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ÍNDICE

1. Introdução

2. AULA I: Definições

3. AULA II: O conceito bíblico de ministério

4. AULA III: O pastor e sua vida individual

5. AULA IV: O pastor e sua família

6. AULA V: O pastor e seus ofícios

7. AULA VI: O pastor e a igreja

8. AULA VII: O pastor e as crises da liderança contemporânea

9. AULA VIII: A integridade financeira do pastor

10. AULA IX: Tentações que assolam o pastor

11. AULA X: A sexualidade do pastor

12. AULA XI: O pastor e a autoridade espiritual

13. AULA XII: A felicidade pastoral


Introdução
Essa matéria convida-nos a um nível profundo de entendimento da vida cristã, e serve
tanto para pastores quanto para aspirantes a pastores.
Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me
deu forças e me considerou fiel, designando-me
para o ministério,
1 Timóteo 1:12

A teologia pastoral indica uma reflexão criticamente fundamentada sobre o


acontecimento pastoral. Indica também reflexão sobre as atitudes do pastor em geral,
a respeito de sua própria vocação e a ajuda prestada no desenvolvimento das
aptitudes pessoas do pastor.

A história dos hebreus é pontuada pela criação de rebanhos de ovelhas. Quando


Deus é chamado de pastor na Bíblia, faz menção do cotidiano dos pastores que
cuidavam, guiavam e protegiam esses rebanhos. O Salmo 23 retrata a excelência do
pastorado divino de Israel:
O pastor é autoridade, solicitude, carinho, vigor e
ternura…

Ser pastor em Israel é ser fiel à vocação do povo. Os dirigentes da nação de Israel
eram chamados de pastores. Jeremias, por exemplo, critica os maus pastores de
Israel, culminando com o discurso através do qual foi fustigando sucessivamente a
família real de Judá (Jr 21:11, 23:2).

No Novo Testamento, Jesus Cristo é o Bom Pastor. Toda sua vida é a atividade
pastoral. Ele é o modelo excelente e perfeito. Para nós, não basta apenas ter fé em
Jesus; é preciso ter a fé de Jesus.

Ronaldo Sathler-Rosa citando Dietrich Bonhoeffer afirma que o objetivo central de


toda ação pastoral é que Cristo seja formado, ou seja, que Cristo permeie toda a vida
das pessoas em seus múltiplos relacionamentos: com Deus, com o próximo, com a
natureza e com elas mesmas. É o que Jesus quis dizer em Jo 10:10:
O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a
destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham
com abundância.
João 10:10

A ação pastoral só se legitima quando forma Cristo em nós. Se Cristo for formado em
mim como pastor, compreenderei que o ungido é Cristo, e só posso ser ungido
enquanto permanecer nele, para que pelo fluxo de sua Graça ele aja em mim, através
de mim e apesar de mim.
Não há como entendermos o ministério pastoral na Bíblia sem refletir a atuação de
Deus em Israel e de Cristo no mundo. Deus presente na história cuidando de seu
rebanho.
AULA I: Definições
E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os
quais vos apascentarão com ciência e com
inteligência.
Jeremias 3:15

A teologia pastoral é a arte de aplicar os conhecimentos teológicos na vida prática


ministerial, promovendo a edificação pessoal da igreja que pastoreamos, bem como
a cura das almas. A teologia pastoral é o ramo da Teologia Cristã que investiga, de
forma sistemática, o ofício, os serviços, os dons e as tarefas do ministério.

Um termo bastante usado na teologia pastoral é Poimênica. O termo “poimênica” vem


do grego “poimen”, que significa “pastor”. É possível refletir sobre a teologia pastoral
em pelo menos três perspectivas:

1. A perspectiva teórica: na teologia pastoral, articula-se um construto teórico do


ministério proveniente das escrituras, da história e da teologia sistemática: é a
dimensão do pensar;

2. A perspectiva prática: a teologia pastoral objetiva não apenas elaborar uma


definição do trabalho e tarefas pastorais, mas provê auxílio prático para sua
implementação: é a dimensão do fazer;

3. A perspectiva comunitária: teologia pastoral providencia informação bíblica e


suporte teológico para fomentar a prática do ministério na igreja: é a dimensão
do fazer juntos;

Sobre a Liderança Espiritual

Liderança e serviço estão intimamente ligadas na proposta bíblica espiritual. Aqueles


a qual Deus chama para o ministério pastoral exercem obviamente uma liderança
espiritual, que é algo que de alguma maneira relaciona-se com a vida e a missão dos
crentes.

A ação dessa liderança muitas vezes não está clara no meio evangélico, sendo na
maioria das vezes relacionada a uma administração, organização ou preocupações
institucionais, e não com a Palavra.

Liderança terrena tem a ver com chefia, comando, representação de grupos de


pessoas, exercício de influência sobre os outros. Liderança espiritual tem a ver com
conduzir, guiar, orientar e influenciar, tudo com base na Palavra de Deus;

Conceito bíblico

A teologia pastoral entende o pastorear como a essência do cuidado: orientar, guiar,


proteger, alimentar, estabelecer relação de confiança. A teologia pastoral nos auxilia
na limpeza da percepção
Vivemos numa era de múltiplos anseios e estímulos, um tempo de confusão, correria
e cansaço: estamos no século de excessos. Numa era como essa fica difícil
estabelecer um foco.

Jesus teve dois auditórios em seu ministério: as multidões e os indivíduos. Os


verdadeiros pastores precisam praticar exercícios espirituais que possibilitem a
limpeza das percepções: oração, jejum, meditação nas escrituras, conversas com
mentores, leitura de bons livros...

John Barnett disse que “o grande perigo no ministério é torná-lo profissional”. É


quando confundimos o serviço do Reino com os trabalhos de nossa ambição. Ser
pastor é mais que ter um emprego: é viver a experiência privilegiada de ter um
chamado, uma vocação dada por Deus.

O Apóstolo Pedro disse algo decisivo em sua primeira epístola:


Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus
cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas
de livre vontade, como Deus quer. Não façam
isso por ganância, mas com o desejo de servir.
Não ajam como dominadores dos que lhes foram
confiados, mas como exemplos para o rebanho.
1 Pedro 5:2,3

Na versão “A Mensagem”, de Eugene Peterson, o texto apresenta-se da seguinte


maneira:

“Esta é minha preocupação: que vocês cuidem do rebanho de Deus com todo o
cuidado de um pastor, não porque são obrigados, mas porque desejam agradar a
Deus. Não calculando o que vão ganhar com isso, mas agindo com espontaneidade.
Não como mandões, dizendo aos outros o que fazer, mas apontando o caminho com
toda gentileza”.

Provérbios 27:23 reforça o conselho: Esforce-se para saber bem como suas ovelhas
estão, dê cuidadosa atenção aos seus rebanhos. A teologia pastoral é uma área
aberta às conexões. Ela possui relações com diversos outros campos do
conhecimento (como psicologia pastoral, eclesiologia, administração eclesiástica,
homilética, evangelismo, missões).

Existe, infelizmente, muita confusão entre terminologias: muitos confundem teologia


pastoral com teologia prática, sendo comum encontrarmos misturas das duas
vertentes. Contudo, a teologia pastoral engloba os conceitos e suas múltiplas
aplicações. Já a teologia prática cuida da administração desses conceitos enquanto
os pratica.

João Batista Libanio afirmou o seguinte na apresentação de seu livro “Teologia


Prática no contexto da América Latina”: Estas duas palavras estão propositalmente
colocadas juntas dentro do mesmo quadro semântico, para reforçar um dos
elementos importantes e ricos da Reforma, a maior integração entre o pastoreio (dos
ministros) e a pastoral (de todo o povo de Deus).

A Teologia Prática foi, e continua sendo, chamada Teologia Pastoral [no sentido de
“teologia do pastor”]. Porém, a ação pastoral não só se refere ao trabalho do pastor.
A ação pastoral é crescentemente compreendida como a ação da comunidade da
Igreja, ou os atos dos crentes.

O próprio ato e conceito de pastorear foi transformado a partir da Reforma Protestante


no século XVI. Sua nova forma de ver e fazer teologia proporcionou uma revolução
no próprio conceito. Um dos pilares da Reforma é o sacerdócio de cada crente, o que
proporcionou uma revolução no modo de encarar o ministério pastoral que antes era
restrito a alguns dos privilegiados do clero.

Nos séculos XVIII e XIX é que se desenvolveu com mais base a teologia pastoral ou
a chamada teologia aplicada. Em meados do século XVIII o conceito de teologia
ganhou mais espaço na literatura teológica, inclusive na Alemanha. Foi considerada
a coroa dos estudos teológicos, e tinha como tarefa definir o modo de manter e
aperfeiçoar a igreja.

