Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sem limite
A vida de Péter Murányi
Sem limite, a vida de Péter Murányi
Copyright © 2015 Ricardo Viveiros
Viveiros, Ricardo
Sem limite, a vida de Péter Murányi / por
Ricardo Viveiros. -- 1. ed. -- São Paulo :
Azulsol Editora, 2015.
Bibliografia
15-00761 CDD-338.092
Índices para catálogo sistemático:
1. Empresários : Vida e obra 338.092
ORIGINAL
SIMPLIFICADA
O pessimista se queixa do vento,
o otimista espera que ele mude
e o realista ajusta as velas
Ricardo Viveiros
9
10
Prefácio
P
Um brasileiro que nasceu na Hungria
éter Murányi foi um dos mais brilhantes empresários da história
deste País. Um pioneiro em seu segmento de atuação. Péter teve pa-
pel fundamental no fortalecimento das relações internacionais e do
comércio exterior ao ocupar o cargo de Cônsul Geral Honorário da Repúbli-
ca Dominicana em São Paulo. Mereceu diversos títulos, condecorações, meda-
lhas e outras honrarias no Brasil. No entanto, se eu tivesse que destacar apenas
uma das características marcantes desse incrível empreendedor, seria sua inte-
ligência privilegiada, ainda que outros aspectos de seu perfil sejam igualmente
impressionantes. Péter talvez seja um dos homens mais bem informados que tive
a oportunidade e o privilégio de conhecer.
Durante os dois mandatos que cumpri como governador do Estado de São
Paulo, nas décadas de 1960 e 1970, travei contato com centenas de personalida-
des da política nacional e internacional. Conheci presidentes da República, che-
fes de Estado, membros da realeza mundial, diplomatas de dezenas de países,
governadores de estado, ministros, prefeitos, juristas e parlamentares. Enfim,
gente de todas as esferas no que tange à gestão pública. No entanto, Péter, um in-
dustrial, não um político de carreira, talvez tenha sido uma das pessoas que mais
contribuíram com ideias para colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento.
Péter era uma verdadeira usina de projetos para os mais distintos campos
socioeconômicos: das soluções para os problemas de trânsito enfrentados já
naquele período pela capital paulista às ponderações extremamente coerentes
sobre política econômica, visando ao controle da inflação e ao crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB).
Porém, sua grande preocupação sempre foi com a educação; para ele, o maior
patrimônio de um povo. O instrumento que, concedido igualitariamente às pes-
soas, é o único capaz de fazer alcançar todos os meios de progresso pessoal e
social. E por mérito próprio, sem a dependência de qualquer benefício público
que não o legítimo direito ao saber.
Talvez fossem exatamente esses dois aspectos tão presentes em sua persona-
lidade – inteligência e capacidade de absorver um volume amplo e variado de
conhecimento –, que fizessem dele uma fonte de excelentes soluções para mui-
11
tos dos problemas cotidianos de nossa sociedade. Porém, havia outro elemen-
to que, acredito, era a central dessa verdadeira fonte responsável de criativida-
de: um coração movido por profundo senso de ética, visando, sobretudo, à paz
social e ao desenvolvimento do País.
Embora, mantivesse contato com vasto círculo de relações, formado por pes-
soas de diferentes classes, Péter estava consciente de que a busca pela justiça so-
cial começava por aqueles com quem convivia. E são notórios os benefícios que
oferecia a seus funcionários, em uma época na qual eram poucos empresários
que se preocupavam com as questões trabalhistas.
E isto – a genuína preocupação de ajudar o próximo – foi o motivo de nos-
so primeiro contato, que, surpreendentemente, não se deu pelas vias da política.
Péter e eu tivemos um grande privilégio: o convívio com nossas “Zildas”. Res-
salto aqui minha inesquecível esposa Zilda Natel e sua grande companheira de
ações sociais, a esposa de meu estimado amigo, Zilda Suelotto Murányi.
Em muitos momentos, as duas atuaram juntas em ações sociais – minha
Zilda no Serviço de Assistência Social do Palácio do Governo e a dele no traba-
lho desenvolvido como consulesa. Um dos principais projetos dos quais ambas
tomaram parte foi a Associação de Assistência à Família Necessitada (Aafan).
A amizade que uniu essas duas mulheres fez nascer entre nós dois um conví-
vio de conversas agradáveis e muito produtivas, em que a vida política do Bra-
sil era assunto permanente.
Péter mantinha com todos um relacionamento muito fácil, pela simpatia que
despertava. Era um homem de raciocínio ágil e sempre tinha respostas muito
inteligentes para quem quer que fosse o interlocutor. Ele e a esposa eram, frequen-
temente, nossos convidados às recepções no Palácio dos Bandeirantes. Por outro
lado, estive presente em muitos dos eventos que Péter promoveu em sua residên-
cia, como cônsul da República Dominicana. Eram festas bem concorridas, com
pessoas de vários setores, inclusive militares e toda a sorte de representantes da
política nacional. Por sua postura em que se sobressaia o discurso em defesa da
soberania nacional, não raro, meu amigo era convidado a se unir a este ou aquele
partido, para uma possível candidatura a algum cargo público. Jamais aceitou.
Embora elaborasse diversos projetos para solucionar problemas do País,
Péter claramente não tinha interesse de se dedicar à política. Sua preocupa-
ção em ver progredir a nação, erradicar o analfabetismo e melhorar a econo-
mia era apenas motivada pela profunda crença de que tinha no futuro do País
12
que escolheu para viver. Esse patriotismo, maior que o de muitos brasileiros “de
berço”, era algo que me deixava ainda mais admirado em sua forte personalidade.
Péter Murányi foi, sobretudo, um grande amigo, um eminente empresário
e uma das personalidades mais extraordinárias que tive a oportunidade de co-
nhecer. Em boa hora, sua família e a Fundação, que sua inteligência e generosi-
dade nos legaram, deram ao jornalista e escritor Ricardo Viveiros a feliz possi-
bilidade de perpetuar, nesta biografia, a vida e obra do ilustre brasileiro nascido
em Budapeste.
Laudo Natel
13
Capítulo 1
Reminiscências do
Leste Europeu
O jogo de xadrez é como a vida real.
É preciso juntar todas as informações
antes de fazer o próximo lance.
16 Sem Limite
D esde que o sangue foi derramado no tiroteio de Itupeva, a saúde de
Péter entrou em declínio. O homem de ombros largos, altivo e in-
dependente cedeu lugar a um octogenário que demandava cuida-
dos. Vera, sempre presente no casarão do Sumaré, foi testemunha dessa trans-
formação, embora o espírito irrequieto e empreendedor de seu pai continuasse
visível. A fábrica continuava sendo a grande paixão daquele imigrante, enquan-
to seu cérebro arquitetava fundar uma instituição de reconhecimento à pesqui-
sa, para eternizar a gratidão que sempre dedicou ao Brasil.
Centralizador, buscava manter sua rotina de despachar papéis. Mas, por ve-
zes, uma impaciência muda tomava conta do empresário. Ligava então para o
filho Péter Júnior e, com seu sotaque carregado, dizia:
– Como está o fábrica? Tudo bem? Eu precisa que você venha aqui urgen-
te, tratar um assunto comigo. Faz o que você tem que fazer, mas quero você no
máximo às 4 horas aqui.
O rapaz chegou ao casarão na hora determinada e, com muito respeito, se-
guindo todo o protocolo, subiu a longa e estreita escada que levava ao escritó-
rio do pai:
– O senhor me chamou?
Péter Murányi assentiu com a cabeça e, então, demandou sobre os assuntos
mais variados da vida da empresa, coisas sobre as quais tinha absoluto domí-
nio e consciência de como estavam. Perguntas eram feitas e respondidas sem-
pre de maneira muito direta e clara, sem que palavras sobrassem. Quando o
filho achava que, finalmente, chegaria ao assunto que motivara aquela convo-
cação, seu pai dizia:
– Ora, se já tratamos tudo de importante, agora vamos jogar xadrez!
O tom podia parecer de ordem, mas, a rigor, era um pedido difícil de ser re-
cusado. Descendo a escada, os dois alcançavam a sala de estar. Duas cadeiras de
18 Sem Limite
Ármin e Szidonia Pick, avós
paternos de Péter Murányi
20 Sem Limite
estudar na universidade local, atualmente muito bem aparelhada. Mas havia um
suposto “problema” em meio a todo esse ufanismo que varria a planície hún-
gara: a população judia.
No início do século XX, existiam quase 170 mil judeus em Budapeste, levando
a cidade a ser apelidada de “Judapest”. Era uma comunidade próspera, que havia
levantado na rua Dohány a maior sinagoga da Europa, capaz de acomodar três
mil pessoas sentadas. Ninguém duvidava da importância dessas pessoas para o
desenvolvimento da capital. Enquanto os magiares eram o motor da transfor-
mação política do país, os judeus financiavam seu desenvolvimento econômi-
co. Mas, para muitos húngaros, o judeu era visto como um elemento estrangei-
ro, que não deveria gozar dos mesmos direitos, a menos que se convertesse ao
cristianismo e adotasse um sobrenome “adequado”. Os avós paternos de Péter
eram judeus e preferiram não nadar contra a corrente...
Nascido em 1841, Ármin Pick, avô paterno de Péter, era um advogado bem-
-sucedido. Ele e a esposa Szidonia, sete anos mais jovem, tiveram nove filhos,
dois dos quais, Ida e Oszkár, morreram ainda na infância. Para viverem em paz
na Hungria, para deixar bem claro a todos que se sentiam integralmente hún-
garos, tomaram uma decisão radical. Com base em uma resolução do ministro
do interior húngaro, em 19 de novembro de 1881, Ármin aceitou, para si e seus
filhos Kornelia, Iván, Ernö, Gyula e János Ödön, adotar um sobrenome tipica-
mente húngaro: Murányi. Após essa data, nasceram mais duas meninas, Andrea,
em 1882, e Vera, em 1884, que desde o início foram apresentadas ao mundo com
o novo sobrenome. A família, contudo, manteve a religião judaica.
János Ödön, um dos filhos de Ármin Murányi, nasceu em 23 de outubro de
1879, na cidade de Györ. Após concluir o Ensino Médio em Budapeste, foi estu-
dar em Londres, Paris e Munique, esta última na Baviera, onde desenvolveu os
conhecimentos teóricos e práticos da sua profissão de técnico em seguros. Foi o
único dos filhos a se converter ao catolicismo, para não ser prejudicado em sua
vida profissional, uma decisão oficializada em 1909.
