 seg. -A viver uma vido verd11deiro­
menle sacerdotal. 1, 177, seg. - E II entregar-se todo à salvação
d11s almas. 1, 178 seg. - Jesus 1111 comunhão dã-se 110 s11cerdote,
com 11s su11s graças, com os seus merecimentos e virtudes. 1, 181
seg. - O socerdo(e tem uma grt1ndissim11 parle nos frutos do sacri­
fício. 1, 184 seg. - Necessidade da prepar11çiio para II Miss11. 111,
499. - Perigo II que se expõe o s11cerdole que descuidn esl11 pre­
paração. 111, 500. - M11neir11 de se preparar para II Missa. III,
501 seg. ··- Imenso poder que o sacerdote exerce no miss11. Ili,
502. - Dignidade d11 pesso11 que ali represenl11. lll, 502 seg. -
lmportãnci11 sublime dos negócios que 11li trota. Ili, 503. - Vêr
Acção de graças.
Missa sacrílega. Só o nome dêste crillle faz estremecer o ho­
mem de fé. 1. 229. - Ouanlos e quiio íeios crimes numa miss11 s11-
crileg11. 1, 229 seg. - Contradições in11udilos se verific11m nesse
11!ent11do. 1, 232 seg. - Severidade dos c11s!igos, nest8 vid8, n8
morte e n11 e!ernid11de. 1, 235 seg. - Prec11uções p11ro evitar tiio
grandes S8cri légios. 1, 237 seg. -- Três 11visos de gr11ndissim11 im­
porlância neste ponto. 1, 239 seg.
Morte. O que é. 1, 357 seg. - O que tem de certo: é ine­
vilãvel e próxim8, despoj11 de lodos os bens d11 lerr11 1 decide d11
sor!e elerna. 1, 358 seg. - O que tem de incerto. 1, 360 seg. -
Morte súbita e repenlin11. 1, 361. - O que se deve pens8r do mêdo
dl! mor!e. 1, 362 seg. - A 11proxim11çiio d11 morte. 1, 364 seg. -
E" muito meritóri11 deonle de Deus 8 aceil8çiio d8 rnorle. 1, 367
seg.; 383, 385 seg. - A mor!e do bom sacerdole; o que II lorn11
feliz: o pass8do. 1, 371 seg. - O presenle. 1, 372 seg. - O fu­
turo. 1, 374 se�. - Morle do padre tíbio: separ8ções dolorosas.
1, 377. '- Recor�lações 8m11rg11s. 1, 378 seg. - Previsões 11terr11do­
f8S. 1, 379 seg. - Como nos devemos prep11r11r paro a morle: fa­
zer 8gor11 o que !lllvez se niio poss8 l8zer então. 1, 382 s�g. -
Faur o que se farã necessâriomenle à hor11 do morle. 1, 385 seg.
- Fazer agora o que enliio quereríamos ler feilo. 1, 387 seg. - A
lembrança habilual d11 morle prepara-nos p11r11 bem morrer. 1, 389
seg. - Ouem penso dever11s n8 morle: niio pec11. 1, 389 seg. -
Não perm11nece no pec11do. 1, 391 seg. - Desprende�se de todos
os bens C8ducos. 1, 392. - Morre cheio de con6onç8. 1, 39). -
E' doce morrer por11 um p11dre que foi zeloso. 11, 28-1. - A opro­
ximoçiio do morle favorece II ocçiio do zêlo sacerdot11l. 11, 465. -
Diferença entre o vid8 do pec8dor e o do justo. 111, 292 seg. - O

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
S'i.G MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

pecado mata II alma: analogias entre um cadáver e uma alma em


pecado mortol. Ili, 601
Mortificação. J. Cristo no aliar é o períeilo modêlo da
mor!illCllção. 1, 175 seg. - E' grande remédio conlra fl libieza. 1,
35J. - Jesus dã-nos lição e exemplo de morlificaçiio em lodos os
seus mistérios. 11, 167. - Idéia que devemos fazer da mortificação
exterior. li, 168. - Ouem eslã obrigado à morlificaçi\o exlerior.
11, 169.
Multiplicação dos pães. Contemplação. Ili, 242. - Zêlo
iníatigãvel de J. Cristo. Ili, 242 sei,i. - Êsle milagre prepara os
espíritos para II inslifu"içiio da eucaristia. Ili, 245
Natal. Desígnio de J. Cristo: nascendo sôbre a ferra. Ili,
10. - Nascendo em nós pelo graça. 111, 11. - O que faz II Igreja
para nos preparar paro esfo solenidade. 111, 12. - No véspera do
Natal; viagem II Belém. III, 31. - No dia de Natal; contempla-
ção. Ili, 35.
Natividade da SS. Virgem. Esla íesla recorda ao sa­
cerdote o beneÍicio de sua vocação. 111, 712. - Vocação de Maria
e do sacerdote, motivo de alegria para o céu e paro 11 (erra. Ili,
713. - Maravilhosas relt1ções que .o sacerdócio eslobelece entre o
ministro de Crislo e suo Mãe. Ili, 713. - Santidade de Maria,
modêlo da snnlidnde sacerdotal. III, 714. - Protecção de Maria,
fôrça do sacerdole. Ili, 714.
Natividade de S. João Baptlsta. Sua missão, graçns
que recebe, ludo nêle é paro J. Cristo. 111, 629 seg. -- O mesmo
se d6 no sncerdole. Ili, 630. - S. J. Baptista, modêlo dos homens
apostólicos. m. 632 seg. - Sua vida no deserto e sua pregação.
Ili, 631. - Humildade e sanla independência. 111, 633 seg.
Nazareth. Paz que reina nn Sagrnda famílin. li, 216. -
Ali se aprende II nrle de tratnr com Deus e com os homens. li, 217.
- Yêr Vida ocufla.
Obediência. Amor de J, Cristo a esta virtude, mostrado:
em palavras. li, 226. - Em exemplos; obedece sempre e a todos.
li, 227. - Três motivos parliculares para os sacerdotes imilarem 11
obediência de J. Crislo: o zêlo da glória de Deus. li, 23 I. - O
amor da Igreja. 11, 232. - O compromisso que (ornaram na su11
ordenação. li, 233. -- Frutos desta ohf'diência para os mesmos
sacerdoles: paz da alma. li, 2)6 - Progresso na s11nlid11de. li,
237 seg - Bênçãos do céu p11r11 os lrabalhos do seu zêlo. li, 239
seg. - A obediência do bom sacerdote de"e ser religios11 e filial no
motivo. 11, 242. - Pronta e simples na execuçiio, li, 244 - Uni­
versal no objedo. 11, 245.
Ociosidade. Seus íunesfos eíeifos no sacerdofe, com rela­
ção II si mesmo e ao próximo. 1, 307 seg. - Yêr Tempo.
Ofício Divino. Yêr Breviário.
Oliveiras. J. Cristo no jardim das Oliveiras. Devemos

