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Equipes de Nossa Senhora

Guia
Das Equipes De
Nossa Senhora
A Equipe Responsável Internacional não autoriza nenhum
grupo de casais, que não seja admitido no Movimento,
a intitular-se "EQUIPES DE NOSSA SENHORA".

Este documento é de uso interno do


Movimento das Equipes de Nossa Senhora

Capa
Ícone da Sagrada Família – pintado em 1983 pela irmã Maria Paula,
do Monastério beneditino do Monte das Oliveiras de Jerusalém,
para as Equipes de Nossa Senhora.

Responsabilidade:
Equipe da Super-Região Brasil
Av. Paulista, 352 • 3o andar • cj 36
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com a orientação da ERI sobre Zona de Ligação
Ens GENS_capa/miolo_08/2014_NB

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Nova Bandeira Produções Editoriais Ltda.
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Projeto Gráfico:
Alessandra Carignani
Índice

I. Introdução
a) O começo .....................................................................07
b) O reconhecimento das Equipes de Nossa Senhora ....08
c) O Padre Caffarel ...........................................................08
d) Os sinais dos tempos ....................................................09

II. A carta ...............................................................................10

III. A razão de ser das Equipes de Nossa Senhora


a) O objetivo das Equipes de Nossa Senhora..................12
b) Por que “Equipe”?.........................................................13
c) Por que “Equipe de Nossa Senhora”?..........................13

IV. O espírito das Equipes de Nossa Senhora


a) “Vem e segue-me”.........................................................14
b) O carisma das Equipes de Nossa Senhora...................14
• A espiritualidade conjugal.......................................14
c) A mística das Equipes de Nossa Senhora ....................15
• Reunidos em nome de Cristo..................................15
• O auxílio mútuo.......................................................15
• O auxílio mútuo conjugal........................................16
• O auxílio mútuo no caminho da santidade.............16
• O auxílio mútuo na oração......................................16
• O auxílio mútuo para o aprofundamento da fé......16
• O auxílio mútuo nas diferentes etapas do casamento.. 17
• O testemunho..........................................................18

V. A proposta das Equipes de Nossa Senhora


a) Uma comunidade de casais cristãos ............................19
b) Em comunhão com a Igreja Católica ..........................19
c) As equipes inseridas no mundo ...................................20

VI. Os meios das Equipes de Nossa Senhora


A) As orientações de vida. .............................................21
a) Para se ajudarem mutuamente a
progredir no amor de Deus ....................................21

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b) Para se ajudarem mutuamente a
progredir no amor ao próximo................................22
c) As orientações do Movimento
propostas nos Encontros Internacionais ................22
B) Os Pontos Concretos de Esforço ............................22
a) A Escuta da Palavra ...............................................24
b) A Meditação ...........................................................24
c) A Oração Conjugal ...............................................25
d) O “Dever de Sentar-se” .........................................26
e) A Regra de Vida .....................................................26
f) O Retiro Anual ........................................................27
C) Uma vida de equipe .................................................27
a) A reunião de equipe ..............................................28
• A refeição..............................................................29
• A coparticipação...................................................29
• A oração...............................................................29
• A partilha sobre os Pontos Concretos de Esforço ..30
• A troca de ideias sobre o tema de reflexão..........30
b) A vida de equipe fora da reunião mensal .............31
c) A reunião de balanço ............................................31
d) O compromisso ......................................................31

VII. A organização das Equipes de Nossa Senhora


A) O espírito da organização ........................................33
B) A equipe ....................................................................34
a) O Casal Responsável .............................................34
b) O Sacerdote Conselheiro Espiritual......................34
C) As instâncias de responsabilidade
e de animação ..........................................................35
a) O Setor....................................................................35
b) A Região..................................................................35
c) A Super-Região.......................................................36
d) A Zona de Ligação................................................37
e) A Equipe Responsável Internacional (ERI)............37
f) O Colégio Internacional.........................................38

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g) Casos Particulares...................................................38
• O Setor Isolado....................................................38
• A Região Isolada..................................................39
h) As estruturas intermediárias temporárias ..............39
• O Pré-Setor e a Pré-Região ..................................39
• A Coordenação Regional e Inter-Regional ..........39

VIII. Os Serviços do Movimento


A) A Responsabilidade: um serviço ..............................40
B) A Ligação ....................................................................41

IX. As Equipes novas no Movimento


A) A expansão do Movimento .......................................42
B) A Informação .............................................................42
C) A Pilotagem ................................................................42
D) As Experiências Comunitárias .................................43

X. A vida das Equipes de Nossa Senhora como Movimento


A) As Reuniões de Setor, de Região,
de Super-Região ........................................................44
B) As Sessões de Formação ...........................................44
C) Os Encontros Internacionais ....................................45

XI. A missão
A) Missão do Movimento ...............................................46
B) Missão dos equipistas ...............................................46
a) Missão no Movimento .............................................46
b) Missão na Igreja ......................................................47
c) Missão no mundo ....................................................47

XII. Textos de referência .......................................................49


Anexo 1: Estatuto das ENS 1947 - 1972 ...........................50
Anexo 2: O Cardeal Feltin nos escreve ............................61
Anexo 3: O Decreto de Reconhecimento 1992/2002 ......64
Anexo 4: O que é uma Equipe de Nossa Senhora? ........71
Anexo 5: A Segunda Inspiração .......................................80

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I. INTRODUÇÃO

Os casais cristãos, unidos pelo Sacramento do Matrimônio,


são chamados a seguir o Cristo no caminho do Amor, da Feli-
cidade e da Santidade. As Equipes de Nossa Senhora, dom do
Espírito Santo, são oferecidas aos casais do mundo inteiro para
ajudá-los a desenvolver e viver a sua espiritualidade conjugal.

a) O começo
As Equipes de Nossa Senhora (ENS) nasceram de maneira
muito simples. Em 1938, um jovem padre de Paris, o padre Henri
Caffarel, recebe a visita de uma moça que deseja lhe falar de
sua vida espiritual. Alguns dias depois, ela volta, acompanhada
do marido. A seguir, esse casal apresenta o padre a três outros
casais. Está lançado, dessa maneira, o projeto de se reunirem
para refletir juntos sobre o matrimônio cristão. Foi no dia 25 de
fevereiro de 1939 que esses casais se encontraram com o Pe.
Caffarel. Nesse dia, e dessa maneira, nasce a primeira equipe
do Movimento.
Em 1947, “terminada a guerra, os grupos de casais estão na
ordem do dia e se multiplicam”. O padre Caffarel teme que “os
casais sejam tentados a relaxar, na euforia da paz reencontrada,
e no conforto das velhas amizades confortáveis... Havia uma
crise...
O que seria necessário fazer para que a crise de nossos
grupos pudesse favorecer uma superação? Procurei descobrir
uma explicação para o fato de que a santidade não tenha dei-
xado de florescer e florescer de novo, nas ordens religiosas, no
decorrer dos séculos, apesar das crises exteriores e interiores,
e compreendi que um dos fatores essenciais da solidez e da
vitalidade dessas ordens era a sua Regra.
Por que, perguntei-me então, não propor uma Regra aos
cristãos casados, desejosos de progresso espiritual? Não uma
Regra de monges, mas uma Regra para leigos casados”.
(A missão do Casal Cristão, Henri Caffarel – Roma – 1959)

7
A partir da inspiração e da reflexão do Pe. Caffarel com os
primeiros membros dos “Grupos Caffarel”, um método comum,
para os casais desejosos de viver seu amor mais profundamente
enraizado no Cristo, vai se desenvolvendo progressivamente.
Novos Grupos se formam, seu número cresce e uma
organização é criada pouco a pouco. O Pe. Caffarel e os
responsáveis do Movimento elaboram, então, sustentados pela
oração, um documento fundador que é chamado a “Carta das
Equipes de Nossa Senhora” (Estatuto). Ela contém o essencial
da “Regra” do Movimento. Essa Carta é promulgada no dia 08
de dezembro de 1947, na Igreja de Santo Agostinho, em Paris
(Ver Anexo 1).

b) O Reconhecimento das Equipes de Nossa Senhora


O Movimento das Equipes de Nossa Senhora é reconhecido
oficialmente pela primeira vez, pela Igreja, em 1960, através de
uma carta do Cardeal Feltin, Arcebispo de Paris (ver Anexo 2).
Em 1975, o Pontifício Conselho para Leigos confere às Equipes
de Nossa Senhora o reconhecimento como Associação Católica
Internacional. Enfim, em 1992, é publicado um decreto de re-
conhecimento (ver Anexo 3), como uma associação de fiéis de
direito privado, pelo mesmo Pontifício Conselho para Leigos.

c) O Padre Caffarel
O reconhecimento oficial da Igreja é, de alguma maneira,
uma consagração da obra considerável do Pe. Caffarel e dos
casais com os quais ele caminhava. Nosso fundador morreu no
dia 18 de setembro de1996, em Troussures, na França, com a
idade de 93 anos.
O Movimento das Equipes de Nossa Senhora deve ao pa-
dre Caffarel o privilégio de ter aprendido, com ele, o sentido
profundo do sacramento do matrimônio, de ter descoberto o
valor e a riqueza das pequenas comunidades cristãs e de lhes
ter mostrado o caminho da contemplação nas suas vidas cheias
de atividade.

8
“Uma figura das mais importantes dadas por Deus a sua
Igreja no transcorrer deste século”.
(Cardeal Lustiger 27/09/1996)

d) os sinais dos tempos


Os membros das Equipes de Nossa Senhora vivem no mundo
de hoje. Fazem parte dele plenamente e querem ser “fermento
na massa”. É por isso que precisam discernir continuamente
os sinais dos tempos, para descobrir a nova realidade e as ne-
cessidades que ela implica para os casais de hoje. Eles devem
também buscar fatores de esperança num mundo que parece
cada vez mais hostil à fé cristã, e onde os valores fundamentais
do casamento e da família estão ameaçados.
As Equipes de Nossa Senhora trazem esse sinal de esperança
aos casais na Igreja e no mundo.
“A saúde da pessoa e da sociedade tanto humana como
cristã, está estreitamente ligada ao progresso da comunidade
conjugal e familiar. Por isso, juntamente com todos aqueles
que têm em grande estima essa comunidade, os cristãos
alegram-se, sinceramente, com os vários meios pelos quais
os homens progridem, hoje, na promoção dessa comunidade
de amor.”
(Gaudium et Spes – 47)

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II. A CARTA

Os princípios fundadores da Carta foram elaborados a fim


de guardar a fidelidade à inspiração original do Movimento
e de fazer propostas concretas às equipes. Estamos, hoje, em
condições de julgar o efeito de uma tal decisão e de apreciar
como ela é essencial para o desenvolvimento do Movimento.
Com a publicação da Carta, aparece a denominação defi-
nitiva do Movimento: “EQUIPES DE NOSSA SENHORA”... Os
‘Grupos’ existentes são convidados a aderir, assim, às Equipes
de Nossa Senhora.
A Carta, escrita na linguagem da época, permanece o do-
cumento vital de referência e a pedra angular do Movimento.
Várias modificações foram feitas no documento de origem, ao
longo dos anos, para chegar à versão final, publicada em maio
de 1972. Esta data marca o fim do período durante o qual o Pe.
Caffarel esteve presente no Movimento.
A Carta tornou-se nosso patrimônio comum. Hoje, inspirados
pelo mesmo ideal e utilizando os mesmos métodos para
tentar cumpri-la, milhares de casais através do mundo, que
falam diferentes línguas e têm culturas diversas, descobrem,
através de seu casamento, a riqueza de um amor de Deus mais
profundo.
Só depois de vários anos da elaboração da Carta, o Pe. Caffarel,
homem prudente, afirmava: “Devo reconhecer que na criação
das Equipes houve alguma coisa mais do que a minha própria
inspiração e a inspiração dos casais; houve uma inspiração do
Espírito Santo”.
Outros documentos complementares foram surgindo:
“O que é uma Equipe de Nossa Senhora?” (1977), que
redefine o ideal e os métodos do Movimento numa apresenta-
ção atualizada, e que desenvolve o conceito da equipe como
comunidade.
“A Segunda Inspiração” (1988), que tem “por objetivo
ajudar as Equipes a encontrar novos motivos de encorajamento
e orientações para viver as aspirações das Equipes de Nossa

10
Senhora com a esperança e a vitalidade de um novo sopro”.
Esse documento pretende, também, aprofundar alguns aspectos
do carisma das Equipes de Nossa Senhora que não tinham sido
até então redigidos com a clareza necessária, particularmente
a abnegação inspirada pelo amor, o sentido humano e cristão
da sexualidade e a missão das ENS na Igreja e no mundo como
Movimento de casais.
Pela graça do Espírito Santo e sob sua Inspiração, a renova-
ção do Movimento prossegue. Na prece e na reflexão, os mem-
bros da Equipe Responsável Internacional e os responsáveis das
Super-Regiões decidiram elaborar um guia completo sobre o
Movimento baseado nas riquezas dos documentos anteriores.
Na sua Carta Apostólica “Tertio Millennio Adveniente”, o
Papa João Paulo II lembra que “na história da Igreja, o “velho”
e o “novo” aparecem sempre mesclados. O “novo” cresce do
“velho”; o “velho” encontra no “novo” uma explicitação mais
plena.” (Capítulo 18)
Foi considerando essas palavras do Papa que, na aurora do
terceiro milênio da era cristã, este documento: “O Guia das
Equipes de Nossa Senhora” foi concebido e realizado.

11
III. A RAZÃO DE SER DAS
EQUIPES DE NOSSA SENHORA

A razão de ser das Equipes de Nossa Senhora é ajudar os


casais a descobrir as riquezas do sacramento do matrimônio e
viver uma espiritualidade conjugal. Através de seu exemplo, os
casais das Equipes de Nossa Senhora querem ser um testemu-
nho do casamento cristão na Igreja e no mundo.
As Equipes de Nossa Senhora, um Movimento de espiritua­
lidade conjugal da Igreja Católica, são constituídas por casais
que acreditam no ideal do casamento cristão e querem:
• permanecer fiéis às promessas de seu batismo;
• colocar Cristo no coração de suas vidas;
• basear sua vida conjugal e familiar no Evangelho;
• procurar conhecer melhor a vontade de Deus para o
homem e a mulher, a fim de poder cumpri-la;
• testemunhar, pela sua vida, o amor de Deus;
• levar ao mundo a mensagem de Cristo;
• dar testemunho dos valores cristãos na sua vida social e
profissional;
• levar sua contribuição para a Igreja, os bispos e o
clero;
• fazer de suas atividades uma colaboração com Deus e
um serviço aos outros;
• promover o casamento e a vida de família na sociedade.

Os casais das Equipes de Nossa Senhora contam com a


ajuda daqueles que partilham seu ideal e resolvem formar
uma “equipe”, porque conhecem a dificuldade de viver como
cristãos e porque estão conscientes da própria fraqueza e da
insuficiência de seus esforços isolados.

a) O objetivo das Equipes de Nossa Senhora


O objetivo das Equipes de Nossa Senhora é o de ajudar os
casais a viver plenamente o seu sacramento do matrimônio.

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“As Equipes de Nossa Senhora têm por objetivo essencial
ajudar os casais a caminhar para a santidade. Nem mais,
nem menos.”
(Pe. Henri Caffarel)

b) Por que “Equipe”?


• porque a palavra “equipe” exprime claramente o espírito e
a unidade necessária para a busca de um desejo comum;
• porque os casais fazem esforços juntos e porque eles se
ajudam mutuamente, preocupando-se com os outros, com
o seu progresso espiritual e humano.

c) Por que Equipe de Nossa Senhora?


Nosso Movimento é colocado sob a proteção de Maria
porque ela conduz ao Cristo, que é o centro da vida espiritual
dos equipistas. Maria é, para eles, pela sua submissão à vontade
de Deus, um exemplo perfeito da docilidade ao Espírito Santo.

13
IV. O ESPÍRITO DAS
EQUIPES DE NOSSA SENHORA

a) “Vem e segue-me”
Cristo dirige esse apelo a cada batizado, convidando-o a se
abrir sempre mais ao seu amor e a ser testemunha. Esse apelo,
Cristo dirige também ao casal cristão. Os cônjuges são chama-
dos a encontrar Deus no coração de seu amor conjugal. Assim,
o amor humano se torna uma imagem do amor divino.

b) O Carisma das Equipes de Nossa Senhora1 


As Equipes de Nossa Senhora, Movimento de “espiritualida-
de conjugal”, são consideradas como um dom de Deus a todos
os casais que delas fazem parte.

• A espiritualidade conjugal:
A vida do casal, pelo casamento cristão, é marcada pelo
sacramento, sinal profundo de engajamento recíproco dos
esposos e sinal da Graça de Deus. O amor conjugal e o amor
de Deus se completam. É no cerne da união entre esses dois
amores que nasce a espiritualidade conjugal.
O desejo de conhecer e de fazer a vontade de Deus em todas
as circunstâncias comuns da vida e a busca da sua presença
ajudam a desenvolver e a aprofundar a espiritualidade conjugal.
O amor divino se expressa no amor humano quando a vida
cotidiana é preenchida com a atenção e a solicitude dos espo-
sos, um em relação ao outro, a ajuda e a fidelidade absoluta, a
compreensão e o respeito mútuo, a harmonia de coração e de
espírito. Quando as mais simples tarefas são impregnadas de
amor, o Senhor lá está, no coração do casal; a espiritualidade
é, então, uma realidade vivida.

1 A palavra “carisma” vem do grego “charisma” que significa “dom gratuito” e tem
a mesma raiz que a palavra “charis”, “graça”. A graça é um dom do Espírito. Há
também graças excepcionais chamadas carismas, dons que devem ser utilizados
para o bem comum.

14
O casal unido pelo sacramento do matrimônio quer viver
essa espiritualidade ao longo dos dias. Entretanto, às vezes,
pode ser difícil agir segundo as exigências do amor. Comete-
mos erros; somos feridos. Mas é preciso prosseguir e se voltar
sempre um para o outro. E é exatamente nesses momentos que
encontramos Cristo.
“Existe uma espiritualidade conjugal que orienta a vida do
casal. As Equipes de Nossa Senhora oferecem um meio de
consegui-la.”
(A caminho da Espiritualidade Familiar – Pe. Manuel Iceta)

c) A Mística das Equipes de Nossa Senhora


A mística é o espírito que dá sentido a propostas concretas
de vida, intuição que “abre” o que se oculta no espírito humano,
orientação que faz da vida uma contínua busca de comunhão
com Deus.

• Reunidos em nome de Cristo


“Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu
estou aí, no meio deles.” (Mt 18,20)
Uma equipe é mais do que uma comunidade humana; ela
se reúne em nome do Cristo. Quando Cristo apareceu aos
discípulos depois da ressurreição, suas palavras lhes permiti-
ram compreender as Escrituras e conhecer sua mensagem.
Do mesmo modo, Cristo está presente nas nossas reuniões.
Reunidos em seu nome, seu espírito alimenta nossa fé e a faz
crescer.
• O auxílio mútuo
“Carreguem os fardos uns dos outros”. (Gl 6, 2)
É uma coisa normal, útil e motivadora pedir a ajuda de
seus amigos; é por isso que os casais de uma equipe se ajudam
material e espiritualmente.
Os membros de uma equipe procuram satisfazer as quatro
reivindicações do amor fraternal: dar, receber e o que é mais
difícil, pedir e saber recusar.