Teologia pastoral é uma disciplina que não acaba, e vive em constante estado de
mutação. Nos últimos anos, os pastores estão diante de novas questões e padrões
que precisam ser avaliados à luz da Bíblia. A teologia pastoral ainda carrega inúmeros
desafios e possibilidades.
AULA II: O conceito bíblico de ministério
O conceito bíblico de ministério
Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus
cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas
de livre vontade, como Deus quer. Não façam
isso por ganância, mas com o desejo de servir.
Não ajam como dominadores dos que lhes foram
confiados, mas como exemplos para o rebanho.
Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês
receberão a imperecível coroa da glória.
1 Pedro 5:2-4

Ministério é serviço. A palavra “ministro” vem do termo latino “minister”, que por sua
vez, deriva de “minus”, ou seja, “menos”. O “minister” era o servo, o homem do
serviço. Na antiguidade, havia o “minister cubiculi”, que era o servo encarregado de
arrumar os quartos da casa; havia também o “minister vini”, que era o servo
encarregado de manter as taças cheias de vinho nos banquetes. O ministro é
chamado para servir.

Em João 13, Jesus dá o grande exemplo: deixa a mesa principal e parte para o
serviço. Esse ato nos dá a dimensão maior do ministério: somos chamados para
servir. O apóstolo Paulo mostra no texto de I Tm.6.11, uma lista de qualidades que o
ministro deve ter: justiça, piedade, fé, amor, paciência, mansidão. Todas são
qualificações para a prestação de um serviço digno.

Ministério não é vitrine para um desfile de uma personalidade doentia, marcada pela
vaidade; não é para os viciados em bajulação. Ministério é para trabalhadores da
seara, servos. Um pastor muito sábio dizia: “O símbolo do ministério é o avental sujo”.

Vejamos algumas dimensões do ministério verdadeiro:

1. Caráter: o fundamento do ministério (Fp.2.14-16)

2. Serviço: a natureza do ministério (II Tm.2.3, 4)

3. Amor: o motivo do ministério (Rm.12.9-11)

4. Sacrifício: a medida do ministério (Sl.40.5-9)

5. Submissão: a autoridade do ministério (Fp.2.5-8)

6. Glória de Deus: o propósito do ministério (I Co.10.30-32)

7. Palavra e oração: as ferramentas do ministério (Hb.4.11-13)

8. Crescimento da obra: O privilégio do ministério (Mt.13.31, 32)

9. Espírito Santo: o poder do ministério (Ef.5.18-20)

10. Cristo: o modelo do ministério (Hb.7.22-27)


É digno de nota e importante lembrar que os dois maiores vultos do Antigo
Testamento eram pastores: Moisés e Davi. Quando observamos o seu pastorado,
percebemos Moisés como um dinâmico líder junto ao povo atravessando os piores
desafios. Davi trabalhou com estratégias militares tremendas, conquistando
Jerusalém. Por um lado, Moisés tinha dicção complicada. Por outro, Davi cantava
salmos profundos. Ambos foram vultos extraordinários, aos quais Deus se revela no
contexto pastoral.

Toda a cultura do Antigo Testamento era pastoral, e o povo de Israel em sua relação
com Deus vivia à luz dessas imagens e metáforas. Aliás, o Salmo 23 é todo baseado
nessa metáfora pastoral, evocando imagens tremendas de descanso, vida e ética
pastoral.

No Novo Testamento o conceito toma vida e forma: Cristo, o Bom Pastor (Jo 10, Mt
18:12; 25:32,33; 26:31). A figura do pastor é geral em todo o Novo Testamento. Se
no Antigo o conceito já aparece até dentro de uma lógica cultural forte, no Novo esse
conceito se expande:

A Igreja é representada pela figura do rebanho (Jo 10:16). E o título específico de


Jesus como líder da igreja é Pastor (Jo 10:14; 21:15-17). O Supremo Pastor (I Pe
5:4). A Bíblia inteira é permeada pelas imagens e características dessa relação
pastor/ovelhas.
AULA III: O pastor e sua vida individual
Não damos motivo de escândalo a ninguém, em
circunstância alguma, para que o nosso
ministério não caia em descrédito.
2 Coríntios 6:3

O pastor precisa viver bem, sua saúde completa em todas as áreas de sua vida
precisa de atenção e cuidados constantes. Idios, no grego, significa aquilo que é
próprio. O pastor como indivíduo precisa preservar sua saúde integral: somos templo
do Espírito Santo (I Co 6:19)

Numa época de descuidos generalizados, o cuidado com a saúde integral é uma


prioridade, pois o não cuidado é negligência e, portanto, pecado. O ministro precisa
estar atento com sua saúde integral: corpo, alma e espírito. Só podemos dar aquilo
que temos. Como cuidar dos outros se não cuidamos nem de nós mesmos?

● Saúde física: exercícios, boa alimentação, agenda (Sl 90:12).

● Saúde emocional: o prazer de estar entre amigos, a dádiva do sorriso, a arte


do desabafo (mentores), o cuidado em não se tornar um reservatório de
amarguras, o equilíbrio psíquico.

● Saúde espiritual: oração, leitura da Palavra e de boa literatura, tempos de


silêncio, jejum, meditação.

O exercício ministerial pode se transformar numa tragédia sempre que as pausas


forem negligenciadas. Nosso ministério não precisa ser um fardo, precisa ser um
privilégio. Precisamos manter nosso ministério baseado na palavra, sem jamais
perder de vista Cristo como nosso supremo modelo.

Há pastores que cometem um erro grave: julgam que devem morrer pela obra. Esses
esquecem de que Jesus já morreu pela igreja. Aos pastores, o mandamento não é
que morram, mas que saibam viver.

C.S. Lewis disse algo decisivo: “Certamente você realizará o propósito de Deus, não
importa como esteja agindo, mas faz diferença se você serve como Judas ou como
João”.

● Qual tem sido sua motivação no servir?

● Você ainda sente aquilo que faz?

● Ainda é gente, ou sucumbiu ao funcionalismo pragmático das máquinas?

● Você se realiza no que faz para Deus?

O que Deus procura é um homem ou uma mulher que sejam inteiros. Deus trabalha
com os autênticos, os fiéis, os obedientes. Deusa trabalha com nossa integridade. O
pastor deve trabalhar com todo amor, cuidado e honra, pois está a serviço do Rei dos
reis e Senhor dos senhores (Ap 19:16). É bom lembrar que nosso serviço não será
em vão no Senhor (1 Co 15:58).

Há pelo menos 4 compromissos que o pastor não pode esquecer jamais em sua vida
espiritual:

1. Compromisso com a Bíblia: Paulo disse a Timóteo que o ensino das Escrituras
deveria ser transmitido a outros. É o fluxo da Graça. Nosso grande desafio é
não deixar o fluxo da Graça parar. Um ministro que não tem compromisso com
a Bíblia terá fatalmente sua atenção direcionada às outras fontes. Sem Bíblia,
condenamos o povo às heresias.

Se a Bíblia não for o objetivo de nosso melhor estudo, estaremos decretando


a falência de nosso ministério. Sem ela, ministraremos sermões mortos a
ouvintes sem vida. Amemos a Bíblia, levemos a sério a metáfora de Ezequiel
3: coma este livro. Quando se começa a comer, faz parte de você, adentrando
a profundidade do ser.

2. O compromisso com a oração: Paulo mandou Timóteo refletir, pensar e


meditar. A oração nasce nesse tempo, nessas benditas pausas. Esse tempo
para refletir e orar nos liberta das garras da superficialidade, do correr atrás do
vento (Ec 2:17). A oração é a linguagem de Deus e o idioma do Espírito.

A tragédia da igreja contemporânea está no elevado número de ministros que


não oram, vivendo apenas de uma mudez espiritual crônica. Um cristão do
passado dizia que “tentar fazer alguma coisa para Deus sem oração é tão inútil
quanto tentar lançar um satélite com um estilingue”.

3. O compromisso com as verdades da fé: doutrinas da fé, verdades que não


podem ser negociadas, e não carecem de inovação, mas renovação. Em 2 Tm
2:5, Paulo usa a figura do atleta, dando ênfase ao comportamento. O caráter
do competidor dá a ele a legitimidade ao prêmio.

A figura do atleta é bastante sugestiva: precisa conhecer as regras e competir


de acordo com elas. Muitos ministros nem sequer conhecem as doutrinas da
fé: depravação da Queda, justificação, regeneração, sacrifício vicário de Cristo.
Se não conhecemos as verdades de nossa fé, como conhecê-las ou ensiná-
las?

