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A Redencao Consumada e Aplicada John Murray
A Redencao Consumada e Aplicada John Murray
Consumada e Aplicada
JOHN MURRAY
JOHN MURRAY
Professor de Teologia Sistemática
Westminster Theological Seminary
Philadelphia, Pa. Estados Unidos
A Redenção
Consumada e Aplicada
Tradução:
Ivan G. Grahm Ross
e
Valter Graciano Martins
Diretoria Executiva:
Diretor-Presidente: Addy Félix de Carvalho
Diretor-Comercial: Paulo Gonçalves Júnior
Diretor-Editor: Valter Graciano Martins
Diretor-Administrativo Financeiro: Éber de Aquino
Revisão:
Gecy Soares de Macêdo
Célia Regina Romero Araújo
Gláucia Lima Araújo
Capa:
Jader de Almeida
Composição:
Zenaide Rissato dos Sari
Editora
Cultura fristõ
Rua Miguel Teles Jr., 1^2/394
01540-P
V * n F o n e : (011) 270-7099
MAIINHO RODRIGUES
Conteúdo
PRIMEIRA PARTE
A REDENÇÃO CONSUMADA
1. A Necessidade da Expiação........................................... 11
2. A Natureza da Expiação................................................. 23
3. A Perfeição da Expiação .............................................. 57
4. A Extensão da Expiação .............................................. 65
5. Conclusão....................................................................... 83
SEGUNDA PARTE
A REDENÇÃO APLICADA
1. A Ordem na Aplicação . . . ..................................... ... 89
2. Vocação Eficaz ............................................................. 99
3. Regeneração................................................................... 107
4. Fé e Arrependimento ........................ ........................... 119
5. Justificação .................................................................... 131
6. Adoção .......................................................................... 147
7. Santificação................................................................... 157
8. Perseverança ................................................................ 167
9. União com Cristo ........................................................... 179
10. Glorificação ................................................................ 193
Apresentação
Faltava a esta Editora um manual específico de soteriologia,
que pudesse oferecer aos evangélicos e a todo estudioso da Bíblia
fora de nossos arraiais uma visão estritamente bíblica do mais
insondável dos atos divinos registrados na história humana e
universal. Entender ao máximo o drama da redenção é preciso, a
fim de podermos entender também ao máximo todos os demais
atos divinos dentro da economia do Deus Triúno. São quinze
capítulos, todos preciosos. Primeira parte: A Redenção Consuma
da-A Necessidade da Expiação; A Natureza da Expiação; A
Perfeição da Expiação; Os Limites da Expiação; Conclusão. Se
gunda Parte: A Ordem na Aplicação; Vocação Eficaz; Regenera
ção; Fé e Arrependimento; Justificação; Adoção; Santificação;
Perseverança dos Santos; União com Cristo; Glorificação.
1. V. Hug Martin: The Atonement: in its relation to The Covenant, The Priesthood, The
Intercession of our Lord (Edinburgh, 1887), pág. 19.
5 Devemos compreender, portanto, que o amor de Deus é uma
premissa estabelecida, ou seja, este amor é a causa ou a fonte da
expiação. Todavia, isto não resolve o problema quanto à razão ou
necessidade da expiação. Qual é a razão por que o amor de Deus
deve tomar um caminho na realização de seu fim e no cumprimento
de seu propósito? Somos compelidos a indagar’ Por que o sacrifí
cio do Filho de Deus? Por que o sangue do Senhor da glória?
Anselmo de Canterbury perguntou: “Sabendo que Deus é onipo
tente, qual foi a necessidade e qual foi a razão para tomar sobre si
a humilhação e enfermidades da natureza humana a fim de realizar
a sua restauração?”2Por que Deus não podia realizar os propósitos
de seu amor para a humanidade pela palavra de seu poder ou pelo
decreto de sua vontade? Se declaramos que ele não podia, estamos
impugnando o seu poder? Se declaramos que ele podia, porém não
quis, estamos impugnando a sua sabedoria? Tais indagações não
são sutilezas escolásticas e nem vã curiosidade. Fugir delas é
perder algo que é central na interpretação da obra redentora de
Cristo e perder a visão de uma parte de sua glória essencial. Por
que Deus se fez homem? E tendo-se tomado homem, por que
morreu? E tendo morrido, por que morreu a morte maldita de cruz?
