Você está na página 1de 195

MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS

FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

DISPOSIÇÃO NO SOLO COMO ALTERNATIVA


DE TRATAMENTO E PÓS-TRATAMENTO DE
ESGOTO DOMÉSTICO PARA PEQUENAS
COMUNIDADES

Relatório Final

PROGRAMA DE PESQUISA EM SAÚDE E SANEAMENTO

Fortaleza
SETEMBRO - 2006
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS II
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

APRESENTAÇÃO

Este documento apresenta o Relatório Final de Pesquisa intitulado


“Disposição Controlada no Solo como Alternativa para Tratamento e Pós-
tratamento de Esgoto Doméstico para Pequenas Comunidades” financiado pelo
Edital de Convocação n° 001/2001 da FUNASA, publicado no Diário Oficial da
União (D.O.U. Nº 163-E, no dia 24/08/2001, Seção 3, página 61) e referente ao
Processo nº. 25100.002401/01-96, Convênio nº 1736/2001.

Participaram da execução do projeto: Universidade Federal do Ceará


(UFC), Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE), Prefeitura de
Beberibe e Centro de Treinamento e Desenvolvimento (CETREDE).
A pesquisa foi desenvolvida por uma equipe coordenada pela Prof a. Dra.
Sandra Tédde Santaella, junto ao Departamento de Engenharia Hidráulica e
Ambiental - DEHA do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará –
UFC, gerando cinco dissertações de mestrado, e trabalhos científicos que serão
submetidos a revistas da área para publicação. Durante a pesquisa foram
estudadas duas alternativas de tratamento, portanto, este relatório está
subdividido em duas partes: a primeira apresenta os resultados da pesquisa sobre
“Aplicação de esgoto no solo por infiltração rápida” e a segunda, os resultados
sobre “aplicação subsuperficial de esgoto pré-tratado para produção de
alimentos”.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS III
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

PARTICIPANTES

Profa. Sandra Tédde Santaella - UFC


Dr. Renato Carrhá Leitão
Prof. Luís Antonio da Silva - UFC
Cailiny Darley de Menezes Medeiros Cunha - CAGECE
Danielle Inácio Magalhães - UFC
Érica Carvalho de Almeida - UFC
José Olavo Fonteles Neto - UFC
Liana Geisa Conrado Maia - UFC
Marcelo Guerra Pires de Carvalho – UFC
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS IV
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

AGRADECIMENTOS

Os pesquisadores agradecem à FUNASA pelo financiamento da pesquisa;


ao CNPq, à CAPES e à FUNCAP, pela concessão de bolsas de estudo em nível
de mestrado; à Prefeitura de Beberibe e à CAGECE pelo apoio e por terem
disponibilizado as suas instalações.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS V
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi estudar dois sistemas de disposição de esgoto no


solo. O primeiro, por infiltração rápida, foi estudado com duas taxas de aplicação
diferentes e três profundidades e avaliou-se a qualidade físico-química e
bacteriológica dos efluentes, assim como as modificações ocorridas no solo. O
segundo consistiu na aplicação de esgoto no solo, subsuperficialmente, visando a
produção de feijão. Foram construídos 18 canteiros impermeáveis: nove foram
irrigados com água bruta, e nove com esgoto sanitário. Nesta etapa foi avaliada a
qualidade dos efluentes dos canteiros, as modificações no solo, a produtividade
do feijão e a possibilidade de contaminação dos grãos. Os resultados indicaram
que ambos os sistemas são aplicáveis ao tratamento de esgotos e podem ser
utilizados em pequenas comunidades e áreas rurais, porém existe a possibilidade
de salinização do solo a longo prazo, em ambos os sistemas. O sistema de
infiltração subsuperficial é mais adequado, pela possibilidade de produção de
alimentos. Este sistema pode ser construído em módulos, onde um canteiro
receberá o esgoto gerado por uma pessoa e, portanto, haverá tantos canteiros
quanto for o número de pessoas na família ou o número de habitantes na
comunidade.

PALAVRAS-CHAVE: Esgoto doméstico, disposição no solo, infiltração


rápida, infiltração subsuperficial, produção de alimentos, feijão caupi.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS VI
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

ABSTRACT

The objective of this work was to evaluate two different systems of soil disposal of
sewage. The first, using fast infiltration, the effect of two organic superficial loading
rate, and three soil deepness were evaluated on the basis of physical, chemical
and bacteriological quality of the effluent, as well as on the changes of soil
characteristics. The second comprised of a subsurface flow system, which was
used for beans production. 18 land strips was built: nine were irrigated with water,
withdrawn from a shallow well; and the other nine were irrigated with pre-settled
domestic wastewater. This second experiment was evaluated on the basis of
effluent quality, soil changes, beans productivity and seed contamination. The
results show that both systems are suitable for sewage treatment in small rural
communities. However, there is a considerable risk, for both systems, of soil
salinization after a long term application of sewage. Subsurface flow system
seems to be more appropriate for poor communities, as it improves food
production. This system can be built by modules, where one module is a land strip
of 1 m wide and 6 m length which can treat the effluent produced by one person.
Therefore, there would be as much as land strips as the number of people in one
family or community.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS VII
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 4.1 - Croqui da ETE de Beberibe.................................................................48


5
FIGURA 4.2 - Foto do sistema IR utilizado na Etapa 1 da pesquisa....................... 51

FIGURA 4.3 - Esquema do sistema IR utilizado na Etapa 2 da pesquisa............... 54

FIGURA 4.4 - Planta baixa do módulo experimental............................................... 58

FIGURA 4.5 - Vista parcial das unidades experimentais (canteiros)....................... 59

FIGURA 4.6 - Diagrama esquemático dos canteiros............................................... 59

FIGURA 4.7 - Preenchimento uniforme dos canteiros............................................. 60

FIGURA 4.8 - Reservatório distribuidor (100L) dotado de registro de esfera para


controle do volume de água bruta a ser aplicado............................. 61

FIGURA 4.9 - Fotografia do dreno dos reatores e baldes de coleta –


posicionados de maneira que a gravidade permita o
direcionamento do líquido drenado para os baldes de coleta........... 61

FIGURA 4.10 - Caixas d’água de armazenamento das águas de irrigação e poço


amazonas.......................................................................................... 63

FIGURA 4.11 - Desenho esquemático da caixa de “armazenamento” de esgoto


bruto.................................................................................................. 64

FIGURA 5.1 - Pluviosidade referente às fases de caracterização e laboratorial..... 71

FIGURA 5.2 - Concentração de DQO nas amostras dos efluentes das unidades
do sistema IR 75

FIGURA 5.3 - Distribuição das frações de sólidos suspensos no esgoto bruto


durante os ciclos da Etapa 1 da pesquisa........................................ 77

FIGURA 5.4 - Variação da Concentração de SS durante a fase operacional da


Etapa 1 da pesquisa......................................................................... 78

FIGURA 5.5 - Variação da concentração de amônia nos reatores da Etapa 1 da


pesquisa............................................................................................ 80

FIGURA 5.6 - Variação da concentração de nitrito nos reatores da Etapa 1 da


pesquisa............................................................................................ 81

FIGURA 5.7 - Variação da concentração de nitrato nos reatores da Etapa 1 da


pesquisa............................................................................................ 82

FIGURA 5.8 - Variação da concentração de fósforo total na Etapa 1 da pesquisa 84


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS VIII
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 5.9 - Concentração de Coliformes Termotolerantes (CF) no esgoto


decantado (ED) e nos efluentes dos reatores R1, R2 e R3, na
etapa 1 da pesquisa.......................................................................... 86

FIGURA 5.10 - Variação de pH do extrato do solo em função da


profundidade..................................................................................... 89

FIGURA 5.11 - Variação de matéria orgânica do solo em função da


profundidade..................................................................................... 90

FIGURA 5.12 - Variação de fósforo disponível no solo em função da


profundidade..................................................................................... 92

FIGURA 5.13 - Condutividade elétrica em função da


profundidade..................................................................................... 93

FIGURA 5.14 - Dados pluviométricos medidos no período da etapa 2 da


pesquisa............................................................................................ 94

FIGURA 5.15 - DQO do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao


longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.......................................... 96

FIGURA 5.16 - Sólidos suspensos do esgoto decantado e efluente dos reatores


R1, R2 e R3 ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa................ 96

FIGURA 5.17 - Sólidos suspensos voláteis do esgoto decantado e efluente dos


reatores R1, R2 e R3 ao longo do tempo, na etapa 2 da
pesquisa............................................................................................ 97

FIGURA 5.18 - Sólidos suspensos do esgoto decantado e efluente do reator R4


ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa..................................... 98

FIGURA 5.19 - Amônia do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3


ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa..................................... 99

FIGURA 5.20 - Variação de amônia do esgoto decantado e efluente do reator R4


ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa..................................... 100

FIGURA 5.21 - Nitrito do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3


ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa..................................... 101

FIGURA 5.22 - Nitrato do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3


ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa..................................... 102

FIGURA 5.23 - Variação de nitrato do esgoto decantado e efluente do reator R4


ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa..................................... 103

FIGURA 5.24 - Ortofosfato do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e


R3 ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa............................... 106

FIGURA 5.25 - Alcalinidade do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2


e R3 ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa............................ 107
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS IX
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 5.26 - Coliformes totais no afluente e efluente dos reatores R1, R2 e R3,
durante a fase 2 do experimento...................................................... 109

FIGURA 5.27 - Coliformes termotolerantes no afluente e efluente dos reatores R1,


R2 e R3, durante a fase 2 do experimento....................................... 109

FIGURA 5.28 - Permeabilidade do solo ao longo do tempo, na etapa 2 da


pesquisa............................................................................................ 114

FIGURA 5.29 - Mudanças nos valores de pH do solo ao longo do tempo, na etapa


2 da pesquisa.................................................................................... 115

FIGURA 5.30 - Matéria orgânica no solo ao longo do tempo, na etapa 2 da


pesquisa............................................................................................ 116

FIGURA 5.31 - Concentração de fósforo assimilável no solo ao longo do tempo..... 118

FIGURA 5.32 - Condutividade elétrica no extrato do solo ao longo do tempo, na


etapa 2 da pesquisa.......................................................................... 119

FIGURA 5.33 - Percentual de sódio trocável no solo ao longo do tempo, na etapa


2 da pesquisa.................................................................................... 120

FIGURA 5.34 - Variação de condutividade elétrica nos afluentes e efluentes dos


canteiros............................................................................................ 125

FIGURA 5.35 - Variação de cloretos nos afluentes e efluentes dos canteiros.......... 126

FIGURA 5.36 - Variação de DQO nos afluentes e efluentes dos canteiros.............. 127

FIGURA 5.37 - Variação de alcalinidade nos afluentes e efluentes dos canteiros.... 129

FIGURA 5.38 - Variação de amônia nos afluentes e efluentes dos canteiros........... 130

FIGURA 5.39 - Variação de nitrato nos afluentes e efluentes dos canteiros............. 131

FIGURA 5.40 - Variação de amônia nitrito e nitrato nos canteiros irrigados com
água no período de chuvas............................................................... 132

FIGURA 5.41 - Variação de amônia nitrito e nitrato nos canteiros irrigados com
esgoto no período de chuvas............................................................ 132

FIGURA 5.42 - Variação de amônia nitrito e nitrato nos canteiros no período seco. 133

FIGURA 5.43 - Variação de ortofosfato nos afluentes e efluentes dos canteiros...... 134

FIGURA 5.44 - Variação de sólidos suspensos voláteis nos afluentes e efluentes


dos canteiros..................................................................................... 135

FIGURA 5.45 - Altura das plantas no estágio de frutificação no período chuvoso.... 141
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS X
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 5.46 - Índices pluviométricos nos meses de janeiro a maio de 2003


comparados à precipitação histórica dos últimos 31 anos................ 143

FIGURA 5.47 - Amarelecimento e senescência das folhas do feijão-caupi no


período chuvoso................................................................................ 144

FIGURA 5.48 - Altura média das plantas ao longo dos canteiros irrigados com
água bruta e efluente primário, no período seco.............................. 145

FIGURA 5.49 - Número de vagens produzidas com água e esgoto no período


chuvoso............................................................................................. 146

FIGURA 5.50 - Número médio de vagens produzidas ao longo dos canteiros


irrigados com água bruta e efluente primário.................................... 146

FIGURA 5.51 - Produção média de sementes irrigadas com água residuária e


água subterrânea no período chuvoso............................................. 148

FIGURA 5.52 Número médio de sementes por vagem ao longo dos canteiros
irrigados com água bruta e efluente primário, durante o período
seco................................................................................................... 148

FIGURA 5.53 - Produtividade média, em kg/intervalo no período de chuvas........... 149

FIGURA 5.54 - Produtividade média de feijão caupi em kg/parcela, ao longo dos


canteiros irrigados com água bruta e efluente primário.................... 151

FIGURA 7.1 - Esquema do sistema proposto para uma família de cinco pessoas. 169
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS XI
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

LISTA DE TABELAS

TABELA 3.1 - Subprodutos da desnitrificação de nitrato............................................ 15

TABELA 3.2 - Diretrizes para interpretação da qualidade da água para irrigação…. 22

TABELA 3.3 - Diretrizes de qualidade microbiológica recomendadas para esgotos


tratados utilizados na irrigação de culturas…………………………...... 23

TABELA 3.4 - Composição típica de esgotos domésticos brutos……........................... 24

TABELA 3.5 - Faixas de concentração dos nutrientes essenciais no feijoeiro em


diferentes partes da planta.................................................................. 40

TABELA 3.6 - Esquema do ciclo fenológico do feijão-caupi com a ocorrência das


principais pragas.................................................................................. 41

TABELA 3.7 - Tempo de sobrevivência de algumas espécies de organismos


patogênicos.......................................................................................... 45

TABELA 4.1 - Parâmetros físico-químicos e biológicos analisados, e métodos


utilizados.............................................................................................. 66

TABELA 5.1 - Valores médios dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos


durante a fase de caracterização do esgoto doméstico da etapa 1
da pesquisa.......................................................................................... 72

TABELA 5.2 - Valores médios dos parâmetros físico-químicos e microbiológicas


durante a fase operacional da etapa 1 da pesquisa, referentes ao
esgoto efluente do sistema em escala laboratorial.............................. 73

TABELA 5.3 - Exemplos de classificação das leituras de pH em água...................... 88

TABELA 5.4 - Classificação do solo em relação ao teor de matéria orgânica........... 90

TABELA 5.5 - Respostas das plantas a diferentes intensidades de condutividade


elétrica (CE) a 25°C............................................................................. 93

TABELA 5.6 - Resultados comparativos dos parâmetros físico-químicos e 111


bacteriológicos entre água de lavagem e o esgoto decantado............

TABELA 5.7 - Resultados dos ensaios de permeabilidade com o tempo, na etapa


2 da pesquisa....................................................................................... 113

TABELA 5.8 - Classificação dos solos afetados por sais........................................... 121

TABELA 5.9 - Caracterização física e química do esgoto proveniente de uma fossa


séptica, da rede coletora de esgotos e da água proveniente do poço
que abasteceu o sistema piloto........................................................... 123

TABELA 5.10 - Notação adotada nas Figuras 5.34 a 5.44........................................... 124


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS XII
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.11 - Grau de restrição de uso das águas de irrigação................................ 136

TABELA 5.12 - Resultados de análises granulométricas e químicas da amostra de


solo antes da aplicação das águas de irrigação.................................. 136

TABELA 5.13 - Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário)
no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e
por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 1ª Etapa
(Sem vegetação).................................................................................. 138

TABELA 5.14 - Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário)
no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e
por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 1ª Etapa
(Com vegetação).................................................................................. 138

TABELA 5.15 - Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário)
no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e
por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 2ª Etapa
(Sem vegetação)................................................................................. 139

TABELA 5.16 - Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário)
no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e
por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 2ª Etapa
(Com vegetação).................................................................................. 139

TABELA 5.17 - Valores médios referentes à altura da planta no período de


frutificação, durante o período chuvoso............................................... 142

TABELA 5.18 - Valores médios das análises de macro e micronutrientes dos grãos
no período chuvoso............................................................................. 151

TABELA 5.19 - Valores médios das análises de macro e micronutrientes dos grãos
no período seco................................................................................... 152

TABELA 5.20 - Identificação dos ovos de helmintos e seus respectivos tamanhos,


encontrados no esgoto doméstico e no efluente dos canteiros........... 158

TABELA 5.21 - Valores de coliformes totais e fecais observados na água de


lavagem das vagens irrigadas com água subterrânea e esgoto
doméstico no período chuvoso............................................................ 158

TABELA 5.22 - Valores de coliformes totais e fecais observados na água de


lavagem das vagens irrigadas com água subterrânea e esgoto
doméstico no período seco.................................................................. 159
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS XIII
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO .................................................................................................. II
PARTICIPANTES .................................................................................................. III
AGRADECIMENTOS ............................................................................................ IV
RESUMO ............................................................................................................... V
ABSTRACT .......................................................................................................... VI
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................. VII
LISTA DE TABELAS ............................................................................................ XI
1.0 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
2.0 OBJETIVOS...................................................................................................... 4
2.1 Objetivo geral................................................................................................ 4
2.2 Objetivos específicos ................................................................................... 4
3.0 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 6
3.1 Tratamento de esgoto por disposição no solo .......................................... 6
3.2 Infiltração rápida........................................................................................... 8
3.2.1 Nível de tratamento para pré-aplicação e nível de carga.................. 9
3.2.2 Impactos na permeabilidade do solo devido à colmatação ........... 10
3.2.3 Remoção de matéria orgânica .......................................................... 12
3.2.4 Remoção de nutrientes...................................................................... 13
3.2.4.1 Nitrogênio ..................................................................................... 13
3.2.4.2 Fósforo .......................................................................................... 17
3.2.5 Principais microrganismos envolvidos............................................ 18
3.3 Infiltração subsuperficial ........................................................................... 20
3.3.1 Qualidade da água para irrigação ..................................................... 21
3.3.1.1 Salinidade ..................................................................................... 24
3.3.1.2 Capacidade de infiltração do solo .............................................. 25
3.3.1.3 Concentração de elementos tóxicos (Toxicidade) .................... 27
3.3.1.4 Excesso de nutrientes ................................................................. 29
3.4 Impacto da disposição de efluente no sistema solo-planta-ambiente .. 29
3.4.1.1 pH do solo ..................................................................................... 30
3.4.1.2 Capacidade de troca de cátions (CTC) ....................................... 31
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS XIV
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

3.4.1.4 Percentual de sódio trocável (PST) ............................................ 33


3.4.2 Efeitos na nutrição das plantas e produtividade das culturas ....... 34
3.4.2.1 Nitrogênio, fósforo e potássio..................................................... 34
3.4.2.2 Salinidade e sodicidade ............................................................... 37
3.5 Feijão Caupi ................................................................................................ 38
3.5.1 Cultivo do feijão-caupi ....................................................................... 38
3.6 Considerações gerais sobre aspectos de saúde pública ....................... 42
4.0 METODOLOGIA ............................................................................................. 47
4.1. Parte 1 – Infiltração rápida como alternativa de tratamento e
disposição de esgoto no solo para pequenas comunidades em áreas
rurais. ............................................................................................................... 47
4.1.1 Etapa 1 – Ciclo de 2 dias de aplicação e 5 dias de descanso ........ 47
4.1.1.1 Material de solo ............................................................................ 47
4.1.1.2 Reatores ........................................................................................ 49
4.1.1.3 Operação do sistema IR ............................................................... 52
4.1.1.4 Caracterização do esgoto doméstico ......................................... 53
4.1.2 Etapa 2 - Ciclo de 4 dias de aplicação e 3 dias de descanso ......... 53
4.1.2.1 Material de solo ............................................................................ 53
4.1.2.2 Reatores ........................................................................................ 53
4.1.2.3 Operação do sistema IR ............................................................... 54
4.1.2.4 Caracterização do esgoto ............................................................ 56
4.2 Parte 2 – Disposição de esgoto no solo por infiltração subsuperficial
para produção de alimentos ........................................................................... 57
4.2.1 Local do experimento ........................................................................ 57
4.2.2 Módulo experimental ......................................................................... 57
4.2.3 Sistema operacional .......................................................................... 60
4.2.4 Águas de irrigação ............................................................................. 62
4.2.5 Etapas operacionais .......................................................................... 64
4.2.6 Avaliação da qualidade da água, esgoto afluente e efluente final . 65
4.2.7 Amostragem e caracterização do solo ............................................. 66
4.2.8 Cultivo do feijão-caupi (Vigna unguiculata, L. Walp) ...................... 67
4.2.8.1 Escolha da cultura ........................................................................ 67
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS XV
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

4.2.8.2 Semeadura, desbaste e tratos culturais ..................................... 68


3.2.8.3 Fenologia e produção de vagens ................................................ 68
4.2.8.4 Produtividade................................................................................ 69
4.2.8.5 Nutrição mineral (macro e micronutrientes dos grãos) ............ 69
4.2.8.6 Análise bacteriológica de vagens ............................................... 69
4.2.9 Análises estatísticas .......................................................................... 70
5.0 RESULTADOS ALCANÇADOS FRENTE AOS OBJETIVOS PROPOSTOS E
DISCUSSÃO ......................................................................................................... 71
5.1 Parte 1 - Infiltração rápida como alternativa de tratamento e disposição
de esgoto no solo para pequenas comunidades em áreas rurais .............. 71
5.1.1 Etapa 1 – Ciclo de dois dias de aplicação e cinco dias de descanso
....................................................................................................................... 71
5.1 1.1 Condições pluviométricas ........................................................... 71
5.1.1.2 Caracterização do esgoto doméstico ......................................... 72
5.1.1.3 Performance do sistema de infiltração rápida ........................... 74
5.1.3.4 Considerações sobre o solo........................................................ 88
5.1.2 Etapa 2 – Ciclo de 4 dias de aplicação e 3 de descanso ................ 94
5.1.2.1 Condições pluviométricas ........................................................... 94
5.1.2.3 Considerações sobre a água de lavagem ................................ 110
5.1.2.4 Considerações sobre o solo...................................................... 113
5.2 Parte 2 – Disposição de esgoto no solo por aplicação subsuperficial
para a produção de alimentos ...................................................................... 123
5.2.1 Caracterização da água e do esgoto usado na irrigação dos
canteiros ..................................................................................................... 123
5.2.2 Eficiência do sistema como unidade de tratamento de esgoto nos
períodos de chuva e de seca .................................................................... 124
5.2.3 Alterações no solo devido à disposição de esgoto ...................... 135
5.2.4 Produção agrícola e aspectos sanitários da disposição .............. 141
5.2.4.1 Fenologia da planta .................................................................... 141
5.2.4.2 Componentes da produção ....................................................... 145
5.2.5 Nutrição mineral ............................................................................... 151
5.2.6 Análise microbiológica .................................................................... 156
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS XVI
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

6.0 CONCLUSÕES ............................................................................................. 161


7.0 RECOMENDAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS PELA
FUNASA E INDICATIVOS DE CUSTOS ............................................................ 167
8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 170
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 1
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

1.0 INTRODUÇÃO

A região Nordeste do Brasil apresenta, de forma geral, regime


pluviométrico marcado por extrema irregularidade de chuvas no tempo e no
espaço, além de dificuldades de retenção de água pelas características inerentes
ao solo e subsolo desta região, fazendo com que a rede hidrográfica esteja
condicionada a terrenos de baixa porosidade e conseqüente baixa taxa de
armazenamento. Estes fatores não favorecem o processo de acúmulo de água
das precipitações durante o período chuvoso para posterior disponibilidade
durante a estiagem. Nesse cenário, a água é fator limitante do desenvolvimento
sócio-econômico desta região e, até mesmo, da subsistência da população. A
ocorrência cíclica de secas e seus efeitos catastróficos no âmbito regional são
muito conhecidos e remontam aos primórdios da história do Brasil (IPLANCE,
2000).
Além do gerenciamento dos recursos hídricos, faz-se necessária política
voltada para a implantação de saneamento básico referente à coleta, tratamento e
disposição de esgoto. Para tal, tecnologias de baixo custo, adaptáveis às
condições fisiográficas locais (geologia, pedologia, clima, temperatura,
precipitação, etc.) são fundamentais para atingir a universalização desses
serviços. Salienta-se ainda a importância de práticas de reúso de modo a
racionalizar o uso da água e minimizar os impactos decorrentes da disposição
final de efluentes.
As tecnologias naturais de tratamento de esgoto vêm de encontro às
necessidades e condições anteriormente dispostas. Como exemplo, podem ser
citadas as lagoas de estabilização, amplamente difundidas no Brasil,
principalmente na região Nordeste; constituem a mais famosa tecnologia natural
de tratamento de esgoto no mundo. Contudo, outras tecnologias naturais devem
ser estudadas de forma a aumentar o leque de alternativas de tratamento a baixo
custo, conciliando características locais à aplicabilidade técnica de cada uma.
Dentro dessa perspectiva, os sistemas de disposição no solo aparecem
como alternativa de tratamento de esgoto devido às características inerentes ao
processo em si e àquelas das regiões semi-áridas. Em primeira vista, ter-se-ia
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 2
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

baixo custo de implantação, facilidade de operação, clima favorável,


potencialidade de reúso, tanto no que se refere à aplicação na agricultura como
para recarga de aqüíferos, podendo ainda servir de destino final, diminuindo
custos com a construção de emissários para disposição em águas superficiais.
Entre as vantagens da disposição de esgoto no solo, podem ser
destacadas: a potencialidade de recuperação de áreas degradadas através da
fertilização do solo; aumento na produção quantitativa e qualitativa de alimentos e
economia de água bruta, preservando-a para fins mais nobres. Do ponto de vista
social, acredita-se que a utilização do esgoto no solo para a produção de
alimentos, quando bem gerenciada, melhore a qualidade de vida da população
por aumentar a oferta de alimentos, não poluir o meio ambiente, não utilizar água
bruta ou tratada para irrigação e promover recarga de aqüíferos. Do ponto de
vista econômico também há vantagens quando se observa que a disposição de
esgoto no solo é uma técnica de baixo custo que, pode aumentar a renda das
pequenas comunidades, e reduzir custos com tratamento de água para
abastecimento.
No Brasil, o lançamento de esgoto sem tratamento em lagoas, rios e
oceanos ainda é uma prática bastante comum. A degradação desses aqüíferos
pode ser total, dependendo do potencial poluidor dos resíduos lançados. Estudos
do IPEA mostram que no ano de 1989, o valor monetário das perdas ambientais
decorrentes do lançamento de esgoto “in natura” nos rios foi da ordem de US$
387 milhões, a preços de 1980 (FARIA e RODRIGUEZ, 2000).
A disposição de esgotos no solo é prática bastante antiga. A cronologia da
evolução do saneamento cita seu emprego na Alemanha e na Inglaterra já nos
séculos XVI e XVII, encontrando-se referências à sua utilização em épocas bem
mais remotas, como é o caso da irrigação com esgoto, executada em Atenas,
antes da Era Cristã (PAGANINI, 1997).
Sistemas de tratamento usando o solo podem ser definidos como a
aplicação controlada de esgoto na sua superfície, a fim de alcançar um
determinado grau de depuração através de processos físicos, químicos e
biológicos naturais inerentes à matriz solo, planta e água. Os processos mais
conhecidos são os de baixa taxa (BT), denominado usualmente por irrigação;
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 3
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

infiltração rápida (IR); e escoamento superficial (ES), infiltração subsuperficial e


filtro de areia fazendo alusão à taxa de aplicação do esgoto e ao caminho
percorrido pela água dentro do processo (CHERNICHARO et al., 2001).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 4
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

2.0 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Este trabalho visou avaliar a viabilidade técnica de um sistema de
disposição de esgoto no solo por infiltração rápida, como alternativa para
tratamento de esgoto (Parte 1) e, reúso do esgoto doméstico gerado em
pequenas comunidades rurais, através de aplicação subsuperficial, na agricultura
para produção de cultura de subsistência (Parte 2).

2.2 Objetivos específicos


Os objetivos específicos da Parte 1 foram:
 Verificar o grau de eficiência de remoção de matéria orgânica,
nitrogênio, organismos patogênicos e de retenção de fósforo pelo
processo de Infiltração Rápida, tendo como variável a profundidade da
camada do meio arenoso;
 Avaliar possíveis impactos na capacidade de infiltração no solo
resultantes do uso deste sistema em curto prazo (um ano);
 Verificar a possibilidade de fertilização e salinização do solo pela
aplicação de esgoto;
 Estudar a viabilidade e os riscos advindos da recarga de aqüífero com
efluente tratado;
 Avaliar a influência de situações de aerobiose e de anaerobiose nos
reatores.
Os objetivos específicos da Parte 2 foram:
 Verificar o grau de eficiência de remoção de matéria orgânica e de
organismos patogênicos no efluente, caso este alcance o sistema de
drenagem ou aqüíferos subterrâneos de forma significativa;
 Comparar a eficiência de tratamento desse sistema, considerando-se
esgoto tratado em nível primário e água bruta proveniente de poço
amazonas;
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 5
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

 Avaliar o sistema de infiltração subsuperficial quanto à produção,


operação e risco de contaminação da cultura desenvolvida;
 Verificar possíveis impactos no solo quanto ao uso dessa prática.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 6
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

3.0 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Tratamento de esgoto por disposição no solo

Segundo Cabrera et al. (1996), a aplicação de esgoto no solo é o mais


antigo sistema de disposição de resíduos, baseando-se na elevada capacidade
biodegradativa dos solos. Depois de um período de biodegradação a fertilidade do
solo pode ser aumentada, uma vez que o acréscimo de matéria orgânica e
nutrientes favorece a utilização do solo para agricultura, pastoreio e florestas.
A aplicação de esgotos no solo pode ser considerada uma forma
apropriada de disposição final ou um sistema natural de tratamento. Visa alcançar
um grau específico de depuração através de processos naturais físicos
(sedimentação, filtração, radiação, volatilização e desidratação), químicos
(oxidação e reações químicas, precipitação, adsorção, troca iônica e
complexação) e biológicos (biodegradação e predação), dentro da matriz solo-
água-planta (AISSE, 1999; METCALF e EDDY, 1991; POLPRASERT, 1996; VON
SPERLING, 1996); e, ao mesmo tempo, recuperar a água com fins de reúso
(CORAUCCI FILHO, 1999). O tratamento ocorre enquanto o esgoto aplicado
percola através do solo (ANGELAKIS, 2001).
Metcalf e Eddy (1991) explicam que nos sistemas naturais de tratamento,
os processos físicos, químicos e biológicos ocorrem simultaneamente num
“reator” único, onde a água, o solo, as plantas, os microrganismos e a atmosfera
interagem. Tal concepção é tida como vantagem sobre os sistemas mecanizados,
onde os processos ocorrem seqüencialmente, em reatores separados e utilizando
energia.
Sistemas naturais são capazes de remover, ainda que de forma
incompleta, quase todos os constituintes do esgoto que são considerados
poluentes – sólidos suspensos, matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, metais,
compostos orgânicos e microrganismos (TCHOBANOGLOUS, 1991).
Visando posterior utilização, os esgotos brutos e tratados podem ser
aplicados no solo pelos seguintes métodos de disposição, classificados em
função da taxa hidráulica aplicada e do sentido do fluxo: infiltração lenta (ou
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 7
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

irrigação), infiltração rápida (alta taxa), infiltração subsuperficial e escoamento à


superfície (METCALF e EDDY, 1991; PAGANINI, 1997; POLPRASERT, 1996;
VON SPERLING, 1996).
Segundo Paganini (1997), pelo menos quatro propriedades do solo são
importantes para sua utilização como local de disposição de esgotos, a saber:
Capacidade de troca iônica: representa a quantidade total de cátions e
ânions que são absorvidos por unidade de peso do solo. Solos úmidos possuem
capacidade de troca de cátions entre moderada e grande, mas capacidade
limitada para troca de ânions. É importante salientar que a capacidade que um
solo possui de reter os íons metálicos trazidos pelos esgotos, e impedi-los de
atingir as águas superficiais e/ou subterrâneas, bem como os tecidos vegetais,
depende em grande parte de sua capacidade de troca iônica.
Capacidade tampão: provém de diversos fatores; solos carbonatados
tamponados para um pH igual ou maior que sete inibem a solubilidade dos metais
pesados.
Filtrabilidade do solo: refere-se à sua eficiência como um filtro (físico) de
partículas em suspensão. A filtração de organismos patogênicos provenientes do
esgoto é um elemento importante para o sucesso da utilização da disposição de
esgotos em áreas agrícolas. Solos permeáveis de textura intermediária possuem
um conteúdo coloidal suficiente para aprisionar ou reter partículas, e constituem-
se nos melhores filtros.
Microbiologia do solo: ocorrem transformações microbiológicas nos esgotos
dispostos sobre o solo. Tais transformações envolvem a utilização de
microrganismos, a fim de transformar alguns dos compostos que contêm os
elementos essenciais ao desenvolvimento das plantas, como, por exemplo,
nitrogênio, fósforo, enxofre e carbono.
Estas quatro propriedades são resultantes de vários fatores, cuja interação,
com reflexos sinérgicos ou inibitórios, fixará as propriedades do solo como um
todo.
Segundo Sun et al. (1998), sistemas de disposição de efluentes no solo
têm-se mostrado boa alternativa para tratamento de esgotos sem metais pesados
e compostos químicos orgânicos persistentes.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 8
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Conforme Brady (1989), há inúmeras vantagens no uso do solo para


alienação de despejos orgânicos; primeiro porque a maioria dos solos dispõe de
notável capacidade para acomodar tais despejos, os componentes
biodegradáveis ficam sujeitos à desintegração pelos organismos do solo, e os
componentes inorgânicos reagem com os solos e são removidos eficientemente.
As principais desvantagens da disposição de esgotos no solo situam-se na
sua limitada capacidade para acomodá-los. Há exemplos de contaminação por
metais pesados e excesso de lixiviação de nitratos para as águas subterrâneas.
Por outro lado, pode ser reduzida a capacidade local de infiltração de líquidos,
cerceando seu emprego para posteriores absorções de despejos. A formação de
nitratos provindos de despejos com elevadas concentrações de nitrogênio e sua
remoção do solo mediante lixiviação poderão comprometer a qualidade da água
subterrânea. Além disto, a aplicação de esgotos no solo poderá ter implicações do
ponto de vista sanitário (BRADY, 1989).
Apesar das qualidades como “filtro biológico”, o solo não deve ser
considerado apenas como um reservatório, pois se trata de um ambiente com
limites de capacidade de depuração, que dependem fundamentalmente de suas
características físicas, químicas e mineralógicas (IBRAHIM, 2002).

3.2 Infiltração rápida

Infiltração Rápida (IR) é um método de manejo de esgoto muito bem


sucedido e de custo reduzido. Sistemas IR podem ser projetados para tratamento
de esgoto ou como um componente de plano de reúso de resíduos, envolvendo
recuperação de água tratada ou armazenamento em um aqüífero (US.EPA,
1984).
Este conceito baseia-se na taxa relativamente alta de infiltração de esgoto
no solo seguida por percolação rápida, seja verticalmente ou horizontalmente, a
partir do ponto de aplicação. Os melhores solos são os que apresentam textura,
relativamente, grossa com permeabilidade variando de moderada a rápida
(US.EPA, 1984).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 9
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Nem todos os solos são adequados para a disposição de esgoto. Solos


com uma substancial fração de argila podem ser, relativamente, impermeáveis e a
disposição no solo pode tornar-se impraticável pela área de solo necessária. Por
outro lado, areia grossa, enquanto é um excelente meio em termos de alta
capacidade de infiltração, pode ser quimicamente deficiente e falhar para remover
poluente a taxas de aplicação razoáveis (HO et al., 1992).
Para pequenas localidades de até 5.000 habitantes, as bacias de infiltração
são alternativas interessantes para polimento de efluentes pré-tratados. Porém, é
importante frisar que são sistemas sensíveis a descargas com elevadas
concentrações de sólidos suspensos, que podem causar sérios problemas de
colmatação na superfície dos leitos e, conseqüente, interrupção no funcionamento
do sistema (SAMPAIO, 1997).
O contexto operacional é tipicamente constituído por bacias no solo
projetadas para um ciclo repetitivo de alagamento, infiltração/percolação e
secagem. Os períodos úmido e seco projetados para estes ciclos são uma função
das características do esgoto e do solo, das condições climáticas e da finalidade
do tratamento. O percolado de sistemas IR cíclicos é tipicamente adaptado para
reúso indireto para muitos propósitos. Se este percolado emerge em uma
superfície de água adjacente, este deve ser de qualidade elevada equivalente
àquela obtida com sistemas avançados de tratamento de esgotos (US.EPA,
1981).
A profundidade de zona de solo para água subterrânea pode afetar a
função hidráulica e a purificação pela influência no conteúdo de água do solo,
estado de aeração, área do meio superficial, e tempo de detenção hidráulica. Nos
Estados Unidos, profundidades para infiltração no solo variam de 0,60 a 1,20 m e
para filtros de areia intermitente de 0,60 a 0,90 m (Cuyk et al., 2001).

3.2.1 Nível de tratamento para pré-aplicação e nível de carga


Segundo T. Sun et al., (1998) para evitar o bloqueio do sistema de
infiltração no solo e para alongar o seu tempo de vida, técnicas de pré-tratamento
devem ser implementadas incluindo separação com grade e sedimentação.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 10
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

O propósito do pré-tratamento é reduzir a colmatação do solo e prevenir


maus odores e proliferação de insetos. O nível de pré-tratamento de projeto deve
ser baseado nos objetivos do sistema. Tratamento primário ou o equivalente é o
nível de pré-tratamento mínimo recomendado para todos os sistemas, e o nível
recomendado quando remoção de nitrogênio máxima é o objetivo do sistema.
Pré-tratamento de em níveis secundário ou terciário é sugerido se o objetivo do
sistema for a manutenção de taxas de carga hidráulica máxima
(TCHOBANOGLOUS, 1991).
A razão de períodos de carga para períodos secos dentro de um ciclo
simples para sistemas de Infiltração Rápida bem sucedida varia, mas é quase
sempre menor que 1,00 (Período de Alagamento/Período de Secagem). Para
efluente primário, as taxas são geralmente menores que 0,20 para permitir
secagem adequada. A taxa varia para efluentes secundários em relação ao
objetivo do tratamento, no qual a carga hidráulica máxima ou nitrificação são o
objetivo, a razão deveria ser no máximo, 0,20. Quando a remoção de nitrogênio é
necessária, a taxa varia de 0,50 a mais de 1,00. Em todos os casos, para evitar
excessiva colmatação do solo, o período de carga hidráulica para efluentes
primários ou similares não deve exceder um a dois dias indiferentemente da
estação ou finalidade do tratamento (US.EPA, 1984).Sistemas operados como
bacias de infiltração por longos períodos de encharcamento tenderão a requerer
mais manutenção e produzir um percolado de qualidade mais pobre que sistemas
operados com ciclos de encharcamento e secagem mais curtos (REED et al.,
1995).

3.2.2 Impactos na permeabilidade do solo devido à colmatação


Conforme Reichardt (1986), em situação normal, a água infiltrada é retida
no solo, isto é, em seus poros, devido a fenômenos de capilaridade e adsorção. A
capilaridade está ligada à afinidade entre as partículas sólidas do solo e a água,
havendo porém, a necessidade de interfaces água-ar. A capilaridade atua na
retenção de água dos solos na faixa úmida, quando os poros se apresentam
razoavelmente cheios de água. Quando um solo seca, os poros vão se
esvaziando e filmes de água recobrem as partículas sólidas. Nestas condições, o
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 11
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

fenômeno de adsorção passa a dominar a retenção de água. A energia de


retenção da água nestas condições é muito maior ainda e, por isso, grandes
quantidades de energia são requeridas para se retirar esta água do solo.
Em um experimento em escala laboratorial usando colunas de areia,
Westerhoff et al. (2000) encontraram que as taxas de infiltração foram sempre
mais altas durante os primeiros três dias do ciclo de alagamento comparado com
o segundo período de três dias do mesmo ciclo.
Em solos de textura mais arenosa, a escarificação da superfície, feita
manualmente com enxada ou mecanicamente com enxadas rotativas, provoca a
formação de uma camada de solo fofo, de alta porosidade, que se seca
rapidamente e que, em seguida, atua como uma cobertura morta. Estas práticas,
geralmente, conservam água no solo. Esta camada de solo seco que diminui
drasticamente as perdas de água é de espessura muito pequena (0,01 a 0,02 m).
É devido a este fato que os solos arenosos, em várias situações, apesar de terem
uma capacidade de armazenamento de água relativamente pequena, armazenam
água disponível para as plantas por um tempo mais longo que outros solos de
textura mais argilosa (REICHARDT, 1986).
A zona colmatada que se desenvolve na superfície de infiltração do solo
induz à permeabilidade reduzida, infiltração mais uniforme e fluxo insaturado
concomitante, quase sempre indiferente à carga hidráulica. A colmatação induzida
por esgoto aumenta a atividade biogeoquímica e pode intensificar processos de
morte de microrganismos, biotransformação e adsorção. O início da zona
colmatada tem sido descrito como o processo do tipo humificação e modelado
como uma função da taxa da carga de massa de substâncias oxidáveis
biologicamente e material suspenso no esgoto (CUYK et al., 2001).
Quando o esgoto afluente contém sólidos suspensos de tamanho
comparável com o das partículas do meio poroso, a penetração de sólidos
suspensos não ocorre de modo significativo, e o acúmulo na superfície induz à
formação de uma capa impermeabilizante, que reduz a condutividade hidráulica
total do meio (BAVEYE et al., 1998).
Propriedades químicas das partículas sólidas do solo ou da solução
aquosa percolante, tais como concentração eletrolítica, fração de compostos
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 12
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

orgânicos na fase aquosa, pH, potencial redox, tanto quanto a composição


mineralógica da fase sólida, suas características superficiais e reações químicas
(precipitação/dissolução) afetam a forma e a estabilidade dos poros e, portanto,
determinam o valor da condutividade hidráulica saturada do meio (BAVEYE et al.,
1998). Deste modo, segundo EPA (1984), recomenda-se a realização de
manutenção regular na superfície de infiltração das bacias de infiltração rápida. O
equipamento para manutenção de rotina consiste de um trator com pneus de
baixa pressão sobre o solo e discos para escarificar a superfície da camada de
solo. Estas atividades de manutenção são conduzidas somente quando a bacia
está seca. Antes disso o primeiro passo seria remover alguns depósitos de
material orgânico que pudessem ter-se acumulado em lugares baixos da bacia.
De acordo com Cuyk et al. (2001), quando ocorre colmatação do solo, as
taxas de carga hidráulica tornam-se mais altas e a distribuição não uniforme do
esgoto faz com que este seja transportado através da zona subterrânea até o
lençol, sem tratamento adequado. A interação de processos hidráulicos e de
estabilização durante o tratamento de esgoto no solo, resultaria em início de
zonas colmatadas, mudanças nos tempos de retenção e eficiência de utilização
volumétrica do solo abaixo da superfície infiltrativa.
Segundo Balks et al. (1997), o bloqueio microbiano dos poros do solo tem
sido afetado pela temperatura, contudo resultados conflitantes têm sido
apresentados. Temperaturas crescentes podem causar seja um aumento ou um
decréscimo no desenvolvimento do bloqueio dos poros do solo. A atividade
biológica aumenta em temperaturas mais elevadas, que podem resultar em uma
quantidade maior de material microbiano presente, e, conseqüentemente, o
bloqueio dos poros do solo, decrescendo a permeabilidade do mesmo. Entretanto,
temperaturas mais altas também aumentam a taxa de decomposição de material
orgânico, e, portanto, podem induzir um decréscimo na quantidade de bloqueio
dos poros do solo.