Dedique-se a conhecer as verdades da fé e a praticá-las. Quando isso não


acontece, a igreja fica refém das novidades do mercado religioso, e vira uma
presa fácil dos vendilhões do templo.

4. O compromisso com a teologia da cruz: se você procura facilidades, férias e


pescarias alistou-se no exército errado!

● O exercício ministerial diante de Deus: O soldado e seu Comandante;


● O exercício ministerial diante de Deus: O atleta e o público;

● O exercício ministerial diante de Deus: O agricultor e a solidão da


lavoura;

Em 2Tm 2:6, Paulo apresenta a figura do agricultor, e afirma que trabalha com
esperança, pois planta no solo duro da vida as sementes que quer ver brotar.

O agricultor sugere a imagem do trabalho pesado, mãos calejadas, avental


sujo, camisa encharcada de suor, dia cansativo e cheio de dificuldades. Na
Bíblia, o preguiçoso é o oposto do agricultor (Pv 24:30-34).
“Ao contrário do soldado e do atleta, a vida do
agricultor é totalmente desprovida de emoção,
distante de toda fascinação decorrente do perigo
e do aplauso. Sua recompensa não é a
adrenalina do perigo nem a recompensa dos
aplausos, é a bendita colheita.”

Nosso ministério será desempenhado sempre nessas três esferas:

Diante de Deus: como soldados que devem estar aptos a desempenhar suas
funções com excelência e coragem, porque Deus não tolera soldados apáticos,
medrosos, cínicos e dissimulados. Ele procura soldados corajosos,
determinados e que não se embaraçam nos negócios dessa vida.

Diante do povo: como atletas que competem de acordo com as regras da


palavra. Com caráter suficiente para não vendermos nossa chamada
individual.

Diante do espelho: como agricultores que trabalham e confiam na semente que


germinará e ousará nascer no silêncio do solo. A vida espiritual do ministro,
sua piedade e devoção, precisam ser cultivadas e regadas com as lágrimas do
quebrantamento. Os ministros de Deus precisam andar com Deus
AULA IV: O pastor e sua família
Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e
principalmente dos da sua família, negou a fé, e
é pior do que o infiel.
1 Timóteo 5:8

Um pastor que não cuide de sua família está negando a própria fé. A família está no
coração de Deus. Os pastores investem grande parte de seus ministérios cuidando
de famílias, pois a igreja nada mais é que um amontoado de famílias. Há alguns
conceitos errados que o pastor recebe rem relação à família:

1. “Cuide da minha igreja e Eu cuidarei da sua família”: esse falso conceito acaba
por transferir uma responsabilidade intransferível. É óbvio que Deus cuida de
nossa família, mas o faz em parceria conosco. Deus não endossa o abandono
familiar.

2. “Pastor não precisa de folga ou descanso”: esse falso conceito gera enorme
dificuldade em ficar em casa, atender a família me desenvolver uma vida de
qualidade.

3. “Pastor não precisa estudar; o Espírito Santo dá”: Esse é um conceito


equivocado e, sinceramente, até tolo. Esse falso conceito cria um tipo terrível
de pastor: o pastor preguiçoso, que não estuda e acredita que é uma espécie
especial de pregador.

4. “Sempre estarei em dívida com a obra”: Este falso contexto é um potente


gerador de culpa. Sempre achamos que estamos devendo para a igreja. Não
estamos em dívida, pois pela Graça de Deus estamos de pé.

Quais são as dez principais causas das crises no relacionamento familiar?

1. Raiva e ressentimentos

2. Fracasso na comunicação

3. Falta de confiança no companheiro ou em si mesmo

4. Insegurança quanto à aparência física

5. Negligenciar ou superestimar o valor do sexo

6. Falta de sensibilidade

7. Ausência de contato físico não sexual

8. Excesso de mídia: televisão, computador, celular…

9. Criticismo exacerbado - A síndrome de Mical (I Sm 18:20,27 II Sm 6:20-23)

10. Colocar a igreja antes da família


O pastor deve buscar a maturidade do amor:
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é
invejoso; o amor não trata com leviandade, não
se ensoberbece. Não se porta com indecência,
não busca os seus interesses, não se irrita, não
suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga
com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta.
1 Coríntios 13:4-7

Esposas de pastores e as crises que enfrentam

1. A crise da perfeição - a esposa do pastor é uma escrava da perfeição. É


condenada ao êxito, obrigada a ter sucesso sempre em tudo aquilo que faz.
Sempre cobram dela que seja igual ou melhor que o pastor, sem que ninguém
às vezes chegue perto para oferecer ajuda. O pior é que ela nunca pode chegar
a essa perfeição.

2. A crise do resultado - a obsessão de funcionar: pro imaginário popular é


inadmissível uma esposa de pastor que não tenha nenhuma ocupação. Por
causa disso, muitas caem na tentação do ativismo, correndo o risco de cair na
maldição da desumanização, sendo cobrada como máquina, ativa, ligada,
festiva e altiva. O sucesso do pastor passa a ser obrigação dela, e também o
fracasso. Nessa teologia da chantagem muitas mulheres da igreja jogam seus
fardos nas costas largas de suas líderes. Cuidado com a clonagem ministerial.

3. A crise do retorno - escravas da aprovação: muitas são as esposas frustradas


por não se sentirem aceitas pela igreja, outras pessoas, pelo esposo ou por si
mesmas. No afã por aprovação, muitas sacrificam a identidade sufocando a
alma. Não são poucas as esposas de pastor com depressão à beira de um
colapso nervoso por causa da tentativa de viver o que não se é. Cuidado para
não se perder dentro de si mesma buscando aprovação dos outros o tempo
todo.

4. A crise da solidão - o medo da confiança: a esposa vive no chão da suspeita.


Não pode abrir a porta para todo mundo, nem fechar. É obrigada a sorrir
sempre porque cada sorriso é sempre interpretado por alguém. Ser esposa de
pastor é como viver de perto com os monstros da alma. A esposa do pastor
costuma ser conhecida das multidões mas desprezada pelos indivíduos, nunca
sabendo se uma aproximação é por amizade ou interesse. Isso sem falar na
incerteza quanto ao futuro. Muitas são sumariamente esquecidas quando seus
maridos morrer.

Cabe ao pastor proteger e cobrir de amor e carinho sua esposa, não permitindo que
fique depressiva, frustrada e destruída. Se você como pastor não sabe cuidar de sua
esposa, como vai conseguir cuidar da Noiva de Cristo?
A família do pastor não é perfeita: esposa e filhos sofrem para manter padrões que
ninguém consegue! O pastor precisa manter sua família unida e comprometida. Isso
só é possível quando todos estão na mesma direção e movidos pelos mesmos
sonhos.
AULA V: O pastor e seus ofícios
Portanto, quer comais quer bebais, ou façais
outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de
Deus.
1 Coríntios 10:31

Paulo trabalha com a ideia de ofício. A prática ministerial é testada todos os dias. O
ministro sempre é convidado para diversos eventos (datas comemorativas, visitas a
hospitais, lares e prisões, eventos cívicos, festas, formaturas), e todos os eventos
servem como instrumentos de avaliação da conduta de excelência do ministro.

É muito importante que o ministro saiba se conduzir, vestir e apresentar. É bom


lembrar que, como ministros de Cristo, nossa responsabilidade é ainda maior: somos
embaixadores do Reino, portanto não podemos causar escândalos ou
inconveniências.

Datas especiais: a maneira digna de viver (Ef 4:1) - No exercício do ministério é


comum a presença do ministro em datas especiais. Por isso é tão importante saber
como se comportar nesses eventos. Dias especiais, tanto festivos quanto tristes, são
ocasiões onde a performance do ministro dará grande testemunho de seu caráter e
seriedade. Uma atuação desastrada pode abalar profundamente nossa imagem e
causar sérios danos a nosso desempenho ministerial.

Casamento: contribuindo para a felicidade dos outros (Jo 2) - Antes de qualquer coisa,
é preciso lembrar que um casamento é uma data especial. Alguns ministros sofrem a
síndrome de pop estar, tentando ser mais importantes que o noivo. Chama atenção
desnecessariamente e vestem-se com trajes inapropriados.

O casamento é uma instituição civil e religiosa, portanto é sujeito a regulamentos


legais. O ministro deve estar familiarizado com as leis do país e formalidades legais
que a ocasião determina. A cerimônia poderá ser realizada no templo ou outro local
desde que feita perante as testemunhas.

