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AO INSTITUTO HISTORICO
GEOGRAPHIGO E ETHNOGRAPHIGO
DO BRA2.IL
o. D. C.
TOMO I
(f)
(, //'
~
rI.\
RIO DE ANEIRO
B.-L. ARNIER
LIVREIRO·EDITOR DO INSTITUTO HISTORICO
65, Rua do Ouvidor, 65
~
PARIS : E. BELHATTE I PORTO: Ernulo tHARDRON
1876
Ficam l'esel'vados todos os di1'eitos de lJl'opl'iedade.
PREFACIO
1 j
1
-
(1) Pressensé (Liberdade Rel. na EU1·opa) faz o seguinte
paralielo entre S. Ignacio de Loyola e Martinho Luthero :
«Não ha na historia mais singular contraste de que o de
Luthero e de Ignacio : possuiam ambos uma alma de fogo,
paixão pela sua ideia, caracter indomavel e tacto governa-
tivo, que é como a realeza de direito divi.....:>. Prescindindo
d'estes pontos de contacto muitos outros ha que os diversi-
ficam : assim o monge é o menos clerical dos christãos, !leu
amplo peito aspira com delicias o ar livre; derriba as pa-
redes do claustro tanto no sentido material como no moral.
E' o mais leigo dos prégadores, verdadeiro tribuno do povo
christão, protestando e appellando do direito canonico para
os livros sanctos e para a consciencia, cujos oraculos são
universaes. Facto extraordinario, é o fidalgo, pagem da
côrte antes de ser soldado valoroso, que tem de ser por ex-
celiencia o guarda do sanctuario. Luthero é o iniciador
systematico e Ignacio o adversario convicto de todo o pro-
gresso, e ainda de toda a reforma. Luthero escreve, falia,
lucta com alegria viril, nem sempre contida em seus justos
limites; Ignacio é sombrio e melancolico, conhecendo que
tem contra si o movimento do mundo e o dos espiritos. Lu-
ther é franco até a brutalidade; Ignacio leva o calculo até
a oração, e sabe alliar a duplicidade com o extremo fervor.
Obtiveram ambos todo o ento que poderiam desejar: sub-
trahiu o reformador ao pontificado metade da Europa, e
o maior triumpho de seu antagonista consistiu em reter a
outra metade, prestes a escarpar-se, sendo certo que, graças
a elie, a Reforma foi subitamente refeçada em Hespanha e
Italia e que a Austria, já em grande parte convertida ás no-
vas ideias, volveu ao gremio da Igreja.»
HISTORICOS 23
rei notavel pelos seus satanicos caprichos; todo o
norte seguia o exemplo da reforma e apropria
França, a filha primogenita da Igrej- estava amea~
çada d'essa terrivel guerra civil, entre os catholicos
e huguenotes, que devera terminar pela exaltaçiio
ao solio de S. Luiz do illustre beamez, ex calvinista.
Nesse seculo, em que tão grandes perdas experimen~
tava o nosso culto, permittiu Deos que iIDIDensas
regiões fossem abertas á propagação do catholicismo
exactamente pelas duas nações as mais orthodoxas
do mundo. Vasco da Gama e Colombo offereciam
nas Iudias e na America um campo digno d'en~
saiarem as suas forças os novos apostolas do catholi-
cismo.
D. João III, rei de Portngal, pedia á Roma missio-
narios dedicados para evangelisar esses reinos, que
a fortuna tinha submettido ás suas armas, e o papa
ordenava a Ignacio, que satisfizesse ao piedoso desejo
do monarcha lusitano enviando~lhe alguns dos seus
discipulos. A companhia achava~se então no berço,
apenas existiam seis professos; mas d'estes partem
dous (Azevedo e Xavier) para Lisboa, onde devera
ficar o primeiro, estando reservado ao segunuo o glo-
rioso titulo de Apostolo das Indias.
Esses beilos paizes banhados pelo Ganges e pelo
Indo, cuja historia nos parece eternamente occulLa
por um denso vêo d'ailegorias, objecto constante da
cobiça de todos 0S conquistadores do mundo desde
Baccho e Sesostris até Napoleão I, subjugados pelo
.24 ESTUDOS
II
o zelo
dos missionarios era superior a todo o ele-
gio : infatigaveis na propagação da .fé não recuavam
(1) O Evangelho.
(2) Redes d'algodão.
