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ACONSELHAMENTO DO PÚLPITO

Disponível em: http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com/2010/05/teologia-pastoral-


aconselhamento.html

INTRODUÇÃO

Tem-se notado uma ausência de um autêntico aconselhamento e pastoreamento por parte


dos pastores em nossas igrejas. Temos presenciado uma entulhada de psicologia nos
nossos púlpitos, uma psicologização do púlpito! Há uma necessidade de se resgatar este
alto conceito sobre a Sagrada Escritura, a Palavra de Deus não é somente suficiente em
questões de doutrina, mas é também plenamente suficiente nas abordagens práticas que
são refletidas na prática do aconselhamento pastoral.

O verdadeiro aconselhamento não começa nos manuais de Freud, mas na nossa única
regra de fé e prática, as Sagradas Escrituras! O aconselhamento é parte integrante de
qualquer ministério. Pois todo obreiro aprovado, necessita saber como aconselhar, não
somente os crentes, mas também os descrentes. Lembre-se a palavra de Deus é viva e
eficaz (Hebreus 4.12). O púlpito é o melhor lugar para se transmitir o conselho de
Deus para a vida do homem; é um excelente lugar para o aconselhamento baseado
na Palavra de Deus, pois do púlpito é possível atingir as pessoas que muitas vezes
não procurariam um aconselhamento particular em relação ao seu sofrimento.

Por isso é essencial, que primeiramente, o obreiro maneje bem a Palavra de Deus.

I – A PALAVRA DE DEUS E O ACONSELHAMENTO CRISTÃO.

Como dissemos vivemos em uma época de psicologização do evangelho e da pregação


da Palavra de Deus. Ao que nos parece, a nossa época tem sido marcada pelo forte
desinteresse na utilização das Escrituras no aconselhamento cristão. Pastores e mais
pastores estão se refugiando em demasia na psicologia e em outras ciências, filosofia e
sociologia. Precisamos estar cônscios de nosso papel como ministros de Deus no
aconselhamento do povo da aliança. O Dr. John Stott disse certa vez: “Um ministério
pastoral que se modele na vontade de Cristo incluirá, de modo semelhante, a pregação
diante da congregação, aconselhamento aos indivíduos e o treinamento de grupos”1.
Esta perspectiva de Stott tem sido esquecida pela igreja de Cristo ao longo dos tempos.

O púlpito deveria, deve, lidar com questões de aconselhamento. Alguns poderiam


aventurar-se em negar tal perspectiva, mas é inevitavelmente necessário declarar que “a
própria pregação é aconselhamento”2. A exortação ao bem viver cristão consiste em
aconselhamento. Utilizar-se das Escrituras para exercer o aconselhamento é uma tarefa
sábia para os pastores que estão comprometidos com o crescimento espiritual de sua
membresia. Os homens não precisam de uma mensagem psicologizante, mas de uma
mensagem evangelizante, confortante, exortante, derivada das Escrituras que são

1STOTT, John R.W. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003, p.129
2 GOMES, Waldislau Martins. Pregação e Aconselhamento: Uma Aproximação Multiperspectiva. In: Fides
Reformata , Volume XII, Número 1, ano 2007, p.74.
suficientes para “restaurar a alma” isto porque a Lei de Deus é “perfeita” para exercer
tamanha restauração (Salmos 19.7-11).

As teorias de psicologia são diversamente conflitantes umas com as outras, a ponto de um


respeitado professor na área dizer: “Não podemos ter certeza se qualquer dessas teorias
é completamente verdadeira. Mas, se vocês têm de aconselhar outras pessoas, estudem
estas teorias e decidam qual delas lhes parecem ser mais sensata. Vocês têm de fazer isso
porque, quando as pessoas vierem para o aconselhamento elas desejarão ouvir algo que
lhes esclareça o porquê dos problemas pelos quais elas estão passando”3. O reflexo
dessa declaração é visto dentro de nossas igrejas e ministérios quando substituímos a
Palavra de Deus pelas opiniões autorizadas por Freud e seus discípulos e tais palavras
chegam a encabeçar os títulos de nossos sermões.

