Você está na página 1de 37

O MILIONÁRIO

INSTANTÂNEO

UM RELATO CLARO E ESTIMULANTE PARA TRIUNFAR

MARK FISHER
O jovem consulta a um parente rico

Era uma vez um jovem brilhante que queria ser rico. É verdade que ele já havia sofrido uma boa quantidade
de desilusões e fracassos, mas, apesar de tudo, ainda confiava em sua boa sorte.

Enquanto aguardava que a fortuna lhe sorrisse, ele trabalhava como ajudante de um diretor de contas em uma
pequena agência de publicidade. Ganhava pouco e há muito descobrira que seu trabalho lhe oferecia poucas
satisfações, e já havia perdido todo o seu entusiasmo como funcionário.

Sonhava em fazer outra coisa. Talvez escrever uma novela que lhe fizesse rico e famoso, acabando assim, de
uma vez por todas, com seus problemas financeiros. Mas, não era a sua ambição, digamos, pouco realista
para a sua condição? Será que ele tinha na verdade a técnica suficiente e o talento necessário para escrever
um livro que fosse um êxito de vendas, ou encheria ele as páginas em branco com as pessimistas reflexões
que lhe ditava sua amargura?

Há mais de um ano que seu trabalho havia se transformado em um pesadelo diário. Apenas podia suportar o
chefe, que passava grande parte das manhãs lendo o jornal e escrevendo memorandos, antes de desaparecer
para ir desfrutar de um almoço de três horas. Além disso, seu chefe havia aperfeiçoado a arte de mudar de
opinião e não parava de dar ordens contraditórias, algo que não contribuía para melhorar a situação.

Talvez, se fosse apenas o seu chefe... mas, infelizmente, estava rodeado de colegas que também estavam
fartos do que estavam fazendo. Parecia que eles haviam abandonado qualquer ambição, haviam renunciado
por completo a qualquer melhora. Não se atrevia a mencionar a nenhum deles a sua fantasia de abandonar
tudo e converter-se em escritor. Sabia que pensariam que se tratava de uma brincadeira. Encontrava-se
afastado do mundo como se estivesse em um país estrangeiro e fosse incapaz de falar o idioma local.

Cada segunda-feira pela manhã perguntava-se como diabos faria para sobreviver mais uma semana naquele
local. Sentia-se completamente alheio às pastas que se amontoavam sobre sua mesa, e às necessidades de
seus clientes, que clamavam para vender seus cigarros, seus carros, suas cervejas...

Seis meses antes, ele havia escrito uma carta de demissão e havia entrado uma dúzia de vezes na mesa do
chefe com a carta queimando no bolso, mas jamais havia conseguido reunir o valor necessário para seguir
adiante. Isto era curioso porque há três ou quatro anos não teria vacilado nem por um instante. Mas neste
momento não parecia ter claro o que devia fazer. Algo estava retendo-o, uma espécie de força, ou era
simplesmente covardia? Parecia haver perdido o valor que, no passado, sempre havia permitido conseguir o
que desejava.

Talvez o fato de ter deixado transcorrer o tempo, à espera de que aparecesse o momento oportuno, tentando
buscar desculpas para não passar para a ação, perguntando-se se alguma vez conseguiria triunfar, lhe havia
convertido em um perpétuo sonhador...

A sua paralisia se devia ao fato de que estava carregado de dívidas? Ou era simplesmente porque havia
começado a envelhecer (um processo que, inevitavelmente, se põe em marcha no instante em que
renunciamos a nossa visão de futuro)?

Para dizer a verdade, não tinha a menor idéia de qual era o problema. Então, um dia em que se sentia
particularmente frustrado, pensou em um tio seu que era milionário. Seu tio podia, talvez, estar em condições
de oferecer-lhe algum bom conselho ou, melhor ainda, emprestar-lhe um pouco de dinheiro.

Seu tio, que era conhecido como uma pessoa amistosa e de bom coração, aceitou de imediato a recebê-lo,
mas negou-se, de maneira rotunda, a emprestar-lhe alguma soma de dinheiro, alegando que com isso não lhe
faria nenhum favor.

— Que idade tens? — perguntou-lhe, depois de haver escutado o relato de suas desventuras.

— Trinta e dois —sussurrou com timidez o jovem. Sabia muito bem que a pergunta de seu tio estava
carregada de censuras.

— Sabias que, quando tinha vinte e três anos, John Paul Getty já havia conseguido seu primeiro milhão? E eu,
na tua idade, já tinha meio milhão? Assim, como é possível que, sendo adulto, te vejas forçado a pedir
dinheiro emprestado?
— Não sei. Trabalho como um escravo, às vezes mais de cinqüenta horas por semana.

— Na verdade, acreditas que trabalhar esforçadamente é o que faz uma pessoa ser rica?
2
— Eu... eu creio que sim... bom, pelo menos é o que me ensinaram a acreditar.

— Quanto ganhas por ano... 15.000 libras esterlinas?

— Sim, mais ou menos, essa é a quantidade — respondeu o jovem.

— Acreditas que alguém que ganha 150.000 libras trabalha dez vezes mais horas por semana que você? É
claro que não! Seria fisicamente impossível: uma semana não tem mais do que 168 horas. Assim, se esta
pessoa ganha dez vezes mais que você, sem trabalhar mais do que você trabalha, então ela tem que estar
fazendo algo muito diferente do que você faz. Deve de possuir um segredo do qual nem siquer você tenha
ouvido falar.

— Suponho que seja assim.

— Tens sorte de haver compreendido pelo menos isto. A maioria das pessoas nem ao menos chega tão longe.
Estão demasiado ocupados tratando de ganhar a vida para deter-se e pensar como poderiam libertar-se de
seus problemas de dinheiro. A maioria das pessoas nem ao menos gasta uma hora de seu tempo tratando de
imaginar como poderiam tornar-se ricos e de perguntar por que nunca conseguem fazer isso.

O jovem teve que admitir que, apesar de suas grandes ambições e seus sonhos de ganhar uma fortuna,
tampouco havia parado para pensar realmente em sua situação. Tudo parecia distrair-lhe, impedindo que se
enfrentasse com essa tarefa que, verdadeiramente, era de fundamental importância.

O tio do jovem permaneceu em silêncio por alguns instantes, e depois olhou fixamente nos olhos do seu
sobrinho enquanto em seus lábios se formava um sorriso amável, apesar de um tanto irônico. Então lhe disse:

— Escute, eu decidi te ajudar. Vou te enviar ao homem que me ajudou a converter-me em um milionário de
um dia para o outro, ou como, pelo menos, a conseguir a mentalidade de um milionário. Mas diga-me, você
quer realmente tornar-se rico?

— Mais do que tudo neste mundo.

— Este é o primeiro requisito. O principal! Mas não é suficiente. Também necessitas saber como fazer para
isso acontecer.

O jovem encolheu ligeiramente os ombros, indicando que estava de acordo.

Então, seu tio lhe disse:

— O milionário Instantâneo vive em F__. Sabes onde fica?

— Sim, mas nunca estive lá.

— Por que você não tenta fazer-lhe uma visita? Talvez ele esteja disposto a revelar o seu segredo. Ele vive
em uma casa fantástica, a mais bonita de toda a cidade. Não terás nenhuma dificuldade em encontrá-la.

— Por que o senhor mesmo não me revela o segredo aqui e agora? Assim eu não precisaria que incomodar o
milionário.

— Simplesmente porque não tenho o direito de fazer isso. Quando o milionário Instantâneo confiou-me seu
segredo, a primeira coisa que fez foi me fazer prometer que jamais o revelaria a ninguém. Mas ele me
autorizou a dizer onde eu o havia aprendido a alguém que eu pudesse confiar.

Ao jovem, tudo isso pareceu tão surpreendente como complicado. Mas também despertou sua curiosidade.

— Estás seguro de que não podes me dizer mais nada?

— Completamente seguro. O que posso fazer é te recomendar muito calorosamente ao Milionário Instantâneo.

E sem dizer mais nada, seu tio tirou de uma das gavetas de seu birô de carvalho maciço, uma elegante folha
de papel de carta, pegou sua caneta e, rapidamente, escreveu algumas linhas. Depois dobrou a carta, a
guardou em um envelope, fechando-o cuidadosamente e, com um sorriso nos lábios, a entregou ao seu
sobrinho.

3
— Aqui tens a tua apresentação —disse—. E aqui tens também o endereço do milionário. Uma última coisa:
prometa-me que não lerás esta carta por nenhum motivo, pois se assim você fizer, provavelmente ela não te
será de utilidade... Mas, se chegas a abri-la, apesar de minha advertência e, todavia, desejas que te possa
servir, então terás que simular que você não a abriu. Mas como poderás desfazer o que está feito?

O jovem não tinha nem a mais remota idéia acerca do que dizia seu tio, mas não quis perguntar. Seu parente
sempre havia tido a reputação de ser um excêntrico. E, depois de tudo, ele estava lhe fazendo um favor.
Assim, decidiu não insistir sobre o tema. Agradeceu e saiu.

O jovem conhece um velho jardineiro

Naquela mesma tarde, ele foi a toda pressa a F__. Seria muito difícil conseguir chegar a conhecer o Milionário
Instantâneo? Estaria ele disposto a receber um visitante inesperado e a revelar seu método secreto de com
tornar-se rico?

Mesmo estando próximo da casa do milionário, o jovem não foi capaz de continuar resistindo à curiosidade e,
apesar das palavras de advertência de seu tio, abriu a carta que seu parente tão bondosamente havia escrito
para ele. Boquiaberto, se perguntou se não havia algum engano ou se seu tio havia querido fazer uma
brincadeira de mau gosto: a carta era apenas uma folha de papel em branco!

Desgostoso, esteve a ponto de desprender-se dela, mas nesse momento viu a casa do milionário e um guarda
de segurança, que provavelmente o veria jogando fora o papel. Como era de se esperar, o guarda tinha uma
expressão impenetrável, sem apresentar o menor vislumbre de um sorriso. De fato, parecia tão impenetrável
como a «inexpugnável fortaleza» que devia proteger.

— O que posso fazer pelo senhor? —perguntou-lhe o guarda, com voz cortante.

— Desejo conhecer o Milionário Instantâneo...

— O senhor tem uma marcada?

— Não, mas...

— Bom, então, o senhor tem uma carta de apresentação? —perguntou-lhe o guarda.

Tinha una, mas não havia nada escrito nela! Não lhe custou muito jovem pensar em uma estratégia que podia
tirar-lhe dessa situação. Tirou pela metade a carta do bolso e, rapidamente, voltou a ocultá-la. Porém, o
guarda não se deu por satisfeito.

— Posso ver a carta, por favor?

Agora ele estava em um aperto. Pensou: “Se eu lhe dou a carta pensará que estou tentando lhe enganar. E se
não a dou, tampouco ele me deixará entrar”.

Enfrentava o que parecia ser um dilema impossível de resolver. Então, recordou as palavras de seu tio que,
naquele momento, não havia entendido: “Se você abrir a carta, terás que simular que não a abristes”.

Não era esta a única coisa que lhe restava fazer? Entregou a carta ao guarda que, abrindo-a, a “leu”. Seu
rosto permaneceu totalmente inexpressivo.

— Muito bem —disse, devolvendo a carta ao jovem—. Pode passar.

O guarda o conduziu até à porta de entrada da luxuosa casa de estilo Tudor, onde vivia o milionário. Um
mordomo, impecavelmente vestido, abriu a porta.

— O que deseja o senhor? —perguntou.

— Quero ver o Milionário Instantâneo.

— Está ocupado e não pode lhe receber neste preciso momento. Tenha a bondade de esperar no jardim.

O mordomo acompanhou o jovem até a entrada de um jardim, que tinha mais o aspecto próprio de um parque.
No centro havia um lago artificial. O jovem passeou um momento, admirando as formosas árvores. Viu um
jardineiro que aparentava ter uns setenta anos. Estava inclinado sobre uma roseira, podando-a, com um
chapéu de palha de abas largas, que lhe ocultava os olhos. Quando o jovem aproximou-se, o jardineiro
4
interrompeu seu trabalho para dar-lhe boas-vindas, sorrindo. Seus olhos azuis, brilhantes e alegres, eram de
uma idade tão indefinida como o céu.

— Para que você veio aqui? —perguntou com uma voz cálida e amistosa.

— Vim conhecer o Milionário Instantâneo.

— Ah, e com que intenção, se não se importa que eu pergunte?

— Bom, eu... eu simplesmente quero pedir-lhe seu conselho...

—Obviamente...

O jardineiro parecia estar a ponto de voltar a ocupar-se de seu roseiral quando pensou melhor e perguntou:

— Por acaso, você tem uma nota de cinco?

— Uma nota de cinco? —exclamou o jovem, surpreso—. Bem, sim... Mas é tudo o que tenho, cinco libras.

— Perfeito, é justamente o que estou precisando agora. Ainda que para todos os efeitos parecia que estivesse
pedindo uma esmola, o jardineiro mantinha uma atitude muito digna. Suas maneiras denotavam uma graça e
um encanto excepcionais.

— Na verdade, eu ficaria feliz em dar para o senhor —replicou o jovem— mas o problema é que não restará
nem um centavo para eu poder voltar para casa.

— Tem você a intenção de voltar hoje mesmo para sua casa?

— Não... quero dizer, não sei —respondeu o jovem, que agora estava bastante confuso—. Não quero voltar
sem haver falado antes com o Milionário Instantâneo.

— Mas se você não necessita hoje do dinheiro, por que se mostra tão resistente para me emprestar? Talvez
tampouco você o necessite amanhã. Quem sabe? Talvez amanhã você já seja um milionário.

Este raciocínio não pareceu de todo lógico ao jovem, mas carecia da força necessária para encontrar novas
objeções. Assim, quando o jardineiro voltou a pedir o dinheiro emprestado, ele o entregou. No rosto do
jardineiro apareceu um sorriso.

— A maioria das pessoas tem medo de pedir as coisas e, quando finalmente se decide a pedir não
insiste o suficiente. É um erro!

Naquele momento, o mordomo apareceu no jardim e dirigiu-se ao velho em um tom de voz muito respeitoso.

— Por favor, o senhor poderia dar-me cinco libras? O cozinheiro viaja hoje e insiste que eu lhe pague o
dinheiro que o senhor lhe deve. Eu tenho o dinheiro incompleto, faltam-me cinco libras.

O jardineiro sorriu. Meteu a mão em um de seus bolsos e tirou um grosso maço de cédulas. Devia ter milhares
de libras, com todos essas notas de vinte e de cinqüenta que o jovem conseguiu ver. O jardineiro tirou a
cédula de cinco libras que o jovem havia emprestado e a entregou ao mordomo, que agradeceu, fez uma
reverência um tanto obsequiosa e rapidamente desapareceu no interior da casa.

O jovem estava indignado. Como era possível que o jardineiro tivesse a cara de pau de apropriar-se da última
nota de cinco libras que lhe restava no mundo quando ele mesmo tinha os bolsos cheios de dinheiro?

— Por que o senhor me pediu as cinco libras? —murmurou o jovem, fazendo o impossível para ocultar a raiva
que sentia—. O senhor não necessitava delas!

— Claro que eu necessitava. Veja, eu não tenho nenhuma nota de cinco libras —explicou, enquanto mostrava
o grosso pacote de notas—. Não pensará você que eu ia a dar uma nota de cinqüenta libras ao cozinheiro, não
é verdade?

— E por que diabos o senhor leva tanto dinheiro consigo?

— É meu dinheiro de bolso —replicou o jardineiro—. Sempre carrego comigo 10.000 libras pois posso precisar
delas.
5
— 10.000 libras? —gaguejou o jovem, muito surpreso.

Logo tudo ficou muito claro: o mordomo tão cortês, a incrível quantidade de dinheiro no bolso...

— Você é o milionário Instantâneo, verdade?

— No momento —respondeu o jardineiro—. Alegra-me que você tenha vindo. Mas, diga-me, quem o enviou?

— Meu tio, mister MacLuckie.

— Ah, sim. Agora me lembro dele. Veio ver-me há muitos anos. Era um pensador muito original, como todos
os homens que se fazem a si mesmos. Mas diga-me, como é que você, todavia, não é rico? Perguntou-se
alguma vez com seriedade sobre isto?

— Na verdade, não.

— Então, talvez esta seja a primeira coisa que você deveria fazer. Se você quiser, pode pensar em voz alta
diante de mim. Eu tentarei seguir o fio de seus pensamentos.

O jovem fez algumas débeis tentativas mas, finalmente, renunciou ao esforço.

— Entendo! —disse o milionário—. Você não está acostumado a pensar em voz alta. Sabe que há
muitíssimos jovens de sua mesma idade que já são ricos? Alguns deles até são milionários. Outros estão a
ponto de conseguir seu primeiro milhão. E sabe você que Aristóteles Onassis tinha vinte e seis anos e 350.000
libras no banco quando deixou América do Sul e veio para a Inglaterra, onde sonhava montar seu império com
navios?

— Somente vinte e seis anos? —perguntou o jovem.

— Isto! E quando começou ele tinha apenas 250 libras. Não tinha nenhum título universitário nem ofício algum
e tampouco tinha contatos importantes... Mas agora é hora de ir comer —comentou o velho—. Gostaria de
acompanhar-me?

— Com muito prazer. Obrigado!

O jovem seguiu o Milionário Instantâneo que, apesar de sua idade, caminhava com agilidade. Entraram na
casa e foram até a sala onde a mesa já estava preparada para dois.

— Por favor, sente-se —convidou o milionário Instantâneo.

Apontou para a cabeça da mesa, o lugar geralmente reservado ao anfitrião. Ele, por sua vez, sentou-se à
direita de seu jovem convidado, diretamente em frente a um belo relógio de areia, que tinha gravada a
seguinte inscrição: TEMPO É OURO. O mordomo apresentou-se com uma garrafa de vinho e encheu as
taças.

— Bebamos por seu primeiro milhão —disse o milionário, levantando sua taça.

Ele bebeu um gole, o único que tomou durante toda a reunião. Também comeu com muita frugalidade: tão
somente alguns bocados de um delicioso filé de salmão.

— Agrada-lhe o que você faz para ganhar a vida? —perguntou o milionário ao jovem.

— Suponho que sim.

— Assegure-se de estar convencido disso. Todos os milionários que conheci, e conheci vários no transcurso
dos anos, amavam suas ocupações. Para eles, trabalhar havia se convertido quase em uma atividade de
recreio, tão agradável como um passatempo. É por isso que a maioria dos ricos poucas vezes tira férias. Por
que têm que se privar de algo que gostam tanto? Fazê-lo serviria apenas como mortificação. E esta também é
a razão pela qual essas pessoas continuam trabalhando ainda depois de fazerem-se várias vezes milionárias...
Mas, ainda que sentir prazer com o trabalho seja algo absolutamente imprescindível, a verdade é que não é
suficiente. Para tornar-se rico é necessário conhecer o segredo. Diga-me, você acredita que esse segredo
existe?

— Sim, acredito!
6
— Bem, este é o primeiro passo. A maioria das pessoas não acredita. Além disso, nem ao menos crêem que
possam ficar ricas. E têm razão! Ninguém que pense que não pode ficar rico, chegará a ser rico. É preciso
começar por acreditar que é possível ser rico, e depois desejar isso de maneira apaixonada. Mas devo
acrescentar que muita gente, a maioria de fato, não está preparada para aceitar esse segredo, mesmo que ele
seja revelado em termos muito simples. Na realidade, seu maior impedimento é sua própria falta de
imaginação. Esta é, no fundo, a razão pela qual o verdadeiro segredo da riqueza é o mais bem guardado do
mundo. É um pouco como a carta roubada do conto de Edgar Alan Poe —prosseguiu o Milionário Instantâneo
—. Lembra-se dele? É aquele sobre uma carta que a polícia procurava na casa de alguém e que não
encontrava porque, em vez de estar oculta em algum lugar, estava colocada em um local em que ninguém
podia imaginar: à vista de todo o mundo! Este relato ilustra perfeitamente um dos princípios de Emerson: O
que impediu a policia de encontrar a carta foi a sua falta de imaginação, ou, se você prefere, suas idéias
preconcebidas. Não esperavam encontrar a carta naquele lugar, por isto nunca a encontraram.

