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Apresentação oral de Português - Temas de Fernando Pessoa e a atualidade

Bruna Morais nº4 12ºB

Olá, boa tarde a todos! Hoje estou aqui com o intuito de vos falar sobre uma problemática
abordada pelo escritor que temos vindo a trabalhar ao longo deste período, Fernando Pessoa.

A problemática a que me refiro é a banalização da mentira. Mas como é que a banalização da


mentira se relaciona com Fernando Pessoa? No Livro do Desassossego, de Bernardo Soares,
um dos heterónimos de Fernando Pessoa, pode ser lido, e passo a citar:
“A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de
palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os
mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento, que as palavras forçosamente
não poderão nunca traduzir, assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos
uns aos outros, o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer”

Embora isto seja direcionado aos poetas que, nos seus poemas, apenas podem comunicar
um sentimento fingido, já que o sentimento real permanece no sujeito e estes tentam, por
palavras, criar uma representação do mesmo, ao deparar-me com esta citação questionei-me
até que ponto a nossa sociedade não terá já normalizado a mentira, o fingimento, de tal forma
que, para além de uma linguagem da alma, esta passou a ser uma linguagem do quotidiano.

Permitam-me explicar. No nosso dia à dia deparamo-nos a todos os instantes com mentiras,
meias verdades, afirmações fora de contexto, insinuações, manipulações de dados, entre
outras formas de contornar verdade e tornar esta em algo que beneficie quem a conta.

Em primeiro lugar, temos os órgãos de comunicação social que, em busca de serem os


primeiros a passar a informação à população, acabam por ignorar uma das etapas mais
importantes do jornalismo, a verificação. Como consequência desta negligência, acabam por
exibir durante horas e em repetição constante notícias totalmente falsas. Como exemplos
destes lapsos temos diversas notícias acerca da atual guerra entre a Ucrânia e a Rússia.
Nomeadamente, o suposto ataque a um prédio de Kiev por um míssil russo que passou em
todos os canais portugueses. Primeiro foi afirmando que um míssil russo tinha acertado um
prédio em Kiev, depois já era um avião russo que tinha sido abatido e por fim chegou-se à
conclusão que, na realidade, era um avião ucraniano que muito provavelmente teria sido
abatido pelas próprias defesas antiaéreas ucranianas.

Vale realçar que este caso em particular acabou por ser corrigido pela maioria dos canais
televisivos, todavia, nem sempre as televisões estão interessadas em corrigir as notícias falsas.
Como foi o caso da divulgação de fotografias de pessoas do Norte de Moçambique apelidadas
de terroristas. Algum tempo após a exibição das mesmas, o jornalista Luís Galrão, conhecido
por tentar combater a desinformação, conseguiu identificar estas pessoas como sendo
agentes da Força de Guarda da Fronteira de Moçambique, propondo ao respetivo canal
facultar-lhes toda esta informação para que pudessem desmentir a notícia transmitida, mas
tal não aconteceu.

Em segundo lugar, temos a falta de contexto. Por vezes os meios de comunicação servem-se
de frases que, não sendo contextualizadas, podem considerar-se ambíguas para, assim,
captar a atenção dos espectadores e/ou leitores. Porém, nem todas as pessoas ouvem ou
leem as notícias até ao fim, acabando estas por ficar com uma ideia errada acerca do respetivo
tópico. Ainda por cima, estas pessoas acabarão, muito provavelmente, por divulgar a
informação mal interpretada com as pessoas com as quais convivem, alastrando-se, assim
com extrema facilidade, uma notícia falsa. Para além de descontextualização, podem também
recorrer ao exagero, à adjetivação desnecessária ou até mesmo colocar um título cujo tema
não é totalmente desenvolvido no corpo da notícia. Como exemplo temos uma manchete onde
se lê “A luta da apresentadora contra o cancro”. A primeira coisa que pensamos é que a
aprestadora mencionada teve a infelicidade de ser diagnosticada com a doença, mas não, se
lermos o corpo da notícia descobrimos que na verdade a respetiva apresentadora fez uma
campanha de angariação de fundos para ajudar essa causa.

