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1ª edição
Rio de Janeiro
Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
2010
Título original: Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana.
Tiragem: 1ª edição – 2010 – 1000 exemplares
Projeto Gráico: Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz (Brasil)
Barbara Mello (coordenação)
Asociación Boliviana de Periodismo Cientíico (Bolívia)
Financiamento do projeto:
Programa Iberoamericano de Ciencia y Tecnología para el Desarrollo Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior (REDES)
(Cyted) (Argentina)
Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (Portugal)
Apoio:
SciDev.Net Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para Améri-
ca Latina (CIESPAL) (Equador)
Observatorio de la Comunicación Cientíica, Universitat Pompeu Fabra
(Espanha)
Pontiicia Universidad Javeriana (Colômbia)
Universidad Católica Andrés Bello (Venezuela)
Universidad de la Habana (Cuba)
Universidad de Pïnar del Río (Cuba)
Universidad Nacional Autónoma de México (México)
Universidad Nacional de San Martín (Argentina)
Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
Catalogação na fonte
Biblioteca do Museu da Vida
M414j Massarani, Luisa (coord.).
Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana. /
Coordenação: Luisa Massarani. Rio de Janeiro: Fiocruz / COC /
Museu da Vida, 2010.
112p.
ISBN - 978-85-85239-66-4
Núcleo de Estudos da Divulgação Cientíica / Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fundação Oswaldo Cruz
Av. Brasil, 4365 - Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - CEP 21040-360
Tel./Fax: (21) 3865-2121 / www.museudavida.iocruz.br / nestudos@coc.iocruz.br
Sumário
Apresentação 7
Este livro foi produzido pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo
Cieníico, criada em 2009 pelo Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
(Cyted). A rede tem como objeivo apoiar, disseminar e incrementar a qualidade do jornalismo cieníico
nos países ibero-americanos, de modo a contribuir para a consolidação de um diálogo mais harmonioso
da relação entre ciência e sociedade na região.
Integrada por grupos de pesquisa provenientes de 10 países (Argenina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba,
Espanha, Equador, México, Portugal e Venezuela), a rede visa desenvolver e aprimorar metodologias para
analisar e avaliar a cobertura de ciência nos meios de comunicação de massa ibero-americanos, bem
como o impacto no público dos conteúdos veiculados.
Organizamos esta publicação em duas partes. Na primeira, reunimos arigos de relexão escritos por diversos
pesquisadores do tema. Na segunda, o foco é a práica do jornalismo cieníico e proissionais atuantes na
área dão dicas para o coidiano de um repórter que trabalha na cobertura de ciências. Alguns dos arigos
dessa segunda parte fazem parte dos Guias práicos elaborados por SciDev.Net (www.scidev.net).
Para começar, um ponto importante é deinir exatamente por que desejamos, por meio do jornalismo,
divulgar a ciência e a tecnologia a um público amplo. Muitos cienistas, políicos, jornalistas e divulgadores
já tentaram dar uma resposta saisfatória a esta questão. Em seu arigo, Yurij Castelfranchi pondera
algumas delas e vai além, mostrando como a divulgação de resultados ao público leigo tornou-se parte
integrante do metabolismo da tecnociência.
A comunicação da ciência e a promoção de uma cultura cieníica não são, porém, um processo espontâneo:
requerem planejamento, avaliação e controle, apontam Irene Trelles Roríguez e Miriam Rodríguez
Betancourt. Elas indicam como um caminho possível a organização de espaços de comunicação pública da
ciência dentro das universidades – por excelência, o local de produção do conhecimento cieníico.
Ainda sobre a promoção de uma cultura cieníica na população, Crisina Palma Conceição argumenta que
talvez o melhor caminho seja uma combinação de estratégias antes consideradas opostas – por exemplo,
a transmissão de conteúdos cieníicos à população e o estabelecimento de um diálogo efeivo entre
cienistas e público leigo.
Em seguida, Acianela Montes de Oca se debruça mais especiicamente sobre o jornalismo cieníico e os
desaios enfrentados nessa aividade. Seja cobrindo grandes descobertas ou novidades cieníicas menos
Apresentação 7
impactantes, os meios de comunicação assumem um papel importante, já que podem inluenciar – para o
bem e para o mal – as opiniões e aitudes do público sobre a ciência. Assim, é fundamental garanir que o
jornalista cieníico tenha mais consciência sobre a práica cieníica e invesigue rigorosamente os temas
a cobrir, além de abrir as portas para uma comunicação menos informaiva e mais dialógica da ciência.
Nesse processo, a busca de fontes coniáveis é um passo fundamental, e é sobre isso que escrevem Javier
Crúz e Gema Revuelta. O primeiro propõe um modelo para hierarquizar grandes volumes de informação
de modo a garanir que a cobertura jornalísica da ciência alcance seu objeivo social – ajudar o público no
exercício da cidadania. Já a segunda disserta sobre o uso de revistas cieníicas, congressos e press releases
como fontes de pautas em jornalismo cieníico.
Nenhuma dessas relexões faria senido, porém, sem que se falasse também do desinatário de todas
as ações de comunicação da ciência. Por isso, o público é o tema principal de dois arigos. No primeiro,
Carmelo Polino e Dolores Chiappe discutem os resultados de algumas pesquisas sobre a percepção pública
da ciência e da tecnologia em países da América Laina, considerando as paricularidades que envolvem os
países em desenvolvimento e o desaio de fomentar a paricipação cidadã nas tomadas de decisão sobre o
tema. No segundo, Ana María Vara conta como a interaividade possibilitada pelas novas tecnologias pode
favorecer a democraização da ciência e destaca que o papel do jornalista cieníico é formar um público
quesionador e críico.
Na seção de guias práicos, Luisa Massarani escreve sobre como cobrir temas controversos em ciência e
tecnologia. Para isso, explora o exemplo das células-tronco embrionárias, que vem causando polêmica
nos meios de comunicação. Esclarecer os conceitos cieníicos envolvidos, não gerar falsas esperanças e
contextualizar a informação são algumas das dicas da autora.
Outro tema controverso abordado é a ciência evoluiva. Como transmiir ao público os principais conceitos
envolvidos e como lidar com divergências de opinião e conlitos com movimentos religiosos são alguns dos
pontos esclarecidos por Mohammed Yahia.
Na mesma linha, o texto de Fang Xuanchang, Jia Hepeng e Katherine Nighingale oferece diretrizes para
cobrir surtos e pandemias. Embora – principalmente no início – a ocorrência de doenças possa ser um
prato cheio para jornalistas, uma vez que conta com apelo público e uma grande disponibilidade de fontes
sobre o tema, é necessário que o repórter faça um trabalho cuidadoso e apresente ao público um relato
críico e equilibrado.
Andrew Pleasant, por sua vez, explica como usar dados de um arigo cieníico – escrito para um público
especializado – para informar o público leigo. O principal aspecto levantado pelo autor são as estaísicas
que esimam riscos, por exemplo, de doenças.
Por im, Tânia Arboleda se debruça sobre a cobertura da políica cieníica. Enquanto defensores da
democracia, cabe aos jornalistas defender o interesse público frente a tomadas de decisões que vão
inluenciar sua vida no futuro.
Boa leitura!
Apresentação 9
10 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana
Parte I • Textos de relexão
Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público?
(Muitas respostas óbvias... mais uma necessária)
Yurij Castelfranchi
Não é diícil encontrar boas razões para a comunicação pública da ciência e da tecnologia. Numa sociedade
que gosta dizer de si que é uma “sociedade do conhecimento”, “em rede”, “baseada na informação”,
ressaltar o valor da educação em ciências, da divulgação e do jornalismo cieníico é quase óbvio. Aqueles
que gostam de censos e taxonomias podem classiicar ao menos uma dúzia de repostas relevantes para a
pergunta “porque é importante comunicar a ciência aos públicos ‘leigos’?”. Por um lado, explicar, divulgar,
“democraizar” o conhecimento é uma das obrigações morais dos cienistas, como muitos grandes cienistas
seniram e declararam1. Por outro lado, conhecer, apropriar-se do saber, é um direito fundamental de
todo cidadão de uma democracia e, hoje, a cidadania não pode senão incluir uma “cidadania cieníica”.
Contudo, limitar-se a tal consideração dual (dever de comunicar para os produtores de conhecimento,
direito de conhecer para os “públicos leigos”) consitui uma esquemaização simplista. Porque, cada vez
mais, o oposto também é verdade: para muitas pessoas, ter acesso ao conhecimento técnico e cieníico
se tornou, além de um direito, uma necessidade ou um dever social; e dialogar, interagir com grupos de
“não-especialistas”, para muitas insituições cieníicas e para muitos cienistas, está se tornando, além
de um honrado hobby ou do cumprimento de uma missão, também uma necessidade ou até mesmo um
“direito” a ser reivindicado na arena de debates sobre controvérsias tecnocieníicas.
Thomas e Durant (1987), Gregory e Miller (1998) e diversos outros pesquisadores juntaram e classiicaram
os diferentes argumentos para comunicar a ciência aos públicos. Uma boa comunicação da ciência e da
tecnologia traz vantagens para a nação como um todo, beneícios para os cidadãos e é crucial também
para a própria ciência e para os cienistas.
1 A lista de grandes cienistas que se dedicaram com paixão à divulgação cieníica é enorme. Para Albert Einstein,
apenas um exemplo entre muitos, “é necessário que cada homem que pensa tenha a possibilidade de paricipar
com toda lucidez dos grandes problemas cieníicos de sua época, e isso mesmo se sua posição social não lhe
permite consagrar uma parte importante de seu tempo e de sua energia à relexão cieníica. É somente quando
cumpre essa importante missão que a ciência adquire, do ponto de vista social, o direito de exisir” (ver Moreira,
Studart, 2005, p. 142).
Mas a comunicação da C&T possui também uma grande importância políica. Desde a Segunda Guerra
Mundial, vários governos se deram conta de que, para garanir a supremacia militar e a segurança
nacional, são necessários sistemas baseados em alta tecnologia e conhecimento de ponta em quase
todas as áreas. Junto com os exércitos e as forças de segurança convencionais, é necessário dispor de um
exército de técnicos e pesquisadores, que só pode ser gerado e renovado a parir, entre outras coisas,
de um sistema de educação formal e não formal em ciências, bem como de divulgação e jornalismo
cieníico de qualidade. Também é preciso que o resto da população aprove, ou ao menos não quesione,
invesimentos em P&D que, em muitos países chamados desenvolvidos, não são irrelevantes, podendo
passar de 2% do PIB. A corrida espacial é um exemplo de como, na época da Guerra Fria, foi importante
jusiicar gastos notáveis em P&D e em tecnologias que não possuíam beneícios sociais imediatos, em
nome da segurança nacional, do presígio do país, da liberdade, mas também do fascínio da invesigação
de fronteiras desconhecidas e da exploração do homem no cosmo. Em geral, o presígio e a inluência
de uma nação se consituem também a parir dos sucessos em campo cieníico e tecnológico, e estes
dependem do suprimento de pessoal técnica e cieniicamente qualiicado, bem como de uma habilidosa
Parte I • Textos de relexão
comunicação e divulgação cieníica. As nações que possuem mais patentes, que demonstram ser capazes
das maiores inovações tecnológicas, ou que implementam sistemas inovadores de gestão dos recursos
naturais, de geração ou distribuição de energia, de miigação de danos ambientais, são também as nações
que terão mais autoridade em diversos foros internacionais (acordos sobre biodiversidade ou mudanças
climáicas, acordos sobre comércio ou direitos de propriedade intelectual etc.). A comunicação pública
da ciência serve, então, tanto como “adubo” para um sistema de C&T compeiivo, como para demarcar
sucessos, primados, supremacia neste campo.
Contudo, a maior parte das razões para as quais cienistas e comunicadores consideram importante o
trabalho de difusão do conhecimento cieníico é ligada ao bom funcionamento da democracia. Inúmeros
debates poliicamente, eicamente, economicamente relevantes são atravessados hoje por informações
cieníicas e técnicas. O direcionamento e a gestão não apenas da pesquisa cieníica e das aplicações
tecnológicas, mas também da políica nacional e internacional como um todo, envolvem, cada vez mais,
a sociedade civil. O cidadão paricipa, de forma indireta (com suas escolhas como consumidor, eleitor,
educador etc.) ou de forma direta (protestos, lobbies, greves, referendos etc.) em tomadas de decisões
sobre temas importantes e tão variados como transporte, tratamento de lixo, drogas, políicas sanitárias,
experimentações médicas, comida transgênica, pesicidas, usinas hidrelétricas e nucleares, gestão das
áreas indígenas, manejo lorestal e inúmeras outras. Para tanto, precisa de uma informação cada vez mais
aprofundada e de qualidade.
Por isso, a difusão da cultura cieníica, dizem muitos autores, serve, ao mesmo tempo, para o bem da
democracia e para o bem do cidadão. Em dois senidos. De um lado, por sua uilidade instrumental: a
compreensão de ciências e tecnologia é úil do ponto de vista práico, como instrumento para tomar
decisões pessoais racionais e informadas sobre dieta, segurança, sobre como invesir dinheiro, como se
formar proissionalmente, como avaliar a propaganda, como votar, como escolher a escola melhor para os
ilhos ou o bairro onde morar. De outro lado, a cultura cieníica possui um valor que não é instrumental,
Figura 1. Por que comunicar C&T para o público? Alguns elementos recorrentes nas moivações
declaradas por cienistas e políicos.
Consenso
Para o povo
Para a ciência
Melhorar credibilidade da C&T
Apoio social
Contribuir para compreensão
Mostrar o valor de C&T Aceitação para ciência
Em suma, em muitas de tais argumentações está presente a ideia de que comunicar a ciência não é apenas
uma obrigação para os produtores de conhecimento, nem apenas um direito do cidadão, mas uma
necessidade políica, econômica, estratégica para o funcionamento do capitalismo, para uma dinâmica
democráica saudável, para garanir compeiividade, para formar trabalhadores, e assim por diante.
Também é fácil demonstrar que, cada vez mais, os policy-makers, os empreendedores, os cienistas e os
gestores estão cientes de tais necessidades: é suiciente analisar textos de leis, declarações, debates.
O conjunto de tais airmações faz emergir, então, uma resposta talvez menos evidente à pergunta sobre os
porquês da comunicação pública da ciência: hoje, a comunicação da ciência não é apenas uma escolha,
uma opção dos cienistas, um dever de alguns ou um direito de outros, mas também uma parte isiológica,
intrínseca, inevitável, do funcionamento da tecnociência.
da pesquisa cieníica, na difusão e apropriação da informação cieníica e até mesmo, segundo alguns, na
produção do conhecimento.
Para os idealizadores do “Modo 2”, por exemplo, a ciência contemporânea seria, inevitavelmente, mais
relexiva, avaliada não apenas por cienistas, mas por grupos sociais variados; gerida, inanciada e
direcionada cada vez mais a parir de uma paricipação social ampliada. Não se poderia fazer ciência
sem a paricipação de vários “públicos”. Analogamente, para Ziman (2000), a ciência “pós-acadêmica”
se tornou “importante demais” (do ponto de vista de seus custos econômicos, de sua relevância
social, de sua abrangência e de suas implicações éicas) para ser deixada apenas com os cienistas.
Como consequência, os cienistas e suas insituições precisam negociar e dialogar com atores sociais
diversos (políicos, empresários, burocratas, administradores, movimentos sociais, grupos de opinião,
líderes religiosos, consumidores) para garanir sua legiimação, para que o conhecimento produzido seja
reconhecido como coniável, para receber inanciamentos, para não ser boicotados etc. Para Funtowicz
e Ravetz (1997), por im, a “ciência pós-normal” se caracteriza, dentre outras coisas, pelo surgimento de
“comunidades ampliadas de pares”, capazes de julgá-la e direcioná-la. A comunicação pública, em suma,
torna-se elemento cada vez mais central para o funcionamento da ciência.
Não é diícil encontrar indícios desse funcionamento mais complexo e em rede da ciência contemporânea,
bem como a presença de processos de comunicação mulidirecionais e transversais:
b) Na políica governamental, é fácil ideniicar insituições e enidades que surgiram, nas úlimas
décadas, para escutar ou dar voz à sociedade civil (comitês mistos de biossegurança e bioéica, comitês
parlamentares para o debate ou a invesigação de determinados temas tecnocieníicos etc). Uma série
de operações, às vezes eicazes, outras vezes de fachada ou demagógicas, sinalizam uma nova retórica
governamental, que pretende permiir não apenas a inclusão social, mas uma paricipação social
“de baixo para cima” na tomada de decisões sobre aspectos importantes da C&T contemporânea.
Nos úlimos anos, se muliplicaram, não apenas em países do norte do mundo, experimentos
como conferências de consenso, júris cidadãos, referendos sobre temas tecnocieníicos diversos
(privacidade informáica ou privacidade genéica, comida transgênica, pesquisa com embriões,
antenas de telefonia celular, indústria nuclear...).
Esses exemplos (e poderíamos apresentar muito mais) mostram que a comunicação da ciência é hoje um
ecossistema complexo, em que os canais tradicionais da educação e divulgação (ensino, museus, divulgação
e jornalismo) têm um papel importante, mas não único. Hoje, a comunicação pública da ciência nem sempre
tem por origem os cienistas e suas insituições, e nem sempre tem por mediador um divulgador, jornalista
ou educador proissional. Blogs, redes sociais, movimentos sociais mostram, cada vez mais, como grupos
organizados (de pacientes de doenças raras, por exemplo, ou de militantes ambientalistas) conseguem
trocar informações cieníicas e técnicas entre si (em listas de discussão, convidando especialistas a juntar-
se à sua causa ou incenivando militantes a se tornarem também especialistas etc.) e adquirir, em alguns
casos, notável domínio do jargão e dos métodos cieníicos. Às vezes, tais grupos e movimentos adquirem
a capacidade também de produzir ciência “de baixo para cima”, juntando dados alternaivos (relatórios de
impacto ambiental, dados epidemiológicos etc) aos fornecidos por insituições de pesquisa tradicionais.
Por isso, muitos cienistas acreditam numa função uilitária da comunicação em prol da própria
ciência: o apoio da opinião pública é um ingrediente importante hoje para garanir a coninuidade
no inanciamento da C&T. Além disso, alguns cienistas acreditam que exista uma certa hosilidade
pública contra a ciência (ou, ao menos, contra determinadas áreas de pesquisa). Segundo eles, é preciso
restaurar a simpaia do público frente à ciência, para garanir a liberdade de pesquisa. Muitos cienistas
acreditam que comunicar a ciência aos públicos “leigos” seja fundamental para gerar “anicorpos”
contra aitudes anicieníicas e obscuranistas.
Assim sendo, o cienista, atualmente, nem sempre pode escolher se comunicar, e nem sempre escolhe
fazer isso como obrigação moral, como desejo iluminista de democraizar o saber. Alguns pesquisadores e
suas insituições comunicam e dialogam com o público porque precisam e devem.
Atualmente, todas essas argumentações coninuam válidas, mas inseridas num contexto em que a
comunicação pública da ciência se torna uma aividade mais complexa, transversal e mulidirecional, o
que tem implicações importantes não apenas para responder perguntas sobre “por que comunicar”, mas
para dotar-se também de ferramentas não obsoletas sobre “como” e “o que” comunicar.
Se é verdade que o cidadão tem direito à informação e ao conhecimento cieníico, atualmente é verdade
também que, para muitos, informar-se e conhecer a ciência e a tecnologia é uma necessidade, ou até
mesmo um dever. Embora, obviamente, a estraiicação social faça com que o acesso ao conhecimento,
o interesse e a consciência da importância disso sejam tremendamente desiguais na sociedade, não é
exagero airmar que o cidadão cada vez mais quer saber, precisa saber, precisa estar conectado com o
luxo de informação e de debates que têm por centro de gravidade a tecnociência, seja para exercer uma
Parte I • Textos de relexão
cidadania plena ou para sua carreira e vida pessoal, como pai, consumidor, militante.
Ao mesmo tempo, embora, em muitas áreas acadêmicas, os pesquisadores possam (e queiram) gozar
de relaiva autonomia e impermeabilidade às demandas sociais (e às pressões econômicas e políicas),
vivendo com relaivo conforto em suas torres de marim, não é exagero airmar que a ciência precisa
dialogar e negociar com grupos sociais variados. Se é verdade que democraizar o conhecimento é um
nobre compromisso do cienista, atualmente é também verdade que a comunicação com não-especialistas
se tornou inevitável para muitos pesquisadores, e que a mídia é parte de estratégias para fazer lobby
cieníico, para legiimar certas pesquisas, para garanir apoio políico e recursos inanceiros (públicos
e privados) ou até mesmo para alavancar a própria carreira acadêmica. O cienista precisa comunicar e,
em situações de controvérsia ou de polêmica sobre sua atuação, exige o direito de comunicar ao público.
A comunicação pública da ciência está se tornando menos uma opção e mais uma parte integrante do
metabolismo da tecnociência.
A ciência faz parte de nossa cultura, de nossa maneira de criar arte, de nosso medos e fantasias, de nossa
práica e de nosso pensamento. A ciência é apropriada ou debaida, de forma mais ou menos aperfeiçoada,
por setores relaivamente importantes da população. São necessárias, portanto, não mais “seringas” para
inocular informações e noções, mas, sobretudo, bússolas de qualidade para a informação que já circula.
Precisa-se não só de “explicadores” da ciência, mas também de críicos da contemporaneidade, para que
a informação se torne autênico conhecimento. Precisa-se de comunicadores que sejam catalisadores
de debates e discussões democráicas, para que, cada vez mais, informação e conhecimento possam
signiicar empoderamento, capacidade de agir, paricipar, decidir “de cima para baixo”, como a retórica
da maioria das democracias contemporâneas está pregando há alguns anos. Eis, a nosso ver, a reposta
central à pergunta “por que comunicar” e, ao mesmo tempo, o maior dos desaios para os comunicadores
do século 21.
“Se a ciência, em concorrência com outros assuntos públicos importantes, deve ganhar inanciamento
quando se decide das prioridades dos recursos, há a necessidade de uma ampla aceitação da ciência
e de seu papel. Ao mesmo tempo, o mundo da ciência depende da habilidade de atrair jovens
talentosos”. (Declaração do Ministro de C&T da Dinamarca em seu relatório baseado no think-tank
“Research and Tell”, 2004. Disponível em:
http://rydberg.biology.colostate.edu/communicating_science/Documents/WorkshopMaterials/
CommScieWkshpNotebookParial.pdf).
“[...] Os cienistas têm uma obrigação éica de prestar conta ao público de como gerem os recursos
públicos [...] A experiência mostra que, depois que uma pesquisa é publicizada, um cienista recebe
um número signiicaivo de pedidos por parte de colegas [...] Tais contatos frequentemente vêm de
colegas de outras disciplinas, coisa paricularmente importante nesta era de pesquisa interdisciplinar.
Isso pode abrir oportunidades de colaborações ou novas inspirações no trabalho do cienista [...]
Cooperar com a mídia também aumenta as chances de que as matérias sejam mais acuradas. Enim,
a cobertura de C&T atrai mais apoio público e privado para a pesquisa, e atrai estudantes talentosos
para carreiras em ciência e engenharia.” (“Why communicate science?”. Em: Communicaing Science
News. A Guide for Public Informaion Oicers, Scienists and Physicians. Panleto da Associação
Nacional de Escritores de Ciência, EUA.)
“O modelo do diálogo leva em conta como seu ponto de parida as percepções, expectaivas,
medos e preocupações da população. Aumentar o nível de conhecimento das pessoas não é o
objeivo primário, mas é uma consequência signiicaiva de uilizar as próprias percepções delas
como base. É um modelo que corresponde melhor ao ideal ani-eliista da democracia de massa.