3.2.3 Remoção de matéria orgânica


Os maiores processos que afetam o movimento e o destino de compostos
orgânicos em sistemas de infiltração são volatilização, adsorção e transformações
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 13
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

química e biológica. Compostos que são voláteis podem ser perdidos para a
atmosfera, enquanto a água é aplicada no solo em bacias de espalhamento ou
durante períodos secos nas bacias. Processos de adsorção retardam o
movimento de compostos orgânicos através do solo. Os componentes do solo de
maior importância na adsorção são a argila e o material inorgânico particulado ou
a matéria orgânica. Compostos que são mais hidrofílicos movem-se mais
prontamente com a água e concentram-se menos sobre o solo (BOUWER et al.,
1984).
Os últimos processos de remoção de compostos orgânicos são as
transformações química e biológica. A presença de aceptores de elétrons é um
fator importante que afeta a biodegradação. Alguns compostos são degradados
somente sob condições aeróbias, e outros somente sob condições anóxicas
(BOUWER et al., 1984).
O oxigênio, requerido pela decomposição biológica de substâncias
orgânicas no esgoto, penetra da atmosfera para o solo por difusão. Quando a
carga orgânica aplicada no solo excede certos limites, condições anaeróbias
podem se desenvolver, temporariamente, na camada de solo. Isto pode induzir a
decomposição anaeróbia, resultando em substâncias como: aldeídos, cetonas e
ácidos orgânicos, que podem ser perigosos para o biofilme aeróbio. Portanto, as
condições aeróbias devem ser mantidas no solo (KOWALIK et al., 1985).
Analogamente, em filtros biológicos de estágio simples, as bactérias
nitrificantes estarão competindo com as bactérias heterótrofas pelo suprimento de
oxigênio. A disponibilidade de oxigênio dentro de um filtro é uma função da
concentração de DBO, são requeridas concentrações de DBO solúvel menores
que 20,00 mg/L para que haja oxigênio suficiente que permita a nitrificação. Como
esta qualidade de efluente raramente é atingida, a nitrificação está,
freqüentemente, ausente (HORAN, 1997).

3.2.4 Remoção de nutrientes

3.2.4.1 Nitrogênio
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 14
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

O nitrogênio é usualmente encontrado na forma de amônia e nitrogênio


orgânico em esgotos domésticos. Nitrogênio orgânico em esgoto pode ser
removido por sedimentação e filtração. Algum nitrogênio orgânico é hidrolisado a
aminoácidos solúveis que podem sofrer posterior colapso por liberar amônia
ionizada (TANIK et al., 1996).
Amônia solúvel pode ser removida por volatilização diretamente para a
atmosfera como gás amônia. Esta via de remoção é relativamente importante em
regiões áridas. Um grande percentual de nitrogênio (70,00 %) é eliminado por
desnitrificação em climas quentes. Em períodos chuvosos ocorre redução na
nitrificação, principalmente devido à extração de amônia por chuvas pesadas,
ocorrendo lixiviação da amônia (BRISSAUD et al, 1991; TANIK et al., 1996).
Horan (1997) descreve que os maiores problemas advindos de descargas
de efluentes de esgoto são o enriquecimento com nutrientes (eutrofização), com o
crescimento acentuado de algas e a oxidação de amônia para nitrato pelas
bactérias nitrificantes (nitrificação).
Durante qualquer processo de tratamento biológico, mais de 30,00 % do
nitrogênio total é removido na síntese das células pela amonificação. Desta forma,
para remover a amônia remanescente é necessário que ocorra nitrificação
(HORAN, 1997).

Nitrificação
Segundo Yamaguchi et al. (1996), a alternância de períodos de alagamento
(aplicação de esgoto) e secagem (nenhuma aplicação) torna-se necessária para
introduzir períodos aeróbios e anaeróbios seqüenciados nos sistemas de
aplicação de esgoto no solo. Durante os períodos de alagamento, ocorrem os
processos aeróbio e anaeróbio, haja vista que o solo nunca conseguirá ficar
completamente saturado de água. A nitrificação total da amônia durante os
períodos aeróbios é um pré-requisito para que ocorra o processo de
desnitrificação durante os períodos anaeróbios subseqüentes, evitando o acúmulo
de NH 4 no solo.
De acordo com Russell et al. (1993), nos locais onde a irrigação é feita com
esgoto, forma-se nitrato durante os períodos aeróbios, entre eventos de irrigação.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 15
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Quando o efluente é aplicado, o ar do solo é rapidamente deslocado pelo esgoto,


o solo se torna saturado e o número de espaços anóxicos aumenta. A
desnitrificação, assim como a emissão de óxido nitroso ocorre durante este
período. Quando o esgoto é facilmente drenado, o número de espaços anóxicos
decresce e as taxas anteriores se restabilizam. Desta forma, os autores
observaram que a aplicação de efluente de processamento de carne tratado em
nível primário, no solo, resultou em um pico significativamente maior de emissão
de óxido nitroso que a aplicação de efluente tratado anaerobiamente.
O regime intermitente de carga hidráulica desempenha um papel
importante na aeração do sistema, favorecendo o crescimento de grupos de
bactérias nitrificantes. No experimento de Bahgat et al., (1999) no trigésimo oitavo
dia, as bactérias oxidantes de amônia estavam estabelecidas em ambas as
camadas do topo e fundo do solo, enquanto as bactérias que oxidam o nitrito
desenvolveram-se gradualmente e estavam bem estabelecidas após 52 dias.

Desnitrificação
Segundo Horan (1997), na ausência de um suprimento de oxigênio
dissolvido, a utilização de oxigênio como aceptor final de elétrons é inibida. Sob
estas condições, a maioria dos microrganismos depende da fermentação, contudo
certos quimiorganotrofos são capazes de utilizar NO3 em vez de O2 como aceptor

final de elétrons e a respiração pode proceder com a redução de nitrato para


nitrito, óxido nítrico, óxido nitroso e nitrogênio, como mostrado na tabela 3.1.

TABELA 3.1 – Subprodutos da desnitrificação de nitrato


Estado Redox do Nitrogênio
+5 +3 +2 +1 0

NO3  NO2  NO  N2O  N

Nitrato Nitrito Óxido Nítrico* Óxido Nitroso* Nitrogênio*

Fonte: Horan (1997)


* - produtos finais gasosos.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 16
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

O estado redox dos intermediários na desnitrificação mostra que a reação


acontece em uma série de passos, cada um associado com o ganho de um
elétron. Um doador de elétron é, portanto, requerido como fonte destes elétrons.
Em tratamento de esgotos, esta reação é desempenhada basicamente por
bactérias heterótrofas e somente fontes de carbono orgânico podem ser usadas.
Apesar de o esgoto, por si próprio, conter uma fonte disponível de carbono
orgânico, esta é inadequada em efluentes tratados; portanto em um sistema de
dois estágios (nitrificação/desnitrificação) uma fonte suplementar de carbono deve
ser providenciada. Na ausência de qualquer outra fonte, metanol é, geralmente,
aceito como fonte de carbono (HORAN, 1997).
Canter et al. (1990) afirmam que quatro parâmetros tendem a influenciar a
taxa e o grau de desnitrificação no solo e em sistemas biológicos: oxigênio,
umidade, pH e fonte de carbono, haja vista que a desnitrificação é um processo
anaeróbio que requer ausência de oxigênio para ocorrer e que o conteúdo
crescente de umidade em um solo favorece um ambiente anaeróbio; portanto,
uma crescente desnitrificação.
A desnitrificação é uma via metabólica que não tem início e fim com
substrato e produtos definidos. Pelo contrário, ela consiste em uma cadeia de
reações individuais. A maioria dos heterótrofos somente reduz nitrato a nitrito e
apenas uma pequena parte dos heterótrofos está apta a completar a
desnitrificação até produtos gasosos. Investigações feitas sobre desnitrificação
em solos revelaram uma razão de produtores de nitrito para desnitrificadores de
4:1 (GAMBLE et al., 1977 apud LEMMER et al., 1997).
Segundo Russell et al. (1993), a desnitrificação pode ser considerada como
benéfica em sistemas de tratamento de esgoto. A perda de nitrogênio como N 2O
ou N2 reduz a possibilidade de o nitrato atingir as águas subterrâneas, contudo
óxido nitroso é um poluente atmosférico que absorve radiação infravermelha e,
portanto contribui para o aquecimento global através do efeito estufa (BANIN,
1986). Posteriormente, N2O é convertido a óxido nítrico (NO) na estratosfera e o
óxido nítrico, cataliticamente, destrói o ozônio, contribuindo para a destruição da
camada de ozônio que nos protege dos malefícios dos raios ultravioleta
(RAMANATHAN et al., 1985 apud RUSSEL et al., 1993).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 17
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Como uma alternativa para remover nitrato, o processo de desnitrificação


autotrófica biológica tem recebido muita atenção, devido ao fato de que em
comparação com os processos heterótrofos biológicos tem a vantagem de não
necessitar de uma fonte de carbono orgânico externa (metanol ou etanol), o que
diminui o custo e o risco do processo (ZHANG & LAMPE, 1999).
Processos de desnitrificação baseados no enxofre utilizam desnitrificantes
autotróficos, tais como Thiobacillus denitrificans e Thiomicrospira denitrificans
para reduzir nitrato ou nitrito a gás nitrogênio. A produção de sulfato é uma
desvantagem do processo de desnitrificação autotrófica com enxofre. A US.EPA
determina o padrão de sulfato para água potável como 250,00 mgSO42 / L . Desde
que o processo de desnitrificação autotrófica para o tratamento de esgoto
contaminado com nitrato não seja usado para produzir água potável diretamente,
o sulfato produzido pelo processo pode ser tolerável (ZHANG e LAMPE, 1999).

3.2.4.2 Fósforo
Horan (1997) relata que dos nutrientes capazes de proporcionar
crescimento exagerado de algas em águas receptoras, o fósforo é o fator limitante
e a concentração de 10 g/l é requerida para que ocorra o crescimento das algas.
Muitos mecanismos têm sido propostos para explicar a retenção de fósforo pela
areia: remoção rápida ou adsorção, precipitação química envolvendo
transformação do fosfato solúvel aplicado para os fosfatos de cálcio alumínio e
ferro, relativamente insolúveis, imobilização biológica e retirada pelas plantas.
A capacidade de adsorção dos solos, particularmente aqueles contendo
argila e matéria orgânica, tem sido usada para promover a retenção de fósforo.
No entanto, o equilíbrio de adsorção é alcançado em poucas horas, quando
devem ocorrer subseqüentes mecanismos de mineralização lenta e
insolubilização, que envolve precipitação química, atividades biológicas ou ambas
(AULENBACH et al., 1988).
Em regiões áridas o fósforo solúvel é eliminado em grande quantidade, por
precipitação (60,00 %). Em regiões chuvosas, geralmente não ocorre retenção de
fósforo, porque a massa de areia é lavada pelas chuvas (TANIK et al., 1996).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 18
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Além disso, o pH do solo afeta a capacidade assimilativa de fósforo, porque


influencia diretamente a capacidade de troca catiônica do solo.
A fixação química de fosfatos inorgânicos adicionados ocorre sob todas as
condições de pH do solo, com a menor fixação na ordem de 5,80 a 6,80 (TANIK
et al., 1996).

3.2.5 Principais microrganismos envolvidos


Considera-se que o processo de formação e colonização do biofilme no
solo seja iniciado pela produção de muco e bactéria encapsulada, a qual adere à
superfície do meio condicionado com um filme orgânico. A ligação provavelmente
ocorre inicialmente por união química e força de Van der Waals. É um processo
muito rápido e Zooglea ramigera é freqüentemente observada como colonizadora
inicial.
A colonização por outras bactérias heterótrofas é também rápida, com os
gêneros: Pseudomonas, Flavobacterium e Alcaligenes, entre os primeiros a
aparecer. Depois de cinco dias o biofilme comportará grande diversidade de
bactérias, das quais os tipos filamentosos freqüentemente predominam. Ao longo
de um período de semanas, ocorrerá o crescimento mais lento de fungos. Os
gêneros Fusarium, Geotrichum e Sporotrichum aparecerão e contribuirão para a
remoção de DBO. Em adição, algas como Chlorella, Euglena, Oscillatoria, Ulothrix
e Stigeoclonium serão abundantes. Seu papel principal é tipicamente o de
remoção de nutrientes (nitrogênio e fósforo) (HORAN, 1997).
No experimento realizado por Balks et al. (1997), comparando tubos de
PVC preenchidos com o mesmo tipo de solos, submetidos ao mesmo tipo de
esgoto e armazenados a temperaturas diferentes (13 e 25 oC), pôde-se comparar
a progressão da resposta biológica do solo ao efluente infiltrado, além de
mudanças na permeabilidade do solo. Dois dias após a aplicação do efluente a
permeabilidade das colunas de solo armazenadas com esgoto tratado a 13 oC
diminuiu para menos que 50% da permeabilidade, anterior à aplicação do
efluente. Em colunas de solo armazenado a 25 oC, houve um decréscimo inicial
de 70% na permeabilidade das colunas de solo, em relação ao que foi observado
a 13oC, contudo a taxa de recuperação da permeabilidade do solo foi mais rápida
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 19
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

a 25oC que a 13oC, com diferença significante entre a permeabilidade das colunas
do efluente e a água tratada somente para os primeiros 17 dias seguindo
aplicação do efluente.
Ainda segundo o autor, o desenvolvimento de um filme superficial de
materiais microbianos na superfície do solo, depois da aplicação de efluente,
inicia-se com um filme fino de material interpretado como consistindo de muco de
polissacarídeos, dentro do qual as formas bacterianas se tornam evidentes.
Gradualmente, o filme bacteriano se quebra e são eliminadas somente as formas
bacterianas. Ao longo do tempo, desenvolvem-se com fungos, actinomicetos e
uma ordem de bactérias coloniais aparece. O filme superficial e o consórcio
microbiano foram similares sob ambas as condições de campo e laboratório,
embora algas e diatomáceas que foram observadas nas amostras tomadas do
campo, não tenham sido em amostras do laboratório.
Em amostras nas quais se detecta presença relativamente alta de
actinomicetos, uma explicação razoável seria a habilidade de actinomicetos e
fungos para metabolizar substâncias que são de difícil decomposição (DIZER et
al., 1991).
Vírus usualmente não sobrevivem por períodos extensos sobre superfícies
expostas, devido à exposição direta a fatores ambientais supressivos como
radiação solar e temperaturas ambientais altas. A umidade do solo é um fator
adicional, permitindo a sobrevivência de vírus no solo (ORON et al., 1995). De
acordo com algumas observações preliminares condições de solo úmido retardam
o processo de morte dos vírus. O conteúdo de umidade alta é freqüentemente
associado a baixa temperatura do solo, que é um fator adicional, contribuindo
para a sobrevivência dos vírus.
Muitas propriedades definem a eficiência de filtração do solo e, portanto o
potencial para remoção de microrganismos: (a) distribuição das partículas do solo
e tamanho médio; (b) conteúdo de umidade e freqüência de flutuação que
influencia a viabilidade de vida dos organismos no solo (contudo, a quase
constante umidade na zona das raízes aumenta a disponibilidade de nutrientes);
(c) conteúdo de ar, que afeta atividade biológica e química; (d) conteúdo de
matéria orgânica, que pode influenciar a atividade de microrganismo dentro do
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 20
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

solo; (e) reação do solo como definido por pH; (f) propriedades de adsorção, que
são relacionadas à composição química e área específica das partículas do solo.
Estas propriedades das partículas do solo podem impedir ou estimular reações
químicas com o líquido fluindo através do meio, e; (g) resposta magnética e
elétrica das partículas do solo para as partículas contidas no efluente (ORON et
al., 1995).
Em exames virológicos de um campo de irrigação de esgoto, vírus foram
descobertos a uma distância horizontal de 350,00 m do lugar de aplicação (DIZER
et al., 1991).

3.3 Infiltração subsuperficial

A infiltração lenta (ou irrigação) envolve a aplicação de esgoto num solo


vegetado, a fim de realizar o tratamento e ao mesmo tempo suprir as
necessidades hídricas e nutricionais das plantas (ANGELAKIS, 2001). Parte da
água aplicada é perdida por evapotranspiração, e parte percola vertical ou
horizontalmente através do solo (METCALF e EDDY, 1991).
Hespanhol (2003) cita alguns fatores que contribuíram para o reúso de
águas para fins agrícolas, sendo esses: dificuldade de identificação e exploração
de fontes alternativas de água para a irrigação; custos elevados dos fertilizantes e
dos sistemas convencionais de tratamento; reconhecimento, pelos órgãos
gestores de recursos hídricos, da potencialidade da prática; riscos minimizados à
saúde pública e ao ambiente, quando adequadamente administrados.
Baseados na experiência do Vietnã, onde é secular o reúso de esgoto na
agricultura, Raschid-Sally et al. (2001) enumeram desvantagens importantes
dessa prática: riscos à saúde dos irrigantes, da comunidade em contato com o
esgoto e dos consumidores dos vegetais irrigados; poluição das águas
subterrâneas, principalmente por nitratos; acúmulo de poluentes no solo,
especialmente metais pesados; e criação de habitats para proliferação de vetores,
como mosquitos, em áreas peri-urbanas.
No entanto, pesquisas indicam que o uso consuntivo de água para a
agricultura no Brasil está em torno de 70,00 %, o que não difere da realidade
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 21
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

mundial. A utilização de águas de baixa qualidade, como esgotos domésticos e


industriais, na agricultura, levaria à redução de 10,00 % dos 65,00 % de toda
água utilizada em âmbito mundial, disponibilizando as “economias” para o uso
doméstico e industrial (HESPANHOL, 2003).
“O Brasil oferece condições excepcionalmente favoráveis para a disposição
de esgotos no solo, tanto pela disponibilidade de áreas em sua grande extensão
territorial como pelas condições climáticas adequadas, entre outros fatores
convenientes.” (CORAUCCI FILHO et al., 1999). Segundo Polprasert (1996),
condições climáticas onde a magnitude da evaporação e a evapotranspiração é
superior à precipitação são geralmente preferidas para o tratamento do esgoto no
solo. Pois a ocorrência de condições anaeróbias é usualmente nociva ao sistema
de raízes das culturas, e afeta a disponibilidade de nutrientes, podendo também
aumentar a mobilidade dos materiais tóxicos anteriormente precipitados.
Angelakis (2001) recomenda ciclos intermitentes de aplicações de esgoto, para
manter condições predominantemente aeróbias no perfil do solo.

3.3.1 Qualidade da água para irrigação


A qualidade da água de irrigação é determinante em função de
características físicas, químicas e biológicas, e da adequação ao uso específico a
que se destina (AYERS e WESTCOT, 1991), o que exige conhecimento prévio,
não só de suas propriedades, mas também dos efeitos e riscos à saúde e ao meio
ambiente (BLUM, 2003).
Quando da utilização de esgotos na agricultura, a qualificação físico-
química e biológica das águas deve levar em consideração diversas variáveis que
se refletem na produtividade e qualidade das culturas, na manutenção da
fertilidade do solo e na proteção do homem e do meio ambiente. Dentre os
contaminantes dos esgotos que podem degradar a qualidade dessas águas,
estão os sais, os nutrientes e os traços de elementos químicos (US.EPA, 1996),
os quais estão relacionados com os principais problemas no solo: salinidade,
permeabilidade, toxicidade de íons específicos e concentração de nutrientes
(AYERS e WESTCOT, 1991).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 22
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Para a prevenção dos problemas relacionados com a qualidade da água de


irrigação, foram propostas diretrizes para avaliar o potencial deletério da água
sobre produção de culturas e condições de solo, em longo prazo (AYERS e
WESTCOT, 1991). As diretrizes para avaliar a qualidade da água de irrigação
encontram-se na Tabela 3.2.
TABELA 3.2 – Diretrizes para interpretação da qualidade da água para irrigação.
Grau de Restrição para Usoa
Problema Potencial Unidades
Nenhuma Ligeira e Moderada Severa
Salinidade
CEb dS/m < 0,7 0,7 – 3,0 > 3,0
Permeabilidade /
Infiltração
RAS = 0 – 3 e CE =
c > 0,7 0,7 – 0,2 > 0,2
= 3 – 6 e CE= > 1,2 1,2 – 0,3 > 0,3
= 3 – 12 e CE = > 1,9 1,9 – 0,5 > 0,5
= 12 – 20 e CE = > 2,9 2,9 – 1,3 > 1,3
= 20 – 40 e CE = > 5,0 5,0 – 2,9 > 2,9
pH Faixa Normal: 6,5 – 8,4
Toxicidade de íons
específicos
(Irrigação por superfície)
Sódio (Na )
RAS < 3,0 3,0 – 9,0 > 9,0

Cloreto (Cl ) meq/L < 4,0 4,0 – 10,0 > 10,0
Boro (B ) mg/L < 0,7 0,7 – 3,0 > 3,0

Nitrogênio
mg/L < 5,0 5,0 – 30,0 > 30,0
(NO3 - N )
Fonte: Adaptado e condensado de Ayers e Westcot (1991).
a Restrição de uso não significa que á água é inapropriada para o uso, mas pode haver limitações

quanto às espécies cultiváveis ou ao tipo de solo.


b Condutividade elétrica
c Razão de adsorção de sódio

Do ponto de vista sanitário, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em


1989, com o intuito de prevenir possíveis transmissões de doenças aos
trabalhadores rurais e ao público consumidor dos produtos agrícolas cultivados
em campos irrigados com esgoto, estabeleceu diretrizes sanitárias para a
utilização de esgotos tratados na irrigação de culturas. Estas diretrizes são
apresentadas na Tabela 3.3.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 23
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 3.3 – Diretrizes de qualidade microbiológica recomendadas para esgotos tratados


utilizados na irrigação de culturas.
Coliformes
Nematóides
Condições de termotolerante Tratamento
Categoria Grupo exposto intestinais
uso s requerido
(ovos/L)
(CTT/100mL)
Irrigação de
culturas Série de lagoas
Trabalhadores,
consumidas de estabilização
A consumidores e ≤1 ≤ 1000
cruas, campos ou tratamento
público em geral
esportivos, equivalente
jardins públicos
Irrigação de Retenção em
cereais, culturas lagoas de
industrializadas, Nenhum padrão estabilização
B Trabalhadores ≤1
forrageiras, recomendado por 8 a 10 dias
prados e ou tratamento
árvores equivalente
Irrigação
localizada de
culturas da
Sedimentação
categoria B,
C Nenhum Não aplicável Não aplicável primária, no
sem exposição
mínimo
de
trabalhadores e
público
Fonte: Adaptado de OMS (1989).

Sabe-se que a qualidade das águas residuárias utilizadas na agricultura


difere daquelas convencionalmente empregadas, porém, diante da escassez de
recursos hídricos facilmente exploráveis, é inevitável a priorização no uso
doméstico e industrial das águas de boa qualidade.
Para efeito de comparação com as diretrizes de qualidade de água para
irrigação, os principais constituintes do esgoto bruto estão apresentados na
Tabela 3.4.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 24
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 3.4 – Composição típica de esgotos domésticos brutos.


Concentração
Parâmetro
Unidade Esgoto bruto (1)

Sólidos totais mg / L 1100

Sólidos em suspensão mg / L 400

Sólidos dissolvidos mg / L 700

DQO mg / L 700

Amônia mgNH 3 / L 30

Nitrito mgNO2 / L ≈0

Nitrato mgNO3 / L ≈0

Fósforo total mgP / L 8

Ortofosfato mgP / L 3
pH - 7,0

Alcalinidade mgCaCO3 / L 140

Cloretos mg / L 35

Coliformes totais NMP / 100mL 106 – 109


Coliformes termotolerantes NMP / 100mL 105 – 108
Fonte: Adaptado e condensado de Von Sperling (1996); Metcalf e Eddy (1991).
(1) Valores referentes a concentrações médias.

3.3.1.1 Salinidade
A salinidade da água de irrigação está relacionada com a concentração de
sais solúveis, expressa em função da condutividade elétrica (CE), que é utilizada
como procedimento padrão pela facilidade e rapidez de determinação, e permite a
classificação e diagnóstico das águas destinadas à irrigação (SALASSIER, 1995).
Além da origem geológica, a presença de sais nos solos está associada ao
transporte de águas subterrâneas e de irrigação de uma região para outra, bem
como ocasionada pela aplicação de lodo e águas residuárias, domésticas e
industriais, nos solos.
Segundo Coraucci et al. (1999), excesso de água de irrigação, drenagem
insuficiente do solo e ascensão capilar podem atingir a zona radicular da
vegetação e permitir acúmulo de sais na superfície do solo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 25
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Mesmo quando de excelente qualidade, as águas de irrigação possuem


certa quantidade de sais (SALASSIER, 1995), que podem transformar
gradativamente uma área fértil em um solo salino de baixa produtividade
(REICHARDT, 1990). A lixiviação dos sais da zona radicular, considerada como a
prática básica, deve ser realizada à proporção em que a salinidade aumenta,
antes que alcancem concentrações perigosas e provoquem perdas nos
rendimentos (AYERS e WESTCOT, 1991).
Os problemas de salinidade são geralmente maiores em regiões áridas e
semi-áridas por causa da insuficiência de chuvas ao longo do ano para a lavagem
dos sais acumulados na zona radicular das plantas. Nas regiões úmidas e
temperadas, onde a irrigação com esgoto ocorre somente nos períodos de
estiagem, as precipitações são normalmente suficientes para lixiviar os sais do
solo a níveis aceitáveis (US.EPA, 1996). Os sais presentes nos esgotos precisam
ser monitorados, como é feito nas práticas normais de irrigação, para controlar o
processo de salinização do solo e preservar sua produtividade.

3.3.1.2 Capacidade de infiltração do solo


A infiltração está relacionada com a velocidade com que a água atravessa
a superfície do solo. Por sua vez, a velocidade de infiltração depende da
qualidade da água e das características físicas e químicas do solo. (AYERS &
WESTCOT, 1991).
Concentrações elevadas de sódio (Na) na água de irrigação provocam
substituição no solo dos íons cálcio (Ca) e magnésio (Mg) pelo íon sódio que, em
condições predominantes, tem efeito de dispersão das partículas do solo,
desenvolvendo uma situação de pouca drenagem interna, diminuindo a
permeabilidade à água e provocando desequilíbrio do Na em relação ao Ca e ao
Mg, com efeitos nutricionais (PAGANINI, 2003; POLPRASERT, 1996;
REICHARDT, 1990).
As águas residuárias apresentam concentrações regulares de sódio,
potássio, cálcio e magnésio, elementos importantes na fertilidade do solo. O
aproveitamento desses macronutrientes, como fonte mineral, pelo sistema solo-
planta implicaria numa redução considerável desses no solo (MELO et al., 2000).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 26
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Segundo Coraucci Filho et al. (1999), os solos de regiões áridas,


normalmente, têm cálcio e magnésio como principais cátions, e porcentagem de
sódio abaixo de 5,00 % em termos de cátions trocáveis, o que deve ser
considerado desejável. Uma pequena proporção de Na no solo em relação aos
íons Ca e Mg pode retardar ou evitar a degradação do solo pela disposição de
águas residuárias com teores elevados de sódio.
Contudo, Polprasert (1996) acrescenta que, em regiões áridas, as taxas de
irrigação de esgotos podem não ser suficientes para evitar a acumulação de íons
de sódio no solo, o que pode levar à degradação da estrutura do solo e redução
nas taxas de percolação da água.
Diante da importância da determinação do risco sódio, a qualidade da água
a ser disposta no solo deve ser investigada por meio da RAS (Razão de Adsorção
de Sódio), expressa pela equação 1:

Na
RAS  (1)
Ca  Mg
2

na qual Na, Ca e Mg são as concentrações dos sais solúveis em miliequivalente


por litro.
“A capacidade de infiltração de um solo cresce com o aumento de sua
salinidade e decresce com o aumento da RAS e, ou, decréscimo de sua
salinidade” (SALASSIER, 1995). Por esta razão, a CE e RAS são analisadas
conjuntamente, em função da sua interdependência.
Valores de RAS entre 10,00 e 12,00 podem ser considerados críticos à
estrutura de muitos solos (CORAUCCI FILHO, 1999). Para Paganini (2003),
valores de RAS superiores a 15,00 são inaceitáveis, embora alguns tipos de solos
sejam menos sensíveis, capazes de suportar valores maiores, sem problemas.
Melo et al. (2001) utilizaram efluentes de um sistema decanto-digestor
seguido de filtros anaeróbios na irrigação subsuperficial de capim elefante
(Pennisetum purpureum). A RAS e a CE dos efluentes (valores médios de 5,62 e
668,18 μS/cm, respectivamente), na entrada dos tabuleiros experimentais,
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 27
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

mostraram uma classificação com poucas restrições para o uso destes em


irrigação, considerando a salinidade e a sodicidade. Contudo, na saída dos
tabuleiros, foi observado um acréscimo nos valores médios da RAS e
conseqüente redução de CE, indicando ou ocorrência de lixiviação dos sais
contidos nos esgotos, ou absorção de cálcio e de magnésio pelas raízes da
gramínea.
Dawes (2003), analisando a qualidade das águas de irrigação aplicadas em
módulos experimentais, mostrou-se preocupado com uma possível degradação,
em longo prazo, do solo nos locais onde os valores da RAS foram superiores a
cinco. Uma vez que este autor observou que valores de RAS acima de cinco
causam dispersão nos solos australianos, com decréscimo das taxas de
infiltração e redução da condutividade hidráulica.
A taxa de infiltração pode ser reduzida, ainda, pelo excesso de sólidos
suspensos no esgoto, que podem causar o entupimento dos poros do solo.
Polprasert (1996) sugere que a taxa de aplicação hidráulica para um sistema de
tratamento de esgoto no solo seja menor que a taxa de infiltração do solo. Assim,
a decomposição natural dos sólidos orgânicos durante a não aplicação do esgoto
ou períodos de “repouso” permitirá que a taxa de infiltração seja recuperada.
Os problemas de infiltração podem ser solucionados por tratamentos
químicos, que incluem a adição de corretivos (ex: gesso) que modificam a
composição química do solo ou da água, ou a mistura de águas de qualidades
distintas; ou físicos, como lavras superficiais, aerações profundas e incorporações
ao solo de resíduos de cultura, que fazem uso de práticas culturais que visam
melhorar a infiltração ou mantê-la em níveis aceitáveis (AYERS e WESTCOT,
1991).

3.3.1.3 Concentração de elementos tóxicos (Toxicidade)


Segundo Ayers e Westcot (1991), “a toxicidade é um problema que ocorre
internamente na planta e não é provocado pela falta de água.” As plantas
absorvem os elementos presentes na solução do solo, mesmo que deles não
necessitem. Dos elementos encontrados nas águas de irrigação, os que mais
comumente causam problemas de toxidez às plantas são os íons de cloro, sódio
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 28
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

e boro, que, apesar de essenciais ao crescimento das plantas, podem se


acumular no solo em níveis tóxicos à vegetação (SALASSIER, 1995).
O cloreto, que não é retido ou adsorvido pelas partículas do solo, é
absorvido pelas raízes das plantas e translocado às folhas, onde se acumula em
virtude da transpiração. Os sintomas característicos de toxicidade por cloretos são
as necroses e as queimaduras nas folhas (AYERS e WESTCOT, 1991).
De acordo com HARUSSI et al. (2001), os abacateiros têm o crescimento
reduzido em concentrações de cloretos acima de 100,00 mg/L. Vegetais, frutas
cítricas e bananas são mais tolerantes, com os sintomas de toxicidade se
manifestando em concentrações superiores a 250,00 mg/L.
A toxicidade do sódio pode ser identificada pela alta concentração de sódio
na água de irrigação. Análises de solo e foliares podem contribuir para melhor
diagnóstico (AYERS e WESTCOT, 1991).
Ainda de acordo com Ayers e Westcot (1991), o boro contido na água de
irrigação produz problemas maiores de toxicidade do que o contido no solo, que
apresenta deficiência natural desse elemento (PAGANINI, 1997). Por ser
essencial ao desenvolvimento das plantas, a toxicidade por boro pode afetar
praticamente todas as plantas, em maior ou menor intensidade, em função de
suas sensibilidades. Concentrações próximas a poucos décimos de mg/L geram
rendimento ótimo na produtividade de algumas culturas, enquanto outras, mais
sensíveis (ex: Citrus), não toleram concentrações de 1,00 mg/L no solo, ao passo
que gramíneas relativamente tolerantes suportariam teores de 2,00 a 10,00 mg/L
(AYERS e WESTCOT, 1991; PAGANINI, 1997).
Lixiviação, adoção de culturas mais tolerantes e misturas ou substituições
das águas surgem como soluções para os problemas de toxicidade por íons
cloreto, sódio e boro (AYERS & WESTCOT, 1991).
Quanto aos metais pesados, Singh et al. (2003) consideram o pH dos solos
um dos fatores mais importantes no combate ao acúmulo destes no solo, que
causam, em concentrações elevadas, impacto nas culturas, inibindo de alguma
forma o crescimento. Solos alcalinos e ricos em matéria orgânica podem restringir
a mobilização do metal na matriz do solo e, conseqüentemente, a retirada pela
planta seria controlada, reduzindo os riscos de toxidade por metais.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 29
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Embora os metais pesados sejam, de um modo geral, tóxicos à plantas e


animais, suas concentrações nos esgotos predominantemente domésticos são
reduzidíssimas. Em contrapartida, a disposição de efluentes industriais no solo
requer cuidados maiores.

3.3.1.4 Excesso de nutrientes


Apesar de evidente a potencialidade do uso de efluentes tratados ou
parcialmente tratados na irrigação, não se trata de uma prática isenta de riscos.
Teores elevados de nutrientes, especialmente nitrogênio (N) e fósforo (P), nos
esgotos, podem ser prejudiciais ao sistema solo-planta-ambiente, convertendo-os
da condição de adubo para as plantas a poluentes, com efeitos maléficos na
qualidade e produtividade das culturas, e na poluição de águas superficiais e
subterrâneas.
Segundo a US.EPA (1996), a concentração de nutrientes nos esgotos
depende do abastecimento d’água, da qualidade e do tipo e grau de tratamento
dados aos esgotos.

3.4 Impacto da disposição de efluente no sistema solo-planta-ambiente

Os componentes ambientais que devem ser observados nos sistemas de


tratamento de esgoto no solo incluem as águas residuárias, as águas
subterrâneas, o solo e, em alguns casos, a vegetação (POLPRASERT, 1996). A
contaminação do solo e da planta depende muito da qualidade do efluente
aplicado, das condições do solo (umidade, conteúdo de matéria orgânica,
salinidade) e da tecnologia de irrigação utilizada (ORON et al., 2001). Para
Paganini (2003), “Todos os problemas da água no solo dependem da relação
entre os fenômenos de infiltração e evaporação. Se a infiltração for maior, os
solos são lixiviados e acidificam-se com facilidade. Se a evaporação predomina,
acumulam-se sais na camada superior dos solos.”
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 30
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

3.4.1 Efeitos nas características químicas do solo


A irrigação com águas residuárias pode resultar em alterações importantes
na constituição do solo irrigado. Para Polprasert (1996), os parâmetros do solo
que requerem atenção especial são: pH, percentual de sódio trocável (PST),
salinidade, concentração de nutrientes e metais pesados.

3.4.1.1 pH do solo
O valor de pH pode ser utilizado como indicativo das condições gerais de
fertilidade do solo, pois condiciona o crescimento vegetal, a atividade dos
microrganismos e a disponibilidade de nutrientes (ISA, 2004). Segundo Costa et
al. (2001), o pH do solo determina a disponibilidade ou indisponibilidade de
elementos químicos, nutrientes ou não, às plantas. Solos com pH entre 6,5 e 7,0
promovem a indisponibilidade de elementos como cobre, ferro, manganês, zinco e
alumínio, além de metais pesados; e a disponibilidade às plantas de elementos
como boro, cálcio, cloro, enxofre, fósforo, magnésio, molibdênio, nitrogênio e
potássio.
De acordo com Coraucci et al. (1999), o pH dos solos ditos normais varia
de 4,00 a 7,00, sendo considerados ácidos no limite inferior e salinos (ou
calcários), no limite superior.
Valores de pH abaixo de 4,50 indicam pobreza em Ca, Mg, P e Mo, teores
elevados de Al e alta fixação de P, acima de 7,50; demonstram deficiência de
micronutrientes (ferro, zinco, manganês e boro) ou excesso de sais, que restringe
bastante o crescimento das plantas (EMBRAPA, 2004; ISA, 2004). Polprasert
(1996) cita que solo com pH acima de 6,5 geralmente indica um alto conteúdo de
sódio e possíveis problemas de permeabilidade; valores de pH abaixo de 5,50 e
acima de 8,50 são geralmente prejudiciais à maioria das plantas. Para Malavolta
(1978), a maioria das plantas cultivadas em solo pouco ácido, com pH próximo de
6,50, cresce melhor e produz mais.
Segundo Embrapa (2004), os solos brasileiros, na sua maioria, são ácidos,
com concentrações baixas de cálcio e de magnésio, elementos diretamente
envolvidos no desenvolvimento das raízes, e com teores elevados de alumínio
trocável, além de baixa disponibilidade de fósforo do solo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 31
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Fonseca (2001), estudando as alterações nas características do solo pela


aplicação de efluentes secundários, relatou intensa acidificação das amostras de
terras irrigadas com água. Como conseqüência, os teores de alumínio trocável
(Al3+) e acidez potencial (H++ Al3+) aumentaram, a saturação por alumínio (m%)
foi elevada e, a saturação por bases (V%) e a capacidade de troca catiônica
(CTC) diminuíram. Quanto às unidades experimentais irrigadas com esgoto, foi
observada elevação do pH, menor acidez potencial e trocável, e maiores valores
de m% e V%.
Cooke et al. (1990), avaliando o impacto da descarga de efluentes de
lagoas de estabilização em sistema de terras úmidas durante uma década,
atribuíram à qualidade das águas aplicadas, as alterações ocorridas nas
características do solo. Os módulos que receberam efluentes secundários tiveram
um acréscimo no pH de, aproximadamente, 1,0 unidade, quando comparados aos
de referência.
Já Dawes (2003), em sua investigação sobre a influência das
características do solo no tratamento local de esgotos, constatou que os valores
de pH nas áreas de disposição e de controle permaneceram baixos, e típicos dos
solos acidificados da Austrália. Em locais bem drenados, o aumento do pH foi
pouco ou insignificante por todo perfil do solo, enquanto que em locais
pobremente drenados, o pH aumentou 1,5 unidade na maioria dos solos
observados.
Quando há necessidade de correção da acidez do solo, esta pode ser feita
através da aplicação de calcário, procedimento este denominado calagem
(FERNANDES, 1993).

3.4.1.2 Capacidade de troca de cátions (CTC)


A CTC é uma medida da capacidade do solo em reter, por processos
físicos e químicos, cátions por atração eletrostática, e constitui um dos principais
parâmetros na interpretação de uma análise química do solo. Corresponde ao
total de cargas negativas do solo, capaz de adsorver cátions como Ca 2+, Mg2+,
Na+, K+, H+ e Al3+ numa forma permutável, evitando perdas por lixiviação e
mantendo-os disponíveis para as plantas (ISA, 2004). CTC elevada é desejável,
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 32
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

pois diminui ou previne perdas de nutrientes essenciais por lixiviação (US.EPA,


1996). Se a maior parte do solo está ocupada por cátions nutrientes essenciais
(Ca2+, Mg2+ e K+), pode-se dizer que se trata de um solo eutrófico. Caso grande
parte da CTC esteja ocupada por cátions potencialmente tóxicos (H + e Al3+), trata-
se de um solo pobre (EMBRAPA, 1997).
Dawes (2003) observou mudanças apreciáveis nos teores de cálcio,
magnésio e sódio, assim como na CTC das amostras de solo das áreas que
receberam efluentes primários. Constatou que nos solos de moderada a alta CTC,
relação Ca:Mg > 0,50, houve predominância dos teores de cálcio e magnésio
trocável sobre o sódio e, conseqüentemente, baixo percentual de sódio trocável
(PST), o que significou maior capacidade de renovação dos efluentes, sem
maiores danos à estrutura do solo.

