Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Bruno Hott
UFOP
2020
Teorema é uma sentença matemática que é verdadeira e pode ser verificada como tal.
Teoremas são compostos por um conjunto de hipóteses, que são assumidas como
verdadeiras a priori e uma conclusão.
Instância de um teorema é uma atribuição de valores às suas variáveis.
Prova ou Demonstração de um teorema consiste de uma verificação que mostra que o
teorema em questão é verdadeiro para todas as possíveis instâncas deste.
Contra-exemplo. Para mostrar que um “teorema” é inválido basta apresentar uma
instância que o torna falso.
Note:
As hipóteses (premissas) foram respeitadas!
Note:
Teoremas possuem a mesma estrutura de sequentes da dedução natural (Γ ` α). Na verdade,
todos os sequentes que demonstramos em aulas anteriores são teoremas! Nesta aula
utilizaremos a dedução natural para demonstrar a validade de sentenças quaisquer da
matemática.
Bruno Hott (UFOP) Demonstração de Teoremas 2020 3 / 40
Técnicas de Demonstração de Teoremas
Estratégias de Prova
α→β=α`β
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
a, b ∈ R 0 < a < b → a2 < b2
0<a<b a2 < b2
a<b
a2 < ab
ab < b2
Texto:
Suponha que a, b ∈ R. Suponha que 0 < a < b.
Como 0 < a < b, temos que a, b > 0 e a < b.
Como a > 0 e a < b, temos que a2 < ab.
Como b > 0 e a < b, temos que ab < b2 .
Como a2 < ab e ab < b2 , temos que a2 < b2 .
Portanto, se 0 < a < b então a2 < b2 .
Estratégias de Prova
α→β=α`β
α → β = ¬β → ¬α
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
a, b, c ∈ R ac ≤ bc → c ≤ 0
a>b ¬(ac ≤ bc)
¬(c ≤ 0) ac > bc
c>0
Texto:
Sejam a, b, c ∈ R tais que a > b.
Suponha que c > 0.
Como a > b e c > 0 temos que ac > bc.
Portanto, se ac ≤ bc então c ≤ 0.
Estratégias de Prova
α→β=α`β
α → β = ¬β → ¬α
¬α = α → ⊥
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x2 + y = 13 x2 + y = 13 ∧ y 6= 4 → x 6= 3
y 6= 4 x 6= 3
x=3 ¬(x = 3) ≡ (x = 3) → ⊥
32 + y = 13 ⊥
y=4
Texto:
Suponha que x2 + y = 13 e que y 6= 4.
Suponha que x = 3.
Como x2 + y = 13 e x = 3, temos que y = 4.
Como y 6= 4 e y = 4, temos uma contradição.
Logo, x 6= 3.
Portanto, se x2 + y = 13 e y 6= 4 então x 6= 3.
Estratégias de Prova
α→β=α`β
α → β = ¬β → ¬α
¬α = α → ⊥
¬α =?
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x, y ∈ N x2 + y = 13 → ¬(x 6= 3 ∧ 4)
x2 + y = 13 ¬(x 6= 3 ∧ y = 4)
y=4 x = 3 ∨ y 6= 4
x2 + 4 = 13 y 6= 4 ∨ x = 3
x2 = 9 y=4→x=3
x=3
Texto:
Suponha que x2 + y = 13 e que y = 4.
Como y = 4 e x2 + y = 13, temos que x = 3.
Portanto, se x2 + y = 13 então não é verdade que x 6= 3 e y = 4.
Note:
A manipulação algébrica que transformou a negação em uma implicação não é sequer citada
no texto da demonstração. Manipulações algébricas sobre fórmulas da lógica devem apenas
fazer parte do rascunho, nunca da demonstração final de um teorema.
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
P →Q→R ¬R → (P → ¬Q)
¬R P → ¬Q
P ¬Q
Q→R
¬R → ¬Q
Texto:
Suponha que P → Q → R.
Suponha que ¬R.
Suponha que P .
Como P → Q → R e P , temos que Q → R.
Como Q → R e ¬R, temos que ¬Q.
Logo, P → ¬Q.
Assim, ¬R → (P → ¬Q).
Portanto, ¬R → (P → ¬Q).
