Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Não há notícias históricas a respeito de Maria. Pelas notícias de Jesus (Flávio Josefo e Tácito) podemos
nos aproximar de sua figura histórica.
Os Evangelhos não possuem intenção de fazer história, mas de apresentar a fé que histórica.
Por isso, recorremos a autores não-cristãos e historiadores como ponto de partida de notícias históricas
sobre Jesus e sua mãe.
Maria é conhecida porque Jesus é conhecido (não da mesma com José). Sua fama crescia à medida que
aumentava o número de crentes.
Jesus não foi um personagem notório, famoso aos seus contemporâneos. Os historiadores interessaram-
se mais pelo movimento cristão que por seu fundador.
Foi um judeu marginal de um movimento marginal, de uma província marginal.
1. Os nomes familiares
a) Se chamava Maria
Maria era um nome comum tanto no Antigo Testamento quanto no Novo. A irmã de Moisés e Aarão
assim se chamava (Myriam; Ex 2,4-9) e outra Maria é mencionada em 1Cr 4,17.
No século I, nomes como Jesus, Maria e José eram reacionários. Receber um nome de um patriarca era
identificar-se como judeu autêntico em meio à helenização.
Ao renascimento da identidade nacional e religiosa judaica era forte na Galiléia, que sofria muito de
influência pagã, por isso, os nomes patriarcais na família de Jesus.
Lutero afirma: “O nome Maria significa mar amargo; de acordo com o ambiente circunstancial em que
vivem. O povo encontra-se apenado e amargurado”.
b) Lhe porás o nome de Jesus
Jesus era um nome abreviado, derivado do herói Josué. Foi um nome popular até o início do século II
d.C. Cristo era usado para distinguir de tantos outros.
Yeoshua significa “que Yahweh ajude”, ou “que Deus salve”. É um nome em contraste com a
helenização que tem a ver com o desejo de restaurar o povo de Israel.
1. Para as histórias profanas e judias Jesus não teve tanta importância. Por isso, elas lhe dedicavam
alguns comentários, ainda que negativos.
2. Elas falam da morte de seu irmão Tiago e do caso de Maria com Pantera.
3. Jesus e Maria forma personagens marginais. Jesus, um marginal do sistema.
4. A marginalidade de Jesus explica a marginalidade nas atas dos historiadores oficiais, como também a
do seu grupo.
5. A mãe e os irmãos de Jesus só são mencionados para ofendê-lo.
6. As notícias da família de Jesus são interessantes quando lidas no contexto do século I (nomes
patriarcais e matriarcais).
7. Não temos dados históricos concretos sobre o nascimento de Jesus, além dos Evangelhos.
8. Jesus era carpinteiro ou artesão? Imaginamos num contexto agrário e próspero.
9. Quanto aos irmãos de Jesus, não podemos chegar a uma conclusão certa.
7
CAPÍTULO II: A MAE DO REI DOS JUDEUS
Jesus é o “Filho de Deus!” A Sagrada Escritura nos assegura que Jesus não é filho de varão.
2. O prólogo Cristológico
Segundo F. J. Matera, vai até o Mt 4,11, conclui com as tentações de Jesus. Na Genealogia: De
Abraão a Davi; de Davi ao Êxodo; do Êxodo a Jesus, mostra, assim, a historia profética, messiânica e
apocalíptica, vendo nelas uma preparação para a vinda de Jesus. Belém, José e Maria, o nascimento
do menino, a fuga ao Egito e o regresso a Nazaré, mostram a trama. Para entender a Mariologia de
Mateus, é preciso ler o relato de forma global.
b) A gênese de Jesus
A palavra “gênese” (Mt 1,18) faz referência a todo o processo de gerações através das quais chega a
bênção: salvação do povo e purificação dos pecados. Com Jesus essa bênção é total.
Se o conflito entre José e Maria não se resolvesse não seria obstáculo à concretização do plano de
Deus: messias filho de Deus e filho de Davi.
c) “Sua mãe, Maria, se achava grávida por obra do Espírito Santo” (v. 18)
O que vem ressaltado é o fato de ser mãe e não ser esposa. “Estava prometida”: mostra que a
promessa de Deus se realiza diante de testemunhas. O que acontece a Maria é inimaginável: o que se lhe
acontece a surpreende porque está fora de sua decisão.
O Espírito santo exerce uma função ativa, mas que não é a de esposo. O homem que Maria engendra
é uma criatura do Espírito. Maria em sua maternidade é atuada pelo Espírito. E, de fato, Jesus, em Mateus, é
o homem sobre quem op Espírito Santo baixou. Cristo é concebido pelo Espírito Santo e a Virgem, diz o
credo. Maria é o centro da inauguração do reino de Deus e do novo Povo.
d) O conflito de José e sua decisão
Descendente de Abraão é chamado filho de Davi, seu pai imediato é Jacó. Um homem diferente dos
outros judeus que buscava a justiça e o reino de Deus.
O conflito se dá porque “sua mulher” aparece grávida do Espírito Santo. José pretendia castigar
Maria segundo a lei, mas a intervenção do anjo faz que ele resolva o conflito e a receba por esposa.
e) Revelação e mandato do anjo do Senhor
O anjo diz a José que Maria continuara sendo sua esposa e que ele não deve temer, pois o que ela
concebeu é obra do Espírito Santo. O temor de José revela o temor diante do incompreensível e do
nascimento do homem novo. O anjo, porém, confere a Jose a missão de dar um nome ao filho, Jesus. Por um
nome era o mesmo que dizer: “este é meu filho”.
f) O cumprimento da palavra profética de Isaias
Mateus fala do seu cumprimento na vida de Jesus. Mateus mostra isso com todos os detalhes para
dizer que quem negasse a legitimidade da genealogia e do messianismo de Jesus, estaria negando o próprio
Deus que o havia prometido pelos profetas. Ao Fiat do Criador, foi necessário o Fiat de Maria.
10
g) A paternidade de José e a filiação davídica de Jesus
José levou Maria pra sua casa, mas não teve relação sexual com ela. Respeitou-a ate que o menino
nascesse. Ao assumir legalmente Jesus como filho, José assume também a paternidade. Por meio da
paternidade legal de José, Jesus também é filho de Davi.
h) conclusão
- O Espírito Santo é o protagonista;
- Em Jesus a salvação chegou a todos os povos (Emanuel);
- Maria aparece como a mãe do messias (grávida do Espírito);
- Depois é acolhida por José e por sua paternidade legal;
- Jesus é “filho de Davi” por ser filho de José, pois José lhe deu o nome;
- Sobre o temor e o conflito sobrevém a paz trazida pelo anjo;
- Cumpriu-se a promessa de Deus anunciada pelos profetas.
