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5 - FUNDAMENTOS DO PASTOREIO ANIMAL

O pastoreio animal é uma prática que envolve o maneio de animais em áreas de pastagem para
aproveitamento de seu potencial produtivo. Os fundamentos do pastoreio animal são baseados em
conhecimentos sobre os animais, a vegetação e o ambiente em que estão inseridos.

Durante o crescimento, é necessário que a forrageira receba água, energia luminosa e nutrientes e os
transforme em tecido vegetal. Para que isso ocorra eficientemente, a escolha de espécies mais
adaptadas às condições edafoclimáticas (clima e solo) é fundamental.
Os ecossistemas de pastagens cultivadas são incapazes de autossustentação, já que parte de seus
nutrientes é consumida pelos animais. Eles ingerem aproximadamente 30% da produção primária e
excretam uma porção dos nutrientes consumidos, provocando efeitos negativos e positivos sobre as
plantas. Entre os impactos negativos estão a redução da área foliar causada pela remoção dos
meristemas apicais e a diminuição de nutrientes (realocados para as folhas para repor as perdas
teciduais). Os efeitos positivos incluem o aumento da penetração de luz no dossel, a remoção de folhas
velhas, o aumento na proporção de folhas novas e a ativação dos meristemas na base do caule e dos
rizomas.

5.1- Particularidades da digestão dos ruminantes

A digestão dos alimentos pelos ruminantes compreende, uma extensa fermentação microbiana em
condições de anaerobiose, o que lhes permite uma apreciável utilização de celulose e de hemiceluloses.
A fermentação microbiana no rúmen determina a adaptação e superioridade dos ruminantes na
utilização de alimentos com elevada participação de componentes da parede celular, mas determina
também uma acrescida perda de calor, produção e perda de metano, as quais contribuem para uma
certa ineficiência energética, o que por outro lado conduz a que os ruminantes sejam menos eficazes a
converter alimentos concentrados em produtos zootécnicos.

5.2- Necessidades alimentares

As necessidades alimentares dos ruminantes a que deve se prestar mais atenção quando projectamos ou
gerimos a utilização dos recursos forrageiros, são as necessidades em energia e em proteína. Da
fracção mineral, podemos destacar o Ca, o P e o Mg. As necessidades diárias dos animais dependem
de diversos factores como sejam a espécie animal (bovinos, ovinos ou caprinos), o sexo, o peso ou
tamanho do animal, o seu estado fisiológico (crescimento, gestação ou lactação) e, em grau elevado,
do seu nível de produção.
Os nutrientes que os animais necessitam diariamente têm de ser satisfeitos
pela ingestão de uma certa quantidade de alimentos (kg MS/dia), com diferentes concentrações de
energia e nutrientes e com diferente eficácia de aproveitamento pelo animal (digestibilidade e
utilização metabólica).

5.3- Valor nutritivo e valor alimentar de forragens e pastagens

Do ponto de vista dos nutricionistas e agrostologistas, O valor nutritivo de uma forragem se refere às
suas características nutricionais. Trata se da composição química da forragem e sua digestibilidade, O
valor nutritivo da forragem pode ser bastante diferente para as diversas espécies forrageiras e partes da
planta. O valor nutritivo da forragem é dependente da fração predominante nas plantas forrageiras, tais
como folhas, colmos ou hastes e inflorescências. Desta maneira, as folhas são responsáveis pelo maior
acúmulo de proteína bruta e menor fração de fibras, os colmos ou hastes e bainhas foliares evidenciam
maior fração fibrosa e menor digestibilidade. Por outro lado, o mais baixo valor nutritivo das
forrageiras tropicais, comparado às de clima temperado, está relacionado ao reduzido teor de proteína e
minerais e ao alto conteúdo de fibras o que está associado às condições climáticas (precipitação,
intensidade luminosa, temperatura, etc). À medida que a idade fisiológica da planta avança, aumentam
as porcentagens de celulose, e hemicelulose, lignina, reduzindo assim a proporção dos nutrientes
potencialmente digestíveis (carboidratos solúveis, proteínas, minerais e vitaminas), o qual representa
uma queda acentuada na digestibilidade. O valor nutritivo das plantas forrageiras é altamente
influenciado pela composição química, assim como pela digestibilidade e pelo consumo do animal, ou
Eficiência energética.
Valor alimentar se refere à sua capacidade de suplementar a alimentação animal .
Qualidade de forragem: refere-se ao consumo de energia digestível. Fatores que interferem na
qualidade são : A Espécie forrageira, Idade da planta, Fertilidade do solo e Fatores ambientais.
a. Espécie forrageira: Mesmo que as plantas cresçam, nas mesmas condições ambientais, elas
diferem amplamente em sua composição química. Em geral, as leguminosas são mais ricas em
proteína bruta, cálcio e fósforo do que as gramíneas;
b. Meio ambiente: Em um amplo sentido, o meio ambiente não inclui apenas os fatores
climáticos, como umidade, temperatura, luminosidade e condições edáficas mas também, os fatores
bióticos, como é o caso do pastejo pelos animais, as pragas e as doenças, além do uso dos fertilizantes
e das queimadas, os quais influenciam a produção e a qualidade da forragem;
c. Estádio de desenvolvimento da planta: Com o crescimento das plantas, ocorrem alterações
nos tecidos, que resultam no aumento dos teores de celulose, hemicelulose e lignina, causando redução
dos níveis de conteúdo celular, como carboidratos solúveis, proteína, minerais e vitaminas. Além
disso, é importante lembrar que ocorrem modificações na estrutura das plantas, com considerável
elevação da relação caule/ folha.

