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A u r e a P ires
1
________ ______________________
Edição fac-similar da Revista Literária
dedicada à mulher brasileira,
publicada de 1897 a 1900, co-editada
pela Secretaria de Estado da Cultura
e Imprensa Oficial do Estado,
com comentários de Zuleika Alam bert,
Presidenta do Conselho Estadual
da Condição Feminina.
C o n v ê n io IM E S P /D A E S P
São Paulo
1987
Dados de Catalogação na Publicação Internacional (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
C D D - 070.483470981
-3 0 5 .4 2 0 9 8 1
87-1308 -8 6 9 .9 0 5
>G E IR A
liter "deáieMa á mulher brazileira
Direüiora ma Duarte de Almeida
a estas, Maria Clara da Cunha San me para que tantas se tenham podido
tos, Aurea Pires, Elvira Gama, Ma individualisar e excitar a admira
ria Emilia da Rocha, Anna No ção dos contemporâneos. Assim,
gueira Baptista, Maria Jucá, Amelia ao emprehendermos esta publica
de Oliveira, Maria de Azevedo, ção, sentimo-nos animadas da mais
Analia Franco e qualquer outra viva esperança, depositada no espi
cujo nome nos haja escapado, e rito progressivo ^ na benemerencia
veremos com enthusiasmo que na de nossas compatriotas.
terra de Paraguassú e de Da- Para mais variada e interessante
miana da Cunha, o espirito femi tornarmos a nossa revista, tomos,
nino se desenvolve miraculosamen além da collaboração das mais il
te e a mulher procura illuminar a lustres escríptoras nacionaes, o con
sua intelligencia, concorrendo tam curso de distinctissimos cavalhei
bém com 0 penhor de suas vigilias ros, cultores fidalgos e devotados da
para o engrandecimento das letras. arte da palavra. Esperamos, portan
Não é, porém, sómente na lite to, 0 apoio de nossas intelligentes
ratura que a sua aptidão se revela, patrícias e aqui ficamos com braça
e, para prova, basta citarmos o no das de flores para receber os traba
me da Doutora Ermelinda de Sá, lhos de todas aquellas que nos qui-
essa pujante mentalidade que se zerem trazer o auxilio de seu talento.
affirmou na Academia de Medicina Que a nossa revista seja como
do Rio de Janeiro, onde fez um que um centro para o qual con
curso brilhantissimo, m e r e c e n d o virja a intelligencia de todas as
treze distineções nos exames das se brazileiras! Que as mais aptas, as
ries lectivas, de clinicas e de these de mérito incontestável, nos pres
e que hoje, como judiciosamente tem 0 concurso de suas luzes e
notou Arthur Azevedo no Album^ enriqueçam as nossas paginas com
conta em cada cliente uma fervoro as suas producções admiráveis e
sa e convicta propagandista da sua bellas; que as que começam a ma
perícia e dedicação profissionaes ! nejar a penna, ensaiando o vôo al
Ora, esse desenvolvimento intel tivo, procurem aqui um ponto de
lectual da mulher brazileira não apoio, sem 'o qual nenhum talento
se haverá cingido unicamente ao se manifesta; e que. finalmente,
grupo dajS que surgem á tona, ap- todas as filhas desta grande terra
parecendo na imprensa ou nos cur nos dispensem o seu auxilio e um
sos de ensino superior. Havemos pouco de boa vontade e benevo
convir em que o seu desenvolvi lência.
mento collective deve ter sido enor P r e s c iij a k a D u a r t e de A i^m e id a .
A M E N SA G E IR A
A M E N S A G E IR A
0 2)eserto
A Presciliana Duarte de Almeida
0 mergulhador
(Idéa de Murger)
F r a n c isc a J u l ia d a S il v a .
estl’ella, em meio do pavor que llie vura contra os seus, e espera im
inspirava a solidão. paciente reconquistar a victoria.
i\reiga e sorridente, affecta por Xair, que por esse tempo, ainda se
Moacyr a mais espontânea dedi lembrava d'aquelle que tantas juras
cação. de amor lhe fizera, debaixo da man
Dema.siado bello, elle o 6, e por gueira favorita, e por quem ella
tanto quasi diminuto seria o seu agora saudosa suspirava, foi sor-
constrangimento em apresental-o prehendida em breves dias pela sua
por esposo, quando estivesse longe volta inesperada.
e bem longe d’aquelle immenso Sem ter ideal formado, ella era,
degredo. todavia, captiva de um amor im
Com liabil energia e firmeza sin menso, visto que «0 habito 6 uma
gular. executara os planos que segunda natureza».
traçara com o fim da algemar-lhe Espirito inculto, e alma affeita
0 coração. aos carinhos, a pobre Xair, tinha-
Facil lhe fôra o seu intento, por- se acostumado, d’esde o inicio de
(jue também o ouro de seus cofres sua mocidade a amar ao interes
compraria a independencia d'aquel- sante jovem, que se mostrava tão
le que tanto sonhava coin a liber affectuoso para com ella e que se
dade pecuniária. tornaria um dia o companheiro fiel
Tudo tinha, portanto, para am de sua vida cheia de serenidade,
bos 0 prisma da felicidade egoista, porque o seu pecúlio era bastante
visto que, apesar de unidos vive sufficiente para garantir o futuro
ria cada um para si mesmo. calmo com que sonhava.
Xão se esqueceu, porém, a sa Xão desejava sahir do meio onde
bedoria divina de impedir a con- fôra nascida e nem tão pouco tinha
summação de tal desastre. ambição de apparecer no mundo
Contratempos, provindos por op- social.
posição da parte da familia de Wan- Uma existência ignorada, mas
da, desalentaram por forma bem resguardada de privações, era todo
atróz 0 animo de Moacyr, que tris 0 .seu desejo.
tonho via desapparecer as nuvens Graças ao seu temperamento cal
compactas do ouro e surgir nova mo e um tanto benigno, não se
mente das brumas do passado o exasperava contra os rigores da
vulto sympathico de sua ex-amada, dor. assim como não se enthusias-
cjue fôra bem sincera e carinhosa. niava com os ostridulos da felici
Wanda. allucinadapela derrota de dade.
seu intento, commette actos de bra Do que não restava, porém, du-
r
28 A M E N S A G E IR A
Kief
Puz-me diante de ti, por largo espaço posto
O olhar no teu olhar, fixa e immovel a vista,
Fazendo-a penetrar, ein triumphal conquista,
Luzes dentro, nos soes que brilham no teu rosto:
J u u o C f.s a r da S il v a .
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direetara — Presciliana Duarte de Almeida
Chronica omnimoda
Nem a mulher que vota, nem a Entretanto...
mulher que mata! Entretanto, quem compulsar as
Nem Luisa Michel, nem Carlota paginas da curta historia desta Re
Corday !... publica, pasmará ante a absoluta
falta de cumprimento dessa pro
messa!
Parece-me que é mais luetuosa Em menos de dez annos de novo
do que risonha a data, que hoje regimen, o coração das brazileiras
se commémora. patriotas se tem compungido, ante
Ainda se não conta um decen- as scenas da mais requintada bar
nio da proclamação da Republica baria !
e dir-se-ia que um século transcor As mais lancinantes dores têm
reu já, tão cruciantes agonias cons- asseteado o seu fragilimo peito!...
tringeni a alma nacional! Não quero aqui resvalar para o
Dois dias após o memorável 15 terreno escorregadio e ingrato da
de Novembro de 1889, ouvi, alli politica...
no velho theatro S. José^ palavras Detesto tanto a mulher que vota,
tranquillisadoras, cahidas como got- como a mulher que mata...
34 A M E N S A G E IR A
aça e que surja elle do seio das lia, mãe dos Gracchos, como um
familias brazileiras! modelo, digno de imitação.
Nos homens que nos governam, A educação da mocidade é a
já ninguém mais pode ter con mais grata occupação da mulher!
fiança... Eu aborreço aos viragos!
O poder é a sua unica aspira
ção...
A regeneração social depende da
influencia da mulher brazileira,
Nem a mulher que vota, nem a
deve promanar do lar domestico!
mulher que mata!...
A.s lições de patriotismo, minis
Nem Luiza Michel, nem Carlota
tradas pelas mães, essas é que hão
Corday !...
de operar o prodigio da regenera
ção nacional! S. Paulo, 15 Novembro 1897.
Por isso 6 que aponto a Corue- J. V ie ir a de A lm eida .
Gonçalves 2)ias
Ao cantor inspirado e bom do Pindoraina
A mulher brazileira uma grinalda tece...
De sonhos de oiro e luz sua alma se recama!
Como que o seu orgulho innato e grande cresce
Para poder sorrindo o nome gloriar
Desse, que como a selva enorme e secular,
Synthétisa a belleza amazônica e rude,
Belleza singular e sã, que nunca illude!
10 de Novembro de 1897.
P r e s c il ia n a D u a r t e ue A lm e id a .
36 A m e n s a g e ir a
2)e Longe
A ’. Ignex Sabino
Ai nesta soledade
Virgem Mãe de Jesus, quem me pode valer ?
Eu sei que lá te prende a algema do dever!
Eu sei que tu não vens! E eu morro de saudade !
AURE.\ PIRK.S.
—
A M ENSAGETKA 43
ve a generosidade de collocar-me.
0arta Houve, porém, ligeiro engano quan
c o m a re s d e c liro n ica to ao meu ultimo nome, que rara
Mmha Poetisa. mente assigno e é Lemos.
Maria Emilia da Rocha é pseu-
Uepois de haver enviado á Men-
donymo de um literato do Rio que
sageh'a o men artigo intitulado
de ha muito zomba dos leitores do
Falso encanto., foi que tive a sa
Paix andando vestido de saias!
tisfação de receber o primeiro nu
Por coincidência adoptou os meus
mero da revista que se publica sob
dois primeiros nomes e mais de
a sua direcção e que tanto se pré
uma vez tenho tido necessidade de
occupa com 0 aperfeiçoamento mo
regeitar os elogios feitos aos seus
ral da mulher. Faz bem! Já em
sonetos attribuidos a mim, que, in
1869 0 eminente exilado de Jer
felizmente, só escrevo em prosa!
sey, 0 immortal poeta e grande
Digo infelizmente porque a Poesia
democrata, Victor Hugo emfim, er
é depois da Musica a maior con
guia a sua voz no encerramento
soladora da frágil humanidade. O
do congresso da paz em Lausana,
verdadeiro poeta encontra sempre
e proclamava, entre delirantes ap
um echo em nossos corações! Sen
plauses da multidão, o «direito da
timos as suas alegrias e choramos
mulher como igual ao do homem»;
as suas amarguras! Ah! ser poeta
direito esse que temos deixado pro-
c ter a faculdade de agradar fa
fligar e que, mesmo quando (pie- lando unicamante no que nos in
remos defender, desvirtuamos algu
teressa, un (pie nos vem do cora
mas vezes pelo exaggero das the ção! Para o prosador o publico
ses. Nada, portanto, de exaltação. c mais exigente: quer sempre uma
Queremos a igualdade da mu ideia que interesse, sinão a todos,
lher tal como é descripta pelo im pelo menos a grande numero de
mortal e bom Legouvé, igualdade
leitores.
na differença., igualdade que póde
existir sem prejuizo de nenhuma Para terminar estas linhas devo
das duas metades do genero hu dar-lhe os mais festivos emboras
mano, igualdade que eleva a mu pela iniciação de sua vida jorna-
lher e prova cm favor do homem. listica. A Mensageira aqui nestas
Concorda? Então passemos adiante. legiões silenciosas e tristes do in
terior chega como a pomba d'al-
Entre as brazileiras mencionadas liança, trazendo ao nosso espirito
no sou artigo de apresentação te sequioso do novo e do hello uma
A M E N S A G E IR A
44
L
48 A M E N S A G E IR A
 M E N S â GEIR â
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
Velha Saudade
A Presciliana Duarte de Almeida
Eu fico horas inteiras contemplando
Os céus em noites de luar, saudosa. . .
E se uma nuvem passa vagarosa
Da lua a face pallida occultando,
sabbado passado, entre onze horas pre cultivando com esmero seu es
e meio dia, muita gente viu um pirito delicado, conseguiu tornar-se
phenomeno metereologico interes uma mulher illustrada e util.
sante, um arco-iris enorme a roda Hoje, casada com o Juiz de Di
do sol. Sinto realmente não ter reito de lá, vive feliz e transmitte
observado esse holophote celeste a seus filhos a educação solida e
que, segundo me disseram, foi bel- benefica que possue.
lissimo. A segunda filha do fazendeiro
Os sábios erram, os philosoplios não gostava absolutamente de estu
mentem... dar. Os livros e o piano causa
rara mim, a melhor philosophia vam-lhe somno. Aos 14 annos
consiste em saber viver, supportai- mal sabia assignai* o nome. O pae
com paciência os defeitos alheios — isto é que é ser philosopho —
e procurar diminuir ou atténuai* ccmprehendeu depressa a inclina
os proprios. ção da filha e chamou-a á fala um
Conheci, no sertão de Minas, um dia. Depois de longas ponderações,
homem de mediana educação e que, disse-lhe: a gente neste mundo de
no emtanto, era um philosopho per ve servir para sala ou para cosi-
feito. Elle encarava a vida como nha; a utilidade das creaturas ó a
a vida é: uma serie de factos, uns mesma, quer interprete Chopin, co
alegres e outros tristes, mas todos mo tua irmã. quer cultive a terra,
naturaes e esperados. Tinha e.sse como eu; quer amamente os filhos
homem muitos filhos, era fazen e remende a roupa velha, como
deiro e remediado de fortuna. A tua mãe, quer finalmente, como teu
sua filha mais velha era muito ta irmão, dome animaes bravios. O
lentosa, mostrava muito gosto pelas que 6 preciso é que cada um siga
lettras e pela musica. O pae man a sua inclinação, ahi ó que está o
dou educal-a em um excellente grande segredo da vida. Acho que
collegio em Ouro-Preto, fez con esta historia de livros e de musica
tente as grandes despezas que obri não to agrada; vê lá se queres ou
gavam as penosas e longinquas tra vida, por exemplo — casar.
viagens e durante õ annos a filha Se queres te casar, dize-me, falarei
foi todo 0 seu cuidado e todo o ao filho do Compadre Lopes, que
seu orgulho. está nos casos, 6 bom rapaz, tra
Concluida a educação no colle balhador, sadio.
gio, voltou para a Fazenda, onde — E ’ isso mesmo, meu Pae, sou
tinha escolhida bibliotheca e excel de sua opinião, não dou para estu
lente piano. Lia, estudava e, sem dos, (piero mo casar.
A MENSAGEIRA
A MENSAGEIRA
54
T^oite
Capital artistica do Brazil, de
Quando a hora final da Ave-Maria
certo não é, como em um lance
Deixa o ecco voar espaço ein fóra;
N ’esse momento em que a melancolia dramatico a epithetisou a genial
Mais na terra se estende e se demora; tragica franceza...
Effectivamente a velha aldeia de
Quando a sombra da noite que apavora Tibiriçá, ora convertida em opu
Eneobre o sol, escurecendo o dia,
lenta capital civilisada, não pode
Quando não temos mais da ultima aurora
A doce luz, embora fugidia; aspirar a taes honras.
Começa por não possuir uma
Quando as trevas mais negras vão crescendo Academia de Bellas-Artes, nem um
E cobrem toda a Natureza; quando Conservatorio de Musica!
Repousa e dorme tudo em paz, — gemidos
Onde estão as suas collecçôes
Ouvem-se, o espaço inteiro percorrendo... artisticas ?...
E ’ que, tristes no mundo, soluçando A não ser aquelle pandemonium
Vagueiam muitos corações perdidos. do Ypiranga, onde se accumulam
A m e l ia d e O l i v e i r a . — un pen à Ia diahle — a setta
do selvagem brazileiro e o... orni-
thorynco da Oceania, que outros
pergaminhos podemos exhibir, em
A MENSAGEIRA
.s.")
- - X
62 A MENSAGEIRA
fosse feita para mandar, porque não ciedade, ainda algo hostil ao seu
ha de ella saber obedecer? desenvolvimento.
Saber obedecer não é uma scien- Segue-se mimoso soneto de Ade
cia que tem preoccupado a tanta lina Lopes Vieira, a distincta au
gente ? tora das Maryariias, que resurge
Certo que sim. Aos homens con para as letras com o enthusiasmo
vém, então, aproveitar ou saber a- doutras eras.
proveitar a indole, mas a indole Aproposito diremos que esta cam
educada da mulher. pineira, cujas Palestras femininas
Queiram desculpar, srs. Redac- abrilhantavam a antiga Semana,
tores, se fui além do pequeno es promette trazer a mesma secção ás
paço que vos pedi. colunmas do novo periodico.
Vem ao deante a Carta do Rio,
Franca, 10— 97.
pequena série de trechos da vida
G eorgixa S antiago .
carioca, observados finamente atra
(Do Album, da Franca.) vés delicada phantasia, por Maria
Clara da Cunha Santos.
