Você está na página 1de 39

Chamados à Vida Intelectual

IMPORTÂNCIA

Irmãos, hoje, mais do que nunca, a necessidade de sabedoria neste mundo louco é
urgente. Já diz as Sagradas Escrituras: "meu povo se perde por falta de conhecimento"
(Oséias 4,6). O conhecimento da Verdade é uma busca fundamental da vida cristã.
Sobre essa verdade essencial que todo cristão deve buscar sugiro ler o post "O
Conhecimento da Verdade nos leva a tudo que precisamos".
Após eu ter descoberto a importância espiritual e mental da Vida Intelectual através do
livro do Padre Sertillanges, grande estudioso de São Tomás de Aquino, e mais: que a
Vida Intelectual é um chamado, uma vocação, confesso que meus olhos se abriram para
muitas coisas que antes não enxergava devido a minha ignorância e conceitos tortos
aprendidos desta sociedade pagã...
Chamo a todos pregadores, formadores e líderes que também se sentem chamados,
mesmo que ainda veladamente, ainda que não entendam este chamado de forma plena,
pois eu também não, pois estou ainda na busca e descoberta, convido a todos que
comecem a empreender desde já uma busca sobre o que é essa tal 'Vida Intelectual',
que é tão valorizada por muitos santos, doutores da igreja, filósofos, místicos e
incentivada pelas Sagradas Escrituras.
Para isso quero compartilhar aqui uma série de informações essenciais aos que querem
entender melhor tudo isso e aos que já se sentem chamados à vocação sublime da Vida
Intelectual.

ATAQUES MALICIOSOS
Mas antes vou fazer um pequeno comentário introdutório a respeito do atual ataque
àqueles que se esforçam sincera e diligentemente pela busca ao verdadeiro
conhecimento:
Infelizmente a Vida Intelectual é muitas vezes "criminalizada" no Brasil.
Exagero? Me explico: quantas vezes ouvi dentro das igrejas críticas constantes e
gratuitas às pessoas que possuem alguma bagagem de conhecimento... São muitas
vezes rotuladas como pessoas isoladas ou soberbas sem nenhuma prova concreta de
tais vícios... Como se o conhecimento fosse sinônimo de orgulho e prepotência. Nada
mais mentiroso. Aprendi com Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e Albert Einstein
que quanto mais conhecimento, mais há Deus e mais humildade, por se reconhecer a
miséria que somos diante de tanto conhecimento disponível. E quanto menos
conhecimento, estudo parco, mais há soberba e menos Deus...
As Sagradas Escrituras se expressam diversas vezes da importância do estudo, da
sabedoria, do conhecimento, da ciência. Recomendo ver a série de textos selecionados
que fiz aqui no blog sobre a Sabedoria no livro do Eclesiástico parte 1, 2 e 3.
Concordo que há sim pessoas que ao adquirirem algum conhecimento podem se achar
superior a outras, mas isso é totalmente relativo e perigoso de se julgar. Como sabemos
das intenções secretas do coração de uma pessoa? Como sabemos que ela se acha
superior? Só por ter expressado um conhecimento que alguns ao redor dele não possui?
Isso é soberba? Ou a verdadeira soberba não estaria nos que não possuem tal
conhecimento, e ao invés de se colocarem em atitude de aprendizado, se fecham na
sua arrogância invejosa e acusam o outro de não ser melhor que ele? Quem é melhor
que alguém? Conhecimento define isso? O conhecimento é para ser partilhado ou oculto
por medo de me acharem soberbo?
Lembremos que entre as obras de misericórdia espirituais, muito incentivadas pela
Igreja neste ano da Misericórdia, estão estas três primeiras:
1)Ensinar os ignorantes
2) Dar bom conselho
3) Corrigir os que erram
Lembro que fui ensinado no início da minha caminhada sobre a importância da
"exortação", que São Paulo insiste em citar nas suas cartas. Foi me ensinado que é
obrigação por zelo de ajudar o irmão o fato de corrigi-lo quando ele erra e principalmente
quando ele acha que está certo, quando na verdade está indo contra o que ensinou o
Senhor. Aprendi que temos que exortar, mesmo que o irmão não aceite. Que é melhor
sofrermos por alertar da verdade do que carregar o pecado da omissão ou cumplicidade
no mal. Mas hoje o "politicamente correto" tão entranhado nas igrejas nos impedem de
ir contra os erros que se espalham em nosso meio.
Orgulho, prepotência, soberba são coisas bem diferentes de conhecimento, sabedoria,
ciência e intelectualidade. A primeira família é composta de vícios capitais e são
pecados, enquanto a outra família é composta por dons do alto, dons do Espírito Santo.
Na verdade estas críticas, infelizmente, vem muitas vezes de pessoas preguiçosas de
dedicação ao estudo ou invejosas de quem o pode ou paga o preço pela busca da
sabedoria, como nos diz a Sagrada Escritura. Há outras pessoas que simplesmente não
são chamadas a esta vocação intelectual e tenho certeza que não precisam se prestar
a criticar quem a tem, mas admiram e incentivam tal dom nos seus irmãos. Às vezes
concordo com o que Tom Jobim dizia: "No Brasil, sucesso é ofensa pessoal".

PROPOSTAS PARA CONHECER O QUE É A VIDA INTELECTUAL


Mas passado este comentário introdutório, vamos ao objetivo desta postagem. Gostaria
de colocar aqui uma lista de materiais que acho imprescindível que chegue ao
conhecimento de quem se sente chamado a desbravar a busca pela sabedoria e
conhecimento, quem se sente chamado à pregação, à formação própria e de outros.
Tenho pesquisado bastante e o que vou listar aqui é só um começo, peço que quem
tem outros links e materiais a propor que me passe para eu acrescentar nesta lista.
A primeira e fundamental orientação que quero propor é a leitura e estudo da
magnânima obra do Padre Antonin Dalmace Sertillanges, o livro "A Vida Intelectual". Eu
fiz um resumo da obra e publiquei dois textos do livro aqui neste blog: "O intelectual é
um consagrado" e "O intelectual não é um isolado, ele pertence a seu tempo".
Recomendo a leitura destes excelentes artigos da Bruna Luiza:
Como iniciar sua vida intelectual
Vida intelectual: o que é, e por que buscá-la?
Vida intelectual: aprendendo a gostar de estudar
Vida intelectual: guia de organização para iniciantes

Interessante esta coletânea de frases:


Frases marcantes do livro "A Vida Intelectual"

Sugiro também os artigos do Eduardo Costa:


Meu modelo de estudos para a autoeducação
Minuciando meu modelo de estudos (parte 1)
Minuciando meu modelo de estudos (parte 2)

Sugiro os seguintes artigos do Filósofo Olavo de Carvalho:


O poder de conhecer
Educação ao contrário
Espírito e personalidade

Acho um tesouro o curso "Princípios e métodos da auto-educação":


Princípios e métodos da auto-educação

Sugiro estes dois links com vários vídeos que publiquei neste blog mesmo:
Vídeos sobre o livro "A Vida Intelectual"
Dicas para leitores

E aqui algumas dicas sobre a leitura de livros:


Os quatro níveis de leitura e a maneira ideal de ler um livro, segundo Mortimer Adler
A leitura analítica e as 15 regras para ler um livro, segundo Mortimer Adler
O intelectual é um consagrado

"Falar de vocação equivale a designar os que pretendem fazer do trabalho


intelectual a sua vida, ou porque dispõem de vagar para se entregarem ao
estudo, ou porque, no meio de ocupações profissionais, reservam para si, como
feliz suplemento e recompensa, o profundo desenvolvimento do espírito. Digo
profundo, para descartar a ideia de tintura superficial. Uma vocação não se
satisfaz com leituras vagas nem com pequenos trabalhos dispersos. Requer
penetração continuidade e esforço metódico, no intuito duma plenitude que
responda ao apelo do Espírito e aos recursos que lhe aprouve comunicar-nos.
Este apelo não se deve conjecturar. Quem se aventura a um caminho, que não
pode trilhar, com pé firme, conte de antemão com decepções. O trabalho pesa
sobre todos e, após a primeira formação sempre custosa, seria loucura deixar
descambar o espírito na primitiva indigência. Uma coisa é a conservação pacífica
do que se adquiriu, e outra coisa é retomar pela base uma instrução puramente
provisória e que se considera simples ponto de partida. Este último estado de
espírito é o de um chamado. Implica uma resolução grave, porque a vida de
estudo, sendo austera, impõe duros encargos. Paga, e abundantemente; mas
exige uma entrada de capital de que poucos são capazes. Os atletas da
inteligência, Como os atletas do desporto, têm de prever privações, longos
treinos e tenacidade por vezes sobre-humana. Precisam de se dar de alma e
coração à conquista da verdade, visto que a verdade só presta serviços a quem
a serve.
Tal orientação deve ser precedida de maduro e longo exame. A vocação
intelectual é como as demais vocações: está inscrita nos nossos instintos, nas
nossas capacidades, em um não sei que entusiasmo interior sujeito ao exame
da razão. As nossas disposições são como as propriedades químicas que
determinam, para cada corpo, as combinações em que pode entrar.

Não é coisa que se dê. Vem do céu e da natureza primeira. O ponto está em ser
dócil a Deus e a si próprio, depois de ter escutado estas duas vozes.
(...)

O estudo duma vocação intelectual comporta, além da vantagem incalculável de


o homem se realizar plenamente a si próprio, um interesse geral a que ninguém
pode renunciar.
(...)

Se sois porta-luz, não escondais, debaixo do alqueire, o brilho pequeno ou


grande que de vós se espera na casa do Pai de família. Amai a verdade e os
seus frutos de vida, para bem vosso e dos outros; consagrai ao estudo e à sua
utilização o principal do vosso tempo e do vosso coração.
Todos os caminhos, excepto um, são maus para vós, visto que todos se apartam
da direção onde se espera e se requer a vossa ação. Não sejais infiel a Deus,
nem a vossos irmãos, nem a vós próprios, rejeitando um apelo sagrado.
Isto supõe que se abraça a vida intelectual com intenções desinteresseiras e não
por ambição ou vã gloríola. Os guisos da publicidade só tentam os espíritos
fúteis. A ambição, que quisesse subordinar a si a verdade eterna, ofendê-la-ia.
Brincar com as questões que dominam a vida e a morte, com a natureza
misteriosa, talhar-se um destino literário e filosófico à custa da verdade ou fora
da dependência da verdade, constitui um sacrilégio.
(...)
Sois um consagrado: tendes de querer o que a verdade quer; consenti, por causa
dela, em vos mobilizardes, em vos fixardes nos seus domínios, em vos
organizardes e, porque vos falta a experiência, em vos firmardes na experiência
alheia.

