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Incorrigíveis

banalidades
do mundo
Natália Bento
“...para que a primeira nota nascida o venha
consolar das incorrigíveis banalidades do mundo...”

José Saramago.
Agradecimentos

Fiquei em dúvida se escrevia dedicatórias ou agradecimentos. Achei


que, no momento de vida em que estou, a gratidão fazia mais
sentido. Começo agradecendo professoras (coincidentemente agora
penso apenas em mulheres) que foram marcantes para a minha
ligação permanente com a Linguagem; agradeço meus pais, por
terem exibido para os outros o meu gosto pela leitura, sempre;
agradeço duas Sofias, Sofia Lima e Sofia Ruiz, aquela por ter
topado o projeto de ilustrar com tanta beleza meus poemas no
Instagram (@florircomcura), e essa por ter feito com tanto talento
e delicadeza o projeto desse livro que agora vocês leem; agradeço
também todas as pessoas que já me incentivaram a continuar a
escrever, seja elogiando algum poema específico, seja dizendo que o
que eu escrevo as toca; por fim, agradeço Marcelino Freire, por um
workshop de dias, mas equivalente a anos.
POR FAVOR

A vida é essa
Voz de elevador
que mal te dá
tempo
para entrar
e já manda liberar
a Porta.

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Nada de vintage

Esse barulho de
máquina
nem chega a incomodar.

Aqui está quieto


amarelo
regular.

A BARATA

voou para a única luz


para a tela do
Smartphone.

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Ainda
descubro
os dias
do meu calendário

em tanta terra,
aqueles sem ela.
De tanto estarem ali,
já não eram humanos.

os sem-terra
eram ponto de referência.

qual a data
do meu epitáfio?

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Há dias em que não se sabe se é dia
em que
tudo que
se almeja
não é
Me cobraram que decorasse mais que
quantas antenas
tinha o bicho; um divã
Se jogava pela frente ou o sofá
ou por trás da esquina.

- A isso
chamaram
de estudo
da vida -

Mas eu passei
por gente
de uma só perna:

Isso não caiu


no Vestibular.

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esse poema está atrasado. Do que se faz um poema
fugiu da retina c Um poema é feito
a daquele pensamento que
i - sem jeito
u aparece de pronto e vai
na rotina. embora.

14 15
Eu queria
escrever
um poema
com métrica,

plano-macaco
sou o
planeta
que Deus apequenou.
Mas meu sentir
não é
muito
de medidas.

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a borboleta dança

junto do mundo
A Gravidade
Mas a
certeza a
de que o
Deus v

Mãe:
pessoa mistério
corpo cicatriz
primeira cama

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o mundo em 7 dias
à espera
de ser
moldado

dali

daqui

de lá
Imposições implicitamente violentas
Não chorar em público
Chorar um pouco
Estudar
Enxergar corrupção
enquanto no chão
um morre
no tiro
no nada
Passar fio dental
Ter o cabelo limpo
Comer bem
Preocupar-se
- mas não muito-
porque é falta
de personalidade.
Ter vida social:
“Quem muito se ausenta,
deixa de fazer falta”
Gostar do Natal
e do Ano Novo
Retirar os pelos visíveis
e invisíveis
Ser gentil
-mas nem tanto-
Fazer as unhas
Sentar-se direito
Amar a si e
não ter medo
Não chorar em público
e nem em casa
Porque você é feliz.
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Abcedário poético
Agora mesmo penso -
Bendito quem não desiste:
Chora Autos
Deprime
Enfrenta
Fraqueja I II
Gagueja
“Hora de mudar!” Espelho embaçado Foi nesse
Insiste, no Limpo para ver punhado
Jogo da vida, o mal que ponho d’água
Louco é quem não pira, em você. que duvidei
Morre e do meu
Não Desiste. mais fiel
Ora. Espelho
Por Que
Rir Sem
Ter nem Uma
Vontade?
Xis

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Fome seletiva
Invade esse corpo
Sinto a sujeira

seus olhos precoces


na primeira barreira

primeiros haicais

I
pessoas esparsas
armadas com celular
veem os ipês.

- meu joelho torto.


II
menina perdida
entre os ipês amarelos
aprende a escrever

29
Suspiro
para dentro

entender
-no mesmo mundo-
Ana Martins Marques
e essa notícia da tevê

do contrário
Gosto da surpresa

30
oripsuS Ereção
or tned a ra p
qual destino
procurava

quando entrou
no buraco
sem eu ter deixado?

do contrário
Gosto da surpresa

33
A partir de hoje

te dei 32
dias Nem precisa dedicatória
e você
não me deu pra você ver:
nenhum

lembro de ir esse poema


nos correios,
na farmácia é pra você.
e de pensar
em você.

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Sobre a autora

Brasiliense, Natália começou a escrever poemas com 18 anos,


inspirada pela aprovação em Letras – Português na Universidade
de Brasília – UnB. Nascida em 1996, atualmente publica muitos de
seus escritos na página Tu tens um medo, que mantém no Facebook,
e também no Instagram @florircomcura, projeto idealizado em
parceria com uma amiga ilustradora. Natália continua a escrever e
a deixar sua poesia intrínseca espalhar, principalmente pelo espaço
digital de seu Instagram pessoal: @natbento.

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Brasília, 2020

Projeto gráfico Sofia Ruiz

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