Depois encontramos quatro qua
dras, cheias de lavor artístico, ca
sando perfeitamente com a idéa de
Mügei, que serviu de thema ao
^ Merisageira
Mergulhador, pois assim se intitula
Continuamos a transcrever a opi esse trabalho de Francisca Julia da
nião da imprensa sobre a nossa re Silva.
vista, apezar do limitado espaço de Logo abaixo apparece a Chro
que dispomos. Fazendo-o temos em nica omnimoda, plena de um mys
vista certificar a nossos collabora- ticisme doce, a desbordar pelos pe
dores do apreço que se lhes dá e ríodos arredondados, em que se
temos com isso o mais vivo prazer: expande a alma christão e o espiri
«Só hontem recebemos o segun to religioso de João Vieira.
do numero d’A Mensageira, inte- Amelia de Oliveira alinha qua
ressantissima revista consagrada ás torze versos, denunciadores de um
senhoras, e que se publica sob as belle talento litterario, que a ha de
vistas de Presciliana Duarte de Al tornar festejada, como o vate das
meida. Canções românticos, das M eridio-
Abre-o um judicioso escripto de naes, etc.
Maria Emilia, relativo á condição Traços ligeiros é o titulo de um
actual da mulher em a nossa so artigo, no qual Silvio de Almeida,
A MENSAGEIRA
63
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direetora — Presciliana Duarte de Almeida
Lopes de Almeida que, sendo ainda Bem rente ao tecto, a artistica escnlptnra
moça, já nos deu os minosos T ixk/os desnovela a capricho uns aral>escos;
e Illuminarões, a Faiuilia Medeiros^ e filetes de curvas delicadas,
que ó um dos primeiros romances de fioreios e.xoticos e frescos,
se entendem nas janellas das sacadas.
brazileiros, o apreciável Livro d/is
Noivas^ a Vmva Simões e os Con De modelo chinez, todo elegante,
tos Infantis de collaboração com é sen aspecto alegre e estravagante,
Adelina Lopes Vieira; Zalina Rolim tendo á frente, em repncho crvstalino,
um chafariz grntesco e pequenino,
que, além do seu adoravel e im
com raras parazitas
mortal. Coracõo. nos apresenta de cores esquisitas.
agora o Livro das Creanças^ (que
ainda não conhecemos); Julia Cor Atravessa-lhe os lados a corrente
do rio. Duas pontes torneadas
tines que, depois de haver enrique
em madeira e granito, destacadas,
cido nossas letras com seus magis- formam brayos e arcadas elegantes,
traes e admiráveis Versos^ burila sobre largas cohimnas descançando....
um novo livro de sentidos e in X o veio da torrente,
comparáveis alexandrinos; e algu como as folhas boiando, ílnctnantes,
dividido em fileiras,
mas outras, muito raras.
perpassa o enorme bando
Terminando, enviamos á auctora dos passaros aquaticos__
dos Fleetros um punhado de flores, E nas margens risonhas
pedindo-lhe que, com o seu cora- de bambus e floridas aroeiçis,
de poetisa, nos desculpe o desata frnetos, festões e peiiilidos silvaticos,
sustendo-se n’um pé, tranquillamente,
viado deste juízo despretencioso.
meditam as cegonhas__
Ao centro desse rio que se inftamma
P erpetua do V alle.
ao sol do meio dia,
ostenta-se uma ilha pequenina,
habitada por lépidos coelhos;
uma ilha attractiva e esmeraldina,
coberta de confusa ramaria,
onde, enredada a grama,
a trepadeira enrosca-se ao coqueiro
e adorna-o todo inteiro
de cachos amarellos e vermelhos.
A MENSAGEIRA / /
Literatas polacas
Qual ave que abandona a nossa herdade, — Notas —
ave de pluma alvissirna de arminho,
A ’ Mensageira.
emigra, mas nos deixa o triste ninho
no coração aberto et(!rnamente. Depois da morte de Tourgueneff
e desde que Tolstoi, cujo genio do
Ninho sem esperança, onde somente mina 0 nosso século, entregou-se
habita melancólica a saudade, inteiramente ao mysticismo; não ha
nestes dias de spleen e de incerteza,
nos paizes slavos talento mais no
tão cheios de tristeza,
e de scisma que a nossa mente invade,
bre, mais harmonioso, mais huma
como volvendo á urna do passado, no que 0 de Mme. Elisa Or.-ieska.
em busca do ideal amortalhado... Ninguém comprehendeu e pintou
ainda a vida contemporânea do seu
E por isso a deidade paiz natal, como ella, quer pela
fugindo inteiramente á sociedade,
verdade, quer pela probidade in
ali, em seu chalet, desventurosa,
tellectual e, principalmente, pelo
concentra toda a magua dolorosa
no coração enfermo e desolado. escol artistico. Seus livros, vigo
rosos, sobrios e verdadeiros, de uma
Ao descambar das tardes bonançosas, inspiração elevada e serena, de uma
tardes de aroma e luz, tardes formosas, execução artistica que toca á per
eu ás vezes a vejo ir ao piano. feição, encerram uma pintura syn-
A sua voz a mim tanto angustia,
thetica dos costumes, das crenças
porque, ao som de uma estranha melodia,
parece que revive mais á historia
e das idéas de todo um povo, ao
de egual amor humano menos de um determinado periodo
que trago na memória___ historico.
A MENSAGEIRA 79
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direetora — Presciliana Duarte de Almeida
88 A M ENSAGEIRA
Walkirias Soneto
(Bailada) Escuta: os gosos meus, toda a ventura,
Errantes, indecisas, a bruma es Todos os sonhos e illusão (jueiida,
Tudo deixou-me, tudo; nesta vida
cassa e alvacenta cingindo como
Nada me resta mais que a noite escura.
um sendal de arminhos as leves
fôrmas, de intangibilidades ethereas, A que sorte cruel, amarga e dura.
esvoaçam as languidas o ideiaes Deus condemnou-me! Est’alma dolorida
Já sem força, ai de mim! vejo rendida
Walkirias...
A ’ tristeza, ao pezar, á desventura!
Desoladora paizagem: luz de
uma aurora boreal, livida, tocando O (]ue hei feito, não sei ; em vão banhado
os pincaros nevoentos... ar vasio, Tenho meu rosto desse pranto triste;
Tenho maguas sem conta em vão sorvido.
porque as duas friagens espancam
barbaramento alguma aza que passe Não sei porque... escuta: meu passado
lenta, lenta... E ’ todo aquelle que a chorar me ouviste,
Para além, em frestas rasgadas E que senti passar sem ter vivido!
Abril — 1890.
(■) Veja-se a pagina 120 das Producções da ca
ducidade. A m e l ia d e O l i v e i r a .
A M E N S A G E IR A
91
mofadas para as lojas, abre atelier^ vida 6 uma grande fonte que não
coso luvas para as fabricas ou cha deve secear inutilmente.»
péus para as chapelarias, é florista, E cila W orms.
é mestra, é aia e lavadeira od en-
gommadeira, conforme a educação
recebida ou o ambiente em que
respira. A brazileira ociosa, é uma
phrase injusta o que anda a correr
Kotas pequenas
mundo, infelizmente, sem pi-otostos.
Porque ? A Mensageira em Paris. - Da
Toda a gente sabe (pie no Bra- Exma. Sra. Viscondessa de Caval
zil só não amamenta os filhos a canti, que se acha actualmente em
mulher doente, aquella que não tem Paris, trabalhando no seu Diccio-
leite ou que o sabe prejudicial em narío Bioyrcqjhico Braxileiro, re
vez de bénéfice! cebemos honrosissima carta, na qual
Rica ou pobre, as mães só teem exara lisongeiros conceitos a nosso
uma aspiração : — aleitar, crear o respeito. As suas animadoras pa
seu filho ! Este exemplo devia ser lavras serão mais um incentivo para
citado, porque, á proporção que es que procuremos melhorar sempre,
ta virtude se accentúa entre nós, na medida de nossas forças, a nos
parece que nos paizes da civtlÍ7M- sa modesta publicação.
ção se vae tornando escassa! — Xavier de Carvalho, o brilhante
A mulher brazileira ama com escriptor que mais de uma vez tem
mais intensidade, talvez ; dedica-se vibrado sua penna em prol da ele
toda, sem medo de estragar a sua vação moral da mulher, nas suas
belleza, ás commoções da vida. Ahi apreciáveis Notas de Paris^ escri-
vemos as pobres mulheres dos sol ptas para o Diário Popular^ assim
se exprime sobre a nossa revista :
dados, seguindo-os á guerra, acom
«Agradecemos á illustre escripto
panhando-os nas batalhas, jmatando
ra D. Presciliana Duarte de Almei
quem os fere, ferindo quem os ame
da a remessa da sua interessante
aça, erguendo-lhes das mãos mori
revista feminista A iMensayeva.
bundas a espingarda com que os
Mostramol-a ha dias á celebre es-
vingam !
criptora Mary a Cheliga no seu sa
Estas energias não são filhas do
lão de avenue des Temes õl, e a
acaso, vêm-nos da mistura de san
grande sacerdotisa da causa ties
gues com que fomos gerados, vêm-
vezes sagrada da emancipação fe
nos desta natureza portentosa e que
minina ficou encantada e deslum-
por toda a parte nos ensina que a
94 A M E N S A G E IR A
A MENSÁGEIP tA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direçtora — Presciliana Duarte de Almeida
0 5onho
« Vem ! o Sonho me diz, e a sua mão me acena —
Sobre uma aza que vibra, e se estende, e se eleva.
Sobe! sobe! e á região afastada e serena
Das estrellas o vôo ousadamente leva !
A lberto d e O l iv e ir a .
Por toda a pai te, em quasi to
das as lojas, eu vejo em lettras
gaii-afaes este letreiro: Liquida
ção real. Pois vou lhes contar,
caras leitoras, 0 que fez um intel 'íntellectualidade
ligente negociante para vender uma
Í^eminina Brasileira
peça de seda muito feia, de um
padrão horrivel: — inutilisou 0 Quem não se encherá de júbilo
principio da peça da seda, enno- e orgulho nacional, vendo que, no
doou os dois primeiros metros. Fez mundo das idóas da America la
um preço .. . commodo e imme- tina, a mulher bi-asileira vae gal
diatamente vendeu toda a fazenda. gando sempre uma brilhante ascen-
104 A M E N S A G E IR A
A M E N SA G E IR A 10 9
ape^a á saia da mãe, como que ziu Carlos Gomes, José de Alen
occultando 0 pranto ... Nos bra car e Gonçalves Dias, não podia
ços da mãe s o i t í , com 0 sorriso deixar de ter um Almeida Junior,
sublime da inuocencia, 0 peque- que etornisasse na tela 0 typo dos
nito, que não sabe ainda, como 0 caipiras brazileiros 0 as tradicçOes
irmão, chorar a ausência do pao. ■da nossa patria.
São cheias de imponência as fi
P ercktua do V a u .e.
guras dos intrépidos exploradores
installados nas canoas e batelões
para a partida ao seio das flores
tas virgens, e é digna de menção
a figura exhuberante de verdade Contraste
de um negro que remove para A Alberto de Oliveira
bordo uma canasti’a de couro ama-
Tranquillo estava o mar..,. No firmamento,
rello, recebendo nas faces a luz Nem um signal se via da procella...
intensa do sol. Nota-se na tela a Estava manso, estava doce o vento.
ideia de previsão para a inhospita Fugia mansamente e doce a véla.
excursão; feixes de cannas carre Havia calma e luz... Mas, n’ um momento.
gados cuidadosamente, uma ca Cobrindo-se de crepe a azul umbella,
baça levada ás costas por um cai Cahiu a tempestade, e, então, violento
pira. dando-nos ideia de levar Tornou-se o mar, a fera horrenda e bella.
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
DirestWFa — Presciliana Duarte de Almeida
Que Deus as mate já bem sos corações nesta vida tão cheia
velhinas e eutáo, doce Maria Brau- de sonhos e de mentiras!
lia, desce lá do teu throno, e, fe O amor ó sempre a causa dessas
chando os olhos aos seus pecca- quédas tremendas. A ’s vezes a vi
dos, ahre-lhes os braços e acalen da de uma creatura parece desli-
ta-as, que os velhos são como as sar serena e calma como as a-
creanças, — gostam de festinhas... guas de um manso lago. Nenhum
JuLiA L opes de A lm e id a . leve pezar, nem o mais pequenino
desgosto turvam a serenidade de
seu viver pacato e feliz; de repente
muda-se 0 scenario, erapallidecem
os doirados raios de luz e sobre a
Ouro ^reto vida ha pouco povoada de appari-
ções formosas projectam-se apenas
Foi aqui nestas altas penedias,
Que parecem romper o firmamento,
dolorosas realidades. Apagam-se,
Que raiou fulgurante o pensamento como por encanto, as alegrias e
Da Liberdade, que pregou Messias. esperanças todas.
Tal foi 0 que se deu com uma
Foi aqui! — Diz a voz das ventanias;
doente, ha já algum tempo, nesta
Foi aqui! — Diz um velho monumento;
Foi aqui 1 — Tudo diz com sentimento, cidade, e que ainda hoje no Hos-
Contando a historia dos passados dias! picio Nacional de Alienados está
suhmettida a criterioso tratamento.
Salve! Cidade legendária e illesa!
Chama-se Theodora, a infeliz, e
Se hoje a moderna geração despreza
Teu passado de glorias e de sóes;
seu caso foi largamente commen-
tado pela imprensa diaria. Sua
Minh’alma ajoelha commovida e em pranto historia 6 muito interessante para
Beija o teu seio generoso e santo,
a medicina.
Onde pulsaram eorações de Heroes!
Tão acostumadas estamos a ver,
AUREA P ir e s .
em questões de amor, ingratidões
18%.
e perfídias que dizemos ser 0 caso
interessante para a medicina, unica
mente. Theodora amava com todo
0 ardor de uma paixão purissima
e acreditava-se amada também. Pas-
0arta do ^io saram-se os tempos. Uma rival
Quantas vezes se não tem falla mais feliz despedaçou todos os seus
do das cruéis decepções que a to sonhos, todas as suas alegrias!
do instante encontram os amoro Theodora, de ha muito que des-
I 16 A M E N S A G E IR A
A ^rENSACTErRA I I
seus braços teve uma força enorme^ não queria, tinha receios e bem
inqualificável, força muito superior fundados,, por isso continuava a
á sua. trabalhar n’aquillo que sabia.
Tanto chorava o pobre homem, Decididamente 6 um grande phi-
como a creança e as pessoas de losopho esse cocheiro! tem a rara
sua familia em vista desse desastre. virtude de conhecer a sua igno
A menina já está hoje com um rância!
olho de vidro, pobrcsinha! M aria C lar.v da C unha S antos.
Real mente os olhos de Laura, de
tão bonitos e scintillantes que eraiá,
causavam admiração geral.
A inconsciente avestruz se dei
xou fascinar também e tomou-os,
O meu ideal
quem sabe? por brilhantes negros.
Tenho pena de encontrar a formosa No porte a distincç-ão nobre e correcUi
cheia da graça natural que eneanta;
Laura assim deformada ! Pobre
nos olhos — doce luz que nie aquebranta —
creança!
um reverbero de alma de Poeta.
grosso do son paiz a seguinte men ção nos empregos públicos, com
sagem, que desejaríamos fosse lida patíveis também com o seu sexo?
0 meditada pelos estadistas do to Nos Estados Unidos a protec
dos OS' paizes sul-americanos: ção especial que as instituições tôm
«Senhores deputados: — Nada dado á mulher está proclamando
6 mais doloroso do que a condi 0 aperfeiçoamento social desse
ção da mulher em nossa patria, grande paiz.
onde, empregada nos affazeres E não se diga, conforme o pes
domésticos, 6 limitadíssima a es- simismo egoista de muitos, que to
phera da sua actividade intelle- das estas reformas na educaçãe da
ctual e mais estreito ainda o cir mulher tiram-lhe sua poesia e
culo onde póde prover a subsistên tranquilidade. Pelo contrario: a
cia, independente e honradamente. mulher instruida, a mulher que
Mostrar-lhe novos horisontes, fa- possue artes ou industrias, a mu
zel-a participar das manifestações lher que trabalha e adquire a ex-
do trabalho, compatível com o seu periencia que dá o contacto mais
sexo, chamal-a a collaborar nos immediato com a vida real, em vez
concursos das sciencias e das artes, de prejudicar a vida domestica, ó
ampliar-lhe, numa palavra, o campo um grande auxiliar para a familia
de acção, melhorando-lhe o porvir. e uma prenda valiosa para o es
6 assumpto que não devemos es poso, porque, retemperada sua al
quecer. ma no realismo, suas idéas acerca
No Equador, especialmentc, nada da fidelidade e da honra — seu
SC fez para melhorar a condição melhor patrimônio — chegam a
da mulher e não 6 justo que uma ser mais claras e mais perfeitas,
assembléa illustrada e composta de e mais solida por conseguinte a
liberaes encerre suas sessões sem ter educação moral que recebem os
iniciado siquer a reforma nesse filhos de taes mulheres.
sentido. Praticamente demonstra a asser
Porque não se franquearem á ção anterior a mulher da America
mulher as portas das universidades, do Norte, onde as leis protegem
afim de que se dedique ao estudo decididamente o bello sexo dando-
das profissões scientificas? lhe garantias e concedendo-lhe di
Porque não se lhe proporcionam reitos que levantaram seu nivel a
institutos especiaes para a apren um tal gráo, que 6 prodigiosa a
dizagem de artes c efficios, pró actividade em que se desenvolve
prios de seu sexo? a influencia feminina nas distin-
Porque não se lhe da participa ctas manifestações da vida.
I 20 A M E N S A G E IR A
Madrigal
('Ikema de Stàly)
1898.
