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CURSO DE FORMAÇÃO DE MONITORES AMBIENTAIS

AUTÔNOMOS - PROJETO TAMANDUÁS

MUDANÇAS GLOBAIS, CONSERVAÇÃO AMBIENTAL,


BEM-ESTAR HUMANO E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Rodrigo Victor
Assessor Técnico FF
PARTE 1:

MUDANÇAS GLOBAIS, CRISE DA


BIODIVERSIDADE E PREJUÍZOS AO
BEM-ESTAR HUMANO
FONTE: Avaliação Ecossistêmica do Milênio, 2005

U.S. Bureau of the Census


Mackenzie et al (2002)
Richards (1991), WRI (1990)
Goldewijk and Battjes (1997)
Rápidas Mudanças Globais

NOAA

NASA

FAO
Florestas não fragmentadas 8000 anos atrás

FONTE: Avaliação Ecossistêmica do Milênio, 2005


Florestas não fragmentadas hoje

FONTE: Avaliação Ecossistêmica do Milênio, 2005


Áreas cultivadas no mundo

FONTE: Avaliação Ecossistêmica do Milênio, 2005


Biomassa de Peixes para Consumo Humano (tonelada / km2)

2000
1900

Fonte: Millennium Ecosystem Assessment; Christensen et al. 2003


Taxas de extinções para vertebrados no
mundo desde 1500

FONTE: IPBES, 2019


O ESTADO DO PLANETA

• 75% da superfície terrestre do planeta está


significativamente alterada
• 66% da superfície dos oceanos sofrem impactos
cumulativos crescentes
• 85% da superfície das áreas úmidas do globo se
perderam
• 50% dos recifes de corais foram perdidos no
mundo
• 32 milhões de hectares de florestas tropicais
foram desmatados entre 2010 e 2015
• NUNCA O SER HUMANO EXERCEU TANTAS AMEAÇAS PARA A EXTINÇÃO DAS
ESPÉCIES!
• NOS ÚLTIMOS 50 ANOS, O RITMO DOS IMPACTOS FOI SEM PRECEDENTES
FONTE (DADOS E IMAGEM): IPBES, 2019
PRECISAMOS DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS!
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

• Mais de 2 bilhões de pessoas dependem de recursos madeireiros para


lenha e outros usos energéticos
• 4 bilhões de pessoas dependem dos medicamentos naturais para o
cuidado básico de sua saúde
• 70% das drogas contra o câncer são naturais ou produtos sintéticos
inspirados na natureza
• Mais de 75% dos tipos de alimentos cultivados no mundo dependem de
polinização animal
• Ecossistemas terrestres e marinhos são a única fonte de remoção de
60% de todas as emissões antropogênicas de CO2

FONTE (DADOS E IMAGEM): IPBES, 2019


•As mudanças ocorridas nos ecossistemas contribuíram com
ganhos finais substanciais para o bem-estar humano e o
desenvolvimento econômico, mas esses ganhos foram
obtidos a um custo crescente

•Esses problemas reduzirão substancialmente os benefícios


trazidos pelos ecossistemas às gerações futuras.

FONTE: Avaliação Ecossistêmica do Milênio, 2005


PARTE 2:

CRIAÇÃO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS
E AVANÇOS
POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• As áreas protegidas – APs – são o principal instrumento


mundial de conservação da biodiversidade.

• Conceito se consolidou no século XVIII – humanidade como


agente transformador da paisagem

• As APs estão em 80% dos países do


mundo e, em 2003, cobriam 11,5 da
superfície do planeta

• A vasta maioria das APs foram criadas no


século XX: resposta à crise das extinções

Fonte: Nurit Bensusan, 2006


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS
• Originalmente: APs para preservação de lugares sagrados e
manutenção de estoques de recursos naturais (ex: florestas
sagradas da Rússia).

• Reservas de caça já aparecem nos registros dos assírios de 700


a.C.

• Romanos se
preocupavam em
manter reservas de
madeira para
construção de navios.

Elk Wildlife Refuge


Foto: Rodrigo Victor

Fonte: Nurit Bensusan, 2006


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• 2ª metade do século XIX: conservação de paisagens


naturais.

• Parques americanos como Yellowstone, Yosemite, Grand


Canyon obedecem a essa perspectiva: paisagens menos
sublimes não merecem ser protegidas.

