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D A D O S D E C O P Y R I G HT

Sobre a obra

A obra é disponibilizada pela Editora Phata resultado da antologia lançada alusivo


ao dia 25 de Junho, dia da Independência Nacional em Moçambique, e ao povo
que não a usufrui nas zonas onde a vida é mais curta que os sonhos. A mesma
será usada para pesquisas e estudos académicos.

É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou


quaisquer uso comercial do presente conteúdo, salvo haja as precisadas
citações.

Para sua obtenção, podem-se recorrer aos seguintes meios: e-mail, contacto ou
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Cell: +258847373832
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Antologia

Moçambique
2022
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FICHA TÉCNICA

Título: O riso das Flores viuvas


Autores da Antologia: António João Rungo; Mateus Licusse;
Gildo Eusébio Valentim Salvador; Adérito Guirrugo; Chissola
Daúd ; Gabriel Boque, Sousa Bartolomeu.
Design Gráfico: Editora Phata
Capa: Editora Phata
Editora: Editora Phata
Tel. (+258) 847373832
Ano: 2022
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“A maior sujidade do ser humano não é a do corpo, mas a da


alma. A sujidade da alma não depende da quantidade da água
e nem do sabão.”
(O Riso do Pecado, Sousa Bartolomeu)

“Em todo o mundo é assim: morrem


as pessoas, fica a História. Aqui, é o
inverso: morre apenas a História, os
mortos não se vão”
(O Barbeiro de Vila Longe)

“Não me sei. Não sei se sou africano ou um afro-europeu. O


africano completo é aquele que possui tudo negro, desde o
nome até a forma de pensar. Isso sim, chamo de africanidade”

(O Riso do Pecado, Sousa Bartolomeu)


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Índice
A Guerra do norte ................................................................... 9

People in power .................................................................... 11

Compunção de um detento .................................................. 14

Ao Litos, o alucinado ............................................................. 15

A Liberdade Utópica .............................................................. 17

Emancipação colonial ............................................................ 18

Fulgor da catana .................................................................... 20

Pedra sobre pedra ................................................................. 21

Haste sem algemas ................................................................ 23

Penumbra da soberania ........................................................ 24

Se Cabo Delgado Fosse Moçambique.................................... 26

Naufrágio no Mar do Tempo ................................................. 27

Vestes rasgadas ..................................................................... 30

O nascer do briguento Bebé .................................................. 31


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Notas introdutórias

Em 1200 n.e., observava-se o “Moçambique” com


semelhanças de recém-nascido: Sem vestes, sem nome, mas
com forças de dar os primeiros passos. Nasce no período do
Reino Manyikeni, próspero com criadores de gados e muitos
agricultores. As primeiras lutas começam pelo surgimento de
Mwenemutapa nos anos 1440-1450, e a vida puxava leve e
tranquila, apesar da classe dominante obrigar às populações a
entregarem o pouco que abiscoitavam “Dependência local”.
“O cabrito come onde está amarrado”. O cabritismo, talvez,
tenha nascido nos séculos muitíssimos passados, o povo,
naqueles tempos trabalhava para alimentação da sua família e
do cabrito amarado, criador de regras comunitárias. A fase
adulta do nosso querido filho observa-se nos anos 1498 pelo
advento de Vasco de Gama a partir da Ilha de Inharime, em
Inhambane. A visão aos poucos acendia e enxergava o que
havia ao seu redor, depois de pouquíssimo tempo, verificava-
se a velhice dele, e sem forças, mentalidades regulares,
restam as entradas e saídas de ‘quem tão pouco conhece’. A
preocupação pela velhice, verificava-se nas viagens e
investigações tradicionais, cientificas feitas pelos vizinhos que
o viram nascer. Os últimos suspiros sentem-se quando
Samora Machel, o primeiro Ex-Presidente, fixa o “fim” da
dependência do colonialismo, porém faltava-se proferir a
dependência do “nacionalismo” que nos abraça até hoje.

A obra é o resultado da antologia lançada pela Editora Phata


com objectivos de colher textos poéticos ligados ao dia da
Independência Nacional e ao Dependência Nacional.
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“A Sorte não existe em quem menos sabe o que quer”

(Sousa Bartolomeu)
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Biografia

__________________________
António João Rungo é um poeta,
escritor e estudante da UEM-
FLCS do curso de Licenciatura
em Ensino de Português.
Nascido aos 03 de Fevereiro de 2003,
Província de Maputo.
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A Guerra do norte
Ela quer alterar muito e depressa
Ela inflige a morte.
Ela é o povo usurpado pelo bélico.
Ela é a revolta do escravo.