S il vio d e A l m e id a .
1} 1
A ^í ENSAGÍ-ÍRA 123
de trabalhar em consequência de
Que tal? Não é um bonito sur
um incommode (pialquer? Km taes
to de imaginação poética?
emergencias a profissão da mulher
não 6 a garantia do lar 0 do amor? M a r i a E m il ia .
A M E N SA G E IR A I2 S
sobre a terra, envolto nos nevoei nebre da morte para que com ri
ros de uma tarde de Maio. sos e não lagrimas, deixasse esta
Nem uma lagrima cahira sobro vida onde nem mesmo mostrar po
a face cadavérica, nem um goivo de 0 quanto sabe amar.
solto sobre 0 caixão! Se eu morresse, dizia ella, ao
Apenas 0 dobrar dos sinos an- menos commigo seria sepultada a
nunciava aos curiosos que 0 enter sua imagem que tanto softrer mo
ro ia passar, porque nem mesmo faz, porém rigores da sorte me pa
as melodias fúnebres de uma or recem reservar para assistir aos hym-
chestra se fizeram ouvir!... nos que em honra á minha rival
Impulsionada por um sentimen se farão executar no dia do seu
to tétrico, fôra vêr a passagem do noivado.
feretro uma senhorita, franzina, pal E é n’este contrasto simultâneo
lida e sensivel. que se cnoca a humanidade: — 0
Firma 0 olhar e descobre entre exemplo entristece, mas a idéa não
a negra multidão um cavalheiro abandona o caminho que trilha.
esguio, que, i-esguardando-se da Apozar de demonstrar-lhe a ra
impertinência do frio, trazia um zão esclarecida que 0 amor, embo
longo sobretudo preto. ra correspondido, tem ás vezes ne
Silencioso, caminhava em dis gro fim, ainda assim, não podia
tancia respeitável; tinha a cabeça aquella moça pallida e sensivel
ao ar e 0 pensamento longe do lo- deixar de amar, de amar muito,
gar. fervorosamente, com todas as véras
Segue a moça com 0 olhar 0 de seu fraco espirito!!
vulto do seu amado, sem mesmo D o i .ores A lc .sntar .v dk A rau .io .
se lembrar do triste que se des
pedia ao abandono da vida! Caxambú, 7 de Dezembro 97.
Some-se 0 cortejo fúnebre...
Voltando das paragens dos so
nhos, aquella creatura amorosa en
xerga, em torno a si, mil lábios que Trotas pequenas
lamentam a desgraça do sepultado,
e, no emtanto, no seu intimo, sente Jornal Feminino — As senhoras
d’elle inveja bastante intensa aquel francezas podem já orgulhar-se de
la alma de moça que comsigo pen possuir uma folha diaria exclusi
sava — . vamente dirigida, administrada, es-
Bastar-lhe-ia a certeza de ser cripta e typographicamente com
pelo seu amor levada ao lugar fu- posta por mulheres. A nova folha
1 28 A M E N S A G E IR A
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
Aqui mesmo em Ouro Preto, re C’eat Dieu qui mit l’amour au
bout de toute chose,
side a exma. esposa do sr. doutor L’amour en qui tout vit, l’amour
sur qui tout pose !
Sizinio Pontes (medico e lente da V. Hngo.
Escola de Pharmacia), a qual se Vai-se acalmando a pouco e pouco, e sinto
nhora fez, ao que me consta, na Que a pàz lhe volta e as penas vão-se embora ;
antiga Instrucção Publica da Pro- Se nelle o amor não é de todo extincto,
vincia, todos ou quasi todos os A magua já não é tambem senhora.
sileiros, todas ellas capazes de, com E a noite veio só, não veio o dia...
estudo, methodo, perseverança e Ai, coração, que a pérfida magia
inquebrantáveis mostras de virtu Do amor ao seio teu não mais aporte!
de, virem muito breve a formar
E elle, baixinho e manso e dolorido:
uma falange de batalhadoras sin — E ’ a morte ser, assim, qual fui, trahido,
ceras, poderosas e ousadas, tanto Mas viver sem amor é mais que a morte.
nos dominios agrestos da Sciencia, Z a l in a R o l im .
como nas regiòes ideaes da Arte.
Formem grêmios e associações,
fundem jornaes e revistas, levem
de vencida os tirocinios acadêmi
cos, procurem as mais illustres e
0arta do ^io
felizes, com a sua influencia, avi
ventar a campanha em bem da Desde creança que ouço falar
mulher e seus direitos, aqui, no com muito despreso sobre a falta
Brasil: e assim terão as nossas de segurança que ha. em segre
virtuosas e dignas compatriotas pe dos eni bocea de mulher.
lejado, com 0 recato e moderagão Ha muita gente que diz: Con
naturacs ao seu delicado sexo, pe fiar um segredo á uma mulher ...
la bella id é a — «Fazer da Brazi- 6 0 melhor meio de botal-o na
leira um modelo feminino de edu rua. no dominio publico.
cação e cultura espiritval^ activa, Nessa injustiça, o que nos dóe
dhtincta e forte». mais vivamente, o que mais nos
Ouro Preto— 1898. fére 0 coração, é ouvirmos essa
P ki.a v o S kiíi;.\'-o .
npiiiiiião de algumas mulheres.
Piiis bem, nesta i apitai, tivemos
— — agora um desmentido formal dessa
A M E N SA G E IR A
133
0hronica omnimoda
Pierrot, desenvoltamente, enfia a
vista por uma fresta da caverna! Bem comprehendido 0 ridendo
Tilintam os guizos e rufam as dos antigos, 0 Carnaval poderá ser
zabumbas! 0 terror de certos hypocritas que
0 Carnaval desponta no hori trazendo 0 anno inteiro a mascara
zonte ! . . . afivellada ao rosto, teriam então
de a contemplar desfeita em mil
136 A M E N S A G E IR A
“Impressões de leitura
Pierrot, desenvoltamente, enfia Livro das Crianças^ Zalina Rolim,
a vista, por uma fresta da caverna! 1898
Tilintam os guizos e rufam as Comquanto 0 nome de Zalina
zabumbas! Rolim encimando um livro fosse
0 Carnaval desponta no hori- bastante para que 0 abríssemos já
zonte ! . . . debaixo de uma espectativa sym-
São Paulo, lõ Fevereiro 1898.
pathica, foi com curiosidade talvez
que folheamos as paginas deste li-
J. V ie ir a d e A l m e id a . vrinho, ultimamente dado a lume.
Era 0 primeiro livro, destinado
ás escolas, que a poetisa do Cora
ção entregava ao publico e era jus
ta a nossa curiosidade. Zalina Ro
lim sahiu-se neste novo genero de
literatura com a galhardia habitual
138 A m e n s a g e ir a
SOS e tanto basta para que seja um «Quero vel-a!... Meu Deus! é tão pequeno
livro querido. O cantinho de terra a que pertenço!»
— Como te enganas, Lucia! O seu terreno
Disse alguém que este trabalho
E ’ quasi igual á Europa; é grande, é im-
«destinado ás crianças, póde ser
(menso ! . . .
lido com prazer pelos adultos», e
affirmou uma verdade. A simpli E para mim é mais que o mundo inteiro,
cidade, a correcção de linguagem Meu formoso Brazil, Patria querida ! . . .
e a delicadeza dos assumptos 0 Por elle eu quero ser forte e guerreiro.
Dar-lhe o meu sangue, consagrar-lhe a vida.
tomam sobremodo agradavel e at-
trahente. Das poesias que mais
Quem me dera fosse eu já homem feito
nos agradaram, citaremos Em ferias^ Em altura, e saber, e nobre entono,
Uma amiguinha^ A volta ao lar e Para abrigal-o a sombra do meu peito
a seguinte, que vamos transcrever E eleval-o da gloria ao regio throno !
por ser uma das mais apreciáveis
do livro: E ’ aqui, irmãzinha : olha o torrão fecundo,
A cuja sombra o nosso Lar se abriga ;
N ’este circulo de ouro é 0 nosso mundo,
Onde está a Patria? O altar augusto, a que a affeição nos liga.
Ventura
«E a America?» — Eil-a, emfim aos teus
(olhares : Acho tão bôa e tão feliz a vida!..
A Oeste — elevações de enorme serra ; E delirante eu sinto que se doura
Espumejando a Leste infindos mares, A miuh’alma de moça, enternecida.
E, entre palmeiras, linda, a nossa terra ! Apaixonada e crente e .sonhadora !
140 A MENSAGEIRA
E, sei porém, que em tudo a f’licidade vida, tanto sob 0 bafejo como sob
Não existe no mundo, e que a ventura 0 revez da fortuna.
E ’ como a sorridente mocidade:
A instriicção é grande riqueza,
Raio de Sol que rápido fulgura !..
que dispensa cofi’e para guardal-a;
E muitos sei que são os infelizes acompanha seu possuidor por toda
A quem dados não são risos e flôres, a parte, sem receio de ser roubada
E corações de roxas cicatrizes
ou esbanjada. Ella apparelha 0 ci
Que não cessam jamais cruentas dores!
dadão para bem servir á patria, e
Ha lagrimas de sangue, e dolorosas a mãe de familia para bem cumprir
Maguas de infindo e duro sentimento ! sua missão. Innumeras vezes 6 a
— Se o mar da vida, ás vezes, é de rosas,
defensora do fraco contra 0 forte,
E ’ quasi sempre atroz e violento.
do pobre contra 0 rico.
Noivas a quem a Morte, inexperada.
J osé A mérico dos S antos.
Roubou do amante o divinal carinho.
Curtindo eterna dôr amargurada
N ’alma vasia — abandonado ninho.
Queremos que esta acção que ella tável, 0 bem estar, para no lar fazer
opéra sobre as jovens creaturas seja reinar a paz, a harmonia, a união.
proveitosa, util á humanidade? De Justo é pois, chamar força mo
vemos trabalhar para que 0 espi triz ou motora (se eu assim posso
rito da mulher seja esclarecido; me esprimir) a mulher instruida,
para que sua intelligencia seja cul aquella que actua no sentido do
tivada, afim de que ella saiba dis movimento ou adiantamento, con
tinguir 0 bem do mal, 0 falso do tribuindo total ou parcialmente na
justo, a verdade da mentira e da acceleração ou producção deste mo
superstição; afim de que ella seja vimento, e força de resistência ou
capaz de formar 0 caracter de seus ignorante aquella que actua do sen
filhos volvendo, encaminhando os tido contrario; isto, é diminuindo
seus pensamentos para 0 bello, 0 ou extinguindo 0 movimento ou
bom e 0 real; é necessário emfim progresso.
dar á mulher 0 põo da vida que Instruindo a mulher, 0 homem
é a instrucção baseada sobre o acha nella não somente uma com
fundamento de uma moral sã. Com panheira, mais ainda, um auxilio;
esta arma que vence sem espalhar não unicamente uma ama para seus
sangue, que conquista sem devas filhos, mas sim, uma verdadeira
tar ou assolar, a mulher torna-se mãe, capaz, no caso da morte do
forte, e é então que se pode dizer chefe, de defender os interesses da
com Legouvé; familia e os bens dos orphãos. Da
«O femmes! c ’est a tort qu’on cultura do espirito da mulher re
vous nomme tumides sultará que, entre as suas idéas e
A ’ la voix de vous cœur vous as do marido haverá afinidade e
êtes intrépides.» desta combinação ou união dos es-
piritos, surgirá a força; a força re
— Se a intensidade de uma for sultante de dois agentes ou com
ça se aprecia comparando ou re- ponentes que não neutralisarão seus
ferindo-a á uma outra força de esforços, mas sim accelerarão 0 mo
igual natureza tomada por unidade vimento, a marcha do progresso.
pode-se facilmente avaliar a supe
M. R ennottk.
rioridade da mulher educada (no
verdadeiro sentido) sobre a igno
rante, considerando 0 que pode,
em uma casa, a prudência da mu
lher, para sustental-a, para nella
fazer nascer ou manter 0 confor
A MENSAGEIRA 143
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Directora — Presciliana Duarte de Almeida
146 A M E N S A G E IR A
sonho doirado ? Não creio e nem souro. Eu posso ser alegre quan
quero crer. Papae, devido talvez, do vivo assim tão assustada .S’ Es
a tantos golpes da adversidade, 6 pero que me responda, é proprio
um homem timido, elle tem re das almas bem formadas não co
ceios pelo meu futuro, no emtanto nhecer 0 egoismo e quem é feliz,
conhece bem 0 coração leal de assim penso, deve estender suas
meu noivo e já 0 ama como se azas beneficas por sobre todos que
fosse um filho. Donde vem, pois, 0 cercarem. Sua constante leitora
esse medo ? Quem é que pode e amiga affectuosa
affirmar que são mentirosos os C akm ex de O l iv e ir a .
meus sonhos e verdadeiras as ap-
(Resposta)
prehensões de meus paes?
Minha gentil amiga.
Tudo isso me faz nervosa e triste.
Se eu podesse sondar 0 mysterio Sua carta veio trazer-me uma
impenetrável do futuro!! Se, en grande alegria! Respondo-a agra
tre outras pessoas que me ame decendo os bons conceitos que de
drontam, rclativamente ao meu des mim formou e retribuo as suas
tino, dizendo: tudo no mundo 6 affectuosas saudações. Realmente
mentira, tudo 6 chiméra, engano não a enganaram quando lhe dis
de um momento, apparição phan- seram que eu era feliz. Sou e a
tasmagórica que brilha e que se Deus agradeço, e todas as noites
esvae, não estivessem meus que em minhas orações peço á Nossa
ridos paes, meus anjos protectores, Senhora que sempre me dê 0 que
eu saberia repellir esse pessimismo óra tenho. Não quero mais nada,
doentio e fechar meus ouvidos a nada mais do que tenho, ambi
taes prophecias. ciono.
A senhora deve ter já compre- E’ muito difficil ou quasi im-
hendido, pelo que ficou escripto, possivel prescrever regras sobre a
que eu sou tal qual uma creança base da felicidade. Feliz é quem
medrosa, quero que alguém me assim se julga, diz um sabio pro
console e dê coragem para que eu vérbio. Em todo 0 caso eu posso
encontre no casamento 0 que as lhe dar alguns conselhos que lhe
piro e sonho — a verdadeira felici hão de garantir, se os observar
dade. E é por isso que a con discretamente, a tranquillidade do
sulto e supplico que me ensine 0 lar.
seu segredo — de ser feliz e ser Disse-me que amava muito 0
alegre — pois mamãe vive a dizer seu noivo e que era por elle mui
que uma mulher alegre 6 um the- to amada.
148 A M E N S A G E IR A
1
A M E N SA G E IR A
I5 I
158 A M E N S A G E IR A
A MENSAGEIRA
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Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
0 dinheiro era para mim mesma mento em que a ama ficou liberta,
e seria loucura pagar-me o mesmo sü valia 0 seu leite o terço do seu
(pie pagava a meu senhor, cpie era valor! Edificante, não acham?
um homem rico.»
Eu fiípiei 'pasma com essa liis- Eoi reeleita como presidente do
toria revoltante e perguntei-lhe: Orphéon Carlos Ooines a notável
porque vocc não se despediu ? ei’a oscriptora e primorosa poetisa Ade
ja livre e não deveria se sujeitar lina Vieira! Xão podia ser melhor
a ganhar menos. — «Ah! sinha- a escolha. O Orphéon 6 pi’osente-
zinha! me disse a lavadeira com mente todo o enlevo da no.ssa poe
os olhos rasos d’agua, eu já tinha tisa e ó pena que para dedicar-se
dado meu leite õ mezes á cream;a de corpo o alma ao Orphéon, se
0 já a amava tanto que não tive es([ueça da litteratura em geral e
coragem para reagir. O patrão po- da «Mensageira» em particular, a
deria de.sjiedir-me, elle era homem qual prometteu umas Palestras Fe
zangado. mininas» e que pelos modos vão
— E seu filho? perguntei. ficar para o dia de S. Nunca, de
— Meu filho, respondeu solu- tarde.
i;ando, morreu nesse dia 13 de M.vria Cl.vr.v d.\ Cunha Santos.
Maio, mas eu só soube muitos dias
depois!»
A lavadeira despediu-se e partiu.
Eu fiquei a pensar na alma an
gelica dessa creatura e na abne
gação de seu proceder tão nobre. ^lle ou ella?
Todos conhecem casos hedion Da Mensarjeirn, R evista
dada á luz na P aulicéa,
dos e atrozes de barbaridades com-
um a quest.ão p on h o á vi.sta,
mettidas no tempo dó captiveiro, e n ão é theodicéa.
por isso não 6 demais que eu con
te esse da lavadeira e do homem A s eruditas senhoras
rico que entendia que o leite que qu e illustram a Mensageira
amamentava o .seu filho valia cen certam ente são credoras
d e saudação lisonjeira.
to e vinte mil réis por mez emquan-
to um outro homem — também
E u , portan to, m ui sin cero
rico — recebia o aluguel para con- as cu m p rim en to e s a u d o ;
sumil-o ém capitosos vinhos o lu no acolh im en to, qu e espero,
xuosas ostentações e que no nio- estrib o-m e e não m e illudo.
