Você está na página 1de 21

//primeira palavra

Um edifício, para ficar de pé, precisa de bons alicerces. A fé


cristã também tem os seus, e um dos mais importantes é a
oração. Quando alguém se insere numa igreja, uma das prin-
cipais lições que aprende é exatamente sobre oração. Entre
outras coisas, ele aprende que a oração é muito importante
para o bom andamento da vida cristã.
Não é por falta de ênfase, mas por falta de prática, que a
EDIFICANDO O ALICERCE

oração tem declinado lamentavelmente nos últimos tempos.


Um autor, Leonard Ravenhill, escreveu: “é possível que Deus
nunca tenha visto um grupo de crentes tão incrédulos como
os desta geração”. Incredulidade essa que se manifesta pela
falta e pelo esfriamento da oração.
A oração não é simplesmente amontoar pedidos e apresentá-­
los a Deus de forma aceitável. Não é tornar-­se simplesmente
consciente das respostas e da orientação de Deus. Ele não nos
ensina a orar sem cessar para que possa enviar uma orienta-
ção revisada sempre que for necessário. O objetivo da oração
é muito mais profundo. A oração é um meio de nos manter
em comunhão constante com Deus Pai e Deus Filho, por in-
termédio do Espírito Santo.
Então, sendo isso realmente verdade, pensemos no que acon-
teceria se todo o crente se comprometesse com Deus, levas-
se a sério a sua vida de oração e começasse a orar regular e
especificamente, unindo-­se a milhões de outros cristãos em
todo o planeta, todos orando pelas mesmas necessidades
prioritárias ao redor do mundo.

Um bom estudo.

//ALUNO .1
ISSN 1984-8633
LITERATURA BATISTA
ANO CXIV – NO 455

Atitude Aluno é uma revista que destina-­se


aos jovens (18 a 35 anos), contendo lições
para a Escola Bíblica Dominical, artigos gerais,
passatempos bíblicos e outras matérias que
promovem o aperfeiçoamento do jovem nas
mais diferentes áreas AUTOR DOS
ESTUDOS DA EBD
Copyright © Convicção Editora
Todos os direitos reservados
As lições deste
Proibida a reprodução deste texto total ou período foram escritas
parcial por quaisquer meios (mecânicos, por Israel Belo de
eletrônicos, fotográficos, gravação, estocagem Azevedo, bacharel em
em banco de dados etc.), a não ser em breves Jornalismo, mestre
citações, com explícita informação da fonte em Teologia, doutor
em Filosofia. Autor
Publicado com autorização
de diversos livros,
por Convicção Editora
como “O prazer da
CNPJ (MF): 08.714.454/0001-36
produção científica” e
“Olhar de incerteza”.
Endereços
Caixa Postal, 13333 – CEP: 20270-972 Pastor da Igreja
Rio de Janeiro, RJ Batista de Itacuruçá,
Telegráfico – BATISTAS no Rio de Janeiro e ex-­
diretor do Seminário
Editor Teológico Batista
Sócrates Oliveira de Souza do Sul do Brasil.

Coordenação Editorial
Solange Cardoso de Abreu d’Almeida (RP/16897)

Redação
Valtair Afonso Miranda

Produção Editorial
Oliverartelucas

Produção e Distribuição
Convicção Editora NOTA DA REDAÇÃO
Tel.: (21) 2157-5567
Rua José Higino, 416 – Prédio 16 Os artigos assinados
Sala 2 – 10 Andar – Tijuca são de inteira
Rio de Janeiro, RJ responsabilidade de seus
CEP 20510-412 autores, não refletindo,
conviccao@conviccaoeditora.com.br necessariamente, as
opiniões do corpo
redatorial da revista

2. //ALUNO
//ALUNO
2
//sumário

//EBD
Lição 1 – Jacó, um homem de oração.................................................................................12
Lição 2 – A mulher que ora com lágrimas.........................................................................17
Lição 3 – Orando como Jó orava..........................................................................................22
Lição 4 – Orando com os salmos – I....................................................................................27
Lição 5 – Orando com os salmos – II...................................................................................32
Lição 6 – Jeremias, o campeão – I........................................................................................37
Lição 7 – Jeremias, o campeão – II.......................................................................................42
Lição 8 – Daniel orava com a alma......................................................................................47
Lição 9 – Habacuque se queixa e confia............................................................................52
Lição 10 – Jesus nos ensina a orar – orações em Mateus..............................................57
Lição 11 – Jesus nos ensina a orar – orações em Lucas e João.....................................62
Lição 12 – Jesus nos ensina a orar – orações em João....................................................67
Lição 13 – Orações são trovões............................................................................................72

//SEMPRE EM ATITUDE
Leitura bíblica . ........................................................................................................................ 4
Tema da EBD .......................................................................................................................... 5

//AINDA EM ATITUDE
Se você somar... .....................................................................................................................77
Para interpretar a Bíblia.........................................................................................................79
A riqueza que eu quero.........................................................................................................89
Coragem do casamento............................................................................................................... 90
As dificuldades da oração............................................................................................................ 91

//ALUNO .3
»LEITURA
BÍBLICA

Semana 1 Semana 2 Semana 3


SEG Gênesis 25.24-34 SEG 1Samuel 1.1-8 SEG Jó 1.1-22
TER Gênesis 26.1-35 TER 1Samuel 1.9-19 TER Jó 6.1-7.21
QUA Gênesis 27.1-46 QUA 1Samuel 1.20-28 QUA Jó 9.1-10.22
QUI Gênesis 28.1-22 QUI 1Samuel 2.1-11 QUI Jó 13.1-14.22
SEX Gênesis 29.1-31 SEX Êxodo 15.1-22 SEX Jó 30.1-31
SÁB Gênesis 32.1-32 SÁB Juízes 5.1-32 SÁB Jó 38-41.34
DOM Gênesis 49.1-33 DOM Lucas 1.46-56 DOM Jó 42.1-17