O jovem escutava o milionário atentamente. Nunca ninguém lhe havia falado desta maneira e sentia uma
profunda curiosidade. Ardia de vontade de descobrir qual era o segredo. De qualquer maneira, uma coisa era
certa: mesmo que realmente este homem conhecesse ou não o segredo, evidentemente havia sido um gênio
na hora de montar a cena. E, sobretudo, sabia como explicar as coisas de uma maneira simples e clara, a
menos que tudo aquilo não passasse de um número de ilusionismo magnificamente posto em ação.

O jovem aprende a valorizar as oportunidades e a correr riscos

Agora, depois de tudo o que escutou, quanto você estaria disposto a pagar para conseguir o segredo da
riqueza?

A pergunta do milionário o pegou por surpresa. Mas respondeu:

— Mesmo que eu estivesse disposto a pagar para conseguir, eu não tenho nem um centavo. Portanto, o que
você me propõe é muito difícil de responder.

— Mas, se você tivesse o dinheiro, quanto estaria disposto a pagar? —insistiu o milionário, e depois
acrescentou rapidamente—: Diga um valor qualquer, o primeiro que lhe vier à cabeça.

Agora não tinha desculpas para se evadir da pergunta. O milionário estava pedindo-lhe uma resposta muito
concreta, e ele não podia falhar com seu anfitrião.

— Não sei —respondeu—. Cem libras...?

O milionário caiu em gargalhadas; era a primeira vez que o jovem lhe ouvia rir. Um riso muito particular, claro
e cristalino.

— Só cem libras? Na realidade, você não acredita que o segredo exista, não é mesmo? Se você acreditasse
não teria dúvida de que estaria disposto a pagar muito mais. Vamos, darei a você uma segunda oportunidade.
Diga outra quantia; isto não é um jogo, mas um assunto muito sério.

O jovem começou a pensar. Faria qualquer coisa no mundo para que o milionário não voltasse a rir. Mas
tampouco queria mencionar um valor que pudesse lhe comprometer.

— Não me importa em participar deste jogo —disse ele—. Mas lembre-se de que não tenho nem um centavo.

— Não se preocupe.

— Mas sem dinheiro tenho as mãos atadas —replicou o jovem, um tanto surpreso.

— Por Deus! —exclamou o milionário—. Temos um longo caminho pela frente! Desde os tempos mais
remotos, os ricos utilizam o dinheiro dos demais para aumentar suas fortunas. Ninguém que leve isto a sério
jamais precisou do dinheiro para fazer dinheiro. Refiro-me ao dinheiro próprio. Além disso, você deve carregar
seu talão de cheques...

O jovem gostaria poder responder que não, mas por ironia do destino, naquela mesma manhã ele havia
metido o talão de cheques no bolso. E não sabia o porquê, já que tinha exatamente 2,28 libras na conta. E
isso não era suficiente para se permitir esbanjar. O jovem não havia pensado duas vezes antes de responder
com uma mentira, mas o milionário tinha um olhar muito penetrante, aparentemente capaz de escrutar até o
último rincão de sua mente. Então, quase como se estivesse confessando um de seus mais íntimos e terríveis
7
segredos, ouviu a si mesmo responder gaguejando:

— Sim, sim eu o trouxe comigo.

Neste momento, ele se viu tirando o talonário de seu bolso, da mesma maneira que um robô obedecendo as
ordens de seu amo, apesar de que, por um momento, passou por sua mente a idéia de rebelar-se. Sentia-se
dominado por aquele homem, como alguém que tivesse caído nas mãos de um hipnotizador. Sem dúvida, não
tinha medo do milionário, que irradiava boa vontade, ainda que suas maneiras eram um tanto irônicas.

— Excelente —replicou o milionário—. Agora já está convencido de que não há problema algum?

E tirou do seu bolso uma elegante caneta e a entregou ao jovem.

— Escreva a quantidade que pensou e assine o cheque.

— Mas é que ainda não sei que quantidade eu devo escrever.

— Ok!. Escreva, digamos, 10.000 libras.

O milionário pronunciou esta cifra com toda tranqüilidade, sem o menor sinal de arrogância. O jovem,
entretanto, quase caiu de costas. Para ele cabia apenas uma explicação: o milionário estava se divertindo à
sua custa...

— Dez mil libras! —exclamou o jovem—. Você deve de estar zombando.

— Se preferir, escreva 20.000 libras —replicou o milionário, com tanta calma que o jovem já não sabia se ele
falava sério ou se estava com gozação.

— Mas se as 10.000 libras já me parecem exageradas! De todas maneira, você não poderia descontar o
cheque, porque não haveria fundos. E, de minha parte, a única coisa que eu conseguiria seria o diretor do
banco pensar que eu fiquei louco ou algo parecido. E teria toda a razão!

— Esta é exatamente a maneira em que consegui fazer o maior negócio de toda minha vida. Assinei um
cheque de 100.000 libras e depois tive que correr como um desaforado para conseguir o dinheiro para cobri-lo.
Mas, se eu não tivesse passado esse cheque naquele lugar e naquele momento, eu teria perdido uma
excelente oportunidade. Aquela foi uma de minhas primeiras lições importantes em questões de negócios —
prosseguiu o velho—. As pessoas que perdem tempo esperando as condições perfeitas para que tudo se
encaixe, jamais conseguem fazer algo importante. O momento ideal para a ação é AGORA! E outra lição que
esta pequena história pode lhe ensinar é esta: se você quer triunfar na vida, tem que estar bem seguro de que
não tem mais alternativa. Tem que sentir que está contra a maré. As pessoas que vacilam e se negam a correr
riscos com o pretexto de que não tem todos os elementos em sua mão, jamais chegam a nenhuma parte. A
razão é simples. Quando todas as portas são fechadas e você não tem saída, então é o momento de pôr em
jogo todos os teus recursos internos. E, neste ponto, queres que algo aconteça com todas as fibras de teu
coração. Assim, por que tens dúvida agora, jovem? Ponha-se em ação e assine este cheque de 10.000 libras
para mim.

O jovem assim o fez; escreveu lentamente primeiro as cifras e depois as palavras. Mas quando chegou o mo-
mento de assinar o cheque descobriu que não conseguia fazer isso.

— Nunca assinei um cheque com semelhante soma em toda minha vida.

— Se você deseja converter-se em um milionário, algum dia terá que começar a fazer isso. Tem que se
acostumar a assinar cheques com quantias muito maiores que esta. Isto é apenas o começo.

Mesmo assim, o jovem continuou sem poder assiná-lo nesse preciso momento. Tudo acontecia tão depressa
que o deixava confuso. Estava a ponto de entregar um cheque de 10.000 libras a um homem que acabava de
conhecer e que lhe oferecia em troca um segredo muito duvidoso.

— O que é que te impede de assinar? —perguntou o milionário—. Tudo é relativo sob o sol. Dependendo do
que se deseja, esta quantidade parecerá irrisória.

— Não se trata da quantidade —sussurrou o jovem que, a essas alturas, a duras penas sabia o que dizia.

— Bom, então, de que se trata? O jovem estava a ponto de responder quando o milionário o interrompeu:

8
— Eu sei porque você não pode assiná-lo. Na realidade, você não acredita que meu segredo o converterá em
um milionário. Se você estivesse absolutamente convencido assinaria sem problema.

E para assegurar-se de que podia lhe convencer, ou melhor, para ilustrar suas palavras com maior clareza, o
milionário acrescentou:

— Se você realmente estivesse seguro de que este segredo o ajudará a ganhar 50.000 libras em menos de
um ano, sem ter que trabalhar mais do que trabalha agora e, inclusive, trabalhando menos, assinaria o
cheque?

— É claro que assinaria —expressou o jovem, pois não tinha outra opção—. Teria um ganho de 40.000 libras.

— Então, assine-o. Eu garanto formalmente que você poderá ganhar essa quantia.

— Estaria você disposto a pôr isso por escrito? —Uma vez mais, o milionário começou a rir e exclamou:

— Você me agrada, jovem. Está sempre disposto a proteger-se. Comumente, esta é uma medida muito
prudente. Apesar de que eu esteja assegurando plenamente seus recursos, você não confia na primeira
pessoa que cruza o seu caminho.

Em seguida ficou de pé e remexeu em uma das gavetas em de sua mesa de trabalho e tirou um formulário
impresso que, seguramente, já havia utilizado em ocasiões similares. Isto não pareceu bem para o jovem. Por
acaso aquele velho havia feito de seu segredo um negócio? Se o estivesse vendendo a qualquer um que
aparecesse à porta de sua casa pretendendo ganhar dinheiro fácil?

O milionário escreveu um recibo como garantia e o entregou ao jovem. Este deu uma rápida olhada e ficou
satisfeito com o que havia lido. Então, o velho mudou de opinião.

— Ocorreu-me outra idéia —disse ele—. O que lhe parece se fizermos uma aposta?

Tirou uma moeda do bolso e começou a jogá-la para o ar e recolhê-la com a palma da mão.

— Joguemos cara ou coroa. Se eu perder darei a você as 10.000 libras que tenho no bolso. Se eu ganhar,
você me dará o cheque. Em qualquer caso esqueceremos o recibo.

O jovem parou um pouco para pensar na proposição. Não era uma má idéia. De fato, era tão atrativa que se
perguntou qual seria o motivo que tinha o velho para propô-la. Parecia demasiadamente boa para ser honesta.

— O único problema —disse— é o que eu já disse antes. No banco só tenho trocados. Se eu lhe der este
cheque, você não poderá cobrá-lo.

— Isso não é um problema —afirmou o milionário—. Não tenho pressa. Estou disposto a esperar até a
próxima vez em que nos encontrarmos. Por que não põe a data daqui a um ano?
— Está bem. Sob estas condições, aceito a aposta.

Agora, havia chegado à conclusão de que, no pior dos casos, teria todo um ano para mudar de banco,
encerrar sua conta ou, simplesmente, ordenar que não pagassem o cheque. Não tinha nada a perder. E, com
esta nova oferta do milionário, até poderia chegar a ganhar 10.000 libras em alguns segundos, sem trabalhar
para consegui-las.

Não conseguiu evitar o sorriso de satisfação que passou fugazmente por seus lábios. Sentiu-se culpado, e
desejou que o milionário não tivesse notado, ainda que parecesse um personagem do qual nada lhe escapa
nada. Naquele preciso momento, este lhe pediu um pequeno esclarecimento que confirmou, no ato, as
dúvidas do jovem.

— Só um pequeno detalhe. No caso de que você perca a aposta, eu gostaria que você jurasse solenemente
que honrará o compromisso deste cheque.

O jovem sorriu. Este velho é mais astuto que uma raposa, pensou. O milionário parecia ler seus pensamentos
como em um livro aberto. O jovem deu sua palavra, ainda que no momento em que o milionário se dispunha a
lançar a moeda, ele interrompeu bruscamente:

— O senhor me permite ver a moeda? —perguntou.

O milionário sorriu e respondeu:


9
— Agora não tenho mais nenhuma dúvida. Na realidade, jovem, você é bom. É cauteloso. Isto o ajudará a
evitar muitos erros. Mas assegure-se de que isto não lhe faça perder um montão de boas oportunidades.

Então o milionário lhe entregou amavelmente a moeda, e tão logo o jovem examinou com todo cuidado
ambos os lados, ele pediu que ele escolhesse a face.

— Coroa —pediu o jovem.

O milionário Instantâneo lançou a moeda para o alto. O coração do jovem começou a bater rapidamente! Era
a primeira vez em sua vida que tinha a oportunidade de ganhar 10.000 libras, uma quantidade bastante
considerável! E enquanto olhava como a moeda dava voltas no ar, sua ansiedade foi ao topo. A moeda rodou
sobre a mesa e, por fim, e parou:

— Cara! —anunciou o milionário, alegre, ainda que de imediato acrescentou com simpatia—: Sinto muito.

Era difícil saber se ele dizia com sinceridade ou por pura cortesia.

O jovem decidiu então assinar o cheque. Mas, mesmo assim, não pode deixar de tremer um pouco enquanto
assinava. Provavelmente, chegaria o dia em que estaria acostumado a assinar cheques tão grandes como
aquele, mas, no momento, sentia-se bastante estranho. Entregou o cheque ao milionário, que o examinou
rapidamente, para depois dobrá-lo e guardá-lo no bolso.

— E agora —disse o jovem—, posso saber o segredo?

— Agora mesmo! —respondeu o milionário—. Tem você um pedaço de papel? Eu o escreverei para você, e
assim você não o esquecerá.

O jovem demorou em digerir estas palavras, pois não podia entender como todo o segredo poderia caber em
uma só folha de papel um segredo que acabara de comprar por 10.000 libras!

— Sinto muito, não tenho nenhum pedaço de papel.

Então o milionário fez que o seu coração ficasse outra vez acelerado ao perguntar-lhe:

— Mas não você não trazia uma carta de apresentação? As pessoas que o seu tio enviou para mim ao longo
dos anos sempre trouxeram uma dessas cartas.

O jovem a tirou de seu bolso, pensando que o velho tinha o poder de perceber tudo. A entregou, sem deixar de
observar-lhe enquanto ele a abria. Mas ele não pareceu surpreso quando viu que nela nada tinha escrito.
Tomou sua caneta, e apoiou-se sobre a mesa e antes de começar a escrever, levantou a cabeça e pediu ao
jovem que fosse buscar ao mordomo.

— Você o encontrará na coxinha, no final daquele corredor —disse ele.

Quando o jovem regressou em companhia do mordomo, o milionário já estava abotoando o paletó. Por seu
sorriso, parecia estar muito satisfeito consigo mesmo.

— Nosso jovem convidado passará a noite conosco —disse ao mordomo—. Poderia acompanhá-lo ao seu
quarto, por favor? —Depois lhe estendeu a mão como se estivesse fechando um dos contratos mais
importantes que fizera em toda sua vida—. A única coisa que quero te pedir é que espere até estar a sós em
seu quarto para abrir este envelope e ler o segredo... Ah, e outra coisa mais. Antes que você possa ler o que
escrevi, tem que me prometer que dedicará parte de sua vida a compartilhar este segredo com outras pessoas
menos afortunadas que você. Se estiver de acordo, você será o último a quem transmitirei o segredo
diretamente. Assim meu trabalho estará concluído e poderei dedicar-me a cuidar de minhas rosas em um
jardim muito maior. Se não estiver disposto a compartilhar este segredo —disse, por último— ainda está em
tempo de voltar atrás. Mas nesse caso, é óbvio, não deveria abrir o envelope, e eu lhe devolverei o cheque.
Poderá ir para sua casa quanto desejar e continuar com o tipo de vida que estava levando, até este momento.

Agora que, finalmente, tinha em suas mãos a carta que continha o famoso segredo, não haveria força
suficiente no mundo que o fizesse devolvê-lo. Sua curiosidade era mais forte que nunca.

— Eu prometo —respondeu.

10
O jovem encontra-se prisioneiro

Logo estava completamente só em seu quarto, que era tão luxuoso que não pode deixar de admirá-lo do teto
ao piso. Até parecia que havia esquecido por completo da preciosa carta que tanto havia custado obter.
Aproximou-se da única janela que tinha ali, situada a uma grande altura com relação ao chão da parte externa
da casa, e olhou para o parque. Dali ele podia ver até o jardim onde havia encontrado, pela primeira vez, o
milionário que cuidava de suas rosas com tanto carinho.

Era noite, mas lua cheia cobria tudo com um manto fosforescente. O jovem ardia de impaciência. Por fim ia
descobrir o segredo para fazer fortuna.

Abriu o envelope, tirou a carta e preparou-se para ler seu conteúdo, mas viu que a folha estava
completamente em branco! Virou a folha e viu que o outro lado também não tinha nem um pequeno traço!
Havia sido tão tolo que se deixou enganar pelo velho. Ele havia entregado um cheque com um valor
exorbitante em troca de um segredo que não existia!

E não entendia porque o milionário o havia tratado com tanta correção em todos os momentos, que até havia
começado a sentir um certo apreço por esse velho, que parecia ser tão honesto. Então compreendeu que
deveria ter sido mais cuidadoso, que havia algo de certo no que ele havia aprendido no passado, de que uma
pessoa honrada nunca seria rica.

Viu-se forçado a admitir que carecia de senso comercial e, provavelmente, esta foi a razão pela qual havia
caído na armadilha do velho.

Sentiu-se invadido por um sentimento de rebeldia, e em ataque de raiva, rasgou a carta em dois pedaços e os
jogou sobre a grossa e suave almofada. Seu único consolo era o de que se sentir ridículo não matava
ninguém, pois do contrário ele não daria um centavo por sua vida.

O que ele podia fazer? Havia algo irreal em todo o assunto. Havia deixado se levar para uma armadilha muito
bem preparada. Só lhe restava uma alternativa: escapar tão rápido quanto lhe fosse possível. Talvez até
estivesse em perigo. Tinha que tomar uma decisão, e rápido. Não queria passar a noite nesse lugar.

O mais aconselhável seria escapulir tão silenciosamente quanto pudesse. Caminhou até a porta e, lentamente,
girou a maçaneta. Maldição! A porta estava fechada com chave por fora. Encontrava-se prisioneiro. A janela
era a única saída que lhe restava. Correu até ela. A abriu sem problema algum, mas se deu conta que estava
a uns dez metros do solo. Se saltasse, certamente poderia machucar-se feio. Melhor pensar em outro caminho
para a fuga. Agora a única esperança que lhe restava era chamar o mordomo. Não havia outra opção.

Chamou o mordomo usando a sineta e esperou. Ninguém se apareceu. Voltou a chamar. Nada!

Na casa reinava o mais absoluto silêncio. Todo o mundo devia estar dormindo. Neste caso, o melhor que
podia fazer era gritar. Mas isso ele não deveria fazer de nenhuma maneira. O que aconteceria se o milionário
estivesse agindo de boa fé, apesar de que a tudo parecer o contrário? Seria considerado um tolo por haver
despertado a todo o mundo na metade da noite.

Finalmente, decidiu que seria melhor dormir, apesar disso não tão fácil naquela situação. Os episódios do dia
desfilavam sem cessar diante dos seus olhos. Apesar de todos os argumentos que imaginou, nada poderia
substituir a sensação de ridículo que lhe atormentava. A folha de papel em branco que havia comprado por
10.000 libras continuava flutuando diante dos seus olhos como se estivesse zombando dele. Por sorte, o sono
chegou e o livrou desse pesadelo acordado. Começou a sonhar com um estranho que lhe insistia uma e outra
vez para que assinasse um grosso documento da maior importância como se ele fosse a sua vida. Ele
protestava com veemência. Tinha que se tratar de um erro: o documento estava completamente em branco.

O jovem aprende a ter fé

Na manhã seguinte ele se sentia como se um caminhão tivesse passado por cima dele. Como uma última
ironia, a brisa que entrava pela janela havia levantado a carta infame e reunido, como por arte de magia, os
dois pedaços de papel ao pé da cama. Foi a primeira coisa que viu quando, pela manhã, abriu os olhos e, uma
vez mais, sentiu-se invadido pela raiva. Havia dormido sem tirar a roupa e agora ela estava completamente
amassada, mas ele não deu a menor importância. Só pensava em uma coisa: procurar o velho, devolver o seu
segredo e conseguir de volta o seu cheque. O jovem contemplou-se no espelho por um tempo suficiente para
dar-se conta de que tinha um aspecto horrível, o que fez aumentar a sua determinação.