3.4.1.3 Salinidade do solo


A salinidade do solo também pode ser expressa por meio da CE
(PAGANINI, 1997). O estudo da salinidade do solo, normalmente, envolve o
levantamento das características do solo e da água de irrigação, e o índice de
chuva da região (CORAUCCI et al., 1999).
Segundo Ayers e Westcot (1991), a concentração de sais aumenta na zona
radicular à medida que as culturas consomem, por evapotranspiração, parte da
água armazenada, ficando quase todos os sais em volumes cada vez menores da
água remanescente no solo. Solos com problemas de excesso de sais geralmente
ocorrem em regiões áridas ou semi-áridas e nas regiões costeiras (EMBRAPA,
1997), onde os índices de remoção de água da superfície por evaporação são
elevados, devido ao clima seco e quente, e o potencial de evapotranspiração
excede à precipitação pluviométrica, com pouca ou nenhuma lixiviação dos sais
das camadas do solo (FERNANDES, 1993).
A salinização do solo provocada pela predominância de sais de carbonato
e bicarbonato de sódio gera problemas maiores, pois, além do fato de o sódio ser
tóxico às plantas e provocar a impermeabilização do solo, os sais carbonatados
elevam o pH do solo a níveis letais aos vegetais, o que não acontece com os sais
tipo cloreto e sulfato, por serem considerados neutros (FERNANDES , 1993).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 33
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

De acordo com Paganini (2003), solos arenosos estão menos sujeitos à


salinização do que os solos argilosos, que permitem a ascensão capilar de água
muito mais intensa.
Existem várias alternativas de manejo na agricultura que podem ser
utilizadas separadamente, ou combinadas, para o controle da salinidade, tais
como: lixiviação de sais, disponibilidade permanente de água suficiente na zona
radicular; drenagem adequada, substituição da cultura, irrigações mais
freqüentes, terraceamento, aplicação de fertilizantes e métodos de semeadura
adequados (AYERS e WESTCOT, 1991).

3.4.1.4 Percentual de sódio trocável (PST)


PST constitui parâmetro de interesse para a classificação do solo e está
associado ao excesso de salinidade dos solos, que resulta, muitas vezes, na
predominância do sódio na solução do solo, em detrimento de cálcio e magnésio,
devido à precipitação destes em sulfatos e carbonatos (CORAUCCI et al., 1999).
Quantidades significativas de sódio no solo, principalmente em proporções a
outros cátions, podem ter efeitos adversos a produtividade das culturas, seja pela
dificuldade que proporciona às plantas para adsorver água e cátions nutrientes,
seja pelo efeito dispersante sobre as argilas, provocando a desestruturação do
solo e prejudicando a infiltração de água e oxigênio, e, conseqüentemente, o
crescimento das raízes (EMBRAPA, 1997).
Segundo Dawes (2003), solos que exibem baixa relação Ca:Mg (< 0,50)
sugerem um alto PST e alta concentração de Na trocável, indicando uma
limitação do solo quanto à aplicação de efluentes, devido a uma possível
deterioração e dispersão de sua estrutura. Tal comportamento foi constatado
quando os resultados das amostras de solo das áreas de disposição e do lote
testemunho foram comparados. Durante os anos de condução do experimento,
ocorreu um aumento significativo na concentração de Na, acompanhado de uma
redução nos teores de Ca.
Melo et al. (2001), através do estudo da evolução vertical do PST no perfil
do solo da bacia de infiltração e da área de controle, verificaram um aumento
gradativo da concentração de sais, diretamente proporcional à profundidade. No
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 34
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

entanto, a análise dos dados obtidos do PST mostra que não houve acúmulo
progressivo de sódio no solo, viabilizando a disposição de esgotos em solos
arenosos, devido à sua alta permeabilidade e baixa CTC, que permitem a
lixiviação dos sais presentes nos esgotos e nas águas de chuva.

3.4.2 Efeitos na nutrição das plantas e produtividade das culturas


Cerca 16 elementos químicos são considerados essenciais às plantas, ou
seja, interferem no seu crescimento e desenvolvimento. Brady (1989) explica que
aqueles exigidos em grandes quantidades são chamados de macronutrientes:
carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N) ou azoto, fósforo (P),
potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S). Os micronutrientes,
exigidos em menor quantidade, mas não menos importantes, são: ferro (Fe),
cobre (Cu), manganês (Mn), zinco (Zn), cloro (Cl), boro (B) e o molibdênio (Mo).
Contudo, os nutrientes de maior interesse, por exercerem maior influência sobre o
crescimento e a produção vegetal, são: nitrogênio, fósforo, potássio, zinco, boro e
enxofre. (BLUM, 2003; CORAUCCI FILHO et al., 1999).

3.4.2.1 Nitrogênio, fósforo e potássio


As transformações biológicas que ocorrem no solo, com a aplicação de
esgoto, incluem a decomposição da matéria orgânica, onde elementos tais como
N, P e S são convertidos da forma orgânica para a inorgânica (POLPRASERT,
1996), que representam alguns dos macros e microelementos, nutrientes das
plantas (PAGANINI, 1997). Coraucci Filho et al. (1999) discorre que “[...] a
disponibilidade do N orgânico para os vegetais fica na dependência da
decomposição e da mineralização da matéria orgânica do solo, processos estes
controlados por fatores ambientais como temperatura e textura.”
Segundo Raschid-Sally et al. (2001), os esgotos tratados constituem
excelente fonte de fertilizante para as plantas, uma vez que cada 1000,00 m 3
podem conter em média 52,90 kg de N, 13,90 kg de P2O5 e 28,00 kg de K2O.
Baseando-se nesses dados, foram determinadas quantidades específicas de
esgoto para cada tipo de cultura: 2.563,60 m 3/ha para a irrigação de arroz,
1000,00 m3/ha para o milho e 902,20 m3/ha para o cultivo de tomates.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 35
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

O nitrogênio, componente integrante de muitos compostos essenciais ao


crescimento vegetal (ex: clorofila e muitas enzimas), é, em geral, o elemento que
as plantas necessitam em maior quantidade. Quando fornecido à cultura de forma
equilibrada em relação à quantidade dos outros elementos de que a planta
necessita, estimula o crescimento e o desenvolvimento do raizame. Por outro
lado, carência de nitrogênio, dentre outras conseqüências, provoca raquitismo,
atrofia do sistema radicular e amarelecimento das folhas. (BRADY, 1989;
MALAVOLTA, 1978).
Na cultura de feijoeiro, deficiência de nitrogênio ocorre em condições de
alta lixiviação, baixo teor de matéria orgânica (MO < 10 g/kg), volatilização e
desnitrificação no sistema solo-planta, características estas típicas de áreas
recém-desmatadas e arenosas (EMBRAPA, 2004; FAGERIA et al., 1996). Os
processos importantes que envolvem a remoção de N dos esgotos aplicados ao
solo são volatilização da amônia, retirada e remoção da cultura, adsorção da
amônia no solo, incorporação dentro da fração orgânica do solo e desnitrificação
(POLPRASERT, 1996).
Teores excessivos desse elemento nas águas também são prejudiciais. O
nitrogênio, apesar de aumentar a velocidade de crescimento das plantas, pode
prejudicar sua qualidade e reduzir a sua massa. (BLUM, 2003). Malavolta (1978)
cita as conseqüências do excesso de N sobre algumas culturas: o arroz e o milho
podem acamar-se, tombando sobre o chão; o cafeeiro mostra atraso na
maturação dos frutos e a qualidade da bebida pode ficar prejudicada; a cana-de-
açúcar vegeta demasiadamente e o teor de açúcar é reduzido.
O fósforo, juntamente com o nitrogênio, é o elemento que mais comumente
limita a produção vegetal. Isso se deve ao fato de além de estar em proporções
menores no solo, encontra-se em formas inassimiláveis pelos vegetais em
crescimento. Daí a necessidade de práticas de fertilização para suprir tais
deficiências, já que não pode ser obtido por fixação biológica (ISA, 2004;
MALAVOLTA, 1978).
A excelente capacidade de adsorção de fósforo pela maioria dos solos,
associada à baixa mobilidade por ação de microrganismos, implica numa maior
concentração deste nas primeiras camadas do perfil do solo (CORAUCCI FILHO
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 36
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

et al., 1999). As influências mais significantes do fósforo no desenvolvimento das


plantas são: estímulo ao crescimento do raizame, que exerce papel fundamental
na absorção de água e de nutrientes; apressamento da maturação das safras,
neutralizando a influência dos excessos de nitrogênio; estímulo à floração,
frutificação e formação de sementes; garantia na qualidade das safras,
especialmente de forragens e de legumes (BRADY, 1989; FAGERIA et al., 1996;
MALAVOLTA, 1978).
A deficiência de fósforo prejudica o crescimento do feijoeiro, refletindo
diretamente no seu tamanho e conferindo coloração verde-escura às folhas mais
velhas, que são primeiramente atingidas devido à mobilidade deste nutriente na
planta (FAGERIA et al., 1996).
O potássio é considerado o terceiro elemento fertilizante que exerce maior
influência no desenvolvimento vegetal. Atua na produção de amido, óleo e
proteína; proporciona maior vigor e aumenta a resistência das culturas a certas
doenças; fortalece os sistemas radiculares e caulíferos, evitando o acamamento
das plantas; aumenta a resistência à seca. A deficiência de potássio no solo,
especialmente nos arenosos, ou na adubação se reflete na diminuição das
colheitas sem que as plantas apresentem anomalias externas. Sintomas de
carência ou de fome podem ser observados quando da falta acentuada (BRADY,
1989; MALAVOLTA, 1978).
Cooke et al. (1990) concluíram que a descarga de efluentes secundários no
solo reflete claramente na produção vegetal, pois foi observada uma redução
generalizada em abundância e presença de algumas espécies nativas da região
no sistema de terras úmidas que não receberam efluentes, quando comparadas
àquelas que tiveram a aplicação de esgotos.
Numa avaliação visual entre espigas de milho produzidas com água
residuária e espigas produzidas em módulo testemunha, Lucas Filho et al. (2001)
identificaram os seguintes sintomas de deficiência de nutrientes: espigas
pequenas, com grãos mal formados em suas pontas, resultado da carência de N;
espigas tortas, pequenas e com grãos mal formados, reflexo da falta de fósforo;
espigas mal granadas nas pontas, com grãos pequenos e mal formados, sintomas
provocados pela deficiência de potássio.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 37
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Considerando a riqueza nutricional das águas residuárias, Coraucci Filho et


al. (1999) inferem que, “[...] enquanto aumentam a extensão de terras áridas e a
escassez de fertilizantes, em nível mundial, considerar os nutrientes contidos nos
esgotos como um rejeito é simplesmente paradoxal, já que as matérias orgânicas
mineralizadas são muito convenientes na recuperação dos solos agrícolas.”

3.4.2.2 Salinidade e sodicidade


De acordo com Coraucci Filho et al. (1999), os danos causados pela
salinidade são devidos principalmente à elevada pressão osmótica na solução do
solo, o que reduz a disponibilidade de água às plantas e lhe causam perturbação
no mecanismo nutricional. O excesso de sais na zona radicular das plantas
prejudica a germinação, desenvolvimento e produtividade das plantas
(EMBRAPA, 1997). Contudo, nem todas as culturas são igualmente afetadas pelo
mesmo nível de salinidade. Algumas culturas mostram-se menos sensíveis que
outras, podendo extrair água com mais facilidade (AYERS e WESTCOT, 1991).
Quanto aos problemas de infiltração, Paganini (1997) explica que a
adsorção dos íons de sódio às partículas do solo leva à dispersão coloidal,
provocando a diminuição da permeabilidade e da aeração do solo, vindo a inibir o
desenvolvimento do sistema radicular das plantas, com conseqüente perda da
produtividade. Além disso, concentrações elevadas de sódio no solo reduzem a
capacidade de absorção de nutrientes, potássio e magnésio, pelas culturas, e
podem ser tóxicas às plantas (HARUSSI et al., 2001).

3.4.2.3 Toxicidade
A presença relativamente pequena de elementos tóxicos em esgotos
industriais e municipais pode exercer um efeito deletério no crescimento das
plantas ou pode produzir concentrações potencialmente tóxicas nas plantas que
são subseqüentemente consumidas pelos animais.
Os metais pesados e outros compostos orgânicos tóxicos nos esgotos
aplicados no solo podem ser assimilados pelas plantas e acumulados nas folhas,
caule e frutos. Além disso, alguns organismos essenciais à fertilização e irrigação
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 38
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

do solo podem não sobreviver à contaminação por substâncias químicas tóxicas


(BLUM, 2003).

3.5 Feijão Caupi

3.5.1 Cultivo do feijão-caupi


O feijão-caupi ou feijão de corda é uma das principais culturas da região
Nordeste brasileira, sendo considerado fonte de renda alternativa e alimento
básico para a população. Esta leguminosa tem importância social e econômica,
constitui excelente fonte de proteínas e carboidratos de baixo custo e possui
ampla adaptação edafoclimática, podendo ser cultivado em quase todos os tipos
de solo durante todo o ano. Além disso, o feijoeiro é cultivo principalmente por
pequenos produtos, responsáveis pela maior parcela de produção de feijão do
país (AGROMIL, 2005).
O feijão-de-corda desenvolve-se em solos com regular teor de matéria
orgânica, soltos, leves e profundos, arejados e dotados de média a alta fertilidade
(EMBRAPA, 2004). A faixa de pH do solo que oferece melhores condições de
desenvolvimento ao feijoeiro situa-se entre 5,80 e 6,20. Nesta faixa, a maioria dos
nutrientes encontra-se em fase crescente de disponibilidade ou próxima a sua
máxima (ARAÚJO et al., 1996).
O feijão-caupi possui boa capacidade noduladora e eficiente sistema de
fixação, dispensando a adubação nitrogenada (EMBRAPA, 2004). A fixação
biológica de nitrogênio (FBN) é o processo através do qual o N 2 atmosférico é
transformado, pela ação de enzimas específicas, em formas disponíveis para a
planta. Malavolta (1978) esclarece que as bactérias que vivem nos nódulos das
raízes das plantas da família das leguminosas (feijões, ervilha, soja, etc.) têm a
capacidade de fixar nitrogênio atmosférico quando as condições são normais.
Ocorre, portanto, uma simbiose entre as bactérias e as leguminosas, com
benefícios a ambos organismos: enquanto a planta hospedeira fornece carbono
às bactérias, estas retribuem na forma de compostos fixos nitrogenados.
O fósforo, entre os macronutrientes, é o elemento extraído em menor
quantidade e o que mais limita a produção do feijão-caupi (IAPAR, 2000). Os
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 39
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

sintomas de deficiência de fósforo aparecem tanto nas folhas velhas, que


apresentam coloração verde-limão nas partes normalmente verdes, quanto nas
folhas mais novas, de cor verde-azulada brilhante. Observa-se, também, um
retardamento no ponto de colheita e vagens mal formadas, com reduzido número
de grãos (EMBRAPA, 2004). Para Malavolta (1978), a falta do fósforo no solo ou
na adubação se reflete em primeiro lugar na diminuição das colheitas. O nível
crítico teórico do elemento no solo, para o bom desenvolvimento da planta, está
em torno de 10m/kg (EMBRAPA, 2004).
Dentre os sintomas de deficiência de potássio nas culturas do feijão-caupi,
destaca-se a redução no crescimento do caule, no número de folhas e na área
foliar destas, além da queda precoce das flores (EMBRAPA, 2004). Malavolta
(1978) associa a deficiência de potássio a um maior ataque de moléstias e
pragas.
Mesmo exigidos em pequenas quantidades, raramente as reservas de
micronutrientes dos solos são capazes de atender as necessidades das plantas
do feijão-caupi. Alguns micronutrientes (molibdênio e zinco) exercem grande
influência na nodulação e na fixação biológica de nitrogênio (FBN) pelas
leguminosas. As deficiências desses nutrientes ocorrem normalmente em solos
ácidos e arenosos (EMBRAPA, 2004).

3.5.2 Nutrição mineral


O feijão é considerado uma fonte importante de minerais (cálcio, ferro,
cobre, zinco, fósforo, potássio e magnésio), que constituem aspectos importantes
na qualidade nutricional (YOKOYAMA, 2000). As concentrações médias de
nutrientes no feijoeiro, em diferentes partes das plantas, estão apresentadas na
Tabela 3.5.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 40
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 3.5 – Faixas de concentração dos nutrientes essenciais no feijoeiro em diferentes partes
da planta.
Parte da planta
Nutrientes
Raízes Vagens Grãos
Macronutrientes (%)
N 1,0 – 4,0 3,2 – 4,5 2,86 – 4,00
P 0,10 – 0,26 0,24 – 0,29 0,26 – 0,60
K 0,7 – 2,7 1,5 – 2,2 0,92 – 2,20
Ca 0,2 – 0,8 0,2 – 0,4 0,15 – 0,55
Mg 0,2 – 0,6 0,3 – 0,4 0,18 – 0,40
S 0,07 – 0,21 0,11 – 0,26 0,20 – 0,44
Micronutrientes ppm
B 24 – 77 40 – 51 13 – 19
Mn 30 – 385 27 – 42 15 – 27
Fe 16 – 100 1,2 – 30,0 60 – 78
Cu 7 – 56 3,6 – 18,0 6 – 12
Zn 60 – 185 45 – 66 32 – 65
Mo 0,7 – 1,6 0,03 – 0,07 0,09 – 2,46

Fonte: Oliveira e Thung (1988, apud MAGALHÃES, 2004)

3.5.3 Doenças e pragas


Existem mais de 200 doenças causadas por fungos, bactérias ou vírus que
atacam o feijoeiro (IAPAR, 2000). São fatores ambientais, tais como temperatura,
umidade atmosférica e água do solo, topografia, textura, fertilidade e sistema de
preparo do solo, que atuam de maneira simultânea e favorecem as suas
ocorrências e desenvolvimento (VIEIRA, 2000).
Ainda segundo Vieira (2000), um dos principais fatores de predisposição
das plantas aos patógenos é a disponibilidade de nutrientes no solo, pois certos
fungos atacam com mais severidade plantas com deficiências nutricionais,
enquanto outros se desenvolvem melhor em plantas vigorosas. O fornecimento de
N, de modo desequilibrado em relação a outros elementos, além de outras
conseqüências, pode enfraquecer as plantas contra o ataque de doenças
(MALAVOLTA, 1978).
Considerando que a doença é uma decorrência da interação entre um
hospedeiro suscetível, ambiente favorável e o patógeno, medidas preventivas de
controle de doenças devem ser aplicadas, tais como: conhecimento prévio da
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 41
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

área a ser cultivada (histórico de doenças), utilização de sementes sadias e


tratadas, uso de cultivares resistentes ou pouco suscetíveis às doenças de
ocorrência mais freqüentes, escolha de um local não contaminado, ambiente
favorável à planta com época e sistemas de cultivo apropriados para o local e
adubação adequada, equipamentos e máquinas de plantio limpos e desinfetados
(IAPAR, 2000).
Quanto aos danos causados por pragas ao cultivo do feijão, estes podem
ocorrer desde a semeadura até após a colheita (IAPAR, 2000). Os insetos
ocorrem na planta em uma determinada época em que o seu estágio fenológico
está produzindo alimento ideal (EMBRAPA, 2004). Segundo Silveira et al. (1996),
“A ocorrência de pragas nas culturas está relacionada, direta ou indiretamente, à
umidade do solo”.
Silveira et. al (1996) observaram que as cigarrinhas-verdes (Empoasca
kraemeri) atacam de forma mais intensa em épocas de alta temperatura e nos
períodos de estiagem. Sugerindo que as águas de irrigação e as chuvas ajudam a
manter a população de pragas abaixo do nível de dano.
Na Tabela 3.6 encontra-se a distribuição de ocorrência das pragas do
feijão-caupi de acordo com a fenologia da planta.

TABELA 3.6 – Esquema do ciclo fenológico do feijão-caupi com a ocorrência das principais
pragas.
Paquinha, lagarta
elasmo, larva de Vaquinha, pulgão,
Percevejo, manhoso,
vaquinha, vaquinha, mosca branca,
Paquinha pragas dos grãos
cigarrinha, pulgão, minador-das-folhas,
armazenados
mosca branca, percevejo, manhoso
minador-das-folhas

0 5 35 55 80
Germinação Florescimento Maturação / Colheita
Fase vegetativa Fase reprodutiva
Fonte: Adaptada e condensada de EMBRAPA (2004).

De acordo com EMBRAPA (2004), as pragas no feijão-caupi atacam as


plantas em locais específicos, e podem ser assim classificadas:
 Pragas subterrâneas: atacam sementes, raízes e o colo da planta. Ex:
paquinhas, lagartas elasmo, lagartas-rosca.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 42
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

 Pragas da parte aérea: atacam as partes acima do colo da planta como


os ramos, folhas e órgãos reprodutivos. Ex: vaquinhas, cigarrinhas-
verdes, pulgões, moscas-brancas, minadores-de-folhas, percevejos,
manhosos.
 Pragas dos órgãos reprodutivos: atacam as flores, vagens e grãos. Ex:
percevejos, lagartas de vagens, manhosos, tripés.
 Pragas dos grãos armazenados: normalmente, provêm do campo
(infestação cruzada), mas a infestação dos grãos também pode ocorrer
nos armazéns, quando medidas preventivas não são tomadas. Ex:
traças, carunchos-do-feijão.
De um modo geral, as doenças e pragas comprometem o desenvolvimento
normal do feijoeiro, afetando a produção antes e após a colheita. Um
armazenamento inadequado pode provocar depleções na qualidade nutricional do
feijão (YOKOYAMA, 2000).

3.6 Considerações gerais sobre aspectos de saúde pública

A utilização de águas residuárias na irrigação apresenta muitos benefícios,


mas cuidados devem ser tomados para evitar riscos ambientais e de
contaminação do homem e dos animais. No esgoto encontram-se vírus, fungos,
bactérias e parasitas (protozoários e helmintos), alguns inofensivos, outros
patogênicos, representando riscos à saúde do homem e dos animais.
Segundo Blum (2003), “Os constituintes presentes nos esgotos que podem
representar risco sanitário incluem substâncias químicas orgânicas e inorgânicas
potencialmente tóxicas e microrganismos patogênicos.” Daí a necessidade de
caracterização das águas de irrigação a fim de verificar se os resíduos nelas
contidos não poluem o meio, com vistas à preservação do ambiente e da saúde
de forma definida e objetiva (CORAUCCI FILHO et al., 1999).
O lançamento de esgoto no solo provoca deslocamento (vertical e
horizontal) das matérias poluidoras, cuja distância e direção percorridas variarão
principalmente em função da porosidade do solo e da localização do lençol
freático (JORDÃO e PESSOA, 1995).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 43
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Coraucci et al. (1999) cita os aspectos de saúde pública intrinsecamente


relacionados à disposição controlada de esgoto no solo, sendo estes:
 bactérias patogênicas, vírus, helmintos e outros organismos presentes
em águas residuárias municipais e a possibilidade de transmissão para
homens e animais;
 substâncias químicas que podem ser perigosas para a saúde do
homem e dos animais;
 propagação de insetos que podem ser vetores na transmissão de
doenças.
Para Polprasert (1996), a maior preocupação de saúde pública diz respeito
à possível contaminação por N, metais pesados, compostos orgânicos tóxicos e
microrganismos patogênicos.
“Compostos amoniacais são oxidados a nitrato em solos de características
arenosas. A percolação é rápida e pode atingir os lençóis freáticos em
quantidades muito maiores do que em solos de característica argilosa”
(CORAUCCI FILHO et al., 1999). Em função da não adsorção de nitratos com
carga negativa pelos colóides de mesma carga predominantes nos solos nem
formação de compostos insolúveis, estes ficam sujeitas à imediata lixiviação,
movimentando-se para baixo com a água de drenagem. Portanto, altos teores de
nitrato nas águas de drenagem devem ser evitados por serem prejudiciais a
humanos e a animais (BRADY, 1989). A ingestão de águas com concentrações
elevadas de nitrato está associada a doenças como a metahemoglobinemia em
crianças e pode levar a câncer gástrico em adultos (VON SPERLING, 1996;
CANTER et al., 1990).
A contaminação por nitrato das águas subterrâneas pela aplicação de
esgoto no solo deve ser controlada pelas mesmas técnicas de controle de
nutrientes usadas na agricultura convencional (EPA, 1996). Sabe-se que a
assimilação de N pelas plantas reduz a contaminação dos aqüíferos por nitrato,
mas esse fenômeno depende do potencial de assimilação da cultura escolhida e
das taxas de aplicação de esgoto no solo (MANCUSO e SANTOS, 2003).
A irrigação com esgoto pode potencializar o transporte de bactérias e vírus
para as águas subterrâneas (US.EPA, 1996), provocando a contaminação de
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 44
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

aqüíferos pela percolação de águas, posteriormente destinadas ao abastecimento


público (POLPRASERT, 1996). Desta forma, a localização de poços para
consumo de água do subsolo deve considerar o círculo de influência da água
consumida, sem interferências das regiões atingidas pela poluição química e
bacteriológica (JORDÃO; PESSOA, 1995).
Estudos epidemiológicos no Vietnã relataram maior ocorrência de
infecções intestinais em consumidores e trabalhadores rurais, especialmente
naqueles que trabalham descalços, de campos irrigados com esgoto bruto.
Concluíram, ainda, que cólera e febre tifóide podem ser efetivamente transmitidas
pela irrigação de vegetais produzidos com esgoto sem tratamento (RASCHID-
SALLY et. al., 2001).
Segundo US.EPA (1996), os organismos patogênicos não conseguem
sobreviver mais tempo nas plantas que o tempo necessário para a colheita, isto
minimizaria o risco de contaminação por esta via, contudo os organismos
patogênicos conseguem sobreviver no solo por períodos mais longos, podendo
variar de dias a meses. De acordo com Paganini (1997), a sobrevivência de vírus
no solo, em condições favoráveis, pode atingir um período de 175 dias ou mais.
Já a persistência das bactérias varia de solo para solo, sendo mais propícias
condições de baixa temperatura e umidade relativamente elevada. O principal
fator determinante do tempo de sobrevivência de bactérias entéricas no solo é a
umidade além da temperatura, pH e disponibilidade de matéria orgânica
(CANTER et al. 1990).
Na Tabela 3.7 são apresentados tempos de sobrevivência de algumas
espécies de organismos patogênicos em águas, solo e culturas.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 45
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 3.7 – Tempo de sobrevivência de algumas espécies de organismos patogênicos.


Tempo de sobrevivência, em dias
Tipo Na água fresca e
No solo Em culturas
esgoto
Vírus
Enterovírus < 120 (< 50) < 100 (< 20) < 60 (< 15)
Bactérias
Coliformes termotolerantes < 60 (< 30) < 70 (< 15) < 30 (< 15)
Salmonella spp. < 60 (< 30) < 70 (< 20) < 30 (< 15)
Shighela spp. < 30 (< 10) - < 10 (< 5)
Vibrio cholerae < 30 (< 10) < 20 (< 10) < 5 (< 2)
Protozoário
Cistos de Entamoeba < 30 (< 15) < 20 (< 10) < 10 (< 2)
Helmintos
Ovos de Ascaris Muitos meses Muitos meses < 60 (< 30)

Fonte: Feachem et al (1983). Citado em Ceballos (1990).


Nota: Valores entre parênteses representam o tempo de sobrevivência usual.

Vyzamal (2002) atribui a remoção dos organismos patogênicos presentes


no esgoto, que percola através do solo, a uma combinação de vários mecanismos
físicos, químicos e biológicos. Os fatores físicos incluem filtração, sedimentação,
agregação e ação dos raios ultravioleta. Os fatores químicos incluem oxidação,
adsorção e exposição a toxinas emitidas por outros microrganismos e plantas. Já
os mecanismos biológicos incluem produção de antibióticos, por actinomicetos e
fungos (PAGANINI, 1996), predação, ataque de bactérias e morte natural.
Segundo Paganini (2003), solos permeáveis, de textura intermediária, são
os melhores “filtros” para os organismos patogênicos presentes nos esgotos, pois
possuem conteúdo coloidal suficiente para reter partículas em suspensão.
A ABNT (1997), apesar de admitir o reúso de esgotos tratados em
plantações de milho, arroz, trigo, café e outras árvores frutíferas, via escoamento
no solo, estabelece, como forma de prevenção, a interrupção da irrigação pelo
menos 10 dias antes da colheita.
A desinfecção de esgotos tratados surge como uma alternativa
aconselhável para a prevenção de contaminação de águas subterrâneas.
Contudo, a cloração de águas destinadas à produção de alimentos comestíveis
pode gerar odor ou sabor aos produtos, quando da presença de substâncias que
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 46
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

transmitam tais características, como os clorofenóis (BLUM, 2003). Para a


irrigação de hortaliças e frutas de ramas rastejantes (ex: melão, melancia), a NBR
13969 da ABNT (1997) não permite o uso de esgotos tratados, mesmo
desinfetados.
Salassier (1995) frisa a importância sanitária na escolha da técnica de
irrigação a ser empregada, devido à possível contaminação do irrigante ou de
toda uma comunidade, que pode adquirir doenças e verminoses por contato direto
com a água de irrigação ou por consumo dos produtos irrigados. Oron et al.
(2001) optaram, em seu experimento, pela irrigação subsuperficial, por esta
impedir o contato com o efluente aplicado.
Para Sousa e Leite (2002), os principais fatores que predispõem as
pessoas a contrair doenças através da utilização de esgotos domésticos na
irrigação são: (i) quantidade de microrganismos patogênicos presentes no
efluente capazes de provocar infecção (dose infectiva); (ii) período de latência do
microrganismo; (iii) capacidade de sobrevivência do microrganismo no meio
ambiente (persistência); (iv) suscetibilidade da pessoa à doença; (v) capacidade
de multiplicação do microrganismo no organismo humano.
Sendo assim, educar a população quanto aos benefícios do gerenciamento
e utilização correta de esgotos na agricultura significa reduzir riscos e receios
quanto à prática. Hespanhol (2003) defende uma participação ampla da
população, desde a fase de planejamento até a implantação do projeto, o que
traria ganhos incontestáveis, tais como: aumento do nível nutricional das
populações mais pobres, por meio do aumento da produção de alimentos;
proteção dos recursos de água de boa qualidade contra a poluição; aumento da
disponibilidade de empregos e assentamentos populacionais nas áreas rurais,
etc.
Para tanto, é imprescindível a tomada de medidas em âmbito nacional que
visem à criação de legislação específica regulamentadora da prática de reúso
agrícola, bem como a implementação de programas governamentais de irrigação
e gestão de recursos hídricos.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 47
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

4.0 METODOLOGIA

Durante esta pesquisa, foram utilizadas duas técnicas de disposição de


efluentes no solo: infiltração rápida e infiltração subsuperficial. Portanto, a
apresentação da metodologia será feita em duas partes. A parte 1 compreende os
experimentos utilizando a infiltração rápida e a parte 2, utilizando a infiltração
subsuperficial.

4.1. Parte 1 – Infiltração rápida como alternativa de tratamento e disposição


de esgoto no solo para pequenas comunidades em áreas rurais.

A primeira parte da pesquisa foi subdividida em duas etapas diferenciadas


principalmente pelo ciclo de aplicação de esgoto no solo. Na primeira etapa, os
ciclos foram de dois dias de aplicação de esgoto e cinco de descanso do solo e a
segunda foi feita com ciclos de quatro dias de aplicação e três de descanso. Para
isso foram montados dois experimentos nas instalações do Laboratório de
Saneamento da UFC (LABOSAN). O material de solo utilizado foi retirado da
cidade de Beberibe – CE e o esgoto foi proveniente da Estação de pré-
condicionamento de Esgoto (EPC) da cidade de Fortaleza, na primeira etapa, e
da rede coletora de esgotos, na segunda etapa da pesquisa.
Para a análise estatística dos dados foi realizada análise de variância
(ANOVA) seguida do teste de Newman-Keuls, que faz uma comparação múltipla
entre as concentrações obtidas para o esgoto afluente, R1, R2 e R3. Este teste
indica se existe diferença estatística significativa (com intervalo de confiança de
95%) entre as médias destas concentrações. O software utilizado no tratamento
estatístico foi o GraphPad Prism versão 4.03

4.1.1 Etapa 1 – Ciclo de 2 dias de aplicação e 5 dias de descanso

4.1.1.1 Material de solo


O material de solo utilizado na pesquisa foi proveniente da Estação de
Tratamento de Esgotos (ETE) do município de Beberibe – CE. A escolha se deve
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 48
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

ao interesse desta prefeitura na pesquisa de disposição de esgoto no solo. Foram


realizadas visitas ao local da ETE - Beberibe de forma a analisar suas instalações
físicas, bem como verificar as características do solo, do esgoto afluente ao
sistema de lagoas, a urbanização no entorno da ETE e demais condições que
pudessem interferir neste estudo. Durante as visitas, foram demarcadas áreas
menos afetadas nessa atividade para serem utilizadas nos ensaios de
caracterização do solo, conforme pode ser observado na Figura 4.1.

PONTOS DE
COLETA DE
AMOSTRAS DE
SOLO
LAGOA DE
MATURAÇÃO
ÁREA DE
ESTUDO
30 X 50m

LAGOA DE
MATURAÇÃO

SISTEMA
PRELIMINAR
(GRADE E
LAGOA CAIXA DE
FACULTATIVA AREIA)

FIGURA 4.1 - Croqui da ETE de Beberibe.

Foram considerados dois tipos de análises: o do ponto de vista da


mecânica dos solos e o da agronomia.
Sob a ótica da mecânica dos solos, foram analisados, seguindo as normas
da ABNT de ensaios, pelo Laboratório de Mecânica dos Solos da UFC, os
parâmetros: caracterização de solos, por sondagem a trado até profundidade de
2,0 m; umidade e densidade natural; ensaio de infiltração e permeabilidade com
carga constante. Estes ensaios focaram a coleta de dados para dimensionamento
do sistema experimental de tratamento de esgoto por infiltração rápida e a
definição de parâmetros visando conferir ao leito dos reatores características
semelhantes às condições reais.
As análises realizadas no Laboratório de Agronomia da UFC tiveram como
intento levantar as características do solo da ETE no que se refere à sua
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 49
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

capacidade produtiva. Foram realizadas análises antes e depois da pesquisa,


para verificar o impacto do tratamento no solo. Os parâmetros analisados foram:
 Físicos: granulometria, argila natural, densidade global, densidade da
partícula, umidade, composição granulométrica;
 Químicos: pH em água, condutividade elétrica, cálcio, magnésio,
potássio, sódio, alumínio, hidrogênio + alumínio, carbono, nitrogênio e
fósforo;
 Fertilidade: pH em água, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, alumínio e
sódio, matéria orgânica.
Por falta de mecanismos adequados, não foi possível a retirada do solo da
ETE de Beberibe de forma a conservar sua estrutura, portanto, utilizou-se o solo
deformado, adotando a densidade in situ como parâmetro de correlação entre o
solo da ETE e o material colhido. Foi realizado um ensaio de permeabilidade com
carga constante no laboratório de solos da UFC, utilizando a mesma densidade
adotada nos reatores para verificar se a permeabilidade do sistema montado
condizia com os resultados das análises iniciais do solo da ETE de Beberibe.

4.1.1.2 Reatores
A concepção do sistema experimental, IR, foi baseada nas pesquisas
desenvolvidas por Andreolli et al. (1999) utilizando reatores em PVC com
diferentes alturas de leito filtrante.
Os reatores foram confeccionados em tubos de PVC de DN 150,00 mm,
fechados em uma das extremidades com CAP de mesmo diâmetro, com
dispositivo de saída de 8,00 mm de diâmetro. Foram montados três reatores nas
alturas de 40,00; 80,00 e 120,00 cm, em PVC de DN 150 mm, cujos leitos
filtrantes foram constituídos de material de solo da ETE de Beberibe. A base foi
composta por duas camadas: a primeira com 5,00 cm de brita nº 1 e a outra com
mais 5,00 cm de pedrisco, de forma a evitar a saída de material fino do leito.
Os resultados obtidos das análises deste solo, especificamente, de
umidade e densidade in situ, foram utilizados para dimensionamento e montagem
(massa e compactação necessárias) dos leitos dos reatores.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 50
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Para estabelecimento da taxa de aplicação, utilizou-se a permeabilidade


vertical, que depois de definida, foi utilizada para calcular a vazão de alimentação
dos reatores durante o período de aplicação de esgoto, uma vez que a área
(superfície do reator) foi pré-estabelecida pela definição dos diâmetros dos tubos.
O sistema IR (Figura 4.2) foi composto por:
 Reservatório: responsável pelo armazenamento do esgoto durante o
período de lançamento nos reatores. Consistiu em um reservatório
plástico de 90,00 L.
 Decantador: com o objetivo de diminuir a carga de sólidos suspensos
do esgoto bruto, minimizando a colmatação da camada superficial dos
leitos filtrantes dos reatores. Projetado para trabalhar como uma fossa
séptica, o decantador consistiu em um reservatório plástico, com
capacidade de 6,0 L, com uma entrada (provindo do reservatório) e três
saídas (uma para cada reator). Foram colocadas duas chicanas de
plástico, removíveis, para facilitar a limpeza, uma na entrada e outra na
saída, de forma a evitar curto circuito no fluxo do esgoto no decantador.
 Reatores: em número de três, denominados R1, R2, R3, com
diferentes alturas da camada de solo, 40,00; 80,00 e 120,00 cm,
respectivamente, conforme o objetivo da pesquisa.
 Bombas: quatro bombas dosadoras do tipo diafragma eram
responsáveis pelo fluxo do esgoto no sistema. Uma bomba de recalque
alimentava o decantador, enquanto as outras três alimentavam os
reatores.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 51
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 4.2 - Foto do sistema IR utilizado na Etapa 1 da pesquisa.

A montagem do sistema foi baseada na pesquisa desenvolvida por Lima e


Gonçalves (1997), alterando-se o processo de aplicação do esgoto nos reatores.
Estes pesquisadores fizeram com que “A distribuição da carga nos reatores fosse
realizada com um tempo de duração de nove minutos cada, através do controle
da vazão de entrada”. No presente trabalho, contudo, considerou-se o lançamento
contínuo do esgoto ao longo do período de aplicação adotado (dois dias), através
de vazão dimensionada pela taxa de aplicação (calculada para o sistema), por ser
mais compatível com a forma de lançamento em escala real e as considerações
de projeto.
No final da pesquisa, os reatores foram cortados longitudinalmente para
coleta de amostras e realização das análises físicas, químicas e de fertilidade do
solo:
R1 - foram retiradas duas amostras com espessura de 20,00 cm: superior
(R1-1) e inferior (R1-2);
R2 - foram coletadas três amostras com espessura de 20,00 cm: superior
(0,00 a 20,00 cm), central (30,00 a 50,00 cm) e inferior (60,00 a 80,00 cm),
denominadas R2-1, R2-2 e R2-3, respectivamente;
R3 - foram coletadas quatro amostras: superior (0,00 a 20,00cm), central-
superior (30,00 a 50,00 cm), central inferior (70,00 a 90,00 cm) e inferior (100,00 a
120,00 cm), denominadas R3-1; R3-2; R3-3 e R3-4, respectivamente.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 52
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

4.1.1.3 Operação do sistema IR


A rotina de operação e o funcionamento do sistema experimental ocorriam
da seguinte forma:
O esgoto bruto era coletado na Estação de Pré-Condicionamento de
Esgoto – Estação de Tratamento de Odores (EPC-ETO) de Fortaleza, em
recipientes adequados, e levado ao LABOSAN – Laboratório de Saneamento da
UFC, onde era colocado no reservatório e decantador, simultaneamente, e
homogeneizado por dois minutos, em cada unidade, através de mistura manual.
Após o tempo de detenção do esgoto no decantador, todas as bombas
eram ligadas de forma a lançá-lo no leito dos reatores, colocando o sistema em
funcionamento. O efluente dos reatores era coletado em recipientes adequados,
para posterior composição de amostra que era utilizada nas análises físico-
químicas durante a fase operacional.

Seguindo as recomendações da US.EPA (United States Environmental


Protection Agency, 1981), tendo por objetivos a maximização da taxa de
infiltração e de nitrificação, o sistema foi operado segundo um ciclo composto de
dois dias de aplicação de esgoto nos reatores e cinco dias de repouso.
A taxa de aplicação de 53,00 cm/dia foi calculada seguindo critérios de
dimensionamento da US.EPA (1981, 1984), levando-se em conta a
permeabilidade hidráulica do solo, o período de pesquisa e o ciclo de
aplicação/repouso adotado. A vazão adotada para o bombeamento foi calculada
baseada na taxa de aplicação e área superficial do reator. A fase operacional da
pesquisa foi realizada ao longo de 84 dias de monitoramento.
A fase operacional foi caracterizada pelo funcionamento e monitoramento
do sistema experimental, que ocorreu por um período de quatro meses. O sistema
foi dimensionado para um ciclo operacional de sete dias, composto pelos
períodos de aplicação de esgoto e o de repouso (maximizar infiltração e
nitrificação):
O período de aplicação é caracterizado pelo tempo destinado ao
lançamento do esgoto nos reatores. Para esta pesquisa foi definido um período
de dois dias.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 53
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

O período de repouso faz referência ao tempo em que o lançamento de


esgoto nos reatores é suspenso de forma a promover a aeração do sistema. Para
esta pesquisa, adotou-se o tempo de cinco dias.