A neve põe uma toalha calada sobre tudo.


Ah! Anseios de uma luz melhor que a do sol.
Difícil compreender que vida tem a Vida.
Difícil compreender o sentido da morte.

Irmãos sofrem no centro e no norte.


Já devíamos estar acostumados
Pois a guerra vem sempre do norte,
Embora sem norte, ela tem um centro.

Eu sou da frente, cada frente ganha sempre


Na frente a busca da liberdade.
O centro da guerra no Norte está sem sul.

Quem está na frente é capacitado.


Quem está no Norte, o sorriso é muito escarafunchado.
Quem está no Norte, o coração bate desenfreado.
Quem está atrás das grades, vive melhor que o Norte.
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Ah, que cenário escuro!


Pedra pedra, tentando construir esse futuro.
Tiro a Tiro tentando prevalecer nesse futuro.
Prevalicadores tentando destruir esse futuro.

Mas o que querem?


Todos sabem e ninguém sabe.
[Changana]

Hee! Makungo ya misavha.


Hi thlela tinhinpine.
Hita yentxa yini?

Matikanganhisa loku mi pimisa swaku nhimpi ya yaka.


Akuna nhimpi yaku ha yi dlhayi.
Marilo, lifu, ndlala, ni mbinheto.
Hi vhana vha nhimpi!
Hi kombela kurula.
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People in power

Oh, vinte cinco de junho!


Desculpa-nos,
O tempo culpa-nos.
Em batalhas e opressões estiveram
e hoje desvanecidamente invalidam
a tua existência.

Ofuscam-te.
Em meia turbulência estás no labirinto.
Estás na miscelânea do descontentamento
infinito.
Foste fiel em não engendrar-te,
Mantiveste-te como um todo a sós.

Desvalorizam-te.
Trocaram-te como um tapete
em meio ao carpete.

Oh! Discrepância lacónica do gládio histórico.


O que fazemos contigo data histórica ¿
Condescendeste-nos a independência,
E os usurpadores do teu legado, desrespeitam-te.
Encarnaram à insensibilidade para com os problemas
do povo.

Ah! Quem dera fosse o branco!


Em meia escuridão poderíamos vê-lo.
Mas como lutar contra o inimigo invisível?

Oh! Governação.
Esquecem-se dos 400 anos da presença do inimigo?
Ontem dormíamos e hoje perdemos o sono.
Ontem comíamos e hoje estamos sem refeição.
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Éramos escravos quando nos fizeram sonhar com a liberdade.


E hoje oprimem-nos como um inimigo.
Deixem-nos marchar e não calem-nos.
Não aquietem-nos.

Hoje prendem-nos por falar,


Mandam um exército calar um povo indefeso.

Oh governo, retrodeça ao feito de 25.


Em meio a opressão secular e fascismo, vencemos.
E hoje, tornamos a lembrar uma data na história, memorável.
Por quê dos dilemas incompreensíveis.
Esqueceram das batalhas viris?
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____________________________________
Biografia
Mateus Licusse nasceu na Província de
Maputo aos 24 de Abril de 1987. É formado
em Direito. Escreve crónicas e artigos de
opinião para jornais, tendo colaborado para o
Semanário Dossiers e Factos nas colunas
designadas por “Oficina de Ética” e “Xiphefu”.

É co-autor no livro de antologia “Espíritos


Quânticos’, publicado em 2022. É co- autor
selecionado para a antologia “Crónicas de
Yasuke” (ainda por publicar).
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Compunção de um detento

Tudo isto foi minha rudez inculta


movida pelo ciúme oceânico
O amor que tenho por ti enleia-me acanhadamente
você me escuta?
A sua angústia espanta-me a mente, de denso pânico. (…)

Foram as ásperas palavras que da minha boca


despregaram-se pela empatia

Com algemas que aferrolham as minhas mãos


confesso a culpa remorsosamente
Esta estufilha me irriga de agonia
Perfura-me o coração sempiternamente.
como se estivesse a equiponderar toda a minha talhe sobre a
agulha (…)

Escusar-me-ia oh mulher!
A minha torpe transfugiu-me como a saibosa maçã que
insidiou Adão e Eva no angelical jardim do Eden.
Ouve-me, Oh mulher!
A treva me abrasa
Iliba me destes Avernos
Preciso reviver ao lado dela, a brandura do meu espectro
como o ressuscitar da acácia que rebrota novos ninhos.
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Ao Litos, o alucinado
Da tua memória, apagaram-se as congruências da vida
Deambulas infinitamente pelas alamedas do subúrbio
Para ti, dias e noites são congéneres, na sua mente, é moda
Pois a tua vida resumiu-se às andanças sobre o areal
onde instantaneamente acuas p΄ra lutar com teu inimigo
arbítrio.