• Alguns autores associam as origens da


ideia dos espaços protegidos “intocados”
e desabitados aos mitos judaicos
co-cristãos do paraíso.

• Origens comuns das palavras “parque” e


“paraíso”.

Elk Wildlife Refuge


Foto: Rodrigo Victor

Fonte: Nurit Bensusan, 2006


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• Parque Nacional de Yellowstone: primeiro a ser criado, em


1872, com o objetivo de preservar suas belas paisagens
“virgens” para as gerações futuras.

• Ato de criação do Congresso Nacional: área não pode ser


colonizada, ocupada ou vendida. O ser humano é visitante,
não morador
• Transferência forçada dos moradores
tradicionais do parque (índios) para criar
áreas desabitadas.

• Histórico de conflitos entre comunidades


tradicionais e as UCs.

• Atualmente, existem várias estratégias de


Elk Wildlife Refuge
minimização de conflitos Foto: Rodrigo Victor

Fonte: Nurit Bensusan, 2006


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• Iniciativas de criação de parques:


• Canadá: 1885
• Nova Zelândia: 1894
• África do Sul/Austrália: 1898
• México: 1894
• Argentina: 1903
• Chile: 1926
• Brasil: 1937: Parque Nacional de
Itatiaia
• A vasta maioria das APs
foram criadas no século
XX: resposta à crise das
extinções
Parque Estadual Serra do Mar
Foto: Rodrigo Victor

Fonte: Nurit Bensusan, 2006


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• Em 1933 foi realizada em Londres a Convenção para a Preservação da


Flora e da Fauna. Foram definidas 3 características dos parques nacionais:
Áreas controladas pelo poder
público.

Áreas para a preservação da fauna e


da flora, objetos de interesse
estético, geológico e arqueológico,
onde a caça é proibida.

Áreas de visitação pública

• Em 1948 foi criada a União


Internacional para a Conservação da
Parque Estadual Serra do Mar
Natureza - IUCN Foto: Rodrigo Victor

Fonte: Nurit Bensusan, 2006


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• Em São Paulo:

Cantareira:
✔ Desapropriação dos “Matos da Cantareira”; Decreto
Estadual 183 de 28/6/1892
✔ Parque Estadual
criado por Lei
Estadual 6.884/1962

Reserva Biológica do
Alto da Serra
(Paranapiacaba): Criada
em 1901 como Estação
Biológica do Alto da
Serra

Fonte: Plano de Manejo do PEC e arquivos internos


POR QUE CRIAR UNIDADES DE CONSERVAÇÃO?
ASPECTOS HISTÓRICOS

• Em São Paulo:

Parque Estadual de Campos do Jordão: 1º parque no estado


(Decreto Estadual 11.908 de 27/3/1941)
As Metas de Aichi 2011-2020
Reunidas em cinco objetivos estratégicos, as 20 Metas de Aichi fazem
referencia à conservação da biodiversidade. Elas são a base do planejamento
vigente relacionado à implementação da Convenção sobre Diversidade
Biológica - CDB.

Meta 11: Em 2020, pelo menos 17% das zonas terrestres e de


águas continentais, e 10% das zonas costeiras e marinhas,
especialmente áreas de importância particular para
biodiversidade e serviços ecossistêmicos, devem estar
conservadas por meio de gerenciamento eficiente e equitativo,
ecologicamente representadas, com sistemas bem conectados
de áreas protegidas e outras medidas eficientes de
conservação baseadas em área, e integradas em mais amplas
paisagens terrestres e marinhas..

FONTE: SECRETARIA DE INFRAESTRUTURA E MEIO AMBIENTE - SIMA, 2021


CRIAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO MUNDO
AVANÇOS
• Em relação à Meta 11 de Aichi, houve boa evolução no número de novas unidades de
conservação terrestres e marinhas, mas outros aspectos da meta tiveram progresso
apenas moderado
• Em 2018: 14,9% dos ambientes terrestres e 7,44 dos domínios marinhos estavam
cobertos por unidades de conservação.
• O maior avanço foi nos oceanos: 2 milhões de Km² (2000) a 26,9 milhões de Km²
(2018)

DILEMAS
• Representatividade ecológica:
– Das 823 ecorregiões terrestres, apenas 43,4% possuem ao menos 17% de sua área
protegida em UCs
– Das 232 ecorregiões marinhas, apenas 42,7% possuem ao menos 10% de sua área
protegida em Ucs
• distribuição das unidades de conservação no mundo: ¼ das áreas terrestres e mais de
50% das áreas marinhas possuem menos de 5% de suas superfícies protegidas.