4.1.1.4 Caracterização do esgoto doméstico


O esgoto empregado na pesquisa foi oriundo da EPC-ETO de Fortaleza
(CAGECE) por possuir características compatíveis com esgoto doméstico. As
coleta foram realizadas após os desarenadores da EPC para posterior
encaminhamento ao laboratório onde foram realizadas as fases operacionais da
pesquisa e respectivas análises.
A fase de caracterização foi realizada durante seis dias, através de
amostragem composta, com coletas durante o período de 9 às 16h, totalizando
em média 8h diárias.
As amostras horárias eram levadas ao LABOSAN, onde eram compostas
para posteriores determinações físico-químicas e bacteriológicas, seguindo as
metodologias descritas em APHA (1995): pH, Demanda Química de Oxigênio
(DQO), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), Amônia, Sólidos Suspensos
Totais (SST), Sólidos Suspensos Voláteis (SSV); Sólidos Sedimentáveis (SS),
Coliformes Totais (CT) e Coliformes Termotolerantes (CF).

4.1.2 Etapa 2 - Ciclo de 4 dias de aplicação e 3 dias de descanso

4.1.2.1 Material de solo


O material de solo utilizado e as determinações realizadas para
caracterização do solo seguiram os mesmos procedimentos mencionados,
anteriormente, na Etapa 1.

4.1.2.2 Reatores
O sistema era composto por reatores, semelhantes aos da Etapa 1, ou
seja, constituídos por tubos de PVC, apoiados na parede e em posição vertical,
onde camadas específicas do material eram confinadas. Além dos reatores, foi
confeccionado também um sistema reduzido de sedimentação, bombeamento e
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 54
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

coleta final do efluente, simulando o funcionamento da disposição de esgoto em


bacias de infiltração. As colunas foram dimensionadas com diâmetro único de
150,00 mm e alturas variáveis de 40,00; 80,00 e 120,00 cm. Na Figura 4.3,
encontra-se um esquema dos sistemas.

FIGURA 4.3 – Esquema do sistema IR utilizado na Etapa 2 da pesquisa.

Os reatores R1, R2 e R3, com espessura de solo de 40,0; 80,0 e 120,0 cm


respectivamente, foram usados para avaliar a influência da espessura do solo na
eficiência de tratamento e nas características do solo.
Os reatores R4, R5, R6 e R7, com espessura de solo de 0,80 m, foram
usados para avaliar a variação nas características do solo ao longo do tempo.
Tais reatores foram desmontados no 4o, 3o, 2o e 1o mês, respectivamente.

4.1.2.3 Operação do sistema IR


Este sistema foi concebido para operar durante quatro dias e descansar
três. A rotina era iniciada com o armazenamento e transporte do esgoto até o
Laboratório de Saneamento da Universidade Federal do Ceará (LABOSAN),
sempre no horário de 11:00 horas da manhã. O esgoto utilizado foi o proveniente
da rede coletora municipal que passa dentro do campus do Pici. Após a coleta,
este esgoto era acondicionado em recipiente de 80,00 L, e decantava por cerca
de duas horas, e, após este período, as bombas eram acionadas e o esgoto
disposto nos reatores. O esgoto infiltrado era coletado pela manhã e, sempre às
18:00 horas, o efluente coletado nos baldes era descartado para garantir a
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 55
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

minimização de interferências do esgoto despejado no dia anterior. Ao longo dos


quatro dias de funcionamento o efluente era coletado para que fossem feitas as
determinações físicas, químicas e bacteriológicas semanais. Tal procedimento era
efetuado durante todos os dias da semana, iniciando-se na segunda-feira e
terminando na sexta-feira, quando as bombas eram desligadas. O fim de semana
correspondia ao período de repouso do solo, para permitir maior aeração nos
reatores.
Desta forma, a mesma rotina foi seguida durante seis meses e as
determinações foram intercaladas durante a semana, algumas com dias fixos,
outras com variação do dia, para avaliar a mudança de comportamento dos
reatores durante o ciclo de encharcamento do material de solo.
Durante o desenvolvimento do experimento, verificou-se a necessidade de
implementar algumas intervenções no sistema, com o fim de viabilizar a
continuidade da operação. Assim, o experimento foi dividido em cinco fases.
 Fase 1 – estendeu-se durante as nove primeiras semanas de
funcionamento dos reatores. Nesta fase, a rotina de operação foi
realizada sem qualquer intervenção no sistema. Observou-se que
inicialmente os reatores infiltravam prontamente o esgoto decantado.
No segundo mês as colunas trabalhavam grande parte do tempo
saturadas com uma lâmina d’água quase sempre de 20,00 cm, com
capacidade de infiltração bastante reduzida.
 Fase 2 – ocorreu entre a 10ª e 13ª semanas de operação dos reatores
quando foram executados cortes transversais na superfície do solo,
simulando uma escarificação. Este procedimento foi feito
ocasionalmente em função do aparecimento de lâminas d’água nas
colunas, não se definindo um cronograma específico.
 Fase 3 – relacionada ao período entre a 14ª e 17ª semanas de
operação. Neste período foi retirada a camada superficial colmatada do
Reator 4, iniciando-se a coleta e a implementação de determinações
físico-químicas e bacteriológicas do efluente deste reator. Fazendo-se
uma analogia com os demais reatores, que não sofreram outra
intervenção, além da mencionada na Fase 2. A camada superficial de
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 56
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

solo (4,00 cm), retirada do Reator 4, foi diluída em água deionizada


(aproximadamente 368,00 g de solo em 1.600,00 mL de água
deionizada) e sedimentada durante 2 horas, após o que foi retirado o
sobrenadante, que passou a ser denominado de água de lavagem, da
qual também foram feitas determinações físico-químicas e
bacteriológicas.
 Fase 4 – foi realizada da 18ª à 22ª semanas, e as colunas de infiltração
eram operadas no mesmo ciclo e taxa de carga. Imediatamente antes
de cada ciclo de carga, era retirada uma camada superficial do solo
(aproximadamente 2,00 cm) e logo em seguida o sistema entrava em
operação.
 Fase 5 – referente ao período entre a 23ª e 26ª semanas, nas quais
eram feitos cortes transversais na superfície do solo de todos reatores,
antes de cada ciclo de carga, simulando a escarificação do solo.
Nas 12 primeiras semanas, o efluente coletado, depois de passar pelos
reatores, apresentava grânulos que conferiam ao efluente uma coloração
amarelo-parda. Por isto, procedeu-se uma investigação microscópica das
amostras do efluente coletado. Esta ocorrência se dava sempre paralelamente a
problemas de infiltração do esgoto decantado no solo, provavelmente por conta
da camada colmatada superficial.

4.1.2.4 Caracterização do esgoto


Sendo este experimento operado em escala laboratorial, com o uso de
colunas de infiltração, utilizou-se, o esgoto proveniente de uma área
predominantemente residencial coletado em um poço de visita da rede municipal
de coleta de esgoto.
Optou-se por um pré-tratamento em nível primário do esgoto afluente, pois
este se aproxima mais da situação real das pequenas comunidades,
contempladas apenas com pequenas unidades compactas de tratamento por
fossas sépticas. Neste caso, espera-se apenas uma remoção de sólidos
sedimentáveis e, portanto, o esgoto apresenta, alto teor de matéria orgânica,
nutrientes e patógenos. É importante mencionar que o esgoto retirado deste
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 57
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

coletor é bastante diferente de um esgoto de pequenas comunidades, muito


provavelmente tem menos sólidos suspensos, mais DQO solúvel e é mais séptico
devido ao longo percurso na rede coletora.
A caracterização do esgoto utilizado nesta etapa da pesquisa seguiu os
mesmos procedimentos e parâmetros da etapa anterior.

4.2 Parte 2 – Disposição de esgoto no solo por infiltração subsuperficial


para produção de alimentos

4.2.1 Local do experimento


O experimento foi instalado no Campus do Pici da Universidade Federal do
Ceará – UFC, em terreno pertencente ao setor de Horticultura do Departamento
de Fitotecnia, contíguo à Estação de Tratamento de Esgotos do Campus. O clima
da área é tropical, com média anual de chuva de 1.608,40 mm. As temperaturas
médias mínimas e máximas anuais são 23,5° C e 30,3° C, respectivamente. O
período experimental considerado nesta pesquisa foi de nove meses (fevereiro a
outubro de 2003).
A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas; a primeira durante o período
chuvoso (fevereiro a maio) e a segunda no período seco (julho a outubro).

4.2.2 Módulo experimental


Durante a fase de construção dos módulos que compõem o sistema, houve
a remoção do solo da área para preenchimento dos mesmos, destruindo a sua
estrutura. Além disso, foi necessária a retirada de solo de área adjacente (área de
empréstimo) para complementação dos canteiros. Ciente da descaracterização do
solo provocada pela movimentação deste, para efeito de menção neste trabalho,
o termo solo será utilizado para designar o que seria apenas um substrato.
O módulo experimental (Figuras 4.4 e 4.5) foi composto de 18 canteiros
construídos em alvenaria, ligeiramente inclinados (declividade de 1,00 %),
preenchidos com solo de textura arenosa e dotados de um dreno de fundo,
localizado a 11,00 m da cabeceira, com a finalidade de promover a saída e a
tomada de amostras de efluentes para análises. Cada canteiro (Figura 4.6) media
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 58
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

1,00 m de largura por 11,00 m de comprimento, sendo os 0,50 m inicial e final


preenchidos com brita no 1, totalizando uma área de plantio de 10,00 m². A brita
disposta no início dos canteiros visava a retenção de sólidos, funcionando como
um pré-filtro, além de um escoamento mais uniforme do afluente até que este
alcançasse a caixa de brita ao final dos canteiros, com o propósito de evitar o
arraste de solo.

FIGURA 4.4 – Planta baixa do módulo experimental: (1) canteiros irrigados com água bruta; (2)
canteiros irrigados com esgoto primário; (3) reservatório distribuidor com capacidade para 100L;
(4) reservatório coletor de amostras; (5) calha de drenagem; (6) tubo PVC de drenagem do
excesso de efluentes; (7) abrigo bomba d’água e suporte caixas d’água de armazenamento; (8)
poço amazonas.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 59
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 4.5 – Vista parcial das unidades experimentais (canteiros).

FIGURA 4.6 – Diagrama esquemático dos canteiros: (1) reservatório distribuidor com capacidade
para 100L; (2) registro esfera ø ¾”; (3) tubo PVC ø 25mm; (4) brita nº 1; (5) lona plástica
impermeável; (6) solo arenoso (substrato); (7) tubo de drenagem ø 32mm; (8) reservatório coletor
de amostras.

Os canteiros foram revestidos internamente com lona plástica de 250


micra, para promover a sua impermeabilização e possibilitar a coleta dos
efluentes para análises, além de evitar possível contaminação das águas
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 60
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

subterrâneas (SOLANO et al., 2004). A regulamentação do Serviço de Higiene da


República Tcheca exige que os leitos de terras úmidas, construídos para o
tratamento de esgotos, sejam selados. As lonas plásticas com espessura entre
0,80 e 2,00 mm são as mais, freqüentemente, utilizadas (VYMAZAL, 2002).
Para minimizar os efeitos provocados pelo revolvimento do solo, o
preenchimento dos canteiros foi realizado por camadas (Figuras 4.7), distribuídas,
uniformemente, e simultaneamente, nos 18 canteiros, de forma a torná-los mais
homogêneos o possível.

FIGURAS 4.7 – Preenchimento uniforme dos canteiros.

4.2.3 Sistema operacional


Os canteiros experimentais foram irrigados subsuperficialmente, de forma
pontual, sendo a entrada de afluente controlada manualmente todos os dias por
meio de reservatórios com capacidade para 100,00 L (Figura 4.8), colocados na
cabeceira dos canteiros. O lançamento das águas de irrigação nos canteiros
ocorria por gravidade através de tubulações de PVC com diâmetro de 25,00 mm,
instaladas no fundo dos reservatórios e dotadas de registro de esfera para manter
um escoamento lento e uniforme das águas.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 61
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 4.8 – Reservatório distribuidor (100,00 L) dotado de registro de esfera para controle do
volume de água bruta a ser aplicado.

FIGURA 4.9 – Fotografia do dreno dos reatores e baldes de coleta – posicionados de maneira que
a gravidade permita o direcionamento do líquido drenado para os baldes de coleta.

Embora as plantas requeiram quantidades variáveis de água e


nutrientes nos diferentes estágios fenológicos que compõem seus ciclos de
crescimento, o volume de água de irrigação aplicado aos módulos de tratamento
foi uniforme e em torno de 0,07m³/canteiro.dia, calculado conforme a necessidade
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 62
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

hídrica das plantas. A irrigação dos canteiros ocorreu durante todo o período
experimental. Porém, os módulos que compõem o sistema já vinham sendo
irrigados há cinco meses.
Os canteiros foram submetidos a tratamentos diferenciados, e assim
identificados:
 Canteiros 1, 2 e 3: irrigados com água e sem cultura;
 Canteiros 4, 5, 6, 7, 8 e 9: irrigados com água e cultivados com feijão;
 Canteiros: 10, 11, 12, 13, 14 e 15: irrigados com esgoto e cultivados
com feijão;
 Canteiros 16, 17 e 18: irrigados com esgoto e sem cultura.

Apesar da utilização de unidades testemunhos no experimento, canteiros


1, 2, 3, 16, 17 e 18, que serviriam de reforço para efeito de comparação quanto à
disposição das águas de irrigação no que concerne às alterações nas
características químicas do solo, com e sem vegetação; no presente trabalho,
serão abordadas apenas as possíveis alterações nos canteiros cultivados, em
função da qualidade da água disposta. Tal iniciativa surgiu a partir da limitação do
próprio método estatístico convencionalmente empregado, cuja inserção de um
quarto fator a ser analisado (canteiros não cultivados), impossibilitaria uma
análise comportamental ao longo dos canteiros, ou seja, em suas parcelas.
A criação de unidades de controle (canteiros 4, 5, 6, 7, 8 e 9), que
receberam água bruta, teve como objetivo compará-las com os canteiros
irrigados com esgoto, quanto ao desenvolvimento vegetal das plantas, à
produtividade de grãos de feijão e suas concentrações de macro e
micronutrientes, bem como quanto à contaminação bacteriológica dos grãos
produzidos.

4.2.4 Águas de irrigação


Foram utilizados dois líquidos com características distintas, para irrigação
dos módulos experimentais. De um total de 18 canteiros, nove foram irrigados
com água bruta proveniente de um poço amazonas (Figura 4.10), perfurado nas
proximidades, os outros nove canteiros foram irrigados com esgotos
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 63
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

predominantemente domésticos, desviados da rede pública municipal de esgoto e


submetidos à decantação.
Duas caixas d’água de fibra de vidro (Figura 4.10), com capacidade de
1000 litros cada, foram usadas para o armazenamento das águas de irrigação
antes do lançamento nos canteiros.

Poço
amazonas

FIGURA 4.10 – Caixas d’água de armazenamento das águas de irrigação e poço amazonas

O preenchimento dos reservatórios de distribuição, que alimentavam os


canteiros, ocorria por gravidade e com auxílio de mangueiras de 40mm de
diâmetro, eliminando despesas com energia elétrica, operação e manutenção de
bombas.
O reservatório “de armazenamento” de esgoto bruto (Figura 4.11)
funcionava como um decantador primário, simulando uma fossa séptica
residencial, cujo objetivo principal era a redução de sólidos suspensos, que
podem acelerar o processo de entupimento do leito filtrante, resultando em
escoamento superficial e baixa eficiência de tratamento, como sugerido por
Vymazal (2002).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 64
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

A saída do efluente primário era feita cerca de 20 cm do fundo da


caixa, de forma que apenas o sobrenadante deste fosse aproveitado; o lodo
sedimentado era encaminhado, através de um dreno, para a estação de
tratamento de esgoto do Campus da UFC.

FIGURA 4.11 – Desenho esquemático da caixa de “armazenamento” de esgoto bruto: (1) caixa
d’água; (2) tubo de alimentação ø 50mm; (3) registro esfera; (4) aviso; (5) mangueira de
alimentação dos baldes distribuidores ø 40mm; (6) dreno de descarte do lodo sedimentado.

4.2.5 Etapas operacionais


A pesquisa foi realizada em duas etapas caracterizadas por condições
climáticas bastante distintas. A primeira etapa foi desenvolvida entre os meses
de fevereiro a maio de 2003, etapa marcada por elevada taxa de precipitação,
cuja média mensal aproximada foi de 490,00 mm. A segunda foi realizada entre
agosto e outubro de 2003, período de estiagem, com média mensal de
precipitação 15,00 mm, aproximadamente.
Na primeira etapa da pesquisa, os reatores foram divididos em seis
tréplicas:
 Tréplica 1 (T1): RSCA  Reatores irrigados com água e sem cultura;
 Tréplica 2 (T2): RFA  Reatores irrigados com água e com cultura de
feijão;
 Tréplica 3 (T3): RMA  Reatores irrigados com água e com cultura de
milho;
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 65
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

 Tréplica 4 (T4): RME  Reatores Irrigados com esgoto e com cultura de


milho;
 Tréplica 5 (T5): RFE  Reatores Irrigados com esgoto e com cultura de
feijão;
 Tréplica 6 (T6): RSCE  Reatores Irrigados com esgoto e sem cultura.

Na segunda etapa da pesquisa, tendo em vista a inadequação da cultura


de milho ao sistema proposto, as tréplicas de números três e quatro também
foram semeadas com feijão, seguindo-se no mais a mesma divisão citada. Porém,
para a apresentação dos resultados, convencionou-se a continuar a distinguir a
tréplica dois da três e a tréplica quatro da cinco na segunda etapa, por terem sido
submetidas a tratamentos diferenciados na primeira etapa da pesquisa.
O cálculo da taxa de aplicação hidráulica diária levou em consideração a
necessidade hídrica das plantas. Os dados meteorológicos utilizados para efetuar
o cálculo do volume necessário para o desenvolvimento das culturas –
precipitação, evaporação e outros – foram fornecidos pela Estação de
Meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos –
FUNCEME, instalada dentro do Campus Universitário do Pici. Na primeira etapa,
aplicou-se taxa hidráulica diária de 150L por reator. Já na segunda etapa, aplicou-
se 75,00 L por reator.

4.2.6 Avaliação da qualidade da água, esgoto afluente e efluente final


Foram feitas coletas periódicas de amostras da água subterrânea,
do esgoto afluente e do efluente dos reatores para avaliar a eficiência de
tratamento do sistema de disposição no solo proposto.
Para avaliação da primeira etapa da pesquisa, as amostras só foram
coletadas a partir da quarta semana de operação do sistema, ou seja, quatro
semanas após o lançamento dos afluentes – tempo que se estimou suficiente
para que o líquido afluente alcançasse o dreno dos reatores. As coletas da
segunda etapa foram iniciadas na vigésima primeira semana e seguiram até a
trigésima semana.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 66
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

As amostras foram caracterizadas segundo parâmetros físicos,


químicos e biológicos, seguindo procedimentos estabelecidos por APHA
(1995). Foram determinados: pH, alcalinidade, demanda química de oxigênio
(DQO), amônia, nitrito, nitrato, fósforo total, ortofosfato, coliformes totais (CT),
coliformes termotolerantes (CTT). Da mesma forma foram determinados
sólidos sedimentáveis, para convencionar o tempo de decantação do esgoto
bruto no reservatório antes de sua aplicação.
Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Saneamento
(LABOSAN) do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental. Os
métodos de determinação das análises estão na Tabela 4.1.

TABELA 4.1 – Parâmetros físico-químicos e biológicos analisados, e métodos utilizados.


PARÂMETRO UNIDADE MÉTODO

Amônia mgNH  N / L
4 Kjeldhal e Nessler

Nitrito mgNO  N / L
2 Colorimétrico

Nitrato mgNO  N / L
3 Rodier
Fósforo Total mgPT / L Digestão em persulfato de amônio
Ortofosfato mgPO4 / L Ácido ascórbico
DQO mgO2 / L Colorimétrico
Sólidos Sedimentáveis mISS ED / L Cone Imnhoff
Coliformes Totais NMP CT / 100mL Cromogênico Colilert IDEXX
Coliformes Termotolerantes NMP CTT / 100mL Cromogênico Colilert IDEXX

4.2.7 Amostragem e caracterização do solo


A amostragem de solo para as análises físicas e químicas foi realizada na
camada arável deste, que corresponde a uma profundidade de coleta de 20,00
cm. Para fins de melhor caracterização do solo, no que concerne às suas reais
características e propriedades, os canteiros foram divididos em duas parcelas de
5m cada, de onde foram retiradas, após limpeza do local, três sub-amostras
contendo aproximadamente o mesmo volume de terra. As sub-amostras foram
colocadas em um recipiente limpo e misturadas para formar uma amostra
composta. Cerca de 1,00 kg de solo de cada parcela foi acondicionado em saco
plástico limpo, devidamente identificado, e enviado para análise em laboratório.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 67
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

No Laboratório de Solos e Água do Departamento de Ciências do Solo no


Centro de Ciências Agrárias da UFC, as amostras coletadas nos canteiros foram
submetidas a análises granulométrica e química, obedecendo aos padrões e
métodos do Manual de Métodos de Análise do Solo (EMBRAPA, 1997).
As análises de solo objetivaram verificar possíveis alterações causadas ao
longo dos canteiros pela aplicação das águas de irrigação. Para tanto, foram
realizadas análises antes do plantio do feijão e ao término do ciclo completo
deste. Cabe ressaltar que os solos examinados já recebiam esgoto e água bruta
há cinco meses.
Além da composição granulométrica, que possibilitou a classificação
textural dos solos, foram estudados os seguintes parâmetros: pH em água, CE,
cátions trocáveis (Ca2+, Mg2+, Na+ e K+), alumínio trocável (Al3+), acidez potencial
(H++Al3+), matéria orgânica e fósforo assimilável. A partir destas determinações,
foram calculados os seguintes parâmetros: soma de bases (S = Ca 2+ + Mg2+ + Na+
+ K+), capacidade de troca de cátions (CTC = S + H+ + Al3+), percentagem de
saturação por bases (V% = 100 S ÷ CTC), percentagem de saturação com
alumínio (m% = 100 Al3+ ÷ (S + Al3+)) e percentual de sódio trocável (PST = 100
Na+ ÷ CTC).

4.2.8 Cultivo do feijão-caupi (Vigna unguiculata, L. Walp)

4.2.8.1 Escolha da cultura


Para a escolha e utilização do feijão-caupi no experimento, levaram-se em
conta aspectos nutricionais, sanitários, econômicos e culturais. O feijão destaca-
se por se tratar de uma fonte importante de nutrientes (proteínas, carboidratos,
vitaminas, minerais) e fibra na dieta alimentar do povo brasileiro, além de ter sua
produção direcionada ao consumo familiar (cultura de subsistência) e à
comercialização do excedente (ARAÚJO et al, 1996; REICHARDT, 1990). O
feijão-caupi ou feijão-de-corda constitui um dos principais componentes da dieta
alimentar nas regiões Nordeste e Norte do Brasil, especialmente na zona rural.
Quanto aos aspectos sanitários, buscou-se uma cultivar de ato de
crescimento ramador, evitando riscos de contaminação por contato da vagem
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 68
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

com o solo, uma vez que a planta precisa de tutor (suporte). Além disso, os grãos
são consumidos após cozimento ou industrialização, o que minimiza riscos
potenciais associados à disposição de esgotos no solo.
As sementes utilizadas no experimento foram cedidas pelo Banco de
Germoplasma da UFC, o que garante segurança na sua procedência.

4.2.8.2 Semeadura, desbaste e tratos culturais


A semeadura foi realizada manualmente, com 3 a 4 sementes por cova. O
arranjo foi linear, com espaçamento de 0,20 m entre covas e 1,00 m entre linhas,
o que corresponde a uma densidade de 5 covas/m, equivalente a 100.000,00
plantas/ha. A elevada densidade observada objetivava maximizar a remoção de
nutrientes contidos nas águas de irrigação, e, conseqüentemente, maior produção
de grãos. Para garantir germinação satisfatória e evitar o excesso de umidade
prejudicial às sementes, no dia do plantio, foi realizada, com o uso de regador,
irrigação artificial dos canteiros com água bruta.
Após a emergência, a cerca de duas semanas do plantio, foi realizado o
desbaste para retirada das plantas em excesso, optando-se pela remoção
daquelas menos desenvolvidas e defeituosas (BEZERRA, 1997; Magalhães,
2004), por meio de corte, com tesoura, da planta ao nível do solo, para não afetar
a estrutura física do raizame. O desbaste visa minimizar a competição por luz,
água e nutrientes entre as plantas, permitindo melhor desenvolvimento vegetal.
Foram deixadas duas plantas por cova, conforme as características da variedade
escolhida, de hábito de crescimento semi-ramador.
Houve a necessidade de replantio de sementes em virtude da não
germinação de algumas sementes, principalmente no final dos canteiros.
Durante o período experimental, foi efetuada a limpeza periódica dos
módulos experimentais para a eliminação de plantas invasoras.

3.2.8.3 Fenologia e produção de vagens


Para efeito de acompanhamento do desenvolvimento do feijão-caupi, os
canteiros foram divididos em parcela de 2,00 m cada, de onde foram escolhidas,
sistematicamente, cinco plantas para medição. Foram avaliadas as seguintes
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 69
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

variáveis aos 51 dias do plantio: altura de plantas e número de vagens por


parcela.

4.2.8.4 Produtividade
Visando melhor monitoramento das plantas quanto à produtividade de
grãos, os canteiros foram divididos em parcelas de 2,00 m cada, totalizando cinco
parcelas por canteiro. As vagens foram colhidas no período de maturação
fisiológica, já secas e fendendo-se à pressão dos dedos, para posterior contagem
e pesagem em balança de precisão de 0,01 g. A debulha foi feita manualmente,
sendo os grãos também submetidos à pesagem. Antes, porém, as vagens foram
postas para secar ao sol (secagem natural) para uniformização dos teores de
umidade das sementes, buscando-se um armazenamento seguro e a preservação
das qualidades fisiológicas.
O número de vagens por parcela, e a quantidade e peso dos grãos de cada
parcela, obtidos após a secagem, serviram como base à estimativa de
produtividade. A produção dos grãos foi expressa inicialmente em Kg/parcela,
sendo convertida a Kg/ha.

4.2.8.5 Nutrição mineral (macro e micronutrientes dos grãos)


No Laboratório de Análises de Solo, Água e Planta da Embrapa
Agroindústria Tropical, foram realizadas as análises para determinar os teores de
macro e micronutrientes dos grãos produzidos ao longo dos canteiros
agricultados, previamente divididos em duas parcelas, de onde foram retiradas as
amostras. Tais determinações visavam um comparativo, em termos nutricionais,
dos grãos, já que estes se desenvolveram sob condições distintas no que
concerne à qualidade das águas aplicadas.

4.2.8.6 Análise bacteriológica de vagens


Os canteiros foram divididos em duas parcelas de 5,00 m cada, totalizando
24 parcelas. Os exames bacteriológicos foram realizados no LABOSAN. Para
tanto, foram retiradas, aleatoriamente, amostras de vagens maduras, sendo estas
submetidas à lavagem com água esterilizada. A partir das águas de lavagem,
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 70
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

procedeu-se à determinação de coliformes totais e termotolerantes, utilizando-se


o método cromogênico – substrato colilert, por cartelas – marca IDEXX (APHA,
1995).

4.2.9 Análises estatísticas


Os resultados foram apresentados na forma de média ± erro padrão da
média. As análises comparativas entre as médias foram realizadas através de
análise de variância seguida de Student-Tukey e Student-Newman Keuls.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 71
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.0 RESULTADOS ALCANÇADOS FRENTE AOS OBJETIVOS


PROPOSTOS E DISCUSSÃO

5.1 Parte 1 - Infiltração rápida como alternativa de tratamento e disposição


de esgoto no solo para pequenas comunidades em áreas rurais

5.1.1 Etapa 1 – Ciclo de dois dias de aplicação e cinco dias de descanso

5.1 1.1 Condições pluviométricas


As condições pluviométricas constituíram fator relevante ao longo da
pesquisa, considerando sua influência nas características do esgoto. O sistema
coletor de esgoto da bacia hidrográfica atendida pela EPC-ETO de Fortaleza
(fornecedor do esgoto adotado nesta etapa da pesquisa) recebe,
inapropriadamente, contribuição da chuva através de infiltração.
A fase de caracterização ocorreu durante o mês de dezembro, quando se
verifica o início das primeiras precipitações, caracterizado por chuvas pouco
representativas. A fase operacional começou no final de janeiro estendendo-se
até o fim de abril, quando se observa intensificação das chuvas (IPLANCE, 1997).
Na Figura 5.1 estão apresentados dados de pluviosidade diária dos diversos
meses desta etapa da pesquisa.

FIGURA 5.1 - Pluviosidade referente às fases de caracterização e laboratorial


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 72
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.1.1.2 Caracterização do esgoto doméstico


Na Tabela 5.1 estão apresentados os resultados obtidos das análises
físico-químicas e microbiológicas durante a fase de caracterização do esgoto
doméstico, com amostra composta.
Ao lado da média aritmética dos parâmetros de estudo, estão
apresentadas, para fins comparativos, as respectivas faixas de concentrações
para esgoto doméstico bruto, segundo von Sperling (1996). Em termos gerais,
todos os valores médios ficaram dentro da faixa, excetuando-se os sólidos, com
média abaixo do limite mínimo, e amônia, com média superior ao limite máximo.

TABELA 5.1 - Valores médios dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos durante a fase de
caracterização do esgoto doméstico da etapa 1 da pesquisa.
Faixa VON
N° Média SPERLING
Parâmetros Unidade
Amostras Minimo Máximo Aritmética
1996
Coliformes Totais NMP/100mL 10 31,95 x106 284,45 x106 133,33 x106 106 - 109
Coliformes Fecais NMP/100mL 10 7,10 x106 56,55 x106 32,07 x106 105 - 108
DQO mg/L 6 547 775 671 400 - 800
DBO mg/L 6 243 599 442 200 - 500
Amônia mg NH3 – N/L 3 46 49 47 20 - 40
pH - 5 6,67 7,25 6,89 6,7 - 7,5
Sólidos Suspensos
mg/L 6 144 273 190 200 - 450
Totais
Sólidos Suspensos
mg/L 6 23 42 33 40 - 100
Fixos
Sólidos Suspensos
mg/L 6 102 235 156 165 - 350
Voláteis
Sólidos
mg/L 6 4,00 7,50 5,25 10 - 20
Sedimentáveis

Na Tabela 5.2 está apresentada a variação dos parâmetros de estudo


do afluente ao sistema experimental, durante o ciclo de operação dos reatores.
Nas Tabelas 5.1 e 5.2 observa-se que os valores da fase operacional
são menores que o da fase de caracterização. Essa condição pode ser atribuída
aos diferentes processos e períodos do ano referentes à coleta das amostras em
cada fase. Durante a caracterização do esgoto, a amostra analisada era do tipo
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 73
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

composta, enquanto que, na fase operacional, a amostra analisada referia-se


àquela coletada durante um período. Enfatiza-se ainda que a fase de
caracterização ocorreu durante o mês de dezembro enquanto que a fase
operacional aconteceu entre janeiro e abril, quando se verifica aumento
significativo da precipitação e a conseqüente influência nas características do
esgoto bruto.
TABELA 5.2: Valores médios dos parâmetros físico-químicos e microbiológicas durante a fase
operacional da etapa 1 da pesquisa referentes ao esgoto efluente do sistema em escala
laboratorial
Faixa VON
N° SPERLING ,
Parâmetros Unidade Média
Amostras Minimo Máximo 1996
Coliformes Totais NMP/100mL 6 2,31x107 4,79x107 3,07x 107 106 – 109
Coliformes Fecais NMP/100mL 6 6,30x106 1,45x107 8,88x106 105 – 108
DQO mg/L 11 158 623 363 400 – 800
Amônia mg NH3-N/L 11 10 55 35 20 – 40
Nitrato mg NO2-N/L 11 0,14 0,72 0,41 0–2
Nitrito mg NO3-N/L 11 0,43 2,5 1,52 0
Fósforo Total mg P/L 11 1,50 7,24 4,58 5 – 25
Ortofosfato mg P/L 11 1,32 5,84 3,18 -
Sólidos Totais mg/L 9 331 1.069 729 700 – 1350
Sólidos Totais Voláteis mg/L 9 225 654 455 -
Sólidos Totais Fixos mg/L 9 106 415 290 -
Sólidos Suspensos Totais mg/L 11 47 314 160 200 – 450
Sólidos Suspensos Voláteis mg/L 11 33 266 134 165 – 350
Sólidos Suspensos Fixos mg/L 11 3,0 48 22 40 – 100
Alcalinidade mg CaCO3/L 8 137 249 209 110 – 170
Cloreto mg/L 9 10,6 26,2 19,5 20 – 50
Temperatura °C 9 26,0 31,0 27,9 -
Condutividade mhos/cm 9 0,72 1,44 1,17 -
Turbidez uT 11 34,9 280 163 -
Cor uH 11 97,0 587 370 -
pH 11 6,9 8,2 7,5 6,7 – 7,5
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 74
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.1.1.3 Performance do sistema de infiltração rápida


O monitoramento da performance do sistema IR foi realizado considerando
os seguintes parâmetros: DQO, Sólidos Suspensos (SS), Amônia, Nitrito, Nitrato,
Fósforo Total, pH, Coliformes Termotolerantes (CTT) e Turbidez.
A apresentação e a discussão dos resultados estão organizados por
parâmetro de monitoramento, de forma a facilitar a comparação entre os reatores
e obter uma visão ordenada do sistema IR. Estão enfocados: o desempenho geral
dos reatores, a comparação entre eles e entre outros sistemas estudados, em
função dos parâmetros de análise, ressaltando suas vantagens e desvantagens.

Demanda Química de Oxigênio (DQO)


A Portaria N° 154/2002 da SEMACE dispõe sobre padrões e condições
para lançamento de efluentes líquidos gerados por fontes poluidoras no Ceará.
Nela está previsto o limite 200,00 mg/L para DQO, considerando as condições
locais de regime intermitente dos cursos receptores e a escassez das reservas de
água no Estado do Ceará.
Na Figura 5.2 estão apresentadas as concentrações de DQO do esgoto
bruto, do esgoto decantado e dos efluentes dos reatores (R1, R2 e R3 com altura
do leito filtrante de 40,00 80,00 e 120,00 cm, respectivamente). De uma maneira
geral, a eficiência do sistema foi afetada pela precipitação, verificando-se baixos
valores nos períodos nos quais as chuvas foram mais intensas. Observa-se que,
para esgoto diluído, os reatores não tiveram bom desempenho no tratamento,
provavelmente porque quando operados com baixas concentrações a
transferência de massa é limitada.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 75
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

700 100

600
80

Precipitação (mm)
500
DQO (mg/L)

400 60

300 40
200
20
100

0 -
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional

Preciítação Esgoto Bruto Esgoto Decantado


Efluente do R1 Efluente do R2 Efliuente do R3

FIGURA 5.2 - Concentração de DQO nas amostras dos efluentes das unidades do sistema IR.

Através da Figura 5.2, constata-se que os reatores apresentaram


comportamentos semelhantes entre si no que se refere à faixa de concentração
de DQO dos efluentes. As concentrações médias foram iguais a 107,30 ± 14,07;
108,40 ± 12,17 e 108,00 ± 14,69 mg O2/L, para R1, R2 e R3, respectivamente.
Não houve diferença estatística significativa entre as concentrações de DQO nos
efluentes dos três reatores. Considerando-se as concentrações obtidas para os
efluentes de todos os reatores, a concentração mínima foi igual a 50,00 mg O 2/L e
a máxima foi de 195,00 mg O2/L, portanto, abaixo do limite estabelecido pela
SEMACE (200,00 mg O2/L).
A partir da comparação entre as concentrações de DQO dos efluentes dos
três reatores, cujos valores ficaram muito próximos entre si, constata-se que a
profundidade do leito filtrante não foi fator relevante para remoção de matéria
orgânica. Segundo Campos et al. (2002), a comunidade microbiológica ativa,
distante poucos centímetros da superfície é considerada o maior fator contribuinte
para degradação biológica da matéria orgânica, e, portanto, a profundidade do
leito filtrante não tem em primeira instância, correlação com a eficiência de
remoção dos compostos causadores de DQO.
Os reatores apresentaram médias de remoção de DQO superiores a
60,00%. Os valores obtidos foram iguais a 61,14 ± 4,47; 64,28 ± 4,56 e 63,55 ±
6,11 %; para R1, R2 e R3, respectivamente.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 76
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

De modo geral, as pesquisas que vêm sendo realizadas apresentam bons


resultados em termos de concentração de DQO efluente: Lima e Teixeira (1997)
encontraram eficiência de tratamento maior que 60,00% e Andreolli et al. (1999),
obtiveram resultados melhores, com eficiência de tratamento maior que 80,00%.
Comparando-se os resultados de Lima e Teixeira (1997) e Andreolli et al. (1999)
que trabalharam em condições muito semelhantes às desta pesquisa, pode-se
fazer as seguintes considerações:
O fato de neste trabalho ter sido utilizado solo com permeabilidade menor
(15,40 cm/h), sugeriu a possibilidade de efluente mais depurado, considerando a
maior retenção de material suspenso causador de DQO. Contudo, observou-se
que a permeabilidade não é fator preponderante na obtenção de bons resultados,
tendo em vista os resultados alcançados por Lima e Gonçalves (1997) e Andreolli
et al. (1999);
Possivelmente, o sistema desta pesquisa estava sobrecarregado em
termos da taxa de aplicação, solo de permeabilidade menor e alimentação dos
reatores de forma contínua em comparação com as demais pesquisas, que
utilizaram lançamento concentrado, dando condições de aeração de um dia para
o outro. A taxa adotada, embora determinada por metodologia recomendada por
USEPA (1981), foi alta em comparação com as demais (53,00 cm/d). Lima e
Gonçalves (1997) adotaram taxa de 18,00 cm/d e Andreolli et al. (1999) utilizaram
taxas otimizadas em função da vazão com altura do leito filtrante, desenvolvida
por Teixeira e Andreolli (1997).
Outra condição relevante é a concentração do esgoto afluente aos
sistemas, ficando acima de 400,00 mg/L nos trabalhos de Lima e Gonçalves
(1997) e Andreolli et al. (1999), enquanto que neste, o efluente decantado
apresentava média em torno de 300,00 mg/L, levando a crer que para esgoto
diluído o sistema teria desempenho menor do que utilizando esgoto mais
concentrado.

Sólidos Suspensos (SS)


Na Figura 5.3 está apresentada a distribuição de SS presente no esgoto
bruto (EB) em termos de sólidos fixos (SSF) e voláteis (SSV). Pela análise de
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 77
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

sólidos suspensos totais (SST), fixos (SSF) e voláteis (SSV) observou-se que
aproximadamente 80% de SS são constituídos por sólidos voláteis, indicando
maior teor de matéria orgânica que inorgânica.

350 90
80
300
70
SS, SSV e SSF (mg/L)

250

Precipitação (mm)
60
200 50

150 40
30
100
20
50
10
0 -
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional
Preciítação SST SSV SSF

FIGURA 5.3 – Distribuição das frações de sólidos suspensos no esgoto bruto durante os ciclos da
Etapa 1 da pesquisa.

A Figura 5.4 foi obtida através da compilação dos dados referentes às


análises das amostras do EB, do ED e dos efluentes dos R1, R2 e R3 para
comparação do desempenho na remoção de SS das diferentes unidades do
sistema IR.
Verifica-se que o esgoto bruto (EB) apresentou intensas variações no que
se refere às concentrações de SS, variando de 47,00 mg/L a 314,00 mg/L,
apresentando média de 161,00 ± 26,44 mg/L. Nos ciclos em que choveu pouco no
dia da coleta, não foi possível encontrar correlação entre os valores de SS e
pluviosidade. Contudo, nos ciclos onde a precipitação foi mais intensa (10° e 11°
ciclos), observa-se que a concentração de SS diminui, possivelmente, pela
diluição do EB.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 78
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

350 100

300
80

Precipitação (mm)
250
SS (mg/L)

200 60

150 40
100
20
50

0 0
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional

Preciítação Esgoto Bruto Esgoto Decantado


Efluente do R1 Efluente do R2 Efliuente do R3

FIGURA 5.4 - Variação da Concentração de SS durante a fase operacional da Etapa 1 da


pesquisa.