Alguém disse que “os crentes que abandonam a Deus e Sua Palavra em favor da
psicoterapia, para conseguir ajuda contra a depressão, abandonam “o manancial de águas
vivas” para beber das águas poluídas e insuficientes, até mesmos prejudiciais de
“cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jeremias 2.13) 4.

O papel do ministro é utilizar as Escrituras para aconselhar o seu povo. Mas qual é a
relação entre a pregação e o aconselhamento pastoral? O grande escritor Jay E. Adams
nos diz que tais perspectivas poderão ser incluídas no sermão sem desvalorizá-lo, e
colocar para os ouvintes a Palavra de Deus nos três modos de pregações conhecidas e,
assim, responder satisfatoriamente as necessidades do povo5. Em outra obra Waldislau
diz algo muito pertinente sobre essa questão ele diz: “O aconselhamento cristão não
deveria ser considerado como uma especialidade separada do aspecto pastoral e da
comunhão cristã na igreja. Para o pastor, as habilidades para o aconselhamento são
partes tanto do preparo como da entregada de sermões quanto da prontidão para
responder aos ouvintes após a mensagem. É preciso que o pastor seja hábil intérprete da
Palavra e hábil intérprete de pessoas, se ele quiser ser efetivo no ministério” 6.

Então, é tarefa do pastor aconselhar a igreja de Cristo que lhe foi convida para governar.
O pastor foi chamado para aconselhar o rebanho de Cristo. Isso é demonstrado e ensinado
por Paulo em 1ª Timóteo 5.1; 2ª Timóteo 4.2 e em Tito 1.9, nos fala de exortar, o verbo
grego usado é Parakalew que pode ser traduzido por encorajar, mas o sentido pode ser
tomado no que se refere à palavra de encorajamento cristão. Calvino “entendia que o
aconselhamento era indispensável no trabalho do presbítero” 7. O teólogo de Genebra
acreditava que “o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por
orientação pessoal e aplicado às circunstâncias especificas da vida das ovelhas” 8.

II – O ACONSELHAMENTO PASTORAL E A NEGLIGÊNCIA DAS ALMAS

3 MACK, Wayne. A Utilidade das Escrituras no Aconselhamento In: Fé Para Hoje, Número 24, Ano:2004,
p.17.
4 HUNT, David. Escapando da Sedução – Retorno ao Cristianismo Bíblico, 1999, p.124
5 GOMES, Waldislau Martins, Op.Cit, p.74.
6 GOMES, Waldislau Martins. Aconselhamento Redentivo, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.8.
7 Ronald Wallace, Calvino, Genebra e Reforma p.148.
8 Gildásio Jesus B. dos Reis, Apostila sobre Poimênica I,São Paulo: Serminário José Manoel da Conceição,

sem data, obra não publicada, p.18.


O aconselhamento pastoral visa edificar as almas, consolando, exortando e animando-as.
E quase sempre negligenciamos o nosso oficio e por vezes negligenciamos as nossas
próprias almas. Alguém disse acertadamente que: “Somos bastante imaturos no que diz
respeito a avaliarmos nossas prioridades espirituais. Podemos nos preparar com
diligência para realizar deveres exteriores e nos apressar nas preparações secretas.
Nossos sermões estão prontos, mas nosso coração está despreparado”9.

O pastor Richard Baxter nos diz que: Somos exortados a olhar por nós mesmos, para
não suceder estarmos vazios da divina graça salvadora que estamos oferecendo a outros,
porquanto, é possível oferecermos esta graça a outros e, todavia, estarmos alheios às
operações eficazes do evangelho que pregamos...Podemos morrer de fome enquanto
preparamos comida para outros 10.

Diante disso podemos dizer que o ministério pastoral deve primeiramente valorizar a alma
dos próprios ministros, e assim, eles estarão aptos para ministrar um aconselhamento
eficaz para os seus paroquianos. Deve-se levar em consideração a recomendação paulina
em Atos 20.28: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu
próprio sangue.” Os pastores precisam primeiramente olhar para as suas almas e depois
todo o rebanho de Deus.