Semana 4 Semana 5 Semana 6 Semana 7


SEG Salmo 5 SEG Salmo 42 SEG Jeremias 1.1-19 SEG Jeremias 11.18-12.6
TER Salmo 6 TER Salmo 63 TER Jeremias 2.1-3.5 TER Jeremias 14.1-15.21
QUA Salmo 8 QUA Salmo 88 QUA Jeremias 3.6-4.4 QUA Jeremias 16.1-17.18
QUI Salmo 18 QUI Salmo 130 QUI Jeremias 4.5-6.30 QUI Jeremias 18.1-23
SEX Salmo 19 SEX Salmo 139 SEX Jeremias 7.1-8.3 SEX Jeremias 32.144
SÁB Salmo 23 SÁB Salmo 140 SÁB Jeremias 8.4-9.26 SÁB Jeremias 33.1-26
DOM Salmo 25 DOM Salmo 144 DOM Jeremias 10.1-25 DOM Jeremias 52.1-34

Semana 8 Semana 9 Semana 10


SEG Daniel 1.1-21 SEG Habacuque 1.1-11 SEG Mateus 3.1-17
TER Daniel 2.1-49 TER Habacuque 1.12-17 TER Mateus 4.1-25
QUA Daniel 3.1-30 QUA Habacuque 2.1-14 QUA Mateus 5.1-48
QUI Daniel 4.1-37 QUI Habacuque 2.15-20 QUI Mateus 6.1-34
SEX Daniel 5.1-31 SEX Habacuque 3.1-7 SEX Mateus 7.1-29
SÁB Daniel 6.1-28 SÁB Habacuque 3.8-16 SÁB Mateus 11.20-30
DOM Daniel 9.1-27 DOM Habacuque 3.17-19 DOM Mateus 26.36-46

Semana 11 Semana 12 Semana 13


SEG Lucas 4.14-44 SEG João 1.1-51 SEG Apocalipse 4.1-11
TER Lucas 7.1-50 TER João 2.1-25 TER Apocalipse 5.1-14
QUA Lucas 8.1-56 QUA João 10.1-21 QUA Apocalipse 6.1-17
QUI Lucas 9.1-62 QUI João 11.1-45 QUI Apocalipse 11.15-19
SEX Lucas 10.1-37 SEX João 12.20-50 SEX Apocalipse 15.1-8
SÁB Lucas 11.1-36 SÁB João 17.1-12 SÁB Apocalipse 16.4-7
DOM Lucas 23.33-48 DOM João 17.13-26 DOM Apocalipse 22.6-21

4. //ALUNO
TEMA DA EBD

O DEUS A QUEM
ORAMOS E NÓS
Pr. Israel Belo de Azevedo
Rio de Janeiro, RJ

Há dois grandes ensinos acerca da Senhor, absolutamente perfeito, so-


oração na Bíblia, um no Antigo Tes- berano e radicalmente diferente de
tamento, outro no Novo Testamento. nós.
Eles guardam uma íntima relação no
O texto de Crônicas é contempo-
seu conteúdo. No Antigo Testamento
râneo de boa parte das tragédias
(2Cr 7.14,15), encontramos um con- gregas. Nelas, os deuses são muito
vite, feito por Deus a Salomão, a uma semelhantes aos seres humanos,
vida de oração. O outro (Mt 6.9-13) tendo vontades próprias dos huma-
traz o modelo para uma vida de ora- nos; são até arbitrários, mas não são
ção, como ensinado por Jesus Cristo perfeitos. A literatura grega traduz o
a seus discípulos e a nós. desejo humano de ter Deus se por-
O DEUS A QUEM ORAMOS tando à nossa imagem e semelhan-
ça. A um deus assim não cabe orar.
Se tomamos a oração como um pro- Esse é um deus servo, não um Deus
jeto para a nossa vida, precisamos Senhor, como o da Bíblia.
primeiramente afirmar quem é o
Deus a quem oramos. Dizer que ele é Senhor significa afir-
mar que toda a história lhe está sub-
metida. O versículo 13 é bem claro
Um Deus Senhor
a este respeito, quando ele mostra
Aprendemos na passagem de 2Crô- do que é capaz: de cerrar o céu de
nicas que o Deus da Bíblia é um Deus modo que não haja chuva, de orde-

//ALUNO .5
nar aos gafanhotos que consumam a lançará todos os nossos pecados nas
terra e de enviar a peste entre o meu profundezas do mar (Mq 7.19).
povo (7.13). Quem controla a instân- Quem de nós consegue voltar a ter
cia mais incontrolável, a instância da compaixão de alguém que, por
natureza, controla todas as outras. exemplo, nos virou o rosto, quando
Dizer que Deus é Senhor significa a­ apenas lhe queríamos fazer o bem?
firmar também que ele é incontro- Quem de nós fará pouco caso das
lável, imanipulável. Os filhos tentam maldades humanas, jogando-­as no
(geralmente conseguindo) manipular chão, como quem amassa o lixo na
cesta? Quem de nós envia os pe-
os pais com uma lisonja (um elogio
cados para contêineres ancorados
ou um carinho inesperado ou atípi-
definitivamente no fundo do mar?
co); como filhos de Deus, tendemos
Deus, somente Deus. É a este Deus,
a fazer o mesmo, mas é completa-
radicalmente diferente de nós, que
mente inútil. nós oramos.
Há muitos que pensam que as ex- Por isso, quando orar, não ore ao
pressões de louvor de nossas ora- deus que está dentro de você, como
ções têm a finalidade de lhe conquis- ensinam infantilmente os esotéricos
tar a simpatia, quando, na verdade, em geral, porque Deus é o soberano
o louvor visa mostrar as diferenças que nos criou; não somos nós que
entre ele e nós, o perfeito ouvindo o criamos.
os imperfeitos, os imperfeitos bus-
Quando orar, não ore temeroso de
cando o perfeito. Na verdade, se a
que o seu problema seja difícil de-
nossa vida estiver realmente com-
mais para ele. Quando Sara já esta-
promissada com o louvor da glória va conformada com sua esterilidade
de Deus, seremos para os outros a permanente, em função da sua ida-
manifestação visível da graça de Deus de avançada, Deus lhe fez a seguin-
operando através de nós e em nós.1 te pergunta-­promessa: Acaso, para
Dizer que Deus é Senhor significa o Senhor há coisa demasiadamente
afirmar ainda que ele é radicalmente difícil? Daqui a um ano, neste mesmo
diferente de nós. Esta marca do ca- tempo, voltarei a ti, e Sara terá um fi-
lho (Gn 18.14).
ráter de Deus não é para nos tornar
pequenos, mas para lembrar que ele Quando orar, não ore achando que
é grande demais. pode convencer Deus a ser compas-
sivo com você. Ele, por sua nature-
O profeta Miqueias traça um perfil
za, já o é. Ao longo da Bíblia, Deus é
de Deus que nos deve servir de con-
chamado de compassivo 11 vezes e
solo: tornará a ter compaixão de nós; de misericordioso outras 17.
pisará aos pés as nossas iniquidades e
Toda vez que começar a pensar em
1
PETERSON, Eugene, DAWN, Marva. O pastor
desnecessário. Tradução de Cláudia Ziller Faria.
Deus diferentemente disso, pesquise
Rio de Janeiro: Textus, 2001, p. 45. na Bíblia os atributos de Deus. É um