A Portaria N° 154/2002 da SEMACE estabelece, para efluente


predominantemente doméstico, o limite de 50,00 mg/L para SS, considerando o
regime intermitente dos corpos receptores e a escassez das reservas de água no
Estado do Ceará. De acordo com a Figura 3.3, as concentrações dos efluentes
dos reatores ficaram abaixo do limite estabelecido pela SEMACE (50,00 mg/L). As
médias dos valores de SS foram iguais a 7,95 ± 1,47 ± 1,98 e 5,24 ± 1,03 mg/L;
para R1, R2 e R3, respectivamente, com picos máximos entre 9,60 e 21,30 mg/L
e mínimos abaixo de 1,80 mg/L.
A eficiência média na remoção de SS nos reatores foi superior a 90,00%,
com valores médios iguais a 93,90 ± 1,76; 95,03 ± 1,17 e 95,76 ± 1,21 %, para os
reatores R1, R2 e R3, respectivamente. Não houve diferença estatística
significativa entre as remoções médias para os três reatores. As taxas de
remoção mais elevadas (acima de 95,0%) foram observadas nos últimos ciclos,
confirmando que o desenvolvimento de uma camada colmatante melhora as
condições de remoção de SS.
Nesta pesquisa foram encontrados melhores resultados dos que os já
observados por outros pesquisadores, com obtenção de efluente de concentração
média menor que 8,00 mg/L e eficiência acima de 90,00%, enquanto que Lima e
Gonçalves (1997) apresentaram valores elevados, faixa de 50,00 a 80,00 mg/L
para os reatores de 40,00 (80,00 e 120,00 cm de leito) com remoção entre 55,00
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 79
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

a 70,00%, e Andreolli et al. (1999) com valores médios, entre 18,00 e 26,00 mg/L,
e remoção de 80,00 a 90,00%.
Possivelmente, os fatores que mais contribuíram para obtenção de um
resultado melhor foram a baixa condutividade hidráulica e a maior carga aplicada
(produto entre a taxa de aplicação e a concentração de SS afluente), que através
do melhor desenvolvimento de uma camada colmatante (no caso, em grau
desejável), proporcionou diminuição da porosidade do leito e melhor processo de
filtração de SS.
Com os dados obtidos nesta etapa da pesquisa, pode-se afirmar com
grande precisão que a altura do leito filtrante, na faixa de 40,00 a 120,00 cm, não
tem qualquer influência sobre o tratamento.
Amônia
O estabelecimento da nitrificação está relacionado às condições de
operação de um sistema de forma a adequá-lo às necessidades das bactérias
envolvidas neste processo: as Nitrossomonas e as Nitrobacter. O metabolismo de
cada uma contribui para a composição de uma situação de nitrificação em termos
de alguns parâmetros, tais como: pH, alcalinidade, temperatura, concentrações
das diferentes formas de nitrogênio, dentre outros, tornando possível caracterizar
duas fases: o período de aclimatação e o estabelecimento do processo de
nitrificação.
Considerando que as bactérias nitrificantes se aclimataram em todos os
reatores, é de se esperar que a concentração de amônia decresça enquanto que
a de nitrato aumente ao longo dos ciclos.
A primeira parte desta suposição (queda do teor de amônia) pode ser
confirmada através da Figura 5.5, onde estão apresentadas as concentrações de
amônia nos efluentes dos reatores (R1, R2 e R3). Além da diminuição das
concentrações ao longo do tempo, verifica-se que as eficiências de remoção
crescem na medida em que o processo de nitrificação vai se instaurando,
tendendo a uma estabilização no fim do período de aclimatação (11° ciclo) até o
término da pesquisa, com percentual acima de 90,00%.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 80
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

60 100

50
80
Concentração (mg/L)

Precipitação (mm)
40
60
30
40
20

20
10

0 0
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional

Preciítação Esgoto Bruto Esgoto Decantado


Efluente do R1 Efluente do R2 Efliuente do R3

FIGURA 5.5 - Variação da concentração de amônia nos reatores da Etapa 1 da pesquisa

Observando as curvas de eficiência de remoção dos reatores verifica-se


que estes apresentam comportamento bem similar. Na fase inicial, promovem
moderada remoção de amônia (na ordem de 50,00 e 80,00%), com posterior
queda de eficiência e seu estabelecimento gradual até o fim do período de
aclimatação (11° ciclo), a partir do qual se verifica uma tendência à estabilização.
A análise estatística dos resultados mostrou que houve remoção significativa nos
três reatores (evidenciada pela diferença significativa entre a concentração média
no esgoto bruto e nos efluentes dos três reatores) e que não houve diferença de
remoção estatisticamente significativa entre os três reatores.
Em termos de concentração, o efluente, após período de aclimatação,
apresenta valores na faixa de 0,80 mg/L a 2,00 mg/L, ficando abaixo do limite
máximo estabelecido pela Resolução CONAMA N°357/2005, de 5,00 mg/L,
compatibilizando-se com o alcance de depuração esperado para SISTEMA IR
(von SPERLING, 2000).

Nitrito
Segundo Ferreira (2000), durante o período de aclimatação ou inoculação
das bactérias nitrificantes, o nitrito é acumulado durante as reações de conversão
de nitrogênio amoniacal, tendo em vista que a taxa de formação de nitrato é
superada pela taxa de geração de nitritos, fazendo com que as concentrações de
nitrito fiquem elevadas se comparadas às de amônia e nitrato.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 81
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Baseando-se nestas observações pode-se concluir que em todos os


reatores o período de aclimatação das bactérias nitrificantes, foi iniciado a parir
da 11ª semana (Figura 5.6). O tratamento estatístico mostrou que houve
produção de nitrito nos três reatores e que esta produção foi igual nos reatores
R2 e R3 e menor no reator R1.

1200 100

1000
80
Concentração (mg/L)

Precipitação (mm)
800
60
600
40
400

20
200

0 0
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional

Preciítação Esgoto Bruto Esgoto Decantado


Efluente do R1 Efluente do R2 Efliuente do R3

FIGURA 5.6 - Variação da concentração de nitrito nos reatores da Etapa 1 da pesquisa

Nitrato
As concentrações de nitrato, considerando a aclimatação das bactérias nos
reatores e o decréscimo nas concentrações de amônia nos efluentes,
aumentaram ao longo dos ciclos confirmando o estabelecimento do processo de
nitrificação no sistema IR experimental. Esta condição é confirmada na Figura 5.7,
na qual o aumento na concentração de nitrato é verificado a partir do quarto ciclo
pela instauração do período de aclimatação. De acordo com a análise estatística,
houve produção significativa de nitrato nos reatores. As produções médias para
R1, R2 e R3 (a partir do quarto ciclo) foram iguais a 93,47 ± 3,48; 97,66 ± 0,77 e
97,30 ± 0,72; respectivamente. As produções médias foram estatisticamente
iguais para os três reatores.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 82
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

60 100

50
80
Concentração (mg/L)

Precipitação (mm)
40
60
30
40
20

20
10

0 0
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional
Preciítação Esgoto Bruto Esgoto Decantado
Efluente do R1 Efluente do R2 Efliuente do R3

FIGURA 5.7 - Variação da concentração de nitrato nos reatores da Etapa 1 da pesquisa.

Diferente da amônia, quando, a partir do início da aclimatação, tem-se uma


curva de concentração decrescente representada por uma exponencial, o nitrato
se apresenta com oscilações entre máximos e mínimos locais. Esta característica
pode ser justificada pelo próprio processo de nitrificação. A amônia lançada no
solo (como constituinte do esgoto) é oxidada a nitrito e este a nitrato através da
ação de microrganismos. Contudo, o processo não se dá de forma homogênea,
ou seja, nem toda a amônia que entra é imediatamente oxidada, podendo ficar
acumulada entre um ciclo e outro, tendo em vista as diversas condições
influentes. Dessa forma, a amônia que não foi oxidada no ciclo anterior pode ter
sido convertida a nitrato em ciclos posteriores, justificando assim os picos de
concentração de máximo e mínimo.

Fósforo
A legislação brasileira não apresenta limites de concentração de fósforo
para lançamento em cursos d’água. Em termos de tecnologia de tratamento de
esgoto, são poucas aquelas que promovem alguma remoção significativa no
efluente. Segundo Ceballos (1999), os sistemas convencionais de tratamento de
esgoto removem apenas entre 10,00 e 25,00 % de fósforo associado a partículas
de matéria orgânica. von Sperling (2000) apresenta os seguintes sistemas que
alcançam efluentes com concentração média abaixo de 4,00 mg/L: lagoa de
estabilização seguida por lagoas à alta taxa, lodo ativado com remoção de fósforo
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 83
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

(quer sejam por mecanismos biológicos, químicos e/ou físicos) e os sistemas de


disposição no solo de infiltração rápida e infiltração à baixa taxa.
A retenção de fósforo em um sistema IR é controlada quimicamente pela
adsorção, na presença de minerais de Fe, Al e Ca, e pela sua precipitação com
cada um desses elementos na fase dissolvida, que juntos são denominados de
sorção (REED, 1995; ARIAS et al., 2001; REEMTSMA et al., 2000). Contudo, a
retenção não é homogênea para todo tipo de solo, sendo função de diversos
fatores dentre os quais destacam-se: quantidade de argila, ferro, alumínio e cálcio
presentes na composição do solo, bem como sua textura, pH e condutividade do
meio.
Nos reatores, houve grande assimilação de fósforo pelo solo, confirmada
pelo tratamento estatístico, durante os primeiros ciclos de aplicação (1° ao 7°
ciclo), com efluente apresentando concentrações inferiores a 0,10 mg/L. Após
este período, a partir do 10° ciclo, houve dificuldade de análise decorrente das
seguintes condições:

 Heterogeneidade da precipitação nos últimos quatro ciclos


monitorados, variando a concentração de fósforo do afluente e, por
conseqüência, as condições internas dos reatores que influenciam o
processo de tratamento;
 Saturação do processo de sorção do fósforo pelo solo, implicando no
incremento da concentração dos efluentes aos reatores por conta da
lixiviação do fósforo em excesso;
 Queda do pH para abaixo de 6,0 implicando na diminuição da absorção
máxima de fósforo pela célula das bactérias envolvidas presentes no
meio, implicando aumento na concentração de fósforo no efluente aos
reatores (GIFFONI, 2000)
Na Figura 5.8 é apresentada a eficiência de remoção para todos os
reatores. Verifica-se que o R1 manteve efluente com concentração média durante
a assimilação de 0,73 mg/L até o 7° ciclo, alcançando eficiência em torno de
82,62 ± 7,16%. A partir de então, apesar das condições heterogêneas
estabelecidas pela precipitação, observa-se uma queda na remoção de fósforo
para percentuais abaixo de 60,00%, com média de 21,00%, alcançando efluente
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 84
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

com concentração máxima de 3,50 mg/L. Possivelmente, o reator tenderia a


diminuir gradativamente sua remoção tendo em vista que o solo possui
capacidade limitada de sorção de fósforo, contudo não é possível prever quando
a saturação deste constituinte no solo se estabeleceria.
Considerando todos os reatores e comparando os resultados absolutos
com a altura do leito filtrante, verifica-se que a concentração de fósforo no
efluente aumenta com a diminuição da altura do leito. A análise estatística desses
resultados aponta que os reatores R2 e R3 foram mais eficientes na remoção de
fósforo que R1, porém, não houve diferença significativa entre as taxas de
remoção alcançadas por R2 e R3. Tendo em vista que o principal mecanismo de
remoção de fósforo para sistemas IR é a sorção, que depende das características
do solo, incluindo sua composição e textura, esperava-se que, quanto maior o
caminho a ser percorrido pelo esgoto, maior seria a sorção promovida pelo
material filtrante, teoria devidamente simplificada por considerar solo com
capacidade de sorção uniforme ao longo do caminho percorrido. Porém, como
ocorre em todo processo de adsorção, após a completa saturação do solo, todo
fósforo que entra no sistema vai sair no efluente e, neste experimento, a
saturação do solo deve ter sido iniciada a partir do 11 o. ciclo para os reatores com
menores profundidades (R1 e R2).

100% 100

80%
Eficiência de Remoção (%)

60% 80
Precipitação (mm)

40%
60
20%

0%
40
-20%

-40% 20
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
-60%

-80% 0
Ciclo Operacional
Precipitação Esgoto Decantado Reator R1 Reator R2 Reator R3

FIGURA 5.8- Variação da concentração de fósforo total na Etapa 1 da pesquisa.


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 85
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

pH
Os reatores (R1, R2 e R3), em termos de pH, tiveram comportamento
similar, mantendo efluente na faixa de 6,3 a 7,9 até o 10º ciclo, e a partir de então,
verifica-se tendência de acidificação, atingindo pH abaixo de 6,0.
No processo de nitrificação, além de uma demanda elevada de oxigênio, é
necessária alcalinidade suficiente para evitar que o pH diminua até níveis tóxicos
a ponto de coibir a nitrificação. O pH é um dos fatores mais decisivos na eficácia
deste processo, devendo-se manter acima de 7,0, para evitar a inibição das
nitrobactérias pelo ácido nitroso, e abaixo de 8,5, para assegurar a ação das
nitrossomonas, que seria prejudicada com a elevada concentração de amônia
livre (acima de 10,00 mg/L) para pH acima de 8,5 (FERREIRA, 2000).
O esgoto decantado (ED) manteve, até o décimo ciclo, pH entre 7,0 e 7,5
implicando uma taxa de nitrificação entre 70,00 e 80,00%. A partir do 11° ciclo, o
pH do ED passou para a faixa ótima (média de 8,0) implementando taxa de
nitrificação próxima a 100%, significando uma demanda maior de alcalinidade
que, não sendo suficiente, fez com que o pH dos efluentes dos reatores sofresse
uma queda para níveis abaixo do adequado (pH < 6,0). Além disso, deve-se
considerar o término do período de aclimatação, promovendo o estabelecimento
pleno do processo de nitrificação.

Este fenômeno também ocorreu na pesquisa realizada por Reemtsma et al.


(2000), onde a nitrificação levou à completa exaustão da capacidade tampão do
solo, induzindo o seu reator a uma drástica acidificação, cujas conseqüências não
foram detalhadas pelo autor na referência consultada.
Os dados apresentados sugerem uma preocupação em termos da
característica tampão do esgoto bruto, que deverá apresentar uma alcalinidade
suficiente para a quantidade de amônia a ser oxidada. Dessa forma será possível
garantir uma faixa adequada de pH (entre 7,0 e 8,5) a fim de evitar condições
adversas às bactérias responsáveis pelo processo de nitrificação, mantendo
assim a sua estabilidade na remoção de amônia no sistema.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 86
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Coliformes Termotolerantes
A Portaria n°154/2002 da SEMACE estabelece o limite de lançamento para
coliformes termotolerantes (CF) de 5.000 NMP/100mL (5 x 103 NMP/100mL). No
que se refere à capacidade de alcance de tratamento, os efluentes dos sistemas
IR atingem em média concentrações na ordem de 10 4 (von SPERLING, 2000),
não atingindo a depuração disposta pela referida portaria.
Através da Figura 5.9 pode-se observar que, em termos gerais, a remoção
de CF pelo sistema IR experimental foi baixa, na ordem de apenas 1 a 2 casas
logarítmicas. O reator que apresentou melhor desempenho foi o R3, obtendo
efluente com concentração média por volta de 105 e média de remoção de duas
casas logarítmicas. O R2, com exceção da primeira medição, apresentou
resultados na mesma grandeza do R3, com efluente com concentração média um
pouco acima de 105 e eficiência média de remoção de duas casas logarítmicas. O
R1, não apresentou bom desempenho na remoção de CF, com concentração
efluente variando ponto a ponto, sendo este aspecto prejudicado pela ausência de
dados nos 8° e 9° ciclos (mudança do laboratório e problemas de saúde da
operadora) e variação da precipitação diária.

1,E+08 100
Coliformes Termotolerantes

80
1,E+07
Precipitação (mm)
(NMP/100mL)

60
1,E+06
40

1,E+05
20

1,E+04 0
1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° 12° 13°
Ciclo operacional
Preciítação Esgoto Decantado Efluente do R1
Efluente do R2 Efliuente do R3

FIGURA 5.9 - Concentração de Coliformes Termotolerantes (CF) no esgoto decantado (ED) e nos
efluentes dos reatores R1, R2 e R3, na etapa 1 da pesquisa.

Embora a eficiência de remoção esteja na ordem de 99,00%, isto não


significa obtenção de valores desejados em termos de tratamento. Segundo
Paganini (1997), a remoção de microrganismos, tais como bactérias, vírus,
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 87
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

protozoários e helmintos (ovos) contidos no esgoto, por meio da disposição no


solo, é efetuada através de diferentes mecanismos: sedimentação, filtração na
camada orgânica superficial do terreno e da vegetação, adsorção às partículas do
solo, dessecação durante os períodos secos, radiação, predação e exposição a
outras condições adversas. Contudo, o mecanismo da filtração física e ação
biológica dos microrganismos (predação e competição) constituem os principais
fatores na remoção das bactérias, protozoários e helmintos, que quando mortos,
são convertidos em dióxido de carbono e amônia por organismos predadores.
A ação biológica é mais efetiva nas camadas orgânicas superficiais do solo
onde a presença de ar propicia o desenvolvimento dos processos aeróbios, e
onde a disponibilidade de alimentos possibilita a existência de população maior e
mais diversificada de microrganismos. Estima-se que este mecanismo represente
entre 92,00 - 97,00% da remoção total dos microrganismos nas disposições no
solo, já que nesta primeira camada superficial (de 1,00 a 1,50 m de espessura), a
dessecação, a radiação e a temperatura atuam de maneira mais efetiva
(PAGANINI, 1997).
É possível que a baixa remoção de coliformes esteja associada ao
confinamento dos reatores no LABOSAN - laboratório de saneamento, que
proporcionou proteção da superfície do solo às condições de luminosidade e
radiação direta do sol.
Conclui-se que o sistema IR experimental não foi capaz de adequar o
esgoto bruto aos limites estabelecidos pela SEMACE (<5 x 103 NMP/100mL), bem
como não alcançou desempenho compatível com a tecnologia de infiltração
rápida (aproximadamente 104 NMP/100mL), conforme apresentado por von
Sperling (2000).
Em comparação com as demais pesquisas utilizando sistema IR, quer por
bacias de infiltração ou reatores, observou-se que estas também obtiveram baixas
remoções de coliformes termotolerantes. Lucas Filho et al. (2000) trabalhando
com afluente ao sistema experimental com concentração de 7,7 x 10 5
NMP/100mL com altura do leito filtrante de até 440 cm, reportam uma eficiência
de remoção menor que 91,00%, representando a remoção de apenas uma casa
logarítmica, ou seja, efluente com concentração na ordem de 10 6. Braga e
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 88
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Riguetto (1997), aplicando esgoto com concentrações de 10 7 a 108, também


obtiveram efluente à bacia experimental com concentrações altas de CF, na
ordem de 106 e 107 nas fases de nitrificação e desnitrificação. Valores menores
puderam ser observados em outras fases, contudo não foram especificadas
concentrações afluentes. Em pesquisa realizada por Santos et al. (1997),
utilizando a mesma bacia, foi concluído que a “técnica de infiltração rápida, nas
condições estudadas, não demonstrou eficiência na remoção de bactérias”,
atribuindo-se este desempenho à alta permeabilidade do solo (10 -4 cm/s).
Embora a remoção não seja considerada substancial, verificou-se que
quanto maior a altura do leito filtrante, melhor foi a remoção de coliformes em
termos médios.

5.1.3.4 Considerações sobre o solo


pH
O pH reflete o grau de acidez de um extrato de solo, servindo de indicador
das condições gerais de fertilidade do solo, devendo se manter na faixa de 4,5 a
7,5 de forma a favorecer o crescimento das plantas. A classificação em termos de
acidez é dada conforme Tabela 3.3. Na Figura 5.10 está apresentada a variação
dos valores de pH do solo na fase inicial e após o término da pesquisa nos
diferentes reatores.

TABELA 5.3: Exemplos de classificação das leituras de pH em água.

Classificação pH em água (relação solo: solução = 1:2,5).


Acidez elevada  5,0
Acidez média 5,0 a 5,9
Acidez fraca 6,0 a 6,9
Neutro 7,0
Alcalinidade fraca 7,1 a 7,8
Alcalinidade elevada  7,8

Fonte: Tomé Jr, 1997.


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 89
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

8,06

Solo
inicial
7,05 R1

R2
pH

6,03
R3

Limite
5,02 Superior
Limite
inferior

4,00
- 0,40 0,80 1,20 1,60

Profundidade (m)

FIGURA 5.10 - Variação de pH do extrato do solo em função da profundidade.

O solo em sua fase inicial era ácido (pH = 4,5), apresentando tendência de
aumento em função da profundidade podendo indicar deficiência de fósforo,
baixos teores de cálcio, manganês e potássio, toxidez por alumínio, ferro ou
manganês, alta lixiviação de cátions ou ainda indicar boa disponibilidade de
micronutrientes como ferro, cobre, manganês ou zinco.
Observa-se que, após o término da pesquisa, o pH do solo aumentou,
apresentando taxa crescente ou não em relação à profundidade, podendo indicar
recuperação através do fornecimento de fósforo ou aumento nos teores de cálcio,
manganês e potássio.

Matéria Orgânica
O teor de matéria orgânica fornece informações mais importantes do ponto
de vista qualitativo do que quantitativo tendo, normalmente, teor decrescente ao
longo da profundidade do solo. A classificação do solo segue conforme Tabela
5.4.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 90
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.4 - Classificação do solo em relação ao teor de matéria orgânica.


Classificação Matéria Orgânica (g/Kg)
Baixo  15
Médio 15 a 25
Alto  25

Fonte: Tomé Jr, 1997.

Na Figura 5.11 observa-se que, antes da aplicação de esgoto, a


concentração de MO era baixa e praticamente constante ao longo da
profundidade. Após o término da pesquisa, o teor de MO continuou baixo, mas
apresentou pequenas variações, tendo seu valor incrementado ao longo da
profundidade. Baixos teores de matéria orgânica indicam solos arenosos, com
baixa capacidade de troca iônica (portanto com baixo poder tampão) e
possibilidade de deficiência de enxofre e micronutrientes.

30,00
Alta concentração
Solo
25,00 de MO inicial
Matéria Orgânica (g/Kg)

R1
20,00 Concentração média
de MO R2
15,00
R3
Baixa concentração
10,00 de MO Limite
inferior
5,00 Limite
Superior

-
- 0,40 0,80 1,20 1,60

Profundidade (m)

FIGURA 5.11 - Variação de matéria orgânica do solo em função da profundidade.

Baixo teor de MO antes e depois da pesquisa pode ser atribuído às


características físicas do solo (solo arenoso) e ao clima tropical. Temperatura e
umidade elevadas, se por um lado favorecem grande produção de biomassa, por
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 91
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

outro, propiciam elevada velocidade de mineralização de compostos orgânicos


(degradação da camada colmatante e MO), que no final, acabam resultando em
valores baixos de concentração de MO.
Esperava-se, no fim da pesquisa, maior concentração de matéria orgânica
na superfície dos reatores com decréscimo ao longo da profundidade. Contudo os
dados apresentaram inversão de comportamento. Isto ocorreu devido ao
lixiviamento de MO ao longo do solo durante o período de aplicação de esgoto no
solo, enquanto que na superfície, a intensa atividade microbiana de degradação
favoreceu teor ameno de MO nesta camada.

Fósforo disponível
Existem diversas formas químicas de fósforo no solo que contribuem para
a nutrição das plantas, apresentando-se tanto na forma mineral e orgânica
(fazendo parte de compostos com Ca, Fe e Al), em solução, adsorvido de forma
trocável aos colóides e grande parte pode ser adsorvido de forma não-trocável
(não disponível às plantas). A fração que se encontra adsorvida de forma
reversível é liberada de forma muito lenta em comparação com os cátions
trocáveis.
A classificação do solo em relação ao teor de fósforo disponível varia em
função do extrator utilizado na análise, da textura do solo e da cultura a ser
utilizada. De uma maneira geral, teores menores que 3,00 mg P/dm³ será baixo
enquanto que acima de 60,00 mgP/dm³ será alto. Em relação ao seu
comportamento no solo, o teor de fósforo disponível tende a diminuir com a
profundidade, acompanhando o teor de matéria orgânica.
Pela Figura 5.12 observa-se que a capacidade do solo em assimilar o
fósforo presente no esgoto foi intensa, passando de teores muito baixos (1,00 a
2,00 mg/Kg) a concentrações altíssimas, em pouco mais de três meses,
principalmente, na superfície do solo. A taxa de assimilação de fósforo do R2
(obtida pela inclinação da curva) foi praticamente igual a do R3, o que sugere uma
possível caracterização do solo em termos desse parâmetro (como exemplo, nos
primeiros 30,00 cm do solo a taxa de assimilação foi de aproximadamente 267,00
mg P.Kg-1.m-1). Possivelmente, o R1 não apresentou mesmo comportamento por
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 92
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

se encontrar em fase de saturação mais avançada que os demais reatores, com


menor capacidade de assimilação (taxa na ordem de 83,00 mg.Kg-1.m-1). Esta
rapidez de saturação pode ser devida à menor profundidade do leito, possível
diferenciação no momento de montagem da camada filtrante, ou ainda falhas no
processo de coleta e/ou análise.

140,00

120,00
Solo inicial
100,00
P assimilável (mg/Kg)

80,00 R1

60,00 R2

40,00
R3
20,00

-
- 0,40 0,80 1,20 1,60

Profundidade (m)

FIGURA 5.12 - Variação de fósforo disponível no solo em função da profundidade.

Condutividade Elétrica e Salinidade


A condutividade elétrica é utilizada como indicadora da salinidade do solo,
visto que quanto maior a concentração de sais na solução do solo maior será a
corrente elétrica que poderá ser transmitida através dela.
Sua importância está relacionada à interferência dos sais nos processo de
germinação, desenvolvimento e produtividade das plantas. Em solos salinos a
planta necessitará de maior energia para absorção da água presente no solo.
Ainda são considerados os efeitos tóxicos dos íons presentes em excesso
ocasionando disfunções e desarranjos no funcionamento enzimático das plantas.
Na Tabela 5.5 estão apresentadas as respostas das plantas face aos
diferentes níveis de condutividade elétrica do extrato de saturação do solo e na
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 93
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Figura 5.13 a variação da condutividade elétrica nos reatores antes e depois da


aplicação do esgoto.

TABELA 5.5 - Respostas das plantas a diferentes intensidades de condutividade elétrica (CE) a
25°C
CE a 25°C(dS/m) Resposta das plantas

0,0 a 2,0 Os efeitos da salinidade são geralmente negligenciáveis


2,0 a 4,0 A produtividade de culturas muito sensíveis à salinidade pode ser reduzida
4,0 a 8,0 A produtividade de culturas sensíveis à salinidade é reduzida
8,0 a 16,0 Somente culturas tolerantes à salinidade produzem satisfatoriamente
> 16 Somente poucas culturas muito tolerantes à salinidade produzem
satisfatoriamente
Fonte: Tomé Jr, 1997.

Na Figura 5.13 observa-se que o solo antes e depois da aplicação do


esgoto apresentou níveis de salinização baixos, contudo o lançamento de esgoto
promoveu aumento de sais, que em termos proporcionais são relevantes. O
menor aumento ficou na ordem de 60% em apenas três meses de operação o que
induz a tomar precauções em relação à disposição de esgoto por longos períodos
em um mesmo local.

2,50

2,00 Solo inicial

R1
CE (dS/m)

1,50

R2
1,00
R3

0,50
Limite
negligenci
ável
-
- 0,40 0,80 1,20 1,60

Profundidade (m)

FIGURA 5.13 - Condutividade elétrica em função da profundidade.


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 94
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.1.2 Etapa 2 – Ciclo de 4 dias de aplicação e 3 de descanso

5.1.2.1 Condições pluviométricas


Na Figura 5.14, estão especificados os valores pluviométricos totais de
cada semana de funcionamento dos reatores. Estes dados são imprescindíveis,
uma vez que, embora a tubulação da qual o esgoto foi coletado não inclua
oficialmente a entrada de águas de chuva, isto tem sido verificado na prática.
Conseqüentemente, há uma influência direta nos parâmetros físico-químicos
analisados no esgoto afluente e nos efluentes dos reatores, devido à diluição do
esgoto afluente. O funcionamento dos reatores foi iniciado em 8 de dezembro de
2002 (Semana 0), finalizando-se em 06 de junho de 2003 (Semana 26).
Observa-se que há uma elevação acentuada na intensidade das chuvas a
partir da 7ª semana, culminando na 15ª, com a maior precipitação total,
estendendo-se pelos meses de abril, maio e junho, com algumas oscilações
principalmente no mês de maio.

250

200
Chuva (mm)

150

100

50

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Ciclos (Semanas)

FIGURA 5.14 – Dados pluviométricos medidos no período da etapa 2 da pesquisa.

5.1.2.2 Performance dos reatores

Demanda Química de Oxigênio (DQO)


Na Figura 5.15, estão apresentadas as variações de DQO ocorridas em
cada reator ao longo de cada ciclo de operação. A partir do tratamento estatístico
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 95
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

observou-se que houve redução significativa de DQO nos três reatores, porém
não houve diferença na porcentagem de remoção entre os três reatores.
As oscilações verificadas na concentração de DQO nos efluentes dos
reatores R1 (0,40 m), R2 (0,80 m) e R3 (1,20 m) foram decorrentes da diluição do
esgoto decantado afluente com água de chuva, principalmente no período de
janeiro a maio de 2003, que correspondem ao período da quarta à vigésima
quarta semana. Há uma tendência de ocorrência de picos de DQO no efluente
dos reatores R1 e R2, associados a picos na concentração de DQO afluente. Em
R3, estes picos não são tão visíveis, coerente com o que foi observado para SSV,
indicando que o sistema de infiltração rápida é afetado pela variação na
concentração orgânica afluente.
A redução na concentração de DQO efluente deve-se primeiramente à
filtração de matéria orgânica pelas partículas do solo e a um processo posterior
de degradação biológica efetuada pelo biofilme superficial formado por
microrganismos decompositores.
É importante ressaltar que nos períodos em que ocorreu colmatação na
superfície do solo, houve anoxia e perturbação no sistema. Esta situação
coincidiu com a liberação de flocos avermelhados (biofilme bacteriano) dos
reatores, que influenciou nos resultados de DQO como indicado pelos valores
mais altos de DQO nos reatores R1 e R2 nas Fases 2 e 3 e do reator R3 na Fase
3, por volta da 15ª semana.
A colmatação ocorrida na superfície dos reatores mostrou a necessidade
de intervenção, para que a situação retorne a uma condição de perfeito
funcionamento. Sendo assim, duas intervenções foram feitas: a primeira foi a
retirada da camada superficial, retornando o processo à condição inicial do meio
desprovido de biofilme e a segunda foi a escarificação desta camada, oferecendo
condição de aeração necessária à sobrevivência do biofilme, sendo considerada
como a mais indicada.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 96
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

450
400
350
DQO (mg/L)

300
250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.15 – DQO do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao longo do
tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Sólidos Suspensos (SS)


Nas Figuras 5.16 e 5.17, estão representadas as variações nas
concentrações de sólidos suspensos totais e voláteis do esgoto decantado
afluente e dos efluentes dos reatores.
Sól. Susp. Totais (mg/L)

200

150

100

50

0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.16 – Sólidos suspensos do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao
longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 97
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

140
120
SSV(mg/L) 100
80
60
40
20
0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.17 – Sólidos suspensos voláteis do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e
R3 ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Observa-se, inicialmente que há redução na concentração de sólidos


suspensos e sólidos suspensos voláteis presentes no esgoto decantado afluente,
como conseqüência da diluição do esgoto, devido à incidência do período
chuvoso acentuado no período entre a 7ª e 26ª semanas, conforme Figura 5.14.
Uma vez que a altura da camada de solo pode ser um obstáculo a mais
para aprisionar os sólidos que sejam carreados pelo esgoto afluente, era
esperado que R3 (1,20 m) demonstrasse maior capacidade de retenção de
sólidos suspensos que R2 (0,80 m) e R1 (0,40 m). Contudo, a remoção foi
praticamente a mesma nos três reatores, 75,82 ± 4,50; 79,23 ± 4,99 e 79,46 ±
6,41 %, para R1, R2 e R3, respectivamente.
A partir da fase 4, culminando na fase 5, houve um decréscimo gradual na
concentração de sólidos suspensos totais e voláteis, com uma taxa de remoção
de sólidos suspensos próxima de 95,00 %, nos três reatores.
O reator R4 (0,80 m), mostrado na Figura 5.18, apresentou um
comportamento semelhante tanto para sólidos suspensos totais, como para
sólidos suspensos voláteis. Desta forma, vê-se claramente que ocorre um
aumento progressivo nas três primeiras semanas quanto à capacidade de
retenção de sólidos do sistema culminando em quase 100%. À medida que os
poros vão sendo fechados, começa a se formar uma camada bioativa na
superfície do solo, iniciando-se um processo de degradação biológica da matéria
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 98
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

orgânica contida no esgoto afluente. Conseqüentemente, a concentração do


efluente deste reator tende a cair neste período, e nos dois últimos ciclos, com a
diluição do esgoto afluente por água de chuva, ocorreu queda na taxa de
remoção.

100

80
Sólidos Susp. (mg/L)

60

40

20

0
13 14 15 16 17 18 19
Ciclo operacional (Semanas)
Esgoto Decantado Reator 4

FIGURA 5.18 - Sólidos suspensos do esgoto decantado e efluente do reator R4 ao longo do


tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Baseando-se nestes resultados pode-se observar que o sistema de


Infiltração Rápida pode suportar um período de operação de três a quatro ciclos
(semanas), partindo de uma situação de retirada da camada colmatada, até que
este apresente sinais de colmatação mais severa na camada superficial. No
sistema de Infiltração Rápida, usado nesta pesquisa, a maioria dos sólidos é
removida na superfície do solo. Portanto, existe a tendência de colmatação da
superfície dos sistemas de infiltração pelos sólidos suspensos no esgoto,
conseqüentemente no projeto e operação de sistemas de infiltração rápida, deve
haver a preocupação quanto à perda da capacidade de infiltração do solo
conforme recomendações de Tchobanoglous, 1991.
Segundo Cuyk et al. (2001), a perda na taxa de infiltração devido à
colmatação do solo, obrigaria a um aumento na superfície do solo usada para
infiltração do esgoto. Observou-se um decréscimo acentuado na taxa de
infiltração na fase 1 desta pesquisa, associado a valores mais elevados na
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 99
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

concentração de sólidos suspensos, principalmente devido à filtração de sólidos


suspensos na camada superficial do solo, os quais bloqueiam as aberturas entre
os poros, aumentando a área utilizada para infiltração. Estando de acordo com
Tchobanoglous (1991), segundo o qual existe a tendência de colmatação da
superfície dos sistemas de infiltração pelos sólidos suspensos no esgoto. Cuik et
al. (2001), também afirmam que a perda na taxa de infiltração, devido à
colmatação do solo, obrigaria a um aumento na superfície do solo usada para
infiltração do esgoto.

Amônia
Na Figura 5.19 estão mostradas as variações na concentração de amônia
do esgoto afluente decantado e dos efluentes dos reatores.

60
50
Amônia (mg/L)

40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.19 – Amônia do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao longo do
tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Na fase 2 (semanas 10 a 13), devido à colmatação, houve pouca aeração


no meio, e, por conseguinte, não ocorreu a oxidação da amônia, e o efluente dos
reatores apresentou valores de concentração próximos ao do esgoto afluente.
Nas fases 3 e 4 (semanas 14 a 22) , houve diminuição na concentração de
amônia, ainda que de forma parcial.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 100
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Na fase 4, ocorreu uma remoção de amônia maior que nos períodos


anteriores, mas ainda de forma incompleta e isolada. Somente na fase 5
conseguiu-se uma eficiência de remoção próxima aos 98,00%, diante de um
afluente com concentrações elevadas de amônia (20,00 a 40,00 mg/L).
A análise estatística indica que houve remoção, estatisticamente
significativa, durante todo o experimento, somente no R3, sendo que R2 e R1 só
apresentaram remoções significativas na fase 5. Não houve diferença entre as
remoções ocorridas nos reatores 1 e 2, o que leva à conclusão que a
profundidade interfere na eficiência de remoção de amônia.
Como do reator R4 (0,80 m), foi retirada a camada superior colmatada, que
corresponde também à camada bioativa do solo, esperava-se que neste reator
ocorresse um restabelecimento da camada bioativa. Deste modo, observou-se um
aumento na remoção de amônia até 16ª semana, porém a concentração de
amônia no efluente aumentou a partir da 16ª semana como conseqüência de um
novo processo de colmatação (Figura 5.20).

35
30
25
Amônia (mg/L)

20
15
10
5
0
13 14 15 16 17 18 19
Ciclo operacional (Semanas)

Esgoto Decantado Reator 4

FIGURA 5.20 - Variação de amônia do esgoto decantado e efluente do reator R4 ao longo do


tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Conforme van Haandel e Marais (1999), o processo de volatilização da


amônia só pode ter importância quando o pH da solução se aproxima de nove.
Portanto, como não foi detectado durante o período da pesquisa pH maior que
oito, afastou-se a possibilidade de volatilização da amônia, deste modo, prevêem-
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 101
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

se somente duas vias a serem seguidas pela amônia no sistema. Primeiramente


esta estaria sujeita à nitrificação, convertendo-se a nitrito e a nitrato, ou poderia
ser utilizada como fonte de nitrogênio pelos microrganismos presentes no filtro
biológico.

Nitrito
Na Figura 5.21 são mostradas as variações na concentração de nitrito do
esgoto afluente decantado e dos efluentes dos reatores. Estatisticamente, houve
produção significativa nos três reatores sem diferença significante entre as
produções observadas para R1, R2 e R3.

25

20
Nitrito (mg/L)

15

10

0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.21 – Nitrito do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao longo do
tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Verificaram-se picos muito elevados de nitrito no final da Fase 1 e nas


fases 3 e 4, associados à colmatação da camada superficial e pouca aeração do
meio, na Fase 2, não houve nenhuma formação de nitrito e na Fase 5, todo o
nitrito formado foi prontamente convertido a nitrato quando foi completada a
nitrificação.
O reator R4, do qual foi retirada inicialmente a camada superficial
colmatada do solo, apresentou concentrações crescentes no efluente, acima do
limite de 1mg/L. Isto se deve a um processo incompleto de nitrificação, devido à
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 102
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

remoção desta camada bioativa do solo, não contribuindo com uma aeração
suficiente do solo para a nitrificação.
A presença de picos de nitrito nos efluentes dos reatores pode ser sinal da
carência de oxigênio para as bactérias nitrificantes, que por serem mais sensíveis
ao ambiente do que os organismos heterotróficos demandam uma atenção
especial às condições do solo. A intensidade com que se realiza a nitrificação
num solo depende, segundo Brady (1989), da quantidade de água existente,
sendo retardada por condições de pouca umidade ou por excesso desta.

Nitrato
Na Figura 5.22 são apresentadas as variações na concentração de nitrato
do esgoto afluente decantado e dos efluentes dos reatores. Do tratamento
estatístico observou-se que houve produção de nitrato em todos os reatores e que
não houve diferença significativa de produção nos três reatores.

30
25
Nitrato (mg/L)

20
15
10
5
0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.22 – Nitrato do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao longo do
tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Como R2 foi o primeiro reator a sofrer colmatação dos poros superficiais,


seguido pelo reator R1, no reator R3 houve maior formação de nitrato durante a
fase 1 seguida por R1 e em seguida R2. Durante a fase 2, R1 e R2 sofreram
redução total na produção de nitrato, devido à colmatação do solo resultante da
afluência de grande quantidade de sólidos suspensos no esgoto. Nas fases 3 e 4
os picos de formação de nitrato, principalmente em R1 e R2 podem ter sido
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 103
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

causados pela escarificação feita na superfície. Somente na fase 5 observou-se


formação constante de nitrato, acompanhada de decréscimo de amônia e nitrito,
nesta fase a nitrificação foi completa.
Quanto ao reator R4 (Figura 5.23), o mesmo apresentou produção de
nitrato em proporções diferenciadas. Na primeira análise (último dia do ciclo),
observou-se pouca produção de nitrato, seguida de uma produção maior na
segunda análise (primeiro dia do ciclo) e de nenhuma produção na terceira (último
dia do ciclo). Na quarta (segundo dia do ciclo) há aumentos parciais, seguidos de
considerável produção na quinta análise (primeiro dia do ciclo). A queda
visualizada na 16ª semana deve-se ao período de máxima colmatação dos
reatores, sendo provável que tenha acontecido sobrecarga de matéria orgânica
afluente (sólidos suspensos) no sistema.

15
Nitrato (mg/L)

10

0
13 14 15 16 17 18 19
Ciclo operacional (Semanas)

Esgoto Decantado Reator 4

FIGURA 5.23 – Variação de nitrato do esgoto decantado e efluente do reator R4 ao longo do


tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Segundo US.EPA (1984), em sistemas projetados para carga hidráulica


máxima (caso desta pesquisa), altas concentrações de nitrato serão esperadas no
percolado. Este pulso seria o resultado da nitrificação da amônia armazenada nas
camadas de solo durante os períodos de cargas anteriores.
O comportamento das concentrações de nitrato verificadas nos efluentes
dos reatores desta pesquisa confirma o que foi encontrado por Russell et al.
(1993), segundo o qual, em lugares de irrigação com esgoto, o nitrato é formado
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 104
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

durante os períodos aeróbios entre eventos de irrigação. Quando o efluente é


aplicado, o ar do solo é rapidamente deslocado pelo esgoto, o solo se torna
saturado e aumenta as regiões anóxicas; quando o local é drenado, o número de
regiões anóxicas decresce.

