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Jornalismo e ciência:

uma perspectiva ibero-americana


Jornalismo e ciência:
uma perspectiva ibero-americana

1ª edição
Rio de Janeiro
Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
2010
Título original: Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana.
Tiragem: 1ª edição – 2010 – 1000 exemplares

Coordenação e edição: Esta publicação é fruto da Rede Ibero-americana de Monitora-


Luisa Massarani mento e Capacitação em Jornalismo Cientíico, criada em 2009,
por convocatória do Programa Iberoamericano de Ciencia y
Produção editorial: Tecnología para el Desarrollo (Cyted), e formada por instituições
Catarina Chagas de 10 países ibero-americanos, como a seguir:

Projeto Gráico: Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz (Brasil)
Barbara Mello (coordenação)
Asociación Boliviana de Periodismo Cientíico (Bolívia)
Financiamento do projeto:
Programa Iberoamericano de Ciencia y Tecnología para el Desarrollo Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior (REDES)
(Cyted) (Argentina)
Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (Portugal)
Apoio:
SciDev.Net Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para Améri-
ca Latina (CIESPAL) (Equador)
Observatorio de la Comunicación Cientíica, Universitat Pompeu Fabra
(Espanha)
Pontiicia Universidad Javeriana (Colômbia)
Universidad Católica Andrés Bello (Venezuela)
Universidad de la Habana (Cuba)
Universidad de Pïnar del Río (Cuba)
Universidad Nacional Autónoma de México (México)
Universidad Nacional de San Martín (Argentina)
Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)

Mais informações: http://www.museudavida.iocruz.br/redejc

Catalogação na fonte
Biblioteca do Museu da Vida
M414j Massarani, Luisa (coord.).
Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana. /
Coordenação: Luisa Massarani. Rio de Janeiro: Fiocruz / COC /
Museu da Vida, 2010.
112p.

ISBN - 978-85-85239-66-4

1. Comunicação na ciência. 2. Jornalismo cientíico. I. Museu


da Vida. II. Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz. III.
Massarani, Luisa (coord.). IV. Título.
CDD - 507

Núcleo de Estudos da Divulgação Cientíica / Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fundação Oswaldo Cruz
Av. Brasil, 4365 - Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - CEP 21040-360
Tel./Fax: (21) 3865-2121 / www.museudavida.iocruz.br / nestudos@coc.iocruz.br
Sumário

Apresentação 7

Parte I • Textos de relexão 11


Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público? 13
(Muitas respostas óbvias... mais uma necessária)
Yurij Castelfranchi

Modos de promoção de cultura cieníica: Explorando a diversidade e a complementaridade 23


Crisina Palma Conceição

El renovado desaío del periodismo cieníico 31


Acianela Montes de Oca

Cultura cieníica y comunicación de la ciencia y la tecnología: Urgencias y posibilidades 39


Irene Trelles Rodríguez, Miriam Rodríguez Betancourt

Cómo elegir (y comprender) las fuentes en el periodismo de ciencia 45


Javier Crúz

Fuentes de información en periodismo cieníico: congresos, revistas y press releases 53


Gema Revuelta

Ciencia y democracia: la transformación de las acitudes públicas 63


Carmelo Polino, Dolores Chiappe

¿Quién es, qué busca, qué cree, qué sabe el público? 73


Ana María Vara

Parte II • Guias práicos 81


Cómo reportear temas controversiales: el caso de las células madre embrionarias 83
Luisa Massarani

Cómo informar sobre brotes o pandemias 91


Fang Xuanchang, Jia Hepeng, Katherine Nighingale

Cómo comunicar las estadísicas y el riesgo 97


Andrew Pleasant

Cómo informar sobre ciencia evoluiva 101


Mohammed Yahia

Cómo cubrir políica cieníica 105


Tania Arboleda
Apresentação

Este livro foi produzido pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo
Cieníico, criada em 2009 pelo Programa Ibero-americano de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento
(Cyted). A rede tem como objeivo apoiar, disseminar e incrementar a qualidade do jornalismo cieníico
nos países ibero-americanos, de modo a contribuir para a consolidação de um diálogo mais harmonioso
da relação entre ciência e sociedade na região.

Integrada por grupos de pesquisa provenientes de 10 países (Argenina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba,
Espanha, Equador, México, Portugal e Venezuela), a rede visa desenvolver e aprimorar metodologias para
analisar e avaliar a cobertura de ciência nos meios de comunicação de massa ibero-americanos, bem
como o impacto no público dos conteúdos veiculados.

Busca, ainda, desenvolver e implementar mecanismos de formação e capacitação de recursos humanos.


A cada ano, são realizadas duas oicinas, cada vez em um país disinto da América Laina. Com isso, nossa
expectaiva é cobrir oito países ao longo de quatro anos, tempo de duração do apoio inanceiro concedido
pelo Cyted. Além disso, através da rede produziremos materiais de apoio para jornalistas, cienistas e
demais interessados na cobertura de ciência pelos meios de comunicação de massa – entre os quais se
inclui este livro.

Organizamos esta publicação em duas partes. Na primeira, reunimos arigos de relexão escritos por diversos
pesquisadores do tema. Na segunda, o foco é a práica do jornalismo cieníico e proissionais atuantes na
área dão dicas para o coidiano de um repórter que trabalha na cobertura de ciências. Alguns dos arigos
dessa segunda parte fazem parte dos Guias práicos elaborados por SciDev.Net (www.scidev.net).

Para começar, um ponto importante é deinir exatamente por que desejamos, por meio do jornalismo,
divulgar a ciência e a tecnologia a um público amplo. Muitos cienistas, políicos, jornalistas e divulgadores
já tentaram dar uma resposta saisfatória a esta questão. Em seu arigo, Yurij Castelfranchi pondera
algumas delas e vai além, mostrando como a divulgação de resultados ao público leigo tornou-se parte
integrante do metabolismo da tecnociência.

A comunicação da ciência e a promoção de uma cultura cieníica não são, porém, um processo espontâneo:
requerem planejamento, avaliação e controle, apontam Irene Trelles Roríguez e Miriam Rodríguez
Betancourt. Elas indicam como um caminho possível a organização de espaços de comunicação pública da
ciência dentro das universidades – por excelência, o local de produção do conhecimento cieníico.

Ainda sobre a promoção de uma cultura cieníica na população, Crisina Palma Conceição argumenta que
talvez o melhor caminho seja uma combinação de estratégias antes consideradas opostas – por exemplo,
a transmissão de conteúdos cieníicos à população e o estabelecimento de um diálogo efeivo entre
cienistas e público leigo.

Em seguida, Acianela Montes de Oca se debruça mais especiicamente sobre o jornalismo cieníico e os
desaios enfrentados nessa aividade. Seja cobrindo grandes descobertas ou novidades cieníicas menos

Apresentação 7
impactantes, os meios de comunicação assumem um papel importante, já que podem inluenciar – para o
bem e para o mal – as opiniões e aitudes do público sobre a ciência. Assim, é fundamental garanir que o
jornalista cieníico tenha mais consciência sobre a práica cieníica e invesigue rigorosamente os temas
a cobrir, além de abrir as portas para uma comunicação menos informaiva e mais dialógica da ciência.

Nesse processo, a busca de fontes coniáveis é um passo fundamental, e é sobre isso que escrevem Javier
Crúz e Gema Revuelta. O primeiro propõe um modelo para hierarquizar grandes volumes de informação
de modo a garanir que a cobertura jornalísica da ciência alcance seu objeivo social – ajudar o público no
exercício da cidadania. Já a segunda disserta sobre o uso de revistas cieníicas, congressos e press releases
como fontes de pautas em jornalismo cieníico.

Nenhuma dessas relexões faria senido, porém, sem que se falasse também do desinatário de todas
as ações de comunicação da ciência. Por isso, o público é o tema principal de dois arigos. No primeiro,
Carmelo Polino e Dolores Chiappe discutem os resultados de algumas pesquisas sobre a percepção pública
da ciência e da tecnologia em países da América Laina, considerando as paricularidades que envolvem os
países em desenvolvimento e o desaio de fomentar a paricipação cidadã nas tomadas de decisão sobre o
tema. No segundo, Ana María Vara conta como a interaividade possibilitada pelas novas tecnologias pode
favorecer a democraização da ciência e destaca que o papel do jornalista cieníico é formar um público
quesionador e críico.

Na seção de guias práicos, Luisa Massarani escreve sobre como cobrir temas controversos em ciência e
tecnologia. Para isso, explora o exemplo das células-tronco embrionárias, que vem causando polêmica
nos meios de comunicação. Esclarecer os conceitos cieníicos envolvidos, não gerar falsas esperanças e
contextualizar a informação são algumas das dicas da autora.

Outro tema controverso abordado é a ciência evoluiva. Como transmiir ao público os principais conceitos
envolvidos e como lidar com divergências de opinião e conlitos com movimentos religiosos são alguns dos
pontos esclarecidos por Mohammed Yahia.

Na mesma linha, o texto de Fang Xuanchang, Jia Hepeng e Katherine Nighingale oferece diretrizes para
cobrir surtos e pandemias. Embora – principalmente no início – a ocorrência de doenças possa ser um
prato cheio para jornalistas, uma vez que conta com apelo público e uma grande disponibilidade de fontes
sobre o tema, é necessário que o repórter faça um trabalho cuidadoso e apresente ao público um relato
críico e equilibrado.

Andrew Pleasant, por sua vez, explica como usar dados de um arigo cieníico – escrito para um público
especializado – para informar o público leigo. O principal aspecto levantado pelo autor são as estaísicas
que esimam riscos, por exemplo, de doenças.

Por im, Tânia Arboleda se debruça sobre a cobertura da políica cieníica. Enquanto defensores da
democracia, cabe aos jornalistas defender o interesse público frente a tomadas de decisões que vão
inluenciar sua vida no futuro.

8 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Esperamos que esta publicação possa gerar, em nossos leitores, relexões capazes de apontar para
uma práica proissional mais cuidadosa. Embora nosso público principal aqui sejam os jornalistas que
trabalham na cobertura de ciências, acreditamos que alguns aspectos abordados por nossos autores são
úteis também a outros proissionais de divulgação cieníica.

Boa leitura!

Apresentação 9
10 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana
Parte I • Textos de relexão
Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público?
(Muitas respostas óbvias... mais uma necessária)
Yurij Castelfranchi

Não é diícil encontrar boas razões para a comunicação pública da ciência e da tecnologia. Numa sociedade
que gosta dizer de si que é uma “sociedade do conhecimento”, “em rede”, “baseada na informação”,
ressaltar o valor da educação em ciências, da divulgação e do jornalismo cieníico é quase óbvio. Aqueles
que gostam de censos e taxonomias podem classiicar ao menos uma dúzia de repostas relevantes para a
pergunta “porque é importante comunicar a ciência aos públicos ‘leigos’?”. Por um lado, explicar, divulgar,
“democraizar” o conhecimento é uma das obrigações morais dos cienistas, como muitos grandes cienistas
seniram e declararam1. Por outro lado, conhecer, apropriar-se do saber, é um direito fundamental de
todo cidadão de uma democracia e, hoje, a cidadania não pode senão incluir uma “cidadania cieníica”.
Contudo, limitar-se a tal consideração dual (dever de comunicar para os produtores de conhecimento,
direito de conhecer para os “públicos leigos”) consitui uma esquemaização simplista. Porque, cada vez
mais, o oposto também é verdade: para muitas pessoas, ter acesso ao conhecimento técnico e cieníico
se tornou, além de um direito, uma necessidade ou um dever social; e dialogar, interagir com grupos de
“não-especialistas”, para muitas insituições cieníicas e para muitos cienistas, está se tornando, além
de um honrado hobby ou do cumprimento de uma missão, também uma necessidade ou até mesmo um
“direito” a ser reivindicado na arena de debates sobre controvérsias tecnocieníicas.

Thomas e Durant (1987), Gregory e Miller (1998) e diversos outros pesquisadores juntaram e classiicaram
os diferentes argumentos para comunicar a ciência aos públicos. Uma boa comunicação da ciência e da
tecnologia traz vantagens para a nação como um todo, beneícios para os cidadãos e é crucial também
para a própria ciência e para os cienistas.

Muitas argumentações enfaizam as implicações econômicas da comunicação da ciência. O


desenvolvimento de uma nação está ligado a seu sistema de C&T, que está relacionado, de forma mais ou
menos direta, ao nível de conhecimento técnico-cieníico de sua população. A parir da Segunda Revolução
Industrial e, mais ainda, na segunda metade do século 20, esse fato se torna marcante. A crescente
importância social e econômica da automação e das tecnologias da informação e comunicação (TICs), a
importância da pesquisa cieníica e da inovação tecnológica em todas as áreas produivas (agropecuária,
biomedicina, comunicação, indústria cultural etc.), junto com a lexibilização do trabalho e a necessidade
da formação coninuada, fazem surgir a ideia de que é necessário, para compeir internacionalmente, ter
um luxo constante de jovens trabalhadores especializados, bem como de pesquisadores formados em
áreas cieníico-tecnológicas. Como consequência, a comunicação pública da ciência é vista não apenas
como um instrumento para gerar uma opinião pública competente e informada, mas também como uma
maneira de contribuir para a formação e atualização de trabalhadores e para atrair jovens para carreiras
tecnocieníicas. Além disso, a comunicação pública serve para que os cidadãos se tornem usuários

1 A lista de grandes cienistas que se dedicaram com paixão à divulgação cieníica é enorme. Para Albert Einstein,
apenas um exemplo entre muitos, “é necessário que cada homem que pensa tenha a possibilidade de paricipar
com toda lucidez dos grandes problemas cieníicos de sua época, e isso mesmo se sua posição social não lhe
permite consagrar uma parte importante de seu tempo e de sua energia à relexão cieníica. É somente quando
cumpre essa importante missão que a ciência adquire, do ponto de vista social, o direito de exisir” (ver Moreira,
Studart, 2005, p. 142).

Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público? 13


competentes e apreciadores de mercadorias embuidas de tecnologia e cuja obsolescência se torna cada
vez mais acelerada.

Mas a comunicação da C&T possui também uma grande importância políica. Desde a Segunda Guerra
Mundial, vários governos se deram conta de que, para garanir a supremacia militar e a segurança
nacional, são necessários sistemas baseados em alta tecnologia e conhecimento de ponta em quase
todas as áreas. Junto com os exércitos e as forças de segurança convencionais, é necessário dispor de um
exército de técnicos e pesquisadores, que só pode ser gerado e renovado a parir, entre outras coisas,
de um sistema de educação formal e não formal em ciências, bem como de divulgação e jornalismo
cieníico de qualidade. Também é preciso que o resto da população aprove, ou ao menos não quesione,
invesimentos em P&D que, em muitos países chamados desenvolvidos, não são irrelevantes, podendo
passar de 2% do PIB. A corrida espacial é um exemplo de como, na época da Guerra Fria, foi importante
jusiicar gastos notáveis em P&D e em tecnologias que não possuíam beneícios sociais imediatos, em
nome da segurança nacional, do presígio do país, da liberdade, mas também do fascínio da invesigação
de fronteiras desconhecidas e da exploração do homem no cosmo. Em geral, o presígio e a inluência
de uma nação se consituem também a parir dos sucessos em campo cieníico e tecnológico, e estes
dependem do suprimento de pessoal técnica e cieniicamente qualiicado, bem como de uma habilidosa
Parte I • Textos de relexão

comunicação e divulgação cieníica. As nações que possuem mais patentes, que demonstram ser capazes
das maiores inovações tecnológicas, ou que implementam sistemas inovadores de gestão dos recursos
naturais, de geração ou distribuição de energia, de miigação de danos ambientais, são também as nações
que terão mais autoridade em diversos foros internacionais (acordos sobre biodiversidade ou mudanças
climáicas, acordos sobre comércio ou direitos de propriedade intelectual etc.). A comunicação pública
da ciência serve, então, tanto como “adubo” para um sistema de C&T compeiivo, como para demarcar
sucessos, primados, supremacia neste campo.

Contudo, a maior parte das razões para as quais cienistas e comunicadores consideram importante o
trabalho de difusão do conhecimento cieníico é ligada ao bom funcionamento da democracia. Inúmeros
debates poliicamente, eicamente, economicamente relevantes são atravessados hoje por informações
cieníicas e técnicas. O direcionamento e a gestão não apenas da pesquisa cieníica e das aplicações
tecnológicas, mas também da políica nacional e internacional como um todo, envolvem, cada vez mais,
a sociedade civil. O cidadão paricipa, de forma indireta (com suas escolhas como consumidor, eleitor,
educador etc.) ou de forma direta (protestos, lobbies, greves, referendos etc.) em tomadas de decisões
sobre temas importantes e tão variados como transporte, tratamento de lixo, drogas, políicas sanitárias,
experimentações médicas, comida transgênica, pesicidas, usinas hidrelétricas e nucleares, gestão das
áreas indígenas, manejo lorestal e inúmeras outras. Para tanto, precisa de uma informação cada vez mais
aprofundada e de qualidade.

Por isso, a difusão da cultura cieníica, dizem muitos autores, serve, ao mesmo tempo, para o bem da
democracia e para o bem do cidadão. Em dois senidos. De um lado, por sua uilidade instrumental: a
compreensão de ciências e tecnologia é úil do ponto de vista práico, como instrumento para tomar
decisões pessoais racionais e informadas sobre dieta, segurança, sobre como invesir dinheiro, como se
formar proissionalmente, como avaliar a propaganda, como votar, como escolher a escola melhor para os
ilhos ou o bairro onde morar. De outro lado, a cultura cieníica possui um valor que não é instrumental,

14 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


e sim estéico, intelectual e moral. A ciência, tal como a arte, a ilosoia, a religião, o esporte, é uma parte
importante de nossa cultura, que os cidadãos têm direito de usufruir e apreciar.

Figura 1. Por que comunicar C&T para o público? Alguns elementos recorrentes nas moivações
declaradas por cienistas e políicos.

Relatar aos usuários,


aos “acionistas” Ter trabalhadores
Jovens entrando em Para a nação especializados
carreiras de C&T
Tomada de decisão informada
“Empowerment” cívico
Atrair estudantes
Mobilizar a Visibilidade
população
Educação pública

Consenso
Para o povo
Para a ciência
Melhorar credibilidade da C&T
Apoio social
Contribuir para compreensão
Mostrar o valor de C&T Aceitação para ciência

Superar as barreiras disciplinares


entre pesquisadores

Fonte: Castelfranchi, 2008

Em suma, em muitas de tais argumentações está presente a ideia de que comunicar a ciência não é apenas
uma obrigação para os produtores de conhecimento, nem apenas um direito do cidadão, mas uma
necessidade políica, econômica, estratégica para o funcionamento do capitalismo, para uma dinâmica
democráica saudável, para garanir compeiividade, para formar trabalhadores, e assim por diante.
Também é fácil demonstrar que, cada vez mais, os policy-makers, os empreendedores, os cienistas e os
gestores estão cientes de tais necessidades: é suiciente analisar textos de leis, declarações, debates.

O conjunto de tais airmações faz emergir, então, uma resposta talvez menos evidente à pergunta sobre os
porquês da comunicação pública da ciência: hoje, a comunicação da ciência não é apenas uma escolha,
uma opção dos cienistas, um dever de alguns ou um direito de outros, mas também uma parte isiológica,
intrínseca, inevitável, do funcionamento da tecnociência.

Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público? 15


Tecnociência contemporânea: comunicar como isiologia
Existem, hoje, inúmeros diagnósicos da sociedade contemporânea, e também vários modelos de como
funcionam a ciência e a tecnologia. Diversos autores mostraram o peso importante que hoje assumem
sistemas de produção, circulação e apropriação de informações e conhecimentos. Alguns falaram de uma
sociedade “informacional” e “em rede” (Castells, 1999), outros, de economias “baseadas no conhecimento”.
Outros, ainda, ressaltaram a geração de valor a parir de um trabalho “imaterial” e “cogniivo” (Lazzarato,
Negri, 2001; Cocco, Patez, Silva, 2003).

Neste cenário, os sociólogos tentaram ideniicar as especiicidades do funcionamento da ciência


contemporânea. Alguns falaram de uma ciência que, a parir da segunda metade do século 20, teria se
tornado “pós-industrial” e “pós-acadêmica” (Ziman, 2000). Para outros, exisiria hoje um novo “modo
de produção” do conhecimento cieníico, o “Modo 2”, conigurando até um novo “contrato social entre
ciência e sociedade” (Nowotny, Scot, Gibbons, 2001; Gibbons, 1999). Outros autores, ainda, falaram de
uma ciência “pós-normal” (Funtowicz, Ravetz, 1997) ou, ainda, de uma nova coniguração nas relações
entre universidades, empresas e governos (Leydesdorf, Etzkovitz, 1996). Não importa entrar em detalhes.
O que importa é que, apesar das divergências, todas essas análises mostram uma maior, mais capilar,
transversal e cada vez mais necessária interação entre cienistas e não-cienistas na gestão e na legiimação
Parte I • Textos de relexão

da pesquisa cieníica, na difusão e apropriação da informação cieníica e até mesmo, segundo alguns, na
produção do conhecimento.

Para os idealizadores do “Modo 2”, por exemplo, a ciência contemporânea seria, inevitavelmente, mais
relexiva, avaliada não apenas por cienistas, mas por grupos sociais variados; gerida, inanciada e
direcionada cada vez mais a parir de uma paricipação social ampliada. Não se poderia fazer ciência
sem a paricipação de vários “públicos”. Analogamente, para Ziman (2000), a ciência “pós-acadêmica”
se tornou “importante demais” (do ponto de vista de seus custos econômicos, de sua relevância
social, de sua abrangência e de suas implicações éicas) para ser deixada apenas com os cienistas.
Como consequência, os cienistas e suas insituições precisam negociar e dialogar com atores sociais
diversos (políicos, empresários, burocratas, administradores, movimentos sociais, grupos de opinião,
líderes religiosos, consumidores) para garanir sua legiimação, para que o conhecimento produzido seja
reconhecido como coniável, para receber inanciamentos, para não ser boicotados etc. Para Funtowicz
e Ravetz (1997), por im, a “ciência pós-normal” se caracteriza, dentre outras coisas, pelo surgimento de
“comunidades ampliadas de pares”, capazes de julgá-la e direcioná-la. A comunicação pública, em suma,
torna-se elemento cada vez mais central para o funcionamento da ciência.

Não é diícil encontrar indícios desse funcionamento mais complexo e em rede da ciência contemporânea,
bem como a presença de processos de comunicação mulidirecionais e transversais:

a) Na dinâmica acadêmica, projetos temáicos, redes de pesquisas internacionais e interdisciplinares


e políicas cieníico-tecnológicas (que cada vez mais enfaizam e incenivam a “comercialização da
pesquisa”, a transferência de conhecimento, as parcerias entre universidade e empresa ou entre
universidade e sociedade civil) fazem com que a vida coidiana dos pesquisadores em muitas áreas
do conhecimento seja marcada por uma série de aividades (pedir verbas, escrever relatórios, buscar
parcerias, ministrar conferências públicas, negociar com movimentos sociais, empreendedores,

16 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


fundações etc) nas quais é necessário saber se comunicar com não-especialistas.

b) Na políica governamental, é fácil ideniicar insituições e enidades que surgiram, nas úlimas
décadas, para escutar ou dar voz à sociedade civil (comitês mistos de biossegurança e bioéica, comitês
parlamentares para o debate ou a invesigação de determinados temas tecnocieníicos etc). Uma série
de operações, às vezes eicazes, outras vezes de fachada ou demagógicas, sinalizam uma nova retórica
governamental, que pretende permiir não apenas a inclusão social, mas uma paricipação social
“de baixo para cima” na tomada de decisões sobre aspectos importantes da C&T contemporânea.
Nos úlimos anos, se muliplicaram, não apenas em países do norte do mundo, experimentos
como conferências de consenso, júris cidadãos, referendos sobre temas tecnocieníicos diversos
(privacidade informáica ou privacidade genéica, comida transgênica, pesquisa com embriões,
antenas de telefonia celular, indústria nuclear...).

c) Há vários exemplos recentes de práicas de co-produção de conhecimento cieníico, não apenas


no senido do renovado interesse da comunidade cieníica para os saberes “locais” e “indígenas”, mas
também em casos em que movimentos sociais ou grupos de pressão conseguiram paricipar aivamente
na avaliação, na gestão, no inanciamento ou até mesmo na produção de conhecimento cieníico
(Epstein, 1995; Bucchi, 2009; Castelfranchi, 2002; Castelfranchi, Pitrelli, 2007; Jasanof, 2004).

Esses exemplos (e poderíamos apresentar muito mais) mostram que a comunicação da ciência é hoje um
ecossistema complexo, em que os canais tradicionais da educação e divulgação (ensino, museus, divulgação
e jornalismo) têm um papel importante, mas não único. Hoje, a comunicação pública da ciência nem sempre
tem por origem os cienistas e suas insituições, e nem sempre tem por mediador um divulgador, jornalista
ou educador proissional. Blogs, redes sociais, movimentos sociais mostram, cada vez mais, como grupos
organizados (de pacientes de doenças raras, por exemplo, ou de militantes ambientalistas) conseguem
trocar informações cieníicas e técnicas entre si (em listas de discussão, convidando especialistas a juntar-
se à sua causa ou incenivando militantes a se tornarem também especialistas etc.) e adquirir, em alguns
casos, notável domínio do jargão e dos métodos cieníicos. Às vezes, tais grupos e movimentos adquirem
a capacidade também de produzir ciência “de baixo para cima”, juntando dados alternaivos (relatórios de
impacto ambiental, dados epidemiológicos etc) aos fornecidos por insituições de pesquisa tradicionais.

Por isso, muitos cienistas acreditam numa função uilitária da comunicação em prol da própria
ciência: o apoio da opinião pública é um ingrediente importante hoje para garanir a coninuidade
no inanciamento da C&T. Além disso, alguns cienistas acreditam que exista uma certa hosilidade
pública contra a ciência (ou, ao menos, contra determinadas áreas de pesquisa). Segundo eles, é preciso
restaurar a simpaia do público frente à ciência, para garanir a liberdade de pesquisa. Muitos cienistas
acreditam que comunicar a ciência aos públicos “leigos” seja fundamental para gerar “anicorpos”
contra aitudes anicieníicas e obscuranistas.

Assim sendo, o cienista, atualmente, nem sempre pode escolher se comunicar, e nem sempre escolhe
fazer isso como obrigação moral, como desejo iluminista de democraizar o saber. Alguns pesquisadores e
suas insituições comunicam e dialogam com o público porque precisam e devem.

Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público? 17


Comunicação: preciosa, necessária, inevitável
Desde seu surgimento, a ciência moderna vê na comunicação um valor e uma aividade crucial (Rossi,
2000; Castelfranchi, Pitrelli, 2007). As argumentações invocadas para defender e ressaltar tal importância
foram muitas, umas uilitaristas, outras iluministas ou ilantrópicas. Umas, focadas no valor cultural da
difusão de conhecimento cieníico e técnico, outras, ressaltando sua importância econômica ou políica.

Atualmente, todas essas argumentações coninuam válidas, mas inseridas num contexto em que a
comunicação pública da ciência se torna uma aividade mais complexa, transversal e mulidirecional, o
que tem implicações importantes não apenas para responder perguntas sobre “por que comunicar”, mas
para dotar-se também de ferramentas não obsoletas sobre “como” e “o que” comunicar.

Se é verdade que o cidadão tem direito à informação e ao conhecimento cieníico, atualmente é verdade
também que, para muitos, informar-se e conhecer a ciência e a tecnologia é uma necessidade, ou até
mesmo um dever. Embora, obviamente, a estraiicação social faça com que o acesso ao conhecimento,
o interesse e a consciência da importância disso sejam tremendamente desiguais na sociedade, não é
exagero airmar que o cidadão cada vez mais quer saber, precisa saber, precisa estar conectado com o
luxo de informação e de debates que têm por centro de gravidade a tecnociência, seja para exercer uma
Parte I • Textos de relexão

cidadania plena ou para sua carreira e vida pessoal, como pai, consumidor, militante.

Ao mesmo tempo, embora, em muitas áreas acadêmicas, os pesquisadores possam (e queiram) gozar
de relaiva autonomia e impermeabilidade às demandas sociais (e às pressões econômicas e políicas),
vivendo com relaivo conforto em suas torres de marim, não é exagero airmar que a ciência precisa
dialogar e negociar com grupos sociais variados. Se é verdade que democraizar o conhecimento é um
nobre compromisso do cienista, atualmente é também verdade que a comunicação com não-especialistas
se tornou inevitável para muitos pesquisadores, e que a mídia é parte de estratégias para fazer lobby
cieníico, para legiimar certas pesquisas, para garanir apoio políico e recursos inanceiros (públicos
e privados) ou até mesmo para alavancar a própria carreira acadêmica. O cienista precisa comunicar e,
em situações de controvérsia ou de polêmica sobre sua atuação, exige o direito de comunicar ao público.
A comunicação pública da ciência está se tornando menos uma opção e mais uma parte integrante do
metabolismo da tecnociência.

A ciência faz parte de nossa cultura, de nossa maneira de criar arte, de nosso medos e fantasias, de nossa
práica e de nosso pensamento. A ciência é apropriada ou debaida, de forma mais ou menos aperfeiçoada,
por setores relaivamente importantes da população. São necessárias, portanto, não mais “seringas” para
inocular informações e noções, mas, sobretudo, bússolas de qualidade para a informação que já circula.
Precisa-se não só de “explicadores” da ciência, mas também de críicos da contemporaneidade, para que
a informação se torne autênico conhecimento. Precisa-se de comunicadores que sejam catalisadores
de debates e discussões democráicas, para que, cada vez mais, informação e conhecimento possam
signiicar empoderamento, capacidade de agir, paricipar, decidir “de cima para baixo”, como a retórica
da maioria das democracias contemporâneas está pregando há alguns anos. Eis, a nosso ver, a reposta
central à pergunta “por que comunicar” e, ao mesmo tempo, o maior dos desaios para os comunicadores
do século 21.

18 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Por que comunicar? Algumas argumentações de cienistas, políicos, managers
(Castelfranchi, 2008)

Por que comunicar a ciência para o público?

“Se a ciência, em concorrência com outros assuntos públicos importantes, deve ganhar inanciamento
quando se decide das prioridades dos recursos, há a necessidade de uma ampla aceitação da ciência
e de seu papel. Ao mesmo tempo, o mundo da ciência depende da habilidade de atrair jovens
talentosos”. (Declaração do Ministro de C&T da Dinamarca em seu relatório baseado no think-tank
“Research and Tell”, 2004. Disponível em:
http://rydberg.biology.colostate.edu/communicating_science/Documents/WorkshopMaterials/
CommScieWkshpNotebookParial.pdf).

“[...] Os cienistas têm uma obrigação éica de prestar conta ao público de como gerem os recursos
públicos [...] A experiência mostra que, depois que uma pesquisa é publicizada, um cienista recebe
um número signiicaivo de pedidos por parte de colegas [...] Tais contatos frequentemente vêm de
colegas de outras disciplinas, coisa paricularmente importante nesta era de pesquisa interdisciplinar.
Isso pode abrir oportunidades de colaborações ou novas inspirações no trabalho do cienista [...]
Cooperar com a mídia também aumenta as chances de que as matérias sejam mais acuradas. Enim,
a cobertura de C&T atrai mais apoio público e privado para a pesquisa, e atrai estudantes talentosos
para carreiras em ciência e engenharia.” (“Why communicate science?”. Em: Communicaing Science
News. A Guide for Public Informaion Oicers, Scienists and Physicians. Panleto da Associação
Nacional de Escritores de Ciência, EUA.)

“O modelo do diálogo leva em conta como seu ponto de parida as percepções, expectaivas,
medos e preocupações da população. Aumentar o nível de conhecimento das pessoas não é o
objeivo primário, mas é uma consequência signiicaiva de uilizar as próprias percepções delas
como base. É um modelo que corresponde melhor ao ideal ani-eliista da democracia de massa.
[...] O diálogo não deveria ser olhado meramente como forma de respeito com a democracia e a
população [...] ele é também necessário para o bem da própria ciência. A aitude do público sobre
uma determinada tecnologia, independentemente da base para esta aitude, será um fator que
contribui para priorizar iniciaivas de pesquisa. A controvérsia sobre recursos para pesquisa europeia
em biotecnologia vegetal é um exemplo desta inluência. Depois de acalorada oposição popular
contra plantas e alimentos geneicamente modiicados, tanto a União Europeia quanto alguns países
membros reduziram o inanciamento público para pesquisa vegetal durante alguns anos. Isso não só
causou uma diminuição da aividade de pesquisa, mas fez também com que boa parte da indústria
biotecnológica voltada para plantas abandonasse a Europa. Um outro exemplo da inluência pública
é a diiculdade que as ciências naturais têm em fazer o branding de si mesmas. Faz vários anos que
as ciências naturais em grande parte da Europa têm diiculdade em atrair suicientes talentos. Uma
imagem pública pobre com certeza carrega parte da culpa por isso...” (Balling G, Frank L. Dialogue in
cyberspace. Londres: Briish Council, s.d.)

Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público? 19


“Por que comunicar?
Porque faz parte de um ambiente saudável para P&D

- Relatar para os “acionistas”


A grande maioria dos canadenses não faz ideia de como os pesquisadores universitários usam o dinheiro
recolhido com os impostos. Eles contam com a comunidade de pesquisa para que gaste seus dólares
sabiamente. No entanto, os contribuintes estão demandando de maneira crescente accountability
do governo e das insituições públicas. A comunicação é uma maneira com que os pesquisadores
podem demonstrar sua accountability. Tal como as corporações emitem relatórios anuais para seus
acionistas (shareholders), a comunidade de ciência e engenharia tem a responsabilidade de informar
a sociedade sobre como está gastando o dinheiro público.
- Contribuir para a compreensão que a sociedade tem da ciência
A prosperidade futura do Canadá dependerá da nossa habilidade de fomentar uma população e
uma força de trabalho cieniicamente alfabeizada. O país coninuará a precisar de cienistas e
engenheiros. Mas também precisaremos de gestores treinados cieniicamente e de uma força de
trabalho que saiba adaptar-se rapidamente à mudança tecnológica. A compreensão pública de temas
Parte I • Textos de relexão

cieníicos e técnicos será também crucial para resolver muitos problemas diíceis que a sociedade
vai enfrentar. [...]
- Melhorar a credibilidade da engenharia e da ciência
As pessoas hoje estão preocupadas com as consequências sociais da ciência e da tecnologia –
especialmente os impactos ambientais. [...] As pessoas ouvem falar que muitos cienistas têm
conlitos de interesses e querem saber como isso afeta suas opiniões cieníicas. Gostem ou não,
os cienistas e a empresa cieníica estão sendo desaiados. Todos os cienistas e engenheiros têm a
responsabilidade de discuir o que eles fazem e por que isso é importante para a sociedade.
- Construir aceitação para a ciência
Muitos pesquisadores estão trabalhando em problemas cieníicos e tecnológicos [...] que impõem
escolhas éicas à sociedade. [...] A mudança é parte da vida moderna e as críicas são um efeito
inevitável da mudança. Precisamos construir agora a aceitação e o apoio para as aividades de
pesquisa, para resisir às críicas no futuro.
- Obter apoio para inanciamento futuro
Garanir inanciamento para a pesquisa é uma batalha anual. Os líderes políicos são assediados por
interesses em compeição. Os governos [...] encontram diiculdades crescentes em fazer invesimentos
em nosso bem-estar econômico e social, especialmente quando os beneícios parecem muito longe.
Um apoio consistente dos canadenses comuns e de seus representantes eleitos é essencial para o
sucesso da empresa de pesquisa.

Fonte: NSERC (Naional Sciences & Engineering Research Council of Canada). “Why Communicate?”.
Em: Communicaing Science to the Public: A Handbook for Researchers, 2004. Disponível em: htp://
www.nserc.ca/seng/how1en.htm. Acesso em abril de 2008. [Tradução e grifos meus]

20 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


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Yurij Castelfranchi é ísico, sociólogo e jornalista cieníico. É professor do Departamento de Sociologia e


Antropologia da Faculdade de Filosoia e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).

Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público? 21


Parte I • Textos de relexão

22 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Modos de promoção de cultura cieníica:
Explorando a diversidade e a complementaridade
Crisina Palma Conceição

O conhecimento cieníico e tecnológico é hoje – não será necessário argumentar – um dos principais
geradores das dinâmicas de mudança econômica, social e cultural em nível mundial. A ciência tornou-se
um importante recurso econômico, uma das bases fundamentais da decisão individual e coleiva, e um
dos componentes mais relevantes do patrimônio cultural das sociedades contemporâneas, com grande
inluência na forma como nos vemos a nós próprios e ao mundo à nossa volta (Stehr, 1994).

As aplicações do conhecimento de base cieníica são inúmeras e alastram-se às mais variadas esferas da
vida social – do trabalho ao lazer, da políica à arte, ao ambiente ou à saúde. Elas contribuem, sem dúvida,
para a superação de muitos dos problemas com os quais a humanidade se tem confrontado, abrindo não
raras vezes novas oportunidades de desenvolvimento econômico ou social. Certo é, contudo, que muitas
de tais aplicações estão longe de estar isentas de riscos e controvérsias; como têm também estado longe
de beneiciar de igual modo todas as camadas das nossas sociedades.

A difusão social da ciência: desaios e dilemas


Na úlima metade do século 20, tornou-se cada vez mais evidente a necessidade de ponderar as
contradições e as incertezas inerentes ao desenvolvimento cieníico e aos seus usos sociais. Em alguns
casos, tratou-se de salientar a urgência de garanir o acesso de todos os cidadãos ao conhecimento da (e
acerca da) ciência, sob pena de excluir importantes faixas da população da oportunidade de paricipação
aiva e informada nas sociedades atuais (Roqueplo, 1974; Stehr, 1994; Durant, 2005). Em outros, ter-se-á
procurado, antes de mais nada, defender a criação de novas modalidades de planejamento e de controle
de tais desenvolvimentos e uilizações sociais da ciência, promovendo o envolvimento de um leque mais
diversiicado de atores sociais nos processos de decisão e uma melhor ariculação entre o conhecimento
cieníico e outros saberes ou sensibilidades (Beck, 1992; Irwin, Wynne, 1996). Em outros, ainda, tais
alertas izeram-se acompanhar de um quesionamento mais radical da própria validade do conhecimento
produzido pela ciência moderna ou, pelo menos, de uma denúncia da sua eventual permeabilidade face a
interesses parcelares de alguns grupos sociais (Latour, 1989; Santos, 2003).

Num contexto em que a ciência penetra os mais diversos domínios da vida social e em que o conhecimento
cieníico se airma como elemento central em muitos dos desaios enfrentados nas sociedades
contemporâneas (seja como causa, seja como instrumento de ponderação e resolução de problemas), as
questões ligadas ao desenvolvimento cieníico estão longe de tocar apenas aqueles que estão diretamente
envolvidos na produção da ciência. Pelo contrário, elas a todos dizem respeito. A recorrente presença
desses temas nas agendas dos meios de comunicação social é justamente relexo disso.

Em outras palavras, a ciência se airma, hoje, não só como insituição e forma de conhecimento especializado
mas, também, como patrimônio coleivo e problema social (Costa, Conceição, Ávila, 2007). Por isso, se
pode considerar que a parilha dos saberes associados à ciência e, designadamente, a criação de condições
para sua efeiva apropriação e críica informada serão instrumentos indispensáveis à cidadania.

Modos de promoção de cultura cientíica: 23


É nesse âmbito que se compreende a proliferação de incitaivas – nos mais variados países do mundo,
protagonizadas por uma diversidade de pessoas, agências e movimentos (de caráter público, privado ou
associaivo, de âmbito local, nacional ou supranacional) – em prol da promoção da cultura cieníica das
populações ou, de maneira mais ampla e porventura mais atual, do diálogo entre ciência e sociedade1
(Royal Society, 1985; AAAS, 1989; Gago, 1990; Lewenstein, 1992; Gregory, Miller, 1998; Comissão Europeia,
2002; Miller e outros, 2002; Felt, 2003; Royal Society, 2004; Costa e outros, 2005).

Tal como a questão tem vindo geralmente a ser colocada, promover a cultura cieníica das populações passa
tanto por reforçar o ensino formal das ciências, tornando-o mais universal e eventualmente experimental,
como por suscitar outros ipos de interações com a ciência e outras aprendizagens, de caráter informal,
junto da generalidade dos cidadãos. Se a escola é, sem dúvida, um dos palcos privilegiados para o contato
precoce com os produtos e procedimentos da ciência (para além de ser, obviamente, um espaço de
formação decisiva para os proissionais nessas áreas); não são de menor importância outras formas de
comunicação da ciência, protagonizadas por outros agentes e dirigidas a audiências não necessariamente
escolares, que são livres de escolher o que mais lhes interessa ou de optar por diferentes graus e modos
de paricipação nas aividades propostas2.
Parte I • Textos de relexão

Exemplo disso é a cobertura midiáica conferida a determinados temas de caráter cieníico, que
propicia a audiências bastante numerosas e diversiicadas o contato com esses assuntos num plano
quoidiano; mas, também, os livros e revistas de divulgação cieníica, os centros e museus de ciência, as
conferências ou outros encontros alargados a públicos não-especializados, as feiras de ciência, ou toda
uma panóplia possível de outros eventos consituídos em torno da ideia de dar a conhecer ao cidadão
comum os fundamentos, os métodos e os avanços das ciências, ou ainda suas aplicações, implicações e
controvérsias. Mais recentemente – e, de algum modo, respondendo aos apelos para a criação de formatos
de comunicação mais propícios ao diálogo entre cienistas, cidadãos e decisores – são de considerar, neste
âmbito, também os chamados cafés de ciência e as conferências de consenso, entre outros.

Qualquer que seja a modalidade uilizada, a aproximação das populações à ciência está longe de ser
tarefa fácil ou isenta de contradições. Se é certo que o conhecimento cieníico se tornou, em alguma
medida, onipresente nas mais variadas esferas de aividade social, a todos tocando de forma direta ou
indireta, certo é também que este ipo de saber tem se tornado cada vez mais especializado e complexo,
dependente do trabalho de proissionais altamente qualiicados a operar em organizações também muito
especializadas. A diiculdade de ariculação entre as linguagens dominantes no campo cieníico, no meio
escolar, nos meios de comunicação de massa ou na vida coidiana em geral tende, pois, a estar latente em
qualquer daquelas aividades. Por outro lado, a comunicação e o debate de questões de ordem cieníica
são, pela própria centralidade e complexidade do papel social da ciência nas sociedades contemporâneas,

1 Não se incluem aqui – embora em senido lato pudessem também ser consideradas manifestações de ariculação
entre ciência e sociedade – iniciaivas respeitantes à promoção da interação entre insituições cieníicas e os mais
variados setores da economia ou administração pública. Note-se também que a expressão “promoção da cultura
cieníica” remete aqui, em termos genéricos, para todo um conjunto de signiicados e aividades que, noutros
âmbitos, surgem frequentemente associados a termos como “literacia cieníica” ou “compreensão da ciência pelo
público”. É evidente que se reconhece que tais expressões nem sempre podem ser entendidas como equivalentes,
mas considerou-se inoportuno o aprofundamento desse ipo de disinção analíica neste contexto.
2 É nesse senido que alguns especialistas no tema designam os espaços de contato informal com as ciências como
palcos para “aprendizagens em contexto de livre escolha” (Falk, Storksdieck, Dierking, 2007).

24 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


obviamente permeáveis a lutas de caráter social e ideológico (onde se joga, por exemplo, o reconhecimento
da autoridade de determinados atores sociais face a outros, ou o engajamento em determinadas correntes
de pensamento políico).

Modos de promoção de cultura cieníica: diversidade e complementaridade


A diversidade das modalidades atualmente adotadas na promoção do contato de públicos não-
especializados com a ciência, nas suas várias vertentes, dá a entender a existência de uma muliplicidade
de opções e estratégias possíveis neste campo, tanto no que toca aos conteúdos explorados, como aos
mecanismos de comunicação, tanto no que respeita aos entendimentos acerca dos públicos-alvo, como
aos próprios interesses e objeivos perseguidos pelos promotores desse ipo de ações.

Nos úlimos anos, tem sido evidente o debate acerca da legiimidade e da eicácia dessas diversas opções.
Mais em paricular, tem estado em pauta o confronto entre diferentes entendimentos sobre a natureza
dos “déicits” que tais aividades podem pretender suprir (Gregory, Miller, 1998; Dierkes, Grote, 2000;
Bauer, Allum, Miller, 2006).

De forma muito sintéica, numa primeira abordagem (em larga medida fruto das conclusões dos estudos
sobre a literacia cieníica das populações), tratar-se-ia de contrariar o fraco interesse sobre temas de
ciência e de atenuar a escassez de conhecimentos acerca das principais teorias cieníicas ou dos métodos
de pesquisa, que boa parte das pessoas parecia indiciar.

Num segundo momento, ter-se-ão deslocado as atenções mais especificamente para a questão das
atitudes dos cidadãos face à ciência. Se, por um lado, os fracos níveis de conhecimento poderiam
indicar dificuldades acrescidas no acesso e na apropriação de saberes e competências que se
assumiam como centrais para a participação ativa de todos os cidadãos nas mais variadas esferas
sociais (pondo em causa, designadamente, objetivos de desenvolvimento econômico e de inclusão
social); por outro, a aparente manifestação de atitudes de desconfiança ou mesmo rejeição face à
ciência entre determinados grupos sociais poderia desafiar a manutenção do apoio às atividades de
pesquisa (em muitos casos, com financiamentos públicos), a captação de jovens com interesse em
desenvolver carreiras profissionais nas áreas da ciência ou tecnologia, ou ainda a própria adesão dos
consumidores a determinado tipo de produtos.

Nos úlimos anos, porém, o discurso de muitos dos analistas, e inclusive de algumas das agências públicas
e organizações não-governamentais com intervenção nestes domínios, vem mudando – à medida
que se desenvolvem novas críicas em relação à ciência ou à incerteza das suas implicações, que (re)
emergem ideais de uma democracia paricipaiva e que se revela errônea a premissa segundo a qual mais
conhecimento implicaria necessariamente uma adesão mais posiiva face à ciência e seus produtos. O
“modelo do déicit”, tal como inha sido entendido até então (déicit de conhecimentos e/ou de aitudes),
começa a ser cada vez mais quesionado.

Nesse contexto, destacam-se, muito em especial, novos alertas quanto à necessidade reconsiderar o papel
dos cidadãos na relação entre ciência e sociedade. Defende-se que estes sejam entendidos não como uma
audiência, tendencialmente ignorante ou irracional, que deve ser educada ou sensibilizada quanto ao

Modos de promoção de cultura cientíica: 25


valor social do conhecimento cieníico; mas, antes, como um parceiro, capaz de paricipar aivamente nos
processos de debate e difusão social dos conhecimentos e competências de base cieníica, e cujos saberes
e sensibilidades devem ser considerados. A exisir um déicit, entende-se agora que este se encontra num
entendimento inadequado acerca dos públicos, por parte de cienistas e divulgadores, e numa escassez de
mecanismos de diálogo (e não de educação, unidirecional) entre estes diversos agentes.

Subjacente a essa alteração encontra-se, de modo explícito ou implícito, um conjunto de reparos em


relação ao modo como cienistas, educadores, divulgadores ou, inclusivamente, muitos jornalistas inham
vindo a apresentar a ciência junto de públicos não-especializados.

Por um lado, criica-se o eventual destaque excessivo que tenderia a ser dado, nos mais tradicionais
modelos de educação e divulgação cieníica, aos resultados da ciência, às suas teorias e descobertas,
opção que contribuiria para a difusão de uma imagem irrealista da aividade cieníica ou para uma certa
sacralização dos seus métodos e protagonistas (Nelkin, 1987; Durant, 2005). Pelo contrário, defende-
se uma maior ênfase na apresentação dos processos pelo quais os quais a ciência se conduz – ou seja,
daquilo que alguns denominam a “ciência tal qual se faz”, com os seus erros, incertezas e controvérsias
– bem como na muliplicação de espaços de debate acerca do impactos e implicações do conhecimento
Parte I • Textos de relexão

cieníico. Considera-se que tal opção poderá melhor servir à difusão de uma imagem mais razoável do que
a ciência efeivamente é; para além de ir mais de encontro aos interesses e preocupações dos cidadãos,
podendo dotá-los das competências que estes realmente necessitam nas sociedades contemporâneas
(Shapin, 1992).

Por outro lado, quesiona-se até que ponto é perinente ou adequado conceber as audiências das ações
de promoção de cultura cieníica sem atender aos diferentes segmentos que as compõem e aos diversos
modos como estes se relacionam com a ciência (Costa, Ávila, Mateus, 2002); ou até que ponto faz senido
entender tais audiências apenas como receptáculos vazios de conhecimentos prévios ou de inquietações
relevantes. Pelo contrário, (re)vitalizam-se os saberes de ordem local, as percepções e aitudes dos
cidadãos, como elementos tão (ou mais) válidos que os saberes cieníicos na discussão de temas ligados
à ciência e suas implicações sociais (Wynne, 1991; Irwin, Wynne, 1996).

Enfaiza-se a hipótese de todo o conhecimento (inclusivamente o de caráter cieníico) ser estruturado


pelas condições locais – de ordem social, cultural e econômica – em que é produzido e apropriado,
alertando-se assim para o fato de qualquer ato de recepção de uma mensagem (seja ela de divulgação
cieníica ou outra) implicar um processo aivo de reconstrução criaiva de senidos e signiicados. Criica-
se, portanto, a ideia segundo a qual seriam “irracionais”, ou fruto de mera ignorância, as reações de alguns
dos cidadãos face aos avanços cieníicos ou às suas aplicações, salientando-se paralelamente a necessidade
de atender aos contextos sociais em que a comunicação pública da ciência se processa (nomeadamente,
aos conhecimentos, às aitudes e aos interesses dos diversos atores envolvidos). Contraria-se, também,
o princípio de que as reações negaivas ou os fracos conhecimentos cieníicos da população poderiam
decorrer somente de uma má tradução dos conteúdos com origem na ciência, por parte de agentes
intermediários entre cienistas e público em geral (como estaria pressuposto no chamado “modelo linear
de comunicação cieníica”; Bucchi, 1996).

26 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Nesse contexto, surge, ainda, como pouco apropriado o modo de comunicação, de pendor unidireccional
e eventualmente paternalista, que poderia estar sendo adotado por alguns cienistas, educadores ou
divulgadores de ciência na sua relação com os não-especialistas nessas matérias – não só porque este
parece inadequado face à muliplicidade de saberes que todos detêm e, inclusivamente, propiciador de
reações de desinteresse ou rejeição por parte de muitos interlocutores; mas, também, porque tal aitude
inviabiliza a criação de condições de aprendizagem, por parte dos promotores de aividades de divulgação
cieníica, acerca dos saberes e inquietações que lhes podem ser transmiidos pelo público.

Como se vê, este ipo de debate – e a mudança de paradigma a respeito da relação entre ciência e públicos
que lhe está subjacente – acaba por assentar numa certa polarização das opções e concepções relaivas
aos conteúdos, aos desinatários ou às estratégias comunicaivas a adotar nas ações de promoção de
cultura cieníica (Conceição, Gomes, Pereira, Abrantes, Costa, 2008). De forma sintéica, poder-se-ão
considerar as seguintes oposições:

a) entre uma apresentação de “conteúdos” da ciência (de conhecimentos e descobertas) e uma


apresentação de “métodos” (de instrumentos e procedimentos cieníicos);

b) entre uma exposição “internalista” (de conhecimentos cieníicos e processos de invesigação) e


uma exposição “externalista” (de contextos, protagonismos, processos e impactos sociais da ciência);

c) entre uma comunicação “didáica” (unidirecional, que visa primordialmente a promoção de


aprendizagens e pressupõe uma certa assimetria de saberes entre quem produz o discurso e quem o
recebe) e uma comunicação “dialógica” (bi ou mulidirecional, que pressupõe sobretudo diversidade
de saberes e confronto de perspecivas no debate sobre temas de interesse comum);

d) entre uma concepção “homogênea” e “heterogênea” dos públicos, consoante se considerem, ou


não, muito relevantes as segmentações do público desinatário;

e) entre uma apresentação “discursiva” (ou seja, tendencialmente exposiiva, colocando o desinatário
sobretudo no papel de ouvinte/espectador) e uma apresentação “experimental” (interaiva, hands-on
etc., colocando o desinatário em papéis de interveniente, manuseador, decifrador, planejador ou
interlocutor), cada uma reivindicando para si eicácias especíicas: maior formalização e integração
conceitual, no primeiro caso; maior capacidade de compreensão do processo cieníico ou de
implicação/paricipação de todos os intervenientes, no segundo;

f) entre uma apresentação “espetacular” (mais voltada para a encenação atraente e a adesão
emocional) e uma apresentação mais “relexiva” (orientada para a compreensão intelectual, para a
experimentação releida ou para o confronto/integração de perspecivas);

g) entre um contato “a distância” (designadamente face aos cienistas, realizado através de diversos
meios indiretos, por exemplo, ilmes, livros, exposições etc.) e uma apresentação “por contato direto”
(com os cienistas e as suas práicas de invesigação, ou com os projetos em discussão), em geral
prevalecendo, no primeiro caso, a amplitude potencial de difusão, e, no segundo, a perinência e
profundidade dos processos de formação da cultura cieníica.

Muitas das análises da história da comunicação da ciência junto a públicos ampliados tendem a apresentá-

Modos de promoção de cultura cientíica: 27


la como se ivesse vigorado durante largo tempo um modelo único – que agregaria, basicamente, todos ou
quase todos os primeiros pólos das dimensões acima inventariadas. Seria o que frequentemente se designa
por “modelo do déicit”: um modelo de transmissão didáica e discursiva de conhecimentos cieníicos
a um público considerado basicamente como ignorante e homogêneo, numa perspeciva de promoção
de cultura cieníica internalista. Já muitos dos discursos mais recentes acerca deste tema tendem, de
algum modo, a defender uma transformação radical das aividades de promoção de cultura cieníica das
populações – que passaria, em linhas gerais, pela adoção de todos ou quase todos os pólos opostos.

Claro está que as tentaivas de encontrar uma certa linearidade na evolução desse ipo de práicas podem
ter um certo potencial de análise e ilustração das mudanças em curso (como, aliás, se procurou explorar).
E que é certamente justo denunciar que muitas das práicas de divulgação cieníica mais tradicionais
tendem a ser, não raras vezes, unilaterais e incompletas – para além de, provavelmente, pouco eicazes. É
evidente, também, que as alternaivas propostas pelos críicos do modelo do déicit põem em evidência
aspectos perinentes, como os impactos sociais da ciência e a pluralidade de sensibilidades e interesses
face a esse tema, ou a relevância do diálogo das ciências com outros universos culturais.

Importa, contudo, não perder de vista que, na práica, muitas das aividades de promoção da cultura cieníica
Parte I • Textos de relexão

atuais, “tal como ela se faz”, combinam produivamente vários dos pólos acima ideniicados, até porque
estes remetem, em boa medida, mais para aspectos complementares do que mutuamente exclusivos,
tendendo todos eles a demonstrar valor efeivo na aproximação entre ciência e públicos. Restringir o
leque de opções entendidas como legíimas poderá, nesse senido, acarretar diiculdades acrescidas no
planejamento de aividades, para além de poder signiicar igualmente a adoção de estratégias unilaterais
ou incompletas. Muito em paricular, convém não esquecer que o estabelecimento de diálogos efeivos
entre os mais diversos saberes e atores sociais não será certamente contrário à manutenção dos esforços
no senido da aquisição de conhecimentos e competências de caráter cieníico pela população – com o
que essa familiarização signiica em termos de empoderamento, acesso e capacidade de paricipação, em
nível pessoal, e de desenvolvimento, no plano societal.

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Crisina Palma Conceição é pesquisadora no Centro de Invesigação e Estudos de Sociologia e docente de


“cultura cieníica e comunicação da ciência” no Insituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL).

Modos de promoção de cultura cientíica: 29


Parte I • Textos de relexão

30 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


El renovado desaío del periodismo cieníico
Acianela Montes de Oca

Cuando se habla de periodismo cieníico muchas personas piensan en descubrimientos impactantes, en el


acceso y reporte acerca de nuevas fronteras del conocimiento en todos sus ámbitos, en importantes centros
de invesigación y en cómo los periodistas logramos hacer parte de esa magníica aventura del conocimiento.

La verdad es más sencilla pero no por eso menos importante o atrayente. El periodismo cieníico, paricularmente
en los países en desarrollo, se realiza en ambientes menos glamorosos pero rodeados de retos.

En las próximas páginas trataremos de aproximarnos a una deinición del periodismo cieníico, sus
principales diicultades y desaíos, y algunas formas de encararlos.

El periodismo cieníico: una prácica para el desarrollo humano


En América Laina no abundan los recursos para la ciencia y para la invesigación, y en muchos casos
nuestros colecivos parecen mostrar poco interés por la ciencia y la innovación. Pero, aunque no estén
totalmente conscientes de ello, las sociedades contemporáneas no pueden vivir sin esos conocimientos.
Uno de los objeivos del periodismo cieníico es consituirse como parte de las prácicas que permitan a
los ciudadanos del mundo comprender para qué les son úiles esos saberes y cómo usarlos para desarrollar
sus capacidades y para ser más libres. Es decir, para fomentar el desarrollo humano, que el Programa de
Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) deine como “un proceso mediante el cual se amplían las
oportunidades de los individuos, las más importantes de las cuales son una vida prolongada y saludable,
acceso a la educación y al disfrute de una vida decente” (PNUD, 1990).

En una palabra, el periodismo cieníico, más que una vitrina para exhibir las novedades en el mundo
de la ciencia y la tecnología, será también un espacio de conluencia entre los ciudadanos y los saberes
o conocimientos cieníicos que circulan en nuestro mundo global. En ese gran ámbito los periodistas
actuamos como propiciadores de esos encuentros entre constructores y usuarios del conocimiento
cieníico, a sabiendas de que es un proceso dinámico en el que cambian tanto los roles (quienes unas veces
producen otras veces usan), como el conocimiento en sí mismo (lo que en un momento se consideraba
una verdad en el siguiente se puede poner en duda).

El periodismo cieníico será entonces una prácica que: a) cree espacios de encuentro entre constructores
y usuarios del conocimiento cieníico, b) propicie el desarrollo humano de nuestras sociedades.

Desaíos y riesgos
Como todo aquello que vale la pena, la tarea no es sencilla, entre otras cosas por las diicultades que
implica, entre las cuales están: la dinámica del periodismo y de los medios para los que trabajamos; el
territorio siempre resbaladizo del lenguaje; las diferentes prácicas de quienes producen conocimiento
cieníico, así como las representaciones de ciencia y la cultura cieníica de la sociedad en que vivimos.

Una primera recomendación para enfrentar el reto es reconocer los potenciales y limitaciones de
nuestro trabajo.

El renovado desafío del periodismo cientíico 31


Autores como Mauro Wolf (1997) y Denis McQuail (1998) han evidenciado la importancia de los medios de
comunicación en la conformación de opiniones y acitudes de los ciudadanos, así como en la construcción
de sus imaginarios. Igualmente, invesigaciones que se inician en los años 20 del siglo 20 con Walter
Lippman (1964) y llegan hasta nuestros días con los trabajos de Maxwell McCombs (2002), muestran que
si los medios dan prioridad a unos asuntos por encima de otros (teoría de la temaización o de la agenda
seing), pueden inluir en las agendas públicas o en las preocupaciones consideradas importantes en
sus respecivas comunidades. Es decir, el medio de comunicación social puede inducir –para bien o para
mal– opiniones o acitudes sobre la ciencia. Y esa inluencia puede ser profunda por cuanto después de
concluido el ciclo de educación formal (y en nuestros países la deserción de los procesos escolares puede
ocurrir a edades muy tempranas) prácicamente el único contacto con la ciencia y con la cultura que
ienen los ciudadanos ocurre gracias a los medios de comunicación social.

Pero éstos, por sus propias caracterísicas, podrían estar limitados para comparir ciencia. Una muestra es
la rapidez de la caducidad del mensaje periodísico. Pensemos por ejemplo en las emisiones televisivas:
Isaac Nahon (1994) asevera que estos mensajes necesariamente se construyen en la clave del espectáculo
televisado. Es decir, fugaz, evanescente, anclado a la novedad, a la uilidad inmediata y a lo sensacional.
Otro tanto podríamos decir del mensaje periodísico impreso que si bien aspira a mayor permanencia
Parte I • Textos de relexão

también es de corta duración y debe basarse en lo actual y lo novedoso como impulsos primarios.

Las lógicas de producción de los medios de comunicación imponen una dinámica y una forma especíica a los
mensajes de tal manera que los revisten de espectáculo o de novedad, que los reducen al mínimo y en muchos
casos limitan las posibilidades de explicar, de contextualizar. Los pueden volver triviales y desechables.

Por no hablar de los periodistas, que muchas veces no contamos con la formación suiciente para
encarar las complejas informaciones sobre ciencia, tecnología o innovación; o simplemente no recibimos
apoyo suiciente del medio para el que trabajamos. Un ejemplo relaivamente frecuente es que por
desconocimiento o por orientación de los medios para los que trabajamos podemos incurrir en el error de
confundir la ciencia con seudociencia o aniciencia.

Sami Rozenbaum (2001) detectó que los periódicos venezolanos no son rigurosos al momento de difundir
la información cieníica o pretendidamente cieníica. Para efectos de su análisis, formuló una clasiicación
de categorías sobre temas relacionados con la temáica cieníica: seudociencia y aniciencia (la primera,
parasita la terminología cieníica y la segunda, adversa las nociones de ciencia).

El autor encontró que el abordaje de estos temas en la prensa aparentemente se basa en tocar temas
de actualidad “con una aceptación generalmente acríica que se releja en su tratamiento, poco exigente
en cuanto a detalles y evidencias” (Rozenbaum, 2001, p. 193). El propio invesigador sugiere que el solo
hecho de tratar temas seudocieníicos y anicieníicos en la prensa, aumentaría su aceptación en amplios
sectores de la población.

Los puntos antes mencionados podrían conspirar contra la posibilidad de crear espacios comunes para
comparir ciencia y saberes úiles para el desarrollo humano.

32 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


El lenguaje y los imaginarios colecivos
Y ya en el terreno periodísico, el lenguaje, con sus múliples posibilidades pero también con sus escollos,
puede presentar el mayor de los desaíos. Recordemos que el periodismo cieníico implica mucho más
que “traducir” la complejidad de la información cieníica. Obliga a un verdadero proceso de resigniicación
en el que deben tomarse en consideración varias dimensiones: el manejo de vocabulario y de términos
técnicos (lo lexical); la ariculación de las frases y lo que éstas realmente signiican (sintácica y semánica);
así como la estructura y los objeivos del mensaje que producimos (la lógica del discurso). Como ha
explicado Dorothy Nelkin, “A través de su elección de palabras y metáforas, los periodistas transmiten
ciertas creencias acerca de la naturaleza de la ciencia y la tecnología, revisiéndolas de signiicado social y
dando forma a la concepción pública de sus límites y posibilidades” (1990, p. 27).

Puede ocurrir que nuestras elecciones tengan resultados contradictorios con los objeivos del periodismo
cieníico: “antes que facilitar la comprensión, ese ipo de cobertura crea una distancia entre cieníicos y
público que oscurece la importancia de la ciencia y sus efectos en nuestra vida diaria” (Nelkin, 1990, p. 29).

Es decir, debemos tener plena conciencia de lenguaje para que éste no nos haga jugarretas cuando
tratamos de escribir y comparir ciencia.

También es necesario aprender a manejar las contradicciones entre las prácicas, métodos y entornos
de los profesionales de la comunicación social, y los profesionales de la invesigación, la ciencia o la
innovación, inmersos en dinámicas y objeivos que a veces parecen opuestos a los nuestros.

Y, como serpiente que se muerde la cola, el ciclo se cierra o se inicia con los imaginarios: las representaciones
que sobre ciencia o cultura cieníica ienen los usuarios de nuestros mensajes, representaciones que en
parte son creadas por los medios de comunicación y en parte están en nuestros trasfondos sociales (y por
eso son mostradas a través de los medios). Estas pueden ser nuestros aliados o una barrera para nuestra
meta comunicacional.

Una imagen que aparentemente prevalece en las audiencias lainoamericanas es la de la ciencia como
epopeya (OEI/RICYT, 2003) que nos remite a la idea de lo míico, inalcanzable y logrado sólo por algunos
(siempre pocos) héroes. Otra imagen es la de la ciencia como fuente de riesgo: “Debido a su conocimiento,
los cieníicos pueden ser peligrosos” (Cruces y Vessuri, 2004, p. 47), en la que encontraríamos
reminiscencias de los mitos del Golem y de Frankenstein, como ha dicho Castelfranchi (2003). Este autor
asevera en que cuando la ciencia se transmite como una presentación de “estrellas”, se le asume como un
espectáculo, pero cuando se le presenta sólo a través de descubrimientos o aplicaciones, se muestra como
algo maravilloso, mágico y por tanto inalcanzable. Se trata de imágenes atracivas, pero que no muestran
en absoluto las verdaderas dimensiones de esta acividad humana.

A estos desaíos debemos sumar los que nos proponen las nuevas tecnologías de la comunicación: la
interacividad, la presencia de audiencias más informadas y exigentes y la muliculturalidad. Ahora, más que
nunca, los periodistas producimos trabajos que circulan globalmente y que serán uilizados por personas que
muchas veces saben más de los temas que nosotros, que provienen de culturas muy disintas y por tanto
ienen visiones de mundo más complejas, y lo mejor de todo: que quieren ser escuchadas y atendidas.

El renovado desafío del periodismo cientíico 33


Hacia una comunicación horizontal de la ciencia
Como vemos, la tarea se vuelve más delicada y por tanto, más atrayente. ¿Qué hacer entonces para
producir un periodismo cieníico a la altura de estos retos contemporáneos?

Lo primero será revisar nuestras propias preconcepciones de ciencia y saber cada vez más y mejor de aquello
de lo que queremos hablar. Luego, habrá que mostrarla como la acividad humana que es, producto de
un proceso colecivo de ensayos, errores, relexiones, caídas y recomienzos, que usa un método bastante
democráico para seguir haciéndose preguntas e indagando sobre el conocimiento.

También deberemos asumir la complejidad de la tarea para quienes vivimos en los países en desarrollo,
con el insistente asalto de las informaciones de las grandes agencias de noicias sobre los resonantes
logros de la ciencia en los países industrializados, por una parte, y por la otra la modesia de la ciencia de
nuestras laitudes, disputando el escaso espacio que se concede en general a estos temas en los medios
de comunicación.