A conversão forçada foi um fenômeno tristemente comum na Europa e no
Oriente Médio, em várias ocasiões. Tanto que a tradição judaica faz referência
aos “anussim”, ou seja, aqueles que, tendo sido forçados a se converter a outra re-
ligião, continuaram a manter práticas judaicas na intimidade do lar. A literatu-
ra rabínica trata essas pessoas com respeito. O rabino Moisés Maimônides, um
dos mais eminentes talmudistas de todos os tempos, escreveu sobre esse proble-
22 Sem Limite
János Ödön e Vilma Murányi,
pais de Péter Murányi
Péter criança
tal da Hungria. Localiza-se entre o monte Gellért e o Danúbio, sobre uma fonte
termal que já era famosa no século XIII, o que possibilita suprir de água pura e
mineral diariamente as imensas piscinas que estão no seu interior.
Izidor casou-se com Alma Mauthner, nascida em 1865, que se tornou Sterk
pelo casamento. Ela nascera em Viena (chamada de Bécs pelos húngaros) e, após
terem uma menina natimorta, tiveram Vilma, Yolanda e Ilona.
Vilma Sterk casou-se muito jovem com János Ödön Murányi. Provavelmen-
te, tinha então menos de 20 anos, pois seu primeiro filho, János Tivadar, nas-
ceu em 1911. Em 1912, talvez para atender à insistência do marido, converteu-
-se ao catolicismo.
Era uma época de prosperidade para as duas famílias que se uniam. O pai de
János Ödön fora um destacado advogado até sua morte, em 1902, enquanto o
pai de Vilma vivia o seu momento mais especial, em plena construção do Hotel
Gellért. As potências europeias estavam em paz desde que a Guerra Russo-Tur-
ca terminara em 1878. As estradas de ferro, em constante expansão, uniam as
principais cidades do continente, o que fomentou o comércio e difundiu as rela-
ções culturais. Mas o Império Austro-Húngaro estava contaminado pelo nacio-
nalismo crescente de outros povos que, ao longo da história, tinham sido absor-
vidos pela dinastia austríaca. Havia uma tragédia anunciada, mas o momento
de sua eclosão era incerto.
No dia 28 de junho de 1914, um rapaz de 19 anos, chamado Gavrilo Princip,
matou com um único tiro o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, em
Sarajevo. Esse ato terrorista, vindo de um grupo nacionalista sérvio, foi o esto-
pim para que, em poucos dias, quase toda a Europa fosse mergulhada em um
conflito de dimensões apocalípticas e que não tardaria em atingir outras partes
do mundo. Era a Primeira Guerra Mundial. Nesse conflito, que se arrastou por
quatro anos, a Áustria-Hungria teve como aliados apenas a Alemanha, a Bulgá-
ria e o Império Otomano. No campo oposto, estava uma lista enorme de países,
dentre os quais França, Grã-Bretanha, Rússia, Sérvia, Itália e, mais tarde, Esta-
dos-Unidos e, até mesmo, Brasil.
Assim, Péter, o segundo filho do casal János Ödön e Vilma, nasceu sob a pro-
teção de um império praticamente sitiado e que, naquele abril de 1915, estava
em estado de choque. Menos de um mês antes o exército austro-húngaro sofre-
ra uma derrota espetacular. Após várias semanas de um cerco rigoroso e bom-
bardeio intenso, a fortaleza de Przemyśl, com seus 117 mil defensores, havia se
24 Sem Limite
rendido aos russos. Sem a fortaleza, tudo indicava que, a qualquer momento, as
forças russas cruzariam os montes Cárpatos e ganhariam a planície húngara.
O Império, que havia entrado na guerra havia menos de um ano, dava provas de
que não era capaz de garantir sua própria segurança.
Dessa forma, os primeiros anos da vida de Péter coincidiram com a rápi-
da decadência do país onde nascera. Em novembro de 1918, a capacidade mi-
litar do Império entrou em colapso e a Áustria-Hungria deixou de existir.
Os povos eslavos que ali viviam clamaram por soberania. Nascia, assim, a
Checoslováquia, enquanto partes dos territórios húngaros eram cobiçados pela
Sérvia e pela Romênia. Em meio à insegurança que se alastrou pela Europa logo
após o fim da guerra, um regime comunista se estabeleceu na Hungria em mar-
ço de 1919, mas foi derrubado pelo exército romeno quando este ocupou Buda-
peste em agosto do mesmo ano.
Com o Tratado de Trianon, de 1920, a Hungria foi fatiada pela Checoslová-
quia, Romênia e pelo novo Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Com isso,
três milhões de húngaros ficaram de fora das novas fronteiras do país. Para eco-
nomia daquela nação foi igualmente desastroso, com a perda de regiões indus-
trializadas, o déficit orçamentário e os altos índices de inflação.
Nesse curto período, os judeus húngaros sofreram duplamente: durante o bre-
ve regime comunista, por fazerem parte da “burguesia” e constituírem uma re-
ligião organizada em um Estado que pregava o ateísmo; e, também, com a que-
da do comunismo, pois o novo regime conservador era nacionalista e com forte
influência no cristianismo mais radical. Ademais, o principal líder comunista,
Béla Kun, era filho de pai judeu. Ainda assim, tanto os Murányi quanto os Sterk
sobreviveram e prosperaram. Mas, infelizmente, a onda de antissemitismo pas-
sou a ser um importante elemento da pauta política local. Um exemplo disso foi
a Lei “Numerus Clausus”, de 1920, que proibiu que os judeus da Hungria ocu-
passem mais de 6% das vagas das instituições superiores de ensino. É conside-
rada a primeira lei antissemita da Europa do período “entre guerras” e foi pro-
mulgada 13 anos antes do nazismo chegar ao poder na Alemanha.
Nessa época, mais exatamente em 1923, o casamento de Vilma e János Odön
entrou em crise. Aos 40 e poucos anos, ele apresentava um temperamento in-
transigente e os desentendimentos eram frequentes. Acabaram, então, se sepa-
rando; e de maneira nada amistosa. Os amigos do casal também foram atingi-
dos pelo rompimento, pois János Ödön exigia que tomassem o partido dele, para
26 Sem Limite
A casa de veraneio da família
na região de Tatranská Lomnica,
atual Késmárk
28 Sem Limite
margem, indo em direção a uma ilhota, onde ficou preso. Em meio à angústia
de perder o brinquedo, acabou chamando a atenção de um jovem de 20 e pou-
cos anos e que também tinha uma casa próxima ao lago. O rapaz, não sem difi-
culdade, conseguiu ajudá-lo.
Esse novo amigo, nascido em 1899, chamava-se Alfred Halward e era aus-
tríaco. Melhor dizendo, tinha nacionalidade austríaca, pois a cidade onde nas-
cera mudara de mãos ao final da guerra. Seu sobrenome também era empresta-
do, pois, de origem judaica, trocara o Blumenstock pelo Halward. E agora, por
meio do menino Péter, acabou vindo a conhecer sua vizinha dos montes Tatra,
a senhora Vilma. Ela era quase nove anos mais velha do que ele, já passara bem
dos 30 anos, mas era ainda uma bela mulher de olhos claros e cabelos dourados,
com as maçãs do rosto levemente salientes. Quando sorria, seus olhos brilhavam.
Não demorou muito e o rapaz apaixonou-se e foi correspondido. Casaram-se.
Péter passou a ter um bom relacionamento com Alfred, desde o início, tra-
tando-o pelo apelido carinhoso de “Fredziu”. Já em janeiro de 1925, presenteou-
-o com um caderninho onde escreveu, de próprio punho, com muito capricho e
em alemão, a história do general Haníbal, o cartaginês que quase destruiu Roma.
Na dedicatória, o menino escreveu: “Para o meu melhor querido amigo Fredziu
no seu aniversário, do seu fiel Peti”.
Porém, na redescoberta do amor, Vilma encontrou um problema. Alfred
tinha um bom emprego na Áustria, era químico em uma empresa de celulo-
se e papel localizada em Hilm-Kematen. Ele morava na vila dos trabalhadores
melhores qualificados. Era onde residiam também o dono da empresa e seus
diretores. Vilma deveria seguir para lá com ele, mas János Odön, o pai dos meni-
nos, se opôs. Não queria os filhos morando em outro país e chegou a pensar em
pedir a guarda deles. Vilma, então, aceitou fazer um acordo: manteria a guarda
das crianças, mas elas ficariam vivendo com os avós maternos, em Budapeste.
Nas férias, com frequência, Péter viajava para a casa da mãe e do padrasto, usu-
fruindo da influência deles em sua formação pessoal e profissional.
O avô Izidor era um homem conservador, saudosista do Império Austro-Hún-
garo e extremamente metódico. Um arquiteto competente e reconhecido pelo
seu trabalho. Em 1928, um projeto seu foi levado em consideração para abrigar
o Palácio da Liga das Nações (precursora da Organização das Nações Unidas
– ONU) em Genebra. Sua esposa, Alma, era uma versão feminina desse mes-
mo caráter. Ela cuidava de todos os detalhes da casa e nenhuma comida vinha à
30 Sem Limite
ticos também eram praticados no Balaton, o maior lago não só da Hungria, mas
também de toda a Europa Central.
Dessa época, Péter guardaria para sempre na memória, como uma doce nos-
talgia, os saquinhos de diákcsemege, que eram vendidos na porta das escolas,
como a pipoca de hoje em dia. Essa deliciosa “forragem de estudante” era com-
posta por um sem-número de ingredientes picadinhos, o que incluía nozes, amên-
doas, avelãs, frutas secas, torrões de açúcar, uvas passas, chocolate e outras coi-
sinhas de aspecto tão estranho que era melhor nem perguntar.
Na Budapeste do início dos anos 1930, os adolescentes de ambos os sexos se
encontravam em várias atividades de lazer, como nos passeios de barcos ou de
bicicleta, nas piscinas termais da cidade e até em acampamentos. Péter, naque-
la fase em que ainda não sabia muito bem como cativar uma menina, divertia-
-se colocando sapos dentro das barracas delas e ria muito com a confusão que
vinha em seguida. Depois, talvez seguindo os passos do irmão, aprendeu a arte
de fazer a corte e teve seus namoricos.
János Tivadar era uma influência forte para o caçula, que admirava suas pro-
ezas. Certa feita, ele recebeu um desafio de um amigo, proprietário de um carro.
O jovem Murányi insinuou que seria capaz de roubá-lo, sem se importar com os
obstáculos. Dessa brincadeira acabou surgindo uma aposta, e o amigo, dentro
das limitações técnicas da época, protegeu o veículo com os recursos mais avan-
çados e o estacionou em uma praça. János examinou a situação atentamente e foi
embora. Pouco depois, voltou com um guincho e rebocou para longe o veículo.
De certa forma, usando a inteligência, ele reproduziu a proeza de um antepas-
sado, daquele que, segundo a tradição oral da família materna, foi o primeiro a
carregar o sobrenome Sterk. Conta-se que esse antepassado, que era muito for-
te, também fez uma aposta. Havia em uma casa grande quantidade de material
de construção. Então, por um motivo que o tempo esqueceu, disseram-lhe que
ele poderia ficar com tudo aquilo que ele conseguisse carregar sozinho, no om-
bro, em uma única noite. E esse antepassado acabou conseguindo carregar todo
o material. Por isso ele foi apelidado de “stark”, que em alemão significa força.