Nitrificação e desnitrificação
A concentração de amônia do esgoto decantado afluente apresentou
oscilações, em função da diluição do esgoto com a afluência de águas pluviais na
rede de esgoto devido à estação chuvosa.
Existe um comportamento semelhante nos reatores R1, R2 e R3, não tanto
com relação à intensidade do processo, mas quanto à progressividade do
processo de oxidação da amônia. Com um comportamento cíclico, observa-se de
início uma elevação na concentração de amônia no efluente devido à oxidação de
nitrogênio orgânico do esgoto. Seguido de uma diminuição desta concentração
em relação ao esgoto afluente, decorrente da conversão de amônia a nitrito, que
deve ser instantaneamente convertido a nitrato.
Aumentos e reduções sucessivas de amônia ao longo de todo o período do
experimento estão associados a picos de nitrito e nitrato na fase 1. Na fase 2 não
se verificaram pulsos de nitrato ou nitrito, na Fase 3 observaram-se picos
menores de nitrato. Na fase 4, sucederam picos maiores de nitrito e menores de
nitrato.
Na fase 5, ocorreu uma associação de reações resultando num aumento
progressivo na concentração de nitrato do efluente, da mesma forma que
reduções na concentração de amônia e nitrito do efluente. Este fenômeno é
indicativo de ocorrência de nitrificação total nos reatores na etapa final do
experimento.
É importante notar que as concentrações de nitrito e nitrato no esgoto
decantado afluente foram muito baixas na fase 5 e que, além disso, ocorreram
reduções bruscas nas concentrações de amônia e nitrito nos efluentes dos
reatores.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 105
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Conseqüentemente, a quantidade de nitrato produzida nos reatores R1, R2


e R3, não é compatível com a quantidade de amônia afluente e, portanto, é
provável que tenha ocorrido também o processo de desnitrificação nos reatores.
O comportamento dos reatores R1, R2 e R3 nas fases 1, 2 e 3 está de
acordo com o que defende Ho et al. (1992), atestando que certos períodos de
secagem do solo em alguns ciclos de operação não teriam sido satisfatórios para
nitrificação. Isto porque o líquido estava ainda presente no começo do período de
secagem, conseqüentemente, uma significativa quantidade de amônia não foi
nitrificada, e os lugares de adsorção desta não tinham sido ocupados. Quanto
maior o encharcamento, menos amônia poderia ser adsorvida.
À semelhança da fase 5 desta pesquisa, Polprasert (1996) encontrou
também uma taxa de remoção de nitrogênio de cerca de 50,00 %.

Ortofosfato
Na Figura 5.24 são mostradas as variações na concentração de ortofosfato
do esgoto afluente decantado e dos efluentes dos reatores.

7
6
Ortofosfato (mg/L)

5
4
3
2
1
0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.24 - Ortofosfato do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao longo do
tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Não houve remoção estatisticamente significativa em R1, enquanto que em


R2 e R3, foi constatada remoção significativa, sem haver diferença entre as taxas
de remoção.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 106
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Segundo Reed et al. (1995), solos com granulometria grosseira, acidez ou


solos orgânicos têm menor capacidade de remoção de fósforo e o solo utilizado
nesta pesquisa apresenta estas características, principalmente no que diz
respeito à textura predominantemente arenosa com pouca quantidade de argila,
dificultando a remoção de ortofosfato por reações de adsorção e precipitação. O
solo coletado inicialmente possuía pH abaixo de cinco, portanto ácido, além do
que a tendência nos reatores é de consumo de alcalinidade com o tempo. Aliado
a isto se tem maior deposição de matéria orgânica com o tempo de operação dos
reatores.
O reator R4 apresentou também comportamento semelhante aos R2 e R3,
coincidindo com decaimento na taxa de retenção de ortofosfato na 16a semana,
em função da colmatação dos poros superficiais, prejudicando o fluxo, e posterior
oscilação na remoção.
A remoção encontrada para todos os reatores não foi o bastante para os
requisitos de destinação final do efluente, principalmente para água potável,
considerando que há o risco de que seja favorecida a proliferação de algas em
recursos hídricos, tanto se o efluente for despejado diretamente em recursos
hídricos, como se a este for permitido percolar até as águas subterrâneas, o qual
posteriormente alimentará algum córrego superficial.
A remoção observada nos reatores mostrou não ter sido influenciada
somente por processos biológicos, uma vez que no início do experimento, os
reatores tiveram melhor remoção que ao final. De fato, segundo Aulenbach et al.
(1988), estudos prévios mostraram que a atividade biológica aeróbia tem um
pequeno efeito na remoção de fósforo em leitos de areia de infiltração rápida,
portanto o processo de remoção de fósforo é controlado principalmente por
reações físico-químicas. Apesar de a adsorção de fósforo ocorrer sobre a areia
natural, a precipitação de fósforo é mais importante para a remoção de fósforo em
longo prazo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 107
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

pH e Alcalinidade
Os resultados obtidos quanto a valores de pH atestam que não houve
variações significantes de pH, que permaneceu na faixa entre 6,5 e 7,5, tanto
para afluente quanto para efluentes, durante 22 semanas de experimento. A partir
da 23ª semana houve modificação dos valores de pH dos efluentes em relação ao
afluente, coincidindo com diminuição da alcalinidade (Figura 5.25) e variações nas
concentrações de nitrato e amônia, e, portanto com o início do estabelecimento
de nitrificação nos reatores. Estatisticamente, houve remoção de alcalinidade em
todos os reatores, sem variação significativa na eficiência de remoção, entre os
reatores.
Alcalinidade Total (mgCaCO3/L)

400
350
300
250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.25 - Alcalinidade do esgoto decantado e efluente dos reatores R1, R2 e R3 ao longo do
tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Observou-se que nos períodos em que houve colmatação do meio, ocorreu


um ligeiro aumento do pH nos efluentes. Lima (1997) atesta que se a nitrificação
for intensa, os valores de pH serão sempre baixos, resultando em um consumo
maior de alcalinidade e que o aumento de pH, pode ser conseqüência do
aumento de alcalinidade pelas bactérias desnitrificantes.
Quando a nitrificação é inibida, automaticamente a alcalinidade e o pH
aumentarão pela introdução do afluente, até que se crie novamente condição
favorável para nitrificação, iniciando-se então um novo ciclo. Se a desnitrificação
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 108
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

for incluída no sistema de tratamento, então a redução da alcalinidade será


menor, porque no processo de desnitrificação há produção de alcalinidade (Van
Haandel e Marais, 1999).
O CaCO3, responsável pela alcalinidade, forma um revestimento na areia
natural que ocorre quando o esgoto é aplicado. Este desempenha um papel
significante na remoção de fósforo; a areia com revestimento removido exibiu
mínima remoção de fósforo. A camada de CaCO3 muda o equilíbrio de cálcio para
produzir mais fosfato de cálcio e, portanto remove fósforo da fase aquosa, por
precipitação ou reação química formando fosfatos de cálcio insolúveis (Aulenbach
et al., 1988).

Coliformes Totais e Termotolerantes


Nas Figuras 5.26 e 5.27 estão apresentadas as variações nas
concentrações de coliformes totais e termotolerantes do esgoto decantado
afluente e dos efluentes dos reatores.
Embora, aparentemente, o reator R3 (1,20 m) tenha apresentado maior
retenção de coliformes totais e termotolerantes que R2 (0,80 m), e este maior que
R1 (0,40 m), estatisticamente não houve variação de eficiência de remoção entre
os três reatores. Todos os reatores apresentaram queda na retenção de
coliformes devido ao aumento da umidade do solo no período de colmatação. A
colmatação do solo ocorre através do aumento de matéria orgânica,
providenciando uma fonte de carbono para a sobrevivência das espécies
bacterianas segundo Jamieson et al. (2002).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 109
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Coliformes Totais (NMP/100mL)


1,E+09

1,E+08

1,E+07

1,E+06

1,E+05

1,E+04

1,E+03
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.26 - Coliformes totais no afluente e efluente dos reatores R1, R2 e R3, durante a fase 2
do experimento.
Coliformes Termotolerantes

1,E+08

1,E+07
(NMP/100mL)

1,E+06

1,E+05

1,E+04

1,E+03
0 5 10 15 20 25 30
Ciclo operacional (semanas)

ED R1 R2 R3

FIGURA 5.27 - Coliformes termotolerantes no afluente e efluente dos reatores R1, R2 e R3,
durante a fase 2 do experimento.

Outros fatores tais como: tipo do solo, temperatura e pH, além de


competição também influem no movimento e persistência de bactérias
termotolerantes no solo. A propriedade do solo que parece ter o maior impacto na
sobrevivência de bactérias é a retenção de umidade, que está ligada à
distribuição de tamanho das partículas e conteúdo de matéria orgânica. Em solos
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 110
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

franco-arenosos, E. coli é capaz de sobreviver e proliferar, se houver umidade.


Existe uma relação inversa entre temperatura e mortalidade de bactérias. Para
valores de pH compreendidos entre 6 e 7 existem condições ótimas para a
sobrevivência das bactérias. Os microrganismos em competição limitarão a
sobrevivência dos patógenos no solo. As bactérias entéricas, as quais foram
realocadas para dentro do ambiente solo-esgoto, devem competir com as
bactérias residentes no solo pelos nutrientes essenciais e pela água (JAMIESON
et al., 2002).
O reator R4 apresentou melhor remoção de coliformes termotolerantes,
com taxa de retenção praticamente constante (média de 98,89 ± 0,68%).
Acredita-se que o principal mecanismo de retenção neste caso está associado à
filtração física, limitando a mobilidade física no solo.
Pode-se observar, no entanto, que este tratamento oferece uma taxa de
remoção de 90,00 a 99,00 %, não conferindo ao efluente uma condição de NMP <
1.000un./100 mL, valor padrão de reúso de efluentes. Sampaio (1997) afirma que
esta porcentagem corresponde ao obtido também em bacias de infiltração
localizadas na França.

5.1.2.3 Considerações sobre a água de lavagem


Na Tabela 5.6 estão apresentados todos os parâmetros físico-químicos e
bacteriológicos determinados para a água de lavagem. Nesta tabela estão
presentes também os dados do esgoto afluente ao sistema no dia da coleta da
camada de solo superficial que gerou a água de lavagem, no intuito de se fazer
uma comparação dos valores.
O pH da água de lavagem apresentou um valor (5,91) abaixo do verificado
no esgoto afluente diário (6,92) e nos efluentes dos reatores. Esta amostra
representou a diluição da camada mais bioativa do solo, onde são mais
acentuados os processos de decomposição da matéria orgânica e de nitrificação,
que por serem processos oxidativos, concorrem para o aumento do pH.
A alcalinidade da água de lavagem situou-se abaixo de 20,00 mg/L,
representando uma redução de cerca de 80,00% desta em relação ao esgoto
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 111
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

afluente do dia da coleta, como resultado da aeração mais favorável na camada


superficial e do conseqüente efeito da nitrificação.
A concentração de sólidos suspensos totais foi superior à do esgoto
afluente (abaixo de 100,00 mg/L), porém, para sólidos suspensos voláteis, esta
diferença cai, com a água de lavagem permanecendo acima de 100,00 mg/L e o
esgoto decantado permanecendo abaixo de 50,00 mg/L. Tem-se, deste modo,
que grande quantidade de sólidos suspensos permaneceram retidos na camada
inicial do solo durante todo o tempo de operação deste sistema. Considerando-se
a concentração de sólidos suspensos voláteis como matéria orgânica, é visível
que esta concentração está bem abaixo do esgoto afluente, indicando que, ao
serem retidos na superfície, ficam submetidos a todos os processos químicos e
biológicos de decomposição da matéria orgânica pelo biofilme de microrganismos
ativos, resultando em material mineralizado.

TABELA 5.6 – Resultados comparativos dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos entre


água de lavagem e o esgoto decantado.
Amostras
Parâmetro Unidades
Água de Lavagem Esgoto do dia
pH 5,91 6,92
Alcalinidade mg CaCO3/L 16,50 75,90
Condutividade Elétrica dS/m 0,420 0,15
Sólidos Suspensos Totais mg/L 627,00 61,33
Sólidos Suspensos Voláteis mg/L 113,00 49,00
DQO mg O2/L 545,50 306,75
DBO mg O2/L 55,88 41,66
Amônia mg/L 8,68 7,84
Nitrito mg/L 0,745 0,00
Nitrato mg/L 10,90 0,42
Fósforo Total mg/L 15,04 2,96
Ortofosfato mg/L 12,01 3,53
Coliformes Totais NMP/100mL 8,82 E+07 1,79 E+08
Coliformes Termotolerantes NMP/100mL 2,46 E+07 4,13 E+07

Por ser a água de lavagem representativa da camada superficial, onde se


espera que esteja retida a maioria da matéria orgânica afluente, é provável que se
processe uma degradação da matéria orgânica de forma mais ativa, resultando
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 112
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

numa DBO remanescente nesta camada de 55,88 mg/L, considerada baixa se


comparada com a DQO de 545,50 mg/L, indicando um alto processo de
mineralização nesta camada. Sampaio (1997) orienta que esta camada de lodo
acumulado e seco na superfície dos leitos seja raspada e usada como adubo
numa região próxima às bacias de infiltração.
A água de lavagem apresentou maior concentração de amônia em relação
ao esgoto afluente naquele dia. Quanto ao nitrito, sua concentração estava dentro
dos padrões, encontrando-se, no entanto, concentrações de nitrato maiores na
água de lavagem que no esgoto afluente no dia desta análise, concluindo-se que,
nesta camada, a nitrificação não seria suficiente para converter toda amônia a
nitrato. Esta observação está de acordo com Willems et al. (1997), segundo os
quais, as concentrações de NO3- foram maiores para os solos subsuperficiais
enquanto horizontes superficiais mantiveram concentrações mais baixas de
efluente de nitrato. Diferenças nas capacidades de remoção de NO 3- em relação à
profundidade foram resultado das diferenças na atividade microbiana que são
correlacionadas com a matéria orgânica.
Verificou-se uma concentração de ortofosfato até quatro vezes superior à
do esgoto afluente. Este fato se deve à adsorção alcançada de fosfato na
superfície do solo.
Pelos resultados de coliformes totais e termotolerantes é possível ver que
há um aumento considerável na água de lavagem em relação à quantidade de
coliformes presentes no esgoto decantado. Tal observação foi também
encontrada por Jamielson et al. (2002), os quais examinaram a sobrevivência de
bactérias na camada superficial do solo e no subsolo e encontraram que o topo
do solo foi o ambiente mais favorável para bactérias. Reed et al. (1995) relataram
que alguns estudos indicaram que coliformes termotolerantes foram retidos na
camada superficial de 0,08 m do solo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 113
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.1.2.4 Considerações sobre o solo

Permeabiliade
Avaliaram-se neste item, as conseqüências da disposição controlada de
esgoto decantado na obstrução dos poros intergranulares (colmatação) da
camada superior do solo, principalmente quanto ao aspecto de sua
permeabilidade (fundamental para operacionalidade e sustentabilidade do
sistema). Os resultados dos ensaios de permeabilidade efetuados mensalmente
em cada coluna encontram-se discriminados na tabela 5.7.

TABELA 5.7 – Resultados dos ensaios de permeabilidade com o tempo, na etapa 2 da pesquisa.
Mês Medida Inicial Medida Alternativa Comentários
(cm/s) (cm/s)
Medição efetuada previamente ao início da
operação dos reatores, utilizando-se o
0 4,4. 10-3 -
permeâmetro.
1 5,4 . 10-4 - Descartou-se a coluna 7, submetendo-a ao
ensaio de permeabilidade.
2 2,8 . 10-4 - Descartou-se a coluna 6, submetendo-a ao
ensaio de permeabilidade.
Descartou-se a coluna 5, submetendo-a ao
3 7,6. 10-5 1,5. 10-4 ensaio de permeabilidade. Retirando-se
camada superficial colmatada de 4 cm, fez-se
novamente o ensaio.
Descartou-se a coluna 4, submetendo-a ao
4 1,1. 10-4 - ensaio de permeabilidade. Fez-se
escarificação ocasional da superfície durante
operacional.
Descartou-se a coluna 3, submetendo-a ao
6 5,2. 10-5 1,6. 10-4 ensaio de permeabilidade. Fez-se
escarificação da superfície entre as duas
medidas.

As intervenções feitas nos meses 3, 4 e 6, foram as mesmas efetuadas


durante o transcorrer da pesquisa nos reatores recebendo esgoto decantado, de
modo a quantificar o resultado na permeabilidade do solo de cada intervenção
realizada, melhorando a capacidade do solo de drenagem e, conseqüentemente
a aeração do solo.
Os resultados de permeabilidade do solo ao longo do tempo estão
mostrados na Figura 5.28.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 114
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Para Andreadakis (1987), a capacidade do solo para percolar o esgoto não


é, em longo prazo, governada pela condutividade hidráulica saturada do solo, mas
pela taxa de infiltração da crosta orgânica formada ao longo do perímetro
molhado do solo.

Permeabilidade Expon. (Permeabilidade)


0,005

0,004
Permeabilidade (cm/s)

-0,6572x
0,003 y = 0,0015e
2
R = 0,7655
0,002

0,001

0
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (meses)

FIGURA 5.28 - Permeabilidade do solo ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Segundo Reed et al. (1995), a permeabilidade do solo em sistemas de


Infiltração Rápida deve variar entre 5,00 e 50,00 cm/h, ou 1,39 x 10-3 e 13,9 x 10-3
cm/s, caracterizando solos formados por areia e areia argilosa. Desta forma a
permeabilidade inicial do solo está dentro dos limites estabelecidos, contudo com
o passar do tempo a permeabilidade diminui e a camada colmatada praticamente
impede a infiltração do esgoto e a potencialidade do tratamento.
A retirada da camada colmatada da superfície do solo e a escarificação
semanal da superfície forneceram resultados animadores tanto no resultado do
ensaio de permeabilidade, quanto na própria operação do sistema, uma vez que,
sem intervenções no terceiro dia de encharcamento do solo, este apresentava
uma lâmina d’água de 0,10 m, aumentando no quarto dia. Deste modo, esta
retirada minimizou a situação, contudo a escarificação permitiu uma infiltração do
esgoto sem a existência de lâmina d’água acumulada.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 115
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

pH
Os dados referentes à determinação de pH do solo estão dispostos nas
curvas da Figura 5.29. Observa-se que as amostras do solo coletadas
inicialmente dos três furos efetuados na estação de tratamento de Beberibe
apresentaram pH ácido (abaixo de 6,0).

6
pH

0
Furo 1

Furo 2

Furo 3

Mês 1

Mês 2

Mês 6
Mês 3

Mês 4
0 - 0,40 m 0,40-0,80m 0,80-1,20m

FIGURA 5.29 – Mudanças nos valores de pH do solo ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Após o início do funcionamento dos reatores, com a introdução freqüente


de esgoto doméstico, ocorreu um aumento significativo no primeiro mês de
operação, havendo uma estabilização deste pH nos meses subseqüentes,
situando-o próximo à neutralidade.
Tomé (1997) propôs que em valores baixos de pH, pode ocorrer limitação
na decomposição da matéria orgânica no solo, acumulando matéria orgânica,
conseqüentemente, isto pode ter contribuído para a intensa colmatação dos poros
superficiais no início do experimento.
Willems et al. (1997), obtiveram resultados semelhantes, em experimento
com disposição de esgoto em colunas de solo, encontrando em horizontes
superficiais e subsuperficiais do solo, inicialmente, medidas de pH similares (4,1 a
4,2), mas quanto ao pH da superfície das bacias saturadas, observaram que
estavam menos ácidas. Isto é provavelmente o resultado da inundação com
águas residuárias de pH superior alto (6,0), ou diferenças nos tipos de
metabolismo bacteriano encontrados no ambiente do solo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 116
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Na faixa de pH inicial do solo matriz desta pesquisa, abaixo de 5,5 (limite


apresentado por Mello, 1983), os microrganismos do solo seriam influenciados,
uma vez que bactérias e actinomicetos são mais ativos em solos minerais, com
valores de pH intermediários ou altos. Os fungos, por serem facultativos, têm
atividade satisfatória em amplas faixas de pH.

Matéria Orgânica
Operando o sistema de Infiltração Rápida durante seis meses, obtiveram-
se os resultados relacionados na Figura 5.30. As três primeiras amostras retiradas
preliminarmente da ETE de Beberibe estão representadas nos Furos 1 a 3. Os
outros valores tratam dos reatores separados mensalmente do sistema que, ao
serem seccionados, permitem a coleta de uma camada representativa da camada
especificada na Figura 5.30.

8
Matéria Orgânica (g/kg)

0
Furo3
Furo 1

Furo 2

Mês 1

Mês 2

Mês 6
Mês 3

Mês 4

0 - 0,40 m 0,40-0,80m 0,80-1,20m

FIGURA 5.30 – Matéria orgânica no solo ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.

Verifica-se uma tendência a crescimento gradual nas concentrações, ainda


que pequena, enquadrando todas as amostras mensais do solo como de baixo
nível de matéria orgânica, baseada na classificação feita por Fernandes (1993)
(tabela 3.4). A amostra de maior concentração de matéria orgânica representa
7,00 g/Kg, que corresponde a 0,7% de teor de matéria orgânica no solo.
Durante quase todo o experimento, é visível que a maior concentração da
matéria orgânica contida no esgoto afluente deposita-se na superfície do solo, o
que já foi bastante discutido quando se tratou do comportamento dos reatores
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 117
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

quanto a sólidos suspensos e DQO. A exceção à regra ocorreu no mês três,


quando deve ter havido alguma perturbação nas concentrações, provavelmente
devido ao ensaio prévio de permeabilidade efetuado neste mês, que pode ter
carreado a matéria orgânica.
Corrêa et al. (2000), também constataram que, após dois anos contínuos
de disposição de esgoto no solo, a matéria orgânica se concentrou mais nos
primeiros 10,00 cm superficiais. Esta concentração de matéria orgânica foi cerca
de cinco vezes mais alta, quando comparada com a área controle e entre 10,00 e
20,00 cm de profundidade, a diferença reduz-se para 2,80 vezes.
A escarificação efetuada nesta pesquisa se assemelha às práticas
agrícolas (aração, gradagem, drenagem, etc.) que, segundo Mello (1983),
concorrem para intensificar a aeração do solo, tendo o efeito de acelerar a
decomposição da matéria orgânica e de reduzir o teor de húmus.
A concentração de nitrogênio no solo coletado dos reatores apresentou-se
sempre abaixo de 0,05 % em todo o período de estudo do experimento. Para
Pierzynski et al. (1994), valores de Nitrogênio Total para horizonte superficial do
solo de muitos solos minerais variam de 0,05 a 0,15 %. Farid et al. (1993),
trabalhando com sistemas de irrigação de culturas com esgoto no Egito, notaram
que a carga de nitrogênio e fósforo de efluentes de esgoto excederam a retirada
pelas plantas, neste caso a carga excedente é lixiviada para o subsolo.
Os valores da relação C:N, durante o período de avaliação do experimento
indicaram uma situação de estabilização da matéria orgânica no solo,
acompanhando a situação inicial do solo matriz. A camada superior apresenta um
valor constante de 10,00 em todas as análises, e a camada inferior, um valor de
9,00; indicando que a camada inicial (0,00 a 0,40m) apresenta maior
concentração de matéria orgânica retida, enquanto a camada inferior (0,40 – 0,80
metros) apresenta menor concentração de matéria orgânica. Segundo Pierzynski
et al. (1994), matéria orgânica do solo já estabilizada tem razão C:N variando de
10:1 a 12:1. Como do sistema operado nesta pesquisa houve liberação de
quantidade razoável de NH4 e NO3-, é provável que esta relação tenha sido
atingida.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 118
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Fósforo Disponível
O Fósforo disponível, analisado no solo deste experimento, apresentou
comportamento semelhante ao da matéria orgânica, conforme visualizado na
Figura 5.31.
Na situação inicial do solo matriz, a concentração de fósforo existente nas
três amostras de solo controle era bastante reduzida, com relação aos requisitos
de plantas e microrganismos, conforme a classificação feita por Fernandes
(1993). Logo após o primeiro mês de funcionamento das colunas de infiltração,
ocorreu um forte aumento na concentração de fósforo na camada superior do solo
(0,00 a 0,40 metros) muito além do necessário para plantas. Quanto à camada
inferior (0,40 a 0,80 metros), a concentração é bem menor, não havendo
infiltração representativa de fósforo da superfície. Este resultado coincide com a
teoria proposta por Pierzynski et al. (1994), que defende que a aplicação de
resíduos líquidos e sólidos diretamente sobre a superfície de solos não cultivados,
não somente produz uma estratificação de fósforo no horizonte de solo superficial,
com níveis muito altos presentes nos três centímetros superiores sujeitos à
erosão, mas também deixa matéria orgânica altamente erodível enriquecida com
fósforo na superfície.
Fósforo Assimilável (mg/kg)

180
150
120
90
60
30
0
Furo3

Mês 1

Mês 2

Mês 6
Furo 1

Furo 2

Mês 3

Mês 4

0 - 0,40 m 0,40-0,80m 0,80-1,20m

FIGURA 5.31 - Concentração de fósforo assimilável no solo ao longo do tempo.


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 119
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Aulenbach et al. (1988) afirmaram que este revestimento formado sobre a


superfície da areia natural de estações de tratamento submetidas à Infiltração
Rápida consiste de íons metálicos que poderiam precipitar o fósforo, tais como
Al3+, Fe3+, e Ca2+, com a concentração de cálcio sendo muito maior que as
concentrações de ferro e de alumínio.

Condutividade Elétrica e Salinidade


Os resultados de condutividade elétrica (CE) e de potencial de sódio
trocável (PST) são fundamentais para avaliar o risco da deposição de sais na
superfície do solo, induzindo à salinização deste, tornando-o infértil e improdutivo.
Os dados obtidos encontram-se disponíveis nas curvas plotadas nas Figuras 5.32
e 5.33, representando o comportamento do solo, face à adição freqüente de
esgoto decantado com concentrações mais altas que 250,00 mg/L.
Condutividade elétrica (dS/m)

1,2

0,9

0,6

0,3

0
Furo3
Furo 1

Furo 2

Mês 1

Mês 2

Mês 6
Mês 3

Mês 4

0 - 0,40 m 0,40-0,80m 0,80-1,20m

FIGURA 5.32 - Condutividade elétrica no extrato do solo ao longo do tempo, na etapa 2 da


pesquisa.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 120
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

7
6
5
4
PST

3
2
1
0

Furo3
Furo 1

Furo 2

Mês 1

Mês 2

Mês 6
Mês 3

Mês 4
0 - 0,40 m 0,40-0,80m 0,80-1,20m

FIGURA 5.33 - Percentual de sódio trocável no solo ao longo do tempo, na etapa 2 da pesquisa.

De acordo com o Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos, a


classificação dos solos afetados por sais leva em consideração as propriedades
químicas do solo (medidas no extrato de saturação), tais como: pH, condutividade
elétrica (CE) e percentual de sódio trocável (PST), conforme apresentado na
tabela 5.8. Com base nestas propriedades os solos são classificados como
Normal, Salino, Sódico e Salino-Sódico (FERNANDES, 1993).

TABELA 5.8– Classificação dos solos afetados por sais

Solo CE (dS/m) PST pH


Normal <4 < 15 < 8,5
Salino >4 < 15 < 8,5
Sódico <4 > 15 < 8,5
Salino-Sódico >4 > 15 < 8,5

Fonte: Fernandes (1993).

As três amostras iniciais do solo matriz apresentaram condutividade


elétrica menor que 0,20 dS/m e potencial de sódio trocável abaixo de 1.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa ocorreu um aumento imediato
na condutividade elétrica e no potencial de sódio trocável notado a partir do
primeiro mês, sendo que a condutividade elétrica da camada superficial
apresentou aumento maior que a camada inferior devido à tendência de acúmulo
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 121
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

de sais na superfície do solo. Esta constatação está de acordo com o afirmado


por Fernandes (1993), segundo a qual o acúmulo máximo de sais pode ocorrer
em diferentes profundidades do perfil do solo, contudo, muito freqüentemente, na
superfície ou próximo da mesma.
Observa-se, ao contrário, que a camada inferior do reator apresentou valor
maior de PST que o da superfície, induzido por uma possível lixiviação de sódio,
presente no esgoto devido à granulometria arenosa do solo.
Os maiores valores destes parâmetros são os do 6º mês, indicando
tendência de aumento na concentração de sais ao longo do tempo. O potencial de
sódio trocável (PST) de 6,00 e condutividade elétrica de 1,10 dS/m indicam um
valor abaixo do limite de salinização do meio (PST de 15,00 e condutividade
elétrica de 4,00 dS/m). Entretanto, devido à tendência de aumentos no decorrer
dos meses, torna-se imprescindível o monitoramento periódico do solo.
O aumento na condutividade elétrica na camada superficial (0,00 a 0,40 m)
em relação à camada inferior (0,40 a 0,80 m) se deve, provavelmente, à retenção
de matéria orgânica na superfície, onde se situam as bactérias decompositoras,
que resulta na intensa mineralização nesta camada e na, conseqüente, liberação
e deposição de sais; além disso, o efeito da evaporação poderá ser representativo
numa situação real submetida aos efeitos do tempo.
Quanto ao potencial de sódio trocável (PST), a camada de solo inferior
apresentou maior potencial que a camada superior, provavelmente, pela adição
de cálcio, que estando presente no esgoto afluente aos reatores, é capaz de
liberar o sódio presente na superfície, simulando a calagem do solo.
Embora esteja abaixo do limite estabelecido, existe um risco real de
salinização do solo num prazo proporcional de dois anos. Desta forma, seria
imprescindível a realização de lavagens periódicas do solo com água de baixa
concentração salina e coleta por drenos subterrâneos desta salmoura, para evitar
a contaminação do aqüífero. Se efetuada a infiltração rápida em zona costeira,
este risco é minimizado, uma vez que a concentração de sais no esgoto é muito
menor que nas águas marinhas, contanto que não haja risco de contaminação de
áreas de balneários.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 122
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Potássio, cálcio e magnésio no solo


As determinações de potássio, magnésio e cálcio, indicaram que houve
aumento destes nutrientes no solo, como conseqüência da aplicação do esgoto.
A disposição de esgoto no solo teve efeito direto no acréscimo da
concentração de potássio trocável no solo, principalmente na camada superficial
(0,00 a 0,40 m) onde se concentra a maior parte da matéria orgânica contida no
esgoto afluente. Apesar disso, nos meses dois e três, há uma elevação na
concentração deste elemento na camada inferior (0,40 a 0,80 metros),
possivelmente devido à lixiviação no ensaio prévio de permeabilidade. Somente
no sexto mês, apesar da tendência de elevação na concentração de potássio, se
observa um nível deste elemento dentro da faixa aceitável na amostra de solo;
este fato não ocorreu na camada inferior, que permaneceu aquém das
necessidades requeridas pelas plantas.
Para cálcio e magnésio observou-se que há um aumento progressivo nas
concentrações destes nutrientes com o decorrer da operação dos reatores.
Corrêa et al. (2000) obtiveram o mesmo resultado, verificando um aumento
relativo de 8,6 vezes na concentração de cálcio na camada superficial de 0,00 a
0,05 m e ao longo dos 20,00 centímetros, um aumento de 6,80 vezes, após dois
anos contínuos de disposição de esgoto no solo em relação à situação inicial do
solo em estudo. As três amostras do solo matriz, tanto para cálcio como para
magnésio, apresentaram concentrações baixas, baseadas na classificação feita
por Fernandes (1993). No entanto, após primeiro mês, a quantidade de magnésio
presente no solo é elevada, situando-a em nível médio de concentração para a
necessidade das plantas. Quanto ao cálcio, este nível é alcançado ao longo dos
seis meses.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 123
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.2 Parte 2 – Disposição de esgoto no solo por aplicação subsuperficial para


a produção de alimentos

5.2.1 Caracterização da água e do esgoto usado na irrigação dos canteiros


Os resultados obtidos das determinações físicas, químicas e biológicas das
águas aplicadas na instalação piloto e a comparação com o efluente de uma
fossa séptica estão apresentados na Tabela 5.9, na qual se observa que existe
diferença entre alguns parâmetros que poderão influir quando da aplicação do
sistema em escala real e que, portanto é necessário que se faça a caracterização
do esgoto antes do projeto de disposição no solo. Em geral os resultados são os
esperados nas diferentes épocas do ano e no que se refere ao uso de efluentes
de fossas.

TABELA 5.9 – Caracterização física e química do esgoto proveniente de uma fossa séptica, da
rede coletora de esgotos e da água proveniente do poço que abasteceu o sistema piloto.
Parâmetro Unidade Fossa Rede EAC EAS Poço
Sólidos Totais mg/L 1172 929 1339 800 15
Sólidos
mg/L 448 184 87 194 8
Suspensos
Sólidos
mg/L 15 10 Ndet Ndet nd
Sedimentáveis
Sólidos
mg/L 723 745 Ndet Ndet 7
Dissolvidos
Condutividade mg/L 2,5 2,2 0,9 1,1 0,37
Amônia mg/L 49,30 30,77 23,42 45,79 0,12
Nitrito mg/L 0,01 0,01 0,04 0,29 nd
Nitrato mg/L 0,04 0,03 0,13 0,74 nd
Fósforo mg/L 3,02 6,76 3,21 9,61 1,16
Fosfato mg/L 1,30 0,63 2,18 8,87 0,14
DBO mg/L 369 132 Ndet Ndet 18
DQO mg/L 406 201 267 315 nd
pH - 7,0 7,1 7,0 7,2 6,5
Ovos de
№ 46 266 70 70 0
Helmintos
Coliformes
NMP/100ml >2419 >2419 7,15E+06 1,60E+06 0
Termotolerantes
Nota: nd – não detectado pelo método; NDet – não determinado; EAC – esgoto afluente ao
sistema no período chuvoso; EAS – esgoto afluente ao sistema no período seco.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 124
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.2.2 Eficiência do sistema como unidade de tratamento de esgoto nos


períodos de chuva e de seca
Os resultados obtidos das análises físicas, químicas e biológicas das águas
aplicadas na instalação piloto e a comparação com os efluentes do sistema
mostram que o solo realmente atua como uma unidade de tratamento,
provocando remoções nas concentrações de amônia, fósforo, DQO, coliformes e
cloretos. No período chuvoso, época mais crítica do experimento, a incidência
pluviométrica foi superior à média dos últimos 20 anos, colocando o experimento
em uma situação crítica que expressou o que pode acontecer com a disposição
de esgoto no solo durante épocas de muita chuva.
Verificou-se que não há variação de pH entre afluente e efluente dos
canteiros que receberam água e dos que receberam esgoto no período de
chuvas, sendo que os valores de pH se mantiveram próximos de 7,0. No período
seco, o pH da água afluente foi próximo de 6,0 e o do esgoto afluente e de todos
os efluentes, próximo de 7,5.
Os resultados obtidos durante os períodos chuvoso e seco sobre a
qualidade dos efluentes do sistema estão apresentados nas Figuras 5.34 a
5.44.com a convenção apresentada na Tabela 5.9.

TABELA 5.10 – Notação adotada nas Figuras 5.34 a 5.44


Notação Significado
A Água afluente aos canteiros
ASC Água efluente dos canteiros sem cultura
AF Água efluente dos canteiros plantados com feijão
AM Água efluente dos canteiros plantados com milho
E Esgoto afluente aos canteiros
ESC Esgoto efluente dos canteiros sem cultura
EF Esgoto efluente dos canteiros plantados com feijão

EM Esgoto efluente dos canteiros plantados com milho

Condutividade Elétrica
Houve eficiência de remoção de íons de aproximadamente 50% nos
canteiros que receberam água e de 70% naqueles que receberam esgoto, sendo
que o valor de condutividade elétrica seja nos canteiros que receberam água ou
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 125
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

nos que receberam esgoto foi, em média, 0,20 mS/cm (Figura 5.34) indicando que
houve diluição causada pelas chuvas da época, uma vez que para o período
seco, não houve variação de condutividade elétrica entre os períodos de chuva e
seca, seja para os canteiros irrigados com água ou para os irrigados com esgoto.
Como mostrado na Figura 5.34, não houve diferença na condutividade devido à
presença de culturas.
0,5 1,2

0,4 1,0
CE (mS/cm)

CE (mS/cm)
0,8
0,3
0,6
0,2
0,4
0,1 0,2 4

0,0 0,0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)

3,0
0,9
2,5
CE (mg/L)
CE (mg/L)

2,0
0,6
1,5
1,0
0,3
0,5
0,0 0,0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF E ESC EF

(c) (d)
FIGURA 5.34 – Variação de condutividade elétrica nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a)
canteiros irrigados com água no período chuvoso; (b) canteiros irrigados com esgoto no período
chuvoso ; (c) canteiros irrigados com água no período seco; (d) canteiros irrigados com esgoto no
período seco.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 126
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Cloretos
A água utilizada na pesquisa não apresentou cloretos durante o período de
chuvas e foi constatada presença de cloretos no efluente dos canteiros que
receberam água como afluente.

300 200
250
Cloretos (mg/L)

Cloretos (mg/L)
150
200
150 100
100
50
50
0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)
140 600
120 500
Cloretos (mg/L)
Cloretos (mg/L)

100 400
80
300
60
40 200

20 100
0 0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF E ESC EF

(c) (d)
Figura 5.35 – Variação de cloretos nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a) canteiros irrigados
com água durante o período chuvoso; (b) canteiros irrigados com esgoto durante o período
chuvoso; (c) canteiros irrigados com água no período seco; (d) canteiros irrigados com esgoto no
período seco.

Observa-se na Figura 5.35 (a), que houve tendência à diminuição de


cloretos nos efluentes dos canteiros que receberam água ao longo do tempo. Em
contrapartida, os canteiros que receberam esgoto retiveram em torno de 50,00 %
de cloretos e se observa da Figura 5.35 (b) uma tendência à elevação na
concentração de cloretos no final do experimento, se comparado com os canteiros
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 127
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

irrigados com água. Observa-se também que as concentrações nos efluentes dos
canteiros irrigados com esgoto foram próximas daquelas dos canteiros irrigados
com água.
No período seco, a concentração de cloretos seja na água afluente ou no
esgoto foi muito superior àquela para o período chuvoso, porém, praticamente
não houve retenção de cloretos no solo o que mostra que a diminuição no teor de
cloretos no período de chuvas foi conseqüência da diluição causada pelas chuvas
intensas e não por retenção no solo propriamente dita.

DQO
Era de se esperar que a DQO dos efluentes dos canteiros que receberam
água fosse maior que a do afluente e mais uma vez não houve variação na DQO
como função de o canteiro conter ou não uma cultura específica. Para os
canteiros irrigados com esgoto, no período de chuvas, observou-se redução de
DQO de 55,71 ± 3,24 % entre afluente e efluente, contudo se for considerado que
parte da DQO efluente dos canteiros que receberam esgoto é contribuição do solo
como comprovado quando se compara os resultados nas Figuras 5.36a e 5.36b, a
eficiência passa a ser de 86,00 %, o que dá indícios de um bom tratamento.

200 400
DQO (mgO2/L)

DQO (mgO2/L)

150 300

100 200

50 100

0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 128
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

600
300
500

DQO(mg/L)
DQO (mg/L)

400
200
300
200
100
100
0
0
170 190 210 230 250
170 190 210 230 250
Tempo (dias)
Tempo (dias)
E ESC EF
A ASC AF

(c) (d)
Figura 5.36 – Variação de DQO nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a) canteiros irrigados
com água no período chuvoso ; (b) canteiros irrigados com esgoto no período chuvoso; (c)
canteiros irrigados com água no período seco; (d) canteiros irrigados com esgoto no período seco.

Para o período seco, a remoção de DQO nos canteiros irrigados com


esgoto foi de 71,63 ± 5,36 % para os canteiros com feijão e de 69,00 ± 14,34%
para aqueles sem cultura e quando é considerada a contribuição de DQO do solo,
a remoção média de DQO passa a ser de 93,00%.

Alcalinidade
A alcalinidade não variou nos efluentes dos canteiros em função de serem
ou não cultivados, no período de chuvas; este resultado foi o mesmo tanto para
os efluentes dos canteiros que receberam água quanto para os que receberam
esgoto (Figura 5.37). Porém houve redução significativa, aproximadamente 73,33
± 2,16 % e 79,43 ± 2,23 % nos efluentes dos canteiros que receberam esgoto,
nos períodos chuvoso e seco, respectivamente. Nos canteiros que receberam
água houve variação muito pequena entre afluente e efluentes, sendo que nos
canteiros cultivados com milho e feijão houve redução de aproximadamente 31,61
± 5,45 % e nos canteiros sem culturas de 3,5% no período de chuvas e
praticamente nenhuma variação na época seca.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 129
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

150 300
Alcalinidade (mg/L)

Alcalinidade (mg/L)
120 250
200
90
150
60
100
30 50
0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)

80 400
Alcalinidade (mg/L)
Alcalinidade (mg/L)

60 300

40 200

20 100

0 0
170 190 210 230 180 200 220 240
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF E ESC EF

(c) (d)

Figura 5.37 – Variação de alcalinidade nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a) irrigados com
água durante o período chuvoso; (b) irrigados com esgoto durante o período chuvoso; (c) irrigados
com água no período seco; (d) irrigados com esgoto no período seco.

O aumento ou diminuição de alcalinidade está relacionado com os


processos de nitrificação e desnitrificação conforme discutido no item 3.2.4. Nesta
parte da pesquisa os resultados de alcalinidade confirmam os processos de
nitrificação ou desnitrificação nos canteiros.