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• O auxílio mútuo conjugal
O casamento é uma aliança que evolui desde os primeiros
instantes do “Sim” até os últimos momentos, quando da volta
para o Pai. Essa caminhada dos esposos no amor poderá ser
vivida por muito tempo, se o auxílio mútuo conjugal for uma
realidade cotidiana. Assim, cada um, no casamento, crescerá, ti-
rando o melhor partido das diferenças e da comple­mentaridade
do casal.

• O auxílio mútuo no caminho da santidade


Os casais que entram nas Equipes de Nossa Senhora desejam:
• tomar os caminhos que os levem a uma mais profunda
união com Deus;
• e procurar a santidade na vida familiar e através dela.
Para viver numa maior harmonia com Deus e conhecer sua
vontade, os casais unidos pelo matrimônio precisam ajustar suas
vidas ao Evangelho.
Para uma melhor compreensão e uma vivência real da
palavra de Deus na sua vida de casal, e porque eles procuram
juntos, em equipe, um meio de conseguir isso, os membros das
Equipes de Nossa Senhora se ajudam mutuamente no caminho
que leva ao reino anunciado pelo Cristo.

• O auxílio mútuo na oração


“E lhes digo mais: se dois de vocês estiverem de acordo sobre
qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido
por meu Pai que está no céu”. (Mt 18, 19)
Confortados por essa promessa da presença de Cristo no
meio deles, os membros das Equipes de Nossa Senhora rezam
juntos, uns com os outros, e também uns pelos outros, com
alegria e confiança.
As Equipes escolheram o Magnificat como oração comum.
Ele deve ser rezado quotidianamente, em união com todos os
membros do Movimento e como oração de intercessão por
todos os casais do mundo.

• O auxílio mútuo para o aprofundamento da fé


Da mesma maneira que não pode haver vida cristã sem uma

16
fé viva, também não pode haver fé viva e ativa sem reflexão,
nem meditação. Na prática, muitos casais cristãos renunciam
aos esforços necessários para estudar e meditar, seja porque
eles não compreendam a importância disso, seja por falta de
tempo, de treino ou de orientação. Como consequência, sua
fé continua imatura e fraca, e seu conhecimento da vontade
de Deus e dos ensinamentos da Igreja permanece superficial
e incompleto.
Os casais de uma equipe tentam, portanto, aprofundar seus
conhecimentos e perseguir esse objetivo com os outros mem-
bros da equipe e a ajuda de um conselheiro espiritual.

• O auxílio mútuo nas diferentes etapas do casamento


As necessidades e as aspirações dos casais são diferentes,
segundo sua idade e o tempo de casamento. As respostas que
as Equipes de Nossa Senhora lhes trazem devem levar em
conta essa realidade.
Nos primeiros anos do casamento um casal jovem tenta
descobrir quais as consequências dos votos que fizeram. Esses
jovens casados têm necessidade de “nascer” numa comunidade
que os sustenta... As Equipes de Nossa Senhora podem trazer
o calor, o suporte e a ajuda de uma grande família.
Em seguida, a vida põe à prova o ideal do amor. Confrontados
com as exigências da família, da vida profissional, da insegurança
de emprego e das pressões de uma sociedade cada vez mais
materialista, os casais necessitam de um lugar de troca de
ideias, de releitura dos acontecimentos que os atingem... A
compreensão e a experiência da equipe permitem ao casal
partilhar, abertamente, com toda confiança, suas preocupações
e suas descobertas.
Depois, bem depressa, chega o “outono da vida”, esse
tempo cada vez mais longo de um retorno a uma relação a
dois. Esse tempo em que os esposos passam mais tempo juntos
pode ser um tempo de renovação, de uma ultrapassagem de
nossos próprios limites. Pode ser também um tempo de algumas
dificuldades e de etapas importantes (aposentadoria, doença,
morte do outro...) É o aprofundamento da vida cristã do casal

17
em equipe que vai enriquecer esses últimos anos passados
juntos.

• O testemunho
Nos Atos dos Apóstolos, assim são descritos os primeiros
cristãos:
“ A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma”.
(At 4, 32)

As Equipes de Nossa Senhora estão convencidas de que


outros casais se sentirão chamados para o Cristo e para o sa-
cramento do matrimônio, motivados pelo exemplo de casais
cristãos que se amam de verdade e se ajudam mutuamente, na
busca de Deus e no serviço prestado a seus irmãos e irmãs.
É nesse espírito que os casais que procuram dar um sentido
autêntico à sua vida conjugal encontrarão, na fraternidade e na
ajuda mútua dos equipistas, uma fonte importante de suporte
e encorajamento.

18
V. A PROPOSTA DAS
EQUIPES DE NOSSA SENHORA

As Equipes de Nossa Senhora desejam ajudar os casais


unidos pelo matrimônio a viver plenamente segundo o
Evangelho, com o suporte dos membros de uma equipe e a
força do Movimento como um todo.

a) Uma comunidade de casais cristãos


As Equipes propõem a cada casal:
• uma maneira de viver como casal cristão no mundo de
hoje, segundo os ensinamentos de Cristo;
• métodos para conseguir viver em casal;
• uma comunidade de casais que possuem o mesmo ideal;
• uma ajuda mútua fraterna ao mesmo tempo espiritual,
humana e material;
• uma oportunidade de estudar e de refletir juntos,
conduzindo os equipistas a aprofundar sua fé e os ajudar
a formar sua consciência pessoal;
• orientações de vida para ajudar a progredir no amor de
Deus e dos outros;
• uma organização para promover a animação e a unidade
do Movimento através do mundo;
• uma comunidade de casais cristãos unidos pelo sacramento
do matrimônio, assistida por um conselheiro espiritual.
Uma equipe de Nossa Senhora é, portanto, uma comuni-
dade de casais unidos pelo sacramento do matrimônio. Ela se
reúne “em nome de Cristo” e quer ajudar seus membros para
melhor responder ao apelo de Cristo.

b) Em comunhão com a Igreja Católica


As Equipes de Nossa Senhora encorajam os seus membros
a aprofundar, em equipe, o amor pela Igreja e a se ajudar
mutuamente para que se tornem membros ativos do Povo de

19
Deus em comunhão com os seus pastores.
Em muitas ocasiões eles são estimulados pelo magistério a
defender o ideal do casamento cristão.
“Obrigado, porque não nos deixastes sozinhos a proclamar
a beleza do amor, a grandeza do casal unido e fecundo.
Obrigado a vós todos, da parte de todos os pastores da Igreja.
Vossa tarefa é importante, pois vós sois, em grande parte, a
credibilidade da Igreja”.
(Cardeal Daneels, 40º aniversário da Carta Belga)

c) As Equipes inseridas no mundo


“O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não
se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconve-
niente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não
guarda rancor...”
(I Cor 13, 4-5)

É esse o amor que tentamos viver, graças aos métodos das


Equipes de Nossa Senhora.
Devido às transformações que se produziram na sociedade,
o casamento sofreu mudanças históricas. É grande o número
de casamentos que se desfazem e esse fato traz prejuízos con-
sideráveis aos esposos e aos filhos.
Os casais das ENS procuram testemunhar que o casamento
é fonte de amor, de felicidade e de santidade e também uma
realização humana. Vivendo no mundo com os valores do
Evangelho, querem ser o fermento na massa e estar presentes
em todas as atividades da sociedade.
Os casais, hoje, têm necessidade do testemunho de outros
casais, cujo amor é duradouro e vivido na segurança de um
futuro razoavelmente previsível. Desde a época de Jesus, é essa
a característica do casamento cristão. Os casais das Equipes de
Nossa Senhora querem dar testemunho desse amor e do casa-
mento cristão, como um sinal de esperança para seus irmãos.

20
VI. OS MEIOS DAS
EQUIPES DE NOSSA SENHORA

As Equipes de Nossa Senhora não impõem a seus membros


uma espiritualidade determinada. Elas querem somente ajudá-
los a se engajar, como casal, no caminho traçado por Cristo.
Para isso, elas lhes propõem:
• as Orientações de Vida;
• os Pontos Concretos de Esforço;
• a Vida de Equipe.

Os casais vivem esses meios, levando em conta três linhas


mestras:
• A gradualidade: o Senhor toma cada um no estado em
que se encontra; trata-se, então, de querer progredir na
direção de um crescimento espiritual.
• A personalização: a caminhada é, ao mesmo, pessoal e
de casal: cada um terá seu próprio ritmo e sua própria
maneira de viver as propostas do Movimento.
• O esforço: não existe conversão pessoal e em casal sem
a decisão de transformar nosso desejo de progresso em
ações concretas, precisas e determinadas.

A) As orientações de vida
Crescer no amor de Deus é tarefa para toda a vida. Para
ajudar seus membros nessa tarefa as Equipes de Nossa Senhora
lhes propõem Orientações de Vida:

a) Para se ajudarem mutuamente a progredir no amor de


Deus:
• dar um lugar importante à oração na sua vida;
• frequentar regularmente a Palavra de Deus e se esforçar
para vivê-la cada vez melhor;
• aprofundar, constantemente, seus conhecimentos da fé;
• aproximar-se frequentemente dos sacramentos, princi-
palmente da Eucaristia;

21
• esforçar-se para avançar no conhecimento e na prática
da ascese cristã.2 
b) Para se ajudarem mutuamente a progredir no amor ao
próximo:
• viver uma autêntica ajuda mútua conjugal (escuta,
diálogo, partilha) em todos os campos, em particular no
campo espiritual;
• ter a preocupação constante da educação humana e
cristã de seus filhos;
• praticar, amplamente, em casal, o acolhimento e a hos-
pitalidade;
• testemunhar, concretamente, o amor de Cristo, principal-
mente através de um ou vários engajamentos na Igreja
e na comunidade cristã.
c) As orientações do Movimento propostas nos Encontros
Internacionais
Por ocasião dos Encontros Internacionais, o Movimento
propõe orientações que são suas prioridades para os anos se-
guintes. Essas “orientações”, definidas a partir da observação da
realidade e das necessidades dos casais, vão guiar o conjunto
dos equipistas numa direção comum partilhada.

B) Os Pontos Concretos de Esforço


Seguir uma direção de crescimento espiritual e humano
supõe tomar um itinerário lógico e usar os meios para seguir
fielmente essa direção.
“A experiência mostra que, sem certos pontos de aplicação
precisos, as orientações de vida arriscam-se muito a tornar-se
letra morta.” (O que é uma Equipe de Nossa Senhora?)

2 Ascese: A palavra ascese vem da palavra grega que significa “se exercitar” – uma palavra
que evoca o exercício que se faz para ter boa saúde. Da mesma maneira, o casal que se
exercita na vida cristã, conjugal e familiar, tem oportunidades de praticar a ascese: “ exercitar-
se, para amar sem egoísmo”. Os Pontos Concretos de Esforço são os meios propostos pelo
Movimento das Equipes de Nossa Senhora, para encorajar e alimentar esse treinamento
para amar sem egoísmo.
“Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; e nós, para ganhar-
mos uma coroa imperecível.” (1 Cor 9,25)

22
As Equipes de Nossa Senhora deram o nome de Pontos
Concretos de Esforço a esses “pontos de aplicação precisos”.
Os Pontos Concretos de Esforço são uma característica
essencial do Movimento. Correspondem a atitudes interiores
que precisam ser despertadas e assimiladas e que vão conduzir
a uma nova maneira de viver. São uma disciplina que ajuda
os casais das Equipes de Nossa Senhora a pôr o Evangelho em
prática na sua vida quotidiana.
O engajamento nesses seis Pontos Concretos de Esforço vai
transformando, pouco a pouco, os esposos, desenvolvendo
uma vida espiritual conjugal que os aproximará de Deus, de
seu cônjuge e dos outros.
Em plena liberdade “assumimos como obrigação” fazer
esforços sobre pontos concretos.
A decisão de “viver” os Pontos Concretos de Esforço cor-
responde a uma adesão do coração e se concretiza como um
esforço da vontade.
O esforço através de cada ponto concreto tende a tornar os
casais capazes de acolher o Espírito Santo que age interiormente
e os faz crescer.
Os Pontos Concretos de Esforço exigem da parte de cada um
dos esposos, assim como do casal, um engajamento às vezes
difícil de sustentar. Eles não são impostos e cada um se engaja
voluntariamente em praticá-los. Uma pessoa sozinha seria
tentada a abandonar o esforço; é por isso que cada um pede a
ajuda e o encorajamento de seu cônjuge e de sua equipe.
Os Pontos Concretos de Esforço são um convite a:
• escutar assiduamente “a Palavra de Deus”;
• encontrar-se, todos os dias, com o Senhor, numa prece
silenciosa: “a meditação”;
• rezar juntos, marido e mulher, todos os dias: “a oração
conjugal” e, se possível, em família: “a oração familiar”;
• encontrar, a cada mês, um tempo para um verdadeiro
diálogo conjugal: “o dever de sentar-se”;
• assumir esforços pessoais: “a regra de vida”;
• fazer, a cada ano, “um retiro”.

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a) A Escuta da Palavra: “escutar” com assiduidade a Palavra
de Deus
“A Palavra de Deus é viva e eficaz”. (Hb 4, 12)
Deus fala aos homens porque Ele os ama. Quer estabelecer
com eles, com cada um deles, uma relação de amor, uma re-
lação de pessoa a pessoa. Ele fala para se fazer conhecer por
eles, para lhes revelar o seu grande projeto de amor; para lhes
comunicar seus pensamentos, sua vontade em relação a eles;
para lhes propor sua Aliança.
Deus fala pelas Escrituras, pela Criação, pelas suas intervenções na
história humana, pelos profetas e, sobretudo, por seu filho Jesus.
A escuta regular da Palavra permite aos equipistas, não so-
mente conhecer a Deus, mas, acima de tudo, enraizar-se melhor
no Evangelho. Essa escuta faz com que cada pessoa do casal
entre em contato direto com a pessoa do Cristo. Esse contato
pessoal é o pilar de toda a vida espiritual, pois “A ignorância das
Escrituras é a ignorância de Cristo.” (João Paulo II)
A Palavra criadora de Deus é sempre uma fonte indispensá-
vel de motivação e de energia para o nosso crescimento pessoal,
para o nosso crescimento como casal e para a construção de
um mundo melhor.
É por isso que as Equipes de Nossa Senhora convidam cada
um a ouvir, quotidianamente, a palavra de Deus, reservando
um tempo para ler uma passagem da Bíblia, em particular os
Evangelhos, e refletir sobre essa passagem, em silêncio, para
melhor compreender o que Deus fala através das Escrituras.

b) A Meditação: encontrar o Senhor, todos os dias, numa


prece silenciosa.
“Sejam constantes na oração; que ela os mantenha vigilantes,
dando graças a Deus”. (Cl 4, 2)
Somos chamados a dar nosso tempo ao nosso Deus, para
uma conversa com Ele e viver sua presença. A meditação quo-
tidiana desenvolve em nós a capacidade de escuta e de diálogo
com Deus. Ela consiste em ter um tempo para estar a sós com
Aquele que nos ama. É um tempo de escuta silenciosa, de

24
coração a coração, um tempo de descoberta e de acolhimento
do projeto que Deus tem para nós.
Não existem regras rígidas para rezar. Cada pessoa decide
o que é apropriado para ela (quando, onde e como). O que
parece mais importante para desenvolver essa profunda união
com Deus é a perseverança e a regularidade.
“As palavras na meditação não são discursos mas gravetos
que alimentam o fogo do amor“.
(Catecismo da Igreja Católica, 2717)

c) A Oração Conjugal: rezar juntos, marido e mulher, todos


os dias.
“Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade”.
(Jo 17, 23)
Cristo está presente de uma maneira muito especial quando
os esposos rezam juntos. Não somente eles renovam o seu “sim”
a Deus, mas atingem essa unidade profunda que só se consegue
através da união dos corações e dos espíritos no sacramento
do matrimônio.
A oração conjugal torna-se a expressão comum de duas
orações individuais e deve nascer naturalmente de uma vida
partilhada. Se cada um dos esposos tem seu estilo de oração, é
importante que eles tentem desenvolver uma maneira comum
de rezar, para descobrir e viver uma nova dimensão de sua vida
conjugal. Sua oração em comum será mais fácil, mais autêntica
e profunda quando a escuta da Palavra de Deus e a oração
silenciosa são uma prática regular dos dois esposos.
O Magnificat, a oração de todas as Equipes de Nossa Se-
nhora, pode fazer parte dessa prece quotidiana.
Quando o casal tem filhos, é importante que um tempo seja
reservado para a oração em família. O casal é, para os filhos, seu
primeiro lugar de aprendizagem. Cabe aos pais transmitir-lhes
a fé e agir de tal maneira que a casa seja um lugar onde eles se
sintam à vontade para rezar. As crianças que estão crescendo
podem desejar uma relação mais pessoal com Deus; entretanto,
alguns continuam disponíveis para partilhar um momento de
oração em família, antes da refeição, por exemplo.

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d) O Dever de Sentar-se: encontrar, a cada mês, um tempo
de verdadeiro diálogo conjugal.
“Sejam submissos uns aos outros no temor de Cristo”. (Ef 5, 21)
O dever de sentar-se ajuda-nos a nos revelarmos, pouco a
pouco, ao nosso cônjuge.
É um tempo que marido e mulher passam juntos, sob o
olhar do Senhor, para dialogar com sinceridade, num ambiente
tranquilo. Esse tempo de manifestação dos sentimentos e dos
pensamentos entre os esposos permite um melhor conhecimen-
to e uma ajuda mútua. Permite fazer um balanço do passado,
analisar a vida conjugal e familiar, fazer projetos para o futuro
e conversar sobre o ideal que escolheram.
O dever de sentar-se evita a rotina da vida conjugal e man-
tém jovem e vivo o amor e o casamento. Seu valor é apreciado
por todos os casais que o praticam. Eles reconhecem nesse
encontro uma oportunidade para se amarem ainda mais.
É sempre bom começar o dever de sentar-se com uma
prece ou um momento de silêncio para que os casais tomem
consciência da presença de Deus. O silêncio aprofunda o olhar
de um sobre o outro, aproxima de Deus e cria uma atmosfera
favorável.

e) A Regra de Vida: propor-se esforços especiais


“Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens”. (Rm
12, 17)
A regra de vida consiste, portanto, em que os equipistas se
proponham um ou mais pontos sobre os quais cada membro
do casal decide, pessoalmente, concentrar seus esforços, para
seguir melhor a sua direção de crescimento e responder com
alegria ao apelo que o amor de Deus lhe dirige.
Escolher e assumir uma regra de vida ajuda cada um a aderir
pessoalmente e de maneira concreta ao projeto que Deus tem
para cada cônjuge e para o casal. É uma atitude ou diversas
atitudes práticas que se tomam, para progredir na direção de
um crescimento espiritual e humano. Não se trata de querer
multiplicar obrigações, mas nos é pedido que reforcemos, pouco

26
a pouco, com tenacidade, alguns dos nossos pontos fracos ou
que melhoremos algumas qualidades nossas.
Através da reflexão sobre os aspectos de nossa vida pessoal,
conjugal, familiar e de nossa vida de cristão, buscaremos a
verdade sobre nós mesmos, a fim de reconhecer aquilo que se
opõe à vontade de Deus.
Como se trata de um caminho espiritual, o avanço não é
linear e nós precisamos recomeçar sempre. É necessário revisar
essa regra de tempos em tempos.

f) O Retiro Anual: fazer, a cada ano, um retiro


“Vamos sozinhos para algum lugar deserto, para que vocês
descansem um pouco”. (Mc 6, 31)
Ter, a cada ano, um tempo suficiente para se colocar num
lugar isolado, diante do Senhor, se possível em casal, num
retiro que permita uma reflexão sobre sua vida, na presença
de Deus.
O retiro é um tempo privilegiado de parada, de escuta, de
oração e uma oportunidade de renovação espiritual. É também
um tempo forte para voltar-se para dentro de si mesmo e fazer
um exame geral de vida, sobretudo sobre o nosso caminho de
crescimento.
É, muitas vezes, uma possibilidade de melhorar o conheci-
mento do pensamento divino, que é entendido de uma maneira
fragmentária ou sumária, nas nossas leituras da Palavra e na
nossa vida do dia a dia.
Os casais das Equipes de Nossa Senhora são encorajados
a tirar proveito da atmosfera especial dos retiros para se reno-
varem. São convidados a deixar os locais onde vivem e onde
trabalham para que possam escutar a Deus e entender o plano
que Ele tem para o casal.

