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§A morte
A morte de Judas está relatada em Atos 1:18-19. Segundo o
relato, ele «precipitou-se de cabeça para baixo, arrebentou pelo
meio, e todas as suas entranhas se derramaram» (Atos 1:18) num
local chamado "Campo de Sangue". Segundo Mateus 27, ele
se enforcou depois de tentar devolver o dinheiro aos sacerdotes.
Os autores do Novo Testamento, relendo à luz da sua fé as
escrituras do Antigo Testamento, procuraram, de algum modo,
mostrar que a morte de Judas fora análoga à que as Escrituras
apresentavam para o "desesperado" («Vendo Aitofel que se não
tinha seguido o seu conselho, albardou o jumento, e levantou-se, e
foi para sua casa [...], se enforcou e morreu» (II Samuel 17:23)) e
para o "ímpio" (nodeuterocanônico Sabedoria 4:19: «Em breve os
ímpios tornar-se-ão cadáver sem honra, objeto de o próbrio para
sempre entre os mortos: o Senhor os precipitará de cabeça para
baixo, sem que digam palavra, e os arrancará de seus
fundamentos. Serão completamente destruídos, estarão na dor e
sua memória perecerá.»).
§Perspectiva islâmica
Existe uma lenda de que Judas (segundo outros autores,
seria Simão de Cirene) teria sido crucificado no lugar de Jesus
Cristo. A "teoria da substituição" aparentemente se fundamentaria
no Alcorão (ou Corão): «E por os judeus dizerem: "Matamos
o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Alá Deus",
embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o
crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que
discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem
conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas;
porém, o fato é que não o mataram.» (Alcorão, surata 4 § 157)
Mas a explicação mais coerente da Surata 4 § 157, à luz de
todos os textos do Alcorão, é que os judeus eram incapazes de se
gloriarem de terem matado Jesus, porque efetivamente era Deus
quem estava no controle dos acontecimentos e quem permitiu que
Jesus Cristo morresse numa Cruz. A "Teoria da Substituição" não é
mais do que uma tentativa de harmonizar a declaração de que
Jesus não foi crucificado (na frase idiomática wa-lakin shubbiha
lahum) com a descrição dos Evangelhos sobre a sua crucificação.
Na verdade, nenhuma destas histórias tem apoio no Alcorão ou das
Tradições Islâmicas autênticas, apoiando-se, isso sim, sobretudo,
nos escritos polemistas do cosmógrafo doséculo XIV, ad-
Dimashqï (Ref. "Encyclopedia Britannica", "Judas").
§O Evangelho de Judas
Ver artigo principal: Evangelho de Judas
O Evangelho de Judas é um evangelho apócrifo, atribuído a
autores gnósticos nos meados do século II, composto de 26
páginas de papiro escrito em copta dialectal que revela as relações
de Judas com Jesus Cristo sob uma outra perspectiva: Judas não
teria traído Jesus, e sim, atendido a um pedido deste ao denunciá-lo
aos romanos.
Desaparecido por quase 1700 anos, a única cópia conhecida
do documento foi publicada em 6 de abril de 2006 pela revista
National Geographic. O manuscrito, autentificado como datando do
século III ou IV (220 a 340 D.C.), é uma cópia de uma versão mais
antiga redigida em grego. Contrariamente à versão dos quatro
Evangelhos oficiais, este texto clama que Judas era o discípulo
mais fiel a Jesus, e aquele que mais compreendia os seus
ensinamentos. O seu conteúdo consiste basicamente em
ensinamentos de Jesus para Judas, apresentando informações
sobre uma estrutura hierárquica de seres angelicais e uma outra
versão para a criação do universo.
§Outras perspectivas
De acordo com alguns estudiosos, Judas de Iscariotes teria
sido membro da seita dos zelotes. No quadro de um Messianismo
Político do 1.º Século, estaria convencido de que ele, com todo o
seu poder, concretizaria a chegada do Reino tão desejado por
Israel. Mas, com o tempo, terá começado a sentir-se desiludido,
porque Jesus não terá correspondido aos seus ideais e
expectativas. Desencantado com Jesus, o terá entregue
ao Sinédrio, para assim unir o povo judeu numa revolta
contra Roma e desencadear o estabelecimento imediato do Reino
de Deus. (Ref.ª Diário de Noticias de 21 de maio de 2006, Secção
Opinião, Anselmo Borges, Padre e Professor de Filosofia; National
Geographic, Abril de 2006, pág.; História Viva, Novembro de 2003,
pág. 61-5; O Processo de Judas, Dr. Remy Bijaoui, Imago, 1999).
Esta visão é apresentada em muitas obras literárias e
no cinema, com especial atenção para A Última Tentação de
Cristo (1988), baseado no romance do mesmo nome deNikos
Kazantzakis (1954), mais tarde (1988) transformado em filme
dirigido por Martin Scorsese, além do filme O Rei dos Reis, clássico
sobre a vida de Jesus Cristo de 1961 dirigido por Nicholas Ray,
onde apresenta Judas (interpretado com brilhantismo por Rip Torn)
como um zelote, que auxilia Barrabás na luta contra a Opressão
Romana, e que ao se juntar ao grupo de Jesus, ele está convencido
que o Galileu instalará o Reino de Deus na Judeia, pois Jesus tem o
poder de fazer milagres, e que assim, liquidará com todos os
opressores romanos. Para provar o poder de Cristo, e também com
a finalidade de forçá-lo a se proclamar Rei, ele entrega-o às
autoridades, mas quando vê o Nazareno subjugado, açoitado, e
carregando uma cruz, seu conceito sobre o Filho de Deus se
desvanece, e desiludido, ele resolve se enforcar.