Amônia
Durante esta fase da pesquisa, os efluentes dos canteiros irrigados com
esgoto apresentaram concentrações de amônia bem menores que os do afluente,
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 130
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

sendo que a remoção obtida foi de aproximadamente 90% para o período de


chuvas e 98% e 85% no período seco para os canteiros sem cultura e com feijão,
respectivamente (Figura 5.38). Quando são comparados os resultados entre os
canteiros que receberam água com aqueles que receberam esgoto, constatou-se
que a eficiência foi maior, atingindo 97% no período chuvoso e 87% e 99% para
os canteiros com e sem cultura no período seco.

6,0 30,0
25,0
Amônia (mg/L)

Amônia (mg/L)
4,0 20,0
15,0
2,0 10,0

5,0
0,0 0,0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (dias) Tempo (dias)
A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)
3,0 80
Amônia (mg/L)
Amônia(mg/L)

60
2,0

40
1,0
20

0,0 0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF E ESC EF

(c) (d)
Figura 5.38 – Variação de amônia nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a) canteiros irrigados
com água durante o período chuvoso; (b) canteiros irrigados com esgoto durante o período
chuvoso; (c) canteiros irrigados com água no período seco; (d) canteiros irrigados com esgoto no
período seco.

Nitrato
Embora a análise deste parâmetro esteja prejudicada pela falta de
resultados no período chuvoso, observa-se da Figura 5.39 que houve aumento de
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 131
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

nitrato nos efluentes e que os valores de nitrato no efluente dos canteiros que
receberam esgoto são equivalentes a três vezes os valores daqueles que
receberam água. Este resultado isoladamente sugere que houve nitrificação nos
canteiros o que não é verdadeiro quando são comparados conjuntamente os
resultados de amônia, nitrato e alcalinidade.
Durante o período seco, a variação de nitrato foi mais homogênea e melhor
definida sugerindo ter havido nitrificação tanto nos canteiros irrigados com água
quanto naqueles irrigados com esgoto até o 210º dia.

1,5 5,0

1,2 4,0
Nitrato (mg/L)
Nitrato (mg/L)

0,9 3,0

0,6 2,0

0,3 1,0

0,0 0,0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100

Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)
6,0 12,0
5,0 10,0
Nitrato (mg/L)

Nitrato (mg/L)

4,0 8,0
3,0 6,0
2,0 4,0
1,0 2,0
0,0 0,0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF E ESC EF

(c) (d)
Figura 5.39 – Variação de nitrato nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a) irrigados com água
durante o período chuvoso; (b) irrigados com esgoto durante o período chuvoso; (c) irrigados com
água no período seco; (d) irrigados com esgoto no período seco.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 132
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Nitrificação e Desnitrificação no Período Chuvoso


Observando-se as Figuras 5.40 e 5.41, nota-se que após o 50º dia houve
desnitrificação no efluente em todos os canteiros, pelo fato de a concentração de
amônia no efluente ser superior à de nitrato e nitrito e pelos valores de
alcalinidade (Figura 5.37), embora tenha havido redução de amônia em relação
ao afluente, independendo do tipo do afluente e da existência ou não de vegetais
nos canteiros

Concentração (mg/L)
6,0 8,0
Concentração

6,0
(mg/L)

4,0
4,0
2,0
2,0
0,0
0,0
0 20 40 60 80 100
0 20 40 60 80 100
Tempo (dias)
Tempo (dias)
Amônia Nitrato Nitrito Amônia Nitrato Nitrito

(a) (a)
Concentração (mg/L)

6,0 8,0
Concentração

6,0
(mg/L)

4,0
4,0
2,0 2,0
0,0 0,0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100

Tempo (dias) Tempo (dias)


Amônia Nitrato Nitrito Amônia Nitrato Nitrito

(b) (b)
6,0 8,0
Concentração
Concentração

6,0
(mg/L)
(mg/L)

4,0
4,0
2,0 2,0
0,0 0,0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo (dias) Tempo (dias)

Amônia Nitrato Nitrito Amônia Nitrato Nitrito

(c) (c)
FIGURA 5.40 – Variação de amônia nitrito e FIGURA 5.41 – Variação de amônia nitrito e
nitrato nos canteiros irrigados com água no nitrato nos canteiros irrigados com esgoto no
período de chuvas: (a) sem cultura, (b) feijão, (c) período de chuvas: (a) sem cultura, (b) feijão, (c)
milho. milho.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 133
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Nitrificação e Desnitrificação no Período Seco


No período seco observou-se que houve desnitrificação até o 210º dia para
os canteiros irrigados com água e até o 217º dia para os canteiros irrigados com
esgoto e sem cultura. Porém, os canteiros plantados com feijão tiveram
comportamento distinto, promovendo a nitrificação até o 203º dia coincidindo com
os 21 primeiros dias de cultivo do feijão, e desnitrificando a partir daí (Figura
5.42). Estudo realizado por Vasconcelos et al. (1976) mostraram que, nos
primeiros vinte dias de crescimento, o feijão-caupi depende do nitrogênio do solo
e da semente. A partir daí é iniciada a fixação simbiótica que se estende até a
floração.
6,0 2,5
Concentração (mg/L)

Concentração (mg/L)

2,0
4,0
1,5

1,0
2,0
0,5

0,0 0,0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

Amônia Nitrato Nitrito Amônia Nitrato Nitrito

(a) (b)
12,0 18,0
16,0
Concentração (mg/L)

Concentração (mg/L)

10,0
14,0
8,0 12,0
10,0
6,0
8,0
4,0 6,0
4,0
2,0
2,0
0,0 0,0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

Amônia Nitrato Nitrito Amônia Nitrato Nitrito

(c) (d)
FIGURA 5.42 – Variação de amônia nitrito e nitrato nos canteiros no período seco: (a) canteiros
irrigados com água e sem cultura; (b) canteiros irrigados com água e plantados com feijão; (c)
canteiros irrigados com esgoto e sem cultura; (d) canteiros irrigados com água e plantados com
feijão
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 134
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Ortofosfato
Na Figura 5.43 estão apresentados os resultados da variação de
ortofosfato durante a pesquisa. Nos canteiros irrigados com água, nos dois
períodos estudados, houve liberação de fosfato pelo efluente dos canteiros e não
houve diferença entre canteiros com e sem cultura. Nos canteiros irrigados com
esgoto, houve excelente remoção de fosfato, 92 e 82% no período chuvoso para
os canteiros com e sem cultura e de 94 e 93% no período seco para os mesmos
canteiros. Os resultados de nutrientes no feijão confirmam estes resultados.

2 5
Ortofosfato (mg/L)
Ortofosfato (mg/L)

1,6 4

1,2 3

0,8 2

0,4 1

0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100

Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)
2,0 25,0
Ortofosfato (mg/L)

Ortofosfato (mg/L)

20,0
1,5
15,0
1,0
10,0
0,5
5,0

0,0 0,0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

A ASC AF E ESC EF

(c) (d)
FIGURA 5.43 – Variação de ortofosfato nos afluentes e efluentes dos canteiros: (a) irrigados com
água durante o período chuvoso; (b) irrigados com esgoto durante o período chuvoso; (c) irrigados
com água no período seco; (d) irrigados com esgoto no período seco.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 135
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Sólidos suspensos voláteis


Os resultados de sólidos suspensos voláteis apresentados na Figura 5.44
mostram que não há variação deste parâmetro entre a água afluente e os
efluentes dos canteiros irrigados com água e que para os canteiros irrigados com
esgoto houve boa remoção,seja no período seco, 90%, ou no chuvoso, 68%.
50 200

40
150
[SSV] (mg/L)

[SSV] (mg/L)
30
100
20
50
10

0 0
0 20 40 60 80 100 0 20 40 60 80 100
Tempo(dias) Tempo(dias)

A ASC AF AM E ESC EF EM

(a) (b)

18 600
16
500
14
SSV (mg/L)

SSV(mg/L)

12 400
10
300
8
6 200
4
100
2
0 0
170 190 210 230 250 170 190 210 230 250
Tempo (dias) Tempo (dias)

Água ASC AF Esgoto ESC EF

(c) (d)
FIGURA 5.44 – Variação de sólidos suspensos voláteis nos afluentes e efluentes dos canteiros:
(a) irrigados com água durante o período chuvoso; (b) irrigados com esgoto durante o período
chuvoso; (c) irrigados com água no período seco; (d) irrigados com esgoto no período seco.

5.2.3 Alterações no solo devido à disposição de esgoto

Qualidade das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário)


Os valores de alguns constituintes importantes das águas de irrigação
utilizadas no período seco deste experimento foram comparados às diretrizes
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 136
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

para interpretação da qualidade da água para irrigação (Ayres & Westcot, 1991) e
estão apresentados na Tabela 5.11. Os resultados referentes aos esgotos
primários apresentaram valores mais preocupantes, que devem ser considerados
quando da aplicação dessas águas no solo por períodos mais prolongados. As
concentrações referentes à água subterrânea indicam a não ocorrência de
restrições quanto ao uso.

TABELA 5.11 – Grau de restrição de uso das águas de irrigação


Água Esgoto
Parâmetro Unidade Grau de restrição de uso (3)
subterrânea (1) primário (1)
Nenhum (< 0,7) e
CE dS m-1 0,35 1,11
Ligeiro a moderado (0,7 – 3,0)
Infiltração (2) - - Ligeiro a moderado
Nenhum (< 70) e
Sódio mmolc L-1 53,46 122,80
Ligeiro a moderado (70 - 200)
Nenhum (< 140) e
Cloretos mmolc L-1 63,35 195,35
Ligeiro a moderado (140 - 350)
pH 6,7 7,2 Nenhum (6,5 – 8,4)
RAS mmolc L-1 9,18 15,88
(1) Média de valores obtidos em duas amostragens durante o período de estudo.
(2) Valor estimado através da CE e da RAS das águas de irrigação.
(3) Fonte: Ayers & Westcot (1991).

Características granulométricas e químicas dos solos ao longo dos


canteiros
A distribuição do tamanho das partículas mostra o predomínio das frações
areia grossa e areia fina em todos os canteiros, classificando o material de solo
no grupamento de textura arenosa. Os valores dos atributos químicos do solo
obtidos antes da aplicação das águas de irrigação podem ser observados na
tabela 5.12.

Tabela 5.12 - Resultados de análises granulométricas e químicas da amostra de solo antes da


aplicação das águas de irrigação.

PH CE PST
Ca Mg Na K Al H+Al CTC V (%) m (%)
(H2O) (dS/m) (%)
5,9 0,9 1,0 0,9 0,1 0,1 0,1 0,8 3,1 76,0 3,0 5,0
Obs: Os parâmetros Ca, Mg, Na, K, Al, H+Al, CTC estão em cmolc/kg.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 137
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Efeitos no solo
As alterações nas características químicas do solo ao longo dos canteiros
podem ser vistas nas Tabelas 5.13 a 5.16 onde constam os resultados obtidos ao
término dos períodos seco e chuvoso.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 138
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.13 – Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário) no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 1ª Etapa (Sem vegetação).
Intervalos pH CE Ca Mg Na K Al H+Al CTC V m PST
(m) (dS/m) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (%) (%) (%)

Água 0–5 6,6 0,30 0,67 0,43 0,07 0,06 0,03 1,04 2,3 54 9 3
subterrânea
5 – 10 6,3 0,28 0,97 2,80 0,08 0,04 0,03 0,77 2,6 70 6 3

Esgoto 0–5 6,3 0,52 0,77 0,53 0,20 0,05 0,03 0,66 2,2 70 3 9
primário
5 – 10 5,7 0,32 0,70 0,57 0,10 0,05 0,18 1,04 2,4 58 11 4

TABELA 5.14 – Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário) no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 1ª Etapa (Com vegetação).
Intervalos pH CE Ca Mg Na K Al H+Al CTC V m PST
(m) (dS/m) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (%) (%) (%)

Água 0–5 6,2 0,27 0,77 0,53 0,17 0,05 0,03 0,93 2,3 61 4 3
subterrânea
5 – 10 5,7 0,22 0,78 0,55 0,05 0,03 0,14 0,93 2,3 61 9 2

Esgoto 0–5 6,3 0,53 0,77 0,50 0,19 0,09 0,03 0,77 2,3 67 5 8
primário
5 – 10 5,8 0,34 0,75 0,60 0,15 0,06 0,11 0,93 2,5 63 7 6
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 139
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.15 – Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário) no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 2ª Etapa (Sem vegetação).
Intervalos pH CE Ca Mg Na K Al H+Al CTC V m PST
(m) (dS/m) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (%) (%) (%)

Água 0–5 6,2 1,11 1,17 0,97 0,32 0,07 0,05 0,33 2,9 87 7 10
subterrânea
5 – 10 6,1 0,73 1,10 1,00 0,19 0,06 0,05 0,88 3,2 73 6 6

Esgoto 0–5 6,0 1,91 1,25 1,10 0,48 0,14 0,08 0,41 3,4 89 3 14
primário
5 – 10 5,6 1,43 0,90 0,90 0,34 0,09 0,15 0,82 3,1 74 7 11

TABELA 5.16 – Efeitos das águas de irrigação (água subterrânea e esgoto primário) no pH, CE, nos teores de Al e Al+H, Na e demais macronutrientes, e
na capacidade de troca catiônica (CTC), saturação por bases (V) e por alumínio (m), e no percentual de sódio trocável (PST). 2ª Etapa (Com vegetação).
Intervalos pH CE Ca Mg Na K Al H+Al CTC V m PST
(m) (dS/m) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (cmolc/kg) (%) (%) (%)

Água 0–5 6,0 0,96 1,07 0,85 0,32 0,06 0,08 0,71 3,0 77 4 10
subterrânea
5 – 10 5,7 0,74 0,98 0,97 0,19 0,04 0,14 0,88 3,1 71 12 6

Esgoto 0–5 6,2 1,33 1,07 0,92 0,39 0,12 0,03 0,35 2,8 87 3 14
primário
5 – 10 6,0 1,03 0,95 0,82 0,29 0,07 0,10 0,71 2,8 74 5 10
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 140
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Das Tabelas 5.13 a 5.16 observam-se que os valores de pH medidos na


água forneceram resultados que variaram entre 5,6 e 6,6 durante todo o período
experimental. Pode-se concluir que o pH permaneceu inalterado, isto é, dentro da
faixa ideal de cultivo (5,5 a 6,5), havendo uma pequena redução de valores no
segundo intervalo dos canteiros. Em experimento realizado pelo Institute of Land
and Food Resources (1999), os valores de pH no solo também permaneceram
inalterados, o que pode ser considerado surpreendente. Espera-se ou um
incremento no pH do solo, pela utilização de águas residuárias com valores de pH
elevados, por exemplo; ou uma redução no valor do pH do solo como resultado
da produção de gás carbônico e ácidos orgânicos pela biodegradação da matéria
orgânica presente nos esgotos.
Os teores de alumínio trocável (Al3+) foram baixos ou nulos, não atingindo
níveis tóxicos às plantas (< 0,50 cmolc/kg). Suas proporções na capacidade de
troca catiônica total (CTC) do solo levaram a valores de saturação por alumínio
(m%) entre 3,00 e 12,00, o que pode ser entendido, de forma genérica, como
baixa (não prejudicial) toxidez por alumínio.
O monitoramento da salinização do material de solo foi feito através da
condutividade elétrica do extrato de saturação, que é obtido a partir da saturação
com água destilada de uma quantidade conhecida de amostra de solo e os
resultados de CE mostraram um decréscimo, em todos os canteiros, ao final da
primeira etapa, o que pode ser atribuído às fortes chuvas do período, que
provocaram uma lavagem do material de solo. No término da segunda etapa,
houve um incremento da CE em todos os canteiros, com maiores concentrações
naqueles irrigados com esgoto.
Os teores de Na são baixos, ficando entre 0,05 e 0,20 cmolc.kg-1 e 0,19 e
0,48 cmolc.kg-1 ao término da 1ª etapa e 2ª etapa, respectivamente. Contudo,
seus valores superam os teores de potássio, o que deve ser visto com ressalva, já
que normalmente os teores de sódio trocável são inferiores aos de potássio. A
determinação dos teores de Na, K, Ca e Mg se faz necessária para o cálculo da
saturação por bases (V%), que é um excelente indicativo das condições gerais de
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 141
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

fertilidade dos solos (Embrapa, 1997). Os valores altos de V% (≥ 50,00 %)


classificam o solo como eutróficos.

5.2.4 Produção agrícola e aspectos sanitários da disposição

5.2.4.1 Fenologia da planta

Período chuvoso
Os resultados da variação no crescimento do feijão tanto irrigado com água
como com esgoto, ao longo dos intervalos do canteiro, durante o período chuvoso
podem ser vistos na Figura 5.45. Na Tabela 5.17 estão apresentados os valores
médios referentes à altura da planta, os quais mostraram que o crescimento foi
alterado entre os intervalos de 2 a 4 metros, para os canteiros irrigados com
esgoto e de 6 a 8 metros, para os canteiros irrigados com água.

50
40
Altura (cm)

30
20
10
0
0 a 2 2 a 4 4 a 6 6 a 8 8 a 10
Intervalo

água esgoto

FIGURA 5.45 – Altura das plantas no estágio de frutificação no período chuvoso.


MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 142
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.17 - Valores médios referentes à altura da planta no período de frutificação, durante o
período chuvoso.
Intervalos Altura média da planta (cm)
(m) Canteiros irrigados com água subterrânea Canteiros irrigados com Esgoto
0a2 34,42 35,25
2a4 31,08 25,58
4a6 31,33 36,17
6a8 28,67 40,83
8 a 10 41,83 38,42

É possível que a estrutura física do canteiro a 1% de inclinação seja um


dos fatores que levaram à variação no crescimento da cultura, uma vez que o
canteiro não foi projetado para receber, no período chuvoso, volume de água tão
elevado, aplicado através da chuva e da disposição, permitindo o acúmulo do
afluente nos intervalos de 0 a 4 metros. Por isso, o excesso de água no solo,
implicaria em reflexos negativos no rendimento do feijão-caupi.
A aplicação foi feita por um período de quatro meses, sendo que, neste
período foi registrado, segundo a Estação Agrometeorológica da UFC (2003), um
total médio acumulado de chuvas de 349,8 mm/mês. Na Figura 4.15, está
representada a intensidade das chuvas no período do experimento e é
interessante observar os índices de precipitação no ano de 2003 foram superiores
aos índices pluviométricos nos mesmos meses dos últimos 31 anos.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 143
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

FIGURA 4.46 – Índices pluviométricos nos meses de janeiro a maio de 2003 comparados à
precipitação histórica dos últimos 31 anos. (Fonte: Estação Agrometeorológica da UFC, 2003)

Gonçalves (1999), estudando o comportamento do feijão caupi nos


mesmos estágios de desenvolvimento em diferentes experimentos, verificou que
as relações hídricas das plantas são mais dependentes das condições ambientais
do que de fatores genéticos. No entanto, Rocha (2001) que utilizou três genótipos
de feijão-de-corda observou que a adaptação à falta ou excesso d’água é
considerada uma característica mutagênica, e que existem diferenças no nível de
tolerância entre os genótipos da cultura e entre os seus diversos estágios de
crescimento.
Nesta pesquisa, apesar de o solo manter-se úmido, ou seja, com
capacidade de campo em 100%, que é a quantidade de água retida pelo solo
depois que o excesso é drenado livremente, a planta não sofreu estresse hídrico
e por isso, não houve retardamento nas fases vegetativa, reprodutiva e,
conseqüentemente, produtiva.
No mês de março, quando ocorreu a maior precipitação mensal resultando
em 542,2 mm/mês e a maior precipitação diária, sendo 146,7 mm no dia 19/03/03,
surgiu a primeira característica do excesso de água quando as folhas do feijão-
caupi tornaram-se amareladas, como conseqüência da diminuição nos níveis de
clorofila a e um razoável índice de senescência no estágio que antecedeu a
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 144
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

frutificação (Figura 5.47). Este fato, além de ter indicado o excesso de umidade no
solo, suscitou a hipótese de que a planta sofria efeito da lixiviação de nitrogênio.

FIGURA 5.47 – Amarelecimento e senescência das folhas do feijão-caupi no período chuvoso.

Período seco
Visualmente, as plantas irrigadas com esgoto apresentaram mais vigor e
encorpadura. Na análise de variância dos dados referentes à altura de plantas,
verificou-se que as plantas apresentaram alturas significativamente diferentes em
função da qualidade da água aplicada (água de irrigação) e da disposição das
plantas ao longo dos canteiros (parcela).
Através do teste de Tukey, pôde-se constatar que as médias da variável
altura de plantas somente diferiram significativamente entre as seguintes
parcelas: 2-4m com as parcelas 0-2m, 4-6m e 8-10m, e parcelas 6-8m e 8-10m
entre si.
As diferenças significativas de altura de plantas entre as parcelas
supracitadas demonstraram resultados aceitos como realmente diferentes.
Variações ditas não-significativas podem ser atribuídas ao acaso, ou seja, podem
ser efeito de fatores não controlados, como pequenas diferenças de fertilidade do
solo, variações ligeira no espaçamento ou na profundidade de semeadura, etc
(GOMES, 1978).
Os valores médios referentes à altura de plantas por parcela, em
função da água de irrigação utilizada, podem ser vistos na Figura 5.48.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 145
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

80

60
Altura (cm)

40

20

0
Água bruta Efluente primário
Águas de irrigação
0 - 2m 2 - 4m 4 - 6m 6 - 8m 8 - 10m

FIGURA 5.48 – Altura média das plantas ao longo dos canteiros irrigados com água bruta e
efluente primário, no período seco.

5.2.4.2 Componentes da produção

Numero médio de vagens


No período chuvoso foram produzidas em média 36 vagens por canteiro
irrigado com esgoto e 20 vagens por canteiro irrigado com água, ou seja, 75,00 %
mais vagens nos canteiros irrigados com esgoto. Na Figura 5.49 está apresentado
o número de vagens produzidas por intervalo do canteiro, tanto para os canteiros
irrigados com esgoto quanto para os com água. Nesta Figura pode-se observar
que no intervalo de 2 a 4m, a produção de vagens foi menor em todos os
canteiros e que houve um aumento do número de vagens conforme aumenta a
distância do ponto de aplicação.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 146
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

60

50

Núm ero de vagens (un)


40

30

20

10

0
0a2 2a4 4a6 6a8 8 a 10
Intervalo do canteiro (m )

Água Esgoto

FIGURA 5.49 – Número de vagens produzidas com água e esgoto no período chuvoso.

É possível que a menor produção de vagens tenha ocorrido no início do


canteiro, próximo a ponto de aplicação, pelo encharcamento conseqüente do
excesso de chuvas, o que está de acordo com Gonçalves (1999) e Rocha (2001)
quando afirmam que o excesso ou escassez de água alteram a produção do
feijão.
O resultado da produção de vagem por intervalo no período seco está
apresentado na Figura 5.50.

250
Número de vagens (un)

200

150

100

50

0
Água bruta Efluente primário
Águas de Irrigação
0 - 2m 2 - 4m 4 - 6m 6 - 8m 8 - 10m

FIGURA 5.50 - Número médio de vagens produzidas ao longo dos canteiros irrigados com água
bruta e efluente primário.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 147
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Observou-se que o número de vagens produzidas nos canteiros irrigados


com efluente primário superou significativamente, em torno de 70,00 %, a
produção nos canteiros irrigados com água bruta.
Analisando as parcelas, em função da qualidade da água disposta, as
médias da variável número médio de vagens por parcela, nos canteiros irrigados
com água bruta, não diferiram estatisticamente entre si. Nos canteiros irrigados
com efluente primário, os resultados apresentaram o seguinte comportamento:
parcelas 0-2m e 2-4m não diferiram entre si; parcela 0-2m diferiu de 4-6m, 6-8m e
8-10m; parcela 2-4m não diferiu de 4-6m e 6-8m, mas diferiu de 8-10m; parcela 4-
6m, 6-8m e 8-10m não diferiram entre si.

Número de sementes
Costa (1995) e Menezes et al. (1967), observaram que a influência do fator
hídrico na produção tem sido bastante pesquisada em praticamente todas as
espécies vegetais cultivadas e algumas silvestres. Por isso, as melhores
produções são obtidas quando a umidade do solo permanece em torno da
capacidade de campo. O excesso ou a deficiência da disponibilidade hídrica são
prejudiciais aos rendimentos. Resende et al. (1981), observaram também, que
tanto o grau de estresse como a freqüência na irrigação reduz a produção de
sementes. Mais uma vez foi verificado que a produção de sementes por intervalo
teve reflexo das condições pluviométricas.
Na Figura 5.51 estão apresentados os valores na produção de sementes
no período de chuvas e constatou-se que o número de sementes foi maior nos
canteiros irrigados com esgoto. Neste caso, verificou-se que o metabolismo do
feijão-caupi respondeu positivamente ao esgoto aplicado, mostrando que a cultura
conseguiu converter eficientemente os nutrientes existentes no esgoto em
produção vegetal. Foram produzidos em média 151 sementes por canteiro
irrigado com água e 337 por canteiro irrigado com esgoto, o que fornece um
percentual de 123,00 % .
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 148
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

600

Núm ero de sem entes (un)


500

400

300

200

100

0
0a2 2a4 4a6 6a8 8 a 10
Intervalo do canteiro (m )

Água Esgoto

FIGURA 5.51 – Produção média de sementes irrigadas com água residuária e água subterrânea
no período chuvoso.

O número médio de sementes por vagem a cada intervalo dos canteiros


irrigados com água e com esgoto durante o período seco, encontra-se na Figura
5.52.

180
Número sementes/10

160
vagens (un)

140

120

100
Água bruta Efluente primário
Águas de irrigação
0 - 2m 2 - 4m 4 - 6m 6 - 8m 8 - 10m

FIGURA 5.52 – Número médio de sementes por vagem ao longo dos canteiros irrigados com água
bruta e efluente primário, durante o período seco.

Mesmo havendo maior produção de vagens nos canteiros irrigados


com esgoto, a análise de variância dos dados referentes ao número de sementes
por vagem não mostrou diferença significativa em relação aos fatores envolvidos.
Isto comprova que nem a qualidade da água de irrigação nem a distãncia da
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 149
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

planta em relação ao ponto de aplicação das águas influenciaram no número de


sementes por vagem.

Produtividade
A produtividade média dos grãos secos sob temperatura de 40°C, durante
o período de chuvas, está apresentada na Figura 5.53 e observa-se que a
produtividade, coerentemente com os resultados do número de sementes e de
vagens, foi maior na extensão de 4 a 10m para os canteiros irrigados com esgoto,
enquanto nos canteiros irrigados com água, foi de 6 a 10m. Este comportamento
poderia ser explicado pelo fato de que nestes intervalos, a capacidade de campo
do solo diminuía à medida que se aproximava do dreno e por isso, aumentavam
as trocas gasosas entre o solo e o sistema radicular da cultura, favorecendo a
respiração necessária ao desenvolvimento fisiológico. Segundo CORAUCCI
FILHO 1999 “o excesso de água no solo reduz as trocas gasosas entre o interior
do solo e a atmosfera”.

0,45

0,4
Produtividade (Kg/intervalo)

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0
0a2 2a4 4a6 6a8 8 a 10
Intervalo do canteiro (m )
Água Esgoto

FIGURA 5.53 – Produtividade média, em kg/intervalo no período de chuvas.

Os rendimentos máximos estimados de grãos cultivados com água


subterrânea e com esgoto doméstico atingiram, respectivamente, 112,27 kg.ha -1 e
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 150
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

184,31 kg.ha-1. Comparando o rendimento do experimento em níveis regionais,


certamente, esta produção é inferior à média do feijão-de-corda no Nordeste que
está em torno de 260 kg. ha-1, podendo atingir até 650,00 kg. ha-1 em áreas
irrigadas, em período de pluviometria normal. No Ceará, a produção média é de
308,00 kg. ha-1 (MENDES, 1997).
O feijão caupi foi plantado em apenas uma linha por canteiro, indicando
pouca densidade. Contudo, ressalta-se que a produtividade dos canteiros
irrigados com esgoto foi 64% superior em relação à água e, embora o
experimento tenha sido realizado no período chuvoso, o reúso é viável quando
aplicado para fins na agricultura.
Andrade Neto (1992), pesquisando o reúso na agricultura, concluiu que de
acordo com as características físicas, químicas e biológicas dos esgotos
sanitários tratados, são adequados quando se deseja evitar fertilizantes químicos,
e até excelentes, quando aplicados na irrigação de diversas culturas, e há
comprovação prática do aumento significativo da produtividade agrícola por
unidade de área.
No período seco a produtividade média foi de 0,20 kg/m2 para os canteiros
irrigados com água e 0,285 kg/m2 para aqueles irrigados com esgoto o que
corresponde a 2,00 kg/canteiro irrigado com água e 2,80 kg/canteiro irrigado com
esgoto. Na Figura 5.54 estão apresentados os valores de produtividade obtidos
por parcela dos canteiros irrigados com água e com esgoto.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 151
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

0,5

0,4
Produtividade
(kg/parcela)

0,3

0,2

0,1

0,0
Água bruta Efluente primário
Águas de irrigação

0 - 2m 2 - 4m 4 - 6m 6 - 8m 8 - 10m

FIGURA 5.54 – Produtividade média de feijão-caupi, em kg/parcela, ao longo dos canteiros


irrigados com água bruta e efluente primário.

5.2.5 Nutrição mineral


Dentre os nutrientes existentes, escolheu-se aqueles que são
fundamentais à exigência do feijão-caupi. Nas Tabelas 5.18 e 5.19 estão
apresentados os resultados obtidos para o período seco e chuvoso,
respectivamente, com a determinação da análise nutricional dos grãos irrigados
com esgoto doméstico e água subterrânea.

TABELA 5.18 - Valores médios das análises de macro e micronutrientes dos grãos no período
chuvoso
Nutrientes
Intervalos (m) Macro g/kg Micro mg/kg
N P K Mn Fe Zn
0a2 45,94 7,47 14,8 20,1 51,6 45,9
2a4 40,78 7,48 14,4 16,8 48,6 41,7
Água 4a6 45,69 7,5 14,8 17,6 42,4 50,5
6a8 45,41 7,61 14,0 17,6 31,5 47,5
8 a 10 44,08 4,54 12,8 17,7 36,2 45,7
0a2 43,28 6,05 15,2 20,7 14,6 36,3
2a4 42,42 12,03 14,8 18,9 45,2 49,7
Esgoto 4a6 41,97 12,29 14,0 19,7 57,3 42,7
6a8 44,61 12,29 14,4 19,7 27,7 43,9
8 a 10 44,56 12,31 13,6 19,2 20,1 42,7
Faixas de 28,6 a 9,2 a 15,0 a 60,0 a 32,0 a
2,6 a 6,0
concentração* 40,0 22,0 27,0 78,0 65,0
*Faixas de concentração de nutrientes (Fonte: OLIVEIRA e THUNG, 1948).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 152
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.19 - Valores médios das análises de macro e micronutrientes dos grãos no período
seco
Nutrientes
Intervalos (m) Macro (g/Kg) Micro (mg/Kg)
N P K Fe Zn Mn
0-5 36,8 12,0 15,0 59,0 72,1 37,5
Água
5 - 10 39,6 10,9 14,4 145,6 79,4 38,7
0-5 43,4 13,8 39,5 133,7 64,3 44,8
Esgoto
5 - 10 43,1 14,0 39,6 188,4 84,5 49,1
Faixas de
28,6 a 40,0 2,6 a 6,0 9,2 a 22,0 60,0 a 78,0 32,0 a 65,0 15,0 a 27,0
Concentração *
* Faixa de concentração de nutrientes, determinadas por diferentes pesquisadores (Fonte: Oliveira
e Thung, 1948)

A baixa fertilidade do solo, principalmente a carência de nitrogênio e


fósforo, é um dos fatores limitantes para a produção do feijoeiro. A adubação
nitrogenada é cara e muitas vezes, ineficiente devido, principalmente, à realização
de práticas culturais inadequadas, fazendo com que tal elemento se perca (Melo,
2002). Nota-se, a partir das Tabelas 5.18 que a quantidade de nitrogênio nos
grãos produzidos nos canteiros irrigados com esgoto no período chuvoso foi
ligeiramente inferior àquela dos canteiros irrigados com água; isto talvez tenha
ocorrido pela presença de compostos inibidores no esgoto afluente, uma vez que
a produção de nitrito não foi excessiva no meio.
Durante o período seco a análise de variância para o macronutriente N
constatou diferença altamente significativa em relação à água de irrigação
aplicada (água bruta e efluente primário). Isto significa que os grãos dos canteiros
irrigados com esgoto apresentaram melhor extração mineral de N (acima de 99%
de confiança) em relação aos grãos produzidos nos canteiros irrigados com água
bruta. As quantidades de nitrogênio incorporadas pelos grãos estão dentro da
faixa de concentração típica ou próxima à sua máxima, enfatizando a capacidade
noduladora e o eficiente sistema de fixação do nitrogênio atmosférico por parte do
feijoeiro.
Oliveira et al. (2003), estudando a aplicação de nitrogênio no feijão-
caupi, observaram que embora o nitrogênio seja o segundo nutriente mais exigido
pelas hortaliças leguminosas, pouco se conhece a respeito das quantidades que
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 153
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

permitam a obtenção de rendimentos satisfatórios para o feijão. Porém,


OLIVEIRA e THUNG, 1988, informam que o feijoeiro requer quantidades
relativamente altas de nitrogênio e potássio e quantidades relativamente baixas
de fósforo, cálcio, magnésio e enxofre. Estes nutrientes são obtidos do solo e dos
fertilizantes aplicados, com exceção do N que, além dessas duas fontes, pode ser
obtido através da fixação biológica.
Os resultados médios para níveis de fósforo nos grãos dos canteiros
irrigados com água e esgoto no período chuvoso foram de 6,92 ± 0,59 g.kg-1 e de
10,99 ± 1,23 g.kg-1 respectivamente. No período seco estes níveis foram iguais a
11,45 ± 0,55 g.kg-1 e 13,90 ± 0,10 g.kg-1, para os canteiros irrigados com água e
esgoto, respectivamente. As concentrações médias observadas foram
significativamente maiores que a faixa média de concentração de 4,3 g.kg -1. A
diferença da absorção de fósforo nos grãos dos canteiros irrigados com esgoto
chegou a 58,81 % em relação aos grãos dos canteiros irrigados com água no
período chuvoso e 21,00 % no período seco.
Durante o período seco, os teores médios de P nos grãos foram muito
superiores ao limite máximo encontrado na literatura (6,0 g/Kg), principalmente
quando da irrigação com efluente primário. Quando o pH encontra-se próximo da
neutralidade, fenômenos de fixação por óxidos de ferro e alumínio presentes no
solo tornam-se praticamente inexistentes, resultando numa maior disponibilidade
de fósforo às plantas, como sugere Costa et al (2001).
Segundo Melo Filho e Bernardes (2000), possível concentração
excessiva de fósforo no solo pode ocorrer com a disposição continuada de
esgoto, que tem o P removido da massa líquida por mecanismos de adsorção e
precipitação, principalmente. Estes autores consideram que tal fenômeno pode
ser atenuado ou evitado quando há vegetação presente.
Nem todo adubo aplicado no solo é aproveitado pela planta; parte do
nitrogênio é perdido por lixiviação, desnitrificação ou volatilização; parte do
potássio perde-se por lixiviação e fixação e, grande parte do fósforo aplicado
perde-se por fixação no solo (FAGERIA, 1985).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 154
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Durante o período chuvoso a concentração de potássio nos grãos dos


canteiros irrigados com água e com esgoto ultrapassou a faixa mínima de 9,20
g.kg-1 em todas os intervalos do canteiro, com exceção da água, apresentando
uma sensível queda no último intervalo. Possivelmente, as plantas utilizaram esse
nutriente para suprir sua necessidade nutricional durante o ciclo da cultura.
No período seco as análises de variância realizadas para K não
mostraram diferenças significativas com relação aos fatores considerados. Os
teores médios de K ficaram dentro das concentrações médias típicas encontradas
na literatura. Porém, deve ser realizado um controle permanente das
concentrações de Na no solo, que, em níveis elevados, reduzem a capacidade de
absorção de potássio e também do magnésio, pelas culturas (EMBRAPA, 1997).
No período chuvoso, observou-se que o teor de manganês nos grãos do
canteiros irrigados com esgoto assumiu valor médio de 19,67 mg.kg-1, estando
inferior à faixa média de concentração de 21,00 mg.kg-1, estabelecida na Tabela
5.18, enquanto os grãos dos canteiros irrigados com água subterrânea
encontraram-se numa concentração média de 17,96 mg.kg-1.
Paganini (1997) retrata que “a oxidação do manganês e do ferro ocorrem
de forma similar. Estes elementos são mais solúveis e mais disponíveis às plantas
no estado reduzido do que no estado oxidado. A disponibilidade de ambos tem
uma forte influência do pH e da matéria orgânica decomponível disposta no solo.
Ambos os elementos são, geralmente, mais solúveis em pH com valores abaixo
de 5,0 e sensivelmente menos solúveis com valores acima de 6,0”. Com base
nestas informações, tendo em vista que o valor de pH encontrado na solução do
solo após o experimento, foi de 5,0 tanto nos canteiros irrigados com água quanto
com esgoto é provável que a assimilação de manganês tenha sofrido influência
do pH.
Na análise de variância do micronutriente Mn durante o período seco
constatou-se diferença estatística entre valores somente quanto ao tipo de água
de irrigação aplicada. As concentrações médias de manganês nos grãos
observadas foram todas acima dos índices típicos relatados na literatura.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 155
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Durante o período chuvoso o valor médio de ferro encontrado nos grãos


dos canteiros irrigados com água foi de 42,06 mg.kg-1, enquanto os irrigados com
esgoto, atingiram valores médios de 33,0 mg.kg-1. Esses valores foram inferiores
à faixa média de concentração de 69 mg.kg-1. O valor de pH encontrado na
solução do solo, possivelmente, influenciou na redução do ferro a formas mais
solúveis. Segundo Paganini (1997), “a redução de ferro é favorecida pela
ausência de uma substância com alto nível de oxidação, como o nitrato, pela
presença de matéria orgânica prontamente decomponível e por um bom
suprimento de ferro ativo”. Certamente, a concentração de nitrato e matéria
orgânica aplicado ao solo, via água subterrânea e esgoto doméstico influenciaram
a absorção de ferro.
No período seco, o resultado da análise de variância das
concentrações de ferro nos grãos produzidos mostrou que estas diferem
significativamente quando da utilização de águas de irrigação com qualidades
distintas. Os teores médios de Fe nos grãos ficaram muito acima do limite máximo
relatado na literatura.
Constatou-se que a presença do zinco encontrado nos grãos irrigados com
água foi de 46,26 mg.kg-1 e de 43,06 mg.kg-1 , irrigado com esgoto, durante o
período chuvoso. Pela análise nutricional dos grãos, foi possível perceber que o
elemento foi prontamente retirado e absorvido pelas plantas, não aferindo
sintomas que indicassem o efeito prejudicial, como por exemplo, o atrofiamento
da cultura.
Durante o período seco, pôde-se observar que os teores de zinco nos
grãos produzidos se encontraram dentro ou acima da faixa típica de
concentrações encontradas na literatura (Tabela 5.19). Tal comportamento,
apesar de não condizer com a premissa de que solos arenosos,normalmente,
apresentam deficiência de zinco, pode estar atribuído à exigência pelas plantas
de pequenas quantidades dos micronutrientes. Além disso, a disponibilidade dos
micronutrientes no solo está relacionada com as condições deste (pH, umidade,
material de origem, matéria orgânica), clima, tipo de planta e das interações da
planta com o ambiente (FERNANDES, 1993).
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 156
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

5.2.6 Análise microbiológica


Mancuso (2003), afirma que a remoção de microrganismos, como
bactérias, vírus, protozoários e helmintos, contidos nos esgotos, por meio da
disposição no solo, é efetuada através da sedimentação, filtração da camada
orgânica e, principalmente, através da vegetação.
Neste trabalho foram encontrados nos períodos chuvoso e seco, valores de
coliformes totais nos efluentes dos canteiros irrigados com água, muito superiores
aos do afluente. Os valores encontrados foram em torno de 1,01 x 105 e 4,34 x
104 MNP/100mL, para os canteiros com e sem cultura, respectivamente. A baixa
quantidade encontrada na água subterrânea e a alta concentração de coliformes
totais constatada na saída dos canteiros levantou a suspeita de que tais
microrganismos já existiam no solo, cuja persistência foi favorecida pela umidade,
pela baixa temperatura e pela pouca competitividade biológica do solo in natura.
O nível médio de coliformes totais do esgoto doméstico, dos efluentes dos
canteiros com e sem feijão-caupi, chegaram a 1,30 x108; 4,29 x104 e 9,86 x104
NMP/100mL. Observou-se que os efluentes dos canteiros com cultura
apresentaram maior eficiência na remoção de coliformes totais quando
comparados aos canteiros sem cultura.
Os valores médios de coliformes termotolerantes, em NMP/100mL,
encontrados na água subterrânea, nos efluentes dos canteiros com e sem cultura
foram respectivamente, 3 ; 1,4 x 102 e 2,02 x 102 no período de chuvas, indicando
que não houve variação na ordem de grandeza para os efluentes dos canteiros
com e sem cultura. No período seco, não foram encontrados coliformes
termotolerantes nos efluentes dos canteiros irrigados com água.
Os valores médios de coliformes termotolerantes obtidos no esgoto
doméstico e nos efluentes dos canteiros com e sem cultura no período chuvoso
foram respectivamente, 7,53 x 106; 9,41 x 103 e 2,15 x 104 NMP/100mL. Para o
período seco encontraram-se 1,5 x 106, 5,3 x 104 e 0,0 NMP/100mL,
respectivamente.
A OMS (1989), considerando os riscos à saúde pública, sugeriu que a
quantidade de coliformes termotolerantes no esgoto, para ser aplicado ao solo
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 157
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

deve ser menor que 103 NMP/100mL. Na Califórnia e em Israel, a quantidade de


coliformes termotolerantes no efluente aplicado à irrigação irrestrita deveria se
menor que 2,2 NMP/100mL, porém, Oron (1999) estudou o efeito de duas
técnicas de irrigação localizada, uma superficial e a outra subsuperficial e concluiu
que, apesar destes limites serem alcançados por meio de métodos de
desinfecção, quando a aplicação é feita por infiltração subsuperficial, os critérios
podem ser muito menos rígidos pela segurança da técnica de aplicação.
Não foram encontrados ovos de helmintos na água subterrânea e por este
motivo não foram analisados ovos de helmintos nos efluentes dos canteiros
irrigados com água.
Do monitoramento de ovos de helmintos do esgoto doméstico e dos
efluentes dos canteiros com e sem cultura do feijão-caupi observou-se que
número médio de ovos de helmintos obtido no esgoto doméstico foi de 70
ovos/litro e nos efluentes dos canteiros que apresentavam cultura, 1 ovo por litro.
Enquanto os canteiros sem cultura apresentaram 4 ovos por litro, confirmando
que a vegetação apresentou sensível influência na remoção de organismos
patogênicos. O resultado da remoção de ovos de helmintos chegou a 86,00 %,
comprovando que o sistema de infiltração subsuperficial foi eficiente quanto à
remoção de ovos de helmintos.
Segundo a OMS (1989), esgotos destinados ao reúso não devem conter
mais que um ovo de nematóide por litro, condição essencial para a saúde dos
trabalhadores agrícolas e dos consumidores de vegetais, contudo segundo ORON
(1999), os parâmetros limitados pela OMS não levam em consideração a
infiltração subsuperficial, que é uma prática muito mais segura.
Os resultados do levantamento e contagem dos ovos de helmintos,
encontrados nas amostras de esgoto doméstico e dos efluentes dos canteiros,
estão apresentados na Tabela 5.20.
O levantamento do aspecto sanitário das vagens representa a qualidade
do produto oriundo da disposição no solo. Nas Tabelas 5.21 e 5.22 são mostrados
os valores médios obtidos com a análise bacteriológica para o período chuvoso e
período seco, respectivamente.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 158
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.20 - Identificação dos ovos de helmintos e seus respectivos tamanhos, encontrados no
esgoto doméstico e no efluente dos canteiros
Identificação do parasita Tamanho relativo (µm) *
Ovo de Ancilostomideo 60 a 70
Ovo de Enterobius vermiculares 50 a 60 X 20 a 32
Ovo de Trichuris trichiura 50 a 55 X 22 a 24
Ovo não viável de Trichuris trichiura. Aumento em 40X 50 a 55 X 22 a 24
Larva rabditóide de Ancilostomídeo 250 X 17
Ovo de Ascaris lumbricoides 55 a 75 X 35 a 50
Ovo de Ascaris lumbricoides. Desenvolvimento do ovo após 6 55 a 75 X 35 a 50
dias.
Ovo fecundado de Ascaris lumbricoides. 55 a 75 X 35 a 50
Ovo de Hymenolepis diminuta 70 a 80 de diâmetro
Larva filarióide de Strongyloides stercoralis (vida livre) 2,2mm X 50

TABELA 5.21 - Valores de coliformes totais e fecais observados na água de lavagem das vagens
irrigadas com água subterrânea e esgoto doméstico no período chuvoso
Intervalos Valores médios de Valores médios de coliformes
Água de irrigação (m) coliformes totais* termotolerantes*
0a2 1,21E+06 5,05E+01
2a4 1,21E+06 5,05E+01
Água bruta 4a6 1,21E+06 5,05E+01
6a8 1,21E+06 5,05E+01
8 a 10 1,21E+06 5,20E+01
0a2 1,21E+06 1,91E+03
2a4 1,21E+06 3,24E+04
Esgoto doméstico 4a6 1,21E+06 1,39E+03
6a8 1,21E+06 5,10E+01
8 a 10 1,21E+06 5,41E+02
* Valores médios expressos em NMP/100mL.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 159
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TABELA 5.22 – Valores de coliformes totais e fecais observados na água de lavagem das vagens
irrigadas com água subterrânea e esgoto doméstico no período seco

Coliformes
Água de irrigação Parcela (m) Coliformes totais*
termotolerantes*
0–5 1,01 E+06 0,00 E+00
Água bruta
5 – 10 7,06 E+05 0,00 E+00
0–5 1,82 E+05 1,16 E+04
Esgoto doméstico
5 – 10 2,03 E+05 9,42 E+02
* Valores médios expressos em NMP/100mL.