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE ALFAllÉTJCO 847

cornperlilhar d11s su8s pen8s inleriores. li, 485. - Nós fomos 8


cousa del8s. li, 486 seg. - Do monte d11s Oliveiras subiu J.
Cristo 80 céu. li, 565 seg.
Operários envi8dos à vinh8, Parábol8. Ili, 184. - Quando
e como será recompens8do o seu lr8balho. Ili, 188.
Oração. Como o recolhimento II facilit8. 1, 1 15 sei;i. - E'
in�ispensável 80 homem 8poslólico. 1, 132 seg - El8 é a grande
11rrnaduro do cristão e do s8cerdote. 1, 148. - O que se deve pen­
ser das securas n11 or8ção. 1, 152 - O orgulho é grande obstá­
culo ã oração. 1, 272 seg. -- O s8cerdole, homem de oração. I,
343. - A or11ç1io, remédio conlra II tibieza. 1, 352. - Três modos
de or11r. 1, 485. - Grande importiincia da oreção públice. 1. 144
seg. - A or8çiio animad8 de fé viva é omnipotente junto de Deus.
li, 19 seg. - Tôdas es qu11lid11des encerradas no espírilo de fé.
li, 21. - Ür8çiio de J. Cristo no jardim das Oliveir8s. li, 488
seg - A oração é 8 alma d8 Religião. 111, 379 - E' o gr8nde
meio de S8lvaçiio d8do 80 homem: excelente reflexão de 5. Afonso
de Ligório. Ili. 380. -- Vêr Medi/ação.
Orgulho (soberb8 ). Princípio de lodo o pec8do. 1, 270 seg.
- Porque é que Deus lhe tem m11is ódio que 80S outros vícios. 1,
270 seg. - Coisa muito odiosa num s8cerdole. 1, 271. - Razões
p8rliculares que nos levam II odiar êsle vicio: Privação de muitas
graças. 1, 272. - Méritos perdidos; ruína de lôdas as virtudes;
cestigos e desgraças. 1, 273 seg. - Os sacerdotes estão muito ex­
postos ao orgulho e soberba, e porquê. 1, 276 seg. - O que faz
J. Cristo para preservar dêsle vício 8os 8póslolos. 1, 278. - Como
devemos comboler o orgulho. 1. 278 seg - Corãcler porlicul8r do
orgulho. Ili, 502. - Gosl8 de se m8nifeslar e brilhar; mui las vezes
também se disfarço e esconde. Ili, 564. --: lnconseqüênci8 e loucurn
do orgulho. Ili, 565. - Orgulho de Lúcifer. Ili, 722. - Como o
orgulho prepara II queda e ô ruína, 80 revés da humildade. Ili. 724.
Ornamentos sacerdotais; sua .�igniflcação. Ili, 586 seg. -
Conlrnsle Jesta signiflc8ção com o uso que dêles faz o s8cerdole
sacrílego. 1, 233 seg.
Pais. J. Cristo deixo os seus Pais aos doze anos. li, 204.
- O desapêgo dos p8is é necessário 80 homem 8p::islólico. li,
204 seg.
Paixão de J. Cristo. Como se deve medil8r. li, 474 seg.
Paixões. Tôd8s se devem temer, porque lôd8s lev8m 80
pecado, ou engon8ndo, ou lisonjeando ou !ironizando. 1, 264 seg.
- As mais temíveis são as que se disÍ8fÇ<lm. 1, 266 seg. - As
p8ixões comparodos à febre. 1, 268.
Palavra de Deus; semente que Jesus, por meio dos seus
minislros, l8nÇ8 no alm8 dos homens. Ili, 193. - O seu poder :
disposições necessári8s 80S que ouvem e aos que anunciam 8 pal8-
vra de Deus. Ili, 194 seg. - Vêr Pregação.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
8\8 MEDITAÇÕES SACERDOTAIS

Páscoa. Conlemploçiio poro o di11 de Páscoa. Ili, 301.


Pastor. O bom poslor de olm11S; relr11!0 que dêle foz Jesus
Crislo. Ili, 351. - O bom pnslor conhece os suos ovelhns e delas
é conhecido. Ili, 352 seg. - Ouol o s11cerdo!e que mais perfeita­
mente realizará este idéia do bom paslor. 111, 354.
Pastores no presépio de Belém. Ili. 41. - Siio II imagem
dos paslores do Igreja. Ili, 43. - Aparece-lhes um anjo. Ili, 41.
- Viio a Belém; sua docilidade e prudê:,cia. 111, 43. - Suas dis­
posições pare receber as comunicações celeslcs. Ili, 44. - frutos
que !iram deles. Ili, 4.5.
Paulo (5 ). Sua conversão. 111, 164. - Seu carãcler anles
de con�ertido. Ili, 165. _. lmpressiio que nêle cousa a pal11vr11 do
Salvador: Ego sum Jesus. Ili. 166 seg. - Misericórdia de Deus
na conversiio de S. Paulo. Ili, 168. - S. Paulo é pred�slinado
para grandes solrimentos. 11, 480. -- A sua doçura. li, 333 seg.
Paz da alma, perturbada pelo pecado venial. 1, 337. - Paz
da alma, prometida ã humildade. li, 111. - E' fruto da obediência.
li, 236 - Tr11zid11 aos homens pelo nnscimento de J. Cristo. Ili,
48. - O bom sacerdote é ministro da paz ; êle II pede para a
Igreja. Ili, 340. - Êle a fomenta no próximo. Ili, 342. - Conser­
va-o e aperfeiçoa-o em si mesmo. Ili, 343. - Niio hã poz com
Deus stniio pela inocência e justiça. Ili, 346. - Não hã poz com
o próximo seniio pela caridade. Ili, 347. - Niio hã paz consigo
seniio pelo combale contra si mesmo. Ili, 349.
Pecado castigado nos anjos rebeldes. 1, 188 seg. - O pe­
cado do sacerdote comparado com o dos 11njos. 1, 189 seg. - Pe­
cado de Adiio punido nêle e na sua posteridade. 1, 190 seg. -
Pecado punido em um condenado qualquer. 1, 192 seg. - O pe­
cado faz II Deus o mais injurioso ullraje. 1, 195 seg. - E' uma re­
volto contra a autoridade mais sagrada. 1, 196. - E' um desprêzo
da majestade mais augusta. 1, 197.- E' uma ingrotidiio para com 'o
mais generoso Bemfeitor, 1, 198. - F�z II Deus a injúria que mais
sente 1, 199.
Pecado mortal em um sacerdole: malíci11 mais indesculpá­
vel. 1, 2'.ll seg. - Ingratidão mais odiosa. l, 202 seg. - Perfídia
mois repugnanle. l, 203 seg. - Arrependimento do s11cerdole pe­
cador. 1, 204 seg. - Efeitos do pec11do mortal num s11cerdo!e;
quonto perdeu pecando. l, 207, - Em que abismo coíu. 1, 208
seg. - Gronde degradação. 1, 209. - Outros efeitos do pecado
grave em um padre: esterilidade para o bem. 1, 213, - fecundi­
dade para o mal. 1, 214 seg. -' O pecado de um padre é funeslo
o lodos. 1, 215. - Confiança em Deus, ainda depois dos maiores
pecodos. 1, 464. - Pecados próprios e pessoais. 1, 253 seg. -
Audãcia do pecador, desprezondo tõdos as perfeições de Deus. 1,
255 seg. - Üposiçiio do pecodo çom o fim do sacerdócio. 1 ,- 256.
- Motivos de contriçiio: contar, pesar, medir. 1, 258. - Molí-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE ALFABÉTICO 84-!l

