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NOVA ERA
Agradecimento
EXISTEM TRÊS MULHERES cujas
cujas contri
contribui
buiçõ
ções
es torna
tornaram
ram
este livro possível — as Três Graças: Jo Anne
Baughan, Gita (Lee) Brady e Parvati (Betty) O'Neill.
Sem a dedicação de cada uma delas, ele talvez
não existisse.
Atualmente em muitos tos grupos existe o que é
cuja tarefa é manter um espaço aberto e
aconchegante independentemente do que
acontece em torno dele. Jo Anne tem sido a
Mantenedora do Coração para este livro. De mil e
uma
uma mane
maneiira
rass não
não re reve
vela
lada
dass, elela
a lite
litera
ralm
lmenente
te
acalentou esta criação.
Gita criou tanto o glossário quanto o guia com as
font
fontees de cocons
nsuulta
ltas, par arti
tind
ndoo de umauma ca caiixa de
sapatos cheia de recortes e rabiscos desor-
denados. Além da sua profunda familiaridade com
a literatura espiritual, ela separou o joio do trigo e
criou uma matriz espiritual de todos os tipos de
fontes ricas e de bom gosto.
Parvati, que foi uma das alunas no workshop de
Naropa, me telefonou para oferecer sua ajuda em
um mome
momentntoo cruc
crucia
ial,
l, quan
quando
do a trantransc
scri
riçã
çãoo das
das
conferências estava desesperadamente
emperrada. Ela não somente transcreveu algumas
fitas como também organizou um tesouro de fatos
impo
importa
rtant
ntes
es de Na Naroropa
pa,, incl
inclui
uind
ndoo al algu
gumamass foto
fotoss
pessoais do evento e uma cópia do roteiro original
que
que já tính
tínham
amos os desi
desiststid
ido
o de enco
encont ntra
rar,
r, Pa
Parvrvat
atii
morreu de câncer em 2001. Sua dedicação está
viva neste livro.
Além
Além de Jo Anne
Anne,, Gita
Gita e Pa Parv
rvat
ati,
i, gost
gostararía
íamo
moss de
estender nossos agradecimentos aos membros da
equipe da Universidade de Naropa pelo seu
encorajamento e cooperação e de enviar um
agradecimento especial a Richard Chamberlain, do
Escritório de Desenvolvimento de Naropa, por ter
conseguido obter uma cópia do programa original
Gol
olds
dsteteiin e a Jacackk Ko
Korn
rnfi
fiel
eld
d por
por gen
gener
ero
osamen
amente te
nos permitirem utilizar as suas meditações sobre
os alimentos neste livro; suas práticas adicionaram
uma nova visão ao workshop e agora também a
este trabalho. E obrigado a Rameshwar Das por ser
os nos osso
soss "olhos
lhos"" no work
worksshophop e por partpartil
ilha
harr
algumas das fotografias tiradas no evento.
Quando, finalmente, descobrimos que
pre
reci
cissávam
ávamos os identi
entifi
fica
carr as fontesntes das
das muit
muita as
cita
citaçõ
çõeses incl
incluí
uída
dass nas
nas co conf
nfer
erên
ênci
cias
as de Na Naro
ropapa,,
vários voluntários se apresentaram para ajudar na
tarefa. Nossos agradecimentos a todos que
participaram desta caça ao tesouro: James Beane,
Carolyn Behnke, Caroline Bloomfield, Denise
Coates, Stefani Cohen, Robin Collins, Aaron
Crawford, Nonda Gaylord, Deborah Hopping, Linda
Kleckner, Dale Martin, Bobbie Mirns, Raif Mrutzek,
Kathkeen Murphy, Linda Nicholas, Sharon e Larry
Roll, George T. Stergiou Jr. e Paul Wilson.
E, natu
natura ralm
lmen
ente
te,, em pri rime
meiriro
o luga
lugar,
r, obri
obriga
gado
do a
Neem Karoli Baba, por propiciar a todos nós
participações nesta dança. Ki jay!
Sumário
.............................................................................................1
Ram Dass.............................................................................2
Caminhos Para Deus............................................................2
Ensinamentos do Bhagavad Gita.........................................2
Origem e Prefácio ........................................................7
Ou.................................................................................7
De onde este este livro veioveio e como ele deve deve ser usado.usado. . . . .7
3.....................................................................................................................................97
Karma Yoga..................................................................................................................97
JnanaYoga...................................................................................................................125
6...................................................................................................................................175
Sacrifício e Mantra......................................................................................................175
Renúncia e Purificação................................................................................................203
8.......................................................................................252
A Devoção e o Guru.........................................................252
10.................................................................................................................................317
Morrer..........................................................................................................................317
Conclusão.................................................................351
F. SILÊNCIO...............................................................399
7
R e n ú n c ia e P u r ific a ç ã o
EM TODO O Gita ENCONTRAMOS REFERÊNCIAS AO PAPEL NA VIDA
ESPIRITUAL de práticas que poderiam ser chamadas
de renúncias. Elas estão relacionadas de certa
forma ao sacrifício; são atos de purificação
destinados a encurtar os elos que nos ligam aos
reinos mundanos. O Gita não entra nestas
prát
práticicas
as em tant
tantos
os deta
detalh
lhes
es co
como
mo pode
poderíríam
amos
os
esperar devido à suposição subjacente de que
todos já as conheçam. O Gita não foi escrito com
a nossa mentalidade atual da Kali Yuga (Era de
Kali) — a mentalidade da era das trevas na qual
vivemos, um período em que ficamos totalmente
perdidos nas coisas do mundo. O Gita assume
que Arjuna já conhecia e praticava todos os atos
de purificação que a maioria de nós está
somente começando a considerar.
As prát
prátic
icas
as de puri
purifi
fica
caçã
çãoo sã
sãoo es
esse
senc
ncia
ialm
lmenente
te
técnicas para nos colocar em uma posição onde
sere
se remo
moss prep
prepararad
ados
os para
para vive
vivenc
ncia
iarr o coconhnhec
eci-
i-
mento direto e em primeira mão de Brahman.
Elas fazem isto criando uma estrutura através da
qual podemos nos afastar das coisas que nos
mant
mantêm êm apri
aprisi
sion
onad
ados
os,, co
coisisas
as que
que co cont
ntin
inua
uam m a
criar karma para nós o tempo inteiro. Isto é,
todo
todoss os riritua
tuais
is de purif
purific
icaç
ação
ão no hind
hinduíuísm
smo o (e
existem rituais no budismo, cristianismo,
judaísmo, islamismo e também na maioria das
outr
outras
as re
reli
ligi
giõe
ões,
s, e as prát
práticicas
as se so sobr
brep
epõeõem)
m),,
todas as renúncias são realizadas a fim de nos
pres
presererva
varr para
para que
que não
não gere
geremomoss um karmkarma a tão
tão
pesa
pesadodo para
para nós ós.. Até
Até isisso
so ac acon
onte
tece
cer,
r, fica
ficamo
moss
cons
co nsta
tant
ntem
emen ente
te prereoc
ocup
upad
adosos co
comm o mate materi rial
al
que estamos criando a cada dia. No momento
em que a preocupação diminuir um pouco,
teremos um espaço onde poderemos iniciar um
novo enfoque e aprofundar a nossa meditação.
E, então, junto com esse aprofundamento, virá a
sabedoria superior. Esse é o princípio por trás da
prática.
De certa forma, a purificação é um tipo de
publicidade. Você considera o seu corpo, como
ele é agora, a sua mente, como ela é agora e os
seus sentimentos, como eles são agora — e bem
aqui, neste lugar, está Brahman, o estado
iluminado. Bem aqui! Neste momento! Não está
lá ou ali. Não está na índia ou no Tibete, não está
gua
guardad
rdadoo em se segr
gred
edoo por "el ele
e" ou "ela la"", não
Bem, então, qual o objetivo da purificação? Qual,
na verdade, é o alvo de qualquer uma dessas
práticas se já somos Brahman?
Brahman? Elas visam nos
livrar de qualquer coisa que nos impeça de
realmente saber quem somos neste momento.
De um ponto de vista prático, estamos em frente
a um par parado
adoxo inte
intere
resssa
sant
nte
e. Em um nívnível da
nossa compreensão intelectual, sabemos que já
temos todas as riquezas — sabemos que somos
o atman, queque so
somo
moss o Buda
Buda,, que
que so
somo
moss livr
livres
es..
Sabemos tudo isso. Mas, se olharmos para
dent
dentro
ro,, nota
notare
remo
moss que
que emembo
bora
ra sa
saib
ibam
amos
os tudo
tudo
isso, de certa forma não acreditamos. É isso que
os métodos da purificação visam: nos tirar de
onde achamos que ainda estamos para onde não
achamos que estaremos jamais. Por isso, temos
todas essas práticas como o karma yoga e jnana
yoga, como o sacrifício e o mantra, como a
renúncia e a purificação. Todas elas, por alguma
via, são projetadas para superar o bloqueio entre
o nosso conhecimento e a nossa crença.
Somente para dar uma forma à nossa discussão,
temos alguns slokas do Gita:
"Pois o homem que renuncia a todos os desejos e
abandona todo o orgulho da posse e do ser
atinge o objetivo da paz suprema."
"Saiba que um homem de renúncia verdadeira é
aquele que não anseia, nem odeia; pois aquele
que está acima dos dois contrários logo encontra
a sua liberdade."
"Quando na lembrança ele recolhe todos os seus
assim como uma tartaruga encolhe todos os seus
membros, então a sua sabedoria é serena."
A atração dos nossos sentidos é o que nos
mantém presos, e o processo de purificação que
o Gita parece estar recomendando aqui é a re-
núncia aos sentidos -— separar os sentidos dos
seus objetos usuais, pois os sentidos
pera
peramb
mbululam
am aqui
aqui e ac
acol
olá.
á. Le
Lemb
mbre rem-
m-se
se de que
que
buddhi, que é a alma, pode ser puxada para
baixo pela mente inferior, manas, que por sua
vez pode ser capturada por indrias, os sentidos,
que estão fixados nos objetos dos sentidos. São
estes os níveis: existe um objeto do sentido, um
sentido, uma mente que conhece o sentido e
existe uma mente superior, que pode ficar presa
na infl
influê
uênc
ncia
ia mund
munda ana exte
exteri
rior
or,, que
que pode
pode se
serr
tragada pela mente pensante e pelos sentidos.
Se ela resiste à influência dos sentidos, ao se
recolher e se voltar para dentro, ela se torna,
pelo contrário, um reconhecedor do atman. Esse
processo é promovido pelos noss sso
os atos de
purificação.