Na cerimônia:

● Os ministros e contratantes devem ensaiar a ordem e o procedimento da


cerimônia.
● Procure não estender muito a palavra, pois trata-se de um casamento, não
uma cruzada.
● Evite brincadeiras de duplo sentido ou expressões jocosas.
● Não se atrase: a pontualidade testemunha em favor do ministro.
● Seja elegante, cumprimentando os parentes e convidados.
● Muita atenção e cuidado no manuseio das alianças.
● Não entre em questões doutrinárias.
● Se houver outro ministro presente, respeite-o.
Na Festa:
● Lembre-se, é uma confraternização, não um restaurante.
● Pessoas estão lhe observando, portanto coma com educação.
● Seja discreto, os noivos devem ser o centro das atenções, não você.
● Não saia correndo a menos que haja um outro compromisso, e mesmo assim
avise.
● Não exagere nas brincadeiras.

No funeral: solidariedade e respeito pela dor dos outros (Ec 7:2). Poucas cerimônias
são tão intensas quanto o funeral, principalmente para o cristão. É uma cerimônia que
deve ser realizada com muito cuidado. Alguns ministros precisam aprender a respeitar
a dor das pessoas enlutadas. Muitos ministros querem, em nome da certeza da
salvação, transformar essa cerimônia num congresso. Além de cruel, isso é
desumano, pois os que ali estão acabaram de perder um ente querido, estando
fragilizados, vulneráveis e por mais que tenham certeza do céu, ainda estão na terra.

● Assim que o ministro recebe a notícia do falecimento, deve imediatamente


dirigir-se à casa da família para oferecer ajuda e consolo, sempre tomando
cuidado para não ser inconveniente.
● Em absoluta solidariedade, o ministro deve inteirar-se dos preparativos pro
funeral e, dentro das possibilidades, dar uma sugestão.
● O ministro pode, dependendo do grau de intimidade, auxiliar a família nos
preparativos, impedindo gastos excessivos;
● O ministro deve permanecer o máximo de tempo possível com a família,
percebendo quando é conveniente que se afaste.

Durante a cerimônia:

● É recomendável usar roupa em tons mais escuros.


● Sua expressão facial deve ser sóbria.
● O sermão deve ser simples e de fácil compreeensão: consolar os enlutados e
apregoar a mensagem da esperança.
● Não dê início a cerimônia sem autorização expressa da família.
● Evite gestos largos, sorrisos impróprios e brincadeiras.
● Cuidado com o que vai cantar: não é uma celebração, mas uma despedida.
● Enfatize a ação do Consolador.
● O gesto de chorar e sentir a perda é muito mais forte que verbalismos frios e
indiferentes.

Formatura: o ministério que apoia o conhecimento (Pv 4:6) - Cada vez mais pessoas
estudam e se formam, nossa igrejas estão repletas de graduados, doutores e pós
doutores. Uma igreja genuína não tem medo do conhecimento, mas o incentiva e nele
investe. O ministro convidado para uma formatura deve sentir-se honrado, portando-
se com dignidade, honra e responsabilidade.

● Respeite o horário.
● Se for falar, não tente impressionar com seus conhecimentos.
● Fale apenas do valor do estudo, a realização dos pais e da contribuição cultural
e acadêmica do momento.
● Quando estiver em frente aos mestres, não tente ensiná-los.
● Pesquise sobre a área do formando para não cometer gafes.
● Respeite a hierarquia da universidade.
● Cuidado com o vestuário.
● Reconheça a conquista do formando.

Celebração ao ar livre: sendo igreja fora do templo (Mt 6:5) - Uma das maiores
oportunidades para a propagação do evangelho está nas cerimônias ao ar livre.
Quando fora das paredes do tempo, podemos mostrar nossa fé no cotidiano

Obviamente essas celebrações carecem de diretrizes e rotas para evitar situações


constrangedoras e a vergonha do evangelho. Muitos ministros ficaram marcados por
atuações desastrosas na rua. Quando nos portamos dignamente, temos autoridade
para pregar e convidar os homens a Cristo. Na rua o ministro mostra quem é, sempre
bom observar atentamente o lugar escolhido, seguindo os trâmites legais e
obedecendo as normas e horários. Quando agimos corretamente nossa conduta fala
mais que nossa voz.

● Deixe bem claro qual é o objetivo da celebração.


● Cuidado com crianças e adolescentes.
● Seja específico.
● Cuidado com a limpeza.
● Não exagere no volume do som.
● O principal motivo de uma celebração fora do templo deve ser a salvação de
almas.
● É de suma importância que, quando as pessoas se converterem na praça,
ginásio, quadra ou estádio, sejam encaminhadas a pessoas experientes que
as ajudarão nos processos de aprendizagem da fé: o discipulado.

A pregação fora dos templos:

● Não fale de política


● Não fale de doutrina
● Pregue sobre Jesus
● Pregue sobre o amor de Deus
● Pregue sobre a esperança em Cristo
● Pregue sobre aquilo que você vive!

Visitas a hospitais: o ministério que abraça os feridos (Mt 25:36) - Hospitais são
escolas de humanidade. A tragédia de muitos ministros é não ter a atenção com os
enfermos. Para Jesus, solidariedade e justiça social são as marcas do que andam
com Deus. Jesus coloca as bases da justiça social como as bases do reino de Deus.
Hoje há diversos cursos de capelania para auxiliar o ministro nessas ocasiões. Deve-
se observar algumas diretrizes básicas:

● É um hospital, portanto fale baixo, desligue o celular e respeite os pacientes.


● Numa visita a um hospital, não prometa o que você não pode mcumprir.
● Se marcar um horário, cumpra.
● Se for cantar, faça-o num tom baixo, ambiente e agradável.
● Cuide da higiene.
● Cuidado com as companhias.

Visitas ao lar:

● Sempre faça visitas acompanhado, de preferência com seu cônjuge.


● Evite visitas em horários impróprios.
● Evite ir ao quarto do casal ou filhos.
● Seja rápido, bíblico e específico.

Visita ao presídio:

● Evite gírias: fale com sua linguagem própria.


● Respeite as normas e o horário de cada prisão.
● Cuidado para não se tornar um menino de recados do crime.
● Pregue a palavra.
● Não tenha medo: mostre o amor soberano de Deus (I Jo 4:18).

Datas cívicas (Mt 22:15-22) - apesar de sermos cidadão dos céu, ainda estamos na
terra.

● O evangelho promove a redenção cultural.


● O povo cristão não pode cair em irrelevância cultural.

Como se comportar em cerimônias cívicas?

● Conheça a cerimônia.
● Cuidado com o cerimonial da entrada das bandeiras.
● Convide as autoridades municipais e militares, apresente-as com o devido
respeito e seguindo a ordem hierárquica das patentes.
● Não faça piadinhas: civismo não combina com gafes humorísticas.
● Postura: não viole o hino nacional.
● Não confunda data cívica com ano eleitoral.

Convite para dar entrevista na rádio ou na televisão: É preciso um exercício constante


de humildade para que numa situação dessa o ministro possa honrar a Cristo em vez
de inflar o ego

● Cuidado com o vocabulário


● Preste atenção a suas roupas
● Tenha conteúdo
● Observe o tempo

Que o seu ministério seja vivido para a Glória de Deus!


AULA VI: O pastor e a igreja
Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus,
que, embora sendo Deus, não considerou que o
ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se;
mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo,
tornando-se semelhante aos homens. E, sendo
encontrado em forma humana, humilhou-se a si
mesmo e foi obediente até à morte, e morte de
cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição
e lhe deu o nome que está acima de todo nome,
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho,
no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua
confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a
glória de Deus Pai.
Filipenses 2:5-11

Esse texto é tão tremendo exatamente por ser escrito no contexto de uma igreja.
Filipos era uma espécie de colônia romana da época que se orgulhava de ser
intitulada uma “mini Roma”. Portavam-se como romanos, vestiam-se como eles,
tinham uma diferenciação de classe como eles.

Essa igreja era muito querida por Paulo, e teve seu início na casa e Lídia, vendedora
de púrpura, e que incluía o famoso carcereiro que converteu-se juntamente com sua
casa. Aqui também havia a jovem escrava possessa. Era uma igreja de classes
sociais bastante diferentes, e Paulo ensina-nos que “reconheçam os outros acima de
si mesmos” e que “nossa cidadania está no céu”.

Ao longo da história da igreja, ela tem sido muito agredida pelos inimigos de fora e de
dentro. John Stott, um dos maiores mestres da história da igreja, disse em uma de
suas entrevistas que a igreja da atualidade tem 5.000km de extensão, mas 5cm de
profundidade. É a era da infoxicação.

