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BIODIREITO E TUTELA DA VIDA

DIGNA FRENTE ÀS NOVAS


TECNOLOGIAS

ORGANIZADORES
Ana Virgínia Gabrich F. F. Ramos
Valmir César Pozzetti
Vinícius Biagioni Rezende
III CONGRESSO INTERNACIONAL
DE DIREITO E INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL (III CIDIA)

BIODIREITO E TUTELA DA VIDA DIGNA FRENTE


ÀS NOVAS TECNOLOGIAS

ANA VIRGINIA GABRICH FONSECA FREIRE RAMOS

VALMIR CÉSAR POZZETTI

VINÍCIUS BIAGIONI REZENDE


B615
Biodireito e tutela da vida digna frente às novas tecnologias [Recurso eletrônico on-line]
organização III Congresso Internacional de Direito e Inteligência Artificial (III CIDIA):
Skema Business School – Belo Horizonte;

Coordenadores: Valmir César Pozzetti, Ana Virgínia Gabrich Fonseca Freire Ramos e
Vinícius Biagioni Rezende – Belo Horizonte: Skema Business School, 2022.

Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-5648-522-5
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: A inteligência artificial e os desafios da inovação no poder judiciário.
1. Biodireito. 2. Vida digna. 3. Tecnologia. I. III Congresso Internacional de Direito e
Inteligência Artificial (1:2022 : Belo Horizonte, MG).

CDU: 34
_____________________________________________________________________________
III CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (III CIDIA)
BIODIREITO E TUTELA DA VIDA DIGNA FRENTE ÀS NOVAS
TECNOLOGIAS

Apresentação

O Congresso Internacional de Direito e Inteligência Artificial (CIDIA) da SKEMA Business


School Brasil, que ocorreu em formato híbrido do dia 08 ao dia 10 de junho de 2022, atingiu
a maturidade em sua terceira edição. Os dezesseis livros científicos que ora são apresentados
à comunidade científica nacional e internacional, que contêm os 206 relatórios de pesquisa
aprovados, são fruto das discussões realizadas nos Grupos de Trabalho do evento. São cerca
de 1.200 páginas de produção científica relacionadas ao que há de mais novo e relevante em
termos de discussão acadêmica sobre a relação da inteligência artificial e da tecnologia com
os temas acesso à justiça, Direitos Humanos, proteção de dados, relações de trabalho,
Administração Pública, meio ambiente, formas de solução de conflitos, Direito Penal e
responsabilidade civil, dentre outros temas.

Neste ano, de maneira inédita, professores, grupos de pesquisa e instituições de nível superior
puderam propor novos grupos de trabalho. Foram recebidas as excelentes propostas do
Professor Doutor Marco Antônio Sousa Alves, da Universidade Federal de Minas Gerais
(SIGA-UFMG – Algoritmos, vigilância e desinformação), dos Professores Doutores Bruno
Feigelson e Fernanda Telha Ferreira Maymone, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Metalaw – A Web 3.0 e a transformação do Direito), e do Professor Doutor Valmir Cézar
Pozzetti, ligado à Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado do
Amazonas (Biodireito e tutela da vida digna frente às novas tecnologias).

O CIDIA da SKEMA Business School Brasil é, pelo terceiro ano consecutivo, o maior
congresso científico de Direito e Tecnologia do Brasil, tendo recebido trabalhos do
Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. Tamanho sucesso
não seria possível sem os apoiadores institucionais do evento: o CONPEDI – Conselho
Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito, o Instituto Brasileiro de Estudos de
Responsabilidade Civil – IBERC e o Programa RECAJ-UFMG - Ensino, Pesquisa e
Extensão em Acesso à Justiça e Solução de Conflitos da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais. Destaca-se, mais uma vez, a presença maciça de
pesquisadores do Estado do Amazonas, especialmente os orientandos do Professor Doutor
Valmir César Pozzetti.

Grandes nomes do Direito nacional e internacional estiveram presentes nos painéis temáticos
do congresso. A abertura ficou a cargo do Prof. Dr. Felipe Calderón-Valencia (Univ. Medelín
- Colômbia), com a palestra intitulada “Sistemas de Inteligência Artificial no Poder Judiciário
- análise da experiência brasileira e colombiana”. Os Professores Valter Moura do Carmo e
Rômulo Soares Valentini promoveram o debate. Um dos maiores civilistas do país, o Prof.
Dr. Nelson Rosenvald, conduziu o segundo painel, sobre questões contemporâneas de
Responsabilidade Civil e tecnologia. Tivemos as instigantes contribuições dos painelistas
José Luiz de Moura Faleiros Júnior, Caitlin Mulholland e Manuel Ortiz Fernández
(Espanha).

Momento marcante do congresso foi a participação do Ministro do Tribunal Superior do


Trabalho – TST Maurício Godinho Delgado, escritor do mais prestigiado manual de Direito
do Trabalho do país. Com a mediação da Profª. Drª. Adriana Goulart de Sena Orsini e
participação do Prof. Dr. José Eduardo de Resende Chaves Júnior, parceiros habituais da
SKEMA Brasil, foi debatido o tema “Desafios contemporâneos do gerenciamento
algorítmico do trabalho”.

Encerrando a programação nacional dos painéis, o Prof. Dr. Caio Augusto Souza Lara, da
SKEMA Brasil, dirigiu o de encerramento sobre inovação e Poder Judiciário. No primeiro
momento, o juiz Rodrigo Martins Faria e a equipe da Unidade Avançada de Inovação do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais contaram sobre o processo de transformação
em curso do Judiciário Estadual mineiro. Em seguida, o Prof. Dr. Fabrício Veiga Costa fez
brilhante exposição sobre o projeto denominado “Processo Coletivo Eletrônico”, que teve a
liderança do Desembargador Federal do Trabalho Vicente de Paula Maciel Júnior (TRT-3ª
Região) e que foi o projeto vencedor do 18º Prêmio Innovare. O evento ainda teve um Grupo
de Trabalho especial, o “Digital Sovereignty, how to depend less on Big tech?”, proposto
pela Profª. Isabelle Bufflier (França) e o momento “Diálogo Brasil-França” com Prof.
Frédéric Marty.

Os dezesseis Grupos de Trabalho contaram com a contribuição de 46 proeminentes


professores ligados a renomadas instituições de ensino superior do país, os quais indicaram
os caminhos para o aperfeiçoamento dos trabalhos dos autores. Cada livro desta coletânea foi
organizado, preparado e assinado pelos professores que coordenaram cada grupo, os quais
eram compostos por pesquisadores que submeteram os seus resumos expandidos pelo
processo denominado double blind peer review (dupla avaliação cega por pares) dentro da
plataforma PublicaDireito, que é mantida pelo CONPEDI.

Desta forma, a coletânea que ora torna-se pública é de inegável valor científico. Pretende-se,
com ela, contribuir com a ciência jurídica e fomentar o aprofundamento da relação entre a
graduação e a pós-graduação, seguindo as diretrizes oficiais da CAPES. Promoveu-se, ainda,
a formação de novos pesquisadores na seara interdisciplinar entre o Direito e os vários
campos da tecnologia, notadamente o da ciência da informação, haja vista o expressivo
número de graduandos que participaram efetivamente, com o devido protagonismo, das
atividades.

A SKEMA Business School é entidade francesa sem fins lucrativos, com estrutura
multicampi em cinco países de continentes diferentes (França, EUA, China, Brasil e África
do Sul) e com três importantes acreditações internacionais (AMBA, EQUIS e AACSB), que
demonstram sua vocação para pesquisa de excelência no universo da economia do
conhecimento. A SKEMA acredita, mais do que nunca, que um mundo digital necessita de
uma abordagem transdisciplinar.

Agradecemos a participação de todos neste grandioso evento e convidamos a comunidade


científica a conhecer nossos projetos no campo do Direito e da tecnologia. Foi lançada a
nossa pós-graduação lato sensu em Direito e Tecnologia, com destacados professores e
profissionais da área. No segundo semestre, teremos também o nosso primeiro processo
seletivo para a graduação em Direito, que recebeu conceito 5 (nota máxima) na avaliação do
Ministério da Educação - MEC. Nosso grupo de pesquisa, o Normative Experimentalism and
Technology Law Lab – NEXT LAW LAB, também iniciará as suas atividades em breve.

Externamos os nossos agradecimentos a todas as pesquisadoras e a todos os pesquisadores


pela inestimável contribuição e desejamos a todos uma ótima e proveitosa leitura!

Belo Horizonte-MG, 20 de junho de 2022.

Profª. Drª. Geneviève Daniele Lucienne Dutrait Poulingue

Reitora – SKEMA Business School - Campus Belo Horizonte

Prof. Dr. Edgar Gastón Jacobs Flores Filho

Coordenador dos Projetos de Direito da SKEMA Business School


SUMÁRIO

DIREITO E JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE: UMA ANÁLISE ÉTICA-NORMATIVA


SOBRE OS DEVERES ESTATAIS ANTE O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E OS
IMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA (Páginas 7 a 13)
Fernanda Lelis Penido

O EXAME GENÉTICO PARA DIAGNÓSTICO EM FASE PRÉ-IMPLANTACIONAL DO


EMBRIÃO E O SEU DIREITO FUNDAMENTAL A VIDA (Páginas 14 a 20)
Valmir César Pozzetti, Jane Silva Da Silveira, Luiz Claudio Pires Costa

A EXPLORAÇÃO DO GRAFENO E SUAS IMPLICAÇÕES NO ÂMBITO DA


BIOSSEGURANÇA E NO DIREITO AO MEIO AMBIENTE SUSTENTÁVEL (Páginas 21
a 28)
Valmir César Pozzetti, Jane Silva Da Silveira, Luiz Claudio Pires Costa

O USO DA NANOTECNOLOGIA NA GERAÇÃO ENERGIA SOLAR


FOTOVOLTAICA (Páginas 29 a 36)
Valmir César Pozzetti, Daniel Gabaldi Pozzetti, Joyce Joanny de Oliveira Leitão Limeira

ECOJUSTIÇA: ANÁLISE DAS POSSÍVEIS REPERCUSSÕES SOCIAIS E AMBIENTAIS


DA EXPLORAÇÃO DA EMPRESA TAQUARIL MINERAÇÃO S.A NA SERRA DO
CURRAL (Páginas 37 a 44)
Júlia Oliveira Saddi

LEGITIMIDADE DAS CONDIÇÕES DE ESTRUTURAÇÃO DE BARRAGENS DE


RESÍDUOS EM MINERADORAS: MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO (Páginas 45 a
51)
Caio Henrique Golini

DIREITOS HUMANOS E O USO DA NANOTECNOLOGIA BÉLICA (Páginas 52 a 59)


Valmir César Pozzetti, Allana Karoline Leda Menezes

TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS APLICADA A FERTILIZANTES ORGÂNICOS:


ANÁLISES INTEGRADA A ECONOMIA CIRCULAR (Páginas 60 a 66)
Valmir César Pozzetti, Maria Lucidalva Ribeiro de Sousa, Elieude Bacelar Matos

A SEGURANÇA ALIMENTAR COMO DIREITO HUMANO EM CONFRONTO COM A


TRANSGENIA DE ALIMENTOS (Páginas 67 a 73)
Valmir César Pozzetti, Elieude Bacelar Matos, Maria Lucidalva Ribeiro de Sousa

OS IMPACTOS DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS NO TURISMO


GASTRONÔMICO (Páginas 74 a 80)
Valmir César Pozzetti, Alessandra souza Queiroz Melo, Rayanne Roque Gama

O ESPECISMO NOS TESTES EXPERIMENTAIS EM ANIMAIS: O DIREITO ANIMAL


EM QUESTÃO (Páginas 81 a 87)
Alice Gabrielle Moura de Paula Gonçalves
A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS NA AGROPECUÁRIA
BRASILEIRA (Páginas 88 a 95)
Lucas Magalhães Bonifácio Mourão

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS: MEDIDAS PARA COMBATER O


ABANDONO (Páginas 96 a 102)
Maria Eduarda Fraga Portilho Gontijo

AMIGOS OU INIMIGOS? A MANIPULAÇÃO GENÉTICA DE ANIMAIS COMO UM


REFLEXO DO CAPITALISMO (Páginas 103 a 110)
Gabriella Miraíra Abreu Bettio

BIOTECNOLOGIA, BIOETICA E BIODIREITO, ALIADOS PARA A CONCRETIZAÇÃO


DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL (Páginas 111 a 117)
Camila Gomes De Queiroz
DIREITO E JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE: UMA ANÁLISE ÉTICA-NORMATIVA
SOBRE OS DEVERES ESTATAIS ANTE O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E OS
IMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA
LAW AND JUDICIALIZATION OF HEALTH: AN ETHICAL-NORMATIVE
ANALYSIS ON STATE DUTIES BEFORE THE UNIFIED HEALTH SYSTEM AND
THE IMPACTS OF BIOTECHNOLOGY

Fernanda Lelis Penido

Resumo
Esta pesquisa consiste no debate da judicialização da saúde e suas origens e na investigação
do aumento de preços de medicamentos. Para isto, utilizar-se-á a vertente metodológica
jurídico-sociológica, técnica da pesquisa teórica, no tocante ao tipo de investigação, o
jurídico-projetivo, e raciocínio predominantemente dialético. Assim, vale analisar os
impactos da biotecnologia e das entidades empresariais na indústria farmacêutica e suas
repercussões nos valores de custo, para indagar se eles têm tendências abusivas ou
correspondem à concepção de justiça assegurada à sociedade brasileira.

Palavras-chave: Direito à saúde, Sistema único de saúde, Biotecnologia, Indústria


farmacêutica

Abstract/Resumen/Résumé
This research consists of the debate on the judicialization of health and its origins, and the
investigation of the increase in drug prices. Therefore, the juridical-sociological
methodological aspect, technique of theoretical research, with regard to the type of
investigation, the juridical-projective, and predominantly dialectical reasoning, will be used.
Thus, it is worth analyzing the impacts of biotechnology and business entities on the
pharmaceutical industry and their repercussions on cost values, to inquire whether they have
abusive tendencies or correspond to the concept of justice assured to Brazilian society.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Health law, Unified health system, Biotechnology,


Pharmaceutical industry

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

De acordo com o Art. 196 da Constituição de 1988, a saúde é direito de todos e dever
do Estado. Diante dessa realidade, a judicialização da saúde nasce como um fenômeno de
ações jurídicas contra o Sistema Único de Saúde (SUS) a favor das reinvindicações de
medicamentos e tratamentos, baseadas na concretização do direito à saúde. Contudo, com o
aumento dos custos de medicamentos, equipamentos e tratamentos provenientes das
indústrias farmacêutica e biomédica é ainda mais desafiador para o Brasil provisionar tais
mercadorias.
Em abril de 2022, foi divulgado pela Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos o reajuste dos preços de medicamentos em até 10,89%. Estes reajustes anuais
são estabelecidos por meio de diversos fatores. São eles os fatores X (estimativa de ganhos
futuros de produtividade da indústria farmacêutica nacional), o Y (variação de custo de
produção, como as “matérias-primas”) e o Z, que corresponde à inflação. Dessa forma, é lícito
postular que o aumento de preços está diretamente relacionado ao setor econômico, e por isso,
é necessário o enfoque estatal na abordagem dessa problemática por vias especulativa e
interventora, associando o setor econômico público e privado com os deveres estatais
consagrados pela Constituição. (PORTAL G1, 2022)
Dessarte, essa pesquisa consiste na identificação e investigação da origem do
agravamento de preços, responsável pelo aumento de casos de judicialização da saúde e a
análise da influência da biotecnologia acerca da variação do custo de medicamentos,
levantando hipóteses sobre aspectos das indústrias farmacêutica e biomédica (tais como os
investimentos na tecnologia, o patenteamento da propriedade intelectual, crise econômica,
busca por lucros em detrimento da justiça social), que podem promover o aumento dos custos,
com o objetivo de observar a relação do avanço da biotecnologia com estes setores,
comprovando se ela é capaz de mitigar ou acentuar a problemática.
A pesquisa que se propõe, na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020),
pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. No tocante ao tipo genérico de
pesquisa, foi escolhido o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa foi
predominantemente dialético e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotada a pesquisa teórica.

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2. COMPREENDENDO A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1990, por meio da lei 8080/1990
como uma estratégia estatal de consolidar o direito à saúde à toda população. Desde então, o
SUS é o único sistema de saúde pública mundial que auxilia mais de 190 milhões de pessoas,
sendo que 80% delas dependem apenas dos serviços públicos para receber qualquer
atendimento. Contudo, a busca por uma saúde resolutiva e de qualidade ainda persiste e está
cada vez mais associada ao Poder Judiciário pelo fenômeno da judicialização da saúde. Em
um contexto de carência de acesso a tratamentos e medicamentos, a população, apoiada pela
Constituição Federativa de 1988 que garante como dever do Estado e direito fundamental de
todos o acesso à saúde, demanda a concretização normativa.
Universalização, equidade e integralidade são os princípios que alicerçam o Sistema
Único de Saúde. Segundo Paim (2006), a integralidade possui uma definição ampliada e
baseia-se, também, na perspectiva de “preservar as boas condições de vida e o acesso a toda
tecnologia capaz de melhorar e prolongar a vida” (CECÍLIO, 2001, p. 5). É um grande desafio
para um sistema de saúde que possui as proporções de um país vasto como o Brasil promover
a universalidade dos medicamentos e serviços, seguindo os princípios de igualdade de todos e
o objetivo de integrar toda a população de forma complexa e articulada, preservando a
qualidade de vida de todo o coletivo. Isto posto, vale salientar a necessidade de uma noção de
ressonância entre os valores econômicos e sociais de uma sociedade, para que a justiça seja
estabelecida, como diz Tércio Sampaio Ferraz Junior com as seguintes palavras:

A ordem econômica deve visar assegurar a todos a existência digna


conforme os ditames da justiça social. O objetivo da ordem social é o
próprio bem-estar social e a justiça social. A primeira deve garantir que o
processo econômico, enquanto produtor, não impeça, mas ao contrário, se
oriente para o bem-estar e a justiça sociais. A segunda não os assegura,
instrumentalmente, mas os visa, diretamente. Os valores econômicos são
valores-meio. Os sociais, valores-fim. (FERRAZ JR, 1989)

Todavia, como abordado, o acesso à justiça no Brasil tem ocorrido, em notoriedade,


por meio do acionamento ao Poder Judiciário no fenômeno da judicialização da saúde. É
possível constatar esse fato como demonstrado por Lara e Orsini (2013), que apresentam a
análise da evolução do número de decisões monocráticas entre 2008 e 2012 no Tribunal de
Justiça de Minas Gerais e a conclusão de que a demanda de casos aumentou quase nove vezes
no período demarcado. Diante disso, a efetivação do Direito torna-se um fator determinante

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para que a parte da população que carece de apoio financeiro do Governo brasileiro tenha o
acesso garantido à medicamentos e tratamentos de saúde.

3. O PAPEL DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NA SAÚDE DO BRASIL

Segundo Jairnilson Silva Paim, em uma de suas assertivas, presente no livro


“Desafios para a Saúde Coletiva no Século XXI”:

A atenção à saúde pode ser examinada basicamente mediante dois enfoques:


a) como resposta social aos problemas e necessidades de saúde; b) como um
serviço compreendido no interior de processos de produção, distribuição e
consumo. Como resposta social, insere-se no campo disciplinar da Política
de Saúde, sobretudo quando são analisadas as ações e omissões do Estado no
que tange à saúde dos indivíduos e da coletividade. Como um serviço, a
atenção à saúde situa-se no setor terciário da economia e depende de
processos que per- passam os espaços do Estado e do mercado. Mas ao
tempo em que é um serviço, a atenção à saúde engendra mercadorias
produzidas no setor industrial a exemplo de medicamentos,
imunobiológicos, equipamentos, reagentes, descartáveis, alimentos
dietéticos, produtos químicos de diversas ordens etc. Nesse caso, o sistema
de serviços de saúde configura-se comolócus privilegiado de utilização
dessas mercadorias e, como tal, alvo de pressão para o consumo,
independentemente da existência ou não de necessidades. No estudo desta
dinâmica é imprescindível o recurso à Economia Política (AROUCA, 1975;
BRAGA & GOES de PAULA, 1978).

A tese proposta pelo autor demonstra que o sistema de saúde do Brasil depende não só
do Estado, como também da esfera econômica. Esta vertente social detém grande influência
sobre o setor de serviços, uma vez que fornece as mercadorias necessárias para prevenção e
tratamento da população. Sustenta ele que desde a década de 1970, haviam diversos estudos
que apontavam a atenção à saúde subordinada ao sistema de serviços de saúde caracterizados
pela insuficiência e ineficácia, além da má distribuição e gestão de recursos. A partir do
momento em que o Brasil transformava sua medicina diante de tendências tecnológicas, o
país sofria financeiramente com a incorporação de equipamentos de alta densidade de capital.
Sob essa ótica, houve um conflito de interesses, visto que o país atuava mediante a medicina
previdenciária, juntamente com os serviços públicos federais, enquanto a iniciativa privada
buscava alternativas de expansão e consolidação.
À vista disso, a problemática dos altos custos e os vestígios provenientes desse
processo de revolução médica ainda somam os desafios do Sistema Único de Saúde em
garantir uma saúde pública igualitária e de qualidade, e do Estado como um todo, que tem
como dever assegurar o Direito à Saúde.

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Todavia, de forma assertiva, os avanços da biotecnologia e biomedicina
revolucionaram a saúde como forma de prevenir, com o desenvolvimento de medicamentos e
vacinas que, consequentemente, tornaram-se mais acessíveis e popularizados e tratar doenças,
que antes não tinham curas conhecidas ou tratamentos viáveis. Sob esse viés, em 2007, o
Governo Federal anunciou o decreto nº 6.041 com a finalidade de fomentar o
desenvolvimento biotecnológico nacional em diversas áreas sociais, entre elas a área da saúde
humana que consistia em “estimular a geração e controle de tecnologias e a consequente
produção nacional de produtos estratégicos na área de saúde humana para posicionar
competitivamente a bioindústria brasileira na comunidade biotecnológica internacional, com
potencial para gerar novos negócios, expandir suas exportações, integrar-se à cadeia de valor
e estimular novas demandas por produtos e processos inovadores, levando em consideração as
políticas de Saúde” (BRASIL, 2007).
Como consequência da expansão da indústria farmacêutica e biotecnológica, a saúde
é enxergada como um espaço econômico e produtivo. Dessa forma, apesar dos esforços
governamentais originados em 2007 para diminuir a dependência da importação de insumos
farmacêuticos e o desenvolvimento do mercado nacional, os interesses financeiros, as
estruturas de poder e oscilações provenientes de crises financeiras impactam os preços e o
consequente acesso à medicamentos e serviços, agravando a quantidade de processos
jurídicos.
As diversas abordagens econômicas que explicam a alta de preços têm diversas
origens, e a exploração da biotecnologia como um meio para obtenção de lucros em
detrimento do compromisso constitucional em virtude do que é justo para a população, é uma
concepção vigente na sociedade. Dessa forma, esta pesquisa apresenta relevância a partir de
sua finalidade, que visa debater e apontar as perspectivas adotadas pela indústria detentora do
conhecimento científico e tecnológico e as vulnerabilidades das políticas públicas, que
comprometem os princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde.
A primeira e mais notável vulnerabilidade, é a “desarticulação entre as políticas de
saúde e industriais” (FERNANDES, 2021), uma vez que ambas as políticas públicas são
interdependentes, mas não interagem entre si, tornando o país cada vez mais dependente de
importações de equipamentos e “matérias-primas” de fármacos, elevando os preços de
compra da população. Outra questão semelhante seria o predomínio de indústria
internacionais que se estabeleceram e monopolizaram a produção de medicamentos no país,
contexto que o Brasil tentou evitar ao criar o decreto nº 6.041, porém sem êxito.

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Por fim, as patentes farmacêuticas são uma questão de difícil abordagem, pois
correspondem a um meio de apropriação do conhecimento científico e servem como forma de
recompensa aos detentores, mas ainda assim possuem impactos negativos sobre o custo de
produção e o interesse público de garantir o direito à saúde. Tal cenário torna-se outro
impasse ao Governo Brasileiro, que, desprovido de indústrias nacionais e laboratórios de
pesquisa, é submetido ao pagamento de patentes a outros países. Assim, conclui-se a
necessidade de investimentos de cunho inovador e científico, para que a indústria
biotecnológica e farmacêutica nacional possa superar as vulnerabilidades e promover a saúde
coletiva. Ao conciliar políticas econômicas nacionais às necessidades do sistema de saúde e
os princípios de universalidade, equidade e integração como dever do Estado, é possível que
haja maior produção e distribuição de fármacos, garantindo a diminuição de preços e
consequentemente, maior acesso à população brasileira.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, verifica-se que a biotecnologia é benéfica e imprescindível para


o desenvolvimento da biomedicina, porém, há impasses relativos à indústria farmacêutica
quanto a insuficiência de recursos, dependência externa de insumos e produtos, concorrência
e patenteamento do conhecimento científico e isso impacta diretamente o acesso à saúde da
população e a profusão de procedimentos jurídicos diante o Direito à saúde.
Ademais, o restrito alcance a esses direitos fere tanto os princípios do Sistema Único
de Saúde como a Constituição Federativa de 1988 como um todo, uma vez que a saúde é um
direito fundamental e humano consagrado por todas as entidades governamentais, além da
Organização das Nações Unidas. Além disso, tais deveres do Estado têm que ser priorizados
para atuarem de acordo com o princípio de dignidade humana e as necessidades sociais do
povo brasileiro, que em grande parte, depende de financiamentos e práticas governamentais
para atingir uma condição justa de vida.
Por fim, há a necessidade de integração entre o setor público e privado, tanto em
parâmetro administrativo quanto econômico e científico, no sentido de promover e garantir o
acesso igualitário e universal de medicamentos à população brasileira. Logo, será possível que
o país adapte um sistema integrativo a favor do desenvolvimento biotecnológico e do justo
valor de medicamentos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto nº 6.041, de 8 de fevereiro de 2007. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6041.htm. Acesso em: 17
abr. 2022.

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integralidade e eqüidade na atenção em saúde. In: PINHEIRO, R. & MATTOS, R. A. de.
(Org.). Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro:
UERJ, IMS, ABRASCO, 2001.

FERNANDES, Daniela Rangel Affonso; GADELHA, Carlos Augusto Grabois;


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de Saúde Pública, Rio de Janeiro, volume 37, nº 4, 2021. Disponível em:
https://www.scielosp.org/article/csp/2021.v37n4/e00254720/. Acesso em: 17 abr. 2022.

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GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
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PREÇOS dos remédios vão subir até 10,89%; governo autoriza reajuste a partir desta sexta.
Portal G1, São Paulo, 01 abr. 2022. Economia. Disponível em:
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RECH, Noberto; FARIAS, Mareni Rocha. Regulação sanitária e desenvolvimento


tecnológico: estratégias inovadoras para o acesso a medicamentos no SUS. Ciência & Saúde
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ROVER, Marina Raijche Mattozo de et al. Acesso a medicamentos de alto preço:


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http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=d4ea5dacfff2d8a3. Acesso em: 18 abr. 2022.

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O EXAME GENÉTICO PARA DIAGNÓSTICO EM FASE PRÉ-
IMPLANTACIONAL DO EMBRIÃO E O SEU DIREITO FUNDAMENTAL A VIDA
THE GENETIC EXAMINATION FOR DIAGNOSIS IN THE
PREIMPLANTATIONAL PHASE OF THE EMBRYO AND ITS FUNDAMENTAL
RIGHT TO LIFE

Valmir César Pozzetti 1


Jane Silva Da Silveira 2
Luiz Claudio Pires Costa 3

Resumo
O objetivo dessa pesquisa foi de analisar o direito fundamental à vida do embrião fertilizado
in vitro descartado após diagnóstico pré-implantacional de mutação no DNA. A metodologia
utilizada na pesquisa foi o método dedutivo e quanto aos meios foi bibliográfica com uso da
doutrina, legislação e jurisprudência, quanto aos fins foi qualitativa. A conclusão a que se
chegou é de que há controvérsias no âmbito jurídico quanto ao direito à vida dos embriões
que foram considerados não sadios e afronta ao Direito Constitucional à vida.

Palavras-chave: Embrião, Direito fundamental à vida, Diagnóstico pré-implantacional

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze the fundamental right to life of the discarded in
vitro fertilized embryo after pre-implantation diagnosis of DNA mutation. The methodology
used in the research was the deductive method and as for the means it was bibliographic with
the use of doctrine, legislation and jurisprudence and as for the ends it was qualitative. The
conclusion reached is that there are controversies in the legal sphere regarding the right to life
of embryos that were considered unhealthy and an affront to the Constitutional Right to life.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Mbryo, Fundamental right to life, Preimplantation


diagnosis

1Pós Doutor em Direito pela UNISA/Itália e EDDHC/MG. Doutor em BioDireito/Direito Ambiental e Mestre
em Direito Ambiental e Urbanístico pela UNILIM/França. Professor Adjunto da UFAM e da UEA.
2Mestranda em Direito Ambiental - PPGDA – Universidade do estado do Amazonas (UEA) Manaus – AM.
Advogada e Professora Substituta da UEA.
3Doutorando em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do
Amazonas - UFAM. Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA.