Estar
Estaremo
emoss gradua
gradualme
lmente
nte livran
livrando
do o buddhi de
cair na armadilha dos sentidos, e utilizaremos
meios diferentes para chegar lá. Já falamos sobre
alguns deles antes — podemos afastar a mente
dos sentidos dizendo "Eu não sou os meus
olhos... Eu não sou os meus ouvidos..." ou
trabalhar direreta
tam
mente sobre a mente, te, como
faze
fazemo
moss co
comm a memedidita
taçã
ção,
o, ac
acal
alma
mand
ndo-
o-a
a para
para
que não mais responda à influência dos sentidos.
porque essa sabedoria, por sua vez, afrouxa a
influência dos sentidos.
Quando adotamos qualquer uma destas técnicas
— quando sentamos para meditar, por exemplo,
e para recolher os nossos sentidos —
descobrimos repentinamente como as nossas
mentes são realmente agitadas, como estão
repletas disso e daquilo. Mente de macaco, como
a chamam na Índia. O mesmo acontece quando
iniciamos qualquer prática — mantra, japa,
oração, qualquer uma. Verificamos como somos
distraídos por todos os tipos de desejos
mundanos que continuam a encantar a nossa
consciência. Começamos a procurar maneiras
para aquietar aquela agitação, quando, então, as
práticas da purificação e da renúncia começam a
nos atrair e a se tornar parte de nossas vidas.
Talvez comecemos a prestar mais atenção às
nossas dietas alimentares, à maneira como
cuidamos dos nossos corpos. Começamos a
prestar atenção a com quem nos ligamos, com o
que preenchemos as nossas mentes, sobre o que
pensamos quando não estamos meditando —
porque constatamos que todo esse material está
alimentando a agitação que nos impede de
meditar.
A quantidade de toxinas que se acumula é
surpreendente. Digamos que vocês estão
dirigindo em uma rua e alguém atravessa na sua
frente. Vocês pensam: "Seu isso, seu aquilo" — e
isso, simplesmente isso —, a vibração, a energia
fazendo todas as paixões girarem. Este não é o
tipo de cenário mental apropriado para a
meditação. Talvez, então, comecemos a
renunciar àquela urgência da fúria; pelo
contrário, pegamos uma situação como esta e a
transformamos em um momento de prática de
purificação. Existe um tipo de fogo, um fogo
interior, que surge ao deixarmos extravazar
nossa raiva em um momento como este, e este é
o fogo no qual fazemos a nossa oferenda.
Oferecemos a nossa raiva ao nosso despertar.
Swaha!
Descobrimos que deveremos viver o nosso
cotidiano até aprendermos como transmutar as
nossas energias — todas elas. Começamos
observando as coisas que cativam a nossa
consciência para que possamos nos libertar
delas. Por exemplo, quando observamos o que
fascina a nossa mente, provavelmente
descobriremos nessa coleção os nossos apegos a
várias posses muito queridas. Elas atraem as
nossas mentes porque "onde estão os seus
tesouros, ali estará também o seu coração".
Assim disse Jesus. Se os seus "tesouros" são as
suas posses, é ali que estará o seu coração.
Digamos, por exemplo, que vocês possuem algo
muito bonito, sem preço. Vocês se sentam para
meditar, mas antes que a meditação consiga
levá-lo para além de si mesmo, chegam aqueles
pensamentos poderosos sobre a necessidade de
proteger aquela coisa ou objeto. "Estará
Estamos aprisionados pelas correntes das nossas
posses.
Posses não precisam ser coisas físicas,
naturalmente; posses podem ser posses
emocionais ou intelectuais. Vocês começam a
meditar e têm aquela grande idéia. Então,
pensam: "Bem, não posso esquecer esta idéia,
porque aposto que posso conseguir muito com
ela." Ou então: "Tenho que lembrar desta idéia
porque ela ajudará toda a humanidade." E uma
boa idéia, não é?! Então, vocês tentam meditar.
A cada vez que a sua mente começa a se
acalmar, a ir para além dos pensamentos, vocês
agarram aquela idéia novamente com medo de a
esquecerem. A sua fé ainda não é
suficientemente forte para confiarem que, se for
uma boa idéia, ela voltará. Para confiar, é preciso
ter uma fé inabalável.
Com o tempo, começamos a verificar como os
elos dos nossos apegos, sejam eles físicos,
intelectuais ou emocionais, não nos permitem
algo que desejamos muito mais do que o
material ao qual estamos ligados. E quando
começamos a sentir o apelo de reduzir tanto as
nossas posses físicas como as psicológicas, de
ter um tipo de simplicidade limpa em nossas
vidas. Eu costumava encher cada canto do lugar
onde vivia com coisas. Primeiro precisava de
uma boa vitrola e de um bom som. Depois havia
os meus livros — prateleiras e prateleiras deles.
Havia belas tapeçarias, coisas macias,
comidas — eu enchia a minha caverna com
luxos.
Mas, então, quando as minhas práticas se
aprofundaram, notei que tudo passou a ficar
cada vez mais simples. Eu não precisava de tudo
aquilo à minha volta. E agora, quando alguém
me cede uma sala vazia com paredes brancas e
eu coloco o meu tapete sobre o chão e me sento,
fico tão contente quanto estava com toda aquela
parafernália. Minha vida ficou mais simples e
mais leve porque descobri que a investida da
experiência não é tão interessante quanto o que
acontece quando a minha mente está calma.
E, somente para completar o ciclo sobre o nosso
relacionamento com as posses: existe um tempo
para aproveitar o romantismo da vida e para se
revelar em todas as posses que reunimos em
torno de nós. Existe um tempo quando tudo isso
é renunciado e se desfaz. E, então, existe um
tempo em que ficamos totalmente livres de tudo
aquilo de modo que podemos ter tudo
novamente — mas sem os apegos. Eu costumava
visitar Swami Muktananda no seu ashram em
Ganeshpuri. Eu ia até a sua suíte, e lá estava ele
sentado em uma cadeira de prata de lei, diante
de uma mesa em prata de lei comendo em prato
de ouro de 18 quilates. Era preciso dois homens
fortes para levantar a cadeira. Eu pensava: "Que
tipo de yogue é este?" Então, li a história do seu
sadhana e compreendi onde a sua consciência
tinha atingido e percebi como nada daquela
Mahatma Gandhi foi um dos principais expoentes
da não-violência, embora trabalhasse com o Gita
e vivesse segundo o livro por toda a sua vida.
Alguém pode, então, levantar uma questão sobre
a natureza paradoxal disso. Gandhi disse:
"Quando o Gita foi escrito, embora as pessoas
acreditassem em ahimsa, as guerras não eram
tabus, assim como ninguém observava a
contradição entre a guerra e ahimsa! Acho que
vocês terão que se esforçar bastante para
imaginar como isso poderia ser possível — como
as pessoas não viam a guerra e ahimsa como
incompatíveis — mas essa era a explicação de
Gandhi. E ele prosseguia para explicar: "Mas
após quarenta anos de esforço incessante
somente para cumprir os ensinamentos do Gita
em minha própria vida, tive a total humildade de
sentir que a renúncia perfeita é impossível sem a
perfeita observância de ahimsa em cada figura e
forma." Em outras palavras, Gandhi está fazendo
uma exceção aqui ao Gita: ele é um dos
participantes de um debate sobre se você pode
realizar um ato violento sem romper o seu voto
de ahimsa, e ele diz que você não pode, com ou
sem o Gita.
A minha compreensão da situação é que existe
uma tensão entre o humanitário e a perspectiva
mística sobre o assunto. A compaixão do hu-
manitário é aquela do homem mortal. A
compaixão do místico está na maneira como o
universo foi criado, sobrevive e é destruído. A
compaixão que a mente humana pode
apreender.
Existem níveis de sabedoria, e não é totalmente
inconcebível para mim que assim como um
cirurgião pode realizar uma operação e criar dor
para finalmente aliviar o sofrimento, a destruição
pode ter o seu propósito. Krishna, para destruir a
ilusão do ser separado, pode muito bem ter
criado um cenário o qual nós, seres humanos,
ainda identificados com os nossos seres
separados, acharíamos terrível — um cenário
como a guerra.
E complicado. Ao trabalhar com ahimsa, temos
ainda que compreender de alguma forma as
forças de Shiva no mundo, o aspecto de Deus
que é a destruição e o caos no universo. Nós
como humanos temos que nos esforçar para
praticar ahimsa, enquanto que ao mesmo tempo
temos que desejar honrar um dharma que pode
algumas vezes exigir a violência. Tudo que
podemos fazer é prestar atenção o mais
cuidadosamente que conseguirmos para saber
qual poderá ser o nosso próximo passo.
Toda a nossa tentativa para honrar ahimsa é
abastecida com complicações e contradições. Por
exemplo, fui, por um longo tempo, vegetariano, o
que parece ser uma atitude delicada, do tipo
ahimsa. Mas eu tomava leite. Enquanto seguia
aquela dieta, num fim de semana fui visitar Ken
Kesey em sua fazendo no Oregon. Ken sabia que
eu era vegetariano, e ele, naturalmente, não era.
estábulo e me mostrou as vacas leiteiras, e todo
aquele cenário. Eu repetia: "Que beleza!" E ele
me levou para visitar os jardins: "Oh, eles não
são maravilhosos?" Então, me levou para os
campos e me mostrou dois bois enormes.
Perguntei: "O que você está fazendo com eles?"
Ele respondeu: "Estamos alimentando-os bem
para que engordem e possamos comê-los."
Tentei permanecer controlado, e respondi: "Ah,
sim, está bem." Mas ele sentiu que tinha me
atingido. Começou a acariciar um dos bois na
cabeça dizendo: "Este aqui já está bom... dará
uns bons bifes", apontando para o local do corte.
Fiquei olhando nos olhos dos animais, tentando
enviar mensagens de amor para eles.
Então, Ken olhou diretamente para mim: "Sabe,
você bebe leite. Se gosta de leite, precisa ter
bois." E de repente senti a realidade da minha
situação. Eu não fora criado em uma fazenda,
por isso nada disso tinha sido óbvio para mim
antes: para manter uma vaca produzindo leite,
ela precisa ter bezerros de tempos em tempos, e
a cada vez que fica prenhe, metade dos bezerros
que nasce são machos. O que você pode fazer
com eles? Pode alimentá-los até que morram de
morte natural, mas este não é o caminho
provável. Ali estava eu: um vegetariano, mas
ainda cúmplice com o destino daqueles dois bois.
Por muito tempo usei sandálias que vinham do
ashram de Gandhi; elas tinham um selo pequeno
que dizia: "Produzidas no ashram de Gandhi", o
Não era como se tivessem matado uma vaca
para tirar o couro para as sandálias; a vaca tinha
morrido de uma morte natural, de modo que os
yogues podiam usá-las em boa consciência.
Mesmo assim, parece um pouco... vocês sabem...
E agora temos essas novas informações de como
as plantas ficam quando você coloca uma faca
perto delas — a nossa dieta está ficando mais
reduzida.