C) Uma vida de Equipe


A equipe não é um fim em si mesma; ela é um meio a serviço
de seus membros e lhes permite:
• viver tempos fortes de oração em comum e partilha;

27
• ajudar-se mutuamente, de maneira eficaz, a caminhar
para o Senhor e a ser um testemunho de seu amor.
Na vida de qualquer comunidade cristã podemos distinguir,
esquematicamente, três aspectos:
• Com Cristo – a equipe se volta para o Pai, para acolher
o seu amor;
• Em Cristo – a equipe partilha esse amor: “Eles eram um
só coração e uma só alma”;
• Impelida pelo Espírito de Cristo, a equipe envia seus
membros ao mundo para revelar esse amor.
Nenhum casal é obrigado a entrar nas Equipes ou nelas
permanecer. Mas pede-se, àqueles que dela fizerem parte, a
lealdade para com os outros membros e a prática da mística e
da pedagogia do Movimento, como também que permaneçam
ativos e fiéis ao Espírito.

a) A reunião de equipe
A reunião de equipe é o ponto mais alto da vida dessa pe-
quena comunidade.
É um momento privilegiado de partilha, num ambiente
de caridade e de amor fraternal. Um amor verdadeiro de um
pelo outro é exigente e não pode ser resultado de uma atitude
passiva. Essa partilha, entre todos, supõe um clima de confiança
mútua e de discrição da parte de cada um dos membros da
equipe.
A equipe reúne-se todos os meses na casa de um dos casais.
É muito importante que todos os membros da equipe estejam
presentes, para favorecer a harmonia e preservar a unidade
da equipe.
A reunião desenrola-se em cinco partes. Um tempo suficiente
deve ser dado para cada uma dessas partes:
• a refeição;
• a oração
• a partilha sobre os Pontos Concretos de Esforço;
• a coparticipação;
• a troca de ideias sobre o Tema de Reflexão.
Essa ordem pode mudar, de acordo com a vontade da equipe.

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• A refeição
“...e, nas casas, partiam o pão, tomando o alimento com
alegria e simplicidade de coração”. (At 2, 46)
A reunião começa geralmente por uma refeição. É impor-
tante que ela seja simples. Cada casal pode levar um prato.
Mas aqueles que não puderem fazer isso, por falta de tempo
ou meios financeiros, devem se sentir à vontade. O essencial é
que todos estejam presentes e participem.

• A coparticipação
“Sobretudo, conservem entre vocês um grande amor, porque
o amor cobre uma multidão de pecados”. (I Pd 4, 8)
É um tempo forte de ajuda mútua. A coparticipação pode
começar durante a refeição. É o momento em que os casais
falam dos acontecimentos importantes que viveram depois da
última reunião. Nesse momento, eles põem em comum suas
preocupações da vida quotidiana, seus engajamentos apostóli-
cos, suas alegrias, suas esperanças e seus cuidados. É da escuta
atenciosa de cada pessoa que pode nascer uma afeição autên-
tica e amorosa entre os membros da equipe. A coparticipação
reflete a vida dos membros da equipe que se reúne.

• A oração
“Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a
necessidade de rezar sempre, sem nunca desistir”. (Lc 18, 1)
“A oração é o diálogo pessoal do indivíduo e da comunidade
com Deus”. (Agenda do Papa João Paulo II para o terceiro
milênio)
A oração é um elemento essencial na vida de cada equipe.
É o centro e o ponto alto da reunião, e pode, às vezes, desde
que tenha sido feita uma solicitação prévia, tomar a forma de
uma celebração eucarística.
O tempo de oração começa pela leitura lenta, em voz alta,
de um texto das Escrituras, seguida por um tempo de silêncio
para acolher interiormente e meditar a palavra do Senhor.
Cada um expressa, em seguida, seu pensamento sobre o texto,
em forma de oração partilhada. É Deus que nos fala pela voz

29
de nossos irmãos. O silêncio, após cada meditação, é também
oração. Vivemos então a escuta da Palavra na “ecclesiola”
(pequena Igreja), que é a equipe.
Os equipistas apresentam, então, as suas intenções de ora-
ção, a fim de que todos possam aí se reunir, para render graças
e para pedir luz, força, perdão ou intercessão.
O tempo de oração termina por uma oração litúrgica: um
Pai-Nosso, o Magnificat, um canto, um salmo etc.

• A partilha sobre os Pontos Concretos de Esforço


“Com ardor e de coração sincero, amem-se uns aos outros”.
(IPd 1, 22)
A partilha é um tempo forte de ajuda mútua espiritual. É um
momento em que os equipistas se responsabilizam uns pelos
outros. Isso pode ser feito na busca de três atitudes:
• busca assídua da vontade de Deus;
• busca da verdade sobre nós mesmos;
• experiência do encontro e da comunhão.
Concretamente, cada equipista é convidado a partilhar sua
vivência dos Pontos Concretos de Esforço durante o mês que
passou.
A partilha sobre os Pontos Concretos de Esforço não é um
exame de consciência, nem a constatação de um sucesso ou de
um fracasso, mas uma releitura dos esforços necessários para
progredir na vida espiritual.
Numa equipe, cada um está num estado diferente na sua vida
espiritual e evolui no ritmo que lhe é próprio. É importantíssimo
que se aceite essa diversidade, para que todos possam falar de
si e de sua vida com confiança e liberdade. As experiências, os
progressos ou as dificuldades podem ajudar os outros a seguir
sua própria caminhada na fé.
A partilha dos Pontos Concretos de Esforço é feita após o
tempo de meditação e oração e dentro da mesma atmosfera.

• A troca de ideias sobre o tema de reflexão


É essencial, para cada casal cristão, reforçar e aprofundar
seu conhecimento da fé. Esse é o papel do tema de reflexão.

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Os temas de reflexão pedem uma atividade não só
intelectual, mas também espiritual – animada pelo Espírito
Santo – no estudo pessoal, na troca de ideias entre o casal,
antes da reunião, e na troca de ideias em equipe. O tema
provoca, na reunião, um confronto de reflexões que deve
ajudar no aprofundamento da fé e que repercute na vida de
cada um. A troca de ideias é uma oportunidade para que
os equipistas possam desenvolver e formar sua consciência
pessoal.
A reunião pode terminar com a oração adotada pelo
Movimento, o Magnificat, que os equipistas se comprometem
a rezar todos os dias, em comunhão com os membros das
Equipes do mundo inteiro.

b) A vida de equipe fora da reunião mensal


A vida de equipe não se limita à reunião mensal. A ora-
ção (em união com os irmãos da equipe e pelas intenções
que formularam na reunião), o diálogo, a partilha e o auxílio
mútuo (espiritual e material) prosseguem durante todo o mês,
da maneira escolhida por cada equipe. O Casal Responsável
deve estar sempre atento a isso.
É importante que os casais da equipe se beneficiem com
a amizade profunda que caracteriza uma equipe de Nossa
Senhora e que, fora da reunião mensal, eles se sintam ligados
à equipe, como a uma grande família.

c) A reunião de balanço
A última reunião do ano equipista é uma reunião de
balanço. Ela proporciona a todos os componentes do grupo a
oportunidade de refletir e dar sua opinião, abertamente e com
espírito cristão, sobre a situação da equipe (sua caminhada,
seus progressos ao longo do ano que termina) e preparar o
ano seguinte.
Não se pode esquecer que o mais importante é buscar a
vontade de Deus para o casal e para a equipe e discernir seu
apelo para viver, mais autenticamente, o amor caridade, que
é a alma de toda a comunidade cristã.

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d) O compromisso (engajamento)
De tempos em tempos, os equipistas são convidados a
renovar o seu compromisso de seguir lealmente o espírito e os
métodos do Movimento. Isso pode ser feito em uma cerimônia
simples, na própria reunião de equipe, ou num evento do setor
ou da região.

32
VII. A ORGANIZAÇÃO DAS
EQUIPES DE NOSSA SENHORA

A) O espírito da organização
Uma equipe de Nossa Senhora não pode viver isolada. As
Equipes constituem um Movimento que tem uma organização
destinada a coordenar, animar, ligar, apoiar, servir as equipes
e manter a unidade.
Uma equipe de base funciona, em primeiro lugar, graças ao
engajamento de seus membros e, depois, porque ela é ajudada
e nutrida pelo Movimento com o qual vive em comunhão.
A unidade é formada e mantida pelo desejo de progredir
juntos, na fidelidade ao espírito e aos métodos das Equipes de
Nossa Senhora.
A pertença dos membros, não somente à equipe, mas tam-
bém ao Movimento, expressa-se e concretiza-se pela:
• oração do “Magnificat” todos os dias, em união com os
outros membros das equipes através do mundo;
• leitura das “Cartas Mensais das Equipes de Nossa
Senhora”, publicadas nos diferentes escalões do Movi-
mento;
• participação nas manifestações e celebrações organiza-
das nos setores ou em nível regional, super-regional e
internacional;
• hospitalidade, acolhimento aos outros membros das Equi-
pes de Nossa Senhora quando houver oportunidade;
• aceitação de uma responsabilidade ou participação na
organização e na animação do Movimento;
• contribuição para a vida material do Movimento.
É importante que os membros das Equipes de Nossa Senhora
contribuam com uma quantia anual, de acordo com suas posses,
a fim de que o Movimento possa cumprir sua missão junto aos
casais. É difícil avaliar a quantia a ser dada; entretanto, sugere-se
que, a cada ano, os equipistas contribuam com o equivalente a
um dia de trabalho do casal. A ausência de meios financeiros

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não deve, jamais, ser um impedimento à participação de quem
quer que seja nas atividades do Movimento.
“Eles vendiam suas propriedades e repartiam o dinheiro entre
todos, conforme a necessidade de cada um”. (At 2,45)

B) A Equipe
Uma equipe é constituída de cinco a sete casais assistidos
por um sacerdote conselheiro espiritual.
Os membros das Equipes de Nossa Senhora são cristãos
unidos pelo Sacramento do Matrimônio e casados validamente
aos olhos da Igreja que:
• exprimem sua vontade de pertencer ao Movimento;
• aceitam tomar parte na vida comunitária da equipe e do
Movimento;
• comprometem-se a ser fiéis ao espírito e a pôr em prática
os métodos das Equipes de Nossa Senhora;
• respeitam a liberdade de consciência dos outros equipis-
tas e as suas diferenças humanas e sociais;
• procuram viver na fidelidade ao Papa, seguindo a dou-
trina da Igreja.
As viúvas e os viúvos, quando perdem seus cônjuges, podem
continuar na equipe.

a) O Casal Responsável
Cada equipe elege, a cada ano, um casal responsável. Sua
função consiste em encorajar e reforçar o compromisso dos
membros da equipe em relação a essa pequena comunidade,
para que o auxílio mútuo aí seja efetivo e cada um se sinta
verdadeiramente aceito, reconhecido e amado.
O casal responsável cuida para que todos participem ati-
vamente da reunião mensal da equipe e se preparem para
ela. Ele traz para a sua equipe as informações sobre a vida do
Movimento e encoraja os irmãos a participarem ativamente das
reuniões em todos os níveis da organização.
b) O Sacerdote Conselheiro Espiritual
Cada equipe deve ter a assistência de um sacerdote. Na

34
equipe, comunidade de Igreja, ele não é somente um conselheiro
espiritual, mas cumpre a sua função sacerdotal. Ele “torna presente
o Cristo como Cabeça do Corpo”. (Sínodo dos Bispos de 1971).
O sacerdote tem, assim, esse papel, que permite às Equipes
enriquecerem-se com o encontro dos dois sacramentos: o da
ordem e o do matrimônio.
Se uma equipe não puder contar com o auxílio de um sa-
cerdote conselheiro espiritual, cabe aos responsáveis do Setor,
fiéis às linhas mestras do Movimento, fazer com que ela tenha
um “acompanhador espiritual temporário”.

C) As instâncias de responsabilidade e de animação

a) O Setor
O setor é uma comunidade de equipes que querem ca-
minhar juntas e se ajudar mutuamente nesse caminho. Elas
formam uma unidade geográfica de cinco a vinte equipes,
aproximadamente, pequena bastante para lhes permitir uma
fácil comunicação entre elas, mas com equipes suficientes para
assegurar a animação.
A responsabilidade do setor é confiada a um casal, por um
convite do Movimento. Esse casal é chamado “Responsável
de Setor” e é ajudado por “uma equipe de setor”. Essa equipe
é constituída por alguns casais e um sacerdote, o Conselheiro
Espiritual do Setor. O tempo de serviço do Casal Responsável de
Se­tor é de três anos. O Casal Responsável de Setor é chamado
ao serviço pelo Casal Responsável Regional.
As funções da equipe de setor são: a animação espiritual,
a ligação, a formação, a organização de atividades, a difusão
do Movimento.

b) A Região
A região agrupa vários setores quase sempre vizinhos, com
o objetivo da ajuda mútua. É um lugar de comunicação e de
comunhão entre os casais responsáveis de setor, os membros
das equipes de setor e outros casais que assumem um serviço.
Um casal é escolhido como “Casal Responsável de Região” por

35
quatro anos. Com a ajuda de uma equipe e de um Conselheiro
Espiritual de Região, ele responde a um objetivo comum de
animação, de ligação, de formação, de difusão, de reflexão, de
discernimento e de construção da unidade, entre as equipes
da região.
O Casal Responsável Regional é chamado ao serviço pelo
Casal Responsável da Super-Região,ou pela ERI, consultando-se
os Responsáveis de Setor dessa Região.

c) A Super-Região
A Super-Região agrupa as regiões de um país, ou as regiões
de países vizinhos. A experiência mostra que 200 equipes
constituem uma boa base para permitir o funcionamento de
uma super-região.
A responsabilidade é confiada a um casal chamado “Casal
Responsável da Super-Região”. Ele chama outros casais e um
sacerdote para acompanhá-lo na sua função, na reflexão, no dis-
cernimento e na animação das regiões que lhe são confiadas.
Eles constituem, juntos, “a equipe de super-região” num es-
pírito de colegialidade, de corresponsabilidade e de comunhão.
O Casal Responsável de Super-Região exerce seu serviço pelo
espaço de cinco anos.
Sua missão deve ser vivida na fidelidade ao carisma fun-
dador, à vocação e à missão do Movimento. Neste quadro, o
Casal Super-Regional tem a responsabilidade de transmitir às
equipes as grandes orientações do Movimento e de velar pelo
cumprimento de sua pedagogia e de seus métodos. Ele também
é responsável pela unidade e comunhão, e pela formação dos
quadros e dos equipistas da Super-Região.
O Casal Super-Regional é membro do Colégio Internacio-
nal do Movimento. Ele é chamado pela Equipe Responsável
Internacional, consultando-se os responsáveis de Região desta
Super-Região.
Para certas Super-Regiões, nas quais o número de equipes
é muito grande, pode existir uma estrutura intermediária, do
tipo “província”, que reúne algumas regiões. Um casal é então

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escolhido para ser “Casal Responsável de Província”. Seu tempo
de serviço é de cinco anos.

d) A Zona de Ligação
O conceito de Zona de Ligação foi apresentado no Colé-
gio de Houston (julho de 2001). O mundo inteiro foi dividido
em quatro zonas geográficas: Centro-Europa, Europa-África,
Europa-Ásia, Américas. Trata-se de uma subdivisão que pode
ser modificada ao longo dos anos conforme as necessidades.
Cada Zona de Ligação é composta por um certo número de
Super-Regiões e de Regiões diretamente ligadas à ERI.
O objetivo das zonas é desenvolver uma ligação e uma
coordenação mais próximas, com o sentido da missão, da
unidade e da solidariedade para além das fronteiras nacionais.
A organização em Zonas deve favorecer a Comunicação e a
Ligação entre as Super-Regiões e as Regiões no interior de uma
mesma Zona, mas também entre as Super-Regiões e Regiões
das outras Zonas e a ERI.
A ERI mantém contato com todas as equipes do Movimen-
to graças aos Casais Responsáveis por Zonas, que são seus
membros. Por meio de contatos pessoais nos próprios países
ou então por intermédio dos meios de comunicação (telefone,
internet, e-mail), os casais responsáveis pelas Zonas e os casais
responsáveis por Super-Região e Região podem conhecer as
necessidades, os objetivos, os projetos, as ações, os êxitos e
fracassos de cada Super-Região e de cada Região.

e) A Equipe Responsável Internacional (ERI)


A Equipe Responsável Internacional é a instância de respon-
sabilidade geral do Movimento. A ERI, que trabalha em colegia-
lidade, é composta de cinco ou seis casais e de um sacerdote
conselheiro espiritual disponível para o Movimento.
A escolha dos membros da ERI se inspira no caráter inter-
nacional do Movimento. Eles se engajam a título pessoal e não
como representantes de seu país de origem.