Péter teve, assim, uma adolescência intensa, uma vez que conseguiu conci-
liar seus estudos com uma saudável vida ao ar livre, com o irmão e outros jo-
vens da sua idade. Os rapazes de então vestiam-se de maneira bastante formal,
indo para a escola de paletó e gravata, embora as cores, cortes e feitios fossem
variados. Houve, porém, um momento em que, contrastando com seus tra-
32 Sem Limite
paz quando começou a ouvir pelo país vozes que diziam que pertencer à “raça”
judia era incompatível com o pertencimento à “raça” húngara.
Naquele momento, muitos judeus e cristãos de origem judaica pensavam que
a escalada de intolerância era um fenômeno passageiro, semelhante à “hungari-
zação” do século XIX. Mas o panorama da Europa e da Hungria já ganhava co-
res que apontavam para um quadro de horrores totalmente original, que leva-
riam o jovem Murányi a dar um longo salto na escuridão...
36 Sem Limite
P éter concluiu o segundo grau em 1933, com louvor. Além da nota
máxima em praticamente todas as matérias, sua conduta pessoal foi
classificada como példas (exemplar). Tanto que um professor o pre-
senteou com um desenho e, na dedicatória, o chamou de “meu melhor aluno”.
Sua única nota abaixo do nível considerado “excelente” foi, mais uma vez, em
Caligrafia, classificada como rendes (regular). Ademais, ele não havia feito um
curso qualquer, mas sim ensino técnico-comercial, com quatro anos de dura-
ção, na Escola Superior de Comércio Conde Istvan Széchenyi, só para meninos.
Mas, qual seria o passo seguinte do rapaz? Aquela ainda era uma época em
que muito poucas pessoas frequentavam uma faculdade, e ainda não existiam
profissões regulamentadas. A universidade de Budapeste tinha um número
reduzido de alunos, em comparação à população do país. Entretanto, tanto
na família materna quanto na paterna, valorizava-se o ensino superior. Havia
inclusive a situação peculiar da tia Vera, irmã de János Ödön, que veio a ser a
primeira química a obter diploma de doutorado na Hungria.
Havia, por outro lado, uma questão prática. “Papa” Izidor estava ficando ido-
so. Sua elegante bengala, em cuja empunhadura havia a figura de uma mulher,
não era mais mera vaidade. Ela, agora, o ajudava a sustentar o peso da idade.
Para piorar, o arquiteto era o único provedor dos Sterk, em uma época de crise
econômica. Bem diferente era a situação da família paterna de Péter, que vivia
um momento bastante favorável, com vários membros se destacando em suas
profissões. Além do dr. Ármin, patriarca dos Murányi, de János Ödön e Vera,
havia Iván, que era um industrial de sucesso, e Ernö, o filho advogado que lhe
sucederia no escritório. Havia ainda o tio Gyula Murányi que, tendo sido alu-
no do célebre escultor Auguste Rodin, em Paris, se tornara um famoso artis-
ta plástico, que esculpia bustos, medalhas e ainda valorizava os prédios da ca-
pital produzindo detalhes arquitetônicos com arte. Porém, com a guerra que
38 Sem Limite
Péter e o irmão
János Tivadar em
Budapeste
Péter na adolescência
Foi assim que o caçula de Vilma e János Ödön conseguiu o primeiro empre-
go, aos 18 anos, na Sociedade Anônima Papirmüvek, uma fábrica de papel situ-
ada na rua Szemere, em Budapeste. No fundo, era uma espécie de estágio, com
a módica remuneração de 60 pengös por mês. Mas, quando recebeu o primei-
ro salário, ficou tão feliz que decidiu guardar uma das moedas de um pengö por
toda a vida, como se fosse um talismã. Poucos meses depois, em dezembro de
1933, ele foi transferido para outra fábrica de papel, a Sociedade Anônima Elsö
Magyar Papiripar, que havia incorporado a empresa anterior.
Não há como desconsiderar a coincidência entre o primeiro emprego de
Péter e o ramo de atividade de seu padrasto Alfred. Teria ele tido alguma influ-
ência nisso? Na verdade não, já que o trabalho do rapaz havia sido resultado de
um concurso. Mas, diante da forte amizade entre os dois, o jovem certamente
aprendeu muitas coisas com o brilhante químico austríaco.
Péter, entretanto, não parou por aí. Estimulado pela empresa, que logo iden-
tificou um perfil promissor no dedicado aprendiz, buscou se especializar.
Iniciou, assim, em setembro de 1934, um curso de formação em Gestão Indus-
trial, voltado para a área de celulose e fabricação de diversos tipos de papel, que
foi concluído no ano seguinte. Nos exames pelo qual passou foi avaliado com
kivaló, palavra que pode ser traduzida como “ilustre”.
Essa experiência, em um curso que valorizava o conhecimento prático, mar-
cou o garoto de maneira singular. Ao longo de sua vida, ele guardaria certo des-
dém pelos cursos universitários puramente teóricos. Um diploma, para ele, era
“um quadrinho pendurado na parede”. Não seria mais importante do que o
conhecimento adquirido no chão da fábrica, pelo erro e acerto, pela troca de
experiências. A tese do “aprender fazendo”, que até hoje se observa em muitas
escolas técnicas. Daí por que, anos mais tarde, imaginaria premiar pessoas que
realizassem trabalhos para encontrar soluções práticas e, principalmente viá-
veis, para o progresso da humanidade.
A vida do rapaz evoluía. Existia um vasto campo de possibilidades para
explorar na Hungria. Mas, por outro lado, a Europa vivia anos confusos, com
ideologias extremadas à esquerda e à direita.
Embora existissem movimentos antissemitas na Hungria, eles haviam sido
mantidos fora do poder durante o governo do primeiro-ministro István Bethlen,
a partir de 1921. Mas, com a grande depressão instalada no mundo após 1929,
o governo de Bethlen não conseguiu manter-se por mais tempo. Assim, usando
40 Sem Limite
os judeus como bodes expiatórios da crise, a extrema-direita acabou chegando
ao poder com Gyula Gömbös, em outubro de 1932. O novo dirigente político
afirmava que “os judeus não podem ser autorizados a ter sucesso em qualquer
campo de atuação além do percentual de sua representatividade na população”.
E essa extrema-direita, que já mantinha fortes laços de amizade com a Itália fas-
cista, agora também se aproximaria da doutrina nazista. Na gelada manhã de 30
de janeiro de 1933, chegava ao fim a tragédia da “República de Weimar” – os lon-
gos e frustrados 14 anos nos quais os alemães haviam lutado pela democracia.
Nascia o III Reich, Adolf Hitler chegava ao poder. Ainda assim, Gömbös prefe-
riu não colocar em prática seu discurso antissemita, pois precisava da ajuda dos
judeus para recuperar a economia do país.
Em 8 de setembro de 1935, a vida de Péter foi violentamente sacudida pela
morte de seu avô Izidor, aos 75 anos. O arquiteto, embora tenha aceitado a con-
versão da filha mais velha ao catolicismo, não negou suas origens ao estipular
sua última vontade. Assim, foi sepultado no cemitério judaico Kozma Utca, onde
ainda dorme para sempre.
Além da perda daquele que foi, de certa forma, seu segundo pai, Péter se viu
forçado a amadurecer da noite para o dia. Seu irmão János Tivadar, com seu es-
tilo bon vivant, não parecia interessado em assumir o lugar do avô. Diante des-
se vácuo, Péter se tornou, naturalmente, o chefe de uma família que incluía sua
avó, Alma Mauthner, e suas duas tias Yolanda e Ilona.
Na fábrica tudo ia muito bem, principalmente após a conclusão do curso de
gestão. Ele se sentia reconhecido e podia esperar um futuro nesse campo da in-
dústria. Mas, no jovem irrequieto e idealista, brotava a necessidade de mudar,
drasticamente, de rumo. Em 1938 pediu demissão da empresa e se alistou nas
Forças Armadas. Mais especificamente, na Marinha húngara que, naquela épo-
ca, tinha uma frota fluvial importante.
Quando Péter era adolescente, não era difícil avistar os navios de guerra
húngaros subindo e descendo o Danúbio em suas missões de patrulha e treina-
mento. Muitos deles estavam baseados em Budapeste. A largura do imenso rio
permitia que a frota abrigasse meia dúzia de vapores com 44 metros de compri-
mento e equipados com duas torres de canhão divididas entre a popa e a proa.
Eram blindados, com um perfil de casco baixo, para escapar melhor da mira
dos canhões adversários. Havia também outras embarcações com equipamen-
to mais leve, com metralhadoras antiaéreas, ou apenas destinadas ao transporte
42 Sem Limite
Da esquerda para a direita: Vilma, Izidor, Péter, Alfred,
Alma, János Tivadar, Yolanda e Ilona
44 Sem Limite
O jovem químico foi levado para uma frente de trabalho e obrigado a parti-
cipar da abertura de uma estrada, como simples operário. Essa arbitrariedade,
embora tenha durado apenas alguns dias, causou o efeito desejado pelos nazis-
tas: intimidação. O padrasto de Péter voltou para a vila revoltado e perguntou
ao chefe por que o havia delatado. Ele respondeu que não teve como evitar aqui-
lo. Foi quando ele e Vilma decidiram abandonar a Europa. O “Velho Mundo”,
o continente que inventara a democracia estava se tornando uma terra sem lei.
Não se sabe exatamente como, mas Alfred soube que uma indústria brasilei-
ra, a Klabin, estava procurando um químico altamente especializado. Essa em-
presa tinha uma longa tradição na produção de papel, tendo inaugurado uma fá-
brica na capital paulista em 1914. Foi por meio desse contato que o casal decidiu
ir para o Brasil — uma longínqua terra localizada do outro lado do imenso mar.
O plebiscito realizado na Áustria veio a confirmar o Anschluss. Como as po-
tências europeias nada fizeram para opor-se a essa anexação, Hitler estava mo-
tivado para ir além. Ele desejava anexar os Sudetos, região da Checoslováquia
de maioria alemã. Criada em 1918, a partir de uma costela da Áustria-Hungria,
a Checoslováquia era uma democracia multirracial, com maioria de checos e
eslovacos dividindo o território com alemães, húngaros, rutenos e poloneses.
Em 1938, Hitler ameaçava invadir o país, sob o argumento de que a mino-
ria alemã estava sendo desrespeitada. A França e a Grã-Bretanha, ainda trauma-
tizadas com a mortandade da Primeira Guerra Mundial, desejavam evitar um
novo conflito geral. Preferiram então fazer um acordo com a Itália e a Alemanha,
autorizando esta última a anexar os Sudetos.