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INTRODUÇÃO
As pesquisas na área genética têm trazido avanços principalmente no que se refere ao
conhecimento de mutações genéticas, no intuito de oportunizar a possibilidade de tratamentos
e mudança nos hábitos alimentares e no cuidado da saúde.
Muitas são as indagações e desejos dos cientistas e dos laboratórios, buscando
oferecer aos futuros pais interessados, o filho ideal, com a cor dos olhos, sexo, e habilidades
para a cultura, esportes, dentre outros que atendam aos interesses dos genitores.
Na contemporaneidade é possível realizar exame genético em embriões fertilizados
in vitro onde pode-se identificar mutações em seu DNA, realizando assim uma seleção de
embriões geneticamente sadios, com exclusão de doenças genéticas hereditárias; ou seja, sem
a mutação genética de doenças conhecidas e hereditárias.
Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é analisar o direito à vida dos embriões
fertilizados in vitro, descartados após identificação de mutação em seu DNA.
Desse modo, a problemática que motiva essa pesquisa é: de que forma o embrião
fertilizado in vitro após diagnóstico de mutação através de exame genético pré-implantacional
poderá ser descartado sem afrontar o direito constitucional à vida?
A pesquisa se justifica tendo em vista que nem todos os embriões manipulados pelo
geneticista serão utilizados na fertilização e, dessa forma, o que fazer e como fazer com esses
embriões no momento da não utilização ou possível descarte?
A metodologia a ser utilizada é a do método dedutivo; quanto aos meios a pesquisa
será bibliográfica em banco de dados digitais de publicações científicas que abordam o tema,
com uso da doutrina, legislação, jurisprudência e quanto aos fins, será a qualitativa.

OBJETIVOS
O objetivo desta pesquisa é analisar o direito à vida dos embriões fertilizados in
vitro, descartados após identificação de mutação em seu DNA e verificar as divergências
doutrinárias no sentido de que o embrião in vitro tem o direito de desenvolver e nascer, isto é,
o Direito à vida.

METODOLOGIA
A metodologia, a ser utilizada será a do método dedutivo; quanto aos meios, a
pesquisa será bibliografica, com uso da doutrina, legislação e jurisprudência; quantos aos fins
a pesquisa será qualitativa.

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DESENVOLVIMENTO
Quando se trata de tratamento profilático, a testagem genética oferece grandes
benefícios. Ter conhecimento da carga genética e as possíveis mutações pode ser positivo por
trazer alívio evitando check-up durante anos no acompanhamento de uma possível doença
podendo acabar com a incerteza, e ainda, permitindo utilizar os resultados para mudanças de
hábitos que podem reduzir o risco de uma determinada doença aparecer.
Nesse entendimento Lopes et al (2017, p. 128) assevera:
A medicina preditiva tem, como essência, a capacidade de se fazer predições sobre a
possibilidade de um indivíduo adulto, embrião, feto ou recém-nascido poder
desenvolver algum tipo de doença em nível fenótipo1 (são as características
observáveis deste ser humano, ou seja, sua aparência física, seu estado de saúde e
suas emoções), tendo como base testes feitos através do DNA em nível genótipo.

Trata-se da medicina preventiva vindo ao auxilio do indivíduo a fim de evitar o


desenvolvimento de doenças reduzindo impacto tanto no aspecto financeiro, como também
melhorando a qualidade de vida de pessoas em tratamento.
O Conselho Federal de Medicina, considerando a infertilidade humana como um
problema de saúde e suas implicações e ainda após o reconhecimento pelo Supremo Tribunal
Federal da união estável homoafetiva como entidade familiar, estabeleceu normas éticas para
utilização das técnicas de reprodução assistida.
A Resolução n. 2121/2015 do Conselho Federal de Medicina, no que se refere ao
diagnóstico genético pré-implantação de embriões determina que as técnicas de reprodução
assistida podem ser utilizadas aplicadas à seleção de embriões submetidos a diagnóstico de
alterações genéticas causadoras de doenças – podendo nesses casos serem doados para
pesquisa ou descartados.
É o exame genético preditivo realizado em embriões antes de sua implantação
detectando possíveis mutações genéticas e impedindo que estas sejam transmitidas. Muito
embora seja uma prática legal, nos parece ser uma seleção de pessoas saudáveis eliminando
pessoas doentes. A identificação de uma mutação genética não é um diagnóstico de doença e
sim uma predisposição, portanto com o descarte tira-se daquele embrião a possibilidade de
desenvolver e nascer com vida.
Nesse entendimento, Lopes et al (2017, p. 143) pontua: “É evidente que o processo
de discriminação genética está intimamente relacionado ao uso inapropriado, visto que, com a
evolução do avanço biotecnológico, é perfeitamente possível escolher qual embrião viverá
pois só haverá seleção para procriar daquele com condição genética saudável.”

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Nesse sentindo Barbosa Neto et al (2005, p. 205 a 206) nos levam à seguinte
reflexão:
Será válido fazer um teste preditivo para câncer de mama em embriões? Se o teste
der positivo, é justo e moralmente correto abortar neste caso? A questão colocada
refere-se a algo que não é e não pode ser mais facilmente decidido, como nos casos
de malformações incompatíveis com a vida, por exemplo. Será justo não deixar
nascer uma criança por ela ser portadora de uma mutação que poderá ou não se
expressar? Não estaremos limitando demais a ocorrência de uma doença em função
do aspecto econômico? Na sociedade indolor na qual se vive, será válido, em nome
do não-suportamento do sofrimento, não deixar ao mundo uma pessoa que poderá
ter uma doença que pode ser tratada e curada se descoberta a tempo?

Dentre esses questionamentos verifica-se que há um olhar de preocupação do


doutrinador para os exames preditivos. Dentre as reflexões feitas, observa-se que: será justo
não deixar nascer uma criança por ela ser portadora de uma mutação que poderá ou não se
expressar? A questão permeia pela compreensão do que é um embrião e o momento em que
se inicia a vida.
Leite, (2013, p. 123 e 124) identifica posições sobre o tema, relativamente ao estatuto
do embrião humano, três são as posições fundamentais detectáveis na atualidade: duas
radicais (ou extremistas) e uma terceira, avançada, que procura o justo equilíbrio nos
excessos:
Para uma primeira corrente, o embrião humano deve ser considerado como "pessoa
humana", desde o primeiro momento da concepção.
A corrente oposta, não visualiza "pessoa" no embrião humano, entendendo que,
inicialmente, o embrião nada mais é que um amontoado de células, não possuindo
qualquer estatuto de pessoa.
A terceira, que se situa entre as duas precedentes, imagina o embrião em termos de
"potencialidade" c real de "pessoa", destinada a se tornar 'tal durante seu
desenvolvimento progressivo.

Verifica-se que, segundo Leite, os entendimentos sobre o embrião, é bastante


controverso. Durante o processo de fertilização são criados vários embriões e aqueles não
utilizados são descartados ou poderão ser usados para a pesquisa conforme preleciona a Lei
de Biossegurança em seu art. 5º e ainda pela Resolução do Conselho Federal de Medicina nº
2.294/2021 em seu tópico VI - Diagnóstico Genético Pré-Implantacional de Embriões.
O art. 5º da Lei de Biossegurança teve sua constitucionalidade questionada e o
Superior Tribunal Federal em seu acordão com voto da maioria, decidiu que as pesquisas com
células tronco não violam a dignidade da pessoa humana e nem o direito à vida. Para o STF,
para existir vida humana, é necessário que o embrião seja implantado no útero humano.
O direito à vida é assegurado na Constituição Federal/1988, em seu art. 5º, caput, que
dispõe: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

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brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos seguintes termos”. Nesse sentido Pozzetti e
Prestes (2017, p. 100) destacam que:

Para a melhor compreensão sobre o início da vida, os estudos jurídicos podem ser
complementados como o auxílio multidisciplinar das conclusões médico-científicas
da embriologia, pois é de suma importância a compreensão do ponto de vista
biológico sobre o início da vida. A Embriologia Clinica é um ramo da Medicina que
explica as etapas da concepção e de como se forma o embrião.

Nesse mesmo sentido o Código Civil em seu art. 2º dispõe “A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos
do nascituro” e ainda, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da
Costa Rica) recebida por ser o estado Brasileiro signatário, dispõe: Art. 4º - 1. “Toda pessoa
tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral,
desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente”.
Nesse sentido Pozzetti (2018, p. 170) destaca que “o Princípio da Dignidade da
pessoa humana é um princípio que precede a todos os outros e servem de inspiração aos
demais princípios fundamentais”.
As normas legais citadas acima dispõem que há proteção ao direito à vida desde a
concepção, inclusive protegido constitucionalmente, nos trazendo à reflexão sobre o descarte
dos embriões, diagnosticados com alguma mutação genética, afrontar o Direito fundamental à
vida.

CONCLUSÃO

Esta pesquisa foi motivada pela problemática que questionou o descarte do embrião
fertilizado in vitro após diagnóstico de mutação através de exame genético pré-implantacional
em afronta ao direito constitucional à vida.
A partir da análise bibliográfica utilizada, os objetivos da pesquisa foram alcançados
satisfatoriamente.
Primeiramente, verificou-se que não há consenso na doutrina, são correntes
doutrinárias divergentes quanto ao inicio da vida, há corrente concepcionista que o embrião é
humano desde o primeiro instante de sua concepção; a corrente que compreende que o
embrião nada mais é que um amontoado de células e uma terceira que entende que o embrião
representa apenas um potencial do que poderia vir a ser.

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Constatou-se o entendimento do Superior Tribunal Federal, de que a vida inicia com
a implantação do embrião no útero humano, portanto pesquisas com embriões descartados
após exame genético pré-implantacional não violam o direito à vida, tampouco a dignidade
da pessoa humana.
Observou-se que o avanço da ciência na area genética trouxe ganhos positivos e que
muito embora, haja previsão legal, o descarte de embriões fertilizados in vitro, detectado com
mutações no DNA, nos parece ser uma seleção de pessoas saudáveis, caracterizando um novo
tipo de discriminação, discriminação pelos genes, criando uma geração de pessoas sem
doenças.
Concluiu-se que, embora existam correntes divergentes quanto ao momento que se
dá o incio da vida, o embrião é portador de direitos, como o direito à vida, assegurado, desde
a concepção, pelo nosso ordenamento jurídico.

REFERÊNCIAS

BARBOSA Neto, JG., BRAZ, Marlene. Bioética, testes genéticos e a sociedade pós-
genômica. Disponível em https://books.scielo.org/id/wnz6g/pdf/schramm-9788575415405-
10.pdf. Acesso em 04 mai. 2022

BRASIL, Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em 02 mai. 2022

BRASIL, Lei Nº 10.406, De 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em 02 nov. 2021

CFM – Conselho Federal de Medicina. Resolução Conselho Federal de Medicina nº


2.2294/2021. Disponível em
https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/resolucoes/BR/2021/2294. Acesso em 10 mai.
2022

CONVENÇÃO INTAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Convenção Americana De


Direitos Humanos Disponível em
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em 06 mai.
2022

LEITE, Eduardo de Oliveira. O Direito Do Embrião Humano: Mito Ou Realidade?


Revista da Faculdade de Direito UFPR. Disponível em
https://revistas.ufpr.br/direito/article/view/9389. Acesso em 06 mai. 2022

LOPES, Daniele Fernanda Gomes, Rodrigues, Mithiele Tatiana. Diagnóstico Genético De


Pré-Implantação: Reflexão À Luz Da Discriminação Genética. Revista Direitos

19
Fundamentais & Justiça | Belo Horizonte, ano 10, n. 35, p. 127-147, jul./dez. 2016.
Disponível em https://dfj.emnuvens.com.br/dfj/article/view/97/23. Acesso em 10 mai. 2022

POZZETTI, Valmir César e PRESTES, Fernando Figueiredo. LEI DE BIOSSEGURANÇA E AS


CONTROVÉRSIAS SOBRE O INÍCIO DA VIDA. Disponível em:
http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/pi88duoz/4yd0mfu8/4999n2xs5PvnG4H9.pdf,
consultada em 13 mai. 2022.
POZZETTI, Valmir César. O Reconhecimento do Nome Social, às travestis, como
garantia do Direito da Personalidade. In Direitos da Personalidade,
Reconhecimento, Garantias e Perspectivas. Org. por José Eduardo de Miranda;
Valéria Silva Galdino Cardin. Porto (Portugal), Ed. Juruá: 2018.

STF. Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 3510-DF


https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14720566/acao-direta-de-inconstitucionalidade-adi-
3510-df. Acesso em 08 mai. 2022

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A EXPLORAÇÃO DO GRAFENO E SUAS IMPLICAÇÕES NO ÂMBITO DA
BIOSSEGURANÇA E NO DIREITO AO MEIO AMBIENTE SUSTENTÁVEL
THE EXPLORATION OF GRAPHENE AND ITS IMPLICATIONS IN THE SCOPE
OF BIOSAFETY AND THE RIGHT TO A SUSTAINABLE ENVIRONMENT

Valmir César Pozzetti 1


Jane Silva Da Silveira 2
Luiz Claudio Pires Costa 3

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar os meios de produção do grafeno, suas aplicações
e impactos no meio ambiente, considerando as implicações de biossegurança, no que
concerne à nanotecnologia. Foi utilizado o método dedutivo; como meios, a pesquisa foi a
bibliográfica e quanto aos fins, qualitativa. Concluiu-se que o Princípio da Precaução deve
ser o fio condutor na exploração do grafeno, vez que ainda serão necessárias mais pesquisas e
um aprofundamento nos conhecimentos, que comprovem a inexistência de danos ao meio
ambiente e às pessoas, antes de o grafeno ser produzido e utilizado.

Palavras-chave: Biossegurança, Grafeno, Meio ambiente, Nanotecnologia, Prevenção


ambiental

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze the means of production of graphene, its
applications and impacts on the environment, considering the implications of biosafety, with
regard to nanotechnology. The deductive method was used; as means, the research was
bibliographical and as for the ends, qualitative. It was concluded that the Precautionary
Principle should be the guiding thread in the exploration of graphene, since more research
and a deepening of knowledge will still be needed, proving the inexistence of damage to the
environment and to people, before graphene is produced. Is it used.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Graphene, Biosafety, Nanotechnology, Environment,


Environmental preservation

1Pós Doutor em Direito pela UNISA/Itália e EDDHC/MG. Doutor em BioDireito/Direito Ambiental e Mestre
em Direito Ambiental e Urbanístico pela UNILIM/França. Professor Adjunto da UFAM e da UEA.
2Mestranda em Direito Ambiental - PPGDA – Universidade do estado do Amazonas (UEA) Manaus – AM.
Advogada e Professora Substituta da UEA.
3Doutorando em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do
Amazonas - UFAM. Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA.

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INTRODUÇÃO
A sociedade é dinâmica, estando em constante modificação, adaptando-se às necessidades
da população e de sua própria existência. Na busca de atendimento dessas necessidades e na
manutenção da adaptabilidade necessária, surgem sempre pesquisas e estudos que visam a
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos e de suprimento das necessidades diversas, por isso
vários materiais, processos e produtos são descobertos ou criados. Entretanto, alguns problemas
não conseguem ser resolvidos de forma simples e objetiva, necessitando de maior
desenvolvimento dos estudos e pesquisas a níveis cada vez mais profundos.
No atendimento dessas necessidades é que foi descoberta a possibilidade de manipulação
da matéria em escala muito pequena, possibilitando a criação de materiais e processos, surgindo
com eles o grafeno, composto de propriedades nunca vistas e que o tornam versátil para utilização
em vários segmentos.
Por esse motivo a iniciativa da presente pesquisa visa responder o seguinte problema: de
que forma o grafeno poderá auxiliar no desenvolvimento ambiental sustentável e na qualidade
da vida e na promoção da dignidade da pessoa humana?
Para realizar a pesquisa utilizar-se-á o método dedutivo, com uso da doutrina e legislação;
quanto aos meios, a pesquisa será bibliográfica e quanto aos fins, qualitativa.
Entretanto, é necessário se fazer a verificação dos processos de produção e de utilização
desses novos materiais a fim de garantir que os mesmos não produzam qualquer dano ao meio
ambiente e nem as pessoas que os manipulam ou que utilizam produtos derivados dos mesmos,
bem como garantir a sustentabilidade da sua utilização em benefício da humanidade, sendo por
isto justificada a presente pesquisa.

OBJETIVOS
O objetivo da presente pesquisa será analisar a produção do grafeno e suas implicações
na biossegurança dos processos e a sua utilização como mecanismos de sustentabilidade
ambiental.

METODOLOGIA
A metodologia a ser utilizada nesta pesquisa será a do método dedutivo; quanto aos meios,
a pesquisa será bibliográfica, com uso da doutrina, a legislação e documentos; quanto aos fins a
pesquisa será qualitativa, uma vez que não serão realizados a busca por percentis e dados
quantitativos.

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DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
O planeta está em constantes mudanças, e os seres humanos sempre à procura de soluções
para problemas antigos e novos e que até o momento não visualizamos, principalmente na área
da ciência, começando a estudar eles através de partes cada vez menores, surgindo assim a
nanotecnologia.
A nanotecnologia refere-se à manipulação de matérias em escala atômica e molecular,
visando a criação de novos materiais e processos, diferentes dos já conhecidos e que auxilie na
resolução dos problemas anteriormente citados, esses materiais e processos tem aplicação em
várias áreas, como por exemplo a medicina, a física, a química, a engenharia e a informática.
Nesse sentido, Pozzetti (2021, p.311) destaca que “A palavra “nano” vem do latim
nanus, que é utilizada para representar coisas exponencialmente pequenas, sendo que o prefixo
“nano” é usado para denominar a escala nanométrica, que representa partículas de magnitude
extremamente minúsculas. Assim, a nanotecnologia é uma das ferramentas da nanociência”.
Os progressos adquiridos nos estudos das ciências dos materiais, provenientes da
utilização da nanotecnologia tem ampliado suas repercussões em vários setores, na agricultura
estão sendo estudados os encapsulamentos de fertilizantes, herbicidas e pesticidas, visando a
redução dos impactos negativos da utilização dos mesmos, atuando somente onde for necessário.
As nanopartículas já são utilizadas na estética, auxiliando na mudança de estruturas, no
meio ambiente é utilizada como ferramenta no auxílio a vários processos de limpeza, desinfecção
e neutralização de microrganismos na água. Mas é na medicina que se aguarda um melhor
resultado da utilização da nanotecnologia, incluindo a possibilidade de que robôs em escala
nanométrica possam ser inseridos no corpo humano para fazer diagnósticos e até auxiliar no
tratamento de doenças.
Vários estudos já foram iniciados com diversas aplicações, analisando materiais, criando
ou descobrindo outros, todos muito importantes para o desenvolvimento e a resolução dos
problemas da sociedade e dos seres humanos, aqui nos ateremos a apenas um deles, o grafeno.
Segundo Guimarães e De Jesus (2011, pág. 2):

O termo grafeno foi usado pela primeira vez em 1987; o conceito é conhecido desde
1947, mas existia apenas como teoria, pois acreditava-se que uma estrutura
bidimensional não poderia existir fisicamente. A definição oficial foi dada pela IUPAC
em 1994, que considera o grafeno como sendo uma camada única da estrutura grafítica.
Em 2004, um grupo do Centro de Nanotecnologia da Universidade de Manchester,
liderado pelo Prof. A. K. Geim conseguiu isolar pequenos fragmentos de monocamadas
de grafeno, a partir de grafite. O grafeno é, portanto, constituído de uma camada única
de átomos de carbono dispostos em uma estrutura semelhante a um favo de mel, sendo
um material bi-dimensional, composto de átomos de carbono, arranjados em uma rede
hexagonal.

23
Segundo e Vilar (2016, pág. 54) em seu artigo já orientam:

O grafeno é um material que tem despertado interesse em pesquisas das mais diversas
áreas do conhecimento. Devido às suas excelentes propriedades físico-químicas,
mecânicas, térmicas, elétricas e ópticas, pode ser utilizado em sistemas que abrangem
desde dispositivos eletrônicos a células de energia solar.

Algumas das propriedades que o tornam um material diferenciado são: mecânica – é o


material mais resistente conhecido, podendo ser até duzentas vezes mais resistente que o aço;
elétrica – em virtude de sua estrutura, os elétrons se deslocam por ele em velocidades próximas
à da luz, sendo também o material de menos resistência conhecido; ópticas – é praticamente
invisível a olho nu, permitindo a passagem de aproximadamente 98% da luz; térmica – é um
excelente condutor, sendo capaz de dissipar o calor mais rápido que qualquer outro material
conhecido.
Dessa forma, possui um grande potencial para produzir grandes transformações
tecnológicas, necessitando a continuidade dos estudos sobre ele para que se torne viável sua
produção para aplicação.
Segundo De Jesus (2012, p. 15):

Até o momento, amostras de grafeno têm sido feitas usando métodos de microesfoliação
química, microesfoliação mecânica e deposição química a vapor. Cada um desses
métodos tem vantagens e desvantagens em termos de facilidade de uso, qualidade e
escalonamento.

A microesfoliação mecânica, segundo Alencar e Santana (2017, pág. 5):

é o método mais simples e consiste em aplicar uma fita adesiva em um grafite pirolítico
altamente orientado (HOPG), retirar a fita adesiva contendo o grafite e colocar
levemente em cima de um substrato de óxido de silício (SiO2). A folha de grafeno adere
ao substrato por ter afinidade maior do que o próprio grafeno. A detecção pode ser
observada através de microscópio ótico pois há um contraste entre o substrato e a folha
de grafeno.

Na microesfoliação mecânica há pouca eficiência, constituindo a técnica em friccionar


com uma ponta afiada de vidro, micro pilares de grafite, sendo utilizado em sua versão mais
sofisticada um microscópio de força atômica. A vantagem da técnica é a possibilidade de escolha
do local de depósito do grafeno, mas a desvantagem é que o mesmo poderá ficar com resíduo de
cola de fita adesiva, precisando de tratamento térmico para remoção desses resíduos.
Na microesfoliação química há a inserção de reagentes, sendo utilizada uma mistura de
ácidos sulfúrico, nitrato de sódio e permanganato de potássio, obtendo-se por essa técnica uma
mistura mal definida de grafeno e óxido de grafeno. Sua desvantagem é a modificação química,
necessitando de uma etapa posterior de tratamento e redução química para recuperação das
propriedades do grafeno.

24
O método da deposição química à vapor é a mais antiga, obtendo o grafeno diretamente
sob substratos sólidos, podendo ocorrer por decomposição térmica de carbetos ou por
crescimento suportado por deposição química à vapor. Como é um método de baixo custo e
produz grafeno de alta qualidade, torna-se atualmente a melhor alternativa para a produção em
larga escala.
O que torna importante a pesquisa sobre o grafeno é a tendência de que nos próximos
anos possa ocorrer uma produção em grande escala para aplicação em diversas áreas, pois suas
excepcionais propriedades o tornam uma alternativa para substituição do silício e do diamante
em inúmeras utilidades.
A sua aplicação, principalmente na indústria microeletrônica e na de nano materiais, haja
vista manter suas características e ser um diferencial dos materiais já existentes quando utilizados
em escala nanométrica.
Entretanto, já existem pesquisas em andamento que procuram determinar se há impactos
no uso do grafeno no meio ambiente, a fim de garantir que não haja externalidades negativas na
sua utilização que não possam ser revertidas.
Em pesquisa de Da Silva (2016, pág. 10) já foi comprovado que o óxido de grafeno,
apesar de poder alterar, não o faz significativamente para a sobrevivência de um inseto
bioindicador bentônico que é suscetível a qualquer alteração, nem suas moléculas poliméricas do
ácido húmico, presentes na água e originais da decomposição da biota aquática. Isso pela
aplicação do grafeno na despoluição de águas, principalmente pela sua grande capacidade de
absorção de materiais poluentes como solventes e óleos, por exemplo. Ela conclui: “Portanto, a
concentração efetiva media (CE50-48h) > 100 mg L-1, determinada com base no parâmetro
avaliado, categorizaria o material-teste (USEPA, 1985) como “praticamente não tóxico” para C.
sancticaroli.”
Independentemente da existência de pesquisas, o cuidado com o meio ambiente em todos
os seus aspectos determina que utilizemos o princípio da precaução, na análise dos
licenciamentos para utilização de materiais que ainda não possuem certeza científica de seus
impactos. Nesse sentido nos ensina, Machado (2013, pág. 108):

A existência de certeza necessita ser demonstrada, porque vai afastar uma fase de
avaliação posterior. Em caso de certeza do dano ambiental, este deve ser prevenido,
como preconiza o princípio da prevenção. Em caso de dúvida ou de incerteza, também
se deve agir prevenindo. Essa é a grande inovação do princípio da precaução. A dúvida
científica, expressa com argumentos razoáveis, não dispensa a prevenção.

No presente caso, ainda há necessidade de mais estudos e pesquisas que possam


comprovar que o grafeno não causa qualquer tipo de impacto negativo ao meio ambiente, ou caso

25
exista impacto, a existência de mitigação do mesmo para que possa ser autorizado seu uso em
suas diversas aplicações.
Entretanto, independente desses estudos não se pode perder de vista os princípios de
Direito ambiental, dentre eles o da sustentabilidade ambiental; porque os princípios possuem uma
importância enorme na produção e efetivação do ordenamento jurídico. Segundo Pozzetti e
Campos (2017, p. 255):
Os princípios são a base do ordenamento jurídico, de onde promanam as
regras de uma determinada sociedade. Tudo aquilo que determinada sociedade
entende como justo, como honesto, como norte para a paz e a vida em grupo, é
denominado de princípios. Dessa forma, a norma jurídica, ao ser posta a disposição
de todos os jurisdicionados, deverá atender as regras ou aos anseios dos Princípios;
caso contrário, está fadada a ser revogada.

Pois bem, dentro desse contexto, analisando as posições doutrinarias descritas, verifica-
se a importância da observação do princípio da precaução no tocante às atividades que o ser
humano desenvolve e a necessidade de um olhar mais cuidadoso no tocante às atividades em que
não se tem certeza cientifica sobre suas consequências futuras desses atos. E é nesse sentido que
Pozzetti, Pozzetti e Pozzetti (2020, p. 179/180) define o Princípio da Precaução:
A construção jurídica deste Princípio encontra respaldo no famoso ditado popular:
“melhor prevenir do que remediar”. Dentre os principais elementos deste Princípio
afiguram- se os seguintes aspectos: a precaução diante das incertezas científicas; a
exploração de alternativas a ações potencialmente prejudiciais; a transferência do “ônus
da prova” aos proponentes de uma atividade e não à vítima ou vítimas em potencial
daquela atividade; e o uso de processos democráticos na adesão e observação do
Princípio – inclusive o direito público ao consentimento informado.

Assim sendo, verifica-se que o princípio da precaução deve ser seguido pelo
pesquisador, pelo cientista e pelo produtor de bens e serviços e deve ser observado rigorosamente
pelo Poder Público responsável por liberar toda e qualquer atividade e, eem especial aquelas
atividades das quais não se possui certeza cientifica sobre benefícios e malefícios que ela poderá
causar, pois a não ser assim coloca-se em risco a sustentabilidade ambiental do planeta, uma vez
que liberar atividades cuja origem e consequências poderão causar danos irreversíveis, será
negligenciar a sustentabilidade planetária e vilipendiar a dignidade da pessoa humana.

CONCLUSÃO
A descoberta de novos materiais que possam auxiliar na qualidade, durabilidade e
redução de custos de vários produtos utilizados, é uma realidade, o grafeno é um desses materiais,
por isso a necessidade de se pesquisar no que esse material poderá auxiliar no desenvolvimento
ambiental de forma sustentável, auxiliando a humanidade a promover uma existência mais digna.

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Pelo exposto verificamos que as pesquisas e estudos já descobriram e continuarão a
descobrir novos materiais e substâncias que podem ou devem facilitar processos ou a resolução
de problemas, produtos esses que devem sempre ter analisada sua produção e sua aplicação
prática, visando a verificação dos impactos ambientais positivos, negativos e a possibilidade de
sua mitigação ou redução.
A presente pesquisa conseguiu atingir seu objetivo de analisar o grafeno, tendo sido
verificadas as formas de obtenção do material e sua aplicabilidade prática, bem como a
necessidade de um maior aprofundamento nas pesquisas sobre sua utilização, considerando-se a
biossegurança e a manutenção do meio ambiente, a fim de se produzi-lo e utilizá-lo de forma
sustentável.
Ao final da pesquisa se conclui que pesar da economia e do comércio influenciarem na
agilização da liberação desses materiais, substâncias ou produtos com o objetivo de aquisição de
lucro, é necessária a complementação e fiscalização dos estudos de forma completa, a fim de
evitar que eles possam, ao invés de dar lucro e ser utilizado de forma sustentável, produzirem um
prejuízo, não só econômico, mas também da saúde dos seres humanos e do meio ambiente.
A importância do grafeno para os diversos segmentos aqui vistos é real e sua
excepcionalidade existe, entretanto, não podemos utilizá-lo sem que antes tenhamos a total
certeza científica de que não cause danos à saúde das pessoas ou ao meio ambiente, para
atendimento direto da previsão constante do princípio da prevenção.

REFERÊNCIAS
ALENCAR, Eduardo; SANTANA, Delano. Processo de obtenção do grafeno, suas aplicações e
sua importância para o Brasil. Revista Acadêmica Oswaldo Cruz, 2017.

DA SILVA, L. B. B. et al. Desenvolvimento de Chironomus sancticaroli (diptera: chironomidae)


e sua toxicidade ao óxido de grafeno. In: Embrapa Meio Ambiente-Artigo em anais de
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28
O USO DA NANOTECNOLOGIA NA GERAÇÃO ENERGIA SOLAR
FOTOVOLTAICA
THE USE OF NANOTECHNOLOGY IN GENERATION PHOTOVOLTAIC SOLAR
ENERGY

Valmir César Pozzetti 1


Daniel Gabaldi Pozzetti 2
Joyce Joanny de Oliveira Leitão Limeira 3

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar a tecnologia nano e verificar se ela pode ser
utilizada na produção de energia elétrica limpa, trazendo benefícios às questões ambientais.
A metodologia que se utilizou na pesquisa foi a do método dedutivo; quantos aos meios a
pesquisa foi bibliográfica e quanto aos fins, qualitativa. A conclusão a que se chegou foi a de
que a energia solar fotovoltaica contribui para a geração de uma energia limpa, através da
nanotecnologia, os painéis solares fotovoltaicos estão aumentando sua eficiência e
capacidade de geração de energia.