Mais que um mero conceito, a igreja é o corpo de Cristo. Uma agência de


transformação da história e um ambiente de esperanças. O pastor precisa entender
que ele também é igreja: serve aos irmãos mas permanece igreja.

1. Cristo acima de tudo: a igreja é de Jesus! Se entendermos isso, muito muda


na relação do pastor com a igreja. O problema da igreja não é com seu dono,
mas com seus gerentes. Entender que Cristo é o cabeça livra o pastor de ser
o deus da igreja e o criador daquela obra. Ele é um servo inserido no processo.

Em Lc 4:7 o inimigo faz uma sugestão diabólica para Jesus. Essa é a


mentalidade diabólica dos que buscam aquilo que só pertence a Deus. É nesse
sentido que Dietrich Bonhoeffer afirma que “o Diabo tenta o Cristo que habita
em mim”. A quebra desse padrão satânico só se encontra na consciência da
comunidade que adora, através do projeto profundo de adoração comunitária
(Isaías 6).
Uma das maiores tragédias da atualidade é a grande quantidade de igrejas
entrando na configuração de impérios. Quando isso acontece, encontramo-nos
literalmente prostrados no monte da tentação. Compreender que a igreja é de
Jesus livra-nos da tentação de controle.

2. Cristo em todos: é Jesus que escolhe os seus! A igreja não é a sociedade dos
perfeitos, mas a comunidade dos imperfeitos, cansados, aflitos, imprevisíveis
e daqueles que são alvos da graça de Deus. Não é um nazismo religioso ou
uma espiritualidade em série, mas uma coisa profunda, vista da ótica divina.

A igreja não é um ato social que possa ser controlado a partir de um algoritmo,
mas uma obra tremenda da multiforme graça de Deus. Essa relação
discípulo/mestre precisa ser renovada. Somos discípulos de Jesus, e essa
relação de discipulado faz com que compreendamos as pessoas colocadas na
igreja.

3. Cristo como alvo: Jesus é o nosso Supremo Modelo! Se Cristo não for nosso
supremo modelo de ministério e de vida, precisamos nos converter
urgentemente. Um homem cheio de si não pode pregar o Cristo que se
esvaziou.

A palavra aos pastores de hoje ainda é a mesma palavra: imite a Jesus. O


termo “sede meus imitadores” vem do grego mimetai, radical grego de mímica,
mimetismo. Significa imitador, e por mais habilidoso que um imitador seja, não
se pode abrir mão do original.

Para fazer isso há um caminho que passa pela humildade - do radical latino
humus, ou “pó” (Sl 103:14). A humildade é fundamental, o legado de quem
anda com Jesus. Liderar a igreja de Jesus é tarefa para os que possuem o
mesmo espírito de humildade que ele.

4. Satisfeitos em Cristo: a alegria como combustível do chamado! A carta de


Paulo aos filipenses trabalha muito com alegria. Em observância ao fruto do
Espírito, tudo que o crente faz é em amor, alegria e paz.

Infelizmente, hoje há uma geração de homens tristes cujo papel da liderança


do pastorado tornou-se um fardo que machuca e enverga as costas. A alegria
não é ausência das crises, mas a certeza feliz de que as crises passam e eu
permaneço. A última palavra é sempre de Deus, pois ele é o Senhor.
AULA VII: O pastor e as crises da liderança contemporânea
Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho
sobre o qual o Espírito Santo os colocou como
bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que
ele comprou com o seu próprio sangue. Sei que,
depois da minha partida, lobos ferozes
penetrarão no meio de vocês e não pouparão o
rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão
homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os
discípulos.
Atos 20:28-30

Paulo falando aos anciãos da igreja de Éfeso entra naquilo que é a ferida dos
conjuntos de liderança: os lobos cruéis, as raposas e os animais que entram para
destruir o rebanho. O apóstolo sente um peso no coração, sabendo que dentre os
irmãos surgirão lobos perversos que intentarão destruir e agir predatoriamente sobre
os santos. Toda a liderança cruel deixa destroços nos rebanhos.

Vivemos numa geração de muitos pastores ostentando medalhas, troféus, coroas,


tronos e impérios, mas onde estão os Elias de Deus? Os homens com o sentimento
profundo de trabalhar pela obra. O que Deus procura de nós como pastores nessa
geração contemporânea de miséria é que nos levantemos e sejamos bênção na vida
das pessoas.

Pode-se construir toda uma teologia do servo que só se legitima quando ele de fato
serve. Essa é a diferença do servo pra celebridade. Esta se contenta em criar uma
aura em torno de si, mesmo que falsa. O servo faz e sai de cena, dando porque já
recebeu. Ele é discreto, íntimo de Deus e vive de seu movimento secreto com o Pai.

O complicado de falar dessa área é o estabelecimento do saudosismo, que


geralmente descamba para o fatalismo. É bom haver uma referência no olhar para
trás, apenas não se pode ficar preso a ela.
"Tradição é a fé viva dos que já morreram e
tradicionalismo é a fé morta dos que ainda vivem"
(Jaroslav Pelikan)

Vivemos num momento crítico. Nossa posição é de que hoje, apesar da situação do
mundo contemporâneo, Estamos sendo levantados por Deus como uma liderança
dinâmica respirando um novo ar e se prontificando a fazer a obra para Deus. Isso só
é possível quando nos posicionamos no sentido de deixar claro que nossa vocação é
uma benção, um privilégio, e que estamos trabalhando para a Sua obra.

A crise hoje é generalizada. Uma das maiores carências da atualidade é o resgate


das antigas certezas, isto é, a renovação.

É preciso, entretanto, muito cuidado para não se sentir atordoado, como uma peça
fora do ambiente. O tempo muda, o século passa e as situações são alteradas. Tudo
vive em processo de mudança, e é importante que compreendamos isso para que
tenhamos uma visão mais ampla. Não podemos nos esquecer de nossa essência.

O que fazer para não ser destruído numa época de tantas crises?

1. Precisamos redescobrir nossas raízes. Mas quais são nossas raízes?

a. Uma teologia equilibrada e marcada pelo poder do Espírito;

b. Uma espiritualidade baseada nos pilares da oração, do ensino e da


missão;

c. Um fervor missionário que espalhou a igreja pelo Brasil e pelo mundo;

2. Precisamos redescobrir a humildade; A humildade é essencial na vida do


pregador. Sem um constante esforço de diminuição e esvaziamento de si
mesmo, cai-se no pecado de orgulho que mancha todas as demais virtudes do
homem de Deus.

3. Precisamos resgatar a unção; Há muita confusão quando se trata do tema


“unção”. Não houve ninguém na face da Terra com mais unção que Jesus.
Semelhantemente, não houve ninguém na face da terra que amou mais que
Jesus. Para Cristo, unção é amar.

Resgatar a identidade não é se transformar em um robô evangelicalista, mas


redescobrir a santa lucidez que transforma esse século. São muitas as crises da
liderança contemporânea, porém Deus está levantando uma geração de pastores
segundo Seu coração capazes de repensar estratégias e ressignificar a prática
ministerial. Esses pastores conseguem isso aprendendo e de uma vez por todas a
abrir mão da doença da busca do poder e a se concentrar na verdadeira unção: a
capacidade sobrenatural de amar.
AULA VIII: A integridade financeira do pastor
Davi louvou o Senhor na presença de toda a assembléia, dizendo: "Bendito sejas, ó Senhor, Deus de Israel,
nosso pai, de eternidade a eternidade. Teus, ó Senhor, são a grandeza, o poder, a glória, a majestade e o
esplendor, pois tudo o que há nos céus e na terra é teu. Teu, ó Senhor, é o reino; tu estás acima de tudo. A
riqueza e a honra vêm de ti; tu dominas sobre todas as coisas. Nas tuas mãos estão a força e o poder para
exaltar e dar força a todos. Agora, nosso Deus, damos-te graças, e louvamos o teu glorioso nome. "Mas quem
sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos contribuir tão generosamente como fizemos? Tudo vem de
ti, e nós apenas te demos o que vem das tuas mãos.
1 Crônicas 29:10-14

Wayne Meyers escreveu que a real medida de nossa riqueza é o quanto valeríamos
se perdêssemos tudo. Prosperidade para Deus vai para muito além da simples troca
monetária. Deus não pede o que há no topo de sua bolsa, mas o que habita na
profundidade de seu coração.