FONTE: IPBES, 2019


Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC
Lei Federal n° 9985/2000

Categorias de Unidades de Conservação


AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PODEM SER
FEDERAIS, ESTADUAIS OU MUNICIPAIS

FATORES QUE DETERMINAM:

• Extensão, complexidade e singularidade do território

• Capacidade administrativa, financeira e de planejamento do


ente federativo

• Demandas externas ao poder público (sociedade, Ministério


Público etc)

• Outros
PARTE 3:

MATA ATLÂNTICA E O ESTADO DE SÃO


PAULO: IMPORTÂNCIA, DESAFIOS E
ESTUDOS DE CASO
Biomas Brasileiros

Fonte: Educa Mais Brasil


Biomas Brasileiros – vegetação
Remanescente

55%

82% 57%

28%
73%

26%

Fonte: BPBES, 2019


MATA ATLÂNTICA:

• Abrange cerca de 15% do


território brasileiro
• 17 estados
• Lar de 72% da população
brasileira
• 70% do PIB do Brasil

Fonte: Fundação SOS Mata Atlântica, 2021


Fonte: www.rbma.org.br
MATA ATLÂNTICA: HOTSPOT DE O QUE SÃO HOTSPOTS DE
BIODIVERISDADE?
BIODIVERSIDADE • Áreas que perderam pelo menos
70% de sua cobertura original:
AMEAÇADAS
• Áreas de que possuem pelo
menos 1.500 espécies endêmicas
de plantas vasculares :
INSUBSTITUIBILIDADE
• Ao todo, são 36 hotspots de
biodiversidade no planeta
• Essas áreas representam apenas
2,5% da superfície terrestre do
planeta, mas abrigam mais de
50% das espécies endêmicas de
plantas e 43% das espécies
endêmicas de aves, mamíferos,
répteis e anfíbios
• Correspondem a 35% dos serviços
ecossistêmicos de que dependem
as populações vulneráveis
Fonte: Conservation International (2021) e Wikipedia (2021)
Mapeamento da Cobertura Vegetal Nativa do Estado de
São Paulo - Inventário Florestal 2020
Cobertura vegetal nativa nas Unidades de Conservação
CONTEXTO:
• SP foi pioneiro nos estudos científicos e nas iniciativas de
conservação da biodiversidade

• Em consequência, estabeleceu um robusto sistema estadual


de áreas especialmente protegidas: unidades de conservação,
áreas experimentais e de produção

• SP mantém tradição de prosseguir na ampliação dos espaços


protegidos, ainda que com descontinuidades ao longo do
tempo.
REFERENCIAIS PARA A CRIAÇÃO DE UCs EM SP:
• Recomendações da comunidade científica (Ex: Biota-Fapesp)
• Abordagem por ambientes subprotegidos e sub-representados
no sistema estadual
• Abordagem por espécies
• Abordagem por paisagem (conectividade)
• Meta 11 de Aichi: 17% das área terrestres protegidas
• Oportunidades: Doação de áreas, entre outros
• Demandas externas que convergem com as prioridades do
Sistema Ambiental Paulista

Contribuições de informações: Plano de Expansão de área protegidas


CRIAÇÃO DE UC É UM PROCESSO DE MUITA
PARTICIPAÇÃO:
• Não se cria uma UC sem comunicação, mobilização e amplo
processo de consulta aos envolvidos
• Em São Paulo, decreto do SIGAP reafirma essa necessidade
• Não adianta pegar atalhos! No fim, a falta de participação
sempre limitam os processos
Representatividade das Unidades de Conservação estaduais para atingir a meta de 17% de
áreas terrestres conservadas por meio de sistemas de áreas protegidas
Vegetação
Meta de 17% Déficit de
nativa em UC
Vegetação da superfície vegetação nativa
Superfície estaduais
Bioma Região Fitoecológica (RADAM) nativa atual original - ha (Vegetação
original (ha) (Proteção
(ha) conservada nativa em UC
Integral + Uso
(ha) –meta de 17%)
Sustentável)**
Mata
Floresta Ombrófila Densa 4.954.124 2.124.108 842.201 1.187.354 345.153
Atlântica
Floresta Ombrófila Mista 354.918 123.082 60.336 23.621 -36.715
Floresta Estacional
8.954.369 573.732 1.522.243 100.396 -1.421.847
Semidecidual
Mangue 52.311 21.590 8.893 6.622 -2.271
Restinga 590.542 366.095 100.392 169.438 69.046
Campo de Altitude Si* Si Si Si Si
Cerrado Cerrado 9.980.135 847.414 1.696.623 100.002 -1.596.621
Campo, Campo Cerrado Si Si Si Si Si