Palavras-chave: Nanotecnologia, Energia solar fotovoltaica, mudanças climáticas, objetivos


de desenvolvimento sustentável

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze the nano technology and verify if it can be used
in the production of clean electric energy, bringing benefits to environmental issues. The
methodology used in the research was the deductive method; as for the means, the research
was bibliographic and as for the ends, qualitative. The conclusion reached was that
photovoltaic solar energy contributes to the generation of clean energy, through
nanotechnology, photovoltaic solar panels are increasing their efficiency and energy
generation capacity.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Nanotechnology, Photovoltaic solar energy, climate


change, sustainable development goals

1Pós Doutor em Direito pela UNISA/ Itália e pela EDDHC/MG; Doutor em Biodireito/direito Ambiental pela
UNILIM/França; prof. Adjunto d UFAM e da UEA.
2Mestrando em ciências Ambientais e Sustentabilidade na Amazônia, pela UFAM – Universidade Federal do
Amazonas.
3Mestranda em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA, Pós-graduanda em
Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

29
INTRODUÇAO

A fabricação de painéis solares fotovoltaicos, contemporaneamente, tem crescido no


mundo e no Brasil, nos últimos anos, devido à grande demanda no mercado, o mercado brasileiro
possui mais de 4,5 Giga watts (GW) de potência instalada. (Associação Brasileira de Energia
Solar Fotovoltaica). Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), foram mais de
110 mil sistemas fotovoltaicos de mini e micro geração.
O Painel intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, criado através das
Nações Unidas (ONU), realiza diversos estudos voltados ao Meio Ambienta, através dele, foram
criados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, trazendo iniciativas para o combate as
emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e acessível a fontes de energia limpa, adotando
padrões de custos sustentáveis.
As recentes tecnologias, dentre elas a “nanotecnologia” tem se despontado como uma
tecnologia bastante promissora, uma vez que o prefixo “nano” indica extrema pequenez, uma
vez que uma estrutura nanodimensionada tem de ser ampliada mais de 10 milhões de vezes
para a podermos facilmente apreciar em pormenor a olho nu. A nanotecnologia refere-se a
tecnologias em que a matéria é manipulada à escala atómica e molecular para criar novos
materiais e processos com características funcionais diferentes dos materiais comuns.
Não é apenas o estudo do muito pequeno, é a aplicação prática desse conhecimento.
Como uma nova ciêncioa, a nanotecnologia tem sido aplicada, a cada dfia, em novas
cienicas que antes nao a conheciam; sendo aplicada hoje na medicina, na agricultura, na
engenharia, etc… E também está sendo etudada a sua aplicação no âmbito da produção de
energia elétrica.
Dessa forma, o objetivo desta pesquisa é o de analisar as questões que envolvem a
nanotecnologia e a sua produção de energia e verificar se possível aplica-la na produção de
energia.
A problemática que movimenta esta pesquisa é: de que forma se poderá utilizar a
nanotecnologia, de maneira eficiente e sem causar prejuízos ambientais, na produção de energia
elétrica?
A pesquisa se justifica tendo em vista que, se for possível utilizar a nanotecnologia na
produção de energia elétrica, teremos a possibilidade de eliminar ou minimizar muitos danos
ambientais e ter independência nessa área de gestão, vez que o grave entrave, hoje, ao
desenvolvimento sustentável é a produção de energia limpa.
Esta pesquisa presenta análises e pesquisas voltadas para a influência da nanotecnologia

30
na produção e geração de energia solar fotovoltaica, destacando o material usado para a
fabricação dos painéis solares fotovoltaicos através da nanotecnologia, e com as inovações
tecnológicas desenvolvidas ao longo dos anos. A metodologia que será utilizada é a do método
dedutivo, quanto aos meios a pesquisa será bibliográfica e documental; quanto aos fins,
qualitativa.
OBJETIVO

Analisar a influência da nanotecnologia e as revoluções tecnológicas que a energia


solar fotovoltaica sofreu em um espaço curto de tempo, melhorando sua eficiência, rendimento
na geração de energia e a forma de sua produção em grande escala, trazendo benefícios sociais,
econômicos e tecnológicos, além de contribuir com estudos voltados para uma energia
renovável e limpa, atuando diretamente na redução dos Gases de Efeito Estufa e na contribuição
da eficiência energética para um caminho sustentável.

2. METODOLOGIA
O presente estudo trata de uma revisão a respeito da nanotecnologia e os avanços e
influências que ocorreram com a grande parte dos painéis solares de energia fotovoltaica, bem
como os inversores solares de energia fotovoltaica. A metodologia que se utilizará será a do
método dedutivo; quanto aos meios a pesquisa será bibliográfica, com uso da doutrina,
documentos exibidos na rede mundial de computadores e legislação; quanto aos fins a pesquisa
será qualitativa.

DESENVOLVIMENTO
Após a humanidade ter constatado diversas mudanças climáticas ao redor do Planeta
Terra, o ser humano percebeu que suas ações afetam diretamente o meio ambiente, sendo assim,
a sociedade global passou a seguir eventos climáticos, com intuito de controlar e auxiliar a
sociedade e o meio ambiente.
Dentro deste contexto, Pozzetti e Monteverde (2017, p. 197) destacam que:
Las cuestiones ambientales que el planeta atraviesa son cualitativa y
cuantitativamente diferentes de las pretéritas: los cambios traídos por la modernidad,
principalmente por el consumo desenfrenado de bienes y servicios, transforma el
medio ambiente y, así, amenaza la vida en el planeta tierra.

A ONU – Organização das Nações Unidas é um organismo que foi criado como uma
instituição internacional que estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimentos Sustentáveis a
serem seguidos pelos países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, dessa forma,
poderíamos estabelecer metas com intuito de mitigar e controlar as ações do homem que

31
impactam diretamente o planeta terra e seu grande ecossistema, na busca para que o mundo não
entre em colapso diante das ações predatórias do homem com o planeta Terra. Percebemos que
se o Homem não fizer o uso consciente dos recursos naturais, vamos estar comprometendo
nossa geração e as gerações futuras bem como a própria existência da natureza no planeta
(LUCAS, 2021).
Através de pesquisas e avanços tecnológicos aliadas a nanotecnologia, o ser humano
conseguiu desenvolver a energia solar fotovoltaica, uma energia que causa impacto em nível
baixo de poluição à natureza em comparação as outras fontes de energias renováveis e não-
renováveis.

O termo nanotecnologias é de origem do grego, onde Nano significa “anão”, na área


da ciência em termos de proporção de parte de um bilhão, um nanômetro é equivalente a um
bilionésimo de metro. Podemos dizer que a nanotecnologia é de escala atômica, ou seja, a
distância ente dois átomos vizinhos em uma molécula ou em uma amostra sólida é usualmente
da ordem de décimos de nanômetros, número relativamente pequeno de átomos. (CELSO,
2004).
A nanotecnologia este presente na natureza através da bioquímica, um complexo de
sistema de moléculas ativas responsáveis pela absorção da energia luminosa em um organismo
como um todo. Nesse sentido, Pozzetti (2021, p. 312) destaca que:
Dentre as diversas aplicações e avanços que a ciência acena com a nanotecnologia,
estão: a capacidade de aumentar de forma espetacular a capacidade de armazenamento
e processamento de dados dos computadores; criar novos mecanismos para aplicação
de medicamentos mais seguros e menos prejudiciais ao paciente do que os disponíveis
hoje; criar materiais mais leves e resistentes do que metais e plásticos, para
prédios, automóveis e aviões.

O interesse histórico pela nanotecnologia que temos conhecimento, começou através


do físico americano Richard Feynman conhecido com a obra “Há mais espaços lá em baixo”,
recebendo prêmio Nobel de Física em 1965, com contribuições significativas ao tema da teoria
quântica e a nanotecnologia. (CELSO, 2004)
A nanotecnologia teve seu destaque a partir de 1980, com destaque para dois tipos de
abordagem, chamado de “de baixo para cima” técnica chama de litografia, a corrosão química
para a fase final do objeto nanométrico, a partir de um bloco macroscópico, átomos que se
organizam em uma forma de pirâmide, formando uma camada regular de átomos sobre uma
superfície de silício. O outro processo chamado “de baixo para cima” sugere técnicas de
litografia construindo objetos nanométricos a partir de um bloco de material, através de uma
camada de polímero-precursor recebendo o tratamento de luz, métodos ópticos sendo
projetados por uma amostra de camada de resina de polímero sensível a luz. (CELSO, 2004).

32
Segundo Baldovino (2010, sl. 15) a “Nanotecnologia é a capacidade de criar objetos de
qualidade superior aos existentes hoje, a partir da organização dos átomos de forma desejada.
Nela usamos a medida do “nanômetro”, que equivale a um bilionésimo de metro”.
As células fotovoltaicas possuem uma estrutura microscópica, de forma resumida, um
átomo de silício é composto por catorze prótons e catorze elétrons, na camada exterior. Os
átomos de um cristal de silício são alinhados a uma teia de diamante, formando quatro ligações
covalentes com quatro átomos paralelos. Essa ligação tem como resultado o compartilhamento
de elétrons podendo conter até oito ligações, sendo assim, os elétrons ficam ligados a banda de
valência, o átomo permanece em um estado estável, possibilitando que os elétrons se desloquem
adquirindo energia suficiente passando para da banda de valência para a banda de condução. A
energia passa a atingir um estado de condução se comportando como uma carga positiva, o
fóton cria um par de elétron-lacuna. Para haver corrente elétrica, a célula fotovoltaica precisa
passar por um processo de dopagem do silício, introduzindo componentes que alteram a
propriedades eléctricas cirando duas camadas na célula, obtendo um excesso de cargas positivas
e um excesso de cargas positivas e negativas. O componente boro que também é dopado, com
o intuito de criar quatro ligações covalentes com quatro átomos vizinhos de silício, porém
possuindo três elétrons de banda de valência, ou seja, um elétron fica livre transitando através
dos materiais do painel solar, gerando energia na rede elétrica fotovoltaica solar (DE SOUZA,
2007).
Nesse contexto, podemos mencionar três tipos de células de silício nos painéis solares
fotovoltaicos, esses modelos de células fotovoltaicas solares são, segundo Rui (2002, p. 4):
As células de silício monocristalino, conhecido como um material usado na
composição das células fotovoltaicas, com características uniformes estruturais
moleculares, utilizando um cristal ideal para potenciar o efeito fotovoltaico, atingindo
um rendimento máximo de 24% na geração de energia, além disso a produção desse
tipo de silício é economicamente alta, possuindo maior parte do mercado atual (Rui,
2002)

As células de silício policristalino são compostas por um número alto de cristais de


pequena espessura com participação de 30% no mercado fotovoltaico. A estrutura molecular
recombina as lacunas dificultando os movimentos dos elétrons, reduzindo a potência de saída
e por consequência o rendimento de geração de energia do painel não excede os 18%. Este
processo de fabricação é economicamente mais viável que as de silício cristalino. (RUI, 2002)
As células de silício amorfo, não tem estrutura cristalina, por possuir peculiaridades e
defeitos na sua estrutura, impossibilitando a utilização em células fotovoltaicas. Quando o
silício de amorfo for adicionado a uma pequena quantidade de hidrogênio, processo conhecido
como hidrogenização, os átomos de hidrogénio minimizam os defeitos estruturais, absorvendo

33
a radiação solar de forma eficiente em comparação as células de silício cristalino. O processo
de fabricação é mais barato que as células de silício policristalino, estima-se que as células de
silício amorfo, elas representam 4% do mercado fotovoltaico, sendo constatado que o
rendimento de 6% de geração de energia (RUI, 2002).
O mercado de energia solar fotovoltaico atualmente vem melhorando a eficiência de
seus painéis, nos últimos anos a busca por novas tecnologias trouxeram painéis cada vez mais
eficientes para as empresas, além da redução dos custos. Atualmente passamos pela terceira
geração de sistemas Fotovoltaicos, possuindo baixo custo por watt, utilizando materiais
abundantes e de baixo impacto ambiental (DE SOUZA, 2007).
A primeira geração de células Fotovoltaicas faz parte das maiores instalações de
painéis fotovoltaicos no mercado atual, as células são de junção p-n simples de silício, com
base de estrutura metálica apresentando rendimento de 20%, grande parte desses painéis são
encontrados na maior parte das residências. A segunda geração de painéis fotovoltaicos tem
como destaque o desenvolvimento do Silício, sendo o Microcristalino (μSi) e o Telúrio de
Cádmio (CdTe), reduzindo o peso dos painéis e os custos de produção da estrutura fotovoltaica.
Quando falamos de terceira geração, está diretamente ligada a nanotecnologia, com destaque
para as Células Orgânicas (CO), e as células de Portadores Quentes (CPQ), com grande
destaque na utilização de materiais não tóxicos e abundantes permitindo a produção em larga
escala. O aumento de eficiência e potencial e muito maior na terceira geração quando
comparados aos sistemas fotovoltaicos de primeira geração, além disso, os materiais orgânicos
possuem baixo custo, e podem ser melhor explorados junto a física quântica através de novas
propriedades dos materiais descobertas atualmente (DE SOUZA, 2007)
A pesquisa voltada para sistemas fotovoltaicos orgânicos se iniciou em 1950, quando
se utilizavam camadas finas de moléculas orgânicas, porém ainda existe um grande entrave no
âmbito comercial, uma vez que a eficiência, tempo de vida útil e os custos de aquisição não são
viáveis quando comparados aos outros tipos de sistemas fotovoltaicos, principalmente os
painéis fotovoltaicos de terceira geração (DE SOUZA, 2007).
As células orgânicas fotovoltaicas, possuem duas categorias, a primeira do tipo
molecular e a segunda de polimérico, apesar com interesse econômico despertar grande
interesse, essas células não são competitivas no mercado fotovoltaico, pois possuem baixa
eficiência (DE SOUZA, 2007).
Estudos recentes mostram que nano tubos de carbono são um material promissor com
grandes propriedades mecânicas e no emprego das células orgânicas fotovoltaicas, apesar disso,
é um campo novo que requer estudos científicos na voltados para a área. (RAMOS, 2021).

34
O Brasil é um país de grande extensão territorial, e com grande potencial na produção
no campo de energias renováveis, é um país com grande incidência de radiação solar, e com
grande potencial na geração de energia, especificamente na energia fotovoltaica solar e na
energia eólica. Nos últimos anos os custos de Energias Solar vêm diminuindo, com grandes
influências das revoluções tecnológicas, em especial a nanotecnologia. Mesmo assim, ainda
vemos que falta incentivo por parte das políticas públicas dos governos, acesso econômico para
as camadas sociais de baixa renda, para assim trazer resultados significativos junto a essa
tecnologia que vem se tornando cada vez mais importante e fundamental para redução na
emissão de Gases de Efeito Estufa. (ONU, 2022)

Hoje no Brasil, apesar de sermos um país com abundância quando se trata de recursos
naturais, o país ainda está começando uma longa caminhada quando comparado aos países
desenvolvidos. Somos um país com grande potencial de desenvolvimento, e a mudança passa
por rigorosos critérios culturais, intelectuais e políticos para que possamos ser um país
Sustentável e Autossuficiente. (ONU, 2022)

CONCLUSÃO

A problemática que movimentou essa pesquisa foi a de se verificar de que forma o


emprego da nanotecnologia poderia ser aplicado no âmito da produção de energia elétrica. Os
objetivos froam cumpridos à medida em que se analisou so conceitos doutrinarios e os
documentos punblicos an rede mundial de computadores.
A Energia Fotovoltaica Solar aliada a nanotecnologia desenvolveu painéis solares
fotovoltaicos de forma mais eficiente e benéfica para a geração de energia, quando analisado
de forma histórica, percebemos que a nanotecnologia é fundamental para o desenvolvimento
da energia solar fotovoltaica como um todo, tendo se aprimorado cada vez mais em inovações
e geração de energia deforma mais eficiente. A média que as revoluções tecnológicas
acontecem em um curto espaço de tempo, a nanotecnologia se desenvolve ano após ano,
trazendo uma grande lacuna e oportunidade para os países e seu desenvolvimento atual. Em
busca de alternativas de energia limpa e menos poluentes os avanços na área de geração de
energia fotovoltaica são constantes. Precisamos destacar também que o desafio para
implementar essa tecnologia na matriz energética é grande e desafiador, sendo assim, se faz
necessário pesquisas e desenvolvimentos na área.
Concluiu-se que, infelizmente, apesar dos esforços frente as energias renováveis,
podemos perceber que o método de extração da matéria prima, como o silício, causa grande
degradação ambiental, impacta diretamente os recursos hídricos e os solos, muito dessa

35
constatação é pouco mencionada nos artigos e estudos relacionados a mineração e produção
dos componentes químicos e minerais voltados para essa área. É fundamental que se busque
estudos voltados a eficiência energética, bem como a implementação da substância do grafeno
que se mostra um grande condutor elétrico, promissor e de grande abundância na crosta
terrestre, principalmente no Brasil onde sua estrutura molecular é de grande destaque em
relação a esse material, além das grandes descobertas em relação a sua condutividade elétrica e
sua eficiência energética.

REFERÊNCIAS

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36
ECOJUSTIÇA: ANÁLISE DAS POSSÍVEIS REPERCUSSÕES SOCIAIS E
AMBIENTAIS DA EXPLORAÇÃO DA EMPRESA TAQUARIL MINERAÇÃO S.A
NA SERRA DO CURRAL
ECOJUSTICE: ANALYSIS OF THE POSSIBLE SOCIAL AND ENVIRONMENTAL
REPERCUSSIONS OF THE EXPLOITATION OF THE COMPANY TAQUARIL
MINERAÇÃO S.A. IN THE SERRA DO CURRAL

Júlia Oliveira Saddi

Resumo
A pesquisa que se propõe se trata de uma análise das possíveis repercussões sociais e
ambientais da exploração da empresa Taquaril Mineração S.A na Serra do Curral. A partir
das reflexões e pesquisas preliminares sobre o tema, é possível afirmar que a instalação de
um novo complexo minerário na Serra do Curral gerará impactos negativos de alta
significância. Portanto, utilizar-se-á a vertente metodológica jurídico-sociológica. No tocante
ao tipo genérico de pesquisa, foi escolhido o tipo jurídico-projetivo. Por fim, o raciocínio
desenvolvido foi predominantemente dedutivo e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotada a
pesquisa teórica.

Palavras-chave: Repercussões ambientais e sociais, Exploração minerária, Serra do curral

Abstract/Resumen/Résumé
The research that is proposed is an analysis of the possible social and environmental
repercussions of the exploitation of the company Taquaril Mineração S.A in Serra do Curral.
Based on preliminary reflections and research on the subject, it is possible to affirm that the
installation of a new mining complex in Serra do Curral will generate negative impacts of
high significance. Therefore, the juridical-sociological methodological aspect will be used.
Regarding the generic type of research, the legal-projective type was chosen. Finally, the
reasoning developed was predominantly deductive and as for the type of research, theoretical
research was adopted.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Environmental and social repercussions, Mining


exploration, Serra do curral

37
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Serra do Curral é um complexo montanhoso que faz parte de um sistema geológico
conhecido como quadrilátero ferrífero em Minas Gerais, que se estende por 7.000 km² na
região centro sul de Minas Gerais. Essa região apresenta uma forte variedade rochosa,
que tem afloramentos de dolomita, rochas quartzíticas, itabirito, magnetita e hematita. A
região é rica em minério de ferro, também presente nessa diversidade rochosa. Além de
disso, tal região tem áreas de mata atlântica, já que se localiza em área de transição desta
para o cerrado, outro bioma que também se destaca na região. Vale ressaltar que Belo
Horizonte tem uma grande área de mata atlântica e 7 vários parques no sopé da Serra
como a mata da Baleia, o Parque das Mangabeiras dentre outras que protegem mananciais
como do Córrego do Cercadinho. Devido a essa variedade de biomas, a Serra do Curral
se tornou morada de várias espécies de animais, inclusive alguns em vias de extinção,
como a jaguatirica e o lobo guará. A Serra do Curral também abriga muitas espécies de
aves e é o habitat de vários mamíferos como gambás, veados e pacas. A região também é
fonte de várias nascentes de córregos, que abastecem a região metropolitana de Belo
Horizonte, como, por exemplo, afluentes do Ribeirão Arrudas e o Córrego do Cercadinho,
que têm suas nascentes nessa localidade. Tais características tornam a Serra do Curral um
ativo econômico valoroso pelo minério, mas também um ativo ambiental importante pela
vegetação e animais nascentes. Isso tem gerado uma disputa entre seus usos.

O licenciamento para o complexo minerário, localizado em Nova Lima, nas


proximidades da divisa com Belo Horizonte e Sabará, foi aprovado na madrugada do dia
30 de abril de 2022, após 18 horas de reunião, com oito conselheiros a favor do
empreendimento, e quatro votos contra. A Tamisa teria o direito de ocupar uma área de
101,24 hectares, equivalente a 121 campos de futebol. Desde então, urbanistas,
ambientalistas, professores, médicos e representantes de comunidades, que fazem parte
do movimento "Tira o pé da minha Serra", contestam as declarações da mineradora e de
membros do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), afirmando que a
instalação de um novo complexo minerário gerará impactos negativos de alta
significância, através da diminuição do número de indivíduos de fauna e flora. Destacam
também a possibilidade de que a qualidade do ar de Belo Horizonte também seja afetada,
visto que esse empreendimento conta com explosões e tráfego intenso de veículos
pesados. Adicionalmente, o risco do projeto conta com uma possível insegurança hídrica,
sabendo que a Serra do Curral abriga bacias hídricas, responsáveis por grande parte do

38
abastecimento de Belo Horizonte e região. Somado a isso, existe una grande
movimentação popular a favor da preservação da Serra do Curral. Por fim, no âmbito
judicial, segundo a ação da Prefeitura de Belo Horizonte, houve ilegalidade na liberação
do empreendimento em razão da existência a bem tombado em âmbito federal e
municipal.

Outrossim, a Serra do Curral é conhecida por seu valor desde os primeiros contatos.
Nesse sentido, a construção de Belo Horizonte ao sopé da Serra não foi apenas uma
escolha por conta da natureza, ou dos relevos, e sim da sociedade, que lhe deu significado
e representatividade, retirando-a da invisibilidade. Portanto, a Serra do Curral assume
uma dimensão simbólica da e na cidade, se destacando num contexto social, cultural e
histórico. O nome "Belo Horizonte" está intrinsecamente relacionado à vista da Serra do
Curral; a bandeira da cidade tem a Serra do Curral exposta.

No tocante ao tipo de investigação, na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020),


a pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. No
tocante ao tipo genérico de pesquisa, foi escolhido o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio
desenvolvido na pesquisa foi predominantemente dedutivo e quanto ao gênero de
pesquisa, foi adotada a pesquisa teórica.

2. CONSEQUÊNCIAS DE UM DESENVOLVIMENTO INSUSTENTÁVEL


EM MINAS GERAIS

No dia 5 de novembro de 2015 acontecia o maior desastre ambiental do Brasil: o


rompimento da barragem de rejeitos Fundão, localizada na cidade de Mariana, Minas
Gerais. Pouco mais de três anos depois, surge uma nova tragédia tão preocupante quanto:
o rompimento da barragem de rejeitos da Mina do Feijão, no município de Brumadinho,
no mesmo estado. Ambos os desastres, reconhecidos também como crimes ambientais,
geraram mortes e prejuízos ambientais incalculáveis. Esses aspectos históricos são
consequências de uma incompetência e descaso com o meio ambiente, no qual as duas
empresas responsáveis visaram apenas o lucro e não promoveram um planejamento
sustentável, que requer tecnologia e custos.

Nesse sentido, Duda Salabert, professora, mulher trans e vereadora mais votada
da história de Belo Horizonte, se pronunciou na audiência pública da Assembleia

39
Legislativa de Minas Gerais no dia 05 de maio de 2022, sobre o avanço da mineração na
Serra Curral. Segundo a vereadora:

Eu acredito que essa seja a fala mais difícil que eu já tive em toda minha
vida. É um peso, a Serra é muito pesada, a mineração é muito pesada. E
aí se nós temos vocação para a mineração, eu digo que nós temos vocação
de moer montanhas. É isso que nós queremos para o nosso estado? Uma
vocação de moer montanhas, triturar nossos patrimônios culturais? Uma
vocação de subalternidade em relação ao capital internacional? Uma
vocação que pode gerar subempregos para essa população? Uma vocação
para amplificar as crises hídricas e climáticas? É isso que nós queremos
para o estado de Minas Gerais? Era para a gente estar discutindo aqui a
ampliação e a aceleração do tombamento da Serra do Curral. É esse o
debate se nós queremos saúde. É isso que nós temos que fazer. Mas não,
criou se uma corrida, criou se uma corrida de quem chega primeiro.
Quem vai chegar primeiro? É o licenciamento da Tamisa ou o
tombamento, licenciamento da Tamisa ou o tombamento? Isso é um
absurdo. Se está no processo de tombamento, tombado está. Então isso
por si só já é ilegal, sem desconsiderar que é imoral. A população está
clamando pela Serra do Curral. Todo poder emana do povo, isso é
constitucional. Podemos triturar também a Constituição brasileira? Como
trituramos gente em Brumadinho, em Mariana? É essa a nossa vocação?
(SALABERT, 2022)
O discurso efetuado pela vereadora procura demonstrar que a implantação de um
complexo minerário na Serra do Curral não visa fatores como a cultura, saúde pública,
qualidade de vida, preservação ambiental e independência econômica, tópicos
fundamentais para que ocorra um desenvolvimento sustentável no estado de Minas
Gerais. A pronúncia sustenta também que, uma vez que existe um processo de
tombamento em âmbito federal, tombado está, portanto, o aval do Conselho Estadual do
Meio Ambiente (Copam), é ilegal. Somado a isso, a retórica destaca que existe uma
grande movimentação popular a favor da preservação da Serra do Curral, e diante desse
fato, ignorar uma vontade majoritária, dentro de um Estado democrático, é
inconstitucional. Por fim, a oradora relembra os rompimentos das barragens de
Brumadinho e Mariana, com o objetivo de expor com fatores históricos, as consequências
da ausência de um pensamento sustentável. Logo, a ideia é se voltar para a preservação
ambiental e valorização da cultura, ao invés de perpetuar uma ideologia que se baseia
apenas no lucro de capital.

40
3. A IMPORTÂNCIA DO TOMBAMENTO EM ÂMBITO ESTADUAL DA
SERRA DO CURRAL

No que se faz relação com âmbito histórico e cultural, destaca-se que a


preservação desse patrimônio histórico e cultural brasileiro, apesar de legalmente ter por
marco o Decreto lei 25/1937, tem se constituído por um processo lento. O despertar do
interesse do poder público e da sociedade, ainda é sobreposto por outras questões,
principalmente as econômicas, onde a proteção é vista como um obstáculo. Em 1960,
entretanto, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) decretou
o tombamento da Serra do Curral e do Pico Belo Horizonte no Processo 591 T. 58,
Inscrição 29-A à folha 8 do Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico
Brasileiro (ROCHA, ABJAUD, 2013). Com o objetivo de assegurar a proteção da
paisagem da unidade orográfica, compreendendo o “Conjunto Paisagístico do Pico e parte
alcantilada da Serra”, a área tombada foi alterada em 1973, passando a abranger 1.257.115
m². Para além do tombamento federal, ocorreu também, o tombamento municipal em
Belo Horizonte considerado à época uma vitória da população belorizontina. O
tombamento municipal definitivo da Serra do Curral somente foi aprovado, pelo
Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural (CDPCM-BH), em 16 de dezembro de
2003. Demonstrando, assim, a importância e significado singular da Serra e sua paisagem
e ao mesmo tempo a impossibilidade de se realizar a atividade minerária na área, sem
destruir tal patrimônio.

Há ainda um projeto de tombamento em nível estadual que está em andamento no


Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA). Em maio de 2021, o
Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recomendou o tombamento e o governo do
estado acatou. No entanto, a votação até o momento não foi feita.

Duda Salabert (PDT) e o projeto Manuelzão afirmam que o início do processo de


tombamento estadual já garantiria proteção ao bem, alegando, portanto, que a ação do
governo de ter aprovado a mineração foi irregular. Em contraponto, o governo de MG
nega a irregularidade afirmando que não há "tombamento provisório" na área. Além
disso, os questionamentos à licença concedida pelo Copam ocorrem também na
Assembleia Legislativa de Minas. Na tarde do dia 02 de maio de 2022, a deputada
estadual Ana Paula Siqueira (Rede) protocolou um pedido de Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) para investigar a concessão da licença "tendo em vista as circunstâncias
que envolvem o projeto e o tempo recorde de análise do processo".

41
Mesmo considerando os tombamentos federal e municipal, a Serra do Curral ainda
continua alvo de atividades minerárias, o que justifica a necessidade da urgente proteção
estadual e ampliação da proteção da área como um todo. Apesar de inciativas do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) com o objetivo de instituir
medidas para a preservação da área, conclui-se que apenas o tombamento da Serra do
Curral no nível estadual, cuja abrangência se estenderia por todos os municípios do
entorno, poderia promover a efetiva proteção desse importante ativo ambiental.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, verifica-se que a Serra do Curral é morada de várias espécies de


animais e plantas, muitos deles extintos, o que permite um equilíbrio ecológico. Ademais,
essa região conta com a presença de mais de um bioma e uma riqueza de minérios e
rochas. Nesse sentido, a Serra se mostra como um ativo muito importante para Belo
Horizonte, Nova Lima e Sabará, uma vez que colabora com a qualidade do ar e da água
dessas cidades. Conclui-se também que a importância da Serra do Curral ultrapassa o
âmbito ambiental. Tal região, já tombada no âmbito federal e municipal, se encontra em
um processo lento para o tombamento em esfera estadual. O patrimônio faz parte do
símbolo da capital mineira e se destaca no contexto social, cultural e histórico.