Tudo que posso partilhar, ao lidar com o assunto
de ahimsa, é sugerir que tudo que fizerem,
façam do modo mais consciencioso que pude-
rem. Quando os nativos americanos matavam
um animal para comer, eles o ofereciam aos
seus deuses, e agradeciam ao animal por doar
sua vida a eles. Eles matavam para sobreviver e
para poder realizar o seu trabalho, e isto está em
harmonia com a sua compreensão da maneira
como a natureza opera. Isso traz consciência
para o ato.
Porém, ainda não acho que existam regras
simples para uma dieta "espiritual", pois, à
medida que passamos por estágios diferentes de
nosso yoga, as práticas remodelam nossos
corpos e as nossas necessidades físicas, e
geralmente descobrimos que a nossa dieta
muda. Quando ainda estamos muito aprisionados
no pensamento mundano e no peso mundano,
precisamos somente aquilo que a Organização
Mundial de Saúde diz que é necessário: uma
certa quantidade de proteínas e uma certa
chei
cheioo de fant
fantas
asia
iass re
requ
quin
inta
tad
das e sásádi
diccas que
psicologicamente destruo todos à minha volta e
crio um sofrimento incrível somente porque não
comi aquele último frango. Não estou oferecendo
isso como uma desculpa ou como uma sugestão
prática. Estou somente partilhando com vocês o
dile
dilema
ma psic
psicol
ológ
ógic
icoo que enca
encara
ramo
moss ao deci
decidi
dirr
quando renunciamos e quando não renunciamos.
Agora estamos chegando aos detalhes básicos
de todas essas práticas sobre as quais falamos.
VAMOS ABORDAR UM POUCO mais rapidamente os outros
yamas, mas acredito que tenha sido válido
dedicar um tempo suficiente para explorar mais
profundamente uma prática como a de ahimsa
para obtermos uma visão total dela. Poderemos
facilitar a maneira como aceitamos estas
práticas a princípio sem entrar em conflito com
os assuntos que realmente combatemos quando
tentamos implementá-las em nossas vidas.
O segundo yama é satya:
satya: a verdade, não mentir.
Disse Gandhi: "A Verdade é Deus, e Deus é a
Verdade." E a vida dele foi uma confirmação de
alguém que estava tentando viver o mais
pró
próxim
ximo poss
possív
íve
el da ver erda
dade
de.. Uma vez,vez, uma
uma
mulhe
ulherr foi pro
roccura
rarr Gandhi
dhi le leva
van
ndo seseuu filh
filho
o
pequen
pequeno. o. Pediu:
Pediu: "Maha
"Mahatma
tma-ji
-ji,, por
por favor,
favor, diga
diga ao
meu menino para parar de comer açúcar."
Gandhi respondeu à mãe: "Volte daqui a três
dias." Tr
Trê
ês dias depois a mulher e o menino
voltaram, e o Mahatma Gandhi disse para o
menino: "Pare de comer açúcar!" A mulher ficou
retornássemos somente depois de três dias para
que dissesse isso ao meu filho?" Gandhi
respondeu: "Há três dias eu não tinha parado de
comer açúcar." Isso coloca obstáculos bem
elevados; é um alto nível de veracidade a ser
exigido de nós mesmos, e a prática de satya está
ligada a moldar nossas vidas nesse nível de
verdade interno.
Mas, no ponto em que a maioria de nós se
encontra, não temos uma conexão profunda o
suficiente com a Verdade para sermos corretos
em cada nívenível,
l, mas
mas pode
podemomoss cocome
meça
çarr se
send
ndo
o
corretos naqueles que conseguirmos.
Aprenderemos a ouvir a verdade e a viver pela
verd
verdaade,
de, memesm
smo o que is isso
so impl
impliq
ique
ue em al algu
gum
m
custo para nós. Mahatma Gandhi estava uma vez
conduzindo uma marcha; várias pessoas tinham
deixado seus empregos e vindo de longas
distâncias para participar dela, mas após o
primeiro dia Gandhi chamou seus representantes
e disse: "Isto está errado. Esta marcha não é
uma b oa idéia. Vou dissolvê-la." Os
representantes ficaram transtornados e
responderam: "Mas Gandhi-ji, não faça isso. As
pess
pessoa
oass vie
iera
ram
m de vári vários
os luga
lugare
ress para
para toma
tomarr
parte na march rcha. Não pode odemos interr
terroomper
agora!" Gandhi respondeu: "Eu não conheço a
verd
verdad
ade
e abso
absolu
luta
ta..
.... somen
omente te Deus
Deus a co conh
nhecece.
e.
Sou humano; conheço somente a verdade
relativa, e isso muda de dia para dia. O meu
compromisso deve ser com a verdade e não com
signif
sign ifiq
ique
ue re reve
vert
rter
er o memeu u cocomp
mpor
orta
tame
mentnto
o em
relação a ela.
Com freqüência descobrimos que, à medida que
pros
prosse
segu
guim imos
os al
aleg
egrereme
ment
ntee em noss nosso
o ca
cami
minh
nho
o
espiritual, temos de reverter nossas atitudes se
quis
quiseermos
rmos perm permananececer
er fiéi
fiéiss à noss
nossaa verd
verdad
ade.
e.
Descobrir o nosso dharma lembra um pouco a
descoberta de um campo flutuante; ele nunca é
o mesmo, está sempre mudando a sua
localização. Vocês acham que sabem qual é a
sua rota. Acabaram de adquirir seu equipamento,
camas e distintivos — tudo de acordo com o seu
nível —, e de repente o cenário muda e tudo
acaba. O que fazer? "O meu compromisso deve
ser com a verdade e não com a consistência."
Doem todo o seu equipamento para a loja mais
pró
próxim
xima do Exér érci
citto da Salalvvaç
açã
ão e sisig
gam em
frente. Após um tempo vocês passarão a alugar
os unif
unifororme mes,
s, não os co comp
mpra rarã
rão
o mais
mais porq
porque
ue
perceberão que mudarão de uma viagem para
outra muito rapidamente. Vocês somente
permanecerão o mais próximo possível da sua
verdade.
Maha
ahararajj
jjii esta
stava sesem mpre
pre me le lem
mbra
brando
ndo para
para
dizer a verdade. Era um dos seus diálogos
regulares comigo:
— Ram Dass, fale a verdade.
— Sim, Maharajji.
Ele alternava esse diálogo com um outro. Ele me
chamava e dizia:
-— Ram Dass, abandone a raiva.
— Ram Dass, fale a verdade. — Ram Dass,
abandone a raiva.
Mas no templo havia todos aqueles ocidentais
que tinham vindo para a índia comigo. Era uma
falha minha eles terem vindo — Maharajji me
aconselhara a não falar dele para ninguém. Mas
eu fala
falara
ra,, e agor oraa el
ele
es estav
stavaam ali,
li, todos
odos se
apoiando em mim, e eu estava realmente sendo
interceptado por eles, quando na verdade queria
estar com os indianos. Por isso, estava
começando a detestar todos eles.
Entã
Então,
o, co
comemececeii a co
cons
nsidider
erar
ar as inst
instru
ruçõ
ções
es do
Maharajji, e pensei: "O senhor sabe, a verdade é
que
que eu re real
alme
ment nte
e não
não gosgosto des
destas
tas pess
pessoa
oass."
Queria fazer o que o Maharajji dissera, e não
abrigar
abrigar a raiva
raiva em mim. Por outro lado, tudo que
sempre fizera no passado foi ser um bom menino
e pretender não ficar com raiva; tinha abdicado
da verdade para não parecer raivoso, mas por
dent
dentro
ro eu er era
a um ca cald
ldei
eirã
rão
o perm
perman
anen
enteteme
ment
ntee
ferv
ferven
ente
te.. Entã
Então,
o, deci
decidi
di:: "Por
"Por que
que não
não faço
faço tudo
tudo
diferente desta vez? Para mudar, direi a verdade,
e a verdade é que não consigo suportar ne-
nhuma dessas pessoas."
Então, comecei a ser realmente honesto. Alguém
entrava no meu quarto, eu olhava para ele e
dizia: "Saia já daqui. Você não me faz bem." A
pessoa respondia: "O que foi que eu fiz?" E eu
dizia: "Não sei. Você é legal." Bem, após duas
semanas de "dizer a verdade", eu não estava
falando com nenhum deles, e todos eles estavam
Nós ocidentais ficamos em um hotel na cidade e
todos os dias íamos de ônibus para o templo.
Aconteceu de naquela época eu estar realizando
uma tapasya, que era de não tocar em dinheiro.
É uma austeri rid
dade interessante de realizar,
porque você começa a compreender como o fato
de ter um trocado no bolso é um jogo poderoso.
Sem ele, tudo fica fora do alcance. Você não
pode suspirar por um sorvete se não tiver
dinheiro. Além disso, fica dependente; precisa de
alguém com uma bolsa para levar o seu dinheiro
se quiser almoçar ou pegar um ônibus. Mas
nesse ponto dos meus relacionamentos eu
estava tão zangado com todos que nem deixaria
que alguém pagasse o ônibus para mim, o que
significava que tinha de caminhar até o templo,
isto é, 12 quilômetros.
Então, eu andava até o templo. Era realmente
uma bela caminhada atravessando colinas
verdes e bosques, mas eu estava tão zangado
com todos que não percebia a paisagem. Estava
ocup
cupado me sentientind
ndo
o furi
rios
oso
o dura
durant
nte
e todo
todo o
percurso porque eles já estavam no templo
aproveitando a presença de Maharajji enquanto
eu gastava horas caminhando — e tudo porque
eu era tão bom que não estava tocando em
dinheiro. Mas certamente não deixaria nenhum
daqueles safados pagar a minha passagem...
Quando chegava no templo, eu estava fervendo.
Eu chegava logo depois de terem almoçado. Um
dos companheiros — com quem eu estava
quis receber o alimento das mãos dele, por isso
peguei o prato de folha e joguei no seu rosto.
Do outro lado, Maharajji assistiu a tudo.
— Ram Dass!
Atravessei o salão e me sentei diante dele. Ele
perguntou:
— Há alguma coisa que o está perturbando?
Em disse que sim.
— Não consigo enfrentar o adharma. Não consigo
suportar isso em todos nós que nos leva a uma
ilusão mais profunda. Não consigo suporta isso
neles — eles são tão impuros! Não consigo
suportar isso em mim. Na verdade, odeio a todos
no mundo — exceto o senhor.
E, então, comecei a chorar — não somente a
cho
chora
rarr, mas re
real
alm
mente
nte a sol
oluç
uçar
ar e la lam
menta
entar.
r.
Maharajji tentou me consolar; acariciou a minha
cabe
ca beça
ça,, le
lev
vanto
antou-
u-sse para
para apan
apanhaharr le
leit
ite
e e me
alimentou. Ele estava chorando e eu me
lamentava de dor. Quando terminei com o meu
lamento, ele me disse:
— Pensei ter-lhe dito que não abrigasse a raiva.