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x arbitrário ∀x.x ∈ R → x > 0 → ∃y.y ∈ R ∧ y(y + 1) = x
x∈R x ∈ R → x > 0 → ∃y.y ∈ R ∧ y(y + 1) = x
x>0 x > 0 → ∃y.y ∈ R ∧ y(y + 1) = x
∃y.y ∈ R ∧ y(y + 1) = x
∃y.y ∈ R ∧ y 2 + y − x = 0
∆ = 1 − 4 · 1 · (−x)
√
−1 ± 1 + 4x
y=
2
Suponha x arbitrário
Suponha que x ∈√ R e x > 0.
Seja y = −1+ 21+4x
y(y + 1) =
√ √
−1+ 1+4x −1+ 1+4x
2 2
+1 =
√ √
−1+ 1+4x
2
· −1+ 1+4x+2
2
=
√ √
−1+ 1+4x 1+ 1+4x+2
2
· 2
=
1+4x−1
4
=
4x
4
=
x
Logo, existe y tal que y(y + 1) = x.
Logo, se x ∈ R e x > 0 então existe y tal que y(y + 1) = x
Como x é arbritário temos que se x > 0 então existe y tal que y(y + 1) = x.
Bruno Hott (UFOP) Demonstração de Teoremas 2020 21 / 40
Técnicas de Demonstração de Teoremas
Divisibilidade
Sejam a, b ∈ Z. Dizemos que a divide b, a|b, se ∃k.k ∈ Z ∧ ka = b.
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
a, b, c, k1 , k2 são arbitrários ∀a, b, c ∈ Z → a|b ∧ b|c → a|c
a, b, c, k1 , k2 ∈ Z a|b ∧ b|c → a|c
a|b a|c
∃k1 .k1 ∈ Z ∧ k1 a = b ∃k.k ∈ Z ∧ ka = c
b|c k = k1 k2
∃k2 .k2 ∈ Z ∧ k2 b = c
k1 a = b
k2 b = c
k1 k2 a = c
Texto:
Suponha a, b e c arbitrários.
Suponha que a, b, c ∈ Z, a|b e b|c.
Seja k = k1 k2 .
Como a|b, temos que existe k1 tal que k1 a = b.
Como b|c, temos que existe k2 tal que k2 b = c.
Assim, temos que k1 k2 a = c.
Logo, a|c.
Logo, se a, b, c ∈ Z, a|b e b|c então a|c.
Como a, b e c são arbitrários, temos que para todo a, b e c se a|b e b|c então a|c.
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
n, m ∈ Z, arbitrário n é par ↔ n2 é par
n é par n é par → n2 é par
∃m.m ∈ N ∧ n = 2m n2 é par
n = 2m ∃k.n2 = 2k
n2 = 4m2 k = 2m2
¬(n é par) n2 é par → n é par
n é ímpar ¬(n2 é par)
∃m.m ∈ N ∧ n = 2m + 1 n2 é ímpar
n = 2m + 1 ∃k.n2 = 2k + 1
n2 = 4m2 + 4m + 1 k = 2m2 + 2m
n2 = 2(2m2 + 2m) + 1
Suponha n ∈ Z.
(→): Suponha n é par.
Como n é par, temos que n = 2m.
Seja k = 2m2 . Temos:
2k = 2 · 2m2 = 4m2 = (2m)2 = n2
Logo, n2 é par.
Logo, se n é par, n2 é par.
(←): Suponha que n é ímpar.
Como n é ímpar, temos que n = 2m + 1.
Seja k = 2m2 + 2m. Temos:
2k + 1 = 2(2m2 + 2m) + 1 = 4m2 + 4m + 1 = (2m + 1)2 = n2
Logo, n2 é ímpar.
Logo, se n2 é par, n é par.
Portanto, se n ∈ Z então n é par se e somente se n2 é par.
Bruno Hott (UFOP) Demonstração de Teoremas 2020 27 / 40
Técnicas de Demonstração de Teoremas
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x∈R |x − 3| > 3 → x2 > 6x
|x − 3| > 3 x2 > 6x
caso 1: (x − 3 ≥ 0) x2 > 6x
x−3>3
x>6
x2 > 6x
caso 2: (x − 3 < 0) x2 > 6x
3−x>3 +>−
−x > 0
x<0
Texto:
Suponha x ∈ R, arbitrário.
Suponha que |x − 3| > 3.
Caso 1: x − 3 ≥ 0.
Como x − 3 ≥ 0, temos que |x − 3| = x − 3.
Como |x − 3| = x − 3 e |x − 3| > 3, temos que x > 6.
Como x > 6, temos que x2 > 6x.
Caso 2: x − 3 < 0.
Como x − 3 < 0, temos que |x − 3| = 3 − x.