Todas essas características refletem em uma grande procura para explorações


minerárias, o que tem gerado disputa entre seus usos. Assim sendo, no dia 30 de abril de
2022, a empresa Taquaril Mineração S.A recebeu um aval do Conselho Estadual do Meio
Ambiente (COPAM) para a implantação de um novo complexo minerário de alta
significância. Desde então, essa decisão vem sendo questionada por muitos
ambientalistas, médicos, professores, médicos e representantes de comunidades, que
afirmam que esse projeto minerário gerará muitos impactos negativos. Dentre eles, se
destacam a diminuição do número de indivíduos de fauna e flora. Defendem também a
possibilidade de que a qualidade do ar de Belo Horizonte também seja afetada, visto que
esse empreendimento conta com explosões e tráfego intenso de veículos pesados.
Adicionalmente, o risco do projeto conta com uma possível insegurança hídrica, sabendo
que a Serra do Curral abriga bacias hídricas, responsáveis por grande parte do
abastecimento de Belo Horizonte e região.

42
Por fim, é possível afirmar que mesmo considerando os tombamentos federal e
municipal, a Serra do Curral ainda continua alvo de atividades minerárias, o que justifica
a necessidade da urgente proteção estadual e ampliação da proteção da área como um
todo. Apesar de inciativas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) com o objetivo de instituir medidas para a preservação da área, conclui-se que
apenas o tombamento da Serra do Curral no nível estadual, cuja abrangência se estenderia
por todos os municípios do entorno, poderia promover a efetiva proteção desse importante
ativo ambiental, o que vai dificultar o uso econômico não sustentável na região. Se
observa, portanto, uma corrida de interesses entre o licenciamento da Tamisa e o
tombamento em esfera estadual da Serra do Curral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério Público Federal. MPF pede a suspensão da licença ambiental de


empreendimento na Serra do Curral, em Belo Horizonte (MG). Ministério Público Federal,
2022. Disponível em: http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/noticias-mg/mpf-pede-a-
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Acesso em: 06 de maio. 2022.

CÂMPERA, Francisco. Vale, exemplo mundial de incompetência e descaso. El País,


2019. Disponível em: https://brasil-elpais-
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rABIIACAw%3D%3D#amp_tf=De%20%251%24s&aoh=16534888086355&referrer=h
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em: 24 de maio. 2022.

CASTRO, Cristina Moreno de. Serra do Curral: veja quais são os 6 riscos da
mineração listrados pela prefeitura de BH na ação judicial. G1.Globo, 2022.
Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2022/05/03/serra-do-
curral-veja-quais-sao-os-6- riscos-da-mineracao-listados-pela-prefeitura-de-bh-na-acao-
judicial.ghtml. Acesso em: 07 de maio. 2022.

CUSTÓDIO, Maraluce Maria; RIBEIRO, José Cláudio Junqueira. Serra do Curral:


Significados e importância de proteção. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.18, n.42,

43
p.97-135, set/dez. 2021. Disponível em:
http://revista.domhelder.edu.br/index.php/veredas/article/view/2241/25306. Acesso em:
08 de maio. 2022.

FALABELA, Camila et al. FRANCO, Lucas. 'Danos ambientais são irreversíveis'


afirma ambientalista que contesta a exploração na Serra do Curral. G1 Minas, 2022.
Disponível em: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2022/05/06/danos-
ambientais-sao-irreversiveis-afirma-ambientalista-que-contesta-a-exploracao-da-serra-
do-curral.ghtml. Acesso em: 24 de maio. 2022.

FREITAS, Camilla. Falta d'água, poluição: mineração na Serra do Curral preocupa


especialistas. Ecoa UOL, 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-
noticias/2022/05/23/falta-dagua-poluicao-mineracao-da-serra-do-curral-preocupa-
especialistas.htm. Acesso em: 24 de maio. 2022.

GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca; NICÁCIO, Camila
Silva. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. 5ª. ed. São Paulo: Almedina,
2020

MOLDURA DE BELO HORIZONTE, SERRA DO CURRAL PODE PERDER MAIS


TERRENO PARA A MINERAÇÃO. Manuelzão UFMG, 2022. Disponível em:
https://manuelzao.ufmg.br/moldura-de-belo-horizonte-serra-do-curral-pode-perder-
mais-terre no-para-a-mineracao/. Acesso em: 06 de maio. 2022.

Parte da minha fala na audiência pública de hoje na Assembleia Legislativa sobre o


avanço da mineração na Serra do Curral. Temos que lutar por um projeto de
diversificação econômica para superar a minério-imposição históricamente construída
em Minas Gerais. Sigo na luta pelo tombamento estadual da Serra do Curral. [Belo
Horizonte], 05 de maio. 2022. Instagram: duda_salabert. Disponível em:
https://www.instagram.com/tv/CdMb1BWJzUQ/?igshid=YmMyMTA2M2Y=. Acesso
em: 06 de maio. 2022.

PEIXOTO, Guilherme. Serra do Curral: 'BH não quer trocar de nome e bandeira' diz
procurador. Estado de Minas, 2022. Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2022/05/03/interna_gerais,1364002/serra-do-
curral-bh-nao-quer-trocar-de-nome-e-bandeira-diz-procurador.shtml. Acesso em: 24 dr
maio. 2022.

44
LEGITIMIDADE DAS CONDIÇÕES DE ESTRUTURAÇÃO DE BARRAGENS DE
RESÍDUOS EM MINERADORAS: MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO
LEGITIMITY OF STRUCTURING CONDITIONS OF WASTE DAMS IN MINING
COMPANIES: MONITORING AND INSPECTION

Caio Henrique Golini 1

Resumo
A mineração no território brasileiro é responsável por grande parte do desenvolvimento
econômico nacional, entretanto apear de possuir essa enorme importância no ramo
econômico, o potencial de acidentes chega a assustar, deixando de garantir a confiabilidade e
a segurança da população onde possui barragens de resíduos instauradas. Mesmo com toda
tecnologia desenvolvida, busca-se implantar ;melhorias que consigam proporcionar aos
trabalhadores e moradores das redondezas uma certa segurança e que possam apresentar
números e acontecimentos corretos durante o monitoramento, aplicando nessas barragens a
devida instrumentação e profissionais capacitados para o manuseio correto.

Palavras-chave: Barragens de resíduos, Monitoramento, Instrumentação

Abstract/Resumen/Résumé
Mining in Brazilian territory is responsible for a large part of the national economic
development, however despite having this enormous importance in the economic field, the
potential for accidents is scary, failing to guarantee the reliability and safety of the population
where there are waste dams installed. . Even with all the technology developed, it is sought to
implement improvements that can provide workers and residents of the surroundings with a
certain security and that can present correct numbers and events during monitoring, applying
the proper instrumentation and professionals trained for the correct handling in these dams.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Waste dams, Monitoring, Instrumentation

1 Graduando em Direito, modalidade integral, na Escola Superior Dom Hélder Câmara.

45
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O objetivo principal da pesquisa que se pretende desenvolver é a falta de


investimentos na estruturação, monitoramento e fiscalização em barragens de resíduos
localizadas em mineradoras, uma vez que tragédias nessas áreas, possuem a capacidade de
abalar uma cidade inteira e ter uma repercussão de nível mundial, pegando como exemplo e
se baseando nas catástrofes em Mariana/MG e Brumadinho/MG. Entretanto, o problema
objeto da investigação científica proposta é: quais as medidas devem ser tomadas, discutidas
e executadas para que as mineradoras e o governo possam assegurar à população maior
segurança e confiança em relação às barragens que nelas estão presentes?
É possível afirmar inicialmente, que quando uma barragem é criada em uma
mineradora, diques são construídos com o intuito de conter os rejeitos de minério. Entretanto,
eventualmente, destacando os períodos chuvosos, diversas são as mineradoras que entram em
situação de alarde devido à instabilidade presente em barragens de rejeitos, podendo relacionar
a falta de estruturação correta ou a falta de profissionalismo de trabalhadores e gerentes
presentes nessa área.
Por conseguinte, com todo esse perigo que deve ser destacado, o objetivo geral do
trabalho é analisar quais são os métodos mais eficazes para o aprimoramento da segurança e
estruturação presentes na barragem de mineradoras. Sendo necessário investigar para que seja
constatado a legitimidade de condições nela presente. Portanto, examinar lugares que
presenciaram essa situação de tragédia poderá ajudar em relação a quais condições devem ser
mais valorizadas, discutidas e solucionadas com maior preocupação. Sem contar que a
sociedade, por ser a maior afetada juntamente com o meio ambiente quando vivenciada essa
catástrofe, deve ter uma opinião e relevância direta em relação ao assunto, podendo influenciar
diretamente nas escolhas e decisões adentrando na estruturação e monitoramente, visando
somente a melhor prevenção.
A pesquisa que se propõe, na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020), pertence
à vertente metodológica jurídico-social. No tocante ao tipo genérico de pesquisa, foi escolhido
o tipo jurídico-diagnóstico. O raciocínio desenvolvido na pesquisa foi predominantemente
dialético e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotada a pesquisa teórica.

46
2. A IMPORTÂNCIA DA MINERAÇÃO: ÁNALISE NO ASPECTO
ECONÔMICO E SOCIAL

Primeiramente é necessário entender como se dá esse processo de mineração e os


motivos de possuir um status bastante destacado em relação à economia e desenvolvimento do
país.
A atividade mineira é concebida pela rigidez locacional, entretanto a instalação do
empreendimento só poderá ser desenvolvida em áreas de ocorrência natural do mineral.
(ATAÍDE, 2019).
Portanto dá se a entender que a mineração corresponde à uma atividade econômica e
industrial que consiste na exploração, pesquisa, beneficiamento e extração de minérios
presentes no subsolo. Estes recursos minerais estão presentes em diversos objetos e são
imprescindíveis para a realização de grande parte das atividades humanas, se encontra tanto nas
necessidades mais elementares quanto na produção de diversos produtos, entre eles
equipamentos utilizadores de modernas tecnologias. Entretanto essa atividade possui um grande
destaque quanto á economia brasileira e desenvolvimento de empregos, algo que beneficia
diversos municípios.
Como já mencionado, por não possuir valor comercial e visando minimizar os
impactos ambientais, os rejeitos são descartados da forma mais econômica. As barragens são
desenvolvidas a partir da criação de diques que sustentam rejeitos. São projetadas por
engenheiros, visando a contenção e o acúmulo de substancias apenas líquidas ou líquidas e
sólidas, provenientes de beneficiamento de minérios. O método utilizado para a formação
dessas barragens se dá através do alteamento, sendo ele produzido de variadas formas. Vale
desatacar que a legislação ambiental brasileira impõe normas rígidas de controle e estocagem
desse rejeito.
Embora possuir diversas vantagens que beneficiam a sociedade brasileira diariamente,
nos últimos tempos surgiram tragédias que assustaram muitos dos brasileiros e devastou
cidades, podendo pegar como exemplo a ruptura da barragem da Mina Córrego do Feijão,
localizada em Brumadinho. Algo que fez com que a cidade fosse totalmente afetada, seja
fisicamente, economicamente ou socialmente.
Como esse acidente, que aconteceu em 25 de janeiro de 2019, 270 pessoas morreram
no acidente, 1 na busca pelas vítimas e 2 nascituros. Apesar dessas 273 pessoas terem sofrido
fisicamente, milhares são os conhecidos e familiares que tomaram para si abalos psicológicos
que refletem em seu dia a dia até nos dias atuais.

47
Além do mais, foram dias e dias de completa tristeza. Uma cidade repleta de
funcionários públicos, sendo eles bombeiros e policiais, além de toda população composta por
esperança e angustia para que todos sejam encontrados com vida. A cidade perdeu muitos
turistas, o que fez a economia enfraquecer fazendo com que diversos comércios desligassem e
muitos cidadãos ficassem desempregados. Como já citado, a importância de uma mineradora é
gritante, ainda mais quando se trata de municípios pequenos. Na maioria das vezes são essas
mineradoras responsáveis pelo fluxo monetario de pequenas cidades .

3. TIPOS DE ACIDENTES E CONSEQUÊNCIAS QUE PODEM SER


DESENVOLVIDAS: ASPECTO AMBIENTAL

São alguns modos de ruptura: enchentes, período de seca prolongada, falhas no sistema
de extravasão, colmatação no sistema de drenagem, erosão regressiva interna, atividades
sísmicas, liquefação, deficiências de compactação, escorregamentos internos em torno do
reservatório, recalque excessivo do aterro ou fundação e processos erosivos em longo prazo.
(MACHADO, 2007).
Contudo, a falta de compromisso das empresas com procedimento de gestão, de
planejamento a longo prazo, falta de inspeções, improviso de equipes de trabalho e falta de
avaliações periódicas de segurança, é gerado fatos catastróficos.
Dessa forma o aprimoramento da mineração moderna é algo altamente cobiçado pelo
fato de minimizar esses eventos catastróficos e também os impactos ambientais, de acordo com
a legislação ambiental brasileira. As barragens apresentam situações únicas e requerem
soluções individuais para suas necessidades quanto a instrumentação, mas ainda sim deve
seguir os principais objetivos de um plano de instrumentação geotécnica, julgados em quatro
categorias: avaliações analíticas, previsão do desempenho futuro, avaliações legais e
desenvolvimento e verificação de projetos futuros.
Representando a mineração sustentável, o presidente do Instituto Brasileiro de
Mineração (IBRAM) e do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais
(Sindiextra), José Fernando Coura coloca seu ponto de vista relacionando-se com a mineração
brasileira:

Ademais, o caminho para a sustentabilidade passa pela harmonização


do crescimento econômico com a preservação do meio ambiente. Neste
passo, o setor mineral brasileiro tem compreendido o seu papel e sua
importância. Não há que se negar os impactos gerados pela intervenção

48
nas áreas mineradas, mas sim atuar de maneira firme e responsável na
sua mitigação e na recuperação de áreas exploradas. E mais: a
exploração mineral deve ser encarada como uma ferramenta de
preservação ambiental das áreas vizinhas às ocupadas por suas
atividades. (COURA, 2012).

O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e do Sindicato da


Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), José Fernando Coura, busca
expressar toda a importância que deve ser proporcionada em relação à mineração. Atualmente
são poucas as grandes empresas que priorizam os cuidados ambientais, entretanto ao colocar
em evidencia uma figura como essa que possui uma importância enorme neste meio, diversas
são as mineradoras que buscam se certificar que estão conforme as medidas requisitadas por
superiores. Toda essa influência é necessária para maior eficácia das normas dentro dessas
empresas. Conforme citado ao decorrer do projeto, são variados os acontecimentos que apesar
de tentar se recompor após, ainda sim sofreu com devastações de níveis absurdos. Entretanto,
apesar da importância transparecida pelo presidente, existem mineradoras que não valorizam
esse ponto.
Enfim, há a necessidade de intensificação de esforços na utilização de técnicas mais
abrangentes e maior precisão em relação ao monitoramento do comportamento real das obras
geotécnicas. Os instrumentos a serem instalados em uma barragem devem ser avaliados com
base a sua eficácia e confiabilidade nos dados de leitura emitidos, visando o monitoramento da
segurança estrutural da barragem.
Estabelecida pela Lei nº 12.334/2010, a PNSB tem o objetivo de garantir que padrões
de segurança de barragens sejam seguidos, de forma a reduzir a possibilidade de acidentes e
suas consequências, além de regulamentar as ações e padrões de segurança. (BRASIL, 2010).
Do mesmo modo, a lei nº 14.066, de 30 de setembro de 2020, que altera a anterior
citada. (BRASIL, 2020).
Mesmo com toda tecnologia presente na área, quanto maior monitoramento e
fiscalização, menores são as chances de imprevistos acontecerem. Por isso a grande necessidade
de maior investimento nessa área que possui em mãos um grande poder.

49
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do apresentado, verifica-se que apesar de toda grandeza direcionada ao aspecto


discutido, ainda sim, por sua vez, possui a capacidade de desenvolver diversos contratempos.
Logicamente, como destacado anteriormente, a importância da mineração é algo
inquestionável, algo que é utilizada como base para diversos produtos que estam distribuidos e
introduzidos na sociedade. Entretanto, a cada dia que passa, é transparecido a falta de
valorização em relação ao desenvolvimento destas catástrofes, ao levar em conta a pouca
repercussão que é gerada antes de qualquer suspeita ou acontecimento, sendo itensificada
somente quando gerado maior alarde, sendo motivo de discussões mais rigorosas.
Por conseguinte, é necessário pontuar que apesar da existência de leis que abominam
qualquer tipo de falha nesse ramo, ainda sim não passam para à população local em relação à
barragem, maior segurança. Dominados pela angústia, não possuem o conhecimento prévio do
que se passa dentro da empresa e se estão sujeitos à um acontecimento que possuí o poder de
acabar com todo o ambiente local, podendo mesmo até gerar mortes. Sem contar com todo
impacto ambiental, social e econômico.
Conclui-se que toda à importância voltada para o tema exposto é de extrema
necessidade, iniciando pelo interno das mineradoras. Propondo para à empresa profissionais
formados e capacitados, que não visam o pessoal mas o bem comum. Sem contar com todo
investimento que é preciso, utilizando da forma correta toda a tecnologia, ainda sim com
pessoas altamente capacitadas para manuzêa-las, sem contar com todo sistema de alarde
prontificado, sem contar com zonas onde garantem segurança aos trabalhadores no caso de
algum acidente.
Por fim, o governo deve ter maior intervenção, aplicando medidas que possam garantir
a legitimidade da situação presente nessas empresas, cobrando uma transparência maior vinda
dela em relação ao seu interior.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATAÍDE, Pedro. Direito minerário. 2ª. ed. São Paulo: Editora JusPODVM, 2019.

BRASIL. Lei nº 12.334 de 20 de setembro de 2010. Dispõe sobre as medidas de proteção em vista dos
rejeitos de mineração. L12334 (planalto.gov.br). Acesso em: 10 de maio de 2022.

BRASIL. Lei nº 14.066, de 30 de setembro de 2020. Dispõe sobre as medidas de proteção em vista

50
dos rejeitos de mineração, alterando e reformando pontos da Lei nº 12.334 de 20 de setembro de 2010.
L14066 (planalto.gov.br). Acesso em: 10 de maio de 2022.

GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca; NICÁCIO, Camila Silva.
(Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. 5ª. ed. São Paulo: Almedina, 2020.

MACHADO, William Glandstone de Freitas. Monitoramento de barragens de contenção de rejeitos


de mineração. Orientador: Lindolfo Soares. 2007. 156 f . Dissertação (Mestrado) – Curso de
Engenharia Mineral. Universidade de São Paulo, São Paulo 2007. Disponível em: Microsoft Word -
dissertacao revisada.doc (usp.br). Acesso em: 10 de maio de 2022.

FERRARA, M.; GALLO, L. D.; PERSECHINI, S. F.; WERKEMA, M. F. Estudos de Direito


Minerário. 1ª. Ed. Minas Gerais: Fórum, 2012.

51
DIREITOS HUMANOS E O USO DA NANOTECNOLOGIA BÉLICA
HUMAN RIGHTS AND THE USAGE OF WAR NANOTECHNOLOGY

Valmir César Pozzetti 1


Allana Karoline Leda Menezes 2

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar as inovações trazidas pela nanotecnologia, em
especial na produção e o uso de armas na esfera militar, interligando essa atividade com a
Ética e os Direitos Humanos, bem como o respeito pela soberania dos Estados. A
metodologia utilizada foi a do método dedutivo; quanto aos meios a pesquisa foi
bibliográfica e quanto aos fins, qualitativa. Concluiu-se que a utilização da nanotecnologia
para o desenvolvimento de armas militares deve ser utilizada com cautela respeitando-se os
princípios do Biodireito e a construção de um código de ética.

Palavras-chave: Dignidade da pessoa humana, Direitos humanos, Nanotecnologia de armas,


Soberania do estado

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze the innovations brought by nanotechnology,
especially in the production and use of weapons in the military sphere, linking this activity
with Ethics and Human Rights, as well as respect for the sovereignty of States. The
methodology used was the deductive method; as for the means, the research was
bibliographical and as for the ends, qualitative. It was concluded that the use of
nanotechnology for the development of military weapons must be used with caution,
respecting the principles of Biolaw and the construction of a code of ethics.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Human person’s dignity, Human rights,


Nanotechnology of weapons, Sovereignty

1Pós Doutor em Direito pela UNISA/Itália e ESDHC/MG; Doutor em Biodireito/Direito Ambiental;em mestre
em Dir. Urbanistico e Ambiental, pela UNILIM/França; Prof. Adjunto da UFAM e da UEA; Membro da ACCA
2Jovem Cientista pesquisadora do PIBIC; graduanda do curso de Direito da UEA - Univ. do Estado do
Amazonas

52
INTRODUÇÃO
Na Idade Contemporânea, a tecnologia nano (10⁻⁹ metros) teve por primeiro alerta a
palestra conferida pelo renomado físico Richard Feynman, em 1959, na qual chamava a atenção
para o problema de manipular e controlar os átomos e as reações na escala nanométrica da
Física Quântica. A palestra de Feynman influenciou consideravelmente para a possibilidade de
desenvolvimento da nanotecnologia, o que conferiu um olhar mais atento e crítico a essa nova
categoria atômica da tecnologia. Desse modo, mesmo que o cenário se assemelhe aos de filmes
de ficção científica, essa nova e “minúscula” tecnologia ganha expressivo espaço no século
XXI, com o avanço da indústria 4.0.
Com a celeridade no âmbito das pesquisas tecnológicas e, consequentemente, pela
Ciência, a nanotecnologia tem permeado diversos campos: desde a Física e a Engenharia de
Materiais até a Medicina e o Direito, acompanhados da Ética. Nações e Estados consolidados
voltam-se para essa nova tecnologia, pois questões como: a soberania, a autodeterminação dos
povos e os conflitos geopolíticos têm se mostrado elementos favoráveis para o aprimoramento
bélico por essas nações, que buscam impregnar armamentos de nanotecnologia, seja para torná-
los letais, imbatíveis, ou ambos.
Nesse sentido a nanotecnologia de matérias é uma técnica com a capacidade de reduzir
significativamente o tamanho do material aumentando em muito a capacidade e o poder de
auxilio, ou destruição. Dessa forma, o problema que guia esta pesquisa é: de que forma a
nanotecnologia pode ser utilizada no desenvolvimento de armas militares sem que haja
violações aos direitos humanos e/ou perda da soberania do Estado?
A justificativa para realizar a pesquisa está focada na ausência ou insuficiência de ética
humana apara lidar com armas tão poderosas e com uma intensa capacidade destrutiva.
Assim sendo, é necessário buscar analisar e obter informações acerca do uso dessas
armas, versando-se a manutenção do bem e a defesa da Ética — e de seus princípios, como os
da beneficência, ubiquidade, precaução.
Tendo isso em vista, a pesquisa objetiva analisar a nanotecnologia na esfera militar
levando em consideração uma abordagem ética diante dos direitos humanos.
Para fundamentar a necessidade de se estudar a temática, lembra-se que eventos
semelhantes, em danos causados ao ser humano, como ao da Guerra do Vietnã, com o
lançamento do agente laranja contra civis e o meio ambiente, não sejam repetidos.
A metodologia que será utilizada na pesquisa será a do método dedutivo; quanto aos
meios a pesquisa será bibliografia, com uso da doutrina, legislação e jurisprudência; quanto aos
fins, a pesquisa será qualitativa.

53
OBJETIVOS: O objetivo desta pesquisa foi o de analisar as inovações trazidas pela
nanotecnologia, em especial a produção e o uso de armas na esfera militar, interligando essa
atividade com a Ética e os Direitos Humanos, bem como o respeito pela soberania do Estado.

METODOLOGIA: A metodologia que será utilizada nesta pesquisa é a do método dedutivo,


partindo do particular para o geral; quanto aos meios a pesquisa será bibliográfica com uso da
doutrina, legislação, jurisprudência e documentos digitais; quanto aso fins a pesquisa será
qualitativa, uma vez que não se analisará percentis ou quantidades comparativas.

1 CONCEITO DE NANOTECNOLOGIA
O termo “nano” vem do latim nanus (ou do grego: nanos) que significa “anão”,
enquanto que as palavras, do grego: tékhne + logia significam estudo da técnica, da arte ou do
ofício — haja vista as diferentes formas que tékhne pode assumir. Nesse sentido, a alcunha
nanus se volta para representar coisas de magnitude incrivelmente pequena, incapazes de serem
visualizadas por certos, senão a maioria dos microscópios. Logo, a nanotecnologia é um dos
tantos campos emergentes da Ciência Contemporânea, ao lado das programações de TI e dos
passos misteriosos da Inteligência Artificial (IA).
Para Pozzetti (2021, p.311), “A palavra “nano” vem do latim nanus, que é utilizada
para representar coisas exponencialmente pequenas, sendo que o prefixo “nano” é usado para
denominar a escala nanométrica, que representa partículas de magnitude extremamente
minúsculas. Assim, a nanotecnologia é uma das ferramentas da nanociência”.
Quando o norte-americano Richard Phillips Feynman, em uma de suas palestras,
exclamou a seguinte pergunta: “Por que não podemos escrever os 24 volumes inteiros da
Enciclopédia Britânica na cabeça de um alfinete?”, chamava ali a atenção para o mundo
minúsculo das descobertas da Quântica — matéria esta que Feynman pode ser considerado
pioneiro — e, consequentemente, para a nanotecnologia. Entretanto, embora a definição tenha
aparecido muito antes, o termo “nanotecnologia” foi criado apenas em 1974, por meio dos
trabalhos do pesquisador japonês Norio Taniguchi, que ao publicar um artigo sobre o processo
de combinação e separação de átomos e moléculas, reatava a possibilidade de uma tecnologia
molecular.
Logo após, em 1986, o escritor-cientista Kim Eric Drexler publica o livro que lhe daria
importante espaço como nanotecnólogo: “Engenhos da criação: o advento da era da
nanotecnologia”. Enquanto que, mais atualmente, em 1991, o físico japonês Sumio Iijima
consagrou a manipulação dessa nova tecnologia com a invenção dos nanotubos de carbono.

54
Com isso, de forma geral, entende-se a nanotecnologia como uma ciência que se dedica à
manipulação da matéria em escala atômica-molecular ao lidar com estruturas que são um bilhão
(1.10⁹) de vezes menor que um metro, isto é, estruturas em torno de 1 a 100 nanômetros (1.10⁻⁹
a 1.10⁻¹¹ m).

2 ÁREAS DE APLICAÇÃO DA NANOTECNOLOGIA


A princípio, iniciada no âmbito da Física, a nanotecnologia encontra espaço nas áreas
de: Química, Biologia, Engenharia de Materiais e da Informática. Contudo, com o progredir do
século XXI, tem atravessado áreas como: a Medicina, o Direito, a Filosofia, a Engenharia da
Computação e, principalmente, a Ética — uma vez que a cada nova invenção do homem, uma
incógnita acompanha o uso e as consequências dessa invenção entre a espécie humana.
Dado à sua interdisciplinaridade com numéricas áreas, a nanotecnologia não pode ser
caracterizada por uma tecnologia única e específica, mas como um amálgama de técnicas que
visam atender às necessidades e curiosidades humanas de manipular a matéria até seu limite,
átomo a átomo. Nesse viés, a nanotecnologia aliada à Medicina, aos cosméticos, à Agronomia,
à Biologia Molecular, ao Direito e a tantas outras esferas, traz à tona os questionamentos da
Ética para que não se tenha a reformulação de ideias semelhantes àquelas da eugenia e do
darwinismo social e muito menos, ocorrências como as das duas bombas atômicas lançadas
durante o encerrar da Segunda Guerra Mundial.
Nesse sentido Pozzetti (2021, p. 313) destaca:
Dentre as diversas aplicações e avanços que a ciência acena com a nanotecnologia,
estão: a capacidade de aumentar de forma espetacular a capacidade de armazenamento
e processamento de dados dos computadores; criar novos mecanismos para aplicação
de medicamentos mais seguros e menos prejudiciais ao paciente do que os disponíveis
hoje; criar materiais mais leves e resistentes do que metais e plásticos, para
prédios, automóveis e aviões.

Vê-se, portanto, que a nanotecnologia pode ser aplicada em diversas áreas do


conhecimento e podem ser voltadas para o bem e/ou para o mal. Necessário é conduzir todas
as atividades e explorações da tecnologia para o bem.

3 APLICAÇÃO DA NANOTECNOLOGIA BÉLICA E A SOBERANIA DOS ESTADOS


A Globalização tem causado a flexibilização e alargamento dos limites nacionais de
cada Estado e o Direito, mais particularmente, o Direito Constitucional e o Biodireito não
podem ignorar essa pauta. Além de que os Princípio da Cooperação e da Solidariedade do
Direito Internacional parecem ser reanimados com a possibilidade de uma proteção mundial
comum — embora, para alguns, isso tenha ares de um Congresso de Viena de 1814.