"Ah, se a juventude soubesse!..."; Mais do que ninguém, precisam os jovens


deste aviso. A ciência é conhecimento pelas causes; mas ativamente, quanto à
sua produção, é criação pelas causas. É preciso conhecer e adotar as causas
do saber, depois coaduná-las e não adiar o cuidado de lançar os alicerces até
ao momento de assentar o telhado.
(...)
O que digo aplica-se a todos, dum modo especial aos que só sabem dispor duma
parte da vida, da mais fraca, para se entregarem aos trabalhos da inteligência.
Mais do que os outros, devem estes ser consagrados. Terão de amontoar, em
reduzido espaço, o que lhes não é dado distribuir em vasta extensão. O
ascetismo especial e a virtude heroica do trabalhador intelectual deverão ser,
para eles, o pão de cada dia.
Se, porém, consentirem nesta dupla oferta de si próprios, não desanimem.
Se para produzir não faz falta o gênio, menos falta ainda faz a plena liberdade,
tanto mais que esta tem armadilhas, e para as vencer pode concorrer imenso o
estar adstrito a rigorosas obrigações.
Uma corrente apertada entre margens estreitas irromperá mais longe. A
disciplina do ofício é forte escola que aproveita aos lazeres estudiosos. O
homem, quando constrangido, concentra-se mais, aprende a avaliar o tempo,
refugia-se com ardor nas horas raras em que, satisfeito o dever, se torna a
encontrar o ideal e se goza da calma da ação escolhida, após a ação imposta
pela dura existência.
O trabalhador que no esforço novo encontra a recompensa do esforço antigo,
que dele faz o seu tesouro, é de ordinário um apaixonado; não há meio de o
desapegar do que assim é consagrado pelo sacrifício. O seu andar, na aparência
mais lento, dispõe de recursos para ir por diante. Pobre tartaruga laboriosa, não
perde o tempo em ninharias, porfia, e ao fim de poucos anos, ultrapassa a lebre
indolente, cuja marcha desimpedida lhe causava inveja, enquanto se arrastava
lentamente.
Pensai o mesmo do trabalhador isolado, sem dotes intelectuais, nem facilidade
de frequentações que o estimulem, enterrado nalgum canto de província onde
parece condenado a estagnar-se, longe das ricas bibliotecas, dos cursos
brilhantes, do público vibrante, possuindo-se unicamente a si e obrigado a tudo
haurir deste fundo inalienável.
Não desanime. Se tem tudo contra si, guarde-se a si próprio, e que isso lhe baste.
Um coração ardente dispõe de maiores probabilidades de vencer, embora em
pleno deserto, do que um estúrdio do Bairro latino que não sabe aproveitar as
facilidades que tem à mão. Também aqui, da dificuldade pode brotar a força.
Sobre a montanha, só nos especamos nas passagens difíceis; nos caminhos
planos avançamos folgados, e a folga, não vigiada, depressa se toma funesta.
O querer vale mais do que tudo: querer ser alguém; chegar a ser alguma coisa;
ser já, pelo desejo, esse alguém qualificado pelo ideal. O resto sempre se
alcança. Livros, há-os em toda a parte; além disso, poucos bastam.
Frequentações, estímulos, encontramo-los em espírito na solidão: as grandes
seres estão lá, presentes a quem os invoca, e por detrás do pensador ardente
erguem-se os grandes séculos. Os que têm a facilidade de assistir a cursos, ou
os não seguem ou os seguem mal, se, em caso de necessidade, não tiverem em
si recursos para deles prescindirem. Quanto ao público, por vezes anima-
vos, ordinariamente perturba-vos e dispersa-vos. Não vos arrisqueis a perder
uma fortuna por uma colher de mel coado. Mais vale a solidão apaixonada, onde
qualquer semente rende cem por um e um simples raio de sol doura os frutos do
outono.
Quando S. Tomás de Aquino se dirigia a Paris e descobriu ao longo a cidade,
disse ao irmão que o acompanhava: "Irmão, de bom grado trocaria tudo isto pelo
comentário de S. João Crisóstomo sobre S. Mateus".
A quem vive destes sentimentos pouco importa o lugar onde está ou os meios
de que dispõe; esse é um eleito do espírito e, como tal, só lhe resta perseverar
e entregar-se à vida consoante o Plano divino.
Escuta-me, ó jovem que compreendes esta linguagem e a quem os heróis da
inteligência parece chamarem misteriosamente, mas que receias encontrar-te
desprovido.
Tens duas horas por dia? Podes obrigar-te a reservá-las ciosamente, a empregá-
las com ardor e, depois, destinado também de antemão ao Reino de Deus, podes
beber o cálice de sabor esquisito e amargo, que estas páginas quereriam dar-te
a prova? Se a tua resposta é afirmativa, tem confiança, mais do que isso repousa
na certeza.
Obrigado a ganhar a vida, ganhá-la-ás sem lhe sacrificar, como tantas vezes
acontece, a liberdade da alma. Entregue a ti, sentir-te-ás atirado com maior
violência para os teus nobres fins. A maior parte dos grandes homens exerceu
um ofício. Na opinião de muitos, as duas horas, que peço, bastam para talhar
um destino intelectual. Aprende a administrar esse pouco tempo; mergulha todos
os dias no manancial que, dessedentando, aumenta a sede.
Queres contribuir com a tua quota para perpetuar a sabedoria entre os homens,
para recolher a herança dos séculos, para fornecer ao presente as regras do
espírito, para descobrir os factos e as causas, para orientar os olhos inconstantes
na direção das causas primeiras e os, corações na dos fins supremos, para
reavivar a chama que se apaga e organizar a propaganda da verdade e do bem?
É esse um quinhão que vale, sem dúvida, sacrifícios suplementares e o cultivo
duma paixão absorvente.
O estudo e a prática daquilo que o P. Gratry chama a Lógica viva, isto é, o
desenvolvimento do nosso espírito, ou verbo humano, pelo contacto direto ou
indireto com o Espírito e o Verbo divino, este estudo grave e esta prática
perseverante franquear-te-ão a entrada no santuário admirável. Hásde pertencer
ao número dos que crescem, adquirem e se preparam para os dons magníficos.
Se Deus quiser, também tu encontrarás lugar, um dia, na assembleia dos
espíritos nobres."
O intelectual não é um isolado, ele pertence a seu
tempo

Em continuidade à primeira postagem (O Intelectual é um Consagrado) sobre o


livro "A Vida Intelectual" do Padre Antonin Dalmace Sertillanges. Nosso título
deste segundo texto é "O intelectual não é um isolado, ele pertence a seu tempo".
Não vou comentar mais nada, ele fala tudo. Leiam:
"II – O intelectual não é um isolado.
O trabalhador cristão, em virtude da sua vocação intelectual de consagrado, não
deve isolar-se. Seja qual for a sua situação, julguem-no abandonado ou retirado
materialmente, não deve deixar-se tentar pelo individualismo, imagem
deformada da personalidade crista. Se a solidão vivifica, o isolamento paralisa e
esteriliza. À força de ser alma, cessa-se de ser homem, diria Vitor Hugo. O
isolamento é inumano; porque trabalhar humanamente é trabalhar com o
sentimento do homem, das suas necessidades, das suas grandezas, da
solidariedade que nos liga numa vida estreitamente comum.
O trabalhador cristão deveria viver constantemente no universal, na história.
Porque vive com Jesus Cristo, não pode separar dele nem os tempos nem os
homens. A vida real é vida num, vida de família imensa com a caridade por lei:
se o estudo pretende ser ato de vida, e não arte pela arte ou monopólio do
abstrato, deve reger-se por esta lei de unidade cordial. <>, diz Gratry – devemos
também trabalhar aí – mas a verdadeira cruz não está isolada da terra>>. O
verdadeiro cristão terá sem cessar diante dos olhos a imagem do globo onde
está plantada a cruz, onde os pobres seres humanos erram e sofrem, e onde o
sangue redentor procura encontrá-los através de meandros sem conta. A luz,
que possui, reveste-o dum sacerdócio; a luz que pretende adquirir, é promessa
implícita e dom. Toda a verdade é prática; a mais abstrata na aparência, a mais
elevada é também a prática. Toda a verdade é vida, orientação, caminho em
ordem alcançar o fim humano. Por isso Jesus Cristo reuniu numa só afirmação:
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Trabalhai, pois, sempre, em espírito de utilização, como recomenda o
Evangelho. Deixai sussurrar em volta o gênero humano; distingui nele estes e
aqueles, indivíduos ou grupos, cuja indigência conheceis; descobri o que pode
arrancá-los à noite, enobrecê-los, o que de perto ou de longe os salva.

Só as verdades redentoras são Santas e as palavras do Apóstolo – "a vontade


de Deus é que sejais santos" -aplicam-se ao nosso trabalho como a tudo o mais.

Jesus Cristo precisa do nosso espírito, como precisava, enquanto viveu na terra,
do seu próprio espírito humano. Ele retirou-se, nós continuamo-lo: eis a nossa
honra incomensurável. Somos os seus <>, portanto o seu espírito em
participação, portanto os seus cooperadores. Opera por nós, fora e pelo seu
espírito inspirador, dentro, como, em vida, operava exteriormente pela palavra,
e no íntimo das almas pela graça. Sendo o nosso trabalho necessário para esta
ação, trabalhemos como Jesus meditava, haurindo, como Ele, nos mananciais
do Pai, com o intuito de difundir.

III – O intelectual pertence ao seu tempo.


Em seguida, pensai que, se todos os tempos são iguais perante Deus, se a sua
eternidade é centro irradiante, a igual distância do qual correm todos os pontos
da circunferência do tempo, não sucede o mesmo na relação dos tempos
connosco, que habitamos a circunferência.
Estamos aqui, na vasta roda, não noutra parte. Foi Deus que nos colocou aí.
Qualquer momento da duração nos diz respeito e qualquer século é nosso
próximo, do mesmo modo que qualquer homem; esta palavra – próximo – é
termo relativo, que a providencial sabedoria determina para cada qual e que cada
qual, na sua sabedoria restrita, deve igualmente determinar.
Eis-me aqui, homem do século XX, contemporâneo dum drama permanente,
testemunha de confusões como porventura o mundo nunca presenciou desde
que os montes surgiram e os mares foram atirados para seus antros. Que fazer
por este século arquejante? Mais do que nunca, o pensamento espera pelos
homens e os homens pelo pensamento. O mundo corre perigo por falta de
máximas de vida. Encontramo-nos num comboio que desfila a toda a velocidade,
e não há sinalização, nem agulheiros. O planeta não sabe para onde vai, a sua
lei abandona-o: quem lhe restituirá o seu sol?
O que digo não visa a estreitar o campo da investigação intelectual, nem a
confiná-lo no estudo exclusivamente religioso. O decurso do livro o mostrará. Já
disse que toda a verdade é prática, que toda a verdade salva. Mas indico um
espírito, e este espírito exclui qualquer forma de diletantismo.
Exclui também certa tendência arqueológica, certo amor do passado que se
desinteressa das dores atuais, certa estima do passado que parece ignorar a
presença universal de Deus. Nem todos os tempos valem o mesmo, mas todos
os tempos são tempos cristãos, e há um que para nós e praticamente os
ultrapassa a todos: o nosso. Para ele são os nossos recursos nativos, as nossas
forças de hoje e as de amanhã, e por conseguinte os esforços que lhes devem
corresponder. Não nos assemelhemos aos que dão sempre a impressão de
pegar às borlas do caixão nos funerais do passado. Utilizemos, como vivos, o
valor dos mortos. A verdade é sempre nova.
Todas as virtudes antigas querem reflorescer, exatamente como a erva da
madrugada beijada pelo orvalho. Deus não envelhece. É mister ajudá-lo a
renovar, não os passados enterrados, nem as crônicas extintas, mas a eterna
face da terra.
Este é o espírito do intelectual católico, esta a sua vocação. Quanto mais
depressa a determinar pelo descobrimento do gênero de estudos a que se deve
consagrar, tanto melhor. Atentai agora nas virtudes que Deus lhe pede."
Frases e trechos do livro A vida intelectual, de A.-D.
Sertillanges

Prefácio à segunda edição


" Os grandes homens nos parecem ter uma grande ousadia; no fundo, eles são mais
obedientes que os outros. A voz soberana os alerta. É porque um instinto provindo dela os
acionam que eles tomam, com coragem sempre e às vezes com grande humildade, o
lugar que a posteridade lhes conferirá mais tarde, ousando atitudes e arriscando inovações
com muita frequência contrárias a seu meio, sendo até mesmo alvo de sarcasmos. Eles
não têm medo porque, por mais isolados que pareçam, não se sentem sozinhos. A seu
favor está o que tudo decide no final. Eles pressentem o seu futuro poder." Pg 14.