eia do pecado. 1, 195 seg.; 201 seg.; 255, - Pecado de omis­


são. 1, 310 �eg.; 348 seg. -· O pecado !ornado imperdoável pela
sentença de reprovação, perdoado pela senlenç11 dt1 absolvição.
1. 451. - O melhor mt>io de comb11ler conlr11 o pec11do é o pensa­
mento d11 morle. li, 382.seg.
Pecado venial. Su11 n11!ureza. 1, 331 seg. - O que pen­
sam alguns S11nlos do pec11do veniBI. 1, 333 seg. - Efeilos do pe­
rndo venial. 1, 335 seg. ·- Conduz 110 pecndo mor!al, como a
doença à morte. 1, 337 seg. - Castigo do pec11do veni11I nesla P.
na oulr11 vida. 1, 338 seg. - Multidão de pecados veniais. 1,
339 seg.
Pecador. Ninguém eslã lãa perlo do abismo, que iliio possa
volfar a Deus e s11lv11r-se. Ili, 273. - Condenodo 110 inferno pela
senlença d11 justiça divina, e livre do inferno pelB senlença da mise­
ricórdiB. 1, 45?.. - Despojado de lodo o bem pel11 primeira sen­
lenç11. resliluído II lodos os seus bens pela segunda. 1, 453.
Pedro (5.) Causas do seu pecado: 11 presunção. 1, 241.
,- A faha de oração. I, 242. - A imprudência, metendo-se nas
ocasiões. 1, 244. - S. Pedro cai pouco a pouco, como por �e­
graus. l, 249, 250. - As ciri:Unsfiincias do pecado de S. Pedro
dão-se ordinãriamenle nn queda dos SBcerdoles. 1, 248 seg. -
Fraca fenlaçiio que derrubou a 5. Pedro. 1, 248, 249. - Gravi­
dade do pecado de S. Pedro. 1, :.!49. - Esciindalo da queda de
S. Pedro. 1, 251. - Conversão de S. Pedro. ·1, 463 seg. - De­
sígnio particular de J, Crislo neslo conversão. 1, 464. - S. Pe­
dro: chora o seu pecado. 1, 468 seg. - Deixa o seu pecado. 1,
470. - Repara o seu pecado. 1, 471 seg. - Confusão de S. Pe­
dro. quando Jesus lhe quer lovar os pés. Ili, 277 seg. - S. Pedro
preside i, eleição de S. M11fi11s. Ili, 432.
Penitência (st1cramenfo). o, bom socerdole recebe-o com
freqüência. li, 456. - Repugnâncias em se aproximar dêsle sacra­
menlo; donde veem, e aonde podem levar. li, 457. - Preciosos
deifos do sacramenlo da confissão. li. 457 seg. - O bom padre
usa bem dêle. li, 458. - Como se prepara pBra o receber. li,
459. - Defeitos que deve evilar o padre que se confessa freqüenle­
menle. li, 460 seg. - Yêr Confissão.
Penitência ( virtude). Dignos frulos de penilência. Pará­
bola da figueira esléri) •.. li, 478 seg. - S. João Baplisla moslra a
nec'essidade da penitência, declara as suas qualidades, e combale
as suas delongas. Ili, 20 seg.
Pensamentos. O bom pensamento conlém em germe lodos
os bens que Deus nos quer conceder no tempo e na elernidade. Ili,
191 seg.. - 1->elo bom pensamento Deus revela-se ao nosso espírito
e ao nosso cornçiio, Ili, 199 seg. - E' o primeiro molar de lõdas
as nossas ·acções merilórias, a raiz de lõdas as nossas virtudes, o
princípio de lõda a nossa santidade. Ili, 193. - E' preciso comba-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
830 MEDITAÇÕES �ACEltOOTA IS

ler niio só os maus pensamentos mas também os inúteis. ), 93;