Formação Arbóreo-arbustiva
Áreas Úmidas Si 288.617 Si 32.128 Si
em região de várzea
Total (ha) 24.886.400 4.344.638 4.230.688 1.619.561 -2.643.255
Fonte: Quadro adaptado a partir de estudo feito pelo Instituto Florestal (IF/SMA) no âmbito do Produto 5 –
“Monitoramento da Biodiversidade”, Ação 5 – “Conservação da Biodiversidade” do Plano de Ação São Paulo
2011-2020 para implantação do Plano Estratégico 2011-2020 da CDB.
*Si: sem informação
**Considerando Áreas de Proteção Ambiental (APAs)
FONTE:
Biota-Fapesp
(2008)
ESTUDOS DE CASO

(casos mais recentes)


MOSAICO DO CERRADO PAULISTA – 2018 – 4.040 ha
• Refúgio de Vida Silvestre Aimorés
• Área de Relevante Interesse Ecológico Leopoldo
Magno Coutinho
APA TANQUÃ-RIO PIRACICABA – 2018 – 14.047,30 ha
APA BARREIRO RICO – 2018 – 30.142,63 ha
Audiência Pública - Cruzeiro, 19/12/2019
MONA MANTIQUEIRA PAULISTA– 2021 – 10.371 ha
AMPLIAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL CARLOS BOTELHO + OU –
1.200 ha – EM PROCESSO
~1.200 ha
PARQUE ESTADUAL MARINHO TARTARUGA-DE-PENTE (ENTORNO DO PARQUE
ESTADUAL ILHA ANCHIETA): 1.713 ha – EM PROCESSO
UC DO SEDOESTE PAULISTA: ÁREA DE ESTUDOS: + OU – 95.000 ha – EM PROCESSO
Proposta de Criação de Unidades de
Conservação do Sudoeste Paulista
Proposta de Criação de Unidades de
Conservação do Sudoeste Paulista
UC DO PONTAL E DO OESTE: ÁREA DE ESTUDOS + OU – 140.000 ha – EM PROCESSO
2020
• Conclusão dos estudos técnicos – fase 1
ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE CAJURU – 1.717 ha –
EM PROCESSO

• Proposta aguarda
oportunidade de
compra do imóvel
FAZENDA SANTANA – ÁREA TOTAL E PROPOSTA DE EEc
SUGESTÃO DE TRABALHO INDIVIDUAL OU EM GRUPO:

• Na sua cidade, ou na região da sua unidade de conservação,


você identifica algumas áreas ainda não protegidas que
mereceriam ser transformadas em unidades de
conservação?

• Essa(s) área(s) estão mais vocacionadas para UC municipal,


estadual ou federal?

• Quais categorias você considera mais adequadas para


proteger a(s) área(s) em questão?
EM RESUMO:

• A diversidade biológica e os serviços ecossistêmicos das paisagens do


planeta garantem a vida de milhões de espécies que sustentam a teia da
vida e a própria sobrevivência da espécie humana

• O planeta foi severamente degradado ao longo dos séculos, especialmente


nos últimos 70 anos, levando a importante comprometimento da vida na
Terra

• Áreas protegidas e unidades de conservação estão entre as formas mais


eficientes de conservação da biodiversidade, geodiversidade e serviços
ecossistêmicos

• É urgente aperfeiçoarmos a gestão das nossas unidades de conservação,


bem como o estabelecimento de novas UCs, com adequada
representatividade ecológica e envolvimento das populações envolvidas

• O trabalho do monitor ambiental é essencial para a conservação ambiental


e a comunicação da importância das UCs para a população
Obrigado!

ravictor@fflorestal.sp.gov.br

Fotos e Imagens: Adriana Matoso, Rodrigo Victor, Nelson Gallo, João Batista
Baitello, Fausto Pires de Campos, Fundação Florestal, IPA, IPBES

Agradecimentos: PqC Mônica Pavão – Instituto de Pesquisas Ambientais

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