[...] O diálogo não deveria ser olhado meramente como forma de respeito com a democracia e a
população [...] ele é também necessário para o bem da própria ciência. A aitude do público sobre
uma determinada tecnologia, independentemente da base para esta aitude, será um fator que
contribui para priorizar iniciaivas de pesquisa. A controvérsia sobre recursos para pesquisa europeia
em biotecnologia vegetal é um exemplo desta inluência. Depois de acalorada oposição popular
contra plantas e alimentos geneicamente modiicados, tanto a União Europeia quanto alguns países
membros reduziram o inanciamento público para pesquisa vegetal durante alguns anos. Isso não só
causou uma diminuição da aividade de pesquisa, mas fez também com que boa parte da indústria
biotecnológica voltada para plantas abandonasse a Europa. Um outro exemplo da inluência pública
é a diiculdade que as ciências naturais têm em fazer o branding de si mesmas. Faz vários anos que
as ciências naturais em grande parte da Europa têm diiculdade em atrair suicientes talentos. Uma
imagem pública pobre com certeza carrega parte da culpa por isso...” (Balling G, Frank L. Dialogue in
cyberspace. Londres: Briish Council, s.d.)
cieníicos e técnicos será também crucial para resolver muitos problemas diíceis que a sociedade
vai enfrentar. [...]
- Melhorar a credibilidade da engenharia e da ciência
As pessoas hoje estão preocupadas com as consequências sociais da ciência e da tecnologia –
especialmente os impactos ambientais. [...] As pessoas ouvem falar que muitos cienistas têm
conlitos de interesses e querem saber como isso afeta suas opiniões cieníicas. Gostem ou não,
os cienistas e a empresa cieníica estão sendo desaiados. Todos os cienistas e engenheiros têm a
responsabilidade de discuir o que eles fazem e por que isso é importante para a sociedade.
- Construir aceitação para a ciência
Muitos pesquisadores estão trabalhando em problemas cieníicos e tecnológicos [...] que impõem
escolhas éicas à sociedade. [...] A mudança é parte da vida moderna e as críicas são um efeito
inevitável da mudança. Precisamos construir agora a aceitação e o apoio para as aividades de
pesquisa, para resisir às críicas no futuro.
- Obter apoio para inanciamento futuro
Garanir inanciamento para a pesquisa é uma batalha anual. Os líderes políicos são assediados por
interesses em compeição. Os governos [...] encontram diiculdades crescentes em fazer invesimentos
em nosso bem-estar econômico e social, especialmente quando os beneícios parecem muito longe.
Um apoio consistente dos canadenses comuns e de seus representantes eleitos é essencial para o
sucesso da empresa de pesquisa.
Fonte: NSERC (Naional Sciences & Engineering Research Council of Canada). “Why Communicate?”.
Em: Communicaing Science to the Public: A Handbook for Researchers, 2004. Disponível em: htp://
www.nserc.ca/seng/how1en.htm. Acesso em abril de 2008. [Tradução e grifos meus]
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O conhecimento cieníico e tecnológico é hoje – não será necessário argumentar – um dos principais
geradores das dinâmicas de mudança econômica, social e cultural em nível mundial. A ciência tornou-se
um importante recurso econômico, uma das bases fundamentais da decisão individual e coleiva, e um
dos componentes mais relevantes do patrimônio cultural das sociedades contemporâneas, com grande
inluência na forma como nos vemos a nós próprios e ao mundo à nossa volta (Stehr, 1994).
As aplicações do conhecimento de base cieníica são inúmeras e alastram-se às mais variadas esferas da
vida social – do trabalho ao lazer, da políica à arte, ao ambiente ou à saúde. Elas contribuem, sem dúvida,
para a superação de muitos dos problemas com os quais a humanidade se tem confrontado, abrindo não
raras vezes novas oportunidades de desenvolvimento econômico ou social. Certo é, contudo, que muitas
de tais aplicações estão longe de estar isentas de riscos e controvérsias; como têm também estado longe
de beneiciar de igual modo todas as camadas das nossas sociedades.
Num contexto em que a ciência penetra os mais diversos domínios da vida social e em que o conhecimento
cieníico se airma como elemento central em muitos dos desaios enfrentados nas sociedades
contemporâneas (seja como causa, seja como instrumento de ponderação e resolução de problemas), as
questões ligadas ao desenvolvimento cieníico estão longe de tocar apenas aqueles que estão diretamente
envolvidos na produção da ciência. Pelo contrário, elas a todos dizem respeito. A recorrente presença
desses temas nas agendas dos meios de comunicação social é justamente relexo disso.
Em outras palavras, a ciência se airma, hoje, não só como insituição e forma de conhecimento especializado
mas, também, como patrimônio coleivo e problema social (Costa, Conceição, Ávila, 2007). Por isso, se
pode considerar que a parilha dos saberes associados à ciência e, designadamente, a criação de condições
para sua efeiva apropriação e críica informada serão instrumentos indispensáveis à cidadania.
Tal como a questão tem vindo geralmente a ser colocada, promover a cultura cieníica das populações passa
tanto por reforçar o ensino formal das ciências, tornando-o mais universal e eventualmente experimental,
como por suscitar outros ipos de interações com a ciência e outras aprendizagens, de caráter informal,
junto da generalidade dos cidadãos. Se a escola é, sem dúvida, um dos palcos privilegiados para o contato
precoce com os produtos e procedimentos da ciência (para além de ser, obviamente, um espaço de
formação decisiva para os proissionais nessas áreas); não são de menor importância outras formas de
comunicação da ciência, protagonizadas por outros agentes e dirigidas a audiências não necessariamente
escolares, que são livres de escolher o que mais lhes interessa ou de optar por diferentes graus e modos
de paricipação nas aividades propostas2.
Parte I • Textos de relexão
Exemplo disso é a cobertura midiáica conferida a determinados temas de caráter cieníico, que
propicia a audiências bastante numerosas e diversiicadas o contato com esses assuntos num plano
quoidiano; mas, também, os livros e revistas de divulgação cieníica, os centros e museus de ciência, as
conferências ou outros encontros alargados a públicos não-especializados, as feiras de ciência, ou toda
uma panóplia possível de outros eventos consituídos em torno da ideia de dar a conhecer ao cidadão
comum os fundamentos, os métodos e os avanços das ciências, ou ainda suas aplicações, implicações e
controvérsias. Mais recentemente – e, de algum modo, respondendo aos apelos para a criação de formatos
de comunicação mais propícios ao diálogo entre cienistas, cidadãos e decisores – são de considerar, neste
âmbito, também os chamados cafés de ciência e as conferências de consenso, entre outros.
Qualquer que seja a modalidade uilizada, a aproximação das populações à ciência está longe de ser
tarefa fácil ou isenta de contradições. Se é certo que o conhecimento cieníico se tornou, em alguma
medida, onipresente nas mais variadas esferas de aividade social, a todos tocando de forma direta ou
indireta, certo é também que este ipo de saber tem se tornado cada vez mais especializado e complexo,
dependente do trabalho de proissionais altamente qualiicados a operar em organizações também muito
especializadas. A diiculdade de ariculação entre as linguagens dominantes no campo cieníico, no meio
escolar, nos meios de comunicação de massa ou na vida coidiana em geral tende, pois, a estar latente em
qualquer daquelas aividades. Por outro lado, a comunicação e o debate de questões de ordem cieníica
são, pela própria centralidade e complexidade do papel social da ciência nas sociedades contemporâneas,
1 Não se incluem aqui – embora em senido lato pudessem também ser consideradas manifestações de ariculação
entre ciência e sociedade – iniciaivas respeitantes à promoção da interação entre insituições cieníicas e os mais
variados setores da economia ou administração pública. Note-se também que a expressão “promoção da cultura
cieníica” remete aqui, em termos genéricos, para todo um conjunto de signiicados e aividades que, noutros
âmbitos, surgem frequentemente associados a termos como “literacia cieníica” ou “compreensão da ciência pelo
público”. É evidente que se reconhece que tais expressões nem sempre podem ser entendidas como equivalentes,
mas considerou-se inoportuno o aprofundamento desse ipo de disinção analíica neste contexto.
2 É nesse senido que alguns especialistas no tema designam os espaços de contato informal com as ciências como
palcos para “aprendizagens em contexto de livre escolha” (Falk, Storksdieck, Dierking, 2007).
Nos úlimos anos, tem sido evidente o debate acerca da legiimidade e da eicácia dessas diversas opções.
Mais em paricular, tem estado em pauta o confronto entre diferentes entendimentos sobre a natureza
dos “déicits” que tais aividades podem pretender suprir (Gregory, Miller, 1998; Dierkes, Grote, 2000;
Bauer, Allum, Miller, 2006).
De forma muito sintéica, numa primeira abordagem (em larga medida fruto das conclusões dos estudos
sobre a literacia cieníica das populações), tratar-se-ia de contrariar o fraco interesse sobre temas de
ciência e de atenuar a escassez de conhecimentos acerca das principais teorias cieníicas ou dos métodos
de pesquisa, que boa parte das pessoas parecia indiciar.
Num segundo momento, ter-se-ão deslocado as atenções mais especificamente para a questão das
atitudes dos cidadãos face à ciência. Se, por um lado, os fracos níveis de conhecimento poderiam
indicar dificuldades acrescidas no acesso e na apropriação de saberes e competências que se
assumiam como centrais para a participação ativa de todos os cidadãos nas mais variadas esferas
sociais (pondo em causa, designadamente, objetivos de desenvolvimento econômico e de inclusão
social); por outro, a aparente manifestação de atitudes de desconfiança ou mesmo rejeição face à
ciência entre determinados grupos sociais poderia desafiar a manutenção do apoio às atividades de
pesquisa (em muitos casos, com financiamentos públicos), a captação de jovens com interesse em
desenvolver carreiras profissionais nas áreas da ciência ou tecnologia, ou ainda a própria adesão dos
consumidores a determinado tipo de produtos.
Nos úlimos anos, porém, o discurso de muitos dos analistas, e inclusive de algumas das agências públicas
e organizações não-governamentais com intervenção nestes domínios, vem mudando – à medida
que se desenvolvem novas críicas em relação à ciência ou à incerteza das suas implicações, que (re)
emergem ideais de uma democracia paricipaiva e que se revela errônea a premissa segundo a qual mais
conhecimento implicaria necessariamente uma adesão mais posiiva face à ciência e seus produtos. O
“modelo do déicit”, tal como inha sido entendido até então (déicit de conhecimentos e/ou de aitudes),
começa a ser cada vez mais quesionado.
Nesse contexto, destacam-se, muito em especial, novos alertas quanto à necessidade reconsiderar o papel
dos cidadãos na relação entre ciência e sociedade. Defende-se que estes sejam entendidos não como uma
audiência, tendencialmente ignorante ou irracional, que deve ser educada ou sensibilizada quanto ao
Por um lado, criica-se o eventual destaque excessivo que tenderia a ser dado, nos mais tradicionais
modelos de educação e divulgação cieníica, aos resultados da ciência, às suas teorias e descobertas,
opção que contribuiria para a difusão de uma imagem irrealista da aividade cieníica ou para uma certa
sacralização dos seus métodos e protagonistas (Nelkin, 1987; Durant, 2005). Pelo contrário, defende-
se uma maior ênfase na apresentação dos processos pelo quais os quais a ciência se conduz – ou seja,
daquilo que alguns denominam a “ciência tal qual se faz”, com os seus erros, incertezas e controvérsias
– bem como na muliplicação de espaços de debate acerca do impactos e implicações do conhecimento
Parte I • Textos de relexão
cieníico. Considera-se que tal opção poderá melhor servir à difusão de uma imagem mais razoável do que
a ciência efeivamente é; para além de ir mais de encontro aos interesses e preocupações dos cidadãos,
podendo dotá-los das competências que estes realmente necessitam nas sociedades contemporâneas
(Shapin, 1992).
Por outro lado, quesiona-se até que ponto é perinente ou adequado conceber as audiências das ações
de promoção de cultura cieníica sem atender aos diferentes segmentos que as compõem e aos diversos
modos como estes se relacionam com a ciência (Costa, Ávila, Mateus, 2002); ou até que ponto faz senido
entender tais audiências apenas como receptáculos vazios de conhecimentos prévios ou de inquietações
relevantes. Pelo contrário, (re)vitalizam-se os saberes de ordem local, as percepções e aitudes dos
cidadãos, como elementos tão (ou mais) válidos que os saberes cieníicos na discussão de temas ligados
à ciência e suas implicações sociais (Wynne, 1991; Irwin, Wynne, 1996).
Como se vê, este ipo de debate – e a mudança de paradigma a respeito da relação entre ciência e públicos
que lhe está subjacente – acaba por assentar numa certa polarização das opções e concepções relaivas
aos conteúdos, aos desinatários ou às estratégias comunicaivas a adotar nas ações de promoção de
cultura cieníica (Conceição, Gomes, Pereira, Abrantes, Costa, 2008). De forma sintéica, poder-se-ão
considerar as seguintes oposições:
e) entre uma apresentação “discursiva” (ou seja, tendencialmente exposiiva, colocando o desinatário
sobretudo no papel de ouvinte/espectador) e uma apresentação “experimental” (interaiva, hands-on
etc., colocando o desinatário em papéis de interveniente, manuseador, decifrador, planejador ou
interlocutor), cada uma reivindicando para si eicácias especíicas: maior formalização e integração
conceitual, no primeiro caso; maior capacidade de compreensão do processo cieníico ou de
implicação/paricipação de todos os intervenientes, no segundo;
f) entre uma apresentação “espetacular” (mais voltada para a encenação atraente e a adesão
emocional) e uma apresentação mais “relexiva” (orientada para a compreensão intelectual, para a
experimentação releida ou para o confronto/integração de perspecivas);
g) entre um contato “a distância” (designadamente face aos cienistas, realizado através de diversos
meios indiretos, por exemplo, ilmes, livros, exposições etc.) e uma apresentação “por contato direto”
(com os cienistas e as suas práicas de invesigação, ou com os projetos em discussão), em geral
prevalecendo, no primeiro caso, a amplitude potencial de difusão, e, no segundo, a perinência e
profundidade dos processos de formação da cultura cieníica.
Muitas das análises da história da comunicação da ciência junto a públicos ampliados tendem a apresentá-
Claro está que as tentaivas de encontrar uma certa linearidade na evolução desse ipo de práicas podem
ter um certo potencial de análise e ilustração das mudanças em curso (como, aliás, se procurou explorar).
E que é certamente justo denunciar que muitas das práicas de divulgação cieníica mais tradicionais
tendem a ser, não raras vezes, unilaterais e incompletas – para além de, provavelmente, pouco eicazes. É
evidente, também, que as alternaivas propostas pelos críicos do modelo do déicit põem em evidência
aspectos perinentes, como os impactos sociais da ciência e a pluralidade de sensibilidades e interesses
face a esse tema, ou a relevância do diálogo das ciências com outros universos culturais.
Importa, contudo, não perder de vista que, na práica, muitas das aividades de promoção da cultura cieníica
Parte I • Textos de relexão
atuais, “tal como ela se faz”, combinam produivamente vários dos pólos acima ideniicados, até porque
estes remetem, em boa medida, mais para aspectos complementares do que mutuamente exclusivos,
tendendo todos eles a demonstrar valor efeivo na aproximação entre ciência e públicos. Restringir o
leque de opções entendidas como legíimas poderá, nesse senido, acarretar diiculdades acrescidas no
planejamento de aividades, para além de poder signiicar igualmente a adoção de estratégias unilaterais
ou incompletas. Muito em paricular, convém não esquecer que o estabelecimento de diálogos efeivos
entre os mais diversos saberes e atores sociais não será certamente contrário à manutenção dos esforços
no senido da aquisição de conhecimentos e competências de caráter cieníico pela população – com o
que essa familiarização signiica em termos de empoderamento, acesso e capacidade de paricipação, em
nível pessoal, e de desenvolvimento, no plano societal.
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La verdad es más sencilla pero no por eso menos importante o atrayente. El periodismo cieníico, paricularmente
en los países en desarrollo, se realiza en ambientes menos glamorosos pero rodeados de retos.
En las próximas páginas trataremos de aproximarnos a una deinición del periodismo cieníico, sus
principales diicultades y desaíos, y algunas formas de encararlos.
En una palabra, el periodismo cieníico, más que una vitrina para exhibir las novedades en el mundo
de la ciencia y la tecnología, será también un espacio de conluencia entre los ciudadanos y los saberes
o conocimientos cieníicos que circulan en nuestro mundo global. En ese gran ámbito los periodistas
actuamos como propiciadores de esos encuentros entre constructores y usuarios del conocimiento
cieníico, a sabiendas de que es un proceso dinámico en el que cambian tanto los roles (quienes unas veces
producen otras veces usan), como el conocimiento en sí mismo (lo que en un momento se consideraba
una verdad en el siguiente se puede poner en duda).
El periodismo cieníico será entonces una prácica que: a) cree espacios de encuentro entre constructores
y usuarios del conocimiento cieníico, b) propicie el desarrollo humano de nuestras sociedades.
Desaíos y riesgos
Como todo aquello que vale la pena, la tarea no es sencilla, entre otras cosas por las diicultades que
implica, entre las cuales están: la dinámica del periodismo y de los medios para los que trabajamos; el
territorio siempre resbaladizo del lenguaje; las diferentes prácicas de quienes producen conocimiento
cieníico, así como las representaciones de ciencia y la cultura cieníica de la sociedad en que vivimos.
Una primera recomendación para enfrentar el reto es reconocer los potenciales y limitaciones de
nuestro trabajo.
Pero éstos, por sus propias caracterísicas, podrían estar limitados para comparir ciencia. Una muestra es
la rapidez de la caducidad del mensaje periodísico. Pensemos por ejemplo en las emisiones televisivas:
Isaac Nahon (1994) asevera que estos mensajes necesariamente se construyen en la clave del espectáculo
televisado. Es decir, fugaz, evanescente, anclado a la novedad, a la uilidad inmediata y a lo sensacional.
Otro tanto podríamos decir del mensaje periodísico impreso que si bien aspira a mayor permanencia
Parte I • Textos de relexão
también es de corta duración y debe basarse en lo actual y lo novedoso como impulsos primarios.
Las lógicas de producción de los medios de comunicación imponen una dinámica y una forma especíica a los
mensajes de tal manera que los revisten de espectáculo o de novedad, que los reducen al mínimo y en muchos
casos limitan las posibilidades de explicar, de contextualizar. Los pueden volver triviales y desechables.
Por no hablar de los periodistas, que muchas veces no contamos con la formación suiciente para
encarar las complejas informaciones sobre ciencia, tecnología o innovación; o simplemente no recibimos
apoyo suiciente del medio para el que trabajamos. Un ejemplo relaivamente frecuente es que por
desconocimiento o por orientación de los medios para los que trabajamos podemos incurrir en el error de
confundir la ciencia con seudociencia o aniciencia.
Sami Rozenbaum (2001) detectó que los periódicos venezolanos no son rigurosos al momento de difundir
la información cieníica o pretendidamente cieníica. Para efectos de su análisis, formuló una clasiicación
de categorías sobre temas relacionados con la temáica cieníica: seudociencia y aniciencia (la primera,
parasita la terminología cieníica y la segunda, adversa las nociones de ciencia).
El autor encontró que el abordaje de estos temas en la prensa aparentemente se basa en tocar temas
de actualidad “con una aceptación generalmente acríica que se releja en su tratamiento, poco exigente
en cuanto a detalles y evidencias” (Rozenbaum, 2001, p. 193). El propio invesigador sugiere que el solo
hecho de tratar temas seudocieníicos y anicieníicos en la prensa, aumentaría su aceptación en amplios
sectores de la población.
Los puntos antes mencionados podrían conspirar contra la posibilidad de crear espacios comunes para
comparir ciencia y saberes úiles para el desarrollo humano.
Puede ocurrir que nuestras elecciones tengan resultados contradictorios con los objeivos del periodismo
cieníico: “antes que facilitar la comprensión, ese ipo de cobertura crea una distancia entre cieníicos y
público que oscurece la importancia de la ciencia y sus efectos en nuestra vida diaria” (Nelkin, 1990, p. 29).
Es decir, debemos tener plena conciencia de lenguaje para que éste no nos haga jugarretas cuando
tratamos de escribir y comparir ciencia.
También es necesario aprender a manejar las contradicciones entre las prácicas, métodos y entornos
de los profesionales de la comunicación social, y los profesionales de la invesigación, la ciencia o la
innovación, inmersos en dinámicas y objeivos que a veces parecen opuestos a los nuestros.
Y, como serpiente que se muerde la cola, el ciclo se cierra o se inicia con los imaginarios: las representaciones
que sobre ciencia o cultura cieníica ienen los usuarios de nuestros mensajes, representaciones que en
parte son creadas por los medios de comunicación y en parte están en nuestros trasfondos sociales (y por
eso son mostradas a través de los medios). Estas pueden ser nuestros aliados o una barrera para nuestra
meta comunicacional.
Una imagen que aparentemente prevalece en las audiencias lainoamericanas es la de la ciencia como
epopeya (OEI/RICYT, 2003) que nos remite a la idea de lo míico, inalcanzable y logrado sólo por algunos
(siempre pocos) héroes. Otra imagen es la de la ciencia como fuente de riesgo: “Debido a su conocimiento,
los cieníicos pueden ser peligrosos” (Cruces y Vessuri, 2004, p. 47), en la que encontraríamos
reminiscencias de los mitos del Golem y de Frankenstein, como ha dicho Castelfranchi (2003). Este autor
asevera en que cuando la ciencia se transmite como una presentación de “estrellas”, se le asume como un
espectáculo, pero cuando se le presenta sólo a través de descubrimientos o aplicaciones, se muestra como
algo maravilloso, mágico y por tanto inalcanzable. Se trata de imágenes atracivas, pero que no muestran
en absoluto las verdaderas dimensiones de esta acividad humana.
A estos desaíos debemos sumar los que nos proponen las nuevas tecnologías de la comunicación: la
interacividad, la presencia de audiencias más informadas y exigentes y la muliculturalidad. Ahora, más que
nunca, los periodistas producimos trabajos que circulan globalmente y que serán uilizados por personas que
muchas veces saben más de los temas que nosotros, que provienen de culturas muy disintas y por tanto
ienen visiones de mundo más complejas, y lo mejor de todo: que quieren ser escuchadas y atendidas.
Lo primero será revisar nuestras propias preconcepciones de ciencia y saber cada vez más y mejor de aquello
de lo que queremos hablar. Luego, habrá que mostrarla como la acividad humana que es, producto de
un proceso colecivo de ensayos, errores, relexiones, caídas y recomienzos, que usa un método bastante
democráico para seguir haciéndose preguntas e indagando sobre el conocimiento.
También deberemos asumir la complejidad de la tarea para quienes vivimos en los países en desarrollo,
con el insistente asalto de las informaciones de las grandes agencias de noicias sobre los resonantes
logros de la ciencia en los países industrializados, por una parte, y por la otra la modesia de la ciencia de
nuestras laitudes, disputando el escaso espacio que se concede en general a estos temas en los medios
de comunicación.
Saber más sobre la ciencia como prácica, conocer sus métodos y su ilosoía es un buen punto de
parida. Y romper el corsé de los clásicos valores y atributos de la información noiciosa y de los mensajes
estereoipados a los que estamos acostumbrados por parte de los medios de comunicación será otro
excelente paso. Debemos ir más allá de la actualidad, proximidad, prominencia, rareza, conlicto, suspenso,
y empezar a enfocarnos en signiicación social, interés humano y comenzar a pensar en la uilidad social,
esa que hará posible el desarrollo humano de nuestras sociedades.
Invesigar rigurosamente los temas y mantener nuestro senido críico y escepicismo frente a la información
es siempre una buena prácica periodísica, que debe acompañarnos siempre en el periodismo cieníico:
veriicar, reconirmar con varias fuentes, buscar nuevas voces y abrir el grupo de personas a las que
siempre consultamos redundará en beneicio de aquellos para quienes trabajamos.
También debemos seleccionar con cuidado qué vamos a decir y cómo vamos a decirlo: nuestras palabras
resuenan en las mentes de quienes nos leen o nos escuchan. Ese poder acarrea una gran responsabilidad
que es preciso asumir.