Para o governo húngaro, era o momento para buscar, de maneira pacífica, a
revisão das fronteiras do Tratado de Trianon. Sabe-se que, naquele tempo, cerca
de 750 mil húngaros viviam na Checoslováquia, principalmente em uma faixa
de terra a leste, próxima à fronteira dos dois países. Os húngaros a chamavam,
e ainda a chamam, de Alta-Hungria. Diante da apatia das potências ocidentais
e com o apoio da Alemanha e da Itália, a Hungria obteve um acordo favorável
com o governo de Praga. Por meio dele, uma parte da região em disputa, habi-
tada por meio milhão de húngaros, foi devolvida sem violência.
Péter Murányi, como integrante da Marinha húngara, foi testemunha e partí-
cipe desse momento de reincorporação da Alta-Hungria. Embora tivesse se alis-
tado havia poucas semanas, ele já era então um örmester (sargento). Para tanto,
certamente colaborou o fato de ter concluído o ensino médio e possuir forma-
46 Sem Limite
Péter Murányi no exército
48 Sem Limite
A partir daquele momento, por fim seus olhos abriram-se para o caminho
sem volta no qual a Hungria estava entrando. Era uma questão de tempo até
que todos os judeus húngaros fossem expulsos das forças armadas. Péter pre-
feriu sair antes disso, com dignidade. E como havia atuado com valor, recebeu
um diploma em que se lê:
50 Sem Limite
Primeiro envelope de pagamento e primeira moeda recebida
52 Sem Limite
alguns poucos brasileiros e um judeu polonês. Declarava que sua última residên-
cia havia sido em Antuérpia e indicava como endereço de destino Rua Aurora,
número 489, centro da capital do Estado de São Paulo.
Podem-se imaginar as horas e os dias de tensão que ocuparam o início da
viagem. Para começar, o Canal da Mancha já estava sentindo os efeitos do cli-
ma de guerra e encontrava-se “minado”. A escala, prevista para ocorrer em Da-
car, na costa da África, foi abortada e o navio seguiu direto para as Américas,
sem paradas e totalmente às escuras. Assim que o SS Mar del Plata atravessou
a linha do Equador, um furioso temporal o atingiu. Enjoado com o movimen-
to de sobe e desce das ondas, Péter preferiu sair de sua cabine, permanecendo
atado ao mastro principal do navio para não ser levado por algum vagalhão.
E não foram apenas as intempéries a causar angústia. Mesmo navegando sob
uma bandeira neutra, não havia garantia de que os perigos do conflito não che-
gariam à embarcação e a seus ocupantes. Pois, à medida que o navio se afas-
tava, uma tempestade de ódio se espalhava pela Europa e, nos anos seguintes,
iria cobrir de sangue e lágrimas os campos e as cidades que se estendiam dos
Pirineus às portas de Moscou.
56 Sem Limite
V encido o oceano, Péter chegou ao porto de Santos, no litoral
paulista, no dia 16 de outubro de 1939. Como era de se prever,
obteve apenas um visto de turista, com validade de 180 dias,
para ficar no Brasil. Assim, sem perder tempo, subiu a Serra do Mar e foi
desbravar a cidade de São Paulo. Na nova terra, para facilitar sua vida futu-
ra, abandonou o uso de seu segundo nome e passou a ser conhecido somente
como Péter Murányi.
Apesar das cartas que recebia da mãe, por meio das quais sempre podia fazer
uma ideia da vida naquela capital, o húngaro se surpreendeu com o tamanho da
cidade que se exibiu orgulhosa perante seus olhos. Com mais de um milhão de
habitantes, era maior do que Budapeste. Ela representava o centro de uma região
que, embora tenha sofrido os reflexos da crise econômica mundial, estava nova-
mente em pleno ciclo de desenvolvimento. As origens desse processo econômi-
co, que fez daquela urbe o grande polo industrial brasileiro, é bastante singular
e, certamente, não escapou à curiosidade do jovem aventureiro.
A partir do final do século XIX, estimulado pelos preços internacionais, o
solo fértil do Estado foi coberto por milhões e milhões de pés de café, o que en-
riqueceu a região e atraiu mão de obra não só do Nordeste brasileiro, mas tam-
bém de outros países. Estrangeiros em busca de oportunidades, especialmente
espanhóis, italianos e japoneses, se espalharam pelo interior, acompanhando o
ritmo da expansão das estradas de ferro e dos machados e fachos que extermi-
navam as matas ainda virgens.
A cidade de São Paulo logo se beneficiou com o dinheiro vindo daquela lu-
crativa monocultura, que bancaram a construção dos casarões da Avenida Pau-
lista e um comércio requintado de produtos importados. Financiados pelas sa-
cas de café, muitos jovens ricos puderam estudar no estrangeiro e a população
acabou absorvendo modismos e padrões estéticos europeus.
58 Sem Limite
Péter: em pouco tempo,
um empresário no Brasil
60 Sem Limite
país de escolha: o Brasil. Isso fazia com que o estudo do novo idioma acabasse
relegado às horas mortas, quando ele estava chacoalhando no bonde ou para-
do em alguma fila. Com base em suas experiências com o francês, ele acredita-
va que, ao decorar cerca de 500 palavras, ele já poderia se fazer entender e que,
chegando às duas mil, ele já estaria falando bem. Assim, todos os dias ele colo-
cava dez papeizinhos no bolso do paletó. Em cada um havia uma palavra em
português com a tradução para o húngaro escrita em uma letra bem pequeni-
na, no cantinho. Ele então sentava no bonde, pegava um papel do bolso e lia a
primeira palavra em português e a repetia em húngaro várias vezes. O que ele
conseguia decorar colocava em um bolso, o que errava ia para o outro. Depois
ele fazia o contrário, lia a palavra em húngaro e a repetia em português várias
vezes. Ao final da semana ele tinha aprendido mais 70 palavras. O que já sabia,
ele descartava. O que não conseguia memorizar ficava para a semana seguinte.
No ônibus, no bonde, nas horas ociosas, ele aprendeu rapidamente 500 palavras.
Era uma técnica dele, coisa de autodidata.
Outras adaptações se faziam necessárias. Por exemplo, ele até que gostou da
comida brasileira, especialmente da feijoada e das diferentes formas de servir o
camarão. Mas, assim como muitos outros húngaros, não se adaptou à microbio-
logia tropical e foi atacado por amebas. Esse problema o perseguiu por muitos
anos e influenciou bastante a sua alimentação. Sofreu também com o sol forte,
pois sua pele era muito clara e, por qualquer coisa, ficava logo rosada.
Passadas poucas semanas, a comunidade de imigrantes começou a olhar o
rapaz com certo estranhamento. Ele não parecia estar procurando um empre-
go, mas estava sempre bem-vestido, indo de um canto para o outro, fazendo per-
guntas, examinando a cidade. Ele também não ia beber nos clubes, nem ficava
se lamentando pela vida que ficara para trás, na Europa.
– Ele está sempre sério e contido – comentou uma senhora que conversa-
va com a jovem Magdalena Valko –, como se estivesse se preparando para fa-
zer algo muito grande.
A mulher tinha razão. Com as informações que recolhera até ali, Péter já po-
dia afirmar que a nova terra oferecia grandes oportunidades. Em primeiro lu-
gar, havia o fator humano. O povo, embora não fosse refinado, era muito gentil
com os estrangeiros. Demonstrava grande paciência com aqueles que não fala-
vam português e, sempre que possível, tentava ajudar. A cidade era segura e o
regime político, embora não fosse democrático – pois o Brasil vivia a Ditadura
62 Sem Limite
Pouco depois de
chegar ao Brasil,
Péter se casou
com a jovem
Eva Courant
64 Sem Limite
va o fundo e a tampa da embalagem do corante. Além disso, ele desenvolveu, por
conta própria, uma máquina para fazer pequenos tubos de papelão, que compu-
nham o corpo do produto final. Essas embalagens, onde a tampa e o fundo são
de metal, separados por um corpo de papelão, eram chamadas de “fibralata”, ter-
mo que depois se tornaria marca da empresa. Anos depois, ele obteria também
uma patente de invenção do modelo de fibralata que ele desenvolveu.
Para despistar a todos, inclusive a própria Nestlé, sobre a origem de sua ma-
téria-prima, ele se valia de uma logística complexa. Contratava um primeiro
caminhoneiro que pegava a sucata na Nestlé e a descarregava em um local que
não tinha qualquer relação com sua empresa. Depois ele contratava um segun-
do caminhoneiro que passava nesse local e levava os discos de metal para a rua
da Consolação. Então, quando alguém da Nestlé perguntou ao primeiro cami-
nhoneiro “o que aquele maluco está fazendo com os nossos discos”, o motorista
respondeu que sinceramente não tinha a menor ideia...
Fazendo os dois carretos sucessivos, ele conseguiu, por certo tempo, man-
ter seu segredo industrial e entrar firme no mercado. Quando o segredo foi des-
vendado, o preço da sucata da Nestlé subiu bastante, mas ele então já dispunha
de bom estoque e capital razoável para seguir em frente.
Não seria essa a única vez que ele faria uso de sucata para obter matéria-pri-
ma boa e barata. Usando o mesmo raciocínio dos discos de 81 milímetros, ele
encontrou uma fábrica de arruelas que jogava no lixo o miolo de metal que so-
brava do processo de fabricação. Ao perceber ali uma oportunidade, pergun-
tou aos responsáveis pela empresa quanto cobrariam pela sucata. Eles respon-
deram que aquilo não tinha valor e que ele podia levar tudo de graça, desde que
desse uma gorjeta ao funcionário responsável pelo descarte dos resíduos. A essa
altura, ele já tinha entrado em contato com uma engarrafadora de refrigeran-
tes, pois percebeu que aqueles pequenos discos eram perfeitos para a fabricação
de tampinhas para garrafas. Dessa forma, ele conseguia a matéria-prima prati-
camente de graça e a vendia por quilo. Deu para ganhar um bom dinheiro, até
a engarrafadora descobrir a origem dos disquinhos de metal e passar a com-
prar diretamente da fabricante de arruelas. Um esquema semelhante ele mon-
tou para ajudar uma empresa da família Matarazzo, que estava com dificulda-
de para importar estanho.
Péter também usava retalhos de outras empresas de embalagem, quando do
processo de fabricação de latas estragavam algumas folhas de flandres no mo-
66 Sem Limite
Mônica com cerca de dois anos de idade
68 Sem Limite
gria e leveza na vida agitada de Péter. Um momento em que ele se arriscou a
aproveitar um pouco os frutos do seu trabalho, velejando com ela, pratican-
do esportes, fazendo pequenas viagens.
Era um momento de otimismo para o mundo, que assistia à rápida decadên-
cia da Alemanha nazista após a derrota em Stalingrado e o desembarque dos
aliados na Itália e na Normandia. Até mesmo o Brasil vinha oferecendo o san-
gue de seus jovens para obter esse sucesso ao enviar 25 mil soldados para com-
bater na Itália. Péter, do jeito que podia, contribuiu para isso doando dinheiro
para que a Grã-Bretanha construísse aviões de caça. Por conta disso, ganhou até
um diploma da bem-humorada “Ordem do Fole”, que recolhia e repassava esses
recursos. Mais de 20 aviões foram adquiridos com a ajuda financeira dos “ma-
nipuladores do fole”. Além disso, ele doou recursos ao Comitê Britânico de So-
corro às Vítimas da Guerra e ao Fundo Patriótico Britânico de São Paulo. Porém,
quando Hitler se suicidou no dia 30 de abril, a comemoração geral não impediu
que o empresário sentisse uma grande apreensão. O que teria acontecido com
sua família na Hungria?
