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SIMBOLISMOS DA PÁSCOA ORIGINAL

Na semana passada eu estive aqui falando sobre a Semana Santa e sobre


a Paixão de Cristo, fazendo um paralelo com a nossa própria paixão.
Todos nós temos a nossa paixão pessoal. Entendo paixão aqui como sendo
aquela cota de dor, que é inerente à nossa vida nessa terra, à nossa
existência, não há como fugir dela. Como disse alguém: a dor é
inevitável, mas o sofrimento é opcional. Mesmo com dor, podemos ter
nosso sofrimento amenizado quando temos fé, quando cremos em um Deus
que se preocupa conosco.

Hoje em dia temos símbolos modernos da Páscoa, o coelhinho, o ovinho


de chocolate, a alimentação sem carne vermelha, etc. Mas nada disso
tem a ver com a Páscoa originalmente instituída por Deus.

A Páscoa, estabelecida para os hebreus no Egito, era prenúncio e


certeza da libertação. A redenção dos males do Egito era tão certa e
notória, após tantas pragas terríveis, que a Páscoa e tudo que ela
envolvia, foi como que uma comemoração antecipada dessa libertação. Os
simbolismos que se derramam daquela Páscoa original são belíssimos, e
todos apontam para o plano de salvação em Cristo Jesus. Pena que
nossos irmãos judeus até hoje não hajam compreendido tudo que ela
significava, e ainda esperem o Messias, que virá no espírito do
Profeta Elias.

Essa ceia chamou-se Seder. À noite, se reuniriam em volta do cordeiro


assado, enquanto, pelas ruas, um anjo exterminador dizimaria a
população, poupando apenas os ocupantes das casas assinaladas pelo
sangue do cordeiro morto.

Vejam alguns simbolismos importantes, que fazem a ligação com o


sacrifício de Cristo e a salvação trazida por Ele. Tudo isso esta lá
no livro do Êxodo capitulo 12. Não vamos ler, vamos apenas comentar, e
você depois com calma leia e medite naquilo que estaremos pontuando
aqui.

1) Ninguém deveria comer aquela refeição sozinho. O núcleo da Páscoa


era a família, e quem mais quisesse comê-la juntamente. Nos anos 80,
eu morava no Rio de Janeiro, em Copacabana, e costumava frequentar as
reuniões do Shabat, numa Sinagoga ali na Rua Barata Ribeiro, em
Copacabana, às sextas-feiras, e aprendi algumas coisas interessantes.
Uma delas foi que o Shabat só tem sentido para um Judeu se ele o come
na companhia de algum convidado. O espírito presente na ceia da Páscoa
era a união da família, compartilhando a mesma com quem quisesse.

2) Toda a simbologia do Calvário estava ali naquela Páscoa do Egito. O


cordeiro devia ser um animal macho, de um ano, sem defeito, perfeito,
sem mancha.

3) O cordeiro tinha que morrer e seu sangue deveria, portanto, ser


derramado e exposto nos umbrais das portas daqueles que almejavam ser
livres da condenação e da morte dos primogênitos.

4) Ele tinha que ser assado inteiro, nenhum osso do cordeiro deveria
ser quebrado.

5) Ele era demasiado precioso para sobrar, não deveria sobrar, devia
ser totalmente consumido. Por isso, se a família fosse pequena demais
para um cordeiro, outra família deveria ser convidada para partilhar,
para que nada sobrasse.
6) O cordeiro deveria ser comido acompanhado de pães ázimos, sem
fermento, para lembrar que sairiam com pressa do Egito, e ervas
amargas, para lembrar do sofrimento do povo no Egito, bem como no
deserto à frente, rumo a Terra Prometida.

7) Havia também mais caldo de maçãs, amêndoas, figos e outras frutas


cozidas no vinho. Sendo a refeição feita de pé, como quem tem pressa
para partir.

A Páscoa hoje, para os cristãos é a festa que comemora a ressurreição


de Jesus Cristo. Para os judeus, a Páscoa (Pessach - passagem) é a
festa que comemora a saída dos hebreus do Egito, onde eram escravos.
Embora sejam acontecimentos diferentes, tanto a Páscoa cristã como a
judaica tem o mesmo sentido: a libertação, a passagem de uma situação
para outra.

Na Páscoa cristã, Jesus ofereceu seu corpo e sangue assumindo o duplo


sentido da Páscoa judaica: sentido de libertação e de aliança. No Novo
Testamento, Cristo é o Cordeiro de Deus, sacrificado em prol da
salvação de toda a humanidade. É a nova Aliança de Deus realizada por
Seu Filho, agora não só com um povo exclusivo, mas com todos os povos.