Eu disse:
— Sim, mas também me disse que falasse a
verdade, e a verdade é que estou com raiva.
Ele então se inclinou para mim, até que seu nariz
encostou-se ao meu e nos encaramos olhos nos
olhos:
— Abandone a raiva e fale a verdade.
Comecei a retrucar: "Mas..." — porém naquele
momento compreendi minha situação. Ia dizer a
caixão estava uma imagem de quem eu pensava
ser. E o que Maharajji estava dizendo para mim
era: "Estou lhe mostrando quem você será após
ter acabado com quem pensa que é."
Então, olhei para todas aquelas pessoas, todas a
quem detestava e vi que um pouco além da
superfície, com uma pequena mudança no olhar,
eu as amava incrivelmente. De repente, vi que a
única razão de estar zangado com elas era
porque eu tinha um modelo de como eu pensava
que deveria ser, que era diferente do que
acontecia. Como você pode se zanga ngar com
alguém por ser o que ela é? Estará tentando
brincar de Deus. Eles estão somente sendo
aquilo que Deus as fez — por que você se zan-
gou?
gou? Algu
Alguéém está
stá menti
entind
ndo
o para
para voc
ocêê? Ela
lass
estã
stão somen
omentete eng
engaj
aja
adas
das em sua na viaviagem
gem
kármica. Por que você está transtornado? "Bem,
não achei que estavam mentindo para mim!" Oh,
as expectativas — esse é o seu problema. Na
próxima vez em que ficar zangado, observe mais
de perto aquilo que o está deixando zangado.
Compreenderá que sente raiva porque Deus não
fez o mundo da maneira que você acha que
deveria ter feito. Mas Deus fez o mundo da
maneira que teria de ser.
A prática de satya requer que em todos os
nossos atos — no trato com as outras pessoas,
na direção do nosso curso espiritual, qualquer
que seja ela — permaneçamos o mais próximo
da verdade que pudermos. Maharajji me disse:
Explicou: "As pessoas o odiarão por dizer a
verdade." E algumas vezes elas odeiam
realmente. "As pessoas rirão de você e o
insultarão, e até poderão matá-lo", disse, "mas é
preciso que você fale a verdade".
O problema é que só podemos falar a verdade
quando cessamos de nos identificar com a parte
de nós que achamos ter de proteger. Se tivermos
tiver mos
medo de que riam de nós ou de sermos
ins
insulta
ultaddos ou mororttos
os,, não pod
poder
erem
emos
os fala
falarr a
verdade; não poderemos dizer a verdade se
estivermos ocupados protegendo alguma
posição. Somente quando compreendermos que
não somos tão vulneráveis quanto tememos ser
é que poderemos nos permitir falar a verdade.
Digamos que eu lhe fale a verdade e vocês não
gostem dela, se levantem e saiam. Isso é
problema de vocês e não meu. Mas se eu
precisar do amor de vocês, do seu amor
interpessoal, não poderei me arriscar se
quiserem ir embora, por isso não poderei falar a
verdade. Nunca poderei ser direto com vocês se
precisar de alguma coisa de vocês. Por isso, para
lhes falar a verdade, terei que desistir de
qualquer necessidade que houver em mim. Por
isso, satya é uma prática de renúncia; o que
pre
precisa
cisamo
moss re
rennunci
unciaar sã
são
o os apeg
pegos que nos
impedem de falar a verdade.
Este é um aspecto bem profundo sobre a
Verdade: quando estamos firmados na Verdade,
realmente enraizados na Verdade, a sua palavra
modo
modo que
que quan
quando
do você
vocêss fala
falam
m al
algu
guma
ma co
cois
isa,
a,
isso basta. Quando vocês concedem uma
bênção, a bênção é dada; ela simplesmente
acontece. Quando vocês dizem "está curado", a
pessoa fica curada. Esse é o poder da palavra, se
a palavra vier de um ponto de total Verdade —
porque, então, ela vem do local em vocês onde
estão tão conectados ao núcleo mais profundo
da própria Verdade que tudo que vem de vocês é
correto em todos os níveis. As purificações das
práticas de satya nos preparam para esse tipo de
Verdade.
8
A D e v o çGãuor ue o
CHEGAMOS AGORA, EM NOSSA VIAGEM ATRAVÉS DE TODAS AS VÁRIAS
E dif
difer
ereente
ntes ro
rota
tass em dire
direçã
çãoo a Brahman, ao
cam
caminho
inho do bhak
bhaktti yoga
oga, ou devdevoçãçãoo — o que
significa que iremos falar, entre outras coisas,
sobre os pontos a favor e contra os gurus.
Fal
Falar
arem
emos
os sobre
obre o mé métotodo
do do guru
guru:: como ele
funciona, o que fazer e o que o guru faz ou não
faz. E falaremos muito sobre o meu guru,
acreditar, ele é o homem por trás do cenário
aqui. E esta é realmente a viagem dele; eu sou
somente o robô-resultado.
Bhakti, por sua natureza, não é uma prática na
qual podemos nos sentar e imaginar
intelectualmente. A devoção está ligada ao
coração, e existe um pouco de absurdo em
pensar sobre viagens do coração. A devoção é
algo vivenciado em um reino que não é
necessariamente conceitual e não se abre com
facilidade para palavras. Hafez, o poeta, disse:
"Ó, aqueles que estão tentando aprender a
maravilha do amor através do livro-texto da
razão, receio muito que nunca vislumbrem o
ponto." Ele está nos dizendo que, enquanto
tentarmos pensar sobre o nosso caminho no
campo da devoção, não iremos muito longe
porque a devoção não é algo para ser pensado,
mas para ser sentido. E para sentir temos que
vivenciá-la diretamente: através do japa, de
cantar os kirtans, do ritual, do mantra e da
oração, através da lembrança — através de
todas as práticas de imersão no amor deixando
que o amor aconteça a cada um de nós. Esse é o
único caminho que nos levará a conhecer as
práticas sobre bhakti.
Então, se vocês quiserem saber a respeito de
bhakti yoga e ainda não estão realizando
práticas devocionais, talvez essa seja uma
oportunidade para começar a explorá-las. Sigam
alguma delas e vejam como se sentem. Existem
exemplo; vocês podem começar com essas, ou
descobrir alguma prática sua que seja certa para
vocês. Comecem a nutrir a qualidade da devoção
em vocês. A devoção pode ser dirigida para
alguma forma de Deus que lhes atrai (o que na
índia é chamada de Ishta Deva). Pode ser
direcionada a um guru. Pode ser dirigida a Gaia,
ou ao Vazio, ou ao seu gatinho. Pode ser
direcionada a qualquer forma de Deus que abra
o seu coração. Dedique algum tempo todos os
dias e passe alguns minutos realizando alguma
prática devocional ligada a esse Ser. Cante. Ore.
Ofereça a chama de uma vela ou algum
alimento. Comece a abrir o seu coração
cultivando sentimentos de amor e apreço.
O Gita está estruturado sobre a devoção. Embora
esteja mais voltado para o serviço a Deus e com
a Sabedoria superior, tudo isso se encontra
dentro de uma estrutura de devoção. Em certo
momento, Krishna diz para Arjuna: é devido ao
seu amor que eu estou permitindo que você ouça
e veja tudo isto. A visão que Krishna proporciona
a Arjuna, a visão da forma cósmica do universo,
é a visão que surge quando o terceiro olho se
abre e "vemos sem olhar". É uma dádiva incrível
receber esse tipo de visão, e a natureza
impressionante e espantosa dessa visão foi
concedida a Arjuna, diz Krishna a ele, somente
devido a seu amor, devido à sua devoção e
pureza do seu relacionamento com Krishna.
Seguindo a seqüência exposta no Gita,
tipo de fé: a fé da mente inferior na possibilidade
de que possa existir algo que a mente superior
saiba, embora a inferior não conheça. Para a
mente inferior, isto é um salto de fé! A fé nos
leva a realizar as práticas, através das quais
começamos a nos abrir um pouco, o que nos
permite ter algumas visões ou alguma
experiência imediata direta, o que nos conduz
por sua vez a práticas mais profundas, que
finalmente nos proporcionam uma sabedoria
superior, a sabedoria de Brahman. Mas toda essa
seqüência, que envolve jnana yoga e karma yoga
e purificação e todos os outros, ocorre dentro de
um contexto de devoção, que é um pré-requisito
para o restante dela. Todas as práticas dão
frutos devido ao amor de Arjuna por Krishna.
Na literatura sobre as práticas que nos conduzem
a Brahman — que poderíamos chamar de
literatura mística —, existem descrições do que
parecem ser duas categorias bem diferentes de
experiência mística. Em uma delas, a
característica dominante é escapar do mundo
fenomênico e de tudo que o condiciona —- que
no budismo é conhecido como "atingir o
nibbana". No outro tipo, igualmente freqüente,
de experiência mística, o amor é o fenômeno
central. É caracterizado pela qualidade de ser
absorvido em um amor todo abrangente. Elas
representam as duas experiências alternativas
de Brahman.
Muitas vezes pode parecer que existe uma luta
da cabeça e seguidores do coração, entre as
pessoas que dizem "não embarque nessas
viagens emocionais" e aquelas que dizem "está
ótimo, mergulhe no oceano do amor". Em
contraste, a devoção pode parecer muito piegas
e sentimental, enquanto que o intelecto parece
claro e direto. Mas um dos sábios da índia,
quando lhe foi pedido que comparasse jnana e
bhakti yoga disse: "Jnana yoga é como uma
lâmpada: bhakti yoga é como uma pedra
preciosa. A pedra somente brilha com a luz
refletida, enquanto que a lâmpada é a própria
iluminação. Mas a lâmpada requer uma atenção
constante: mais óleo, um novo pavio — enquanto
que a pedra continua a brilhar sem qualquer
esforço da sua parte."
A principal objeção que os jnanis geralmente
levantam sobre o bhakti é que este é dualista:
existe a pedra preciosa e existe a fonte de luz.
Esse é o ponto crucial da sua oposição à
devoção: que a devoção é, pela sua própria
natureza, uma prática dualista. Para ser um
bhakti, você terá de ser devotado à alguma
coisa, dizem os jnanis, e como no final você terá
que acabar com as distinções entre sujeito e
objeto, não seria melhor não ficar agarrado mais
profundamente a eles no princípio? Esse é um
resumo geral do desenvolvimento da
argumentação.