O teu cabelo encarapinhado, a tua desmazelada


barba, denunciam requinte

És incrível alucinado porque mesmo com tua memória


desvanecida ainda me reconhece
Serei o teu eterno condescente
O teu traje desasseado e arqueoso, clamam pelo esbranquice.

Mas não é culpa sua


Mas sim, da maldita memória
Que decidiu ti desplugar da congruência.

Lambiscas a sobra mas não encamas


Porque o redentor ampara a sua desolada realidade
Tremes no frio álgido e acalora-ti debaixo do fogo ardente,
encolarizando-ti por todas alamedas da cidade.
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Biografia

Gildo Eusébio Valentim Salvador, nascido no


dia 01 de Setembro de 1999 em Namapa-Erati
província de Nampula. A sua data e mês é um
facto marcante para ele, pois a data e o mês
significa muito para o mundo em geral, sendo que é o dia do
profissional de Educação física; O dia que iniciou a guerra
Franco-Prussiana (1870); O dia que foi lançado o primeiro
filme de ficção científica (1902); O dia em que Ahmed Zogu
declara que Albânia é uma monarquia e se proclama rei
(1928); O dia que inicia a segunda guerra mundial: Alemanha
Nazista e a Eslováquia invadem a Polónia, iniciando a fase
europeia de segunda guerra mundial (1939).

O dia de início da guerra dos seis dias (1967); o dia do


golpe do Estado na Líbia instala o coronel Muammar al-
Gaddafi no poder (1969); início da guerra fria: o voo KAL 007 é
abadiado por um caça a jato da união soviética (1983); o dia
que foi encontrado, pela primeira vez, restos de Titanic por
uma expedição americana e francesa (1985); o dia da
independência da união soviética por Uzbequistão (1991); o
dia morte do imã al-Bukhari, estudioso persa, a sua principal
obra da compilação das narrativas autênticas do profeta
Muhammad (S.A.W) é considerada a segunda obra no islão
depois do alcorão (870); O dia da morte do papa Adriano IV
(1159). Tuáriq o seu nome vernáculo, filho de Eusébio
Valentim Salvador e da Teresa Paulino Júlio. Concluiu ensino
médio na escola secundaria de Nampaco-Nampula e
estudante de Filosofia na Universidade Eduardo Mondlane.
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A Liberdade Utópica

No mundo em que vivemos, ser livre é uma utopia;


Se ainda estivesse vivo, nunca mais alcançaria
a liberdade que tanto sonhou para o nosso país;
pois, quem impede são dirigentes deste país.

Abarranca o nativo e facilita o viente;


Odeia o próximo e ama o afastado;
Julga o irmão pela voz do ocidente;
Com esse gesto ainda me sinto afectado.

Oh pilares da FRELIMO, arquétipos da paz!


O que arquitetastes, foi de curta duração;
Hoje, voltamos à mesma situação;
Pois o outro faz o que lhe apraz.

Lutamos, conquistamos o nosso trono;


Em Junho declara-se a independência;
Emancipando-se das amarras do colono;
Dando um passo com uma forte autonomia.

Que durante o trajecto se nota esta anomalia;


De ainda permanecermos na moral vivida;
A luta continua, queremos a moral pensada;
Moçambique, deve se emancipar totalmente.
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Emancipação colonial

Queremos derrubar a colonialidade;


Queremos acabar com a infantilidade;
Queremos prosseguir com autoridade;
Queremos sentir o anseio da juventude;

O dia da independência nacional;


Conquistamos o nosso territorial;
Com o amor e sacrifício excepcional;
Acabando com administração colonial;

É o dia que o território é do povo;


Enraizando o governo do povo;
Que abrirá a sessão interactiva;
Para uma política representativa;

Indirectamente, a opressão continua;


Guerras e lágrimas, a bandeira flutua;
Estrangeiros no poder o pais anua;
Graves factos que o governo atenua.