Esta é a indagação sobre a necessidade da expiação.
Entre as respostas oferecidas para estas perguntas, duas são
mais importantes. Elas são, antes de tudo, o conceito conhecido
como necessidade hipotética, e, segundo, o conceito que podemos
designar como o da necessidade conseqüente e absoluta. O primei
ro foi defendido por homens eruditos, tais como Agostinho e
Tomás de Aquino.3 O Segundo pode ser considerado como a
posição clássica do protestantismo.
2. V. Cur. Deus Homo, Lib. I, Cap. I “qua necessitate scilicet et ratione Deus, cum sit
omnipotens, humilitatem et infirmitatem humanae naturae pro eius restauratione as-
sumpserit.”
.V V. augustine: On The Trinity, Liv. XIII, Cap. 10; Aquinas: Suma Theologica, Parte III,
Perg. 45, Arts. 2 e 3.
O conceito conhecido como necessidade hipotética assevera
que Deus podia perdoar o pecado e salvar os seus eleitos sem a
expiação ou satisfação — outros meios estavam disponíveis a Deus
a quem todas as coisas são possíveis. Porém, a forma de sacrifício
vicário do Filho de Deus foi simplesmente o meio que Deus, em
sua graça e sabedoria soberanas, escolheu, porque este é o meio
pelo qual o maior número de vantagens concorre, e o meio pelo
qual a graça é mais maravilhosamente revelada. Assim, embora
Deus pudesse salvar sem uma expiação, todavia, de acordo com o
seu decreto soberano, ele de fato não o fez. Sem derramamento de
sangue, realmente não há remissão nem salvação. Contudo, não há
nada inerente à natureza de Deus ou à natureza da remissão do
pecado que faz o derramamento de sangue indispensável.
O agente da santificação
E preciso ter na lembrança que em última análise não santi
ficamos a nós mesmos. É Deus quem nos santifica (I Ts 5.23).
Especificamente, o Espírito Santo é o agente da santificação. Nesta
conexão, certas observações precisam ser feitas.
1) O modo pelo qual o Espírito opera na santificação é
cercado de mistério. Não conhecemos como o Espírito habita nem
o seu modo de operar eficazmente nos corações, mentes e vontades
do povo de Deus pelo que eles são progressivamente purificados
da imundícia do pecado e transfigurados mais e mais segundo a
imagem de Cristo. Embora não devamos preconceber o fato de que
a obra do Espírito em nossos corações se reflete em nossas percep
ções e consciências; embora não devamos relegar a santificação
ao reino do subconsciente e deixar de reconhecer que a santificação
atrai para dentro de sua órbita o campo todo de nossa atividade
consciente, todavia devemos apreciar também o fato de que há uma
agência da parte do Espírito Santo que ultrapassa a análise ou a
introspecção de nossa parte. Os efeitos desta constante e ininter
rupta agência manifestam-se dentro da área de nossa consciência
em termos de entendimento, sentimento e vontade. Porém, não
devemos supor que a medida de nosso entendimento ou experiên
cia seja a medida das operações do Espírito. Em cada expressão
distinta e particular do crente, em termos de santidade, há uma
atividade energizante por parte do Espírito Santo, e quando tenta
mos descobrir qual o modo daquele exercício de sua graça e poder
é que compreendemos quão longe estamos de ser capazes de
diagnosticar as operações secreias do Espírito.