No período chuvoso, os resultados das análises de coliformes totais da


água de lavagem das vagens dos canteiros irrigados com água subterrânea e
com esgoto doméstico mostraram a existência de bactérias do grupo coliformes,
com valor médio de 1,21 x 106 NMP/100mL, em todos os intervalos do canteiro.
Os números médios de coliformes termotolerantes em NMP/100mL, encontrados
nas vagens dos canteiros irrigados com água e esgoto foram de 5,08 x 10 1 e 7,27
x 103 NMP/100ml, respectivamente. Isto ocorreu porque no período de chuvas, os
canteiros ficaram encharcados, possibilitando que os microrganismos atingissem
a superfície e entrassem em contato com a planta.
No período seco foram encontrados 8,6 x 105 NMP/100ml para as vagens
dos canteiros irrigados com água e 3,6 x 104 NMP/100ml para as vagens
daqueles irrigados com esgoto, porém foram encontrados coliformes
termotolerantes nas vagens dos canteiros irrigados com água e 2 x 10 2
NMP/100ml nos canteiros irrigados com esgoto
É oportuno frisar que o processo de debulha das vagens para obtenção
dos grãos é uma via de contaminação dos mesmos. Estudo realizado por
Paganini, (1997), mostrou não ser possível a contaminação do produto ou da
vegetação, pela introdução de organismos patogênicos na planta, através do
sistema radicular ou qualquer outra parte delas em situação normal. Até o
momento, não existe evidência de contaminação através desta via,
independentemente da cultura.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 160
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Na NBR 13969 (1997), encontra-se que no reúso das águas residuárias,


via disposição no solo, deve-se tomar o cuidado de interromper a irrigação pelo
menos 10 dias antes da colheita para evitar riscos de contaminação dos produtos
alimentícios.
Realizou-se análise parasitológica nas raízes do feijão-caupi ao longo dos
intervalos do canteiro, sem constatar a existência de ovos de helmintos durante o
período chuvoso. Neste caso, verificou-se que o sistema radicular da cultura não
revelou indícios de agregação destes organismos à sua superfície. Por outro lado,
a filtração física e a ação dos microrganismos (predação e competição) presentes
no solo, podem ter sido os principais agentes que influenciaram positivamente na
remoção de nematóides intestinais humanos, via solo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 161
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

6.0 CONCLUSÕES

Os resultados obtidos do sistema de infiltração rápida em escala


laboratorial baseados nos objetivos específicos inicialmente traçados permitiram
concluir que:

 Considerando o período de pesquisa, o sistema montado mostrou


potencialidades de tratamento de esgoto doméstico com boa eficiência na
remoção de DQO, SS, Amônia e Fósforo. As eficiências médias de remoção
de DQO e SS, durante o período estudado, alcançaram valores médios
acima de 60%, com efluente dentro dos padrões de lançamento adotados no
Estado do Ceará. A remoção de amônia foi efetiva, obtendo-se valores
abaixo de 2mg/L. O solo tem capacidade de retenção de fósforo somente
nos ciclos iniciais, passando a liberá-lo posteriormente, após processo de
acumulação e saturação do solo, indicando que a capacidade de assimilação
deste nutriente é limitada. A remoção de coliformes fecais foi considerada
baixa, embora, em termos numéricos, apresente eficiência próximo ao 100%.
Contudo a remoção efetiva foi de apenas duas casas logaritmas, não
obtendo efluente dentro dos padrões exigidos pela SEMACE (limite de
lançamento de 5000 NMP CF/100mL);

 A maior parte da concentração de matéria orgânica, nutriente fósforo e


coliformes totais e fecais, contida no esgoto decantado afluente ficou retida
na camada superficial do solo, comprovada pelos resultados das análises
efetuadas com a água de lavagem;

 Durante a operação do SIR constatou-se o processo da nitrificação, pela


observância dos seguintes critérios: a) constatação da aclimatação das
bactérias nitrificantes nos reatores bela observância da variação da
concentração de nitrito, b) remoção de amônia efetiva, obtendo-se valores
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 162
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

abaixo de 2mg/L e c) aumento da concentração de nitrato, apresentando


teores acima de 20mg/L no final do período de aclimatação. Contudo, o pH
abaixo de 6,5 em todos os reatores no fim da pesquisa sugere preocupação
quanto à manutenção das condições adequadas para a atuação das
bactérias nitrificantes (7 < pH < 8,5). Neste caso, para evitar colapso, seria
necessário intervenção na alcalinidade do esgoto bruto a fim de minimizar as
variações de pH nos reatores;

 Não foi possível verificar o processo de desnitrificação tendo em vista as


limitações operacionais da pesquisa;

 O lançamento de esgoto no solo propiciou as seguintes alterações em suas


características: aumento de pH, fósforo e condutividade elétrica. A elevação
do pH possivelmente está relacionada ao aumento de fósforo no solo, que
por sua vez foi viabilizado através do processo de sorção, que foi
responsável pela remoção deste nutriente do esgoto. O aumento na
condutividade elétrica não atingiu valores preocupantes. O teor de matéria
orgânica na superfície manteve-se constante, o que leva a crer que a
operação garantiu uma boa capacidade de degradação da camada
colmatante. Por outro lado, observou-se aumento de MO ao longo da
profundidade do solo, provavelmente promovido pela lixiviação deste
composto nos períodos de aplicação;

 A recarga de aqüífero nas condições verificadas nesta pesquisa deve ser


evitada, a fim de minimizar a poluição das águas subterrâneas por nitrato,
fosfato ou por microrganismos patogênicos. Por si só o tratamento por
Infiltração Rápida não é suficiente para adequar o efluente à condição de ser
reusado, contudo, a retirada deste líquido percolado por bombeamento com
poços de coleta ou por meio de drenos subterrâneos, seguido de um pós-
tratamento com desinfecção e de remoção mais efetiva de nutrientes
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 163
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

(infiltração subsuperficial com irrigação de canteiros de culturas, por


exemplo), tornaria este efluente passível de ser reusado.

 A eficiência de tratamento utilizando SIR em escala laboratorial foi


compatível com os demais SIR em escala real, conforme apresenta VON
SPERLING (2000). Se bem operado, o sistema tem grandes chances de
obter eficiências de tratamento ainda maiores, dado que operou-se em
escala laboratorial, sob condições de temperatura amena (situação
ambiental controlada). Conseqüentemente, este método é viável para as
condições ambientais presentes no Nordeste Brasileiro, com potencialidade
para superar demais estações de tratamento convencionais em nível
secundário.

 Faz-se necessário monitorar um sistema além do período aqui estudado para


analisar o comportamento de um SIR a longo prazo. Vale salientar que a
importância da nitrificação está relacionada ao sucesso do processo de
desnitrificação que deverá ser trabalhado em conjunto, para que a remoção
do nitrogênio do solo seja minimizada.

Os resultados obtidos do sistema de disposição subsuperficial controlada


no solo diante dos objetivos específicos traçados permitiram concluir que:

 O SDCES mostrou-se capaz de proporcionar o tratamento do esgoto


doméstico aplicado. Sua estrutura pode ser utilizada para promover redução
da concentração DE DQO, PT, PO4-, NH4+-N, CT e CTT. Porém, deve passar
por modificações que garantam condições anóxicas, para permitir A
desnitrificação;

 Apesar de ter sido observado incremento de matéria orgânica durante o fluxo


pelos reatores, possivelmente em decorrência da existência de traços
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 164
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

orgânicos presentes no material de preenchimento, o sistema proposto


apresentou redução de DQO.

 Na análise dos testes estatísticos, não se observou diferença significativa


entre eficiência de remoção de DQO entre os módulos vegetados e não
vegetados. Entretanto, na segunda etapa, dentre os reatores alimentados
com esgoto, aqueles que não possuíam cultura apresentaram eficiência
média de remoção de DQO superior àquelas onde havia cultura;

 O SDCES apresentou redução de amônia. Entretanto, verificou-se acréscimo


de concentração durante o fluxo da massa líquida pelo leito do reator,
demonstrando ter havido amonificação, especialmente na primeira etapa. O
sistema proposto foi capaz de produzir efluente com concentração média
inferior ao limite de 5,0 mgNH4+-N/L estabelecido pelo Art. 21 da Resolução
CONAMA nº 20/86;

 Não se observou diferença significativa na eficiência média de remoção de


amônia em função da existência ou não de raízes no substrato dos reatores,
mostrando que no SDCES não ocorreu assimilação de amônia pelas plantas,
ou ainda, que estas não contribuíram para estabelecer e/ou aumentar a
eficiência da comunidade nitrificadora;

 A concentração média de nitrito e nitrato para o efluente dos reatores


irrigados com esgoto se mostrou maior do que as respectivas concentrações
afluentes, reafirmando a ocorrência da nitrificação em todos os canteiros;

 A maioria dos testes não apontou diferença significativa entre as


concentrações médias de nitrito e de nitrato, entre módulos vegetados e não
vegetados. Assim, não se observou a possibilidade de as raízes contribuírem
para elevar as taxas de nitrificação, ou ainda, assimilarem nitrato.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 165
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

 O sistema proposto apresentou satisfatória redução da concentração de


fósforo total e ortofosfato. Nas duas etapas de operação do sistema
proposto, não se observou diferença na eficiência de remoção para nenhuma
das formas do fósforo entre os reatores vegetados e não vegetados. O que
confirma a predominância dos mecanismos físico-químicos nos processos de
remoção de fósforo;

 O NMP médio efluente nos reatores foi, aproximadamente, na mesma


ordem, tanto para coliformes totais como para coliformes termotolerantes,
independente da qualidade do líquido afluente. De maneira que se pode
considerar que os coliformes presentes nos efluentes são provenientes
principalmente do solo. De qualquer modo, o sistema proposto apresentou
boa eficiência média de remoção para os referidos grupos de bactérias;

 O sistema proposto não apresentou diferença na eficiência média de


remoção para coliformes totais ou termotolerantes entre os módulos
vegetados e não vegetados.

 Não há restrições quanto à disposição em longo prazo de efluentes primários


na irrigação de áreas cujo solo seja de textura arenosa, devido à baixa
tendência de acúmulo de sais e sódio, função da intensa lixiviação
provocada pela própria água de irrigação, ou por águas de chuva.

 As alterações nas propriedades químicas do solo, embora algumas vezes


estatisticamente significativas, não degradaram a estrutura do solo irrigado.

 Para todos os componentes de produção foram verificados benefícios


agrícolas positivos e significativos da aplicação de efluentes primários no
aumento da produtividade de feijão-caupi, superando a produção observada
nos canteiros irrigados com água bruta.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 166
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

 A análise nutricional dos grãos produzidos evidenciou maior extração mineral


de N e P pelas plantas cultivadas com esgoto, conseqüência dos elevados
teores destes elementos no efluente disposto no solo. O pH do solo, próximo
à neutralidade, influenciou positivamente na excelente extração, pelas
plantas, dos nutrientes essenciais ao feijão-caupi, com exceção do Na e Mn.

 A qualidade bacteriológica das águas residuárias utilizadas no experimento


não satisfizeram os padrões estabelecidos pela OMS, em nenhuma de suas
categorias. As vagens produzidas nos canteiros experimentais irrigados com
efluente primário apresentaram indicadores de coliformes totais e
termotolerantes. Porém, os riscos à saúde do consumidor seriam
possivelmente extintos após cozimento ou industrialização do produto.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 167
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

7.0 RECOMENDAÇÕES PARA UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS


PELA FUNASA E INDICATIVOS DE CUSTOS

Com base na pesquisa realizada recomenda-se como tratamento dos


esgotos a disposição no material de solo com infiltração subsuperficial para
produção de feijão. Para tanto devem-se seguir as recomendações:
 Que sejam implantados sistemas constituídos de fossa séptica com
liberação do efluente para os canteiros e dispositivo de desvio para um
sumidouro para épocas de chuva, conforme Figura 7.1.
 Que seja construído um canteiro por habitante com as dimensões:
Largura – 1m,
Profundidade – 0,60m,
Comprimento – 7 a 10m;
 O canteiro poderá ser feito em alvenaria ou com material argiloso,
atendendo às especificações:
- Inclinação – 1 a 2%,
- Preenchimento do canteiro até 0,50m em altura;
- 0,50m iniciais e finas preenchidos com brita nº 4;
- Entrada do esgoto a 0,15m da superfície;
- Dispositivo de saída para excesso de água ou esgoto na extremidade
final e inferior do canteiro;
 A cultura a ser empregada deve ser o feijão por ser uma cultura de
subsistência, facilmente adaptável a condições de escassez ou excesso
de água, ingerida sempre após cozimento e cujo fruto não tem contato
com o material de solo;
 Caso o lençol freático esteja próximo da superfície ou do local de
aplicação do esgoto os canteiros devem ser impermeabilizados com lona
plástica de 250 m;
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 168
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

 Nos primeiros 10 dias após o plantio as mudas ou sementes devem ser


irrigadas com água até que as raízes fiquem maiores e possam ser
atingidas pelo esgoto;
 O espaçamento entre canteiros deve ser suficiente para que uma pessoa
possa deslocar-se confortavelmente durante as diversas fases do cultivo.

Indicativos de Custo
O sistema experimental montado nas dependências da UFC teve custo
aproximado de R$19.000,00, o que daria um custo médio de R$1.000,00 por
canteiro. Porém, em pequenas comunidades e áreas rurais o custo é bem menor
porque pode ser utilizada mão de obra local, em regime de mutirão. Este custo
pode ainda ser reduzido se for empregado material argiloso para construção, em
substituição à alvenaria; se não for feita impermeabilização com manta plástica
e se o efluente for lançado por gravidade.
O esquema do sistema proposto para uma família de cinco pessoas é
apresentado na Figura 7.1.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 169
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

Fossa Séptica Canteiros Sumidouro

Corte A-A
Caixa de
passagem Brita n. 4 Terra Caixa de
passagem

By-pass

Planta Baixa

A A
Figura 5.1 - Esquema do sistema proposto.
Canteiros para uma família de 5 pessoas

FIGURA 7.1 – Esquema do sistema proposto para uma família de cinco pessoas
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 170
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGROMIL. 2005. Cultura do feijão. Disponível no site:


http://www.agromil.com.br/estagios.html. Acessado em 28/03/2005.

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION - APHA. 1995. Standard Methods


for the Examination of Water and Wastewater. 19. ed., New York, 1268p.

ANDRADE NETO, C.O.; SOBRINHO, P.A.; MELO, H.N.S.; AISSE, M.M. Decanto-
digestores. In: CAMPOS, J.R. 1999. Tratamento de esgotos sanitários por
processo anaeróbio e disposição controlada no solo. Projeto PROSAB. Rio de
Janeiro: ABES. 464p.

ANDREADAKIS, A. D. 1987. Organic matter and nitrogen removal by an on site


sewage treatment and disposal system. Water Research. 21: 559-565.

ANDREOLLI, F.N; IHLENFELD, R.G; TEIXEIRA, E.C. 1999. Bacia de Infiltração


como alternativa de reúso da água e tratamento de esgoto sanitário, na remoção
de DQO, SS e Nitrogênio. SANARE – Revista Técnica da Sanepar. Curitiba:
Sanepar. v.11: 11.

ANGELAKIS, A.N. 2001. Management of wastewater by natural treatment


systems with emphasis on land-based systems. In: LETTINGA, G.; LENS, P.;
ZEEMEN, G. (Editors). Decentralised Sanitation and Reuse: Concepts, Systems
and Implementation. Wageningen.

ARAÚJO et al. 1996. Cultura do feijoeiro comum no Brasil / Coordenado por


Ricardo Silva Araújo [et al]. Piracicaba: POTAFOS. 786p.

ARIAS, C.A., DEL BUBA, M., BRIX, H. 2001. Phosphorus removal by sands for
use as media in subsurface flow constructed reed beds. Water Research,
35(5):1159-1168.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. 1997. NBR


13969: Tanques sépticos – Unidades de tratamento complementar e disposição
final dos efluentes líquidos – projeto, construção e operação. Rio de janeiro, 60p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1989. NBR 10719.


Apresentação de relatórios técnicos científicos: elaboração. Rio de Janeiro.

AULENBACH, B. e MEISHENG, N. 1988. Studies on the mechanism of


phosphorus removal from treated wastewater by sand. Journal WPCF. 60 (12):
2089-2094.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 171
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

AYERS, R. S. e WESTCOT, D.W. 1991. A qualidade da águas na agricultura.


Tradução de Gheyi, H. R., Medeiros, J. F. e Damasceno, F.A.V. Campina Grande,
UFPB. 218p.

BAHGAT, M.; DEWEDAR, A.; ZAYED, A. 1999. Sand filters used for wastewater
treatment: build and distribution of microrganisms. Water Research. 33 (8): 1949-
1955.

BALKS, M. R.; MCLAY, C.D.A.; HARFOOT, C.G. 1997. Determination of the


progression in soil microbial response, and changes in soil permeability, following
application of meat processing effluent to soil. Applied Soil Ecology. 6: 109-116.

BAVEYE, P.; VANDEVIVERE, P.; HOYLE, B. L.; DELEO, P. C.; LOZADA D. S.


1998. Environmental Impact and Mechanisms of the Biological Clogging of
Saturated Soils and Aquifer MateriaIs. Environmental Science and Tecnology. 28
(2): 123- 191.

BEZERRA, F.C.L. 1997. Reúso planejado de águas residuárias em irrigação: Uma


alternativa para o Estado do Ceará. Fortaleza. Dissertação (Mestrado em
Saneamento Ambiental), Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental,
Universidade Federal do Ceará.

BLUM, J.R.C. 2003. Critérios e padrões de qualidade da água. In: MANCUSO,


P.C.S.; SANTOS, H.F. Reúso de Água. Universidade de São Paulo, Faculdade de
Saúde Pública, Núcleo de Informação em Saúde Ambiental. Baueri, SP: Manole,
579p.

BOUWER, J.; MCCARTY, L.; BOWER, H; RICE, R. C. 1984. Organic contaminant


behavior during rapid infiltration of secondary wastewater at the phoenix 23 rd
avenue project. Water Research. 18(4):463-472.

BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. 1989. In: Nyle C. B.. The
nature and properties of soils. Trad. Antônio B. Neiva Figueiredo F. 7ª ed. Rio de
Janeiro. 898p.

Cabrera, F.; LÓPEZ, R.; MARTINEZ-BORDIÚ, A.; DUPUY DE LOME, E.;


MURILLO, J. M. 1996. Land treatment of olive oil mill wastewater. International
Biodeterioration & Biodegradation. p. 215-225.

CAMPOS, H. 1984. Estatística aplicada à experimentação com cana-de-açúcar.


Ed. FEALQ. Piracicaba, São Paulo.

CAMPOS, L.C; SU, M.F.J.; GRAHAM, N.J.D; SMITH, S.R. 2002. Biomass
developed in slow sand filters. Water Research. 36: 4543-4551.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 172
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

CANTER, L.W.; KNOX, R.C.; FAIRCHILD, D.M. 1990. Ground water quality
protection. Lewis Publishers, Inc. 562 p.

CEBALLOS, B.S.O. 1990. Microbiologia sanitária. In: Lagoas de Estabilização e


aeradas mecanicamente: novos conceitos. João Pessoa: Ed. Universitária,
Universidade Federal da Paraíba. 388 p.

COOKE, J.G.; COOPER, A.B.; CLUNIE, N.M.U. 1990. Changes in the water, soil,
and vegetation of a wetland after a decade of receiving a sewage effluent. New
Zealand Journal of Ecology. v.14.

CORAUCCI FILHO, B.; CHERNICHARO, C.A.L.; ANDRADE NETO, C.O.; NOUR,


E.A.; ANDREOLI, F.D.N.; SOUZA, H.N.; MONTEGGIA, L.O.; SPERLING, M.V.;
LUCAS FILHO, M.; AISSE, M.M.; FIGUEIREDO, R.F.; STEFANUTTI, R. 1999.
Bases conceituais da disposição controlada de águas residuárias no solo. In:
CAMPOS, R.C. (Coordenador). Tratamento de esgotos sanitários por processo
anaeróbio e disposição controlada no solo. Rio de Janeiro: ABES. 464 p.

CORRAUCCI FILHO, B.; BROLEZE, S.T.; STEFANUTTI, R.; FIGUEIREDO, R.F.;


NOUR, E.A.A.; VIEIRA, C.B.; OGAWA, M.R.M.; PIRES, M.S.G.; SIVIERO, A.R.
2001. Avaliação da patogenicidade do feno produzido em um sistema de pós-
tratamento de efluente anaeróbio por disposição controlada no solo. In:
CHERNICHARO, C.A.L (Coordenador). Pós-tratamento de efluentes de reatores
anaeróbios: coletânea de trabalhos técnicos. v. 2. Belo Horizonte: [s.n.].

CORRÊA, R.S.; MELO FILHO, B.; BERNARDES, R.S. 2000. Disposição de


esgoto doméstico para controle de poluição e revegetação induzida em área
degradada. Revista Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. 4 (2): 252-
256.

COSTA, A.N.; COSTA, A.F.S.; MARQUES, M.O.; SANTANA, R.C. 2001. Estudo
de caso – Utilização de lodo de estações de tratamento de esgoto (ETEs) na
cultura do mamoeiro no norte do Estado do Espírito Santo. In: ANDREOLI, C.V.
(Coordenador). Resíduos sólidos do saneamento: processamento, reciclagem e
disposição final. Rio de Janeiro: RiMA, ABES. 282p.

CUYK, S. van; SIEGRIST, R.; LOGAN, A.; MASSON, S.; FISCHER, E.;
FIGUEROA, L. 2001. Hydraulic and purification behaviors and their interactions
during wastewater treatment in soil infiltration systems. Water Research. 35 (4):
953 -964.

DAWES, L. 2003. An investigation into the role of site and soil characteristics in
onsite sewage treatment. School of Engineering, Queensland University of
Technology. Queensland, Australia.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 173
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

DIZER, H. e HAGENDORF, U. 1991. Microbial contamination as an indicator of


sewer leakage. Water Research. 25 (7): 791-796.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. 1997.


Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de métodos de análise de solo. 2ª
ed. Rio de Janeiro, 212p.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. 2004.


Cultivo de feijão-caupi. Disponível no site:
http//sistemasdeproducao.cnptia.Embrapa.br/FontesHTML/Feijão/FeijaoCaupi.
Acessado em 19/09/2004.

FAGERIA, N.K.; OLIVEIRA, I.P. de; DUTRA, L.G.1996. Deficiências nutricionais


na cultura do feijoeiro e suas correções. EMBRAPA – CNPAF – APA. Goiânia.
40p.

FARID, M. S. et al.; 1993. Impact of the reuse of domestic wastewater for irrigation
on groundwater quality. Water Science Technology. 27 (9): 147-157.

FERNANDES, V.L.B. (Coord.) 1993. Recomendações de adubação e calagem


para o Estado do Ceará. Fortaleza, Universidade Federal do Ceará -UFC, 248p.

FERREIRA, E.S. Cinética química e fundamentos dos processos de nitrificação e


desnitrificação biológica. In: XXVII Congresso Interamericano de Engenharia
Sanitária e Ambiental. Porto Alegre, 2000.

FONSECA, A.F. Disponibilidade de nitrogênio, alterações nas características do


solo e do milho pela aplicação de efluente de esgoto tratado. Piracicaba, 2001.
110p.:il.

GIFFONI, D.A. Utilização de fungos em filtros biológicos aplicados ao tratamento


de água residuária sintética de laticínios. Fortaleza-CE, 2000 [Dissertaão de
Mestrado – Universidade Federal do Ceará – UFC].

GOMES, F.P. Curso de estatística experimental. Universidade de São Paulo,


Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Piracicaba, SP. Livraria Nobel
S.A. Editora e Distribuidora, 8 ed., 1978.

GONÇALVES, J.A. 1999. Relaçãoes hídricas em cultivares de feijão-de-corda


(vigna unguiculata (L.) Walp.) submetida à deficiência de água no solo. 74 f. Tese
(Mestrado em Fitotecnia) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 174
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

HARUSSI, Y.; ROM, D.; GALIL, N.; SEMIAT, R. 2001. Evaluation of membrane
processes to reduce the salinity of reclaimed wastewater. Desalination. 137: 71-
89.

HESPANHOL, I. 2003. Potencial de reúso de água no Brasil: agricultura, indústria,


município e recarga de aqüíferos. In: MANCUSO, P.C.S.; SANTOS, H.F. Reúso
de Água. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Núcleo de
Informação em Saúde Ambiental. Baueri, SP: Manole, 579P.

HO, G. E.; MATHEW, K.; GIBBS, R. A. 1992. Nitrogen and phosphorus removal
from sewage effluent in amended sand columns. Water Research, 26 (3): 295-
300.

HORAN, N. J. 1997. Biological wastewater treatment systems – theory and


operation. Chichester, John Wiley & Sons Ltd., 310p.

IBRAHIM, L. Caracterização física, química, mineralógica e morfológica de uma


seqüência de solos em Lins/SP. Piracicaba, 2002. Dissertação (Mestrado em
Agronomia, Área de Concentração: Solos e Nutrição de Plantas), Escola Superior
de Agricultura “Luiz de Queiroz”.

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ – IAPAR. Feijão: tecnologia de


produção. Londrina, 2000. 115p.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa


Nacional por Amostras em Domicílio (2002) e Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico (2000). Disponível no site: http://www.ibge.gov.br. Acessado em
27/09/2004.

INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA – ISA. Resumo. Disponível no site:


http//www.isa.utl.pt/dqaa/soloseambiente/PSA. Resumo.pdf . Acessado em
19/09/2004.

IPLANCE – Fundação Instituto de Planejamento do Ceará. Atlas do Ceará 1997,.

JAMIESON, R. C.; GORDON, R. J.; SHARPLES, K. E.; STRATTON, G. W.;


MADANI, A. 2002. Movement and persistence of fecal bacteria in agricultural soils
and subsurface drainage water : A review. Canadian Biosystems Engineering, v.
44.

JORDÃO, E.P.; PESSÔA, C.A. 1995. Tratamento de esgotos domésticos. 3ª ed.


Rio de Janeiro: ABES, 720p.

KOWALIK, P. J.; OBARSKA-PEMPKOWIAK, H. 1985. Determination of the


permisible amount of liquid animal waste applied to soil filters. Agricultural Water
Management. 10: 313-326.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 175
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

LEMMER, H; ZAGLAUER, A; METZNER, G. 1997. Denitrification in a methanol-


fed fixed-bed reactor. Part 1: Physico-chemical and biological characterization.
Water Research. 31 (8): 1897-1902.

LIMA, M. R. P. 1997. Avaliação do potencial de nitrificação/desnitrificação de solo


arenoso altamente permeável. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental, 19, Anais, Rio de Janeiro, ABES. p. 379 – 388.

LIMA, M. R. P; GONÇALVES, R.F. Avaliação do potencial de nitrificação


/desnitrificação de solo arenoso altamente permeável tratando esgoto sanitário.
In: 19° Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Foz do Iguaçu,
1997.

LUCAS FILHO, M.; ANDRADE NETO, C.O.; SILVA, D.A.; MELO, H.N.S.;
PEREIRA, M.G. 2001. Evolução do processo de disposição de esgoto tratado
através do escoamento subsuperficial em solo preparado com cobertura vegetal.
In: CHERNICHARO, C.A.L (Coordenador). Pós-tratamento de efluentes de
reatores anaeróbios: coletânea de trabalhos técnicos. v. 2. Belo Horizonte: [s.n.].

LUCAS FILHO,M.; PEREIRA, G.M.;MELO, H.N.S.; ANDRADE NETO, C.O. 2000.


Remoção de matéria orgânica carbonácea, nutrientes e contaminantes biológicos
em bacia experimental elo processo de infiltração rápida, In: XXVII Congresso
Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. Porto Alegre.

MAGALHÃES, D.I. 2004. Disposição de esgoto doméstico no solo: Produção de


feijão-caupi e aspectos sanitários. Fortaleza. Dissertação (Mestrado em
Saneamento Ambiental), Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental,
Universidade Federal do Ceará.

MALAVOLTA, E. 1978. ABC da adubação. 4ª ed. São Paulo: Ceres, 256p.

MANCUSO, P.C.S.; SANTOS, H.F. 2003. Reúso de Água. Universidade de São


Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Núcleo de Informação em Saúde Ambiental.
Baueri, SP: Manole, 579p.

MELO, H.N.S.; MIRANDA, R.J.A.; ANDRADE NETO, C.O.; LUCAS FILHO, M.


2001. Salinização no pós-tratamento de esgotos por disposição controlada no
solo. In: CHERNICHARO, C.A.L (Coordenador). Pós-tratamento de efluentes de
reatores anaeróbios: coletânea de trabalhos técnicos – v. 2. Belo Horizonte: [s.n.].

MELO, J.L.S.; LIMA, A.M.; MELO, H.N.S.; ANDRADE NETO, C.O.; LUCAS
FILHO, M. 2000. Avaliação da remoção dos macronutrientes sódio, potássio,
cálcio e magnésio em disposição controlada em solo. In: XXVII CONGRESSO
INTERAMERICANO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. Porto Alegre-
RS. Anais do XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e
Ambiental. Rio de Janeiro: ABES.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 176
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

MELLO, F. A. F. et al. 1983. Fertilidade do solo. São Paulo: Nobel.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2001. Agência Nacional de Vigilância Sanitária


(ANVISA). Resolução RDC Nº 12, de 02 de janeiro de 2001.

MONTGOMERY, D.C. 1991. Design and analysis of experiments. 3a ed. Editora


John Wiley & Sons. USA.

PAGANINI, W. S. 2003. Reúso de água na agricultura. In: MANCUSO, P.C.S.;


SANTOS, H.F. Reúso de Água. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde
Pública, Núcleo de Informação em Saúde Ambiental. Baueri, SP: Manole. 579P.

PAGANINI, W. S. 1997. Disposição de Esgotos no Solo: (escoamento à


superfície) 2a ed. São Paulo – SP: Fundo Editorial da AESABESP.

PIERZYNSKI, G. M.; SIMS, J. T.; VANCE, G. 1994. Soils and environmental


quality. Lewis Publisher.

POLPRASERT, C. 1996. Organic Waste Recycling. 2ª ed., West Sumer,


England: John Wiley & Sons.

PIERZYNSKI, G. M.; SIMS, J. T.; VANCE, G. 1994. Soils and Environmental


quality. Lewis Publishers.

Polprasert, C. Organic waste recycling. 1996. 2a ed., West Sumer, England: John
Wiley & Sons, p. 314 -350.

RASCHID-SALLY, L; HOEK, W.V.D.; RANAWAKA, M. (Editors). 2001.


Wastewater reuse in agriculture in Vietnam: Water management, environment and
human health aspects. Proceedings of a workshop held in Hanoi, Vietnam, IWMI
Working paper 30. Colombo, Sri Lanka, International Water Management Institute.

REED, S. C.; CRITES, R. W.; M., E. J. 1995. Natural systems for waste
management and treatment. Second Edition. McGraw-Hill, Inc., 433p.

REEMTSMA, T.; GNIR, R.; JEKEL, M. 2000. Infiltration of combined sewer


overflow and tertiary municipal wastewater: an integrated laboratory and field
study on nutrients and dissolved organics. Water Research, 34 (4): 1179-1186.

REICHARDT, K.1990. A água em sistemas agrícolas. Ed. Manole Ltda. São


Paulo, 188p.

REICHARDT, K. 1986. A Água em Sistemas Agrícolas. 1a ed., Editora Manoele


Ltda, São Paulo – SP.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 177
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

RUSSELL, J. M.; COOPER, R. N.; LINDSEY, S. B. 1993. Soil denitrification rates


at wastewater irrigation sites receiving primary-treated and anaerobically treated
meat-processing effluent. Bioresources Technology. 43: 41-46.

SALASSIER, B. 1995. Manual de irrigação. 6 ed. Viçosa: UFV, Imp. Univ., 657p.

SAMPAIO, S. 1997. Tratamento-polimento de esgotos urbanos através de


infiltração rápida em leitos arenosos: ETE Torto – primeira experiência no Distrito
Federal. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 19, Anais, Rio
de Janeiro, ABES, p. 409 -418.

SILVEIRA, P.M.; STONE, L.F; RIOS, G.P.; COBUCCI, T; AMARAL, A.M. do.
1996. A irrigação e a cultura do feijoeiro. Goiânia: EMBRAPA – CNPAF – APA,
51p.

SINGH, K.P.; MOHAN, D.; SINHA, S.; DALWANI, R. 2004. Impact assessment of
treated/untreated wastewater toxicants discharged by sewage treatment plants on
health, agricultural, and environmental quality in the wastewater disposal area.
Chemosphere 55: 227-255.

SINGH, K.P ; SHRIMALI, M. 2001. New methods of nitrate removal from water.
Environmental Pollution. 112: 351-359.

SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO - SNIS. 2004.


Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto - 2002. Brasília: Ministério das
Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA: Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, 93p.

SOLANO, M.L.; SORIANO, P.; CIRIA, M.P. 2004.Constructed wetlands as a


sustainable solution for wastewater treatment in small villages. Biosystems
Engineering. 87 (1): 109-118.

SOUSA, J.T.; LEITE, V.D. 2002. Tratamento e utilização de esgotos domésticos


na agricultura. Campina Grande: EDUEP, 103p.

STUART, M. E. ; GOODDY, D.C. ; KINNIBURGH, D.G ; KLINCK, B. A. 2001.


Trihalomethane formation potential : a tool for detecting non-specific organic
groundwater contamination. Urban Water. 3: 173-184.

SUN, T; HE, Y; OU, Z; LI, P; CHANG, S; QI, B; MA, X; QI, E; ZHANG, H; REN, L;
YANG, G. 1998. Treatment of domestic wastewater by an underground capillary
seepage system. Ecological Engineering. 11: 111-119.

TANIK, A. ; ÇOMAKOGLU , B. 1996. Nutrient removal from domestic wastewater


by rapid infiltration system. Journal of Arid Environments. 34: 379 – 390.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 178
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

TCHOBANOGLOUS, G. 1991. Wastewater engineering: treatment, disposal and


reuse. Metcalf & Eddy, Inc. – 3a ed. 822p.

TEIXEIRA, E.C; ANDREOLLI, F. N. 1997. Utilização de análise dimensional como


ferramenta de projeto de sistema de tratamento de esgoto sanitário por infiltração
no solo. In: 19° Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, Foz do
Iguaçu.

TOMÉ JR., J. B. 1997. Manual para interpretação de análise de solo. Guaíba:


Agropecuária. 247p.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP. 2002. Diretrizes para elaboração de


dissertações e teses na EESC-USP. 3.ed. São Carlos.

U.S ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY - USEPA. 1996. The use of


reclaimed water and sludge in food crop production. Washington, D.C.: National
Academy Press.

U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY - USEPA. 1981. Process design


manual for land treatment of municipal wastewater. 625/1-81-013. Cincinnati.

VAN HAANDEL, A. e MARAIS, G. 1999. O comportamento do sistema de lodo


ativado. Campina Grande, epgraf, p. 99 -159. 488p.

VIEIRA, E.H.N. 2000. Sementes de feijão: produção e tecnologia. Santo Antônio


de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 270p.

VIMAZAL, J. 2002. The use of sub-surface constructed wetlands for wastewater


treatment in the Czech Republic: 10 years experience. Ecological Engineering 18:
633-642.

VON SPERLING, M. 1996. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de


esgotos. 2ª ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e
ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais, 243p.

VON SPERLING, M; CHERNICHARO; C.A.L. 2000. A comparison between


wastewater treatment processes in terms of compliance with effluent quality
standards. In: XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e
Ambiental. Porto Alegre.

WESTERHOFF, P.; PINNEY, M. 2000. Dissolved organic carbon transformations


during laboratory-scale groundwater recharge using lagoon-treated wastewater.
Waste Management. 20: 75-83.
MINISTÉRIO DA SAÚDE - MS 179
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE SAÚDE PÚBLICA – DENSP
COORDENAÇÃO DE DESENV. TECNOLÓGICO EM ENG. SANITÁRIA - CODET

WILLEMS, H. P. L.; ROTELLI, M. D.; BERRY, D. F.; SMITH, E. P.; RENEAU JR.,
R. B.; MOSTAGHIMI, S. 1997. Nitrate removel in riparian wetland soils: effects of
flow rate, temperature, nitrate concentration and soil depth. Water Research. 31:
841-849.

YAMAGUCHI, T. ; MOLDRUP, P. ; ROLSTON, D.E. ; ITO, S. ; TERANISHI S.


1996. Nitrification in porous media during rapid, unsaturated water flow. Water
Research. 30 (3): 531-540.

YOKOYAMA, L.P. 2000. Cultura do feijoeiro no Brasil: características da


produção. Santo Antônio de Goiás. EMBRAPA: Arroz e Feijão. 75p.

ZHANG, TIAN C.; LAMPE, DAVID G. 2000. Sulfur:limestone autotrophic


denitrification processes for treatment of nitrate-contaminated water: batch
experiments. Water Research. 33 (3): 599-608.

Você também pode gostar