¿Cómo mejorar entonces nuestro trabajo en el periodismo cieníico?


Parte I • Textos de relexão

Saber más sobre la ciencia como prácica, conocer sus métodos y su ilosoía es un buen punto de
parida. Y romper el corsé de los clásicos valores y atributos de la información noiciosa y de los mensajes
estereoipados a los que estamos acostumbrados por parte de los medios de comunicación será otro
excelente paso. Debemos ir más allá de la actualidad, proximidad, prominencia, rareza, conlicto, suspenso,
y empezar a enfocarnos en signiicación social, interés humano y comenzar a pensar en la uilidad social,
esa que hará posible el desarrollo humano de nuestras sociedades.

Invesigar rigurosamente los temas y mantener nuestro senido críico y escepicismo frente a la información
es siempre una buena prácica periodísica, que debe acompañarnos siempre en el periodismo cieníico:
veriicar, reconirmar con varias fuentes, buscar nuevas voces y abrir el grupo de personas a las que
siempre consultamos redundará en beneicio de aquellos para quienes trabajamos.

También debemos seleccionar con cuidado qué vamos a decir y cómo vamos a decirlo: nuestras palabras
resuenan en las mentes de quienes nos leen o nos escuchan. Ese poder acarrea una gran responsabilidad
que es preciso asumir.

Es importante comprender que audiencia no es sólo el público que se segmenta para efectos de raing
o de efecividad informaiva. Las audiencias, reiteramos, no son un recipiente vacío, una tela en blanco
que espera pasivamente a ser enriquecida con un saber transferido. Están consituidas por personas,
por ciudadanos, por generadores de senido que confrontan sus saberes (basados o no en racionalidad
cieníica) con lo que se les entrega vía medios de comunicación social. Es necesario arriesgarse y propiciar
una rica interacción con ellos.

La comunicación de la ciencia, entonces, debe abordarse como proceso de aprendizaje social en el que
por un lado, todos los involucrados aprenden en una relación dialógica, y por el otro, se usen tanto
formatos como contenidos de la comunicación novedosos, diversos, múliples y vinculados con las vidas y

34 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


acividades concretas de los usuarios de nuestros mensajes.

Parte del compromiso será empezar a hacer uso intensivo de los medios que permitan una comunicación
más horizontal. Es decir, más radio, más medios locales o comunitarios, más medios digitales. Pero
atención: la comunicación dialógica es más un asunto de acitud que de herramientas o tecnologías. Si
nos quedamos simplemente en un rol de informadores, fracasará la posibilidad de interactuar.

Los procesos de comunicación de la ciencia, en paricular en nuestro muliétnico y mulicultural coninente,


están insertos dentro de prácicas culturales híbridas a través de las cuales las comunidades y las personas
construyen senidos y signiicaciones propios, pariculares. No podemos cambiar esto, sino sólo comprenderlo
y tratar de usarlo a favor de una comunicación más compleja y orientada al desarrollo humano.

Finalmente, una lección de humildad: recordemos que divulgadores y periodistas producimos no un


discurso cieníico, sino un discurso sobre la ciencia, que como dicen Moledo y Polino en su trabajo sobre
ciencia y representaciones sociales: “no genera conocimientos cieníicos sino representaciones sociales
de esos conocimientos, que no debe superponerse al sistema educaivo sino dar cuenta y esimular la
circulación de los saberes cieníicos en la sociedad” (1997, p.12).

Nuestro trabajo es la temaización, es decir, la puesta sobre el tapete de la opinión pública de los temas
relacionados con ciencia y políica cieníica. Este será el mejor aporte que podamos hacer quienes tratemos
de comparir información sobre ciencia y tecnología en los medios masivos. Y para ello, es preciso usar
eicaz pero cuidadosamente la lógica de los medios y de los mensajes que allí deben producirse, a in de
que el colecivo se sensibilice por los temas y por las decisiones importantes que deben tomarse basados
en la ciencia.

A manera de cierre
En síntesis, los divulgadores y periodistas cieníicos no somos Prometeo reencarnado. No somos puentes
sino creadores de discursos sobre ciencia. Ponemos en la agenda pública y hacemos circular información
úil que debe construirse según la lógica de los medios masivos, pero sobre todo con la mira puesta en la
aspiración de desarrollo humano de nuestras sociedades.

Y el logro de ese objeivo pasa por una cierta militancia ciudadana: a sabiendas de las limitaciones de los
medios de comunicación, los periodistas cieníicos debemos favorecer que la comunicación pública de la
ciencia, la tecnología y la innovación forme parte de las políicas de Estado de manera decisiva. Y dentro de lo
posible, apoyar la construcción de espacios académicos plurales que permitan formar estos comunicadores
de la ciencia capaces de relacionarse desde una perspeciva más reicular, más dialógica y menos informaiva.
Ese será el primer paso para comunicar mejor y comparir ciencia con nuestras audiencias.

El renovado desafío del periodismo cientíico 35


Diez criterios para comunicar ciencia:

1. Incluya en los trabajos información que ayude al público a adoptar medidas para mejorar su
calidad de vida.
2. Conirme todo y tenga cuidado con las fuentes que se aventuran a opinar sobre asuntos fuera de
su esfera de competencia. Jamás airme nada si no hay pruebas concluyentes al respecto.
3. Es mejor indagar sobre procesos antes que sobre productos, manejar ideas tanto como hechos.
4. El tratamiento debe ser cuidadoso. Que la información muestre un opimismo prudente o un
pesimismo esperanzado, como dice Manuel Calvo Hernando (1971).
5. La información debe ser profunda, trascendente y humana. El lenguaje, sencillo y preciso.
Debemos esimular la capacidad de relexión de la audiencia.
6. No olvide que el usuario de la información lo está interrumpiendo cada diez líneas para preguntar
“por qué”, “para qué”, “cómo me afecta esto”, “en qué me concierne”. Si su pregunta tácita no es
respondida, nos abandonará y perderemos nuestra oportunidad de comunicar.
7. La información, incluso la insitucional, debe ser noiciosa.
8. No hable en el lenguaje de los invesigadores.
Parte I • Textos de relexão

9. Los itulares deben ser atracivos, pero no deben prometer lo que el mensaje no va a cumplir. Y
por cierto, no deben ser lo único entretenido del texto.
10. Use los recursos del diseño para mantener el interés en el mensaje. Los recuadros, llamados o
inter-textos cortos permiten explicar contexto (fechas, nombres de invesigadores, puntos clave)
para que el texto no decaiga.

Guía de preguntas antes de publicar un estudio cieníico

Estas son algunas recomendaciones que propone Timothy Johnson (2005) para ayudar al público a
comprender mejor la información:

¿Es suicientemente bueno como para jusiicar la atención pública? ¿El público puede evaluar
debidamente los resultados con la información que presentamos?. ¿Se ha evitado hacer una
evaluación simplista (bueno/malo)? ¿Se ha presentado el cuadro general, no sólo puntos selectos
que pueden dar una idea equivocada?¿Está claro a quién se aplican los resultados y cuáles son
las ventajas y desventajas? ¿Se han divulgado las fuentes de inanciamiento del estudio y ha sido
éste revisado por colegas? ¿Se ha consultado con otros cieníicos de presigio y se ha veriicado la
iabilidad de la fuente primaria? ¿Se ha examinado el estudio íntegro (no sólo los resúmenes y las
fuentes secundarias)?

36 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


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Acianela Montes de Oca es columnista del diario El Nacional, y profesora invesigadora de la Universidad
Católica Andrés Bello, en Caracas, Venezuela.

El renovado desafío del periodismo cientíico 37


Parte I • Textos de relexão

38 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Cultura cieníica y comunicación de la ciencia y la tecnología:
Urgencias y posibilidades
Irene Trelles Rodríguez, Miriam Rodríguez Betancourt

“En esta época de globalizadas misiicaciones mediáicas y miiicaciones culturales, hay muchas
razones para ejercitar y difundir el pensamiento que ilustra… ilustrar consiste en comparir el saber para
que alguna vez sea posible comparir el mundo.”
(Manuel Marín Serrano, 2010)

La importancia que hoy reviste la comunicación de la ciencia y la tecnología, y el fortalecimiento de


valores de cultura cieníica en los países de América Laina, en senido general se enmarca no solo en el
contexto del escenario globalizado en el que vivimos, sino también en otras mediaciones que inluyen en
el insuiciente desarrollo cieníico y tecnológico de la región.

La globalización, fenómeno objeivo situado en el núcleo de la cultura moderna, supone tanto una amenaza
por su capacidad estandarizadora, temida y anunciada por algunos como una alternaiva posible, pues “la
macdonalización del mundo no aparece ya en el horizonte como un futuro ineluctable” (Díaz-Polanco,
2008, p. 189); los afanes idenitarios se muliplican en una escala nunca vista. Pero es un hecho innegable
que la globalización implica cambios culturales, que agudizan las contradicciones. “Esta dimensión
transnacional, globalizada, o intercultural apenas está empezando a tener efectos sobre la deinición de
cultura” (Canclini, 2001, p.129).

Con respecto a la relación entre ciencia, tecnología y desarrollo económico en América Laina, vale
recordar que si bien la insuiciente aplicación de resultados cieníicos y tecnológicos a la pequeña y
mediana empresa igura entre las causas que algunos organismos internacionales y expertos atribuyen a
las diferencias abismales entre los países desarrollados y los subdesarrollados, no es posible pasar por alto
que aunque esta quizás no sea, ni la única, ni la más importante razón que explique ese fenómeno, no cabe
duda de que contribuye de manera importante a la desigualdad que se advierte entre esos dos mundos en
el plano social y económico. La causa que lo moiva no responde solamente a la inercia mental o la falta de
espíritu emprendedor por parte de los empresarios, como aseguran algunos, sino a factores estructurales
directamente vinculados con el desarrollo, las estrategias y políicas nacionales y de los centros de poder,
dentro de lo cual se inscriben fenómenos asociados al denominado robo de cerebros.

En este contexto cabe formular algunas preguntas:

¿Es un desino inevitable la supuesta estandarización de los valores a consecuencia del discurso cultural
globalizador? ¿Existen alternaivas posibles para el fortalecimiento de los valores culturales e idenitarios
de nuestros pueblos? ¿Cómo puede inluir en ello el desarrollo de la cultura cieníica y la comunicación
de la ciencia y la tecnología?

Para intentar responder estas preguntas, resulta ineludible referirnos al concepto de cultura, cultura
cieníica y comunicación.

Cultura cientíica y comunicación de la ciencia y la tecnología 39


Cultura y comunicación: interrelaciones y entramados
El concepto de cultura, tan amplio y diverso como enfoques y realidades existen, es en sí mismo un
símbolo, y abarca acciones, prácicas, discursos, narraciones y diálogos. Estudiar la cultura en su senido
más abarcador es tratar de interpretar los signiicados de las construcciones simbólicas que conforman la
estructura, el orden y las normas de la sociedad en momentos históricos concretos.

La teoría de la cultura organizacional estudia esa cultura enmarcada en entornos macro sociales, y en
enidades, insituciones, empresas, comunidades; invesiga cómo se conforman los procesos colecivos
de construcción de signiicados, de orientación hacia la razón de ser de una organización, y cómo los
integrantes de ella encuentran su senido, mediante la interpretación de símbolos que se construyen en
la comunicación con otros miembros. Este modelo de raíces antropológicas y sociológicas, ve a la cultura
como un fenómeno social, desarrollado a través de la interacción humana, es decir, de la comunicación, y
resultado de la experiencia social.

La interrelación entre la cultura nacional y la de enidades u organizaciones, o de sectores incluso, puede


consituirse en una fuente enriquecedora para ambas partes, de modo que la cultura a nivel macro, nutra
y sirva de fuente a la paricular, pero ésta a su vez retroalimente a la primera, la dinamice y mantenga en
Parte I • Textos de relexão

movimiento y desarrollo.

Al incorporar el enfoque cultural, la organización es percibida como construcción simbólica y esa


construcción se realiza a través de la comunicación, concebida a su vez como proceso mediante el cual se
conforman, se trasmiten y se desarrollan los signiicados. De ahí la deinición de cultura como comunicación
normada que ofrece el conocido estudioso Edward T. Hall (citado por Kreps, 1990).

Carlos Marx, con una visión asombrosamente contemporánea, aborda los vínculos entre cultura y
comunicación, la importancia de la comunicación y el intercambio entre los hombres, y la interrelación
entre lo global y lo paricular en la cultura. Él airmó: “La conciencia de la necesidad de entablar relaciones
con los individuos circundantes es el comienzo de la conciencia de que el hombre vive, en general, dentro
de una sociedad (…) el lenguaje nace, como la conciencia, de la necesidad, de los apremios del intercambio
con los demás hombres…La conciencia por tanto, es ya de antemano un producto social, y lo seguirá
siendo mientras existan seres humanos.” (Marx, Engels, 1966, p. 31)

Si bien el fundador del marxismo no ideniica a la comunicación con la denominación que usamos hoy, es al
fenómeno comunicacional al que alude como elemento indisolublemente ligado a la existencia del hombre
como ser social, y esa comunicación se produce en agrupaciones de hombres, en colecivos, en sociedades.

Y subrayando el vínculo entre comunicación y cultura, Marx expresa: “El hombre (…) es rico en su esencia
en la medida en que es capaz de comunicarse, no sólo en su entorno más inmediato, sino a nivel global...”
(Marx, Engels 1966, p. 14). La comunicación en organizaciones no sólo es condición indispensable para
la existencia, la vida material, la supervivencia, sino también para la vida espiritual y su enriquecimiento,
vale decir, la cultura.

A juicio de Lucas Marín, la comunicación es tanto el modo de recibir la cultura como el instrumento uilizado

40 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


en su construcción. “La cultura de cada organización vendrá deinida por la propia atención general a la
comunicación, la complejidad del modelo de comunicación, manejado (especialmente por los direcivos),
la atención a la comunicación de retorno, a los medios de comunicación de masas, a la disinción entre
comunicación interna y externa, formal e informal” (1997, p. 58).

En la cita se reiere este autor español a enidades micro sociales, no obstante, su enfoque podría resultar
úil para aplicarlos a grupos sociales más amplios, y relacionarlo con la necesidad de construcción de
signiicados relacionados con la ciencia y la tecnología, saberes, experiencias, descubrimientos cieníicos
que contribuyan a mejorar el mundo y hacer posible el futuro.

Pero no se trata de la comunicación concebida desde paradigmas que preponderan el valor de lo signiicados
y su construcción y trascienden modelos de corte trasmisivo, más simpliicadores. En ese modelo de corte
cultural, el ser es relejado a través de la interacción social, como un individuo que construye su accionar
en interrelación con el resto. Su respuesta no es únicamente el resultado de una selección determinada
por su condición de iltro conceptual, sino se desarrolla en la interacción social y cambia en la medida en
que el contexto social cambia.

Se establecen diferencias entre los ipos de acciones, a saber: no simbólica, simbólica y social. La acción
no simbólica se reiere a los relejos condicionados, que no requieren interpretación; la acción simbólica
requiere de autodeterminación, es decir, acción e interpretación, y a un nivel superior de complejidad,
se sitúa la acción social, referida a la respuesta de un individuo a otro basada en el conocimiento del
signiicado de las palabras y acciones para el otro.

En palabras de Fisher, citado por Jablin y Putnam: “Primero, los seres humanos actúan respecto a las cosas
sobre la base del signiicado que las cosas ienen para ellos; segundo, esos signiicados son directamente
atribuibles a la interacción social que uno iene con los otros; tercero, estos signiicados son creados,
mantenidos y modiicados mediante un proceso interpretaivo que la persona realiza en su contacto con
las cosas y los demás” (1998, p. 255).

Esos signiicados que se construyen mediante la interacción con otros y la búsqueda de consenso se
apoyan en los valores de la cultura de las organizaciones, a la vez que la enriquecen y desarrollan en un
proceso de interrelación dialécica.

Si esto es así, la comunicación orientada a la construcción de signiicados comparidos acerca de valores


y saberes cieníicos y tecnológicos supondría un nuevo protagonismo de diversos grupos sociales,
apropiación de tales saberes, y aplicación de ellos en aras de una toma de decisiones más responsable,
del desarrollo sostenible del que tanto se habla, y de la asunción de posiciones mucho más proacivas en
defensa de la protección ambiental y social que compromete nuestro futuro.

Cultura cieníica y comunicación


El concepto de comunicación de la ciencia hay que entenderlo como la construcción, e intercambio de
signiicados en el campo de la cultura cieníica. Se trata de un proceso complejo en tanto supone una
integración dinámica y creaiva de elementos que incluyen la paricipación aciva de emisores y receptores.

Cultura cientíica y comunicación de la ciencia y la tecnología 41


Este proceso no es espontáneo ni fesinado: requiere de gesión en cuanto al diagnósico, la planiicación,
evaluación y control en todas sus fases, es decir, que la comunicación de la ciencia no es algo marginal en
relación con la cultura cieníica, todo lo contrario: es una parte consustancial a ella.

Desde el principio, es fundamental para este trabajo tener bien deinidos los objeivos, entre los más
importantes: elevar la cultura cieníica de la comunidad universitaria y la población en general mediante
acividades docentes, invesigaivas y extensionistas. También, promover la paricipación de las áreas
universitarias en torno al tema pues sin esa coordinación e integración resultaría prácicamente imposible
cumplir con éxito el trabajo.

Comunicación de la ciencia y la tecnología y cátedras de cultura cieníica


En el escenario aludido anteriormente, la comunicación de la ciencia y la tecnología destaca como uno de
los temas más relevantes de la contemporaneidad, por lo que abundan políicas, programas, acividades y
relexiones sobre diversas aristas de este fenómeno en las que encontramos enfoques disintos y soluciones
diferentes, pero que en su conjunto permiten un acercamiento a materia tan trascendente. Entre ellos,
adquiere nuevas dimensiones la posibilidad de pensar en la creación de espacios en las universidades para
socializar el conocimiento cieníico, y fortalecer el acceso a grupos mucho más amplios a este ipo de
Parte I • Textos de relexão

información, de ahí la perinencia de crear cátedras de cultura cieníica como espacios de comunicación
de la ciencia y la tecnología.

La desigualdad económica y la escasez de políicas nacionales de desarrollo en este ámbito, especialmente


en nuestra región, obligan, como apuntaba con acierto el profesor Miguel Gerardo Valdés Pérez, “a
delinear el papel que le corresponde desempeñar a las universidades como productoras, por excelencia
de múliples saberes (…) desempeño que, impostergablemente, reclama la estratégica comunicación y
divulgación de su ciencia y tecnología hacia la comunidad cieníica de sus respecivos entornos y hacia
toda la sociedad en general” (2006, p.2).

Añádese a este imperaivo, el hecho incuesionable que en las universidades se producen un alto porcentaje
de invesigaciones siendo espacios, además, desde los cuales se pueden fortalecer los valores culturales y
las idenidades nacionales. Son los centros de educación superior lugares idéoneos para tratar de acortar
la distancia entre sociedad, universidad e insituciones cieníicas, porque desde ellos, dice David Aguilar
Peña, “a través de la divulgación social de su quehacer se puede, y se debe, contribuir a que la sociedad
supere reverencias innecesarias y temores en relación con la ciencia” (2005, p. 8).

La creación de cátedras universitarias de cultura cieníica, que privilegien entre sus prioridades básicas
la comunicación de la ciencia y la tecnología, responde a ese reclamo necesario con el objeivo de lograr
“una plena integración de saberes y una interrelación con la sociedad que permita la democraización del
conocimiento” (Valdés, 2006).

Cátedras que incorporen entre sus objeivos el diseño y la ejecución de estrategias comunicaivas adecuadas
tanto para públicos universitarios como para públicos de la comunidad. Una vez delimitados los objeivos,
hay que establecer las líneas de trabajo en lo que respecta a la divulgación, para ello las cátedras deberán
acometer la creación de espacios de interacción en el tema y de soportes convencionales y en la red, una

42 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


vez que se estudien las conveniencias y posibilidades de cada soporte.
Entre las líneas de trabajo, el tema de capacitación demandará un espacio especial ya que habrá que
elaborar acciones y proyectos para el desarrollo de competencias comunicaivas en la comunicación
de la ciencia, dirigidas a públicos universitarios o de la comunidad, lo que supone contar con expertos
preferentemente del propio ámbito universitario.

En cuanto a Invesigación, se plantean estudios sobre representación del conocimiento cieníico en


públicos universitarios y de la comunidad; análisis de tratamiento del tema en medios y diagnósico sobre
competencias, entre otros.

Algunas conclusiones
En tanto el objeivo principal de la comunicación de la ciencia y la tecnología apunta a poner al alcance de
la mayoría el patrimonio cieníico de la minoría, resulta obvio que es urgente extender la cultura cieníica
de la sociedad para lo cual se hace cada vez más necesario, indispensable, políicas integrales a nivel de
nación que jerarquicen la formación cieníica de la sociedad de manera que la ciencia se vea y actúe como
parte de la vida coidiana de la gente.

En el caso de las cátedras universitarias de cultura cieníica, los retos que afrontan están relacionados con
el alto nivel de especialización logrado por la ciencia, la especiicidad del lenguaje cieníico y tecnológico,
y la falta de preparación que en muchas ocasiones acusan los comunicadores en torno al tema.

La solución de estos problemas para las cátedras pasa inevitablemente, entre otros aspectos, por la
formación especíica de los comunicadores, y la relación entre estos y los cieníicos en la elaboración y/o
revisión de trabajos desinados a los diferentes públicos por cualquier medio y en cualquier soporte.

Las cátedras de cultura cieníica podrían entonces consituirse en alternaivas modestas, pero posibles,
para el fortalecimiento de los valores culturales e idenitarios de nuestros pueblos y espacios de mediación
y socialización en favor del desarrollo de la cultura cieníica y la comunicación de la ciencia y la tecnología
y de este modo, ayudar a “comparir el saber para que alguna vez sea posible comparir el mundo.”

Referencias:
Aguilar Peña D. Prólogo. En: Marín Ruiz A, Trilles I, Zamarrón G (coords.). Universidad y comunicación
social de la ciencia. Granada: Universidad de Granada/SOMEDICYT, 2005. p. 7-9.

Canclini NG. De la muliculturalidad a la ciudadanía global. En: Figueroa BF. Cultura y Globalización. Colima:
Universidad de Colima, 2001. p. 125.

Díaz–Polanco H. Elogio de la diversidad. Globalización, muliculturalismo y etnofagia. Premio de ensayo


Ezequiel Marínez Estrada. La Habana, Casa de las Américas, 2008.

Jablin F, Putnam L. Handbook of Organizaional Communicaion. California: Sage Publicaions, 1998.

Kreps GL. Organizaional Communicaion. Theory and Pracice. New York: Edit. Longman, 1990.

Lucas-Marín A. La Comunicación en las empresas y en las organizaciones. Barcelona: Colección Bosch


Comunicación, 1997.

Cultura cientíica y comunicación de la ciencia y la tecnología 43


Marín Serrano, M. La producción de Teoría de la Comunicación con procedimientos cieníicos. Razón
y Palabra 2010 sepiembre 15; 59. Disponible en: htp://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n59/
especialserrano/mserrano.html.

Marx C, Engels F. La ideología Alemana. La Habana: Edit. R., 1966.

Pérez MGV. Nueva Cátedra en la Universidad Hermanos Saíz. La Jiribilla Digital 2006 junio 17-23. Disponible
en: htp://www.lajiribilla.cu/2006/n267_06/267_10.html.

Irene Trelles Rodríguez es vicepresidenta de la Cátedra de Cultura Cieníica Félix Varela, de la Universidad
de La Habana. Miriam Rodríguez Betancourt es profesora itular de la Facultad de Comunicación de la
Universidad de La Habana.
Parte I • Textos de relexão

44 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Cómo elegir (y comprender) las fuentes en el periodismo de ciencia1
Javier Crúz

En una intervención un tanto descuidada, que fue captada por la televisión, el líder de la oposición en España,
Mariano Rajoy, se las arregló para colocarse –él mismo, y de paso a cierto primo suyo— en el lado incómodo
de los relectores al airmar que el cambio climáico “es un asunto al que hay que estar muy atentos… pero en
in, tampoco lo podemos converir en el gran problema mundial”2. Con esa advertencia concluyó 39 segundos
de razonamiento entre cuyas premisas estaba el hecho de que su fuente de información había reunido a
“diez de los más importantes cieníicos del mundo, y ninguno me ha garanizado el iempo que iba a hacer
mañana en Sevilla”. A parir de esta carencia de pronósico, Rajoy se preguntó: “¿Cómo alguien puede decir
lo que va a pasar en el mundo dentro de 300 años?”, insinuando que las predicciones sobre el clima global
acaso debieran ser tomadas con una buena dosis de escepicismo.

Lo interesante del episodio no es tanto la aparente minimización de un problema de escala mundial por
parte de un políico prominente sino, para los intereses de este texto, la lógica con la que Rajoy le conirió
autoridad a su conclusión. En efecto, el políico inició su intervención adviriendo que “yo de este asunto
sé poco”, pero insinuando que no sería necesario entender mucho porque lo arropaba la autoridad de su
fuente de información: un primo suyo, catedráico de Física, respecto de quien al líder del Parido Popular
en España le pareció suiciente adverir: “supongo que sabrá, claro”.

El caso de Rajoy y su primo es un ejemplo prominente de cómo puede invocarse el principio de autoridad
para cuesionar la sabiduría de ciertos expertos con base únicamente en la opinión diversa de otros expertos.
Incidentes como este rebasan lo meramente anecdóico porque los medios ienden a depender fuertemente
de las “opiniones de los expertos” como fuentes válidas para sostener todo género de aseveraciones.

Acaso la forma más fácil y expedita de ejercer el periodismo sobre ciencia sea la que busca coninuamente
el abrigo de “los expertos” como fuentes de opinión, datos, cifras, hechos, predicciones y juicios cuyo
entrecomillado (si se trata de prensa escrita; para TV o radio se recurre al recorte) no requiere más
jusiicación que la autoridad conferida en automáico a tales “expertos”. Un premio Nobel, el Jefe de un
Laboratorio, los autores de un libro de texto, un astronauta o el mismísimo primo de Rajoy son citables con
autoridad desde que se les coloca la eiqueta de “expertos”. Es fácil, entonces, explorar la consecuencia
lógica de esta forma de operar: si se asume que “los expertos” son esencialmente incuesionables (al
menos por parte de los reporteros, en razón de la autoridad que ienen aquéllos sobre temas que no
son del dominio profesional de éstos), entonces no iene por qué no ser aceptable la prácica de publicar
productos periodísicos con escasa variedad de fuentes, e incluso con una sola.

1 Este ensayo está basado en dos trabajos previos: i) Crúz-Mena J. Periodismo de Ciencia con causa y efecto (2007),
texto presentado como parte del concurso para la obtención de una plaza académica en la Dirección General de
Divulgación de la Ciencia, UNAM; y ii) Rosen C; Crúz-Mena J: Climate change and the daily press: Did we miss the
point enirely?. En Carvalho A (Ed.). Communicaing climate change: Discourses, Mediaions and Percepions.
Braga: Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade / Universidade do Minho, 2008. (Disponible en htp://www.
lasics.uminho.pt/ojs/index.php/climate_change).
2 El video, consultado el 23 de agosto de 2010, está disponible en htp://www.elpais.com/videos/espana/Rajoy/
primo/cambio/climaico/elpvidlmv/20071023elpepunac_5/Ves/

Cómo elegir (y comprender) las fuentes en el periodismo de ciencia 45


Quienes ejerzan el periodismo en concordia con el párrafo anterior tendrán poco uso para las dos
cuesiones planteadas en el ítulo de este texto. Bastará una libreta bien nutrida con las señas de “expertos”
usualmente accesibles para tener de dónde elegir fuentes; y el asunto de comprenderlas es irrelevante
en la medida en que los reporteros acepten su papel de portadores de sabiduría en dirección al público.

Si, por otro lado, se aspira a un nivel superior de calidad periodísica, el tema de la elección de fuentes
debe ser atendido con mayor soiicación pero también con agilidad. Si los cieníicos pueden darse el lujo
de inverir varias semanas en la revisión bilbiográica de su tema de invesigación para juzgar su grado de
originalidad, los periodistas solemos encontrarnos bajo una presión de iempo que no iene paciencia
para los lujos académicos: los iempos de invesigación periodísica para un reportaje pueden ser de
apenas unos cuantos días, y es crucial que al menos un núcleo duro de fuentes haya sido ideniicado en
las primeras etapas.

¿Cuáles son, pues, las opciones realistas para los periodistas de ciencia? ¿Puede haber tal cosa como una
estrategia sistemáica de manejo de fuentes que no ponga en alto riesgo de errar en público a quienes
deciden arriesgarse por productos periodísicos de mayos calidad?
Parte I • Textos de relexão

En este ensayo presentamos un modelo funcional del periodismo de ciencia que conduce tersamente a una
herramienta de selección de fuentes a parir de la ideniicación de los puntos de información esenciales
para cada tema, y un método de lectura de arículos cieníicos diseñado para ajustarse a caracterísicas
y iempos propios de periodistas que, especializados en la fuente cienífca, probablemente no ienen,
empero, antecedentes académicos en ciencias más allá de la escuela preparatoria.

De la calidad a la funcionalidad
Líneas arriba la noción de calidad ha sido invocada un tanto a la ligera, ignorando que el de “calidad
periodísica” es un tema de debate entre profesionales y de invesigación académica de los más espinosos.
Es, sin embargo, inescapable a quien se proponga la idea de hacer “buen” periodismo, lo que quiera que
ello signiique.

Acaso la fuente más socorrida para una deinición genérica de “calidad” sea la que ofrece la Organización
Internacional de Estandarización (ISO, por sus siglas en inglés), de acuerdo con la cual debemos entender
por “calidad”3 “la totalidad de caracterísicas de un producto o servicio que inluyen en su capacidad de
saisfacer las necesidades o expectaivas, sean explícitas o implícitas”.

Entendiendo que en el contexto del periodismo la frase “las necesidades o expectaivas” debe ser
interpretada como las de los consumidores de los productos periodísicos, la deinición del ISO nos coloca
ante una pregunta igualmente deinitoria: ¿Qué esperan (o necesitan) los consumidores del periodismo?
Al centrar el foco de atención en el público, y concretamente en lo que éste requiere de la prensa, la calidad
queda determinada por las relaciones sociales entre ésta y aquél. Y puesto que el elemento deinitorio de
estas relaciones es la provisión de información de los periodistas hacia los ciudadanos, el tema de qué se

3 Citado por Seddon J. A Brief History of ISO 9000 (en htp://www.lean-service.com/6-22.asp); y en términos casi
idénicos por Illy A. Quality. En: Illy A; Viani R (Eds). Espresso Cofee: The Science of Quality. Oxford: Elsevier Acade-
mic Press, 2005.

46 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


espera que haga la prensa con la información que obiene está en el centro del debate sobre el propósito
del periodismo.

Abundan las interpretaciones respecto de la función social del periodismo. Aquí elegimos como punto de
parida la de Kovach y Rosensiel, para quienes “el propósito fundamental del periodismo es proveer a los
ciudadanos de la información que necesitan para ser libres y autogobernarse” (2001, p. 17). Semejante
aseveración obliga a preguntarse cómo pueden los ciudadanos hacer uso de su diario o noiciario preferido
para alcanzar propósitos tan elevados como los de ejercer la libertad y darse gobierno.

De la teoría a la prácica: la selección de fuentes


Sin disminuir el horizonte del postulado de Kovah y Rosensiel, proponemos que su dimensión más prácica
puede apreciarse mejor desde el punto de vista del periodista en ejercicio. Tomemos, siguiendo a Rajoy,
el caso del cambio climáico en uno de los momentos de mayor relevancia periodísica: la publicación del
Reporte del Grupo de Trabajo I sobre las bases cieníicas del cambio climáico, en enero de 2001. Fue en
ese reporte en que el Grupo Intergubernamental de Expertos sobre el Cambio Climáico (IPCC, por sus
siglas en inglés) se animó, por primera vez, a responder con su mayor grado de certeza dos preguntas de
enorme trascendencia social: si el calentamiento global es real y si es producto de la acividad humana.

El problema de la selección de fuentes, más allá de la obviedad del reporte mismo, admiía tantas
soluciones como periodistas involucrados en la cobertura. Pero aquellos que tenían en mente la función
social del periodismo (en el senido de Kovach y Rosensiel, o cualquiera otro equivalente) habrían tratado
seguramente de elegir fuentes cuya información pusiera al público en mejor posición para ejercer su
condición de ciudadanos libres para inluir en las acciones públicas sobre el asunto.

Hay en las líneas anteriores un maiz de importancia mayúscula: la frase “fuentes cuya información pusiera
al público en mejor posición” traslada, en los hechos, el problema de la elección de fuentes al problema de
la elección de puntos de información. Se sigue, por tanto, que en este modelo de ejercicio del periodismo
no son las fuentes las que dictan los contenidos inapelablemente, sino que con igual derecho se procede
en senido inverso: se establecen primero los puntos de información que serán funcionales al público, y se
eligen, a parir de ellos, las fuentes adecuadas.