Os anos finais da guerra foram especialmente duros para os húngaros, prin-
cipalmente os de origem judaica. Até 1943, o Regente Horthy conseguira impe-
dir que os judeus húngaros fossem deportados para os campos de concentração
construídos pela Alemanha. Para não entrar em atrito direto com Hitler, ele afir-
mava que seria impossível retirar os judeus da vida econômica do país de um
ano para o outro, substituindo-os por pessoas incompetentes e indignas de con-
fiança, sem que isso levasse a Hungria à bancarrota. “Tal substituição”, escreveu
ele em 1941, “requereria o prazo de uma geração, no mínimo.” Mas, quando o
exército húngaro na Rússia sofreu uma derrota fragorosa, no final de 1942, Hi-
tler exigiu que os judeus húngaros fossem punidos. Para a lógica sanguinária do
líder nazista, os culpados pelo fracasso nas estepes russas eram os 800 mil ju-
deus que Horthy deixara em liberdade.
O Regente evitou mais uma vez as deportações em massa, mas ampliou o
uso dos judeus do sexo masculino em obras de infraestrutura, especialmente
destinadas ao esforço de guerra. Na prática, era trabalho escravo, puro e sim-
ples. Mas, ao menos, as famílias desses homens continuavam em casa, receben-
do suas parcas rações de comida.
Por conta disso, em janeiro de 1943, János Tivadar, o único irmão de Péter,
foi levado com outros milhares de judeus para construir valas e barreiras anti-
70 Sem Limite
é a de que estivesse morto. Então, um dia a família recebeu uma carta escrita
por um certo Andor Falk. Datada de 15 de dezembro de 1945, começava com a
seguinte frase:
O remetente explicava que havia sido deportado ao mesmo tempo que Já-
nos, tendo juntos estado em vários locais diferentes, trabalhando muito ao ar li-
vre e com pouca comida. Apesar dos deslocamentos que foram forçados a fazer,
aparentemente nunca deixaram o território da Hungria. Durante aqueles pri-
meiros meses, a vida era dura, mas ainda suportável. Então, no dia 7 de dezem-
bro de 1944, foram colocados em um trem onde, após onze dias de idas e vin-
das, foram desembarcados na vila de Harka, perto da cidade de Sopron, quase
na fronteira com a Áustria. Ali, sob um frio de dez graus negativos, foram for-
çados a construir fortificações de campanha, das sete da manhã até as quatro
horas da tarde. A ração ficou ainda mais minguada, constituída por apenas 30
gramas de pão, meio litro de uma bebida escura que imitava café e três decili-
tros de cozido. Dormiam sobre a palha em uma espécie de galpão sem aqueci-
mento, onde o vento entrava pelas frestas das tábuas. Eram três mil pessoas vi-
vendo sob essas condições.
Em janeiro de 1945 – escreveu Falk – os dedos dos pés de János Tivadar con-
gelaram e gangrenaram. Não havia médicos para atender a ele e aos outros do-
entes, mas uma cirurgia improvisada foi feita assim mesmo. Ele, então, não ti-
nha mais como sair do galpão e foi minguando aos poucos. Em seguida, o campo
foi atingido por uma epidemia de tifo. Andor Falk continuou trabalhando, mas
vinha diariamente visitar o amigo até que, no dia 25 de março, János faleceu.
Assim, quando os russos finalmente chegaram ao acampamento de Harka,
János havia sido sepultado em uma vala comum apenas seis dias antes. Seus
ossos, até hoje, estão junto à pequena vila fronteiriça, aguardando para serem
transferidos para um memorial construído para os mártires de Harka, em um
cemitério de Budapeste.
O drama dos judeus ao longo da Segunda Guerra Mundial, quando milhões
sucumbiram à perseguição nazista, comoveu o mundo todo. Péter não podia
72 Sem Limite
– Dr. Braz, minha paixão por este país eu demonstrei no momento em que eu
escolhi ser seu cidadão. Assim, sou mais brasileiro do que você. Afinal, o senhor
aqui nasceu e não teve oportunidade, como eu, de adotar esta nacionalidade.
76 Sem Limite
Z ilda Suelotto era uma menina feliz, apesar de ter perdido a mãe,
Olga, aos 13 anos. “Seu” Aurélio não quis se casar novamente,
pois insistia em dizer que “mãe é uma só”. Então Zilda, a caçula,
e sua irmã Lydia, foram criadas por Yvonne, a mais velha das três, e pela tia
materna Zilda e seu marido João, que moravam por perto. O irmão Cláu-
dio, o primogênito, bem mais velho que as moças, já estava casado e vivia
em outro lugar.
O imigrante italiano, que chegou ao Brasil ainda bebê, enfrentou outros de-
safios além da viuvez. Mas, de vitória em vitória, conseguiu montar uma peque-
na fábrica de chapéus, na Praça das Rosas (atual Marechal Deodoro), em São
Paulo. O público-alvo era formado pelas damas da cidade e o espaço da fábrica
era dividido com o sobrado onde a família morava e também eram vendidos os
chapéus de luxo criados por Aurélio. Quando havia o Grande Prêmio do Jockey
Clube, o homem trabalhava dia e noite para atender às demandas das madames
que vinham pessoalmente à Casa Suelotto.
Nas décadas de 1930 e 1940, época em que nem se podia imaginar a constru-
ção do “Minhocão” – como é conhecido o Elevado Presidente Costa e Silva, que
liga a Praça Roosevelt ao bairro de Perdizes –, a região da Praça das Rosas era
muito agradável e, no Carnaval, o corso de carros abertos, com suas batalhas de
confete e serpentina, fazia a curva bem em frente da casa de Zilda. Na verdade,
era uma São Paulo tranquila e romântica, onde a menina podia gozar de uma
infância ingênua. Tanto que acreditou em Papai Noel até os 10 anos, sem des-
confiar do fato de que seu tio sempre chegava para a ceia atrasado, logo depois
da saída do bom velhinho...
Após se formar no ginásio Minerva, a moça continuou a estudar e concluiu
o curso de Contabilidade na Escola de Comércio Brasil, que ficava na Rua São
Gabriel, bem próxima de sua casa.
78 Sem Limite
Zilda Suelotto
80 Sem Limite
– Então, eu vou ditar devagarzinho...
E assim, ela acabou trabalhando diretamente para o temido sr. Péter e teve
que aprender a vencer alguns obstáculos. O primeiro era a barreira da língua.
Como ele nunca havia estudado português, era normal trocar o feminino pelo
masculino e vice-versa:
– O senhorra, por favor, pegue a envelope parra mim.
Embora tivesse dificuldade para pronunciar os ditongos, ele frequente-
mente começava uma conversa usando um tritongo misterioso e que ficou fa-
moso entre os funcionários. Era o “úia”, que seria o seu equivalente para o “olha”.
Então, ele podia dizer assim:
– Úia, eu não estou gostando nada desses númerros...
Algumas palavras ele simplesmente não conseguia pronunciar. Ibirapuera
ficava “Ibipuera” e cabia à Zilda fazer a “tradução” na hora de escrever. E isso
para não falar da caligrafia terrível, que nem ele compreendia e que a nova se-
cretária precisava se esforçar para compreender o contexto.
Por outro lado, ele não demorou a conquistar a admiração dela, pela enor-
me capacidade que demonstrava em tudo o que se metia a fazer. A brincadeira
de garoto, de fazer contas de cabeça, tinha virado habilidade de gente grande,
usada no dia a dia da fábrica. Mas ele não gostava de centavos nem de vírgulas.
– Vocês perdem muito tempo com esse negócio de vírgula – dizia ele, irritado.
E quando perguntava a um funcionário sobre o volume de produção, geral-
mente já sabia a resposta de cabeça e corrigia:
– Não é verdade, deu menos!
Com pouco mais de uma década de existência, a Péter Murányi Indústria e
Comércio S.A. alcançou uma posição de respeito no mercado. Seu carro-che-
fe, a embalagem no sistema fibralata, conquistou a confiança de clientes que, no
primeiro momento, temiam que a umidade pudesse atravessar o papelão. Mas a
engenhosidade do empresário foi vencendo os obstáculos técnicos, como acon-
teceu com as embalagens de sorvete, nas quais a impermeabilização do papelão
era garantida por uma camada de parafina. A falta de metal, principalmente an-
tes da construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), também ajudou
na consolidação do produto junto ao mercado.
Em 1952, a Péter Murányi já estava instalada em uma nova sede, na Rua Sam-
paio Moreira, 247, também no Brás. A princípio era um imóvel alugado, que seu
dono, sem fazer muitas obras estruturais, buscou adaptar à indústria. Havia o
82 Sem Limite
Estabelecido como diretor
de sua própria empresa,
Péter logo progrediu em
sua nova pátria
Em 1954, a empresa tinha apenas dois caminhões pequenos, logo reforça-
dos por outros dois.
Nessa fase, Péter ainda ia à fábrica quase todos os dias. Quando resolvia fa-
zer a ronda pelas instalações cumprimentava todo mundo, mas não conversava
muito. Se ele visse alguma coisa errada, buscava corrigir imediatamente. Ele de-
testava quando os problemas eram escondidos dele, mas, por outro lado, estimu-
lava os funcionários a encontrar uma solução. Ele dava prazo para resolver e di-
zia: “Se você não conseguir resolver, peça ajuda para José que ele entende disto”.
Quando alguma máquina enguiçava na sua presença, ou se o empregado
não sabia fazer a operação corretamente, ele colocava um macacão e ia lá mos-
trar como se fazia. Conhecia todos os detalhes de cada fase da produção e do
funcionamento de cada máquina. Assim, não exigia de seus funcionários coi-
sas impossíveis.
Mas Péter não se limitava à fabricação de embalagens, pois estava sempre
atento às outras oportunidades de mercado. Na Rua do Gasômetro, por exem-
plo, ele mantinha uma firma cujo objetivo era fazer a representação de uma fá-
brica alemã que produzia certas espécies de tela usadas na produção de papel.
Em outra atividade, ele costumava usar capital próprio para comprar insu-
mos, quando estavam com preço baixo. Armazenava-os em grande quantidade
para uso próprio ou, quando o preço subia muito, colocava-os à venda com am-
pla margem de lucro. Então, era muito normal se deparar com anúncios de jor-
nal em que a fábrica de Péter oferecia, “pelos melhores preços da praça”, sulfato
de sódio, barrilha, bórax, soda cáustica (em escamas e fundidas), breu K Vivo,
sulfato de alumínio, tenite, potassa cáustica, dióxido de titânio, entre outros in-
sumos. O bórax, por exemplo, era um produto que podia ser misturado à cola
para acelerar a pega do material.