Es importante comprender que audiencia no es sólo el público que se segmenta para efectos de raing
o de efecividad informaiva. Las audiencias, reiteramos, no son un recipiente vacío, una tela en blanco
que espera pasivamente a ser enriquecida con un saber transferido. Están consituidas por personas,
por ciudadanos, por generadores de senido que confrontan sus saberes (basados o no en racionalidad
cieníica) con lo que se les entrega vía medios de comunicación social. Es necesario arriesgarse y propiciar
una rica interacción con ellos.
La comunicación de la ciencia, entonces, debe abordarse como proceso de aprendizaje social en el que
por un lado, todos los involucrados aprenden en una relación dialógica, y por el otro, se usen tanto
formatos como contenidos de la comunicación novedosos, diversos, múliples y vinculados con las vidas y
Parte del compromiso será empezar a hacer uso intensivo de los medios que permitan una comunicación
más horizontal. Es decir, más radio, más medios locales o comunitarios, más medios digitales. Pero
atención: la comunicación dialógica es más un asunto de acitud que de herramientas o tecnologías. Si
nos quedamos simplemente en un rol de informadores, fracasará la posibilidad de interactuar.
Nuestro trabajo es la temaización, es decir, la puesta sobre el tapete de la opinión pública de los temas
relacionados con ciencia y políica cieníica. Este será el mejor aporte que podamos hacer quienes tratemos
de comparir información sobre ciencia y tecnología en los medios masivos. Y para ello, es preciso usar
eicaz pero cuidadosamente la lógica de los medios y de los mensajes que allí deben producirse, a in de
que el colecivo se sensibilice por los temas y por las decisiones importantes que deben tomarse basados
en la ciencia.
A manera de cierre
En síntesis, los divulgadores y periodistas cieníicos no somos Prometeo reencarnado. No somos puentes
sino creadores de discursos sobre ciencia. Ponemos en la agenda pública y hacemos circular información
úil que debe construirse según la lógica de los medios masivos, pero sobre todo con la mira puesta en la
aspiración de desarrollo humano de nuestras sociedades.
Y el logro de ese objeivo pasa por una cierta militancia ciudadana: a sabiendas de las limitaciones de los
medios de comunicación, los periodistas cieníicos debemos favorecer que la comunicación pública de la
ciencia, la tecnología y la innovación forme parte de las políicas de Estado de manera decisiva. Y dentro de lo
posible, apoyar la construcción de espacios académicos plurales que permitan formar estos comunicadores
de la ciencia capaces de relacionarse desde una perspeciva más reicular, más dialógica y menos informaiva.
Ese será el primer paso para comunicar mejor y comparir ciencia con nuestras audiencias.
1. Incluya en los trabajos información que ayude al público a adoptar medidas para mejorar su
calidad de vida.
2. Conirme todo y tenga cuidado con las fuentes que se aventuran a opinar sobre asuntos fuera de
su esfera de competencia. Jamás airme nada si no hay pruebas concluyentes al respecto.
3. Es mejor indagar sobre procesos antes que sobre productos, manejar ideas tanto como hechos.
4. El tratamiento debe ser cuidadoso. Que la información muestre un opimismo prudente o un
pesimismo esperanzado, como dice Manuel Calvo Hernando (1971).
5. La información debe ser profunda, trascendente y humana. El lenguaje, sencillo y preciso.
Debemos esimular la capacidad de relexión de la audiencia.
6. No olvide que el usuario de la información lo está interrumpiendo cada diez líneas para preguntar
“por qué”, “para qué”, “cómo me afecta esto”, “en qué me concierne”. Si su pregunta tácita no es
respondida, nos abandonará y perderemos nuestra oportunidad de comunicar.
7. La información, incluso la insitucional, debe ser noiciosa.
8. No hable en el lenguaje de los invesigadores.
Parte I • Textos de relexão
9. Los itulares deben ser atracivos, pero no deben prometer lo que el mensaje no va a cumplir. Y
por cierto, no deben ser lo único entretenido del texto.
10. Use los recursos del diseño para mantener el interés en el mensaje. Los recuadros, llamados o
inter-textos cortos permiten explicar contexto (fechas, nombres de invesigadores, puntos clave)
para que el texto no decaiga.
Estas son algunas recomendaciones que propone Timothy Johnson (2005) para ayudar al público a
comprender mejor la información:
¿Es suicientemente bueno como para jusiicar la atención pública? ¿El público puede evaluar
debidamente los resultados con la información que presentamos?. ¿Se ha evitado hacer una
evaluación simplista (bueno/malo)? ¿Se ha presentado el cuadro general, no sólo puntos selectos
que pueden dar una idea equivocada?¿Está claro a quién se aplican los resultados y cuáles son
las ventajas y desventajas? ¿Se han divulgado las fuentes de inanciamiento del estudio y ha sido
éste revisado por colegas? ¿Se ha consultado con otros cieníicos de presigio y se ha veriicado la
iabilidad de la fuente primaria? ¿Se ha examinado el estudio íntegro (no sólo los resúmenes y las
fuentes secundarias)?
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Acianela Montes de Oca es columnista del diario El Nacional, y profesora invesigadora de la Universidad
Católica Andrés Bello, en Caracas, Venezuela.
“En esta época de globalizadas misiicaciones mediáicas y miiicaciones culturales, hay muchas
razones para ejercitar y difundir el pensamiento que ilustra… ilustrar consiste en comparir el saber para
que alguna vez sea posible comparir el mundo.”
(Manuel Marín Serrano, 2010)
La globalización, fenómeno objeivo situado en el núcleo de la cultura moderna, supone tanto una amenaza
por su capacidad estandarizadora, temida y anunciada por algunos como una alternaiva posible, pues “la
macdonalización del mundo no aparece ya en el horizonte como un futuro ineluctable” (Díaz-Polanco,
2008, p. 189); los afanes idenitarios se muliplican en una escala nunca vista. Pero es un hecho innegable
que la globalización implica cambios culturales, que agudizan las contradicciones. “Esta dimensión
transnacional, globalizada, o intercultural apenas está empezando a tener efectos sobre la deinición de
cultura” (Canclini, 2001, p.129).
Con respecto a la relación entre ciencia, tecnología y desarrollo económico en América Laina, vale
recordar que si bien la insuiciente aplicación de resultados cieníicos y tecnológicos a la pequeña y
mediana empresa igura entre las causas que algunos organismos internacionales y expertos atribuyen a
las diferencias abismales entre los países desarrollados y los subdesarrollados, no es posible pasar por alto
que aunque esta quizás no sea, ni la única, ni la más importante razón que explique ese fenómeno, no cabe
duda de que contribuye de manera importante a la desigualdad que se advierte entre esos dos mundos en
el plano social y económico. La causa que lo moiva no responde solamente a la inercia mental o la falta de
espíritu emprendedor por parte de los empresarios, como aseguran algunos, sino a factores estructurales
directamente vinculados con el desarrollo, las estrategias y políicas nacionales y de los centros de poder,
dentro de lo cual se inscriben fenómenos asociados al denominado robo de cerebros.
¿Es un desino inevitable la supuesta estandarización de los valores a consecuencia del discurso cultural
globalizador? ¿Existen alternaivas posibles para el fortalecimiento de los valores culturales e idenitarios
de nuestros pueblos? ¿Cómo puede inluir en ello el desarrollo de la cultura cieníica y la comunicación
de la ciencia y la tecnología?
Para intentar responder estas preguntas, resulta ineludible referirnos al concepto de cultura, cultura
cieníica y comunicación.
La teoría de la cultura organizacional estudia esa cultura enmarcada en entornos macro sociales, y en
enidades, insituciones, empresas, comunidades; invesiga cómo se conforman los procesos colecivos
de construcción de signiicados, de orientación hacia la razón de ser de una organización, y cómo los
integrantes de ella encuentran su senido, mediante la interpretación de símbolos que se construyen en
la comunicación con otros miembros. Este modelo de raíces antropológicas y sociológicas, ve a la cultura
como un fenómeno social, desarrollado a través de la interacción humana, es decir, de la comunicación, y
resultado de la experiencia social.
movimiento y desarrollo.
Carlos Marx, con una visión asombrosamente contemporánea, aborda los vínculos entre cultura y
comunicación, la importancia de la comunicación y el intercambio entre los hombres, y la interrelación
entre lo global y lo paricular en la cultura. Él airmó: “La conciencia de la necesidad de entablar relaciones
con los individuos circundantes es el comienzo de la conciencia de que el hombre vive, en general, dentro
de una sociedad (…) el lenguaje nace, como la conciencia, de la necesidad, de los apremios del intercambio
con los demás hombres…La conciencia por tanto, es ya de antemano un producto social, y lo seguirá
siendo mientras existan seres humanos.” (Marx, Engels, 1966, p. 31)
Si bien el fundador del marxismo no ideniica a la comunicación con la denominación que usamos hoy, es al
fenómeno comunicacional al que alude como elemento indisolublemente ligado a la existencia del hombre
como ser social, y esa comunicación se produce en agrupaciones de hombres, en colecivos, en sociedades.
Y subrayando el vínculo entre comunicación y cultura, Marx expresa: “El hombre (…) es rico en su esencia
en la medida en que es capaz de comunicarse, no sólo en su entorno más inmediato, sino a nivel global...”
(Marx, Engels 1966, p. 14). La comunicación en organizaciones no sólo es condición indispensable para
la existencia, la vida material, la supervivencia, sino también para la vida espiritual y su enriquecimiento,
vale decir, la cultura.
A juicio de Lucas Marín, la comunicación es tanto el modo de recibir la cultura como el instrumento uilizado
En la cita se reiere este autor español a enidades micro sociales, no obstante, su enfoque podría resultar
úil para aplicarlos a grupos sociales más amplios, y relacionarlo con la necesidad de construcción de
signiicados relacionados con la ciencia y la tecnología, saberes, experiencias, descubrimientos cieníicos
que contribuyan a mejorar el mundo y hacer posible el futuro.
Pero no se trata de la comunicación concebida desde paradigmas que preponderan el valor de lo signiicados
y su construcción y trascienden modelos de corte trasmisivo, más simpliicadores. En ese modelo de corte
cultural, el ser es relejado a través de la interacción social, como un individuo que construye su accionar
en interrelación con el resto. Su respuesta no es únicamente el resultado de una selección determinada
por su condición de iltro conceptual, sino se desarrolla en la interacción social y cambia en la medida en
que el contexto social cambia.
Se establecen diferencias entre los ipos de acciones, a saber: no simbólica, simbólica y social. La acción
no simbólica se reiere a los relejos condicionados, que no requieren interpretación; la acción simbólica
requiere de autodeterminación, es decir, acción e interpretación, y a un nivel superior de complejidad,
se sitúa la acción social, referida a la respuesta de un individuo a otro basada en el conocimiento del
signiicado de las palabras y acciones para el otro.
En palabras de Fisher, citado por Jablin y Putnam: “Primero, los seres humanos actúan respecto a las cosas
sobre la base del signiicado que las cosas ienen para ellos; segundo, esos signiicados son directamente
atribuibles a la interacción social que uno iene con los otros; tercero, estos signiicados son creados,
mantenidos y modiicados mediante un proceso interpretaivo que la persona realiza en su contacto con
las cosas y los demás” (1998, p. 255).
Esos signiicados que se construyen mediante la interacción con otros y la búsqueda de consenso se
apoyan en los valores de la cultura de las organizaciones, a la vez que la enriquecen y desarrollan en un
proceso de interrelación dialécica.
Desde el principio, es fundamental para este trabajo tener bien deinidos los objeivos, entre los más
importantes: elevar la cultura cieníica de la comunidad universitaria y la población en general mediante
acividades docentes, invesigaivas y extensionistas. También, promover la paricipación de las áreas
universitarias en torno al tema pues sin esa coordinación e integración resultaría prácicamente imposible
cumplir con éxito el trabajo.
información, de ahí la perinencia de crear cátedras de cultura cieníica como espacios de comunicación
de la ciencia y la tecnología.
Añádese a este imperaivo, el hecho incuesionable que en las universidades se producen un alto porcentaje
de invesigaciones siendo espacios, además, desde los cuales se pueden fortalecer los valores culturales y
las idenidades nacionales. Son los centros de educación superior lugares idéoneos para tratar de acortar
la distancia entre sociedad, universidad e insituciones cieníicas, porque desde ellos, dice David Aguilar
Peña, “a través de la divulgación social de su quehacer se puede, y se debe, contribuir a que la sociedad
supere reverencias innecesarias y temores en relación con la ciencia” (2005, p. 8).
La creación de cátedras universitarias de cultura cieníica, que privilegien entre sus prioridades básicas
la comunicación de la ciencia y la tecnología, responde a ese reclamo necesario con el objeivo de lograr
“una plena integración de saberes y una interrelación con la sociedad que permita la democraización del
conocimiento” (Valdés, 2006).
Cátedras que incorporen entre sus objeivos el diseño y la ejecución de estrategias comunicaivas adecuadas
tanto para públicos universitarios como para públicos de la comunidad. Una vez delimitados los objeivos,
hay que establecer las líneas de trabajo en lo que respecta a la divulgación, para ello las cátedras deberán
acometer la creación de espacios de interacción en el tema y de soportes convencionales y en la red, una
Algunas conclusiones
En tanto el objeivo principal de la comunicación de la ciencia y la tecnología apunta a poner al alcance de
la mayoría el patrimonio cieníico de la minoría, resulta obvio que es urgente extender la cultura cieníica
de la sociedad para lo cual se hace cada vez más necesario, indispensable, políicas integrales a nivel de
nación que jerarquicen la formación cieníica de la sociedad de manera que la ciencia se vea y actúe como
parte de la vida coidiana de la gente.
En el caso de las cátedras universitarias de cultura cieníica, los retos que afrontan están relacionados con
el alto nivel de especialización logrado por la ciencia, la especiicidad del lenguaje cieníico y tecnológico,
y la falta de preparación que en muchas ocasiones acusan los comunicadores en torno al tema.
La solución de estos problemas para las cátedras pasa inevitablemente, entre otros aspectos, por la
formación especíica de los comunicadores, y la relación entre estos y los cieníicos en la elaboración y/o
revisión de trabajos desinados a los diferentes públicos por cualquier medio y en cualquier soporte.
Las cátedras de cultura cieníica podrían entonces consituirse en alternaivas modestas, pero posibles,
para el fortalecimiento de los valores culturales e idenitarios de nuestros pueblos y espacios de mediación
y socialización en favor del desarrollo de la cultura cieníica y la comunicación de la ciencia y la tecnología
y de este modo, ayudar a “comparir el saber para que alguna vez sea posible comparir el mundo.”
Referencias:
Aguilar Peña D. Prólogo. En: Marín Ruiz A, Trilles I, Zamarrón G (coords.). Universidad y comunicación
social de la ciencia. Granada: Universidad de Granada/SOMEDICYT, 2005. p. 7-9.
Canclini NG. De la muliculturalidad a la ciudadanía global. En: Figueroa BF. Cultura y Globalización. Colima:
Universidad de Colima, 2001. p. 125.
Kreps GL. Organizaional Communicaion. Theory and Pracice. New York: Edit. Longman, 1990.
Pérez MGV. Nueva Cátedra en la Universidad Hermanos Saíz. La Jiribilla Digital 2006 junio 17-23. Disponible
en: htp://www.lajiribilla.cu/2006/n267_06/267_10.html.
Irene Trelles Rodríguez es vicepresidenta de la Cátedra de Cultura Cieníica Félix Varela, de la Universidad
de La Habana. Miriam Rodríguez Betancourt es profesora itular de la Facultad de Comunicación de la
Universidad de La Habana.
Parte I • Textos de relexão
En una intervención un tanto descuidada, que fue captada por la televisión, el líder de la oposición en España,
Mariano Rajoy, se las arregló para colocarse –él mismo, y de paso a cierto primo suyo— en el lado incómodo
de los relectores al airmar que el cambio climáico “es un asunto al que hay que estar muy atentos… pero en
in, tampoco lo podemos converir en el gran problema mundial”2. Con esa advertencia concluyó 39 segundos
de razonamiento entre cuyas premisas estaba el hecho de que su fuente de información había reunido a
“diez de los más importantes cieníicos del mundo, y ninguno me ha garanizado el iempo que iba a hacer
mañana en Sevilla”. A parir de esta carencia de pronósico, Rajoy se preguntó: “¿Cómo alguien puede decir
lo que va a pasar en el mundo dentro de 300 años?”, insinuando que las predicciones sobre el clima global
acaso debieran ser tomadas con una buena dosis de escepicismo.
Lo interesante del episodio no es tanto la aparente minimización de un problema de escala mundial por
parte de un políico prominente sino, para los intereses de este texto, la lógica con la que Rajoy le conirió
autoridad a su conclusión. En efecto, el políico inició su intervención adviriendo que “yo de este asunto
sé poco”, pero insinuando que no sería necesario entender mucho porque lo arropaba la autoridad de su
fuente de información: un primo suyo, catedráico de Física, respecto de quien al líder del Parido Popular
en España le pareció suiciente adverir: “supongo que sabrá, claro”.
El caso de Rajoy y su primo es un ejemplo prominente de cómo puede invocarse el principio de autoridad
para cuesionar la sabiduría de ciertos expertos con base únicamente en la opinión diversa de otros expertos.
Incidentes como este rebasan lo meramente anecdóico porque los medios ienden a depender fuertemente
de las “opiniones de los expertos” como fuentes válidas para sostener todo género de aseveraciones.
Acaso la forma más fácil y expedita de ejercer el periodismo sobre ciencia sea la que busca coninuamente
el abrigo de “los expertos” como fuentes de opinión, datos, cifras, hechos, predicciones y juicios cuyo
entrecomillado (si se trata de prensa escrita; para TV o radio se recurre al recorte) no requiere más
jusiicación que la autoridad conferida en automáico a tales “expertos”. Un premio Nobel, el Jefe de un
Laboratorio, los autores de un libro de texto, un astronauta o el mismísimo primo de Rajoy son citables con
autoridad desde que se les coloca la eiqueta de “expertos”. Es fácil, entonces, explorar la consecuencia
lógica de esta forma de operar: si se asume que “los expertos” son esencialmente incuesionables (al
menos por parte de los reporteros, en razón de la autoridad que ienen aquéllos sobre temas que no
son del dominio profesional de éstos), entonces no iene por qué no ser aceptable la prácica de publicar
productos periodísicos con escasa variedad de fuentes, e incluso con una sola.
1 Este ensayo está basado en dos trabajos previos: i) Crúz-Mena J. Periodismo de Ciencia con causa y efecto (2007),
texto presentado como parte del concurso para la obtención de una plaza académica en la Dirección General de
Divulgación de la Ciencia, UNAM; y ii) Rosen C; Crúz-Mena J: Climate change and the daily press: Did we miss the
point enirely?. En Carvalho A (Ed.). Communicaing climate change: Discourses, Mediaions and Percepions.
Braga: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade / Universidade do Minho, 2008. (Disponible en htp://www.
lasics.uminho.pt/ojs/index.php/climate_change).
2 El video, consultado el 23 de agosto de 2010, está disponible en htp://www.elpais.com/videos/espana/Rajoy/
primo/cambio/climaico/elpvidlmv/20071023elpepunac_5/Ves/
Si, por otro lado, se aspira a un nivel superior de calidad periodísica, el tema de la elección de fuentes
debe ser atendido con mayor soiicación pero también con agilidad. Si los cieníicos pueden darse el lujo
de inverir varias semanas en la revisión bilbiográica de su tema de invesigación para juzgar su grado de
originalidad, los periodistas solemos encontrarnos bajo una presión de iempo que no iene paciencia
para los lujos académicos: los iempos de invesigación periodísica para un reportaje pueden ser de
apenas unos cuantos días, y es crucial que al menos un núcleo duro de fuentes haya sido ideniicado en
las primeras etapas.
¿Cuáles son, pues, las opciones realistas para los periodistas de ciencia? ¿Puede haber tal cosa como una
estrategia sistemáica de manejo de fuentes que no ponga en alto riesgo de errar en público a quienes
deciden arriesgarse por productos periodísicos de mayos calidad?
Parte I • Textos de relexão
En este ensayo presentamos un modelo funcional del periodismo de ciencia que conduce tersamente a una
herramienta de selección de fuentes a parir de la ideniicación de los puntos de información esenciales
para cada tema, y un método de lectura de arículos cieníicos diseñado para ajustarse a caracterísicas
y iempos propios de periodistas que, especializados en la fuente cienífca, probablemente no ienen,
empero, antecedentes académicos en ciencias más allá de la escuela preparatoria.
De la calidad a la funcionalidad
Líneas arriba la noción de calidad ha sido invocada un tanto a la ligera, ignorando que el de “calidad
periodísica” es un tema de debate entre profesionales y de invesigación académica de los más espinosos.
Es, sin embargo, inescapable a quien se proponga la idea de hacer “buen” periodismo, lo que quiera que
ello signiique.
Acaso la fuente más socorrida para una deinición genérica de “calidad” sea la que ofrece la Organización
Internacional de Estandarización (ISO, por sus siglas en inglés), de acuerdo con la cual debemos entender
por “calidad”3 “la totalidad de caracterísicas de un producto o servicio que inluyen en su capacidad de
saisfacer las necesidades o expectaivas, sean explícitas o implícitas”.
Entendiendo que en el contexto del periodismo la frase “las necesidades o expectaivas” debe ser
interpretada como las de los consumidores de los productos periodísicos, la deinición del ISO nos coloca
ante una pregunta igualmente deinitoria: ¿Qué esperan (o necesitan) los consumidores del periodismo?
Al centrar el foco de atención en el público, y concretamente en lo que éste requiere de la prensa, la calidad
queda determinada por las relaciones sociales entre ésta y aquél. Y puesto que el elemento deinitorio de
estas relaciones es la provisión de información de los periodistas hacia los ciudadanos, el tema de qué se
3 Citado por Seddon J. A Brief History of ISO 9000 (en htp://www.lean-service.com/6-22.asp); y en términos casi
idénicos por Illy A. Quality. En: Illy A; Viani R (Eds). Espresso Cofee: The Science of Quality. Oxford: Elsevier Acade-
mic Press, 2005.
Abundan las interpretaciones respecto de la función social del periodismo. Aquí elegimos como punto de
parida la de Kovach y Rosensiel, para quienes “el propósito fundamental del periodismo es proveer a los
ciudadanos de la información que necesitan para ser libres y autogobernarse” (2001, p. 17). Semejante
aseveración obliga a preguntarse cómo pueden los ciudadanos hacer uso de su diario o noiciario preferido
para alcanzar propósitos tan elevados como los de ejercer la libertad y darse gobierno.
El problema de la selección de fuentes, más allá de la obviedad del reporte mismo, admiía tantas
soluciones como periodistas involucrados en la cobertura. Pero aquellos que tenían en mente la función
social del periodismo (en el senido de Kovach y Rosensiel, o cualquiera otro equivalente) habrían tratado
seguramente de elegir fuentes cuya información pusiera al público en mejor posición para ejercer su
condición de ciudadanos libres para inluir en las acciones públicas sobre el asunto.
Hay en las líneas anteriores un maiz de importancia mayúscula: la frase “fuentes cuya información pusiera
al público en mejor posición” traslada, en los hechos, el problema de la elección de fuentes al problema de
la elección de puntos de información. Se sigue, por tanto, que en este modelo de ejercicio del periodismo
no son las fuentes las que dictan los contenidos inapelablemente, sino que con igual derecho se procede
en senido inverso: se establecen primero los puntos de información que serán funcionales al público, y se
eligen, a parir de ellos, las fuentes adecuadas.
Llegamos así a un modelo funcional del periodismo que somete la calidad de la cobertura a la saisfacción
de su propósito social de proporcionar la información necesaria para las decisiones ciudadanas relevantes.
