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Henry Farrell - O Que Tera Acontecido A Baby Jane
Henry Farrell - O Que Tera Acontecido A Baby Jane
***
Mitch Douglar
MITCH DOUGLAS é um agente literário veterano que representou
Tennessee Williams, Arthur Miller, Graham Greene, Kander e Ebb,
bem como os biógrafos Anne Edwards e J. Randy Taraborrelli e
vários outros luminares literários e teatrais em uma longa carreira na
International Creative Management (ICM) e agora com sua própria
agência literária, Mitch Douglas Literary and Theatrical, na cidade de
Nova York.
1908
1959
“Não me importo com o que meu pai diz. Estou apaixonado por
você, Meg. O que são todos os milhões de pessoas comuns ao lado
de um anjo como você?”
Ele era um jovem bem-vestido, com cabelo lustroso e escuro,
penteado bem rente à sua cabeça. Enquanto falava, sua
companheira, a garota loira com encantadores olhos fulminantes,
olhava para ele. Suas sobrancelhas, que não eram mais do que
meias-luas finamente desenhadas a lápis, levantavam-se
ligeiramente nos cantos interiores, dando a ela um olhar de dúvida
com mágoa. A luz da lua irradiava intensamente de algum lugar
atrás, aninhando-se em seu cabelo platinado em um halo perfeito.
Ela usava uma bata de organdi brilhante com enormes mangas
bufantes e uma saia que se abria amplamente a partir dos joelhos. A
música irrompia na noite mágica, assim como o próprio ar que os
rodeava. A canção — o tema deles — se chamava “O Luar na
Quinta Avenida”.
“Mas ele vai deixá-lo sem um centavo. Ai, Jeff, você nunca teve
que trabalhar para viver.”
O jovem, no entanto, tinha agora a força de seu amor, e ele
sorriu para mostrá-la. “Eu vou aprender a trabalhar por você, Meg.
Eu quero. Você vai ver… você vai ter orgulho de mim.”
A garota ergueu o olhar para o dele e, embora tivesse os olhos
úmidos, seu rosto estava tranquilo. “Mas não é tão simples. Você
nasceu para…” — seu movimento compreendeu a varanda de
gesso em que eles estavam, a mansão ao fundo, os acres de
gramado aparado, as fontes, as duas taças de champanhe pela
metade no corrimão — “… para tudo isto. Você consegue ao menos
imaginar como é morar em um apartamento com água fria?”
“Seria o paraíso… com você.”
“Ah, Jeff, seu pobre — e romântico — bobinho!”
Enquanto “O Luar na Quinta Avenida” tocava calmamente, eles
se abraçaram. Os olhos impetuosos se abriram e fecharam,
provavelmente em êxtase. Um saxofone gemeu. Os violinos, uma
centena deles, avolumaram a noite com uma vibração inebriante. E
então, como se tivessem sido banidos pelo enorme ruído, a
varanda, a mansão, e, finalmente, os próprios amantes
desapareceram de vista. Em seu lugar, apareceu um homem com
um sorriso tenso e círculos sob seus olhos…
“Desculpe por interromper este ótimo filme, amigos, mas vocês
vão ficar felizes por eu ter feito isso quando virem o que tenho aqui
para seu cachorro favorito!”
Movendo seu corpo confortavelmente expandido para a frente de
sua poltrona, a sra. Bates estendeu a mão e baixou o volume.
Sorrindo delicadamente com uma doce lembrança, ela olhou para
Harriett Palmer, sentada no outro lado da mesa de centro, no divã.
“Ah, eu lembro quando vi esse filme pela primeira vez, achei
simplesmente maravilhoso. Claude me levou… em um domingo à
tarde.” Ao ver que a xícara de café de Harriett estava vazia, ela se
levantou e a pegou. “Estava passando no antigo Majestic.”
Harriett Palmer sorriu agradavelmente e concordou com a
cabeça. “Eu acho que vi; não tenho certeza. Você se lembra quando
foi feito?”
A sra. Bates fez uma pausa na entrada do corredor. “Trinta e
quatro. Era o que dizia o programa no jornal.”
Quando ela voltou com a xícara reabastecida, aproximou-se de
Harriett e colocou-a na mesa diante dela.