Passou os dedos pelos cabelos por duas vezes e dirigiu-se à porta, recordando, nesse instante, que durante a
noite havia estado fechada a chave e que, talvez, ainda fosse um prisioneiro. Estava aberta! Saiu furioso e
11
encaminhou-se para a sala de janta.

Encontrou o Milionário Instantâneo sentado tranqüilamente à mesa, vestido com as mesmas roupas do dia
anterior: o macacão de jardineiro, simples, limpo e, surpreendentemente, puído. Seu grande chapéu
pontiagudo e de abas largas, que parecia ao de uma bruxa, exceto porque era de palha, estava sobre a mesa
diante dele. Nesse momento, estava ocupado em lançar uma moeda ao ar e contar. Havia chegado até oito.

— Nove —murmurou, sem afastar o olhar da moeda—. Dez!

Mas antes de pronunciar o número onze, exclamou: “Maldição!”. Levantou a cabeça enquanto pegava a
moeda.

— Jamais havia conseguido ultrapassar a dez —comentou—. Tirou coroa dez vezes seguidas E então, in-
variavelmente, sai cara na décima primeira jogada, apesar de que sempre a ter jogado da mesma maneira.

Um pensamento cruzou como um relâmpago pela mente do jovem. Deu-se conta no ato de que na noite
anterior ele fora enganado. Não houvera tido a oportunidade de ganhar a aposta escolhesse o que escolhesse.

— Meu pai, que era um mágico, sempre conseguia chegar aos quinze —explicou o milionário—. Eu não
herdei o seu talento.

O jovem pediu para ver a moeda. Depois que o milionário a entregou alegremente, ele começou a jogá-la
sobre a mesa. Cara. Coroa. Cara. Coroa. Era óbvio que não era uma moeda trucada, a menos que tivesse um
mecanismo secreto difícil de ser encontrado.

— No houve nada desonesto em nossa aposta de ontem —disse o milionário—. Simplesmente, fiz uma
demonstração de minha habilidade manejando o dinheiro. Além disso, não é a primeira vez que alguém chega
à mesma conclusão. É comum confundir habilidade com desonestidade.

O jovem não soube o que dizer sobre essa observação. Então, recordou o assunto que o havia levado até ali.
Agitou a carta no ar e a jogou sobre a mesa.

— Você fez um excelente trabalho ao zombar de mim, senhor. Conseguiu com toda facilidade uma boa soma:
10.000 libras por um pedaço de papel em branco.

— Não está em branco. É o segredo da fortuna —corrigiu o milionário.

O jovem, que esperava que o milionário lhe pedisse desculpas por esse lamentável mal-entendido, replicou:

— Bom, o senhor terá que me dar uma explicação convincente. O senhor me toma por um idiota?

— Um idiota? É claro que não. A você simplesmente falta perspicácia. É bastante normal. Sua mente, todavia,
é jovem e imatura.

— Pode ser que tenhas razão, mas ainda sou capaz de reconhecer uma folha de papel em branco quando
vejo uma, e o fato é que você me julgou mal.

— Não sei o que mais você quer. Assegurei que você podia chegar a ser muito rico apenas com esse pedaço
de papel. Isso foi tudo o que precisei para me converter no milionário instantâneo... Mas, dado que não tenho
muito tempo e logo terei que voltar a me ocupar de minhas queridas rosas, eu o ajudarei. Escute-me com
atenção, porque tão logo aplique este segredo com êxito, você terá que o explicar a outros. Uma vez que você
tenha livrado a si mesmo dos grilhões da pobreza, terá que ensinar o caminho a todos aqueles que estão ata-
dos de pés e mãos. Posso pedir-lhe que repita a promesa que me fez ontem?

Não cabia a menor dúvida, o milionário era o homem mais extraordinariamente persuasivo que havia
conhecido em toda a sua vida! Fazia apenas algum minutos, ele estava disposto a maldizê-lo com toda a
força que apenas os jovens possuem e agora praticamente estava comendo na palma de sua mão!

A idéia de negar o que lhe pedia nem ao menos passou por sua cabeça. Uma vez mais, repetiu seu solene
juramento. O rosto do milionário iluminou-se com um sorriso, um sorriso tão estranho como o que ele havia
mostrado no dia anterior quando o viu pela primeira vez.

— Estou disposto a revelar para você o segredo, dado que você não foi capaz de descobrir por si mesmo. Mas
devo advertir-lhe uma vez mais que, provavelmente, você pode achar que ele é demasiado fácil para ser
verdadeiro. Ainda assim, não permita que a simplicidade o engane. Cada vez que comece a duvidar lembre-se
12
de Mozart. O verdadeiro gênio reside na simplicidade. Dado que você ainda é jovem, terá dúvidas no início.
Logicamente, com o tempo, à medida que a riqueza se sinta atraída magneticamente para você da forma
mais inesperada, então você começará a compreender.

— Serei sincero com você —disse o jovem—. Isto é exatamente o que eu estava esperando compreender de
todo meu coração.

— Pois muito bem. A fé segue rapidamente a autêntica compreensão e convicção. Uma vez que haja
compreendido o segredo, então saberá por que você acredita nele. Mas, no princípio, apesar de sua
simplicidade, este segredo será tão surpreendente que será incapaz de ser compreendido, ou tão somente de
se crer nele. Assim, rogo-lhe que faça um pequeno ato de fé. É um pouco como o cético que tenta se
relacionar com Deus. Se Deus existe, você ganhará tudo devido à sua fé. Se não existe, não perderá nada.
Isto mesmo vale para o segredo.

O jovem aprende a concentrar-se em uma meta

— Você tem toda a liberdade para formular-me qualquer pergunta que lhe ocorra —disse o milionário—. Será
um prazer para mim respondê-las. Logo você não poderá mais me perguntar nada, e dado que o tempo que
nos resta para estarmos juntos é limitado é melhor que não o desperdicemos em discussões sem sentido. Tem
você um pedaço de papel?

— Aqui está.

— De verdade, você quer tornar-se rico?

— É evidente.

— Muito bem. Então, escreva a quantia de dinheiro que deseja e quanto tempo você se dará para consegui-la.
Este é o misterioso segredo da fortuna.

O jovem pensou que, mais uma vez, o milionário Instantâneo estava gozando dele e perguntou:

— De verdade, você acredita que o dinheiro começará a chover do céu só porque eu escreverei alguns
números sobre um papel?

— Sim, acredito —foi tudo o que o milionário considerou que devia dizer—. Sua reação não me surpreende.
Já o adverti que o segredo era muito simples e, sem dúvida, sei que você ficou surpreso... Permita-me que
acrescente outro ponto antes que eu tente esclarecer um pouco mais as coisas. Todos os milionários que
conheci me confessaram que se tornaram ricos no momento em que se concentraram em uma determinada
quantia e num tempo limite para consegui-la.

— Lamento, mas continuo sem entender. O que pode me acontecer se eu escrever um valor e uma data?

— Se você não sabe aonde quer ir, o mais provável é que jamais consiga chegar a nenhuma parte.

— Talvez, mas isto me parece um truque de mágica.

— E de fato trata-se exatamente disso: o segredo mágico de um objetivo quantificado. Consideremos o


problema por outro ângulo. Suponhamos que você está tentando conseguir um emprego. Dá todos os passos
necessários e, finalmente, convidam-no para uma entrevista. Pouco depois, dizem que você está entre os
candidatos. Em seguida, anunciam que o trabalho é seu e que ganhará um montão de dinheiro. Qual seria sua
reação? Para começar, ficaria muito satisfeito consigo mesmo. Ser escolhido entre dezenas, talvez centenas,
de candidatos. Que proeza! E como os empregos estão cada vez mais escassos e você passa três meses sem
trabalhar, ou talvez já tenha um emprego, mas há um ano que ele o aborrece, pensa que esta é um momento
de boa sorte. Mas, uma vez que tenha passado a euforia inicial, qual seria a sua reação seguinte?

— Bom, eu gostaria de saber quando começaria em meu novo emprego. Depois, queria saber exatamente o
que quer dizer com “um montão de dinheiro”. Como todas as coisas são relativas neste mundo material,
trataria de descobrir exatamente o montante do salário que me iriam me pagar e os benefícios que me
ofereceriam.

— Você tirou as palavras de minha boca. Mas se, por exemplo, você perguntar ao seu novo chefe o que ele
queria dizer quando falava sobre “um montão de dinheiro”, e ele apenas afirmar que você ganhará uma boa
quantia, isto não adiantará muito, não é verdade? E o que é pior, você provavelmente começará a duvidar de
13
sua honradez, simplesmente porque ele não claro sobre o valor. O fato de que ele se negue a dizer uma
quantia exata significará que talvez esteja ocultando algo um pouco turvo em torno do assunto ou que seu
salário não será tão generoso como ele está querendo dizer. E se, além disso, ele se recusa dizer a data exata
em que se supõe que você deverá começar a trabalhar, tampouco você se sentirá feliz, não é assim? Você
tentará fazer com que ele se defina.

— Suponho que sim —concordou o jovem.

— E se, apesar de sua insistência, você continua sem conseguir os detalhes que deseja, então poderia ser que
você decidisse não esperar mais, renunciar ao emprego e começar a procurar outro. De fato, essa atitude
estaria plenamente justificada.

— O senhor tem toda a razão, já que nesse caso, ou ele estaria me enganando ou se trataria simplesmente de
uma gozação. Teria que admitir que, em qualquer sentido, esse emprego não apresenta credibilidade.

O milionário parecia tão satisfeito como Sócrates depois de uma árdua sessão de perguntas e respostas com
seus discípulos. Fez uma pausa antes de prosseguir, e sem abandonar seu sorriso um tanto brincalhão, mas
bem intencionado, ele disse:

— Há alguns momentos, as perguntas que eu lhe formulava sobre seu imaginário empregador tinham como
objetivo conseguir alguns dados concretos. Não é mesmo? Somente o fato de saber que ia a ganhar um
montão de dinheiro não era suficiente. Você também queria saber quanto ganharia. Saber que havia
conseguido o emprego, tampouco lhe bastava. Você também queria saber a data exata em que começaria a
trabalhar. Além disso, provavelmente você desejava que tudo isto fosse registrado por escrito, porque um
contrato formal dá respaldo a um acordo verbal. Assim, a palavra de uma pessoa deveria ser suficiente. Mas
as palavras da maioria dos homens são levadas pelo vento e o que está escrito permanece. O mesmo ocorre
na vida. A maioria das pessoas não se dá conta, pelo menos aqueles que não triunfam, que a vida nos da
exatamente o que lhe pedimos. A primeira coisa que se deve fazer, sem dúvida, é pedir exatamente o que
queremos. Se seu pedido é confuso, o que receberá também será. Se você pede o mínimo, receberá o
mínimo. E não deve surpreender-se se isto é o que recebe, pois isso foi o que você pediu.

O milionário assegurou-se de que o jovem estivesse entendendo o fio de seu raciocínio, antes de prosseguir:

— Qualquer pedido que você faça deve ser formulado da mesma maneira. Sobretudo, deve ser
absolutamente preciso. No que se refere à riqueza, devemos estabelecer uma quantia e uma data limite para
consegui-la. Mas o que fazem normalmente as pessoas? Até os que querem dinheiro em abundância,
cometem o mesmo erro. Se você quiser uma prova disso, pergunte a qualquer um conhecido seu que quantia
de dinheiro deseja ganhar no próximo ano. Peça que responda de imediato. Se esta pessoa estiver realmente
no caminho do êxito, ela saberá para onde está indo, e não lhe importa confiar isto a você, pois ela estará em
condições de responder de imediato. Assim, nove em cada dez pessoas serão incapazes de responder com
clareza a uma pergunta tão simples. Este é o erro mais comum. A vida quer saber exatamente o que se
espera dela. Se você não pede nada, tampouco conseguirá nada, pois isto demonstrará que você já está
contente com o que tem.

— Agora façamos este mesmo teste com você —continuou o velho—. Você me disse que quer tornar-se rico.

— Exatamente.

— Poderia dizer-me então o quanto deseja ganhar no próximo ano?

O jovem descobriu, de repente, que não sabia o que responder. Não havia tido problemas em seguir o
raciocínio do velho. De fato, estava de acordo com ele de todo coração. Mas, ainda assim, tinha que admitir
que pertencia a essa imensa maioria de pessoas que, ainda que desejem tornar-se ricas, não sabem quanto
desejavam ganhar. Sentiu-se envergonhado e tenso.

— Não sei o que dizer —se viu forçado a admitir—. Mas acredito que acabo de compreender um dos meus
erros, talvez um erro fundamental.

— É lógico que é um erro grave. Tentaremos corrigir isso. Vamos, escreva a quantia na qual você tem
pensado.

— Na verdade, não tenho a menor idéia —murmurou o jovem.

— Mais isso é tão fácil! Escreva a quantia que você gostaria de ganhar a partir de hoje até esta mesma data
do ano que vem. (...) Já sei o que faremos. Tire alguns minutos para pensar, Mas depois você terá que
14
escrever uma quantia. Quanto à data limite, digamos um ano a partir de agora. Então, a única coisa que você
deve pensar é na quantia. Vamos, o tempo voa!

Enquanto dizia estas palavras, pegou o dourado relógio de areia que estava sobre a mesa e inverteu a sua
posição.

O jovem não tardou em iniciar o jogo, se é que isso podia ser chamado assim, dado que essa era a primeira
vez em que se concentrava tanto em toda a sua vida. Todo tipo de quantias absurdo passou de maneira
incontrolada por sua cabeça. O tempo se acabava, e quando caiu o último grão de areia ele ainda não havia
se decidido por nenhum valor.

— Bem —disse o milionário, que não havia afastado seus olhos do relógio de areia—, qual é o valor que você
pensou?

O jovem escreveu o que lhe pareceu que estava mais ao seu alcance. Com os dedos tremendo anotou cada
um dos números.

— 30.000 libras em um ano! —exclamou o milionário—. É muito pouco, mas, de todas as maneiras, é um
começo. Eu teria preferido que fossem 300.000 libras. Você terá que trabalhar muito para chegar a converter-
se em um milionário instantâneo. Mas você verá que este trabalho não é tão cansado como a maioria imagina.
Sem dúvida, será o mais importante que de toda a sua vida, e não importa a classe de ocupação que acabe
escolhendo. Chama-se trabalhar em si mesmo.

O jovem aprende o valor da auto-imagem

O jovem ainda não tinha tomado o café da manhã e o desgaste emocional que havia sofrido durante a noite
anterior aumentou seu apetite. De repente, entrou o mordomo levando uma bandeja com café e croassans,
que o jovem comeu enquanto ouvia a lição, que o milionário apresentava da seguinte maneira:

— Vou formular uma série de perguntas para ajudar a sua compreensão do que ocorreu durante seu minuto de
reflexão, que, para você, seguramente foi muito curto.

— Efetivamente, foi curtíssimo.

— A primeira observação que deve fazer é que a quantia do que você escreveu sobre este pedaço de papel
significa muito mais do que você pensa. De fato, essa quantia representa quase até o último centavo do que
você acredita que vale. Aos seus olhos, admita ou não, você vale 30.000 libras ao ano. Nem um centavo a
mais nem um a menos.

— Não entendo porque o senhor diz isso —observou o jovem—. O fato de que eu tenha escolhido essa
quantia em particular significa que penso com clareza e que tenho os pés bem firmes no chão. Não vejo como
eu poderia ganhar mais nestes momentos. Depois de tudo, não tenho nenhum título, o saldo de mi conta no
banco está praticamente a zero e estou praticamente parado.

— Sua forma de pensar é válida, não duvido, e a respeito. O único problema é que esta atitude é a causa de
sua atual situação. As circunstâncias externas, na realidade, não têm muita importância. Tenha sempre mente:
todos os feitos de sua vida são emocionais, sociais ou profissionais, são reflexos dos seus pensamentos. Mas,
como sua mente ainda não está estruturada, você não pode compreender este princípio. Sua mente continua
aceitando a ilusão de forma um tanto generalizada de que os fatores externos determinam como será sua
vida, quando na realidade tudo na vida é uma questão de atitude. A vida é exatamente tal qual nós a
representamos. Tudo o que lhe ocorre, acontece devido aos seus pensamentos. De maneira que, se você quer
mudar sua vida, deve começar mudando seus pensamentos. Não duvido que você considere tudo isto um
tanto trivial. Muitos indivíduos negam obstinadamente este princípio.

Ao dar-se conta de que o jovem estava ligado a cada uma de suas palavras, o milionário acrescentou
rapidamente:

— Todos os que conseguiram grandes coisas na vida, não importa em que campo, eles sempre ignoram as
objeções defendidas pelos pensadores racionais e os intelectuais. Não importa o que digam, seus
pensamentos são, essencialmente, materialistas. Não deixam de discutir e raciocinar sobre todas as coisas,
mas se olharmos bem veremos que suas discussões são bastante estéreis.

Sem dúvida, —continuou— você não deve acreditar que estou indo contra a inteligência. Muito pelo contrário.
15
A lógica e a razão são necessárias para se alcançar o êxito, mas não são suficientes. Devem ser instrumentos
e fiéis servidores, nada mais. Não obstante, na maioria dos casos, se convertem em obstáculos no caminho
das grandes conquistas, que são criados somente por aqueles que têm fé nos poderes da mente. Estas
pessoas de êxito jamais permitem que as circunstâncias provoquem preocupações demasiadas, e isto atrai a
fortuna para elas, de una forma quase milagrosa. Se ficar atento, você verá que as circunstâncias que os
grandes triunfadores do passado tiveram de encarar não eram diferentes das que os seus contemporâneos
devem enfrentar. Comumente estas circunstâncias, inclusive outras mais difíceis, os levaram a buscar com
mais afinco os seus recursos interiores. Todos esses triunfadores acreditavam firmemente que conseguiriam
grandes conquistas. Todos os que se tornaram ricos estavam profundamente convencidos de que se seriam
ricos. E por isso triunfaram.

Mas voltemos ao nosso pedaço de papel —disse o velho—. Responda-me a esta pergunta. Esta quantia de
30.000 libras que você escreveu não foi, com toda certeza, a primeira quantidade que passou por sua cabeça,
não é verdade?

— O senhor tem razão, não foi esta.

— E qual foi a primeira?

— Não sei se eu poderia dizer. Minha cabeça estava cheia de números.

— Por exemplo?

— Bom, 50.000 libras.

— E por que não a escreveu?

— Não o sei. Suponho que me parecia estar totalmente fora do meu alcance.

— E continuará estando até que você acredite que pode conseguir. Dado que você começou com apenas
30.000 libras, teremos uma tarefa urgente pela frente; do contrário demorará muitíssimo tempo para
converter-se em um milionário, até que você escreva com convicção uma quantia mais alta que a você agora
afirma.

O jovem obedeceu e após um instante de reflexão, anotou 40.000 libras.

— Parabéns! —disse o milionário Instantâneo—. Você acaba de ganhar 10.000 libras em um segundo. Não
está mal, hem?

— Mas ainda não ganhei nada.

— É como se isso já tenha acontecido. Você deu um grande passo. Aumentou sua auto-imagem ao considerar
que poderá ganhar 40.000 libras em lugar de 30.000. Não é um grande avanço, mas de toda maneira é um
avanço. Depois de tudo, Roma não foi construída em apenas um dia. Dentro de você há uma cidade escura,
uma espécie de Roma, e certamente a mesma coisa ocorre com todos os seres humanos. Por mais
assombroso que pareça, essa cidade é exatamente como você a imagina. É surpreendentemente flexível. O
tamanho de sua cidade depende da circunferência exata que você a imagina. Poucos sabem que essa cidade
interior existe. Os limites que você fixa são conhecidos comumente como sua “auto-imagem”. Ao aumentar a
quantia que você escreveu, você pôs em movimento o processo de expansão dos limites de sua cidade. E sua
Roma interior cresceu ao mesmo tempo. Todos os sábios pensadores disseram durante séculos que a maior
limitação que o homem pode impor a si mesmo e, como conseqüência, o obstáculo maior ao seu triunfo, é a
mental. Amplie seus limites mentais e ampliará sua vida. As condições de sua vida mudarão como por magia.
Isto eu juro solenemente que é verdadeiro.