La ventaja para el público debe ser obvia. Y, por su parte, los periodistas operando bajo estas premisas
El ejemplo del IPCC es úil como ilustración del método en la prácica. Alrededor de la presentación de sus
informes en 2001, hubiera sido razonable suponer que los ciudadanos habrían querido tener respuestas a
las dos preguntas ya planteadas: ¿es real el cambio climáico, y en qué medida es causado por acividades
humanas? Excepto que ahora, en vez de acudir a la prensa para leer o escuchar o ver las respuestas
de alguien más (ya sea algún experto legíimo en el campo, o el primo de Rajoy), a los ciudadanos les
ofreceremos información cuyo propósito es colocarlos en mejor posición para decidir por ellos mismos.
Una vez que el periodista ha ideniicado las decisiones más importantes que el público puede querer
tomar, el método jerarquiza sistemáicamente los puntos de información necesarios.
La tabla siguiente ilustra una forma de hacerlo en el caso del Informe del Grupo de Trabajo I del IPCC en
20014:
¿Hay en verdad tal cosa como el • Los registros históricos de temperatura promedio
calentamiento global del planeta? muestran un aumento pronunciado en décadas recientes
4 Rosen C. Análisis de la cobertura de prensa sobre cambio climáico en 2001 desde la perspeciva de un modelo
funcional. El periodismo de ciencia en la prensa escrita nacional y extranjera. Ciudad de México. Tesis [Licenciatu-
ra en Ciencias de la Comunicación] – Facultad de Ciencias Políicas y Sociales, Universidad Nacional Autónoma de
México, 2008..
Para elaborar sobre el ejemplo, si bien es evidente que los propios documentos hechos públicos por el
IPCC son fuentes casi automáicas, el periodista que desee explorar el escepicismo propio no sólo del
periodismo críico sino, de hecho, de la ciencia misma, puede hacerlo consultando fuentes independientes
del IPCC sobre los mismos puntos de información en sus fuentes originales. Es decir que si se acude a una
fuente disidente de la posición del IPCC respecto del origen antropogénico del calentamiento global, por
ejemplo, se esperará de esa fuente que sea capaz, cuando menos, de presentar argumentos cieníicos
en demérito de las gráicas históricas, o del modelo de invernadero o de las simulaciones numéricas por
computadora. Confrontados no con opiniones o juicios subjeivos de valor emiidos al amparo del principio
de autoridad, sino con argumentaciones cieníicas, los ciudadanos quedaremos en mejor posición de
decidir por nosotros mismos dónde juzgamos que está la razón.
La pregunta central, en este punto, es cómo facilitar a los periodistas el acceso a la información cieníica
indispensable para cumplir con las exigencias del modelo funcional. Una primera respuesta veloz es que, al
menos desde el punto de vista de la selección de fuentes, la literatura cieníica especializada, las revistas
cieníicas con arbitraje de pares, ofrecen un vergel de posibilidades. Se trata, empero, de un vergel con la
doble personalidad de un campo minado. En esta misma publicación, Gema Revuelta revisa con profundidad
las caracterísicas de las revistas como fuentes del periodismo de ciencia, incluyendo las estrategias de
relación entre los editores de las revistas más inluyentes y los periodistas. Una de esas estrategias, como
lo explica Revuelta, consiste en la elaboración semanal de comunicados de prensa, o press releases en los
cuales la jerga cieníica es desencriptada y susituida por un lenguaje divulgaivo y lleno de recursos para
hacer de la información un bocado apetecible y suscepible de ser converido en noicia.
El periodista escépico reconocerá en seguida un punto de alerta: ¿qué garanías hay de que en el
proceso de desencriptar la jerga cieníica, y luego hacerla apetecible, no le escamotean los redactores
5 Agencia DPA, publicado en la edición del 20 de marzo del diario Reforma: “Descubren origen de la neumonía” (2003).
He aquí algo mucho más fácil de decir que de hacer. El siguiente es un ejemplo no extraordinario del
género de prosa con el que topan quienes se atreven a ensayar la lectura de arículos cieníicos: “A
highly frequent non-synonymous variant (R230C) was ideniied in low HDL-C but not in high HDL-C
individuals (P=0.00006)”. ¿No es totalmente insensato el pretender que un reportero recurra a este ipo
de documentos como fuentes periodísicas, cuando es aparente que la información contenida en ellos
resulta indigerible?
Una primera aproximación a la respuesta consiste en acotar los alcances de la pregunta: no se trata de
digerir toda la información cieníica de cada arículo, sino de reconocer cuál es la información cieníica
indispensable, comprenderla y ubicarla en el contexto de la invesigación periodísica. Esto sólo iene
senido si se reconoce que la cualidad de indispensable la dictan, al alimón, el contexto periodísico y el
razonamiento cieníico. Retomemos el ejemplo del agente causal del SARS: la gravedad de la alarma global,
en la primavera de 2003, exigía invesigar las razones que convencieron a los cieníicos que anunciaron al
Parte I • Textos de relexão
paramixovirus, primero, y al coronavirus, más tarde. Hasta aquí el contexto periodísico. Desde el punto de
vista de la argumentación cieníica, habría sido necesario buscar si todos los postulados de Koch habían
sido saisfechos a cabalidad por ambos patógenos: tal era la información cieníica indispensable para esta
parte de la historia.
En todo caso, la extracción de información cieníica de los arículos especializados requerirá de alguna
técnica de lectura seleciva si hemos de respetar la premisa de que no es necesario extraer toda la
información de cada arículo. O, en otras palabras: hay que ofrecer al reportero herramientas para
meterse en las revistas especializadas sin temor a perder el control sobre el proceso si es que hemos
de sugerirle que las uilice como fuentes de información. Tomando como ejemplo las 800 páginas de la
versión original del Moby-Dick de Melville, la herramienta literaria conocida como “síntesis”, muy socorida
en la elaboración de versiones “infaniles” de obras de la literatura, podría ser paricularmente úil en el
periodismo de ciencia.
Establezcamos primero que “síntesis” es algo más que “resumen” y hagamos una analogía entre la versión
original de Moby-Dick y un arículo cieníico publicado en Nature, por ejemplo. Una versión “corta” de
Moby-Dick (de unas 80 páginas) puede haber sido “resumida” y no necesariamente ser ni buena ni mala
simplemente a parir de su extensión. La calidad de esta versión a escala menor dependerá de la medida
en que su narraiva inal respete la trama del original, aún si lo hace con una economía de asceta. Esa
idelidad a la trama obliga al hacedor de síntesis a realizar una lectura en extremo seleciva del texto
original, conservando no sólo el orden de la narraiva sino, sobre todo, cuidándose de no dejar fuera
elementos sin los cuales se perdería “la esencia” de ese texto original.
Aleida Rueda ofrece una muy buena síntesis del concepto “síntesis” en literatura: “La síntesis en literatura
es justo la herramienta que nos permite seleccionar los elementos narraivos de la trama para lograr el todo
signiicante, es decir, la información justa que el autor quiere comunicar” (2007, p. 30). La noción del “todo
El problema, entonces, empieza por reconocer esa columna vertebral de cada invesigación cieníica
publicada. Haciendo una analogía entre la sinopsis de una obra literaria y el abstract de un arículo
cieníico, Rueda y Crúz Mena (2008) han propuesto un método de “síntesis sucesivas” para reconocer y
entender la ciencia del arículo cieníico que resultará indispensable para el producto periodísico inal,
respetando, por diseño, la esencia de la ciencia reportada.
Los detalles de aplicación del método de síntesis sucesivas rebasan el horizonte de este ensayo y pueden
ser consultados en la tesis de licenciatura de Aleida Rueda (2007). Empero, es posible resumir el método
explicándolo en tres fases (ver Rueda, Cruz Mena, 2008):
Fase 1 (La trama del arículo). Lectura del abstract en busca únicamente de “la esencia” del arículo,
aquello que en literatura llamamos trama y que es la información mínima de una historia en forma de
secuencia cronológica. En esta primera etapa es frecuente topar con muchos conceptos desconocidos; se
recomienda simplemente señalarlos, para poder invesigarlos fácilmente después. La etapa inaliza con la
redacción de la “trama” del abstract en unas cuantas frases.
Fase 2 (La síntesis cieníica digerida). Con la idea general del texto ya clara, procede la invesigación de los
conceptos desconocidos señalados en la fase anterior. El reportero debe recurrir a todas las herramientas
conocidas (Internet, libros, apuntes, especialistas, etc.) para lograr una comprensión clara y idedigna de
cada concepto. Conforme los conceptos relevantes se aclaran, se escribe una nueva versión de la trama,
pero incorporando ahora los conceptos “esenciales” claramente desmenuzados para entender de forma
más precisa lo que antes se desconocía. Lo que resulta es una suerte de “síntesis cieníica digerida”.
Fase 3 (La síntesis periodísica seleciva). Aquí se aborda la síntesis cieníica con una perspeciva
periodísica; previendo la historia que se va a narrar al inal, se seleccionan los elementos que hay que
conservar y cuáles no. Por otro lado, es aquí también donde se ainan los detalles de las argumentaciones
cieníicas presentadas en el arículo, la evidencia empírica y/o las inferencias estadísicas que conducen
a las conclusiones.
Abstract
Síntesis cieníica
digerida Síntesis periodísica
seleciva: Ciencia del
arículo
Conclusiones
A parir de la premisa de que el periodismo iene una función social que condiciona la calidad de los
productos periodísicos por sus contenidos de información, hemos presentado un modelo funcional del
periodismo de ciencia.
Parte I • Textos de relexão
Este modelo aiende el problema de la selección de fuentes mediante Tablas de Decisiones que dictan los
puntos de información necesarios para que la cobertura saisfaga su función social, otorgando información
indispensable para la toma de decisiones ciudadanas.
Reconociendo que entre las fuentes fundamentales del periodismo de ciencia están los arículos cieníicos
con revisión de pares, presentamos un Método de Síntesis Sucesivas para la lectura “periodísica” de estos
arículos. El resultado es la redacción de la “esencia” de la ciencia contenida en el arículo, desde el punto
de vista de su relevancia para la cobertura periodísica.
El uso de los propios cieníicos como fuentes periodísicas no ha sido tratado aquí, aunque es posible ver cómo
la lectura de arículos cieníicos es un elemento fuertemente enriquecedor de la planeación de entrevistas.
Referencias:
Kovach B; Rosensiel T. The Elements of Journalism. What newspeople should know and the public should
expect. New York: Crown Publishers, 2001.
Rueda A. La síntesis como herramienta en el periodismo de ciencia. Un análisis comparaivo con su uso en
la literatura infanil. Ciudad de México. Tesis [Licenciatura en Ciencias de la Comunicación] – Facultad de
Ciencias Políicas y Sociales, Universidad Nacional Autónoma de México, 2007.
Rueda A, Crúz Mena J. Literary synthesis: the key for journalists to open the vaults of scieniic papers.
[Presented in the X Internaional Conference of Public Communicaion of Science and Technology: Building
bridges to the future; 2008 June 23-27; Øresund, Sweden].
Del mismo modo que informar bien debería ser la principal aspiración del periodista, su mayor reto
consiste precisamente en asegurarse de que la información con la que él mismo trabaja es iable, objeiva
y de calidad. Tan importante es este aspecto de su trabajo que podría deinirse al ‘buen periodista’ como
aquel que mejor selecciona sus fuentes de información.
El periodista cieníico, además de recurrir a las fuentes de información generales (organismos ‘oiciales’,
industria, fuentes documentales de ipo general, etc.) ha de conocer bien las fuentes especializadas de
la ciencia ya que éstas se converirán en la esencia de su trabajo. ¿Cómo entra en contacto con estas
fuentes especializadas, es decir, con la comunidad cieníica? Fundamentalmente a través de tres vías:
contactando directamente con los invesigadores, consultando las revistas cieníicas y acudiendo a los
congresos o reuniones profesionales.
En los úlimos años las relaciones directas entre los periodistas y los invesigadores son cada vez más
estrechas. Son muchos los posibles moivos implicados en este acercamiento: las tecnologías de la
información y la comunicación (TIC) han muliplicado el contacto entre personas antes alejadas, los
cieníicos han comprendido que comparir sus conocimientos con la sociedad les beneicia e incluso
puede ser parte de su trabajo (Peter Peters, Brossard, de Cheveigné, Dunwoody, Kallfass, Miller, 2008),
etc. Sea como sea, hace iempo que pasó aquella época en la que estaba mal visto que el cieníico abriera
sus conocimientos al público general o hiciera declaraciones a los medios. Por el contrario, actualmente el
invesigador que está presente en la “arena pública”, que paricipa en ruedas de prensa, es entrevistado
y uiliza inteligentemente los medios iene más posibilidades de ascender en su carrera profesional y
conseguir que su campo de invesigación sea considerado prioritario a la hora de reparir los fondos,
siempre tan escasos.
Y si éste es el resumen sucinto de las relaciones entre periodistas y cieníicos, veamos qué sucede en los
otros dos entornos, los congresos y las revistas.
Durante toda la primera mitad del siglo pasado, y bien entrada la segunda mitad, los congresos siguieron
representando el canal principal de comunicación de las novedades en el campo de la ciencia y, por tanto,
eran también capaces de generar ‘noicias’ para la prensa. Pero a parir de los años 60-70 las revistas
cieníicas se hicieron deiniivamente con el monopolio de las novedades en ciencia, hasta el punto de
que actualmente en los congresos ya no se presentan auténicas noicias, puesto que todo lo que en ellos
se explica normalmente ha sido previamente publicado en alguna revista.
Una de las razones que han podido moivar este cambio es la aparición de la llamada Regla de Ingelinger.
A inales de los 60, Ingelinger, editor de The New England Journal of Medicine, manifestaba en un editorial
Parte I • Textos de relexão
su preocupación por la poca originalidad de algunos arículos que habían llegado a su revista con la
pretensión de ser publicados cuando ya toda la comunidad sabía de ellos. De ahí que este editor, y por
extensión una buena parte de las revistas mejor consideradas por la comunidad cieníica, elaboró una
nueva norma del juego consistente en un acuerdo entre autores y editores mediante el cual los primeros
se comprometen a no hacer públicos los resultados de sus invesigaciones hasta que éstas no hayan sido
publicadas por la revista. Ni siquiera en un congreso profesional le estaría permiido a un invesigador
presentar informaciones originales (nuevas) si pretende que éstas sean publicadas.
En ciertas ocasiones, las revistas permiten que se presenten los resultados antes de su publicación (por
ejemplo, en avances terapéuicos muy esperados, como los relacionados con el sida), pero se trata siempre
de casos muy excepcionales. Lo que sí se produce con mayor frecuencia es el caso contrario, es decir que se
presenten en congresos estudios que nunca llegarán a ser publicados en revistas cieníicas, sea porque se
trata de invesigaciones de poca calidad que no superan el peer review o bien porque los propios autores
no las envían a publicar. Así que los congresos hoy en día ienen otros objeivos: mantener contactos
profesionales, recordar a los asistentes lo que un equipo ha publicado (perdido entre la maraña de las
revistas), ofrecer a los jóvenes cieníicos la oportunidad de darse a conocer o simplemente permiir a la
industria del ramo, sin cuyo apoyo económico muchos no podrían celebrarse, mantener unas producivas
relaciones profesionales.
Es evidente que el valor periodísico de los congresos es mucho menor en estas condiciones. De aquí que
las oicinas de comunicación –encargadas de dar la mayor visibilidad posible a tales eventos– muchas
veces ienen que recurrir en sus notas de prensa a aspectos colaterales a los estrictamente cieníicos: el
número de expertos congregados (¡algunos, como el de la sociedad internacional de cardiología reúnen a
más de 20.000 especialistas!), los personajes conocidos que han intervenido (sobre todo si son polémicos
o han sido reconocidos con un Nobel) o las declaraciones efectuadas por el políico de turno al inaugurar
el acto.
Este método, mal traducido por ‘revisión por pares’ (o por iguales), consiste en una sistemaización de la
evaluación de los manuscritos que llegan a la revista con la inalidad de garanizar la mayor objeividad
y calidad en el material que se acepta para ser publicado. El proceso comienza cuando el autor de una
invesigación escribe un manuscrito y lo envía a una revista cieníica. Normalmente, el texto sigue una
estructura ija en la que se suelen incluir los objeivos del estudio, su metodología, los resultados y las
principales conclusiones. En una primera revisión, el propio personal de la revista rechaza aquellos
manuscritos que se apartan de sus estándares mínimos de contenido y calidad. Los que superan esta
etapa, son enviados a dos o más revisores externos, tan expertos en el tema o más que el propio autor (de
ahí el término ‘par’ o ‘peer’). Los revisores dictaminan si el manuscrito puede ser publicado, si primero
habría que hacer algunas modiicaciones o si directamente debería ser rechazado. Se iene en cuenta
para ello la relevancia cieníica del estudio, su originalidad, metodología, etc. Los comentarios de los
revisores se hacen llegar a los autores y éstos responden de nuevo. Para garanizar una mayor objeividad,
ni revisores ni autores conocen sus respecivas idenidades (proceso a ‘doble ciego’). Aquellos manuscritos
que, inalmente, logran superar todo el proceso son aceptados y el consejo editorial de la revista decide
cuándo los publicará.
Algunas revistas se han situado en una posición de tanto presigio entre la comunidad cieníica que
todos quieren publicar en ellas. Unas pocas llegan incluso a rechazar más de un 90% de los manuscritos
recibidos, lo que aumenta aún más su capacidad para seleccionar ‘lo mejor de lo mejor’ y perpetuar
así su dominio. Los arículos publicados en estas revistas de gran presigio son, además, los más leídos
por el resto de la comunidad cieníica y, en consecuencia, muchas veces son también los más ‘citados’
por otros autores en sus respecivos arículos. El reconocimiento de este fenómeno, y la idea general de
que si un arículo es muy citado es que ha sido importante para la ciencia, ha dado lugar a la aparición y
desarrollo de complejos sistemas de medición del número de citas que, además de servir para conocer
la relevancia de un determinado arículo, se uilizan también para hacer auténicos rankings de revistas o
incluso para evaluar la trayectoria profesional de un invesigador. Existe actualmente todo un culto a las
revistas cieníicas (a algunas de ellas) que es seguido y pracicado por toda la comunidad internacional,
especialmente la del mundo occidental.
La credibilidad que merece el sistema de peer review entre la comunidad cieníica y la veneración
por algunas de estas revistas han contribuido a la extensión de su uso como fuente de información en
los medios de masas. En un estudio de las fuentes mencionadas en los textos publicados en la prensa
holandesa que cubrían información sobre fármacos (Van Trigt, De Jong-van den Berg, Haaijer-Ruskamp,
Willems, Tromp, 1994) se observó que las revistas cieníicas suponían un 25% del total de fuentes (un
12% en el caso de la prensa popular y un 42% en la prensa llamada de calidad). Otras fueron los propios
invesigadores (22%), las compañías farmacéuicas (18%) y los congresos cieníicos (6%).
¿Por qué son precisamente estas 10 revistas las de mayor atracivo para la prensa? La explicación a esta
cuesión se puede entrever en estas palabras, escritas por Philip Campbell, editor de la revista Nature,
en el momento en el que tomó posesión de su cargo en 1995: “Por encima de todo, Nature, una enidad
que signiica mucho más que un editor en paricular, coninuará persiguiendo la excelencia cieníica y el
impacto mediáico con vigorosa independencia” (Nature 1995 dec. 14; 378: 649). Tal como se desprende
de esta declaración, las revistas han sido las primeras en propiciar su propio impacto mediáico. Así
que aquellas que mejor políica comunicaiva han sabido llevar a cabo (acompañada de una adecuada
reputación cieníica), se han converido en las ‘favoritas’ de los medios.
Parte I • Textos de relexão
Podría pensarse que el efecto de los medios sobre este úlimo grupo debería ser menor, puesto que ellos
mismos ienen acceso a las revistas cieníicas y, lo que es más importante, capacidad para comprenderlas
(al menos las de su especialidad). Sin embargo, es tal el número de revistas que se publican semanalmente
en todo el mundo (¡sólo entre las que indexa el Insitute for Scieniic Informaion hay más de 10 mil!) que
ningún invesigador puede estar al corriente de todo, ni siquiera en su propio ámbito. Por otra parte, la
prensa muchas veces cubre la información antes de que la revista llegue a manos del cieníico. Aunque
las TIC han cambiado en parte esta situación, permiiendo acceder al soporte electrónico antes que al
de papel, lo cierto es que los invesigadores siguen enterándose muchas veces del trabajo de sus colegas
a través de los medios de masas. Y aunque después se tomen el trabajo de leerse el arículo original
publicado en la revista académica, ese primer contacto puede ser determinante.
Ilustra este efecto de los medios sobre los cieníicos un inteligente estudio que merece la pena explicar
con detalle (Phillips, Kanter, Bednarczyk, Tastad, 1991). Con moivo de una huelga en el The New York
Times (NYT), este diario estuvo tres meses sin salir a la calle. Se trataba de una huelga muy especial, pues
los redactores coninuaron trabajando como de costumbre, escribiendo sus noicias, acudiendo a ruedas
de prensa, consultando revistas cieníicas… Es decir, se seguía todo el proceso de confección normal del
diario, con la única diferencia de que éste no llegaba a manos de los lectores. Años más tarde un grupo de
Las revistas cieníicas cada vez realizan un mayor esfuerzo por aproximarse a los medios. Para ello se
uilizan sistemas de comunicación que van desde el simple envío anicipado del índice de arículos que se
van a publicar (como hace The New England Journal of Medicine) hasta métodos mucho más trabajados
como la elaboración de un video promocional cubriendo la invesigación más destacada de la semana
(como en el caso de JAMA) o incluso la creación de una auténica agencia de prensa (como Nature News
Service, del grupo Nature, htp://press.nature.com). La prácica más difundida entre las revistas es, sin
embargo, la elaboración de ‘press releases’ o comunicados de prensa en los que, uilizando recursos
periodísicos, se anuncia lo más destacado del próximo número.
En general, las revistas empezaron a enviar estos comunicados a inales de los 80. En un primer momento
se hacían llegar por fax a un grupo muy selecto de periodistas, especializado en cubrir la información
cieníica en los grandes medios de comunicación. Si el periodista estaba interesado en algún arículo en
paricular, podía pedir el original, que también era enviado, página a página, vía fax. Internet hizo mucho
más ágil este proceso, de modo que en la actualidad los periodistas de todo el mundo pueden acceder
a una web en la que se encuentra colgado el press release de la semana, junto con algunos arículos
originales en formato ‘pdf’. Obtener una contraseña de acceso es relaivamente sencillo, por lo que la cifra
de reporteros que consultan esta información semanalmente es actualmente tremendamente numerosa.
Los comunicados de prensa (o press releases) de las revistas cieníicas suelen tener unas caracterísicas
comunes que podrían agruparse de la siguiente forma:
2) Divulgación: de estos arículos se hace un breve resumen en el que se evitan términos demasiado
técnicos y se uilizan recursos divulgaivos (deiniciones, comparaciones, metáforas, juegos
de palabras, etc.). Se uilizan también ‘ganchos’ periodísicos que buscan la conexión entre la
invesigación y las noicias de actualidad o incluso entran en el juego de lo polémico, lo espectacular
o lo auténicamente sensacionalista.
4) Contacto directo con los autores: se publica el teléfono o el e-mail de contacto con los autores de
la invesigación.
En resumen, la jerga cieníica es digerida y se ofrece en un formato mucho más atracivo para los medios,
con todos los elementos para hacer de la información objeto de noicia periodísica. El periodo de embargo
permite además al periodista más iempo para trabajar a fondo la información, al iempo que garaniza a
la revista que la información será publicada el mismo día por todos los medios, de modo que el impacto
mediáico será aún mayor.