“Sabe, acho que nunca perdi um filme de Blanche Hudson.” Ela
olhou para o aparelho a fim de se certificar de que ainda estavam
passando os comerciais. “Eu era tão fanática por ela, até o
momento em que sofreu o acidente. Ah, você se lembra quando foi
que isso aconteceu? Eu me senti tão mal, como se fosse alguém da
minha própria família.”
Harriett, tomando um gole do café, olhou para cima e concordou.
“Ah, eu sei. Ela era linda. Ainda acho isso.”
Mesmo com a luz tênue, a diferença entre as duas mulheres,
embora ambas no início de seus cinquenta anos, era
impressionante. A sra. Bates, com um rosto — e um corpo —
inegavelmente gordo, de alguma forma parecia um pouco mais
velha do que Harriett Palmer, que se manteve elegantemente
magra. Enquanto a sra. Bates tinha deixado a cor de seus cabelos
assumir uma tonalidade de um cinza prateado natural, Harriett
mudou o seu para um loiro lustroso e platinado. A sra. Bates usava
um vestido de ficar em casa largo com estampa de flores pálidas;
Harriett vestia calça preta justa e uma blusa de seda branca. A sra.
Bates havia acabado de se mudar para o oeste, vindo de Fort
Madison, Iowa. Harriett Palmer sempre vivera em Hollywood,
Califórnia.
Apesar de todas as suas diferenças, no entanto, era sabido que
as duas mulheres haviam se dado bem desde o primeiro dia da
chegada da sra. Bates em Hillside Terrace. A sra. Bates, viúva havia
menos de um ano, chegara à Califórnia para se afastar de todas as
vistas familiares de casa, que se tornaram apenas recordações
tristes de dias mais felizes antes da morte do marido. Harriett
Palmer era casada com um advogado corporativo que passava
muito tempo fora da cidade. Estando ambas um pouco
desestabilizadas, eram gratas pela companhia uma da outra. Como
faziam hoje, passavam muitas de suas noites assistindo à televisão
na aconchegante sala de estar da sra. Bates.
“Você já a viu?”, perguntou a sra. Bates. “Quero dizer, ela sai de
casa alguma hora?”
Harriett imediatamente negou com a cabeça. “Não que eu saiba.
Ah, eu já a vi de longe — claro, no carro, quando elas têm de ir a
algum lugar —, mas não a ponto de dizer como ela realmente é. Eu
acho que deve ter pelo menos cinquenta anos agora.”
A sra. Bates sorriu com uma leve hesitação. “Sabe — eu não
deveria contar isso sobre mim mesma —, mas, quando vi esta casa,
o que realmente me fez decidir comprá-la foi descobrir que Blanche
Hudson morava ao lado. Não é uma bobagem… para uma mulher
da minha idade? E eu nunca vi nem a sombra dela.”
“Bem”, Harriett sorriu, “isso dá à velha colina um toque de
glamour. Havia uma grande colônia de gente do cinema aqui
antigamente, mas ela é a única que permaneceu.”
A sra. Bates concordou. “Lá em Fort Madison — bem, você
nunca via nenhuma estrela de cinema, não em carne e osso.” Seu
olhar se dirigiu para a fileira de portas de vidro que cobriam, quase
totalmente, a parede leste da sala e a escuridão além. A casa das
Hudson, um absurdo em estilo mediterrâneo branco, de dois
andares, se erguia, sombria e fantasmagórica, no final do jardim.
“Ela pode andar?”
“Não sei. Acho que ouvi uma vez que ela havia recuperado
parcialmente o uso de uma das pernas. Mas, aparentemente, ela
ainda tem de ficar na cadeira de rodas o tempo todo.”
A sra. Bates fez um ruído suave de simpatia. “Eu adoraria
conhecê-la”, disse ela melancolicamente. “Uma verdadeira estrela
do cinema. Às vezes fico pensando…” Sua voz foi se apagando
levemente.
“Pensando em quê?”
“Ah, é apenas mais uma das minhas bobagens.” A sra. Bates se
voltou para sua visita. “Passo tanto tempo no jardim. Às vezes eu
estou lá e… bem, fico pensando se ela está me observando…” Ela
se interrompeu, dirigindo o olhar para o aparelho de televisão. “Ah, o
filme começou!” Ela se levantou com rapidez e aumentou o volume
novamente.