Ao mesmo tempo em que as atividades empresariais de Péter iam se diver-
sificando, ele cedia à tentação de se aventurar por outras áreas. Ele, claramen-
te, se preocupava com o país de adoção e se sentia obrigado a influenciar de al-
guma forma seu destino, fosse nas áreas do Comércio Exterior, da Educação ou
até do Urbanismo.
Durante o governo do presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra (1946-1951),
Péter acabou sendo nomeado conselheiro do Ministério de Relações Exteriores,
com a missão de estudar as possibilidades econômicas brasileiras no Caribe. Um
dos frutos desse trabalho veio em 1950, quando foi nomeado Cônsul Honorário
84 Sem Limite
pelo Governo da República Dominicana, para tratar de assuntos daquele país no
porto de Santos, sempre com o objetivo de desenvolver o intercâmbio entre as
duas nações. Nessa primeira fase, ele instalou o consulado em um apartamen-
to que possuía no Guarujá.
Como Cônsul Honorário da República Dominicana, este era o título, ele con-
seguiu intensificar a exportação nacional para aquele país, que se tornou, à épo-
ca, o maior comprador dos produtos industriais brasileiros na América Central.
Para tanto, ajudou a implementar uma linha de navegação ligando Santos a São
Domingos, pelo Loyd Brasileiro.
Graças à sua capacidade de se dedicar a várias tarefas ao mesmo tempo e
ao fato de que muitas delas tinham desdobramentos de interesse social amplo,
Péter logo começou a receber as primeiras de muitas condecorações e homena-
gens. Assim, em 1955, foi agraciado pelo Ministro das Relações Exteriores do
Brasil com a Comenda “Imperatriz Leopoldina” e, em 1958, com a Comenda
“Anchieta” pela Prefeitura do Distrito Federal, então Rio de Janeiro.
Contudo, ao assumir tantas responsabilidades, Péter já não conseguia mais ir
à fábrica com tanta frequência. Ele precisava desenvolver um sistema de gestão a
distância, mas, claro, que lhe permitisse manter a eficiência dos seus negócios e da
sua vida pessoal. Nesse caso, a secretária Zilda Suelotto parecia ser uma impor-
tante solução. A moça era muito competente e tinha se adaptado bem ao estilo de
Péter. Já fazia algum tempo que ela o ajudava também em questões particulares.
Além de ser a secretária da firma, Zilda também resolvia problemas os mais
variados. Péter tinha uma casa de campo com piscina, na charmosa Riviera Pau-
lista, na represa de Guarapiranga, em uma época em que essa região ainda fica-
va apartada da metrópole, no extremo sul da capital. Era a moça que, então di-
rigindo o Buick conversível vermelho de Péter, de tempos em tempos, ia conferir
a rotina dos empregados e o estado do imóvel. Nessas idas, ela ainda aproveita-
va para passar por uma chácara que, sem usar agrotóxicos, produzia belíssimas
verduras que Péter gostava de comer, pois acreditava que o ajudavam a comba-
ter as amebas, mal que tanto o incomodava.
Nesse ritmo, não demorou muito para que a secretária se aproximasse da fi-
lha de Péter. A pequena Mônica, por vezes, ia para a empresa com o pai e acaba-
va ficando com Zilda no escritório. Ela gostava de desenhar, mas também que-
ria passear pela fábrica. A secretária, preocupada com a segurança dela, ia junto
e foram se tornando amigas. Era Zilda, ainda, quem supervisionava a governan-
86 Sem Limite
A Péter Murányi Indústria e Comércio S/A se tornou
muito conhecida por suas carretas, que trafegavam
principalmente entre São Paulo e Rio de Janeiro
88 Sem Limite
anteriores e sobre as quais buscava notícias. Era assim com a fábrica, o consula-
do, os advogados e, mais tarde, com a família.
Feitas todas essas coisas, ele saía do quarto quase uma hora da tarde e só de-
pois do almoço é que ele ia para a fábrica – a não ser que tivesse um problema
urgente. Na fábrica, passava revista em tudo, dava os encaminhamentos a serem
seguidos e obrigava os chefes de cada setor a entregar, no final do dia, um re-
latório sucinto da situação geral. Essa era a parte mais difícil, pois os operários
não gostavam de redigir os tais “avisos” do sr. Péter. Sobrava então para Zilda,
que tinha que cobrar de cada um. Aliás, na ausência do chefe, era ela quem de-
veria impor a vontade dele. Mesmo sendo uma mulher às voltas com operários
com mentalidade machista que imperava na década de 1950, rapidamente con-
quistou o respeito de todos.
Enquanto os negócios progrediam em São Paulo, notícias ruins chegavam
da Hungria. O país vinha passando por grandes transformações, desde o dia
em que a União Soviética expulsou as tropas alemãs e derrubou os fascistas
húngaros que tomaram conta do governo após a prisão do Regente Horthy.
Por alguns dias, as tropas russas foram recebidas com festa em meio às ruas
ainda entupidas de escombros e carcaças de veículos militares. Porém, logo
os húngaros perceberam que seriam tratados como inimigos conquistados.
As casas foram saqueadas pelos soldados, que também estupraram milha-
res de mulheres. O historiador Victor Sebestyen conta que, para muitos hún-
garos, a primeira frase aprendida no idioma russo foi “davai tchassey” (algo
como “dá o seu relógio”).
Pelo acordo feito com os aliados ao final da guerra, a Hungria deveria for-
mar um novo governo pelas vias democráticas, mas teria que tolerar a ocupa-
ção militar soviética. Ocorre que Josef Stalin, o homem que governava a União
Soviética desde 1922, tinha o plano de, manobrando por todos os meios, man-
ter a Hungria permanentemente no bloco socialista. Assim, nem a fraca vota-
ção recebida pelos comunistas húngaros pôde inibir a pressão silenciosa dos 75
mil soldados soviéticos espalhados pela planície magiar.
Após um breve ensaio democrático, um jogo de ameaças e fraudes transfor-
mou o país em uma réplica em miniatura do Estado stalinista. Do ponto de vis-
ta econômico, isso levou à rápida e desastrosa reforma agrária que transformou
a outrora abundante planície em uma terra de fome. O antigo celeiro do Impé-
rio Austro-Húngaro precisou se render ao rigoroso racionamento de comida no
90 Sem Limite
Casamento Zilda e Péter realizado
no dia 19 de setembro de 1959
92 Sem Limite
Os rebeldes estavam mal armados e o coquetel molotov era o que tinham de mais
eficiente para deter os tanques russos que entraram na cidade no dia 24 de ou-
tubro de 1956. Centenas de adolescentes, alguns até com apenas 12 anos, par-
ticiparam do levante ombro a ombro com os adultos. Muitos deles morreram.
Os combates ao redor do Cinema Corvin foram épicos. Na praça Széna, um
caminhoneiro de 59 anos virou lenda da noite para o dia. “Tio Szabó”, como fi-
cou conhecido, desenvolveu métodos engenhosos para emboscar os tanques rus-
sos e chegou a comandar 500 homens em uma forte posição defensiva.
Conforme a revolução se alastrava pelo país, milhares de presos políti-
cos foram soltos, incluindo o cardeal József Mindszenty. Este então retornou a
Budapeste em 31 de outubro, recebendo uma acolhida triunfal. No mesmo dia,
Imre Nagy fez um discurso ao vivo pela Rádio Kossuth Livre, quando afirmou
que o país vivia os primeiros dias de sua soberania e que estava negociando a re-
tirada das tropas russas do país.
A realidade, porém, era outra. As tropas soviéticas, em lugar de se retirarem,
estavam sendo reforçadas.
Os Estados Unidos haviam, durante anos, oferecido apoio moral aos magia-
res através da Rádio Europa Livre (REL), que, clandestinamente, era ouvida em
toda a Hungria. Porém, quando o povo húngaro, por fim, conseguiu se levan-
tar contra a presença soviética, descobriu que o Ocidente não estava preparado
para ajudá-lo de maneira decisiva. Afinal, grandes atritos com a União Soviéti-
ca poderiam empurrar o mundo para uma terceira Grande Guerra.
Péter estava atento ao desenrolar dos fatos e não era o tipo de homem capaz
de ficar passivo diante daquela situação. Logo redigiu um manifesto, onde pe-
dia ajuda financeira e material ao povo húngaro. Depois, com ele em mãos, foi
ao escritório paulista da Cruz Vermelha Brasileira e à redação dos principais jor-
nais paulistas. O texto acabou sendo publicado com destaque em O Estado de S.
Paulo do dia 2 de novembro, assim como nos jornais Diário de São Paulo e Fo-
lha da Manhã. Dizia o seguinte:
Cinco dias depois o apelo foi igualmente publicado no jornal A Gazeta, após
solicitação feita pessoalmente pelo empresário em visita à redação do diário.
94 Sem Limite
O documento teve grande repercussão e recebeu o apoio do Ministério das Rela-
ções Exteriores do Brasil. Mas, naquele momento, o otimismo quanto ao futuro da
Hungria começava a ser esmagado sob o peso das lagartas dos tanques soviéticos.
No início de novembro, novas tropas soviéticas entraram na Hungria, ocu-
pando posições estratégicas, ao mesmo tempo em que fechavam a fronteira com
a Áustria. Imre Nagy tentava ganhar tempo em negociações, enquanto nomeava
homens de confiança para preparar a defesa da capital. No dia 4 de novembro,
pela manhã, canhões e aviões soviéticos iniciaram o bombardeio de Budapeste.
A maior parte da cidade foi tomada de assalto nas primeiras 48 horas. No dia 7
de novembro, János Kádár, o novo fantoche soviético, entrou na cidade protegi-
do por blindados russos. No dia 13, os últimos combatentes da liberdade foram
mortos ou capturados. Budapeste, mais uma vez, estava coberta de escombros e
corpos insepultos, sob as lágrimas de seu povo.
O fracasso heroico não diminuiu a energia contagiante de Péter Murányi, que
continuou fazendo campanha por mais donativos para as dezenas de milhares
de refugiados, dentro e fora da Hungria. Mas, pedia sempre que os recursos fos-
sem distribuídos pelo escritório da Cruz Vermelha Suíça. Ele desconfiava que a
Cruz Vermelha Húngara, infiltrada pelo governo local, poderia usar as contri-
buições para fazer propaganda do Partido.
No dia 20 de novembro, o jornal O Estado de S. Paulo informava que os do-
nativos recolhidos no país haviam alcançado o montante de Cr$ 477.995,00. Des-
se total, Cr$ 70.000,00 tinham sido doados por Péter Murányi, Cr$ 25.000,00
pela General Motors do Brasil, além de quantias expressivas de outras empre-
sas, como a Klabin Irmãos & Cia e a Geigy do Brasil S.A. Após essa data, outros
donativos foram feitos.