55
É de se destacar que a nanotecnologia traz embates para as questões geopolíticas da
soberania de cada Estado, pois se, na França, com a crescente xenofobia e o medo relacionado
ao “DAESH”, os esforços voltados ao desenvolvimento de tecnologias se mostram necessários;
imagine-se, então, nas áreas do Tibet, da Caxemira, da Palestina, etc...; uma vez que a tensão
nessas áreas fronteiriças e de antigas heranças históricas consubstanciam para rebeliões que
possam levar os Estados nesses territórios, a buscarem e usarem de tecnologias para suplantar
seu arsenal bélico.
A nanotecnologia tem suas duas faces: a boa e a má. Logo, defender um Estado ou
suprimir as movimentações, sejam separatistas ou não, de uma região, parecem argumentos em
prol da estabilidade e da soberania daquele determinado Estado. Contudo, argumentações
similares já foram causadoras de guerras e destruições em massa no passado; se a
nanotecnologia com toda sua inovação pode certamente acrescentar algo à humanidade,
também pode igualmente tirar.
Alguns exemplos elucidativos de armas impregnadas dessa nova tecnologia são: a
Camuflagem ADAPTIV, que torna os sistemas de imagem térmica obsoletos e garante que os
veículos de combate tenham proteção contra uma possível detecção inicial; a Munição
Explosiva Magneto Hidrodinâmica (MAHEM, sigla em inglês), uma arma desenvolvida pela
DARPA, do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que utiliza metal fundido para maior
penetração na armadura inimiga e veículos blindados; e, por fim, o Modular Advanced Armed
Robotic System (MAARS), um robô desenvolvido pela Qinetiq, uma multinacional britânica,
que pode ser configurado para os modos: não letal, pouco-letal e letal.
Assim sendo, para que os Estados soberanos possam fazer uso da nanotecnologica no
viés de construção de armas bélicas, é necessário que respeitem as questões éticas e morais.
Necessário, então, destacar que a Moral é o conjunto das normas para o agir específico ou
concreto no bem estar social e ela está contida nos códigos, que tendem a regulamentar o agir
das pessoas, priorizando os impulsos e instintos; enquanto que a ética é o agir no bem,
facilitando a realização das pessoas, buscando a perfeição do ser humano e tudo aquilo que é
belo e bom. Nesse aspecto, no âmbito da microbioética, temos princípios importantes que
norteiam o comportamento humano sobre as novas tecnologias, especificamente os princípios
da beneficência; da não-maleficência, da justiça e da dignidade da pessoa humana.
Dessa forma, no âmbito das inovações que a nanotecnologia pode trazer é importante
observarmos alguns princípios do Biodireito, que devem ser seguidos por todos os Estados
soberanos à fim de não se ferir os direitos humanos. Nesse sentido, Pozzetti e Monteverde
(2017, p. 200) destacam o força jurídica dos princípios: “Principios son reglas fundantes, que

56
anteceden la norma jurídica,son la base, la estructura de la propia norma, una vez que traducen
las ansias de la sociedad que le originó, en el sentido del justo, del honesto, del
correcto y de lo que debe ser cumplido por la sociedade”.
Assim sendo, se a maleficência é uma característica de tudo aquilo que faz mal ou a
tendência para fazer o mal, no presente caso de uso da nanotecnologia de armas bélicas o
principio da não maleficência deve ser determinante para que essas armas realizem a defesa,
mas com o intuito de buscar minimizar o risco e/ou o dano.
No mesmo sentido, o princípio da beneficência é aquele que determina que as novas
tecnologias devem promover benefícios aos seres humanos; ou seja, as armas bélicas
nanotecnológicas devem promover a segurança dos Estados, mas no sentido de defesa, para
manter a vida humana, trazendo benefícios de preservação da autonomia dos Estados, não a
extinção dos povos e submissão destes. Já no tocante ao princípio da justiça, este busca dar
diretrizes para conter a violência em nome do bem, destacando que a vida não é um privilégio
apenas de alguns e que não se pode transacionar com ela. Logo, os Estados que desenvolverem
armas nanotecnológicas devem atentar para esse princípio, pois não lhes será dado extinguir a
vida, mas sim defende-la e preservá-la, respeitando o direito de ser diferente. Já no que toca ao
principio da dignidade da pessoa humana, é de se destacar que esse princípio obriga todos os
povos e todos os Estados soberanos a dar um tratamento digno a toso os “homens”; logo, não
se pode admitir o uso de armas nanotecnológicas que retirem a dignidade do ser humano,
mesmo que esse ser esteja do lado oposto do país beligerante.
Nesse sentido Pozzetti (2020, p. 514) destacam a importância dos direitos humanos:
O conceito de Direitos Humanos, segundo a ONU, “são garantias jurídicas
universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos
governos que atentem contra a dignidade humana”. Percebe-se que a própria
essência do conceito está atrelada a “dignidade humana”, de modo que muitos
doutrinadores conceituam dignidade humana como se fosse sinônimo de direitos
humanos.

Dessa forma, é importante verificarmos que o desenvolvimento de armas bélicas no


âmbito da soberania dos Estados Não pode estar desatrelado da ética, da moral e do direito. O
fio condutor a estabelecer o desenvolvimento e uso dessas armas deve estar em consonância
com os princípios do biodireito, acima elencados, rendo em vista que o ser humano é fim e não
meio, ou seja, tudo deve ser realizado em prol do ser humano, nunca utilizar o ser humano para
se atingir uma finalidade. Assim, é necessário que os países elaborem um código de ética para
que os Estados soberanos respeitem os Princípios do biodireito e estabeleçam sanções severas
para coibir o uso da nanotecnologia na construção de armas bélicas de destruição dos seres
humanos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A problemática que instigou essa pesquisa foi a de se verificar de que forma a
nanotecnologia pode ser utilizada no desenvolvimento de armas militares sem que haja
violações aos direitos humanos e/ou perda da soberania do Estado. Os objetivos foram
cumpridos à medida em que se analisou as posições doutrinárias e as questões éticas.
Como resultado da pesquisa concluiu-se que a utilização da nanotecnologia na
produção de armas bélicas ainda é prematuro, pois o ser humano ainda se encontra em
desenvolvimento moral muito aquém do que se pode exigir de um produtor e operador de armas
bélicas construídas com o uso da nanotecnologia; pois esta tecnologia tem o poder destrutivo
tão intenso que poderá extinguir a humanidade; logo, é necessário criar um código de ética na
construção e utilização da nanotecnologia bélica, com um poder de coação na mesma proporção
que é o da utilização de armas dessa natureza.

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better-combat-soldiers-aviation-assets-and-more-lethal-
weapons/articleshow/56522747.cms?from=md, acesso em 28 mar. 2022.

59
TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS APLICADA A FERTILIZANTES ORGÂNICOS:
ANÁLISES INTEGRADA A ECONOMIA CIRCULAR
SUSTAINABLE TECHNOLOGIES APPLIED TO ORGANIC FERTILIZERS:
ANALYSIS INTEGRATED TO THE CIRCULAR ECONOMY

Valmir César Pozzetti 1


Maria Lucidalva Ribeiro de Sousa 2
Elieude Bacelar Matos 3

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar e discutir as contribuições da tecnologia ambiental
somados a novos biofertilizantes a partir de resíduos, uma maneira de conscientizar o
problema da utilização de fertilizantes químicos e o maleficio criados por eles ao meio
ambiente. A metodologia utilizada foi o método dedutivo; quanto aos fins a pesquisa foi
bibliográfica e quanto aos meios, qualitativa. Concluiu-se, a partir do uso das tecnologias
ambientais aplicadas aos biofertilizantes naturais, pode ocorrer além de uma redução de
resíduos jogados de forma inadequadas a novos subprodutos agregados a produtos orgânicos
livres de químicas.

Palavras-chave: Biofertilizante, Resíduos, Agrotóxico, Sustentabilidade

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze and discuss the contributions of environmental
technology added to new biofertilizers from waste, a way to raise awareness of the problem
of using chemical fertilizers and the harm they create to the environment. The methodology
used was the deductive method; as for the ends, the research was bibliographic and as for the
means, qualitative. It was concluded, from the use of environmental technologies applied to
natural biofertilizers, it can occur in addition to a reduction of waste thrown inappropriately
to new by-products added to organic products free of chemicals.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Biofertilizer, Waste, Pesticides, Sustainability

1Pós-doutor em Direito Università degli Studi di Salermo/Itália e Escola Dom Helder Câmara/MG. Doutor em
Direito Ambiental - Universitè de Limoges/França. Professor da UFAM e da UEA. r
2Mestranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPGCASA – Universidade Federal do
Amazonas (UFAM) Manaus – AM
3Mmestranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do
Amazonas (PPGCASA/UFAM). Licenciada em Pedagogia e especialista em Coordenação pedagógica pela
Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

60
INTRODUÇÃO
Nunca se falou tanto em sustentabilidade como se versa hoje na sociedade
contemporânea, considerando serem os recursos naturais a base do planeta, passa por
transformações a cada dia, visto que, os recursos não são utilizados de forma consciente e isso
pede uma resposta imediata, pois a terra está pedindo socorro. Com isso, os principais desafios
da sociedade contemporânea estão diretamente ligados a riscos econômicos, geopolíticos,
sociais e principalmente ambientais.
Os riscos ambientais surgem com a destruição da fauna e flora, a poluição das águas
potáveis, a poluição do ar causando catástrofes naturais. Desde a transição do período da
revolução neolítica para a revolução industrial, o homem se afastou da natureza e com isso
veio à preocupação com o meio ambiente e o que deve ser feito para uma preservação,
conservação e recuperação vem gerando uma competitividade mundial, de uma rápida
transformação sobre o desenvolvimento sustentável e o que pode ser inovado para obter a
partir de novas criações viáveis, para se construir um ambiente com olhar na sustentabilidade
e inovação.
As tecnologias ambientais quando aplicadas de forma sustentáveis ao planeta tem
como contribuição a remediação da terra, água e ar. Pois tem-se que levar em consideração na
qual toda alteração seja ela positiva ou negativa, pode transformar o processo do seu
ecossistema natural.
A agricultura em grandes escalas utiliza-se de agrotóxicos ou químicas, pois os
mesmos destroem a terra, com a justificativa de que as aplicações combatem pragas ligadas
as plantações com mais eficiência, pois é mais viável para as grandes produções de alimentos
apegar-se a químicas que destroem o solo à procurar alternativas como insumos a partir de
resíduos os quais se transformam em fertilizantes naturais produzindo assim menos impactos
ambientais para o planeta.
Os desafios ainda são grandes para uma implantação sustentável que visa preservar
o meio ambiente, uma vez que é implicado pelo modelo capitalista, o qual traz em seu viés a
cultura do consumo, sendo uma barreira para possíveis eliminações de poluentes destruidores
do planeta.
O objetivo desta pesquisa é explorar as tecnologias ambientais ligadas a
biofertilizantes orgânicos analisando a sua importância, observando práticas sustentáveis
capazes de englobar a economia circular. Dessa maneira, a problemática levantada por essa
pesquisa foi: Como as tecnologias ambientais aplicadas a biofertilizantes orgânicos, pode ser
uma ferramenta sustentável para o meio ambiente partindo da lógica da economia circular?

61
O tema se justifica a partir da necessidade de incluir os resíduos como forma de
agregar as tecnologias já existente ao reuso como forma sustentável, tendo em vista que os
resíduos orgânicos podem ser adicionados como fins para biofertilizantes para uso tanto na
agricultura como para outras funções destinados, como garantia de um meio ambiente com
menos agrotóxicos ou químicas associadas, no qual tem como finalidade geralmente a
contaminação do planeta.
A metodologia a ser utilizada será do método dedutivo com análise das contribuições
de diferentes autores acerca de tecnologia ambiental na gestão de resíduos orgânicos frente a
economia circular. Quanto aos meios será utilizada pesquisa bibliográfica com consulta em
banco de dados digitais de publicações científicas e das disposições legais que tratam o tema
e, quanto aos fins, a pesquisa terá abordagem qualitativa.

DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Por ser um modelo que pensa e repensa nas novas práticas econômicas da sociedade
atual a Economia Circular (EC) traz e se inspira na própria natureza e tem como modelo o
não-linear de negócios econômicos e ultrapassa o âmbito e o foco das ações de gestão de
resíduos e de reciclagem, visando um escopo mais amplo que envolve desde o redesenho de
processos, produtos e modelos de negócio, até a otimização da utilização de recursos. Em
concordância com o exposto, o tema da EC assume, atualmente, uma grande relevância uma
vez que a União Europeia (UE) adotou recentemente uma estratégia da EC, e sendo
concretizada no Plano de Ação da Economia Circular (PAEC) que foi lançado em 2015. Para
a UE esta mudança de padrão deverá ser fundamental para um “crescimento inteligente,
sustentável e inclusivo” (COMISSÃO EUROPEIA, 2014, pp. 2). Sendo uma opção
sustentável para o planeta, e tendo como diferencial o “desperdício zero” a EC vem em direção
oposta ao modelo linear.
Dessa maneira, Pozzetti e Caldas (2019, p. 186) despertam:
Contrário ao preconizado pela ONU, o atual modelo de crescimento econômico
gerou enormes desequilíbrios, por um lado aumentou a riqueza e a fartura no mundo
e por outro a miséria, consequentemente a degradação ambiental e a poluição
aumentaram na mesma ou em maior proporção. Diante disso, surge a necessidade
de discutir como uma gestão dos resíduos sólidos pode minimizar a produção
das fontes geradoras, o reaproveitamento, a coleta seletiva e outras ações pertinentes
à intensa geração de resíduos, ajustando condutas que possam ir ao encontro da
sustentabilidade.

A interação de um conjunto entre economistas e ambientalistas podem e devem ser


convertidos à economia circular quando se considera a relação entre o uso de recursos e

62
resíduos, de forma que o sistema circular passa a ser visto como um pré-requisito para a
manutenção da sustentabilidade no planeta (TIOSSI & SIMON, 2021), através das tecnologias
incorporadas a rotina da sociedade, formando um ciclo autoconstitutivo, auto- organizador e
autoprodutor. Neste modelo linear, a economia, se caracteriza pela utilização dos recursos
naturais sem considerar sua limitação, na qual os processos produtivos se constituem pela
transformação da matéria-prima em produtos que após sua vida útil são, em sua maioria,
descartados sem o devido aproveitamento, gerando, assim, o aumento da produção de resíduos
e os consequentes impactos ambientais e à saúde humana. Em oposição ao modelo linear, a
economia circular se fundamenta em um processo cíclico no qual os resíduos são inseridos no
processo produtivo, seja como fonte de energia ou subprodutos.
Com essa nova visão sobre a EC, a agricultura convencional é uma das beneficiadas
com produtos como os biofertilizantes vindos de resíduos naturais, posto que, o uso de
fertilizantes químicos traz malefícios para o solo, lençóis freáticos e até contaminação para os
alimentos. Souza (2018) afirma que, esses fertilizantes químicos tem uma facilidade tanto para
volatilização quanto para lixiviação além de toxidade em organismos biológicos, com isso
levando prejuízos ao ecossistema.
Dessa maneira, Civitereza, (2021) alerta que:
Outro problema provocado pelo excesso de fertilizantes químicos, é à quebra da
cadeia de microfauna (minhocas, formigas, besouro, fungos, bactérias) presente no
litossolo. A presença desses seres vivos no solo favorece a fertilidade por meio da
interatividade entre os organismos. O solo sem a presença dos mesmos pode ser
tornar estéril, sendo necessária uma aplicação cada vez maior de insumos agrícolas.

Os biofertilizantes são originados através dos biodigestores. Os biodigestores são


equipamentos fechados em que se introduz matéria orgânica para ser decomposta por diversos
micro-organismos anaeróbios. Como subproduto são gerados o biofertilizante que são
utilizados como adubo e o biogás, que pode ser utilizado como combustível. (ECYCLE,
2016). Nesse sentido, Zorpas et. al. (2018, p. 15) afirmaram que:
o reaproveitamento das sobras para preparação de novos alimentos, as atividades de
compostagem doméstica, ou mesmo a participação da população em eventos de
conscientização, podem diminuir em 50% a produção de resíduos alimentares e em
75% os resíduos verdes e de quintais, auxiliando na diminuição da geração dos
resíduos em âmbito domiciliar.

Conforme afirma, Liu et al. (2020, P. 34) houve um crescimento nas últimas décadas
exacerbado na utilização de fertilizantes químicos. Sendo, portanto, um olhar mais crítico em
relação aos biofertilizantes naturais partindo de resíduos que iriam ser inutilizados no meio
ambiente, e incorporam diversos benefícios ao solo. Conforme o Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2012) os biofertilizantes são:

63
definidos, na Instrução Normativa nº 46 de 06 de outubro de 2011, como produtos
que contêm componentes ativos ou agentes biológicos capazes de atuar, direta ou
indiretamente, sobre o todo ou sobre partes das plantas cultivadas, melhorando o
desempenho do sistema de produção, e, que sejam isentos de substâncias proibidas
pela regulamentação de orgânicos.

Faz-se necessário o uso de novas tecnologias, para que novos insumos sejam
alcançado, pois esta nova modalidade do uso de biofertilizante vem se sobressaindo em
diversos países, uma forma de utilizar menos produtos químicos no meio ambiente, no qual
visa agregar produtos mais saudáveis e orgânicos para a sociedade, livre de químicas e com
isso equilibrando os recursos naturais do planeta.
Os biodigestores é um meio que visa auxiliar a produção de biofertilizantes, sendo
ainda equipamentos mais utilizados para produzir a partir de resíduos tanto animal quanto
vegetal. Posto isso, o biodigestor tem como função a partir de microrganismos anaeróbios
obter o subproduto biofertilizante, que visa ser utilizado como adubo e o biogás. (ECYCLE,
2016). Sendo assim uma forma mais sustentável e econômica para o meio ambiente. Ainda
conforme lista a EMBRAPA (2015), são muitos os benefícios e prerrogativa quando utilizado
o biofertilizante:
Beneficia a produção de alimentos mais saudáveis sem química, com menor impacto
ao meio ambiente; Obtendo maior resistência as plantas contra doenças e pragas;
Melhora a produtividade das culturas; Menor custo benefício ao comparar aos
fertilizantes químicos; É rico em diversos nutrientes, sendo portanto indispensáveis
ao solo como: (fósforo, potássio, cálcio etc.); Reutiliza matéria-prima da
propriedade e resíduos diversos; e ajuda como uma fonte secundaria de renda.

Tendo em vista os grandes impactos negativos que os fertilizantes químicos


reproduzem para o solo e planta em grande escala e por consequência disso desequilibra os
recursos naturais no meio ambiente os biofertilizantes sendo utilizado a partir de novas
tecnologias como o biodigestor tem como finalidade agir de forma ao contrário dos
fertilizantes químicos. Segundo Pix Force, (2018) os biofertilizantes orgânicos não causa
impacto ao meio ambiente e ainda colabora para uma plantação livre de contaminação e com
uma alta produtividade.

CONCLUSÃO
A problemática que ocasionou essa pesquisa foi a de questionar como as tecnologias
ambientais aplicadas a biofertilizantes orgânicos, pode ser uma ferramenta sustentável para o
meio ambiente através da lógica da economia circular. Os objetivos dessa pesquisa foram
alcançados a partir das análises dos conceitos já redigidos.

64
Conclui-se que os biofertilizantes gerados a partir de resíduos no qual seriam de certa
forma desperdiçado e reutilizado a partir de novas tecnologias sustentáveis, busca acrescentar
como subproduto na agricultura dando maior valor aos produtos orgânicos e contribuindo para
menor aparecimento de pragas, e em outras formas de usos.
Constatou-se também que a utilização dos fertilizantes químicos em grande escala
pode trazer diversos malefícios para os solos, rios, plantas e outros, podendo assim, através
das tecnologias ambientais, ser de forma gradativamente incorporada ao sistema EC, a
reutilização de resíduos que antes seriam descartados no meio ambiente de certo modo, sem
tratamentos pudessem ser realocados como subprodutos naturais ou seja, como
biofertilizantes. Sendo assim, pode se analisar, um impacto econômico e social sustentável
com mais incorporação tecnológica, onde visa o menor desperdício na sociedade.

REFERENCIAS
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66
A SEGURANÇA ALIMENTAR COMO DIREITO HUMANO EM CONFRONTO
COM A TRANSGENIA DE ALIMENTOS
FOOD SAFETY AS A HUMAN RIGHT IN CONFRONTATION WITH FOOD
TRASGENITION

Valmir César Pozzetti 1


Elieude Bacelar Matos 2
Maria Lucidalva Ribeiro de Sousa 3

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar os alimentos transgênicos sob a perspectiva do
direito à alimentação, da biossegurança, e seus impactos e possíveis danos à natureza. A
metodologia utilizada foi descritivo e explicativo; quanto aos meios foi bibliográficas, e
quanto aos fins, qualitativa. Concluiu se que é necessário um estudo aprofundado sobre os
efeitos dos transgênicos a saúde da natureza física e humana, tal qual o direito da informação
nos alimentos em transgenia alimentar.

Palavras-chave: Transgenia de alimentos, Segurança alimentar, Biossegurança

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze transgenic foods from the perspective of the
right to food, biosecurity, and their impacts and possible damage to nature. The methodology
used was descriptive and explanatory; as for the means, it was bibliographical, and as for the
ends, it was qualitative. It was concluded that an in-depth study is necessary on the effects of
transgenics on the health of physical and human nature, such as the right to information on
food in food transgenics.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Transgenics, Food security, Biosecurity

1Pós-doutor em Direito Università degli Studi di Salermo/Itália e Escola Dom Helder Câmara/MG. Doutor em
Direito Ambiental - Universitè de Limoges/França. Professor da UFAM e da UEA. Professor Orientador
2Mestranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do
Amazonas; Licenciada em Pedagogia e especialista em Coordenação pedagógica pela Universidade Federal de
Rondônia (UNIR).
3Mestranda em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia - PPGCASA – Universidade Federal do
Amazonas (UFAM) Manaus – AM

67
1.Introdução
A transgenia alimentar é capaz de criar certas particularidades nos organismos
singulares melhorando relativamente os organismos originais, recorrendo à manipulação
genética, analisando características de um ou mais organismos que possivelmente não
aconteceria na natureza de uma forma tão ágil como a tecnologia aplica à modificação.
Porém, seus reflexos trazem ao meio ambiente, desgastes que não facilmente reparáveis.
O objetivo desta pesquisa é analisar a segurança alimentar como direito humano em
confronto com a transgenia de alimentos e da biossegurança, compreendendo os impactos
dessa tecnologia na vida humana e os direitos na singularidade e ou coletividade.
A dignidade do individuo esta atribuída em cada singularidade humana de forma
intrínseca e distintiva, demandando assim, uma enigmática complexidade de direitos e
deveres que são importantes e que garantem ao individuo condições mínimas para uma
eficácia salutavel de vida, arbitrário a todo e qualquer ato de caráter desonroso e atroz, do ato
que venham ser garantido a participação dinâmica e sensata nos desígnios próprios de sua
existência e da comunhão parcial com a sociedade em que se insere como ser humano.
A constitucionalização do Direito Civil, é campo norteador como o princípio da
dignidade da pessoa humana, que sendo deve ser perspicaz pelos direitos públicos e privado,
onde se aplicam no âmbito interindividuais de caráter civil, comercial e ao individuo em
relação ao poder público neste campo se promover a reposicionação da hombridade da pessoa
humana, norteando em contraposição para a semelhança de direitos, onde se considera que o
ser humano em confrontação à congênere em distinção ao próximo.
A problemática desta pesquisa é: de que forma se poderá oferecer alimentos
transgênicos com qualidade e assegurando a todos a alimentar?
A presente pesquisa científica se justifica perante a viabilidade desse processo na
sociedade onde a segurança alimentar é um direito a dignidade humana garantido na
Constituição Federal CF/88 que institui como fundamento do Estado e de sociedade a
dignidade da pessoa humana.
A Constituição federal de 1.988, em seu art. 5º, caput, garante que todo e qualquer
indivíduo sem distinção de cor, sexo, e ou credo religioso, têm perante a lei, direitos no que
garantem pela constituição, o direito ao consumidor final sob informações explicativas sobre
os produtos industrializados e comercializados, principalmente no trata este resumo estendido
sobre o processo de transgenia alimentar, permitindo ao cidadão a dignidade em escolha
múltipla em seu consumo, de forma à alimentar se seguramente e neste ato e consciente do

68
que se ingere como alimentos ofertados ao consumidor como apontam estes direitos a CF em
seu artigo 5º, o direito do cidadão individual e coletivo.
A pesquisa será realizada através do método dedutivo; quanto aos meios a pesquisa
será bibliográfica com uso da doutrina, legislação e jurisprudência; quanto aos meios a
pesquisa será qualitativa.

Objetivo
Analisar os alimentos transgênicos sob a perspectiva do direito à alimentação e da
biossegurança, visando seus impactos e possíveis danos à natureza humana, mediante as
tecnologias aplicáveis na transgenia alimentar.

Metodologia:
A metodologia utilizada nesta pesquisa será a do método dedutivo, sendo descritivo e
explicativo quanto aos meios; a pesquisa será bibliográfica e com caráter qualitativo com o
uso da legislação e da doutrina.

4.Desenvolvimento da pesquisa
Os alimentos transgênicos são os alimentos que tiveram em sua estrutura normal seu
gene modificado geneticamente em seu DNA. Os cientistas controlam essa alteração, estudam
de forma investigativa e eficaz para garantir que o produto que recebeu o gene seja
equivalente ao produto não modificado. De certa forma se estudam para eficácia da
solutividade que apresentam os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS.
No âmbito do organismo que recebeu um gene de outro organismo doador, acelera a
produção de alimentos, objetivando o desenvolvimento de novas plantas com potencial de
desenvolver resistência em sua nova genética contra doenças e pragas que podem chegar uma
alimentação “saudável” á mesa do consumidor. Para que tal se cumpra o designado pela
Organização das Nações Unidas - ONU e do cumprimento das (ODS) da Agenda de 2030,
fome zero e desenvolvimento sustentável, propõem acabar com a fome, prevalência da
subalimentação de insegurança alimentar.
Diante deste contexto, a segurança alimentar faz parte da intencionalidade das ações
globais que pulguinem a fome e favoreçam o desenvolvimento eficaz de uma agricultura
salutar e sustentável, com o intuito de uma alimentação segura e adequada não referenciada
apenas a quantidade, mas atribuída a qualidade e de acordo com as necessidades singulares da

69
humanidade, nos aspectos sociais, culturais e biológicas. No entanto pozzetti e Zambrano
(2020, p. 209) explicam que:
[..] os alimentos são a fonte da vida: sem uma alimentação saudável não se pode ter
vida digna, não se pode ter meio ambiente com qualidade. Dessa forma, a
alimentação destaca-se como direito fundamental de todo ser humano, não podendo
jamais ser considerada uma mercadoria, devendo ser tratada de forma diversa.

Para tal, o direito alimentar e as suas evidentes garantias sociais à humanidade, leva nos
ao entendimento que a alimentação saudável, vai para além do conhecimento social de suas
originidades e não apenas da erradicação da fome mundial, leva se em consideração fatores que
alimentação transgênica desfavorecem em pequenas informações que podem ficarem evidentes
nos rótulos ao consumidor final. Pois:
A alimentação adequada e saudável é um direito humano básico que envolve a
garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, [...] acessível
do ponto de vista físico e financeiro; harmônica em quantidade e qualidade,
atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada em
práticas produtivas adequadas e sustentáveis. (BRASIL,2014)

Decreto 4.680/2003 Regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei no 8.078,


de 11 de setembro de 1990:
Art. 2o Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao
consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de
organismos geneticamente modificados, com presença acima do limite de um por
cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse
produto.

A superação para o aumento alimentar global nos é colocada em sua positividade e


produção em uma celeridade de larga escala que poderia em um menor espaço na natureza,
gerar uma produção maior e por ser geneticamente alterada a semente, com o controle de
pragas favorecendo assim melhor rendimento à produtividade com a garantia de que há neste
contexto a sustentabilidade em consonância à preservação ambiental. A OMG e seus
derivados cria o Conselho Nacional de Biossegurança. A lei nº 11.105 destaca:
Art. 1º Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre
a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a
importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o
consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente
modificados – ºderivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na
área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e
vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio
ambiente.

Do direito a precaução pode analisar as desigualdades sociais e ameaças aos recursos


naturais e à biodiversidade. Verifica se mediante o guia salienta que:
Recentemente, na maior parte do mundo, as formas de produzir e distribuir
alimentos vêm se modificando de forma desfavorável para a distribuição social
das riquezas, assim como para a autonomia dos agricultores[...] a produção
de alimentos seguros e saudáveis. Estão perdendo força sistemas alimentares

70
centrados na agricultura familiar, em técnicas tradicionais e eficazes de cultivo e
manejo do solo, no uso intenso de mão de obra, no cultivo consorciado
de vários alimentos combinado à criação de animais, no processamento
mínimo dos alimentos realizado pelos próprios [...]. Esses sistemas
dependem de grandes extensões de terra, do uso intenso de mecanização, do alto
consumo de água e de combustíveis, do emprego de fertilizantes químicos,
sementes transgênicas, agrotóxicos e antibióticos e, ainda, do transporte por
longas distâncias (BRASIL, 2014).

A crise alimentar como se sugere a transgenia, poderá afetar o planeta trazendo


muitos transtornos a população global. Recentemente a população brasileira tem sua
alimentação de produção de grãos uma garantia alimentar de forma sustentável e saudável.
Neste sentido, Pozzetti e Zambrano (2020, p. 209) destacam que:
A alimentação é a base da vida; sem alimentar-se adequadamente o homem não
consegue sobreviver, não consegue se realizar e não consegue produzir. Assim,
todas as vezes em que falamos, pensamos ou produzimos, temos que tratar a
alimentação como um direito essencial, fundamental; jamais poderemos tratar a
produção de alimentos como uma atividade mercantil.

O Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) está prevista em diversos


acordos leis nacionais, documentos internacionais legais vigentes nos princípios da CF/88. A
existência deste marco legal estabelece a promoção da realização do DHAA como uma
obrigação do Estado brasileiro e como responsabilidade de todos nós. No que se refere ao
potencial alimentar podemos destacar que o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente permeiam
neste processo alimentar e devem ser minuciosas as atribuições e delegações nas produções da
transgenia alimentar e seus efeitos na natureza física e humana. Uma vez que Pozzetti, Ferreira e Silva
(2020, p. 352):

O Desenvolvimento sustentável é aquele que permite uma integração homem x


natureza, de modo a possibilitar um crescimento em qualidade e não crescimento em
quantidade; logo, esse conceito envolve um crescimento que assegure bem estar e
qualidade de vida a todos os seres que habitam o planeta, sejam eles do reino
mineral, vegetal animal e hominal. Só ocorrerá desenvolvimento sustentável se o ser
humano respeitar todas as espécies planetária, pois ele não conseguirá viver sem
elas. A ausência de uma dessas espécies.

As leis que regem os direitos humanos, na CF, externam relevante importância do


princípio da precaução no aljube do desenvolvimento sustentável, onde interligamos a
relevância tratada no processo de alimentos transgênicos, conforme explicam Pozzetti,
Pozzetti, Pozzetti (2020.p.181):

Assim, o que se propõe nessa pesquisa, não é o estancamento da economia, mas um


crescimento de forma sustentável e equilibrada, lançando -se mão de formas mais
seguras e mais baratas de se fazer as coisas: desenvolvendo -se produtos e
tecnologia “mais limpos”. Às vezes, diminuir a velocidade a fim de se aprender mais
sobre danos potenciais, ou não fazer nada, é a melhor alternativa.