Outros sustentam que na realidade Judas não traiu Jesus
Cristo por 30 moedas. Argumentam que ele terá agido por ordem do
próprio Jesus, precipitando dessa forma a morte na cruz e a
redenção da humanidade. Por fim, ele não se teria suicidado como
dizem os Evangelhos canónicos, mas antes retira-se para o deserto
para meditar. O Evangelho sobre Judas, escrito gnóstico do 2.º
Século, "não deve ser visto como a versão verdadeira sobre o
destino do apóstolo de má fama, mas como mais uma peça no
quebra-cabeças dos primeiros anos do cristianismo".
(Ref.ª Veja de 12 de abril de 2006, ed. 1951, pág. 91).
Outros crêem que Judas apenas acreditava que Jesus iria
reagir contra os guardas do império romano quando eles fossem
pegá-lo. Se isto ocorresse, os Judeus (que não acreditavam que
Jesus era o Messias) iriam se unir a eles e assim derrotar Roma.
Os Judeus não acreditavam em Jesus, pois eles viam Messias
como um libertador que viria de espada e destruiria Roma. Como
Jesus veio em paz algumas pessoas não acreditaram e
continuaram a dizer que Messias ainda viria dessa vez com uma
espada na mão. Se Jesus reagisse contra os guardas que o vieram
prender, como no plano de Judas, muitos judeus que antes não
acreditavam iriam começar a acreditar e assim todos eles poderiam
derrotar Roma juntos.
Conhecida é, também, a leitura alegórico-sapiencial que
os Padres da Igreja dos primeiros séculos faziam entre o nome de
Judas e a sua iniciativa de vender Jesus às autoridades como
sendo análoga à venda de José, pelo seu irmão, Judá,
aos ismaelitas (Génesis 37:26,27). Curioso é, ainda, o facto de o
valor gemátrico do nome Judas, em hebraico, ser, precisamente,
trinta - ou seja, o valor pelo qual ele entregou Jesus -, por alguns
intérpretes entendido como sinal de que, ao trair o seu Mestre,
Judas estava, igualmente, a trair a sua própria pessoa.
§Judas Iscariotes na arte
§Iconografia
A tragédia associada ao drama da vida e da morte de Judas
Iscariotes foi, desde sempre, uma das mais prolixas inspirações
para a criação de obras artísticas. Assim pode-se vê-lo:
na última Ceia: Leonardo da Vinci, Milão;
no pagamento da traição: Giotto, Pádova; Fra Angelico,
Florença;
na entrega de Jesus: mosaico de Santo Apolinário
Novo, Ravena; desenho de Rembrandt, Estocolmo; telas de Van
Dyck, Madrid;
corroído de desespero ou no suicídio: capitéis da Igreja
de Vézelay, Saulieu; tímpano da entrada da
Catedral, Estrasburgo.
§Literatura
Célebre é, também, a referência que Dante Alighieri faz a
Judas na sua "Divina Comédia" ao colocá-lo, juntamente
com Cássio e Bruto, assassinos de Júlio César, na maior
profundidade dos infernos e apresentando-o a ser continuamente
devorado pelo príncipe das profundezas, Lúcifer:
"Quell' anima là sù c’ha maggior pena", / disse ’l maestro, "è
Giuda Scarïotto, / che ’l capo ha dentro e fuor le gambe mena."
"O que sofre lá em cima a dor mais lancinante", / disse o
Mestre, "é Judas Iscariotes, / que tem a cabeça dentro e esperneia
as pernas para fora."
O escritor italiano Ferdinando Petruccelli della Gattina, no
controverso romance Memorias de Judas (1867), reabilita a figura
do apóstolo, visto como um revolucionário que lutou contra a
opressão do Império Romano.
§Música
Em 1978, o cantor brasileiro Raul Seixas gravou a canção
Judas com a parceria de Paulo Coelho no álbum Mata Virgem
mostrando Judas sendo condenado e relatando que ele foi
escolhido para pregá-lo na cruz.
Em 2007, a cantora estado-unidense Kelly Clarkson gravou
para seu terceiro álbum de estúdio, My December, a canção Judas,
escrita pela própria cantora, em parceria com Jimmy Messer e
Dwight Baker. A canção fala sobre uma traição de alguém que era
tido como verdadeiro amigo e cuja atitude a intérprete lamenta
profundamente no decorrer da melodia.
Em 2011, outra cantora estado-unidense, Lady Gaga, lançou
uma canção de nome "Judas", contida no seu terceiro álbum de
estúdio, Born This Way, como single. A canção narra uma luta
pessoal da intérprete de querer amar a Jesus Cristo, porém se vê
amando a Judas Iscariotes.3 4
§Na cultura popular
O beijo de Judas tornou-se no símbolo da amizade falsa
e da hipocrisia.
Em alguns países, adoptou-se o costume da Malhação
de Judas, onde se costuma espancar e queimar publicamente,
no Sábado de Aleluia, um boneco de palha que personificaria o
traidor de Cristo.
O filme Jesus Cristo Superstar apresenta os últimos dias
de Jesus sob o ponto de vista de Judas.
§Referências
1. Ir para cima↑ Marcos 3:19; Marcos 14:10; Lucas
6:16
2. Ir para cima↑ Mateus 10:4; Lucas 22:3; João 12:4
3. Ir para cima↑ Dinh, James (23 de março de
2011). Lady Gaga To Direct 'Judas' Video With Laurieann
Gibson (em inglês) MTV MTV Networks. Visitado em 3 de
maio de 2011.
4. Ir para cima↑ Perpetua, Matthew (18 de fevereiro
de 2011). Preview Six Songs From Lady Gaga's 'Born This
Way' (em inglês) Rolling Stone. Visitado em 3 de maio de
2011.
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