Es posible ideniicar un método sistemáico de ideniicación de puntos de información si regresamos a la


esencia del postulado de funcionalidad del periodismo: ¿cómo pueden usar los ciudadanos la información
que les ofrece la prensa? Ya sea que ejerzan su libertad frecuentemente (exigiendo acciones de sus
representantes políicos o escribiendo cartas a los editores del periódico que leen, por ejemplo), o sólo
cada equis años en la casilla electoral, la acción que siempre está disponible a todo ciudadno libre es la de
tomar decisiones. Y es justamente en este punto que los periodistas podemos tratar de servir al público
proporcionándole, como mínimo, la información que ideniicamos como relevante para los procesos de
decisión ciudadana respecto de cada tema.

Llegamos así a un modelo funcional del periodismo que somete la calidad de la cobertura a la saisfacción
de su propósito social de proporcionar la información necesaria para las decisiones ciudadanas relevantes.
La ventaja para el público debe ser obvia. Y, por su parte, los periodistas operando bajo estas premisas

Cómo elegir (y comprender) las fuentes en el periodismo de ciencia 47


pueden encontrarse en mejor posición para jerarquizar grandes volúmenes de información si se guían
por la necesidad de ideniicar puntos especíicos sin los cuales los ciudadanos quedarían en posiciones
débiles para tomar decisiones.

El ejemplo del IPCC es úil como ilustración del método en la prácica. Alrededor de la presentación de sus
informes en 2001, hubiera sido razonable suponer que los ciudadanos habrían querido tener respuestas a
las dos preguntas ya planteadas: ¿es real el cambio climáico, y en qué medida es causado por acividades
humanas? Excepto que ahora, en vez de acudir a la prensa para leer o escuchar o ver las respuestas
de alguien más (ya sea algún experto legíimo en el campo, o el primo de Rajoy), a los ciudadanos les
ofreceremos información cuyo propósito es colocarlos en mejor posición para decidir por ellos mismos.
Una vez que el periodista ha ideniicado las decisiones más importantes que el público puede querer
tomar, el método jerarquiza sistemáicamente los puntos de información necesarios.

La tabla siguiente ilustra una forma de hacerlo en el caso del Informe del Grupo de Trabajo I del IPCC en
20014:

Decisiones Puntos de Información


Parte I • Textos de relexão

¿Hay en verdad tal cosa como el • Los registros históricos de temperatura promedio
calentamiento global del planeta? muestran un aumento pronunciado en décadas recientes

• Estos aumentos en la temperatura global promedio no


ienen precedente en los siglos más recientes
¿Qué argumentan los cieníicos para • Varias simulaciones por computadora del clima global
pensar que el calentamiento global no es muestran que, sin el incremento reciente de CO2, lo más
producto de variabilidad natural? probable es que el planeta no habría aumentado su
temperatura promedio ni siquiera cercanamente a como
lo ha hecho

• Las acividades humanas han aumentado


signiicaivamente las emisiones de CO2 a la atmósfera
desde que inició la era industrial presente
• De acuerdo con el modelo de invernadero del clima
¿Qué argumentan los cieníicos para
atmosférico, los gases de invernadero ienen el efecto
pensar que las acividades humanas son
de atrapar calor en la atmósfera, lo cual empuja el
causantes del calentamiento global?
incremento en la temperatura global promedio
• Las gráicas de temperatura global promedio vs. iempo
(pasado) mimeizan sorprendentemente las gráicas
correspondientes de concentración de CO2 en la atmósfera

4 Rosen C. Análisis de la cobertura de prensa sobre cambio climáico en 2001 desde la perspeciva de un modelo
funcional. El periodismo de ciencia en la prensa escrita nacional y extranjera. Ciudad de México. Tesis [Licenciatu-
ra en Ciencias de la Comunicación] – Facultad de Ciencias Políicas y Sociales, Universidad Nacional Autónoma de
México, 2008..

48 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


La elaboración de este ipo de “Tabla de Decisiones” simpliica el diseño de la cobertura periodísica de
temas complejos en varios niveles. Para empezar, ayuda en la jerarquización periodísica de la información
que deberá ser invesigada. Pero además es fácil ver cómo la columna de la derecha, que coniene los
puntos de información, es suscepible de ser complementada con otra en la cual a cada punto por
invesigar se le pueden asociar una o varias fuentes según su grado de autoridad y nivel de accesibilidad.

Para elaborar sobre el ejemplo, si bien es evidente que los propios documentos hechos públicos por el
IPCC son fuentes casi automáicas, el periodista que desee explorar el escepicismo propio no sólo del
periodismo críico sino, de hecho, de la ciencia misma, puede hacerlo consultando fuentes independientes
del IPCC sobre los mismos puntos de información en sus fuentes originales. Es decir que si se acude a una
fuente disidente de la posición del IPCC respecto del origen antropogénico del calentamiento global, por
ejemplo, se esperará de esa fuente que sea capaz, cuando menos, de presentar argumentos cieníicos
en demérito de las gráicas históricas, o del modelo de invernadero o de las simulaciones numéricas por
computadora. Confrontados no con opiniones o juicios subjeivos de valor emiidos al amparo del principio
de autoridad, sino con argumentaciones cieníicas, los ciudadanos quedaremos en mejor posición de
decidir por nosotros mismos dónde juzgamos que está la razón.

La síntesis como herramienta


Aquí, como ya ocurrió antes, una frase en apariencia inocente abre al puerta a una nueva dimensión en
el ejercicio del periodismo de ciencia. En este caso se trata de la exigencia de incluir las argumentaciones
cieníicas en la cobertura periodísica. Pero incluir ciencia en el periodismo de ciencia es apenas la mitad
del trabalenguas: hay que hacerlo, además, con una buena narraiva periodísica. La combinación de estas
dos verdades de Perogrullo exige sustancia, precisión y concisión. En una analogía con la literatura clásica,
el periodista de ciencia tendrá que hallar el punto justo entre las 800 páginas del Moby-Dick de Herman
Melville y el raquíico “érase un viejito obsesionado con una ballena” a que podría ser reducida la historia
en un caso extremo de edición lapidaria. (Compárese, sin embargo, con airmaciones del ipo siguiente,
a propósito de la epidemia de Síndrome Respiratorio Agudo Severo, SARS5: “La enfermedad está siendo
provocada por un grupo de virus llamados paramixovirus”, dijo el Secretario de Salud de Hong Kong.)

La pregunta central, en este punto, es cómo facilitar a los periodistas el acceso a la información cieníica
indispensable para cumplir con las exigencias del modelo funcional. Una primera respuesta veloz es que, al
menos desde el punto de vista de la selección de fuentes, la literatura cieníica especializada, las revistas
cieníicas con arbitraje de pares, ofrecen un vergel de posibilidades. Se trata, empero, de un vergel con la
doble personalidad de un campo minado. En esta misma publicación, Gema Revuelta revisa con profundidad
las caracterísicas de las revistas como fuentes del periodismo de ciencia, incluyendo las estrategias de
relación entre los editores de las revistas más inluyentes y los periodistas. Una de esas estrategias, como
lo explica Revuelta, consiste en la elaboración semanal de comunicados de prensa, o press releases en los
cuales la jerga cieníica es desencriptada y susituida por un lenguaje divulgaivo y lleno de recursos para
hacer de la información un bocado apetecible y suscepible de ser converido en noicia.

El periodista escépico reconocerá en seguida un punto de alerta: ¿qué garanías hay de que en el
proceso de desencriptar la jerga cieníica, y luego hacerla apetecible, no le escamotean los redactores

5 Agencia DPA, publicado en la edición del 20 de marzo del diario Reforma: “Descubren origen de la neumonía” (2003).

Cómo elegir (y comprender) las fuentes en el periodismo de ciencia 49


intermediarios algo de la ciencia original al reportero? A falta de garanías, y ante el riesgo de perder el
control ante uno o varios intermediarios, el periodista siempre puede optar por el recurso úlimo: leer
directamente los arículos originales.

He aquí algo mucho más fácil de decir que de hacer. El siguiente es un ejemplo no extraordinario del
género de prosa con el que topan quienes se atreven a ensayar la lectura de arículos cieníicos: “A
highly frequent non-synonymous variant (R230C) was ideniied in low HDL-C but not in high HDL-C
individuals (P=0.00006)”. ¿No es totalmente insensato el pretender que un reportero recurra a este ipo
de documentos como fuentes periodísicas, cuando es aparente que la información contenida en ellos
resulta indigerible?

Una primera aproximación a la respuesta consiste en acotar los alcances de la pregunta: no se trata de
digerir toda la información cieníica de cada arículo, sino de reconocer cuál es la información cieníica
indispensable, comprenderla y ubicarla en el contexto de la invesigación periodísica. Esto sólo iene
senido si se reconoce que la cualidad de indispensable la dictan, al alimón, el contexto periodísico y el
razonamiento cieníico. Retomemos el ejemplo del agente causal del SARS: la gravedad de la alarma global,
en la primavera de 2003, exigía invesigar las razones que convencieron a los cieníicos que anunciaron al
Parte I • Textos de relexão

paramixovirus, primero, y al coronavirus, más tarde. Hasta aquí el contexto periodísico. Desde el punto de
vista de la argumentación cieníica, habría sido necesario buscar si todos los postulados de Koch habían
sido saisfechos a cabalidad por ambos patógenos: tal era la información cieníica indispensable para esta
parte de la historia.

En todo caso, la extracción de información cieníica de los arículos especializados requerirá de alguna
técnica de lectura seleciva si hemos de respetar la premisa de que no es necesario extraer toda la
información de cada arículo. O, en otras palabras: hay que ofrecer al reportero herramientas para
meterse en las revistas especializadas sin temor a perder el control sobre el proceso si es que hemos
de sugerirle que las uilice como fuentes de información. Tomando como ejemplo las 800 páginas de la
versión original del Moby-Dick de Melville, la herramienta literaria conocida como “síntesis”, muy socorida
en la elaboración de versiones “infaniles” de obras de la literatura, podría ser paricularmente úil en el
periodismo de ciencia.

Establezcamos primero que “síntesis” es algo más que “resumen” y hagamos una analogía entre la versión
original de Moby-Dick y un arículo cieníico publicado en Nature, por ejemplo. Una versión “corta” de
Moby-Dick (de unas 80 páginas) puede haber sido “resumida” y no necesariamente ser ni buena ni mala
simplemente a parir de su extensión. La calidad de esta versión a escala menor dependerá de la medida
en que su narraiva inal respete la trama del original, aún si lo hace con una economía de asceta. Esa
idelidad a la trama obliga al hacedor de síntesis a realizar una lectura en extremo seleciva del texto
original, conservando no sólo el orden de la narraiva sino, sobre todo, cuidándose de no dejar fuera
elementos sin los cuales se perdería “la esencia” de ese texto original.

Aleida Rueda ofrece una muy buena síntesis del concepto “síntesis” en literatura: “La síntesis en literatura
es justo la herramienta que nos permite seleccionar los elementos narraivos de la trama para lograr el todo
signiicante, es decir, la información justa que el autor quiere comunicar” (2007, p. 30). La noción del “todo

50 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


signiicante” como la información justa que el autor quiere comunicar es la que dota de valor prácico a la
síntesis (entendida como “selección orientada” de un texto original) como herramienta del periodista frente
al arículo cieníico. Ahí donde el sinteizador literario selecciona “la columna vertebral” de las 800 páginas
de Melville para narrar en un décimo de esa extensión la historia del “viejito obsesionado con la ballena” sin
traicionar la esencia de Moby-Dick, el periodista de ciencia seleccionará “la esencia” de la ciencia reportada
en el arículo de Nature con el propósito de incorporarla a una narraiva periodísica posterior.

El problema, entonces, empieza por reconocer esa columna vertebral de cada invesigación cieníica
publicada. Haciendo una analogía entre la sinopsis de una obra literaria y el abstract de un arículo
cieníico, Rueda y Crúz Mena (2008) han propuesto un método de “síntesis sucesivas” para reconocer y
entender la ciencia del arículo cieníico que resultará indispensable para el producto periodísico inal,
respetando, por diseño, la esencia de la ciencia reportada.

Los detalles de aplicación del método de síntesis sucesivas rebasan el horizonte de este ensayo y pueden
ser consultados en la tesis de licenciatura de Aleida Rueda (2007). Empero, es posible resumir el método
explicándolo en tres fases (ver Rueda, Cruz Mena, 2008):

Fase 1 (La trama del arículo). Lectura del abstract en busca únicamente de “la esencia” del arículo,
aquello que en literatura llamamos trama y que es la información mínima de una historia en forma de
secuencia cronológica. En esta primera etapa es frecuente topar con muchos conceptos desconocidos; se
recomienda simplemente señalarlos, para poder invesigarlos fácilmente después. La etapa inaliza con la
redacción de la “trama” del abstract en unas cuantas frases.

Fase 2 (La síntesis cieníica digerida). Con la idea general del texto ya clara, procede la invesigación de los
conceptos desconocidos señalados en la fase anterior. El reportero debe recurrir a todas las herramientas
conocidas (Internet, libros, apuntes, especialistas, etc.) para lograr una comprensión clara y idedigna de
cada concepto. Conforme los conceptos relevantes se aclaran, se escribe una nueva versión de la trama,
pero incorporando ahora los conceptos “esenciales” claramente desmenuzados para entender de forma
más precisa lo que antes se desconocía. Lo que resulta es una suerte de “síntesis cieníica digerida”.

Fase 3 (La síntesis periodísica seleciva). Aquí se aborda la síntesis cieníica con una perspeciva
periodísica; previendo la historia que se va a narrar al inal, se seleccionan los elementos que hay que
conservar y cuáles no. Por otro lado, es aquí también donde se ainan los detalles de las argumentaciones
cieníicas presentadas en el arículo, la evidencia empírica y/o las inferencias estadísicas que conducen
a las conclusiones.

Cómo elegir (y comprender) las fuentes en el periodismo de ciencia 51


En forma esquemaizada:

FASE 1: Lectura del


abstract. Indiferencia FASE 2: Búsqueda
ante conceptos y explicación FASE 3: Ideniicación
desconocidos. de conceptos del argumento en el
desconocidos. arículo y selección de
elementos esenciales.

Abstract
Síntesis cieníica
digerida Síntesis periodísica
seleciva: Ciencia del
arículo

Conclusiones
A parir de la premisa de que el periodismo iene una función social que condiciona la calidad de los
productos periodísicos por sus contenidos de información, hemos presentado un modelo funcional del
periodismo de ciencia.
Parte I • Textos de relexão

Este modelo aiende el problema de la selección de fuentes mediante Tablas de Decisiones que dictan los
puntos de información necesarios para que la cobertura saisfaga su función social, otorgando información
indispensable para la toma de decisiones ciudadanas.

Reconociendo que entre las fuentes fundamentales del periodismo de ciencia están los arículos cieníicos
con revisión de pares, presentamos un Método de Síntesis Sucesivas para la lectura “periodísica” de estos
arículos. El resultado es la redacción de la “esencia” de la ciencia contenida en el arículo, desde el punto
de vista de su relevancia para la cobertura periodísica.

El uso de los propios cieníicos como fuentes periodísicas no ha sido tratado aquí, aunque es posible ver cómo
la lectura de arículos cieníicos es un elemento fuertemente enriquecedor de la planeación de entrevistas.

Referencias:
Kovach B; Rosensiel T. The Elements of Journalism. What newspeople should know and the public should
expect. New York: Crown Publishers, 2001.

Rueda A. La síntesis como herramienta en el periodismo de ciencia. Un análisis comparaivo con su uso en
la literatura infanil. Ciudad de México. Tesis [Licenciatura en Ciencias de la Comunicación] – Facultad de
Ciencias Políicas y Sociales, Universidad Nacional Autónoma de México, 2007.

Rueda A, Crúz Mena J. Literary synthesis: the key for journalists to open the vaults of scieniic papers.
[Presented in the X Internaional Conference of Public Communicaion of Science and Technology: Building
bridges to the future; 2008 June 23-27; Øresund, Sweden].

Javier Crúz es profesor de la Unidad de Periodismo de Ciencia, Dirección General de Divulgación de la


Ciencia, Universidad Nacional Autónoma de México.

52 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Fuentes de información en periodismo cieníico:
congresos, revistas y press releases
Gema Revuelta

Del mismo modo que informar bien debería ser la principal aspiración del periodista, su mayor reto
consiste precisamente en asegurarse de que la información con la que él mismo trabaja es iable, objeiva
y de calidad. Tan importante es este aspecto de su trabajo que podría deinirse al ‘buen periodista’ como
aquel que mejor selecciona sus fuentes de información.

El periodista cieníico, además de recurrir a las fuentes de información generales (organismos ‘oiciales’,
industria, fuentes documentales de ipo general, etc.) ha de conocer bien las fuentes especializadas de
la ciencia ya que éstas se converirán en la esencia de su trabajo. ¿Cómo entra en contacto con estas
fuentes especializadas, es decir, con la comunidad cieníica? Fundamentalmente a través de tres vías:
contactando directamente con los invesigadores, consultando las revistas cieníicas y acudiendo a los
congresos o reuniones profesionales.

En los úlimos años las relaciones directas entre los periodistas y los invesigadores son cada vez más
estrechas. Son muchos los posibles moivos implicados en este acercamiento: las tecnologías de la
información y la comunicación (TIC) han muliplicado el contacto entre personas antes alejadas, los
cieníicos han comprendido que comparir sus conocimientos con la sociedad les beneicia e incluso
puede ser parte de su trabajo (Peter Peters, Brossard, de Cheveigné, Dunwoody, Kallfass, Miller, 2008),
etc. Sea como sea, hace iempo que pasó aquella época en la que estaba mal visto que el cieníico abriera
sus conocimientos al público general o hiciera declaraciones a los medios. Por el contrario, actualmente el
invesigador que está presente en la “arena pública”, que paricipa en ruedas de prensa, es entrevistado
y uiliza inteligentemente los medios iene más posibilidades de ascender en su carrera profesional y
conseguir que su campo de invesigación sea considerado prioritario a la hora de reparir los fondos,
siempre tan escasos.

Y si éste es el resumen sucinto de las relaciones entre periodistas y cieníicos, veamos qué sucede en los
otros dos entornos, los congresos y las revistas.

La pérdida de ‘noiciabilidad’ de los congresos cieníicos


Los congresos profesionales han supuesto tradicionalmente un ilón informaivo de temas cieníicos
para los medios de comunicación. En estas reuniones ha sido donde los invesigadores, clásicamente,
han presentado a sus colegas los resultados de sus invesigaciones y estudios. Sin embargo, en las úlimas
décadas el papel central de los congresos en el sistema de comunicación entre cieníicos ha sido ocupado
por las revistas profesionales, con lo que también se ha visto mermada su capacidad para generar ‘noicias’.
Imaginemos por un momento que estamos a principios del siglo 20 y que nos hemos converido en un
inquieto pediatra de un hospital de cualquier ciudad industrializada. Allí vemos niños con problemas graves
(tuberculosis, poliomieliis, malformaciones, etc.) y no siempre podemos remediarlos. En la facultad, y con
la experiencia, hemos adquirido la base de la profesión y contamos también con la ayuda de nuestros
compañeros... pero sabemos que esto no es suiciente, que existen avances de la ciencia de los que no
estamos al corriente. Recordamos entonces a aquel afamado médico cuya invesigación publicaba la
Fuentes de información en periodismo cientíico 53
Revista de la Sociedad de Pediatría y que llegó a la biblioteca del hospital con unos cuantos meses de
retraso. Las telecomunicaciones están aún en una fase muy incipiente y debemos recurrir a las cartas. El
acceso al conocimiento generado más allá de nuestro hospital es, en deiniiva, diícil y, sobre todo, lento.
Por eso, esperamos con ansia el congreso anual de la Sociedad de Pediatría, sin duda, la única oportunidad
para oír a los grandes pediatras venidos de todo el país a sorprendernos con sus novedades. Estamos a
principios del siglo 20 y en este momento los congresos y reuniones profesionales son el único lugar donde
la comunidad cieníica iene acceso directo a la ciencia más novedosa.

Durante toda la primera mitad del siglo pasado, y bien entrada la segunda mitad, los congresos siguieron
representando el canal principal de comunicación de las novedades en el campo de la ciencia y, por tanto,
eran también capaces de generar ‘noicias’ para la prensa. Pero a parir de los años 60-70 las revistas
cieníicas se hicieron deiniivamente con el monopolio de las novedades en ciencia, hasta el punto de
que actualmente en los congresos ya no se presentan auténicas noicias, puesto que todo lo que en ellos
se explica normalmente ha sido previamente publicado en alguna revista.

Una de las razones que han podido moivar este cambio es la aparición de la llamada Regla de Ingelinger.
A inales de los 60, Ingelinger, editor de The New England Journal of Medicine, manifestaba en un editorial
Parte I • Textos de relexão

su preocupación por la poca originalidad de algunos arículos que habían llegado a su revista con la
pretensión de ser publicados cuando ya toda la comunidad sabía de ellos. De ahí que este editor, y por
extensión una buena parte de las revistas mejor consideradas por la comunidad cieníica, elaboró una
nueva norma del juego consistente en un acuerdo entre autores y editores mediante el cual los primeros
se comprometen a no hacer públicos los resultados de sus invesigaciones hasta que éstas no hayan sido
publicadas por la revista. Ni siquiera en un congreso profesional le estaría permiido a un invesigador
presentar informaciones originales (nuevas) si pretende que éstas sean publicadas.

En ciertas ocasiones, las revistas permiten que se presenten los resultados antes de su publicación (por
ejemplo, en avances terapéuicos muy esperados, como los relacionados con el sida), pero se trata siempre
de casos muy excepcionales. Lo que sí se produce con mayor frecuencia es el caso contrario, es decir que se
presenten en congresos estudios que nunca llegarán a ser publicados en revistas cieníicas, sea porque se
trata de invesigaciones de poca calidad que no superan el peer review o bien porque los propios autores
no las envían a publicar. Así que los congresos hoy en día ienen otros objeivos: mantener contactos
profesionales, recordar a los asistentes lo que un equipo ha publicado (perdido entre la maraña de las
revistas), ofrecer a los jóvenes cieníicos la oportunidad de darse a conocer o simplemente permiir a la
industria del ramo, sin cuyo apoyo económico muchos no podrían celebrarse, mantener unas producivas
relaciones profesionales.

Es evidente que el valor periodísico de los congresos es mucho menor en estas condiciones. De aquí que
las oicinas de comunicación –encargadas de dar la mayor visibilidad posible a tales eventos– muchas
veces ienen que recurrir en sus notas de prensa a aspectos colaterales a los estrictamente cieníicos: el
número de expertos congregados (¡algunos, como el de la sociedad internacional de cardiología reúnen a
más de 20.000 especialistas!), los personajes conocidos que han intervenido (sobre todo si son polémicos
o han sido reconocidos con un Nobel) o las declaraciones efectuadas por el políico de turno al inaugurar
el acto.

54 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


El sistema de peer review y el triunfo de las revistas cieníicas
Mientras que la regla de Ingelinger ha permiido a las revistas controlar el momento en el que una
información se da a conocer al conjunto de la comunidad cieníica y a la sociedad (esto es, a parir de la
fecha en la que, como su nombre indica, se ‘publica’ en la revista), su credibilidad y presigio se deben
fundamentalmente al llamado sistema de peer review.

Este método, mal traducido por ‘revisión por pares’ (o por iguales), consiste en una sistemaización de la
evaluación de los manuscritos que llegan a la revista con la inalidad de garanizar la mayor objeividad
y calidad en el material que se acepta para ser publicado. El proceso comienza cuando el autor de una
invesigación escribe un manuscrito y lo envía a una revista cieníica. Normalmente, el texto sigue una
estructura ija en la que se suelen incluir los objeivos del estudio, su metodología, los resultados y las
principales conclusiones. En una primera revisión, el propio personal de la revista rechaza aquellos
manuscritos que se apartan de sus estándares mínimos de contenido y calidad. Los que superan esta
etapa, son enviados a dos o más revisores externos, tan expertos en el tema o más que el propio autor (de
ahí el término ‘par’ o ‘peer’). Los revisores dictaminan si el manuscrito puede ser publicado, si primero
habría que hacer algunas modiicaciones o si directamente debería ser rechazado. Se iene en cuenta
para ello la relevancia cieníica del estudio, su originalidad, metodología, etc. Los comentarios de los
revisores se hacen llegar a los autores y éstos responden de nuevo. Para garanizar una mayor objeividad,
ni revisores ni autores conocen sus respecivas idenidades (proceso a ‘doble ciego’). Aquellos manuscritos
que, inalmente, logran superar todo el proceso son aceptados y el consejo editorial de la revista decide
cuándo los publicará.

Algunas revistas se han situado en una posición de tanto presigio entre la comunidad cieníica que
todos quieren publicar en ellas. Unas pocas llegan incluso a rechazar más de un 90% de los manuscritos
recibidos, lo que aumenta aún más su capacidad para seleccionar ‘lo mejor de lo mejor’ y perpetuar
así su dominio. Los arículos publicados en estas revistas de gran presigio son, además, los más leídos
por el resto de la comunidad cieníica y, en consecuencia, muchas veces son también los más ‘citados’
por otros autores en sus respecivos arículos. El reconocimiento de este fenómeno, y la idea general de
que si un arículo es muy citado es que ha sido importante para la ciencia, ha dado lugar a la aparición y
desarrollo de complejos sistemas de medición del número de citas que, además de servir para conocer
la relevancia de un determinado arículo, se uilizan también para hacer auténicos rankings de revistas o
incluso para evaluar la trayectoria profesional de un invesigador. Existe actualmente todo un culto a las
revistas cieníicas (a algunas de ellas) que es seguido y pracicado por toda la comunidad internacional,
especialmente la del mundo occidental.

La credibilidad que merece el sistema de peer review entre la comunidad cieníica y la veneración
por algunas de estas revistas han contribuido a la extensión de su uso como fuente de información en
los medios de masas. En un estudio de las fuentes mencionadas en los textos publicados en la prensa
holandesa que cubrían información sobre fármacos (Van Trigt, De Jong-van den Berg, Haaijer-Ruskamp,
Willems, Tromp, 1994) se observó que las revistas cieníicas suponían un 25% del total de fuentes (un
12% en el caso de la prensa popular y un 42% en la prensa llamada de calidad). Otras fueron los propios
invesigadores (22%), las compañías farmacéuicas (18%) y los congresos cieníicos (6%).

Fuentes de información en periodismo cientíico 55


Estos datos son similares en España, según recoge el Informe Quiral (1997 a 2008), sobre salud y medicina
en la prensa diaria. En concreto, el seguimiento que hace el Informe Quiral de los cinco diarios de mayor
difusión en el territorio español indica que, del conjunto de fuentes explicitadas en los textos sobre salud
y medicina, las revistas cieníicas se sitúan en torno al 20%. Este estudio indica además que la mención a
revistas está limitada prácicamente a un grupo de sólo 10 cabeceras, las cuales acaparan más del 65% de
las referencias: Nature, Science, Lancet, The Briish Medical Journal, The Journal of the American Medical
Associaion, The New England Journal of Medicine, Proceedings of the Naional Academy of Science,
Circulaion, Cell y Medicina Clínica.

¿Por qué son precisamente estas 10 revistas las de mayor atracivo para la prensa? La explicación a esta
cuesión se puede entrever en estas palabras, escritas por Philip Campbell, editor de la revista Nature,
en el momento en el que tomó posesión de su cargo en 1995: “Por encima de todo, Nature, una enidad
que signiica mucho más que un editor en paricular, coninuará persiguiendo la excelencia cieníica y el
impacto mediáico con vigorosa independencia” (Nature 1995 dec. 14; 378: 649). Tal como se desprende
de esta declaración, las revistas han sido las primeras en propiciar su propio impacto mediáico. Así
que aquellas que mejor políica comunicaiva han sabido llevar a cabo (acompañada de una adecuada
reputación cieníica), se han converido en las ‘favoritas’ de los medios.
Parte I • Textos de relexão

Las revistas buscan un mayor impacto mediáico


Las revistas cieníicas ienen un verdadero interés en consituirse en fuente de información para la prensa.
Primero, porque los medios ejercen un papel fundamental en la sociedad en general, pero sobre todo
porque entre el público expuesto a su acción se encuentran personajes clave para las revistas. Nos estamos
reiriendo, por ejemplo, a los políicos (de quienes dependen las prioridades en invesigación); a personas
con capacidad para insertar anuncios publicitarios en las revistas (empresas del ámbito de la I+D, laboratorios
farmacéuicos, universidades, sociedades cieníicas, etc.) y, inalmente, a los propios cieníicos.

Podría pensarse que el efecto de los medios sobre este úlimo grupo debería ser menor, puesto que ellos
mismos ienen acceso a las revistas cieníicas y, lo que es más importante, capacidad para comprenderlas
(al menos las de su especialidad). Sin embargo, es tal el número de revistas que se publican semanalmente
en todo el mundo (¡sólo entre las que indexa el Insitute for Scieniic Informaion hay más de 10 mil!) que
ningún invesigador puede estar al corriente de todo, ni siquiera en su propio ámbito. Por otra parte, la
prensa muchas veces cubre la información antes de que la revista llegue a manos del cieníico. Aunque
las TIC han cambiado en parte esta situación, permiiendo acceder al soporte electrónico antes que al
de papel, lo cierto es que los invesigadores siguen enterándose muchas veces del trabajo de sus colegas
a través de los medios de masas. Y aunque después se tomen el trabajo de leerse el arículo original
publicado en la revista académica, ese primer contacto puede ser determinante.

Ilustra este efecto de los medios sobre los cieníicos un inteligente estudio que merece la pena explicar
con detalle (Phillips, Kanter, Bednarczyk, Tastad, 1991). Con moivo de una huelga en el The New York
Times (NYT), este diario estuvo tres meses sin salir a la calle. Se trataba de una huelga muy especial, pues
los redactores coninuaron trabajando como de costumbre, escribiendo sus noicias, acudiendo a ruedas
de prensa, consultando revistas cieníicas… Es decir, se seguía todo el proceso de confección normal del
diario, con la única diferencia de que éste no llegaba a manos de los lectores. Años más tarde un grupo de

56 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


invesigadores tuvo la brillante idea de buscar entre estas páginas no publicadas cuáles eran las noicias
que se habían basado en arículos de revista cieníica, siguieron la pista hasta encontrar los originales
que habían dado lugar a la noicia y, inalmente, vieron cuántas citas habían recibido estos arículos en
otros trabajos cieníicos (esto es, qué impacto habían tenido en la comunidad cieníica). Compararon
estos datos con los que se referían a arículos mencionados en el mismo diario, pero en un período de
‘no-huelga’ (en este caso los cieníicos habían tenido la posibilidad de leer el diario). El resultado fue que
los arículos mencionados en el NYT y que habían ‘salido a la calle’ fueron más citados por la comunidad
cieníica que los que, siendo mencionados también, no vieron la luz pública debido a la huelga. En otras
palabras, no es, como a veces se ha argumentado, que el ‘olfato periodísico’ del NYT fuera tan infalible
que era capaz de detectar, entre el montón de arículos cieníicos publicados, aquellos más relevantes
para la ciencia, lo que sucedía es que el propio diario tenía un efecto claro sobre lo que los cieníicos iban
a considerar después como ‘relevante’ (medido en términos de número de citas).

Las revistas cieníicas cada vez realizan un mayor esfuerzo por aproximarse a los medios. Para ello se
uilizan sistemas de comunicación que van desde el simple envío anicipado del índice de arículos que se
van a publicar (como hace The New England Journal of Medicine) hasta métodos mucho más trabajados
como la elaboración de un video promocional cubriendo la invesigación más destacada de la semana
(como en el caso de JAMA) o incluso la creación de una auténica agencia de prensa (como Nature News
Service, del grupo Nature, htp://press.nature.com). La prácica más difundida entre las revistas es, sin
embargo, la elaboración de ‘press releases’ o comunicados de prensa en los que, uilizando recursos
periodísicos, se anuncia lo más destacado del próximo número.

En general, las revistas empezaron a enviar estos comunicados a inales de los 80. En un primer momento
se hacían llegar por fax a un grupo muy selecto de periodistas, especializado en cubrir la información
cieníica en los grandes medios de comunicación. Si el periodista estaba interesado en algún arículo en
paricular, podía pedir el original, que también era enviado, página a página, vía fax. Internet hizo mucho
más ágil este proceso, de modo que en la actualidad los periodistas de todo el mundo pueden acceder
a una web en la que se encuentra colgado el press release de la semana, junto con algunos arículos
originales en formato ‘pdf’. Obtener una contraseña de acceso es relaivamente sencillo, por lo que la cifra
de reporteros que consultan esta información semanalmente es actualmente tremendamente numerosa.
Los comunicados de prensa (o press releases) de las revistas cieníicas suelen tener unas caracterísicas
comunes que podrían agruparse de la siguiente forma:

1) Selección: anuncian sólo algunos de los arículos que se publican.

2) Divulgación: de estos arículos se hace un breve resumen en el que se evitan términos demasiado
técnicos y se uilizan recursos divulgaivos (deiniciones, comparaciones, metáforas, juegos
de palabras, etc.). Se uilizan también ‘ganchos’ periodísicos que buscan la conexión entre la
invesigación y las noicias de actualidad o incluso entran en el juego de lo polémico, lo espectacular
o lo auténicamente sensacionalista.

3) Interpretación: se contextualiza la información y se explican sus posibles aplicaciones futuras.

4) Contacto directo con los autores: se publica el teléfono o el e-mail de contacto con los autores de
la invesigación.

Fuentes de información en periodismo cientíico 57


5) Embargo de la información: hasta el día en que se publica la revista, los periodistas no pueden
difundir la información.