Capítulo I - A vocação intelectual


" É tão somente necessário perscrutar bem para dentro dessas profundezas onde o gosto
e o impulso espontâneo se unem aos dons de Deus e sua providência." Pg 22.

" (…) venham à vida intelectual com propósitos desinteressados, não por ambição ou tola
vaidade. Os chamariscos da publicidade só tentam os espíritos fúteis. A ambição ofende a
verdade eterna quando a transforma em sua subordinada." Pg 23.

" Viver na superfície o castigará por ter negligenciado, a seu tempo, o futuro que sempre
herda do passado. Que cada qual pense a respeito, enquanto pensar ainda pode vir a ser
útil." Pg 24.

" Tendo tudo contra si, que ele preserve a si mesmo e que isso lhe baste." Pg 25.

" Jesus Cristo precisa de nosso espírito para sua obra como Ele precisava, sobre a terra, de
Seu próprio espírito humano. Tendo Ele partido, nós Lhe damos continuidade; temos essa
honra incomensurável. Somos Seus "membros", consequentemente Seu espírito por
participação, consequentemente Seus cooperadores. Ele age por nós no exterior e por Seu
Espírito inspirador no interior como quando, estando vivo, agia no exterior por Sua voz e no
interior por Sua graça. Nosso trabalho sendo uma necessidade dessa ação, trabalhemos
como Jesus meditava, como Ele se provia, para distribuir, nas fontes do Pai." Pg 28.

Capítulo II - As Virtudes de um intelectual Cristão

" As qualidades do caráter assumem em relação a todas as coisas um papel preponderante.


O intelecto não é mais que uma ferramenta e a manipulação determinará seus efeitos." Pg
31.

" (…) um pequeno erro inicial chega grande ao final." Pg 32.

" Praticando-se a verdade que já se sabe, passa-se a merecer aquela que se ignora. Passa-
se a merecê-la na visão de Deus e também por meio de um mérito que já é um
autocoroamento; uma vez que todas as verdades estão interligadas, e a homenagem
prestada ao fato sendo a mais decisiva de todas, quando nós a prestamos à verdade da
vida, nós nos aproximamos das luzes soberanas e do que delas depende. Basta eu
embarcar no afluente e chegarei ao rio, e daí ao mar." Pg 32.

" A pureza do pensamento exige a pureza da alma: eis uma verdade geral que nada
poderá abalar." Pg 34.

" Aceitar-nos tal como somos é obedecer a Deus e preparar para nós vitórias seguras. Será
que a natureza procura ir além do que pode? Tudo nela tem sua medida certa, sem esforço
inútil e sem avaliação hipócrita. Cada ser age segundo aquilo de que dispõe quantitativa e
qualitativamente, segundo sua natureza e sua força, e depois permanece em paz. Só o
homem vive de pretensões e de tristeza." Pg 38.

" Estudar tanto que não mais se pratique a prece, o recolhimento, que não mais se leia nem
a palavra sagrada, nem a dos santos, nem a das grandes almas, tanto que se caia no
esquecimento de si mesmo e que, de tão concentrado nos objetos do estudo, se chegue a
descuidar do hóspede interior, é um abuso e uma enganação. Supor que assim se progredirá
e se produzirá mais equivale a dizer que o rio fluirá melhor se sua fonte secar." Pg 39.

" Os espíritos não se comunicam senão pela corpo. Da mesma forma, o espírito de cada um
não se comunica com a verdade e consigo mesmo senão pelo corpo." Pg 43.

" Levem tanto quanto possível uma vida ao ar livre. É um fato comprovado que a atenção,
esse nervo da ciência, está em estreita correlação com a respiração e, para a saúde geral,
é sabido que a abundância de oxigênio é uma condição básica. Janelas abertas ou
entreabertas dia e noite quando a prudência o permitir, sessões frequentes de respirações
profundas, principalmente se combinadas com movimentos que as ampliem e as
normalizem, passeios antes e depois do trabalho, ou até mesmo entremeados com ele de
acordo com a tradição grega: eis aí práticas excelentes." Pg 44.

" Aqueles que não encontram tempo para fazer exercícios terão de encontrar tempo
para ficar doentes." Pg 45.

" Se obedecerem à carne, estarão prestes a se tornar carne, enquanto têm de se


tornar inteiramente espírito." Pg 46.

Capítulo III - A organização da vida

" O retiro é o laboratório do espírito. A solidão interior e o silêncio são suas duas asas. Todas as
grandes obras foram preparadas no deserto, inclusive a redenção do mundo. Os precursores, os
continuadores e o Mestre se submeteram ou devem se submeter à mesma lei. Profetas, apóstolos,
pregadores, mártires, pioneiros da ciência, inspirados de todas as artes, simples homens ou Homem-
Deus, todos pagam um tributo ao isolamento, à vida silenciosa, à noite." Pg 51.

" A solidão lhes proporciona o contacto consigo próprios, contato tão indispensável se quiserem
realizar-se, a si próprios, e não ser mais o papagaio de um punhado de fórmulas que aprenderam, e
sim o profeta do Deus interior que com cada um fala uma linguagem única." Pg 53.

" Os higienistas recomendam para o corpo o banho de água, o banho de ar e o banho interior de água
pura. Eu acrescentaria para a alma o banho de silêncio, a fim de tonificar o organismo espiritual, de
acentuar sua personalidade e de lhe dar um sentimento ativo dela, como o atleta sente seus músculos
e prepara o jogo destes pelos movimentos internos que são a própria vida da musculatura." Pg 54.

" Antes de dar a verdade, adquira-a, e não jogue fora o grão de sua semeadura." Pg 54.

" Para conhecer a humanidade e para servir-la, é preciso entrar para dentro de si, lá onde todos os
nossos objetos ficam em contato conosco e tomam de nós quer nossa força da verdade, quer nossa
potência do amor." Pg 55.

" É preciso ter uma alma tão forte para trabalhar sozinho! Ser por si só seu grupo social intelectual,
seu incentivo, seu respaldo, encontrar num pobre querer isolado tanta força quanto pode haver num
movimento de massa ou na dura necessidade, que heroísmo! Tem-se primeiro o entusiasmo, depois, à
medida que surgem as dificuldades, o demônio da preguiça nos diz: para quê? Nossa visão do objetivo
se enfraquece; os frutos estão muito longínquos ou nos parecem amargos; temos a vaga sensação de
estar sendo enganados. É certo que o apoio de outrem, os intercâmbios e o exemplo seriam contra esse
spleen de uma eficácia admirável; eles supririam em muitos indivíduos a deficiência no poder de
imaginação e na constância de virtude de que só alguns dispõem e que são entretanto indispensáveis
ao prosseguimento perseverante de um grande fim." Pg 57.

"A unanimidade útil consiste menos em estar junto em um refúgio ou em um grupo catalogado do que
em se esforçar, cada um, com a sensação de que outros também se esforçam, para se concentrar, onde
se estiver, outros também estando em concentração, de tal maneira que uma tarefa se cumpra, que um
mesmo princípio de vida e de atividade esteja na liderança, e que os componentes do relógio, para
cada um dos quais um artesão em seu domicílio volta uma atenção exclusiva, tenham Deus por
montador." Pg 58.

" Todas as vezes que agimos bem, em conformidade com nossa situação atual determinada, estamos
fazendo um bom uso da vida (Maine de Biran)." Pg 58.

" Pela moderação no que disserem, também conseguirão essa permanência do recolhimento e essa
sabedoria nos intercâmbios das quais é tão urgente que estejam munidos. Falar para dizer o que deve
ser dito, para expressar um sentimento oportuno ou uma ideia útil, depois disso calar-se, é o segredo
para se resguardar sem deixar de se comunicar, em vez de permitir que a tocha se apague para depois
acender outras.
" É, de resto, igualmente o meio de dar peso à sua palavra. A palavra pesa quando se sente por baixo
dela o silêncio, quando ela oculta e deixa adivinhar, por detrás das palavras, um tesouro que ela libera
progressivamente como convém, sem precipitação e sem agitação gratuita. O silêncio é o conteúdo
secreto das palavras que contam. O que faz o valor de uma alma é a riqueza do que ela não diz." Pg
61.

"É com vistas ao retiro, ao silêncio e à solidão íntima que a ação e os relacionamentos são tolerados e
é zem função deles que são dosados." Pg 65.

Capítulo IV - O tempo do trabalho

" É preciso orar em todo momento equivale pois a dizer: em todo momento é preciso desejar as coisas
eternas, as coisas do tempo que está a seu serviço, o pão cotidiano de toda natureza e toda ocasião, a
vida em todas as suas amplidões, terrestres e celestes." Pg 68.

" Toda réstia de luz pode levar ao sol; toda passagem aberta é um corredor para Deus." Pg 70.

"Adquiram então o hábito de estar presentes nesse jogo do universo material e moral. Aprendam a
olhar e confrontem o que se apresenta aos senhores com suas ideias costumeiras ou secretas. Não
enxerguem numa cidade unicamente casas, mas vida humana e história. Que um museu não lhes
mostre quadros, e sim escolas de arte e de vida, concepções do destino e da natureza, orientações
sucessivas ou variadas da técnica, do pensamento inspirador, dos sentimentos. Que uma oficina não
lhes fale somente de ferro e de madeira, mas da condição humana, do trabalho, da economia antiga e
recente, das relações de classes sociais. Que as viagens lhes ensinem a humanidade; que as paisagens
lhes evoquem as grandes leis do mundo; que as estrelas lhes falem das durações incomensuráveis; que
os pedregulhos do caminho representem para os senhores resíduos da formação da terra; que a visão
de uma família se una a seus olhos à das gerações, e que o menor relacionamento lhes traga
informações sobre a mais elevada concepção do homem. Se não souberem olhar assim, não se
tornaram ou não serão mais que um espírito banal. Um pensador é um filtro em que a passagem das
verdades deposita sua melhor substância." Pg 70.

" As grandes descobertas se resumem a reflexões sobre fatos comuns a todos. Passa-se miríades de
vezes sem nada ver, um dia, o homem de gênio observa as amarras que ligam ao que ignoramos o que
está sob nossos olhos a cada instante. O que é a ciência se não a cura lenta e progressiva para nossa
cegueira?" Pg 72.

" O sono é uma descontração; ele é a abdicação do querer consciente que não pensa mais em viver,
não assume qualquer objetivo e se encontra assim entregue em grande parte à natureza geral. Não é
um símbolo gratuito a atitude do dormente deitado, em contato com a terra, como se dissesse à
natureza: retoma-me; já por tempo suficiente resisti contra tuas potências; combati, de pé, teu
determinismo nivelador; à equalização das forças que é a lei desse mundo perecível eu opus o
sobressalto da vida: eu me rendo, agora, até a hora de novamente lutar." Pg 76.

" A vida de dissipação não é um repouso, é um esgotamento." Pg 83.

" Quem conhece o valor do tempo sempre dispõe do suficiente; não podendo alongá-lo, ele o alça, e
antes de tudo não o encurta. O tempo tem uma espessura, como o ouro; mais vale uma medalha forte,
bem cunhada e de contorno definido do que a lâmina adelgaçada pelo malho do batedor. Malho,
malhador: a Associação dos termos está aqui justificada. Muitos vivem de aparências, de caprichos
improdutivos, de falatórios sem fim e de nenhum trabalho." Pg 86.

Capítulo V - O campo do trabalho

" O saber não é nem uma torre, nem um poço, mas uma morada de homem." Pg 90.

" Nosso saber tentou sondar a noite em todas as direções; nossos cientistas nela mergulham a mão para
pegar estrelas." Pg 91.