Os magos que tinham o poder pessoal divino nas mãos, segundo definição de sua própria função, de
forma física e tangível. Aqui eles aparecem confirmando a legitimidade do poder de Cristo, enquanto que
normalmente eles questionavam o poder espiritual. O menino aparece como rival de Herodes. Ele é o
verdadeiro rei dos judeus, enquanto Herodes é o usurpador, o falso rei. Os magos adoraram Jesus e lhe
deram presentes, o que confirma os planos de Deus.
b) Raquel – a sétima mulher – e a mãe do povo no novo êxodo
José, avisado em sonho, foge para o Egito com Jesus e Maria. Deus libertara seu povo do Egito como
um pai livra o filho do inimigo. Paradoxalmente, o Egito agora é um lugar de refugio para o salvador,
enquanto Jerusalém é uma cidade de ameaças e morte. Com Maria e José e Jesus acontece o mesmo a
Moisés: é-lhes anunciado que voltem a Israel, pois os inimigos já não estão mais aí. Raquel era invocada
como uma das grandes mulheres que edificaram a casa de Israel. Ela chorou pelo povo que foi ao desterro,
destruído. Ela foi a mãe do povo oprimido no Egito. Agora, Maria é a mãe do novo povo libertado. Raquel é
a mãe morta; Maria é a mãe que foge da ameaça. O menino que leva, representa o povo de Israel, por isso, é
a mãe do novo povo.
O êxodo de Jesus, depois que volta com seus pais do Egito, só se consumara no caminho da cruz,
mostra as mulheres que o seguem, os seus discípulos, está inaugurado o reino de Deus; o messianismo de
Jesus está realizado: o filho de Deus caminha na direção da sua morte na cruz. Maria acompanha a Jesus
11
desde que fora reconhecido como filho de Davi até o momento em que ele é condenado à morte. Ela
acompanha Jesus no novo êxodo como a mãe do novo povo.
Divide-se em 4 partes: 1-Prólogo cristológico ou origem de Jesus; 2- o que Jesus fez; 3-o que Jesus
enquanto subia para Jerusalém; 4- paixão, morte e ressurreição de Jesus.
2. Os cinco movimentos.
Lc apresenta cinco movimentos fundamentais:
1)- Zacarias contempla o anjo de Deus que lhe comunica a boa noticia. Zacarias vai do templo para a
sua casa.
2)- Parte de Deus, do céu. O anjo é enviado a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré à casa de Maria.
3)- De Nazaré à cidade de Davi, Belém. Protagonistas: José e Maria (esta estava grávida).
4)- De Nazaré à Jerusalém para celebrar a páscoa (Jesus fica lá).
5)- Paralelismo entre Jesus e João, já adultos iniciando suas próprias missões.
A maioria define como “anunciação de Jesus”. Poucos “a vocação de Maria e anunciação”. Lc 1,26-56.
Nesta perícope se inclui tanto a vocação-anunciação como a visitação. Na primeira parte deste relato dá-se
em uma cidade da Galiléia, Nazaré. A segunda; numa cidade da Judéia que não menciona o nome. No centro
temos a resposta de Maria:”eis aqui a serva do senhor...).
Essa última perícope do amplo prólogo de Lucas está dividido em cinco blocos:
1. Perdido durante três dias na festa da Páscoa
A família de Nazaré, e nela o jovem Jesus, aparece como modelo de piedade. Obedecem a lei e
sobem em peregrinação litúrgica a Jerusalém para celebrar a Páscoa. Era, pois, costume de Maria e de toda
sua família celebrar a Páscoa em 14 de Nisán em Jerusalém.
A fuga de Jesus é um ato profético que prediz a paixão. Os três dias da separação anunciam os
três dias de sua morte. Ambas as cenas acontecem na Páscoa. As palavras de Jesus a seus pais “porque me
buscais?” evocam aquelas dos dois varões às mulheres: “por que buscais entre os morte aquele que está
vivo?” (Lc 24, 5). Na cena do templo a figura de José fica eclipsada tornando Maria a protagonista.
O evangelista se mostra muito respeitoso a Maria e aos irmãos de Jesus, mesmo com todas as
dificuldades que a tradição tinha trazido.
2- As três negações “o qual não nasceu do sangue, nem da vontade carnal, nem da vontade de varão”
O quarto evangelho nega três modalidades de nascimento de Cristo.
As duas primeiras parecem supor a concepção virginal. A terceira é como uma expressão
extrema.
Peter Hofricher em sua tese doutoral diz que a palavra sangue no plural descrevia, em primeiro
lugar, o derramamento de sangue em atos violentos como um crime ou uma batalha e, em
21
segundo lugar, uma perda de sangue na menstruação da mulher em parto (alguns textos do AT e
depois da tradição judia)
Nas traduções modernas, o vocábulo άιματα sangue se traduz sempre no singular.
Portanto, o que se quer dizer é que no nascimento de Jesus não houve perda de sangue em sua
mãe, nem tampouco impureza ritual.
Em “De La Potterrie” há correspondência entre Jo: 1,12-13 e Lc: 1,34-35.
Segundo esta concordância, o nascimento virginal é o sinal da filiação divina de Jesus.
João chama a Maria, sempre de “a mãe de Jesus”. Contudo, Jesus é sempre para o 4º evangelista,
o filho único de Deus, o Templo de sua presença. Filho de Deus feito homem e que tomou sua
humanidade de Maria.
3- O Filho de José
O evangelho de João fala duas vezes de Jesus, o “filho de José” (1,45 e 6,42);
Aí, não expressa sua convicção, mas sim o modo de falar da gente, de Felipe.
Quando quer expressar a identidade de Jesus, sua filiação, o faz sempre em referência a Deus Pai.
Na boca de Jesus e na do Evangelista, o pai de Jesus é sempre Deus. São os “outros” que falam
de Jesus como filho de José. (Em Jo: 1,45 é Felipe; em Jo: 6,42 são os “judeus”; falar de Jesus
como filho de José é “julgá-lo segundo a carne” J. Willemse.
O contexto anterior:
Nas bodas de Caná, a mãe de Jesus ocupa um lugar importante.
No evangelho de João há um grande acúmulo de afirmações cristológicas;
Com todo este transfundo se chega ao relato de Cana, o que manifesta ao leitor quem é
Jesus:
a) o Logos para quem tudo foi feito
b) a vida, a luz dos homens, o Filho unigênito do Pai, não nascido da carne, nem do desejo de um
varão, aquele cujas as sandálias João Batista não era digno de desamarrar.
c) Cordeiro de Deus;
d) Messias;
e) Filho do Homem;
f) o Senhor, o Rei, o anunciado pelos profetas;
g) o Rabi sobre quem posou o Espírito Santo.
22
Tem-se a impressão de que a fé dos primeiros discípulos necessitava de uma ratificação. O relato de
Caná se apresenta como o momento em que essa fé se confirma.
O relato está estruturado em cisco partes que forma um quiasmo (usual na literatura hebraica) Cfr:
pág: 132.
No primeiro momento: ignorância da mãe de Jesus, posto em relevo por Ele ao perguntar: “Que
queres de mim, mulher?”
No quarto momento: ignorância do mestre-sala “De onde procede o vinho bom?”
Nos segundo e quarto momentos: aparecem os servidores que recebem a recomendação para
obedecer à palavra do Filho. Portanto, sabiam da procedência do vinho.
No terceiro momento: central do relato. Jesus e sua palavra oculta ocupam a cena:
a) Jesus pronuncia três mandatos: enchei!; tirai! Levai!;
b) Os servidores obedecem a tudo o que Jesus manda. Obedecendo Jesus,
obedecem ao que Maria (a Mãe) havia pedido antecipadamente (“Fazei
tudo o que Ele vos disser”)
A palavra de Jesus e a colaboração obediente dos servos, produz o Sinal, o começo dos sinais.