Essa crítica ao bhakti se fixa no pensamento de
que o veículo para chegar ao topo da montanha
questão de um modo diferente. Eu perguntaria:
"Posso permitir o uso do dualismo para chegar ao
não-dualismo?" É certamente verdade que o
dualismo pode ser uma armadilha e que nós
podemos ficar presos ao objeto da nossa
devoção. Jnana também pode ser uma
armadilha, como já vimos; podemos nos agarrar
à nossa necessidade de saber. Todos os métodos
são armadilhas. Temos somente que escolher
sabiamente as nossas armadilhas e esperar que
elas se autodestruam após terem servido ao seu
propósito. Um método dualista, se utilizado com
sabedoria, pode ser um veículo de primeira linha
para o não-dualismo. À medida que o método
trabalhar, vocês irão além dele e o restante se
desfará.
Então, podemos reconhecer o problema e mesmo
assim utilizar as práticas do bhakti yoga. Krishna
diz no Gita: "E muito difícil seguir em uma rota
de mera identificação com o não-manifesto." Isso
é conhecido como "o caminho superior que não
possui trilhos". Não é fácil dar o salto da nossa
individualidade diretamente para o não-
dualismo. Para chegar até a sabedoria da
experiência direta de Brahman precisamos ser
intensamente uni-direcionados sobre para onde
estamos indo. A lubrificação que pode engraxar
este processo, e tornar toda a experiência bem
mais fácil, é um sentimento intenso de amor por
aquilo para o qual vocês estão se movendo. Não
importa se o chamam de um amor pela Verdade,
que importa é aquilo que acontece no seu
coração através desse tipo de intenso
compromisso emocional a alguma coisa.
Gravitamos na direção da experiência deste tipo
de amor, e ela faz a abertura do coração
acontecer com facilidade, muito naturalmente. E
esse coração se abrindo nos permite, então,
romper com nossa identificação com manas, a
mente inferior, porque ficamos muito ocupados
focalizando os pensamentos do nosso ser amado.
Os seus pensamentos se voltam naturalmente
para aquele a quem vocês amam, não é assim?!
Se amam alguém, dificilmente conseguem parar
de pensar nesta pessoa. Se amam a Deus, e seus
pensamentos estão constantemente voltados
para Ele, eles não ficarão mais aprisionados no
ego. Nos Salmos, Davi recita: "Como meu
coração estava incendiado, minhas rédeas tam-
bém foram trocadas." Ele estava usando a
imagem da carruagem, assim como o Gita, no
qual as rédeas são aquilo que controla a mente.
Então, Davi está dizendo que quando o seu
coração foi aberto, isso facilitou que a sua mente
se voltasse para Deus. Essa é a maneira pela
qual a devoção reforça as práticas jnani — fica
mais fácil voltar a mente para uma determinada
direção utilizando as rédeas do coração.
Minha relação com Maharajji é um
relacionamento de coração, um relacionamento
de amor. O meu amor por ele teve início de uma
forma bem dualista; eu queria tocar os seus pés,
diminuísse, mas ele cresceu de um modo
diferente. Ele continuou a crescer até que eu
realmente não me importava mais se estava com
a forma dele ou não. E, então, quando o amor se
aprofundou mais ainda, eu não fiquei mais me
ligando "àquele homem na índia". Eu estava
ligado à essência da "figura do guru", e comecei
a vivenciá-la dentro de mim em relação a ele.
Toda a qualidade da relação continuava a mudar,
à medida que eu crescia em sabedoria, que me
coração se abria, que minha entrega ficava mais
abrangente. Eu tinha zombado disto dizendo que
adorara a sua forma até que, finalmente,
compreendi que somente batia à porta para o
fato real. Eu estava adorando o ato, e, então,
vira que somente batia à porta, e que além
dele... ahhhhhh!
É desta maneira que funciona a prática
devocional. Fazemos uso do guru e do amor que
ele desperta em nós para nos levar até a
entrada. Então olhamos através dela — e o que
vemos lá nos puxa mais e mais. A devoção, como
método, nos leva de volta para a parte mais
interna de nós mesmos, de volta ao não-formado
— mas atenua as escoras para nós. Práticas
como o sacrifício ou a renúncia, que podem
parecer realmente difíceis se vocês chegam a
elas sob o modo rajásico do "eu posso fazer
isso", tornam-se incrivelmente fáceis na
presença do amor. Certamente vocês as
seguirão. Novamente, é como algo que vemos
consigo mesmos. O seu alimento favorito é
trazido à mesa e a sua principal preocupação é
que a outra pessoa receba o suficiente dele,
mesmo que isso signifique que não sobrará para
você; vocês se sentem preenchidos com o fato
da outra pessoa se alimentar. E o que vivenciam
quando se tornam pais; alguém diz: "Você está
fazendo demais pela criança... está se
sacrificando por ela!" Mas para vocês não soa
como um sacrifício, mas como uma alegria.
E o mesmo que acontece com as práticas. As
austeridades, feitas com um coração seco, são
pesadas, mas quando realizadas com amor,
vocês dizem: "Oh, sim, farei isso pelo meu
amado. Desistirei daquilo porque isso me deixará
mais perto dele." Quando estão ansiosos para
ficar mais próximos do ser amado, não
conseguem desistir das coisas com a rapidez
suficiente: "Isso está no caminho... não quero
mais nada com isso."
É desta maneira que funciona o bhakti yoga. É o
yoga do coração, o yoga da abertura amorosa
para Deus, e utiliza todas as nossas emoções
para nos manter trabalhando sobre a matéria
que finalmente nos levará até Brahman.
Deve ter ficado claro, assim espero, que o amor
do qual estamos falando aqui não é o amor
romântico. Não se trata do nível "amo fulano
porque ele tem uma grande personalidade". É
uma espécie diferente de amor. É o local do
amor onde vocês encontram os outros no âmago
de seus corações. É o que é chamado de amor
de amor que, como o sol, brilha sobre tudo, seja
"amável" ou não. Não se detém para julgar se
ele pode amar este ou aquele ser —
simplesmente ama a tudo, sem julgar. C. S.
Lewis, em Perelandra, transmite o espírito desse
amor; ele diz: "Amem-me, meus irmãos, pois sou
infinitamente supérfluo. E o seu amor será como
Dele [referindo-se a Deus], não nascido nem da
sua necessidade e nem do meu merecimento,
mas somente da generosidade, da generosidade
altruísta."
Quando um ser se torna amor, tudo que essa
pessoa toca se torna amor; tudo repousa dentro
da aura do amor. Meher Baba descreveu uma
das qualidades desse tipo de amor quando disse:
"O amor deve brotar espontaneamente do
interior. Não é de forma alguma receptivo a qual-
quer força interior ou exterior; amor e coerção
nunca caminham juntos. Mas, embora o amor
não possa ser forçado sobre ninguém, ele pode
ser despertado através do próprio amor. O amor
é essencialmente auto-comunicativo. Aqueles
que não o têm, o captam daqueles que o
possuem. O amor verdadeiro é inconquistável e
irresistível, e permanece amealhando poder e
espalhando-o até que finalmente transforma a
todos que ele toca."
O comentário de Meher Baba de que o amor não
é receptivo a qualquer tipo de coerção é
verdadeiro até para os níveis mais sutis, as
pequenas coerções psicológicas. Mesmo quando
com alguém e sinta que o coração daquela
pessoa está fechado. O que gostaria de dizer é:
"Abra o seu coração — você precisa amar mais",
mas sei que não serei ouvido. Então, me volto
para a manipulação; digo: "Conte-me sobre este
fato na sua vida. Como você se sentiu com isso?"
Induzindo-a pela emoção, estou sutilmente
tentando coagir aquela pessoa a abrir seu
coração. E, naturalmente, não funciona. Então,
após algum tempo, desisto. Paro de ficar
tentando e me desligo da pessoa. Continuo
simplesmente ali com ela vertendo amor. Ela
poderá dizer: "Bem, continuo sem sentir nada",
mas, então, se levanta para ir embora e
pergunta: "Posso lhe dar um abraço?" "Por que
você quer me abraçar se não sente nada?" "Não
sei. Quero somente um abraço."
Quando as pessoas me dizem "Não sinto nenhum
amor. Não sinto nada disto que você está
dizendo", lembro da citação de Thomas Merton
em Seeds of Contemplation. "A oração e o amor
são aprendidos na hora em que orar se torna
impossível e o coração virou uma pedra." É
somente quando o nosso desespero atinge o
fundo do poço que ocorre a oportunidade para o
coração se abrir. Então, se alguém me diz: "Eu
não sinto nada; estou morto por dentro" — esse
para mim é o momento crítico. E um momento
em que existe a possibilidade de ocorrer a
abertura do coração.
Mas isso só funciona quando o desespero é muito
Então, geralmente aconselho: "Vá e sofra mais
um pouco, e volte daqui a um ano. Você ainda
não sofreu o suficiente."
Com freqüência as pessoas não acham que seja
um conselho compassivo, mas é porque é muito
difícil para nós ouvirmos a verdade sobre este
assunto: que o sofrimento é uma dádiva. O
sofrimento nasce do sentimento de que os
nossos corações estão fechados e isso
finalmente os abrirá. A razão nunca nos permitirá
compreender isso!
Quando saímos dos nossos problemas, das
nossas tristezas, das nossas dificuldades (que
todos nós temos), é difícil ouvirmos que tudo isso
é uma dádiva que nos foi concedida. Parece
excesso de otimismo, ou algo semelhante. É
somente no espaço destinado ao amor integral e
à fé e confiança que ele começa a fazer algum
sentido para nós. Maharajji disse: "Eu amo o
sofrimento. Ele me traz para perto de Deus. Você
consegue jnana — sabedoria — através do
sofrimento. Você fica sozinho com Deus quando
está doente, você chama por Deus quando
sofre."
A devoção nos leva para o lugar onde podemos
abraçar o sofrimento desta maneira, porque o
nosso amor é muito forte. "Deverás amar o Se-
nhor teu Deus com todo o teu coração, e com
toda a tua alma, e com toda a tua força", diz a
Bíblia. Considerem: essa idéia pode realmente
ter algum significado? Seria possível falar sobre
desordenado de jovens médicos residentes
entrou no meio da meditação. Abriram a porta do
quarto e entraram, preparados com o seu
discurso de perfeitas condições de saúde: "Como
está você esta noite? Vamos ver a sua papeleta.
Tem sido uma boa paciente? Comeu todo o seu
jantar?" Mas eles entraram em um templo. Só
foram até o "Como está você..." e pararam.
Na terceira noite, em vez de barganharem, eles
abriram a porta com cuidado, entraram e ficaram
ali em silêncio por alguns minutos consultando as
papeletas e depois saíram. Estavam fazendo o
trabalho deles, mas não dominavam o cenário.
Eram como médicos de um time de futebol; os
médicos não aparecem — eles somente estão ali
para ajudar se você quebrar uma perna. São
empregados do sistema e não os donos dele.