" Toda ciência, cultivada em separado, não só não se basta a si mesma, mas apresenta perigos que
todos os homens sensatos reconheceram. A matemática tomada isoladamente deturpa o raciocínio,
habituando-o a um rigor que nenhuma outra ciência, e menos ainda a vida real, comporta. A física e a
química obcecam por sua complexidade e não conferem ao espírito nada de amplo. A fisiologia leva
ao materialismo, a astronomia à divagação, a geologia os transforma num cão de caça farejador, a
literatura os esvazia, a filosofia os estufa, a teologia os abandonar ao falso sublime e ao orgulho
doutoral. É preciso passar de um espírito ao outro afim de corrigi-los um pelo outro; é preciso alternar
as culturas para não arruinar o solo." Pg 91.

" Quando um recipiente está preenchido com nozes, pode-se ainda deitar nele muitas medidas de
azeite." Pg 92.

" A unidade da fé dá ao trabalho intelectual o caráter de uma cooperação imensa." Pg 95.

" O gênio datado não existe. Visto tratar-se das coisas eternas, a sabedoria consiste em reportar-se a
quem soube mergulhar, numa data qualquer do tempo, o mais profundamente no coração da
eternidade." Pg 98.

" Não tenham vergonha de ignorar o que o senhores poderiam conhecer tão somente pelo preço da
dispersão. Tenham humildade quanto a isso, sim, pois é assim que ficam demarcados nossos limites.
Porém, os limites que aceitamos são parte de nossa virtude; uma grande dignidade resulta daí, a do
homem que permanece dentro de sua lei e desempenha seu papel. Somos muito pouco, mas fazemos
parte de um todo e é para nós uma honra. O que não fazemos, nós o fazemos mesmo assim: Deus o
faz, nossos irmãos o fazem, e nós estamos com eles na unidade do amor." Pg 103.

" Não sejam desertores de si mesmos." Pg 103.

Capítulo VI - O espírito do trabalho

" Nossa alma não envelhece; ela está sempre em crescimento; com relação à verdade, ela será sempre
uma criança." Pg 106.

" A humildade é o olho que ler no livro da vida e no livro do universo." Pg 111.

" Para Santo Tomás, o êxtase é filho do amor. Ele os transporta para o exterior, em direção ao objeto
de seus sonhos: amar a verdade com o fervor suficiente para nela concentrar-se e assim transportar-se
para dentro do universal, para dentro do que é, no âmago das verdades permanentes, é a atitude de
contemplação e de produção fecunda. Está-se então encolhido sobre si, mas com o olho fito sobre a
presa, como uma fera, e a vida interior está intensa, mas com um sentimento de lonjura, como se se
circulasse pelos astros. A sensação é de se estar simultaneamente realizado e acorrentado, livre e
escravo; de se ser plenamente si mesmo entregando-se ao ser mais alto do que si mesmo; de exaltar-
se perdendo-se: é o nirvana da inteligência deslumbrada e poderosa." Pg 112.

" Isolo uma peça de um mecanismo para vê-la melhor; mas, enquanto eu a seguro e meus olhos a
observam, meu pensamento deve mantê-la em seu lugar, acompanhar seu desempenho no conjunto
todo, do contrário estou alterando a verdade tanto no todo que ficou incompleto quanto na engrenagem
que se tornou incompreensível." PG 115.

" O verdadeiro é um; tudo está interligado na verdade suprema única. Entre um objeto particular e
Deus, há todas as leis do mundo, cuja amplidão vai aumentando a partir da norma aplicada a esse
objeto até o Axioma eterno. Por outro lado, o espírito do homem também é um; sua estruturação não
poderia se contentar com a mentira das especialidades enquanto esmigalhamento do verdadeiro e do
belo em frações esparsas. Por mais restrita que seja sua investigação, por exíguo o caso que estiverem
examinando, é o homem todo e o universo todo que estão, na realidade, em causa. O sujeito e objeto
almejam, ambos, universal. Estudar verdadeiramente alguma coisa é evocar gradativamente o
sentimento de todas as outras e de sua solidariedade, é mesclar-se ao concerto dos seres; é unir-se ao
universo e a si mesmo." Pg 115.

"(…) o espírito limitado acredita possuir o cosmo e sua riqueza; segurando um balde com três litros
de água reluzente, ele diz: 'vejam, capturei o oceano e os astros'." Pg 118.

"(…) nossas luzes não passam de gradações de sombra pelas quais subimos rumo à claridade
inacessível." Pg 118.

Capítulo VII - A preparação do trabalho

" Deve-se ler inteligentemente, não apaixonadamente. Deve-se ir aos livros como a dona de casa vai
ao mercado, uma vez definidos os cardápios do dia em conformidade com as leis da saúde e das
despesas equilibradas. O espírito da dona de casa no mercado não é o mesmo que ela terá no cinema,
à noite. Não se trata de se enebriar, de se maravilhar, mas de administrar um lar e fazer com que ele
viva bem." Pg 120.

" Nunca leiam quando puderem recolher-se; leiam exclusivamente, excetuando-se os momentos de
relaxamento, o que estiver relacionado com o objetivo a ser atingido, e leiam pouco, para não devorar
o silêncio." Pg 122.

"(…) em parte um livro vale o que valem os senhores e o que os senhores o fazem valer. (…) Um
homem inteligente encontra inteligência por toda parte, um tolo projeta em todos os muros a sombra
de sua fronte estreita e inerte." Pg 123.
"(…) a arte de comandar só se aprende na obediência, (…) o domínio do pensamento só se obtém pela
disciplina." Pg 124.

" Só se sabe o que falta num homem sepultando sua riqueza." Pg 125.

" Leiam o que lhes agrada, o que não os entusiasma demais, o que não lhes é prejudicial de nenhum
modo, e, já que, mesmo distraindo-se, continuam sendo consagrados, tenham a inteligência de ler, em
igualdade de utilidade para o descanso, o que virá a ser-lhes útil de alguma outra maneira, ajudando-
os a se tornarem completos, a enriquecerem o espírito, a serem homens." Pg 127.

" O contato com os gênios é uma das graças de escolha que Deus concede aos pensadores modestos;
nós deveríamos preparar-nos para isso como devemos fazê-lo para a oração segundo a Escritura, como
nos recolhemos e nos calamos numa postura de respeito ao abordar um personagem importante ou um
santo.
" Pensamos pouco demais no privilégio dessa solidariedade que multiplica a alegria e a utilidade de
viver, que amplia o mundo e torna nossa estada nele mais nobre e mais cara, que renova para cada um
a glória de ser homem, de ter o espírito aberto aos mesmos horizontes que os grandes seres, de viver
alto e de fundar com seus iguais, com seus inspiradores, uma sociedade em Deus. 'Depois dos gênios,
seguem-se imediatamente aqueles que sabem reconhecer o valor dos gênios', dizia Thérèse Brunswick
referindo-se a Beethoven." Pg 127.

" Quem tropeça e não cai, dá um passo maior." Pg 132.

" Aquele que deseja adquirir, pelo intercâmbio com autores, não aptidões para combater e sim verdade
e penetração, deve vir munido deste espírito de acomodação e de diligente extração, o espírito da
abelha. O mel se faz a partir de muitas flores. Um processo de exclusão, de eliminação sumária e de
escolha limitada é extremamente pernicioso para uma formação, e ele denuncia no espírito tentado a
praticá-lo uma tara de funesto agouro. 'Todo indivíduo que não é criador, escreve Goethe, tem um
gosto negativo, restrito, exclusivo, e ele consegue despojar de sua energia e de sua vida o ser criador.'
Uma inteligência construída desse modo fica diminuída; em vez de tudo encarar do ponto de vista do
universal, constata-se que ela descamba para o espírito de panelinha e os fuxicos." Pg 133.

" A fonte do saber não está nos livros, ela está na realidade e no pensamento. Os livros são placas de
sinalização; o caminho é mais antigo, e ninguém pode fazer por nós viagem da verdade. O que diz um
escritor não é o que nos importa prioritariamente; trata-se daquilo que é, e nosso espírito tem o
propósito não de repetir, mas de compreender, isto é, de pegar consigo, isto é, de absorver vitalmente,
e finalmente de pensar por si mesmo. A palavra ouvida, é preciso, depois do autor, graças a ele talvez,
mas no fim de tudo independentemente dele, obrigar a alma a dizer-la novamente para si mesma. É
preciso reinventar para nosso próprio uso toda a ciência." Pg 136.

" Há em nós também volumes e grandes textos que não lemos." Pg 137.

" Diante dos gênios não passamos de crianças, mas crianças que são herdeiras. O que eles nos dão é
nosso, já que pertence à eternidade; eles próprios receberam dela. O que existia antes deles e existe
acima deles, o que Deus prepara para todos, é o que se deve contemplar enquanto eles nos falam." Pg
137.

" (…) encontrar nos livros o que não está lá, portas de entrada para penetrar em novas áreas. " Pg 137.

" (…) Que minha leitura me possibilite engendrar pensamentos, à semelhança não de meu inspirador,
mas de mim mesmo!" Pg 138.

" O homem é múltiplo e nós somos um de seus casos; Deus está em todos: saibamos honrar em nós o
homem e em nós respeitar a Deus." Pg 139.

" O que está unido a nosso espírito por laços de memória tem sobre ele maior poder de ação." Pg 141.
" O que é interessante não é o canteiro de obras, é a arquitetura, e é sobretudo o espírito do morador."
Pg 147.

Capítulo VIII - O trabalho criador

" É preciso, em tudo, começar. 'O começo é mais que a metade do todo', disse Aristóteles. Nunca se
produzindo nada, adquire-se o hábito da passividade; o medo causado pelo orgulho ou a timidez
aumentam cada vez mais; recua-se, esgota-se de tanto esperar, cai-se, na improdutividade como um
bruto que está amarrado. " Pg 158.

" Um estilo é verdadeiro quando responde a uma necessidade do pensamento e quando permanece em
contato íntimo com as coisas." Pg 159.

" É preciso abordar o trabalho munido da constância que se mantém pronta para produzir,
da paciência que suporta as dificuldades, da perseverança que evita o desgaste do querer." Pg 168.

" Vejam seu trabalho pronto: essa aparição os fará recobrar o ânimo." (exercício do necrológio) Pg
171.

" Outro efeito da constância é o de vencer as impressões de falso cansaço que tomam tanto espírito
quanto corpo. Quando começamos uma excursão, é comum que a primeira subidinha já nos veja
ofegantes e pesados; somos tomados de fadiga; de bom grado retornaríamos ao abrigo. Persistam: as
articulações se desenferrujam, os músculos se exercitam, o fôlego se expande e os senhores
experimentam a alegria de estar em atividade. O mesmo se dar com o estudo. À primeira sensação de
cansaço não se deve dar ouvidos; é preciso forçar; é preciso forçar a energia interior a sair. Pouco a
pouco o maquinismo se põe em funcionamento, nós nos adaptamos, e um período de entusiasmo pode
seguir-se a penosa inércia." Pg 171.

" O espírito se molda ao que lhe é pedido com frequência." Pg 172.

" 'As obras realizadas à custa de muito trabalho', dizia Michelangelo, 'devem parecer, a despeito da
verdade, fáceis e concebidas sem esforço (…). A regra fundamental e ter muito trabalho para criar
coisas que parecem não ter custado nenhum.' (…) dizia Biot: 'não há nada mais simples do que o que
foi descoberto ontem, nem nada mais difícil do que o que será descoberto amanhã.' " Pg 173.

" O ardor é mais fácil que a paciência, mas ambos são exigidos, e o êxito é sua recompensa comum."
Pg173.

" 'A vida é longa quando bem preenchida', diz Leonardo da Vinci." Pg 174.

" Perseverar é querer. Aquele que não persevera não quer, ele está só projetando. Aquele que desiste
nunca insistiu; aquele que deixa de amar nunca amou. Se o destino é uno, o que não dizer de uma obra
parcial. O intelectual genuíno é por definição perseverante. Ele assume a tarefa de preencher e de
ensinar; ele ama a verdade de corpo e alma; ele é um consagrado: ele não renuncia prematuramente."
Pg 175.