RIS'fORICOS 95
mudava·se a scena e apresentava·lhes novo e des-
communal espectaculo. Chegavam em meio de fes-
tins; e assistiamás dansas, ou antes aos tripudios,
e aquelles ouvidos afeitos ao som do orgão, reboando
pelas abobadas dos templos, .eram feridos pelo desa-
gradavel chocalho dos mámcas (1). Trocavam o pão
pela tapioca: andavam descalços e vestiam-se d'al-
godão : impossivel seria resistir as palavras d'esses
homens, que tão bem sabiam alliar a theoria á pra-
tica : prégavam a pobreza e eram pobres, o desprezo
do mundo e abnegavam-se.
Tinham porém os jesuítas mais obstaculos a en-
contrar da parte dos colonos do que da dos naturaes
do paiz. A povoação elo Brazil fora entregue ao
acaso; e n'essa épocha, e ainda por muito tempo
depois, considerado como um presidio de degrada-
d'bs, asylo de homens perdidos, a quem a metropole
não podia supportar por seus vicioso Ora, si taes
homens eram temiveis no reino, onde a policia po-
dia vigiar os seus passos, e reprimir de prompto a
autoridade os seus crimes, como não seriam em uma
terra nova, onde vi viam com a mais solta indepen-
dencia, e onde a acção das leis era quasi que per-
feitamente desconhecida. Pessimo era o systema de
colonisar adoptado por Portugal, consistindo em
mandar para as suas possessões d'além mar os cri·
minosos, os réos de pol~cia, para servirem de nucleo
(1) Jornal ele Timon, livro R,o secc. 4.' pago 462.
7
110 ESTUDOS
FRANCA ANTARCTICA
~
FRANÇA ANTARCTICA
BOSQUEJO HISTORlCO DO ESTABELECafENTO DOS FRAN-
CEZES ~O RIO DE JANEIRO, SUA EXPULSÃO, NOVAS
INVASÕES NO SECULO XVIII (1) .
...
INTRODUCÇAO
o amor da patria e o desejo de contribuir com o
nosso fraco contingente para a vulgarisação dos
factos mais gloriosos da nossa historia, nos leváram
a escrever um opusculo sobre a fundaçào da cidade
do Rio ue Janeiro, hoje capital do grande imperio
americano. Folheando as velhas chronicas, vimos
que os Fraricezes buscáram estabelecer-se nesta terra
e lançar os alicerces d'urna colonia muito antes que
os Portuguezes pensassem em firmar o seu domínio
na magestosa babia de Nictheroy. Suggeriu-nos
isto a ideia d'examinar quaes as causas e resultados
da invasão franceza, tractando igualmente das. expe-
dições de Duclerc e de Duguay-Trouin, as quaes,
I
DESCOBRIMENTO DO RIO DE
rÓ
J.AN~
Não nos maravilha que pairem Ztas duvidas
sofre os fa,ctos afastados de nós por uma longá serie
de seculos, que a historia encerre problêmas de so-
luÇãO .quasi impossivel, quando acontecimentos de
recente data dão origem á longas e quasi que inter-
minaveis controversias. Suscitou-se ha pouco tempo
na primeira associação litteraria do paiz importan-
tíssima discussão ácerca do descobrimento da Terra
de Sancta C1'UZ, e illustres paladinos quebráram
lanças em prol de contrarias opiniões: pretendeu-se
que o acaso presidíra a este facto, e sustentou-se,
com não menos talento e erudição, que a esquadra
portugueza deixára Lisbôa com o firme proposito
162 ESTUDOS
II
ORIGEM DA EXPEDIÇÃO FRA1'{CEZA AO RIO DE JANEIRO
(1) Páo-brazil.
(2) Histoire d'un pays situé dans le Nouveau-Monde,
nommé Â mérique.
(3) Une Fête brésilienne.
HISTORICOS 171
communicaçclo de Marino Cavalli, embaixador de
Veneza junta á côrte d'Henrique II, que em data de
1546 assim se exprimia:
« Com Portugal não póde haver Ma intelligencia ;
pois que ha uma gnerra surda entre os dous paizes.