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O tempo de serviço de cada casal na ERI é geralmente de
seis anos. A Equipe Responsável Internacional assume, em co-
legiado, a responsabilidade geral do Movimento e exerce esse
serviço em união estreita com os casais super-regionais.
Entre seus membros, a ERI convida um casal para ser res-
ponsável. Sua tarefa é a de garantir a animação e a comunhão
no seio da ERI e do Colégio Internacional. Esse casal é o repre-
sentante oficial do Movimento. Seu tempo de responsabilidade
é de seis anos.
É responsabilidade e missão da ERI:
• animar todo o Movimento;
• manter o Movimento ligado à Igreja universal;
• velar pela fidelidade à intuição fundadora do Movimento;
• exercer um discernimento a longo prazo;
• garantir a unidade do Movimento;
• expandir o Movimento; implantá-lo, particularmente, nos
países onde ele ainda não está presente, fora das zonas
de difusão das super-regiões.

f) O Colégio Internacional
O Colégio Internacional é uma instância de reflexão e de
troca de ideias, destinada a favorecer, em nível internacional,
um exercício, em colegiado, de responsabilidade geral do Mo-
vimento. Ele promove também a unidade e a comunhão entre
seus membros. O Colégio Internacional é composto pela ERI e
pelos casais super-regionais.
Periodicamente, os casais responsáveis das regiões isoladas
e das coordenações são convidados a participar da reflexão
do Colégio.

g) Casos particulares
• O Setor Isolado
Recebe o nome de setor isolado aquele que não pode ser
integrado, nem participar da vida de uma região porque está
geograficamente isolado. A responsabilidade se define e exerce

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da mesma maneira que a de um setor integrado a uma região.
A ligação de um setor isolado é feita por um membro de uma
equipe regional, de uma equipe de coordenação ou da ERI.
O casal responsável desse tipo de setor é nomeado pelo casal
responsável pela ligação.

• A Região Isolada
Assim é chamada uma região que não está integrada a uma
super-região e que possui um número de equipes insuficiente
para se tornar uma super-região.
A responsabilidade de uma região isolada se define e se
exerce da mesma maneira que a de uma região integrada a
uma super-região.

h) As estruturas intermediárias temporárias


Em certas circunstâncias, geralmente por razões de ordem
geográfica, notadamente quando as distâncias são muito gran-
des, podem-se formar estruturas intermediárias e temporárias
para favorecer a animação e a expansão do Movimento.

• O Pré-Setor e a Pré-Região
Os casais animadores desses escalões intermediários têm
uma responsabilidade e um tempo de serviço semelhante
àquela do casal regional ou do casal de setor.

• A Coordenação Regional e Inter-Regional


Damos esse nome a uma estrutura intermediária e temporá-
ria que agrupa um conjunto heterogêneo de entidades disper-
sas numa zona geográfica determinada (regiões, pré-regiões,
setores, pré-setores, setores isolados, equipes isoladas) e que
não dispõem de um número suficiente de equipes para ter a
organização de uma região isolada ou de uma super-região.
A responsabilidade de uma coordenação regional ou inter-
regional é confiada pelo Movimento a um “casal coordenador”.
Sua nomeação é feita pela ERI e seu tempo de serviço é de
quatro anos.

39
VIII. OS SERVIÇOS
DO MOVIMENTO

“Quem se dedica ao serviço, faça-o com as forças que Deus


lhe dá”. (1 Pd 4, 11)

A) A Responsabilidade: um serviço

“Uma responsabilidade espiritual só pode ser recebida do


Senhor e ninguém pode se apropriar dela. Isto quer dizer que
é preciso manter-se em união com Aquele que nos confiou
essa responsabilidade”. (Pe. Roger Tandonnet)

Esse é o espírito da responsabilidade nas Equipes de Nossa


Senhora. Muitas vezes, entre os homens, “responsabilidade” é
sinônimo de força e de poder. Quando Cristo lavou os pés de
seus discípulos, mostrou-nos uma outra maneira de exercer
nossa responsabilidade nas Equipes, pondo-nos a serviço de
nossos irmãos e irmãs. Nas Equipes, a responsabilidade é um
convite a um amor maior, e todas as responsabilidades são
apelos ao serviço.
A responsabilidade nas Equipes de Nossa Senhora é exercida
por casais, isto é, os dois cônjuges juntos. Eles o fazem com a
ajuda de outros casais, em uma equipe de serviço, assistida por
um sacerdote conselheiro espiritual, num clima de correspon-
sabilidade, colegialidade e comunhão.
Assumir um serviço implica um bom conhecimento do
trabalho a fazer e do Movimento como um todo.
Todo o serviço que se presta no Movimento tem um tempo
limitado: a duração varia segundo os diferentes escalões de
responsabilidade.
As diversas responsabilidades são explicadas num docu-
mento, “A Responsabilidade nas Equipes de Nossa Senhora”.
Damos, entretanto, neste guia, uma pequena ideia do que são
essas responsabilidades.

40
B) A Ligação
Uma equipe não caminha sozinha. A ligação é indispensável
para a construção de um espírito de comunidade e unidade,
para dar o sentido de pertença ao Movimento e da fidelidade aos
seus objetivos e ao carisma fundador. É a ligação que permite a
comunicação das equipes entre si e com o Movimento.
Ela é indispensável em todas as instâncias de responsabilidade
e particularmente importante entre as equipes e o setor,
instância essencial para a vida das equipes.
A forma de ligação será adaptada para responder às
situações particulares. Deve ser pessoal e, sempre que possível,
promover encontros. A ligação deve ser feita num espírito de
oração e amizade.
Os casais ligação se empenham para que os casais das
equipes das quais se ocupam recebam o suporte necessário
para viver sua espiritualidade conjugal, com a ajuda dos meios
propostos pelo Movimento.

41
IX. AS EQUIPES NOVAS
NO MOVIMENTO

A) A expansão do Movimento
As Equipes de Nossa Senhora, como um presente do Espírito
Santo, são confiadas aos bons cuidados de todos os seus mem-
bros. A responsabilidade do seu desenvolvimento, de forma a
permitir que outros casais vivam esse dom de Deus, é de cada
equipista, sem exceção.
Os equipistas querem que outros casais conheçam o Movi-
mento porque estão persuadidos de que ele pode ajudar muitos
casais, nos dias de hoje, a descobrir e seguir o Cristo.
Entretanto, cabe a cada setor a responsabilidade de coorde-
nar e organizar a expansão e as reuniões de informação sobre
as Equipes de Nossa Senhora. A maneira de proceder pode
variar de um setor a outro, em função do contexto local e dos
carismas próprios dos casais encarregados dessa tarefa.

B) A Informação
O trabalho de informação tem como finalidade explicar,
com toda a clareza e objetividade, o que é o Movimento, suas
riquezas e suas exigências.
Trata-se de apresentar as Equipes de Nossa Senhora, seus
objetivos, sua proposta, seus meios e seus métodos, apoiando-
se em documentos do Movimento e também de mostrar o que
elas são hoje e como estão inseridas na Igreja.
Cada setor deve organizar a reunião de informação em
função da realidade local.

C) A Pilotagem
É essencial que se tenha muito cuidado na formação de uma
nova equipe. A equipe de base é a célula mais importante do Movi-
mento. De sua vitalidade depende o Movimento como um todo.

42
Um casal chamado “Casal Piloto” acompanha a nova equipe
durante alguns meses. Ele transmite aos casais o conhecimento,
o espírito e os métodos do Movimento, gradualmente, expli-
cando à nova equipe, em diferentes fases, a sua pedagogia. O
casal piloto utiliza documentos específicos para realizar esse
serviço.
No fim da pilotagem, um fim de semana de formação para
novas equipes ou um retiro pode ser organizado, de tal manei-
ra que os membros possam aprofundar seu conhecimento do
Movimento, encontrar novos casais e melhor engajar-se.

D) As Experiências Comunitárias*
Os equipistas, enriquecidos e sustentados pela vida do Mo-
vimento, são incentivados a se engajar nas necessidades de sua
comunidade paroquial, ao serviço da Igreja.
Diante da urgência da tarefa de evangelização, as ENS to-
maram consciência da necessidade de permitir a outros casais
descobrir a fé cristã e recomeçar uma caminhada de Igreja.
Essa experiência tem dado origem a várias iniciativas que
vêm ajudar os casais que não fazem parte das Equipes de Nossa
Senhora, dando-lhes oportunidade de se reunir em grupo para
se ajudar mutuamente na busca de uma vida engajada.
Durante alguns meses, os casais equipistas partilham com
um grupo de casais sua vivência e seu conhecimento da vida
cristã, da vida conjugal e familiar, como também da vida em
comunidade.
No fim da experiência, as Equipes de Nossa Senhora são
apresentadas ao grupo, como uma opção para aqueles que têm
o desejo de continuar a fazer parte de uma comunidade.

* Em alguns países são chamadas experiências de caminhada.

43
X. A VIDA DAS
EQUIPES DE NOSSA SENHORA COMO
MOVIMENTO

Os membros das equipes são convidados a se integrar e


colaborar na vida do Movimento e nas suas estruturas, trazendo
uma colaboração gratuita e leal.
Além das reuniões de equipe e das reuniões de trabalho dos
diversos escalões, outras atividades mais formais ou oficiais são
organizadas, tais como:

A) As reuniões de Setor, de Região, de Super-Região etc...


Uma vez por ano, pelo menos, uma reunião é organizada em
cada setor, região ou super-região, para reunir todos os casais
que têm responsabilidades específicas no Movimento. É uma
oportunidade para rezar juntos, construir a unidade e a comu-
nhão, propor orientações, formar, encontrar os responsáveis
locais do Movimento e informar-se sobre a evolução em nível
regional, nacional e internacional.

B) As Sessões de Formação
As sessões de formação são tempos importantes da vida das
Equipes. Seu objetivo é formar os equipistas ou aprofundar o
conhecimento do espírito e dos métodos do Movimento. Dando
aos equipistas essa oportunidade, para aprofundar a proposta de
vida das Equipes de Nossa Senhora, eles se tornam mais seguros
em seu engajamento. Passam a viver melhor o Movimento e são
mais capazes de desempenhar suas responsabilidades.
Uma sessão de formação é, normalmente, fechada e deve
durar, no mínimo, um fim de semana. Esses dias, impregnados
da atmosfera das equipes, passados com casais provenientes
de equipes diferentes, são um tempo forte de formação, de
amizade e partilha.
O programa consiste numa sucessão de tempos de oração,

44
de conferências e de troca de ideias que vão enriquecer e
melhorar a vida dos participantes.
Uma sessão internacional reúne equipistas de diferentes
países. Esse período de formação é enriquecido pela troca de
ideias entre casais de culturas diferentes, que viveram experi-
ências diversas, vindos dos meios mais variados.
As sessões de férias são uma combinação de sessão de
formação e de férias. Cria uma oportunidade única para toda
a família viver um tempo espiritual partilhado. O programa
inclui atividades para as crianças e tempos de relaxamento
em família.

C) Os Encontros Internacionais
O Movimento organiza encontros internacionais a intervalos
regulares. São tempos fortes de oração, de troca de ideias e
de orientação das Equipes de Nossa Senhora na sua univer-
salidade.
As “orientações” para o conjunto de equipistas são as priori-
dades do Movimento para os anos seguintes, propostas a partir
da observação da realidade e das necessidades dos casais.
Esses eventos são um sinal importante de unidade de espírito
e reúnem milhares de casais do mundo inteiro num ambiente
de alegria e de louvor a Deus.

45
XI. A MISSÃO

As Equipes de Nossa Senhora são um Movimen-


to que ajuda os seus casais a serem ativos na Igreja e
no mundo.
O Movimento como tal pode participar, a pedido da Igre-
ja, na pastoral que ela organiza, especialmente no domínio
dos casais e das famílias.

A) Missão do Movimento
As Equipes de Nossa Senhora têm uma missão específica
e direta: ajudar os casais a viver plenamente seu sacramento
do matrimônio.
Elas têm, ao mesmo tempo, um objetivo missionário: anun-
ciar ao mundo os valores do casamento cristão, pela palavra e
pelo testemunho de vida. (A Segunda Inspiração – 1988)

B) Missão dos equipistas


“A sociedade contemporânea tem principalmente neces-
sidade do testemunho de casais que perseveram no seu
casamento, como um Sinal eloquente (apesar das dificul-
dades enfrentadas) de nossa condição humana e do amor
constante de Deus”. (João Paulo II, Agenda Para o Terceiro
Milênio).
“Se as Equipes de Nossa Senhora não são um viveiro de ho-
mens e de mulheres prontos a assumir, corajosamente, todas
as responsabilidades na Igreja e no mundo, elas perdem sua
razão de ser”. (Pe. Henri Caffarel)

a) Missão no Movimento
Os equipistas devem pôr os dons que receberam de Deus a
serviço de sua própria equipe, de seu setor e da sua região:
• participando de um esforço comum para viver plena-
mente a comunidade e aumentar a ajuda mútua;
• dando apoio àqueles que respondem ao chamado para
um serviço e aceitam uma responsabilidade;

46
• colaborando nos empreendimentos que são lançados
em resposta às crescentes aspirações dos casais.
“A ninguém é permitido permanecer inativo”. (João
Paulo II, Christifidelis Laici).

b) Missão na Igreja
As Equipes, como tais, não se engajam numa ação deter-
minada e de conjunto, pois cada casal deve descobrir o apelo
ao qual o Senhor deseja que ele responda.
Mas essa liberdade muito fecunda nos vários engajamentos
não deve fazer com que esqueçamos que o Movimento tem um
carisma que lhe é próprio e que não pode “furtar-se aos seus
semelhantes” e aos apelos específicos dos bispos no campo da
pastoral familiar.
“É importante também que as Equipes:
• abram-se a outros meios sociais e se preocupem com as
necessidades de seu país, de preferência com aquelas que
forem indicadas pela Igreja local”. (A Segunda Inspiração
– 1988).
• respondam ao apelo da Igreja para uma nova evange­
lização fundada no amor e na vida de família. “Hoje, a
Igreja tem mais necessidade de leigos casados, com uma
boa formação, em que a fé e a vida se nutrem mutuamen-
te. Os casais cristãos têm também um dever missionário
e um dever de ajuda em relação aos outros casais, aos
quais desejam transmitir sua experiência e manifestar
que Cristo é a fonte de toda a vida conjugal”.
(João Paulo II – 50º aniversário da CARTA)

c) Missão no mundo
Os casais são chamados a ser fermento de renovação, não
somente na Igreja, mas também no mundo e a mostrar, através
de seu testemunho, que:
• o casamento está a serviço do amor;
• o casamento está a serviço da felicidade;
• o casamento está a serviço da santidade.

47
“Muitos lares vos ficarão gratos pela ajuda que assim lhes
haveis de dar. Evidentemente, hoje, a maior parte dos casais
tem necessidade de ser ajudados”. (Paulo VI às ENS – 1976)

Para realizar a sua missão, os casais das Equipes de Nossa


Senhora devem sempre sustentar as suas ações na oração.
“Não é a oração a força que nos tira para fora de nós mesmos
e nos lança ao serviço dos outros? É através dela que os meios
humanos alcançam sua plena eficácia, e é ela que continua a
poder, quando esses meios nada mais podem conseguir por
si mesmos”. (Pe. Henri Caffarel)

48
XII TEXTOS DE REFERÊNCIA

Para um consulta mais profunda:


• Estatuto das Equipes de Nossa Senhora (1947) edição
1972 – Anexo 1
• Carta do Cardeal FELTIN Março (1960) – Anexo 2
• Decreto de Reconhecimento Abril (1992) – Anexo 3
• O que é uma Equipe de Nossa Senhora? (1977)
– Anexo 4*
• A Segunda Inspiração (1988) – Anexo 5

• A Missão do Casal Cristão – Henri Caffarel


• Henri Caffarel – Um homem arrebatado por Deus
• Mística dos Pontos Concretos de Esforço e Partilha
• A Regra de vida
• Escutar a Palavra de Deus
• Carisma – Mística – Espiritualidade
• O dever de sentar-se
• A Responsabilidade nas Equipes de Nossa Senhora
• O Sacerdote Conselheiro Espiritual
• O Casal Responsável de Equipe
• Manual do Casal Ligação
• Vem e Segue-me – Pilotagem
• Conferências e Editoriais do Padre Caffarel nas ENS nas
Cartas Mensais das ENS

* Na edição brasileira foram acrescentados os Anexos 4 e 5 para facilidade de consulta.

49
Anexo 1

Estatuto das
Equipes de Nossa Senhora
1947 - 1972

Razão de ser das Equipes de Nossa Senhora


Vivemos uma época de contrastes. Por um lado, o divórcio,
o adultério, a união livre, o neomaltusianismo triunfam. Por
outro lado, multiplicam-se os casais que aspiram a uma vida
integralmente cristã. Alguns destes últimos fundaram as Equipes
de Nossa Senhora.
Ambicionam levar até o fim o compromisso de seu Batismo.
Querem viver para Cristo, com Cristo, por Cristo.
Entregam-se-LHE sem condições.
Resolvem servi-LO sem discutir.
Reconhecem n' ELE o chefe e Senhor do seu lar.
Fazem de seu Evangelho o fundamento da própria família.
Querem que o seu amor, santificado pelo Sacramento do
Matrimônio, seja:
• um louvor a Deus,
• um testemunho aos homens – demonstrando-lhes, com
toda evidência, que Cristo salvou o amor,
• uma reparação dos pecados contra o Matrimônio.
Querem ser, por toda parte, os missionários de Cristo.
Devotados à Igreja, querem estar sempre prontos a respon-
der aos apelos de seu bispo e de seus sacerdotes.
Querem ser competentes na própria profissão.
Querem fazer de todas as suas atividades, uma colaboração
à obra de Deus e um serviço prestado aos homens.
Porque conhecem a própria fraqueza e a limitação das pró-
prias forças, como também da boa vontade que os anima.
Porque a experiência de todos dias prova-lhes o quanto é difícil
viver como cristãos num mundo pagão, e porque depositam uma

50
fé indefectível no poder do auxílio mútuo fraternal, decidiram
unir-se em equipe.
Tais equipes não são abrigos para adultos bem intenciona-
dos, mas sim grupos de voluntários, generosos e ativos.
Ninguém é obrigado a ingressar nas Equipes ou nelas per-
manecer.
Quem delas fizer parte, porém, deve com lealdade fazê-lo
francamente.

Sentido da denominação
A palavra EQUIPE, preferida a qualquer outra, implica a
ideia de um fim preciso, procurado ativamente e em comum.
As equipes colocam-se sob o patrocínio de Nossa Senhora.
Com isto acentuam o desejo de servi-la e afirmam que não há
melhor guia para levar a Deus do que a própria Mãe de Deus.