166 A M E N SA G E IR A
attentas, b e n e v o le n te s ; c o m p a ra d o c o m a pata,
d e m ais lu z id io c o u ro , p o is q u e n en h u m a é m ed rosa ,
V a i se n d o d ito e ré d ito , M e r e c e p h o to g ra p h ia ,
e a fama não corre, vôa, e m e n çã o em tr o v a o u c o p ia !
q u e um p a v ã o é tão b o n ito , A m ã o elle n u n ca enfia,
q u a n to é feia u m a p a v ôa . p o r ser m a io r q u e a m a n o p la !
A M E N SA G E IR A 167
N ã o d ou m u ito a p re ço ás raças
em c u jo in stin cto ha fereza,
Como bons julgadores, começan
para n ã o fazer p irraças
a o p rim o r da natureza. do por casa, veremos, que, acaba
mos de eleger um presidente da
E e x p o n h o , em fim , o m eu v o to , Republica, 0 qual, a exemplo dos
q u e p o u c o in flu e n o lib e llo : legisladores athenienses, pretende
O sexo qiic é mais devoto estudar as instituições e os costu
é sem duvida 0 mais bello.
mes dos povos estrangeiros; com
B a rbacen a, 2 4 d e F e v e r , d e 1898. 0 fim ao que parece, de adaptal-
P. C o r r ê a de A l m e id a . os á nossa vida politica!
Ainda bem não deixou elle a
curul presidencial do Estado, e
tractam já de lhe escolher 0 sub
stituto ...
Le roi est mo r t . . .
Findo 0 estado de sitio, aliás
168 A M E N SA G E IR A
Nos convites, que correm pela S cin tilla o sol d o m eio dia
imprensa, fi-ancamonte, sem rebu N as claras on das d o ribeiro,
dia de am anhã?!...
M on oton ia perenal
Não reina a perturbação em to
E m toda a pa rte! A lli som ente
dos os cspiritos e a inquietação em
F arfalh a o ven to bran dam en te
todas as consciências ? ! . . . N as folhas d o c a n n a v ia l. . .
Turbilhonam os acontecimentos
como correntes que não encontram D c lá das bandas da cidade,
leito por onde correr?! . . . D e ix a n d o apenas q u e se veja
D e lon g e as torres d e uma igreja
Onde encontraremos salvação?!.
A lv a s da c o r da castidade.
T a lh e p erfeito de cintura,
1# G a rb oso jiorte de prin ceza !
M im o g en til da natureza.
M aravilh osa creatura!
I 70 A MENSAGEIRA
Inconsoláveis
Almas, porque choraes, si ninguém vos responde?
Almas, porque? Deixáe as lagrimas! empós
Do Ideal correi, correi a longes plagas, onde
Xão exista ninguém que escarneça de vós.
‘f eliz encontro
(A Maria Clara)
A MENSAGEI] u
Revista literaria dedicada á imilhei’ brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
logar dos paes que, com honrosas mores — que «não teem a banali
e dignas excepções, não curam da dade vulgar do commum das poe
educação das suas fillias, seguem sias outr’ora escriptas por mulhe
a rotina de seus avós e liao de res» e acerca de quem depois de
ser por conseguinte eternamente affirmar João Ribeiro não encon
retrogrades; e em segundo logar, trar nem no sul nem no norte,
dos governos que só cogitam de um poeta que se avantaje, ou
politica, mas não da alta politica eguale á celebrada poetisa, escre
(pie felicita a Inglaterra e os Es veu :
tados Unidos da America do Nor «Todos lhe são positivamente
te, da politicagem que tisna cons inferiores no estro, na composição
ciências e corrompe os mais pu e factura do verso; nenhum pos-
ros caracteres. sue em tal gráo o talento de re
Mau grado todas essas influen produzir as bellezas classicas com
cias mesologicas, nós nos-^desvane- essa fria severidade de forma e
cemos de possuir em nosso caro de epithetos de que Heredia e Le
Brazil, escriptoras distinctissimas conte deram o exemplo na littera-
que desfraldaram já no campo tura franceza; nenhum jamais den
das idéas a bandeira do combate tre os mysticos e nephelibatas de
e hão de sahir victoriosas porque Lisboa ou do Rio de Janeiro se
a causa que defendem é justa, é elevou a essa região serena do
nobre, e concorre para o engran mysticismo que a poetisa «De joe
decimento da patria. lhos» nos revela com tão extraor
Ahi temos Presciliana Duarte, dinária emoção.»
congregando todas as escriptoras Dignas substitutas de Francisca
brazileiras e popularisando-as pela Julia, são as dulcissimas poetisas
sua importante Revista — A Men brazileiras, Julia Cortines, Zalina
sageira — ; Revocata de Mello, a Rolim, Aurea Pires, e a meiga e
papiza das lettras que tem no Rio melancólica Georgina Teixeira.
Grande do Sul seu throno de ou Como chronistas elegantes e cri
ro e purpura e é acolytada pelas teriosas, dentre muitas outras, cito
virtuosas sacerdotisas da Forma, Maria Clara Santos, Ibrantina Car
Julieta Monteiro, Carolina Kose- dona e Maria Emilia.
ritz, Paula Ferreira, Andradina de Dessas e de outras de egual
Oliveira, Tercilia Nunes e outras tempera muito tem a espei'ai’ o
muitas; Francisca Julia da Silva, Brazil.
poetisa que immortalisou-se publi Essas, certamente, não preferi-
cando seu livro de versos — Mar- i’ão uma trivialíssima soirée dan-
A M E N SA G E IR A
183
que ató então só era perturbada dia da inauguração foi muito bo
pela ideia do luxo, que 6 a osten nita e muito concorrida.
tação da vaidade e de mil outras Diversos brindes foram feitos ao
paixões despresaveis. Snr. Aguiar, á imprensa, ao pro
Viveram d’ahi por diante muito gresso e á França, porque é pre
felizes, — 0 marido livre d’aquelle ciso que se saiba que foi um en
vexame constante de ouvir falar genheiro francez o auctor da mon
em dote e em dinlieiro humilhante, tagem das machinas. Aos convi
— ella mais feliz também, porque, dados foi servido um profusso
livre de toda preoccupação do luxo, lunch. A Exm.** esposa do Sur.
começou por dar ao dinheiro o va Aguiar, D. Maria da Gloria, foi
lor que elle tem. quem iniciou os trabalhos da ma
Eis ahi um dote que só serviu china fazendo com que o vapor
para a interrupção da felicidade na entrasse na gaveta da distribuição.
vida d’aquelle casal. Ao progresso do Engenho Velho
— Se todos os maridos fossem foi a saúde que bebi com mais pra
como esse advogado, exclamou sor zer e mais enthusiasmo!
rindo minha amiga..... mas a his
toria é que a arte da chicana só
a possuem esses senhores que a-
prendem a discutir e convencer em Noticia 0 Jornal do Commcrcio
cinco annos de estudo!! que na igreja parochial de Santa
Maria, em Quebec, realisou-se ul
timamente uma curiosa ceremonia.
Dous vizinhos de origem fran-
Mais um melhoramento para o ceza tinham cada um oito filhos,
nosso formoso bairro: uma fabrica quati’0 rapazes e quatro raparigas.
de gelo. Decididamente o Engenho Ora, os filhos de Marin apaixo
V'^elho está na ponta. O Snr. Ar- naram-se das filhas Reaume, ao
thur Aguiar, proprietário da fabrica mesmo tempo que as filhas deste
de gelo, tem concorrido muito para dos filhos d’aquelle. Conclusão:
0 aformoseamento das ruas deste no mesmo dia realisáram-se oito
arrabalde, edificando muitos pré casamentos.
dios bonitos e elegantes e agoi’a Eis ahi 0 que 6 ser-se pratico.
de um modo muito poderoso, com As despezas de um casamento, por
a fundação da fabrica de gelo, que mais simples que sejam, alteram
se serve da celebre Agua do Vin forçosamente o orçamento das pes
tém para sua fabricação. A festa do soas que não são ricas.
A MENSAGEIRA 187
Exul
A mna indifférente
Adeus, minha setiliora! Eu vou partir, sosinho,
Tievando dentro d’alma um torvo desatino;
Sem rumo, sem alento, a mercê do Destino,
Qual se fosse um romeiro exul do pátrio ninho.
A MENSAGEIP lA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direatora — P rescilia na Duarte de Almeida
páe — ella não podia se dominar, entrasse alcool. Não comprava be
não tinha forças para vencer os bidas.
defeitos que 0 sangue llie trans- Mas a misera mulher não podia se
mittira. O que a seduzia, 0 que dominar, nsava de astuciosas íiionti-
a alucinava era 0 álcool com 0 seu ras, conseguindo por essa forma illu-
funesto cortejo do doiradas plian- dir a vigilância das pessoas amigas.
tasias. LTma vez, usou ella de um meio
Herdara de seu pae 0 alcoolismo. original para obter um pouco de
Hmbriagava-se constantemente. O aguardente, do vendeiro da esquina.
vinho fazia-lhe quebrar todas as Mandou buscar a cachaça em
promessas e juramentos, ella sentia uma bacia de rosto, dizendo ser
necessidade de beber muito, ficava para curativo de olhos. O ven
como louca diante de qualquer be deiro não duvidou e infrigindo as
bida de espirito. ordens de Lucio satisfez a des
A principio 0 marido quiz con- graçada mulher.
vencel-a com maneiras brandas, O portador, — um pequenito de
lembrava-lhe sua perigosa posição, seis annos — mal ia entrando cm
chamava-lhe a razão, implorava-lhe casa com a bacia com cachaça,
0 seu grande amor, supplicava-lhe quando a mulher arrebata de suas
do joelhos que não bebesse mais. mãozinhas a vasilha e alli mesmo,
Debalde! de um só trago, absorve toda aquel-
Era impossivel! la bebida tão forte. Plbria d’ahi a
Usou de rigor, durante uma se pouco, já nern podia falar, articu
mana tratou-a com disfarçado pouco lava monosyllabos sem ne.vo, nãt)
caso, e nada, nada absolutamente tinha forças para se ter de p6,
conseguiu. cambaleava.
Tendo concluido 0 seu quatriê Nesse dia, 0 marido presidia 0
nio de Juiz Municipal em S. Paulo, jury. Investido do seu alto posto,
obteve Lucio a nomeação de Juiz lá estava na Gamara, á cabeceira
de Direito para uma cidade no da mesa, julgando um processo de
interior de Minas. sensação.
No sertão parecia-lhc menos do Quando Lucio partiu para 0 jury
lorosa a sua magua: lá ao meuos einm dez horas da manhã, dei.x.ou
seus companheiros de infancia não em casa Corina cm perfeito estado,
veriam suas lagrimas. entregue as lidas domesticas.
Cada vez mais carinhoso, mais Sahio tranquille, — não deixára
terno vivia 0 desgraçado. em casa o inimigo de sua felici
Lucio prohibiu que cm sua casa dade — 0 alcool.
To 6 A MENSAGETRA
2 )g Tarde
Fragmento de um poema
Juvenal Indiana
Não posso donzella Só vivo sorrindo
Confesso, não minto. Depois que te amei!
Na lyra singella 0 mundo tão lindo
Dizer-te o que sinto! Eu nunca sonhei!
Juvenal
A noite chega, c eu vólto a meu pequeno abrigo
Adeus, Indiana, adeus, eu vou sonhar comtigo!
A u r e a P ir e s .
A MENSAGEIRA 203
a quem diga (pie as precederá em SofTres? Também minha alma soflree chora;
Galiléa?!... Prelios imiteis, illusões desfeitas,
Veremos ainda, no ar as linguas Toda a miséria do viver deplora.
de fogo do Cenaculo, illuminando
Quanta amargura nesse olhar que deitas
os espiritos de isto destas patriotas A ’s glorias vãs ao amor, que agita e passa,
que nos apontem o caminho de E ás almas, todas ao sofirer sujeitas!
uma nova terra de Promissão?!..
Bebo também do tedio a amara taça,
Depois das trevas do Sepulchro,
E sinto, quando a tua angustia leio,
virão os esplendores do Paraiso Que esse teu coração, que a dôr enlaça,
promettido, mesmo a Gestas?!..
E ’ o coração que pulsa-me no seio.
J u l ia C o r t in e s .
A MENSAGEIRA 20S
i
São Paulo 30 de Abril de 1898 Anno I, N. 14
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
lhe ensinaria os deveres da Reli gala, mas sem ornatos nem joias,
gião como ainda os da Sociedade. vão gravemente receber a bemçam
Desde a primeira infaacia a mãe de suas boas mães, que os abraçam
deve habituar seus fillios á pratica e beijam commovidas com a maior
da Civilidade, não esquecendo o e mais profunda ternura.
asseio — um de seus principaes As jovens virgens singelas, ves
deveres, e tão util quanto agrada- tidas de branco, coroada de alvas
vel. Depois, quando a creanqa já rosas a fronte serena e pudica, que
possa comprehender o que lêr, jun se esconde sob o cândido véu da
tando ás suas mais amplas expli castidade, como outr’ora as neo-
cações, dar-lhe-ha um «Compendio» phitas do Christianismo : os jovens
dos deveres sociaes. quasi adolescentes, que cm breve
Xada mais agradavel do que um encetarão os primeiros passos n’es-
ti’ato ameno e cortez. pois a deli se caminho da mocidade, tão plano
cadeza comprehende todos os pon e semeado de flores, mas tão cheio
tos da Civilidade. de encantadores desvios onde a In-
É á mesa, dizem os ingleses, que nocencia se perde, e sob tapizes
se conhece a boa educação. de variegadas rosas se dissimulam
Mas, não será antes no Templo?.. abvsmos profundos, nos quaes tan
Ali se observam os deveres tanto tos se precipitam feridos dos mais
religiosos como civis. acerbos espinhos...
Si a mãe é verdadeiramente re Uns e outros conservarão para
ligiosa não esquecerá de instruir sempre a doce memória desse to
seus filhos nos pontos essenciaes cante espectáculo, d’ esse dia tão
de sua crença, e, como falo parti cheio de doçuras e santidade que
cularmente ás mães brasileiras, por lhes fará olhar com respeito e
tanto á mulher catholica. dir-lhes- amor os actos sagrados de sua
hei: ensinai a vossos filhos a reli Religião.
gião de Christo, porém sem exa Tenho notado, muitas vezes, en
geros, sem extravagancias de pra tre fainilias da melhor sociedade,
ticas absurdas ou fanaticas. nas creanças, um habito que de
E ’ bello e edificante ver-se os testo : é 0 de tomarem parte na
meninos e meninas, chegados aos conversação geral. Elias emittem
12 annos, promptos á receberem opiniões, reprovam, contradizem,
0 Sacramento Augusto da Com- etc; é intolerável! E quantos in
munhão. convenientes não podem resultar
E ’ para clles um dia grandioso d'isso, pensai-o bem. Sobre ser
e solemne esse em que, vestidos de uma falta de respeito aos paes, e
A m e n s a g e ir a 2 I I
satisfação mais pura e santa, serão Das illusões, no doce oásis, certo
a recompensa dos paes que, com Já não ha, como outr’ora sempre havia,
pleta a educação da infancia, apre A palmeira do amor, qual pallio aberto
sentem seus jovens filhos á Socie Sob 0 páramo astral da fantasia.
dade, que os receberá sempre com Tudo palpita aqui n’ uma saudade;
sympathia e applausos, pois levam E, onde puzeste outr’ora um louro sonho,
comsigo 0 talisman que a todos Resôa o dobre de uma soledade...
encanta: — os attrativos de uma
Do amor em vão a lúcida chimera
bôa educação. Derrama a luz neste estendal medonho
Capital de Santa Catharlna. Onde, sómente, a grande magua impera!
D elminda S il v e ir a . M a n o e l V io t t i .
Bniphitrite
Louco, ás doudas, roncando, em látegos, ufano,
O vento o seu furor colérico passeia...
Enruga e torce o manto á prateada areia
Da praia, zune no ar, encarapela o oceano.
SO, e ahi, disse-me soluçando que absorta e com o olhar sombrio, on
havia dois dias que não comiam de errava um mysterio
nada, nem achavam trabalho . . .
Passaram-se dias e a bôa da mi
uma desgraça! Se a neta não fosse
nha velhota não comparecia ás ses
tão recatada já teria feito uma lou
sões! Enfastiado, fui eu mesmo
cura . . . e a,su a mão engelhada
saber da causa. Achei-a a morrer
estendeu-se tremula, em concha,
de fome, desconsoladissima e ati
corando ella, por sua vez.
rada para um canto, ao lado do
Uma ideia! gritei; quem vae ser-
uma janella aberta. A outra sahira.
vir-me de modelo 6 a senhora. Pre
A desgraçada explicou-me, humi
ciso de uma estatua para uma ca-
lhada:
pella de caridade... falta-me exa-
— Senhor, eu não fui ao seu
ctamente a mendiga para comple
atelier porque ella não quiz. . . te
tar 0 grupo. .. ^ — F réd ! prepara
ve ciúmes, ficou zangada ! Antes
almoço para tres!
0 senhor não a tivesse regeitado...
A velha beijou-me a mão.
aquillo era um sacrifício enorme
Mas era magnifica! Demos volta
para ella!... é muito casta... mas...
ao cavallo. A moça já lá estava
0 peior estava passado... foi pena
a um canto, com o seu chapeusi-
que 0 senhor a tivesse regeitado!
nho de palha enfeitado de velhas
Agora trata-me m al... tem ciúmes.
margaridas desbotadas sobre os ca-
Lembra-se d’aquella vertigem ? Ella
bellos divinos, e o seu vestido po
tinha ouvido tudo, a sua proposta
bre acolchetado á pressa.
enfureceu-a . . . Agora trata-me
Fui a ella, dei-lhe o braço, e vi
mal . . . tem ciúmes de mim ! . . .
que desfallecia.