li, 40.
Pentecostes. O bom sacerdote prepara-se para esl11 grande
solenidade. Ili, 394. - Contemplação .do mistério de Pentecostes.
Ili, 408.
Perseguidores. O bom padre sempre os hã de ler. Ili,
248. - Enconlr11-os entre aqueles " quem tinh!! por amigos. Ili,
249. - Como o bom padre se deve portar com os seus persegui­
dores. Ili, 250.
Pobres. O bom s11cerdote nm11-os e socorre-os. 11,, 201
seg.; Ili, 42. - Jesus moslr11 o seu amor aos pobres no mistério
do seu nnscimenlo. Ili, 42.
Pobreza de J. Cristo: no seu nascimento. li, 150 seg. -
Em lõd11 11 su11 vida. li, 150. - Como esta pobreza concorre para
nos salvar. li, 152. - Desde II sun entrod11 no estado eclesiãslico,
o s11cerdole proless11 póbrezo. li, 155. - Em que circunslãncins
faz est11 profissão. li, 157. - Precauções que a Igreja tomo p11r11
que o socerdole não esqueço nunca estn profissão. li, 158 seg. -
Espírito de pobrez11, rico lesoiro do sacerdo(e: paro si mesmo. li,
161.- Por11 o seu minislério. li, 164 seg.
Potestades temporois. Os sncerdoles devem ensinar aos
fiéis BS SU!IS obrig11ções põr!I com elas. Ili, 595 - R_espeito â SUB
dignidade. Ili, 596. - Submissão ã sua autoridade. Ili, 597. -
Os sacerdotes devem dar o exemplo dêste respeilo e submissiio.
Ili, 599.
Pregação. Ministério todo divino em seu princípio. li, 366.
- Exercemo-lo em nome de Deus. 11, 367. - D�us exerce-o por
meio de nós e em nós. li, 367. - E' ministério: lodo divino no
seu fim. li, 368 seg. - Todo-poderoso na sua ellcãcin. li, 370. -
Obrigaçiio de prêg11r: é II pril)cipal do p11stor de almas. li, 373. -
Obrigação: de direilo divino: li, 373 seg. - De direito eclesiãs­
lico. li, 375. - De direito nalurol. li, 376. - Exlensão dest11
obrigação, li, 377. - Condições a que deve satisfazer II boa prê­
g11çiio. J. Cristo determina-lhe II m11lérit1. li, 379. -· Jesus, e Je­
sus crucificado é o primeiro objecto do pregação. li, 381. - Cristo
mostra o mcdêlo do boa prêgaçiio. li, 381 seg. - E' preciso pre­
parar-se p11r11 n prêgação. li, 390. - Err. que consisle esl11 prepa­
ração. li, 392. - As duas pescas mil11gros11s são i;1111gens da pre­
gação. li, 403. - O que 11ssegur11 o bom sucesso da pesca 11pos­
lólic11 li, 405.
Pregador. Eloqüência d11 vida boa e snntn. li, 309 seg.
- O pregador deve ser homem de oração. 11, 383 seg. Os Dou­
tores da Igreja insislem sõbre êste ponlo. li, 384. - Esla verdade
prova�se : pel11 prática de todos os verdadeiros prêgodores. li, 385.
- Pel11 razão. li, 387. - O prêg11dor deve temer os aplausos. li,

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Í!'IIDCE ALFABÉTICO

395 seg. - Muitos prêgadores no tribunal de Deus, hiio de reco­


nhecer que lrabalharam em viio. li, 403.
Pródigo I filho). A sua volla; prudência das s1111s reílexões.
li, 437. - Sua coragem na resoluçiio que toma e executa. 11, 439.
- Sua íelicidade no acolhimento que recebe. li, 441.
Progresso do sacerdole na s11nlid11de. li, 248. - De,•e ser
conlínup. 11, 249.- Deve manifeslar-se. li, 250.
Providência, modêlo de enlrega nns mãos do Providêncio
di•,ina. 11, 187 seg.; 610 seg. - Confiar-lhe o cuidodo do nossa
saúde.. Ili, 226. - Niio esquodrinhar a proíundidade de seus desí­
gnios. Ili, 278. - O bom sacerdole reconhece em ludo a Provi­
dência. li, 194. - Submete-se em ludo ã Providência. li, 195. -
Submele-se com muita confianço. 11, 196. - Faz que outros hon­
rem II Providência. 11, 199. - Moslra-se digno ínstrumenlo d11 di­
vina Providência. li, 200.
Prudência. E' qu11lidade essenciel do zêlo s11cerdol11l.
E' suave, sem fraqueza. li, 337. - E' exacla, sem excessos. 11,
3)8 seg. - E' firme, sem teimosia. li, 340. - A verdodeira prudên­
cia é II visla do coraçiio. li, 345. - Prudêncio de J. Cristo na
conversiio do Samaritana. li, 362 seg.
Pureza. Verdodeira idéia da períeila pureza. 1, 93. - Pu­
reza do esp_írilo e do coração. 1, '93 seg. -- A pureza deve ser
grande em um sacerdote, e porquê. 1, 95 seg. - Meio de a alc11n­
c;11r. 1, 94. - Grande insistência da !grejo e d11 Sagrada Escritura
sôbre êsle ponto. 1, 95 seg. - Privilégio concedido ã purez11. 1, 96.
- Pureza que exige a cdebração dos divinos mistérios. li, 140. -
Pureza virginal. Come J. Cristo a estima.li, J 29 seg. - Motivos
que nos levam a eslimií-la. li, 133 seg. - Côro _de louvores dados
pelos Santos Padres ã pureza virginal. 11, 135. - Pureza de inten­
ção. li, 251\ seg.
·
Purgatório. A devoção às almas do purgalório é praticada
e propagada pelos bons sacerdoles. Ili, 763. - As santos olmos
do purgatório merecem que lenhamos delas compaixão. Ili, 763. -
Por cousa dos tormentos que sofrem. Ili, 764.- Por caus11 da
impossibilid11de em que estão de buscar alivio algum. Ili, 766. -
Nós podemos fãcilmenle aliviií-las e livrã--las. Ili, 767. - O meio
mais eficaz para isso é a santa missa. Ili, 767. -·- A piedade para
com os fiéis defunlos é muito agradável a Deus. Ili, 769. - Gran­
des vonlagens para_ os que leem esta devoção: virtudes que nelo
exercifom. Ili, 771, - Graças que lhes alroi. Ili, 772. - Salul11res
reflexões que lhes inspiro. Ili, 773 seg.
Purificação de Maria. Belo exemplo que dó do suo obe­
diênci11 à lei. Ili, 94.-- Vêr Maria e Apresentação de J. Cristo.
Quaresma. Espírito com que se devem passor os três sema­
nas que servem de preparação paro a quaresma. Ili, 183. - Pro­
ceder do bom sacerdole nos dias de desordem que precedem II en-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACERflOTAIS

Irada da quaresmll: converte-os em dias de rec�lhimenlo, penitên­


cia e oração. Ili, 198. - E em dias de zêlo e de trabalho pela gló­
ria de Deus e da Mlvaçiio das almas. Ili, 200. - Consolações
que Jesus espera de seus ministros, nesses dias de alegria mundana
e de tristeza para a Igreja. Ili, 201 . - Obrigações particulares d os
pastores de almlls na quaresma. Ili, 213. - fim que a Igreja leve
em vist11 na inslitu·ição da quaresma. Ili, 213 seg. - A q1111resma
é o tempo dos grandes trabalhos do pastor de 11lmas. Ili, 214. -
E' o tempo da pregação em (õdas as suas formas. Ili, 215 seg. -
Motivos de passar religiosamenle o santo lempo da quaresma. Ili,
216. - Prática para o último dia da quaresma. Ili, 217.
Quinta-feira santa. lnslilu"ição da eucarislia e do sacer­
dócio. Ili, 281 seg. - Amor de J. Cristo para com os homens na
instifu"ição dêsles dois mislérios. Ili, 282. - Amor de J. Cristo
aos sacerdo(es na inslilu"ição elos mislérios dêsle dia. Ili, 285.
Ramos (domingo dei. Entrada de J. Cristo em Jerusalém.
Ili, 2.59 seg. - Imagem de sua enlroda nas almas pela comunhão.
111, 263.
Reconhecimento para com Deus. 1, 42. - Dc:-us enterne­
ce-se com o reconhecimenlo e gralidão do homem. Ili, 506.
Recolhimento. Meio geral de sanlificação. 1, 109 seg. -
Aproxima-nos de Deus, se andávamos aÍllslados dêle. 1, 109 seg.
- Livra-nos de muitas tentações. 1, 11O. - Preserva-nos do pe­
cado. 1, 112. - Feliz eslado o do sacerdole que vive com recolhi­
mento ele espírilo. 1, 115 seg. - Graças que lhe alrai. 1, 115. -
Boas obras que lhe faz pralicar. 1, 116. - Desprende-o das cria­
turas para o unir a Deus. 1, 117. - Dã-lhe uma felicidade que tem
muila semelhança, com a do c.éu. I, 117 seg. - Trisle estado o do
padre sem recolhimenlo: vida inúlil, cheia de sofrimenlos e perigos.
1, 121 seg. - O padre dissipado eslã exposlo a perder-se. I, 125.
Reflexão. Como nos cura da tibieza. 1, 354. - A reflexão
começo a conversão do pecador. 1, 436 seg. - E fecunda o· fé.
li, 27.
Religião /virtude). 5. Caelano dã-nos um perfeito modêlo
d11 virtude da religião. 111, 688. - Necessidade desta virtude para
o sacerdote que oferece o sacrifício dn miss11. 111, 497. - Vêr
Igrejas; Zê/o da casa de Deus; Cerimónias.
Renovação das promessas sacerdotais. Ili, 775 seg. -"-- Jesus
deu-se ao sacerdote pllra ser a parle da su11 herançÍI. Ili, 776 seg.
- O bom sacerdote renova a. en!regn de si mesmo a J. Cristo.
Ili, 779.
Reputação. J. •Cristo sacrifica a sua por nós. li, 502 seg.
- Oual é a rerutaçiio que Jesus sacrifica. li, .503 seg. - Razões
que parecia ter pllrll a conservar_ li, 504. - Oual é a exlensão do
sacrifício que Jesus foz por nós neste ponto. li, 505 seg. - Com
que tranqüilidade de alma Jesus faz por nós êsle sllcriÍício. li, 506.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICE ,ILFARÉTICO

- Grande reputaçiio, grande pêso, e muifa_s vezes grande perigo.


li, 507.
Ressurreição de J. Cristo. feliz mudança que lhe traz.
li, 553. - l'eliz muda'nça que nos premeie. li, 554. - Com que
condições se nos promete esta felicidade. li, 555. - À vida de
Jesus res�uscilado: ensina-nos a unir II acçiio e II confemplaçiio.
11, 557 seg. -· Ensina-nos a distingui,· e II receber as suas comuni­
cações íntimas li, 559 seg. - Em que disposições nos quer achar
Jesus p11r11 se nos manifestar. 11, 560. - fim que tem em vista nas
aparições a seus discípulos. 11, 561. - Contemplaçiio do mislério
da ressurreição. Ili, 301. ·- As santas mulheres visilam o sepulcro
do Senhor. Ili, 302. - Glória de J. Cristo nesle mistério: glória
de sua 11lma. Ili, 307. --· Glória de seu corpo. Ili, 308. - Glória
-de sua divindade. Ili, 310.
Ressurreição dos mortos. O bom sacerdote espera-a
com confiança. 111, 329. - A ressurreiçiin de J. Cristo é o princí­
pio da nossa. Ili, 329. 332. - O bom sacerdote esforça-se em
cumprir as condições II que anda inerente a ressurreição gloriosa.
Ili, 332 seg. - Dogma da ressurreiçiio. Grande empenho de Deus
em o revelar. Ili, 335 seg. - frulos de salvaçiio que; deve produzir
a crenç11 nesta ressurreiçiio. Ili. 337. - Ressurreiçiio boa, e má.
1,402, 407.
Ressurreição da alma pela graça santific11nfe. lll, 603 -
Como o sacerdote se torn11 digno de ser instrumento desla ressur­
re1çao 111, 604.
Retiro. Amor ao refiro. Exemplo de Cristo e dos maiores
Santos. li, 289 se11, -- Tode o bom sacerdote compreende a ne­
cessid11de e II utilidade dos reliros espirituais. li, 290 seg. -­
Apêndice sôbre os reliros eclesiãslicos. Ili, 790. - r.sfes retiros
11presenl11m-se sob !rês formHs, Ili, 791. - O recolhimento é a
alma dos retiros espirifu11is. Ili, 790, 792. - O que impede o fruto
dos reliros gerais. Ili, 792. - lmporlãncio da escolha das matérias
que se devem meditar nestes reliros. Ili. 794. - Escolha de maté­
rias p1ir11 retiros de seis dias.• 111, 797. - Prãlic11 ou método para o
refiro mensal. li, 625 seg. - Porque é que 11s verdades da fé, me­
di111d11s num retiro, produzem mais efeito. 1, 8, 9.
Rosário. Inspirado pela 55. Virgem 11 5. Domingos para a
conversiio dos Albigenses. Vêr Domingos
Sábado Santo. Sepultura de Jesus Cristo : Último lêrmo
de suas humilhações. Ili, 295. - Princípio de su11 glória. Ili, 296.
- Escola de perfeiçiio. Ili, 297.
Sabedoria. Loucura da sabedoria mund11n11. Ili, 78. - Em
que consiste a verdadeir11 sabedori11. Ili, 79.
Sacerdócio. O seu fim. 1, 6, 65 seg. - A dignidade do
sacerdócio, considerodo na sua missiio, com relaçiio a Deus, à
Igreja e aos homens. 1, 64 seg. - Considerado nos seus poderes.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES SACE!lJ)OTAIS

