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Esta chamada não deve ser adivinhada. Quem se aventura por um caminho que não pode
percorrer, com pé firme, espera de antemão as decepções. O trabalho pesa sobre todos e,
depois do sempre custoso primeiro treinamento, seria uma loucura deixar a mente afundar na
indigência primitiva. Este último estado de espírito é o da vocação.
Implica uma resolução séria, porque a vida de estudo, sendo austera, impõe fardos pesados.
Atletas inteligentes, como atletas esportivos, devem planejar testes, longas sessões de
treinamento e, às vezes, tenacidade sobre-humana. Devem entregar-se de corpo e alma à
conquista da verdade, porque a verdade só presta serviços a quem a serve.
Nossas disposições são como as propriedades químicas que determinam, para cada corpo, as
combinações em que ele pode entrar. São Tomás, afirmando que o prazer qualifica as funções e
pode servir para classificar os homens, deve naturalmente concluir que o prazer também pode
trair as nossas vocações. O estudo de uma vocação intelectual envolve, além da vantagem
incalculável da plena realização do homem por si mesmo, um interesse geral a que ninguém
pode renunciar. A humanidade cristã é formada por diversas personalidades, e nenhuma delas
pode abdicar sem empobrecer o grupo e privar o Cristo eterno de parte de seu reino.
Todos os caminhos, exceto um, são ruins para você porque todos se desviam da direção em
que sua ação é esperada e necessária. Isso pressupõe que se abrace a vida intelectual com
intenções desinteressadas e não por ambição ou vanglória. A ambição, que subordinaria a
verdade eterna a si mesma, o ofenderia. Jogar com questões que dominam a vida e a morte, de
natureza misteriosa, traçar um destino literário e filosófico em detrimento da verdade ou por
dependência da verdade, constitui um sacrilégio.
Mas isto supõe também que a aceitação do fim esteja unida à aceitação dos meios, caso
contrário, a obediência à própria vocação não deve ser levada a sério. Uma vaga aspiração
empurra as multidões para horizontes que mais admiram de longe, como a gota admira, da
planície, as neves eternas que cobrem os cumes das montanhas. Que belas colheitas poderiam
ser feitas nos primeiros anos de liberdade após os estudos, quando a grama intelectual ainda
estava revirada com as sementes confiadas ao solo! É este tempo que nunca mais voltará, o
tempo que viveremos depois. O que quer que ele tenha sido, assim será o homem, pois não há
como reverter o caminho que ele percorreu.
Se vives superficialmente, sofrerás o castigo de ter negligenciado, no teu tempo, o futuro que
vive sempre na esperança. Pense em cada um deles quando a reflexão puder ajudar. Quantos
jovens, que acalentam a pretensão de se tornarem operários, perdem miseravelmente os seus
dias, as suas forças, a sua seiva intelectual! ou não trabalham, quando têm tempo para o fazer,
ou trabalham mal, caprichosamente, sem saber o que são, para onde querem ir, nem como
andar. O ascetismo particular e a virtude heróica do trabalhador intelectual devem ser seu pão
diário.
Se o gênio não é necessário para produzir, muito menos a plena liberdade, até porque esta tem
suas armadilhas, e estar sujeito a obrigações estritas pode contribuir imensamente para superá-
las. O homem, constrangido, concentra-se mais, aprende a valorizar o tempo, refugia-se com
ardor nas raras horas em que, cumprido o seu dever, reencontra o ideal e goza da calma da
ação escolhida, depois da ação imposta pela dura existência. Pobre tartaruga industriosa, não
perde seu tempo em trivialidades, em trapaças, e depois de alguns anos alcança a lebre
indolente cujo andar desimpedido invejava, arrastando-se lentamente. Pense no mesmo do
trabalhador isolado, sem dons intelectuais, nem facilidade de reuniões para estimulá-lo,
Aqui também, a força pode vir da dificuldade. Obrigado a ganhar a vida, você o ganhará sem
sacrificar, como tantas vezes acontece, a liberdade da alma. Na opinião de muitos, as duas
horas que peço são suficientes para traçar um destino intelectual. Queres fazer a tua parte para
perpetuar a sabedoria entre os homens, recolher a herança dos séculos, fornecer ao presente as
regras da mente, descobrir fatos e causas, dirigir os olhos em movimento para as causas
primeiras? dos fins supremos, reacender a chama apagada e organizar a propaganda da
verdade e do bem? É uma parte que sem dúvida vale os sacrifícios extras e o cultivo de uma
paixão absorvente.
O estudo e a prática aquilo que o P. Gratry chama a Lógica viva, isto é, o desenvolvimento do
nosso espírito, ou verbo humano, pelo contato direto ou indireto com o Espírito e o Verbo divino,
este estudo grave e esta prática perseverante franquear-te -ão a entrada no santuário
admirável. II – O intelectual não é um isolado. O trabalhador cristão, em virtude de sua vocação
intelectual de consagrado, não deve se isolar. Seja qual for a sua situação, julguem-no
abandonado ou retirado materialmente, não deve deixar-se tentar pelo individualismo, imagem
deformada da personalidade crista.
Porque vive com Jesus Cristo, não pode separar dele nem os tempos nem os homens. O
verdadeiro cristão terá sem cessar diante dos olhos a imagem do globo onde está plantada a
cruz, onde os pobres seres humanos erram e sofrem, e onde o sangue redentor procura
encontrá-los através de meandros sem conta. Toda a verdade é vida, orientação, caminho em
ordem alcançar o fim humano. Trabalhai, ervilhas, sempre, em espírito de utilização, como
recomenda o Evangelho.