Como |x − 3| > 3 e |x − 3| = 3 − x, temos que x < 0.
Como x < 0, temos que x2 > 6x.
Como os casos cobrem todas as possibilidades, temos que x2 > 6x.
Logo, se |x − 3| > 3 então x2 > 6x.
Logo, se x ∈ R então se |x − 3| > 3 então x2 > 6x.
Bruno Hott (UFOP) Demonstração de Teoremas 2020 30 / 40
Técnicas de Demonstração de Teoremas
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x é arbitrário ∀x.x ∈ Z → x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod 4 = 1
x∈Z x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod 4 = 1
x x2 x2 ÷ 4 x2 mod 4
1 1 0 1
2 4 1 0
3 9 2 1
4 16 4 0
5 25 6 1
Aparentemente, temos que o resto é zero sempre que x é par e um caso x é ímpar. Dividir a prova em
casos!
Bruno Hott (UFOP) Demonstração de Teoremas 2020 32 / 40
Exemplo 67.
Para todo x ∈ Z, o resto da divisão de x2 por 4 é 0 ou 1.
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x é arbitrário ∀x.x ∈ Z → x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod 4 = 1
x∈Z x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod 4 = 1
Caso 1: (x é par) x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod 4 = 1
∃k.x = 2k x2 mod 4 = 0
x = 2k
x2 = 4k 2
Caso 2 (x é ímpar) x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod 4 = 1
∃q.x = 2q + 1 x2 mod 4 = 1
x = 2q + 1
x2 = 4q 2 + 4q + 1
x2 = 4(q 2 + q) + 1
Texto:
Suponha x arbitrário
Suponha que x ∈ Z
Caso 1: x é par.
Como x é par, existe k tal que x = 2k.
Como x = 2k, temos que x2 = 4k 2 .
Como x2 = 4k 2 , temos que x2 mod 4 = 0.
Logo, x2 mod 4 = 0 ou x2 mod4 = 1
Caso 2: x é ímpar.
Como x é ímpar, existe q tal que x = 2q + 1.
Como x = 2q + 1, temos que x2 = 4q 2 + 4q + 1.
Como x2 = 4q 2 + 4q + 1, temos que x2 mod 4 = 1.
Logo, x2 mod 4 = 0 ou x2 mod4 = 1
Logo, se x ∈ Z temos que x2 mod 4 = 0 ∨ x2 mod4 = 1
Como x é arbitrário, temos que para todo x ∈ Z o resto da divisão de x2 por 4 é 0 ou 1.
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
x arbitrário ∀x.x ∈ R → x2 ≥ x → x ≤ 0 ∨ x ≥ 1
x∈R x2 ≥ x → x ≤ 0 ∨ x ≥ 1
x2 ≥ x x≤0∨x≥1
x>0 x≥1
Texto:
Suponha x arbitrário.
Suponha x ∈ R.
Suponha x2 ≥ x.
Suponha x > 0.
Como x2 ≥ x e x > 0, temos que x ≥ 1.
Logo, x ≤ 0 ou x ≥ 1.
Logo, se x2 ≥ x então x ≤ 0 ∨ x ≥ 1.
Logo, se x ∈ R, enão se x2 ≥ x então x ≤ 0 ∨ x ≥ 1.
Como x é arbitrário, para todo x ∈ R, se x2 ≥ x então x ≤ 0 ou x ≥ 1.
Rascunho:
Hipóteses Conclusão
p1 , . . . , pn são primos ¬∃n.{p1 , . . . , pn } são todos primos.
¬∃q.q é primo ∧ ∈ / {p1 , . . . , pn } ⊥
q = p1 × · · · × pn + 1
Caso 1: (q é primo) ⊥
q∈/ {p1 , . . . , pn }
Caso 2: (q é produto de primos) ⊥
pi - q, 1 ≤ i ≤ n
p é primo
Texto:
Suponha que existam finitos números primos.
Sejam p1 , . . . , pn o conjunto de todos os números primos, n ∈ N.
Seja q = p1 × · · · × pn + 1 e q ∈ / {p1 , . . . , pn }.
Caso 1: q é primo:
Logo, {p1 , . . . , pn } não é o conjunto de todos os primos.
Caso 2: q é produto de primos:
Mas q não é divisivel por nenhum {p1 , . . . , pn }. Logo, q é primo.
Mas, q ∈
/ {p1 , . . . , pn }, o que é uma contradição, pois {p1 , . . . , pn } é o conjunto de todos os
primos.
Logo, temos que existem infinitos números primos.