En resumen, la jerga cieníica es digerida y se ofrece en un formato mucho más atracivo para los medios,
con todos los elementos para hacer de la información objeto de noicia periodísica. El periodo de embargo
permite además al periodista más iempo para trabajar a fondo la información, al iempo que garaniza a
la revista que la información será publicada el mismo día por todos los medios, de modo que el impacto
mediáico será aún mayor.

Por ejemplo, el arículo original en el que Nature publicó la clonación de la oveja Dolly se itulaba “Viable
ofspring derived from fetal adult mammalian cells”. Con este enunciado crípico, en el que ni siquiera
se menciona la palabra clon, diícilmente los periodistas iban a reparar en esta invesigación. El trabajo
fue anunciado en el press release de Nature con un simple “Send in the clones”. Se había acortado la
frase original, suprimido tecnicismos, introducido la decisiva palabra “clon”, y además se había realizado
un llamaivo juego de palabras: “send in the clones” recordaba el ítulo de la canción popularizada por
Frank Sinatra “Sending the clowns”. La prensa se hizo eco inmediato de la noicia, e incluso hubo quien
ni siquiera respetó el reglamentario periodo de embargo. El Herald Tribune, por ejemplo, recurrió a la
Parte I • Textos de relexão

ciencia-icción, itulando la noicia “A brave new world? Adult mammal cloned”, aludiendo al ítulo de la
novela de Aldous Huxley (traducida al español como Un mundo feliz).

Los press releases: un arma de doble ilo


Las revistas ienen, de este modo, la posibilidad de difundir los nuevos conocimientos que genera
la ciencia, ayudando a que éstos sean conocidos por los medios y, en consecuencia, por el resto de la
sociedad. Sin embargo, en los press releases no siempre se maniene el rigor, la objeividad y la excelencia
que caracteriza a los arículos publicados en revistas con peer review, por lo que a veces pueden llegar a
converirse en una auténica bomba de relojería, desencadenando la difusión de informaciones erróneas,
sensacionalistas o simplemente poco relevantes para la sociedad. Los siguientes tres casos, aunque
extremos, son suicientemente demostraivos.

El primero de ellos representa un ejemplo en el que la uilización de recursos para atraer la atención de
la prensa (‘gancho’) es llevada hasta el límite. El arículo de Nature de 6 de diciembre de 2001 “Group A
Streptococcus issue invasion by CD44-mediated cell signalling”, fue anunciado en el press release como
“Invasion of the lesh-eaters” recurriendo a una expresión de corte sensacionalista que años antes había
sido uilizada por la prensa británica (siendo muy criicada por la comunidad cieníica). El efecto fue
inmediato, los medios cubrieron esta invesigación uilizando de nuevo la expresión “invasión de bacterias
comedoras de carne”, a diferencia de que ahora, por mucho que la comunidad cieníica quisiera quejarse,
contaban con la ‘autorización’ de la revista, máximo elemento de expresión de la ciencia.

En un segundo caso, vemos como las sucesivas interpretaciones que va sufriendo una invesigación en el
press release y en la prensa pueden llegar a cambiar totalmente el signiicado original. El arículo “Cancer
chemoprevenive acivity of resveratrol, a natural product derived from grapes” de la revista Science del
10 de enero de 1997, aparecía en el primer lugar de los tres escogidos para ser difundidos en el press
release de la semana (aunque en la revista no ocupaba un lugar destacado). En el comunicado “Grapes may

58 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


contain anicancer agent” había sufrido dos cambios sustanciales: “a natural product derived from grapes”
es susiiuido directamente por “grapes” y la “chemoprevenive acivity” se ha converido en “anicancer”
(con un signiicado que, además de prevenivo, puede ser interpretado también como curaivo). Al llegar a
la prensa, en este caso el diario La Vanguardia, la invesigación se anunciaba bajo el ítulo “Una sustancia
que abunda en la piel de las uvas iene una potente acción anicancerígena”, abriendo la sección de
Sociedad (nótese las caliicaciones “que abunda” y “potente”), y alcanza un deiniivo “Descubren en la
uva un potente anicancerígeno” en la portada y con un gran cuerpo de letra, siendo la gran noicia del
día. Obviamente, al día siguiente el mismo diario publicaba una foto de un puesto de frutas del principal
mercado de la ciudad, La Boquería, con un cartel en el que se leía “no quedan uvas”.

En el úlimo caso, se añade el problema de que la invesigación noiciada resultó ser inalmente un
iasco, poniendo de relieve que la pérdida de la cautela en la interpretación de resultados a veces puede
tener consecuencias nefastas. Así, el arículo del 16 de agosto de Science “Search for Past Life on Mars:
Possible Relic Biogenic Acivity in Marian Meteorite ALH84001” fue anunciado en el press release como
“Meteorite yields evidence of primiive life on early Mars”, información que fue interpretada en la portada
del The New York Times como “Clues in Meteorite Seem to Show Signs of Life on Mars Long Ago” y, con
mucha menos cautela, por otros medios, entre ellos El País, con un “Hallado el primer indicio de vida
extraterrestre”, o La Vanguardia, con “Cieníicos americanos aportan la primera evidencia de la existencia
de vida extraterrestre”. Mientras el NYT no se deja convencer totalmente por el press release y maniene
con el “seem to show” una postura de duda o cautela (e incluso deja bien claro que la hipotéica vida habría
ocurrido “long ago”), en los dos diarios de habla española no se hacen estos maices, con el consiguiente
efecto que esto pudiera tener sobre los lectores.

Los press releases pueden ser, por tanto, una herramienta muy valiosa para los periodistas y para las
propias revistas, pero como hemos visto, también un arma de doble ilo. En una invesigación llevada a
cabo por nuestro equipo (De Semir, Ribas, Revuelta, 1998) pudimos comprobar que se produce una fuerte
asociación entre la selección de arículos realizada en los press releases y la selección de las noicias por
parte de los medios de comunicación. Además observamos que incluso el orden en el que aparecen los
arículos reseñados en el press release resultó tener una asociación con sus posibilidades de ser cubiertos
por la prensa: los que aparecían citados en primer o segundo lugar tenían más posibilidades que los que
se hallaban en tercer o cuarto lugar, y éstos más que los que estaban citados en posiciones posteriores.

Años más tarde, el estudio de los press releases (Woloshin, Schwartz, 2002) ha demostrado también
que éstos presentan algunas caracterísicas que serían imperdonables en un arículo cieníico y que no
sólo pueden ser explicadas por la necesidad de facilitar el trabajo de la prensa. Entre otras, en estos
comunicados no se explicitan ruinariamente las limitaciones de los estudios ni el papel de la industria en
la inanciación del mismo, además los datos a menudo son presentados uilizando formatos que pueden
exagerar la percepción de la importancia de los resultados.

Es decir, la búsqueda del rigor, la transparencia y la objeividad que caracterizan al sistema de peer review
–y que son la base de la credibilidad de las revistas cieníicas– se pierden muchas veces en el momento en
que se confeccionan los press releases. Y esta pérdida puede tener unas consecuencias desastrosas, dado el
impacto que ienen los press releases sobre los medios de comunicación y éstos sobre el resto de la sociedad.

Fuentes de información en periodismo cientíico 59


Conclusiones y relexiones inales
Volvamos de nuevo a la frase de Philip Campbell “Nature […] coninuará persiguiendo la excelencia cieníica
y el impacto mediáico con vigorosa independencia”. Sinceramente, ¿puede una revista cieníica hacer
compaibles, de forma simultánea e independiente, la ‘excelencia cieníica’ y el ‘impacto mediáico’?

Desgraciadamente, hasta ahora no se ha demostrado que ambos objeivos puedan ser compaibles. En
estas páginas se han presentado algunos claros ejemplos de cómo el esfuerzo dedicado a llamar la atención
de la prensa a veces ha conducido a tratamientos no precisamente ‘excelentes’ de la información, dejando
en entredicho la calidad de las invesigaciones publicadas. Por otra parte, el hecho de que muchas revistas
de supuesto renombre publiquen de cuando en cuando arículos poco relevantes, frívolos o claramente
inúiles pero con una capacidad enorme de atraer a los medios, hace pensar que la búsqueda de ese
impacto quizá puede estar afectando al propio peer review. En otras palabras, impacto mediáico y calidad
cieníica dejan de ser independientes. Entre los cada vez más abundantes arículos que podrían citarse en
esta categoría, mencionaremos sólo algunos. Por ejemplo, dos invesigaciones que publicó Nature en el
día de Reyes de 1996 y 1997 y que casualmente trataban sobre el efecto curaivo de la mirra, la primera,
y del oro, la siguiente (afortunadamente, parece que a nadie se le ocurrió invesigar sobre el incienso).
En otro orden, se publican también con bastante asiduidad invesigaciones en las que se relaciona la
Parte I • Textos de relexão

genéica (lo ‘biológico’) con cualquier condición y conducta humana, a veces hasta un punto que parece
que lo único que se busca es llamar la atención, como en el caso de un ‘relevanísimo’ estudio sobre la
predisposición genéica a la inidelidad (obviamente, itulado por la prensa ‘el gen de la inidelidad’) que
tuvo su siio en las codiciadas páginas de una revista de gran presigio cieníico. A veces la relación entre
lo que publica la revista y el oportunismo mediáico es tan evidente que ha llegado a costar el cargo a más
de un editor, como en el caso de una encuesta sobre la deinición del concepto ‘sexo’ según los jóvenes la
cual, a pesar de ser mediocre y anigua (según dijeron después algunos expertos) fue publicada en JAMA,
la revista de la sociedad médica americana,... ¡en pleno afair Lewinsky!.

Hemos visto, en resumen, que el trabajo de los periodistas depende en gran medida de sus fuentes de
información, que entre las fuentes especíicas que son uilizadas para cubrir la información cieníica los
congresos tuvieron un papel importanísimo, pero que éste fue desplazándose a medida que las revistas
cieníicas fueron ocupando un papel central en la comunicación entre cieníicos. Hemos visto también
que éstas además, han establecido un ipo de relaciones con los medios de comunicación que en buena
parte son responsables de la forma en la que son cubiertos por éstos los nuevos avances en invesigación.
Es decir, las revistas cieníicas ienen en sus manos la posibilidad de contribuir al enriquecimiento de la
sociedad, ayudando a difundir conocimientos de gran relevancia. Pero para ejercer este papel con unos
mínimos de calidad deberían uilizar en sus relaciones con los medios el mismo rigor y objeividad que
aplican en su relación con los invesigadores y con la comunidad cieníica. Si no es de este modo, la
búsqueda del impacto mediáico acabará por afectar a la propia excelencia cieníica, como ya se empieza
a observar en algunos casos.

Referencias:
De Semir V, Ribas C, Revuelta G. Press releases of Science Journal Aricles and Subsequent Newspaper
Stories on the same Topic. JAMA 1998 July; 280:294-295.

Informe Quiral. Medicina en la prensa española. Barcelona: Rubes editorial, ediciones 1997 a 2008.

60 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Peter Peters H, Brossard D, de Cheveigné S, Dunwoody S, Kallfass M, Miller S et al. Interacions with the
Mass Media. Science 2008 July; 321: 204-205.

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Gema Revuelta es subdirectora del Observatorio de la Comunicación Cieníica y profesora asociada del
Departamento de Comunicación de la Universidad Pompeu Fabra, Barcelona.

Fuentes de información en periodismo cientíico 61


Parte I • Textos de relexão

62 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Ciencia y democracia: la transformación de las acitudes públicas
Carmelo Polino, Dolores Chiappe

“Las sociologías nacen en las zonas de ruptura, de turbulencia,


de desorientación respecto de los puntos de referencia, de
confusiones, de crisis de las insituciones, en una palabra, cuando
se rompen las aniguas legiimidades. Cuando el pensamiento pide
un poco de aire, para dar un concepto a lo que provisoriamente
escapa de las maneras habituales de concebir el mundo. Se trata
de dar una signiicación al desorden aparente, de descubrir las
lógicas sociales y culturales” (Le Breton, 2002, p.16).

Nuestra sociedad está impregnada por la producción cieníica y el desarrollo de todo ipo de tecnologías.
Un día cualquiera de nuestra vida abunda en ejemplos. Usamos conocimiento de base cieníica para
tomar decisiones, disponemos de tecnologías sociales y artefactos que hoy creemos imprescindibles para
la existencia (teléfonos celulares, televisores con pantallas de plasma, heladeras, microondas, juegos de
realidad virtual, ropa de diseño, y miles de etcéteras), consumimos pasillas y fármacos para todo ipo de
dolencias, hablamos sobre la radiación, el agujero de la capa de ozono, los gases del efecto invernadero,
la contaminación ambiental, los análisis de ADN, las muestras arísicas electrónicas, las enfermedades
genéicas, la música digital, etc., y nos vemos inmersos a diario en millones de situaciones que, conscientes
o no, dejan en claro que la ciencia y la tecnología están en el centro de la escena social.

En cualquier caso, lo que es importante tener en cuenta es que los resultados de los desarrollos cieníicos
y tecnológicos no sólo ienen singular relevancia desde la perspeciva individual, sino que ienen impactos
estructurales en todas las dimensiones de la vida social, económica, cultural y políica de las sociedades.
Vinculada a estas circunstancias, la sociedad ha comenzado a percibir con mayor claridad que muchos
de los cambios que se producen en su entorno se deben a la aplicación del conocimiento que surge de
los laboratorios de invesigación públicos y de las empresas. Y que, por lo tanto, el rumbo que siguen la
ciencia y la tecnología no consituye un hecho aislado ni neutro respecto a su vida coidiana.

La centralidad de la ciencia y la tecnología en el mundo moderno plantea soluciones y riesgos. En muchas


ocasiones la sociedad se ha pronunciado sobre el impacto del conocimiento en la salud o el medio
ambiente. Cada vez más, quienes toman decisiones en las sociedades democráicas son conscientes de
que deben estar en condiciones de captar qué es lo que la sociedad piensa y espera del desarrollo cieníico
y tecnológico en un mundo compeiivo, altamente especializado y con muchos desaíos por delante.
El desarrollo de ciertas tecnologías (como la nuclear, o los químicos para la agricultura), más algunos
fenómenos globales como la crisis energéica o la incipiente conciencia acerca del cambio climáico,
cambiaron el cariz de la relación entre ciencia y sociedad, instalando en la escena social un creciente
reclamo de apertura y mayor paricipación en los procesos de toma de decisión cieníico-tecnológica. Los
desarrollos teóricos acerca de la “sociedad del riesgo” propuestos por autores como Beck (1998, 2008),
Giddens (1990) and Luhmann (2005) ponen de relieve en qué medida riesgo y percepción del riesgo son
conceptos estrechamente vinculados y centrales para la comprensión de la sociedad actual. En este marco
general cobra un papel destacado tanto el análisis como la promoción de la paricipación ciudadana desde

Ciencia y democracia 63
el ámbito políico mediante la implementación de nuevas dinámicas en las que la voz de la sociedad
civil tenga un mayor protagonismo en la propuesta, consideración y establecimiento de aquellas políicas
vinculadas a los problemas que trae aparejado el desarrollo tecnocieníico.

Este arículo aborda algunas de estas cuesiones uilizando evidencias empíricas recientes. El texto se divide
en dos partes. En la primera se sistemaizan muy brevemente algunas transformaciones y tensiones en las
democracias modernas en relación a la distribución y legiimación del poder y la paricipación ciudadana,
conectando dicha discusión con la forma en que el “reclamo paricipaivo” se hizo notorio también en el
ámbito de las políicas públicas de ciencia y tecnología. En la segunda parte se muestra cómo los resultados
de los estudios de opinión y percepción social como las encuestas están documentando la evolución de las
acitudes públicas hacia la ciencia y la tecnología, destacándose visiones más críicas y ambivalentes sobre
sus efectos sociales. En esta parte nos apoyaremos en resultados que provienen de encuestas nacionales de
América Laina, un estudio a nivel de grandes núcleos urbanos en Iberoamérica, y el Eurobarómetro, para
paricularizar en dos cuesiones: la valoración de los riesgos y la paricipación ciudadana.

Sociedad civil, ciencia y democracia deliberaiva


La legiimación de la democracia y el ejercicio del poder están atravesando fuertes tensiones. La
Parte I • Textos de relexão

democracia representaiva –legiimada con el voto– que incluye a los ciudadanos en calidad de poseedores
de “opinión pública” obtenida mediante encuestas, se está transformando debido a la emergencia de
formas deliberaivas de paricipación políica, bajo el signo de la búsqueda de nuevas modalidades de
representación y ejercicio del poder basado en el concepto de gobernanza que supone la búsqueda de
mecanismos más abiertos, menos centralizados y jerárquicos para la gesión de los asuntos públicos. La
deliberación parece haberse transformado en un reclamo por la verdadera esencia democráica: el “giro
deliberaivo” estaría representado por una preocupación acerca de la autenicidad de la democracia y el
control sustanivo –no meramente simbólico– de ésta por ciudadanos compromeidos. La deliberación
pone el acento en el proceso colecivo para resolución de problemas sociales y de gesión y toma de
decisión políica. Abelson y colaboradores (2003) señalan cinco virtudes del involucramiento ciudadano
para la toma de decisiones: 1) comparir opiniones de una forma que las votaciones no permiten; 2)
generar y considerar un amplio rango de opciones o nuevas alternaivas que anteriormente podrían no
haberse considerado; 3) fortalecer propuestas en beneicio público, antes que en virtud de intereses
pariculares; 4) incrementar la legiimidad de las decisiones tomadas y facilitar su implementación; y 5)
mejorar las cualidades morales e intelectuales de los paricipantes.

Las propuestas de una democraización paricipaiva llegaron también al ámbito de la ciencia como
exponente de los profundos cambios y las tensiones en la relación ciencia, tecnología y sociedad durante
el úlimo cuarto del siglo XX. El término ciudadanía cobró por eso fuerza también en el ámbito cieníico-
tecnológico (Jasanof, 2004). En las insituciones cieníicas, alrededor del mundo, proliferan debido a
esto los discursos y las prácicas para intentar que “de alguna forma” se incluya la “voz ciudadana” en la
deinición y gesión de las políicas públicas. Se promueven iniciaivas de disinta índole: conferencias de
consenso, encuestas de opinión, audiencias públicas, referéndums, gesiones negociadas, etc. En dichos
intentos se trata de que la categoría público no quede restringida al marco analíico tradicional como
consumidor de los productos cieníico-tecnológico en el mercado, o lector de las obras culturales de
la tradición divulgaiva. Se trata de otorgarle un estatuto ciudadano. Pero, además, hay que considerar

64 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


que no son únicamente los poderes establecidos o las insituciones cieníicas los que promueven causes
paricipaivos. Por el contrario, hasta podría decirse que en muchas ocasiones ocurre el fenómeno
inverso. La ciencia, el poder políico y económico reaccionan a demandas sociales concretas de agentes,
insituciones y movimientos sociales representantes de la “cultura políica cívica” (Elzinga, Jameson, 1995)
que pugnan por discuir la agenda de invesigación y regular los efectos e impactos socio-ambientales
del desarrollo cieníico-tecnológico. En la actualidad, la conjunción de ambas corrientes hace que el
fenómeno de la paricipación tenga una fuerza tal que lleva a ciertos autores a valorar este momento
histórico como de “explosión paricipaiva” (Einsiedel, 2008:173).

Una pregunta que surge inmediatamente es: ¿por qué este interés por la promoción de formas
paricipaivas? ¿Por qué la necesidad de apelar a la ciudadanía con creciente interés?

Una serie de factores han concurrido para este estado de cosas. Por una parte, los propios cambios en la
estructura organizaiva de la ciencia y en la vinculación de ésta con otros agentes e insituciones sociales. La
segunda mitad del siglo XX vio nacer en los Estados Unidos un modelo de “ciencia planiicada” organizado
en torno a macro-proyectos ampliamente apoyada por el papel protagónico del Estado. La ciencia había
cambiado de escala: uilizando la ya muy difundida expresión acuñada por De Solla Price (1980 {1962}),
devino en “Gran Ciencia” (big science). Este modelo de políica cieníico-tecnológica nacido en los Estados
Unidos se exportó luego a los países europeos y la Unión Soviéica y, posteriormente también a otras
partes del mundo, e imperó durante veinicinco años como esquema rector de las políicas públicas de
ciencia y tecnología. El contrato entre ciencia y sociedad que se derivaba de este esquema de políica
cieníica profundizado en las décadas posteriores, apoyado por los cieníicos, burócratas y políicos, llegó
a conocerse como modelo lineal: si se invería en ciencia habría también más tecnología, lo que a su vez
permiiría mayor desarrollo económico y, de ahí, un aumento en el bienestar social. Las promesas de
apostar a la ciencia requerían, paradójicamente, la autonomía de ésta respecto a las injerencias sociales.

Los logros de la ciencia de post-guerra, que en muchos casos se transformaron en beneicios directos
para la economía y la sociedad, en parte hicieron olvidar la dolorosa herida que había abierto la bomba
atómica. Ayudó a estas circunstancias el espectacular crecimiento de la economía mundial durante
las décadas posteriores. Sin embargo, durante los años sesenta y, con más vigor, los años setenta,
el opimismo social se fue apagando y se comenzó a percibir la erosión de la conianza pública en el
progreso cieníico-tecnológico. Manifestación de estos procesos fueron los accidentes tecnológicos (con
la tecnología nuclear como emblema), la polución ambiental, el verido de residuos contaminantes, los
desastres químicos, y la proliferación armamenísica, que ampliaron la conciencia ciudadana y mostraron
los signos del agotamiento del “modelo lineal” y la creciente preocupación sobre riesgos, amenazas e
inceridumbres. Los movimientos sociales como los ambientales, feministas, etc., desempeñaron un
papel decisivo en la denuncia de las consecuencias catastróicas de la alianza entre ciencia, industria y
políica. También algunos grupos de cieníicos –como Science for the People y “Átomos para la paz”- e
intelectuales inluyentes sumaron sus voces de alarma y denuncia.

Sarewitz (1996) señala que el modelo lineal consituye una mitología del progreso cieníico que asumía sin
cuesionar las siguientes airmaciones: “más ciencia y tecnología conducen forzosamente al bien común”;
“potencialmente, cualquier línea de invesigación es pasible de reportar beneicio social”; “la revisión de

Ciencia y democracia 65
pares garaniza la responsabilidad éica y social del sistema de ciencia y tecnología”; “las controversias
políicas se resuelven con información cieníica”; y “el conocimiento cieníico es autónomo respecto a
las consecuencias sociales de su uilización”.

La ciencia volvió a experimentar una profunda transformación junto a los cambios de la economía global a
parir de 1970, pero más decididamente durante la década de 1980. En esta nueva fase el capital privado
cobró un protagonismo decisivo, lo que también profundizó las relaciones entre ciencia e industria,
inanzas y mercados globales. Un concepto como el de tecnociencia intenta precisar el senido y alcance
de estas transformaciones radicales en la organización insitucional, las prácicas y los valores. Si en el
período inmediatamente posterior a la Segunda Guerra Mundial, la ciencia, fuertemente apoyada por el
Estado en los países desarrollados, fue presentada bajo una retórica de “bien público”, fundamentalmente
a parir de los años 1980, con el ingreso decidido del patrocinio inanciero privado, se ha visto cómo se ha
vuelto crecientemente un “bien privado”, cuya inevitable consecuencia es la conformación de una “ciencia
comercializada” (Bauer, 2008). La idea que ciencia y tecnología se traducen automáicamente en bienes
públicos ya no es auto-evidente.

Ciencia, tecnología y riesgo


Parte I • Textos de relexão

Temas como la cuesión nuclear (durante los años ochenta), la biotecnología, la seguridad alimentaria y
las tecnologías reproducivas (durante los noventa) y, más recientemente, la irrupción de las nanociencias
y nanotecnologías remiten tanto a las nuevas formas de organización y prácicas en la tecnociencia cuanto
a la complejidad de la discusión en torno a sus riesgos e impactos socioambientales. La conformación
de la sociedad del riesgo afectó en síntesis las relaciones entre ciencia, tecnología y sociedad, abriendo
el ámbito insitucional de la ciencia a la acción de otros agentes e insituciones de la sociedad civil que
reclaman intervención sobre cuesiones cieníico-tecnológicas, y que se imbrican en el lujo comunicaivo
global de la ciencia. Los colecivos y movimientos sociales, lejos de contentarse con los roles más o
menos “pasivos” de audiencias o consumidores que el modelo lineal les tenía reservado, se reivindican
paricipantes y productores de la información que afecta a las dinámicas de producción y difusión social
de conocimientos. La implicación ciudadana ha abierto vías de exploración académica en torno a temas
socialmente conlicivos donde ienen cabida la relexión acerca de las “culturas paricipaivas” en ciencia
y tecnología, la búsqueda de medidas cautelares, las moratorias y la aplicación de principios precautorios
para el desarrollo de las tecnologías (Lengwiler, 2008; López Cerezo, Gómez, 2009; López Cerezo, 2003).

En la Encuesta Iberoamericana de 2007 (Fecyt-Ricyt-Oei, 2009), aplicada en grandes núcleos urbanos de


población, en la pregunta sobre valoración de riesgos futuros asociados a la ciencia y la tecnología, se
observa que en todas las ciudades –a excepción de Caracas- la mayoría de las personas señala que en los
próximos veinte años habrá que gesionar “muchos” o “bastantes” riesgos (ver Gráico 1).

66 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Gráico 1

Fuente: Encuesta Iberoamericana (2007), RICYT-OEI-FECYT.

Al mismo iempo, también la amplia mayoría de todos los entrevistados (76%) en promedio señala que la
ciencia y la tecnología producen “muchos” y “bastantes” beneicios. Se destaca Bogotá con la visión más
opimista, que comparte con Buenos Aires. Los opimistas datos de esta pregunta sobre beneicios parecen
contradecir los de la pregunta anterior sobre riesgos. Sin embargo, no se trata de una contradicción. Más
bien parecen estar relejando una percepción no maniquea y críica por parte de los entrevistados de la
compleja realidad de la ciencia actual. Globalmente consideradas, las preguntas sobre riesgos y beneicios
muestran que los entrevistados se inclinan por una valoración opimista aunque ienen bien presente los
riesgos de la ciencia y la tecnología.

Tabla 1
P.14 y P.15 Peril de acitudes ante riesgos y beneicios de la ciencia y la tecnología por ciudad
BUENOS SÃO
BOGOTÁ CARACAS MADRID SANTIAGO Total
AIRES PAULO
muchos y bastantes riesgos /
57,3 48,1 23,9 38,4 43,1 44,9 42,599
muchos y bastantes beneicios
muchos y bastantes riesgos /
11,3 12,0 8,9 11,1 18,1 19,2 13,432
poco y ningún beneicio
Muchos y bastantes beneicios /
21,0 29,4 45,9 32,1 25,4 24,4 29,690
pocos y ningún riesgo
Pocos y ningún riesgo /
1,9 1,4 5,7 2,9 3,1 4,9 3,309
pocos y ningún beneicio
Ns / Nc 8,6 9,2 15,7 15,5 10,4 6,5 10,970
Total 100 100 100 100 100 100 100

Fuente: Encuesta Iberoamericana (2007), RICYT-OEI-FECYT.

La Tabla 1 ofrece el cruce de ambas preguntas y conforma una cierta ipología acitudinal en la que resalta,
en primer término, la importancia de la posición que podríamos considerar más “realista”, es decir, la
que se inclina por airmar que en los próximos veinte años habrá tanto beneicios como riesgos. Dicha
posición es asumida por cuatro de cada diez iberoamericanos encuestados. Observada por ciudades, es
más enfáica en Bogotá, y está menos presente en Caracas. Por otra parte, casi un tercio de la muestra
total podría considerarse como parte de un grupo que minimiza los riesgos y realza los beneicios. En

Ciencia y democracia 67
Caracas este grupo es no obstante más grande que la media general. Luego hay un 13% que asume una
postura pesimista: los riesgos serán muchos y los beneicios pocos o ninguno. En Sao Paulo este grupo
iene un peso mayor que en otras ciudades.

Gráico 2
Parte I • Textos de relexão

Fuente: Eurobarometer (2005), “Europeans, Science & Technology”, European Comission.

El Eurobarómetro marca también medidas opimistas respecto a estas cuesiones. Por una parte, los
europeos resaltan el papel de la ciencia y la tecnología para la cura de enfermedades y la mejora de la
calidad de vida. Sin embargo, en varios aspectos las posturas escépicas se hacen senir. Por ejemplo, como
muestra el Gráico 2, la mayoría (seis de cada diez) piensa que la ciencia y la tecnología son responsables
por los problemas del medioambiente, o bien que los alimentos genéicamente modiicados son peligrosos
(la mitad de la población).

Algunas de las encuestas nacionales de percepción llevadas a cabo por los organismos de ciencia y tecnología
en América Laina también ponen de relevancia la complejidad de la valoración de los riesgos y beneicios. En
el caso de Brasil (MCT, Museu da Vida, 2006), por una parte, se ve que la mayoría de los encuestados (casi la
mitad) opinaba que en el balance los beneicios son mayores que los perjuicios (deteniéndose en cuesiones
fuertemente vinculadas a la protección de la salud, el aumento en la calidad de vida, la educación y las
formas de comunicación). Una proporción importante del público –casi un tercio– descartaba la existencia
de riesgos. Un 13%, en cambio, sostenía que riesgos y beneicios estaban en equilibrio. Entre los principales
riesgos mencionados iguraban los efectos sobre el medio ambiente (un tema central de la agenda pública
de Brasil), la reducción del empleo y la provocación de nuevas dolencias y enfermedades.

En Brasil, sin embargo, no había una visión opimista ingenua. Una serie de respuestas se orientan en aquella
dirección. Por ejemplo, siete de cada diez opinaba que el conocimiento cieníico podía tornar peligrosos
a los invesigadores. La misma proporción reclamaba que los cieníicos deberían exponer públicamente
los riesgos de las invesigaciones que llevan a cabo. Seis de cada diez, por otra parte, consideraba que las
aplicaciones tecnológicas de gran impacto podían ser catastróicas para el medio ambiente. Y también la
mitad de los brasileños encuestados no creía que la ciencia y la tecnología fueran a eliminar, por ejemplo,
la pobreza en el mundo (MCT, Museu da Vida, 2006).

68 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


La encuesta 2008 de España (FECYT, 2008) registró una situación en parte similar a la encontrada en
Brasil. Por una parte, la mitad de la población consideró que los beneicios de la ciencia son, globalmente
considerados, mayores que sus riesgos. Se ponderó su capacidad para el desarrollo económico, la calidad
de vida, y el combate de enfermedades y epidemias. Sin embargo, casi un 30% sostuvo que beneicios y
perjuicios están en pie de igualdad. Entre las desventajas se enfaizó el aumento de las diferencias entre
pobres y ricos, la pérdida de puestos de trabajo o problemas de conservación del medio ambiente.
En la segunda encuesta nacional de Colombia (Colciencias, 2004) la ambivalencia respecto a los riesgos
también era evidente, dividiendo a los entrevistados en dos grupos con el mismo peso estadísico: la
mitad pensaba que el desarrollo cieníico-tecnológico ocasiona problemas para la humanidad, como
el deterioro del medio ambiente y la uilización del conocimiento para la guerra. La mitad restante se
mostraba en desacuerdo con estas ideas.

En la encuesta nacional de Argenina (SECYT, 2007) se introdujo un capítulo especíico sobre energía
nuclear donde se preguntaba entre otras cuesiones por el riesgo percibido y su gesión. La mitad de los
argeninos opinaba que se trata de un riesgo que puede ser gesionado eicazmente, mientras que otro
20% también acordaba con que se trata de un riesgo, pero incontrolable.

Paricipación ciudadana y políicas públicas


La paricipación en ciencia y tecnología no es un fenómeno aislado ni exclusivo. Como se analizó en la
primera parte, en rigor sólo es comprensible dentro de un marco histórico-políico más amplio, en el
cual se están redeiniendo las fronteras de las relaciones de poder, los criterios de representaividad y la
calidad de las democracias contemporáneas. La paricipación y el involucramiento público forman parte
de recursos y discursos que buscan legiimar el orden democráico y recomponer las relaciones políicas
en la sociedad. Cada vez resulta más diícil para los poderes políicos actuar al margen del escruinio
público (donde cabe desde el reinado de las encuestas a los métodos de consulta y gesión paricipaiva),
como también al poder económico colocar innovaciones en el mercado ignorando las preferencias y
expectaivas de los consumidores.

El estudio Eurobarómetro (2005) mostró que entre los europeos hay un acuerdo amplio de que el público
debe ser escuchado y su opinión tenida en cuenta: siete de cada diez entrevistados demanda mayor acceso
a la toma decisiones políicas sobre ciencia y tecnología. Pero los movimientos a favor de la paricipación
democráica tampoco implican la exinción de la visión tecnocráica: la encuesta europea también puso
en evidencia que junto al reclamo de mayor acceso la mayoría también preiere que sea el juicio experto
el que prevalezca en la toma de decisiones. Dos tercios de los europeos preieren que las decisiones sean
tomadas sobre la base de decisiones expertas.

En Iberoamérica la situación es la misma y se maniiesta con la misma intensidad (o proporción) que en


Europa. La amplia mayoría de los encuestados en la Encuesta Iberoamericana de 2007 (FECYT-RICYT-OEI,
2009) reclama que los ciudadanos sean escuchados y su opinión tenida en cuenta. En algunos estudios
nacionales que cuentan con estas preguntas también se advierte dicha cuesión: por ejemplo, el 70%
de los panameños (SENACYT, 2008) opina que la población debe ser escuchada cuando hay que tomar
decisiones de gran escala e impacto. En Brasil esta proporción llegaba al 63% de la población (MCT, Muse
da Vida, 2006).