" Não sejam, os senhores que seguem os passos dos grandes, desses itinerantes acovardados que
desertam, que vencem uma etapa, param, se perdem, se sentam como que esgotados e voltam mais
cedo ou mais tarde para as regiões corriqueiras. É preciso obstinar-se até o fim da viagem. 'Devagar
se vai ao longe' e passadas largas sem persistência não passam de espalhafato vazio, pois não levam a
lugar nenhum." Pg 175.

" A vocação faz uso de nossos recursos, ela não os cria." Pg 179.

" Cada um é o único que pode fazer aquilo de que está encarregado; faríamos mal feito o que nosso
próximo fará bem feito. Deus se satisfaz em todos." Pg 180.
" Infiel a si mesmo, não é fiel a nada; é uma chama apagada." Pg 180.

Capítulo IX - O trabalhador e o homem

" Tudo no saber não passa de esboço; a obra acabada é o homem." Pg 181.

" Aquele que só pensa em seu trabalho trabalhar mal; ele se diminui; ele adquire um cunho profissional
que se transformará em tara. O espírito deve permanecer aberto, preservar o contato com a humanidade
e o mundo, para que a cada sessão de estudo ele proporcione a possibilidade de uma nova expansão."
Pg 182.

" A música é preciosa para o intelectual por não especificar nada e, consequentemente, por não
constituir empecilho para nada. Ela apenas suscita estados de ânimo cuja aplicação por cada qual a
uma determinada tarefa tirará deles o proveito que quiser. Rudin fará disso uma estátua, Corot uma
paisagem, Gratry e uma página exaltada, Pasteur uma pesquisa mais apaixonada e mais atenta. Tudo
na harmonia tem coesão e tudo nela se regenera. O ritmo, pai do mundo, é também pai do gênio onde
o mundo se reflete. No horizonte indistinto do sonho, cada qual vê subir a imagem de sua escolha e
registra-lhe os traços usando uma linguagem pessoal." Pg 184.

" (…) se em algum grau vierem a ser alguém, fiquem no aguardo de provações seletas e preparem-se
para experimentá-las em seus vários sabores: a provação do ideal, que lhes parece estar cada vez mais
distante à medida que apertam o passo; a provação dos estúpidos que não entendem nada das palavras
que os senhores lhes dizem e ficam escandalizados com elas; a provação dos invejosos que os julgam
impertinentes por terem atravessado a linha de combate deles; a provação dos bons que se deixam
abalar, passam a suspeitá-los e os largam; provação dos medíocres que são a grande massa e que os
senhores incomodam com sua tácita afirmação de um mundo superior. 'Se vós fôsseis do mundo',
declara o Salvador, 'o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do mundo… Por isso é que o
mundo vos odeia' (João 15:19)." Pg 191.

" O trabalho cura os padecimentos do trabalho e os do trabalhador; ele é o inimigo dos pesares, das
doenças e dos pecados; ele nos coloca numa região elevada onde os percalços da existência e as
fraquezas do corpo encontram algum alívio. A impulsão que ele confere, a orientação que ele dá às
energias desencaminham os transtornos e nos livrar das preocupações miseráveis. " Pg 191.

" A recompensa de uma boa obra é tê-la feito; a recompensa do esforço é ter crescido." Pg 196.

"(…) a cultura não é filha principalmente do gênio; ela nasce do trabalho, de um trabalho qualificado,
organizado e continuo, tal como tentamos retratá-lo." Pg 197.

" Se não podemos nos igualar ao que admiramos, sempre podemos nos igualar a nós mesmos: eis
nosso único objetivo." Pg 198.

"(…) deverão dizer a si mesmos que muitas obras e vidas são mais belas, mas poderão acrescentar:
não há mais bela para mim, e não há outra igual." Pg 198.
Meu modelo de estudos para a autoeducação
Fiquei muito tempo sem escrever, é verdade, mas por um bom motivo: estava
aprimorando meus conhecimentos. Alguns livros lidos depois — muitos
simultaneamente — o conhecimento já está todo bagunçado em minha cabeça:
geralmente já esqueci da maior parte das informações do livro anterior quando
começo o atual.

Em razão dessa facilidade de esquecer conceitos — muitas vezes importantes —


 comecei a pensar em meios de registrar meus estudos. Sou maníaco por
organização e não suporto ver papéis largados, mas tenho grande necessidade
em escrever (em papel, não pelo computador) para gravar permanentemente
informações. De qualquer maneira, optei pela organização: segundo
recomendação do professor Rafael Nogueira, comecei a usar o Evernote, um
programa para registrar anotações e informações online, e desenvolvi meu
próprio método de registro de estudos.

Compartilharei esse método, mas lembro que ele está em “fase de


desenvolvimento”, e pode (provavelmente vai) mudar e se adequar com o tempo:
cada situação exige um método diferente, mas podemos começar por um ponto
genérico. No Evernote, criei um “caderno” chamado Caixa de Entrada. Nele
coloco todas as minhas anotações em fase de escrita, para depois organizá-las
por seção. Como o foco do artigo não é o uso do Evernote e sim o registro dos
estudos, prosseguirei para meu método pessoal. Lembrando que isso não é uma
regra e que o Evernote não é necessário.

Eu divido meus documentos de estudos nas seguintes seções:

Parte 1:

Sinopse da obra;

Informações técnicas da obra;

Status quaestionis.

Parte 2:

Detalhes oficiais sobre o autor;

Conhecimentos que já possuo sobre o mesmo;

Motivações para o estudo da obra;


Valor agregado por este estudo.

Parte 3:

Meu resumo e anotações sobre a obra;

Conteúdo externo;

Meus futuros estudos sobre o tema;

Citações retiradas da obra.

Essa divisão em “partes” não é aplicada no documento, é apenas uma forma


didática de apresentá-lo. Abaixo a explicação de cada seção:

Sinopse da obra

Aqui eu anoto a sinopse oficial do meu objeto de estudo, seja ele um livro, um
documentário, um filme. Temos que conhecer o máximo possível sobre o que
estudamos, e a sinopse oficial é, para mim, um ótimo ponto inicial.

Informações técnicas da obra

Para fins de contexto, é importante conhecermos o autor, data de lançamento e


outras informações técnicas da obra estudada.

Status quaestionis

O status quaestionis é um resumo da situação atual do tema estudado. É


importante, por exemplo, sabermos que aquela informação estudada já foi revista
e atualizada — o que não quer dizer que ela é dispensável. Para saber mais sobre
a importância do status quaestionis, leia o artigo do professor Olavo de Carvalho,
“Pela restauração intelectual do Brasil”, disponível na internet.

Detalhes oficiais sobre o autor

Nessa seção é onde colocamos um “currículo oficial” (aquelas informações que


você encontra na orelha de livros ou pesquisando na internet mesmo) do autor
da obra. Dessa maneira, facilitamos a continuidade dos estudos quando se trata
do mesmo criador.

Conhecimentos que já possuo sobre o mesmo


Nesse caso, a anotação é importante para conhecer o meu progresso,
colaborando para a criação do contexto. Se já li algo sobre o autor, ou
acompanhei alguma obra anterior, devo anotar aqui.

Motivações para o estudo da obra

Nenhum estudo pode acontecer por acaso, sem nenhum planejamento prévio,
sem motivo. É aqui que deixo claro o motivo pelo qual estudei a obra: se precisava
aprimorar meus conhecimentos na área, se é um conteúdo importante para minha
vida profissional, se é uma obra conceituada sobre determinado tema. É
importante que essa seção seja escrita ANTES do início do estudo da obra.

Valor agregado pelo estudo

Terminado o estudo, anoto as colaborações do mesmo em minha vida. Aqui não


deve ser feito um resumo do que foi aprendido, e sim uma descrição sincera das
mudanças internas causadas pelo aprender. É importante que essa seção seja
escrita APÓS o término do estudo da obra.

Meu resumo e anotações sobre a obra

Aqui é onde a mágica acontece: eu escrevo todos os pontos importantes da obra


de maneira resumida. Essa provavelmente será a maior seção das anotações,
mas é interessante ser conciso, pois deve ser uma seção de referência rápida;
se for para escrever a obra inteira, é mais prático revê-la na íntegra.

Conteúdo externo

Criei essa seção para referenciar todos os artigos, resumos e análises —


 produzidos por outrem — que encontrar sobre a obra. Conteúdo opcional.

Meus futuros estudos sobre o tema

Se dediquei meu tempo para realizar esse estudo, havia um motivo (descrito
anteriormente nas próprias anotações). Sempre há um próximo passo, e é aqui
que ele é definido. Se lerei outro livro sobre o tema, descrevo-o aqui. Essa seção
é importante para nunca perder o foco!

Citações retiradas da obra

Como gosto de guardar as melhores citações que consigo das obras que estudo,
defini essa seção final como parte importantíssima. As citações estão sempre
organizadas por autores, em ordem alfabética. Sabe como é: ao invés de procurar
frases de autores famosos na internet, leia seus livros e encontre-as você mesmo!

Durante muito tempo resisti ao hábito de anotar, mas chega uma hora em que se
torna impossível prosseguir com total aproveitamento sem adotar a técnica.
Espero que meu modelo de estudos possa inspirar e ajudar aqueles que trilham
o mesmo caminho da autoeducação liberal.
Minuciando meu modelo de estudos (parte 1)
Devido ao sucesso do meu método de estudos tanto na aplicação pessoal quanto
na divulgação em forma de artigo, decidi continuar e expandir o assunto. Meu
objetivo é não apenas dar uma luz para quem quer começar a montar o próprio
modelo ou desenvolver algum já existente, mas debater sobre o método e
aperfeiçoá-lo com o tempo. É importante frisar o caráter temporal desse artigo:
qualquer ideia exposta hoje aqui, pode receber um improvement amanhã,
portanto sugiro aos interessados ficarem sempre de olho em revisões. Também
gosto de deixar bem claro que não sou um pesquisador formado na área e nem
tenho aspirações pedagógicas: todas as informações escritas são resultados
alcançados puramente pelo método empírico, aliado à referências de pedagogia
“pegas no ar”.

Feita essa introdução, partamos para a divisão dos tópicos a serem abordados:

1. A importância do estudo e o porquê da necessidade de variar

2. A importância das anotações e revisões aplicadas ao estudo

3. Definindo prioridades: quando devo fazer anotações?

4. Qual a importância da escrita de artigos em relação ao estudo?

5. Por que eu devo me organizar?

6. Elementos pré-textuais do meu modelo de estudos

7. Elementos pós-textuais do meu modelo de estudos

É importante notar que todo o método tem justificativas e um caminho a trilhar


para aplicá-lo plenamente. Dados esses conceitos contextuais, vamos à análise:

1. A importância do estudo e o porquê da necessidade de variar

Muitos vêem o estudo como uma tortura sem sentido. Não há nada com menos
sentido do que pensar dessa maneira. O estudo e a educação trazem uma
infinidade de benefícios. Vejamos alguns deles:

Liberdade

Quanto menos conhecimento você tem sobre o mundo, menor sua liberdade. O
conhecimento nos mostra caminhos, auxilia nossos julgamentos e expande
nossos horizontes. Quando você não está pensando por si, alguém o está
fazendo. Educar-se é traçar seu próprio caminho, gerar suas próprias ideias, tirar
suas próprias conclusões e definir um rumo próprio, ao invés de seguir aquele
criado por outras cabeças.

Amizade

Segundo o portal Universia, estudar com um amigo aumenta sua produção.