2) É imperativo que entendamos a nossa completa dependên
cia do Espírito Santo. Naturalmente, não devemos esquecer que a
nossa atividade é incluída, em toda a sua extensão, no processo de
santificação. Mas não devemos confiar em nossa própria força de
resolução ou propósito. Porque quando somos fracos, então é que
somos fortes. É pela graça que estamos sendo salvos, tão certo
como é pela graça quefomos salvos. Se não formos aguçadam ente
sensibilizados acerca de nossa própria necessidade, então podemos
fazer uso dos meios de santificação para desenvolver a auto-justiça
e o orgulho espiritual, e assim frustrar o propósito da santificação.
Devemos confiar, não nos meios de santificação, e, sim, no Deus
de toda graça. Um moralismo auto-confiante promove o orgulho,
mas a santificação promove a humildade e a contrição.
3) É como o Espírito de Cristo e como o Espírito daquele q
ressuscitou Cristo dentre os mortos que o Espírito Santo santifica.
Não podemos imaginar o Espírito operando em nós à parte do
Cristo ressurreto e glorificado. O processo de santificação não é
apenas dependente da morte e ressurreição de Cristo em sua
iniciação; é também dependente da morte e ressurreição de Cristo
em seu prosseguimento. É pela eficácia e virtude que procedem do
Senhor exaltado que a santificação prossegue, e esta virtude per
tence ao Senhor exaltado em virtude de sua morte e ressurreição.
E esta virtude é comunicada pelo Espírito. Talvez o texto mais
importante nesta conexão seja II Co 3.17,18, onde Paulo diz que
o Senhor é o Espírito, e logo em seguida indica que o processo
transformador pelo qual somos transformados na imagem do Se
nhor é pelo “o Espírito do Senhor”, ou, talvez mais corretamente:
“o Senhor do Espírito”. Seja como for, podemos interpretar a
expressão no fim do v. 18, ficando evidente que a obra santificadora
do Espírito consiste não apenas na conformação progressiva da
imagem de Cristo, mas também é dependente da atividade do
Senhor exaltado (cf. I Co 15.45). É prerrogativa peculiar e função
do Espírito Santo glorificar a Cristo, ao falar das coisas de Cristo
e anunciá-las ao povo de Deus (cf. Jo 16.14,16; II Co 3.17,18). É
como Espírito habitante e como Advogado dos crentes que ele
realiza esta obra (Jo 14.16,17).
Os meios de santificação
Embora sermos constantemente dependentes da agência su
pernatural do Espírito Santo, devemos também levar em conta o
fato de que a santificação é um processo que atrai para dentro de
sua órbita a vida consciente daquele que crê. Os santificados não
são passivos ou inativos neste processo. Nada mostra isto mais
claramente do que a exortação do apóstolo: “Desenvolvei a vossa
salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós
tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp
2.12,13). A salvação aqui referida não é aquela que já possuímos,
e, sim, a salvação escatológica (cf. I Ts 5.8,9; I Pe 1.5,9; 2.2). E
nenhum outro texto demonstra mais suscinta e claramente a rela
ção entre a obra de Deus e a nossa participação. A obra de Deus
em nós não é suspensa em virtude da nossa atividade e nem a nossa
atividade é suspensa em virtude da atividade de Deus. Tampouco
é a relação estritamente uma cooperação como se fizesse Deus sua
parte e nós o resto, para que a combinação ou coordenação de
ambos produza o desejado resultado. Deus opera em nós e nós
também operamos. Porém, a relação é baseada no fato de que
porque Deus opera nós operamos. Toda e qualquer operação da
salvação, de nossa parte, é o efeito da operação de Deus em nós;
não o querer excluindo o fazer e nem o fazer excluindo o querer,
e, sim, ambos, tanto o querer como o fazer. E esta operação de
Deus é dirigida com o fim de capacitar-nos a querer e fazer aquilo
que lhe é bom e agradável. Temos aqui não somente a explicação
de toda atividade aceitável de nossa parte, mas também o incentivo
para o nosso querer e fazer. O que o apóstolo está frisando é a
necessidade de desenvolver a nossa própria salvação, e o encora
jamento que ele oferece é a certeza de que é o próprio Deus quem
opera em nós. Quanto mais persistentemente ativos somos em agir,
mais persuadidos podemos ser de que toda a graça e o poder
energizantes vêm de Deus.