Péter, contudo, sabia que esse dinheiro teria pouco efeito sobre a vida dos mi-
lhares de húngaros que, tendo lutado pela liberdade, não poderiam mais voltar
às casas. A história recente da Hungria mostrava que o Partido seria inclemen-
te com os dissidentes que não conseguiram fugir. A forca foi o destino não ape-
nas do “Tio” Szabó, mas também de muitos outros, como o desconhecido Péter
Mansfeld, que, com apenas 15 anos, enfrentou o exército russo. Assim, o empre-
sário brasileiro sentiu que ainda não havia feito o bastante. Péter desejava que
pelo menos uma parcela dos refugiados pudesse ter um futuro de paz no Brasil.
Em 1956, o ministro das Relações Exteriores do Brasil era o conceituado
Embaixador José Carlos Macedo Soares, irmão do prof. José Paulo, um dos di-
96 Sem Limite
trar novas soluções técnicas para atender ao desejo dos clientes, assim como
aumentar a eficiência da fábrica.
O empresário era bastante rígido com seus funcionários, capaz de fazer exi-
gências que, vistas de fora, até pareciam fugir à lógica. Determinava, por exem-
plo, que o menino de entregas da empresa deveria sair sempre com o guarda-
-chuva, mesmo que estivesse fazendo sol. Também não admitia o namoro entre
seus funcionários, pois, em sua visão, namorados tendiam a esconder os erros
uns dos outros, o que gerava ineficiência e até acidentes. Por outro lado, sabia da
importância e do valor pessoal de sua equipe. Desejava, ardentemente, que pro-
gredissem e tivessem uma vida melhor. Uma das muitas iniciativas que tomou
nesse sentido foi na área da proteção à saúde dos empregados do setor papeleiro.
Naquele período, o serviço de saúde pública no Brasil oferecia uma cobertu-
ra bastante restrita aos trabalhadores e não existiam planos privados de saúde.
O mais próximo disso era a assistência oferecida por empresas do setor público
aos seus empregados. As indústrias automobilísticas talvez tenham sido as pri-
meiras do setor privado a criar sistemas assistenciais para os funcionários. Péter
foi, portanto, um dos pioneiros no sentido de incentivar o setor privado a criar
um hospital voltado a uma categoria de trabalhadores.
Entrando em contato com outras empresas que trabalhavam com artefatos
de papel e papelão, Péter difundiu a ideia de criar o Hospital do Sepaco,1 garan-
tindo assistência médica gratuita aos trabalhadores da classe e às suas famílias.
Para tanto, os empresários destinariam o equivalente a 1,5% de sua folha de pa-
gamento para a manutenção dessa organização. O hospital foi fundado em 20 de
setembro de 1956 e, em meados da década de 1960, já atendia a cerca de 30 mil
famílias. Foi um alívio enorme para aquelas pessoas, levando uma de suas fun-
cionárias, dona Josephina Penha Giglio, a dizer anos mais tarde:
– O sr. Péter estava do outro lado, deveria estar brigando pelos empresários.
Mas ele brigava muito, muito mesmo, pelos funcionários.
O Hospital do Sepaco funciona até hoje, contando com 181 leitos. Atualmen-
te, aceita também credenciados de planos de saúde, mas parece manter o mes-
mo espírito humanitário daquele que o ajudou a surgir.
Em meio a tanto trabalho, tantos projetos ocupando a mente de Péter, Zilda
acabava assumindo uma grande presença na vida de Mônica. Era visível o carinho
98 Sem Limite
10 anos, arrecadava os recursos para sua conclusão. Péter doou à Igreja o lon-
go tapete vermelho sobre o qual a noiva andou com seu vestido branco de renda
guipir, todo feito a mão e com uma cauda curta. O padrinho de casamento foi o
Embaixador Macedo Soares. A festa foi no casarão da Rua Antonina, antes de
irem para o Rio de Janeiro e de lá viajarem para a Europa.
Na época, o divórcio não era permitido no Brasil e, assim, a união deles de-
morou para gerar efeitos legais. Porém, mais tarde, casaram-se na República
Dominicana e, passados mais alguns anos, homologaram aquela união no Brasil.
A viagem de núpcias durou três meses, com todos os deslocamentos feitos
por avião, porque Péter não queria perder tempo em navios. Passaram por mui-
tas cidades europeias, visitando vários antiquários de onde trouxeram peças
interessantes para a casa do Sumaré.
Nos antiquários e nos leilões, o prazer de Péter estava em “garimpar” den-
tre os objetos antigos aquele que fora subavaliado e não estava sendo visto pelos
demais compradores com a devida atenção. Ele não pagaria qualquer preço por
uma antiguidade, o objeto era o de menos. Ele gostava de olhar, achar que des-
cobriu algo que era um tesouro. Dessa forma, adquiriu muitas coisas boas com
as quais decorou sua casa, mas algumas vezes comprou “gato por lebre”.
Mesmo tendo ficado tanto tempo pela Europa, Péter se recusou a visitar a
Hungria, dizendo que não havia nada para ver lá. Mas, provavelmente, estava
apenas evitando o desconforto de ver sua cidade coberta pelas cicatrizes de uma
tragédia ainda recente.
Péter tinha então 44 anos e, sob certos aspectos, sua vida estava apenas
começando...
Ele logo se fez um campeão entre os seus, até que um terrível inimigo
ameaçou seu rebanho e o vale onde ele vivia.
No dia 3 de outubro, o povo foi às urnas e Jânio foi eleito com 5,6 milhões de
votos, o que representava 48% dos votos válidos, muito à frente do segundo co-
locado. Até 1986 (quando Mário Covas foi eleito senador por São Paulo) foi o ho-
mem mais votado da história brasileira. Dona Penha, que assumiu a função de
secretária de Péter no dia seguinte à eleição, herdou um armário repleto de car-
teirinhas do movimento popular, além das famosas vassourinhas de metal que
os partidários de Jânio usavam na lapela dos ternos. Ela detestava atender os te-
lefonemas do presidente recém-eleito que, com sua voz característica e se valen-
do de uma intimidade que ela não concedera, dizia:
– Querida, quero falar com o seu chefe.
Jânio assumiu a presidência em janeiro de 1961, mas com as mãos amarra-
das. A oposição – Partido Social Democrático (PSD) e Partido Trabalhista Bra-
sileiro (PTB) – controlava 55% do Congresso, enquanto os seus aliados da UDN
clamavam por ministérios que o novo presidente não estava disposto a conce-
der. Formou uma equipe de governo considerada por muitos como inexpressiva,
contrastando com sua atuação pessoal dinâmica. Na verdade, vaidoso e centrali-
zador, não queria sombra. Inesperadamente, renunciou sete meses depois, dizen-
do-se vencido por “forças ocultas”. Os reais motivos dessa renúncia nunca foram
Prezado Senhor
Em atenção à carta na qual Vossa Senhoria sugere o uso
de uma parte dos incentivos fiscais do imposto de ren-
Sempre no seu espírito de buscar o objetivo por todos os meios ao seu alcance,
Péter escreveu também ao ministro Jarbas Passarinho, pedindo a intervenção do
Itamaraty para cobrar a promessa dos americanos que estavam naquele seminá-
rio, um dos quais parecia ser bem relacionado com o presidente Richard Nixon.
Os frutos dessa iniciativa demoraram um pouco para aparecer, mas fo-
ram impressionantes. No dia 18 de junho de 1974, Francis Lambert, cônsul-
-geral em exercício dos Estados Unidos no Brasil, escreveu a Péter informan-
do que há cerca de dois anos o consulado vinha tentando obter uma solução
favorável para o problema que ele havia apresentado. A matéria foi motivo
de extensa correspondência entre o sr. Arnold Burks, representante do In-
ternal Revenue Service (IRS) em São Paulo, e as autoridades corresponden-
tes em Washington, entre o Consulado Geral e a Embaixada em Brasília, as-
sim como entre o então Embaixador Rountree e o ex-presidente do Mobral,
240
O navio SS Mar del
Plata, que trouxe Péter
para o Brasil, ancorado
no porto de Antuérpia
À esquerda o visto
temporário que permitiu a
entrada de Péter no Brasil
em 1939. Abaixo, o visto
que garantiu a permanência
definitiva na nova pátria
241
Acima, Mônica cavalgando em
Águas de Lindóia e, ao lado, com
o avô János Ödön e o pai
242
O casamento, em 1959. Da esquerda para a direita: Aurélio
Suelotto, Zilda, Mônica, Péter, Vilma e Alfred Halward
243
De cima para baixo:
Péter na lua de mel,
Zilda na piscina do hotel
na República Dominicana
e Péter velejando em
Guarapiranga
244
Cerimônia de entrega do título
de Cidadão Paulistano, em 1964
Péter cumprimenta
o presidente da
República Artur da
Costa e Silva
245
O casal Péter e Zilda
na festa de aniversário
de 21 anos de Mônica
246
Péter recebe a Medalha “Euclides da Cunha”, em 1975, pelo Clube dos Estados
247
Em festa na Rua Antonina, Péter e Zilda se reúnem com
a família Natel: Maria Zilda (acima) e seu filho Ivan com
a esposa Maria Bernadete Menezes (abaixo)
248
Péter e Zilda no
casamento de
Mônica com o
suíço Ernst Lanz
249
Zilda Suelotto Murányi (no destaque) e,
abaixo, com o filho Péter Júnior e a família
Suelotto: tios Zilda e João, Lydia (irmã),
Aurélio (pai) e Yvonne (irmã)
250
Em suas viagens de negócios,
Péter passou por vários países,
em especial da Europa e Ásia
251
Momentos de vida em
família: com Péter
Júnior (ao centro)
e Vera (abaixo)
252
Com Péter Júnior, em Bariloche (acima),
com Zilda e Vera (ao lado)
e com Mônica, no Sumaré
253
254
O personagem
RECONHECIMENTOS
do Brasil.
◆ Medalha Comemorativa “Presidente Stroessner” (1957), do Ministro das
do Rio de Janeiro.
◆ Medalha “Anchieta” e Diploma “Gratidão da Cidade de São Paulo” (1974), da
Câmara Municipal de São Paulo, pelo trabalho que fez em prol da alfabetização
do povo brasileiro, com do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral)
◆ Medalha “Euclides da Cunha” (1975), pelo Clube dos Estados, em consideração
Alfabetização (Mobral).
◆ Ordem do Mérito Republicano (1976), da Academia Brasileira de História,
São Paulo.
◆ Certificado de Participação Comunitária (1978), do Movimento Brasileiro de
Alfabetização (Mobral).
◆ Ordem Honra e Mérito “Duarte, Sanchez y Mella”, no grau de Grande Oficial
(1983), entidade que presidiu de 1986 a 1990, com a escolha do nome de Péter
Murányi para o edifício-sede, em reconhecimento à doação do terreno onde
este está localizado.