3. Os primeiro e último momentos: “Se fez uma boda... e viram sua glória”
a) UM EFEITO SIMBÓLICO
Lendo o texto se adverte que o redator se atém aos detalhes informativos. Nada diz a respeito
da esposa; o noivo só aprece no final e indiretamente; não se fala do rito do casamento...;
Tudo isto indica que se trata de um relato simbólico, o simbolismo nasce de sua totalidade;
O quarto evangelho apresenta os sinais de Jesus “para que creiais”;
Em Caná, Jesus realiza um sinal demonstrativo e expressivo de sua pessoa e de sua glória.
b) O PRIMEIRO DOS SINAIS
Não é só um sinal, mas o primeiro dos sinais, o proto-sinal, ou o começo dos sinais
23
“desde o começo” em João, se refere ao início da revelação de Jesus: “O que temos visto e
ouvido”;
“Começo” em João:
Não se identifica com o testemunho de João Batista;
Não se identifica com a pregação inicial de Jesus;
Nem tampouco com a vocação dos primeiros discípulos;
Identifica-se o primeiro sinal, em Caná.
Este é o começo dos sinais, o arquétipo que prefigura e encerra toda a série dos sinais;
No Evangelho de São João os sinais:
a) são atos simbólicos através dos quais Jesus se manifesta como Messias e Filho de Deus;
b) são gestos do Verbo que se faz carne e habita entre vós.
O que aconteceu em Caná é um símbolo, um caminho de acesso a algo que o supera em
grandeza. A cena de Caná, constitui a chave do quarto Evangelho.
MANIFESTA-SE A GLÓRIA
Na realização do primeiro sinal se manifesta:
A glória do messianismo e a filiação divina de Jesus;
A glória do Filho Unigênito do Pai;
A glória do Logos feito carne.
As bodas de Caná são o símbolo da encarnação do Logos, da união da divindade com a
humanidade. Cfr: nota 24, pág: 136, texto de Santo Agostinho.
CAPÍTULO V:
MARIA E AS DEUSAS: O CONTEXTO RELIGIOSO DA ÁSIA MENOR
Os excessos no culto mariano são muito antigos. Não poucas vezes, Maria foi situada no panteão das
deusas. O culto às deusas apresenta notáveis semelhanças com o culto a Maria. O patriarcalismo favoreceu
uma imagem de Deus bastante masculinizada, de modo que ficou a descoberto a necessidade de descobrir
Deus sob outras perspectivas, especialmente a feminina. Aqui se encontra o lugar compensatório ao culto da
29
divindade sob a imagem das deusas. Em parte, temos aqui o lugar eclesial a devoção a Maria, como rosto
feminino de Deus.
b) Maria, deusa-terra
Ambrósio identificava Maria com a terra virgem sobre a que havia caído a palavra criadora de Deus.
Muitos cristãos viam em Maria o que os pagãos na deusa-terra que dá a vida, o feminino sublime. Na
concepção, ela foi Terra com a qual o Céu se uniu. Foi o componente feminino do divino. A Igreja confessa,
por outro lado, que ela é também parte da humanidade criada. Seu filho e filho de Deus é a primeira pessoa
da nova humanidade. Assim a deusa-Terra se converteu em uma figura cristã. Maria não é Cibele ou Isis, ela
é a Mãe de Deus, de Jesus.
Havia outras figuras divinas femininas cujos devotos puderam transferir sua devoção a Maria quando
se fizeram cristãos. É possível que em certos casos estátuas pagãs foram batizadas e re-dedicadas como
objetos de veneração a Maria.
4. Maria, “Regina coelis”
Maria foi recebendo os mesmos títulos das deusas. O título mais sublime foi o de Rainha. Um nome
aplicado a Juno, a Isis. No Concílio de Éfeso (431) o povo nas ruas da cidade saudou Maria com os mesmos
títulos com séculos antes havia saudado Artemisa. Durante a Idade Media, quando o título se tornou comum,
muitas imagens de Maria foram coroadas.
Porém, a entronização oficial ocorreu em 1954, quando Pio XII publicou a encíclica Ad Coeli
Reginam, estabelecendo a festa litúrgica em honra de Maria.
As deusas gregas e romanas estavam encarregadas de todas as funções femininas, presidiam
matrimônios, nascimentos e acontecimentos semelhantes. O povo cristão vem a Maria com os mesmos
problemas que o povo pagão com suas deusas.
SEGUNDA PARTE:
MARIOLOGIA HISTÓRICA ESTRUTURAL E DOS PRIVILÉGIOS
Ao longo dos séculos, também nós, acolhemos Maria no nosso mundo espiritual. Cada geração acolheu e
a refletiu sob uma determinada forma.
35
No início da geração cristã ela sempre esteve presente para garantir valores irrenunciáveis do
cristianismo: a Encarnação contra o docentismo e para garantir a divindade e filiação divina de Cristo: Mãe
de Jesus e Theotokós.
Maria foi uma herança para todos. Nesta segunda parte estudaremos mo desenvolvimento mariológico na
ortodoxia e heterodoxia: no primeiro milênio a partir dos dogmas cristológicos. No segundo os
mariológicos: Imaculada Conceição e Assunção.
Capítulo VI
A nova Eva: Maria, a Igreja
Os gnósticos cristãos queriam interpretar a Revelação com categorias filosóficas e religiosas novas.
Estas reduziam e eram arriscadas e muitos capitularam. Os primeiros grandes pensadores cristãos, a partir da
Revelação buscaram reconduzir a reflexão ao caminho reto. Maria era imprescindível para questões
essenciais da fé.
O ambiente religioso cultural circunstante, a feito ao divino feminino provocava o cristianismo.
Maria era a resposta e correção. Os Santos Padres estavam atentos ao perigo da idolatria. O corretivo veio
com o simbolismo eclesiológico.
Neste contexto, nos séculos II e III são compreendidos. Cristo e a salvação eram o centro; Maria
completava a reflexão.
d) O pecado primordial
Primeiro na pré-existência e depois na existência.
e) Redenção ou emenda (διόρθωσις)
Para gnósticos e cristãos dos séculos II e III, Cristologia e Soteriologia estavam unidas: dizer Filho
era dizer Salvador.
Σωτηρ – regenerador “desde” baixo para cima;
Sofia – degenera “desde” cima para baixo.
Não destrói o que faz sua esposa, mas reconduz!
Sofia aparentemente má: inserção na corrupção e morte (analogia com a semente na terra).
f) A Encarnação progressiva
Cristo e suas três assunções: 1) espiritual – divina;
“Através dos céus planetários” 2) animal – arcôntica;
37
3) material – terrena.
A encarnação era última fase: vestição da carne sensível no seio materno.
Da vertente divina não havia problema na encarnação, mas na humana sim, posto que o corpo era
incapaz de salvação.
A demiurgia do corpo de Jesus era obra do Filho que entreteceu para si o “instrumento” de sua
economia [em Gabriel falava o Filho].
No Batismo, Jesus recebeu o Espírito (= Corpo divino) que reformou o corpo recebido de Maria
habilitando para a salvação.
Anjo: pessoalmente;
Batismo: corporalmente
Para um platonizante: 1) o verdadeiro corpo não é de carne e osso.