71
Em detrimento do direito a alimentação saudável está entrelaçada a sustentabilidade
quando se refere ao equilíbrio das elevações climáticas em desfavorecimento ao
desenvolvimento sustentável quando é inserido na natureza orgânicos que desfavorecem á
natureza. É importante destacar o posicionamento de Pozzetti, Ferreira e Silva (2020, p. 352):
O Desenvolvimento sustentável é aquele que permite uma integração homem X
natureza, de modo a possibilitar um crescimento em qualidade e não crescimento em
quantidade; logo, esse conceito envolve um crescimento que assegure bem estar e
qualidade de vida a todos os seres que habitam o planeta, sejam eles do reino
mineral, vegetal animal e hominal. Só ocorrerá desenvolvimento sustentável se o ser
humano respeitar todas as espécies planetária, pois ele não conseguirá viver sem
elas. A ausência de uma dessas espécies fará com que haja desequilíbrio, ameaçando
o Desenvolvimento Sustentável.

Dessa forma alimentação transgênica em escala de produção que vem se estruturando


e utilizando-se de um recurso de modificações genéticas poderá ser uma solução que não
desfavoreça a humanidade em seu direito da alimentação, porém poderá afetar a natureza e até
mesmo prejudicar a saúde humana ou até mesmo animais que já devem estarem consumindo
destes alimentos por transgenia.
Conclusão
A problemática que motivou essa pesquisa foi de analisar como a segurança
alimentar se estabelecem no Brasil, seus aspectos no direito da segurança alimentar e a
biossegurança, sendo que há diretrizes e leis como segurança alimentar é um direito a
dignidade humana garantido na Constituição Federal CF/88.
Os objetivos dessa pesquisa foram cumpridos, uma vez que foi percorrido as
legislações e os artigos científicos como base de se enfrentar a problemática levantada. Sendo
assim o direito é assegurado ao cidadão florido aos alimentos apresentados nas mercadorias
com especificações da transgenia, a escolha de se adquirir ou não o produto.
Pela metodologia desta pesquisa as analises bibliográficas notou se que o Brasil é um
país altamente produtivo, a transgenia poderia ser a ultima opção a ser utilizada. A agricultura
brasileira é capaz de suprir a demanda atual sem agredir a saúde humana, sendo relevante
averiguar a influencia destes transgênicos na saúde da natureza física e humana. Assim os
benefícios desses para humanidade para qualidade de vida nos seres humanos, o
desenvolvimento sustentável é através de políticas públicas que garantam os direitos e os
meios na eficácia da alimentação saudável e as informações sobre transgenia para o
consumidor, garantindo o direito da precaução humana.

72
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Disponível em:
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file:///C:/Users/VALMIR~1/AppData/Local/Temp/5328-371379505-1-SM(1).pdf. Acesso
em: 10 mai. 2022.

73
OS IMPACTOS DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS NO TURISMO
GASTRONÔMICO
THE IMPACTS OF TRANSGENIC FOODS ON FOOD TOURISM

Valmir César Pozzetti 1


Alessandra souza Queiroz Melo 2
Rayanne Roque Gama 3

Resumo
O objetivo desta pesquisa foi o de analisar quais os impactos da utilização de alimentos
transgênicos para o segmento do turismo gastronômico. A metodologia utilizada foi a do
método dedutivo; quantos aos meios da pesquisa, foi utilizada a pesquisa bibliográfica,
buscando na literatura autores que dialogavam com a temática proposta. Com relação aos
fins, a pesquisa possui caráter qualitativo. Como conclusão, compreende-se que os alimentos
transgênicos podem comprometer o turismo gastronômico, seja na experiência turística, com
reações alérgicas e outros problemas na saúde humana, como também na escassez de
produtos reginais, como espécies de animais, plantas, entre outros.

Palavras-chave: Alimentos transgênicos, Turismo gastronômico, Inovação tecnológica

Abstract/Resumen/Résumé
The objective of this research was to analyze the impacts of the use of transgenic foods for
the gastronomic tourism segment. Methodology used was the deductive method; as for the
means of research, bibliographic research was used, searching in the literature for authors
who dialogued with the proposed theme. Regarding the purposes, the research has a
qualitative character. In conclusion, it is understood that transgenic foods can compromise
gastronomic tourism, whether in the tourist experience, with allergic reactions and other
problems in human health, well as in the scarcity of regional products, such as species of
animals, plants, among others.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Transgenic foods, Gastronomic tourism,


Technological innovation

1Pós-doutor em Direito (Università degli Studi di Salermo/Itália e pela Escola Dom Helder Câmara/MG).
Doutor em Direito Ambiental - Universitè de Limoges/França. Professor da UFAM e da UEA. Professor
Orientador.
2Doutoranda pela Universidade Federal do Amazonas. Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia.
3Assistente social, bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), mestranda
pelo Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade do Amazonas (PPGCASA
/UFAM).

74
INTRODUÇÃO

O ser humano necessita satisfazer suas necessidades nutricionais a partir da introdução


de alimentos variados. A evolução dos seres humanos a partir das suas relações com o seu
entorno, determinam os alimentos que serão servidos à mesa. Atualmente, a partir dos avanços
na inovação e na tecnologia, são ofertadas diversas opções de alimentos que acompanham o
ritmo agitado a qual a sociedade moderna se encontra. Esses alimentos contemporâneos são
desenvolvidos contendo adições de conservantes, agrotóxicos, aditivos, corantes, entre outros;
prolongando a sua vida útil.
Tais avanços, intensificaram as transformações industriais dos produtos agropecuários
e agroalimentares, onde são desenvolvidas novas técnicas para a criação de novos produtos, que
na maioria das vezes, suas procedências são desconhecidas, como é o caso dos alimentos
transgênicos.
Os alimentos considerados transgênicos, são aqueles que tiveram o seu DNA
modificado, seja para melhorar a sua aparência, sabor, coloração, entre outros fatores. Porém,
no processo de modificação genética desses alimentos, os genes de um ser que inseridos em
outro, podem provocar em uma parcela da população algumas reações alérgicas, entre outras
problemáticas.
Nesse contexto, o turismo gastronômico utiliza os alimentos e bebidas de uma
determinada localidade, para aproximar os visitantes da cultura local. Entretanto, acreditasse
que os alimentos transgênicos podem influenciar nas experiências turísticas dos visitantes.
Desse modo, a pergunta que orienta essa pesquisa é: quais são os impactos da utilização de
alimentos transgênicos para o segmento do turismo gastronômico?
Para responder a esta pergunta, a presente pesquisa se justifica, por meio do aumento
nas últimas décadas dos alimentos transgênicos, a partir de alterações genéticas produzidas em
laboratórios e pelos avanços do turismo gastronômico, onde incorpora valores éticos e de
sustentabilidade. Dessa forma, os alimentos ofertados na experiência turística das rotas
gastronômicas são vistos atualmente partir de um contexto mais amplo, desde a escolha dos
alimentos, indo de encontro com os pratos servidos à mesa, até o descarte dos resíduos
orgânicos.
Portanto, como metodologia para alcançar o objetivo proposto, será utilizada a
pesquisa bibliográfica, utilizando banco de dados digitais de publicações cientificas, assim será

1
75
possível contemplar o aporte teórico necessário para a concretização da pesquisa. Assim, a
pesquisa possuirá caráter qualitativo.
OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa é analisar quais os impactos da utilização de alimentos


transgênicos para o segmento do turismo gastronômico.

METODOLOGIA
A presente pesquisa utilizará o método dedutivo como forma de análise para as
contribuições dos diferentes autores a dialogar sobre a transgenia dos alimentos e os impactos
no turismo gastronômico. Para alcançar tal objetivo, será utilizado como meios a pesquisa
bibliográfica, onde será possível através do acesso aos bancos de dados digitais de publicações
cientificas, contemplar o aporte teórico necessário para o desenvolvimento dessa pesquisa.
Portanto, esta pesquisa terá uma abordagem qualitativa.

ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS: UMA BREVE


CONTEXTUALIZAÇÃO

Os alimentos transgênicos são caracterizados como organismos geneticamente


modificados, originando-se a partir da Engenharia Genética, realizados com plantas,
microorganismos e animais (BARROS, OLIVEIRA e SILVA., 2021). Os autores Pozzetti e
Rodrigues (2018), apontam que o processo de transgenia dos alimentos é obtido através da
tecnologia do DNA combinante, onde é inserido em um genoma de determinada espécie, genes
de outra espécie, assim é possível alcançar características distintas, cores, sabores, formatos,
tamanhos, entre tantas outras.
O avanço tecnológico permitiu ao ser humano grandes mudanças, os alimentos por sua
vez, ganham destaque nesse processo, onde cada vez mais o setor industrial, desenvolve
alimentos que contribuem com a vida agitada da contemporaneidade, atendendo suas demandas
e exigências. Porém, nem todas as pessoas sabem de fato o que estão comendo. Tanto a
qualidade dos alimentos, assim como a segurança alimentar, não foi assegurada pela ciência
acerca dos alimentos transgênicos. Porém, muitas empresas vendem os alimentos transgênicos
na promessa de serem os alimentos do futuro. Mas, qual futuro seria esse? Ou melhor, o futuro
de quem?
As empresas de biotecnologia de modo a conquistarem o mercado, o consumidor e o
meio científico, reforçam a ideia de que com a produção dos alimentos transgênicos será
2
76
possível resolver problemáticas como a da escassez dos alimentos do planeta (BARROS,
OLIVEIRA e SILVA., 2021). Conforme os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), cerca de 80% dos hectares do plantio de soja no mundo são
atualmente, de sementes com genes alterados. Os dados são ainda mais alarmantes, a área com
culturas transgênicas subiu de 1,7 milhões de hectares para 175,2 milhões (EMBRAPA, 2022).
Os alimentos transgênicos são obtidos a partir do cultivo das plantas transgênicas,
Segundo Pozzetti e Rodrigues (2018, p. 04):
A venda das sementes transgênicas se dá de forma conjunta com a venda dos
herbicidas produzidos pelas mesmas Empresas, vez que para manter a
eficiência das plantações dessa natureza e para controle das pragas, são
necessárias aplicações cada vez maiores de agrotóxicos, sem que se perca a
plantação, que é criada de forma a resistir a esses produtos.

A discussão entorno dos alimentos transgênicos são intensas, entre reações alérgicas,
ineficácia dos antibióticos, até doenças infecciosas. Segundo os autores Lopes e Filho (2021, p.
09):
Um dos principais entraves no estímulo à produção de alimentos com a
utilização da biotecnologia é a avaliação de risco que alcança a saúde humana,
com o aparecimento de alergias e no impacto ao meio ambiente, poluição
genética, surgimento de novas pragas e danos as espécies circundantes.

No Brasil os consumidores possuem o direito em saber, se o alimento é transgênico ou


não, especificados nos rótulos das embalagens. Porém, se por um lado as embalagens possuem
identificação dos alimentos geneticamente modificados, por outro, como isso se aplicaria nas
experiências do turismo gastronômico?

O TURISMO GASTRONÔMICO E USO DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

A gastronomia, vai além do ato de se alimentar. A culinária como atrativo turístico


possui o potencial de agregar valor as viagens. O turismo gastronômico se apresenta como uma
atividade que busca por meio dos alimentos e bebidas, estimular os turistas a vivenciarem
experiências profundas (CÂNDIDO e BRITO, 2020).
As viagens através da gastronomia são culturalmente interessantes, isso porque
proporcionam um verdadeiro intercâmbio cultural, entre os turistas e os residentes
(MASCARENHAS e GÂNDARA, 2015). Além de proporcionar o acesso a sabores exclusivos
da localidade visitada.
O cuidado na manipulação e no preparo dos alimentos, se torna primordial na
experiência turística gastronômica. Afinal, é através dos alimentos que os visitantes terão o
3
77
primeiro contato com a cultura local, compreendendo assim, um pouco dos hábitos e costumes
daquela localidade. Mas, outro fator que se torna importante e vem chamando atenção nas
últimas décadas devido aos avanços tecnológicos, é a origem dos alimentos que estão sendo
ofertados no turismo gastronômico.
Segundo o Código de Defesa do Consumidor, os fornecedores de produtos são
obrigados a permitir informações sobre os produtos ofertados, de forma legível e clara. Nos
supermercados, os produtos expostos, devem conter informações de não oferecerem riscos ao
consumidor.
Porém, nos roteiros gastronômicos, não há uma especificação sobre os alimentos
serem ou não transgênicos. Podendo trazer riscos à saúde humana, segundo os autores Araújo
e Mercadante (1999), os efeitos alergênicos devido aos novos compostos inseridos nos
alimentos, podem ser fatais nos seres humanos. Além de existir a possibilidade de mudanças
no metabolismo humano.
Além da problemática com relação à saúde humana, os alimentos transgênicos também
impactam o meio ambiente (MENASCHE, 2004). Causando assim riscos alimentares, riscos
ecológicos e riscos agroecológicos. Impactando também no turismo gastronômico, conforme o
quadro 1.
Quadro 1: impactos dos alimentos transgênicos no turismo gastronômico
Impactos Descrição
Riscos alimentares Efeitos de proteínas tóxicas ou alergênicas
dos alimentos transgênicos.
Riscos ecológicos Erosão da diversidade das variedades de
culturas, devido à introdução em massa de
plantas geneticamente modificadas.
Riscos agrotecnológicos Mudanças imprevisíveis nas propriedades e
características das plantações em razão dos
efeitos de um gene introduzidos.
Fonte: Adaptado pelos autores a partir de Lopes e Filho (2021).
Desse modo, os riscos dos alimentos transgênicos para o turismo gastronômico, podem
ser compreendidos a partir dos efeitos tóxicos ou alérgicos que podem ser apresentados nos
turistas que consumirem alimentos dessa natureza. Também pode comprometer as variedades
culturais de alimentos de uma determinada região, e causar mudanças nas plantações,
modificando completamente os solos e os alimentos. Esses fatores comprometem diretamente

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a experiência no turismo gastronômico, por comprometer a qualidade dos alimentos, afetando
sua existência e comprometendo a saúde humana.

CONCLUSÃO
A problemática que motivou essa pesquisa foi a de identificar quais os impactos da
utilização de alimentos transgênicos para o segmento do turismo gastronômico. Desse modo, o
objetivo dessa pesquisa foi cumprido, visto que, a partir do aporte teórico foi possível levantar
um diálogo que contribuirá possivelmente para um pensamento mais crítico acerca da temática.
Cabe destacar, que a temática dos alimentos transgênicos no turismo gastronômico, ainda é
recente, justificando assim, poucos autores que dialogam sobre o termo.
Contudo, o uso de alimentos transgênicos gera muitas discussões em seu entorno,
principalmente no meio acadêmico. O uso desses alimentos está associado com várias doenças,
entre elas depressão, câncer e até problemas alérgicos.
No turismo gastronômico, o alimento é a principal motivação dos visitantes. É através
deles que os turistas terão contato com a cultura local, hábitos e costumes, um verdadeiro
intercâmbio cultural. Porém, assim como nos supermercados, os consumidores também devem
estar atentos para o que está sendo servido à mesa. Saber de onde vêm os alimentos é
fundamental, saber a forma de cultivo também contribui nesse processo.
Os Chefes de cozinhas possuem um papel fundamental nesse processo, são eles que
vão determinar quais produtos vão ser utilizados, assim, contribuindo com informações sobre
os alimentos. Eles também podem ajudar na economia local, utilizando produtos de agricultores
rurais que não utilizem sementes geneticamente modificadas, assim garantindo a qualidade dos
seus alimentos servidos.
A experiência gastronômica vem sendo ampliada nos últimos anos, novos valores
estão sendo agregados a ela. Todo o processo desde a forma do plantio, assim como a do
preparo, a forma de servir e como serão descartados os seus resíduos orgânicos, fazem parte
desse processo.
Essa nova visão está atrelada a valores da sustentabilidade, sendo fundamentais para
assegurarem a existência dos alimentos de forma segura, evitando o comprometimento da
experiência turística, seja por alimentos geneticamente modificados, utilizados na elaboração
das comidas, e que não foram informados aos consumidores, seja por alimentos geneticamente
modificados que comprometem o solo dos plantios e assim a existência de outras plantas.

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Desse modo, os impactos dos alimentos transgênicos na gastronomia perpassam as
comidas servidas à mesa, pois além de comprometer a experiência turística negativamente,
causando problemas de saúde nos consumidores, devido à falta de informação sobre a utilização
de alimentos geneticamente modificados, pode também comprometer a existência de plantas,
animais, entre outros, que compõem os pratos gastronômicos e fazem parte dos alimentos
reginais da localidade.

REFERÊNCIAS
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https://bu.furb.br/ojs/index.php/juridica/article/view/7874/4114. Acesso em: 02 mai. 2022.

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O ESPECISMO NOS TESTES EXPERIMENTAIS EM ANIMAIS: O DIREITO
ANIMAL EM QUESTÃO
SPECIESISM IN EXPERIMENTAL TESTS ON ANIMALS: ANIMALS RIGHTS
UNDER QUESTION

Alice Gabrielle Moura de Paula Gonçalves

Resumo
Essa pesquisa discorre acerca das causas e efeitos dos testes feitos pelas indústrias aos
animais sob o direito destes, a habituação à relação hierárquica que subjuga a necessidade do
animal às necessidades humanas e o viés capitalista. No tocante ao tipo de investigação,
utilizar-se-á vertente metodológica jurídico-social. Ao tipo genérico de pesquisa, foi
escolhido o tipo jurídico-interpretativo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa foi
predominantemente hipotético-dedutivo e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotada a
pesquisa teórica. Conclui-se então, que o homem não considera-os como seres atribuídos de
moral.

Palavras-chave: Direito dos animais, Indústrias, Moral

Abstract/Resumen/Résumé
This research discusses the causes and effects of the tests done by industries to animal under
their rights, the habituation to the hierarchical relationship that subdues the need of the
animal to human needs and the capitalistic bias. Regarding the type of investigation a legal-
social methodological aspect will be used. For the generic type of research, the legal-
interpretative type was chosen. The reasoning developed in the research was predominantly
hypothetical-deductive and as for the type of research, theoretical research was adopted. It is
concluded, then, that men does not consider them as morally assigned beings.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Animal rights, Industries, Moral

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente trabalho discorre acerca das causas e efeitos dos testes feitos pela indústria
de cosméticos e medicamentos aos animais percorrendo a ótica do direito destes. Muitos dos
produtos de higiene, beleza e remédios que são consumidos normalmente, são testados em
animais fora do conhecimento do consumidor. Nesse viés, de acordo com a Declaração
Universal dos Direitos Animais, estabelecido pela UNESCO em 1978, todos os animais
possuem direito inalienável que lhes garante respeito e dignidade. Entretanto, a sociedade se
habituou à relação hierárquica que subjuga a necessidade do animal ás necessidades humanas.
Dessa forma, a mentalidade que prega a superioridade humana em relação aos bichos nubla o
sentimento de empatia por meio de uma perspectiva objetificada dos seres, que no contexto
capitalista visa a produção. Assim, a indústria de cosméticos utiliza dos animais visando o lucro
da empresa em detrimento do direito destes, partindo do pressuposto que as vidas humanas são
mais importantes que a dos animais.
Como um exemplo dessa prática, os laboratórios Royal, que eram estabelecidos em São
Paulo, foram denunciados por ONGs protetoras e resgataram mais de cem cachorros da raça
beagle que estavam sendo usados para testes farmacêuticos. É de suma importância que seja
feita a análise dos motivos para esse abuso e o desrespeito a esses seres na sociedade atual,
considerando a influência de concepções capitalistas e antropocêntricas que por meio das
tecnologias empregadas na indústria de cosméticos, utiliza de animais para testar os produtos
que terão os seres humanos como destino de consumo. Os animais, nessa perspectiva, são meros
objetos que vivem para servir e enriquecer o homem diante de um contexto capitalista.
A partir das reflexões preliminares sobre o tema, é possível afirmar inicialmente que o
homem subjuga o direito dos animais e o desqualifica em função da apropriação do seu trabalho
produtivo. O especismo é baseado em uma hierarquia que, a partir da concepção do homem do
animal como um ser inanimado, subordina estes aos seus fins próprios e não os trata como
sujeito de direito. Nesse viés, torna-se possível concluir que a superexploração a qual estes seres
são submetidos, é fruto do pensamento antropocêntrico e tais crueldades ocorrem à frente das
pessoas sem que tenham a consciência pura do outro ser vivo como atores morais.
A pesquisa que se propõe, na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020), pertence
à vertente metodológica jurídico-social. No tocante ao tipo genérico de pesquisa, foi escolhido
o tipo jurídico-interpretativo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa foi predominantemente
dialético e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotada a pesquisa teórica.

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2. O CONCEITO DE ESPECISMO E SUA APLICAÇÃO HISTÓRICA

Peter Singer, filósofo australiano e professor de bioética na faculdade de Princeton,


Nova Jersey, considerado como um dos grandes defensores do direito dos animais, cujo livro
“Libertação Animal” (1957) trouxe uma nova abordagem a respeito do tratamento humano aos
animais ocasionou questionamento à sociedade na época em que foi publicado e nas gerações
posteriores. Uma comparação a qual ele formula na sua obra mais expressiva “Libertação
Animal” é o marco teórico no qual a presente pesquisa se baseia. Segundo o autor:

O especismo é um preconceito ou atitude de favorecimento dos interesses dos


membros de uma espécie em detrimento dos interesses dos membros de outras espécies.
Os racistas violam o princípio da igualdade, atribuindo maior peso aos interesses dos
membros da sua própria raça quando existe um conflito entre os seus interesses e os
interesses daqueles pertencentes a outra raça. Os sexistas violam o princípio da
igualdade ao favorecerem os interesses do seu próprio sexo. Da mesma forma, os
especistas permitem que os interesses da sua própria espécie dominem os interesses
maiores dos membros das outras espécies […]. Se a possessão de um grau superior de
inteligência não dá a um humano o direito de utilizar outro para os seus próprios fins,
como é que pode permitir que os humanos explorem os não humanos com essa
intenção? (SINGER, 1975)

A teoria conceitual proposta pelo autor procura demonstrar que a tirania que os seres
humanos exercem em vista de outros que acreditam ser inferiores é uma prática antiga e que
perdura perante as minorias as quais sofrem e somente obtiveram sua liberdade após a luta e a
resistência contra a dominação e a oposição à discriminação. O autor acredita que da mesma
forma que houve a desconstrução -ainda que lenta e gradual- do racismo e do sexismo, que
eram duas ideologias intrínsecas a conjuntura social, deverá acontecer com o especismo diante
dos animais. A partir de uma comparação bem elaborada e fundamentada nas ideias de Jeremy
Bentham, outro defensor da causa animal, Peter Singer discorre que a capacidade de sofrimento
de um ser vivo é o que designa o direito de consideração destes.
Dessa maneira, o autor constata que os humanos têm o dever de corresponder aos
direitos dos animais como entes que conferem respeito aos outros seres vivos.
Diante disso, é curioso o modo como é realizado o tratamento dos animais no mundo
hodierno. Há culturas, como a indiana, que considera alguns animais como sagrados para eles.
Entretanto, ao tratar sobre a generalidade, é importante destacar que os animais, sem distinção
de espécie, são utilizados como forma de obtenção de lucro e conforto para os seres humanos
em diversas localidades, como por exemplo na China, que animais comumente domesticados
no ocidente como os cachorros servem de alimento. São muitas as formas de abuso e dominação

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que os seres humanos exercem aos animais e há alguns anos essa relação tem sido objeto de
estudo de muitos cientistas sociais como Peter Singer (1946). O tratamento dado a esses seres
é revelador e característico de uma postura antiética e baseada em preceitos de superioridade e
servidão.
Historicamente, a relação homem-animal foi se alterando conforme o cenário mundial.
Mesmo que alguns hábitos antigos perdurassem durante séculos, como o uso do cavalo como
meio de locomoção, é possível observar que após um tempo tais medidas de uso dos bichos
foram sendo substituídas por outras à frente da tecnologia como é o caso do uso de animais para
fins de produção e lucro. Nesse perspectiva, faz-se possível a analogia dessa prática com o
princípio do materializar histórico desenvolvido por Karl Marx. O sociólogo teoriza a relação
material estabelecida socialmente por meio do processo dialético da luta de classes, que nesse
caso, configura a relação homem-animal como dominante e dominado partindo do panorama
econômico dos vínculos sociais.

3. O EMPREGO DO ESPECISMO FRENTE OS TESTES FARMACÊUTICOS COM O


USO DE ANIMAIS COMO COBAIAS

Uma coporação multinacional como a Procter & Gamble (P&G) que poderia e teria
capital para fazer o uso de cultura de células, simuladores e modelos matemáticos no lugar dos
testes nos animais, conforme os cientistas William M. Russel (1925) e Rex L. Burch (1926)
dissertaram em sua publicação “The Principles of humane experimental technique” (1959),
utilizam dos animais como cobaias sem considerar outras formas de realização destes testes. A
partir do processo de globalização, a disponibilidade da tecnologia se expandiu e empresas com
grande poder aquisitivo como é o caso da supracitada, poderia viabilizar o uso da inteligência
artificial visando não somente o direito dos animais, mas também a sustentabilidade ambiental
e a maior efetividade no resultado dos testes.
Já previamente constatado que os bichos são seres atribuídos de inteligência e
sentimentos, no que diz respeito à justificativa de animais não serem indivíduos morais, este é
um argumento atualmente desconstruído por filósofos como Peter Singer que vão trazer a
análise baseada em pesquisas científicas que provam a ineficácia desse argumento que acaba
por visar somente o benefício do homem. Ainda que haja características distintivas entre
homem e animal, como por exemplo a baixa quantidade de corpos neuronais na área do córtex
cerebral em comparação com o cérebro humano, é inegável que estes sentem dor e possuem
certa compreensão e afeto quanto ao comportamento humano que lhes é dirigido. Animais

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sentem o abandono, sentem a agressão e sentem a rejeição das pessoas, isso é exemplificado
pelos gritos dos porcos quando vão em direção ao abate ou pelo choro dos cachorros que vagam
pelas ruas a procura de abrigo e comida.
Eles compartilham de muitas características humanas, mas a principal entre elas é o
fator da vida. Muitas constituições que incorporam os direitos humanos têm como um dos
direitos fundamentais inalienáveis o direito à vida. Entretanto, esse direito corresponde somente
aos seres humanos e muitas vezes é inaplicável, na concepção do homem, a outros seres dotados
de vida. Diante dessa concepção, o Promotor de Justiça de São José dos Campos, Laerte
Fernando Levai preleciona que:

No paradigma jurídico tradicional os animais – embora ‘seres vivos dotados de


sensibilidade e movimento próprio’ – não são considerados por sua natureza intrínseca,
mas em função de um interesse humano subjacente. O direito positivo brasileiro,
inspirado na doutrina romana clássica, trata os animais – em regra - sob a ótica
privatista, o que se pode perceber facilmente pelas expressões “coisas”, “semoventes”,
“propriedade”, “recursos” ou “bens”, terminologia essa que nada mais é do que uma
confissão espontânea de nossa brutalidade e egoísmo. Em termos práticos, a Natureza
deixou de ser um todo vivo (visão holística) para se tornar um conjunto de recursos
(instrumentos). E o que acaba justificando a proteção da fauna, para o legislador
ambiental, não é o direito à vida ou ao bem- estar que cada animal deveria ter assegurado
em face de sua individualidade, mas a garantia da manutenção daquilo que se denomina
biodiversidade. Daí porque nosso sistema jurídico vinculou os animais antes ao
utilitarismo em si (direito de propriedade) do que ao respeito que se deve nutrir pelos
seres vivos (compaixão). (LEVAI, 2010)

Levando em consideração estudos científicos acerca da causa ambiental, é notório a


importância destes para um meio-ambiente equilibrado (que este direito, contudo, está na
Constituição Federal brasileira). Todavia, a sociedade como um todo parece ignorar esses
princípios, mesmo que seja de benefício -ainda que de longo prazo- destes. Dessa forma então,
é certo que apesar de configurar também um interesse do homem, este ainda segue os preceitos
lucrativos e capitalistas colocando-os acima até mesmo de seu próprio bem-estar.
Analogamente, é indubitável que a importância dada a criação de animais é relativa à
recompensa que eles podem trazer ao homem e quando não estão aptos para trazer retorno aos
seus dominadores, são negligenciados e acabam tendo um destino doloroso e sofrido.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por conseguinte, foi a partir das teorias expostas que muitos estudos foram desenvolvidos com base
num simples questionamento: “Por que os animais devem ser submetidos aos desejos dos humanos,

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se estes são seres livres por natureza?”. Essa ainda é uma questão muito discutida no meio científico
e principalmente no que se diz respeito aos meios agrônomo e industrial. Essas, citadas anteriormente,
são as principais instituições que inserem os animais num processo mercadológico e lucrativo. O
âmbito industrial é o objeto principal de análise na presente pesquisa. Não há muito que começaram
os protestos ante o uso dos animais para testes industriais. O caso de libertação de cães-teste do
laboratório Royal em São Paulo, foi a abertura no Brasil para o combate dessas práticas. Ao passo que
a informação sobre o caso foi disseminada, o fato causou muita indignação e revolta além de ter
mobilizado as redes sociais com movimentos que procuravam influenciar as grandes empresas a
adotar o movimento Cruelty-free (sem crueldade) nos seus produtos.
Assim como aconteceu no Brasil, o movimento supracitado foi implantado em muitos
países ao redor do globo. Houve o boicote à muitas marcas grandes e famosas no ramo de
cosméticos que utilizavam coelhos e macacos para testar a eficácia dos produtos que estavam
sendo desenvolvidos. A PETA (People for the Ethical treatment of animals), Organização não-
governamental que promove a proteção e regulamentação do tratamento concebido aos animais,
foi a instituição que fundamentou o selo Cruelty-free e possui uma lista de mais de cinco mil
empresas que possuem ou não tal selo para que os consumidores possam conferir.
Dessa forma, diante do exposto, torna-se impossível ignorar os estudos e até mesmo o
sentimento que se tem à frente de um animal ao imaginar o sofrimento e a dor a qual eles são
postos. É possível fazer uma analogia com a escravidão humana, que são acontecimentos
distintos, mas que seguem do mesmo valor de servidão e submissão a outro ser que tem uma
concepção relativa de superioridade à outras formas de vida. A inferioridade relacionada a cor
de pele diante de um mesmo ser humano expõe que nem mesmo perante outro ser da mesma
espécie, o homem foi capaz de exercer uma postura ética e com um viés -no mínimo dizendo-
social e empático. Não há razões para que se escravize outro individuo, sendo este da mesma
espécie ou pertencente a uma espécie distinta. Todas as formas de agir devem partir do mesmo
pressuposto: o ético.