Até onde se eslendem êsles. 1, 70. - Alé onde elevam o sacer­


dote. 1, 71 seg. - ldenlidade de poder e operação que o sacerdó­
cio eslabelece enlre Deus e o seu minislro. 11 73 seg. - Dignidade
do sacerdote considerado nas suas funções. 1, 87 seg. - Respon­
sabilidade inerenle 110 sacerdócio. 1, 397 seg.
Sacerdote. Felicidade inerenle à sua vocação. 1, 61. -
Extensão das suas obrigações. 1, 62. - O socerdole, homem de
Deus. 1, 65, 89. - O sacerdole é Deus visível. 1, 87. - A missão
do sacerdote é uma eKlensiio da missão de J. Cristo. 1, 67 seg. -­
Tem obrigaçiio de ser sanlo: em virlude desta missão. 1, 76 seg. -
Em virlude do sua sagraçiio. 1, 81 seg. -- Em virtude das suas fun­
ções. 1, 86 seg. - O shcerdole é mediador. 1, 87 seg., 139 seg.
- O sacerdole é poslor de almas. 1, 90. - Como deve lrobalhar
na sua sanlificação. 1, 98 seg, - E' um negócio: seu, pessoal. J,.
99. - Difícil e necessário. 1, 100 seg. - Urgenle e inadiável. 1.
101 seg. - O bom sacerdole usa de lodos os meios que se lhe ofe­
recem para se santificar. 1, 105 seg. - Enconlra êsses meios: nos
seus es[udos. 1, 104. - Nos seus ministérios. 1, 105. - Nos lra­
balhos e aílições. 1, 105 scg. - Aplica a si as verdades que prega.
1, 107. - O sacerdole sanlificado no aliar: pelo sacramento que
recebe. 1, 181 seg. - Pelo s11crifício que oferece. 1, 184 seg. -
Todo o sacerdote é um precursor de Jesus Crislo. 111, 14 seg. -
Padres que dizem, mas não fazem. Ili, 61, 554. - O sacerdo!e
amigo de Jesus e filho de Maria 55. 11, 160 seg - O bom s�cer­
dole é sensível aos ullrajes que recebe J. Cri�to. Ili, 200. - O sa­
cerdote é: o bemfeilor de Maria. 111, 443. - O proleclor de Jesus.
Ili, 446. - Exerce sôbre Deus II autoridade mais exlraordinária. 111,
445. - Deus espero do sacerdo!e uma justiça abundanle. Ili, 551 seg.
- O sacerdote, sa/ da terra, luz do mundo e cidade sôbre o monle.
Ili, 552 seg. - O sacerdole, vigário e representanle de J. Cristo.
Ili, 553. - Como os sacerdotes podem merecer as repreensões fei­
tas aos escribas e fariseus. 111, 554 seg.
Sacramento (55. 1. Sua fesla; porque a insliluíu a Igreja.
Ili, 493. - Amor de Cristo paro com os homens nesle mislério. Ili,
494. - Humilhações de Crislo no eucaristia, repar,adas na festa do
55. Sacramento. 111, 494 seg. - Esla lesta é, da parle da Igreja,
uma penilência pública. 111, 495. - O que faz o bom sacerdote
para se compenetrar do espírilo desl11 solenid11de. Ili, 497.
Sacrifício I espírilo de). Sua necessidade no sacerdole: li,
31. - P11ra aproveitar as graças que receb�. 11, 32 seg. - Para
se corrigir dos seus defeitos. li, 33. - Para adquirir os virludes
sólidas. li, 34. - Para cumprir bem as obrigaçõe� sacerdotais. 11,
35 seg. - O uso sanlo da eucarislia inspira espírito de sacrifício.
1, 175 seg. - Exlensão do espírilo de sacrifício: imol11r-se sempre.
li, 38 seg. - Imolar-se em ludo. 11, 40 seg. - Onde se bebe o
e.spirilo de sacrifício. li, 43 seg. - Exemplo de espírito de sacri-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICB AI.FABÉT:1'.0 8:'í5
fício, que nos d5o J. Cris(o e os Santos. li, 46 seg. - Exemplo
que nos dã Maria SS. apresenl11ndo - 11 Jesus no templo. 11,
173 seg.
Sacrifício da missa. Vêr Missa.
Sagrado Coração de Jesus. Vêr Coração (Sagrado).
Salmos. Parãfrase: do Miserere. 1, 210 seg. - De 11lguns
versículos do Salmo 49: Guare tu enarras. 11, 411 seg. - lm­
pres�iio que Íllzi11m os S11lmos em S. Agoslinho. 1, 152.
Samaritano (o bom 1. Modêlo de coridade fraterna. Ili,
569. - Em que o devem imi(ar principolmente os sacerdotes. Ili, 571.
Santiago (Moior). Resumo da sua vid11. Ili, 660. - OuB­
lidades que linh11 para o minis(ério apostólico. Ili, 661 seg. - A
voc11çiio é ludo ou quãsi ludo no minis(ério 11postólico. Ili, 661. -
Fidelidade de Santi11go M11ior à sua voc11çiio. Ili, 661 seg. - A
sua virlude mais p11rlicul11r foi um 11mor vivo e i;ieneroso à pesso11
ele J. Crislo. Ili, 663. - Como exerceu o seu ministério. III, 664.
Santos. Como se form11m. Ili, 413 seg. - A sua felicid11de
faz-nos pressenlir a nossB, e deve in0om11r nossos desejos. 111,
756 seg. - O objeclo da felicid11de dos Sanlos é o próprio Deus
que êles vêem, 11m11m e louv11m, Ili, 757. - O exemplo dos S11n­
tos mos(r11-nos o c11minho do céu, e 11pl11n11 11s suas dificuld11des.
Ili. 758. - Êsle exemplo 11nim11-nos, dissipando 11s·nossas ilusões.
Ili. 759 seg. - Auxílio poderoso que nos oblém II inlercessão dos
Santos, Ili, 760 seg.
Saüdação Angélica. Tem du11s partes. N11 primeira 11pren­
clemos como devemos honr11r a M11ria SS. Ili, 468. - N11 segund11
parte 11prendemo:; como II devemos invocar. Ili, 471.
Sentidos ( Aplic11ção de). Em que consiste. 1, 28 seg. -
Aplic11ção de sentidos: sõbre II mor!e próxim11. 1, 364 seg .. - Sõ­
bre os tormcnlos do inferno. 1. 432 seg. - Sõbre o mistério d11
eucaristia. Ili, 537.
Sexta-feira Santa. Tudo estã cumprido. 111, 289. - Sen­
tido desl11 palavro nos lãbios de Jesus preg11do n11 Cruz, com rel11-
ção à execução : da \'ont11de de seu Elerno P11i. Ili, 290. - 011
su11 imolação. Ili, 291 seg. - 011 noss11 redenção. Ili, 291 seg. -
Sentido dest11 palavr11, pronunciad11 pelo juslo ou pelo pec11dor no
momento d11 morle. Ili, 292 seg.
Silêncio de J. Cristo: em c11sa de Caifãs. li, 511 seg._­
Na cõrte de Herodes. li, 518. - A sabedoria hum11n11 niio com­
preende o mislério dêste silêncio. li, 518. - O silêncio, qu11ndo
Deus mond11 f11l11r,•é um crime. Ili, 237 seg.
Simeão. O seu cântico no mistério da Apresent11çiio. Ili,
89. - Estã bem preparado para 11s gr11ças dêsle mistério. Ili, 98.
- Favores que recebe. Ili, 99 seg. - As suas profecias. Ili,
104 seg.
Simplicidade: d os posfores no mistério do n11scimenfo de