Os Francezes pretendem poder navegar para Guiné e
o Brazil, ,e os Portnguezes pensam o contrario. Si se
encontram no mar e sendo os francezes os mais fra-
cos os outros atacam e mNtem ao ~ndo os seus na-
vias: o que até certo ponto justifica as crueis repre-
salias que se commettem contra os navios portu-
guezcs. ])
Não havia declaração alguma de guerra; as rela-
ções diplomaticas não se tinham interrompido, e um
embaixador d'el-rei D. João III não duvidava levar
a sua condescendencia á ponto de assistir á uma ex-
travagante festividade, em que simulava-se um
combate naval terminado pelo incendio d'um navio
portuguez. As esquadras porém das duas nações
batiam-seno alto mar, como aconteceu a que capita-
neava Martim Aifonso, que aprisionou tres náos
francezas na altura do cabo de Santo Agostinho, e
Gaspar Gomes era detido dous mezes e meio no Rio
de Janeiro pelo commandante de um vaso d'essa
nação.
Factos de tamanha magnitude não serviam para
despertar o governo portuguez do seu somno lethar-
gico, e sabe Deos porquanto tempe nelle jazeria si
a França não pensasse em firmar seriamente o seu
172 ESTUDOS
10.
174 ESTUDOS
III
FUNDAÇÃO DO FORTE COLIGNY
IV
ALLIANÇA DOS FRANCEZES COM os INDIGENAS
v
PROCEDIMENTO DE VILLEGAGNON PARA COM os
CALVINISTAS
°
(1) No supracitado trabalho sustenta snr. Gaffarel que
Villegagnon era catholico quando partiu para ° Brazil. Ci-
temos suas proprias e auctorisadas palavras:
« Primeiro que tudo parece certo que Villegagnon quando
deixou a França para ir ao Brazil, ainda era catholico.
Talvez "1ue o levasse um tanto longe seu gosto pela contro-
versia religiosa, talvez que, para grangear as boas graças
do partido protestante, houvesse feito imprudentes revela-
ções; sua qualidade porém de cavalleiro de Malta impunha-
lhe prudente reserva j e por certo que não quereria, por
pretexto algum, malquistar-se com uma ordem tão pode-
rosa. Assim pois levou livros e ornamentos da igreja catho-
lica, fez-se acompanhar por padres e frades e até o derra-
deu'O momento assistiu as ceremonias do culto com a maior
regularidade. Si realmente só estivesse disposto a passar ao
Brazil « por zelo do calvinismo, e proporcionar seguro
ahrigo aos da sua religião,» teria o cuidado de só escolher
calvinistas para companheiros de viagem, e, apenas desem-
barcando n'America, aprcssar-se-hia de renunciar as prac-
ticas externas do catholicismo j ora, dois terços da sua gente
era catholica, e depois da sua chegada ao P~'azil seu amigo,
o frauciscano Thevet, celebrou reguJarmente o sacrificio da
missa, e até deu-lhe a communhão no dia de Natal. Logo
pode-se concluir, á despeito das asseverações odientas dos
escriptores protestantes, que Villegaguon era catholico
quando sahiu de França e calholico se conservou durante a
Sua estada no Brazil.»
188 ESTUDOS
VI
TOMADA DO FORTE COLIGNY. - ABANDONO
DO RIO DE JANEIRO
VII
VIII
FUNDAÇÃO DA. CIDADE DE s. SEBA.STIÃO. EXPULSÃO
DOS FRANCEZES
14.
246 ESTUDOS
II
CAUSAS DA NOVA INVASÃO FRANCEZA
III
EXPEDIÇAO DE DUGUAY-TROUIN
II
VERGONHOSA CAPITULAÇÃO
(1) Mons. Pizarro, Mem. Hist. elo Rio ele Janei7'o, 1.omo L
(2j Os jesuitas, que tinham-se sabido insinuar no animo
do almirante francez.
294 ESTUDOS
III
EPILOGO
BRAZIL HOLLANDEZ
BRAZIL HOLLANDEZ C)
INTRODUCÇAO -
FUNDA.ÇÃO
mesmo general.
(2) Eis o juizo que ácerca d'este mameluco forma o dis-
tincto historiador hollandez Netscher :
II Les motifs de sa défection du parti portugais ne sont
pas bien connnso Quoi qu'il en soit, il nous a été plns tard
d'une grande utilité par ses renseignements et par sa con-
naissanae du genre de guerre Iocale au Brésil. 11 était actif,
habile, entreprenant, jusqu'à la téméritéo"
(Les Bollatndais au B7 ésil, partia 2°0)
0
19.
334 ESTUDOS
II
PROSPERIDADE
m
DECADENCIA
20
350 ESTUDOS
IV
nUINA
II
23
398 ESTUDOS
A CARIOCA
A CARIOCA (1)
MEMORIA. HISTORICA. E DOCUMENTADA.
FIM
Png.