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A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS NA AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
THE VIOLATION OF ANIMALS RIGHTS IN BRAZILIAN AGRICULTURE

Lucas Magalhães Bonifácio Mourão 1

Resumo
Essa pesquisa visa analisar o abuso perpetuado aos animais não humanos no meio da
agropecuária, a partir da Declaração Universal dos Direitos dos Animais. A investigação se
demonstra de extrema relevância diante da enorme prevalência de sofrimento vivenciado por
tais animais, que são contemporaneamente afastados da condição de animalidade, tornando-
se no atual contexto um objeto a serem explorados para a satisfação do ser humano

Palavras-chave: Exploração animal, Direitos dos animais, Sofrimento

Abstract/Resumen/Résumé
This research aims to analyze the perpetuated abuse that non-human animals face in
agriculture, based on the Universal Declaration of Animal Rights. This investigation proves
to be extremely relevant in view of the enormous prevalence of suffering experienced by
such animals, which are contemporaneously removed from their condition of animality,
becoming in the current context an object to be exploited for the satisfaction of human beings.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Animal exploitation, Animals rights, Suffering

1 Graduando em Direito na modalidade Integral na Escola Superior Dom Hélder Câmara

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Essa pesquisa visa analisar o abuso perpetuado aos animais não humanos no meio da
agropecuária, a partir da Declaração Universal dos Direitos dos Animais. A investigação
se demonstra de extrema relevância diante da enorme prevalência de sofrimento
vivenciado por tais animais, que são contemporaneamente afastados da condição de
animalidade, tornando-se no atual contexto um objeto a serem explorados para a
satisfação do ser humano. Desse modo, o objetivo desse trabalho é compreender o
demasiado aproveitamento cruel ministrado por parte substancial da sociedade aos
animais não humanos caracteriza-se como a maior violação dos direitos naturais do
mundo moderno. Considera-se a legitimidade desse sistema de exploração como
contraditório aos ideais de liberdade e bem-estar proferidos pela maioria de governos do
ocidente.

Da mesma forma, faz-se necessário aplicar esses fatos na área do direito, destacando
que os direitos dos animais não humanos consistem em princípios morais fundamentados
na crença de que animais não humanos merecem a capacidade de viver da forma que
desejarem, sem serem submetidos a vontade dos seres humanos. Assim, o maior valor
moral dos direitos dos animais não humanos está na preservação da autonomia desses
indivíduos. Dessa forma, a exploração animal na agricultura leve a sistemática
deterioração da saúde mental e integridade física de animais não humanos sujeitos a tais
opressões. Sendo assim, compreender a validade dessa prática com relação aos direitos
naturais que todos os seres vivos possuem é essencial para a eliminar esse tipo de
opressão.

Ademais, é necessário destacar que, para o filósofo Tom Regan em sua obra `` The
Case for Animals Rights (1983) ´´, no qual o autor argumenta que os animais não
humanos têm direitos morais porque são “sujeitos com vida", e que esses direitos aderem
a eles supremamente, sejam eles reconhecidos ou não pela parametros legais. Esse
posicionameto de Regan é kantiana, ou seja, adere a filosofia de que todos os sujeitos
com vida possuem valor inerente e devem ser tratados como fins em si mesmos, nunca
como meios para um fim. Nesse viés, o filósofo conclui que a exploração animal na
sociedade moderna não é justificável, devido ao fato de que as indústrias de animais veem
os animais como um meio para um fim por razões triviais - a carne não é necessária para
a saúde, a maioria dos casos de testes em animais são para produtos de consumo

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desnecessários e a caça é igualmente desnecessária a sobrevivência humana. Desse modo,
portanto, o autor defende a abolição da exploração de animais para alimentação, testes
em animais e caça comercial na base de sua irrelevância a continuação da espécie humana.

A pesquisa que se propõe, na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020), pertence


à vertente metodológica jurídico-social. No tocante ao tipo genérico de pesquisa, foi
escolhido o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa foi
predominantemente dialético e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotada a pesquisa
teórica.

2. COMO A EXPLORAÇÃO ANIMAL FOI INSTITUÍDA

Durante toda história da espécie humana, a busca por uma alimentação capaz de
fornecer a nutrição necessária para a continuação da vida se demonstra como o principal
objetivo por todos os indivíduos, seja essa uma sociedade de caçadores-coletores ou a
sociedade contemporânea. Todos os organismos vivos no planeta terra participam
diretamente na cadeia alimentar, dessa forma, a humanidade detém a necessidade de
competir continuamente por recursos alimentícios com todas as outras espécies presentes
no ecossistema.

As plantas satisfazem grande parte de suas necessidades biológicas por meio da


energia solar, utilizando essa energia para converter água e sais minerais em nutrientes
essências para a sobrevivência. Em oposição as plantas, os animais não dispõem da
capacidade de produzir o seu próprio alimento. Logo, esse grupo deve adquirir seus
nutrientes essenciais de outros formas, em sua maioria constituído pelo consumo de
plantas ou outros animais.

No decorrer da história, as tribos neolíticas inauguraram a era da agricultura, por meio


da descoberta que certas plantas têm a capacidade de serem cultivadas a partir de
sementes e alguns animais são eventualmente domésticos. Com isso, o descobrimento de
que cultivar plantas e portar animais perto das habitações poderia potencialmente mitigar
a incerteza de expedições de caça e forrageamento, proporcionou pela primeira vez na

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existência humana a capacidade de desenvolver uma sociedade mais complexa, um
grande marco na evolução da cultura humana.

Uma vez que essas sociedades foram estabelecidas, esse modo de agropecuária
reduziu os perigos relacionados a natureza transitória e escassez de comida prolongada,
permitindo assim maior tempo para outras atividades não relacionadas a sobrevivência.
As relações humano-animal progrediram através de uma série de estágios antagônicos
parasitismos e exploratórias.

No que se concerne a esse esclarecimento, o autor Yuval Noah Harari afirmar que:

Durante 2,5 milhões anos, os humanos se alimentaram coletando


plantas e caçando animais que viviam e procriavam sem sua intervenção. O
Homo erectus, o Homo ergaster e os neandertais colhiam figos silvestres e
caçavam ovelhas selvagens sem decidir onde as figueiras criariam raízes, em
que campina um rebanho de ovelhas deveria pastar ou que bode inseminaria
que cabra. O Homo sapiens se espalhou do leste da África para o Oriente
Médio, a Europa e a Ásia e finalmente para a Austrália e a América – mas, a
todo lugar que ia, também continuava a viver coletando plantas silvestres e
caçando animais selvagens. Por que fazer outra coisa se seu estilo de vida
fornece alimento abundante e sustenta um mundo repleto de estruturas sociais,
crenças religiosas e dinâmica política? Tudo isso mudou há cerca de 10 mil
anos, quando os sapiens começaram a dedicar quase todo seu tempo e esforço
a manipular a vida de algumas espécies de plantas e de animais. Do amanhecer
ao entardecer, os humanos espalhavam sementes, aguavam plantas,
arrancavam ervas daninhas do solo e conduziam ovelhas a pastos escolhidos.
Esse trabalho, pensavam, forneceria mais frutas, grãos e carne. Foi uma
revolução na maneira como os humanos viviam – a Revolução Agrícola.
(HARARI, 2011)

3. A EXPLORAÇÃO ANIMAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

O estágio explorativo das relações das relações humano-animal que


contemporaneamente reina a sistema global de produção de alimentos se demostra
severamente prejudicial à saúde física e mental dos animais não humanos. Isso pode ser
confirmado pela interposição de uma análise da condição na qual maioria dos animais
não humanos na agropecuária estão sujeitos sobre.

A indústria agropecuária da sociedade contemporânea consiste em grande parte de


operações a nível industrial que são projetadas com o principal princípio de produzir
grandes volumes de rendimento pelo menor preço possível. Devido ao elevado custo de

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fornecer aos animais não humanos o essencial para a sobrevivência e ganho de condições
para o abate e produção de leite ou ovos para consumo por seres humanos, em razão da
necessidade constante de aprovisionamentos como comida, água e abrigo. A agropecuária
industrial mundial consiste primordialmente de técnicas que buscam manter os animais
vivos e produzir seus produtos pelo menor custo possível, utilizando de medidas de
redução de orçamento como gaiolas menores e confinamento em espaços extremamente
ínfimo.

Os impactos na vida dos animais no meio da agropecuária são consideráveis no que


diz respeito a integridade física e emocional dos que são sujeitos a este sistema. No modo
sistema político os animais de criação são legalmente considerados propriedade das
corporações às quais “pertencem”, os animais são tratados da mesma forma como
máquinas do que como indivíduos sensíveis, emocionais e inteligentes que são. Os
animais arcam com o ônus das medidas de redução de custos nas atividades
agropecuárias. Suas vidas são definidas por uma capacidade de gerar alimento para a
população humana. Esses seres vivos perdem a sua capacidade de engajar em
comportamentos natural, são rotineiramente mutilados e operado sem anestesia e/ou
serem engravidados à força, apenas para terem seus filhos retirados. Nas fazendas
industriais, os animais que são submetidos a mutilações rotineiramente, confinamento
extremo e são manipulados de outra forma para beneficiar os consumidores humanos são
extremamente degradantes ao animal sujeito a ela. Essas práticas são prejudiciais aos
animais não humanos impactam todas as áreas de sua existência.

Dessa forma, fica explícito a importância dos direitos dos animais não humanas para
a constituição de uma sociedade mais justa. Dessa maneira, é relevante citar o Peter Albert
David Singer, Ph.D. pelo Departamento de Filosofia e Teologia pela Universidade de Oxford
(Inglaterra) que introduziu no mundo o paradigma da libertação animal, cuja problemática
elaborou em diversos trabalhos. Uma de suas assertivas, presente no livro “Libertação Animal”,
estabelece que:

"Libertação Animal" pode soar mais como paródia dos outros movimentos de
libertação do que como um objetivo sério. Na realidade, a idéia de "Os
Direitos dos Animais" foi usada outrora para parodiar a causa dos direitos das
mulheres. Quando Mary Wollstonecraft, uma precursora das feministas
atuais, publicou a sua Vindication of the Rights of Woman, em 1792, as suas
opiniões eram de um modo geral consideradas absurdas, e surgiu logo a
seguir uma publicação intitulada A Vindication of the Rights of Brutes. O autor
desta obra satírica (que se sabe agora ter sido Thomas Taylor, um distinto
filósofo de Cambridge) tentou refutar os argumentos avançados por Mary

92
Wollstonecraft demonstrando que eles poderiam ser levados um pouco mais
longe. Se o argumento da igualdade se podia aplicar seriamente às mulheres,
por que não aplicá-lo aos cães, gatos e cavalos? O raciocínio parecia poder
aplicar-se igualmente em relação a estas "bestas"; no entanto, afirmar que as
bestas tinham direitos era manifestamente absurdo. Por conseguinte, o
raciocínio através do qual se alcançara esta conclusão tinha de ser incorreto,
e se estava incorreto quando aplicado às bestas, também o estaria quando
aplicado às mulheres, uma vez que em ambos os casos haviam sido utilizados
os mesmos argumentos. (SINGER,1975)

A tese do autor acerca da luta pelos direitos dos animais, é essencial para a compreensão
sobre quais fundamentos teórico-metodológicos poderão ser utilizados ser pautados para a
reivindicação sobre os direitos dos animais não humanos. É sustentado pelo autor, conforme a
assertiva, a base histórica que da legitimidade a luta por direitos daqueles de outra espécie.
Dessa forma, a questão da não existência de direitos naturais por animais não humanos poderá
ser refutada.

Além disso, a concepção de Melanie Joy, Doutora em Psicologia, pela Universidade Harvard,
que tem como a área de atuação principal a violência contra os animais não humanos, com
várias obras sobre o assunto é relevante para análise da problemática. Na produção "Por Que
Amamos Cachorros, Comemos Porcos e Vestimos Vacas: Uma Introdução Ao Carnismo", a
autora faz uma análise mentalidade contemporânea do por que a sociedade atual está tão
disposta a comer certos animais enquanto jamais cogitaria em comer outros.

Uma razão para termos percepções tão diversas de carne bovina e carne de
cachorro é porque vemos vacas e cachorros de modo muito diferente. O
contato mais frequente – e muitas vezes o único – que temos com vacas ocorre
quando as comemos (ou as usamos). Mas para um grande número de
americanos, nossa relação com cachorros não é, sob muitos aspectos, assim tão
diferente de nossa relação com as pessoas: nós os chamamos pelo nome.
Dizemos até logo quando saímos e os cumprimentamos na volta.
Compartilhamos nossa cama com eles. Brincamos com eles. Compramos
presentes para dar a eles. Carregamos suas fotos na carteira. Levamos ao
veterinário quando estão doentes e podemos gastar milhares de dólares com o
tratamento. Nós os enterramos quando morrem. Eles nos fazem rir; nos fazem
chorar. São nossos ajudantes, nossos amigos, nossa família. Nós os amamos.
Amamos os cães e comemos as vacas não porque cães e vacas sejam
fundamentalmente diferentes – assim como os cães, as vacas têm sentimentos,
preferências e consciência –, mas porque a percepção que temos deles é
diferente. E, consequentemente, a percepção que temos de sua carne também
é diferente.
Além de nossas percepções de carne variar de acordo com a espécie de
animal de que ela provém, diferentes seres humanos podem encarar a mesma
carne de modo distinto. Por exemplo, um hindu pode reagir à carne de vaca da
mesma maneira que um cristão americano reagiria à carne de cachorro. Essas

93
variações em nossas percepções se devem a nosso esquema. Um esquema é
uma estrutura psicológica que dá forma a – e é formada por – nossas crenças,
ideias, percepções, experiências, e que organiza e interpreta automaticamente
a informação que recebemos. Por exemplo, ao ouvir a palavra “enfermagem”
provavelmente imaginamos uma mulher de uniforme branco e que trabalha
num hospital. Embora muitos profissionais de enfermagem sejam homens, não
usem o uniforme tradicional ou trabalhem fora de um hospital, nosso esquema,
a não ser que estejamos em contato frequente com enfermeiros, homens e
mulheres, em ambientes variados, conservará essa imagem generalizante. As
generalizações vêm do fato de os esquemas fazerem o que se espera que façam:
classificar e interpretar a enorme quantidade de estímulos a que estamos
continuamente expostos e depois distribuí-los em categorias gerais. Os
esquemas agem como sistemas de classificação mental. (JOY,2009)

A compreensão da autora, é fundamental para concluir que a configuração


social do consumo da carne não se manifesta como um fenômeno universal, mas sim
como uma expressão da realidade evidente no corpo social. Nesse sentido, o combate à
essa forma de violência, deve ocorrer nos moldes da transformação da mentalidade da
população sobre a realidade da indústria agropecuária e as consequências de seu consumo.
Ainda, é imprescindível que a mudança cultural é um assunto extremamente delicado que
deve ser trabalhado por meio de amplo debate entre corpo jurídico, população e
profissionais da área. Porém, sempre tendo como prioridade o bem-estar dos animais não
humanos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, verifica-se que a exploração e comodificação de animais não


humanos resulta na morte de bilhões de indivíduos todos os anos pelos seres humanos
para o seu próprio benefício. Outrossim, esses animais não humanos também são
vitimizados para sofrer de forma barbárica. Desse modo, esses animais sofrem com a
captura, ou são criados em condições desconfortáveis e estressantes, sendo forçados a
viver vidas cheias de medo, dor e tédio. Frequentemente, estes grupos também sofrem de
doenças crônicas ou lesões devido a negligência médica e/ou má condição de vida. A
razão para os quais essa exploração cruel é ocorre varia de acordo com a indústria. A
criação e abate de animais para a produção de certos tipos de alimentos é a mais comum,
embora os animais também sejam mortos para produzir roupas, entretenimento, ou para
serem usados como mão-de-obra ou ferramentas, inclusive como ferramentas de
laboratório.

94
Assim sendo, a esmagadora maioria dos alimentos derivados de animais vendidos
no Brasil atualmente – incluindo carne, ovos, leite e queijo – é advindo de fazendas
industrializadas de grande escala conhecidas como “Fazendas Indústriais”. Nessas
“fazendas-indústrias”, os animais são concentrados no menor espaço possível para
maximizar a produção e o lucro, mesmo que isso faça com que muitos morram de doenças
ou infecções antes de serem enviados para o matadouro. Animais em fazendas orgânicas
e “criadas ao ar livre” geralmente sofrem com igual tratamento cruel que os de outras
fazendas. Ao final de suas vidas miseráveis, esses animais são normalmente enviados em
caminhões para os mesmos matadouros usados por grandes fazendas industriais.

Portanto, entende-se que deve haver açãos busca previnir a continuação da exploração
animal no meio da agropecuária. Isso deve ser feito pela completa eliminação da
comodificação de animais não humanos no sistema econômico vigente. Portanto, a
proliferaçaõ de pensamentos filosoficos como o veganismo, que busca a libertação animal
da exploração humana, deve ser a base de uma sociedade onde todos são livres para seguir
sua natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma breve história da humanidade. Porto Alegre:
L&PM Editores S. A., 2018

JOY, Melanie. Por que amamos cachorros, comemos porcos e vestimos vacas: uma
introdução ao carnismo: o sistema de crenças que nos faz comer alguns animais e outros
não. São Paulo: Cultrix, 2014.

REGAN, T. Animal rights, human wrongs: an introduction to moral philosophy. Lanham:


Rowman & Littlefield Publishers, 2001.

REGAN, T. The case for animal rights. Los Angeles: University of California Press,
2004.

SINGER, Peter. Libertação animal. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

95
A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DOS ANIMAIS: MEDIDAS PARA COMBATER O
ABANDONO
THE VIOLATION OF ANIMAL RIGHTS: MEASURES TO COMBAT
ABANDONMENT

Maria Eduarda Fraga Portilho Gontijo 1

Resumo
A pesquisa a seguir abordará a questão de abandono de animais no Brasil e apresentará
algumas possibilidades para combater essa problemática. Contudo, a pesquisa pertence à
vertente metodológica jurídico-sociológico, em relação ao tipo genérico de pesquisa foi o
tipo jurídico- comparativo, e o raciocínio desenvolvimento foram predominante dialético.
Nesse sentido, a partir de reflexões preliminares, é possível afirmar que os números de
abandono de animais vão cair bastante com a medida adotada, devido ao fato de que com o
uso de tecnologias de implantação de chips em animais facilita encontrar quando sumirem ou
serem abandonados.

Palavras-chave: Direito ambiental, Direito dos animais, Abandono, Animais domésticos,


Implantação de chips

Abstract/Resumen/Résumé
The following research will address issue of animal abandonment in Brazil and will present
some possibilities to combat this problem. However, the research belongs to the legal-
sociological methodological aspect, in relation to generic type of research it was the legal-
comparative type, and the development reasoning were predominantly dialectical. In this
sense, from preliminary reflections, it is possible to affirm that the numbers of abandonment
of animals will fall significantly with the adopted measure, due to the fact that with the use of
technologies to implant chips in animals, it is easier to find when they disappear or be
abandoned. .

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Environmental law, Animal law, Abandonment,


Domestic animals, Chip implantation

1 Graduando em Direito na modalidade Integral na Escola Superior Dom Helder Câmara

96
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A pesquisa consiste na problemática do aumento de abandono de animais domésticos


no Brasil e desenvolve algumas tecnologias para combater as atrocidades com esses
animais. O Brasil nos últimos anos está negligenciando a questão de animais domésticos
nas ruas do país devido ao fato de que esse número foi aumentando expressivamente
durantes os últimos anos. Dessa forma, a tecnologia é uma fundamental ferramenta para
combater esse problema, pois em muitos países europeus está sendo adotado a técnica da
implementação de chips em animais com a finalidade de diminuir a quantidade de animais
nas ruas e dar uma maior proteção a eles. Essa medida adotada está trazendo resultados
positivos para os países europeus.

Atualmente, o abandono de animais domésticos está bastante frequente na sociedade


e isso ficou mais evidente após o período de pandemia do coronavírus. Nesse contexto, o
abandono de um animal pode ser causado por alguns problemas comportamentais e por
uma mudança de espaço ou rotina. Sendo assim, isso se intensificou com a pandemia do
coronavírus. Muitas pessoas tiveram que mudar completamente a rotina do habitual, seja
para mudar de casa ou cidade ou por ter perdido o emprego. Dessa maneira, é notório que
o animal doméstico sofreu os impactos dessa mudança de rotina, pois essas situações
deixam uma incapacidade de manter o animal gerada pela crise econômica e social do
período, deixando-os suscetíveis ao abandono.

Ademais, o Brasil com os resultados de outros países está em discussão adoção de


algumas medidas para que haja uma redução de animais nas ruas. Porém, o processo está
bem demorado por motivo de que muitos governantes não estão dando a devida
importância para esse problema. Desse modo, é perceptível que a situação de abandono
de animais domésticos irá continuar perdurando enquanto não há uma tomada de
providencia por parte dos governantes.

A pesquisa que se propõe, na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020), pertence


à vertente metodologia jurídico-social. No tocante ao tipo genérico de pesquisa, foi
escolhido o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa foi
predominantemente dialético e quanto ao gênero de pesquisa, foi adotado a pesquisa
teórica.

97
2. O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS PARA
COMBATER O ABANDONO DE ANIMAIS DOMÉSTICOS

O abandono de animais domésticos é algo muito recorrente na sociedade atual, devido


ao fato de que as pessoas não têm a consciência que pegar um cão ou um gato é uma
tarefa de muito trabalho e reponsabilidade. No contexto da pandemia do coronavírus, esse
número aumentou expressivamente e também diminuiu a quantidade de adoções nesse
período. Segundo Gebara (2021), os números de abandono de animais aumentaram 60%
durante a pandemia o dado se torna mais alarmante quando a procura para adoção de
animais diminui, pelo fato de que por conta da pandemia não tiveram eventos de adoção.
Ademais, a crise econômica e social amplificou a falta de responsabilidade com os
animais, pois em uma situação difícil a primeira coisa a se fazer é abandonar o vulnerável.

Outrossim, a escolha de deixar um animal, antes doméstico, nas ruas, gera extremo
sofrimento e afeta o bem-estar e a saúde do animal. A vida nas ruas é bastante complicada,
por causa da fome, desamparo, sede, estresse, medo e angustia e isso pode fazer com que
a imunidade destes animais caia originando em doenças. Dessa forma, um animal não
deveria viver dessa maneira, pois eles têm o direito de uma vida digna e segura. Além
disso, o número crescente de animais na rua pode aumentar as doenças. De acordo com a
Zoonoses (2012), o abandono de animal doméstico pode gerar algumas doenças devido
ao fato de que os pets ficam bastantes descuidados e as ruas causam doenças no animal
possivelmente contagiosas a população. Assim, vale ressaltar que o abandono de animais
também é um problema de saúde pública, ou seja não só os animais são afetados com esse
problema como a população como um todo.

Em outra perspectiva, para conter esses abandonos de animais foram adotados a


implantação de chips em cães, em países europeus, para ter facilidade em encontrar os
animais quando sumirem ou forem roubados. Em seguida, o objetivo dos chips é controlar
a quantidade de animais sem dono nas ruas e também a sobrecarga de cães nos abrigos.
Conforme o jornal Exame (2020), “Holanda se tornou o primeiro país do mundo, segundo
os registros disponíveis atualmente, a não ter cachorros de rua” (EXAME, 2020).
Ademais, foram adotados também pelos países europeus, o plano de castração e
vacinação dos cachorros e gatos de rua. Assim, é visível que os métodos adotados por
esses países é algo bastante válido para haver a redução de abandono de animais.

98
Contudo, com o retorno positivo dos países europeus o Brasil está pensando em adotar
essas medidas preventivas para a diminuição de animais em situação de rua. Segundo o
site da Câmara dos Deputados, a deputada Jessica Sales propôs um projeto de lei que
obriga a implantação de chips em animais para fins de identificação em clinicas
veterinárias e pets shops. Dessa forma, a aprovação seria algo bastante importante para
que haja essa redução no país, pois ficaria mais fácil para identificar a pessoa que
abandonou o cão para haver uma sanção a ele. Entretanto, o projeto de lei está em um
processo de aprovação e devido à demora o projeto não foi colocado em prática.

3. A FALTA DE RESPONSABILIDADE LEGISLATIVA COM OS ANIMAIS

No Brasil atual, os animais domésticos são muito negligenciado pela sociedade e pelo
Estado devido à falta de conscientização com a questão de abandono de animais e
medidas para a diminuição desse problema. De acordo com o G1 (2022), “Denúncias de
maus-tratos contra animais cresceram 15,60% em 2021, no estado de São Paulo. De janeiro a
novembro de 2021 foram 16.042 denúncias e, no mesmo período de 2020, 13.887” (G1, 2022).
Assim sendo, é notório que mesmo com o aumento de denúncias ainda é muito pouco se
comparado com o número de abandono no país.

O déficit do legislativo brasileiro em relação a proteção de animais é algo que também


contribui para que essa situação seja cada dia mais frequente. Os animais no Brasil não
tem seus direitos respeitados, como expressos em:

O Ministério Público Federal, na petição inicial da Ação Civil Pública


0023863-0720164013800, ao relacionar os danos socioambientais decorrentes
do desastre em Mariana, divide-os em danos socioambientais, correspondendo
à ordem e organização dos fatos narrados na petição fez constatar o MPF, na
seção relativa a danos ao patrimônio natural, os danos à fauna, por sua vez
dividido em danos à herpetofauna, mastofauna, avifauna e danos à ictiofauna.
(BRASIL, MPR, p.3)

Nesse sentido, pode-se perceber que os animais estão sendo tratados pela legislação
brasileira com patrimônios, ou seja, os animais são considerados coisas, objetos de
relação patrimonial (Bizawu, 2017, p.66).

99
Seguidamente, os modelos legislativos europeus, principalmente os da Suíça,
Alemanha, Austrália e França, se diferem bastante do legislativo brasileiro devido ao fato
de que os direitos dos animais são bastante respeitados e asseguram uma maior proteção
a eles. Segundo o código civil da França (1804), “Os animais são seres vivos dotados de
sensibilidade. Sujeitos a leis que os protegem, os animais são a submetidos ao regime de
bens” (FRANÇA, CODE CIVIL, 1804, tradução nossa). Desse modo, é perceptível que
nesses países os animais são mais valorizados para os animais e por isso o abandono de
animais é bem menor e eles estão mais seguros.

Ademais, os outros países tiveram uma primeira percepção que havia uma
displicência com os animais domésticos e procuraram criar leis em que o animal seja mais
valorizado e protegido pela a sociedade e pelo país, como dito em:

Os países pioneiros na alteração da natureza jurídica dos animais são a Suíça


(desde 2015), Alemanha (desde 1990), a Austrália (desde 1988) e a França
(desde janeiro de 2015). Os três primeiros fazem constar em seu Código Civil
que os animais não são coisas ou objetos, é só se aplica o regime jurídico de
bens quando não houver leis específicas. O Código Civil francês reconhecem
os animais como seres sensíveis, mas admite aplicação do regime jurídico de
bens se não houver lei específica dispondo em contrário (DIAS, 2000).

Todavia, a autora mostra que os países europeus estão bem à frente do Brasil na
questão de proteção dos animais devido ao fato de que esses países tiveram primeiro a
percepção que os animais deve viver bem com uma maior segurança e não residir nas
ruas. Dessa forma, fica evidente de que o Brasil ainda tem um déficit na sua legislação na
questão de direitos dos animais, pois o número de animais em situação de rua está
crescendo frequentemente e os abrigos estão com dificuldade de comportar tantos pets.
Assim, fica cada vez mais difícil para conter o abandono de animais domésticos no país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa, pôde-se concluir que adotar a implantação de chips em animais


domésticos é algo benéfico para a prevenção da problemática de abandono de animais,
uma vez que os testes em outros países deram resultado positivos para a questão de
abandono de animais domésticos. Ademais, com essa medida pode trazer uma melhor

100
qualidade de vida e uma segurança para os animais. Dessa forma, é perceptível que o
Brasil deve colocar essa prevenção em vigor no país, sobretudo por conta da alta que teve
no período de pandemia do coronavírus.

Outrossim, os legisladores devem se atentar com as questões das leis de proteção aos
animais, já que elas ainda não são por grande parte da população brasileira e assim
consequentemente deixando os números de abandono de animais domésticos cada dia
mais altos. Além disso, deve haver uma conscientização por parte de população para que
seja denunciando em caso de abandono, posto que os números de denúncia desse crime
estão baixas. Assim, é notório que dessa forma pode-se combater o problema de abandono
de animais doméstico.

Portanto, percebe-se que deve haver uma atenção maior com os animais domésticos
para que o abandonos deles não seja uma situação recorrente, porque eles são seres vivos
e merecem um conforto, respeito e uma condição de vida digna. Por isso, os legisladores
brasileiros deveriam criar leis mais protetivas aos animais assegurando uma maior
segurança a eles. Ademais, deve ter uma maior preocupação em procurar novas medidas
para diminuir os cachorros de rua devido ao fato de que somente os abrigos não estão
resolvendo o problema por conta de uma superlotação de animais domésticos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

ABANDONO de animais aumentou cerca de 60% durante a pandemia. Exame, 2021.


Disponível em: https://exame.com/bussola/. Acesso em: 27/12/2021.