A Bíblia nos conduz na estrada do valor, que é contrário ao preço. Deus ama o valor
que você em, não o preço que a sociedade tenta impor. Jesus falou muito de dinheiro
em seu ministério, mas em nenhum momento fala como pertencendo a ele ou sendo
manipulado para ele, antes tratando de assunto dentro de uma conexão com uma
espiritualidade profunda, deixando claro quem manda nessa relação: se você for
senhor do dinheiro, ele será benção, se ele for o senhor, você está morto e vendido
como mercadoria no balcão da facilidade.

Se há algo que um pastor não deve fazer é ser focado em dinheiro. Por outro lado,
não se faz nada sem dinheiro numa sociedade capitalista como a nossa.
Dependemos do dinheiro para manter o lugar do culto, as dependências, a energia, a
água, o pessoal administrativo e a máquina institucional.

Alguns princípios a serem observados: Esses apontamentos servem de baliza para


que o pastor possa agir em relação ao dinheiro em seu ministério e vida pessoal. O
pastor pode ser o grande responsável para que a igreja vá bem nas finanças, mas
também pode ser um fator desmotivador. Vamos refletir sobre sete princípios
fundamentais na condução das operações financeiras no ministério:

1. Aprenda a falar sobre dinheiro de modo honesto e direto A liderança na igreja


deveria parar de ser tão tímida e procurar discutir as finanças - a mordomia. A
respeito das finanças da igreja, parece que não há nada de espiritual nisso, e
o falar do dinheiro invoca um sentimento como se o dinheiro fosse maligno em
si mesmo. Ele não é mal em si, mas nossas ações com ele ditam sua
moralidade.

2. Conheça o orçamento da sua igreja. Pastores devem pelo menos conhecer os


principais parâmetros do orçamento de sua igreja. Se alguém é o
administrador, o pastor deve, juntamente com ele, ler e entender como
funciona o orçamento. Cada pastor deve entender exatamente o que a igreja
consegue fazer com o orçamento que tem.
3. Se você não se sente apto a lidar com o dinheiro, aprenda a delegar essa tarefa
a alguém competente. Evite, quando possível, lidar com o dinheiro, passando
as funções financeiras a um administrador. Dinheiro sempre será uma tentação
que devemos evitar sempre que pudermos, pois todos temos necessidades e
lidar com o dinheiro da igreja pode fazer com que ele seja mal utilizado em
nossas vidas.

4. Cuidado com a ganância. Não use seu próprio poder para designar quanto
você deve percentualmente ganhar na igreja. Integridade no ministério tem um
valor muito maior que bem estar financeiro. Escolha Ser íntegro se tiver que
lidar com as finanças. Igrejas que possuem orçamento forte correm fortes
riscos quando pastores gananciosos tomam conta do dinheiro.

5. Quando o assunto for o seu salário, seja equilibrado. Apesar de que você não
deve exercer seu poder para fixar seu próprio salário, seja claro com a igreja
acerca de sua pretensão salarial para não ficar frustrado no meio do caminho.
Você deve estabelecer com sua família o que é necessário para que vivam em
dignidade.

6. Não viva fora de seu orçamento pessoal. Pensando no aspecto do valor


estabelecido para viver e o que a igreja efetivamente irá pagar como salário,
estabeleça um orçamento. Não há como trabalhar sem um orçamento claro na
vida pessoal, Uma coisa é saber sobre seu orçamento, outra é seguir à risca o
que você se propôs.

7. Não cometa o pecado de viver como escravo das dívidas. Dívidas são um
problema real. Não seguir com o orçamento pode provocar uma crise
financeira que afetará não só sua vida pessoal como família, ministério e igreja:
é um efeito cascata.

A administração equivocada do capital da igreja pode dar cadeia!

Não cometa o pecado de fazer acepção de pessoas. Muitos tratam de qualquer


maneira aquele membro menos favorecido, mas lambem até as botas dos mais ricos.
No corpo de Cristo não há pobres, ricos, dignos e indignos. Como disse Paulo em Rm
10:12,13 e Gl 3:26-29, Cristo é tudo em todos.

Quando o assunto é finanças, é sempre bom manter a discrição, o equilíbrio e a


prestação de contas. Não confie no dinheiro: seu poder de sedução é capaz de
corromper até os mais leais.
AULA IX: Tentações que assolam o pastor
Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o
que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas
do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
1 João 2:15-17

É bom lembrar que o pastor é uma figura humana, essa é uma verdade da qual não
se deve fugir. Vivemos num mundo caído, marcado pelo pecado. Estar nesse mundo
é experimentar a iminência das tentações. É bom lembrar também que ser testado
não é pecado: pecado é consumar as tentações e cair em suas armadilhas.

O que precisamos fazer para vencermos as tentações que nos assolam?

1. É preciso renunciar o amor pelo mundo: nessa carta de João, o vocábulo


“mundo” tem a conotação de um sistema anti-Deus. C.S. Lewis escreveu que
a arrogância e o orgulho é um estado mental completamente anti-Deus. Para
João, “mundo” é tudo aquilo que serve como instrumento de tentações para
roubar de nossos corações o amor que é devido somente a Deus. O amor pelo
mundo faz nascer em nós o ateísmo do coração (Sl 14).

Como as tentações conseguem nos distrair do alvo do reino de Deus?

a. Com a distorção dos valores da fé;

b. Com a banalização da secualidade;

c. Com falsas promessas;

2. Reconhecer suas principais armadilhas: as tentações costumam usar três


armadilhas mortais que, se subestimadas, têm o poder para nos destruir:

a. A cobiça da carne: nossa natureza pecaminosa é uma inimiga íntima


que conspira contra nós. A lista das obras da carne (Gl 5:19-21) deixa
bem claro o que essas engrenagens malditas podem produzir. A cobiça
da carne pode nos destruir com uma série de falsas promessas.

b. A cobiça dos olhos são tentações que nos assaltam de fora pra dentro.
Se não formos policiais de nossos olhares, abrimos as janelas de
nossas almas pros servos intrusos do mundo e da deusa mídia.
Precisamos resgatar urgentemente o princípio de Jó 31:1.

c. A soberba da vida: é o gosto desvairado pelos holofotes. A vanglória


pelas riquezas, dons e talentos. É a cultura que mais cultua a arrogância
que impera no mundo de hoje.

3. Reconhecer que estamos no mundo, mas não somos do mundo! Somos


chamados do mundo e enviados de volta como luz.

Dez tentações que mais assolam os pastores contemporâneos:


1. A tentação do messianismo: não confunda um evangelho para o mundo com
conquistar o mundo. Jesus não chamou um para conquistar o mundo, mas
todos para, juntos, pregarem o evangelho;

2. A tentação da ganância: a tentação da ganância é perigosa pois o chamado vil


metal é literalmente a moeda de troca da vida de muita gente (Mt 10:8,9);

3. A tentação da ingenuidade (Mt 10:11-17): não confunda um olhar gracioso com


ignorar as maldades dos outros. Amor não nos impede de discernir os
maldosos;

4. A tentação do comodismo: o comodismo é letal. É muito importante sacudir o


pó do marasmo. Um pastor acomodado não lê, não pesquisa e não cresce;

5. A tentação do personalismo (Mt 10:24): o messianismo é filho do idealismo


ingênuo e abobalhado. Personalismo é uma deformidade na personalidade, é
a personalidade distorcida e trabalhada de forma equivocada, tentando fazer a
pessoa brilhar mais que Cristo;

6. A tentação do triunfalismo (Mt 10:17,28): muitas vezes nossa vida de igreja é


um fracasso. Não vamos ganhar sempre, mas o que inspira sua vida é melhor
que as coisas que já deram certo nela;

7. A tentação do pragmatismo (Mt 10:27): os fins não justificam os meios. Tudo


que for tratado em secreto deve poder ser divulgado de cima dos telhados.
Precisamos estar claros, límpidos e abertos. A tentação do pragmatismo tem
a mentalidade de encher igreja, isto é, sofre de numerolatria;

8. A tentação da onipotência são pastores que acham que não podem passar por
tempos de dúvida ou solidão, ou acreditam que possuem poder para fazer
todas as coisas, ou que a igreja não pode funcionar sem eles;

9. A tentação da unanimidade (Mt 10:34): a verdade discerne quem está com ela
ou contra ela. Unanimidade é ignorar a tensa realidade das pessoas e a tensão
do próprio evangelho;

10. A tentação da hipocrisia (mt 10:42): cuidado para que as dores da missão não
nos tornem cínicos e frios. Há dores e perdas, mas também há prazeres e
generosidade;

Há três armas para vencer essas tentações: Oração, Jejum e Palavra.