2) o carnal só tem realidade “doxa”
g) Nascido “ex Maria virgine” ou “per Mariam”
Jesus teve dois nascimentos: Divino – da Virgem celeste
Humano – da Nazarena.
EX – indicava as duas origens. A maioria dos gnósticos atribuem uma origem real desde Maria;
PER – poucos, os valentinianos o faziam proceder do Demiurgo per Mariam não recebendo
substancia humana.
Ebionitas – Jesus gerado do sêmen de José.
Evangelho segundo Filipe: έξ Іωσήφ αύτόν γεγενήσθαι: -batismo: Espírito (masculino) sendo
assumido pelo Cristo superior para o anuncio do Evangelho.
-pessoalmente unido ao Unigênito a´te antes de sofrer a paixão.
Hipólito (+325): Hermógenes afirmava que primeiro nasceu da virgem, depois do Espírito (contra os
docentas).
A nazarena é ícone da virgem celeste, sombra sensível do espírito virginal incorruptível.
A virgindade de Maria estava no seio de Deus antes, in et post partum (antes, durante e depois do
parto).
A virgindade de Maria era um sinal ou imagem do espírito virginal de Deus. Para os gnósticos
Maria não era uma deusa.
3. Juízo global
Antonio Orbe estima que a mariologia gnóstica está muito pouco estudada: “digna de exame
ulterior se me apraz a mariologia: desde a figura de da Prima Femina, esposa do Bythos (= Deus
desconhecido), Mãe (do seio e espírito masculino) do Cristo superior, até a mulher de José em sua eficácia
sobre o Corpo de Jesus (homem). Por caminhos superiores a toda suspeita,previam os gnósticos um
problema hoje controvertido: a transcendência de Maria ou sua prioridade sobre a Igreja. A Virgem
superior, seio do Pai, era anterior à concepção e origem do Logos; com prioridade paralela, a nível
39
exemplar, à de Santa Maria a respeito a Jesus.A Igreja mesmo espiritual, esposa do Logos, era imagem da
Virgem (masculina) ou Maria superior”.
Os gnósticos:
o enalteceram o divino e sacrificaram o humano por negarem o “secum carnem”;
o os padres combatendo não aprofundaram. Suas preocupações eram: docentismo e
adocionismo;
o foram sensíveis ao feminino: Verbo – Sofia; Eva pré – pós existente também com Adão.
3. O novo Paraíso
Os capadócios explicitaram um pouco mais Irineu, mas sem paixão paixão contra os gnósticos.
Gregório Nazianzeno (+390): “Por isso, o novo substitui o velho e mediante a Paixão aquele
que havia caído em seu sofrimento foi restituído ao estado primitivo. Para cada uma das coisas que nos
ocorre, foi pago um resgate por aquilo quer está sobre nós. E aconteceu um novo mistério: aquela
economia de salvação que ocorre por filantropia em favor de quem havia caído a causa de sua
desobediência. Por isso, houve geração e virgem ,houve presépio e Belém. Houve geração sobre a
41
plasmação, a Virgem sobre a mulher, Belém traz o éden, o presépio trás o paraíso, coisas pequenas e
visíveis como conseqüência das grandes e distante dos olhos”.
Gregório de Nissa (+392): retoma o paralelismo: Eva-Maria. “Chegando o Anjo a Maria onde
ela estava, disse: alegra-te agraciada. Aquela tua predecessora Eva, ao transgredir a Lei, recebeu a
sentença de pari os filhos com dor. A ti, embora, te compete alegrar-te. Ela deu à luz a Caim e com ele a
inveja e o assassinato. Tu, ao contrário, darás à luz um filho que trará a vida e a incorrupção. Alegra-te e
dança. Alegra-te e pisa a cabeça da serpente. Alegra-te, agraciada. Tem sido cessada a maldição,
eliminado a corrupção, as coisas tristes passaram. Florescem as alegrias, se faz o bem pregado em outro
tempo pelos profetas. Já o Espírito Santo apontou a ti quando pela língua de Isaías disse: ‘tem aqui que
uma virgem conceberá e dará à luz um filho’. Tu és aquela virgem... encontraste um esposo que conservará
tua virgindade e não a corromperá.”
Epifânio de Salamina (+403): aconteceu a antítese morte – vida : Maria mãe dos viventes: “De
fato, Eva teria sido chamada mãe dos viventes depois de haver ouvido as palavras ‘és terra e à terra
retornarás’ Gn: 3, 19, quer dizer, depois da queda. Parece estranho que ela receba um título tão grande,
precisamente depois de haver pecado. Vendo as coisas desde fora, se adverte que Eva é aquela de quem
nasceu todo o gênero humano de toda a terra. Maria Virgem, ao contrário tem introduzido realmente no
mundo, a vida mesma pelo fato de ter gerado o Vivente, de modo que se tem convertido na mãe dos
viventes... Eva se converteu para os homens causa de morte, porque através dela a morte entrou n o mundo.
Maria, ao contrário, foi causa de vida, porque através dela, a vida chegou a nós. Por isso o Filho de Deus
vindo ao mundo e onde abundou o pecado, superabundou a graça Rm: 5, 20. De onde teve origem a morte
vindo também a vida, para que esta sucedesse àquela; se a morte vinda da mulher, a morte foi excluída por
aquela que, por meio da mulher, se converteu em nossa vida”.
2. O Paralelismo Maria-Igreja
A partir de Tertuliano: no NT Maria é prefiguração da Igreja.
Ambrósio e Agostinho estavam familiarizados com esta perspectiva (Ler texto à página: 215/6).
Na virgindade corporal de Maria, Agostinha via a virgindade espiritual da Igreja.
Em poucas ocasiões se aludia a união com Deus, o Espírito Santo que a fecunda e a união da
Igreja com o mesmo Espírito (Ambrósio), o paralelismo se dá com José e a Igreja – hierarquia ou com
Cristo.
A iconografia se foca na maternidade, não no calvário. O paralelismo com a Igreja não é ide
identificação, mas de comparação. Bernardo (II milênio) o explorará.
Capítulo VII
Maternidade Virginal de Maria.
44
A Virgindade de Maria tem sido confessada de modos diferentes ao longo da tradição da Igreja.
Nos três primeiros séculos a virgindade adquiriu a dignidade da autentica confissão Cristológica, como
forma de confessar a maternidade transcendente de Maria, por ser mãe do Filho de Deus.
a- A terra virgem
Para Irineu
Existem, portanto, paralelismo entre a origem do corpo de Adão e o do Salvador. Adão veio da
vontade da sabedoria de Deus e de uma terra virgem, a Encarnação tem lugar no seio de uma virgem sem
obra de Varão seu fruto será um homem nascido do Espírito Santo e de uma mulher virgem. Por ser origem
do Espírito será Filho de Deus; por sua mãe virgem será, filho do homem.
Tertuliano
Para iniciar uma nova forma de nascer prescindindo da velha e corrompida semente, necessitava
de uma nova semente espiritual, este novo nascimento esteve prefigurado na terra virgem não violada pelo
trabalho da qual Deus formou Adão. Essa virgem da que nasceu Cristo foi contraposta a virgem Eva. Esta
concebeu a morte e teve um filho assassino, aquela, a vida e teve um filho salvador de todos.
