Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aristóteles2
(kráseõs)u no corpo; para outros, sua natureza inclina-se visivelmen- tém-no] sempre (aet), enquanto existir. Por natureza, tornam-se co-
te para estespátke12. Todos são, então, para falar simples, tal qual sua rajosos, silenciosos, piedosos ou covardes. De modo que é evidente
natureza, conforme foi dito. que é pelo mesmo [motivo] que tanto o vinho quanto a natureza
criam o êtbos de cada um: pois tudo se efetua sendo administrado
Quem começar o exame [desta questão] deve tomar primei-
pelo calor. O humor (chymósf*1 e a mistura da bílis negra são pneumá-
ramente a causa a partir de um exemplo já disponível. Pois o vinho
ticos^1. E é por isso que os médicos dizem serem melancólicas as
excessivo parece realmente dispor [as pessoas] tais quais dizemos
afecções pneumatóides (pneumatôde pâthe) e as hipocondríacas
serem os melancólicos e aquele que [o] bebe [parece] desenvolver
(bypochondriakâ}. E o vinho é, quanto à suzéjiftamzsn, pneumatóide. E
muitos éthí^ como, por exemplo, os írascíveis, filantropos, piedo-
bem por isto que o vinho e a mistura são de natureza semelhante. O
sos, audaciosos; mas não [aquele que bebe] o mel, nem o leite, nem
que mostra que o vinho é pneumatóide, é a espuma (aphrós)^; pois,
a água, nem nada análogo. Pode-se ver que [o vinho] torna [as pesso-
se o azeite sendo aquecido não faz espuma, o vinho, por sua vez,
as] completamente diferentes, observando que ele muda gradual-
[faz] muita, e o [vinho] negro mais ainda do que o [vinho] branco,
mente os que o bebem. Apossando-se, então, daqueles que foram
porque ele é mais quente (thermóteros] e mais encorpado (sõmatodésteros).
resfriados e silenciosos na abstinência; se bebem um pouco mais, 953 b
Por isso o vinho incita aos prazeres afrodisíacos (apbroáisiastíkoúsf*
tocna-os mais tagarelas (laBstérous) e, ainda mais, retóricos (rbvtorikoús}
e diz-se corretamente estarem juntos Dionlso e Afrodite21 e que a
e corajosos, ávidos para o agir; um pouco mais sendo bebido, [tor-
maior parte dos melancólicos são lascivos. Pois o aphrodmasmós é.
na-os] desmedidos (hybristás), depois maníacos (mamkoás)u; uma ex-
pneumatóide. Do que é sinal a parte pudenda (to aídoionf1, pelo modo
trema quantidade os relaxa e os torna embotados, como os que são
como de pequeno, rapidamente, produz o aumento por meio do
epilépticos desde criança ou, também, como os que são tomados
enchimento [de ar]. E, ainda antes de poder emitir esperma, advém
por fortes melancolias. Assim como, então, o homem modifica seu
algum prazer naqueles que são ainda crianças quando, próximos de
êíbos bebendo e utilizando uma determinada quantidade de vinho,
serem púberes, alisam desordenadamente as partes pudendas: tor-
assim também há homens [que correspondem] a cada um dos ttbos.
na-se, poís, evidente que isto ocorre por meio do pneuma que per-
Pois como está agora [um homem] embriagado, um outro [homem]
corre os canais através dos quais, mais tarde, o líquido será conduzi-
é assim por natureza, um tagarela, outro agitado, outro choroso. Pois
do. O derrame do esperma nas relações íntimas (en tais homílíais] e a 954 a
[o vinho] transforma uns e outros, e por isso Homero compôs: "Di-
ejaculação têm sua origem evidente no pneuma projetado (hypò tou
zem que navego em lágrimas, tomado que estou pelo vinho"15.
pneúmatos). De modo que, dentre os alimentos e bebidas, são segura-
Por vezes se tornam piedosos, rudes e silenciosos; alguns, mente afrodisíacos os que tornam pneumático o local em torno das
então, se calam, e sobretudo dentre os melancólicos os que são partes pudendas. Por isso, o vinho negro, mais que tudo, torna [as
ekstatikói. O vinho, por outro lado, os torna amorosos (phihtikoús}. pessoas] pneumáticas, tal qual são os melancólicos. O que torna-se
Sinal disto é que o bebedor é incitado a beijar (phileíri) na boca quem, evidente a partir de certas conformações: a maior parte dos melan-
em sobriedade, não beijaria, quer em função da aparência, quer em cólicos, com efeito, são secos (skleróíf2 e as [suas] veias são salientes.
