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Olá, boa tarde a todos! Hoje estou aqui com o intuito de vos falar sobre uma problemática
abordada pelo escritor que temos vindo a trabalhar ao longo deste período, Fernando Pessoa.
Embora isto seja direcionado aos poetas que, nos seus poemas, apenas podem comunicar
um sentimento fingido, já que o sentimento real permanece no sujeito e estes tentam, por
palavras, criar uma representação do mesmo, ao deparar-me com esta citação questionei-me
até que ponto a nossa sociedade não terá já normalizado a mentira, o fingimento, de tal forma
que, para além de uma linguagem da alma, esta passou a ser uma linguagem do quotidiano.
Permitam-me explicar. No nosso dia à dia deparamo-nos a todos os instantes com mentiras,
meias verdades, afirmações fora de contexto, insinuações, manipulações de dados, entre
outras formas de contornar verdade e tornar esta em algo que beneficie quem a conta.
Vale realçar que este caso em particular acabou por ser corrigido pela maioria dos canais
televisivos, todavia, nem sempre as televisões estão interessadas em corrigir as notícias falsas.
Como foi o caso da divulgação de fotografias de pessoas do Norte de Moçambique apelidadas
de terroristas. Algum tempo após a exibição das mesmas, o jornalista Luís Galrão, conhecido
por tentar combater a desinformação, conseguiu identificar estas pessoas como sendo
agentes da Força de Guarda da Fronteira de Moçambique, propondo ao respetivo canal
facultar-lhes toda esta informação para que pudessem desmentir a notícia transmitida, mas
tal não aconteceu.
Em segundo lugar, temos a falta de contexto. Por vezes os meios de comunicação servem-se
de frases que, não sendo contextualizadas, podem considerar-se ambíguas para, assim,
captar a atenção dos espectadores e/ou leitores. Porém, nem todas as pessoas ouvem ou
leem as notícias até ao fim, acabando estas por ficar com uma ideia errada acerca do respetivo
tópico. Ainda por cima, estas pessoas acabarão, muito provavelmente, por divulgar a
informação mal interpretada com as pessoas com as quais convivem, alastrando-se, assim
com extrema facilidade, uma notícia falsa. Para além de descontextualização, podem também
recorrer ao exagero, à adjetivação desnecessária ou até mesmo colocar um título cujo tema
não é totalmente desenvolvido no corpo da notícia. Como exemplo temos uma manchete onde
se lê “A luta da apresentadora contra o cancro”. A primeira coisa que pensamos é que a
aprestadora mencionada teve a infelicidade de ser diagnosticada com a doença, mas não, se
lermos o corpo da notícia descobrimos que na verdade a respetiva apresentadora fez uma
campanha de angariação de fundos para ajudar essa causa.
Por fim, temos a farsa das redes sociais, algo que afeta, maioritariamente, as gerações mais
novas, como a minha. De facto, as redes sociais têm as suas vantagens, mas será que temos
feito um bom uso das mesmas? Será que somos verdadeiramente quem pregamos ser nas
redes sociais? É obvio que não é do interesse de ninguém publicar coisas más acerca de si
ou acerca de qualquer outro tópico, o problema surge quando esta boa intenção se torna algo
obsessivo e passamos quase que a interpretar um personagem nas redes sociais. A internet
é o lugar onde vemos aquilo que o outro quer mostrar, não forçosamente o que é real. As
fotos são escolhidas a dedo para mostrar o melhor ângulo, os textos são sempre otimistas, as
pessoas mostram-se sempre felizes. Assim, de um lado temos pessoas que se esforçam de
forma exaustiva para mostrar uma vida inventada e do outro temos indivíduos cada vez mais
frustrados e infelizes por não conseguirem conquistar essa vida ideal. Algo interessante é que
a maioria destas pessoas têm plena noção de que nem tudo o que é postado é realmente toda
aquela maravilha, mas mesmo assim interiorizam aquela ilusão, acabando por invejar o irreal.
Esta competição silenciosa de quem tem a vida mais perfeita tem aumentado a incidência de
problemas como ansiedade, depressão, baixa autoestima e transtornos alimentares, como foi
comprovado por um dos maiores estudos acerca desta problemática realizado pelas
universidades de Cambridge e Oxford e pelo instituto Donders.
Para concluir, termino esta apresentação com uma reflexão. Há décadas atrás a maledicência
mentirosa contra o outro tinha dia permitido para acontecer, primeiro de abril, porque a
mentira era condenada socialmente. O mentiroso persistente perdia a credibilidade dos
demais: a mentira era punida e a verdade premiada. Todavia, atualmente, o mesmo já não
pode ser dito, todos os dias do ano são dias da mentira, as pessoas estão exageradamente
familiarizadas com ela a ponto de poucas quererem saber da verdade e viver com a mesma.
Guião da apresentação