Mística das Equipes


Auxílio mútuo
1o Não há vida cristã sem fé viva. Não há fé viva e pro-
gressiva sem reflexão. De fato, o maior número dos cristãos
casados renuncia a todo esforço de estudo e de meditação,
por não conhecerem a sua importância, por falta igualmente
de tempo, de orientação, de treino. Por isso sua fé conserva-se
medíocre e frágil; o conhecimento do pensamento divino, do
ensina­mento da Igreja, sumário e fragmentário. Conhecem mal
os caminhos da união com Deus. Só têm uma ideia superficial
das realidades familiares: casamento, amor, paternidade, edu-
cação etc... Consequências: pouca vitalidade religiosa, uma
irradiação muito limitada.
Os casais das Equipes querem reagir. Assim sendo, esforçam-
se em aprofundar os próprios conhecimentos religiosos e em
avaliar as exigências de Cristo a fim de conformarem toda sua
vida com essas exigências.
É em comum que realizam este esforço.
2o. Não se trata apenas de conhecer a Deus e a seus ensina­

51
men­tos, mas sim encontrá-LO: ao estudo é necessário juntar
a oração. Nas Equipes de Nossa Senhora, como os casais
auxiliam-se mutuamente no estudo, assim também o fazem na
oração. Rezam uns com os outros. Rezam uns pelos outros.
“Em verdade eu vos digo que, se dois entre vós sobre a terra
se unirem para pedir alguma coisa a meu Pai, Ele os atenderá.
Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu
estou no meio deles”. (Mt 18, 19-20).
Escudados na promessa do Senhor, os casais das Equipes
esmeram-se em não perder de vista a presença de Cristo entre
eles e praticam a oração em comum com alegria e confiança.
3o. Não seria ilusório pretender ajudar os amigos a levarem
uma vida espiritual, sem auxiliá-los primeiramente a superar as
próprias preocupações e dificuldades? É por isso que os casais
das Equipes de Nossa Senhora praticam entre si o auxílio mútuo,
tanto no plano material como no plano moral, obedientes ao
grande ensinamento de São Paulo:
“Carregai os fardos uns dos outros e desta maneira cumprireis
a lei de Cristo” (Gl 6,2).
Esforçam-se, portanto, em satisfazer a quádrupla exigência
da amizade fraterna: dar, receber (é mais difícil que dar) pedir
(é ainda mais difícil), saber recusar (a simplicidade em saber
pedir não pode existir onde não haja a simplicidade em recusar
o serviço pedido, quando este não puder ser prestado sem uma
dificuldade excessiva).
O auxílio mútuo deveria conseguir esta legítima segurança
que tantos outros esperam do dinheiro.

Testemunho
Ante os primeiros cristãos de quem nos falam os Atos dos
Apóstolos (4,32) que “eram um só coração e uma só alma”,
os pagãos admiravam-se: “vede como eles se amam”. E a
admiração levava à adesão. Teria a caridade fraterna perdido,
no século XX, o poder de irradiação e de sedução que possuía
nos primeiros tempos da Igreja? As Equipes de Nossa Senhora
entendem que, hoje como então, os não-crentes serão ganhos
para Cristo se virem os casais cristãos amarem-se realmente e

52
auxiliarem-se mutuamente na procura de Deus e no serviço
prestado aos seus irmãos. Assim, o amor fraterno, ultrapassando
o auxílio mútuo, torna-se testemunho.

Disciplina das Equipes


Esta mística das Equipes, para ser viva e duradoura, exige
uma regra. Mística e regra, como a alma e o corpo, não podem
passar uma sem a outra; a mística deve ser a alma da regra; a
regra o suporte e a salvaguarda da mística.
A regra deve ser suficientemente suave para não entravar
a personalidade e a missão dos cônjuges, bastante severa para
preservá-los da moleza.

A Equipe
A Equipe compõe-se de 5 a 7 casais. Um deles é responsável
por ela. É importante que este número não seja ultrapassado.
Além deste limite, a intimidade torna-se de realização mais
difícil e perde em qualidade.

A reunião mensal
A amizade resiste mal à separação prolongada. Exige encon-
tros. É por isso que a Equipe reúne-se pelo menos uma vez por
mês. O comparecimento à reunião mensal é obrigatório – Eis
o esquema:
• Refeição em comum – É muito bom começar a reunião mensal
com uma refeição em comum, ora na residência de um, ora
na de outro dos casais da Equipe (na medida do possível, evi-
dentemente). Os homens nada inventaram ainda de melhor
que uma refeição para se reunirem e estreitarem os laços de
amizade: não é, por acaso, aí que se reagrupa a família? Não
é a refeição eucarística que reúne os filhos de Deus? Os Atos
dos Apóstolos relatam-nos que os primeiros cristãos “partiam
juntos o pão em suas casas e tomavam o próprio alimento com
alegria e simplicidade de coração”. (Atos 2,46)
• Oração em comum – A oração em comum é o grande meio
para um encontro em profundidade, para a aquisição de

53
uma alma comum e para se tomar consciência da presença
de Cristo em meio aos seus. Entretanto, ela somente opera
nestes vários sentidos se, suficientemente prolongada, ajudar
a deixar as preocupações e a fazer silêncio. Consagra-se a ela
pelo menos um quarto de hora, antes da troca de ideias.
Logo antes da oração, os casais põem em comum suas
intenções. Para que sejam realmente adotadas por todos, a
sua apresentação deve ser suficientemente circunstanciada
e deve ficar bem evidente que são muito caras ao coração
daqueles que as recomendam.
Evocam-se, em seguida, a fim de serem também adotadas
na oração, as intenções atuais da grande família católica (por
exemplo: cristãos perseguidos, missões em dificuldade, deter-
minado esforço de apostolado, as vocações sacerdotais etc).
Para que esta oração em comum dilate os corações e os
faça pulsar segundo o ritmo da Igreja, comportará salmos,
orações e hinos do breviário e do missal, que serão propostos
às Equipes na Carta Mensal.
Outra parte da oração consistirá em cada um comunicar
aos outros, em voz alta, as reflexões e sentimentos que lhes
forem sugeridos pelo texto da Escritura indicado no Estatuto
das ENS. Dever-se-á também prever um tempo de silêncio
a fim de se permitir que cada um tenha um contato mais
íntimo e mais pessoal com Deus.

• Partilha e Coparticipação – Após a oração, um momento é con-


sagrado à “partilha” sobre as obrigações da Carta.1 Cada casal
diz, com toda franqueza, se observou, durante o mês decorrido,
as obrigações que lhe cabiam, preconizadas na Carta.
Nas reuniões mensais, um momento deve ser reservado (pode
ser a própria refeição) para que sejam postos em comum as
preocupações familiares, profissionais, cívicas, eclesiais, os
fracassos, as descobertas, tristezas e alegria de cada um.
Há, bem entendido, um domínio mais íntimo e pessoal que
seria errado desvendar, sob o pretexto de amizade. Nas
Equipes reage-se contra este impudor, por demais frequente
hoje em dia, de casais que não hesitam em revelar a todos

1 Estatuto

54
os próprios problemas da vida conjugal. Feita esta ressalva,
insere-se na linha da verdadeira caridade evangélica a prática
deste pôr em comum como também a de buscar com toda a
simplicidade o auxílio mútuo fraternal. Quantos casais seriam
salvos da mediocridade, até mesmo da falência, no dia em
que não se sentissem sozinhos para enfrentar a luta.
• Troca de ideias – As conversas que não se realizam na
presença de Deus arriscam-se a cair no diletantismo: o in-
telecto brinca com as ideias, o coração recusa sua atenção
às verdades que exigem uma transformação. Nas Equipes
é preciso esforçar-se para que haja absoluta lealdade; toda
verdade melhor conhecida deve inserir-se na vida.
As trocas de pontos de vista somente são fecundas na medida
em que são preparadas. Por isso os cônjuges devem estudar
juntos o tema de estudo e enviar por escrito suas reflexões
ao casal designado para dirigir a próxima troca de ideias,
alguns dias antes da reunião. Esta obrigação de um tempo
de reflexão em comum cada mês, que lhes é proposta,
revelou-se de grande proveito para todos.
O auxílio mútuo no plano do estudo exige que a troca de
ideias seja preparada por todos; é ainda mais necessário
neste plano que no material, onde, entretanto, cada um
teria escrúpulo em receber dos outros, sem nada lhes dar.
Os assuntos das trocas de ideias não são deixados à livre
escolha das Equipes; são dados pela Equipe Responsável,
não em nome de um autoritarismo arbitrário, mas com o
fim de auxiliar os casais a adquirir uma visão tão completa
quanto possível do pensamento cristão e a iniciar-se em uma
autêntica espiritualidade conjugal e familiar.
Os três primeiros anos são consagrados aos temas funda-
mentais, referentes ao amor, ao casamento, à espiritualidade
conjugal.
Depois destes três anos, as Equipes podem escolher entre
várias séries de assuntos para os quais lhes são fornecidos,
como para os três primeiros, planos de trabalho, questioná-
rios, referências.

55
É recomendável que se organizem encontros suplementa-
res, seja para novas trocas de ideias, seja simplesmente para
alimentar a amizade.

Obrigações de cada casal


Os casais, nós já vimos, vêm procurar auxílio nas Equipes.
Não são, por outro lado, dispensados de esforços. É para
orientá-los e ajudá-los nos seus esforços que as Equipes lhes
pedem:
a) Fixarem eles mesmos uma regra de vida (a grande diver-
sidade de casais não permite propor a mesma para todos).
Sem regra de vida, a fantasia preside frequentemente a vida
religiosa dos cônjuges e torna-se caótica. Esta regra de vida
(inútil dizer que cada cônjuge deve ter a sua) nada mais é
do que a determinação dos esforços que cada um resolve
impor-se para melhor responder à vontade de Deus sobre si.
Não se trata de multiplicar as obrigações, mas sim de defini-
las, a fim de fortalecer a vontade e evitar desvios. O conselho
e o controle de um padre são desejáveis, a fim de se evitar
a sobrecarga ou a facilidade. Não há nenhuma obrigação
em dar a conhecer à Equipe a regra de vida adotada, nem a
maneira como se observa. Notemos, entretanto, que muitos
levam até aí o espírito de auxílio mútuo.
b) Rezar juntos e com os filhos, uma vez por dia, na medida
do possível, porque a família como tal deve culto a Deus e
porque a oração comum tem um grande poder.
c) Rezar diariamente a oração das Equipes de Nossa Senho-
ra, em união com todos os casais do Movimento.
d) Praticar mensalmente o “dever de sentar-se”. É a ocasião,
para cada casal, de fazer um balanço da própria vida.
e) Estudar conjuntamente marido e mulher o tema de es-
tudos mensal e enviar suas reflexões, por escrito, antes da
reunião. Assistir à reunião.
f) Ler cada mês o editorial da Carta Mensal.
g) Fazer cada ano um retiro fechado de 48 horas, no mínimo,
marido e mulher juntos na medida do possível. É obrigatório
pelo menos um retiro, antes do compromisso da Equipe.

56
h) Dar cada ano, a título de contribuição, o produto de um
dia de trabalho para assegurar a vida material e a expansão
do Movimento ao qual devem, de certo modo, o próprio
enriquecimento espiritual.
i) Entrar em contato e acolher com o coração fraterno,
quando se lhes oferecer oportunidade, os casais de outras
equipes.
Depois de maio de 1970 é igualmente pedido a cada mem-
bro das ENS:
• consagrar 10 minutos, cada dia, à meditação;
• proceder assiduamente à leitura da Palavra de Deus,
cada qual tendo a liberdade de escolher a maneira de
fazê-lo durante o mês;
• estudar o que é a ascese cristã e esforçar-se por integrá-la
na própria vida de cristão casado. (cf. ”As ENS em face
do ateísmo”).

Estrutura das Equipes


O Casal Responsável da Equipe
Uma fórmula simples define o papel do Casal Responsável
e assinala a sua importância capital: é o responsável pelo amor
fraterno. Dele depende que a equipe seja uma vitória de ca-
ridade evangélica e que cada casal nela encontre o auxílio de
que tem necessidade.
Recomenda-se-lhe com grande empenho que prepare a
reunião mensal juntamente com o Conselheiro Espiritual.
É o Casal Responsável que assegura a ligação com a Equi-
pe Responsável e, por intermédio desta, com o conjunto das
Equipes de Nossa Senhora.
Cada mês envia ao seu “Casal Ligação” o relatório das ati-
vidades de sua Equipe. Estes relatórios permitem que a Carta
Mensal leve cada uma das equipes a beneficiar-se com a expe-
riência das demais. Permitem também verificar eventualmente
algum esmorecimento. A Equipe Responsável pode neste caso
vir em seu auxílio. Toda Equipe que não quer ou não pode
observar as regras do jogo é eliminada. Disciplina necessária:

57
quantos agrupamentos periclitam, abafados pouco a pouco sob
o peso dos membros inertes que não foram eliminados a tempo.
Quando o Casal Responsável é forçado a eliminar um casal
que não cumpre com os compromissos das Equipes, deve fazê-lo
compreender que, se o interesse geral requer o seu afastamento,
a estima que se tem para com ele não se modificou. Esforçar-
se-á para que os contatos e os laços de amizade continuem
estreitos.
O Casal Responsável é designado pelos casais da Equipe
por ocasião de sua fundação, e, em seguida, no final de cada
ano equipista. Aquele que exerceu esta função durante o ano
pode ser novamente designado. A Equipe Responsável tem o
direito de veto sobre esta designação.
O Casal Responsável da Equipe somente desempenhará
bem a sua missão se recorrer à oração. Por isso os dois cônju-
ges assumem o compromisso, salvo impedimento sério, de ir
à missa uma vez no decorrer da semana e fazer 10 minutos de
meditação diária.

O papel do Sacerdote na Equipe


Cada Equipe deve contar com o concurso de um sacerdote.
Todos os planos de trabalho, com efeito, não podem substituir
a contribuição doutrinária e espiritual do sacerdote. É ele que
não somente dá os princípios, mas ainda auxilia os casais a pro-
curarem aplicá-los na própria vida. Esta colaboração é frutífera.
Sacerdotes e casais aprendem a compreender-se, a estimar-se,
a auxiliar-se mutuamente: as grandes intenções apostólicas do
sacerdote são adotadas pelos casais; o sacerdote, por sua vez,
lembrar-se-á, nas missas por ele celebradas, dos casais de quem
conhece os esforços, as lutas, os anseios.

Lançamento de uma nova Equipe


Lançar uma nova equipe é coisa delicada. Um início por demais
rápido, sem que os objetivos e os métodos tenham sido bem defi-
nidos, determina quase sempre um fracasso. É preciso, portanto,
uma preparação; um mínimo de três reuniões consagradas à leitura
e comentário da Carta, sob a direção de um “casal piloto”.

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Após um ano, pelo menos, os casais da equipe nova são
convidados a se compromissarem. Em seguida, na presença
de um casal representando a Equipe Responsável, assumirão
o compromisso de observar lealmente a Carta das Equipes de
Nossa Senhora, no seu espírito e na sua letra.

Admissão de um novo casal numa Equipe


O novo casal deve tomar conhecimento da Carta. Com
a ajuda do Casal Responsável ou de um casal da Equipe, ele
estuda a Carta e exercita-se em praticar progressivamente as
obrigações. Após um ano mais ou menos de experiência leal,
assume o compromisso com a Equipe por ocasião da renovação
do compromisso dos outros casais.
Como fazer para que o novo casal venha a ter a formação
adquirida pelos outros casais no decorrer do estudo dos temas
de base? Compete ao Casal Responsável ajudá-lo a estudar os
temas fundamentais, podendo dispensá-lo durante algum tempo
de responder aos questionários que vêm sendo estudados na
Equipe.

A Carta Mensal
Entre a Equipe Responsável e as equipes, por mais afastadas
que se encontrem, um contato estreito é muito necessário. Nem
é menos importante que haja entre as próprias equipes um laço
fraternal, feito de conhecimento mútuo, colaboração, oração.
A Carta Mensal, endereçada a cada casal, estabelece e
mantém esta dupla ligação vertical e horizontal. Encontram-
se nela as notícias das equipes, o relato das experiências mais
interessantes, o editorial a que já nos referimos, os textos de
oração para a reunião mensal, informações etc...

Casais Ligação – Setores – Regiões


Embora muito útil, a Carta Mensal não é ainda suficiente
para que os laços entre a Equipe Responsável e as equipes
sejam tão estreitos e fecundos quanto é desejável. É aos dife-
rentes Quadros do Movimento que se atribuirá a incumbência
de atingir tal objetivo.

59
Cada Equipe é confiada a um Casal Ligação (cada casal
ligação ocupa-se de 3 a 5 equipes). Por outro lado, as equipes
são reagrupadas em Setores e os setores em Regiões: Casal
Responsável de Setor e Casal Regional têm a responsabilidade
do bom andamento das equipes que lhe são confiadas.
O contato frequente destes diferentes quadros com a Equipe
Responsável ajuda-os a transmitir seus impulsos e a manter-se a
par das aspirações e necessidades das equipes de base. Graças
a eles as relações entre as equipes e a Equipe Responsável, em
lugar de serem puramente administrativas, têm uma nota de
cordialidade fraternal.

A Equipe Responsável Internacional


A Equipe Responsável Internacional é composta de sacerdotes
e de casais. Não é unicamente um órgão administrativo, mas sim
um órgão motor de todo este corpo constituído pelo conjunto das
equipes. A sua missão consiste em manter viva a mística e forte a
disciplina. Seus membros devem viver junto a Deus pela oração
e junto das equipes por meio de uma atenta amizade.
Por sua vez, os casais das equipes devem apoiá-la com as
suas orações e auxiliá-la com suas observações e sugestões.

Nota: Os casais não consideram a sua entrada nas Equipes de


Nossa Senhora e a sua adesão à Carta como um fim, mas como
um ponto de partida. A lei do casal cristão é a caridade. Ora, a
caridade não tem limites, a caridade não conhece repouso.
Na Festa da Imaculada Conceição, de 1947.

P.S.: A carta das Equipes de Nossa Senhora não se fixa em


moldes rígidos. Para se adaptar à evolução do Movimento e de
seus membros deve poder ser atualizada pela Equipe Responsá-
vel Internacional, quer venha dela, quer venha dos equipistas, a
iniciativa.
A Equipe Responsável Internacional não autoriza nenhum
grupo de casais, que não seja admitido ao Movimento, a intitular-
se “Equipes de Nossa Senhora”.

60
Anexo 2

O CARDEAL FELTIN NOS ESCREVE

Na Igreja, como na sociedade civil, toda e qualquer associa-


ção é um dia levada a explicar a sua natureza, os seus objetivos,
os seus meios sob a forma de Estatutos. É interessante que
isso não seja feito prematuramente, para não se encaixar num
molde muito estreito, arriscando-se a comprometer a evolução
e as adaptações necessárias; mas é preciso fazê-lo desde que
se tenha um quadro que pode assegurar a retidão no desen-
volvimento e que pode dirimir qualquer dúvida ou discussão
sobre as características que distinguem o grupo. Na Igreja, as
instituições novas são primeiramente aprovadas pelo bispo do
lugar em que foram fundadas e, em seguida, pela Santa Sé, se
ela julgar conveniente.
Vocês ficaram sabendo, pela última Carta Mensal, que os
Estatutos das Equipes de Nossa Senhora acabam de chegar a
Roma, onde estão sendo estudados. Antes disso, eles haviam
sido aprovados por S.E. o Cardeal Feltin, através de uma carta
de grande importância, que vocês encontrarão abaixo. Esse
documento essencial, onde as características do Movimento
são explicadas com vigor e clareza, merece ser lido, meditado
por cada um de vocês e estudado em reunião de equipe. Nos-
so lugar na cristandade não poderia ter sido mais claramente
explicado.
A linha de conduta é luminosa. Compete a cada um de nós
ser fiel a ela.
Henri Caffarel

Como testemunha do crescimento das EQUIPES DE NOSSA


SENHORA na França e no mundo e conhecendo o desenvol-
vimento espiritual dos casais que a elas aderem, sinto-me feliz
por ter a oportunidade de exprimir meu pensamento à direção
do Movimento.