função da idade. O vinho, então, torna [alguém] excepcional (periitéti) E a causa disto não [é] a grande quantidade de sangue, mas de
não por muito tempo, mas por pouco; a natureza, por sua vez, [man- pneuma; porque nem todos os melancólicos são secos ou negros,
24 25
A Dor de Existir
apoplétícas, em outros, fortes atimias ou temores, em outros, confi- vinho é trazido de fora; quando [ele] é apagado, sobrevem o pathos.
ança excessiva, como o que ocorreu a Aírquelau, o rei da Macedônia. E depois dos prazeres amorosos (tá aphrodísia] a maior parte se torna
A mistura é a causa de tal djnamis, conforme seja de mais atímica e aqueles que emitem o excesso (períttõmáf* acompa-
resfriamento ou de aquecimento. Pois estando mais fria, em mo- nhado do esperma, estes [se sentem] mais eutímicos; pois eles se
mento oportuno (kairós)^, produz distimías sem razão; é por isto aliviam do que é excesso, do pneuma e do calor exagerado. Aqueles,
que os enforcamentos se encontram, sobretudo, entre os jovens, muitas vezes, [permanecem] mais atímicos: eles se resfriam, pois,
algumas vezes também [entre os] velhos. Muitos destroem a si pró- tendo-se entregado aos prazeres afrodisíacos, por suprimirem algo
prios depois da embriaguez. Alguns dos melancólicos mantêm-se que lhes convém; o que mostra isto é o não grande fluxo emitido.
atímicos depois de terem bebido. Pois o aquecimento do vinho apa- Então, para dizer o que é capital, pelo fato da djnamis da bílis negra
ga o aquecimento natural. O calor, próximo do topos onde pensamos 955 « ser anómala, anómalos são os melancólicos; pois ela pode se tornar
e temos esperança, torna-nos eutímicos. E é por isto que todos têm muito fria e muito quente. E pelo fato de ela ser criadora-de-ethos
o desejo de beber até a embriaguez, pois o vinho, excessivo, torna- (ethopoiós} (pois, do que está em nós, principalmente o quente e o
nos, a todos, esperançosos, como a juventude aos meninos: pois, se frio criam-ethos), como o vinho que, sendo misturado em maior ou
a velhice é desesperançada, a juventude é, por sua vez, plena de menor [quantidade] no corpo, torna-nos de determinado tipo quan-
esperança. Existem alguns poucos aos quais as distimias os tomam to ao êthos. Ambos [são] pneumáticos, o vinho e a bílis negra. Posto
enquanto bebem, pela mesma causa [que tomam] a alguns depois da que é possível ser a anomalia bem governada (eúkraton] e se apresen-
bebida. Então, naqueles em que o calor é extinto, surgem atimias e tar de uma boa forma, em que a disposição (dfátbesitif* deve estar
eles se enforcam mais. E por isso que tanto os jovens quanto32 os mais quente e novamente fria, ou více-versa, de acordo com a extre-
velhos mais se enforcam. Pois, se por um lado, a velhice extingue o midade apresentada: excepdonais (perittoi), então, são todos os melan-
calor, por outro, opátbos, que é natural, o é também o próprio calor cólicos, não por enfermidade (nóson), mas pot natureza.
extinto33.Pois aqueles em que se apaga subitamente (exaípbnes), a maior
parte se mata, de modo a espantarem-se todos, por não se dar um
sinal prévio. NOTAS DO TRADUTOR
Então, a mistura oriunda da bílis negra tornada mais fria, 1. O presente texto constitui-se numa versão da primeira parte (parágrafos
como se disse, produz atimias de todo tipo; sendo mais quente, por 953a 10 - 955b 40) do Problema XXX, atribuído a Aristóteles ou a Pseudo-
sua vez, eutimias. Por isso que as crianças são mais eutímícas, ao Aristóteles (ver nota 2). Para nosso trabalho utilizamos o texto grego estabe-
passo que os velhos são mais distímicos. Pois [aqueles] são quentes lecido por Ruelle (1922), consultando também as edições de J. Pigeaud (1988,
e [estes] frios: pois a velhice é um resfriamento. Mas ocorre de [o p. 82-106) e de R. Klibansky (1979, p. 51-75). Quanto às controvérsias do
calor] se apagar subitamente, devido a causas exteriores, como [o estabelecimento do texto, concordamos corn J. Pigeaud (l988, p. 82)-c£ nota 32
que ocorre] contra a natureza com [as coisas] inflamadas, por exem- - e com Forster (1927) - cf. nota 30 - , aceita tanto por J. Pigeaud como por
R. Klibansky. A versão de um texto clássico configura-se como uma tarefa
plo, quando se verte água sobre o carvão [ardente]. Por isso alguns
das mais complexas. O desuso de uma língua que se não morta - devido ao
se matam ao sair da embriaguez; pois o aquecimento oriundo do
fato de ressoar no berço de nosso próprio léxico - impõe ao tradutor o desafio,
28
29
A Dor de Existir
Aristóteles
por vezes profano, de rasgar o véu dos sentidos vigentes, acessíveis, na tenta- i i n-.ctn (955a-24) que evoca o sentido de "excesso, resíduo", utilizando um
tiva romântica, talvez, de trazer à Juz o frescor originário da Jetra grega. Opta-
i - m n > derivado deste (períttOmã}. Escolhemos, portanto, traduzi-lo pelo termo
mos, destarte, pela sintaxe tortuosa, peJa simples transJiteraçao quando, por
• i • |'riona!, por este evocar, de algum modo, os dois campos semânticos
nossa herança greco-latina, a língua portuguesa nos oferece esta via. A sinta-
. 1 » . ntns.