Há alguns outros detalhes lindos naquele ritual primeiro, da Páscoa


original, mas os principais são esses que eu citei. E aquela Páscoa
apontava para a Páscoa do Senhor, de corpo presente, quando aqui
esteve, aquela tomada com Seus discípulos antes de sair para o Jardim
do Getsêmani. E ambas mostram detalhes salvíficos do plano de graça e
redenção que Deus proveu para salvação do homem.

Mas eu queria encerrar essa reflexão com um detalhe para o qual só


atentei hoje, enquanto escrevia esse texto. Aquela Páscoa original no
Egito aconteceu entre a nona e a décima pragas, daquelas que assolaram
a terra na tentativa de que Faraó deixasse o povo sair. Em todas as
outras pragas Deus, voluntária e espontaneamente livrou a terra dos
hebreus, e consequentemente o povo hebreu, de sofrer com elas e de
morrer em consequência delas. Eles não fizeram absolutamente nada, nem
para merecer nem para efetivamente obter aquela graça. Apenas eram o
povo escolhido de Deus, a quem Ele queria salvar. Até ali, eles vinham
sendo salvos simplesmente porque eram Hebreus.

Mas antes da décima e última praga, ocorreu uma mudança, e foi


introduzido um importante detalhe. Agora, para alcançar a libertação
final, o povo hebreu devia mostrar que queria de fato aquela tão
grande salvação. Ali, eles teriam que cooperar com Deus para que
fossem salvos. Não seria nenhuma obra que tivesse em si mérito próprio
para pagar sequer uma ínfima parte daquela libertação. Mas teriam uma
parte a fazer, teriam que demonstrar atitude, vontade, decisão.

Era necessário dizer: sim, eu quero, eu creio nisso. E como fariam


aquilo? Pegando o sangue do cordeiro morto e espalhando nos umbrais
das portas de suas casas. Agora, eles seriam salvos não porque eram
hebreus, não porque eram descendentes de Abraão, não porque tivessem
sofrido a escravidão por 430 longos anos. Eles seriam salvos se
acreditassem, e se colocassem debaixo da salvaguarda do sangue do
cordeiro.

O que eu vou dizer agora, não está na Bíblia, mas eu acredito que
possa ter acontecido, porque faz sentido com a salvação em Cristo
Jesus. Isso chegou a ser retratado no famoso filme OS 10 MANDAMENTOS,
de Cecil B. de Mille: é possível que alguns da terra tenham se juntado
às famílias hebreias para comer aquela Páscoa e assim ficaram sob a
salvaguarda do sangue do cordeiro, e salvaram seus primogênitos. Da
mesma forma, em contrapartida, talvez algumas famílias hebreias não
tenham executado o procedimento do sangue nos umbrais de suas portas,
e assim, infelizmente, perderam seus primogênitos.

A salvação não é privilégio de um povo, de uma igreja, a salvação é


privilégio de todo aquele, Judeu ou Grego, rico ou pobre, livre ou
servo, culto ou inculto, que, tendo fé no sacrifício do Cordeiro de
Deus, se lava em Seu sangue, espalha-o na porta de seu coração, e
assim fica livre da morte eterna.

E não se enganem, aceitar a salvação em Cristo Jesus, aceitar Seu


sacrifício e Sua graça como a única garantia dessa salvação e da vida
eterna, não é, de modo algum, licença pra continuar vivendo de
qualquer maneira, do jeito que bem quisermos. Todo aquele que aceita a
Cristo e Sua graça, muda de vida. Essa mudança de vida se manifesta,
de forma natural, no trato pessoal, nos gostos, nos interesses, na
conversa, nos objetivos, na vontade de ficar pertinho de Deus e não
pecar contra Ele, na disposição para que Deus opere e transforme o
coração. É resultado de estar ligado na videira verdadeira, é
consequência da salvação.

Só que isso não pode constituir nenhum esforço, não pode ter a
intenção, ou melhor, ilusão de comprar a salvação, não pode ser moeda
de troca com Deus na questão da salvação. Eu sempre digo: nossa pobre
e rota obediência, nossa difícil submissão aos reclamos de Deus, não
constituem o centro do Evangelho. O centro do Evangelho é a graça de
Deus, obtida através da fé. Qualquer coisa boa que apresentemos não
nos faz melhores que nosso semelhante, não compra o favor de Deus, não
tem absolutamente nenhum papel salvíficos, é puro fruto do evangelho
em nossa vida.

Pense nisso, nos simbolismos lindos da Páscoa original, e salve-se, e


obtenha a vida eterna, não por pertencer a esse ou aquele povo, não
por frequentar essa ou aquela igreja, não por achar que obedece aos
mandamentos de Deus, mas simplesmente porque aceitou os méritos do
Cordeiro, creu nisso, e espalhou o sangue dEle nas portas de seu
coração.

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