A experiência de Debbie me mostrou a
possibilidade de criar um espaço para a morte
consciente bem dentro do sistema. Mas, natural-
mente, seria bom ter um espaço onde aquele
tipo de ambiente para morrer não seria somente
adaptado, mas apoiado e encorajado. Isso me
levou a pensar em um programa que gostaria de
chamar de "Chamada para a Morte". Se você
está morrendo e desejar morrer
conscientemente, telefone para nós. Enviaremos
uma pessoa que deseja trabalhar sobre si mesma
através do processo de estar com alguém — isto
é, você — que esteja tentando morrer
conscientemente.
que acham um poderoso sadhana trabalhar com
alguém que está morrendo. E existem outros de
nós que estão morrendo e que gostariam de ter
próximo alguém que realizou um trabalho interior
suficiente para estar realmente presente com
eles naquele espaço. Então, "Chamada para a
Morte" seria como um yenta, ou corretor de
casamentos — alguém que estabeleceria uma
relação entre o que poderíamos chamar de
"aquele que está morrendo" e os orientadores.
Finalmente, eu poderia imaginar que teremos
uma Benares no Ocidente. Teremos locais aonde
as pessoas irão e dirão: "É aqui que desejo
morrer. Gostaria de morrer entre pessoas que
não estão ocupadas em negar a morte, ou
tentando se agarrar à vida." Pessoas que
chegassem a estes centros seriam capazes de
decidir qual o tipo de médico que desejam e
quanta medicação precisam e em que tipo de
metáfora religiosa gostariam de morrer.
Poderiam morrer em uma metáfora cristã, ou em
uma metáfora muçulmana, ou em uma metáfora
budista, ou em uma metáfora hindu, ou em
qualquer outra. Haveria pessoas disponíveis em
cada tradição, e faríamos tudo que pudéssemos
para ter cada uma delas representada: wica,
zoroastriano, rastafari. Isto é, faríamos o melhor
para montar o cenário que a pessoa que está
morrendo achasse que facilitaria a sua
oportunidade de estar voltada para Deus no
momento da sua morte. Mas, embora a "Benares
Debbie foi uma boa mestra para mim sobre a
maneira como isso poderia ser realizado.
Em qualquer caso, morrer em um ambiente ideal
presume que teremos certo tempo para a
preparação, e para alguns de nós este não será o
caso. Para alguns de nós, a morte chegará de
modo muito repentino e inesperado. Pode
acontecer a qualquer um, a qualquer momento.
No período de uma semana em Naropa, por
exemplo, lidei com uma mulher que soubera ser
portadora de um câncer maligno, com um
menino que caiu de uma montanha e morreu, e
com uma mulher que sofreu um acidente de
carro no qual a sua companheira morreu. Tudo
inesperado, tudo estilhaçado.
A morte repentina é, em vários aspectos, mais
difícil de lidar espiritualmente. Não existe um
tempo para arrumar um ambiente externo que
nos coloque na direção certa. Não existe um
tempo para nos prepararmos — aqui está ela!
Torna-se, então, uma questão do nosso ambiente
interno naquele momento, e quando
compreendermos que a morte pode acontecer a
qualquer instante, começamos a prestar mais
atenção ao conteúdo momento-após-momento
das nossas mentes. Começamos nos
perguntando: "Se eu morresse neste momento,
meus pensamentos estariam voltados para
Deus?"
É neste ponto que a prática do mantra pode ser
muito útil. Vocês carregam um mala no seu bolso
ou "Cristo, Cristo, Cristo", ou "Rama, Rama,
Rama", ou "Alá, Alá, Alá". Se vocês preencheram
a sua mente com os nomes de Deus durante toda
a sua vida, terão uma chance melhor dele estar
ali no momento da sua morte. Mahatma Gandhi
estava passeando em seu jardim, em um dia
comum, quando foi atingido por três tiros
desferidos pelo seu assassino. Ele não disse:
"Aargh!" ou "Fui ferido!" ou "Salve a índia!".
Disse somente "Rama" e morreu. Estava pronto,
de modo que, mesmo no momento totalmente
inesperado, foi direto para Deus. Simplesmente:
Cheguei. Ahhhh! Vejam, estou livre!
O que mais precisamos no momento da morte é
de uma incrível clareza de consciência. Como
morrer é um dos eventos mais profundos de
nossas vidas, não devemos à morte o respeito de
nos preparar para ela para que quando o
momento chegar possamos lidar com ela
conscientemente? Confúcio disse: "Aquele que vê
o caminho de manhã pode alegremente morrer à
tarde." O sadhana é a preparação para que, a
qualquer momento, mesmo que seja totalmente
inesperado, estejamos preparados para soltar o
pensamento sobre a nossa própria existência.
HOUVE MAIS UMA LIÇÃO que aprendi ao estar com
pessoas que estavam morrendo: eu poderia ser
sugado por todo o melodrama que circunda a
morte tão facilmente quanto qualquer outra
pessoa. Aprendi em primeira mão sobre a
profundidade da minha própria negação do
Wavy Gravy uma vez me apresentou a um jovem
que estava morrendo de doença de Hodgkin.
Wavy sabia que eu me interessava em estar com
pessoas à beira da morte, e este rapaz quis falar
comigo, então Wavy programou o encontro. Nós
nos encontramos na casa de Tom Wolfe. Sentei-
me perto dele e disse: "Ouvi dizer que logo irá
morrer." Ele disse: "Sim." Perguntei: "Quer falar a
respeito?"
Ele prosseguiu relatando como tinha planejado
morrer. Estava no que era classificado de estágio
4B da doença, que é o estágio terminal. Tinha
seguido todos os tratamentos médicos e decidira
prosseguir por conta própria para evitar a dor dos
estágios finais da doença. Planejava tomar LSD e
depois uma overdose de heroína. Eu disse: "Me
parece razoável. Contudo, será preciso planejar
tudo muito cuidadosamente e se preparar para
que não tenha uma alucinação devido às drogas.
Deve trabalhar primeiro com elas para que possa
saber como permanecer consciente com elas
quando chegar a hora." Ele disse: "Quando ficar
muito fraco para conseguir me mexer, acho que
é o momento." Eu disse: "Independentememte
do que desejar — será a sua morte."
Ele acendeu um cigarro e notei que suas mãos
tremiam muito. Pensei: "O que estou fazendo? Eu
o assustei falando de modo tão casual sobre a
morte. Eu o assustei muito." Então, disse a ele:
"Ei, cara, eu o estou assustando, não é?! Mas não
quero que faça isso." Ele disse: "Oh, não, você
que não fica totalmente perturbado pela vibração
quando tocamos no assunto. Você está me dando
a força de que preciso. Estou absolutamente
dominado por ela."
Ele e eu começamos a nos apoiar um no outro
depois dessa conversa. Fizemos um filme juntos
no qual falamos sobre a morte dele. Seu cabelo
caíra por causa dos remédios, mas ele sempre
usava uma longa peruca hippie. No meio do filme
eu o fiz tirar a peruca; e o efeito sobre a platéia
foi enorme.
Foi uma experiência com aquele rapaz que me
mostrou como era fácil para mim ser sugado pelo
melodrama e pela negação em torno do morrer.
Uma tarde, ele e eu estávamos dirigindo pela
Highway 1 na Califórnia; se você já dirigiu
naquela auto-estrada sabe que ela é bem estrei-
ta, cheia de curvas e longos precipícios dando
para o oceano. Eu dirigia e ele estava recostado
no banco do carona. Ele e eu admirávamos as
ondas, o céu e a beleza daquele dia. Em um
momento, paramos para colocar combustível, e
quando íamos voltando para o carro o rapaz me
disse: "Ei, posso dirigir? Provavelmente será a
minha última oportunidade para isto." Uma barra
pesada. Um rapaz com vinte e três anos, um
grande investimento em dirigir... Eu disse:
"Certo." Ele se sentou ao volante e partimos.
Quando nos aproximamos da primeira curva,
compreendi de repente que ele estava fraco
demais para girar o volante, e nos dirigíamos
nos coloquei de novo na estrada. Então, nos
inclinamos para a direção oposta e muito
casualmente, girei novamente o volante.
Eu estava sentado ali, dirigindo sub-
repticiamente, quando de repente percebi que
estava envolvido em uma vasta conspiração para
negar o momento presente. A ansiedade dele era
tão profunda, sua tendência para quem ele ainda
pensava que era, era tão desesperada que ele
não conseguia se entregar a quem ele realmente
era naquele momento — alguém muito fraco
para dirigir. Eu tinha sido sugado novamente.
Tinha me envolvido naquela charada. Então,
disse a ele: "Sabe de uma coisa? Nós nos
envolvemos em um tipo de conspiração aqui,
fingindo que você ainda pode dirigir. Deveria
estar recostado e eu servindo de chofer para
você. Você deveria relaxar em vez de tentar se
agarrar ao passado."
Contei para ele a história do Zen Flesh, Zen
Bonés sobre o homem e o morango. Lembram-se
dela? Um homem estava sendo desafiado por um
tigre, e para escapar começou a escalar a borda
de um precipício. Mas, quando começou, ele
olhou para baixo e viu um outro tigre espreitando
lá embaixo. Ali estava ele, empoleirado
precariamente em uma pequena proeminência
de rocha, um tigre acima e um tigre abaixo. E,
enquanto estava pendurado, notou que
crescendo bem ali na sua frente estava uma
moita de morangos com um único morango
doce!" Eu disse para o jovem: "Aproveite o
morango deste momento!"
Toda essa experiência de deslizar para o
melodrama e negar a verdade do momento me
mostrou como a conspiração é sedutora, e como
é fácil ser pego no processo da negação quando
estamos perto de alguém que está morrendo. A
negação é o primeiro dos cinco estágios de
morrer de Elisabeth Kübler-Ross, e podemos ver
por que seria a reação imediata. A morte é tão
inconsistente com aquilo que pensamos que
somos que simplesmente negamos a
possibilidade; você diz a alguém que ela irá
morrer, e a primeira coisa que ela diz é: "Não, eu
não. O diagnóstico deve estar errado." Após a
negação vem a raiva: "Quem fez isso comigo?" E
depois o terceiro estágio — a barganha para
mudar a situação: "Se eu me comportar bem e
tomar os remédios, vou melhorar, não é?!"
Quando fica claro que a barganha não irá
funcionar, estabelece-se a depressão. E,
finalmente, após a depressão, vem a aceitação.
Contudo, acho que Elisabeth não foi até o fundo.
A aceitação não é o ponto final das
possibilidades. Estes cinco estágios são todos
estágios psicológicos que atravessamos quando
encaramos a morte, o que ainda é acanhado do
ponto de vista espiritual. A aceitação poderá ser
somente: "Está bem, estou morrendo". E nisso
ainda residem os sutis apegos ligados ao
pensamento de "estou morrendo". Uma
espiritual, a morte é uma saída, uma
oportunidade, e todas as nossas práticas são
realizadas para nos preparar para esse momento.