Por ejemplo, el arículo original en el que Nature publicó la clonación de la oveja Dolly se itulaba “Viable
ofspring derived from fetal adult mammalian cells”. Con este enunciado crípico, en el que ni siquiera
se menciona la palabra clon, diícilmente los periodistas iban a reparar en esta invesigación. El trabajo
fue anunciado en el press release de Nature con un simple “Send in the clones”. Se había acortado la
frase original, suprimido tecnicismos, introducido la decisiva palabra “clon”, y además se había realizado
un llamaivo juego de palabras: “send in the clones” recordaba el ítulo de la canción popularizada por
Frank Sinatra “Sending the clowns”. La prensa se hizo eco inmediato de la noicia, e incluso hubo quien
ni siquiera respetó el reglamentario periodo de embargo. El Herald Tribune, por ejemplo, recurrió a la
Parte I • Textos de relexão
ciencia-icción, itulando la noicia “A brave new world? Adult mammal cloned”, aludiendo al ítulo de la
novela de Aldous Huxley (traducida al español como Un mundo feliz).
El primero de ellos representa un ejemplo en el que la uilización de recursos para atraer la atención de
la prensa (‘gancho’) es llevada hasta el límite. El arículo de Nature de 6 de diciembre de 2001 “Group A
Streptococcus issue invasion by CD44-mediated cell signalling”, fue anunciado en el press release como
“Invasion of the lesh-eaters” recurriendo a una expresión de corte sensacionalista que años antes había
sido uilizada por la prensa británica (siendo muy criicada por la comunidad cieníica). El efecto fue
inmediato, los medios cubrieron esta invesigación uilizando de nuevo la expresión “invasión de bacterias
comedoras de carne”, a diferencia de que ahora, por mucho que la comunidad cieníica quisiera quejarse,
contaban con la ‘autorización’ de la revista, máximo elemento de expresión de la ciencia.
En un segundo caso, vemos como las sucesivas interpretaciones que va sufriendo una invesigación en el
press release y en la prensa pueden llegar a cambiar totalmente el signiicado original. El arículo “Cancer
chemoprevenive acivity of resveratrol, a natural product derived from grapes” de la revista Science del
10 de enero de 1997, aparecía en el primer lugar de los tres escogidos para ser difundidos en el press
release de la semana (aunque en la revista no ocupaba un lugar destacado). En el comunicado “Grapes may
En el úlimo caso, se añade el problema de que la invesigación noiciada resultó ser inalmente un
iasco, poniendo de relieve que la pérdida de la cautela en la interpretación de resultados a veces puede
tener consecuencias nefastas. Así, el arículo del 16 de agosto de Science “Search for Past Life on Mars:
Possible Relic Biogenic Acivity in Marian Meteorite ALH84001” fue anunciado en el press release como
“Meteorite yields evidence of primiive life on early Mars”, información que fue interpretada en la portada
del The New York Times como “Clues in Meteorite Seem to Show Signs of Life on Mars Long Ago” y, con
mucha menos cautela, por otros medios, entre ellos El País, con un “Hallado el primer indicio de vida
extraterrestre”, o La Vanguardia, con “Cieníicos americanos aportan la primera evidencia de la existencia
de vida extraterrestre”. Mientras el NYT no se deja convencer totalmente por el press release y maniene
con el “seem to show” una postura de duda o cautela (e incluso deja bien claro que la hipotéica vida habría
ocurrido “long ago”), en los dos diarios de habla española no se hacen estos maices, con el consiguiente
efecto que esto pudiera tener sobre los lectores.
Los press releases pueden ser, por tanto, una herramienta muy valiosa para los periodistas y para las
propias revistas, pero como hemos visto, también un arma de doble ilo. En una invesigación llevada a
cabo por nuestro equipo (De Semir, Ribas, Revuelta, 1998) pudimos comprobar que se produce una fuerte
asociación entre la selección de arículos realizada en los press releases y la selección de las noicias por
parte de los medios de comunicación. Además observamos que incluso el orden en el que aparecen los
arículos reseñados en el press release resultó tener una asociación con sus posibilidades de ser cubiertos
por la prensa: los que aparecían citados en primer o segundo lugar tenían más posibilidades que los que
se hallaban en tercer o cuarto lugar, y éstos más que los que estaban citados en posiciones posteriores.
Años más tarde, el estudio de los press releases (Woloshin, Schwartz, 2002) ha demostrado también
que éstos presentan algunas caracterísicas que serían imperdonables en un arículo cieníico y que no
sólo pueden ser explicadas por la necesidad de facilitar el trabajo de la prensa. Entre otras, en estos
comunicados no se explicitan ruinariamente las limitaciones de los estudios ni el papel de la industria en
la inanciación del mismo, además los datos a menudo son presentados uilizando formatos que pueden
exagerar la percepción de la importancia de los resultados.
Es decir, la búsqueda del rigor, la transparencia y la objeividad que caracterizan al sistema de peer review
–y que son la base de la credibilidad de las revistas cieníicas– se pierden muchas veces en el momento en
que se confeccionan los press releases. Y esta pérdida puede tener unas consecuencias desastrosas, dado el
impacto que ienen los press releases sobre los medios de comunicación y éstos sobre el resto de la sociedad.
Desgraciadamente, hasta ahora no se ha demostrado que ambos objeivos puedan ser compaibles. En
estas páginas se han presentado algunos claros ejemplos de cómo el esfuerzo dedicado a llamar la atención
de la prensa a veces ha conducido a tratamientos no precisamente ‘excelentes’ de la información, dejando
en entredicho la calidad de las invesigaciones publicadas. Por otra parte, el hecho de que muchas revistas
de supuesto renombre publiquen de cuando en cuando arículos poco relevantes, frívolos o claramente
inúiles pero con una capacidad enorme de atraer a los medios, hace pensar que la búsqueda de ese
impacto quizá puede estar afectando al propio peer review. En otras palabras, impacto mediáico y calidad
cieníica dejan de ser independientes. Entre los cada vez más abundantes arículos que podrían citarse en
esta categoría, mencionaremos sólo algunos. Por ejemplo, dos invesigaciones que publicó Nature en el
día de Reyes de 1996 y 1997 y que casualmente trataban sobre el efecto curaivo de la mirra, la primera,
y del oro, la siguiente (afortunadamente, parece que a nadie se le ocurrió invesigar sobre el incienso).
En otro orden, se publican también con bastante asiduidad invesigaciones en las que se relaciona la
Parte I • Textos de relexão
genéica (lo ‘biológico’) con cualquier condición y conducta humana, a veces hasta un punto que parece
que lo único que se busca es llamar la atención, como en el caso de un ‘relevanísimo’ estudio sobre la
predisposición genéica a la inidelidad (obviamente, itulado por la prensa ‘el gen de la inidelidad’) que
tuvo su siio en las codiciadas páginas de una revista de gran presigio cieníico. A veces la relación entre
lo que publica la revista y el oportunismo mediáico es tan evidente que ha llegado a costar el cargo a más
de un editor, como en el caso de una encuesta sobre la deinición del concepto ‘sexo’ según los jóvenes la
cual, a pesar de ser mediocre y anigua (según dijeron después algunos expertos) fue publicada en JAMA,
la revista de la sociedad médica americana,... ¡en pleno afair Lewinsky!.
Hemos visto, en resumen, que el trabajo de los periodistas depende en gran medida de sus fuentes de
información, que entre las fuentes especíicas que son uilizadas para cubrir la información cieníica los
congresos tuvieron un papel importanísimo, pero que éste fue desplazándose a medida que las revistas
cieníicas fueron ocupando un papel central en la comunicación entre cieníicos. Hemos visto también
que éstas además, han establecido un ipo de relaciones con los medios de comunicación que en buena
parte son responsables de la forma en la que son cubiertos por éstos los nuevos avances en invesigación.
Es decir, las revistas cieníicas ienen en sus manos la posibilidad de contribuir al enriquecimiento de la
sociedad, ayudando a difundir conocimientos de gran relevancia. Pero para ejercer este papel con unos
mínimos de calidad deberían uilizar en sus relaciones con los medios el mismo rigor y objeividad que
aplican en su relación con los invesigadores y con la comunidad cieníica. Si no es de este modo, la
búsqueda del impacto mediáico acabará por afectar a la propia excelencia cieníica, como ya se empieza
a observar en algunos casos.
Referencias:
De Semir V, Ribas C, Revuelta G. Press releases of Science Journal Aricles and Subsequent Newspaper
Stories on the same Topic. JAMA 1998 July; 280:294-295.
Informe Quiral. Medicina en la prensa española. Barcelona: Rubes editorial, ediciones 1997 a 2008.
Phillips DP, Kanter EJ, Bednarczyk B, Tastad PL. Importance of the lay press in the transmission of medical
knowledge to the scieniic community. N Eng J Med 1991 October; 325:1180-3.
Van Trigt AM, De Jong-van den Berg LTW, Haaijer-Ruskamp FM, Willems J, Tromp TFJ. Journalists and their
sources of ideas and informaion medicines. Social Sciences and Medicine 1994 February; 38: 637-643.
Woloshin S, Schwartz LM. Press releases: translaing research into news. JAMA 2002 June; 287(21): 2856-
2858.
Gema Revuelta es subdirectora del Observatorio de la Comunicación Cieníica y profesora asociada del
Departamento de Comunicación de la Universidad Pompeu Fabra, Barcelona.
Nuestra sociedad está impregnada por la producción cieníica y el desarrollo de todo ipo de tecnologías.
Un día cualquiera de nuestra vida abunda en ejemplos. Usamos conocimiento de base cieníica para
tomar decisiones, disponemos de tecnologías sociales y artefactos que hoy creemos imprescindibles para
la existencia (teléfonos celulares, televisores con pantallas de plasma, heladeras, microondas, juegos de
realidad virtual, ropa de diseño, y miles de etcéteras), consumimos pasillas y fármacos para todo ipo de
dolencias, hablamos sobre la radiación, el agujero de la capa de ozono, los gases del efecto invernadero,
la contaminación ambiental, los análisis de ADN, las muestras arísicas electrónicas, las enfermedades
genéicas, la música digital, etc., y nos vemos inmersos a diario en millones de situaciones que, conscientes
o no, dejan en claro que la ciencia y la tecnología están en el centro de la escena social.
En cualquier caso, lo que es importante tener en cuenta es que los resultados de los desarrollos cieníicos
y tecnológicos no sólo ienen singular relevancia desde la perspeciva individual, sino que ienen impactos
estructurales en todas las dimensiones de la vida social, económica, cultural y políica de las sociedades.
Vinculada a estas circunstancias, la sociedad ha comenzado a percibir con mayor claridad que muchos
de los cambios que se producen en su entorno se deben a la aplicación del conocimiento que surge de
los laboratorios de invesigación públicos y de las empresas. Y que, por lo tanto, el rumbo que siguen la
ciencia y la tecnología no consituye un hecho aislado ni neutro respecto a su vida coidiana.
Ciencia y democracia 63
el ámbito políico mediante la implementación de nuevas dinámicas en las que la voz de la sociedad
civil tenga un mayor protagonismo en la propuesta, consideración y establecimiento de aquellas políicas
vinculadas a los problemas que trae aparejado el desarrollo tecnocieníico.
Este arículo aborda algunas de estas cuesiones uilizando evidencias empíricas recientes. El texto se divide
en dos partes. En la primera se sistemaizan muy brevemente algunas transformaciones y tensiones en las
democracias modernas en relación a la distribución y legiimación del poder y la paricipación ciudadana,
conectando dicha discusión con la forma en que el “reclamo paricipaivo” se hizo notorio también en el
ámbito de las políicas públicas de ciencia y tecnología. En la segunda parte se muestra cómo los resultados
de los estudios de opinión y percepción social como las encuestas están documentando la evolución de las
acitudes públicas hacia la ciencia y la tecnología, destacándose visiones más críicas y ambivalentes sobre
sus efectos sociales. En esta parte nos apoyaremos en resultados que provienen de encuestas nacionales de
América Laina, un estudio a nivel de grandes núcleos urbanos en Iberoamérica, y el Eurobarómetro, para
paricularizar en dos cuesiones: la valoración de los riesgos y la paricipación ciudadana.
democracia representaiva –legiimada con el voto– que incluye a los ciudadanos en calidad de poseedores
de “opinión pública” obtenida mediante encuestas, se está transformando debido a la emergencia de
formas deliberaivas de paricipación políica, bajo el signo de la búsqueda de nuevas modalidades de
representación y ejercicio del poder basado en el concepto de gobernanza que supone la búsqueda de
mecanismos más abiertos, menos centralizados y jerárquicos para la gesión de los asuntos públicos. La
deliberación parece haberse transformado en un reclamo por la verdadera esencia democráica: el “giro
deliberaivo” estaría representado por una preocupación acerca de la autenicidad de la democracia y el
control sustanivo –no meramente simbólico– de ésta por ciudadanos compromeidos. La deliberación
pone el acento en el proceso colecivo para resolución de problemas sociales y de gesión y toma de
decisión políica. Abelson y colaboradores (2003) señalan cinco virtudes del involucramiento ciudadano
para la toma de decisiones: 1) comparir opiniones de una forma que las votaciones no permiten; 2)
generar y considerar un amplio rango de opciones o nuevas alternaivas que anteriormente podrían no
haberse considerado; 3) fortalecer propuestas en beneicio público, antes que en virtud de intereses
pariculares; 4) incrementar la legiimidad de las decisiones tomadas y facilitar su implementación; y 5)
mejorar las cualidades morales e intelectuales de los paricipantes.
Las propuestas de una democraización paricipaiva llegaron también al ámbito de la ciencia como
exponente de los profundos cambios y las tensiones en la relación ciencia, tecnología y sociedad durante
el úlimo cuarto del siglo XX. El término ciudadanía cobró por eso fuerza también en el ámbito cieníico-
tecnológico (Jasanof, 2004). En las insituciones cieníicas, alrededor del mundo, proliferan debido a
esto los discursos y las prácicas para intentar que “de alguna forma” se incluya la “voz ciudadana” en la
deinición y gesión de las políicas públicas. Se promueven iniciaivas de disinta índole: conferencias de
consenso, encuestas de opinión, audiencias públicas, referéndums, gesiones negociadas, etc. En dichos
intentos se trata de que la categoría público no quede restringida al marco analíico tradicional como
consumidor de los productos cieníico-tecnológico en el mercado, o lector de las obras culturales de
la tradición divulgaiva. Se trata de otorgarle un estatuto ciudadano. Pero, además, hay que considerar
Una pregunta que surge inmediatamente es: ¿por qué este interés por la promoción de formas
paricipaivas? ¿Por qué la necesidad de apelar a la ciudadanía con creciente interés?
Una serie de factores han concurrido para este estado de cosas. Por una parte, los propios cambios en la
estructura organizaiva de la ciencia y en la vinculación de ésta con otros agentes e insituciones sociales. La
segunda mitad del siglo XX vio nacer en los Estados Unidos un modelo de “ciencia planiicada” organizado
en torno a macro-proyectos ampliamente apoyada por el papel protagónico del Estado. La ciencia había
cambiado de escala: uilizando la ya muy difundida expresión acuñada por De Solla Price (1980 {1962}),
devino en “Gran Ciencia” (big science). Este modelo de políica cieníico-tecnológica nacido en los Estados
Unidos se exportó luego a los países europeos y la Unión Soviéica y, posteriormente también a otras
partes del mundo, e imperó durante veinicinco años como esquema rector de las políicas públicas de
ciencia y tecnología. El contrato entre ciencia y sociedad que se derivaba de este esquema de políica
cieníica profundizado en las décadas posteriores, apoyado por los cieníicos, burócratas y políicos, llegó
a conocerse como modelo lineal: si se invería en ciencia habría también más tecnología, lo que a su vez
permiiría mayor desarrollo económico y, de ahí, un aumento en el bienestar social. Las promesas de
apostar a la ciencia requerían, paradójicamente, la autonomía de ésta respecto a las injerencias sociales.
Los logros de la ciencia de post-guerra, que en muchos casos se transformaron en beneicios directos
para la economía y la sociedad, en parte hicieron olvidar la dolorosa herida que había abierto la bomba
atómica. Ayudó a estas circunstancias el espectacular crecimiento de la economía mundial durante
las décadas posteriores. Sin embargo, durante los años sesenta y, con más vigor, los años setenta,
el opimismo social se fue apagando y se comenzó a percibir la erosión de la conianza pública en el
progreso cieníico-tecnológico. Manifestación de estos procesos fueron los accidentes tecnológicos (con
la tecnología nuclear como emblema), la polución ambiental, el verido de residuos contaminantes, los
desastres químicos, y la proliferación armamenísica, que ampliaron la conciencia ciudadana y mostraron
los signos del agotamiento del “modelo lineal” y la creciente preocupación sobre riesgos, amenazas e
inceridumbres. Los movimientos sociales como los ambientales, feministas, etc., desempeñaron un
papel decisivo en la denuncia de las consecuencias catastróicas de la alianza entre ciencia, industria y
políica. También algunos grupos de cieníicos –como Science for the People y “Átomos para la paz”- e
intelectuales inluyentes sumaron sus voces de alarma y denuncia.
Sarewitz (1996) señala que el modelo lineal consituye una mitología del progreso cieníico que asumía sin
cuesionar las siguientes airmaciones: “más ciencia y tecnología conducen forzosamente al bien común”;
“potencialmente, cualquier línea de invesigación es pasible de reportar beneicio social”; “la revisión de
Ciencia y democracia 65
pares garaniza la responsabilidad éica y social del sistema de ciencia y tecnología”; “las controversias
políicas se resuelven con información cieníica”; y “el conocimiento cieníico es autónomo respecto a
las consecuencias sociales de su uilización”.
La ciencia volvió a experimentar una profunda transformación junto a los cambios de la economía global a
parir de 1970, pero más decididamente durante la década de 1980. En esta nueva fase el capital privado
cobró un protagonismo decisivo, lo que también profundizó las relaciones entre ciencia e industria,
inanzas y mercados globales. Un concepto como el de tecnociencia intenta precisar el senido y alcance
de estas transformaciones radicales en la organización insitucional, las prácicas y los valores. Si en el
período inmediatamente posterior a la Segunda Guerra Mundial, la ciencia, fuertemente apoyada por el
Estado en los países desarrollados, fue presentada bajo una retórica de “bien público”, fundamentalmente
a parir de los años 1980, con el ingreso decidido del patrocinio inanciero privado, se ha visto cómo se ha
vuelto crecientemente un “bien privado”, cuya inevitable consecuencia es la conformación de una “ciencia
comercializada” (Bauer, 2008). La idea que ciencia y tecnología se traducen automáicamente en bienes
públicos ya no es auto-evidente.
Temas como la cuesión nuclear (durante los años ochenta), la biotecnología, la seguridad alimentaria y
las tecnologías reproducivas (durante los noventa) y, más recientemente, la irrupción de las nanociencias
y nanotecnologías remiten tanto a las nuevas formas de organización y prácicas en la tecnociencia cuanto
a la complejidad de la discusión en torno a sus riesgos e impactos socioambientales. La conformación
de la sociedad del riesgo afectó en síntesis las relaciones entre ciencia, tecnología y sociedad, abriendo
el ámbito insitucional de la ciencia a la acción de otros agentes e insituciones de la sociedad civil que
reclaman intervención sobre cuesiones cieníico-tecnológicas, y que se imbrican en el lujo comunicaivo
global de la ciencia. Los colecivos y movimientos sociales, lejos de contentarse con los roles más o
menos “pasivos” de audiencias o consumidores que el modelo lineal les tenía reservado, se reivindican
paricipantes y productores de la información que afecta a las dinámicas de producción y difusión social
de conocimientos. La implicación ciudadana ha abierto vías de exploración académica en torno a temas
socialmente conlicivos donde ienen cabida la relexión acerca de las “culturas paricipaivas” en ciencia
y tecnología, la búsqueda de medidas cautelares, las moratorias y la aplicación de principios precautorios
para el desarrollo de las tecnologías (Lengwiler, 2008; López Cerezo, Gómez, 2009; López Cerezo, 2003).
Al mismo iempo, también la amplia mayoría de todos los entrevistados (76%) en promedio señala que la
ciencia y la tecnología producen “muchos” y “bastantes” beneicios. Se destaca Bogotá con la visión más
opimista, que comparte con Buenos Aires. Los opimistas datos de esta pregunta sobre beneicios parecen
contradecir los de la pregunta anterior sobre riesgos. Sin embargo, no se trata de una contradicción. Más
bien parecen estar relejando una percepción no maniquea y críica por parte de los entrevistados de la
compleja realidad de la ciencia actual. Globalmente consideradas, las preguntas sobre riesgos y beneicios
muestran que los entrevistados se inclinan por una valoración opimista aunque ienen bien presente los
riesgos de la ciencia y la tecnología.
Tabla 1
P.14 y P.15 Peril de acitudes ante riesgos y beneicios de la ciencia y la tecnología por ciudad
BUENOS SÃO
BOGOTÁ CARACAS MADRID SANTIAGO Total
AIRES PAULO
muchos y bastantes riesgos /
57,3 48,1 23,9 38,4 43,1 44,9 42,599
muchos y bastantes beneicios
muchos y bastantes riesgos /
11,3 12,0 8,9 11,1 18,1 19,2 13,432
poco y ningún beneicio
Muchos y bastantes beneicios /
21,0 29,4 45,9 32,1 25,4 24,4 29,690
pocos y ningún riesgo
Pocos y ningún riesgo /
1,9 1,4 5,7 2,9 3,1 4,9 3,309
pocos y ningún beneicio
Ns / Nc 8,6 9,2 15,7 15,5 10,4 6,5 10,970
Total 100 100 100 100 100 100 100
La Tabla 1 ofrece el cruce de ambas preguntas y conforma una cierta ipología acitudinal en la que resalta,
en primer término, la importancia de la posición que podríamos considerar más “realista”, es decir, la
que se inclina por airmar que en los próximos veinte años habrá tanto beneicios como riesgos. Dicha
posición es asumida por cuatro de cada diez iberoamericanos encuestados. Observada por ciudades, es
más enfáica en Bogotá, y está menos presente en Caracas. Por otra parte, casi un tercio de la muestra
total podría considerarse como parte de un grupo que minimiza los riesgos y realza los beneicios. En
Ciencia y democracia 67
Caracas este grupo es no obstante más grande que la media general. Luego hay un 13% que asume una
postura pesimista: los riesgos serán muchos y los beneicios pocos o ninguno. En Sao Paulo este grupo
iene un peso mayor que en otras ciudades.
Gráico 2
Parte I • Textos de relexão
El Eurobarómetro marca también medidas opimistas respecto a estas cuesiones. Por una parte, los
europeos resaltan el papel de la ciencia y la tecnología para la cura de enfermedades y la mejora de la
calidad de vida. Sin embargo, en varios aspectos las posturas escépicas se hacen senir. Por ejemplo, como
muestra el Gráico 2, la mayoría (seis de cada diez) piensa que la ciencia y la tecnología son responsables
por los problemas del medioambiente, o bien que los alimentos genéicamente modiicados son peligrosos
(la mitad de la población).
Algunas de las encuestas nacionales de percepción llevadas a cabo por los organismos de ciencia y tecnología
en América Laina también ponen de relevancia la complejidad de la valoración de los riesgos y beneicios. En
el caso de Brasil (MCT, Museu da Vida, 2006), por una parte, se ve que la mayoría de los encuestados (casi la
mitad) opinaba que en el balance los beneicios son mayores que los perjuicios (deteniéndose en cuesiones
fuertemente vinculadas a la protección de la salud, el aumento en la calidad de vida, la educación y las
formas de comunicación). Una proporción importante del público –casi un tercio– descartaba la existencia
de riesgos. Un 13%, en cambio, sostenía que riesgos y beneicios estaban en equilibrio. Entre los principales
riesgos mencionados iguraban los efectos sobre el medio ambiente (un tema central de la agenda pública
de Brasil), la reducción del empleo y la provocación de nuevas dolencias y enfermedades.
En Brasil, sin embargo, no había una visión opimista ingenua. Una serie de respuestas se orientan en aquella
dirección. Por ejemplo, siete de cada diez opinaba que el conocimiento cieníico podía tornar peligrosos
a los invesigadores. La misma proporción reclamaba que los cieníicos deberían exponer públicamente
los riesgos de las invesigaciones que llevan a cabo. Seis de cada diez, por otra parte, consideraba que las
aplicaciones tecnológicas de gran impacto podían ser catastróicas para el medio ambiente. Y también la
mitad de los brasileños encuestados no creía que la ciencia y la tecnología fueran a eliminar, por ejemplo,
la pobreza en el mundo (MCT, Museu da Vida, 2006).