A garota loira e uma amiga estavam paradas em uma esquina
movimentada diante de uma lanchonete. À medida que a câmera se
movia para uma tomada média, ela consultou seu relógio de pulso e
depois olhou com ansiedade para a rua. Seu vestido era simples,
mas atraente, e seu cabelo refletia a luz do sol, como já havia
refletido a luz da lua, em um halo perfeito. A outra garota era menor
e mais corpulenta. Seu rosto parecia o de um querubim amuado e
um tanto cansado, deixando sua aparência cômica e triste ao
mesmo tempo. Seus cabelos escuros estavam presos em uma
profusão absurda de cachos. Seu vestido era espalhafatoso e de
mau gosto, e ela usava maquiagem em excesso nos olhos e na
boca. Quando a garota loira virou-se, ela arregalou os olhos de
maneira patética, em uma óbvia tentativa de conseguir um efeito
humorístico.
“Se eles não aparecerem logo”, disse a garota loira, “acho que
simplesmente não vamos comer.”
A morena concordou vigorosamente. “Você disse tudo. Temos
que voltar para o escritório em vinte minutos.”
“Bem, vamos dar mais cinco minutos a eles — e aí vamos.”
“Claro. Além do que, se nós vamos pagar, para que precisamos
de um homem?”
Harriett virou-se bruscamente para a frente, apontando para a
tela. “É ela!” disse. “A outra, quero dizer — ali! —, a irmã.”
A sra. Bates olhou, confusa. “A garota morena?”, perguntou.
“Sim. Você não se lembra? Estava no contrato de Blanche que
eles tinham de usar sua irmã em todos os seus filmes. Eu havia me
esquecido disso. Eles usaram isso em toda a sua publicidade.”
“Ah, sim! Sim, eu me lembro agora. Mas nunca soube qual era
ela. Pelo amor de Deus! Você a conheceu?”
“Ela?” Harriett olhou em volta com as sobrancelhas levemente
arqueadas. “Não é tão simples assim conhecê-la. Ela é muito
peculiar — estranha —, todos dizem isso.” Ela suspirou. “Às vezes,
fico pensando sobre as duas sozinhas, lá naquele casarão velho.
Elas nunca parecem fazer nada… nem recebem qualquer visita.
Deve ser horrível…”
A sra. Bates voltou o olhar para as portas de vidro e a noite
além. “É bonito, no entanto, que ela tenha ficado e cuidado de
Blanche todos esses anos. Deve ser uma boa pessoa para fazer
uma coisa assim.”
“Bem, talvez sim”, disse Harriett sombriamente, “talvez não.
Dizem que ela teve algo a ver com o acidente, sabe…”
A sra. Bates voltou os olhos bruscamente. “Ela? O acidente em
que Blanche se machucou?”
Harriett assentiu. “Havia uma história circulando na época sobre
como tinha acontecido. Esqueci exatamente como foi, mas ela
parece ter sido a responsável.”
“Ah, como poderia? Foi apenas um simples acidente de
automóvel, não?”
Harriett balançou a mão levemente, como quem diz para deixar
de lado. “Ah, sempre há histórias. Aqui, nesta cidade, quero dizer.
Não dá para dizer realmente no que acreditar.”
A sra. Bates concordou, pensativa. “Eu esqueci”, disse ela.
“Como é mesmo o nome dela? Você me falou uma vez, não?”
“Jane?”, perguntou Harriett. “O nome dela é Jane. Ela também
era famosa, pelo que eu saiba, quando era apenas uma garotinha.
Talvez você se lembre — eles a chamavam de Baby Jane Hudson.”
A sra. Stitt olhou para a porta trancada com uma onda crescente de
pânico. Fechando as mãos em punhos rígidos, ela bateu contra a
porta o mais forte que pôde.
“Srta. Blanche!”, gritou ela. “Srta. Blanche! Pode me ouvir? Srta.
Blanche!”
Sua voz, no entanto, foi absorvida por um silêncio macabro. Ela
se virou, tentando pensar no que deveria fazer. A srta. Blanche
estava drogada lá dentro, estava convencida disso. Era a cara de
Jane — bebendo como ela só — dar à pobre criatura um de seus
sedativos e depois sair, deixando a irmã sozinha. Era perverso…
criminoso!