45
O símbolo da terra virgem é autenticamente feminino. Trata-se de uma visão mística, que de
certa maneira tenta afirmar a precedência ontológica da maternidade virginal sobre a maternidade não
virginal.
b- a Virgindade de Eva e de Maria
Irineu e Justino
Declararam na virgem Eva o tipo da virgem Maria, mãe do Filho de Deus segundo a carne. A
carne virginal de Eva levava a morte. O pecado de Eva consiste na desobediência. Eva pecou por
pensamento e desejo, ainda, que, permaneceu por algum tempo virgem. Maria, segundo Irineu, não é
requerida por qualquer tipo de indignidade, que se assinale ao matrimônio humano. Nela existiu uma
exigência do plano de Deus, que quer recapitular, todas as coisas em Cris to e salvar o mundo.
b- A dialética
O resumo da tradição eclesiástica ortodoxa a respeito da virgindade de Maria no parto: “os
padres da Igreja viram tanto na concepção como no parto de Cristo um acontecimento prodigioso realizado
por Deus e encontraram para isso apoio bíblico. Contudo, alguns não resolveram manter a idéia segundo a
46
qual Cristo conservou a integridade corporal de sua Mãe ou a restituiu de novo, mas nascendo de seu seio
através do caminho traçado pela natureza”.
Disse o Vaticano II: Jesus mesmo é o consagra a virgindade de Maria. Não diminui e não destrói.
2 - Teotokos
Paulo de Samosata afirma que Maria é mãe de Jesus e não do Logos. O povo proclamava a Maria
a Teotokos (a que engendrou Deus)
a- O Filho consubstancial ao Pai: Nicéia.
O concilio de Nicéia estabeleceu definitivamente a divindade de Cristo: Jesus é consubstancial ao
Pai.
b- E o humano no Filho? O debate em torno do concilio de Eféso.
O se centro na humanidade de Jesus. O problema é: como o divino se fez homem? Nas vésperas
do concílio o significado da Teotokos era Cristologico e não Mariologico. Cilirio de Alexandria, como
representante do Papa, realizou uma cessão em 22 de Junho onde excomungou Nestorio e Aprovou
solenemente o titulo de Teotokos incluindo na linguagem eclesiástica teológica. Os padres de eféso não
pretendiam privilegiar a Maria, mas dá conta dá sua fé Cristologica: afirmar e confessar que o Filho de Deus
nasceu de mulher foi verdadeiro homem. Só quando se desenvolveu o tema da imaculada concepção é que
se pode entender a encarnação, como um autêntico acontecimento cósmico, que dizer em Maria, a
imaculada, o Divino se uniu com o humano Antes do pecado, por isso pode iniciar-se uma nova criação.
c- o equilíbrio de Calcedônia
O Concílio de Calcedônia defendeu e determinou teologicamente a constituição da personalidade
de Cristo no instante de sua geração virginal: a natureza divina e natureza humana assimida por ele se
uniram na pessoa do Deus –Logos de forma não confusa inseparada.
3- Posterior desenvolvimento
A reflexão teológica sobre Maria como Mãe de Deus, esteve fortemente ligada, no ocidente, ao
desenvolvimento dogmático da imaculada, à assunção, à co-redenção, à mediação.
III- Conclusão
A maternidade virginal de Maria
48
1- A fé na concepção virginal de Jesus pertencem ao NT. As introduções Cristologicas de Mateus,
Lucas e João, fala da ação de Deus do Espírito em Maria. Jesus é filho “De spiritu Sanctu ex Maria
Virgine”
2- Segundo os padres (Inácio de Antioquia, Irineu, Tertuliano e Hipólito), Maria engendrou Jesus Cristo
e lhe deu uma carne verdadeira e real, passiva e capaz de sofrer e morrer. A virgindade de Maria é
meio de Konosis e ao mesmo tempo memória das origens virginais do mundo.
3- O pecado de Eva se converteu na desobediência não na perca da virgindade.
4- Foi se fazendo coda vez mais comum a crença de que o parto de Jesus foi bem aventurado,
sustentado pelo Espírito Santo, e que Nele não teve efeito a primeira maldição “dá a luz os filhos
com dor”.
5- A maioria dos padres defenderam a virgindade permanente de Maria. Dizia-se que os que amam a
Cristo não toleram os que se opõem a esta realidade.
6- Contra os gnosticos a Igreja confessou a encarnação ex Maria.
7- A Igreja confessou – em sua ortodoxia, que Jesus é o Filho de Deus consubstancial ao Pai e
consubstancial a nós, em unidade de pessoa que é Divina. Por isso, dada à intercomunicação entre
sua natureza divina e humana, Maria é autentica Teotokos.
Capítulo VIII
A IMACULADA E A ASSUNÇÃO
Passados os primeiros séculos, a Igreja foi progressivamente centrando-se em Maria, como mulher
individual e privilegiada. Descobriu nela sua santidade única, dons que não dividia com ninguém, a não ser
seu Filho, como a imaculada conceição e assunção em corpo e alma ao céu.
Os relatos apócrifos
Independentemente do seu valor histórico, o relato intenta imaginar-se o fim de Maria em coerência
com o que foi sua vida e as relações que ela manteve com a comunidade de seu Filho. Descreve um belo
final, que intenta substituir o que foi um fim totalmente escuro, anônimo, apagado da memória histórica.
A Justificação Teológica
Desde a época carolíngia até o século XIII, os teólogos prepuseram argumentos de conveniência. Há
aqui um exemplo:
- A mãe e o filho estão unidos segundo a carne;
- O Filho é glorificado em seu corpo;
- Sob pena de romper a unidade da mãe e do Filho, convém glorificar corporalmente a mãe com seu
Filho.
54
No século XIII se explicava a relação de Jesus e Maria deste modo: Maria deu o corpo Àquele de
quem procede toda a graça (Jô 1,17). Manteve com ele uma profunda relação pessoal. Por isso recebeu de
Jesus a graça perfeita que a conduziu a gloria completa (Rm 8 10-11). Em razão de sua união com Cristo,
Maria escapou dos laços da morte. Por não ter pecado, Maria não podia ficar retida e cativa pelas
conseqüências do pecado.
A Definição Dogmática
Entre os anos 1921 aos 1940 chegaram à sede Romana petições de mais de mil bispos residenciais,
numerosas congregações religiosas e inumeráveis fiéis de todo o mundo. Antes de 1944 73% das dioceses
episcopais residenciais tinham pedido a definição dogmática da Assunção.
a) A favor e em contra: antes da definição
Nos interessa a conhecer as razões com as quais fundamentam esta definição. Alguns criam que o
dogma estar explicitamente revelado na Sagrada Escritura. Outros apelavam para a tradição oral, não escrita,
procedente dos apóstolos. A maioria se fundava na fé unânime da Igreja. O fato eclesial era mais que
suficiente para uma definição dogmática. Não havia unanimidade em explicar o porquê do dogma da
assunção. Uns pensavam como conseqüência do dogma da maternidade divina, outros da virgindade de
Maria, outros de sua Imaculada Concepção, outros de sua função soteriológica. Teve teólogos católicos que
se opuseram à definição do dogma por não encontrar motivações bíblicas, históricas, nem teológicas. Estas e
outras críticas fizeram ver que o dogma da Assunção não podia ser fundado (ver pg 277).