O maneio adequado das pastagens é importante para garantir a qualidade e o valor nutricional das
forragens utilizadas na alimentação animal.

5.4- Composição química


A composição e análise química das forragens permitem avaliar a proporção dos diferentes nutrientes
e estimar a eficiência com que os animais os podem utilizar.

Figura - Esquema da composição/análise química de uma forragem ( (Moreira, 2002))

De facto, quer o teor em água, quer os teores em proteína, glúcidos não


estruturais, lípidos e minerais, conteúdos celulares de elevada digestibilidade,
reduzem-se progressivamente com o avançar da maturação, e, pelo contrário,
os constituintes das paredes celulares, hemiceluloses, celulose e lenhina, de
mais difícil (ou nula) digestão, crescem progressivamente ao longo dos estados
de desenvolvimento. 60 % do conteúdo celular é constituído por amidos, proteínas, lipídios, açúcares,
minerais, bem como 40 % refere-se à parede celular composta por celulose, hemicelulose e lignina. No
período reprodutivo, as proporções são inversas e há uma redução desses teores ao decorrer dos
estádios fenológicos de desenvolvimento. As dinâmicas metabólicas das plantas em conjunto com a
forma como a forragem é manejada podem determinar a qualidade nutricional da forragem. O
principais elementos quimicos presente nas plantas forrageiras são :

a. PROTEÍNAS

O suprimento das necessidades nutricionais dos animais depende da proteína oriunda da dieta, pois
estas atuam na microbiota ruminal ou na fermentação no rúmen. Nas plantas forrageiras, a magnitude
da proteína verdadeira depende do estádio fenológico de desenvolvimento.

b. CARBOIDRATOS

Caracterizam-se como os principais constituintes das plantas e correspondem a 60-80 % da matéria


seca. Desta forma, são considerados os nutrientes mais importantes para a produtividade das espécies
forrageiras. Atuam na transferência e no armazenamento de energia e são componentes da parede
celular das plantas. Os carboidratos são classificados em estruturais, que correspondem a 30 a 80 % do
total, representam a parede celular, a pectina, a hemicelulose, a celulose e a lignina (polímero fenólico
que se associa aos carboidratos não estruturais). Os carboidratos não estruturais correspondem ao
conteúdo celular, à glicose, à frutose, ao amido, à sacarose e aos demais dissacarídeos, sendo estes
acumulados em tecidos de reserva.

c. LIPÍDEOS

Apresentam grande importância para as espécies forrageiras (triglicerídeos e glicolipídios), ceras,


pigmentos, ácidos orgânicos e óleos essenciais. Estes elementos encontram-se em menores
quantidades nas plantas, mas agem especificamente na proteção e na palatabilidade da forragem.

d. Minerais

Não são considerados fontes de energia para os animais, mas reúnem 17 elementos essenciais ao
organismo animal. A composição varia conforme o estádio fenológico de desenvolvimento da planta,
tipo de solo, adubação, espécie forrageira, características do genótipo, estação, ano agrícola, número e
intensidade de desfolha. A menor concentração de minerais na planta pode ser decorrente da carência
de elementos no solo e da baixa eficiência no armazenamento destes elementos nos tecidos da planta.

5.5- Digestibilidade e valor energético

1. digestibilidade

Um dos principais indicadores da eficiência com que uma dada forragem é utilizada pelos animais é a
digestibilidade, a qual significa a proporção do alimento ingerido que não é excretado nas fezes ou
então a capacidade do alimento em disponibilizar os nutrientes para os animais. A digestibilidade
pode-se reportar a um qualquer nutriente, à totalidade da forragem ou à energia do alimento. Existe
alguns factores que afectam a digestabilidade de alimentos dentre eles : A espécie animal, a capacidade
fermentativa dos animais, a composição quimica da forragem.