En la encuesta nacional de Argenina (SECYT, 2007) se introdujo un capítulo especíico sobre energía
nuclear donde se preguntaba entre otras cuesiones por el riesgo percibido y su gesión. La mitad de los
argeninos opinaba que se trata de un riesgo que puede ser gesionado eicazmente, mientras que otro
20% también acordaba con que se trata de un riesgo, pero incontrolable.
El estudio Eurobarómetro (2005) mostró que entre los europeos hay un acuerdo amplio de que el público
debe ser escuchado y su opinión tenida en cuenta: siete de cada diez entrevistados demanda mayor acceso
a la toma decisiones políicas sobre ciencia y tecnología. Pero los movimientos a favor de la paricipación
democráica tampoco implican la exinción de la visión tecnocráica: la encuesta europea también puso
en evidencia que junto al reclamo de mayor acceso la mayoría también preiere que sea el juicio experto
el que prevalezca en la toma de decisiones. Dos tercios de los europeos preieren que las decisiones sean
tomadas sobre la base de decisiones expertas.
Ciencia y democracia 69
Al mismo iempo, también en el estudio iberoamericano se podía observar que, como ocurría en Europa,
dos tercios (seis de cada diez) de los entrevistados preieren que los problemas sociales que se derivan
de la ciencia y la tecnología sean atendidos y decididos sobre la base de juicios expertos. Esta evaluación
permanece estable si analizamos disintas variables socio-demográicas: no hay diferencias signiicaivas
por género, edad, nivel educaivo o hábito informaivo, por ejemplo.
Conclusión
Como lineamientos indicaivos, las encuestas de percepción que se han estado aplicando en los úlimos
años en los países avanzados y en los países en desarrollo hacen visible lo inadecuado de los modelos
tradicionales centrados en la ecuación “menos conocimiento e información es igual a mayor ignorancia y
rechazo de la ciencia”. En rigor, por una parte, la sociedad conía en los cieníicos y tecnólogos, así como
percibe claramente el impacto benéico de la tecnociencia para la mejora de la calidad de vida, el bienestar
y la salud. Pero, por la otra, al menos en sectores sociales cada vez más amplios, aparecen consideraciones
acerca de los riesgos que dan cuenta de visiones más equilibradas y críicas respecto a las funciones de los
sistemas expertos y las consecuencias negaivas del desarrollo tecnocieníico.
Como segunda cuesión, vinculada estrechamente al riesgo, también los estudios demoscópicos dan cuenta
Parte I • Textos de relexão
sobre el reclamo de una mayor paricipación ciudadana, medido por el creciente interés que maniiesta la
ciudadanía para llevarla adelante. Sin embargo, es necesario reconocer que dicho “reclamo paricipaivo”
se maniiesta con más fuerza en un plano retórico que en los hechos. En este senido, se debe tener en
cuenta que aquellos resultados que muestran posturas decididamente a favor de una mayor paricipación
ciudadana y de una mayor apertura de los procesos de toma de decisión, no siempre se condicen con la
intensidad con que estas acitudes se relejan en las acciones ciudadanas. Es decir que si bien se observa
una creciente conciencia de la importancia que esta paricipación iene en materia cieníico-tecnológica,
aún no desempeñan un papel central en el modo en que se llevan adelante los procesos de toma de
decisión. Es por ello que también al interpretar los datos que se obienen en las encuestas sobre estos
temas debe también tenerse en cuenta el efecto de las respuestas consideradas políicamente correctas
que lleva a los entrevistados a inclinarse por posturas que serían las más convenientes de expresar. Al
mismo iempo, estos estudios muestran que la necesidad de paricipar no anula la fuerza de visiones más
tecnocráicas: de hecho, con la misma intensidad en que se reclama mayor información y protagonismo
también se considera que “en úlima instancia” debe prevalecer el criterio experto. Estas observaciones,
sin embargo, no minimizan el reclamo público que se convierte de este modo en un llamado de atención
para los actores políicos que ienen a su cargo la gesión y la toma de decisiones respecto a cuesiones
vinculadas con la ciencia y la tecnología, para repensar los procesos políicos y poder así reformularlos
abriendo cada vez más espacios desde los cuales pueda darse un mayor protagonismo y una paricipación
más concreta de la sociedad civil.
Una úlima cuesión iene que ver con la diferencia entre las sociedades de los países en desarrollo frente
a los países avanzados, lo que lleva a destacar los maices que estas mismas problemáicas adquieren
según el contexto socio-histórico en el que se desarrollan. La promoción de la paricipación ciudadana
es un desaío enorme para los países en desarrollo. La democracia en América Laina iene problemas
estructurales por las desigualdades en la distribución de la riqueza, debilidades del entramado insitucional,
recurrencia de crisis económicas y políicas y, en muchos senidos, bajo nivel de paricipación políica.
Tanto la sociología como la antropología juegan un papel destacado para comprender y dar cuenta de las
paricularidades del desenvolvimiento tecnocieníico en contextos especíicos que relejan la diversidad
social, políica, económica y cultural de cada grupo o sociedad. Este ipo de abordajes y acercamientos
podrían ofrecer además una mejor comprensión de cómo llevar adelante los procesos de toma de decisión
cieníico-tecnológicos mediante la incorporación de la paricipación ciudadana para dar respuesta a las
demandas y problemáicas sociales de cada comunidad. Y a su vez sería deseable que dichas propuestas
fueran consideradas a la hora de establecer las políicas públicas en ciencia y tecnología para que éstas
puedan responder más acabadamente a los requerimientos y las necesidades de la sociedad en la que
son generadas.
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Parte I • Textos de relexão
Carmelo Polino es invesigador del Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior
(Centro REDES) de Argenina, del Observatorio de la Ciencia, la Tecnología y la Sociedad del Centro de Altos
Estudios Universitarios de la Organización de Estados Iberoamericanos (OEI), y de la Red de Indicadores de
Ciencia y Tecnología (RICYT).
Dolores Chiappe es invesigadora en el Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior
(Centro REDES) de Argenina.
La pregunta por quién es el público, qué quiere o qué podría beneiciarlo, qué saberes y valores iene
es una de las más complejas del periodismo cieníico. Cierto es que son varios los públicos que ienen
los trabajos periodísicos, y el periodismo cieníico no es la excepción. Conviene que, en primer lugar,
revisemos quiénes son los lectores, oyentes y teleespectadores de los trabajos de esta especialidad,
entre quienes se cuentan expertos de disintas áreas, así como los comúnmente llamados, para abreviar,
legos. De este modo tomaremos conciencia de la complejidad de la elaboración de los materiales, en la
medida en que las demandas de los disintos públicos sobre el trabajo del periodista cieníico pueden ser
diícilmente, o sólo parcialmente, conciliables.
- Los propios expertos consultados: los cieníicos que fueron las fuentes del periodista no dejarán de leer,
escuchar o ver la pieza periodísica con atención, tanto si son citados como si no lo son. Y contrastarán su
recuerdo de la entrevista con la forma como sus explicaciones, sus datos y hasta su propia persona son
representados. Es fundamental recordar que los cieníicos ienen expectaivas y objeivos propios cuando
se prestan a ser entrevistados, en función de los cuales suelen juzgar el trabajo del periodista.
- Otros expertos: cieníicos de las propias áreas vinculadas a la trabajada en la pieza periodísica van a
tener gran interés en leerla, escucharla o verla, para ver cómo se presenta el tema. No es infrecuente
que de esta población surjan varias de las clásicas críicas al periodismo cieníico, en la medida en que la
visibilidad de un colega-compeidor —y de su manera de entender el tema en cuesión— puede molestar
a otro. Y no sólo por vanidad: se ha demostrado que la presencia en los diarios aumenta el índice de
citación de los arículos cieníicos (Philips et al., 1991; Kiernan, 1997; 2003). También, que la forma como
un debate cieníico es presentado el público puede inluir en el propio debate experto, como mostró Kirby
(2003) sobre la hipótesis de que los dinosaurios descienden de las aves presentada en Jurassic Park, que
terminó de instalarla como dominante en el campo.
- Editores y colegas: el primer lector de una nota es siempre el editor de la sección en que será publicada.
Igual sucede con un informe radial o televisivo. La ruina de las redacciones puede dar un lugar más o
menos importante a la visión de estos editores pero, en cualquier caso, el periodista no puede ignorarlas.
También colegas y editores de otros medios van a leer la nota, para ver de qué manera se trató el tema.
¿Qué y cuántas fuentes se consultaron?, ¿de qué origen?, ¿qué imágenes?, ¿se consiguió un tesimonio
directo o sólo se trabajó con cables o elementos pre-preparados? Estos son algunos de los criterios con
que los profesionales de los medios juzgan a sus colegas.
- Oicinas inanciadoras de ciencia y tecnología: el periodista o productor de una nota puede no tener en
cuenta a este público, porque no necesariamente ha tenido contacto con ellos. Pero sí suelen tenerlo muy
presente los cieníicos consultados, quienes suelen solicitar que se mencionen las insituciones donde
trabajan. Como comenta en un trabajo clàsico Dunwoody, “se espera que los profesores universitarios
soliciten subsidios de invesigación a agencias del gobierno, consejos de invesigación, fundaciones o a la
industria. La visibilidad en los medios puede ser importante para convencer a las agencias inanciadoras
del valor de la invesigación” (1986, p. 10).
- Profesores, maestros: muchas veces por iniciaiva propia y otras, esimulados por proyectos para
fortalecer la enseñanza de las ciencias, en las aulas se uilizan arículos periodísicos, o se ven documentales
o programas educaivos de televisión.
- Y, inalmente, está el público “general”: esa entelequia simpliicada, ese “hipotéico lector medio”. A
este público se le aplican, en primer lugar, todas las variaciones clásicas que se ienen en cuenta en el
periodismo en general (edad, educación, nivel socioeconómico, acitudes), de modo que resulta obvio que
no es uniforme. Pero pueden hacerse sobre el mismo, además, algunas especiicaciones exclusivas de la
comunicación de la ciencia.
Parte I • Textos de relexão
Ahora bien, este público general que necesita y merece informarse sobre ciencia y tecnología, ha sido
tradicionalmente caracterizado como ignorante y desinteresado. Se ha dado por obvia la existencia de
un desnivel, de una brecha entre cieníicos y público general, que consituye el modelo más extendido
de esta relación. En primer lugar, es importante relaivizar esta visión, des-naturalizarla. Autores como
Bensaude-Vincent (2001) han señalado que la concepción de esta diferencia radical entre cieníicos y
no cieníicos no fue siempre así, sino que iene un origen histórico, con una acentuación en el siglo
20. En esta visión, el público no sólo carece de conocimiento cieníico sino que de alguna manera se
encuentra incapacitado para intervenir en cuesiones de ciencia con auténica comprensión del tema –es
decir, desde un punto de vista cogniivo. Como describe Fehér desde una perspeciva epistemológica:
“Los epistemólogos han considerado evidente en sí mismo que la ciencia no era asunto de personas no
especializadas carentes de una formación metodológica especíica, y cuyo papel se limita a prestar apoyo
inanciero y moral a la invesigación cieníica –y no a hacer aserciones de conocimiento cieníico” (Fehér,
Desde la comunicación pública de la ciencia, Wynne (2001) destaca que esta visión no sólo niega al
público un papel cogniivo, racional, sino que además considera que su juicio está marcado por valores y
emociones, es decir, por aspectos irracionales.
De esta perspeciva se desprende una manera de comprender la divulgación cieníica que parte de
una radical asimetría entre expertos y público (comentada críicamente por Miller, 2001; Lewenstein,
2002), y que es la más extendida en el presente. Se trata de “la visión dominante de la divulgación”,
caracterizada por Hilgartner como “un modelo en dos etapas”: en los siguientes términos: “en primer
lugar, los cieníicos desarrollan un conocimiento cieníico genuino; en segundo lugar, los divulgadores
transmiten al público una versión simpliicada” (1990, p. 19-20). Es decir: los cieníicos saben, el público
no sabe, y los periodistas cieníicos son los imprescindibles intermediarios que deben traducir lo que los
cieníicos (sabios) dicen para que el público (ignorante) aprenda.
Esta visión del público fue la que guió en los comienzos las acciones de comunicación pública de la ciencia.
Bauer, quien habla de tres paradigmas de los estudios del área, llama a esta visión “el paradigma de la
alfabeización cieníica” (2007, p. 80-82) y lo sitúa entre la década del sesenta y mediados de la década
del ochenta. Este paradigma supone un déicit cogniivo del público, por lo que propone que éste debe
ser educado: el papel del periodismo cieníico, en esta visión, es transmiir conocimientos. El segundo
paradigma es el de la “comprensión pública de la ciencia” (2007, p. 82-84). Situado entre mediados de
los ochenta a mediados de los noventa, señala otro déicit del público: que no valoriza la ciencia, que se
apoya en supersiciones o creencias irracionales, que es “ani-ciencia”. La solución propuesta es, a la vez,
educarlo y seducirlo. En este segundo paradigma, comprensión y valoración son dos acitudes correlaivas:
el público debe comprender para aprender a valorar. Sin embargo, años de encuestas en Europa y los
Estados Unidos, muestran que no necesariamente un público más informado es un público que apoye
más a la ciencia. Como ha señalado Ziman, frecuentemente “La mayor comprensión está asociada con un
mayor apoyo a iniciaivas cieníicas úiles (…) pero también con más oposición con respecto a aspectos
que involucran disputas de ipo moral, como la invesigación con embriones humanos.” (1991, p. 100)
Finalmente, el tercer paradigma es el de “ciencia y sociedad” (Bauer, 2007, p. 85-86). Surgido a mediados
de los noventa, revierte el diagnósico: ahora, el déicit es el de las insituciones cieníicas y los expertos,
que ienen desconocimiento y prejuicios acerca del público. La solución es promover la paricipación del
público en las decisiones sobre cuesiones cieníico-tecnológicas. Siguiendo este diagnósico, que supone
un público racional y con saberes propios que complementan los conocimientos expertos, en muchos
países se establecieron rondas de consultas obligatorias.
2. No sé mucho sobre X; eso está bien porque no es algo importante o relevante para mí. En este caso,
Einsidel y Thorne aluden a la muliplicación de información disponible y aducen que todos decidimos no
saber más en algún momento sobre algún tema, por razones de “economía mental, interés o uilidad”.
3. No sé mucho sobre X; y no quiero saber más. Se trata aquí de una resistencia aciva. Einsidel y Thorne
mencionan los trabajos de Mike Michael (1992), quien observó que el público podía mostrar desinterés
Parte I • Textos de relexão
acerca de la información sobre radiación porque senían que esa información formaba parte de un esfuerzo
por “venderles” la tecnología nuclear. Hay casos en que la información puede ser una carga: saber, por
ejemplo, que uno iene predisposición a heredar una enfermedad que no iene tratamiento: para algunos,
puede ser mejor saber; para otros, no.
4. No sé mucho sobre X; sobre eso nadie sabe mucho (o nada deiniivo), y no hay mucho que podamos
hacer. Einsidel y Thorne mencionan en este caso trabajos sobre riesgo. Quisiera referirme al boom de la
información sobre alimentación que experimentamos en los noventa. Con alimentos como el vino, las
pastas o el café, por ejemplo, la información difundida pasó de condenarlos a adorarlos, de acuerdo a
cómo se iban difundiendo las invesigaciones sobre su posible inluencia en determinadas enfermedades.
En esto, como en muchos otros casos, el periodismo iene alguna responsabilidad al converir en
noicia muchas invesigaciones de alcance limitado, debido a la estructuración de la noicia como un
evento puntual y novedoso. A esta distorsión contribuye también la políica de prensa de los journals
y de insituciones cieníicas del Primer Mundo que quieren lograr la mayor visibilidad pública para sus
trabajos —un esfuerzo al que dedican importantes recursos (De Semir 2000). Por otra parte, es inherente
a la dinámica de la ciencia perfeccionarse de manera incesante. Pero es importante entender al público
cuando se resiste a modiicar conductas, basándose intuiivamente en que esa recomendación podría
cambiar más adelante.
2. No sé mucho sobre X, pero mis amigos y mi familia saben bastante sobre eso; yo debería informarme,
o me voy a quedar afuera. Einsidel y Thorne mencionan aquí los trabajos de Noelle-Neumann sobre la
“espiral del silencio”, quien postula que tratamos de ajustar nuestra opinión a la de la mayoría, para no
senirnos excluidos. También, que nos gusta saber de qué están hablando todos. Esto es interesante: un
tema de ciencia puede converirse en un tema de conversación coidiano si estuvo en la tapa de los diarios
o en el noiciero de la noche. También cuando empieza a “rebotar” en disintos medios: eso es el efecto
de “agenda seing” en un senido fuerte (se impone no sólo el tema, sino también lo que se piensa sobre
el tema) o débil (se impone el tema).
3. No sé mucho sobre X y no tengo las capacidades que se necesitan para saber más; por lo tanto, no
puedo averiguar más hasta que tenga estas capacidades. Einsidel y Thorne mencionan el trabajo de
Epstein (1995) sobre los acivistas contra el sida en los Estados Unidos, que presionaron a su gobierno para
que inviriera más dinero en invesigación, y hasta aprendieron el vocabulario técnico —la quintaesencia
de lo diícil— para ser respetados y escuchados por los cieníicos.
1 Esta información proviene de entrevistas realizadas para una invesigación en colaboración con Diego Hurtado
de Mendoza.
De manera todavía más interesante, hay evidencias de que el público puede inluir fuertemente en la
agenda de los medios, es decir, inverir el proceso de ida de la comunicación y actuar “corriente arriba” en
el proceso de la comunicación. Y no nos referimos a la agenda en un senido meramente senido temáico
—es decir, la versión débil de la teoría de agenda seing— sino también la agenda entendida como marco
interpretaivo, como framing, es decir, la versión fuerte de esa teoría. Estas evidencias provienen de un
enfoque clásico de ipo cuanitaivo, que ha ganado fuerza en los úlimos años: el modelo de la estructura
de la comunidad. Pollock (2007) ha mostrado una correlación consistente entre las variables demográicas
de las ciudades y el tratamiento que sus diarios dan a temas críicos, vinculados al cambio social. Por
ejemplo, este autor halló una sistemáica relación entre el número de médicos cada 100.000 habitantes y
un tratamiento favorable de los diarios al tema de la invesigación con células madre.
Finalmente, los casos de controversias técnicas y ambientales muestran que muchas veces son los
públicos los que advierten sobre los riesgos generados por nuevos emprendimientos, riesgos que
escaparon al escruinio de los expertos. En un trabajo clásico, Plough y Krimsky (1988, p. 5) disinguen
entre un signiicado “convencional” de la comunicación del riesgo, que es entendida como “transmisión
Parte I • Textos de relexão
de información técnica o cieníica desde las elites al público general”; y un signiicado “simbólico”, en el
que la comunicación del riesgo puede referirse “a cualquier comunicación pública o privada que informa
a los individuos acerca de la existencia, naturaleza, forma, severidad o aceptabilidad de los riesgos”. En
nuestro estudio sobre el reciente caso de resistencia a la instalación de dos plantas de celulosa en la ribera
del río Uruguay, limítrofe entre ese país y la Argenina, hemos argumentado que fue el movimiento social
consituido en la ciudad argenina de Gualeguaychú el encargado de comunicar a las autoridades de su
país, del Uruguay y del Banco Mundial, promotor de los proyectos, la gravedad de los riesgos ambientales
que suponía la instalación de dos enormes plantas en el mismo lugar (Vara, 2008).
Un público alerta, acivo, capaz de ayudar a pensar a los expertos, las autoridades y los periodistas es, inalmente,
lo que los iempos están trayendo. En este senido, la interacividad facilitada por las nuevas tecnologías de la
información y la comunicación (TICs) representa un aporte oportuno a la democraización de la ciencia y la
tecnología, en coincidencia con el más reciente paradigma de la comunicación que comentamos.
Por otra parte, es el público que se necesita en momentos en que el conocimiento parece estar cada vez
más teñido de intereses económicos. Bauer (2008) describe un contexto de creciente comercialización
de la ciencia, en el que el modelo de hacer negocios se exiende a los laboratorios académicos. Hemos
descripto que esta situación complica la tarea del periodismo, al aumentar la problemáica del conlicto
de interés que debe analizar cuando busca sus fuentes cieníicas, y por el hecho de que los mismos
periodistas están involucrados en el conlicto de interés por los regalos, los viajes y otras atenciones que
reciben (Vara, 2007). En este senido, volvemos a la advertencia de Bauer sobre que se requiere cada
vez más un público críico, que no acepte pasivamente las propuestas que los periodistas les acercan. Es
opimista, ya que señala indicadores de que un público críico está creciendo: el seguimiento sostenido
de temas de interés público; un incremento de la alfabeización cieníica; y el cambio de lo que llama la
“ideología cieníica” —es decir, una visión de los avances cieníicos como únicamente posiivos— por
acitudes uilitarias y escépicas en las sociedades con tecnologías avanzadas. Sosiene entonces que, en
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Ana María Vara es invesigadora del Centro de Estudios de Historia de la Ciencia y directora de la
Licenciatura en Comunicación Audiovisual de la Escuela de Humanidades de la Universidad Nacional de
San Marín (UNSAM), Argenina. También es colaboradora permanente del diario La Nación (Argenina).
Empezaré haciendo algunos comentarios generales sobre la cobertura de temas controversiales, teniendo
como punto de parida un texto interesante escrito por K. S. Jayaraman y publicado en un material de
referencia para periodistas cieníicos, preparado por la Federación Mundial de Periodismo Cieníico y
SciDev.Net2. Haré un resumen libre y comentado de dicho texto. Después, me dedicaré a discuir el caso
de las células madre embrionarias, ofreciendo sugerencias prácicas para reportear sobre este tema.
3. Las cuesiones controveridas son una buena oportunidad para educar a los lectores y ampliar la
conciencia del público sobre cuesiones como cambio climáico, células madre o transgénicos.
4. La buena cobertura de cuesiones cieníicas controveridas puede beneiciar al público. Por ejemplo,
relatos sobre los riesgos para la salud de los hornos a leña tradicionales generaron, en la India, un
programa sobre “hornos sin humo”.
Entre los temas de controversias de la ciencia están la falsiicación de datos, el plagio y otras malas
conductas, que pertenecen a una clase de controversias generalmente dadas a conocer, inicialmente, por
revistas cieníicas, cieníicos rivales o denuncias. Uno de los ejemplos que ganó espacio en los medios
masivos fue el del cieníico de Corea del Sur Woo Suk Hwang, quien en un primer momento atrajo la
atención de los medios masivos con lo que parecían ser importantes avances en los estudios con células
madre embrionarias y, posteriormente, sus estudios presentaban inconsistencias y controversias, incluso
de las fuentes donadoras de los óvulos.
Otras controversias, sin embargo, no se reieren a la validez de la ciencia, sino a los caminos de la ciencia.
1 La parte relacionada a la cobertura de células madres hace parte de arículo de la misma autora, publicado en
un Guía prácico de SciDev.Net (ver Cómo informar sobre células madre embrionarias, disponible en htp://www.
scidev.net/es/pracical-guides/c-mo-informar-sobre-c-lulas-madre-embrionarias.html).Gracias a Marina Ramalho y
Carmelo Polino por revisar el español.
2 Curso de periodismo cieníico en línea – Lección Seis: Cómo reportear controversias. Texto en español: htp://
www.wfsj.org/course/sp/. Texto en portugués htp://www.wfsj.org/course/pt/. Otro texto interesante es “La cober-
tura de las controversias en la ciencia”, del periodista cieníico británico Tim Radford, disponible en htp://www.
scidev.net/es/pracical-guides/la-cobertura-de-controversias-en-la-ciencia.html
Declaraciones y observaciones de cieníicos de renombre pueden también generar una controversia. Por
ejemplo, la declaración del ganador del premio Nobel James Watson acerca de que las personas negras
son menos inteligentes que las blancas generó una controversia que provocó su renuncia del Laboratorio
de Cold Spring Harbor.