Ciencia y democracia 69
Al mismo iempo, también en el estudio iberoamericano se podía observar que, como ocurría en Europa,
dos tercios (seis de cada diez) de los entrevistados preieren que los problemas sociales que se derivan
de la ciencia y la tecnología sean atendidos y decididos sobre la base de juicios expertos. Esta evaluación
permanece estable si analizamos disintas variables socio-demográicas: no hay diferencias signiicaivas
por género, edad, nivel educaivo o hábito informaivo, por ejemplo.

Conclusión
Como lineamientos indicaivos, las encuestas de percepción que se han estado aplicando en los úlimos
años en los países avanzados y en los países en desarrollo hacen visible lo inadecuado de los modelos
tradicionales centrados en la ecuación “menos conocimiento e información es igual a mayor ignorancia y
rechazo de la ciencia”. En rigor, por una parte, la sociedad conía en los cieníicos y tecnólogos, así como
percibe claramente el impacto benéico de la tecnociencia para la mejora de la calidad de vida, el bienestar
y la salud. Pero, por la otra, al menos en sectores sociales cada vez más amplios, aparecen consideraciones
acerca de los riesgos que dan cuenta de visiones más equilibradas y críicas respecto a las funciones de los
sistemas expertos y las consecuencias negaivas del desarrollo tecnocieníico.

Como segunda cuesión, vinculada estrechamente al riesgo, también los estudios demoscópicos dan cuenta
Parte I • Textos de relexão

sobre el reclamo de una mayor paricipación ciudadana, medido por el creciente interés que maniiesta la
ciudadanía para llevarla adelante. Sin embargo, es necesario reconocer que dicho “reclamo paricipaivo”
se maniiesta con más fuerza en un plano retórico que en los hechos. En este senido, se debe tener en
cuenta que aquellos resultados que muestran posturas decididamente a favor de una mayor paricipación
ciudadana y de una mayor apertura de los procesos de toma de decisión, no siempre se condicen con la
intensidad con que estas acitudes se relejan en las acciones ciudadanas. Es decir que si bien se observa
una creciente conciencia de la importancia que esta paricipación iene en materia cieníico-tecnológica,
aún no desempeñan un papel central en el modo en que se llevan adelante los procesos de toma de
decisión. Es por ello que también al interpretar los datos que se obienen en las encuestas sobre estos
temas debe también tenerse en cuenta el efecto de las respuestas consideradas políicamente correctas
que lleva a los entrevistados a inclinarse por posturas que serían las más convenientes de expresar. Al
mismo iempo, estos estudios muestran que la necesidad de paricipar no anula la fuerza de visiones más
tecnocráicas: de hecho, con la misma intensidad en que se reclama mayor información y protagonismo
también se considera que “en úlima instancia” debe prevalecer el criterio experto. Estas observaciones,
sin embargo, no minimizan el reclamo público que se convierte de este modo en un llamado de atención
para los actores políicos que ienen a su cargo la gesión y la toma de decisiones respecto a cuesiones
vinculadas con la ciencia y la tecnología, para repensar los procesos políicos y poder así reformularlos
abriendo cada vez más espacios desde los cuales pueda darse un mayor protagonismo y una paricipación
más concreta de la sociedad civil.

Una úlima cuesión iene que ver con la diferencia entre las sociedades de los países en desarrollo frente
a los países avanzados, lo que lleva a destacar los maices que estas mismas problemáicas adquieren
según el contexto socio-histórico en el que se desarrollan. La promoción de la paricipación ciudadana
es un desaío enorme para los países en desarrollo. La democracia en América Laina iene problemas
estructurales por las desigualdades en la distribución de la riqueza, debilidades del entramado insitucional,
recurrencia de crisis económicas y políicas y, en muchos senidos, bajo nivel de paricipación políica.

70 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Estas diicultades se expresan también en la ciencia regional, sin negar que varios países de América Laina
lograron sin embargo desarrollos tecnológicos de singular importancia y están en la vanguardia en muchos
campos de la invesigación. Cuando se habla de paricipación ciudadana en América Laina resulta preciso
analizarla en función de la democracia y de cómo ésta se expresa en la ciencia regional, sin descuidar que
hay cuesiones globales que no se generan localmente pero inciden de forma decisiva en los problemas
locales. Estas consideraciones son importantes para actuar y promover desde las insituciones cieníico-
educaivas causes y mecanismos de apertura y democraización para que la paricipación en ciencia y
tecnología no resulte una ilusión ni se repliquen experiencias y metodologías importadas de forma acríica.

Tanto la sociología como la antropología juegan un papel destacado para comprender y dar cuenta de las
paricularidades del desenvolvimiento tecnocieníico en contextos especíicos que relejan la diversidad
social, políica, económica y cultural de cada grupo o sociedad. Este ipo de abordajes y acercamientos
podrían ofrecer además una mejor comprensión de cómo llevar adelante los procesos de toma de decisión
cieníico-tecnológicos mediante la incorporación de la paricipación ciudadana para dar respuesta a las
demandas y problemáicas sociales de cada comunidad. Y a su vez sería deseable que dichas propuestas
fueran consideradas a la hora de establecer las políicas públicas en ciencia y tecnología para que éstas
puedan responder más acabadamente a los requerimientos y las necesidades de la sociedad en la que
son generadas.

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Carmelo Polino es invesigador del Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior
(Centro REDES) de Argenina, del Observatorio de la Ciencia, la Tecnología y la Sociedad del Centro de Altos
Estudios Universitarios de la Organización de Estados Iberoamericanos (OEI), y de la Red de Indicadores de
Ciencia y Tecnología (RICYT).

Dolores Chiappe es invesigadora en el Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior
(Centro REDES) de Argenina.

72 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


¿Quién es, qué busca, qué cree, qué sabe el público?
Ana María Vara

La pregunta por quién es el público, qué quiere o qué podría beneiciarlo, qué saberes y valores iene
es una de las más complejas del periodismo cieníico. Cierto es que son varios los públicos que ienen
los trabajos periodísicos, y el periodismo cieníico no es la excepción. Conviene que, en primer lugar,
revisemos quiénes son los lectores, oyentes y teleespectadores de los trabajos de esta especialidad,
entre quienes se cuentan expertos de disintas áreas, así como los comúnmente llamados, para abreviar,
legos. De este modo tomaremos conciencia de la complejidad de la elaboración de los materiales, en la
medida en que las demandas de los disintos públicos sobre el trabajo del periodista cieníico pueden ser
diícilmente, o sólo parcialmente, conciliables.

- Los propios expertos consultados: los cieníicos que fueron las fuentes del periodista no dejarán de leer,
escuchar o ver la pieza periodísica con atención, tanto si son citados como si no lo son. Y contrastarán su
recuerdo de la entrevista con la forma como sus explicaciones, sus datos y hasta su propia persona son
representados. Es fundamental recordar que los cieníicos ienen expectaivas y objeivos propios cuando
se prestan a ser entrevistados, en función de los cuales suelen juzgar el trabajo del periodista.

- Otros expertos: cieníicos de las propias áreas vinculadas a la trabajada en la pieza periodísica van a
tener gran interés en leerla, escucharla o verla, para ver cómo se presenta el tema. No es infrecuente
que de esta población surjan varias de las clásicas críicas al periodismo cieníico, en la medida en que la
visibilidad de un colega-compeidor —y de su manera de entender el tema en cuesión— puede molestar
a otro. Y no sólo por vanidad: se ha demostrado que la presencia en los diarios aumenta el índice de
citación de los arículos cieníicos (Philips et al., 1991; Kiernan, 1997; 2003). También, que la forma como
un debate cieníico es presentado el público puede inluir en el propio debate experto, como mostró Kirby
(2003) sobre la hipótesis de que los dinosaurios descienden de las aves presentada en Jurassic Park, que
terminó de instalarla como dominante en el campo.

- Editores y colegas: el primer lector de una nota es siempre el editor de la sección en que será publicada.
Igual sucede con un informe radial o televisivo. La ruina de las redacciones puede dar un lugar más o
menos importante a la visión de estos editores pero, en cualquier caso, el periodista no puede ignorarlas.
También colegas y editores de otros medios van a leer la nota, para ver de qué manera se trató el tema.
¿Qué y cuántas fuentes se consultaron?, ¿de qué origen?, ¿qué imágenes?, ¿se consiguió un tesimonio
directo o sólo se trabajó con cables o elementos pre-preparados? Estos son algunos de los criterios con
que los profesionales de los medios juzgan a sus colegas.

- Oicinas inanciadoras de ciencia y tecnología: el periodista o productor de una nota puede no tener en
cuenta a este público, porque no necesariamente ha tenido contacto con ellos. Pero sí suelen tenerlo muy
presente los cieníicos consultados, quienes suelen solicitar que se mencionen las insituciones donde
trabajan. Como comenta en un trabajo clàsico Dunwoody, “se espera que los profesores universitarios
soliciten subsidios de invesigación a agencias del gobierno, consejos de invesigación, fundaciones o a la
industria. La visibilidad en los medios puede ser importante para convencer a las agencias inanciadoras
del valor de la invesigación” (1986, p. 10).

¿Quién es, qué busca, qué cree, qué sabe el público? 73


- Agentes del gobierno: tanto los programas de televisión como los arículos sobre temas de ciencia y
tecnología pueden ser vistos o leídos por funcionarios del área (dependencias de secretarías o ministerios
de ciencia) como por funcionarios de otras áreas. También, por legisladores, que pueden orientar sus
decisiones a parir de lo que tenderá a considerar como cuesiones importantes de la opinión pública. Un
trabajo reciente realizado en la Argenina muestra que una proporción importante de los proyectos de ley
sobre ciencia y tecnología en ese país se basan en notas periodísicas (Bussola, Lemarchand, 2007).

- Profesores, maestros: muchas veces por iniciaiva propia y otras, esimulados por proyectos para
fortalecer la enseñanza de las ciencias, en las aulas se uilizan arículos periodísicos, o se ven documentales
o programas educaivos de televisión.

- Y, inalmente, está el público “general”: esa entelequia simpliicada, ese “hipotéico lector medio”. A
este público se le aplican, en primer lugar, todas las variaciones clásicas que se ienen en cuenta en el
periodismo en general (edad, educación, nivel socioeconómico, acitudes), de modo que resulta obvio que
no es uniforme. Pero pueden hacerse sobre el mismo, además, algunas especiicaciones exclusivas de la
comunicación de la ciencia.
Parte I • Textos de relexão

Razones para una tarea, entre viejos y nuevos paradigmas


La primera pregunta perinente cuando hablamos de público y ciencia es: ¿por qué comunicar para el
público general? Una respuesta clásica es la formulada por Durant (1990), quien resume en tres las razones
que jusiican la comunicación pública de la ciencia en función de los intereses del público: un argumento
cultural, uno prácico y uno políico. En primer lugar, sosiene, la ciencia es una adquisición primaria de
la civilización occidental moderna, aquello que nuestra cultura hace mejor. Por lo tanto, la gente merece
conocer acerca de esta acividad intelectual caracterísica de nuestra época: éste es el argumento cultural,
que delinea un público próximo a un espectador. El argumento prácico se basa en que la ciencia y la
tecnología suponen impactos notables en las sociedades contemporáneas, de modo que es clave manejar
ciertas nociones para poder tomar decisiones (sobre todo, como consumidores) en nuestra vida diaria: de
alimentación, de ventajas y riesgos tecnológicos. Finalmente, el argumento políico apunta a señalar que la
calidad de una democracia depende de una adecuada comprensión por parte del público (los ciudadanos)
de los problemas a resolver, entre ellos los relaivos a cuesiones cieníicas y tecnológicas.

Ahora bien, este público general que necesita y merece informarse sobre ciencia y tecnología, ha sido
tradicionalmente caracterizado como ignorante y desinteresado. Se ha dado por obvia la existencia de
un desnivel, de una brecha entre cieníicos y público general, que consituye el modelo más extendido
de esta relación. En primer lugar, es importante relaivizar esta visión, des-naturalizarla. Autores como
Bensaude-Vincent (2001) han señalado que la concepción de esta diferencia radical entre cieníicos y
no cieníicos no fue siempre así, sino que iene un origen histórico, con una acentuación en el siglo
20. En esta visión, el público no sólo carece de conocimiento cieníico sino que de alguna manera se
encuentra incapacitado para intervenir en cuesiones de ciencia con auténica comprensión del tema –es
decir, desde un punto de vista cogniivo. Como describe Fehér desde una perspeciva epistemológica:
“Los epistemólogos han considerado evidente en sí mismo que la ciencia no era asunto de personas no
especializadas carentes de una formación metodológica especíica, y cuyo papel se limita a prestar apoyo
inanciero y moral a la invesigación cieníica –y no a hacer aserciones de conocimiento cieníico” (Fehér,

74 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


1990, p. 422; bastardillas en el original).

Desde la comunicación pública de la ciencia, Wynne (2001) destaca que esta visión no sólo niega al
público un papel cogniivo, racional, sino que además considera que su juicio está marcado por valores y
emociones, es decir, por aspectos irracionales.

De esta perspeciva se desprende una manera de comprender la divulgación cieníica que parte de
una radical asimetría entre expertos y público (comentada críicamente por Miller, 2001; Lewenstein,
2002), y que es la más extendida en el presente. Se trata de “la visión dominante de la divulgación”,
caracterizada por Hilgartner como “un modelo en dos etapas”: en los siguientes términos: “en primer
lugar, los cieníicos desarrollan un conocimiento cieníico genuino; en segundo lugar, los divulgadores
transmiten al público una versión simpliicada” (1990, p. 19-20). Es decir: los cieníicos saben, el público
no sabe, y los periodistas cieníicos son los imprescindibles intermediarios que deben traducir lo que los
cieníicos (sabios) dicen para que el público (ignorante) aprenda.

Esta visión del público fue la que guió en los comienzos las acciones de comunicación pública de la ciencia.
Bauer, quien habla de tres paradigmas de los estudios del área, llama a esta visión “el paradigma de la
alfabeización cieníica” (2007, p. 80-82) y lo sitúa entre la década del sesenta y mediados de la década
del ochenta. Este paradigma supone un déicit cogniivo del público, por lo que propone que éste debe
ser educado: el papel del periodismo cieníico, en esta visión, es transmiir conocimientos. El segundo
paradigma es el de la “comprensión pública de la ciencia” (2007, p. 82-84). Situado entre mediados de
los ochenta a mediados de los noventa, señala otro déicit del público: que no valoriza la ciencia, que se
apoya en supersiciones o creencias irracionales, que es “ani-ciencia”. La solución propuesta es, a la vez,
educarlo y seducirlo. En este segundo paradigma, comprensión y valoración son dos acitudes correlaivas:
el público debe comprender para aprender a valorar. Sin embargo, años de encuestas en Europa y los
Estados Unidos, muestran que no necesariamente un público más informado es un público que apoye
más a la ciencia. Como ha señalado Ziman, frecuentemente “La mayor comprensión está asociada con un
mayor apoyo a iniciaivas cieníicas úiles (…) pero también con más oposición con respecto a aspectos
que involucran disputas de ipo moral, como la invesigación con embriones humanos.” (1991, p. 100)

Finalmente, el tercer paradigma es el de “ciencia y sociedad” (Bauer, 2007, p. 85-86). Surgido a mediados
de los noventa, revierte el diagnósico: ahora, el déicit es el de las insituciones cieníicas y los expertos,
que ienen desconocimiento y prejuicios acerca del público. La solución es promover la paricipación del
público en las decisiones sobre cuesiones cieníico-tecnológicas. Siguiendo este diagnósico, que supone
un público racional y con saberes propios que complementan los conocimientos expertos, en muchos
países se establecieron rondas de consultas obligatorias.

Disintos conocimientos, disintas acitudes


Más allá de la evolución que la relexión sobre los públicos ha tenido en los estudios de comunicación
de la ciencia, entre los periodistas cieníicos sigue prevaleciendo, en términos generales, el primer
paradigma de Bauer, la anigua “visión dominante de la divulgación” (Bauer, 2007, p. 80-82; Hilgartner,
1990). Por eso nos detendremos en la bibliograía que muestra qué amplia es la variación de acitud frente
a la información cieníico-tecnológica del público general. Einsiedel y Thorne (1999) revisaron estudios

¿Quién es, qué busca, qué cree, qué sabe el público? 75


empíricos sobre casos de transmisión del conocimiento cieníico e ideniicaron ocho posibles acitudes
frente al conocimiento por parte de diversos públicos, que ienen plena vigencia:

a) Casos de desinterés o rechazo de conocimiento:


1. No sé nada sobre X; dejaré que los expertos me digan lo que necesito saber. Einsidel y Thorne citan
los ya clásicos trabajos de Brian Wynne (1991) sobre trabajadores de la planta de reprocesamiento de
combusible nuclear de Sellaield, Inglaterra como un caso en que personas que deberían tener interés
por saber más sobre ísica atómica —la disinción entre rayos alfa, beta y gamma— no lo ienen. Las
razones ideniicadas por Wynne ienen que ver con la conianza en la insitución y la división de tareas,
así como con la cohesión social, también.

2. No sé mucho sobre X; eso está bien porque no es algo importante o relevante para mí. En este caso,
Einsidel y Thorne aluden a la muliplicación de información disponible y aducen que todos decidimos no
saber más en algún momento sobre algún tema, por razones de “economía mental, interés o uilidad”.

3. No sé mucho sobre X; y no quiero saber más. Se trata aquí de una resistencia aciva. Einsidel y Thorne
mencionan los trabajos de Mike Michael (1992), quien observó que el público podía mostrar desinterés
Parte I • Textos de relexão

acerca de la información sobre radiación porque senían que esa información formaba parte de un esfuerzo
por “venderles” la tecnología nuclear. Hay casos en que la información puede ser una carga: saber, por
ejemplo, que uno iene predisposición a heredar una enfermedad que no iene tratamiento: para algunos,
puede ser mejor saber; para otros, no.

4. No sé mucho sobre X; sobre eso nadie sabe mucho (o nada deiniivo), y no hay mucho que podamos
hacer. Einsidel y Thorne mencionan en este caso trabajos sobre riesgo. Quisiera referirme al boom de la
información sobre alimentación que experimentamos en los noventa. Con alimentos como el vino, las
pastas o el café, por ejemplo, la información difundida pasó de condenarlos a adorarlos, de acuerdo a
cómo se iban difundiendo las invesigaciones sobre su posible inluencia en determinadas enfermedades.
En esto, como en muchos otros casos, el periodismo iene alguna responsabilidad al converir en
noicia muchas invesigaciones de alcance limitado, debido a la estructuración de la noicia como un
evento puntual y novedoso. A esta distorsión contribuye también la políica de prensa de los journals
y de insituciones cieníicas del Primer Mundo que quieren lograr la mayor visibilidad pública para sus
trabajos —un esfuerzo al que dedican importantes recursos (De Semir 2000). Por otra parte, es inherente
a la dinámica de la ciencia perfeccionarse de manera incesante. Pero es importante entender al público
cuando se resiste a modiicar conductas, basándose intuiivamente en que esa recomendación podría
cambiar más adelante.

5. No sé mucho sobre X, y no puedo acceder a la información, de manera que realmente no puedo


saber más hasta que la información sea más accesible. Einsidel y Thorne mencionan los casos en
que los gobiernos o las empresas no dan a conocer o niegan la información; puede ser por razones
de seguridad, o de derechos de propiedad intelectual. Es decir, ejemplos en que el público no puede
acceder al conocimiento científico porque otros se lo impiden. Un ejemplo de América Latina es
el plan secreto de la Comisión Nacional de Energía Atómica de la Argentina (CNEA) para lograr el
enriquecimiento de uranio durante la última dictadura militar (1976-1983). Aunque se lo estaba

76 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


haciendo con fines pacíficos, ni los propios científicos del organismo que no estaban en el proyecto
conocían este desarrollo.1

b) Casos de búsqueda aciva de conocimiento:


1. No sé mucho sobre X y quiero (o necesito) saber más, así que voy a buscar información para saber
más. Éste es un caso cada vez más común, gracias al surgimiento de las ONG, en paricular —pero no
solamente— las ambientalistas. Las personas que se sienten afectadas por un desarrollo cieníico-
tecnológico buscan acivamente conocimiento para demostrar que el mismo supone riesgos. Es una
acitud para celebrar, excepto por parte de aquellos que temen no poder controlar las conclusiones —y
las acciones— de la gente: son los casos de resistencia a la minería, a las represas, a la tecnología nuclear,
a los transgénicos, que estamos viendo en disintos puntos de América Laina (Vara 2009). En relación con
la búsqueda de conocimiento por parte de los resistentes, Noble-Tesh (2007) sugiere que, en realidad, las
controversias públicas por temas cieníicos no son, como muchos suponen, una discusión entre expertos
y no expertos, sino entre expertos que ienen disintas visiones obre el fenómeno en cuesión —dado que
también hay conocimiento experto del lado de los que protestan.

2. No sé mucho sobre X, pero mis amigos y mi familia saben bastante sobre eso; yo debería informarme,
o me voy a quedar afuera. Einsidel y Thorne mencionan aquí los trabajos de Noelle-Neumann sobre la
“espiral del silencio”, quien postula que tratamos de ajustar nuestra opinión a la de la mayoría, para no
senirnos excluidos. También, que nos gusta saber de qué están hablando todos. Esto es interesante: un
tema de ciencia puede converirse en un tema de conversación coidiano si estuvo en la tapa de los diarios
o en el noiciero de la noche. También cuando empieza a “rebotar” en disintos medios: eso es el efecto
de “agenda seing” en un senido fuerte (se impone no sólo el tema, sino también lo que se piensa sobre
el tema) o débil (se impone el tema).

3. No sé mucho sobre X y no tengo las capacidades que se necesitan para saber más; por lo tanto, no
puedo averiguar más hasta que tenga estas capacidades. Einsidel y Thorne mencionan el trabajo de
Epstein (1995) sobre los acivistas contra el sida en los Estados Unidos, que presionaron a su gobierno para
que inviriera más dinero en invesigación, y hasta aprendieron el vocabulario técnico —la quintaesencia
de lo diícil— para ser respetados y escuchados por los cieníicos.

Mercanilización de la ciencia y la necesidad de la críica


Complementando la revisión de Einsidel y Thorne, Yearley (2005, p. 127-128) resume en tres observaciones
el resultado de las diferentes líneas de invesigación sobre el público. En primer lugar, sosiene que, al
considerar la manera como el público comprende las cuesiones cieníico-tecnológicas, debemos tener
en cuenta no tanto si “eniende cuesiones de ciencia sino cómo evalúa las insituciones con las que
se relaciona”. En segundo lugar, destaca que los disintos públicos, habitualmente, “ienen sus propios
conocimientos, conocimientos que pueden complementar o rivalizar las concepciones expertas”.
Finalmente, y en sintonía con el tercer paradigma de la comunicación de la ciencia de Bauer (2007, p.
85-86) que comentamos, señala que los cieníicos ienen presupuestos y acitudes propias acerca de los
públicos, las que representan una “sociología tácita o ingenua”: a este respecto, los que pecan de falta de

1 Esta información proviene de entrevistas realizadas para una invesigación en colaboración con Diego Hurtado
de Mendoza.

¿Quién es, qué busca, qué cree, qué sabe el público? 77


experise son los expertos.

De manera todavía más interesante, hay evidencias de que el público puede inluir fuertemente en la
agenda de los medios, es decir, inverir el proceso de ida de la comunicación y actuar “corriente arriba” en
el proceso de la comunicación. Y no nos referimos a la agenda en un senido meramente senido temáico
—es decir, la versión débil de la teoría de agenda seing— sino también la agenda entendida como marco
interpretaivo, como framing, es decir, la versión fuerte de esa teoría. Estas evidencias provienen de un
enfoque clásico de ipo cuanitaivo, que ha ganado fuerza en los úlimos años: el modelo de la estructura
de la comunidad. Pollock (2007) ha mostrado una correlación consistente entre las variables demográicas
de las ciudades y el tratamiento que sus diarios dan a temas críicos, vinculados al cambio social. Por
ejemplo, este autor halló una sistemáica relación entre el número de médicos cada 100.000 habitantes y
un tratamiento favorable de los diarios al tema de la invesigación con células madre.

Finalmente, los casos de controversias técnicas y ambientales muestran que muchas veces son los
públicos los que advierten sobre los riesgos generados por nuevos emprendimientos, riesgos que
escaparon al escruinio de los expertos. En un trabajo clásico, Plough y Krimsky (1988, p. 5) disinguen
entre un signiicado “convencional” de la comunicación del riesgo, que es entendida como “transmisión
Parte I • Textos de relexão

de información técnica o cieníica desde las elites al público general”; y un signiicado “simbólico”, en el
que la comunicación del riesgo puede referirse “a cualquier comunicación pública o privada que informa
a los individuos acerca de la existencia, naturaleza, forma, severidad o aceptabilidad de los riesgos”. En
nuestro estudio sobre el reciente caso de resistencia a la instalación de dos plantas de celulosa en la ribera
del río Uruguay, limítrofe entre ese país y la Argenina, hemos argumentado que fue el movimiento social
consituido en la ciudad argenina de Gualeguaychú el encargado de comunicar a las autoridades de su
país, del Uruguay y del Banco Mundial, promotor de los proyectos, la gravedad de los riesgos ambientales
que suponía la instalación de dos enormes plantas en el mismo lugar (Vara, 2008).

Un público alerta, acivo, capaz de ayudar a pensar a los expertos, las autoridades y los periodistas es, inalmente,
lo que los iempos están trayendo. En este senido, la interacividad facilitada por las nuevas tecnologías de la
información y la comunicación (TICs) representa un aporte oportuno a la democraización de la ciencia y la
tecnología, en coincidencia con el más reciente paradigma de la comunicación que comentamos.

Por otra parte, es el público que se necesita en momentos en que el conocimiento parece estar cada vez
más teñido de intereses económicos. Bauer (2008) describe un contexto de creciente comercialización
de la ciencia, en el que el modelo de hacer negocios se exiende a los laboratorios académicos. Hemos
descripto que esta situación complica la tarea del periodismo, al aumentar la problemáica del conlicto
de interés que debe analizar cuando busca sus fuentes cieníicas, y por el hecho de que los mismos
periodistas están involucrados en el conlicto de interés por los regalos, los viajes y otras atenciones que
reciben (Vara, 2007). En este senido, volvemos a la advertencia de Bauer sobre que se requiere cada
vez más un público críico, que no acepte pasivamente las propuestas que los periodistas les acercan. Es
opimista, ya que señala indicadores de que un público críico está creciendo: el seguimiento sostenido
de temas de interés público; un incremento de la alfabeización cieníica; y el cambio de lo que llama la
“ideología cieníica” —es decir, una visión de los avances cieníicos como únicamente posiivos— por
acitudes uilitarias y escépicas en las sociedades con tecnologías avanzadas. Sosiene entonces que, en

78 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


este contexto, “el paradigma de la comunicación de la ciencia ya no es conseguir la aceptación del público
sino reforzar el escruinio público de los desarrollos cieníicos” (2008, p. 7).
Para los periodistas cieníicos, el corolario es evidente: debemos contribuir a la construcción de un público
que sospeche, que indague, que se pregunte, que contraste diferentes fuentes, y que trate de alcanzar sus
propias conclusiones.

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Ana María Vara es invesigadora del Centro de Estudios de Historia de la Ciencia y directora de la
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San Marín (UNSAM), Argenina. También es colaboradora permanente del diario La Nación (Argenina).

80 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Parte II • Guias práticos
Cómo reportear temas controversiales:
el caso de las células madre embrionarias1
Luisa Massarani

Mi objeivo en este texto es destacar la importancia de reportear temas controversiales en ciencia y


tecnología, ofreciendo algunas orientaciones y sugerencias a los periodistas que les guste enfrentar este
desaío, teniendo en cuenta en especial el caso de las células madre embrionarias.

Empezaré haciendo algunos comentarios generales sobre la cobertura de temas controversiales, teniendo
como punto de parida un texto interesante escrito por K. S. Jayaraman y publicado en un material de
referencia para periodistas cieníicos, preparado por la Federación Mundial de Periodismo Cieníico y
SciDev.Net2. Haré un resumen libre y comentado de dicho texto. Después, me dedicaré a discuir el caso
de las células madre embrionarias, ofreciendo sugerencias prácicas para reportear sobre este tema.

¿Por qué reportear controversias en ciencia y tecnología?


Hay muchas razones y moivaciones para reportear controversias en ciencia y tecnología. Aquí están
algunas de ellas:
1. Los conlictos o controversias atraen la atención del público y de los reporteros u otros divulgadores.

2. Las controversias pueden ser un trabajo inspirador de invesigación.

3. Las cuesiones controveridas son una buena oportunidad para educar a los lectores y ampliar la
conciencia del público sobre cuesiones como cambio climáico, células madre o transgénicos.

4. La buena cobertura de cuesiones cieníicas controveridas puede beneiciar al público. Por ejemplo,
relatos sobre los riesgos para la salud de los hornos a leña tradicionales generaron, en la India, un
programa sobre “hornos sin humo”.

5. Las controversias forman parte del funcionamiento interno de la ciencia.

Entre los temas de controversias de la ciencia están la falsiicación de datos, el plagio y otras malas
conductas, que pertenecen a una clase de controversias generalmente dadas a conocer, inicialmente, por
revistas cieníicas, cieníicos rivales o denuncias. Uno de los ejemplos que ganó espacio en los medios
masivos fue el del cieníico de Corea del Sur Woo Suk Hwang, quien en un primer momento atrajo la
atención de los medios masivos con lo que parecían ser importantes avances en los estudios con células
madre embrionarias y, posteriormente, sus estudios presentaban inconsistencias y controversias, incluso
de las fuentes donadoras de los óvulos.

Otras controversias, sin embargo, no se reieren a la validez de la ciencia, sino a los caminos de la ciencia.

1 La parte relacionada a la cobertura de células madres hace parte de arículo de la misma autora, publicado en
un Guía prácico de SciDev.Net (ver Cómo informar sobre células madre embrionarias, disponible en htp://www.
scidev.net/es/pracical-guides/c-mo-informar-sobre-c-lulas-madre-embrionarias.html).Gracias a Marina Ramalho y
Carmelo Polino por revisar el español.
2 Curso de periodismo cieníico en línea – Lección Seis: Cómo reportear controversias. Texto en español: htp://
www.wfsj.org/course/sp/. Texto en portugués htp://www.wfsj.org/course/pt/. Otro texto interesante es “La cober-
tura de las controversias en la ciencia”, del periodista cieníico británico Tim Radford, disponible en htp://www.
scidev.net/es/pracical-guides/la-cobertura-de-controversias-en-la-ciencia.html

Cómo reportear temas controversiales 83


Por ejemplo, cuando un grupo de cieníicos de Escocia clonó a la oveja Dolly, demostró que era posible algo
sorprendente, diícil y no inmediatamente úil para la medicina. Y provocó un debate mundial conducido
por preocupaciones religiosas y éicas: ¿Sería correcto clonar a los humanos? En situaciones como estas,
la mayoría de las personas no está interesada necesariamente en la ciencia en sí misma – o en lo que el
hecho cieníico representa para ella – pero sí en las posibilidades de rumbo (aún que no necesariamente
concretas) las que podrían estar surgiendo. Lo mismo ocurrió con el mapeo genéico y la invesigación con
células madre embrionarias. Aquí vale un comentario: cuando nació Dolly, el grupo de cieníicos se dedicó
a planear cómo divulgar el hecho al público sin suscitar controversias – y por eso pasaron alrededor de
6 meses hasta que su nacimiento fuera anunciado. Sin embargo, los cieníicos fueron tan cuidadosos…
¡Que un editor en la TV británica BBC desecho el press release enviado a los medios masivos, pues le
pareció muy técnico y herméico!

Declaraciones y observaciones de cieníicos de renombre pueden también generar una controversia. Por
ejemplo, la declaración del ganador del premio Nobel James Watson acerca de que las personas negras
son menos inteligentes que las blancas generó una controversia que provocó su renuncia del Laboratorio
de Cold Spring Harbor.

Las controversias cieníicas no ienen relación solamente con la ciencia – generalmente, ellas ienen
Parte II • Guias práticos

múliples dimensiones, con ramiicaciones en la políica o en la religión. El centro de la cuesión de los


cambios climáicos está en la ciencia atmosférica, pero los actores de esa controversia son políicos, industrias
y personas comunes. La controversia sobre los culivos transgénicos involucra a campesinos, asociaciones de
consumidores, a ciudadanos comunes, etc. Y, por lo tanto, transcienden un área de actuación.

Al reportear un tema controversial, el periodista puede adoptar dos ipos de estrategia:


1. Reportajes de controversia “pasiva”, en los que el(la) reportero(a) presenta puntos de vista opuestos
de una cuesión ya reconocidamente controverida (por ejemplo, ¿está la selección sexual provocando
una reducción en la proporción de mujeres en la India y en China? ¿Es el biodiesel la respuesta para
la escasez de energía en los países en desarrollo?), dejando a los lectores la posibilidad de sacar sus
propias conclusiones.

2. El ipo “acivo” es aquél en que el(la) reportero(a) presenta por primera vez una controversia,
con base en las informaciones cuidadosamente recogidas en su invesigación. El libro Silent Spring
(Primavera silenciosa), de Rachel Carson, de 1962, que presentó los peligros del pesicida DDT y disparó
el movimiento ambientalista, pertenece a esa categoría. Un tema para otra historia es el hecho de que
el DDT haya sido nuevamente permiido.