Moçambique, nosso país;


Rico em recursos, falta uma directriz
Exploradora que não deixará cicatriz;
Que guiará condições para um estar feliz.
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Biografia

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Adérito Guirrugo, nasceu em Maputo, aos 21
de Março de 1994. Escreve poesia lírica.
Publicou Becos Sobre a Casa, 2022. Fez parte
da Antologia - no Cais do Amor (Editora kulera,
2022). Foi finalista da 1ª Edicção do Prémio
de Poesia Gala-Gala em Novembro de 2020,
com o texto Lagarto Gingão. É formado em
Administração Pública pelo Instituto Superior
de Relações Internacionais, agora
Universidade Joaquim Chissano. É membro
das Forças Armadas de Moçambique.
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Fulgor da catana

Terrível e agonizante
medo
corpos
sobre
corpos
putrefatos
nojento cheiro
esperança desfalece
no fulgor do alfange
ou som da AKM que faz carnificina
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Pedra sobre pedra


Em meio a debandada
a mão que se ergue dúctil
na guerra
pedra
sobre
pedra
como punhal
no fim da tempestade
somente sangue e terra
como longínquo sopro
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Biografia
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Chissola Daúd é o pseudónimo da
escritora Eunísia Damião Sabune
residente na província de Maputo,
Boane em 1997.
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Haste sem algemas

Chamamos-te pátria
No discreto da velhice à inocência da juventude de Setembro
que se viu oprimida
nas plantações e nas ferrovias resignadas a escravatura.

Entre costas, antes açoitadas, por vezes resistentes


Derramamo-nos dos pincéis da outra raça
para ressaltar a negritude um dia assimilada

No dia 25 de Junho, Chamamos-te AMADA


em sopros da alma que descansa o tempo
que habitava o colono,

chamamos-te na meia haste


Em honras póstumas dos heróis embalsamados pela
unidade.
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Penumbra da soberania

É então que te aproximas


terra do meu ente
na infinita dispersão de ruínas
em panos escuros
como névoa, que não se vê o rosto

Entras pelo silêncio dos batuques


retornando a guerra
onde o massacre te marcou,
Ainda em sonhos do tempo que te habitava

Longe da palha fumada ao lamaçal


Que te torna gente
Terra esquecida no derrame da tinta
Que fermenta sangue em nossas vestes
Depois do abrir do fardo das capulanas de mata em mata

Minha terra,
Repousas no desbravar da maçaroca
Junto às cinzas que pernoitam
À sua palhota em chamas

Terra perdida
Na quietude, da ave um dia magoada
No guardar da pluma que sobrara
Esperançar o povo

Não te quero reconhecer


Enquanto persistirem gritos
Terra desolada, nos traços Makondes
Que um dia te fizeram bel
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Biografia

_________________________________
Gabriel Boque é formado em Ensino de
Português pela Universidade Pedagógica,
Delegação de Maputo, e tem formações
de curta duração em jornalismo.
Leccionou a disciplina de Português no
Ensino Secundário Geral e no Ensino
Médio Técnico-profissional, tendo tido
uma passagem pelo Ensino Superior.
Trabalha na área de jornalismo,
concretamente na produção de
conteúdos. É co-autor da obra
“Memórias do Idai” na qual participou
com o texto “O ciclone do meu futuro”.
Adopta o pseudónimo Matuni Wa
Nyendza.
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Se Cabo Delgado Fosse Moçambique

E se Cabo Delgado fosse Maçambique?


Seria um alambique
Onde mente e alma (im)pura
Encontravam alguma fissura
E disturbavam a Pátria Tramada
Na tão almejada Pátria Amada.

E se Cabo Delgado fosse Moçambique,


Seria um alambique
Onde a mais ténue palavra
Ganhava alguma raiva
E cambiava a Pátria Tramada
Na tão almejada Pátria Amada.

E se Cabo Delgado fosse Moçambique,


Seria um alambique
Onde cada carregado gatilho
Seria um rastilho
Para metamorfosear a Pátria Tramada
Na tão almejada Pátria Amada.

E se Cabo Delgado fosse Moçambique,


Seria um alambique
Onde toda a humana vaidade
Buscava alguma piedade
E transformava a Pátria Tramada
Na tão almejada Pátria Amada.