6. //ALUNO
bom exercício para a memória e para Nós sabemos que não há alegria
a fé. Eis um deles: Porque, se vós vos maior que ter uma oração respon-
converterdes ao Senhor, vossos irmãos dida, mesmo quando não pedimos
e vossos filhos acharão misericórdia nada para nós, como nesse caso,
perante os que os levaram cativos e em que Salomão intercedeu pelo
tornarão a esta terra; porque o Senhor, seu povo.
vosso Deus, é misericordioso e com-
Se nós buscarmos os verbos ouvir,
passivo e não desviará de vós o rosto, escutar e responder na Bíblia, fica-
se vos converterdes a ele (2Cr 30.9). remos surpresos, porque eles são
Confira na sua Bíblia, também, as contados aos milhares.
seguintes passagens da Escritura: Depois de uma experiência de res-
Êxodo 34.6; 2Crônicas 30.9; Salmo posta, o poeta exclamou prazerosa-
37.26; Salmo 69.16; Salmo 86.5; Sal- mente: Agora sei que o Senhor salva
mo 86.15; Salmo 103.8; Salmo 116.5; o seu ungido; ele lhe responderá lá do
Jeremias 3.12; Joel 2.13; Tiago 5.11; seu santo céu, com a força salvadora
Gênesis 19.16; Êxodo 22.27; Deute- da sua mão (Sl 20.6).
ronômio 4.31; Neemias 9.17; Salmo
78.38; Salmo 111.4; Salmo 112.4; Sal- O profeta Isaías tinha pleno conhe-
mo 145.8; Jonas 2.8; Jonas 4.2; Lucas cimento do modo como Deus agia e
6.36; Hebreus 2.17. age: Acontecerá que, antes de clama-
rem eles, eu responderei; e estando eles
Não sabemos quase nada a respei- ainda falando, eu os ouvirei (Is 65.24).
to de Deus, mas sabemos que ele é
misericordioso e compassivo. Isso Por isso, o profeta Jeremias registrou
já é suficiente. esta pérola adornada com ouro acer-
ca do amor de Deus por nós: Clama
a mim e responder-­te-­ei e anunciar-­
Um Deus respondedor
te-­ei coisas grandes e ocultas, que não
Quando apareceu a Salomão à noi- sabes (Jr 33.3).
te, depois de um longo período de
louvor e intercessão, Deus tomou a Um Deus a quem podemos
palavra nos seguintes termos: “ou- buscar
vi a tua oração” (v. 12). Esta oração,
Se eu fosse Deus, teria um critério
uma das mais longas da Bíblia, es-
para responder às orações. Se eu
tá registrada em 2Crônicas 6.14-42.
fosse Deus, quando uma pessoa te-
Antes de falar, Salomão, com todos mente a mim, com uma vida hones-
que estavam naquele lugar, experi- ta, que sempre me buscasse e sem-
mentou a presença de Deus. Aliás, pre me louvasse, orasse a mim, eu
Deus não precisaria falar mais nada. atenderia. Se eu fosse Deus, quando
Sua presença bastava, mas ele falou, uma pessoa semelhante a Jonas, que
para que não houvesse nenhuma dú- só me busca quando está no ventre
vida de que é um Deus respondedor. do abismo, orasse, ele poderia se ar-

//ALUNO .7
rebentar de clamar, mas não atende- cemos de estar bem na presença
ria. Se eu fosse Deus e agisse assim, do nosso Senhor. Nem por isso, no
eu continuaria sendo justo. Só que entanto, ele nos deixa de atender,
se Deus fosse assim, quem de nós mesmo que estejamos no vale mais
seria atendido por ele? profundo da morte que nós mesmos
cavamos (com o pecado, que nos
Nós temos uma imensa dificuldade
leva para baixo) ou que a condição
de buscar Deus nas horas em que não
humana cavou para nós (por meio
precisamos dele, ou melhor, na hora
da doença, do desemprego, do de-
em que achamos que não precisamos
samparo).
dele, porque a hora em que mais pre-
cisamos dele é a hora em que acha- A passagem bíblica em questão (v.
mos que não precisamos dele. É nesta 13) fala de três situações que nos afli-
hora que o pecado nos alcança e nos gem: a falta de chuva, os gafanhotos
derruba. consumidores e a peste.
Quando estamos na dificuldade, nós A falta de chuva representa todo
pecamos menos, porque estamos tipo de escassez material. Numa
com os olhos fixados nele, buscando sociedade agropastoril, como a de Is-
as suas bênçãos. Quando estamos rael, sem chuva não havia mantimen-
na facilidade, nós pecamos mais, to, porque a lavoura não florescia.
porque olhamos para nós mesmos, Não havia também leite, pela falta
para os objetos que nos trazem bem-­ de pasto para o gado. A falta de hoje
estar à nossa presença, e nos esque- é a falta de condições para o autos-