Las controversias cieníicas no ienen relación solamente con la ciencia – generalmente, ellas ienen
Parte II • Guias práticos
2. El ipo “acivo” es aquél en que el(la) reportero(a) presenta por primera vez una controversia,
con base en las informaciones cuidadosamente recogidas en su invesigación. El libro Silent Spring
(Primavera silenciosa), de Rachel Carson, de 1962, que presentó los peligros del pesicida DDT y disparó
el movimiento ambientalista, pertenece a esa categoría. Un tema para otra historia es el hecho de que
el DDT haya sido nuevamente permiido.
¿Cuáles son las diferentes perspecivas sobre la controversia y quiénes ienen opiniones contrarias?
¿La nota es sensacionalista? Es importante poner especial atención para que la controversia sea presentada
sin sensacionalismo. Un hallazgo médico relatado de forma sensacionalista puede provocar un gran
entusiasmo sin razón en los medios masivos. Por ejemplo, la cobertura sobre el mal de la vaca loca alcanzó
niveles absurdos de histeria, con reporteros enfaizando los aspectos asustadores de la noicia, llevando al
gobierno británico a gastar millones.
¿Hay exageración? Los itulares y la elección de palabras (como usar “desacuerdo” en vez de “pelea”) para
describir diferentes puntos de vista son cruciales, puesto que pueden minimizar o exagerar la cuesión y,
así, condicionar la reacción del público sobre la disputa.
Contar “los dos” lados de la historia es una premisa básica del periodismo. Pero el equilibrio en la cobertura
de las controversias cieníicas no signiica enseñar todos los puntos de vista dándoles el mismo peso, sino
ejercitar el juicio y darle a cada evidencia cieníica el peso que merezca.
Y aunque diferentes puntos de vista deban ser relatados, los hallazgos cieníicos ampliamente aceptados
no deben ser presentados al lado de las visiones de un par de escépicos para promover el “equilibrio”. De
hecho, las revistas cieníicas más importantes evitan aceptar arículos que cuesionan teorías sobre las
cuales ya existe un consenso, como el calentamiento global o la existencia de agujeros negros.
Es importante también mantener una acitud más críica frente a los cieníicos: este es, según mi punto de
vista, un aspecto frágil del periodismo cieníico, pues los periodistas todavía suelen mirar a los cieníicos
con demasiado “respeto”. Con esto no quiero decir que los cieníicos no merezcan respeto –pues lo
merecen– pero que los periodistas muchas veces entrevistan a un único cieníico (o a pocos) y aceptan
sus palabras como si fueran hechos consolidados.
Es poco probable que los cieníicos mientan (serían los casos de fraude), pero pueden estar equivocados,
desorientados, o simplemente demasiado ideniicados con una teoría. Los cieníicos también ienen
un contexto que puede inluenciar inconscientemente su punto de vista, como el ipo de centro de
invesigación en el que trabaja (público o privado) o el peril profesional. Con respecto al úlimo aspecto,
sería interesante pensar cómo el salto de un sapo podría ser presentado de formas disintas de acuerdo con
el peril profesional de un cieníico: si fuera un ísico, quizás mencionaría las fuerzas ísicas involucradas
en el salto; un bioquímico podría centrarse el los procesos bioquímicos involucrados; un neurocieníico
podría enfocar el rol del cerebro en dicho salto…
Aquí tal vez valga presentar una analogía respecto al dicho que airma que si una persona que presenta
algunos problemas de salud consulta a un médico, iene un diagnósico claro de su posible enfermedad;
si consulta a más médicos, su diagnósico se torna más difuso. Igualmente, hay una “ley del periodismo
cieníico”: si el periodista habla con un cieníico, iene una imagen clara de causa y efecto. Si habla con dos o
más cieníicos, la imagen se hace más difusa, posiblemente con varias interpretaciones disintas de la misma
historia. En esta línea, sería un “Efecto Rashomon”, en referencia a la película de Akira Kurosawa, según la
cual el mismo hecho gana versiones muy disintas de acuerdo con la persona que relata dicho hecho.
En este contexto, es importante considerar que algunas veces la cobertura mediáica sobre las controversias
cieníicas puede tener la apariencia de una epidemia. Como una infección, pasando de una persona a la
otra, la exploración de una controversia por un diario lleva a otros diarios a seguir el ejemplo y abordar el
tema de una otra forma, con aperturas hechas para llamar la atención, como “en más una controversia...”.
Los(as) reporteros(as) pueden inconscientemente crear un fesival de “controversias en serie”. Pero tal
hiperacividad carga en sí misma el riesgo de que los periodistas ignoren la éica y algunas reglas básicas.
Las controversias brindan buenos materiales. Pero, una vez resueltas, las notas siguientes no deben
presentar la controversia. Si la “vícima” de la controversia es absuelta del fraude o mala conducta, es
aniéico no relatarlo. Un ejemplo (triste) de este comportamiento aniéico fue el sufrido por R.J. Azmi,
del Insituto Wadia de Geología del Himalaia, en la India, quien se convirió en vícima de un “reportaje
Parte II • Guias práticos
en serie” cuando denunciaron que los fósiles que él descubrió en la India central en 1998 eran falsos y la
prensa presentó el caso como tal. Fue una coincidencia infeliz que Azmi anunciara su descubrimiento poco
después de que la revista cieníica Nature hubiera denunciado un fraude de fósiles involucrando a otro
geólogo indio, V.J. Gupta. Un grupo de geólogos suecos declaró, en el encuentro de la Sociedad Geológica
Americana que ocurrió en Colorado en octubre del 2007, que los hallazgos de Azmi eran auténicos, pero
Azmi dijo que el estrago ya estaba hecho, a causa de los relatos de la prensa realizados a la sombra del
episodio Gupta.
Este tema genera muchas publicaciones en los medios: desde las maravillosas posibilidades de las células
madre embrionarias, que dejan sin aliento, hasta la condena de una ciencia que destruye un embrión humano.
La invesigación de las células madre embrionarias es uno de los temas cieníicos más complejos para
cubrir periodísicamente. A pesar de su potencial, probablemente sus beneicios no se harán visibles
durante décadas. Además, no está exenta de riesgos y genera profundas pasiones en ambos lados.
No existe una fórmula simple para informar sobre la ciencia de las células madre. Pero aquí proporcionamos
unas cuantas reglas para garanizar que su cobertura sea responsable e informaiva. Están basadas en mi
experiencia en cubrir invesigaciones polémicas sobre células madre embrionarias en Brasil.
Una célula madre es aquella que puede dividirse en culivo por periodos indeinidos y es ‘mulipotente’, lo
que signiica que puede dar lugar a células especializadas (como neuronas o células de la piel).
Hay dos ipos principales de células madre y es esencial explicarle a su audiencia a cuál de ellas se está reiriendo.
Las células madre embrionarias son células indiferenciadas, derivadas de un embrión de cuatro a cinco
días, que se pueden dividir en un culivo por un periodo prolongado sin converirse necesariamente en
células especializadas. Pueden desarrollarse en todo ipo de células y tejidos, así como en tejidos ‘extra
embrionarios’ como la placenta, porque son ‘toipotentes’.
Las células madre adultas son células indiferenciadas que se encuentran en muchos órganos y tejidos
diferenciados. Su capacidad de dividirse en culivo es más limitada que las células madre embrionarias y,
por lo general, se desarrollan solamente en ipos de células en el órgano de origen, pues son ‘mulipotentes’.
Las células madre embrionarias son úiles para estudiar las enfermedades genéicas. El material genéico
de una célula de un paciente con ibrosis quísica, por ejemplo, puede transferirse a un óvulo sin ferilizar
al que se le ha eliminado su propio material genéico.
Este nuevo óvulo es esimulado a dividirse, produciendo el embrión desde el cual las células madres
embrionarias con los indicadores genéicos de la ibrosis quísica se pueden extraer y estudiar. Esto por lo
general signiica destruir el embrión, aunque los invesigadores recientemente han encontrado maneras
para extraer las células madre sin tener que eliminarlo.
Pero el enfoque principal sobre las células madre embrionarias —paricularmente en los medios— es su
potencial para tratar enfermedades. Las células madre embrionarias son más promisorias que las células
madre adultas porque pueden converirse en cualquier célula.
En un escenario de tratamiento, las células madre embrionarias se pueden tomar sea desde un embrión
como el descrito anteriormente —lo que se llama clonación terapéuica—, o desde un embrión sobrante
de un tratamiento de ferilidad. Las células madre embrionarias serían esimuladas en el laboratorio
para converirse en un ipo paricular de células que se podrían implantar en un paciente. Por ejemplo,
las células nerviosas implantadas en una médula espinal dañada podrían repararla, permiiendo que el
paciente volviera a caminar.
La invesigación con células madre embrionarias es controverida porque, en todos los casos, se usa un
embrión. Y crear una célula madre embrionaria desde un óvulo no ferilizado consituye también el primer
paso para hacer una copia completa de otro organismo vivo o ‘clonación reproduciva’. Por estas razones,
los acivistas han protestado contra esta tecnología y acusan a los cieníicos de ‘jugar a ser Dios’.
En 2006, los invesigadores alcanzaron otro gran avance: ideniicaron las condiciones necesarias para
Si no está seguro sobre alguno de los temas o deiniciones técnicas, recurra a fuentes coniables como el
glosario del Insituto Nacional de Salud de los Estados Unidos (disponible en htp://stemcells.nih.gov/info/
glossary.asp).
No ofrezca falsas esperanzas a la gente. Veriique varias veces el estado de la invesigación y deje en claro
a su audiencia el gran trabajo que se requiere aún para hacer realidad estos tratamientos.
Parte II • Guias práticos
Responda algunas preguntas básicas. ¿Es un experimento de laboratorio?, ¿usa células o modelos
animales?, ¿ha sido aplicado a humanos?, ¿qué tan amplio es el estudio?, ¿cuándo recibirían el tratamiento
los pacientes?
Comunique lo fascinante que puede resultar cualquier avance en la investigación con las células
madre embrionarias, pero no permita que el ‘factor ¡wow!’ reemplace la realidad: la espera es larga
para los tratamientos.
Aprenda desde el caso brasileño. Quienes estaban a favor de las células madre embrionarias solo
informaron que los beneicios de la invesigación en la sociedad podrían demorar varias décadas una
vez que fue aprobada la legislación que permiió la invesigación con células madre embrionarias, lo que
causó indignación pública.
Además, el cuerpo puede rechazar las células madre embrionarias inyectadas, al igual que cualquier
trasplante. Mientras que la creación de células madre embrionarias con los propios genes del paciente
(como en la clonación terapéuica) reduce este riesgo, podría no ser prácico siempre, por razones como
la escasez de óvulos donantes.
Contextualice su información
También es muy importante entender el contexto local. Familiarícese con lo que está pasando en su país. ¿Existe
legislación sobre células madre embrionarias?, ¿qué dice exactamente?, ¿es un tema polémico?, ¿hay mucha
invesigación con células madre embrionarias o células madre adultas por parte de los cieníicos locales?
Añadir un párrafo sobre el tema en su país ayudará a que su audiencia comprenda de qué manera un
aspecto paricular de la invesigación podría afectarlos. Algunos países permiten todo ipo de invesigación
con células madre embrionarias (excepto para clonación reproduciva), mientras que otros, como Brasil,
permiten invesigar sólo con embriones descartados de los tratamientos de ferilidad.
Podría encontrar que informar sobre la políica de células madre embrionarias es igualmente complicado.
En Brasil, por ejemplo, la ley de bioseguridad, que permite la invesigación con células madre embrionarias,
incluye otro tema controverido, la invesigación con culivos transgénicos. Y en el Reino Unido, las
enmiendas a la políica de invesigación con células madre embrionarias llegaron al parlamento en el
mismo proyecto de ley que contenía una moción para reducir el plazo legal para los abortos.
Conserve la objeividad
En temas altamente polarizados, usted deberá esforzarse por ser objeivo. El público está siempre lidiando
con las opiniones de las partes beligerantes, como para tener que lidiar también con la agenda propia de
un periodista.
Apúntele al balance, pero evite caer en un falso equilibrio. No siempre necesita conseguir comentarios
generales sobre el masivo potencial de la invesigación con células madre embrionarias, o el gran daño
que podría generar. Es decir, trate de no presentar el tema como blanco o negro.
Por el contrario, entreviste a quienes darán opiniones especíicas y mesuradas sobre la invesigación de la
que está informando. Por ejemplo, ¿otros cieníicos del mismo campo están de acuerdo con los reclamos
de los invesigadores?, ¿prevén obstáculos entre la invesigación y el tratamiento clínico?
Cuando encuentre a sus entrevistados, recuerde que los cieníicos también son seres humanos. Pregúntese
¿por qué tendría que decirle a la gente lo que él hace, o lo que hace el invesigador propietario de una
compañía que iene pensado comercializar la tecnología?, ¿no será que el comentarista externo que pone
en duda la validez de la invesigación, simplemente está compiiendo por mayor inanciamiento para la
invesigación con células madre adultas?
Tenga en cuenta la situación en su país. Evite dar a las voces en conlicto el mismo peso si éstas no relejan
la opinión de donde usted vive. Por ejemplo, en un país donde la mayor parte de la población apoya la
invesigación con células madre embrionarias, piense cuidadosamente sobre cuánto peso dará a la única
voz disidente.
Recuerde hasta dónde ha llegado la invesigación con células madre adultas en los años recientes. Las
terapias con células madre adultas, como el trasplante de células madre para la leucemia, son las únicas
terapias llevadas al nivel clínico hasta el momento. La célula madre pluripotente inducida podría también
converirse en una alternaiva a las células madre embrionarias.
Los periodistas con frecuencia son acusados de ignorar el potencial de la invesigación con las células madre
adultas y estar demasiado cerca de los invesigadores con células madre embrionarias. Si es apropiado,
pregunte si las células madre adultas podrían alcanzar el mismo objeivo, o trate de averiguar hasta qué
punto lo han conseguido los cieníicos.
Además, si las imágenes y itulares en su mayor parte están fuera de su control, trate de llamar a la
prudencia. Por ejemplo, un importante diario de Brasil usó una foto en su portada que, debido a que
fue tomada desde abajo, parecía mostrar a un fanáico religioso oprimiendo a un hombre en silla de
ruedas. Vigile el proceso de tal manera de que los malos itulares o una foto no destruyan su arículo
Parte II • Guias práticos
Invesigue. Sea que esté a favor o en contra de la invesigación con células madre embrionarias, asegúrese
de considerar cuidadosamente todos los asuntos y evidencias clave. No manipule en uno u otro senido.
Deina claramente cuál es su opinión y cuáles son los hechos. Nunca disfrace su opinión como información
objeiva. Y evite burlarse de quienes ienen una opinión diferente. En Brasil, por ejemplo, los periodistas
acusaron a los opositores de las células madre embrionarias de ser extremistas religiosos, o deliberadamente
vagos debido a que no pueden entender la ciencia.
Por úlimo, aunque muchos reportajes sobre la invesigación con células madre embrionarias sean
demasiado cortos para cubrir todos los temas discuidos aquí, tenga estos consejos en mente. Permiirán
que su arículo sea equilibrado y sólido.
Como he intentado mostrar en este texto, la invesigación con células madre es uno de los tópicos más
diíciles de cubrir para un periodista cieníico. Pero es fascinante, precisamente por esas razones.
Luisa Massarani es periodista cieníica e invesigadora del Museo de la Vida, Casa de Oswaldo Cruz,
Fundação Oswaldo Cruz, en Brasil, y coordinadora de SciDev.Net para América Laina y el Caribe (www.
scidev.net).
Una pandemia o el brote severo de una enfermedad siempre son noicias candentes, debido a la carrera
para invesigarlas, los resultados inciertos, los detalles sobre el tratamiento, los intentos de impedir su
propagación y, por supuesto, el factor miedo.
Las etapas iniciales de un brote proporcionan, de manera especial, buenas oportunidades para los
periodistas. Hay muchos invesigadores y doctores para entrevistar, abundancia de nuevos “ganchos”,
funcionarios e invesigadores de salud lidiando con la situación y una inusual disposición de los editores
para publicar arículos cieníicos.
Pero para informar responsablemente sobre el brote de una enfermedad, no sólo es necesario darle
senido a los primeros informes y a la gran canidad de información, a menudo confusa, sino que se debe
hacer el seguimiento exhausivo de la historia en el largo plazo.
Y ello debe hacerse aplicando siempre un pensamiento críico y un enfoque cieníico. La ciencia —
junto a perspecivas sociales y económicas más amplias — es esencial para producir buenos arículos
sobre una pandemia.
La cobertura de la gripe porcina – inluenza A(H1N1) — está brindando ya algunos ejemplos clásicos de
mal periodismo cieníico, como cuando periodistas egipcios atribuyeron a ‘expertos’ declaraciones de
que los cerdos infectados podrían terminar dentro de la cadena alimenicia como carne de res barata.
Lo que sigue es un asesoramiento para evitar que esos errores se repitan. Los consejos son más importantes
en los países en desarrollo, donde los recursos son escasos y grandes los retos para comunicar información
de importancia.
En estos países, los mensajes responsables sobre salud pública son cruciales para aliviar la carga de una
enfermedad sobre los vulnerables sistemas de salud.
Las organizaciones de salud suelen proporcionar información y datos básicos sobre el patógeno y las
mejores formas de lidiar con él. Las agencias del gobierno deben proporcionar información sobre el
número de casos en un país y, si es necesario, del número de muertes.
Trate de informar sobre esos detalles usando el conocimiento cieníico. La tasa de mortalidad ¿es más alta
1 Este arículo fue originalmente publicado en SciDev.Net (www.scidev.net), en la seción de Guías Prácicas.
Las pandemias y los brotes repeninos de una enfermedad, por su naturaleza, generalmente los causan
Parte II • Guias práticos
nuevos patógenos, o al menos nuevas cepas de éstos. Los cieníicos no necesariamente sabrán cómo
se comportan.
Ellos saben muchísimo sobre la inluenza, por lo que el brote actual de gripe A(H1N1) no encierra
demasiados misterios, aunque obviamente nadie pueda predecir el futuro. Pero cuando el SARS surgió en
2003, los cieníicos conocían muy poco, pues se trataba de un nuevo virus.
Transmita lo que los cieníicos saben y lo que no saben, pero trate de no causar pánico. Los cieníicos
no necesariamente deben saber todos los detalles de un patógeno para encontrar un tratamiento que
funcione, y es poco realista pretender que sepan sobre todas las enfermedades posibles.
Cuanto menos se sabe, las posibilidades son más grandes pero eso no quiere decir que sean inevitables: la
gripe A(H1N1) podría combinarse con la gripe aviar H5N1, pero eso no signiica que así ocurrirá.
Sea cauteloso con aquellos cieníicos que hacen airmaciones sensacionalistas sobre un gran número de
muertes: mientras más grave sea la enfermedad más dinero podrían recibir para sus invesigaciones.
Asimismo, trate de mantener una enfermedad en su contexto. Muchos informes sobre la pandemia de
la gripe A(H1N1) han fallado al comparar las cifras de muertes con otras que pueden tener más impacto.
Ante la nueva pandemia de inluenza, existe la tendencia a compararla con pandemias anteriores,
especialmente con las más dramáicas. Recuerde que debe informar sobre los brotes actuales en el
contexto actual de los sistemas de salud y del desarrollo cieníico.
Del mismo modo, debe informar cómo no se transmite. Las industrias pueden verse afectadas si la gente
cree que un determinado producto está implicado en la transmisión de una enfermedad. La venta de aves
de corral disminuyó a medida que aumentaba el temor sobre la gripe aviar H5N1, porque la gente pensaba
equivocadamente que la enfermedad podía ser transmiida por su consumo.
Debe entregar información a su audiencia acerca de cómo protegerse, paricularmente con medidas
simples. Con el VIH, los mensajes deben ser sobre pracicar sexo seguro; con la gripe, sobre el lavado de
las manos.
Informar acerca de lo que no se debe hacer es igualmente importante. Por ejemplo, hay poca evidencia de
que las mascarillas puedan proteger a la gente contra la gripe. Las empresas pueden estar promoviendo
productos sobre los cuales no existe ninguna evidencia de efecividad.
Evite producir demasiadas historias. Los mensajes importantes sobre salud pública no se deben perder
debido a que el público ya no tenga interés ante la abundancia de historias similares que parecen no
ofrecer ninguna nueva información.
El desarrollo de relaciones con cieníicos que coníen en usted es crucial. Las conversaciones regulares
pueden aportar nuevos enfoques a sus historias, así como informarle cómo van a seguir sus invesigaciones.
En algunos países, los gobiernos pueden intentar esconder el número de casos o de muertes –como con
el SARS en China—por lo que hablar con los cieníicos, especialmente con los epidemiólogos que deben
hacer el seguimiento de los brotes, podría ser la única manera de descubrir la verdad.
También puede regresar a las mismas fuentes para tener una idea de cómo perciben el brote los cieníicos
a través del iempo. Si están cambiando sus opiniones acerca de la severidad de la enfermedad, entonces
También es una buena idea construir relaciones con las fuentes gubernamentales. Esto puede ser diícil de
lograrse en los países en desarrollo..
La opinión a largo plazo
Cuando el público recibe la mayor parte de la información sobre una enfermedad a través de los medios
de comunicación, es posible que crea que ésta ya desapareció porque no igura más en las noicias. Si bien
es importante no abrumar al público, también deben saber si todavía existe la amenaza.
Mantenga en su mente las preguntas clave y trate de ver si las respuestas cambian a medida que empieza
a aparecer nueva información.
Además, la etapa posterior al frenesí de la cobertura inicial es una oportunidad para una información
exhausiva, evaluando la respuesta del gobierno, por ejemplo, o mirando de qué manera la invesigación
sobre la enfermedad ha hecho avanzar a la ciencia en general (o si recursos vitales han sido derivados a
otras áreas).
El seguimiento del desarrollo de nuevos medicamentos o vacunas contra la enfermedad también puede
Parte II • Guias práticos
resultar producivo. En la China se desinaron muchos recursos para la invesigación de la vacuna contra
el SARS, pero el virus desapareció rápidamente, y pocos cuesionaron a los cieníicos sobre el retorno de
esta gran inversión.
Por ejemplo, China News Weekly ha cubierto la gripe A(H1N1) muy a fondo evaluando la transformación
de la estrategia de salud pública en China desde 2003, cuando el SARS tuvo un impacto muy severo sobre
el sistema de salud y la sociedad en general. Los arículos también han comparado el enfoque de China
con el de otros países, y los progresos de la sociedad para prevenir y combair la enfermedad.
Informar sobre pandemias podría signiicar tocar temas sociales, como el sexo sin protección y las múliples
parejas sexuales, así como el VIH y las inequidades en el acceso a los medicamentos. El VIH también iene
implicancias económicas, porque ha destruido generaciones en algunos países en desarrollo.
El desaío es hacer relevante localmente una historia global. Puede ser que una enfermedad aún no haya
ocurrido en su país, pero debe permiir que la gente sepa sobre ella y se informe sobre qué hacer para
protegerse y qué están haciendo las autoridades.
Fang Xuanchang es editor de ciencia del China News Weekly. Jia Hepeng es editor jefe de Science
News Bi-Weekly y ex coordinador de China de SciDev.Net. Katherine Nighingale es periodista cieníica
independiente ubicada en Australia y edita noicias de SciDev.Net Asia Suroriental.
La preocupación por el modo como los periodistas presentan las estadísicas y el riesgo iene más años
que cualquiera de los lectores de este arículo. Académicos, periodistas y muchas organizaciones han
preparado numerosos libros, cursos de formación y conferencias sobre el tema.
Tanto periodistas como cieníicos generalmente explican el riesgo y las probabilidades de tal manera que
distorsionan la idea que quieren transmiir.