Nesse quesito temos a vantagem da prática e a do relacionamento; ao estudar
ou compartilhar conhecimento com outras pessoas você melhora sua habilidade
em comunicação interpessoal, desenvolve melhor o tema por meio de debates e
se mantém motivado a continuar pelo incentivo externo. Além disso, o estudo faz
com que desenvolvamos amizades com quem não conhecemos — muitas vezes
mais genuínas do que as conseguidas por outras motivações.

Gratidão

Estudar também pode ser um exercício da gratidão. Devemos levar em


consideração o trabalho e dedicação de um mestre que, abandonando a sua
posição intelectual superior, emprega parte de seu tempo para nos ajudar a atingir
o mesmo patamar. Esse fato isoladamente já é o suficiente para reconhecermos
para o resto da vida o valor que esse indivíduo teve para nós.

Humildade

Muitos enxergam como vergonha declarar que não conhecem um assunto.


Preferem utilizar de preconceitos e opiniões genéricas ao invés de admitir a
incapacidade e estudar mais a respeito. Não há vergonha em não saber. Há
vergonha em ter a oportunidade e os meios para aprender, mas não querer saber
de se educar sobre nenhum assunto. Vergonhoso é o ato de não ter a humildade
suficiente de reconhecer que determinada pessoa seja mais inteligente do que
você e possa servir — mesmo que temporariamente — como um professor. Não
devemos cultivar raiva ou vergonha de aprender com o outro: devemos tentar
absorver tudo o que for possível!

Personalidade

Você pode achar bonito falar a todo momento sobre a última rodada do
Campeonato Brasileiro de Futebol, a última edição de algum reality show ou o
último vídeo do seu canal favorito de stand-up no youtube, mas até a banalidade
tem limite. Esse fato não é facilmente percebido porque costumamos nos cercar
de gente medíocre, mas ao melhorar a qualidade de nosso círculo de amizades
notamos o quão desagradável é agir assim. Isso não se aplica apenas às suas
amizades: ninguém quer passar o resto da vida ao lado de alguém tão profundo
quanto uma obra de Duchamp.
Infelizmente, a cada dia temos a impressão mais forte de que, para o brasileiro,
a única função do estudo é gerar mais dinheiro. O povo costuma dizer que
dinheiro não traz felicidade — afirmativa que contrario — mas só pensa no mesmo.
O sujeito cria não apenas a ideia de que o trabalho é algo ruim, como a de que o
estudo também o é. Como disse o professor Olavo de Carvalho no artigo
“Educação ao contrário”, “educar-se é dever de todos”, e deveríamos realizar
esse nobre ato sem pensar apenas no capital gerado.

É verdade que o estudo abre diversas portas para o enriquecimento. Pode


permitir que exerçamos uma nova profissão, a venda de um curso,
um teaching particular. Conhecimento pode ser dinheiro, mas não pensemos
apenas nisso: devemos aproveitar todas as oportunidades interessantes que
aparecem pelo caminho. Toda vez que você estuda, torna o ato de aprender mais
fácil. Por esse motivo, não devemos nos ater a apenas um ramo.
Minuciando meu modelo de
Minuciando meu modelo de estudos (parte 2)

A importância das anotações e revisões aplicadas ao estudo

Convencido de que tem o dever de buscar a educação, você pode ainda estar
relutante sobre fazer anotações. Quando comecei na autoeducação considerava
o ato de anotar desnecessário, em grande parte por “atrasar” minhas leituras,
pois você pode passar muito tempo parado na mesma obra por precisar organizar
suas ideias em um papel (ou no computador). Nesta segunda parte do artigo
vamos falar um pouco sobre os benefícios de realizar marcações, anotações e
revisões; o momento de adotar uma ou outra prática será visto em minha próxima
escrita.

2. A importância das anotações e revisões aplicadas ao estudo

Diminuição do ritmo de estudos, procrastinação, impossibilidade de levar suas


notas onde você for e dificuldade de escrever, por exemplo, ao ler no transporte
público. Muitas podem ser as causas e desvantagens em realizar anotações, mas
uma coisa é garantida: o método compensa. A seguir estão listados alguns
benefícios da prática:

Saber onde encontrar a informação, o mais rápido possível

Imagine que você decidiu estudar sobre história. Percorreu todo o período desde
a pré-história até a idade contemporânea, absorvendo o máximo de conteúdo
possível. Certo dia um amigo diz que está com dificuldades na matéria e você
resolve ajudá-lo. Ele pergunta: o que você pode me dizer sobre o Peronismo?

Você certamente já estudou sobre isso. Você também lembra que havia um
capítulo inteiro no maravilhoso Guia Politicamente Incorreto da América Latina,
de Leandro Narloch, que tratava do assunto. O problema é que você não lembra!

Uma das alternativas é pedir para o seu amigo esperar enquanto você lê o
capítulo novamente, ou recomendar o livro para o rapaz. Outra alternativa seria
possível, se você fosse cauteloso ao estudar: bastaria ler o resumo ou as
marcações que fez sobre a obra e voilá! Teria um acesso simplificado à
informação.

Facilitar o processo de aprendizagem e memorização


Não é segredo para ninguém que quanto mais você “vive” uma informação (seja
lendo, expressando, ouvindo), mais fácil será de lembrá-la no futuro. Fica difícil
revisar uma informação que não está sintetizada, pois uma vez que você precise
ler um mesmo livro várias vezes (sendo a regra aplicada para todos os livros que
merecem ser lembrados) complica a possibilidade de estudar tudo o que você
gostaria no período de uma vida (antes tivéssemos várias!).

Imagine que você vai ler determinado livro. Dom Casmurro, por exemplo. Como
você quer lembrar mais facilmente da história, adotará o método de anotações:
enquanto lê, criará tópicos que sintetizam o conteúdo visto. Após alguns capítulos
(não digo apenas um, devido à grande segmentação dessa obra de Machado de
Assis) você transforma aqueles tópicos em um pequeno parágrafo que resume
determinado trecho. Ao final da leitura da obra, você junta todos os pequenos
parágrafos em um resumo completo.

Perceba que utilizando esse método você se preocupou em escrever e sintetizar


em, no mínimo, três etapas: ao elaborar os tópicos, ao transformá-los em
parágrafos e ao transformar os últimos em uma síntese única. Além da escrita,
provavelmente precisou ler muitas vezes para elaborar cada etapa. Caso você
não tenha lido e estudado o livro todo em um único dia, ainda terá o benefício de
ter visto o conteúdo por vários dias, várias vezes. Sem sequer levar em
consideração todas as eventuais leituras que fará ao “passar o olho” nos arquivos
de suas anotações, terá favorecido de maneira intensa o método de
aprendizagem e memorização.

Permitir a escrita sobre o assunto com mais facilidade

Sim, um dos focos do meu modelo de estudos é o output de informações. Não se


preocupe com os detalhes do assunto agora, pois veremos mais detalhes —
 provavelmente — na parte 4 desse artigo. Anyway, as anotações facilitam o
processo de escrita. Para quem escreve artigos ou pensa até mesmo em produzir
um livro sobre determinado assunto, é essencial pré-processar toda a informação
que será usada. Dessa maneira, você economiza tempo e esbanja eficiência!

Uma vez que tenha finalmente entendido qual a importância de anotar e revisar
para sustentar uma alta cultura, você está pronto para o passo seguinte. No
próximo artigo veremos que nem sempre é produtivo utilizar um método muito
detalhista em seus estudos, o que não quer dizer que nenhum registro será
gerado: falaremos mais sobre o quando e o como da aplicação do modelo de
estudos.
O poder de conhecer

“Experimentai de tudo, e ficai com o que é bom”, aconselha o apóstolo.


Experiência, tentativa e erro, constante reflexão e revisão do itinerário — tais são
os únicos meios pelos quais um homem pode, com a graça de Deus, adquirir
conhecimento. Isso não se faz do dia para a noite. “Veritas filia temporis”, dizia
Sto. Tomás: a verdade é filha do tempo. Não me venham com fulgurações
místicas e intuições súbitas. “Que las hay, las hay”, mas mesmo elas requerem
preparação, esforço, humildade, tempo. Até Cristo, no cume da agonia, lançou
ao ar uma pergunta sem resposta. Por que nós, que só somos filhos de Deus
por delegação, teríamos o direito congênito a respostas imediatas?

O aprendizado é impossível sem o direito de errar e sem uma longa tolerância


para com o estado de dúvida. Mais ainda: não é possível o sujeito orientar-se no
meio de uma controvérsia sem conceder a ambos os lados uma credibilidade
inicial sem reservas, sem medo, sem a mínima prevenção interior, por mais
oculta que seja. Só assim a verdade acabará aparecendo por si mesma. O
verdadeiro homem de ciência aposta sempre em todos os cavalos, e aplaude
incondicionalmente o vencedor, qualquer que seja. A isenção não é
desinteresse, distanciamento frio: é paixão pela verdade desconhecida, é amor
à idéia mesma da verdade, sem pressupor qual seja o conteúdo dela em cada
caso particular.

Não há nada mais estúpido do que a convicção geral da nossa classe letrada de
que não existe imparcialidade, de que todas as idéias são preconcebidas, de que
tudo no mundo é subjetivismo e ideologia. Aqueles que proclamam essas coisas
provam apenas sua total inexperiência da investigação, científica ou filosófica.
Não dando valor à sua própria inteligência — porque jamais a testaram —
apressam-se em prostituí-la à primeira crença que os impressione, e daí
deduzem, com demencial soberba, que todo mundo faz o mesmo. Não sabem
que uma aposta total no poder do conhecimento bloqueia, por antecipação, todas
as apostas parciais em verdades preconcebidas. Se o que está em jogo para
mim, no momento da investigação, não é a tese “x” ou “y”, mas o valor da minha
própria capacidade cognitiva, pouco se me dá que vença “x” ou vença “y”: só o
que importa é que eu mesmo, enquanto portador do espírito, saia vencedor.
Nenhuma crença prévia, por mais sublime que seja o seu conteúdo, vale esse
momento em que a inteligência se reconhece no inteligível. Quem não viveu isso
não sabe como a felicidade humana é mais intensa, mais luminosa e mais
duradoura que todas as alegrias animais.

Infelizmente, a classe intelectual está repleta de indivíduos que não conhecem,


da inteligência, senão o seu aparato de meios — a lógica, a memória, os
sentimentos, cada qual prezando mais um ou outro desses instrumentos,
conforme suas inclinações pessoais — mas não têm a menor idéia do que seja
a inteligência enquanto tal, a inteligência enquanto poder de conhecer o real. É
impressionante como o poder mesmo que define a atividade dessas pessoas —
o intelecto — pode ser desprezado, ignorado, reprimido e por fim totalmente
esquecido na prática diária de seus afazeres nominalmente intelectuais. O culto
da razão ou dos sentimentos, das sensações ou do instinto, da fé cega ou do
“pensamento crítico”, não é senão o resíduo supersticioso que sobra no fundo
da alma obscurecida quando se perde o sentido da unidade da inteligência por
trás de todas essas operações parciais. A inteligência, com efeito, não é uma
função, uma faculdade em particular: é a expressão da pessoa inteira enquanto
sujeito do ato de conhecer. A inteligência não é um instrumento, um aspecto, um
órgão do ser humano: ela é o ser humano mesmo, considerado no pleno
exercício daquilo que nele há de mais essencialmente humano.