Por mais de dez vezes a velha
Era talvez a fraqueza juncta á
repetiu aquella phrase amarga, com
commoção; estava gelada e com
as faces cavadas e um sorriso do
um tremor de passarinho doente
loroso. Dei-lhe uns magros tostões
Com um arranco deitei ao chão os
e . .. e aqui vou por estas ruas á
meus bibelots, e, tirando o panno
procura de uma V enus. . . sem vai
de velludo da mesa ao lado, en
dade ! E não a encontro ! e não
volví nelle a minha virgem e re
a encontro!
clamei do Fréd um cálice de Porto.
II
D’ahi a uma hora devoravamos
os tres 0 peru frio, o fiambre e os A Baroneza veiu pousar hoje ás
ovos trazidos de um hotel proximo. duas horas, para o retrato.
Mas nem o regalo do almoço fez Eu! tinha-lhe aconselhado um cor-
sorrir a pequena, que se quedava pinho amarei lo, ' trouxe um azul;
A MENSAGEIRA
215
A ultima vez que o vi, foi na galhos de uma arvore secular que
vespera de sua morte. Era um a enchente cobrira quasi que com
domingo alegre e festivo. Ao des pletamente. Morto conservava ain
pedir-se de mim, tomou-me silen da nas faces aquelle mesmo ar de
ciosamente a mão e bejou-a. Es compaixão e de bondade que sem
tava de peifeita saude, forte e como pre tivera. E finou-se obscuro qual
semjDro jocoso. Soube que no dia tinha existido aquelle pobre desi-
seguinte morrera afogado no rio quilibrado cuja vida foi uma come
Mandú, o formoso rio que banlia dia constante e cuja morte fez ma
Pouso Alegi’e. rejar de lagrimas os olhos de todos
As chuvas continuadas de mui que o conheceram. Morreu como
tos dias haviam promovido uma vivera — arrebatado pela poesia!
enchente completa nas margens do E nas aguas formosas do poético
Mandú. Os barrancos altos do rio Mundú derramou a ultima lagrima
estavam submersos e de espaço a — a que vem inevitavelmente no
espaço via-se uma ilhota coberta momento exti’emo — e o derra
de rica vegetação — era a copa deiro suspiro de seu grande cora
de uma grande arvore. Eram 6 ção foi abafado pela coixente preci
horas da tarde. O sol doirava o pitada d’aquellas aguas christalinas.
cume dos altos montes; bandos de M a r ia C l a r a da C u n h a S an to s .
pombas-rolas voavam alegremente.
O pobre Juca estava bêbado. Fez
ura discurso cheio de enthusias-
mo, 0 alcool emprestara-lhe ar-
rogancia e eloquência extranhas e Lagrima tardia
depois muito contente, disse: meus Que outro titulo poderiamos dar
senhores, o Juca vae virar um peixe, a estas linhas, cujo fim unico é
vae para o fundo deste lindo rio desfolhar goivos e saudades sobre
e se não voltar... adeuzinho... até 0 tumulo de uma poetisa fallecida
lá no céu.» Saltou e desappareceu. ha mais de très annos?
Como elle nadasse bem, não cau A Mensageira, na faina de con
sou cuidados. Quando a demora gregar as escriptoras nacionaes,
do mergulhão prolongou-se por al tem tido grandes alegrias e sur
guns minutos, alguns rapazes cora presas, conhecendo literatas que
josos precipitaram-se nas aguas para em longinquos estados do Brazil
salvar o querido desgraçado. Em arvoraram a sua tenda do traba
vão! Baldado esforço! No dia se lho, mas também tem encontrado
guinte foi encontrado enroscado nos revelações dolorosas e motivo do
A MENSAGEIRA 219
cia, SÓ nos resta o supremo con- Adelia Jucá, cuja vida literaria
solo de 1er os sens versos encan se inicia agora na Mensageira.
tadores, desfolhando milhares de Que as musas lhe sejam tão pro
flores sobre o seu tumulo querido... picias quanto á sua desditosa ir
Offerecemos hoje a nossas lei mã, e que o destino lhe seja mais
toras um soneto de Maria Jucá. risonho...
Foi-nos enviado por sua terna irmã. P k RPETUA do V a IJ vE.
Kyenial
A Arthur Andrade
Approxima-se o inverno espalhando na serra
Nebulosas que vão sobre as azas do vento
Ondeando levemente... ondeando... no momento
Em que a luz da alvorada a escuridão desterra.
A u r e a P ir e s .
0 7 9
A m e n s a g e ir a
to, a nossos olhos não perderia de Quando seu casto seio virginal,
valor a causa de que nos occupa- — O seio heroico que o valor sagrara,
mos si não tivéssemos a certeza Eni uin momento atroz, se desnudara
de que espíritos eminentemente Da plebe ao impudente olhar brutal,
!24 A M E N S A G E IR A
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direetora — Presciliana Duarte de Almeida
S u m m ario: — Carta do R io, Maria Clara ção que recebemos — meu marido
da Cunha Santos ; — Anoitece, soneto,
Adelina A . Lopes Vieira ; — Com ares
e eu — seremos gratos eternamente.
de Chronica, Maria Emilia; — In sylvis, E haverá prova mais edificante de
soneto. Carvalho Aranha; — Flores sem um affecto generoso do que a gra
fructo, conto, Ignez Sabino; — A ’ Pauli-
tidão ?
céa. Soares Junior; — Mme. de La Fa
yette, trad.. Perpetua do Valle; — Por
terras e mares, poesia. Cândido de Car Bellissimos edificios possue São
valho; — Selecção; — Pesadelo, poesia,
Aurea Pires; — Notas pequenas. Paulo. Por toda a parte se veem
construcções modernas e elegantes.
Os estylos variados dos prédios e
©arta do R.io a quantidade e riqueza dos jardins
Depois de um passeio de vinte dão um aspecto encantador á ci
e tantos dias á formosa capital de dade. Ha, especialmente, um quar
S. Paulo, eis-me emfim aqui no teirão de palacetes nos Campos
Rio, a escrever a minha costumada Elyseos que deslumbra a vista e
carta. encanta a alma!
Vinte e quatro dias que se pas
saram tão rápidos! tão felizes!
A S. Paulo eu levanto um hymno Visitei a Avenida Paulista em
de agradecimento pelo generoso uma manhã sombria! A paizagem,
agasalho que nos deu, e espero resentida com a falta do sol, não
que esta impressão deliciosa de nos proporcionou todos os attracti-
gratidão que se aninhou em mi- vos de sua belleza.
nh’alma, nunca mais me abandone! Admira principalmente a arte
Não quero e não posso jamais me apurada dos bellos prédios e a har
esquecer de S. Paulo. monia dos tons que se notam em
A tantos obséquios recebidos e toda a alameda. A caixa d’agua
a tão captivantes provas de affei- situada no alto do morro, 6 cheia.
w
22 6 A MENSAGEIRA
230 A M E N S A G E IR A
232 A M ENSAGEIRA
tindo elle tal pequenez d’alma, tar que sentia n’alma, assim pagaria
tanta humildade, tal receio, que 0 aquelle desprezo supremo que Alice
requinte brutal das violentas pai lhe votava. Na sua loucura de
xões inspiradas pelos aldeiães, des- homem inculto, como fazel-o ?
apparecia para tornal-o pusilânime, Matar 0 seu rival ?... Não, nunca!...
emquanto uma mésse de ventu Siucidar-se?... jam ais!... Então
ras intimas, tolhi-a-lhe a fala!... passou-lhe pela idéa ver soffrer a
Ao sentil-o junto de si, vergavam- ambos, posto que sem graves con
lhe os joelhos desejando adoral-a sequências para ella... Todavia,
como uma santa, estremecendo ao aquelle olhar de soberana se ma
ouvir a sua voz... rejaria de pranto, emquanto elle
Que phenomeno era este? O soffreria a dôr physica, como por
desgraçado, com os seus vinte e uma casualidade. — Soltaria os
dous annos, a despeito da sua bai çães.
xa condicção, estava amoroso, O Leão desconhecia até a gente
apaixanado; os sentimentos aos da casa, a.Pmithera também. Ima
poucos se lhe desabrochavam sem ginando 0 plano, escolheu occa-
dar por isso como que a semelhança sião azada para as vesperas do
d’um sonho, esse mesmo sonho fa- cazamento, quando tudo estivesse
zia-lhe bem, alimentava-se delle. prompto. Assim, demoraria a ven
constituindo-se um escravo do co tura do noivo e a delia, que era
ração e uma victima da vontade uma imagem, como elle vira na
da gentil senhora. egrejinha dos arredores de Leiria...
Um dia, na copa, ouviu uma Era tão bella!
rapariga dizer que a filha do pa
trão ia cazar com aquelle doutor Na vespera das núpcias, 0 céu
que vinha diariamente vizital-o. ameaçava tempestade, eram onze
Desde esse momento, sentiu-se horas da noite. Elle a passeiar
triste; ao ver ambos de braço dado por entre os arbustos, na sa-
seguir para a varanda que deitava linha de espera via 0 vulto dos dous
para 0 mar, 0 coração lhe doia que no dia immediato não se sepa
como se picado fosse por todos os rariam mais. Depois 0 noivo des
espinhos das rozeiras do jardim, ceu ... era a occasião opportuna ...
sangrando outro sentimento que 0 coração batia desesperadamente;
até então deconhecia — 0 ciume, cora a respiração affegante, sem
que desde logo fêl-o lembrar-se da remorsos, 0 olhar brilhou na escu
vingança. ridão da noite. Resoluto, quasi
Assim, daria desafogo ao máu es sem pizar na areia, havendo ti-
234 A M EN SAGEIRA
e não lhe era inútil para dar com Ha ainda de M.*"® de La Fayette
lazer ás pinturas moraes da Prín- duas pequenas novellas, Madame
cexa de Clèves 0 cunho da perfei de Montpensier e a Condessa de
ção. Esta obra, escripta e conhe Tende, e uma Historia de Ilenri-
cida da sociedade intima da au- quetta da Inglaterra, da amavel
ctora desde 1 6 7 3 , não veiu á luz Madama,agradabillissimamente con
da publicidade sinão em 1 6 7 8 . tada, e terminada por uma narra
O exito da Príncexa de CPves ção da terrivel noite de 2 9 de Ju
terminou 0 que 0 da Zayde, pu nho de 1 6 7 0 não menos commo-
blicada em 1 6 6 8 sob 0 nome de vente na sua simplicidade do que
Segrais, {*) tinha começado. Hoje, a fúnebre scena tão patheticamente
0 primeiro romance de M.'"® de La descripta por Bossuet.
Fayette, apezar de suas incontestá P er pe tu a do V a l l e .
veis bellezas, 6 mais citado do que
lido.
E’ que com as «paixões fina
mente tratadas» e muitas scenas
verdadeiras e tocantes, elle offerece
ainda, sobretudo na segunda parte, terras e mares
uma riqueza de aventuras espan
A Ma^ioel Viotti.
tosas, uma prodigalidade de rasgos
magnânimos e de proezas heroicas
que cançarn a admiração e arre A nonte cabe gélida e feia.'
fecem 0 interesse. A auctora, na- A rocha clama. A bruma aterra.
O vendaval revolve a areia.
quella data, não estava completa
O oceano roja-se na terra.
mente emancipada dos hábitos do
romance antigo, e submettia-se Vestido de uma luz intensa,
ainda, por certos lados, ao império Como de um sol a despontar,
Numa das mãos sustendo, pensa,
de um gosto que uma nova e mais
Lyra dourada — a caminhar,
perfeita creação de seu genio ia
desacreditar irrevogavelmente. A caminhar para meu lado
Um velho vem, de grave rosto,
(.\ barba longa, o olhar maguadt»,
(*) M.me (le La F'ayette, por modéstia,
quiz a principio esconder-se sob este pseu- Como um vislumbre de sol posto...)
donyrao. O poeta Segrais, ura de seus
intiraos, trabalhara sem duvida na Zayds, Diz-me: «A licção toi-te severa,
mas muito pouco, sua parte de collabora- «Emtanto não perecerás.
ção se limitava, como elle mesmo confes «Toma esta lyra, tange-a — e espera:
sou, em alguns retoques sobre a acção do
«Do Amor, soffrendo, viverás...
romance.
23 8 A MENSAGEIRA
«Das bellas ilhas que sonhaste, encia, porém, é mais ou menos sa
«Boiando pelo azul da vaga,
lutar, segundo o gráu de estima
«O prêmio resta que alcançaste:
que se lhes concede; ou sejam
«Morta a ambição em longe plaga.
nossos Ídolos, ou nossas compa
«Quando da Amada te partiste nheiras, meretrizes, escravas, ou
«Fiz-me sereia — e, por signal, bestas de carga, a reacção é com
«Que te fallei e não me ouviste,
pleta; fazem de nós o que nós fa
«Quando predisse o grande Mal.
zemos dellas. Parece que a natu
«Sem riso agora, sem fortuna, reza prende a nossa intelligencia
«Procura a Amante ben) querida, á sua dignidade, como nós pren
'<Ou nova Imagem, que reuna, demos a nossa felicidade á sua vir
«Num sonho azul, raios de vida...
tude; por consequência, é uma lei
«Como a licção te foi severa!
de reciprocidade de eterna justiça,
«Emtanto não perecerás. que 0 homem não possa humilhar
«Toma esta lyra, tauge-a — e espera a mulher sem cahir na degradação,
«D o amor, chorando, viverás nem exaltal-a sem se tornar melhor.
A imé M artin .
« A ’ s vibrações da lyra de ouro,
«A rocha dura fontes forma; (Educação das Mães de Fam ilia)
«A areia gera um campo louro,
«E a morte em magua se transforma.
C â n d id o d e C a r v a l h o . pesadelo
Fragmento de um poema
240 A MENSAGEIRA
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
DirectOFa — P rescilia n a Duarte de A lm eida
242 A M E N S A G E IR A
244 A MENSAGEIRA
246 A M E N S A G E IR A
tia ^raia
A ’ minha irm ã Olivin Pires
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Dipeotora — Presciliana Duarte de Almeida
bem como alguns crotons exquisi- quanto, na cidade, houve taes al
tos que me prenderam a attenção. caides, todos que partiram para a
E espero que dentro em pouco, viagem eterna, foram de sapatos
eu seja largamente compensada do de borracha!
trabalho de trazel-os de tão longe, M ar ia C l a r a da C unha S antos .
quando, bonitos e viçosos, elles en
feitarem os canteiros de meu jar
dim, para regalo de meus olhos e
cubiça dos transeuntes!
f o r terras e mares
VI
Âo Manoel Viotti
Eu ando ern torno do teu palado
Neste mundo tudo tem serventia
Vibrando o plectro, tecendo endeixas,
e todos tèm seu dia! Pleno de magnas, cheio de queixas,
Quando morei no sertão, assisti — Eu ando era torno do teu palacio.
a uma scena muito engraçada, que
Vi-te ha dez annos, formosa dama.
se passou na Ihja de um amigo de Faces de jambo, lábios de cravo.
nossa familia. O negociante, á mo As mãos pedindo beijos de escravo...
da da roça, tinha de tudo em sua Vi-te ha dez annos, formosa dama.
casa commercial, desde a seda á Teu vulto, á sombra de teu pomar,
carne secca, desde as panellas ás Lembrava o talhe de uma palmeira.
rendas. Um sujeito lá entrou para Colhia flores de laranjeira
Teu vulto, á sombra de teu pomar.
comprar preparos para 0 enterro
de um parente querido. Depois Não tinha a lyra de trovador
de uns tantos metros de setim e Quando, cahidas tuas madeixas.
Disseste ura dia — porque me deixas?
de galões, de fitas e de flores de
Não tinha a lyra de trovador.
panno, deparou com uns sapatos
de borracha, que estavam ao fun Andei planicies, vinguei penhascos
Em terra isempta de teu carinho,
do de uma prateleira e foi logo
E venho em busca do teu arminho . . .
pedindo os taes sapatos com esta Andei planicies, vinguei penhascos.
exclamação: Excellentes para de
Na patria excelsa dos desgraçados
funto! O que mais não inventarão?
Deram-me a lyra de trovador.
é verdade!!» O negociante com- Antes morresse de mágua e dôr,
prehendeu de prompto a ignorância Na patria excelsa dos desgraçados.
do freguez, mas como tinha inte
Eu ando em torno de teu palacio
resse em ver-se livre d’aquelle al Vibrando o plectro, tecendo endeixas;
caide — concordou sobre a van Pleno de maguas, cheio de queixas,
tagem de tão util melhoramento. Eu ando em torno de teu palacio.
Conclusão: a moda pegou e era- C â n d id o de C a r v a l h o .