A Escritura está impregnada de exortações que impelem à
ação e têm a grande finalidade de fazer-nos lembrar de que a
totalidade de nosso ser é intensamente ativa nesse processo que
tem por alvo o propósito predestinador de Deus de levar-nos à
conformidade com a imagem de seu Filho (Rm 8.29). Paulo
escreveu aos Filipenses: “E também faço esta oração: que o vosso
amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda percep
ção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e
inculpáveis para o dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual
é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp
1.9-11). E Pedro, de forma semelhante: “Por isso mesmo, vós,
reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude;
com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio
próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseve
rança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade,
o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentan
do, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no
pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (II Pe 1.5-8).
E desnecessário multiplicar as citações. O Novo Testamento está
juncado com esta ênfase (cf. Rm 12.1-3; 9.21; 13.7-14; II Co 7.1;
G1 5.13-16,25,26; Ef 4.17-32; Fp 3.10-17; 4.4-9; Cl 3.1-25; I Ts
5.8-22; Hb 12.14-16; 13.1-9; Tg 1.19-27; 2.14-26; 3.13-18; I Pe
1.13-25; 2.11-13,17; H Pe 3.14-18; I Jo 2.3-11; 3.17-24). A santi
ficação envolve a concentração do pensamento, do interesse, do
coração, mente, vontade e propósito, em direção à soberana voca
ção de Deus em Cristo Jesus e ao desempenho da totalidade de
nosso ser no uso daqueles meios que Deus instituiu com o fim de
atingir essa destinação. A santificação é a santificação de pessoas,
e pessoas não são máquinas; é a santificação de pessoas renovadas
segundo a imagem de Deus em conhecimento, justiça e santidade.
O prospecto que ela oferece é que conheçamos como nós somos
conhecidos e que sejamos santos como Deus é santo. “E a si mesmo
se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é
puro” (I Jo 3.3).
C apítulo 8
Perseverança
A experiência, a observação, a história bíblica e certas passa
gens da Escritura, à primeira vista, parecem provar que existem
argumentos fortes contra a doutrina que tem sido denominada: A
Perseverança dos Santos. Não é o registro bíblico, bem como a
história da Igreja saturados com exemplos daqueles que naufraga
ram na fé? E não lemos também que: “É impossível, pois, que
aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial
e se tomaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa
palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim,
é impossível outra vez renová-los para arrependimento”? (Hb
6.4-6). E o Senhor mesmo não disse: “Eu sou a videira verdadeira,
e o meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não
der fruto, ele o corta... Se alguém não permanecer em mim, será
lançado fora à semelhança do ramo, e secará”? (Jo 15.1,2,6). Sim,
à luz dos fatos da história e de passagens bíblicas como aquelas
citadas, devemos afirmar que a interpretação da Escritura acerca
de questões como estas não é uma tarefa para indolentes. O que
significa apostasia? O que a Escritura quer significar pela expres
são: caíram?
A fim de expor a doutrina da perseverança à clara luz,
precisamos saber o que ela não é. Não significa que todos aqueles
que professam fé em Cristo e que são aceitos como crentes na
comunhão dos santos estão seguros para a eternidade e podem
nutrir a certeza da salvação eterna. Nos dias de sua carne, nosso
Senhor mesmo advertiu os seus seguidores quando disse aos
judeus que creram nele: “Se vós permanecerdes na minha palavra,
sois verdadeiramente os meus discípulos; e conhecereis a verdade
e a verdade vos libertará” (Jo 8.31,32). Ele estabeleceu um critério
pelo qual os verdadeiros discípulos poderiam ser identificados, e
este critério é permanente na palavra de Jesus. E é justamente o
que descobrimos noutra parte quando Jesus disse: “Aquele, porém,
que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt 10.22). Este é o
critério aplicado também na epístola aos Hebreus quando o escritor
disse: “Porque nos temos tomado participantes de Cristo, se de fato
guardarmos firmes até ao fim a confiança que desde o princípio
tivemos” (Hb 3.14). Esta mesma lição é a enfatizada no ensino de
Jesus em João 15 em conexão com a parábola da videira e seus
ramos. “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora à
semelhança do ramo, e secará” (Jo 15.6). A prova crucial de fé
verdadeira é perseverar até ao fim, permanecendo em Cristo e se
conservando em sua palavra.