8. //ALUNO
sustento, por meio de um emprego estamos sozinhos, tanto por Deus
ou trabalho. O desemprego é uma ser o que é, quanto por sermos parte
realidade assombrosa para grande do seu povo.
parte dos brasileiros.
A promessa de Deus não quer dizer
Os gafanhotos consumidores são que somos invencíveis. Certa vez, ou-
as dificuldades diversas que nos vi um pastor num programa de tele-
assolam, de surpresa e fora do visão pedir a todos que se dessem
nosso controle. São aquelas coisas as mãos e gritassem: “Nós somos
pequenas (não as gigantescas, facil- invencíveis, pelo poder de Deus!” O
mente perceptíveis, como os guerrei- que a Bíblia diz é que, embora tenha-
ros inimigos da experiência dos es- mos aflições (e como as temos), nada
piões de Números 13) que nos acos- nos pode separar do amor de Deus.
sam. São aquelas dificuldades que
O apóstolo Paulo em Romanos 8.35-
nos advêm em grande volume, como
39 alista as coisas terríveis que nos
gafanhotos incontáveis (Sl 105.24) e,
atingem, inclusive a morte, uma der-
por vezes, todas ao mesmo tempo.
rota real aos olhos humanos. Ele diz
São aquelas provações que parecem
que somos mais que vencedores,
voar sobre nós, sem que lhes saiba-
isto é, não vencedores sob a ótica
mos as origens (Na 3.17).
humana, mas vencedores sob a óti-
A peste representa claramente a ca de Deus.
enfermidade. Embora as ciências
médicas avancem na cura, elas avan- Sob a ótica humana, a morte é me-
çam também na descoberta de no- nos um querido conosco. Sob a ótica
vas doenças. Sejam elas de ordem divina, a morte de um santo é mais
física ou psíquica, não há uma família um na sua presença. A morte de um
que não as tenha experimentado. A cristão não é separação, mas encon-
doença é pior que a falta de recursos tro. Não podemos confundir ilusão
materiais, porque contra esta pode- com esperança. Ser invencível é ilu-
mos lutar ou podemos ser ajuda- são de super-­herói. Ser mais que
dos pela generosidade dos irmãos; vencedor é estar escondido sob a
a doença, às vezes, chega a um pon- cruz de Cristo. Esta é a esperança
to que pouco podem fazer por nós, cristã. Não estamos sozinhos, não
além das indispensáveis orações. pelo que nós somos, mas por aquilo
que Deus é.
Seja qual for a escassez, no entanto,
Deus garante que devemos e pode-
QUEM SOMOS NÓS
mos buscá-­lo em oração. Mesmo que
tudo isto nos aconteça, talvez em Também não estamos sozinhos por
conjunto, ele nos ouvirá se o buscar- sermos povo de Deus, de um Deus
mos em oração. Esta é a promessa absoluto e compassivo que se rela-
do Pai ao qual chamamos “meu” e ciona conosco. Deus nos considera
“nosso”. Seja como estivermos, não seu povo.

//ALUNO .9
Precisamos entender que somos po- final da tarde. Oração não é precisa-
vo de Deus, o que quer dizer que mente conversa com Deus?
integramos uma comunidade. Ape-
Precisamos de Deus, a quem pode-
sar disto, temos dificuldade de nos
mos chamar “nosso” Deus. Ele nos
relacionar uns com os outros. Ten-
considera como indivíduos e, ao
demos a ver o nosso próximo (cole-
mesmo tempo, seu povo. Deus nos
ga, amigo, parente, irmão em Cristo)
trata individual e coletivamente. É
como um nome, um número, um assim que devemos nos ver, como
título, uma coisa ou mesmo um es- “eu” e como “nós”.
torvo. Não há encontro verdadeiro
assim. Só há relacionamento autên- Ele não nos trata como coisas, no-
tico quando as almas se encontram, mes, números, títulos ou estorvos.
quando aquele que eu sou se encon- Ele também não quer que tratemos
tra com aquele que o outro é. os outros como nomes, mas como
pessoas. É por isso que não sabemos
No fundo, nossa dificuldade é que o seu nome, já que ele se apresen-
não queremos nos relacionar com ta como aquele que é. Ele não cabe
o eu do outro, porque também não num nome.
queremos que ele se relacione com
o meu eu. Achamos que assim é me- Ele não nos trata por nossos títulos
lhor. É muito mais tranquilo, embora ou rótulos, que são formas de escon-
superficial, vazio e sem valor. der e não de apresentar. As imagens
que projetamos sobre nós mesmos
É lamentável que as pessoas se re- são um refúgio seguro para a nossa
lacionem não com uma pessoa mas hipocrisia, como mostra bem o filme
com o cargo que ocupa ou com o tí- “Um sonho de liberdade”, com Tim
tulo que porta. Uma das coisas que Robins e Morgan Freeman. Nele, o di-
gosto numa igreja é quando nela retor Frank Darabont apresenta um
ninguém é professor ou doutor, mas diretor de penitenciária imoral (Bob
apenas irmão. O tratamento “irmão” Gunton), violento e corrupto escon-
indica um desejo, desejo de relacio- dido atrás da Bíblia e dos atributos
namento, e só há relacionamento de Deus. Ele ensinava princípios di-
entre iguais. vinos aos presidiários, enquanto os
Nisso temos que aprender com De­ espancava e roubava.
us. Ele é absolutamente diferente O personagem faz lembrar outro, re­
de nós, por sua perfeição, mas tam- al, trazida a lume no livro Maravilho-
bém porque, perfeito sendo, permite sa Graça, de Philip Yancey (Edito-
que nós o chamemos de “meu” ou ra Mundo Cristão). Trata-­se de um
“nosso” Pai, Senhor, Deus. Ele não se personagem real, moralista, preo-
conserva escondido na distância. O cupado com a imoralidade no mun-
Senhor quer restabelecer conosco a do, racista, que usava a Bíblia para
dinâmica perdida no Éden, quando justificar seu ódio, mas que acabou
vinha conversar com Adão e Eva ao preso por assédio sexual. Deus odeia