— Mas como o senhor pode saber quais são minhas limitações mentais? —perguntou o jovem—. Todo isto me
parece admissível, mas, ao mesmo tempo, bastante abstrato.

— Acabo de explicar como encontrar os limites de ação de tua mente e que correspondem à tua própria
imagem —respondeu o milionário—. Você o plasmou em termos concretos ao escrever essa quantia. É
fascinante ver que é fácil descobrir o que cada indivíduo pensa realmente de si mesmo. Cada vez que alguém
realiza este exercício, uma sola quantia revela imediatamente sua verdadeira auto-imagem. Ele confronta-se
com suas limitações mentais, que corresponderão exatamente aos limites que encontrará na vida. A vida se
inclinará diante dos limites que ele fixou para si mesmo, esteja ou não consciente desse fato. O mais trágico
de tudo isso é que as pessoas que geralmente fracassam são as menos conscientes destes princípios-chave
do êxito e da fortuna. Pelo contrário, os indivíduos de êxito são conscientes deste fenômeno e têm feito todo o
16
possível para trabalhar em sua auto-imagem. No princípio —prosseguiu—, a forma mais fácil para conseguir o
que deseja é pegar uma folha de papel em branco e escrever de cada vez quantidades maiores. Em qualquer
caso, uma coisa está bem clara: não poderá tornar-se rico aquele que não está convencido de que isso é
plenamente possível. A imagem que você criar de si mesmo deve corresponder à de uma pessoa que pode
tornar-se rica. Assim, vamos realizar outra vez nosso pequeno exercício. Desta vez escreva uma quantia mais
arriscada.

O jovem pensou por alguns instantes e, sem controlar sua inquietude, anotou 60.000 libras, confessando,
imediatamente, que esse era o máximo que podia ter esperanças de ganhar.

—Talvez seja o máximo que tenha esperanças de ganhar, mas de nenhuma maneira é o máximo que você
pode ganhar. É uma quantia bastante modesta. Algumas pessoas a ganham em um mês, outras em uma
semana, inclusive em um dia, cada dia do ano. Em qualquer caso, permita-me que o felicite. Você fez um
progresso assombroso, pois conseguiu dobrar a sua auto-imagem e estende consideravelmente seus limites
mentais. Não tanto como eu desejei, mas não quero apressar você. Você deve começar a fixar um objetivo
que considere atrevido, mas que seja, ao mesmo tempo, razoável. De outra maneira, seria demasiadamente
difícil acreditar nele. O segredo de uma meta é que deve ser ao mesmo tempo ambiciosa e estar ao seu
alcance. Jamais esqueça disso quando tiver que fixar uma meta. Por outro lado, não se esqueça de que a
maioria das pessoas é basicamente conservadora. Têm medo de que suas limitações mentais sejam
rompidas. Isto foi convertido em uma espécie de hábito. Estão acostumadas a levar uma existência medíocre
e não desejam mais, convencidas de que assim é a vida. Estão demasiadamente assustadas para sonhar.
Mas você não deve ter medo de ampliar seus limites mentais, já que com o simples fato de escrever uma
série de quantias cada vez maiores, pode ver o que se consegue em uma hora. Por exemplo, atente para
você mesmo e note que conseguiu dobrar seu objetivo em questão de minutos. Mais tarde —prosseguiu—,
quando estiver a sós em seu quarto, faça o seguinte exercício. Sente-se na intimidade de seu dormitório e
escreva o curso de seu destino financeiro da seguinte maneira. Anote: dentro de seis anos, a partir de hoje,
me converterei em milionário. Esta é a aplicação prática do meu segredo para converter-se em um milionário
instantâneo. Provavelmente você não estará de acordo com o fato de que terá que esperar seis longos anos
para tornar-se um milionário. Eu compreendo, mas só levará apenas um segundo girar a chave secreta que
lhe assegurará seu destino financeiro e sua fortuna. Quanto a mim, apesar de que comecei com 10.000 libras
que me emprestou um velho milionário, me custou exatamente cinco anos e nove meses para fazer meu
primeiro milhão. A partir de então, eu prosperei utilizando a mesma fórmula para cada projeto. Esta fórmula
sempre tem sido objeto de burla por parte de muitas pessoas, e isto não vai mudar. Sem dúvida, os que riem
tanto não são ricos!

O jovem movia a cabeça, pensativo. Na realidade, ele não sabia o que dizer. Estava convencido apenas em
parte, pois tudo isso lhe parecia demasiado fácil para ser prático.

— Como é óbvio, —continuou o milionário— essa fórmula só é válida para aqueles que realmente queiram se
converter em milionários. No íntimo, nem todo o mundo tem esta ambição. E esta é precisamente a beleza
deste segredo. Vale perfeitamente para qualquer tipo de sonho, desde o mais modesto ao mais extravagante.
Isso pode fazer você ganhar 5.000 libras extras ao ano ou dobrar os seus investimentos anuais, algo que, por
certo, é completamente factível. Assim, se você não se importa, vá por alguns instantes ao seu quarto,
enquanto eu volto à minhas preciosas rosas, e escreva a frase que eu te disse: dentro de seis anos a partir
de hoje, eu terei me tornado um milionário. Portanto, escreva o dia, o mês e o ano em que você será um
milionário. Assegure-se de que toma nota de qualquer coisa que surja em sua cabeça, não importa o que seja.
Encontrará algumas folhas de papel na escrivaninha. E não esqueça o que vou dizer: enquanto não se
acostumar com a idéia de que se converterá em um milionário, enquanto não integrar esse sentimento em sua
vida e, portanto, em seus pensamentos mais íntimos, nada poderá lhe ajudar a tornar-se milionário. Agora vá
e reflita sobre minha fórmula, que se converterá no princípio que lhe guiará durante os primeiros seis anos.

O jovem descobre o poder das palavras

Uma hora mais tarde, o mordomo foi buscar o jovem, que não havia percebido o passar do tempo, de tão
envolvido que estava com o exercício que o excêntrico milionário lhe havia proposto.

O mordomo explicou que o senhor o esperava no jardim, e o acompanhou até lá, sem dizer nada mais. Seu
anfitrião estava sentado no mesmo banco onde o havia encontrado no primeiro dia, contemplando uma rosa
recém cortada. Levantou a cabeça quando ele ia chegando. Parecia em êxtase; um gentil sorriso iluminava
seu rosto.

— Olá, como se saiu? —perguntou—. O exercício deu resultado?

— Sim, deu sim! Mas tenho um montão de perguntas para fazer.


17
— Para isto é que estou aqui! —respondeu e o convidou a sentar-se ao seu lado.

— O que mais me preocupa —disse o jovem— é que não entendo como posso converter-me em um
milionário a partir de hoje, ainda que escreva esta frase louca e medite sobre ela. Minha pergunta é: como
posso convencer-me de que me tornarei milionário se nem ao menos sei em que quero trabalhar? E, além
disso, ainda sou muito jovem para pretender ser milionário.

— Isto não representa nenhum problema. Muitas pessoas tornam-se ricas muito mais jovens que você. A
idade não é uma barreira. O principal obstáculo é desconhecer o segredo, ou conhecê-lo e não o aplicar. Na
realidade, há um único meio para conseguir isso e é o mesmo utilizado para persuadir a si mesmo de que não
poderia se converter em um milionário apesar de desejar ser. Durante os próximos dias ou em poucas
semanas, no máximo, você desenvolverá uma personalidade de um milionário instantâneo. Como é lógico, te
custará algum tempo para desmontar tudo o que você construiu durante anos. O segredo reside nas palavras,
combinadas com as imagens, que é a forma particular que têm os pensamentos de expressarem a si mesmos.
Cada pensamento tende a manifestar-se em sua vida de uma maneira ou de outra. Quanto mais forte for o
caráter de uma pessoa, mais poderosos serão seus pensamentos e mais rapidamente tenderão a
converterem-se em realidade, formando as circunstâncias de sua vida. Isto, indubitavelmente, inspirou a
Heráclito dizer sua sábia máxima: “O caráter é igual ao destino!”. O desejo é o que melhor apoiará seus
pensamentos. Quanto mais apaixonado for o seu desejo, mais rápida aparecerá em sua vida a coisa que
deseja. A forma de tornar-se rico é desejar ser fervorosamente. Em cada aspecto da vida, a sinceridade e o
fervor são os ingredientes necessários para o êxito.

— Tudo isto está correto e desejo com toda a sinceridade ser rico —replicou o jovem—. Tenho feito tudo o que
estava ao meu alcance para conseguir isso, mas nada tem dado resultado.

— O desejo ardente é necessário, mas não é suficiente. O que te falta é fé. Você deve acreditar que se
converterá em um milionário tão logo ponha em ação o seu desejo.

— E como posso conseguir essa fé?

— Tenho lido muitos livros sobre este tema. O meu próprio mestre ensinou-me a fé corresponde a certeza de
que cada passo é dado na direção certa. E nesse caminhar, a única maneira de manter a fé é repetindo as
palavras de fé. As palavras têm um impacto extraordinário em nossa vida interior e exterior. A maioria das
pessoas desconhece totalmente este princípio ou não o utilizam... Perdão, retiro este último, utilizam o poder
das palavras, mas em geral em detrimento próprio. As palavras são onipotentes.

— Não quero contradizer o senhor —disse o jovem—, mas creio que está você exagerando. Não posso
entender como as palavras podem me ajudar a converter-me em um milionário. Podem ter uma certa
importância, mas essa importância será relativa.

O milionário Instantâneo não respondeu às objeções do jovem. Estava ensimesmado em seus pensamentos.
Então, de repente, disse:

— Na escrivaninha de seu quarto eu deixei um velho escrito que explica esta teoria de uma forma muito clara.
Por favor, vá buscá-lo. É um texto muito curto. Leia-o e depois volte a aqui. Continuaremos nossa conversa
mais tarde. Se desejar dispor de maior intimidade feche a porta do quarto.

O jovem fez o que ele havia pedido. Voltou ao seu quarto, fechou a porta e começou a procurar o escrito na
escrivaninha. Não encontrou nada, exceto uma carta que, ao que parece, ia dirigida a ele, ainda que seu nome
não estava escrito no envelope. Em letras muito claras estava escrito:

CARTA A UM JOVEM MILIONÁRIO.

A abriu e notou espantado que no papel havia apenas uma palavra escrita em tinta vermelha:
ADEUS! Estava assinada: O Milionário Instantâneo.

O coração do jovem começou a agitar-se em seu peito, e naquele momento ouviu um som. Voltou-se e viu um
computador que não havia visto antes. Alguém devia tê-lo posto ali durante a sua ausência. A impressora
estava funcionando. Aproximou-se da máquina e começou a ler o texto. Era apenas uma frase que se repetia:

VOCÊ TEM APENAS UMA HORA DE VIDA


VOCÊ TEM APENAS UMA HORA DE VIDA
VOCÊ TEM APENAS UMA HORA DE VIDA
VOCÊ TEM APENAS UMA HORA DE VIDA
18
VOCÊ TEM APENAS UMA HORA DE VIDA

Se essa frase fosse uma brincadeira, era de muito mau gosto. Sem dúvida, tinha que se tratar de uma
brincadeira. Porque o milionário Instantâneo iria querer vê-lo morto? Ele não lhe havia feito nada. Mas tudo
era tão estranho nesse lugar. Talvez esse homem fosse mesmo um louco, que ocultava seus instintos
assassinos por trás de um manto de falsa bondade.

O jovem estava completamente confuso. Mas tinha uma coisa clara: tratando ou não de uma brincadeira, não
estava disposto a correr riscos. Escaparia dali, esqueceria do cheque, do segredo e das teorias mágicas que o
milionário havia empregado para enganá-lo.

Deixou cair a carta no solo e foi até a porta, mas ela estava fechada com chave. Ficou em pânico. Começou a
forçar furiosamente a porta, mas sem êxito algum. Desta vez o milionário havia ido longe demais.

Nesse momento foi preso no mais completo desespero. Correu até a janela e viu o milionário trabalhando em
seu jardim. Sem parar para considerar se o que fazia tinha o menor sentido, começou a gritar com toda as
forças de seus pulmões. Ninguém lhe respondeu. Gritou com mais força. Uma vez mais. Ninguém lhe
respondeu. Será que ele é surdo? Não parecia antes! Então apareceu o mordomo no jardim. O chamou com
gritos histéricos, mas foi como gritar no deserto.

Que classe de horrível pesadelo estava tendo? Não era possível que os dois ficaram surdos de repente. Voltou
a gritar. Apareceu outro funcionário, a poucos passos atrás do mordomo. Tampouco ele pareceu escutar seus
gritos de auxílio. O jovem foi se desesperando cada vez mais à medida que se passavam os minutos. Sem
nenhuma dúvida, ele era vítima de um insidioso e bem tramado plano, e havia caído diretamente nas mãos do
inimigo.

Voltou a pensar na possibilidade de escapar pela janela, mas reconheceu que era demasiado arriscado. Então,
viu o telefone. Era um verdadeiro idiota! Como é que não tinha pensado nisso antes? A quem chamaria? À
policia? E o que aconteceria se tudo isto não passasse de uma brincadeira? Seria considerado um mentiroso?

Ligou para informações da empresa telefônica. A telefonista tinha uma voz muito estranha, mas quando ele
disse que queria se comunicar com a polícia mais próxima, ela lhe deu o número. O anotou rapidamente e
ligou, mas estava interrompido. Que som desagradável! Voltou a ligar. Continuava interrompido.
Evidentemente, este não era o seu dia. Tentou mais uma vez e, de repente, deu-se conta de que o número
que estava ligando era o mesmo do seu quarto, pois ele estava escrito perto do telefone. Que loucura!

Uma vez mais tentou forçar a porta, mas seus esforços foram inúteis. Assim que voltou para a janela viu um
homem que se aproximava da casa. Ele estava vestido com uma grande capa preta e um chapéu grande. A
essas alturas estava quase sufocado pelo terror. Seria ele um assassino de aluguel contratado para matá-lo?
Ficou encolhido como um rato acuado. Ia morrer. Não tinha como escapar!

Imediatamente, escutou alguns passos que se aproximavam lentamente da porta. Estava certo, havia
chegado sua hora. Afastou-se da porta, procurando à esquerda e à direita algo com o qual se defender.
Escutou girar a chave. A maçaneta moveu-se e a porta foi aberta. Ali, de pé no umbral havia uma sombra
deformada e escura, que rapidamente se transformou na figura de um homem. No primeiro momento não
disse nem uma só palavra, simplesmente permaneceu ali, imóvel, como uma estátua. Então meteu uma mão
no bolso. O jovem pensou que ele ia sacar uma arma, pois aquele inquietante e misterioso desconhecido tirou
uma carta. Ao mesmo tempo, levantou a aba de seu chapéu e o jovem, completamente hipnotizado,
esperando sem alento o pior, viu o rosto do milionário que resplandecia de malícia.

— Você esqueceu sua carta no jardim —disse o milionário Instantâneo, cujo disfarce, depois de superados os
temores, lhe pareceu muito divertido—. Você encontrou o escrito?

— Não, não o encontrei. Mas eu li isto —replicou o jovem, agora já completamente tranqüilizado diante do tom
de voz amistoso do velho.

Agachou-se e recolheu a carta que tinha jogado no chão.

— Qual é o significado de toda esta grotesca farsa que acabas de interpretar? —quis saber o jovem—.
Poderia processá-lo se...

— Mas, são apenas algumas palavras, umas poucas palavras escritas sobre um pedaço de papel. Na verdade,
o que é que me levaria para os tribunais, além deste insignificante pedaço de papel? Você não me disse que
não acreditava no poder das palavras? Olhe para o estado em que se encontra...

19
O jovem compreendeu imediatamente a que se referia o milionário.

— Eu apenas queria dar-lhe uma rápida lição. A experiência ensina muito melhor que a mera teoria. Para dizer
em poucas palavras, a experiência é vida. Não era esta a filosofia de Goethe? Cinza é a cor da teoria; verde a
cor da árvore da vida. Compreendes agora o poder que têm as palavras? —prosseguiu o velho—. E outra
coisa: o poder das é tão grande que nem ao menos necessita ser verdade para que tenha efeito sobre as
pessoas. Asseguro que em nenhum momento tive a intenção de te matar.

— E como eu poderia saber disso? —exclamou o jovem, que ia se tranqüilizando pouco a pouco.

— Você poderia ter empregado a cabeça para pensar um pouco. Porque diabos eu iria querer matá-lo? Você
jamais me fez nenhum mal. E ainda que me houvesse feito, eu jamais me vingaria desse modo. Tudo o que
desejo é cuidar de minhas rosas, que é apenas um pálido reflexo do formoso jardim que me aguarda. Você
teria que haver confiado em seu sentido comum. Certamente você se deu conta da pouca força que tem a
lógica em uma situação como esta, não é mesmo? Quando você nos chamou da janela do quarto, e nós
fingimos que não o ouvíamos, você já estava realmente desesperado. O erro que cometeu não foi o de ler a
ameaça, que era pura invenção, mas acreditar nela. Ao fazer isso, você obedeceu instintivamente a uma das
grandes leis que governam a mente humana. Quando a imaginação e a lógica estão em conflito, a primeira
invariavelmente é que triunfa. Seu grande equívoco foi desesperar-se por uma ameaça que nem era dirigida a
você.

O milionário aproximou da impressora, e arrancou a folha de papel. A mostrou ao jovem, que ficou pasmado
ao compreender que a ameaça não tinha nada a ver com ele. No começo da página estava escrito um nome:
GEORGE STEVENS. O jovem sentiu-se envergonhado. Havia se deixado levar pelo desespero por algo que
era apenas fruto de sua imaginação.

Ao jovem é mostrado pela primeira vez o coração da rosa

Hoje você aprendeu muitas coisas importantes —disse o milionário—. E não apenas as compreendeu com a
cabeça, mas também com o coração. Agora você já sabe que as palavras podem afetar profundamente nossa
vida, queiramos ou não. Você nem era o alvo das ameaças que eram impressas no computador, mas você
tomou, desnecessariamente, um enorme susto... Mas, de fato, não podemos dizer que tenha sido
desnecessário, porque graças a ele você aprendeu uma valiosa lição. Um pensamento, mesmo sendo falso,
pode nos afetar se acreditarmos que ele é verdadeiro. Entretanto, quando aprendemos a distinguir o valor de
um pensamento, o valor que lhe damos, a nossa mente se recobra ou mantém a calma. Na realidade, foi a
sua mente que lhe deu significado à ameaça, porque se ela estivesse escrita em uma língua desconhecida,
você não teria dado a ela a mínima atenção.

Para dar tempo ao jovem de captar o significado de suas palavras, o milionário fez uma pausa. Depois
prosseguiu:

— No futuro, cada vez em que você se encontrar cara a cara com um problema, e o caminho para a fortuna
aparecer cheio de obstáculos, lembre-se desta ameaça. Diga para si mesmo que o problema que enfrenta tem
tão pouco a ver com você como o que aconteceu com aquela ameaça. Isto pode parecer um tanto excessivo,
dado que você é o único que tem de enfrentar o problema, mas assegure-se de que a ansiedade que gera
recaia sobre os ombros de outro. Aponte o problema para outra direção. Não sei se estou sendo bastante
claro. Quero dizer que jamais você deve permitir que um problema adquira tanta importância diante dos seus
olhos, a ponto de traumatizá-lo. No momento em que você alcançar esse ponto, e te asseguro que não é fácil,
você dominará uma técnica infalível e será capaz de satisfazer a todos os seus sonhos. Sem dúvida, permita-
me que te faça uma advertência. A viagem será longa e muito árdua até que você consiga dominá-la. Mas não
a renuncie jamais. Eu prometo, o esforço valerá a pena. Pode ser que um dia chegue a compreender que este
é a finalidade última da vida e que as demais coisas não terão mais tanta importância.