AULA X: A sexualidade do pastor
Na primavera, época em que os reis saíam para a guerra, Davi enviou para a batalha Joabe com seus oficiais e
todo o exército de Israel; e eles derrotaram os amonitas e cercaram Rabá. Mas Davi permaneceu em Jerusalém.
Uma tarde Davi levantou-se da cama e foi passear pelo terraço do palácio. Do terraço viu uma mulher muito
bonita tomando banho, e mandou alguém procurar saber quem era ela. Disseram-lhe: "É Bate-Seba, filha de
Eliã e mulher de Urias, o hitita". Davi mandou que a trouxessem, e se deitou com ela, que havia acabado de se
purificar da impureza da sua menstruação. Depois, voltou para casa.
2 Samuel 11:1-4

Vivemos numa era marcada pela banalização sexual. Um mundo erotizado de líderes
envenenados pela maldição poornográfica. Jaziel Botelho escreveu que a
sexualidade é o calcanhar de Aquiles do pastor. Quando o assunto é sexo, o solteiro
alimenta curiosidade, o divorciado, anseio, o viúvo, saudade e alguns casados,
frustração.

Quando deturpada, a sexualidade pode ser fatal, mesmo no casamento. Em 1Tm 3:2,
Paulo não escreve que o bispo ou pastor seja marido de uma só esposa, mas marido
de uma só mulher. Há aqui uma conotação sexual. Quando o assunto é sexualidade,
muitos ainda caminham no campo minado dos tabus, uma mistura exclusiva de
tensão, tesão e temores.

Uma matéria na edição n°118 da Revista Eclésia trouxe dados terríveis sobre os
pastores contemporâneos:

● 47% dos pastores sofrem de transtornos mentais;


● 16% dos pastores sofrem de depressão;
● 13% dos pastores não conseguem ter um sono de qualidade: estresse!

Dados da Revista Linha Aberta publicados em seu site confirmam que 75% dos
pastores dedicam menos de uma noite por semana para a família e o casamento.
Pastores assim casam-se com a igreja, mas separam-se da família.

Sinais de alerta contra o pecado sexual: A partir do texto de 2Sm 11, podemos
observar poderosos sinais de alerta que, se levados a sério, podem nos salvar do
abismo sexual:

1. Ociosidade: mantenha-se sempre ativo, no campo de batalha;


2. Absolutismo: nunca subestime suas fragilidades;
3. Cobiça: cuidado com a fronteira de seus olhos;
4. Encontro: cuidado para não aproximar-se demais da linha divisória;

Há pastores que um dia cederam, trocando a vida espiritual, a saúde emocional e


dignidade, reputação, igreja e família por minutos de prazer. Ainda naquele momento
em que o suor frio umedece as palmas da mão e a mente se embriaga há a
possibilidade de fugir como José diante da mulher de Potifar.

Fugir para salvar o casamento é a marcha triunfal sobre a tentação. Fugir por optar
pela esposa companheira nos árduos caminhos do ministério é a volta olímpica para
comemorar o amor sobre a fútil atração. Fugir para preservar a igreja que o Supremo
Pastor lhe confiou é a corrida de um campeão sobre as sutilezas do pecado. Aprenda
a fugir.

5. Ato consumado

Cuidado com os encantos viciantes do prazer. São terríveis as coisas que podem
destruir o coração de todo o pastor. Encantos viciantes do prazer podem de uma hora
pra outra arrebentar com o coração de um pastor. Alguém descreveu a crise da meia
idade do homem como a época em que homem se depara com quatro inimigos:

● O corpo: o passar dos anos começa a pesar, e chega a fatura dos excessos;
● O trabalho: surge a angustiante questão: estou realizado?
● A família: as pressões que a família começa a impor;
● Deus: Deus passa as ser visto como o causador de todos os problemas
(Jeremias 20:7);

Converta o coração e os olhos. Um pastor genuíno que luta contra as tentações


sexuais e a sexualidade desavairada e destorcida, erotrizada e influenciado pelo
mundo banal de hoje é um pastor convertido, de olhos curados e vida santa, que
entende que seu corpo todo é templo do Espírito Santo. Quando o pastor entende
isso, sua figura pessoal tende a ser transformada.

Osmar Ludovico da Silva descreve o perfil do pastor em risco de adultério:

1. Convive com a solidão e o isolamento do poder, está sempre cercado de


subalterno e bajuladores. Sem amigos e iguais, não tem ninguém para alertá-
o;

2. Tem dificuldade em ser pessoal, de se abrir e conversas sobre seu coração e


sua sombra;

3. Tem enorme necessidade de reconhecimento, afirmação e demonstração de


poder;

4. Falta de iniciativa e humildade para procurar ajuda. Não tem mentores ou


confessores;

5. Ambição e grandiosidade. Um toque de messianismo e grande capacidade de


sedução;

6. Dificuldade de mostrar carinho e criar vínculos de intimidade e de cumlpicidade


com a esposa. Ao contrário, como ela é a única a denunciá-lo, passa a ser
vista como inimiga;

7. Vive numa atmosfera religiosa irreal: a vida, o discurso, o linguajar, a teologia


e o ritual do cargo são divorciados da realidade;
8. Ministério bem sucedido, mas que depende mais de técnicas seculares e
recursos materiais que da presença do Espírito;

9. Histórico de uma agenda paralela secreta: fantasias, romances platônicos, mal


uso da internet, sites de pronografia e de encontros;

10. Sucesso no ministério e conhecimento acadêmico, o que gera atitude de auto


condescendência e justifica pequenos deslizes;

11. Perfil exageradamente metrossexual, vaidoso, metropolitano que se preocupa


exageradamente com sua aparência e beleza física;

Esse perfil é tão assustador porque é extremamente real. Quantos líderes vivem à
beira do abismo sexual porque negligenciam ou nem conhecem esses sintomas ou
não os discernem? Procure por vestígios disso em sua própria intimidade. Esse olhar
do diagnóstico pode ser o primeiro passo para a libertação da arapuca maldita de
uma sexualiadade desvarada e destruidora.
AULA XI: O pastor e a autoridade espiritual
Os onze discípulos foram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes indicara. Quando o viram o adoraram;
mas alguns duvidaram. Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na
terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim
dos tempos".
Mateus 28:16-20

Um antigo ditado judaico diz que o homem que não sabe controlar-se a si mesmo
torna-se absurdo quando quer controlar os outros. Há muita coisa equivocada
tratando-se de autoridade. Infelizmente, em muitos quintais evangélicos essa palavra
tornou-se sinônimo de controle, abuso de poder ou nazismo religioso.

Autoridade espiritual:

O vocábulo “autoridade” tem sua raiz no latim “Auctoritas”, derivando de “Auctus”,


particípio passado de “Augere” que tem o sentido de “aumentar”, “fazer crescer”. A
melhor tradução para o termo “Auctoritas” seria a palavra Influência. Autoridade é
muito mais que emitir comandos ou berrar ordens, é propiciar crescimento, influenciar,
alargar horizontes e facilitar trajetórias.
O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz,
mas não sabes de onde vem, nem para onde vai;
assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
João 3:8

A autoridade que está sobre a igreja não legitima a busca obsessiva por domínios,
tronos e glórias. Ela alimenta o desejo sincero de servir a causa de Cristo e trabalhar
pelo reino da liberdade e da vida. Qual é a autoridade que está sobre a igreja? Aquela
que alimenta o desejo sincero de servir a causa de Cristo e trabalhar pelo reino da
liberdade e da vida.
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade
e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
João 14:6

Para Jesus, a verdadeira autoridade é aquela que liberta a pessoa para andar, pensar
e viver. Liberdade e vida! Vamos analisar sete princípios fundamentais da autoridade
espiritual à luz da Bíblia:

1. Autoridade não é grito, é dom! (1 Co 12:28): Paulo fala aqui sobre o dom do
governo ou administração. Os dons são concedidos à igreja visando a
edificação do corpo de Cristo. Autoridade não tem a ver com opressão ou
postura de chefe, mas com alegria em servir a Cristo no reino de Deus.

2. Autoridade é diferente de poder (Lc 10:17-20): os discípulos estavam


extasiados pela guerrinha de poder pois ainda não tinham compreendido a
verdadeira autoridade. Poder é ato, aquilo que se exerce, enquanto autoridade
é ser, aquilo que segue-se como referência. Autoridade não é dar ordem, mas
ser seguido.

3. Autoridade espiritual exige natureza espiritual (Jo 3:6): Se não há novo


nascimento também não haverá autoridade espiritual. O que é nascido da
carne não pode ser orientado, guiado e nem dirigido pelo Espírito. A tragédiaa
de muitos líderes da igreja contemporânea é que ainda não nasceram de novo.