61
Como bispo do lugar onde o Movimento foi fundado, e de-
pois de ter estudado os estatutos que me foram enviados para
apreciação, tenho o prazer de declarar ao Centro Diretor do
Movimento que eu os aprovo. Eles são o fruto de uma longa
experiência que mostrou quanto um quadro administrativo, ao
mesmo tempo firme e flexível, favorece o progresso da caridade
e a irradiação dos casais.
Que todos permaneçam fiéis à inspiração original e àquilo
que caracteriza as Equipes de Nossa Senhora, Movimento es-
piritual, supranacional e de enquadramento leigo.

1. As Equipes de Nossa Senhora são e devem continuar a


ser um Movimento de formação espiritual.
A razão de ser das equipes é fazer com que seus membros
descubram as exigências e a grandeza de sua vocação de
batizados e ajudá-los, pelos estatutos e o enquadramento do
Movimento, a “tender à perfeição da vida cristã, através de sua
vida conjugal e familiar”, segundo os termos do discurso de
João XXIII, dirigido no mês de maio aos mil casais peregrinos
do Movimento.
Escola de perfeição, as Equipes não são para se colocar nas
fileiras dos Movimentos de Ação Católica, nem nos Movimentos
familiares. Elas devem, com toda a razão, ter a ambição de ser
um viveiro de militantes que, segundo a vocação própria de cada
um, participarão em grande número da vida da Ação Católica
e dos diversos trabalhos aprovados pela hierarquia, e se enga-
jarão nas tarefas temporais com a preocupação de ali dar seu
testemunho de cristão e de contribuir para o estabelecimento
de uma ordem social conforme os ensinamentos da Igreja.

2. Seu objetivo de formação espiritual justifica o ideal de um


Movimento supranacional.
Não existem fronteiras para a vida espiritual e essa gran-
de fraternidade espiritual e supranacional dos casais em um
Movimento único, implantado em mais de vinte países, é um
testemunho precioso na cristandade e, ao mesmo tempo, uma
grande esperança.

62
Para que esse Movimento supranacional não seja um engodo
e se mantenha no nível da caridade de Cristo, é preciso que ele
tenha, ao mesmo tempo, uma direção forte e um leal espírito
de disciplina da parte dos quadros e dos membros das equipes,
senão o Movimento não terá forças para resistir à tentação
que ameaça todo agrupamento espiritual, de se inclinar para
objetivos de ação. Ceder a essa tentação seria, para as Equipes
de Nossa Senhora, renegar sua razão de ser.

3. É conveniente que, em todos os níveis, as responsabili-


dades de direção sejam exercidas por leigos.
Está bem na linha da promoção do laicato, tão fortemente
favorecida pela Santa Sé nos últimos trinta anos. O padre que,
segundo os estatutos, assiste o Casal Responsável de Setor,
tem por missão, ao mesmo tempo, trazer aos casais estímulo
e conselhos espirituais e assegurar a ligação com o bispo da
diocese.
Por causa da responsabilidade doutrinal e espiritual que suas
funções implicam, o Centro Diretor Internacional tem, como
responsável, um padre indicado pelo Cardeal Arcebispo de
Paris. Esse papel foi, até agora, exercido pelo padre Caffarel,
fundador das Equipes de Nossa Senhora. A aprovação que
damos aos Estatutos é para nós uma oportunidade de confirmar
o padre Caffarel nas suas funções e lhe falar de nossa inteira
aprovação, tanto pelo entusiasmo espiritual e doutrinal que
ele imprime às Equipes, como pela sabedoria com a qual, ele
e seus colaboradores, as conduzem, num espírito de absoluta
docilidade e fidelidade aos bispos e à Santa Sé, espírito que
jamais foi desmentido.
Aprovação dada em Paris, em 25 de março de 1960
Maurice Cardeal Feltin
Arcebispo de Paris

63
Anexo 3

Pontificium Consilium Pro Laicis


650/92/AIC-18
Equipes de Nossa Senhora
Decreto de Reconhecimento

Desejosos de viver em plenitude a sua vocação de batizados,


no matrimônio, alguns casais, orientados pelo Pe. Henri Caffarel,
deram vida, em 1938, em Paris, às Equipes de Nossa Senhora.
Todavia, foi somente a elaboração da “Carta das Equipes de
Nossa Senhora”, em 8 de dezembro de 1947, que constituiu o
ato de fundação do Movimento.
Na Carta, os casais responsáveis da época, orientados pelo
Pe. Caffarel, afirmam sua vontade
• de levar “até o fim o compromisso de seu Batismo”,
• de entregarem-se ao Cristo “sem condições”,
• de “servi-lo sem discutir”,
• de fazer “de seu Evangelho o fundamento da própria
família”,
• de ver seu amor, santificado pelo sacramento do matri-
mônio, tornar-se “um louvor a Deus, um testemunho aos
homens, demonstrando-lhes, com toda evidência, que
Cristo salvou o amor, uma reparação dos pecados contra
o matrimônio.”,
• querem ser por toda parte os missionários de Cristo,
• devotados à Igreja, querem estar sempre prontos a res-
ponder aos apelos de seu bispo e de seus sacerdotes,
• querem ser competentes na própria profissão,
• querem fazer de todas as suas atividades uma colaboração
à obra de Deus e um serviço prestado aos homens,
• porque conhecem a própria fraqueza e a limitação, senão da
boa vontade que os anima, mas das suas próprias forças,
• porque a experiência de todos os dias prova-lhes o quanto
é difícil viver como cristãos num mundo pagão,

64
• e porque depositam uma fé indefectível no poder do
auxílio mútuo fraternal,
• decidiram unir-se em equipe.

As Equipes de Nossa Senhora, que se colocaram sob o pa-


trocínio de Nossa Senhora – porque “não há melhor guia para
levar a Deus do que a própria Mãe de Deus” – querem ser um
Movimento de espiritualidade, agregando casais que querem
caminhar para a santidade no e pelo casamento, graças à
incorporação concreta de uma “espiritualidade conjugal” na
vida do casal, com o auxílio de uma equipe.
No decorrer dos últimos anos, a necessidade urgente de
renovação das famílias e dos casais cristãos, profeticamente
reconhecida pelo Pe. Caffarel e pelos casais iniciadores do
Movimento e confirmada com força pelo Concílio Vaticano II,
só cresceu. Assim, a necessidade de ser sustentado por uma
equipe, o fortalecimento de ânimo que se recebe do intercâm-
bio com outros casais que partilham dos mesmos ideais e a
constante volta às fontes espirituais no seio de um Movimento,
tornam-se cada vez mais indispensáveis.
Ao longo de sua história, as Equipes de Nossa Senhora, gra-
ças à sua expansão em numerosos países de todos os continentes
e aos frutos de santidade amadurecidos na vida dos casais que
as compõem, têm procurado responder a estas necessidades.
A qualidade espiritual e a força apostólica do Movimento têm
dado e prometem desenvolver um aporte considerável para a
renovação do matrimônio no mundo.
Considerando-as como um dom de Deus para a Igreja e
para o mundo, numerosos bispos têm dado seu apoio ao pe-
dido de reconhecimento das Equipes de Nossa Senhora como
associação de fiéis de direito privado, apresentado ao Pontifício
Conselho para os Leigos pelos responsáveis do Movimento em
19 de setembro de 1990.
Tendo cuidadosamente estudado o projeto de estatutos
submetido à sua aprovação, e tendo recebido o acordo de
Sua Santidade João Paulo II durante audiência concedida à
Sua Eminência o Cardeal Eduardo Pironio em 26 de março,

65
o Pontifício Conselho para os Leigos reconhece as Equipes de
Nossa Senhora como associação de fiéis de direito privado,
conforme normas dos cânones 298-311 e 321-329, e aprova os
seus estatutos ad experimentum por um período de cinco anos.
Possa este reconhecimento oficial reforçar ainda mais o
vínculo de fidelidade à Igreja e ao seu magistério, que, desde a
sua origem, tem caracterizado o Movimento. Que Maria, Mãe
de Deus e Mãe de todo casal cristão, continue a conduzir as
Equipes de Nossa Senhora no caminho da santidade que só
Cristo pode dar. Com ela, demos graças a Deus:
“A minha alma engrandece o Senhor, exulta meu espírito
em Deus meu salvador, porque olhou para a humildade de
sua serva”.
Dado no Vaticano, em 19 de abril de 1992, na festa da Res-
surreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Eduardo F. Card. Pironio


Presidente
Paul J. Cordes
Vice-Presidente

DECRETO DEFINITIVO
DE RECONHECIMENTO DAS ENS
PONTIFICIUM CONSILIUM PRO LAICIS
1652/02/AIC-18
Vaticano, 26 de agosto de 2002
Prezada Senhora, Prezado Senhor,
Tenho o prazer de lhes encaminhar, em anexo, o decre-
to do Pontifício Conselho para os Leigos, datado de 26 de
julho de 2002, confirmando o reconhecimento das Equipes
de Nossa Senhora como associação privada internacional
de fiéis, de direito pontifício, e aprovando definitivamente
os Estatutos da Associação.

66
Temos a certeza de que esta nova aprovação recebida
pelas Equipes de Nossa Senhora representará para todas as
pessoas que delas fazem parte um novo impulso em seu ca-
minhar rumo à santidade, assim como um grande estímulo
para desenvolver a ação do Movimento em profundidade
e em extensão ao serviço dos casais cristãos.
Com minhas cordiais saudações
Stanislaw Rylko
Secretário
Anexos.

Gérard e Marie Christine de ROBERTY


Equipes Notre-Dame = 49, rue de la Glacière, 7° = F-75013 PARIS

PONTIFICIUM CONSILIUM PRO LAICIS


1652/02/AIC-18
DECRETO
As Equipes de Nossa Senhora nasceram na França duran-
te o ano de 1938, graças à iniciativa de alguns casais que,
acompanhados por um sacerdote, o Pe. Henri Caffarel, re-
solveram encontrar-se mensalmente para juntos redescobrir
o sentido do matrimônio e as riquezas desse sacramento.
A primeira reunião de equipe deu-se em Paris, em 25 de
fevereiro de 1939. Esses casais logo encontraram em sua
vida conjugal um proveito tal que convidaram outros ca-
sais para participar de sua experiência. Foi assim que em
8 de dezembro de 1947 foi completada a redação da Carta
das Equipes de Nossa Senhora , considerada como o ato de
fundação o Movimento.
As Equipes de Nossa Senhora constituem um movimento
de espiritualidade conjugal nascido para responder às exi-
gências dos casais cristãos desejosos de viver plenamente a
sua vida matrimonial a partir do sacramento do matrimônio.

67
De acordo com os Estatutos, como “movimento de formação
e de reabastecimento espiritual, as Equipes de Nossa Senhora
ajudam os seus membros a progredir no amor de Deus e no
amor ao próximo; elas lançam mão do auxílio fraterno para
que os seus membros possam assumir pessoalmente e em
casal as condições concretas de sua vida conjugal, familiar,
profissional e social conforme a vontade de Deus; ela os incita
a tomar consciência de sua missão evangelizadora na Igreja
e no mundo pelo testemunho de seu amor conjugal e pelas
outras formas de ação que escolheram” (Estatutos, art. 3°).
Acentuando o sentido e o valor da comunhão conjugal,
o Papa João Paulo II pôde dizer, durante o Ano Jubilar de
2000, que “com efeito, no sacramento do matrimônio os
esposos (...) se esforçam por exprimir um ao outro e dar
testemunho ao mundo do amor forte e indissolúvel pelo qual
o Cristo ama a Igreja. É esse o ‘grande mistério’, como o
nomeia o apóstolo Paulo (cf. Ef 5,32) (João Paulo II, Homilia
do Jubileu das Famílias,15 de outubro de 2000, 4).
Tanto o Concílio Ecumênico Vaticano II como o magisté-
rio pós-conciliar prestaram uma especial atenção às formas
associativas de participação na vida da Igreja, manifestando
a seu respeito a mais profunda estima e consideração (cf.
Decreto sobre o Apostolado dos Leigos Apostolicam Actu-
ositatem, 16, 19 e 21; João Paulo II, Exortação apostólica
pós-sinodal Christifideles Laici, 29).
Nessa mesma linha, no limiar do terceiro milênio, o Papa
João Paulo II escreve que “o dever de promover os dife-
rentes tipos de associação reveste uma grande importância
para a comunhão e, quer sejam as formas mais tradicionais
quer aquelas mais recentes introduzidas pelos movimentos
eclesiais, elas continuam a dar à Igreja uma vivacidade que
é um dom de Deus e constitui uma autêntica “primavera do
Espírito” (Carta apostólica Novo Millenio Ineunte, 46).

68
PONTIFICIUM CONSILIUM PRO LAICIS
Por conseguinte:
Considerando que o Pontifício Conselho para os Leigos,
por meio do decreto de 19 de abril de 1992, reconheceu
as Equipes de Nossa Senhora como uma associação privada
internacional de direito pontifício, dotada de personalidade
jurídica, e aprovou os seus Estatutos ad experimentum;
Respondendo ao pedido apresentado ao Dicastério, na
data de 11 de março de 2002, por Gérard e Marie Christine
de Roberty, Responsáveis pela equipe internacional das
Equipes de Nossa Senhora, solicitando a aprovação definitiva
dos Estatutos;
Aceitando, ao mesmo tempo, as modificações efetuadas
no texto dos Estatutos;
Considerando a irradiação apostólica do Movimento e o
aprofundamento da formação dos membros das Equipes de
Nossa Senhora agindo a serviço da família e da sociedade
durante todos os últimos anos, e ajudando os casais a viver
de forma cristã a sua vida matrimonial e a descobrir e realizar
em sua vida matrimonial e a descobrir e realizar em sua vida
quotidiana o projeto de Deus a seu respeito;
Tendo em vista os artigos 131-134 da Constituição Apos-
tólica Pastor Bonus sobre a Cúria Romana, assim como o
canon 312, #1, 1° do Código de Direito Canônico, o Ponti-
fício Conselho para os Leigos decreta:
1o A confirmação do reconhecimento do Movimento das
Equipes de Nossa Senhora como associação privada
internacional de fiéis, dotada de personalidade jurídica,
conforme os canons 298-311 e 321-329 do Código de
Direito Canônico.
2o A aprovação definitiva dos Estatutos das Equipes de Nossa
Senhora, cuja via original encontra-se depositada nos
arquivos do Pontifício Conselho para os Leigos.

69
Concedido no Vaticano, no dia vinte e seis de julho de
dois mil e dois, na memória litúrgica de São Joaquim e
Sant’Ana, pais da Bem-aventurada Virgem Maria.

Stanislaw Rylko James Francis Card. Stafford


Secretário Presidente

70
Anexo 4

O QUE É UMA
EQUIPE DE NOSSA SENHORA?

O significado de um documento
Caros amigos,
Nas páginas que seguem, vocês encontrarão um docu-
mento importante intitulado “O QUE É UMA EQUIPE DE
NOSSA SENHORA?”. Algumas palavras de introdução pa-
recem indispensáveis para bem compreendê-lo.
Foi ele esboçado há alguns anos pela Equipe Responsável
pelo Movimento. Sua redação foi lenta, porquanto apoiou-se
numa vasta consulta aos quadros das Equipes de Nossa Senho-
ra: o Conselho Internacional, os Super-Regionais e os Regionais
de todos os países. Levando em conta todos os pareceres apre-
sentados, na medida de sua concordância, é que o texto ficou
definitivamente assentado.
Qual a finalidade desse texto? Dar uma base comum às
equipes dispersas por todo o mundo. Com efeito, o Movi-
mento acha-se implantado em cerca de trinta países. De
alguns anos para cá, uma notável descentralização vem sen-
do realizada a fim de permitir às Equipes de Nossa Senhora
melhor corresponderem às necessidades dos casais, nos
diversos lugares em que se acham implantadas. Para evitar
que essa descentralização prejudique a unidade, que é uma
graça e uma força de nosso Movimento, era preciso um do-
cumento simples e breve ao qual todas as equipes pudessem
recorrer. Seria possível conservar assim este espírito comum
que permite a realização espontânea da comunhão fraterna
que vivemos em Roma em setembro de1976 – e que tanto
conforto trouxe a casais que vinham de longe.
Mas poderiam vocês objetar: a Carta das Equipes de
Nossa Senhora (Estatutos) não era suficiente para que se

71
atingisse tal objetivo? Digamos claramente e em primeiro
lugar que ela permanece como referência fundamental do
Movimento. Cabe reparar também que é mais completa do
que o documento que publicamos. Entretanto, tem trinta
anos de existência; foi escrita em outro contexto. De então
para cá, o Movimento viveu, cresceu, amadureceu e, embora
permanecendo fundamentalmente o mesmo, sofreu altera-
ções – como um adulto sofre mudanças em relação à criança
que era – e isto num mundo que, também ele, mudou. É o
que o presente documento quis levar em conta, realizando
simultaneamente uma atualização e uma simplificação.
Uma atualização: ele engloba, com efeito, as riquezas
adquiridas pela vida e a reflexão do Movimento ao longo dos
anos, no seio de uma Igreja que viveu o Concílio Vaticano
II. Coloca-se principalmente em função desta realidade fun-
damental que é a comunidade cristã, cuja vida é o amor – e
que se explica, com matrizes diferentes, tanto ao casal como
à equipe. Esforçando-se por viver como células da grande
Igreja, habitados e animados pelo Espírito de Cristo, nossas
pequenas comunidades – o casal e a equipe – atingirão toda
sua vitalidade cristã e todo o seu dinamismo apostólico.
Uma simplificação: para atingir este objetivo, ou, pelo
menos, dele se aproximar, os casais e as equipes são bene-
ficiados por meios postos à sua disposição pelo Movimento.
Era preciso ainda simplificar e hierarquizar. Por isso, o
documento faz uma distinção cuidadosa:
1o Orientações de vida, comuns a todos os cristãos e cen-
tradas no mandamento – bipolar – do amor a Deus e do
amor ao próximo.
2o Meios espirituais concretos preconizados pelo Movimento
(em números de seis) e que são objeto da partilha na
reunião.
3o As regras normais de uma vida em grupo e que o respon-
sável tem encargos de lembrar.
Era importante assinalar também que, tanto os casais

72
como as equipes, fazem parte de um Movimento, de cuja
vida, responsabilidade e missão todos participam.
Tal como é apresentado, este documento não se destina
a ser difundido fora das equipes. É para nós um documento
de reflexão, um instrumento posto à nossa disposição para
o crescimento das nossas comunidades – casais, equipes e
Movimento – a serviço da Igreja e do mundo de hoje.
A Equipe Responsável Internacional

O que é uma Equipe de Nossa Senhora?