xe, por vezes dura, recheada de partículas (pois a pontuação grega difere da
•l i ) icrrno melancolia origina-se da composição de dois termos: mélaina (ne-
nossa) podem, para além de questão de estilo, evidenciar também nosso des-
C E I , I ) c fhtilê (bílis). Melancolia significa, literalmente, bílis negra,
conhecimento acerca do pensamento do autor. Dificílima é portanto a tarefa
de traduzir um texto da Antiguidade Clássica, e a consulta a diferentes edi- B 1'liysi.t - este termo grego, traduzimos, como se faz correntemente, por "na-
ções/traduções nem sempre é esclarecedora. Trata-se sempre de uma versão, innv,;i". Cabe, entretanto, ressaltar que, para os gregos, este termo não tinha,
no sentido que este termo comporta de criação e de se voltar para. Como uma • it.imente, o sentido que modernamente lhe atribuímos. Originalmente, jft&JÍKr
versão, esboça uma tentativa primeira de acercarmo-nos deste texto, elemen- indicava, por meio do sufixo sis, a ação do verbo phyõ: "impulsionar, fazer
tar e originário, para o que, agora, é nosso objeto de discussão. Somos especi- n.r.ciT, fazer crescer, engendrar". M. Heidegger (1993, p. 484) comentou:
almente agradecidos a Henrique Fortuna Cairus, professor de Língua e Lite- "/V/y.rir, os Romanos a traduziram por natura; natura, de nasci, nascer, provir
ratura Grega da UFRJ, pela paciência e disponibilidade com que revisou nos- 1 1 - 1 , «-m grego: gen-; natura: o que deixa provir de si".
so primeiro exercício de versão clássica. fi, ékstasis- termo composto da preposição sk (fora, para fora) e pelo substan-
2. Ao que tudo indica não havia na Antiguidade dúvidas quanto à autoria do tivo sítisis (ação de pôr, estabilidade, posição, postura). Designa, portanto,
Problema XXX, que encontra-se editado juntamente com os demais Problemas "n ação de se deslocar, deslocamento, desvio ou, a ação de estar fora de si".
escritos por AristóteJes. Diógenes Laércio (1995, V, 23), embora não explicite Alguns comentadores, como J, Pigeaud (1988,p.38ss), consideram como in-
o teor de cada um destes, relaciona entre a vasta obra do filósofo os Problemas. i l i s l i n t o o emprego dos termos ékstasis ç. mania, traduzindo ambos pelo termo
Cícero, em Tusculanes; Sêneca, em De t-ranquillitaie animi (cf. Pigeaud, 1988, "loucura". Talvez ele tenha razão. Outrossim, desejamos proporcionar ao lei-
p.54) e Plutarco, em Vida dos filósofos ilustres (vol. IV), fazem referência ao lor a possibilidade de uma interpretação pessoal, ao verificar que em momen-
texto, citando-o como de Aristóteles. Mais tardiamente surge a hipótese do los precisos, ou não, o autor emprega cada um deles. Optamos, então, por
Problema XXX ser de autoria de Teofrasto, ou algum outro discípulo de imnter o decalque com o texto grego original. Platão discorre extensamente
Aristóteles. Contribui para esta hipótese o fato do próprio Diógenes Laércio iicerca da mania no diálogo intitulado Fedro. Neste, Sócrates distingue: "Mas,
(1995,V,44) relacionar, entre as obras de Teofrasto, um testo sobre melancolia lia duas espécies de mania; a produzida por doenças (nosemàton) humanas e a
(Períme/andwl/af), bem como um tratado sobre o fogo (Perípyrós), mencionado que por uma revulsão divina nos tira dos hábitos cotidianos(...) Na mania divi-
no próprio Problema XXX. De qualquer modo, trata-se, indubitavelmente, de na distinguimos quatro partes, referentes a quatro divindades: a Apoio atribu-
um texto que se encontra no âmbito do pensamento aristotélico, bem como ímos a inspiração mântica; a Dionísio, a teléstica [ou de iniciação nos mistéri-
situado de modo congruente com a visível herança de um tema platónico os]; às Musas, a poética; e a quarta, a erótica, considerada a melhor de todas,
(desenvolvido, principalmente, em o Fedro), juntamente com o Corpos n Afrodite e a Eros..." (265 a-b)
hippocraticum e toda tradição médica grega. 7. ias ersmas edisken - literalmente: "buscou as eremias". Este último termo
3. perittós/perissós - termo fundamental do Problema XXXc de difícil tradução. tlcsigna tanto lugares desérticos, ermos, quanto a solidão. Daí, ermitão em
Indica, originalmente, "o que ultrapassa a medida, o limite", (conformeyto?>w- português.