Depois de expressar esta mensagem, o milionário permaneceu em silêncio. Parecia estar absorto em seus
pensamentos. A tristeza surgiu em seus olhos. Não obstante, acrescentou mais algumas palavras, como se
elas fossem, uma conclusão de tudo o que ele havia dito até aquele momento:

— A vida pode ser um jardim de rosas ou o inferno na terra, de acordo com o estado de ânimo de cada um.
Pense nas rosas. Penetre no coração de uma rosa cada vez que surja um problema. E lembre-se de que a
ameaça ia dirigida para outro. Se você o desejar, os problemas sempre estarão dirigidos para outro alguém e
não para você.

Pôs ênfase particular nas seguintes palavras:

20
— A maioria das pessoas compreende o que acabo de dizer. Acreditam que não é mais que um puro e vulgar
otimismo ou coisa de sonhador, mas é muito mais profundo que tudo isso, é um dos maiores princípios da
mente. Para aqueles que são incapazes de ver o mal, o mal não existe. O mundo não é senão o reflexo do ser
interior. As condições de sua vida não são senão a imagem refletida de sua vida interior. Se você não tem
fraquezas, nada que atraia os problemas ou o mal, então o mal não o tocará, nem o perigo te ameaçará.
Reafirme constantemente o princípio de que o mal não existe, e concentre-se no coração da rosa. Nele você
encontrará a verdade e a intuição que necessitará para ser guiado através da vida. Também encontrará algo
que é mui escasso na terra: o amor por qualquer coisa que se faça, e o amor pelos demais. Este é o duplo
segredo da autêntica riqueza.

O jovem aprende a dominar sua mente inconsciente

Depois de expressar este longo e sincero sentimento, o velho milionário pareceu haver ficado exausto, e
permaneceu em silêncio durante vários minutos. Depois continuou, pronunciando com cuidado cada palavra.

— Esta é a razão pela qual a fórmula que te dei é tão poderosa. E ainda que de início você acredite que é
muito pouco provável que chegue a se converter em um milionário, fique certo que você será capaz de ser um
deles. Simplesmente faça com a fórmula o mesmo que fez com a carta. Aceite o que ela diz como uma
verdade, porque o maior segredo de todos as conquistas está na convicção direcionada. Se você tem fé de
que é capaz de conseguir algo em que acredita, então o conseguirá.

— Meu único problema é acreditar que poderei me converter em um milionário daqui a cinco anos. No caso da
carta, eu me deixei enganar pelos meus medos, perdi a cabeça, mas esta fórmula é algo completamente
diferente.

— Mesmo que você não acredite plenamente na fórmula, esta começará a agir sobre você se você a afirmar.
Quanto mais a interiorize, mais poderosa ela se fará. A vantagem é que não é a sua mente racional ou
consciente que tem de ser convencida. Lembre-se da ameaça. Ela parecia absurda para você, e com razão.
Mas, por assim dizer, foi mais forte que você. Parte de você, sua imaginação, a aceitou como real. E a
imaginação é o que alguns chamam de mente inconsciente. É a parte oculta de sua mente, e muito mais
poderosa que sua parte visível. É ela que guia toda a sua vida. Eu poderia passar horas falando sobre e teoria
do inconsciente, mas será bastante saber que o inconsciente é extremamente suscetível ao poder das
palavras. Agora, você já sabe porque existem tantas dificuldades para acreditar no possível e realizável fato
que pode converter você em um milionário em menos de seis anos?

— Sinto muito, mas não tenho convicção.

— Bom, o fato é que durante anos e anos, frases e pensamentos, ou seja, palavras, foram sendo gravadas em
seu inconsciente, de maneira profunda. De fato, cada experiência, cada pensamento que você teve, cada
palavra que escutou ao longo de sua vida, foram sendo gravados de maneira indelével em seu inconsciente.
No final, toda esta prodigiosa memória converte-se na própria imagem da pessoa. Sem que se dê conta, suas
experiências passadas e o monólogo interior que você mantém consigo mesmo o convenceram de que você
não é o tipo de pessoa que pode se converter em um milionário, apesar de que, falando de forma objetiva,
tem todas as qualidades para ser um e muito mais facilmente do que imagina. Sua auto-imagem é tão
poderosa que sem saber se converte em seu destino. As circunstancias exteriores acabam encaixando com a
imagem que tem de si mesmo com surpreendente precisão. Portanto, para tornar-se rico você tem que
elaborar uma nova imagem de si mesmo.

— Estou certo de poder fazer isso, mas isto continua sem resolver o problema. Estou totalmente disposto a
aceitar todas estas teorias. A única dificuldade é que não alcanço como vou convencer a mim mesmo de que
posso me converter em um milionário.

— É muito fácil! Pense na ameaça! Não era verdadeira, mas afetou você como se fosse. Tudo o que tem que
fazer é aplicar a mesma condição a você mesmo. Seu inconsciente não se dará conta do truque. Quando você
era criança, e até depois, cada vez que aceitava uma sugestão, mesmo quando era falsa, estava enganando o
seu inconsciente. Em qualquer caso, você estava forçando a que aceitava algo que, de maneira clara, não era
verdade. Assim, faça o mesmo agora. Seu inconsciente pode ser influenciado à vontade. E uma vez que haja
influenciado sobre ele no sentido que a você interessa, o que é basicamente um jogo de criança, você será
capaz de obter exatamente o que deseja da vida. Por que? Porque seu inconsciente estará convencido de que
você pode conseguir todas essas coisas. As aceitará como verdadeiras da mesma maneira que agora aceita o
fato de que não pode fazer mais nada. Isto se vincula ao que eu te disse antes. O homem é o reflexo dos
pensamentos guardados em seu inconsciente.

Ao ver que o jovem estava cada vez mais interessado nas coisas que ele dizia, o milionário decidiu continuar:
21
— O mais importante é fingir que algo é verdade. Por que isto funciona com o inconsciente? Simplesmente
porque, apesar de que o inconsciente pode ser poderoso, é incapaz de discriminar entre a verdade e a
mentira. Pense uma vez mais na ameaça desta manhã. Seu inconsciente não foi capaz de diferenciar entre o
que era e que não era objetivamente certo. E reagiu de uma maneira muito específica. Se a sua mente não
tivesse aceitado a sugestão contida nessa carta, se houvesse, digamos, fechado a porta do inconsciente, você
não teria tido a violenta reação que teve. Se tivesse ficado perfeitamente tranqüilo e esperado, a situação se
esclarecesse por si mesma.

— Sim, mas o que acontece se há um conflito entre o consciente e o inconsciente? O que acontece se a
minha mente consciente se nega a aceitar a idéia da riqueza?

— A única solução, além de ser a melhor e indubitavelmente a mais rápida, é a repetição.

— A repetição?

— Sim! Esta técnica é conhecida comumente como auto-sugestão. Cada um de nós está submetido a ela ao
longo de nossas vidas. Diariamente somos influenciados por sugestões internas e externas. O monólogo
interior que todos mantemos continuamente conosco mesmos dá forma à nossas vidas. Alguns repetem que
jamais teremos êxito porque proviemos de uma família de perdedores, ou porque temos tido fracassos que,
aos nossos olhos, parecem definitivos. Assim vamos de fracasso em fracasso, não porque não temos as
qualidades necessárias para triunfar, mas porque é assim que inconscientemente pensamos que somos.
Alguns homens crêem que jamais poderão conquistar uma mulher —continuou o milionário—, e sem dúvida
lhes falta o encanto necessário. Por uma razão ou outra, as mulheres fogem deles como da peste. O poder de
sua auto-imagem, que é o reflexo do inconsciente, volta a ser uma vez mais o responsável por isto. Cria o tipo
de circunstâncias que faz com que as mulheres fujam dessas pessoas. Mas a repetição de fórmulas negativas
—concluiu—, que têm um impacto tão tremendo em nossas vidas, também pode ser utilizada de uma maneira
diferente. E este é o que vamos fazer. O inconsciente é um “servidor” que pode nos dominar porque é
imensamente poderoso. Mas também é cego para as necessidades do raciocínio humano e você tem que
aprender a “enganá-lo”.

Seria muito dizer que o jovem compreendia tudo o que o milionário estava lhe dizendo, mas, não obstante, a
impressão geral que recebia lhe parecia positiva. Sentia que o velho estava pondo o dedo sobre sua ferida, e
estava ansioso para descobrir mais sobre o tema.

— A beleza desta teoria reside em que não é necessário acreditar nela para pô-la em prática —disse o
milionário—. Mas para conseguir resultados você tem que utilizá-la. Os resultados não virão por si mesmos,
como por arte de mágica. Sem dúvida, o segredo é simples: tudo, como já foi dito, depende da repetição,
mesmo que a princípio não se acredite nele. Portanto, pelo menos tente durante um par de dias. É tempo
suficiente para que comece a notar seus efeitos. Esta fórmula poderá parecer-lhe simples —prosseguiu— ou
talvez simplista, mas permita-me dizer-lhe que é o segredo mais poderoso sobre a face da terra. Lembre-se
das palavras da Bíblia: “No princípio era o Verbo!”. O Verbo está relacionado com a palavra e com a ação. A
auto-sugestão joga um papel preponderante em nossa vida. Se você continua sem relacionar-se com ela,
continuará trabalhando contra você na maioria das vezes. E, ao contrário, se decidir utilizá-la, todo seu
tremendo poder ficará à sua disposição.

— Bom, acredito que o senhor me convenceu, apesar de que eu falo a verdade, ainda não compreendo
muitas coisas acerca desta teoria —disse o jovem.

— Muito bem. Faça o que tem que fazer. No início talvez pareça que é demasiado fácil, mas deverá basear
seu juízo nos resultados que obtenha mais que nos critérios intelectuais.

O jovem e seu mentor discutem números e fórmulas

O milionário sentou-se à mesa do seu escritório e convidou o jovem para também se sentar. Pegou algumas
folhas de papel e uma caneta esferográfica e escreveu algumas linhas.

— Sua fórmula poderia ter este aspecto —ele explicou. As linhas escritas pelo velho diziam o seguinte—: Para
o final deste ano, terei ativos no valor de 31.250 libras. Dobrarei estes ativos a cada ano durante cinco anos, e
então (havia deixado um espaço em branco) serei milionário.

Não deve você confundir ativos com entradas —disse ao jovem—. Seus ativos são o que lhe fica depois de
pagar os impostos e as faturas. Podem ser investimentos imobiliários, ações de uma companhia ou ganhos
em investimentos bancários ou em uma sociedade investidora. Agora, se você quiser tornar-se um milionário
22
em seis anos, que é um objetivo realista que eu te proponho, sua fórmula terá que se basear neste modelo. Se
você tiver ativos no valor de 31.250 libras no final do primeiro ano, terá que duplicá-los a cada ano. E ao cabo
de seis anos será um milionário! Por que tem que duplicar seus ativos a cada ano? Porque é uma operação
simples que seu inconsciente pode manejar com facilidade. E te resultará mais fácil de recordar. Além disso,
também te garantirá um crescimento constante. Desta maneira, não terá que assumir o risco de esperar ao
sétimo ano para converter-se em milionário. Assim mesmo —continuou—, esta fórmula é virtualmente
obrigatoriamente, se você pretende tornar-se milionário em um período tão curto como são seis anos. Mas
talvez não possa conseguir ativos no valor de 31.250 libras no final do primeiro ano, e assim poder duplicá-los
no segundo. Se este ponto de partida te parece demasiado ambicioso, então conceda a si mesmo outro ano.
Converter-se em milionário em sete anos não é nada mal! Então, sua meta para o primeiro ano será de 15.625
libras. Acredite quando te digo que não é uma coisa impossível de alcançar. E se você estiver convencido de
que pode ter alguns ganhos de 15.625 libras para o final do primeiro ano, os terá. Agora, se isto ainda continua
parecendo para você demasiadamente ambicioso, conceda-se outro ano a mais, o qual totaliza oito. Então, a
meta de seu primeiro ano será de 7.812,59 libras. Com sua fórmula: EU SEREI MILIONÁRIO EM... (e aqui
põe o mês e o ano, em um prazo de cinco, sete ou dez anos), também você fixará alguns objetivos em curto
prazo, etapas que te ajudarão a se motivar em sua viagem pelo caminho para a riqueza. E, desde já, é
fundamental ter uma meta para cada ano. A coisa mais importante, sem dúvida —disse ao jovem—, é
escrever suas metas no papel. Isto não te fará nenhum dano. As quantias serão cada vez mais familiares para
você à medida que se relacione com elas. Milhares de pessoas querem tornar-se ricas, mas, apenas uma em
cada cem toma a iniciativa de traçar a rota que pretende seguir para alcançar sua meta. Seja diferente!
Prepare seus planos e mapas. Trace projetos até que encontre o plano que mais te convenha. Será seu plano.
Se você quiser inspirar-se, utilize os exemplos que eu te dei e depois deixe que sua imaginação voe livre. Tem
que começar a sonhar para tornar-se rico. Tem que saber como quantificar seu sonho, registrando as somas
de dinheiro e fechas. Este, de fato, será o primeiro exercício que deverá fazer. Faça dançar os números em
sua mente. Rapidamente você poderá ver que este pequeno jogo revelará quem é você na realidade. O
simples fato de pôr sobre o papel as suas metas, datas limites e as somas, é o primeiro passo para a
transformação de seus ideais em seu equivalente material. Qualquer um que quiser se manter firme em sua
ambição de converter-se em um milionário em cinco ou dez anos deve levar em conta este fato: se na
atualidade estiver ganhando 20.000 libras por ano e não puder esperar conseguir nada mais que, digamos, um
aumento de 10 por cento, então jamais poderá se converter em um milionário se continuar nesse trabalho, a
menos que também tenha outras atividades paralelas. Não há nada terrível ou reprovável nisto. Trata-se
puramente de uma observação objetiva. A fórmula de dobrar sua fortuna a cada ano ou de incrementar seus
ativos com relação ao ano anterior não é certamente o único caminho para converter-se em um milionário.
Sem dúvida, o segredo que contém, isto é, uma meta quantificada (uma quantidade e uma data limite para
consegui-la), é válida para qualquer um que deseje triunfar. Por exemplo, você pode desejar unicamente
aumentar seus ingressos em 5.000 libras ao ano. Se agora ganha 25.000 libras, provavelmente você gostaria
de ganhar 30.000, ainda que só seja para se permitir alguns luxos a mais. Ou talvez esteja ganhando 30.000
libras e te agradaria cobrar 40.000, o que te permitiria mudar de casa sem ter que se preocupar em pagar os
prazos de uma hipoteca. Ou talvez também poderia se permitir ter um automóvel novo, um que seja um
pouco mais luxuoso. Para conseguir isto, a fórmula é igualmente simples. Simplesmente repita para você
mesmo:

ESTE ANO EU AUMENTAREI MEUS GANHOS EM 5.000 (OU 10.000 LIBRAS) E GANHAREI 30.000 OU
40.000 LIBRAS (conforme seja o caso).

Não é necessário saber como conseguirá. Só deverá ter em conta de que se a única coisa que pode esperar é
um aumento de 10 por cento anuais em seu atual trabalho, e não quer continuar perdendo tempo, terá que
obter uma ascensão ou mudar de trabalho para conseguir seu objetivo. Isto pode parecer uma tolice, mas há
milhares de pessoas que desejam melhorar sua situação material e não fazem absolutamente nada para
conseguir o que deseja. É por ignorância? É porque no fundo estão satisfeitas com sua situação, apesar de
que deixarem de se queixarem um dia sim e o outro também? E uma vez que tenha ficado consciente de que
necessita de uma mudança real em sua vida, para alcançar seu objetivo, talvez diga a si mesmo que não tem
nada em perspectiva, e se pergunte como diabos vai conseguir essas 5.000 ou 10.000 libras extras de que
necessita. Não há com que se preocupar. Este não é um problema sério. O que interessa é impregnar seu
objetivo inconsciente com a sua meta, escrevendo com toda clareza a quantia e a data. Seu inconsciente fará
o resto. Mantenha-se alerta. Como você está agora consciente de que as coisas não melhoram por si
mesmas, quando surgir uma oportunidade ou um golpe de sorte, aproveite sem o menor vacilo. Não permita
que o medo te paralise, que impede a tanta gente a realização dos seus sonhos. Você sabe que se não fizer
algo, não conseguirá o seu aumento. Assim, não vacile em dar os passos necessários para chegar à sua meta.
Corretamente programado, seu inconsciente fará maravilhas para você. Se for dada a ordem de aumentar
seus ganhos em 10.000 libras, o fará sem nenhuma dúvida. Lembre-se do que deseja diariamente, de maneira
que essa tarefa se converta em uma magnífica e valiosa ambição. Como um míssil de controle remoto, essa
força superará todos os obstáculos que você encontrar em sua trajetória até quando surgir a alvorada. Seu
trabalho será o de organizar todos os detalhes corretamente. O que é essa alvorada? —prosseguiu—. É
quando surgir a explosão de vida, representada pelas 10.000 libras, na data marcada (ou antes). Estes são os
23
poderes mágicos do inconsciente e do objetivo quantificado. Quando traçar seus objetivos, tenha presente que
a maioria das pessoas é demasiadamente precavida. Por que? Porque acreditam que não servem para nada
neste sentido. Sua auto-imagem vive rastejando.

Ao chegar neste ponto, o milionário considerou apropriado ilustrar sua teoria com uma breve história pessoal.

— Faz alguns anos —ele sussurrou confidencialmente ao ouvido—, eu pensava em contratar um diretor-geral
para uma de minhas empresas. Havia calculado que podia lhe oferecer 45.000 libras, mas quando chegou o
momento de falar do salário, ele me disse em um tono seco, nervoso, quase imperativo: “Não aceitarei nada
que esteja abaixo de 30.000 libras”. Depois de uma pausa bastante longa, eu lhe disse, como se estivesse
fazendo uma grande concessão: “Em razão dos seus antecedentes, 30.000 libras me parecem um salário
justo”. Se ele tivesse pedido 35.000 libras, eu as teria dado. Além disso, pela maneira como havia se
desenvolvida a conversa, eu havia ficado tão satisfeito com a sua capacidade que eu poderia subir a quantia
até as 50.000 libras. Assim a pessoa que contratei perdeu por seu próprio desejo 20.000 libras em questão de
minutos. Isto é um montão de dinheiro.

Imagine: são 200.000 libras nos primeiros dez anos! Porque desperdiçou esse dinheiro? Simplesmente porque
não acreditava que valesse 50.000 libras ao ano. Devo admitir que depois de escutar suas expectativas de
salário, estive a ponto de não o admitir na empresa. Ele mesmo era quem estava na melhor posição para
estabelecer seu próprio valor, e estava dizendo-me que a sua capacidade como gerente só valia 30.000 libras,
quando eu estava buscando alguém que valesse 45.000 libras. Estava fazendo uma escolha equivocada? O
futuro demonstrou que fiz bem em contratá-lo, e ainda economizei um montão de dinheiro. Seu problema era
que lhe faltava confiança em si mesmo e subestimava o que sua capacidade realmente valia. Ao longo dos
anos, ele foi superando este problema, algo que me custou um bom desembolso para os aumentos de
salários. Mas valia a pena. Deste simples exemplo, você deverá recordar que negociei com aquele gerente da
mesma maneira como a vida negocia com cada um de nós. Nem mais nem menos. Sem dúvida, tendemos
esquecer que, em geral, a vida está disposta a nos dar muito mais do que acreditamos ou estamos
acostumados a pedir. Já falei demais —concluiu o milionário—. O que você deduz de tudo isto, meu jovem?