Os únicos motivos que pareciam aducibles eram os argumentos de conveniência e a reflexão realizada
a partir da “analogia da fé” e a evolução dos dogmas. Pareceu que o argumento mais sólido era aquele que
partia de uma contemplação global do mistério de Maria dentro do Mistério de Cristo.
b) A Definição Dogmática
No dia 1º de novembro de 1950, o papa Pio XII proclamou a definição da Assunção de Maria nestes
termos (ver pg 278). O dogma define a Assunção como divinamente revelada, sem indicar como concluiu
Maria sua vida terrena. “O princípio fundamental está constituído por aquele único e idêntico decreto de
predestinação no que, desde a eternidade, Maria está unida misteriosamente, por sua missão e seus
privilégios, a Jesus Cristo em sua missão de salvador e de redentor, em sua glória, em sua vitória sobre o
pecado e em sua morte”.
III PARTE
MARIOLOGIA SISTEMÁTICA
Diante dos posicionamentos ora contra ora a favor da verdade sobre Maria, a teologia sente a
necessidade de dar respostas e explicar as contradições e harmonias, as definições dogmáticas e as
experiências marianas.
5. Cada dogma forma parte de um conjunto de verdades e entre elas há uma hierarquia
A revelação é um acontecimento que culmina em Jesus Cristo. A fonte de todos os dogmas consiste
na fé em Deus Pai, em Jesus Cristo, no Espírito Santo e à Igreja.
CAPÍTULO X
MATERNIDADE TRANSCENDENTE DE MARIA.
“ET INCARNATURS EST DE SPIRITU SANCTO EX MARIA VIRGINE”
Se Jesus fosse um mero homem, falar de sua origem humana não resvestiria especial importância.
Quando Jesus, entretanto, é reconhecido é reconhecido como Messias, Filho de Deus, Unigênito, Logos de
59
Deus encarnado, falar de sua origem humana é surpreendente. Como nasceu o Filho de Deus? Existe alguma
característica especial que manifesta sua procedência divina?
A Igreja sempre confessou (Symbolum Romanum, símbolo niceno-constantinopolitano): Jesus, o
Senhor, nasceu de mulher, da virgem Maria, e que ela unicamente, sem concurso de varão, foi sua origem
nesta terra. A maternidade humana e não a paternidade é o que explica a origem humana do Senhor. Maria é
Theotókos. A expressão “mãe de Deus” não traduz adequadamente aquela antiga invocação. A tradução
exata em latim seria “Deipara” ou “Dei Genitrix”, mas não “mater Dei”. Os dois primeiros termos fazem
referencia à ação de gerar e dar a luz. “Mater Dei” faz referencia à relação permanente que se estabelece
entre mãe e filho. As afirmações de fé da Igreja primitiva e proclamadas no Credo, requerem hoje ser
meditadas, debatidas, clarificadas.
2. Impossível, absurdo!
A concepção virginal contradiz a concepção mecanicista do mundo e nega a plena humanidade de
Jesus.
a) Dentro de uma concepção mecanicista do mundo
Iluminismo, deísmo: a concepção virginal “é a mais vistosa desviação de todas as leis naturais”
(Strauss). A teologia não soube responder adequadamente e contentou em afirmar o poder de Deus para
realizar milagres oportunos. Entendia os milagres como intervenção nas leis da natureza e ruptura de sua
lógica interna.
b) Porque pressupõe a negação da plena humanidade em Jesus
Emil Brunner: um ser gerado sem pai pode ser verdadeiramente homem? Na doutrina da concepção
virginal existe um certo docetismo unido à desvalorização da geração sexual própria do ascetismo helenista.
Aquela concepção favoreceu o ascetismo monástico e um culto a Maria alheio à Bíblia.
3. A razão da “sem-razao”
- Pode haver razão dogmática que supere a falta de razão histórica?
- Virgindade permanente de Maria: confissão de fé desenvolvida nos séc. II, II, IV e definida no V. A
chave teológica é a concepção virginal. Tudo deriva daí: parto virginal e vida virginal. a Igreja sabe por
experiência que quando uma pessoa é tocada por Deus, ex: Paulo, fica para sempre entregue a Ele. Maria de
Nazaré, surpreendida pela Graça e envolta pessoalmente no mistério da concepção de Jesus por obra do
Espírito, acolheu um Fiat generoso a missão recebida; se entregou sem reservas à maternidade virginal; esta
experiência marcou-a de tal maneira que sua vida adquire sentido deste fato. Nunca deixou de ser virgem.
Qualquer novo acontecimento se integrava à experiência central.
- Quem encontrou o Amor irá por aí mendigando afetos?
- Quem foi agraciada com a mais impensável e sublime maternidade, pensará em colocar seu corpo a
serviço de outra maternidade física, esquecerá o Espírito para seguir o ritmo da geração humana?
- Afirmações sobre a maternidade virginal de Maria resultam de uma sabedoria espiritual coletiva.
Descobriram no “sempre virgem” o paradigma de toda autêntica experiência vocacional que envolve toda a
vida, lhe dá sentido e unidade.
1. Vocação de mãe
O relato da anunciação de Jesus em Lucas tem a estrutura de um relato de vocação: a vocação de
Maria e a maternidade (messiânica). Maternidade plena (Lc 1,31), pneumática e virginal.
a) O mistério da maternidade física
- Para que Maria é com-vocada? Deus quer dispor dela, de seu corpo, para fazer dela a mãe de seu
Filho. Deus predispôs que seu Filho nascesse de mulher (Gl 4,5).
- Impossível duvidar do realismo desta maternidade. Jesus realmente foi gerado por ela e posteriormente
educado e atendido por ela. A maternidade leva em si relações pessoais e vitais muito significativas entre
mãe e filho; leva em si toda amplitude do ser humano, que vai desde a célula biológica até a pessoa livre.
Enfim, se converte em relação pessoal. Maria é para sempre a “mãe de Jesus”. O levou sempre em seu
coração.
b) Maternidade a partir do amor e da fé
- Maria realizou a maternidade em liberdade, com um admirável espírito de reflexão, de acolhida
consciente, de fé. Medita os acontecimentos e os correlaciona. “Maria concebeu em seu espírito antes que
em seu seio” (Sto Agostinho).
c) Missão à maternidade, chamada a transcender-se
- A vontade de Deus pediu a Maria que entregasse a Ele seu Filho, que aceitasse desprender-se dele.
Durante o ministério de Jesus Maria se situa entre o autênticos seguidores dele. Aos pés da cruz recebe a
missão de testemunha silenciosa da humanidade de Cristo. Em pentecostes está com a Igreja.
CAPÍTULO XI
A santidade de Maria, princípio e fim.
Maria mãe do Messias, mãe do Filho de Deus. Através dela o espírito concebeu em nossa historia e
trouxe-nos Jesus nosso Salvador. Maria foi a primeira conquistada pela graça e é com certeza um ponto de
referência para os que querem experimentar o amor de Deus.
Não podemos refletir sobre a santidade e a Imaculada Conceição de Maria vendo isso como um
privilégio seu, mas como graça de Deus a qual Maria esteve aberta. Tudo o que aconteceu a Maria nos
interessa, porque nos traz em verdade a salvação que nós necessitamos. Os dogmas marianos não podem ser
compreendidos quando se reduzem a especiais condecorações de Deus a Maria que Deus reconhece e por
isso recompensa-la a mãe de Jesus Cristo. Os dogmas são sim símbolos da totalidade do projeto de salvação
de Deus: a totalidade numa parte.