Com um ar de súbita decisão, pegou a bandeja do café da
manhã, levou-a para a galeria e desceu a escada. Havia tomado
uma decisão: abriria aquela porta ainda que demorasse todo o dia e
metade da noite. E se Jane Hudson entrasse e a pegasse fazendo
isso, a coisa ia ficar bem feia — para Jane Hudson.
Ela entrou na cozinha e colocou a bandeja sobre a mesa diante
da pia, depois foi até a gaveta de ferramentas sob o armário e a
abriu. Pegou um martelo, o maior e mais pesado que havia, e uma
grande chave de fenda. Armada desses apetrechos, saiu
rapidamente da sala e voltou para a escada. De uma forma ou de
outra, disse a si mesma, com firmeza, que aquela porta seria aberta.
Tinha vomitado, ela se lembrava disso. Foi o leite frio que a deixou
enjoada. Seu estômago reagiu imediatamente. Primeiro as cólicas
terríveis; depois, a ânsia de vômito. Mãos a levantaram e tentaram
acalmá-la. E, quando o episódio passou, essas mesmas mãos a
ajudaram a se deitar novamente no cobertor dobrado. Agora,
conseguindo abrir os olhos por um momento, viu Jane olhando para
ela com uma curiosa expressão de confusão.
Não pôde evitar irromper em lágrimas; não tinha mais nenhum
controle sobre si. Parecia se afastar de si mesma, com vergonha e
aflição, enquanto implorava a Jane por sua vida.
“Leve-me para casa!”, chorou ela. “Oh, Jane, Jane… eu não
aguento mais isso! Estou com medo… muito medo…”
A parte dela que permanecia distante balançou a cabeça em
severa negação: não importa. Não tem a menor importância se você
está com medo ou não. Você causou isso a si própria e não há nada
que possa fazer para impedir agora.
Mas sua voz continuou a choramingar. “Por favor, Jane, não me
deixe morrer… não aqui! O calor está tão terrível…”
A expressão de Jane ficou ainda mais triste, como se também
escutasse uma segunda voz dentro de si. “Eu não deveria ter trazido
você”, disse ela. “Eu… eu não queria estar sozinha… quando eles
me encontrassem. Não queria machucar ninguém… nunca… eu não
sabia…” Sua voz sumiu em um suspiro de desespero.
“Me ajude”, sussurrou Blanche. “Você precisa!” Ela tentou se
aproximar, mas sua mão se recusou a se mexer. Tinha que fazer
Jane entender. Ela precisava, antes que fosse tarde demais. “Jane,
me escute…”
“Eu não quis fazer isso…”, murmurou Jane.
“Vá e traga ajuda”, implorou Blanche. “Jane, por favor…” Jane
ainda olhava para ela, mas em seu rosto não havia sinal de outra
coisa a não ser sua própria angústia. “Jane, você precisa! Se não
fosse por você…”
Não! A parte mais escondida de si mesma se manifestou de
repente, gritando furiosamente: Não, você não pode mais mentir!
Não agora. Você deve dizer a verdade. Isso é tudo que importa
agora. Você precisa…!
E então foi como se tivesse se reunido com seu outro eu, dentro
de si. Não estava mais com medo, e, olhando para Jane, sentia
apenas uma pena e um arrependimento esmagadores.
“Jane… Jane, me escute”, disse ela. “Você precisa escutar…”
Mas o rosto de Jane parecia, estranhamente, estar
desaparecendo de vista. Um momento estava lá, delineado no
vermelho incansável do sol escaldante, e no seguinte ele se
dissolvia em um borrão inexpressivo. Ou será que alguma vez
realmente esteve lá? Era possível que isso fosse apenas uma ilusão
histérica… parte de algum delírio final. Mas isso não importava.
Tudo o que importava agora era que ela tivesse tempo para falar a
verdade… mesmo, se fosse necessário, num sonho alucinatório.
“Eu preciso contar a você”, disse ela. “Jane… não foi do jeito que
você se lembra… a noite do acidente.”
E então tudo foi despejado torrencialmente, e ela não podia
impedir, mesmo que quisesse. “No caminho de casa, naquela noite,
você adormeceu… desmaiou… ao volante. Consegui fazer o carro
parar e… troquei de lugar com você. Quando chegamos aos
portões, eu a acordei e fiz você sair para abri-los. Eu já estava com
raiva e quando vi você parada ali, na luz, toda atrapalhada… de
repente, fiquei tão cheia de ódio…”
Uma voz pareceu protestar, uma voz baixa, tremendo e
assustada. “Não, Blanche, não…!”