Se tivermos adotado um modelo
reencarnacionista, consideraremos o fato de que
o pensamento que teremos no momento da
morte será um pensamento crítico, porque
aquele pensamento influenciará o que acon-
tecerá em seguida. Isto é, quaisquer que sejam
os nossos desejos no momento da morte, iremos
para reinos onde aqueles desejos possam ser
realizados ou preenchidos. Isto está resumido na
passagem do Gita que citei anteriormente, em
que Krishna diz: "Aqueles que oram aos deuses,
vão para os deuses." Mas os lokas angelicais e os
lokas infernais, todos os diferentes reinos
acabam sendo somente mais encarnações, mais
formas. Podem parecer mais interessantes do
que o plano em que estivemos encarnados desta
vez, mas são somente mais véus entre nós e o
Bem- amado.
Se desejamos evitar assumir outras formas, o
melhor pensamento que podemos ter no
momento da morte é nenhum pensamento. No
momento da morte, todos entramos na clara luz
— todos nós. Cada um vivência Brahman, o
nirvana, o Vazio. Mas é preciso uma mente
disciplinada, uma mente espiritualmente
preparada, para resistir ao intenso empurrão das
forças kármicas — os poderosos impulsos de
pensamentos e sentimentos e percepções que
afastamos da luz para segui-lo, e começamos a
descer pelos círculos de manifestação, um por
um, empurrados pelo nosso karma, até
chegarmos a um plano onde aquele desejo pode
se manifestar ou ser realizado. Mas alguém que
não tem desejos na hora da morte — alguém que
pode dizer: "Esta é a vida. Isto é morrer. Isto é a
morte, Sim!" — essa pessoa não se prende a
nada, e não é empurrada para nada. Então,
através da morte, essa pessoa se torna livre da
Roda do Nascimento e da Morte. Ao morrer, essa
pessoa nasce em Deus.
Conclusão
SENDO ESTA A CONCLUSÃO, O NORMAL SERIA RELEMBRARMOS DA
VIAGEMque fizemos juntos e tentar e imaginar
aonde chegamos com tudo isso. Para tanto, nos
parece apropriado fazer duas coisas: primeiro,
reunir as várias correntes de pensamento que
seguimos para ligar os fios soltos para que
tenhamos a sensação de fechamento sobre tudo.
Segundo, refletir em que tudo isso tem a ver com
o Bhagavad Gita.
Vamos começar pelo último: acho que descobri
que a relação entre este livro e o Gita é um
pouco mais sutil do que poderíamos ter anteci-
pado primeiramente. Embora tenhamos suposto
de que seria um livro sobre o Gita, e ele tenha
surgido de vários e vários anos da leitura e
estudo do Gita, grande parte dele não esteve
diretamente ligado ao Gita em um sentido
interpretação dos seus slokas. Acho que seria
mais exato dizer que este livro é um comentário
sobre os conceitos básicos sobre os quais o Gita
é construído, e uma reflexão sobre algumas
maneiras através das quais podemos trazer as
práticas do Gita para as nossas próprias vidas
espirituais. Esses são os aspectos do Gita que
estivemos explorando.
Para criar um fechamento e unir tudo, suspeito
que teremos realmente de esperar até que
aconteça, a seu próprio tempo, em cada um dos
nossos corações, quando realizarmos os
ensinamentos à luz das nossas próprias
experiências. Porém, embora provavelmente não
possamos tecer tudo em uma mesma trama, o
que podemos fazer em seu lugar é seguir os fios
principais que percorreram o livro.
Olhando para trás, acho que podemos ver que o
tema subjacente permanente em tudo isso está
ligado à maneira como o Bhagavad Gita nos
fornece um mapa para o nosso próprio sadhana.
O Gita estabelece um sistema de práticas, yogas,
para nos colocar em união com Brahman, com o
Uno. E quando essas práticas funcionam, como
no caso de Arjuna, surge a Visão Mística.
No capítulo 11 do Gita, temos uma amostra de
como seria essa visão. Arjuna diz para Krishna:
"Ouvi suas palavras de verdade, porém minha
alma anseia em ver a sua forma como Deus de
tudo isso." Então, devido à preparação que
Arjuna teve, Krishna dá a ele a "visão divina"
partes deste diálogo interno e também outros en-
sinamentos do silêncio, tais como a
conscientização de como as outras pessoas perto
de vocês utilizam as conversas.
Quando surgir o impulso para falar, esta energia
deverá ser canalizada para uma afirmação
espiritual ou mantra, para a Oração do Coração,
o Triplo Refugio, ou qualquer método que seja
adequado a vocês.
Em algum momento durante o dia, reservem pelo
menos uma hora para o silêncio do corpo, da fala
e da mente. Encontrem uma posição confortável
para o corpo, mantendo a coluna ereta, e
determinem-se a ficar sentados por uma hora
sem se mexer. Ao mesmo tempo, pratiquem o
silêncio da mente através da meditação ou da
oração. ("O silêncio interno é a auto-entrega —
viver sem o sentimento do ego." — Ramana
Maharshi) Vocês já estarão praticando o silêncio
da fala. Estes três silêncios — do corpo, da fala e
da mente — são conhecidos como o Nobre
Silêncio.
Algumas mensagens inspiradoras sobre as
palavras não pronunciadas:
Compreendi neste lugar que as pessoas temem o
silêncio mais do que qualquer outra coisa, que a
nossa tendência para falar surge da autodefesa e
baseia-se sempre sobre uma relutância em ver
alguma coisa, uma relutância em confessar algo
para alguém. Categoricamente, uma pessoa é
silenciosa por si mesma, isto é, ao começar a
começa a distinguir as mentiras das outras
pessoas.
- Ouspensky
H .H A T H A AY SO AG NAPA:RS Al N A Y A M A S
Durante o curso, será aconselhável que fiquem
sintonizados com o seu corpo como o templo no
qual vocês habitam, como o ambiente mais
imediato no qual vocês residem. Um corpo
doente ou tenso pode ser um grande
impedimento para o esforço pessoal para abrir o
coração e concentrar a mente. Embora seja
verdadeiro que a mudança das tendências
mentais e emocionais esfriarão e harmonizarão
por si só o seu corpo, inversamente a purificação
do físico ajudará na harmonização da mente e do
coração.
O método tradicional hindu para sintonizar,
acalmar e vitalizar o corpo é o Hatha Yoga, que
envolve a aceitação consciente de um grupo de
posturas meditativas, ou asanas, e o controle da
respiração (pranayama). Além disso,
determinados asanas estão primeiramente
ligados à liberação ou transmutação da energia
de uma forma para outra ou de uma parte do
corpo para outra, e com a purificação do sangue
e dos nadis (nervos espirituais).
O Hatha yoga intensivo praticado por cinco
semanas alteraria dramaticamente:
- a sua capacidade de se sentar em silêncio em
meditação sem ficar preocupado com o corpo;
- os seus desejos com relação a certos alimentos,
tabaco, drogas, ao sensibilizá-los para as reações
do seu corpo sutil;
- o tônus geral do seu corpo e o sentido de bem-
estar.
Vários de vocês já conhecem grupos de
exercícios de asanas e pranayama. Para aqueles
que não conhecem e desejam receber um
manual com instruções e uma orientação, por
favor, procurem um dos professores.
Oferecemos aqui um exercício composto
conhecido como Surya Namaskaram — a
Adoração ao Sol. Ele deve ser realizado entre
quatro e seis vezes em um espaço plano e
silencioso. As roupas deverão ser leves e
flexíveis. Não deverá ser realizado antes de duas
horas após a refeição.
EXERCÍCIO
S u r y a N a m a As kd ao r a mç ã: o A a o S o l
Prenda a
respiração 7) Abaixe a pelve e estique a cabeça,
pescoço e peito, olhando para cima e para trás.
Expire 8) Coloque a cabeça entre os braços,
levantando o corpo mais uma vez para formar
um arco.
Inspire 9) Empurre a perna esquerda para a
frente entre as mãos, com o joelho esquerdo
tocando o queixo. Olhe para cima.
Expire 10) Traga a perna direita para a frente,
esticando os joelhos. Volte para a posição 3.
Inspire 11) Estique-se para cima e para trás na
posição 2.
Expire 12) Abaixe os braços, uma as palmas das
mãos, como na posição 1.
I .J A PY AO G A
EXERCÍCIO
Outra possibilidade seria ficar com uma outra
pessoa por várias horas em turnos assumindo o
papel de testemunha-repórter que tenta estudar
sem preconceitos a natureza sob a forma dos
processos do "outro". Como testemunha,
permaneçam em silêncio interior e simplesmente
notem como o outro ser funciona. Como o que é
observado, vivenciem a sua vida como ela se
mostra para um observador imparcial. Evitem
julgamentos.
Anotem a experiência em seu diário.
M. Mesa do Puja
Para desenvolver um Centro interior, uma
postura meditativa, ou conectando-se com o
núcleo do seu coração, será muito útil criar um
espaço silencioso externo onde vocês poderão se
refugiar para se recarregarem.
Para montar a mesa do puja, escolham um local
silencioso, que poderá ser um refugio. Vocês
chegam em casa se sentindo esbaforidos, zan-
poderão se sentar defronte da mesa do puja e se
Lembrar.
Tipicamente, representações de seres sagrados,
estátuas, flores, frutas, pedras ou conchas
especiais ou itens que associam ao local mais
elevado em vocês encontram-se sobre a mesa do
puja. Aqui vocês podem adorar Deus da maneira
como isso lhes abre o coração. Podem cantar,
meditar, oferecer alimentos, realizar uma
adoração ritualística com sinos, velas e mantras,
incenso, ou podem simplesmente descansar no
espaço que vocês e a mesa do puja criam juntos.
Podem preferir que haja somente uma
representação sobre a mesa. Buda, digamos, é a
sua conexão, o seu refugio, e uma estátua ou
quadro de Buda é tudo que desejam ou precisam
sobre o altar. Ou pode haver várias
manifestações de Uno que os atrai para aquele
lugar.
Uma mesa de puja é um bom lugar para realizar
um trabalho consciente sobre si mesmo e
também um local de adoração. Por exemplo,
vocês sentem um grande amor pelo Cristo e a
representação Dele está ali, bem no centro. Mas
Shiva é uma energia a qual vocês preferem não
se ligar — muito impetuosa. Coloquem uma
pintura Dele ou um lingam de Shiva simbólico (ou
um retrato de alguém com quem vocês sentem
uma dificuldade real de identificar) próximo da
representação do Cristo. Na atmosfera silenciosa
e de apoio em que entram enquanto se encon-
estabelecida e a relação entre a identidade do
Cristo e de Shiva será realizada. Possivelmente
vocês estão preocupados com o sexo. Trabalhem
então com uma representação de Maria, a Mãe
do Cristo ou de Anandamayi Ma, e talvez uma
foto pornográfica também (se pertencerem ao
sexo masculino desta vez) e mais tarde, durante
aquele dia, tentem sentir a essência divina em
todas as mulheres que encontrarem. Talvez
colocar uma foto de seus pais entre Cristo e Buda
seja um trabalho significativo para vocês neste
momento.