Perguntaram-me uma vez, num debate, como eu definia a honestidade


intelectual. Sem pestanejar, respondi: é você não fingir que sabe aquilo que não
sabe, nem que não sabe aquilo que sabe perfeitamente bem. Se sei, sei que sei.
Se não sei, sei que não sei. Isto é tudo. Saber que sabe é saber; saber que não
sabe é também saber. A inteligência não é, no fundo, senão o comprometimento
da pessoa inteira no exercício do conhecer, mediante uma livre decisão da
responsabilidade moral. Daí que ela seja também a base da integridade pessoal,
quer no sentido ético, quer no sentido psicológico. Todas as neuroses, todas as
psicoses, todas as mutilações da psique humana se resumem, no fundo, a uma
recusa de saber. São uma revolta contra a inteligência. Revoltas contra a
inteligência — psicoses, portanto, à sua maneira — são também as ideologias e
filosofias que negam ou limitam artificiosamente o poder do conhecimento
humano, subordinando-o à autoridade, ao condicionamento social, ao
beneplácito do consenso acadêmico, aos fins políticos de um partido, ou, pior
ainda, subjugando a inteligência enquanto tal a uma de suas operações ou
aspectos, seja a razão, seja o sentimento, seja o interesse prático ou qualquer
outra coisa.

É claro que, para cada domínio especial do conhecimento e da vida, uma


faculdade em particular se destaca, ainda que sem se desligar das outras: o
raciocínio lógico nas ciências, a imaginação na arte, o sentimento e a memória
no conhecimento de si, a fé e a vontade na busca de Deus. Mas, sem a
inteligência, que é cada uma dessas funções, ou a justaposição mecânica de
todas elas, senão uma forma requintada de fetichismo? Que é uma imaginação
que não intelige o que concebe, um sentimento que não se enxerga a si mesmo,
uma razão que raciocina sem compreender, uma fé que aposta às cegas, sem a
visão clara dos motivos de crer? São cacos de humanidade, jogados num porão
escuro onde cegos tateiam em busca de vestígios de si mesmos. Toda “cultura”
que se construa em cima disso não será jamais senão um monumento à miséria
humana, um macabro sacrifício diante dos ídolos.

Só o inteligir, assumido como estatuto ontológico e dever máximo da pessoa


humana, pode fundamentar a cultura e a vida social. Por isso não há perdão para
aqueles que, vivendo das profissões da inteligência, a rebaixam e a humilham.
Cada vez que um desses indivíduos grita, seja na língua que for, seja sob o
pretexto que for, “Abajo la inteligencia!”, é sempre o coro dos demônios que
ecoa, do fundo do abismo: “Viva la muerte!”
Educação ao contrário
Clicando no Google a palavra “Educação” seguida da expressão “direito de
todos”, encontrei 671 mil referências. Só de artigos acadêmicos a respeito,
5.120. “Educação inclusiva” dá 262 mil respostas. Experimente clicar agora
“Educar-se é dever de cada um”: nenhum resultado. “Educar-se é dever de
todos”: nenhum resultado. “Educar-se é dever do cidadão”: nenhum resultado.
Isso basta para explicar por que os estudantes brasileiros tiram sempre os
últimos lugares nos testes internacionais. A idéia de que educar-se seja um dever
jamais parece ter ocorrido às mentes iluminadas que orientam (ou desorientam)
a formação (ou deformação) das mentes das nossas crianças.

Eis também a razão pela qual, quando meus filhos me perguntavam por que
tinham de ir para a escola, eu só conseguia lhes responder que se não fizessem
isso eu iria para a cadeia; que, portanto, deveriam submeter-se àquele ritual
absurdo por amor ao seu velho pai. Jamais consegui encontrar outra justificativa.
Também lhes recomendei que só se esforçassem o bastante para tirar as notas
mínimas, sem perder mais tempo com aquela bobagem. Se quisessem adquirir
cultura, que estudassem em casa, sob a minha orientação. Tenho oito filhos.
Nenhum deles é inculto. Mas o mais erudito de todos, não por coincidência, é
aquele que freqüentou escola por menos tempo.

A idéia de que a educação é um direito é uma das mais esquisitas que já


passaram pela mente humana. É só a repetição obsessiva que lhe dá alguma
credibilidade. Que é um direito, afinal? É uma obrigação que alguém tem para
com você. Amputado da obrigação que impõe a um terceiro, o direito não tem
substância nenhuma. É como dizer que as crianças têm direito à alimentação
sem que ninguém tenha a obrigação de alimentá-las. A palavra “direito” é apenas
um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros.

Os outros, no caso, são as pessoas e instituições nominalmente incumbidas de


“dar” educação aos brasileiros: professores, pedagogos, ministros, intelectuais e
uma multidão de burocratas. Quando essas criaturas dizem que você tem direito
à educação, estão apenas enunciando uma obrigação que incumbe a elas
próprias. Por que, então, fazem disso uma campanha publicitária? Por que
publicam anúncios que logicamente só devem ser lidos por elas mesmas? Será
que até para se convencer das suas próprias obrigações elas têm de gastar
dinheiro do governo? Ou são tão preguiçosas que precisam incitar a população
para que as pressione a cumprir seu dever? Cada tostão gasto em campanhas
desse tipo é um absurdo e um crime.

Mais ainda, a experiência universal dos educadores genuínos prova que o sujeito
ativo do processo educacional é o estudante, não o professor, o diretor da escola
ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém pode “dar” educação a ninguém.
Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é
sincero, vem do fundo da alma e não de uma obrigação imposta de fora.
Ninguém se educa contra a sua própria vontade, no mínimo porque estudar
requer concentração, e pressão de fora é o contrário da concentração. O máximo
que um estudante pode receber de fora são os meios e a oportunidade de
educar-se. Mas isso não servirá para nada se ele não estiver motivado a buscar
conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação é um direito seu só o impele
a cobrar tudo dos outros – do Estado, da sociedade – e nada de si mesmo.

Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira, é o desprezo pelo conhecimento e


a concomitante veneração pelos títulos e diplomas que dão acesso aos bons
empregos. Isso é uma constante que vem do tempo do Império e já foi
abundantemente documentada na nossa literatura. Nessas condições,
campanhas publicitárias que enfatizem a educação como um direito a ser
cobrado e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da
campanha têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas.
Elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica
para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos
estudos, e sim apenas o desejo do diploma.
Os quatro níveis de leitura e a maneira ideal de ler um
livro, segundo Mortimer Adler
Ou por que ler Schopenhauer do mesmo jeito que se lê Machado
de Assis é perda de tempo e energia.

Há alguns anos, quando comecei o curso de jornalismo, resolvi turbinar minha


capacidade de leitura. Foi quando Machado passou a me encantar: lia tudo dele
que estivesse à mão, geralmente em um ou dois dias. Tentei ler A divina
comédia no mesmo ritmo e, apesar de não ter perda total, hoje preciso reler a
obra de Alighieri. Depois parti para um livro de Schopenhauer. Decepção total.
Nunca mais li nada dele.

O problema é que eu, como muitas pessoas, via livros como copos de água, onde
o desafio era beber tudo. É melhor do que nada, confesso, aprendi muito com
essa ideia na cabeça. Mas também perdi muito. O que importa não é a velocidade
da leitura, mas o que o leitor retém após. Cada livro deve ser lido em um ritmo
próprio. Mas como saber se determinado livro merece mais atenção do que
outros? Confiar apenas nas opiniões de booktubers e resenhistas? Indo mais
fundo, para que realmente serve um livro?

Mortimer Adler e Charles Van Doren propõem essas e muitas outras perguntas —
 com suas devidas propostas — em Como ler livros: o guia clássico para a leitura
inteligente. O livro carrega o pragmatismo do movimento pró-educação norte-
americano, tradição secular que se mantém por lá e começa a substituir a
literatura de auto-ajuda no Brasil — pense em quantos livros e artigos na internet
têm no título a fórmula “Como fazer algo”.

Livros relacionados

 Vida intelectual

 Para ler como um escritor

 Como ler artigos científicos

 Como ler a Bíblia livro por livro

 Como ler Foucault

Adler foi um célebre teórico da educação nos Estados Unidos. Nunca chegou a
completar um curso superior formal, mas soube se educar através da educação
clássica, devorando desde os filósofos da antiguidade até os modernos. Pode-se
dizer que era um polímata, da categoria de Confúcio e do nosso Ruy Barbosa. E
a problemática que deu origem a Como ler livros é a mesma que podemos
observar na nossa realidade hoje: pouca gente sabe, de fato, ler livros. Na
realidade, o índice de analfabetismo funcional entre universitários é de dar
desespero.

O pensamento pedagógico de Adler fundamenta-se na filosofia educacional de


Platão e Aristóteles, que foi aplicada na Idade Média: o trívio e o quadrívio, que
formam as sete artes liberais. São elas: gramática, lógica e retórica (trívio) e
aritmética, geometria, astronomia e música (quadrívio). Seus livros mais
representativos — dentre mais de 50 — são The Paideia proposal: an educational
manifesto; Paideia problems and possibilities e The Paideia program, nenhum
deles disponível em português. Como ler livros, no entanto, não tem importância
menor na obra de Adler. Nasceu justamente da dificuldade que ele notou em seus
alunos em relação à leitura. Foi publicado pela primeira vez em 1940 e reeditado
em algumas ocasiões — a edição mais recente em português conta com a
colaboração de Charles Van Doren. Citando um artigo publicado no Atlantic
Monthly pelo pedagogo James Murcell, Adler resume o problema:
“Será que os alunos, nas escolas, aprendem a ler bem em sua língua materna?
Sim e não. Até o sexto ou sétimo anos, a leitura, como um todo, é bem ensinada
e aprendida. Até esse nível verificamos um progresso geral e constante, mas
além dele as curvas tornam-se retas horizontais. Isso não acontece porque o
aluno chega ao limite natural de sua eficiência no sétimo ano (…) também não
significa que a maior parte dos alunos do sétimo ano leia suficientemente bem
para todos os fins práticos (…) Ele consegue ler uma obra simples de ficção e
gostar dela. Mas coloque-o diante de uma exposição sucinta, de um argumento
formulado com concisão e cuidado, ou de uma passagem que demande
consideração crítica, e ele estará perdido.”

Não é de surpreender, portanto, que Como ler livros tenha uma orientação
pedagógica ancorada na prática. Não é um livro de linguajar complicado nem de
reflexões filosóficas profundas. A maior reflexão que o leitor faz é “por que leio
tão mal?”. O livro divide-se em quatro partes, 21 capítulos e dois apêndices
interessantes: o primeiro é uma lista com sugestões de leitura, todos livros
clássicos, que cobrem o período que se estende da antiguidade até o século 19.
Como o autor é norte-americano, há maior ênfase na literatura de língua inglesa.
O segundo é composto por breves exercícios de leitura, onde o leitor é desafiado
a aplicar as regras práticas propostas ao longo do livro. Apesar de ser um livro
exaustivo sobre o tema proposto, Como ler livros ainda é genérico. Por exemplo,
há um capítulo dedicado à leitura de romances e obras “imaginativas”, mas que
deixa muitas brechas, como o fato de que a ficção pode transcender e escapar
de seus limites para encontrar respaldo na realidade, amplitude que não é
alcançada pelo termo “leitura imaginativa”.

O método proposto
Para Adler, a atividade de leitura é semelhante a uma aula, mas não uma aula
meramente expositiva. O dever do aluno — ou leitor — é questionar o que está
sendo exposto no livro, analisar os argumentos do autor e emitir seu juízo sobre
o assunto baseado também em argumentos. É uma tradição claramente baseada
na lógica formal, onde um argumento é formado por premissas. “O livro é como
a natureza — ou o mundo. Quando você os questiona, eles lhe responderão na
medida da sua própria capacidade de pensar e analisar”, alega o autor. A leitura
se torna necessária a partir de duas constatações: a primeira é a desigualdade
inicial de entendimento do leitor em relação ao autor, ou ao conhecimento que
ele transmite no livro. A segunda é a capacidade do leitor de superar essa
desigualdade. Para que isso aconteça, o leitor deve fazer quatro perguntas
básicas durante e após a leitura. Podem parecer perguntas tolas, mas pense no
último livro que você leu e tente respondê-las.

1. O livro fala sobre o quê? Com isso, procura-se desvendar o tema central
do livro, seja uma obra prática, seja uma peça teatral.