Esta ênfase da Escritura deve ensinar-nos duas verdades. (1)
Ela nos fornece a interpretação da palavra “caíram”, da apostasia.
E possível oferecer todos os sinais exteriores de fé em Cristo e
obediência a ele, testemunhar por algum tempo a boa confissão e
mostrar grande zelo por Cristo e seu reino e, depois, perder todo o
interesse e tomar-se indiferente, se não hostil, às reivindicações de
Cristo e seu reino. E a lição da semente que caiu em solo rochoso
— a semente nasceu e cresceu, porém, em saindo o sol, ela ficou
queimada e não produziu nenhum fruto para a perfeição (cf. Mc
4.5,6,16,17). Há, naturalmente, uma grande porção de variação
dentro desta classe de pessoas. Alguns aparentam convertidos, por
pouco tempo se agitam com entusiasmo, e, de repente, se esfriam.
Desaparecem da comunhão dos santos. Outros não revelam o
mesmo entusiasmo, a sua identificação com a fé de Cristo nunca
teve um caráter acentuado. Porém, no decorrer do tempo, a sua fé
se toma precariamente enfraquecida e, finalmente, é completa
mente extinta — eles não mais andam no caminho dos justos. (2)
Devemos apreciar a altitude e a longitude a que uma fé temporária
pode levar aqueles que a têm. Este fato desperta a nossa atenção,
em certa medida, para a parábola do semeador. Aqueles que são
comparados à semente que caiu no solo rochoso receberam a
palavra com alegria e prosseguiram nessa experiência alegre por
algum tempo. Nos termos da similitude, existiu a erva e às vezes
a espiga. Não há somente germinação; há também crescimento. O
único defeito é que não existe o grão cheio na espiga. Para maiores
detalhes, este fato é destacado na linguagem da epístola aos
Hebreus onde fala daqueles “que uma vez foram iluminados e
provaram o dom celestial e se tomaram participantes do Espírito
Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo
vindouro” (Hb 6.4,5). Sentimo-nos pasmos ante a vista dos termos
desta descrição aplicável àqueles que podem cair. Todavia, tal
descrição nos adverte quanto às forças que são operantes no reino
de Deus e à influência que essas forças podem exercer sobre
aqueles que finalmente demonstram que nunca foram radical e
salvificamente tocados por elas. É acerca desse mesmo fato de
apostasia da fé que Pedro trata em II Pe 2.20-22. Não pode haver
dúvida de que Pedro tinha em vista as pessoas que adquiriram
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, que tinham
conhecimento do caminho da justiça e que por meio dele escapa
ram das contaminações do mundo, porém voltaram a enredar-se
novamente nessas contaminações e apartaram-se do santo manda
mento que lhes fora dado. “Com eles aconteceu o que diz certo
adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca
lavada voltou a revolver-se no lamaçal.” Portanto, a Escritura
mesma nos conduz à conclusão de que é possível ter-se a experiên
cia sublime, enobrecedora, reformadora e exultante do poder e da
verdade do evangelho, entrar em estreito contato com as forças
supernaturais que operam no reino da graça de Deus, essas forças
produzem tal efeito em nós que, aos olhos humanos, são dificil
mente distinguidas daquelas produzidas pela graça regeneradora e
santificadora de Deus, e ainda não ser participante de Cristo e
herdeiro da vida eterna. Uma doutrina da perseverança que deixe
de reconhecer tal possibilidade e a realidade em certos casos é
distorcida e promove uma indolência que fere os interesses da
perseverança. Na verdade, isto não é nenhuma doutrina da perse
verança.