Para llamar la atención de su público y, más importante aún, ganar su conianza, usted debe comunicar
los resultados cieníicos y su impacto de forma clara y precisa, lo que muchas veces signiica traducir el
contenido de un arículo cieníico a un lenguaje comprensible para el público general.
Traducir la evidencia
El resumen de un arículo debería sinteizar la evidencia más importante, pero eso no siempre sucede. Por
ello, lo más recomendable es leer el arículo completo en busca de las airmaciones que serán de mayor
interés para sus lectores.
Recuerde que los periodistas escriben los hechos más importantes y las principales airmaciones (‘la noicia’)
al principio de la historia, mientras que los arículos cieníicos comienzan por la metodología, las advertencias
y las pruebas que apuntalan la invesigación. En un arículo cieníico, la evidencia puede ser cuanitaiva
(numérica), cualitaiva o una combinación de ambas. Aquí abordaremos la evidencia cuanitaiva.
Como recomendación general, traduzca los datos cuanitaivos a su equivalente más cercano en el lenguaje
común y ponga las cifras exactas entre paréntesis. Por ejemplo, la gente suele decir la mitad, no el 50 por
ciento; entonces, escriba ‘alrededor de la mitad (el 51,2 por ciento)’ o ‘un tercio (el 33 por ciento)’.
A menos que se trate de coincidencias exactas, como un tercio y 33 por ciento, mi recomendación es
mencionar siempre el dato especíico e incluir el margen de error (muchas veces llamado ‘intervalo de
seguridad’), que es un indicador de la iabilidad de la evidencia.
A menudo, los arículos cieníicos informan sobre porcentajes, por ejemplo, “el 20 por ciento de una
muestra de 215 sujetos”, o simplemente incluyen el porcentaje en una tabla o un gráico. Usted debe
hacer el cálculo para sus lectores y escribir: “43 de las 215 personas que componían la muestra (el 20 por
ciento)”. De esta manera, se contemplan diferentes formas de entender la evidencia y se logra que mucha
más gente pueda comprender la información.
Lección: Sus lectores no son el desinatario principal de los arículos publicados en las revistas cieníicas,
de modo que hay que traducir los datos. Usted es el único responsable de conseguir que las conclusiones
y la evidencia que las respalda sean del todo comprensibles para el público, teniendo en cuenta su nivel
de alfabeización y habilidades aritméicas.
1 Este arículo fue originalmente publicado en SciDev.Net (www.scidev.net), en la seción de Guías Prácicas.
En Estados Unidos, el 12,7 por ciento de las mujeres desarrollará cáncer de mama en algún momento de
su vida. Al comunicar esta estadísica, se acostumbra a decir: “una de cada ocho mujeres sufrirá cáncer de
mama”, pero muchas lectoras no comprenderán el riesgo real de esta airmación. Por ejemplo, más del 80
por ciento de las mujeres estadounidenses enienden erróneamente que se diagnosica cáncer de mama
a una de cada ocho mujeres al año.
Con la estadísica ‘una de cada ocho’ se obiene un itular llamaivo, pero la representación del riesgo
individual de cáncer de mama puede ser muy inadecuada.
El riesgo real de que una mujer padezca cáncer de mama varía por numerosas razones a lo largo de la vida
y rara vez corresponde a la estadísica ‘una de cada ocho’. Por ejemplo, en Estados Unidos se diagnosica
cáncer de mama al 0,43 por ciento de las mujeres de entre 30 y 39 años (una de cada 233). Y en el caso de
las mujeres de entre 60 y 69 años, la tasa es del 3,65 por ciento (una de cada 27).
Parte II • Guias práticos
Puede que los periodistas informen sólo del riesgo promedio (‘una de cada ocho’) por falta de espacio. No
obstante, esa forma de plantear los datos supone equivocadamente que las lectoras no están interesadas
en comprender las estadísicas subyacentes o son incapaces de hacerlo. De ahí la importancia capital
de encontrar la manera de presentar un panorama lo más completo posible del asunto, bien a través de
palabras o de gráicos.
Lección: Asegúrese muy bien de que sus lectores comprenden que la esimación del riesgo, la exposición
o la probabilidad para el conjunto de la población puede no describir de forma precisa las situaciones
individuales. Además, proporcione información relevante para explicar la variación del riesgo individual
en función de factores como la edad, la alimentación, el nivel de alfabeización, la ubicación geográica,
el nivel educaivo, los ingresos, el componente racial y étnico, así como otra serie de factores genéicos y
relacionados con el esilo de vida de las personas.
El riesgo absoluto de contraer dengue con la nueva vacuna es del 0,1 por ciento y de 0,4 en el caso del
placebo. Los itulares podrían decir sin conducir a error: “Nueva vacuna disminuye 0,3 por ciento el riesgo
Ahora bien, una diferencia de esa magnitud en realidad puede ser muy pequeña, dependiendo de lo
extendida que esté la enfermedad. Si una enfermedad afecta a cuatro individuos por cada un millón de
personas, bajar el riesgo a un cuarto (una reducción del 75 por ciento) salva apenas a tres personas por
cada millón. Por lo tanto, más allá del itular, hay que presentar un análisis exhausivo y equilibrado que
pondere los riesgos y los beneicios.
Lección: El uso del riesgo relaivo o del absoluto puede crear dos imágenes sustancialmente diferentes de
un mismo riesgo. Los periodistas deben ayudar a que su público comprenda esta disinción capital. Nunca
dé por sentado que el público conoce la diferencia entre el riesgo absoluto y el relaivo. Tampoco dé por
supuesto que el público está en condiciones de calcular con precisión e interpretar las diferencias entre
las dos técnicas. Una buena prácica es comunicar las dos clases de riesgo de forma clara y concisa, junto
con las implicaciones de tales diferencias.
Por mencionar un caso, recientes informes periodísicos sobre el hallazgo de la bacteria Escherichia coli
en productos que contenían espinaca en varias zonas de Canadá y Estados Unidos citan estas palabras
de un funcionario de gobierno: “Al igual que sucede con la vaca loca (otra causa de alarma vinculada con
productos agrícolas), el riesgo de enfermarse a causa de la infección por E. coli es en realidad insigniicante.
Se corre mucho más riesgo saliendo a la autopista”.
Ese ipo de comparaciones, por bien intencionadas que sean y más allá de que se realicen en un país
pobre o rico, están condenadas al fracaso, por varios moivos. En el ejemplo, la intención del gobierno
de tranquilizar a la población comparando el riesgo con la enfermedad de la ‘vaca loca’ (Encefalopaía
Espongiforme Bovina o EEB) se puede volver en contra porque está probado que cuando el gobierno
británico debió afrontar la propagación de la EEB, no dijo la verdad sobre el riesgo que presentaban los
alimentos contaminados.
Trate de no comparar riesgos disímiles. Por ejemplo, una comparación muy extendida del ipo ‘es más
probable que lo arrolle un autobús / tenga un accidente de tráico que…’, por lo general no informará
a la gente sobre los riesgos a los que se enfrentan porque las situaciones que se comparan son muy
diferentes. Cuando una persona evalúa riesgos y toma decisiones, suele tener en cuenta qué control iene
sobre el riesgo. Conducir implica un riesgo voluntario que las personas (equivocadas o no) creen poder
controlar. Esa clase de riesgo se diferencia notoriamente de la contaminación subyacente por un producto
alimenicio o la picadura del mosquito que transmite la malaria.
Lección: Trate de no comparar riesgos diferentes y si lo hace, que sea con suma cautela porque no puede
controlar cómo interpretará el público el uso de metáforas. Esto es paricularmente cierto cuando están
implicadas múliples culturas. Las metáforas suelen tener disintos signiicados para diferentes personas.
Tomemos por caso la conocida frase: “El amor es como una rosa roja”. ¿Qué signiica exactamente el amor para
el lector? ¿Es el aroma agradable, el bello entramado de pétalos, el rojo profundo o acaso las ilosas espinas?
En síntesis
Para comprender por qué disintas personas enfrentadas al mismo riesgo toman decisiones diferentes,
hay que entender el contexto. Si quiere comunicar la ciencia con éxito, debe empezar por conocer a su
público en términos de lenguaje, habilidades matemáicas y cultura.
Conozca a su público y revise con él lo que escribe desde el principio y a menudo. Puede comenzar con
Parte II • Guias práticos
colegas, amigos e integrantes de la familia. Aun mejor, de vez en cuando puede reunir a un grupo que
forme parte del público para hablar con ellos sobre la cobertura de los temas cieníicos. Así sabrá lo que
les gusta y lo que no, lo que comprenden y lo que desean comprender.
Cuando comunique el riesgo, reconozca que sus habilidades ienen límites y pregunte para clariicar, en
lugar de repeir como un loro lo que dice el especialista técnico. No tenga miedo de llamar al autor del
arículo cieníico y pedir más explicaciones. Trate de entablar buenos vínculos con los académicos que
podrán ayudarlo.
Desde la prensa escrita, la radio, la televisión o Internet, los periodistas pueden y deben contribuir
a impulsar la difusión de conocimientos certeros. Para lograrlo, hay que atraer la atención del público y
ganarse su conianza.
Para cumplir ese objeivo, usted debe descifrar las complejidades de la ciencia y comunicar la información
con claridad. Primero, asegúrese de comprender las ideas principales. Luego, si es importante hacerlo,
explique aspectos más complejos de forma que tanto usted como sus lectores puedan comprenderlos
cabalmente, así como evaluarlos y uilizarlos. El resultado será un público mejor informado que coniará
en el trabajo que usted hace.
Andrew Pleasant es director de invesigaciones y de educación en salud del Insituto Canyon Ranch,
Estados Unidos. Es coautor del libro Advancing health literacy: A framework for understanding and acion.
Muchos cieníicos se reieren a la teoría de la evolución de Charles Darwin como la piedra angular de la
biología moderna.
Esta teoría dice que todas las especies, incluida la humana, evolucionaron por selección natural. Es decir,
los rasgos emergentes que ayudan a que los organismos sobrevivan y se reproduzcan son ‘seleccionados’
y se establecen a través de sucesivas generaciones.
La evolución sustenta temas tan variados como la paleontología, la reproducción animal, la virología y la
biotecnología moderna. Esta amplitud de temas la hace crucial para muchas historias cieníicas diferentes.
Pero explicar la evolución puede ser diícil si la gente conoce poco sobre ella. Una encuesta del Consejo
Británico realizada en 2009 encontró que 62 por ciento de los encuestados en Egipto y 73 por ciento en
Sudáfrica, nunca habían oído sobre Charles Darwin.
Otros, simplemente rechazan la teoría, entre ellos más de la mitad de los encuestados por Science en
Turquía en 2006. El rechazo es especialmente común en las sociedades religiosas conservadoras.
Por lo tanto, ¿de qué manera se puede hacer reporterismo sobre ciencia evoluiva —o cualquier otra
ciencia basada en la teoría de la evolución— en estas comunidades?
Dar en el blanco
Primero, sea claro en su objeivo: explicar su historia cieníica. A pesar de las creencias de la gente sobre la
creación o la religión, pueden ser capaces de aceptar la evolución en otros contextos, ¡si logra explicarlo bien!
Recuerde que en muchos países en desarrollo la evolución apenas se enseña en la escuela, y la información
que la gente recibe sobre el paricular puede provenir de fuentes opuestas. En Indonesia, por ejemplo, una
encuesta realizada en 2007 por la Universidad McGill encontró que más de dos tercios de los profesores
encuestados usaban videos ani evolución en sus clases de biología.
Por consiguiente, trate de cubrir los conceptos básicos de la evolución tan clara y sencillamente como
le sea posible, explicando términos como ‘selección natural’, ‘ancestro común’ y ‘rasgos genéicos’, aún
cuando para usted sean obvios. Use imágenes o videos si cree que pueden ayudar.
Acerque la historia al contexto de su audiencia. La mayoría de las comunidades han estado dirigiendo su
propia evolución por cientos o miles de años, mediante el mejoramiento de plantas o animales. Incluso los
aniguos egipcios cruzaron plantas para producir mejores variedades.
Una vez escuché a un profesor comparar la evolución con la manera como cambian las formas y los
modelos de los autos a través del iempo, adaptándose a las necesidades de la gente y de su entorno.
Tales ejemplos pueden ayudar a desmiiicar la evolución.
1 Este arículo fue originalmente publicado en SciDev.Net (www.scidev.net), en la seción de Guías Prácicas.
Su historia ¿le está diciendo que necesita probar toda la teoría de la evolución o tan solo una parte?
Acomodándose a la religión
Es imposible negar que la evolución se opone a algunas creencias religiosas. De hecho, para muchas
personas el único conocimiento de la teoría es este conlicto. Pero la oposición no siempre es absoluta.
Por ejemplo, muchos creyentes del Islam en la región del medio oriente y norte de África (o MENA por sus
siglas en inglés), aceptan la teoría, pero rechazan incluir a los humanos en el orden evoluivo.
Trate de evitar enfrentamientos acerca de la evolución que vayan directamente en contra de la religión.
En las sociedades religiosas, seguro que alienará a su audiencia. Por el contrario, asegúrese de conocer el
potencial de creencias de su audiencia y por qué se podría oponer a la evolución.
Por ejemplo, la interpretación de las comunidades crisianas va desde creer que la evolución fue guiada
por Dios, hasta una interpretación literal de la Biblia, según la cual Dios creó al hombre en un día, hace
Parte II • Guias práticos
Siempre que sea posible, trate de acomodar las creencias religiosas dentro de su historia. Podría añadir
un párrafo o dos explicando cómo algunas interpretaciones religiosas se oponen completamente a la
evolución mientras que otras no lo hacen.
Por ejemplo, podría tratarse de una información de cómo un fósil recientemente encontrado demuestra
que las aves evolucionaron a parir de los repiles hace millones de años. En una comunidad crisiana,
podría explicar que mientras algunas interpretaciones de la Biblia dicen que la Tierra iene una anigüedad
de unos cuantos miles de años, otras concuerdan con la ciencia en que la vida en el planeta se remonta a
miles de millones de años.
Para las comunidades conservadoras, siempre es mejor hilar muy ino con temas relacionados con la
religión. Si no está seguro sobre las diferentes creencias de su comunidad, busque ayuda de terceros.
Pero recuerde que usted es un periodista cieníico. Enfóquese en la ciencia. Puede ser que no necesite
mencionar la religión en absoluto. Si lo hace, podría desviar la atención de la ciencia hacia debates más
amplios cargados de emoividad.
Terminología
Sea cuidadoso en la elección de palabras pues los términos que son apropiados para un cultura podrían no
serlo para otra. Encuentre los términos que mejor se adapten a su comunidad.
Por ejemplo, la encuesta de 2007 de la Universidad McGill reveló que en Indonesia muchas personas
asociaban ‘darwinismo’ con ‘terrorismo’ y ‘fascismo’.
El uso de tales términos puede conducir al rechazo rotundo de su historia debido a que sin querer empleó
frases como ‘la evolución en contra de la religión’, un error para las comunidades religiosas.
Además, mucha gente cree en el proceso de la evolución pero también en la historia de la creación dada por
su religión. Por lo tanto, no encasille automáicamente a las comunidades religiosas como ‘creacionistas’,
una escuela de pensamiento que rechaza absolutamente la teoría de la evolución.
Si decide citar o entrevistar a un líder religioso para una historia sobre el conlicto entre evolución y
creación, por ejemplo, encuentre por lo menos una persona que no esté completamente en contra de
la evolución. De otra manera, su audiencia podrá desesimar su historia: los líderes religiosos ienen una
poderosa inluencia dentro de las comunidades conservadoras.
Y si entrevista a alguien que está en contra de la evolución, con el in de equilibrar su historia, asegúrese
de ponerla en el contexto adecuado, preguntando sobre la ‘evidencia’ que su fuente usa para sustentar
su airmación.
Asegúrese también de que sus fuentes, sea ‘a favor’ o ‘en contra’, conozcan su región. Su audiencia se
ideniicará mejor con representantes de sus propias comunidades y los entrevistados, a su vez, tendrán
un mejor contexto para sus respuestas.
Concéntrese en proporcionar hechos claros y fáciles de entender. Enfoque su historia sin preconcepciones.
¿Tiene usted mismo un sesgo cultural o religioso contra la evolución? No permita que ello desequilibre
su interpretación.
Cuando la agencia árabe Al-Jazeera informó sobre el descubrimiento de ‘Ardi’, un fósil del ancestro humano
de 4.4 millones de años de anigüedad (el 3 de octubre de 2009), su itular fue: “Ardi refuta a Darwin”.
Las razones por las que Al-Jazeera informó de manera errónea no son claras, pero probablemente
contribuyeron un sesgo contra la evolución y la escasa comprensión por parte del periodista frente al
material original, publicado en Science.
Si está informando sobre un nuevo descubrimiento, asegúrese de relejar la opinión de los cieníicos sobre
su importancia. Pregunte si éste cambia nuestra comprensión de alguna manera. ¿Afecta directamente a
su audiencia o a su comunidad?
Informar de manera sensible y precisa sobre la teoría de la evolución, y sobre la invesigación que la
sustenta, abre todo un sector de la ciencia moderna. Si puede navegar por este delicado y penetrante tema,
puede ofrecer a las comunidades una gran canidad de nuevas ideas y posibilidades para su comprensión.
¿Cambiará sus creencias fundamentales? Tal vez no, pero de todos modos ese no era su objeivo. Pero sí
será capaz de explicar la ciencia.
Parte II • Guias práticos
Mohammed Yahia es editor de Nature para el medio oriente y ex coordinador regional para el medio
oriente y norte de África de SciDev.net.
La sociedad, tanto en los ámbitos público como privado, provee de ingentes recursos humanos y materiales
para mantener el sistema de ciencia y tecnología del cual depende para su funcionamiento. De ahí que no
sea extraño que diferentes sectores que la componen reclamen cada vez más la necesidad de mantenerse
informados, pero también la posibilidad de paricipar en la deinición de los diversos aspectos de la
producción, la aplicación y el uso de los desarrollos cieníicos y tecnológicos, y de que sean tenidas en
cuenta sus relexiones sobre las implicaciones de estas dinámicas en la toma decisiones.
Uno de los espacios por excelencia en el que se ponen en escena estos debates son los medios masivos de
comunicación. En el presente trabajo nos proponemos indagar por el campo especíico del cubrimiento
informaivo de la políica cieníica, los temas que la componen, el rol del periodismo frente a ella, así
como algunas sugerencias para cubrirla.
Hoy en día, las consecuencias posiivas y negaivas de la relación entre ciencia, sociedad y naturaleza, por
las que pasa la políica cieníica, se expresan en una gama mucho más amplia de ámbitos, reforzando esa
imagen ambigua del impacto de la ciencia y la tecnología en la vida de las personas y del medio ambiente.
Este úlimo es el caso del referendo por el agua en Colombia, una iniciaiva ciudadana que se presentó
a debate en el Congreso en 2009 y que busca cambiar la consitución con el in de que el agua sea
considerada un derecho fundamental en vez de un bien de consumo, lo cual releja la tendencia actual
Las enidades gubernamentales encargadas de la salud, el medio ambiente, la agricultura, el transporte, las
comunicaciones, la cultura y la educación, entre otras, también son espacios interesantes para indagar por
temas relacionados con políica cieníica dado que, de manera estratégica, a menudo formulan programas
o acividades para atender problemáicas o necesidades especíicas mediante el desarrollo o aplicación de
conocimiento cieníico o tecnológico.
El poder legislaivo, a través del Congreso (senado y la cámara de representantes), las asambleas
departamentales y los concejos municipales, también expide leyes, reformas a la consitución, ordenanzas
o acuerdos, que en muchas ocasiones se reieren a estos temas, sobre los cuales también ejercen control
políico al poder ejecuivo. Cada una de estas instancias por lo general iene una comisión encargada de
hacer seguimiento y debates a los temas de ciencia y tecnología en la cual seguramente se encontrarán
historias de interés público.
En esa misma dirección se centran las airmaciones de David Dickson, director de SciDev.Net (2009) cuando
destaca la sospecha como uno de los atributos necesarios para el ejercicio del periodismo cieníico
centrado en la políica cieníica. Plantea la necesidad de “veriicar que la información cieníica que los
políicos uilizan para respaldar sus posiciones no haya sido escogida en forma seleciva e intencional o
que sea producto de invesigaciones apoyadas para una acción predeterminada; paricularmente cuando
la invesigación en cuesión ha sido pagada, directa o indirectamente, por un gobierno cuyas acciones han
sido cuesionadas”.
Para asumir ese rol “problemaizador” de la políica cieníica, el periodista iene algunas opciones. Una
de ellas, según Dickson, sería no limitarse a indagar por la existencia de intereses económicos detrás
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de los hallazgos cieníicos, sino veriicar si el área de especialidad de los cieníicos que respaldan las
decisiones políicas del gobierno o de los tomadores de decisiones es la perinente para tratar el tema. En
ese senido, sugiere que “el respeto por la autoridad que coniere el ítulo “profesor” o “doctor” no deben
signiicar una deferencia automáica al mismo”.
En el caso especíico de las propuestas de ley, es necesario tener presente que estas pasan por diversas
etapas, lo cual requiere entender en qué momento del proceso está la políica. En el caso de que una políica
ya esté aprobada, será necesario indagar cuesiones como el siguiente paso en el proceso, la manera en que
se va a implementar, el iempo que tardará en hacerse efeciva y los recursos que se inverirán.
Bennet (2009) señala que los periodistas que cubren temas políicos ienen el doble reto de hacer
responsable al gobierno cuando este no lo hace, y de preparar a los ciudadanos para la paricipación, lo
que implica escribir noicias teniendo a los ciudadanos en mente (y no desde las lógicas de los tomadores de
decisión). En este senido, propone algunas caracterísicas deseables para las noicias que cumplan con el
criterio democráico y que perfectamente son aplicables a aquellas que dan cuenta de la políica cieníica:
1. Promover el desarrollo de agendas temáicas independientes en cada medio para proveer un
contexto informaivo más diverso.
2. Ofrecer diversas voces y puntos de vista de fuentes creíbles fuera de los círculos oiciales. Esto permite
3. Analizar la manera como son tomadas las decisiones políicas para ayudar a la gente a decidir
cómo quisieran involucrarse.
4. Proporcionar el contexto histórico en las historias para ayudar a establecer los orígenes de los
problemas y limitar la habilidad de los políicos para reinventar la historia según sus intereses.
5. Otorgar más espacio a las historias y posiciones de los ciudadanos-acivistas lo cual permita que
la gente del común vea opciones para involucrarse y escuchar perspecivas retadoras que puedan
ayudarlos a evaluar el efecto políico de manera más críica.
6. Hacer un mejor uso de las tecnologías interacivas para vincular a las audiencias de las noicias
entre ellas y con organizaciones cívicas lo que les permita aprender más sobre las temáicas tratadas y
tomar acción efeciva.
A manera de conclusión quisiéramos proponer que las dinámicas actuales de producción de información
periodísica en los medios masivos de comunicación, así como las carencias en la formación en el campo
del periodismo cieníico en un porcentaje importante de las facultades y programas de comunicación
social y periodismo en Iberoamérica hacen que estas recomendaciones se conviertan en retos complejos
pero necesarios para el mantenimiento de nuestras democracias, cuyo futuro se perila, entre otros, en
función de la atención que se le de a las implicaciones y las relaciones que sosienen el conocimiento
cieníico y el desarrollo tecnológico con la sociedad y el medio ambiente.
Referencias:
Bennet WL. News: the poliics of illusion (8th ed.). Longman Classics in Poliical Science. New York, London:
Pearson Educaion Inc, 2009.
Dickson D. The curse of policy based evidence. Editorial SciDev.Net 2009 August 13. Disponible en: htp://
www.scidev.net/en/editorials/the-curse-of-policy-based-evidence-1.html.
Elías C. La ciencia a través del periodismo. Tres Cantos (Madrid): Nivola libros y ediciones, 2003.