No grego nós temos o verbo proséchete - é um imperativo no tempo presente é uma


ordem, mas esta ordem carrega um peso de algo habitual, estar sempre fazendo isso
“dando sempre atenção”, aqui temos um presente no modo imperativo, sendo uma ordem
de Paulo aos presbíteros da Igreja de Éfeso a estarem sempre atentos; cuidar de suas almas
é o primeiro requisito do ensino paulino.

O atalaia deve primeiro se preocupar em sua real posição, pois, sendo um vigia é o
principal alvo dos inimigos, por isso, deve sempre fazer de tudo para que possa manter-
se de pé para o bem do forte que protege.

Essa figura é bem ilustrativa ao que Paulo diz aqui neste texto. Isso porque o pastor deve
cuidar de sua alma “olhar por si mesmo”, mas também deve olhar e cuidar do “rebanho
de Deus”. Precisamos aditar que os pastores cuidam da igreja, eles são mordomos, eles
não são donos da Igreja. Antes a Igreja tem um dono que é o próprio Deus. Todavia, Deus
confiou a tarefa de proteger a Igreja aos seus comissionados, por isso, é necessário aos
pastores zelarem por suas almas.

Aqui se deduz do ensino bíblico, que conforme compete aos pastores, a verdade que
devemos “amar o rebanho de Deus”, o Baxter nos lembra sabiamente o seguinte:

Toda a causa de nosso ministério deve ser conduzida com terno amor pelas pessoas de
nosso rebanho. Precisamos fazer que vejam que nada nos agrada mais do aquilo que lhes
é proveitoso. Devemos mostrar-lhes que aquilo que lhes fazem bem, igualmente nos faz
bem. Devemos sentir que nada nos preocupa mais do que aquilo que nos fere. Retornando
a Jerônimo, diz ele, escrevendo a Nepociano: “como bispos não são senhores, mas pais,

9 ROBERTS, Maurice J. Negligenciando a Alma, In: Fé para Hoje, Número 24, Ano: 2004, p.2.
10 BAXTER, Richard, O Pastor Aprovado,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006, p.58.
assim devem incumbir-se do seu povo como de seus filhos. Sim, nem mesmo o mais terno
amor da mãe por seu filho deve sobrepujar o deles”11.

O trabalho de aconselhamento também pode ser feito no gabinete com algumas


observações:

• No gabinete algumas pessoas carentes deixam de comparecer para não exporem


seus problemas, para não se sentirem desmoralizadas, passando uma imagem boa
e sem defeitos diante do pastor;
• Alguns sempre comparecem apenas para conversar com o pastor, roubando o seu
tempo, que é muito valioso para a execução dos trabalhos na obra de Deus;
• Existem àqueles que comparecem apenas para apresentar problemas de outras
pessoas, muitas das vezes não estão relacionados diretamente com a situação.

Considerações Finais:

O púlpito é o lugar adequado para se usar as escrituras no aconselhamento, mas o contato


pessoal com as ovelhas lhe indicará o caminho por onde começar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

STOTT, John R.W. Eu Creio na Pregação, São Paulo: Vida, 2003.


GOMES, Waldislau Martins. Pregação e Aconselhamento: Uma Aproximação
Multiperspectiva. In: Fides Reformata , Volume XII, Número 1, ano 2007.
MACK, Wayne. A Utilidade das Escrituras no Aconselhamento In: Fé Para Hoje,
Número 24, Ano:2004.
HUNT, David. Escapando da Sedução – Retorno ao Cristianismo Bíblico, 1999.
GOMES, Waldislau Martins. Aconselhamento Redentivo, São Paulo: Cultura Cristã,
2004.
Ronald Wallace, Calvino, Genebra e Reforma.
Gildásio Jesus B. dos Reis, Apostila sobre Poimênica I,São Paulo: Serminário José
Manoel da Conceição, sem data, obra não publicada.
ROBERTS, Maurice J. Negligenciando a Alma, In: Fé para Hoje, Número 24, Ano: 2004.
BAXTER, Richard, O Pastor Aprovado,São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas, 2006.

11 BAXTER, Richard. Op.Cit, p.51

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