1. Um propósito
“Vem e segue-me”. Este apelo, dirige-o Cristo a cada
um de nós e a cada um dos nossos casais, convidando-os a
se abrirem sempre mais ao seu amor, para dar testemunho
d’Ele onde Ele os colocou.
Alguns casais, desejosos de corresponder a este apelo,
tendo consciência da sua fraqueza, mas confiando na graça
do sacramento do matrimônio e crendo na eficácia da mú-
tua ajuda fraterna e na promessa de Cristo – “Quando dois
ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio
deles” (Mt 18,20) – decidem unir-se em equipe e pedem a
um Movimento que os ajude. Tal é o propósito comum aos
casais das Equipes de Nossa Senhora.

2. Um perfil
Uma Equipe de Nossa Senhora é uma comunidade cristã
de casais.

Uma comunidade
Formada por 5 a 7 casais assistidos por um sacerdote, uma
Equipe de Nossa Senhora se constitui livremente. Ninguém
entra numa equipe sob pressão, nem aí permanece forçado.
Cada um nela se conserva ativo e fiel ao Espírito.
Os seus membros, para levar a bom êxito o seu propósito
comum, aceitam viver lealmente a vida comunitária.

73
Esta vida comunitária tem as suas leis, as suas exigências
próprias, que se concretizam na escolha de certo número
de objetivos comuns e de meios bem determinados para
progredir no sentido desses mesmos objetivos (cf. 3ª par-
te). Cada um faz suas as opções da comunidade enquanto
participar das suas atividades.
A equipe, por sua vez, é membro de uma comunidade
mais ampla, o Movimento Supranacional das Equipes de
Nossa Senhora, cuja vida ela aceita partilhar plenamente.

Uma comunidade cristã


A Equipe de Nossa Senhora não é uma simples comuni-
dade humana: reúne-se “em nome de Cristo” e quer ajudar
os seus membros a progredirem no amor de Deus e no amor
ao próximo para melhor corresponderem ao apelo de Cristo.
Cristo quis que uma comunidade concreta fosse o lugar
de acolhimento e de realizações desse amor que Ele nos
comunicou. Reuniu uma, prometeu-lhe a sua presença,
deu-lhe o seu espírito, confiou-lhe a sua boa nova para levar
ao mundo. Essa comunidade é a Igreja, que é o seu corpo
e que se põe a serviço da comunidade humana.
Esta grande comunidade é, por sua vez, composta de
pequenas comunidades de múltiplos aspectos; embora estas
não tenham a estrutura daquela, nem por isso participam
menos da sua vida, como cada célula participa da vida de
todo o corpo, dessa vida que é o próprio amor de Cristo
pelo Pai e pelos homens.
Uma Equipe de Nossa Senhora é uma dessas pequenas
comunidades. Quer estar, portanto, ao mesmo tempo ligada
ao Pai, em comunhão estreita com a Igreja, plenamente
aberta para o mundo.
A vida da equipe se organizará em harmonia com isto: e
o sacerdote, que “torna o Cristo presente como Cabeça da
comunidade” (Sínodo dos Bispos, 1971), vai ajudá-la a não
perder de vista sua verdadeira finalidade.

74
Uma comunidade de casais
O casal cristão é ele mesmo uma “comunidade cristã”, mas
de uma originalidade muito especial.
Por um lado, esta comunidade baseia-se efetivamente
numa realidade humana: o dom livre, total, definitivo e fe-
cundo no amor que um homem e uma mulher fazem um ao
outro, através do matrimônio. Por outro lado, esta realidade
humana torna-se, em Cristo, um sacramento, quer dizer, um
sinal pelo qual se manifesta o amor de Deus pela humanidade,
o amor de Cristo pela Igreja, e torna os esposos participantes
desse amor.
Por isso, Cristo está presente de uma maneira privilegiada
na comunidade conjugal: o seu amor pelo Pai e pelos homens
vem transfigurar nas suas raízes o amor humano. É por esse
motivo que tal amor humano, vivido cristãmente, é já por si
mesmo um testemunho de Deus, e é da sua plenitude que
deriva a ação apostólica do casal.
A ajuda mútua no seio de uma Equipe de Nossa Senhora
toma, portanto, um aspecto muito particular: os casais vão
ajudar-se entre si a construir-se em Cristo – a construção de
um casal é uma obra permanente – e a pôr o seu amor a
serviço do Reino.
A Equipe de Nossa Senhora coloca-se sob a proteção da
Virgem Maria. Os seus membros sublinham dessa forma a sua
convicção de que não há melhor guia para ir a Deus do que
aquela “que ocupa o primeiro lugar entre os humildes e pobres do
Senhor que confiantemente esperam e recebem dele a salvação”
(Lumen Gentium, 55).

3. Um caminho
Para qualquer cristão, só existe um caminho, Jesus Cristo,
Palavra de Deus que se fez Homem: “Felizes os que escutam
a Palavra de Deus e a põem em prática”. (Lc 11,28)
As Equipes de Nossa Senhora não impõem aos seus
membros uma espiritualidade determinada: querem sim-
plesmente ajudá-los a trilhar como casal o caminho traçado

75
por Cristo. Propõe-lhes para isso:
• orientações de vida,
• pontos concretos de esforço,
• uma vida de equipe.

Orientações de vida
A grande orientação é a do amor que Cristo nos veio
trazer: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração,
com toda a tua alma, com todo o teu espírito, com todas as
tuas forças... Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mc
12,30-31)
Crescer nesse amor é tarefa para toda a vida, e as Equipes
de Nossa Senhora propõem a seus membros ajudá-los nessa
tarefa. Pedem-lhes:
- para se ajudarem entre si a progredir no amor de Deus:
• que deem na sua vida um lugar importante à oração;
• que frequentem regularmente a Palavra de Deus e se
esforcem por vivê-la sempre melhor;
• que se aprofundem constantemente no conhecimento da fé;
• que se aproximem frequentemente dos sacramentos,
particularmente da Eucaristia;
• que se esforcem por aperfeiçoar-se no conhecimento
e na prática da ascese cristã;
- para se ajudarem entre si a progredir no amor ao próximo:
• que vivam uma autêntica e mútua ajuda conjugal
– ouvir, dialogar, partilhar – em todos os campos e
particularmente no campo espiritual;
• que tenham a constante preocupação de educação
humana e cristã dos seus filhos;
• que pratiquem amplamente em família o acolhimento
e a hospitalidade;
• que deem testemunho concreto do amor de Cristo,
em especial por um ou vários compromissos com a
Igreja ou com o mundo.

76
Pontos Concretos de Esforço
A experiência mostra que, sem certos pontos de aplicação
precisos, as orientações de vida arriscam-se muito a tornar-se
letra morta. Por isso, as Equipes de Nossa Senhora propõem
aos seus membros:
• que se “obriguem” à observância de seis pontos bem
determinados, aos quais chamaremos de “obrigações”,
que são meios de aperfeiçoamento;
• que solicitem o controle e ajuda da equipe nesses pontos:
é a “partilha” da reunião mensal.
Esses seis pontos são os seguintes:
1. “escutar” assiduamente a Palavra de Deus;
2. reservar, todos os dias, o tempo necessário para um
verdadeiro encontro com o Senhor (meditação);
3. encontrar-se a cada dia, marido e mulher numa oração
conjugal (e, se possível, familiar);
4. dedicar, cada mês, o tempo necessário para um verda-
deiro diálogo conjugal, sob o olhar do Senhor (dever de
sentar-se);
5. fixar cada um a si mesmo uma “regra de vida” e revê-la
todos os meses;
6. colocar-se cada ano diante do Senhor para rever e pla-
nificar a sua vida, durante um retiro de pelo menos 48
horas, vivido, se possível, em casal.

Vida de equipe
A equipe não é um fim em si mesmo: é um meio a serviço
dos seus membros. Ela vai permitir-lhes:
• viver tempos fortes de oração em comum e de coparti-
cipação;
• ajudar-se recíproca e eficazmente a caminhar para o
Senhor e dar testemunho d’Ele.
Como na vida de qualquer comunidade cristã, podem
distinguir-se esquematicamente três aspectos, três grandes
momentos na vida da equipe:

77
• com Cristo, a equipe volta-se para o Pai, a fim de acolher
o seu amor;
• em Cristo, a equipe partilha esse amor: “Tinham um só
coração e uma só alma” (At 4,32);
• impelida pelo Espírito de Cristo, a equipe envia os seus
membros ao mundo para revelar esse amor.
Estes três aspectos são vividos primeiro durante a reunião
mensal. Esta compreende, habitualmente:
• uma refeição, que é mais especialmente o momento da
amizade;
• uma oração em comum, que é o centro e o ponto mais
alto da reunião e que pode, por vezes, tomar a forma de
uma celebração eucarística;
• uma “partilha” e um “pôr em comum”, tempos fortes de
ajuda mútua, particularmente de ajuda mútua espiritual
e apostólica;
• uma troca de impressões sobre o tema de reflexão do
mês, que é mais especialmente o momento do aprofun-
damento da fé.
Mas a vida da equipe não se limita à reunião mensal: a
oração em união com os outros membros da equipe e em sua
intenção, a partilha, o auxílio mútuo vão continuar durante
todo o mês, conforme a iniciativa de cada equipe.
O “casal responsável”, eleito cada ano pelos membros da
equipe, é quem vai zelar para que todos participem efetiva-
mente da vida comunitária, de modo que o auxílio mútuo
seja eficaz e que cada um sinta que a comunidade o reco-
nhece, o ama e o toma realmente sob sua responsabilidade.
Assim, o casal responsável convida para isso cada um a
concretizar o fato de pertencer às Equipes de Nossa Senhora.

• em nível da equipe:
- participando da reunião mensal;
- preparando essa reunião pela oração e pela reflexão,

78
em particular resumindo por escrito o produto de suas
reflexões sobre o tema do mês;

• em nível do Movimento:
- mantendo-se ao corrente da vida do Movimento, em
particular lendo a Carta Mensal (e, muito especial-
mente, o seu editorial);
- esforçando-se por viver as orientações comuns do
Movimento e tomar parte nas suas solicitações;
- assistindo às reuniões organizadas pelo Movimento;
- aceitando participar da vida do Movimento e da sua
missão apostólica;
- assumindo responsabilidades;
- dando todos os anos a sua contribuição, calculada,
lealmente, na base das receitas de um dia;
- tendo em conta, na oração, as intenções de todos os
membros do Movimento.

Conclusões
As Equipes de Nossa Senhora são um Movimento de
espiritualidade conjugal. Propõem aos seus membros uma
“vida de equipe” e meios concretos para ajudá-los a pro-
gredir, como casal e em família, no amor de Deus e do pró-
ximo. Preparam-nos, assim, para dar testemunho, cabendo
a cada casal escolher a sua forma. De modo que, embora
as Equipes não sejam um Movimento de ação, desejam ser
um Movimento de gente ativa.
Setembro de 1976

79
Anexo 5

A Segunda Inspiração

1. O carisma das Equipes de Nossa Senhora hoje

Há quarenta anos, quando a Carta das Equipes (Estatutos)


foi elaborada, não se podiam prever as situações novas que
surgiriam no Movimento, na Igreja e no mundo. A história
muda, mas o carisma do Espírito atua continuamente, para
inspirar os casais a servir ao amor, respeitando os sinais dos
tempos.
A reflexão que propomos neste documento tem por
objetivo ajudar as Equipes e encontrar novos motivos de
enco­rajamento e orientações para viver as aspirações das
ENS com a esperança e a vitalidade de um novo fôlego.

1.1. Situação Atual do Movimento


A vontade de Deus sobre as ENS em cada momento
da história descobre-se aos poucos e compreende-
se à luz dos acontecimentos vividos, assim como pela
convergência das ideias que se estabelece nas reflexões
em comum entre a Equipe Responsável Internacional
(ERI) e os responsáveis das Super-Regiões, e a partir das
necessidades detectadas através dos contatos com os respon-
sáveis dos diversos escalões e com as equipes de base. O
Pe. Caffarel, em muitas de suas intervenções, fez frequentes
apelos às Equipes a um esforço de fidelidade, mas também
a um esforço de criatividade, numa perspectiva de contínua
renovação para que, longe de serem, na Igreja, um simples
Movimento conservador para manter a fé, sejam realmente
um “fermento de renovação”.
Este fermento de renovação que as Equipes pretendem
ser na Igreja devem atuar hoje numa conjuntura diferente,

80
analisada pelo Pe. Caffarel quando de seu encontro, em
1987, com os responsáveis regionais europeus. Alguns as-
pectos do carisma fundador ainda não foram desenvolvidos
em profundidade porque, há quarenta anos, não haviam
sido apreendidos com toda clareza necessária.
Constata-se, por exemplo, que:
• o primeiro aspecto que não foi bem explicitado na peda-
gogia do Movimento é que o amor sozinho não é o único
fator de perfeição para o casal: a abnegação também é
necessária. E uma abnegação que não seja inspirada pelo
amor não pode adquirir seu verdadeiro sentido;
• o segundo aspecto é que o Movimento não aprofundou
suficientemente o sentido humano e o sentido cristão
da sexualidade e, em consequência, não ajudou os
casais a compreenderem e a viverem a dimensão
sexual da espiritualidade conjugal. Por este motivo, as
exigências morais parecem, por vezes inaceitáveis e
suas transgressões encontram uma fácil justificação. Há
urgência neste campo, sobretudo em se tratando de um
Movimento da Igreja;
• o terceiro aspecto diz respeito à importância da missão das
ENS na Igreja na qualidade de Movimento de casais: no
início, isto era uma pequena revolução e é, ainda hoje,
uma novidade. Devemos ajudar a Igreja a rever sua visão
do homem, sua teologia e sua mística do casal, cume da
criação: “homem e mulher Ele os criou”. Existem outras
coisas que, há quarenta anos, não se podiam prever e que
só o decorrer do tempo tornou evidentes: a necessidade
de dar à maioria dos jovens casais uma formação cristã de
base, de dar suporte aos que querem “ir mais além”, de
ajudar também a integrar na vida do casal o trabalho da
mulher e as provações do desemprego, ajudar os casais a
bem envelhecer, a morrer em paz e a viver a sua viuvez.
Por fim, seria preciso também explorar melhor a riqueza

81
de uma crescente internacionalização, evitando-se, ao mesmo
tempo, que esta venha pôr em risco a unidade do Movimento.

1.2. Situação Atual da Igreja


A Igreja encontra-se igualmente num momento decisivo da
história. A partir do Concílio (1964), a Igreja, povo de Deus em
marcha, quis assumir um compromisso mais positivo em relação
ao mundo e dentro do mundo. Nada do que é humano pode
ser alheio a uma Igreja cuja vocação é de ser o germe do Reino
de Deus, a partir das realidades concretas da vida dos homens.
A Igreja exprimiu a sua vontade de assumir uma opção pre-
ferencial pelos pobres e pelos jovens, de questionar-se frente
a uma sociedade materialista que ao mesmo tempo anda à
procura de estranhos misticismos, de viver as tensões geradas
por um difícil pluralismo, de buscar caminhos de uma nova
evangelização para atingir o homem integral.
A cada época o Espírito de Deus suscita determinados ca­
rismas que dão origem a ordens religiosas e movimentos, em
resposta às necessidades das novas gerações. Hoje, não será
exagerado pensar que a nova evangelização das realidades ter-
renas terá credibilidade sobretudo graças a este sinal do amor,
que possui um grande poder de irradiação e de testemunho: o
amor conjugal, o amor da família, o amor vivido em pequenas
comunidades cristãs. Este é o serviço, esta é a missão que a
Igreja pede insistente e urgentemente às ENS. Sem este amor
dos leigos casados, sem estas famílias que aprenderam a parti-
lhar, sem as comunidades de fé formadas por casais, como as
Equipes, dificilmente a Igreja poderá convencer nosso mundo
de que o Evangelho é um apelo ao amor e que este pode re-
almente ser vivido.

1.3. Situação Atual do Mundo


Ao descrever-se a situação do mundo a partir de um ponto
de vista espiritual, é fácil cair na tentação de ver apenas as fa-
lhas, as feridas, os estados de pecado. E, no entanto, apesar de

82
todos esses sinais negativos, sabemos que o Espírito de Deus está
ativo, que o Senhor está conosco até o fim dos tempos. Somos
assim levados a reconhecer também os sinais de esperança, os
sinais da graça.
O individualismo crescente, a violência que dilacera a
grande família humana e que está presente em todos os rela-
cionamentos, a incapacidade de manter um longo esforço, a
facilidade de se libertar de todo o rigor moral objetivo, o medo
de comprometer-se numa fidelidade duradoura, a vulgarização
da sexualidade etc..., tudo isso existe e afeta profundamente
o casal. Mas a busca de novos valores de autenticidade e de
coerência, o desejo de paz interior e exterior, o crescimento das
riquezas do relacionamento interpessoal no seio do casal e entre
pais e filhos, volta a uma natureza sem manipulações, tudo isso
também existe e se afirma cada vez mais. O mundo apresenta-se,
portanto, com todas as potencialidades criadas por Deus, que se
encontram, é verdade, misturadas com a presença do pecado;
é bem por isso que se sente tão vivamente a necessidade de
uma nova reconciliação, em cada situação da história.

2. A boa nova sobre o casamento


Os casais cristãos de hoje devem ter a possibilidade de re-
ceber verdadeiramente a “boa nova” a respeito desta realidade
discutida e frágil que é o amor conjugal.
Esta boa nova revela-nos que o sacramento do matrimônio
está ao serviço do amor, ao serviço da felicidade e ao serviço
da santidade. Somente o casamento-sacramento pode satisfazer
a dupla aspiração humana de amor e de felicidade e atender
à inspiração inscrita no coração do homem e nem sempre
percebida: o chamado à santidade. As Equipes querem ser um
caminho que leve à descoberta das riquezas do sacramento do
matrimônio e da profunda comunhão do casal. Pensamos que
é precisamente deste anúncio que o mundo de hoje tem uma
grande necessidade. O Senhor espera que a proclamemos por
nossas palavras e pelo nosso testemunho.

83
2.1. O casamento ao serviço do amor
“Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus
Ele o criou, homem e mulher Ele os criou”. (Gn1,27)
O homem e a mulher são seres da mesma natureza, mas
segundo modalidades diferentes que são complementares; de
maneira que, ao se unirem, formem um único ser, o casal. Esta
convicção gera uma atitude de louvor a Deus, que inventou o
amor humano; uma atitude, também, de humildade, na cons-
ciência da necessidade que se tem do outro para sentir-se um e
uma atitude da vontade, a fidelidade, para formar uma só carne.
Percebe-se, nesta realidade do casal, toda a riqueza da sexua­
lidade querida e criada por Deus. Assim, torna-se importante
que os casais cristãos se preocupem com a qualidade ao mesmo
tempo humana e cristã de sua relação sexual. A espiritua­lidade
cristã é uma espiritualidade encarnada. A especificidade da
espiritualidade conjugal decorre do caráter sexual inscrito no
sacramento do matrimônio.