— Parece bom demais para ser verdade —argüiu ele, ainda que não se havia perdido nem uma só das
palavras que o milionário havia dito.

— Não obstante este simples e pequeno método, e nenhum outro: —acrescentou o velho—, é o que me
ajudou a converter-me em um milionário, e o é o que ensinei também para todos aqueles com os quais tive o
prazer de compartilhar. As palavras são agentes extremamente poderosos. Quanto mais forte for o seu
caráter, mais se converterão as palavras que você pronunciar em autênticos decretos. Todas suas afirmações
alimentadas por sua profunda convicção interior e fortalecidas pelos exercícios da repetição, se concretizarão
cada vez com maior rapidez.

— Depois de ouvir o senhor expor sua teoria, pergunto se tudo isto não é más que um jogo —interrompeu o
jovem.

—Talvez. Mas você tem que fazer a prova. Ninguém poderá fazer isso por você. Deverá repetir sua fórmula
em voz alta, noite e dia, pelo menos cinqüenta vezes. E até mais, se for possível. Talvez cem vezes por dia.
Isto é um exercício em si mesmo. Nas primeiras vezes eu me estendia no solo e repetia enquanto contava
com os dedos de ambas as mãos por cinco vezes.

— O senhor tem que admitir que isso requer prática.

— No princípio verá que não será muito fácil. A mente tende a divagar. Depois de repetir dez vezes, começará
a pensar em alguma outra coisa. Quando acontecer isto, faça com que sua mente se concentre e comece de
novo a partir de zero até que alcance as cinqüenta repetições. Se não continuar a manter uma forma de
disciplina tão simples, será melhor que abandone qualquer sonho de tornar-se rico... Este é o desafio que te
faço, meu amigo. Eu sei que você pode fazer isto. Tudo o que necessita agora é insistir, ser teimoso.

— Por que tenho que repetir a fórmula em voz alta?

— Porque desta maneira entrará em sua mente com mais força. A ordem que você der ao seu inconsciente
parecerá como se procedesse do exterior e assim soará mais imperiosa. Fale de maneira monótona, bem
modulada e articulada. Pronuncie a fórmula como um mantra, como chamam os orientais. Com o tempo, o
desejo adquirirá vida própria.

O jovem estava impressionado com as revelações do milionário. O velho já não sorria. Falava com muita
seriedade, como se fosse um oráculo.

24
— No início, pode ser que você se sinta um pouco envergonhado pelo sonido de sua voz e pela fórmula que
está repetindo. Mas, gradualmente, se acostumará a ela. A meta que está sendo fixada, e que te parecia
demasiada audaz no primeiro momento, será transformada em realizável e até em algo demasiadamente
fácil.

— O senhor não acredita que haverá momentos em que dificilmente poderei deixar de rir-me diante do
absurdo que resulta tudo isto?

— É precisamente então, mais que em nenhum outro momento, quando deverá persistir. Você deve superar
suas dúvidas. Pense em mim. Estarei com você a cada instante, inclusive quando eu estiver em meu outro
jardim, muito longe desta condição aqui. E as minhas forças estarão com você. Nos instantes de dúvida,
lembre-se de que eu te dei minha palavra. Você triunfará!

— O senhor está certo disto? —perguntou o jovem, ainda pouco convencido.

— Por que eu iria ter dúvidas a este respeito? Você se converterá em um milionário instantâneo como eu.
Além disso, você já se converteu em um, agora que compreende e aceita o princípio. A lei secreta da vida é
que qualquer um que compreenda o verdadeiro princípio obtém o poder. Ao conhecê-lo você será brindado
com a liberdade. É só uma questão de tempo para que você se converta realmente em um milionário. Você já
o é em sua mente e isto é o mais importante de tudo.

— Mas, se eu não tenho nem um centavo...

— Então continue repetindo a fórmula secreta. Pouco a pouco verá como se produz uma mudança em seu
interior. Sua meta parecerá mais e mais natural. Será convertida numa parte de tua vida, da mesma maneira
que a pobre imagem que tinha de você mesmo até agora parecia parte integral de sua pessoa, apesar de que
só fora um desgastado produto de sua imaginação. Aquilo que sua mente conjurou no passado pode ser
substituído por uma condição diferente. Desta maneira, você será capaz de moldar seu futuro e da forma que
quiser; será o dono de seu próprio destino. Não é este o desejo secreto de todo o mundo, ainda que se
neguem admitir?

O jovem concordou. Estava emocionado. As palavras daquele velho tinham um significado muito maior do
que ele havia acreditado a princípio. Antes, os seus métodos pareciam estranhos, mas que importância tem
isso, se eles funcionam?

O jovem aprende acerca da felicidade e a vida

Para ajudar-te e apoiar-te —disse o Milionário Instantâneo ao seu jovem discípulo—, agora te revelarei outra
fórmula mais geral, da qual você tirará enormes benefícios durante toda a sua vida. Ela o transformará tanto
interiormente como exteriormente. De fato, te permitirá adquirir a verdadeira riqueza, que não consiste
somente na aquisição de posses materiais. É uma atitude mental para a vida. Permita-me que te dê alguns
conselhos —continuou—. Desde já, a fórmula do dinheiro te permitirá conseguir e provavelmente superar seus
objetivos financeiros. Sem dúvida, durante a busca da riqueza nunca perca de vista o fato de que se você
deixar de ser feliz, não haverá conseguido nada. O obter dinheiro pode transformar-se facilmente em uma
obsessão que te impedirá de desfrutar da vida. Como diz um famoso refrão: Pois que proveito tem o homem
em ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? ...Sua alegria? ...Sua paz? Esta pergunta pode despertar
sorrisos naqueles que a consideram demasiado metafísica ou religiosa, entretanto, o seu sentido tem uma
conotação forte em nossa vida prática neste mundo. Eu creio que o dinheiro é um escravo magnífico, mas
pode transformar-me em um senhor tirânico.

— Você quer dizer que a felicidade e o dinheiro não podem coexistir?

— Longe de mim tal intenção, mas você deverá estar sempre muito alerta para que o dinheiro não domine a
sua mente. John D. Rockefeller, que era o homem mais rico do mundo, estava tão preocupado, tão envolvido
com o peso de suas preocupações que, aos cinqüenta anos, era um velhinho e, por assim dizer, estava
condenado à morte. A única coisa que o seu estômago tolerava era leite e pão. Vivia com o medo constante
de perder seu dinheiro e de que seus sócios o traíssem. O dinheiro havia se convertido em seu amo e nem ao
menos podia desfrutar dele devidamente. Em certo sentido, era muito mais pobre que um simples mecânico
que podia comer uma boa comida quando desejasse.

— Ao mesmo tempo em que o senhor põe a riqueza diante dos meus olhos —disse o jovem—, me atemoriza.

— Mas não é esta a minha intenção —replicou o milionário—, e a fórmula que vou te dar o ajudará a evitar a
armadilha na qual tem caído a maioria dos buscadores de fortuna. As pessoas que são basicamente pobres,
25
trabalham sem descanso para conseguir seus fins. O primeiro dinheiro que ganham desperta neles suas
profundas ambições, fazendo que desejem ter mais e mais. E quando começam a ganhar grandes somas, de
repente têm medo de perdê-las. Minha fórmula é simples! É uma variação da famosa fórmula criada pelo Dr.
Emile Coué para os pacientes de sua clínica:

A CADA DIA, EM TODOS OS SENTIDOS, ESTOU CADA VEZ MELHOR... MUITO MELHOR.

Repita isto em voz alta cinqüenta vezes pela manhã e pela tarde, e tantas vezes quantas puder durante o dia.
Quanto mais a repetir, maior será o impacto que terá sobre você.

O jovem escutava o sábio ancião atenciosamente, e via passar a vida diante dos seus olhos, uma vida que
havia sido plena e, na sua maior parte, feliz. Sentiu que diante de si tinha o primeiro homem feliz que havia
conhecido em toda a sua vida.

— A maioria deseja ser feliz —continuou o milionário—, mas não sabe o que busca. Assim, inevitavelmente,
morrem sem haver encontrado esse algo importante. E, no caso de que o encontrem, como não sabem o que
estão buscando, como poderiam reconhecê-lo? São exatamente iguais às pessoas que lutam para se
tornarem ricas e na verdade querem ser mesmo ricas. Mas, quando de repente você lhes pergunta quanto
desejariam ganhar em um ano, a maioria é incapaz de responder. Quando não se sabe aonde se vai, em geral
não se chega a nenhuma parte.

Para o jovem isto era bastante claro. Era tão incrivelmente simples. Por que diabos não havia pensado antes
em tudo isto? Provavelmente porque jamais havia parado para pensar nisso. Este era seu erro. Não pensava.
Então jurou ali mesmo que, no futuro, pensaria muito mais nas coisas. Isso evitaria um montão de equívocos.

— A felicidade tem sido definida de um milhão de maneiras diferentes —acrescentou o milionário—. Para
cada um de nós, inclusive para aqueles que temos pensado acerca do tema se traduz em uma ampla
variedade de coisas. Mas eu te darei a chave da felicidade. Não é uma definição, pois ela se aplica a todo o
mundo. Com esta chave, você será capaz de saber, sem a menor sombra de dúvida, em qualquer momento
de sua vida, se é feliz. E, especialmente, se está fazendo o que deve para ser feliz. Devo advertir que estas
palavras talvez te surpreendam e até podem até parecer um pouco tristes e pessimistas. Pergunte-se: se eu
fosse morrer esta noite, eu poderia dizer para mim mesmo, no instante de minha morte, que consegui tudo o
que eu me havia proposto fazer no dia de hoje?

— Não entendi —confessou o jovem.

— Quando a cada dia você faz exatamente o que seu Ser Interior te diz o que deve ser feito, então você se
sentirá livre a cada dia para abandonar o mundo. Sem dúvida, para estar completamente seguro de que está
fazendo o que deve, terá que fazer o que você gosta e que é justo. As pessoas que não sentem prazer com o
que fazem não são felizes. Perdem seu tempo sonhando com os olhos abertos com as coisas que gostaria de
estar fazendo. E como jamais fazem aquilo o que sonham, são infelizes, sem exceção alguma. E quando uma
pessoa não é feliz, não está pronta para morrer.

— Eu apenas comecei a viver e o senhor está aqui falando de morte, como se eu estivesse dando a volta na
grande esquina — replicou o jovem com ansiedade.

— Devo admitir, com toda sinceridade, que esta filosofia pode parecer, à primeira vista, uma filosofia da
morte. E, sem dúvida, é plenamente uma filosofia da vida. As pessoas que jamais fazem o que realmente
desejavam fazer, que renunciam aos seus sonhos, poderíamos dizer que pertencem à categoria dos mortos
vivos. Para compreender esta filosofia, faça aquela pergunta para si mesmo uma vez mais e a responda com
sinceridade. Se mentir só estará enganando a si mesmo e se converterá no perdedor do jogo da vida. Se você
soubesse que vai morrer manhã não mudaria os seus planos para hoje? Não faria de sua vida algo diferente
do que tem feito até agora?

— Não sei.

— É provável que desejasse deixar tudo organizado: escreveria um testamento, se já não o tiver feito, e se
despediria de sua família e de seus amigos. Mas suponhamos que todas estas tarefas terrenas só levariam
uma hora. O que faria com as vinte e três horas restantes? Faça esta pergunta a qualquer pessoa que
conheça. Suas respostas cairão, invariavelmente, em duas categorias. As pessoas infelizes, que não
desfrutam de suas vidas, te dirão que fariam algo completamente diferente. E por que diabos continuariam
fazendo algo que têm odiado quando só lhes restam vinte e três horas de vida? A segunda categoria —
continuou o milionário—, que é, infelizmente, a minoria, é formada por pessoas que fariam exatamente o
mesmo que têm a cada dia de suas vidas. Por que teriam que mudar? Seu trabalho é sua paixão. Não é
perfeitamente compreensível que desejem continuar fazendo tudo até que se acabe o seu tempo? Por que
26
teriam que fazer algo que não lhes agrada? Bach pertencia a esta categoria. Em seu leito de morte, pôs-se a
corrigir a última peça musical que havia escrito. Mas você não necessita ser um gênio para querer trabalhar
até o final. Cada um de nós, à nossa maneira e em nossa própria ocupação, pode se converter em gênio,
ainda que a sociedade não nos reconheça com tal. Ser um gênio significa simplesmente desfrutar com o que
se faz. É o autêntico gênio da vida. Mediocridade significa não se atrever a fazer o que se ama, por temor ao
que poderão dizer, por medo de perder a segurança.

— Uma segurança que a maioria das vezes não é mais que uma ilusão, não é verdade? —disse o jovem com
timidez.

— É verdade! Faça outra vez a pergunta: “Se eu tiver que morrer amanhã, o que eu faria com as últimas
horas de minha vida?”. Continuaria fazendo um trabalho que me destroça interiormente, já que ele não tem
nada a ver com as minhas autênticas aspirações? Estaria de acordo em continuar sendo uma sombra do meu
próprio ego, carente por completo de auto-respeito, dado que estou forçando a mim mesmo a fazer algo que
odeio? Imagine-se que tenha convidado a um amigo para a sua casa para ajudar você em algumas tarefas. O
encarregaria com as tarefas mais desagradáveis? É evidente que não! Então, por que se comportar como se
você fosse o seu pior inimigo? Por que não se converter em seu melhor amigo?

Fez-se alguns momentos de silêncio, e depois o velho milionário perguntou:

— E o que você faria se fosse morrer amanhã? Continuaria fazendo exatamente o mesmo que está fazendo
agora?

— Não, eu não o faria —teve que admitir o jovem.

— Isso significa que provavelmente você não é realmente feliz. Agora, considere a seguinte observação: Você
não acha que é demasiadamente presunçoso acreditar que não morrerá amanhã?

Ao escutar estas palavras, o jovem sentiu-se preocupado. Neste dois dias, o velho havia demonstrado
claramente uma grande habilidade para ver o futuro. Será que ele estaria anunciando sua morte iminente?
Talvez de uma forma elíptica, mas de forma evidente.

O milionário pareceu ler seus pensamentos. E além de tudo, a inquietude do jovem era claramente visível.

— Não se preocupe —disse ele com um sorriso—, você não vai morrer amanhã. Creio que você chegará a
desfrutar de uma formosa e prolongada velhice... Mas, permita-me prosseguir com o meu raciocínio.
Tomemos desta vez um caso mais amplo. Você se sentirá menos incomodado do que com estes sombrios
argumentos. Quando você olha a vida através dos olhos da mente, a morte adquire outro significado. Mas
ainda não chegamos a esse ponto, não é verdade? Não acreditas que é um pouco presunçoso acreditar que
temos toda a vida pela frente? Em muitos casos, a morte aparece de repente. Sem dúvida, nós confiamos na
certeza, ou melhor, na ilusão de que temos muito tempo disponível, e nos permitimos ir postergando
constantemente as decisões que temos que adotar. Dizemos a nós mesmos: “Tenho tempo! Farei isso mais
tarde!”. Então, chega a velhice e descobrimos que ainda não fizemos nada de realmente importante.

O velho continuou:

— O segredo da felicidade, portanto, é viver como se cada dia fosse o último. Viver plenamente a cada dia,
fazendo o que faria se suas horas estivessem contadas. Porque, no fundo, estão mesmo contadas. Mas
parece que só nos damos conta quando nos resta muito pouco tempo disponível. Então, já não há mais
tempo! Assim, temos que ser valentes para agirmos de imediato. Viva com este pensamento na mente: “Não
devo morrer com o terrível pensamento de que meus medos têm sido mais fortes que meus sonhos e que
nunca descobri o que eu poderia desfrutar. Tenho que aprender a ser audaz!”.

— Estou de acordo com suas idéias. Quero dizer que penso que elas são lógicas. Mas o que acontece é que
eu não estou absolutamente seguro de que na realidade não gosto do que estou fazendo... Não sei de
nenhuma ocupação que esteja completamente livre de problemas. Se tudo fosse perfeito, não estaríamos
aqui.

— Você tem toda a razão. Inclusive uma profissão que nos encanta tem seus aspectos negativos ou suas
limitações. Outra forma de descobrir se o seu trabalho realmente satisfaz é formular a seguinte pergunta: “Se
amanhã eu tivesse um milhão de libras no banco, eu continuaria fazendo o mesmo trabalho?”. Obviamente, se
sua resposta é não, então é porque você não gosta da idéia. Diga-me: quantas pessoas continuariam com a
mesma ocupação se de repente se tornassem milionárias? Na verdade, pouquíssimas. Além disso, os que
responderiam afirmativamente a esta pergunta, em geral já são milionários. Não sendo assim, se
aposentariam antecipadamente ou fariam alguma outra coisa. Mas a maioria dos milionários que conheço se
27
recusam a retirar-se de suas atividades e continuam trabalhando até uma idade avançada. Atrevo-me a dizer
que todos os milionários, com a exceção daqueles que fizeram sua fortuna através do matrimônio ou de uma
herança, são precisamente o que são porque são encantados com seu trabalho. Meu raciocínio tem voltado a
ponto de partida —continuou—. Para converter-se em um milionário, ou pelo menos se tornar rico, você deve
sentir prazer com a sua ocupação. Os que continuam com um trabalho que detestam, têm uma dupla
condenação, pois além do seu trabalho ser um peso, jamais conseguirá ser rico com ele. De fato, a maioria
passa a vida com esse estranho paradoxo. Por que? Porque desconhece por completo as autênticas leis do
êxito. E pelo medo. Gastam as suas vidas e as oportunidades de converterem-se em pessoas autenticamente
ricas por aferrarem-se a uma classe de segurança que, em essência, é medíocre. Acreditam que a fortuna só
está reservada a poucos privilegiados, ou que eles carecem de talento. E por que se obrigam a acreditar nesta
ilusão? Porque suas mentes não são bastante fortes para ver a realidade, para ver a verdade detrás desta
ilusão. Recorde a máxima: “Caráter é igual a destino”. Fortaleça a sua mente e as circunstâncias se dobrarão
aos seus desejos. Você controlará sua própria vida.

— O senhor sempre foi feliz? —perguntou o jovem.

— Na realidade, não. Houve épocas em que eu era completamente desgraçado. Inclusive me passou pela
cabeça a idéia do suicídio. Até que chegou um dia em que eu também conheci um milionário excêntrico que
me ensinou quase tudo o que eu estou ensinando a você. No princípio, sem dúvida, eu me mostrei bastante
cético. Era incapaz de acreditar que esta teoria pudesse se aplicar ao meu caso, inclusive apesar de que ele
era a prova viva de que sua orientação funcionava. Então, como eu havia tentado todo tipo de coisas e
continuava sem triunfar, e que não tinha nada a perder, fiquei disposto a tentar seguir seus conhecimentos.
Tinha trinta anos e sentia que estava desperdiçando a minha vida. Parecia que as coisas importantes
escorressem entre meus dedos.

— Estou certo de que agora não se arrepende de haver aplicado os conselhos que ele deu ao senhor.