Antes de dedicarse a un tema controversial


Antes de dedicarse efectivamente a reportear un tema controversial, hay todavía algunas cuestiones
a considerar:
¿Qué controversias valen la pena perseguir? La decisión debe ser tomada juzgándose el impacto que la
nota puede tener en la sociedad de una forma general.

¿Cuáles son las diferentes perspecivas sobre la controversia y quiénes ienen opiniones contrarias?

Además, hay algunos cuidados importantes a tomar, entre los cuales:

84 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


¿El debate está distorsionado? El trabajo de un periodista es hacer una buena nota (o producto) basada
en hechos. Los relatos periodísicos distorsionados, sobre todo cuando cubren controversias relacionadas
a la salud, pueden generar falsas esperanzas o miedos infundados.

¿La nota es sensacionalista? Es importante poner especial atención para que la controversia sea presentada
sin sensacionalismo. Un hallazgo médico relatado de forma sensacionalista puede provocar un gran
entusiasmo sin razón en los medios masivos. Por ejemplo, la cobertura sobre el mal de la vaca loca alcanzó
niveles absurdos de histeria, con reporteros enfaizando los aspectos asustadores de la noicia, llevando al
gobierno británico a gastar millones.

¿Hay exageración? Los itulares y la elección de palabras (como usar “desacuerdo” en vez de “pelea”) para
describir diferentes puntos de vista son cruciales, puesto que pueden minimizar o exagerar la cuesión y,
así, condicionar la reacción del público sobre la disputa.

Contar “los dos” lados de la historia es una premisa básica del periodismo. Pero el equilibrio en la cobertura
de las controversias cieníicas no signiica enseñar todos los puntos de vista dándoles el mismo peso, sino
ejercitar el juicio y darle a cada evidencia cieníica el peso que merezca.

Y aunque diferentes puntos de vista deban ser relatados, los hallazgos cieníicos ampliamente aceptados
no deben ser presentados al lado de las visiones de un par de escépicos para promover el “equilibrio”. De
hecho, las revistas cieníicas más importantes evitan aceptar arículos que cuesionan teorías sobre las
cuales ya existe un consenso, como el calentamiento global o la existencia de agujeros negros.

Es importante también mantener una acitud más críica frente a los cieníicos: este es, según mi punto de
vista, un aspecto frágil del periodismo cieníico, pues los periodistas todavía suelen mirar a los cieníicos
con demasiado “respeto”. Con esto no quiero decir que los cieníicos no merezcan respeto –pues lo
merecen– pero que los periodistas muchas veces entrevistan a un único cieníico (o a pocos) y aceptan
sus palabras como si fueran hechos consolidados.

Es poco probable que los cieníicos mientan (serían los casos de fraude), pero pueden estar equivocados,
desorientados, o simplemente demasiado ideniicados con una teoría. Los cieníicos también ienen
un contexto que puede inluenciar inconscientemente su punto de vista, como el ipo de centro de
invesigación en el que trabaja (público o privado) o el peril profesional. Con respecto al úlimo aspecto,
sería interesante pensar cómo el salto de un sapo podría ser presentado de formas disintas de acuerdo con
el peril profesional de un cieníico: si fuera un ísico, quizás mencionaría las fuerzas ísicas involucradas
en el salto; un bioquímico podría centrarse el los procesos bioquímicos involucrados; un neurocieníico
podría enfocar el rol del cerebro en dicho salto…

Aquí tal vez valga presentar una analogía respecto al dicho que airma que si una persona que presenta
algunos problemas de salud consulta a un médico, iene un diagnósico claro de su posible enfermedad;
si consulta a más médicos, su diagnósico se torna más difuso. Igualmente, hay una “ley del periodismo
cieníico”: si el periodista habla con un cieníico, iene una imagen clara de causa y efecto. Si habla con dos o
más cieníicos, la imagen se hace más difusa, posiblemente con varias interpretaciones disintas de la misma
historia. En esta línea, sería un “Efecto Rashomon”, en referencia a la película de Akira Kurosawa, según la
cual el mismo hecho gana versiones muy disintas de acuerdo con la persona que relata dicho hecho.

Cómo reportear temas controversiales 85


Éica en la cobertura de controversias cieníicas
Un aspecto importante a considerar es la éica en la cobertura de controversias cieníicas, que puede
ser resumida de la siguiente forma: Es irresponsable crear una controversia que en realidad no existe,
fabricando ariicialmente una diferencia de opinión. Este límite a veces no es muy evidente, especialmente
cuando la adrenalina sube en la sangre de un periodista ansioso por seguir pistas ‘calientes’ que generen
reportajes provocaivos que llamen la atención.

En este contexto, es importante considerar que algunas veces la cobertura mediáica sobre las controversias
cieníicas puede tener la apariencia de una epidemia. Como una infección, pasando de una persona a la
otra, la exploración de una controversia por un diario lleva a otros diarios a seguir el ejemplo y abordar el
tema de una otra forma, con aperturas hechas para llamar la atención, como “en más una controversia...”.
Los(as) reporteros(as) pueden inconscientemente crear un fesival de “controversias en serie”. Pero tal
hiperacividad carga en sí misma el riesgo de que los periodistas ignoren la éica y algunas reglas básicas.

Las controversias brindan buenos materiales. Pero, una vez resueltas, las notas siguientes no deben
presentar la controversia. Si la “vícima” de la controversia es absuelta del fraude o mala conducta, es
aniéico no relatarlo. Un ejemplo (triste) de este comportamiento aniéico fue el sufrido por R.J. Azmi,
del Insituto Wadia de Geología del Himalaia, en la India, quien se convirió en vícima de un “reportaje
Parte II • Guias práticos

en serie” cuando denunciaron que los fósiles que él descubrió en la India central en 1998 eran falsos y la
prensa presentó el caso como tal. Fue una coincidencia infeliz que Azmi anunciara su descubrimiento poco
después de que la revista cieníica Nature hubiera denunciado un fraude de fósiles involucrando a otro
geólogo indio, V.J. Gupta. Un grupo de geólogos suecos declaró, en el encuentro de la Sociedad Geológica
Americana que ocurrió en Colorado en octubre del 2007, que los hallazgos de Azmi eran auténicos, pero
Azmi dijo que el estrago ya estaba hecho, a causa de los relatos de la prensa realizados a la sombra del
episodio Gupta.

El caso de las células madre embrionarias


Las células madre de embriones ienen una extraordinaria propiedad: se pueden desarrollar dentro de
cualquiera de las células altamente especializadas del cuerpo, proceso conocido como diferenciación. Esta
caracterísica, señalan los cieníicos, podría ofrecer tratamiento para una variedad de enfermedades,
desde la diabetes hasta el Alzheimer.

Este tema genera muchas publicaciones en los medios: desde las maravillosas posibilidades de las células
madre embrionarias, que dejan sin aliento, hasta la condena de una ciencia que destruye un embrión humano.

La invesigación de las células madre embrionarias es uno de los temas cieníicos más complejos para
cubrir periodísicamente. A pesar de su potencial, probablemente sus beneicios no se harán visibles
durante décadas. Además, no está exenta de riesgos y genera profundas pasiones en ambos lados.

No existe una fórmula simple para informar sobre la ciencia de las células madre. Pero aquí proporcionamos
unas cuantas reglas para garanizar que su cobertura sea responsable e informaiva. Están basadas en mi
experiencia en cubrir invesigaciones polémicas sobre células madre embrionarias en Brasil.

86 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Aclaremos los conceptos básicos
Antes de empezar a informar sobre la invesigación con células madre embrionarias, usted debe
comprender los conceptos y la terminología, de manera que pueda traducirlos para su audiencia.

Una célula madre es aquella que puede dividirse en culivo por periodos indeinidos y es ‘mulipotente’, lo
que signiica que puede dar lugar a células especializadas (como neuronas o células de la piel).

Hay dos ipos principales de células madre y es esencial explicarle a su audiencia a cuál de ellas se está reiriendo.

Las células madre embrionarias son células indiferenciadas, derivadas de un embrión de cuatro a cinco
días, que se pueden dividir en un culivo por un periodo prolongado sin converirse necesariamente en
células especializadas. Pueden desarrollarse en todo ipo de células y tejidos, así como en tejidos ‘extra
embrionarios’ como la placenta, porque son ‘toipotentes’.

Las células madre adultas son células indiferenciadas que se encuentran en muchos órganos y tejidos
diferenciados. Su capacidad de dividirse en culivo es más limitada que las células madre embrionarias y,
por lo general, se desarrollan solamente en ipos de células en el órgano de origen, pues son ‘mulipotentes’.
Las células madre embrionarias son úiles para estudiar las enfermedades genéicas. El material genéico
de una célula de un paciente con ibrosis quísica, por ejemplo, puede transferirse a un óvulo sin ferilizar
al que se le ha eliminado su propio material genéico.

Este nuevo óvulo es esimulado a dividirse, produciendo el embrión desde el cual las células madres
embrionarias con los indicadores genéicos de la ibrosis quísica se pueden extraer y estudiar. Esto por lo
general signiica destruir el embrión, aunque los invesigadores recientemente han encontrado maneras
para extraer las células madre sin tener que eliminarlo.

Pero el enfoque principal sobre las células madre embrionarias —paricularmente en los medios— es su
potencial para tratar enfermedades. Las células madre embrionarias son más promisorias que las células
madre adultas porque pueden converirse en cualquier célula.

En un escenario de tratamiento, las células madre embrionarias se pueden tomar sea desde un embrión
como el descrito anteriormente —lo que se llama clonación terapéuica—, o desde un embrión sobrante
de un tratamiento de ferilidad. Las células madre embrionarias serían esimuladas en el laboratorio
para converirse en un ipo paricular de células que se podrían implantar en un paciente. Por ejemplo,
las células nerviosas implantadas en una médula espinal dañada podrían repararla, permiiendo que el
paciente volviera a caminar.

La invesigación con células madre embrionarias es controverida porque, en todos los casos, se usa un
embrión. Y crear una célula madre embrionaria desde un óvulo no ferilizado consituye también el primer
paso para hacer una copia completa de otro organismo vivo o ‘clonación reproduciva’. Por estas razones,
los acivistas han protestado contra esta tecnología y acusan a los cieníicos de ‘jugar a ser Dios’.

En 2006, los invesigadores alcanzaron otro gran avance: ideniicaron las condiciones necesarias para

Cómo reportear temas controversiales 87


reprogramar algunas células adultas especializadas y converirlas en células madre. Este nuevo ipo de
célula es llamada célula madre pluripotente inducida. Podría proporcionar una alternaiva a las células
madre embrionarias si son verdaderamente ‘pluripotentes’, es decir, capaces de diferenciarse en todos los
ipos de células humanas.

Si no está seguro sobre alguno de los temas o deiniciones técnicas, recurra a fuentes coniables como el
glosario del Insituto Nacional de Salud de los Estados Unidos (disponible en htp://stemcells.nih.gov/info/
glossary.asp).

No ofrezca falsas esperanzas


Naturalmente, la gente está más interesada en saber cómo la invesigación puede afectar sus vidas, por lo
que el potencial de las células madre embrionarias para tratar enfermedades recibe mucha cobertura de
parte de los medios. Sin embargo, aunque los experimentos con células madre embrionarias en animales
son alentadores, aún no se ha realizado ningún ensayo clínico en humanos y podrían pasar décadas antes
de que las terapias basadas en células madre embrionarias lleguen a nivel clínico.

No ofrezca falsas esperanzas a la gente. Veriique varias veces el estado de la invesigación y deje en claro
a su audiencia el gran trabajo que se requiere aún para hacer realidad estos tratamientos.
Parte II • Guias práticos

Responda algunas preguntas básicas. ¿Es un experimento de laboratorio?, ¿usa células o modelos
animales?, ¿ha sido aplicado a humanos?, ¿qué tan amplio es el estudio?, ¿cuándo recibirían el tratamiento
los pacientes?

Comunique lo fascinante que puede resultar cualquier avance en la investigación con las células
madre embrionarias, pero no permita que el ‘factor ¡wow!’ reemplace la realidad: la espera es larga
para los tratamientos.

Aprenda desde el caso brasileño. Quienes estaban a favor de las células madre embrionarias solo
informaron que los beneicios de la invesigación en la sociedad podrían demorar varias décadas una
vez que fue aprobada la legislación que permiió la invesigación con células madre embrionarias, lo que
causó indignación pública.

Informe sobre los inconvenientes


Los periodistas con frecuencia ignoran los riesgos y posibles efectos secundarios de la terapia con células
madre embrionarias. Por ejemplo, los estudios han demostrado que cuando se inyectan en ratones,
las células madre embrionarias indiferenciadas pueden formar grupos de células cancerosas o células
llamadas teratomas.

Además, el cuerpo puede rechazar las células madre embrionarias inyectadas, al igual que cualquier
trasplante. Mientras que la creación de células madre embrionarias con los propios genes del paciente
(como en la clonación terapéuica) reduce este riesgo, podría no ser prácico siempre, por razones como
la escasez de óvulos donantes.

88 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Siempre pregunte a los invesigadores sobre lo que podría salir mal. Su audiencia entenderá que muchos
tratamientos ienen efectos secundarios, como la quimioterapia para el cáncer, por ejemplo. No los rehúya
con el in de hacer su arículo más interesante.

Contextualice su información
También es muy importante entender el contexto local. Familiarícese con lo que está pasando en su país. ¿Existe
legislación sobre células madre embrionarias?, ¿qué dice exactamente?, ¿es un tema polémico?, ¿hay mucha
invesigación con células madre embrionarias o células madre adultas por parte de los cieníicos locales?

Añadir un párrafo sobre el tema en su país ayudará a que su audiencia comprenda de qué manera un
aspecto paricular de la invesigación podría afectarlos. Algunos países permiten todo ipo de invesigación
con células madre embrionarias (excepto para clonación reproduciva), mientras que otros, como Brasil,
permiten invesigar sólo con embriones descartados de los tratamientos de ferilidad.

Podría encontrar que informar sobre la políica de células madre embrionarias es igualmente complicado.
En Brasil, por ejemplo, la ley de bioseguridad, que permite la invesigación con células madre embrionarias,
incluye otro tema controverido, la invesigación con culivos transgénicos. Y en el Reino Unido, las
enmiendas a la políica de invesigación con células madre embrionarias llegaron al parlamento en el
mismo proyecto de ley que contenía una moción para reducir el plazo legal para los abortos.

Conserve la objeividad
En temas altamente polarizados, usted deberá esforzarse por ser objeivo. El público está siempre lidiando
con las opiniones de las partes beligerantes, como para tener que lidiar también con la agenda propia de
un periodista.

Apúntele al balance, pero evite caer en un falso equilibrio. No siempre necesita conseguir comentarios
generales sobre el masivo potencial de la invesigación con células madre embrionarias, o el gran daño
que podría generar. Es decir, trate de no presentar el tema como blanco o negro.

Por el contrario, entreviste a quienes darán opiniones especíicas y mesuradas sobre la invesigación de la
que está informando. Por ejemplo, ¿otros cieníicos del mismo campo están de acuerdo con los reclamos
de los invesigadores?, ¿prevén obstáculos entre la invesigación y el tratamiento clínico?

Cuando encuentre a sus entrevistados, recuerde que los cieníicos también son seres humanos. Pregúntese
¿por qué tendría que decirle a la gente lo que él hace, o lo que hace el invesigador propietario de una
compañía que iene pensado comercializar la tecnología?, ¿no será que el comentarista externo que pone
en duda la validez de la invesigación, simplemente está compiiendo por mayor inanciamiento para la
invesigación con células madre adultas?

Tenga en cuenta la situación en su país. Evite dar a las voces en conlicto el mismo peso si éstas no relejan
la opinión de donde usted vive. Por ejemplo, en un país donde la mayor parte de la población apoya la
invesigación con células madre embrionarias, piense cuidadosamente sobre cuánto peso dará a la única
voz disidente.

Cómo reportear temas controversiales 89


Del mismo modo, trate de no usar un lenguaje emoivo, ya sea a favor o en contra de la invesigación con
células madre de embriones. Usted puede creer que está siendo objeivo pero, sin saberlo, podría estar
inluyendo el lector con las palabras que ha elegido.

Recuerde hasta dónde ha llegado la invesigación con células madre adultas en los años recientes. Las
terapias con células madre adultas, como el trasplante de células madre para la leucemia, son las únicas
terapias llevadas al nivel clínico hasta el momento. La célula madre pluripotente inducida podría también
converirse en una alternaiva a las células madre embrionarias.

Los periodistas con frecuencia son acusados de ignorar el potencial de la invesigación con las células madre
adultas y estar demasiado cerca de los invesigadores con células madre embrionarias. Si es apropiado,
pregunte si las células madre adultas podrían alcanzar el mismo objeivo, o trate de averiguar hasta qué
punto lo han conseguido los cieníicos.

Además, si las imágenes y itulares en su mayor parte están fuera de su control, trate de llamar a la
prudencia. Por ejemplo, un importante diario de Brasil usó una foto en su portada que, debido a que
fue tomada desde abajo, parecía mostrar a un fanáico religioso oprimiendo a un hombre en silla de
ruedas. Vigile el proceso de tal manera de que los malos itulares o una foto no destruyan su arículo
Parte II • Guias práticos

cuidadosamente preparado y equilibrado.

Expresar una opinión


Si está usted escribiendo un texto en que decide uilizar el ipo “acivo” de reportear controversias, o si es
un arículo de opinión, siguen a coninuación algunos otros consejos:

Invesigue. Sea que esté a favor o en contra de la invesigación con células madre embrionarias, asegúrese
de considerar cuidadosamente todos los asuntos y evidencias clave. No manipule en uno u otro senido.

Deina claramente cuál es su opinión y cuáles son los hechos. Nunca disfrace su opinión como información
objeiva. Y evite burlarse de quienes ienen una opinión diferente. En Brasil, por ejemplo, los periodistas
acusaron a los opositores de las células madre embrionarias de ser extremistas religiosos, o deliberadamente
vagos debido a que no pueden entender la ciencia.

Por úlimo, aunque muchos reportajes sobre la invesigación con células madre embrionarias sean
demasiado cortos para cubrir todos los temas discuidos aquí, tenga estos consejos en mente. Permiirán
que su arículo sea equilibrado y sólido.

Como he intentado mostrar en este texto, la invesigación con células madre es uno de los tópicos más
diíciles de cubrir para un periodista cieníico. Pero es fascinante, precisamente por esas razones.

Luisa Massarani es periodista cieníica e invesigadora del Museo de la Vida, Casa de Oswaldo Cruz,
Fundação Oswaldo Cruz, en Brasil, y coordinadora de SciDev.Net para América Laina y el Caribe (www.
scidev.net).

90 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Cómo informar sobre brotes o pandemias1
Fang Xuanchang, Jia Hepeng, Katherine Nighingale

Una pandemia o el brote severo de una enfermedad siempre son noicias candentes, debido a la carrera
para invesigarlas, los resultados inciertos, los detalles sobre el tratamiento, los intentos de impedir su
propagación y, por supuesto, el factor miedo.

Las etapas iniciales de un brote proporcionan, de manera especial, buenas oportunidades para los
periodistas. Hay muchos invesigadores y doctores para entrevistar, abundancia de nuevos “ganchos”,
funcionarios e invesigadores de salud lidiando con la situación y una inusual disposición de los editores
para publicar arículos cieníicos.

Pero para informar responsablemente sobre el brote de una enfermedad, no sólo es necesario darle
senido a los primeros informes y a la gran canidad de información, a menudo confusa, sino que se debe
hacer el seguimiento exhausivo de la historia en el largo plazo.

Y ello debe hacerse aplicando siempre un pensamiento críico y un enfoque cieníico. La ciencia —
junto a perspecivas sociales y económicas más amplias — es esencial para producir buenos arículos
sobre una pandemia.

La cobertura de la gripe porcina – inluenza A(H1N1) — está brindando ya algunos ejemplos clásicos de
mal periodismo cieníico, como cuando periodistas egipcios atribuyeron a ‘expertos’ declaraciones de
que los cerdos infectados podrían terminar dentro de la cadena alimenicia como carne de res barata.

Lo que sigue es un asesoramiento para evitar que esos errores se repitan. Los consejos son más importantes
en los países en desarrollo, donde los recursos son escasos y grandes los retos para comunicar información
de importancia.

En estos países, los mensajes responsables sobre salud pública son cruciales para aliviar la carga de una
enfermedad sobre los vulnerables sistemas de salud.

Encontrar la dirección correcta


En primer lugar, asegúrese de entregar a su audiencia el correcto signiicado de las palabras que escucharán
y leerán con frecuencia. Por ejemplo, una ‘pandemia’ signiica que una enfermedad se ha extendido a escala
mundial, no necesariamente que es mortal. Los cieníicos hablan sobre la ‘virulencia’ de un patógeno, pero
¿qué signiica eso para la gente común? Use explicaciones sencillas y precisas que no sean alarmantes.

Las organizaciones de salud suelen proporcionar información y datos básicos sobre el patógeno y las
mejores formas de lidiar con él. Las agencias del gobierno deben proporcionar información sobre el
número de casos en un país y, si es necesario, del número de muertes.

Trate de informar sobre esos detalles usando el conocimiento cieníico. La tasa de mortalidad ¿es más alta
1 Este arículo fue originalmente publicado en SciDev.Net (www.scidev.net), en la seción de Guías Prácicas.

Cómo informar sobre brotes o pandemias 91


que la de otras enfermedades? ¿Se trata de una nueva cepa de un patógeno conocido o es algo nuevo? La
manera como sean contextualizados estos datos puede guiar el informe en la dirección correcta.

Preguntas clave desde el principio


Con frecuencia, la reacción inmediata de una persona al escuchar de una nueva enfermedad, es: “¿Cómo
me afecta a mí y a mis seres queridos?” Ningún periodista cieníico puede responder esta pregunta, pero sí
se puede comunicar el riesgo inherente a una enfermedad. En primer lugar, se necesita estar familiarizado
con invesigaciones recientes en torno a enfermedades similares. Por ejemplo, un conocimiento de la
gripe aviar H5N1 que ayude a cubrir la inluenza A(H1N1), así como gran parte de la invesigación (y de los
invesigadores), también será relevante.

Hay algunas preguntas que es necesario tener en cuenta.

¿Qué saben los cieníicos?


En las primeras etapas de brote de cualquier enfermedad hay muchas incógnitas, pero con frecuencia
también hay una riqueza de conocimientos cieníicos sobre el ipo de patógeno y cepas similares.

Las pandemias y los brotes repeninos de una enfermedad, por su naturaleza, generalmente los causan
Parte II • Guias práticos

nuevos patógenos, o al menos nuevas cepas de éstos. Los cieníicos no necesariamente sabrán cómo
se comportan.

Ellos saben muchísimo sobre la inluenza, por lo que el brote actual de gripe A(H1N1) no encierra
demasiados misterios, aunque obviamente nadie pueda predecir el futuro. Pero cuando el SARS surgió en
2003, los cieníicos conocían muy poco, pues se trataba de un nuevo virus.

Transmita lo que los cieníicos saben y lo que no saben, pero trate de no causar pánico. Los cieníicos
no necesariamente deben saber todos los detalles de un patógeno para encontrar un tratamiento que
funcione, y es poco realista pretender que sepan sobre todas las enfermedades posibles.

Cuanto menos se sabe, las posibilidades son más grandes pero eso no quiere decir que sean inevitables: la
gripe A(H1N1) podría combinarse con la gripe aviar H5N1, pero eso no signiica que así ocurrirá.

¿Cuántos casos habrá? ¿Cuánta gente podría morir?


Los invesigadores deben proyectar la canidad de gente que esiman podría ser afectada o morir por
el brote de alguna enfermedad, de manera que los países puedan preparar eicazmente sus sistemas
de salud. Tenga cuidado de no informar sobre las predicciones como si fueran certezas, pues eso es
sensacionalismo y no transmite a la audiencia una idea sobre cómo trabajan estos modelos. Éstos son
las mejores esimaciones calculadas a parir de una selección de factores y son buenas sólo a la luz del
conocimiento que existe en ese momento.

Sea cauteloso con aquellos cieníicos que hacen airmaciones sensacionalistas sobre un gran número de
muertes: mientras más grave sea la enfermedad más dinero podrían recibir para sus invesigaciones.

92 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Por lo tanto, siempre trate de analizar los factores que contribuyen a las esimaciones de mortalidad. No
se concentre solamente en las cifras.

Asimismo, trate de mantener una enfermedad en su contexto. Muchos informes sobre la pandemia de
la gripe A(H1N1) han fallado al comparar las cifras de muertes con otras que pueden tener más impacto.

Ante la nueva pandemia de inluenza, existe la tendencia a compararla con pandemias anteriores,
especialmente con las más dramáicas. Recuerde que debe informar sobre los brotes actuales en el
contexto actual de los sistemas de salud y del desarrollo cieníico.

¿Cómo se transmite la infección y qué puedo hacer al respecto?


Comunique lo que se conoce sobre la manera de transmisión de la enfermedad y pida a un cieníico o a un
funcionario público de salud, o a varios de ellos, que le expliquen si las formas de transmisión son inciertas.

Del mismo modo, debe informar cómo no se transmite. Las industrias pueden verse afectadas si la gente
cree que un determinado producto está implicado en la transmisión de una enfermedad. La venta de aves
de corral disminuyó a medida que aumentaba el temor sobre la gripe aviar H5N1, porque la gente pensaba
equivocadamente que la enfermedad podía ser transmiida por su consumo.

Debe entregar información a su audiencia acerca de cómo protegerse, paricularmente con medidas
simples. Con el VIH, los mensajes deben ser sobre pracicar sexo seguro; con la gripe, sobre el lavado de
las manos.

Informar acerca de lo que no se debe hacer es igualmente importante. Por ejemplo, hay poca evidencia de
que las mascarillas puedan proteger a la gente contra la gripe. Las empresas pueden estar promoviendo
productos sobre los cuales no existe ninguna evidencia de efecividad.

Evite producir demasiadas historias. Los mensajes importantes sobre salud pública no se deben perder
debido a que el público ya no tenga interés ante la abundancia de historias similares que parecen no
ofrecer ninguna nueva información.

Las fuentes construyen la conianza


El uso de fuentes informaivas y coniables hará que sus historias se destaquen, y le permiirá navegar por
la gran canidad de datos, algunos de los cuales pueden ser contradictorios.

El desarrollo de relaciones con cieníicos que coníen en usted es crucial. Las conversaciones regulares
pueden aportar nuevos enfoques a sus historias, así como informarle cómo van a seguir sus invesigaciones.
En algunos países, los gobiernos pueden intentar esconder el número de casos o de muertes –como con
el SARS en China—por lo que hablar con los cieníicos, especialmente con los epidemiólogos que deben
hacer el seguimiento de los brotes, podría ser la única manera de descubrir la verdad.

También puede regresar a las mismas fuentes para tener una idea de cómo perciben el brote los cieníicos
a través del iempo. Si están cambiando sus opiniones acerca de la severidad de la enfermedad, entonces

Cómo informar sobre brotes o pandemias 93


vale la pena que el público lo sepa.

También es una buena idea construir relaciones con las fuentes gubernamentales. Esto puede ser diícil de
lograrse en los países en desarrollo..
La opinión a largo plazo
Cuando el público recibe la mayor parte de la información sobre una enfermedad a través de los medios
de comunicación, es posible que crea que ésta ya desapareció porque no igura más en las noicias. Si bien
es importante no abrumar al público, también deben saber si todavía existe la amenaza.

Mantenga en su mente las preguntas clave y trate de ver si las respuestas cambian a medida que empieza
a aparecer nueva información.

Además, la etapa posterior al frenesí de la cobertura inicial es una oportunidad para una información
exhausiva, evaluando la respuesta del gobierno, por ejemplo, o mirando de qué manera la invesigación
sobre la enfermedad ha hecho avanzar a la ciencia en general (o si recursos vitales han sido derivados a
otras áreas).

El seguimiento del desarrollo de nuevos medicamentos o vacunas contra la enfermedad también puede
Parte II • Guias práticos

resultar producivo. En la China se desinaron muchos recursos para la invesigación de la vacuna contra
el SARS, pero el virus desapareció rápidamente, y pocos cuesionaron a los cieníicos sobre el retorno de
esta gran inversión.

Un contexto más amplio


Una pandemia o un gran brote de una enfermedad no es sólo un asunto cieníico y usted se podría
encontrar cubriendo temas económicos y sociales con los que está menos familiarizado.

Por ejemplo, China News Weekly ha cubierto la gripe A(H1N1) muy a fondo evaluando la transformación
de la estrategia de salud pública en China desde 2003, cuando el SARS tuvo un impacto muy severo sobre
el sistema de salud y la sociedad en general. Los arículos también han comparado el enfoque de China
con el de otros países, y los progresos de la sociedad para prevenir y combair la enfermedad.

Informar sobre pandemias podría signiicar tocar temas sociales, como el sexo sin protección y las múliples
parejas sexuales, así como el VIH y las inequidades en el acceso a los medicamentos. El VIH también iene
implicancias económicas, porque ha destruido generaciones en algunos países en desarrollo.

Piense globalmente, actúe localmente


Finalmente, una pandemia puede parecer distante a la gente que se encuentra lejos del primer brote
conocido. Sin embargo, la OMS declaró como pandemia a la gripe A(H1N1) menos de dos meses después de
que comenzara a circular ampliamente y el transporte aéreo desempeñó un papel central en la transmisión.

El desaío es hacer relevante localmente una historia global. Puede ser que una enfermedad aún no haya
ocurrido en su país, pero debe permiir que la gente sepa sobre ella y se informe sobre qué hacer para
protegerse y qué están haciendo las autoridades.

94 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Es responsable informar a la gente del probable curso de una enfermedad, pero es igualmente importante
asegurar que las historias no parezcan una cuenta regresiva hacia el desastre.

Fang Xuanchang es editor de ciencia del China News Weekly. Jia Hepeng es editor jefe de Science
News Bi-Weekly y ex coordinador de China de SciDev.Net. Katherine Nighingale es periodista cieníica
independiente ubicada en Australia y edita noicias de SciDev.Net Asia Suroriental.

Cómo informar sobre brotes o pandemias 95


Parte II • Guias práticos

96 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Cómo comunicar las estadísicas y el riesgo1
Andrew Pleasant

La preocupación por el modo como los periodistas presentan las estadísicas y el riesgo iene más años
que cualquiera de los lectores de este arículo. Académicos, periodistas y muchas organizaciones han
preparado numerosos libros, cursos de formación y conferencias sobre el tema.

Tanto periodistas como cieníicos generalmente explican el riesgo y las probabilidades de tal manera que
distorsionan la idea que quieren transmiir.

Para llamar la atención de su público y, más importante aún, ganar su conianza, usted debe comunicar
los resultados cieníicos y su impacto de forma clara y precisa, lo que muchas veces signiica traducir el
contenido de un arículo cieníico a un lenguaje comprensible para el público general.

Traducir la evidencia
El resumen de un arículo debería sinteizar la evidencia más importante, pero eso no siempre sucede. Por
ello, lo más recomendable es leer el arículo completo en busca de las airmaciones que serán de mayor
interés para sus lectores.

Recuerde que los periodistas escriben los hechos más importantes y las principales airmaciones (‘la noicia’)
al principio de la historia, mientras que los arículos cieníicos comienzan por la metodología, las advertencias
y las pruebas que apuntalan la invesigación. En un arículo cieníico, la evidencia puede ser cuanitaiva
(numérica), cualitaiva o una combinación de ambas. Aquí abordaremos la evidencia cuanitaiva.

Como recomendación general, traduzca los datos cuanitaivos a su equivalente más cercano en el lenguaje
común y ponga las cifras exactas entre paréntesis. Por ejemplo, la gente suele decir la mitad, no el 50 por
ciento; entonces, escriba ‘alrededor de la mitad (el 51,2 por ciento)’ o ‘un tercio (el 33 por ciento)’.

A menos que se trate de coincidencias exactas, como un tercio y 33 por ciento, mi recomendación es
mencionar siempre el dato especíico e incluir el margen de error (muchas veces llamado ‘intervalo de
seguridad’), que es un indicador de la iabilidad de la evidencia.

A menudo, los arículos cieníicos informan sobre porcentajes, por ejemplo, “el 20 por ciento de una
muestra de 215 sujetos”, o simplemente incluyen el porcentaje en una tabla o un gráico. Usted debe
hacer el cálculo para sus lectores y escribir: “43 de las 215 personas que componían la muestra (el 20 por
ciento)”. De esta manera, se contemplan diferentes formas de entender la evidencia y se logra que mucha
más gente pueda comprender la información.

Lección: Sus lectores no son el desinatario principal de los arículos publicados en las revistas cieníicas,
de modo que hay que traducir los datos. Usted es el único responsable de conseguir que las conclusiones
y la evidencia que las respalda sean del todo comprensibles para el público, teniendo en cuenta su nivel
de alfabeización y habilidades aritméicas.
1 Este arículo fue originalmente publicado en SciDev.Net (www.scidev.net), en la seción de Guías Prácicas.

Cómo comunicar las estadísticas y el riesgo 97


Riesgo individual versus riesgo poblacional
Una de las esimaciones que se revelan con frecuencia es el riesgo de que una mujer desarrolle cáncer de
mama a lo largo de su vida, tasa que oscila entre un tres y algo más del 14 por ciento en el mundo.