2. Valor Energético
O termo qualidade da forragem é empregado como sinônimo de valor nutritivo. Todavia, tal defnição
não é correta ( Reis et al. , 2016). A qualidade da forragem pode ser defnida como o potencial do
desempenho animal, sendo diretamente relacionado com a disponibilidade da forragem, consumo de
energia digestível, composição química, digestibilidade e natureza dos produtos da digestão. Por outro
lado, o valor nutritivo é defnido pela concentração e digestibilidade dos nutrientes, e pelos produtos
gerados pela digestão. Portanto, a qualidade da forragem é dependente do valor nutritivo, associado
com o consumo, o que resulta na produção animal.

O valor energético de um pasto pode ser calculado a partir da análise de sua composição química, que
inclui a determinação dos teores de proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente
ácido, matéria seca e outros nutrientes. A partir desses dados, é possível utilizar equações para estimar
a quantidade de energia disponível na forragem, como a energia digestível (ED), a energia
metabolizável (EM) e a energia líquida (EL), que são expressas em Megajoules por quilo (MJ/kg) ou
em unidades de forragem (UF).

A energia digestível (ED) é a energia contida nos nutrientes que podem ser digeridos pelos animais e
disponibilizados para o metabolismo. Já a energia metabolizável (EM) é a energia que efetivamente
fica disponível para o animal após as perdas energéticas decorrentes da digestão, absorção e
metabolismo dos nutrientes. A energia líquida (EL) é a energia disponível para produção de leite ou
ganho de peso, que leva em consideração o gasto energético para manutenção do animal. Para calcular
o valor energético do pasto, é preciso realizar uma amostragem representativa do capim em diferentes
épocas do ano e submetê-la à análise química em laboratório, que fornecerá os dados necessários para
a estimativa da energia disponível. O cálculo pode ser feito manualmente ou por meio de softwares
especializados em nutrição animal, que consideram as necessidades específicas do rebanho e as
condições do ambiente em que os animais estão sendo criados.

Figura 1 - Variáveis que influenciam a qualidade da forragem

Fonte: ( Reis, Barbero, & Alvair , 2016), Impactos da qualidade da forragem em sistemas de produção de bovinos de corte,
p.2.

3. Ingestibilidade
A ingestibilidade forrageira é a capacidade de um animal herbívoro consumir e digerir uma
determinada planta forrageira. É uma medida da facilidade com que o animal pode extrair nutrientes de
uma planta e convertê-los em energia. A ingestibilidade forrageira é influenciada por vários fatores,
como o teor de fibra, a quantidade de lignina, a idade da planta, o clima e a nutrição animal. Plantas
forrageiras com alta ingestibilidade são aquelas que são facilmente consumidas e digeridas pelos
animais, enquanto plantas com baixa ingestibilidade podem ser menos palatáveis e/ou menos
digestíveis.
Os valores da ingestibilidade das forragens podem ser encontrados em tabelas, expressos em gramas
de alimento ingerido por quilograma de peso metabólico do animal, ou em unidades adicionais que
resultam da adopção de uma forragem padrão de referência com a qual são comparados os valores de
ingestão das outras forragens.

5.6- Composição florística e pastoreio selectivo

Os animais têm diferente capacidade de seleccionar, sendo os caprinos mais selectivos que os ovinos e
estes mais que os bovinos, mas outras condições influenciam o pastoreio selectivo, como a experiência
de pastoreio dos animais, as condições ambientais, a disponibilidade relativa de erva e a pressão de
pastoreio.
O pastoreio selectivo se por um lado permite que o animal consuma uma dieta de valor nutritivo mais
elevado do que a erva disponível, o que é uma vantagem de curto prazo para a produção animal, por
outro lado conduz à redução do valor nutritivo da erva da pastagem rejeitada, à sua senescência e
perda, ou a efeitos negativos na composição florística como seja a progressiva invasão de espécies de
menor valor ou mesmo indesejáveis.

5.7- Pisoteio, atascamento, dejecções e reciclagem de nutrientes

O pisoteio, resultante da pressão das patas dos animais sobre a vegetação e sobre o solo, afecta
diferentemente as espécies conforme a sua maior ou menor susceptibilidade, sendo os efeitos mais
pronunciados com cargas mais elevadas.

Quando o solo se encontra encharcado, com excesso de água, as patas dos animais enterram-se,
cortando folhas e raízes, destruindo caules individuais e meristemas, e enlameando a vegetação.