— Ele me dizia sempre que eu podia converter-me no senhor de minha vida e controlar todos os fatos que
acontecessem nela. Mas eu não acreditava que isso fosse possível, pois parecia com ficção-científica. Então
um dia, cansado de ouvi-lo repetir diversas vezes a mesma cantilena, eu pensei que talvez ele tivesse razão,
que era possível que a vida não fosse como eu sempre havia pensado que era: uma série de fatos mais ou
menos imprevisíveis e incontroláveis, nos quais a sorte e o destino atuam como reis. Senti que talvez poderia
controlar meu destino se eu começasse a dominar a minha mente. Notei que estava começando a pensar
desta maneira, em outras palavras, estava produzindo em minha mente uma revolução pelo mero fato de
haver repetido a fórmula que ele me havia ensinado: A CADA DIA, EM TODOS OS SENTIDOS, ESTOU
CADA VEZ MELHOR, MUITO MELHOR. Meu mentor também me ensinou outra, que em minha opinião é
ainda mais poderosa, pelo menos no que se refere à minha experiência pessoal. Como é natural, a recomendo
de todo coração, ainda que, por ser de natureza um pouco religiosa, há algumas pessoas que a deixam de
lado. É uma pena, pois tem um efeito valiosíssimo sobre a mente. Repetir esta fórmula me acalmou quando
eu me sentia angustiado ou ansioso, e me deu as respostas quando eu necessitava de verdade. A
tranqüilidade é a grande manifestação do poder. Observe os fortes e os poderosos: estão tranqüilos. E qual é
o símbolo do supremo poder? Deus, não é mesmo? Esta é uma das razões que faz tão efetiva a fórmula que
vou te dar a seguir: ACALME-SE E SAIBA QUE SOU DEUS. Repita isso diariamente, tantas vezes quanto
possa. Esta fórmula trará a sensação de serenidade tão necessária para enfrentar os altos e baixos da vida.
Quando meu mentor decidiu revelar para mim, a anunciou dizendo que, de todos os segredos do mundo, este
era o mais precioso.

Foi o legado espiritual que ele me transmitiu, e é o que eu transmito para você. Isto deveria te convencer do
poder desta fórmula.

— Espero que isso não tenha convertido o senhor em um pregador —respondeu o jovem—, mas compreendo
sua mensagem.

Sem levar em consideração as palavras irônicas do jovem, o milionário disse:

Graças à repetição desta fórmula, que a princípio me pareceu estranha, desenvolvi um novo poder interior.
Este poder, que jamais deixei de aperfeiçoar ao longo dos anos, me permitiu recordar algo que o velho
milionário me repetiu várias vezes: POSSO FAZER QUALQUER COISA, nada seria impossível para mim, tão
logo eu me convertesse em dono de meu destino. Assim que, pouco a pouco, convenci a meu mesmo que
podia dirigir mi vida exatamente para onde eu queria que fosse. Continuei aplicando a fórmula e feito o que
meu mentor me pediu que fizesse. E eu também quero que você faça o mesmo.

O jovem aprende a expressar seus desejos na vida

28
Você já deu o primeiro passo —explicou o milionário—. Já tratamos de escrever a fórmula e o objetivo
quantificado: uma quantia e uma data limite. Agora passaremos ao segundo passo: em uma folha de papel
escreva tudo o que deseja da vida. Seus sonhos têm que ser precisos para que tomem forma. Isto é o que eu
comecei a pedir:

A seguintes metas financeiras em um prazo de cinco anos:

• Uma casa avaliada em 300.000 libras.


• Uma segunda casa no campo avaliada em 150.000 libras.
• Um Mercedes usado avaliado em 20.000 libras.
• Um BMW novo avaliado em 30.000 libras.
• Não ter mais dívidas pessoais.
• 200.000 libras em produtos metálicos e outros investimentos.
• 300.000 libras invertidas em propriedades que valham seis vezes mais que no momento da compra.

Meus objetivos não financeiros são:

• Duas semanas de férias pelo menos três vezes por ano, cada vez que eu desejar;
• Ser meu próprio chefe e não trabalhar mais de 30 horas por semana;
• Ter amigos inteligentes e ricos no verdadeiro sentido, dedicados aos negócios e à arte;
• Uma mulher carinhosa e encantadora e filhos formosos, que me permitam desfrutar de uma gratificante vida
familiar;
• Uma criada e uma cozinheira que nos libertem das tarefas domésticas.

O jovem estava boquiaberto diante da lista que o milionário Instantâneo havia escrito.

Parece demasiadamente bom para ser possível, não é verdade? —disse o milionário—. Eu também pensei
que havia excedido um pouco quando terminei de escrever a lista sobre que o eu desejava. Mas minhas
vacilações e temores se deviam somente a uma atitude mental negativa e ao meu triste hábito de pensar
pequeno. Eu o fazia sem ao menos me dar conta disso. Sem dúvida, fazer uma lista como esta é exatamente
a maneira de descobrir a estreita visão que se tem das coisas. Aqueles que consideram este plano de vida
inalcançável não fazem mais que pensar pequeno, dado que sendo tudo relativo sob o sol, esta ambição não
pode ser considera fora de órbita. A prova está em que os ricos se sentiriam muito infelizes se tivessem que se
conformar com as pobres condições que acabo de apresentar. Muitos deles vivem em casas que valem um
milhão, têm dezenas de serventes e até um avião particular, uma ilha nos Mares do Sul, cavalos de corrida e
muito mais coisas. E por acaso pensam que seu estilo de vida é fora de propósito? De nenhuma maneira.

Na verdade, eles sabem que são ricos. Em qualquer caso, não tão ricos, pois têm sempre amigos ou sócios
com mais dinheiro que eles. Mas por que acham normal este estilo de vida? Bom, talvez já nasceram ricos ou
pensaram grande e economizaram para chegar até onde estão. Se começar com a idéia de que não
conseguirá, você mesmo estará pondo pedras no caminho. Assim, faça este exercício: Escreva o que você
realmente queira da vida, com todos os detalhes, sem ocultar absolutamente nada. Mostrarei a você os limites
de suas ambições e seus limites mentais. Com o que você sonha realmente? Com o que você estaria
satisfeito? É importante anotar tantos detalhes quanto seja possível. A única coisa que deve evitar é escolher
a casa dos seus sonhos em uma determinada direção, porque pode ser que essa casa jamais esteja disponível
e você correrá o risco de ver que o seu sonho não se tornou realidade, apesar do poder de seu desejo e da
sua vontade, ou talvez porque seu sonho é contrário à ordem natural das coisas, ou é perigoso para os
demais, algo que sempre tem que ser levado em consideração. Este retrato mostrará como você é na
realidade. Ele será convertido na forma concreta de seus desejos. Seus pensamentos têm corpo. Estão vivos.
Cada pensamento que é expressado tende converter-se em realidade. Quanto mais específico for, maiores
serão as possibilidades de que se materialize. Vemos daí a importância dos detalhes. De maneira misteriosa e
inesperada, esses pensamentos alimentados regularmente atrairão as circunstancias que lhes permitirão
converterem-se em realidade.

Dado que o jovem mostrou-se um pouco cético acerca desse ponto, o milionário acrescentou:

— Sei que tudo isto parece utópico, mas como te disse antes, quanto mais forte for a tua mente mais você se
dará conta de que não há nada que não possa conseguir no processo natural. Não lhe parece que em
comparação com o potencial da mente, materializar um sonho tão simples como ter uma casa de 300.000
libras é um conquista um tanto insignificante? Não acreditas que a mente é muito mais poderosa que o que a
gente pensa e, sobretudo, acredita que é? Lembre-se da frase do Evangelho: “A fé move montanhas”.

O jovem estava mudo de espanto.

— Para utilizar sua mente com eficácia, você deve começar crendo em seu poder. Em qualquer caso, você
29
deve estar bem disposto em seu favor. Tem que dar a ela uma oportunidade, escrevendo a sua lista. Você
compreende agora que pode conseguir estas coisas tão simples para sua vida por causa do imenso poder da
mente?

— Necessito de tempo para pensar sobre isto —respondeu sinceramente o jovem.

— Boa idéia. Pense sobre tudo o que eu te disse. Há uma parte em você que acredita em minhas palavras. A
outra está cega e amordaçada por culpa dos anos de má educação e de experiências desafortunadas cujos
registros você traz em sua memória, mas que ainda estão vivas e presentes. A sua mente só espera um sinal
seu para despertar e assumir o controle, a fim de converter-se em amo e senhor de sua existência, em lugar
de ser um escravo atormentado e indefeso diante dos acontecimentos. Escute a essa pequena voz interior,
que está prisioneira nas profundezas de sua mente e dê a ela mais liberdade para que se expresse. Quanto
mais você repetir a fórmula, mais poderosa ela se tornará e o guiará com maior segurança. Esta é a sua
intuição, a voz de seu Ser Divino. O caminho para o seu poder secreto.

O jovem sentiu uma leve tontura; necessitava tomar um descanso.

— Vamos —disse o milionário—. Demos um passeio pelo jardim para relaxarmos um pouco. Ficarei feliz em
poder dar meu último passeio em companhia de um amigo.

Estas palavras entristeceram o jovem. Não era a primeira vez que o milionário fazia semelhante alusão...
como se soubesse que a morte estava muito próxima.

O jovem descobre os segredos do jardim

Os dois homens caminharam pelo jardim em silêncio. O milionário inclinou-se diante de um roseiral carregado
de formosíssimas flores, e pareceu ficar absorto em sua contemplação. Depois se incorporou e disse:

— Devo de haver cheirado estas rosas umas mil vezes e, sem dúvida, cada vez é uma experiência diferente.
Você sabe por que? Porque aprendi a viver aqui e agora. Sem evidenciar o passado, sem importar-me com
o futuro. O segredo é extremamente simples. Tudo reside na concentração mental. Quanto mais você
concentra a sua mente naquilo que realmente deseja, mais ela se volta para o presente, mais presente fica no
que faz. A concentração por prazer é a chave do êxito em todas as facetas da vida. Quanto mais aumentar
sua capacidade de concentração, com maior rapidez e maior eficácia ela poderá trabalhar. Você descobrirá os
detalhes que os demais não percebem.

— Os ricos e as pessoas que triunfam aprenderam a prestar atenção nos detalhes?

— É claro que sim. Ao aumentar seu poder de concentração, você estará em condições de fazer sábias
observações sobre as coisas. Aprenderá a julgar corretamente as pessoas que você conhece. Seu poder de
concentração te permitirá descobrir de uma olhada quem são na realidade. E o converterá você em uma
pessoa realista, no mais autêntico sentido da palavra, ou, pelo menos, em seu sentido mais profundo. Verá as
coisas tal como são. A cortina de pensamentos e sonhos que se encontram na maioria das pessoas já não
perturbará sua visão das coisas. Por estar continuamente distraídas, a maioria das pessoas seguem pela vida
como sonâmbulas. Não vêem nem as coisas nem os outros seres com os quais cruzam. Vivem como em um
sonho. Nunca estão no presente. Portanto, falando com propriedade, poderíamos dizer que nunca estão ali
onde depois pensam que estiveram. Seus erros e seus fracassos lhes perseguem. Suas mentes estão
dominadas por o medo o futuro.

— Pelo que posso ver, a concentração é o ponto mais simples de sua teoria.

— Tenha cuidado, jovem. Nem todo o mundo que tenta consegue. Mas, quando a sua mente alcançar o nível
apropriado de concentração, sua capacidade para resolver problemas será formidável. Não se tornará
negligente e sim realista. Em lugar de gastar mal a sua energia nervosa e roer as unhas, atormentado por suas
preocupações, você se dedicará a resolvê-las. No se esqueça que estar angustiado e preocupado até o
desespero por um problema jamais resolveu nada. Pelo contrário, tem provocado muitas úlceras de estômago
e ataques de coração. A imagem que você tem de si mesmo, mudará. Cada ser humano é um enigma, mas o
problema não é somente porque todos somos um enigma para os demais, e sim também para nós mesmos. E
isto se deve à falta de concentração.

O jovem estava carente de cada uma das palavras do velho. E como não queria perder nem uma só palavra,
não se atreveu a interromper.

— Graças à concentração —prosseguiu o milionário—, você compreenderá porque ocupa o lugar exato onde
30
se encontra neste mundo. Isto parecerá cada vez mais claro e simples. Em sua mente aparecerá um
pensamento muito tranqüilizador e reconfortante, que te fará exclamar como se despertasse de um longo e
profundo sonho: “Ah, este sou eu! Eu me encontro aqui neste momento. Por isso estou fazendo o que faço.
Por isso estou aqui com tal ou qual pessoa!”. Experimentará o que se pode chamar de sensação de seu
destino. Compreenderá seu destino, e um sentimento de aceitação se estenderá por sua mente. Isto não quer
dizer que deva se resignar ao que o destino apresenta, mas como você verá com toda clareza a posição em
que se encontra em determinado momento, você o aceitará em certa medida, reconhecerá seu próprio ponto
de partida pessoal e isto te ajudará a guiar sua carreira futura e a sujeitar com firmeza as rendas de seu
destino.

O milionário deixou de falar e inclinou-se mais uma vez para cheirar o perfume das rosas.

— A rosa tem sido o símbolo da vida desde o princípio dos tempos. Se você conseguir administrar o potencial
de sua mente, compreenderá o porquê. Os espinhos são o caminho das experiências, as penúrias e as
tribulações que cada um de nós deve atravessar para compreender a verdadeira beleza da existência.

Depois destas palavras, ele tirou uma tesoura de podar do bolso, cortou uma rosa e a ofereceu ao seu jovem
acompanhante.

—Conserve esta rosa pelo resto de sua vida, pois ela servirá como talismã e trará boa sorte para você. De
fato, a Dama da Fortuna existe, mas pouca gente sabe disso. Acredite nela. A acaricie com seus pensamentos.
Peça-lhe o que você deseja. Ela te responderá. Todas as pessoas de êxito acreditam na sorte, pese o fato de
que muitas são consideradas supersticiosas. Mas estão realizando, e isto é o que importa. Com esta simples
rosa, saiba você que és um iniciado. Agora você pertence à nossa Fraternidade. Cada vez que tenha uma
necessidade, busque esta rosa, ela te dará forças. E cada vez que tenhas dúvidas sobre si mesmo, que a vida
pareça demasiadamente difícil de ser suportada, volte a esta rosa simbólica e lembre-se do que ela
representa. Cada penúria, cada problema, cada erro cometido, serão transformados um dia em uma magnífica
pétala. Como este talo cheio de espinhos, o sofrimento conduz à luz e te fará alcançar a beleza. Reserve
todos os dias alguns minutos para concentrar-se no coração da rosa. Se você não tiver nenhuma rosa à
mão, colha qualquer outra flor, e concentre-se em um ponto negro ou em um objeto brilhante. Também pode
repetir com calma para seu interior a fórmula que me foi transmitida pelo meu mentor: ACALME-SE E SAIBA
QUE SOU DEUS. Contemple a rosa ou o ponto negro durante períodos de tempo cada vez mais longos.
Quando for capaz de fazer isso durante vinte minutos, a sua capacidade de concentração será excelente. Se o
seu coração se tornar como esta rosa, a sua vida será transformada, pois ela representa o nosso Ser Interior.

O jovem apenas teve tempo de cheirar o delicado aroma da rosa, quando o velho acrescentou:

—Permita-me repetir o que te disse: O segredo reside na concentração mental. Quando a sua mente se tornar
forte e plena de confiança, graças aos exercícios de concentração, você chegará à conclusão de que os
problemas da vida não têm nenhum domínio sobre você. Então compreenderá o que vou te dizer em seguida,
e que neste momento talvez te pareça uma tolice banal de um velho. Entenda que as rosas só são
importantes na medida em que a mente acredita que elas são realmente importantes. Um problema somente é
um problema quando se pensa que ele o é. O que significa isto? —continuou—. Se você considera que nada é
sério, que nada é realmente importante, então nada será sério aos seus olhos, nada será realmente
importante. Os problemas parecerão grandes e insolúveis na proporção direta da debilidade de sua mente.
Quanto mais forte for a mente, mais insignificante te parecerão os problemas. Este é o segredo da paz eterna.
Assim, concentre-se. Esta é uma das grandes chaves do êxito. De fato, tudo na vida é basicamente um longo
exercício de concentração. O Ser é imortal. Ao passar de uma vida para outra, a mente descobre lentamente a
si mesma e desperta para a transcendência. Esta aprendizagem é, geralmente, bastante longa. E as pessoas
muitas vezes somente conseguem êxitos moderados porque unicamente aqueles com alto poder de
concentração alcançam suas metas. Assim, nem todas as pessoas de êxito têm insistido na prática de
exercícios de concentração. Quando a sua mente alcançar seus mais altos níveis de concentração, você
entrará nesse estado singular no qual os sonhos e a realidade literalmente coincidem.

O milionário e o jovem caminharam de regresso à casa. O céu, de repente, ficou escuro, com negras nuvens,
e pela manhã o sol havia brilhado intensamente. Aproximava-se uma tormenta e a casa estava tanto na
penumbra que tiveram que acender as luzes. Para dar um toque especial, contra o qual o jovem não teve
nada a objetar, o velho acendeu um candelabro com sete velas. Depois, ficou junto à janela, onde a cortina se
movia agitada pelo vento, e contemplou o céu. Então, dirigiu ao jovem as seguintes palavras:

— Lembre-se sempre de que, a certa altura, jamais há nuvens. Se as nuvens em sua vida taparem a luz, é
porque seu espírito não se elevou o suficiente. A maioria das pessoas comete o erro de lutar com os
problemas, como lutassem constantemente para eliminar as nuvens, para dissolvê-las através de uma espécie
de processo mágico. Talvez possam dissolvê-las temporariamente, mas as nuvens sempre voltarão para
interpor-se entre ele e o sol, ocultando a luz, por brilhante que esta seja. O que você deve fazer é elevar-se de
31
uma vez por todas acima das nuvens, que estão se renovando incessantemente... Talvez você não tenha
entendido tudo o que acabo de dizer —concluiu o velho— mas aceite-o de boa fé.

O milionário e o jovem sentaram-se à mesa. O mordomo trouxe vinho e pão, e os serviu.

— Tenho pensado em uma coisa há algum tempo —disse o jovem. Na realidade, a pergunta lhe rondava
desde o dia anterior—. De verdade creio que tudo o que me disse é correto, e penso que se eu aplicar a
fórmula que me deu, eu me converterei em um milionário rapidamente e alcançarei a tranqüilidade de espírito.
O único problema que encontro é sobre o campo em que serei capaz de fazer essa fortuna.

O milionário começou a sorrir. Esta pergunta tão seria, ao que parece, o divertia.

— Você deve pôr a sua confiança na vida e no poder de sua mente —respondeu—. Não se preocupe. Primeiro
procure definir as suas metas e depois peça ao seu Mestre Interior que te guie para o caminho que o conduzirá
para a riqueza. Comece perguntando, depois espere. A resposta não tardará a chegar.

O jovem mostrou-se cético, inclusive um pouco desiludido com a resposta do milionário. Era evidente que
esperava escutar algo um pouco mais específico.

O milionário, obviamente capaz de entender os sentimentos do jovem, lhe fez um gesto de simpatia e
acrescentou rapidamente:

— Primeiro você deverá encontrar o trabalho que possa satisfazer ao seu coração. Depois pense nele. Todos
os elementos da ocupação que possam te agradar já estão dentro de você. Não se dá conta disso porque não
está em sintonia com a sua autêntica natureza. Se você concentrar com determinação conseguirá cada vez
mais, e as respostas não deixarão de brotar. E mais ainda, você descobrirá aquilo que a maioria das pessoas
busca desesperadamente durante toda sua vida e que jamais encontra, o que lhe faz sentir que a vida é
absurda. Você descobrirá o misterioso propósito de sua existência na terra. E não somente compreenderá sua
missão com a cabeça, mas também com o coração. Você não vê que tem tudo a ganhar se se concentrar no
coração da rosa? Ali você encontrará todos os fins e motivos de sua existência. Com o tempo, se dará conta
disso.

Fez uma pausa e bebeu um pouco de vinho. Não parecia estar bebendo, mas degustando. Tinha os olhos
fechados em uma espécie de reverência religiosa.

— Mas de onde tirarei o dinheiro que necessito para começar? —perguntou o jovem—. Não tenho nem um
centavo.

— De quanto você necessita?