10 . //ALUNO
os moralistas. É raro um moralista na fé, porque Deus nos chama, livra,
honesto. ilumina, liberta e agracia”.2
É também por isso que Deus detesta Ser povo de Deus significa que so-
ser tratado como ídolo (um deus com mos parte de uma comunidade, nu-
nome, um deus em forma de coisa). trida pela graça de Deus. Como es-
A um ídolo não se adora, um ídolo se creveu alguém, a fé é uma língua,
usa. A um ídolo se engana. Um ídolo uma cultura, um estilo de vida.3 A
nada faz, porque é feito, cabendo em igreja-­comunidade é o lugar-­espaço-­
nossas mãos ou mentes. momento em que aprendemos a
A Bíblia, portanto, nos ajuda a enten- falar essa língua, a mergulhar nessa
der o que significa ser parte do povo cultura, a cultivar esse estilo de vida.
de Deus. A expressão bíblica é que Só conseguimos aprender a cantar
somos ovelhas do seu pasto: Ele é o a música da fé se a praticarmos.
nosso Deus, e nós [somos] povo do seu Precisamos de toda a comunidade
pasto e ovelhas de sua mão (Sl 95.7). cristã para aprendermos a ser cris-
Daí poder chamá-­lo de nosso Deus,
tãos. É necessário falar a língua dos
nosso Pai e nosso Senhor.
santos, cantar a língua da fidelida-
Eu faço parte do seu povo porque de como nossos melhores hinos o
ele me formou. Eu faço parte do seu fazem, conversar com a igreja de
povo porque ele me redimiu. Muitos todos os tempos à medida que ela
redimidos ainda não entenderam exprime o que significa seguir Je-
que é a redenção que nos torna seu sus. É necessária uma vida inteira
povo. de imersão nos textos das Escritu-
Os judeus foram o primeiro povo de ras, encharcando-­nos dessa língua
Deus, porque o Senhor o formou, a tal ponto que, ao deixar a Bíblia
conduziu-­o até uma terra específica de lado, possamos improvisar a lín-
e providenciou um sistema religioso gua em todas as situações com que
para orientar este povo na ação e na deparamos.4
adoração. Em outras palavras, nós precisamos
Em, com e por Jesus Cristo, Deus am- dos nossos irmãos. Por isso, somos
pliou o tamanho desse povo, forma- parte de uma igreja e devemos nos
do agora não mais por herança, mas envolver nela, buscar a sua edifica-
por escolha; não mais por descen- ção como corpo vivo de Cristo. A ora-
dência, mas por dependência. Faz ção é o motor da vida deste corpo.
parte do povo de Deus todo aquele É isso que Deus quer dizer quando
que depende dele como Senhor, to- nos constitui como seu povo e nos
do aquele que decide aceitar a sua chama de seu povo.
obra redentiva, por meio de Jesus 2
PETERSON, Eugene, DAWN, Marva, op. cit., p. 49.
Cristo. Na redenção, em que somos 3
LINDBECK, George. Citado por PETERSON, Eu-
admitidos aos segredos do seu reino, gene, DAWN, Marva, op. cit., p. 28.
“ficamos livres para crer e mergulhar 4
PETERSON, Eugene, DAWN, Marva, op. cit., p. 28.

//ALUNO .11
1
//EBD

L I Ç Ã O

TEXTO BÍBLICO
GÊNESIS 28.10-22;
JACÓ, UM
32.9-12
TEXTO ÁUREO
HOMEM DE
GÊNESIS 49.18
ORAÇÃO
»PRA COMEÇAR

Pensamos em Jacó como um homem de ação e mesmo de ma-


nipulação, mas ele era também um homem de oração. Suas vi-
tórias vinham da oração.
O livro de Gênesis registra três orações proferidas pelo neto de
Abraão em diferentes momentos de sua vida.

12 . //ALUNO
»COMENTANDO
O TEXTO BÍBLICO

Gênesis 28.10-22: “Então o Senhor E o que fez ele com seu voto, quando
será o meu Deus” – Depois de uma retornou àquele numinoso lugar, 20
desavença familiar, Jacó saiu de ca- anos depois?
sa, em Berseba. Seu irmão, a quem
Ao passar por Betel, são e salvo e ago-
enganara, estava disposto a matá-­lo.
ra com uma família, Jacó construiu
Só lhe restou o caminho para a casa
ali um altar. Era sua maneira de di-
de um parente, a 800 quilômetros de zer que cria no Deus que o livrara de
distância. Sozinho, de noite improvi- tantas dificuldades. Era sua forma de
sava leitos e usava pedras como tra- cumprir a promessa feita na hora da
vesseiro, na viagem a pé de um mês. escassez plena.
Numa dessas noites, ainda no início Podemos orar ao Deus de Betel (Gn
da jornada, em Luz, que ele mudaria 35.10) como fez o filho de Rebeca?
para Casa de Deus (Betel), Jacó teve Podemos fazer votos a Deus que fa-
uma experiência espiritual que co- remos isto ou aquilo se ele nos aben-
meçaria a transformar radicalmente çoar, como fez Afonso?
sua vida.
Afonso (achava que) estava nas úl-
Diante dele estava uma escada que timas num quarto do Hospital da
ligava a terra ao céu. Ao seu lado, Ordem Terceira, na Usina, um dos
Deus lhe prometeu o que garantira bairros altos da Tijuca, no Rio de
ao avô e ao pai, assegurando que Janeiro. Por isso, quando o pastor
estaria com ele todos os dias e faria da sua igreja, onde não ia há alguns
com que voltasse em segurança para anos, foi visitá-­lo, recebeu-­o com um
a casa dos seus pais. sorriso, embora triste. No meio da
Era um sonho. Quando acordou, ain- conversa, fez então uma promessa
da assustado, tomou a pedra que lhe que não lhe fora cobrada.
servira como travesseiro e a fincou – Se eu ficar bom, pode mandar pre-
no chão, como se fosse uma coluna, parar uma sala para mim. Não vou
pegou um pouco de azeite de oliva sair de lá. Vou trabalhar como volun-
que trazia na sua bagagem, derra- tário pelo resto da minha vida. Pode
mou-­o sobre a rocha como um ato contar comigo no que for necessário,
de dedicação daquele lugar e fez dentro ou fora da minha área.
uma promessa.
Afonso, que sofria de graves pro-
Depois, deixou a cidade, rumo ao blemas cardíacos, ficou bom e teve
seu destino. alta, mas nunca apareceu na igreja,

