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“Monomania da incerteza”

Por quanto tempo uma pessoa consegue fingir estar feliz por algo que nunca foi
dela?
3 meses foram suficientes para mim. Desisti da faculdade dos sonhos, mas por
algum motivo parecia que eu tinha desistido de viver. Como é possível eu desistir de
algo que nunca foi meu em primeiro lugar?
Direito, 10 semestres, 5 anos seu eu fizer tudo certo, realmente parecia um sonho, e
eu me forcei a acreditar que também era o meu. Abandonar tudo foi a parte mais
difícil, parecia que eu estava mentindo, negando todo o esforço que minha família
tinha colocado sobre mim, e por muito tempo eu acreditei nisso.
A transição do ensino médio para faculdade foi conturbada, pandemia, formatura,
morte. Ingressei em um sonho que não era meu e terminei antes que fosse
consumido ainda mais, fiquei perdido, o que fazer agora?
Letras, um outro começo, uma nova possibilidade, uma nova cidade, reviver todo
aquele começo de novo foi complicado, conhecer a universidade, a cidade, as
pessoas, o sentimento de ansiedade misturado com entusiasmo. Dessa vez seria
diferente, mas eu estava sozinho pela primeira vez, realmente sozinho, não
conhecia ninguém e me sentia perdido em meio a multidão. Foi diferente. As
semanas foram passando e fui me acostumando com aquela rotina. "Acorda,
trabalha, repete, mantém". Com o tempo parecia que tudo estava bem.
Nunca está tudo bem, fico cansado, estressado, a ansiedade me consome e meus
dedos sangram. Às vezes acordo e não consigo sair da cama, tento, me forço, não
saio do lugar, “até parece que meus travesseiros pesam uma tonelada”. Pelo menos
eu estou tentando, não me lembro quando foi a última vez que dormi uma noite
inteira, ou que simplesmente tenha dormido. Não tenho expectativas, não crio
expectativas. Eu preciso de expectativas, preciso de algo que me faça acordar.
A faculdade me parece um sonho distante, não sei se algum dia eu realmente
sonhei com isso ou sei foi outro sonho que me foi imposto, sei que tenho meu
próprio ritmo, sei também que é um pouco mais lento que o dos outros, mas ainda é
algo meu. “Minha cabeça repete, as mesmas coisas, repete, as mesmas coisas, até
não ter mais coisa”. Leio, escrevo, leio, escrevo, repito isso mais algumas vezes.
Sempre gostei de ler, já escrever nunca foi meu forte, meu coração acelera, não
consigo ficar sentado, as palavras se embaralham a todo momento. Leio e releio,
nunca acho bom o suficiente, apago tudo.
Tudo parece um grande desafio, não sei onde quero chegar, me sinto perdido. No
entanto, abraço a incerteza, tento reconhecer minhas paixões e a possibilidade de
mudanças, o processo nunca é linear. Tento, erro, tento novamente até conseguir,
continuo tentando mesmo não sabendo onde vou chegar.
Não sei se a faculdade é o caminho certo, mas é o caminho que estou fazendo
agora. Tudo ao meu redor parece um grande quebra-cabeça sem imagem final. Não
sei onde quero chegar, a incerteza me consome.
No fim das contas, sem ter resposta alguma, sigo em frente, tentando encontrar
meu próprio caminho em meio ao caos.

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