26o A M E N S A G E IR A
rar das bestas, que, amedrontadas, tre dos mestres; do archetypo dos
queriam disparar, ou ficavam hirtas philosophos; do primeiro a com
como si atacadas de cataiepsia; os prehend er 0 Cosmos, 0 Universo
Mineiros tomaram seus bacamartes harmoniosamente ordenado; do pri
de boca de sino e esperaram o meiro a proclamar que a unidade
atrevido assaltante. ó 0 bem moral; que a diversidade
Um diligente piau, travesso ca- é 0 mal, e que a justiça é a igual
boclinho, que lhes servia de pa dade!
gem, apanhou algumas folhas sec- Ah! Quanto perdeu a humani
cas de palmeira iri, machucou-as dade, perdendo os manuscriptos do
em forma de bola e veiu collocar- primeiro philanthropo da antigui
se ao lado de seu amo, velho caça dade !
dor de onças nos sertões de Goyaz. Com certeza nessa singular onça
A um signal dado, o piau pro- expiava seus crimes alguma rainha;
jectou sobre o braseiro uma das alguma dessas mulheres fatalmente
bolas de palha de iri; fez-se um bellas, seduzindo com o duplo pres
clarão brilhante, como se houves tigio da coroa e da formosura, ma
sem accendido uma dessas tigelli- tando com os olhos antes de assas
nhas, que servem para os signaes sinar com 0 punhal ou de mandar
maritimos á noite; o velho pai da decapitar com o ■cutello!
Douradinha estacou surpreso; trez Esta 6 a unica explicação plau-
atroadores tiros de bacamarte re- sivel da tragica morte da formosa
soaram por todos os échos do lon Douradinha.
go valle do rio S. Pedro; ao mes Foi em um plenilúnio de No
mo tempo ouviu-se um grito hor vembro.
rível, simultaneamente cruciante e Era primavera nas florestas do
plangente, ultimo gemido de um Tinguá.
assassinado, supremo adeus de um O belvedere da Douradinha es
pai á sua filha idolatrada. tava tapeçado de mimosas flores
de irideas azues, surgindo a custo
Falta-nos a coragem para narrar de longas folhas verdes e brilhan
a morte atroz que teve a mages- tes, como se fossem fitas de setim.
tosa rainha das florestas do Tinguá. Sua cascatinha de Limeira estava
Somos obrigados a crer na me- toda ornada de rubras flores de
tempsichose para explicar a jus bromeliaceas e de vistosas corollas
tiça de um tal fim. de nulastomaceas. Sobre o verde
Por fatalidade faltam-nos os li claro da planicie brilhavam alguns
vros do sublime Pytagoras; do mes ipês, sem uma só folha, mas co-
A MENSAGEIRA 267
vivos, desde as mais tenras plan- que celebravam suas núpcias ba-
tinhas em flor, até os mais ferozes nhando-se nessas purissimas aguas,
animaes, os efluvios de volúpia, que ora prateadas pela lua.
a lua estava derramando tão pro A felicidade desses dois entes
fusamente. deu-lhe raiva; precipitou-se, de um
— Qual foi 0 estulto astrologo só bóte, sobre o amante, que dis
que consagrou a lua á casta Diana?! parou vertiginosamente, galgando
— Que grosseiro erro ! aos saltos as montanhas da mar
A lua é Yenus-Aphrodite ; 6 a gem esquerda de S. Pedro; a Doii-
excitante de todos os amores; é a radinha^ agarrada á sua victima
confidente de todos os amantes; as pela quintupla tenaz dos dentes e
siste, voluptuosamente reclinada em das unhas, repetiu a fatal carreira
coxins de setim branco, a scenas, de Maxeppa, aggravada pelos es
que envergonhariam ao fulgurante pinhos das arvores da floresta! Por
Apollo. fim a anta enveredou por espessa
Si a Douradinha escrevesse diá matta de gigantescos taquarussús;
rio, como as heroinas de Octave por pouco um dos agudos reben
Feuillet, teria deixado testemunho tos da colossal graminea penetra
irrefutável do mal que nessa noite nos formosos olhos da Douradinha.
lhe fez a lubrica lua. A faceira onça abandonou a presa
Ah ! coitadinha ! Esse maravi saltando sobre o galho de um gi
lhoso espectáculo causou-lhe uma gantesco tapinhoam.
dôr funda! Deu um suspiro; um Estava morta de fome e de can
verdadeiro suspiro de amor! Ne saço.
nhum de seus adoradores o poude Começava a descançar quando
escutar; vagavam muito longe, pe percebeu um som surdo e longin-
las margens do Parahyba, no goso quo; sentiu a terra tremer e vi
de amores mais fáceis. brar 0 grosso tronco de tapinhoam;
Baixou tristemente os olhos... dahi a pouco ouviu estalar as fo
Yiu então, na branca fita de prata, lhas dos taquarussús; um cheiro
que as aguas do rio de S. Pedro acre e nauseabundo irritou-lhe as
desenhavam sobre o verde-negro narinas; reconheceu a approxima-
prado alguma cousa de estranho. ção de uma vara de porcos-quei-
As aguas, de vez em quando, xadas.
repuchavam em pérolas; outras ve Elles chegaram e rodeiaram o
zes turbilhonavam como agitadas tronco do tapinhoam, negros, sujos,
por vigorosos nadadores. Appro- feios, medonhos; eram em numero
ximou-se e reconheceu duas antas. de cem. A Douradinha compre-
A M E N SA G E IR A 269
selva
A ' Ocorgina Teixeira
^(otas pequenas
Mãe Rua do Ouvidor. — Continúa a
{Homenagem á memória de minha que- apparecer com regularidade, este
riáa e boa màe.) interessante semanario, que vai fa
Canto primeiro que modula o infante, zendo jús á sympathia do publico
nota sublime de bendita esp’rança, em geral. O n.° 5 abre com 0 re
suspiro meigo de pombinha mansa, trato do grande pianista e applau-
lago sereno a retratar o ceu: dido compositor Arthur Napoleão;
0 n.° 4 estampa 0 retrato do co
— mãe ! — quando a tarde desdobrando o véu
vae sobre a terra derramando encantos,
nhecido jornalista D.'' José Carlos
na doce hora dos enlevos santos Rodrigues e 0 n.° 3 vem ornado
quando entre aromas a florinha cresce, com 0 retrato da talentosa escri-
ptora Maria Clara da Cunha Santos.
lá do Infinito brandamente desce
A Mensageira, que tem tido em
grata saudade ao coração magoado,
e a tua imagem vem do ceu doirado
Maria Clara a sua maior auxiliar,
si já na terra não existes meiga! já pela sua original e bella colla-
2 72 A M E N S A G E IR A
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direatcra — Presciliana Duarte de Almeida
sagem mineira, a qual meus olhos enfumaçados que podem ser tra
tão acostumados estão a apreciar! zidos com toda a segurança pelo
Os trnbalhos que mais me agrada gado. Estes eculos produziram
vam e dos quaes eu logo procu resultado satisfactorio e são actu-
rava, no catalogo, a explicação, alment.e usados por mais de 4 0 .0 0 0
eram de Minas! cabeças de gado, que desde então
0 quadrinho n.° 31 — Poço não são mais victimas da cegueira
das Aguas Virtuosas (Lambary) foi da neve, que tanto os fazia soffrer.
0 que mais me impressionou den E ’ 0 que ha de mais fim de
tre tantos outros dessa rica expo século, não acham?
sição. Parabéns ao grande artista, M aria C lara da C unha S antos .
que é também eximio litterato,
tendo já obtido o primeiro prêmio
em um concurso de litteratura, na
Gazeta de Noticias, se não me fa
lha a memória.
Katal
Li, no «Jornal do Commercio» E ’ meia n o ite . . . O sino alviçareiro
uma noticia muito interessante. Lá da Igrejinha branca pendurado,
Como n’ um sonho niystico e fagueiro,
Imaginem ... até as vaccas já usam
Vem relembrar o tempo do passado.
oculos.
E’ 0 que pode verificar-se nos O ’ velho sino, ó bronze abençoado,
steppes da Rússia. Na alegria e na magua companheiro,
Os steppes ficam cobertos de Tu me recordas o sorrir primeiro
D o menino Jesús Immaculado.
neve durante mais' de seis mezes
no anno.
E emquanto escuto a tua voz dolente
As vaccas alimentam-se de pe Meu ser, que geme dolorosamente
quenas moitas de capim que trans Da desventura aos gélidos açoites
parecem atravez da neve. e os raios
Bebe em teus sons tanta alegria, tanta!
do sol sobre a neve tornam-se tão
Sino, que lembras uma noite santa,
brilhantes que produzem a ceguei Noite bemdicta em meio ás outras noites!
ra. Para obviar a esta calami
A uta de Souza.
dade, um homem de bom coração
lembrou-se de proteger os olhos
desses animaes da mesma fórma
que se protegem os dos homens e
poz-se a fabricar oculos de vidros
A MENSAGEIRA 283
sem vida e sem calor, na tristeza batia em cheio no rosto, como era
indolente d'aqnella noite antiga !... bello !
Lembras-te? Lembras-te ?
Deitavamo-nos pensando no car E 0 somno chegava, desappare-
voeiro que andava por noites er ciain os phantasmas, desappareciam
mas, perdido nas invias penedias os olhs immoveis e gelados que
de serras bravas, procurando 0 fi- nos contemplavam... Os principes,
Ihinho desapparecido, que os phan as fadas, n'um bando encantador,
tasmas da noite haviam para sem fugiam ao longe, formas indecizas,
pre I'oubado ... Pensando nos po env()ltas em nevoeiro...
bres orphãosinhos, que, como a ove- E 0 somno descia, extendendo
Ihinha tresmalhada, balliam as dores sobre nós as amplas azas da paz...
do seu abandono esquecidas por
mãos implacáveis no recondito so Hoje, estás v e lh a !...
noro e desesperante das mattas... Dentro em pouco, seguida pelo
Oh, como passavam poi' nós, ri cortejo da felicidade que tu bem
sonhas e bemquistas, as almas bem- mereces, has de rememorar as his
fazejas, as almas de ternura e de torias que ouvimos n’essas noites
bondade, extendendo as mãos cari de outr'ora, para contal-as aos teus
nhosas ao desamparado, ao morto filhinhos, que. como nós tremerão
de abandono ! . . . de pavor e desejarão também a pos
E, essas visões, pairavam, pas se da maravilhosa lampada de Ala-
savam, ondulando vagas, envoltas dino...
na penumbra do somno ...
Lembras-te de uns grandes olhos Estás velha...
gelados e inmutaveis que nos con O tempo passou, e é por isso
templavam do fundo da treva? que eu te escrevo ao cahir da tar
Lembras-te ainda, como viamos, de, na hora saudosa do crepúsculo,
realidade tangivel, a Bella Ador relembrando a nossa infancia que
mecida, recostada, serena, loira e se occulta, indefinida, vaga como
rosada por entre as rosas de seu um esboço, na penumbra do pas
leito ? . . . sado, nessa região longuinqua da
E 0 bello principe que andava saudade.
percorrendo assombrado aquelle pa- A m adeu de Q u e ir o z .
lacio adormecido, mergulhado no
amplo silencio de um somno de
cem an n os?... Como fluctuava a
sua loira cabelleira, como a luz lhe
A .\[ENSAGEIRA 28 s
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Directora — P rescilia n a Duarte de A lm eida
s i.
2Q2 A M E N S A G E IR A
a horas mortas era certo vel-o ao Dois dias depois, com a maior
lado de seus companheiros. naturalidade possivel, Victor des-
Eram gatunos de profissão os pedia-se de sua familia e seguia
habitantes d’aquella casa e nos para S. Paulo afim de concluir
*
recônditos de seus miseráveis cubi- sua carreira.
culos guardavam elles 0 fructo de Lagrimas de saudades inunda
suas ladroeiras. ram os olhos de sua mãe!
E aquelle rapaz tão rico e de Ninguém,- alêm do medico e
familia tão digna alli! Era um com- das pessoas presentes, soube deste
parça d’aquelles miseros viciosos. facto e fez-se em torno a este
E ali passava noites e noites! E acontecimento lugubre um silencio
sua pobre mãe naturalmente 0 sup- de morto. Para a familia, para os
punha em bôas rodas, de moços, amigos, para a sociedade Victor
finos, seus collegas, seus amigos. continuava a ser 0 prototype da
Tudo se afigurou sombrio e per honra.
dido irremediavelmente a VTctor!
Então chorando lagrimas copiosas No meio de grande alvoroço e
elle supplicou ao velho amigo do contentamento a familia de Victor
seu Pae que 0 salvasse d’aquelle recebeu a noticia de seu proximo
vexame, jurando emmendar-se para casamento. A noiva, affirmava elle,
a vida inteira. era um mimo, meiga, docil, cari
Neste mundo em que tudo 6 nhosa, intelligente, emfim 0 ideal
transitório e fugitivo, a existência das mulheres. Casados, vieram mo
do caracter sem macula fica sem rar no Rio. A vida parecia-lhes
pre immortal e .é por isso que 0 um mar do rosas, nenhum leve
velho medico que conhecia bem a pezar, nem a minima sombra de
tempera rigida e honesta do cara um desgosto pairava iraquelle aben
cter de seu amigo, via claramente çoado lar!
a desgraça de sua vida pelo proce
dimento do filho. Houve uma festa sumptuosa em
«A alma humana é nojenta, 0 um palacete de Santa Thereza.
universo 6 vil, pensava 0 medico, Festejavam suas bodas de prata
e d’ahi a pouco como para com os Viscondes de Assumpção e para
pensar tanta miséria elle pensava: maior alegria baptisavam nesse dia
na alma de todo 0 homem ha sem 0 primeiro neto.
pre luz e ha carinhos e em todo 0 Que confusão nessa noite de
canto do universo, mesmo sobre festa! Quanta gente! que ale
um monturo, nasce um lyro. gria! que deslumbramento.
294 A MENSAGEIRA
dias.
A ’ tarde, foi dar o costumado
passeio ao jardim, foi só, e em bai
xo do caramanchão de madresil-
vas, no meio de avenças viçosas
A MENSAGEIÍLA.
295
pre, mesmo quando não vem re alguém que se compenetre do que
vestido de nenhuma auctoridade! sentimos! é tão consoladora a ideia
Que 0 digam todos os que têm de que exprimimos de modo mais
exposto ao publico os fructos de ou menos satisfactorio um senti
seus lazeres . . . E isto prova em mento commum a duas almas! E
nosso favor: não desdenhamos 0 é por isso, é por saber que a opi
juizo de nossos semelhantes e re nião dos incompetentes actua tam
conhecemos que, seja qual for 0 bém no animo dos que trabalham,
grau de ignorância a que se pren que me avento as vezes a expor
da uma creatura, ella tem indiscu em letra de forma as minhas im
tivelmente a faculdade de admirar pressões literárias. Demais, enten
0 que é digno de admiração, de do que silenciar em torno de
alegrar-se ou entristecer-se deante trabalhos de certa ordem é quasi
de uma tela, de decorar quasi que que um crime. Eu desejára que
instinctivamente versos que expri todos os jornaes que dispõem de
mem grandes sentimentos huma capitaes tivessem bons críticos e
nos, e de externar de mil manei que não deixassem passar des
ras diversas a ideia recebida por percebidas as tentativas artisticas
este ou por aquelle objecto! Con que fossem surgindo em nosso
fesso que uma das vezes que me meio. A Mensageira, porém, não
senti mais intimamente satisfeita tem os necessários recursos para
em minha vida foi ao saber que manter collaboradores de profissão,
numa aldeia de Minas puzeram em e como não quer ser cúmplice da
musica algumas quadrinhas de mi indifferença geral, prefere os meus
nha lavra e que essa modinha era desauctorados conceitos a um silen
cantada ao som do violão por uma cio esterilisador, toda a vez que não
formosa morena, de voz inculta e póde obter 0 juizo de alguém que
rude, como a minha lyra! Sim, tenha a necessária competência
havia uma pequena população que para julgar de trabalhos literários.
se habituara a ouvir em noites de E é por essa razão que venho fa
luar, pela voz melodiosa de uma lar de uma obra atirada por mão
sertaneja, versinhos pobres e sim feminina á apreciação publica.
ples que eu escrevera ao ac-aso... Candida Fortes acaba de publi
Como fiquei contente com isso! car no Rio Grande do Sul um deli
Ignorassem mesmo que os versos cado livro, onde a poesia e a prosa
eram meus e ainda assim eu fi apparecem manejadas com inspi
caria com 0 coração inundado de ração e carinho.
alegria profunda: é tão doce achar A primeira parte do livro inti-
A M E N SA G E IR A 297
a avó em pé, hirta, pallida, fitan- altar entre duas estearinas, a se
do-a, como animada de súbita re nhora Mendes reza baixo, passando
solução. as contas do seu rosário.
— Bertha, minha filha, esse ho De quando em quando, uma
mem não póde ser teu marido! bafagem morna e perfumada, le
A bruxa vein prevenir-nos de que vanta suavemente as cortinas de
trar-te-á desgraça este casamento. ganga das janellas de grades, e
Trata, pois, de esquecel-o. You vem agitar a chamma das velas o
devolver a carta. franja prateada das tapeçarias.
A probre moça, que bem co
nhecia a avó, limitou-se a curvar lY
a cabeça, desfazendo-sc cm pranto. Xo seu pequenino quarto de dor
mir, Bertha, opprimida entre aquel-
II
las quatro paredes, que não po
Todos os empenhos foram bal diam outr'ora conter sua immensa
dados para resolver a senhora felicidade, e menos agora sua enor
Mendes a consentir no casamento me dor, chora os seus sonhos des
da neta. feitos. as suas mortas esperanças.