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
MEDITAÇÕES 4\ACEIIDOTAlS

Crislo. lll, 43. - Dos MHgos na sua ridelidade à graça. Ili, 66. -
Dos apóstolos na sua obediência. Ili, 244 seg.,, 259.
Sofrimentos. Levados com paciência, são doce lembrança
à hora da morle. 1, 371 seg. - A períeiçiio é amar os sofrimenlos.
li, 41. -"Os Santos siio exemplo dislo. li, 47. - O bom sacer­
dote espero sofrer muilo. li, 539 seg. - Sofrer é de lodo o cris­
lão. Ili, 538 . - Quanto mais progressos se fazem na sanlidade,
maiores sofrimentos se devem esperar. li, 539. -- O sofrimenlo é
o eslado normal do homem apostólico. li, 540. - O bom sacer­
dote vê nos sofrimentos a prova mais cerla Jo amor de Deus
para com êle. 11, 545. - O sofrimenlo é uma graça : li, 545.
- Uma graça de predilecção. li, 547. - Uma graça de pre­
deslinoçiio. li, 548. - O bom sacerdole vê no sofrimento a prova
mois cerla do seu amor para com Deus. li, 549. - Poder
do sofrimento para II s11lvoçiio do mundo. li, 480. - O sacer­
dote, homem de dôres. li, 480. - Fruto do apostolado, propor7
cion11l aos sofrimenlos do 11póslolo. li, 480 seg. - Sofrimentos dé
J. Cristo no j11rdim d11s Oliveiras. li, 485. - O que motivou em
Crislo esta 11gonia. li, 486. - Sofrimentos de Cristo: na flagela­
ção. Aplic11çiio de sentidos. li, 527 seg. - N11 Cruz. Contempla­
çiio. li, 533. - A meditação dos sofrimentos e da morte de Cristo
produz. em nós: o temor que afast11 do pec11do. Ili, 203. - E o
amor que une.a Deus. Ili, 205 . - Essa medit11çi:o enlernece os co­
r11ções mais duros. Ili, 205 seg. - tsle mistério demonstr11 melhor
o emor de Deus p11ra connosco •. Ili, 205 seg. - Esquecemo-nos
muito dos sofrimenlos e da morte de Jesus Crislo. Ili, 233 seg.
Talento confiado 110 s11cerdote. Ili, 589. - Felicidade do
s11cerdole que foz v11ler o seu t11le11to. 111, 591. - Infelicidade do
que o deixa improdutivo. Ili, 592.
Tempo. Perd11 de tempo; pecado que encerra. 1, .)07. -
Preço do lempo. 1, 308 seg. - A elernid11de infeliz não é mais que
um eterno desespêro, causado pel11 pena de ler perdido o seu
tempo 1, 309. - O tempo do s11cerdole é m11is precioso que o
dos fiéis. 1, 309 seg . - Pec11dos oc11sionados pela perda do lempo.
1, 310 seg. - O lcmpo perde-se de quatro modos. 1, 314 seg. -
O que se ·deve fazer para empregar bem o tempo: distribuí-lo bem.
1. 317, - Pensar muilas vezes na brevidade do tempo. 1, .'.'118, •­
P�riric11r as nossas intenções. 1, 319. - As últim11s horas da vida
são os mais preciosas. 1. 384. - Vêr Ociosidade.
Têmporas {Ouatro!, insliluídas principalmente para obter
bons sacerdotes. 111, 434. '
Tentação de intemperança; importuna aos m11icres Santos.
1, 302 seg. - Com el11 11l11cou o demónio II nossos primeiros pais.
e II Jesus no deserto. I, 303. - Excelenles recomendações de
S. Paulo sôbre êste ponto. 1, 302. - Ninguém and11 mais exposto
a lenlações do que os padres.. Ili, .219. - São efeitos da sua voca-