tros em português). Deste sentido primeiro advém: "extraordinário, o que se 8. Há, nesta passagem homérica, um jogo poético, difícil de manter, entre o
distingue etc." Pode designar, também, "o supérfluo, o resto", como, por exem- nome da planície - AUia - e aleeínõn - "evitar, esquivar, escapar".
plo, "o excesso de contingente militar". Há, no próprio Problema XXX, urna 9. Homero, ilíada, VI, 200-202.
30
31
A Dor de Existir
Amtóteks
10. É curioso observarmos a referência a estes filósofos, notadamente a Platão l H tlynamis - "potência, poder, força, propriedade".
e Sócrates. De Empédocles, é conhecida a história de seu suicídio: teria se
l l f . ,i/>/jrós- "espuma". Inicia-se neste trecho todo um encadeamento semãnti-
atirado no vulcão Etna. Alguns comentadores (cf. Pigeaud) pensam que
Sócrates se encontra aí referido por causa de seu daímon. 1 1 1 , por via significante, que tentamos preservar. Assim, aporás é o termo/fato
<|m comporá o nome de Afrodite, deusa do arnor e da beleza, que, segundo
11. krásis - "ação de misturar; objeto resultante de uma mistura".
l Icsiodo, (Teogonia vs. 195-196), é a "...deusa nascida de espuma"; surgida no
\2.pátbs- forma neutra plural â&páíhos, que originalmente significa "o que se n i . i i , cm torno do pênis castrado de Chronos, por seu filho Zeus. Compõe
prova, o que se experimenta; o que afeta o corpo ou a alma; eventos ou mu- [C trecho do Problema XXX a sequência de termos: aphrón, Apbrodite,
danças que se produzem nas coisas (por oposição ao que se faz 'ativamente1)". .i/ihrwlisiastíkom, aphrodisiasmós.
O próprio Aristóteles dá-nos uma definição de páthos (Metafísica VI, 1022, 15-16): 20, Cf. notalS.
"Páthos se chama, em um sentido, a qualidade segundo íi qual cabe alterar-se,
21. idem,
como o branco c o negro, o doce e o amargo, o peso e a ligeireza, e as demais
coisas tais; em outro, os atos e inclusive as alterações destas qualidades. Ade- .','. lá nidoion - termo que designa "pénis" e aparece também na forma plural
mais, entre estas, principalmente as alterações e movimentos daninhos, e so- {/,/ nitloía). Apresenta relação com o adjetivo atdós, que designava tanto o "sen-
bretudo os danos penosos. Ainda, se chamam afecções (páthè) os infortúnios e timento de honra", quanto de "vergonha, pudor".
penas graves". 23. íkkrói - também significa "magros".
13. éthe- forma plural de éthos. Étbos/êihos - os dois termos que aparecem ao 24. Cf. notai.
longo do texto guardam uma diferença sutil. Ethos indicaria, primordialmen- 25. O texto apresenta uma vasta lista de termos compostos a partir de tbymós
te, o sentido de "hábito", ao passo que /tèos, "uma maneira de ser habitual, (nfíjymia, prothymos, euthymía, epitbymia, disthytaía, entre outros), que é uma pala-
um comportamento" (cf. Pigeaud, pp. 25-26). Deste último, deriva o subs- vra de significação bastante complexa, que abrange: "sopro; alma; princípio
tantivo sihikós. E também frequente a tradução deste termo por "caráter". ilc vida; princípio da vontade, da inteligência, dos sentimentos e das paixões.