En Estados Unidos, el 12,7 por ciento de las mujeres desarrollará cáncer de mama en algún momento de
su vida. Al comunicar esta estadísica, se acostumbra a decir: “una de cada ocho mujeres sufrirá cáncer de
mama”, pero muchas lectoras no comprenderán el riesgo real de esta airmación. Por ejemplo, más del 80
por ciento de las mujeres estadounidenses enienden erróneamente que se diagnosica cáncer de mama
a una de cada ocho mujeres al año.

Con la estadísica ‘una de cada ocho’ se obiene un itular llamaivo, pero la representación del riesgo
individual de cáncer de mama puede ser muy inadecuada.

El riesgo real de que una mujer padezca cáncer de mama varía por numerosas razones a lo largo de la vida
y rara vez corresponde a la estadísica ‘una de cada ocho’. Por ejemplo, en Estados Unidos se diagnosica
cáncer de mama al 0,43 por ciento de las mujeres de entre 30 y 39 años (una de cada 233). Y en el caso de
las mujeres de entre 60 y 69 años, la tasa es del 3,65 por ciento (una de cada 27).
Parte II • Guias práticos

Puede que los periodistas informen sólo del riesgo promedio (‘una de cada ocho’) por falta de espacio. No
obstante, esa forma de plantear los datos supone equivocadamente que las lectoras no están interesadas
en comprender las estadísicas subyacentes o son incapaces de hacerlo. De ahí la importancia capital
de encontrar la manera de presentar un panorama lo más completo posible del asunto, bien a través de
palabras o de gráicos.

Lección: Asegúrese muy bien de que sus lectores comprenden que la esimación del riesgo, la exposición
o la probabilidad para el conjunto de la población puede no describir de forma precisa las situaciones
individuales. Además, proporcione información relevante para explicar la variación del riesgo individual
en función de factores como la edad, la alimentación, el nivel de alfabeización, la ubicación geográica,
el nivel educaivo, los ingresos, el componente racial y étnico, así como otra serie de factores genéicos y
relacionados con el esilo de vida de las personas.

Riesgo absoluto y riesgo relaivo


Es probable que también deba decidir si informa sobre esimaciones de riesgo absoluto o relaivo. El riesgo
absoluto no es más que la probabilidad de que ocurra algo (por ejemplo, el dato ‘una de cada ocho’ que
mencionamos antes). En tanto, el riesgo relaivo es la comparación del riesgo en dos situaciones disintas.
Por ejemplo, imaginemos que una invesigación informa sobre una nueva vacuna para prevenir el dengue.
En el estudio imaginario se suministra a dos grupos equivalentes de 1.000 brasileños una vacuna o un
placebo. Después de cinco años, se diagnosica dengue a una persona que recibió la vacuna y a cuatro que
únicamente recibieron el placebo.

El riesgo absoluto de contraer dengue con la nueva vacuna es del 0,1 por ciento y de 0,4 en el caso del
placebo. Los itulares podrían decir sin conducir a error: “Nueva vacuna disminuye 0,3 por ciento el riesgo

98 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


de dengue”, pero no interesarían a nadie.
Sin embargo, el riesgo relaivo ofrece una imagen muy diferente. La nueva vacuna reduce un 75 por ciento
el riesgo relaivo, en comparación con el placebo. Los itulares también podrían decir sin conducir a error:
“Nueva vacuna disminuye un 75 por ciento el riesgo de dengue”, y desde luego captarían la atención de
los lectores brasileños.

Ahora bien, una diferencia de esa magnitud en realidad puede ser muy pequeña, dependiendo de lo
extendida que esté la enfermedad. Si una enfermedad afecta a cuatro individuos por cada un millón de
personas, bajar el riesgo a un cuarto (una reducción del 75 por ciento) salva apenas a tres personas por
cada millón. Por lo tanto, más allá del itular, hay que presentar un análisis exhausivo y equilibrado que
pondere los riesgos y los beneicios.

Lección: El uso del riesgo relaivo o del absoluto puede crear dos imágenes sustancialmente diferentes de
un mismo riesgo. Los periodistas deben ayudar a que su público comprenda esta disinción capital. Nunca
dé por sentado que el público conoce la diferencia entre el riesgo absoluto y el relaivo. Tampoco dé por
supuesto que el público está en condiciones de calcular con precisión e interpretar las diferencias entre
las dos técnicas. Una buena prácica es comunicar las dos clases de riesgo de forma clara y concisa, junto
con las implicaciones de tales diferencias.

El peligro de comparar riesgos


Los analistas muchas veces intentan comunicar un nuevo riesgo comparándolo con uno que el público ya
conoce, pero este recurso se puede volver en contra.

Por mencionar un caso, recientes informes periodísicos sobre el hallazgo de la bacteria Escherichia coli
en productos que contenían espinaca en varias zonas de Canadá y Estados Unidos citan estas palabras
de un funcionario de gobierno: “Al igual que sucede con la vaca loca (otra causa de alarma vinculada con
productos agrícolas), el riesgo de enfermarse a causa de la infección por E. coli es en realidad insigniicante.
Se corre mucho más riesgo saliendo a la autopista”.

Ese ipo de comparaciones, por bien intencionadas que sean y más allá de que se realicen en un país
pobre o rico, están condenadas al fracaso, por varios moivos. En el ejemplo, la intención del gobierno
de tranquilizar a la población comparando el riesgo con la enfermedad de la ‘vaca loca’ (Encefalopaía
Espongiforme Bovina o EEB) se puede volver en contra porque está probado que cuando el gobierno
británico debió afrontar la propagación de la EEB, no dijo la verdad sobre el riesgo que presentaban los
alimentos contaminados.

Trate de no comparar riesgos disímiles. Por ejemplo, una comparación muy extendida del ipo ‘es más
probable que lo arrolle un autobús / tenga un accidente de tráico que…’, por lo general no informará
a la gente sobre los riesgos a los que se enfrentan porque las situaciones que se comparan son muy
diferentes. Cuando una persona evalúa riesgos y toma decisiones, suele tener en cuenta qué control iene
sobre el riesgo. Conducir implica un riesgo voluntario que las personas (equivocadas o no) creen poder
controlar. Esa clase de riesgo se diferencia notoriamente de la contaminación subyacente por un producto
alimenicio o la picadura del mosquito que transmite la malaria.

Cómo comunicar las estadísticas y el riesgo 99


De igual modo, es inadecuado comparar el riesgo de contraer enfermedades no transmisibles como la
diabetes o las cardiopaías, con el riesgo de enfermedades transmisibles como el VIH/SIDA o la lepra. Los
mecanismos de las enfermedades son diferentes, y los disintos enfoques culturales y sociales de cada una
hacen que la comparación sea una estrategia de comunicación riesgosa en sí misma.

Lección: Trate de no comparar riesgos diferentes y si lo hace, que sea con suma cautela porque no puede
controlar cómo interpretará el público el uso de metáforas. Esto es paricularmente cierto cuando están
implicadas múliples culturas. Las metáforas suelen tener disintos signiicados para diferentes personas.
Tomemos por caso la conocida frase: “El amor es como una rosa roja”. ¿Qué signiica exactamente el amor para
el lector? ¿Es el aroma agradable, el bello entramado de pétalos, el rojo profundo o acaso las ilosas espinas?

En síntesis
Para comprender por qué disintas personas enfrentadas al mismo riesgo toman decisiones diferentes,
hay que entender el contexto. Si quiere comunicar la ciencia con éxito, debe empezar por conocer a su
público en términos de lenguaje, habilidades matemáicas y cultura.

Conozca a su público y revise con él lo que escribe desde el principio y a menudo. Puede comenzar con
Parte II • Guias práticos

colegas, amigos e integrantes de la familia. Aun mejor, de vez en cuando puede reunir a un grupo que
forme parte del público para hablar con ellos sobre la cobertura de los temas cieníicos. Así sabrá lo que
les gusta y lo que no, lo que comprenden y lo que desean comprender.

Cuando comunique el riesgo, reconozca que sus habilidades ienen límites y pregunte para clariicar, en
lugar de repeir como un loro lo que dice el especialista técnico. No tenga miedo de llamar al autor del
arículo cieníico y pedir más explicaciones. Trate de entablar buenos vínculos con los académicos que
podrán ayudarlo.

Desde la prensa escrita, la radio, la televisión o Internet, los periodistas pueden y deben contribuir
a impulsar la difusión de conocimientos certeros. Para lograrlo, hay que atraer la atención del público y
ganarse su conianza.

Para cumplir ese objeivo, usted debe descifrar las complejidades de la ciencia y comunicar la información
con claridad. Primero, asegúrese de comprender las ideas principales. Luego, si es importante hacerlo,
explique aspectos más complejos de forma que tanto usted como sus lectores puedan comprenderlos
cabalmente, así como evaluarlos y uilizarlos. El resultado será un público mejor informado que coniará
en el trabajo que usted hace.

Andrew Pleasant es director de invesigaciones y de educación en salud del Insituto Canyon Ranch,
Estados Unidos. Es coautor del libro Advancing health literacy: A framework for understanding and acion.

100 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Cómo informar sobre ciencia evoluiva1
Mohammed Yahia

Muchos cieníicos se reieren a la teoría de la evolución de Charles Darwin como la piedra angular de la
biología moderna.

Esta teoría dice que todas las especies, incluida la humana, evolucionaron por selección natural. Es decir,
los rasgos emergentes que ayudan a que los organismos sobrevivan y se reproduzcan son ‘seleccionados’
y se establecen a través de sucesivas generaciones.

La evolución sustenta temas tan variados como la paleontología, la reproducción animal, la virología y la
biotecnología moderna. Esta amplitud de temas la hace crucial para muchas historias cieníicas diferentes.
Pero explicar la evolución puede ser diícil si la gente conoce poco sobre ella. Una encuesta del Consejo
Británico realizada en 2009 encontró que 62 por ciento de los encuestados en Egipto y 73 por ciento en
Sudáfrica, nunca habían oído sobre Charles Darwin.

Otros, simplemente rechazan la teoría, entre ellos más de la mitad de los encuestados por Science en
Turquía en 2006. El rechazo es especialmente común en las sociedades religiosas conservadoras.

Por lo tanto, ¿de qué manera se puede hacer reporterismo sobre ciencia evoluiva —o cualquier otra
ciencia basada en la teoría de la evolución— en estas comunidades?

Dar en el blanco
Primero, sea claro en su objeivo: explicar su historia cieníica. A pesar de las creencias de la gente sobre la
creación o la religión, pueden ser capaces de aceptar la evolución en otros contextos, ¡si logra explicarlo bien!

Recuerde que en muchos países en desarrollo la evolución apenas se enseña en la escuela, y la información
que la gente recibe sobre el paricular puede provenir de fuentes opuestas. En Indonesia, por ejemplo, una
encuesta realizada en 2007 por la Universidad McGill encontró que más de dos tercios de los profesores
encuestados usaban videos ani evolución en sus clases de biología.

Por consiguiente, trate de cubrir los conceptos básicos de la evolución tan clara y sencillamente como
le sea posible, explicando términos como ‘selección natural’, ‘ancestro común’ y ‘rasgos genéicos’, aún
cuando para usted sean obvios. Use imágenes o videos si cree que pueden ayudar.

Acerque la historia al contexto de su audiencia. La mayoría de las comunidades han estado dirigiendo su
propia evolución por cientos o miles de años, mediante el mejoramiento de plantas o animales. Incluso los
aniguos egipcios cruzaron plantas para producir mejores variedades.

Una vez escuché a un profesor comparar la evolución con la manera como cambian las formas y los
modelos de los autos a través del iempo, adaptándose a las necesidades de la gente y de su entorno.
Tales ejemplos pueden ayudar a desmiiicar la evolución.
1 Este arículo fue originalmente publicado en SciDev.Net (www.scidev.net), en la seción de Guías Prácicas.

Cómo informar sobre ciencia evolutiva 101


Y no se deje llevar por argumentos en contra. Por ejemplo, los creacionistas podrían argumentar que el
mejoramiento no prueba la evolución porque no incluye la evolución de una especie a otra; todas las
variaciones del mejoramiento animal se producen dentro de una sola especie.

Su historia ¿le está diciendo que necesita probar toda la teoría de la evolución o tan solo una parte?

Acomodándose a la religión
Es imposible negar que la evolución se opone a algunas creencias religiosas. De hecho, para muchas
personas el único conocimiento de la teoría es este conlicto. Pero la oposición no siempre es absoluta.
Por ejemplo, muchos creyentes del Islam en la región del medio oriente y norte de África (o MENA por sus
siglas en inglés), aceptan la teoría, pero rechazan incluir a los humanos en el orden evoluivo.

Trate de evitar enfrentamientos acerca de la evolución que vayan directamente en contra de la religión.
En las sociedades religiosas, seguro que alienará a su audiencia. Por el contrario, asegúrese de conocer el
potencial de creencias de su audiencia y por qué se podría oponer a la evolución.

Por ejemplo, la interpretación de las comunidades crisianas va desde creer que la evolución fue guiada
por Dios, hasta una interpretación literal de la Biblia, según la cual Dios creó al hombre en un día, hace
Parte II • Guias práticos

unos cuantos miles de años atrás.

Siempre que sea posible, trate de acomodar las creencias religiosas dentro de su historia. Podría añadir
un párrafo o dos explicando cómo algunas interpretaciones religiosas se oponen completamente a la
evolución mientras que otras no lo hacen.

Por ejemplo, podría tratarse de una información de cómo un fósil recientemente encontrado demuestra
que las aves evolucionaron a parir de los repiles hace millones de años. En una comunidad crisiana,
podría explicar que mientras algunas interpretaciones de la Biblia dicen que la Tierra iene una anigüedad
de unos cuantos miles de años, otras concuerdan con la ciencia en que la vida en el planeta se remonta a
miles de millones de años.

Para las comunidades conservadoras, siempre es mejor hilar muy ino con temas relacionados con la
religión. Si no está seguro sobre las diferentes creencias de su comunidad, busque ayuda de terceros.
Pero recuerde que usted es un periodista cieníico. Enfóquese en la ciencia. Puede ser que no necesite
mencionar la religión en absoluto. Si lo hace, podría desviar la atención de la ciencia hacia debates más
amplios cargados de emoividad.

Terminología
Sea cuidadoso en la elección de palabras pues los términos que son apropiados para un cultura podrían no
serlo para otra. Encuentre los términos que mejor se adapten a su comunidad.

Por ejemplo, la encuesta de 2007 de la Universidad McGill reveló que en Indonesia muchas personas
asociaban ‘darwinismo’ con ‘terrorismo’ y ‘fascismo’.

102 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Los periodistas que escriben sobre la evolución muchas veces denominan inapropiadamente ‘conservadores’
a quienes se oponen a la evolución, como se aprecia con frecuencia en la cobertura en los Estados Unidos.
Pero conservador también puede signiicar alguien con fuertes creencias religiosas. El problema es que
se asume que la evolución está enfrentada con las posiciones de los religiosos conservadores, lo que no
siempre es el caso.

El uso de tales términos puede conducir al rechazo rotundo de su historia debido a que sin querer empleó
frases como ‘la evolución en contra de la religión’, un error para las comunidades religiosas.

Además, mucha gente cree en el proceso de la evolución pero también en la historia de la creación dada por
su religión. Por lo tanto, no encasille automáicamente a las comunidades religiosas como ‘creacionistas’,
una escuela de pensamiento que rechaza absolutamente la teoría de la evolución.

Cómo cubrir argumentos en contra


Si está informado acerca de algo como un fósil que explica la evolución de las aves, por lo general es
mejor entrevistar a un cieníico y apegarse a una estricta histórica cieníica, en lugar de buscar un
comentario religioso.

Si decide citar o entrevistar a un líder religioso para una historia sobre el conlicto entre evolución y
creación, por ejemplo, encuentre por lo menos una persona que no esté completamente en contra de
la evolución. De otra manera, su audiencia podrá desesimar su historia: los líderes religiosos ienen una
poderosa inluencia dentro de las comunidades conservadoras.

Y si entrevista a alguien que está en contra de la evolución, con el in de equilibrar su historia, asegúrese
de ponerla en el contexto adecuado, preguntando sobre la ‘evidencia’ que su fuente usa para sustentar
su airmación.

Asegúrese también de que sus fuentes, sea ‘a favor’ o ‘en contra’, conozcan su región. Su audiencia se
ideniicará mejor con representantes de sus propias comunidades y los entrevistados, a su vez, tendrán
un mejor contexto para sus respuestas.

Evite la falta de comprensión y los sesgos


Suena obvio, pero esté seguro de entender claramente el asunto cieníico sobre el que está informando.
Es fundamental para dar el mensaje correcto. Si no está seguro, tampoco su audiencia lo estará. Por lo
tanto, ¡pregunte! Los cieníicos e invesigadores pueden ayudarlo a explicarle las cosas que no comprende.

Concéntrese en proporcionar hechos claros y fáciles de entender. Enfoque su historia sin preconcepciones.
¿Tiene usted mismo un sesgo cultural o religioso contra la evolución? No permita que ello desequilibre
su interpretación.

Cuando la agencia árabe Al-Jazeera informó sobre el descubrimiento de ‘Ardi’, un fósil del ancestro humano
de 4.4 millones de años de anigüedad (el 3 de octubre de 2009), su itular fue: “Ardi refuta a Darwin”.

Cómo informar sobre ciencia evolutiva 103


En realidad, los científicos veían al fósil como un paso importante que impulsaría la comprensión de
la evolución.

Las razones por las que Al-Jazeera informó de manera errónea no son claras, pero probablemente
contribuyeron un sesgo contra la evolución y la escasa comprensión por parte del periodista frente al
material original, publicado en Science.

Si está informando sobre un nuevo descubrimiento, asegúrese de relejar la opinión de los cieníicos sobre
su importancia. Pregunte si éste cambia nuestra comprensión de alguna manera. ¿Afecta directamente a
su audiencia o a su comunidad?

Informar de manera sensible y precisa sobre la teoría de la evolución, y sobre la invesigación que la
sustenta, abre todo un sector de la ciencia moderna. Si puede navegar por este delicado y penetrante tema,
puede ofrecer a las comunidades una gran canidad de nuevas ideas y posibilidades para su comprensión.
¿Cambiará sus creencias fundamentales? Tal vez no, pero de todos modos ese no era su objeivo. Pero sí
será capaz de explicar la ciencia.
Parte II • Guias práticos

Mohammed Yahia es editor de Nature para el medio oriente y ex coordinador regional para el medio
oriente y norte de África de SciDev.net.

104 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


Cómo cubrir políica cieníica
Tania Arboleda

La sociedad, tanto en los ámbitos público como privado, provee de ingentes recursos humanos y materiales
para mantener el sistema de ciencia y tecnología del cual depende para su funcionamiento. De ahí que no
sea extraño que diferentes sectores que la componen reclamen cada vez más la necesidad de mantenerse
informados, pero también la posibilidad de paricipar en la deinición de los diversos aspectos de la
producción, la aplicación y el uso de los desarrollos cieníicos y tecnológicos, y de que sean tenidas en
cuenta sus relexiones sobre las implicaciones de estas dinámicas en la toma decisiones.

Uno de los espacios por excelencia en el que se ponen en escena estos debates son los medios masivos de
comunicación. En el presente trabajo nos proponemos indagar por el campo especíico del cubrimiento
informaivo de la políica cieníica, los temas que la componen, el rol del periodismo frente a ella, así
como algunas sugerencias para cubrirla.

Un acercamiento a la políica cieníica desde la comunicación


En la comunicación pública de la ciencia la relación entre ciencia y públicos se presenta como frágil,
cambiante, llena de retos. Para no ir demasiado lejos, en la primera mitad del siglo 20 podría ubicarse uno
de los procesos más signiicaivos de esta relación vividos en Norteamérica, que contribuiría a entender
su carácter ambiguo: en las dos primeras décadas del siglo, el surgimiento de la teoría de la relaividad
convulsionó el mundo entero a través de los medios masivos de comunicación; pocas décadas más
adelante, este avance serviría de base para desarrollar la bomba atómica. El uso de esta arma letal de
tan alto impacto en los ataques a Hiroshima y Nagasaki en 1945, pondría punto inal a la Segunda Guerra
Mundial con un saldo de más de 140.000 muertes, y por primera vez adveriría a la población sobre
los impactos negaivos de la ciencia y la tecnología. La políica cieníica norteamericana vigente en ese
momento jugaría un papel primordial en este proceso, al promover la poderosa unión entre la industria
militar norteamericana y la insitución cieníica que redundaría en la producción de la bomba atómica.

Hoy en día, las consecuencias posiivas y negaivas de la relación entre ciencia, sociedad y naturaleza, por
las que pasa la políica cieníica, se expresan en una gama mucho más amplia de ámbitos, reforzando esa
imagen ambigua del impacto de la ciencia y la tecnología en la vida de las personas y del medio ambiente.

La políica cieníica comprende el conjunto de decisiones o planes de acción que se implementan


alrededor de la ciencia, tanto a nivel público como privado y que afectan a la sociedad o parte de ella. En
las historias de ciencia que aparecen en los medios informaivos por lo general hay un ángulo o enfoque de
políica cieníica que se puede dar a conocer, en términos de las moivaciones, los recursos y los impactos
o aplicaciones de este conocimiento. Asimismo, las decisiones políicas pueden referirse al desarrollo
cieníico y tecnológico en un contexto dado y en muchos casos las decisiones políicas de otra índole
ienen un ángulo cieníico.

Este úlimo es el caso del referendo por el agua en Colombia, una iniciaiva ciudadana que se presentó
a debate en el Congreso en 2009 y que busca cambiar la consitución con el in de que el agua sea
considerada un derecho fundamental en vez de un bien de consumo, lo cual releja la tendencia actual

Cómo cubrir política cientíica 105


a la privaización del agua. El debate sobre la conveniencia de una u otra forma de gesionar el agua,
que se viene relejando en los medios, en muchos casos se apoya en argumentos de carácter cieníico y
tecnológico que le proveen cierto estatus de verdad a cada una de las visiones en disputa.

¿Dónde encontrar estos temas?


Una de las diicultades que encuentran los periodistas para cubrir estos temas, y cuya atención podría
contribuir a mejorar el cubrimiento de la políica cieníica en los espacios informaivos, es que no saben
por dónde empezar su búsqueda. Veamos algunos espacios en los que se puede indagar por historias
sobre políica cieníica, lo cual permita entender la relevancia de cubrir estos temas:

Poderes ejecuivo y legislaivo


La políica cieníica es atendida directamente por el poder ejecuivo en las instancias gubernamentales
a nivel nacional, regional y local, encargadas del desarrollo y la promoción de la ciencia, la tecnología y
la innovación: por lo general en cada país existe un ministerio encargado del tema, así como instancias
relacionadas en las gobernaciones de las regiones (departamentos, distritos o estados) y en las alcaldías
(municipios). En estos espacios se puede indagar y hacer seguimiento a estas políicas que se centran en
el apoyo y fomento de la acividad invesigaiva en campos estratégicos, al desarrollo y consolidación de
las insituciones cieníicas y tecnológicas, a la formación de invesigadores, al fortalecimiento del sector
Parte II • Guias práticos

producivo mediante invesigación y desarrollo (I&D), a la generación de alianzas interinsitucionales de


carácter local y global para fortalecer la acividad cieníica, tecnológica y de innovación, así como al desarrollo
y mantenimiento de sistemas de seguimiento y evaluación de la ejecución de las políicas, entre otras.

Las enidades gubernamentales encargadas de la salud, el medio ambiente, la agricultura, el transporte, las
comunicaciones, la cultura y la educación, entre otras, también son espacios interesantes para indagar por
temas relacionados con políica cieníica dado que, de manera estratégica, a menudo formulan programas
o acividades para atender problemáicas o necesidades especíicas mediante el desarrollo o aplicación de
conocimiento cieníico o tecnológico.

El poder legislaivo, a través del Congreso (senado y la cámara de representantes), las asambleas
departamentales y los concejos municipales, también expide leyes, reformas a la consitución, ordenanzas
o acuerdos, que en muchas ocasiones se reieren a estos temas, sobre los cuales también ejercen control
políico al poder ejecuivo. Cada una de estas instancias por lo general iene una comisión encargada de
hacer seguimiento y debates a los temas de ciencia y tecnología en la cual seguramente se encontrarán
historias de interés público.

Las campañas políicas


En período de elecciones es de esperarse que los programas de los candidatos a la presidencia, las
gobernaciones y las alcaldías tengan un componente de ciencia y tecnología que puede ser material para
historias interesantes sobre el lugar otorgado a estos temas o los enfoques de los mismos frente a las
necesidades del país, la región o la municipalidad.

Las sociedades cieníicas


Las asociaciones para el avance de la ciencia y las academias de ciencias exactas, ísicas y naturales, ciencias

106 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


económicas, geograía, historia, medicina e ingenierías, entre otras, emiten conceptos cuando los gobiernos
requieren tomar decisiones aines con sus áreas de interés y además organizan acividades académicas de
carácter público para el desarrollo y la promoción de las ciencias como seminarios y congresos.

Los organismos mulilaterales


El Convenio Andrés Bello, la Organización de Estados Americanos, la Organización de Estados
Iberoamericanos sosienen reuniones programáicas para impulsar, entre otros, programas y acividades
para el intercambio y desarrollo de la ciencia y la tecnología a nivel de la región. Asimismo, espacios de
negociación tales como Mercosur, los Tratados de Libre Comercio, la Comunidad Andina de Naciones,
entre otros, incluyen referencias a los temas de ciencia y tecnología con caracterísicas muy especíicas,
ligadas a los intereses económicos y de integración.

Los organismos sin ánimo de lucro


Muchos integrantes de la sociedad civil sienten la necesidad de hacer valer sus derechos o de promulgar
sus posiciones frente a decisiones tomadas en el seno del gobierno o del sector privado que impactan
a la sociedad y que ienen relación directa o indirecta con la ciencia y la tecnología. Estos grupos, que
se establecen de manera formal o informal en organizaciones no gubernamentales, sociedades de
profesionales, grupos de interés, asociaciones de usuarios, de enfermos o de consumidores, entre otros,
organizan manifestaciones públicas o emiten comunicados para visibilizar sus causas, los cuales pueden
ser úiles a la hora de deinir historias con un ángulo de políica cieníica de alto interés para el público
en general.

Sector producivo y de servicios:


Diversas compañías del sector producivo y de servicios ienen políicas de Invesigación y Desarrollo
para mejorar sus productos y servicios, siguiendo planes de desarrollo corporaivos y lineamientos
gubernamentales. Por lo general, los informes a las asambleas anuales de accionistas presentan resultados
en los que se aienden estos temas; las compañías también suelen mostrar los resultados de sus inversiones
en invesigación y desarrollo en los portafolios de servicios, en las páginas web o en las campañas de
comunicación corporaivas para promover sus productos y servicios.

Revistas cieníicas y académicas


Si bien este ipo de publicaciones son especializadas y dirigidas a los círculos cerrados de la comunidad
cieníica, representan un espacio importante para debates que conciernen aspectos controveridos de la
relación entre la ciencia, la sociedad y el medio ambiente. Al albergar en su seno los úlimos desarrollos
cieníicos y tecnológicos en cada campo del conocimiento, los editores de las revistas cieníicas y
académicas ienen la posibilidad de abrir debates sobre, entre otras, las implicaciones políicas de estos
adelantos, así como del rol que cumplen los cieníicos en el ámbito políico, respecto al uso y apropiación
de los desarrollos cieníicos y tecnológicos.

El rol del periodismo frente a la políica cieníica


Como decíamos anteriormente, muchas decisiones políicas en ámbitos como la economía, la salud, el
desarrollo agrícola y el sector producivo, ienen una dimensión cieníica y tecnológica. En su papel de
defensor de la democracia, el periodista cieníico, al igual que quien cubre temas de políica en los medios

Cómo cubrir política cientíica 107


de comunicación, iene como responsabilidad defender el interés público frente a esas decisiones. Esto
incluye monitorear la políica cieníica y el desarrollo de la invesigación y sus aplicaciones y alcances
para hacerlos visibles en el espacio público de los medios, lo cual implica que la reportería sobre la políica
cieníica en muchos casos, criique a los responsables políicos o cieníicos. “Si no se informa sobre
políica y sociología de los cieníicos no se está ejerciendo un periodismo de contrapoder y de servicio
público, sino que se traslada a la sociedad la idea de que en la ciencia todo son hallazgos maravillosos”
(Elías, 2003, p. 255).

En esa misma dirección se centran las airmaciones de David Dickson, director de SciDev.Net (2009) cuando
destaca la sospecha como uno de los atributos necesarios para el ejercicio del periodismo cieníico
centrado en la políica cieníica. Plantea la necesidad de “veriicar que la información cieníica que los
políicos uilizan para respaldar sus posiciones no haya sido escogida en forma seleciva e intencional o
que sea producto de invesigaciones apoyadas para una acción predeterminada; paricularmente cuando
la invesigación en cuesión ha sido pagada, directa o indirectamente, por un gobierno cuyas acciones han
sido cuesionadas”.

Para asumir ese rol “problemaizador” de la políica cieníica, el periodista iene algunas opciones. Una
de ellas, según Dickson, sería no limitarse a indagar por la existencia de intereses económicos detrás
Parte II • Guias práticos

de los hallazgos cieníicos, sino veriicar si el área de especialidad de los cieníicos que respaldan las
decisiones políicas del gobierno o de los tomadores de decisiones es la perinente para tratar el tema. En
ese senido, sugiere que “el respeto por la autoridad que coniere el ítulo “profesor” o “doctor” no deben
signiicar una deferencia automáica al mismo”.

Debido a la percepción generalizada de la complejidad de los temas cieníicos y tecnológicos resulta


tentador para los periodistas limitarse a repeir lo que dicen los funcionarios del gobierno o los asesores
de prensa (o las fuentes, en general) de las enidades implicadas en las decisiones. De ahí que no sea
redundante insisir en la necesidad de explorar las implicaciones de las políicas, lo cual requiere no solo
explicarle al lector lo que el gobierno quiere hacer, sino por qué y quiénes pueden ganar o perder; ya que
al no ofrecer otras perspecivas se puede caer en el error de informar algo como si fuera la realidad.

En el caso especíico de las propuestas de ley, es necesario tener presente que estas pasan por diversas
etapas, lo cual requiere entender en qué momento del proceso está la políica. En el caso de que una políica
ya esté aprobada, será necesario indagar cuesiones como el siguiente paso en el proceso, la manera en que
se va a implementar, el iempo que tardará en hacerse efeciva y los recursos que se inverirán.

Bennet (2009) señala que los periodistas que cubren temas políicos ienen el doble reto de hacer
responsable al gobierno cuando este no lo hace, y de preparar a los ciudadanos para la paricipación, lo
que implica escribir noicias teniendo a los ciudadanos en mente (y no desde las lógicas de los tomadores de
decisión). En este senido, propone algunas caracterísicas deseables para las noicias que cumplan con el
criterio democráico y que perfectamente son aplicables a aquellas que dan cuenta de la políica cieníica:
1. Promover el desarrollo de agendas temáicas independientes en cada medio para proveer un
contexto informaivo más diverso.

2. Ofrecer diversas voces y puntos de vista de fuentes creíbles fuera de los círculos oiciales. Esto permite

108 Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana


reducir la brecha que a menudo el común de la gente siente frente a los políicos y las personas que ienen
acceso a información políica privilegiada lo que les permite dominar los contenidos de las noicias.

3. Analizar la manera como son tomadas las decisiones políicas para ayudar a la gente a decidir
cómo quisieran involucrarse.

4. Proporcionar el contexto histórico en las historias para ayudar a establecer los orígenes de los
problemas y limitar la habilidad de los políicos para reinventar la historia según sus intereses.

5. Otorgar más espacio a las historias y posiciones de los ciudadanos-acivistas lo cual permita que
la gente del común vea opciones para involucrarse y escuchar perspecivas retadoras que puedan
ayudarlos a evaluar el efecto políico de manera más críica.

6. Hacer un mejor uso de las tecnologías interacivas para vincular a las audiencias de las noicias
entre ellas y con organizaciones cívicas lo que les permita aprender más sobre las temáicas tratadas y
tomar acción efeciva.

A manera de conclusión quisiéramos proponer que las dinámicas actuales de producción de información
periodísica en los medios masivos de comunicación, así como las carencias en la formación en el campo
del periodismo cieníico en un porcentaje importante de las facultades y programas de comunicación
social y periodismo en Iberoamérica hacen que estas recomendaciones se conviertan en retos complejos
pero necesarios para el mantenimiento de nuestras democracias, cuyo futuro se perila, entre otros, en
función de la atención que se le de a las implicaciones y las relaciones que sosienen el conocimiento
cieníico y el desarrollo tecnológico con la sociedad y el medio ambiente.

Referencias:
Bennet WL. News: the poliics of illusion (8th ed.). Longman Classics in Poliical Science. New York, London:
Pearson Educaion Inc, 2009.

Dickson D. The curse of policy based evidence. Editorial SciDev.Net 2009 August 13. Disponible en: htp://
www.scidev.net/en/editorials/the-curse-of-policy-based-evidence-1.html.

Elías C. La ciencia a través del periodismo. Tres Cantos (Madrid): Nivola libros y ediciones, 2003.

Tania Arboleda es profesora e invesigadora del departamento de comunicación en la Facultad de


Comunicación y Lenguaje de la Poniicia Universidad Javeriana, en Bogotá, Colombia.

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