João Paulo II, em sua encíclica Redemptoris Mater, interpreta o relato da vocação-anunciação de Maria
a luz de Efésios 1,3-7, que fala para com cada um de nós e esta se realiza em Cristo Jesus que fomos eleitos
antes da criação do mundo. Assim, todos nós somos chamados a santidade, remidos pelo sangue de Cristo
somos chamados a um dia estarmos com ele nos céus. Quando tudo isso é dito de Maria fica claro que
Maria não está situada fora de nossa humanidade ou de nossa historia, fora do povo de Deus. A graça que
faz de Maria mulher bendita é a mesma que faz bendita a humanidade. Maria não é privilegiada, exceção, é
sim uma expressão máxima da bondade amorosa de Deus Pai sobre o mundo.
Chamados a santidade
Não se é santo por natureza, por essência, mas por participação. O único santo é Deus. O termo santo
indica uma relação de pertença total a Deus.
O que torna difícil no mandato divino que o homem seja santo é o fato de que não se trata de adquirir
uma conformidade moral com Deus, mas sim uma correspondência ontológica com ele. Para entrar nesta
esfera de santidade é necessária uma purificação, uma consagração. Santo é o que pertence a esfera de Deus.
Ser santos como Deus é lei do Espírito é o resultado do dom da imanência do Espírito Santo em nós. Só
o Espírito nos purifica de toda mancha.
A santidade de Maria
Maria teve a graça de participar na geração do Filho de Deus neste mundo. A santidade divina a
cobriu com sua sombra e a consagrou. Maria foi santa na consagração maternal ela é a “Imaculada
Conceição”.
Maria gera o Filho de Deus e cobrindo-a com sua sombra, o Espírito impregnava o coração da
serva do Senhor. A união de Maria com o Filho esteve estreitamente vinculada a sua união com o Espírito
Santo. A cheia de graça recebeu a plenitude do Espírito Santo com todo o conjunto de seus dons.
Santidade radical e original
Falar da santidade de Maria parece algo duvidoso sem provas documentais, porém é algo presente e com
uma firme convicção nos padres da Igreja. E ainda nas distintas Igrejas tanto do Oriente quanto do Ocidente
e isto se dá depois de uma olhada profunda a Maria no mistério da encarnação e na sua resposta de fé a
graça. O sim de Maria tem uma grande dimensão, dimensão esta que afeta toda a história da salvação.
A santidade de Maria foi expressa de diversas maneiras, no Oriente em termos de teologia total e
perfeita e no Ocidente em termos de preservação do pecado original.
Como o projeto criador e redentor de Deus querem que sejamos santos e imaculados e como somos
manchados pelo pecado original lutamos a cada dia para dar a Deus uma resposta positiva de amor e
correspondência ao seu chamado. Maria foi esta que durante toda sua vida correspondeu a esse projeto de
santidade de Deus, vivendo conforme a sua condição ontológica, foi assim à perfeita consagrada pelo
Espírito, como expressão de “Imaculada Conceição” do Filho de Deus.
Santidade permanente
Maria foi agraciada com a revelação do nome de Deus, o santo aproximou-se do ser de Maria e foi
integrado ao seu nome. Jesus o Filho de Maria é o santo por excelência. Mesmo sem conhecer totalmente o
mistério de Deus, Maria viveu na fé e conservou tudo em seu coração.
A santidade de Deus, sua glória escondida se difunde sobre Maria e ela em correspondência era ativa na
70
fé, faz de Deus o seu Senhor e o glorifica.
Para os santos padres a verdade do ser humano se revela na encarnação-Jesus Filho de Deus e também
em Maria nova Eva.
A santidade de Maria não é principalmente uma santidade moral, mas ontológica, é a santidade da
presença do Espírito de Deus nela. Voltada para este vive em pureza, em fé e caridade como autêntica
propriedade de Deus. É santa porque pertence a esfera de Deus.
Bases históricas
Tendo surgido diversos questionamentos quanto à definição dogmática da Imaculada Conceição
devido à ausência de certos termos relacionados a este dogma nas Escrituras e até mesmo na tradição
patrística ocidental. Diante de todo este panorama de duvidas a Igreja apresenta alguns dados históricos
com bases na teologia.
Como resposta às questões feitas quanto a Imaculada Conceição de Maria devemos voltar a
atenção às únicas bases históricas das quais dispomos e também as bases teológicas que são oferecidas.
A única base bíblica é a imagem com a qual nos dispomos numa leitura atenta e global do Novo
Testamento a luz do Antigo Testamento. Dois fatores que nos ajudam nesta compreensão.
Maria é a mãe de Jesus, o santo, o grande, não só pelo fato de sua virgindade mas sim pela
presença do Espírito Santo e o poder de Deus que nela atua. A outra é que Maria não é mãe de forma
passiva, mas o seu sim é inquebrantável. Maria ao contrário de Eva creu e obedeceu e por isso é apresentada
pelos padres apostólicos como nova Eva, mãe de todos os viventes. Outros a identificam como a Igreja santa
e Imaculada.
Fundamentação teológica
Esta ressalta que o dogma que proclama a Imaculada Conceição de Maria em sua concepção,
não quer dizer que o momento no qual o ser humano é gerado seja pecaminoso, pois a geração é um ato
da criação divina.
O dogma, contudo, faz menção ao pecado original e a preservação de Maria dele. E como a Igreja
afirma o pecado original não é uma herança biológica, mas sim que Adão tendo recebido a santidade e
justiça original não só para ele, mas para toda a natureza humana e cedendo ao tentador Adão e Eva
cometem um pecado pessoal que afeta toda a natureza humana e assim o pecado é transmitido por
propagação a toda a humanidade.
Experimentamos o pecado original como influencia de múltiplas mediações negativas que
impede o homem de uma comunhão com o projeto de Deus.
Quanto a Maria não se quer dizer que isenta do pecado original na sua concepção ocorrera um
fenômeno biológico especial, pois o pecado original não é uma herança biológica. Nem tão pouco porque
Deus deixou de colocar nela o pecado, pois, este não é castigo de Deus. Isenta de toda mancha de pecado
quer dizer varias coisas entre elas: Maria recebeu uma liberdade liberada não passível e volúvel entre o
71
bem e o mal. Maria emergiu um novo tipo de mulher, recebeu a graça, energia de Deus. A graça
sobrenatural do seu Filho Jesus. Em seu Filho Jesus Maria tinha a fonte do seu ser. A nova mulher que
nasce de Adão. E a Igreja nascida do lado aberto de Cristo.
Maria situada na historia dos homens onde estava a dramática batalha do bem e do mal é
preservada das forças do mal e habilitada para vencer as forças e mediações negativas pela graça de Deus.
Segundo a definição dogmática Maria foi preservada “por singular graça e privilegio de Deus onipotente, em
atenção aos méritos de Jesus Cristo salvador do gênero humano”.
Assim a existência de Maria deve ser considerada como uma existência de comunhão total com
Cristo desde a origem até ao fim. Com a salvação Cristo converte-se no sacramento de Deus salvador,
também parta Maria Jesus Cristo é o libertador.