A estátua de Buda não é somente um símbolo de
Buda, ela é o Buda. Uma pintura do Senhor Rama
não é somente um pedaço de papel, mas uma
manifestação do verdadeiro espírito de Rama.
Compreendam isso, e depois, onde estiverem, se
transformem na sua mesa de puja, um lugar para
abrir o seu coração e sentir a presença do Ser
Supremo.
Não pelos Vedas, ou por uma vida austera, ou por
doações aos pobres ou por oferendas em rituais
posso ser visto como me vêem. Somente pelo
amor os homens podem me ver, e me
conhecerem, e virem a mim.
— Bhagavad Gita XI, 53,54
N. KARMA YOGA
Façam O que desejarem, porém consagrem o
- Krishna no Gita
EXERCÍCIO
1. limpem a grade de proteção da estrada
principal em torno de Boulder;
2. sejam um voluntário em hospitais
locais e/ou em asilos de idosos (em Boulder
ou Denver) oferecendo ajuda e lidando com
os pacientes. Leiam para pessoas cegas ou
mais idosas;
3. envolvam-se em alguma organização
voluntária local por um dia (centro de
reciclagem, cuidar de crianças).
O Roteiro Suplementar
A. Meditação Vipassana
B. Meditação Consciente Sobre o
Alimento, por Joseph Goldstein
C. Meditações Budistas Durante as Refeições, por
Jack Kornfield
D. Meditação do Satsang
E. Como Usar o Mala
F. Os Chakras
G. O Yoga dos Psicodélicos
A. Meditação Vipassana 3
D. MEDITAÇÃO DO SATSANG
Satsang significa reunir-se na Verdade. A beleza
de estar em um satsang é que vocês estarão
partilhando de um contrato com uma outra
pessoa que ajudará ambos a irem para Deus. Isso
significa que vocês estarão ambos trabalhando
conscientemente para ver um ao outro como
almas.
A melhor maneira de ver uma outra pessoa como
uma alma é simplesmente parar para ver. É algo
para ser vivenciado, não para ser comentado. É o
lugar onde as nossas diferenças individuais
parecem como um cenário e não mais como um
personagem. Se vocês têm amigos espirituais em
quem confiam, aqui está uma pequena
colaboração de um satsang que poderão tentar
juntos. É como um exercício de meditação a dois.
Sentem-se diante um do outro. Procurem ficar
confortáveis; façam algumas inspirações lentas.
Não falem um com o outro — este não é um
encontro social. Não "falem" também com as
suas expressões — esqueçam quanto a sorrir,
fazer gestos com a cabeça ou expressões faciais.
Simplesmente sentem-se e olhem para a outra
pessoa.
Focalizem um ponto entre os olhos um do outro
de modo que possam ver os dois olhos ao mesmo
tempo. Agora permaneçam sentados desta
maneira, com os olhos focalizados, digamos, por
uma meditação de trinta minutos. Relaxem,
permaneçam sentados e deixem tudo acontecer.
Permitam-se ver todas as coisas que surgirem na
outra pessoa, experimentem todos os
sentimentos que tiverem ao serem olhados com
tanta intensidade por uma outra pessoa.
Continuem a olhar.
Logo vocês começarão a ver o rosto da outra
pessoa mudar. Ocasionalmente, ele ficará muito
belo, e outras vezes, horrível. Em ambas as
vezes não permitam que surja alguma reação em
vocês. Não deixem que isso os atraia —
simplesmente firmem os olhos e digam: "Isso
também.
Isso também." Observem as suas dez mil visões
horríveis e as suas dez mil visões maravilhosas, e
soltem todas. Simplesmente continuem a olhar, e
Após um tempo, descobrirão que todo esse
"material" começará a mudar. Começará a ser
mais um fundamento do que uma figura. O bom,
o mau, o belo, o feio, tudo desfilará e vocês
verão cada vez mais fundo até que estarão
olhando simplesmente para um outro ser que
está olhando de volta para vocês. Vocês serão
uma alma reconhecendo uma alma.
Este é um tipo de brincadeira que poderão fazer
quando estiverem em um SATSANG com seus
colegas.
F. OS CHAKRAS
O sistema dos chakras funciona dentro da
estrutura de energia dos nossos corpos; embora
os próprios chakras operem a nível astral, eles se
expressam através dos padrões de energia dos
nossos corpos. Diz-se tradicionalmente que
existem sete chakras, começando com o
muladhara na base da coluna e terminando com
o sahasrara no alto da cabeça. Os chakras não
são formas físicas; se parecem mais com focos
de energia e estão localizados ao longo do
sushumna, que é um tipo de medula espinhal a
nível astral. Diz-se que o sushumna percorre o
centro da medula espinhal, mas não pode ser
visto em um raio X. Da mesma forma, "ida" e
"pingala" são os "nervos" do sistema, correndo
ao lado do sushumna, mas não são nervos que
possam ser dissecados em uma aula de
anatomia. São todos entidades astrais.
A energia que se move através do sushumna é
conhecida como "kundalini", que significa
literalmente "a que está enrolada". A energia
kundalini é visualizada como uma serpente
enrolada, que reside na base da coluna, até que
alguma coisa — algo em nossas práticas ou no
curso da evolução — a faz começar a desenrolar
e subir pelo sushumna. Com isso, ela passa por
O primeiro chakra, o muladhara (que fica na
base da coluna entre o esfincter anal e os
genitais) é primordialmente ligado às funções de
sobrevivência. O segundo chakra, svadishtana,
é o chakra sexual. O terceiro chakra, que é
chamado de manipura, está localizado na área
próxima ao umbigo, no plexo solar; acredita-se
que esteja ligado às expressões do poder do ego.
O quarto chakra é chamado de anáhata, ou
chakra cardíaco, e está ligado à compaixão. O
quinto chakra, o visuddha, localizado na
garganta, está ligado com a introspecção voltada
para Deus, e portanto com o desenvolvimento da
"voz verdadeira", o som divino que fala através
de nós. O sexto chakra, que é chamado de ajna,
está localizado no centro da testa; é geralmente
chamado de chakra do terceiro olho, e está
ligado ao guru interno e à sabe- dória superior. E,
finalmente, o sétimo chakra, o sahasrara, no alto
da cabeça, é o lótus de mil pétalas, da
iluminação, da imersão em Brahman.
Quando a energia kundalini se desenrola e sobe
pela coluna, ela passa por cada um desses
chakras, através do foco de cada forma de
energia. A kundalini irradia do sushumna a cada
nível do chakra e energiza, ou ativa, cada um
desses campos de energia física/psicológica. Mas
se, quando a kundalini começar a subir, chegar a
um centro que esteja bloqueado, a energia
penetrará como alguma forma de
comportamento. É como água escoando por um
segundo chakra; a tradução do nome do segundo
chakra, que é o chakra sexual, é "sua estação fa-
vorita" — referindo-se à kundalini. É um tipo de
Riviera francesa do mundo dos chakras; a
kundalini chega ali e decide permanecer de férias
por um tempo. Ou talvez contorne os baixios e
chegue ao terceiro chakra, fica presa nas
necessidades do poder do ego e não consegue
prosseguir.
No mundo real, o processo não é tão tranqüilo e
ordeiro como parece. Não é passar pelo primeiro
chakra e depois ir para o segundo... e ao termi-
nar com o segundo prosseguir para o terceiro e
assim por diante. Todos recebem um pouco de
tudo o tempo todo, mais bloqueado neste chakra,
menos naquele. Quando vocês ficam mais
esclarecidos quanto ao sistema dos chakras,
começam a acessar os seus próprios atributos
em termos do movimento da kundalini: "Ainda há
muita energia parada no meu segundo chakra,
mas o meu quarto chakra está começando a
abrir."
Trabalhei com algumas energias do sistema dos
chakras e, ocasionalmente, quando estava
sentado conversando com alguém, de repente eu
via um mapa vivo dos chakras bem ali na minha
frente. Via os vários chakras, todos enviando
energia: "bzzt, bzzt, bzzt" — algo como "luxúria,
luxúria, luxúria", ou "poder, poder, poder", ou
"compaixão, compaixão, compaixão". Ou via que
nada saía do chakra do coração, mas o terceiro
A kundalini é despertada de várias maneiras.
Swami Muktananda tinha a capacidade de dar
um shaktipat, um golpe direto de energia que
despertava a kundalini. Isso exercia os efeitos
mais estranhos sobre as pessoas. De repente,
alguém levantava e começava a dançar —
alguém que você nunca esperava que se
comportasse desta maneira; um senhor gorducho
vestido com um terno de sarja azul em estilo
conservador, por exemplo, levantou e começou a
realizar uma incrível dança indiana. E o homem
ao lado dele, que parecia ser um professor, com
sua jaqueta de tweed e o cachimbo pendurado
na boca, de repente começou a fazer mudras —
mudras complexos, belos, perfeitos — e as suas
feições revelavam total perplexidade. Alguém
iniciou uma respiração automática e golpeou o
chão como uma bola de praia. O local começou a
lembrar o pátio dos fundos de um hospital de
doenças mentais.
Enquanto isso, Swami Muktananda ficava
sentado, com os olhos fechados, tocando sua
ektara. Mas a sua presença era como um raio de
energia, ativando a kundalini, os centros de
energia em todas as pessoas à sua volta. O
shaktipat — sua doação de shakti — fazia a
kundalini começar a se desenrolar, e
dependendo de onde os chakras estavam
bloqueados, a energia surgia sob diferentes
manifestações de comportamento. Um pequeno
bloqueio aqui e outro ali, essa combinação o faria
compreenderem o sistema, poderão fazer uma
lista de quem tinha qual chakra bloqueado.
Se vocês se sentirem atraídos para trabalhar com
os sistemas de energia, poderão decidir explorar
o trabalho com estas energias dos chakras.
Existem maneiras diferentes de fazê-lo. Poderão
tentar através da meditação, por exemplo —
poderão visualizar as energias chegando em
cada chakra até o alto da sua cabeça. Ou talvez
prefiram trabalhar com um outro tipo de exer-
cício de visualização, como um mandala das
tradições tibetanas. Em algumas outras
tradições, vocês receberão um mantra específico,
um "bija" ou som-semente, para abrir um
determinado chakra. Poderão usar o
pranayama, um método que trabalha com o
controle da respiração para mover a energia de
chakra em chakra. Cada uma delas é uma
técnica que trabalha de modo específico para
despertar a energia da kundalini. Poderão
tentar e trabalhar com elas e verificar como
afetam as energias dos chakras e de que
maneira isso interage com as suas outras
práticas espirituais.