2. O que exatamente está sendo dito e como? Aqui o leitor deverá divisar as
ideias, afirmações e argumentos utilizados pelo autor para transmitir a sua
mensagem. É útil sobretudo para livros filosóficos e clássicos.

3. O livro é verdadeiro em todo ou em parte? A partir das respostas das


perguntas anteriores, o leitor deve formar um juízo a respeito do que está
sendo ou foi lido.

4. E daí? A partir das questões e respostas anteriores, deve-se pesar a


importância e a necessidade de pesquisar e buscar novas informações a
respeito do assunto. É uma pergunta fundamental para o último nível de
leitura.

Não se deve tomar isso como um questionário padrão para ser respondido ao
final da leitura, mas questões mínimas a serem feitas durante a atividade. É um
requisito fundamental da leitura ativa. No início é complicado e requer mais
esforço do que parece, mas com a prática, desenvolve-se a habilidade para
questionar de maneira natural. “Ler é pensar, e o pensamento tende a se
expressar em palavras — faladas ou escritas”, defende Adler.

Durante a leitura — precisamente antes da leitura do texto principal do livro — o


leitor precisa firmar um acordo com o autor, aceitar seus termos, para então
entender o que está sendo lido. Por termos pode-se entender palavras-chave ou
conceitos-chave. Por exemplo, qual a acepção da palavra “livro” para Roger
Chartier em A aventura do livro? É o mesmo conceito usado pelos autores
de Impresso no Brasil, livro composto por artigos? Os autores deste último
concordam entre si? O que é “o mal” na Bíblia e na famigerada série de artigos
de Hannah Arendt? Até o terceiro nível de leitura — próximo tópico –, o leitor deve
firmar um terreno comum com o autor ao aceitar seus termos, o que não implica
ausência de questionamento. Apenas no quarto nível — a leitura sintópica, ou de
vários livros sobre o mesmo assunto — é o leitor quem vai estabelecer os termos
e fazer com que os autores entrem em acordo. Isso equivale a descartar certos
usos e conceitos de palavras em desacordo com a proposta do leitor, segundo
critérios por ele estabelecidos.
Os níveis de leitura
Elementar — Consiste na leitura de nível mais básico ou rudimentar. É a leitura
de crianças que estão tendo contato com as palavras e frases pela primeira vez,
e têm como única preocupação saber o que está escrito. A ausência ou falhas na
educação de base podem comprometer o desenvolvimento da leitura elementar
e, consequentemente, dos demais níveis. Mas também pode ser um desafio para
quem começa a ler livros em língua estrangeira.

Inspecional — Esse tipo de leitura é semelhante à feita por bibliotecários para


catalogar livros; eles não leem todos os livros da biblioteca, mas fazem uma
leitura técnica que lhes permite conhecer, em linhas gerais, do que se trata o livro.
Normalmente é dada ênfase aos elementos pré-textuais (sumário, orelhas,
contracapa, às vezes prefácio). Na leitura inspecional, o leitor vai ler alguns
trechos em intervalos curtos de tempo; “o objetivo da leitura inspecional é extrair
o máximo possível de um livro num determinado período — em geral, um tempo
relativamente curto”. É um nível importante para quem está selecionando uma
bibliografia para pesquisa ou análise e precisa saber o que é relevante.

Analítica — É a melhor leitura possível de um único livro. A ideia aqui é que o


leitor leve o tempo necessário para ler, sem se preocupar com a velocidade. Não
é uma leitura diversional ou informativa, mas uma leitura “intensamente ativa” e
sistemática. “Nesse nível, o leitor adquire o livro — a metáfora é bem apropriada —
 e imiscui-se nele até que o livro efetivamente lhe pertença”, argumenta o autor.
O propósito da leitura analítica é entender o livro em sua integridade.

Sintópica — É o nível mais exigente de leitura. Como já foi dito, nesse ponto o
leitor vai firmar um acordo comum entre vários autores sobre um tema específico.
É uma etapa fundamental para estudantes de nível superior, exige comparação
e confronto de ideias e conceitos e, a partir disso, o leitor desenvolve uma análise
que não está em nenhum dos livros lidos.

O resumo, até aqui, não esgota o conteúdo de Como ler livros. Adler propõe ainda
15 regras gerais de leitura que serão descritas em outro post. Além disso, cada
nível de leitura conta com outras especificidades e subdivisões que o próprio leitor
deve sondar. Outro aspecto que merece ser ressaltado é a classificação dos livros
conforme suas particularidades e regras de leitura, todos elencados na terceira
parte: livros práticos, imaginativos, peças e poemas, livros de história, ciências e
matemática, filosofia e ciências sociais.

Como ler livros é um título de natureza prática que não exige habilidade e
experiência de leitura, apenas paciência e aplicação. Pela formação do autor,
pode ser notado um tom positivista nas ideias — observo a quem interessar que,
no prefácio da edição mais recente, há uma citação de Olavo de Carvalho, do
livro Aristóteles em nova perspectiva. Muitas dos níveis, regras e etapas de
leituras podem ser utilizados intuitivamente por leitores experientes, sem a
necessidade da exposição. Talvez o maior mérito da obra seja o de colocar o livro
como uma fonte de conhecimento que só se completa quando o leitor lê, decifra
os argumentos, absorve seu conteúdo e a partir desse processo forma um juízo.
Na era das opiniões prontas, dos entreveros de redes sociais e da crítica
superficial, Como ler livros é um lembrete de que não sabemos ler bem e
ignoramos a tradição milenar do conhecimento ocidental. Mas podemos aprender
e melhorar.
A leitura analítica e as 15 regras para ler um livro, segundo
Mortimer Adler
A leitura analítica é o terceiro nível de leitura e consiste em uma
leitura compassada, lenta se necessário, mas que tem por
objetivo a absorção total do conteúdo.

Na postagem anterior, onde foi exposto o método geral para leitura e os quatro
níveis de leitura segundo Mortimer Adler, pôde-se destacar que a leitura pode ser
elementar, inspecional, analítica e sintópica. Nesse post, a intenção é
pormenorizar a leitura analítica — considerada a melhor leitura possível de um
único livro — e as 15 regras para o melhor aproveitamento do livro.

Quando se fala em regras, há uma tendência a menosprezar o assunto,


sobretudo quando se trata de regras para leitura. De fato, ler um livro e se
relacionar com ele pode ser algo bem pessoal; um mesmo livro pode ter
significados diferentes para pessoas diferentes. Livros também são distintos entre
si, tanto quanto pessoas são distintas entre si, já que livros não chegam a nós por
mãos divinas, mas pelo talento de seres humanos. As regras, no entanto, são
úteis para uma abordagem crítica e, apesar da quantidade de itens propostos,
são genéricas. É possível aplicá-las a um livro prático, filosófico ou de ficção,
adaptando-as se necessário.

Para recapitular, a leitura analítica é o terceiro nível de leitura conforme a tipologia


de Mortimer Adler, e consiste em uma leitura compassada, lenta se necessário,
mas que tem por objetivo a absorção total do conteúdo — ou seja, das
proposições e argumentos. Ao final, podemos emitir um juízo sobre o que foi lido
ou suspender o julgamento, caso o livro não leve a uma conclusão ou
informações novas sejam necessárias. Livro e leitor debatem, mas apenas este
último é modificado após a leitura.

Livros de ficção também apresentam proposições e argumentos, porém não de


uma maneira clara. Os autores desses livros em geral preferem trabalhar
sentimentos e emoções ao invés de demonstrar fatos e ideias racionais. Cabe ao
leitor se deixar levar pela narrativa, porém entender qual a pretensão do autor e
onde ele quer chegar, e para isso as guias gerais também podem ser úteis.
Hermann Melville não vai deixar claro que Moby Dick representa uma queda-de-
braço entre homem e natureza numa época de caça predatória, abuso de
recursos naturais e revolução industrial. Talvez a intenção dele tenha sido apenas
escrever uma história sobre um cara obcecado por uma baleia gigante. Mas o
leitor tem que considerar que há um discurso por trás de cada história e descobrir
do que se trata — levando em consideração um repertório prévio de
conhecimentos. Os melhores livros de ficção têm argumentos fortes vestidos de
belas histórias.
1 Regras para descobrir o conteúdo
1.1 Classifique o livro de acordo com o tipo e assunto;

1.2 Diga sobre o que é o livro como um todo, com a máxima brevidade possível;

1.3 Exponha as partes principais em sua devida ordem e relação;

1.4 Defina o problema (ou os problemas) que o autor buscou solucionar;

Segundo Adler, essas primeiras quatro regras auxiliam na resposta à primeira


das quatro perguntas fundamentais que devem ser feitas pelo leitor ao livro: o
livro, como um todo, é sobre o quê?

2 Regras para interpretar o conteúdo


2.1 Entre em acordo com o autor, interpretando as palavras-chave do livro;

2.2 Apreenda as proposições principais, estudando as frases mais importantes;

2.3 Identifique os argumentos, encontrando-os ou construindo-os com base em


sequências de frases;

2.4 Determine os problemas que foram resolvidos e os que não foram resolvidos;
quanto a estes últimos, verifique se o autor está ciente de que não conseguiu
resolvê-los.

O segundo set de regras, por sua vez, irá guiar o leitor a responder a segunda
questão fundamental: o que exatamente está sendo dito e como?

3 Regras para criticar o conteúdo


3.1 Preceitos da etiqueta intelectual

3.1.1 Não critique até que tenha completado o delineamento e a interpretação do


livro. Ou seja, não diga que concorda, discorda ou que suspende o julgamento
até que tenha dito “entendi”;

3.1.2 Não discorde de maneira competitiva;

3.1.3 Demonstre que reconhece a diferença entre conhecimento e opinião


pessoal apresentando boas razões para qualquer julgamento crítico que venha a
fazer.
3.2 Critérios especiais para o exercício da crítica

3.2.1 Mostre onde o autor está desinformado;

3.2.2 Mostre onde o autor está mal informado;

3.2.3 Mostre onde o autor foi ilógico (lembre-se: premissas, conclusão e


argumento);

3.2.4 Mostre onde a análise ou a explicação do autor está incompleta.

O terceiro set de regras refere-se às duas últimas perguntas fundamentais: o livro


é verdadeiro? E daí? “A pergunta ‘o livro é verdadeiro?’ pode se prestar
virtualmente a qualquer tipo de leitura (…) O melhor elogio que alguém pode fazer
a qualquer obra da mente humana é afirmar que ela expressou a verdade; porém
criticá-la por não ter alcançado esse objetivo é sinal de que a respeitamos e a
tratamos com seriedade”, defende Adler.

Se, entre os quatro últimos critérios, o leitor concordar com três primeiros — o que
equivale a dizer que o autor é bem informado sobre o assunto e apresentou as
ideias de forma lógica — então ele é obrigado a concordar com o livro, ou pelo
menos com a maior parte. O último critério pode servir como ponto de partida
para o leitor desenvolver sua própria análise — é o que se exige de estudantes
universitários e pesquisadores, por exemplo. Na busca pelo conhecimento, a
quarta pergunta nunca tem fim. “Se as comunicações não fossem complexas, os
delineamentos estruturais seriam desnecessários. Se a linguagem fosse um meio
perfeito de comunicação, interpretações seriam totalmente desnecessárias. Se o
erro e a ignorância não fossem uma ameaça à verdade e ao conhecimento, não
teríamos de ser críticos”, explica o autor.

As regras expostas dificilmente serão acompanhadas por todos os leitores,


mesmo os mais experientes — que sabem ler analiticamente por intuição. No
entanto elas representam um desempenho ideal de leitura, ou seja, quanto mais
o leitor se aproximar desse desempenho, melhor será a qualidade da leitura. A
quantidade de livros lidos não faz a menor diferença.

Você também pode gostar