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
ÍNDICF. ALFABÉTICO 857
ção e de suas ocupações. 111, 220.. - Não se devem expor II elos
por si mesmos. Ili, 220 seg. - As tentações não devem assustar a
quem é fiel em ns i:ombaler. 111, 221 seg. - Dubs armas invencí­
veis conlra as (ent<1ções: a vigilância e a oroção: Ili, 222. -
Grande meio para as vencer, desperlar o fé: Scripium es/. 111,
222 seg. - As ten(ações são um grande bem para os verdeiros ·ser­
vos de Deus. Ili. 223. - Três lenlações dos obreiros evangélicos,
análogas ãs de Cristo no deserlo: (ralar mui[o da saúde. Ili, 225.
- Desejo de se mostrar e luzir. Ili, 227. - Vislas ambiciosas e
inleresseiras. Ili, 228.
Teresa (Sonla). Resumo da sua vida. Ili, 750. - A sua
forlaleza confunde o nossa covardia. 111, 751. - Os bons sucessos
de suas empri'sos confundem o nosso desconfiança. Ili, 753 seg.
Tibieza. Em que consiste; é incompo(ível: com os preceilos
mais graves da lei. 1, 341 seg. - Com as obrigações mais essen­
ciais do sacerdócio. l, 343. - Com as funções m11is ordinârias. !,
344 seg. - A (ibieza no púlpilo, no confessionário. 1, 344 seg. -
Ninguém te1ne menos do que o padre libio, porque vive iludido. !,
347. - Ninguém tem mais razão para temer do que o pndre tibio;
Deus amaldiçoa II tibieza. l, 348 seg. - Remédios da libieza:
A oração, a modificação, 11 reílexão. I, 352 seg.
Tomé (5.). Misericórdia de J. Crislo para com êste após­
tolo incrédulo. Ili, 146 seg. �- Gravidade do pecado de 5 . Tomé,
e paciência. de Crislo em o sofrer. 111, 146. - Jesus moslro-lhe as 1
suas Chagas. Ili, 148.
Transfiguração. União dêsle mistério com a Paixão. Ili.
231. - Porque são admilidos três apóstolos para teslemunhas da
transfiguração. Ili, 232. - Ouanlos cristãos e p11dres procuram
separar o Tabor do Calvário. Ili, 233. - Contem11lação do mislé­
rio da lransfigur11ção. Ili, 682. - Glória do filho de Deus nesle
mistério. Ili, 683 seg. - Felicidade dos apóslolos. Ili, 684. -
Porque aparecem neste mis(ério Moisés e Elias. Ili, 683. - De
que se fala no Tabo_r, Ili, 684. - Numa alma admilida ãs comuni­
cações íntimas com Deus tudo se transfigura. Ili, 685.
Trindade (55.). Como o bom sacerdo(e honra ês(e· mislé­
rio: Submissão do seu espíri(o. Ili, 486 seg. - Homenagem do
seu coração, Ili, 487, - Zêlo da Igreja em honrar a 55. Trin­
dade. Ili, 488 seg. - O que deve imitar nes(e mis(ério um bom sa­
cerdote. Ili, 489. - Corno se empenho em o foier honr11r. Ili, 489
seg. - No Igreja ludo se faz em nome da 55. Trindode. Ili, 491.
Gloriricação da 55. Trindade no Ofício Divino. !, 141.
Verdade religiosa lrat11da com indifere.nço. Ili, 61.
Vicente de Paulo (5.l. Resumo do suo vid11. -Ili, 654
- Seu 11mor aos pobres, desde menino, em lõda a sua vida. Ili,
655. - Prome(e uma doce morte aos que tiverem amor oos pobres .

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
858 MEDITAÇÕE� SACERDOTAIS

Ili, 656. - Zêlo da salvaçiio dos pobres. Ili, 65. - Porque prefere
os pobres aos ricos nos seus minislérios. Ili, 657 seg.
Vida apostólica. Sua excelência. li, 273 seg. - Jesus
ressuscitado oferece-nos um belo mo·dêlo de aclividade aposlólica.
li, 557 seg.
Vida oculta de Jesus ,em Nazarelh. Ê sle mistério cura-nos
de um11 doença muilo perigosa. li, 219 seg. - Vida oculta, de hu­
mildade. li, 220 seg. - Êsle mislério é p11r11 nós um11 fonle de
consolaçiio. li, 222. - Vida oculla de Crislo no SS. S11cramenlo.
1, 177.
Vida de ). Cristo: no crisliio. li, 56 seg. - No sacer-
dole. 1, 84 seg., 182 seg.; 111,_501, 507.
Vida interior. 1, 118 seg. - Vêr Recolhimenfo e lnfenção.
Virgem (SS.). li, 130 seg. - Vêr Maria.
Visitação de Maria. Aqui vêem-se os principias que devem
dirigir o sacerdote em suas relações com o próximo. Ili, 640 seg.
- O motivo destas relações é II caridade. Ili, 641. - Acompa­
nha-as II humildade Ili, 643. - O seu fim é a salvaçiio das almas.
Ili, 644. - A humildade de Maria, formada na humildade de Je­
sus. Ili, 643.
Visitas ao 55. Sacramento. Esta devoçiio é: cheia de opor­
tunidade. Ili, 531 seg - Chei11 de doçura. Ili, 532. - Cheia de
ulilid11de. Ili, 533. - Foi sempre notável enr lodos os padres de
que Deus se tem servido p11r11 as grandes obras da su11 misericór­
dia. Ili, 533 seg. - O que faz o bom sacerdote nas visil11s ao
55. Sacramento. 111, 534. - Escul11 11 J. Cristo, e fala com êle.
Ili, 534 seg. - Assidu'id11de do bom s11cerdole em visi!ar ao Senhor
no seu l11bernáculo. li, 586. - Seu zêlo em prop11gar esla devo­
çiio. li, 587 seg.
Vocação. Grnça da vocação s11cerdol11l. 1, 60 seg. -- Vêr
Apõsfolos e Renovação.
Zêlo da glórí11 de Deus, primeiro dev�r do sacerdote. 1, 78
-seg. - Zêlo da salvação d,, próximo. 1, 79. - J. Cristo dá-nos
exemplo dêsle zêlo na eucaristia. l, 178 seg. - U1ilid11de do zêlo
sacerdotal. li, 276 seg. -Motivos do zêlo da salvaçiio das almas:
motivo de glória. li, 277. - Mo!ivo de caridade: para com Deus.
li, 278 - Para com o próximo. li, 179. - Molivo do próprio
inlerêsse. li, 280. - O sacerdote verdadeiramente zeloso é para
ludo e p11ra lodos. li, 31 7 �eR, -O verdadeiro zêlo é regulado e
prudenle. li, 318 seg. - O zêlo é simples n11 su11 prudênci11. li,
343. - Zêlo em l'lcçiio n11 conversão d11 Samaril11na. li, 360 seg.
- Tr11b11lho dêsle zêlo. 11, 361. - Bom sucesso dêsle zêlo. li,
363. -Zêlo generoso, prudente e sofredor de S. Fr11ncisco Xavier.
Ili, 129 seg.

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Acabou de se imprimir êste terceiro
volume das « Meditações Sacerdotais•
aos trinta e um dias de Julho· de
mil novecentos e trinta e cinco na
--- •Tipografia Minerva• ---
-- Vlla Nova de Famalicão --

https://alexandriacatolica.blogspot.com.br

Você também pode gostar