//ALUNO .13
nem mesmo num culto de domingo O que ele pediu foi o básico (alimen-
para agradecer. Ele sequer deixou to e segurança) para cada dia, que é
um ex-­voto, este gesto materiali- o que devemos esperar (Mt 6.25-34).
zado de gratidão muito comum na
cultura brasileira. Por meio de uma Gênesis 32.9-12: “Deus de meu pai
placa, de uma estatueta, de uma Abraão e Deus de meu pai Isaque,
pintura ou de algum outro objeto, sou indigno” – Desde aquela pri-
o ex-­voto é uma manifestação, dei- meira oração (Gn 28.10-22), a vida
xada por alguém que fez um voto de Jacó mudou radicalmente, me-
(promessa) a Deus e foi atendido nos o desejo de voltar para a sua
em seu desejo. Museus e igrejas terra natal.
antigas no Brasil estão cheios des-
tes objetos. Ele chegou a Harã sozinho e agora
sai com uma família. Chegou com
Evidentemente, o número de votos um cajado (com “a roupa do cor-
(promessas) é maior que o de ex-­ po”, diríamos) e agora volta com
votos (milagres feitos). Entre os fal- um guarda-­roupa completo. Che-
tantes está Afonso, mas não está gou com uma mão na frente e outra
Jacó, o filho de Isaque e Rebeca e
atrás e agora retorna cheio de bens,
neto de Abraão e Sara.
por causa da bondade de Deus, da
A oração de Jacó é fruto de uma fé qual não se achava digno.
iniciante, que só vê Deus em ação
Agora, era tempo de partir, decorri-
quando ele se manifesta de modo
dos 20 anos. Seria difícil levar tanta
concreto.
gente, tantos rebanhos, tantas car-
Na hora do desespero, podemos gas, mas não era essa a maior difi-
orar assim. No entanto, devemos, culdade. Havia também um rio (o
em nosso relacionamento com Deus, Jaboque) a atravessar, mas não era
pedir-­lhe que nos ajude em nossa essa a maior dificuldade. O grande
fraqueza, esta de nos encantarmos problema era Esaú, que prometera
com bênçãos visíveis. vingança e agora estava perto para
Nesse tempo, podemos fazer pro- cumpri-­la.
messas. Jacó estava no início de sua Jacó estava com medo, com muito me­
jornada de fé. Deus ainda era o Deus do. Que poderia ele, com sua famí-
dos seus pais, mas estava se tornan- lia, contra seu furioso irmão Esaú e
do o seu Deus agora. seus 400 guerreiros armados? Ele e
Só devemos fazer promessas que os seus seriam massacrados, a me-
pretendemos cumprir. Todas, con- nos que Deus mais uma vez entrasse
tudo, devem ser feitas como uma em ação. Foi o que aconteceu. De-
afirmação da nossa dependência de pois que os dois fazem as pazes, Jacó
Deus. É como se Jacó dissesse: “eu só declara que viu no rosto do irmão a
terei roupa e comida e só voltarei em face de Deus (Gn 33.10) e segue sua
segurança, se Deus estiver comigo”. viagem, em segurança.

14 . //ALUNO
Quando se dirige ao Deus de Abraão um pedido dirigido a Deus, com ape-
e de Isaque, Jacó mostra que conhe- nas sete palavras.
ce o Senhor que age na história. Ele
Esta oração é um ponto de excla-
não ora a um deus novo, que des-
ponta ora aqui, ora ali, prometendo mação, como um grito da alma, co-
mundos e fundos que vão para os mo a oração do Vivaldo, no antigo e
seus autopropalados sacerdotes. Ele pequeno templo da Primeira Igreja
ora ao Deus que tem história, que Batista de Piracicaba, SP, no centro
age há muito tempo e que se ma- da cidade. O pastor lhe convida pa-
nifestou em Betel, e ele viu, e tam- ra orar. Ele se levanta, o saxofone
bém em Berseba, como seus pais lhe pendurado ao pescoço, e abre o
contaram, desde os tempos do seu seu coração diante de Deus. Atur-
avô. Jacó estava feliz porque nascera dido por problemas familiares, ele
num berço de homens e mulheres não faz uma oração didática, em
que tinham Deus como Senhor. Jacó nome do público ali presente. Sua
estava radiante porque conhecia as
oração foi uma coletânea de inter-
promessas de Deus, a ele renovadas,
jeições de angústia. Cada frase era
e confiava que ele as cumpriria. Por
entrecortada por um suspiro de
isso, podia orar. E orava.
dor. Cada frase era uma variação
Gênesis 49.18: “A tua salvação es- daquela prece da parábola em que
pero, ó Senhor” – No Egito, levado o publicano exclamava: “Deus, tem
pelo filho José, por causa da seca em misericórdia! Perdoa este pecador”
Canaã, Jacó sente que sua vida es- (Lc 18.13).
tá próxima do silêncio. E ainda não
Vivaldo fez como Jacó. O publicano
abençoara seus filhos, como seu pai
orou como Jacó. O cego de Jericó cla-
Isaque fizera com ele tantas décadas
mou como Jacó (Mc 10.48). Todos os
atrás em Berseba.
necessitados devem orar como Jacó
No mundo antigo uma bênção era nesta sua conversa da alma, em que
como uma profecia a ser cumprida. se pode ver o coração de Jacó.
Por isso, o próprio Jacó, quando era
jovem, fraudou para ser abençoado Em 32 versículos Jacó abençoa seus
pelo pai que, tendo descoberto o en- filhos. Em apenas um versículo ele
gano, não pôde retirá-­la e repassá-­ pede por si mesmo. Ele tem compai-
la a Esaú. xão dos outros, mas tem compaixão
Agora, chama os 12 e os abençoa por si mesmo. Ele ama seus filhos,
um a um (Gn 49), depois de ter feito mas ama também a si mesmo. Ele
o mesmo com os dois netos, filhos reservou um tempo para orar por
de José (Gn 48.8-22). De repente, no si mesmo. Nós precisamos reservar
meio da grande bênção, de 33 ver- um tempo para orar por nós tam-
sículos e 500 palavras, uma oração, bém.

//ALUNO .15
{} »A LIÇÃO
EM FOCO

1. Como Jacó, devemos ser prontos para agradecer, jamais nos portando
como aqueles nove leprosos curados por Jesus que não voltaram para
agradecer (Lc 17.11-19). Nossa meta deve ser: recebemos? Agradeçamos.
Jacó fez isto no momento em que recebeu e, décadas depois, seu coração
ainda era agradecido.
2. Em sua oração, poderia lembrar que trabalhou muito, dia e noite; poderia
lamentar que foi enganado por seu sogro; poderia concluir que fora sábio e
por isso, conquistou o que conquistou. No entanto, ele prefere reconhecer
que foi tudo bondade de Deus. Como escreveu o rabino Abraham Joshua
Heschel, “a oração começa onde nosso poder termina”.
3. Se ainda não experimentamos a salvação oferecida por Jesus, devemos
desejá-­la. Na verdade, neste processo só entramos com o desejo, porque
a salvação é uma ação de Jesus por nós, livrando-­nos do poder do peca-
do e dando-nos acesso direto ao Pai por meio do perdão lançado da cruz.