◆ Título de “Patrono Benemérito” (1985), do Hospital Israelita Brasileiro Albert
Einstein.
◆ Plaqueta Comemorativa “Julianus” (1986), da Associação Beneficente 30 de
setembro.
◆ Colar José de Anchieta (1987), do Instituto Histórico e Cultural Pero Vaz de
Caminha.
◆ Diploma e Medalha (1987), da Academia Brasileira de História, ao comemorar
LIVROS
◆ 100 anos da Associação Cristã de Moços. São Paulo: Árvore da Terra, 2002.
◆ Meio século de progresso paulista. Sociedade
Paulista Editora: São Paulo, 1938.
◆ ÂNGELO, Ivan. São Paulo, 110 Anos de Industrialização. Editora Três:
São Paulo, 1992
◆ BOGDAN, Henry. Histoire des pays de l’Est. Paris: Pluriel, 1990.
◆ CLARK, Christopher. Os Sonâmbulos - Como Eclodiu A Primeira
Guerra Mundial. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
◆ D’ENCAUSE, Hélène Carrère. Le Grand Frère. L’Union
soviétique et l’Europe soviétisée. Paris: Flammarion, 1983.
◆ FROTA, Guilherme de Andrea. Quinhentos Anos de História do Brasil.
Biblioteca do Exército Editora: Rio de Janeiro, 2000.
◆ GASPARI, Elio. A Ditadura Envergonhada.
São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
◆ RECLUS, Onésime. Grande Geographie Bong Illustré.
Paris: Maison d’Edition Bong, 1912.
◆ SEBESTYEN, Victor. Doze Dias: A Revolução de
1956. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
◆ SEBESTYEN, Victor. A Revolução de 1989: A queda
do Império Soviético. São Paulo: Globo, 2009.
◆ SHEPPERD, Alan. Hitler em Paris. Barcelona: Osprey Publishing, 2009.
◆ TUCHMAN, Barbara. Canhões de Agosto.
Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.
◆ VERO, Judith. Alma Estrangeira. São Paulo: Ágora, 2003
◆ VIVEIROS, Ricardo. 200 Anos – Indústria Gráfica no Brasil. São Paulo:
Clemente e Gramani Editora, 2008. Laudo Natel: Um bandeirante.
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.
Um olhar sobre São Paulo. São Paulo: RV & Associados, 2011
Jornais
A Gazeta, 07 e 19 de novembro de 1956 e 14 de fevereiro de 1958.
Diário de São Paulo, 02 de novembro de 1956.
Diário do Comércio, 14 a 16 de setembro de 1968.
Diário dos Municípios, 30 de outubro de 1964.
Diário Oficial, julho de 1969.
Diário Popular, 30 de setembro de 1968.
Folha da Manhã, 02 de novembro de 1956.
Folha da Tarde, 26 de março de 1979.
Folha de S. Paulo, 04 de julho, 23 de maio, 15 de agosto e 28 de novembro de 1954;
11 de dezembro de 1956; 1º de abril de 1958; 15 de abril de 1961; 06 de novembro
de 1969; 23 de fevereiro de 1970; 21 de fevereiro e 25 agosto de 1971; 05 de agosto
de 1972; 05 de janeiro e 20 de dezembro de 1973; 05 de fevereiro de 1975; 10 e 22
de fevereiro de 1976; 13 de setembro de 1977; 19 de maio de 1978; 15 de fevereiro
de 1982; 14 de abril de 1985; 13 de novembro de 1987; e 23 de abril de 1998.
Gazeta Húngara, 25 de novembro de 1956.
Gazeta Mercantil, 13 de setembro de 1968.
Jornal da Semana, 25 de fevereiro de 1973.
Jornal da Tarde, 13 de setembro de 1968.
Notícias Populares, 13 de setembro de 1968.
O Estado de S. Paulo, 07 de agosto de 1949; 12 de julho, 30 de setembro, 02, 13 e
20 de novembro de 1956; 1º, 05 e 08 de janeiro de 1957; 21, 22 e 23 de janeiro de
1958; 21 de julho e 30 de novembro de 1960; 26 de fevereiro de 1961; 30 de outubro
e 21 de dezembro de 1963; 12 de julho de 1964; 28 de junho e 14 de outubro de
1969; 14 de maio, 17 de outubro e 04 de novembro de 1971; 04 e 18 de novembro e
11 de dezembro de 1971; 17 de fevereiro de 1972; 08 de fevereiro e 20 de dezembro
de 1973; 09 de março de 1978; 16 de maio de 1982; 30 de junho de 1988; 02 e 03
de outubro de 1992; 11 de fevereiro e 13 de agosto de 1994; 12 de dezembro de
1995 e 28 de junho de 1997; 08 de outubro de 2002; e 11 de março de 2008.
O Globo, 14 de setembro de 1968.
The Jerusalem Post, 29 de outubro de 1982.
Sites
◆ Associação Cristã de Moços: www.acmsaopaulo.org
◆ Fundação Péter Murányi: www.fundacaopetermuranyi.org.br
◆ Hospital Israelita Albert Einstein: www.einstein.br
◆ Santo Amaro Online: www.santoamaroonline.com.br
Outros
◆ Cartas, telegramas, certificados, diplomas, declarações
e demais documentos pessoais do biografado.
◆ Relatório da ACM Santo Amaro (2005)
N ascido em 18 de março de 1950, no Rio de Janeiro (RJ), é jornalista com passagem por importantes jornais,
revistas, emissoras de rádio e TV, tendo atuado no Brasil e no Exterior. Foi repórter, editor, diretor de redação, âncora,
comentarista político e econômico, articulista e correspondente em quatro guerras civis.
Recebeu a medalha da Organização das Nações Unidas (ONU) por um conjunto de matérias sobre Direitos
Humanos, no Ano Internacional da Paz (1986), e ganhou duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo por trabalhos em
equipe. É palestrante convidado por diversas universidades e instituições organizadas da sociedade civil, nacionais e
internacionais.
Nos anos 1960, atuou como roteirista e diretor de vários filmes sobre personalidades brasileiras. Esses
documentários alcançaram muito êxito e receberam prêmios (inclusive em festivais no exterior). Entre os nomes
focados na série, estão: Carlos Drummond de Andrade, Burle Marx, Garrincha, Luís Carlos Prestes, Di Cavalcanti e
Darcy Ribeiro.
Em 1968, por combater a ditadura que se instaurou no País após o Golpe Militar de 1964, foi preso, torturado e
seguiu para o exílio na América do Norte (México), África (Argélia), Europa (França) e América do Sul (Chile e
Argentina).
Em 1986, ele foi uma das personalidades públicas que liderou, no Brasil, o projeto Um Milhão de Minutos de Paz e,
em 1989, foi um dos embaixadores do projeto Cooperação Global para um Mundo Melhor – ambos de amplitude
internacional, promovidos pela Brahma Kumaris University (com sede na Índia e representações por todo o mundo),
em conjunto com a ONU.
Foi dirigente esportivo do São Paulo F.C. (comandou o marketing, a comunicação e o futebol, em diferentes épocas),
coordenador executivo da primeira visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II a São Paulo (1980), membro do
Conselho de Defesa da Paz (Condepaz) e diretor do Museu Padre Anchieta (centro histórico da fundação da cidade de
São Paulo / Pátio do Colégio). Atuou como consultor na área de Comunicação Social e na área Pública da Fundação
Prefeito Faria Lima e lecionou Comunicação na pioneira Escola de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro
(ESPRJ).
Em seus 49 anos de carreira, comemorados em 2015, entrevistou mais de uma centena de líderes políticos,
empresários, religiosos e, também, personalidades da cultura e do esporte, no Brasil e em várias partes do mundo.
Esteve em mais de 100 países. Prefaciou diversos livros e foi patrono/paraninfo de diversas turmas de formandos, em
faculdades de Comunicação por todo o Brasil.
É autor de 33 livros, em diferentes gêneros: biografia, história, infantojuvenis, poesia, arte, crônica, reportagem e
comunicação.
Em maio de 2006 a Câmara Municipal de São Paulo concedeu-lhe o título de Cidadão Paulistano. Em 2009, foi
homenageado pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de São Paulo (OAB-SP), por relevantes serviços prestados à
Comissão de Estudos da Lei de Imprensa.
Recebeu o Prêmio Benjamin Hurtado Echeverria, em 2010, como Personalidade da Comunicação Impressa na
América Latina, indicado por todos os países membros da Confederación Latinoamericana de la Industria Gráfica
(Conlatingraf), em Cancún, México.
Em 2011, recebeu o prêmio Antônio Bento, da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Em junho de 2012,
em Ankara (Turquia), foi homenageado pela The Journalistis and Writers Foundation, daquele país, por sua atuação
como jornalista e escritor na defesa dos direitos humanos ao longo de sua vida.
Em novembro de 2013, foi escolhido pelos empresários do setor no qual atua, em votação nacional, como
Comunicador Empresarial do Ano. Em prestigiada solenidade em São Paulo (SP), recebeu troféu e diploma da
Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Trata-se do mais importante prêmio do setor no País.
Empresário de Comunicação, fundou e dirige, desde 1987, a Ricardo
Viveiros & Associados – Oficina de Comunicação, uma das maiores
empresas no ranking brasileiro do setor, detentora de importantes prêmios
técnicos e uma das poucas de capital 100% brasileiro.
Foi conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). É membro
do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, da
Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais (Brasília, DF), da
Federação Internacional dos Jornalistas (Bruxelas, Bélgica), da Associação
Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), da Asso-ciação Internacional de
Críticos de Arte (AICA), da União Brasileira dos Escritores (UBE) e do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP).
ur án yi
P é t er M
A vida de nt e n o
r te-
m
id e
o pr e s p r i m e i r o -
c om u
O
o
t e r i a m em . K e n ne d y, eg i n,
os
que h n F e m B
c a no
Jo nach uadro
s, o
a mer i I s r a e l Me n io Q
t ro de e Jâ dor
minis n e st o Geisel e o g overna
s Er a ssa r i n
ho
e s b r a sileiro b a s P
ent o Ja r a do
presid a E ducaçã el? a r te da vid
ro d Nat ra m p
minist lo Laudo o d o, f ize
au m s
P
de São eles, de algu
m
e lo s h orrore
Todos ányi. ada p neiro a
o
P é te r Mur n g r ia , vitim o u p i o
sário a Hu rn
ui se to com peças d
e
empre xou para trás a l, e aq s
Ele dei ndi gen
a G u e rra Mu io de embala
da Seg
und egóc m este
se
p r ó s pero n em. o g o co
um lag diál a is
iniciar urgia a recic o , b u scou o i n te r nacion
–s ed a is e ara
sucata
m i te s e sem m ricos nacion e l a b o rou p
Sem li a gens h
istó
o
ue
je tos q to. Um hom
em
pe r s o n s p r en
ito
outros i z a r o s mu o do crescim
ea l rum
pa r a r B r asil no
r o
coloca v a grande
.
n h a
que so