Algo que também pode refletir o exagero e a adjetivação desnecessária referidas


anteriormente, é a época de eleições ou a política em geral. Mentira e política são duas
palavras frequentemente ouvidas na mesma frase. Ainda este ano, nas passadas eleições
legislativas, houve um total de 30 debates realizados, dos quais foram efetuadas 184
verificações de factos e 34 destes foram considerados falsos. Alguns exemplos são: “O CDS
apresenta no seu compromisso eleitoral uma redução para metade dos impostos na fatura
dos combustíveis e da eletricidade”, afirmação feita por Francisco Rodrigues dos Santos,
quando, na verdade, no “compromisso fiscalidade” do programa do CDS-PP apenas se
propõem a limitar a 30% do preço final o Imposto sobre os combustíveis e nem chegam a
fazer referência à eletricidade. Temos também a alegação de que "Portugal gasta mais do que
a média da União Europeia em termos de saúde" feita por Rui Rio. No entanto, consultando o
mais recente relatório intitulado "Estado da Saúde na UE - Portugal - Perfil de saúde do país
2021" em Portugal, as despesas de saúde per capita e as despesas de saúde como
percentagem do PIB são, desde há muitos anos, inferiores à média da União Europeia.

Por fim, temos a farsa das redes sociais, algo que afeta, maioritariamente, as gerações mais
novas, como a minha. De facto, as redes sociais têm as suas vantagens, mas será que temos
feito um bom uso das mesmas? Será que somos verdadeiramente quem pregamos ser nas
redes sociais? É obvio que não é do interesse de ninguém publicar coisas más acerca de si
ou acerca de qualquer outro tópico, o problema surge quando esta boa intenção se torna algo
obsessivo e passamos quase que a interpretar um personagem nas redes sociais. A internet
é o lugar onde vemos aquilo que o outro quer mostrar, não forçosamente o que é real. As
fotos são escolhidas a dedo para mostrar o melhor ângulo, os textos são sempre otimistas, as
pessoas mostram-se sempre felizes. Assim, de um lado temos pessoas que se esforçam de
forma exaustiva para mostrar uma vida inventada e do outro temos indivíduos cada vez mais
frustrados e infelizes por não conseguirem conquistar essa vida ideal. Algo interessante é que
a maioria destas pessoas têm plena noção de que nem tudo o que é postado é realmente toda
aquela maravilha, mas mesmo assim interiorizam aquela ilusão, acabando por invejar o irreal.
Esta competição silenciosa de quem tem a vida mais perfeita tem aumentado a incidência de
problemas como ansiedade, depressão, baixa autoestima e transtornos alimentares, como foi
comprovado por um dos maiores estudos acerca desta problemática realizado pelas
universidades de Cambridge e Oxford e pelo instituto Donders.

Para concluir, termino esta apresentação com uma reflexão. Há décadas atrás a maledicência
mentirosa contra o outro tinha dia permitido para acontecer, primeiro de abril, porque a
mentira era condenada socialmente. O mentiroso persistente perdia a credibilidade dos
demais: a mentira era punida e a verdade premiada. Todavia, atualmente, o mesmo já não
pode ser dito, todos os dias do ano são dias da mentira, as pessoas estão exageradamente
familiarizadas com ela a ponto de poucas quererem saber da verdade e viver com a mesma.
Guião da apresentação

Tema - A banalização da mentira

Bruna Cristina Fernandes Morais nº4 12ºB

− Apresentação do tema relacionado com Fernando Pessoa (a banalização da mentira);


− Leitura de uma citação do Livro do Desassossego, de Bernardo Soares, para
contextualização;
− Breve explicação da citação;
− Desvalorização da verificação dos conteúdos noticiados pelos órgãos de comunicação
social;
− Falta de contexto, exagero e adjetivações desnecessárias nos cabeçalhos das notícias
e omissão da explicação dos mesmos no corpo da notícia;
− A mentira e a política;
− A farsa das redes sociais e impactos na saúde mental;
− Conclusão com referência ao dia da mentira;

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