Simbolismo do dogma
A) Significado cristológico do dogma
Proclama antes de tudo que Cristo é o redentor. Maria foi o protótipo, a primícia da redenção.
A Igreja apresenta uma experiência integral da redenção-salvaçao e isto se realizou de forma
paradigmática em Maria por obra do Espírito Santo e de Jesus. Já que Maria viveu sua vocação-anunciaçao
em verdadeira comunhão com Jesus seu salvador. Foi, portanto esta comunhão com o Filho e a ação do
Espírito Santo que a preservou do pecado.
Esta profunda intimidade com o Filho foi como que um remédio contra todo pecado e uma semente da
graça que em Maria foi crescendo.
B) Significado eclesiológico do dogma
O dogma nos ensina como fomos salvos, não só libertos do pecado, mas, sobretudo preservados.
Maria não foi à única preservada, mas sim a primeira. É a obra mestra da redenção, mas não é a única.
A redenção de Jesus é universal e afeta a todo homem e isso é o que nos indica o dogma.
72
K. Rahner afirma: “O segundo Adão é muito mais poderoso sobre todo novo ser que nasce que o influxo
do primeiro Adão. Batalha entre a graça e o pecado, porém, onde a graça escatologicamente já é
vitoriosa”.”Isto vale não somente para os cristãos, mas para todos os homens de boa vontade” (GS 22).
Maria a primeira crente é por isso mesmo “Igreja nascente”. É a Ecclesia immaculata. “Maria é para a
Igreja um modelo permanente” (Redemptoris Mater 42).
Assim a Igreja reconhece em Maria a mais perfeita imagem, quando ela diz “sim” a palavra é vista como
um exemplo vivo de comunhão com Cristo redentor e com o Espírito Santo.
C) Significado pneumatologico: Maria a consagrada pelo Espírito Santo.
O dogma expressa ainda que desde o inicio mesmo de sua existência, Maria se viu agraciada pela
comunicação do Espírito Santo, sem mérito algum de sua parte e desde aí preservada do pecado original e de
qualquer pecado pessoal.
Teria o Espírito Santo a santificado desde o ventre materno desde o primeiro instante de sua concepção.
Assim a Igreja afirma que Maria não foi consagrada só no momento da sua anunciação-vocaçao como nos
relata Lucas, mas desde o instante de sua concepção. Isto conforme ensina a Igreja se deu de maneira
permanente até o fim de seus dias aqui na terra.
Capítulo XII
MARIA É NECESSÁRIA? SUA FUNÇÃO NA SALVAÇÃO.
Primeiro: Cristo Jesus é o mediador entre Deus e os homens por excelência, como causa principal.
Maria é mediadora por analogia, como causa secundária. Ela coopera com Cristo tanto no ato redentor como
na acolhida da ação redentora por parte de cada indivíduo.
Segundo: A mediação universal de Maria é a missão que ela tem de solicitar a Deus todo tipo de
graças (temporais e eternas) e distribui-las entre os homens. Divergem os mariológos em explicar se esta
missão de Maria é devida a um influxo moral que ela exerce sobre Deus ou a um influxo físico-instrumental,
enquanto que Deus se serve de Maria para conceder aos homens sua graça.
Terceiro: Maria intercede pelos homens para obter-lhes a graça de Deus; e mais, ela, enquanto
corredentora, atua na aplicação destas graças a cada um dos homens.
1. A MEDIAÇÃO RELIGIOSA.
Próprio da categoria de mediação é também, segundo as religiões, unir o que está separado, Deus e o
homem. Mediação é re-união. Mediador é aquele que, em nome e por encargo de Deus, efetua a
reconciliação. Sua função não consiste em salvar a Deus da irreconciliaçao, do distanciamento do
homem, por que Deus mesmo tem a iniciativa da ação mediadora: Deus é o sujeito e não o objeto da
mediação; ele não necessita reconciliar-se com o homem; ele é que pede ao homem que se reconcilie
com ele. Mediador é como o sacramento de Deus, que quer reconciliar o homem consigo.
5- ECCLESIA MEDIATRIX.
A- A Igreja, sacramento do único Mediador e da única mediação.
75
A mediação da Igreja é sacramento da mediação única de Jesus. É a mediação da Esposa que forma
um só corpo com a Esposa. A Igreja é autenticamente a Igreja de Jesus Cristo quando toda ela é reflexo
da única mediação, quando toda sua luz é só o reflexo da luz das Gentes que é Cristo.
Por instituição de Jesus, o mediador, os elementos constitutivos da Igreja se convertem em
mediações. Entre as diversas mediações eclesiais, os sacramentos ocupam um lugar eminente, pois neles
está comprometido todo o ser da Igreja e manifestam com a máxima transparência o único Mediador.
A Igreja é o sacramento do Único Mediador e a única Mediação espiritual.
Esta mediação espiritual se faz particularmente efetiva na “communio sanctorum”, que tem seu
âmbito privilegiado na Igreja triunfante ou glorificada.
B- A mediação da Igreja triunfante.
O ponto de partida é a afirmação da função permanente do Senhor Ressuscitado como mediador:
Cristo levantado ao alto da terra, atrai a si os homens; está sentado a direita do Pai e “sem cessar atua no
mundo para conduzir os homens a sua Igreja e por ela uni-los a si mais estreitamente e, alimenta-los com
o seu próprio Corpo e Sangue, faze-los participes de sua vida gloriosa”. (LG 48).
Os que são assumidos na gloria do Senhor, exercem sobre nós um influxo benéfico através de sua
permanente intercessão a Deus. “Os que chegaram já à pátria e gozam da presença do Senhor, por Ele,
com Ele, e nEle não cessam de interceder por nós diante do Pai”. (LG 49).
Os santos, as santas, são para nós, os crentes, símbolos mediante os quais Deus se manifesta e se faz
presente entre nós. São os ícones vivos de Deus. Através deles Deus Pai nos fala, nos manifesta seu
reino, nos atrai para ele, nos une e identifica com Jesus Cristo.
CAPITULO XIII
A MULHER NA PLENITUDE DOS TEMPOS
Cf. Gl 4,5. “Nascido de uma mulher” põe em relevo o abaixamento, a knosis do filho de Deus que em tudo
faz semelhante a nós.
I-A mulher da carta aos Gálatas
Paulo aborda o tema da liberdade cristã a respeito a qualquer tipo de opressão e de escravidão.
1- A experiência de Paulo
Ele se define paradoxalmente como “servo de Jesus Cristo”. E apostolo para anunciar o evangelho de Cristo
e proclamar que se entregou para livrar-nos deste mundo perverso.
2- Falar de Maria como “rosto materno de Deus” ou “rosto feminino de Deus” pode levar a convertê-la em
uma deusa.
79
3- Maria é em outras ocasiões, excessivamente identificada com a trindade.
Deus do contrario é ato puro, essencialmente ativo. Em Maria emergia um novo principio da
redenção, de satisfação que não era plenamente identificável com o principio cristológico. O avanço da
cristologia e da pneumatologia serviu para situar a mariologia em seu autentico âmbito teológico.
4- Maria nos projeta fora dela mesma, à transcendência de Deus, ao mistério insondável. A autêntica
mariologia é aquela que tem como finalidade “ad maiorem Dei gloriam”.