»PRA TOMAR
UMA ATITUDE

Se Jacó, tendo os defeitos que teve, orou e


foi atendido, nós também podemos orar. A
oração não é para homens e mulheres per-
feitos, mas para mulheres e homem que
dependem de Deus.
Quando nos pomos em oração diante de
Deus, ele vai moldando o nosso caráter pa-
ra sermos as pessoas que ele espera que
sejamos.

16 . //ALUNO
2
//EBD

L I Ç Ã O

A MULHER
QUE ORA COM TEXTO BÍBLICO
1SAMUEL 1; 2

LÁGRIMAS TEXTO ÁUREO


1SAMUEL 1.11
»PRA COMEÇAR

A Bíblia nos fala de mulheres de oração. Uma delas foi Ana, de


quem conhecemos duas intensas preces.
Aprendemos com ela o que deve fa­zer uma mulher que não po-
de en­gravidar, sonho da maioria das mulheres (Jz 11.37).
É muito comum não consultar a Deus sobre assuntos desta na-
tureza. Buscamos a medicina. Num tempo em que não havia
tecnologia médi­ca para a infertilidade, Ana buscou o Senhor
Deus. Hoje, pais e mães em dificulda­de para conceber, devem
orar; além de orar, devem buscar o recurso médico ou a habili-
tação para adotar.

//ALUNO .17
»COMENTANDO
O TEXTO BÍBLICO

Devolvendo a bênção – primeira O pastor do templo, Eli, achou que


oração de Ana: 1Samuel 1 – Em estava embriagada, porque ela orava
meio a uma decadência moral e es- com intensidade, mas em silêncio, en-
piritual grave, uma família buscava trecortado apenas por seus soluços.
viver de modo íntegro: a família de
Eli se mostrou insensível diante de
Elcana, formada por ele, suas duas
uma oração intensa e fora dos pa-
esposas, Ana, sem filhos, e Penina,
drões, quando devemos aprender
com vários filhos. Naquela época,
a respeitar as diferenças no ato de
recordemos, um homem ainda po-
orar e adorar.
dia ter várias mulheres, sem que is-
to fosse visto como algo errado. No Precisamos cuidar para que, em nos-
Novo Testamento, a monogamia é sa casa, em nossa igreja, em nosso
afirmada como um ideal claro (Mt trabalho não sejamos como Eli, insen-
19.4; 1Co 7.2; 1Tm 3.2,12). síveis e indiferentes às dores dos ou-
Como parte de sua vida de fidelidade tros. Se somos testemunhos de ora-
a Deus, todo ano saíam de Ramá, on- ções cheias de lágrimas, devemos ser
de moravam, e faziam uma romaria, consoladores. Se ouvimos apelos por
por 24 km até Siló. No santuário des- ajuda, devemos ajudar, e não julgar
sa cidade, eles prestavam seu culto como Eli fez. Se as orações são boni-
anual a Deus. O culto era um misto tas ou feias, este nosso julgamento
de alegria e tristeza. Todos espera- não tem nenhuma importância. O
vam aquele tempo de peregrinação, publicano não orava bonito, mas foi
para a qual se preparavam o ano to- atendido. O fariseu, que era mestre
do. Penina e seus filhos se divertiam na arte de orar, não foi abençoado.
muito. Ana chorava o tempo todo. Quanto à Ana, ela orava de modo
Elcana tentava consolá-­la, Elcana a diferente dos outros. Era como se
agradava, Elcana a acariciava, mas orasse “com gemidos inexprimíveis”
não adiantava. Ela queria ser mãe. (Rm 8.26). Ela queria um filho, mas
Numa destas romarias, Ana resolveu não se achava digna de orar em voz
ser clara no seu desejo diante de Deus. alta. Ela sofria em sua infelicidade,
Ela estava ainda amargurada, mas de- mas sofria calada, para não inco-
cidiu apresentar seu pedido a Deus. modar seu marido e para não ser
Foi uma tarde inesquecível aquela, em ainda mais desprezada por Penina.
que não almoçou, tanta a tristeza. Foi Ana pediu emocionada um filho, re-
uma tarde de oração, de oração silen- petindo a promessa que, se fosse
ciosa, regada a lamentos e lágrimas. atendida, entregaria seu filho para

18 . //ALUNO
ser um sacerdote tão dedicado que Lemos que, no século 15 a.C., “Mi-
jamais (e não apenas por um tempo, riã, a profetisa, irmã de Arão, pegou
como previa a lei em Números 6.1- um tamborim e todas as mulheres a
21) cortaria sua barba e seu cabelo. seguiram, tocando tamborins e dan-
çando. E Miriã lhes respondia, can-
Eli a via e, no finalzinho da tarde, su-
tando: Cantem ao Senhor, porque
geriu que fosse embora. Sentindo-­se
triunfou gloriosamente e lançou ao
aliviada, ela comeu um pouco e se
mar o cavalo e o seu cavaleiro” (Ex
juntou aos seus familiares,
15.20,21).
No dia seguinte, voltaram para Ramá
Débora também cantou, no século
e ela logo ficou grávida. Deus tinha 12 a.C., para celebrar uma vitória
respondido à sua oração. militar sob sua liderança (Jz 5).
Ana não se esqueceu da sua promes­ Para elogiar o (futuro) rei Davi, quase
sa. Enquanto o resto de sua família três séculos depois, mulheres anô-
voltava a Siló para cultuar a Deus, ela nimas cantaram em público (1Sm
amamentava o menino. Quando o 18.7).
desmamou, possivelmente aos três
anos de idade, ela o levou ao santuá- No início da era cristã, Maria de Na-
rio e o dedicou ao serviço religioso. zaré cantou para agradecer a Deus
Ela poderia resgatar seu menino, ofe- por sua gravidez. Pelas semelhanças
recendo um sacrifício substitutivo, com a canção de Ana, Maria a co-
mas sua promessa não comporta- nhecia e tinha a ideia geral do antigo
va atalhos. cântico na memória:

Assim fez Ana, a estéril que Deus “A minha alma engrandece ao Senhor,
tornou mãe. e o meu espírito se alegrou em Deus,
meu Salvador, porque ele atentou
Há várias estéreis na Bíblia: Sara, Re- para a humildade da sua serva. [...]
beca, Raquel, a esposa de Manuá e O Poderoso me fez grandes coisas.
Isabel. No entanto, Ana é o caso mais Santo é o seu nome” (Lc 1.46-49).
dramático.
E todas elas, pela intervenção de O cântico de Ana começa com uma
oração – Primeiramente, ela fala de
Deus, engravidaram. Nem a esterili-
sua alegria por ter Deus respondido
dade, essa humana impossibilidade,
a sua oração e lhe dado um filho. A
entra na lista das coisas impossíveis
infertilidade era um inimigo a ser
para Deus.
vencido e Deus lhe deu vitória com-
A responsabilidade de Ana foi notá- pleta, libertando-­a da humilhação
vel, como admirável foi sua oração. da esterilidade.
Teologia nascida da experiência – Depois, ela exalta a Deus, falando a
segunda oração de Ana: 1samuel 2 ele como o via. Ana não tinha trei-
– Na Bíblia, as mulheres também namento teológico, como seu filho
cantam. teria, mas se referiu a Deus, a partir

//ALUNO .19
de sua experiência, com profundi- O Senhor não retém a sua ira para
dade e clareza. sempre,
porque tem prazer na misericórdia”
Deus liberta. Todo o tema da Bíblia
(Mq 7.18).
se centra em Deus como libertador
(ou salvador); ele liberta os hebreus O profeta Miqueias prenuncia a sin-
da escravidão no Egito, por meio de gularidade de Jesus, o único que po-
atos extraordinários; ele liberta (sal- de perdoar pecados e que é sempre
va) os seres humanos da escravidão graça e amor.
ao pecado, por meio do sangue de Por isso, Ana entendia que estar viva
Jesus Cristo derramado da cruz. na consciência da presença de Deus
é estar na segurança de quem pisa
Deus é santo. A Bíblia é também a
numa rocha (Sl 28.1).
história de Deus, que é santo (dife-
rente, separado) e requer que aque- Assim como a oração-­lamento esta-
les que o amam também sejam san- va cheia de emoção, a oração-­canto
tos (Lv 11.44; 1Pe 1.16). está cheia de convicção.

Deus é incomparável. Ao homem A história de Ana se encontra com


moderno soa estranha a declaração a histórias de muitas mulheres de
de que “não há outro Deus” além de nosso dia, como foi o caso de Mariah,
Deus. Em sua língua (o hebraico), Ana que demorou a fazer essa descober-
emprega duas palavras: Yahweh (ou ta. Ela assistia aos cultos, primeira-
Jeová) e elohim (ou deus). Seu cora- mente por causa dos sobrinhos, que
adotara, e depois por seu próprio in-
ção exulta em Yahweh, que é santo;
teresse, traindo todo o seu passado
ela se alegra que não há nenhum
ideologicamente ateu. Numa noite,
elohim (deus) como Yahweh.
após o culto, ela procurou o pastor
Além disso, mesmo entre os seus con- da igreja e comentou:
temporâneos, aceitava-­se a ideia de – Aprecio tudo o que você diz e es-
que houvesse outros deuses. Os po- tou revisando meus conceitos. Até
vos vizinhos adoravam outros deuses acho que Deus existe, mas não posso
imaginários, como Baal, El e Quemós, aceitar que ele se preocupe com os
entre outros. Depois dessa declara- nossos assuntos. Nossos problemas
ção de fé por parte de Ana, de que nós é que temos que resolver.
não há ninguém semelhante a Deus
(Yahweh), encontramos muitas outras Mariah estava enfrentando muitos
problemas com os sobrinhos que
como 1Crônicas 17.20; Salmo 71.19;
criava como filhos, problemas que
Salmo 86.8; Jeremias 10.6), sendo Mi-
se agravaram por diversas razões. Em
queias 7.18 um ponto elevado:
meio a dificuldades, começou a orar,
“Quem é semelhante a ti, ó Deus, mesmo cheia de dúvidas, que foram
que perdoas a iniquidade desaparecendo com a descoberta que
e esqueces da transgressão Deus se importava com ela. Algum
do remanescente da sua herança? tempo depois creu e foi batizada.

20 . //ALUNO
{} »A LIÇÃO
EM FOCO

1. Uma pergunta pode surgir: é válido um casal dedicar sua criança ao Se-
nhor, para ser um missionário ou pastor? Uma resposta está na própria
experiência do autor destas lições. Seus pais o dedicaram para ser um pas-
tor, mas não lhe contaram, nem quando ele se matriculou no Seminário
Teológico Batista do Sul do Brasil aos 19 anos. Só quando se tornou pastor,
24 anos depois, já aos 47 anos de idade, seu pai lhe contou do voto que
fizera por ocasião da sua enfermidade enquanto menino. Ele o dedicara
para ser pastor, caso sobrevivesse. Eles não escolheram pelo garoto, mas
desejaram. Como não lhe contaram, o voto que não fez não lhe foi um pe-
so, já que não o conhecia. Eles foram sábios e Deus fez a promessa deles
se realizar, sem trazer conflito para o menino.
2. Ana cria num Deus que se ocupa das nossas coisas, das pequenas como
das grandes, como a esterilidade. Um Deus que se importa é a maior des-
coberta que uma pessoa pode fazer.

»PRA TOMAR
UMA ATITUDE

Em nossas próprias orações, devemos nos


matricular na escola de Ana, e orar com in-
tensidade, até com lágrimas se elas traduzem
nossas dores. Devemos orar com persistên-
cia, mesmo que não sejamos compreendidos.
Não oramos para agradar pessoas, mas para
nos apresentar como somos diante de Deus,
que nos ouve, nos vê e sente a nossa angústia.
Ele fez isto com Jesus. Ele faz isto conosco.

//ALUNO .21

Você também pode gostar