E se Cabo Delgado fosse Moçambique,


A Pátria não seria mais Tramada
A Pátria não seria mais Armada
A Pátria seria Amada!
… Matuni Wa Nyendza
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Naufrágio no Mar do Tempo

Naufraguei no mar do tempo


E senti saudades do meu futuro
Vivi peripécias de um presente
Cujo passado não auguro.

Naufraguei no mar do tempo


E senti a doçura do sangue negro
Espalhado pelo perfume da gente da minha terra
Senti o âmago da liberdade
A penetrar o íntimo da gente que a paz esmera.

Naufraguei no mar do tempo


E senti a beleza da minha costa acidentada
Vi gincanas de peixe gigante prenunciando alforria
Revi selvagens em tremendas brigas de harmonia
Ouvi a melodia cadenciada da voz da minha avó desdentada
Cantando façanhas do meu povo no tempo do mukoloni
Revivi a essência do meu ser hoje
E entendi o orgasmo que não senti ontem.

Naufraguei no mar do tempo


E senti o afago da minha déia
Que ficou na inconstância do meu futuro
A atravessar-me as entranhas
E então percebi que o sol de junho ainda pode
brilhar...
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Naufraguei no mar do tempo


E senti a doçura do sangue negro
Espalhado pela memória da gente da minha terra

E senti o amor
A espalhar-se por entre as entranhas da gente da
minha terra

E senti a paisagem a colorir o meu vazio


E senti a alforria a guiar meus paços
E senti a espádua e manter firme meu esqueleto...
Naufraguei no mar do tempo!
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Biografia
_____________________________________________
Sousa Bartolomeu, Natural do Distrito de Mutarara
(Mutarara-velha), província de Tete em Moçambique
em 19 de Abril. Licenciado em Ensino da Língua
Portuguesa e com habilidades em Ensino da Língua
Inglesa pela Universidade Púnguè – Extensão de Tete
(UnP-Tete). Técnico em Marketing e Gestão Empresarial pelo Instituto
Cursos Online São Paulo – Brasil. Técnico em Marketing e Gestão de
Clientes pela Wake Up - Maputo. Director Executivo da Global Edições
Lda. Fundaor da Editora Phata (virtual). Co-Fundador do Movimento
Amigos de Palavras Soltas da UnP-Tete. Docente da Escola Primária
Joel da Teresa Lisboa.
Prémios
2019 - Premiado como um dos melhores palestrantes das Jornadas
Estudantis organizadas pela Universidade Pedagógica - Tete.
2020 - Foi um dos vencedores do Concurso de Poesias organizado
pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
Participações
2018 – Participou nas IX Jornadas estudantis organizadas pela
Universidade Pedagógica – Tete.
2019 – Participou nas 1ª Jornadas Estudantis Organizadas pela UnP.
2021 – Participou no concurso YOUNG AFRICANS WRITING lançado
pela African Union à nível da África Austral.
Escritor dos livros:
1. Mistérios do Amor (Livro de amor - 2018)
2. Adeus do poeta (Poesia - 2018)
3. Sorrisos mortos, (Contos - 2020)
4. Os segredos das relações (Contos - 2020).
5. O Riso do Pecado (contos – 2021)
6. 2 Graus de açúcar (Contos infantis, 2022)
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Vestes rasgadas

Rasgam-se hoje
Só hoje
Vestes que tanto custaram coser

Rasgam-se hoje
Só hoje
Vestes que mão à mão
Encostamos a cintura.

Só, a nossa missão


É de ver os furos
Destes vestes usadas pelos outros

Hoje temos a missão


De cozer as vestes
Que com mãos armadas,
De agulhas, máquinas e AKM cozemos

Hoje, quem chora


É quem primeiro experimentou trajes
Hoje, quem as usa?
É quem de barrigada cheia segura as chaves
Onde mais trajes jazem
Para cobrir o cú de qualquer um que está nú.
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O nascer do briguento Bebé

25 de junho …

Neste brilhante dia, nasce-nos um bebé


Um bebé que por longa estação marchou à pé
Nasce-nos, um bebe que vagarosamente se volveu briguento
Briguento que em cada manhã, com mãos abdicas
mastiga o pão que nem se quer nos dá um aposento.

Nasce-nos hoje, um bebé que tanto cresceu e nem se quer


Se lembra dos irmãos, dos familiares, tão pouco dos vizinhos
que incensaram a cabeça na maternidade.
Nasce-nos hoje, um bebé sem sentimentalidade.

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