Entretanto, ella ama extremosa-
mente a sua querida Bertha e, por
isso mesmo, a boa senhora, mer A senhora i\Iendes, dando fim
gulhada em fetichismo, passa ho ás orações, levanta-se persignando-
ras e horas encerrada no seu ora se devotamente, e vai apagar as
torio, a espera de que o Todo Po velas ... Mas — oh! surpresa! —
deroso se digne esclarecel-a ou duas lindas borboletas brancas, com
desmentir com algum milagre o reflexos de oiro, agitam as finas
aviso lugubre da bruxa. azas sobre as flores do altar.
— Meu Deus! exclama a boa
IIT
senhora, caindo novamente de joe
São onze horas da noite. lhos, pasma e reconhecida — atten-
Tudo parece repousar em casa e destes por fim á vossa humilde
c profundo o silencio. serva: são vossas enviadas estas
Fora, 0 mesmo grande mysterio, formosas borboletas brancas!
mergulhado no seio enorme da es
curidão. YI
Ajoelhada no chão do oratorio; Esplendida festa, em casa da
0 olhar beatificamento levantado senhora Mendes.
para o crucifixo, que se eleva no Bertha, divinamente bella no seu
A MENSAGEIRA ;oi
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
Summario: — Carta do Rio, Maria Cla do com afan para tornar em reali
ra da Cunha Santos; — Com ares de
chronica, Maria Emilia; — Por montes
dade 0 seu sonho de tantos annos.
e valles, Ignez Sabino; — Parenthesis, Com effeito, é uma necessidade
soneto, Presciliana Duarte de Almeida; e um dever que todos temos de
— Paginas americanas, Pelayo Serrano;
— Chromo, soneto, Adelia Jucá; — Se-
cooperar com o contingente de nos
lecç3o ; — Notas do interior, Dolores sas forças para a realisação dessa
Alcantara de Araújo ; — Notas pequenas. obra grandiosa, cujos benefícos re
sultados não se farão esperar.
0arta do R,io A Creche é feita para descanço
dos pobres e tranquilidade dos ri
A exposição retrospectiva orga- cos. Uma mulher pobre que pre
nisada pelo Centro Artistico teve cisa ganhar o pão de cada dia no
um exito brilhante. trabalho penoso de creada de ser
Não imaginava eu que nesta ter vir, encontrará na Crèche, conforto
ra houvesse tantos primores de arte. para o filhinho que ahi será bem
Em uma rapida visita apenas não tratado e alimentado conveniente
ó possivel que eu tenha visto tu mente. A ’ noite, ao voltar do tra
do que lá existe de hello e origi balho, receberá seu filhinho amado.
nal. Com mais vagar voltarei ao Ao contrario é impossivel se con
assumpto, que bem merece toda a ciliarem as cousas. Trabalhar com o
attenção. filho ao colo é um supplicio para a
creança e para a mãe. Será um
A sympathica ideia da fundação fardo pesado para os braços, em
de Creches e Jardins da Infancia, bora não seja para o coração.
nesta capital, tem sido acolhida em E a mulher rica que pode pagar
geral com muito enthusiasmo e creadas exige, e com razão, que o
amor. Julia Lopes de Almeida, a serviço seja bem feito.
brilhante escriptora que tão conhe Assim pois, a generosa ideia da
cida e estimada 6, está trabalhan fundação das Creches, nesta cidade.
3o6 A M ENSAGEIRA
dos clima tropicaes, umas crescem curiosidade, por não ser eu do lo-
a 6 0 0 metro de altura, outras des gar; mas aos poucos, como meu
cem a proporção de um ou dous irmão 6 d’aquella gente bem co
metros, como as Phoenix^ perten nhecido, ao sahir, correspondí a
centes a classe das «Caules»,*) por saudação de algumas pessoas, na
isso que sem tronco, os talos sur maior parte fazendeiros e negoci
gem elegantemente da terra, nas antes, que a convite do dono d’a
cendo das raizes adventicias que quella caza de oração, com a sua
se intranham nella de tal sorte, presença davam prova de cortezia,
como se fossem espetados os talos que não de crença ou fervor reli
artisticamente, segundo affirma Du- gioso ao acto, talvez.
chartres e confirma Martius, que No campo, em plena natureza,
admirou uma tão linda, em Mada como é suave e poética a oração,
gascar, a ponto de impressional-o nesse mysterio indifinivel que faz
muito e delia tirar o desenho. As 0 ser humano compenetrar-se da
nossas Indayás, são disso, prova. sua fraqueza, da sua pequenez, para
elevar o espirito ante o sublime
E’ ainda a manhã, nem uma nu Artifice, creador de táes bellezasü
vem fofa esmalta a athmosphéra.
O sol esbrazea aquellas longi- A mim, não passa desapperce-
quas paragens, dando á natureza bida uma flor delicada dos morros
ou da campina. Eu notava que o
um encanto indiíinivel a tudo que
eu admirava, ora colhendo uma flor, Idikium Corronarium formava cx-
ora respondendo a uma pergunta. tensissimo jardim nas varzeas e á
Seguia pela estrada, quando vejo por beira dos corregos, quando do bar
um atalho varias pessoas derigirem- ranco, proximo, cahiu-me aos pés
se para uma capellinha que fica so enorme torrão de terra húmida,
bre pequeno outeiro e cujo sino re- por haver chovido na vespera.
picava alegremente. Com as pessoas Apanhei-o e mostrando-o, puz-me
queridas que me accompanhavam, a phylosophar sobre o assumpto.
dirigi-me também para lá. O rús A terra, esta mistura de argilla
tico templo já com alguns devotos, e de areia que tinha na mão, esse
não tinha galas, notando-se uma globo que gira no espaço e que
pobreza enorme em tudo. eu amassava entre os dedos, se
A minha entrada alli produziu fosse uma esculptora, aproveital-a-
ia em deliciosos bustos, figuras,
*) As Acaules são plantas que não têm
flores, ramos, ornatos o utensílios.
talo ou o têm muito pequeno, como o
telho, 0 Jacintho, e outias. Todavia, quanta legua devoluta.
A M E N SA G E IR A 313
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Directora — P rescilia n a Duarte de A lm eida
Tão azul, tão sereno . .. elle desterra Por noss’alma igualmente se reparte
De minha alma a tristeza em que me afundo. Todo o fél de uma dor que não se explica:
E’ lá que a gente, quando os olhos cerra, Tanto soluça o coração que parte,
Gosa a vista do Bem calmo e fecundo. Como o formoso coração que fica!
Z a l in a . R o h m . A ü r e a P ir e s .
Rio, 11— 12— 1897.
^(o album
da senhorita Joanna Reys
A ^[ensageira, n. 1 9 , S. Paulo.
— Orgão dedicado á mulher bra
H Mensageira sileira. dirigido pela distincta litte-
rata d. Presciliana Duarte de Al
A Mensageira. — Appareceu o
meida, recebemol-o com a sympa-
n.'* 16 desta revista litteraria. diri
thia que nos inspiram sempre as
gida em S. Paulo pela poetisa e
boas obras fecundadas no cerebro
escriptora d. Presciliana Duarte de
feminino. E esta interessante re
Almeida.
vista, bem escripta e bem impres
Como de costume insere bons tra
sa. está no caso de receber muito
balhos de poesia e prosa; entre es
lisongeira classificação.
tes ha um da escriptora rio-gran-
(D a Revista Popular da B.ahia.)
dense d. Revocata de Mello, sobre
0 innolvidavel litterato o politico O n. 19 da Mensageira, revista
italiano Cavallotti. e uma critica do litteraria dedicada á mulher brazi-
dr. i^ylvio de Almeida aos Poentes. leira, impressa em S. Paulo, de que
Agradecidos. é directora D. Presciliana Duarte
(\)o Diário Popular.) de Almeida. Está este numero mui
to variado e bem escripto, sendo
A Mensageira, n. 1 7 , revista lit os artigos de real interesse.
teraria dedicada á mulher brasileira, (D o Jormd do Commercio, d o R io .)
A MENSAGEIRA
RGvista litoraria dodicada á mulher brazileira
Direetora — Presciliana Duarte de Almeida
ciante que lhe ia n’alma. Felix cada dos braços. Quantas vezes o
voltou a si do torpor de espirito misero captivo puchando a encha-
era que jazia quando o feitor era da, sob 0 sol ardente do verão, não
rudes phrases o advertiu e chamou deixava o pensamento voar... vo
ao trabalho. ar... até junto de Maria. E ahi, per
Maria partiu e de seus novos sof- dido, feliz, poisar docemente, ven
frimentos ninguém soube. Foi para do-a atravéz a nuvem azul da phan-
longe, tão longe onde nunca mais tasia! Quantas vezes, n’um assomo
chegariam noticias de seu pae e de intima revolta, o pobre páe não
irmãos. desejou a morte da querida filha.
Uma escrava não poderia se dar Ah! pensava elle! se eu tivesse
ao luxo de ter coração. Demais, certeza que ella estava no céo !
um coração que é vendido . . . 6 Será viva? Será morta? A du
propriedade do comprador. vida cruel, 0 temor, o receio vi
Felix não dormiu essa noite da nham em lucta sem tréguas, doloro
cruel separação. A lembrança da sa e extenuante, abater ainda mais
filha não o deixou um momento. a alma já tão atormentada do po
Quasi de madrugada, cançado bre escravo ! Depois de liberto,
de tanto chorar, vencido pela dor, Felix não descançou. Sahiu á pro
conciliou 0 somno. Breves minu cura da filha por essas terras lon
tos teve de repouso. O sino da gínquas. Todo 0 dinheiro que ob
fazenda soou lugubremente ao rom tinha gastava-o em annuncios pelos
per da aurora, era o signal do des jornaes, pedindo por caridade que
pertar para o serviço. O trabalho lhe dissessem onde estava a filha
constante do dia alquebrou o cor que ha tantos annos não via. De-
po mas não teve forças para fati- balde! Ninguém respondia. Não
gar-lhe o espirito. Tétricos pensa desanimava o infeliz. E ’ que a
mentos povoavam-lhe o cerebro. convicção profunda que nasce no
Tamanha dor, tamanho inartyrio, coração e que vive pelo amor não
tamanho soffrer, deviam petrificar se dissipa assim !
0 coração! Infelizmente não é assim! As vezes nos enganamos com os
Muitos annos se passaram. proprios sentimentos affectivos!
Felix, 0 pobre escravo, teve em- Pensamos que morreu em nosso
fim a sua liberdade no grande dia espirito uma ideia pela qual em
13 de Maio de 1 8 8 8 . Elle pen penharíamos a propria vida, se pre
sava que sendo livre poderia tra ciso fosse. Puro engano ! Lá vem
balhar para encontrar a filha que um dia em que volta novamente
tão barbaramente lhe fôra arran a nosso espirito a ideia que sup-
A MENSAGEIRA 339
púnhamos morta, tal qual um rio cinante de dor e de alegria, allu-
que perdido, se internava na flo cinada, quasi morta pela commo-
resta e volta depois em limpides ção, derramando lagrimas copiosas,
mananciaes crystallines, ou uma disse :
planta que parecia succumbida e Meu páe, meu querido páe, Fé
renasce e medra e desabrocha opu lix não é 0 teu nome? fala? eu
lenta de viço e de explendor! De sei que és o meu páe, fala, fala.
pois do desanimo vem a esperança. Absorto e quasi desfallecendo o
O mundo é mesmo assim, depois do pobre velho reconheceu a sua que
inverno vem a estação das flores!.. rida Maria, a filha que ha vinte e
O serviço do pobre sexagenário dois annos não via!
era ultimamente o de estivador. A — Sim, minha filha! sou o teu
carregar e a descarregar os navios páe... até que emfim Deus teve
mercantes levava elle os dias para pena de nós. E cahem nos braços
ganhar parco salario. E assim ia um do outro, coramovidos, loucos
vivendo, üm dia, Félix recebeu de dor e de alegria, a chorar como
de um companheiro de trabalho, creanças. Vinte e dois annos! dis
convite para ir á sua casa. E foi. se Félix, vinte e dois annos que
Era um domingo, formoso dia de eu não me esqueço de ti um ins
sol. A casa pequena e pobre era tante. Agora, minha filha, eu posso
muito acceiada e alegre. morrer socegado. Abraçados sem
Félix entrou para a sala da fren pre, a falar do passado com a ancia
te onde a conversar com seu com e desespero de tudo querer dizer...
panheiro passara algum tempo. O eram interrompidos pela commoção
dono da casa — um negro moço e pelas lagrimas. O genro, satis
e muito falante — disse á mulher feito com a alegria communicativa
que trouxesse cafó para seu colle- deste encontro tocante, chorava tam
ga de trabalho. D’ahi a pouco a bém. A historia de Félix era a
mulher trouxe, em pequena ban historia de Maria. Ambos gasta
deja, duas tigellinhas da preciosa vam, em inúteis annuncios, todas
bebida, que deitava fumaça e cheiro as suas economias, e ella a pobre
muito agradavel. Félix cumprimen filha também não desanimava nun
tou a rapariga e começou a tomar ca, sabia que havia ainda de en
café conversando e ouvindo sempre contrar seu páe porque o coração
0 seu amavel amphitryão. assim lh’o dizia.
De repente a mulher, que im Quanta promessa ! quanta lagri
passível parecia, deixa cahir das ma ! quanta dor !
mãos a bandeja e n’um grito lan As perguntas succediam-se. Dos
340 A MENSAGEIRA
conhecidos de outr’ora maitos ti Que 0 Sonho vem tanger aos meus ouvidos.
nham já morrido. Maria apresen
E tenho a nostalgia das espheras
tou suas filhas que foram terna Em.que viveu minh’ alma noutras eras,
mente abençoadas pelo avô. Como E em que pairam meus olhos esquecidos.
prêmio a tamanho soffrimento a Ca r l o s D . F e r n a n d e s .
filha pediu ao páe que nunca mais
a abandonasse, que juntos viveriam
d’ahi por diante.
— Sonhava sempre comtigo, mi
nha filha, e era isso o meu unico ^reludiando
consolo, disse Felix; mas cousa sin
Contos de D. Andradina de Oliveira
gular! em sonhos eu te via sem
pre com aquelle olhar tão triste e 0 anuo de 1 8 9 7 f 'i de certo
tão maguado que pela derradeira um dos que mais flagellaram a
vez eu vi, quando te arrastaram nossa patria. Atada como Christo
pela estrada n’aquelle dia cruel. a um poste de torturas, coberta
Teus olhos, minha filha, bem dis de baldões, ludibriada em sua per
seram, n’aquelle transporte de dor, sonalidade augusta, ella derramou
tudo 0 que nós iamos soffrer. Oh ! precioso sangue, vendo cahir mi
é bem certo que os olhos falam lhares de bravos nas emboscadas
mais verdade do que a boccaü de Canudos e, como desfecho á
M a r ia C l a r a da C u n h a S antos .
formidável tragédia, succumbir, á
plena luz meridiana, na capital da
Republica, o mais alto funcciona-
rio do exercito, immolado á sa
nha feroz dos jacobinos.
Dir-se-ia que enorme avalanche
Bemdicta causa de crimes, a rolar por ingreme es
Muito enibora humilhado e apedrejado carpa, calcando obstáculos em sua
Pela sanhuda cólera do mundo,
passagem tremenda, ia sepultar todo
Nesses proprios ultrages me fecundo
este paiz sob um acervo de es
Porque mais alio paira o meu cuidado.
combros.
Eu, das estrellas immortaes oriundo. Gritos de sedição bramavam,
Vejo tudo a meus pés amesquinhado, desde as duas casas do Congresso
Porque sinto o espirito voltado
á praça publica, e como si novo
Para outro ceu mais amplo e mais profundo.
Attila quizesse apagar do sólo o
Si passo alheio á toda humana zuada minimo vestigio de civilisação, o
E ’ que ando ouvindo a cythara encantada fanatismo politico, bem peor — por
A MENSAGEIRA
341
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
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socegado. Ainda não tinha se re disse 0 homem das barbas com
tirado quando viu a porta abrir-se pridas, e com a enchada começou
1'entamente. Pára, escuta, olha, es a fazer a cova, junto de uma bana
preita receioso e vê sahir á frente neira.
da porta um homem de certa idade, Gonçalves do alto da laranjeira,
em mangas de camisa e calça de reconheceu á luz baça da candeia
zuarte azul, descalço, com os cabel- 0 coi-po do seu amigo, quiz gritar,
los revoltos e longas barbas que não teve voz, quiz vingal-o, pedir
lhe cahiam desgraciosas sobre o soccorro, mas como? Quem pode
peito . . . ria ajudal-o?