“Você se lembrou, não foi? Os filmes antigos fizeram você se
lembrar.”
“Não. Eu… sim… acho que eles devem ter feito isso.
Ultimamente… Houve momentos em que eu parecia me lembrar.
Você sempre me odiou… eu sabia disso.”
“Sim, sempre. Quando eu era criança, ouvia repetidamente
como você era inteligente, famosa, como eu tinha que agradecer por
tudo, pelas roupas que eu usava, pela comida que eu comia. E eu
odiava que papai quisesse estar apenas com você… sempre me
mandando para algum lugar…”
“Eu… eu não quero ouvir!”
“Quando assinei com o estúdio, pedi para colocar aquela
cláusula como vingança. Papai estava morto… e você teve todo o
amor e a atenção que ele pôde dar a qualquer uma de nós. Eu sabia
o que isso faria com você, viver da minha caridade; eu tinha vivido
da sua por tempo suficiente. Mas… então… naquela noite… você
estava na luz e eu estava atrás do volante. Realmente não sei o que
passou pela minha cabeça… coloquei meu pé no acelerador…”
“Não, não! Eu… eu pensei que tinha só sonhado com isso!”
“O carro correu para a frente. Você se virou e… por apenas um
momento… havia um olhar horrível em seu rosto. E então você
cambaleou… ou caiu. De qualquer forma, você desapareceu no
escuro. E então o carro bateu no portão.”
“Quando tudo acabou e eu sabia que tinha me machucado, gritei
por você, mas você tinha fugido… desaparecido… De alguma
forma, consegui sair do carro e procurar ajuda. Eles me disseram
mais tarde… quando encontraram você… que você tinha entrado
em choque, e não se lembrava. E então, quando descobri o que
todos pensavam… decidi deixá-los continuar a pensar. Eles me
disseram que você precisava de ajuda… mas eu disse que não
poderia sujeitá-la à vergonha de um exame mental.”
“Oh, Blanche!…”
“Joguei sua vida fora, Jane. Sem a culpa, a falsa culpa que lhe
dei… com a competição entre nós terminada… você poderia ter tido
uma vida feliz… até mesmo um marido, talvez… e filhos. Mas tudo
estava acabado para mim, e eu queria que estivesse acabado para
você também…”
O resto veio em um suspiro prolongado. “Foi tudo minha culpa…
a sra. Stitt… tudo isso. Eu sou a culpada.”
Ela fez uma pausa, esperando uma resposta. Mas não houve
nenhuma. Então, sentindo um movimento à sua direita, ela se virou
naquela direção.
“Jane?” Ela conseguiu se forçar a abrir os olhos, mas tudo o que
via era um borrão ardente. “Jane? Você escutou…?”
Havia lágrimas em suas bochechas, lágrimas quentes e ácidas
de remorso. Ela realmente tinha falado ou era apenas uma ilusão?
Teria finalmente conseguido se livrar da terrível verdade?
“Me perdoe, Jane…” Se havia imaginado aquilo ou não, uma
mão pareceu tocar a dela, levemente, bem de leve, e depois soltar.
Ela se deitou, apoiando a cabeça no cobertor, deixando o som da
multidão… e do oceano… crescer e se apagar ao seu redor…
FIM
CONTOS
HENRY FARRELL
O QUE TERÁ ACONTECIDO À
PRIMA CHARLOTTE?
HENRY FARRELL
Diretor Editorial
Christiano Menezes
Diretor Comercial
Chico de Assis
Editores
Bruno Dorigatti
Raquel Moritz
Editores Assistentes
Lielson Zeni
Nilsen Silva
Designer Assistente
Aline Martins/Sem Serifa
Revisão
Marlon Magno
Maximo Ribera
Farrell, Henry
O que terá acontecido a Baby Jane? / Henry Farrell ;
tradução de Mariana Moreira. — Rio de Janeiro :
DarkSide Books, 2019.
ISBN: 978-65-5598-048-6
Título original: What Ever Happened to Baby Jane?
[2019]
Todos os direitos desta edição reservados à
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