Como entendemos que esta palavra está atrelada a sentidos outros, e estes Vontade, desejo". Em Homero, segundo B. Snell (1960, p. 18-ss), fhymós é o
termos são caros ao pensamento aristotélico, optamos por manter a simples "órgão da emoção e a sede da dor",
transliteração.
26. E interessante observarmos a quantidade de palavras iniciadas pela pre-
14. Cf. nota 5.
pnsição ek (fora, para fora): ékstasis, ékphysis, eklúei, êkcbysis, exéchs, ekd^éseis,
15. Homero, Odisseia, XIX, 121-122. íktopoi, exaiphnSs, o que parece anunciar uma insistência semântica, talvez a de
16. chymós - "qualidade do que é líquido ou em fusão; suco natural, serosidade que os diferentes páthos oriundos da melancolia têm, sempre, implicados (no
dos humores do corpo, supuração de uma ferida; suco preparado". próprio nome) a ideia de "estar fora, movimento para fora".
17. pneumâtikalpmúma - "que concerne ao sopro, à respiração, sopro vital; que 27. eiifhotisiastikós/éniheos - "o que é animado por urn transporte divino, inspi-
concerne ao ar que tem vento, flatuoso". Não deve ser confundido com o ar rado pelos deuses" (en + theos),
(aér), um dos quatro elementos. Este sentido de pneuma evoca-nos o sentido 2H. héxis - "ação de possuir, possessão, maneira de ser, estado ou hábito do
primeiro (homérico) de psycbê que designava, exatamente, o sopro. O verbo - corpo, temperamento, estado ou hábito do espírito ou da alma, faculdade".
psjchs - indica a ação de soprar, respirar. Anaxímenes (cf. Kirk, 1994, p. 161), Para Aristóteles (Metafísica, V, 1022b, 4-8): "Héxis se chama, em um sentido,
por exemplo, desenvolve a ideia de equivalência tntse. pneíivza e^jjv^falma). por exemplo, certo ato do que tem e do que é tido, como certa ação ou
O termo frio, central no Problema XXX, parece originado do mesmo campo movimento (pois quando um faz e outro é feito, está no meio o ato fazedor;
semântico. Frio èpsychrós, cuja etimologia remonta, provavelmente (cf. Bailly) nssim também no meio do que tem um vestido e do vestido tido está o
ao verbo psycbõ (soprar). 'hábito' (héxis)".
32
33
A Dor de Existir
Aristóteles
29. anómalos - termo formado pelo prefixo de negação an, e do advérbio homálós
("de um modo unido, de um modo igual"). Então, anómalos designa: "não l ' \ l n >N ilc URBINAJ. M.Diccionáriomanualgriego-espanol. Barcelona, Biblograf,
unido, não igual; Inconstante, irregular; que falta equilíbrio". |9fi7
r i \ l 'u N. Phèdre. Trad. par Luc Brisson. Paris, Flammarion, 1989.
30. Há na edição original dos textos gregos uma controvérsia. Forster (um dos
<&aiSpoç. AGrjva, AcaSaXoç
editores que estabeleceu o texto grego) optou pelo termo epipólaios, superfície.
l l K l-,,(i.S. et alli. Anaximenes de Mileto. Os filósofos pré-socráticos. Trad. C. A. L.
O termo constante na edição de Ruelle é tápalaiá, antigas.
i oníei •". Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.
31. kairós - momento oportuno. Conceito de tempo propriamente grego. Di-
l l IHANSKY, R. et alli. Saturne et Ia Mélancolie. Paris Gallimard, 1979.
fere do tempo cronológico (sucessão) e do eterno (a e i). Na medicina, indica-
l ' l ' ! H AU D, J. Aristote - 1'homme degénie et Ia mélancolie. Paris, Rivages, 1988.
va, por exemplo, o tempo crítico de uma doença, no qual a intervenção do
l'l l l ' l'A IÍ.CO. Vidas dos Homens Ilustres. Vai. 4. Trad. do grego por Amyot. S.
médico poderia salvar ou matar o paciente.
1 ' i n l i . , lúl. das Américas, s/d.
32. ê kat- Há edições que excluem a conjunção í, modificação por nós utilizada
na presente tradução.
33. Frase enigmática, mesmo no texto original e para os comentadores. * VrrsíU) do grego: Elisabete Thamer, membro aderente da Escola Brasileira de Psicanálise
34. Cf. nota 2. *RcvÍs8o da tradução: Henrique Fortuna Cairus
Referências bibliográficas
34
35