2.2. O casamento ao serviço da felicidade


O sacramento do matrimônio nos ajuda a viver os períodos
de crise e de deserto. Crises essas necessárias para crescer no
amor, e que permitem romper as barreiras, põem à prova nossa
criatividade e levam a situações novas e a comportamentos
novos. Tais crises passam a constituir um elemento positivo, na
medida em que levam o casal a discernir a vontade de Deus
naquele momento de sua vida.
Querer o bem do outro, na sua profissão, na sua maternidade
/ paternidade, no seu equilíbrio psicológico; preocupar-se com
a felicidade do outro, mesmo na sua vida sexual; descobrir que
reconciliar-se não é resignar-se, mas possibilitar um reencontro;
viver numa atitude de doação, tomar a decisão de continuar apai-
xonados... Tais atitudes, longe de limitar-nos ou oprimir-nos, ao
contrário abrem-nos ao outro, aos outros; abrem-nos à felicidade.

84
2.3. O casamento ao serviço da santidade
Os cristãos casados são chamados à santidade. Para eles,
não se trata apenas de um chamamento individual, ainda que
a pessoa sempre conserve algo de irredutível e de incomuni-
cável, mas de um caminho a ser percorrido em casal. Esta é a
grande descoberta da espiritualidade conjugal: os dois amores,
o amor conjugal e o amor a Deus, não se excluem, mas podem
conjugar-se e todas as exigências da vida cristã podem ser
vividas em casal.
No casamento, a sabedoria consiste em aprender a viver
numa atitude de “para ti” e não de “para mim”. A comunhão
surge deste fluxo recíproco de doação e acolhimento, e esta é
a maior forma de unidade que pode existir no casal, porque
decorre do fato de que os dois são um em Jesus. A comunhão
não é somente o ponto culminante do amor conjugal, é também
o grande dom que o casal pode oferecer. A fecun­didade e a
educação, a hospitalidade e a amizade, o trabalho e o engaja-
mento são as manifestações deste impulso irresistível que toda
comunhão tem, para converter-se em doação.
O casal cristão que conhece esse estado de graça conjugal,
que se alimenta da Palavra de Deus e do Pão da Vida, participa
verdadeiramente da vida eucarística. Transforma toda a sua
vida em “hóstia santa”. Marido e mulher são sinais, “sacramento”
do amor de Deus um para o outro e, juntos, para seus filhos e
para o mundo.

3. As ens, Movimento de espiritualidade conjugal e de


auxílio mútuo entre casais
Descobrir a presença do Senhor no seio do casal unido
pelo matrimônio e a caridade fraterna com outros casais: eis
a proposta das ENS, eis como elas querem render graças a
Deus e dar testemunho no mundo. Esta nova maneira de viver
em casal não é, necessariamente, muito diferente do que era
antes, mas é uma vida que se realiza com mais força, com mais
luz, com mais esperança. Os casais, conscientes de sua própria

85
fraqueza e das dificuldades que encontram, decidem formar
equipe e constituir uma comunidade de fé, para percorrerem
juntos um caminho de conversão, apoiando-se uns nos outros.
O auxílio mútuo se vive numa crescente amizade, numa
profunda coparticipação da própria vida, na partilha dos
pontos concretos de esforço, com a finalidade de procurar a
vontade de Deus, de descobrir a nossa verdade, numa vivência
de encontro e de comunhão.
A própria palavra “comunhão” já indica que não se trata de
atingir um determinado nível de perfeição, mas que cada casal,
em união com os demais, se integra num processo vivo e dinâ-
mico, visando reconciliar o que está dividido, aproximar o que
está afastado, fortalecer o que está inacabado, realizar uma ta-
refa comum no contexto do amor fraterno, que nos une a Cristo.
A espiritualidade conjugal tem seu centro no casal, mas não
deixa de lado a dimensão familiar. Os filhos foram chamados a
uma comunhão de vida pelo amor de seus pais, e é nesta pers-
pectiva de comunidade e participação que se concebe a família.
A pedagogia que os casais buscam assimilar na vida de
equipe, ou seja, aprendizagem do diálogo, o respeito pelo
outro e a coparticipação, levam ao esforço de se adotar um
estilo particular de educação, que procura “deixar ser” cada
filho, ajuda-o a alcançar sua plena maturidade, realiza com
ele a experiência de uma fé de encontro pessoal com Cristo.
É possível, dessa forma, esperar que os filhos consigam
“ser eles mesmos”, que se relacionem com os outros numa
atitude de liberdade e de solidariedade, que assumam seus
compromissos em relação à sociedade, que vivam, enfim, os
valores do matrimônio cristão graças à palavra e ao testemu-
nho de seus pais.
Por outro lado, as ENS são um Movimento de leigos, diri-
gidos a casais unidos pelo sacramento do matrimônio, e cuja
animação depende do espírito de serviço dos próprios casais.
Esta responsabilidade é vivida em estreita comunhão com os
sacerdotes conselheiros espirituais das equipes, de forma que

86
cada um dos dois sacramentos mostra por transparência aos
olhos do mundo o rosto de Deus que lhe é específico.

3.1. Uma escola de formação permanente


As ENS são uma escola de formação para os casais. Não
se trata tão somente de aprofundar o conhecimento da nossa
fé, mas de praticar o discernimento humano e cristão, que
move tanto a razão quanto o coração, na busca de uma mais
estreita coerência entre a fé e a vida.
Este discernimento se alimenta de várias fontes: o estudo
do “tema” em casal e em equipe, a leitura dos documentos
do Movimento, as sessões de formação, os retiros, o apro­
fundamento das orientações periodicamente propostas pelo
Movimento. Esta formação é uma busca pessoal, conjugal
e comunitária, vivenciada na frequência aos sacramentos e
mais especialmente à Eucaristia, numa progressiva abertura
à oração, na escuta da palavra de Deus e na atenta leitura
dos si­nais dos tempos.
Esta formação que nos interpela ajuda-nos a interpretar o
desígnio de Deus sobre o nosso casal e nos convida a ajustar
nossa vida conjugal, familiar e profissional aos valores do
Evangelho. Fazer compreender o sentido cristão do trabalho
do homem e da mulher no plano de Deus, não dissociar as
exigências da moral privada das da moral social, são também
objetivos que devem ser perseguidos.

3.2. Meios concretos de esforço


O amor é uma decisão que o casal renova a cada dia. Tal
decisão se vive como uma adesão do coração e se realiza no
esforço da vontade. As equipes oferecem meios concretos para
ajudar os casais a alimentar esse amor, a manter essa decisão
e a prosseguir no seu caminho de conversão.
Esses meios não são coisas a fazer, mas atitudes a despertar
e a assimilar. Atitudes não se contabilizam; trata-se de todo
um processo pelo qual a vida se orienta pouco a pouco numa
direção determinada: a da vontade do Senhor.

87
Devem-se compreender esses meios como processo de in-
teriorização e unificação da vida. Sua formulação, no infinitivo
e não no imperativo, permite entender melhor o espírito com
que foram propostos.
Recordemos quais são esses meios concretos de esforço:
• Escutar assiduamente a Palavra de Deus;
• Reservar, todos os dias, o tempo necessário para um ver-
dadeiro encontro com o Senhor (meditação);
• Encontrar-se a cada dia, marido e mulher, numa oração
conjugal (e, se possível, familiar);
• Dedicar, cada mês, o tempo necessário para um verdadeiro
diálogo conjugal, sob o olhar do Senhor (dever de sentar-se);
• Fixar cada um a si mesmo uma “regra de vida” que é um
convite para trabalharmos na unificação de nossa perso-
nalidade e para encontrar a verdade sobre nós mesmos;
• Reservar cada ano um tempo para se colocar diante do
Senhor – se possível em casal – num retiro, que nos permita
refletir sobre nossa vida e organizá-la na Sua presença.
Maria dá seu nome às Equipes, porque ela é a melhor guia
nos caminhos da união com Deus por sua atitude de escuta e
de humildade alimentada pela Palavra e pela Vida de Cristo.
Os casais põem estes meios em prática, levando em conta
três diretrizes:
• A gradualidade: O Senhor nos toma no ponto em que es-
tamos. Não se trata de queimar etapas e de forçar o ritmo;
trata-se, isto sim, de querer progredir a partir da situação
em que cada um se encontra;
• A personalização: O mesmo ritmo não é possível para todos,
pois a caminhada é, ao mesmo tempo, pessoal e própria do
casal. Os meios concretos não devem resultar em desânimo
mas, ao contrário, em inspiração e auxílio ao longo de toda
a nossa vida;
• O esforço: Assim como não existe amor sem momento do

88
encontro, nem meditação sem tempo forte de escuta e de
diálogo, também não existe conversão pessoal e em casal
sem a decisão de traduzir nossos desejos de progresso,
um tanto quanto difusos, na forma concreta de ações bem
determinadas, que irão mudando nossa vida e, aos poucos,
nos edificando.

3.3. As etapas da caminhada das equipes


As ENS oferecem aos casais um caminho que lhes dá, em
cada etapa de suas vidas, os meios adequados para poder
realizar um verdadeiro encontro com o Senhor e para poder
comprometer-se a segui-Lo.
Este caminho se percorre sempre em equipe, comunidade
de vida cristã, constituída por cinco ou sete casais e um pa-
dre. O padre, que faz parte integrante da equipe, porém de
forma diferenciada, torna o Cristo presente como cabeça de
comunidade. As Equipes são enriquecidas pelo encontro de
dois sacramentos: o da ordem e o do matrimônio. Nos lugares
onde a falta de padres seria um empecilho para a formação de
novas equipes, poder-se-ia preparar casais para exercer uma
função de acompanhamento. As etapas desta caminhada, que
pode durar a vida toda, não estão isentas das dificuldades que
a vida em comum comporta. Eis porque é conveniente que
tais etapas sejam vividas com alegria, coragem e realismo.
As etapas são as seguintes:
• Iniciação – É preciso, hoje, partir de uma realidade diferen-
te: há uma falta de formação cristã de base, que requer uma
catequese de iniciação no campo conjugal e comunitário,
além da formação religiosa propriamente dita. Ao final
desta iniciação, os casais poderiam escolher o caminho
que melhor lhes conviesse: as ENS ou outros movimentos
de casais.
• Pilotagem – A formação específica para a espiritualidade
conjugal e para os métodos fundamentais das ENS se
faz com o auxílio de um casal piloto. É necessário que a

89
pilotagem siga um esquema de base comum para todo o
Movimento, para garantir que as ENS, como Movimento
supranacional, se desenvolvam sobre as mesmas bases.
Após a pilotagem, uma sessão de formação com a partici-
pação de casais de diversas equipes ajudaria a consolidar
o que foi aprendido e assimilado.

• Vida de equipe
a) Depois desta etapa, torna-se necessário descobrir o
sentido profundo da espiritualidade conjugal, através
do estudo de temas que abordem o amor conjugal, o
Cristo e a Igreja.
b) Cada equipe pode, em seguida,escolher os temas de
estudo que melhor lhe convenham, entre aqueles que
são preparados pelo Movimento ou outros, respeitando-
-se a especificidade das ENS.
A participação dos casais nas sessões de formação or-
ganizadas pelo Movimento é necessária, para melhor
compreender tanto o sentido universal das ENS, à se-
melhança da Igreja, como a importância da sua missão
no mundo.
c) Com a idade e a experiência, os casais, ou pelo menos
alguns deles, poderão vir a desejar uma caminhada mais
exigente que não mais se limitaria a um novo tema de
estudos, mas que poderia traduzir-se num método pro-
gressivo de revisão de vida, num novo aprofundamento
na oração ou num engajamento mais amplo.
O Movimento deveria ajudá-los a encontrar ou a adaptar
os caminhos que melhor complementem a vida de sua equipe.
Estas etapas não esgotam as possibilidades de uma vida de
casal inspirada pelo Espírito. Representam o ponto de partida
para um crescimento que, como a caridade, não tem limites.

90
4. Viver em comunhão para responder a uma vocação e
realizar uma missão
Qualquer que seja o estágio da evolução espiritual do ca-
sal, cada um se esforça para aprender a viver em comunhão,
nesta pequena comunidade de fé que é a equipe. Não se trata
portanto de fechar-se sobre si mesmo, nem de considerar a
equipe como um fim em si, pois é inevitável que toda comu-
nhão tenda a transformar-se em doação aos outros. As ENS
são um Movimento de espiritualidade, e uma verdadeira espi-
ritualidade implica partilhar o que gratuitamente se recebeu.
Esse dom que o Movimento deve oferecer à Igreja e ao
mundo consiste em participar da construção do Reino de
Deus, baseando-se numa nova imagem do casal.
“Eles não têm mais vinho”, dizia Maria nas bodas de Caná,
antecipando-se, assim, com sua profunda intuição, à interven-
ção salvadora de Cristo. Hoje, continuam faltando muitos tipos
de “vinho”nas bodas da terra.
As ENS devem estar sensibilizadas a essas carências, por
vezes subentendidas, por vezes explícitas, materiais ou espiri-
tuais, mantendo os olhos abertos para as grandes questões de
nosso tempo, estando atentas às situações de sofrimento no
plano conjugal, e prontas a colaborar com outros Movimentos
neste campo.
As Equipes têm um objetivo específico próprio: ajudar os
casais a viver plenamente o seu sacramento do matrimônio.
Ao mesmo tempo, elas têm um objetivo missionário: anun-
ciar ao mundo os valores do casamento cristão pela palavra
e pelo testemunho de vida.
Quais serão os objetos dos nossos esforços durante os pró-
ximos anos?

4.1. No Movimento
No impulso da nova inspiração, deveríamos participar de
um esforço comum para viver plenamente o auxílio mútuo e
a comunhão na equipe. Já falamos dos meios concretos de

91
esforço e apresentamo-los como atitudes a serem assimiladas.
Não se deve esquecer que são apenas meios. A vida cristã
pessoal e em casal é uma conquista de cada dia e é justa-
mente por isso que as ENS propõem escolhas que favorecem
o progresso espiritual. Mas não se deve perder de vista que a
única lei é o espírito de amor. Cabe a cada um e a cada casal
experimentá-lo nos tempos fortes de sua história.
Por outro lado, a criatividade deve permitir evitar o perigo
da rotina, que leva a pessoa a eximir-se de qualquer esforço.
Na equipe, pelo fato de se viver sempre juntos, de se encontrar
entre amigos, que se desculpam por antecipação pela parti-
cipação numa caminhada mais suportada do que desejada,
é sempre grande o risco de negligenciar a responsabilidade,
pessoal e do casal, em relação ao compromisso.
Há ainda outro esforço de criatividade a ser feito. As etapas
da caminhada nos mostram algumas necessidades para as
quais ainda não se acharam respostas adequadas. Trata-se,
por um lado, das “pré-equipes”: parece conveniente que cada
país as desenvolva segundo suas necessidades e segundo as
características dos casais jovens, não se deixando, porém, de
pôr em comum as experiências internacionais que tiverem sido
feitas. Por outro lado, as modalidades de um “engajamento
mais amplo” ainda precisam ser desenvolvidas.
Sejamos inventivos e partilhemos, num sentido de auxílio
mútuo, essas experiências que querem “ir mais longe”, para
que o Movimento possa atender a uma inspiração real, sem
que os casais sintam a necessidade de procurar as respostas
em outro lugar.
Nosso Movimento sempre teve o cuidado de fornecer
elementos de referência e de discernimento para a formação
dos casais. Embora se mantendo responsáveis e livres, devem
ser sustentados em sua busca para compreender a Palavra
de Deus face aos sinais dos tempos. Isto exige uma formação
permanente e pesquisas atualizadas para exprimir as realidades
da fé numa linguagem acessível.

92
É necessário, ainda, que todos estejam conscientes da
importância da missão daqueles casais que, num espírito de
animação e de serviço, aceitam assumir uma responsabilidade
no Movimento, apoiando-os nessa tarefa.

4.2. Na Igreja
É frequente dizer que as ENS são um Movimento de gente
ativa e não de ação, no sentido de que cabe a cada casal,
contando com o benefício de amplas possibilidades para a
renovação de sua vitalidade espiritual, determinar o que o
Senhor espera dele. Assim, cada um exercerá sua missão
no lugar onde se encontra, conforme escolha pessoal. Vale
dizer que o Movimento, como tal, não se engaja numa ação
de conjunto determinada, pois cada casal deve descobrir o
chamado ao qual o Senhor deseja que ele responda. Mas esta
liberdade, fecunda de engajamentos, não deve nos deixar
esquecer que as Equipes têm um carisma que lhes é próprio,e
que elas não podem descuidar-se de seus semelhantes e devem
estar atentas às necessidades dos bispos, mais especificamente
no campo da Pastoral Familiar. É importante também que as
Equipes se abram a outros meios sociais e que se preocupem
com as necessidades de seu país, preferencialmente as que
forem indicadas pela Igreja local.
Citamos alguns dos campos de ação da Pastoral Familiar
onde a urgência é mais sentida:
• acompanhar as equipes de jovens;
• preparar os noivos ao matrimônio cristão;
• caminhar com recém-casados;
• ajudar casais em dificuldades e divorciados que se casaram
novamente;
• preocupar-se com jovens que coabitam.
Não podemos, sob pena de grave confusão, integrar estes
últimos nas ENS, mas podemos pensar em estruturas paralelas
ao serviço das quais estariam os casais das Equipes.

93
4.3. No mundo
Para responder simultaneamente à nossa vocação e ao que
o mundo atual espera, é preciso que pratiquemos e proclame-
mos três coisas:
a) O casamento está ao SERVIÇO DO AMOR. Se o casamento
está em crise, é porque não se acredita mais verdadeiramen-
te no vínculo entre o amor e o matrimônio. Nós acreditamos,
e é por isso que decidimos amar-nos por toda a vida.
b) O casamento está ao SERVIÇO DA FELICIDADE. Num
mundo sombrio, angustiado, onde a própria palavra feli-
cidade soa como algo estranho, vivamos a vida conjugal e
mostre­mo-la como um caminho de felicidade, por nossas
atitudes e pelo testemunho dos métodos que nos ajudam a
dar dinamismo a esta felicidade.
c) O casamento está ao SERVIÇO DA SANTIDADE. É sem
dúvida esta a vocação mais específica das ENS: não só
chamar os leigos à santidade, chamar as pessoas casadas
à santidade, mas afirmar que a sexualidade humana pode
ser um caminho para a santidade. Na Igreja, este caminho
ainda é novo e no mundo é quase revolucionário... A
perspectiva de uma nova inspiração nos propõe evange-
lizar a sexualidade, ou seja, submetê-la, domá-la e vivê-la
em conformidade com o plano de Deus, para que esteja a
serviço do Reino de Deus.

Caros amigos, esta semente que semeamos em Lourdes, aos


pés de Maria, deve desenvolver-se, brotar, crescer, dar fruto,
do mesmo modo que o Menino que ela carregou em seu seio
se tornou Homem, o Homem da Salvação. Isto requer tempo e
cuidados, esperança e paciência e que tenhamos um coração
aberto ao Espírito, ao “inesperado” de Deus.
Confiamos a Maria este impulso de uma segunda inspiração,
para que Ela leve as Equipes ao lugar onde o Senhor as espera,
na construção do seu Reino.
A Equipe Responsável Internacional das ENS
Lourdes 1988

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