BIZAWU, Sébastien Kiwonghi. Direito dos animais e justiça internacional: A


(in)efetividade jurisdicional na era das diferenças. Curitiba: Instituto Memória, 2017.

COM programa nacional, este país foi o 1° a não ter mais cachorros na rua. Exame,
2020. Disponível em: https://exame.com/mundo/ com-programa-nacional-este-pais-foi-
o-1º-a-não-ter-mais-cachorro-na-rua/. Acesso em05/08/2020.

DENÚNCIA de maus-tratos a animais crescem 15,6% em 2021, em SP. G1, 2022.


Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/01/10/denucia-de-maus-
tratos-a-animais-crescem-156percent-em-2021-em-sp. Acesso em: 10/01/2022.

101
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca; NICÁCIO, Camila
Silva. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. 5a. ed. São Paulo: Almedina,
2020.

SILVA, Débora Alves. O problema do abandono de animais. Zoonoses, 2012.


Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.br. Acesso em: 27/05/2012.

SOUZA, Murilo. Projeto torna obrigatória a implantação de chip de identificação em


cães e gatos. Câmara dos Deputados, 2021. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/noticias/. Acesso em: 01/03/2021.

102
AMIGOS OU INIMIGOS? A MANIPULAÇÃO GENÉTICA DE ANIMAIS COMO
UM REFLEXO DO CAPITALISMO
FRIENDS OR ENEMIES? GENETICS MANIPULATION OF ANIMALS AS A
REFLECT OF CAPITALISM

Gabriella Miraíra Abreu Bettio 1

Resumo
O consumo cada vez mais ganha espaço nas sociedades e sua inserção se dá nas mais
diversas áreas. No âmbito animal isso não seria, pois, diferente. O que se nota é que, de
pouco a pouco, os animais deixam de ser vistos como seres vivos, tornando-se meros
produtos. A presente pesquisa intenciona, sob esse prisma, analisar de forma crítica a
objetificação dos animais como forma de satisfação de sociedades reféns do consumo.
Objetiva-se, com isso, denunciar a crescente violação dos direitos dos animais, evidenciando-
a como uma consequência do capitalismo.

Palavras-chave: Bioética, Capitalismo, Objetificação dos animais, Vida digna

Abstract/Resumen/Résumé
Consumption is increasingly gaining ground in societies and its insertion takes place in the
most diverse areas. In the animal sphere this would not be different. What is noticeable is
that, little by little, animals are no longer seen as living beings, becoming mere products. The
present research intends, under this prism, to critically analyze the objectification of animals
as a way of satisfying societies hostages of consumption. The objective is, therefore, to
denounce the growing violation of animal rights, highlighting it as a consequence of
capitalism.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Bioethics, Capitalism, Objectification of animals,


Dignified life

1Graduanda em Direito, modalidade integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara. Extensionista do
Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão sobre Violência de Gênero da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG).

103
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Quem nunca observou um animal, seja nas redes sociais, seja em um parque, ou
até mesmo nas ruas, e se questionou sobre os custos desse animal ou desejou tê-lo? O que
se constata é que, cada vez mais, os animais fazem parte da rotina humana, sendo desde
meros companheiros, até partes fundamentais em métodos de terapia assistida. Contudo,
se anteriormente os cães eram, por exemplo, vistos como os melhores amigos do homem,
atualmente são vistos, em grande parte, como produtos de consumo.
Os animais, em grande parte, não são mais vistos como seres vivos, mas como
um meio para a satisfação humana. Por conseguinte, visando agradar a sociedade, as
indústrias têm investido na manipulação genética desses animais para torná-los mais
atrativos aos olhos consumistas. Entretanto, indaga-se qual o custo dessa industrialização
desenfreada de animais para estes próprios.
À medida em que o capitalismo conquista as sociedades, a preocupação com o
bem-estar dos animais parece reduzir. Sob essa ótica, faz-se fundamental a discussão
acerca das consequências desse sistema econômico no trato com os animais. A pesquisa
intenciona, pois, analisar de forma crítica a objetificação dos animais como forma de
satisfação de sociedades reféns do consumo. Objetiva-se, com isso, denunciar a crescente
violação dos direitos dos animais, evidenciando-a como uma consequência do
capitalismo.
Para além disso, o presente artigo visa discorrer sobre a carência de
regulamentações que protejam os animais, de modo a problematizar tal situação. A
consolidação do capitalismo não deve ser feita de modo a prejudicar a vivência ou a
natureza dos animais. Enquanto tal constatação não estiver explicitada, prejuízos
continuarão a ocorrer.
Sob esse prisma e a fim de atingir o almejado, evidencia-se que a presente
pesquisa pertence, com base na classificação de Gustin, Dias e Nicácio (2020), a vertente
metodológica jurídico-social. Tem-se que com relação ao tipo genérico de pesquisa, foi
escolhido o tipo jurídico-projetivo. Por sua vez, o raciocínio desenvolvido na pesquisa,
foi predominantemente dialético, enquanto ao gênero de pesquisa, adotou-se a pesquisa
teórica.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. O avanço do capitalismo como prejudicial à saúde dos animais

104
Em termos gerais, o capitalismo é um sistema econômico baseado na
legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o
principal objetivo de adquirir lucro. Tem-se, pois, que ao analisar, na prática, o
capitalismo, é possível constatar diversos desdobramentos deste. O que se observa, é que
o capitalismo incentiva e depende do consumo e, por conseguinte, diversas esferas sofrem
com isso.
Cada vez mais os indivíduos abrem mão de sua liberdade para se tornarem reféns
do consumo. Ao passo que o capitalismo se consolida, as necessidades deixam de ser o
necessário para uma vida digna e se tornam o que as empresas e indústria pontuam como
vital para a sobrevivência. Tem-se, pois, um controle dos seres pelas ofertas e novidades
do momento.
Como José Júlio Chiavenato pontua,
Na história da humanidade, a virtude quase sempre esteve
associada ao comedimento e à renúncia. Desde a Idade Média,
para os cristãos o homem virtuoso, honesto e digno era modesto,
abominava o luxo e o conforto. Esse costume foi consolidado
pelas religiões: os pobres acreditaram durante séculos que,
padecendo na Terra, ganhariam o Paraíso. A partir do século
XIX, quando a industrialização possibilitou mais conforto à
sociedade, surgiu um choque, muitas vezes inconsciente,
causado pelo consumo de produtos que ofereciam “prazer”. O
“prazer” estava associado ao ”pecado”. Simplificadamente,
pode-se dizer que o conforto doméstico ou pessoal contribuiu
para diminuir os condicionamentos ou preconceitos que
consideravam a felicidade quase um pecado. Mudou a moral, e
certos padrões de comportamento foram abandonados,
superados ou substituídos por outros mais “modernos” que
facilitavam o consumo. Depois de alguns milênios, ficou mais
importante, para o grosso da humanidade, “ter” em lugar de
“ser” (CHIAVENATO, 2004, p.13).

E nesse “ter” ao invés de “ser” muito mudou. Os animais, muitas das vezes, não
são mais seres vivos, mas objetos para serem expostos, almejados e invejados. Segundo
a Folha de São Paulo, o faturamento do mercado pet no país aumentou 13,5% em 2020,
sendo que “o Brasil está entre os três maiores mercados do mundo para produtos pet, atrás
apenas de EUA e China” (FATURAMENTO..., 2021).
A industrialização desenfreada de animais vem se mostrando não somente nos
itens acessórios, mas no desenvolvimento dos próprios animais. Questiona-se, pois, o uso
da engenharia genética em tais seres vivos de modo a torná-los mais atrativos aos olhos
humanos. É o caso, por exemplo, da espécie Carlin Mops' 'Elenops', popularmente
conhecida como Pug.

105
A fim de torná-los visualmente fofos, os Pugs sofreram com diversas mutações
faciais. Contudo, tal mutação não impactou somente na aparência dos animais, mas na
sua formação óssea, gerando uma má formação em seus crânios. Qual o valor do bem-
estar de um animal para o capitalismo? Convém manipular geneticamente o DNA desses
seres vivos de modo a satisfazer vontades humanas?
A produção de animais transgênicos teve seu início nos anos 1980-1990 e seu
processo pode ser definido como a introdução de DNA exógeno no genoma de um animal,
de tal forma que suas células se tornam geneticamente alteradas (DZIADEK,1996).
Contudo, tal manipulação genética traz, aos animais, uma série de consequências.
Como foi trabalhado por D. Morton; R. James e J. Robert, as implicações de uma
manipulação genética podem ser subdivididas em alguns ramos, sendo importantes, para
essa pesquisa, os efeitos de mutação, de expressão e de metodologia. Para os autores e
segundo o exposto no artigo Bioética e Medicina Veterinária, disponibilizado pela Unesp,
no tocante aos efeitos de mutação, esse só “não só podem gerar consequências
imprevisíveis, como os problemas podem se tornar aparentes somente algumas gerações
depois” (BIOÉTICA..., 2022).
Para além disso, destaca-se ainda, que
Os efeitos de expressão podem ser considerados potencialmente
variáveis, resultando em modificações fisiológicas que afetem o
bem-estar animal e também ocasionar grandes desperdícios de
animais, uma vez que estes podem se tornar inadequados aos
propósitos para os quais foram desenvolvidos até que se chegue
a uma modificação desejada, resultante de várias testagens de
combinações (BIOÉTICA..., 2022).

Por fim, em se tratando dos efeitos metodológicos, estes resultam daqueles


gerados durante o processo tecnológico. Tem-se que em sua maioria, tais efeitos serão
imensamente prejudiciais aos animais, gerando graves anomalias e sofrimento até sua
morte. Questiona-se, pois, se em prol do consumo, é adequado submeter um animal a tais
riscos.
Apesar de todos os avanços que cercam a biotecnologia, o que se observa é que
as questões éticas advindas da engenharia genética pouco são discutidas. Devido a isso,
pouco se fala acerca da dignidade e do sofrimento dos animais manipulados
geneticamente. Nesse sentido, ciente de que a objetificação dos animais já se apresenta
como uma realidade, faz-se imprescindível uma regulamentação adequada que os proteja.
Urge, pois, discutir-se sobre isso.

106
2.2. A objetificação animal como um desafio para o Direito dos Animais.

Durante muito tempo o bem-estar animal foi tratado com descaso. Contudo,
pouco a pouco, é possível observar que a tutela jurídica de animais vem se tornando algo
presente na contemporaneidade. Afirma-se isso, mediante a leitura, por exemplo, do
artigo 225 da Constituição Federal. Segundo este,

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder
Público:
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade (BRASIL, 1998).

Entretanto, é possível perceber, pela leitura do artigo, que a fundamentação para


este se dá no antropocentrismo, responsável por essa preocupação para com o meio
ambiente e os animais. O que se constata, é que se deve cuidar do meio ambiente e dos
animais neles presentes, pois estes possuem alguma utilidade, uma vez que são “bens de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.
Apesar da tutela apresentada no artigo 225, inciso VII, questiona-se se realmente
a Constituição protege determinados tipos de crueldade que acomete os animais. Não se
encaixaria, pois, como algo cruel o fato de manipulações genéticas serem incentivadas a
fim de tornar um animal mais agradável, esteticamente falando, ainda que isso gere
inúmeros problemas de saúde aos animais manipulados? O que se nota é que a
preocupação demonstrada no artigo 225 não parece englobar, de modo efetivo, o que vem
se apresentando como uma objetificação de animais domésticos.
O mesmo ocorre no artigo 32 da Lei nº 9605 de 1998. O que se observa é que o
objeto em questão não diz respeito ao animal em si, mas seus benefícios para o ser
humano. Sustenta-se isso, pois até mesmo a pena destinada aos maus tratos de animais
apresenta-se de modo extremamente brando, podendo ser de três meses a um ano ou, em
se tratando de cães e gatos, de dois a cinco anos.
Apesar de não dizer respeito à totalidade dos casos, o que se observa é que pouco
a pouco, os animais estão se tornando apenas formas de satisfação para as mais diversas
necessidades humanas. Necessidades estas, advindas de um capitalismo exacerbado.

107
Como Maria Angélica Machado Schvamborn, Yasmin Barrozo de Oliveira e
Waleska Mendes Cardoso trabalham, a
Visão antropocentrista combinada com o consumo desenfreado,
pelos seres humanos, coloca em risco, de fato, toda a
possibilidade de os animais serem vistos e tratados como
sujeitos de direito e não como objetos (SCHVAMBORN;
OLIVEIRA; CARDOSO, 2017).

Como Immanuel Kant trabalha em sua obra Fundamentação da Metafísica dos


Costumes,
No reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Uma
coisa que tem um preço pode ser substituída por qualquer outra
coisa equivalente; pelo contrário, o que está acima de todo preço
e, por conseguinte, o que não admite equivalente, é o que tem
uma dignidade. (KANT, 1964, p.32).

Tem-se, pois, que no cenário atual, pelo fato de os animais serem tratados como
bens e não como seres, estes possuem apenas um preço, de modo que sua dignidade segue
se perdendo em prol do consumo. Com isso, pode-se afirmar que de forma objetiva,
mesmo que haja um direito voltado aos animais, é implícita a desconsideração por estes
em todas as leis que os protegem.
Sob essa ótica, problematiza-se o fato de que, de forma objetiva, nenhum crime
é cometido contra os animais, uma vez que suas vidas pertencem, na concepção legal, ao
ser humano e para o ser humano. Nesse sentido, cabe explicitar a indagação do advogado
Tagore Trajano Silva, que questiona
Que tradição é esta que não estabelece pressupostos éticos para
o tratamento dos animais. Se um ser sofre, não pode haver
qualquer justificativa moral para deixarmos de levar em conta
seu sofrimento, não importando a natureza, já que o princípio da
igualdade requer que o sofrimento seja considerado na mesma
medida entre os semelhantes. (SILVA, 2012, p.11128).

Medidas alternativas devem ser tomadas, pois caso isso não seja feito, a
objetificação dos animais tornar-se-á cada vez mais grave.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Animais não são objetos, logo não devem ser tratados como tais. Faz-se
imprescindível tal compreensão, pois esta é a base para que a manipulação genética não
seja desenvolvida em prol do desejo humano. Se as legislações se regem com base em
um antropocentrismo implícito, então entende-se que o primeiro passo para que a

108
objetificação dos animais seja superada é a reestruturação das leis que visam proteger tais
seres.
O não reconhecimento dos animais como sujeitos, mas sim como convenientes
ao benefício humano deve, pois, ser superado. Nenhum lucro deve estar acima do bem-
estar desses seres vivos, principalmente não aqueles lucros que alteram geneticamente
um ser, a fim de agradar os reféns de um consumo constante. Uma solução para isso é,
pois, uma análise da atual forma de se interpretar o conceito de dignidade.
Os animais devem deixar de possuir apenas um preço, como pontua Kant, e
passarem a possuírem dignidade. Afirma-se isso, pois a dignidade deve ser entendida
como algo inerente a todos os seres e não apenas um direito garantido somente ao ser
humano. Urge, pois, a redefinição das relações entre humanos e os outros seres vivos, de
modo que o foco seja a vida digna destes e não apenas a conveniência de sua existência
para a satisfação humana.
O que se intenciona com esta pesquisa é, sob essa ótica, expor que o direito dos
animais não é um assunto de menor importância, logo, não deve ser visto como tal. Tem-
se que tal compreensão, em pleno contexto capitalista, possui uma inserção embrionária.
Contudo, a discussão faz-se fundamental para que mudanças sejam desenvolvidas.
Expõe-se, pois, que este foi o intuito deste material.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIOÉTICA e Medicina veterinária. Unesp. 2022. Disponível em


https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/patologia/ANTONIOCARLOSALESS
I/bioetica_e_med_vet.pdf Acesso em 16 de abril de 2022.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em 29 de
abril de 2022.

CHIAVENATO, Júlio José. Ética globalizada & sociedade de consumo. 2 ed. São
Paulo: Editora Moderna Ltda., 2004.

DZIADEK, M. Transgenic animals: how they are made and their role in animal
production and research. Australian Veterinary Journal, v.73, 1996.

FATURAMENTO do mercado pet no país aumenta 13,5% em 2020. Andrea Vialli. 20


de março de 2021. Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/mpme/2021/03/faturamento-do-mercado-pet-no-pais-
aumenta-135-em-2020.shtml Acesso em 16 de abril de 2022.

109
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca; NICÁCIO, Camila
Silva. (Re)pensando a pesquisa jurídica: teoria e prática. 5ª. ed. São Paulo: Almedina,
2020.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Editora


Nacional, 1964.
MORTON, D.; JAMES, R.; ROBERT, J. Issues arising from recent advances in
biotechnology. Veterinary Record, v.17, 1993.

SCHVAMBORN, Maria Angélica Machado; OLIVEIRA, Yasmin Barrozo de;


CARDOSO, Waleska Mendes. A objetificação dos animais como reflexo do sistema
capitalista: uma análise da peculiar indústria de animais domésticos. In: 14ª semana
acadêmica da Fadisma. 2017. Disponível em
http://sites.fadismaweb.com.br/entrementes/anais/wp-content/uploads/2018/01/a-
objetificacao-dos-animais-como-reflexo-do-sistema-capitalista-uma-analise-da-peculiar-
industria-de-animais-domesticos.pdf Acesso em 15 de abril de 2022.

SILVA, Tagore Trajano de Almeida. Fundamentos do Direito Animal Constitucional.


In: Anais do XVIII Congresso Nacional do CONPEDI. 2009. Disponível em
https://wp.ufpel.edu.br/direitosdosanimais/files/2017/02/Fundamentos-do-direito-
animal-constitucional.pdf Acesso em 30 de abril de 2022.

110
BIOTECNOLOGIA, BIOETICA E BIODIREITO, ALIADOS PARA A
CONCRETIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL
BIOTECHNOLOGY, BIOETHICS AND BIOD LAW, ALLIES FOR THE
ACHIEVEMENT OF SUSTAINABLE DEVELOPMENT

Camila Gomes De Queiroz 1

Resumo
Este resumo propõe-se a estabelecer os liames entre a biotecnologia, a bioética, e o biodireito
como propulsores para implementação do desenvolvimento sustentável. Nesse contexto,
desenvolve uma análise bibliográfica acerca do tema-problema, por intermédio do método
dedutivo-indutivo, no intuito de aferir como o desenvolvimento de tais ciências é capaz de
consolidar boas práticas, numa concepção de desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: Bioética, Biodireito, Biotecnologia, Desenvolvimento sustentável

Abstract/Resumen/Résumé
This summary proposes to establish the links between biotechnology, bioethics, and biolaw
as propellers for the implementation of sustainable development. In this context, it develops a
bibliographical analysis about the problem-theme, through the deductive-inductive method,
in order to assess how the development of such sciences is capable of consolidating good
practices, in a sustainable development concept.

Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: Bioethics, biolaw and biotechnology, Sustainable


development

1Graduada em Direito pela Puc Minas. Especialista em Direito Ambiental e Minerário pela Puc Minas.
Mestranda pela FUMEC. Doutoranda em Direito Ambiental e Sustentabilidade pela Escola Superior Dom
Helder Câmara.

111
INTRODUÇÃO

Numa conceituação bem simples pode-se dizer que biologia, como ponto de partida das
ciências, é o estudo da vida nas suas mais diversificadas formas. O homem compõem-se de
corpo, alma e espírito. Em seu corpo aprimora-se a existência terrena de maneira identificável,
contudo, é no amago e espírito que moram seus impulsos e anseios numa carência de relacionar-
se com um Criador, de animo divino, num panorama de essência fundamentadora de todas as
coisas.

Nesta senda, originam-se questões que se enovelam com as novas tecnologias


concatenadas às formas de vida, pois o homem como ser material com forte ligação ao imaterial,
explora as descobertas científicas, o que de certo modo o assemelha a um Deus criador. Faz-se
pertinente tal afirmação para expor que as ciências biológicas, inevitavelmente, estabelecem
pontos controvertidos que deslindam entre o material e o imaterial. Ascendendo um embate
entre a ética e a religião, que se constituem objeto, desse trabalho.

Assim, a origem da biotecnologia, tida como ciência que se evidencia por intermédio da
manipulação das células e moléculas, da modificação de produtos, trazem novidades a cada
instante, quer seja em relação aos alimentos, medicamentos, curas para doenças, etc.

Diante desse panorama, as novas biotecnologias possibilitam numa velocidade cada vez
maior, desenvolvimento tal, que fez-se possível a criação de clones ou, num exemplo
manifestamente menos ofensivo, a possibilidade de se criar em laboratório um bife. Ainda
assim, diante das incertezas acerca de possíveis danos, fez-se necessária a mediação da bioética,
que vem delimitar o objeto de tais pesquisas e, ainda, estabelecer balizas, impondo-se,
consequentemente a atuação do biodireito, que ascende como um doutrinador da incapacidade
humana de aceitar os limites estabelecidos, voltando-se preponderantemente sua atuação, ao
papel de pacificação social.

Todos os avanços tecno-cientificos possibilitaram ao homem a criação e


aperfeiçoamento de instrumentos para a manipulação genética de organismos vivos, por
intermédio da transferência de genes de uma espécie a outra, originando o que atualmente
conhecemos como organismos geneticamente modificados, ou transgênicos.

Iniciativa que obteve êxito no agronegócio, onde a utilização desses recursos foi motivo
de comemoração para os investidores, substancialmente das grandes corporações. O

112
investimento de grandes quantias na esfera da manipulação genética, transformou o ramo de
produção de grãos, num campo fértil.

Todavia, tal esforço de transformação, acarretou relevantes alterações na sociedade


moderna, principalmente no que tange aos impactos ambientais causados, sem falar nas
desconhecidas sequelas que podem advir aos indivíduos e ao meio ambiente.

Assim, a regulamentação das modernas biotecnologias, perpassa pelos parâmetros da


bioética e do biodireito para que mensuradas as consequências, possam ser utilizadas como
mecanismo propulsor da desenvolvimento sustentável, como vê-se a seguir.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

I. DA ÉTICA E BIOETICA

Com suas origens arraigadas a cultura grega, a ética é vista como o domínio comum dos
costumes numa dupla função: a de constituir os princípios e as normas do permitido e do
proibido; e a que se refere à dimensão subjetiva do sujeito no respeito às regras (CANTO-
SPERBER, 2003, p. 591).

A ética tem como objeto de estudo a conduta da existência humana; desse modo, mostra-
se como um saber prático da sensatez do agir humano, que se realiza baseada em princípios e
no exame de finalidades. A ética define o modo de vida humano, impondo-se como sabedoria,
através da tradição do hábito. Constitui-se o estudo do porquê de serem as condutas morais ou
imorais, dedicando-se ao exame do certo e do impróprio.

Na ética clássica apoia-se o entendimento de que o exercício da técnica seria eticamente


neutro, pois o dinamismo técnico concretizaria o confronto de necessidades oriundas da
existência humana.

Esse saber, como vocação, não valorava eticamente a atuação do indivíduo humano
sobre os objetos. Por essas premissas, a ética era antropocêntrica, resumindo-se ao inter-
relacionamento dos indivíduos humanos. Os problemas do bem e do mal evidenciavam-se na
ação. A ação boa era assim avaliada por critérios imediatos; as consequências posteriores não
eram consideradas, senão justificadas pelo acaso do destino ou da providência.

Esse modelo tornou-se defasado. Assim, o coletivo impõe considerações a ética de uma
nova dimensão de responsabilidade. Um exemplo é a compreensão da vulnerabilidade da

113
natureza em face da exacerbação da sua exploração. Foi em torno desse problema que se
desenvolveu a ciência do meio ambiente. Agora, os problemas da natureza são da
responsabilidade do humano; assim, o objeto da ética amplia-se (JONAS, 2006, p. 35-40).

Portanto, entende-se a bioética como a ética que tem por objeto a proteção da vida humana,
perante os avanços tecnológicos da ciência. Um fenômeno que marca o início deste século é o
da “constitucionalização”. Que traz como traço principal a judicialização dos problemas e,
também a força normativa dos princípios constitucionais. É nessa ótica que a bioética se
relaciona com o princípio da dignidade humana.

Assim, os direitos à liberdade, à vida e a um meio ambiente equilibrado, por se fazerem


consagrados pela Constituição, ganham um papel especial na proteção e garantia de direitos,
permitindo que se questione juridicamente a liberdade de atuação da ciência em face dos
direitos da pessoa humana.

Nenhuma atividade científica terá a liberdade assegurada se colocar em perigo a dimensão


da dignidade humana. Portanto, a ação científica não pode desconsiderar os princípios da ética,
nem os preceitos constitucionais. Havendo uma intermediação entre a ética e o direito na
regulamentação do agir científico. A ética, portanto, ocupa-se do que diz respeito à
fundamentação moral, cuidando o direito do aspecto da legalidade. Essa unidade alimenta uma
ordem jurídica que se fundamenta na dignidade humana para justificação dos valores protegidos
constitucionalmente.

Ao lançar mão da ética, o direito torna-a mais acessível. A bioética, para cuidar dos
processos que afetam a vida humana e verdadeiramente influenciá-los tem que se atentar as
considerações manifestas pelo direito. Portanto, a dignidade da vida humana é constituída por
foco metajurídico em virtude de sua base antropológica e de sua justificação ética. A bioética,
quando ultrapassa o universo valorativo e se integra ao ordenamento jurídico, transforma-se em
biodireito.

II. DO PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Imperioso ressaltar que no contexto jurídico, o que o princípio perde em carga


normativa, ganha em força valorativa. Portanto, os princípios determinam a regra que será
aplicada pelo intérprete, mostrando o caminho a ser perseguido. O Biodireito e Direito
Ambiental compartilham os seus princípios. Exemplo disso, é o princípio do

114
desenvolvimento sustentável. A palavra desenvolvimento, expressa o mecanismo pelo qual
se aprecia uma dada progressão.

Essa progressão mostra a causa do desenvolvimento, que tem como marca essencial um
movimento, que se pode comparar ao movimento que verificamos quando dizemos que o
homem é o desenvolvimento do menino. Este significado vem da observação de que as
ações se realizam num instante e os resultados dessas ações se implementam no decurso do
tempo.

Nesse sentido, pode-se contestar a exploração dos recursos naturais, protegidos pela
tutela constitucional como bens de uso comum, para as gerações presentes e para as
gerações futuras. A ONU compreende o desenvolvimento como um processo, portanto um
movimento, que abrange aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos. Em todos os
aspectos, a finalidade é a busca da felicidade (DIMOULIS, 2020, p. 112).

Os debates destacam o modelo da exploração do meio ambiente de forma ordenada,


levando-se em consideração, as futuras gerações. Esse é o núcleo central categorização do
desenvolvimento como sustentável. Desenvolvimento sustentável significa a atitude de
respeito com as gerações futuras por se considerar a natureza como um sistema global
(MOTTA, 2007, p. 165).

Nesse tópico, é importante falar acerca do princípio da precaução, que deve se


manifestar desde a gerencia do uso das biotecnologias, sendo premente se averiguar a
potencialidade dos riscos, a amplitude dos danos, seu afastamento, até a mitigação dos
efeitos. Numa tendência de se engendrar políticas de rastreamento na cadeia produtiva,
capazes de delimitar os caminhos da manipulação genética até a chegada ao consumidor de
o que possibilitara não apenas a identificação, mas ainda a adoção de medidas rápidas e
eficazes por intermédio da detecção de um dano. Assim, é possível identificar e
responsabilizar o autor do dano, e, ainda, controlar, minimizar ou eliminar o dano causado

O desenvolvimento deve se pautar pela relação harmônica entre a coletividade e o


meio ambiente, buscando-se a prevenção dos fenômenos de degradação ambiental. De
acordo com um paradigma de sustentabilidade, não se pode apartar do tema
desenvolvimento, o estudo da ética e do direito. A ética, dando importância ao bem-estar,
cuida do problema de “como devemos viver” (SEN, 1999, p. 19).

115
A prática do direito ao desenvolvimento ordena, no uso dos recursos naturais
necessários à sobrevivência, uma obrigação: a do planejamento da apropriação, e a punição
do consumo irresponsável. A concepção de sustentabilidade funda-se no reconhecimento
da esgotabilidade dos recursos naturais, e portanto, carece de uma nova ordem na forma de
utilização dos recursos naturais e ainda no cuidado com o meio ambiente, assegurando o
bem-estar humano e a conservação do planeta.

III. METODOLOGIA
Fez-se uso do método dedutivo-indutivo, junto ao exame bibliográfico pertinente ao
tema-problema.

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO

É notória que a ascensão das ciências, capazes de trazer contornos de grande relevância
a biotecnologia contemporânea, norteada por práticas probas, guiadas por premissas
bioéticas e amparadas pela salvaguarda do biodireito, são capazes de conduzir a atual e as
próximas gerações a um panorama de consciência quanto ao meio ambiente e o uso
sustentável dos recursos naturais.

Atentando-se a finitude dos recursos, é necessário que o desenvolvimento sustentável


encontre sustentáculo para se estabelecer como pratica social, voltada a preservação do
meio ambiente, ao bem-estar coletivo e a conservação do planeta. Assim, o
desenvolvimento biotecnológico, emoldurado pelos contornos da bioética, com seus
princípios resguardados pelo biodireito, são elementos cruciais para consolidar a concepção
de desenvolvimento sustentável.

REFERENCIAS

CANTO-SPERBER, Monique (org.). Dicionário de Ética e Filosofia Moral. V. I e II,


São Paulo: Unisinos, 2003.
DIMOULIS, Dimitri; Martins, Leonardo. Teoria Geral dos direitos Fundamentais. São
Paulo, Revista dos Tribunais, 2020. Descrição Física: 330 p. ISBN: 9786550652432
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para uma
civilização tecnológica. Rio de Janeiro: PUC Rio, 2006.

116
MOTTA, Ronaldo Seroa. Economia ambiental. Nações unidas para o
desenvolvimento. Relatório do Desenvolvimento Humano 2007/08 – Combater a
mudança do clima: solidariedade humana em um mundo dividido. Disponível
em:<http://www.pnud.org.br/rdh/>. Acesso em: 20, abr. de 2.022.
SEN, A. Development as freedom. New York: Anchor Books, 1999.

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