Tomado de indizivel terror, Gon Lutar seria impossivel, um ho
çalves quiz fugir, mas o cuidado mem desarmado não pode com très
no amigo, e a curiosidade retive- facinoras armados como estavam
rara-lhe os passos e elle para me elles. Que fazer? Calado, tranzido
lhor observar o que se passava subiu de medo, sem poder fazer o menor
lentamente na laranjeira copada. ruido para não ser presentido, elle
Lá do alto poude observar o si ali esteve alguns instantes que lhe
nistro préstito. O homem das barbas valeram séculos de agonia. Im-
compridas trazia suspenso o braço movel, estupefacto, allucinado, Gon
esquerdo que segurava a candeia çalves viu 0 enterro de seu querido
de amarelada e triste luz, na mão companheiro.
direita trazia uma enchada. Os cães aqui, ali, acolá, e um
Em seguida dois homens possan delles, medonho Terra Nova, insistia
tes, descalços e maltrapilhos traziam impertinente em baixo da laran
0 cadaver de um homem bem ves jeira onde estava occulto o pobre
tido; 0 da frente segurava os pés rapaz. O sangue que tingira o
e 0 outro, desageitado e aos tram nariz e focinho do cão tirara-lhe
bolhões segurava a cabeça que de algum modo o faro, mesmo assim
pendia sobre o peito. Muitos cães 0 Terra Nova estava teimoso. Gon
acompanhavam o cortejo fúnebre e çalves teve um minuto de hesitação,
um delles esfregava o focinho nos resolvera quebrar aquelle silencio
rastros de sangue que as roupas do medonho e invocar um perdão, mas
cadaver iam deixando pelo chão. perdão de que? reflectiu. De um
Nenhuma palavra diziam, era um crime que não commettera? Seria
silencio de metter medo; pararam uma humilhação. E depois era ser
e collocaram o cadaver no chão muito ingênuo para pensai que
e foi nessa hora que a primeira aquelles homens se o descobrissem,
palavra foi proferida.— Aqui mesmo. 0 deixariam vivo, elle .. . teste-
36o A MENSAGEIRA
geado de flores cujos perfumes vos rido ao chegar á casa, não encon
embriagam e do qual não enxer tra mais, nem siquer a sombra gra
gais 0 fim, nem vos importa al ciosa d’aquella que o prendera com
cançai-o pois que lá distante se seus encantos!
perde na verdura das mais risonhas Outros, (e mais infelizes estes)
esperanças que circundam no es são recebidos com amuos de crean-
paço a nesga azul de um sereno ça mal creada, ou repellidos por
céu. deve entretanto esse caminho insultuoso ciume!
ter urzes e abrolhos! Oh! quantas e quantas vezes, en
As proprias rosas emmurchecem, tretanto — 0 misero voltava sau
e, fanadas as rosas, só restam os doso do lar, e quantas outras, abor
espinhos. recido e incommodado de seus ne
Sabeis o que seja um marido? gócios !
Nos primeiros tempos será o mes
A mulher bem educada é sem
mo amante apaixonado, condescen
pre amavel e graciosa ; sempre cor
dente, 0 companheiro de todas as
recta e sensata, sempre o bom anjo
horas do dia e da noite...
do lar.
Mas passa-se o primeiro anno;
Deveis saber que o mais bello
tendes um filhinho, talvez, e per
dote de uma dona de casa é o es
destes parte de vossos encantos:
pirito de ordem; n’isto se compre-
emmagrecestes, desmaiam-se as ro
hende o asseio, a economia, a bôa
sas de vossas faces e lábios; já
direcção nos negocios domésticos.
não 6 tão farta vossa linda cabel-
leira; porém, comtudo, ainda assim Sede econômicas sem parecer mes
sois bella porque... não vos desleixais. quinhas. Se tiverdes em vossa casa
Sim; para que sejais sempre ama uma dispensa, não entregueis as
das, é preciso que vossos maridos chaves d’ella á vossa criada, nem
vos encontrem sempre bem cuida á cosinheira; antes ide vós mes
das, irreprehensiveis em vossas toi mas tirar o necessário para as re
lettes e penteado, sempre amaveis feições diarias.
e delicadas como quando os capti- Ouvi a uma cosinheira que dizia
vastes. de sua jovem ama: «minha ex-
Quantas jovens senhoras, depois patrôa me entregava as chaves da
de casadas mezes apenas, julgando dispensa.^ A joven senhora por
terem alcançado quanto desejavam, não querer parecer menos amavel
e pensando não terem mais a quem que sua antecessora, imitou-a; em
prender com agrados, descuram de pouco tempo reconheceu-se lezada
sua propria pessoa, e o moço ma em sua illimitada confiança.
A MENSAGEIRA 363
2)o ‘‘ Estellario”
A ’ que me entende
O Rio Grande do Sul, 0 meu
querido Rio Grande, não quiz fi Hontem foi vel-a e eis tudo quanto almeja :
«Ver, tendo visto, quem mais ver deseja.»
car aferaz de S. Paulo, 0 adiantado
Estado que tanto se tem distin Chegou, tomou-lhe a mão fria de anceio:
guido no caminho dos artes e da E um longo olhar prendeu-os num enleio.
A MENSAGEIRA 3^5
Depois falaram de um amor secreto, Da saudade e dos sonhos que elle encerra
Entremeado de feliz projecto. Na que tem por Eleita aqui na terra.
A MENSAGEIRA
Revista literaria dedicada á mulher brazileira
Direotora — Presciliana Duarte de Almeida
Voluptas patiendi
Quem se esqueceu daquella a quem amou
E ’ porque não amou quanto podia:
O que no fundo dalma penetrou
Vai-se lembrando sempre, dia a dia.
Atraz delle, em pé, com os cal Não lhe nascêra aqui a filha The-
ções rasgados, a cesta e a navalha reza ? Não tinha elle aqui très
na mão, promptas para os peixes netos ? Tudo isso era verdade ;
que hão de vir, 0 Guilherme es mas. .. depois de tantos dias pas
pera os productos* dos labores do sados, soes e luas tão fulgurantes,
avô. depois de tantos factos nascidos e
Lá fora, no mar alto, dois bar extintos, depois de tanto esqueci
cos de pesca vão cortando a mo mento, de tantos trabalhos e de
notonia das aguas com os pontos tantas luctas, com 0 coração mais
brancos das- suas velas enfunadas. duro que uma nóz, 0 corpo mais
As ondas vêm e vão, vagarosis- vergado que um canniço, a sua
simas, quebrando-se em degráus alma voava saudosa d’estes mares
pequenos de crystal fino e esten azues para 0 azul dos mares da
dendo-se depois pela areia branca patria, dos olhos da esposa fiel e
n’um espreguiçamento deleitoso. trabalhadeira, para os pestanudos
Mas eis que a linha do canniço olhos da outra.
tréme; houve um repellão no an Que fim teriam levado? Ah! se
zol, mas 0 Tomazzo não deu por elle pudesse ver tudo, voltar á ter
isso: olhava para 0 largo, para ra da sua infancia ...
aquellas duas azas de cysne des Outro repellãp no anzol : — Ella
garradas e luminosas. era linda, linda! Comtudo, não va
Elle sentia a nostalgia do mar le a pena um homem torcer a sua
alto, d’ aquellas suas viagens no vida por causa de uma mulher.
porto de' Nápoles, tão azul, com ou Para 0 pobre a fortuna é 0 tra
tros pescadores da mesma edade, balho e a terra em que nasceu.
alegres, fortes, tagarellas no seu Que lindo sol! Que mar tão im
dialecte... 0 Gaetano, 0 Pietro... ponente que é este! Não ha no
Onde estariam elles, como esta mundo coisa mais bonita ! . . . O
riam? a mulher do Gaetano era amor passa... esquece... é como
formosa, com uns olhos, Dio bene- 0 vinho; as bebedeiras não duram
detto! de cavar corações! sempre! Lá isso, ha quem morra
E fora por causa d’aquelles olhos e mate por amor; e outros fogem,
que elle aos quarenta annos se ex- como eu fugi... tolice ! passado 0
patriâra, e viera para este grande tempo, e quando 0 sangue é fraco
Brasil... Fizera mal ? fizera bem ? e velho, só se sente desprezo por
E’ uma linda patria esta, e tão essa ninharia que a mocidade exag-
grande, e tão luminosa, e tão aco gera... Se eu tivesse matado 0
lhedora. Não se casara elle aqui? Gaetano para lhe ficar com a mu-
372 A M E N SA G E IR A
Iher, como foi também minha ideia, sa, e só depois de terem passado
teria ido cumprir sentença e seria é que parece attentar nellas...
talvez agora tempo de voltar para Afinal, onde se cria raizes é que
a Italia. se deve ficar. .. e que são os filhos?
No presidio não se ama; eu não Raizes que nos* prendem á terra.
me teria casado ... Como me re O Brasil é a grande patria de meus
cebería ella? chorando? netos, será aqui a minha cova...
onde a minha velha, coitada, vá
E 0 meu coração? iria conten
chorar... Afinal a mulher do Gae
te ? ! Talvez que sim ... já estou
tano não valia um-dedo desta, que
tão velho e ainda não me en
é minha e por ser minha é que
tendo.
não penso nella! Será ? ... Homem
Talvez que sim... porque eu vol
ingrato, s e rá ?...
taria para a liberdade, para a mi
Uma gaivota passou rente; a
nha terra... para a minha amada...
agua crespa scintillou ao sol. Nas
Outro repellão no anzol.
pedras pretas rumurejou uma onda
Ella, a mulher do Gaetano, leve, bordada de espuma baloiçan
deve estar velha... eu teria uma do as algas de cabelleira côr de
decepção .. . talvez chorasse ! . . . ferrugem. E o pequeno Guilher
Quem sabe se morreu? . . . Teria me, que descera surrateiramente
fugido com 0 Pietro? ella parecia para a areia branca, entretinha-se,
fadada a enganar o marido ... Po agachado entre as pedras, com as
bre Gaetano ! bom companheiro ; se pernas na agua, em arrancar e co
agora o visse... abraçava-o ! . . . mer ostras, que ia abrindo com a
A vida é assim mesmo, a gente navalha do avô.
mal conhece as coisas porque pas J u u A L opes de A l m e id a .
ílecordando...
Em noites estivaes, formosas, encantadas,
Quando passam no ar as auras, perfumadas
E o céo é todo anil, sereno, transparente
Como a face de um lago a murmurar dolente
Uma queixa de amor, um hymno de poesia,
Um merencório adeus ao despedir do dia,
Apraz-me decerrar do corrção as portas
E fazer reviver as illusões já mortas.
A M E N SA G E IR A
373
Pag. Pag.
Por terras, e mares, poemeto, Candido Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
de C a r v a lh o ........................................140 S a n t o s ..................................................182
A mulher é uma força viva na socie Santa, soneto. Bento Ernesto Junior. 187
dade, M. Renotte , .........................141 S e l e c ç ã o ..................................................187
Notas pequenas........................................143 Triolet, Olga P.........................................188
Carta do Rio, Maria Clara da Cunha Exul, soneto, Heraclito Viotti . . . 189
S a n t o s ............................................. 145 Notas pequenas . , ............................. 189
Celeste, soneto, Aurélio N eves. . . 149 Funerea, poesia, Perpetua do Valle . 190
A emancipação feminil, V. M. de Bar- Maria M onteiro....................................... 191
r o s ...................................................149 Martyr de amor, conto, Maria Clara
Vem, soneto, Aurea Pires . . . . 150 da Cunha S a n t o s ............................. 193
Literatas inglezas, Elmanodo Vai .1 5 0 Amarguras, soneto, Georgina Teixeira 196
Os olhos, poesia, Leopoldo Motta. . 152 Primicias, critica literaria, Arthur An
Chronica omnimoda, J. Vieira de Al drade....................................................... 197
meida ..................................................152 Primavera no campo, Euricío de Góes 189
Poesia, Presciliana Duarte de Almeida 154 De Tarde, fragmento de um poema,
A Mensageira, Alberto Faria . . . 155 Aurea P i r e s ....................................... 201
Por terras e mares, poemeto, Candido Chronica omnimoda, J. Vieira de Al
de C a r v a lh o ................................... 158 meida ..................................................203
S e l e c ç ã o ..............................................159 A Giacomo Leopardi, poesia, Julia
Notas pequenas................................... 159 Cortines..................................................254
Observações sobre a educação em ge Literatas suécas, Elmano do Vai . . 205
ral, Delminda Silveira....................161 Immutabile semper, poesia, Olga P. . 206
Voz de sereia, soneto, Alberto Souza 163 Poesia, Presciliana Duarte de Almeida 207
Carla do Rio, Maria Clara da Cunha Notas pequenas....................................... 207
S a n t o s ..............................................163 Observações sobre a educação em ge
Elle ou ella?. Padre Corrêa de Al ral, Delminda Silveira........................209
meida ..................................................165 Só, soneto, Manoel Viotti . . . . 212
Chronica omnimoda, J. Vieira de Al Amphitrite, soneto, Francisca Julia da
meida .................................................. 167 Silva....................................................... 212
Meio Dia, fragmento de um poema, No meu Atelier, Julia Lopes de Al
Aurea P i r e s ....................................169 meida ..................................................213
Com ares de chronica, Maria Emilia. 171 O Juca da Generosa, conto, Maria
Por terras e mares, poemeto, Candido Clara da Cunha Santos . . . . 215
de C a r v a lh o ....................................172 Lagrima tardia. Perpetua do Valle . 218
Os Filhos, Clarisse.............................. 172 Hyemal, soneto, Aurea Pires . . . 220
Notas pequenas....................................174 A mulher, Francisco Barroso . . . 220
Feliz encontro, poesia, Presciliana Carlota Corday, soneto, Maria Jucá . 223
Duarte de Alm eida......................... 176 M orta!!!, soneto, Adelia Jucá . . . 224
Uma Saudação, Analia Franco. . 177 Notas pequenas....................................... 224
Por terras e mares, poemeto, Candido Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
de C a r v a lh o ....................................179 S a n t o s ..................................................228
Educação Literaria, Olympio Galvão. 180 Anoitece, soneto, Adelina Amelia L o
.4o romper da lua, poesia, Delminda pes V ie ira .............................................229
Silveira.............................................. 183 Com ares de chronica, Maria Emilia 229
A MENSAGEIRA
383
Pag.
Pag.
In sylvis, soneto, Carvalho Aranha . 231 Contos e Phantasias, critica literaria,
Flores sem fructo, conto, Ignez Sabino 231 Alberto S o u z a ...............................277
A ’ Paulicéa, soneto, Soares Junior . 234 Velando, soneto, Georgina Teixeira . 280
de La Fayette, Perpetua do Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
Valle...................................................235 S a n t o s .............................................. 280
Por terras e mares, poemeto, Candido Natal, soneto, Auta de Souza . . . 282
de C a r v a lh o ...................................237 Saudade antiga. Amadou de Queiroz. 28.3
S e l e c ç ã o ............................................. 238 S e l e c ç ã o .............................................. 285
Pesadelo, fragmento de um poema, Notas pequenas....................................286
Aurea P i r e s ................................... 238 A mulher no Celeste Império . . . 287
Notas pequenas...................................239 Observações sobre a educação em ge
Com ares de chronica,MariaEmilia 241 ral, Delminda Silveira.................... 289
Os Poentes, critica literaria, Silvio de Castello derrocado, poesia, A. Tolen-
A l m e i d a ........................................ 242 tino de Almeida...............................291
Eóra da Barra, soneto, Luiz Guima Golpe certeiro, conto, Maria Cia-a da
rães J u n i o r ................................... 244 Cunha Santos.................................... 292
Carta do Rio, Maria Clara da Cunha Duvidas, poesia, Scipião Jucá. . . . 295
S a n t o s ..............................................244 Impressões de leitura, (Phant?'sias, Can
Na Praia, poesia, Aurea P ires. . . 24G dida F o r t e s , ....................................295
Vasco da Gama, IgnezSabino. . . 248 Dona Lavinia, soneto, Elmano do Vai 298
S e l e c ç ã o ..............................................251 As Borboletas, conto, Candida Fortes 299
Ao meu coração, soneto.SoaresJunior 252 Naufraga, soneto. Carvalho Aranha . 301
Felic® Cavallotti, Revocata H. de Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
S a n t o s .............................................. 301
M e l l o ..............................................252
Angustia, poesia, Presciliana Duarte
Notas pequenas................................... 254
de A l m e i d a ...................................... 303
A voz do louco, poesia, Presciliana
Notas pequenas...................................... 303
Duarte de Alm eida......................... 255
Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
S a n t o s .................................................305
S a n t o s .............................................. 258
Com ares de chronica, Maria Emilia 307
Por terras e mares, poemeto, Candido
Por montes e valles, Ignez Sabino . 309
de C a r v a lh o ....................................... 259
Parenthesis, soneto, Presciliana Duarte
Borboletas, conto, Zalina Rolim . 260 de A l m e i d a ...................................... 313
Caminho do Sertão, Auta de Souza . 262 Paginas americanas, Pelayo Serrano . 314
O Romance de uma Onça, André Re- Chromo, soneto, Adelia Jucá Casado
b o u ç a s ................................................. 262 L i m a .................................................315
A Luiz Guimarães, soneto,Aurea Pires 269 S e l e c ç ã o .................................................316
Na Selva, poesia, Presciliana Duarte Notas do interior, Dolores Alcantara
de A l m e i d a .......................................270 de A ra u jo ........................................... 316
De um livro de viagens, Nelson de Notas pequenas...................................... 320
S e n n a ................................................. 271 Carta do Rio, Maria Clara da Cunha
Mãe, poesia, Delminda Silveira .2 7 1 S a n t o s .................................................321
Notas pequenas.......................................271 Do Livro da Saudade, soneto, Zalina
O ultimo Discurso, conto, Julia Lopes R o l i m .................................................324
de A l m e i d a .......................................274 Adeus! soneto, Aurea Pires . . . 324
3 ^4 A M E N S A G E IR A
A Mensageira é representada:
Em Paris por M.'"® Blanche X avier de Carvalho, i6, B ou
levard de Clichy;
No Rio de Janeiro pela nossa collaboradora Maria Clara
da Cunha Santos, rua Conde Bomfim, 12 A .
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1987