— Não sei, pelo menos 10.000 libras. É a mesma quantidade que você necessitou para começar.

— Você tem que ser capaz de conseguir essa quantia. Reflita por um momento. Em sua opinião, quais são
suas alternativas?

— Na realidade, não vejo nenhuma. Não sei de nenhum banco que queira me dar um crédito. Não tenho
alguém que possa ser meu avalista. É final de mês e resta-me muito pouco dinheiro do salário e não tenho
nenhuma propriedade, nem ao menos tenho carro...!

— Mas, pelo menos você tentou encontrar essas alternativas?

— Não... pois estou certo de que...


— Jamais volte a repetir este erro. Não seja como a maioria, que renuncia antes de haver tentado. Este é o
caminho mais curto para não se fazer nada na vida, para não chegar jamais a nenhuma parte, exceto ao
mundo da insatisfação e da reclamação. Não caia na mesma armadilha daqueles que agem, mas,
interiormente, estão convencidos de que não triunfarão. Começam como perdedores. Ponha seus
pensamentos e ações em harmonia. Esteja sempre em harmonia consigo mesmo.

— Eu estou disposto, mas meu problema continua sem ser resolvido. Sempre posso tentar...

— Você deve começar firmemente convencido de que a solução está aí, a solução ideal para seu problema já
existe. Certamente o poder da sua mente e a magia de sua vontade direcionada atrairão a solução para você
por caminhos que nem ao menos você suspeita que existem. Convença-se interiormente de que triunfará e
assim será. Não deixe lugar para as dúvidas. Apague-as com todas as forças que sua mente possa reunir. As
dúvidas correspondem aos poderes da obscuridade, enquanto que o otimismo que você sinta pertence ao
32
reino da Luz e da Vida... Estes dois poderes estão em constante conflito. Lute com firmeza contra a dúvida,
pois ela também é um pensamento, e, como todos os pensamentos, tende a materializar-se em sua vida. Se
você estiver firmemente convencido de que conseguirá o empréstimo, este virá... Você está convencido de
que pode consegui-lo?

— Sim. Agora sim. O senhor me convenceu.

— Nas atuais circunstâncias, o que você faria para conquistar sua meta, ou seja, obter o empréstimo?

— Não sei.

— Se você dispusesse somente de muito pouco tempo, digamos, uma hora, para conseguir as 10.000 libras
que necessita para pôr em marcha os seus negócios, o que faria você?

— Continuo sem ter nenhuma idéia.

— Diante de você está um milionário que está te animando, que tem dado os segredos de seu êxito e você
ainda não sabe o que fazer? Não te ocorre nada para conseguir esse dinheiro?

De pronto, o jovem caiu na realidade do que ele estava dizendo. Talvez tudo o que ele necessitava era pedir a
ele o dinheiro emprestado. Depois de duvidar por um momento, decidiu-se:

— O senhor me emprestaria as 10.000 libras de que necessito?!!

— Até que enfim! Viu como é fácil? Tudo o que você teve que fazer foi perguntar, mas as pessoas não se
atrevem a perguntar. Você tem que se atrever a perguntar!

Então o velho tirou as 10.000 libras que levava consigo desde que o jovem havia chegado à sua casa e que,
aparentemente, utilizava como dinheiro de bolso, que era uma soma assombrosamente alta para a maioria
dos mortais, mas insignificante para ele. Em qualquer caso, a ele não faziam falta, pois vivia isolado do
mundo exterior.

Depois de lançar uma olhada nostálgica ao maço de cédulas que tinha em suas mãos, uma olhada que não
podia ser atribuída ao fato de desprender-se do dinheiro, o milionário se o entregou ao jovem. Ele o aceitou,
tremendo de emoção. Jamais em toda a sua vida havia tido tanto dinheiro nas mãos.

— Provavelmente você pensará que este dinheiro foi fácil de se conseguir —disse o velho—, mas escute-me
bem, quando te digo que não há nenhuma razão para que seja mais difícil conseguir o dinheiro no futuro.
Infelizmente, a crença comum é que custa muito conseguir dinheiro e que tem que trabalhar duro para obtê-lo.
De fato, o único valor do trabalho é que reforça as fibras de sua mente e nos força a pensar mais. Quando
houver ganhado um montão de dinheiro, e te asseguro que não tardará muito em conseguir chegar a esse
objetivo se você aplicar os segredos que te ensinei, se dará conta de que o que importa é a sua atitude
mental, o poder de seus desejos e o fato de ser capaz de canalizá-los por meio de um objetivo monetário
específico.

A maioria fracassa porque não sabe o que fazer. Este é o motivo pelo qual as pessoas se vêm obrigadas a
realizar trabalhos mui pesados ou pouco atrativos para ganhar a vida. Não esqueça que as circunstâncias
exteriores sempre acabam refletindo o estado de sua mente e a natureza de suas mais íntimas convicções.

Dominado pela alegria que sentia em possuir finalmente 10.000 libras, o jovem escutava apenas parte das
sábias palavras de conselho do milionário.

— Lembre-se, jovem: quando necessitar de dinheiro, se estiver convencido de que pode consegui-lo rápida e
facilmente, então assim será. E assim que a dúvida surja em sua mente, pense uma vez mais nas 10.000
libras que você acaba de receber. Tudo o que necessita fazer é saber pedir. Se você está convencido de
que conseguirá o que pede no mesmo momento de fazer o pedido, se você faz como se já tivesse
conseguido, então o conseguirá. Tenha em mente que as nossas convicções mais profundas sempre se
tornam realidade quando as direcionamos para um propósito construtivo ou destrutivo, e você assume as
responsabilidades pelos efeitos de sua escolha.

— E o que acontecerá se eu começar a duvidar?

— Quando isso ocorrer, a melhor maneira de livrar-se disso é aplicar um pouco de auto-sugestão e repetir
pensamentos opostos. Converta suas palavras em real decreto. Quando sua mente for suficientemente
poderosa, cada uma de suas palavras será uma espécie de ordem. Suas palavras e a realidade serão uma só
33
coisa. E o tempo necessário para que sua ordem seja cumprida será cada vez menor e depois, instantâneo.
Então haverá aprendido a ser dono de si mesmo. Você deve converter-se de tal maneira no amo de seus
pensamentos, podendo evitar ter aqueles que de alguma maneira podem machucar o próximo. Deve adquirir a
habilidade de ter somente pensamentos positivos para o bem de todos, para que o poder de suas palavras não
se volte contra você.

Uma vez mais, ele fez uma pequena pausa.

— Este dinheiro —prosseguiu, apontando para o pacote de cédulas— ...bom, eu não estou te emprestando...

Pareceu vacilar por um segundo, sem dívida porque estava planejando um efeito maior, recurso que, de fato,
deu resultado, a julgar pela reação que despertou no jovem.

— Não o estou emprestando..., mas o presenteio —disse o milionário—. Com isto, haveremos dado a volta no
círculo numa espiral ascendente. Este dinheiro é puro e limpo. Foi o meu mentor que me deu para que eu
pudesse começar meus negócios. Não o utilizei para nenhuma outra coisa. Não faça como o homem da Bíblia,
que enterrou suas moedas em lugar de fazer que elas trabalhassem para ele. Há muita gente que age desta
maneira e com isso cometem o maior de todos os erros, já que permitem que o medo seja o seu guia. O medo
é o seu pior inimigo, ele é o irmão da dúvida, e você deve conquistá-lo. Seja valente e ousado. Qualquer um
que, com o pretexto de ser racional, enterra o dinheiro que recebeu não merece tê-lo. Não merece ter mais e é
pouco provável que consiga mais. Está desobedecendo a uma das grandes leis da vida, a lei da abundância.
O dinheiro deve circular livremente para que ele possa ser multiplicado.

O jovem estava feliz tanto com o seu dinheiro como com as palavras de seu generoso benfeitor.

— O dinheiro que te dei, sem dúvida, é no fundo mais que um empréstimo —acrescentou o milionário—.
Chegará o dia em que você deverá dá-lo a outro. Dentro de muitos anos, você encontrará um jovem na
mesma situação em que está você agora. Você o reconhecerá por um sinal: ele procurará você como se fosse
uma rosa em botão, sem os encantos aos olhos do mundo, mas com o potencial que você reconhecerá por ser
semelhante a você neste momento. Você deverá dar-lhe o dinheiro que eu estou te dando agora. Pode estar
certo de que este valor significará uma soma irrisória para você: dinheiro de bolso e nada mais. Rogo que faça
o que eu fiz: dê a ele o equivalente ao que esta quantidade representa hoje. Então ele também poderá
começar com uma soma substancial, já que se a inflação a corroer, dentro de alguns anos 10.000 libras não
valerão muito. Quando aceitar o dinheiro, esse jovem também deverá prometer solenemente compartilhar os
ensinamentos que eu transmiti e que você lhe transmitirá. Não rompa esta corrente sob nenhum pretexto, do
contrário, você perderá a sintonia com o Universo e perderá a sua boa sorte... Eu sei que você é uma pessoa
decente e por isso não tenho medo de entregar a você o meu segredo. E lembre-se que você é apenas um
administrador das coisas que o Universo te entrega, e isto não pode ficar estagnado... Seja um canal divino e
sabiamente saiba como servir!

Cheio de gratidão, o jovem agradeceu profundamente a grandeza do seu mentor.

— Há mais uma coisa, também importante, que você deve ficar sabendo...

Nesse preciso instante começou a chover torrencialmente. O milionário calou-se e em seu rosto apareceu uma
expressão sombria.

— Todos os sinais chegam na hora certa —murmurou e depois se voltou para o jovem—: Como te disse, há
mais uma coisa que você necessita saber: o segredo supremo que transmiti é válido para alcançar todas as
metas em que se fixar. Na realidade, a razão pela qual adquiri uma fortuna tão colossal não é porque o
dinheiro me interessasse muito. No fundo, era somente uma maneira de ensinar aos homens de pouca fé o
poder da mente.

Uma vez mais ele fez uma pausa, mas o jovem não se atreveu a formular nenhuma pergunta. Depois
continuou:

— A maior posse que o homem pode ter é a liberdade. A riqueza dá liberdade. E será bom para você que
conheça essa liberdade. Com ela, verá quantas ilusões se desvanecem. Também compreenderá que a
autêntica liberdade se encontra no desprendimento, que é a forma mais elevada de ser livre e rico. O Céu
nos dá e pelo Céu compartilhamos. Somente aquele que não tem apegos será capaz de cuidar das rosas
eternas. Conseguir esta liberdade foi a meta secreta de toda minha vida. Apesar do que pensam alguns, pois
as pessoas julgam mais pelas aparências e somente me vêm como um próspero homem de negócios, mas
não passo de um humilde jardineiro, embora extremamente responsável e zeloso com o meu jardim.

Então o jovem lhe perguntou:


34
— Por que o senhor me diz todas estas coisas? Por que me deu este dinheiro? O senhor não me deve nada...
Nunca lhe fiz nenhum bem... De fato, até poderia ter sido outro que viesse aqui...

— Mas isto é precisamente o que ocorreu. Ninguém mais veio até mim. Seus desejos o trouxeram. Isto é o
que acontece em todas as circunstâncias da vida. Além disso, eu recebi muito da Vida. É normal que eu
também saiba dar.

— Mas, por que eu? —disse o jovem, sem estar disposto a desdizer-se.

O milionário Instantâneo sorriu.

— Você é um “cabeça-dura”! Gosto de você, pois parece muito comigo no passado —disse ele. Então a sua
expressão ficou severa e distante e pela primeira vez observou o jovem com um olhar cálido e paternal—. Se
você quiser conhecer a verdadeira razão, eu a direi. Não sei se você será capaz de aceitá-la agora, mas
talvez algum dia a aceitará... O Ser Divino em nós busca a sua eternização. Cada Ser viaja de uma vida a
outra rodeado de seus reais companheiros de jornada. Cada companheiro ajuda um ao outro a realizar seu
destino. Os encontros que temos durante nossa vida jamais são uma coincidência. E é raro encontrar alguém
que lhe seja afim pela primeira vez. Você foi meu pai em uma vida anterior. Não lhe parece adequado ser meu
filho espiritual nesta vida?

O jovem estava embargado pela emoção, mas não muito seguro de haver entendido tudo o que ele estava
dizendo. O milionário aproximou-se. O jovem jamais havia visto tal realeza em seu porte. Apesar de sua
avançada idade, ele caminhava como um rei, determina e altivo. Seu rosto resplandecente não refletia o
passar dos anos. Com o indicador de sua mão direita, o milionário tocou sua testa suavemente, e disse:

— Descubra quem você é na realidade e a verdade te libertará para sempre.

Estas foram as últimas palavras que o velho pronunciou. Lá fora, tormenta dissipou-se tão rápida como havia
aparecido e o sol voltou a brilhar com toda a sua força. A luz do candelabro já não era necessária. Assim, o
milionário o pegou e o levou sem dizer mais uma só palavra. O jovem não se atreveu a falar. Ficou a sós, com
a cabeça fervendo de pensamentos, enquanto suas mãos apertavam o dinheiro que o velho havia lhe dado.

O jovem e o velho embarcam para viagens diferentes

O jovem permaneceu sozinho por muito tempo. O mordomo apareceu e lhe entregou um envelope, e disse o
seguinte:

— Meu senhor confiou a mim a tarefa de dar isto a você. Insistiu para que você lesse seu conteúdo na
intimidade de seu quarto. Você pode ficar aqui por mais um dia, e depois terá que ir embora. Estes são os
desejos de meu senhor.

O jovem agradeceu e, morrendo de curiosidade, retirou-se obedientemente para o seu quarto. Desta vez, sem
dúvida, tomou a precaução de deixar a porta um pouco entreaberta por medo de que tornassem a fechar.

Sentou na borda da cama, rasgou depressa o envelope e tirou a carta. Estava escrita com tinta preta em uma
bela caligrafia e tinha um delicado perfume de rosas.

Dizia a carta:

Estes são meus últimos desejos.

Deixo para você todos os livros de minha biblioteca. Eles serão muito úteis. Não cometa o
mesmo erro que a maioria comete com os livros, pois alguns pensam que o conteúdo dos livros é
feito de coisas absolutamente inúteis. Desta maneira, perdem um montão de tempo e de dinheiro.

Tampouco caia na outra armadilha: confiar implicitamente em tudo o que está contido nos livros e
permitir que pensem por você. Um livro é, até certo ponto, a história de uma viagem. Mas a
viagem que você empreenderá não será idêntica às viagens de seus autores. Retenha somente
aquilo que sobrevive ao tempo. E quanto ao resto, utilize seu mais precioso bem: seu cérebro,
pois é nele que o Ser habita. Assegure-se de que sua mente seja a vencedora, pois a mente é o
conjunto de informações guardadas pelo Ser ao longo dos milênios.

Desde o nosso primeiro encontro, eu tratei de transmitir para você a sabedoria que consegui
35
vislumbrar durante minha longa vida. Neste documento você encontrará alguns pensamentos que
representam meu legado espiritual. Eu gostaria que fizesse o possível para comunicá-los a tantas
pessoas quantas forem possíveis. Desta maneira, minha vida estará justificada. Fale com as
pessoas sobre o nosso encontro e sobre o segredo que aprendeu. Mas antes de fazer isso, você
deve provar o seu valor em sua própria vida. Um método que não tenha sido comprovado
profundamente deve ser considerado inútil. Dentro de seis anos você será um milionário. Então
será totalmente livre para dar os passos necessários que permitirão transmitir meu legado e falar
de nosso encontro. Como você, há muitos buscadores da Verdade, ansiosos para fazerem parte
do nosso Círculo!

Agora devo deixar você. Minhas rosas me espera há muito tempo.

Mesmo se sentindo embargado pela emoção, o jovem olhou no envelope e encontrou o testamento do
milionário Instantâneo. Estava guardado em outro envelope e fechado com um lacre vermelho, com a forma
de uma rosa. Rompeu o lacre com muito cuidado e tirou o documento, que tinha varias páginas.

Este extraordinário testamento estava escrito em letras grandes e majestosas, que pareciam respirar como se
estivessem imbuídas de vida própria. Começou a sua leitura, que levou quase uma hora, mesmo que para ele
tenha parecido que somente haviam passado alguns poucos minutos.

Quando acabou, naturalmente desejou ir agradecer por haver recebido tão magnífico presente. A toda pressa
foi à sala de jantar. Ali não havia ninguém. Chamou o mordomo e este não respondeu. Como o sol tinha
voltado a brilhar depois da tempestade, pensou que o milionário devia estar cuidando de suas rosas. Não
havia se enganado, mas o velho estava com as suas rosas por uma razão muito diferente.

O jovem saiu correndo para o jardim e chamou em alta voz o milionário. Então o viu. Por curioso que
parecesse, o velho estava deitado no meio de um dos caminhos, ao pé de uma bela roseira. Próximo dele
estava o candelabro: somente uma vela permanecia acesa, a mais alta de todas, as outras haviam sido
consumidas. No primeiro momento, o jovem pensou que ele estava dormindo, fazendo a “siesta” em um lugar
pouco habitual, mas ele era um excêntrico. Porém, quanto mais se aproximava, mais preocupado se sentia,
como se sentisse que estava acontecendo algo muito grave.

Quando chegou junto dele, seus temores foram confirmados. O velho havia vestido uma túnica branca que
chegava até os tornozelos. Suas mãos, cruzadas sobre o peito, seguravam uma única rosa. Em seu rosto não
se percebia angustia e nenhum traço de sofrimento. Estava perfeitamente sereno: morto, tal como o jovem já
havia suspeitado. Assegurou-se disso, ajoelhando-se junto ao corpo e colocando a orelha contra sua boca. Ele
não respirava, apesar de que todo seu ser irradiava uma felicidade sobrenatural.

Que estranha maneira de morrer! Exclamou o jovem para si mesmo. O milionário sabia o momento exato de
sua morte. Quem poderá saber se não foi ele mesmo quem determinou o momento preciso de seu
desaparecimento, por meio de algum estranho e secreto método que somente ele conhecia, ou simplesmente
decidiu que devia morrer por sua própria vontade. O jovem jamais o saberia. O milionário havia levado o
segredo com ele.

Então sentiu que também havia chegado o momento de sua partida. Entretanto, justamente antes de sair
pensou que talvez poderia levar aquela rosa do milionário como lembrança.

Inclinou-se sobre o corpo inerte e estendeu a sua mão. Tocou a rosa, mas de imediato a afastou, mudando de
opinião. Pensou que se ele a levasse cometeria um sacrilégio com a memória do velho. A rosa pertencia a ele.
Era sua última companhia. O jovem olhou para o candelabro, no qual a vela do centro ainda continuava
ardendo. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Não havia estado muito tempo com o milionário e, sem
dúvida, sentia-se profundamente unido a ele, como se tivesse sido realmente seu pai.

Ali mesmo jurou solenemente que jamais o trairia. Que seria portador de seus ensinamentos da melhor
maneira que pudesse. E no preciso instante em que pronunciou este juramento, a última vela se apagou.

O jovem foi embora da mesma maneira que havia chegado, apertando firmemente contra seu peito a última
vontade e o testamento do velho.

No dia seguinte, trouxeram a biblioteca do milionário para a sua casa. Era tão grande que restou muito pouco
espaço para ele se mover. De fato, o jovem se viu de imediato enfrentando um dilema: o se mudava ou se
desfazia de alguns livros. Escolheu mudar-se. E o fez com o coração alegre. Não seria este um sinal da nova
vida que lhe esperava?

36
Epílogo

Tal como predisse o milionário, o jovem conseguiu seu primeiro milhão antes que se completasse o prazo dos
seis anos. Portanto, manteve sua promessa. Ele tirou um mês de férias para escrever a narrativa de seu
encontro com o Milionário Instantâneo, a fim de transmitir ao mundo filosofia que ele havia ensinado.

37

Você também pode gostar