Para além destes efeitos os animais em pastoreio dejectam fezes e urina, as quais provocando algum
efeito de rejeição parcial da erva afectada, representam sobretudo uma importante reciclagem de
nutrientes a ter em conta, já que a exportação de nutrientes nos produtos animais é bem inferior à
excretada.

A principal característica desta reciclagem de nutrientes nas dejecções é a sua desigual e heterogénea
distribuição na área da pastagem, fazendo com que as sub-áreas mais directamente atingidas recebam
quantidades unitárias muito elevadas de nutrientes, podendo chegar a ser excessivas para a vegetação e
determinarem perdas, em detrimento de outras áreas não “beneficiadas”.
Anexo 01- PERGUNTAS PARA REVISÃO

5 - FUNDAMENTOS DO PASTOREIO ANIMAL

1. que é o pastoreio animal e em que ele se baseia?


2. Quais são os fundamentos do pastoreio animal?
3. O que é necessário para que a forrageira cresça eficientemente?
4. Por que a escolha de espécies adaptadas às condições edafoclimáticas é fundamental?
5. Por que os ecossistemas de pastagens cultivadas não são autossustentáveis?
6. Quais são os impactos negativos e positivos do consumo de nutrientes pelos animais nas
plantas?
7. Quais são as três fases distintas nos sistemas de produção animal a pasto?
8. Como ocorre o crescimento das plantas durante o pastoreio?

5.1-PARTICULARIDADES DA DIGESTÃO DOS RUMINANTES

1. que é fermentação microbiana e como ela ocorre no rúmen dos ruminantes?


2. como os ruminantes são capazes de utilizar celulose e hemiceluloses de forma eficiente?
3. Quais são as desvantagens da fermentação no rúmen e como isso afeta a conversão de
alimentos concentrados em produtos zootécnicos?
4. Como podemos melhorar a eficiência energética dos ruminantes e reduzir a produção de
metano?
5. O que significa dizer que os ruminantes são menos eficazes na conversão de alimentos
concentrados em produtos zootécnicos?

5.2- NECESSIDADES ALIMENTARES

1. Quais são as necessidades alimentares mais importantes dos ruminantes?


2. Quais minerais são destacados no texto como importantes para a nutrição dos ruminantes?
3. O que influencia as necessidades diárias de nutrientes dos animais?
4. Como os nutrientes necessários pelos animais são obtidos?
5. O que significa a digestibilidade e a utilização metabólica dos nutrientes e como isso afeta a
nutrição dos animais?

5.3- VALOR NUTRITIVO E VALOR ALIMENTAR DE FORRAGENS E PASTAGENS

1. O que é valor nutritivo e valor alimentar de forragens e pastagens?


2. Quais são os fatores que influenciam a qualidade da forragem?
3. Como é possível avaliar a composição química das plantas forrageiras?
4. Quais são os fatores que podem afetar a composição química da forragem?

5.4-COMPOSIÇÃO QUÍMICA

1. Como o teor de proteína e outros nutrientes na planta forrageira mudam com a maturação?
2. O que compõe a parede celular da planta e como isso muda com a maturação?
3. O que determina a qualidade nutricional da forragem?
4. Quais são os principais elementos químicos presentes nas plantas forrageiras?
5. Qual a importância de proteínas e carboidratos para as espécies forrageiras?
6. Como os lipídios afetam a forragem?
7. O que afeta a composição mineral das plantas forrageiras?
8. O que é digestibilidade e como ela é medida?
9. O que é Valor energético?
10. O que é A qualidade da forragem?
11. Quais são alguns fatores que afetam a digestibilidade dos alimentos?
12. Qual é a diferença entre qualidade da forragem e valor nutritivo?
13. O que é a ingestibilidade de uma forragem?
14. Quais são os fatores que afetam a ingestibilidade de uma forragem?
15. Como os valores de ingestibilidade são expressos e comparados na avaliação de forragens?

5.6-COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E PASTOREIO SELECTIVO

1. Quais animais são mais seletivos em relação ao pastoreio?


2. Além da capacidade de seleção dos animais, quais outras condições influenciam o pastoreio
seletivo?
3. Quais são os efeitos negativos do pastoreio seletivo na composição florística da pastagem?
4. Qual é a vantagem de curto prazo do pastoreio seletivo para a produção animal?

5.7-PISOTEIO, ATASCAMENTO, DEJECÇÕES E RECICLAGEM DE NUTRIENTES

1. Como o pisoteio dos animais afeta as espécies da vegetação?


2. O que acontece quando o solo está encharcado e os animais pisoteiam a vegetação?
3. Qual é a importância da reciclagem de nutrientes através das fezes e urina dos animais em
pastoreio?
4. Como a distribuição heterogênea das fezes e urina dos animais pode afetar a vegetação?

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