4. A autoridade vem de Cristo, portanto quem manda é Ele (Mt 28:18): O único
ungido é Cristo, e toda e qualquer unção que por ventura venhamos a ter deriva
dele. É preciso entender que temos que lembrar o que Paulo disse em Rm
11:36: dele, por ele e para ele são todas as coisas.

5. A autoridade não é sobre as pessoas, mas sobre espíritos e sistemas malignos


(Lc 8:38-39): Nesse texto, Lucas fala sobre o gadareno que é liberto de duas
possessões: dos demônios e das pessoas.

Jamais use a autoridade que Deus te deu para humilhar ou destruir pessoas.
A autoridade espiritual é de reconstrução, nunca de destruição de vidas. A
autoridade espiritual trabalha com Jo 10:10, isto é, “eu vim para que tenham
vida e vida em abundância”.

6. Autoridade espiritual não é arrogância ministerial (Fp 2:3): John Stott afirmou
que “O símbolo de uma liderança autenticamente cristã não é a veste de
púrpura de um imperador, mas o avental batido de um escravo; Não é um trono
de marfim e ouro, mas uma bacia de água para a lavagem dos pés.”

A humildade de Jesus precisa ser nosso supremo modelo. Caminhando com


os discípulos no caminho de Emaús (Lc 24:13-35) Jesus mostrou que a
autoridade espiritual não se legitima com títulos, mas caminhando entre
amigos, reavivando esperanças e renovando certezas.

7. Autoridade espiritual acontece no equilíbrio entre o “ser” e o “fazer” (Jo 21:15-


17): “Tu me amas?” é a pergunta que todo líder deve responder dia após dia.
Ela revela muito de nosso caráter, ambições secretas e desejos adormecidos.

É uma pergunta que vai até o porão da alma. O texto de João coloca algo
decisivo: pastorear e cuidar. É como se Jesus dissesse a Pedro “você só pode
cuidar e pastorear as pessoas se você me amar, porque se esse cuidado não
for fruto do amor por mim, será peso e angústia para você”.

A única coisa capaz de equilibrar o ser e o fazer é o amor que temos por Jesus,
Senhor da obra. A autoridade espiritual não é um anúncio de festa num
shopping em meio aos aplausos, mas um chamado para triunfarmos sobre a
injustiça, o engano, a mentira e as coisas que afastam as pessoas de Deus.
Lembre-se: se a autoridade que você exerce pode machucar as pessoas que
Deus ama, cuidado para não se tornar um inimigo de Deus!
AULA XII: A felicidade pastoral
Davi louvou o Senhor na presença de toda a assembléia, dizendo: "Bendito sejas, ó Senhor, Deus de Israel,
nosso pai, de eternidade a eternidade. Teus, ó Senhor, são a grandeza, o poder, a glória, a majestade e o
esplendor, pois tudo o que há nos céus e na terra é teu. Teu, ó Senhor, é o reino; tu estás acima de tudo. A
riqueza e a honra vêm de ti; tu dominas sobre todas as coisas. Nas tuas mãos estão a força e o poder para
exaltar e dar força a todos. Agora, nosso Deus, damos-te graças, e louvamos o teu glorioso nome. "Mas quem
sou eu, e quem é o meu povo para que pudéssemos contribuir tão generosamente como fizemos? Tudo vem de
ti, e nós apenas te demos o que vem das tuas mãos.
1 Crônicas 29:10-14

Uma dos combustíveis da felicidade pastoral é essa certeza da mutualidade entre o


que vem de Deus e o que nós somos. Ser pastor é algo muito maior que o que
podemos dimensionar em simples palavras. É uma honra, um privilégio, uma dádiva
de Deus. Se há uma palavra que os pastores precisam voltar a pronunciar em sua
relação com Deu sé gratidão - a memória do coração.

O homem é uma animal que agradece. Está na raiz de seu ser a dádiva da gratidão.
Essa nobreza de alma que o diferencia radicalmente dos outros animais. No Éden o
Criador terminou sua obra dando ao homem a capacidade de perceber a beleza.
Tecnicamente falando, Deus nos deu o dom da estética: o homem é capaz de
perceber e expressar o belo, de forma que nem o mais terrível dos idólatras presenteia
a divindade de sua devoção com algo feio.

Quando o homem percebe a graça em gratidão, passa a se expressar à luz de seus


talentos e dons. Aí ele produz música, arte e gesto para a glória de Deus. A Ceia entra
nessa categoria: é a cura do Éden. Nele comemos e nos separamos de Deus, nela
comemos para celebrar nossa reunião.

Há uma leveza no relacionamento com Deus que é frontalmente oposta ao


relacionamento demoníaco. Num paraíso de leveza e alegria, Adão peca pela
ingratidão no excesso. Frutos sobravam no Éden, isto é, o pecado é a exacerbação
da virtude.

A felicidade pastoral pode ser observada em três perspectivas:

1. A perspectiva do novo horizonte: Limpar as lentes da vida - O paraíso está nos


olhos. No Éden o pecado suja as retinas.
"Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus
olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de
luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu
corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que
está dentro de você são trevas, que tremendas
trevas são!
Mateus 6:22,23

Irineu, um bispo da igreja, dizia que os olhos curados pela Graça projetam e
enxergam Deus em todos os lugares. Sem gratidão o belo fica feio, o sublime,
grosseiro e o sagrado, profano. Quando os olhos são tocados pela gratidão, o
resultado natural é adoração. Se o seu coração é grato a Deus, seus olhos
contemplarão o Eterno.

2. A perspectiva da intimidade: Os milagres de dentro - A gratidão é a árvore da


vida no jardim secreto da alma. Nossa interioridade está sempre em fúria. São
terras sagradas de intimidade em que tememos pisar.

Muitos pastores não ouvem a fúria da alma por estarem presos em seus
gabinetes. Santo Agostinho dizia “criaste-nos para vós, e nossa alma só
encontra descanso quando repousa em vós”. Dostoiévski, por sua vez, afirmou
que o vazio da alma humana tem o tamanho exato de Deus.

A perspectiva da intimidade é a perspectiva dos milagres de dentro: é a cura


das fibras da alma. Numa era de auto ajuda, é voltarmos a ter ajuda do alto. É
o pastor feliz por ter a inimizade curada, por mergulhar na interioridade
profunda que a Palavra projeta para ele. O pastor não é feliz apenas pelas
coisas de fora, mas pelo que tem dentro.

3. A perspectiva da alegria: motivados pelos serviço do Reino - É bom lembrar


que a alegria do cristão não é um momento, mas uma pessoa: Cristo. A carta
aos filipenses é um tributo à alegria, que deve ser ultracircunstâncial e
cristossênctiraca.

A saudação de Paulo nas cartas evidencia o compromisso com a gratidão e a


paz geradas pela alegria em ser servo de Cristo. Quando Paulo abre suas
cartas, diz “Paulo, servo de Cristo Jesus, aos santos, graça e paz da parte de
Cristo”. É o pastor feliz por ser quem é, usado pelo reino, para o reino e no
reino de Deus.

As correntes de Paulo não entristeceram sua alma, mas serviram como


expressão de adoração: a dor faz parte do processo. O triunfalismo vazio da
religião não tem a alegria da presença do Consolador. A alegria verdadeira é
pura adoração. É Jonas orando em gratidão no ventre do peixe no fundo do
mar.

Precisamos ser gratos mesmo quando Deus age de um modo que não aprovamos.
Tanto a ida a Nínive quanto a salvação da cidade desapontaram o profeta Jonas. Seu
nos ensina que o ressentimento contra Deus é a antimatéria da adoração. Gratos,
adoramos!

O mundo contemporâneo está acostumado à miséria, desperdício e conflitos. O


ministério bem sucedido não é o que finge que essas coisas não acontecem, mas o
que encara as adversidades e conflitos feliz (2Co 3:5). O pastor que quiser prestar
um serviço digno precisará se comprometer com a excelência:

● O melhor nos estudos


● O melhor nos relacionamentos

● O melhor na devoção diária

● O melhor dos próprios sentimentos

Um pastor completo é o pastor que o mundo clama, anseia, aguarda e tanto precisa.
O mundo busca pastores felizes que não estão bancando o bonzinho e esperando
morrer, mas que estão vivendo verdadeiramente. A fé cristã não é morrer e ir para o
céu, mas ir para o céu antes de morrer. Que Deus levante pastores marcados pela
Graça, pela excelência e pelo amor!

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